APRESENTAÇÃO · 2014-04-22 · Para aprender a escrita de uma língua é preciso ... escrita e...

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APRESENTAÇÃO

O presente trabalho destina-se a alunos das séries finais do Ensino Fundamental do Colégio Estadual João Ferreira Kuster, localizado no Bairro Jardim Social, na cidade de Campo Largo. O foco será o 6º ano, pois acredita-se que o trabalho deva ser iniciado nessa série, dando-se continuidade, a cada ano, com a série seguinte, para obter-se um bom resultado quando o aluno chegar no último ano do ensino fundamental. O tema foi escolhido após a experiência de vários anos de trabalho, percebendo-se a dificuldade dos alunos que concluem o 9º ano, em obter uma ortografia adequada. A unidade pretende prestar alguns esclarecimentos sobre o tema desenvolvido e sugerir algumas atividades que possam ajudar a sanar as referidas dificuldades. Não se tem a pretensão de achar que os alunos corrigirão a ortografia e sairão do 9º ano lendo e escrevendo corretamente, mas pretende-se mostrar as variantes linguísticas, para que possam observar a língua de maior prestígio e as usadas em condições informais, fazendo as suas opções de acordo com a necessidade de uso. O aluno tem o direito de escolher a linguagem que vai utilizar, mas a escola tem a obrigação de mostrar a ele que existem as variantes, entre elas a linguagem de maior prestígio e que em algumas situações ele precisará utilizar-se dessa linguagem com normas estabelecidas, principalmente quando se tratar da escrita.

PROCEDIMENTOS

Fundamentação

A Escola tem por objetivo ensinar ao aluno uma língua a qual ele já vem sabendo: a Língua Portuguesa. A diferença está em fazer com que ele perceba que há a sua língua e aquela considerada de maior prestígio, a qual denomina-se “padrão, culta”. Para que isso possa acontecer, faz-se necessário que o aluno leia toda variedade possível de textos e utilize a escrita como meio efetivo de uso da língua. A aprendizagem da ortografia não pode ser como um treinamento de atleta, que repete constante e exaustivamente o treinamento até dominá-lo. A língua deve ser aprendida através de hipóteses e experimentações. Por isso, acredita-se que atividades de cópias, exercícios estruturais, preenchimento de lacunas não apresentem resultados positivos de aprendizagem. Segundo POSSENTI (1997,pág.37), a sociedade machista contribui para a ideia de que o homem deve falar “errado” e a mulher corretamente. Essa ideia também precisa ser debatida em sala de aula para que possa contribuir com a aprendizagem. É preciso combater a ideia que algumas pessoas têm de "erro", pois devido ao desconhecimento linguístico, o atribuem a todo aquele que possui alguma diferença na pronúncia, sotaque ou dialeto.

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De acordo com GERALDI (1984), quando o aluno apresenta “letra ruim, uso de símbolos desconexos, letras unidas de forma aleatória, dificuldades para reconhecer sons e letras, leitura apenas de letras e não de palavras, dificuldades para ligar e ler sílabas, falta de junção de letras, omissão de letras, fala com troca de fonemas, a não utilização de iniciais maiúsculas, falta de sinais de pontuação e parágrafos, capacidade apenas para copiar textos e não para criá-los, elaboração apenas de frases simples, excessiva repetição de palavras, falta de organização de ideias ou textos sem sentidos, falta de atenção, lentidão, retração e excessiva criação de fantasias” são motivos para esse aluno seja tratado como portador de patologias e encaminhado a outros profissionais para tratamento. Já está comprovado que mesmo que haja ”erros”, a maior porcentagem do que escreve é de acertos, portanto é um equívoco dizer que as pessoas falam ou escrevem tudo errado. Após várias pesquisas, o autor nos mostra que todos os idiomas possuem suas especificidades e há diferenças na língua falada. Os povos considerados primitivos, com costumes e falar primitivo, possuem a mesma estrutura na formação de frases. É necessário muita leitura e escrita para perceber a correspondência entre sons e letras, mesmo havendo variantes regionais, sociais ou outra. Para aprender a escrita de uma língua é preciso dar prioridade às narrativas orais, debates e todas as formas de interpretação, utilizar os textos produzidos pelos alunos para trabalhar as dificuldades ortográficas. “Não é necessário consultar manuais e guias para saber o que se deve ensinar em cada série.” (POSSENTI, 1997, pág. 50) As DCE’s citam que “...pensar que o domínio da escrita é inato ou uma dádiva restrita a um pequeno número de sujeitos implica distanciá-la dos alunos”. (DCE’s,pág.68)

Ao produzir um texto, o aluno procura no seu universo referencial os recursos linguísticos e os demais recursos necessários para atender a intenção. Avaliando o produto ele sabe se pode manter o universo referencial como até então constituído (aualizando-o) ou se deve modificá-lo, ou ainda ampliá-lo.(PIVOVAR, 1999, pág. 54, DCE’s).

É provável que ao escrever sozinho, o aluno procure meios de saber qual é a letra correspondente que deverá usar, utilizando-se experimentações, hipóteses ou pesquisas.

As escolas, muitas vezes, eliminam pela punição com nota baixa, pela reprovação e pela eventual ou consequente evasão escolar, os alunos que não dominam formas de prestígio, entre os quais se destaca a concordância de número. A variação da concordância é parte inerente de nosso sistema linguístico ( ou de qualquer outro país), mas a quantidade de variações, no Brasil, é marca de classe social. (SCHERRE, 2005, pág. 133)

Levando em consideração o que alguns autores dizem que cada aluno tem o seu tempo para a aprendizagem, é necessário que o professor também utilize de hipóteses e experimentações para descobrir a atividade

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adequada para que o aluno faça uso da ortografia nas diferentes situações de uso. É preciso concordar com BAGNO(1999, Pág. 142) quando diz que os professores são paranóicos por encontrar “erros”, pois nos preocupamos muito com a forma e deixamos o conteúdo em segundo plano. Já está comprovado que para saber uma língua não é necessário dominar a ortografia, pois há muitas pessoas que a usam e no entanto, são analfabetas. Precisa-se entender que a ortografia é uma questão política, ela beneficia as classes dominantes, os assuntos importantes de uma sociedade são tratados em linguagem de maior prestígio. O nosso aluno precisa conhecer essas variantes, sabendo que mesmo que opte por uma linguagem mais informal, no momento de se expressar por escrito ou com determinados segmentos da sociedade, precisará utilizar a linguagem adequada a estes. Muitas críticas são feitas à escola, quanto aos métodos utilizados pelos professores, seja por desconhecimento, seja por acomodação dos mesmos. O aluno precisa produzir a escrita e não só reproduzir mecanicamente o que já está pronto. Visto que os objetivos do Projeto de Intervenção Pedagógica são capacitar o aluno para o domínio da ortografia, investigando os meios que o impedem de atingi-la; descobrir atividades apropriadas que auxiliem no conhecimento da ortografia correta; propiciar momentos de leitura que possibilitem a assimilação da ortografia; propiciar atividades como soletrar para desenvolver a capacidade de concentração e atenção à letra correta; descobrir meios de prevenção ao reconhecer a dificuldade, após confrontar a opinião de vários autores sobre o assunto em questão, uma vez que não se trata de patologia e verificar se alunos que leem regularmente apresentam erros de ortografia, é necessário que o aluno perceba que a fala, muitas vezes, difere da escrita e é somente através de muita leitura e escrita que se vai dominando-a. Com isso, espera-se que as atividades seguintes propiciem momentos de experimentação e trabalho com hipóteses, para que o aluno conheça as várias linguagens e possa utilizar aquela adequada a cada situação de uso.

ATIVIDADES

As atividades serão iniciadas com a leitura do poema “Língua” de Gilberto Mendonça Teles, Falavra, Lisboa, Dinalivro, 1989, p.95-96. Língua

Esta língua é como um elástico que espicharam pelo mundo. No início era tensa, de tão clássica.

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O texto mostra que a língua passa por mudanças, que ela não é estática, possibilitando uma introdução às variações linguísticas. È importante que o aluno saiba que muitas palavras, aom longo da história, perderam acentos ou foram modificadas, assim como, provavelmente muitas palavras ainda serão modificadas, no futuro.

Este texto requer o uso do dicionário para a pesquisa da palavra sisuda (significado e ortografia).

Os quadrinhos são textos atraentes para os alunos e o personagem Chico Bento possibilita explorar os vários meios de conhecer a linguagem falada, escrita e audiovisual. Ao iniciar as atividades com um personagem caipira, pretende-se mostrar a diferença entre as linguagens e observar a fala e a escrita, uma vez que a escrita está desprovida de elementos próprios da fala como tamanho e cores de letras, gestos, mímicas, expressões próprias da oralidade. 1 - Inicia-se com a leitura da biografia e do autor e comentários do personagem, sem mencionar os nomes dos mesmos, despertando a curiosidade. Fonte: http://www.monica.com.br/mauricio-site 2 - Leitura de gibis de Chico Bento, realizada em duplas. 3 - Leitura realizada por algumas duplas, à frente, na sala de aula. 4 - Vídeos curtos com histórias do personagem, na TV pendrive ou no laboratório de informática, acessorando os alunos: Chico Bento no Shopping Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=ntXCiB0Ehfk

5 - Conversação sobre as histórias lidas, ouvidas e assistidas. Questionar sobre a linguagem, se há entendimento. Espera-se que os alunos comentem sobre a linguagem usada pelas pessoas que vivem na roça. Levantar questões sobre as dificuldades para estudar.Questionar se a forma de escrever alterou a compreensão do sentido do texto? Por que o texto é escrito sem adequação da ortografia ao padrão? Quais os objetivos dessa opção nos quadrinhos? Se a ortografia usada fosse a padrão, quais seriam os efeitos para o leitor? Ele conseguiria identificar a variedade usada por aqueles personagens? Como ele faria isso? A língua portuguesa possui um amplo leque de possibilidades de uso da ortografia padrão, visto que não há relação direta e nem biunívoca entre grafema e fonema, podendo ser usada a mesma ortografia para qualquer variante. Nas histórias em quadrinhos, é feita a opção por linguagens não padrão para mostrar algumas variantes, modificando o efeito produzido. Nesse tipo de texto, alé de personagens que manifestam o falar de pessoas do interior, há aqueles que mostram a linguagem infantil, tendo como exemplo o termo “englaçado” em vez de engraçado, para mostrar a fala em desenvolvimento. Há ainda personagens que usam linguagem mais técnica como a usada pelo personagem Professor Pardal.

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6 – Atividade com uma página de H.Q. do Chico Bento para reescrever utilizando a linguagem considerada de maior prestígio. Essa atividade será realizada para observar o efeito produzido se a linguagem utilizada não fosse a coloquial. Questionar a atitude do leitor: será que o autor seria tão bem sucedido com a outra linguagem como quando usa os termos próprios de cada situação?

Disponível em: http://gabianiceto.blogspot.com/2010/12/variacao-linguistica-historia-em.html

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Leitura e análise da letra de música: “Chopis Centis” de Mamonas Assassinas. Primeiramente será ouvida a música para que os alunos possam observar a pronúncia de algumas palavras, assim poderão comparar com a escrita e ver que varia a pronúncia de uma mesma palavra quando ela se repete. A grafia da palavra “quantcha” difere na grafia e na pronúncia, pois aparece escrita com tch e algumas vezes não é pronunciada dessa maneira. Isso ocorre também com a palavra “muitcho” e “gostchoso”.A palavra “gente”, grafada somente com t, possui o mesmo som das demais. A repetição da música aos alunos fará com que percebam melhor a pronúncia do cantor. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=st0gLircovk

Disponível em: http://www.letras.com.br/mamonas-assassinas/chopis-centis Chopis Centis ( Mamonas Assassinas – Dinho e Julio Rasec, encarte CD mamonas Assassinas, 1995)

Eu dí um beijo nela e chamei pra passear.

A gente fomos no shopping, pra mó di a gente lanchá.

Comi uns bicho estranho, com um tal de gergelim.

Até que tava gostoso, mas eu prefiro aipim.

Quantcha gente, Quantcha alegria,

A minha felicidade

é um crediário

nas Casas Bahia.

1 - Observar as frases que encontram-se em desacordo com a norma

considerada padrão;

2 - Questionar se é possível perceber a profissão da pessoa do discurso, escolaridade, classe social?

3 - Sobre os filmes citados, conversar sobre os que os alunos

assistem;

4 - O significado da gíria “rolezinho”;

5 - Atividades envolvendo o vocabulário, personagens e linguagem utilizada;

6 – Observar a concordância entre os termos;

7 – Observar os termos regionais;

Várias linguagens diferentes para observar a ortografia, utilizando o método de hipóteses para a correção da grafia:

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1 - Carta enigmática: o aluno terá oportunidade de trabalhar com hipóteses para saber a parte da palavra que forma a ideia.

2 - Pode-se trabalhar com cartas diferentes, em grupos e apresentá-las aos colegas após decifrá-las.

Disponível em: http://www.google.com.br/search?q=carta+enigmatica&hl=pt-

BR&biw=1920&bih=979&prmd=ivns&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=yPgMTvSLFuPr

0gHE4fSgDg&sqi=2&ved=0CBwQsAQ

As placas comerciais também são recursos para observação da

ortografia, sendo o objetivo das mesmas alcançado, que é a

comunicação, a transmissão de algo, porém a grafia difere da norma

imposta socialmente.

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Visto que o trabalho se desenvolve em torno de textos que mencionam shopping, compra e venda, produtos, a continuidade das atividades será realizada com um texto publicitário:

“O texto abaixo é uma pesquisa feita pela revista TRIP College para saber de qual marca de chinelos os jovens gostam mais.” 1- O texto possui expressões como: “Raider na cabeça”, “nos pés da galera”, “a nova onda das sandálias”, “as marcas que já sacaram”;

2- Observar se o texto teria o mesmo efeito se os termos usados “gírias” fossem substituídos por palavras consideradas de maior prestígio; 3- Reescrever o texto publicitário na linguagem considerada culta, padrão; 4- O texto possui várias marcas de chinelos e sua respectiva porcentagem de preferência pelos jovens. Com isso, pode-se fazer uma pesquisa com alunos de outras turmas, sobre qual o programa de TV preferem ou qual a atividade que realizam, nos momentos de folga. Podem ser oferecidas sugestões: leitura ( ) jogar videogame/pc ( ) praticar algum esporte ( ) passear ( ) ouvir música; 5- Produção de gráfico e exposição em sala de aula; 6 - As frases que são destacadas como “pérolas dos vestibulares” são grandes oportunidades para observar a grafia das palavras e a correção das mesmas pode ser uma grande aliada para o trabalho da ortografia, visto que requer tentativas, experimentações ou pesquisa como propõe o referido material didático. Ex: Tudo isso colaborou com a estinção do micro-leão dourado. Precisamos tirar as fendas dos olhos para enxergar com clareza o número de famigerados que almenta .

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7– Visto que as atividades iniciaram com a leitura da biografia de Maurício de Souza, produção uma biografia de um membro da família. AVALIAÇÃO

A Avaliação será realizada durante o desenvolvimento das atividades, observando-se a participação do aluno e o grau de dificuldade encontrado para as mesmas. No final, será realizada uma produção de texto, a biografia, a qual dará uma visão melhor das dificuldades apresentadas por cada aluno. Essas produções serão utilizadas para o trabalho com situações que apresentarem problemas, seja na ortografia, seja na formação de frases, parágrafos.

MATERIAIS UTILIZADOS

Xerox com H.Q. ou gibis, pendrive com vídeos curtos, xerox de cartas enigmáticas, música de Mamonas Assassinas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é e como se faz. Edições Loyola, São Paulo, 1999. DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA. Língua Portuguesa.

Secretaria de Estado da Educação do Paraná, 2008. GERALDI, José W.(org.). O texto na sala de aula – leitura e produção. Cascavel: Amoeste, 1984. PIVOVAR, Altair. Leitura e escrita: a captura de um objeto de ensino.

(Dissertação de Mestrado). Curitiba, PR, UFPR, 1999, citação nas DCE’s. POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Mercado das Letras, 1997. SCHERRE, Maria Marta P. Doa-se lindos filhotes de poodle: variação linguística, mídia e preconceito. São Paulo: parábola Editorial, 2005. Disponível em: http://www.monica.com.br/mauricio-site

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=ntXCiB0Ehfk

Disponível em: http://www.letras.com.br/mamonas-assassinas/chopis-centis

Disponível em: http://www.letras.com.br/mamonas-assassinas/chopis-centis

Disponível em: http://gabianiceto.blogspot.com/2010/12/variacao-linguistica-historia-em.html