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731 Currículo Referência de Minas Gerais Apresentação da Área: Ciências da Natureza A ciência está diretamente vinculada à história da humanidade. Desde o princípio da vida humana existem práticas que revelam as inquietudes do homem na busca da solução dos problemas do dia a dia. Estudar Ciências, na escola, possibilita, muitas vezes, a percepção do mundo não como verdade absoluta, mas, sim como processo de investigação, de como as relações se estabelecem, considerando que conhecer é poder olhar sobre a natureza e a vida compreendendo os processos físicos, químicos, biológicos e sociais no avanço tecnológico da humanidade. A área de Ciências da Natureza aborda o conhecimento científico nos aspectos físicos, químicos e biológicos, por meio da investigação da natureza para interpretar de forma crítica e analítica os fenômenos naturais observados, resultantes das relações históricas, sociais e econômicas, visando à formação de sujeitos que atuem como agentes questionadores e transformadores, conscientes de sua responsabilidade frente aos fenômenos naturais. Em Ciências da Natureza, os procedimentos que correspondem aos modos de buscar e organizar conhecimentos são bastante variados: a observação, a experimentação, a comparação, a elaboração de hipóteses e suposições, o debate oral sobre hipóteses, o estabelecimento de relações entre fatos ou fenômenos e ideias por meio da leitura e escrita de textos informativos, a elaboração de roteiros de pesquisa bibliográfica e questões para enquete, a busca de informações em fontes variadas, a organização de informações por meio de desenhos, tabelas, gráficos, esquemas e textos, o confronto entre suposições e entre elas e os dados obtidos por investigação, a elaboração de perguntas e problemas, a proposição para a solução de problemas. Pensando assim, o ensino de Ciências deve promover situações nas quais os alunos possam:

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Currículo Referência de Minas Gerais

Apresentação da Área: Ciências da Natureza

A ciência está diretamente vinculada à história da humanidade. Desde o princípio da vida

humana existem práticas que revelam as inquietudes do homem na busca da solução dos

problemas do dia a dia. Estudar Ciências, na escola, possibilita, muitas vezes, a percepção

do mundo não como verdade absoluta, mas, sim como processo de investigação, de como

as relações se estabelecem, considerando que conhecer é poder olhar sobre a natureza e

a vida compreendendo os processos físicos, químicos, biológicos e sociais no avanço

tecnológico da humanidade.

A área de Ciências da Natureza aborda o conhecimento científico nos aspectos físicos,

químicos e biológicos, por meio da investigação da natureza para interpretar de forma

crítica e analítica os fenômenos naturais observados, resultantes das relações históricas,

sociais e econômicas, visando à formação de sujeitos que atuem como agentes

questionadores e transformadores, conscientes de sua responsabilidade frente aos

fenômenos naturais.

Em Ciências da Natureza, os procedimentos que correspondem aos modos de buscar e

organizar conhecimentos são bastante variados: a observação, a experimentação, a

comparação, a elaboração de hipóteses e suposições, o debate oral sobre hipóteses, o

estabelecimento de relações entre fatos ou fenômenos e ideias por meio da leitura e

escrita de textos informativos, a elaboração de roteiros de pesquisa bibliográfica e

questões para enquete, a busca de informações em fontes variadas, a organização de

informações por meio de desenhos, tabelas, gráficos, esquemas e textos, o confronto

entre suposições e entre elas e os dados obtidos por investigação, a elaboração de

perguntas e problemas, a proposição para a solução de problemas. Pensando assim, o

ensino de Ciências deve promover situações nas quais os alunos possam:

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Figura 8 - Quadro de Situações Problema

Desse modo, por meio de Unidades Temáticas, o processo de ensino-aprendizagem na

área de Ciências da Natureza pode ser desenvolvido dentro de contextos sociais e

culturais, que potencializam o desenvolvimento cognitivo dos estudantes, relacionando

suas experiências, faixa etária, identidades culturais e sociais e os diferentes significados

que a ciência pode elucidar no desenvolvimento integral do ser humano.

Nesse processo, deve-se enfatizar as relações no âmbito da vida, do Universo, do

ambiente e dos equipamentos tecnológicos que poderão melhorar e situar o estudante

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em seu mundo. Esse desenvolvimento é concretizado quando o interesse e a curiosidade

dos estudantes pela natureza, pela tecnologia, pelo local onde vivem e os seres que nele

habitam, ou seja, o fantástico universo em que vivemos, conhecido em sua maioria, pelos

meios de comunicação, despertam a curiosidade dos estudantes, favorecendo o

envolvimento e o clima de interação que precisa haver para o sucesso das atividades.

Em Ciências da Natureza, o desenvolvimento de atitudes e valores envolve muitos

aspectos da vida social, da cultura do sistema produtivo e das relações entre o ser humano

e a natureza.

Componente Curricular: Ciências

Apresentação Do Componente Curricular Ciências

Apresentamos o Currículo Ciências para o Ensino Fundamental com o objetivo de

consolidar as aprendizagens e ampliar as práticas vivenciadas pelos estudantes na

Educação Infantil. Essas experiências educacionais se assentam na base de um Currículo

flexível, capaz de se ajustar à realidade de cada escola, de cada região do Estado. Contudo,

ele incorpora alguns objetos de conhecimento e habilidades que, por sua relevância, são

considerados essenciais, sendo seu ensino obrigatório nas Escolas de Minas Gerais.

No Componente Curricular Ciências, o processo de ensino e aprendizagem pode ser

desenvolvido dentro de contextos sociais e culturalmente relevantes, que potencializam

a aprendizagem significativa. Os temas devem ser flexíveis o suficiente para explorar a

curiosidade e os questionamentos dos estudantes, proporcionando a sistematização dos

diferentes conteúdos e seu desenvolvimento histórico, conforme as características e

necessidades dos estudantes e do meio em que estão inseridos, nas diferentes etapas da

Educação Básica.

Ao longo do Ensino Fundamental, o Componente Curricular Ciências tem um

compromisso com o desenvolvimento do letramento científico, que envolve a capacidade

de compreender e interpretar o mundo (natural, social e tecnológico), com base nos

aportes teóricos e processuais das ciências. Em outras palavras, aprender ciência não é a

finalidade última do letramento, mas, sim, o desenvolvimento da capacidade de atuação

no mundo, importante ao exercício pleno da cidadania.

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Nessa perspectiva, o Componente Curricular Ciências, por meio de um olhar articulado

com os diversos campos do saber, precisa assegurar aos estudantes do Ensino

Fundamental o acesso à diversidade de conhecimentos científicos produzidos ao longo

da história, bem como a aproximação gradativa aos principais processos, práticas e

procedimentos da investigação científica.

Espera-se, desse modo, possibilitar que os estudantes tenham um novo olhar sobre o

mundo que os cerca, que possam fazer escolhas e intervenções conscientes, pautadas

nos princípios da sustentabilidade e do bem comum.

Abordaremos o sentido de ensinar Ciências, levando em consideração as razões da

inclusão das Ciências da Natureza no currículo escolar, as diretrizes e os critérios de

seleção dos Objetos de Conhecimento, que foram considerados em conformidade com

os Parâmetros Curriculares Nacionais, (PCN), com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB), Plano Nacional de Educação (PNE) e Diretrizes Curriculares Nacionais,

Resolução CNE nº 07 de 14/12/2010 e de acordo com a Base Nacional Comum Curricular

(BNCC), homologada em 2017.

Nessa perspectiva de garantia do direito ao ensino-aprendizagem, o Currículo Referência

de Minas Gerais torna efetiva a previsão constitucional através do inciso II do artigo 206,

a saber: liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o

saber; (BRASIL, 1988).

No limiar dessas orientações, retomamos, também, os ideais do artigo 58 do Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº8.069/1990, que estabelece que o processo

educacional deve respeitar os “valores culturais, artísticos e históricos próprios do

contexto social da criança e do adolescente”.

O Currículo Referência de Minas Gerais em Ciências compõe-se de Unidades Temáticas,

Objetos de Conhecimento e Habilidades contempladas na Base Nacional Comum

Curricular (BNCC.). Foi incluída a Unidade Temática Ciência e Tecnologia objetivando a

construção de uma educação contemporânea e crítica, baseada no conhecimento

científico e socioambiental.

Além das habilidades já contempladas pela Base Nacional Comum Curricular, foram

acrescentadas outras habilidades em regime colaborativo pelas diferentes regiões do

estado, organizadas em ordem crescente.

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A reflexão sobre o ensino de Ciências considera que, em qualquer etapa da escolarização,

é necessário, como ponto de partida, olharmos de perto o estudante do ano escolar em

questão. Alguns questionamentos importantes devem ser levantados:

• Quais são os interesses do estudante em relação ao seu

aprendizado de Ciências diante das suas necessidades pessoais,

sociais e profissionais?

• O que o estudante já sabe acerca dos fenômenos relacionados aos

conteúdos que serão estudados?

• Quais os tipos de dificuldades o estudante apresenta nesta etapa

da sua formação diante dos principais processos, práticas e

procedimentos da investigação científica?

• Quais são suas expectativas na etapa escolar do Ensino

Fundamental?

Tendo em vista esses questionamentos, devemos levar em consideração a construção

múltipla de novos saberes, possibilitando o desenvolvimento das habilidades básicas

necessárias ao seu processo de aprendizagem, para que sejam capazes de ler e

compreender os gêneros textuais específicos do componente curricular Ciências,

familiarizando-se com a linguagem científica, estabelecendo relação entre o que se

conhece, o que se lê e o que se escreve em termos de construção de textos.

Nessa perspectiva, guardadas as particularidades do ensino de Ciências no Ensino

Fundamental, é importante que o professor, ao longo do processo ensino- aprendizagem,

possibilite aos estudantes desenvolver habilidades, avaliar como se deu o processo e

intervir com diferentes estratégias pedagógicas necessárias para que todos possam

avançar numa trajetória de aprendizagem.

Competências Específicas da área de Ciências da Natureza para o Ensino

Fundamental

Em articulação com as competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC),

a área de Ciências da Natureza e, por consequência, o componente curricular de Ciências,

deve garantir aos alunos o desenvolvimento de oito competências específicas que

deverão ser consolidadas ao longo do Ensino Fundamental.

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1. Compreender as Ciências da Natureza como empreendimento humano, e o

conhecimento científico como provisório, cultural e histórico.

2. Compreender conceitos fundamentais e estruturas explicativas das Ciências da

Natureza, bem como dominar processos, práticas e procedimentos da investigação

científica, de modo a sentir segurança no debate de questões científicas, tecnológicas,

socioambientais e do mundo do trabalho, continuar aprendendo e colaborar para a

construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

3. Analisar, compreender e explicar características, fenômenos e processos relativos ao

mundo natural, social e tecnológico (incluindo o digital), como também as relações que se

estabelecem entre eles, exercitando a curiosidade para fazer perguntas, buscar respostas

e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das Ciências da

Natureza.

4. Avaliar aplicações e implicações políticas, socioambientais e culturais da ciência e de

suas tecnologias para propor alternativas aos desafios do mundo contemporâneo,

incluindo aqueles relativos ao mundo do trabalho.

5. Construir argumentos com base em dados, evidências e informações confiáveis e

negociar e defender ideias e pontos de vista que promovam a consciência socioambiental

e o respeito a si próprio e ao outro, acolhendo e valorizando a diversidade de indivíduos

e de grupos sociais, sem preconceitos de qualquer natureza.

6. Utilizar diferentes linguagens e tecnologias digitais de informação e comunicação para

se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos e resolver

problemas das Ciências da Natureza de forma crítica, significativa, reflexiva e ética.

7. Conhecer, apreciar e cuidar de si, do seu corpo e bem-estar, compreendendo-se na

diversidade humana, fazendo-se respeitar e respeitando o outro, recorrendo aos

conhecimentos das Ciências da Natureza e às suas tecnologias.

8. Agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, responsabilidade, flexibilidade,

resiliência e determinação, recorrendo aos conhecimentos das Ciências da Natureza para

tomar decisões frente a questões científico-tecnológicas e socioambientais e a respeito

da saúde individual e coletiva, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis

e solidários.

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Relação do Componente Curricular de Ciências com as Concepções do Currículo

Referência de Minas Gerais

As Ciências da Natureza envolvem conhecimentos para a formação humana e o

desenvolvimento integral dos estudantes, considerando todas as dimensões: cognitiva,

emocional, social, cultural, intelectual e física, buscando a articulação dos diversos campos

do saber de acordo com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes,

considerando, também, as diferentes infâncias e juventudes, as diversas culturas e seu

potencial de desenvolvimento do pensamento crítico e da capacidade de tomada de

decisões consciente.

O ensino de Ciências, como parte de um processo contínuo de contextualização histórica,

social e cultural, dá sentido aos conhecimentos para que os estudantes desenvolvam sua

autonomia e senso crítico em relação às diversas esferas da vida, exercitando a habilidade

para o diálogo e potencializando seu poder de argumentação, garantindo a inclusão

escolar e o pleno exercício da cidadania.

O Componente Curricular de Ciências propõe uma construção coletiva de ações que

devem estar contempladas no Projeto Pedagógico (PP), com as diferentes áreas do

conhecimento, os temas transversais, as estratégias metodológicas, os recursos didáticos,

as práticas e saberes dos sujeitos envolvidos no processo, objetivando promover o

desenvolvimento integral dos estudantes. Acreditamos que o trabalho interdisciplinar

seja uma metodologia significativa para potencializar o processo de ensino-aprendizagem,

numa visão integral.

Especificidades do Componente Curricular

O ensino de Ciências da Natureza no Ensino Fundamental, tem como intencionalidade

cooperar para a transformação da sociedade, ao tratar dos saberes que lhes são inerentes,

permitindo ao estudante o desenvolvimento de habilidades para a construção,

reconstrução ou desconstrução dos conhecimentos, premissa que requer a

implementação de um conjunto de encaminhamentos que contribuam para a formação

de estudantes questionadores e investigativos.

Essa capacidade investigativa dos estudantes, por sua vez, se dá por meio da observação

e da pesquisa com o objetivo da integração do conhecimento científico resultante da

investigação da natureza para interpretar racionalmente os fenômenos naturais

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observados, decorrentes de contextos históricos, sociais e econômicos considerados no

tempo, espaço, matéria, movimento, força, campo, energia, vida e evolução.

Sendo assim, o ensino de Ciências deve promover situações nas quais os alunos possam:

observar, analisar, propor, planejar, investigar, relatar, desenvolver e implementar ações

de intervenção para melhorar a qualidade de vida individual, coletiva e socioambiental.

É essencial a mediação do professor no processo de ensino-aprendizagem, que desperte

nos estudantes a capacidade investigativa para a resolução de problemas desafiadores

para que possam expressar seu conhecimento prévio, de origem escolar ou advindo do

meio onde vivem.

Desse modo, o Ensino de Ciências não se resume na apresentação de conceitos

científicos, como em muitos livros didáticos, em geral, fora do alcance da compreensão

dos alunos. Deve-se, em todo caso, dar uma atenção especial ao letramento científico

para que o componente curricular Ciências não seja um compêndio de conceituações sem

significados para os estudantes.

Diretrizes para o ensino do componente curricular de Ciências

A proposta curricular do Componente Ciências, não pretende homogeneizar as práticas

docentes, mas sugerir caminhos que possibilitem a promoção da autonomia de cada

professor no desenvolvimento de seu trabalho. Por isso, tais diretrizes têm como meta

explicitar escolhas, repensar posturas e sugerir estratégias de ações que promovam a

ampliação da noção de conteúdo, que deve englobar três componentes interdependentes

- os conceitos, os procedimentos, os valores e as atitudes.

As diretrizes para o ensino no Componente Curricular Ciências têm como ponto de

partida a concepção de que a ciência, além de ser um modo de pensar, de chegar a

conclusões coerentes a partir de proposições, de questionar conceitos pré-estabelecidos

e hipóteses, propor novas ideias a partir do que já existe, é também uma construção

humana que envolve relações com os contextos: cultural, ambiental, socioeconômico,

histórico e político.

Para tanto, é necessário criar um ambiente investigativo e dinâmico em que a construção

desses conteúdos represente um ponto de chegada de um processo coletivo de pesquisa,

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de debate e de investigação. As orientações listadas a seguir explicitam posturas e

estratégias pedagógicas que podem auxiliar na criação desse ambiente:

1 Reconhecer a importância do conhecimento prévio dos estudantes como elemento

fundamental a ser considerado no processo de ensino e aprendizagem;

2 Transformar os contextos de vivência, os problemas da contemporaneidade e da

prática social dos sujeitos do processo escolar em objetos de estudo, investigação e

intervenção;

3 Promover maior comunicação entre os saberes das várias disciplinas que compõem

a área das ciências naturais ao tratar dos temas ligados à vivência dos estudantes;

4 Escolher e privilegiar certos conceitos centrais e ideias-chave que estruturam o saber

das ciências naturais e promover, de modo progressivo e recursivo, oportunidades

para que os estudantes possam compreendê-los e se apropriar deles.

O Componente Curricular Ciências nos Anos Iniciais e nos Anos Finais do Ensino

Fundamental

Ao iniciar o Ensino Fundamental, os alunos possuem vivências, saberes, interesses e

curiosidades sobre o mundo natural e tecnológico que devem ser valorizados e

mobilizados. Esse deve ser o ponto de partida de atividades que assegurem a eles

construir conhecimentos sistematizados de Ciências, oferecendo-lhes elementos para

que compreendam desde fenômenos de seu ambiente imediato até temáticas mais

amplas.

Nesse sentido, não basta que os conhecimentos científicos sejam apresentados aos

alunos. É preciso oferecer oportunidades para que eles, de fato, envolvam-se em

processos de aprendizagem nos quais possam vivenciar momentos de investigação que

lhes possibilitem exercitar e ampliar sua curiosidade, aperfeiçoar sua capacidade de

observação, de raciocínio lógico e de criação; desenvolver posturas mais colaborativas e

sistematizar suas primeiras explicações sobre o mundo natural e tecnológico, e sobre seu

corpo, sua saúde e seu bem-estar, tendo como referência os conhecimentos, as

linguagens e os procedimentos próprios das Ciências da Natureza.

No que diz respeito, em especial, aos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, em que

se investe prioritariamente no processo de alfabetização das crianças, o ambiente

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pedagógico deve ser adequado para se desenvolver as habilidades de Ciências visando à

progressão do letramento científico.

Assim como toda política curricular, o Currículo Referência de Minas Gerais é uma política

cultural, pois é fruto de uma seleção e de uma produção de saberes, o que significa que

as orientações deste documento somente serão concretizadas por meio das ações

educativas desenvolvidas com os alunos.

Sendo assim, o ensino de Ciências deve refletir os ideais de ética, estética e política. Em

outras palavras, ao estudar Ciências, os estudantes devem aprender o respeito de si

mesmos, da diversidade e dos processos de evolução e manutenção da vida, do mundo

material com os seus recursos naturais, suas transformações e fontes de energia, do nosso

planeta no Sistema Solar e no Universo e da aplicação dos conhecimentos científicos nas

várias esferas da vida humana. Essas aprendizagens, entre outras, possibilitam que os

estudantes-cidadãos compreendam, expliquem e intervenham no mundo em que vivem.

Nos anos finais do Ensino Fundamental, a exploração das vivências, saberes, interesses e

curiosidades dos estudantes sobre o mundo natural e material continua sendo

fundamental. Ao longo desse percurso, percebem-se uma ampliação progressiva da

capacidade de abstração e da autonomia de ação e de pensamento, em especial nos

últimos anos, e o aumento do interesse dos alunos pela vida social e pela busca de uma

identidade própria.

Essas características possibilitam a eles, sobretudo, em sua formação científica, explorar

aspectos mais complexos das relações consigo mesmos, com os outros, com a natureza,

com as tecnologias e com o ambiente; ter consciência dos valores éticos e políticos

envolvidos nessas relações; e, cada vez mais, atuar socialmente com respeito,

responsabilidade, solidariedade, cooperação e repúdio à discriminação. Nesse contexto,

é importante motivá-los com desafios cada vez mais abrangentes, o que permite que os

questionamentos apresentados a eles, assim como os que eles próprios formulam, sejam

mais complexos e contextualizados.

Assim, à medida que se aproxima a conclusão do Ensino Fundamental, os alunos devem

ser capazes de estabelecer relações entre ciência, natureza e tecnologia, o que significa

lançar mão do conhecimento científico e tecnológico para compreender os fenômenos e

conhecer o mundo, o ambiente, a dinâmica da natureza. Além disso, é fundamental que

tenham condições de serem os protagonistas na escolha de posicionamentos que

valorizem as experiências pessoais e coletivas e, que sejam capazes de praticar o

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autocuidado com seu corpo e o respeito com o do outro, na perspectiva do zelo integral

à saúde física, mental, sexual e reprodutiva.

As Unidades Temáticas do Componente Curricular Ciências nos Anos Iniciais e

nos Anos Finais do Ensino Fundamental

Para orientar a elaboração do Currículo Referência de Ciências do Estado de Minas

Gerais, as aprendizagens essenciais a serem asseguradas neste componente curricular

foram organizadas em quatro Unidades Temáticas que se repetem ao longo de todo o

Ensino Fundamental.

A Unidade Temática Matéria e energia contempla o estudo de materiais e suas

transformações, fontes e tipos de energia utilizados na vida em geral, na perspectiva de

construir conhecimento sobre a natureza da matéria e os diferentes usos da energia.

Dessa maneira, nessa unidade estão envolvidos estudos referentes à ocorrência, à

utilização e ao processamento de recursos naturais e energéticos empregados na geração

de diferentes tipos de energia e na produção e no uso responsável de materiais diversos.

Discute-se, também, a perspectiva histórica da apropriação humana desses recursos, com

base, por exemplo, na identificação do uso de materiais em diferentes ambientes e épocas

e sua relação com a sociedade e a tecnologia.

Nos anos iniciais, as crianças já se envolvem com uma série de objetos, materiais e

fenômenos em sua vivência diária e na relação com o entorno. Tais experiências são o

ponto de partida para possibilitar a construção das primeiras noções sobre os materiais,

seus usos e suas propriedades, bem como sobre suas interações com luz, som, calor,

eletricidade e umidade, entre outros elementos. Além de prever a construção coletiva de

propostas de reciclagem e reutilização de materiais, estimula-se, ainda, a construção de

hábitos saudáveis e sustentáveis por meio da discussão acerca dos riscos associados à

integridade física e à qualidade auditiva e visual. Espera-se, também, que os alunos

possam reconhecer a importância, por exemplo, da água, em seus diferentes estados, para

a agricultura, o clima, a conservação do solo, a geração de energia elétrica, a qualidade do

ar atmosférico e o equilíbrio dos ecossistemas.

Em síntese, valorizam-se, nessa fase, os elementos mais concretos e os ambientes que os

cercam (casa, escola e bairro), oferecendo aos alunos a oportunidade de interação,

compreensão e ação no seu entorno.

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Por sua vez, nos anos finais, a ampliação da relação dos jovens com o ambiente possibilita

que se estenda a exploração dos fenômenos relacionados aos materiais e à energia ao

âmbito do sistema produtivo e ao seu impacto na qualidade ambiental. Assim, o

aprofundamento da temática desta unidade, que envolve inclusive a construção de

modelos explicativos, deve possibilitar aos estudantes fundamentar-se no conhecimento

científico para, por exemplo, avaliar vantagens e desvantagens da produção de produtos

sintéticos a partir de recursos naturais, da produção e do uso de determinados

combustíveis, bem como da produção, da transformação e da propagação de diferentes

tipos de energia e do funcionamento de artefatos e equipamentos que possibilitam novas

formas de interação com o ambiente, estimulando tanto a reflexão para hábitos mais

sustentáveis no uso dos recursos naturais e científico-tecnológicos quanto para produção

de novas tecnologias e o desenvolvimento de ações coletivas de aproveitamento

responsável dos recursos.

A Unidade Temática Vida e evolução propõe o estudo de questões relacionadas aos seres

vivos (incluindo os seres humanos), suas características e necessidades, e a vida como

fenômeno natural e social, os elementos essenciais à sua manutenção e à compreensão

dos processos evolutivos que geram a diversidade de formas de vida no planeta.

Estudam-se características dos ecossistemas destacando-se as interações dos seres vivos

com outros seres vivos e com os fatores não vivos do ambiente, com destaque para as

interações que os seres humanos estabelecem entre si e com os demais seres vivos e

elementos não vivos do ambiente. Aborda-se, ainda, a importância da preservação da

biodiversidade e como ela se distribui nos principais ecossistemas brasileiros.

Nos anos iniciais, as características dos seres vivos são trabalhadas a partir das ideias,

representações, disposições emocionais e afetivas que os alunos trazem para a escola.

Esses saberes dos alunos vão sendo organizados a partir de observações orientadas, com

ênfase na compreensão dos seres vivos do entorno, como também dos elos nutricionais

que se estabelecem entre eles no ambiente natural.

Nos anos finais, a partir do reconhecimento das relações que ocorrem na natureza,

evidencia-se a participação do ser humano nas cadeias alimentares e como elemento

modificador do ambiente, seja evidenciando maneiras mais eficientes de usar os recursos

naturais sem desperdícios, seja discutindo as implicações do consumo excessivo e

descarte inadequado dos resíduos. Contempla-se, também, o incentivo à proposição e

adoção de alternativas individuais e coletivas, ancoradas na aplicação do conhecimento

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científico, que concorram para a sustentabilidade socioambiental. Assim, busca-se

promover e incentivar uma convivência em maior sintonia com o ambiente, por meio do

uso inteligente e responsável dos recursos naturais, para que estes se recomponham no

presente e se mantenham no futuro.

Outro foco dessa unidade é a percepção de que o corpo humano é um todo dinâmico e

articulado, e que a manutenção e o funcionamento harmonioso desse conjunto

dependem da integração entre as funções específicas desempenhadas pelos diferentes

sistemas que o compõem. Além disso, destacam-se aspectos relativos à saúde,

compreendida, não somente, como um estado de equilíbrio dinâmico do corpo, mas como

um bem da coletividade, abrindo espaço para discutir o que é preciso para promover a

saúde individual e coletiva, inclusive no âmbito das políticas públicas.

Nos anos iniciais, pretende-se que as crianças ampliem os seus conhecimentos e apreço

pelo seu corpo, identifiquem os cuidados necessários para a manutenção da saúde e

integridade do organismo e desenvolvam atitudes de respeito e acolhimento pelas

diferenças individuais, tanto no que diz respeito à diversidade étnico-cultural quanto em

relação à inclusão de alunos da educação especial.

Nos anos finais, são abordados, também, temas relacionados à reprodução e à

sexualidade humana, assuntos de grande interesse e relevância social nessa faixa etária,

assim como são relevantes, também, o conhecimento das condições de saúde, do

saneamento básico, da qualidade do ar e das condições nutricionais da população

brasileira.

Pretende-se que os estudantes, ao terminarem o Ensino Fundamental, estejam aptos a

compreenderem a organização e o funcionamento de seu corpo, assim como a interpretar

as modificações físicas e emocionais que acompanham a adolescência e a reconhecer o

impacto que elas podem ter na autoestima e na segurança de seu próprio corpo. É

também fundamental que tenham condições de assumir o protagonismo na escolha de

posicionamentos que representem autocuidado com seu corpo e respeito com o corpo

do outro, na perspectiva do cuidado integral à saúde física, mental, sexual e reprodutiva.

Além disso, os estudantes devem ser capazes de compreender o papel do Estado e das

políticas públicas (campanhas de vacinação, programas de atendimento à saúde da família

e da comunidade, investimento em pesquisa, campanhas de esclarecimento sobre

doenças e vetores, entre outros) no desenvolvimento de condições propícias à saúde.

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Na Unidade Temática Terra e Universo, busca-se a compreensão de características da

Terra, do Sol, da Lua e de outros corpos celestes e suas dimensões, composição,

localizações, movimentos e forças que atuam entre eles. Ampliam-se experiências de

observação do céu, do planeta Terra, particularmente das zonas habitadas pelo ser

humano e demais seres vivos, bem como de observação dos principais fenômenos

celestes. Além disso, ao salientar que a construção dos conhecimentos sobre a Terra e o

céu se deu de diferentes formas em distintas culturas, ao longo da história da humanidade,

explora-se a riqueza envolvida nesses conhecimentos, o que permite, entre outras coisas,

maior valorização de outras formas de conceber o mundo, como os conhecimentos

próprios dos povos indígenas originários.

Assim, ao abranger, com maior detalhe, características importantes para a manutenção da

vida na Terra, como o efeito estufa e a camada de ozônio, espera-se que os estudantes

possam compreender também alguns fenômenos naturais como vulcões, tsunamis e

terremotos, bem como aqueles mais relacionados aos padrões de circulação atmosférica

e oceânica e ao aquecimento desigual causado pela forma e pelos movimentos da Terra,

em uma perspectiva de maior ampliação de conhecimentos relativos à evolução da vida

e do planeta, ao clima e à previsão do tempo, entre outros fenômenos.

Os estudantes dos anos iniciais se interessam com facilidade pelos objetos celestes, muito

por conta da exploração e valorização desta temática pelos meios de comunicação,

brinquedos, desenhos animados e livros infantis. Dessa forma, a intenção é aguçar ainda

mais a curiosidade das crianças pelos fenômenos naturais e desenvolver o pensamento

espacial a partir das experiências cotidianas de observação do céu e dos fenômenos a elas

relacionados. A sistematização dessas observações e o uso adequado dos sistemas de

referência permitem a identificação de fenômenos e regularidades que deram à

humanidade, em diferentes culturas, maior autonomia na regulação da agricultura, na

conquista de novos espaços, na construção de calendários etc.

Nos anos finais, há uma ênfase no estudo de solo, ciclos biogeoquímicos, esferas

terrestres e interior do planeta, clima e seus efeitos sobre a vida na Terra, no intuito de

que os estudantes possam desenvolver uma visão mais sistêmica do planeta com base em

princípios de sustentabilidade sócio ambiental. Além disso, o conhecimento espacial é

ampliado e aprofundado por meio da articulação entre os conhecimentos e as

experiências de observação vivenciadas nos anos iniciais, por um lado, e os modelos

explicativos desenvolvidos pela ciência, por outro. Dessa forma, privilegia-se, com base

em modelos, a explicação de vários fenômenos envolvendo os astros Terra, Lua e Sol, de

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modo a fundamentar a compreensão da controvérsia histórica entre as visões geocêntrica

e heliocêntrica.

A partir de uma compreensão mais aprofundada da Terra, do Sol e de sua evolução, da

nossa galáxia e das ordens de grandeza envolvidas, espera-se que os alunos possam

refletir sobre a posição da Terra e da espécie humana no Universo.

Na Unidade Temática Ciência e Tecnologia, espera-se que o ensino de Ciências possa

promover uma compreensão acerca do que é a ciência e como o conhecimento científico

interfere em nossas relações com o mundo natural, com o mundo construído e com as

outras pessoas. Além disso, que compreendam as maneiras como as ciências e as

tecnologias foram produzidas ao longo da história, percebendo a importância das

inovações científicas e tecnológicas para agricultura, transporte, indústria e outros,

desenvolvendo posição crítica em relação aos seus malefícios e benefícios.

Nessa perspectiva, torna-se importante construir com os alunos um conhecimento crítico,

por meio do qual, o estudante entenda que o conhecimento científico constitui um

conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm a sua veracidade ou

não, através da experimentação, do conhecimento teórico-científico, da evolução de

conceitos.

Temos em mente também que o saber científico está sujeito a mudanças. No

desenvolvimento das habilidades dessa Unidade Temática, estuda-se a crescente

evolução e utilização de novas tecnologias e como vêm acarretando as profundas

mudanças no meio ambiente, nas relações e nos modos de vida das pessoas e que

representam desafios para a maioria da população.

Nos anos iniciais o estudante terá contato com a linguagem científica e com os

instrumentos desse campo do saber, incluindo os princípios básicos da ciência, com os

conceitos mínimos para iniciação, estudos e construção de conhecimentos científicos,

para que eles se apropriem destes, bem como sua aplicabilidade no cotidiano.

A construção dos saberes sobre a tecnologia está relacionada com o desenvolvimento na

agricultura, no trânsito/transporte, na saúde, na preservação ambiental e na indústria.

Refere-se, também, à identificação dos recursos que são utilizados para o tratamento da

água como filtro, tanques de decantação, entre outros, e recursos utilizados no cultivo do

solo desde os mais simples, como a enxada, aos mais complexos, como tratores e outros,

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possibilitando ao estudante a percepção que muitos conhecimentos práticos da

comunidade têm base científica.

Nos anos finais, a Ciência e a Tecnologia oportunizam aos estudantes um conhecimento

científico amplo e suas aplicações na vida e na sociedade. Sendo assim, o

desenvolvimento de habilidades deve possibilitar ao aluno a compreensão de que a

crescente evolução e utilização de novas tecnologias vêm acarretando profundas

mudanças no meio ambiente, nas relações e nos modos de vida das pessoas. Da mesma

forma, os estudantes devem entender também que a tecnologia representa desafios para

a maioria da população ao ter a oportunidade de pesquisar sobre o uso da tecnologia e

seus impactos ambientais, compreendendo a importância da tecnologia para o

desenvolvimento da ciência.

A integração entre as quatro Unidades Temáticas do Currículo Referência de Minas

Gerais se evidencia quando temas importantes como a sustentabilidade socioambiental,

o ambiente, a saúde e a tecnologia são desenvolvidos de forma conjunta. Em outras

palavras, para que o estudante compreenda saúde de forma abrangente, e não

relacionada, apenas, ao seu próprio corpo, é necessário que ele seja estimulado a pensar

em saneamento básico, geração de energia, impactos ambientais e a ideia de que

medicamentos são substâncias sintéticas que atuam no funcionamento do organismo, por

exemplo.

De forma similar, a compreensão do que seja sustentabilidade pressupõe que os alunos,

além de entenderem a importância da biodiversidade para a manutenção dos

ecossistemas e do equilíbrio dinâmico socioambiental, sejam capazes de avaliar hábitos

de consumo que envolvam recursos naturais e artificiais, bem como identifiquem relações

dos processos atmosféricos, geológicos, celestes e sociais com as condições necessárias

para a manutenção da vida no planeta. Impossível pensar em uma educação científica

contemporânea sem reconhecer os múltiplos papéis da tecnologia no desenvolvimento

da sociedade humana.

Bons exemplos de como a ciência e a tecnologia viabilizam a melhoria da qualidade de

vida humana é a investigação de materiais para usos tecnológicos, a aplicação de

instrumentos óticos na saúde e na observação do céu, a produção de material sintético e

seus usos, as fontes de energia e suas aplicações e, até mesmo, o uso da radiação

eletromagnética para diagnóstico e tratamento médico, entre outras situações. Essas

aplicações da ciência e tecnologia no cotidiano do cidadão, por outro lado, ampliam as

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desigualdades sociais e a degradação do ambiente. Dessa forma, é importante salientar

os múltiplos papéis desempenhados pela relação ciência-tecnologia-sociedade na vida

moderna e na vida do planeta Terra como elementos centrais, no posicionamento e na

tomada de decisões frente aos desafios éticos, culturais, políticos e socioambientais.

As unidades temáticas estão estruturadas em um conjunto de habilidades cuja

complexidade cresce progressivamente ao longo dos anos. Essas habilidades mobilizam

conhecimentos conceituais, linguagens e alguns dos principais processos, práticas e

procedimentos de investigação envolvidos na dinâmica da construção de conhecimentos

na ciência.

Por fim, as quatro unidades temáticas devem ser consideradas sob a perspectiva da

continuidade das aprendizagens e da integração com seus objetos de conhecimento ao

longo dos anos de escolarização. Portanto, é primordial que elas não se desenvolvam

isoladamente, mas integralizadas, de forma que despertem, sempre, nos estudantes o

interesse em pesquisas e investigações, por levar em consideração que a criança e o

adolescente vivenciam processos de aprendizagem real.

Avaliação

Em Ciências da Natureza, a avaliação da aprendizagem é efetiva na medida em que

oferece retorno sobre o desenvolvimento do estudante ao longo do processo de

escolarização. Ela pode ser realizada de diferentes formas, utilizando-se de instrumentos

variados e em momentos diversos e não apenas ao final do processo.

A avaliação que se realiza na interação diária com os estudantes pode trazer contribuições

ímpares para a organização do trabalho pedagógico, uma vez que proporciona um

dinâmico resultado do desenvolvimento das habilidades por parte dos estudantes. O

ambiente que mais oferece oportunidades para uma avaliação dessa natureza caracteriza-

se pelo estabelecimento de uma educação dialógica, que oferece um repertório

diversificado de atividades aos estudantes.

O processo avaliativo precisa contar com instrumentos diversificados de forma que

constate diferentes habilidades dos estudantes para: identificar, descrever, relacionar,

inferir, comparar, justificar, localizar e argumentar. Assim, o professor terá elementos para

identificar os diferentes níveis de entendimento de seus alunos acerca de determinado

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objeto do conhecimento e planejar ações de intervenção pedagógica que permitam aos

estudantes avançarem nesses níveis.

Com base na perspectiva de que o estudante deve participar de experiências de

discussões, debates, através das quais possa exercitar sua capacidade de questionar as

informações científicas, já que não há uma verdade absoluta, tendo em vista as

ininterruptas transformações do mundo é que devemos ter em mente algumas atividades

avaliativas.

Temos como exemplo aquelas em que os estudantes podem ser chamados a produzir

textos que sintetizam discussões realizadas coletivamente ou em pequenos grupos, a

partir da análise de problemas propostos pelo professor ou elaborados com sua ajuda.

Além disso, podem aprender a investigar fenômenos naturais, contrastando

interpretações propostas para compreendê-los com as evidências apresentadas para

sustentar tais interpretações. Podem sofisticar sua capacidade de argumentar e defender

seus pontos de vista, de buscar fontes de informação e de organizar as informações

disponíveis.

A observação cotidiana realizada pelo professor em momentos de trabalho coletivo e

individual, com os alunos propicia informações importantes para sustentar a avaliação

processual, inclusive no campo das atitudes e condutas. É importante considerar o

respeito pelo outro, o saber ouvir, o posicionamento diante dos debates e a iniciativa em

explicitar ideias, valores, crenças e propostas de intervenção. Com isso, não se pretende

normatizar condutas ou comportamentos, mas permitir uma avaliação, de modo a

identificar possíveis intervenções que podem ser realizadas pelo professor e pela escola.

Dentro dessa concepção, o professor atua como mediador, constituindo-se numa

referência fundamental para o desenvolvimento moral e intelectual dos estudantes.

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CBC de Ciências