Aquisição da escrita e da leitura PSICOLINGUÍSTICA Prof.ª Gláucia Lobo.
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Aquisição da escrita e da leitura
PSICOLINGUÍSTICAProf.ª Gláucia Lobo
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Aquisição da escrita e da leitura
Teorias e fatores intervenientes;
Base principal: estudos e considerações de Mary Kato (1987).
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A natureza da escritaNossa escrita se desenvolveu da seguinte forma: -Pictograma: desenho que expressa idéias visualmente;
-Ideograma: signo da idéia; desenho estilizado, reduzido em linhas mínimas;
-Silabário: escrita sem vogais, como a escrita consonantal do fenícios, de 24 símbolos;
-Alfabeto, descoberto pelos gregos em X a.C.; o alfabeto grego serve de base para todos os outros alfabetos.
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A natureza da escrita
Retomada: características e diferenças entre a fala e a escrita;
Em comum: utilizam o mesmo sistema lingüístico e podem expressar as mesmas intenções comunicativas;
Diferente: condições de produção, tais como:
-A dependência contextual;
-O grau de planejamento;
-A submissão consciente às regras convencionalizadas para a escrita (uso da norma culta);
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A natureza da escrita
A fala é sempre dependente do contexto, em maior ou menor grau; a escrita o é menos;
Quanto mais formal a escrita, mais é planejada, menos dependente do contexto e mais dependente do texto;
A escrita é um produto permanente;
O Brasil é um país de primazia oral, ou seja, a oralidade é muito forte e marca a própria escrita.
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O que é ler e escrever? Em muitos aspectos, ler e escrever
assemelham-se a ouvir e falar, pois também são atividades de comunicação;
Um ato de comunicação verbal, oral ou escrito, pode ser caracterizado:
- Por envolver uma relação cooperativa entre emissor e receptor;
- Por transmitir intenções e conteúdos;
- Por ter uma forma adequada à sua função.
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O que é ler e escrever?Quando lemos, utilizamos múltiplas estratégias, pois há processos de várias naturezas envolvidos na leitura;
Esses processos dependem de várias condições (ou fatores):
-O grau de maturidade do leitor (incluindo o objetivo da leitura);
-O nível de complexidade do texto (incluindo o grau do conhecimento prévio sobre o assunto);
-O estilo individual do leitor;
-O gênero do texto.
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Alguns processos e modelos de leitura
Veremos alguns modelos de leitura;
Leitura: processo mediado pela compreensão oral;
O leitor produz, em resposta ao texto, sons da fala (leitura oral) ou movimentos internos substitutivos (leitura silenciosa);
Essa resposta-estímulo é associada ao significado (estímulo visual > resposta-estímulo auditivo > significado).
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O modelo de análise pela síntese
Análise: partimos do maior (todo) para o menor (partes);
Síntese: partimos do menor para o maior, fazendo a síntese (por exemplo, quando alfabetizamos partindo da sílaba);
Lemos fazendo o uso de hipóteses e antecipando itens ,“adivinhando” as partes do texto;
Através do todo chegamos às partes.
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Processo ascendente (bottom-up) parte do texto para o leitor;
Elementos do texto fazem avançar a leitura, ajudam a compreender os outros elementos desconhecidos ou difíceis;
É um processo linear, sintético e indutivo;
Processo descendente (top-down) parte do leitor para o texto;
O leitor faz baixar o seu conhecimento de mundo para entender o texto, fazendo adivinhações e predições sobre o que está lendo;
É uma processo não-linear, analítico e dedutivo.
Processos ascendente e descendente
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O modelo das múltiplas hipóteses
Aqui há várias hipóteses e o leitor escolhe a mais adequada;
Em cada nível de leitura, construímos nossas hipóteses, sínteses e confirmação (ou não) das hipóteses;
Ou então apresentamos hipóteses alternativas.
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O modelo construtivista
A leitura é construída com base na visão de mundo e a experiência do leitor;
Dizemos, por exemplo, “isso faz sentido”, isto é, “isso faz sentido para nós”;
Segundo os construtivistas, nossa visão de mundo vem organizada em estruturas cognitivas;
Esquemas seriam as teorias que temos sobre as coisas e fatos do mundo;
Muitas vezes deixamos de perceber algum defeito no texto que lemos, justamente porque pressupomos que o texto está conforme o que esperamos dele.
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O modelo reconstrutor A leitura seria um processo de recuperação das
intenções do autor pelo leitor;
Seria um ato de reconstrução dos processos de produção do texto;
Leitura como um ato de interação entre autor e leitor, um ato de cooperação, em que ambos se esforçam para que o texto faça sentido, ou melhor, cumpra sua função;
A pergunta que o leitor se faria aqui seria “por que o escritor está dizendo aquilo que o texto está dizendo?”.
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Processos metacognitivos As estratégias conscientes ou metacognitivas caracterizam
o comportamento do leitor maduro;
Levam ao comportamento planejado e deliberado das atividades que lhe possibilitam a compreensão do texto;
Obviamente, há níveis de maturidade;
Aprendiz: preocupação em “decifrar” as letras que em conseguir interpretar o texto;
Leitores maduros: lêem por blocos e não palavra por palavra;
Uma leitura rápida e fluente caracteriza um processo inconsciente de leitura;
Quando o leitor pára ou muda de ritmo, retoma pontos do texto.
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Interessante!
De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as lrteas de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma ttaol bçguana que vcoê pdoe anida ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.
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O que fazemos quando escrevemos?
Mary Kato (1987) coloca para o escritor restrições de várias ordens:
- Do contexto da tarefa;- Da nossa memória;- Das regras prescritivas;- Além das regras de funcionalidade.
Por isso, o escritor atua, na etapa de tradução como um “conciliador de decisões”.
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O que fazemos quando escrevemos?
Três etapas;
Comparando, então, a fala e a escrita, diz-se que:
-Plano da organização: permite o recurso de apontamentos;
-No plano da tradução: além das regras funcionais, exige (muitas vezes) submissão às regras prescritivas convencionalizadas para a escrita;
-No plano da revisão: permite uma correção não-imediata das falhas detectadas.
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Visões processuais em escrituras
Ato de escrever envolve:
-Uma meta (3 tipos: ideacional, textual e interpessoal);
-Um plano.
É um ato de resolução de problemas;
Há níveis de planejamento, que têm a ver com as metas colocadas.
Escrever não é uma simples questão de inspiração;
Envolve uma fase de pré-escritura e outra de pós-escritura, além da escrita em si.
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Fatores envolvidos na aquisição da
escrita
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A questão da necessidade de formação
didática e pedagógica do professor
Componentes para uma boa formação didática na área da linguagem:
- Conhecimento da linguagem escrita;
- Conhecimento dos processos envolvidos na leitura e na escrita;
- Conhecimento da natureza da aprendizagem tanto dos processos quanto da própria linguagem escrita.
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Algumas teorias da aquisição e da
aprendizagem da escrita Tese inatista de Chomsky: o ser humano nasce
com a capacidade lingüística;
Tese funcionalista de Halliday: foco no papel dos fatores culturais funcionais no desenvolvimento da linguagem;
Tese construtivista de Piaget: o conhecimento é construído pela criança;
Tese associacionista de Skinner: é antiinatista e anticonstrutivista; baseada em estímulos e respostas.
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A fala egocêntricaA criança monologa (fala sozinha) na fase inicial da aquisição da língua;
Vigotsky: a fala desde o início é uma atividade social, global e multifuncional, desenvolvendo-se gradualmente em fala egocêntrica e fala comunicativa;
Piaget: a fala egocêntrica é depois substituída pela fala socializada;
Escrita: primeiro a produção de gêneros expressivos ou emotivos; depois os gêneros transacionais;
Ex.: redações das crianças que, inicialmente, escrevem em 1ª pessoa.
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O papel da comunicação e da interação social
Estudos sobre os estímulos que os adultos dão às crianças na fala, realizando correção de ordem funcional – correção para a criança ser entendida e não dominar a norma culta;
Intuito principal: enfatizar a eficácia comunicativa do texto – melhor legibilidade para o leitor;
Escola: correções enfatizam a boa formação estrutural e a obediência às regras prescritivas;
Nem sempre a eficácia comunicativa do texto é enfatizada.
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O papel do jogo e da história
A aprendizagem da escrita envolve a capacidade simbólica;
Kato: falta de estimulação para o jogo e a brincadeira, antes da alfabetização – fator dificultador para a aquisição da escrita;
Paralelo entre a capacidade lúdica e a liberdade de criação e interpretação na história ficcional;
Através da ficção a criança desenvolve a capacidade de descentração (afastar-se do centro – ela mesma) e começa a perceber o outro (início - a narração é privilegiada).
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O papel da consciência
A aquisição linguística atravessa um período inconsciente, em que a fala é um co-produto da ação, e outro, em que a fala se torna um objeto de cognição para a criança;
O despertar da consciência é um processo gradativo que começa a ocorrer a partir dos três anos de idade;
Na escrita, a consciência também aparece desde o nível da aquisição ortográfica até o da escritura do adulto, quando já há um controle metacognitivo das ações.
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Por que é difícil aprender a ler e a
escrever?
Mary Kato (1987);
Análise de diversos fatores.
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Os antecedentes sociais e dialetais
Podem facilitar ou dificultar o aprendizado escolar;
A criança usa a estratégia fonológica para escrever, mas não para ler – escreve leiti, mas lê leite; escreve nóis foi, mas lê nós fomos;
Kato propõe:
- Iniciação à leitura: textos autênticos, em língua padrão;
- Iniciação à escrita: tolerância no período inicial com relação aos desvios de ordem dialetal.
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A experiência individual com a linguagem
Experiência anterior à escola;
Crianças que ouviram histórias, desenharam, viram os pais lendo e escrevendo, têm mais vantagens para iniciar sua alfabetização, tendo já desenvolvido hipóteses sobre as funções da escrita;
Fator relevante: consciência da escrita que a criança traz para a escola;
Livros didáticos: supõem uma familiaridade com outros tipos de linguagem, conversação espontânea e exigem algum grau de descentração do contexto imediato;
Assim, à dificuldade de dominar um novo registro (escrito), acrescenta-se a de compreender novos gêneros.
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A transição entre gêneros de texto
Kato: introduzir a escrita e a leitura, começando do gênero escrito mais próximo do oral:
- História em quadrinhos: altera-se o tipo de registro e passa-se do real para o ficcional (desenho e diálogo);
- Peça teatral: perde-se o desenho, mas o diálogo é mantido;
- História com gravuras de fundo: perde-se a maior parte do desenho e aparece o narrador onisciente;
- História sem gravuras: perdem-se os referentes concretos (o desenho) e o contexto espacial.
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O múltiplo controle das atividades
Kato propõe que a escola ajude a criança a planejar suas atividades em níveis macroestruturais, trabalhando:
- Coerência;
- Compreensão;
- Descentração;
- Execução por conta do aluno;
- Geração e organização de idéias.
Primeiramente, estimulando a fluência, não correção;
Depois, a revisão pela própria criança.
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A relativa autonomia do texto escrito
Na escrita, o redator está sozinho e atua também como leitor do próprio texto;
Isso representa uma grande dificuldade para o aprendiz, pois interpretar o próprio texto é mais difícil que interpretar o dos outros, por causa dessa mudança de papéis;
Escrever é uma atividade solitária e o texto escrito é autônomo, pois o autor o escreveu, “está lá”;
Ler também é uma atividade solitária, já que a pessoa tenta, normalmente sozinha, interpretar algo que outra pessoa escreveu.
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As expectativas e metas do professor
Mary Kato – dois tipos de professor:
Professor dificultador: escrita é autônoma em relação à fala; é a transcrição da fala culta. Ele não aproveita a experiência oral que o aluno traz para a escola e ignora a fala de aprendiz, fazendo com que os antecedentes dialetais realmente dificultem sua aprendizagem;
Professor facilitador: a fala e a escrita são parcialmente isomórficas. Faz uso da experiência prévia do aluno com a linguagem oral, tendo uma visão clara do que esperar no início e ao final do processo de aprendizagem.
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Graciliano Ramos sobre a arte de escrever
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.
Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."