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Universidade Federal de Campina Grande Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 1 ANAIS ELETRÔNICOS ISSN 235709765 ARGUMENTAÇÃO NA PALESTRA DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA PÚBLICA Paloma Sabata Lopes da Silva (Doutoranda - UFPE) RESUMO O objetivo do artigo é refletir sobre o fenômeno retórico da argumentação no gênero palestra, quando produzido em situação escolar. Para tanto, abordaremos uma visão panorâmica dos conceitos da Retórica (ARISTÓTELES, 2005; PERELMAN E OLBRECHTS- TYTECA, 2014), das teorias de gêneros com enfoque na argumentação e da Sociolinguística Interacional (GOFFMAN, 1998; GUMPERZ, 1991; LIBERALI, 2013), a fim de analisar trechos de palestras produzidas por alunos de 3º ano do ensino médio, de uma escola pública da cidade de Campina Grande, PB. A metodologia utilizada para a análise é do tipo descritivo-interpretativista, contemplando-se os aspectos relacionados aos mecanismos de composição discursivos mobilizados pelos alunos no momento de suas exposições. Para a produção da palestra pelos alunos, estes foram divididos em cinco grupos de pesquisa: quatro deles com cinco integrantes e um grupo com seis. Em cada grupo os próprios alunos elegeram dois dos quais profeririam a palestra. A constatação identificada permitiu a reflexão do quanto é importante preparar os alunos para se tornarem sujeitos críticos e criativos, principalmente por meio do planejamento e pesquisa para a formulação do texto oral formal, como é o caso do gênero palestra. A resposta a esse tipo de ensino é o fato de que mobilizar o ensino de técnicas argumentativas possibilita o aprimoramento de capacidades linguísticas, pelo planejamento e monitoramento da fala (em situação formal), caracterizadas enquanto composição do discurso argumentativo, quais sejam: as categorias enunciativas, as categorias discursivas e as categorias linguísticas. Palavras-chave: Composição do discurso. Argumentação. Palestra. Ensino.

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ARGUMENTAÇÃO NA PALESTRA DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA PÚBLICA

Paloma Sabata Lopes da Silva (Doutoranda - UFPE)

RESUMO

O objetivo do artigo é refletir sobre o fenômeno retórico da argumentação no gênero palestra, quando produzido em situação escolar. Para tanto, abordaremos uma visão panorâmica dos conceitos da Retórica (ARISTÓTELES, 2005; PERELMAN E OLBRECHTS-TYTECA, 2014), das teorias de gêneros com enfoque na argumentação e da Sociolinguística Interacional (GOFFMAN, 1998; GUMPERZ, 1991; LIBERALI, 2013), a fim de analisar trechos de palestras produzidas por alunos de 3º ano do ensino médio, de uma escola pública da cidade de Campina Grande, PB. A metodologia utilizada para a análise é do tipo descritivo-interpretativista, contemplando-se os aspectos relacionados aos mecanismos de composição discursivos mobilizados pelos alunos no momento de suas exposições. Para a produção da palestra pelos alunos, estes foram divididos em cinco grupos de pesquisa: quatro deles com cinco integrantes e um grupo com seis. Em cada grupo os próprios alunos elegeram dois dos quais profeririam a palestra. A constatação identificada permitiu a reflexão do quanto é importante preparar os alunos para se tornarem sujeitos críticos e criativos, principalmente por meio do planejamento e pesquisa para a formulação do texto oral formal, como é o caso do gênero palestra. A resposta a esse tipo de ensino é o fato de que mobilizar o ensino de técnicas argumentativas possibilita o aprimoramento de capacidades linguísticas, pelo planejamento e monitoramento da fala (em situação formal), caracterizadas enquanto composição do discurso argumentativo, quais sejam: as categorias enunciativas, as categorias discursivas e as categorias linguísticas.

Palavras-chave: Composição do discurso. Argumentação. Palestra. Ensino.

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INTRODUÇÃO

Ao partirmos do princípio de que saber argumentar amplia a capacidade de

refletir e de se posicionar, ampliando também o potencial de participação

democrática, este estudo tem como proposta responder ao seguinte questionamento:

De que modo a produção da palestra em contexto escolar possibilita o exercício da

capacidade argumentativa dos alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma escola

pública do interior da Paraíba?

Iniciado na Filosofia e tomado, posteriormente, como objeto de estudo

linguístico, o estudo da retórica (ARISTÓTELES, 2005) é um ramo que possibilita a

identificação e análise de técnicas comunicativas com fins persuasivos. Em contexto de

ensino é possível tomarmos o estudo da argumentação (LIBERALLI, 2013), descendente

dessa teoria, para possibilitar ao aluno a oportunidade de planejar e executar textos

formais embasados pelo treino da competência crítica, criativa e persuasiva.

A discussão teórica que apoia nosso estudo apresenta uma base filosófico-

linguística: são os fundamentos da Retórica de Aristóteles (2011) e da Nova Retórica

proposta por Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014). Além destas, para analisar as

competências desempenhadas pelos alunos na execução da palestra, tomamos a

perspectiva Sóciointeracionistica de estudos da linguagem, embasada por Goofman

(1998), Gumperz (1991) e Hymes (1972).

Com base nessa reflexão, nosso objetivo geral é refletir sobre o fenômeno

retórico da argumentação no gênero palestra em situação escolar. De maneira

específica, nossos objetivos são identificar os mecanismos argumentativos (categorias

enunciativas, discursivas e linguísticas) de composição dos discursos em trechos de

palestras produzidas pelos alunos mencionados e analisar traços das competências

que possuem para planejar, pesquisar e produzir textos argumentativos na

modalidade oral formal.

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METODOLOGIA

Sob uma abordagem qualitativa (CHIZZOTTI, 2001), compreendendo o

paradigma interpretativista (LIBERALI e LIBERALI, 2011) e de natureza descritiva, por

haver a descrição das características do fenômeno em estudo (GRENIER e JOSSERAND,

2001 apud LIBERALI e LIBERALI, 2011), este estudo tem como corpus de análise trechos

de transcrição da produção de palestras por alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma

escola pública localizada na cidade de Campina Grande – PB (SILVA, 2011).

Os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem do gênero palestra

foram os vinte e seis alunos que compunham a turma do 3º ano do Ensino Médio

(entre dezesseis (16) e vinte e um (21) anos de idade, sendo quinze do sexo feminino e

onze do sexo masculino), uma colaboradora (graduada em Licenciatura em Letras),

que participou dessa fase como acompanhante, para registrar (em diário de campo) as

impressões que teve durante a execução das aulas e eu, no papel de professora-

pesquisadora, que estava com a turma desde o início do ano letivo.Os dados foram

elaborados e coletados no início do segundo semestre no ano de 2010.

Para a produção da palestra pelos alunos, estes foram divididos em cinco

grupos de pesquisa: quatro deles com cinco integrantes e um grupo com seis. Em cada

grupo os próprios alunos elegeram dois dos quais profeririam a palestra.

Os temas das palestras foram eleitos a partir de discussões temáticas em aulas

anteriores, nas quais os alunos tiveram oportunidade de discutir em grupos e com os

colegas da turma e pesquisar previamente em livros e na internet, além de planejarem

o texto por intermédio da elaboração de textos dissertativos na modalidade escrita.

Dos cinco temas apresentados pelos alunos na culminância do projeto, para este

estudo elegemos analisar dois deles, cujos temas foram: 1) Preconceito e 2)

Desenvolvimento tecnológico. Os códigos utilizados nas transcrições das exposições

dos alunos são: para os expositores, a letra “E” seguida da numeração correspondente

ao aluno; “A” para a fala dos alunos da turma, também seguida de numeração – que se

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portam como audiência no momento das exposições; e “P” para a fala da professora

que conduz o evento.

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Origem e avanços dos estudos sobre argumentação

O papel desempenhado pela argumentação, quando desenvolvida em contexto

de ensino, proporciona a criação de possibilidades para que mais pessoas sejam

capazes de pensar criticamente, de refletir e de se posicionar. Nesse sentido, Liberali

(2013, p. 9) afirma que “saber argumentar amplia o potencial de participação

democrática”. Esse princípio adotado parte da concepção Retórica de utilização da

linguagem, que remonta à sua origem em Aristóteles e, posteriormente, sob um

enfoque mais moderno, à perspectiva de Perelman e Obrechts-Tyteca (2014).

A retórica é um ramo de estudos que se iniciou na Filosofia com o objetivo de

conceituar as técnicas de persuasão utilizadas por um orador em público.

Posteriormente, foi tomada por Aristóteles (2011, p. 39) como a “a arte de bem falar”,

situada “no horizonte geral de todos os indivíduos, sem ter domínio de nenhuma

ciência determinada”.

Essa teoria teve o objetivo de que se tornasse a sustentação de argumentos de

princípios e valores que se nutrem em um raciocínio crítico válido e eficaz,

caracterizando-a pela relação entre ciência e arte, heurística e hermenêutica, por meio

de um saber interdisciplinar. De acordo com o filósofo da linguagem, a “Retórica é,

pois, uma forma de comunicação, uma ciência que se ocupa dos princípios e das

técnicas de comunicação. Não de toda a comunicação, obviamente, mas daquela que

tem fins persuasivos.” (ARISTÓTELES, 2005, p. 24)

Aristóteles propôs a existência de dois ramos da Retórica: uma Retórica da

elocução, centrada na produção literária e; a Retórica da argumentação, responsável

pelo estudo da palavra eficaz ou da elocução persuasiva. Dentre esses dois ramos da

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Retórica, nosso estudo adota a perspectiva do segundo, ou seja, nos embasaremos no

princípio da retórica da argumentação. Desta feita, Aristóteles (2005) mostra como os

elementos de argumentação psicológica também podem ser usados como parte

integrante da argumentação entimemática, ao passo que o orador controla as paixões

pelo raciocínio que desenvolve com os ouvintes.

No que se refere às técnicas de comunicação, utilizadas com o fim persuasivo

em uma palestra, por exemplo, devem ser mobilizados tópicos como estratégias

lógicas de argumentação, como o argumento pelo exemplo (argumentação

paradigmática e referência a exemplos históricos ou simplesmente criados) e o uso de

máximas na argumentação (uma das premissas ou conclusão) (ARISTÓTELES, 2005). A

pronunciação do discurso deve atender a alguns cuidados com o movimento, a

expressão e a modulação da voz em função da qualidade, do volume, da altura e do

ritmo, a correção gramatical e a adequação da expressão ao conteúdo.

No sentido de que a retórica oferece poderosos recursos de estruturação para

a manutenção da ordem social, da continuidade e da significância, uma palestra

apresenta essas características quando, por exemplo, o orador apresenta um início

marcante, produzindo uma frase de efeito para atrair a plateia a acompanhar a

palestra, no decorrer do discurso convida a audiência, em alguns casos, a participar do

texto, ao fazer perguntas fáceis e de respostas simples ou perguntas retóricas,

provocando o riso e/ou pedindo para que a plateia repita frases impactantes. Tudo

isso a fim de ganhar o favor do público, cativá-lo pela simpatia e demonstrar domínio e

confiança no conteúdo, para movimentar a apresentação e manter o interlocutor

atento. Essas características são adotadas com base na perspectiva de que falar bem não é

propriamente um dom, mas uma habilidade que se aprende a desenvolver com o conhecimento e

a prática de técnicas de comunicação oral (BLINKSTEIN, 2006).

Depois de Aristóteles, durante muito tempo, a retórica foi relegada a segundo

plano e acabou por ser esquecida, foi somente no século XX, paralelamente aos

estudos da filosofia da linguagem e da filosófica dos valores, rompendo com a tradição

cartesiano-positivista, que Perelman nos propôs uma Nova Retórica para tratar do

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aspecto lógico da persuasão e do convencimento, fazendo-a ressurgir. O que se

estudava agora era a argumentação enquanto processo social, ou seja, o estudo dos

meios de prova e a preocupação com a força, a intensidade e a solidez de um

argumento.

Perelman (2014) dirige seus estudos na busca do que ele denomina de uma

racionalidade ética, isto é, de uma lógica específica para os valores, pois estava

interessado em descobrir que tipo de argumento as pessoas efetivamente aderem e

como esse processo ocorre, por isso elegeu como projeto teórico a pesquisa de uma

“lógica dos julgamentos de valor”, chamada Nova Retórica. Com esse estudo chega à

conclusão de que não há uma lógica dos juízos de valor e que em todos os campos do

conhecimento onde ocorre controvérsia de opiniões recorre-se às técnicas

argumentativas.

A proposta da Nova Retórica estava calcada na teoria da argumentação de

alcance filosófico, haja vista os teóricos que a fundou. Nas Palavras de Perelman, o que

distingue a Retórica Clássica da Nova Retórica é que esta última amplia a noção de

auditório, levando em consideração a qualidade dos espíritos:

o objeto da retórica antiga era, acima e tudo, a arte de falar em público de modo persuasivo, referia-se, pois, ao uso da linguagem falada, do discurso perante uma multidão reunida na praça pública, com o intuito de obter a adesão desta a uma tese que se lhe apresentava. (PERELMAN e OLBRECHTS-TYTECA, 2014, p. 6)

Perelman vai além dos estudos de Aristóteles, que considera limitado, e

trabalha com a estrutura da argumentação, não apenas com argumentação oral para

uma multidão reunida numa praça. Conserva-se da retórica tradicional apenas a ideia

de auditório: “Mudando o auditório, a argumentação muda de aspecto e, se a meta a

que ela visa é sempre a de agir eficazmente sobre os espíritos, para julgar-lhe o valor

temos de levar em conta a qualidade dos espíritos que ela consegue convencer”.

(PERELMAN e OLBRECHTS-TYTECA, 2014, p. 8)

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Os espíritos a que Perelman se refere são a própria audiência. Assim, o

“Tratado da argumentação”, livro de autoria de Perelman e Olbrechts-Tyteca, versa

sobre os recursos discursivos para se obter a adesão dos espíritos, cujo foco situa-se

sobre o condicionamento do auditório mediante o discurso, do que resultam

considerações sobre a ordem em que os argumentos devem ser apresentados para

exercer maior efeito, pressupondo-se a existência de um contato intelectual. O

auditório é, assim, definido como o “conjunto daqueles que o orador quer influenciar

com sua argumentação” (PERELMAN e OLBRECHTS-TYTECA , Op. Cit., p. 22)

Em síntese, diz-se que persuadir é a argumentação direcionada para um

auditório particular e convencer é obter a adesão de todo ser racional. No entanto, a

persuasão conduz a uma ação, pois o objetivo de toda argumentação é provocar ou

aumentar a adesão dos espíritos às teses que se apresentam a seu assentimento. O

esquema estrutural da persuasão engloba o argumento, passa pela adesão e chega à

(disposição para a) ação. Segundo os autores mencionados, todo argumento é mais

convincente quando condicionado pela verdade, haja vista que ao lado dos fatos,

verdades e presunções acordadas pelo auditório universal, há também os valores, as

hierarquias e os lugares do preferível.

Sob uma perspectiva do ensino e estímulo à argumentação em contexto

escolar, Liberali (2013) menciona e sintetiza as abordagens teóricas de Aristóteles e de

Perelman e Tyteca, para evidenciar a importância da argumentação na vida dos alunos,

a fim de contribuir para uma prática mais crítica e criativa de utilização de mecanismos

linguísticos de composição do discurso.

É nesse sentido que concordamos com a perspectiva de que a linguagem, além

de forma de ação social, é interação e é dialógica, como defende Bakhtin (1997, p.

113). De acordo com ele, “na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é

determinada tanto pelo fato que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige

para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte.”

Nessa ótica, a interação é tida como encontro em que os participantes, por estarem na

presença imediata uns dos outros, sofrem influência recíproca, daí negociarem e

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construírem significados dia a dia, momento a momento. Nas palavras do autor, “a

interação verbal constitui, assim, a realidade fundamental da língua” (p. 123).

Nesse mesmo sentido, Gumperz (1991) harmonizam-se com Bakhtin ao afirmar

que o próprio processo interativo é constitutivo da realidade social e, portanto, as

ações não estão predeterminadas, pois os participantes organizam o discurso de modo

que permitem atribuição de significado.

Palestra: uma breve definição

Na perspectiva proposta em estudo (SILVA, 2011), a palestra é entendida

enquanto gênero essencialmente oral formal mediado pela produção de um texto

escrito e proferido para pessoas que consideram o tema importante ou pertinente.

Além disso, deve ser proferida por alguém que domina um assunto específico e que

tem propriedade para falar sobre ele, utilizando-se de teorias e exemplificações com a

finalidade de conduzir os destinatários a uma atitude, seja de ação no mundo ou para

reflexão pessoal.

Contudo, destacamos como característica geral da palestra o fato de ser um

texto previamente planejado, geralmente na modalidade escrita, cuja profundidade

com que se explora o tema depende do público alvo e do tempo de que se dispõe. De

modo geral, o palestrante precisa estimular o público e envolvê-lo do início ao final de

sua exposição, apontando direções para as quais as pessoas podem ou devem seguir a

fim de conseguir um determinado objetivo, para isso um bom recurso é conhecer o

público ao qual está se dirigindo e fornecer razões para que se faça o que está sendo

dito.

Embora seja realizável na escola (por uma autoridade) a palestra é um gênero

típico de outras agências que não a escolar, pois além de o palestrante precisar

delimitar seu objeto e seus objetivos mediante a constatação de um problema

socialmente identificável, apresentando uma problematização associada a um

enunciado de contradição, que tenderá a ser respondida na fase de resolução das

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questões colocadas por meio de argumentos e contra-argumentos; no final dessa fase

apresenta-se a conclusão-avaliação dos dados e a retomada dos dados ou

constatações iniciais e os efeitos dos argumentos e contra-argumentos instaurados no

texto.

As estratégias linguísticas na linguagem oral: uma abordagem sóciointeracionista

Em evento de palestra a fala se adéqua ao contexto comunicativo, que, na

interação, funciona como estratégia persuasiva para aqueles locutores que

apresentam informações internalizadas a as exteriorizam por meio da voz. Nesse

sentido, Gumperz (1991) afirma que o processo interativo é constitutivo da realidade

social e, portanto, as ações não estão predeterminadas, pois os participantes

organizam o discurso de modo que permitem atribuição de significado. É por isto que,

na interação, há que se considerar a criação conjunta (comunicação cooperativa) de

todos os presentes no encontro, quais sejam: os participantes – quem fala para quem;

os tópicos – sobre o quê; o espaço – em que lugar; o tempo – em que momento; a

forma como os participantes sinalizam – os enquadres, conceituados enquanto

esquemas ou estruturas que formamos para compreender as elocuções.

O jogo de pressuposições linguísticas contextuais e sociais que interagem na

criação das condições de produção do discurso se materializa nas convenções de

contextualização conceituadas por Gumperz (1998, p. 98) como “pistas de natureza

sociolinguística que utilizamos para sinalizar as nossas intenções comunicativas ou

para inferir as intenções conversacionais do interlocutor”, que podem se apresentar

através de pistas linguísticas (alternância de código, dialeto ou estilo), pistas

paralinguísticas (o valor das pausas, o tempo da fala, as hesitações) e/ ou pistas

prosódicas (a entonação, o acento, o tem); além das pistas não-vocais, como postura,

gestos, direcionamento do olhar, distanciamento entre os interlocutores etc.

Sendo assim, a língua não é apenas um fato social, mas, principalmente,

constitutiva de interação verbal e produtora de significados, principalmente em

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situações de fala planejada e direcionada a um fim persuasivo, como é o caso da

palestra (SILVA, 2011).

Em situação de fala por um único expositor (palestrante ou conferencista) a

uma plateia, como é o caso da palestra, as respostas desta última aparecem, segundo

Goffman (1998), por meio de “sinais de retroalimentação”, ou seja, com o papel de

apreciar as observações feitas e não o de responder de forma direta. No entanto,

considera-se que essas “testemunhas ao vivo são co-participantes numa mesma

ocasião, suscetíveis a toda estimulação mútua que a ocasião oferece”, assim, “caso um

membro da plateia tente reagir verbalmente a alguma coisa que o orador diz no meio

de um discurso, este pode decidir responder e, caso saiba o que está fazendo,

sustentar a realidade com a qual está comprometido” (GOFFMAN, 1998, p. 83).

As estratégias comunicativas utilizadas por um comunicador podem ser

analisadas no âmbito da teoria da competência comunicativa instaurada por Hymes

(1974). Para ele, o processo de interação propriamente dito passa a ter um lugar

central na emergência e na manutenção de comunidades de fala, ou seja, tanto as

situações de interação como as identidades que se põem em jogo durante a interação

são cruciais para a definição do construto.

Essas decisões tomadas em momentos de produção da oralidade formal levam-

nos a considerar o posicionamento de Dell Hymes acerca da dimensão social do

conceito de competência, denominando-a competência comunicativa, para tratar da

necessidade do falante de entender e usar as variedades de acordo com um contexto

linguístico e social específicos (cf. HYMES, 1972).

Em síntese, a competência comunicativa envolve tudo que diz respeito ao uso

da linguagem e outras dimensões comunicativas em contextos sociais particulares.

Uma vez adquirida pelo falante, a competência comunicativa está presente em toda

interação. No caso da exposição de um falante para uma audiência, a competência

comunicativa apresentada deve se manifestar no tratamento formal dado tanto à

linguagem verbal quanto não-verbal, como os gestos e a postura.

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MECANISMOS DE COMPOSIÇÃO DO DISCURSO ARGUMENTATIVO EM PALESTRA

PRODUZIDA POR ALUNOS

Ao tomar por foco o domínio competente da argumentação, consideraremos

três partes principais que compõem o gênero palestra, quais sejam: apresentação do

palestrante e do objetivo da exposição; o tratamento do foco da palestra e; a

conclusão da fala dos palestrantes apresentando sugestões, relacionadas ao tema,

para o público ouvinte.

Os exemplos de exposições estão enumerados pela ordem de apresentação dos

grupos: grupo 1 e grupo 2, em análise. Cabe ressaltar que, para dinamizar a leitura

desses dados, a gradação de análise se estabelece pela comparação entre o grupo que

mobilizou a argumentação típica da condição de alunos e cumprem apenas o solicitado

nas tarefas propostas (grupo 1) em oposição àquele que apresentou maior domínio de

conteúdo, de fala e de condução da exposição (grupo 2), considerando-se as limitações

da situação de produção, por se tratar de um contexto escolar.

Com a leitura das exposições, fica evidente que um dos expositores sempre se

comporta como coordenador, abrindo e fechando as “falas”, além de apresentar mais

argumentos em favor da proposta temática defendida, possibilitando a tomada do

princípio de ação criativa, de análise pautada em categorias enunciativas, discursivas e

linguísticas, conforme observamos adiante.

Durante a apresentação pessoal dos expositores, na tentativa de palestrantes,

bem como dos temas que abordaram nas exposições, podem ser observadas

diferentes marcas de mecanismos de composição do discurso que estruturam o texto

argumentativo, pois os alunos demonstraram diferenças significativas quando aos

modos de produção, vejamos:

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Trecho 1 (GRUPO 1):

7E14 Bom dia meu nome é K. e meu grupo é composto por R. J.

T. E. e A. ... estamos aqui para proferir uma palestra/para

proferir uma palestra cujo tema é o preconceito que é um

fator frequentemente visto em lugares variados... portanto

iremos dar seguimento a esse tema/ portanto iremos dar

seguimento a esse tema que é bastante falado e raramente

abordado... nessa palestra nós iremos falar principalmente

sobre o homossexualismo e o racismo (...)

Ao se apresentar enquanto “grupo”, E14 apesar de apresentar uma limitação

quanto à realização do gênero, pois sua fala parece mais voltada para as características

presentes em exposição de seminário, realiza a abertura do evento e instaura o início

da exposição. Além disso, percebe-se marcas de composição do discurso que

demonstram o pouco domínio da fala formal.

Nesses casos, em que os alunos precisam de um domínio do jogo de cena para

agirem criticamente e discutir o tema com profundidade, percebemos que os

interlocutores (enunciadores) são intercambiáveis no processo: atuam ora como

produtores-oradores (sujeitos argumentativos) ora como ouvintes-leitores. Assim, o

objetivo da interação é alcançar um determinado fim (propor uma mudança) e o

objeto da interação é o conteúdo temático.

A seguir, comparamos os trechos de fala do grupo 2 , em que E12 inicia sua

exposição de um modo diferente de E14 (grupo 1): saúda o público e antecipa o

agradecimento pelo convite de participar do evento, apresenta o tema e abre a

exposição da temática a partir de tópicos, simulando o evento de forma esperada

segundo às instruções de aulas:

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Trecho 2 (GRUPO 2):

124E12 bom dia... somos alunos da escola ( ) e estamos

no terceiro ano e já agradecemos pela oportunidade de

estarmos aqui com vocês vamos proferir a palestra

sobre/sobre: desenvolvimento tecnológico... primeiramente

como todos sabem o avanço tecnológico em nosso país está

crescendo cada vez mais as tecnologias estão cada vez ó:: é::

em nossos caminhos... o homem está sendo substituído

pelas máquinas como a gente vê nas empresas e em todos

os locais da nossa sociedade...

O expositor E12 demonstra mais segurança sobre o que diz, evidenciando uma

competência comunicativa que não se limita à resolução da tarefa e prepara uma

exposição cuja performance é diferente do que foi visto na palestra do grupo 1, pois

E12 demonstra um melhor domínio da abertura da exposição, ao que se aproxima do

expectativa para o gênero, assumindo uma voz de autoridade para falar sobre o tema

proposto.

O segundo momento chave de exposição é o momento em que os fatos são

trazidos por meio da narração de acontecimentos, de descrição de situações ou de

argumentos acerca de um ponto de vista, identificadas pelas características discursivas

da argumentação, dentre as quais destacamos quatro aspectos: o plano organizacional

(compreensão das formas de como o enunciado se inicia, desenvolve e encerra),

organização temática (desenvolvimento do tema/turno ou tópico oferecido), foco

sequencial (escolha temática em pauta e seu entrecruzamento discursivo) e a

articulação entre as ideias apresentadas (forma como ideias, posições, pontos de vista

são apresentados, constratados, sustentados, acordados, LIBERALI, 2013).

O trecho 3 de fala, dos expositores do grupo 1, ilustra a pouca habilidade em

mobilizar estratégias de estilo e qualidade da voz, conforme sistematiza Aristóteles. A

afirmação é reforçada nos dois trechos que seguem, visto que eles não conseguem

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mascarar o nervosismo característico de iniciantes na exposição de texto oral formal

público. Observemos:

Trecho 3 (GRUPO 1):

13E10 e muitas pessoas/ não... desculpa... primeiro é

outra coisa aqui ((muito nervosa, em tom baixo diz:)) não

liguem pro papel não tá? ((consulta a “cola”: um papel que

segura no momento da exposição)) primeiro eu vou ler um

trecho onde tá/um peDAÇO da música de Bob Marley

17E26 tem que cantar

((risos))

19E10 tem não só vou ler... bom “que país é esse onde o

preconceito está guardado em cada ser... Que país é esse onde

as pessoas não podem ser iguais dentro das suas classes

sociais”... é:: existem pessoas que pensam que por outros

terem uma cor diferente de pele são diferente delas isso não é

verdade... somos todos exatamente iguais... é:: não importa

assim... a quantidade de dinheiro ou a classe a que pertence é::

ou seja... desculpa gente eu tô nervosa... é:: não importa se é

alto: baixo: gordo magro rico pobre...

Na palestra é possível que haja interação com os destinatários – seja ela efetiva

ou de ordem retórica – e é permitido envolver os participantes no jogo enunciativo.

Nos seguintes trechos em destaque na fala de E10 (L 13, L 23, L 25-26) percebemos

que ele sempre que esquece a fala pede desculpas aos destinatários e tenta retomar o

turno (L13 e L16), em seguida inicia sua apreciação temática com a leitura de um

trecho de uma música seguido de um raciocínio explicativo – ... é:: existem pessoas que

pensam que por outros terem uma cor diferente de pele são diferente delas isso não é

verdade... somos todos exatamente iguais... –, essa explicação se reveste de marcas

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linguísticas que apontam para a dificuldade em organizar a linguagem formalmente em

situações públicas de fala. Fica evidente, ainda, que o nervosismo conduziu à falta de

concordância entre dois termos.

Em situações públicas formais de fala, com as quais os alunos quase nunca se

deparam, encontram dificuldades em organizar o texto e se expressarem

adequadamente, pois a presença do outro, neste caso, enquanto colegas de turma, ao

invés de diminuir o estresse comunicativo, o faz aumentar.

No trecho 4 de fala do grupo 2, E12 desenvolve o tema da exposição de modo

coerente com o que propõe Aristóteles, acerca das técnicas de comunicação, além de

ilustrar a presença das quatro categorias apresentadas por Hymes (1972). Vejamos:

Trecho 4 (GRUPO 2):

127E12 (...) primeiramente como todos sabem o avanço

tecnológico em nosso país está crescendo cada vez mais as

tecnologias estão cada vez ó:: é:: em nossos caminhos... o

homem está sendo substituído pelas máquinas como a gente

vê nas empresas e em todos os locais da nossa sociedade...

tendo como exemplo uma empresa de ônibus que:: hoje como

a gente: quem anda de ônibus aqui sabe que os cobradores

estão sendo trocados pelas máquinas e pelo cartãozinho e o

motorista está exercendo praticamente duas funções num é?

E:: em vários ônibus a gente pode observar isso... também em

nossas salas temos o avanço dessas tecnologias o QADRO que

antigamente era um quadro negro né? Que era usado o giz...

hoje nós temos aqui o piloto né? O lápis ((apontando para a

lousa e para o lápis piloto)) e é escrito já não tem problema

de...

139A16 [daqui a pouco é a máquina

no lugar do professor

((risos))

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141E12 [já não

tem mais problema de o professor que tenha alergia ou não e::

futuramente como será? Será que nas salas

144A16 [vai ter um datashow

pendurado na laje ali...

((risos))

146E12 [[sim... será

que vamos ter datashow (...)

E12 parte do conhecimento cultural ou partilhado pelos participantes da

interação, e se utiliza de habilidades e conhecimentos linguísticos adequados ao

contexto de produção da palestra; permite a voz do destinatário (L139 e L144), mas

não o permite “dominar” o turno retomando logo sua enunciação: futuramente como

será? Será que nas salas/ será que vamos ter datashow? (L 142). Os questionamentos

realizados pelo expositor evidenciam a organização argumentativa para conduzir os

destinatários à reflexão.

Por fim, vejamos o quadro comparativo com trechos da conclusão das duas

palestras:

Trecho 5 (GRUPO 1):

105E26 pronto... isso aí é

porque são... vinte e oito min/ meia

hora de vídeo aí a gente cortou é:: e

faltava agora ainda o poema que a

gente tinha colocado só que não

coube no DVD... nem sei porque num

pegou... que J ia ler... mas... assim

quando eu li que noventa e cinco por

cento dos gays se sentem

discriminados mas ele fala isso mas...

que se sente discriminado porque eles

escondem o rosto quando vão falar

como vocês viram aqui no vídeo?... se

Trecho 6 (GRUPO 2):

126E12 é:: e máquina produz bem

mais que um homem né? Mesmo hoje nas...

tipo assim nas fazendas onde tem o cultivo

da cana de açúcar alguma coisa ou/

antigamente era o que braço mesmo o

homem ia lá trabalhava e fazia e mandava

ver hoje em dia tem máquinas né? Que

fazem todo trabalho cortam tira as partes

verdes deixa só a cana de açúcar botam já

dentro do caminhão e vai para a empresa

fica muito fácil desse jeito e as pessoas tão

sendo sempre excluídas e no futuro como

será? A gente deve parar pra analisar como

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eles num quisessem é: que:: dicrimi/

discrimine/ como é?

112A5 o discrimina-ssem

113E26 que o dis-cri-mi-

nassem... é:: eles poderiam mostrar o

rosto como esse aqui não teve

vergonha como o outro teve vergonha

e se sente discriminado... então::

galera foi isso obrigado pela sua

atenção.

será o nosso futuro como eu disse bem no

início da palestra será que nas salas de aulas

vão ter professores?

Quadro 1: comparativo palestras 1 e 2

Ao final da apresentação, conforme características da palestra, o palestrante

tende a deixar sugestões para o público ou a fazer um apelo no tocante ao que foi

exposto, representante da tradição dos textos argumentativos que finalizam com

conselhos.

No trecho 5, E26 finaliza seu evento de fala apresentando uma justificativa para

o que não fez em sua produção e a apreciação de um raciocínio crítico a respeito das

entrevistas realizadas com homossexuais (Linhas 105 – 107) e, ao se despedir dos

destinatários, utiliza a variante informal da linguagem (Linha 114) – então:: galera foi

isso obrigado pela sua atenção. – o que caracteriza a ausência de distanciamento entre

o expositor e os expectadores, justificado não apenas por se tratar de um evento

realizado em sala de aula, com a presença dos colegas de turma, mas também pela

pouca consciência do alinhamento dado à linguagem, ao simularem a voz de um

especialista.

E12, do grupo 2 (trecho 6), deixa bem marcado o seu recado no tocante ao que

foi exposto. A competência para composição do discurso na produção do gênero foi

mobilizada também nesse momento da exposição, pois o palestrante realiza

questionamentos que conduzem à reflexão e à possível ação dos destinatários acerca

do problema levantado; além de uma ratificação consistente: (L 133) A gente deve

parar pra pensar como será o nosso futuro como eu falei bem no início da palestra.

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Verificamos, apenas, o uso da variante (gíria) tipo assim típico da faixa-etária a que

pertence e ausência de saudação final.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da análise dos trechos de fala de três grupos de “palestrantes”, alunos

do 3º ano do Ensino Médio, pudemos perceber que argumentação é um excelente

campo de estudos dentro dos estudos linguístico-filosóficos, que possibilitam um

ensino de habilidades críticas e criativas ao abordar temas do cotidiano social.

A resposta a esse tipo de ensino é o fato de que mobilizar o ensino de técnicas

argumentativas possibilita o aprimoramento de capacidades linguísticas, pelo

planejamento e monitoramento da fala (em situação formal), caracterizadas enquanto

composição do discurso argumentativo, quais sejam: as categorias enunciativas, as

categorias discursivas e as categorias linguísticas.

Dentre a mobilização de categorias enunciativas, os alunos mostraram que é

possível, com a prática do ensaio e do monitoramento da fala, desenvolver o tema

dentro de um plano organizacional tematicamente desenvolvido, com foco na

sequência da exposição e uma boa articulação das ideias. No nível discursivo,

identificamos o entrelaçamento das vozes dos participantes no discurso, em que

apresentaram o desenvolvimento de um ponto de vista/tese, encadeado pelos

recursos da apresentação de esclarecimento; apresentação de maiores detalhes sobre

argumento de sustentação apresentação de contra-argumentos, questões para

entrelaçamento de falas, modos de questionar que contribuem para que os

interlocutores percebam ou criem relações entre suas falas e de outros participantes

do evento.

Por fim, percebemos que, dentre as características linguísticas da

argumentação, os mecanismos de composição do discurso mobilizados foram:

mecanismos conversacionais (que incluíram uso de interrogação, pausa, elipse,

repetição, complementação, permeabilidade, exclamação), mecanismos lexicais

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(assunto foco do enunciado), de coesão verbal (verbos e seus determinantes), de

coesão nominal (formas de iniciar uma nova unidade de significação e de renovar a

unidade nova), de valoração (posição dos locutores frente aos temas, ao momento de

enunciação, etc.), de conexão (encadeamento das ideias no texto – intra e intertexto),

de distribuição das vozes (implicação do sujeito no enunciado). Tudo isto em função de

um objetivo comum: tornar os alunos sujeito ativos, críticos e capazes de formular um

texto oral embasado por argumentos fortes e bem organizados discursivamente.

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