Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

download Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

of 19

Transcript of Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    1/191

    GUIA DE ESTUDOS DE FILOSOFIA A origem

      PHILO = amizade  SOPHIA = sabedoria  “... a sabedoria pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la, tornando-se filósofos’” (Pitágoras –  Sec. V a.C.)  ... O filósofo é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar pelo desejo de saber

    O pensamento filosófico tem sua origem no THAUMA (espanto, admiração, perplexidade)

    A Filosofia Grega  Busca de um conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana;  Busca da origem e causas do mundo e suas transformações;  Busca da origem e causas das ações humanas;  Busca da origem do próprio pensamento

    Mito e FilosofiaO que éum M ito? Explicação da realidade pautada em fatores sobrenaturais. Narrativa sobre a origem de alguma coisaOrigem da palavra MI TO: do grego MYTHOS = mytheyo (narrar) + mytheo (designar)

    VERDADE= - poeta - enviado dos deuses - revelação divinaComo o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe? 1º) decorrência de relações sexuais entre forças divinas pessoais2º) Por rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo

    3º) Por recompensas ou castigos que os deuses dão a quem os desobedece ou a quem os obedece.Cosmogonias: Gonia (nascimento) + Cosmos (mundo organizado) e teogonias: Gonia+ Theos (seres divinos)

    “A FILOSOFIA, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas,transformando-as numa outra coisa, numa explicação nova e diferente”. (M. Chauí) 

    DIFERENÇAS ENTRE FILOSOFIA E MITO1º) MITO:- fixa a narrativa no passadoFILOSOFIA: se preocupa em explicar como e porque, no passado, no presente e no futuro2º) MITO:- narra a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas(Urano, Ponto e Gaia);FILOSOFIA:- explica a produção natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais (céu, mar e terra).

    3º) MITO: - não se importa com contradições, com o fabuloso e o incompreensívelAutoridade: confiança religiosa no narradorFILOSOFIA: - não admite contradições, fabulação e coisas incompreensíveis; - exige explicação coerente, lógica e racional;Autoridade: vem da razão, que é a mesma em todos os seres humanos, e não da pessoa do filósofo

    Características da reflexão Filosófica:a) é radical: vai a raiz de todas as coisas, busca a origem;

     b) é rigorosa: possui um método, caminho;c) é de conjunto: dialoga com as outras áreas do conhecimento, totalidade, abrangência.

    Origem da Filosofia:A Filosofia nasce no berço do mundo grego como inauguração da razão que expressa a realidade. Foram fatores relevantes para o

    seu surgimento na Grécia:

    1- Os gregos tinham uma situação geográfica favorável;2- Surgimento da polis (organização social);3- A filosofia grega nasceu procurando desenvolver o logos em contraste com os mitos;4- Ágora lugar de reuniões, reflexões;5- Navegação e comércio.4- Filosofia antiga4.1- Pré-socráticos: cosmos / physis.4.2- Sofistas: “o homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras) a verdade é relativa.4.3- Sócrates, Platão e Aristóteles: o homem, episteme, ética, política, lógica.

    DEVIR:  vir a ser. Fluxo permanente, movimento ininterrupto, atuante como uma lei geral do universo, que dissolve, cria etransforma todas as realidades existentes.

    PRÉ- SOCRÁTICOS:Como surgiu o mundo? Qual a verdadeira origem do ser humano e da natureza?Por que existe uma determinada harmonia física entre o ser humano e a natureza?Estas e outras tantas perguntas também foram feitas pelos filósofos pré-socráticos, ou seja, os filósofos da natureza, os quais,contribuíram significativamente para com o pensamento ocidental. A respeito das principais características do pensamento pré-socrático, complete as lacunas abaixo:

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    2/192

    1. Para Heráclito de Éfeso tudo está em constante ______________ MOVIMENTO __________________.2. Segundo Tales de Mileto a ___água _______é o princípio primordial de todas as coisas.3. No pensamento de Anaximandro___ o “apeíron ___é o ilimitado, indefinível e em movimento perpétuo, o princípio do processocosmológico”.4. Para _____ Pitágoras _________ o princípio de todas as coisas é o número.5. No entendimento de Demócrito todas as coisas que formam a realidade são constituídas por partículas invisíveis e indivisíveis,chamadas de _____átomos_________.6. Anaxímenes defendia a teoria de que o __ar__ é o elemento originante de todas as coisas: elemento vivo, que constitui as coisasatravés da condensação ou rarefação.

    HERÁCLITO E PARMÊNIDESUma questão de grande importância já aparecia entre os primeiros filósofos: a diferença entre perceber e pensar. Por exemplo:

    certos elementos, como os átomos, são invisíveis aos nossos recursos sensoriais, certo? Mas o fato de não podermos percebê-losatravés dos nossos sentidos não impede de conhecê-los através do pensamento. Assim, podemos dizer que existe uma distinção entreaquilo que conhecemos por meio da percepção e aquilo que conhecemos apenas pelo pensamento.

    Heráclito e Parmênides notaram essa diferença e acreditavam que a percepção nada mais é que pura ilusão. Mas a concordânciadesses dois filósofos parava por aí. Para Heráclito, a percepção dos nossos recursos sensoriais nos dá a ilusão de que as coisas nãomudam, quando, na verdade, elas estão em constante transformação. Já Parmênides pensava de modo contrário: as coisas nãomudam, mas a percepção nos dá a ilusão de que elas estão se modificando sem parar. No quadro abaixo você verá esse e outros pensamentos que distinguem os dois filósofos:

    Apesar de contrárias, as concepções desses filósofos foram muito importantes para formar a base de novas teorias acerca da re laçãoexistente entre o Ser e o pensamento. As proposições de Heráclito, por exemplo, se desdobraram de maneira significativa no

     pensamento dialético de Hegel e de Marx.Já os princípios filosóficos de Parmênides, em maior ou menor grau, tiveram participação no pensamento de filósofos como Platão,

    Aristóteles e São Tomás de Aquino, além de Kant e Descartes.

    SÓCRATES Nascido em Atenas, Sócrates (469-399 a.C.) é tradicionalmente considerado um marco divisório da história da filosofia grega. Porisso, os filósofos que o antecederam são chamados pré-socráticos e os que o sucederam, de pós-socráticos. O próprio Sócrates nãodeixou nada escrito, e o que se sabe dele e de seu pensamento vem dos textos de seus discípulos e de seus adversários. O estilodevida de Sócrates assemelhava-se ao dos sofistas, embora não vendesse seus ensinamentos. Desenvolvia o saber filosófico em

     praças públicas, conversando com os jovens, sempre dando demonstrações de que era preciso unir a vida concreta ao pensamento.Unir o saber ao fazer, a consciência intelectual à consciência prática ou moral. O autoconhecimento era um dos pontos fundamentaisda filosofia socrática. “Conhece-te a ti mesmo”, frase inscrita no templo de Apolo, era a recomendação básica feita por Sócrates aseus discípulos.Sócrates percebe que a sabedoria começa pelo reconhecimento da  própria ignorância. “Só sei que nada sei” é, para Sócrates, o

     princípio da sabedoria, atitude em que se assume a tarefa verdadeiramente filosófica de superar o enganoso saber baseado em ideias pré-concebidas.

    Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser divididos emdois momentos básicos: a ironia (do grego eironeia, perguntar fingindo ignorar) e a maiêutica (de maieutiké, relativo ao parto). Nalinguagem cotidiana, a ironia tem um significado depreciativo, sarcástico ou de zombaria. Mas não é esse o sentido de ironiasocrática. No grego, ironia quer dizer interrogação. Sócrates interrogava seus interlocutores sobre aquilo que pensavam saber. O queé o bem? O que é a justiça? São exemplos de algumas perguntas feitas por ele. Com habilidade de raciocínio, procurava evidenciaras contradições afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos, oorgulho, a ignorância e a presunção do saber. A ironia socrática tinha um caráter purificador na medida em que levava os discípulosa confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgávamos possuir certezas e clarividências. Libertos doorgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam iniciar o caminho da reconstrução das próprias ideias.

     Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos a conceberem suas próprias ideias. Essa fase dodiálogo socrático, destinada à concepção de ideias, era chamada de maiêutica, termo grego que significa arte de trazer à luz.

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    3/19

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    4/194

    O termo "Metafísica" não é aristotélico; o que hoje chamamos de metafísica era chamado por Aristóteles de filosofia primeira.Esta é a ciência que se ocupa com realidades que estão além das realidades físicas que possuem fácil e imediata apreensão sensorial.O conceito de metafísica em Aristóteles é extremamente complexo e não há uma definição única. O filósofo deu quatro definições

     para metafísica:  A ciência que indaga e reflete acerca dos princípios e primeiras causas;

      A ciência que indaga o ente enquanto aquilo que o constitui, enquanto o ser do ente;

      A ciência que investiga as substâncias;  A ciência que investiga a substância supra-sensível, ou seja, que excede o que é percebido através da materialidade e

    da experiência sensível.Quatro causas.

    Para Aristóteles, existem quatro causas implicadas na existência de algo:1.  A causa material (aquilo do qual é feita alguma coisa, a argila, por exemplo);2.  A causa formal (a coisa em si, como um vaso de argila);3.  A causa eficiente (aquilo que dá origem ao processo em que a coisa surge, como as mãos de quem trabalha a argila);4.  A causa final (aquilo para o qual a coisa é feita, cite-se portar arranjos para enfeitar um ambiente).

    Essência e acidenteA essência é algo sem o qual aquilo não pode ser o que é; é o que dá identidade a um ser, e sem a qual aquele ser não pode ser

    reconhecido como sendo ele mesmoO acidente é algo que pode ser inerente ou não ao ser, mas que, mesmo assim, não descaracteriza-se o ser por sua falta.Potência, ato e movimento.Uma coisa em potência é uma coisa que tende a ser outra, como uma semente (uma árvore em potência). Uma coisa em ato é

    algo que já está realizado, como uma árvore (uma semente em ato).A única coisa totalmente em ato é o Ato Puro, que Aristóteles identifica como Bem. Esse Ato não é nada em potência, nem é a

    realização de potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo, e não é um antecedente de coisa alguma. Desse conceito Tomás deAquino derivou sua noção de Deus em que Deus seria "Ato Puro".Um ser em potência só pode tornar-se um ser em ato mediante algum movimento. O movimento vai sempre da potência ao ato,

    da privação à posse. É por isso que o movimento pode ser definido como ato de um ser em potência enquanto está em potência. Oato é portanto, a realização da potência, e essa realização pode ocorrer através da ação (gerada pela potência ativa) e perfeição(gerada pela potência passiva).

    Ética No sistema aristotélico, a ética é a ciência das condutas, menos exata na medida em que se ocupa com assuntos passíveis de

    modificação. Ela não se ocupa com aquilo que no homem é essencial e imutável, mas daquilo que pode ser obtido por ações repetidas,disposições adquiridas ou de hábitos que constituem as virtudes e os vícios. Seu objetivo último é garantir ou possibilitar a conquistada felicidade.

    Política Na filosofia aristotélica a política é um desdobramento natural da ética. Ambas, na verdade, compõem a unidade do que

    Aristóteles chamava de filosofia prática. Se a ética está preocupada com a felicidade individual do homem, a política se preocupacom a felicidade coletiva da Pólis. Desse modo, é tarefa da política investigar e descobrir quais são as formas de governo e asinstituições capazes de assegurar a felicidade coletiva. Trata-se, portanto, de investigar a constituição do estado. Acredita-se que asreflexões aristotélicas sobre a política originam-se da época em que ele era preceptor de Alexandre, o Grande.

    ESCOLAS DO HELENISMOO helenismo refere-se ao conhecimento filosófico produzido entre a morte do Alexandre e o início da filosofia medieval.Principal característica do helenismo: fusão entre a tradição grega e a cultura oriental. Disseminação do pensamento grego pelaregião da Síria, Egito, Babilônia, etcO ESTOICISMO, de Zenão de Cítio I U6-263 a.C)  –  os representantes desta escola, conhecidos como estóicos, defendiam umaatitude de completa austeridade física e moral, baseada na resistência do homem ante os sofrimentos e os males do mundo. Seu idealde vida, designado pelo termo grego apathéia (que costuma ser mal traduzido por "apatia"), era alcançar uma serenidade diante dosacontecimentos fundada na aceitação da "lei universal do cosmos", que rege toda a vida;O EPICURISMO, de Epicuro (324-271 a.C)  –  propunha a ideia de que o ser humano deve buscar o prazer da vida. No entanto,

    distinguia, entre os prazeres, aqueles que são duradouros e aqueles que acarretam dores e sofrimentos, pois o prazer estaria vinculadoa uma conduta virtuosa. Para Epicuro, o supremo prazer seria de natureza intelectual e obtido mediante o domínio das paixões. Osepicuristas procuravam a ataraxia, termo grego que usavam para designar o estado em que não havia dor, de quietude, serenidade,imperturbabilidade da alma. O epicurismo, posteriormente, serviu de base ao hedonismo, filosofia que também defende a busca do

     prazer, mas que não diferencia os tipos de prazeres, tal como faz Epicuro;O CETICISMO  (pirronismo), de Pirro de Élida (365-275 a.C) - segundo suas teorias, nenhum conhecimento é seguro, tudo éincerto. O pirronismo defendia que se deve contentar com as aparências das coisas, desfrutar o imediato captado pelos sentidos eviver feliz e em paz, em vez de se lançar à busca de uma verdade plena, pois seria impossível ao homem saber se as coisas sãoefetivamente como aparecem. Assim, o pirronismo é considerado uma forma de ceticismo, que professa a impossibilidade doconhecimento, da obtenção da verdade absoluta;O CINISMO - o termo cinismo vem do grego kynos, que significa "cão", e designa a corrente dos filósofos que se propuseram aviver como os cães da cidade, sem qualquer propriedade ou conforto. Levavam ao extremo a filosofia de Sócrates, segundo a qualo homem deve procurar conhecer a si mesmo e desprezar todos os bens materiais. Por isso Diógenes, o pensador mais destacado

    dessa escola, é conhecido como o “Sócrates demente”, ou o “Sócrates louco”, pois questionava os valores e as tradições sociai s e procurava viver estritamente conforme os princípios que considerava moralmente corretos. Sãos inúmeras as histórias eacontecimentos na vida desse filósofo que o tornaram uma figura instigante da história da filosofia.

    FILOSOFIA MEDIEVALDurante a Idade Média a Igreja, grande detentora do poder ideológico, explicava através da fé todos os fenômenos e acontecimentos.

     Na grande maioria das vezes estes eram castigos divinos ou milagres, verdades inquestionáveis escritas na Bíblia. O bom homem

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    5/195

    na Idade Média era aquele que não questionava a submissão a Deus, aceitava todas essas verdades e por elas, se preciso fosse, lutariae morreria bravamente.Santo Agostinho  (354-430) e São Tomás de Aquino  (1227-1274) foram, respectivamente, os maiores pensadores da  Patrística eda Escolástica. Santo  Agostinho valeu-se da filosofia de Platão, enquanto Santo Tomás de Aquino da de Aristóteles. Com isso, cadaqual, em sua época, pode influenciar não só a religião católica como muitos pensadores cristãos que lhes sucederam.Tanto Santo Agostinho  como Santo Tomás de Aquino  afirmam que Deus, sendo eterno, transcendente, todo bondade e todosabedoria, criou a matéria do nada e, depois, tudo o que existe no universo. Para Santo Agostinho, as ideias ou formas estavam noEspírito de Deus (Teoria da Iluminaçao). Santo Tomás de Aquino acrescenta a noção dos universais em seus raciocínios. Dizia queDeus é a causa da matéria e dos universais. Além disso, Deus está continuamente criando o mundo ao unir universais e matéria para

     produzir novos objetos. Nenhum deles colocava em dúvida a imortalidade da alma. Santo  Agostinho dizia que alma e corpo são distintos, mas não soubeexplicar como a alma se liga ao corpo. De acordo com Santo Tomás, a alma humana  —  princípio imaterial, espiritual e vital docorpo —  foi criada por Deus. Acreditava que a alma espiritual é agregada ao corpo por ocasião do nascimento, e continua a existirdepois da morte do corpo, formando, pois, por si mesma, um novo corpo, um corpo espiritual, por meio do qual atua por toda aeternidade.Em suas teorias, reportam ao "desprezo do mundo". Contudo, Santo Agostinho mostra-se incapaz de decidir entre o mundo edesprezo por ele. A despeito dessa dúvida, apega-se firmemente à ideia de que a Igreja, como a encarnação mundana da cidade deDeus, deve ter supremacia sobre o Estado. Santo Tomás de Aquino, da mesma forma que Aristóteles, doutrinava que o homem énaturalmente um ser político e procura estar em sociedade. Este homem deve tributar lealdade à Igreja e a Deus, mas tem, também,que obedecer ao Estado porquanto este, por sua vez, recebeu o seu poder da Igreja.Fé, Razão e Revelação são os pontos fundamentais de suas teorias. Santo Agostinho demonstra claramente sua vocação filosóficana medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. SantoTomás consegue, por seu turno, estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia,distinguindo-as mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo.Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada narevelação.

    FILOSOFIA MODERNA

    Filosofia de DescartesA Idade Moderna é marcada por uma série de transformações tanto na área cultural, religiosa, política e social quanto na área

    econômica. Tais transformações possibilitaram um novo modo do homem europeu conceber o mundo. O Período Moderno dahistória do pensamento filosófico marca uma reviravolta, tanto na maneira de se produzir o conhecimento e as técnicas, quanto namaneira de as nações se organizarem comercial e socialmente. Com a dúvida metódica, Descartes, em o “Discurso do Método”,

     procura estabelecer os princípios de um método, de análise e de desenvolvimento do conhecimento, que não esteja apoiado nasorientações e flutuantes dos sentidos, mas que se apoiem no uso ordenado da razão (cogito).

    As regras:1° regra da evidência: “Jamais admitir coisa alguma como verdadeira se não reconheço evidentemente como tal”; a não ser que seimponha a mim como evidente, de modo claro e distinto, não me permitindo a possibilidade de dúvida. Em outras palavras,

     precisamos evitar toda precipitação e todos os preconceitos. Só devo aceitar o que for evidente, quer dizer, aquilo do qual não possoduvidar.

    2° regra da análise: “Dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem possíveis”.3° regra da síntese: “Concluir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de serem

    conhecidos para, aos poucos, como que por degraus, chegar aos mais complexos”. 4° regra do desmembramento/inventariar: “Para cada caso, fazer enumerações o mais exatas possíveis... a ponto de estar certo de

    nada ter omitido” (Cf. Discurso do Método, II Parte).⇒⇒⇒⇒ As partes da obra “Discurso do Método” –  seis partes.

     Na primeira, encontrar-se-ão diversas considerações atinentes às ciências. Na segunda, as principais regras do método.

     Na terceira, algumas das regras da moral que tirou desse método. Na quarta, as razões pelas quais prova a existência de Deus e da alma humana, que são o fundamento de sua metafísica. Na quinta, a ordem das questões de física que investigou, e, particularmente, a explicação do movimento do coração e algumasoutras dificuldades que concernem à Medicina, e depois, também a diferença que há entre nossa alma e a dos animais.E, na última, que coisas crê necessárias para ir amis adiante do que foi na pesquisa da natureza e que razões o levaram a escrever.⇒⇒⇒⇒ A questão do corpo e da alma:- A essência do homem está no pensamento. Descartes considera, pelo Cogito (o pensamento), a natureza do SUM (a existência).

    Dualismo de espírito e matéria.- O animal possui como o homem o corpo… o homem, porém, possui a alma (linguagem e liberdade).

    - Funcionamento do corpo (máquina) –  coração.- Um aspecto importante na filosofia de Descartes é sua concepção de homem em dualidade corpo-espírito. O universo consiste de

    duas diferentes substâncias: as mentes, ou substância pensante, e a matéria, a última sendo basicamente quantitativa, teoreticamenteexplicável em leis científicas e fórmulas matemáticas.

    ⇒⇒⇒⇒ A dúvida cartesiana:- Não é qualquer tipo de dúvida, ela é metódica; bem diferente das dos céticos.- A dúvida é o método de sua filosofia.- É preciso pôr em dúvida todas as coisas, pelo menos uma vez na vida, diz Descartes.

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    6/196

    EMPIRISMOOs defensores do empirismo afirmam que a razão, a verdade e as ideias racionais são adquiridos por nós através da experiência.

    Antes da experiência, dizem eles, nossa razão é como uma “folha em branco”, onde nada foi escrito; uma “tábula rasa”, onde nadafoi gravado, como uma cera sem forma e sem nada impresso nela, até que a experiência venha escrever na folha, gravar na tábula,dar forma à cera.- Maior representante é John Locke.

    - Emperia / experiência.- “Nada vem à mente sem antes ter passado pela experiência”

    IMMANUEL KANTResponde à questão de como é possível o conhecimento afirmando o papel constitutivo de mundo pelo sujeito transcendental, istoé, o sujeito que possui as condições de possibilidade da experiência. O que equivale a responder: "o conhecimento é possível porqueo homem possui faculdades que o tornam possível". Com isso, o filósofo passa a investigar a razão e seus limites, ao invés deinvestigar como deve ser o mundo para que se possa conhecê-lo, como a filosofia havia feito até então.Mas quais são exatamente, segundo Kant, estas faculdades ou formas a priori no homem que o permitem conhecer a realidade ou,em outros termos, o que são essas tais condições de possibilidade da experiência? Em Kant, há duas principais fontes deconhecimento no sujeito:A sensibilidade, por meio da qual os objetos são dados na intuição.O entendimento, por meio do qual os objetos são pensados nos conceitos.Kant define sensibilidade como o modo receptivo - passivo - pelo qual somos afetados pelos objetos, e intuição, a maneira diretade nos referirmos aos objetos. Funciona assim: tenho uma multiplicidade de sensações dos objetos do mundo, como cor, cheiro,calor, textura, etc. Estas sensações são o que podemos chamar de matéria do fenômeno, ou seja, o conteúdo da experiência. Mas

     para que todas estas impressões tenham algum sentido e entrem no campo do cognoscível (daquilo que se pode conhecer), elas precisam, em primeiro lugar, serem colocadas em formas a priori da intuição, que são o espaço e o tempo.Estas formas puras da intuição surgem antes de qualquer representação mental do objeto; antes que se possa pensar a palavra"cadeira", a cadeira deve ser apresentada, recebida, na forma a priori do espaço e do tempo. Este é o primeiro passo para que se

     possa conhecer algo.Assim, apreendemos daqui duas coisas: primeiro, o conhecimento só é possível se os objetos da experiência forem dados no espaçoe no tempo; e, segundo, espaço e tempo são propriedades subjetivas, isto é, atributos do sujeito e não do mundo (da coisa-em-si).Espaço é a forma do sentido externo; e tempo, do sentido interno. Isto é, os objetos externos se apresentam em uma forma espacial;e os internos, em uma forma temporal.Como Kant prova isso? Pense em uma cadeira em um espaço qualquer, por exemplo, em uma sala de aula vazia. Agora, mentalmente,retire esta cadeira da sala de aula. O que sobra? O espaço vazio. Agora tente fazer o contrário, retirar o espaço vazio e deixar só acadeira. Não dá, a menos que sua cadeira fique flutuando em uma dimensão extraterrena.E o tempo? Ele é minha percepção interna. Só posso conceber a existência de um "eu" estando em relação a um passado e a umfuturo. Só concebemos as coisas no tempo, em um antes, um agora e um depois. Voltemos ao exercício mental anterior: podemoseliminar a cadeira do tempo - ela foi destruída, não existe mais. Porém, não posso eliminar o tempo da cadeira - eu sempre a penso

    em uma duração, antes ou depois.A conclusão é de que é impossível conhecer os objetos externos sem ordená-los em uma forma espacial - e de que nossa percepçãointerna destes mesmos objetos fica impossível sem uma forma temporal. Além disso, espaço e tempo preexistem como faculdadesdo sujeito - e, portanto, são a priori e universais - quando eliminamos os objetos da experiência. Por isso, segundo Kant, espaço etempo são atributos do sujeito e condições de possibilidade de qualquer experiência.Chegamos, portanto, a uma síntese que Kant faz entre racionalismo e empirismo. Sem o conteúdo da experiência, dados naintuição, os pensamentos são vazios de mundo (racionalismo); por outro lado, sem os conceitos, eles não têm nenhum sentido paranós (empirismo). Ou, nas palavras de Kant: "Sem sensibilidade nenhum objeto nos seria dado, e sem entendimento nenhum seria

     pensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são cegas."Considerações finais É um lugar-comum dizer que Kant é um divisor de águas na filosofia, mas é verdade. O sistema kantiano foicontestado pelos filósofos posteriores. No entanto, suas teorias estão na raiz das principais correntes da filosofia moderna, dafenomenologia e existencialismo à filosofia analítica e pragmatismo. Por esta razão, sua leitura é obrigatória para quem se interessa

     pela história do pensamento moderno.

    FILOSOFIA CONTEMPORÂNEAAbrange o pensamento filosófico que vai de meados do século XIX e chega aos nossos dias. Esse período, por ser o mais próximode nós, parece ser o mais complexo e o mais difícil de definir, pois as diferenças entre as várias filosofias ou posições filosóficasnos parecem muito grandes porque as estamos vendo surgir diante de nós.

    HEGELPara entender a filosofia de Hegel, é conveniente situar alguns pontos básicos a partir dos quais se desenvolve a sua reflexão.O primeiro desses pontos é o entendimento da realidade como Espírito. Esse conceito, desenvolvido a partir da filosofia de Fichte eSchelling, é ampliado ainda mais em Hegel. Entender a realidade como Espírito, de acordo com a filosofia de Hegel, é entendê-lanão apenas como substância, mas também como sujeito. Isso significa pensar a realidade como processo, como movimento, e nãosomente como coisa (substância).O segundo ponto básico da filosofia hegeliana diz respeito justamente a esse movimento da realidade. A realidade, enquanto Espírito

     possui uma vida própria, um movimento dialético. Por movimento dialético, Hegel quer caracterizar os diversos momentossucessivos pelos quais determinada realidade se apresenta.

     Nesse exemplo, Hegel ressalta que a realidade não é estática, mas dinâmica, e em seu movimento apresenta momentos que secontradizem entre si, sem, no entanto, perderem a unidade do processo, que leva a um crescente auto-enriquecimento.Esse desenvolvimento, que se faz através do embate e da superação de contradições, Hegel denominou dialética. Embora esse termoapareça já na Antiguidade, com Platão, em Hegel o conceito de dialética se aplica a algo totalmente distinto: não é um método ouuma forma de pensar a realidade, mas sim o movimento real da realidade. Por isso, para compreender a realidade, o pensamentotambém deve ser dialético.

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    7/197

    Hegel compreende esse movimento do real, ou do Espírito que se realiza, como um movimento que se processa em três momentos:o primeiro, do ser em-si; o segundo, do ser outro ou fora-de-si; e o terceiro, que seria o retorno, do ser para-si.A realidade, para Hegel é um contínuo devir, na qual um momento prepara o outro mas, para que esse outro momento aconteça, oanterior tem de ser negado.Esses três momentos são comumente chamados de tese, antítese e síntese. Hegel os concebe como um movimento em espiral, ouseja, um movimento circular que não se fecha, pois cada momento final, que seria a síntese, se torna a tese de um movimento

     posterior de caráter mais avançado.Compreender a dialética da realidade, segundo Hegel, exige um trabalho árduo da razão, que deve se afastar do entendimento comume se colocar do ponto de vista do absoluto. Esse caminho da consciência que se afasta do conhecimento comum e se eleva ao saberabsoluto é o objeto de reflexão do autor em sua obra Fenomenologia do Espírito.

     Nela, Hegel afirma que a consciência que alcança o saber absoluto atinge a razão, ou seja, supera o entendimento finito e adquire acerteza de ser toda a realidade. Desse modo, a Razão alcançaria a consciência da unidade entre ser e pensar, harmonizando asubjetividade e a objetividade

    NIETZSCHEPara Nietzsche existem dois espíritos antagônicos: o apolíneo e o dionisíaco.

    a) Dionisíaco: o deus da música e da embriaguez, o deus que não habita o Olimpo (reino do racionalismo); é a força vital, a alegriao excesso; a ação, a emoção o sentimento.

     b) Apolíneo: o surgimento da filosofia representa o que Nietzsche chama o espírito apolíneo, derivado de Apolo, o severo deus daracionalidade, da medida, da regra, da lei, do método, do equilíbrio, da moralidade.

    Segundo nosso filósofo, o papel da filosofia seria libertar o homem dessa tradição (apolínea) para encontrar-se com o niilismo.O que é niilismo? Do latim –  Nihilismus. Doutrina segundo a qual não existe qualquer verdade moral ou hierarquia de valores.

    Em Nietzsche é empregado como para qualificar sua oposição radical aos valores morais tradicionais e às tradicionais crenças. Osvalores devem ser afirmativos da existência real do homem, de sua vontade e não da tradição.⇒⇒⇒⇒  A decadência dos valores teria surgido com Sócrates, que elevou a questão da moral ao comportamento humano,

    desvinculando-o do prazer que deveria ser buscado por todos.⇒⇒⇒⇒ A moral defendida por Nietzsche é radical, anticristã e o seu objetivo é o poder, a força e vê na compaixão uma fraqueza

    a ser combatida.O Eterno Retorno É a fórmula que pode sintetizar todo o pensamento de Nietzsche. Ele ataca o platonismo (dualismo platônico) e

    o paraíso cristão (mundo divino). Para ele só esse mundo é real com suas constantes mudanças. Há apenas perspectivas diferentessobre um real em transformação e que se repete num eterno retorno→ teste pelo qual o homem deveria passar: a vida, revividainúmeras vezes, não trazendo nada de novo o que pode levar o homem à destruição ou exaltação, dependendo de sua capacidade

     para superar e admitir essa contínua repetição. Deve-se aceitar a vida como ela é.O super-homem Übermensch: aceitar a vida não é o mesmo que aceitar o homem. O super-homem é a vontade de poder,

    determinando a nova ordem de valores. É o líder guerreiro, altamente disciplinado. É o novo homem que quebrará as velhas cadeiase criará um novo sentido na terra. É o homem que vai além do homem. O cristianismo doma o espírito e enfraquece a vontade de

     poder, da conquista, da paixão. O santo cristão é o resultado do medo do inferno e não do amor à humanidade.⇒⇒⇒⇒

     a racionalização histórica levava o homem a "perder-se ou destruir seu instinto fazendo com que ele não ouse soltar o freiodo 'animal divino' quando a sua inteligência vacila e o seu caminho passa por desertos.⇒⇒⇒⇒ ideia da necessidade da formação de uma nova elite- não contaminada pelo cristianismo e pelo liberalismo - e que ao

    mesmo tempo os transcendesse, acometeu Nietzsche desde muito cedo. Mostrou-se obcecado pela formação de uma seleta falangeintelectual responsável pela transmutação de todos os valores, cuja obrigação e dever maior era a proteção de uma cultura superiorameaçada pela vulgaridade democrática.O Crepúsculo dos Ídolos É obra que apresenta uma crítica aniquiladora de todas as "verdades" que se entronizaram no Ocidente.Crepúsculo do Ídolos é um dos escritos centrais de Nietzsche pela violência com que fustiga a religião, a política, a razão e a ciência,ao mesmo tempo que promove a imagem do homem vitalmente liberto.⇒⇒⇒⇒ “Não sou, por exemplo, nenhum bicho-papão, nenhum monstro de moral –  sou até mesmo uma natureza oposta à espécie

    de homem que até agora se venerou como virtuosa. Entre nós, parece-me que precisamente isso faz parte de meu orgulho. Sou umdiscípulo do filósofo Dionísio, preferiria antes ser um sátiro do que um santo”. (Ecce Homo, prólogo). É assim que Nietzsche sedescreve em sua autobiografia. Idolatrado por alguns, menosprezado por outros, ele é, de fato, um irreverente  –  ou talvez, melhor

    seria dizer, um extemporâneo. EDMUND HUSSERL (1859-1938)Matemático e filósofo alemão que ficou conhecido como o fundador da fenomenologia.Em suas primeiras pesquisas, Husserl tenta combinar matemática com a filosofia empírica pela qual tinha sido iniciado em Viena.Seu objetivo central será contribuir no fornecimento de fundações sólidas para a ciência matemática.Contrário a todos de sua época, Husserl queria que a filosofia tivesse as bases de uma ciência rigorosa. Porém seria difícil dar rigora pensamentos e raciocínios filosóficos tão variáveis.FenomenologiaE o estudo da consciência, afirma a importância da consciência, tudo que podemos saber sobre o mundo resume-se a essesfenômenos, esses objetos ideais que existem na mente, designados por palavras que representam sua essência.

    MARTIN HEIDEGGERA partir da influência que adquiriu do professor Husserl, escreveu o livro que marcaria a sua vida, o “Ser e Tempo”. Em 1933,  ocupou a cátedra deixada pelo seu mestre.

    A teoria de Heidegger baseia-se na ideia de que o homem é um ser que busca aquilo que não é. Seu projeto de vida pode ser eliminado pelas pressões da vida e pelo cotidiano, o que leva o homem a isolar-se de si mesmo.Heidegger também trabalhou o conceito de angústia, a partir do qual o homem transcende suas dificuldades ou deixa-se dominar

     por elas. Assim, o homem seria um projeto inacabado.Procurou reconstruir metafísica em novas bases, mediante a aplicação do método fenomenológico do estudo ser.

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    8/198

    A primeira especulação Martin Heidegger, puramente ontológica, é dirigida para a solução do problema do ser. Embora já tenhasido estudada pela filosofia de todos os tempos, jamais foi resolvido, porque em vez de estudarem o ser como tal os filósofos sempre,estudaram um modo, particular de ser (Platão as ideias, Aristóteles a substância).  

     Na verdade, porém, “a respeito do problema do ser”, não só se tem a solução, como também o problema que é obscuro e confuso: é preciso abordá-lo desde o começo e fixar uma posição autêntica a seu respeito. A FENOMENOLOGIA DO HOMEM... O ser nunca se manifesta diretamente, imediatamente, em si mesmo, mas sempre como oser deste ou daquele ente. Segundo Heidegger, a compreensão do ser é, ao mesmo tempo uma determinação do ser do homem. O homem é a porta de acessoao ser. Aqui Heidegger aplica o método fenomenológico: parte do homem de fato, deixa que ele se manifeste tal qual é, e procuracompreender, sua manifestação. 

     Na sua pesquisa antropológica, ele descobre no homem alguns traços fundamentais, característicos do seu ser, traços os quais ele dáa denominação de existenciais. O primeiro existencial é o ser-no-mundo que se encontra em situação (chamado de Daisen ser-em-situação, por Heidegger), numcírculo de afeto e interesses; o homem que está sempre aberto para se tornar algo novo. A própria situação presente é determina poraquilo que ele pretende fazer no futuro: muito do que ele faz hoje, senão tudo, ele o faz em vista do que ele quer ser amanhã. Segundo existencial Heidegger chama se existência a esta característica do homem de ser fora de si, diante de si, por seus ideais,

     por seus planos, por sua possibilidades. Heidegger afirma que a essência, isto é, a natureza do homem, consiste na sua existência.  O terceiro existencial é a temporalidade. O homem é um existente porque está essencialmente ligado ao tempo. Isso faz com queele se encontre sempre além de si mesmo, nas possibilidades futuras. Neste sentido o homem é futuro. Mas para pôr em ato essa

     possibilidade, ele parte sempre de uma situação, na qual ele já se encontra, neste sentido ele é passado. Finalmente, enquanto ele fazuso das coisas que o cercam, ele é presente. A temporalidade tem a função de unir a essência com a existência. As três “estases” temporais (passado, futuro e presente) correspondem, no homem, três modos de conhecer: o sentir, o entender e odiscorrer. Pelo sentir está em comunicação com o passado; Pelo entender, está em comunicação com futuro, com as suas

     possibilidades; Pelo discorrer, ele está em comunicação com o presente. Entre os dois primeiros existenciais, ser-no-mundo e existência, há uma clara diferença. Um prende o homem ao passado, o outro

     projeta o futuro. A vida do homem será inautêntica ou autêntica conforme ele se guiar pelo primeiro ou pelo segundo. Tem uma vida a inautêntica ou banal quem se deixa dominar pela situação, o desejo de saber se torna vão, o inautêntico sabe naaquilo que a massa sabe e submete-se prazerosamente à lei da massa. Observa Heidegger, ela (a massa) o dispensa deresponsabilidades, como a responsabilidade de tomar iniciativas e decisões: tudo está decidido na vida de cada dia.  Leva a vida autêntica quem assume como própria e constrói um plano próprio. Autêntica é a vida de quem deve o apelo do futuro,as próprias possibilidades. E já que entre as possibilidades humanas a última é a morte. Vive autenticamente aquele que leva emconsideração a morte como a possibilidade de deixar de existir “aqui”, cessar. Segundo Heidegger, a morte pertence à estrutura fundamental do homem, é um existencial ela não é uma possibilidade distante, masconstantemente presente. O ser está sempre nesta possibilidade, depois dela não há outras. O homem. Apenas começa existir, já está

    atirado nesta possibilidade. Com a morte o homem conquista a totalidade de sua vida. Enquanto ela chega ela não chega, falta a elealguma coisa que ainda não pode ser e que será. O homem adquire consciência da sua submissão à morte através da angústia, outradisposição fundamental do ser. Heidegger chama a morte de “princípio de individuação”, o princípio formal da vida humana: a vida humana se torna um todosomente mediante a morte, que a limita. Só a morte permite ao homem ser completo. Para Heidegger o ser é definido como aquilo que se faz presente no ente, que o ilumina e se manifesta nele. Embora o ser esteja noente, não há nada no ente que revele a natureza do ser. O homem é “o guarda do ser”, mas só cumprirá essa missão se souber

     preservar a dignidade do ser. O homem permanece sempre só com a natureza, isto é, com mediato jamais poderá ele encontrarimediatamente “o próprio ser”. Mas o homem sabe que o ser dá a todo ente a “garantia de ser”. Sem ela, todo o ente permaneceriano nada, na privação absoluta do ser. Mas o modo pelo qual se dá este “construir -se” do ente por meio do ser é coisa que não lhe édado saber. Em consequência disso, a explicação do grande segredo do “constituir -se” da existência e o esclarecimento de suarelação com seu fundamento são impossíveis, estando esta questão oculta em mística obscuridade. A filosofia de é Heidegger é também filosofia de linguagem, uma vez que é no homem, ser-em-situação, é através da linguagem que

    se dá a epifania do ser.

    JEAN-PAUL SARTRE (Paris, 1905 —  Paris, 1980)Filósofo, escritor e crítico francês, acreditava que os intelectuais tinham o dever de representar um papel mais ativo na sociedade.Ficou conhecido como representante do existencialismo. Sartre era um artista militante, e apoiou causas políticas de esquerda coma sua vida e obras.Recusou-se a receber o Nobel de Literatura por ser contra distinções oficiais. A existência precede a essência era isso que suafilosofia dizia sobre o ser humano, pois primeiro o homem existe para depois se definir ou seja o que define o ser são seus atosdurante sua existência, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir."O importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós." JEAN PAUL SARTRE (1905-1980).Antes de chegar nesta tão celebre frase, Sartre passou por toda uma construção anterior desse pensamento desembocando

     posteriormente no pensamento conhecido como existencialista. Em L´Imaginaire desenvolve um pensamento separativista da percepção e da imaginação, em L´Être et le néant contesta o subconsciente freudiano desvinculando-se do determinismo religioso,

    e no qual no decorrer da leitura vê-se o cerne da ideia posterior de responsabilizar o homem pelos seus próprios atos expondo a ideiade liberdade como um aprisionamento do ser (“Não somos livres de ser livres”) já que o homem é o único ser capaz de criar o nada: “Ao tomar uma decisão, percebo com angústia que nada me impede de voltar atrás. Minha liberdade é o único fundamento dos

    valores.” Desta forma gera no homem a angustia de saber que nada o impede de voltar atrás, o medo de arcar com sua própria liberdade.Assim, condenados a uma liberdade insatisfatória, jamais alcançando o que realmente desejamos sendo, portanto, uma liberdadeirrealizável.

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    9/199

    A Existência precede a essência?Para o pensamento de Sartre Deus não existe, portanto o homem nasce despido de tudo, qual seja um ser que existe antes de poder

     ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem, o que significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surgeno mundo; e que só depois se define. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para concebê-la, a única natureza pré-existente é a biológica, ou seja; a sobrevivência, o resto se adquire de tal forma que não vem do sujeito é ensinado a ele pelo mundoexterior.Se Deus não existe não encontramos, já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. Assim não teremos

     justificativa para nosso comportamento. Estamos sós, sem desculpas.É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre (pensamento desenvolvido em o ser e o nada). Condenado,

     porque não se criou a si mesmo, mas por estar livre no mundo estamos condenados a ser livres, mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é, ou seja;“Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”.  O homem é aquilo que ele mesmo faz de si, é a isto que chamamos de subjetividade. Desse modo, o primeiro passo do existencialismoé de pôr todo o homem na posse do que ele é e de submetê-lo à responsabilidade total de sua existência. Para o existencialista nãoter a quem culpar já que Deus não existe, e o subconsciente não existe é o que leva ao pensamento da liberdade não livre, pois, juntocom eles, desaparecem toda e qualquer possibilidade de encontrar valores inteligíveis, nem um modelinho pré-definido a sercumprido.

    A fórmula "ser livre" não significa "obter o que se quer", e sim "determinar-se a escolher”. Segundo Sartre o êxito nãoimporta em absoluto à liberdade. Um prisioneiro não é livre para sair da prisão, nem sempre livre para desejar sua libertação, mas ésempre livre para tentar escapar.

    Sendo livres somos responsáveis por nossas ações consequentemente somos livres para pensar e conceber nossos próprios paradigmas, não sendo então aquilo que fizeram de nós e sim nos criando a partir do que fizeram de nós. Somos o que escolhemosser.

    POLÍTICAProblema político: Estado, sociedade e poder  Questões de referência: 

      A questão da democracia.   A questão da constituição da cidadania.   A questão do jusnaturalismo e contratualismo.   A questão do poder  

    Autores de referência: Platão, Aristóteles, Hobbes, Locke, Rousseau, Maquiavel... 

    O analfabeto político O pior a analfabeto é o analfabeto político.  Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos.  Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha,  

    do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito, dizendo que odeia política.   Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nascem a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos,que é o político vigarista, pilantra, corrupto. E lacaio das empresas nacionais e multinacionais. Bertolt Brecht

    1. Uma reflexão sobre política e democracia Podemos falar de política como a arte de governar, de gerir os destinos da cidade; aliás, etimologicamente política vem de

     polis (cidade).A palavra democracia vem do grego demos (povo) e kratia,  de krátos  (governo, poder, autoridade). Historicamente,

    consideramos os atenienses o primeiro povo a elaborar o ideal democrático, dando ao cidadão a capacidade de decidir os destinosda polis (cidade - estado grega). Povo habituado ao discurso, encontra na  ágora (praça pública) o espaço social para o debate e oexercício da persuasão. (*Vários eram excluídos do direito à cidadania e poucos detinham efetivamente o poder .) Grifo nosso. 

    O ideal democrático reaparece na história, com roupas diferentes, ora no liberalismo, ora exaltado na utopia rousseauniana,ora nos ideais socialistas e anarquistas. 

     Nunca foi possível evitar que, em nome da democracia, conceito abstrato, valores que na verdade pertenciam a uma classeapenas fossem considerados universais. A Revolução Francesa se fez sob o lema “Igualdade, Liberdade, Fraternidade”, e sabemosque foi uma revolução que visava interesses burgueses e não populares. 

     No mundo contemporâneo, tanto os EUA como a URSS se consideram governos democráticos. Se a política significa o que se refere ao poder, na democracia, onde é o lugar do poder? 

    A personalização do PoderO que caracteriza os governos não democráticos é que o poder é investido numa pessoa que pretende exercê-lo durante toda

    a sua vida, como se dele fosse proprietário. O faraó do Egito, o césar romano, o rei cristão medieval, em virtude de privilégios, seapropriam do poder, identificando-o com o seu próprio corpo. É a pessoa do príncipe que se torna o intermediário entre os homense Deus, ou o intérprete humano da suprema Razão. 

    Identificado com determinada pessoa ou grupo, o poder personalizado é um poder de fato, e não de direito, pois não élegitimado pelo consentimento da maioria, mas depende do prestígio e da força dos que o possuem. Trata-se de uma usurpação do

     poder, que perde o seu lugar público quando é incorporado na figura do príncipe. Que tipo de unidade decorre desse poder? Como não se funda na expressão da maioria, ele precisa estar sempre vigiando econtrolando o surgimento de divergências que poderão abalá-lo. Busca então a uniformização das crenças, das opiniões, doscostumes, evitando o pensamento divergente e destruindo a oposição. 

    Eis aí o risco do totalitarismo, quando o poder é incorporado ao partido único, representado por um homem todo- poderoso.O filósofo político contemporâneo Claude Lefort diz que o escritor soviético dissidente Soljenitsin costumava se referir a Stálincomo sendo o Egocrata (que significa o poder personalizado; etimologicamente, “poder do eu”). O Egocr ata é o ser todo –  poderoso

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    10/1910

    que faz apagar a distinção entre a esfera do Estado e a da sociedade civil: o partido, onipresente, se incumbe de difundir a ideologiadominante por todos os setores de atividades, a todos unificando, o que permite a reprodução das relações sociais conforme o modelogeral. A institucionalização do Poder A Idade Moderna promove uma profunda mudança na maneira de pensar medieval, que era predominantemente religiosa. Ocorre asecularização da consciência, ou seja, o abandono das explicações religiosas, para se usar o recurso da razão. Essa transformação severifica nas artes, nas ciências, na política.  

    À tese de que todo poder emana de Deus, se contrapõe a origem social do pacto feito pelo consentimento dos homens. Alegitimação do poder se encontra no próprio homem que o institui. 

    Para ilustrar o caráter divino do poder no pensamento medieval, veja-se Jean Bodin (1530 –  1596): jurista e filósofo francês,que defendeu, em sua obra A República , o conceito do soberano perpétuo e absoluto, cuja autoridade representava a vontade deDeus. Assim, todo aquele que não se submetesse à autoridade do rei deveria ser consideradao um inimigo da ordem pública e do

     progresso social. Segundo Bodin, o rei deveria possuir um poder supremo sobre o Estado, respeitando, apenas, o direito de propriedade dos súditos. (COTRIM, 1987, p 134) 

    Com a emergência da burguesia no panorama político, dá-se a criação do Estado como organismo distinto da sociedade civil.Em outras palavras, na Idade Média, o poder político pertencia ao senhor feudal, dono de terras, e era transmitido como herança

     juntamente com seus bens; com as revoluções burguesas, essas duas esferas dissociam-se: o poder não é herdado, mas conquistado pelo voto. Assim, separa-se o público do privado. O espírito da democracia está em descobrir o valor da coisa pública, separada dosinteresses particulares. 

    Desse modo, ocorre a institucionalização do poder, que não mais se identifica com aquele que o detém, pois este é merodepositário da soberania popular. O poder se torna um poder de direito, e sua legitimidade repousa, não no privilégio, não no uso daviolência, mas do mandato popular. 

    O súdito, na verdade, torna-se cidadão, já que participa da comunidade cívica. Não havendo privilégios, todos são iguais etêm os mesmos direitos e deveres.  

    Isto se torna possível pela criação de instituições baseadas na pluralidade de opiniões e na elaboração de leis para orientar aação dos cidadãos, garantindo seu direitos e evitando o arbítrio. A institucionalização implica a elaboração de uma Constituição,que é a lei magna. 

    Portanto, o poder torna-se legítimos porque emana do povo e se faz em conformidade com a lei. Retomando a pergunta “Onde é o lugar do poder na democracia?” respondemos que é o lugar do vazio, ou sej a, é o poder

    com o qual ninguém pode se identificar e que será exercido transitoriamente por quem for escolhido para tal.   No entanto, como já dissemos, a democracia burguesa se mostrou deficiente no exercício desse ideal, pois redundou em uma

    forma elitista, privilegiando os segmentos da sociedade que possuem propriedades e excluindo do acesso ao poder a grande maioria  Com a ajuda da ideologia, as classes privilegiadas dissimulam a divisão e mostram a sociedade como una, harmônica e

    igualitária. Asseguram, assim, a tranquilidade e o progresso”. Entretanto, a outra parte da sociedade se acha reduzida ao silêncio e àincapacidade de pensar a sua própria condição. Como seria a verdadeira democracia? 

    Segundo Marilena Chauí, as três características da democracia são as ideias de conflito, abertura e rotatividade.   O confli to : se a democracia supõe o pensamento divergente, isto é, os múltiplos discursos, ela tem de admitir um

    heterogeneidade essencial. Então, o conflito é inevitável. A palavra conflito sempre teve sentido pejorativo, de algo quedevesse ser evitado a qualquer custo. Ao contrário, divergir é inerente a uma sociedade pluralista. O que a sociedadedemocrática deve fazer com o conflito é trabalhá-lo, de modo que, a partir da discussão, do confronto, os próprios homensencontrem a possibilidade de superá-lo.

      A abertu ra:  significa que na democracia a informação circula livremente, e a cultura não é privilégio de poucos.  A rotatividade:  significa tornar o poder na democracia realmente o lugar vazio por excelência, sem o privilégio de um

    grupo ou classe. É permitir que todos os setores da sociedade possam ser legitimamente representados. 

    A fragilidade da democracia A construção da democracia é uma tarefa difícil, devido à incompletude essencial da democracia. Não havendo modelos a

    seguir, a democracia se autoproduz no seu percurso, e a árdua tarefa em que todos se empenham está sujeita aos riscos dos enganos

    e dos desvios. Por isso, a democracia é frágil e não há como evitar o que faz parte da sua própria na tureza. O principal risco é a emergência do totalitarismo, representado nos grupos que sucumbem à sedução do absoluto e desejamrestabelecer a “ordem” e a hierarquia.  

    A condição do fortalecimento da democracia encontra-se na politização das pessoas, que devem deixar o hábito (ou vício? )da cidadania passiva, do individualismo, para se tornarem mais participantes e conscientes da coisa pública.  

    Questões para reflexão: 1.  Qual a mensagem do poema “O analfabeto político”? 2.  Qual é a etimologia das palavras política e democracia? 3.  O que significa a personalização do poder? 4.  O que significa s separação entre a sociedade política e a sociedade civil? 5.  Por que a burguesia não representa ainda o ideal democrático? 6.  Quais são as três características da democracia? 7.  Em que consiste a fragilidade da democracia e que significa cidadania passiva? 

    Sugestão de leitura : ARANHA & MARTINS. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna,1986. (Capítulo 18 a 27 - pgs 206 a 299)

    DEMOCRACIA E CIDADANIASe até hoje temos nos contentado com a democracia representativa, não há como deixar de sonhar com mecanismos típicos

    da democracia direta que possibilitem a presença mais constante do povo nas decisões de interesse coletivo.  

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    11/1911

     Na Constituição brasileira de 1988 foi introduzida a “iniciativa popular de projetos de leis”, através de manifestação doeleitorado, mediante porcentagem mínima estipulada conforme o caso. Essa forma de atuação ainda será regulamentada e devemser enfrentadas dificuldades as mais diversas para o exercício efetivo. 

    Mas alguns poderiam argumentar: para participar enquanto cidadão pleno é preciso que haja politização, caso contráriohaverá apatia ou manipulação. Daí o desafio: quem educa o cidadão? 

    Cidadania se aprende no exercício mesmo da cidadania. Embora a escola seja aliada importante, não é nela fundamentalmenteque se dá a aprendizagem, pois há o risco da ideologia e do discurso vazio, quando o ensino não é acompanhado de fato pelaampliação dos espaços de atuação política do cidadão na sociedade. 

    A participação popular se intensifica com as já referidas organizações saídas da sociedade civil. Essas organizações, aocolocarem seus representantes em confronto com o poder constituído, tornam-se verdadeiras escolas de cidadania. O importante do

     processo é que, ao lado dos outros poderes, como o poder oficial do município, do estado e federal, e o poder das elites econômicas,desenvolve-se o poder alternativo. Ou seja, o esforço coletivo na defesa de interesses comuns transforma a população amorfa,inexpressiva e despolitizada em comunidade verdadeira. 

     Na luta contra a tirania e o poder arbitrário, nem as regras da moral, nem apenas as leis impedirão o abuso do poder. Naverdade, como já dizia Montesquieu, só o poder controla o poder. 

    Sugestão de leitura : ARANHA & MARTINS. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna,1992.(cap. 13 )

    MAQUIAVEL O Renascimento trouxe uma série de inovações no campo cultural. Uma delas foi desenvolvida por um autor italiano, Maquiavel,que procurava fundamentar uma filosofia política tendo em vista a dominação dos homens. Essa pretensão tinha como modelo asciências naturais que estavam em plena descoberta (física, medicina, etc.), estabelecidas por Galileu e com o próprio idealrenascentista de domínio da natureza.Maquiavel pretendia que essa forma de conhecimento fosse aplicada também à política enquanto ciência do domínio dos homens eque tinha como pressuposto uma natureza humana imutável. Para ele, se há uniformidade nas leis gerais das ciências naturais,também deveria haver para as ciências humanas. Isso foi necessário para manter a ordem dentro do Estado burguês então nascente,que precisava desenvolver suas atividades e prosperar.O problema para Maquiavel, entretanto, é saber a quem serve a ciência política e o que fazer para se manter no poder. Apesar de,obviamente, ser um defensor da burguesia, não se sabe ao certo qual a sua preferência de forma de governo. Mesmo assim, ele tendeora para a República, ora para a Monarquia. Para ele, essa questão é secundária, pois a sua concepção de história era cíclica e osgovernos sempre se degeneravam: da monarquia à tirania, desta à oligarquia e à aristocracia, que, por sua vez, recaíam na democraciaque, enfim, só terá solução com um ditador. Isso acontece (e se repete) porque os seres humanos têm uma essência universal: é odesejo de poder e os vícios a que são acometidos os homens (governantes e seus sucessores) que fazem com que o governo sedegenere.Por isso, Maquiavel lança mão de dois conceitos chaves: virtu e fortuna. Este diz respeito à grande maioria dos homens, é a sorte, odestino a que estão determinados; e aquele é a excelência que poucos homens têm de previsão, capazes de fazê-los manter o podermáximo possível e para isso podem matar, roubar, mentir, sem nenhum escrúpulo.

    AS TEORIAS CONTRATUALISTAS  Nos séculos XVII e XVIII a principal preocupação da filosofia política é o fundamento racional do poder soberano. Ou seja, o quese procura não é resolver a questão da justiça, nem justificar o poder pela intervenção divina, mas colocar o problema da legitimidadedo poder. É por isso que filósofos tão diferentes como Hobbes, Locke e Rousseau têm idêntico propósito: investigar a origem do Estado. Não

     propriamente a origem no tempo, mas o “princípio”, a “razão de ser” do Estado. Todos partem da hipótese do homem em estadode natureza, isto é, antes de qualquer sociabilidade, e, portanto, dono exclusivo de si e dos seus poderes. Procuram então compreendero que justifica abandonar o estado de natureza para constituir o Estado, mediante o contrato. Também discutem o tipo de soberaniaresultante do pacto feito entre os homens. Hobbes, advertindo que o homem natural vive em guerra com seus semelhantes, conclui que a única maneira de garantir a pazconsiste na delegação de um poder absoluto ao soberano. - Thomas Hobbes (1558-1679): filósofo inglês, escreveu o livro Leviatã(o título refere-se ao monstro bíblico, citado no livro de Jó, que governava o caos primitivo), no qual compara o Estado a um monstrotodo-poderoso, especialmente criado para acabar com a anarquia da sociedade primitiva. Segundo Hobbes, nas sociedades primitivas“o homem era o lobo do próprio homem”, vivendo em constantes guerras e matanças, cada qual procurando garantir sua própriasobrevivência. Só havia uma solução para dar fim à brutalidade: entregar o poder a um só homem, que seria o rei, para que elegovernasse todos os demais, eliminando a desordem e dando segurança a todos. (COTRIM, 1987, p. 134) Locke, como arauto do liberalismo, critica o absolutismo. John Locke (1632 –  1704): filósofo inglês, considerado por muitos comoo “Pai do Iluminismo”. Sua principal obra é o Ensaio sobre o entendimento humano , em que afirma que nossa mente é uma tábularasa , sem nenhuma ideia. Tudo o que adquirimos é devido à e experiência. Para ele, nossas primeiras ideias vêm à mente atravésdos sentidos. Depois, combinando e associando as primeiras ideias simples, a mente forma ideias cada vez mais complexas. Emresumo, todo o conhecimento humano chega à nossa mente através dos sentidos e, depois, desenvolve-se pelo esforço da razão. Emtermos políticos, Locke condenou o absolutismo monárquico, revelando sua grande preocupação em proteger a liberdade individualdo cidadão. (COTRIM, 1987, p.140) Para ele, o consentimento dos homens ao aceitarem o poder do corpo político instituído nãoretira seu direito de insurreição

    Apesar das diferenças, o que existe em comum nas teorias contratualistas é a ênfase no caráter racional e laico (não-religiosos) da origem do poder. É o próprio homem que dá o consentimento para a instauração do poder, reafirmando

    assim o valor absoluto do indivíduo e do cidadão.Além disso, as teorias contratualistas se baseiam em uma concepção individualista da sociedade, o que é típico do pensamentoliberal. A sociedade é compreendida como a somatória dos indivíduos, e o Estado tem por fim garantir que os interesses

     particulares possam coexistir em harmonia. Esta concepção será criticada pelas teorias socialistas. Sugestão de leitura ARANHA & MARTINS. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna,1992. ( cap. 14 )

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    12/1912

    CONCEITOS HOBBES LOCKE ROUSSEAU MONTESQUIEU

    PoderMeio para atingir um bem visível para mim.Poder Natural (do corpo).Poder instrumental(meios para melhorar o poder natural)

    criado pelo homem através desuas experiências.

    Poder emana do povo. O povo esoberano, a vontade geralrepresenta o poder de um estado.

    Quem tem poder possui razão,logo é capaz de fazer leis.

    Estado de Natureza

    Estado de guerra.Cada um se autogoverna, e caso se sintaameaçado pode fazertudo para eliminar ooutro. Não há propriedade.

    Os homens vivem um estágio pré-social e pré-político na mais perfeita igualdade e liberdade. Não é um estado de guerra, masum estado de paz, concórdia eharmonia. Mas este não está isentode conflitos.Há propriedade.

    Somos seres que nascemos livres eiguais pela condição de razão. Nascemos numa condição animal por instinto, e vivemos numacondição básica de natureza, atéque seja necessário ao homemcriar instrumentos para alterá-la.Homem é piedoso e bom para ooutro.

    Homem procura suasobrevivência, busca pela paz.O homem se preocupa com anecessidade de sobrevivênciae reprodução.

    Concepção de NaturezaHumana

    Razão proíbe o homemde fazer tudo que vádestruir sua vida ou privá-la dos meios para preservá-la.

    Tábula rasa. Não existem ideiasinatas no homem. O homemadquire ideias, conhecimento,através das experiênciasvivenciadas. Todos os seres

    humanos nascem bons, iguais eindependentes

    Bom selvagem. Indivíduos vivemisolados, vivendo do que anatureza os fornece, não existemconflitos.

    Os homens se temem e o medoos impede de se atacaremfazendo com que cada um sesinta inferior em relação aooutro.

    Estado civilFruto do poderindividual dos homensreunidos em assembleia.Supera estado de guerra.Assegura vida e propriedade.

    Conservação da propriedade.Poder legislativo é superior aosoutros. Controle do governo pelasociedade.

    Cria-se quando a desigualdade seinstala (estado de guerra). Tira aliberdade natural do homem e seudireito de fazer o que bem querer,mas o fornece liberdade civil e propriedade de tudo que possui.

    O melhor e o moderado, queconsegue equilibrar os 3 poderes. Acabar com o estadode guerra gerado por umadesigualdade.

    ContratoAcordo civil.Transferência mútua dedireitos.

    Mesmo o estado de natureza sendo pacifico, não está isento deconflitos, e este leva os homens aofazerem o contrato. Formado porum corpo político único, visa preservação da propriedade e a

     proteção da comunidadeinternamente e externamente.

    Pela vontade geral, o que e comumnos interesses de todos, escolhe-seum governante que não esoberano, mas representa asoberania popular. O povo esoberano.

    Criado quando um homemtem mais que o outro, assiminstaura-se o estado de guerra.O medo recíproco entre oshomens levam a união deles.

    PactoReunião em assembleiadando poder a umsoberano que não participa da assembleia.Transferência de poderao soberano. Pacto deSubmissão.

    Uma decisão da maioria atravésde uma assembleia sobre oordenamento político. Pacto deConsentimento.

    Pacto de Consenso. São oselementos comuns a vontade detodos (vontade geral). Volto aliberdade que tinha no Estado denatureza. Só na lei tenhoigualdade. A liberdade está naautonomia.

    Pacto simples. Esfera públicae privada. O estado precisa sercontrolado e por isso sãonecessárias as leis. A lei buscaa paz social. Lei expressavontade, cultura.

    SoberaniaAdvém do povo.Legitima o poder domonarca sobre seussúditos.

     Não reside no Estado, mas sim na população. Embora seja soberano,o estado deve respeitar as leisnaturais e civis.

    Poder supremo do povo. Exercícioda vontade geral. Inalienável eindivisível. Vontade única porconsenso em assembleia.

    Ocorre com as leis positivas.

    PropriedadeAutonomia para fazercom seus bens o que bem entende.

    Bem coletivo. Está no própriohomem, no trabalho e ações queexecuta. É anterior à sociedade e, portanto direito natural do homem.

    Causa maior da desigualdade, porém é direito de todo cidadão.

    Vem do esforço humano. Ohomem deve produzir o queele precisa para sobreviver.

    Direito deResistência

    O súdito podedesobedecer aosoberano, caso este nãoesteja garantindo a suavida.

    Direito do povo contra a opressãoe a tirania do governo (violação da propriedade) e de se libertar deuma nação estrangeira.

    Qualquer quebra da vontade geral por parte do monarca, dá direito ainsurgência.

    A partir do momento que osdireitos individuais sãoviolados.

    CidadaniaO homem renuncia a seu poder para fazer o pacto.

    Somente os que possuem propriedade privada são cidadãos.

    Os indivíduos aceitam perder aliberdade civil e a posse natural para ganhar a individualidadecivil.

    O homem adquire quando há oequilíbrio dos poderes noEstado.

    Formas degoverno

    Estado Absolutista Democracia; Oligarquia;Monarquia

    Democracia; Aristocracia;Monarquia.

    Monarquia Constitucional;Republica; Despotismo(Tirania)

    Sobre os poderes do

    Estado

     Não há divisão. O poderestá no rei. Poderabsoluto.

    Divisão do poder em 3:Legislativo, Executivo eFederativo.

    Só existe o poder legislativo, quecria as leis.

    Equilíbrio entre os 3 poderes.Um poder controla o outro.Gera estabilidade política.

    LegitimidadeO Estado só é legítimo, porque o povo deu poder a ele.

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    13/1913

    ÉTICAÁrea da Filosofia que estuda os valores morais. Reflete sobre o bem e o mal, o que é certo ou errado, e procura responder, por

    exemplo, se os fins justificam os meios ou os meios justificam os fins.Moral é o conjunto de regras que determinam o comportamento dos indivíduos em um grupo social. De modo simplificado, o

    sujeito moral é aquele que age bem ou mal na medida em que acata ou transgride as regras morais admitidas em determinada épocaou por um grupo de pessoas. Diz respeito à ação moral concreta, quando nos perguntamos: O que devo fazer? Como devo agir nessasituação? O que é certo? O que é condenável? e assim por diante.

    Ética  é a reflexão sobre as noções e princípios que fundamentam a vida moral. Essa reflexão orienta-se nas mais diversasdireções, dependendo da concepção de ser humano tomada como ponto de partida. Por exemplo, à pergunta "O que é o bem e omal?", respondemos diferentemente, caso o fundamento da moral esteja na ordem cósmica, na vontade de Deus ou em nenhuma

    ordem exterior à própria consciência humana.Do ponto de vista da ética, podemos ainda perguntar: Há uma hierarquia de valores a obedecer? Se houver, o bem supremo é afelicidade? O prazer? A utilidade? O dever? A justiça? Igualmente, é possível questionar: Os valores são essências? Têm conteúdodeterminado, universal, válido em todos os tempos e lugares? (Caráter histórico e social da moral)

    A partir de Sócrates (469 –  399 a. C.), a Filosofia, que antes estudava a natureza, passa a se ocupar de problemas relativos aovalor da vida, ou seja, das virtudes. O primeiro a organizar essas questões é o filósofo grego Aristóteles (384 –  322 a. C.). Em suaobra, entre outros pontos, destacam-se os estudos da relação entre a ética individual e a social, e entre a vida teórica e a prática. Eletambém classifica as virtudes. A justiça, a amizade e os valores morais derivam dos costumes e servem para promover a ordem

     política. A sabedoria e a prudência estão vinculadas à inteligência ou à razão. Na Idade Média, predomina a ética cristã baseada no amor ao próximo, que incorpora as noções gregas de que a felicidade é

    um objetivo do homem e a prática do bem constitui um meio de atingi-la. Os filósofos cristãos partem do pressuposto de que anatureza humana tem um destino predeterminado e de que Deus é o princípio da felicidade e da virtude. 

    Entre a idade Média e a modernidade, o italiano Nicolau Maquiavel (1469 –  1527) apresenta-se como “o Colombo do novo

    mundo moral” e provoca uma revolução na ética. Nega as concepções grega e cristã de virtude e busca seu modelo moral na virilidadedos antigos romanos. Para ele, a ética cristã é “efeminada”. Maquiavel  influencia o inglês Thomas Hobbes  (1588  –  1679) e oholandês Benedito Spinoza (1632 – 1677), pensadores modernos extremamente realistas no que se refere à ética.

     Nos séculos XVIII e XIX, o francês Jean  –  Jacques Rousseau (1712 – 1778) e os alemães Emmanuel Kant (1724  –  1804) eFriedrich Hegel (1770 – 1831) são os principais filósofos que discutem ética. Segundo Rousseau, o homem é bom por natureza eseu espírito pode sofrer um aprimoramento quase ilimitado. Para Kant, ética é a obrigação de agir segundo regras universais comas quais todos concordam. O reconhecimento dos outros homens é o principal motivador da conduta individual. 

    Hegel transforma a ética em uma Filosofia do Direito. Ele a divide em ética subjetiva ou pessoal, e ética objetiva, ou social. A primeira é uma consciência de dever e a segunda é formada pelos costumes, leis e normas de uma sociedade. O Estado, para Hegel,reúne esses dois aspectos numa “totalidade ética”. 

     Na Filosofia contemporânea, os princípios do liberalismo influenciam o conceito de ética, que ganha traços de moral utilitária.Os indivíduos devem buscar a felicidade e, para isso, fazer as melhores escolhas entre as alternativas existentes. Para o filósofoinglês Bertrand Russel (1872 –  1970), a ética é subjetiva. Não contém afirmações verdadeiras ou falsas. É a expressão dos desejos

    de um grupo. Mas Russel diz que o homem deve reprimir certos desejos e reforçar outros se pretende atingir a felicidade ou oequilíbrio 

    Desde a antiguidade, a ética percorreu um longo caminho, distinguindo-se da moral e se segmentando, adquirindocontemporaneamente um sentido amplo e outro mais estreito.

    Atualmente, existe uma ética da humanidade que pauta comportamentos pensando em pressupostos maiores; e outra que padroniza ações no interior de um grupo especifico.

    As duas vertentes nem sempre caminharam juntas, gerando recomendações contraditórias e paradoxais.Para entender o que e como se configurou a chamada ética profissional, apenas um dos ramos da ética normativa, é necessário

     percorrer o desenvolvimento conceitual da ética ao longo da história.

    A ÉTICA NA ANTIGUIDADE.A ética nasceu na Grécia, praticamente junto com a filosofia, embora seus preceitos fossem praticados entre outros povos desde

    os primórdios da humanidade, mesclados ao contexto mítico e religioso, tentando pautar regras de comportamento para permitir oconvívio entre indivíduos agrupados no conjunto da sociedade.A rigor, os gregos foram os primeiros a racionalizar as relações entre as pessoas, repensando posturas e sistematizando ações.Momento em que surgiram discussões que até hoje fomentam reflexões éticas.Apesar dos pré-socráticos se inserirem neste contexto, a maioria dos autores atribuem a tradição socrática um olhar mais atento

    sobre problemáticas em torno da ética.Para Sócrates, o verdadeiro objeto do conhecimento seria a alma humana, onde reside a verdade e a possibilidade de alcançar a

    felicidade.O grande problema é que o indivíduo não está preparado para encontrar a verdade dentro de seu espírito.Tentando eliminar os próprios erros, ocultos em sentimentos confundidos com a felicidade, o sujeito acaba buscando somente o

     prazer puramente hedonista.Por esta razão, seria missão do filósofo conduzir o sujeito ao conhecimento, direcionando para eudaimonia, a verdadeira

    felicidade.

    Um conceito importante para os gregos, tanto que a palavra eudeimon tem a mesma origem etimológica, denotando riqueza edenominando um homem poderoso e com boa fortuna.Para a tradição socrática, a felicidade só pode ser alcançada pela conduta reta, a verdade só pode ser contemplada pelo

    conhecimento virtuoso do mundo, pelo comportamento orientado pela bondade.A virtude é o centro da ética socrática, podendo ser definida como uma disposição para praticar o bem, suprimir os desejos

    despertados pelos sentimentos, racionalizando as ações em benefício da coletividade.

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    14/1914

    O indivíduo virtuoso, bom, é aquele que se preocupa em aperfeiçoar a convivência comunitária, em tornar-se o cidadão perfeito. Neste sentido, devemos notar que a ética é uma busca pela felicidade coletiva, mas envolve apenas a eudaimonia entre iguais.A preocupação ética abarca a comunidade, a  Pólis, onde estrangeiros e escravos estão excluídos em meio à hierarquização da

    sociedade.Os sofistas, tendo um conceito relativizado de verdade, duvidaram da possibilidade da virtude poder ser ensinada, contudo,

    admitiram que poderia ser desenvolvida pelo sujeito através do despertar da consciência.O conhecimento seria o meio do indivíduo se aperfeiçoar, tornando-se virtuoso pelo amadurecimento intelectual; enquanto a

    ignorância representa o vício.Desta concepção decorreu a fundamentação da ética em volta da liberdade, virtude e bondade.Parâmetros que nortearam o pensamento ético aristotélico, onde a felicidade é definida como a própria virtude, garantia da

    liberdade.Antes de Aristóteles, herdeiro da tradição socrática, Platão tratou a ética como componente indissociável da vida política, da

    harmonia entre os habitantes da Pólis.Sua tarefa seria promover o nivelamento entre os indivíduos, diluindo as diferenças em prol do bem comum.A ética deveria permitir que os indivíduos partilhassem o poder, impedindo a concentração do governo da  Polis nas mãos de um

    segmento da sociedade ou de um indivíduo.Portanto, fornecendo limites à liberdade, equalizando diferenças sociais e econômicas, a ética deveria fazer o sujeito se preocupar

    com o outro, partilhando o poder.A questão é que a tentativa de organizar a distribuição do poder desvirtua o homem, corrompe a busca da felicidade coletiva em

    favor da ilusão hedonista individualizada.Para Platão, todas as formas de governo poderiam ser resumidas em quatro, todas produtoras de homens não éticos:

    1. Timocracia. O regime dos amantes da riqueza, onde o poder é partilhado apenas entre os membros das oligarquias, palavraque em grego significa “governo de poucos”, restringindo -se ao controle exercido pelas famílias mais ricas e proeminentes queformam a nobreza.

    O poder é transmitido hereditariamente, sem possibilidade de alternância ou de compartilhamento.2. Oligarquia. O regime decidido pela transação de fortunas, governado pelos ricos, independente de sua origem familiar, sem

    nenhuma participação dos pobres.Onde o que é valorizado é a capacidade econômica e não a virtude.3.  Democracia. O governo da  Pólis ao gosto de cada um, com representantes eleitos ou cidadãos participando diretamente,

    estabelecendo acordos para pautar leis, as quais os indivíduos devem se adaptar.O problema deste regime é que tende a anarquia, a desorganização em meio a discussões intermináveis que defendem interesses

    múltiplos, sem alcançar resultados práticos.Além do fato que, o crescimento populacional, inviabiliza a sua efetivação, conduzindo a uma das outras três formas de governo,

    disfarçadas em democracia.4. Tirania. O sistema em que um homem, o tirano, assume o poder sob pretexto de beneficiar o coletivo, mas que na verdade

    representa seu desejo por bajulações, demonstrando total ausência de virtude e pobreza de alma.Uma vez que todas as formas de governo conduzem ao vicio, inviabilizando a existência ética do indivíduo e da  Pólis; Platão propôs a construção de um Estado Ideal, onde a virtude pudesse ser cultivada, garantindo a liberdade efetivada no exercício da justiça, o que ficou conhecido como República Platônica ( Res Pública = coisa pública).

    O Estado deveria ser governado pelos reis filósofos, sendo a racionalidade o que permitiria dirigir o destino coletivo comsabedoria e virtude. Os guardiões deste sistema de governo seriam os soldados, selecionados entre os mais corajosos e obedientes.

    Aos artesãos caberia viabilizar economicamente o Estado, constituindo a base da sociedade, composta por indivíduos governados pelas coisas sensíveis. Os filósofos possuiriam alma de ouro, cultivando a virtude da sabedoria; os soldados teriam alma de prata, possuindo a virtude da coragem; e os artesãos seriam dotados de alma de bronze, devendo cultivar a virtude da moderação paraconter seus desejos pelos bens materiais.

    Esta concepção leva em consideração que haveria escravos para cultivar alimentos para suprir a população.Estes não estão incluídos nas preocupações da ética platônica, pois não passam de animais vocais, capazes de falar, mas não de

    interiorizar virtudes e a razão.

    Assim como também, neste mundo perfeito, não havia espaço para as mulheres, consideradas serem inferiores por se entregaremaos sentimentos.Um segmento indesejado seria composto pelos poetas, que deveriam ser expulsos da  Pólis, já que despertam sentimentos,

    fazendo o sujeito deixar a racionalidade de lado.Modernamente, poderíamos traça uma analogia dos poetas com os meios de comunicação, que constroem verdades e desviam a

    atenção das massas das questões realmente importantes, iludindo os indivíduos e manipulando suas ações.

    ARISTÓTELESTambém considerava a ética como possibilidade de eliminar a desigualdade, harmonizando o convívio coletivo; mas envolve,

    antes, o equilíbrio interno do indivíduo, externalizado pela eudaimonia coletiva.Ao inverso de Platão, para ele não é o sistema político que corrompe o homem, este é que desvirtua o regime.É por isto que Aristóteles foi um grande defensor da democracia, relacionando a liberdade com a responsabilidade para

    compartilhar o poder de forma igualitária, através do conceito de representatividade.

    Para tal, seria necessário preparar o indivíduo para o exercício virtuoso da política, cultivando virtudes como prudência, sabedoriae justiça. Não sendo possível determinar a essência destes conceitos, sendo relativos no tempo e espaço; é difícil definir parâmetros para

    um comportamento virtuoso.Problema contornado pela repetição de ações consideradas boas para a coletividade, garantindo a ordem das coisas para atingir

    a felicidade.

  • 8/17/2019 Apostila Prc3a9 Enem Filosofia1

    15/1915

    O papel da ética é justamente convencionar o que deve ser repetido, racionalizando comportamentos benéficos ao indivíduo eà Pólis.

    Para racionalizar o convívio entre as pessoas, seria preciso assimilar três tipos de conhecimentos que compõem o que Aristóteleschamou de sabedoria voltada para o bem, o belo e o honesto:

    1. Conhecimentos Teóricos. A averiguação do que ocorre no mundo, transformado em conhecimento sistematizado, em Ciênciae, portanto, naquilo que hoje chamamos de ética.

    2. Conhecimentos Produzidos. Normas de orientação técnica, necessárias à efetivação da prática, correspondentes às leis e aoDireito.

    3. Conhecimentos Práticos. Orientações obtidas pela vivência diária, conduzindo a maneira justa e saudável de viver emharmonia com a natureza e o outro, condizente com a moral.

    Em outras palavras, a ética aristotélica propõe observar as necessidades do homem como indivíduo e membro da coletividade, oque é possível estabelecer como norma em dado contexto, teorizar e refletir para padronizar como correto.

    A ética se constitui como Ciência normativa da conduta individual e coletiva em sentido amplo.Diferente da concepção platônica, onde a ética é inerente a um grupo e padronizada de forma segmentada, origem do que hoje

    chamamos ética profissional.Ainda na antiguidade, os romanos tiveram que lidar com a oposição antagônica proposta por Platão e Aristóteles, entre o padrão

    de comportamento da sociedade e de grupos inseridos nela.O que originou a moral e sua distinção com relação à ética, o Direito e a justiça.A conclusão foi que a existência coletiva precisa de regras para efetivar-se, percorrendo esferas distintas que vão do privado ao

    convencionado para o conjunto, do indivíduo ao grupo e deste para o contexto mais amplo; comportando paradoxos, distinções esegmentações.

    A ÉTICA MEDIEVAL.A Idade Média foi dominada pelo catolicismo na Europa Ocidental, pautando uma ética vinculada com a religião e dogmas

    cristãos, dominando o panorama conceitual entre o século XI e XIX; a despeito de mudanças significativas com o renascimento e,depois, a entrada na modernidade e o iluminismo.

    Dentre as concepções filosóficas que influenciaram fortemente o conceito de ética medieval, cabe destacar as ideias de SantoAgostinho, Santo Anselmo e São Tomás de Aquino.

    Para Santo Agostinho a verdade é uma questão de fé, é revelada por Deus, superando a razão; subordinando o Estado e a políticaà autoridade da Igreja.

    Houve também uma subordinação da ética à moral; com a última sobrepondo-se a primeira e invertendo a ótica a favor daheteronomia pautada pelo cristianismo.

    O catolicismo alterou profundamente a ética, introduzindo a ideia de que a bondade, uma vida virtuosa, só podia ser alcançada pela vontade de Deus, desvinculando a felicidade da racionalização do mundo.

    Embora a máxima cristã - fazer ao outro o que queres para ti - seja perfeitamente condizente com a concepção original de ética;o ascetismo e o martírio modificaram o conceito, operando uma releitura das ideias filosóficas de Platão e Aristóteles.

    O ascetismo cristão - do grego ascese = exercitar - consistia na renúncia ao prazer e mesmo a satisfação de qualquer espécie,

    aplicada a tudo que é terreno e material, fomentando práticas como mutilação genital, celibato e jejum.Um grande problema para fundamentação ética, visto que a mesma se caracteriza pela busca do prazer, representado pelafelicidade, configurando um hedonismo relativo e satisfação consigo mesmo e o próprio papel no coletivo.

    Uma concepção considerada pecado da vaidade pelo cristianismo, razão que tornava a moral mais importante que a ética naidade Média.

    O martírio implicava em valorizar a dor em nome da fé - do grego martys = testemunha - implicando em agir de acordo com avontade de Deus, mesmo quando contrário à razão, guiando-se pelos dogmas estabelecidos pela igreja, independente do que édeterminado pela ética.

    Mais um fator de fortalecimento da moral, aumentando a ignorância da maior parte da população europeia quanto aodiscernimento conceitual da ética.

     Neste contexto, o mundo sensível e inteligível platônico foram reinterpretados; identificados com a vida mundana em oposiçãoao paraíso nos céus, com a verdade só podendo ser contemplada através da fé em Deus e a felicidade alcançada somente após amorte.

    Tudo, desde que os preceitos católicos tivessem sido seguidos à risca em vida.A ética cristã, através do pensamento de São Tomás de Aquino, também fez uma releitura do pensamento aristotélico.O tomismo procurou conciliar a fé e a razão, condicionando os atos dos indivíduos à natureza humana.

     No entanto, ao afirmar que a dita natureza humana estaria na essência divina, inclinada a bondade, como pretendia Aristóteles;não fez mais que reafirmar a subordinação da razão à fé.

    Para Tomás de Aquino, o caminho para a felicidade passaria pela “grande ética”, caracterizada pelo justo equilíbrio divino, projetado na ordenação da sociedade.

    Portanto, em aceitar as contradições sociais e econômicas, a desigualdade, como vontade de Deus, esperando receber arecompensa no além, quando finalmente a contemplação do paraíso permitiria atingir a felicidade plena, individual e coletiva,

     participando e retornando ao espírito divino.O que representou uma relativização da ética, fragmentada e aplicada apenas a um contexto especifico de estamento e grupo

    social.Segundo ele, “os princípios comuns da lei natural não podem ser aplicados do mesmo modo indiscriminadamente a todos os

    homens, devido à grande variedade de raças, costumes e assuntos humanos; por isto, existe a diversidade das leis positivas nosdiverso