Apostila LP1
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1
Índice
Gramática
Língua: história e diferenciação.................................................................................. ......2
Variantes linguísticas: linguagem informal / linguagem formal.....................................12
Variantes linguísticas: linguagem informal / linguagem formal II..................................20
Estruturas ou períodos lacunares................................................................................ .....26
Emprego de pronomes e oralidade..................................................................................34
Linguagem informal e cartas de reclamação...................................................................42
Vozes verbais: voz passiva..............................................................................................48
Formas verbais: gerúndio................................................................................................56
Formas verbais: particípio...............................................................................................60
Formas verbais: infinitivo................................................................................................62
Nominalização (substantivação e adjetivação)................................................................64
Reorganização sintática...................................................................................................70
Estruturas básicas e complementares..............................................................................74
Estruturas básicas e complementares II...........................................................................80
Emprego dos pronomes relativos....................................................................................85
Redação
Paráfrase..........................................................................................................................94
Resumo acadêmico..........................................................................................................99
Recursos de coesão........................................................................................................106
Prática de escrita: “Boas maneiras: por favor, leia este texto.”.....................................115
Prática de escrita: “O terceiro homem”.........................................................................120
Prática de escrita: “Ó, desprezíveis solteironas!”..........................................................126
Prática de escrita: “Do costume de comer carne”..........................................................132
2
Língua: história e diferenciação
Antes da Torre de Babel
1. Recolhido a seus aposentos numa certa noite do final do século VII a.C.,
Psamético, um dos últimos faraós do Egito, que reinou de 664 a 610 a.C., refletia sobre
as línguas que os homens falavam. Sua riqueza e diversidade, as semelhanças e as
diferenças entre as palavras, as pronúncias, as inflexões de voz, tudo o fascinava,
principalmente a ideia de que essa multiplicidade tinha uma origem comum, uma língua
mãe falada por toda a humanidade num tempo muito remoto, como afirmavam as lendas
da época. O faraó imaginou, então, uma experiência engenhosa e cruel. Convencido de
que, se ninguém ensinasse os bebês a falarem, eles se expressariam naquele idioma
original, determinou que dois irmãos gêmeos fossem tirados da mãe logo ao nascerem e
fossem entregues a um pastor para que os criasse. O pastor recebeu ordens severas, sob
pena de morte, de jamais pronunciar qualquer palavra na presença das crianças.
2. Quando completaram dois anos, o faraó mandou que se deixasse de alimentá-las,
na suposição de que a pressão da fome faria com que pedissem comida em sua "língua
natural". Não se sabe bem o que aconteceu, mas tudo indica que o pastor, movido pela
compaixão, não fez exatamente o que lhe havia sido ordenado. Isso porque o
inverossímil relato enviado ao faraó informava que um dos meninos, faminto, havia
pedido pão em cíntio, idioma falado antigamente na região que viria a ser a Ucrânia.
Assim, satisfeito com o desfecho da impiedosa pesquisa, Psamético decretou que o
cíntio era a língua original da humanidade. Por incrível que pareça, a experiência seria
repetida dezenove séculos mais tarde. O idealizador foi o rei germânico Frederico II
(1194-1250), que, pelo visto, não tinha se convencido das conclusões do faraó.
Certamente vigiado mais de perto, o experimento resultou no inevitável: os dois gêmeos
morreram.
3. De Psamético I aos dias de hoje, passando por Frederico II, muitos outros
homens igualmente curiosos se perguntaram qual teria sido e como seria possível
reviver o idioma do qual brotaram todos os demais. Os estudos linguísticos viriam
confirmar a crença dos antigos. Segundo o linguista Cidmar Teodoro Pais, da
Universidade de São Paulo, a comparação entre as várias línguas do planeta, tanto as
ainda faladas quanto as já desaparecidas, revela efetivamente algumas características
comuns que apontam para a possível existência de uma língua primeira, mãe de todas.
3
Nesse ponto, a Linguística parece se afinar com as mitologias que descrevem a
dispersão das línguas pelo mundo.
4. A mais conhecida delas é a história bíblica da Torre de Babel. Segundo o Antigo
Testamento, a multiplicação das línguas foi um castigo de Deus à pretensão dos homens
de construir uma torre cujo topo penetrasse no céu.
5. Hoje muitos linguistas históricos estão empenhados em passar da lenda à
verdade histórica, mas a tarefa é de extrema dificuldade. Quem diria, por exemplo, que
há algum parentesco, embora remoto, entre o português e o sânscrito, uma língua falada
na Índia há milhares de anos, e ainda com a sua versão moderna, o hindi? E, no entanto,
o parentesco existe. Descobriram os linguistas que esses idiomas descendem de um
mesmo e único tronco, o indo-europeu, pertencendo, portanto, à grande família das
línguas indo-europeias que inclui também o grego, o armênio, o russo, o alemão, entre
muitas outras. Hoje aproximadamente a metade da população mundial tem como língua
nativa um idioma dessa família.
6. Os linguistas históricos passaram, então, a se dedicar a duas tarefas: uma, refazer
passo a passo a árvore genealógica dessa família, trilhando a história de sua evolução,
outra, reconstituir a língua perdida que dera origem a todas, o indo-europeu.
(...)
7. No século passado, o trabalho dos linguistas apoiou-se fortemente numa lei
formulada em 1822 pelo alemão Jacob Grimm (1785-1863), mais conhecido pelos
contos de fadas que escreveu. A lei de Grimm afirmava ser possível prever como alguns
grupos de consoantes se modificariam, com o tempo, nas línguas indo-europeias. Entre
outras coisas, ele dizia que uma consoante forte ou sonora (pronunciada fazendo-se
vibrar as cordas vocais) tendia a ser substituída por sua equivalente fraca ou surda
(pronunciada sem vibração das cordas vocais). O "b" e o "p"constituem um par desse
tipo, assim como o "d" e o "t". "B" e "d" são fortes, "p" e "t" são fracas, como se pode
comprovar, pronunciando-as com a mão na garganta. Com base nessas leis, foi possível
mostrar, por exemplo, que a forma dhar em sânscrito, que significa “puxar”, “trazer”,
originou o inglês draw, o alemão tragen, o latim trahere e o português “trazer”, todos
com significado semelhante. O "d" da palavra em sânscrito virou "t" nas outras línguas.
Pode-se concluir, ainda, que a palavra em inglês transformou-se menos que as demais,
pois se manteve fiel ao som original do sânscrito. Assim, os linguistas puderam, a partir
da formulação de princípios de transformação, "estabelecer um modelo confiável das
4
relações familiares entre as línguas", conta o paulista di Giorgi, "construindo um
modelo bastante aceitável do que teria sido a língua ancestral, o proto-indoeuropeu."
8. Até os anos 40, os pesquisadores acreditavam que o berço do indo-europeu
estava situado no norte da Alemanha e da Polônia. As pesquisas mais recentes afirmam
que o proto-indo-europeu era falado há cerca de 6 mil anos na Ásia, e não na Europa
Central. Dois trabalhos, um do americano Colin Renfrew, outro dos russos Thomas
Gamkrelidze e V.V. Ivanov, concordam ao apontar o berço do indo-europeu como o
planalto da Anatólia, uma região que vai da Turquia à República da Armênia. Dali,
movidos pela busca de terras férteis e de novos campos de caça, os indo-europeus
migraram, há uns cinco milênios, seja para a Europa, seja para a Ásia.
9. Muito já foi descoberto com relação a esse distante passado das línguas, mas
muito ainda permanece sem explicação. Como disse Einstein, o mistério é a fonte de
toda verdadeira ciência; desde que, para resolvê-lo, não seja preciso negar comida a
crianças, como fizeram um faraó egípcio e um rei germânico.
Super Interessante
http://super.abril.com.br/superarquivo/1990/conteudo_112118.shtml
Acesso em 05/12/2008.
(Texto adaptado)
Questões a partir da leitura do texto
1. As transformações da língua são um processo natural? Por quê? (Fig.2) (Fig.3)
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2. O português é uma das línguas mais difíceis do mundo? Explique sua resposta. (Fig.
1) (Tabela 1)
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3. A cada nação corresponde, de maneira natural, um idioma que lhe é próprio? (Tabela
2)
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4. Em princípio, seria mais fácil, para um falante de português, falar chinês que
iraniano? (Fig. 1) (Fig. 3)
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5. Comente a seguinte afirmação: “O Português de Portugal não apresenta muitas
variações”. (Fig.4 + “Mirandês”)
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6
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As línguas no mundo (Figura 1)
http://www.proel.org/index.php?pagina=mundo/mundo Acesso em 05/12/2008.
Distribuição das línguas conforme área de origem (Tabela 1)
Área Línguas Vivas
Número Porcentagem
África 2.092 30.3
Américas 1.002 14.5
7
Ásia 2.269 32.8
Europa 239 3.5
Oceania 1.310 19.0
Total
6.912 100.0
Ethnologue - languages of the world:
http://www.ethnologue.com/ethno_docs/distribution.asp?by=country Acesso em:
05/12/2008.
Número de línguas faladas em alguns países (Tabela 2)
País Total Indígenas Imigrantes Língua Oficial
Argentina 39 25 14 1 (Espanhol)
Austrália 275 231 44 1 (Inglês)
Áustria 19 9 10 1 (Alemão)
Azerbaijão 35 14 21 1 (Azeri)
Bélgica 28 9 19 3 (holandês - 60%, francês – 31% e
alemão – 1%)
Bolívia 39 36 3 3 (Espanhol, Quíchua e Aimará)
Botswana 37 28 9 2 (Inglês e Setswana)
Brasil 200 188 12 1(Português)
Canadá 145 85 60 2 (Inglês e Francês)
China 241 235 6 1 (Chinês Mandarim) (cooficial
com o Inglês em Hong Kong e com
o Português em Macau)
Índia
(23 línguas
427 415 12 23 (Hindi, Inglês e mais 21 línguas
nacionais)
Indonésia 742 737 5 1 (Língua Indonésia)
Nigéria 516 510 6 1 (Inglês)
Papua Nova
Guiné
820 820 0 1 (Inglês)
EUA 311 162 149 Nenhuma língua oficializada a
8
nível federal. O inglês é de facto.
Porém, vários Estados especificam
o inglês como idioma oficial do
Estado. Alguns Estados também
especificam um segundo idioma
oficial
Ethnologue - languages of the world:
http://www.ethnologue.com/ethno_docs/distribution.asp?by=country Acesso em:
05/12/2008.
A família itálica (Figura 2)
http://www.proel.org/index.php?pagina=mundo/indoeuro/italico Acesso em 05/12/200.
A família
românica
(Figura 3)
9
http://www.proel.org/index.php?pagina=mundo/indoeuro/italico/romance Acesso em
05/12/2008.
O português em Portugal (Figura 4)
http://www.proel.org/index.php?pagina=mun
do/indoeuro/italico/romance/iberorromance/p
ortugues Acesso em 05/12/2008.
O Mirandês
La Lhéngua Mirandesa, doce cumo ua
meligrana, guapa i capechana, nun yê de onte, detrasdonte ou trasdontonte mas cunta
cun uito séclos de eijistência.
Sien se subreponer a la "lhéngua fidalga i grabe" l Pertués, yê tan nobre cumo eilha
ou outra qualquiêra.
10
Hoije recebiu bida nuôba.
Saliu de l absedo i de l cenceinho an que bibiu tantos anhos. Deixou de s'acrucar,
znudou-se de la bargonha, ampimponou-se para, assi, poder bolar, strebolar i çcampar l
probenir.
Agarrou l ranhadeiro para abibar l lhume de l'alma i l sangre dun cuôrpo bien sano.
Chena de proua, abriu la puôrta de la sue priêça de casa, puso fincones ne l sou ser,
saliu pa las ourriêtas i preinadas..
Lhibre, cumo l reoxenhor i la chelubrina, yá puôde cantar, yá se puôde afirmar.
A la par de l Pertués, a partir de hoije, yê lhuç de Miranda, lhuç de Pertual.
Texto de Apresentação do Projecto Lei de
reconhecimento dos direitos linguísticos da Comunidade Mirandesa.
Assembleia da República
Lisboa, 17 de Setembro de 1998
Tradução
A Língua Mirandesa, doce como uma romã1, bonita e afável
2, não é de ontem, de
anteontem ou transanteontem, mas conta com oito séculos de existência.
Sem se sobrepor à “língua fidalga e grave”, o Português, é tão nobre como ela ou
outra qualquer.
Hoje recebeu vida nova.
Saiu do absedo3 e do cenceinho
4 em que viveu tantos anos. Deixou de encolher-se
5,
despiu-se da vergonha, embelezou-se6 para, assim, poder voar, strebolar
7 e deixar
brilhar8 o porvir
9.
1 meligrana – s.f. Romã. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA.
Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 2 O espanhol registra o adjetivo campechano, que significa afável, franco.
3 absedo – vd. abexedo. abexedo – s.m. Sítio virado a norte; sítio desabrigado. m.q. abissedo,
absedo (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em:
http://www.mirandadodouro.com/dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 4 cenceinho – s.m. Nevoeiro gelado. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA
MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/dicionario/ Acesso em: 28
jan. 2009). 5 Acrucar-se, v. re., acocorar-se; abaixar-se; encolher-se. (Mirandês – Glossário. Disponível em: http://www.bragancanet.pt/miranda/mirandes/glossario_a.htm Acesso em: 28 jan. 2009). 6 ampimponar – v. Alindar, embelezar. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA.
Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 7 Sem tradução.
11
Pegou o ranhadeiro10
para avivar o lume da alma e o sangue dum corpo bem são.
Cheia de orgulho11
, abriu a porta da sua casa12
, pôs fincões13
no seu ser, saiu para os
vales14
e planícies15
.
Livre, como o rouxinol16
e a cotovia17
, já pode cantar, já se pode afirmar.
Lado a lado com o Português, a partir de hoje, é luz18
de Miranda, luz de Portugal.
8 çcampar – v. Parar de chover; deixar o céu de estar nubrar deixando brilhar o sol.
(“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/ dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 9 Tradução aproximada.
10 ranhadeiro – s.m. Instrumento que serve para espalhar as brasas no forno. (“DICIONAIRO” –
DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/
dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 11 proua – s.f. Vaidade, orgulho. / proua – s.f. Proa de um navio. (“DICIONAIRO” –
DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/
dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). Em português, há proa, do Lat. prora, s. f., parte anterior do navio; frente de qualquer coisa; fig., vaidade, bazófia; presunção; arrogância. (Língua
Portuguesa On-line. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx Acesso em: 28 jan.
2009). 12
preça de casa, prieça de casa – s.f. Vestíbulo da casa, pátio de entrada da casa.
(“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em:
http://www.mirandadodouro.com/ dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 13 fincon – s.f. Pedra estreita e alta espetada a pino para dividir as propriedades ou reforçar as
paredes. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em:
http://www. mirandadodouro.com/dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). Em português, há
fincão, s. m., pau vertical que sustenta a lousa de uma armadilha; esteio; Trás-os-Montes, pedra a pino a servir de marco ou a constituir e adiantar parede ligeira. (Língua Portuguesa On-line.
Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx Acesso em: 28 jan. 2009). 14
ourrieta – s.f. Fonte; terra com água de nascente; vale húmido e fértil. (“DICIONAIRO” –
DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/ dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 15
preinada – s.f. Planície, sítio plano. m.q. prainada. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA
LÍNGUA MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/ dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 16
reissenhor – s.m. Rouxinol. m.q. reixenol. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA
MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/ dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009). 17
chelubrina – s.f. Pequena cotovia. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA
MIRANDESA. Disponível em: http://www.mirandadodouro.com/ dicionario/ Acesso em: 28
jan. 2009). 18
lhuç – s.f. Luz. (“DICIONAIRO” – DICIONÁRIO DA LÍNGUA MIRANDESA. Disponível
em: http://www. mirandadodouro.com/dicionario/ Acesso em: 28 jan. 2009).
12
Variantes linguísticas: linguagem informal / linguagem formal
O que é língua padrão?19
A língua padrão é o conjunto de formas consideradas como o modo correto,
socialmente aceitável, de falar ou escrever.
Como surgiu a língua padrão?
A língua padrão é fruto de um processo histórico seletivo sempre ligado aos grupos
sociais hegemônicos. Em outras palavras, a língua padrão, na sua origem, é a língua do
poder político, econômico e social.
Apesar de haver essa padronização, deve-se considerar que a língua padrão não é
uniforme. Entre as suas variações mais importantes, destacam-se as seguintes:
níveis de formalidade: o mesmo usuário da língua, seja na modalidade oral, seja
na escrita, empregará formas linguísticas diferentes, aceitáveis socialmente, em
situações distintas – numa festa e numa cerimônia formal, por exemplo. Observe-se
como nós desenvolvemos a capacidade de nos sintonizarmos linguisticamente com uma
determinada situação – e também para vigiarmos a adequação da fala dos outros...
Oral
Informal - Escuta, gente, eu vou apresentar algumas
coisas novas do produto da gente, tá bom?
Formal - Apresentarei aos senhores alguns aspectos
relacionados ao novo produto de nossa
empresa.
19 Estas considerações foram extraídas de FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Prática de
texto: língua portuguesa para nossos estudantes. Petrópolis, RJ: Vozes, 1992, p.30 e ss.
13
Modalidade
Escrita
Informal O serviço de inteligência da Polícia Federal
conseguiu brecar um plano para matar o gerente
do Ibama Roberto Scarpari, que está sempre
brigando com madeireiros na região Norte.
Scarpari é desses que grita, esperneia e
incomoda muita gente e, por isso, estava na
mira de fazendeiros criminosos.
Formal O serviço de inteligência da Polícia Federal
conseguiu evitar a concretização de um plano
para matar o gerente do Ibama Roberto
Scarpari, que entra em confronto com
madeireiros na região Norte. Scarpari faz
denúncias de irregularidades e luta pelo
cumprimento da lei, opondo-se a interesses
econômicos e, por isso, era veladamente
ameaçado por fazendeiros criminosos.
língua oral e língua escrita: evidentemente, ninguém fala como escreve. Nesse
sentido, a modalidade oral costuma ser muito mais flexível que a modalidade escrita.
Além disso, é também evidente que, na maioria das vezes, em contextos formais,
ninguém deveria escrever como fala. Afinal, a escrita exige, em muitas situações, maior
formalidade que a língua oral (com exceção de alguns gêneros de texto em que é
comum a informalidade, como blogs).
Na fala, é comum repetirmos ideias, para dar ênfase ou para corrigir o raciocínio, que
nem sempre percorre o caminho mais lógico e econômico. Além disso, empregamos
frequentemente expressões populares, gírias e palavras dispensáveis ou imprecisas, e
nossas frases, às vezes, apresentam lacunas, porque quem nos ouve consegue entender o
que queremos dizer (caso contrário, pode nos interromper e lançar uma pergunta). Por
fim, não é raro desrespeitarmos, na fala, algumas regras gramaticais da norma culta
(quem já não ouviu um “para mim fazer”?).
Nas situações formais de escrita, porém, as marcas de oralidade devem ser
suprimidas, para se compor um texto que baste por si e que expresse ideias de forma
clara e empregue a língua de acordo com as regras da norma culta.
14
O texto a seguir, uma dissertação de um aluno do ensino médio, é um bom exemplo
de como a língua oral pode influenciar a língua escrita. Nele encontramos algumas
estruturas inapropriadas à modalidade escrita:
O negro na sociedade brasileira
O fato de que as vagas nas universidades públicas continuam a favor da elite já
deixou de ser novidade.
Quem possui uma formação escolar considerada boa, geralmente em escolas
particulares, incluindo ensino fundamental e ensino médio, tem muito mais chances de
ingressar na faculdade do que uma pessoa formada pela rede pública de ensino.
Na sociedade brasileira, há um evidente predomínio de negros na classe baixa,
sendo que essa realidade, junto com o preconceito que existe desde a época de
colonização do Brasil em relação a essa raça, faz com que os negros não vivam em
boas condições.
Consequentemente, eles são incluídos na parcela da população que enfrenta mais
dificuldades em conseguir uma vaga na universidade.
Ocorre que algumas coisas têm sido feitas para converter esse quadro.
Projetos como por exemplo o cursinho para negros na UFSCar já estão sendo
colocados em prática, só que ainda são muito poucos.
Embora sejam evidentemente positivos, esses projetos evidenciam ainda mais o
espaço que o negro ocupa na sociedade, separando-o dos outros pela raça e pela cor.
Portanto o que é importante ressaltar é que, apesar de todas as batalhas sociais em
favor do negro, ainda no século 21 a sua situação não é muito diferente daquela do
início da colonização em território brasileiro. Somente os esforços de todos farão com
que essa situação mude.20
Podem ser destacados os seguintes elementos do texto:
20 CAMARGO, Thaís Nicoleti de. Redação linha a linha. São Paulo: Publifolha, 2004, p.22 (com
adaptações).
15
―Quem possui uma formação escolar considerada boa‖ – costuma-se dizer que,
em contextos mais formais, devemos substituir o verbo “ter” pelo verbo “haver”. Essa é
uma meia verdade. Nem sempre se pode (ou se deve) substituir o verbo “ter” pelo verbo
“haver” ou outros (como o verbo “possuir”). No texto acima, o emprego do verbo “ter”
seria perfeitamente adequado: Quem tem uma formação escolar considerada boa [...]
Ou então poderia haver uma construção equivalente: Quem obteve uma formação
considerada boa [...]
―sendo que essa realidade‖ – a expressão “sendo que”, como explica Domingos
Paschoal Cegalla, “não é expressão recomendável para unir orações. Em alguns casos,
convém dispensá-la por ser inútil; em outros, é preferível substituí-la por uma
conjunção ou por um pronome relativo”21
. Assim, no texto acima, bastaria sua
eliminação, com a adequação da pontuação, para adequar o trecho ao padrão culto
formal: Na sociedade brasileira, há um evidente predomínio de negros na classe baixa.
Essa realidade, [...]
“essa realidade, junto com o preconceito que existe desde a época de colonização
[...]‖ – “junto com” é uma expressão informal. No texto, poderia ser substituída pela
locução “assim como”;
―Ocorre que‖ – “ocorre que” (ou “acontece que”) é expressão típica da fala e
costuma ser empregada com valor adversativo, no lugar de uma conjunção. Veja o
exemplo abaixo, extraído de uma entrevista:
FOLHA - Se o partido radicalizar, o sr. também vai
radicalizar?
ARRUDA - A conversa foi cordial. Eu até brinquei e disse a
eles que queria que me tratassem como o PSDB tratou a Yeda
[Crusius, do PSDB, governadora do Rio Grande do Sul,
ameaçada de impeachment].
FOLHA - Ocorre que se trata de um problema político.
21 Dicionário de dificuldades da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p.370.
16
ARRUDA - Sim, mas essas imagens são quase todas, ou
todas elas, do governo anterior.22
Note como é perfeitamente possível substituir a expressão “ocorre que” por uma
conjunção ou locução conjuntiva adversativa: “Porém trata-se de um problema
político”.
―algumas coisas‖ – a palavra “coisa”, muito usada na língua oral, deve ser evitada
na língua escrita por ser imprecisa, vaga. Substitua-a por uma palavra adequada ao
contexto: algumas iniciativas têm sido tomadas [...]
―[...] para converter esse quadro.‖ – inadequações vocabulares são muito comuns
na fala, momento em que a elaboração do discurso e sua produção são praticamente
simultâneas. Nada justifica, porém, que equívocos como esses ocorram na escrita. Na
dúvida sobre o significado de uma palavra, consulte o dicionário. O autor do texto, na
realidade, pretendia dizer que algumas iniciativas já foram tomadas para reverter (ou
seja, modificar, alterar) esse quadro.
―como por exemplo‖ – trata-se de redundância. Use apenas “como” ou “por
exemplo”:
Projetos como o cursinho para negros na UFSCar já estão sendo colocados em
prática [...]
OU
Projetos – por exemplo, o cursinho para negros na UFSCar – já estão sendo
colocados em prática [...]
―só que ainda são muito poucos‖ – trata-se de expressão bastante comum na fala e
que exerce a função de conjunção (ou seja, procura ligar orações). Em geral, essa
expressão tem um sentido adversativo (ou seja, de oposição de ideias) e, por isso, pode
ser perfeitamente substituída por uma conjunção ou locução conjuntiva adversativa:
Projetos [...] já estão sendo colocados em prática, mas ainda são muito poucos.
22 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u660429.shtml.
17
―o que é importante ressaltar é que‖ – a construção “é que” também é típica da
língua oral e tem por objetivo enfatizar ou destacar o que é dito. Na língua escrita, deve
ser dispensada, o que resulta em um texto mais conciso:
Portanto o que é importante ressaltar é que [...]
Medo, só senti uma vez quando gostei de um homem, foi ele que me ensinou a ler.
Ele é que fez tudo.→ Ele próprio fez tudo.
Exercício
Leia os trechos abaixo e elimine, em cada um deles, as estruturas inapropriadas, de
modo a obter um texto de acordo com o padrão culto formal:
a) Até 2011, os investimentos em curso no setor elétrico elevarão a capacidade instalada
no país para 3.000 MW. Ocorre que, com 12% da água doce do mundo, supõe-se que o
Brasil tenha número abundante de rios com quedas d'água suficientes para o
aproveitamento hidrelétrico e esteja apto a eliminar quaisquer problemas de
fornecimento de energia.
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b) Na sexta-feira, a juíza Júnia de Souza Antunes, do TJDFT (Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios), determinou que a reintegração de posse do plenário da
Câmara Legislativa do Distrito Federal fosse feita. Como não houve acordo com os
manifestantes, a reintegração acontecerá hoje. Só que a PM enviou apenas 12 policiais
para retirar cerca de 60 manifestantes.
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18
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c) Até esta segunda-feira, a Defesa Civil contabilizava 14.462 pessoas fora de suas
casas, sendo que destas, 4.691 estavam desabrigadas e, portanto, dependiam de abrigos
públicos.
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d) A esquizofrenia provavelmente compreende um grupo de transtornos com causas
heterogêneas e abrange pacientes cujas apresentações clínicas, respostas ao tratamento e
o curso da doença são variados. Há vários fatores que podem determinar a origem da
doença, tais como biológicos, genéticos e psicossociais. Contudo, o que é importante
observar é que nenhum desses fatores isoladamente pode definir se o indivíduo terá ou
não esquizofrenia.
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e) O fim da CPMF foi traumático para o Governo por ter gerado perda na arrecadação.
Seu fim foi precocemente festejado, pois criou expectativa na redução da carga
tributária. Como já era previsto, o Governo Federal tentou compensar o prejuízo e
aumentou todas as alíquotas do IOF incidentes na operação de crédito e de câmbio.
Acontece que esse aumento é claramente inconstitucional.
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19
f) Duas casas foram atingidas por uma barreira, sendo que uma delas ficou totalmente
destruída. Ninguém ficou ferido, mas três casas vizinhas precisaram ser desocupadas.
De acordo com o responsável pela administração da região sul do município, uma das
barreiras que caiu provocou o rolamento de três pedras que possuíam, no total, 50
toneladas.
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g) Como em todas as artes, há expoentes excelentes e outros medíocres, mas o que é
inegável é que cada vez mais a comédia stand up ganha espaço e adeptos.
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h) O mais inesperado foi que os alunos tinham realmente respostas para todas as
perguntas que lhes tinham sido feitas, sendo que eles eram conhecidos pela falta de
interesse por aquela disciplina.
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20
Variantes linguísticas: linguagem informal / linguagem formal II
Veja o quadro abaixo:
EVITE USE
a inadequação vocabular (ou seja, uma
palavra utilizada com significado equivocado)
Ele infligiu as regras.
[infligir. verbo bitransitivo. 1 impor, aplicar
(pena, castigo, repreensão etc.); cominar. 2
causar (algo desagradável) a. 3 obrigar a suportar
(algo lesivo, penoso ou doloroso)].
O texto fala de política.
o dicionário para solucionar quaisquer
dúvidas quanto ao significado das palavras
Ele infringiu as regras.
[infringir. verbo transitivo direto. Desobedecer
a; violar, transgredir, desrespeitar].
O texto trata de política.
EVITE USE
o substantivo “coisa” (ou outras palavras
imprecisas para expressar as ideias)
Ele tratou de várias coisas em sua palestra.
Há várias coisas sendo feitas para melhorar a
saúde no Brasil.
quaisquer outras palavras adequadas ao
contexto
Ele tratou de vários assuntos / temas em sua
palestra.
Há várias iniciativas / medidas sendo tomadas /
implementadas para melhorar a saúde no Brasil.
EVITE USE
a palavra “mesmo” com função de pronome
substantivo (ou seja, para retomar uma
palavra já mencionada no texto)
o pronome adequado
(nesse exemplo, o pronome pessoal “ele”)
21
Antes de entrar no elevador, verifique se o
mesmo está parado no andar.
Antes de entrar no elevador, verifique se ele está
parado no andar.
EVITE USE
o verbo “ter” no sentido de existir
Tinha dez pessoas na sala.
o verbo “haver” no sentido de existir
Havia dez pessoas na sala.
EVITE USE
o verbo “possuir” para expressar ideia que
não seja de posse
Machado de Assis possui um estilo peculiar.
O menino possuía fome.
A classe possuía vinte alunos.
o verbo “ter”
Machado de Assis tem um estilo peculiar.
ou use o verbo “possuir” para expressar ideia
de posse.
Machado de Assis possuía uma casa no Rio de
Janeiro.
EVITE USE
a construção “é que” (utilizada na fala para
enfatizar uma ideia)
Aquele advogado é que foi contratado para
defender a causa da empreiteira.
uma construção mais concisa, menos prolixa
Aquele advogado é que foi contratado para
defender a causa da empreiteira.
EVITE USE
a expressão “só que” (para ligar orações)
Todos estavam de acordo, só que agora Aníbal
reviu sua posição.
conjunções
Todos estavam de acordo; porém, agora, Aníbal
reviu sua posição.
22
EVITE USE
as expressões “ocorre que” e “acontece que”
(para ligar orações)
Convidei-o para a reunião. Ocorre que ele não
veio.
conjunções
Convidei-o para a reunião. Contudo, ele não
veio.
EVITE USE
a expressão “sendo que” (para ligar orações)
Vários investidores venderam ações daquela
empresa após a crise, sendo que alguns deles as
recompram agora.
O acidente teve dez vítimas, sendo que duas em
estado bastante grave.
Conjunções, pronomes relativos ou ponto final.
Vários investidores venderam ações daquela
empresa após a crise, e alguns deles as
recompram agora.
O acidente teve dez vítimas, das quais duas em
estado bastante grave.
O acidente teve dez vítimas; duas delas em estado
bastante grave.
EVITE USE
empregar a locução prepositiva “através de”
(que significa “por dentro de”) no sentido de
“por”, “por meio de”, “mediante”
O réu, através de seu advogado, pleiteou sua
absolvição.
as preposições “por” e “mediante” e a locução
prepositiva “por meio de”
O réu, por seu advogado, pleiteou sua absolvição.
23
EVITE USE
o pronome relativo “onde” quando não se
referir a espaço físico (lugar)
Durante a votação na Câmara, houve uma
discussão entre dois deputados, onde ambos
trocaram graves ofensas.
a expressão “em que”
Durante a votação na Câmara, houve uma
discussão entre dois deputados, em que ambos
trocaram graves ofensas.
Exercícios
1. Leia atentamente a carta a seguir e reescreva-a, adequando-a ao padrão culto formal.
Belo Horizonte, 08 de fevereiro de 2010.
Luís Costa
Diretor de Recursos Humanos
Prezado Sr. Costa:
Venho por meio desta apresentar-me à vaga existente em seu quadro de pessoal para
estágio. Fiquei sabendo disso através do anúncio publicado no caderno de classificados
do jornal Folha de S. Paulo, edição do último dia 02.
Conforme poderá verificar em meu currículo, minha experiência é ainda pequena, sendo
que minha formação profissional é recente, só que tenho facilidade de trabalhar em
equipe.
Atenciosamente,
Amílcar Santiago
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2. Leia atentamente o texto a seguir e reescreva-o, adequando-o ao padrão culto formal.
1. O técnico Ney Franco, rebaixado com o Coritiba para a Série B do Campeonato
Brasileiro, deu uma entrevista coletiva, onde disse que o que é importante agora é que
os torcedores sejem compreensivos.
2. Após o apito final da partida, os torcedores, armados com várias coisas, como
pedaços de madeira, bancos e até equipamentos de fotógrafos que estavam no local,
invadiram o gramado e enfrentaram a polícia.
3. O procurador-geral do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), Paulo
Schmitt, defendeu que a diretoria do Coritiba possui culpa nessa batalha campestre que
ocorreu no estádio Couto Pereira.
4. De acordo com Schmitt, a alegação apresentada pelo clube de que tinha informado
a Secretaria de Segurança Pública sobre o alto risco da partida contra o Fluminense não
isenta a responsabilidade dos dirigentes.
5. Schmitt afirmou que essa argumentação é falha, já que era um evento realizado
num espaço privado, sendo que a responsabilidade era dos dirigentes.
6. Durante a semana que antecedeu a partida entre Fluminense e Coritiba, o escritório
do presidente do clube paranaense, Jair Cirino, foi invadido por torcedores.
7. Na ocasião, o mesmo recebeu ameaças e, de acordo com a diretoria do clube
paranaense, a Secretaria de Segurança Pública teria sido avisada dos riscos do jogo.
8. Acontece que, para tentar incentivar o time, que procurava escapar da Série B, o
clube reduziu o preço dos ingressos. Com isso, mais de 32 mil torcedores
compareceram ao estádio ontem, só que um esquema especial de segurança não tinha
sido criado.
9. A polícia informou, ontem, que 700 oficiais foram enviados à região do estádio,
sendo que 50 cuidaram só do gramado do Couto Pereira.
25
10. Após as primeiras avaliações, os dirigentes do clube afirmaram, através da
assessoria de imprensa, serem necessários cerca de R$ 800 mil para realizar os
investimentos em reparos nas dependências do estádio.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u663193.shtml Texto
adaptado.
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26
Estruturas ou períodos lacunares
Leia o texto a seguir e tente identificar o recurso linguístico responsável pelo humor.
Bilhete complicado
Gumercindo, quando jovem, era daqueles cavalheiros à moda antiga, que gostam
de tudo certinho e no seu devido tempo. Namorava uma linda donzela, por quem estava
realmente apaixonado.
Um dia, quando fazia uma viagem de negócios, Gumercindo entrou em uma loja
e comprou um presente para a namorada: um finíssimo par de luvas de pelica. Porém,
na hora de fazer o embrulho, a balconista se enganou e colocou, na caixa, uma calcinha
de renda. O pacote foi, então, despachado pelo correio com o seguinte bilhete:
“Estou mandando este presente para fazer-lhe uma surpresa. Sei que você não
usa, pois nunca a vi usar. Pena não estar aí para ajudá-la a vestir. Fiquei em dúvida com
relação à cor; no entanto, a balconista experimentou na minha frente e me mostrou que
era a mais bonita. Achei meio larga na frente, mas ela me explicou que era para a mão
entrar mais fácil e os dedos se mexerem bem. Você não deve lavar em casa por
recomendação do fabricante. Depois de usar, passe talco e vire do avesso para não dar
mau cheiro. Espero que goste, pois esse presente vai cobrir aquilo que vou lhe pedir
muito em breve. Receba um afetuoso abraço do seu Gumercindo”.
DIAS, Marcos Vinícius Ribeiro. Humor na Marolândia. Paraguaçu; MG: Papiro, 1996.
A. Por que produzimos estruturas lacunares?
Imagine que você encontre um amigo e lhe pergunte:
— Fez o exercício?
Ao que ele lhe responde:
— Fiz.
Numa situação de fala cotidiana, há muitas características do texto oral que o
diferenciam do texto escrito: entonação da mensagem, modulação da voz, elementos de
27
verificação (“né”; “entende?”, “viu”, “certo?”), a linguagem gestual e as expressões
faciais que complementam o sentido daquilo que está sendo dito. É o caso, por exemplo,
da resposta “Fiz”. Não há dúvidas quanto ao que foi feito, mas, sintaticamente, a
estrutura está incompleta. Muito do que devemos comunicar não precisa ser dito, já que,
geralmente, a pessoa com quem conversamos está em contato direto conosco e pode
compreender nosso texto oral, amparado em toda a situação de comunicação.
Ainda no caso do exemplo acima, podemos perceber que deve haver um
conhecimento prévio do assunto, que, caso não exista, gerará perguntas como “Que
exercício?”. Esse contato com o interlocutor permite, nas situações de fala, resolver
dúvidas contextuais.
No entanto, para os textos escritos formais, como o interlocutor não está
presente, não pode haver dúvidas acerca da incompletude da nossa mensagem. Mesmo
que, por vezes, não pareça haver, por exemplo, nenhum problema com respeito a qual
seria o sujeito de uma oração, o complemento de um verbo ou de um substantivo, a
escrita não permite a existência de lacunas sintáticas no texto (como veremos mais
adiante). É necessário, portanto, explicitar o sujeito ou o complemento para não
deixarmos lacunas.
Leia o texto a seguir:
CARTA DE RECLAMAÇÃO
Mp3 Nony
Fiz, em 16/11, a aquisição do mp3 Nony modelo NWZ Preto/2GB pelo site
www.nonystyle.com.br e, como consta no site, a entrega era para ser feita em dois dias
úteis. Deveria receber até quarta-feira, mas a transportadora contratada, responsável
pela entrega, alegou que não tinha informações suficientes para realizar. Quando fiz o
cadastro do endereço de entrega, o site não deu possibilidade de passar esse detalhe.
Enfim, a mercadoria foi para entrega e voltou por esse motivo. Entrei em contato com a
Nony, que me informou o motivo da não entrega e afirmou que daria prioridade.
Explicou que receberia a mercadoria em mais dois dias úteis, ou seja, até segunda-feira,
28
dia 23. Aguardei durante o dia inteiro o recebimento da mercadoria, o que não
aconteceu. A Nony me disse que eu deveria esperar mais um dia, e, novamente, nada
aconteceu. Esse posicionamento da Nony só mostra a despreocupação de uma empresa
“renomada” no mercado com seus clientes, o que causa grande desconforto aos seus
consumidores. Após sucessivos contatos com a empresa, recebo sempre a mesma
informação “que devo aguardar”.
Janice Costa
Os termos grifados estão incompletos, pois lhes faltam objetos diretos, sujeitos
ou complementos nominais, que, em alguns casos, são facilmente preenchidos pelo
leitor por conta do contexto.
Exercício
a) Preencha os complementos de deveria receber, realizar, dar, explicar, esperar,
aguardar.
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b) Como seriam preenchidas tais lacunas para que o texto não se torne repetitivo?
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c) Como completar as lacunas de daria prioridade e receberia?
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d) O que acontece no texto devido à falta do sujeito do verbo receber?
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Como você pode observar, determinados usos característicos da oralidade,
quando transpostos para a escrita, nos passam despercebidos, outros, no entanto, podem
causar dificuldades de entendimento do texto. Dentre esses usos, um dos mais
recorrentes é a construção das chamadas frases lacunares, ou seja, frases em que a falta
de algum termo ou complemento gera uma lacuna no texto.
Como já vimos, num contexto escrito formal, tal situação, no entanto, não é
adequada. Se uma determinada palavra exigir um complemento, não se pode escrevê-la
ignorando tal comportamento linguístico.
O esquema sintático básico da língua portuguesa é:
SUJEITO VERBO COMPLEMENTOS DO VERBO CIRCUNSTÂNCIA
em que
Complementos do verbo = objetos direto e/ou indireto; predicativos
Circunstâncias = adjunto adverbial
Esse é o esquema de um período simples, escrito em ordem direta. Veja o
período a seguir:
Eu encontrei meu irmão no clube.
Os campos estão floridos nestes dias.
Segundo a norma culta, algumas categorias desse esquema sintático podem não
estar preenchidas (como as circunstâncias), enquanto outras devem, obrigatoriamente,
estar preenchidas. No exemplo anterior, é aceitável que a circunstância seja omitida para
o leitor, ainda que ocorra alguma alteração quanto ao que foi dito. Por exemplo:
30
Eu encontrei meu irmão.
Os campos estão floridos.
Por outro lado, se o complemento do verbo for omitido, o entendimento do
período é prejudicado:
Eu encontrei no clube.
Os campos estão nestes dias.
A partir desse exemplo, conclui-se que não se devem omitir os elementos
essenciais à estrutura sintática e à compreensão da mensagem.
Repare que, embora o sujeito não seja considerado um complemento do verbo, a lacuna
decorrente de sua ausência no período poderá trazer problemas quando a forma verbal
for, principalmente, de 3ª pessoa:
Disse que contou fatos da minha vida particular a todos.
O período pode levar o leitor a esses dois preenchimentos:
Você disse que ela contou fatos da minha vida particular a todos.
Ela disse que você contou fatos da minha vida particular a todos.
Além dos verbos transitivos, alguns nomes (substantivos, adjetivos e advérbios)
têm transitividade; portanto, também precisam de um complemento. Assim como no
caso dos verbos transitivos, a omissão do complemento nominal impede o bom
entendimento da oração. Veja os seguintes exemplos:
A necessidade de posse da terra leva muitas pessoas ao MST.
Sujeito Complemento Nominal Verbo Complementos Verbais
31
Nós tínhamos muita necessidade de comunicação.
Sujeito Verbo Complemento Verbal Complemento Nominal
O candidato faltou à entrevista por impossibilidade de locomoção.
Sujeito Verbo Complemento Verbal Circunstância (causal) Compl. Nominal
Os deputados votaram favoravelmente à lei 5075/08.
Sujeito Verbo Circunstância (modo) Complemento Nominal
Aquele advogado foi muito agradável a ela.
Sujeito Verbo Predicativo do Sujeito Complemento Nominal
De maneira geral, serão consideradas lacunares frases nas quais houver a
omissão de complementos verbais e/ou nominais diante de verbos ou nomes
transitivos (ou seja, que exigem complemento) ou de sujeitos em orações cujo sentido
depende desse termo.
Exercícios
1. Nos períodos seguintes, identifique a palavra que está lacunar e proponha-lhe um
complemento adequado.
a. Ao entrar na sala, a duquesa impressionou pela sua beleza.
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b. A carta de intenções do governo foi entregue ontem.
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32
c. As crianças são alvos fáceis da mídia, pois elas podem ser facilmente induzidas.
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d. O STF decidiu pelo aumento de 91%.
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e. A população ficou muito chocada, pois o governo agiu contrariamente.
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2. Nos trechos a seguir, há frases lacunares: quatro palavras/expressões necessitam de
complementos. Grife-as, acrescente para cada uma o(s) complemento(s) necessário(s).
Não faça outras alterações no texto original.
a. Cara Joana: se um dia você se cansar das panelas, vá para o computador e crie, pois
você escreve textos muito apetitosos. O ato de preparar a comida, ou seja, de alimentar
pessoas, é próximo do sagrado, mas ninguém pensa muito na importância de quem,
todos os dias, coloca o avental e prepara com carinho, levando o contentamento para
quem compartilha. E só faz isso quem realmente gosta.
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b. Vou passar o carnaval bem longe do barulho, mas você, folião, que tem toda aquela
energia, deve se alimentar bem e deixar preparada. Você também pode renovar com
purê de mandioca e parmesão que, misteriosamente, na madrugada, parecem revelar.
Isso, seguramente, trará novas emoções.
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3. No trecho a seguir, há seis palavras que necessitam de complementos. Copie-as,
acrescentando-lhes um complemento adequado.
33
Se você viaja com frequência para o exterior já ouviu falar em jet lag - cansaço e
desconforto após longas viagens. Cientistas da Universidade de Washington, nos
Estados Unidos, acreditam que é possível resolver.
Durante longas viagens de avião, o ideal é mexer para melhorar a circulação.
1. Incline para a direita e depois para a esquerda.
2. Puxe as pernas com o joelho flexionado, em direção ao peito.
3. Apoiando-se no piso do avião, alterne: levante os calcanhares e, depois, a ponta.
4. Dependendo do destino e da duração, é importante dar uma atenção especial e se
preparar com antecedência.
34
Emprego de pronomes e oralidade
1. O „teu‟ ou „seu‟ no uso com o „você‟?
Em contextos informais de uso da língua portuguesa (tanto na modalidade oral
quanto na modalidade escrita), é bastante comum ocorrer uma inconsistência no
emprego dos pronomes, isto é, o falante costuma oscilar entre o emprego dos pronomes
relativos à 2ª pessoa do discurso (te, teu) e o dos pronomes de 3ª pessoa (lhe, seu).
Veja esta mensagem eletrônica:
Pepe,
Não encontrei teu livro em casa. Você tem certeza de que eu não te devolvi o livro? Eu
não lembro mais, cara. Você já verificou no teu armário da faculdade? Talvez ele
esteja lá.
Porém, segundo a norma culta padrão, o emissor da mensagem deveria ter
optado pelo uso da 2ª ou da 3ª pessoa do singular, o que faria com que o texto ficasse,
por exemplo, da seguinte forma:
Não encontrei seu livro em casa. Você tem certeza de que eu não lhe devolvi o livro?
Você já verificou no seu armário da faculdade? Talvez ele esteja lá.
Essa oscilação que ocorre entre os pronomes de segunda e de terceira pessoa é
bastante frequente na oralidade e deve-se ao fato de que o pronome de tratamento
“você”, ao longo do tempo, assumiu o lugar do pronome pessoal “tu” da 2ª pessoa na
maioria dos contextos de comunicação, no Brasil. Ainda que se refira à segunda pessoa
do discurso, o pronome “você” exige verbo na terceira pessoa, pois ele é derivado do
pronome de tratamento “Vossa Mercê”, e isso contribui para que haja essa “mistura”
durante a enunciação .
Assim como os demais desvios à norma culta, tal ocorrência deve ser evitada em
contextos formais de comunicação.
35
Reveja, no quadro abaixo, os pronomes pessoais do português.
Pronomes Pessoais da Língua Portuguesa
Função sintática Sujeito
(Pronomes retos)
Complementos
(Pronomes oblíquos)
átonos tônicos
Singular
1ª pessoa
2ª pessoa
3ª pessoa
eu
tu
ele, ela
me
te
se, lhe, o, a
mim, comigo
ti, contigo
si, consigo
Plural 1ª pessoa
2ª pessoa
3ª pessoa
nós
vós
eles, elas
nos
vos
se, lhes, os, as
nós, conosco
vós, convosco
si, consigo
Exercício
Selecione o pronome adequado para preencher a lacuna:
a. Eu contei-lhe que perdi ______ casaco? (teu/seu)
b. Eu avisei- que sua inscrição seria negada. (te/lhe)
c. Quando você ouvir o CD que dei de presente, creio que terá uma
surpresa. (te/lhe)
d. A ti, se o assunto for política, só importa o ponto-de-vista. (teu/seu)
e. Já disse, em diversas ocasiões diferentes, que a tua paciência é muito curta?
(te/lhe).
f. Já lhe disse, em diversas ocasiões diferentes, que a paciência é muito
curta? (tua/sua).
g. Você sabe muito bem a parte da tarefa que cabe. (te/lhe).
2. É “para mim fazer” ou é “para eu fazer”???
Outro uso de pronomes que denuncia coloquialidade e é condenado pela norma
culta é o emprego do pronome “mim” antes de verbos no infinitivo. Observe:
a) Minha prima falou para eu aprender alemão.
36
b) Minha prima pediu um favor para mim.
Em “a”, utiliza-se, após a preposição, o pronome pessoal EU antes do verbo no
infinitivo; note que o pronome tem a função de sujeito desse verbo. Já em “b”, utiliza-se
o pronome pessoal MIM após a preposição porque o pronome tem agora a função de
complemento do verbo; nesse caso, objeto indireto.
Essa diferença de emprego dos pronomes ocorre porque os pronomes pessoais
retos ocupam a posição de sujeito da oração; já os pronomes pessoais oblíquos ocupam
a posição sintática de complementos (do verbo ou do nome). Desse modo, diante de
verbos no infinitivo, emprega-se o pronome EU quando ele assumir o papel de sujeito
do verbo.
Disseram que era para eu vir imediatamente.
Ficou combinado de eu concluir o trabalho.
Importante:
Quando não houver verbo no infinitivo após o pronome ou quando houver uma
vírgula adequadamente colocada entre o pronome e o verbo no infinitivo, empregam-se
os pronomes “mim” e “ti” depois da preposição.
Veja os exemplos abaixo:
Não há divergências entre mim e meu chefe/entre meu chefe e mim.
Enviaram uma mensagem engraçada para mim.
Seria bom que não houvesse tensão entre ti e teus familiares.
Saiba que, para mim, trabalhar não é castigo.
O pronome “mim”, nesse caso, não é sujeito do infinitivo “trabalhar”; observe que
houve, na verdade, um deslocamento da estrutura “para mim”. A oração, na ordem
direta, seria assim: “Saiba que trabalhar não é castigo para mim‖. Como houve um
deslocamento do termo acessório, é necessário isolá-lo com as vírgulas.
Exercício
Complete as frases adequadamente, com “eu” ou “mim”:
37
a. Não sabe como ver sangue é difícil para ______.
b. Para _______ , viajar é das melhores coisas da vida.
c. Andar de bicicleta é ótimo para _____recompor as energias.
d. Não se atrasem por _______.
e. Não se preocupem por _______ estar meio calada.
f. Tragam até _______ o responsável pelo ocorrido.
g. A suspeita recaiu sobre _______, apesar de ser inocente.
h. Há um amor incondicional entre _______ e a natureza.
i. Você disse que era para _______ ir ao mercado.
j. Entregue seu trabalho para ____, para que _____ possa levá-lo à faculdade.
3. Pronomes oblíquos de 3a. pessoa
O emprego de pronomes oblíquos também pode marcar a diferença entre o
registro informal/coloquial da língua e o registro formal, cujo parâmetro é o padrão
culto ou norma culta.
Na terceira pessoa, conforme o quadro apresentado anteriormente, os pronomes
oblíquos são: o(s), a(s), lhe(s) e se. A norma culta estabelece um uso diferenciado para
esses pronomes: “o/a/os/as” são pronomes que funcionam exclusivamente como objetos
diretos (complementos verbais que não exigem preposição); já os pronomes “lhe/lhes”
funcionam sempre como objeto indireto (complementos verbais que exigem
preposição). O pronome “se” pode funcionar como objeto direto ou indireto e tem
sentido reflexivo ou recíproco.
Observe:
Os alunos não puderam ver suas provas, pois o professor deixou-as em casa.
Suj. VTD OD
O fato causava-lhe uma sensação estranha.
Suj. VTDI OI OD
O rapaz vestiu-se de roupas de grife.
Suj VIPr. Pr reflex.
38
Nas situações informais de comunicação, é frequente empregarem-se
indistintamente os pronomes da 3a. pessoa, sem a observação cuidadosa se estes
desempenham papel de um objeto direto ou de um objeto indireto. Em função disso, na
escrita, é preciso rever o emprego dos pronomes oblíquos de 3a. pessoa.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
Emprego de o, a, os, as
Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, os pronomes o, a, os, as não
se alteram.
Chame-o agora.
Deixei-a mais tranquila.
Em verbos terminados em r, s ou z, as consoantes finais caem e os pronomes
adquirem as formas lo, la, los, las.
Encontrar a felicidade é o meu maior sonho.
Encontrar ela é o meu maior sonho. (desvio à norma culta)
Encontrá-la é o meu maior sonho.
Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em, ão, ões), os pronomes o, a,
os, as adquirem as formas no, na, nos, nas.
Convocaram os réus para a reunião com o advogado.
Convocaram eles para a reunião com o advogado. (desvio à norma culta)
Convocaram-nos para a reunião com o advogado.
Atenção!
Algumas palavras como os pronomes relativos (que, o/a qual, quando, onde), os
advérbios de negação (não, nunca, nem) e algumas conjunções (pois, porque, conforme,
39
embora) determinam que a colocação pronominal seja anterior ao verbo. Nesse caso, a
próclise torna-se obrigatória.
Exemplos
A taxa de juros estava muito alta, assim, o COPOM determinou que a
abaixassem, pois a haviam aumentado muito nos últimos meses.
A prova estava difícil, embora eu a tenha feito com certa rapidez.
Não o culpe por seus atos extremados, pois o pobre está sob pressão.
Exercícios
1. Dê a função sintática dos pronomes destacados nas seguintes frases:
a. O ator não o convidou para a estréia do filme.
______________________________________________________________________
b. O navio enviou-lhes um sinal.
______________________________________________________________________
2. Reescreva os trechos a seguir, substituindo o termo sublinhado por um pronome
oblíquo.
a. Vamos tentar tranquilizar os colegas.
______________________________________________________________________
b. A oposição tentará combater o senador.
______________________________________________________________________
c. É vergonhoso propor um acordo desses ao credor.
______________________________________________________________________
d. Convidaram a professora para a formatura.
______________________________________________________________________
e. Os parlamentares convocaram os depoentes.
______________________________________________________________________
f. Os livros compõem as obras.
______________________________________________________________________
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3. Reescreva os enunciados abaixo, de modo a conferir-lhes maior coesão. Para tanto,
empregue pronomes:
a. Para não correr o risco de topar com o frustrante aviso “ingressos esgotados”, vale a
pena tentar comprar os ingressos antes.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b. O filme recria a Revolução dos Cravos sob o ponto de vista dos jovens capitães que
lideraram a Revolução dos Cravos.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
c. Se a crise for muito aguda, será difícil contornar a crise.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
d. Resolver o problema é mais difícil que diagnosticar o problema.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
e. Embora tenha escrito a carta ao prefeito, não sei se ele leu a carta.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4. Complete as frases com o pronome oblíquo adequado:
a. O turista parou num vilarejo e perguntou o caminho. Indicou- ______ ao viajante um
homem encurvado, que parecia comprimido pelo chapéu.
b. O turista parou num vilarejo e perguntou o caminho. Indicou- ______a direção um
homem encurvado, que parecia comprimido pelo chapéu.
c. Em entrevista, a atriz Caterine Deneuve destacou dois filmes de sua carreira: o
musical “Os guarda-chuvas do amor”, obra que ____ projetou internacionalmente, em
1964, e “O Último Metrô”, de 1980.
41
d. Charlie Dempsey, escocês naturalizado neozelandês, de 84 anos, é membro honorário
da Fifa. Essa condição ____coloca numa situação especial durante o Mundial.
e. Depois de um pedido do cliente, o funcionário reconsiderou o orçamento do portão e
informou-___ que o preço seria revisto.
f. Depois de um pedido do cliente, o funcionário reavaliou o orçamento do portão e
informou-___ a ele.
g. Apesar de todas as orientações do fiscal de provas sobre a devolução do caderno de
questões, o vestibulando não ______ entregou ao fiscal.
h. Apesar de todas as orientações do fiscal de provas sobre a devolução do caderno de
questões, o vestibulando não _____ entregou o material.
5. Reescreva os enunciados a seguir, fazendo as alterações necessárias para adequá-los
ao padrão escrito culto.
a) A gente tem que dar um jeito dessa coisa funcionar, porque, assim, quebrada, não
corta. Sendo que não é porque ele tá quebrado que a gente vai deixar ele num canto,
sem uso. Precisa consertar ele, só que, se ficar caro, talvez, não dê para pagar.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b) O computador não tá funcionando, acontece que eu estou precisando muito essa
semana. Tem que pedir pro funcionário do setor pra ele deixar ele em cima da mesa pra
levar pro técnico. Se não der tempo, me avise com urgência.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
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______________________________________________________________________
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Linguagem informal de cartas de reclamação
I – O padrão formal escrito
1. Leia o e-mail abaixo:
Bom dia, Gervásio e Mara,
Tudo bem com vcs? Espero que esteje tudo em ordem. Eu tentei várias vezes enviar
para o Gervásio, mas naum deu. Então tomei a liberdade de enviar para vc, Mara. Entrei
no site do INSS e peguei ótima resposta sua empresa está OK. Vc poderá estar
possuindo a sua Certidão Negativa de Débito na boa.
Atenciosamente,
Lurdes
a. Transforme a redação dessa mensagem, adequando-a ao registro formal da
modalidade escrita da língua.
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______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
II - Cartas de reclamação
Quando uma carta de reclamação é publicada em um jornal, costuma-se editá-la,
eliminando-se eventuais erros gramaticais, suprimindo-se as informações menos
importantes e também as eventuais marcas de oralidade. O resultado é um texto
geralmente mais sintético, mais impessoal e mais adequado à modalidade escrita formal
da língua. Uma característica central dessa edição é o relato do caso em 3ª pessoa.
43
Veja o passo a passo para a elaboração de uma edição de carta:
identifique e solucione problemas quanto à norma culta: estruturas lacunares,
termos coloquiais, gírias, grafia baseada na oralidade etc.;
identifique e elimine informações pouco relevantes para o propósito da carta;
no momento da escrita, elimine todas as marcas de primeira pessoa;
dê um título à nova carta.
1. Leia as duas cartas a seguir. Observe as marcas de oralidade destacadas na carta I e
como essas marcas foram eliminadas da carta II.
I. Carta original:
Prezado Senhor Editor,
escrevo-lhe porque tenho esperanças de que a publicação desta carta em seu jornal
possa resolver esse pesadelo em que me encontro desde que minha câmera digital
(modelo 123ABC) pifou. Espero que o meu caso deixe espertos futuros consumidores
de produtos da marca HL.
Comprei uma câmera digital da marca HL em dezembro de 2007. A garantia era de
um ano. No dia 2 de janeiro de 2009, quebrou, não funcionava mais nada. Escrevi para
o SAC da HL, no site da empresa, querendo endereços das assistências técnicas
autorizadas. Levei a câmera a uma assistência da lista fornecida, super longe, e fui
informada de que a minha câmera é “blindada” e, por esse motivo, não tem como
reparar.
A HL me ofereceu um desconto para comprar outra. Daí não aceitei. Quando adquiri,
não fui informada dessa limitação do produto. O fabricante deve deixar claro para o
consumidor quais são as características do produto vendido. Já imaginaram se os
celulares, as geladeiras, os automóveis e os aparelhos de som fossem assim? Tudo seria
descartável?
Atenciosamente,
Joana Bruno
44
II. Carta editada pelo jornal
Consumidor não consegue consertar câmera digital
Joana Bruno conta que adquiriu uma câmera digital da marca HL há pouco mais de
um ano. Depois de a garantia vencer, entretanto, a máquina deixou de funcionar.
“Escrevi para o SAC da HL, no site da empresa, solicitando endereços das assistências
técnicas autorizadas”, relatou a senhora Bruno. A consumidora diz ter sido informada
pela assistência técnica de que sua câmera é „blindada‟ e, por esse motivo, não é
possível repará-la.
Segundo a leitora, a fabricante lhe ofereceu um desconto na compra de outra câmera
digital, mas ela não aceitou a proposta, pois, quando adquiriu a câmera, não foi
informada dessa limitação do produto. “Tenho o direito de escolher entre comprar outra
ou consertar a minha”, ela reclama.
Joana argumenta que o fabricante deve deixar claro para o consumidor quais são as
características do produto vendido. “Já imaginaram se os celulares, as geladeiras, os
automóveis e os aparelhos de som fossem assim? Tudo seria descartável?”, questiona a
consumidora.
Na carta enviada pela consumidora, aparecem várias marcas de informalidade:
a. termos coloquiais (“pifou” por “quebrou” ou “deixou de funcionar”; “não tem como”
por “não há como” ou “não é possível”; “querendo” por “solicitando”; “daí” por
“mas”.);
b. frases lacunares (“quebrou” por “a máquina quebrou”; “reparar” por “repará-la”;
“outra” por “outra câmera digital”; “não aceitei” por “não aceitei a proposta”; “adquiri”
por “adquiri a câmera”.);
c. informações redundantes ou desnecessárias: (“quebrou, não funcionava mais nada”;
“super longe”.).
45
Exercícios
1. Leia a carta abaixo, enviada ao editor de um jornal de grande circulação.
Oi,
Eu sou a Otília Rocha e comprei um filtro de água Nobreza Pura da marca Purificas. A
minha prima tem e disse que é super bom porque sai água gelada e natural sem
aumentar demais a conta de luz. Eu comprei o filtro, assim, logo depois do Natal. Isso
foi no dia 27 de dezembro do ano passado. Beleza. Eu pedi pro meu namorado instalar
pra mim porque eu não sei mexer com essas coisas de hidráulica. Aí ele instalou e disse
que tava bom só que sempre sai água meio morna! Eu chamei várias vezes a assistência
da Purificas pra consertar, mas não deu: o pessoal da Purificas prometia e nada. Já pedi
quatro vezes, mas não resolvem o meu problema. Aguardo respostas. Muito agradecida.
a. Identifique as marcas de oralidade do texto:
frases lacunares
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______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
termos coloquiais, gírias
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
grafia baseada na oralidade
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b. Identifique as informações pouco relevantes para o propósito da carta:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
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c. Em seguida, faça a edição da carta, visando à publicação na coluna “Reclamações do
consumidor”.
Instruções:
• lembre-se de dar um título à carta editada;
• selecione as informações pertinentes para a edição;
• os eventuais problemas gramaticais devem ser corrigidos e expressões típicas da
oralidade devem ser eliminadas.
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2. Leia a carta abaixo, enviada ao editor de um jornal de grande circulação.
Caro Editor,
Fiz, no começo deste ano, uma viagem de Buenos Aires a São Paulo e, para
variar, tive problemas com a Companhia Aérea Escanteio. Minha mala foi
parar sei lá onde. Quando fui registrar queixa da mala perdida, um funcionário
me disse que isso era super comum. Acontece que já passou dois meses e
nada. Uma vez, um primo meu me contou que isso aconteceu com ele
também. Ficou reclamando, reclamando e nada. Ele ficou mega triste, porque
tinha vários perfumes que tinha comprado e nunca foram achados. Liguei
várias vezes para a empresa e me deram várias explicações. Uma delas era que
haveria uma suposta “máfia de extraviadores” que atuavam no aeroporto de
47
Buenos Aires. Uma funcionária me disse: Dona Delma Viena, há casos em
que a mala é encontrada após três meses de extravio. Outra coisa absurda é o
que eles pedem de detalhes para indenizar você pelo prejuízo. Tive que fazer
um inventário do que tinha na bagagem e quanto valia tudo isso para o meu
reembolso. Acontece que a empresa informou que, pela lei, eu só vou receber
pelo peso da mala. Resolvi fazer um alerta para quem viaja de avião e não
quer se sentir como eu agora. Pouco feliz da vida com a Escanteio.
Atenciosamente,
Delma Viena
Faça a edição da carta, visando à publicação na coluna “Reclamações do consumidor”.
Instruções:
• lembre-se de dar um título à carta editada;
• selecione as informações pertinentes para a edição;
• os eventuais problemas gramaticais devem ser corrigidos e expressões típicas da
oralidade devem ser eliminadas.
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Vozes verbais - voz passiva
Voz é a forma assumida pelo verbo para indicar a relação entre ele e seu sujeito.
Há três vozes verbais: ativa, passiva e reflexiva.
Voz ativa – o sujeito é aquele que pratica a ação referida pelo verbo:
Os manifestantes carregavam faixas e cartazes.
sujeito/agente
Voz passiva – o sujeito é aquele que sofre a ação referida pelo verbo:
Faixas e cartazes eram carregados pelos manifestantes.
sujeito/paciente
Voz reflexiva – o sujeito é aquele que pratica e sofre a ação referida pelo verbo:
Os manifestantes machucaram-se.
sujeito agente e paciente
A Voz passiva pode ser:
a) analítica: formada pelo verbo ser + o particípio do verbo principal.
Faixas e cartazes eram carregados pelos manifestantes.
Os segredos políticos do governador foram revelados pela imprensa.
b) sintética ou pronominal: formada pelo verbo principal na 3ª pessoa do singular ou
do plural, seguido do pronome apassivador se.
Carregavam-se faixas e cartazes.
Revelaram-se os segredos políticos do governador.
49
Agente da Passiva - é o termo que indica o ser que pratica a ação quando o verbo está
na voz passiva. É regido pela preposição por.
Passiva analítica: A proposta foi discutida pelos professores.
Passiva sintética: Discutiu-se a proposta.
Passiva analítica: As propostas foram discutidas pelos professores.
Passiva sintética: Discutiram-se as propostas.
Transformação da voz ativa em voz passiva analítica
A transformação de uma oração na voz ativa em uma oração na voz passiva obedece a
um procedimento fixo: o sujeito da voz ativa passa a agente da passiva, ao mesmo
tempo em que o verbo da voz ativa é convertido em uma locução com o verbo auxiliar
ser.
Os manifestantes carregavam faixas e cartazes.
Sujeito agente objeto direto
Faixas e cartazes eram carregados pelos manifestantes.
Sujeito paciente agente da passiva
Na obtenção da forma passiva do verbo, o auxiliar (ser) assume o tempo e o modo do
verbo da voz ativa (no exemplo em questão, pretérito imperfeito do indicativo),
enquanto esse verbo assume a forma nominal de particípio (carregar – carregados).
Observação: Não pode haver voz passiva sem sujeito determinado e expresso. Por isso,
somente os verbos que têm objeto direto na voz ativa formam a voz passiva: afinal,
é o objeto direto da voz ativa que dá origem ao sujeito da voz passiva. Em outras
50
palavras: somente os verbos transitivos diretos e os transitivos diretos e indiretos
podem formar a voz passiva.
Transformação da voz ativa em passiva sintética
A construção sintática da voz passiva sintética também obedece a um procedimento
fixo: verbo + se + sujeito paciente.
O pronome se recebe o nome de pronome apassivador ou partícula apassivadora. Essa
forma de voz passiva, assim como a forma analítica, só ocorre com os verbos transitivos
diretos e os transitivos diretos e indiretos:
Voz ativa: Abandonaram aquele carro ali.
Voz passiva analítica: Aquele carro foi abandonado ali.
Voz passiva sintética: Abandonou-se aquele carro ali.
Atenção!
O verbo na voz passiva sintética concorda em número e pessoa com o sujeito da oração:
Vende-se esta casa/ Vendem-se estas casas.
Divulgou-se o relatório/ Divulgaram-se os relatórios.
Observações:
a. Ao lado de verbos de ligação, intransitivos ou transitivos indiretos, o pronome se é
índice de indeterminação do sujeito. Não é o caso, portanto, de voz passiva. O verbo
mantém-se, obrigatoriamente, na 3ª pessoa do singular.
Precisa-se de motoristas.
Vive-se bem neste país.
Morre-se de amores.
Aqui se é feliz.
No dia do casamento, sempre se fica nervoso.
51
b. Quando o se funciona como partícula apassivadora, é possível converter a oração em
voz passiva analítica.
Vendem-se casas - voz passiva sintética
Casas são vendidas - voz passiva analítica 23
Exercícios
1. Passe os verbos para a voz passiva sintética, fazendo a concordância adequada do
verbo.
a. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) aprovou o jato Embraer 195.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) reconheceu as qualidades técnicas do
jato Embraer 195.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
c. Os diretores negaram o pedido dos funcionários.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
d. O diretor negou os pedidos dos funcionários.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
e. Nenhum órgão internacional fiscalizará as eleições mexicanas.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
f. Em função dos prejuízos das últimas tempestades, o governo federal disponibilizou
recursos para o Estado de Nova Iorque.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
23 Adaptado de INFANTE, Ulisses. Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Scipione, 1998.
52
2. Proponha duas versões na voz ativa das manchetes que seguem, mantendo
aproximadamente o mesmo sentido. Faça as adaptações necessárias.
a) Brasil é eliminado pela França do “carrasco” Zidane.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b) Ontem, o Centro Pompidou foi encontrado fechado pelos turistas, devido à greve dos
funcionários dos museus de Paris.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
3. O emprego do “se” apassivador pode tornar o texto mais conciso, menos “pesado”.
No texto que segue, reformule, mediante o emprego do “se” apassivador, as orações
destacadas. Não se esqueça de que o verbo a que se aplica o “se” apassivador concorda
com o sujeito.
Em 1968, foi realizado um documentário sobre Nelson Cavaquinho. Esse
filme é essencial para a compreensão de quem foi esse músico brilhante. Numa das
cenas, especialmente feliz, é cantada a música “Tire o seu sorriso do caminho.”
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4. Nas orações abaixo, faça o que se pede.
Modelo
Os turistas escalaram aquela montanha sem muitos esforços.
Voz passiva analítica: A montanha foi escalada pelos turistas sem muitos esforços.
Voz passiva sintética: Escalou-se a montanha sem muitos esforços.
a) As garotas leram os poemas em voz alta para o resto da turma.
53
Voz passiva analítica: _________________________________________________
Voz passiva sintética: _________________________________________________
b) Os familiares da vítima receberam a notícia de sua internação.
Voz passiva analítica: _________________________________________________
Voz passiva sintética: _________________________________________________
c) Divulgaram uma nova tabela de preços para os remédios.
Voz passiva analítica: _________________________________________________
Voz passiva sintética: _________________________________________________
5. Reescreva os fragmentos seguintes na voz passiva mais adequada. Faça somente as
adaptações necessárias.
a) O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro considerou a operação da polícia
militar carioca um sucesso. No primeiro dia útil após a retomada do Complexo do
Alemão das mãos do crime organizado, a vida no conjunto de favelas na zona norte do
Rio de Janeiro parece começar a voltar ao normal. O barulho dos blindados, as rajadas
de tiros e o clima de guerra declarada deram espaço para uma relativa calmaria na
segunda-feira, 29 de novembro.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b) Alguns moradores da favela reclamam da falta de luz, mas os problemas de
abastecimento não atingem todos os endereços das favelas. “No asfalto”, os pontos de
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ônibus estão lotados. Muitas escolas municipais da região continuam fechadas, mas a
secretaria estadual delegou aos diretores de cada unidade a decisão de receber ou não os
alunos. A prefeitura retomou outros serviços públicos, como a varrição das ruas.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
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______________________________________________________________________
6. Você é funcionário de um provedor de internet. Seu chefe pediu-lhe para redigir uma
paráfrase do texto apresentado a seguir, que deverá integrar um relatório formal para os
acionistas da empresa. Você deve transformar a lista de tópicos em um texto corrido,
usando os procedimentos de nominalização e de voz passiva. O primeiro tópico da lista
deverá ser o título da paráfrase. Você pode mudar a ordem dos tópicos, fazer adaptações
e criar elementos que complementem as idéias apresentadas nos tópicos. Siga a
orientação de procedimentos indicada entre parênteses, ao final de cada tópico:
para alterar senha (nominalização: substantivação);
criar senha difícil de adivinhar, pois aumenta a sua segurança (nominalização:
substantivação);
oito caracteres devem compor a senha (voz passiva);
misturar letras e números (nominalização: substantivação);
evitar o uso de informações óbvias como nome ou data de nascimento (voz
passiva);
não utilizar o e-mail como senha (voz passiva);
não informar a senha a ninguém, pois isso pode comprometer sua segurança
(voz passiva).
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______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
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______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
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Formas Verbais: gerúndio
É preciso cautela no emprego do gerúndio e do particípio: normalmente, verbos nessas
formas verbais não têm sujeito expresso e assumem para si o sujeito da oração principal
do período.
Observe o exemplo com o gerúndio:
Latindo por todo o percurso, o menino viajou com os cachorros.
Ainda que, segundo nosso conhecimento de mundo, seja improvável que o menino
tenha latido durante toda a viagem, a regra do gerúndio estabelece “menino” como
sujeito da ação de latir. Para que a palavra “cachorros” seja o sujeito da ação, devemos
alterar a construção:
O menino viajou com os cachorros, que latiam por todo o percurso.
Ou ainda:
Os cachorros viajaram com o menino, latindo por todo o percurso.
No próximo exemplo, há uma situação diferente:
Nós viajamos com os cachorros, que latiam o tempo todo, deixando-nos irritados.
Nesse caso, o sujeito de “deixando-nos” não é nem o sujeito da oração principal (“nós”)
nem a última palavra da oração principal (“cachorros”), mas a oração como um todo:
causou irritação o fato de a viagem ter ocorrido com os cachorros latindo o tempo todo.
Corrigido, o período ficaria assim:
Nós viajamos com os cachorros, que latiam o tempo todo, o que nos deixou irritados.
Pode acontecer também de o gerúndio vir acompanhado da partícula “se”, que
indetermina o sujeito:
57
A situação da economia brasileira está bem melhor, considerando-se que a inflação é
praticamente inexistente.
Observe que, nesse exemplo, o sujeito do gerúndio não é o sujeito da oração principal,
mas, sim, um sujeito indeterminado; isso se comprova quando trocamos o gerúndio por
uma construção equivalente:
A situação da economia brasileira está bem melhor, quando se considera que a
inflação é praticamente inexistente.
Se retirarmos a partícula “se”, a oração fica sintaticamente incompleta, porque o sujeito
oculto fica sem referente:
A situação da economia brasileira está bem melhor, quando considera que a inflação é
praticamente inexistente.
Exercícios
1. Reelabore os períodos que seguem, corrigindo os equívocos no emprego do gerúndio.
a. Derramando óleo, o motorista teve que encostar o caminhão na estrada e seguir a pé.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b. O abuso na ingestão de medicamentos causa danos ao organismo, sofrendo, às vezes,
consequências irreversíveis.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
c. Usando imagens erotizadas, os publicitários atraem a atenção do público consumidor,
deparando-se com propagandas apelativas, que nada dizem de específico sobre o
produto anunciado.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
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d. Crianças com dislexia são identificadas por processos diversos e distintos, tornando
extremamente subjetiva a rotulação de suas dificuldades de aprendizado.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
e. A redução da emissão de CO2 na atmosfera conta com a participação de empresas
como a Avon Brasil, contribuindo para a solução do problema devido à alteração das
rotas de distribuição de seus cosméticos no país.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
f. Considerando a população brasileira que frequenta escolas públicas, a dislexia
dificilmente seria diagnosticada com segurança.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2. Faça o que for necessário para evitar a incoerência e/ou ambiguidade dos seguintes
períodos.
a. Saindo de casa, as luzes ficaram acesas.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b. Caminhando pela calçada, o caminhão atropelou o rapaz.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
c. Atingindo principalmente as populações do interior do país, as autoridades sanitárias
inquietaram-se com o recente aumento de casos de febre amarela no Brasil.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
d. O cidadão brasileiro não pode deixar de se espantar com as profundas desigualdades
sociais, impedindo a tão almejada paz.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
e. Estipulando a contratação de aprendizes acima de 14 anos, os jovens trabalhadores
são qualificados pela legislação brasileira para futuras ocupações dentro das empresas.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
59
3. Reelabore os períodos que seguem, corrigindo os equívocos no emprego do gerúndio.
a. As dificuldades dos catadores de lixo são imensas, enquanto a solidariedade da
população é proporcionalmente grande e poderia ser vista como apresentando um
exemplo de cidadania.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b. A festa da vitória no Campeonato Brasileiro de Futebol foi realizada pelos torcedores,
lotando bares e comemorando o título pelas ruas.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
c. Voltando para casa, o salto do sapato de Carmem quebrou e ela teve que caminhar
descalça.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
d. A falta de rigor na apuração dos responsáveis pelo tráfico de armas prejudica a
população, ficando sujeita a sofrer sérias consequências em seu cotidiano.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
60
Formas Verbais: Particípio
O particípio deve ser empregado sempre o mais próximo possível do termo a que se
refere.
Observe:
Afastada do cargo, a juíza alegou inocência.
E não:
A juíza alegou inocência, afastada do cargo.
Nesse último exemplo, a proximidade entre os termos “afastada” e “inocência” pode
produzir o sentido de que a inocência foi afastada do cargo, e não a juíza.
Exercícios
1. Reelabore os períodos que seguem, corrigindo os equívocos no emprego do
particípio.
a. Estimulada pelos índices econômicos, as pesquisas mostram que a classe média
passou a consumir mais.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b. A alta do IPCA em 2007 assustou a equipe econômica, influenciada pelos preços
agrícolas ao longo do ano.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
c. Planejado com antecedência, o bem-estar dos habitantes das metrópoles não seria
comprometido tão radicalmente pelo desenvolvimento urbano.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
d. Concedidos pelo governo, os pensionistas do INSS receberão três bônus
consecutivos.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
61
e. Preso e torturado durante o regime militar, o processo da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB) a respeito da anistia a militares é relatado pelo ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) Eros Grau.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
f. Executada pela primeira vez em setembro de 2008, a Orquestra Sinfônica de
Campinas apresentou novamente a peça musical Missa de Nossa Senhora da Conceição,
na Catedral da cidade.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
g. Eric Shinseki, general norte-americano reformado, foi nomeado pelo presidente
Barack Obama para assumir o Departamento de Assuntos de Veteranos de Guerra,
saudado por ter alertado a administração Bush sobre a necessidade de uma força militar
maior para ocupar o Iraque.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
h. Contratado pelo time na última semana, o jogo simplesmente foi salvo pelo novo
jogador.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
i. Reunidos, em Roma, para o Congresso Internacional de Liturgia, uma decisão do
Papa surpreendeu duzentos bispos de todo o mundo.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
62
Formas Verbais: Infinitivo
O infinitivo, assim como o particípio, deve ser empregado sempre o mais próximo
possível do termo a que se refere.
Observe os exemplos abaixo:
Ao abrir a porta de sua casa, o homem foi surpreendido por um assalto.
O assalto surpreendeu o homem, ao abrir a porta de sua casa.
Observe, agora, este emprego inadequado:
Ao abrir a porta de sua casa, o assalto surpreendeu o homem.
Exercícios:
Reelabore os períodos que seguem, corrigindo os equívocos no emprego do infinitivo.
Faça as alterações necessárias.
a. Ao aproximar-se da janela, a visão do céu estrelado despertou a jovem.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b. Ao ler a carta, o rosto da mulher tornou-se pálido.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
c. Ao descobrir que havia sido enganado pelos sócios, o projeto de reforma da empresa
foi rasgado pelo arquiteto.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
d. Por desconhecer os trâmites legais, a permissão para exercer a sua profissão não foi
obtida pelo advogado.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
e. Ao anistiar os militares responsáveis pela ditadura militar, as rédeas da história foram
perdidas pelo país.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
63
f. Ao observar atentamente a cena, a angústia no rosto dos atores pôde ser vista pelo
público presente no espetáculo.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
g. Ao perceber que estava sendo seguido, a galeria foi o lugar escolhido pelo garoto
para se esconder.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
64
Nominalização (substantivação e adjetivação)
1. A repetição de palavras e expressões é uma das marcas da oralidade. O período que
segue tem 33 palavras, sete orações e seis repetições de “que”. Reescreva-o, evitando as
repetições e diminuindo o número de orações.
Chegou-se à conclusão de que é interessante que se controlem os juros que o
mercado pratica de modo que o consumidor se certifique de que não há riscos de que ele
se endivide.
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______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2. Para evitar que se repitam as mesmas estruturas sintáticas ao longo de um texto, é
interessante conhecer alternativas de expressão que permitam apresentar a mesma ideia
por meio de formulações diferentes. Esse é o caso de certas orações que, muitas vezes,
podem ser substituídas por substantivos cognatos (de mesma raiz etimológica) ao verbo
ou cognatos a outra palavra da oração. Repare no exemplo:
É urgente que o governo invista nos hospitais públicos.
É urgente o investimento governamental nos hospitais públicos.
Exercícios
Verbo – núcleo da oração
substantivo cognato
65
1. Reelabore os períodos de modo a substituir a oração destacada por um substantivo
cognato às palavras em negrito. Faça as adaptações necessárias para manter o sentido o
mais próximo possível da frase original.
Modelo
É inaceitável que se traduza a obra de Fernando Pessoa para o português do Brasil.
É inaceitável a tradução da obra de Fernando Pessoa para o português do Brasil.
a. É ruim que fatos sejam apurados de forma superficial.
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______________________________________________________________________
b. Julga-se importante que candidatos de baixa renda ingressem na faculdade.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
c. Atualmente, defende-se que sejam suprimidos da Constituição vários artigos.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
d. Não é admissível que se confisquem bens sem o respaldo da lei.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
e. É indispensável que o equilíbrio das finanças públicas seja recomposto rapidamente.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
f. O fabricante recomenda que se reponham as peças danificadas.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
g. Espera-se que cumpram as metas de crescimento econômico.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
66
h.Nunca foi fácil sustentar uma família.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
i. A baixa escolaridade pode levar o povo a conformar-se.
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______________________________________________________________________
j. O modelo das provas conforma-se às exigências do Ministério da Educação.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2. Transcreva as frases, substituindo os termos destacados por um substantivo cognato.
Faça as adaptações necessárias.
a. É sempre melhor poder confiar num amigo.
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______________________________________________________________________
O deputado confiou um segredo ao colega parlamentar.
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______________________________________________________________________
b. Foi preciso regular a velocidade da máquina.
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______________________________________________________________________
Criaram-se vários documentos para regular a entrada de estrangeiros no país.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
c. Discutiu-se em plenário se a proposta do governo é legal.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Em todo o mundo, se discute a possibilidade de tornar legal o consumo de certas
drogas.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
d. O jogador foi expulso por agredir o lateral.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
Há grupos de jovens que se caracterizam por estarem sempre prontos a agredir gente
inocente.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
e. Os pilares devem sustentar as lajes.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Nunca foi fácil sustentar uma família.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
3. Transcreva as frases a seguir, substituindo os termos destacados por dois substantivos
ou adjetivos cognatos distintos. Faça somente as adaptações necessárias.
a. Para um vestibulando, é angustiante esperar a lista de aprovados.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
As famílias dos presos políticos durante o golpe militar de 1964 ainda esperam notícias
dos desaparecidos.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b. No centro da cidade, muitas pessoas pedem dinheiro aos transeuntes.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Sempre que se fizer necessário, Dora pedirá ajuda financeira aos seus pais.
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______________________________________________________________________
c. O professor que realizará a palestra hoje à noite traduziu as maiores obras da
literatura francesa.
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______________________________________________________________________
É impressionante que alguns leitores brasileiros precisem traduzir as obras literárias
portuguesas.
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68
______________________________________________________________________
d. Por ter feito um gol aos 48 minutos do segundo tempo, o jogador salvou o time do
vergonhoso empate.
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______________________________________________________________________
Durante as férias de verão, os bombeiros salvam muitos banhistas que se atrevem a
entrar na água quando o mar está agitado.
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______________________________________________________________________
e. Os monitores ajudam os professores durante a aplicação das provas.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Cada professora das turmas do maternal precisa de duas pessoas que a ajudem a tomar
conta das crianças.
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______________________________________________________________________
f. Os atletas que aspiram a uma vaga no time titular devem treinar exaustivamente.
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______________________________________________________________________
Para recuperar a pintura original do quadro, o restaurador precisará aspirar toda a
sujeira que ainda não foi removida.
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______________________________________________________________________
g. As crianças carinhosas gostam muito de agradar os pais e os amigos.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Na última recepção em sua casa, Heitor agradou a todos os convidados.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
h. Por mais que Cícero tente economizar, o salário que ele recebe não é suficiente para
sustentar a família.
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______________________________________________________________________
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A quantidade de madeira encomendada não será suficiente para sustentar a varanda
enorme que está no projeto das arquitetas.
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______________________________________________________________________
i. Desde que foram implementados pelo governo, os programas de geração de renda
auxiliam muito as famílias mais carentes.
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Ester é uma das pessoas que auxiliam na elaboração de projetos para o
desenvolvimento sustentável daquele município.
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______________________________________________________________________
70
Reorganização sintática
Exercícios
1. Nos períodos abaixo, substitua obrigatoriamente as palavras ou expressões em
destaque por palavras ou expressões sinônimas.
a. As apostas para a Mega da Virada já podem ser feitas em todas as lotéricas do país. A
estimativa da Caixa Econômica Federal é a de que o prêmio para esta edição da loteria
deva atingir R$ 150 milhões. No ano passado, o prêmio foi de R$ 144,9 milhões – o
maior valor já pago pela Mega-Sena.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, continuará no posto, no governo de Dilma
Rousseff. A imprensa noticiou que Jobim recebeu e aceitou o convite da presidente
eleita em reunião, na sexta-feira. Dilma e Jobim acertaram, nesse encontro, a retirada
da área de aviação civil do Ministério da Defesa.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
c. A produtora T4F acaba de confirmar a vinda do U2 ao Brasil em 2011. O grupo fará
uma apresentação no dia 9 de abril, no estádio do Morumbi, em São Paulo, com a turnê
360º Tour. O show contará com a abertura dos ingleses do Muse. Para a sorte dos fãs
brasileiros, o show não terá pista Vip. Os ingressos para a pista comum saem por R$
180.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2. Substitua as palavras ou expressões sublinhadas nas orações abaixo por palavras ou
expressões sinônimas. Se necessário, faça outras mudanças. Observe que algumas
modificações de sentido serão inevitáveis.
a. Alguns retornam ao berço convencidos de que ali é um bom lugar para se viver.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
71
b. Como não há posto de saúde, as pequenas dores são curadas com rezas e chás,
preparados a partir das ervas medicinais plantadas na horta comunitária.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
c. Isolada pelas águas do rio, envolta numa mata fechada, em um terreno montanhoso,
uma pequena comunidade permaneceu por mais de 200 anos esquecida pelo país que
se desenvolveu à sua volta.
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______________________________________________________________________
d. Para assegurar sua existência, os moradores se organizaram em uma associação para
pedir ações do governo.
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______________________________________________________________________
3. Reorganize sintaticamente os períodos abaixo, conservando as mesmas informações.
Inicie conforme a indicação. Substitua obrigatoriamente as palavras ou expressões em
destaque.
a. A comunidade de Pererê, formada por descendentes de um antigo quilombo, fica a
apenas 290 quilômetros de São Paulo, na cidade de Eldorado, numa das mais intocadas
regiões da Mata Atlântica.
Descendentes de um antigo...
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______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b. Os moradores de Pererê são quase todos analfabetos e pouco sabem das
transformações que aconteceram no mundo, nos últimos séculos.
As transformações que ...
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
72
c. A energia elétrica foi instalada no local há apenas seis anos e, mesmo assim, não
alterou os costumes da região.
Os costumes da região ...
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
d. Ao amanhecer, todos os moradores se reúnem num galpão para decidir as áreas de
terra que serão trabalhadas.
Uma reunião num galpão ...
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
e. Antropólogos africanos que visitaram o lugar há dois anos constataram que essa
comunidade mantém, com muito rigor, usos e costumes que existem, até hoje, em
aldeias de Moçambique.
Usos e costumes que ...
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
f. “Os aspectos religiosos e culturais de Pererê são muito camuflados”, afirma o padre
Francisco Piedade, de Registro, que regularmente visita a comunidade.
A comunidade ...
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______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
74
Estruturas básicas e complementares
Observe e compare os dois exemplos:
1. A jovem estudante abriu a porta do seu apartamento. Era madrugada do último dia
08 de março. Ela viu seu namorado em prantos.
2. Na madrugada do último dia 08 de março, quando abriu a porta do seu apartamento,
a jovem estudante viu seu namorado em prantos.
A estrutura 2 contém, num só período composto, todas as informações que, em 1, estão
distribuídas em três períodos simples (ou orações simples).
Como procedemos para chegar de 1 a 2? Como partir de um conjunto de orações
simples e chegar a apenas um período composto (também chamado de oração
complexa)?
Veja esse procedimento no exemplo abaixo:
As algas marinhas são plantinhas aparentemente inúteis. Elas eram chamadas de cisco
do mar pelos pescadores nordestinos. Elas podiam ser apanhadas nas águas rasas das
praias. Elas são afetadas pela poluição dos mares.
Todas as informações acima se referem a algas marinhas. Em vista disso, podemos
transformar as quatro orações em uma só, complexa. Para isso, tomamos a informação
que queremos destacar e a transformamos em estrutura básica.
As algas marinhas são afetadas pela poluição dos mares.
A oração complexa pode ser assim formulada:
Tomamos a informação que se pretende enfatizar e a transformamos em
uma estrutura básica – uma oração cujo verbo comanda o sentido nuclear
do período. Transformamos as demais circunstâncias em estruturas
complementares à básica.
75
Chamadas de cisco do mar pelos pescadores nordestinos, as algas marinhas,
plantinhas aparentemente inúteis, que podiam ser apanhadas nas águas rasas das
praias, são afetadas pela poluição dos mares.
Observe que a oração em negrito é a única que apresenta uma organização
sintática independente, ou seja, é a única que tem a estrutura sujeito/ predicado. Ela é a
estrutura básica dessa oração complexa. As demais estruturas não são independentes
sintaticamente. São chamadas de estruturas complementares. Observe:
1. chamadas de cisco do mar pelos nordestinos;
2. plantinhas aparentemente inúteis;
3. que podiam ser apanhadas nas águas rasas das praias.
Observe que, no exemplo anterior, as informações complementares estão
separadas da informação básica por meio de vírgulas. Eis uma regra de pontuação das
orações complexas:
Separa-se, por meio de vírgulas, travessões ou parênteses (sinais que não
determinam o final de um período), a estrutura básica das estruturas
complementares.
Veja o seguinte exemplo:
Naquele dia, quando menos esperava, Flávia recebeu uma nova proposta de emprego.
circunstância 1, circunstância 2, oração independente.
Estrutura complementar estrutura complementar estrutura básica.
No caso do exemplo anterior, de acordo com a gramática tradicional, as
circunstâncias são formadas por uma locução adverbial (“naquele dia”) e por uma
76
oração adverbial temporal (“quando menos esperava”). Novamente, elas são pontuadas
por vírgulas, já que aparecem antes da estrutura básica.
Principais circunstâncias (adverbiais):
1. Finalidade
Viajou para descansar.
2. Tempo
Quando o gerente retornar das férias, o projeto será retomado.
3. Lugar
No local combinado, eles se reencontraram.
4. Modo
O homem agiu sem pensar.
5. Causa
Dormiu porque estava cansado.
Outros tipos de oração e de locução podem desempenhar a função de estrutura
complementar:
Embora ninguém esperasse, choveu.
Estrutura Complementar Estrutura Básica
O menino caiu, quebrando o braço.
Estrutura Básica Estrutura Complementar
Tendo estudado com afinco, os alunos obtiveram boas notas, vendo, assim, que o
esforço foi compensado.
Estrutura Complementar Estrutura Básica Estrutura Complementar
Vimos acima que as estruturas complementares – da maneira como estão
articuladas no período – não podem ocorrer como orações independentes, já que – como
77
o próprio nome diz – complementam o sentido da estrutura básica e não têm, portanto,
autonomia sintática:
Embora ninguém esperasse.
Quebrando o braço.
Tendo estudado com afinco, vendo assim que o esforço foi compensado.
Também o aposto – termo que “traduz” um substantivo ou pronome – é uma
estrutura complementar. Observe o exemplo:
O réu, filho de deputado, conseguiu, pela terceira vez, adiar o seu julgamento.
aposto circunstância
Estrutura Complementar Estrutura Complementar
Exercícios
1. Identifique a estrutura básica e as estruturas complementares em cada um dos
períodos a seguir.
a. Há cerca de dois anos, a polícia descobriu, a partir de novas e secretas investigações,
que o crime da rua Aurora, um dos mais misteriosos de nosso país, tinha sido
premeditado.
b. Na manhã de terça-feira, João, ainda de olhos fechados, procurou seus óculos, para
ler as pilhas de cartas ainda não abertas.
c. O relatório diz que, apesar de décadas de reformas para proteger a independência
judicial, em muitos países, os padrões de imparcialidade estão se perdendo, como seria
o caso de Rússia e Argentina.
d. O jornalista americano Larry Rohter, a certa altura, em uma comemoração entre
amigos no Rio de Janeiro, em maio de 2004, cantou, com voz desafinada, Apesar de
você.
e. Nos últimos anos, as companhias farmacêuticas passaram a pressionar a FDA, a
agência americana de controle de medicamentos, para aprovar seus produtos.
f. Toda vez que deseja um aumento de salário, o Judiciário envia uma proposta de lei ao
Congresso.
78
g. Cientistas espanhóis descobriram, na região de Teruel, leste da Espanha, ossos
fossilizados.
h. Ao passar pela Avenida Paraguassu, na praia de Atlântida, em Capão da Canoa, a 142
quilômetros de Porto Alegre, o arquiteto ficou chocado.
2. Os trechos que seguem são compostos por estruturas complementares. Identifique a
construção sintática que os caracteriza como complementares e, em seguida, formule
uma estrutura básica. Observe a pontuação do novo período criado por você.
a. Observando atentamente o comportamento das personagens,
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b. Quando a mulher apareceu na janela,
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
c. Se ela viesse,
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
d. Como todos estavam cansados,
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
e. Acabada a reunião,
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
f. Já que ela era a única testemunha,
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
g. Devido à denúncia de fraude,
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
h. Ao saber da verdade,
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
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3. O trecho a seguir teve sua pontuação alterada. Pontue-o adequadamente a partir da
identificação das estruturas básicas e complementares.
Engana-se quem considera ainda hoje que o lixo garante apenas a sobrevivência
dos pobres. Ao contrário do que muitos imaginam ele é fonte de riqueza para uma
parcela expressiva do empresariado. Na cidade de São Paulo duas concessionárias a
EcoUrbis Ambiental S/A e a Loga Ambiental de São Paulo S/A dividem os recursos
gerados pelo espólio do lixo produzido pela população.
Todos os meses a Prefeitura da capital paulista repassa R$ 48 milhões a essas
duas empresas. A EcoUrbis responsável pelo lixo das regiões leste e sul tem entre seus
acionistas majoritários a Construtora Queiroz Galvão a mesma que participa da
construção das linhas dois e quatro do Metrô paulista.
A empreiteira era uma das responsáveis junto com a Camargo Corrêa e OAS
pela obra da estação Pinheiros do metrô que desmoronou em janeiro de 2007 matando
sete pessoas além de destruir a moradia de inúmeras famílias que residiam no entorno
da construção.
(extraído e adaptado de Caros Amigos, dez /2009)
80
Estrutura Básica e Complementar II
1.Pontue adequadamente os períodos abaixo, levando em conta o que foi aprendido
sobre estruturas básicas e complementares.
a. As questões levantadas pelos alunos durante o debate ainda que necessitem de
análise mais cuidadosa parecem ser muito pertinentes.
b. Os benefícios dos trabalhadores caso o acordo salarial seja cumprido pela
empresa serão inúmeros.
c. A empresa instalou um novo sistema de alarme a fim de reduzir os
constantes roubos de equipamentos.
d. Os camponeses arruinados ainda que houvesse também operários e
artesãos formavam o maior contingente de imigração.
e. Como perderiam seus privilégios os vereadores tentaram impedir a
votação do projeto de lei do executivo.
f. Os empresários afirmam que poderá haver se o governo aumentar os
encargos trabalhistas demissão de trabalhadores.
g. As propostas temáticas postas em discussão pelos deputados governistas ainda
que os deputados de oposição produzissem um grande estardalhaço foram
finalmente votadas.
h. Segundo os economistas o consumo caso o governo reduza as taxas de juros
tenderá a aumentar.
i. A empresa de softwares a fim de reduzir as tentativas de arrombamentos
constantes contratou uma nova firma de segurança.
j. As questões levantadas durante a reunião pelos professores embora gerem
discórdia trouxeram nova luz aos problemas enfrentados.
2. Os trechos abaixo apresentam problemas de construção do período.
Reformule-os, para que eles se tornem períodos completos.
a. Ao passar pela Avenida Paraguassu, na praia de Atlântida, em Capão da
Canoa, a 142 quilômetros de Porto Alegre, o arquiteto, parando a 700 metros
da casa que construíra para os seus pais.
81
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
b. Espremido politicamente, administrando uma economia que dava sinais de
falência administrativa, o presidente, tendo audácia e jogando-se na reforma.
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_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
c. Apesar de a grande imprensa se pretender sóbria e imparcial na cobertura de
levantes ou rebeliões, terminando quase sempre por transformar os acontecimentos em
espetáculos.
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_____________________________________________________________________
______________________________________________________
d. Como não havia mais nada a fazer, deixando-se o corpo na mesma posição, à
espera de outro veículo, que o transportasse para o necrotério.
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
e. Ao levantar suas âncoras do nublado porto de Gênova, na tarde de sexta-feira,
retomando sua rota de mais um cruzeiro pelas águas do Mediterrâneo, o navio Achille
Lauro – sequestrado por um comando palestino que assassinou um velho paralítico
americano – deixando para trás uma nova vítima.
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_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
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f. Água francesa de paladar singular, a Perrier, acondicionada em uma garrafa
verde de formato inconfundível e caracterizada pela força de suas bolhas,
que lhe conferem uma personalidade única.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
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______________________________________________________________________
g. Publicado na revista Piauí, em março de 2009, a artigo “Rachaduras do paraíso”,
que foi escrito por Johann Hari.
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______________________________________________________________________
____________________________________________________
3. A escolha da estrutura básica e das complementares depende do que temos a
dizer, de como pretendemos fazê-lo, de qual fato interessa destacar. Dada uma
sequência de informações (em orações simples), em princípio, qualquer uma
delas pode ser a estrutura básica. Veja o exemplo abaixo.
A macacada estava impaciente e faminta. Ela aguardava destino. Ela estava
empilhada em gaiolas na plataforma da estação. Ela divertia os passageiros
com suas macaquices.
Podemos utilizar cada uma das quatro orações como estrutura básica. Teremos,
então, quatro estruturas.
a. A macacada, aguardando destino, empilhada em gaiolas na plataforma da
estação, divertindo os passageiros com suas macaquices, estava impaciente e
faminta.
b. A macacada, impaciente e faminta, empilhada em gaiolas na plataforma da
estação, divertindo os passageiros com suas macaquices, aguardava destino.
83
c. A macacada, impaciente e faminta, aguardando destino, estava empilhada em
gaiolas na plataforma da estação, divertindo os passageiros com suas
macaquices.
d. A macacada, impaciente e faminta, aguardando destino, empilhada em gaiolas
na plataforma da estação, divertia os passageiros com suas macaquices.
Nas sequências seguintes, formule diferentes versões do período, selecionando,
a cada vez, uma informação básica diferente.
1) Os diretores do filme estavam assustados com o fisco americano. Decidiram rodar
as cenas na Itália. A Itália tem um fisco menos rigoroso.
a)__________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
b)__________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
c)__________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
2. O processo de desmatamento está bastante adiantado. Esse processo prejudica a
preservação do solo.
a)__________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
84
b)____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
c)____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
3. Iguape está a 220 quilômetros de São Paulo. Ela foi fundada no século XVI. Ficou
confinada, há um século e meio, entre o oceano Atlântico e a serra do mar.
a)____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
b)____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
c)____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
85
Emprego dos pronomes relativos
Os pronomes relativos são capazes de reproduzir, em uma nova oração, a ideia de uma
palavra/expressão que aparece em outra oração. Observe o exemplo:
Everquest, que se passa em um ambiente medieval, é considerado um clássico dos
games.
Caso desmembrássemos as orações, a palavra “Everquest” seria repetida:
oração I: Everquest é considerado um clássico dos games.
oração II: Everquest se passa em um ambiente medieval.
Ao juntarmos as duas orações em um período complexo, o pronome relativo que
possibilita recuperar o nome do game (Everquest) sem repetir a palavra e sem
estabelecer uma relação semântica entre as partes, diferentemente das conjunções.
Um pronome relativo sempre se refere, portanto, a um termo que o antecede e que ele
substitui dentro do mesmo período.
Sob o comando de Antonio Guterres estão mais de 6.000 funcionários da ONU, que
prestam ajuda a 33 milhões de pessoas.
O pronome relativo deve ser colocado próximo ao termo antecedente; caso
contrário, outro termo pode ser equivocadamente tomado como o seu referente.
Pronomes relativos exemplos
oração 1 oração 2 oração 1
86
que/quem (precedido
de preposição)
Gostei do filme que entrou em cartaz.
Não conheço o funcionário a quem você entregou o envelope.
o qual/os quais
a qual/as quais
Não me agradam os meios pelos quais alguns políticos
alcançam seus fins.
onde (=em que/no
qual/na qual etc)
Fica em Goiás a caverna onde os estudantes se perderam.
Obs. “onde” só deve ser empregado em referência a lugares
físicos e quando a função sintática for a de locução adverbial.
quando (=em que, no
qual/na qual etc)
Setembro, quando as tardes já são menos frias, é um bom mês
para passeios pela serra.
cujo, cujos
cuja, cujas
As enfermeiras cuidavam dos doentes, cujos parentes se
aglomeravam no saguão.
1. Identifique, nos enunciados seguintes, o referente dos pronomes relativos.
a. A região vem passando por uma transformação urbanística com a desocupação dos
galpões e antigas casas, locais onde há grandes possibilidades de surgirem
empreendimentos.
b. Antes do casamento, Ben Jor fez lenda como um grande namorador. Em suas
músicas, pululam incontáveis musas, a maior parte das quais o cantor conheceu em
shows e com quem nem teve um envolvimento mais profundo.
c. As pessoas que conhecem Maria gostam muito do seu jeito brincalhão.
2. Em cada item a seguir, você encontrará duas orações. Leia-as atentamente e
reescreva-as sob a forma de um único período, utilizando um pronome relativo para
viabilizar essa transformação. Faça todas as alterações necessárias para obter períodos
bem construídos.
a. Desenvolvemos alguns projetos de ação social. Esses projetos de ação social são
bastante viáveis.
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______________________________________________________________________
87
b. Aproveitei as férias para ver alguns filmes. Esses filmes já estavam quase saindo de
cartaz.
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______________________________________________________________________
c. Aproveitei o tempo livre para visitar a casa. A Marquesa de Santos nasceu na casa.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
d. Estou de folga em dezembro. Viajarei para Salvador, em dezembro.
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______________________________________________________________________
3. Nos enunciados abaixo, elimine a ambiguidade provocada pelo uso inadequado do
pronome relativo.
a) Enviou-me uma caixinha pela irmã que estava bem bonitinha.
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______________________________________________________________________
b) Ninguém encontrou a mãe de seu amigo que fugiu de casa.
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c) Adorei a cena final do filme que você comentou.
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______________________________________________________________________
***
Muitas vezes, é necessário empregar uma preposição antes de pronomes
relativos. A palavra que exige a preposição se encontra na oração que se inicia com o
pronome relativo. Observe:
As empresas em que trabalhei atuam no ramo dos alimentos. (trabalhar em algum
lugar)
oração 1 oração 2 oração 1
88
Este é um imposto do qual ninguém tem necessidade. (necessidade de alguma coisa)
3. Reúna as seguintes orações num só período por meio de pronomes relativos. Atente
para os casos em que é obrigatório o uso de preposição antecedendo o pronome.
a. Aproveitei o tempo para ver alguns filmes. Um amigo havia falado entusiasticamente
desses filmes.
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______________________________________________________________________
b. Aproveitei a folga no trabalho para escrever uma carta a um deputado. Nas últimas
eleições, depositei confiança nesse deputado.
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______________________________________________________________________
c. Temos de criar um país. O bem-estar social deve imperar nesse país.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
d. Não consegui evitar o meu repúdio às palavras de um político conservador. Para esse
político, o problema dos menores abandonados deve ser resolvido com maior repressão
policial.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4. Complete as lacunas com o pronome relativo adequado. Quando necessário, coloque
a preposição.
a. Não conhecemos os alunos _______ saíram.
b. São situações _____________ sempre penso.
c. É aqui a loja ________ lhe falei.
d. Os garotos,__________ conversei no sábado, são de Ribeirão Preto.
e. O filme, __________ comentamos ontem, está finalmente em cartaz.
oração 1 oração 2
89
f. A causa __________ lutamos muito finalmente saiu vitoriosa.
g. O senador _________ votei foi eleito.
h. O sistema de segurança _________ a firma optou é bastante eficiente.
i. A mulher _________ vendi meu urso de pelúcia agora quer também as bonecas de
pano.
5. O pronome relativo “cujo” (e suas variações) cumpre duas funções:
a. refere-se a um termo já empregado (antecedente);
b. estabelece uma relação de sentido de posse, pertencimento.
Observe as orações:
I. Aumentou a produção de soja.
II. Os preços da soja subiram.
Nas duas orações, repete-se a palavra “soja”. Na segunda oração, expressa-se
uma relação de que algo pertence à soja. Juntando-se as duas orações, iniciando-se pela
primeira, deve-se empregar o pronome “cujo” e estabelecer a concordância com
“preços”.
Aumentou a produção de soja, cujos preços subiram.
Por ser um pronome relativo que varia em gênero e número, o “cujo” não admite artigo
depois dele:
O turista cujo passaporte (e não “cujo o passaporte”) estiver vencido deverá aguardar na
sala 1.
Os turistas cujos passaportes (e não “cujos os passaportes”) estiverem vencidos deverão
aguardar na sala 1.
O turista cuja mala (e não “cuja a mala”) estiver na alfândega deverá aguardar na sala 1.
oração 1 oração 2
90
O turista cujas malas (e não “cujas as malas”) estiverem na alfândega deverá aguardar
na sala 1.
Reúna as seguintes orações num só período por meio do pronome relativo cujo (e suas
flexões), iniciando obrigatoriamente pela primeira oração. Atente para os casos em que
é obrigatório o uso de preposição antecedendo o pronome.
a. Aquele menino disse que não faria o trabalho. O pai do menino é professor.
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______________________________________________________________________
b. Aquele é o homem de sorte. A família dele ficou milionária com exportação de café.
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c. É necessário criar instrumentos para uma política social efetiva. A erradicação da
miséria deve ser o objetivo dessa política social.
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______________________________________________________________________
d. Vamos criar grupos de trabalho. A finalidade desses grupos de trabalho será discutir
uma nova política social.
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______________________________________________________________________
e. Em toda eleição surgem candidatos oportunistas. Pouco se divulga sobre a vida
desses candidatos.
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f. A nação ainda não acertou contas com esse passado recente. Os protagonistas desse
passado recente ocupam, ainda hoje, lugar de destaque na política nacional.
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Exercícios complementares
1. Em cada item a seguir, você encontrará duas orações. Leia-as atentamente e
reescreva-as sob a forma de um único período, utilizando um pronome relativo para
91
viabilizar essa transformação. Faça todas as alterações necessárias para obter períodos
bem construídos.
a. Foi feita uma pesquisa sobre o comportamento alimentar do brasileiro. A pesquisa
revelou que há um excessivo consumo de gordura na alimentação.
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b. A maioria dos países não reaproveita o lixo doméstico. O lixo doméstico é um
dramático problema.
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______________________________________________________________________
c. O lixo doméstico é um dramático problema. A maioria dos países não reaproveita o
lixo doméstico.
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______________________________________________________________________
2. Complete com o pronome relativo conveniente, precedido de preposição, se for o
caso.
a. Eis o ponto ____ chegamos.
b. É uma ideologia _______ não simpatizo.
c. Eram sólidos os argumentos ____ se baseava o advogado e ____ nada se pôde opor.
d. A garota ______ vivo querendo sair começou a namorar um amigo meu.
e. Os direitos do consumidor, _______________ a lei 8.078/90 dispõe, mudaram os
costumes do mercado.
f. Deve-se aguardar o momento _____ todos estejam dormindo.
g. A máquina _______ trabalho é nova.
h. Várias pessoas ______ os jornais fazem referência terão suas vidas investigadas.
i. Vários amigos _______ sempre lhes falo estarão hoje à noite na festa.
j. São duas pessoas ________ não tenho amizade.
k. O solo _____________ construímos a casa está cedendo.
l. O falso corretor ________ fomos enganados foi preso ontem em Brasília.
3. Reúna as seguintes orações num só período por meio de pronomes relativos. Atente
para os casos em que é obrigatório o uso de preposição antecedendo o pronome.
92
a. Não consegui evitar o meu repúdio às palavras de um político conservador. Segundo
suas palavras, o problema dos menores abandonados deve ser resolvido com maior
repressão policial.
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______________________________________________________________________
b. Em toda eleição surgem candidatos oportunistas. Pouco se divulga sobre esses
candidatos.
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c. É uma pessoa que tem opiniões fortes. Não é possível concordar com as opiniões.
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d. A polêmica das armas não se distingue de outros debates. Confrontam-se nesses
debates princípios irreconciliáveis.
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e. No fim dos anos 90, o país caiu vítima de uma crise financeira internacional. Os
brasileiros não tiveram nenhuma responsabilidade por essa crise.
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93
REDAÇÃO
94
Paráfrase
paráfrase (do Gr. paráphrasis, desenvolvimento), s. f., ato ou efeito de parafrasear;
explicação ou tradução mais desenvolvida do que o texto ou enunciado original.24
A partir do verbete acima, podemos entender que parafrasear um texto significa
expressar, em uma formulação linguística diferente, as mesmas ideias presentes no texto
original. Em outras palavras, uma paráfrase é feita quando se comunica o mesmo
conteúdo do texto original, alterando-se a estrutura das frases e/ou o vocabulário.
A paráfrase é empregada na elaboração de resumos, fichamentos, relatórios, ou
seja, em circunstâncias em que um texto deve ser compreendido e explicado,
normalmente – mas não necessariamente – de maneira mais breve e concisa.
Leia o trecho abaixo:
“Qual a real utilidade do garfo? Serve para levar à boca a comida que já foi cortada. Por
que precisamos de um garfo para fazer isso? Por que não usamos os dedos? Porque isso
é coisa de „canibal‟, como disse, em 1859, „O homem à janela do clube‟, o anônimo
autor de The habits of good society. Por que é coisa de „canibal‟ comer com os dedos?
Isso não é pergunta. É evidentemente canibalesco, bárbaro, incivil ou o que quer mais
que se queira chamá-lo. Mas esta é exatamente a pergunta: por que é mais civilizado
comer com garfo?”
Agora veja a paráfrase desse trecho:
É questionável tanto a utilidade do próprio garfo quanto o fato de considerarmos
canibalesco ou incivilizado manipular a comida com os dedos para levá-la à boca. É
claro que poderia ser chamado de bárbaro o ato de não se utilizar talheres para comer à
24
Verbete disponível em: Língua Portuguesa On-line, http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx. Acesso em: 09 dez. 2008.
95
mesa. No entanto, mais importante do que isso é se perguntar por que consideramos
mais civilizado o uso do garfo à mesa ao invés das mãos.
Observe também as paráfrases abaixo, elaboradas para explicar artigos do
Código de Defesa do Consumidor:
ART. 23 – A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por
inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.
Ignorância do defeito: a responsabilidade do fornecedor não pode ser excluída pela
alegação de desconhecimento dos defeitos do produto ou serviço, de suas limitações ou
de sua inadequação a determinada finalidade.
ART. 47 – As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável
ao consumidor.
Na dúvida, a favor do consumidor: as cláusulas contratuais que deem margem à dúvida
deverão ser interpretadas a favor do consumidor.
Nesses últimos casos, temos paráfrases que ampliam o texto, de maneira que ele
se torne mais claro, mais explicado. A paráfrase resulta em um texto novo, cuja
estrutura é diferente do texto original, embora o sentido deva ser mantido. É importante
notar também que a paráfrase é construída a partir de vários procedimentos, um dos
quais é a substituição por palavras ou expressões sinônimas (no segundo texto acima, a
expressão “favorável ao consumidor” foi substituída por “a favor do consumidor”, por
exemplo).
Frise-se, no entanto, que parafrasear não significa apenas substituir palavras de
um texto por sinônimos. Aliás, deve-se tomar bastante cuidado para que não haja
deturpações de sentido. Nem sempre um sinônimo apresentado pelo dicionário para
uma determinada palavra é adequado para substituí-la no texto em que aparece. Um
exemplo:
96
Fregueses auferem ostráceos ao solicitar aperitivo com aguardente de cereal
gálica
Semanalmente, a partir de agora, os fregueses do refeitório O Pote do Rei (área
ocidente da principal cidade de São Paulo) que solicitarem um aperitivo com a
aguardente de cereal rústica gálica Cîroc terão a possibilidade de saborear um par de
ostráceos que vêm cotidianamente de Santa Catarina – e que é possível degustar com o
fruto do limoeiro ou com um caldo específico realizado pelo diretor da cozinha William
Ribeiro.
O propósito é anunciar a combinação tranquilizante dos resultados. A carta de
líquidos alberga a Cîroc Port, que mescla a aguardente de cereal com Graham‟s White
Port, o fruto do limoeiro e ramos de alevante. Um dos aperitivos da festança vale R$28
e proporciona a prova dos dois ostráceos.
O texto acima foi uma tentativa, bastante equivocada por sinal, de parafrasear o
seguinte texto:
Clientes ganham ostras ao pedir drinque com vodca francesa
A partir desta semana, os clientes do restaurante O Pote do Rei (região oeste da
capital paulista) que pedirem qualquer drinque elaborado com a vodca artesanal
francesa Cîroc poderão degustar duas das ostras que chegam diariamente de Santa
Catarina – e que podem ser saboreadas com limão ou com um molho especial feito pelo
chef William Ribeiro.
O objetivo é promover a harmonização refrescante dos produtos. O cardápio de
bebidas inclui a Cîroc Port, que mistura a vodca Cîroc com Graham‟s White Port, limão
e folhas de hortelã. Cada um dos drinques do festival custa R$ 28 e dá direito à
degustação das duas ostras.
Disponível em: http://guia.folha.com.br/restaurantes/ult10051u662860.shtml
97
Em que consistiu o equívoco do autor da tentativa de paráfrase? Ele supôs que
bastaria, para parafrasear um texto, substituir as palavras do original por sinônimos.
Contudo, além de alguns dos sinônimos não serem os mais adequados (“festança” no
lugar de “festival” ou “realizado” no lugar de “feito”, por exemplo), o autor equivocou-
se ao procurar sinônimos para termos específicos, que não poderiam ser substituídos:
“ostráceo” não é o mesmo que “ostra”, nem “aguardente de cereal” é o mesmo que
“vodca” e muito menos “fruto do limoeiro” seria o mesmo que limão. Assim, é
necessário bastante cuidado ao se procurar empregar sinônimos para elaborar uma
paráfrase, sob pena de deturpar o sentido do texto original. Por outro lado, ressalte-se
que, algumas vezes, palavras que não são propriamente sinônimas podem ser escolhas
lexicais adequadas para a elaboração de uma paráfrase.
Além de, como já vimos, ampliar o texto original, a paráfrase também pode
servir para condensá-lo. Vejamos um exemplo:
O leitor, se consulta regularmente a internet, sabe que se trata de território livre
para boato, informação interessada, lobbies nem sempre honestos nem legítimos,
fantasias, teorias malucas ou venenosas etc. etc. etc.
O parágrafo acima foi extraído do texto “Quando o erro é anônimo”, do
articulista Clóvis Rossi, publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 09 de dezembro de
2008. Várias das expressões acima poderiam ser substituídas por sinônimos: por
exemplo, a oração “se consulta regularmente a internet” poderia ser substituída por uma
expressão formada pelo substantivo “consulta” (consulta frequente à internet); a
repetição da expressão “etc.” poderia ser substituída pela expressão “por exemplo”.
Assim, uma possibilidade de paráfrase do trecho acima poderia ser a seguinte:
A consulta frequente à internet permite ao leitor o conhecimento de que a rede é
um território livre para a veiculação de informações nem sempre confiáveis, por
exemplo.
A paráfrase acima, mantendo as mesmas informações do trecho original,
resultou em economia no número de palavras: de 32 para 28. Isso pode parecer pouco,
mas é uma ferramenta bastante útil para situações em que precisamos reduzir o texto
original.
98
Uma nova paráfrase poderia reduzir ainda mais o número de palavras e, mesmo
assim, manter as informações:
Quem frequentemente utiliza a internet sabe que as informações ali veiculadas
nem sempre são confiáveis.
Essa segunda paráfrase produziu uma redução do número de palavras para 15,
menos da metade do trecho original, mas conseguiu conservar, em essência, as
informações.
A paráfrase, desse modo, pode ser uma ferramenta bastante útil para a
elaboração de resumos, pois permite a reestruturação do texto original de forma mais
concisa.
Exercício
1. Elabore uma paráfrase do texto “Clientes ganham ostras ao pedir drinque com vodca
francesa”.
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99
Resumo acadêmico
Resumo é uma condensação fiel das ideias ou informações contidos em um texto.
Resumir um texto significa reduzi-lo ao seu esqueleto essencial sem perder de vista três
elementos:
a) cada uma das partes essenciais do texto;
b) a progressão em que elas se sucedem;
c) a correlação que o texto estabelece entre cada uma dessas partes.
O resumo é, pois, uma redução do texto original, procurando captar suas ideias
essenciais. Quem resume deve exprimir, em estilo objetivo, os elementos centrais do
texto. Por isso não cabem, num resumo, comentários sobre o que está sendo
condensado.
Muitas pessoas julgam equivocadamente que resumir seja apenas reproduzir frases
ou partes de frases do texto original, construindo uma espécie de "colagem" de
fragmentos. Resumir é muito mais do que isso: é apresentar com as próprias palavras os
pontos relevantes de um texto. A mera reprodução de frases do original geralmente
sugere que ele não foi compreendido.
Para elaborar um bom resumo, é necessário compreender antes o conteúdo global do
texto. Assim, não é possível escrever o resumo à medida que se faz a primeira
leitura.
Para elaborar um resumo, aconselhamos os seguintes passos:
1. Ler uma vez o texto, ininterruptamente, do começo ao fim. Isso porque um
texto não é um aglomerado de frases: sem uma noção do conjunto, é mais difícil
entender o significado preciso de cada uma de suas partes. Essa primeira leitura deve ser
feita com a preocupação de responder genericamente à seguinte pergunta: do que trata o
texto? Em outras palavras, deve-se, inicialmente, perceber qual o seu tema. A partir
disso, pode-se julgar quais as partes do texto mais relevantes para a caracterização e
explanação desse tema.
2. Ler uma segunda vez. Essa leitura, no entanto, deve ser feita com interrupções,
com o lápis na mão, para compreender melhor o significado de palavras difíceis (se
100
preciso, recorra ao dicionário) e para captar o sentido de frases mais complexas (longas,
com inversões, com elementos ocultos). Nessa leitura, deve-se ter a preocupação,
sobretudo, de compreender bem o sentido das palavras relacionais, responsáveis pelo
estabelecimento das conexões (assim, isto, isso, aquilo, aqui, lá, daí, seu, sua, ele, ela
etc.).
3. Segmentar o texto em blocos de ideias que tenham alguma unidade de
significação. Na realidade, o que se faz aqui é recuperar o projeto de texto: é como se,
diante de um corpo (ou de uma casa), visualizássemos seu esqueleto (sua estrutura
interna).
Muitas vezes, essa estrutura textual encontra-se presente na própria segmentação do
texto em parágrafos. Assim, ao se resumir, por exemplo, um texto pequeno, pode-se
adotar como primeiro critério de segmentação a divisão em parágrafos. Pode ser que se
encontre uma segmentação mais ajustada que essa; mas, como início de trabalho, o
parágrafo pode ser um bom indicador.
Quando se trata de um texto maior (o capítulo de um livro, por exemplo), é
conveniente adotar um critério de segmentação mais funcional, o que vai depender de
cada texto (as subdivisões do conteúdo, as oposições entre os personagens, as oposições
de espaço, de tempo etc.). De qualquer maneira, é sempre válida a busca pela
explicitação do projeto de texto, para que se acompanhe a progressão das ideias, a
construção da argumentação.
Conforme é explicitada essa estrutura, tenta-se resumir a ideia ou as ideias centrais
de cada fragmento, com palavras abstratas e mais abrangentes. Essas palavras
funcionam como sinalizadoras do projeto textual e, a partir delas, pode ser feita a
seleção dos aspectos relevantes para a escrita do resumo.
4. Escrever a redação final com suas palavras, procurando não só condensar os
segmentos, mas encadeá-los na progressão em que se sucedem no texto, para que sejam
estabelecidas as relações entre eles. Lembre-se de que, muitas vezes, o texto original
apresenta comparações, metáforas, dados e exemplos que podem ser eliminados no
resumo. Contudo, se os dados e exemplos formam a base das ideias do texto original, é
conveniente mantê-los.
Outro elemento fundamental do resumo é a referência contínua ao autor do texto
original. Essa referência pode ser feita de diversas formas. Eis algumas delas:
101
Segundo Giles Lapouge, (...).
Segundo Lapouge, (...).
Conforme o filósofo, (...).
Para Lapouge, (...).
Lapouge “relata”, “afirma”, “atesta”, “comprova”, “mostra” etc.
FONTE: FIORIN, José L. e SAVIOLI, Francisco P. Para entender o texto. São Paulo:
Ática, 16a. edição, 2003. (texto adaptado)
Análise textual
Vejamos, a seguir, um exemplo de como proceder à realização de um resumo:
A legitimidade da informação
Gilles Lapouge
1 Imagens do nosso planeta: na França, aconteceram eleições dentro de uma
perfeita calma, com a pitada de surpresa necessária para despertar o interesse. No
mesmo dia, em Ruanda (África Negra), 5 mil ou talvez 8 mil hutus foram assassinados
por soldados tutsis; essa mesma Ruanda que, no ano passado, assistiu a um genocídio
traduzido em meio milhão de cadáveres.
2 Ainda no mesmo dia, mas dessa vez na Itália, aconteceram eleições regionais,
enquanto nos Estados Unidos se descobria, com ânsia de vômito, que a carnificina de
Oklahoma City foi obra de americanos de verdade, patriotas, totalmente brancos, que
amam as árvores e os pássaros. Finalmente em Tóquio, o número dois da seita Aum,
Shinri Kyo, suspeito de ter organizado o atentado com gás de combate ao metrô de
Tóquio, foi apunhalado por um fanático de extrema-direita.
3 É difícil para um jornalista descobrir suas âncoras e suas observações entre
tantas imagens incompatíveis, cujo espectro abrange desde a rotina eleitoral à mais pura
erupção de loucura coletiva. Devemos confessar que, às vezes, temos certos escrúpulos
de dedicar extensos comentários a acontecimentos tão clássicos, simplistas e ordenados
102
quanto as eleições presidenciais, por exemplo, ao mesmo tempo em que a demência do
planeta nos faz assistir, de Tóquio a Michigan e a Ruanda, ao início do apocalipse.
4 Esses acontecimentos tão díspares merecem, no entanto, uma interrogação
comum. A cerimônia eleitoral não terna, tão pouco romântica, ocorrida no domingo, não
extrairia seu mérito precisamente do abominável espetáculo que nos foi oferecido pelo
mundo (Japão, Ruanda), quando a democracia não esteve presente para erradicar os
impulsos de morte e de assassinato que devastam os homens e as sociedades humanas?
5 Sem dúvida, a democracia não tem nada de cômico. Falta-lhe talento. Ela não
conseguiria competir com o genial diretor teatral, trágico e sádico, que joga centenas de
milhares de crianças perdidas nas suaves colinas da África tropical, em Ruanda. É
verdade: falta brilho à democracia. Ela é aborrecida, sem imaginação, repetitiva,
medíocre. E, no entanto...
6 No entanto, ela constitui a última proteção, tão frágil e poderosa ao mesmo
tempo, que as sociedades podem opor ao desencadear de suas pulsões mais sombrias,
mais diabólicas. Pulsões que vemos se desencadear assim que saltam os marcos da
democracia.
7 É o que ocorre em Ruanda, onde massacres se sucederam ao fracasso do pacto
democrático. No Japão, onde o crime do metrô foi perpetrado por uma seita
antidemocrática: militarizada, hierarquizada, fúnebre, secreta e mórbida. E, se a
matança de Oklahoma City foi cometida num país absolutamente democrático, os EUA,
seus atores são homens que declararam guerra principalmente à democracia. Esses
bárbaros brancos, que se autodenominam patriotas, querem voltar aos bons velhos
tempos dos pioneiros, do desbravamento das fronteiras e, em seu ódio irracional por
Washington - quer dizer, pela lei democrática -, matam centenas de cidadãos ao acaso.
8 Nesse sentido é que continua sendo, sem dúvida, legítimo escrever longos
artigos sobre as eleições democráticas na França ou na Itália. Precisamente para tentar
lutar contra essas outras notícias que, de Ruanda a Michigan, só nos falam sobre o
fascínio da morte.
LAPOUGE, Gilles. O Estado de S. Paulo. 26/04/1995
O passo a passo do resumo:
103
Depois de ler o texto do começo ao fim, vemos que ele trata da legitimidade de
um jornalista escrever sobre eleições democráticas, pois a democracia seria a última
proteção contra as pulsões de morte que assolam as sociedades.
Em seguida, percebemos o movimento do texto: apresentação de imagens
conflitantes; indagação sobre a validade de escrever sobre aquilo que é rotineiro, como
eleições; discussão sobre o mérito da democracia; constatação de que a democracia não
é espetacular; afirmação de que ela é a última proteção contra as pulsões de morte
existentes na sociedade e ilustração com casos recentes; validade de se escrever sobre as
eleições democráticas.
Com base nesse movimento, pode-se dividir o texto em seis partes, ou
segmentos. Complete a tabela que segue:
parte/segmento parágrafos
correspondentes aspectos tratados
1ª
2ª
3ª
4ª
104
5ª
6ª
Uma possibilidade de resumo:
Conforme os passos até agora apresentados, um resumo do texto acima transcrito
poderia ser redigido da seguinte maneira:
Segundo G. Lapouge, em seu texto publicado n’ O Estado
de São Paulo em 26 de abril de 1995, acontecimentos
contraditórios ocorrem todos os dias no mundo: de um lado,
eleições realizadas na mais absoluta ordem; de outro,
massacres e atos terroristas. Um jornalista, diante desse
quadro, sente escrúpulos em tratar de acontecimentos não-
dramáticos, como eleições.
Para Lapouge, o mérito da rotina eleitoral, entretanto,
surge do contraste com os acontecimentos que revelam os
impulsos de morte. Em seguida, o autor mostra que a
democracia não tem uma dimensão espetacular; no entanto,
é a última proteção contra as pulsões mais sombrias da
sociedade, pois, como o comprovam recentes acontecimentos,
massacres e atos de terror são devidos à falta de democracia
ou ao ódio a ela. Lapouge finaliza seu texto afirmando que a
importância de se escrever artigos sobre eleições
105
democráticas é decorrente do fato de eles fazerem parte da
luta contra o desejo de matar.
No exemplo de resumo acima apresentado, vale atentar para o modo como o
texto mostra-se dividido e para a proporcionalidade de sua extensão. Em termos de
parágrafos, podemos considerar que o resumo corresponde exatamente a um quarto do
texto de base, uma vez que possui apenas dois parágrafos, que pretendem condensar os
oito parágrafos do texto de Gilles Lapouge. O primeiro parágrafo do resumo é
composto por dois períodos; já o segundo parágrafo, por quatro. Cada período do
resumo, por conseguinte, corresponde à condensação de cada uma das partes do texto
de base. Assim, as duas primeiras partes do texto de base são condensadas no primeiro
parágrafo do resumo e as quatro restantes, no segundo.
Em seguida, apresenta-se um resumo problemático do texto de Giles Lapouge.
Leia o resumo e observe as inadequações.
Na França, aconteceram eleições e em Ruanda, hutus foram
assassinados por soldados tutsis. Coisas semelhantes
aconteceram na Itália e nos EUA. Um jornalista deve
confessar seus escrúpulos. Um jornalista não consegue tratar
das eleições pacíficas porque em outros lugares acontecem
episódios de demência. A democracia não é cômica nem
dramática, ela é aborrecida, mas ela consegue impedir que
ocorram fatos como o de Ruanda e Tóquio e, portanto, um
jornalista pode escrever sobre as eleições da França.
106
Recursos de Coesão
1. Repetição de uma palavra
Podemos repetir uma palavra (com ou sem o determinante) quando não for
possível substituí-la por outra.
A propaganda, seja ela comercial ou ideológica, está sempre ligada aos objetivos e aos
interesses da classe dominante. Essa ligação, no entanto, é ocultada por uma inversão:
a propaganda sempre mostra que quem sai ganhando com o consumo de tal ou qual
produto ou idéia não é o dono da empresa, nem os representantes do sistema, mas, sim,
o consumidor. Assim, a propaganda é mais um veículo da ideologia dominante.
2. Repetição do nome próprio, de parte dele ou de termo que qualifique a pessoa
Manuel da Silva Peixoto foi um dos ganhadores do maior prêmio da loto. Peixoto disse
que ia gastar todo o dinheiro em viagens ao exterior.
Marta Suplicy não emplacou nas últimas eleições. Marta ganhou em poucas regiões da
capital.
Luiz Eduardo Greenhalgh pede ao STF acesso aos autos da operação da PF. O ex-
deputado federal é citado no inquérito da Operação Satiagraha como lobista de Daniel
Dantas.
3. Epítetos
107
Epíteto é a palavra ou frase que identifica com exclusividade a pessoa de quem
se fala.
Ronaldo teve um papel fundamental na final da copa de 2002. O Fenômeno marcou
todos os gols da partida contra a Alemanha.
4. Pronomes
Vitaminas fazem bem à saúde, mas não devemos tomá-las ao acaso.
O colégio é um dos melhores da cidade. Seus dirigentes se preocupam muito com a
educação integral.
Aquele político deve ter um discurso muito convincente. Ele já foi eleito seis vezes.
Há uma enorme diferença entre Paulo e Maurício. Este guarda rancor de todos,
enquanto aquele tende a perdoar.
Não consigo encontrar o artigo que foi indicado pelo meu orientador.
5. Advérbios de lugar (aqui, ali, lá, aí)
Ao se empregar um advérbio de lugar, é necessário que se atente ao ponto de
referência de quem fala ou escreve.
Não podíamos deixar de ir ao Louvre. Lá está a obra-prima de Leonardo da Vinci: a
"Mona Lisa".
108
6. Elipse
A elipse é a supressão de um termo que pode ser facilmente depreendido pelo
contexto.
O ministro foi o primeiro a chegar. (Ele) Abriu a sessão às oito em ponto e (ele) fez um
discurso emocionado.
7. Palavras ou expressões sinônimas ou quase sinônimas
Os quadros de Van Gogh não tinham nenhum valor em sua época. Houve telas que
serviram até de porta de galinheiro.
O governo tem-se preocupado com os índices de inflação. O Planalto diz que não
aceita qualquer remarcação de preço.
8. Hiperonímia e hiponímia
Leia os trechos abaixo:
1) Vimos o carro do ministro aproximar-se. Alguns minutos depois, esse veículo
estacionava adiante do Palácio do Governo.
2) O professor mandou os alunos desenharem quadrados, retângulos e trapézios. Esses
quadriláteros encontravam-se empilhados uns sobre os outros na mesa dianteira da
sala e os alunos deveriam copiá-los e sombreá-los ―ao natural‖.25
25
Exemplos extraídos de KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 2005, p.50.
109
Qual a relação, nas frases 1 e 2, entre as palavras sublinhadas? É possível notar
que “veículo” é uma palavra mais ampla, mais genérica que “carro”, assim como
“quadrilátero” engloba “quadrados”, “retângulos” e “trapézios”. Isso é o que se chama
HIPERÔNIMO.
HIPERÔNIMO: vocábulo de sentido mais genérico em relação a outro (p.ex., assento
é hiperônimo de cadeira, de poltrona etc.; animal é hiperônimo de leão; flor é
hiperônimo de malmequer, de rosa etc.)
Se fizermos a “operação inversa”, ou seja, empregarmos um vocábulo mais específico
em relação a outro mais genérico, estaremos diante de um HIPÔNIMO.
HIPÔNIMO: vocábulo de sentido mais específico em relação ao de um outro mais
geral, em cuja classe está contido (p.ex., poltrona é hipônimo de assento; leão é
hipônimo de animal; rosa é hipônimo de flor).
O emprego de hiperônimos, termos mais abrangentes que podem substituir uma
série de outros termos, é um recurso de síntese extremamente útil na escrita, como
elemento coesivo. Quando usamos um hiperônimo para a retomada de um termo mais
específico (o hipônimo), podemos fazê-lo com o acréscimo de um pronome
demonstrativo. Veja:
O príncipe encantado me deu uma rosa muito especial. Essa flor já dura quinze dias e
não perdeu nenhuma pétala.
110
O hiperônimo “flor” retoma a palavra “rosa”; para deixar a referência mais
explícita, o pronome demonstrativo “essa” é usado, o que deixa o texto ainda mais
coeso. Sempre que esse pronome for utilizado acompanhado de um substantivo (ou
palavra substantivada), usam-se “esse(s)”, “essa(s)”. Veja mais alguns exemplos:
As cadeiras já estavam muito velhas. Esses móveis eram, na realidade, herança de sua
avó materna.
O romance parecia ser extremamente interessante. Uma pena que não tenho tempo
para ler esse livro agora.
9. Substantivação
Ocorre substantivação quando se emprega um substantivo que remete a um
verbo enunciado anteriormente.
Eles foram testemunhar sobre o caso. O juiz disse, porém, que tal testemunho não era
válido por serem parentes do assassino.
Pode também ocorrer o contrário: um verbo retomar um substantivo já
anunciado.
Ele não suportou o desafio diante do próprio filho. Desafiar um homem de bem não era
coisa para se deixar passar em branco.
Exercícios
1. Utilizando os recursos de coesão, substitua os elementos grifados:
111
O Brasil vive uma guerra civil diária e sem trégua. No Brasil, que se orgulha da
índole pacífica e hospitaleira de seu povo, a sociedade organizada ou não para esse fim
promove a matança impiedosa e fria de crianças e adolescentes. Pelo menos sete
milhões de crianças e adolescentes, segundo estudos do Fundo das Nações Unidas para
a Infância (Unicef), vivem nas ruas das cidades do Brasil.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2. Para cada frase abaixo, preencha a lacuna com o recurso de coesão sugerido entre
parênteses.
a. Um dos graves problemas das metrópoles são os meios de locomoção. Enquanto
______________________________________ não forem devidamente
aprimorados, tudo permanecerá como está. (palavra sinônima ou quase sinônima)
b. Pelé foi um dos maiores esportistas brasileiros de todos os tempos. Até
hoje_____________ não foi superado. (epíteto)
c. Não se pode comparar São Paulo com o Rio de Janeiro. ____________é uma cidade
de praia, ao passo que _______________ é um grande centro urbano. (uso de
pronomes)
d. Muitas pessoas preferem morar em pequenas cidades do interior._________, apesar
da falta de alternativas culturais, ainda é possível conhecer toda a vizinhança. (advérbio
de lugar)
e. O crescimento desordenado degrada qualquer cidade. _____________ afasta várias
possibilidades de investimentos. (substantivação)
f. Luz, água encanada, telefone ainda não existiam no povoado há uma década. A
chegada_____________________ mudou a vida dos habitantes.(hiperônimo)
3. Reescreva os trechos que seguem, estabelecendo coesão por meio do recurso
indicado.
a. O Chanceler Celso Amorim defendeu-se, ontem, das críticas de que teria traído
aliados tradicionais. O Chanceler Celso Amorim votou a favor da proposta da OMC
112
para desbloquear as negociações da Rodada Doha, contrariando interesses de outros
países emergentes. (Repetição de parte de nome próprio ou de termo que
identifique pessoa)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b. Em fotos tiradas durante seu primeiro fim de semana na cadeia, Salvatore Cacciola
aparece vestindo o uniforme do presídio Petrolino Werling de Oliveira, conhecido como
Bangu 8, na zona oeste do Rio. O ex-banqueiro chegou de Mônaco na quinta, exibindo,
sorridente, uma vasta cabeleira e vestindo terno. Na prisão, Salvatore Cacciola é
obrigado a vestir calça jeans e camiseta branca. (elipse)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
c. Ao conceder empréstimos, os bancos têm tomado várias precauções. Conceder
crédito está vinculado à comprovação exaustiva de que, em tempos de crise, o cliente
tem como honrar suas dívidas. (substantivação)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
d. Lançado no último dia 15, um serviço municipal de bicicletas alugadas a baixíssimo
preço virou a coqueluche do verão de Paris. Em Paris, o serviço de aluguel de bikes
ocorre em 750 estações de metrô. (advérbio de lugar)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
e. Lançado no último dia 15, um serviço municipal de bicicletas alugadas a baixíssimo
preço virou a coqueluche do verão de Paris. Em Paris, o aluguel de bikes ocorre em 750
estações de metrô. (palavra sinônima ou quase sinônima)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
113
4. No trecho abaixo, utiliza-se um hiperônimo equivocado para fazer referência a um
conjunto de informações. Corrija o problema, utilizando um hiperônimo adequado. Faça
as adaptações necessárias.
Nos anos 60 e 70, foi crescente a conscientização dos jovens em relação à
problemática ambiental. Iniciou-se uma crítica à política econômica tradicional, que
objetivava o crescimento do país sem dar qualquer importância à exaustão dos recursos
naturais. Nos anos 80 e 90, houve as discussões sobre desenvolvimento sustentável
como a grande saída para compatibilizar crescimento e qualidade de vida. Hoje, reduzir
a geração de resíduos, reutilizar os produtos e materiais sempre que possível e reciclar o
lixo por meio da coleta seletiva são limites que todos os cidadãos deveriam adotar.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
5. Nos períodos abaixo, faça a retomada com o hiperônimo e pronome demonstrativo
adequados:
a) As bicicletas são frequentemente usadas pelos estudantes em Barão
Geraldo.___________________, além de fazer bem à saúde, não polui o ambiente.
b) A acerola tem altos índices de concentração de vitamina C. ______________ é
consumida, principalmente, em sucos.
e) Minha batedeira finalmente quebrou. Eu já tinha ______________ há mais de vinte
anos!
6. Sugira pelo menos dois hiperônimos adequados para completar os verbetes:
a) alicate ■ substantivo masculino. ___________________________ para segurar,
prender ou cortar determinados objetos, que se compõe de duas alavancas de ferro ou de
aço que giram em torno de um eixo e cujas extremidades, lisas ou serrilhadas, podem
ser chatas, recurvadas, cilíndricas ou em ponte.
114
b) hipertireoidismo ■ substantivo masculino. __________________________ em
decorrência da hiperatividade da glândula tireóide, que se manifesta por intensificação
da atividade metabólica do organismo, aumento do volume da tireóide, emagrecimento,
taquicardia e outros sintomas.
c) carnaval ■ substantivo masculino. ________________________ originado/a na
Antiguidade, recuperada pelo cristianismo; começava no dia de Reis (Epifania) e
acabava na Quarta-Feira de Cinzas, às vésperas da Quaresma.
d) cruzada ■ substantivo feminino. ________________________________ para
assegurar o domínio cristão sobre os locais sagrados da Palestina controlados pelos
muçulmanos.
e) angústia ■ substantivo feminino. _________________________________
determinado/a pela percepção de sinais, por antecipações mais ou menos concretas e
realistas, ou por representações gerais de perigo físico ou de ameaça psíquica.
f) constituição ■ substantivo feminino. ____________________________ que rege a
vida de uma nação, geralmente elaborado/a e votado/a por um congresso de
representantes do povo, e que regula as relações entre governantes e governados,
traçando limites entre os poderes e declarando os direitos e garantias individuais.
115
Produção de texto: resumo
Boas maneiras: por favor, leia este texto.
Desculpe a pergunta, mas onde ficam as boas maneiras no mundo de hoje?
por Luiz Weiss e Lúcia Helena de Oliveira
1. Uma pesquisa de opinião realizada em fins do ano passado junto a 2 mil entrevistados
do Rio de Janeiro e de São Paulo revelou que os brasileiros dessas duas capitais tendem
a guardar dentro de si um forte sentimento saudosista. De fato, muita gente parece
acreditar que se vivia melhor décadas atrás − e um dos motivos dessa suposta qualidade
superior de vida seria o bom trato então vigente entre as pessoas. "Hoje se convive com
o próximo na base da cotovelada", atestava o falecido ator Mário Lago, ecoando um
ponto de vista de tal forma compartilhado nos dias que correm, que dispensa pesquisas
sofisticadas para ser aferido.
2. Um advogado do diabo de maus bofes talvez se sentisse tentado a invocar a idade de
Lago para reduzir a pó seu diagnóstico a golpes desrespeitosos de "isso é coisa de
velho". Porém não é: brasileiras e brasileiros das mais diversas condições e idades, entre
uma cotovelada e outra, assinam embaixo da teoria segundo a qual, no turbilhão das
grandes cidades, não sobra cabeça, nem lugar, nem tempo, nem mesmo dinheiro, para
que se possa praticar como exercício diário o mandamento "respeitai-vos uns aos
outros". Não faltará quem se pergunte − na improvável hipótese de parar para pensar no
assunto − que serventia podem ter as chamadas boas maneiras no mundo atual.
3. Não seriam elas um anacronismo com cheiro de naftalina, algo como uma cartola ou
um par de anáguas na era do jeans e tênis? A própria expressão boas maneiras soa
maneirismos, ademanes, rapapés, salamaleques − em suma, frescuras de tempos idos,
com perdão da má palavra... Essa, porém, é apenas a primeira de uma longa lista de
confusões e mal-entendidos que desfiguram a questão e favorecem o mau
comportamento. É comum confundir boas maneiras e rituais de etiqueta − como se
tratar bem o próximo e saber qual o talher apropriado para comer peixe fossem
rigorosamente a mesma coisa. Na realidade, há muitas diferenças.
116
4. O que se chama etiqueta é um conjunto de cerimoniais surgido na Europa, há uns
cinco séculos, para pôr as pessoas nos seus devidos lugares, ou seja, para mostrar quem
era nobre e quem era plebeu. Já as boas maneiras são formas de agir que lubrificam o
convívio em sociedade ao permitir que as pessoas se entendam, independentemente de
quaisquer diferenças entre elas. Não foi por outra razão que se desenvolveram de mãos
dadas com o aumento do padrão cultural nos países industriais e no mesmo passo em
que se difundiu a ideia da igualdade de direitos entre os homens. Apesar disso, nada
mais frequente do que fazer das boas maneiras um sinalizador das diferenças sociais.
5. A professora de Filosofia Terezinha Azeredo Rios, da PUC de São Paulo, que
escreveu uma tese sobre o assunto, conta um episódio exemplar: "Certo dia, tomei um
táxi e pedi ao motorista que me levasse à faculdade. Começamos a conversar, e ele me
tratava por „você‟. Em dado momento, perguntou o que eu estava estudando. Pois bem:
a partir do momento em que respondi que não era aluna, mas professora, ele passou a
me chamar de „senhora‟. Isso é, o motorista em questão deve achar, como tanta gente,
que boa educação é algo que convém reservar a pessoas situadas em degraus mais altos
da escada social, como uma roupa que só se usa em ocasiões especiais.”
6. Confundidas como forma de servilismo (quando praticadas de baixo para cima) ou
como máscara da opressão (quando exercidas de cima para baixo), as pobres boas
maneiras acabaram impiedosamente arrastadas ao banco dos réus da revolução nos
costumes que explodiu nos anos 60. E ali, de cambulhada com hábitos arcaicos e de fato
inibidores da naturalidade nas relações humanas − como a secular obrigação imposta
aos filhos de só chamar o pai de senhor −, caíram também em desuso comportamentos
os mais inocentes e civilizados − como o homem abrir a porta de um carro para a
mulher −, acusados, por exemplo, de servir de disfarce hipócrita à dominação machista.
O resultado foi um breu geral.
7. "Traumatizadas pela ideia de repressão, as pessoas resolveram educar os filhos de
forma diferente da que foram educadas", observa a advogada e autora feminista Sílvia
Pimentel, de São Paulo. "Derrubaram-se padrões considerados repressores e muitas
vezes não se conseguiu colocar outros no lugar. Isso pode ter provocado certa baixa no
comportamento dos jovens." Num recente fim de tarde, uma dúzia de alunos de um
colégio progressista da zona oeste paulistana infernizava com seus gritos e cantorias a
vida dos passageiros do ônibus em que viajavam. E nem sequer tomaram conhecimento
117
do protesto de uma passageira que se levantou para reclamar que "depois de um dia de
trabalho, tenho o direito de ir para casa em silêncio".
8. Certamente não comete delito algum o cidadão que, ao sair para o trabalho, mal
encara o vizinho com quem divide o espaço no elevador. Afinal, adverte o antropólogo
José Guilherme Cantor Magnani, da USP, "não se pode esperar que, num edifício de
apartamentos, onde cada qual vive sua vida, as pessoas se tratem com o afeto e a
cordialidade de vizinhos de cidade do interior". Na realidade, o ato de ignorar o
companheiro de viagem na breve jornada de um décimo andar ao térreo costuma ser a
expressão literal de outra cegueira: o comportamento que consiste em não enxergar os
direitos dos companheiros de vida em sociedade.
9. De alguma forma, as boas maneiras abrem os olhos de cada um para o mundo em
volta − e para as pessoas que o habitam. Promovem a tolerância e previnem atritos,
como chumaços de algodão entre cristais: é sempre mais difícil agredir alguém a quem
se acabou de desejar bom dia ou pedir um favor − e a recíproca, naturalmente, é
verdadeira. Levadas às últimas consequências, boas maneiras salvam vidas − as
estatísticas de acidentes de trânsito no Brasil seriam, com certeza, menos sangrentas se
os motoristas cessassem de atropelar os direitos dos demais motoristas e, sobretudo, dos
pedestres. Ao contrário do que imaginavam os contestadores dos anos 60, os bons
modos, longe de serem modos disfarçados de dominar o próximo, funcionam a favor da
parte mais fraca numa situação de conflito.
10. O que se convencionou chamar qualidade de vida nas sociedades modernas depende
diretamente da prática habitual das boas maneiras, mesmo quando não envolvem
relações pessoa a pessoa. É maior a qualidade de vida onde as pessoas têm a boa
educação de não atirar objetos pela janela do carro − ou onde serão multadas se o
fizerem. Certa vez, o jornalista Zózimo Barroso do Amaral registrou em sua coluna no
Jornal do Brasil, com admiração, o caso de uma moça que se deu o trabalho de limpar o
cocô que seu cachorrinho tinha acabado de fazer no calçadão de Ipanema − algo que
deveria ser rotina e não notícia.
11. Ninguém deixa cascas de banana largadas no chão da sala de visitas. Fora de casa,
porém, é outra conversa; os outros que se danem, como dizem os mais grossos. "As
boas maneiras são prejudicadas quando as pessoas não consideram o que é coletivo,
118
público, também como seu e cuidam apenas do que é particular, exclusivo", diz a
socióloga Laura Tetti, da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo. "Para manter uma
praça limpa, você tem de mandar escrever nos cestos de lixo o lembrete „Cuide como se
fosse seu‟. Se é de todos, não se deve cuidar?"
12. Inimiga ainda maior das boas maneiras e, portanto, da coexistência pacífica em
sociedade é a esperteza − a atitude que parte do princípio de que, com bons modos, não
se consegue nada e termina no jeitinho de quem busca conseguir sempre alguma
vantagem sobre os demais. Esse modo de proceder obedece ao que se pode chamar de
Lei de Gérson, em alusão ao anúncio de uma marca de cigarros veiculado no final de
1976, no qual o meia-esquerda da seleção tricampeã mundial se vangloriava de “levar
vantagem em tudo”. Diga-se, em defesa de Gérson, que ele garante não agir assim na
vida real. “Tanto que, se a campanha tivesse a intenção que depois lhe atribuíram, eu
não teria participado dela”, afirma. Seja como for, o respeito ao outro sempre
desaparece quando, na busca da vantagem a qualquer preço, “tenta-se transformar
procedimentos imorais em algo moralmente correto e socialmente desejável”, nas
palavras do publicitário paulista Roberto Duailibi.
13. Mas é verdade, também, que a astúcia do jeitinho, o drible com que se quer passar
para trás os direitos do próximo, como a sagrada norma de que deve ser atendido
primeiro quem primeiro chegou, sempre existe. “É uma estratégia de sobrevivência
causada pela desigualdade de direitos entre as pessoas na vida diária”, define o cientista
social Paulo Sérgio Pinheiro, da USP. Certamente não faltarão motivos para explicar os
desrespeitos cotidianos às normas da convivência civilizada. No entanto, não adiantará
muito esperar que essas causas se evaporem para, só então, implantar o reino das boas
maneiras. É até uma questão de bom senso. A psicóloga Maria José Néri, do Centro de
Controle do Stress, de Campinas, nota que “quem tem o costume de revidar à falta de
boas maneiras dos outros acaba chegando em casa de noite com os nervos em
frangalhos”. E ensina: “Quem mantém a boa educação acaba levando vantagem”.
Obrigado pela atenção.
WEISS, Luiz; OLIVEIRA, Lúcia Helena de. Boas maneiras: por favor, leia este texto.
Superinteressante, São Paulo, n. 9, jun. 1988. Disponível em:
119
<http://super.abril.com.br/cotidiano/boas-maneiras-favor-leia-este-texto-
438635.shtml>. Acesso em: 15 dez. 2009 (texto adaptado)
120
Prática de escrita
O terceiro homem
Peter Norman, o branco solidário com o protesto negro – por Dorrit Harazim
1. Ele nunca mais conseguiu correr a prova dos 200 metros em apenas 20.06
segundos – só naquela Olimpíada de 1968, na Cidade do México. O tempo ficou a
apenas 0.64 segundos do recorde mundial que imortalizaria Michael Johnson trinta anos
depois. Ainda assim, a marca mais notável do atleta australiano Peter Norman não
foram os seus vinte segundos de
velocidade. Ele chegara ao México quase
anônimo, perdido entre outros 5.423
atletas de 112 países e a medalha que
conquistou na pista foi quase um acaso. A
marca pessoal que deixou, não.
2. A prova dos 200 metros fora
vencida pelo colosso americano Tommy
Smith, detentor de onze títulos mundiais
em corridas de curta distância e o bronze
ficara com John Carlos, também
americano, também negro e também aluno
do San Jose State College, da Califórnia.
O aguardado duelo milimétrico entre os
dois americanos simplesmente não
aconteceu, pois Smith desembestou nos
60 metros finais e não teve para mais ninguém – ergueu os braços, sorriu e acenou para
a plateia antes de rasgar a linha de chegada em 19.87 segundos. O compatriota Carlos,
que liderava a prova, desconcertou-se e abriu espaço para o australiano Norman
abiscoitar o segundo lugar.
3. O rasante de Smith causou assombro por ser a primeira vez que um bípede corria
os 200 metros em menos de vinte segundos. Arrebatamento semelhante em estádio
olímpico só ocorreria vinte anos depois, em Seul, na Coreia do Sul, quando o canadense
Ben Johnson ultrapassou a fronteira do possível e correu 100 metros rasos em 9.79
121
segundos. A marca de Johnson, no entanto, durou apenas algumas horas, até exames
provarem que ele correra dopado.
4. O espanto com o recorde mundial de Smith em 1968 durara menos ainda, pois
durou apenas o tempo de o trio vencedor subir ao pódio para receber as medalhas. O
que ocorreu ali − e foi captado por fotos que deram a volta ao mundo − virou uma
imagem recorrente dos anos 60: dois negros americanos de punho erguido, cabisbaixos
e descalços, em protesto contra o racismo. O que permaneceu nas sombras e adquiriu
relevância só no mês passado, com a morte, por enfarto, de Peter Norman, foi o papel
desempenhado pelo branquela naquele instante da História.
5. O protesto fora planejado pelos americanos ainda no campus da faculdade, na
Califórnia. Caso um deles conquistasse medalha, usaria o pódio como palco para
denunciar a desigualdade racial nos Estados Unidos. Assim, entraram juntos na saleta,
onde os vencedores aguardavam o momento de serem chamados para a premiação, e
foram cuidar do visual. Para espanto do australiano, que se esmerava em ajeitar a juba e
alisar o uniforme, Tommy Smith e John Carlos tiraram os tênis e calçaram meias pretas.
Contaram a Norman que fariam um protesto e explicaram que os pés descalços
simbolizavam os bolsões de pobreza negra dos Estados Unidos. Em seguida, Carlos
enfiou um colar de grãos e Smith amarrou um lenço preto no pescoço. Esclareceram que
os adereços eram referência aos negros linchados da história americana.
6. Norman a tudo ouvia, intrigado.
7. Faltando poucos minutos para serem chamados, os americanos se deram conta,
frustrados, de que Carlos esquecera de trazer o par de luvas negras, elemento essencial
do seu kit-protesto. Os parceiros tinham planejado erguer os punhos aos primeiros
acordes do hino nacional e, sem as luvas, o gesto perderia impacto. Foi então que o
australiano acordou: sugeriu que Smith e Carlos usassem, cada um em mãos diferentes,
apenas uma das luvas do par que restava. E fez mais. Pediu um dos adesivos de defesa
dos direitos humanos, que os americanos ostentavam, grudou-o no peito e declarou-se
pronto para subir ao pódio.
8. “Peter tornou-se meu irmão naquele instante”, diria Carlos anos depois. Não era
uma expressão retórica - seus filhos cresceram chamando de “Uncle Pete” o corredor
mirrado que vivia do outro lado do planeta. “Naquele momento crucial de nossas vidas,
Peter nos compreendeu”, disse Carlos. “O fato de um atleta branco subir ao pódio
122
olímpico com um adesivo a favor da igualdade racial deu outra dimensão a nosso
protesto.”
9. O público que lotava o Estádio Nacional não percebeu de imediato o que se
passava. Foi com o semblante carregado que os atletas acompanharam o içamento das
bandeiras. Aos primeiros acordes do hino nacional, Smith ainda pareceu entoar a letra.
Depois se calou e abaixou a cabeça. Começou, então, a erguer o braço direito enluvado,
em sincronia com o braço esquerdo de Carlos. A saudação black power tinha invadido
os Jogos Olímpicos.
10. “Aqueles dois caras subiram no metro quadrado de mundo que tinham
conquistado como atletas e deram seu recado sem jogar uma única pedra, sem dar um só
tiro, sem machucar ninguém”, relembraria Norman aos jornalistas que bateram à sua
porta no ano 2000, quando Sydney foi sede da XXIII edição dos Jogos. Estava então
com 58 anos, grisalho e tinha a saúde capenga. Não guardara ressentimento pelo dilúvio
de críticas que se abateu sobre o trio imediatamente após a cerimônia. Dilúvio
proporcional à raça de cada um.
11. Norman foi crucificado pela imprensa de seu país e recebeu reprimenda do
comitê olímpico australiano. Mas continuou apontando desigualdades onde quer que as
visse. “Aqui na Austrália, o tratamento que reservamos à nossa população indígena é
calamitoso”, dizia sempre, referindo-se aos aborígines, que adquiriram direito de voto
só em 1962 e passaram a ser incluídos no censo nacional somente cinco anos depois.
12. Para Smith e Carlos as consequências foram implacáveis e duradouras. De
imediato, o Comitê Olímpico Internacional, o COI, presidido pelo americano Avery
Brundage, proibiu que os dois velocistas tivessem outras participações (ambos estavam
escalados para integrar a equipe americana de revezamento) e exigiu a expulsão da
dupla da Vila Olímpica. O comitê olímpico americano não acatou as determinações. Na
manhã seguinte, o COI alertou que, se as exigências não fossem cumpridas, toda a
equipe americana de atletismo seria barrada das competições. Dessa vez, o recado foi
entendido.
13. Smith e Carlos retornaram aos Estados Unidos como párias, acusados de
introduzir a política no olimpismo e de querer destruir o tecido social de seu país. “Mas
qual país?”, perguntavam em uníssono. “A América branca diz que somos americanos
quando vencemos e que somos negros quando fazemos algo que julga errado.” Quanto à
123
contaminação dos Jogos pela política, ela já acontecera há bem mais tempo e por meio
de outros punhos: na Munique de 1936, todos os atletas alemães fizeram a saudação
nazista e ninguém reclamou.
14. Apesar dos ataques e do ostracismo, nem Carlos nem Smith mudaram de
posição. Quem mudou foi o curso da história. Às vésperas da Olimpíada de 1984, John
Carlos foi ressuscitado pelo Comitê Organizador dos Jogos de Los Angeles para
promover o esporte junto à juventude negra. Smith foi chamado a treinar uma equipe de
atletismo. Em 1999, a faculdade San Jose State, de onde ambos tinham saído três
décadas antes, inaugurou uma estátua comemorativa ao gesto dos ex-alunos. Como não
poderia haver inauguração sem a presença do terceiro homem, convidaram Norman.
15. No mês passado, coube aos velocistas negros fazer o percurso inverso – não
poderia haver funeral de Peter Norman sem a presença de Tommy Smith e John Carlos.
“O legado do pai de vocês é uma rocha”, disse Smith aos filhos do corredor na
cerimônia em Melbourne. “Não desçam dessa rocha.”
16. Referia-se aos tempos em que a dimensão de um atleta não se reduzia ao
tamanho de sua fortuna nem a de seus contratos publicitários. Tempos em que era
possível ser grande sem ser celebridade. Até hoje, a marca de 20.06 segundos obtida
pelo australiano em 1968 não foi superada por nenhum atleta de seu país.
[revista Piauí, número 2, novembro de 2006.]
Roteiro de leitura
1. Utilize a tabela a seguir para sintetizar a estrutura do artigo “O terceiro homem”, de
Dorrit Harazim.
Projeto de texto – “O terceiro homem”
Parte
Parágrafo(s) Síntese do conteúdo
1ª parte
2ª parte
124
3ª parte
4ª parte
5ª parte
6ª parte
7ª parte
8ª parte
2. Qual a função principal do 1º parágrafo?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
3. Explique qual o motivo do uso do pretérito mais-que-perfeito no verbo “chegar”,
marcado no 1º parágrafo.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4. Quais as principais informações apresentadas no 2º parágrafo?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
125
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
5. O terceiro e o quarto parágrafos tratam de dois tipos de assombro causados pela
vitória dos atletas americanos. Explique sumariamente os dois motivos pelos quais a
plateia da corrida espantou-se.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
6. A que se refere o termo “ali”, marcado no 4º parágrafo?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
7. Para enfatizar os efeitos das ações dos atletas americanos na Olimpíada de 1968, o
autor do texto as compara com exemplos de acontecimentos esportivos mais recentes.
Exponha esse paralelo.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
8. No quarto parágrafo, lê-se: “O que permaneceu nas sombras e adquiriu relevância só
no mês passado, com a morte, por enfarto, de Peter Norman, foi o papel desempenhado
pelo branquela naquele instante da História”. De acordo com os parágrafos seguintes,
qual foi o papel desempenhado por Norman?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
126
Prática de escrita
Ó, desprezíveis solteironas!
Hoje sinônimo de independência, ser solteira foi uma situação incompreendida e ridicularizada
durante séculos
Cláudia de Jesus Maia
1. Quem de nós, acima dos 20
anos, não teve ou tem na família
uma recatada “tia velha”? Não é
difícil identificá-las. Zelosas da
educação dos sobrinhos, vigilantes
da moral da família, são filhas, mas
não esposas. Irmãs ou tias, mas
raramente mães. Chegam aos 35
anos sem se casarem, seja por falta
de pretendentes, por pressão familiar
ou por escolha deliberada. No
imaginário coletivo, diz-se que
“ficaram para titia”. E atribuem-se a
elas as piores características:
megeras, amargas, invejosas, inúteis, frustradas.
2. Esses estereótipos envolvendo a “solteirona” vêm de longe. A palavra spinster
(“solteirona”) dá uma pista sobre a principal causa da desvalorização das mulheres
solteiras na Inglaterra do século XVIII. O termo foi usado pela primeira vez em 1719,
na edição inaugural de um jornal chamado exatamente The Spinster. Sob o pseudônimo
127
de Rachel Woolpack, uma articulista afirmava que, em sua origem, a palavra não era
depreciativa. Referia-se “à louvável „atividade das mulheres obreiras‟” e significava,
literalmente, “fiandeira”, como sugere Ian Watt em seu livro A ascensão do romance:
estudos sobre Defoe, Richardson e Fielding.
3. Mas, àquela altura, com o desenvolvimento da manufatura têxtil, as solteiras
inglesas viam diminuída a sua importância nas atividades caseiras de fiar e tecer.
Enquanto as casadas iam viver à custa do marido, as solteironas se viram “inúteis
dependentes de alguém” ou obrigadas a trabalhar fora por baixos salários. Viria daí o
sentido pejorativo que ganharam as spinsters.
4. A literatura oferecia fartas caricaturas de solteironas. “Considera-se agora a
solteirona como uma maldição que nenhuma fúria poética consegue superar”,
bombardeava o inglês Richard Allestree no livro The ladies’ calling (algo como “O
chamado das mulheres”), de 1673. Em outras (terríveis) palavras, elas eram “a mais
calamitosa criatura da natureza”.
5. Na França, ganharam outro nome, também nada lisonjeiro: vieille fille
(literalmente, “filha velha”). E apareciam já na literatura clássica do século XVII, em
autores como Thomas Corneille, La Fontaine e Molière, embora de forma superficial e
como personagens secundários.
6. Com as transformações do século XIX, a “decadência” social das mulheres
celibatárias torna-se irreversível. Os processos de urbanização e industrialização
levaram as moças a entrar de forma mais efetiva no mercado de trabalho. Ao mesmo
tempo, diminuía a influência da Igreja, e, assim, essas mulheres – que antes tinham
como destino certo o convento – ficaram restritas ao ambiente doméstico, precisando
contribuir para as finanças do lar. Restava às jovens burguesas dedicarem-se a
atividades como governanta e professora, mais aceitáveis para a sua condição social. As
mais pobres engajavam-se também nas atividades de vendedoras dos grandes
magazines, funcionárias dos correios, enfermeiras ou empregadas domésticas.
7. Como antes, a produção literária acompanhava e alimentava o folclore em torno
das solteironas. A diferença é que, no século XIX, os autores se preocupavam em
aplicar princípios psicológicos no estudo da sociedade, o que ampliou o número de
personagens da vieille fille, diversificou e aprofundou seus tipos. Muitas delas eram
heroínas, vítimas necessárias de uma “seleção natural” e das circunstâncias.
Personagens mais complexas surgiram das penas de Balzac e do grande historiador
francês Jules Michelet, por exemplo.
128
8. Nada que as redimisse. Fatores como a migração masculina, as guerras e os
altos custos do matrimônio faziam aumentar, na Europa, o número de moças que não
conseguiam encontrar marido, principalmente as instruídas da classe média. Elas
passaram a alimentar um verdadeiro exército de preceptoras e governantas. Muitas iam
buscar trabalho em outros países, como Maria Frieda Kruger Mancini, professora alemã
altamente instruída, com 25 anos de prática de ensino, que veio para o Brasil. Em 1905,
ela anunciava no jornal O Jequitinhonha, de Diamantina (MG), a abertura de cursos de
português, francês, inglês, alemão e italiano, além de lições de piano.
9. No imaginário brasileiro, as mulheres solteiras já mereciam atenção desde os
tempos da Colônia. Segundo o historiador Ronaldo Vainfas, as expressões mais usadas
para nomeá-las eram “celibatárias” – “mulher que aspirava a casar-se ou que optara pela
castidade sem ingressar em religião” – e “mulher solteira” – “mulher que nunca se
casou”, “mulher que não tem marido”, “mulher pública”, quase sinônimo de meretriz,
embora sem a conotação profissional.
10. Mas a idéia de “solteirona” surgiria com maior força somente no final do
século XIX, quando as brasileiras também passam a ocupar de forma mais efetiva o
mundo do trabalho remunerado, espaço até então predominantemente masculino.
Avançavam os setores de prestação de serviços, comércio e burocracia, abrindo
possibilidades de emprego para secretárias, funcionárias públicas, enfermeiras,
vendedoras, datilógrafas, farmacêuticas, assistentes sociais. A partir da década de 1920,
a oportunidade de ingresso em cursos superiores oferecia para as mulheres as carreiras
de médica, advogada, engenheira, promotora e professora.
11. Motivo de orgulho feminino? Naquela época, não. Como ocorreu na Europa, o
estereótipo da solteirona infeliz e frustrada começou a se expandir. Afinal, marido e
filhos eram elementos obrigatórios para o ideal de realização da mulher. Um ideal não
só culturalmente recomendado, mas também garantido por lei. O primeiro Código Civil
brasileiro, que entrou em vigor em 1917, definia o casamento como um contrato feito
entre “indivíduos livres” e baseado em obrigações mútuas: o marido tinha por
incumbência sustentar e proteger a esposa; esta, por sua vez, devia-lhe obediência.
Desposada, a mulher se tornava juridicamente incapaz e só poderia seguir uma carreira
profissional com a autorização do marido.
12. Havia quem julgasse o casamento e o trabalho feminino atividades
incompatíveis. O estado de Santa Catarina chegou a criar uma lei determinando que
toda professora que viesse a se casar perderia o emprego. E não foi uma iniciativa
129
isolada. “Deve a professora casar e continuar no exercício do cargo? Acho que não. O
magistério primário, quando bem compreendido na sua alta missão social e exercido
com a convicção profissional de um sacerdócio, exige renúncias de quem o professa.
Uma delas, a meu ver, é o matrimônio (...) – o casamento é um entrave ao
desenvolvimento cabal das obrigações que o professorado exige da mulher”, defendia
um artigo da revista Semana Ilustrada, de 1928, a favor da adoção de uma lei
semelhante em Belo Horizonte.
13. As artes também contribuíram para a difusão da imagem da solteirona. Ao
longo do século XX, diversos escritores se dedicaram a essa personagem. Marques
Rebelo, em Oscarina (1931), criou Tia Almira, uma criatura rancorosa e desprezível.
Ondina Ferreira deu vida à Tia Carlota e à Tia Zulmira, em Enganoso é o Coração
(1959), e à casta e rígida Ágata, em Chão de Espinho (1955). Em A Primeira Pedra
(1953), Heloneida Studart criou Olímpia, uma quarentona que trabalhava no escritório
de uma empresa americana. Jorge Amado também teve suas solteironas, como as irmãs
Reis, de Gabriela, Cravo e Canela (1960); a Carmosina, simpática funcionária dos
correios, e a beata Cinira, que tinha arrepios sempre que via um homem sem camisa,
ambas de Tieta do Agreste (1977). Ainda mais populares foram as fofoqueiras irmãs
Cajazeiras, criadas por Dias Gomes para a peça teatral “O Bem-Amado”, nos anos
1960, e depois difundidas por todo o país na novela de mesmo nome (1973).
14. Mas, antes que as solteironas se tornassem fenômeno televisivo, duas figuras
bastante conhecidas, e de certa forma contraditórias, se destacaram na literatura
brasileira: a bondosa Clotilde, criação de Maria José Dupré, em Éramos Seis, e a
independente professora Conceição, personagem de Rachel de Queiroz em O Quinze.
15. Publicado originalmente em 1943, o romance da Sra. Dupré foi leitura
obrigatória para toda uma geração. Dois anos depois, já estava em sua quinta edição.
Posteriormente, foi publicado na série “Vaga-lume”, destinada ao público juvenil, e
transformado em novela televisiva, exibida pelo SBT na década de 1990. Narrada pela
protagonista Lola, a história se passa em São Paulo entre os anos de 1914 e 1942.
Clotilde, personagem secundária, é descrita como uma mulher religiosa, prendada,
corajosa, cheia de iniciativas, mas que vive em função da mãe doente, das irmãs casadas
e dos sobrinhos. A personagem é contraposta à irmã Lola, que tem “tudo”: casa própria,
marido e quatro filhos. Clotilde não tem nada, mas não é uma “inútil dependente”. Ela
sobrevive de seus próprios recursos como doceira. A personagem parece ter nascido
para celibatária, pois não há, no romance, nada que justifique sua solteirice. Clotilde é a
130
solteirona funcional da família brasileira, aquela que foi “reservada” para cuidar dos
sobrinhos e dos pais idosos.
16. Já Conceição não se enquadra no perfil da solteirona tradicional. Até porque
era uma personagem de Rachel de Queiroz. Filha de uma família da aristocracia rural
nordestina, a autora causava polêmica por suas posições políticas e por um feminismo
avant la lettre. Lançou O Quinze aos 19 anos (1931), com enorme repercussão nacional.
Em seus romances, figuram as personagens femininas mais radicais da época, como a
própria Conceição, que “dizia alegremente que nascera solteirona”. Como tantas
mulheres daquele período, era uma professora que vivia na cidade e, embora
pertencesse a uma família tradicional do sertão, sobrevivia com seus próprios recursos.
Alegre, bonita, benevolente, inteligente e culta, interessava-se por assuntos como
feminismo e socialismo. Pelas leituras que fazia, por sua formação escolar e
profissional, pela “liberdade” e autonomia financeira de que desfrutava, Conceição era
exigente na avaliação dos pretendentes a marido. “Nunca achei quem valesse a pena”,
repetia sempre. O celibato foi sua escolha, como uma forma de assegurar a liberdade.
17. Mulheres como a professora instruída e emancipada de Rachel de Queiroz, ao
contrário da tia funcional Clotilde, eram vistas como um obstáculo ao sucesso e à plena
vigência dos modelos desejados de mãe/esposa/dona-de-casa. As solteironas eram um
elemento desestabilizador. Não só recusavam os papéis destinados a elas, mas
transitavam livremente pelos espaços de trabalho, governando suas vidas e seus
próprios bens. Por isso, eram retratadas como indesejáveis: incapazes de se converter na
“verdadeira mulher”, “ficaram para tia”, “torceram a natureza”, viraram “facão”. Era
principalmente para estas que se dirigiam os discursos de médicos, literatos, advogados
e religiosos, definindo a solteirona como ser desprezível, de quem se devia ter, no
máximo, misericórdia.
18. As pressões feministas a partir dos anos 1960 tornaram o casamento mais
igualitário. Duas leis contribuíram bastante para isso: o Estatuto da Mulher Casada
(1962) e a Lei do Divórcio (1977). A primeira aboliu da legislação o artigo que
afirmava a incapacidade da esposa perante a Justiça, estabelecendo, entre outras coisas,
o princípio do livre exercício de profissão. A segunda permitia o fim da sociedade
conjugal. A Revolução Sexual, também nos anos 1960, criou condições para que as
mulheres aos poucos se libertassem da rigidez de valores como a virgindade e a
castidade. Por fim, a criação da pílula anticoncepcional possibilitou a prática sexual fora
do casamento sem o risco de uma gravidez.
131
19. Nessas condições, a imagem da solteirona começava finalmente a perder sua
razão de ser. Ao contrário do que ocorreu com nossas mães e tias, o casamento e a
maternidade estão deixando de ser o principal projeto de vida da mulher. Se, antes, o
sinônimo de felicidade e de realização pessoal era encontrar um bom marido, ter uma
casa confortável e filhos bonitos e educados, hoje, grande parte das mulheres deseja e dá
prioridadade à formação escolar, à carreira profissional e à vivência de variadas
experiências. Marido e filhos aparecem em segundo plano, e, em certos casos, há
mesmo uma rejeição à vida conjugal. As estatísticas têm mostrado que, cada vez mais,
as brasileiras se casam mais tarde e muitas sequer desejam ter filhos.
20. O próprio mercado já percebeu um bom filão nessa mudança de
comportamento. Construtoras investem em prédios de apartamentos menores com
serviços especializados. Supermercados apostam em porções e pratos individuais.
Agências de turismo montam pacotes para viajantes solitários. Foi criado até o “Dia do
Solteiro”, 15 de agosto. Em 2007, as propagandas, os jornais e cartões comemorativos
anunciaram que a data seria dedicada a se “badalar” e celebrar a solteirice.
21. A solteirona de hoje pode ser “bonitona e gostosona”, como diz a música de
uma famosa dupla sertaneja, a moça independente das piadas, que se recusa a ter
marido, a mulher livre que pode “ficar com quem quiser”, sem nenhum
constrangimento. Ao contrário de outras épocas, muitas mulheres – como fez a
precursora professora Conceição, de Raquel de Queiroz – assumem orgulhosamente a
condição de solteironas. Com o tempo, a recatada “tia velha” será apenas uma foto
desbotada na parede...
Cláudia de Jesus Maia é professora da Universidade Estadual de Montes Claros e autora
da tese A invenção da solteirona: conjugalidade moderna e terror moral – Minas
Gerais 1890-1948 (UNB, 2007).
132
Prática de escrita
“Do costume de comer carne”26
Norbert Elias
1. Embora os fenômenos humanos – sejam atitudes, desejos ou produtos da ação
do homem – possam ser examinados em si, independentemente de suas ligações com a
vida social, eles, por natureza, nada mais são do que concretizações de relações e
comportamento, materializações da vida social e mental. Isso se aplica à fala, que nada
mais é que relações humanas transformadas em som, e também à arte, ciência,
economia e política, e não menos a fenômenos que se classificam como importantes em
nossa escala de valores e a outros que nos parecem triviais e insignificantes. Não raro,
são exatamente esses últimos, os fenômenos triviais, que nos dão introvisões claras e
simples da estrutura e desenvolvimento da psique e suas relações, que nos eram negadas
pelos primeiros. As atitudes do homem em relação ao consumo de carne, por exemplo,
são muito esclarecedoras no tocante à dinâmica das relações humanas e às estruturas da
personalidade.
2. Na Idade Média, as pessoas oscilam entre pelo menos três conjuntos de
comportamento no tocante à carne. Aqui, como em centenas de outros fenômenos,
notamos a extrema diversidade de comportamento característico da sociedade medieval,
em comparação com sua equivalente moderna. A estrutura social do medievo admite
bem pouco a difusão de modelos desenvolvidos em um centro social específico, pela
sociedade como um todo. Certos tipos de comportamento predominam por vezes no
seio de uma dada classe social por todo o Mundo Ocidental, ao passo que, em uma
diferente classe ou estamento3, o comportamento difere muito. Por essa razão, as
diferenças comportamentais entre classes distintas na mesma região são, muitas vezes,
mais acentuadas do que as existentes entre representantes regionalmente separados da
mesma classe social. E, se os tipos de comportamento passam de uma classe a outra, o
que decerto ocorre, o que mais os altera, radicalmente mesmo, é o isolamento maior ou
menor entre elas.
3. A relação com o consumo de carne oscila no mundo medieval entre os dois
pólos seguintes: por um lado, na classe alta secular, o consumo de carne é muito alto, se
26
ELIAS, Norbert. “Do costume de comer carne”. In: O processo Civilizador. Civilização como transformação do comportamento. São Paulo: Jorge Zahar, 1994. pp124-129.
133
comparado com o padrão de nossos tempos. Prevalece a tendência de devorar
quantidades de carne que nos parecem fantásticas. Por outro, nos mosteiros, predomina
a abstenção ascética de toda carne, abstenção essa que resulta de auto-renúncia e não de
carência e é, amiúde, acompanhada de radical depreciação ou restrição à ingestão de
alimentos. Desses círculos partem manifestações de forte aversão à “glutonaria” de
leigos da classe alta.
4. O consumo de carne pela classe mais baixa, os camponeses, é também com
frequência muito limitado – não por necessidade espiritual ou por renúncia voluntária
por causa de Deus ou do além, mas por mera escassez. O gado é caro e, por isso mesmo,
destinado durante longo período apenas às mesas dos dominantes. “Se o camponês
criava gado”, dizia-se, “era principalmente para os privilegiados, a nobreza e os
burgueses”, não esquecendo os religiosos, que variavam do ascetismo a,
aproximadamente, o mesmo comportamento da classe alta secular. São limitados os
dados exatos sobre o consumo da carne pelas classes altas da Idade Média e no início da
era moderna. Havia, sem dúvida, grandes diferenças entre os cavaleiros e os grandes
senhores feudais. Com frequência, o padrão de vida dos cavaleiros mal se diferenciava
daquele em que viviam os camponeses.
5. Um cálculo do uso da carne de vaca em uma corte do norte da Alemanha em
data relativamente recente, o século XVII, indica um consumo de cerca de um quilo de
carne per capita ao dia, além de grandes quantidades de carne de caça, aves e peixes. As
especiarias desempenham papel importante, e as verduras, muito secundário. Outras
informações apontam mais ou menos na mesma direção. Mas o assunto precisa ainda
ser investigado em detalhe.
6. Já outra mudança pode ser documentada com mais exatidão. A maneira como a
carne era servida mudou consideravelmente da Idade Média até a época atual. É das
mais instrutivas a curva dessa mudança. Na casse alta medieval, o animal morto ou
grandes partes dele eram trazidos para a mesa. Não só peixes e aves inteiras, às vezes
com penas, mas, também, coelhos, cordeiros e quartos de veado aparecem na mesa, para
não mencionar pedaços maiores de carne de caça, porcos e bois assados no espeto.
7. O animal é trinchado à mesa. Esse é o motivo porque livros sobre boas
maneiras repetem, até o século XVII e, às vezes, até no século XVIII, que é importante
que o homem educado saiba trinchar bem. “Discenda a primis statim annis secandi
ratio...” (A maneira correta de trinchar deve ser ensinada desde os primeiros anos), diz
Erasmo em 1530.
134
8. Quando servindo, instrui Courtin, em 1672,
a pessoa deve sempre dar a outrem a melhor porção e conservar para si a
menor, e em nada tocar, exceto com o garfo.Esse é o motivo por que, se uma
pessoa de alta categoria lhe pede algo que está à sua frente, é importante que
você saiba como cortar a carne com elegância e método e identificar os
melhores pedaços, a fim de poder servi-la com civilidade. A maneira de cortar
não é ensinada aqui, uma vez que se trata de assunto sobre o qual foram escritos
livros especializados, nos quais todas as peças são retratadas a fim de mostrar
onde a carne deve ser inicialmente segurada com um garfo para cortá-la, pois,
como dissemos acima, a carne nunca deve ser tocada (...) pela mão, nem
mesmo quando se a come; em seguida, onde a faca deve ser colocada para cortar
a carne; que pedaço deve ser separado inicialmente (...) qual o melhor pedaço e
o pedaço de honra que deve ser servido à pessoa de mais alta categoria presente.
É fácil aprender a trinchar depois de a pessoa ter frequentado três ou quatro
vezes uma boa mesa, e por essa razão não é vergonha pedir desculpa e deixar a
outrem a tarefa que não podemos realizar.
9. O equivalente alemão, o New vermehertes Trincier-Büchlein (Novo e ampliado
manual de trinchamento), impresso em Rintelen, em 1650, diz:
Uma vez que o cargo de trinchador em uma corte principesca não é
considerado o mais baixo, mas figura entre os mais respeitados, a pessoa que o
exerce deve, por conseguinte, ser ou da nobreza ou de outra boa origem, de
corpo espigado em bem proporcionado, bons e fortes braços e mãos ágeis. Em
todos os trinchos públicos, ela deve abster-se (...) de grandes movimentos e de
cerimônias inúteis e tolas (...) e tomar todo cuidado para não ficar nervosa, de
modo a não trazer desonra a si mesma por tremor do corpo e das mãos e porque,
de qualquer maneira, isso não cabe em mesas principescas.
10. O trincho e a distribuição da carne são honras especiais. A tarefa cabe em
especial ao dono da casa ou a hóspedes ilustres, a quem ele solicita que realize o
trabalho. “Os jovens e os de classe inferior não devem interferir no ato de servir, mas
135
apenas aceitar o que lhes for entregue na sua vez”, diz a Civilité française anônima, de
1714.
11. No século XVII, o trincho da carne deixa gradualmente de ser, na aristocracia
francesa, uma perícia indispensável ao homem do mundo, tal como a caça, a esgrima e a
dança. O trecho citado de Courtin indica esse fato.
12. O fato de desaparecer gradualmente o costume de colocar na mesa grandes
pedaços de animal para serem trinchados liga-se a muitos fatores. Um dos mais
importantes talvez seja a redução gradual do tamanho da unidade familiar; como parte
do movimento de famílias mais numerosas para famílias menores; em seguida, ocorre a
transferência de atividades de produção e processamento, como fiação, tecelagem e
abate de animais, da casa para especialistas, artesãos, mercadores e fabricantes, que as
desempenham profissionalmente, enquanto a família torna-se basicamente uma unidade
de consumo.
13. Nesse caso, também, a tendência psicológica acompanha um processo social
mais amplo: hoje causaria repugnância a muitas pessoas se elas ou outras tivessem que
trinchar meio novilho ou um porco à mesa ou cortar a carne de um faisão ainda
adornado com suas penas.
14. Há mesmo des gens si délicats (pessoas tão delicadas) – pra repetir a frase de
Courtin com referência a um processo correlato –, para quem a visita de açougues, com
o corpo de animais mortos expostos, é sumamente desagradável, e outras que, por
sentimentos mais ou menos racionalmente disfarçados de nojo, se recusam
terminantemente a comer carne. Mas essas são novidades no patamar de repugnância
que ultrapassam o padrão de sociedade civilizada do século XX e, por isso mesmo, são
consideradas “anormais”. Não obstante, não podemos ignorar que foram progressos
desse tipo (se coincidiram com a direção do desenvolvimento social mais amplo) que
deram origem, no passado, a mudanças de padrão e que esse avanço específico no
patamar da repugnância encaminha-se na mesma direção seguida até então.
15. Essa direção é bem clara. A partir de um padrão de sentimento segundo o qual
a vista e o trincho de um animal morto à mesa eram coisas realmente agradáveis, ou
pelo menos não desagradáveis, o desenvolvimento levou a outro padrão pelo qual a
lembrança de que o prato de carne tem algo a ver com o sacrifício do animal é evitada a
todo custo. Em muitos dos nossos pratos de carne, a forma do animal é tão disfarçada e
alterada pela arte de sua preparação e trincho que, quando a comemos, quase não nos
lembramos de sua origem.
136
16. Será mostrado que as pessoas, no curso do processo civilizatório, procuram
suprimir em si mesmas todas as características que julgam “animais”. De igual maneira,
suprimem suas características em seus alimentos.
17. Nessa área, igualmente, o desenvolvimento é tampouco uniforme em toda
parte. Na Inglaterra, por exemplo, onde muitos aspectos da vida as formas mis antigas
são mais preservadas do que no continente europeu, o ato de servir grandes pedaços de
carne (e com eles a tarefa, que cabe ao dono da casa, de trinchá-la e servi-la) sobrevive
sob a forma do “quarto”, com osso e tudo em maior extensão do que na sociedade
urbana da Alemanha e França. Não obstante, inteiramente à parte o fato de que o quarto
é em si uma forma muito reduzida da colocação na mesa de grandes pedaços de carne,
não deixou de haver reações a ele que assinalam o avanço do patamar da repugnância. A
adoção do “sistema russo” de maneiras à mesa na sociedade, em meados do último
século, foi um movimento nessa direção. “Nossos maiores agradecimentos ao novo
sistema”, diz um livro inglês sobre boas maneiras, The Habits of Good Society (1859),
“são merecidos por ter ele banido aquele barbarismo insuportável – o quarto de boi.
Coisa alguma pode fazer com que um quarto de boi pareça elegante, ao mesmo tempo
em que oculta o dono da casa e o condena ao sofrimento do trincho (...) A verdade é
que, a menos que nosso apetite seja muito voraz, a vista de tanta carne cheirando mal
em seu molho é suficiente para destruí-lo inteiramente, e um enorme quarto de animal
parece escolhido sob medida para repugnar o epicurista. Se absolutamente consumidos,
os quartos devem ser postos em uma mesa lateral, onde ficarão longe da vista” (p.314).
18. A tendência cada vez mais forte de remover o desagradável da vista aplica-se,
com raras exceções, ao trincho do animal inteiro.
19. O ato de trinchar, conforme demonstram os exemplos, outrora constituiu parte
importante da vida social da classe alta. Depois, o espetáculo passou a ser julgado
crescentemente repugnante. O trincho em si não desaparece, uma vez que o animal,
claro, tem que ser cortado antes de ser comido. O repugnante, porém, é removido para o
fundo da vida social. Especialistas cuidam disso no açougue ou na cozinha.
Repetidamente iremos ver como é característico de todo o processo que chamamos de
civilização esse movimento de segregação, esse ocultamento “para longe da vista”
daquilo que se tornou repugnante. A curva que decorre do trincho de grande parte do
animal ou do animal inteiro, passando pelo avanço do patamar da repugnância à vista
dos animais mortos, para a transferência do trincho a enclaves especializados por trás
das cenas, constitui uma típica curva civilizadora.
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20. Resta a ser investigado até que ponto processos parecidos são subjacentes a
fenômenos semelhantes em outras sociedades. Na antiga civilização chinesa, mais que
em qualquer outra, o ocultamento do ato de trinchar por trás das cenas foi efetuado mais
cedo e mais radicalmente do que no Ocidente. Na China, o processo é levado tão longe
que se trincha e corta toda carne em um lugar inteiramente reservado, e a faca é
completamente banida do uso à mesa.