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CAIXA Cultural RJ - Rio de Janeiro - 4 a 16 de setembro

2018

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05 Eles estão entre nós Marcelo Engster

11 Daqui pra trás eu vou pra frente Eric Paiva

15 “Nada nos é alienígena, pois tudo o é” Alfredo Suppia

23 O científico-tecnológico que faz rir e refletir: a ficcão científica brasileira em cena Juliana de Oliveira

31 O passado, o presente e o futuro do audiovisual de ficcão científica brasileiro Raphael Fernandes

39 Sabe a representatividade? Ela importa! Lady Sybylla

45 LONGAS: fichas técnicas e sinopses

45 Branco sai, preto fica

45 Os Cosmonautas

46 Cassiopéia

46 Uma História de Amor e Fúria

47 Abrigo Nuclear

47 Oceano Atlantis

48 Quem é Beta?

48 O Homem do Futuro

49 A Repartição do Tempo

49 O Homem que Comprou o Mundo

50 Eteia, a Extraterrestre em sua Aventura no Rio

50 O Monstro Legume do Espaço

Ultravioleta >

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51 CURTAS: fichas técnicas e sinopses

51 Tempo Real

51 Barbosa

52 Loop

52 Recife Frio

53 Janaína Overdrive

53 Ultravioleta

54 À Margem do Universo

54 Personal Vivator

55 Capitão Elétron Contra a Ameaça Venusiana

55 O Quebra-Cabeça de Tarik

56 Bahia SciFi

56 Master Blaster - Uma Aventura de Hans Lucas na Nebulosa 2907n

58 Programa /sessões

60 Créditos

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MARCelo engsteR

Tenho uma paixão incontrolável por cinematografias desconhecidas, raras e/ou estranhas. Filmes turcos de super-heróis, gêneros explotation, cinema norte--coreano ou qualquer coisa que fuja do comum tem a minha atenção. Essa estranha obsessão é compartilhada com o Eric Paiva. Desde que nos conhe-cemos, é grande a troca e indicação de obras nesse contexto. E isso não é diferente com um gênero até pouco tempo praticamente inexplorado em terras brasileiras, a ficção científica.

“Eles estão entre nós” é uma afirmação de que sim, eles existem. Estão aí es-condidos, disfarçados, procurando se infiltrar e se afirmar em nosso país. São desconhecidos, são raros e são estranhos. Portanto, presas fáceis para nossa curiosidade. Cada um de nós conhecia algumas obras de ficção científica bra-sileira e, trocando figurinhas, descobrimos que existia uma interessante produ-ção de longa data do gênero no país.

Mas como assim? Nunca vi filme nacional cheio de efeitos especiais/visuais, muito menos de ação desenfreada? Infelizmente, muito devido aos sucessos hollywoodianos, temos a impressão de que o gênero se resume a essas carac-terísticas. O que mais me atrai na ficção científica e o que acho que ela tem de mais forte - que é a sua principal característica - é a possibilidade de discutir-mos nossa realidade, visualizarmos novos mundos, novas formas de organiza-ção da sociedade, o futuro da humanidade, independente de efeitos especiais e ação. E é nisso que o cinema brasileiro de sci-fi se destaca.

Agentes dos países Potência Anterior (“EUA”) e Potência Posterior (“Rússia”) pretendem sequestrar o homem mais rico do mundo, que se encontra preso em um quartel do País Reserva 17 (“Brasil”). Um espião da Potência Posterior pre-para, em frente ao quartel, o que parece ser uma bomba e a atira em direção aos soldados. Era uma bola de futebol. Os soldados tentam, mas não conseguem resistir e armam uma pelada enquanto os agentes internacionais invadem o quartel. Alegorias sobre o país, sobre nossa politica, nossas relações sociais,

< Branco sai , preto fica

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nosso modo de ver o mundo, estão presentes nas principais obras de ficção científica nacional, como o genial O Homem que Comprou o Mundo (Eduardo Coutinho, 1968), da cena descrita acima, Uma História de Amor e Fúria (Luiz Bolognesi, 2013) e os curtas Recife Frio (Kleber Mendonça, 2009) e Manhã Cinzenta (Olney São Paulo, 1969). Esse último é, inclusive, uma das obras mais potentes de combate à ditadura civil-militar brasileira. No curta um casal de estudantes, em um país fictício de terceiro mundo, é preso e torturado, e passa por uma sabatina de um robô. O filme tanto causou que pela primeira vez um cineasta foi processado por sua obra. Olney acabou sentindo na pele tudo o que denunciava em sua película, foi preso e torturado, e os negativos do seu filme foram destruídos. Por sorte uma cópia foi salva na cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Felizmente na abertura pós ditadura, com os incentivos para a diversificação no audiovisual brasileiro e a democratização no acesso aos equipamentos com a evolução digital, uma nova geração de cineastas pode usar o gênero para discutir assuntos ligados a minorias. O belo exemplar de cyberpunk Janaina Overdrive (Mozart Freire, 2016) traz LGBTQI+ para a tela assim como Batguano (Tavinho Teixeira, 2014) e X-Manas (Clarissa Ribeiro, 2017); a negritude apare-ce no incrível Branco Sai, Preto Fica (Adirley Queiroz, 2014) e nos curtas Chico (Irmãos Carvalho, 2016) e Personal Vivator (Sabrina Fidalgo, 2014), que tam-bém representa as mulheres com o já citado X-Manas.

A primeira obra de ficção científica tupiniquim data de 1875 com o livro O Doutor Benignus, do autor português naturalizado brasileiro Augusto Emílio Zaluar. Nela uma comitiva liderada por um cientista encontra uma avançada civiliza-ção alienígena no interior do Brasil. Entre os autores que passaram pelo gênero também estão Emília Freitas, Lima Barreto, Machado de Assis e Menotti del Picchia. A ficção científica perpassa a cultura pop brasileira nas mais diversas formas. Nos quadrinhos aparece em 1937 na obra Os Primeiros Homens na Lua (de Francisco Acquarone e baseado na obra de H. G. Wells) até o sucesso das atuais Cangaço Overdrive (Zé Wellington e Walter Geovani, 2018) e a trilogia do Astronauta (Danilo Beyruth). Estamos em um momento rico em séries do gênero, entre elas 3% (Daina Giannecchini, Dani Libardi, Jotagá Crema e César Charlone, 2016), Horizonte B (Emiliano Cunha, 2016) e Punho Negro (Carolina Silvério e Murilo Deolino, 2018). A sci-fi rolou até mesmo em telenovelas como

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Olho no Olho (Globo, 1993), O Clone (Globo, 2001) e Os Mutantes (Record, 2008). Clipes musicais também não ficam de fora, exemplos de Eva - Radio Taxi (Antônio Carlos, 1982) e DigiSexDreams - Neoslave (João Antunes, 2018). No cinema a sci-fi aparece cedo, em 1908, no curta Duelo de Cozinheiras, de António Leal, divulgada como uma “fita cômico phantastica” que inseria ele-mentos de ficção científica em uma comédia. No ano seguinte outro curta, O Fósforo Eleitoral, de Antônio Serra, utilizava-se da mesma estratégia, em uma comédia crítica ao sistema eleitoral carioca, com toques de fantasia.

Essa inserção da ficção científica em outros gêneros é bem comum, e é desse modo que ela mais aparece em nosso cinema. Na comédia em especial, com o Os Cosmonautas (Victor Lima, 1962), O Homem do Futuro (Cláudio Torres, 2011), A Repartição do Tempo (Santiago Dellape, 2016), nos curtas Barbosa (Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, 1988) e Master Blaster – Uma aventura de Hans Lucas na nebulosa 2907N (Raul Arthuso, 2013) e até mesmo filmes dos Trapalhões como Os Trapalhões na Guerra dos Planetas (Adriano Stuart, 1978) e A Princesa Xuxa e os Trapalhões (José Alvarenga Júnior, 1989). E mesmo a comédia não foge das alegorias, em Barbosa afirma-se que a obsessão pela derrota do Brasil para o Uruguai em pleno Maracanã na Copa de 1950 é um sinal do destino de que nesse país nada vai dar certo.

A produção de ficção científica no Brasil vai desde filmes independentes, feitos na raça e rodados em VHS, caso do curta Capitão Eléctron contra a Ameaça Venusiana (Dário R. C. Castro, Edmundo G. Barreiros, Humberto Pereira e Marcello Monteiro, 1986) e o longa O Monstro Legume do Espaço (Petter Baiestorf, 1995) até obras com muito recurso, contando com equipamentos de ponta e artistas de renome, como os já citados filmes dos Trapalhões ou Acquaria (Flávia Moraes, 2003) estrelando a dupla Sandy e Júnior. A animação está representada nos filmes Cassiopéia (Clovis Vieira, 1996), Uma História de Amor e Fúria (Luiz Bolognesi, 2013), O Quebra Cabeça de Tarik (Maria Leite, 2015) e o primeiro longa de Alê Abreu, Garoto Cósmico (2007). Os fanfics tam-bém se fazem presentes, em especial o curta Aliens: LV-426 (Márcio Napoli, 2014), de grande sucesso na internet.

Além de Eduardo Coutinho e Kleber Mendonça, outros cineastas de renome tam-bém já se aventuraram pela sci-fi. Walter Hugo Khouri traz um extraterrestre

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à Terra em Amor Voraz (1984). Distopia pós apocalíptica é o subgênero usado por Nelson Pereira dos Santos em Quem é Beta? (1972), com direito a zumbis e aparatos à la Black Mirror, Luiz Rosemberg Filho em sua obra cheia de ale-gorias Jardim das Espumas (1970) e Walter Lima Jr em sua crítica à ditadura militar Brasil Ano 2000 (1969).

Para a Mostra Sci-Fi Brasil apresentamos ainda outros filmes que seguem pela distopia pós-apocalíptica: em Abrigo Nuclear (Roberto Pires, 1981) a humani-dade precisa viver em instalações subterrâneas após a terra ser devastada por radiação atômica; já no curta Ultravioleta (Dhiones do Congo, 2018) são os raios ultravioletas que levam uma família a morar em abrigos. Filmes com te-mas existenciais também dão as caras, com destaque para o recente À Margem do Universo (Tiago Esmeraldo, 2017). A relação do homem com a tecnologia é debatida em Tempo Real (Mino Barros Reis e Joana Limaverde, 2015) e naquele que considero o curta mais angustiante que já assisti, Loop (Carlos Gregório, 2002). Fora da mostra, porém essencial, O 5º Poder (Alberto Pieralisi, 1962), também trabalha a paranoia com a tecnologia, onde uma potência tenta domi-nar o mundo com mensagens subliminares em artefatos eletrônicos.

Para ampliar a conversa sobre a produção de filmes de ficção científica no país serão realizados dois debates durante a mostra. “Ficção Científica e Alegorias do Terceiro Mundo” discute as possibilidades do gênero abordar temas rela-tivos à nossa realidade de uma forma menos direta. Em “Efeitos especiais e visuais na produção de ficção científica brasileira” serão mostrados casos de utilização dos mesmos em filmes nacionais e discutidas formas de produção em obras de baixo orçamento e o porquê da ideia de que filme de ficção cientí-fica necessariamente precisa de efeitos especiais. Complementando o assunto trazemos o documentário Bahia Sci-Fi (Petrus Pires, 2015) sobre o processo de produção do longa Abrigo Nuclear.

Procuramos trazer filmes raros, difíceis de serem encontrados como Etéia, a Extraterrestre em sua Aventura no Rio (Roberto Mauro, 1983), Oceano Atlantis (Francisco de Paula, 1993), Elke Maravilha contra o Homem Atômico (Gilvan Pereira, 1978) e O Homem de Seis Milhões de Cruzeiros Contra as Panteras (Luiz Antonio Piá, 1978). Desses dois últimos títulos, porém, não existem mais cópias no Brasil, e rola a lenda que as únicas inteiras estão com colecionadores na Europa.

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Aliás, a curadoria e consequente busca por cópias das obras selecionadas se mostrou um verdadeiro filme de ficção científica, em seu subgênero distopia. Cópias que não existiam mais, informações desencontradas sobre quem seriam os herdeiros ou a inexistência dos mesmos, realizadores incomunicáveis, cine-matecas inacessíveis e falta de projetores adequados para as cópias existentes.

Essa dificuldade é muito representativa do momento em que vivemos no país. Dessa tentativa da retomada de ideais passados como soluções para nosso futuro. Ideais esses parcamente documentados, com informações desencon-tradas, pessoas e instituições de difícil comunicação, que fazem de tudo para não mostrarmos nosso país abertamente. Esperamos que, com nossa mostra, a ficção científica contribua com aquilo que ela tem de melhor, refletir sobre nós mesmos, discutir o presente e o passado, dissecar as experiências humanas e nossas organizações para construir novas soluções para nossos atuais pro-blemas sem apelar para nostalgias políticas tão ultrapassadas quanto a ideia de que não se realizam filmes sci-fi no Brasil. E, claro, que a mostra seja um banquete para os amantes de ficção científica, de cinema brasileiro e curiosos com cinematografias incomuns.

personal vivator >

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eRIC PAIvA

Bem-vind@s à Terceira Revolução Tecnológica: a Era Virtual. O período de con-solidação da internet como um dos principais meios de interação social, da alta definição, do surgimento dos mp3 players, smartphones, tablets, apps, youtube, redes sociais, GPS e games de realidade aumentada. Nada disso foi e é possível sem uma história pregressa. Com o start na Revolução Industrial que, entre a evolução da manufatura para a produção em massa, condições de trabalho subumanas, máquinas a vapor, guerras, eletricidade, a não-saudosa corrida atômica, trouxe-nos um mundo de maravilhas e uma ideia de avanço tecnológico onde bilhetes de pedido de socorro vêm dentro de produtos de ponta. No nosso microcosmo brasileiro, essa Era nos oferece diversas revo-luções e tensões sociais. Há avanços tecnológicos significativos no país, mas quem de nós têm noção disso? E longe de apresentar um quadro distópico da nossa realidade tupiniquim, temos a honra de viver na época onde empodera-mento feminino e diversidade são pautas recorrentes na mídia e nas redes so-ciais. As mudanças são sutis, porém fortes e significativas. Ainda estamos longe de ter uma mudança que realmente transforme nossa sociedade em algo me-nos nocivo à vida de mulheres, negr@s, indígenas, transexuais e gays e lésbicas. No Brasil, o maior avanço tecnológico que um país pode ter, a matriz, a base onde é possível toda inventividade e evolução social é relegada a segundo ou terceiro plano de prioridade à população: a educação.

Imagine que o conhecimento da História para uma nação e sua importância sofrem rupturas durante a construção de sua própria trajetória. Não nos gran-des centros acadêmicos, mas para a população em geral. O estudo da História nos possibilita um amplo entendimento do passado e um melhor entendimento dos ciclos de desenvolvimento do ser humano ao longo dos tempos. É o passado ainda presente no nosso cotidiano, pelo acúmulo de conhecimento. Entretanto, essa possibilidade de assimilar algumas situações ou os problemas da atua-lidade para adaptar-se ao mundo à nossa volta não basta. É necessário uma análise que transforme essa experiência adquirida em dados que possam nos

< QUem é Beta?

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ajudar a vislumbrar novas perspectivas para o futuro da nossa sociedade. Se a História tem toda essa importância, qual seria a relevância da ficção na nossa sociedade? Robert Mckee, o guru da escrita contemporânea, já disse que a ficção é o que sustenta nossa sociedade. Sem histórias, a melancolia de um mundo sem sentido já teria devorado a humanidade. Porém dentro desse qua-dro, qual seria a importância da Ficção Científica? Talvez a possibilidade de propor um grande ensaio sociológico sobre a jornada humana no mundo e fora dele. A Ficção Científica é, em suma, olhar para o futuro e construir uma ima-gem de si próprio antecipando questões. Como “O Clone”, novela de sci-fi de 2001, que trazia como tema secundário questões da bioética, que antecipam a possibilidade de convívio com clones de humanos e todas as questões dessa relação com esse Outro. O próprio Vaticano se vale desse sentido de anteci-pação científica, pois seu observatório astronômico (Santa Sé) está preparado para possivelmente catequizar alienígenas ou para saber qual discurso aplicar quando houver questionamentos entre os escritos sagrados e a chegada dos alienígenas. A Ficção Científica não é uma tradição narrativa na nossa litera-tura e tão pouco um recurso recorrente no audiovisual brasileiro. Há poucas obras, se colocarmos outros gêneros narrativos como parâmetro.

É muito recorrente algum cidadão brasileiro colocar muita da ‘culpa’ dos nos-sos equívocos atuais na conta do nosso histórico colonial. Não é um erro, mas a prática de projetar o país para o futuro é algo incomum para nós brasileiros. As perguntas base para uma sociedade que têm o costume de se auto-avaliar e se projetar para o amanhã seriam: Como você se vê no futuro? Como tomar de-cisões agora que vão impactar positivamente para uma transformação planejada da sua sociedade? Falta no nosso cotidiano mais perguntas construtivistas, ou o hábito de estarmos preparados para esse tipo de questão. Falta mais sci-fi na nossa forma de lidar com nossa sociedade. E sendo o Brasil um país com o fardo do passado nas costas, a Ficção Científica é o contraponto para propostas de possíveis futuros, sejam eles planejados ou dentro de uma pauta coletiva.

A “Mostra Sci-Fi Brasil - Eles Estão entre Nós” é mais uma de várias inciativas, algumas reunidas durante o evento, para promover esse tipo de pensamento na nossa sociedade. É uma oportunidade fantástica para vermos filmes que fazem uma imersão antropológica, filosófica e social no nosso futuro. É o resgate e a descoberta de novas formas contínuas de narramos nosso porvir. Sejam com

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perspectivas pessimistas, fantasiosas ou curiosas. Onde nossa história pre-gressa encontrar um caminho para nos prepararmos para o amanhã. Porém é necessário que haja mais. Mais filmes, mais livros, mais discussões. A Ficção Científica, como a História, é necessidade básica numa cultura que se preo-cupa em construir sua trajetória. E o Brasil precisa desse tipo de pensamento comum. Essa mostra é um presente necessário, uma contribuição para nossa cultura narrativa. Esperamos que vocês tenham experiências muito contro-versas e boas. Pois o futuro disso tudo é...

o QUeBra-caBeça de tarik >

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AlfRedo suPPIA

Um planeta quase desabitado. Foi com essa metáfora que o crítico e escritor Fausto Cunha referiu-se à literatura de ficção científica (FC) em ensaio publicado no livro No mundo da ficção científica, de L. David Allen (São Paulo: Summus, 1976). Se no planeta das letras a FC era um organismo raro, o que dizer de sua presença no planeta do cinema? Felizmente insisti na busca por essa forma de vida e, após uma pesquisa intensa e prolongada, concluí que o cinema de FC de fato aportou no planeta do audiovisual brasileiro. Hoje ele sobrevive bem, e se multiplica.

Com muita disposição e reunindo os instrumentos que me foram disponíveis, pude observar que a FC no cinema brasileiro começava a dar sinais mais claros de sua presença a partir do final da década de 1940. Uma aventura aos 40 (1947), filme independente do dramaturgo e comediante carioca Silveira Sampaio, é das primeiras fitas em que podemos reconhecer pelo menos um elemento de FC: uma televisão interativa do futuro.

Os anos 1960 foram um período de afirmação para o cinema de FC mundial e, guardadas as devidas proporções, no Brasil não foi diferente. 1962 pode ser tido como um ano-chave para o cinema de FC brasileiro, com o surgimento de dois filmes em particular: O quinto poder e Os cosmonautas, títulos exemplares de duas vertentes básicas no panorama nacional do gênero: a “sério-dramática” e a “lúdico-carnavalesca” 1 - com razoável predominância desta última.

No final dos anos 1960 a FC foi visitada pelo Cinema Novo, dando demonstra-ções mais visíveis de seu potencial alegórico ou de crítica social e política, gênero capaz de transmitir mensagens cifradas em época de ampla repressão

1. ismail Xavier usa o termo “serio-dramatico” em alegorias do subdesenvolvimento (são paulo: ed. Brasiliense, 1993) e outras obras. a categoria me parece adequada no momento, na falta de outra ainda mais precisa. a contraposicão que Xavier faz entre uma narrativa de natureza “serio-dramatica” e outra “ludico-carnavalesca” (1993, p. 227) tambem pode ser util para uma melhor distincão entre filmes brasileiros de fc mais empenhados (“serio-dramaticos”), aderentes a uma narrativa modelar do gênero, e filmes mais afeitos à comedia, por vezes com vies mais parodico (“ludico-carnavalescos”).

< À margem do Universo

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e censura. Tal recurso à FC como um gênero “instrumental” de certa maneira reedita, guardadas as devidas proporções, ocorrência análoga no cinema ame-ricano dos anos 1950 e 60, sob os anos do macarthismo. No Brasil, os censores a serviço da ditadura pouco ou nada sabiam de FC. Não obstante, isso não impe-diu que o cineasta Olney São Paulo enfrentasse a repressão em virtude de um filme-chave para se compreender o Brasil sob a ditadura: Manhã cinzenta (1969), curta-metragem de FC ilustrativo de nossa irrefreável atração pela brutalidade e violência, sufocamento das liberdades civis e regimes de exceção. Em tempos de “nova direita” e saudosismo dos “anos de chumbo”, Manhã cinzenta é hoje um filme incontornável. Contemporâneo de Manhã cinzenta, o longa Brasil ano 2000 (1969), de Walter Lima Jr., pode ser tido como outro “tutorial” para se compreender o Brasil de ontem e de hoje. Pouco antes, em 1968, nosso país “indecifrável” já se dava a entrever em O Homem que Comprou o Mundo, de Eduardo Coutinho.

O experimentalismo no cinema brasileiro também encontrava inspiração no universo da FC em filmes como O anunciador: o homem das tormentas (1970), de Paulo Bastos Martins (longa sobre um suposto alienígena que chega à cida-dezinha de Cataguases-MG, remotamente inspirado em “Um moço muito bran-co”, conto de 1962 de Guimarães Rosa), ou as distopias hippies/tropicalistas/pós-apocalípticas Jardim das espumas (1970), de Luiz Rosemberg Filho, e Quem é Beta? (1973), do mestre Nélson Pereira dos Santos. Sem falar em Azyllo muito louco (1970), também de Nélson, a livre adaptação de uma novela de Machado de Assis que já fora relacionada à FC avant la lettre: O alienista. A crítica à situação política e social brasileira acompanhava o experimentalismo nesses filmes, como no gaúcho Um homem tem de ser morto (1973), de David Quintans.

Em 1978 surgia um dos primeiros casos de ecodistopia no cinema brasileiro: Parada 88: o limite de alerta, dirigido por José de Anchieta, introduz de forma mais contundente a temática ambientalista, ao mesmo tempo em que propõe uma crítica ácida à conjuntura social e política do Brasil à época.

Os anos 1980 deram continuidade ao cinema de FC de orientação ambienta-lista, como em Abrigo nuclear (1981), dirigido por Roberto Pires. Nessa mesma década, multiplicaram-se as paródias do gênero em pornochanchadas brasilei-ras, nos filmes infanto-juvenis d’Os Trapalhões e no “Terrir” de Ivan Cardoso.

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Um cinema de FC mais autoral ganhava contornos mais claros em filmes como Amor voraz (1984), de Walter Hugo Khouri, enquanto uma nova geração de ci-neastas não se intimidava com o gênero e revigorava velhos temas, como o da viagem no tempo, tropo que pauta a mescla de documentário e FC em Barbosa (1988), de Jorge Furtado.

Ao fim dos anos 80, o cinema brasileiro chegava ao ápice da crise de seu mode-lo de produção, com o declínio e fechamento da Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes). A FC sofreu, no final dos 80 e início dos 90, dos mesmos males que afligiram o cinema brasileiro como um todo. Mas o gênero continuaria lutando por sua sobrevivência numa atmosfera rarefeita, em filmes como a ecodistopia Oceano Atlantis (1993), de Francisco de Paula, ou a comédia O efeito ilha (1994), de Luiz Alberto Pereira, o Gal. Os anos 1990 também foram momento de im-portante experimentação com o cinema digital no Brasil. Iniciada em 1992 e lançada em 1996, a animação infantil Cassiopéia, de Clóvis Vieira, tornou-se o primeiro longa-metragem 100% digital brasileiro – e talvez mundial. Bom hu-mor, escracho e inventividade davam o tom de filmes em vídeo como O Monstro Legume do Espaço (1995), de Petter Baiestorf.

O cinema brasileiro de FC nos anos 2000 pode não ter impressionado por sua originalidade e ousadia, porém marcou um interesse renascente pelo gênero, sobretudo por parte de cineastas estreantes ou veteranos de “espírito jovem”. O aporte de tecnologias digitais mais ágeis e acessíveis aproximaram o cinema de FC do horizonte dos (novos) cineastas brasileiros. Os festivais de cinema e o meio universitário forneceram a atmosfera adequada para que a FC nacional reflorescesse. Antigos laços afetivos com o gênero foram reavivados em filmes como Um lobisomem na Amazônia (2005), de Ivan Cardoso, livre e irreverente releitura cinematográfica do romance A Amazônia misteriosa (1925), de Gastão Cruls. No mesmo período, co-produções viabilizaram filmes em longa-metra-gem mais sofisticados. Vale a pena destacar aqui a retomada de interesse e investimento em “filmes espíritas”, gênero de razoável afinidade com a FC e que se desenvolveria nos anos seguintes, com o lançamento de longas como Nosso lar (2010), de Wagner de Assis, ou Area Q (2012), de Gérson Sanginitto.

Ao menos desde o curta Barbosa, o tempo parece ser uma obsessão no cinema de FC do “país do futuro”. Cronos brinca por trás de narrativas como Loop (2002),

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de Carlos Gregório, A máquina (2005), de João Falcão, Caminhos em busca de um tempo (ainda não catalogado) (2006), de Carlos Canela, Tempo real (2010), de Mino Barros Reis e Joana Limaverde, O homem do futuro (2011), de Cláudio Torres, Uma história de amor e fúria (2013), de Luiz Bolognesi, Branco sai, preto fica (2014), de Adirley Queirós, e A repartição do tempo (2016), de Santiago Dellape. Caminhos em busca de um tempo (ainda não catalogado) demonstra a sobrevivência do Super 8 na poética do cinema brasileiro de FC, algo que também pode ser dito de alguns dos mais deliciosos filmes do cineasta Marcos Bertoni. O homem do futuro marca a investida da Globo Filmes na FC popular, na chave da comédia sob o signo da chanchada, e A repartição do tempo con-firma o interesse de Santiago Dellape pelos quiproquós armados por Kairós, como em seu curta Nada consta (2007).

Atualmente, o cinema brasileiro de FC não desperta mais tanta estranheza. Diferentes gerações de cineastas brasileiros têm visitado o gênero em curta, média ou longa-metragem, no cinema, na televisão, e na mais recente internet--tv, com seus cada vez mais fartos serviços de streaming. A série 3%, um su-cesso comercial do canal Netflix, comprova esse novo estado da FC no planeta audiovisual brasileiro. A meu ver, 3% tem explorado com alguma proficiência a linguagem desse gênero, agregando uma semântica e uma sintática tipica-mente brasileiras à FC mundial, com talento e criatividade. Festivais de cinema como a Mostra de Cinema de Tiradentes-MG ou o Festival de Brasília, entre ou-tros, têm celebrado filmes de apurado rigor artístico, que nem por isso deixam de ser filmes brasileiros de FC. Em paralelo, as convulsões sociais, políticas e econômicas que recrudescem agora no país parecem reativar a necessidade por utopias e distopias, e assim o cinema brasileiro de FC continua sendo ins-tado – e revigorado. Em 2013, Uma história de amor e fúria ganhou um prêmio mundial importantíssimo, o de Melhor Filme no Festival de Annecy, na França. Arguições acerca da história de nosso país e de nossa atual condição reapa-recem cifradas em curtas-metragens inspirados e deliciosos como Recife Frio (2010). Bom humor e ativismo independente perduram em filmes como Casulos (2018), de Joel Caetano, enquanto visões contundentes e controversas acer-ca do Brasil, cristalizadas na paisagem de sua capital federal, sucedem-se em filmes de FC (mas não só) como Branco Sai, Preto Fica e Era Uma Vez Brasília (2017), ambos de Adirley Queirós. Brasil S/A (2014), de Marcelo Pedroso,

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e Deserto Azul (2014), de Eder Santos, somam-se a esse mosaico distópico mais contemporâneo, tanto mais oportuno quanto mais avançam e se multiplicam os golpes parlamentares, os escândalos de corrupção e a degradação ambiental no Brasil. O “país do futuro” de Stefan Zweig, entrevisto por uma pequena fres-ta na janela do jovem século XXI, recuaria de vez a partir de 2016: entra numa máquina do tempo e parece retroceder aos anos 80, no pior sentido possível. Nesse cenário, o cinema e audiovisual de FC têm dado sua contribuição como “espectrômetro” da sociedade brasileira. Filmes como os citados acima têm mobilizado vocabulários da FC mundial em algumas argutas abordagens auto-rais da nossa atual situação de deriva, denunciando a sobrevivência dos mais arcaicos protocolos e instrumentos a bordo dessa espaçonave chamada Brasil, gigante sem rumo propelido pelo sangue de sua população pobre, trabalhadora, negra e indígena. A FC brasileira brilha hoje para nos lembrar que, infelizmente, por trás do consumo de luxo e da concentradíssima prosperidade econômica, pouco ou nada mudou. O curta Loop (2002), de Carlos Gregório, apresentou um homem encalacrado em sua própria nostalgia. Somos todos esse personagem?

Continuo repetindo que, embora haja muito menos filmes brasileiros de FC do que eu gostaria de ver, estes são sem dúvida muito mais numerosos e fre-quentes do que se imagina. Percebo que, entre os cineastas brasileiros mais jovens talentosos, o gênero vem deixando de ser associado exclusivamente ao “império” da indústria americana do entretenimento – com seus maçantes, porque demasiado repetitivos, espetáculos de efeitos especiais. Para muitos cineastas brasileiros contemporâneos e um público amplo, a FC é hoje mais um, entre tantos, regimes de expressão artística.

Segundo o escritor Gerson Lodi-Ribeiro, o fraco desenvolvimento que o cine-ma de FC brasileiro teria tido no século XX talvez se deva à persistência de uma noção equivocada de que são necessários efeitos especiais grandiosos para se contar uma boa história de FC. Noção equivocada típica de quem tem pouca intimidade com o gênero. 2 Felizmente, posso dizer que esse equívoco esmoreceu, e atualmente a FC no cinema e audiovisual brasileiros encontra atmosfera mais estável e promissora. Prova disso são sua presença em festi-vais e mostras como esta, divulgada neste catálogo.

2. gerson lodi-ribeiro, em entrevista por e-mail concedida a mim em 04/03/2006.

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O sucesso de uma série como 3%, ou de filmes como Branco sai, preto fica, entre outros exemplos, é ilustrativo e sintomático de ao menos dois aspectos: (1) a desmistificação da FC enquanto gênero inacessível a produções indepen-dentes ou de baixo-orçamento, favorecida pela popularização de novas tec-nologias, e (2) o reencontro, por parte de uma nova geração de cineastas, da FC enquanto “modo de representação” ou “regime de decifração” da agenda contemporânea, seus principais dilemas e ansiedades.

À esta altura, gostaria de buscar em Cinema: trajetória no subdesenvolvimento, Paulo Emílio Salles Gomes (São Paulo: Paz e Terra, 1986), uma “chave de leitura” para o cinema brasileiro de FC. Trata-se da seguinte passagem:

Não somos europeus nem americanos do norte, mas destituídos de cultura original, nada nos é estrangeiro, pois tudo o é. A penosa sensação de nós mesmos se desenvolve na dialética rarefeita entre o não ser e o ser outro. O filme brasileiro participa do mecanismo e o altera através de nossa incompetência criativa em copiar. O fenômeno cinematográfico no Brasil testemunha e delineia muita vicissitude nacional. (p. 88)

A FC me parece um macrogênero universal. Sua matéria-prima é o exótico, o exó-geno, o inusitado, o diferente; tudo aquilo que coloca em xeque fronteiras e defi-nições, dentro de uma estética que privilegia as elucubrações intelectuais ou qualquer tipo de lógica cognitiva. Embora John Baxter, em The science fiction cinema (New York: A.S. Barnes & Co./London: A. Zwemmer Ltd., 1970) já te-nha reivindicado o cinema de FC como manifestação cultural essencialmente americana, a insistência em “patentear” a FC me parece absolutamente equivo-cada e contraditória em relação à própria natureza universalizante do gênero, sua vocação especulativa ou experimental intrínseca. Atender à reivindicação de que “cinema de FC é coisa de americano” nada mais é do que acatar acri-ticamente a mais controversa e reacionária “divisão internacional da cultura”, uma partilha que vem a reboque da divisão internacional do trabalho e das ri-quezas humanas, materiais ou imateriais. Dizer que não existe FC no “terceiro mundo” ou fora dos países ditos desenvolvidos, devido ao fato de que faltaria a países não-ocidentais a devida infraestrutura científica e tecnológica, é uma tomada de posição política. Igualmente, vincular peremptoriamente cinema de FC a efeitos visuais sofisticados ou industriais, sem qualquer ponderação e

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atenção à história mundial do gênero, significa interditar às cinematografias externas a Hollywood o acesso a um modo de representação e regime de dis-cussão virtualmente universais. Compreende-$e o que $e e$conde por trá$ di$$o. Não apenas a FC é reivindicada como patrimônio de superpotências, o cinema também o é - não à toa, uma das premiações mais populares do mundo distingue o “melhor filme estrangeiro” do “melhor filme”. Parafraseando no-vamente Paulo Emílio, não surpreende que o “ocupante” venda (ou distribua de graça) esse raciocínio. O problema é quando o “ocupado” reproduz tal ideologia acriticamente. Mas felizmente a voz desse “ocupante”, reproduzida pelo “ocu-pado”, parece estar dando sinais de fadiga no que diz respeito ao cinema de FC.

Aproveitem a exuberante seleção de filmes que a mostra SciFi Brasil - Eles estão entre nós oferece ao público entre 4 e 16 de setembro de 2018, com o apoio da Caixa Cultural Rio. Uma oportunidade única de especularmos sobre nosso pas-sado e presente, bem como sobre o futuro que, quem sabe, um dia vai chegar.

Alfredo Suppia e cinefilo, com especial apreco pela literatura, cinema e televisão do gênero ficcão científica. desde 1999 tem pesquisado detidamente a ficcão científica no cinema mundial. autor dos livros a metropole replicante: construindo um dialogo entre metropolis e Blade runner (Juiz de fora: ed. UfJf, 2011), atmosfera rarefeita: a ficcão científica no cinema Brasileiro (são paulo: devir, 2013), e organizador do volume cartografias para a ficcão científica mundial: cinema e literatura (são paulo: alameda, 2015). atualmente leciona e pesquisa no departamento de cinema e no programa em pos-graduacão em multimeios da Universidade estadual de campinas (Unicamp).

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JulIAnA de olIveIRA

O sci-fi, termo em inglês para ficção científica, lida com possibilidades que nos fazem refletir sobre as perspectivas dos grandes avanços tecnológicos em um futuro (não tão) distante e os efeitos que podem trazer para a humanidade: viagem no tempo, universos paralelos, vida extraterrestre, os impactos e con-sequências da ciência e das tecnologias (tanto imaginadas quanto verdadeiras), totalitarismo, entre outros. A ficção científica não pode ser vista só como en-tretenimento, visto que também é propulsora de novas interpretações da reali-dade, pois faz pensar no amanhã, revisitar o passado e principalmente analisar o presente, além de ser grande incentivadora da ciência1. Farão parte da Mostra Sci-Fi Brasil – Eles estão entre nós obras cinematográficas que marcaram época e que ainda hoje são apreciadas em nosso país e também em eventos do gê-nero pelo mundo. A análise destas são fonte de inspiração e ponto de partida para este artigo.

Em cada obra, audiovisual ou literária, a ficção científica brasileira aponta para as peculiaridades das culturas regionais e nacional, evidenciando questões so-ciais, políticas, econômicas, ambientais, linguísticas, históricas e científico-tec-nológicas; sendo o nosso povo, a nossa história, o nosso meio ambiente, as nos-sas experiências e cultura os objetos de estudo e a motivação para a ação, com características de distopia contextualizadas às especificidades do nosso país. O sci-fi nacional fracassa quando tenta emular o modelo norte-americano2, acertando quando sai do modelo hollywoodiano e seus parâmetros engessados

1. sUppia, alfredo luiz paes de oliveira. a divulgacão científica contida nos filmes de ficcão. cienc. cult., são paulo, v. 58, n. 1, pp. 56-58, mar. 2006. disponível em <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0009-67252006000100024&lng=en&nrm=iso>. acesso em 26 Jul. 2018.

2. coUtinHo, iluska e alvarenga, nilson a. (org.). identidade e tecnocultura: a comunicacão em ques-tão. 1 ed. rio de Janeiro: mauad X, 2010.

< Janaina overdrive

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e apostando na diversidade cultural, bons roteiros e cenários, originalidade e criatividade (que o nosso povo tem de sobra)3.

A primeira animação em longa metragem completamente produzida em com-putação gráfica do mundo e da América Latina será apresentada na mostra: Cassiopéia (1996) é um prato a ser degustado nos seus mínimos detalhes - o trocadilho é intencional, visto que o maior investidor para que a animação fosse produzida veio de Nello de Rossi: um ator e diretor italiano que ao vir para o Brasil em 1973 ficou conhecido pela sua cantina no bairro de Pinheiros, em São Paulo, a Nello´s. Com referências claras ao Renascimento e enredo cativante, a produção levou 4 anos para ficar pronta e contou com 3 diretores de animação, 11 animadores e 17 microcomputadores (alguns destes últimos infelizmente foram roubados nos últimos meses de sua produção) e custo mo-desto para a época.

Uma história de amor e fúria é outra obra prima da animação nacional apresen-tando a importância da História no exercício da cidadania e voltando o foco para o olhar daqueles que não foram mencionados na historiografia oficial: (i) os povos indígenas massacrados no período colonial, (ii) a extração de rique-zas e a escravidão no Rio de Janeiro em 1556, (iii) a luta popular no Maranhão conhecida como Balaiada (1838-1841) no período regencial, (iv) o lado obscuro da ditadura em 1968 sob o ponto de vista dos guerrilheiros e estudantes e (v) a projeção de um Brasil em 2096 metalizado.

Nesta visão futurista a segurança está nas mãos de milícias particulares, interesses públicos foram solapados pelo privado, as diferenças sociais são pautadas na guerra pelo recurso natural da água, evidenciando a já conhecida corrupção, dando a ideia literal de que nem o Cristo Redentor está a favor do nosso país. Na narrativa, os protagonistas Abeguar e Janaína são os escolhidos para liderar seu povo contra os anhangás no decorrer destes períodos históri-cos, incentivando o espectador a refletir sobre o conhecimento da sua História e da devida importância ao senso crítico.

Viagens no tempo são temas de curtas e longas metragens a serem apresentados:

3. sUppia, alfredo. atmosfera rarefeita. a ficcão científica no cinema brasileiro. são paulo: devir livra-ria, 2013.

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histórias que trazem a ideia de retornar ou avançar para uma data e ocasião emocionalmente importantes, os desdobramentos dessa “máquina do tempo” e as consequências dessa criação que traz discussões éticas e morais para além do contexto de entretenimento cinematográfico. A ideia de aquilo que aconteceu molda quem somos hoje e gera sabedoria para o futuro é ponto em comum entre as obras, incluindo a já conhecida desvalorização da ciência e do cientista, a gambiarra e o jeitinho brasileiro de tentar solucionar questões afetivas, para passar a limpo a vida e as escolhas feitas pelo personagem prin-cipal ou alguém próximo a ele. O homem do futuro e A repartição do tempo são longas metragens que, mesmo com as diferenças de roteiro e abordagem entre si, trabalham com a questão da criação e uso da máquina do tempo bem como as relações entre as pessoas envolvidas nessa invenção, com drama e comédia na medida certa, além de cenas espetaculares em paletas de cores que indire-tamente influenciam a quem assiste e trilha sonora bem selecionada.

A ficção científica no cinema brasileiro aponta constantemente em suas obras a escassez de recursos, uma “pobreza tecnológica”, como elemento de criação e invenção, visto que a alta tecnologia chega depois no país e fica mais dis-tante ainda da população periférica, salientando as desigualdades sociais e a marginalização, tendo a repressão (policial) como instrumento de controle da ordem e a clandestinidade/ a pirataria como opções para a preservação da vida e cultura periférica, bem como para uma revolução e a derrubada do sistema.

Em Branco sai, preto fica essa realidade é latente: os personagens são negros, gordos, deficientes físicos e periféricos, e não desistem do seu objetivo de pre-servar a cultura musical de black music e dos bailes por meio de uma alternativa bastante criativa, além de denunciar a tensão racial e as atrocidades contra os excluídos nos ambientes onde a cultura popular é mais presente junto a outros personagens da trama. As tecnologias no filme têm aspecto de lata e hardwares sucateados e os efeitos sonoros remetem aos filmes B do gênero. A genialidade com que são expostas questões socioeconômicas no decorrer da narrativa por meio dos personagens e a trilha sonora são pontos fortes da obra, fazendo o espectador se envolver ainda mais com a história.

Curta-metragem é o formato favorito dos produtores de sci-fi nacionais, com temas e abordagens relevantes para a época de sua produção e ainda hoje

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bastante significativos: seja tratando de viagens no tempo em Loop e Barbosa, ou das mudanças nas relações interpessoais e de classe em relação ao contex-to capitalista em que tempo é dinheiro; fatores climáticos e desastres ecológi-cos se tornando geradores de lucro, e relação de consumo são focos de estudo conforme se apresenta em Tempo real, Recife Frio, Master Blaster: uma aventura de Hans Lucas na nebulosa 2907N, presentes na programação da Mostra.

O quebra-cabeça de Tarik é um curta em animação stop motion de narrativa surpreendente com diversos elementos do steampunk, um dos segmentos da ficção científica. Percebem-se elementos da cultura cyberpunk, outra ramifi-cação do gênero. Janaína Overdrive ficou conhecida como “Blade Runner cea-rense”, tamanho impacto nacional (e internacional) que obteve essa história: a transciborgue da cidade ficcional Fortaltec e sua tentativa de transferir seus dados para o ciberespaço. As cenas alucinantes tornam o curta um espetáculo imprescindível.

E os filmes B de ficção científica serão muito bem representados com a exibi-ção do clássico Monstro legume do espaço, longa metragem trash da década de 90 que mescla elementos do terror (com direito a muitas cenas de sangue jorrando), discurso libertário e críticas ao sistema político e religioso e a ideia de uma nova sociedade humano-extraterrestre que seria superior em todos os aspectos. Também presente na programação, o curta Capitão Elétron contra a ameaça venusiana faz pensar nas consequências de uma invenção que possibi-litou a chegada de um ser de outro planeta, com filmagem que lembra o cinema mudo e enredo clássico de vilão, mocinho-herói e donzela em perigo.

Num período perigoso em que arte e discurso muito se valiam de alegorias e en-trelinhas, a ficção científica foi instrumental em filmes com razoável teor de crítica social e política4. No contexto de Guerra Fria, conspiração mundial, conquista do espaço, e no país a modernização da era JK e do período da ditadura militar, filmes como Os cosmonautas e O homem que comprou o mundo apresentam o irreverente e alegórico - característicos das chanchadas - enquanto se apoderam do imaginá-rio e da iconografia do sci-fi, contendo em suas narrativas questionamentos como

4. sUppia, alfredo luiz paes de oliveira. “limite de alerta! ficcão científica em atmosfera rarefeita: Uma introducão ao estudo da fc no cinema brasileiro e em algumas cinematografias off- Hollywood”. tese (doutorado). Unicamp, 2007.

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a entrada do Brasil na modernidade com um lastro de tantos problemas sociais a serem ainda resolvidos5, ou a possibilidade do país estar no alvo de debates mun-diais importantes sobre ida à Lua, armas secretas, paz entre as nações e disputa de poder econômico6. As comédias distópicas de ficção científica dos anos 60, sutil ou abertamente, satirizam a política nacional militar e a mundial com suas as-pirações imperialistas, fazendo com que sejam obras atemporais para se discutir os desdobramentos daquele contexto histórico.

As pretensões sociológicas e filosóficas ganham expressão mais delineada nos anos 1970/80, como uma corrente mais séria (e mais respeitada): as chamadas ecodistopias. Com seus alertas ecológicos em filmes-manifestos, sendo o ser humano, seu grupo social e ecossistema objetos de estudo, e contendo narra-tivas que envolvem o futuro de uma localidade pós-apocalíptica destruída por elementos da natureza. Em Oceano Atlantis, a destruição da cidade do Rio de Janeiro se dá por um dilúvio, gerando escassez de alimentos e a realocação da população nas encostas dos morros, gerando a descoberta de uma sociedade submarina no decorrer da trama. No curta Ultravioleta, as questões climáti-cas é que afetam todo um modo de vida, em que uma família tenta sobreviver no subsolo e com recursos naturais quase inexistentes. E no curta mais atual, À margem do universo, uma cosmonauta visita um planeta extinto e descobre mais sobre a população que viveu ali, sua linguagem, o que causou sua destrui-ção e sua natureza exuberante – enormes tesouros do universo. O longa Quem é Beta? apresenta uma sociedade dividida entre os sãos e os contaminados (uma estranha doença que os faz vagar a esmo como zumbis pedindo água e comida), contando com elementos hippies e do candomblé e uma invenção capaz de ma-terializar memórias numa projeção de cortina de fumaça. A cena final pode mui-to bem retratar a desigualdade no país de maneira impactante: os pobres famin-tos e os ricos que sentem prazer na sua vida fútil regada a sexo, alimentação farta e risadas.

5. caUso, roberto de sousa. “os cosmonautas”. terra magazine, 19/08/2006. disponível em <http://noticias.terra.com.br/imprime/0,,oi1100146-ei6622,00.html>. acesso em: 10 ago. 2018.

6. santos, rodolpho gauthier cardoso dos. a invencão dos discos voadores: guerra fria, imprensa e ciência no Brasil (1947-1958). 2009. 260 p. dissertacão (mestrado) - Universidade estadual de campinas, instituto de filosofia e ciências Humanas, campinas, sp. disponível em: <http://libdigi.unicamp.br/document/?code=000469452>. acesso em: 06 ago. 2018.

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Destacam-se no período o curta Bahia Sci-Fi e o longa Abrigo Nuclear: o primei-ro apresentando os bastidores da gravação e produção do segundo, tratam do uso desenfreado da energia nuclear e critica o regime ditatorial como um todo, sendo um dos mais genuínos filmes brasileiros de ficção científica - totalmente produzido e rodado na Bahia. Várias obras da mostra abordarão a denúncia às consequências do capitalismo, mesmo as que possuem tendência paródica7, sendo o brasileiro e suas características culturais objeto de estudo de outros mundos, como bem apresenta por exemplo o curta Personal vivator, repleto de referências e sátiras a convenções morais, sociais e políticas que, espelhadas no modo de vida norte-americano, acabam evidenciando comportamentos tipicamente brasileiros.

Enquanto a ficção científica americana geralmente abraça a tecnologia e a mu-dança, mas teme rebeliões ou invasões por robôs e alienígenas, a ficção cientí-fica brasileira tende a rejeitar a tecnologia, mas abraça os robôs e acha os alie-nígenas em geral diferentes ou exóticos. Estas diferenças, eu acredito, refletem a experiência colonial e neo-colonial do Brasil, seu legado como uma sociedade de antigos escravos, e sua população diversa, racialmente mestiça8.Filmar uma Ficção Científica em um país subdesenvolvido e dependente é, por si só, um ato desobediente e político. Os filmes do gênero, produzidos em qualquer país do 3º mundo, são potencialmente críticos, iconoclastas, satíricos e rebeldes. A po-tencialidade da expressão dessas características não se origina apenas da re-lação de dependência cultural, política e econômica travada entre esses países e os EUA, mas também da “nossa incapacidade de copiar”. Mesmo querendo copiar, nós transformamos a nosso modo o modelo original. Nascidos e formados por uma invasão, “nada nos é estrangeiro, pois tudo o é”9.

Juliana de Oliveira e formada em Historia pela Unisa em ciências sociais pela Unimes, e nos cursos de extensão em ciências Humanas pelo iics e de Quadrinhos em sala de aula pela fundacão democrito rocha, atuando como profes-sora na rede municipal de são paulo. é produtora de conteudo de cultura pop, geek e nerd para blogs e atualmente e editora do site minasnerds (www.minasnerds.com.br).

7. lYra, maria Bernadette cunha. o fator fake no cinema brasileiro. in: catani, afranio. (org.). estudos socine de cinema - ano v. são paulo: panorama, 2004

8. ginWaY, m. elizabeth. ficcão científica Brasileira: mitos culturais e nacionalidade no país do futuro. sãp paulo: devir, 2005.

9. garcia, estevão. a partir de agora, vamos falar em espanhol, contracampo n. 84, disponível em http://www.contracampo.com.br/84/artscifimexico.htm acesso em 09 ago. 2018.

BarBosa >

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RAPhAel feRnAndes

Escrever um texto sobre a ficção científica no audiovisual brasileiro foi um desafio enorme, principalmente ao perceber que não entendia absolutamente nada sobre o assunto. Tudo ficou ainda pior quando tentei entrevistar alguns escritores veteranos e pesquisadores da FC nacional e ficou claro que nenhum deles também sabia patavinas desses filmes. Ao invés de me assustar, percebi que o que você está lendo agora não só é muito importante, quanto era uma obrigação sair dessa experiência com alguma bagagem sobre nosso cinema de ficção científica e também fazer a minha parte para que mais pessoas descu-bram essa produção.

Comecei a refletir sobre a origem dessa falta de interesse ou mesmo da falsa percepção de que simplesmente é “impossível fazer ficção científica de qua-lidade no Brasil”. As raízes desse paradigma podem estar na política imposta por Portugal durante a colonização do território que se tornaria o Brasil. Até o final do século XIX, somente após a Independência, pudemos produzir produ-tos manufaturados ou industrializados, que eram proibidos para que os colonos tivessem um controle maior do desenvolvimento. Afinal, o território da colônia brasileira tinha o papel de fornecer mão de obra escrava e matéria prima para o mercado europeu. Fomos domesticados a acreditar que ciência e tecnologia é algo que deve ser importado e a fabricação nacional sempre tem esse sabor do proibido e da criança que nunca sabe plenamente o que está fazendo.

“Por outro lado, a história do Brasil já é, por si, a história de uma invasão alie-nígena: naves chegam de lugares distantes, e seus viajantes dominam tudo. Doenças são espalhadas involuntariamente (às vezes de propósito) entre a po-pulação nativa. Os “aliens” sequestram pessoas e as escravizam. Desde sua fundação até os dias atuais, o Brasil é dividido em classes e governado por psicopatas que fazem o Imperador Palpatine, de Star Wars, parecer uma freira

< À margem do Universo

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caridosa. Nosso país é, inteiro ele, um grande plot de ficção científica”, provo-cou o escritor de ficção científica e filósofo Alexey Dodsworth.

O mesmo não acontece com outras produções de gênero fantástico, como o terror e a fantasia que parecem mais naturais à superstição, folclore e religio-sidade da nossa cultura. Todo mundo aceita a possibilidade de um Sítio do Pica Pau Amarelo e de uma história de fantasmas que tenha como cenário qualquer território brasileiro. Certamente, o cinema, a literatura, os quadrinhos e a te-levisão tem dezenas de exemplos relativamente bem-sucedidos de produções nacionais desses dois gêneros. O mesmo já não pode ser dito da ficção científi-ca, que exige um conhecimento científico e investimento maior.

“Como o próprio nome já diz, embora em contradição, ficção cientifica pressu-põe uma ciência por trás, mesmo que fantasiosa precisa de um método, de leis que regem esse universo, e isso demanda tempo, estudo e coesão, portanto, no caso do cinema, dinheiro.”, afirmou o cineasta Kapel Furman. O que significa que outro fator determinante desse verdadeiro apagão do cinema de FC na-cional é que ele demanda estudo, pesquisa e investimentos maiores do que a nossa “indústria cinematográfica” é capaz de absorver financeiramente.

As raízes dessa incapacidade de aceitar uma produção nacional de cinema de ficção científica estão arraigadas no imaginário da população brasileira. Mas isso significa que esses filmes não existem? Aqui está a grande reviravolta des-sa história toda, a produção aconteceu durante toda a história do audiovisu-al brasileiro, com registros de curtas-metragens rodados desde 1907, além de uma produção de longas e séries durante os anos 1960, 1970 e 1980. Para falar a verdade, apesar de modesta, ela acontece até hoje através do cinema inde-pendente e experimental. Encontrei dificuldade em encontrar especialistas e escritores do gênero no Brasil que conhecessem a nossa produção. Por sorte, uma lista com dezenas de filmes me foi fornecida como um ponto de partida.

Do que estava listado, fiquei realmente impressionado com a qualidade de alguns longas dos anos 1960, dos quais destaco: a chanchada Os Cosmonautas (1962), dirigido por Victor Lima e estrelado pelos humoristas Grande Otelo e Ronald Golias, que retrata um Brasil que venceu os Estados Unidos e a União Soviética na corrida espacial; o suspense com influências hitchcockianas O 5º Poder (1962),

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dirigido pelo italiano Alberto Pieralisi, que retratou uma conspiração interna-cional de manipulação midiática com belas cenas de ação; e fábula kafkaniana O Homem que Comprou o Mundo (1968), de Eduardo Coutinho, que mostrava o personagem interpretado por Flávio Migliaccio quebrando o capitalismo ao tentar compensar um cheque de um valor maior do que a economia mundial poderia absorver – por sinal, o filme faz uma grande crítica ao capitalismo e alfineta o pensamento comunista. Só esse trio destruiu todos os meus para-digmas sobre cinema nacional de ficção científica. Porém, era só o começo da minha jornada.

Se o padrão era que o Brasil não é capaz de produzir ciência e tecnologia de pon-ta nem na ficção científica, produzir cinema desse gênero era inclusive uma for-ma de enfrentar o sistema. Não foi à toa que um movimento transgressor como a tropicalismo, que até mesmo ousou colocar guitarras em músicas dos festivais e falava de viagens espaciais (agradeça Os Mutantes), teria sua própria produção de FC. Certamente um dos maiores exemplos da contracultura brasileira é o lon-ga Brasil Ano 2000 (1969), de Walter Lima Jr., que tinha trilha sonora de Gilberto Gil e Rogério Duprat, no auge de sua produção tropicalista. Outros longas com viés rebelde foram O Jardim das Espumas (1970), de Luiz Rosemberg Filho, e o abstrato Quem é Beta? (1973), de Nelson Pereira dos Santos.

No entanto, o filme que fez a minha cabeça completamente para a qualidade do gênero foi o claustrofóbico Abrigo Nuclear (1981), do pioneiro do cinema baiano Roberto Pires. A obra é um sobre um futuro pós-apocalíptico causado por uma catástrofe nuclear, que isolou a humanidade nos subterrâneos em um regime ditatorial. Como em uma versão futurista de O Mito da Caverna, o longa retrata como essas pessoas foram enganadas para acreditar que a superfície sempre foi um território proibido para os seres humanos. Vale ressaltar que as vestimentas e cenografia foram todas produzidas com material reciclado. Permitam-me dizer que tanto o roteiro, a fotografia e a direção não devem em nada para outras distopias estrangeiras como Fahrenheit 451 (1966), de François Truffaut, e Fuga do Século XXIII (1976), de Michael Anderson.

“Um grande clássico que não pode ser esquecido é Parada 88 – Limite de Alerta (1977), de José de Anchieta, com Regina Duarte, Iara Amaral e Cleyde Iáconis. É uma distopia nos moldes de THX 1138, com roteiro mais simplório, versando

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sobre poluição, mas poderia ter sido um primeiro passo para, digamos, uma adaptação de Não Verás País Nenhum, de Inácio de Loyola Brandão, por exem-plo. Infelizmente, não foi adiante, mas provou que poderíamos fazer algo mes-mo com baixo orçamento”, ressaltou o professor doutor Octávio Aragão.

Por conta do baixo orçamento, o curta-metragem também é um modelo de pro-dução com grande produção de ficção científica brasileira. O grande destaque fica por conta de Barbosa (1988), de Ana Luiza Azevedo e Jorge Furtado, que mostra um viajante no tempo interpretado por Antônio Fagundes e que volta para o passado para evitar a fatídica derrota (em casa) do Brasil na Copa do Mundo de 1950. Certamente, esse é um dos filmes mais impressionantes da infinita lista de clássicos da FC no cinema.

Curiosamente, observando o plano geral das produções feitas por aqui pode-mos identificar alguns temas recorrentes: a distopia, a viagem no tempo, o visi-tante do espaço e o mockumentário.

As duas primeiras são formas de tentar corrigir escolhas ruins feitas no passado ou garantir um futuro melhor de um país devastado por algum erro grave dos governantes e da população. Com uma democracia recente e a dificuldade do brasileiro em entender que somos agentes transformadores de um país muito jovem, fica clara a nossa vontade de mudar a situação e usar a FC para criticar.

O senso crítico também está presente nas obras sobre visitas extraterrestres, como Master Blaster – Uma aventura de Hans Lucas Na Nebulosa 2907n (2013), de Raul Arthuso, e documentários falsos, como em Recife Frio (2009), de Kleber Mendonça Filho. Ambas apresentam um “olhar externo” sobre nossos costumes, problemas sociais, características culturais e dificuldades econômicas. Mais uma vez o cinema de ficção científica nacional assume um viés muito questionador, que muitas vezes contrasta com as experiências escapistas oferecidas pela produção estrangeira. Essa pode ser uma das causas da dificuldade de popularização do gênero na produção local, ela te provoca a pensar sobre nossos problemas.

Atualmente, a nossa produção mais bem-sucedida foi o longa O Homem do Futuro (2011), de Cláudio Torres, que mostrava um cientista interpretado por Wagner Moura e sua viagem no tempo em busca de corrigir erros que o afasta-ram do amor de sua vida. O filme despertou o interesse de grandes nomes da

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literatura fantástica nacional, como Gerson Lodi-Ribeiro, mas parece não ter tido a mesma sorte com o público, tendo feito uma receita de aproximadamen-te R$ 11 milhões (algo em torno de 1 milhão de expectadores). O problema é que custou R$ 8 milhões para ser produzido.

O cinema independente também tem produzido alguns filmes interessantes como a cinessérie O Monstro Legume do Espaço (1995 e 2006), de Petter Baiestorf. Perguntei sobre suas dificuldades e o diretor me respondeu “a maior é o dinheiro mesmo. É possível se fazer FC de baixo orçamento, mas trabalhar com certa segurança financeira permite um roteiro mais ousado, figurinos bem elaborados e uma direção de arte bem executada, que são coisas essenciais na minha visão de ficção científica. Só produzi FC de baixíssimo orçamento, ne-nhuma com o visual que tinha em mente e sempre optei por deixar os projetos em cenários mais discretos do planeta Terra, como lugares remotos”.

Conversei também com a diretora Fabiana Servilha, que fez o curta-metragem Estrela Radiante (2013). Apesar das dificuldades, pude perceber que a paixão é a força motora da atual produção de FC brasileira. “Filmar uma FC estava pare-cendo uma saga e eu sentia um risco maior na coisa toda. Vivi inúmeras soluções e saídas incríveis na produção deste filme, que dariam um curso de produção de cinema independente. Foi lindo estar em tantos festivais internacionais e viajar para os EUA com patrocínio da Copa Airlines graças a um filme feito como traba-lho de conclusão de curso de baixíssimo orçamento. Tudo isso fez valer a pena.”

O futuro da ficção científica brasileira em audiovisual pode não estar exata-mente no cinema, como pode comprovar a série de televisão 3% (2016), de Daina Giannecchini, Dani Libardi, Jotagá Crema e César Charlone. Inicialmente, produzida e iniciada como uma web-série em 2010, o projeto ganhou ares de superprodução e foi o primeiro seriado nacional do canal de streaming Netflix. Apresentando uma distopia que questiona a meritocracia, os episódios refle-tem as principais dificuldades que os jovens encontram para serem adultos bem sucedidos no Brasil. A série se tornou um verdadeiro sucesso internacio-nal, ganhou uma segunda temporada e teve sua terceira temporada garantida.

“A maior armadilha para a produção nacional de FC é esquecer da dramaturgia para querer fazer obras focadas em efeitos e visuais marcantes, que só são possíveis com orçamentos parrudos. As melhores obras de FC se baseiam em

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grandes ideias com força dramática, que podem ser resolvidas com roteiro e direção que levem em consideração formas criativas e simples de execução. Nossa forma de viver é refletida em como fazemos audiovisual – somos profun-damente criativos e fazemos muito com pouco. Ainda podemos inovar muito o gênero, fugindo de estereótipos hollywoodianos e deixando uma marca brasi-leira. O caminho é expressarmos nossa condição de país em desenvolvimento, que sofre com a violência e a desigualdade social, mas que também inova na ciência e na cultura. Tanto no cinema quanto na TV e no streaming, a tendência é que a produção de gênero no Brasil aumente cada vez mais. Sou um otimista e acredito que cada vez mais produtores, canais e financiadores vão acreditar e investir em ideias ousadas de obras brasileiras em FC”, comentou com entu-siasmo o diretor e roteirista Jotagá Crema.

Atualmente, o governo tem feito um desmonte da pesquisa científica cancelan-do bolsas e trazendo de volta ao Brasil pesquisadores em plena atividade em outros países. Não seria esse um estopim para uma produção ainda mais vis-ceral e agressiva de ficção científica questionando o eterno descaso do nosso país com o conhecimento científico?

Para concluir, apesar de ter começado esse texto com certa desesperança e surpresa por não conhecer com profundidade a história do audiovisual de fic-ção científica brasileiro, acredito que vivemos uma era de inúmeras possibilida-des. Até mesmo a existência de reflexões textuais como essa revelam uma gui-nada em nossa produção e um importante resgate dos nossos filmes e seriados de FC é tão necessário quanto acompanhar tudo o que está sendo feito neste exato momento. Por isso, esse texto não tem o objetivo de encerrar todas as discussões sobre a FC brasileira, mas de provocar o interesse por esse universo que precisa ser explorado e expandido.

Raphael Fernandes e formado em Historia pela Usp, encontrou sua verdadeira vocacão como editor e roteirista de historias em quadrinhos. autor de HQs de gênero, como apagão, ditadura no ar, a teia escarlate, periferia cyberpunk, o despertar de cthulhu e demônios da goetia. seu trabalho a frente da editora draco foi premiado com diversos trofeu HQmix.

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lAdy sybyllA

Entre 1966 e 1967, a atriz Nichelle Nichols estava desanimada com o andamen-to de sua carreira. Seu sonho era estrelar na Broadway, tendo sido cantora nos palcos, e ela estava seriamente considerando o papel que lhe ofereceram. A pri-meira temporada da série clássica de Star Trek estava terminando e Nichelle não tinha intenção alguma de continuar em seu papel de oficial de comunicações, Uhura. Já tinha comunicado sua decisão à produção e pronta para dar o adeus.

Nichelle estava saindo de uma reunião para levantar fundos da Associação Nacional para o Progresso dos Afroamericanos em um sábado à noite, em Beverly Hills. Um dos organizadores a parou na porta e disse que um grande fã de Star Trek queria conversar com ela. Acostumada a conversar com fãs, ela esperava mais um jovem e entusiasmado trekkie. Quando Nichelle se virou, era ninguém menos que Martin Luther King Jr.

Ele soube de sua decisão de deixar o programa e estava determinado a con-vencê-la a ficar: “Nichelle, querendo ou não, você se tornou um símbolo. Se sair da série, eles vão te substituir por uma moça loira e vai ser como se você nunca tivesse estado lá.” As palavras dele a fizeram perceber que sua saída atingiria seus fãs que, pela primeira vez, tinham visto uma negra em um programa de televisão sem ser estereotipada, empregada ou escrava. A enormidade do sim-bolismo de sua personagem finalmente a tinha atingido.

Nichelle disse a Gene Roddenberry, criador da série, que tinha mudado de ideia sobre sua saída e porque mudara de ideia. Gene respirou fundo e teria dito: “final-mente alguém entendeu”. Gene acreditava no mundo igualitário, pacífico e utópico de Star Trek; mais do que ninguém ele queria que as pessoas vissem este mundo de uma humanidade amadurecida e se inspirasse nele, que se inspirasse no nos-so melhor. Em uma década violentamente dividida por diferenças políticas, pelo levante de mulheres e da comunidade negra lutando por seus direitos, Star Trek mostrava uma humanidade unida pelo bem comum, pela ciência, pela curiosidade.

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A simples presença de uma mulher negra na ponte de uma nave estelar no final dos anos 1960 inspirou ao menos duas gerações de meninas que assistiram às reprises, que viram que no futuro havia um lugar para elas, onde seriam oficiais de uma nave, onde participariam de grupos avançados em planetas alieníge-nas, onde eram membros de uma tripulação. No final dos anos 1980, Nichelle ainda trabalhou com a NASA recrutando novos astronautas, tamanha sua influ-ência com o público negro feminino. Mae Jemison, a primeira astronauta negra da NASA a ir ao espaço, também se inspirou na figura pioneira de Uhura.

Saltando para os anos 1990, outra personagem gerou um grande efeito em uma geração de meninas. Arquivo X estreou em 1993 trazendo uma proposta auda-ciosa para a televisão da época, uma que o estúdio esperava que fracassasse, ainda mais em um momento em que várias séries de Star Trek estavam no ar dominando a audiência do público fã de ficção científica.

Mulder e Scully, os inseparáveis agentes do FBI, rodaram os Estados Unidos em busca dos casos sem explicação científica, investigando o sobrenatural, o bi-zarro e as conspirações do governo, fazendo críticas ao controle das agências, à vigilância, lançando várias homenagens a clássicos da FC.

A presença de uma mulher altamente capacitada, bem interpretada e bem cons-truída, capaz de defender a si mesma, inteligente, sensível e curiosa levou ao cha-mado Efeito Scully. Uma geração de adolescentes que acompanhava fielmente a série da FOX se interessou pelas ciências exatas, pela medicina e até pela carreira no FBI pela simples presença da personagem toda semana. Scully conseguia ca-tivar as meninas por não ser objetificada, hipersexualizada e por muitas vezes salvar Mulder de diversas situações de vida ou morte. Seu mais íntimo foi ma-chucado, como quando ela fica estéril ou quando sua irmã foi assassinada pelos conspiradores. Scully era uma mulher com quem se identificar, assim como Uhura.

Uhura, Scully, Leia, Ripley, Janeway, Connor. Estas mulheres da ficção científi-ca e tantas outras que já estão no nosso imaginário, que estampam camisetas e cartazes em passeatas, mostraram que a representatividade importa. É im-possível a gente se inspirar no que não vê, no que você não sabe que existe.

Representatividade é uma corrente. E tal como uma corrente, um evento puxa a outro. Quem poderia imaginar que a empresa criada por Lucille Ball encomendaria

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um segundo piloto de Star Trek a Gene Roddenberry e que neste piloto nos depa-raríamos com Uhura como oficial de comunicações? Como prever a fala de Martin Luther King Jr., pedindo que ela ficasse? Como prever o efeito da personagem em Whoopi Goldberg, Lupita Nyong’o, ou Leslie Jones, e tantas outras anônimas?

A ficção científica é este grande lugar para a revelação do outro. É o lugar da alte-ridade, do diferente, do bizarro, de audaciosamente ir onde ninguém jamais esteve. É um ponto de encontro para os excluídos, para os rechaçados, para aqueles que não se encaixam na normalidade. Costumo dizer que ela é um gênero de espanto e de possibilidades ilimitadas. Uma das obras indicadas como tendo forjado a ficção científica moderna, Frankenstein, de Mary Shelley, trata justamente de um ser que, rejeitado por seu mestre, busca compreensão e amor entre as pessoas e quando ele é repudiado, sua necessidade se transforma em ódio.

Representatividade importa porque empodera. Ao vermos pessoas fazendo coisas incríveis em filmes, em livros, em séries de televisão, nós nos sentimos importantes. Podemos estar longe das naves estelares que desbravam a galá-xia, mas estamos próximas das faculdades de engenharia, de astronomia, de geologia. Ser representado é mostrar as infinitas possibilidades diante de nós, as incríveis maneiras de fazer as coisas, de inventar coisas e discutir coisas.

Psicólogos e sociólogos discutem há décadas o quanto é importante ver pessoas em posições importantes, imaginando as possibilidades e modelando nosso com-portamento através delas. Especialmente para grupos marginalizados – mulheres, negros, comunidade LGBTQ+, pessoas com deficiência – que sempre estiveram à sombra do status quo, estar presente nas telas, nas páginas dos livros, é mostrar ao mundo que estas pessoas existem. E que suas histórias são relevantes.

Ainda assim, apesar da relevância, estamos longe de retratar as pessoas pelo simples fato de serem pessoas e de terem uma história para contar. A ficção científica ainda está presa aos ditames que a dominam há décadas. Precisamos de mais protagonistas, de mais papéis centrais para grupos minoritários, de mais histórias que nos coloquem no centro da ação, nunca na margem. E pre-cisamos de menos ódio.

Quando Paul Feig anunciou o novo filme das Caças-Fantasmas, desta vez com um elenco feminino lutando contra os seres sobrenaturais em Nova York, um

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batalhão de odiadores negativou o trailer de menos de três minutos no YouTube sem nenhuma justificativa além do ódio puro e visceral por um elenco feminino.

Alegaram que suas infâncias estavam sendo destruídas, muito embora ninguém os impeça de assistir aos dois filmes clássicos que eles dizem tanto amar. Se um sujeito pode usar uma mochila de prótons e combater fantasmas, por que uma mulher não pode? É difícil responder a isso sem ser misógino. E é difícil compreender como homens adultos estão tão arraigados às suas doces me-mórias, mas não conseguem ter empatia por meninas se inspirando nas quatro mulheres caçadoras de fantasmas.

Furiosa, em Mad Max – Estrada da Fúria, trouxe-nos uma protagonista sem bra-ço, inspirando muitas meninas que nasceram ou perderam braços para doenças ou acidentes a fazerem seus maravilhosos cosplays em feiras e convenções mundo à fora. Outra tropa de odiadores apareceu para dizer que ninguém grita com Mad Max e que boicotariam o filme.

Representar a humanidade como ela é não deveria causar tanto ódio. Já vimos os casos maravilhosos de inspiração e empoderamento da parte de várias personagens. Sabemos o efeito positivo disso. Então por que tanta gente se dispõe a digitar agressivamente, perseguindo as atrizes, negativando vídeos, disparando palavras de ódio?

Mulheres são maioria no mundo e ainda somos mal representadas na ficção em geral. Somos a maioria das leitoras de ficção e ainda assim somos minoria nos prêmios literários, nos lançamentos das editoras e em posições impor-tantes do mercado editorial. Somos maioria nos games e ainda assim somos consideradas noobs, perseguidas e expulsas de fandoms. Se fizermos recorte de raça, sexualidade e por deficiência, veremos que as pessoas são continua-mente sub-representadas.

Shonda Rhimes, uma das mais celebradas produtoras atuais na televisão norte--americana, costuma dizer que seus trabalhos não estão trazendo diversidade aos lares das pessoas. Ela na verdade está normalizando a televisão. Ela está dando espaço para pessoas que sempre existiram, que sempre foram silenciadas, que ti-nham que trabalhar dobrado para se destacarem, mas que não tinham visibilidade na mídia. Voltamos para a questão de não poder ser o que você não vê.

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A falta de representatividade nos torna suscetíveis a estereótipos negativos, a suposições e a parcialidades sobre os outros. Como muitos papéis interpretados por negros, mulheres, gays e trans* estão marcados pelos péssimos roteiros es-tereotipados, uma audiência absorve aquela informação como sendo verdadeira.

É por isso que tantos caras ficaram irados com as Caça-Fantasmas, com a Rey em O Despertar da Força ou 8 Mulheres e um Segredo. Acostumados a ver mulheres em papéis subalternos, alguns caras surtaram com a capitã Janeway na ponte da Voyager e a diretoria do estúdio mandou Gene Roddenberry tirar a Primeira Oficial da Enterprise em The Cage, o primeiro piloto de Star Trek pelo mesmo motivo.

O poder da mídia de aproximar e informar as pessoas precisa ser mais sensível e correta ao representar as pessoas. Fico pensando quantos jovens rapazes negros não se inspiraram por Pantera Negra, um filme que é uma celebração ao afrofuturismo e à comunidade negra. É um novo Efeito Uhura. E apesar dos grandes avanços na representatividade, eles ainda são tímidos. Precisam ser grandes, precisam ser brilhantes, precisam mostrar a humanidade pelo o que ela é: vibrante, colorida, complexa, versátil e, acima de tudo, curiosa. Se a arte não refletir a vida, o que é arte então?

Vida longa e próspera!

Lady Sybylla e geografa de formacão, com mestrado em ciências da terra. escritora de ficcão científica, fã do

futuro e capitã da frota estelar. Bloga no momentum saga ha 8 anos. aguardando ansiosamente pela abducão.

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branco sai, preto ficaDireção adirley QueirosDuração 93’Formato Blu-rayAno 2014Classificação indicativa 12 anos

Sinopse tiros em um baile de black music na periferia de Brasília ferem dois homens, que ficam marcados para sempre. Um terceiro vem do futuro para investigar o acontecido e provar que a culpa e

da sociedade repressiva.

os CosmonautasDireção victor limaDuração 90’Formato digital/dvdAno 1962Classificação indicativa livre

Sinopse o programa espacial brasileiro lanca o foguete “nacionalista i” de cabo carnaval (provavelmente no rio de Janeiro) com o orangotango frederico a bordo. com o retorno do animal vivo, o professor inacio - principal cientista do programa espacial - comeca a trabalhar no lancamento do foguete “nacionalista 2”, que devera levar dois seres humanos para a lua. ele chama Zenobio, o chefe do fBi - federacão Brasileira de investigacões - e o incumbe de trazer dois homens capacitados, isto e, “inuteis e desnecessarios para a sociedade”, que ninguem sentira falta se morrerem na viagem, para serem os cosmonautas.

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CassiopéiaDireção clovis vieraDuração 80’Formato digital/dvdAno 1996Classificação indicativa livre

Sinopse o filme conta a historia do planeta ateneia, localizado na constelacão de cassiopeia, que um dia e atacado por invasores do espaco que comecam a sugar sua energia vital. Um sinal de socorro e enviado para o espaco sideral pela astrônoma local, liza, e recebido por quatro herois que viajam atraves da galaxia para salvar o planeta. a ambientacão sugere (tambem por inviabilidade tecnica para se produzir arvores e outros elementos caoticos naturais) um ambiente completamente tomado pela artificialidade. numa primeira analise, pode-se pensar que e uma ideia rasa, mas o formato da resposta ao ataque do “predador gigante” evidencia uma abordagem biologica no roteiro, como se os habitantes liberassem “anticorpos” ou “substâncias” encapsuladas para defesa a partir de armazens de emergência, contrastando com o formato estadunidense, que evidentemente escolheria o míssil.

uma história de Amor e fúriaDireção luiz BolognesiDuração 74’Formato Blu-rayAno 2013Classificação indicativa 14 anos

Sinopse a trama situa-se em quatro datas na historia do Brasil: 1500, quando o país foi descoberto pelos exploradores portugueses, 1800, em eventos durante a escravidão; 1970, durante o ponto alto da ditadura; e no futuro em 2096, quando havera uma guerra sobre a agua. o filme narra o amor entre Janaína (camila pitanga) e guerreiro nativo (selton mello) que, quando morrer, tera a forma de um passaro. durante seis seculos, a historia do casal sobrevive atraves desses quatro estagios da historia do Brasil.

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Abrigo nuclearDireção roberto piresDuração 86’Formato digital/dvdAno 1981Classificação indicativa 10 anos

Sinopse para preservar a especie humana da radiacão ionizante, a populacão e alocada em um abrigo subterrâneo. chefiados sob forte regime pela comandante avo (conceicão senna) e seus fieis, a geologa lix (norma Bengell) e um grupo de habitantes desenvolvem um projeto que permitira o retorno da raca humana à superfície, e a libertacão do controle de avo.

oceano AtlantisDireção francisco de paulaDuração 80’Formato 35mmAno 1993Classificação indicativa livre

Sinopse no que restou da baía de guanabara, estão os sobreviventes de um maremoto que varreu do mapa a cidade do rio de Janeiro. so uma coisa faz sentido na terra inundada: comida. muitos homens têm sido sacrificados por causa da fome. os alimentos são rigorosamente racionados pelo poder da marinha, que decretou o final dos sacrifícios de animais, exceto algumas especies de cachorros comestíveis.

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Quem é beta?Direção nelson pereira dos santosDuração 92’Formato 35mmAno 1972Classificação indicativa 12 anos

Sinopse Um casal vive uma estranha e indecifravel aventura, mesclada de drama e comedia, em lugar e epoca indeterminados, apos uma catastrofe que modificou o estado natural do mundo e destruiu ate o ultimo vestígio da sociedade humana.

o homem do futuroDireção claudio torresDuração 106’Formato digitalAno 2011Classificação indicativa 12 anos

Sinopse Zero e um cientista brilhante, mas infelizmente perdeu Helena, o amor da sua vida, 20 anos atras durante uma humilhacão publica na epoca da faculdade. em uma falha acidental com uma de suas invencões, ele viaja no tempo exatamente para o dia em que essa humilhacão publica aconteceu.

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A Repartição do tempoDireção santiago dellapeDuração 100’Formato Blu-rayAno 2016Classificação indicativa 16 anos

Sinopse o chefe de uma reparticão publica organiza uma viagem no tempo. Um cientista registra a patente de uma maquina do tempo e o chefe do departamento vê a oportunidade de usar o invento para aprisionar os empregados no porão e obriga-los a trabalhar.

o homem que Comprou o MundoDireção eduardo coutinhoDuração 90’Formato digitalAno 1968Classificação indicativa 14 anos

Sinopse Um homem tenta ingenuamente descontar um cheque que recebeu de um misterioso hindu, no valor de dez trilhões de dolares, abalando a economia no país e no mundo.

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eteia, a extraterrestre em sua Aventura no RioDireção roberto mauroDuração 94’Formato 35mmAno 1983Classificação indicativa 14 anos

Sinopse lancado apenas um ano apos a estreia do filme e.t., de steven spielberg, esta parodia brasileira narra a historia da namorada do alien que, procurando seu amor, perde o controle de sua nave espacial e acaba perdida no rio de Janeiro, criando grandes confusões.

o Monstro legume do espaçoDireção petter BaiestorfDuração 77’Formato digital/dvdAno 1995Classificação indicativa 16 anos

Sinopse cientista terraqueo captura um alienígena que e constituído de tecido vegetal e tenta realizar experiências com o estranho ser em seu laboratorio clandestino. o monstro legume, como passa a ser chamado, revela-se uma criatura de extraordinaria inteligência e, com ajuda de caquinha, foge do laboratorio passando a aniquilar todos que cruzam seu caminho.

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tempo RealDireção mino Barros reis e Joana limaverdeDuração 9’30’’Ano 2005Classificação indicativa livre

Sinopse Quando o tempo e a unica saída.

barbosaDireção Jorge furtado e ana luiza azevedoDuração 13’Ano 1988Classificação indicativa livre

Sinopse trinta e oito anos depois da copa do mundo de 1950, um homem volta no tempo a fim de impedir o gol que derrotou o Brasil, destruiu seus sonhos de infância e acabou com a carreira do goleiro Barbosa.

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loopDireção carlos gregorioDuração 6’Ano 2002Classificação indicativa livre

Sinopse Um cientista, obcecado pela ideia de reconstruir seu passado, inventa uma maquina do tempo. momentos antes do teste final, ele reflete sobre sua vida e as inquietacões que o levaram àquela experiência.

Recife frioDireção kleber mendonca filhoDuração 24’Ano 2009Classificação indicativa 10 anos

Sinopse a cidade brasileira de recife, que ja foi tropical, agora e fria, chuvosa e triste, depois de passar por uma desconhecida mudanca climatica.

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Janaína overdriveDireção mozart freireDuração 19’Formato digitalAno 2016Classificação indicativa 16 anos

Sinopse Janaína e uma transciborgue com funcões sexuais que esta prestes a ser substituída pela nova tecnologia da corporacão. para não ser exterminada, ela realiza uma fuga pela periferia de fortalthec, buscando um terminal pirata, na tentativa de transferir seus dados para o ciberespaco.

ultravioletaDireção dhiones do congoDuração 12’Formato digitalAno 2018Classificação indicativa livre

Sinopse é chegado o tempo em que a terra se encontra em um estado extremo. num lugar isolado e subterrâneo, uma família resiste.

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À Margem do universoDireção tiago esmeraldoDuração 18’Formato digitalAno 2017Classificação indicativa livre

Sinopse dois seres alienígenas desembarcam na terra para uma pretensa investigacão espacial, mas na verdade, quem são observados e estudados, são eles. ao final, eles terão uma grande surpresa.

Personal vivatorDireção sabrina fidalgoDuração 20’Formato digitalAno 2014Classificação indicativa 12 anos

Sinopse rutger (fabricio Boliveira) e um ser extraterrestre que tem a missão de passar 72 horas na terra para pesquisar o comportamento humano. de modo a evitar qualquer suspeita, ele se disfarca de “documentarista” e escolhe a cidade do rio de Janeiro para iniciar a sua pesquisa.

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Capitão eléctron Contra a Ameaça venusianaDireção dario r. c. castro, edmundo g. Barreiros, Humberto pereira, marcello monteiro e eduardo souza limaDuração 16’Formato digitalAno 1986Classificação indicativa livre

Sinopse terra, 1997: um maligno ser do espaco sideral ameaca nosso planeta e so quem pode detê-lo e o super-heroi atômico capitão electron!

o Quebra-Cabeça de tarikDireção maria leiteDuração 19’Formato digitalAno 2015Classificação indicativa 12 anos

Sinopse o cientista tarik esta bem velho, mas nem cogita a possibilidade de morrer. se partes do seu corpo ja não resistem ao tempo, ele adapta maquinas que as substituam. em seu laboratorio subterrâneo, tarik se prepara para receber a peca fundamental do seu grande projeto de vida.

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bahia sci-fiDireção petrus piresDuração 32’Formato digitalAno 2015Classificação indicativa livre

Sinopse o filme traz os bastidores da gravacão do classico de ficcão científica “abrigo nuclear”, dirigido por roberto pires. dentre os assuntos abordados, destacam-se cenografia, roteiro, elenco e trilha sonora.

Master blaster - uma Aventura de hans lucas na nebulosa 2907nDireção raul arthusoDuração 19’Formato digitalAno 2013Classificação indicativa livre

Sinopse Um estranho fenômeno astronômico atingiu a nebulosa 2907n. o agente intergalactico Hans lucas e enviado para investigar o evento, que mudou os habitos da populacão local.

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SEMANA 1

dia 4 terça-feira

16h00 À Margem do Universo (18’) + O Homem que Comprou o Mundo (90’)

18h30 Capitão Eléctron contra a Ameaça Venusiana (16’) + O Monstro Legume do Espaço (77’)

dia 5 quarta-feira

16h00 Loop (6’) + Quem é Beta? (92’)

18h30 Janaína Overdrive (19’) + Uma História de Amor e Fúria (74’)

dia 6 quinta-feira

16h00 O Quebra Cabeça de Tarik (19’) + Cassiopéia (80’)

18h30 Personal Vivator (20’) + Branco sai, Preto Fica (93’)

dia 7 sexta-feira

16h00 Bahia Sci-Fi (32’) + Abrigo Nuclear (86’)

18h30 Recife Frio (24’) + Os Cosmonautas (90’)

dia 8 sábado

13h30 Barbosa (13’) + O Homem do Futuro (106’)

16h00 Ultravioleta (12’) + Oceano Atlantis (80’)

18h30 DEBATE: Efeitos especiais e visuais na produção de ficção científica brasileira*

dia 9 domingo

16h00 Master Blaster – Uma aventura de Hans Lucas na nebulosa 2907N (19’) + Etéia, a Extraterrestre em sua Aventura no Rio (94’)

18h30 Tempo Real (10’) + A repartição do tempo (100’)

recife frio >

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SEMANA 2

dia 11 terça-feira

16h00 Capitão Eléctron contra a Ameaça Venusiana (16’) + O Monstro Legume do Espaço (77’)

18h30 À Margem do Universo (18’) + O Homem que Comprou o Mundo (90’)

dia 12 quarta-feira

16h00 Janaína Overdrive (19’) + Uma História de Amor e Fúria (74’)

18h30 Loop (6’) + Quem é Beta? (92’)

dia 13 quinta-feira

14h00 Personal Vivator (20’) + Branco sai, Preto Fica (93’)

16h30 O Quebra Cabeça de Tarik (19’) + Cassiopeia (80’)

19h00 DEBATE: Ficção Científica e Alegorias do Terceiro Mundo*

dia 14 sexta-feira

16h00 Recife Frio (24’) + Os Cosmonautas (90’)

18h30 Bahia Sci-Fi (32’) + Abrigo Nuclear (86’)

dia 15 sábado

16h00 Ultravioleta (12’) + Oceano Atlantis (80’)

18h30 Barbosa (13’) + O Homem do Futuro (106’)

dia 16 domingo

16h00 Tempo Real (10’) + A repartição do tempo (100’)

18h30 Master Blaster – Uma aventura de Hans Lucas na nebulosa 2907N (19’) + Etéia, a Extraterrestre em sua Aventura no Rio (94’)

* Evento gratuito. Retirada de senha no dia do evento, com uma hora de antecedência, na bilheteria da Caixa Cultural Rio de Janeiro.

os cosmonaUtas >

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verifique a classificação indicativa dos filmes na programação

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Realização Boulevard Filmes

Coordenação Geral Letícia Friedrich

Curadoria Eric Paiva e Marcelo Engster

Produção Henrique Schuck

Produção Executiva Letícia Friedrich e Lourenço Sant’Anna

Design Gráfico Marcellus Schnell

Estagiário de Produção Gabriel Milagres

Revisão Ana Letícia de Fiori

Site Diversa / Silvana Andrade

Trailer Marcelo Engster

Assistente de Produção Tiago D’Avila

Assessoria de Imprensa Sinny Assessoria

Debatedores Clóvis Vieira, Claudio Peralta, Juliana de Oliveira,

Marcelo Müller, Sabrina Fidalgo e Sergio Farjalla Jr.

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PRODUÇÃO PATROCÍNIO

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