Apreciação de Os Persas

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APRECIAÇÃO DA OBRA OS PERSAS DE ÉSQUILO Rafael Nunes Ferreira Licenciado em Letras: Português, Inglês e respectivas literaturas Pela Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA A história da batalha entre persas e gregos é narrada de forma profética, pois logo no começo d’Os Persas de Ésquilo o infortúnio do rei Xerxes e seus homens já está dado. Inicialmente, através da profecia do Coro de anciãos persas, os Fiéis: O coração, porém, profeta inquieto, já pressagia em nosso peito aflito calamidades quanto à volta à pátria do enorme exército [...] e de nosso senhor, seu comandante”. [...] Mas a angústia enluta e dilacera as nossas almas: “Ai! Guerreiros persas!”, eis o lamento que irá chegar dentro de pouco tempo à nossa pátria. (p. 28) Logo em seguida, a rainha-mãe Atossa vaticina através de um sonho o futuro dos persas na batalha de Salamina. Em sua visão onírica, surgem as imagens das duas irmãs que discutem, da águia que é dilacerada pelo falcão em pleno ar e, por fim, de seu filho amado que “começou a destruir os trajes régios que lhe cobriam o corpo”. (p. 31). Posteriormente, vemos essa mesma cena narrada pelo Mensageiro: “Ele rasgou as vestes enquanto se ouviam seus agudos soluços” (p. 43) E Atossa, então, reconhece a leitura profética de seu sonho: “Visão claríssima de meus sonhos noturnos, foste verídica mostrando-me esses golpes!” (p. 45)

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APRECIAO DA OBRA OS PERSAS DE SQUILO

Rafael Nunes FerreiraLicenciado em Letras: Portugus, Ingls e respectivas literaturasPela Universidade Federal do Pampa UNIPAMPA

A histria da batalha entre persas e gregos narrada de forma proftica, pois logo no comeo dOs Persas de squilo o infortnio do rei Xerxes e seus homens j est dado. Inicialmente, atravs da profecia do Coro de ancios persas, os Fiis:

O corao, porm, profeta inquieto, j pressagia em nosso peito aflito calamidades quanto volta ptria do enorme exrcito [...] e de nosso senhor, seu comandante. [...] Mas a angstia enluta e dilacera as nossas almas: Ai! Guerreiros persas!, eis o lamento que ir chegar dentro de pouco tempo nossa ptria. (p. 28)

Logo em seguida, a rainha-me Atossa vaticina atravs de um sonho o futuro dos persas na batalha de Salamina. Em sua viso onrica, surgem as imagens das duas irms que discutem, da guia que dilacerada pelo falco em pleno ar e, por fim, de seu filho amado que comeou a destruir os trajes rgios que lhe cobriam o corpo. (p. 31). Posteriormente, vemos essa mesma cena narrada pelo Mensageiro: Ele rasgou as vestes enquanto se ouviam seus agudos soluos (p. 43) E Atossa, ento, reconhece a leitura proftica de seu sonho: Viso clarssima de meus sonhos noturnos, foste verdica mostrando-me esses golpes! (p. 45)O destino trgico de Xerxes e do exrcito persa prenunciado desde cedo pelo Coro e pela rainha , pode ser interpretado como castigo divino que revela a consequncia da disputa entre homens e deuses. Xerxes ousou, pois, desafiar os deuses; assim revela a rainha Atossa: meu filho est pagando um preo muito alto pelo castigo que tinha a inteno de impor ilustre Atenas. (p. 43). Da mesma forma que o fantasma de seu pai, Dario:

Ele tentou modificar aquele estreito e mergulhando nele frreas correntes forjadas a martelo, abriu uma passagem sem bices a seu exrcito incontvel. Sendo mortal, ele pensou em sua insnia que poderia enfrentar todos os deuses at Poseidon! (p. 54) [...] Zeus reservou para si mesmo a incumbncia de castigar os pensamentos motivados pela soberba extrema e nos obriga um dia a uma prestao de contas pavorosa. Xerxes carece totalmente de bom senso... [...] ...nunca mais ele resolva repetir suas ofensas s divindades (p. 58)

Assim, a narrativa gira em torno de um destino dado de imediato. A voz proftica nos revela que os homens sempre se encontram sob o julgo dos deuses, pois aqueles que ousam desafi-los so aniquilados. De tal modo, Xerxes em sua insanidade e soberba , desafia no s o povo heleno, mas tambm os deuses. Assim, torna-se o causador do trgico destino de seu povo, como assinala o Coro:

Os deuses se esmeraram desta para que os males todos desabassem impiedosamente sobre os persas. (p. 35) [...] Hoje, porm, numa reviravolta sem dvida querida pelos deuses, estamos naufragando sob os golpes irresistveis que esta guerra horrvel nos infligiu, vibrados sobre o mar. (p. 60)