Aqui há gato!

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�� | 1 | Aqui há gato! Representações felinas na literatura portuguesa de recepção infantil Ana Margarida Ramos* Sara Reis da Silva** | 1 | Os gatos só conhecem um dono: a liberdade. José Jorge Letria e André Letria, In Letras & Letrias. Lisboa, Dom Quixote. RESUMO O presente estudo centra-se num conjunto de textos portugueses de preferencial recepção infantil nos quais a presença de gatos e de outros felinos se afigura muito expressiva. Pretende-se proceder ao levantamento e ao estudo das características e dos modelos das representações literárias destes animais. A reflexão que a seguir se apresenta insere-se num projecto mais vasto, em desenvolvimento pelas autoras 1 , que pretende proceder ao levantamento e ao estudo das representações dos gatos e outros felinos no universo da literatura de recepção infantil publicada em Portugal. Partindo da constatação da persistência no tratamento da espécie, assim como da simbologia que lhe é inerente, é objectivo deste estudo a criação de um conjunto de tipologias que permitam retratar o percurso dos gatos nos textos destinados preferencialmente ao público infantil, o seu funcionamento narrativo e poético e as expectativas que activa junto dos potenciais leitores. Assim, desde personagem com activa intervenção narrativa (em fábulas, contos de animais e peças de teatro) a mote poético, associado simbolicamente à liberdade, à deambulação nocturna ou à ludicidade, por exemplo, o gato tornou-se num motivo * Universidade de Aveiro ** IEC/Universidade do Minho 1 Com esta temática, as autoras apresentaram uma comunicação em formato de poster, no III Congresso Internacional de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil do Oeste Paulista – Presidente Prudente / SP – Brasil em 28/08 – 01/09/2006 (em anexo).

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Aqui há gato!Representações felinas na literatura portuguesa

de recepção infantil

Ana Margarida Ramos*Sara Reis da Silva**

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Os gatos só conhecem um dono: a liberdade.José Jorge Letria e André Letria,

In Letras & Letrias. Lisboa, Dom Quixote.

RESUMO

O presente estudo centra-se num conjunto de textos portugueses de preferencial recepção infantil

nos quais a presença de gatos e de outros felinos se afigura muito expressiva. Pretende-se proceder

ao levantamento e ao estudo das características e dos modelos das representações literárias destes

animais.

A reflexão que a seguir se apresenta insere-se num projecto mais vasto, em desenvolvimento pelas autoras1, que pretende proceder ao levantamento e ao estudo das representações dos gatos e outros felinos no universo da literatura de recepção infantil publicada em Portugal.

Partindo da constatação da persistência no tratamento da espécie, assim como da simbologia que lhe é inerente, é objectivo deste estudo a criação de um conjunto de tipologias que permitam retratar o percurso dos gatos nos textos destinados preferencialmente ao público infantil, o seu funcionamento narrativo e poético e as expectativas que activa junto dos potenciais leitores.

Assim, desde personagem com activa intervenção narrativa (em fábulas, contos de animais e peças de teatro) a mote poético, associado simbolicamente à liberdade, à deambulação nocturna ou à ludicidade, por exemplo, o gato tornou-se num motivo

* Universidade de Aveiro** IEC/Universidade do Minho1 Com esta temática, as autoras apresentaram uma comunicação em formato de poster, no III Congresso Internacional de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil do Oeste Paulista – Presidente Prudente / SP – Brasil em 28/08 – 01/09/2006 (em anexo).

literário de referência para vários autores, dos quais se destacam os casos mais ou menos paradigmáticos de Luísa Ducla Soares, Manuel António Pina2, José Jorge Letria3 ou Álvaro Magalhães. Trata-se de uma recorrência que pode, em alguns casos, ser associada às semelhanças existentes entre a espécie em questão e os destinatários preferenciais, o movimento constante, o gosto pela surpresa, o carácter incontrolável e pouco “domável”, entre outras. A particularidade destes animais resulta igualmente da sua capacidade de conjugação de oposições quase insanáveis, como a acção e inacção; a meiguice e a rebeldia, o seu carácter doméstico e selvagem. De acordo com Chevalier e Gheerbrant, este é um animal cujo significado simbólico é bastante complexo, podendo surgir associado a conotações positivas e negativas, de acordo com a aparência e a cultura: «o simbolismo do gato é muito heterogéneo, oscilando entre as tendências benéficas e maléficas; o que se pode explicar simplesmente pela atitude ao mesmo tempo doce e dissimulada do animal»4.

Para este breve ensaio, por óbvias necessidades de limitação do corpus, foram seleccionadas as seguintes obras publicadas em 2005:

a) O gato e a rainha só, de Carla Maia de Almeida (Caminho, 2005) [ilustrações de Júlio Vanzeler];b) Versos com Gatos, de José Jorge Letria (Livros Horizonte, 2005) [ilustrações de Octavia Mónaco];c) Bernardino, de Manuela Bacelar (Afrontamento, 2005);d) O Gato Karl, de Francisco Duarte Mangas (Caminho, 2005) [ilustrações de Manuela Bacelar];e) O Gato e o Rato, de Luísa Ducla Soares (Civilização, 2005) [ilustrações de Sónia Cântara] (reedição);f) Alguns poemas de O Brincador, de Álvaro Magalhães (ASA, 2005) [ilustrações de José de Guimarães];

a. A gata branca;b. O gato de louça.

Livro de estreia, no universo da escrita de potencial recepção infantil, da jornalista Carla Maia de Almeida, O gato e a rainha só constitui uma narrativa de extensão

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2 Numa entrevista, concedida em 2005, a Sarah Adamapoulos, e em resposta à questão «Os gatos escapam à poesia?», afirma Manuel António Pina: «Os gatos são indivíduos. Os nossos destinos cruzaram-se, e eles fazem parte da minha vida e do meu quotidiano, tal como eu faço parte do deles. Não sei se os gatos são mais literários do que os outros bichos… Repare, eu não gosto de gatos. Eu gosto deste gato concreto. Mas sim, talvez os gatos sejam literários. Estatisticamente são-no. Há muita literatura sobre gatos. Conhecer é amar. Conhecer uma mulher é amá-la. Conhecer um gato também. Só se amam indivíduos.» (Pina, 2005). E também é de gatos e do lugar que estes ocupam na sua vida que fala Manuel António Pina, no texto «A Casa», uma narrativa na primeira pessoa, na qual o autor de Perguntem aos vossos gatos e aos vossos cães… (2002) evoca os momentos de encontro com vários felinos. 3 A propósito deste autor, veja-se a enorme bibliografia de sua autoria – nem toda destinada preferencialmente ao público infantil – que versa, de forma mais ou menos indirecta, sobre esta espécie em particular. A título meramente exemplificativo, atente-se nas seguintes obras: Mouschi, o gato de Anne Frank (Asa, 2002), Aqui Há Gato! (Garrido Artes Gráficas, 2002), Versos com Gatos (Livros Horizonte, 2005), entre outras.4 Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, Dicionário dos Símbolos, Lisboa, Teorema, 1994, p. 347.

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considerável, de fundo maravilhoso5, protagonizada, conforme anuncia o seu título, por um felino que testemunha alguns dos modelos mais recorrentes de representação literária da espécie. O gato, personagem central deste conto que, à primeira vista, é uma figura anónima6, após a situação trágica de destruição do seu local de nascimento e de vida – uma casa abandonada e mais especificamente o seu sótão –, enceta uma viagem7 individual em busca de um novo espaço físico, um percurso de aventuras que, em certa medida, representa também uma tentativa de descoberta da felicidade perdida. O desejo de solidão – «Às vezes também precisava de se sentir um Gato Só.» (Almeida, 2005: 61) – e a dificuldade de aceitação dos humanos, como sugere, por exemplo, a percepção que destes evidencia logo na abertura da narrativa, parecem confirmar o carácter autónomo e livre deste felino antropomorfizado e dotado de uma complexa densidade psicológica, de que o narrador omnisciente não deixa de dar conta. É no mesmo sentido, aliás, que interpretamos aspectos como uma certa tendência para a gulodice8, como deixa transparecer o expressivo registo sensorial, por exemplo, em «uma casa onde as almofadas cheiravam a canela e as gavetas a bolo de mel e passas» (idem, ibidem: 13), a tendência para a sedução – «depois de ter tentado meter conversa miada com as poucas gatas que encontrou…» (idem, ibidem: 28) –, o espírito cauteloso ou avisado, mesmo em momentos de aventura – «Cautelosamente, o gato foi avançando como lhe era possível…» (idem, ibidem: 34), ou, ainda, a curiosidade9.

No contacto com a Rainha Só, o gato revela, porém, uma certa ousadia, conversando destemidamente e contrariando alguns dos seus pontos de vista. É no diálogo entre estas duas personagens que são avançados alguns dos aspectos estereotipados relativamente aos felinos: «És um gato. Pertences à família dos felinos, és um mamífero e alimentas-te de carne – ratos, sobretudo. Dormes muito, vês bem de noite e tens uns bigodes super-sensíveis. Como todos os gatos, não gostas de água, nem quente, nem morna. Se tiveres sorte, podes viver até aos 15 anos…» (idem, ibidem: 38). O retrato que o gato traça de si próprio é, todavia, parcialmente distinto, o que acaba por indiciar a singularidade desta figura ficcionalmente recriada: «Essa parte de dormir muito, por exemplo, pode ser verdade para os outros gatos, mas no meu caso não se aplica. E também não como ratos, em princípio. Até porque depois não podia falar com eles. E isso seria aborrecido.» (idem, ibidem: 38). Distinguem, ainda, este felino a sua sensibilidade musical10, um pouco

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5 A este propósito, e no contexto ideotemático deste estudo, importa referir a presença de uma outra figura que parece inscrever-se no universo felino. Trata-se de um «caprileão», bicho avistado pelo gato, ao qual se refere do seguinte modo: «Tem bom aspecto: juba macia, unhas afiadas, escamas brilhantes…» (Almeida, 2005: 62). A Rainha Só também diz desse ser híbrido: «Às vezes a cauda fica demasiado curta, nesses caprileões. Depois não conseguem nadar até muito longe.» (idem, ibidem: 62).6 Apenas no desfecho da narrativa ficamos a saber que o seu nome é Radar.7 Note-se que o tópico da viagem é, neste conto, fundamental. Se, num primeiro momento, para o gato, ela é a forma de reencontrar a felicidade, no segundo caso, desta vez já vivida pelo gato e pela Rainha Só, funciona também como meio de aproximação familiar e de realização de um sonho.8 Cf. «… o gato repetiu três vezes, lambendo os bigodes no fim.» (idem, ibidem: 41).9 Cf. «O gato era tão guloso como curioso…» (idem, ibidem: 46).10 Cf. «Como uma caixinha de música que se reconhece antes de abrir. Um quarto tocava como uma harpa, outro como um tambor, outro como um piano; e cada quarto guardava a sua música e nenhuma era igual à anterior. Quando chegaram à última porta, o gato sentiu uma espécie de orquestra na cabeça e pensou que talvez fosse o quarto dela, um lugar onde todas as músicas se encontrassem» (idem, 49-50).

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à semelhança do herói Bernardino do álbum narrativo homónimo da autoria de Manuela Bacelar (de que falaremos adiante), e a capacidade de ler e de escrever11.

Importa referir, ainda, que a caracterização física do gato - «pêlo amarelo e cor de laranja» (idem, ibidem: 53) –, sendo apenas registada verbalmente num momento já avançado da diegese, é introduzida pela componente pictórica. A especificidade da técnica de ilustração habitual de Júlio Vanzeler12, com aproximações à fotografia ou mesmo à imagem fílmica, trabalhada com recurso às novas tecnologias, sofre, no caso desta obra, algumas adaptações, na opção pela pintura a aguarela. Mantêm-se, como marcas habituais do ilustrador, o grande impacto das ilustrações, pelo brilho que as caracteriza, pela sugestão do insólito das proporções, pelos jogos de luz que promovem e a perspectiva (privilégio do grande plano) adoptada, assim como o facto de facilitarem uma identificação imediata por parte dos leitores infantis dos ambientes recriados, trabalhados ao pormenor. Verifica-se uma considerável centralidade da figura humana como eixo à volta do qual toda a imagem pode ser lida e que sugere uma aproximação com a criação de marionetas, actividade à qual o ilustrador continua ligado. Em várias imagens, o leitor identifica-se com o gato, assumindo o mesmo ponto de vista em relação à cena retratada. Vejam-se, neste sentido, as imagens em que as personagens, principalmente o gato, surgem representadas de costas, sublinhando a importância do que está a ser observado. Este posicionamento revela-se tão significativo que é retomado na ilustração das guardas do livro. Em alguns casos, é ainda patente a adição de muitos elementos visuais e gráficos de grande impacto decorativo, construindo ambientes barrocos, como é o caso da imagem da capa, no que se refere à composição da figura da rainha, da decoração do telescópio ou das molduras dos retratos de família.

Versos com Gatos, de José Jorge Letria, pode ser entendido como um livro de homenagem aos gatos. Esta espécie, como é salientado desde o título, serve de mote a todas as quadras que compõem a obra, espaço por onde desfilam gatos de todas as raças e nacionalidades, assim como os seus principais atributos. O destaque do sujeito poético centra-se na associação do gato à brincadeira e actividade frequentes, à velocidade e elegância dos seus movimentos, de que resulta uma graça natural da espécie. Além disso, os felinos em causa são ainda apresentados como matreiros, exímios caçadores e também como companhia permanente do poeta que nutre por eles profunda admiração: «fico a ler nos gatos / o que me falta aprender» (Letria, 2005) e «Gatos meus amigos / misteriosos e soberanos / que tendo-me como dono / são afinal os meus amos» (idem), numa clara inversão das posições habituais entre animal e homem. A associação de elementos muito díspares, como é o caso da bravura e da ternura, confere aos gatos uma personalidade complexa, quase humana, o que motiva a sua comparação com as crianças: «Guardo os gatos neste livro / que não aprendeu a miar / mas que assim os celebra / como crianças a brincar» (idem).

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11 Cf. «Quando a máquina parou, o gato leu o que estava escrito…» (idem, ibidem: 51).12 Ilustrador de obras como Sua Majestade o Príncipe, de Bruno Santos (Dom Quixote, 2004), Sua Senhoria, a Fada, de Bruno Santos (Dom Quixote, 2005), Os Meus Amigos, de António Torrado (ASA, 1990 – 3ª edição), Sonhos de Natal, de António Mota (Gailivro, 2003), Bela, Belíssima, a Joaninha, de Bruno Santos e Júlio Vanzeler (Gailivro, 2005), entre muitos outros exemplos.

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Mas a linha de força da construção poética da figura do gato é a sua associação à liberdade, tanto em termos abstractos como concretos, através da relação do animal à Revolução de 74. Metáforas da liberdade reconquistada, os gatos parecem encarnar as figuras dos capitães de Abril, apresentando-se aos homens (e às crianças) como animais dóceis, mas insubmissos. As ilustrações de Octavia Mónaco reforçam a centralidade ocupada pela figura felina, dando conta, num registo poético e também estético, da versatilidade da espécie, do imaginário que evoca e do simbolismo a que está associada. Leiam-se, neste sentido, as evocações de cariz exótico e/ou oriental, as sugestões de movimento, dinamismo e acção, às vezes com conotações com a elegância felina, patentes na recriação da espécie e na selecção de uma técnica ilustrativa específica, com recurso à pintura e caracterizada pela ausência do sinal contorno.

Bernardino, a mais recente publicação de destinatário preferencial infantil de Manuela Bacelar, centra-se num pequeno leão13 e desenvolve-se num universo povoado de animais nos quais sobressaem sempre traços da expressividade humana, facto que acaba por aproximar esta narrativa da fábula ou do conto de animais.

Com poucas palavras, que se conjugam expressivamente com ilustrações fortes, expandidas por páginas duplas, em Bernardino conta-se a história de um leão com físico de leão, mas com alma de artista. Contrariando, de certo modo, a figura arquetipal do rei da selva, animal habitualmente ligado ao poder, à soberba e à ferocidade14, Bernardino revela-se incapaz de comer «gazelas e outros animais como o pai» (Bacelar, 2005). Demora-se, antes, a contemplar o pôr-do-sol e a brincar com «os outros bichos da floresta» (idem), factos que parecem testemunhar a sua ligação solar e a sua alegria de viver (Chevalier e Gheerbrant, 1994: 401, 402), mas que motivam a rejeição por parte do seu «grande e forte» (Bacelar, 2005) pai. A fuga constitui, para o pequeno leão, a forma de superação da tristeza e é quando desperta do sono que uma ave o leva a descobrir uma possibilidade de ser feliz ou apenas a sua razão para viver: a música.

Assim, Bernardino revela-se uma narrativa sobre a complexidade da vida, constituindo um apelo à tolerância perante a diferença e a individualidade da personalidade humana. A intriga, de final aberto, sugere continuação e inacabamento, mas aponta na direcção de um final eufórico, relacionado com a possibilidade (pelo menos com o desejo / sonho) de um reencontro entre pai e filho. A diferença que distingue e individualiza o protagonista é veiculada pelas sugestões de vegetarianismo e pela contemplação da Natureza. A sensibilidade inusitada do pequeno leão está ainda patente no gosto evidenciado pelas artes, em particular pela música, acabando esta por guiar o pequeno herói pelo mundo e, ainda, por fazê-lo acreditar que, através dela, seria capaz de «um dia (…) abrir uma porta que o pai trazia a tapar o coração» (Bacelar, 2005), metáfora que sinaliza a incompreensão paterna.

Do ponto de vista da ilustração, observa-se a complementaridade das guardas do livro, que indiciam a passagem do tempo, pela representação de uma mesma cena em

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13 O rei da selva é, igualmente, uma figura relevante em Tobias e o Leão (Porto Editora, 1990) também de Manuela Bacelar.14 Vejam-se, por exemplo, fábulas como O Leão e o Rato de La Fontaine ou O Leão e o Mosquito de Henrique O’Neill.

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dois momentos temporais diferentes. Também são sublinhadas a solidão do protagonista e a presença constante da música na sua vida. O gosto pela música permite, pois, a Bernardino iludir ou minimizar a sua desilusão em relação à figura paterna. A música revela poderes mágicos e curativos muito fortes, contribuindo para o crescimento da auto-estima do pequeno leão.

Mas a sugestão da passagem do tempo também é fornecida pela ilustração que complementa e aprofunda a mensagem textual. Assim, a autora torna claro e perfeitamente visível, aos olhos dos seus leitores, o crescimento do herói ao longo da narrativa, sobretudo nas ilustrações que dão conta das deambulações de Bernardino, representando-o repetidamente em dois conjuntos sucessivos de ilustrações de dupla página, sugerindo o movimento e a deslocação através do corte parcial do rosto do herói no limite da folha, apenas retomado na ilustração seguinte. São também fornecidas, pela componente pictórica, as relações de perspectiva existentes entre as diferentes personagens, particularmente relevantes no início da narração quando, pela presença do pai de Bernardino, percebemos que o herói é uma cria de leão. A identificação dos leitores com um protagonista infantil surge reforçada na relação de amizade que mantém com os animais que o rodeiam, perfeitamente ilustrada na imagem em que abraça a girafa e é rodeado por borboletas e pássaros multicolores. A expressividade visual do álbum está, ainda, patente na antítese recriada entre a zanga do pai e a tristeza do filho e a sua fuga. Destaque-se que é apenas na representação desse momento em particular que a autora opta pela não utilização da dupla página como unidade de sentido. A colocação de pai e filho frente a frente em duas páginas sucessivas acentua a fragilidade do pequeno leão e a incompreensão de que é vítima. A representação visual da música resulta particularmente bem conseguida pelo recurso a linhas onduladas e coloridas que preenchem o fundo de várias páginas, recriando uma atmosfera especial em torno do protagonista. Ainda no que toca à ilustração, destaque-se a utilização de uma linguagem visual e de uma técnica muito particular da autora, assente no recurso ao desenho e à pintura, a grandes manchas aguadas e a múltiplas variações cromáticas com funcionalidade semântica. Saliente-se a dualidade entre a preocupação com a reconstituição fiel (ou, pelo menos, próxima) da paisagem africana – sobretudo nas imagens do pôr-do-sol, cenário da intriga e habitat da espécie, e uma tendência desrealizante, promotora do maravilhoso, que coloca em cena, cruzando com o protagonista, crianças, animais, circos e cidades.

Do ponto de vista textual, observa-se uma singular condensação verbal, resultado do recurso a elipses frequentes e da presença assídua do diálogo. A narração centra-se, por isso, nos elementos verdadeiramente cruciais da acção, como a introdução, com a apresentação do protagonista, a veiculação do problema e a dinâmica de perturbação daí resultante. O elemento estabilizador, com óbvias conotações mágico-simbólicas, ocorre com a intervenção da música que, pouco a pouco, inverte o desequilíbrio entretanto gerado. Contudo, e apesar do reconhecimento de que Bernardino é alvo – «tocava cada vez melhor e todos gostavam de o ouvir» –, o herói mantém o sonho do reencontro e aceitação familiares.

Assim, a figura felina protagonista do álbum narrativo Bernardino testemunha a capacidade de autonomização e o desejo de liberdade tão característicos desta espécie, ao mesmo tempo que serve a ficcionalização de tópicos como a tolerância face à diferença,

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a busca de felicidade, a autodescoberta e a crença na arte enquanto meio de realização pessoal, perspectivando inovadora e criativamente um olhar mais atento e mais humano face aos que nos rodeiam.

O motivo da liberdade, ligada à irreverência e à rebeldia, é também esboçado por Francisco Duarte Mangas em O Gato Karl. Neste caso, a liberdade felina encontra eco na possibilidade partilhada de sonhar, facto a que, desde o início, o narrador se refere enquanto gosto comum. Além disso, o narrador e o protagonista felino dividem ideias, comungam de valores, espalham palavras nascidas da reflexão e das várias discussões em cenário nocturno, contagiando com os seus ideais outros gatos. Karl, como o nome próprio denuncia e como, aliás, a dado momento, a componente pictórica também sinaliza15, adquire contornos de figura-espelho de Karl Marx, sendo pintado como um verdadeiro líder e preconizando, assim, valores como a igualdade, a fraternidade, a tolerância ou a aceitação da diferença: «Um dia, diz Karl, as andorinhas vão pousar sem desassossego no sono dos gatos.» (Mangas, 2005). O herói personificado da narrativa de Francisco Duarte Mangas, ainda que pertencendo à raça felina e, portanto, instintivamente antagónica aos pássaros e aos ratos, distingue-se dos seus semelhantes pela sua visão simultaneamente irreverente, anti-dogmática, pacifista e profundamente fraterna: «Num dos seus encontros debaixo da magnólia, disse aos companheiros que era preciso banir a caça aos ratos: “Esse ofício é uma tortura moral que os antigos nos impuseram.” (…) Karl depressa descobriu um modo de aquietar os descrentes do sonho. Tarefa difícil, já vos conto, um acordo de paz com os ratos – inimigos históricos.» (idem). Subversivos, agindo até um pouco contra natura, Karl e os seus seguidores vêem, porém, o seu sonho, por fim, colocado em voz alta através da revolta, reprimido ou silenciado. O desfecho da narrativa, retomando implicitamente as ideias de intervenção/passividade e social/individual, estabelece o contraponto entre o gato Karl do passado, aquele que amava a noite e, envolto num singular humanismo, se unia aos outros gatos, e um gato comum que todas as manhãs apenas vive «enrolado no sono, a colher o sol manso atravessa a janela.» (idem). Tópicos como a independência, a rebeldia, a liberdade, o gosto pela noite e o carácter meditativo16, habitualmente conotados com a raça felina, servem de alicerce para a construção do protagonista que, metaforica e, até, simbolicamente, pode ser identificado com o filósofo e revolucionário alemão Karl Marx. Esta proximidade pode ser confirmada se tivermos ainda em conta o facto de a personagem se ocupar da escrita de um «caderninho cor de fogo» (idem), no qual regista uma «palavra de ordem» (idem) e expressões como «bairro operário» e «patrão», “indícios” que nos permitem pensar, por exemplo, no Manifesto do Partido Comunista (1948) ou até nos manifestos da Associação Internacional dos Trabalhadores, em cuja origem esteve implicado em 1864.

O conto O Gato e o Rato, de Luísa Ducla Soares, publicado, pela primeira vez, em 1973, e reeditado em 2005, num discurso vivo e muito próximo dos leitores mais

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15 Veja-se a décima quarta sequência visual, na qual figuram quatro gatos transportando, cada um, partes do apelido Marx, segmentos apenas perceptíveis quando unidas. Na segunda parte desta sequência, surge a representação de um conjunto de livros, sendo legível, na lombada de um deles, o nome Engels, figura com a qual Marx travou amizade em Paris. 16 «Os gatos só não pensam quando brincam» (Mangas, 2005).

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jovens, um registo habitual na autora, coloca face a face, como desvenda o título, dois animais natural e habitualmente irreconciliáveis. Desviando-se do modelo de convivência conflituosa normalmente associado a estes animais – por exemplo, “jogar ao gato e ao rato” implica uma incompatibilidade inata17, uma fuga mútua e, até, um percurso de busca e de descoberta –, nesta narrativa, contam-se as aventuras de um «gato novo, muito lustroso, com fita vermelha ao pescoço e um guizo dourado onde estava gravado o seu nome – Felício» (Soares, 2005), um gato umbilicalmente doméstico e aparentemente sem qualquer instinto felino, que pertencia a uma «senhora velha, anafada, muito enfeitada» (idem), e de um rato «avisado», irrequieto e brincalhão, que, em pouco tempo, consegue desestabilizar a vida do seu rival.

Assim, ainda que se evidenciem as diferenças habituais entre as duas personagens centrais – designadamente, e em relação ao gato18, a capacidade de caça, a lascívia (Biedermann, 1994: 173) ou a preguiça19, por exemplo, e no que diz respeito ao rato, a astúcia, a vivacidade, o espírito de descoberta20 e, ainda, em certa medida, a gula21 –, O Gato e o Rato, texto que se aproxima do paradigma do “mundo às avessas”, perpetuado, por exemplo, pelos célebres «Tom e Jerry», constitui uma história, fortemente pautada pelo cómico de situação, que apresenta um felino deprimido, que não consegue capturar o seu adversário, mas que, no final, acaba por ser salvo por este:

«Mergulharam na panelão da sopa. Por sorte não estava a ferver… (….)Felício – glu, glu, glu – engasgava-se com o caldo.

Glu, glu, glu,Não me ajudas tu?Glu, glu, gluNão me ajudas tu?

Quando o viu a afogar-se, o rato assustou-se.– Com que então, os gatos não sabem nadar? – perguntou ele.Felício já não pôde responder porque estava no fundo da panela.

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17 Cf. «nas comunidades agrícolas, o gato sempre foi visto como um animal de trabalho, usado para matar ratos» (Bruce-Mitford, 1996: 9).18 O gato é uma das figuras que ocorre reiteradamente na obra infanto-juvenil assinada por Luísa Ducla Soares. A título meramente exemplificativo e apenas para citar alguns, veja-se O Casamento da Gata (Terramar, 1997), A Gata Tareca e Outros Poemas levados da Breca (Teorema, 1990) ou os poemas «O Testamento do Gato», presente em A Cavalo no Tempo (Civilização, 2003) ou «Que gato!», «Bichinho Gato» e «História de Gatos», os três incluídos em Arca de Noé (Livros Horizonte, 1999). 19 Cf., por exemplo, com «Certa tarde estava o bichano refastelado a descansar de não fazer nada (…)». (Soares, 2005: s/p).20 Este aspecto transparece, em certa medida, da fábula O Rato do Campo e o Rato da Cidade, de La Fontaine. Veja-se, ainda, a propósito do espírito aventureiro, a narrativa em verso, também de Luísa Ducla Soares, O Ratinho Marinheiro (Editorial Estúdios Cor, 1973).21 Cf. com «O rato pôs-se logo a nadar entre folhas de couve e rodelas de chouriço. Aproveitou até para dar umas trincadelas.» (Soares, 2005: s/p). Relativamente a este traço, lembramos, ainda, a reescrita do conto tradicional A História da Carochinha que Luísa Ducla Soares expressivamente concretiza na narrativa em verso A Carochinha e o João Ratão (Civilização, 2002).

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Aflito o rato empurrou-o com as suas pequenas patas.– Ui, que não tenho força! Que pesado és!Mas lá conseguiu arrastá-lo até à borda, ajudando-o a sair.O gato pingado, reconhecido, abraçou o rato pingão.Escorrendo sopa, atravessaram os dois a cozinha, o corredor, e foram deitar-se lado a lado, na almofada de veludo. Daí por diante ficaram amigos.» (Soares, 2005).

A presença de quadras rimadas22 e de outros segmentos em que se verificam coincidências sonoras23, bem como o jogo de contrários24 de que participam as duas figuras animais, a adjectivação expressiva, as onomatopeias, o tom coloquial e dialógico ou o próprio desenlace positivo e cómico representam alguns factores de aproximação afectiva e imediata do receptor infantil à obra em apreço.

Neste conto, Luísa Ducla Soares, com uma invulgar capacidade narrativa e um humor contagiante, ficcionaliza, de novo, uma das temáticas estruturantes da sua obra. Trata-se do tópico da harmonia da diferença ou da possibilidade de conciliação de seres diferentes25, que redunda em solidariedade e em amizade. O recurso ao antagonismo de raiz instintiva entre gatos e ratos e a sua desconstrução serve eficazmente a tematização destas linhas.

No poema «A Gata Branca», inserto em O Brincador, de Álvaro Magalhães, surgem associados o passado e a presença da gata, entretanto desaparecida. De alguma forma, a perda do animal, omnipresente durante um momento particularmente significativo, simboliza igualmente o desaparecimento da infância – «o tempo branco que foi meu». Trata-se, contudo, de uma morte que não é total ou que se pode transformar em vida, uma vez que a gata morta é «uma semente adormecida», «sob a terra, no quintal». Observe-se, neste caso, como a selecção vocabular aponta para essa eternidade e renascimento, patentes no conceito de semente (a que se associa a origem de novas vidas) e de adormecida, isto é, pronta a acordar e a regressar à actividade.

A gata como metáfora da infância, ambas simbolicamente brancas, associada também ao movimento e à acção, permite perceber a nostalgia do sujeito poético face às perdas sofridas. De alguma forma, também ele sente que está a desenrolar até ao fim o seu próprio novelo de lã que é a vida e o poema recorta o momento de um olhar retrospectivo, marcado pela saudade e pela sensação da inexorabilidade do tempo.

Como em outros textos do mesmo autor, este poema permite duas leituras distintas e complementares, uma mais linear, a de uma elegia por uma gata querida morta, outra metafórica, a de uma lamentação por um tempo perdido. Trata-se, em ambos os casos, de prolongar no presente afectos e vivências marcantes.

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22 Cf., por exemplo, com a quadra repetida quatro vezes, «Ó gato felício, / anda-me apanhar! / És gato de sala / e não sabes caçar!» (Soares, 2005: s/p).23 Cf., por exemplo, com a referência reiterada à personagem feminina, dona do gato Felício, «senhora velha, anafada, muito enfeitada (…)» (Soares, 2005: s/p).24 O contraste visível na obra em análise redunda num ritmo binário que, como assinala Isabel Vila Maior, precisamente acerca de O Gato e o Rato, possui reminiscências orais e tradicionais e constitui uma das características da obra de Luísa Ducla Soares (Vila Maior, 2005: 208).25 Esta linha ideotemática é também fundamental em obras como Os Ovos Misteriosos (Afrontamento, 1994) ou A Festa de Anos (Civilização, 2004), apenas para citar dois exemplos.

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Já o poema «O gato de louça», igualmente patente na colectânea mencionada, encarna aquilo que, para o sujeito poético, parece ser um verdadeiro paradoxo: a associação de um gato a um objecto – o gato de louça. Nesta contradição, estão patentes as ideias de vida e morte, movimento e inacção, ruído e silêncio… Mas a presença constante do gato na casa transforma o objecto em testemunha silenciosa e cúmplice dos hábitos e dos segredos da família. É por isso que o poeta também lamenta o seu desaparecimento e o esquecimento a que depressa é votado, sobretudo porque se trata de um gato de louça com alma de um gato verdadeiro. Desta feita, o sujeito poético defende que, mesmo os objectos com forma de gato, parecem guardar vestígios da nobreza da espécie, o que lhes permite, em sonhos ou em outras vidas, manter uma actividade felina muito activa: «ninguém sabia, mas quando a noite caía / e toda a gente dormia, / o gato de louça corria, saltava, / fugia, caçava». É evidente a relação que o texto propõe entre o visível e o invisível, o parecer e o ser, a realidade e sonho e, em última instância, entre a morte e a vida. Apelando a um olhar mais atento e mais perscrutante da aparência do mundo envolvente e aceitando a interferência do onírico, o sujeito poético apresenta uma perspectiva da realidade que se aproxima da infantil, não só pelo animismo que a caracteriza, mas também por descobrir a magia e a afectividade que se esconde atrás das aparências.

Em poucas palavras, consideramos que as distintas representações que, ao longo deste breve estudo, procurámos salientar testemunham uma singular persistência da presença de gatos e outros felinos em textos genologicamente diversos que possuem como receptor a criança. Se, em certas obras, gatos ou leões, por exemplo, desempenham um papel diegético determinante, noutras destacam-se pelo seu simbolismo, globalmente identificado com a liberdade ou a independência, a deambulação nocturna, a gulodice e a tendência para a ludicidade. Como se provou, a sua relevância enquanto mote poético resulta mesmo num motivo literário de referência para vários autores, bem como importante factor de captação da atenção do leitor infantil que, em contacto com os animais animizados/personificados, procura simultaneamente rever-se e até senti-lo como um ser passível de pertencer ao seu mundo.

Referências bibliográficas

(2005). «Contacto - Manuel António Pina» in Periférica (entrevista por Sarah Adamopoulos), Nº 13, Primavera de 2005, pp. 46-50.

BIEDERMANN, Hans (1994). Dicionário Ilustrado de Símbolos. São Paulo: Melhoramentos.

BRUCE-MITFORD, Miranda (1996). O Livro Ilustrado dos Signos e Símbolos. Lisboa: Livros e Livros/Selecções do Reader’s Digest.

CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain (1994). Dicionário dos Símbolos. Lisboa: Teorema.

VILA MAIOR, Isabel (2005). «A obra narrativa de Luísa Ducla Soares» in No Branco do Sul as Cores dos Livros (Actas dos Encontros de Literatura para Crianças e Jovens – Beja, 2001 e 2002). Lisboa: Caminho, pp. 205-220.

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Ana Margarida Ramos(Dept. de Línguas e Culturas – Universidade de Aveiro, Portugal)

[email protected]

Sara Reis da Silva(Instituto de Estudos da Criança – Universidade do Minho, Portugal)[email protected]

III Congresso Internacional de Leitura e Literatura Infantil e JIII Congresso Internacional de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil do Oeste Paulista uvenil do Oeste Paulista �� Presidente Prudente/SP Presidente Prudente/SP –– BrasilBrasil28/08 28/08 –– 01/09/200601/09/2006

“Os gatos só conhecem um dono:a liberdade.”

José Jorge Letria e André Letria

“Os gatos só conhecem um dono:a liberdade.”

José Jorge Letria e André Letria

Corpus textual:O gato e a rainha só, de Carla Maia de Almeida (Caminho, 2005) [ilustrações de Júlio Vanzeler]

Versos com Gatos, de José Jorge Letria (Livros Horizonte, 2005) [ilustrações de Octavia Mónaco]Bernardino, de Manuela Bacelar (Afrontamento, 2005)

O Gato Karl, de Francisco Duarte Mangas (Caminho, 2005) [ilustrações de Manuela Bacelar]O Gato e o Rato, de Luísa Ducla Soares (Civilização, 2005) [ilustrações de Sónia Cântara]

“A gata branca” e “O gato de louça” in O Brincador, de Álvaro Magalhães (ASA, 2005) [ilustrações de José de Guimarães]

““Adormecido na eiraAdormecido na eirao gato sonhao gato sonhacom pcom páássaros lentos.ssaros lentos.””

João Pedro MJoão Pedro Mééssedersseder

Persistência da temática felina desde a literatura tradicional aos textos contemporâneos, participando de todos os géneros literários;

Assiduidade do tratamento deste topos nos universos literários de determinados autores (José Jorge Letria; Luísa Ducla Soares; Manuel António Pina; Álvaro Magalhães), constituindo um mote poético de elevada frequência;

Elemento facilitador do reconhecimento imediato por parte do leitor infantil e promotor da sua identificação com as personagens felinas;

Recorrência do simbolismo associado aos gatos, metáforas da ternura, dos afectos, da companhia, mas também da irreverência, da actividade constante, da elegância e, sobretudo, da liberdade;

Consistência narrativa das personagens felinas, heróis e personagens determinantes em textos como O Gato Karl ou Bernardino;

Tratamento visual destacado – desde a capa e o título – aos gatos, que tanto podem surgir isolados como associados a figuras e comportamentos humanos;

Privilégio das formas arredondadas, mais conotadas com a afectividade, e de cores vivas, como o amarelo e o cor de laranja.

Persistência da temática felina desde a literatura tradicional aos textos contemporâneos, participando de todos os géneros literários;

Assiduidade do tratamento deste topos nos universos literários de determinados autores (José Jorge Letria; Luísa Ducla Soares; Manuel António Pina; Álvaro Magalhães), constituindo um mote poético de elevada frequência;

Elemento facilitador do reconhecimento imediato por parte do leitor infantil e promotor da sua identificação com as personagens felinas;

Recorrência do simbolismo associado aos gatos, metáforas da ternura, dos afectos, da companhia, mas também da irreverência, da actividade constante, da elegância e, sobretudo, da liberdade;

Consistência narrativa das personagens felinas, heróis e personagens determinantes em textos como O Gato Karl ou Bernardino;

Tratamento visual destacado – desde a capa e o título – aos gatos, que tanto podem surgir isolados como associados a figuras e comportamentos humanos;

Privilégio das formas arredondadas, mais conotadas com a afectividade, e de cores vivas, como o amarelo e o cor de laranja.

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Curiosidade

Gulodice

Conotaçãonocturna

Diferença Afectividade

Irreverência

Ludicidade

Deambulação

Liberdade

Gatos

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