A_producao_farmacologica_de_si.pdf

7
corpo promovido a categoria de parceiro privilegiado. 8 Jtd~J.m.QJLP-~Ld.fL ,cI?_~_()EP().9.()_.IDLln~()que leva 0 ator a sepreoc~lpaLC:(?I11.s.~Llc:orp().p~r.g_ dm~corP9.Jgla~xistencia. Encontramos em n6s mesmos 0 parceiro complacente e cumplice que faz falta ao nosso laelo. Ao mesmo tempo, Q~locais onele se cuida do corpos80 espagospropfcios para encontros l:JT9yis.6ri~s.~ ~~i~;~;~s:"o~Cie'e possf vefpas'sai' ti'oi:as'agi~ad~'vei's' sen1-rer-- ele se comprometer muito. A paixao pelo corpo modifica sem duvida 0 conteudo tradicional do dualismo, que transformava 0 corpo antes na parte decafda cia condig80 humana. Nessa vertente cia modernidade,()cQrpo_.t ~S~()Ci(ld ().alln1 yalorj!1co ntes tavel,. e.~s.sfl.ac:ln1ira<;}i.QJ~Dq~.,!ps.jfQl()gi~_k. )g2.. ~tC?rn a-I 0 um .1ocaIJeE~111en t(;.habi.t.~y~l•. a ..el~,.<l9:esc~!1tClJ1ciQ~$.~ .11m~_ especie de suplemento de alma (suplemento de sfmbolo). Favorece na ,.. -~.,"',' '- ',' -,' ,- - ". escala do indivfduo uma especie de substituto do outro. Essa preocupagao com a aparencia, essa ostentag30, essa vontacle de bem-estar que faz COlTerou se consumir nao moclificam, contudo, em nada a eliminagao do corpo que reina na sociabiliclade.A __o~.Lllt~~~()_do~<:lrpo permanec_~ ~ encontra seu melhor analista no destino dos iclosos, clos moribundos dos ,. , -"" -...•- ..-.. ,__,.-." _•.•... "_~'" ",.' - .. ,-.,,~-._. _',._ ··_·,-~~.C.-. r'."·~",.~_··.·.".-__ ,"_··"'-'.· .. ·"._'.'._.;. __ .".,C_"'_' .. '.r."_'~'.~'''' ''. _.'~"" ., ,._,.•...:.,_." '.. "._., __ ..__ d~fis.i~Il_te:s.,gu nOll1~~1()qLI~~~cl()~te,mos de~l1yell~e,cer. Um dualismo personalizaclo aclquire de certa forma amplictao, e nao se deve confuneli- 10 com uma "liberag80". 0 homem s6 estara liberado neste caso quando tocIa a preocupaguo com 0 corpo elesaparecer. 2 A PRODUC::AO FARMACOLOG1CA DE 51 A sociedade industrial sa be que, pam sobrevivel; el{( deve tomar todas as medidas que permitmn conter a angl.lstia I" seus efeitos sobre 0 cOll1portamento dos homens. F; lima evolut;ao bastante par{(doxal quando se considem qlle a segllmnr;a material jmnais foi tao grande, qlle 0 homem jmnais teve em sell passado, mesmo proximo, tantas chances objetivas de se alimental' sel71preqlle tem fome, de se reprodllzir sem perder seils filhos I" de se protegeI' contra a doenr;a. Henri Pradal, Le marcluff de l'angoisse [0 mercado da ang/lstia], 1977 8. Na mesma 16gica do corpo niter ego, 0 carpo parceiro torna-se facill11cnte 1I111 carpo adversario, principall11cnte nas atividades fisicas e esportivas raelicais, onele se trata tambem de exercer lIm elominio sobre si (Le Breton 1991, 1995). Em Blade Runner (1968), cle Philip K. Dick, os personagens nao cleixam mais seu humor ao acaso; program am-no de acordo com 0

Transcript of A_producao_farmacologica_de_si.pdf

  • corpo promovido a categoria de parceiro privilegiado.8 Jtd~J.m.QJLP-~Ld.fL,cI?_~_()EP().9.()_.IDLln~()queleva 0 ator a sepreoc~lpaLC:(?I11.s.~Llc:orp().p~r.g_dm~corP9.Jgla~xistencia. Encontramos em n6s mesmos 0 parceirocomplacente e cumplice que faz falta ao nosso laelo. Ao mesmo tempo,Q~locais onele se cuida do corpos80 espagospropfcios para encontrosl:JT9yis.6ri~s.~~~i~;~;~s:"o~Cie'epossf vefpas'sai' ti'oi:as'agi~ad~'vei's' sen1-rer--ele se comprometer muito. A paixao pelo corpo modifica sem duvida 0conteudo tradicional do dualismo, que transformava 0 corpo antes na partedecafda cia condig80 humana. Nessa vertente cia modernidade,()cQrpo_.t~S~()Ci(ld().alln1 yalorj!1co ntes tavel,. e.~s.sfl.ac:ln1ira
  • conteudo e a duraC;aoque escoJhem, sem temer a ambivaJencia de seussentimentos. Assim, Deckard e sua m).llher Iran, um casal esgotado,encetam uma viva discussao decOlTente da ambigiiidade inerente aqualquer empreendimento desse tipo.

    Diante do tecJado, hesitou entre UIll depressor taHimico que acalmariasua raiva e lllll estimulante que 0 enfureceria 0 suficiente para ganhar abriga. ( ... ) Iran observava-o.- Se voce programar alguilla sujeira (... ), farei 0 mesmo. Vou me bloquearna intensidade maxima e servir-lhe uma descompostura da qual vocevai se lembrar.

    preciosos ou se tornar menos competitivo no plano do trabalho ou davida cotidiana. Se a anatomia nao e mais um destino, a afeti yidade,tampouCO~quando um ~astoTe'q;:le-de~TI'ews~fai:lTIacof6g1cos-pr()p"i5esellsservic;os. A chave da relac;ao com 0 mundo reside na vontade que decidesobre a molecula apropriada para retificar um corpo mal ajustaclo,modificando 0 humor. Melhor tra

  • entanto, tais numeros nao sac anodinos; mal se pocIe pensar que essesprocIutos sirvam apenas para encher os armarios de remecIios das famflias.~l em clisso, ,9:_..il_c.Ig~il!i~t[?:g~9.i~!~Q_i2'.::t.l:!e._P_~~()~E~P~$.. uma dlsfunc;ao cerebralleve", mesmo se os exames neurologicos nacIacIetectam e se as crianc;as suspeitas de carregar essa patologia estejam asvezes muito calmas no momento das consultas. As obras sobre esseproblema afirmam que esse comportamento nao e contraditorio e que 0medico nao deve recuar diante da prescric;ao de medicamentos adequacIospara "acalma-la" (Lewontin, Rose e Kamin 1985, p. 223 ss). Abiologiza
  • pr.~~_~:~~ir:~~,~~9~e.,:lt_~9.~~~.p~~s~~l. ~~ll!::.ll0cl
  • Alem dos efeitos buscaclos intencionalmente, perfila-se uma vontaclede libertar-se dos acasos e da ambivalencia clomundo, substituinclo-os paruma vontade percebida como autonoma e soberana. OpiSe-se aoinapreensfvel ciavida modem a 0 apreensfvel do carpo, unico objeto que eurn ponto de apoio para 0 real (Le Breton 1990). Al:~lgg~QC9mQ mllI1do,com aquilo que impJica de turvo, de precaJio, de i!.1JRI~Yi,'>iY~L.~..Gl:mtiq~,

    ~li~\(" decerto provisoriamente, mas ,,0us.llari()tern 0 sentimento de quepossui aIe, ~ _~tern.i~~e..~IiE:l!!~5:1.e.}~e de que esse m~~;l;;;'g~;t~q~l'~'~~~l~~;'~g~~le'i~~t~~te

    IJ

  • acrescentar as curas obtidas a do autismo e a da esquizofrenia. Aocontn'irio dos outros antidepressivos que provocam efeitos colaterais nadadesprezfveis, 0prozac, bem dosado, tem a fama de nao provocar muitos.3Precisao, campo de a
  • pflulas quanta para umjovem caJTegar.umpreservativo", diz um bioeticoamericano. Alguns anos antes, A. Rosenfeld escreve que e

    (. .. ) fiicil imaginar que no futuro as pessoas carreguem eletrodos auto-estimulantes (0 que poderia mesl1lo se tornar modal que as tornariamsexualmerite potentes a qualquer momento, que Illes permitiriam clormirou permanecerem acorcladas de acorclo com sua necessiclade, quediminuiriam seu apetite caso quisessem perder peso, que suprimiriam 0pesar, que Illes dariam coragem quando tivessemmedo ou as acalmariamquando sentissem raiva. (In: Packard 1978, p. 70)

    F'R.rtl u~t,'1)(

    A gestao de si ao modo da tecllne nao e somente 0 fato de recorrer--_._---_ .._-.__ -.._--- ..---"_.-.--~..--,-" .._-_._-_ .._.--, ..." ..,-,~--~- \-.......,.- .._, ..._~,----....m~~c.igi'I~~!1.!~Jt.p_s.L~9L0XJ:!1_~C..Q.lQgj_~"c:li.(l)11~...~lgLc:ljJic..LJJ.g1.~t~0ucla ssinLlosicladesda existencia no cotidiano, revelando-se, tambem, em outraspn1ticas sociais: 0~so co!~:~!~~~_d~s vi~aminas, dosfortificantes, da dieteticaetc.; a J110.~1~lage!Jlga..f9!m~.ciQ:~-Q~]9:;:gil;i$1;~~:JQD.ji;~~.n!;~~g;i~~i~~Iegi~~~_~)iEl!e.~~~l:e.~_.~tc,'cujo sucesso tambem se conhece hoje em clia.Ess~_~PE~~~~~}'~'2_!~1~~~~.~EI.~1!}.!a.!:~~~.9~p~~.du~aocle..si, de modelagem daicI~~1i~Ia.cl~P~~~Q~J- elas testemunham l{min~~gi~~~To~;;~i~~~i;;~divfd~;se desdobra, faz de seu corpo um alter ego e se coloca diante de si comobio engineer ocupado em gerir seu capital flsico ou afetivo, em retificar oserros que ele acredita clescobrir em sua "maquina", em otimizar e explorarseus recursos. Em sua escala, um grande numero de indivfduos posiciona-se como artesao clessa visao desenganada clocorpo e manipula seu humorno tecIado ja considenivel cloorgao de humor complacentemente colocadoa sua disposi~ao. Mas um punhaclo de comprimidos consegue dissolver amorte quimicamente? A fabrica~ao bioqufmica da interioridade que acoplao sujeito e a molecl1la apropriada faz do corpo 0 terminal de umaprograma~ao clohumor, uma forma ineclita clociborgue, isto e, da alianyailTedutfvel do homem e da tecnica incorporada.5

    5. Em sell sonho de uma hUl11anidade bi6nica livre do antigo corpo gra~as a procedimentosinform:iticos e de engenharia genetica (infra, capitulo 7), Hans Moravec nao se esquece deconsiderar a programa~ao do humor. Demora-seprincipalmente na descri~ao das possibilidadesde reduzir 0 limiar do surgimento do tedio para manter um nivel con stante de il11plica~aoe deprazer (Moravec 1992, p. 140).

    3A MANUFATURA DE CRIANc;AS

    Como e possivel que medicos tao zelosos na aprecia~'ao dosriscos fisiol6gicos ou biol6gicos tenhal71tao pouca consciencia

    dos riscos psicossociais vinClilados ao esfacelamento doselementos da progenitura, a ruptura do tempo linear da vida(congelamento prolongado dos gametas e dos embrioes) e apenla das referencias simb6licas que nos lembram que todo

    poder e todo desejo nao sao, a priori, de direito?

    Catherine Labrusse-Riou, "Les procreations artificielles:Undefi pour Ie droit", In: VVAA.Et!llljlle medicale et droits de

    l'homme ["As procria