Apresentaçãocamoesvinicius

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1 Alma minha gentil, que te partiste 2 Tão cedo desta vida descontente, 3 Repousa lá no Céu eternamente, 4 E viva eu cá na terra sempre triste. 5 Se lá no assento etéreo, onde subiste, 6 Memória desta vida se consente, 7 Não te esqueças daquele amor ardente 8 Que já nos olhos meus tão puro viste. 9 E se vires que pode merecer-te 10 Alguma cousa a dor que me ficou 11 Da mágoa, sem remédio, de perder- te, 12 Roga a Deus, que teus anos Alma minha gentil, que te partiste Luís Vaz de Camões

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1 Alma minha gentil, que te partiste2 Tão cedo desta vida descontente,3 Repousa lá no Céu eternamente,4 E viva eu cá na terra sempre triste. 

5 Se lá no assento etéreo, onde subiste,6 Memória desta vida se consente,7 Não te esqueças daquele amor ardente8 Que já nos olhos meus tão puro viste. 

9 E se vires que pode merecer-te10 Alguma cousa a dor que me ficou11 Da mágoa, sem remédio, de perder-te, 

12 Roga a Deus, que teus anos encurtou,13 Que tão cedo de cá me leve a ver-te,14 Quão cedo de meus olhos te levou.

Alma minha gentil, que te partiste

Luís Vaz de Camões

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A Alma minha gentil, que te partisteB Tão cedo desta vida descontente,B Repousa lá no Céu eternamente,A E viva eu cá na terra sempre triste. 

A Se lá no assento etéreo, onde subiste,B Memória desta vida se consente,B Não te esqueças daquele amor ardenteA Que já nos olhos meus tão puro viste. 

C E se vires que pode merecer-teD Alguma cousa a dor que me ficouC Da mágoa, sem remédio, de perder-te, 

D Roga a Deus, que teus anos encurtou,C Que tão cedo de cá me leve a ver-te,D Quão cedo de meus olhos te levou.

Alma minha gentil, que te partiste

Luís Vaz de Camões

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1 Alma minha gentil, que te partiste2 Tão cedo desta vida descontente,3 Repousa lá no Céu eternamente,4 E viva eu cá na terra sempre triste. 

5 Se lá no assento etéreo, onde subiste,6 Memória desta vida se consente,7 Não te esqueças daquele amor ardente8 Que já nos olhos meus tão puro viste. 

9 E se vires que pode merecer-te10 Alguma cousa a dor que me ficou11 Da mágoa, sem remédio, de perder-te, 

12 Roga a Deus, que teus anos encurtou,13 Que tão cedo de cá me leve a ver-te,14 Quão cedo de meus olhos te levou.

Alma minha gentil, que te partiste

Luís Vaz de Camões

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1 Distante o meu amor, se me afigura2 O amor como um patético tormento3 Pensar nele é morrer de desventura4 Não pensar é matar meu pensamento.

5 Seu mais doce desejo se amargura6 Todo o instante perdido é um sofrimento7 Cada beijo lembrado uma tortura8 Um ciúme do próprio ciumento.

9 E vivemos partindo, ela de mim10 E eu dela, enquanto breves vão-se os anos11 Para a grande partida que há no fim

12 De toda a vida e todo o amor humanos:13 Mas tranqüila ela sabe, e eu sei tranqüilo14 Que se um fica o outro parte a redimi-lo.

Soneto de carnaval

Vinícius de Moraes

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“Que tão cedo de cá me leve a ver-te,Quão cedo de meus olhos te levou. “(Camões)

“Mas tranqüila ela sabe, e eu sei tranqüilo Que se um fica o outro parte a redimi-lo.”(Vinicius de Moraes)

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A Distante o meu amor, se me afigura B O amor como um patético tormentoA Pensar nele é morrer de desventuraB Não pensar é matar meu pensamento.

A Seu mais doce desejo se amarguraB Todo o instante perdido é um sofrimentoA Cada beijo lembrado uma torturaB Um ciúme do próprio ciumento.

C E vivemos partindo, ela de mimD E eu dela, enquanto breves vão-se os anosC Para a grande partida que há no fim

D De toda a vida e todo o amor humanos:E Mas tranqüila ela sabe, e eu sei tranqüiloE Que se um fica o outro parte a redimi-lo.

Soneto de carnaval

Vinícius de Moraes

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1 Distante o meu amor, se me afigura2 O amor como um patético tormento3 Pensar nele é morrer de desventura4 Não pensar é matar meu pensamento.

5 Seu mais doce desejo se amargura6 Todo o instante perdido é um sofrimento7 Cada beijo lembrado uma tortura8 Um ciúme do próprio ciumento.

9 E vivemos partindo, ela de mim10 E eu dela, enquanto breves vão-se os anos11 Para a grande partida que há no fim

12 De toda a vida e todo o amor humanos:13 Mas tranqüila ela sabe, e eu sei tranqüilo14 Que se um fica o outro parte a redimi-lo.

Soneto de carnaval

Vinícius de Moraes