Arca - 4ª Edição

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Revista ARCA - 4ª edição - da Academia de Letras de São João da Boa Vista

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Temos o imenso prazer em fechar o ano de 2014 com mais uma edição da

Revista ARCA. Chegamos à quarta edição. Com as dificuldades normais em conseguir verba, publicá-la tem sempre um sabor de vitória! A cada edição atingimos um número sempre cres-cente de leitores, o que nos deixa realizados e convictos de que fazemos um bom trabalho. Nesta edição, além das seções impor-tantes com dicas sobre a Língua Portuguesa e indicação de boa leituras, mostramos que o se-gundo semestre de 2014 foi rico em atividades acadêmicas, como os leitores poderão conferir na seção “Aqui Aconteço”. Tivemos muito pra-zer em mostrar a alegria e satisfação dos pre-miados nos concursos “Literário de Poesia e Prosa” e “Redação na Escola”. Assim, terminamos o ano com a certeza de que caminhamos no caminho certo e bons frutos temos colhido. É com gratidão aos acadêmicos, colabo-radores, apoiadores e patrocinadores, que en-cerramos este ano. Boa leitura e que 2015 seja profícuo em eventos literários e que venham outras edições da revista ARCA!

EDIÇÃO 04 | ANO 02 | DEZEMBRO 2014Palavra do Editor01 Palavra do Editor

02 Bastidores

04 Letras em Retrato

08 Por Onde Andei...

10 Crítica Literária

12 São João à Vista

16 Academia em Revista

18 Luz Grafia

20 Arcadianas

56 Luz Grafia

50 Aqui Aconteço...

62 Sopa de Letras

64 Afiando a Língua

66 Livros

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Bastidores

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Mais um ano se finda! Chegam ao fim o ano e também a

gestão desta diretoria, idealizadora da Revista ARCA. A presidente está reeleita e com ela segue a diretoria com pequenas modificações, de acordo com o novo Estatuto. Quanto aos projetos e eventos culturais, foram oito acon-tecimentos ao longo do segundo semestre, en-tre palestras, concursos e homenagens, além de posse de seis novos acadêmicos. Deve-se acres-centar aos acontecimentos a visita da presidente à cidade de Treze Tílias/SC, em que esteve com a Consulesa Honorária da Áustria para Santa Catarina, Sra. Anna Lindner von Pichler, e para ela deixou muitos dos trabalhos realizados pela Academia de Letras de São João. Estudam a possibilidade de instalação de uma Arcádia por lá. As fotos ao lado mostram o quanto se trabalhou nos bastidores para essas realizações, que poderão ser vistas nas páginas finais da Revista. Os textos continuam de acadêmicos, a abrilhantarem a ARCA, já em sua 4ª edição. Ela chega às mãos do sanjoanense pou-cos dias antes das festas natalinas, por isso toda a equipe de realização procurou deixá-la fra-terna, para ser um presente no “Feliz Natal” de cada lar. No próximo ano, novas edições chegarão até você, leitor. Aguarde! Boas Festas!

Lucelena MaiaPresidente

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Letras em Retrato

São João da Boa Vista, 10 de setembro de 2014, Theatro Municipal.

O ensaio durante a tarde deixou o ma-estro Paulo Rowlands, da Orquestra Camerata Brasileira, preocupado. Não havia sido dos

melhores. O grupo parecia desatento, e o mais desatento de todos era o solista Jean William. Experiente, o maestro já assistiu (ou re-geu) a espetáculos desastrosos. Sabe que tem dias em que inexplicavelmente nada dá certo: a plateia não vibra, os músicos não se acertam e

Uma Noite Daquelas em São João...

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“a coisa acontece sem vida”. Diante da aparente desatenção do solista Jean William e da falta de entrosamento dos músicos, temeu que aquela seria mais uma dessas desastradas apresenta-ções. Apesar dos desacertos, a tranquilidade de Jean William espantava o maestro. De camiseta e bermuda, muito à vontade, o olhar do solista percorria os detalhes do Theatro de São João da Boa Vista e parecia estar longe dali. Em quantos outros teatros Jean William já se havia apresentado antes? Tan-tos mais bonitos ou mais glamourosos como o Avery Fisher Hall, no Lincoln Center de Nova York, Sala São Paulo ou os ricos Teatros de Milão, onde estudou música? E foi regido antes por quantas outras batutas além da dele: Carlos Spierer, Cláudio Cruz, Olivier Toni, Diogo Pacheco, Martinho Lutero Gallati, Guido Rimonda, entre tantos, sem falar em João Carlos Martins, o revelador de Jean William para o cenário lírico. Depois de percorrer o mundo todo, de pisar nos palcos mais famosos e cantar, en-tre outros, para o Papa Francisco, o maestro Paulo Rowlands não poderia imaginar que Jean William estivesse emocionado por estar em São João da Boa Vista. Mas, o solista estava verda-deiramente emocionado. E o resultado desse estado de espírito o maestro só conheceria à noite. A noite era em comemoração dos 100

anos do Theatro Municipal e dos 50 anos da Unifae. Fazia tempo que os dirigentes do Theatro tentavam trazer Jean William a São João. Um sonho distante, afinal, o jovem solista vinha de turnê internacional, sendo requisita-do para vários espetáculos. Só havia uma data em sua agenda e muitas cidades disputavam a apresentação. Mas, a escolhida foi São João da Boa Vista. O empresário Fred Rossi, o criador do famoso “Circuito Universitário” na década de 70, interferiu na escolha. Fred, que foi em-presário de Vinicius de Moraes, entre outros, é um romântico por natureza. O Circuito tinha esta característica: o romantismo de contesta-dores que queriam a volta da democracia. Ar-tistas como Vinicius de Moraes, Toquinho, Elis Regina, Chico Buarque e Caetano Veloso se apresentavam para estudantes, cantando pelo fim da ditadura. Romanticamente apaixonados pelo Brasil e pela liberdade. A apresentação para comemorar os 50 anos de uma universidade era como reviver um pouco do que foi o Circuito Universitário. O próprio Jean William também interfe-riu na escolha de São João. Depois da turnê pela Europa, estava com saudade do interior, de uma cidade que o fizesse lembrar-se de Sertãozinho, onde nasceu, ou de Barrinha, onde foi criado. Absolutamente comprometido com as questões sociais, Jean William se emocionou

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quando soube do perfil dos universitários da Unifae: jovens, trabalhadores, de origem humil-de, que trabalham durante o dia para estudar à noite, à procura de um lugar ao sol, mesmo diante de tantas adversidades. Impossível não lembrar-se de sua própria luta. Também se emocionou ao saber que iria cantar no Theatro Municipal. Diria depois: “Sou um artista e este é meu habitat. O lugar é lindo, um monumento do Estado de São Paulo que eu queria conhecer.” Por isso, Jean William estava disperso naquele ensaio. Lembrava-se da infância po-bre, quando subia no alto de uma árvore lá em Barrinha e ficava comtemplando o horizonte, tentando imaginar o que a vida lhe reservaria. Quando a noite começou, o maestro Paulo Rowlands ainda se preocupava com o descompasso do ensaio. Não havia entendido a aparente desatenção de Jean William e a in-sistência de incluir no show a apresentação de um aluno da Unifae, Guilherme Quartier Costa. Uma apresentação desastrada do rapaz poria tudo a perder, quebraria o ritmo do show. Melhor seria não arriscar, mas Jean William in-sistia. Queria dar uma oportunidade ao garoto e fez questão de tratá-lo como um colega e não como um amador. Depois, o maestro reconhe-ceu que aquela havia sido uma grande ideia. O garoto deu conta do recado e logo no primeiro segundo de “Il sole mio’, arrancou aplausos da plateia surpreendida com seu talento. Antes, no início do show, o maestro já

havia percebido que aquela não seria uma noite comum. Jean William estava impressionan-temente inspirado e sua inspiração contagiou a todos, a começar pelos músicos, atingindo a plateia. Com lágrimas nos olhos, e ainda vibran-do com os aplausos calorosos dos sanjoanenses, Paulo Rowlands definiu assim o espetáculo que regeu: “Tem coisa que acontece e não se expli-ca. Havia algo de muito especial no ar. A quími-ca foi perfeita, tudo deu certo. A vibração da plateia contagiou ainda mais a todos nós. Jean William esteve próximo da perfeição. Uma noite daquelas, para jamais ser esquecida.”

SOBRE JEAN WILLIAM Apaixonado desde cedo por música e extremamente dedicado aos estudos, Jean formou-se em música pela ECA-USP; ainda estudante, participou dos mais importantes festivais do Brasil, dentre eles, o Festival Inter-nacional de Campos do Jordão. Apoiado pelo maestro João Carlos Martins, desde 2009, apre-sentou-se como solista em palcos como a Sala São Paulo e Avery Fisher Hall, no Lincoln Cen-ter de Nova York, recebendo elogiosa crítica. Como bolsista do projeto VOCALIA viveu e frequentou aulas em Milão com grandes nomes do cenário lírico como Davide Rocca, Luciana Serra, Umberto Finazzi, entre outros. O cantor de 28 anos fala fluentemente

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inglês, espanhol, italiano e francês, o que lhe permite apresentar-se nos mais renomados pal-cos nacionais e internacionais, destacando-se no cenário artístico e cantando à frente de impor-tantes orquestras e grupos no Brasil e em países como Emirados Árabes, EUA, Itália, Portugal, Suíça e Argentina. Desde 2012, faz temporadas de concertos e recitais dentro e fora do país, tendo estreado uma ópera moderna pelo teatro Comunale de Vicenza (Itália), recebendo calorosa recepção do programa Ridotto Del Ópera da Rádio Suíça italiana. Jean já cantou sob a batuta de maestros, como: Carlos Spierer, Claudio Cruz, Olivier Toni, Diogo Pacheco, Martinho Lutero Gallati, Guido Rimonda e apresentou-se com distintos grupos e orquestras nacionais e internacionais, sendo admirado pelo público e por artistas.

Nascido em Sertãozinho e criado em Barrinha, cidade da região de Ribeirão Preto, que vive da cultura canavieira e atrai imigran-tes de todo país em época de safra, no dia 29 de junho de 2012, Jean entrou para a história da cidade ao ser homenageado com o anfiteatro do local que foi batizado com o seu nome: Anfite-atro Municipal de Barrinha Jean William Silva. Uma inauguração cheia de emoção em que o homenageado se lembrou de uma citação anô-nima apropriada para o momento: “Para saber aonde chegamos, é preciso nunca nos esque-cer de onde viemos, afinal, é de lá que a gente aprende a ver o céu”.

Francisco de Assis Carvalho ArtenCadeira 10Patrono Darcy Ribeiro

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Todos temos sonhos de conhecer lugares... O meu era conhecer a terra das vaquinhas... Explico:

quando pequena, nos finais de semana, meu pai, presentea-va-nos, a meus irmãos e a mim, com o esperado chocolate ao leite da extinta marca “Falchi”. Maravilhoso, delicioso, derretia na boca, cuja embalagem retratava um cenário da Suíça: os montes nevados ao fundo e, nos pastos verdejantes e floridos, vaquinhas malhadas . Quem é do meu tempo, com certeza se lembra! Sonhava com essa imagem e dizia: um dia conhecerei esta paisagem... E não me decepcionei! No ano passado, acom- panhada de meu eterno companheiro, pude realizar mais este sonho, ora realidade. Nos meses mais frios do ano, a terra dos relógios pre-cisos, das vacas gorduchas, contas bancárias sigilosas e dos canivetes multifunções , lota de turistas ávidos por curtir o frio em meio ao charme dos Alpes. Mas é no verão que se tem a oportunidade de vivenciar as quatro estações de uma só vez. Enquanto al-guns aproveitam para se banhar nas águas límpidas do Rio Limmat, os picos de neve eterna garantem temperaturas abaixo de zero, seja qual for a época do ano. Estive por lá, justamente nesse clima. Nessa brincadeira de “tá quente, tá frio”, a fantástica rede ferroviária exerce papel fundamental. O turista embar-ca no calor do verão e desembarca, com luvas, cachecol e dentes batendo, em montanhas com temperatura abaixo de zero. Desculpe-me o chavão, porém, não há deixar de dizer: foi uma viagem de sonho muito esperado, mas realizado!

Por onde andei...

Maria José Gargantini Moreira da SilvaCadeira 39Patrona Clarice Lispector

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Crítica Literária

Há uma crônica de Rubem Alves com o título “Escrevo o Que Não Sou”, e

nela ele trabalha com a questão da duplicidade existente entre o escritor e o que é escrito, e con-sequentemente sobre a identidade do autor. Desta maneira, ele questiona: - O autor e sua obra mostram a mesma personalidade? São as mesmas pessoas? Exis-tiriam dois “eus”: o que escreve e o que vive o prosaico cotidiano? O autor seria personagem de si mesmo? Qual seria o “eu” real, o “eu” ver-dadeiro? Ele mesmo tenta responder relatando-nos que: “Eu não sou igual ao que escrevo e, como Fernando Pessoa, sou um fingidor”:O poeta é um fingidor.Finge tão completamenteQue chega a fingir que é dorA dor que deveras sente.

Antônio Machado, grande poeta espanhol, de Andaluzia, sabendo desta dicoto-mia, afirmava que o poeta “Si miente más de la cuentaPor falta de fantasia:También la verdad se inventa

Zaratustra, profeta e poeta persa, nas-cido antes de Cristo, já advertia que “os poetas mentem demais”.

Fernando Pessoa, possuindo os mesmos questionamentos, talvez numa tentativa de fuga, ou de encontro de seu “eu”, chegou a construir vários heterônimos e trafegou poeticamente entre ele próprio e os “Outros”. Acreditava, no entanto, que era muito pequeno quando com-parado com a sua obra e num dos seus poemas chega a dizer:“Depois de escrever, leio...Por que escrevi isso?Onde fui buscar isto?Isto é melhor do que eu...” Vinha-lhe então a suspeita de que aquilo que ele escrevia não era obra dele, mas de um Outro e assim se expressou: “Seremos nós, neste mundo, apenas canetas com tinta com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?”. Em outro poema, Álvaro Campos, heterônimo de Pessoa, a procura desse “eu”, es-creve:

Duplicidade“Escrevo o Que Não Sou”

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“Não: devagar.Devagar, porque não seiOnde quero ir.Há entre mim e meus passosUma divergência instintiva.Há entre quem sou e estouUma diferença de verboQue corresponde à realidade.” (...)

Se dermos, no entanto, um passeio pela literatura, veremos que este questionamento, esta duplicidade, esta inquietação quanto da própria identidade, não é raro de se encontrar. Jorge Luiz Borges escreveu um conto intitulado: “Borges e Eu” onde trabalha a mes-ma problemática, em que o “eu” é “a pessoa de carne e osso, a que caminha por Buenos Aires, a que se detém para olhar o arco de um saguão e a porta en-vidraçada”, é quem “se deixa viver para que Borges, o escritor, possa tramar sua literatura”. Dessa ma-neira sentencia: “é, a este a quem sucedem as coisas”. Ainda, num desabafo diz: “Estou desti-nado a perder-me definitivamente, e sei que apenas algum instante de mim poderá sobreviver no escritor Borges. Há anos tratei de livrar-me dele e passei a interessar-me por outros temas como o tempo e o infinito, mas logo Borges apropriou-se deles”. E, de-sorientado conclui: “minha vida é uma fuga. Não sei qual dos dois escreve esta página”.

Sá Carneiro, poeta contemporâneo e con-terrâneo de Fernando Pessoa, também sofria este mesmo mal e escreve seu autorretrato afir-mando:“Eu não sou eu, nem sou o outro,Sou qualquer coisa de intermédio:Pilar da ponte do tédioQue vai de mim para o Outro.” Já, Cecília Meirelles, na procura de sua identidade, num belo poema, relata-nos que:

“Entre mim e mim, há vastidões bastantespara a navegação dos meus desejos afligidos. (...)Ó meu Deus, isto é minha alma:qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera..”

No “Livro do Desassossego” de Bernar-do Soares, ele vai nos relatar que: “sou o inter-valo, a média abstrata e carnal, entre o que sou e o que não sou, entre o que sonho e o que a vida fez de mim.”

Nas palavras do literato Gilberto M. Kujawsky, nesta labuta há simplesmente “um desejo de completude, a busca de si mesmo no seio do desconhecido”.

Retornamos, para finalizar, a Rubem Alves que tenta justificar a duplicidade, esta procura do “eu” afirmando que: “não se trata de mentira, pois não há mentira, não há falsidade, o que existe são corpos dilacerados”. Conclui relatando que a poesia não é uma expressão do ser do poeta, a poesia é uma expressão do não-ser do poeta.– “Oh! Pedaço arrancado de mim!”. Neste mesmo diapasão Álvaro Campos exclama:“Acima de tudo o mundo externoEu que me aguente comigo e com os ‘comigos’ de mim.”

Maria Célia de Campos MarcondesCadeira nº 11Patrono Machado de Assis

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21 de fevereiro de 1914, portando uma gloriosa bagagem, Guiomar Novaes reaparece na sua terra, São João da Boa Vista. Um grande contin-gente de pessoas que, precedidas pela banda de música do Maestro Aquilino e sob o alvoroço contagiante provocado pelos rojões que espoca-vam no alto, caminharam para avenida Dona Gertrudes, até a residência do ativo e sempre festeiro João Osório (atual sede do Palmeiras) onde ficou hospedada a concertista. Foi uma vibrante manifestação pública à nossa mais fa-mosa conterrânea. Guiomar, falando sobre sua cidade natal, disse: “Assim como o tempo da infân-cia é o melhor tempo de nossa vida, a cidade em que nascemos, é o mais belo recanto do mundo.”. Nes-sa mesma noite, no Centro Recreativo Sanjoa-

Guiomar Novaes nasceu em 28 de fevereiro de 1894, na Rua Santo

Antonio, 343 - atual Teófilo de Andrade, em São João da Boa Vista. Filha de Manoel José da Cruz Novaes e Anna de Carvalho Menezes Novaes. Era a décima sétima de dezenove crianças. A famí-lia de Guiomar era composta por vinte e uma pessoas. Dos dezenove filhos do casal Novaes oito morreram e foram criados onze: Maria Amélia, Jorge, Alice, Anthenora, Tereza, Anália, América, Accacio, Guiomar, Gastão e Aurora. Guiomar Novaes começou a tocar aos quatro anos. Quando “descobriu” o piano, uma força e um encantamento a fazia tocar impulsi-vamente. Era uma criança musical e quando ou-via outras crianças no jardim da infância canta-rem, logo ia para o piano e tocava o que acabara de ouvir. O pai arranjou um professor para a filha prodigiosa. Com seis anos sua família mudou-se para São Paulo e ela começou a estudar piano com Luigi Chiaffarelli, um italiano que foi aluno de Busoni. Aos sete anos ela compôs uma pura e modesta valsa “Jardim de Infância”. Aos oito anos, ela não só tocava profissionalmente como era a grande sensação nas salas de concerto de São Paulo. Depois de alguns anos estudando piano na França, Guiomar retorna ao Brasil e no dia

São João à VistaAve, Guiomar de São João!

Guiomar Novaes e sua filha Anna Maria

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nense, ao lado da casa onde ela havia nascido, teve lugar o Concerto de Guiomar Novaes, re-alizado em benefício das obras da Igreja Matriz de São João. Casou-se com Otávio Pinto em 8 de dezembro de 1922. Uma grande emoção para o casal foi o nascimento da tão esperada Anna Maria, em 22 de setembro de 1923. Futura-mente viria outra alegria do casal, o filho Luis Octávio. Após 28 anos de vida em comum, Otávio faleceu na madrugada de 30 de outubro de 1950, de problemas cardíacos. Quando, em meados da década de 1950, a Diretoria do Conservatório Musical de São João da Boa Vista. Decidiu que o nome mais plausível para ele seria Guiomar Novaes, rece-beu dela o seguinte comunicado: “A razão desse empreendimento também a ideia apresentada de dar-lhe o meu nome que, infelizmente, não tem méritos para receber tão grande honra – pois não sou artista criador, como tantos que ilustram a literatura musi-cal e sim uma modesta intérprete que sempre contou com a benevolência dos críticos, do público, de meus patrícios e do carinho de meus conterrâneos sanjoan-enses. Tamanhas são as suas delicadezas e atenções que neste momento me obrigam a resignar-me ante esta homenagem que generosamente me prestam, embora reconhecendo que ela ultrapassa, em muito, os merecimentos que a bondade de seus corações in-sistem em me atribuir”. Em 11 de setembro de 1946, uma quarta-feira, Guiomar tocou em São João no Theatro Municipal, para mais um evento beneficente, dessa vez em prol da Casa das Crianças. Foi uma noite brilhante com Guiomar apresentan-do Gluck, Bheethoven, Chopin, Carlos Gomes, Otávio Pinto - seu marido, Camargo Guarnieri e Franz Liszt.

Retornou ainda em 1965, para outra apresentação no Theatro Municipal. No cama-rote estava a Professora Miriam Pipano que não conforma-se até os dias de hoje com um público tão pequeno. “Apenas metade da plateia”, diz Miriam. E, em 1972, Guiomar tocou num recital no Centro Recreativo Sanjoanense. Esse recital marcou muito Vânia Noronha, que, à época, era aluna de piano e admirava a grande mestra, que se hospedou na casa de sua amiga Maria Magdalena Oliveira Azevedo, tia de Cláudio Richerme, seu aluno. A Semana Guiomar Novaes foi criada em 1977, em sua cidade natal, São João da Boa Vista. Em 1978, Guiomar veio a São João e foi homenageada no Cine Ouro Branco, durante a Semana que leva seu nome. Na noite de 7 de março de 1979, Guiomar faleceu em São Paulo. Foi sepultada em 8 de março no Cemitério da Consolação ao som da Marcha Fúnebre de Beethoven. Foi uma das mais notáveis pianistas de todos os tempos. Sua maneira de tocar foi inigualável.

Palacete Ozório - atual sede do Palmeiras, onde Guiomar Novaes hospedou-se em 1914

Neusa Maria Soares de MenezesCadeira 30Patrono Euclydes da Cunha

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Cinema de Meia Tela

Em comemoração ao centenário do Theatro Municipal, muitos artigos

foram publicados na imprensa local, abordando diversos aspectos da trajetória histórica desse importante monumento da vida social e cultur-al da nossa comunidade. Todo esse clima festivo, às vezes nostál-gico, despertou-me reminiscências do tempo de infância, vividas na vizinhança daquele majes-toso prédio do centro da cidade. Sempre morei ali nos seus arredores, portanto, o Theatro, exer-ceu papel relevante na minha formação infantil e juvenil. Fim da década de 50, apesar da existên-cia da televisão, meus pais e nossos vizinhos ainda não possuíam o aparelho. Lembro-me bem da cena cotidiana das noites sanjoanenses daquela época. O rádio ligado, os pais lendo o jornal, as mães se entretendo com livros ou atarefadas executando trabalhos manuais e nós, as crianças, brincando na rua alegremente. Toda a vizinhança mantinha as portas e janelas abertas, de forma que casas, jardins e quintais eram território livre para a criançada, e o nosso vizinho mais ilustre, o Theatro que, apesar da sobriedade do seu conjunto arquitetônico, man-tinha conosco uma intimidade maior do que a dispensada a outros conterrâneos.

Além das brincadeiras infantis tradicio-nais, tínhamos o privilégio de outra opção: o cinema de “meia tela” visto gratuitamente das escadas laterais da rua Antonina Junqueira. Nessa época, o Theatro funcionava como cinema com sessões noturnas diárias. Como es-távamos ainda isentos da influência da televisão, o cinema exercia fascínio e paixão sem concor-rência. Era uma mistura de magia e deslum-bramento para nós crianças de uma cidade do interior paulista. O cinema era tudo, ponto de encontro, espaço de sonho, de entretenimento, de flertes e namoricos. Quanta vibração, quan-do ouvíamos a música tema de abertura da sessão e as imensas e grossas cortinas vermelhas se abrirem vagarosamente anunciando o início do espetáculo. Como o cinema não tinha ar condiciona-do, nas noites de verão as portas eram abertas para ventilação, ficando aparente somente uma grade de proteção, permitindo que, aglomerados na escada, nós conseguíssemos assistir parcial-mente ao filme com ângulo de visão reduzido. E dali, devidamente posicionados, juntamente com outros assistentes eventuais, ficávamos nos vangloriando do espaço conquistado. Como éramos crianças ativas, somente filmes de aventura conseguiam prender nossa

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atenção por alguns instantes. Os preferidos eram os de faroeste, principalmente os estrela-dos por John Wayne, que caracterizava o heroi implacável contra índios e bandidos. Tarzan e os grandes épicos de Hollywood também des-pertavam emoção. Dos nacionais, o preferido era o Mazzaropi. Filmes românticos, suspense e comédias adocicadas eram sumariamente descartados em favor das saudáveis brincadeiras de rua. Essa diversão durou anos, até que um dia para nossa surpresa e desapontamento co-

locaram um biombo de madeira impedindo to-talmente a nossa visão. E como dizia a célebre frase do grande locutor esportivo da Rádio Bandeirantes Fiori Gigliotti no término das partidas: “Fecham-se as cortinas e termina o espetáculo”.

Raul de Oliveira Andrade FilhoCadeira 44Patrona Cecília Meirelles

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Academia em Revista A Academia de Letras completou

43 anos no dia 15 de novembro e, homenageá-la, segundo a diretoria em exercício e reeleita para a gestão 2015|2016, é manter a Instituição ativa em todas as formas de arte, es-pecialmente na literatura. A agenda cultural da Instituição esteve lotada nos últimos dois anos. Homenageamos a poeta sanjoanense Orides Fontela; os 120 anos de Mario de Andrade e a Literatura de Cordel. O Centenário de Vinicius de Moraes “o Poetinha do Brasil” e o Centenário de Dorival Caymmi com “O Universo Amado de Caymmi”, foram homenageados com evento lítero musical, no Theatro. Na sede da Academia de Letras, no tradicional Chá Literário, falou-se do Cen-tenário de Dom Tomás Vaquero, um dos funda-dores da Arcádia, também, dos 193 anos de São João da Boa Vista e do Centenário do Theatro. A Academia recebeu palestrantes: Drª. Luiza Nagib Eluf, pelo mês internacional da mulher e Dr. Almino Monteiro Álvares Affonso, pelos 50 anos do Golpe de Estado, também a Professora Salete de Almeida Cara, doutora em letras, para falar de “Pessoa através de Pessoas”. Criamos a Revista ARCA, com edições semestrais. Demos

posse para dez novos acadêmicos. Realizamos os XXI e XXII “Concurso Literário de Poesia e Prosa”, e, os 5º e 6º “Concurso Redação na Es-cola”. Buscamos parceiros para manter a porta da Academia de Letras aberta (Sequóia Lotea-mentos patrocina a assistente de secretaria e a BVCi a internet). Contamos com a segurança da LeaderAlarm nos eventos. Trabalhamos pela atualização do Estatuto, com redação do confrade Donisete Tavares Moraes de Oliveira e revisão da confreira Beatriz Virgínia Cama-rinha Castilho Pinto. A Fundação Curimbaba, Cimentolândia, Lamesa, Sequoia, LeaderAlarm, BVCi, 1º Cartório Ceschin, Peres Moto Honda, Padaria Rainha, Sempre Vale, UniFae, UniFeob, Sociedade Esportiva Sanjoanense S.E.S., Jornal Edição Extra, TV União, Gráfica Sanjoanense, Faça Festa, Banca Martins, Colégio Anglo, Elfusa, Departamento de Cultura e Turismo Municipal e Departamento de Educação Mu-nicipal foram nossos apoiadores.

Lucelena MaiaCadeira 13Patrono Humberto de Campos

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Acadêmicos

01-Ronaldo Frigini 02- Wildes Bruscato 03- Lincoln Amaral 04- Mª Candida Costa 05 - João B. Rozon 06- Gilberto Marcon 07 - Mª Ignez D´Ávila 08 - Sônia Quintaneiro

09 - Silvia Ferrante Lima

10 - Francisco Arten 11 - Maria Célia Marcondes

12 - Luíza Eluf 13 - Lucelena Maia 14 - Marcos Parolin 15 - Cyro Sanseverino 16 - José Rosa

17 - João Batista Scannpieco

José Ricardo NoronhaNeoacadêmico

19 - João Otávio Junqueira

20 - Lauro Borges 21- Pe. José Benedito 22 - Sérgio Meirelles 23 - Celina Varzim 24 - Vânia Noronha

25 - João Sérgio Januzelli

26 - Wilges Bruscato 27 - Antônio “Nino” Barbin

28 - Luiz Antônio Spada

29 - Antônio Pádua 30 - Neusa Menezes 31 - Beatriz Castilho Pinto

32 - Antônio Carlos Lorette

33 - Carmem Balestrim 34 - Jorge Splettstoser 35 - William Oliveira 36 - Carmem Lia Romano

37- João Batista Gregório

38- Donisete Oliveira 39 - Maria José Moreira

40 - Maria Cecília Malheiro

41 - Vedionil do Imperio

42 - Luiz Fernando Dezena

43- Clineida Jacomini 44- Raul Andrdade 45 - Pe. Claudemir Canela (Mil)

Almino AffonsoMembro Honorário

Miriam PipanoMembro Honorário

Lígia Fagundes TellesMembro Honorário

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LuzGrafia

“O sonho é que leva a gente para frente.

Se a gente for seguir a razão, fica aquietado,

acomodado”

Ariano Suassuna

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Na base da doutrina de AMOR, que Jesus Cristo veio trazer ao mundo,

está a FRATERNIDADE. O Evangelho (Boa Notícia) nos diz, em primeiro lugar, que Deus é PAI e que, em consequência, todos nós somos IRMÃOS. E, portanto, deveríamos viver como irmãos. Contudo, não é o que vemos acontecen-do no nosso planeta. No próximo dia 25 de dezembro,

celebraremos os 2014 anos do nascimento de Jesus Cristo e, no entanto, o que presenciamos no mundo é o crescimento da miséria, que pro-voca o aumento da violência que, por sua vez, produz as revoluções e as guerras. As perguntas que povoam o nosso pen-samento são estas: a causa de tanta miséria é a falta de comida? É a falta de roupas? É a falta de habitações? É a falta de medicamentos? A

Natal: Festa da Fraternidade

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Arcadianasresposta é simples: NÃO! A causa de tanta mi-séria é a falta de PARTILHA! Uma minoria muito pequena da hu-manidade, que tem muito, quer ter cada vez mais; e a imensa maioria da população, por isso mesmo, tem cada vez menos! O grande motivo: não há uma CONSCIÊNCIA sólida de que so-mos todos IRMÃOS, filhos do mesmo PAI, que é Deus. E sem essa consciência sólida, não ha-verá PARTILHA. A mensagem de Jesus, na cena da mul-tiplicação dos pães, é muito clara. Quando os apóstolos lhe sugeriram mandar a multidão em-bora, pois já caía a noite, para que “se virassem” quanto à alimentação, a resposta do Mestre teve peso de eternidade: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Entretanto, no meio de tanta gente (mais de 5.000 pessoas), apenas um menino, que trazia consigo cinco pães e dois peixes, se dispôs a fazer a PARTILHA. Dizem alguns exegetas que o milagre da multiplicação que Jesus realizou não foi o dos pães e peixes. Ele fez coisa muito mais difícil: multiplicou nos corações de centenas e centenas de pessoas, que traziam alimentos suficientes para dois ou três dias, escondidos nas dobras dos seus mantos, o gesto fraterno daquele meni-no que ofereceu tudo o que trazia para a parti-lha. E sobraram doze cestos, com os restos dos

alimentos, depois que todos se alimentaram! Que grande lição! Por isso é triste verificar que, depois de mais de 2000 anos do nascimento de Jesus, de sua vigorosa mensagem, dos seus exemplos pessoais de conduta, dos seus milagres, de sua paixão e morte na cruz e, sobretudo, de sua Ressurreição gloriosa, a Humanidade continue caminhando sem FRATERNIDADE e, portan-to, sem vivenciar a partilha. Ora, não havendo partilha não haverá IGUALDADE; não havendo igualdade, não haverá LIBERDADE; não havendo liberdade, não haverá PAZ, que é o maior anseio do ser humano sobre a terra! Portanto, neste Natal, peçamos a Deus que dê à Humanidade, em especial aos ricos e poderosos, que mantêm o poder político e econômico em todas as nações da Terra, o grande presente da CONSCIÊNCIA DA FRATERNI-DADE, para que cada IRMÃO possa levar uma vida digna e, assim, se realize finalmente o pe-dido feito pelos anjos, naquela primeira Noite Santa: “Glória a Deus nas alturas e PAZ na terra aos homens de boa vontade!”

Antônio de Pádua Barroscadeira nº 29 Patrono é Raimundo Correia

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Para que serve uma Academia de Letras? Fomentar a cultura, divul-

gar a literatura, incentivar a leitura, espalhar conhecimento? Se somos de letras, temos de, antes de mais nada, ensinar. Ensinar a ler e a gostar de ler. Não como se faz na escola, mas talvez como se deveria fazer. Jovens não querem livros, que-rem videogames, whatsapp, facebook, dizem os mais velhos. A cada dia surgem propostas mais inacreditáveis, tecnologia de ponta, e um dia o mundo caberá inteirinho na palma de nossas mãos. Livros de papel são coisa do passado, hoje, a moda é “e-book”, uma boa ideia que, do mesmo jeito, pouca gente lê. E quem não falar inglês está definitivamente perdido. O portu-guês foi mastigado, condensado, amarrotado, privado de suas vogais e transformado em novo idioma, quase um código, usado na internet. Nem tudo o que é novo é melhor. Al-guns ainda se lembram das vitrolas, dos discos de vinil. Pois é, eles voltaram! Estão na crista da onda, quem tem toca-disco é moderno, poderá ouvir um belíssimo “long-play”. Há lojas ven-dendo essas relíquias a preço de ouro e Anti-quários, comercializando os grandes sucessos de 1940/50/60/70. Não conseguiram passar como um trator sobre nossos corações e o pas-sado voltou. Tudo pode acontecer na sociedade capitalista, se houver chance de vender muito. Mas a questão permanece. O que signifi-ca ser brasileiro(a)? Um povo com ou sem iden-tidade, com ou sem autoestima, com ou sem

rumo? O que as Letras podem fazer por uma Nação? A literatura nada mais é do que o retrato de um agrupamento de pessoas, num determi-nado território, em uma determinada época. O Brasil já existia antes do descobrimento, muitas tribos estavam fixadas em nosso solo, mas elas não se reconheciam como um país (que é inven-ção europeia) e não se autodenominavam “Bra-sil”. Assim, depois de os portugueses aporta-rem em nossas terras, tudo mudou demais. Os

A Literatura e a Identidade de um Povo

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antigos indígenas guerrearam com os invasores e perderam. Os vencedores sempre se acharam dominadores temporários e sonhavam retornar a Portugal, à Europa. Os tristes trópicos eram

só mosquitos, contrariedades e incompreensão. Assim foi até a independência, proclamada por Dom Pedro I, quase de surpre-sa, em São Paulo, nos idos de 1822. Nesse dia, pedi-mos que fôsse-mos nós mesmos e ter reconheci-mento interna-cional, para ser uma estrelinha no céu dos paí-ses do mundo. Para que outros pudessem nos enxergar e nós pudéssemos en-

xergar a nós mesmos. Até hoje estamos em bus-ca de uma identidade, do auto reconhecimento, de uma liga, um ímã que nos possa unir e con-firmar a ideia de que, sim, estamos juntos. Sim, somos isso ou aquilo, bons ou maus, espertos ou trouxas, abastados ou carentes, promissores ou fracassados. Somos a esperança ou o nada? Temos a nossa cultura, os nossos hábi-tos, costumes, valores. Mas onde está tudo isso? Existe um código ou manual de sobrevivência

dos brasileiros? Existe um retrato, um quadro, um número, uma forma de identificação? Na escola, recomendam livros de história, geogra-fia, ciências, línguas, matérias muito impor-tantes, embora pouco estudadas. No entanto, literatura é mais importante que tudo. Litera-tura condensa todos os temas, ensina todas as verdades em forma de arte. Nossa identidade ainda é precária porque os brasileiros leem pou-co, não têm consciência do lugar onde vivem, não se reconhecem nos sentimentos e nem na geografia. Não se percebem sulamericanos, latinos, tropicais. E quando vislumbram isso, sentem vergonha, querem mudar de nome, de roupa, de cor, de país. Foram os grandes escritores brasileiros que fizeram nosso retrato. José de Alencar, Machado de Assis, Euclides da Cunha, Gracilia-no Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Lygia Fagundes Telles, Ana Cristina Cesar e muitos, muitos outros. Escri-tores continuam falando de nós, mas hoje quase não são ouvidos, ou melhor, publicados. Nosso povo cada dia lê menos e a cada momento me-nos se reconhece. Livros são vendidos como sa-bonete: valem pela embalagem, pela cor, pelo cheiro, pela propaganda. Só os sucessos inter-nacionais emplacam nos tristes trópicos. Um povo sem literatura não tem identidade. E as Academias de Letras, tão antigas quanto efi-cientes, têm hoje a grande responsabilidade de trazer ao Brasil, por meio da palavra escrita, sua identidade perdida.

A Literatura e a Identidade de um Povo

Luiza Nagib ElufCadeira 12Patrono Carlos Drummond de Andrade

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Grand Central Station, primeiro dia. O provinciano compra o tíquete para

East Norwalk, pergunta dez vezes ao bilheteiro qual o número da plataforma [track] de saída e,

prudente, se dirige a ela com 15 minutos de an-tecedência. Track 26, ou coisa parecida. Segundo dia. Quase nativo, vestindo um gorro com as iniciais NYC, andando com a ginga de um negão do Harlem e um sentimento de “tá tudo dominado”, a passagem na mão é a segurança para perambular pela belíssima esta-ção e só descer à plataforma no último minuto da prorrogação. Não, seu aparvalhado! A track de saída varia diariamente e há que se confirmar no painel o número conforme o horário de parti-da. Não, seu desnorteado! Presta atenção que a Quinta é um pouquinho diferente da Dona Gertrudes. Uma desvairada correria e muito suor para chegar em tempo à plataforma correta [track 107, ou próximo disso] foi uma pedagógi-ca lambada pro matuto deixar a sabichonice de araque e tomar as precauções necessárias para que uma pequena macaúba tenha o mínimo de percalços na Grande Maçã. E, heroicamente embarcado, vamos para o interior do trem. O silêncio no vagão é incômodo.

Sobre trilhos, patetices e civilidade

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Absortos nos seus problemas, alegrias, expectativas, frustrações, os passageiros não conversam entre si. Se o fazem no celular, o tom de voz soa num volume absurdamente civili-zado. Imagino que muitos tomam o trem no mesmo horário e até se conhecem, mas a cul-tura os trava pra jogar conversa fora e tornar a viagem mais agradável. Agradável, diga-se, do ponto de vista deste latino escriba. Pra eles, a privacidade, a intimidade, mesmo que num veículo de transporte coletivo, são valores inegociáveis. Puxar papo seria uma

tentativa de violação destes valores. Todos usam dispositivos móveis. A leitura, a infor-mação, o entretenimento, a socialização, vêm via “lap-tops”, “tablets” ou “smart-phones”, [a cada quatro assentos há tomadas para recarregar os super-uti-lizados gadgets]. Algumas vezes a mesma pessoa usa os três simultaneamente. Definitivamente, o papel em livros e jornais caminha pra uma quase extinção nos EUA. O cachorro, devidamente licenciado e documentado, também pode viajar acom- panhando o dono. Ne-nhum latido, nenhum ruí-do. O animal é educado pra

respeitar o código de conduta. O bicho homem se acostuma, se adapta rapidamente com o diferente. Passados alguns dias, abastei meu iPad com livros, jornais e re-vistas e, envolvido com a leitura, também co-mecei a achar que a privação do som ali nada tem de desconfortável. Bateu até vontade de alugar um cão.

Lauro Augusto Bittencourt Borges Cadeira 20Patrono Castro Alves

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Esta foi a primeira crônica-reflexão que escrevi e foi publicada num jor-

nal, mercê do interesse, gentileza e amizade de meu caro amigo, o confrade fundador, Adema-ro Prézia. Saiu num jornal de Poços de Caldas. Com ela presto minha justa homenagem a esse poeta de sua terra, Águas da Prata, que também é minha e me rendo mais uma vez à sua veia poética, sua cultura, religiosidade, vida íntegra e lisura em tudo o que fazia. Em minha crônica, dizia da relatividade das coisas à nossa volta, mesmo não sendo nenhum Einstein, nem famo-sa, nem mostrando minha língua a ninguém. Para amigos e noivos, ricos e importantes, que-bramos nossa conta bancária sempre exígua e damos presentes vistosos, de marca e caros; já para os mais simples e pobres, uma dúzia de xícaras, copos ou pratos estão de bom taman-ho, literalmente! E enumerava várias situações diárias e rotineiras onde essa relatividade até injusta acontece: o mesmo tempo gasto numa festa, ouvindo uma boa música, assistindo a um filme cativante ou lendo um livro não são, segu-ramente, os mesmos minutos gastos numa fila,

no corredor de um hospital à espera de uma notícia angustiante ou à mesa de um gerente bancário, precisando de dinheiro (não faço aqui o abominável merchandising que a Globo faz em suas novelas). Uma colher de doce de leite de Mi-nas não é a mesma contendo um laxante ruim de gosto e efeito... e assim por diante, quantas situ-ações se tornam incoerentes, mormente porque as pessoas que as vivenciam são tão diferentes. Não critico nenhum evento, em nenhuma área, pois sei quão trabalhoso e preocupante é realizar qualquer atividade, por menor e mais simples que ela seja. Dou um valor extremo ao trabalho dos outros! Acho que isso se deve à minha pro-verbial e já conhecida preguiça. Voltando ao Sr. Ademaro, fino de trato, de figura e de sutilezas linguísticas e éticas, só uma coisa vinda dele me deixou decepcionada: quando lhe perguntei a razão do nome de um rio pratense. Ele me respondeu: - Não gosto de falar sobre o passa-do. Incoerente, pois seus escritos todos se refe-riam a ele, o passado, com muita propriedade e realismo. Ele sabia muito de nossa história e de fatos de nossa região. Bem, mas esse tema

Relatividade

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me veio à mente exatamente para que todos nós, leitores, acadêmicos ou não, nos lembrás-semos de um tempo que já se foi, mas que, como tudo em nossas vidas, deixou marcas, fortes e expressivas. Não me lembro do início de nossa Arcádia, mas conheci todos os seus idealistas fundadores: os dois Octávios, D. Tomás, Odila, Maria Leonor, Oliveira Neto, Dr. Abelardo, Dr. Licínio, Dr. Lansac, Jordano, Cor-deiro, Palmyro, Fábio, Roberto... todos grandes expoentes da cultura local, senão regional. Voltando ao meu tema, relativismo, relembremo-nos de nossa torcida recente e in-glória pelo nosso amado país. Torcíamos pelo Brasil e por sua vitória, obviamente... E contra

os diferentes times que contra nós jogavam. Já na próxima fase, torcemos pela Holanda, pela Alemanha e contra a Argentina; finalmente, contra a Holanda e na final, a favor da Alema-nha novamente. Parece-me que a única unanimidade foi ser sempre contra los hermanos. Tudo na vida parece ser circunstancial e relativo, não é mesmo?!

Clineida Andrade Junqueira JacominiCadeira 43Patrono Rubem Braga

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O BEIJO E A CANÇÃO

Se você beija a boca que cantaVocê beija também a melodia?

Será que fica impregnado de canção?

O beijo é tão efêmero quanto a músicaÉ preso apenas ao instante que acontece

Depois, vaga, viaja só no pensamentoAbraça o ar e voa longe

Fica preso apenas ao coraçãoAo sentimento

A canção, como o beijo, torna-se parte de nósCria um elo, uma beleza infinda

Acaricia a alma como se fosse o toque suave de um deus

Embala-nos num sonho tranquilo, num chegar ao céu

O beijo é uma canção

Silvia FerranteCadeira 09Patrono Raul de Leoni

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Antigamente existia um lugar chama-do armazém. Um tempo em que

cliente era chamado de freguês. Éramos, então, fregueses do armazém e o nosso nome, muitas vezes, com uma referência familiar (“Paulo da dona Filó”) era anotado em uma caderneta, jun-tamente com os gastos diários, que saldávamos no fim do mês. Fiado vinha da palavra confiar e era empregada diariamente. As compras eram somadas em folhas de papel de embrulho, e a caneta (Bic) ficava atrás da orelha do atendente, que geralmente era o próprio dono do armazém: o seu Toninho – que também tinha nome. Este costumeiramente nos cumprimentava e perguntava ainda sobre nossa família. - Como vai sua mãe? E seu pai, melhorou da gripe? Os produtos, na época chamados de mer-cadorias, eram colocados no chão mesmo, ou em cima do balcão de madeira que vivia cheio de anotações a caneta e os cartazes feitos a mão indicavam os preços das mercadorias. Tudo parecia uma bagunça só, mas que nos passava uma sensação de proximidade, de aconchego mesmo. Os sacos de estopa abertos pelo chão mostravam as mercadorias (feijão, arroz, açúcar cristal e macarrão) e o tato era um sentido que fazia muito sentido. Havia ainda um cheiro no ar que a nossa memória olfativa nunca conseguiu definir, nem sentir igual. O nosso dinheiro era

em papel apenas e geralmente vinha amassado em nossas mãos, juntamente com as moedi-nhas retiradas do cofrinho, aquele porquinho de plástico. Porém, o tempo – sempre ele – abriu-se para o novo e tratou de fechar os armazéns. Hoje, quem nos atende já não é mais o seu Toninho (aliás, onde andaria o seu Toninho?), mas, sim, o crachá de um fun-cionário, de cujo nome não me lembro. E nós, os clientes, sem nome, sem mãe, nem pai, viramos um número no computador e os produtos apre-sentam seus preços em códigos de barras. O armazém virou supermercado, o bal-cão de madeira virou gôndola e as mercadorias viraram marcas. A caneta virou calculadora, a caderneta virou “check out” e nós nos viramos para achar os produtos. O dinheiro em papel vi-rou cartão de crédito ou débito, que tem o nosso nome em letra miúda e uma senha que a gente vive esquecendo. Dizem que nós somos o “rei” e que tudo ali existe para satisfazer nossos desejos e necessi-dades. Perdemo-nos em meio a tantos produ-tos, centenas de marcas, embalagens e rótulos; promoções que nos atropelam. O consumo vive a nos consumir. Estamos no BIG, no HIPER, no corredor “WALL MORTE”. O nosso carrinho se enche, o nosso bolso se esvazia e a gente se enche de alegria, afinal, estamos em um lugar de gente feliz, como diz o locutor do local. Compramos o que todos compram, com

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mentar pelo nome. Que saudade, no armazém do tempo, dos tempos do armazém.

Armazém do Tempo

Wiliam de OliveiraCadeira 35Patrono Casimiro de Abreu

dinheiros iguais, pensamos iguais, somos iguais perante a lei da oferta e da procura. Viramos consumidores, clientes anônimos de um mer-cado super. E nos dá aquela vontade imensa de voltarmos a ser fregueses novamente e encon-trar pela frente o seu Toninho a nos cumpri-

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De minha visita a Maria Célia e Marcondes, vivi casualmente nessa

memorável tarde, uma profunda experiência. Chegou à mesa onde tomávamos café a netinha do casal no colo de sua mãe, trazendo bem junto ao peito uma bonita caixinha. - O que tem dentro da caixinha? Perguntei-lhe para distraí-la. Ela demorou um pouco e respondeu-me: - Esperança. Encantada e surpresa voltei para casa e sonhei que... “a menininha acompanhou-me na viagem de volta para outro vale do Morro Azul no lugar onde eu moro. Aí paramos para conversar em tom azul num todo azul. - A esperança mora mesmo em sua cai-xinha, ou você brincou comigo? E ela afirmou que sim, que a esperança mora aqui, apontou a caixa com o dedinho.

- Fecha a tampa, senão ela pode fugir. A esperança é como borboleta e quer espaço. - Ela não foge. Ela gosta de mim, falou se-gura. - É mesmo? - Eu ensinei ela gostar de mim, sabe? - Não, não sei. Como se faz isto? Conta, conta pra mim. Ela me contou que é preciso ter uma caixinha e prender a esperança nela e depois, continuou, tem que dar comida para ela. - Que comida? Como se faz esta comida? Perguntei muito interessada. É difícil? - Um pouco e alisava seu vestido sentindo-se importante, só vendo! - Eu ponho, continuou, carinho na caixa dela e ponho também cuidado e tempero de amor. São comidas difíceis, sabe? A gente tem que procurar porque não existe receita. Ah, ia me esquecendo de contar que a esperança adora alegria de sobremesa. - E depois? - Depois vou abrindo a tampa da caixa devagar e vou dizendo pra ela que lá fora mora o perigo. Não é bom sair voando por aí que nem boba. E nesta hora, disse com voz de segredo: prendo-a com um fio de luz, transparente, fini-nho, fininho, não pesa nada. Ela vai, voa e volta. - Você tem certeza de que ela volta? Per-guntei aflita. - Certeza, certeza não tenho. Tenho Esperança.

Azul

Maria Cecília Azevedo MalheiroCadeira 40Patrono Monteiro Lobato

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“Cada minuto nunca é mais, sempre é menos.”

A perda é essencialmente um tema uni-versal. O ser humano independen-

temente de sua nacionalidade, credo ou raça, con-vive sempre com a perda. Como lidar com ela, no decorrer de nossa existência? Quando pensamos em perda, pensamos de imediato na morte de pessoas que amamos. Entretanto, ela é muito mais abrangente – um sonho não realizado, uma expectativa impossível, uma ilusão de liberdade, de poder, de eterna ju-ventude, são exemplos de perdas constantes em nossas vidas. Fazem parte de nosso cotidiano. Para crescer temos de perder, abandonar, desistir. Existe um elo vital entre nossas perdas e ganhos. Muitas vezes desistimos para podermos crescer. Precisamos enfrentar nos sonhos que sonhamos, bem como nos nossos relacionamentos íntimos, tudo que jamais seremos ou teremos. Temos de concordar: perder é difícil e do-loroso, mas temos que considerar também que só através de nossas perdas nos tornamos seres humanos plenamente desenvolvidos. Mais cedo ou mais tarde, todos nós compreendemos que elas são sem dúvida uma condição permanente da vida humana. Temos de admitir que tudo tem um fim, até nós. Todos somos acometidos pela morte.

Podemos dizer que sem a morte a vida não teria sentido. Imaginemos o homem imortal para quem a infância, a juventude, a maturidade e a velhice seriam palavras desprovidas de sentido, um tempo sempre igual onde não haveria lugar nem para a esperança, nem para a saudade. A vida é, em essência, um processo de per-das constantes. Ela nos ensina a ver o mundo com outro enfoque. Aprendemos a viver com lágrimas nos olhos, quando menos se espera, ao acontecer algo que seja capaz de suscitar em nós uma lem-brança ou uma grande saudade.

Perdas...

Maria Ignez D’Ávila RibeiroCadeira 07Patrono Coelho Neto

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Nona Augusta numa foto lambe-lambe

Um retrato lambe-lambe da nona Augusta de Giava Gregório, em

frente à basílica velha, portando uma grande imagem de Aparecida, pode ser o elo de uma futura e grande amizade. “Quando encontrei esta foto, ainda cri-ança, meu pai Oswaldo relembrou uma mirabo-lante história de tradição italiana, que romperia por muito tempo a família Gregório, não só pe-los ressentimentos, mas também em território. Ao falecer o nono Basílio, de tanto be-ber vinho, sua viúva colocou em prática a tal tradição da partilha, dividindo apenas aos ho-mens o sítio localizado no Bairro Pedregulho. As filhas ficaram chateadas com tal atitude e uma delas, justamente minha avó Ana, cortou radicalmente qualquer relação com sua mãe. Isto perdurou anos, quase uma década, a pon-to de levar a nona a fazer promessa especial à Nossa Senhora Aparecida. Foi quando ela chegou lá em casa, no Sí-tio Matãozinho, levando esta foto como pretexto e reconciliando entre choros e lamentos. Minha avó perdoou, mas as relações entre os primos pouco se frutificaram. E eu, até então, nada ou-via falar sobre os familiares de Pedregulho. O tempo passou, fui para a faculdade, retornei a São João, trabalhei no jornal O Mu-nicípio, na restauração da Igreja Catedral, na fundação do Museu de Arte Sacra e no restabelecimento das tradições do Bairro São Benedito. Justamente no Centro Social do São Benedito, sobre os zelos da Dona Maria, esta-vam instalados dois jovens estudantes, que pre-tendiam se tornar seminaristas: Renato e Mil.

Predestinado ao Encontro Protegidos e coordenados por Monsenhor Denizar Coelho, os dois eram pau-pra-toda-obra, dividindo seu tempo entre estudos no ensi-no técnico e os trabalhos puxa-dos na Fazenda Cachoeira. Mil era um rapaz magrinho, tímido e alegre, que gostava por demais de música litúrgica po-pular. Seu nome de ba-tismo era Claudemir, mas recebeu das avós o apelido de Mil: inicial-mente Mir, com “r”, depois foi se tornando Mil, uma sofisticação à nossa caipires!. Dali soube que ele era meu parente de Pedregulho: sua avó materna era irmã de minha avó Ana, e per-maneceu com a nona até seu falecimento. Não imaginava, ainda, que seríamos tão amigos, como hoje somos. Parecemos irmãos, com muitos gostos em comum. Um deles se-riam as antiguidades, principal-mente a Arte Sacra. Mil tornou-se padre, um dos melhores que temos na Diocese: facilitou o retorno da restauração da Igreja Catedral; assumiu a administração do Museu de Arte Sa-

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Nona Augusta numa foto lambe-lambe

próximo de nossa reali-dade. Nunca me negou aju-da e topa mi-nhas loucuras, pela arte e pela arquitetura. Se brigamos, pouquíssimo; logo tudo se explica e se d e s m a n c h a . Padre Mil é muito querido de minha família, está nos prin-cipais momentos de nossa vida. Companheiro de asfalto e antiquários, atualmente é dos mais importantes coleciona-dores de arte sacra da região, destaque para seus preciosos oratórios e crucifixos. Também viajamos pelo Mundo, como Portugal, Espanha e Nova York. Infelizmente, por incompatibili-dade de agendas, não conseguimos ir juntos a Jerusalém. Mas agora, ele vai! Claudemir Aparecido Canela, Padre Mil, torna-se meu confrade nesta noite, mais uma es-tripulia de nossos destinos. Que a nona Augusta nos esteja vendo!” Este discurso de apresentação foi lido pelo autor como apresentação de Padre Claudemir Aparecido Canela na cerimônia de posse da Academia de Letras de São João da Boa Vista, em 1º de novembro de 2014.

cra; reativou as procissões e festas de rua, além das decorações no interior das igrejas; fortale-ceu a catequese da Paróquia e restabeleceu uma das associações religiosas mais importantes que

tivemos no passado, o Apostolado da Oração. Sempre atento aos seus estudos e es-

pecializações, tornou-se professor do Seminário e escreve constante-

mente na imprensa local, sobre os eventos sacros que empreende.

E nunca deixou de lado suas funções de sacerdote, um

verdadeiro pastor que acor-da cedíssimo e dorme tar-díssimo, sempre disposto ajudar a quem precisa. Monsenhor De-nizar acertou em sua aposta, fez um ra-paz encantado pe-las belezas da Igreja se revelar como seu melhor instrumento. Suas missas são con-corridíssimas, suas homilias estudadas, nunca improvisadas;

dedica-se carinhosa-mente a seus doentes e

conforta exemplarmente seus familiares; já celebrou

milhares de bodas e batiza-dos, diria quase um padre da

geração pop. Um dia, conversando com

uma funcionária da casa paro-quial, disse-me que Padre Mil é um

santo, de tão iluminado e prestativo, de tanto carisma.

Mesmo assim, continua sendo meu pri-mo, quase irmão, distante nas histórias e muito

Antonio Carlos Rodrigues LoretteCadeira 32 Patrona Orides Fontela

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Quando conheci a história do escritor pinhalense “Edgard Cavalheiro”,

por volta de 1982, por acaso, através de informa-ções obtidas junto ao memorial Juca Mulato da cidade de Itapira, fiquei impressionado e muito orgulhoso de ser pinhalense, por saber que o grande biógrafo de Monteiro Lobato, presi-dente da Câmara Brasileira do Livro, idealiza-dor do Prêmio Jabuti e autor de inúmeras obras literárias era pinhalense, aqui nasceu, estudou e teve por base sua trajetória literária.

Li um pequeno livro denominado “Subsídios para uma Biografia”, de autoria de Antonio de Mello Júnior, pela Editora O Taubateano, da cidade de Taubaté, cidade que homenageou em vida Edgard Cavalheiro por seu empenho em tombar o sítio do Pica Pau Amarelo, preservar a memória e escrever a biografia de Monteiro Lobato. Com a pu-blicação desse livro, que registra a trajetória literária de Edgard, todo trabalho e dedicação do escritor não só a Lobato, mas também a ou-tros tantos autores brasileiros e estrangeiros, foi muito divulgado. Então, foi neste pequeno livro que desco-bri a amizade e carinho que Lygia Fagundes Telles tem por Edgard, onde ela justificava através de uma carta que não poderia ir para o interior ao encontro dos amigos porque tinha

um compromisso de família. Passados alguns anos, Lygia lançou, em São João da Boa Vista, o livro Capitu. Tive o prazer de estar lá na noite de autógrafos, levei uma cópia da carta e contei a ela que o Edgard era da minha terra, e então ficamos por horas conversando. Pude conhecê-la melhor e meu interesse por Edgard aumentou. Comentei com ela estar fundando em nossa cidade a Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, e ela, de imediato, me deu todo apoio, afirmando que

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Lygia Fagundes Telles A Escritora

seria um prazer estar aqui em nossa cidade um dia para participar dessa homenagem. Por mo-tivos alheios a sua vontade, ela não pôde vir para Espírito Santo do Pinhal. No primeiro Pin Pin de Literatura, comemorando o centenário de nascimento de Edgard Cavalheiro. Ela, mais uma vez, por mo-tivo de saúde, não pôde vir, pois tinha sofrido um acidente e quebrado o fêmur. Mas, através de nosso amigo e também escritor Moacir Amâncio, ela gravou uma mensagem cari-nhosa homenageando Edgard, onde revela que sua carreira de “Escritora” deve-se a ele, pois na época que começou a escrever, uma mulher escritora era mal vista, então ela sofreu muito preconceito dos escritores famosos da época, não tinha apoio e era duramente criticada, foi quando apareceu o Edgard na sua vida e lendo o que ela escrevia, achou muito bom, e deu to-tal apoio, incentivando e a levando ao mundo literário. Então, mais uma vez, Edgard prova que sempre estava certo, sempre plantando cultura, incentivando leitura, publicando e pro-vocando o interesse do brasileiro na literatura, como escritor, editor e jornalista que foi. Então espero que em breve a Lygia venha

para nossa cidade, até porque é uma promessa dela. Assim, teremos o privilégio de um bate papo sobre o mundo literário e conhecer sua trajetória literária. Aliás, sua palestra é maravilhosa, sua palavra é fácil, empolga a todos, agrada a jo-vens e adultos, tem muita história para contar. Ela estudou Educação Física e cursou Direito em São Paulo, tornando-se aluna das famosas Arca-das do Largo de São Francisco. Diz que o curso de educação física foi para tranquilizar a mãe, Dona Maria do Rosário, que a achava magrinha demais e provável candidata a uma tuberculose. E também, a pedido da mãe, que tocava piano, Lygia recitava, muito compe-netrada, Casimiro de Abreu, Olavo Bilac e Guilherme de Almeida. Foi ao som desses poetas e ao lado de livros de belas e coloridas capas que Lygia foi crescendo. A Faculdade de Direito do Largo São Francisco ocorreu na vida de Lygia por volta da década de quarenta. Por esse tempo, já delineavam seus caminhos literários: ela participava e acompa-nhava o pessoal da escola ligado às artes. Fre-quentava a Jaraguá, misto de livraria, salão de chá e galeria de arte, grupos intelectuais e boê-

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mios, entre os quais o pessoal da Faculdade de Filosofia de São Paulo. Os frequentadores da Ja-raguá enfrentaram problemas, o Brasil do Es-tado Novo, a ditadura de Vargas e as reuniões proibidas, a censura à imprensa, a perseguição a estudantes. Tudo isso oprimia, tudo isso tor-nava perigosa e subversiva a atividade intelec-tual. Nos anos 40, o primeiro livro publicado: os contos de Praia Viva. Sua segunda obra só publicaria em 1949, reunindo contos no livro O Cacto Vermelho. Lygia vivia então no meio intelectual, sua casa sempre cheia de jovens, que entravam e saíam o tempo todo, e ouvia todo tipo de papo. Com o livro “As Meninas”, foi premiada e teve su-cesso junto aos leitores, e assim tornou-se escritora profissional. Como Edgard Cavalheiro, também lutou para assegu-rar o lugar do escritor brasileiro no nosso mer-cado, invadido por uma literatura estrangeira de baixa qualidade. Nascida em São Paulo, a 19 de abril de 1923, filha de Durval de Azevedo Fagun-des e Maria do Rosário Azevedo Fagundes, Lygia ao longo de sua carreira literária sempre demonstrou que a qualidade do trabalho do es-critor é demonstrada nas constantes publicações de textos adaptados para o cinema e a televisão, publicação em jornais, revistas, entrevistas, e o que é bom deve sim ser sempre publicado. Para finalizar, com a palavra da própria Lygia, sobre a definição de escritor: “A função do escritor? Escrever por aqueles que muitas vezes esperam ouvir de nossa boca a palavra que gostariam de dizer.

Comunicar-se com o próximo e, se possível, mesmo por caminhos ambíguos, ajudá-lo no seu sofrimento. Na sua fé. Isso requer amor – o amor e a piedade que o escritor deve ter no co-ração”. Espero que a Edição deste ano da Semana Literária “Edgard Cavalheiro” tenha a presença da grande escritora Lygia Fagundes Telles, e que todos lutem como eles lutaram no passado, para um universo literário educativo e libertador, na construção de um mundo melhor sem distinção de raça, cor ou religião. Do qual todos façam parte como elos de uma corrente de paz e sabedoria. Vamos lutar... JUNTOS! Também fica aqui a homenagem ao grande escritor, biógrafo, jornalista e editor pinhalense, nosso saudoso “Edgard Cava-lheiro”. Em 30/06/2014, completaram-se 56 anos de seu falecimento. Que Deus o ilumine e que ele nos inspire de onde estiver.

João Batista RozonCadeira 05Patrono Visconde de Taunay

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por quem choras oh serra queridapor quem derramas longo penarse as águas que correm na faceadoçam as águas do mar

das lindas nascentes és mãenos grotões um colo a embalarno verdor das matas descerrao abrigo tranquilo do lar

a terra natal encravadanuma encosta com raro luaré o canto mais lindo da serraÁguas da prata a abraçar

e nas altas encostas valentestantos homens quiseram saltarsonhando da Pedra da Minacom o pássaro livre a voar

vai por Minas São Paulo e Riotua bela imponência escarparimpedida no criar do mundode tocar as águas do mar

Puris habitavam tuas terrasperfeita simbiose seculare vil explorador chegoupara as matas e tribos extirpar

sei que sangras teu solo o aradosei que matas quedaram no arpor quem choras oh serra queridame alucina esse longo calar

o filho perdido no mundoque a lembrança de ti faz voltarpor quem choras oh serra queridase teu filho é todo pesar

se não pelo filho perdidoque no poema a ti vai buscarpor quem choras oh serra queridano clamor desse vento a cantar

o vento que em brisa se tornae em carícia a mim vem tocarlembrando que na hora da morteem teu seio eu quero ficar

por quem choras oh serra queridapor quem derramas longo penarse as águas que correm na faceadoçam as águas do mar

ODE À MANTIQUEIRA

Luís Fernando Dezena da SilvaCadeira 42Patrono Pedro Nava

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Antes da faculdade, no subsolo da Coletoria Estadual, as tardes de jogo de damas, xadrez e dominó, na sede do Grêmio Augusto de Freitas. Um pouco de ping-pong, alguns passos do “chachacha”. Uma acalorada discussão se Beatles ou Rolling Stones para tudo terminar num foxtrote de rodopios e rosto colado. O objeto de desejo era o joelho da Nara Leão no contraste do retrato em branco e preto da capa do LP do selo Elenco. Quem poderia ter o Chega de Saudade, nem bem lançado e já então antológico? Já era hora de uma sodinha Galvani ou uma tubaína Cariovaldo no bar do Tulu, pra hidratar a polêmica pelo Dolce Vita ou pelo O Ser e o Nada que a vã filosofia não entendia, ainda. Existencial ou não, o fato é que a banda do Nim, guitarrista dos melhores na terra do João Lanzac, o amigo de Garoto e Jacob, ensa-iava para ir gravar baladas do Elvis e blues do Little Richard, no balanço do rock. E o Nim, que era irmão do Tulu, que ainda tinha outro, o Renê, que arrasava no órgão da igreja matriz no silêncio da madrugada. Este era o meu entorno do Theatro Mu-nicipal nos anos sessenta. Mas, claro que quase esqueci o ponto do Expressinho dos Domingues e da bomba de ga-solina defronte à loja do Gabriel Antakly, onde é hoje uma agência bancária. Atrás da Catedral,

muita sombra de árvores frondosas que cria-vam uns mosquitos infernais, mas abrigavam os “carros de praça” refrescados para o uso dos viajantes que chegavam admirando o pôr do sol. Se não tivesse que estudar para a saba-tina da Dona Vera ou do Ditão ou do Caselato, dava para pegar um cineminha com a morena sestrosa, para tentar, todo prosa, roçar o dedo mindinho na mão aveludada, languidamente esquecida no braço da poltrona de pau. E o cineminha era o Cine Theatro, tão maltratado por dentro como por fora. Judiado mesmo. Decaído mas majestoso. Empobrecido com dignidade. No foyer: o bar do Tulu, o pipoqueiro, a bilheteria e a baleira. Todos sobre um piso de Carrara. No piso superior, uma sala vazia, com um palco, que já abrigara rádio, sociedade cul-tural e que servia de estúdio para os ensaios, de músicos e atores, para o piano do Ferrante e muita big-band na vitrola. Mas era onde podíamos ver a Sophia Loren (Duas Mulheres) ou o James Dean (A Leste do Éden) ou a Marilyn Monroe (O Peca-do Mora ao Lado) ou o Alain Delon (O Sol por Testemunha). Além dos Mazzaropi, Cantinflas, Oscarito e Grande Otelo. E o João Negrinho com os atores na plateia. Era no Theatro que experimentáva-

O Theatro e Minha Geração

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mos atores e pen-dores com o Pierini, sem saber que por ali já tinham pisa-do lendas, divas e monstros sagrados. Foi lá que Roberto Carlos, Vanderleia e Eras-mo se apresentaram quinze dias antes de estrearem um con-corrido programa na consagrada TV Re-cord, antes de serem o Rei, a Ternurinha e o Tremendão. Já na fa-culdade, o período das botas e quepes, as noites mal dormidas pelo estudo ou pela boemia, espalhados por variados endereços, muito pouco frequentávamos o Theatro, mas já começamos a desconfiar de que São João tinha um patrimônio raro, que não encontrávamos, com facilidade, nos nossos variados caminhos. Mas, estávamos preocupados com outras ansie-dades da vida. Depois da faculdade, uma nova geração de políticos conquistou os votos necessários para cuidar dos rumos da cidade. E, Nelsinho, e depois Beraldo, impediram que aquele prédio majestoso, com toda a história nele realizada, fosse ao chão. E foi aí que muitos daqueles das tardes do Grêmio Augusto de Freitas puseram-se nas catacumbas, defenestraram a tela branca e insípida e começaram a devolver a pompa e

circunstância de um teatro do início do século XX. E, coletivamente, conseguiram com muito suor, talvez sangue e lágrimas de alegria, esta sala que deslumbra experientes, vividos e viaja-dos artistas. E eu, na minha insignificância, diri-gi o mais importante, significativo e valioso patrimônio da cidade, que adotei por três anos como presidente da AMITE – Associação dos Amigos do Theatro. Foi uma honra.

Sérgio Ayrton Meirelles de Oliveira Cadeira 22Patrono Mário Palmério

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Vai andando num divagar solitáriopor um falso vazio.Vai como que vasculhando o cérebroem busca de filosofias.Ali encontra-se com as teorias,imaginando suas realizações.Deixa a criatividade viva, tentando dar ao virtualtom de realidade.São letras que se organizam em frasese estas ordenam-se em textos.Seja poesia, seja prosa,ali é semente de futura imagem.Trabalho inspirado pelo silêncioe na quietude das vozes das ideias.O presente perde-seentre passado e futuro,surge irritação.São como que grandes novidadesde um tempo que já se foi.Lembranças do desejode virtudes irrealizadasque insistem em viver.Antigos sonhos vertidos em ideaisque aguardam o momento de nascer.Nisto existe um delíriode um cérebro inquieto,uma alta febre de pensamentos.O tempo eterno observa o relógio cotidianoempurrando lentamente as horas.A atenção se dispersa,fica ali perdido nos afazeres do dia-a-dia.

O espírito sente-se ludibriado pelo corpo.E o corpo quer fugir do espírito.Um quer apenas viver a vida,enquanto o outro quer entendê-la,quer libertar-se.Nascedouro de um conflito,mas a alma é mais forte, impõe a sua vontade.Fecham-se, então, as pálpebras,mergulha-se num voo pela intimidade.Um diferente universo, tudo se movimenta rapidamente,tudo é tão intenso. Abandona-se o aconchego do cotidianopara andar pela história humana. Vê como se estivesse além do seu tempo,observa os risos e as lágrimas.Reconhece o movimento das sociedadesa carregar os seus indivíduos.Tenta identificar um mecanismo motor,enche-se de muitas dúvidas.Qual seria a real distância para as respostasque tanto necessita?Por não sabê-lo, recorre à ironia,diverte-se consigo, faz troça.Critica-se por sua arrogância científica,vê-se como soldado que se pensa general.Deixa-se livre para as fantasias,imagina-se caindo ao tropeçar nas ilusões.Uma espécie de drama com tons de comédia,para depois ficar cheio de melancolia.Ganhar uma face com traços maduros

Versos Alados

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que lhe espantam os fulgores juvenis.Constatar que em seu coraçãoacasalam-se tristeza e felicidade.Descobrindo-se dividido,mas conseguindo ver virtudenesse estranho estado.Buscando muito por respostas,mas, momentaneamente, apenas achando caminhos.E por estes quer andar,quer saber os segredos do sole das grandes eclipses.Quer desvendar o que está ocultono acasalar das noites com os dias.Querendo encontrar um secreto portal para perder-se entre auroras e crepúsculos.Enchendo-se de sagrada inspiração,tendo por um instante a certeza de ser divino.Ficando emocionado com sua filiação celestial,imaginando ser possível ligar para o céu. Mas novamente pousando na realidadeao encontrar o telefone ocupado.

Gilberto Brandão MarconCadeira 06Patrono Mário Quintana

Ligeira Visão

Hoje voltei a te ver,bela, airosa e tão altiva,

porte ereto, a espairecer.Como isso me cativa!

No camisão esvoaçante,no matiz cinza do vestido,

tu estavas tão brilhanteque ofuscou o meu sentido.

Mas a visão foi repentina.Tão depressa tu entraste,mais depressa tu saíste.

Mas guardei-te na retinaPorque tu me emprestateum calor que nunca viste.

Wildes Antônio BruscatoCadeira 02Patrono Ruy Barbosa

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lanternas definindo caminhos mais justos, solidários, fraternos e libertários. Nas noites sem estrelas, nortearão nossas frágeis jangadas pelas correntezas conflitantes em seus paradoxos. Mestre Plinio de Arruda Sampaio. Mestre André Carneiro. Transcrevo aqui, do seu livro “Quânticos da Incerteza” este belo poema:

Neste ano de 2014, o Brasil perdeu grandes pensadores. Tive a felicidade de compartilhar alguns momentos especiais com alguns deles, com a certeza de que me enriqueci profundamente. Serão eternamente reverenciados como seres que participaram na transformação posi-tiva de muitas vidas. O impacto de seus pen-samentos ainda conduzirão muitos, como

Adeus, Meus Amigos...

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TestamentoEU, abaixo assinado,mamífero,no pleno gozo das minhas faculdades, descendente dos peixes e de um homem sábio, declaro para todos os fins de direito, que deixo como herança para a amada, várias constelações no lado direito da Via Láctea, conforme mapas astronáuticos. Declaro ainda ser possuidor de alguns ventos da madrugada e de várias ondas na praia descritano documento anexo, com amostras da areia e uma estrela fossilizada.

Outras propriedades não citadas, deixo para o cartório distribuir aos autores dos melhores versos, nas próximas temporadas.A vasilha hermética junto, deverá conter a alma, incinerada para distribuição gratuita entre os pássaros e abelhas.

Desejo a todos um bom dia e a mesma noite de plenilúnio riscada por meteoros erráticos.Firma reconhecida e o labirinto digital da minha vida debaixo do último verso.

Quero também registrar uma frase do seu conto “Confissões do Inexplicável” : “Ninguém liquida uma ruga, até a plástica pode escondê-la, mas ela cresce na memória e se reve-la na palavra” . Resta-me, agora, resgatar, através de suas obras, a imagem e a sonoridade de suas existências, vincadas em minha “alma”.

Luiz Antônio SpadaCadeira 28Patrono Guilherme de Almeida

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Analisando o contexto social, político e econômico, do momento, concor-

do com um notável historiador que afirma estarmos mudando de uma época histórica para outra. Ele compara a ruptura, atual, como aquela que aconteceu quando findou a antiguidade: Queda do Império Romano, invasão dos bárbaros, fuga das cidades que apesar das muralhas estavam desprotegidas, aparecimento de feudos, hoje seriam os blo-cos econômicos e cisão entre dois mundos: Ocidente e Oriente. Este contexto leva a escola a ter bem claro um pretexto para fazer a sociedade mudar. Diga-se bem alto que é a escola que faz a so-ciedade mudar e não esta moldar a primeira. Isto posto, todos educadores devem se pre-parar para as mudanças, rever suas posições reforçar sua filosofia para poderem escrever, em tempo, um hipertexto para que a escola ocupe de verdade o lugar que lhe cabe nesta mudança histórica em que estamos a viver. Todo educador é sempre um questionador e um insatisfeito e quer desvendar o que vai à cabeça de seus alunos. Se for acomodado

pode ser professor, porém nunca educador! Fiquei surpreso e intrigado, em uma ma-nhã de domingo perdida no tempo, quando meu neto de quatro anos me disse: “Na minha cabeça moram três borboletas”. Uma abre as asas quando penso, outra abre as asas quando falo e a outra sai voando por aí... Como educador dedicado ao pensar e ao dialogar e a programas e metodologias para promover esse pensar e a colocar voz nas próprias ideias, fiquei entusiasmado com as borboletas de meu netinho As imagens ficaram bem claras para mim via as duas borboletas se movendo. Mas a terceira. aquela que sai voando por aí até hoje me intriga. Eu suspeito que esta terceira borboleta é a imaginação e tanto pais como os profes-sores devem correr atrás desta imaginação dos pequenos. Imaginar é perceber mentalmente, Ter ideia sobre algo. O pensamento criativo está sempre pre-sente através de diversas formas: fantasioso,

A Terceira Borboleta (Professor ou Educador?)

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O que fazer para tentar acompanhar a imaginação de seus filhos, meu neto e de nossos alunos? Simplesmente passear com eles no fim da tarde no bosque de nossos diá-logos. O que espero é que ela siga comparti-lhando conosco este terceiro voo.

conceptivo ou inventivo. Fantasiar é um ato que nos mantém ima-ginário, mas inventar pode tanto nos manter nesse mundo, quanto a nos conduzir à vida concreta e assim podemos interferir na reali-dade. Imaginar – dar aos alunos esta oportuni-dade! Isto é importante para o conhecimento científico e artístico, também o é para o campo ético! A borboleta que há na cabeça de seus filhos é igual à que visualizei em meu neto. Ela tem muito que voar porque vai por distintos cam-pos do conhecimento, beija diversas flores da convivência humana, além de nascer e morrer em múltiplas metamorfoses reflexivas.

João Baptista ScannapiecoCadeira no 17Patrono Francisco Dias Paschoal

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LuzGrafia“Um único

momento de beleza

e amor justifica a

vida inteira”

Rubem Alves

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Aqui Aconteço...Noite de Festa na Academia de Letras de São João da Boa Vista

Na Sede da Academia de Letras, reuniram-se autoridades, acadêmi-

cos e amigos da Arcádia para exaltar São João da Boa Vista, por seus 193 anos, com apresenta-ção Lítero Musical e Lançamento da 3ª edição da Revista ARCA com homenagem a João Batista Merlin e pelo Centenário do Theatro Municipal. Era 07 de junho, sábado, 20h. A noite foi embalada por melodias toca-das e cantadas por Samir Nassur e Fábio Jabur, com participação especial de Silvia Ferrante em duas das canções apresentadas. No encerra-mento, delicioso coquetel foi servido no saguão da Estação.

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Posse de Luiza Nagib Eluf

Às 20h, do dia 02 de agosto de 2014, sábado, na Sede da Academia de Le-

tras de São João da Boa Vista, em Reunião Or-dinária reuniram-se autoridades, acadêmicos, parentes e amigos da Academia para a posse de Luiza Nagib Eluf, para ocupar a Cadeira 12 - Patrono Carlos Drummond de Andrade. Luiza é Procuradora de Justiça de São Paulo, aposen-tada. Para compor a mesa diretora a presi-dente Lucelena Maia chamou o Prefeito Vander-lei Borges de Carvalho, a Membro Correspon-dente Professora Adélia Jorge Adib Nagib, tia da neoacadêmica, e a mãe dela, Senhora Munira Nasser Nagib, a 1ª Secretária Silvia Ferrante e, para acompanhar a neoacadêmica até a mesa, o acadêmico José Rosa. Um minuto de silên-cio foi prestado à morte recente do acadêmico Plínio de Arruda Sampaio, e pela recente perda das importantes personalidades literárias: João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves, Ariano Suassu-na e pelo jornalista e crítico literário, também membro da ABL, Ivan Junqueira.

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Conversando com Almino Affonso

“1964 e o Golpe de Estado”

Em 15 de agosto de 2014, na sede da Academia de Letras, Dr. Almino Af-

fonso discorreu sobre o tema “1964 e o Golpe de Estado”, baseando-se em reflexões de seu livro lançado em março, com o tema “1964 na Visão do Ministro do Trabalho de João Goulart”, pe-los 50 anos do Golpe de Estado. Ao final da palestra, aplaudido de pé por todos, Dr. Almino, sensivelmente emocio-nado, abriu a palavra para os presentes e, após responder as perguntas de acadêmicos, pro-fessores presentes e alunos universitários, foi aberta a sessão de autógrafos e sessão de fotos. A presidente da Academia de Letras pediu aos acadêmicos que se aproximassem para uma foto com o palestrante, da qual participou a Membro Correspondente Adélia Nagib e o neoacadêmi-co William Lázaro. Em momento de descontra-ção, durante os autógrafos, Dr. Almino conver-sou com os amigos políticos, Nelson Nicolau, Vanderlei Borges e Sidney Beraldo. Estiveram presentes à palestra seu filho Rui, a nora Cris-tina, e alguns de seus amigos íntimos.

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Posse dos Acadêmicos

Marcos César Pavani Parolin Wiliam Lázaro Rodrigues de Oliveira

Às 20h, do dia 06 de setembro de 2014, sábado, na Sede da Academia de Letras de São João da Boa Vista, em Reunião Ordinária reuniram-se autoridades, acadêmicos, parentes dos

neoacadêmicos e amigos da Academia para a posse de: Marcos César Pavani Parolin, Procurador do Estado, para ocupar a Cadeira 14 – Patrono Afonso D’Escragnolle Taunay e Wiliam Lázaro Rodrigues de Oliveira, Professor, para a Cadeira 35 – Patrono Casimiro de Abreu. Contou-se com a presença do cantor Zé Alexandre, amigo do neoacadêmico Wiliam, que abrilhantou a noite, entre outras músicas, com a “What a Wonderful Wordl” de Louis Armstrong.

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Premiação do XXII Concurso Literário de Poesia e Prosa

No dia 27 de setembro de 2014, sába-do, às 17h, na UNIFAE – Auditório

José Edgard Simon Alonso realizou-se a Pre-miação do XXII Concurso Literário de Poesia e Prosa da Academia de Letras de São João da Boa Vista. A mesa foi composta pela presidente da Academia, Lucelena Maia, pelo patrono do Concurso, o acadêmico Wildes Antônio Brusca-to, a 1ª secretária e Coordenadora do XXII Con-curso Literário, a acadêmica Silvia Ferrante e pelo ator João Gabriel Bruscato que abrilhantou a noite com a apresentação: “O céu é um circo”, baseado na obra de Marcelino Freire. O Concurso contou este ano com 526 trabalhos. Na Categoria Poesia, foram 342 inscrições e na Prosa 184. Das inscrições aceitas, 48 chegaram via Correio e 478 via Internet, com 25 Estados participantes e 7 Países, fora o Bra-sil. Entre eles: Suíça; Portugal; Alemanha; Itália; Moçambique; Japão e EUA.

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Encontro com Salete de Almeida Cara

Em 19 e 20 de setembro de 2014, a Doutora em Letras – Teoria Literária

e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo e professora livre docente da mes-ma Universidade, Salete de Almeida Cara, apresentou a palestra “Do Conto Através dos Contos”, no Theatro Municipal, sala de Múl-tiplo Uso, para alunos dos centros universi-tários UniFae e UniFeob e a palestra “Pessoa Através de Pessoas”, na Fazenda Recanto do Bosque, para acadêmicos e convidados.

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Participaram:ELENCO:Dorival Caymmi: Antônio “Nino” Barbin | Jorge Amado: Luiz Antonio SpadaNARRADORA: Maria Ignêz dos Santos D’Ávila RibeiroCANTORAS SOLISTAS: Ana Paula Trindade Aprígio | Júlia Lisi dos Santos | Roseane Moreti QueirozSilvia Ferrante | Sônia QuintaneiroCORAL DO CENTRO EDUCACIONAL SESI 156/São João da Boa Vista:Adriano Higor Ferreira da Silva | Amanda Rossetti Cavalari | Carlos Eduardo Bronetti Peinado | Cauã Basilio Paixão | Fábio Augusto Silva Julião | Gabriel Ramos da SilvaGabriela Gimenes Pigato | Giovanna Lourenço Ricci | Giulia Territo Moreira BuzelliJoão Pedro Gnann Emygdio | João Victor Morgado Ferreira | Júlia Gutierres Domingos | Mari-ana Alves Ribeiro | Mariane Ramos da Silva | Marina Damaceno da Silva | Matheus Gomes de Sousa | Verônica Aparecida Felisberto | Witoria Domingos Pinheiro | Profª Marly T. Estevam de Camargo FadigaMÚSICOS:Beto Amiki ( Percussão ) | Julio Lima ( Violão ) | Maurício da Silva ( Baixolão )Micael Chaves ( Bandolim e Cavaquinho )DANÇA:Martha JacintoESCOLA DE CAPOEIRA PALMARES:Carlos Alexandre Costa de Almeida | Fábio Cavelagna | Geraldo Raul Faustino |Marcos Paulo Pereira | Maria Helena Eduardo Texto: Maria Célia de Campos Marcondes | Maria José Gargantini MoreiraDireção Teatral: Maria Célia de Campos MarcondesDireção Musical: Silvia FerranteVídeo “Dorival Caymmi”: Neusa MenezesCoordenação Geral: Lucelena MaiaMÚSICAS APRESENTADAS1 - Maracangalha – Coral do SESI, Silvia Ferrante e Sônia Quintaneiro2 – Saudade da Bahia – Silvia Ferrante3 - Marina – Sônia Quintaneiro4 – O que é que a baiana tem? – Silvia Ferrante e Coral do SESI5 – É doce morrer no mar – Roseane Moreti Queiroz e Ana Paula | Trindade Aprígio e Coral do SESI6 – Só louco – Sônia Quintaneiro7 – Oração da mãe menininha – Silvia Ferrante e Coral do SESI8 – João Valentão – Silvia Ferrante e Coral do SESI9 - Acalanto – Silvia Ferrante e Coral do SESI10 – Samba da minha terra – Sônia Quintaneiro11 – Suíte dos pescadores – Júlia Lisi dos Santos e Coral do SESI

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Evento Lítero-Musical “O Universo Amado de Caymmi”

Em 19 de outubro, domingo, 18h, no Theatro Municipal – Projeto Seis

da Tarde. A Presidente da Academia de Le-tras, Lucelena Maia, fez a abertura do evento Lítero Musical “O Universo Amado de Caym-mi” agradecendo a presença de todos, com o seguinte comentário: “Se o Todo-Poderoso não tivesse convocado Dorival Caymmi, com sua voz inconfundível e inabalável e o seu violão magistral para cantar a Bahia poética, romântica, ingênua, negra e praieira lá no firmamento, ele teria completado 100 anos em 30 de abril. Jorge Amado e Caymmi se consideravam irmãos gêmeos, por essa razão a Academia de Letras apresenta a vocês a amizade e a afinidade entre eles com, “O Uni-verso Amado de Caymmi”. Citou a presença do Diretor de Cul-tura, Sr. Beto Simões e do Sr. Orlando Reis do Projeto Andorinhas. Agradeceu o apoio da Prefeitura, através do Departamento de Cul-tura e da AMITE e, tam-bém, a divulgação do es-petáculo pela TV União e pelos jornais “O Municí-pio”, “Edição Extra” e a “Gazeta de São João”.

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Homenagens em Placas nas Pedras da Praça Sérgio Vieira de Mello

A Academia de Letras se fez repre-

sentar em 14 de setembro, através dos Acadêmicos Prof. João Scannapieco, Lu-celena Maia, João Otávio Bastos Junqueira e Silvia Ferrante, que cantou o Hino de São João da Boa Vista, acompanhada de Julio Lima ao violão, em homenagem na Praça da Paz - Sérgio Vieira de Mello, com descerramento de placas pelo Centenário do Theatro e por Sér-gio Vieira de Mello, com poemas de Antonio “Nino” Barbin. Pelos criadores do Hino de São João - placa com o Hino foi descerrada. Aos pioneiros de São João e a Alexandre Dutra, do Projeto An-dorinhas. Todo o evento foi do Sr. Orlando Jorge Reis da Silva.

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Posse dos AcadêmicosWilges Ariana Bruscato

Pe.Claudemir Aparecido Canela Cyro Gilberto Nogueira Sanseverino

Às 20h, do dia 1º de novembro de 2014,

sábado, no Centro Cultural Otávio Bastos, Unifeob, Campos I, Auditório Romildo Alonso, em Reunião Ordinária reuniram-se autoridades, acadêmicos, parentes dos neo-acadêmicos e amigos da Academia para a posse de: Wilges Ariana Bruscato, Advogada, Doutora em Direito Comercial, para a Cadeira 26 – Patrono Gregório de Mattos. Cyro Gilberto Nogueira Sanseverino, Advogado, para ocupar a Cadeira 15 – Patrono Mário de Andrade. Pe. Claudemir Aparecido Canela – Filó-sofo e Professor, para a Cadeira 45 – Patrono Pe. Antonio Vieira

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Premiação do 6º Concurso “Redação na Escola”Tema: “Brasil! Mostra tua Cara”

Deu-se o início da reunião com a 1ª Secretária, Silvia Ferrante, chaman-

do atenção de todos para o telão com o vídeo: “Brasil! Mostra tua Cara”, de cinco minutos, elaborado pela confreira Neusa Menezes. Em seguida a presidente Lucelena Maia compôs a mesa com o Prefeito Vanderlei Borges de Car-valho; a Sra. Diva Maria de Araújo Barth, re-presentando a Sequóia; Sra. Maria Fernanda Martarello Astolpho Vicente, representando a Diretoria de Ensino Estadual; a Supervisora Ma-ria Cecília Molinari Nogueira, representando o Departamento Municipal de Educação, o Vere-ador Fernando Beti; a presidente da AMITE, Fafá Noronha e a Coordenadora do Concurso, a Acadêmica Neusa Menezes. Agradeceu ao presidente da SES, Sr. Lucio Doval, a disponibi-lidade do salão social, pelo sexto ano consecu-tivo. Agradeceu o apoio da Escola Estadual Cel. Joaquim José e do Supermercado Sempre Vale. Aproveitou para agradecer, também, a Sequóia Loteamentos pelo patrocínio de grandioso pro-jeto. Mencionou diretores e professores pela dedicação em tornar o Projeto Jovem Escritor re-alidade e aos alunos, por acreditarem no desafio proposto para eles. Antes de começar o evento, citou o aniversário da Arcádia, nesse mês, em que completa 43 anos. A Academia estava em

festa e aproveitando o salão lotado, com mais de 500 pessoas, entre crianças, jovens e adultos, dividia com imensa alegria as tantas e boas rea-lizações do Sodalício. A presidente abriu os tra-balhos de premiação informando a participação de 97% das escolas ao projeto. Das 237 redações possíveis, 203 chegaram até a Academia de Le-tras, com índice de 85% de aproveitamento. Após essa análise, a presidente citou o prefeito Vanderlei Borges como defensor da educação e deu-lhe a palavra. Na sequência, a palavra foi passada para a patrocinadora do evento, Sra. Diva Maria de Araújo Barth, que também foi comissão julgadora. Para concluir, a Coordenadora Neusa Menezes iniciou a pre-miação.

Presidente Lucelena Maia, Professora Ana Aguiar Andrade - homenageada e Coordenadora Neusa Menezes

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Sopa de Letras

Temino, hoje, a trilogia de crônicas sobre minha mãe, em homenagem à sua lembrança, já que há três anos, no mês de novembro, ela re-solveu ir-se embora, em busca de outros planos espirituais. Mamãe nasceu em 1919 e foi a caçula dos cinco filhos do casal lisboeta José Maria e Adelaide. Perdeu a mãe aos sete anos e o pai, aos quinze. Foi criada pelas irmãs mais velhas, doces de criaturas, e pela cunhada Marina, uma portuguesa brava e neurótica que só atazanava a vida da família. No entanto, eu que convivi com essa tia, depois de velha, gostava muito dela. Contou-me ela que por ocasião da Revolução Constitucionalista de 1932, o sítio onde moravam foi palco de refregas entre sol-dados paulistas e mineiros. Meu tio e meu avô, que ainda eram vivos, proibiram as mulheres de saírem da casa, com receios de balas perdidas

ou, talvez, dos soldados que viviam de tocaia nos matos. Minha tia Marina ficou encarregada de vigiar as meninas. Certa noite, o tiroteio foi particularmente intenso e até de madrugada ouvia-se aquela ba-rulhada tremenda. O fogo cruzado foi tão forte, que, pela manhã, todos saíram à procura de mortos ou feridos. Mas, para a alegria de todos e infelicidade de minha mãe, o único cadáver encontrado foi o de sua égua, por ela batizada, carinhosamente, de Estrela. Aprontou o maior berreiro e virou uma fera quando ouviu sua cunhada comentando: “Bem feito...pelo menos é um animár a menos prá tratá!” Mais à tardinha, minha mãe saiu às es-condidas, a fim de recolher os cartuchos de ba-las vazios, espalhados pelos pastos. Conseguiu encher uma latinha, até ser encontrada pela fu-riosa cunhada! Foi levada de volta para casa, aos safanões, e já na cozinha, para fazer pirra-

Como Minha Mãe Participou da Revolução de 1932

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ça, jogou o conteúdo da latinha no braseiro do fogão, onde a tia Marina cozinhava o jantar. Parece mentira, mas não é que ainda havia dois cartuchos intactos e a explosão foi tão grande que até as trempes de ferro do fogão voaram longe! Apesar do estrondo, a única que saiu machucada foi minha mãe, mais pelas mor-didas de ódio que a cunhada lhe aplicou... Apesar de brava, minha tia era uma ex-celente cozinheira e eu ainda cheguei a provar muitos de seus quitutes e até hoje tenho na lem-brança o aroma de polvilho assado, em forma de biscoitos ou de pão de queijo. Anotem aí a antiga receita de pão de queijo que era feito com o polvilho fabricado por ela mesma.

PÃO DE QUEIJO DA TIA MARINA1 kg de polvilho doce (hoje em dia, o melhor polvilho é o da marca Kitano)3 ovos2 copos de leite ou de água½ copo de óleo1 colher (sopa) rasa de salQueijo ralado (o fundo de um prato fundo)

Ferver o leite, o óleo e o sal. Escaldar o polvilho com essa mistura fervente. Depois de morno, acrescentar os ovos (um a um) e o quei-jo. Enrolar e assar em tabuleiro, sem untar.

João Batista GregórioCadeira 37Patrono Menotti Del Picchia

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A parte da gramática mais difícil é regência verbal. Tal assertiva se justifica, pois cada verbo tem sua regência, razão por que há mister o estudo de cada um.

Fizemos o mais grande esforço possível para sermos objetivos em nossa apresentação; claro está, muitas discordâncias poderá haver, porque gramática não é matéria exata.Vamos oferecer aos preclaros leitores as regências do verbo ASSISTIR.

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Afiando a Língua

São João da Boa Vista. Com o sentido de “residir”, o verbo assistir pede a preposição “em”, formando, as-sim, um adjunto adverbial de lugar.

Exemplo 4. - Assiste ao réu o direito de recorrer. - Assiste-lhe o direito de recorrer.

Com o significado de “caber”, “per-tencer”, o verbo assistir é transitivo indireto, exigindo, portanto, a preposição “a”. “O direito de recorrer” é o sujeito da oração. “Ao réu” é objeto indireto. “De recorrer” é complemento nominal.

Missão cumprida! Amplexos vernáculos!

Ofereço este texto à Mariana, garota an-gelical, filha da Sra. Vanise.

Exemplo 1. - Mariana assiste ao desenho animado com sorriso nos lábios de anjo. - Carla assiste à novela. - João Alberto assiste ao jogo de futebol.

Com o sentido de presenciar, ver, o verbo assistir é transitivo indireto e somente se emprega com a preposição “a”. Não admite a construção: João Alberto lhe assiste, mas, João Alberto assiste a ele. Por ser transitivo indireto não aceita voz passiva, apenas alguns verbos transitivos indiretos admitem. Incorreto, por-tanto, dizer: - O jogo foi assistido por vinte mil espectadores.

Exemplo 2. - O médico assiste o doente. - O médico assiste ao doente.

Ambas as duas formas estão corretas, pois o verbo assistir no sentido de “cuidar” admite as duas regências (transitivo direto e in-direto). Destarte, a voz passiva é admissível: - O doente é assistido pelo médico.

Exemplo 3. - Eu assisto nesta hospitaleira cidade de

Vedionil do ImpérioCadeira 41Patrono Lima Barreto

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Livros Esclareço que sou apenas um diletante

de literatura. Leio muito, desde que fui alfabetizado pela saudosa professora Adal-gisa e incentivado por Dona Wanda, minha pranteada mãe, leitora voraz. Escalado pela nossa dinâmica Presi-dente, Confreira Lucelena Maia, passo a vocês minhas impressões sobre algumas obras lidas e relidas dentre autores de minha predileção. Vejamos:

SOLO DE CLARINETA: Memórias Volumes “1” e “2”.

Meu ídolo e Pa-trono nesta Academia de Letras, Érico Veríssimo, nos apresenta no Volume “1” a sua biografia, num linguajar extremamente agradável, contando-nos (e envolvendo-nos) pas-sagens de sua vida, que incluem seus familiares (numerosíssimos!), frutos de sua riquíssima árvore

genealógica, com destaque especial para a eter-na companheira Mafalda, seus filhos, Luís Fer-nando (também escritor) e Clarissa, e seus pais, Sebastião e Abegahy. Veríssimo nos mostra também um pai-nel da vida gauchesca, cenário de quase toda sua fecunda obra literária. No Volume “2”, Érico descreve com riqueza de detalhes suas viagens pelo mundo.

Ele e Mafalda adoravam viajar. Co-nheceram boa parte do Planeta e as descrições de Érico (hábitos, culinárias, sistemas políticos, artes em geral, belezas naturais – “Deus tem cada uma!”) são primorosas. Haveria um terceiro volume dessas memórias, em que Veríssimo trataria de sua car-reira de escritor e sobre literatura de um modo geral. Infelizmente, a morte o colheu no final do Volume “2”, pouco antes de completar 70 anos. E a obra ficou inacabada, para nossa profunda tristeza...

CAMILO MORTÁGUA: Belíssimo romance do consagrado escritor, gaúcho como Érico, Josué Guimarães, um contador de histórias (como se in-titulava), jornalista e mili-tante político, na verdadeira acepção do termo. Josué destaca que o compromisso de todo escri-tor deva reunir três objeti-

vos: interpretação da trajetória política de seu país, um alto padrão artístico literário e a reper-cussão junto a um vasto público. A história de Camilo Mortágua ama-dureceu por oito anos, antes de tomar sua es-trutura definitiva. Seu lançamento ocorreu em 1980.

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O velho Cine Castelo tem importante pa-pel no romance, pois Josué se utiliza da tela de um cinema para projetar as memórias do per-sonagem principal do livro: Camilo Mortágua.Uma história emocionante que prende a aten-ção do leitor do início ao fim do romance, com personagens plenos de vida, que nos levam ao riso e às lágrimas, com descrições riquíssimas do autor.

OS MELHORES CONTOS DE RUBEM BRAGA:

Esta obra é um dos meus livros de cabeceira. Para boa parte de nossos críticos literários, Rubem Braga é o melhor cronista da Litera-tura Brasileira. Assino em-baixo! A seleção dos textos foi criteriosamente elaborada pelo consagrado crítico, sãojoanense Professor Uni-

versitário de Literatura Davi Arrigucci Jr., que, curiosamente, denomina a coletânea como “melhores contos”. São 39 textos primorosos desse capixaba genial, que releio sempre, cada vez descobrindo um novo enlevo no prazer dessa leitura. Manuel Bandeira já definia sua produção como essencialmente romântica e Davi se refere a Rubem como urdidor de um visgo que prende o leitor como o faz um caçador com os passari-nhos, mas com extrema ternura. Um narrador e comentarista dos fatos corriqueiros de todo dia, dando-lhes uma no-tável consistência literária. Impossível recomendar a leitura de

apenas determinadas crônicas desta coletânea; todas têm que ser “saboreadas prazerosa-mente”.

ALEXANDRE E OUTROS HEROIS: A arte de escrever simples, com textos enxutos, de fácil entendimento para o leitor mediano. Assim se comunica Gra-ciliano Ramos neste apa-nhado de “causos” contados por Alexandre, histórias que pertencem ao folclore nor-destino. Mentirada ou não,

como é saboroso ouvir o tabareu falastrão, ao lado da fiel companheira Cesária, dominando sua plateia cativa de caboclos simples e aten-tos. Nunca ouvi tal referência, mas descon-fio de que o personagem Pantaleão do genial Chico Anísio foi inspirado nesse Alexandre do Graciliano. O mesmo “olho torto”, a mesma rede preguiçosa, a mesma companheira conde-scendente (no caso do Pantaleão era a Terta), as mesmas bazófias, tudo muito parecido e deli-cioso. De quebra, o livro traz também uma pequena história de nossa República e aí a nar-rativa e as opiniões são do Graciliano (amargas algumas). Vale (muito!) a pena conferir essas qua-tro preciosas obras de nossa Literatura!

Antônio “Nino” BarbinCadeira 27Patrono Érico Veríssimo

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Jornalista Responsável: Francisco de Assis Carvalho ArtenProjeto Gráfico: Fernanda BugaEdição: Neusa MenezesGerência Administrativa e Financeira: Lucelena MaiaDistribuição: Academia de Letras de São João da Boa VistaRevisão: Antônio “Nino” Barbin Vedionil do Império

Academia de Letras de São João da Boa Vista

Presidente Lucelena Maia1º Vice Presidente Antônio Carlos Rodrigues Lorette2º Vice Presidente João Sérgio Januzzelli de Souza1ª Secretária Silvia Tereza Ferrante Marcos de Lima2ª Secretária Maria Cândida de Oliveira Costa1º Tesoureiro Lauro Augusto Bittencourt Borges2ª Tesoureira Vânia Gonçalves Noronha1ª Bibliotecária Maria Célia de Campos Marcondes2º Bibliotecário Antônio “Nino” Barbin

ContatoAssistente de Secretaria Stefani CostaPraça Rui Barbosa, 41 - Largo da Estação13870-269 - São João da Boa [email protected]

Dezembro de 2014

FOTOS:Silvia Ferrante

Páginas: 18, 19, 20, 22, 23, 26, 27, 28, 29, 31, 32, 33, 39, 42, 43, 44, 47,

48, 49, 55.Internet:

Páginas 36, 64, 66 e 67Acervo UniFaePáginas 04 e 07

Maria José MoreiraPágina 08

Julio Lima Páginas: 22, 23, 55, 58

Acervo Neusa MenezesPáginas 12, 13, 15 e 41

Acervo Academia de LetrasPágina 17

Lauro Borges:Páginas: 24 e 25

Antônio Carlos R. LorettePáginas 35

Cristiane SoaresPágina 58

Lucelena Maia:Páginas 2, 3

fotografia de capa: Silvia Ferrante

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