Arautos Do Evangelho 2013 Numero 135, O Sumo Bem Sempre Vence

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Número 135 Março 2013 O Sumo Bem sempre vence

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Número 135 Março 2013

O Sumo Bem

sempre vence

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“A Anunciação”, por Damián Forment -

Altar-mor da Basílica do Pilar, Saragoça (Espanha)

m Deus vai descer dos Céus no seio de uma Virgem e revestir-Se da nossa carne enferma e mortal. Este é o mistério anunciado a Maria

pelo Arcanjo Gabriel. Mistério incompreensível e inefá-vel, esperado durante mais de quarenta séculos e prepa-rado desde toda a eternidade.

Contemplemos no próprio seio de Deus essa prepa-ração. A obra por Ele concebida desenrola-se ante seus olhos com suas maravilhas e emocionantes peripécias. Vê entrar nela o pecado e decreta que este será castigado. Mas o Verbo intervém, propondo ao Pai receber na sua Pessoa adorável os golpes da justiça divina. O pecado será expiado por uma vítima igual à majestade que ele

ofende, e será perdoado. Para fazer abraçarem-se n’Ele a justiça e a misericór-

dia, o Verbo, membro da Família Divina, deve tornar--Se membro da família dos pecadores e impregnar dos seus méritos infinitos a natureza culpável que Ele quer salvar. Para este fim, a misteriosa e casta operação do Espírito Santo formará, no seio virginal de uma filha de Adão, a humanidade santa que Deus vai ferir de morte e triturar por causa de nossas iniquidades. Tal é o admi-rável e misericordioso desígnio da Trindade, adoremo-lo profundamente.

(Pe. Jacques-Marie-Louis Monsabré, OP, Meditações sobre o Santo Rosário)

Mistério incompreensível e inefável

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Escrevem os leitores � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 4

“Para o bem da Igreja” (Editorial) � � � � � � � � � 5

A palavra dos Pastores – Sacerdócio e Dom

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Aconteceu na Igreja e no mundo

� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �40

História para crianças��� Um templo digno para Deus!

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Os santos de cada dia

� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �48

Restituição e despretensão

� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �50

Voce sabia��� Qual foi o primeiro santo canonizado?

� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �32

Uma aula de perfeição

� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �33

A arte de tornar possível o impossível

� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �34

Arautos no mundo

� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �26

A Vigília Pascal na Noite Santa – O Rei da vida, morto, reina vivo

� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �20

Comentário ao Evangelho – Até na hora da aparente derrota, o Sumo Bem sempre vence

� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �10

A voz do Papa – A Igreja se renova sempre

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SumáriORevista mensal dos

Associação privada internacional de fiéis de direito pontifício

Ano XII, nº 135, Março 2013

ISSN 1982-3193

Publicada por: Associação Arautos do Evangelho do Brasil

CNPJ: 03.988.329/0001-09 www.arautos.org.br

Diretor Responsável: Pe. Pedro Paulo de Figueiredo, EP

Conselho de Redação: Guy Gabriel de Ridder; Ir. Juliane Vasconcelos

A. Campos, EP; Luis Alberto Blanco Cortés; M. Mariana Morazzani Arráiz, EP;

Severiano Antonio de Oliveira

Administração Rua Bento Arruda, 89

02460-100 - São Paulo - SP [email protected]

Assinatura Anual:Comum R$ 117,00Colaborador R$ 225,00Benfeitor R$ 350,00Patrocinador R$ 480,00Exemplar avulso R$ 10,20

Assinatura por internet: www.revista.arautos.org.br

Serviço de atendimento ao aSSinante: (11) 2971-9050

(nos dias úteis, de 8 a 17:00h)

Montagem: Equipe de artes gráficas

dos Arautos do Evangelho

Impressão e acabamento: Divisão Gráfica da Editora Abril S/A.

Av. Otaviano Alves de Lima, 4.400 02909-900 - SP

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EscrEvEm os lEitorEs

Missão Mariana na nossa paróquia

Quem lhes escreve é um sacerdo-te diocesano, da Prelazia de Huama-chuco. Nossa jurisdição está locali-zada na Serra da Liberdade e atual-mente sou pároco da Igreja São José de Marcabalito.

Para nós é uma grande alegria comunicar-nos com vocês. Primei-ro para agradecer-lhes enormemen-te pelo envio da bela revista Arau-tos do Evangelho, que nos faz muito bem no esforço constante de anun-ciar o Senhor Jesus a nossos irmãos, na alegria de viver a Fé. Queria co-mentar-lhes que quando nos chega a Revista nós a compartilhamos com algumas famílias e todos ficam mui-to edificados e alentados na Fé.

Em segundo lugar, conhecen-do sua identificação com a missão cristã no Peru, sobretudo nas zonas mais afastadas, pedimos que nos in-formem como proceder para rea-lizarmos em conjunto uma Missão Mariana em nossa Paróquia. Esta é totalmente rural, localiza-se na ser-rania norte do país e conta com 36 povoados. Como bem podem ima-ginar, sinto-me carente de tempo e de recursos para realizar sozinho es-sa missão. Por isso recorro aos se-nhores, vendo a possibilidade de que nos possam ajudar a que os ir-mãos de nossa Paróquia conheçam e amem mais o Senhor por meio de Maria Santíssima, mais ainda neste contexto do Ano da Fé.

Pe. Marco Antonio Tito ValleParóquia São José

Marcabalito (La Libertad) – Peru

artigo sobre os ciclos litúrgicos

Gostaria de felicitar o Pe. Ignacio Montojo, pelo seu artigo publicado na

Revista de dezembro passado sobre os frutos recebidos por quem partici-pa da Eucaristia procurando um bom aproveitamento da Sagrada Escritura.

Pe. César Augusto Ramírez GiraldoCoordenador Administra-

tivo de pós-graduaçãoUniversidade Pontifícia Bolivariana

Medellín – Colômbia

Visitas aos doentes e necessitados

Acabo de receber a edição núme-ro 134 desta Revista, de fevereiro de 2013. Leio com grande alegria as ma-térias e artigos escritos por pessoas tão especiais e que dedicam toda a sua vida a Cristo e a Nossa Senhora. Fico mui-to feliz quando vejo as fotos das visitas aos doentes, pois sou fisioterapeuta e trabalho com acupuntura na minha clí-nica, e aí vejo o quanto é importante a paz de espírito, tanto para nós, profis-sionais, quanto para os pacientes!

Peço a Deus por todos os meus pa-cientes, pois sei o quanto Nossa Se-nhora, com sua intercessão, e o Espí-rito Santo ajudam aos que suplicam sua misericórdia. Peço que continuem com as visitas a todos os doentes e ne-cessitados da presença de Cristo.

Jonas MarangonBrasília – DF

artigos profundos, fundaMentados e inspiratiVos

Alegria, perfume da paz; paz, flo-ração do amor; amor, fruto da vida na sabedoria: Deus! São estes os nossos votos para os dirigentes, articulistas e funcionários desta preciosa publi-cação que contém artigos profundos, fundamentados, inspirativos de vi-da espiritual, além de notícias da vida eclesial amplas, como não se encon-tra em nenhuma outra publicação na-cional. Seja a presença de Deus sem-pre mais intensa entre todos.

Irmã Camélia Augusta de C. CottaGuarani – MG

desejo uMa grande difusão desses liVros

O objetivo desta é agradecer--lhes pela remessa dos magníficos livros recém-publicados de Mons. Scognamiglio, cujos artigos nesta Revista acompanho mensalmente. Mal chegou a edição de dezembro, li a homilia relativa aos dias nata-linos e achei seus Comentários aos Evangelhos dominicais de uma cla-reza e beleza únicas, como sempre. Neles não há apenas sabedoria bí-blica, há um coração amante de Je-sus e de Maria, que fala aos nossos corações.

Como leitor habitual da Revis-ta, desejo que seja feita uma gran-de difusão desses livros, que expli-cam com imaginação e inspiração os eventos evangélicos e bíblicos. Eles são como uma pintura policromáti-ca que enriquece a alma.

Mario ScardicchioMira – Itália

atiVidades que MotiVaM e entusiasMaM

Sinto uma grata admiração pelos Arautos do Evangelho e lhes dese-jo toda espécie de bênçãos. No meu entender, sua Revista é um podero-so meio de difusão da Fé Católica. As diferentes atividades e eventos mostrados nas fotos nos motivam e entusiasmam.

Sóror Aurea MartínezArecibo – Porto Rico

trabalho MaraVilhoso

A Revista para mim é uma fonte de ensinamentos única, uma publi-cação católica incomparável! Conti-nuem com este trabalho maravilho-so que tanto bem faz às almas. Para muitos é o melhor meio de conhecer nossa verdadeira e admirável dou-trina católica.

Elizangela Somavilla MartinsPorto Alegre – RS

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Março 2013

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Editorial

Crucifixo da Igreja de São João e São Paulo, Veneza

(Foto: Gustavo Kralj)

em dúvida, o governo de Bento XVI se caracterizou, do ponto de vista huma-no, por uma atitude discreta e despretensiosa muito bem expressa nas pala-vras iniciais do seu Pontificado: “Os Senhores Cardeais elegeram-me, simples

e humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me saber que o Senhor sabe tra-balhar e agir também com instrumentos insuficientes. E, sobretudo, recomendo-me às vossas orações”.

Esses quase oito anos de Papado foram marcados também pelo temperamen-to reflexivo, lógico e coerente de Joseph Ratzinger, sempre propício a uma análi-se serena e profunda dos acontecimentos, sem fugir dos problemas mais comple-xos da realidade contemporânea. Esse modo de ser aliou-se, desde o seu tempo de professor na Universidade de Tubinga, com uma admirável ciência teológica e uma cultura humanística que o levaram a ser considerado como um dos principais intelectuais de nossa época.

Sobre estas inegáveis qualidades humanas, unidas a um espírito sempre vol-tado para o sobrenatural, paira, porém, algo mais elevado e decisivo: a assistên-cia do Espírito Santo, que se derrama em abundância sobre o sucessor de Pedro.

Todas estas circunstâncias são fundamentais para se interpretar a renúncia de Bento XVI ao Papado e não podem, de modo algum, ser postas de lado ao ana-lisá-la, sob pena de se incorrer em comentários frívolos, injustos ou fantasiosos.

Além do mais, as razões desse ato não são segredo. Elas foram claramente ex-pressas no Consistório Público do dia 11 de fevereiro e repetidas em ocasiões su-cessivas. Bento XVI renuncia, explicou no início da Audiência Geral de 13 de fe-vereiro, “para o bem da Igreja”.

Haverá outros motivos que Bento XVI tenha considerado prudente não reve-lar? Terá influído nessa decisão alguma preocupação concreta sobre o rumo que poderia tomar doravante o seu pontificado? Querer dar uma resposta a tais per-guntas é, a nosso juízo, uma temeridade, pois nossas cogitações podem não cor-responder hoje à realidade dos fatos.

Enquanto isso, cabe-nos manifestar com ênfase um entranhado amor pelo Su-cessor de Pedro e pensar, como ele, unicamente no bem da Igreja. Eram esses, sem dúvida, os sentimentos dos fiéis que acolheram com longas e calorosas ova-ções suas palavras na mencionada Audiência Geral, e durante a Santa Missa des-se mesmo dia. Igual reação tiveram os sacerdotes da diocese de Roma ao serem recebidos pelo Papa no dia seguinte, na Sala Paulo VI.

“Tanto quanto o Céu domina a Terra, tanto a minha conduta é superior à vos-sa e meus pensamentos ultrapassam os vossos” (Is 55, 9), diz o Senhor pela voz do Profeta. Bem poderia fazer suas essas palavras o Vigário de Cristo, na presen-te conjuntura.

O fato é que, para além do operar dos homens, devemos considerar com toda a confiança o futuro da Igreja. Ela é “a árvore de Deus que vive para sempre, a por-tadora da eternidade e da verdadeira herança: a vida eterna” (Lectio Divina no Pontifício Seminário Romano Maior, 8/2/2013). ²

“Para o bem da Igreja”

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A Igreja se renova

sempre

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A voz do PAPA

O futuro é realmente de Deus: esta é a grande certeza da nossa vida, o grande, verdadeiro otimismo que conhecemos. A Igreja é a árvore de Deus que vive para sempre, é portadora da eternidade e da verdadeira herança.

hegamos afinal aos três ver-sículos da primeira carta de São Pedro que foram li-dos aqui. Quero apenas su-

blinhar — ou, melhor, interpretar, na medida do possível — três palavras: “regenerados”, “herança” e “guarda-dos pela Fé”.

Tornar-se cristão começa com uma ação de Deus

Regenerados — anaghennesas, no texto grego — significa que ser cris-tão não é simplesmente uma decisão da minha vontade, uma ideia minha; vejo um grupo que me agrada, faço--me membro desse grupo, comparti-lho os seus objetivos, etc. Não. Ser cristão não é entrar num grupo para fazer algo, não é um ato só da minha vontade, nem primariamente da mi-nha vontade, da minha razão: é um ato de Deus.

O termo “regenerado” não con-cerne só à esfera da vontade, do pensamento, mas também à esfe-ra do ser. Renasci: isto significa que

tornar-se cristão é algo, sobretudo, passivo; não sou capaz de fazer-me cristão, mas renasço, o Senhor me refaz na profundidade do meu ser. E eu entro nesse processo do renas-cer, deixo-me transformar, renovar, regenerar.

Parece-me muito importante is-so: como cristão não tenho apenas uma ideia particular que comparti-lho com alguns outros, dos quais me separo quando não mais me agra-dam. Não: concerne especialmen-te à profundidade do ser, ou seja, o tornar-se cristão começa com uma ação de Deus — é, sobretudo, uma ação d’Ele — e eu me deixo formar e transformar.

Parece-me matéria adequada pa-ra reflexão, de modo especial num ano em que refletimos sobre os Sa-cramentos da Iniciação Cristã, me-ditar isto: este passivo e ativo pro-fundo do ser regenerado, do trans-formar-se de toda uma vida cristã, do deixar-me transformar por sua Palavra, para a comunhão da Igreja,

para a vida da Igreja, para os sinais com os quais o Senhor trabalha em mim, comigo e para mim.

Renascer, ser regenerado, indica também que assim entro numa no-va família: Deus, o meu Pai, a Igreja, minha mãe, os outros cristãos, meus irmãos e minhas irmãs. Ser regene-rado, deixar-se regenerar implica, portanto, também deixar-se inten-cionalmente inserir nessa família, vi-ver para Deus Pai e por Deus Pai, vi-ver da comunhão com Cristo seu Fi-lho, que me regenera pela sua Res-surreição, como diz a Carta (cf. I Pd 1,3), viver com a Igreja, deixando--me formar por ela em tantos senti-dos, em tantos caminhos, e ser aber-to aos meus irmãos, reconhecendo de fato nos outros os meus irmãos, que são comigo regenerados, trans-formados, renovados. [...]

A Igreja é a árvore que cresce sempre de novo

Segunda palavra: herança. É uma palavra muito importante no Anti-

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Bento XVI durante sua visita ao Pontifício Seminário Romano Maior, por ocasião da Festa de Nossa Senhora da Confiança, 8/2/2013

“Como cristãos possuímos o futuro. E ele é nosso, o futuro é de Deus”

que conhecemos. A Igreja é a árvo-re de Deus que vive para sempre, é portadora da eternidade e da verda-deira herança: a vida eterna.

A Fé é como a “sentinela” que conserva a integridade do meu ser

E por fim, guardados pela Fé. O texto do Novo Testamento, da car-ta de São Pedro, usa aqui uma pala-vra rara, phrouroumenoi, que signifi-ca: há “sentinelas” e a Fé é como “o sentinela” que conserva a integrida-de do meu ser, da minha Fé.

Esta palavra interpreta, sobre-tudo, “os sentinelas” apostados às portas de uma cidade para evitar que seja invadida por poderes de destruição. Do mesmo modo, a Fé é “sentinela” do meu ser, da minha vida, da minha herança. Deve-mos agradecer esta vi-gilância da Fé que nos protege, nos ajuda, nos guia e nos dá seguran-ça: Deus não me deixa de ter nas suas mãos.

Guardados pela Fé: com estas palavras con-cluo. Ao falar da Fé, devo pensar sempre naquela mulher doente que, no meio da mul-tidão, consegue apro-ximar-se de Jesus, to-ca-O para ser curada, e obtém o que pede. O Senhor pergunta: “Quem Me tocou?”. Dizem-lhe: “Senhor, todos Te tocam, como podes perguntar: quem Me tocou?” (cf. Mt 9, 20-22).

Mas Ele sabe que há um modo superfi-cial, exterior, de tocá--Lo, que nada tem a ver com um verdadei-

go Testamento, no qual está dito a Abraão que sua descendência her-dará a terra. Esta sempre foi a pro-messa para os seus: vós possuireis a terra, sereis herdeiros da terra.

No Novo Testamento, esta pa-lavra torna-se palavra também pa-ra nós: somos herdeiros, não de um determinado país, mas da terra de Deus, do futuro de Deus. Herança é uma coisa do futuro, e assim este termo diz, sobretudo, que como cris-tãos possuímos o futuro. E ele é nos-so, o futuro é de Deus. Assim, sen-do cristãos, sabemos que o futuro é nosso e que a árvore da Igreja não é uma árvo-re moribunda, mas a árvore que cresce sem-pre de novo.

Portanto, temos motivos para não nos deixarmos impres-sionar — como dis-se o Papa João — pe-los profetas da desgra-ça, que dizem: “A Igre-ja é uma árvore nasci-da de um grão de mos-tarda. Cresceu duran-te dois milênios. Pas-sou seu tempo. Che-gou-lhe a hora de mor-rer”. Não. A Igreja se renova sempre, renas-ce sempre. O futuro é nosso.

Há, naturalmen-te, um falso otimismo e um falso pessimis-mo. Este último diz: “Findou-se o tempo do Cristianismo”, quando, na realidade, acontece justamente o contrário: começa de novo!

O falso otimismo é o daqueles que quan-do se fechavam os con-ventos e os seminários depois do Concílio di-ziam: “Nada aconte-

ce. Tudo vai bem...” Não! Não vai tudo bem. Há também quedas gra-ves, perigosas, e devemos reconhe-cer com um sadio realismo que des-te modo não vai; quando se fazem coisas erradas, não se chega a ne-nhuma parte. Mas devemos ter ao mesmo tempo a certeza de que, se aqui e ali a Igreja como que morre por causa dos pecados dos homens, por falta de Fé, ao mesmo tempo ela renasce.

O futuro é realmente de Deus: esta é a grande certeza da nossa vi-da, o grande, verdadeiro otimismo

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Não ter medo de ir “contra a corrente”

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Dizer “Creio em Deus” significa fundar sobre Ele a minha própria vida, deixar que a sua Palavra a oriente todos os dias, nas escolhas concretas,

sem medo de perder algo de mim mesmo.

este Ano da Fé, hoje gostaria de começar a meditar convosco sobre o Credo, ou seja, sobre

a solene profissão de fé que acompa-nha a nossa vida de fiéis. O Credo co-meça assim: “Creio em Deus” [...].

E é precisamente sobre Abraão, que gostaria de chamar a nossa aten-ção, porque ele é a primeira grande figura de referência para falar de Fé em Deus: Abraão, o grande patriar-ca, modelo exemplar, pai de todos os crentes (cf. Rm 4, 11-12).

Deus pede a Abraão uma obediência e uma confiança radicais

A Carta aos Hebreus apresenta-o assim: “Foi pela Fé que Abraão, obe-decendo ao apelo divino, partiu para uma terra que devia receber em he-rança. E partiu sem saber para onde ia. Foi pela Fé que ele habitou na ter-ra prometida, como em terra estran-geira, habitando aí em tendas com Isaac e Jacó, co-herdeiros da mesma promessa. Porque tinha a esperan-ça fixa na cidade assentada sobre os

fundamentos eternos, cujo arquiteto e construtor é Deus” (11, 8-10).

Aqui, o autor da Carta aos He-breus faz referência à vocação de Abraão, narrada no Livro do Gêne-sis, o primeiro livro da Bíblia. O que pede Deus a este patriarca? Pede-lhe que parta, abandonando a própria terra para ir rumo à terra que lhe in-dicar: “Deixa a tua terra, a tua famí-lia e a casa de teu pai e vai para a ter-ra que eu te mostrar” (Gn 12, 1).

Como teríamos respondido nós a um convite semelhante? Com efei-to, trata-se de uma partida às escu-ras, sem saber para onde Deus o le-vará; é um caminho que exige uma obediência e uma confiança radi-cais, ao qual só a Fé permite aceder. Mas a escuridão do desconhecido — onde Abraão deve ir — é ilumina-da pela luz de uma promessa; Deus acrescenta ao mandato uma palavra tranquilizadora que abre diante de Abraão um futuro de vida em pleni-tude: “Farei de ti uma grande nação; abençoar-te-ei e exaltarei o teu no-me... e todas as famílias da Terra se-rão benditas em ti” (Gn 12, 2.3). [...]

E Abraão, “pai dos crentes”, aceita esta chamada na Fé. Na Car-ta aos Romanos São Paulo escreve: “Esperando, contra toda a esperan-ça, Abraão teve Fé e tornou-se pai de muitas nações, segundo o que lhe fora dito: ‘Assim será a tua descen-dência’. Não vacilou na Fé, embo-ra tenha reconhecido o seu próprio corpo sem vigor — pois tinha quase cem anos — e o seio de Sara igual-mente amortecido. Diante da pro-messa de Deus, não vacilou, não desconfiou, mas conservou-se for-te na Fé e deu glória a Deus. Esta-va plenamente convencido de que Deus era poderoso, para cumprir o que prometera” (Rm 4, 18-21).

A Fé leva Abraão a percorrer um caminho paradoxal. Ele será aben-çoado, mas sem os sinais visíveis da bênção: recebe a promessa de se tornar um grande povo, mas com uma vida marcada pela esterilida-de da sua esposa Sara; é levado pa-ra uma nova pátria, mas nela deve-rá viver como estrangeiro; e a úni-ca posse da terra que se lhe permi-tirá será a de um lote de terreno pa-

ro encontro com Ele; e há um mo-do profundo de tocá-Lo. Essa mu-lher O tocou, de fato, não só com a mão, mas com o seu coração, rece-bendo por isso a força sanadora de Cristo. Tocou-O realmente de uma forma interior, pela Fé. Esta é a Fé:

tocar Cristo com a mão da Fé, com o nosso coração, e assim entrar na força da sua vida, na força sanado-ra do Senhor. Roguemos ao Senhor que possamos cada vez mais tocá-Lo de maneira a sermos curados. Peça-mos-Lhe que não nos deixe cair, que

sempre nos segure pela mão e nos guarde para a verdadeira vida.

(Excertos da Lectio Divina, na Capela do Pontifício Seminário

Romano Maior, 8/2/2013 – Tradução: Arautos do Evangelho)

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Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana. A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va

ra ali sepultar Sara (cf. Gn 23, 1-20). Abraão é abençoado porque, na Fé, sabe discernir a bênção divina, in-do além das aparências, confiando na presença de Deus até quando os seus caminhos lhe parecem miste-riosos.

O cristão deve fundar sobre Deus a própria vida

O que significa isto para nós? Quando afirmamos: “Creio em Deus”, nós dizemos como Abraão: “Confio em Ti; confio-me a Ti, ó Senhor!”, mas não como a alguém, ao qual recorrer apenas nos mo-mentos de dificuldade, ou a quem dedicar alguns momentos do dia ou da semana. Dizer “Creio em Deus” significa fundar sobre Ele a minha própria vida, deixar que a sua Pala-vra a oriente todos os dias, nas esco-lhas concretas, sem medo de perder algo de mim mesmo.

Quando, no Rito do Batismo, por três vezes somos interrogados: “Credes?” em Deus, em Jesus Cris-to, no Espírito Santo, na Santa Igre-ja Católica e nas outras verdades de

Fé, a tríplice resposta é no singular: “Creio”, porque é a minha existên-cia pessoal que deve passar por uma transformação mediante o dom da Fé; é a minha existência que deve mudar, converter-se. Cada vez que participamos num batizado, deverí-amos perguntar-nos como vivemos diariamente o grande dom da Fé.

No mundo de hoje, Deus Se tornou o “grande ausente”

Abraão, o crente, ensina-nos a Fé; e, como estrangeiro na Terra, indica--nos a pátria verdadeira. A Fé torna--nos peregrinos na Terra, inseridos no mundo e na História, mas a caminho da pátria celestial. Portanto, crer em Deus torna-nos portadores de valores que muitas vezes não coincidem com a moda, nem com a opinião do momen-to, exige que adotemos critérios e assu-mamos comportamentos que não per-tencem ao modo de pensar comum.

O cristão não deve ter medo de ir “contra a corrente” para viver a sua Fé, resistindo à tentação de “se con-formar”. Em numerosas das nos-sas sociedades, Deus tornou-Se o

“grande ausente” e no seu lugar existem muitos ídolos, ídolos extre-mamente diferentes entre si, e, so-bretudo a posse e o “eu” autôno-mo. E também os progressos notá-veis e positivos da ciência e da téc-nica suscitaram no homem uma ilu-são de onipotência e de autossufici-ência, e um egocentrismo crescente criou não poucos desequilíbrios no contexto das relações interpessoais e dos comportamentos sociais.

E no entanto, a sede de Deus (cf. Sl 63, 2) não foi saciada e a mensagem evangélica continua a ressoar atra-vés das palavras e das obras de nu-merosos homens e mulheres de Fé. Abraão, o pai dos crentes, continua a ser pai de muitos filhos que acei-tam caminhar no seu sulco e põem--se a caminho, em obediência à voca-ção divina, confiando na presença be-névola do Senhor e acolhendo a sua bênção, a fim de se fazer bênção para todos. É o mundo abençoado da Fé, ao qual todos somos chamados, pa-ra caminhar sem medo no seguimen-to do Senhor Jesus Cristo. Trata-se de um caminho por vezes difícil, que co-nhece também a prova e a morte, mas que abre à vida, numa transformação radical da realidade, que unicamente os olhos da Fé são capazes de ver e sa-borear em plenitude.

Então, afirmar “Creio em Deus” impele-nos a partir, a sair de modo in-cessante de nós mesmos, precisamen-te como Abraão, para levar à realida-de cotidiana em que vivemos a certe-za que nos deriva da Fé: ou seja, a cer-teza da presença de Deus na História, também hoje; uma presença que traz vida e salvação, abrindo-nos a um fu-turo com Ele, para uma plenitude de vida que nunca conhecerá ocaso.

(Excertos da Audiência Geral, de 23/1/2013)Bento XVI durante a Audiência Geral de 23/1/2013

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a EvangElho da Procissão A“Naquele tempo, 28 Jesus caminhava à frente dos discípulos, subindo para Jerusalém. 29 Quando se aproximou de Betfagé e Betânia, perto do monte chamado das Oliveiras, enviou dois de seus dis-cípulos, dizendo: 30 ‘Ide ao povoado ali na fren-te. Logo na entrada encontrareis um jumentinho amarrado, que nunca foi montado. Desamarrai--o e trazei-o aqui. 31 Se alguém, por acaso, vos perguntar: ‘Por que desamarrais o jumentinho?’, respondereis assim: ‘O Senhor precisa dele’’.32 Os enviados partiram e encontraram tu-do exatamente como Jesus lhes havia dito. 33 Quando desamarravam o jumentinho, os donos perguntaram: ‘Por que estais desamar-rando o jumentinho?’. 34 Eles responderam: ‘O Senhor precisa dele’. 35 E levaram o jumen-

tinho a Jesus. Então puseram seus mantos so-bre o animal e ajudaram Jesus a montar. 36 E enquanto Jesus passava, o povo ia estendendo suas roupas no caminho.37 Quando chegou perto da descida do Monte das Oliveiras, a multidão dos discípulos, aos gritos e cheia de alegria, começou a louvar a Deus por to-dos os milagres que tinha visto. 38 Todos gritavam: ‘Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor! Paz no Céu e glória nas alturas!’.39 Do meio da multidão, alguns dos fariseus disseram a Jesus: ‘Mestre, repreende teus dis-cípulos!’.40 Jesus, porém, respondeu: ‘Eu vos declaro: se eles se calarem, as pedras gritarão’” (Lc 19, 28-40).

“Entrada triunfal de Nosso Senhor em Jerusalém” - Biblioteca do Mosteiro de San Millán de la Cogolla (Espanha)

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Até na hora da aparente derrota,

o Sumo Bem sempre vence

Março 2013 · Arautos do Evangelho      11

A partir do momento em que Anjos e homens deso-bedeceram aos preceitos divinos, uma luta se ini-ciou entre o bem e o mal

Comentário Ao evAngelho – domingo de rAmos dA PAixão do senhor

Aos louvores da entrada triunfal de Nosso Senhor em Jerusalém logo se sucederam as dores da Paixão. Como explicar este paradoxo?

i – a inexorável luta entre o bem e o mal

Reportemos a imaginação à eternidade, quando ainda não existia o tempo, pois Deus não havia criado o universo. Ele tinha diante de Si a possibilidade de criar infinitos mundos di-ferentes deste em que vivemos, mas, por uma livre escolha de sua vontade, não quis fazê-lo.1 Muitos dentre eles, aos nossos olhos de meras criaturas, poderiam ter sido melhores do que o existente, quiçá algum sem pecado e sem lutas...

Entretanto, o que Deus criou? Um univer-so cujas criaturas são boas e o conjunto delas é “muito bom” (Gn 1, 31). Logo no seu início, porém, todo esse bem criado passou a coexis-tir com o mal, a partir do momento em que a terça parte dos espíritos angélicos se uniu a Lú-cifer numa revolta contra Deus (cf. Ap 12, 4). Ao brado de São Miguel, os Anjos fiéis se le-vantaram em oposição aos rebeldes e “factum est prælium magnum in Cælo — uma grande ba-talha se travou no Céu” (Ap 12, 7). Precipita-

do nas trevas eternas, o demônio tentou, como forma de manifestar sua obstinada oposição a Deus, desfigurar a beleza do plano da criação.

Invejando a criatura humana, que ainda se conservava inocente e desfrutava das delícias do Paraíso e da amizade com Deus, satanás se em-penhou “em enganar os homens, para que não fossem exaltados e elevados ao lugar de onde ele caíra”.2 Tomando o aspecto de uma encanta-dora serpente, astuta e habilidosa para exacer-bar as paixões humanas, entrou ele em contato com Eva e lhe propôs a desobediência a Deus. Eva cedeu e levou Adão a segui-la no mesmo caminho.

Por que a serpente entrou no Paraíso?

Ora, por que Deus deixou entrar a serpente no Paraíso e permitiu que o mal se estabeleces-se na face da Terra? Entre outras razões, ressal-temos três: em primeiro lugar, a fim de nos en-viar um Salvador que operasse a Redenção. Por isso, na Liturgia da Vigília Pascal se canta “ó

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

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Entre os numerosos milagres realizados pelo Divino Mestre, nenhum produzira tanta comoção em Israel quanto a ressurreição de Lázaro

culpa tão feliz que há merecido a graça de um tão grande Redentor!”.3 Em segundo lugar, pa-ra evitar o amolecimento e a tibieza dos justos. A existência dos maus é o melhor adestramen-to para os bons, que podem, na defesa do bem, praticar o heroísmo da virtude para a glória de Deus e seu próprio mérito. Por último, porque permitindo o mal, Deus quer um bem superior que dele resulta acidentalmente.4 Depois do pe-cado, por exemplo, o inferno foi criado para os anjos que ofenderam a Deus e para os ho-mens pecadores que, permanecendo impeniten-tes, após a morte também para lá iriam. Brilha assim no universo a justiça infinita do Criador, premiando os bons e castigando os maus. Sem isto Ele não manifestaria sua justiça punitiva,5 nem transferiria ao universo o poder de castigar o mal que é praticado.

Uma luta estabelecida por Deus

Portanto, a partir do momento em que Anjos e homens desobedeceram aos preceitos divinos, uma luta se iniciou entre o bem e o mal, entre os que procuram servir a Deus e os que se re-voltam contra Ele, entre os que querem satisfa-zer suas paixões desregradas e aqueles que ane-lam viver do influxo da graça. Essa luta não tem trégua, pois foi estabelecida pelo próprio Cria-

dor: “Porei inimizades entre ti e a mulher, entre tua descendência e a dela” (Gn 3, 15). Luta tre-menda, que atravessa os séculos com o enfren-tamento constante de duas raças: a bendita es-tirpe de Jesus e Maria e a maldita linhagem de satanás.

Desde a expulsão do homem do Paraíso, vemos, então, como o filão dos maus parecia triunfar, pois o império do pecado na face da Terra, ao longo do Antigo Testamento, era qua-se universal. Através dos fios que tecem a His-tória Sagrada, torna-se patente, mesmo entre o povo eleito, a ação deletéria deste filão de maus que, como denuncia sem véus Nosso Senhor, está involucrada nos crimes cometidos desde a morte de Abel até a chegada d’Ele (cf. Lc 11, 47-51). Ora, este aparente domínio do poder in-fernal teria fim com o cumprimento da promes-sa que Deus fizera aos nossos primeiros pais: “Ela te esmagará a cabeça” (Gn 3, 15).

ii – domingo de ramoS, início daS doreS

Com a Encarnação do Verbo a obra das tre-vas conheceu sua ruína. E o confronto entre o bem e o mal encontrará sua arquetipia, até o fim dos tempos, na luta implacável de Nosso Se-

nhor contra os escribas e os fariseus, narrada longamen-te por todos os Evangelis-tas. O maldito filão do mal encontrou diante de si um Varão que fundou uma Ins-tituição para combatê-lo, o Homem-Deus diante do qual foi obrigado a ouvir as verdades mais contunden-tes e penetrantes, a ponto de ser-lhe arrancada a más-cara da hipocrisia, aos olhos de todo o povo.

Na Liturgia do Domingo de Ramos vamos assistir ao desfecho dessa luta. Nesse dia a Igreja comemora, ao mesmo tempo, as alegrias da entrada triunfal de Nos-so Senhor Jesus Cristo em Jerusalém e o início de sua Via-Sacra, com a proclama-ção da Paixão no Evangelho “A Ressurreição de Lázaro” - Museu Russo, São Petersburgo

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Os louvores começaram logo que Nosso Senhor montou o jumentinho; à sua passagem o povo ia estendendo os mantos no chão

da Missa. Abre-se, assim, a Semana Santa, tal-vez o período do Ano Litúrgico mais cogente, durante o qual as principais celebrações se su-cedem, convidando-nos a considerar com espe-cial fervor os acontecimentos que constituem o cerne de nossa Redenção.

Entrada triunfal em Jerusalém

Entre os numerosos milagres realizados pe-lo Divino Mestre, nenhum produzira tanta co-moção em Israel quanto a ressurreição de Láza-ro (cf. Jo 11, 1-44). A uma simples ordem, o morto de quatro dias saíra do túmulo andan-do, em perfeita saúde. Por evidenciar de forma tão grandiosa o poder divino de Jesus, o prodí-gio ocasionou um forte surto de fervor popular e muitos judeus passaram a crer n’Ele. Em con-trapartida, tal fato acirrou ao extremo o ódio dos pontífices e fariseus. Reunido o Sinédrio, deliberou este acerca dos meios para fazer ces-sar a crescente fama de Nosso Senhor e, “des-de aquele momento, resolveram tirar-Lhe a vi-da” (Jo 11, 53).

O Redentor, que tudo sabia, já tinha co-nhecimento desta decisão oficial do Sinédrio quando começou a viagem de volta à Cida-de Santa, nas vésperas das comemorações da Páscoa. No caminho Ele advertira os discípu-

los a esse respeito, ao anun-ciar-lhes pela terceira vez a Paixão: “Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do Ho-mem será entregue aos prín-cipes dos sacerdotes e aos escribas; condená-Lo-ão à morte e entregá-Lo-ão aos gentios” (Mc 10, 33). Con-tudo, nada fez para impedir a afluência das pessoas que acorriam ao seu encontro e passavam a segui-Lo duran-te o percurso. Eram israelitas em sua maior parte, os quais também se dirigiam ao Tem-plo para celebrar a Páscoa, de modo que, quanto mais se aproximava da cidade, maior se tornava o número dos que O acompanhavam. Saindo de Jericó, por exemplo, registra São Mateus que “uma grande multidão O seguiu” (20, 29),

e São João menciona outra “grande multidão de judeus” (12, 9) que se concentrou em Betâ-nia ao saber que Jesus ali havia chegado. Toda essa gente foi com Ele a Jerusalém, pelo que “bem se pode supor que formavam o cortejo várias centenas, e até mesmo milhares de pes-soas”,6 diz Fillion. É precisamente a essa altu-ra do percurso, nas proximidades de Betânia e Betfagé, que se inicia o trecho de São Lucas recolhido para o Evangelho da Procissão do Domingo de Ramos do Ano C.

Os louvores começaram logo que Nosso Senhor montou o jumentinho, ainda na es-trada. À sua passagem o povo ia estendendo os mantos no chão e completava esse impro-visado tapete com ramos colhidos das árvo-res (cf. Mt 21, 8; Mc 11, 8). Quando já se po-dia divisar o Templo — o que, segundo in-dicação precisa de São Lucas, correspon-de a “perto da descida do Monte das Olivei-ras” —, a multitudinária procissão irrompeu em exclamações e brados de alegria: “Bendi-to o Rei, que vem em nome do Senhor! Paz no Céu e glória nas alturas!”. Tal movimen-tação pôs em alvoroço a cidade, que regur-gitava de peregrinos vindos de todas as regi-ões da Palestina, os quais, saindo ao encon-tro de Jesus com ramos de palmas nas mãos,

“Entrada em Jerusalém” - Afresco da Abadia Beneditina de Subiaco (Itália)

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Jesus sempre evitara qualquer homenagem ostensiva à sua realeza; neste dia, pelo contrário, aceitou com inteira naturalidade as honras e aplausos

a EvangElho da santa Missa A

Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo se-gundo Lucas [versão mais breve]“Naquele tempo, 1 toda a multidão se le-vantou e levou Jesus a Pilatos. 2 Come-çaram então a acusá-Lo, dizendo: ‘Acha-mos este homem fazendo subversão entre o nosso povo, proibindo pagar impostos a César e afirmando ser ele mesmo Cristo, o Rei’. 3 Pilatos o interrogou: ‘Tu és o rei dos judeus?’.Jesus respondeu, declarando: ‘Tu o di-zes!’. 4 Então Pilatos disse aos sumos sa-cerdotes e à multidão: ‘Não encontro neste homem nenhum crime’. 5 Eles, po-rém, insistiam: ‘Ele agita o povo, ensi-nando por toda a Judeia, desde a Galileia, onde começou, até aqui’. 6 Quando ouviu isto, Pilatos perguntou: ‘Este homem é galileu?’. 7 Ao saber que Jesus estava sob a autoridade de Herodes, Pilatos enviou--o a este, pois também Herodes estava em Jerusalém naqueles dias. 8 Herodes ficou muito contente ao ver Jesus, pois havia muito tempo desejava vê-Lo. Já ouvira fa-lar a seu respeito e esperava vê-Lo fazer algum milagre. 9 Ele interrogou-O com muitas perguntas. Jesus, porém, nada lhe respondeu.10 Os sumos sacerdotes e os mestres da Lei estavam presentes e O acusavam com insistência. 11 Herodes, com seus solda-

dos, tratou Jesus com desprezo, zombou dele, vestiu-o com uma roupa vistosa e mandou-O de volta a Pilatos. 12 Naquele dia Herodes e Pilatos ficaram amigos um do outro, pois antes eram inimigos.13 Então Pilatos convocou os sumos sa-cerdotes, os chefes e o povo, e lhes disse: 14 ‘Vós me trouxestes este homem como se fosse um agitador do povo. Pois bem! Já O interroguei diante de vós e não en-contrei n’Ele nenhum dos crimes de que o acusais; 15 nem Herodes, pois O mandou de volta para nós. Como podeis ver, Ele nada fez para merecer a morte. 16 Portan-to, vou castigá-Lo e O soltarei’. 17 Acon-tecia que em cada festa ele era obrigado a soltar-lhes um preso. 18 Toda a multidão começou a gritar: ‘Fora com Ele! Sol-ta-nos Barrabás!’. 19 Barrabás tinha sido preso por causa de uma revolta na cida-de e por homicídio. 20 Pilatos falou outra vez à multidão, pois queria libertar Jesus. 21 Mas eles gritavam: ‘Crucifica-O! Cru-cifica-O!’. 22 E Pilatos falou pela terceira vez: ‘Que mal fez este homem? Não en-contrei n’Ele nenhum crime que mere-ça a morte. Portanto, vou castigá-Lo e O soltarei’. 23 Eles, porém, continuaram a gritar com toda a força, pedindo que fosse crucificado. E a gritaria deles aumenta-va sempre mais. 24 Então Pilatos decidiu

uniram-se à caravana, para também aclamá--Lo (cf. Jo 12, 12-13).

Esse cortejo triunfal — mas quão modesto para Aquele que é Rei e Criador do universo! — realizava literalmente a profecia messiânica de Zacarias: “Dança de alegria, cidade de Sião; grita de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o teu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é

pobre, vem montado num jumento, num jumen-tinho, filho de uma jumenta” (9, 9).

Inteira conformidade com a vontade do Pai

Ora, até então Nosso Senhor sempre evita-ra qualquer homenagem ostensiva à sua reale-za, impondo silêncio àqueles que reconheciam n’Ele o Salvador. No momento em que o povo

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Nosso Senhor via que dentro de alguns dias estrugiriam nas ruas de Jerusalém brados bem diferentes dos que então O reconheciam como Filho de Davi

que fosse feito o que eles pediam. 25 Sol-tou o homem que eles queriam — aquele que fora preso por revolta e homicídio — e entregou Jesus à vontade deles.26 Enquanto levavam Jesus, pegaram um certo Simão, de Cirene, que voltava do campo, e impuseram-lhe a cruz para car-regá-la atrás de Jesus. 27 Seguia-O uma grande multidão do povo e de mulheres que batiam no peito e choravam por Ele. 28 Jesus, porém, voltou-Se e disse: ‘Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim! Cho-rai por vós mesmas e por vossos filhos! 29 Porque dias virão em que se dirá: ‘Fe-lizes as mulheres que nunca tiveram fi-lhos, os ventres que nunca deram à luz e os seios que nunca amamentaram’. 30 En-tão começarão a pedir às montanhas: ‘Caí sobre nós!’ e às colinas: ‘Escondei-nos!’ 31 Porque, se fazem assim com a árvo-re verde, o que não farão com a árvore seca?’. 32 Levavam também outros dois malfeitores para serem mortos junto com Jesus. 33 Quando chegaram ao lugar cha-mado ‘Calvário’, ali crucificaram Jesus e os malfeitores: um à sua direita e outro à sua esquerda. 34 Jesus dizia: ‘Pai, perdoa--lhes! Eles não sabem o que fazem!’. De-pois fizeram um sorteio, repartindo entre si as roupas de Jesus. 35 O povo permane-cia lá, olhando. E até os chefes zomba-vam, dizendo: ‘A outros Ele salvou. Sal-ve-Se a Si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!’.

36 Os soldados também caçoavam d’Ele; aproximavam-se, ofereciam-Lhe vinagre, 37 e diziam: ‘Se és o rei dos judeus, sal-va-Te a Ti mesmo!’. 38 Acima d’Ele ha-via um letreiro: ‘Este é o Rei dos Judeus’. 39 Um dos malfeitores crucificados O in-sultava, dizendo: ‘Tu não és o Cristo? Salva-Te a Ti mesmo e a nós!’. 40 Mas o outro o repreendeu, dizendo: ‘Nem se-quer temes a Deus, tu que sofres a mes-ma condenação? 41 Para nós, é justo, por-que estamos recebendo o que merecemos; mas Ele não fez nada de mal’. 42 E acres-centou: ‘Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado’. 43 Jesus lhe res-pondeu: ‘Em verdade Eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso’.44 Já era mais ou menos meio-dia e uma escuridão cobriu toda a Terra até as três horas da tarde, 45 pois o sol parou de bri-lhar. A cortina do santuário rasgou-se pelo meio, 46 e Jesus deu um forte grito: ‘Pai, em tuas mãos entrego o meu espíri-to’. Dizendo isso, expirou.47 O oficial do exército romano viu o que acontecera e glorificou a Deus, dizendo: ‘De fato! Este homem era justo!’. 48 E as multidões, que tinham acorrido para assis-tir, viram o que havia acontecido e volta-ram para casa, batendo no peito. 49 Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mu-lheres que O acompanhavam desde a Ga-lileia, ficaram à distância, olhando essas coisas” (Lc 23, 1-49).

quis proclamá-Lo rei, logo após a primeira mul-tiplicação dos pães, Ele Se havia esquivado, re-tirando-Se sozinho para um monte (cf. Jo 6, 15). Na entrada em Jerusalém neste dia, pelo con-trário, aceitou com inteira naturalidade as hon-ras e aplausos. Tal atitude, além de permitir que as pessoas por Ele beneficiadas manifestassem sua gratidão de maneira formal, tinha em vista

também a Paixão, pois era preciso ficar notório e testemunhado pelo próprio povo que o Cruci-ficado era o descendente de Davi por excelên-cia, o Messias esperado.

Vemos aqui ressaltada a plena conformidade de Nosso Senhor com a vontade do Pai. Quan-do Lhe foi pedido o apagamento, o Divino Re-dentor o abraçou por completo: nasceu numa

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“Naquele dia Herodes e Pilatos ficaram amigos um do outro, pois antes eram inimigos” (Lc 23, 12),

Gruta da pequena Belém e recebeu tão somente a adoração dos pastores e dos Magos vindos de terras longínquas. A única reação de Jerusalém à notícia de seu nascimento fora a perturbação (cf. Mt 2, 3), e nenhum de seus habitantes saíra à procura do rei dos judeus recém-nascido para Lhe prestar homenagens. Entretanto, chegado o momento propício de sua glorificação pelos ho-mens, Ele acolheu com benevolência os brados que O proclamavam Rei de Israel, assim como, durante anos, aceitara ser chamado de “filho do carpinteiro” (Mt 13, 55). Na resposta à insolente interpelação dos fariseus pedindo-Lhe que cen-surasse seus aclamadores, Jesus deixou bem cla-ro ser esse triunfo a realização de um desígnio di-vino, o qual se cumpriria mesmo se os homens se negassem a louvá-Lo: “Eu vos declaro: se eles se calarem, as pedras gritarão”.

Triunfo prenunciador da Paixão

Um detalhe da cerimônia litúrgica indica ou-tro aspecto do Domingo de Ramos, sem o qual não nos seria possível entender seu significado mais profundo: o sacerdote celebra revestido dos paramentos vermelhos, cor própria à come-moração dos mártires.

Devido à sua personalidade divina, para Nosso Senhor tudo é presente, tanto o passado quanto o futuro. Por conseguinte, Ele via que dentro de al-guns dias, uma vez mais, estrugiriam nas ruas de Jerusalém brados bem di-ferentes dos que então O reconheciam como Filho de Davi. Diante de Pila-tos, o populacho vociferaria pedindo sua crucifixão e a libertação do vulgar bandido, Barrabás. A esse respeito, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira faz uma observação: “Os pintores católi-cos que reproduziram a cena apresen-tam Nosso Senhor recebendo com cer-to bom grado aquela homenagem, mas com um fundo de tristeza e ao mesmo tempo de severidade, porque Ele com-preendia o que aquilo tinha de vazio, e que o povo que O aclamava, sem pen-sar nisso, reconhecia a sua própria cul-pa. [...] Ele desfila bondoso e triste; Ele sabe o que O espera”.7

O triunfo de Jesus em Jerusalém não era senão o prenúncio de seu mar-tírio na Cruz. Os Evangelistas, sem-

pre muito sintéticos, tiveram especial diligência ao consignar a Paixão de Cristo, acontecimen-to de importância ímpar na História. É por is-so que o Evangelho da Missa deste domingo ex-cede em extensão o habitual dos demais, o que impossibilita comentar cada um de seus versícu-los no exíguo espaço de um artigo. Façamos, en-tão, uma reflexão que nos coloque na adequada perspectiva para contemplar as maravilhas ofe-recidas pela Liturgia do Domingo de Ramos, de modo a obtermos os melhores frutos para nos-sa vida espiritual.

iii – o mal Se coligou para matar noSSo Senhor

No relato da dolorosa Paixão de Nosso Se-nhor Jesus Cristo, um dos aspectos mais salien-tes é a união de todos os maus ao se depararem com o Sumo Bem encarnado. O Evangelho re-fere, por exemplo, que “naquele dia Herodes e Pilatos ficaram amigos um do outro, pois antes eram inimigos” (Lc 23, 12), causando-nos um espontâneo movimento de surpresa e indigna-ção. Antigas rixas pessoais por questões políti-cas ficaram encerradas em função da condena-

“Via-Sacra”, por Martin Schongauer Museu Unterlinden, Colmar (França)

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Sua histeria não diminuiu enquanto o Divino Prisioneiro não foi entregue “à vontade deles” (Lc 23, 25)

ção do Salvador. É uma regra da História que encontra aqui seu paradigma: os maus, ainda que hostis entre si, sempre juntam forças quan-do se trata de fazer face ao bem.

É verdade que Pilatos não agia motivado por ódio a Jesus e não O tratou com vulgar despre-zo, como o fez Herodes, mas por receio de de-sagradar a César; e que em Herodes, mesclada com a curiosidade, predominava o sentimento de inveja. Certo é, porém, que eles se uniram contra o Homem-Deus quando seus caminhos se cruzaram. Da mesma forma, voluntária ou involuntariamente, se aliaram ao Sinédrio, con-tra o qual, todavia, ambos alimentavam antigos desacordos e inimizades.

Isso nos ensina como as desavenças en-tre os maus não alcançam, em geral, grande profundidade de alma, circunstância, aliás, posta em relevo pelo famoso comentário de Clemenceau, o astuto e anticlerical estadista francês, do fim do século XIX, entrando no XX: dois homens, por mais inimigos que se-jam, se unem na cumplicidade caso frequen-tem as mesmas casas de tolerância. Podemos inferir desta afirmação que, pelo contrário, o ódio que dedicam ao bem, de modo especial quando este surge com muito esplendor, é inextin-guível, e ambos entram numa con-juração para destruí-lo.

Entre os maus, há graus de perversidade que originam inde-cisão ou lentidão. Quando Nos-so Senhor se encontrava peran-te Herodes, “os sumos sacerdo-tes e os mestres da Lei estavam presentes e O acusavam com in-sistência” (Lc 23, 10); ante a dú-vida de Pilatos, uma vez mais “os chefes dos sacerdotes faziam mui-tas acusações contra Jesus” (Mc 15, 3), pressionando o governador com argumentos falazes. Por fim, ao ser proposta a libertação de Je-sus, “os chefes dos sacerdotes ati-çaram a multidão para que Pila-tos soltasse Barrabás” (Mc 15, 11) e por isso o povo insistia gritando “com toda a força, pedindo que fosse crucificado. E a gritaria de-les aumentava sempre mais” (Lc 23, 23). Sua histeria não diminuiu

enquanto o Divino Prisioneiro não foi entre-gue “à vontade deles” (Lc 23, 25).

Ódio dos maus, indiferença dos bons

Nessas horas, lamentavelmente, muitos da-queles que se têm na conta de virtuosos não abraçam com decisão e coragem o partido do bem, permitindo, por isso, a expansão do do-mínio do mal. “Esta é a vossa hora e do poder das trevas” (Lc 22, 53), lamentava-Se o Salva-dor no momento de ser preso, sem que ninguém dentre os seus mais próximos tomasse sua de-fesa de maneira eficaz. Boa parte dos que ha-viam aclamado Jesus na entrada em Jerusa-lém com ramos e brados, por não terem aderi-do com profundidade ao Bem, estiveram mais tarde no meio da multidão vociferante votando por Barrabás.

Não nos custa admitir que na turba que exi-gia a condenação do Senhor estivesse alguém a quem Ele houvesse restituído a vista, e que não reagia diante do infame espetáculo; outro a quem Ele tivesse devolvido a audição e a fala, e que ouvia aquelas blasfêmias sem levantar a voz para protestar; outro, ainda, ao qual Ele hou-

“Ecce Homo”, pelo Mestre d’Oeillet de Baden - Museu de Belas Artes, Dijon (França)

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Insuflando os piores tormentos contra Jesus, satanás se iludia julgando que caminhava para um êxito extraordinário

vesse curado da paralisia e que tivesse caminha-do até ali apenas para saciar sua malsã curio-sidade, assistindo impávido ao sofrimento de quem o beneficiara. Talvez muitos não quises-sem que Nosso Senhor fosse crucificado, mas, por se terem deixado influenciar pelos maus, acabaram participando do pior crime já cometi-do na História. Todos, contudo, eram indiferen-tes, quando não hostis ao Divino Mestre.

Para evitar que também nós nos transviemos, seja no caminho da tibieza e da indiferença, se-ja no da ingratidão e da traição, devemos pro-gredir com firmeza nas vias da santidade e culti-var nossa indignação ante o avanço ousado dos que recusam a Jesus. Sempre que os bons não entram pelas sendas da radicalidade, o mal le-va a melhor.

Cabe aqui remover uma objeção no tocan-te à virtude da humildade: não será melhor e mais conforme aos ensinamentos de Nosso Se-nhor que os bons sejam humildes e resignados? A resposta é afirmativa no tocante a injúrias fei-tas a nós mesmos. Porém não é acertada se o al-vo das agressões injustas forem as coisas sagra-das, a Santa Igreja Católica ou alguma pessoa inocente. Em tal caso, manter-se passivo é repe-tir a atitude dos que assistiram com indiferença aos sofrimentos de Jesus Cristo.8

É sublime o exemplo que Nosso Senhor nos dá despojando-Se de Si mesmo e aceitando to-das as injúrias por nossa salvação. No entanto, ao mesmo tempo precisamos aprender a lição de que, em certas circunstâncias, a indiferen-ça pode constituir um pecado maior do que o ódio. O contrário seria uma atitude semelhan-te a alguém que, sendo assaltado por um ladrão em sua própria casa, assistisse com indiferença e de braços cruzados às piores agressões contras seus familiares mais próximos. Seria esta atitu-de própria a um bom pai, filho ou esposo? As-sim, na Paixão de Nosso Senhor o que mais cha-ma a atenção não é a sanha dos inimigos, mas a indiferença dos bons. É este um aspecto esque-cido, ainda que da maior importância, que cum-pre ser lembrado hoje.

Nosso Senhor estava derrotando o mal

Os indiferentes e os tíbios, pretendendo per-tencer ao número dos bons, estavam cegos de al-ma por sua própria atitude, a ponto de não per-ceberem que Nosso Senhor, em sua Via Doloro-sa, alcançava o maior dos triunfos. Também os ad-

versários do bem, com a vista turva de ódio, não se davam conta de que aceleravam sua própria ruí-na. “Ó morte onde está a tua vitória? Ó morte on-de está teu aguilhão?” (I Cor 15, 55), indaga de-safiante o Apóstolo. Morrendo na Cruz, o Divi-no Redentor vencia não só a morte mas também o mal, e deixava fundada sobre rocha firme uma instituição divina, imortal — a Santa Igreja Cató-lica, seu Corpo Místico e fonte de todas as graças —, que enfraqueceu e dificultou a ação da raça da serpente, privando-a do poder esmagador e dita-torial que exercera sobre o mundo antigo.

Causa-nos júbilo saber que a aparente catás-trofe da Paixão e Morte de Nosso Senhor mar-ca a irremediável e estrondosa derrota de sata-nás. Este, insuflando os piores tormentos con-tra Jesus, iludia-se, julgando que caminhava pa-ra um êxito extraordinário contra o Bem encar-nado. Em sua loucura não percebia como esta-va contribuindo para a glorificação do Filho de Deus e para a obra da Redenção.

Que glória, que triunfo, que fastígio atingira Nosso Senhor Jesus Cristo com sua Paixão! Que humilhação nos infernos, esmagados pelo erro de ignorar a força invencível do Bem!

iv – a Solução para o problema do mal

Na meditação da Liturgia do Domingo de Ramos encontramos o fiel da balança para o problema da luta entre o bem e o mal. Com a Encarnação, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, o mal sofreu sua derrota definitiva, porque passou a vigorar sobre a face da Terra o regime da graça. Foi este o meio determinado pela Sabedoria Divina para acabar com a vitali-dade e o dinamismo da linhagem de satanás, o qual, inconformado, tudo faz para se vingar; por isso a luta entre o bem e o mal continua sem tré-guas, hoje mais do que nunca.

Quanto a nós, católicos, não podemos igno-rar tal realidade, na qual, aliás, estamos envol-vidos. E devemos estar muito atentos para um aspecto de suprema importância: esse emba-te se trava também dentro de nós. Da mesma forma como no Paraíso Terrestre existia a ser-pente, em nosso interior há serpentes que fa-zem um trabalho muito mais ladino do que o demônio com Eva. São nossas más tendências, em virtude do pecado original, sempre de to-caia, esperando uma oportunidade para nos

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Março 2013 · Arautos do Evangelho      19

Deus é o Sumo Bem, o Bem em essência, e quem se unir com integri-dade a Ele, portanto, se tornará invencível

arrastar para o partido dos tíbios e indiferen-tes. Nessa batalha interna cabe-nos manter o mal amordaçado e humilhado, e dar ao bem toda a liberdade, o que só podemos alcançar com a graça de Deus.

Certo é que, quanto mais progredirmos na virtude, mais poderá se levantar contra nós uma acirrada oposição do poder das tre-vas. Dois mil anos de História da Igreja nos mostram com que facilidade essa oposição se transforma em ódio e em perseguição. Não te-mamos, entretanto, o que nos possa advir, cer-tos de que, como diz São Paulo, “todas as coi-sas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios” (Rm 8, 28). Avancemos, pois, seguros, com os olhos fixos n’Aquele que “se manifestou para destruir as obras do de-mônio” (I Jo 3, 8), pois quem é o diabo perto de Nosso Senhor?

O mal é limitado, o bem é infinito

Como ensina a filosofia perene, o mal é uma ausência de bem.9 O mal absoluto não existe, ao contrário do que pretendem as correntes dua-listas. Sendo, pois, uma mera negação do bem, por si só não tem força para derrotá-lo.10 Deus é o Sumo Bem, o Bem em essência, e quem se unir com integridade a Ele, portanto, se tornará invencível, como que revestido da própria oni-potência divina.

Destas reflexões, nascidas da Liturgia que abre a Semana Santa, devemos tirar uma lição para os nossos dias, em que o mal e o pecado campeiam com arrogância pelo mundo inteiro: da luta entre o bem e o mal resulta necessaria-mente a vitória do bem, de modo que, cedo ou tarde, os justos serão premiados e “farão brilhar como uma tocha a sua justiça” (Eclo 32, 20). No momento em que uma parte ponderável da hu-manidade vira as costas a seu Criador e Reden-

Cruz processional da Basílica de Nossa Senhora do Rosário no último Domingo de Ramos

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tor, somos chamados a crer com firme confian-ça que, como Nosso Senhor triunfou outrora contra todas as aparências de derrota, triunfa-rá de novo restabelecendo a verdadeira ordem: “No Senhor ponho a minha esperança, espero em sua palavra” (Sl 129, 5). ²

1 Cf. ROYO MARÍN, OP, Anto-nio. Dios y su obra. Madrid: BAC, 1963, p.143.

2 SANTO AGOSTINHO. Enarratio in psalmum LVIII, sermo II, n.5. In: Obras. Madrid: BAC, 1965, v.XX, p.489.

3 VIGÍLIA PASCAL. Proclamação da Páscoa. In: MISSAL ROMA-NO. Trad. portuguesa da 2ª edi-

ção típica para o Brasil realiza-da e publicada pela CNBB com acréscimos aprovados pela Sé Apostólica. 9.ed. São Paulo: Pau-lus, 2004, p.275.

4 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q.19, a.9.

5 Cf. Idem, I-II, q.79, a.4, ad 1.6 FILLION, Louis-Claude. Vida de

Nuestro Señor Jesucristo. Pasión,

Muerte y Resurrección. Madrid: Rialp, 2000, v.III, p.15.

7 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Palestra. São Paulo, 14 abr. 1984.

8 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., II-II, q.188, a.3, ad 1.

9 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., I, q.48, a.1.

10 Cf. Idem, a.4; q.49, a.3.

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A vigíliA PAsCAl nA noite sAntA

O Rei da vida, morto, reina vivo

Na mais sagrada e santa das noites, a Santa Igreja nos convida a acreditar na Ressurreição do Senhor por meio de uma belíssima celebração litúrgica.

rês dias haviam passa-do desde que o Divino Mestre fora injustamen-te condenado à morte.

Os poucos seguidores que ficaram fi-éis refugiavam-se no interior do Ce-náculo, temendo pela própria segu-rança. Nesse ambiente de fracasso, medo e consternação iniciava-se um novo dia quando algo veio lhes au-

mentar a turbação: Maria Madalena, uma das mulheres que permanecera aos pés de Jesus junto à Cruz, acor-rera ao túmulo ao raiar da aurora e o achara vazio.

Voltou e comunicou aos Após-tolos a espantosa notícia: “Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabe-mos onde O puseram!” (Jo 20, 2). Pedro e João correram até lá e ob-

TDiác. Felipe Paschoal, EP

Dois milênios depois daquele acontecimen-to, o Divino Mestre ainda permanece conosco. Ele entre-gou sua vida na Cruz e subiu aos Céus, mas não se ausen-tou desta Terra

servaram no chão os tecidos que ha-viam envolvido os restos mortais de Jesus. São João “viu e acreditou” (Jo 20, 8): o Senhor ressuscitara!

Presença viva do Salvador na Liturgia

Dois milênios depois daque-le acontecimento, o Divino Mes-tre ainda permanece conosco. Ele

“Chegada das Santas Mulheres ao sepulcro” - Afresco da Abadia de Subiaco (Itália)

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Conhecer o sentido mistagógico desta celebração nos ajudará a reviver, em união com os Apóstolos, o momento auge da História da Salvação

entregou sua vida na Cruz e subiu aos Céus, mas não se ausentou desta Terra. Sua pre-sença entre os homens se pro-longa constantemente de di-versas formas, conforme pro-metera: “Eis que estou con-vosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).

Cristo se encontra presen-te na sua Igreja e, de um mo-do todo especial, na Sagrada Liturgia. O mesmo Jesus que percorrera as estradas da Pa-lestina “está presente no sa-crifício da Missa [...]. Está presente com o seu dinamis-mo nos Sacramentos [...]. Es-tá presente na sua Palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta”.1

Assim, na mais sagrada e san-ta das noites, a Santa Igreja nos convida a acreditar na Ressur-reição do Senhor por meio de uma belíssima celebração litúr-gica, na qual cada gesto nos mostra co-mo “o Rei da vida, morto, reina vivo”.2

Conhecer o sentido mistagógico desta celebração nos ajudará a revi-ver, em união com os Apóstolos, o momento auge da História da Salva-ção que ela comemora, fazendo que nossa participação na “mãe de todas as santas vigílias”3 — segundo a co-nhecida expressão de Santo Agosti-nho — sirva para crescer no conhe-cimento e no amor de Cristo Res-suscitado. Pois, como afirma o Papa Bento XVI, “a Liturgia não é a re-cordação de acontecimentos passa-dos, mas a presença viva do Misté-rio pascal de Cristo, que transcende e une os tempos e os espaços”.4

Bênção do fogo e preparação do Círio Pascal

Em harmonia com a importância central e única do episódio da His-tória da Salvação nela rememora-

Vigília Pascal na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, 3/4/2010

do, a cerimônia desse dia tem início de uma forma completamente di-ferente do habitual. Na véspera do Domingo de Páscoa, quando o Sol já se pôs, o povo reúne-se fora da igreja, relembrando que os Apósto-los e as Santas Mulheres tiveram de sair do Cenáculo para constatar a Ressurreição do Senhor.

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tos A ausência de luz lembra o

regime anterior à graça em que vivia a humanidade do Anti-go Testamento. Só uma foguei-ra rasga as sombras, lembran-do que foi por meio de Jesus, a “Luz do mundo” (Jo 8, 12), que o Pai deu aos homens a graça e instaurou a nova alian-ça. “Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!” (II Cor 5, 17) — exclama o Apóstolo.

Aproximando-se em silên-cio, o sacerdote benze o fo-go novo, dando início à cele-bração. Logo depois, grava no Círio Pascal vários sinais que nos recordam ser ele figura do Salvador Ressuscitado: a Cruz de nossa Redenção, o “alfa” e o “ômega” — primeira e últi-ma letras do alfabeto grego — e os algarismos do ano corren-te, pois sendo Nosso Senhor o Princípio e o Fim de todas as coisas, o tempo é compu-tado em função d’Ele. A se-guir, crava no centro e nos ex-

tremos da cruz cinco grãos de incen-so, em memória dos cuidados pro-porcionados por Santa Maria Mada-lena e pelas outras Santas Mulheres ao Sagrado Corpo do Salvador, por cujas cinco chagas nós fomos cura-dos (cf. Is 53, 5).

Obedecendo ao mandato de pregar o Evangelho a toda criatu-ra (cf. Mc 16, 15), o pequeno gru-po da Igreja nascente transmitiu a fé na Ressurreição do Senhor para to-dos os povos. De forma semelhan-te, o fogo novo é transmitido ao Cí-rio Pascal por meio de uma pequena vela acesa no fogo abençoado, en-quanto o celebrante recita: “A luz do Cristo, que ressuscita resplandecen-te, dissipe as trevas de nosso coração e nossa mente”.5

Tríplice “Lumen Christi”

Tal como a chama do Círio rasga a noite, Jesus Ressuscitado vence a

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22      Arautos do Evangelho · Março 2013

Assim como o pequeno grupo da Igreja nas-cente transmitiu a fé para todos os povos, o fogo novo é transmitido ao Círio Pascal por meio de uma pequena vela

À esquerda: “Pregação de São Pedro”, por Pedro Serra - Museu de Belas Artes, Bilbao (Espanha); à direita: Vigília Pascal na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, 11/4/2009

mais jovem presente à celebração, e ele o fazia de improviso, segun-do a inspiração do momento, num transbordamento de entusiasmo pe-la Ressurreição do Salvador. Na atu-alidade é feito através do Precônio Pascal, um belíssimo cântico cuja le-tra é atribuída por alguns autores à pena de Santo Ambrósio ou à de Santo Agostinho.

Esse majestoso hino, cujo conte-údo vale por uma verdadeira medi-tação, nos convida a elevarmos os nossos corações na contemplação das belezas da nossa Redenção e dignamente louvarmos a Deus pe-lo excesso de amor manifestado na entrega de seu Unigênito para sal-vação dos homens. Ele prepara o nosso espírito para um dos princi-pais elementos desta vigília, a Li-turgia da Palavra, que mais uma vez toma uma forma diferente do habi-tual nas demais celebrações ao lon-go do ano. “No recolhimento dessa noite”,6 ela nos apresenta uma sín-tese magnífica da História da Salva-ção através de nove leituras — se-te do Antigo e duas do Novo Testa-

Jo 1, 9.12). E na terceira proclama-mos a divindade do Espírito Parácli-to, enviado por Jesus aos seus discí-pulos, o qual nos santifica e nos con-duz à Verdade (cf. Jo 14, 16-17.26).

Por fim, o Círio Pascal é deposi-tado no presbitério onde, a seguir, faz-se o solene anúncio da Páscoa do Senhor.

Solene proclamação da Páscoa

Nos primeiros séculos da Igreja, esse anúncio incumbia ao diácono

morte e abre à humanidade decaída as portas da eterna Bem-aventurança: “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (I Cor 15, 20). Ele é a verdadeira coluna de fogo (cf. Ex 13, 21) a guiar na noite o Novo Israel pelo deserto desta Terra de exílio rumo à Terra da Promissão. Por isso, com a alma jubilosa forma-se a procissão de entrada na igreja, ima-gem terrena da Jerusalém Celeste, da qual nos tornamos herdeiros.

Todavia, o cortejo detém-se em três momentos, para a Luz de Cris-to ser aclamada por todos, real-çando assim o mistério da Santíssi-ma Trindade que o Filho Encarna-do nos revelou. Na primeira para-da, quando o diácono canta “Lumen Christi!”, proclamamos a divindade do Pai, que Se manifestou por meio do seu Filho: “Ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-Lo” (Mt 11, 27). Na segunda, proclamamos a di-vindade de Deus Filho, a verdadei-ra Luz que veio ao mundo e ilumi-na todos os homens, tornando filhos de Deus aqueles que O recebem (cf.

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Cristo Ressuscitado é a verdadeira coluna de fogo a guiar o Novo Israel pelo deserto desta terra de exílio rumo à Terra da Promissão

À esquerda: “Travessia do Mar Vermelho”, por Antonio Tempesta - Museu das Belas Artes, Tours (França); à direita: Vigília Pascal de 17/4/2012, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário

as luzes se acendem, descobrem-se os retábulos enfeitados de flores e candeias ardentes, exultam os cora-ções dos fiéis.

Terminado o Hino, uma no-va oração, seguida pela leitura da Epístola aos Romanos, sublinha e resume o significado dos ritos an-teriores: inteiramente renovados pela glória da Ressurreição do Se-nhor, devemos servi-Lo de todo o coração, pois, assim como Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais, precisamos considerar-nos “mortos para o pecado, porém vi-vos para Deus, em Cristo Jesus” (Rm 6, 9-11).

Uma palavra que resume a nossa alegria

Se a nota predominante da Qua-resma foi a penitência preparatória para as festas pascais que se apro-ximavam, agora, vencidas as trevas do pecado, os homens redimidos pe-lo Sangue do Redentor podem en-toar um cântico novo, como fizeram Moisés e os israelitas após a passa-gem do Mar Vermelho: “Ao Senhor quero cantar, pois fez brilhar a sua glória” (Ex 15, 1).

Mt 5, 17), os fiéis estão preparados para unir suas vozes à do celebran-te quando, após as sete leituras ve-terotestamentárias, ele solenemen-te entoar o “Glória a Deus nas altu-ras”, em ação de graças por tantos benefícios.

Nesse momento os sinos, emu-decidos desde a Quinta-Feira San-ta, enchem o ar com suas festivas badaladas, enquanto as vozes do coro atestam com as notas do hi-no de louvor a alegria pela Res-surreição do Senhor. Tudo no tem-plo reflete o sentimento de júbilo:

mento — que mostram como Deus “salvou outrora seu povo e nestes últimos tempos enviou seu Filho como Redentor”.7

Cristo leva à perfeição a Antiga Aliança

Cada uma das perícopes do An-tigo Testamento nesta noite pro-clamadas é acompanhada por um salmo responsorial, ao qual se se-gue uma oração que as esclare-ce cada uma à luz da Revelação de Jesus Cristo. Assim, por exem-plo, a posterior à primeira leitura (Gn 1, 1–2,2) sublinha que o ato da Criação é ultrapassado em grande-za pelo “sacrifício de Cristo, nossa Páscoa, na plenitude dos tempos”.8 E na correspondente à sétima lei-tura (Ez 36, 16-28) sublinha-se que a nova e definitiva purificação dos espíritos e dos corações anunciada pelo Profeta Ezequiel foi realiza-da por “Aquele que é princípio de todas as coisas”,9 Jesus Cristo, Se-nhor nosso.

Tendo, assim, uma visão geral das maravilhas operadas na Antiga Aliança, e do modo como em Cris-to tudo foi levado à perfeição (cf.

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Após o Rito do Batismo, o ritual sabiamente prevê que todos os pre-sentes, unindo-se aos neobatizados, realizem a renovação das promes-sas batismais e recebam a aspersão da água benta, a fim de que a recor-dação do próprio Batismo os cumu-le da alegria de serem cristãos e os alerte sobre a necessidade de man-terem sempre limpa a alva túnica batismal.

“Ressuscitando dos mortos, ressuscitou também a humanidade”

A última parte da Vigília Pascal é composta pela Liturgia Eucarísti-ca, renovação incruenta do Sacrifí-cio do Cordeiro imaculado, Cristo, que a Igreja interrompera por dois dias, para permanecer “junto ao sepulcro do Senhor, meditando sua Paixão e Morte”.14 Nesse momento os neófitos aproximam-se pela pri-meira vez do Banquete Eucarístico, e todos recebem Aquele que “reti-rado do rebanho, foi levado ao ma-tadouro, imolado à tarde e sepulta-do à noite; ao ser crucificado, não Lhe quebraram osso algum, e ao ser sepultado, não experimentou a corrupção; mas ressuscitando dos mortos, ressuscitou também a hu-

Sete leituras acom-panhadas de salmos e orações mostram as maravilhas operadas na Antiga Aliança, e do modo como em Cristo tudo foi levado à perfeição

rem sido devidamente preparados no período quaresmal, converter--se-ão em “luz” e “filhos da Luz”.11 Regenerados nas águas batismais, seu nascimento para a vida sobre-natural ficará assim especialmen-te vinculado à definitiva vitória de Cristo sobre a morte.12

Esta terceira parte da cerimô-nia inicia-se com a Ladainha de todos os Santos, através da qual a Igreja roga a intercessão dos Bem--aventurados habitantes da Jeru-salém Celeste em favor daque-les que vão nascer para a vida em Cristo. Demonstra-se assim a co-munhão entre o Céu e a Terra, re-alizada por Aquele que é o “Me-diador da Nova Aliança” (Hb 12, 24) e cujo Nome sagrado é, por es-ta razão, invocado no início e no fim do cântico.

A seguir, o celebrante mergu-lha na água o Círio Pascal, dizen-do: “Nós Vos pedimos, ó Pai, que por vosso Filho desça sobre toda esta água a força do Espírito San-to”.13 Assim, Cristo, luz do mundo e água viva, santifica o líquido ele-mento que será a matéria do Sacra-mento pórtico de todos os demais, como o fez por ocasião do seu Ba-tismo no Rio Jordão.

No período pascal, este cânti-co resume-se numa só palavra rica em significado, que nos convida a louvar a Deus: “Aleluia!”.10 Omiti-da durante quarenta dias, ela retor-na à Liturgia na Noite Santa, quan-do é cantada três vezes antes da lei-tura do Evangelho. E para expres-sar com mais eloquência a alegria transbordante de toda a Igreja, o cantor usa um tom mais alto a ca-da vez.

Porém, um detalhe do cerimo-nial faz contraponto à alegria do-minante: as duas velas que, nas Missas solenes, acompanham o Evangelho até o ambão e ali per-manecem enquanto é lido pelo Evangelho são omitidas na Vigília Pascal. A ausência desses pavios ardentes lembra-nos a falta de fé dos discípulos na Ressurreição de Jesus e nos adverte contra os peri-gos da incredulidade.

Liturgia Batismal: Cristo é luz do mundo e água viva

Em íntima relação com a Cele-bração da Luz que abriu a Vigília Pascal na Noite Santa chega o mo-mento da Liturgia Batismal, duran-te a qual os catecúmenos, após te-

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Proclamação da Palavra durante Vigília Pascal, 23/4/2011

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Março 2013 · Arautos do Evangelho      25

manidade das profundezas do se-pulcro”.15

Um convite para a nossa Fé

Ao entrar no sepulcro, São João “viu e acreditou” (Jo 20, 8). Mais fe-lizes serão também “os que acredi-taram sem ter visto” (Jo 20, 29).

1 CONCÍLIO VATICANO II. Sacrosanctum concilium, n.7.

2 SEQUÊNCIA. Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor. In: MISSAL ROMANO. PALAVRA DO SENHOR I. Lecionário Dominical A-B-C. Trad. Portuguesa da 2a. edição típica para o Brasil realizada e publicada pela CNBB com acréscimos aprovados pela Sé Apostólica. São Paulo: Paulus, 2004, p.818.

3 SANTO AGOSTINHO. Sermo CCXIX, 1: ML 38, 1088.

4 BENTO XVI. Audiência Geral, de 3/10/2012.

5 VIGÍLIA PASCAL. Cele-bração da Luz. In: MIS-SAL ROMANO. Trad. Por-tuguesa da 2a. edição típi-ca para o Brasil realizada e publicada pela CNBB com acréscimos aprovados pe-la Sé Apostólica. 9.ed. São Paulo: Paulus, 2004, p.272.

6 VIGÍLIA PASCAL. Liturgia da Palavra. In: MISSAL ROMANO, op. cit., p.279.

7 Idem, ibidem.8 VIGÍLIA PASCAL. Oração

depois da primeira leitura.

In: MISSAL ROMANO, op. cit., p.279.

9 VIGÍLIA PASCAL. Oração depois da sétima leitura. In: MISSAL ROMANO, op. cit., p.282.

10 A expressão hebraica היוללה, transcrita para o grego como ἀλληλούϊα, significa literalmente “Louvor ao Senhor”.

11 Cf. CCE 1216.12 Embora não seja obrigató-

rio administrar o Sacramen-to do Batismo durante a Vi-gília Pascal, ela “é vivida em plenitude quando a comuni-dade pode apresentar crian-

ças ou adultos para o renas-cimento batismal” (VIGÍ-LIA PASCAL. Liturgia Ba-tismal. In: MISSAL DOMI-NICAL. Missal da Assem-bleia Cristã. São Paulo: Pau-lus, 1995, p.345).

13 VIGÍLIA PASCAL. Liturgia Batismal. In: MISSAL ROMANO, op.cit., p.287.

14 CELEBRAÇÃO DA PAI-XÃO DO SENHOR. Ru-brica do Sábado Santo. In: MISSAL ROMANO, op.cit., p.269.

15 MELITÃO DE SARDES. Homilia sobre a Páscoa, n.71.

Vigília Pascal na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, 3/4/2010

Os esplendores da Liturgia Pascal nos atestam que junto a Nosso Senhor não há nada a temer

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Nestes tempos em que a omni-presença do pecado torna espe-cialmente opaco o fino véu que nos separa das realidades eter-nas, a Igreja nos convida a forta-lecer nossa Fé participando pie-dosa e ativamente nas cerimônias litúrgicas.

Cristo ressuscitou, vencendo o pecado e a morte. E os esplendores da Liturgia Pascal nos atestam que junto a Nosso Senhor não há nada a temer. Por muito longa que nos pa-reça a noite, por muito densas que se apresentem as trevas, Cristo ven-ce, Cristo reina, Cristo impera! ²

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Pelas estradas do Sul

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26      Arautos do Evangelho · Março 2013

“Cavalaria de Maria”, um conjunto de missionários específicamente dedi-cado ao anúncio do Evangelho pelo nosso imenso País, já percorreu, des-

de que foi fundado, 400 paróquias de 216 cidades. Nesta e nas duas seguin-tes páginas, destacamos o trabalho por eles realizado nos últimos meses nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Em cada uma das paróquias visitadas, a Imagem Peregrina do Imacu-lado Coração foi recebida pelos fiéis com o coração e as portas abertas. Procissões, adoração ao Santíssimo, Celebrações Eucarísticas e visitas a re-sidências, lojas e escritórios ajudaram a afervorar os batizados, reavivar a vida eclesial e atrair para a verdadeira fé os que não pertencem à Igreja.

Uma gratificante mensagem recebida de uma paroquiana da cidade de Seberi (RS) bem resume o sentimento de milhares de devotos a respeito desse trabalho: “Missões, momento de renovar a fé e afirmar nosso compromisso de católico. Missão linda, que veio para renovar o coração das pessoas, mostrar que Deus, e depois Maria, nossa Mãe, são realmente o mais importante das nossas vidas. Não tem preço o bem que foi feito para nós enquanto pessoas, para nossas famílias e para a sociedade em que vivemos”.

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Março 2013 · Arautos do Evangelho      27

Santa Catarina – O próprio Bispo Diocesano, Dom Irineu Roque Scherer, presidiu a celebração realizada na Paróquia São José Operário, em Joinville (foto 1). Na Paróquia de Santa Luzia foram entregues 36 novos Oratórios e nas do Imaculado Coração, Nossa Senhora de Fátima, Perpétuo Socrorro, Nossa Senhora Medianeira, Sagrado Coração de Jesus e São Paulo Apóstolo a Imagem Peregrina foi também recebida com grande fervor. Missões Marianas de uma semana de duração foram realizadas nas cidades de Imbituba (foto 3) e Treze de Maio (foto 4).

Rio Grande do Sul – Durante o mês de outubro, as atividades missionárias foram desenvolvidas na Diocese de Frederico Westphalen, governada por Dom Antônio Carlos Rossi Keller. A primeira cidade visitada foi Seberi, cujo pároco, Pe. Ademir Schneider, recebeu a imagem com uma carreata em direção à Igreja de Nossa Senhora da Paz (fotos 1 a 3). Somente nesta cidade foram abençoados e postos em circulação 38 novos Oratórios. Missões Marianas foram realizadas também em Vista Alegre, Constantina e São José das Missões (fotos 4 e 5).

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Paraná – A Imagem Peregrina foi fervorosamente recebida na Paróquia Santa Luzia, de Cascavel (foto 1), onde o Pe. Claudir Vicente fez a entrega de 23 Oratórios no fim da Missão (foto 2). Não menos calorosas foram a carreata em Ibema (foto 3), a Missa presidida por Dom Mauro Aparecido dos Santos na Paróquia Cristo Rei, de Lindoeste, (foto 4), e a Celebração Eucarística em Nossa Senhora de Caravaggio, de Cascavel (foto 5). Centenas de residências foram visitadas em Cascavel (foto 6), Lindoeste (foto 7), Ibema (foto 8) e outras cidades.

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Recife (PE) – Na Casa dos Arautos, 30 pessoas consagraram-se a Nossa Senhora durante uma Missa celebrada pelo Pe. Célio Casale, EP (esquerda). E, na Solenidade de Cristo Rei, 17 fiéis receberam o Sacramento do Crisma pelas mãos

de Mons. Lino Rodrigues Duarte, Vigário Geral da Arquidiocese de Olinda e Recife (direita).

Caieiras (SP) – No dia 19 de janeiro, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, impôs o hábito dos Arautos a 11 jovens procedentes das cidades de São Paulo, Curitiba, Niterói, Belo Horizonte, Belém, Assunção do Paraguai e Guatemala.

A cerimônia foi realizada na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Caieiras (Grande São Paulo).

Mogi das Cruzes (SP) – Cooperadores cumprimentaram Dom Pedro Luiz Stringhini, por

ocasião do encerramento do Ano Jubilar.

Salvador (BA) – Arautos participaram da novena em honra de Nossa Senhora da Conceição da Praia,

presidida por Dom Gregório Paixão Neto, OSB.

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30      Arautos do Evangelho · Março 2013

Chile – Durante um mês, os Arautos desenvolveram diversas atividades evangelizadoras na Paróquia Jesus Mestre, em La Florida (Santiago do Chile). Na Missa de encerramento desse período de Missão, o pároco, Pe. Samuel Arancibia,

entregou aos respectivos coordenadores cinco novos Oratórios do Imaculado Coração de Maria.

Colômbia – No mês de dezembro, mais de 40 Cooperadores e simpatizantes dos Arautos do Evangelho percorreram as residências mais humildes do Bairro de Cazuca, na periferia de Bogotá. Durante as visitas, rezaram

com as famílias e distribuíram presentes e mantimentos.

Canadá – Trinta e uma pessoas fizeram sua solene Consagração a Nossa Senhora e oito delas receberam a túnica de Cooperadores dos Arautos do Evangelho em cerimônia presidida pelo

Pe. Ryan Francis Murphy, EP, na Igreja de Santo Inácio de Loyola, em Montreal.

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Março 2013 · Arautos do Evangelho      31

Itália – O Pe. Joshua Alexander Sequeira, EP, oriundo de Bombaim (Índia), doutorou-se em Teologia na Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino (Angelicum). A tese, intitulada “Vestigium and Imago in Saint Thomas and Saint

Bonaventure”, foi orientada pelo Vice-Decano da Faculdade de Teologia, Pe. Pablo Santiago Zambruno, OP.

Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria continua beneficiando com sua presença instituições

tão diversas como o Primeiro Regimento de Bersaglieri, em Cosenza (foto 2) ou a Escola das Pequenas Escravas do Sagrado Coração, em Roma (foto 4). Na primeira des-sas visitas, o Regimento foi consagrado à Virgem Maria

por iniciativa do capelão, Pe. Paolo Solidoro, e cada sol-dado recebeu uma estampa de Nossa Senhora como re-cordação (foto 1). Na segunda, os 200 alunos da escola, de idade entre 4 e 12 anos, rezaram um terço em honra da Santíssima Virgem e participaram de uma animada aula de catequese (foto 3).

Visitas da Imagem Peregrina

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32      Arautos do Evangelho · Março 2013

nsina-nos a mineralogia que os mais puros cristais se for-mam pelo esfriamento de rochas em estado líquido.

As temperaturas necessárias para fun-di-las são elevadíssimas, como as exis-tentes nos vulcões e no magma do in-terior da terra. Quanto mais longo for o tempo de esfriamento, e maior a tranquilidade desse processo, maiores e mais perfeitos serão os cristais.

O mesmo acontece com as insti-tuições da Igreja: a Liturgia, a hie-rarquia eclesiástica, o Código de Di-reito Canônico, as manifestações ar-tísticas, enfim, as maravilhas que co-nhecemos e deslumbram o mundo hoje em dia.

Nosso Senhor não fundou uma Igreja já perfeita e acabada, mas quis deixar essa tarefa de elabora-ção das instituições aos seus futuros membros, os quais com serenidade, paciência e sabedoria, iriam crista-lizando ao longo dos séculos a ma-ravilhosa e ardente doutrina que nos deixou o Filho de Deus.

Uma dessas instituições, que demorou nove séculos em produ-zir um dos melhores diamantes es-pirituais da Igreja, é a das canoni-zações: o primeiro homem oficial-mente elevado à honra dos altares foi Santo Ulrico, Bispo de Augsbur-go, na atual Baviera, Alemanha, no século X.

Isto não significa que não tenha havido santos na Igreja nos séculos precedentes. Houve sim, mas não passaram por um processo formal, segundo regras definidas pela Santa Sé. Até então, os santos eram acla-mados pelo entusiasmo popular, a vox populi; enquanto hoje, a fama de santidade de um católico leva ape-

nas a que se inicie o seu processo de canonização.

Com a expansão da Igreja, os Bis-pos, paulatinamente e visando evitar abusos, reservaram-se o direito de propor à devoção pública um deter-minado fiel, mas faziam-no sempre como consequência de um primeiro movimento proveniente dos fiéis.

Na época das perseguições, cos-tumava-se celebrar a Eucaristia nos túmulos dos cristãos falecidos, no aniversário de sua morte. Isso não despertava suspeitas das autorida-des perseguidoras, pois os roma-nos tinham o costume de realizar uma refeição na tumba de seus fa-miliares; e as primeiras liturgias cris-tãs eram uma imitação muito próxi-ma do acontecido na Última Ceia: não havia ainda um rito estabeleci-do, paramentos litúrgicos, vasos sa-grados, nem a maior parte dos or-namentos usados hoje em dia para estimular nossa devoção e mostrar a devida reverência ao ato sagrado. Nem sequer existiam igrejas.

Assim, pois, esse costume foi se generalizando, e em tempos poste-riores às perseguições não era ra-ro celebrar-se com pompa a Euca-ristia nos túmulos dos familiares. Santo Agostinho, por exemplo, nar-ra nas Confissões a Eucaristia cele-brada na sepultura de sua mãe, San-ta Mônica.

Posteriormente, com as migra-ções e invasões bárbaras, foram sen-do removidos e enterrados nas igre-jas, para protegê-los contra saques e profanações, os ossos, ou seja, as “relíquias” (do latim, relinquere, dei-xar para trás) dos mártires, que ha-viam edificado particularmente os fiéis por sua morte exemplar. No de-

correr do tempo, quis-se enterrar nas igrejas também os restos mor-tais de pessoas dignas de veneração por suas virtudes e exemplo de vida: santos não mártires, como se diz ho-je em dia.

Com o aumento do número de “santos”, a Igreja foi estabelecen-do os critérios necessários para proclamar a santidade de uma pes-soa. E o primeiro em cumpri-los foi Santo Ulrico, canonizado em 3 de fevereiro de 993 pelo Papa João XV. Perdeu-se a bula de canoni-zação, mas sabe-se de sua existên-cia mediante transcrições posterio-res e menções em outros documen-tos. Desde então, fizeram-se vários aperfeiçoamentos e modificações no processo, mas os fundamentos estavam lançados. ²

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Qual foi o primeiro santo canonizado?

“Santo Ulrico” - Paróquia de Santo Ulrico em Gröden, Ortisei (Itália)

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Irmã Carmela Werner Ferreira, EP

Março 2013 · Arautos do Evangelho      33

Uma aula de perfeiçãoO caminho da virtude, que outros apontaram através de páginas de sabedoria, a Doutora da Pequena Via nos indica aqui por meio de seu olhar.

anta Teresinha do Meni-no Jesus nasceu após a in-venção da fotografia, e gra-ças às possibilidades por es-

ta inauguradas, podemos acompanhá--la em todas as fases da vida, desde os primeiros anos até os últimos dias. Certamente não a conheceríamos tão bem nem aproveitaríamos tanto as páginas de seus Manuscritos Autobio-gráficos sem este valioso complemen-to, verdadeiro registro visual de seu progresso na virtude.

Entre os diversos retratos da car-melita de Lisieux, um chama de mo-do especial nossa atenção, pela fulgu-rante expressão de santidade que dei-xa transparecer. Trata-se da fotogra-fia tirada aos seus oito anos, quando era aluna das religiosas beneditinas, na qual aparece trajada com uniforme escolar ao lado de sua irmã Celina.

Seu olhar honesto, sereno e des-pretensioso denota uma louçania cativante, reflexo da inocência batis-mal fielmente conservada. Sem es-tar rindo nem aparentar ter o hábito de fazê-lo a todo o momento, trans-mite uma alegria intensa e completa ausência de egoísmo. Diríamos que ela experimenta uma felicidade au-têntica, pois “a criança não conhe-ce a mentira, a falsidade nem a hipo-crisia. Sua alma se espelha inteira-mente em sua face; sua palavra tra-duz com fidelidade seu pensamen-to, com uma franqueza emocionan-te. Ela não tem as inseguranças da vaidade ou do respeito humano. Em

S uma palavra, ela e a simplicidade constituem uma sólida união”.1

O Beato João Paulo II, ao procla-má-la Doutora da Igreja, incluiu seu nome no seleto rol de expoentes co-mo Santo Agostinho, São João Cri-sóstomo e São Tomás de Aquino. Causa-nos surpresa que uma religio-sa falecida aos 24 anos de idade te-nha recebido esta honraria concedi-da apenas aos mais destacados teó-logos da Santa Igreja.

Entretanto, melhor do que mui-tos luminares das ciências, a Douto-ra da Pequena Via ensinou que “se não vos transformardes e vos tor-nardes como criancinhas, não entra-reis no Reino dos Céus” (Mt 18, 3), e justificou de maneira magnífi-ca a oração do Divino Mestre: “Eu Te louvo, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coi-sas aos sábios e entendidos e as re-velaste aos pequeninos” (Mt 11, 25).

O Pontífice a exaltou não tanto por aquilo que ela fez, mas, sobretu-do, pelo que ela foi. O caminho da virtude, que outros apontaram atra-vés de páginas de sabedoria, ela nos indica aqui por meio de seu olhar. Afinal, determo-nos por alguns mi-nutos na contemplação deste sem-blante não equivale a receber uma aula de perfeição? ²

1 CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos. Roma/São Paulo: LEV/LumenSapientiæ, 2012, v.V, p.124.

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A arte de tornar possível o impossível

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34      Arautos do Evangelho · Março 2013

Em certas circunstâncias a vigência das normas claudica ao chocar-se com algo imprevisível. Chega o momento de “dar um jeitinho”. Em que consiste, porém, esta forma tão singular de resolver situações complicadas?

requentemente nos depa-ramos, ao longo da vida, com a necessidade de re-solver problemas compli-

cados e imprevistos. E o meio de fazê--lo costuma ser personalíssimo, como é também, muitas vezes, a situação a enfrentar.

É quase infinita a variedade de so-luções que cada indivíduo encontra para tais problemas, mas poderíamos classificá-las em função dos tempera-mentos nacionais. Assim, certos po-vos orientais, como os chineses e ja-poneses, terão um modo próprio de resolvê-los, geralmente de forma pa-ciente e silenciosa. Um etíope ou um egípcio recorrerão a meios mais tea-trais para atingir seu objetivo. E as-sim por diante, poderíamos mencio-nar saídas à la francesa, inglesa, ita-liana, portuguesa ou espanhola.

No Brasil, as situações difíceis so-lucionam-se “dando um jeito”, ou me-lhor, “um jeitinho”. O uso do diminu-tivo tem aqui sua importância, pois re-flete a impostação afetuosa com que a pessoa põe em prática a solução.

Em que consiste o jeitinho?

Mas em que consiste exatamente o jeitinho? O jornal francês Le Mon-

de aventurou-se a dar-lhe esta defi-nição: “Uma hábil solução, frequen-temente de última hora, que não acalma forçosamente os nervos, mas torna retrospectivamente sem moti-vo a angústia dos neófitos”.1

Breve e precisa como costumam ser as formulações francesas, esta definição reflete, entretanto, apenas uma parte da realidade. Ela anali-sa o jeitinho sob o prisma de alguém capaz de perceber seus efeitos, não, porém, sua essência. Descreve-o co-mo uma solução hábil que resolve de modo profundo o problema, a ponto de tornar inexplicável, a pos-teriori, a angústia sentida enquanto ele existia.

O jeitinho de tal forma faz par-te da personalidade brasileira que as escolas empresariais internacionais o tomam em consideração em seus cursos. Isto não significa, entretanto, que consigam defini-lo com precisão.

Para os alemães — que tratam de traduzir esse substantivo pela expres-são einkleiner Dreh (pequeno giro) —, o conceito mostra-se desconcertante. É muito conhecida a preferência dos povos nórdicos pela coisa planejada, previsível e bem regulada. Não des-cartam a intuição e as soluções im-

provisadas, mas procuram evitá-las ao máximo. Sem dúvida, a alma ale-mã prefere prever os imprevistos.

Os anglo-saxões o equiparam a um little trick (pequeno truque) ou um clever dodge (drible inteligen-te), demonstrando que também pa-ra eles é difícil entendê-lo.

Há quem tenha querido atribuir--lhe um significado equivalente ao da ventajita argentina ou do chan-chullo espanhol. Um guia para in-vestidores italianos o compara com a soluzione alla napoletana,2 ad-vertindo que “nem sempre funcio-na com os estrangeiros”. Entretan-to, até a sonoridade das diversas ex-pressões realça como é longínquo o parentesco entre estes conceitos.

Em que consiste, então, o verda-deiro jeitinho? Quais são seus ele-mentos constitutivos?

Elementos constitutivos do jeitinho

Uma primeira característica é a intuição, entendida como uma for-ma rápida de raciocínio que permite analisar num instante situações mui-to complexas.

Por outra parte, o verdadeiro jei-tinho tem sempre um caráter conci-liador. Devido à sua herança portu-

Antonio Jakoš Ilija

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Março 2013 · Arautos do Evangelho      35

guesa, enriquecida por algumas no-tas indígenas e africanas, o brasilei-ro é uma pessoa cordial, e essa sua forma de ser dá o peculiar e inigua-lável tônus ao jeitinho que alguns qualificam de brasileiro, o que — di-ga-se de passagem — constitui uma redundância.

Nele encontramos também uma extraordinária flexibilidade e capa-cidade de improvisação que, unidas a uma grande inteligência natural, permitem contornar as normas sem transgredi-las, quando sua vigência claudica diante do fato imprevisível. Chega então o momento do jeiti-nho, que torna possível o impossível.

O jeitinho, em suma, é imaginati-vo, inteligente e pacífico. Jamais as-sume ares autoritários ou arrogan-tes, e — como a cereja sobre o chantilly — deve concluir--se preferencialmente com um sorriso.

Um exemplo paradigmático

A afabilidade do brasilei-ro leva-o a ter especial de-voção pelos aspectos com-passivos de Nosso Senhor, e é isto que faz deste povo um exemplo de bondade, e de uma bondade conciliadora.

Alguns sociólogos defi-nem o brasileiro como “cor-dial”, e esta é, sem dúvida, uma de suas principais ca-racterísticas. Este adjetivo, inclusive do ponto de vis-ta etimológico, aponta mais para a emoção que para a razão; mas esta emoção, uma vez batizada, trans-forma-se em bondade. Por ação da graça, a mera in-clinação natural passa a ser uma virtude cristã.

Assim, a quintessência do jeitinho, depurado de qual-quer acepção que não seja a mais elevada, pode ser ilus-

trada com um fato histórico aconte-cido 1.500 anos antes de Pedro Ál-vares Cabral desembarcar no litoral da Bahia. Ocorreu na Palestina e te-ve por protagonista a Virgem Maria.

Com efeito, ao obter de seu Di-vino Filho a transformação da água em vinho, nas Bodas de Caná, Nossa Senhora deu um jeitinho sublime ao qual não faltam os elementos consti-tutivos aqui enunciados.

Sem infringir lei alguma, Ela con-ciliou duas situações aparentemen-te insolúveis: o constrangimento do anfitrião pela falta de vinho e a ino-portunidade do momento para Je-sus fazer um milagre: “Minha hora ainda não chegou” (Jo 2, 4).

A intuição A fez compreender num ápice a desagradável situa-

ção em que logo se encontrariam os nubentes, vendo acabar-se o vi-nho em plena festa. Sua bondade — sua sublime cordialidade, pode-ríamos dizer — levou-A a compa-decer-Se deles pela aflição que sen-tiriam quando isso ocorresse; e en-controu uma forma de “transgre-dir” os desígnios divinos, apelan-do para sua maternidade. Compeli-do, por assim dizer, pelo pedido de sua Mãe Amantíssima, Jesus ante-cipou o momento de seu primeiro milagre público, dando lugar a uma das mais famosas e magníficas pas-sagens do Evangelho.

Considerado sob esta perspecti-va, o jeitinho é muito mais do que uma invejável habilidade do espí-rito. Trata-se de um estilo de prati-

car a virtude da bonda-de na vida cotidiana, de uma forma raramente encontrada nos manuais de piedade e nas histó-rias dos santos.

Quiçá, poderia a San-tíssima Virgem, que nos deu um tão sublime exemplo de jeitinho, ser invocada como Padroeira do Jeitinho Brasileiro. E quem sabe se a Providên-cia não teria dado a essa grande nação a vocação de representar a bondade de Nossa Senhora de for-ma tão eminente que, pa-ra defini-la por inteiro, precisaria paradoxalmen-te usar um diminutivo: o jeitinho? ²

1 DENIS, Hautin Guiraut. La conference de Rio sur l’environnement. Un retour au passé... In: Le Monde. Pa-ris: 3 jun. 1992.2 CAPORASO, Giovanni. Guida per investire in Brasile — 2007. Panama city: Expats E-books, 2006, p.88.

Quiçá poderia a Santíssima Virgem ser invocada como Padroeira do Jeitinho Brasileiro

“As bodas de Caná” - Paróquia de Saint Patrick, Roxbury (Estados Unidos)

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36      Arautos do Evangelho · Março 2013

A PAlAvrA dos PAstores

Sacerdócio e Dom

C onforme ensina Santo Irineu — grande Bispo, teólogo e mártir do século III — o Fi-lho e o Espírito Santo são as

duas mãos pelas quais Deus Pai ope-ra no mundo e realiza nossa salvação. A missão do Filho e a do Espírito San-to são diferentes, mas complementa-res, e iguais em dignidade e valor. A primeira leitura desta Missa se refe-re à missão sacerdotal do Filho, o Ver-bo Encarnado, e o Evangelho alude à missão do Espírito Santo, sobretudo a de comunicar os dons do mistério pas-cal de Cristo, especialmente a remis-são dos pecados.

“Eis que venho fazer a vossa vontade”

Iniciemos nossa reflexão pela pri-meira leitura, um belíssimo texto da Carta aos Hebreus (Hb 9, 15.24-28), que trata de modo profundo, pode--se dizer de modo oficial, do sacer-dócio de Cristo. Segundo o seu au-tor, o sacerdócio de Cristo é único e original, diferente não só do sacer-dócio das diversas religiões da An-tiguidade, mas até mesmo do sacer-dócio levítico existente no Antigo Testamento.

Essa epístola nos apresenta o sa-cerdote como representante do po-vo perante Deus, que oferece pre-ces, dons e sacrifícios pelos peca-dos do povo. Mas aqui é necessá-rio prestar atenção, pois, embora re-presente o povo perante Deus, o sa-cerdote não é escolhido pela comu-

Embora diferentes, a missão do Filho e a do Espírito Santo são complementares e iguais em dignidade e valor. É através dessas duas Pessoas Divinas que Deus Pai opera no mundo e realiza nossa salvação.

nidade. Ninguém tem o direito de ser sacerdote, é Deus quem escolhe, quem chama.

Ainda de acordo com a Carta aos Hebreus, o sacerdote é o mediador entre Deus e a humanidade, uma es-pécie de pontífice que liga a huma-nidade ao Criador. O Filho tornou--Se sacerdote in æternum na Encar-nação, ao assumir a natureza huma-na. Podemos, pois, dizer que a ca-tedral onde Ele foi ungido sacerdo-te para sempre é o seio puríssimo de Maria Virgem. E o primeiro sacrifí-cio por Ele oferecido a Deus Pai é a sua obediência, aceitando nossa na-tureza, nossa condição humana.

Todos nós conhecemos as belíssi-mas palavras do décimo capítulo da Epístola aos Hebreus: “Ó Deus não quisestes sacrifícios nem oblações, mas Me formastes um corpo. Eis que venho para fazer a vossa vontade” (cf. Hb 10, 5-9). Cristo, Sumo Sacer-dote, exerceu em plenitude o seu sa-cerdócio na sua morte na Cruz. Mas, segundo a Carta aos Hebreus, toda a sua existência terrestre, a começar pela pregação, foi uma existência sa-cerdotal. Como sacerdote Ele anun-ciou o Evangelho, realizou seus mila-gres, morreu e ressuscitou pela nos-sa salvação. E pela Ressurreição — continua São Paulo em sua carta — Ele, como Sumo Sacerdote, penetra no santuário celeste, para apresentar ao Pai o seu sacrifício. E é justamente essa apresentação eterna que Cristo faz ao Pai, do seu sacrifício na Cruz,

Dom Benedito Beni dos SantosBispo de Lorena – SP

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Março 2013 · Arautos do Evangelho      37

que é a fonte de salvação para toda a humanidade.

Sumo Sacerdote, digno de fé e misericordioso

A Epístola aos Hebreus apresen-ta-nos três características do sacer-dócio de Cristo: Sumo Sacerdote, digno de fé e misericordioso.

Foi Sumo Sacerdote, isto é, sacer-dote perfeito. Os outros, como sacer-dotes imperfeitos, procuravam re-conciliar a humanidade com Deus, mas não conseguiram. Somente Cris-to conseguiu. Sumo Sacerdote signi-fica também sacerdote uno, original. Os outros sacerdotes oferecem pre-ces, dons, sacrifícios. Cristo, porém, não oferece a Deus sacrifício de ani-mal nem de coisa alguma: oferece-Se a Si mesmo. Ele é ao mesmo tempo sacerdote e vítima. Sendo o sacerdo-te perfeito, também o seu sacrifício é um sacrifício perfeito, aboliu todos os outros sacrifícios.

Ele é um sacerdote digno de fé. Portanto, tem autoridade para ser sa-cerdote, porque Ele é ao mesmo tem-po Deus e Homem. Então, Ele e só Ele podia unir a humanidade a Deus.

Finalmente, Ele é um sacerdo-te misericordioso, solidário com to-dos os seres humanos, sobretudo com

os pecadores. Solidário com os peca-dores, mas não com o pecado, por-que no pecado não existe solidarieda-de, mas sim cumplicidade. Cristo, so-lidário com os pecadores, lutou até a morte contra o pecado. E essa solida-riedade com os seres humanos, a Car-ta aos Hebreus a expressa num títu-lo que coloca Cristo, Sumo Sacerdo-te, acima até mesmo dos Anjos: Fi-lho de Deus e nosso Pai. Os Anjos não são filhos de Deus, são seus ser-vidores. Por isso mesmo a Sagrada Escritura os apresenta sempre de pé diante do trono de Deus, em atitude de serviço. Só Cristo, Sumo Sacerdo-te, é Filho de Deus e nosso Pai. E pa-ra o autor da Carta aos Hebreus, esse fato deve nos encher de consolação, pois temos junto de Deus não apenas um intercessor, não apenas um advo-gado: temos um irmão, Aquele que passou pela nossa existência humana, que foi em tudo igual a nós, exceto no pecado; portanto, Aquele que tem a capacidade de nos compreender não só com seu Coração divino, mas tam-bém com um coração humano.

Missão cristocêntrica do Espírito Santo

Voltemos agora nossa reflexão brevemente para o Evangelho que

acabamos de ouvir (Mc 3, 22-30). Podemos dizer que a missão do Es-pírito Santo é cristocêntrica, to-da voltada para Cristo. Ele tem por missão levar todas as pessoas a se tornarem discípulos e discípulas do Divino Mestre. Por isso mesmo o Espírito Santo não diz novas pala-vras, mas torna sempre nova a pa-lavra dita por Cristo, leva a Igreja a compreender em profundidade a palavra de Jesus, mantém na Igreja a plenitude da verdade. Sua missão é fazer com que acolhamos e inte-riorizemos a palavra de Cristo, e vi-vamos de acordo com ela; é fazer de nós evangelizadores, administrado-res da mensagem de Nosso Senhor; mas é também comunicar os dons do mistério salvífico do Redentor.

Na Última Ceia, quando prome-teu o dom do Espírito Santo, dis-se Jesus: “Convém a vós que Eu vá! Porque, se Eu não for, o Parácli-to não virá a vós; mas se Eu for, vo--lo enviarei. E, quando Ele vier, con-vencerá o mundo a respeito do pe-cado” (Jo 16, 7-8). Ou seja, conven-cerá o mundo do pecado em vista da conversão e da salvação. E, segundo o quarto Evangelho, a primeira coi-sa que o Ressuscitado fez, na tarde do domingo da Páscoa, foi aparecer

Neste dia em que se inicia o ano letivo nas escolas de Filosofia e Teologia dos Arautos do Evangelho, a Liturgia comemora São Tomás de Aquino, que foi ao mesmo tempo teólogo, místico e homem espiritual

Aula inaugural dos cursos de Filosofia e Teologia do Instituto Teológico São Tomás de Aquino e cortejo de entrada para a Missa de abertura do ano letivo na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Caieiras

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38      Arautos do Evangelho · Março 2013

aos discípulos e soprar sobre eles o Espírito Santo (cf. Jo 20, 19-22).

É interessante observar que Cris-to não invoca o Espírito Santo pa-ra que este desça dos Céus sobre os discípulos. Cristo sopra o Espírito. Só Ele tem o poder de doar o Espí-rito Santo. Doa o Paráclito aos seus discípulos e lhes diz: “Recebei o Es-pírito Santo. Àqueles a quem perdo-ardes os pecados, ser-lhes-ão perdo-ados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 22-23). A partir deste fato, podemos com-preender a dramática expressão usa-da por Jesus no Evangelho de ho-je: “Quem blasfemar contra o Espí-rito Santo jamais terá perdão” (Mc 3, 29).

O pecado contra o Espírito Santo

Em que consiste a blasfêmia con-tra o Espírito Santo?

Em Cristo, Deus Pai oferece o dom da salvação a todas as pesso-as. Aquelas que, movidas pelo Es-pírito Santo, se convertem, acolhem o dom da salvação. Mas as que não se convertem, que querem conti-nuar escravas do pecado e resistem ao seu impulso, estas estão renun-ciando ao dom da salvação. Então, a blasfêmia contra o Espírito Santo consiste antes de tudo em não que-rer se converter, em optar por conti-nuar escravo do pecado. Enquanto a alma estiver nessa situação, não po-derá obter o perdão dos pecados.

Mas blasfemar contra o Espíri-to Santo significa também procurar desculpas para não se converter, co-mo fizeram os judeus: atribuíram os milagres de Jesus, não ao poder do Espírito Santo, mas ao de Belzebu, príncipe dos demônios. Cometeram uma blasfêmia. Geralmente as pes-soas, quando não querem abando-nar as vias do pecado, alegam fal-sas razões para não se converterem, chamam o bem de mal e o mal de

sem ungidos pelo Espírito Santo e se tornassem ministros de Deus. E to-dos nós, sacerdotes, devemos tomar consciência de que existe um único sacerdócio: o de Cristo, do qual ape-nas participamos.

Em segundo lugar, devemos exer-cer com muita humildade nosso mi-nistério sacerdotal. Não tivemos di-reito de ser sacerdotes, foi um dom gratuito de Deus. A história da nos-sa vocação iniciou-se não nesta Ter-ra, aqui embaixo. Iniciou-se no alto, na eternidade. Antes mesmo de nas-cermos, Deus nos escolheu para ser-mos sacerdotes, como está escrito no livro do profeta Jeremias: “Antes que no seio fosses formado, Eu já te conhecia; antes de teu nascimento, Eu já te havia consagrado” (Jr 1, 5). Portanto, devemos viver o nosso sa-cerdócio, exercer o nosso ministério cada dia, com um coração agradeci-do a Deus. E essa gratidão deve se estender por toda a eternidade, por-que somos sacerdotes eternamente.

O sacerdote, como mostra São Paulo na Carta aos Hebreus, tem uma missão muito especial: mani-festar aos pecadores a misericórdia de Deus. Então, ele deve cuidar de todas as ovelhas do rebanho, mas, sobretudo, das ovelhas enfermas, os pecadores. Sair à procura dos peca-dores, abrir as portas da misericór-dia divina, no Sacramento da Con-fissão, para reconciliá-los com Deus. Assim, que esta primeira leitura fi-que bem gravada em nossos cora-ções, para podermos viver em pro-fundidade, cada dia, o nosso sacer-dócio, lutando com alegria, com a alma cheia de gratidão a Deus.

São Tomás de Aquino, diretor espiritual

Neste dia em que se inicia o ano letivo nas escolas de Filosofia e Teo-logia dos Arautos do Evangelho, a Li-turgia comemora São Tomás de Aqui-

Ordenação sacerdotal na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, 19/3/2012

Devemos exercer o nosso ministério a cada dia com um coração agradecido a Deus

bem. Ora, isso também é blasfemar contra o Espírito Santo.

Então, é necessário tomarmos consciência de que a salvação é um dom de Deus, que Cristo nos ofe-rece. Ele quer de tal modo a nossa salvação que enviou o Espírito San-to para nos convencer do pecado, is-to é, para nos mover ao arrependi-mento, a acolher o dom da salvação. Quer de nós, portanto, que colabo-remos para não podermos jamais cometer este pecado tão grave, que é blasfemar contra o Espírito Santo.

Participamos do sacerdócio de Cristo

Gostaria agora de apresentar aos sacerdotes aqui presentes algumas conclusões a respeito da primeira leitura desta Missa. Tive a graça de, como sucessor dos Apóstolos, im-por as mãos sobre dezenas de Arau-tos do Evangelho, para que eles fos-

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no, que foi ao mesmo tempo teólogo, místico e homem espiritual. Pode-se chamá-lo de diretor espiritual.

Como teólogo, ele procurou uma compreensão firme, metódica, orga-nizada, racional da Fé cristã. Como místico, toda a sua teologia está vol-tada para o amor de Deus. O mís-tico é aquele que desenvolve uma união amorosa com Deus, e, na me-dida em que vai se aprofundando, esta união torna-se uma experiên-cia direta d’Ele. Podemos dizer que o místico já antecipa neste mundo aquilo que será nossa condição defi-nitiva: a união amorosa, a experiên-cia direta de Deus.

A teologia de São Tomás de Aqui-no expressa essa procura da união mística com Deus. E é também uma teologia espiritual. O Doutor An-gélico não tem uma espiritualidade própria, porque toda a sua teologia é uma teologia espiritual, que nos conduz à santidade.

Há pouco ainda eu falava do Es-pírito Santo, e São Tomás nos dá uma compreensão muito importan-te da Pessoa e da missão do Espírito Santo. Seguindo a tradição de San-to Agostinho — do qual ele é quase um discípulo —, Tomás também co-loca a seguinte questão: qual é o no-me da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade? E responde: nós a chama-mos de Espírito Santo. Mas espíri-to o Pai também é, o Filho também é; santo é igualmente o Pai, é igual-mente o Filho. Então qual é o nome próprio da Terceira Pessoa da San-tíssima Trindade? Responde ele: é Dom. Dom, com maiúscula, porque é aquele elo de amor pessoal, que une o Pai e o Filho. Ele procede do Pai e do Filho. Portanto, é Dom. O Espírito Santo é a graça incriada, é Deus que vem até nós como presen-te, como Dom.

Mas São Tomás continua: o Es-pírito Santo produz em nós todos

os dons, a graça santificante, os seus carismas, os seus frutos. Então, ve-jam que bela noção ele nos dá: o Es-pírito Santo é Deus que vem até nós, procedendo do Pai e do Filho, por-tanto, como Dom, como graça e pre-sente.

A Cruz nos ensina a viver a nossa vida cristã

Mas na comemoração litúrgica de São Tomás de Aquino, o Ofício

das Leituras, que recitamos na Li-turgia das Horas, traz uma página muito bonita de sua autoria, o tre-cho de uma conferência, na qual ele coloca a seguinte pergunta: Por que precisou Cristo sofrer na Cruz por nós? E responde: para nos dar o re-médio contra o pecado; mas tam-bém para nos ensinar como viver, como segui-Lo. E o grande teólo-go afirma que a Cruz é um verda-deiro livro.

Precisamos ler este livro! Con-templando a Cruz, aprendemos to-das as lições necessárias para nossa vida cristã. Contemplando a Cruz, aprendemos o que é de fato o amor. Contemplando a Cruz, aprendemos a humildade. Contemplando a Cruz, aprendemos a paciência. Contem-plando a Cruz, aprendemos o des-prendimento dos bens materiais, dos títulos, das honras, e assim por diante. Então, conclui o Doutor An-gélico, não existe uma lição de vida cristã que nós não tiremos da con-templação da Cruz.

Creio que a Igreja teve até hoje três grandes teólogos, e os três estão muito ligados entre si. O primeiro é o Apóstolo São Paulo; não houve um ponto da teologia que ele, pelo menos implicitamente, não quises-se tocar. O segundo é Santo Agos-tinho. E terceiro, o insuperável São Tomás de Aquino.

Portanto, prezados irmãos, como já disse no ano passado, repito: faça-mos de São Tomás de Aquino não só nosso mestre, mas também aquele modelo do seguimento de Jesus car-regando a Cruz, pois ele mostra de fato que a Cruz é um livro, é a Cruz que nos ensina como viver de acor-do com o Evangelho, como viver no seguimento de Jesus. ²

(Homilia na Missa de abertura do ano letivo dos cursos de Filosofia

e Teologia, 28/1/2013)

“São Tomás de Aquino” - Basílica de Santa Maria Novella, Florença (Itália)

Toda a teologia do Doutor Angélico é uma teologia espiritual,

que nos conduz à santidade

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“Catecismo da Igreja Católica” em língua khmer

O Vigário Apostólico de Phnom Penh, Dom Olivier Schmitthaeus-ler, MEP, anunciou em 6 de janeiro a publicação do Catecismo da Igreja Católica em língua khmer, por oca-sião do encerramento do Congresso organizado por esse Vicariato Apos-tólico sobre o tema O Concílio Vati-cano II e a Igreja.

A nova publicação, informa a agência Fides, “será um instrumen-to valioso para todas as comunida-des e associações de fiéis, para apro-fundar os conteúdos do ‘Credo’ e da doutrina católica, no Ano da Fé”.

Camilianos espanhóis celebram Capítulo Provincial

A província espanhola da Or-dem dos Clérigos Regulares Minis-tros dos Enfermos, mais conheci-dos como Padres Camilianos, cele-brou o seu Capítulo Provincial en-tre os dias 15 e 18 de janeiro, no Centro San Camilo de Tres Cantos.

No Capítulo, do qual participaram também representantes da Argen-tina, decidiu-se aproveitar o quar-to centenário do fundador para di-fundir o carisma e a espiritualidade da Ordem.

São Camilo de Lellis, apesar de pertencer a uma nobre família ita-liana, foi dado à luz num estábulo, pois a sua piedosa mãe não quis que seu filho nascesse em melhores con-dições que o Redentor.

Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Checa

Em 22 e 23 de Janeiro realizou--se a XCII Assembleia Plenária da Conferência Episcopal da Repúbli-ca Checa. Ela foi revestida de par-ticular solenidade por encontrar-se o país celebrando atualmente o ano jubilar de São Cirilo e São Metódio, evangelizadores dos povos eslavos há 1.150 anos.

A participação do país na Jorna-da Mundial da Juventude 2013 no Rio de Janeiro, a conciliação entre a Igreja e o Estado, a peregrinação dos Bispos, sacerdotes e diáconos a ser realizada em abril deste ano, e os projetos de catequese para o ano de 2013 foram alguns dos temas trata-dos.

Aparecida tem número recorde de peregrinos

O Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, foi visitado ao longo do ano 2012 por 11.144.639 peregrinos, 200 mil a mais do que no período ante-rior. O Pe. Valdivino Guimarães, missionário redentorista, atribuiu esse incremento a diversos motivos, mas, “principalmente, à grande de-voção do povo brasileiro a Nossa Se-nhora Aparecida”.

O Santuário de Aparecida é o mais frequentado do mundo cató-lico, depois da Basílica de São Pe-dro em Roma e da Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe no México,

que superam os 20 milhões de pe-regrinos anuais. Lourdes e Fátima costumam receber entre cinco e seis milhões de visitantes a cada ano.

Trinta por cento da população chinesa será cristã em 2030

O economista chinês Prof. Zhao Xiao afirmou no fórum China Con-nect que continuando o ritmo de crescimento atual, 30% da popula-ção da China, que conta atualmen-te com 1.300 milhões de habitantes, será cristã no ano 2030. Segundo o economista, uma “transformação sob o sinal da Cruz” será uma bên-ção para o país.

Peregrinos do Santo Cristo de Almada receberão indulgência plenária

Do topo de um imponente pedes-tal de 75 metros de altura situado na margem do rio Tejo, o Cristo Rei de Almada parece abençoar Lisboa com seus braços abertos. Este privi-legiado local atrai, pela sua beleza, não apenas fiéis que acorrem a rezar no Santuário, mas também numero-sos visitantes que desejam deleitar--se com a magnífica vista descortina-da do alto do miradouro.

Os esforços feitos pela diocese de Setúbal, onde se encontra o monu-mento, para realçar os aspectos es-pirituais do local, levaram a San-ta Sé a conceder indulgência plená-ria perpétua para todos aqueles que peregrinem ao Santuário. A notícia foi dada no dia 22 de fevereiro pe-lo reitor, Padre Sezinando Alberto, que afirmou que esta concessão aju-

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Nove milhões de fiéis veneram o “Nazareno Negro” nas Filipinas

A devoção à imagem de Nosso Senhor carregando a Cruz às costas — conhecida nos países de tra-

dição hispana com o nome de Nazareno — foi introdu-zida nas Filipinas há mais de 400 anos por um missio-nário agostiniano proveniente do México, quando o ar-quipélago formava parte do império espanhol. Durante a viagem, a imagem de madeira ardeu dentro do navio, mas, em vez de reduzir-se a cinzas, ape-nas se obscureceu dando origem ao nome “Na-zareno Negro”.

Desde aproximadamente dois séculos, essa imagem sai anualmente em procissão a cada 9 de janeiro. Neste ano, o Cristo permaneceu por 18 horas nas ruas de Manila apesar do percurso ser de apenas três quilômetros, terminando à 1:30h da madrugada do dia seguinte. A causa da de-mora foram os nove milhões de peregrinos regis-trados pelo Departamento de Polícia de Manila, que tentavam tocar e oscular a imagem.

A procissão, da qual muitos participaram des-calços, teve início depois de um solene ato litúr-gico presidido pelo Arcebispo de Manila, Carde-al Antonio Tagle. Numerosos peregrinos dão tes-

temunho de terem sido cura-dos milagrosamente de doen-ças pelo Nazareno Negro, ou de terem recebido favores ex-cepcionais por causa da sua devoção a Ele.

dará o Santuário a “tornar-se mais fiel ao seu próprio espírito e caris-ma fundacional, que é ser um cen-tro de oração e reparação dos males causados pelos pecados” — informa a agência Ecclesia.

O decreto foi entregue na Basí-lica de Santa Maria Maior, em Ro-ma, ao Bispo de Setúbal, Dom Gil-berto Reis, pelo Cardeal Montei-ro de Castro, Penitenciário-Mor da Santa Sé.

Dom Gänswein prefacia livro da pintora Natalia Tsarkova

Natalia Tsarkova, retratista ofi-cial dos últimos Papas, escreveu e ilustrou uma história para crianças narrando a fábula de uns peixes ver-melhos que vivem num tanque e são alimentados por um personagem vestido de branco. A história, inti-

tulada Il mistero di un piccolo stagno — “O mistério de um pequeno la-go”, baseia-se em algo real: os pei-xes existem em Castel Gandolfo, re-sidência de verão do Santo Padre, e o personagem por ela desenhado é o Papa Bento XVI.

A autora conta a origem da ideia: “Impactou-me a intensa espirituali-dade que se respirava ali. Assim, do meu coração nasceu esta fábula que fala de amor, de fé e de esperança. Espero que o leiam muitas crianças de todo o mundo e que a sua mensa-gem lhes chegue ao coração”.

O prólogo do livro, publicado pe-la Libreria Editrice Vaticana, é do Arcebispo Dom George Gänswein, Secretário do Santo Padre. Nele são narradas as dificuldades que tinha ao preparar homilias para crianças numa pequena paróquia da Floresta

Negra: “Nunca é fácil preparar uma homilia, às vezes se faz melhor e ou-tras pior, depende. Mas preparar uma homilia para crianças é exaus-tivo porque elas nada perdoam. La-cunas teológicas: fazem o pregador cair na armadilha. Superficialidades: apontam-nas de imediato. E, sobre-tudo, não gostam e não perdoam se o pregador não for sincero. Se ele é sincero, perdoam-lhe tudo, mas se não o é, perdeu para sempre”.

Pequenez do DNA e grandeza de Deus

Cada molécula de DNA contém, como é sabido, a informação neces-sária para a gestação, crescimen-to e desenvolvimento de um ser vi-vo, com todas as suas características e individualidades. E os cientistas não deixam de se impressionar com

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a prodigiosa quantidade de informa-ção que ela é capaz de conter num espaço minúsculo.

Fascinados pela maravilha de efi-ciência contida nesta molécula, um grupo de cientistas do European Mo-lecular Biology Laboratory analisou a melhor forma de usar fragmentos de DNA artificial como reservató-rio de dados e publicou um artigo na revista Nature narrando as suas con-clusões: em apenas algumas molécu-las, era possível armazenar de for-ma totalmente fiável e duradoura, um arquivo mp3, uma fotografia de resolução media e vários sonetos de Shakespeare.

Para se ter ideia do assombroso potencial destas maravilhosas “bi-bliotecas” criadas por Deus, impos-síveis de ver a olho nu pelo seu dimi-nuto tamanho, basta considerar que uma pequena xícara de café “cheia” de DNA poderia armazenar 100 mi-lhões de horas de vídeos de alta re-solução!

Finalizada a tradução da “Suma Teológica” para o japonês

Depois de um meticuloso traba-lho que durou 52 anos, Ryosuke Ina-gaki, professor emérito da Kyushu University, concluiu a tradução da Suma Teológica de São Tomás de Aquino para o japonês. O último dos 45 volumes foi publicado em se-tembro do ano passado, mas até ja-neiro o professor Inagaki não con-cedeu entrevistas para descrever o projeto.

O trabalho, nas palavras des-te professor que traduziu pessoal-mente 20 dos volumes, nunca foi

extenuante: “Os escritos de Tomás são como uma peça de Bach, com um ritmo que permite um acesso fácil. Uma vez começado o traba-lho de tradução, este avançou ra-pidamente”.

O professor, de 84 anos, recebeu o Batismo na sua juventude, quando fazia estudos superiores. Sua partici-pação no projeto iniciou-se quando apenas 11 volumes haviam sido con-cluídos.

O professor Inagaki conheceu a obra de São Tomás através de alguns sacerdotes amigos e de um alto ofi-cial americano depois da II Guerra Mundial.

Congregação para o Culto Divino anuncia livro sobre a liturgia

O Cardeal Antonio Cañizares Llovera, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, anunciou no dia16 de janeiro a próxima publicação de um livro destinado a ajudar os fiéis a participar bem da Eucaristia, e aos sacerdotes, a celebrá-la convenien-temente. A obra, promovida por es-sa Congregação, encontra-se em avançada fase de preparação e deve ser dada a conhecer antes do verão europeu.

O anúncio do Cardeal foi feito em Roma, durante a conferência in-titulada A liturgia católica a partir do Vaticano II: continuidade e evolução, que aconteceu na Embaixada da Es-panha junto à Santa Sé. Nela o pur-purado explicou a importância que o Concílio Vaticano II atribui à litur-gia, “cuja renovação deve ser enten-dida em continuidade com a tradi-ção da Igreja e não como ruptura ou descontinuidade”.

Santíssimo Sacramento é roubado e recuperado na Colômbia

Terça-feira, dia 22 de janeiro, o Santíssimo Sacramento foi rouba-do na Paróquia de São João Maria Vianney, em Neiva, Colômbia, jun-

tamente com a custódia que o con-tinha. O crime foi registrado pela câmera de segurança do local on-de estava sendo realizada a Adora-ção Perpétua. Dois ladrões armados tentaram quebrar o vidro protetor da custódia. Este resistiu, mas não a fechadura.

Ao saber do sucedido, o pároco, Pe. Alonso Sánchez, declarou com tristeza: “Tanto amor que [Deus] nos tem, tanto que nos perdoa e que nós nos prestemos para profa-nar essa presença do Senhor na nos-sa vida”. O coordenador da cape-la de Adoração Perpétua, Luis Al-berto Cometa Medina, expressan-do o sentimento do pároco e dos fi-éis, comentou que era antes de nada importante recuperar o Santíssimo Sacramento: “Isso é o que nos pre-ocupa, que façam algum tipo de ri-to satânico com o Corpo Sagrado de Cristo”.

Felizmente, a rápida ação dos fi-éis e a eficaz colaboração das auto-ridades permitiram recuperar o San-tíssimo e a custódia poucas horas depois.

Publicado álbum fotográfico sobre o “Leão de Münster”

A editora Verlag, de Münster, deu a conhecer no início de janeiro o li-vro Finalmente alguém tem a cora-gem de falar. Trata-se de um álbum fotográfico ilustrando alguns ser-mões do Cardeal Clemens August von Galen, Bispo de Münster.

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A obra conta com 150 páginas e 300 fotografias, que compõem um documentário inédito. Através delas é possível conhecer melhor a figura deste ilustre prelado alemão, cha-mado de “Leão de Münster” por sua valente defesa dos direitos da Igreja, e beatificado pelo Papa Bento XVI a 9 de outubro de 2005.

Nova diocese ucraniana é criada em Londres

O Santo Padre Bento XVI criou uma nova jurisdição eclesiástica pa-ra os católicos de rito ucraniano no Reino Unido: a Eparquia ucrania-na católica da Sagrada Família em Londres. Dom Hlib Borys Sviatoslav Lonchyna, americano de pais ucra-nianos, será o seu primeiro ordiná-rio.

A decisão do Papa deve-se ao grande número de fiéis pertencentes a este rito que vivem atualmente no Reino Unido, especialmente na ca-pital, Londres. Dom Lonchyna for-mou-se na Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma, graduando-se em 1979 em Teologia Bíblica. Tam-bém estudou no Instituto Pontifício Oriental, recebendo o grau em Teo-logia litúrgica oriental em 2001.

Congresso sobre a evangelização na China

Com a participação de mais de 500 fiéis, realizou-se em 12 de janei-ro na diocese chinesa de Tai Yuan um Seminário para o Ano da Fé,

cujo tema central foi A evangeliza-ção da nova era.

Dom Meng Ningyou, Bispo co-adjutor da Diocese, presidiu as reu-niões e fez uma conferência na qual estimulou os ouvintes a “acelerar o seu caminho de evangelização, a fim de difundir o Evangelho de Cris-to em toda a China” — informa a agência Fides. Outros sacerdotes presentes abordaram temas como Significado da evangelização na vida cotidiana, Objetivos da evangelização hoje, e O melhor método de evangeli-zação na vida diária.

Ordem dos Frades Menores reelege seu Superior Geral

Reunidos no seu 200º Capítulo Geral, 88 membros da Ordem dos Frades Menores Conventuais ree-legeram, em 29 de janeiro, seu atu-al Ministro Geral, Frei Marco Tasca, para um novo mandato de seis anos.

Logo após o escrutínio, repi-caram os sinos da Basílica de São Francisco de Assis e todos os frades se dirigiram em procissão ao túmulo do Santo fundador, diante do qual Frei Tasca fez sua Profissão de Fé, seguida do juramento de dedicar-se com todas as suas forças a fazer ob-servar as Regras e as Constituições, e a procurar sempre melhorar a vi-da religiosa da Ordem. “Rezo ao Se-nhor e a São Francisco, que nos de-em a graça de sermos testemunhas da beleza e da esperança”, declarou o 119º sucessor de São Francisco.

Nascido em 1957 na cidade italia-na de Sant’Angelo di Piove, o Minis-tro Geral recém reeleito recebeu o hábito franciscano em 1968 e a or-denação sacerdotal em 1983.

Irmã Benigna: importante passo rumo aos altares

Com uma Missa celebrada pe-lo Arcebispo Metropolitano, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, a Ar-quidiocese de Belo Horizonte en-cerrou no dia 26 de janeiro a fase

diocesana do processo de beatifica-ção da Irmã Benigna Vítima de Je-sus, freira da Congregação das Ir-mãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade.

Mulher humilde e muito simples, mas de grande Fé, ela dedicou sua vida ao serviço de Deus, prestando assistência aos pobres, doentes e so-fredores durante 46 anos: de 1935, quando fez seus primeiros votos, até 1981, quando o Senhor a chamou para dar-lhe no Céu a recompen-sa. Notícias, testemunhos e informa-ções atualizadas sobre a irmã Benig-na estão disponíveis no site www.ir-mabenigna.org.br.

Relíquias de São João Bosco percorrem a Grã-Bretanha

Entre os dias 3 e 14 de janeiro, uma imagem jacente de São João Bosco contendo relíquias do fun-dador dos Salesianos percorreu di-versas cidades da Grã-Bretanha. A peregrinação começou pela Cate-dral de Santo André, em Glasgow, Escócia, onde mais de 1.800 fiéis, entre os quais o Arcebispo Metro-politano, Cardeal Philip Tartaglia, se reuniram para homenagear o chamado “Santo dos Jovens”. Nos dias subsequentes, foram os fiéis de Bolton, Carfin, Liverpool, Bir-mingham, Cardiff e Londres que ti-veram a oportunidade de elevar a Deus suas preces diante das precio-sas relíquias.

Rio de Janeiro acolhe 23ª Edição do Curso dos Bispos

Gaudium Press — Mais de cem Bispos de todo o Brasil participa-

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ram da 23ª Edição do Curso dos Bispos, iniciado na segunda-feira, dia 4 de fevereiro, no Rio de Ja-neiro.

Promovido pela Arquidioce-se do Rio de Janeiro há 23 anos, o tradicional encontro foi realizado no Centro de Estudos e Formação do Sumaré, e teve por tema princi-pal os Cinquenta anos após o Con-cílio Vaticano II - Liturgia, Missões e Leigos.

“A Arquidiocese do Rio tem uma tradição, que vem desde a época do Cardeal Eugênio Sales, de proporcionar no período de fé-rias do início do ano um encontro para Bispos, onde eles participam de conferências, recebem orienta-ções, podem partilhar a vida e des-frutar de períodos de convivência, especialmente durante as visitas a diversos pontos da cidade. Per-cebemos que, cada vez mais, esse evento tem sido procurado e apre-ciado”, declarou o Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta.

Nevada inédita na Guatemala

A neve facilmente desperta senti-mentos de admiração e alegria, so-bretudo nas regiões onde ela não é comum. Podemos, portanto, imagi-nar a reação dos guatemaltecos ao verem os pontos mais altos do seu território tropical amanhecerem co-bertos por um alvo e gélido manto na manhã do dia 25 de janeiro.

“É uma maravilha nunca vista aqui!” — declarou o prefeito de Ix-chiguán a El Periódico. Homens e mu-lheres, crianças e adultos, todos se re-gozijavam. Alguns modelavam bone-cos de neve enquanto contemplavam

os cumes dos vulcões de Fuego, Taju-mulco e Acatenango, particularmente favorecidos por essa inesperada visita.

Falece um dos fundadores da “EWTN”

ACI/EWTN — A cadeia católica mundial de televisão EWTN (Eter-nal World Television Network) infor-mou que no dia 15 de fevereiro fale-ceu, aos 83 anos de idade, o diácono permanente William R. Steltemeier, um dos fundadores do canal da Ma-dre Angélica.

O Presidente da EWTN, Michael P. Warsaw, expressou num comuni-cado que “enquanto choramos sua morte, nos consola seu exemplo de fé e estamos confiantes que ele já escu-tou essas palavras do Evangelho de São Marcos: ‘Obraste bem meu servo fiel... entra no gozo de teu Senhor’”.

Warsaw ressaltou que, aparte a Madre Angélica, ao longo da histó-ria do canal “não há ninguém que tenha estado mais estreitamente de-dicado à missão da EWTN como o Diácono Bill Steltemeier”.

O inédito sobre os Evangelhos

Os Evangelhos de todos os domingos e solenidades do ci-clo litúrgico comentados por Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP. Já estão disponíveis os dois volumes do Ano C:

Vol. V: Domingos do Advento, Natal, Quaresma, Páscoa e Solenidades do Senhor que ocorrem no Tempo Comum

Vol. VI: Domingos do Tempo Comum

Os dois volumes por R$ 59,45, com gastos de envio incluídos

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Lugares históricos cristãos do Japão podem ser declarados “Patrimônio da Humanidade”

A s cidades de Hiroshima e Nagasaki tornaram-se triste-mente famosas por terem sido vítimas das duas bombas

nucleares que marcaram o fim da Segunda Guerra Mundial. Muito menos conhecido é, entretanto, o fato de serem elas, na época, centros de um pujante apostolado católico, cujas origens remontam a uma das mais duras perseguições religio-sas da História.

Em 22 de janeiro, os prefeitos dessas duas cidades apre-sentaram ao Ministro da Cultura do Japão, Hakubun Shimo-mura, uma lista de 13 lugares históricos da presença cristã no país para ser encaminhada à UNESCO junto com o pedido de que eles sejam declarados “Patrimônio da Humanidade”. Entre esses lugares se destaca a catedral de Oura, em Naga-saki, construída em 1864 por dois missionários franceses, em homenagem a São Paulo Miki e seus 25 companheiros, cruci-ficados em 1597.

Ela tem uma história comovedora. Pouco após a sua inau-guração, um grupo de habitantes do vilarejo de Urakami apresentou-se ao Pe. Petitjean — um dos missionários que a construíram — pedindo autorização para entrar no edifício a fim de “poder saudar a Virgem Maria”. Com surpresa e ale-gria, o missionário descobriu que eles eram Kakure Kirishi-tans, ou seja, descendentes dos primeiros cristãos japoneses. Forçados a viver na clandestinidade para não renegar a Fé, dezenas de milhares de católicos perseveraram nessas duras condições durante quase três séculos, sem terem sequer um sacerdote para lhes administrar os Sacramentos. Ao ser infor-mado desse edificante fato, o Papa Pio IX o qualificou de “o milagre do Oriente”.

Antiga catedral de Nagasaki, destruída pelo bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial

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Um templo digno para Deus!

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históriA PArA CriAnçAs... ou Adultos Cheios de Fé

No primeiro banco, sentada ao lado de seu padrinho, destaca-se Gabriela, toda vestida de branco e radiante de alegria. Com o mesmo ardor com o qual colaborou na consecução do sacrário, também se esmerou ela em santificar sua alma.

— Ah, meu caro Sr. Augusto, hoje recebi uma má notícia! Nos-so principal benfeitor escreveu-me anunciando que não poderá colabo-rar com a soma prometida!

— Não é possível, Pe. Silvio! Is-so complica muitíssimo a finalização das obras do novo templo! Como fa-remos para arrecadar a quantia ne-cessária?

— Só vejo uma solução: percor-rer as aldeias vizinhas pedindo aos nossos paroquianos doação de tudo o que precisamos: pedras, tinta, di-nheiro para pagar os vitrais...

— Sim, Pe. Silvio. Conheço esta boa gente e não duvido de que da-rão tudo quanto puderem, de acor-do com suas possibilidades.

— O que mais sinto, porém, é a demora em oferecer um templo dig-no para Deus!

Sentada num canto do escritó-rio de seu pai, a pequena Gabriela ocupava-se em recortar bonecas de papel, sem prestar muita atenção na conversa que ele mantinha com o pároco. Entretanto, quando co-meçou a entender do que se trata-va, soltou logo a tesoura que segu-rava nas mãos permanecendo imó-

vel e pensativa... Um templo digno para Deus!

Gabriela tinha apenas sete anos. Estava se preparando para a Primei-ra Comunhão e sonhava com rece-ber Jesus no novo templo que esta-va sendo construído para substituir a antiga matriz, já quase reduzida a ruínas.

No dia seguinte, sua governanta levou-a a passear pelos campos vi-zinhos, como fazia todas as tardes. E, enquanto brincava perto do rio, a menina descobriu em um recanto certas pedras de um tom róseo mui-to bonito. Logo que as viu, lembrou--se do Pe. Silvio. Não tinha dito o bondoso sacerdote que precisava de pedras para a nova igreja? E aquelas eram tão lindas que certamente se-riam do agrado de Jesus!

Decidiu, então, levá-las uma a uma para casa. E assim o fez duran-te vários dias, embora lhe custasse bastante ter de carregar aquele pe-so considerável para suas forças in-fantis.

A governanta estranhava aquela atitude e lhe perguntava por que fa-zia isso. Gabriela, contudo, respon-dia:

— É um segredo!Algumas semanas depois, a me-

nina viu o Pe. Silvio visitar seu pai mais uma vez. Ouviu-o, então, con-tar-lhe que já lograra juntar qua-se tudo o que faltava para finalizar a igreja. O bom pároco só se lamen-tava de não ter conseguido ainda o suficiente para pagar o tabernáculo. Havia pedido ao Dr. Gilberto e es-te lhe dissera não ser possível arcar com a despesa no momento.

Gabriela ficou de boca aberta! Como era possível que a seu padri-nho, o homem mais rico da cidade, lhe faltasse dinheiro para algo tão importante? Talvez estivesse pas-sando por uma situação difícil e não queria contar a ninguém...

Correu até o quarto, quebrou seu cofrinho e veio depositar nas mãos do sacerdote todas as moedas que ti-nha. Em seguida, tomando um ar so-lene, proclamou:

— Pe. Silvio, isto é para ajudar a construir o sacrário. E tenho algo ainda melhor...

Sem dar tempo para qualquer resposta, saiu correndo de novo e logo voltou cambaleante, carregan-do uma bela pedra rósea nas mãos.

Juliana Montanari

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Ainda ofegando pelo esforço, excla-mou:

— Tenho mais onze, cada qual mais bonita. Creio que elas vão agradar muito a Jesus!

O Pe. Silvio ficou comovido e, ao despedir-se da família, pensava na melhor forma de usar as doze pe-ças de quartzo rosa encontradas pe-la menina. Não eram pedras precio-sas, mas, bem trabalhadas e polidas, poderiam compor uma estupenda moldura para o sacrário. Sr. Augus-to saiu para acompanhá-lo até a ca-sa paroquial e Gabriela ficou sozi-nha em casa com sua governanta.

Minutos depois tocou a campai-nha. Era o Dr. Gilberto que decidiu entrar brevemente para cumprimen-tar a afilhada.

— Boa tarde, Gabriela! Vejo-te encantadora e bem comportada, co-mo sempre. Conta-me o que tens feito nestes dias, minha pequena.

— Estou juntando pedras para a construção da igreja! Venha vê-las. São bem grandes e de uma cor es-pecial!

Tomando-o pela mão, a menina conduziu o padrinho até o local on-de as guardava com todo cuidado.

— São muito lindas! Como fizes-te para consegui-las?

— Achei-as junto ao rio. Em se-gredo fui trazendo uma de cada vez ao voltar do passeio. E também es-tou colaborando na coleta que o Pe. Silvio está fazendo para terminar o sacrário. Quero que ele esteja belo e reluzente no dia da minha Primei-ra Comunhão!

Dr. Gilberto permaneceu alguns instantes em silêncio, lembrando-se de sua negativa ao Pe. Silvio. Dissera--lhe não dispor de dinheiro por ora, mas a realidade não era essa... Acos-tumado a mandar, ficara muito ofen-dido pelo fato não lhe terem consul-tado sobre o desenho do sacrário. Com o fino bom gosto que possuía e que todos elogiavam, teria sugeri-do adorná-lo com uma orla de belas pedras... como aquelas, por exemplo!

— Queres vender-me tuas pe-dras, Gabriela?

A pequena fitou o padrinho e, com os olhos brilhantes de entusias-mo, respondeu-lhe:

— Jamais! Já as ofereci ao padre. E como o senhor está passando por dificuldades, dei a ele também todas as moedas do meu cofrinho.

Corado de vergonha, o Dr. Gil-berto abriu sua carteira, assinou um cheque, sem preencher a quantia, e colocou-o nas mãozinhas de Gabrie-la, dizendo-lhe:

— Guarda isto com muito cui-dado e entrega-o nas mãos do pá-roco. Diz-lhe que é para fazer um sacrário maravilhoso para acolher Jesus no dia de tua Primeira Co-munhão.

E para não ser traído pela emo-ção, despediu-se rapidamente, deixando a menina com o che-que nas mãos. Ela ficou sem sa-ber muito bem o que tinha acon-tecido, mas disposta a encaminhar com todo cuidado aquele valioso presente.

Passados poucos meses, a paró-quia se encontra em festa: os sinos repicam e a multidão se comprime para assistir à solene dedicação da nova igreja. O povo se extasia ante os sólidos muros de pedra, a impo-nência das torres e a fulgurante po-licromia dos vitrais. Bem no centro do altar-mor, inspirando a piedade e o fervor dos fiéis, reluz um taberná-culo de ouro emoldurado por mag-níficas pedras róseas, no qual, ao término da cerimônia, o Bispo de-positará pela primeira vez as Sagra-das Espécies.

No primeiro banco, sentada ao lado de seu padrinho, destaca-se Gabriela, toda vestida de branco e radiante de alegria, pois, naquele mesmo dia, seu Jesus adorado pene-trará por primeira vez em seu cora-ção. Com o mesmo ardor com que colaborou de modo tão eficaz na consecução do rico sacrário, tam-bém se esmerou ela, ao longo deste tempo, em santificar sua alma, a fim de agradar a Nosso Senhor. Não se-rá, portanto, apenas num inerte ta-bernáculo de metal que Jesus Eu-carístico estabelecerá sua morada, mas, sobretudo, em sua alma ino-cente e generosa, um verdadeiro templo digno para Deus! ²

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Quando a pequena Gabriela percebeu do que se tratava, soltou a tesoura e ficou pensativa...

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Os santOs de cada dia ___________________________ MarçOno fuzilado em Cortázar, México, por exercer seu ministério.

11. São Domingos Câm, presbítero e mártir (†1859). Após exercer clan-destinamente durante muitos anos o ministério sacerdotal no Vietnã, foi decapitado em Hung Yên por ordem do imperador Tu Ðuc.

12. Beata Fina de São Geminia-no, virgem (†1253). Morreu aos quinze anos em São Geminiano, Itália, após suportar com admirá-vel paciência os sofrimentos de-correntes de uma enfermidade contraída na infância.

13. Beata Francisca Tréhet, virgem e mártir (†1794). Religiosa da Congregação da Caridade, gui-lhotinada em Ernée durante a Revolução Francesa.

14. Santa Paulina de Fulda, religio-sa (†1107). Após ter se enviuva-do por segunda vez, decidiu abra-çar a vida religiosa e fundou na Turíngia, Alemanha, o mosteiro

de Paulinzelle.

15. Beato Artêmides Zatti, reli-gioso (†1951). Irmão coadjutor salesiano que dedicou sua vida a cuidar dos enfermos num hos-pital da Patagônia, Argentina.

16. Beato João Sordi, Bispo e mártir (†1181). Religioso bene-ditino, desterrado pelo impera-dor Frederico Barba-Roxa por apoiar o Papa Alexandre III contra o antipapa Vítor IV. Após ter governado a diocese de Mântua, Itália, foi nomeado Bispo de Vicenza, onde foi as-sassinado por um sicário.

17. V Domingo da Quaresma.São Patrício, Bispo (†461).Santa Gertrudes, abadessa

(†659). De origem nobre, fez os

a ser mal visto pela corte. Foi preso, torturado e decapitado, em Seul.

8. São João de Deus, religioso (†1550).

Santo Estêvão de Obazine, abade (†1159). Primeiro abade do mosteiro de Obazine, Fran-ça. Uniu à Ordem Cisterciense os três mosteiros por ele fundados.

9. Santa Francisca Romana, religio-sa (†1440).

São Bruno Bonifácio de Quer-furt, Bispo e mártir (†1009). Ca-pelão da corte do imperador Oton III, fez-se monge camaldu-lense, tomando o nome de Boni-fácio. Nomeado posteriormen-te Bispo de Querfurt pelo Papa João X, foi trucidado por idóla-tras durante uma missão na Mo-rávia Oriental.

10. IV Domingo da Quaresma.Beato Elias do Socorro Neves

del Castillo, presbítero e már-tir (†1928). Sacerdote agostinia-

1. Beata Joana Maria Bonomo, aba-dessa (†1670). Muito favorecida por visões místicas, recebeu du-rante um êxtase os estigmas da Paixão de Cristo. Foi abadessa do mosteiro beneditino de Bassa-no, Itália.

2. Santa Ângela da Cruz Guerrero González, virgem (†1932). Funda-dora das Irmãs da Companhia da Cruz, em Sevilha, Espanha, não permitia para si mesma nenhum privilégio sem reservá-lo também para os pobres, aos quais servia e costumava chamar de seus patrões.

3. III Domingo da Quaresma.Beato Jacobino de Canepacci,

religioso (†1508). Irmão leigo carmelita do mosteiro de Ver-celli, Itália.

4. São Casimiro (†1484).Beato Humberto de Saboia,

monge (†1188). Constrangido a abandonar o claustro para se ocupar dos assuntos públicos, lo-go retornou à vida monásti-ca com maior empenho.

5. São Virgílio de Arles, Bis-po (†cerca de 618). Rece-beu em sua diocese San-to Agostinho da Cantuária e os monges enviados por São Gregório Magno para evangelizar a Inglaterra.

6. São Juliano, Bispo (†690). Reuniu três Concílios em Toledo, Espanha. Expôs em seus escritos a verdadeira doutrina, dando mostras de caridade e zelo pelas almas.

7. Santas Perpétua e Felicida-de, mártires (†203).

São João Batista Nam Chong-sam, mártir (†1866). Camareiro real, converteu--se ao Cristianismo, passando Santa Gertrudes, por Miguel Cabrera

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Março 2013 · Arautos do Evangelho      49

Os santOs de cada dia ___________________________ MarçO

28. São José Sebastião Pelczar, Bis-po (†1924). Fundador da Con-gregação das Escravas do Sagra-do Coração de Jesus, foi Bispo de Przemyśl (Polônia) e mestre exímio de vida espiritual.

29. Sexta-Feira Santa.São Ludolfo, Bispo e már-

tir (†1250). Cônego premonstra-tense, eleito Bispo de Ratzeburg, Alemanha. Foi preso por defen-der a liberdade da Igreja e mor-reu devido aos maus tratos rece-bido no cárcere.

30. Sábado Santo.São João Clímaco, abade

(†649). Autor do famoso livro Es-cada do Paraíso, escrito no mos-teiro do Monte Sinai, no qual re-presenta o progresso espiritu-al como uma escada de trinta de-graus para chegar a Deus.

31. Domingo da Páscoa da Ressur-reição do Senhor.

Beato Boaventura de For-li, presbítero (†1491). Sacerdote servita que, com sua pregação em diversas regiões italianas, moveu o povo à penitência. Foi Vigário--Geral de sua Ordem.

sentimento de sua esposa, reco-lheu-se em um monte onde passou o resto da vida em oração e con-templação. É o padroeiro da Suíça.

22. Santa Leia, viúva (†cerca de 383). Dama romana cujas virtu-des foram elogiadas por São Je-rônimo.

23. São Turíbio de Mogrovejo, Bis-po (†1606).

Beato Metódio Domin-gos Trčka, presbítero e mártir (†1959). Sacerdote redentorista, encarcerado numa cela úmida da prisão de Leopoldov, Eslováquia, onde morreu de pneumonia.

24. Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor.

Santa Catarina da Suécia, vir-gem (†1381). Filha de Santa Brí-gida, casou-se com um nobre sueco e ambos decidiram conser-var a virgindade. Ingressou aos 44 anos no mosteiro de Vadstena, Suécia, do qual foi abadessa.

25. Anunciação do Senhor (Soleni-dade transferida para 8 de abril).

São Dimas (†séc. I). O bom ladrão, que na cruz reconheceu a Nosso Senhor e mereceu ouvir: “Hoje estarás comigo no Paraí-so” (Lc 23, 43).

26. Beata Madalena Catarina Mora-no, virgem (†1908). Religiosa sa-lesiana que recebeu o hábito das mãos de sua fundadora. Erigiu na Sicília, Itália, inúmeras casas e es-colas dedicadas à catequese.

27. Beata Panacea de Muzzi, vir-gem e mártir (†1383). Jovem pas-tora de Quarona, Itália, que aos 15 anos, enquanto rezava, foi as-sassinada por sua madrasta cujos maus tratos vinha sofrendo com paciência.

votos no mosteiro de Nivelle, Bél-gica, onde viveu entre jejuns e vi-gílias, destacando-se como assídua leitora das Sagradas Escrituras.

18. São Cirilo de Jerusalém, Bispo e Doutor da Igreja (†cerca de 386).

São Bráulio, Bispo (†651). Discípulo e amigo de Santo Isi-doro de Sevilha, nomeado Bis-po de Saragoça, Espanha. Lutou contra a heresia ariana que ainda persistia naquela região.

19. São José, esposo da Bem-Aven-turada Virgem Maria, Padroeiro da Igreja Universal.

Beato Marcelo Callo, mártir (†1945). Jovem leigo francês pre-so durante a II Guerra Mundial no campo de concentração Gü-sen II, em Mauthausen, Áustria, onde morreu vítima das priva-ções e maus tratos.

20. São Martinho de Braga, Bispo (†cerca de 579). Bispo de Braga, Portugal, que converteu da here-sia ariana os suevos de sua dioce-se. Enriqueceu a Igreja com seus escritos.

21. São Nicolau de Flüe, eremita (†1487). Aos 50 anos, com o con-

Santa Ângela da Cruz São José Sebastião Pelcza

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Restituição e despretensão

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50      Arautos do Evangelho · Março 2013

Sua singular beleza é obra de mãos humanas, mas são as miríades de luzes sobrenaturais, dons de Deus, que a tornam verdadeiramente uma maravilha.

ruto do preciosíssimo San-gue de Nosso Senhor Je-sus Cristo, emana dos te-souros da Cristandade um

brilho sobrenatural que os distingue dos monumentos e obras de civiliza-ções pagãs, pois, acima dos valores ar-tísticos, nota-se neles uma bênção pe-la qual remetem a um plano superior, metafísico, e deste ao divino. Como dizia Dante, as obras de arte dos ho-mens são “netas de Deus”.1

Destacam-se nessa categoria as catedrais medievais, erigidas no tempo em que, segundo a feliz ex-pressão de Leão XIII, “a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as institui-ções, os costumes dos povos”.2 No conjunto dessas magníficas constru-ções, brilha com especial esplendor a de Reims, erigida no século XIII em substituição ao templo carolín-gio destruído por um incêndio.

Concebida como um hino de gló-ria ao Criador, ela é adornada por 2.303 estátuas e enquadrada por duas torres que se elevam a 81 me-tros de altura, parecendo querer se destacar da Terra e alçar voo em di-reção ao Céu.

Até 1825, ano em que foi coroa-do Carlos X, aí se realizavam as ce-

rimônias de sagração dos monarcas da Filha Primogênita da Igreja. Era crença popular que o rei tinha a fa-culdade de curar os doentes de es-crofulose, mal comum naquele tem-po. Por isso, à saída do solene ato li-túrgico, aqueles infelizes se apro-ximavam do soberano recém-coro-ado e este se detinha diante de ca-da um, dizendo: “Le roi te touche, Dieu te guérit — O rei te toca, Deus te cura”. Bela fórmula que revela a consciência de ser o homem apenas um instrumento nas mãos do Rei dos reis e Senhor dos senhores.

Este estado de espírito despre-tensioso do Rei Cristianíssimo re-flete-se também na própria simbolo-gia da catedral que, pelo seu élan as-cendente, convida todos a se repor-tarem continuamente ao Criador. As suas altivas torres recordam-nos que toda a nossa existência deve es-tar ordenada em função da eterni-dade. Sua singular beleza é obra de mãos humanas, mas são as miría-des de luzes sobrenaturais, dons de Deus, que a tornam uma verdadei-ra maravilha.

No monumental pórtico de en-trada está representada a mais gran-diosa e a mais humilde das criaturas: Maria Santíssima. Receptáculo de

todas as graças e eleita pelo Pai, so-bre Ela pousou o Espírito Santo pa-ra gerar em seu claustro virginal o Esperado das nações, Nosso Senhor Jesus Cristo. Contudo, ao receber o entusiástico elogio de Santa Isabel, proclamou Ela sua pequenez e resti-tuiu ao Altíssimo o inapreciável dom recebido: “A minha alma engrandece o Senhor, e exulta meu espírito em Deus meu salvador, pois Ele olhou para o nada de sua serva e desde agora as gerações me proclamarão bem-aventurada” (Lc 1, 46-48).

Se atribuirmos a nós mesmos a glória de eventuais êxitos, jamais go-zaremos da felicidade do Reino Ce-leste. Seguindo, porém, os passos da despretensiosa Soberana da Res-tituição, alcançaremos as alegrias próprias àqueles que, por terem re-conhecido o seu nada, são procla-mados bem-aventurados e cantam eternamente nos Céus a glória de Deus.

Eis uma das mais belas lições transmitidas pela magnífica Cate-dral de Reims. ²

1 ALIGHIERI, Dante. Divina Comédia. Inferno, Canto XI, v.105.

2 LEÃO XIII. Immortale Dei, n.28.

Letícia Gonçalves de Sousa

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Março 2013 · Arautos do Evangelho      51

Catedral de Reims (França)

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irgem das Lágrimas, olhai com maternal bondade a dor do mundo. Enxugai as

lágrimas dos sofredores, dos esquecidos, dos desesperados, das vítimas de qualquer violên-cia. Obtende para todos lágrimas de contrição

e de vida nova, que abram os corações ao dom regenerador do amor de Deus. Obtende para todos lágrimas de alegria, depois de verem a profunda ternura do vosso Coração.(Beato João Paulo II, Homilia de 6/11/1994)

“Nossa Senhora das Dores” - Paróquia de São Lourenço Mártir,

Sevilha (Espanha)