Apostila Moral Militante (2)
-
Upload
diego-paiva-pimentel -
Category
Documents
-
view
18 -
download
0
Transcript of Apostila Moral Militante (2)
MORAL MILITANTE,
DISCIPLINA REVOLUCIONÁRIA
2014
APRESENTAÇÃO
Esta é uma apostila experimental. Seu objetivo é oferecer orientações para a militância
no âmbito da moral revolucionária. Tem como intuito trabalhar uma concepção de
prática militante baseada em textos clássicos das variadas tradições socialistas a partir
de alguns eixos como crítica e autocrítica, protagonismo, iniciativa, disciplina,
segurança, responsabilidade coletiva, respeito mútuo, solidariedade.
Os textos selecionados não condizem inteiramente com as diretrizes políticas da
RECC. A seleção foi baseada na capacidade pedagógica dos textos em transmitir
orientações para o conjunto da militância. Nesse sentido, é mais importante o que os
textos falam, do que quem fala nos textos.
As problemáticas levantadas aqui não serão solucionadas por um momento de formação
política, mas pelo trabalho de base, que se produz e se reinventa no cotidiano, a partir da
prática individual e coletiva que é capaz de refletir sobre suas ações através do exercício
da crítica e da autocrítica, com a superação do coleguismo e com a construção de uma
solidariedade militante entre nós.
Entendemos que o tema não se esgota nessa formação. Ela apenas iniciará o debate que
será enriquecido no decorrer da prática concreta, lidando com os grandes problemas
políticos (governismo, peleguismo, organização) e com os minúsculos desafios
cotidianos (quem leva a faixa para a manifestação, quem escreve o panfleto, quem o
distribui).
Esta é uma apostila experimental que faz parte de um trabalho maior de médio prazo,
que seria um Projeto Político Pedagógico do núcleo Ceará da RECC, embrião de uma
Escola de Militantes. Este trabalho não deve ser divulgado, pois encontra-se no estágio
de esboço.
As pessoas que se interessaram pelos textos contidos na apostila e desejam lê-los na
íntegra, aconselhamos visitar os seguintes domínios:
http://arquivobakunin.blogspot.com.br/
http://www.marxists.org/
http://www.nestormakhno.info/portuguese/
PELOSO, Ranulfo (Org.) Trabalho de base: seleção de roteiros organizados pelo CEPIS.
SERGE, Victor. O que todo revolucionário deve saber sobre repressão.
Comissão de Formação Política – RECC-CE, janeiro de 2014
1. INTRODUÇÃO
“A resignação é um suicídio cotidiano.”
Honoré de Balzac
A vida ensina, a luta educa
A experiência da luta educa com maior rapidez e profundidade que anos inteiros de
propaganda em condições diferentes.
Lenin, A Greve Política e a Luta de Rua em Moscou, 17 de Outubro de 1905
A vida ensina. A luta real é a que melhor resolve as questões que ainda há muito pouco
tempo eram tão discutidas.
Lenin, A Vida Ensina, 19 de Janeiro de 1913
***
Lutar para estudar, estudar para lutar
A formação política: o entusiasmo e a força são insuficientes para vencer a opressão. A
classe oprimida precisa juntar a força, o pensamento e a esperteza para vencer a
dominação. Ter formação é saber desmontar o sistema capitalista e elaborar políticas
para resolver os problemas do povo, imediatas e em longo prazo. É fácil derrotar quem
não estuda e quem não pensa. É compreensível que pessoas estudadas não entrem na
luta, mas é imperdoável que as lutadoras não estudem (...).
Paulo Freire, Para trabalhar com o povo, 1983
***
1) ensinar os membros (...) a fazerem análises da situação política e a apreciarem as
forças das classes (...), em vez de procederem a análises e a apreciações subjetivistas;
2) atrair a atenção dos membros (...) para as investigações e estudos econômicos e
sociais, com vistas à determinação da táctica da luta e dos métodos de trabalho; fazer
compreender aos camaradas que, sem uma investigação sobre a situação real, eles
embrenham-se no abismo das imaginações vãs e da aventura;
3) (...) há que saber guardar-se do subjetivismo, da arbitrariedade e da banalização da
crítica; todas as afirmações devem basear-se em factos e a crítica deve ter um sentido
político.
Mao Tsetung, Sobre a eliminação das concepções erradas no seio do partido, dezembro
de 1929.
***
A cabeça pensa onde os pés pisam: Submeter as teorias à realidade
Segue-se apenas que é necessário, tantas vezes quantas possível, submeter as decisões
tácticas à contraprova dos novos acontecimentos políticos. Essa contraprova é
necessária, tanto do ponto de vista da teoria como do da prática: da teoria, para nos
convencermos pelos factos da justeza das resoluções adotadas e darmo-nos conta das
modificações que é preciso introduzir-lhes, em resultado dos novos acontecimentos
políticos surgidos; da prática, para aprendermos a inspirar-nos verdadeiramente nessas
resoluções, a vê-las como diretivas destinadas a uma aplicação imediata e efetiva.
Lenin, A Revolução Educa, 26 de Julho de 1905
***
O diálogo é a luta
Quem nunca escutou que o ME deve reclamar menos e propor mais; que devemos ser
menos negativos e mais positivos; que não devemos “ser do contra”, mas a favor das
coisas; que não devemos gritar, mas “cantar”. Tudo isso, afirmam seus defensores, é
com a intenção de dialogar com os estudantes, pois o discurso de combate já cansou.
Essa atitude concebe as bandeiras e palavras de ordem pela simpatia que elas possam
gerar nos estudantes e não por seu real conteúdo político. É a “simpatia” que acaba por
determinar quais bandeiras são viáveis e quais não são, ficando a concepção de luta
refém desse fetiche compulsório pela simpatia, o simpatismo.
Não imaginamos reclamações que não partam de propostas, por mínimas que sejam.
Acreditamos que o que mais dialoga com o estudante é a luta. Quantos de nós não
entraram no ME pela primeira vez num momento de luta? Quantos estudantes não
foram ganhos para ME devido a alguma luta num determinado período? Companheiros,
é a luta que dialoga e que cria o militante estudantil e não bandeiras “simpáticas” e
atitudes complacentes. Se na defesa de nossas propostas somos enérgicos e
combativamente intransigentes é porque a realidade da injusta sociedade de classes
exige isso dos sinceros estudantes comprometidos não só com suas demandas, mas
também com a causa do povo.
Oposição Classista e Combativa ao DCE/UFC, Só a luta dialoga, abril de 2010
***
2. A FORMAÇÃO DO MILITANTE I: O QUE FAZER?
Preservar o militante para preservar a luta
Não queimar precocemente as baterias
No Movimento Estudantil aprendi uma coisa muito importante: que a militância só é
uma opção de vida se a gente cuida também da saúde psicológica e espiritual. Porque,
depois de tantos anos de militância, é triste ver quantas centenas de companheiros se
aburguesaram no meio do caminho. E se você me pergunta quais as causas, eu diria que
uma delas foi o excesso de radicalismo pessoal. O sujeito era militante até na hora de ir
ao banheiro. Na hora do namoro, discutia o documento com a namorada, mas nunca
dava um beijo nela. Na hora da dança, ficava analisando a dança e suas manifestações
burguesas… Esse sectarismo levou muitos companheiros nossos a queimarem,
precocemente, as suas baterias.
Frei Betto, Ética da militância, palestra no Encontro Nacional do MST, janeiro 2002.
***
Saber lidar com os holofotes, mas também com as sombras
Há quem seja militante funcional, e não militante vivencial, existencial. Isto é: tem
gente que é militante enquanto a militância lhe dá uma função de poder, de
reconhecimento público. Mas quando volta a ser um Zé ninguém ou uma Maria
anônima, a tentação é de se recolher à vida privada. É como se tivesse vergonha de ser
um militante anônimo no meio da massa.
Frei Betto, Ética da militância, palestra no Encontro Nacional do MST, janeiro 2002.
***
Crítica e autocrítica, o que são, como funcionam?
A incapacidade de ouvir críticas é um dos maiores erros da esquerda. Mas não basta
dizer “Companheiro, quando quiser fazer uma crítica, venha fazer”. É preciso que os
nossos movimentos tenham, de maneira prevista, instâncias de críticas e autocrítica.
Quem dera que cada um de nós, como dirigente, pelo menos uma vez por semestre,
fizesse a seus dirigidos a pergunta que Jesus fez a seus apóstolos: 1º) O que é que o
povo pensa de mim? 2º) O que vocês pensam de mim?
Tente fazer este exercício, na instância onde você vive, pelo menos uma vez por ano:
“Digam com toda liberdade o que vocês pensam de mim, da minha prática, do meu
desempenho. Não é para justificar ou me defender. É para eu ter clareza e saber se a
visão que vocês têm da minha atuação é a visão que eu gostaria que vocês tivessem de
mim, porque todos nós somos feitos de barro e sopro, somos frágeis, temos as nossas
contradições, e a luta só avança porque nós nos completamos uns aos outros”.
Frei Betto, Ética da militância, palestra no Encontro Nacional do MST, janeiro 2002.
***
Qualquer militante sabe que a crítica política faz parte da luta prática, sendo um
momento importante desta. E que toda boa crítica aponta para algum lugar, possui
propostas. A permanência da crítica é então necessária para a permanência da luta. Seja
essa crítica a que fazemos a nossos inimigos, seja a que fazemos a nós mesmos
(autocrítica), seja a que fazemos aos demais companheiros de outras tendências
políticas. Contudo, esta última vem sendo mal compreendida por alguns setores do ME.
Alguns companheiros têm reagido de maneira quase histérica às críticas políticas. Isso é
preocupante, pois demonstra certa incapacidade de lidar com opiniões diferentes e
revela um certo infantilismo, até por companheiros já experientes no ME. Esses
companheiros tendem a levar a crítica política para o lado pessoal e na maioria das
vezes as rebatem não com outra crítica política, mas com uma auto-defesa
sentimentalista e personalista, que desvia o foco da crítica para os indivíduos de um
grupo, ao invés de entendê-la como uma crítica as propostas, bandeiras e métodos
usados pelo grupo.
(...)
A má compreensão da crítica é geralmente seguida de um apelo a que não façam mais
essas “coisas”, que “isso é feio”, pois acabaria impossibilitando uma unidade nas lutas.
O que essa atitude acaba criando é na verdade um ambiente de “coleguismo” a-crítico e
despolitizado, que nada favorece a uma real unidade nas lutas. Unidade esta que deve
ser construída a partir de bandeiras e programas e não por mera simpatia.
Entender as críticas e rebatê-las no nível político é a única maneira de combater essa
doença infantil do ME. Pois num movimento onde as críticas são sempre má recebidas e
se prefere viver sem elas, estão comprometidos os alicerces de uma verdadeira
democracia de base e consequentemente o ME fica desprovido do exercício da crítica,
tão fundamental para encaminhar luta.
Oposição Classista e Combativa ao DCE-UFC, A permanência da crítica ou
coleguismo, doença infantil do movimento infantil, 2010
***
Agitação e propaganda, o que são, como funcionam?
Convencer o maior número de trabalhadores: a missão da militância é atrair e mobilizar
muita gente porque a mudança só se faz com o povo em luta. O convencimento vem por
meio da agitação (denúncia) a propósito de qualquer exploração ou a partir de um sinal
sentido de opressão – panfletos, comícios, protestos... Mas vem também pela
propaganda (divulgação) das lutas, as conquistas e dos valores do projeto socialista no
meio da classe oprimida. Para realizar isto é necessário presença, enraizamento e
cumplicidade.
Paulo Freire, Para trabalhar com o povo, 1983
***
Trabalho de base, o que é, como funciona?
É a ação política transformadora de militantes da organização popular que atuam sobre
um território. Sua missão é despertar, estimular, organizar, acompanhar e promover
ações que resolvam os problemas cotidianos da classe trabalhadora e fazer a ligação
dessa luta com a luta geral contra a opressão.
Paulo Freire, Para trabalhar com o povo, 1983
***
Disciplina revolucionária como autodisciplina
Alguns camaradas me fizeram a seguinte pergunta: como é que eu entendo a disciplina
revolucionária? Vou lhes responder.
Compreendo a disciplina revolucionária como uma autodisciplina do indivíduo,
estabelecida num coletivo atuante, de modo igual para todos, e rigorosamente elaborada.
Ela deve ser a linha de conduta responsável dos membros desse coletivo, induzindo a
um acordo estrito entre sua prática e sua teoria.
Não tenhamos medo, a disciplina é uma companheira de viagem
Sem disciplina na organização, é impossível empreender qualquer ação revolucionária
séria. Sem disciplina, a vanguarda revolucionária não pode existir, porque então ela se
encontrará em completa desunião prática e será incapaz de formular as tarefas do
momento, de cumprir o papel de iniciador que dela esperam as massas.
Faço repousar esta questão sobre a observação e a experiência de uma prática
revolucionária consequente (...).
A responsabilidade e a disciplina organizacionais não devem horrorizar: elas são
companheiras de viagem (...).
Nestor Makhno, Dielo Trouda, n°s 7-8, dezembro de 1925 – janeiro de 1926.
***
Um por todos e todos por um: a responsabilidade coletiva
A prática que consiste em agir em nome da responsabilidade pessoal deve ser
condenada e rejeitada (...).
Os domínios da vida revolucionária, social e política, são antes de tudo coletivos por sua
natureza. A atividade social revolucionária não pode se basear na responsabilidade
pessoal dos militantes isolados.
(...) a tática irresponsável do individualismo, introduz em suas fileiras o princípio da
responsabilidade coletiva: toda a União deverá ser responsável pela atividade
revolucionária e política de cada membro; da mesma forma, cada membro será
responsável pela atividade revolucionária e política da União como um todo.
Nestor Makhno, Ida Mett, Piotr Archinov, Valevsky, Linsky, Dielo Truda (Causa
Operária) - Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários - França, 1926.
***
Pior do que não saber o que fazer é não fazer o que se entendeu
É preciso agarrar a missão com firmeza, pois ninguém pode agarrar a luta com a mão
aberta ou com a mão frouxa. Sem agarrar, nada feito; mas sem agarrar com firmeza,
também nada feito. Por isso, devemos banir de nossas fileiras, toda ideologia de
fraqueza e impotência. São errados todos os pontos de vista que superestimam a força
do inimigo e subestimam a força do povo.
Mao Tsetung, adaptado por CEPIS, Trabalho de base, 2012
***
A convicção supera o medo
O que vence o medo não é a valentia; é a convicção. A convicção é uma porta que só se
abre por dentro. É a certeza numa coisa que não se vê ainda. É apaixonar-se por uma
causa e ser capaz de doar a vida por ela. A justeza da luta contra toda forma de opressão
é uma convicção que produz posturas, atitudes, comportamentos e valores. Quando
essas convicções são saboreadas e partilhadas, alimentam a mistica da militância,
mesmo quando experimentadas no meio da tensão e da imperfeição.
CEPIS, Trabalho de base, 2012
***
O espírito militante
Um tarefeiro cumpre ordens, um funcionário trabalha pelo salário, um mercenário age
para satisfazer seu interesse individual. Já a militância se move por uma indignação e
por uma entrega apaixonada para que a classe oprimida se realize enquanto gente e
como povo.
CEPIS, Trabalho de base, 2012
***
Espírito de superação
A militância, dentro de orientações construídas coletivamente, deve tomar iniciativas,
criar caminhos, ir além de metas planejadas, manter a busca constante de soluções, sem
seguir receitas, nem pedir licença ou esperar ordens. É preciso fazer bem, melhor,
perfeito... por acreditar que, se alguém merece alguma coisa perfeita, esse alguém é a
classe trabalhadora.
CEPIS, Trabalho de base, 2012
***
Companheirismo X coleguismo
Companheirismo é a forma superior de relacionamento, mais forte que os laços de
sangue. É o gesto humano, fraterno e político de quem crê na capacidade das pessoas e
da classe oprimida. Companheirismo significa compartilhar o pão e o poder, em todos
os espaços da vida, com quem se dispõe a mesma caminhada. É não ter vergonha de
falar de seus sonho e de seus limites por ter a certeza de ser acolhido, escutado,
entendido, mesmo quando erra ou quando cobra.
CEPIS, Trabalho de base, 2012
***
A esta incapacidade de lidar com maturidade com a necessária crítica política e de negar
sua importância, damos o nome de coleguismo. O coleguismo nasce da pequena política
(politicagem) e se constitui quase que numa troca de favores, que segue o seguinte
raciocínio: você não me critica e eu não critico você. As consequências dessa atitude
são danosas para o ME, criando um ambiente amorfo, carente de debate político e
desprovido de senso crítico. É por isso que o coleguismo além de infantil é uma doença.
Oposição Classista e Combativa ao DCE-UFC, A permanência da crítica ou
coleguismo, doença infantil do movimento infantil, 2010
***
Companheiro ou companheira é o irmão ou a irmã que a gente escolhe
O trabalho de base que reúne militantes, base e massa, é um caminho longo e difícil.
Pois, junto com a disposição, a criatividade e a coragem, existe a mentalidade de
escravo, que torna o povo acomodado, inseguro e dependente. Muitas pessoas
oprimidas fazem de sua cabeça um hotel de patrão. No trabalho, na família e no
movimento repetem as ideias e práticas da elite; pensam em concentrar riqueza e o
poder em suas mãos e tratam com autoritarismo e desprezo seus companheiro(a)s. Só
com a participação nas lutas e a inspiração na história da luta popular é possível vencer
a alienação e resgatar a confiança na força de quem sofre a opressão.
CEPIS, Trabalho de base, 2012
***
Atravessar o rio por barco ou ponte? Sobre tarefas e métodos
Não basta formular tarefas; é igualmente necessário resolver o problema dos métodos
que permitem cumpri-las. Suponhamos que a nossa tarefa seja a de atravessar um rio;
sem ponte nem barca jamais conseguiremos fazê-lo. Daí resulta que se a questão da
ponte ou da barca não está resolvida, falar em atravessar o rio é palavreado vazio.
Enquanto a questão dos métodos não fica resolvida é inútil falar sobre as tarefas. Se
não dispensarmos a devida atenção à direção dos trabalhos que visam aumentar os
efetivos do Exército Vermelho, nem nos preocuparmos com os métodos a empregar
para tal efeito, ainda que repitamos mil vezes que “é preciso alargar o Exército
Vermelho”, não conseguiremos, de modo algum, alcançar os nossos objetivos. Se, na
realização de qualquer outro trabalho, (...) nós não fizermos mais do que fixar tarefas,
não pensarmos nos métodos próprios para a respectiva execução, não lutarmos contra
os métodos burocráticos de trabalho, não adotarmos métodos práticos e concretos, não
rejeitarmos o método autoritário nem adotarmos o método da persuasão paciente,
seremos incapazes de levar avante qualquer delas.
Mao Tsetung, Maior preocupação com a vida das massas e maior atenção aos métodos
de trabalho, 27 de Janeiro de 1934.
***
O militante e as massas
Elitismo
O que é preciso é encarnar esse princípio quando a gente se aproxima da massa popular
arrogantemente, de forma elitista, para salvar a massa inculta, incompetente, incapaz!
Essa é uma postura absurda (…). Há uma sabedoria que se constitui na massa popular
pela prática. (…)
O fundamental é que minha contribuição só é válida, na medida em que sou capaz de
partir do nível em que a massa está e, portanto, de aprender com ela. Se não for assim, a
contribuição de nada vale, ou é muito pouca. Independentemente das técnicas, o que
vale é o princípio: estar com o povo e não simplesmente para ele,e jamais sobre ele.
Isso é o que caracteriza a postura libertadora.
Paulo Freire, Para trabalhar com o povo, 1983
***
Basismo
O basismo é errôneo porque se mantém abaixo do nível de consciência política da
massa e viola o princípio de dirigi-las no seu avanço... Muitas vezes, as massas nos
ultrapassam e estão ansiosas para avançar um passo, enquanto os camaradas são
incapazes de atuar como seus dirigentes... É o oportunismo de esquerda.
Mao Tsetung, Livro vermelho
***
O povo pode errar, mas também corrigir-se
Acreditamo que o povo pode enganar-se muitas vezes, mas não há ninguém no mundo
que possa corrigir os seus erros e reparar o mal que sempre resulta deles, a não ser ele
próprio; todos os outros reparadores e retificadores... nunca fazem nem podem senão
aumentar os erros e o mal.
Bakunin, O conceito de liberdade, 1975
***
Ficar longe do povo é uma forma de ficar contra o povo
Queremos conquistar o apoio das massas? Queremos que elas consagrem todas as suas
forças à frente de combate? Pois bem, vivamos em comum com as massas, estimulemos
o seu entusiasmo e iniciativa, interessemo-nos profundamente pelas questões do seu
bem-estar, sirvamos os seus interesses com toda a seriedade e sinceridade e resolvamos
todos os seus problemas de produção e vida cotidiana, tais como os do sal, do arroz, da
habitação, do vestuário, da proteção da maternidade, numa palavra, os seus problemas.
Se agirmos assim, as grandes massas conceder-nos-ão infalivelmente o seu apoio, a
revolução passará a constituir para elas uma questão vital e será o seu mais glorioso
estandarte.
Mao Tsetung, Maior preocupação com a vida das massas e maior atenção aos métodos
de trabalho, 27 de Janeiro de 1934.
***
Saber quando avançar e recuar
Se tentarmos passar à ofensiva quando as massas ainda não estão desertadas, isso será
aventureirismo. Se insistirmos em levar as massas a fazer alguma coisa contra a sua
vontade, o resultado será inevitavelmente, o fracasso. Por outro lado, se não avançarmos
quando as massas pedirem que se avance, isso será oportunismo de direita.
Mao Tsetung, adaptado por CEPIS, Trabalho de base, 2012
***
As elites compram ou matam lideranças, mas não detêm um povo lutador
Participação massiva dos trabalhadores: as elites não tem medo de lideranças que se
destacam ou diretorias combativas. Para as elites é fácil isolar, destruir, comprar
algumas cabeças que sobressaem. O que mete medo na classe dominante é a prática de
multiplicar militantes e ações. Por isso, nossa missão é invadir todos os espaços da vida
(trabalho, política, cultura, religião, lazer) e construir uma rede de animação, de
resistência e de vitórias.
Mao Tsetung, adaptado por CEPIS, Trabalho de base, 2012
***
Dar o exemplo
Apelem para todas as suas paixões, só contidas pelos guardas, pela lei, pelo exército,
pela covardia; deem os primeiros golpes, deem o exemplo; tenham não só a audácia,
mas também o ódio tenaz que nunca desarma, e verão rebentar a revolução , tanto nos
campos como nas cidades.
Bakunin, Carta à Albert Richard, 187?
***
A pedagogia do exemplo: A prática é o critério da verdade
(…) A gente tem que ser coerente. Porque não adianta o discurso revolucionário com
uma prática reacionária. (…). Não é o discurso que diz se a prática é válida; é a prática
que diz se o discurso é válido ou não. Quem julga é sempre a prática, não o discurso. De
nada adianta um lindo sermão seguido de uma prática reacionária. De nada adianta uma
proposta revolucionária se nossa prática é pequeno-burguesa.
Paulo Freire, Para trabalhar com o povo, 1983
***
Concretizar as convicções
Não basta que seja pura e justa nossa causa; é necessário que a pureza e a justiça
existam dentro de nós. É comum escutar que, na prática, a teoria é outra, porque as
palavras explicam, mas são os exemplos que mobilizam. É na prática que a militância
revela suas convicções. É no dia a dia que o discurso se torna força material capaz de
alimentar a luta pela vida. É na vida pessoal, no estudo, nas atitudes de dedicação, no
entusiasmo, na ousadia, no respeito ao povo, na fidelidade aos acertos coletivos, no
trabalho produtivo, na participação em um posto concreto na luta, no uso correto de
recurso coletivos que se concretizam as convicções.
CEPIS, Trabalho de base, 2012
***
Não levar um cadáver na boca
Quando cobramos disciplina dos camaradas, mas chegamos atrasados ou não vamos as
reuniões e atividades, levamos um cadáver na boca. Quando cobramos responsabilidade
dos camaradas, mas não cumprimos nossas próprias tarefas, levamos um cadáver na
boca.
***
SEGURANÇA
Nunca ser ingênuo
Sem uma visão clara deste problema, o conhecimento dos métodos e procedimentos
policiais não teria nenhuma utilidade prática.
O fetichismo da legalidade foi e continua a ser um dos traços característicos do
socialismo favorável à colaboração de classes. O qual implica a crença na possibilidade
de transformar a ordem capitalista sem entrar em conflito com os seus privilegiados.
Mas isto, mais do que um indício de um candor pouco compatível com a mentalidade
dos políticos, é indício da corrupção dos líderes. Instalados numa sociedade que fingem
combater, recomendam respeito pelas regras do jogo. A classe operária não pode
respeitar a legalidade burguesa, a não ser que ignore o verdadeiro papel do Estado, o
carácter enganoso da democracia; em poucas palavras, os princípios básicos da luta de
classes.
As recomendações seguintes poderão servir-lhe de muito.
A imprudência dos revolucionários é sempre o melhor auxiliar da polícia.
Não são, por certo, um código completo das regras da clandestinidade, nem sequer da
precaução revolucionária. Não contém nenhuma receita sensacional. São somente regras
elementares. O bom senso bastaria em rigor para sugeri-las. Mas, infelizmente,
experiências amargas demonstram que a sua enumeração não é supérflua. A
imprudência dos revolucionários é sempre o melhor auxiliar da polícia.
(...)
Conduta geral
Desconfiar dos telefones. Não há nada mais fácil de controlar.
A conversa telefônica entre dois aparelhos públicos (em cafés, telefones automáticos,
estações) apresenta menos inconvenientes.
Não combinar por telefone mais do que em termos convencionais.
Conhecer bem os locais. Caso de necessidade, estudá-los com antecedência num plano.
Reparar nas casas, nas passagens, nos lugares públicos (estações, museus, cafés, grandes
lojas) que tiverem várias saídas.
Num local público, no ônibus, numa visita privada, ter presentes as possibilidades de
observação e portanto da iluminação. Tentar observar bem sem ser observado
simultaneamente. É bom sentar de preferência a contra-luz: vê-se bem e a um tempo
será menos visível. Não é bom deixar-se ver numa janela.
Entre companheiros
Ter como princípio que, na atividade ilegal, um militante não deve saber mais do que é
útil que saiba; e que frequentemente é perigoso saber ou dar a conhecer mais.
Saber ignorar voluntariamente aquilo que não se deve conhecer.
Não incomodar-se nem ofender-se polo silêncio de um camarada. Isso não é índice de
falta de confiança, senão mais bem de uma estima fraternal e de uma consciência que
deve ser comum do dever revolucionário.
Em caso de prisão
Manter absolutamente o sangue frio. Não deixar-se intimidar nem provocar.
Não responder a nenhum interrogatório sem estar assistido por um advogado e antes de
ter-se aconselhado com este que, de ser possível, deverá ser um camarada do partido.
Ou, no seu defeito, sem ter refletido suficientemente. Toda a prensa revolucionária russa
publicava outrora, em grandes caracteres, esta constante recomendação:
"Camaradas, não façam declarações! Não digam nada!"
Em princípio: não dizer nada.
(...)
Uma recomendação fundamental
Acautelar-se das manias conspiradoras, da posse de iniciado, dos ares de mistério, de
dramatizar os casos simples, da atitude “conspiradora”. A maior virtude de um
revolucionário é a singeleza, o desprezo de toda posse, mesmo... "revolucionária", e
nomeadamente conspiradora.
(...)
O caderno
Caso for preciso, façam-se apontamentos inteligíveis só para você próprio. Cada qual
inventará procedimentos de abreviações, de inversões e de mudança das cifras (24 por
42; 1 significa g, g significa 1, etc.). Pôr, um mesmo, nome às praças, às ruas, etc.; para
diminuir as possibilidades de erro, realizar associações de ideias (a rua Lenoir [8] se
converterá em A Negra; a rua Lepica... em ouriço ou espinha, etc.).
3. A FORMAÇÃO DO MILITANTE II: O QUE NÃO FAZER?
Espírito de vingança
Um membro do Partido que, dentro deste tenha sido criticado por um soldado, seu
camarada, procura vingar-se dele fora do Partido. As ofensas corporais, os insultos, eis
o modo de realizar tais vinganças. E igualmente se procura a vingança no seio do
Partido: tu criticaste-me na última reunião, na próxima, eu encarregar-me-ei de
encontrar um pretexto para vingar-me. Um tal espírito provém puramente de
considerações pessoais. Ele desconhece os interesses de classe e os interesses do
conjunto (...). Ele não é dirigido contra as classes inimigas mas sim contra as pessoas
que estão nas nossas próprias fileiras. Como um corrosivo, ele enfraquece a organização
e a sua capacidade de luta.
Pouca responsabilidade gera passividade e má divisão do trabalho
Não compreendem que eles próprios são uma força motriz da revolução; imaginam que
apenas são responsáveis diante dos seus superiores e não, diante da revolução. Esse
espírito passivo, mercenário, relativamente à revolução constitui, igualmente, uma
manifestação de individualismo. A existência dum tal estado de espírito explica o facto
de não dispormos suficientemente de elementos ativos que deem, sem reservas, todas as
suas forças à revolução. Se não liquidarmos essa mentalidade mercenária, não poderá
aumentar o número de elementos ativos, e as pesadas responsabilidades da revolução
cairão sobre os ombros dum pequeno número de camaradas, o que terá uma influência
extremamente desfavorável sobre o curso da nossa luta.
A passividade e a inatividade
Alguns, assim que as coisas não vão como querem, tornam-se passivos e recusam-se a
trabalhar. A razão essencial consiste na insuficiência do trabalho educativo; contudo,
acontece por vezes que isso é devido ao facto de os dirigentes agirem de maneira
inadequada quanto à solução dada a diversas questões, à divisão do trabalho ou ao
emprego de medidas disciplinares.
(...)
Meios para corrigir esses defeitos: convém, em primeiro lugar, reforçar o trabalho de
educação, a fim de vencer o individualismo no plano ideológico. É preciso, além disso,
encontrar soluções corretas para todas as questões, para a divisão do trabalho e para o
emprego das medidas disciplinares. Convém, ademais, tomar medidas adequadas para
melhorar as condições materiais de existência do Exército Vermelho e utilizar todas as
oportunidades que se apresentem para permitir às tropas o repouso e a reorganização, a
fim de melhorarem as suas condições materiais. No nosso trabalho de educação,
devemos fazer sobressair claramente que, com respeito às suas origens sociais, o
individualismo é o reflexo da ideologia pequeno-burguesa e burguesa no seio do
Partido.
Mao Tsetung, Sobre a Eliminação das Concepções Erradas no Seio do Partido,
Dezembro de 1929.
Se livrar da presunção para não tropeçar e cair
Com frequência, ouvem-se certos camaradas, que não se decidem a ocupar-se de tal ou
tal trabalho, declarar que não estão certos de poder desempenhar-se da tarefa. Por que é
que pensam assim? Porque não têm uma ideia sistemática do conteúdo e das condições
desse trabalho, nunca tiveram ocasião de realizar um trabalho semelhante ou só
raramente o fizeram. Eis porque, com relação a eles, nem sequer se pode falar de
conhecimento das respectivas leis. Só depois de se ter analisado em detalhe, na sua
presença, o estado e as condições desse trabalho, é que começam a experimentar mais
confiança em si próprios e aceitam a responsabilidade da respectiva realização. Se essas
pessoas se consagram durante um certo tempo a essa tarefa, adquirem experiência e, se
tentarem honestamente ir ao fundo da situação concreta, em vez de considerar as coisas
duma maneira subjetiva, unilateral e superficial, tiram por si sós as conclusões relativas
à maneira como convém efetuá-la, e metem-se com maior segurança ao trabalho. Só as
pessoas que têm uma visão subjetivista, unilateral e superficial dos problemas, se
lançam presunçosamente a dar ordens e instruções assim que chegam a um novo lugar,
sem se informarem primeiro sobre as circunstâncias, sem procurarem ver as coisas no
seu conjunto (a sua história e o seu estado atual considerado como um todo) nem
aprender-lhes a essência (a sua natureza e a sua ligação interna com as outras coisas).
É inevitável que tal gente tropece e caia.
(...)
A ousadia é orientada pela conhecimento, a aventura é orientada pelo
desconhecimento
Nós lutamos igualmente contra os fraseadores de "esquerda". As suas ideias aventuram-
se para lá duma etapa determinada do desenvolvimento do processo objetivo; uns
tomam as suas ilusões por realidades, outros tentam realizar à força, no presente, ideais
que só são realizáveis no futuro; desligadas da prática corrente da maioria das pessoas,
desligadas da realidade atual, as suas ideias traduzem-se, na prática, em espírito de
aventura.
Sobre a prática, Mao Tse Tung.
O liberalismo, porém, rejeita a luta ideológica e preconiza uma harmonia sem
princípios, o que dá lugar a um estilo decadente, filisteu, e provoca a degenerescência
política de certas entidades e indivíduos, no Partido e nas outras organizações
revolucionárias.
O liberalismo manifesta-se sob diversas formas: Constatamos que alguém está a agir
mal mas, como se trata dum velho conhecido, dum conterrâneo, dum condiscípulo, dum
amigo íntimo, duma pessoa querida, dum antigo colega ou subordinado, não nos
empenhamos no debate de princípios e deixamos as coisas correr, preocupados com
manter a paz e a boa amizade. Ou então, para mantermos a boa harmonia, não fazemos
mais do que críticas ligeiras, em vez de resolver a fundo os problemas.
O resultado é prejudicar-se tanto a coletividade como o indivíduo. Essa é uma primeira
forma de liberalismo.
Em privado entregamo-nos a críticas irresponsáveis, em vez de fazermos ativamente
sugestões à organização. Nada dizemos de frente às pessoas, mas falamos muito pelas
costas; calamo-nos nas reuniões, e falamos a torto e a direito fora delas. Desprezamos os
princípios de vida coletiva e deixamo-nos levar pelas inclinações pessoais. É uma
segunda forma de liberalismo.
Desinteressamo-nos completamente por tudo que não nos afeta pessoalmente; mesmo
quando temos plena consciência de que algo não vai bem, falamos disso o menos
possível; deixamo-nos ficar sabiamente numa posição coberta e temos como única
preocupação não ser apanhados em falta. É uma terceira forma de liberalismo.
Não obedecemos a ordens, colocamos as nossas opiniões pessoais acima de tudo. Não
esperamos senão atenções por parte da organização e repelimos a disciplina desta. Eis
uma quarta forma de liberalismo.
Em vez de refutar e combater as opiniões erradas, no interesse da união, do progresso e
da boa realização do trabalho, entregamo-nos a ataques pessoais, buscamos questões,
desafogamos o nosso ressentimento e procuramos vingar-nos. Eis uma quinta forma de
liberalismo.
Escutamos opiniões erradas sem elevarmos uma objecção e deixamos até passar, sem
informar sobre elas, expressões contra-revolucionárias, ouvindo-as passivamente,
como se de nada se tratasse. É uma sexta forma de liberalismo.
Quando nos encontramos entre as massas, não fazemos propaganda nem agitação, não
usamos da palavra, não investigamos, não fazemos perguntas, não tomamos a peito a
sorte do povo e ficamos indiferentes, (...) comportando-nos como um cidadão qualquer.
É uma sétima forma de liberalismo.
Vemos que alguém comete atos prejudiciais aos interesses das massas e não nos
indignamos, não o aconselhamos nem obstamos à sua ação, não tentamos esclarecê-lo
sobre o que faz e deixamo-lo seguir. Essa é uma oitava forma de liberalismo.
Não trabalhamos seriamente, mas apenas para cumprir formalidades, sem plano e sem
orientação determinada, vegetamos — "enquanto for sacristão, contentar-me-ei com
tocar os sinos". Essa é uma nona forma de liberalismo.
Julgamos ter prestado grandes serviços à revolução e damo-nos ares de veteranos;
somos incapazes de fazer grandes coisas mas desdenhamos as tarefas pequenas;
relaxamo-nos no trabalho e no estudo. Eis uma décima forma de liberalismo.
Cometemos erros, damo-nos conta deles mas não queremos corrigi-los, dando assim
uma prova de liberalismo com relação a nós próprios. Eis a décima primeira forma de
liberalismo.
Poderiam citar-se outros exemplos mais, mas os onze acima indicados são os principais.
Todos eles constituem manifestações do liberalismo.
O liberalismo é extremamente prejudicial nas coletividades revolucionárias. É um
corrosivo que mina a unidade, afrouxa a coesão, engendra a passividade e provoca
dissensões. Priva as fileiras revolucionárias duma organização sólida e duma disciplina
rigorosa, impede a aplicação integral da linha política e separa as organizações do
Partido das massas populares (...). É uma tendência extremamente perniciosa.
A origem do liberalismo está no egoísmo da pequena burguesia, que põe em primeiro
lugar os seus interesses pessoais, relegando para segundo plano os interesses da
revolução. É dela que nasce o liberalismo ideológico, político e de organização.
Contra o Liberalismo, Mao Tsetung, 7 de Setembro de 1937.