Apostila Estética e Arquitetura

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SENTIDOS, MUNDO SENSÍVEL, ESTESIA (dos pré- socráticos a Kant): apostila de apoio Fichas de leituras por Clara Luiza Miranda

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Apostila da disciplina de estética e arquitetura lecionada na Universidade Federal do Espírito Santo, curso de Arquitetura e Urbanismo.

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  • SENTIDOS, MUNDO SENSVEL, ESTESIA (dos pr-socrticos a Kant): apostila de apoio

    Fichas de leituras por Clara Luiza Miranda

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    SUMRIO

    SENTIDOS, MUNDO SENSVEL, ESTESIA: DOS PR-SOCRTICOS A KANT ..................... 3

    PRELIMINARES, A FILOSOFIA ANTES DE PLATO ........................................................ 3

    APORIA: PARMNIDES E HERCLITO ......................................................................... 5

    PLATO E O MUNDO DAS ESSNCIAS ........................................................................ 7

    CONHECIMENTOS ..................................................................................................... 8

    PLATO E A NATUREZA DA ARTE ............................................................................ 10 Conceitos bsicos ou Temas gerais da arte em Plato ..................................................................... 10

    ARISTTELES .......................................................................................................... 11

    DEFINIO DE ARTE ARISTTELES ........................................................................... 12

    Filosofia de Aristteles (In Mundo dos Filsofos) ............................................................ 13

    METAFSICA ............................................................................................................ 14

    INTUIO / RAZO ................................................................................................. 15

    A CRISE DA METAFSICA .......................................................................................... 16

    PRECURSORES DE HUME: EMPIRISMO E RACIONALISMO ................................................ 16

    UNIVERSAL X INDIVIDUAL .............................................................................................. 16

    ESPINOSA CONTRA O CARTESIANISMO ................................................................... 17

    O sculo XVIII ......................................................................................................... 18

    PREPARAO DO PROBLEMA DA ESTTICA ............................................................. 25

    UNIVERSAL X INDIVIDUAL .............................................................................................. 25

    AESTHETICA_ Alexander Gottieb Baumgarten ......................................................... 26 FINALIDADE DA ESTTICA ................................................................................................................. 27

    Imannuel Kant texto introdutrio ......................................................................... 29

    A filosofia de Kant ......................................................................................................... 30

    O problema do conhecimento ........................................................................................ 30

    O conhecimento 2 fontes: a sensibilidade e o entendimento .......................................... 30

    A soluo da antinomia do gosto ................................................................................... 32

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    SENTIDOS, MUNDO SENSVEL, ESTESIA: DOS PR-SOCRTICOS A KANT

    Profa. Dra. Clara Luiza Miranda

    PRELIMINARES, A FILOSOFIA ANTES DE PLATO

    O filosofar antes de Plato, a partir de Scrates e dos sofistas, no se dirigia metafsica

    (ontologia). O processo lgico encontrava-se mesclado com o mtico. No havendo a

    consolidao da metafsica, no eram possveis anlises especializadas sobre o ser as

    cincias especiais. Neste caso, no era possvel a existncia de uma esttica.

    A filosofia comeou nas colnias gregas (sia Menor e, depois, pennsula itlica), nos sculos VI

    e V a. C; portanto, da periferia (pr-socrticos) para o centro, em Atenas (sofistas e filsofos

    socrticos). Nas colnias havia intenso contato com outros povos. Porm, foi na Grcia que se

    instaurou um comportamento humano mais acentuadamente racional. Os gregos diante do

    real _ do espanto_ no se limitaram a uma atividade prtica ou a um comportamento

    religioso, mas apresentaram um comportamento filosfico rigoroso. de Nietzsche a frase:

    Outros povos nos deram santos, os gregos nos deram sbios. (In site trigueiros).

    DUALISMO GREGO : O IMANENTE E O TRANCENDENTE

    A caracterstica fundamental do pensamento grego est na soluo dualista do problema

    metafsico-teolgico, isto , na soluo das relaes entre a realidade emprica e o Absoluto

    que a explique, entre o mundo e Deus, uma ordem transcendente e o mundo fsico (imanente)

    ficam separados um do outro. O mundo real dos indivduos e do vir-a-ser depende do princpio

    eterno da matria obscura (Plato), que tende para Deus como o imperfeito para o perfeito;

    assimila em parte, a racionalidade de Deus, mas nunca pode chegar at ele porque dele no

    deriva. E a conseqncia desse irracionalismo outra no pode ser seno um pessimismo

    desesperado.

    Imanente: Filos. Que est contido em ou que provm de um ou mais seres,

    independentemente de ao exterior. [Ope-se a transcendente];

    Filos. Diz-se daquilo de que um ser participa, ou a que um ser tende, ainda que por

    interveno de outro ser. [ao e finalidade].

    Transcendente: Filos. Que no resulta do jogo natural de uma certa classe de seres ou de

    aes, mas que supe a interveno de um princpio que lhe superior [Ope-se, nesta

    acepo a imanente ].

    O PESSIMISMO DOS GREGOS

    Os gregos sentiam que o mundo no tinha qualquer finalidade. A sua criao no era

    atribuda a qualquer deus [na mitologia]. A matria de que era feito sempre existira e obedecia

    s leis que lhe eram prprias. Os deuses pouco ou nada podiam fazer para contrariar esta

    realidade. Como os homens tambm eles estavam submetidos aos mesmos ciclos da natureza:

    nasciam, sofriam e desapareciam quando terminava o ciclo do eterno retorno. Afastados no

    mundo humano, pouco mais eram do que objetos estticos. Nenhum deus est em condies

    de assegurar aos homens a paz ou a felicidade. Estes esto entregues a si prprios, restando-

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    lhes apenas viverem com sabedoria a vida, gozando o presente. Depois espera-os o horror do

    Hades, lugar de trevas e de silncio, donde voltaro para reencarnarem um novo corpo,

    sofrerem e voltarem a morrer. "Entre todos os seres que sobre a terra respiram e se

    movimentam, nenhum mais infeliz do que o homem". Homero, Odissia. O ltimo remdio

    desse mal da existncia ser procurado no ascetismo, considerando-o como a solido interior

    e a indiferena herica para com tudo, a resignao e a renncia absoluta.

    O OTIMISMO CONSEQNCIA LGICA DO SEU RACIONALISMO

    A caracterstica do gnio filosfico grego pode-se compendiar em alguns traos fundamentais:

    racionalismo, ou seja, a conscincia do valor supremo do conhecimento racional; esse

    racionalismo se integra na experincia, no conhecimento sensvel; o conhecimento, pois, no

    fechado em si mesmo, mas aberto para o ser, apreenso (realismo); e esse realismo no se

    restringe ao mbito da experincia, mas a transpe, a transcende para o absoluto, do mundo a

    Deus, sem o qual o mundo no tem explicao; embora, para os gregos, o "conhecer" - a

    contemplao, o teortico, o intelecto - tenham a primazia sobre o "operar" - a ao, o praxis,

    a vontade - o segundo elemento, todavia, no anulado pelo primeiro, mas est a ele

    subordinado; e o otimismo grego, conseqncia lgica do seu prprio racionalismo, ceder

    lugar ao pessimismo, quando se manifestar toda a irracionalidade da realidade, quando o

    realismo impuser tal concepo.

    DUALIDADE DA FILOSOFIA GREGA SEGUNDO NIETZSCHE

    Qual a razo porque um povo que valoriza tanto a razo, a ordem e o controle das paixes,

    teve necessidade de criar uma arte, como a tragdia, onde se expressa o irracional, o

    misterioso ? Nietzsche, A Origem da Tragdia

    Dionsio est ligado aos cultos primaveris. Os seus rituais ocorriam nas florestas, praticando-se

    a embriaguez. A palavra tragdia significa "canto do bode". A este deus contraps Nietzsche

    um outro, Apolo, estabelecendo assim uma dualidade na cultura grega. Dioniso e Apolo foram

    erigidos em princpios de toda a criao artstica.

    Dioniso simboliza a natureza, o excesso e o irracional. O culto a Dioniso, na antiga Grcia,

    aparece ligado a orgias e festividades onde eram cometidas todo o tipo de excessos. As festas

    em honra de Dioniso so inseparveis tambm da msica e da dana onde os participantes de

    fundem com o todo envolvente (o uno primordial, a energia vital). Apolo o contraponto de

    Dioniso. o smbolo da ordem, medida, proporo, forma. Identifica-se com o sonho, as

    imagens e as formas individualizadas. As suas artes so a epopia (Homero) e a escultura.

    Podemos dizer que o primeiro exprime as foras misteriosas e irracionais que emergem da

    natureza, o segundo a ordem e modelao que lhes dada. A arte resultada desta tenso e

    desequilbrio entre dois espritos, o de Dioniso e o de Apolo.

    A principal causa da decadncia da tragdia, de acordo com Nietzsche, tem um nome:

    Scrates. Ele encarnou o esprito de Apolo, e levou a sua preponderncia na cultura grega,

    contribuindo assim para a negao do esprito dionsiaco. Scrates assumido como o modelo

    do homem contemplativo (terico), avesso s paixes e a tudo aquilo que tenha a ver com o

    corpo. Foi ele que descobriu e apontou um sentido para vida humana: a salvao da alma, o

    que implicava a renuncia dos prazeres corporais, os instintos.

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    Com Scrates a vida terrena comea a ser preterida em favor de uma outra vida, no alm.

    Todos aqueles que desistiram de lutar (viver), os fracos, refugiam-se nesta iluso, encontrando

    nela um consolo. Perante esta transmutao de valores operada por Scrates, a reao dos

    atenienses foi violenta. Contudo, a sua morte acabou por lhe aumentar a fama e influncia ao

    torn-lo num mito central da cultura ocidental.

    O modelo de homem que Scrates ir legar s geraes futuras est assim mutilado. Trata-se

    de um Homem que privilegia o razo desprezando a vida, que contrape o saber ao mistrio.

    Este homem imagina um mundo ordenado, mas, onde reina o caos, s encontra uma nica

    escapatria para o seu sofrimento: a iluso de um outro mundo. O cristianismo ir prosseguir

    o caminho aberto por Scrates.

    APORIA: PARMNIDES E HERCLITO

    Foi neste grupo de filsofos que iniciou um dos maiores debates da filosofia ocidental (e essa

    discusso prossegue ainda em aberto, ainda que no nos mesmos termos e luz de todo o

    pensamento ocidental desde aquela poca at hoje), entre Parmnides de Elia e Herclito de

    feso.

    Resumidamente: para Parmnides e seus seguidores (escola eletica, o movimento no existe.

    Sua afirmao "o que , , e no pode no ser, e o que no , no , e no pode ser" traduz

    seu pensamento de que qualquer movimento (ou mudana) no existe, pelo simples fato de

    que, se h movimento, h mudana, e se h mudana, algo que no era passou a ser (ou ao

    contrrio: algo que era passou a no ser), o que contradiz a "regra" de sua afirmao (se o que

    e no pode no ser, impossvel que haja movimento, pois o movimento implica em

    mudana, o que, pela regra de Parmnides, no somente est errado como impossvel). J

    Herclito pensava justamente o contrrio: "Panta rhei" ("tudo flui") a sua afirmao.

    Herclito identifica o ser, a arch, no movimento. Para ele, a nica coisa que pode ser

    classificada de imutvel o prprio movimento, e todas as outras coisas que existem esto em

    permanente movimento, em permanente mudana, e impossvel que no seja assim.

    Herclito exemplifica, dizendo que "no entramos duas vezes no mesmo rio", o que verdade,

    pois as guas de um rio esto sempre mudando, as prprias clulas de seres orgnicos esto

    sempre renovando-se, e mesmo nos seres inorgnicos h mudanas (oxidao, eroso, etc).

    Parmnides ficou pasmo com a soluo de Herclito, que declarou o fluir da realidade, onde

    todas as coisas so e no so ao mesmo tempo, porque esto em eterno movimento de

    mudana. Acreditava que isso impossvel, porque uma coisa ou ou no . Assim,

    raciocinava: As coisas tm um ser e este ser . Se as coisas no tm um ser, ento o no-ser

    no . Com essa assertiva, Parmnides descobriu o princpio lgico do pensamento, que os

    pensadores da atualidade denominam princpio da identidade.

    Por esse princpio, pode-se dizer que o ser nico, pois, se houvesse mais de um ser para cada

    coisa, um seria o no-ser do outro, o que no possvel, porque o no-ser no existe.

    Podemos, ainda, dizer que o ser eterno, porque, se ele tivesse um princpio, antes desse

    princpio ele seria o no-ser, o que no possvel, porque o no-ser no existe, porque se

    existisse ele tambm seria um ser, o que absurdo, j que apenas o ser pode existir. Afirma,

    ainda, que o ser imutvel, porque a mutabilidade implica no no-ser, o que inadmissvel,

    para Parmnides. Tambm o ser infinito, porque a finitude implica no no-ser, quando ele

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    deixar de ser finito. Por fim, afirmou que o ser imvel, porque a mobilidade implicaria na

    admisso do no-ser heraclitiano, o que , mais uma vez, inadmissvel, para Parmnides.

    Scrates no se interessou por este debate, por estar mais preocupado com o ser humano do

    que com o que externo ao mesmo ser humano (a physis). Mas Plato e Aristteles, sem

    descuidarem do enfoque dado por Scrates ao ser humano, procuraram resolver esse

    problema levantados por dois dos filsofos da physis. Zeno professava a mesma crena do

    seu mestre Parmnides: a mudana uma iluso.

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    Prticas torpedeteiras segundo Maria Cristina F. Ferraz:

    Tratado de Grgias contra Parmnides: o nada , se , incognoscvel, se cognoscvel

    incomunicvel. Physis e no ser. Os sofistas no se interessavam em falar de: physis, kosmos,

    ente, mas falar para. Grgias denuncia a pura logologia como mera produo discursiva.

    PITGORAS _ PLATO

    Pitgoras um dos pr-socrticos que mais se aproxima nesse contexto de conceitos lgicos-

    discursivos a respeito do belo. Em Pitgoras, tudo que existe est determinado segundo a lei

    dos nmeros, que so a essncia das coisas, mediante relaes simtricas de harmonia.

    Ao ser - nmeros - se contrapunha o fenmeno, a aparncia das coisas. A ordem e harmonia

    seriam o belo e o bom, o equilbrio do universo segundo Pitgoras era regido por leis

    matemtico-musicais. (cosmo/alma). Os nmeros so a essncia das coisas, enquanto o

    mundo sensorial e visvel, no passaria de mera aparncia. Isso repercute no conceito de idia

    de Plato.

    O pensamento pr-socrtico centrava-se no homem e na sua educao, Paidia. H uma

    disputa entre Scrates e os sofistas (sophia, sabedoria), estes no aceitam a separao entre

    ser e aparncia, para eles o belo independente da bondade. Para os sofistas a obra de arte

    expresso autnoma e fundamental da existncia humana. Mas, Scrates vence essa disputa,

    e o belo volta a vincular-se moral, e passa Plato e Aristteles a trade que domina a

    tradio filosfica do ocidente: bem / belo / verdadeiro. Plato, discpulo de Scrates, teoriza

    metafisicamente o conceito de belo, fazendo-o aderir ao bem.

    PLATO E O MUNDO DAS ESSNCIAS

    Plato, levando em considerao as idias de Scrates, de Parmnides e de Pitgoras,

    incluindo a teoria rfica (o corpo o crcere da alma), criou a Teoria das Idias. Assim ele

    acredita serem as idias perfeitas o extrato da realidade, enquanto que o sensvel (o que

    podemos sentir, usando os sentidos), que nos dado pelo corpo, um elemento que

    obscurece o esprito no conhecimento das Idias Puras.

    Plato separa dois mundos (idia originria, em parte, de Parmnides), um chamado Mundo

    das Idias, onde a idia das coisas pura e perfeita (segundo interpretou Aristteles, aluno de

    Plato, essas idias eram os conceitos das coisas), e outro que chama de Mundo Sensvel, onde

    os sentidos apreendem as coisas apenas em parte, turvando as idias puras das coisas.

    Plato divide o mundo: (de acordo em parte com Parmnides)

    1. mundo sensvel aparncia / devir dos contrrios

    2. mundo inteligvel identidade / permanncia de verdade- conhecido pelo intelecto

    puro sem interferncia dos sentidos e das opiniesPlato afirmou no haver harmonia

    entre corpo e esprito (teoria rfica) e que o esprito, quanto mais livre dos sentidos do

    corpo, mais claramente ser capaz de contemplar as idias.

    Para Plato a matria por natureza algo imperfeito que no consegue manter a identidade

    das coisas (muda sem cessar). O mundo de nossa experincia mutvel. Por isso a filosofia

    deve ocupar-se com o mundo verdadeiro- invisvel aos sentidos - puro pensamento, o mundo

    das essncias (BASTOS).

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    Mundo das coisas sensvel cpia deformada do mundo das idias.

    O mundo sensvel contm o conhecimento sensorial: particular, varivel e mutvel

    corresponde a doxa ou opinio. Conhecimento lgico e intelectual: universal, exato, absoluto

    corresponde a cincia ou episteme. A importncia da filosofia como cincia para Plato

    aprende as idias que so eternas.

    A busca por uma vida que anule ao mximo os sentidos, libertando o esprito para a

    contemplao das idias, o que caracteriza o filsofo. Dentre as idias, a mais elevada a do

    bem, e o esforo para alcan-la caracteriza a maior das virtudes: a da justia. Deus, o

    Demiurgo, fica entre os dois mundos (o das idias e o dos sentidos), e tem um papel de

    organizador de ambos.

    Plato usa a alegoria da caverna, metaforicamente, para explicar a teoria das idias. O mito da

    caverna fala dos homens acorrentados de costas para a entrada de uma caverna, olhando os

    reflexos bruxuleastes de uma fogueira em suas paredes internas. De fora, da boca da caverna,

    vem uma luz forte. As sombras caracterizam o mundo sensvel, as correntes seriam os sentidos

    dados pelo corpo e a luz de fora, o mundo das idias. O Timeu a criao do mundo segundo

    Plato, situa-se na passagem dos objetos sensveis para os objetos matemticos, entre a

    crena e o conhecimento.

    Escalada do conhecimento em Plato (RESENDE, 1998)

    BEM

    Mundo inteligvel

    Idias

    Dialtica

    Cincia

    epsteme

    objetos

    matemticos

    Conhecimentos

    matemticos

    Mundo sensvel

    objetos

    sensveis

    Crenas

    Opinio

    Senso comum

    doxa sombras

    Iluso, conjeturas

    OBJETOS CONHECIMENTOS

    Dialtica, dilogo, fazer o discpulo recordar as idias eternas, pela maiutica, por si mesmo. A

    reminiscncia no platonismo lembrana de uma verdade que, contemplada pela alma no

    perodo de desencarnao (o entremeio que separa suas existncias materiais), ao tornar

    conscincia se evidencia como o fundamento de todo o conhecimento humano (HOUAISS).

    Plato condenava a escrita, pois segundo ele, esta s aumentaria o esquecimento dos homens,

    porque eles passariam a confiar em signos exteriores e estrangeiros (GAGNEBIN). A nica

    memria verdadeira seria aquela interior alma, anamnese, a reminiscncia da essncia

    suscitada na arte dialtica, que no teria existncia fsica.

    TIMEU DE PLATO (VLASTOS, 1987)

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    Em Plato a matemtica a recusa da experincia com o mundo sensvel e a base de sua

    filosofia. No prtico de sua Academia estava escrito aqui no entre quem no sabe

    geometria.

    No Timeu, Plato se prope descrever a origem do cosmos como obra de um deus que toma a

    matria em estado catico e a molda semelhana de um modelo ideal, a idia platnica de

    criatura viva. Este deus est acima da natureza (sobrenatural), no faz parte do sistema que

    cria. Timeu filsofo, engenheiro, mas acima de tudo, artista. Ele a razo personificada.

    Plato chama seu deus de demiurgo, que quer dizer artfice. Isso surpreende, pois artfice

    freqentemente ou um escravo ou um homem livre que trabalha lado a lado com este,

    exercendo o mesmo tipo de trabalho. Na sociedade grega, este estigmatizado, seu status

    cvico precrio. Plato nega-lhe participao poltica na sua cidade ideal na Repblica e

    tambm, no concede-lhe cidadania nas Leis.

    Expresses como inveno, moldagem, demarcao, recortar, entranar que conduzem a

    narrativa do Timeu. O demiurgo exerce um trabalho mecnico ele no inventa uma nova

    forma, mas imprime uma forma pr-existente sobre a matria informe. Parte de um modelo

    belo para criar a criatura vivente (cosmo). O deus do Timeu, tal qual Prometeu quer

    compartilhar sua excelncia com os homens, quanto maior for a beleza e bondade

    exteriorizada, mais satisfeita fica sua natureza.

    O cosmo significa para os gregos ordem criada, composta, que reala a beleza, prximo a

    ornamentar, que sobrevive no ingls cosmtico. No Timeu, o cosmo tem uma alma, uma forma

    ideal; esfrico, porque a forma mais homognea. Ele tem a imagem da eternidade (tempo),

    pois tem uma dimenso de constncia ordenada.

    Na concepo de Plato, a alma do cosmo a nica que se move (vir a ser) do mundo das

    formas abstratas (geometria) para o mundo das coisas sensveis, este caracterizado pelo devir.

    O demiurgo cria a alma, movido pelo pensamento e pela vontade, isto resulta no movimento

    rotativo dos corpos celestes, mais apropriado para a razo. Ou seja, a invarincia absoluta das

    formas eternas dentro do incessante movimento.

    O cosmo de Plato no tem causas fsicas, embora possua certo elementarismo fsico. O

    material que o demiurgo manipula quadrado, geomtrico, ele imprime aos elementares da

    matria: fogo, ar e gua uma ordem estereomtrica regular, pois, estes so, respectivamente,

    substitudos por tetraedros, octaedros e icosaedros, ou sejam, slidos cujas faces so

    tringulos equilteros. Assegura-se a mudana de um tipo de matria para outro a partir do

    contato nessas faces (da transformao: cortar, amassar, etc). A terra seria composta por

    cubos regulares, o que impediria esse processo de transformao para outro estado de

    matria (fogo, gua ou ar).

    De qualquer modo, este processo de tornar o caos em cosmo no visvel, sensvel,. Plato

    fundamenta as causas fsicas na estrutura arquitetnica impressa na matria pelo artfice

    divino. O conhecimento persiste sendo imaterial e eterno em sua concepo. O Timeu um

    livro, que epstemologicamente, fica no nvel das teorias fsicas, estas pretendem explicar o

    fluxo material e sensvel. Observa-se que inferior na escalada do conhecimento de Plato

    (Repblica). O conhecimento um caminho que vem do obscuro clareza, verdade, uma

    conquista de um mtodo, da dialtica, no uma ddiva.

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    PLATO E A NATUREZA DA ARTE

    Idias sobre a natureza da arte. Tchne / ars / craft / artesanato (Segundo Fernando Bastos).

    Em Plato h distino entre arte (Tchne) e beleza. Arte est ligada ao fenmeno (mundo

    material) e o belo idia. A ligao entre beleza, bondade e verdade no pensamento de

    Plato, faz com que a condio sensvel e material da arte, em sua relao com o sentimento e

    a emoo, seja ligada ao desequilbrio. A arte considerada perigosa, enquanto a beleza seja

    identificada a um princpio ideal, essencial, metafsico. Assim, Plato expulsa os poetas e os

    artistas de seu mundo ideal na sua Repblica. No Timeu, o belo relacionado com a

    regularidade e a harmonia.

    Mundo sensvel coloca a imitao (mmese) aparncia de segunda ordem, duplamente

    afastada do ideal de verdade. O problema da mmese problema fundamental da arte:

    duplicidade, representao, expresso, iluso, simulao

    Conceitos bsicos ou Temas gerais da arte em Plato

    1. Idia geral da arte tchne cujo o princpio est na medida

    2. Conceito de mmese

    3. Conceito de inspirao, entusiasmo, loucura como condies necessrias criao

    4. Conceito de loucura ertica e sua conexo com a viso do belo.

    Medida: Conceito extensivo em Plato. Estendendo-se aos princpios de bem e beleza. Saber-

    fazer pressupe o conhecimento dos fins almejados e dos melhores meios para atingi-los.

    Enfim, a verdadeira beleza interior. E eros se torna um meio para aspirao para o bem...

    impulso que ele contm os parmetros da virtude/bem, nsia de realizao como homem, que

    deste modo se livra da priso das paixes. O belo invisvel, essencial indissocivel do bem e

    da sabedoria.

    Sabe-se que Plato expulsa os artistas da sua repblica ideal, para ele a arte opera o

    encantamento do ilusionista e est bem distante da verdade porque atinge apenas uma

    pequena parte de cada coisa, e essa parte no mais que um fantasma, no se baseia em

    conhecimento algum, para ele a arte grega se contenta com a aparncia (para agradar ao

    senso comum).

    Plato, a seleo dos rivais, in Deleuze Crtica e Clnica. Traduo de Peter P. Pelbart S. Paulo:

    Editora 34, 1997.

    (...) Plato reprova democracia ateniense, que nela todo mundo pretende a no importa o

    que. Da sua empresa de restaurar os critrios de seleo entre rivais. Ser preciso erigir um

    novo tipo de transcendncia, diferente da transcendncia imperial ou mtica (ainda que

    Plato se sirva do mito dando a ele uma funo especial). Ser preciso inventar uma

    transcendncia que se exerce e se encontra no prprio campo de imanncia: tal o sentido

    da teoria das Idias. E a filosofia moderna no cessar de seguir Plato a esse respeito:

    reencontrar uma transcendncia no seio do imanente como tal. O presente envenenado do

    platonismo ter introduzido a transcendncia na filosofia, ter dado transcendncia um

    sentido filosfico plausvel (triunfo do julgamento de Deus). (...).

    Toda reao contra o platonismo um restabelecimento da imanncia na sua extenso, e na

    sua pureza que interdita o retorno de um transcendente. A questo de saber se uma tal

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    reao abandona o projeto de seleo dos rivais, ou estabelece, ao contrrio, como

    acreditavam Spinoza e Nietzsche, mtodos de seleo completamente diferentes: estes no

    tratam sobre as pretenses como atos de transcendncia, mas sobre a maneira pela qual o

    existente se preenche de imanncia (o Eterno retorno como, como capacidade de alguma

    coisa ou qualquer um de retornar eternamente). A seleo no incide mais sobre a pretenso.

    Na verdade, s escapam ao platonismo as filosofias da pura imanncia: dos Esticos a Spinoza

    ou Nietzsche.

    ARISTTELES

    Codifica a metodologia cientfico-filosfica do Ocidente.

    Enquanto que para Plato a realidade cpia imperfeita, o que importa conhecer so as

    idias. Para Aristteles, a idia no tem existncia em si, abstrada pelo sujeito, o que

    importa a realidade, para conhec-la preciso reduzi-la as suas causas primeiras - a pesquisa

    causal: material, motora, formal, causa final (a que se destina o objeto).

    Aristteles estabelece a metafsica cujos temas principais so existncia e essncia, estudo dos

    fundamentos das coisas. O conhecimento racional dependeria inteiramente dos objetos do

    conhecimento. Exige a distino entre ser e parecer, entre realidade e aparncia, a aparncia

    s pode ser compreendida e explicada pelo conhecimento da realidade que subjaze a ela.

    Para Aristteles o processo de conhecimento teria princpios lgicos: da identidade, da no

    contradio e do terceiro excludo,

    A lgica da matemtica adota como regras fundamentais do pensamento os dois seguintes

    princpios (ou axiomas): (i)princpio da no contradio; uma proposio no pode ser

    verdadeira e falsa ao mesmo tempo; (ii)princpio do terceiro excludo : toda proposio ou

    verdadeira ou falsa, verifica-se sempre um destes casos e nunca um terceiro.

    Aristteles fornece descries biolgicas muito concretas das atividades da nutrio,

    crescimento e reproduo que so comuns a todos os seres vivos. Tambm procura explicar a

    percepo sensorial (especfica dos animais superiores) e o pensamento intelectual

    (especfico do ser humano).

    Ao explicar a percepo sensorial, Aristteles adapta a definio do Teeteto de Plato

    segundo a qual a sensao o resultado de um encontro entre uma faculdade sensorial

    (como a viso) e um objeto sensorial (como um objeto visvel). Contudo, para Plato, a

    percepo visual de um objeto branco e a brancura do prprio objeto so dois gmeos com

    origem na mesma relao; ao passo que, para Aristteles, o ver e o ser visto so uma e a

    mesma coisa. Este ltimo prope a seguinte tese geral: uma faculdade sensorial em ato

    idntica a um objeto sensorial em ato.

    Esta tese aparentemente obscura outra aplicao da teoria aristotlica do ato e da potncia.

    O acar em si sempre doce; mas s quando o coloco na boca a sua doura passa de

    potncia a ato.

    O sentido do paladar no mais do que o poder para saborear. A propriedade sensorial da

    doura no mais do que ter um sabor doce para aquele que saboreia. Assim, Aristteles

    afirma que a propriedade em ao uma e a mesma coisa que a faculdade em operao. Este

    tratamento da percepo sensorial permite afirmar que as coisas do mundo possuem de fato

  • 12

    qualidades sensoriais, mesmo quando no so percepcionadas. A anlise do ato e da potncia

    permite explicar que as qualidades sensoriais so de fato poderes de um determinado tipo.

    (Fonte: http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/aristocriencia.htm)

    DEFINIO DE ARTE ARISTTELES

    Para definir arte, Aristteles toma emprestado de Plato os conceitos tchne e mmese.

    Tchne, para Aristteles a arte uma forma de tchne, cujo exerccio depende de uma srie de

    requisitos. Arte hbito de produzir com reta razo. O texto a seguir baseia-se, sobretudo, em

    Fernando Bastos.

    Tchne significa meio de fazer, de produzir, assim os processos artsticos so aqueles mediante

    o emprego de meios adequados, permite fazer bem determinada coisa. Assim, Aristteles

    coloca os requisitos da arte no em foras misteriosas inspirao que vem do divino, tal

    com Plato - mas nos poderes e habilidades do artista que configura pela fora de sua

    imaginao, estruturas criadoras, a poiesis, que produo e fabricao. um produzir que d

    forma, uma criao que organiza e instaura uma realidade nova. Idia para Aristteles o

    mesmo que formas, essncias, substratos metafsicos, responsveis pelo ser das coisas. No h

    para Aristteles o antagonismo platnico entre matria e idia, pois as coisas passam a existir

    para ele, na medida em que a essncia e a forma universal se individualizam na matria, do

    mesmo modo que a experincia/ ateno aos fatos, fundamentada pela inteligncia possibilita

    a cincia. As faculdades para aceder ao supremo conhecimento seriam experincia,

    inteligncia e cincia, ao da causa e princpios das coisas, sabedoria.

    As faculdades para aceder ao supremo conhecimento seriam experincia, inteligncia e

    cincia, da causa e princpios das coisas, sabedoria. A arte - enquanto processo formador de

    criao/produo, que pressupe uma tcnica, e enquanto atividade prtica - encontra na

    criao de uma obra seu objetivo final. Aristteles trata a beleza como uma propriedade

    objetiva da obra de arte, da natureza.

    As diferenas marcantes entre Plato e Aristteles residem nas conseqncias cada um deles

    extraiu de sua filosofia para a apreciao e avaliao da arte. A arte enquanto mmese, para

    Plato era cpia servil de uma realidade que a transcendia, para Aristteles mantm com a

    natureza (humana), uma relao de correspondncia e complementaridade criativa e

    reveladora. Se no caso de Plato a arte conduz ao engano e alimenta paixes, para Aristteles,

    a arte reparadora das deficincias da natureza, trazendo contribuies morais. Aristteles

    rejeita o papel que o erotismo traz para a arte. A arte no deve ser identificada com a

    desrazo. No h para ele uma dicotomia entre racional e irracional, mas um jogo

    complementar de foras entre a imaginao criadora e construtiva e as faculdades intelectivas

    da filosofia.

    A arte como poiesis, atividade formadora e a idia de belo, objeto de contemplao H uma

    boa distncia. A produo da arte, decorrente da atividade prtica, depende do sujeito para

    acontecer. Assim natureza, tem seu movimento prprio (gerao e degenerao das coisas);

    tem como causas principais a matria e forma enquanto que a arte nasce da ao formadora

    mobilizada pelas necessidades humanas, acrescenta uma dimenso puramente artificial

    natureza. A matria nada pode gerar por si mesma depende da forma que a delimite e

    determine; em Plato a forma to-somente idia, que existe separada das coisas, no mundo

  • 13

    inteligvel. Em Aristteles ela a matria principio ativo, principio originrio e organizador. A

    alma que d vida ao organismo seria a forma do corpo. Essas causas naturais aplicam-se arte.

    A forma a idia concebida pelo artista. Portanto um ato de inteligncia que atravs da

    prtica, determina a matria, gerando um novo ser, que se denomina obra. O movimento da

    obra prtico. A arte como poiesis assemelha-se natureza, seja no processo formativo seja

    na prpria forma.

    Aristteles separa a arte da ao, fabricao externa racional externa poiesis, a habilidade

    tcnica distingue da atividade prtica (ou prxis) que deriva o carter interior do agente.

    Produo de um objeto distinto atravs da habilidade tcnica. Ateno fabricao incentiva a

    desconsiderao com sua fruio, com a experincia apreciativa (SHUSTERMAN, 1998).

    VEROSSIMILHANA

    A idia de imitao vem da natureza humana para a aquisio de conhecimentos. A imitao

    decorre da necessidade de experimentao, de aquisio de experincia e de prazer, diz

    Aristteles.

    Imitao um ato comparao, de analogia, re-presentao. O ato de imitao est associado

    prpria razo, ao ato racional de fazer e de produzir. A imitao satisfaz tanto a sensibilidade

    quanto inteligncia, esta idia contraditria com a de Plato; Aristteles valoriza a arte em

    funo da sua semelhana com a realidade. Aceita-a como aparncia mesmo, verossimilhana.

    A verossimilhana um nexo com a realidade, no a real, presente, mas a possvel, provvel.

    A mimese, no ponto de vista de Aristteles, participa do mesmo principio produtivo da

    natureza no se imita o que individual e contingente, mas o que essencial e necessrio, no

    se imita as coisas, tais como elas so, mas como devem ser, de acordo como os fins que a

    natureza se prope alcanar. Para Aristteles, o pressuposto da imitao a concepo de

    um mundo racionalista e realista ao mesmo tempo.

    Filosofia de Aristteles (In Mundo dos Filsofos)

    1. Observao fiel da natureza

    conhecimento certo. Aristteles, mais positivo, toma sempre o fato como ponto de partida de

    suas teorias, buscando na realidade um apoio slido s suas mais elevadas especulaes

    metafsicas.

    2. Rigor no mtodo (...).

    3. Unidade do conjunto Sua vasta obra filosfica constitui um verdadeiro sistema, uma

    verdadeira sntese. Todas as partes que compem se correspondem, se confirmam.

    EPICURO

    Segundo Epicuro (n.em 341 a.C.), para atingir a certeza necessrio confiar naquilo que foi

    recebido passivamente na sensao pura e, por conseqncia, nas idias gerais que se formam

    no esprito (como resultado dos dados sensveis recebidos pela faculdade sensitiva).

    Epicuro defendia ardorosamente a liberdade humana e a tranqilidade do esprito. Era

    partidrio do atomismo tal como Demcrito (cerca de 460 a.C. - 370 a.C).

    A doutrina de Epicuro entende que o sumo bem reside no prazer e, por isso, foi uma doutrina

    muitas vezes confundida com o hedonismo. O prazer de que fala Epicuro o prazer do sbio,

    entendido como quietude da mente e o domnio sobre as emoes e, portanto, sobre si

  • 14

    mesmo. a prpria Natureza que nos informa que o prazer um bem. Este prazer, no entanto,

    apenas satisfaz uma necessidade ou aquieta a dor. A Natureza conduz-nos a uma vida simples.

    O nico prazer o prazer do corpo e o que se chama de prazer do esprito apenas lembrana

    dos prazeres do corpo. O mais alto prazer reside no que chamamos de sade. A funo

    principal da filosofia libertar o homem.

    METAFSICA

    Metafsica no mbito da filosofia da arte significa o belo e tem implicaes morais e

    intelectuais. Aristteles estabelece a metafsica, David Hume constitui a chamada crise da

    metafsica e os trabalhos de Imanuel Kant pem o fim da metafsica clssica.

    Aristteles cria a filosofia primeira, a metafsica. Ou, Ontologia estudo do ser (ente) das coisas.

    Ser o que realmente e se ope aparncia. A filosofia primeira estuda a essncia, o

    verdadeiro das coisas. O estudo do ser das coisas - aquilo que faz um ente, um ser. Metafsica

    estuda os primeiros princpios, as causas primeiras meta (vir antes) acima, superior.

    Metafsica significa estudo de alguma coisa que est alm/acima das coisas fsicas ou naturais

    (physis). A metafsica a condio de conhecimento delas. Metafsica, aquilo que condio e

    fundamento de tudo que existe e de tudo que pode ser conhecido.

    Os temas principais da metafsica so existncia e essncia, estudo dos fundamentos das

    coisas. Caracteriza-se pelo objetivismo o conhecimento racional depende inteiramente dos

    objetos do conhecimento. Exige a distino entre ser e parecer, entre realidade e aparncia. A

    aparncia s pode ser compreendida e explicada pelo conhecimento da realidade que subjaze

    a ela. O belo interessa metafsica porque um ponto de confluncia tangvel entre razo e

    sentimento.

    No campo da filosofia da arte se pode perguntar porque a esttica no surgiu imediatamente

    aps Rafael, mas aps Shakespeare? Porque o material produzido necessitou de avaliao

    crtica, criar fortuna crtica, antes que seu contedo pudesse ser apreciado pelo esprito, ser

    ordenado pela reflexo.

    Alm disso, a preparao do problema da esttica passa pelo debate entre empiristas e

    racionalistas. Os racionalistas Descartes - Leibniz Wolf defendem um sistema universal e

    abstrato do conhecimento. Os empiristas a percepo sensvel, individual, sensualista Bacon

    Locke Hume Rosseau. Kant finaliza o debate a partir da problematizao da reconciliao

    entre mundo sensvel e ideal. Ou perguntando-se como pode um sentimento de agrado

    participar do carter da razo. Hume escreveu o Tratado sobre a Natureza Humana em 1738,

    mtodo abstrato de raciocnio, universal uma fico. Entre as conseqncias do debate entre

    empirismo e racionalismo est o deslocamento do estudo do objeto da beleza para o sujeito

    que a percebe.

  • 15

    INTUIO / RAZO

    Ratio latim significa contar , reunir, separar, calcular. Logos, grego, tem o mesmo

    significado. Razo significa pensar e falar ordenadamente, com medida, proporo, clareza e

    de modo compreensvel aos outros.

    Intuio compreenso global e instantnea da realidade, de um fato ou objeto, insight

    Intuio sensvel, psicolgica, lembranas, sensaes, sentimentos, desejos, refere-se aos

    estados do sujeito enquanto ser individual e corporal: objetos e sujeitos especficos.

    Intuio intelectual: dois corpos no podem ocupar o mesmo lugar no espao, ao mesmo

    tempo. O todo maior que as partes

    Uma frase intuitiva de Ren Descartes base do racionalismo cartesiano. Penso, logo

    existo, no preciso demonstrar, ou seja, s afirma com certeza como ser, isto , o ser

    pensante (pois, h dvidas desse objeto que o corpo; a alma, diz Descartes " mais fcil de

    ser conhecida que o corpo").

    Para o empirismo John Locke (1632-1704) a fonte do conhecimento a experincia sensvel,

    responsvel pelas idias da razo; para o racionalismo a fonte do conhecimento a razo que

    controla os sentidos

  • 16

    A CRISE DA METAFSICA

    DAVID HUME (1711-1776) ao invs de perguntar o que realidade? perguntava-se o que

    podemos conhecer?

    Os pressupostos da metafsica at o sc. XVIII eram dois: - a realidade em si existe e pode ser

    conhecida; - idias e conceitos so conhecimento verdadeiro da realidade, porque a verdade

    seria a correspondncia entre as coisas e os pensamentos. O fundamento dos dois

    pressupostos era um deus infinito que garantia a realidade e a inteligibilidade de todas as

    coisas.

    David Hume dir que estes pressupostos no tm fundamento algum, pois o sujeito opera

    associando sensaes, percepes e impresses recebidas pelos rgos dos sentidos retidas na

    memria. As idias nada mais so do que hbitos mentais de associaes de impresses. Deus,

    mundo, alma, infinito, realidade no correspondem a seres, entidades reais e externas,

    independentes do sujeito do conhecimento, mas so nomes gerais com os quais o sujeito

    nomeia e indica seus prprios hbitos associativos. Segundo Hume a metafsica no se refere a

    nenhuma realidade externa em si e por si, mas a hbitos mentais dos sujeitos, que so muito

    variveis.

    David Hume props tambm a hiptese de existir um padro de gosto, que seria vlido para a

    apreciao esttica, e susceptvel de aperfeioamento pela prtica e pelo conhecimento

    erudito das obras de um autor.

    PRECURSORES DE HUME: EMPIRISMO E RACIONALISMO

    Os racionalistas eram chamados no sc. XVII de inatistas, porque respondiam a pergunta

    sobre a origem da razo como algo que nasce com o homem, enquanto os empiristas

    respondiam que o homem adquiria a razo atravs da experincia.

    Ou seja, os dois do explicaes diversas palavra razo, que tem apenas um significado, a

    capacidade de pensar e se expressar ordenadamente e com clareza.

    O problema do conhecimento, a teoria do conhecimento nasceu no sec. XVII. Francis Bacon

    (1561-1626) - Ren Descartes (1596-1658) - preocupados com a questo do erro e da

    verdade, eles iniciaram a anlise dos preconceitos e do senso comum. Bacon elaborou uma

    teoria chamada de crtica dos dolos e Descartes um mtodo conhecido como dvida

    metdica.

    UNIVERSAL X INDIVIDUAL

    Termos que ajudam a localizar a natureza real das tendncias que abordam o problema da

    esttica. Universal so 2 tendncias que determinam o pensamento na crtica. O sistema

    racional e a conexo necessria com o universal com Descartes / Boileau / Leibniz / Wolf /

    Baumgarten. E a escola emprica inglesa que parte do sentimento ou percepo sensvel e

    individual com Bacon / Locke / Shaftesbury/Hume /Rousseau. Kant representa a

    convergncia entre essas tendncias. Propondo a discusso da reconciliao entre o mundo

    sensvel e mundo ideal. E questionando como o sentimento de belo e de prazer/ agradvel

    podem participar do mundo da razo.

  • 17

    As idias estticas da filosofia pr-kantiana no prestaram muita ateno ao problema do

    belo, centraram-se na questo da relao do homem com o mundo: questes relativas a

    liberdade humana, a natureza de Deus, a extenso do conhecimento, a natureza do esprito e

    da sociedade.

    Para Descartes (1596-1650) o conhecimento era definido a priori, assim as idias inatas eram

    definidas por Deus, baseia que a cincia uma prtica a priori, a sabedoria autoridade

    vlida. O conhecimento obtido pela experincia (sentidos) deve ser avaliado em funo da

    autoridade. O racionalismo cartesiano busca clareza de conceitos, certeza de princpios

    bsicos e reflete nas teorias acadmicas do sc. XVII. No cartesianismo, o ponto de partida

    conhecimento distinto e universal. O problema da dvida, do cogito, do mtodo, afirmava a

    subjetividade.

    Um poeta cartesiano: Boileau Arte potica, 1674. Ele diz antes de escrever... aprendeis a

    pensar, acredita que a clareza externa reflete a interior, tudo que presidido pela razo flui

    naturalmente. Tanto o primado da razo quanto a imitao dos antigos contribui para apuro

    do bom gosto.

    ESPINOSA CONTRA O CARTESIANISMO

    Barusch Espinosa difere essencialmente do neo-platonismo de Plotino.

    Plotino: Deus o Logos, a Inteligncia. Essa Inteligncia o princpio de toda justia, de toda

    virtude e, o que capital para Plotino, de toda beleza. A Inteligncia que faz a realidade ter

    uma forma, na medida em que ela coerente e harmoniosa, na medida em que ela Beleza.

    Da Inteligncia procede a Alma, (..) que evoca o tema platnico da alma do mundo, assim

    como o deus csmico dos esticos. A Alma a mediao entre a Inteligncia, da qual ela

    procede, e o mundo sensvel, cuja ordem constituda por ela. As almas individuais emanam

    dessa alma universal. A alam humana tambm uma parcela do prprio Deus presente em

    ns.

    Abaixo (.do uno- Deus, inteligncia, alma..) , o mundo material representa o ltimo estgio

    dessa "difuso" divina, o ponto extremo onde morre a luz; aqui que encontramos a

    opacidade da carne, o peso da matria, as trevas do mal. Todavia, enquanto o Uno dispersou-

    se, obscureceu-se, abismou-se no mltiplo, este ltimo aspira reconquista da unidade, luz

    e ao repouso na fonte sublime. Ao movimento de procedncia corresponde o impulso de

    converso pelo qual a alma, cada no corpo, obscurecida no mal, se assume e tenta se elevar

    at o Princpio original. Plotino

    A relao entre corpo e mente (Spinoza usa a palavra mens, e no anima), adquire um outro

    sentido. A correspondncia entre ambas leva o filsofo a identific-las na substncia, fazendo

    com que o corpo receba a mxima importncia em sua tica. A substncia pensante e a

    substncia extensa so uma e a mesma substncia, compreendida ora por este ora por aquele

    atributo.

  • 18

    A crtica direta de Spinoza a Descartes sustenta-se no fato de que: Como no h proporo

    alguma entre a vontade e o movimento, tampouco se d nenhuma comparao entre a

    potncia ou as foras da alma e as do corpo; e, por conseguinte, as foras deste no podem de

    modo algum ser determinadas por aquela.

    O que efetivamente permite ao filsofo repensar os conceitos que o conduziro liberdade

    o conatus, aquilo com o que cada coisa se esfora para perseverar em seu ser. No homem, no

    ocorre de maneira diversa do que em toda natureza, porm com a peculiaridade de que ele

    consciente do prprio conatus.

    Referindo-se apenas mente, essa potncia se chama vontade (entendimento), e quando se

    refere mente e ao corpo, chama-se apetite. O desejo ser definido pelo pensador como o

    apetite com a conscincia do mesmo.

    Alm do desejo, existem como afetos primrios apenas a alegria e a tristeza, de tal forma que

    todos os demais surgem destes trs. Na tica, passa a ter fundamental importncia as

    mudanas sofridas pela mente humana, levando-a a uma maior ou menor perfeio

    (realidade). Por realidad y perfeccin entiendo lo mismo.

    A alegria a paixo pela qual a mente passa a uma perfeio maior. A tristeza, ao contrrio,

    a paixo pela qual ela passa a uma perfeio menor. O estudo dos afetos humanos tem por

    objetivo mostrar a existncia de relaes causais entre eles.

    Prope-se, assim, uma renovada ateno ao desejo e corporeidade. No nos esforamos,

    queremos, apetecemos ou desejamos algo porque julgamos que bom, seno que, ao

    contrrio, julgamos que algo bom porque nos esforamos por ele, queremo-lo, apetecemos

    e desejamos.

    O sculo XVIII

    O sculo XVIII representa um esforo de fazer uma sntese entre opostos: Razo e emoo,

    objetividade e relatividade, unidade e multiplicidade. Tenta-se abrigar estas oposies como

    partes integrantes de um todo explicativo.

    Os enciclopedistas dizem que importa se no conhecemos as leis que uniriam todas as coisas

    entre si (STAROBINSKI, 1994, p. 135), mesmo assim, eles organizam uma rvore

    enciclopdica. DAlembert diz uma espcie de labirinto de caminho tortuoso em que o

    espirito se embrenha sem conhecer muito bem a estrada que deve seguir.

    Esta rvore prope uma diviso geral dos conhecimentos segundo trs faculdades: memria,

    razo e imaginao, que divide o mundo literrio em eruditos, filsofos e criadores.

    No cap. Viso Fiel do livro A INVENO DA LIBERDADE, Jean Starobinski diz que quem quer ter

    razo no sculo XVIII, invoca a natureza e se coloca ao seu lado. E se perguntava: O que

    natureza? O que imitar?

    O sculo XVIII tem uma nova conscincia da natureza, diz Starobinski. O problema que ser

    abordado o da transformao do Conceito da Natureza, suas conseqncias para criao

    artstica; O conceito de mimese no sculo XVIII, As poticas que surgem no sculo XVIII

    produtos de posturas diversas diante da natureza e cultura.

  • 19

    NOVA CONSCINCIA DA NATUREZA

    O advento do conceito de espao cartesiano: neutro, isotropo, homogneo teve suas

    conseqncias. D ao sculo o impulso de sua feio relativista. O nico ponto de vista nico e

    supremo o de Deus. O Espao neutro caracterstico da ao transformadora da tcnica.

    STAROBINSKI levanta que o sculo XVIII se prope a realizar o domnio do espao: invaso

    utilitria do espao pelo trabalho humano: comrcio internacional, estradas, intercmbio

    cidade e campo. A propriedade da Terra/ diviso desnatura; a posse transforma a natureza em

    objeto.

    Com o deslocamento do interesse da filosofia (antiga) do ser, na filosofia do Sculo XVII e XVIII

    para o conhecer a natureza entra na ordem cientifica.

    A ilustrao se ope compreenso do mundo fsico como pura extenso (Descartes) ou

    absoluta ordem geometrizada (Spinoza). Diderot diz:

    As cincias abstratas ocuparam por muito tempo, os melhores espritos, com muito poucos

    frutos; ou no se estudou nada do que era importante saber, ou no se ps nem escolha, nem

    foco, nem mtodo nos seus estudos; as palavras se multiplicaram infinitamente e o

    conhecimento das coisas ficou para trs.

    DAlembert por sua vez diz: (...) Tendo de certa forma esgotado pelas especulaes

    geometricas as propriedades da extenso figurada, comeamos por desenvolver-lhes a

    impenetrabilidade, que constitui o corpo fsico e que era a ultima qualidade sensvel da qual a

    havamos despojado. A geometria no penetrava nos fenmenos.

    Assim, Starobinski coloca: deixa-se a geometria para procurar as cincias da natureza,

    renuncia-se esperana de traduzir cada fenmeno por uma forma matematizada, para

    contentar-se em fazer minuciosamente seu inventrio.

    Esprito sistemtico Renuncia-se ao espirito do sistema, adotando-se um espirito

    sistemtico que liberte a pratica e a experincia sensvel da dominao da autoridade. Faz com

    que a natureza entre na ordem cientifica no sculo XVIII.

    Propsito Substitui-se o propsito de tornar a natureza calculvel e mecnica por um outro

    propsito de ordem - que Michel Foucault chame Mthsis - Reduz-se o problema de medida

    aos de ordem; prope-se a analise como Mtodo Universal; A relao do saber com a cincia

    geral da ordem (MTHSIS), provoca o aparecimento de um certo domnio de disciplinas

    empricas.

    Desde o Barroco, a atividade do esprito no se move mais no terreno da semelhana ocupa-se

    em discernir: estabelecer unidades e diferenas. Este processo separa as cincias (razo) da

    Histria (memria). Separa o contedo e forma dos objetos do conhecimento

    (significante/significado). Foucault diz que a razo ocidental, a partir de ento entra na Idade

    do Juzo.

    Nome, teoria, gnero, espcie, atributos, usos, literatura - Lineu A natureza objeto de

    grandes debates, no sculo, que dividiram a opinio e a paixo dos homens, assim como seu

    raciocnio. Oposio entre a valorizao tica da natureza (viagens, lugares, animais exticos) e

    investimento, explorao, lucro. Oposio entre os que crem na imobilidade da natureza

    (Lineu, Tournefort) e os que pressentem a grande potncia criadora da vida, seu inesgotvel

    poder de transformao.

  • 20

    DAlembert diz que as propriedades dos corpos da natureza possuem um lado puramente

    intelectual que abrem o campo para especulao do espirito por a que se desenvolve toda

    a prtica de Lineu que nomeia, classifica, hierarquize: espcies, usos, atributos e somente por

    ultimo coloca a litteraria (toda linguagem depositada pelo tempo sobre as coisas) A

    memria/histria.

    Se o perodo anti-historicista (predominante) esta histria tem outro valor: O historiador

    aquele que v e narra a partir do olhar. Sculo XVII a tarefa do historiador era tratar com os

    documentos. No sculo XVIII - A histria natural dirige um olhar minucioso sobre as coisas e

    transcreve. No h intermedirios, documentos arquivos, mas espaos claros. O gabinete de

    histria e o jardim expem as coisas em quadro. sentido: a viso

    Jardins Paralelamente ao progresso da cincia no sculo XVIII, os jardins ingleses

    proliferam-se celebrando a Bela Natureza - duas maneiras opostas e complementares de

    aprender a natureza. O jardim funcionava como um microcosmo em que a Terra inteira e se

    encerra (...) Todos os lugares, todas as pocas, todas as arquiteturas esto nele. No jardim a

    natureza domada porm conservada - O instante eterno. O jardim uma regio de

    memria (STAROBINSKI, 1994, p. 221).

    Rosseau no livro Nova Helosa diz no vejo em nenhum lugar o menor trao de cultura ... no

    vejo sequer um passo de homem, a idia de ilha deserta que o jardim lhe d. Rosseau prefere

    retornar os homens que a natureza. O cap. Idlio Impossvel STAROBINSKI diz Natureza o

    lugar tradicional do idlio torna-se o lugar do conflito: o desenvolvimento da tcnica, os

    exploradores, os proprietrios de terras contra filsofos, artistas.

    Tanto em relao cincia quanto histria da natureza o sentido que guia o conhecimento

    a vista. Diderot diz que no sculo XVIII um cego pode ser gemetra, mas no ser naturalista.

    Em sntese, o conhecimento no sculo XVIII ordenao - Mthsis, taxonomia, gnese -

    juzo, ordenao quantitativa e articuladora dos objetos, ordenao cronolgica.

    Voltando VISO FIEL, o Universo, no processo de apropriao pelas imagens: desenhos,

    pinturas, e arrolado em espcies, indivduos como no olhar do naturalista e do proprietrio diz

    STAROBINSKI. Essa imitao da natureza considerada trabalho mecnico e no arte. No

    basta imitar pacientemente a natureza preciso que o objeto fale ao nosso sentimento

    Conceito de Natureza na Arte

    Convivem no sculo XVIII, dois conceitos de natureza. O conceito de natureza como expresso

    ideal, no individual onde a beleza a perfeio figurada e visvel na matria. H, ainda, o

    conceito de natureza que tende a imperfeio de cada espcie, para cada objeto. No o tipo

    central que ser o testemunho da inteno criadora da natureza o indivduo ou o monstro.

    Mas, prevalece a noo de uma natureza como uma inteno que visa criar diferenas, e no

    tipos especficos. No h criador superior ao poder criativo da natureza. Neste sentido, o

    homem objeto central do conhecimento a partir de ento participa das intenes

    permanentes da natureza

    Goethe afirmava que o artista o agente atravs do qual a natureza procura produzir suas

    obras primas. A arte o meio pelo qual a fugaz beleza natural torna-se forma durvel.

    A arte atividade sintetizante guiada pelo pensamento que tornava visvel uma realidade

    abstrada de nossa percepo diz STAROBINSKI. Por isso, a obra de arte no deveria ser nem

  • 21

    uma replica exata do sensvel, nem uma inveno arbitraria. No se preocupa com a idealidade

    do seu objeto representado pela preocupao com o ato criador e o poder de construir coisas

    belas. A verdadeira singularidade reside na conscincia do artista. A liberdade do criador deve

    coincidir com a necessidade universal. A arte o prolongamento humano de uma fecundidade

    csmica.

    Ao gnio atribuda a responsabilidade de acrescentar o mundo ao mundo habitual. Kant diz

    O gnio a disposio nata do temperamento atravs do qual a natureza impe uma regra a

    arte (O artista criador de uma realidade sem precedentes vai reivindicar autonomia). Na

    Alemanha se diz que se passa com facilidade do gnio ao demonaco (A questo dizia respeito

    se o fato deste no respeitar regras conduzia sempre liberdade??). Por isso o conceito de

    gnio proclamado no sculo XVIII convive com a colocao de regras. De qualquer modo, o

    final do sculo ir renascer o mito de Prometeu, com o que a nele de esforo herico e de

    revolta contra as prerrogativas da divindade. O gnio transmite vida quilo que toca.

    Na Enciclopdia (discurso preliminar de DAlembert) Memria, Razo e Imaginao so as

    trs faculdades do conhecimento humano. Razo e imaginao so filhas da memria. A

    organizao de sua arvore enciclopdica obedece ao processo natural das operaes do

    espirito.

    A imaginao depende da razo porque antes de criar o artista concebe/pensa. Na criao de

    objetos, a imaginao depende da memria, porque somente imagina objetos semelhantes

    aos que conhece (idias e sensaes).

    As Belas Artes so produtos da imaginao. Na imitao da natureza, a inveno est sujeita a

    regras, que formam principalmente a parte filosfica das Belas Artes. A inveno mesmo

    obra do gnio, que prefere criar a discutir. Incompatibilidade entre contedo e prtica.

    A imaginao no sculo XVIII no mais o lugar do erro (semelhana), nem sequer a louca da

    casa desde que siga regras de utilidade e bom-senso. A veemncia loucura.

    A imaginao so colocados limites desde de regras ao desvio destas: Quanto mais longe da

    semelhana mais prximo de excelncia.

    Arte Como Imitao da Natureza

    A mimese no era um conceito unanime no sculo XVIII: Conceito recuperado no sculo XVII,

    teorizado por Aristteles diz que a arte imita a natureza.

    As Belas Artes esto situadas na prtica que toma suas leis do gnio. Dando assim certa

    preeminncia as artes mecnicas sobre artes liberais. Diderot prefere a pratica, pois esta

    apresenta dificuldades, prope os fenmenos - teoria explica os fenmenos e elimina as

    dificuldades.

    SHAFTESBURG - (Doutrina aliava empirismo e platonismo) tinha a idia que arte criao e

    no imitao. O artista considerado um outro criador, um Prometeu.

    VICO abandona o conceito de mimese e explora o conceito de fantasia, atividade especifica do

    fenmeno artstico, ir consider-la como fonte de criao potica.

    A mimese do classicismo racionalista do sculo XVII no era uma imitao naturalstica, mas

    antes uma potica de cunho idealista. O importante no o naturalismo da natureza

    (emprico, tangvel, pitoresco), mas seu sentido intimo, profundo, o qual reflete uma natureza

  • 22

    humana idealizada. Em BOILEAU (sculo XVII) o modelo a forma bem sucedida. ... de uma

    palavra bem colocada reduziu as musas as regras do dever diz um texto.

    Para Diderot, (se a natureza no Deus) a imitao procede da natureza, mas no entanto no

    se deve imitar a verdade, mas o verossmil. Deve-se escolher da natureza o que vale a pena ser

    reproduzido. O trabalho do artista , pois, tornar belo o mundo sensvel pela transformao de

    um modelo ideal captado do real, na natureza.

    A concepo de Diderot afasta-se da concepo determinista da mimese, para afirmar que a

    arte seleo, e busca de um ideal guiado pela sensibilidade do artista. que so

    responsveis pela beleza da obra de arte.

    A natureza que os homens percebem com os sentidos, apreende com o intelecto e

    transformam com a ao.

    STAROBINSKI diz, ento, que o idealismo clssico vai ser repensado, modificado, em sua

    acepo intelectualizante e orientada num outro sentido.

    (1751) DAlembert no discurso Preliminar

    A imitao da natureza to conhecida e recomendada pelos antigos a imitao dos objetos

    capazes de excitar em ns sentimentos vivos e agradveis consiste em geral, na Bela

    Natureza. Sobre ele tantos autores escreveram sem dar uma idia precisa, seja porque a bela

    natureza s percebida por um espirito refinado, seja tambm porque nesta matria os

    limites que distinguem o arbtrio verdadeiro no esto bem fixados e deixam algum espao

    livre opinio Continua DAlembert na arquitetura e imitao da Bela Natureza menos

    impressionante... A arquitetura limita-se a imitao pela agregao, pela unio de diferentes

    corpos que usa a disposio simtrica da natureza que contrasta com a variedade do conjunto.

    (Discurso Preliminar)

    Milizia (1781) - Diz que a arquitetura uma arte de imitao como so todas as artes. A

    diferena que as ltimas tm, em alguns casos, um modelo natural sobre o que basear seu

    sistema de imitao. A arquitetura carece deste modelo, mas a indstria natural dos homens

    ofereceu um modelo alternativo quando construram seus primeiros alojamentos. O mtodo

    que Milizia propunha era a imitao para nosso uso e para fazer uma seleo de partes

    naturais perfeitas, que constituem um conjunto perfeito, como no se pode falar em natureza.

    A natureza nunca forma um conjunto perfeito (para ele). Os produtos perfeitos surgem das

    escolhas feitas pelos homens de gosto e de talento.

    Estes escolhem e combinam do modo mais adequado para seu objeto, e forma com ele um

    todo medido que chamamos Bela Natureza. Para Milizia os perodos de decadncia da

    arquitetura adotou a dificuldade de reconstruir este modelo original, princpios gerais,

    constantes, e positivos

    A Bela Natureza

    A bela natureza no tem obrigao de produzir conhecimento; o livre jogo da imaginao e o

    entendimento. a prpria experincia do prazer esttico. Kant diz que como se a natureza

    manifestasse a presena das marcas da arte. Tanto a cabana primitiva de Laugier e a bela

    natureza de Milizia (eram produtos de imaginao)

  • 23

    O papel dos antigos STAROBINSKI, lembra que na relao-oposio entre ideal e sensivel, as

    buscas dos modelos nem sempre passavam pela natureza. Alguns persuadidos que os

    antigos foram os nicos a perceber o ideal, fazem deles seus mediadores.

    Winckelmann diz que o estudo da natureza complexo. O estudo, a sntese, a escolha j foram

    feitos pelos antigos. Os modelos gregos eram os mais belos, fizeram a sntese na sua

    arquitetura de traos dispersos na natureza. E no se contentaram em representar a natureza,

    criaram uma outra, a beleza mtica (deuses).

    Vida, Critica e Conhecimento

    No sculo XVIII, as poticas, assim chamadas devido seu anti-historicismo e anti-estilismo, so

    produto da confrontao entre natureza e cultura do seu tempo.

    As pesquisas filosficas desde o sculo XVII resultaram na separao entre contedo e

    pensamento da obra artstica da forma artstica propriamente dita.

    A arte era subentendida como um conjunto de recursos que poderia obter efeitos num pblico

    delimitado socialmente (Ribon). Este aspecto retrico da arte fez com que o estilo alcanasse

    um valor em si mesmo no sculo XVIII. Num 1o. momento o decoro transforma-se num jogo de

    truques: Rocaile, Luis XIV, Luis XV.

    Por outro lado, posteriormente, a histria marcada por uma tenso imanente permite a

    convivncia de Barbarie e cultura.

    O gtico sobrevive, considerado brbaro e potico. O prazer negro encontra sua forma.

    confronto do nacional pelo universal iluminista. Nos jardins, o universo reunido modelos

    chineses, gticos, egipicios, clssicos convivem com conchas, pedras, formas orgnicas. O

    capricho da inveno orgnica contra a fora e finalidade do sublime.

    As poticas que surgem (sublime e pitoresco) se devem a convico de que preceitos

    estabelecidos racionalmente, deveriam, ao mesmo tempo, controlar e dirigir as tendncias

    espontneas do artista - seguindo limites prescritos tanto da realidade externa

    (natureza/cultura) quanto interior (natureza humana)

    STAROBINSKI diz que o pblico exigia verossimilhana nos quadros e desenhos. Os sales do

    Louvre oferecem ocasio para julgar, discutir. V-se nascer a critica de arte: uma livre

    apreciao do mrito das obras formuladas por amadores esclarecidos. At ento as

    academias haviam atribudo a si prprias o direito do juzo artstico (1737). Diderot transforma

    a critica num gnero literrio.

    Para ele o critrio da verdade era a experincia. Afinal a prpria arte est no reino da

    experincia por esta que o critico deve se orientar - deduzir no exame das obras aquilo que

    seu fundamento comum (a natureza humana).

    O Pintoresco e o Sublime

    Kant distingue dois juzos, duas posturas diferentes frente a realidade, sobre eles que funde

    sua critica da faculdade do juzo (1970).

    As caractersticas do sublime foram definidas por Burke, e (1757) ao mesmo tempo que Cozens

    definia o pitoresco.

    No pitoresco os artistas buscam a variedade. A variedade das aparncias d sentido a

    natureza - no busca o universal do belo, mas, o particular o caracterstico.

  • 24

    No sublime. A teoria da subjetividade das sensaes, apenas estimulante e no condicionante

    da natureza em relao ao pensamento tudo que incita as idias de dor e perigo tudo que seja

    terrvel constitui a fonte do sublime diz E Burke. A morte (perigo) no proporciona nenhum

    deleite apenas terrvel.

    Boull e Ledoux criaram uma nova postura de projeto, contra o estilismo. Uma arquitetura

    programtica (transformao pela ao).

    O estilo reduz a arquitetura a uma questo de linguagem retrica. STAROBINSKI aborda

    os dois arquitetos no sonhos da razo (no estilo da vontade) lembrando o titulo do quadro

    de Goya - Quando a razo dorme cria monstros.

    Ledoux e Boull definem a racionalidade especifica da arquitetura. A peculiaridade a

    imaginao formal - os projetos so estudados no para serem construdos, mas no so

    utopias, fantasias. O projetar e definir o objeto atravs dos seus principais atributos tendo em

    vista sua realizao.

    Cenotfio de Boull - a morte transmuta-se em poder

    Olho - teatro Besanon - o homem ao mesmo tempo, construtor, ator e espectador.

    Ledoux - o tipo deduzido de uma pesquisa - carter - absoluto, relativo, acidental. Sua variao

    decorre do clima, lugar, decoro mas h um sistema universal (Quatemere de Quincy) Nos

    planos da cidade de Chaux, h o estudo da relao da construo com a natureza - assim

    como as diversas funes do espao arquitetnico.

    Boull e Ledoux - as formas significantes falantes, a imaginao frente aos obstculos assume

    plena liberdade.

    Em Boull o edifcio no relativo ao espao vazio uma forma da razo em uma natureza

    informe. O pensamento que se manifesta na forma um pensamento social e poltico -

    natureza humana.

    A forma regular, geometria - por isso falante pois a natureza muda.

    Carceri Piranesi (1761)

    Dissoluo do conceito de centro coincide com o espao da existncia humana.

    Mostra que a liberdade quando assume antigos valores pode conduzir a desordem alienao

    global, angustia, anonimato do sujeito ( indivduo).

    Campo de Marte

    A prpria cidade, domnio do informe. Os edifcios tornam-se fragmentos privados de sua

    autonomia - luta entre as instancias de ordem e domnio do informe.

    De outro modo, na Inglaterra, o Parque Stourhead - Wiltshik 1741 o orgnico x geometrizado

    Boull - morte transmita-se no poder - exalta-se Newton - modelo de gnio - Willian

    blake/Boull.

    Alegoria do Olho de Ledoux - teatro Besanon - o homem e ao mesmo tempo construtor, ator

    e espectador.

  • 25

    PREPARAO DO PROBLEMA DA ESTTICA

    Belo interesse da metafsica enquanto confluncia tangvel entre razo e sentimento. E

    interesse da crtica enquanto expresso de vida humana. A combinao entre esses 2

    interesses prepara a Gnese da esttica moderna.

    Winckelmann - crtica.

    Descartes e Kant - metafsica

    Na idade mdia h a interrupo do estudo terico da teoria do belo, ou seja desde Platino at

    ao Sc. XVIII. Na idade mdia no havia conscincia esttica, a finalidade da arte no era criar o

    belo, devido a ligao entre arte e religio.

    Renascimento - Por que a esttica no um advento posterior a Rafael, como a Filosofia da

    arte (identidade entre belo e ideal) posterior a Fidias. Na Grcia o processo secular e religioso

    est completo nesse momento. Mas mesmo o esprito reflexivo e analtico que segue o

    perodo de Rafael s se completa no sc. XVIII. Embora no renascimento permitisse um

    desenvolvimento da autonomia do belo frente a esfera moral. A arte ento genericamente

    concebida, passa a codificar-se em subdivises especficas, e a mmese entendida como

    imitao realista da beleza natural.

    O ponto de ciso entre religio e cultura secular no est em Rafael, mas em Shakeaspeare.

    No no campo da visualidade que este ocorre, mas no drama, em Shakespeare a arte se

    torna independente da arte clssica (helnica) e prope a livre-expresso. O problema da

    dvida, da escolha, da paixo. A tarefa imediata despertar da livre-especulao, que abre a

    senda do desenvolvimento da esttica como elemento integral da filosofia moderna.

    UNIVERSAL X INDIVIDUAL

    Termos que ajudam a localizar a natureza real das tendncias que abordam o problema da

    esttica. Universal so 2 tendncias que determinam o pensamento na crtica. O sistema

    racional e a conexo necessria com o universal com Descartes / Boileau / Leibniz / Wolf /

    Baumgarten. E a escola emprica inglesa que parte do sentimento ou percepo sensvel e

    individual com Bacon / Locke / Shaftesbury/Hume /Rousseau. Kant representa a convergncia

    entre essas tendncias. Propondo a discusso da reconciliao entre o mundo sensvel e

    mundo ideal. E questionando como o sentimento de belo e de prazer/ agradvel podem

    participar do mundo da razo.

    As idias estticas da filosofia pr-kantiana no prestaram muita ateno ao problema do belo,

    centraram-se na questo da relao do homem com o mundo: questes relativas a liberdade

    humana, a natureza de Deus, a extenso do conhecimento, a natureza do esprito e da

    sociedade.

    Descartes (1596-1650). Para Descartes o conhecimento era definido a priori, assim as idias

    inatas eram definidas por Deus, baseia que a cincia uma prtica a priori, a sabedoria

    autoridade vlida. O conhecimento obtido pela experincia (sentidos) deve ser avaliado em

    funo da autoridade. O racionalismo cartesiano busca clareza de conceitos, certeza de

    princpios bsicos e reflete nas teorias acadmicas do sc. XVII, Blondel do partido dos antigos.

    No cartesianismo, o ponto de partida conhecimento distinto e universal. O problema da

    dvida, do cogito, do mtodo: a subjetividade.

  • 26

    Boileau Arte potica, 1674. Ele diz antes de escrever...aprendeis a pensar, acredita que a

    clareza externa reflete a interior, tudo que presidido pela razo flui naturalmente. Tanto o

    primado da razo quanto a imitao dos antigos contribui para apuro do bom gosto.

    AESTHETICA_ Alexander Gottieb Baumgarten

    Alexander Gottieb Baumgarten (1714-62) escreve a primeira Esttica, como teoria das artes

    liberais (como gnosiologia inferior, como arte de pensar de modo belo, como arte do anlogon

    da razo) a cincia do conhecimento sensitivo.

    (....) a aplicao da esttica artstica que se volta para o natural, tornar-se- maior se 1)

    prepara, sobretudo pela percepo, um material conveniente s cincias do conhecimento; 2)

    adaptar cientificamente os conhecimentos capacidade de compreenso de qualquer pessoa;

    3)estender o aprimoramento do conhecimento alm ainda dos limites daquilo que

    conhecemos distintamente; 4) fornecer os princpios adequados para todos os estudos

    contemplativos espirituais e para as artes liberais; 5) na vida comum, supera a todos na

    meditao sobre as coisas, ainda que as demais hipteses sejam semelhantes.

    s objees que se levantam a nova cincia Aesthetica (1750): as percepes sensitivas, o

    imaginrio, as fbulas, as perturbaes das paixes etc. so indignas dos filsofos e situam-se

    abaixo do seu horizonte, Baumgarten responde: o filsofo um homem entre os homens e

    No julga bem se considerar to extensa parte do pensamento humano alheio a ele.

    Escola Leibniz/ Wolf (pressupostos da Aesthetica)

    Wolf divide o esprito humano em 02 partes as idias claras (faculdade superior) percepes

    confusas (faculdade inferior):

    Pars inferior - sensibilidade

    Pars superior - entendimento racional/ inteligvel

    Sistema filosfico Gnosiologia: Metafsica teoria/ Prtica - tica, direito, teoria da conduta,

    teoria da expresso/ Esttica - Gnosiologia inferior - saber sensvel / obscuro

    Lgica/ Gnosiologia superior - super intelecto / claro

    Conhecimento sensvel - percepo obscura intelectivo

    Prtica - tica, direito, teoria da conduta, teoria da expresso

    Esttica - Gnosiologia inferior - saber sensvel / obscuro

    Lgica - Gnosiologia superior - super intelecto / claro

    Conhecimento sensvel - percepo obscura intelectivo. Conhecimento sensvel belo

    (perfeito) apreenso menos clara do conhecimento racional. O grau mximo do

    conhecimento intelectual verdadeiro - no conhecimento sensvel beleza. Beleza - Belo -

    perfeio do conhecimento (unidade) enquanto que o sensvel

    (diversidade/variedade/multiplicidade)

    Conhecimento sensvel belo (perfeito) apreenso menos clara do conhecimento racional.

    O grau mximo do conhecimento intelectual verdadeiro - no conhecimento sensvel beleza.

    Beleza - Belo - perfeio do conhecimento (unidade)

    Sensvel (diversidade/variedade/multiplicidade).

  • 27

    Justificativa de Baumgarten para criar a Aesthetica; a confuso a me do erro (sensibilidade,

    conhecimento confuso), segundo Baumgarten a condio sine qua non para descobrir a

    verdade, quando a natureza no efetua o salto das trevas para luz a confuso se mantm. Da

    noite, atravs dos dedos rseos da aurora, chega-se ao meio dia. Por essa razo, devemos nos

    ocupar da confuso, a fim de que dela no provenham erros, como tantos que ocorrem e por

    que preo entre os negligentes. No se recomenda a confuso, mas corrige-se a ao de

    conhecer, medida que um resqucio de confuso necessariamente intervier nela.

    Baumgarten investiga a correspondncia entre um domnio inferior da esttica (sensibilidade/

    corpo) e um domnio superior da lgica. Para Baumgarten h uma regio do fenmeno

    esttico est situada entre a sensibilidade e a inteligncia pura (FERRY, p 102).

    Razo - (ration) - faculdade ligao referencia verdades metafsicas transcendentais.

    Baumgarten designa um faculdade inferior - analogon rationis - sentidos, imaginao, a

    faculdade potica, a memria diferente do entendimento - intelectus - ateno, reflexo; da

    faculdade de abstrao e de comparao - verdade lgica. As faculdades tm em comum o

    fato de apreenderem relaes entre as coisas do mundo sensvel. Estas trabalham para a

    produo de objetividade conectando as representaes entre si. Ligao sensvel de

    representao Anlogo

    Clssico - esttica do sentimento- o belo situa-se no meio do caminho entre racional e sensvel.

    Definio de esttica teoria do conhecimento inferior, arte do belo pensamento, cincia do

    conhecimento sensvel. Luc Ferry valoriza a definio, pois, o projeto de uma cincia do

    sensvel, valoriza o ponto de vista do homem, enquanto finito. O filosofo um homem, o

    ponto de vista de Deus no possvel, no lhe acessvel.

    FINALIDADE DA ESTTICA

    Determinar a beleza - verdade esttica; trs critrios, de acordo com Baumgarten

    possibilidade da no contradio conformidade do principio de razo unidade

    Beleza trs definies segundo Baumgarten: unidade palpvel, concreta, individual;

    ordem intensa pensada de maneira bela; conformidade idia com as coisas.

    Autonomia do sensvel A faculdades inferiores: reconhecimento das semelhanas, das

    diferenas, a memria sentitiva, a faculdade potica (a imaginao), de avaliar, explicativa de

    casos similares, a faculdade sensvel de designar. Essas faculdades tm em comum o fato de

    apreenderem relaes entre as coisas e o mundo sensvel, conectando as representaes

    entre si.

    Para Baumgarten, a esttica lida com as questes da verdade. As coisas so percebidas como

    verdadeiras de modo sensvel pelas sensaes, pelas imagens e ainda, pela imaginao

    (antecipaes, pressgios). Definio do belo como verdade em funo do anlogo da razo. O

    belo perfeio do conhecimento sensvel. Baumgarten em sua Aesthetica, 1750 confere,

    pois, a autonomia ao sensvel.

    Ponte entre mundo sensvel e o mundo inteligvel atravs da idia da analogia - classicismo

    x esttica do sentimento (sntese). Sntese entre esttica do sentimento e classicismo.

    O belo situa-se no meio do caminho entre racional e o sensvel - como conhecimento confuso

    ope-se razo, mas por outro lado, enquanto representao, o belo se aproxima das

  • 28

    verdades metafsicas que s podem ser aprendidas pela razo. Beleza perfeio do

    conhecimento sensvel. Se a cognio remete a unidade, a noo de perfeio - elevao

    destes, enquanto conhecimento sensvel significa que as representaes da imaginao e dos

    sentidos so capazes de ter sua unidade e suas conexes prprias.

    Objetivo do esteta em Baumgarten (In Luc Ferry) determinao mais determinada possvel

    do individual, enumerao mais completa possvel dos traos de uma representao,

    decomposio em elementos simples, ordinrios, a fim de distinguir o individual. As

    representaes singulares so sempre poticas. De modo que se busca menos a verdade do

    que o individual. Este tipo de investigao terica diferente da esttica.

  • 29

    Imannuel Kant texto introdutrio

    Leituras de KANT BAYER, Raymond. Histria da Esttica

    LEBRUN, Grard. Kant e o fim da Metafsica

    _____________. Sobre Kant

    FERRY, Luc. Homo Aestheticus.

    KANT se interessa pela relao mundo-homem - fenmenos que podemos conhecer, seu

    sistema se compe pelo criticismo:

    Crtica da Razo Pura 1781 - trata do conhecimento e da natureza

    Crtica da Razo Prtica 1788 - trata da moral, tica, esprito e liberdade

    Crtica da Faculdade de Juzo 1790 - trata do juzo esttico, da beleza e do gosto.

    Pontos de partida do criticismo: crise da metafsica, da fundao da disciplina esttica -

    cincia do belo, das belas artes e da sensibilidade, da problemtica do sublime. De problemas

    colocados por David Hume e Baumgarten.

    O criticismo parte da crise da metafsica com David Hume (Sobre Kant, Lebrun), Kant foi

    despertado do sono dogmtico por Hume, foi obrigado a se colocar em questo, a respeito

    de suas idias de mundo, alma e de Deus. Estes eram conceitos desprovidos de sentido?

    Perguntava-se Kant. Toda crtica da razo pura escrita para convencer-nos de que, quando

    conhecemos ou formulamos um conhecimento, nada desvendamos de ser em si, no

    deciframos um texto gravado nas coisas. O conhecimento em Hume dar- se- ia pela

    experincia do sujeito (nunca freqentaremos as coisas, elas no oferecem condies

    necessrias inspeo de nosso esprito. Kant localiza os objetos no espao e tempo, com seus

    contedos feitos para serem percebidos, imitados, medidos por homens. Os objetos com que

    lidamos esto submetidos a regras universais, segundo Kant, a gua que ferve depende do

    fogo, para ser objeto, por isso um evento s se diz objetivo se a mudana que expe remete,

    segundo uma regra determinvel, a um evento antecedente. Passa-se da coisa em si ao

    objeto da experincia; entre os homens a causalidade resulta numa relao entre objetos. O

    desafio de Hume era que se encontrasse uma relao necessria entre objetos, a causalidade

    entretanto, encontra-se num lugar diverso daquele onde ele detectava sua ausncia. As

    noes racionais terica partem de uma antidesordem inaugural pela qual os contedos

    sensveis so articulados, sob o nome de objetos. O entendimento no resultado ou cpia da

    experincia pessoal diretor de cena da experincia. O entendimento legislador referente

    aos objetos, assim a razo pura (separa da do sensvel) tem alguma independncia e poder.

    Kant defende a cincia enquanto prtica racional apenas para resguardar os direitos da razo

    em geral.

    Premissas para colocao do processo de chegada ao entendimento: situar senso comum,

    senso crtico, diferena entre questes de fato, valor e conceito. Senso comum, significado, os

    fatos no bastam por si, so permeados por conceitos e suas conexes. Conceitos so

    elementos bsicos de organizao da idias, a partir do suporte de evidncias ou premissas,

    so tiradas concluses e apresentadas a outros, produzindo sentido comum (senso comum).

    Atributos de critrio delimitam o uso correto do termo conceito, Nem todo conhecimento

    provm das percepes, os conceitos matemticos e de cincias abstratas, por exemplo,. O

    senso crtico coloca em dvida questes estabelecidas (ou mal resolvidas) pelo senso comum

    ou cincia, tal como fez Hume com a metafsica e Kant com Hume, ampliando o conhecimento.

  • 30

    O conhecimento provisrio, depende de um estado de desenvolvimento da pesquisa, do

    estado da arte, como diz Foucault.

    A filosofia de Kant

    O ponto de vista do criticismo coloca o retorno s fontes dos nossos juzos tericos, prticos e

    estticos, para ento determinar os princpios em que assentam o conhecimento, a moral e a

    capacidade de apreciao da beleza.

    Entendimento a faculdade de colocar regras e conhecer por conceitos.

    Juzo a faculdade de decidir se uma coisa entra ou no numa regra dada. a faculdade de

    concluir a partir de regras. Os juzos cognitivos e estticos so diferentes, so especificados

    pela relao que estabelecem com o conhecimento: objeto, sujeito, representao e realidade.

    Conceito e intuio. O entendimento no pode intuir nem a sensibilidade pensar o

    conhecimento surge de sua reunio. O juzo uma atividade cognitiva, que vai da auto

    conscincia determinao do objeto. Juzo e objeto so termos correlatos, no meramente

    sensvel a apreciao de uma objeto, o objeto um fenmeno submetido a regras. O

    conhecimento supe uma atividade de nossa conscincia ligando representaes segundo

    regras necessrias.

    As 3 crticas, refletem o desenvolvimento gradual do problema do conhecimento em Kant.

    O problema do conhecimento

    O conhecimento 2 fontes: a sensibilidade e o entendimento

    Por meio da sensibilidade intumos os objetos e de acordo com as percepes dos sentidos, os

    representamos no espao e no tempo - espao e tempo so formas de sentir para Kant.

    Estruturam as percepes e intuies - matria prima do conhecimento, que do origem a

    experincia sensvel.

    A funo do entendimento sintetizar em conceitos as intuies da sensibilidade.

    H formas de sentir e de pensar.

    O entendimento a faculdade de produzir conceitos. No conhecemos as coisas por si

    mesmas, mas por sua representao.

    Conhecemos as coisas como fenmenos, enquanto objeto das nossas representaes

    condicionadas pela sensibilidade e entendimento. Suas formas conduzem ao juzo terico - Os

    juzos tem como contedo a experincia sensvel - que no permitem conhecer realidades

    absolutas, das quais se ocupa a metafsica - so inacessveis ( as primeiras causas). A razo

    que pode elaborar as idias desvinculadas da intuio: Deus, liberdade, finalidade que

    escapam da rbita dos fenmenos - 0s fenmenos e as suas relaes so tudo que podemos

    conhecer.

    A constituio do conhecimento se d mediante juzos e os fenmenos so submetidos a

    regras de unidade, no so baseadas em fatos, mas na reflexo, ou razo. A prpria forma do

    juzo, que funda a objetividade, regra pressuposta na identidade do sujeito. Esta identidade

    pensada mediante a conscincia de regras que torna possvel a ligao universal dos

    pensamentos.

    A 3 Crtica procura um ponto de vista intersubjetivo. Kant se coloca num ponto de vista de

    outros, esta crtica se assenta na possibilidade de assumir um ponto de vista que possa ser

    comum a todos que julgam, sem ser contudo estabelecido conceitualmente. A ausncia de

    regras a priori, distingue crtica de doutrina

  • 31

    Relao entre as 3 crticas

    A perspectiva moral. a liberdade postulado da moral, no da ordem real, mas ideal dos fins

    morais que constitui a esfera superior do Esprito - da causalidade livre.

    As crticas da razo pura e da razo prtica tratam de objetos distintos e inconciliveis: a

    natureza e o esprito, acessvel pela sensibilidade, acessvel pela razo, respectivamente. A arte

    permite o jogo funcional entre sensibilidade e entendimento. O carter livre da beleza

    (finalidade sem fim), a valorizao da beleza e a disposio para a forma so aspectos que Kant

    aborda na Crtica da faculdade de juzo, que so apropriadas em teorias artsticas do sculo XIX

    e XX. O impulso ldico de Schiller, natureza formadora de Goethe, impulso artstico, inteno e

    projeo sentimental (empatia), vontade de arte (Kunstwollen) de Alois Riegl.

    Kant apresenta 2 espcies de juzo:

    1. Juzo determinante - situa o objeto sob a regra

    2. Juzo reflexivo - Parte do objeto para a regra.

    neste ltimo que entra o juzo esttico - juzo de gosto. Juzo que um ato de entendimento

    em que se considera apenas o efeito subjetivo.

    Juzo

    O Que o juzo? Faculdade do juzo a faculdade de pensar o particular como contido no

    universal.

    Analise do belo

    O juzo de gosto esttico.

    Complacncia - que ligamos representao da existncia de um objeto.

    O juzo de gosto , independente de todo interesse

    Agradvel interesse - no um simples juzo mas um desejo de ser afetado por tal objeto

    Bom interesse -

    bom o que apraz mediante a razo pelo simples

    conceito - instrumento, meio para outra coisa. Ambos em ambos esta contido o conceito de

    bom esto ligados interesse.

    Mas o juzo de gosto meramente contemplativo, no terico nem prtico.

    No fundado sobre conceitos e nem os tem por fim.

    Gosto a faculdade de ajuizamento de um objeto ou de representao.

    Belo a representado sem conceitos como objeto de uma complacncia universal.

    O belo no qualidade do objeto, ele o juzo no lgico. O juzo esttico contm

    simplesmente uma referncia da representao do objeto do sujeito.

    A universalidade do juzo subjetiva.

    O belo o que apraz universalmente sem conceito.

    A Critica do Juzo

    O livro compe-se de 2 partes: a crtica do belo e do sublime; a cincia d