Apostila Historia Filosofia Chinesa 2009

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    Humaniversidade Holstica

    Histria e Filosofia Chinesa

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    ndice

    Matria Paginas:

    Histria e Filosofia Chinesa_________________________________________________

    Os Trigramas____________________________________________________________Histria das Medicinas____________________________________________________1.Era Pr-histrica na China_________________________________________________2.Antiguidade (4000 a.C. a 476 d.C.)___________________________________________3.Idade Mdia (476 -1453 d.C.)_______________________________________________4.Idade Moderna (1453 -1789)________________________________________________5.Idade Contempornea (1789 at os dias atuais)________________________________6.A identidade do terapeuta atual_____________________________________________7.A busca de uma nova identidade____________________________________________

    8.Referncias Bibliogrficas_________________________________________________

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    Histria e Filosofia Chinesa

    Os Trigramas

    Os oito trigramas - os smbolos formados por trs linhas - so os componentes bsicos doshexagramas. a partir de seus atributos que se deduzem o sentido e os diferentes significados de cada umdos 64 hexagramas.

    Os trigramas no so considerados apenas para traduzir o contedo dos hexagramas. Os mestreschineses so hbeis para compreender os ciclos e deduzir seus aconselhamentos a partir de diferentesdistribuies circulares dos oito trigramas.

    Nomes e alguns exemplos de atributos de cada trigrama.

    Cu. Criador, forte. espacial, invisvel e ilimitado.Representa o pai. Parte do corpo: cabea. Smbolo animal: cavalo.Terra. Receptivo, malevel, dedicado. formal, visvel e limitado.Representa a me. Parte do corpo: ventre. Animal: Vaca.Montanha. Quietude. o concreto, o slido e a acumulao slida.Representa o filho mais novo. Parte do corpo: mo. Animal: Co.Lago. Alegria, jovialidade. a incgnita, a acumulao liquida.Representa a filha mais nova. Parte do corpo: boca. Animal: carneiro.Trovo. O que desperta e movimenta. Desperta o mundo interior.Representa o folho mais velho. Parte do corpo: p. Animal: drago.Vento. Madeira, suave, penetrante. Desperta o movimento exterior.Representa a filha mais velha. Parte do corpo: coxa. Animal: galo.

    Fogo. Sol. Luminoso, aderente. o impulso ascendente.Represente a filha do meio. Parte do corpo: olho. Animal: faiso.gua. Nuvens, abismo, perigo. o impulso descendente.Representa o filho do meio. Parte do corpo: ouvido. Animal: porco.

    Histria das Medicinas(Cronologia de fatos histricos da Medicina Oriental e Ocidental)

    1. Era Pr-histrica na ChinaSegundo a tradio lendria, na poca pr-histrica por volta de 6000 a.C., o imperador Fu Hsi

    formulou os oito trigramas e os primeiros smbolos das duas maiores foras do universo: a dualidade

    conhecida como Yin e Yang (Cher, 2002).

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    Mas indcios dos primeiros trigramas so mais remotos. H certas pedras (seixos) que podem serdatadas entre 50.000 e 40.000 anos a.C. Foram descobertas na China em camadas geolgicas, que foramdatadas com exatido. Estes seixos apresentam trs linhas: geralmente duas linhas contnuas e uma linhaquebrada. No tm origem natural, foram trabalhadas manualmente sendo denominadas trigramas.

    1.1 Cronologia das dinastias chinesasPerodo: Paleoltico (ca. 1.700.000 a 8.000 a.C.)

    Cultura e dinastia: Homem de PequimDurao (em anos): ca. 500 000 a.C.

    Perodo: Neoltico (ca. 8.000 a 2.000 anos a.C.)(Culturas Pr-dinsticas)

    Cultura e dinastia: Yangshao (Centro-norte)Durao (em anos): ca. 5000 a 3000 a.C.

    Cultura e dinastia: Hongshan (Nordeste)Durao (em anos): ca. 3600 a 2000 a.C.

    Cultura e dinastia: Liangzhu (Sudeste)Durao (em anos): ca. 3600 a 2000 a.C.

    Cultura e dinastia: Longshan (Leste)Durao (em anos): ca. 3000 a 1700 a.C.

    Perodo: Dinastias Antigas (ca. 2100 a 220 anos a.C.)Cultura e dinastia: Xia (perodo da sociedade escravista)

    Durao (em anos): ca. 2100 a 1600 a.C.

    Cultura e dinastia: Chang (perodo da sociedade escravista - a tcnica de fundir o bronze j era bemavanada)

    Durao (em anos): ca. 1600 a 1100 a.C.

    Cultura e dinastia: ZhouDurao (em anos): ca. 1100 a 256 a.C.

    Cultura e dinastia: Zhou do OesteDurao (em anos): 1100 a 771 a.C.

    Cultura e dinastia: Zhou do Leste (Perodo da Primavera e Outono) (perodo de transio da sociedadeescravista para a feudal - surgiu tcnica de produo de ao)

    Durao (em anos): 770 a 256 a.C. 770 a 476 a.C

    600 a 500 a.C. - surgimento do Taosmo por Lao Tse (" o velho mestre") e Chuang-tzu (369 a.C. a286 a.C.) seu maior divulgador;

    551 a 479 a.C. - poca do Filsofo Ch'iu K'ung (Confcio)Cultura e dinastia: O perodo dos Reinos CombatentesDurao (em anos): 471 a 221 a.C.

    Perodo: China Dinstica (221 a.C. a 1911 d.C.)Cultura e dinastia: Dinastia CH'INDurao (em anos): 221 a 207 a.C.

    Cultura e dinastia: Dinastia HAN (Han do Oeste/Han do Leste)Durao (em anos): 206 a.C. a 220 d.C. (206 a.C. a 24 d.C./25 a 220 d.C.)

    Cultura e dinastia: Perodo de Desunio/Perodo de Trs ReinosDurao (em anos): 220 a 589/220 a 280

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    Cultura e dinastia: JIN do Oeste/JIN do LesteDurao (em anos): 265 a 316/317 a 420

    Cultura e dinastia: Dinastias do Sul (Song/Qi/Liang/Chen)Durao (em anos): 420 a 589

    Cultura e dinastia: Dinastias do Norte (Wei do Norte/Wei do Leste/Qi do Norte/Zhou do Norte)

    Durao (em anos): 386 a 581

    Cultura e dinastia: SUI (Dinastias do Norte)Durao (em anos): 581 a 618

    Cultura e dinastia: TANG (dinastias do Norte)Durao (em anos): 618 a 907

    Cultura e dinastia: Cinco DinastiasDurao (em anos): 907 a 960

    Cultura e dinastia: Song/Song do Norte/Song do Sul (Cinco Dinastias)Durao (em anos): 960 a 1279/960 a 1127/1127 a 1279

    Cultura e dinastia: Yuan (Cinco Dinastias)Durao (em anos): 1279 a 1368

    Cultura e dinastia: Ming (Cinco Dinastias)Durao (em anos): 1368 a 1644

    Cultura e dinastia: Qing (Cinco Dinastias)Durao (em anos): 1644 a 1911

    Perodo: China Moderna (1911 ao presente)Cultura e dinastia: Repblica da ChinaDurao (em anos): 1912 a 1949

    Cultura e dinastia: Repblica Popular da ChinaDurao (em anos): 1949 ao presente

    2. Antiguidade - 4000 a.C. a 476 d.C.Antiguidade - fatos histricos 4000 a.C. - data que marca o incio da antiguidade com o surgimento do primeiro sistema de

    escrita na Mesopotmia, o pictograma (desenhos simplificados que expressavam a realidade);

    3200 a.C. - os egpcios criam os Hierglifos, que a combinao de pictogramas e ideogramas(smbolo que representa uma idia completa);

    2700 a.C. - 2500 a.C. - As grandes pirmides do Egito foram construdas; 2700 a.C. - surge a escrita chinesa, o ideograma. A forma usada at hoje de 213 a.C. com 50 mil

    smbolos grficos e 8 mil de uso corrente;

    2500 a.C - primeiros jogos olmpicos em honra a Zeus; 1650 a.C. - primeiro alfabeto (smbolos para sons da fala) de 22 letras na Fencia (atual Lbano,

    Sria e Palestina);

    1000 a.C. - surge o alfabeto na Grcia (que seu origem ao alfabeto latino) e em 500 a.C. passou aser lido da esquerda para a direita.

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    2.1 Antiguidade na China

    Ao Legendrio Imperador Amarelo Huang-Di (2697 - 2597 a.C.) atribudo o livro NeiJing Su Wen(Assuntos Fundamentais do Livro Clssico que Trata do Interno), no qual ele dirige aos seus conselheiros,questes fundamentais sobre a medicina e filosofia da poca (Wong, 1988; Huard & Wong, 1990; Rebelatto& Botom, 1999, Cher, 2002).

    Neste compndio da sade e filosofia chinesas, foram discutidas as artes mdicas chinesas descrevendo

    meridianos, funes dos rgos, nove tipos de "agulhas", tcnicas de aplicao e a localizao de 160pontos (Cher, 2002). dito que o livro de ensino mdico mais velho no mundo e que Shen Nung (citadoneste livro), considerado o pai de Medicina chinesa, teorizou que o corpo tem uma forma de energia quecorre ao longo de canais especficos (meridianos) pelo corpo. Esta forma de energia conhecida como QiSegundo Singer (2002), este mdico tambm documentou teorias sobre circulao, pulso, e o corao maisde 4000 anos antes que a medicina europia tivesse algum conceito sobre eles.

    Na escavao arqueolgica de Anyang, foram encontradas vrias pedras singularmente afiadas (comoagulhas) chamadas de "Bian", para furar a pele e tratar doenas. Estas descobertas datavam de 1700 a.C.(Hopwood et al., 2001).

    2.2 Confcio ou kong-fu-tzu (O Venervel Grande Mestre)

    Confcio (551-479 a.C.), vivendo numa poca de constante guerra, de caos poltico e social (chamado"O perodo dos Reinos Combatentes" - quando todos os valores humanos estavam desmoronando,esquecidos, desprezados), procurou restaurar a harmonia, a ordem e o amor na sociedade.

    Em meio a esses conflitos, Confcio empreende o resgate do estudo dos ritos e dos grandes Reis, ededicou sua vida a buscar um ideal e uma realizao: ser conselheiro de um grande Rei e governar para apaz.

    Para tanto, compilou as obras mais importantes dos escritos antigos (datadas de at dois mil e quinhentosanos antes de Confcio), reorganizou-as e editou-as de acordo com seus princpios. E depois de sua morte,esses pensamentos tm predominado na cultura chinesa at hoje, portanto, por outros dois mil e quinhentosanos...

    Nesse trabalho de editor, ps em prtica sua tese da importncia da relao entre memria e educao,que a base da pedagogia ocidental. Convergem assim, na educao para o lembrar.

    Essas teses encontram-se tambm formuladas em Confcio.No livro A Grande Escola, Confcio - comentando uns versos do Livro dos Cantares - atribui aos

    grandes antigos, precisamente a excelsa qualidade de no-esquecer (razo, alis, pela qual eles mesmos noso esquecidos):

    O Livro dos Cantares diz tambm: "Oh, os antigos reis no so esquecidos". O homem verdadeiro tem avirtude dos virtuosos e se aproxima do que eles (os reis virtuosos) se aproximam. O povo simples ainda sealegra com suas alegrias e se beneficia de seus bens. Por isso que as geraes vindouras no os esquecem"

    o mesmo Confcio quem nos Analectos proclama o valor da lembrana dos ensinamentos dos Antigos:

    Confcio disse: "Eu no nasci sbio. Gosto da sabedoria dos antigos e busco neles para o meu ser"O que o Mestre afirma, portanto, que no inventou nada, mas sim aprendeu com os antigos, e aqueleque tambm assim fizer, ser sbio:

    " por retomar o antigo que se aprende o novo, e assim nos tornamos mestres" (Os Analectos).No se trata, porm, de "conservadorismo", pelo contrrio: a recordao dos Antigos condio de

    progresso. o que diz o Mestre no Livro da Harmonia Perfeita:

    " por respeitar a natureza virtuosa que o homem verdadeiro dedica-se a aprender o Tao. Examinandoem conjunto e por mido, do mximo da claridade encontra o caminho do meio. por retomar os antigosque se descobre o novo e, com isto, honra os Ritos."

    Confcio diz que os ritos so honrados (isto , cumprem sua misso) se remetem aos ensinamentos dosantigos...

    E no mbito pessoal, no cotidiano, tambm devemos recordar quem somos, o que fizemos e o quequeremos... e muito importante que reflitamos todos os dias sobre o que deixamos de aprender ou sobrenossos erros e falhas, e ao final de "um ms" no esquecer as verdades essenciais:

    Disse Tsi-Hah: "Perceber a cada dia o que se perdeu (pelo esquecimento...), e em um ms no esquecerdaquilo que aprendeu, pode-se afirmar que isto gostar de aprender (Os Analectos).

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    Dessa tese de que o homem um esquecedor decorrem muitas conseqncias pedaggicas. Por isto esteconceito inovador sobre aprendizado e treino da memria so as bases da pedagogia moderna.

    Apesar de no ser lder religioso, prega as cinco virtudes: o amor aos outros, a justia; a retido deconduta; a sabedoria, e a sinceridade.

    "Um homem sem humanidade no poderia viver por muito tempo na adversidade nem poderia conhecera alegria por muito tempo. Um homem bom apia-se em sua humanidade, um homem sbio beneficia-se de

    sua humanidade"."(..) Quem conseguisse espalhar as cinco prticas no mundo inteiro implementaria a humanidade (..)

    Cortesia, tolerncia, boa-f, diligncia, generosidade. A cortesia repele os insultos, a tolerncia conquistatodos os coraes; a boa-f inspira a confiana dos outros, a diligncia garante o sucesso, a generosidadeconfere autoridade sobre os outros"

    Escreve livros que, posteriormente, so compilados em cinco clssicos: I Ching (Livro das Mutaes),Shih Ching (dos Poemas), Shu Ching (da Histria), Li Chi (da Etiqueta) e Ch'un Ch'iu (Anais da Primaverae do Outono)

    2.3 O perodo dos Reinos Combatentes na China

    O perodo dos Reinos Combatentes na China (475 a.C. - 221 a.C.) a data oficial da execuo daprimeira verso do Huang-Di Nei-Jing Su-Wen (Assuntos Fundamentais do Livro Clssico que Trata doInterno, atribudas ao Imperador Amarelo Huang-Di). Provavelmente este compndio foi elaborado poruma escola mdica que se abrigou sob o nome do legendrio Huang-Di e remanejado por vrios autores atesta poca (Huard & Wong, 1990). Tambm neste perodo, foi registrada a primeira referncia da teoria dos"Cinco Elementos", que tambm foi formulada pela escola filosfica "Yin-Yang" ou "Escola Naturalista"(Maciocia, 1996).

    Estas duas foras opostas e antagnicas so a base de toda a MTC, ao contrrio do ocidental que tende aver os opostos como absolutos, isto , ou Yin ou Yang (ou preto ou branco), o oriental acredita nos opostos

    como foras relativas, no qual, tudo no to Yin e nem to Yang, e cada fora tem um pouco da outra, e oextremo de uma leva ao incio de outra.

    2.4 Unificao da China

    Foi o povo Tsin quem, em 221 a.C., unificou a China aps muitas batalhas, as quais resultaram emmilhares de cabeas decepadas, iniciando a poca imperial da Histria da China. O fundador do impriochins foi o rei de Tsin, Tcheng, que, como imperador, chamou-se Chi Huang-ti (Primeiro Imperador daDinastia Ch'in). O imprio chins durou mais de dois mil anos, at 1912 de nossa era.

    O exrcito Tsin caracterizava-se pela excelncia de seu armamento: uma cavalaria de grande mobilidade,

    uma infantaria ligeira e uma artilharia que compreendia mquinas para stio, torres mveis e catapultas.Para se ter uma idia da belicosidade e, principalmente, da crueldade de seus guerreiros basta lembrar ques recebiam pagamento mediante a apresentao das cabeas decepadas dos inimigos. E ao lado desseexrcito poderoso, o Estado Tsin possua uma legislao severa e impiedosa que disciplinava de modorigoroso toda a populao (Giordani, 1997).

    As histrias sobre o homem que se proclamou o primeiro imperador da China retratam-no como umvilo, tirano e cruel, supersticioso e cheio de caprichos, que reinou pelo terror. Isso pode se dever, em parte,ao fato de que a histria de seu regime foi escrita por seus inimigos, os Han, que os sucederam no poder.Segundo os relatos, quando um meteoro caiu na terra e um cidado escreveu frases anti-governamentaisnele, o imperador mandou executar todos que viviam nas vizinhanas. Os historiadores Han contavam

    tambm que, em seus ltimos anos, Chi vivia to preocupado com a segurana que dormia em lugaresdiferentes todas as noites e condenava morte quem revelasse seus esconderijos noturnos (Giordani, 1997).

    O imperador e seu ministro-chefe, Li-Si, eram discpulos de uma doutrina chamada legalismo, segundo aqual o povo seria mais bem controlado por meio de leis rigorosas e punies severas. Os culpados de crimesgraves eram decapitados, cortados ao meio pela cintura ou fervidos em caldeires enormes. Outros delitostinham como penas, trabalhos forados, a deportao, as chicotadas e as bastonadas. Como o legalismocontrastava com os ensinamentos humanistas de Confcio, cujas idias foram mais tarde adotadas pelosHan, embora ele tivesse morrido 227 anos antes da fundao dessa dinastia, o ministro-chefe mandou

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    destruir todos os livros, com exceo dos tcnicos, para livrar o imprio da considerada nefasta influnciados escritos filosficos de Confcio e de Mncio em 213 a.C.

    Diz-se que o conjunto de palcios da capital Tsin era to imenso que 700 mil trabalhadores foradoshaviam participado da construo da principal residncia real, um edifcio majestoso que podia abrigar 10mil pessoas. Chi Huang-ti tinha aspiraes colossais, foi durante o seu imprio que um general chamadoMeng tian, supervisionando uma fora de trabalho provavelmente de mais de 1 milho de operrios,

    estendeu uma muralha por toda a fronteira setentrional da China, para conter os assaltos de brbaros. Estaobra daria origem famosa Grande Muralha, que teve incio no reinado de Chi e prosseguiu at dinastiaMing (1368-1644), somando atualmente 7300 km de extenso.

    Chi Huang-ti determinou que a discusso dos livros condenados, os quais ele mandara destruir, eraconsiderado crime capital. O seu prprio filho foi condenado ao exlio para a fronteira do norte por tercriticado o pai. Conta-se ainda que, em seu ataque mais selvagem, o imperador mandou executar 460intelectuais, aparentemente porque suspeitava estarem mancomunados contra ele.

    Os funerais de Huang-ti foram to grandiosos e cruis como fora sua vida. Sepultado nas proximidadesde sua imponente capital, Hien-Yang, situada na margem setentrional do rio Wei, ao norte da atual

    Tch'ang'ngan, arrastou para as profundezas de seu monumental tmulo no s os operrios que no mesmohaviam trabalhado, mas todas as mulheres de seu harm que no lhe haviam dado filhos.

    O tmulo de Chi Huang-ti, comeou a ser construdo quando ele tinha 13 anos e possua um exrcito deterracota em tamanho natural, com cerca de 6 mil soldados, criado para proteg-lo por toda a eternidade. Omaior dos fossos continha a infantaria. Os artistas criaram rostos sem moldes, provavelmente baseados emsoldados reais. No h dois iguais. Alguns contemporneos do imperador no tiveram a mesma sorte quantoaos que serviram de modelo para as figuras de barro: vrias de suas concubinas e muitos trabalhadoresescravos, foram enterrados vivos na tumba.

    Em 210 a.C., quando Chi Huang-ti morreu, Li-Si e um eunuco chamado Zhao Gao conspiraram para

    impedir que o verdadeiro sucessor assumisse o trono, colocando em seu lugar um dos filhos de Chidominado por eles, mas logo Li-Si foi trado por Zhao Gao, o qual, em 208 a.C., promoveu a execuo doministro, que foi cortado em dois, pela cintura.

    2.5 Antiguidade na Grcia e Roma

    No mesmo perodo na Grcia o mdico Alcmon (600-500 a.C.) realiza a primeira dissecao de umcadver humano e sugere que os sentidos esto ligados ao crebro.

    Na Ilha de Cs, Grcia, Hipcrates (460 a.C. - 377 a.C.) desenvolvia a "ginstica mdica" integrada aosistema de medicina preventiva. Na poca, trs medicinas imperavam a "medicina popular", que era

    realizada nos templos, na qual as pessoas eram tratadas durante o sono pelos deuses, esta no recebia muitocrdito dos filsofos e intelectuais gregos; a "medicina terica" dos filsofos e a "medicina esculpia" dosclnicos. Esta ltima era encabeada por Hipcrates que unia, entre outras coisas, a ginstica originria nosc. VI a.C., em Esparta, com os conhecimentos mdicos da poca. O tratamento da "ginstica mdica"consistia em um regime diettico e na prtica da higiene cotidiana, que tinha como principal enfoque obanho por duchas e imerses. Os banhos com imerses eram seguidos da utilizao de loes detergentes base de potssio ou sdio, na forma de carbonato impuro, que eram finalizadas por frices com leos,tambm remanescentes da ginstica Espartana. A "ginstica mdica" tambm compreendia diferentes tiposde massagens: deslizamento superficial, compresso, pinamento, presso metdica e frices. Uma bexigacheia de ar ou uma palmatria podiam servir como agentes de percusso ou auxiliar nas manipulaes. Omdico da poca tambm realizava cinesioterapia com movimentos passivos, ativos naturais ou

    contrariados (resistidos) e sincronizados. Estes procedimentos, antes empregados em indivduos sadios,estavam sendo dirigidos a casos patolgicos. Uma das escolas da poca "os solidistas", acreditavam que asmanipulaes restabeleciam a flexibilidade articulatria (Huard & Wong, 1990).

    Segundo Delpeuch apud Huard & Wong (1990) "Os mdicos que seguiam a linha hipocrtica achavamque os medicamentos s deveriam ser utilizados em casos extremos e que o uso da polifarmcia, de origemoriental, costume encontrado somente entre empricos, inimigos dos filsofos e dos clnicos". necessrioesclarecer que os fitorerpicos chineses no eram bem compreendidos pelos gregos, que os repudiavamcomo sendo elementos no naturais ao homem.

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]://xn--sc-bja.vi/http://xn--sc-bja.vi/
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    No mago da medicina hipocrtica est a convico de que as doenas no so causadas por demniosou foras sobrenaturais, mas so fenmenos naturais que podem ser cientificamente estudados einfluenciados por procedimentos teraputicos e pela judiciosa conduta de vida de cada indivduo" (Capra,1999, p. 304).

    Hipcrates reconheceu a existncia de foras curativas inerentes aos organismos vivos que chamou depoder curativo da natureza. Tambm nesta poca surgiu a palavra "terapia", que deriva do gregotherapeuin ("dar assistncia", "cuidar de") (Capra, 1999, p. 305).

    O pai da medicina ocidental, Hipcrates, utilizava na poca, recursos para a cura e reabilitao depessoas, que 2.500 anos depois, so usados pelos Fisioterapeutas e Terapeutas Naturais. As medicinasantigas tanto ocidentais como orientais, utilizavam tcnicas que enxergavam o homem como um todo. As"foras curativas dos organismos vivos" de Hipcrates podem ser comparadas com a energia "Qi" da MTC.Ambas tm a mesma funo: uma energia inerente aos organismos vivos e que podem ser estimuladaspara a cura do prprio organismo. Segundo Urban (2002, p. 5) "... quase no h diferena nos mtodosteraputicos propostos por hipocrticos e chineses. Ambas as medicinas propem exerccios respiratrios,ginsticas, dietas e jejuns, massagens e sangrias como tratamento".

    A fuso entre a medicina e a ginstica dos estdios feita por Hipcrates foi separada por Plato (429 a.C.

    - 347 a.C.) e conflitos futuros entre escolas mdicas tornaram as duas disciplinas cada vez mais distantes,uma se ocupando do homem sadio e outra do homem doente. Somente no sc. II d.C., que Galeno (130 -199 d.C.) retomou a concepo de Hipcrates (Huard & Wong, 1990). Rebelatto & Botom (1999) dizemem seu livro que "Galeno conseguiu por meio de uma ginstica planificada do tronco e dos pulmes,corrigir o trax de um rapaz at lograr condies normais".

    Por volta do ano de 162 d.C. Galeno vai para Roma e faz sucesso como mdico ao cuidar do jovemCmodo, herdeiro do trono imperial. Em Roma escreve sua obra: cerca de 400 livros, dos quais 98 soconhecidos. Galeno realiza vrias descobertas, baseado em experimentos com macacos e outros animais, oque causou muitos conflitos nos futuros estudos da anatomia humana.

    Outro agravante no legado deixado por Galeno que, por ele ser extremamente autoritrio e crente desuas nicas verdades, inventava coisas quando houvesse falhas no seu conhecimento.

    Apesar da retomada de Galeno, a viso hipocrtica, que era centrada no homem e voltada observaoda natureza e que guardava muitos pontos em comum com o pensamento chins, no foi bem compreendidapor ele e ficou perdida no tempo. Segundo Urban (2002, p. 6) "Galeno era monotesta na acepo maisreducionista do termo, s aceitando um deus e uma verdade, o que facilitou bastante para que suas idiasganhassem fora, propagadas pelo cristianismo, que se alastrou pelo Imprio Romano desde o Edito deMilo, assinado por Constantino, em 393 d. C. "A alopatia, desde ento, nada mais que o aprimoramentocientfico da medicina galnica, ao mesmo tempo um mero equvoco conceitua) sobre aquilo queHipcrates chamara cincia dos opostos". Segundo este mesmo autor, foi com Galeno que ocorreu o

    distanciamento destas vises e provavelmente o nascimento do reducionismo, que direciona at hoje aMedicina Ocidental.

    Para entender por que a medicina de Galeno imperou por 1400 anos sem contestao de outros mdicos, necessrio entender a histria de Roma, do Catolicismo e de seu fundador Constantino I, o Grande.

    O Imprio Romano comea oficialmente em 27 a.C. com a ascenso de Otvio Augusto e vai at a quedade Roma em 476. O poder pessoal de Otvio Augusto repousava sobre o exrcito (Guarda Pretoriana), oapoio da plebe, o tesouro imperial e os ttulos dados pelo Senado. Promoveu vrias reformas: sociais,administrativas e culturais. A sociedade estava dividida pelo critrio da riqueza (classe senatorial eeqestre). At meados do sculo III, o Imprio progride e atinge seu apogeu, quando ento tm incio as

    crises econmica, religiosa, militar e poltica. A crise econmica foi resultado da retrao das conquistas, dacrise do escravismo, do dficit oramentrio que conduz a ruralizao da economia romana. O cristianismoem expanso penetra e destri o conceito da divindade imperial, abalando o Imprio. Nero fez a primeiraperseguio aos cristos, e Dioclesiano, a ltima.

    Em 286 d.C., Dioclesiano fundou a tetrarquia (governo de 4 imperadores) para comandar 44 provncias,sendo elas divididas em duas grandes regies a do oeste ou Imprio Romano Ocidental que falava latim e ado leste ou Imprio Romano Oriental que falava grego.

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    Constncio I era um dos imperadores escolhidos por Dioclesiano para da tetrarquia do reino ocidental, elogo que ele morreu, seu filho Constantino I, em 310 d.C., se autoproclamou um dos quatro imperadores deRoma no lugar de seu pai. Mas Constantino no pretendia dividir seu reinado e planejou a eliminao dosoutros trs imperadores.

    Prximo ao Natal de 312, Constantino I enfrentou Maxncio, outro imperador do reino Ocidental e seurival ao poder do trono de Roma, na ponte Milvio, que cruzava o rio Tibre. Durante a batalha quando seu

    exrcito estava sem esperana ele "viu" no cu o sinal das iniciais do Cristo em grego (X e P) e ouviu umavoz dizer: Meus Pace est cum Vos ...In Hoc Signo Vinces, "Minha paz est contigo... com este signovencers". E assim se sucedeu, Constantino venceu Maxncio.

    Em 313, em sinal de gratido, o imperador publicou o dito de Tolerncia em Milo, concedendoliberdade religiosa aos cristos, que at esta data eram perseguidos e massacrados e os herticos passaram aser perseguidos como inimigos do Estado e os templos pagos foram pilhados e destrudos. Apesar disto,Constantino 1 continuou sendo adorador do Deus do Sol Apoio. Para Constantino a religio deveria serusada para a poltica e a poltica deveria ser fortalecida pela religio, sendo elas inseparveis.

    O carter violento de Constantino se mostrou de vrias formas. Em 326, ordenou que estrangulassem o

    filho de sua primeira esposa Crispo, por adultrio. Logo depois, sua me Helena descobriu que a morte doneto foi trama da 2a. esposa do imperador, Fausta, que planejava colocar seu filho de outro casamento comoherdeiro. A matrona ordenou-lhe que a matasse tambm. Assim Constantino estrangulou sua prpria esposadurante o banho.

    Constantino invadiu Roma em 312 d.C. sob o smbolo do crucifixo, redefiniu a f crist a partir doConclio de Nicia em 325 d.C., criando a Santa Trindade, e em 367 d.C. o Novo Testa~to estava redigido.

    O Cristianismo que surgiu de um "peregrino revolucionrio", 300 anos depois, tinha uma Bblia (o NovoTestamento), um Credo (a F Religiosa) e um Imprio (Roma).

    Com Constantino apoiando as idias de Galeno, estas se propagaram junto com o crescimento espantosodo cristianismo.

    2.6 Perodo de Trs Reinos na China (220 a 280 d.C.)

    Na China, entre 260 a 265 d.C., o mdico Huang Fu Mi escreveu o clssico "Classes Sistemticas daAcupuntura e Moxabusto", relatando 349 pontos, (sendo atualmente 360 pontos dos "meridianos"principais - Yamamura, 1998), e considerado o texto mais influente da histria da medicina chinesa(Cher, 2002).

    Enquanto na China ocorre uma constante evoluo em sua medicina, no ocidente, j na antiguidade,comea a fragmentao da viso holstica. Um reducionismo que nos acompanha at hoje.

    3. Idade Mdia (476 -1453 d.C.)

    3.1 Fatos Histricos A queda do Imprio Romano, em 476 d.C., marca o fim da Antiguidade e o comeo da Idade Mdia; Criado em 395 d.C. o Imprio Romano do Oriente (Imprio Bizantino), em 1054, rejeita a supremacia

    de Roma, levando as Cruzadas a partir de 1095 d.C. por cristos europeus. A Idade Mdia vai durar at 1453, com o fim do Imprio Bizantino, pela tomada de Constantinopla

    (atual Istambul, Turquia) pelos turcos.

    3.2 Idade Mdia na Europa

    Em 1095 ocorre a I Cruzada, convocada pelo papa Urbano li, tem como objetivo tomar do controlemuulmano o Santo Sepulcro (Jerusalm) e Na IV Cruzada (1204) ocorre em Constantinopla o maior saquede relquias da Idade Mdia.

    3.2.1 Inquisio

    Tribunal da Igreja Catlica institudo no sculo XIII para perseguir, julgar e punir os acusados de heresia- doutrinas ou prticas contrrias s definidas pela Igreja. A Santa Inquisio fundada pelo papa GregrioIX (1170?-1241) em sua bula (carta pontifcia) Excommunicamus, publicada em 1231. No sculo IV,

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    quando o cristianismo se torna a religio oficial do Imprio Romano, os herticos passam a ser perseguidoscomo inimigos do Estado.

    Na Europa, entre os sculos XI e XV, o desenvolvimento cultural e as reflexes filosficas e teolgicasda poca produzem conhecimentos que contradizem a concepo de mundo defendida at ento pelo podereclesistico. Paralelamente surgem movimentos cristos, como os ctaros, em Albi, e os valdenses, emLyon, ambos na Frana, que pregam a volta do cristianismo s origens, defendendo a necessidade de a

    Igreja abandonar suas riquezas. Em resposta a essas heresias, milhares de albigenses so liquidados entre1208 e 1229. Dois anos depois criada a Inquisio.

    A responsabilidade pelo cumprimento da doutrina religiosa passa dos bispos aos inquisidores - em geralfranciscanos e dominicanos - sob o controle do papa. As punies variam desde a obrigao de fazer umaretratao pblica ou uma peregrinao a um santurio at o confisco de bens e a priso em cadeia. A penamais severa a priso perptua, convertida pelas autoridades civis em execuo na fogueira ou forca empraa pblica. Em geral, duas testemunhas constituem prova suficiente de culpa.

    Em 1252, o papa Inocncio IV aprova o uso da tortura como mtodo para obter confisso de suspeitos. Acondenao para os culpados lida numa cerimnia pblica no fim do processo, no chamado auto-de-f. O

    poder arbitrrio da Inquisio volta-se tambm contra suspeitos de bruxaria e todo e qualquer grupo hostilaos interesses do papado.

    Nos sculos XIV e XV, os tribunais da Inquisio diminuem suas atividades e so recriados sob formade uma Congregao da Inquisio, mais conhecida como Santo Oficio. Passam a combater os movimentosda Reforma Protestante e as "heresias" filosficas e cientficas sadas do Renascimento. Vtimas notrias daInquisio nesse perodo so a herona francesa Joana D'Arc (1412-1431), executada por se declararmensageira de Deus e usar roupas masculinas, e o italiano Giordano Bruno (1548-1600), considerado pai dafilosofia moderna, condenado por concepes intelectuais contrrias s aceitas pela Igreja. Processado pelaInquisio, o astrnomo italiano Galileu Galilei prefere negar publicamente a Teoria Heliocntricadesenvolvida por Nicolau Coprnico e trocar a pena de morte pela de priso perptua. Aps nova

    investigao iniciada em 1979, o papa Joo Paulo II reconhece, em 1992, o erro da Igreja no caso deGalileu.

    No ocidente, durante a Idade Mdia os avanos nos estudos e a atuao na rea da sade foraminterrompidos. Em todas as organizaes da poca e em todos os setores da sociedade, predominaram umaordem estabelecida pelo "divino". Sendo o clero o topo desta organizao hierrquica, representando odivino na terra, o corpo era apenas um invlucro da alma, e era a alma que deveria ser tratada. A sade docorpo foi negligenciada ao segundo plano, sendo valorizada a atividade fsica apenas para aumentar apotncia corporal e para diverso. O exerccio fsico para a cura foi deixado de lado (Rebelatto & Botom,1999).

    So mais de 1000 anos de interrupo nos estudos do corpo e de suas doenas; foi a poca de escuridototal no conhecimento do ocidente. Se o corpo no tinha mais importncia, para que trat-lo. As doenaseram uma forma de purificar a alma, vinham do divino e no precisavam ser entendidas, apenas aceitas,pois era o papel da igreja resolver todas as questes.

    3.3 Idade Mdia na China

    Durante a dinastia Sui (589 - 618 d.C.) foi fundada a primeira escola de medicina na China. A escola deMedicina Imperial foi organizada (624 d.C.) com departamentos de Medicina Herbtica, Acupuntura eMassagem, sendo que este ltimo possua a maior equipe de professores. Nas tcnicas de massagem incluamanipulaes, deslizamentos nos canais de energia e presses nos pontos de acupuntura (Kottke &

    Lehmann, 1994).Na dinastia Tang (618 - 906 d.C.) o mdico Zhen Quan fez uma reviso nos textos antigos deacupuntura. A dinastia Ming (1368 - 1644) foi a de maior crescimento para a Acupuntura, com um trabalhoenciclopdico de 120 volumes sobre esta tcnica da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) (Cher, 2002).

    3.4 Idade Mdia na Prsia

    O Mdico e filsofo rabe 'Abu 'Ali ai-Hussain - ibn 'Abd Allah - ibn al-Hassan - ibn 'Ali -ibn Sina,conhecido no ocidente como Avicena (980-1037), com 16 anos tinha estudado medicina e aos 18 curou oprncipe Nuh ibn Mansur de uma doena que seus mdicos no conseguiram.

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    Autor de pelo menos 200 obras, a mais importante o Livro de cura, enciclopdia composta de 18volumes, abrangendo metafsica, matemtica, psicologia, fsica, astronomia e lgica. Seu Cnon deMedicina, de 5 volumes, foi traduzido para o latim no final do sculo XII e foi estudado nas universidadeseuropias at o sculo XVII.

    Ao tempo do obscurantismo medieval, manteve a lucidez filosfica.

    4. Idade Moderna (1453 -1789)

    4.1 Idade Moderna na Europa4.1.1 Andr Veslio (1514 -1564)

    Maior anatomista da Renascena, belga nascido em Bruxelas, cujo nome de origem era Andries vanWesel, posteriormente romanizado para Andreas Vesalius, desenvolveu dissecaes de corpos humanos ecom a descrio de suas descobertas ajudou a corrigir noes equivocadas que prevaleciam desde aAntigidade e estabeleceu os fundamentos da moderna cincia da anatomia, tornando-se, sem dvida, oprincipal sbio histrico desta cincia e consagrado como o pai da anatomia cientfica moderna. Membro de

    uma famlia de mdicos e filho de um farmacutico estudou e formou-se em medicina em Louvain,transferiu-se para a Faculdade de Medicina da Universidade Paris, onde iniciou sua especializao (1533-1536) e aprendeu a dissecar animais e cadveres humanos e estudou medicina rabe. Neste perodo rouboucorpos no cemitrio de Paris para estudar os cadveres, pois a dissecao de cadveres era proibida pelaInquisio na Frana.

    Descontente com as limitaes de Paris foi para a Universidade de Pdua (fundada desde 1222), a maisimportante da Europa na poca (1537), onde recebeu o grau de doutor com louvor. Foi nomeado chefe dodepartamento de anatomia e cirurgia, dissecando corpos por cinco anos. Isto foi possvel porque na Itlia asregras eram menos severas sendo que por volta de 1489 o Papa Sisto IV j tinha publicado que corpos deindigentes e presos podiam ser dados a anatomistas e artistas.

    Passou a lecionar nas universidades de Bolonha e de Pdua, na Itlia, onde demonstrou (1539) que asdescries anatmicas de Galeno, fisiologista grego que viveu em Roma, referiam-se a macacos e no ahomens, pois naquela poca a dissecao de cadveres humanos era rigorosamente proibida por motivosreligiosos. Sendo assim, quebrou 1400 anos de dogmas mdicos, pois tudo o que se sabia vinha de umnico homem Galeno. Veslio no s discordou de Galeno como afirmou que ele disse coisas falsas.

    Foi a pblico para desmascarar Galeno. Em 1543 divulga sua obra mais importante De humanis corporisfabrica libri septem (1543), em sete volumes, sobre a estrutura do corpo humano, considerado o mais bemacabado livro publicado na Renascena, dividido em sete volumes, com vrias ilustraes de pgina inteira,feitas por Jan van Calcar, e mais de seiscentas pginas, na mais fina impresso da poca. Era uma obraprima da cincia mdica e simbolizou o encerramento do galenismo, dividindo a Anatomia em antes e

    depois de Veslio. Aps esta publicao foi escolhido como mdico da famlia imperial de Charles V,Santo Imperador Romano, concedendo-lhe uma penso vitalcia e o ttulo de conde. Aps a abdicao deCarlos, seu filho, Filipe II, nomeou-o um de seus mdicos (1559). Aps vrios anos na corte imperial emMadri, foi condenado morte, pela Inquisio, por ter dissecado um corpo humano. Sua pena foi comutadanuma peregrinao a Terra Santa (Jerusalm). Na viagem de volta, adoeceu e morreu na ilha de Zante (ouZacynassim), na ento repblica de Veneza, na costa da Grcia.

    4.1.2 Thomas Willis (1621-1675)

    Quando jovem freqentou a universidade de Oxford para se dedicar religio e acabou se interessandopela arte da cura. Seu desafio foi conciliar estes dois mundos. Invadiu a rea da igreja, pois segundo a

    mesma o crebro era o lar da alma e domnio do clero. Como um homem temente a Deus ele relutava em ircontra a viso da igreja, mas no podia ignorar o que estava vendo. Ele resolveu o impasse aps muitareflexo: o ser humano possua duas almas uma alma imortal e outra corporal

    Foi um dos mais destacados mdicos ingleses da poca moderna, e um dos cientistas que buscavaexplicar a atividade do corpo humano, separando-o do esprito. Descobriu que muitos problemas psquicosconsiderados problemas na alma, eram doenas e traumas fsicos. Willis tentou aproximar a anatomia,fisiologia e qumica aos achados clnicos de patologia nervosa da poca. Ele foi um membro da escolaiatroqumica, que acreditava que a qumica era a base da funo humana, ao invs da mecnica, como seacreditava na poca.

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    Foi um dos pioneiros do estudo do sistema nervoso e o primeiro a identificar vrias doenas. Foiprofessor de Filosofia Natural em Oxford de 1660 a 1675; e clinicou em Londres a partir de 1666 comgrande sucesso. Em sua obra Cerebri Anatome, cui accessit Nervorum descriptio et usus ("Anatomia doCrebro, com uma descrio dos nervos e de suas funes"), o mais completo e acurada descrio dosistema nervoso at ento, ele faz a primeira descrio do padro hexagonal das artrias na base do crebrodescobrindo-lhe a finalidade de proporcionar o mximo de suprimento sangneo ao crebro. Descreveu o

    "crculo de Willis", um complexo vascular na base do crebro e descreveu sua funo. Usou pela primeiravez o termo "ao reflexa".

    Foi o primeiro a descrever a miastenia grave (1671), uma fadiga muscular crnica marcada por paralisiaprogressiva, e a febre puerperal, assim denominada por ele. Reintroduziu na medicina o antigo uso dosgregos de diagnosticar o diabetes pela urina doce.

    Tirou a epilepsia do mundo espiritual para os domnios da cincia, pois esta doena era tratada comopossesso demonaca. Suas descobertas eram empricas, mas tinham razes em Hipcrates em seu trabalho"Da Doena Sagrada" que fala que a epilepsia no doena dos deuses ou tem poder proftico, mas umadoena natural do crebro. Esta viso ficou perdida por 2000 anos levando muitas pessoas a serem tratadasde forma brbara ou torturadas e mortas pela inquisio.

    4.1.3 Renascimento

    No final do Renascimento (sc XV e XVI), a "ginstica mdica" inspirada em Hipcrates, renasceu naobra de Hieronimo Merculiali (1569), que apresenta princpios definidos para esta atividade: exerccios paraconservar um estado saudvel j existente, regularidade no exerccio, exerccios para indivduos enfermos,cujo estado pode exacerbar-se, exerccios individuais especiais para convalescentes, e exerccios parapessoas com ocupaes sedentrias (Wheller apud Rebelatto & Botom, 1999).

    Em 1545, o barbeiro-cirurgio Ambroise Par lana as bases da cirurgia moderna (Cinco Livros deCirurgia), aperfeioa a tcnica de amputao e desenvolve o uso de ligaduras para estancar hemorragias.

    Ele recomendava exerccios fsicos e tinha grande interesse teraputico s massagens.

    Charles Drelinco (1595-1669), Hermenn Boerhaave (1668-1738) e Thodore Tronchin (1709-1781)tambm aplicavam a teraputica natural e tratavam numerosas doenas com hidroterapia, pelas frices,marcha e diversos movimentos. A nova "ginstica mdica" foi obra de Fancis Fuller, na Inglaterra (1704),de Nicolas Andry (1658-1742) na Frana e de Simon Andr Tissot (1728-1797) na Sua, sendo que oprimeiro sustentava que em medicina, a ginstica bem compreendida podia ter um papel importante tanto napreveno como na correo de "doenas mentais" (as doenas do sistema nervoso eram classificadas juntocom as doenas mentais nesta poca), e outras diversas. Nicolas Andry (1741) criou um neologismo paradesignar uma disciplina tanto mdica quanto cirrgica ainda quase inexistente, a "ginstica corretiva" ouortopedia. Mas nesta poca, eram os algebristas que tratavam as fraturas e luxaes com a cinesioterapia.

    tambm importante mencionar que o mdico francs Jean Verder (1735-1820) criou um estabelecimentode dupla destinao: educao fsica para crianas normais; e junto com o clebre mdico de hrniasTyphaine, durante 19 anos, ele cuidou de numerosas crianas corcundas e disformes. Verdier foi o nicoprtico de seu tempo que dominou simultaneamente a ginstica mdica, a ortopedia e a ginstica educativa.Ao contrrio dos contemporneos de sua poca, ele acreditava no progresso ilimitado da espciehumana, pois, segundo ele, tudo pode ser modificado com o tempo (Huard & Wong, 1990).

    4.1.4 Antoine Lavoisier (1743-1794)

    Qumico francs, fundador da qumica moderna. Nasce em Paris e estuda matemtica, astronomia,qumica, fsica, botnica e geologia. Aos 23 anos premiado pela Academia de Cincias da Frana por seu

    Relatrio sobre o Melhor Sistema de Iluminao de Paris. Em 1768 ingressa na Academia como coletor deimpostos e inspetor geral das plvoras e salitres. Entre 1785 e 1787 participa da comisso de agriculturagovernamental. Apresenta no Tratado Elementar de Qumica (1789) os fundamentos da nova nomenclatura,criada com o qumico Berthollet a partir do conceito de elemento qumico. famosa sua lei da conservaodas massas, a chamada Lei de Lavoisier, que costuma ser enunciada de forma simplificada: na naturezanada se perde, nada se cria; tudo se transforma. Com a Revoluo Francesa (1789), elege-se deputadosuplente dos Estados Gerais. Em 1790 participa da comisso de estudos sobre o novo sistema de medidas e,no ano seguinte, torna-se secretrio do Tesouro francs. preso em 1793, no chamado Perodo do Terror,em que a Conveno persegue os coletores de impostos e fecha as academias de cincias, consideradasreacionrias. Condenado, morre guilhotinado no ano seguinte, em Paris.

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    4.2 Idade Moderna na China

    Na dinastia Qing (1644 - 1840), a medicina herborista se tornou principal entre os mdicos e aacupuntura ficou de lado (Cher, 2002).

    No sc XVII, atravs de misses no oriente, padres jesutas tiveram o primeiro contato com aacupuntura. Em 1821 o mdico ingls John Churchill publicou uma srie de resultados usando a acupunturapara o reumatismo (Cher, 2002).

    5. Idade Contempornea (1789 at os dias atuais)

    Entre os sculos XVIII e XIX, iniciado na Inglaterra, houve as duas revolues industriais: a primeira dovapor e do carvo (1760-1860) e a segunda da eletricidade e do motor exploso (a partir de 1884).

    Duplicado o poder de produo do ocidente, torna-se esta parte do mundo o centro do capitalismo e dodesenvolvimento tecnolgico. Depois de ter mecanizado a Natureza, o homem mecaniza a si mesmo. Esteprocesso comeou com o francs Ren Descartes (1596-1650), que pe em dvida tanto o mundo das coisassensveis como das coisas inteligveis, reduzindo o Universo a coisas e mecanismos mensurveis (Huard &Wong, 1990).

    5.1 Ren Descartes (1596-1650)

    Ren Descartes, nascido em 1596 em La Haye, um povoado da Touraine, numa famlia nobre ter ottulo de senhor de Perron, pequeno domnio do Poitou, da o aposto "fidalgo poitevino".

    De 1604 a 1614, estuda no colgio jesuta de La Fche. A gozar de um regime de privilgio, poislevanta-se quando quer, o que o leva a adquirir um hbito que o acompanhar por toda sua vida: meditar noprprio leito. Apesar de apreciado por seus professores, ele se declara, no "Discurso sobre o Mtodo",decepcionado com o ensino que lhe foi ministrado: a filosofia escolstica no conduz a nenhuma verdadeindiscutvel, "No encontramos a nenhuma coisa sobre a qual no se dispute". S as matemticas

    demonstram o que afirmam: "As matemticas agradavam-me, sobretudo por causa da certeza e da evidnciade seus raciocnios". Mas as matemticas so uma exceo, uma vez que ainda no se tentou aplicar seurigoroso mtodo a outros domnios. Eis por que o jovem Descartes, decepcionado com a escola, parte procura de novas fontes de conhecimento, a saber, longe dos livros e dos regentes de colgio, a experinciada vida e a reflexo pessoal: "Assim que a idade me permitiu sair da sujeio a meus preceptores,abandonei inteiramente o estudo das letras, e resolvendo no procurar outra cincia que aquela que poderiaser encontrada em mim mesmo ou no grande livro do mundo, empreguei o resto de minha juventude emviajar, em ver cortes e exrcitos, conviver com pessoas de diversos temperamentos e condies".

    Em 1637, ele se decide a publicar trs pequenos resumos de sua obra cientfica: A Diptrica, OsMeteoros e A Geometria. Esses resumos, que quase no so lidos atualmente, so acompanhados por um

    prefcio e esse prefcio foi que se tornou famoso: o Discurso sobre o Mtodo. Ele faz ver que o seumtodo, inspirado nas matemticas, capaz de provar rigorosamente a existncia de Deus e o primado daalma sobre o corpo. Desse modo, ele quer preparar os espritos para, um dia, aceitarem todas asconseqncias do mtodo inclusive o movimento da Terra em torno do Sol. Isto no quer dizer que ametafsica seja, para Descartes, um simples acessrio. Muito pelo contrrio. Em 1641, aparecem asMeditaes Metafsicas, sua obra-prima, acompanhadas de respostas s objees. Em 1644, ele publica umaespcie de manual cartesiano.

    Os Princpios de Filosofia, dedicado princesa palatina Elisabeth, de quem ele , em certo sentido, odiretor de conscincia e com quem troca importante correspondncia. Em 1644, por ocasio da rpidaviagem a Paris, Descartes encontra o embaixador da Frana junto corte sueca, Chanut, que o pe emcontato com a rainha Cristina.

    Esta ltima chama Descartes para junto de si. Aps muitas evases, o filsofo, no antes de encarregarseu editor de imprimir, para antes do outono, seu Tratado das Paixes embarca para Amsterd e chega aEstocolmo em outubro de 1649. ao surgir da aurora (5 da manh) que ele d lies de filosofia cartesiana sua real discpula. Descartes, que sofre atrozmente com o frio, logo se arrepende, ele que "nasceu nosjardins da Touraine", de ter vindo "viver no pas dos ursos, entre rochedos e geleiras". Mas demasiadotarde. Contrai uma pneumonia e se recusa a ingerir as drogas dos charlates e a sofrer sangrias sistemticas("Poupai o sangue francs, senhores"), morrendo a 9 de fevereiro de 1650. Seu atade, alguns anos maistarde, ser transportado para a Frana. Lus XIV proibir os funerais solenes e o elogio pblico do defunto:

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    desde 1662 a Igreja Catlica Romana, qual ele parece ter-se submetido sempre e com humildade, colocartodas as suas obras no ndex (catlogo dos livros cuja leitura era proibida pela Igreja).

    importante citar que, apesar de Descartes ter introduzido a separao da mente e do corpo, para umentendimento racional atravs da dvida e da evidncia, ele considerava a interao entre ambos um aspectoessencial da natureza humana e das suas implicaes na medicina. Em suas correspondncias com suadiscpula, a princesa Elizabeth da Bomia, ele deixa claro esta viso: "... quando Elizabeth no estava bem

    de sade e descrevia seus sintomas fsicos a Descartes, este no hesitava em diagnosticar que seu mal eradevido, predominantemente, tenso emocional..." (Capra, 1999, p.119) ou, como diramos hoje, aoestresse emocional. Descartes mostrou-se menos "cartesiano" do que a maioria dos mdicos atuais. Para nosermos injustos com este grande filsofo e cientista, necessrio esclarecer que: o que sabemos deDescartes hoje, o que foi deixado por rentes menos preparadas e que no entenderam a complexidade dopensamento analtico proposto por ele.

    5.2 A supresso da natureza no homem moderno

    Com a revoluo industrial, a ateno do Ocidente ficou voltada para os avanos tecnolgicos, enovamente a sade perdeu o foco humanista que estava tentando ressurgir. Com a necessidade crescente das

    industrias, a sade passou a ser direcionada principalmente para o que podia resultar em uma manutenodo desempenho do "homem mquina".

    Devido industrializao, ocorre o abuso nos limites fsicos dos operrios, fazendo surgir de formaalarmante, patologias at ento desconhecidas. O homem passou a ser valorizado pela fora de seu trabalhoe pelo quanto podia produzir. Trabalhadores adultos e crianas chegavam at a 16 horas de trabalho. Acultura do materialismo deste perodo levou o homem a se afastar totalmente da natureza e o investimentona sade teve como nico objetivo manter o homem dentro da indstria, pois o trabalhador doente causavamuitos prejuzos. Com a 1 Guerra Mundial (1914-1918) a cinesioterapia reformulada para atender asdemandas das vtimas da guerra (Huard & Wong, 1990; Rebelatto & Botom, 1999).

    Este predomnio tecnolgico ocidental tambm influenciou o oriente. Em 1911, a medicina ocidental seapresentava na China, principalmente nas classes mais altas da sociedade, deixando a acupuntura e amedicina herborista para os mdicos populares, os "ps descalos". O perodo de descaso para com a MTCfoi curto. Felizmente esta "m" influncia do ocidente, que reduzia o homem em partes fragmentadas, duroupouco na China. Durante esta fase (1930) George Soul de Mourant, cnsul francs da China, iniciou oestudo sistemtico da acupuntura, e traduziu para o francs, parte do Nei-Jing Su-Wen. Em 1950, Mao Tse-tung, uniu oficialmente a Medicina Tradicional Chinesa com a Medicina Ocidental, e a acupuntura foiadotada em vrios hospitais. E finalmente, em 1972, o presidente americano Richard Nixon visitou pelaprimeira vez a China e estimulou a acupuntura no Ocidente (Cher, 2002).

    5.3 Ignaz Philipp Semmelweis (1818-1865)

    Em 1846, obstetra austraco do Lying Hospital de Viena, instituiu a lavagem de mos, aps observar aalta mortalidade das parturientes, pois os estudantes de medicina e mdicos saam da sala de necrpsia e sedirigiam para a sala de parto sem lavar as mos

    Ele disse que todos eram assassinos , foi renegado e ridicularizado pelos colegas,entrou em depressoprofunda e voltou a Hungria.

    Enlouqueceu e morreu confinado em uma instituio psiquitricaS teve reconhecimento aps 30 anos de sua morte

    Quando Ignaz Philipp Semmelweis (1818-1865) nasceu em Ofen, seu pas, a Hungria fazia parte doImprio Austraco, posteriormente ele foi para Viena, sua capital, para completar os estudos em advocacia,

    como era desejo familiar. Entretanto, resolveu estudar medicina ao tomar contato com os trabalhos deanatomia patolgica realizados por Karl von Rokitansky (1808-1878), procurando identificar a causa demorte de seus pacientes, no estudo do corpo enfermo e dos rgos doentes. Aps sua graduao emmedicina ocorrida em 1844, sem conseguir vaga na clnica do professor Joseph Skoda (1805-1881), quevinha se notabilizando pelas suas pesquisas em propedutica, acabou em 1846, como assistente na PrimeiraClnica Obsttrica do Allgemeine Krankenhaus, no lugar de um colega que havia se afastadotemporariamente. A perversa fama desta unidade era que a mortalidade das pacientes superava entre trs adez vezes a da segunda diviso, onde as parturientes eram atendidas por parteiras. A diferena depercentagem parecia ser inexplicvel, pois caso contrrio, os miasmas deveriam ser muito caprichosos, poisas clnicas eram contguas.

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    Conforme afirmou Semmelweis na introduo de seu livro: "o dever mais alto da medicina salvar vidashumanas ameaadas e a obstetrcia o ramo da medicina no qual este dever se cumpre de modo maisevidente... Num parto com apresentao plvica, provavelmente a me e o filho faleceriam se deixados natureza, entretanto a ajuda oportuna do obstetra pode salvar ambos, quase sem dor, em poucos minutos...Lamentavelmente, o nmero de casos nos quais o obstetra alcana tais benefcios insignificante secomparado ao nmero de vtimas da febre puerperal... No somente a terapia era ineficaz como tambm a

    etiologia parecia incompleta e aparentemente no continha o verdadeiro fator causal da enfermidade". Emseu trabalho ele realizou, antes mesmo que Snow com a clera em Londres, um estudo epidemiolgicomodelo na tentativa de se elucidar os elos da cadeia epidemiolgica e propor medidas efetivas de controle,contendo todas as etapas clssicas destas investigaes: a definio precisa de caso; a contagem,distribuio e a consolidao de casos e de fatores predisponentes; a confirmao do surto e a definio doseu perodo; a formulao de hipteses e sua comprovao; as medidas de controle e a verificao de suaeficcia, com reorientaes quando necessrio.

    Por sua origem hngara e idias questionadoras procurando entender e controlar "fenmenosinevitveis", Semmelweis enfrentou, desde sua contratao, a desconfiana do diretor de sua disciplina,Johann Klein, que era um nacionalista fervoroso e de postura essencialmente conservadora. Por mais que se

    esforasse Semmelweis no encontrava na cincia oficial respostas para as diferenas observadas entre asduas unidades. Sob a orientao do professor Kolletschka da Medicina Legal, em conjunto com seus alunos,autopsiava detalhadamente todas as pacientes, encontrando supuraes e inflamaes generalizadas, umquadro semelhante ao das febres purulentas e das infeces traumticas, que se seguiam amide smanipulaes hospitalares. Estimulava tambm um detalhado exame clnico de todas as pacientes, masalm de nada descobrir, apenas observava um aumento da mortalidade, chegando sua unidade a ter em 1846uma mortalidade de 11,4% contra 2,7% na outra clnica. Ele notou que as parturientes adoeciam dentro dasprimeiras 36 horas do parto e sua doena rapidamente evolua para o bito.

    Na definio de caso ele priorizou os aspectos antomo-patolgicos das parturientes e observou que osachados dos recm-nascidos, independente de seu sexo, eram idnticos aos das pacientes, com exceo das

    leses genitais, logo deveriam ser conseqncia da mesma enfermidade. Com isto, reformulou o conceitode febre puerperal vigente, que deveria estar equivocado, pois afirmava que ela era uma enfermidadecaracterstica e limitada aos pacientes da maternidade, em cuja origem era necessrio o estado puerperal eum momento causal especfico. Assim, ele estudou tanto as mortes maternas como as dos recm-nascidos,considerando suas observaes na necropsia, a base para a definio de caso. Posteriormente, devido asemelhana dos achados, tambm foi includo o caso de um colega ferido acidentalmente durante umanecropsia. Este episdio foi fundamental na elucidao do problema.

    Embora tenha enfrentado grandes dificuldades para obter as informaes, devido a um sistemticotrabalho de sabotagem, ele procurou realizar um amplo estudo temporal sobre a mortalidade das purperasdesde a fundao da maternidade em 1784. At 1822, antes da introduo dos estudos antomo-patolgicos,

    a mortalidade mdia foi 1,2% e de 1823 at 1846 este valor aumentou para 5,3%. A partir de 1840, pordecreto imperial a maternidade foi dividida em duas unidades, a primeira para o ensino de mdicos e asegunda para o de parteiras. Muitas pacientes graves da primeira unidade foram transferidas para asenfermarias gerais e seus bitos no foram computados nesta estatstica, mas mesmo assim a mortalidade daprimeira unidade sempre superou a da segunda a partir desta data, o que no ocorreu pelo menos em 1839.Infelizmente, os dados individualizados por unidades, anteriores a este perodo, lhe foram negados. Eleobservou na primeira clnica, serem as complicaes mais freqentes em pacientes com trabalho de partoprolongado e naquelas cujos filhos tambm infectavam.

    Por sua vez, as pacientes com parto prematuro ou domiciliar apresentavam uma menor mortalidade.Outra observao interessante que na primeira clnica os casos apareciam em grupos de pacientes, muitasvezes em leitos contguos, ao passo que na segunda unidade, sua distribuio era aleatria. Alm disso,

    tambm os recm-nascidos morriam com mais freqncia na primeira unidade.

    Semmelweis passou a comparar minuciosamente as duas unidades. As pacientes eram distribudas entreas clnicas de acordo com a data de admisso, assim logo afastou as "influncias csmico-telricas" dateoria miasmtica, pois no havia como sustentar que estes fatores caprichosamente s agissem nos dias queas parturientes eram internadas na primeira unidade. As pacientes proviam das mesmas camadas sociais, ascondies ambientais eram as mesmas ou at piores na segunda clnica onde havia maior aglomerao, poiselas se escondiam caso seu trabalho de parto iniciasse num dia de internao na primeira clnica.Procurando uniformizar as condutas divergentes, Semmelweis determinou que as pacientes de parto sedeitassem de lado e que os toques fossem feitos com mais delicadeza e at proibiu que um padre tocasse a

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    sineta a cada extrema-uno realizada, pois reduziria o medo, relacionado em todos compndios como umfator importante para a febre puerperal. Mesmo contra sua vontade, janelas foram fechadas para impedir aentrada de miasmas, mas nada adiantava.

    Para a formulao de hipteses sobre a cadeia epidemiolgica, Semmelweis fez um levantamentobibliogrfico sobre o tema e avaliou criticamente as teorias e propostas anteriores, buscando um maiorentendimento do problema. Com vimos anteriormente, na sua poca a teoria preponderante para explicar as

    doenas epidmicas relacionavam-nas s condies atmosfrico-telricas, portanto aos fatores externos. Porsua vez, as doenas endmicas eram atribudas a fatores cuja atuao se limitava a uma localizaoespecfica. Ele mesmo concluiu que estes conceitos eram algo confusos e, contrariando o bom senso,independiam do nmero de casos observados. Ao se considerar uma doena epidmica, as possibilidades decontrole ficavam bastante limitadas, pois como alterar as condies atmosfricas de Viena? Portanto, estateoria havia limitado o descobrimento da verdadeira causa e o controle da febre puerperal. Ele acreditavaque o maior nmero de casos na primeira clnica se devia a uma causa endmica ainda desconhecida,presente apenas nesta unidade e que uma vez identificada, poderia ser controlada. Ele logo descartou outrashipteses correntes sobre a gnese da febre puerperal, pois no poderiam justificar a diferena observadaentre as unidades, uma vez que deveriam ser igualmente nocivas em ambas as clnicas. Algumas destasteorias eram: alteraes hematolgicas da grvida; pletora de sangue ou lquidos; coagulao espontnea;

    diminuio de peso devido a eliminao do feto; ferimentos no trato genital ocasionados pelo parto e at ainvoluo uterina imperfeita.

    Vrias comisses foram criadas para tentar resolver o problema, mas partindo de premissas cientficasequivocadas o seu insucesso seria facilmente previsvel, como comentava Semmelweis. Foi aventado que omedo da morte ao observar casos ao lado, ou ento a agresso ao pudor feminino decorrente da paciente serexaminada por um homem desencadearia este quadro predominantemente na primeira unidade, mas comoexplicar a maior incidncia tambm nos recm-nascidos, que seguramente no teriam esta percepo oupudor? No final de 1846, enquanto ele investigava o problema, um novo grupo foi formado sem a suaincluso. Esta equipe concluiu que a causa da morte era uma leso decorrente do toque vaginal realizadopelos estudantes, em particular estrangeiros e como medida de controle foi proposta a reduo do nmero

    de estagirios, aceitando somente os austracos. A mortalidade apresentou uma queda acentuada nos mesesseguintes e problema parecia estar resolvido. Neste mesmo perodo Semmelweis estava afastado de suasatribuies didticas e praticamente no examinava as parturientes. Mas como um desafio a acompanharsua trajetria, quando Semmelweis reassumiu suas atividades, a mortalidade voltou a subirassustadoramente de maneira inesperada, provando que tambm essa hiptese era infundada.

    Atendendo a uma recomendao de Kolletschka, a 2 de maro Semmelweis partiu para um descanso emVeneza, mas ao voltar foi surpreendido pela notcia da morte deste seu amigo, que durante uma autpsia,foi ferido no brao pelo bisturi de um estudante. A descrio das leses encontradas no laudo do exame docolega era semelhante das parturientes, ento Semmelweis concluiu: "se os dados das autpsias eramidnticos, no seriam as causas tambm comuns? Kolletschka morrera duma leso na qual o bisturi

    introduzira partculas de decomposio de matria cadavrica. Os mdicos e seus discpulos no poderiamcom suas mos trazer as mesmas partculas ao regao das pacientes, rasgado pelo parto?"

    Estariam explicadas as diferenas de cota de mortalidade. Na segunda unidade s trabalhavam asparteiras, que antes de examinar as pacientes no dissecavam os cadveres. Alm do mais, as gestantes departo prolongado sujeitavam-se a mais exames, logo o colo do tero delas era mais sensvel virulncia daputrefao, enquanto as pacientes de partos prematuros ou domiciliares, quase no sofriam o toque vaginal,portanto ficavam protegidas do contgio com as partculas cadavricas.

    A distribuio seqencial de casos podia ser explicada pela prpria ordem de realizao dos exames naspacientes, levando o veneno a todos os casos avaliados. A maior mortalidade dos recm-nascidos poderiaser explicada por sua contaminao ainda intra-tero pelo sangue materno contendo partculas cadavricas

    inoculadas durante os exames ginecolgicos. A anlise histrica da taxa mortalidade tambm confirmavaesta hiptese, pois se observou concomitncia de sua elevao com o incio das autpsias e mesmo oaumento ocorrido em 1847 poderia ser explicado pelo prprio empenho de Semmelweis ao realizar autpsiae examinar pacientes, a partir de sua volta das frias. A reduo da mortalidade conseguida durante operodo de afastamento dos estudantes estrangeiros foi justificada pelo fato deles normalmentefreqentarem vrios servios durante seu estgio e conseqentemente assistirem mais autpsias, ou pelaprpria coincidncia com o afastamento de Semmelweis. Compreendendo sua involuntria contribuiocom o aumento da mortalidade, ele afirmou angustiado: "S Deus sabe a conta das que, por minha causa,desceram prematuramente sepultura!".

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    Provando mais uma vez que Semmelweis estava definitivamente adiante de seu tempo em um trabalhopioneiro, sua investigao pretendia chegar a dados individualizados, para comprovar sua hiptese.Acreditando que: "a variao da mortalidade pode correlacionar-se com as atividades das pessoas", com oapoio dos professores da faco minoritria renovadora da universidade, como Skoda, Hebra e Rokitansky,ele tentou elaborar um quadro que permitisse verificar a mortalidade de pacientes por obstetra ou estudante,correlacionando com sua participao prvia em autpsias. Porm, como escreveu Semmelweis:"autoridades superiores impediram que se levasse a cabo esta misso, porque naquele momento

    interpretaram-na como uma base para denncias pessoais".

    Uma vez formulada uma hiptese, partiu Semmelweis para a elaborao de medidas de controle e amonitorizao posterior da sua eficcia. Suas propostas centraram-se em trs frentes: isolamento dos casos;lavagem das mos; ferver instrumental e utenslios. Assim sendo, mesmo sem consultar o professor Klein,ele afixou na porta da unidade o seguinte cartaz: "A partir de hoje, 15 de maio de 1847, todo estudante oumedico, obrigado, antes de entrar nas salas da clnica obsttrica, a lavar as mos, com uma soluo decido clrico, na bacia colocada na entrada. Esta disposio vigorar para todos, sem exceo". Assimsabo, escovas e cido clrico tiveram entrada em sua unidade. A mortalidade, que chegou aos 18,27%%em abril, caiu a partir de junho para uma mdia 3,04%. Em setembro daquele ano um novo aumento foinotado, que desta vez ele relacionou a uma paciente internada com carcinoma de colo de tero, associado a

    intensa descarga purulenta. Ele observou que sua equipe, mesmo aps lavar as mos ao entrar na unidade,examinava esta paciente e as demais sem repetir este procedimento, logo "nem s os mortos transmitiamaos vivos as partculas infectantes. Tambm as podiam propagar os vivos enfermos, portadores de processosptridos ou purulentos, comunicando-os aos indivduos sos". Em novembro de 1847 uma paciente comquadro supurativo em membro inferior desencadeou um novo aumento da mortalidade, que Semmelweisatribuiu saturao area pelos humores oriundos das secrees. Com isto, para o atendimento departurientes portadoras de processos secretantes ele determinou a mais rigorosa desinfeco das mos apscada exame e removeu-as para salas de isolamento. No ano de 1848 a mortalidade na Segunda clnica(1,33%) foi maior que a da primeira (1,27%).

    A partir da comprovao desses dados Semmelweis concluiu: "Eu assumi que a causa da maior taxa de

    mortalidade da primeira clnica eram as partculas cadavricas aderidas s mos dos obstetras quandoefetuavam os exames. Eliminei esta causa mediante lavagem com cloro e conseqentemente a mortalidadena primeira clnica baixou para ndices inferiores aos da segunda clnica.... A febre puerperal no causadasomente por partculas cadavricas, mas tambm por secrees de organismos vivos, assim necessriolimpar as mos com gua clorada, no somente aps manipular cadveres, mas tambm depois de examesnos quais as mos podem contaminar-se com secrees.... As partculas de secrees que saturam o arpodem tambm penetrar no tero j lacerado durante o trabalho de parto, portanto as pacientes com estasleses devem ser isoladas"

    Entusiasmado com os resultados obtidos, Semmelweis comunicou-os a Skoda e Ferdinand von Hebra(1816-1880), este ltimo fundador da escola dermatolgica de Viena, que logo divulgou o trabalho na

    revista da Associao Mdica de Viena, cujo mdico primaz afirmou: "a significao desta descoberta,mormente para os estabelecimentos hospitalares e, em particular, para as salas cirrgicas, toincomensurvel, que a torna digna da mxima menos de um por cento. Durante um novo surto encontrounos leitos preparados para novas admisses, resduos de secrees purulentas na roupa de cama. Levandocom indignao a roupa suja ao gabinete do diretor convenceu a administrao do hospital a respeito dahigienizao da rouparia. Em 1855 foi nomeado professor de obstetrcia em Budapest, numa universidadesem prestgio no mundo cientfico de ento. Ali convenceu o catedrtico de cirurgia a proteger a incisocirrgica do contato com mos e instrumental que no tivessem sofrido uma limpeza rigorosa.

    Os bons resultados novamente alcanados o estimularam a finalmente publicar em novembro de 1861,quatorze anos aps suas principais concluses, os seus trabalhos sob o ttulo de "Etiologia, Conceito eProfilaxia da Febre Puerperal".

    Em seu tardio livro composto de 543 pginas apresentava numa primeira parte os dados obtidos e suasconcluses a respeito da febre puerperal, e numa segunda parte continha toda a correspondncia que eleencaminhou aos mdicos, com seus esforos para refutar as opinies contrrias. Fruto de sua luta, chega ata adquirir um certo carter messinico ao afirmar na introduo de sua segunda parte: "Minha doutrina nofoi estabelecida para que o livro que a expe se encha de p em uma biblioteca; minha doutrina tem umamisso, que trazer benefcio vida social prtica. Minha doutrina foi produzida para ser disseminada entreos professores de obstetrcia at que todos os que praticam medicina, at o ltimo mdico e a ltima parteirado povo atuem de acordo com seus princpios; minha doutrina foi produzida para eliminar o terror dasclnicas de maternidade, para conservar a esposa ao marido e a me ao filho".

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    Novamente os deuses da medicina reagiram negativamente aos seus achados. Virchow, o fundador dapatologia celular, condenou esse trabalho por no compatibilizar com sua teoria de que todas as patologiasse originavam nas clulas do corpo humano, enfatizando as alteraes histolgicas e no a presena deeventuais "partculas" estranhas. Semmelweis, ao invs de completar seus estudos tentando identificar qualera a "partcula cadavrica" transmitida, polemizou com todos seus principais opositores. Afirmava em suasrespostas: "A sua doutrina assenta nos cadveres das purperas assassinadas pela ignorncia. Se Vossa

    Senhoria persistir em amestrar os seus discpulos na doutrina da febre puerperal epidmica, eu - diante deDeus e do mundo - o declararei assassino". "Tomei a resoluo irrevogvel de impedir at onde me sejapossvel este trabalho de assassinos". "Se me coubesse optar exclusivamente entre permitir que continuem amorrer de febre puerperal ateno de todos os homens de cincia". Estes colegas estimulavam-no a publicarseus achados, mas ele no atendeu de pronto estas solicitaes, no mximo fez vrias exposies verbais deseus achados perante a sociedade mdica local. Embora tenha se sado relativamente bem em suasprelees, os resultados alcanados no meio mdico foram decepcionantes e at mesmo trgicos. GustavAdolph Michaelis, professor de obstetrcia em Kiel na Alemanha, que at havia solicitado os trabalhos deHolmes para tentar entender e controlar um surto semelhante, acabou se atirando sob um trem emmovimento ao sentir-se culpado pelas mortes de suas pacientes, lendo as concluses divulgadas por Hebra.

    Entretanto, pode-se afirmar que a grande maioria dos mdicos foi cmplice da m sorte que o

    acompanhou, por um apego irracional s teses tradicionais, inibindo-a de se curvar s verdades maissimples, como aquelas defendidas por Semmelweis. Suas medidas de controle, cada vez mais severasprovocaram uma onda de resistncia de seus alunos e das enfermeiras. A despeito de seus resultadosfavorveis, sua adeso causa nacionalista hngara contra o domnio imperial austraco na rebelio de 1848valeram a no renovao de seu contrato, com sua demisso em 20 de maro de 1849, o enfraquecimentopoltico da ala progressista que o apoiava na universidade, o banimento de sua teoria sobre a febre puerperale at foi-lhe negado acesso s fichas dos pacientes para poder completar sua investigao estatstica.Mesmo quando por insistncia de Skoda foi recontratado como professor, mas lhe era vedado ensinar empacientes, tendo que utilizar uma boneca em suas aulas. O novo assistente que assumiu em seu lugar, CarlBraun (1822-1891), revogou todas as medidas impostas por Semmelweis e nem mesmo a maiormortalidade favoreceu a um retorno s idias deste precursor. Amargurado, derrotado em seus princpios,

    ele abandonou Viena em 1850, sem se despedir dos amigos, voltando para sua terra natal.

    Aps a derrota da Revoluo Hngara em 1848, o ambiente em Budapest era de desnimo e opresso.Os professores mais ilustres haviam sido afastados de seus cargos e at a publicao da revista mdica daHungria fora suspensa. Semmelweis j estava esquecido em Viena, principalmente por Skoda e Rokitansky,mas um surto de febre puerperal no Hospital So Roque de Budapest reacendeu sua antiga paixo esurpreendentemente foi indicado como diretor honorrio da instituio, em 20 de maio de 1851, ondemesmo sem receber salrios, retomou sua luta, reduzindo a mortalidade para numerosas purperas, quepoderiam ser salvas, e salv-las, mediante a demisso de todos os professores de obstetrcia que no queremou j no podem adotar a minha teoria, eu optaria pela demisso dos professores, pois estou convencido deque se trata de evitar a mortandade de milhares e milhares de mes e lactentes e diante disto, algumas

    dezenas de professores carecem de importncia".

    A defesa de seus pontos de vista no teve os resultados esperados e os arautos da medicina passaram acritic-lo pelo seu descomedimento e at duvidaram de sua sanidade mental. Em 1864 teve que abandonaruma aula devido a uma crise de choro convulso. Ficava angustiado e inquieto, andando de um lado paraoutro, numa ansiedade sem fim. Sua sanidade ia se perdendo, comeou a acreditar que era vtima de umcompl e que queriam matar sua famlia. Ao ver um casal de namorados em plena rua exortava-os aexigirem de seus mdicos a desinfeco das mos, reagindo furiosamente menor contradio.

    Atendendo ao apelo de sua mulher, Hebra internou-o em um manicmio onde no dia 14 de agosto de1865 faleceu de septicemia vtima de um ferimento no dedo durante uma de suas ltimas autpsias

    realizadas. Ironicamente, alm de morrer da doena que lutou para vencer, nesta mesma poca em Londresseus princpios estavam sendo empregados por um homem que adquiriu fama e fortuna, contribuindo paravencer o flagelo da infeco.

    5.4 Wilhelm K Rontgen

    Em 8 de Novembro de 1895, o professor de fsica Wilhelm Conrad Roentgen (aos 50 anos) estudava, emseu laboratrio escuro, o comportamento de descargas eltricas atravs de um tubo com gases de baixapresso e encapado por papel preto para no entrar luz, quando notou a fluorescncia produzida em uma

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    placa recoberta por platino cianeto de brio que se encontrava a uma certa distncia do tubo. Como anatureza da radiao que provocou o fenmeno no era conhecida, ele a chamou de Raios X. Roentgencontinuou seus experimentos estudando a capacidade dos raios x penetrarem vrios slidos e em 22 deDezembro de 1895 exps a mo de sua esposa ao raio recm descoberto obtendo assim a imagemtradicionalmente conhecida como sendo a primeira radiografia.

    A descoberta dos raios-X por Wilhelm Roentgen, em 1895, causou um impacto no somente nos meioscientficos, mas tambm entre os leigos. Sabia-se que algo de extraordinrio fora descoberto e previa-se

    uma nova era para a medicina.O que mais impressionava as pessoas era o poder de penetrao dos raios-X e a possibilidade de

    visualizao do interior do corpo humano atravs das vestes e do tegumento cutneo.A imagem obtida com os raios catdicos foi de incio considerada como um tipo especial de fotografia.

    A imprensa de vrios pases noticiou a descoberta com grande destaque e houve diversas manifestaes,partidas dos mais diferentes setores da sociedade.

    A maioria de tais manifestaes, veiculadas pela imprensa, era de admirao e louvor ao notvel feito dofsico alemo; algumas, entretanto, caracterizavam-se pelo lado ridculo ou pelo senso de humor.

    Conforme relata Bleich (The story of X-rays from Roentgen to isotopes), a radiografia passou a serobjeto de curiosidade e at de preocupao, pois invadia a privacidade do corpo humano, oferecendo domesmo uma representao fotogrfica inesttica.

    Uma loja de confeces de Londres chegou a anunciar a venda de roupas ntimas prova de raios-X.Um deputado, em New Jersey, nos Estados Unidos, apresentou um projeto de lei proibindo o uso, noteatro, de binculo provido de raios-X. Em New York a fluoroscopia era anunciada como "espetculos deRoentgen", ao preo de cinco a 20 dlares.

    A simplicidade dos primeiros aparelhos fez com que surgissem muitos amadores com instalaesimprovisadas, oferecendo fotografias com os misteriosos raios-X. Era comum, entre namorados, a troca defotografias das mos feitas com os raios-X.

    Lojas de material fotogrfico ofereciam componentes para a montagem de um aparelho simples de raiosX que permitia reproduzir as experincias de Roentgen.

    Somente depois que se tornaram conhecidos os efeitos nocivos da radiao sobre o organismo humano que o seu uso se restringiu aos hospitais e clnicas especializadas, inicialmente para fins diagnsticos e,

    posteriormente, tambm para fins teraputicos no tratamento de neoplasias malignas.Ainda assim, as primitivas instalaes no ofereciam proteo adequada e muitos mdicos e operadoresde raios X foram vtimas das radiaes, apresentando radiodermite nas mos, que levavam amputao, ealta incidncia de leucemia.

    5.5 Werner Forssmann (1904-1979)

    Em 1929, este mdico alemo abriu a sua prpria veia, introduziu um cateter at ao seu prprio coraoe pediu a um amigo que o radiografasse para que todos pudessem acreditar. Agentou a dor fsica, o medode perder a sua vida, o cepticismo e o desprezo mas abriu caminho para a era da cirurgia de corao abertoque possibilitou a milhes de pessoas viverem hoje vidas mais longas e com qualidade.

    Cateterizou-se nove vezes aplicando contraste em seu corao para poder visualiz-lo melhor e publicouvrios estudos, mas somente 20 anos depois em 1949 em Nova York dois mdicos Andr FrdricCournand (norte-americano nascido na Frana, 1895-1988), e Dickinson W. Richards (norte-americano,1895-1973) retomaram os estudos de Werner e reintroduziram esta tcnica na medicina o que levou a estesdois mdicos e Forssmann, em 1956, a ganharem o premio Nobel da Medicina. Apesar de tardio,Forssmann teve seu reconhecimento.

    6. A identidade do terapeuta atual

    A evoluo da histria da medicina no mundo muito complexa e no pode ser resumida num trabalhoto simples como este. A apresentao desta cronologia tem como objetivo mostrar, atravs de algumas

    datas e fatos, que a separao das medicinas orientais e ocidentais aps Galeno, s levou a um prejuzo queestamos tentando arduamente resgatar. fcil perceber nesta breve cronologia que os inovadores que viveram no Ocidente sofreram

    perseguies ou foram ridicularizados. Isto caracteriza a nossa resistente viso as inovaes, principalmenteno que se relaciona qualidade de vida e no leva ao lucro alguma Corporao. Nosso "sistema de sade"deveria ser chamado "sistema de doena", pois no h lucro em manter as pessoas saudveis...

    A evoluo histrica da medicina na China teve seus problemas, mas conseguiu sobreviver por 5000anos. Neste longo perodo ela no se desviou da viso do homem holstico. Os chineses no duvidavam queo corpo e a mente (ou esprito) eram inseparveis. O mesmo no aconteceu no ocidente, que teve suahistria extremamente conturbada e interrompida por perodos obscuros.

  • 8/2/2019 Apostila Historia Filosofia Chinesa 2009

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    Humaniversidade Holstica 20

    A crena de que todos os aspectos dos organismos vivos s podem ser entendidos se reduzidos, nosacompanha at hoje. E o fenmeno que no pode ser entendido nestes termos excludo. Sendo assim, ofenmeno de cura, que envolve uma complexa interao entre aspectos fsicos, psicolgicos, sociais eambientais deixado de lado.

    Finalizamos a histria da Medicina Ocidental com uma frase do fsico Fritjof Capra (1999, p.117): "Asade e o fenmeno de cura tem tido significados diferentes conforme a poca". E isto bem perceptvel naevoluo da Medicina Ocidental.

    Na histria da medicina no ocidente, fica claro o aspecto reducionista que tomou conta do homem:iniciando com Descartes; fortalecendo nas Revolues Industriais, e fragmentando ao extremo com osurgimento das especializaes mdicas, que comearam no sculo XIX e se estendem at hoje.

    Esta viso reducionista foge do conceito de sade atual definido pela Organizao Mundial de Sade(OMS) na qual "a sade um estado de completo bem-estar fsico, mental e social, e no meramente aausncia de doenas ou enfermidades", no pode ser mais admitida como base do pensamento do homemno sculo XXI. Um profissional da sade, ser um especialista em uma determinada rea, tem suaimportncia na atualidade, principalmente com os avanos no campo cirrgico, mas este mesmoprofissional, ao enxergar seu paciente somente pela sua formao de perito, reduz o mesmo doena emque se encontra. Um especialista, com esta viso limitada ser aquele que sabe mais e mais sobre men