No limiar do universo aranha - o espetacular homem aranha #07
Aranha
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Porque é que as moscas comem à nossa mesa?
Esta história passou-se há muito, muito tempo, quando os homens ainda não tinham fogo e viviam nas trevas, comiam carne crua e enrolavam-se nas peles dos animais para se protegerem do frio.
Então, o rei do mundo ofereceu um saco cheio de moedas de ouro a quem fosse capaz de roubar um pedaço de fogo ao abismo do inferno. Muitos tentaram, nenhum conseguiu, e o rei ficou muito desiludido. Decidiu, então, alargar a sua oferta a todas as criaturas vivas, e não apenas aos homens. Mais ainda: aquele que trouxesse o fogo teria também o direito de se sentar e comer na mesa real até ao fim dos tempos.
Era uma grande recompensa. Por isso, homens e animais lançaram-se ao abismo do inferno, mas nenhum regressou.A aranha, sem dizer palavra a ninguém, pôs-se a tecer um fio. Trabalhou três dias e três noites. Depois, prendeu bem a ponta e desceu ao abismo.
Precisou de sete horas para chegar ao fundo, onde apanhou um pedacinho de fogo. A subida foi mais lenta: durou dez horas.
Pousou o fogo entre duas pedras, esticou as patas e adormeceu. Era tal o cansaço que dormiu toda a noite e nem o Sol a acordou.
Quando chegou a terra, mal se segurava nas patas. Decidiu, então, descansar um pouco.Ainda a noite ia a meio, não havia pressa.
Uma mosca que passava sentiu o cheiro a fumo e viu o pedaço de fogo entre as pedras. Sem fazer barulho, para não acordar a aranha, levou o fogo com ela e apresentou-se no palácio real.
Foi um triunfo! Todos gritaram de alegria:
“Viva aquela que nos trouxe o fogo!”
“Temos fogo!” “Temos calor!” “Viva o rei!”
O rei entregou à mosca um documento com selo real, onde dizia que ela e os seus descendentes podiam instalar-se à vontade na mesa do rei ou noutra qualquer.
Já a tarde ia alta quando a aranha acordou. Procurou o fogo, mas ele já não estava lá.O ruído de festa guiou-a até ao palácio. O rei jantava, satisfeito, como todos os outros. Velas e tochas acesas iluminavam a sala. Sobre a mesa, a mosca regalava-se com a boa comida.
Furiosa, a aranha acusou a mosca de a ter roubado, mas ninguém a quis ouvir. Pois todos tinham visto a mosca chegar ao castelo com o fogo entre as patas…
- Fui eu! Fui eu! A mosca roubou-me o fogo! – gritou a aranha até se cansar.
Por fim calou-se. Até hoje.
Desde então, porém detesta as moscas e vinga- -se espalhando por todo o lado finas teias onde ela se enreda e encontra a morte.
Por sua vez, a mosca continua a gozar o direito de se instalar à mesa das pessoas.
Ainda hoje é assim, não é?
…Fim…
Escola EB1 do Outeiro ArrifanaAdaptado do Livro “100 Histórias do Mundo” de Álvaro Magalhães
Trabalho inserido no Projecto da Fundação Ilídio Pinto