Apostila Endo 2012

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ROBERTO HOLLAND VALDIR DE SOUZA MAURO JUVENAL NERY PEDRO FELÍCIO ESTRADA BERNABÉ JOSÉ ARLINDO OTOBONI FILHO ELOI DEZAN JUNIOR JOÃO EDUARDO GOMES FILHO LUCIANO TAVARES ANGELO CINTRA FOA - DISCIPLINA DE ENDODONTIA ARAÇATUBA 2012

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  • ROBERTO HOLLAND

    VALDIR DE SOUZA

    MAURO JUVENAL NERY

    PEDRO FELCIO ESTRADA BERNAB

    JOS ARLINDO OTOBONI FILHO

    ELOI DEZAN JUNIOR

    JOO EDUARDO GOMES FILHO

    LUCIANO TAVARES ANGELO CINTRA

    FOA - DISCIPLINA DE ENDODONTIA

    ARAATUBA

    2012

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    Holland R, Sousa V, Nery MJ, Bernab PFE, Otoboni-Filho JA, Dezan-Jnior E, Gomes-Filho JE, Cintra, LTA

    SUMRIO

    I BIOLOGIA PULPAR 03

    II BIOLOGIA DOS TECIDOS PERIAPICAIS 31

    III ABERTURA CORONRIA 47

    IV PREPARO BIOMECNICO DOS CANAIS RADICULARES 76

    V IRRIGAO DOS CANAIS RADICULARES 124

    VI CURATIVO DE DEMORA 146

    VII OBTURAO DOS CANAIS RADICULARES 157

    VIII DIAGNSTICO DAS ALTERAES PULPARES E PERIAPICAIS 196

    IX TRATAMENTO CONSERVADOR DA POLPA DENTRIA 225

    X PROCESSO DE REPARO APS TRATAMENTO ENDODNTICO 239

    XI ISOLAMENTO DO CAMPO OPERATRIO 259

    XII RADIOLOGIA EM ENDODONTIA 271

    XIII TRATAMENTO DE DENTES COM RIZOGNESE INCOMPLETA 298

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    I - BIOLOGIA PULPAR

    1 - INTRODUO

    A polpa um tecido conjuntivo, portanto, de origem mesenquimal. Contudo,

    apresenta caractersticas bastante peculiares: est contida entre paredes

    inextensveis representadas pela dentina; e possui em sua periferia, em contato

    direto com a dentina, clulas especializadas representadas pelos odontoblastos. A

    ntima relao entre dentina e polpa seja pelo contato ou pela origem embriolgica

    procede denominao de complexo dentino-pulpar.

    2 - ORIGEM EMBRIOLGICA

    A polpa um tecido conjuntivo frouxo, que reage de forma similar a outros

    tecidos de mesma constituio encontrados em outras regies do organismo em

    situaes fisiolgicas ou patolgicas. Contudo, em funo da localizao do tecido

    pulpar em uma cavidade formada por paredes de dentina, exceto pelo forame apical

    e canais acessrios, uma condio excepcional conferida polpa, principalmente

    quando acometida por um processo inflamatrio.

    A formao do dente inicia-se durante a sexta semana de vida embrionria. A

    partir da proliferao do ectoderma relativo aos processos mandibular e maxilar

    originam-se as lminas dentais. O desenvolvimento embrionrio promovido pela

    interao entre clulas e entre clulas e matriz extracelular. Interaes dessa

    natureza regem a diferenciao de ameloblastos e odontoblastos. A regulao se d

    por expresso de molculas na superfcie da membrana celular, tais como as

    integrinas, que so molculas de adeso da superfcie celular. Fatores de

    crescimento produzidos pelas clulas iniciam o processo de proliferao, migrao e

    diferenciao celular.

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    De uma forma geral os processos biolgicos envolvidos com o

    desenvolvimento fisiolgico e patolgico so contnuos e cadenciados por diversos

    fenmenos, os quais, mesmo no pice do desenvolvimento cientfico, estaro longe

    de serem explicados em sua essncia. O processo de formao dental no

    contnuo, mas por motivo didtico, pode-se dividi-lo em trs estgios: boto, capuz e

    campnula. A fase do boto o primrdio do rgo do esmalte, derivado do epitlio

    oral. Apresenta clulas perifricas pequenas, colunares e justapostas, enquanto as

    clulas centrais so poligonais. A extremidade do rgo do esmalte envolvida por

    clulas mesenquimais que se condensam para dar origem papila dentria e ao

    saco dentrio.

    O estgio do capuz se identifica quando as clulas da lmina dentria se

    proliferam dando origem a uma concavidade. Neste estgio j possvel observar

    as clulas do epitlio interno e externo do esmalte separadas por clulas poligonais,

    as quais iro constituir o retculo estrelado medida que os espaos intercelulares

    sejam preenchidos por substncia intercelular. No centro do rgo do esmalte

    possvel notar a papila dentria.

    O estgio de sino ou campnula se d pelo crescimento do capuz dentrio e

    invaginao da margem cervical do rgo do esmalte, dando origem a uma

    estrutura em forma de sino. Nesta fase as clulas do retculo estrelado se tornam

    bem afastadas entre si pelo acmulo de substncia intercelular com grande

    quantidade de glicosaminoglicanas. O retculo estrelado se separa do epitlio

    interno do esmalte por uma camada de clulas denominadas estrato intermdio, que

    parece ser essencial para formao do esmalte, pois est relacionada a

    ameloblastos secretores.

    O ectomesnquima, que j se apresenta condensado e envolvendo o rgo

    do esmalte e a papila dental, forma o folculo dentrio e posteriormente dar origem

    ao ligamento periodontal.

    2.1 - Diferenciao Odontoblstica

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    Os eventos moleculares que esto sendo mais bem elucidados atravs de

    estudos recentes com base nos conceitos da biologia molecular nos do

    informaes mais detalhadas sobre a diferenciao celular relacionadas

    dentinognese. A diferenciao de odontoblastos ocorre durante a fase de sino do

    desenvolvimento dental e requer uma cascata de eventos moleculares entre

    ameloblastos e componentes do ectomesnquima da papila dental.

    Uma complexa interao clula-clula e clula-matriz extracelular gera a

    expresso na mudana gentica das clulas alvo. A diferenciao ocorre mais

    intensamente no pice da estrutura em forma de sino relacionada ponta de

    cspide. Desde o incio da formao dental, uma membrana basal se interpe entre

    o epitlio interno do esmalte e o mesnquima dental e somente as clulas em

    contato com esta membrana basal iro se diferenciar em odontoblastos, sendo que

    o fenmeno de diferenciao catalisado pela interao de fatores de crescimento

    e molculas de transcrio gentica. A membrana basal dental expressa diferentes

    molculas como colgeno, fibronectina, laminina, e proteoglicanas. Alm disso, as

    clulas do epitlio interno do esmalte geram sinais para fatores de crescimento

    como a famlia do TGF- atravs de protenas morfogenticas, tais como BMP-2 e

    BMP-4.

    Para a diferenciao dos odontoblastos necessria inicialmente uma

    interrupo na diviso das clulas ectomesenquimais, formando uma monocamada

    celular para que se inicie a sntese e secreo de matriz extracelular. Neste

    momento, as clulas apresentam-se colunares altas com ncleo direcionando-se

    para a base da clula e prxima papila dental. As clulas tornam-se polarizadas e

    exibem caractersticas de sntese proteica com um sistema desenvolvido de retculo

    endoplasmtico rugoso, complexo de Golgi e mitocndrias.

    Antes da formao de dentina, os odontoblastos distanciam-se da camada

    basal criando uma zona acelular que contem apenas prolongamentos

    citoplasmticos e fibrilas. O primeiro sinal de dentinognese d-se pela

    condensao de substncia fundamental amorfa em torno das fibrilas da camada

    acelular. Aps a formao dessa camada de pr-dentina, a membrana basal

    desaparece junto ao inicio do processo de mineralizao. Ocorre uma interao

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    entre os prolongamentos dos odontoblastos e as clulas do epitlio interno para que

    se diferenciem em ameloblastos para sintetizarem matriz de esmalte.

    2.2 - Formao Radicular

    O desenvolvimento radicular inicia-se um pouco aps a formao coronria.

    Os epitlios interno e externo do rgo do esmalte formam a bainha epitelial de

    Hertwig na ala cervical, a qual se prolifera continuamente crescendo em direo

    apical para formao da raiz.

    A bainha epitelial de Hertwig determina a forma e o tamanho dental final e ao

    contrrio da formao coronria, no h estrato intermedirio e retculo estrelado

    entre o epitlio interno e externo do rgo do esmalte. As clulas no se

    desenvolvem em ameloblastos e odontoblastos, mas so capazes de diferenciar

    clulas mesenquimais da papila em pr-odontoblastos e odontoblastos para

    produzirem dentina. Aps a mineralizao da primeira camada de dentina ocorre a

    induo da diferenciao de clulas do folculo em cementoblastos para

    sintetizarem cemento sobre a dentina radicular. Nos dentes multirradiculados

    desenvolvem-se dobras no epitlio radicular e quando da fuso desses

    brotamentos, formam-se as bainhas de cada raiz.

    Eventualmente, ocorre uma interrupo do desenvolvimento normal da

    formao radicular e produz-se uma descontinuidade do cemento e dentina, dando

    origem ao canal acessrio. O canal acessrio representa uma continuidade entre o

    folculo dentrio e a papila dentria e posteriormente entre o ligamento periodontal e

    a polpa dental. Um dos motivos da interrupo a presena de um vaso sanguneo

    cruzando a direo de crescimento da bainha epitelial de Hertwig. Alguns autores

    acreditam que principalmente em dentes multirradiculados, a presena de canais

    acessrios no pequena e pode ser uma fonte de suprimento sanguneo mais

    importante que o prprio forame apical e representa uma importante dificuldade

    para o tratamento endodntico.

    importante salientar que existe uma poro radicular a qual denominada

    de limite CDC, ou seja, limite entre o canal dentinrio e o cementrio. Idealmente

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    nesse limite que se deve localizar o trmino do preparo biomecnico durante o

    tratamento endodntico, pois representa uma constrio e serve como um anteparo

    natural ao cone de guta-percha que utilizado rotineiramente para obturao do

    sistema de canais radiculares pelas diferentes tcnicas obturadoras, excetuando-se

    algumas tcnicas de termoplastificao. Alm disso, acredita-se que este limite

    oferea as melhores taxas de sucesso do ponto de vista da reparao biolgica

    completa.

    3 - DENTINA

    A dentina composta por aproximadamente 70% de material inorgnico,

    20 % de material orgnico e 10% de gua. As porcentagens so aproximadas em

    virtude da mineralizao constante da dentina, sendo, portanto, varivel com a idade

    e condio bucal.

    A poro inorgnica da dentina constitui-se principalmente de cristais de

    hidroxiapatita - Ca10(PO4)6(OH)2. Os cristais so formados por milhares de unidades

    possuidoras da frmula qumica destacada. J a poro orgnica constituda

    principalmente por colgeno (91%). A maior parte do colgeno do tipo I, mas

    existe uma quantidade pequena de colgeno tipo V.

    3.1 - Poro Orgnica da Dentina

    A matriz de dentina constituda basicamente de colgeno e protenas no

    colgenas. O colgeno representa 90% da constituio da matriz orgnica

    dentinria e forma a base para deposio de cristais de fosfato de clcio para formar

    hidroxiapatita. Por outro lado, as protenas no colgenas (fosfoprotenas e

    sialoprotenas dentinrias-DPP e DSP, osteocalcina, protena da matriz dentinria I

    DMPI, osteoprotena, osteonectina e fatores de crescimento) esto relacionadas

    com o controle do clcio extracelular, regulao do crescimento e forma dos cristais

    e adeso celular pr-dentina. DPP e DMPI so fosfoprotenas cidas que esto

    provavelmente envolvidas no controle do processo de mineralizao. A DSP

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    expressa inicialmente por odontoblastos jovens enquanto a pr-dentina

    sintetizada.

    A DPP est presente na dentina mineralizada e no na pr-dentina e em

    clulas da polpa, pode tambm estar presente em junes tipo gap, no colgeno, e

    iniciar a formao de cristais pela unio de clcio de forma padro. A DSP, por sua

    vez est localizada em odontoblastos, clulas pulpares, pr-dentina e dentina, mas

    no em pr-odontoblastos. J foi encontrada em dentina secundria e reparadora.

    A osteopontina (OPN) e a osteonectina (ONN) tambm so sintetizadas pelos

    odontoblastos. A Osteopontina tem alta afinidade por colgeno e hidroxiapatita e a

    maior quantidade parece estar associada com os locais primordiais de calcificao

    que ocorrem dentro da dentina do manto.

    Os fatores de crescimento (fator de crescimento epidermal - EGF, fator de

    crescimento de fibroblasto - FGF, protena morfogentica ssea - BMP, fator de

    crescimento tumoral beta I - TGF-1) so produzidos por diferentes tipos celulares e

    possuem vrias funes como: estimulao ou inibio de proliferao celular,

    direo da migrao celular, promoo da diferenciao celular, estimulao da

    sntese proteica.

    A biologia molecular oferece a oportunidade de novas estratgias e agentes

    para o tratamento das diferentes doenas, bem como o conhecimento a respeito da

    secreo de molculas especficas, sendo possvel entender a sua relao com a

    determinao do fentipo dos odontoblastos.

    A disponibilidade de protenas

    purificadas por tcnicas de DNA recombinantes um dos exemplos. Recentemente,

    protenas pertencentes ao grupo das protenas morfogenticas (BMP) esto sendo

    associadas induo de formao de dentina reparadora em modelos

    experimentais de polpas humanas expostas. A ao dessas substncias peculiar,

    pois, aps a aplicao, observa-se a formao de nova dentina imediatamente em

    contato com o material aplicado e no s expensas do tecido pulpar vital, sugerindo

    a formao de tecido de forma mais controlada.

    3.2 - Caractersticas da Dentina

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    A dentina formada durante o desenvolvimento dental denominada de

    dentina primria, enquanto a dentina que se forma fisiologicamente durante o

    desenvolvimento completo do dente chamada de dentina secundria. A dentina

    secundria relaciona-se diretamente com a dentina primria que altamente

    mineralizada, mas h alguns sinais de diferenciao entre elas.

    A formao da dentina secundria lenta e contnua e reduz o volume da

    cmara pulpar. O nmero e o trajeto dos tbulos dentinrios so mais irregulares

    devido ao agrupamento progressivo dos odontoblastos medida que caminham em

    direo polpa. Quando de restauraes ou crie, ocorre a formao de dentina

    subjacente rea de contato com a rea exposta. Essa dentina mais irregular e

    pode ser denominada de dentina reacional. A sua estrutura irregular, podendo

    inclusive conter incluses de clulas e em algumas reas pode-se no observar

    tbulos dentinrios (dentina atubular). Quando da aplicao de materiais indutores

    de mineralizao, diretamente sobre o tecido pulpar, ocorre a estimulao de clulas

    a se diferenciarem em odontoblastos e produzirem uma nova dentina com

    semelhanas dentina fisiolgica, essa dentina chamada de dentina reparadora.

    3.3 - Anatomia da Dentina

    A dentina apresenta estruturalmente, cinco entidades: o odontoblasto e seu

    respectivo prolongamento; o tbulo dentinrio; o espao periodontoblstico; a

    dentina peritubular; e a dentina intertubular. Consideraremos o odontoblasto e seu

    prolongamento como uma clula da polpa, por convenincia didtica e, portanto,

    ser descrito posteriormente.

    Tbulos Dentinrios

    Os tbulos dentinrios alojam os prolongamentos dos odontoblastos e

    formam-se, durante a dentinognese, ao redor dos processos odontoblsticos. Eles

    permanecem como canais de comunicao que se estendem por toda a dentina

    completamente madura, desde a juno amelo-dentinria juno cemento-

    dentinria. Os tbulos dentinrios ocupam de 20 a 30% do volume da dentina

    ntegra, sendo que o volume do lmen varia de 1 a 3m dependendo da idade e da

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    localizao dentro da dentina, pois so cnicos com o dimetro maior situado

    prximo polpa. Devido a essa conicidade, cerca de 80% do volume total da

    dentina prxima polpa representada pelos lmens dos tbulos, ao contrrio da

    dentina perifrica onde representam apenas 4% (Quadro 1).

    Quadro 1. Nmero e dimetro mdios por milmetro quadrado dos tbulos

    dentinrios em relao profundidade em direo polpa.

    Distncia da

    polpa (mm)

    Nmero de tbulos (1000/mm2) Dimetro do Tbulo

    Mdia Variao Mdia Variao

    Parede pulpar 45 30-52 2,5 2,0-3,2

    0,1-0,5 43 22-59 1,9 1,0-2,3

    0,6-1,0 38 16-47 1,6 1,0-1,6

    1,1-1,5 35 21-47 1,2 0,9-1,5

    1,6-2,0 30 12-47 1,1 0,8-1,6

    2,1-2,5 23 11-36 0,9 0,6-1,3

    2,6-3,0 20 7-40 0,8 0,5-1,4

    3,1-3,5 19 10-25 0,8 0,5-1,2

    Espao Periodontoblstico

    Localiza-se entre a parede do tbulo dentinrio e o processo odontoblstico.

    Este compartimento contm lquido tecidual e alguns constituintes orgnicos como

    fibras colgenas, importantes no desenvolvimento das mudanas no tecido

    dentinrio. O processo odontoblstico e o material orgnico no interior dos tbulos

    dentinrios representam o tecido mole da dentina.

    O fluido presente no espao periodontoblstico ocupa aproximadamente 22%

    do volume total da dentina e sua composio assemelha-se ao plasma sanguneo.

    Sabe-se que a presso interna da polpa de aproximadamente 10 mmHg. Assim,

    deve-se esperar que houvesse uma presso da polpa em direo cavidade bucal.

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    Na medida em que temos uma exposio dentinria, ocorre na superfcie o

    aparecimento de gotculas de fludo que aumentam em quantidade medida que a

    dentina desidratada com ar comprimido, calor ou pontas de papel absorvente. A

    movimentao de fluido no interior dos tbulos dentinrios um fator que pode estar

    ligado sensibilidade dentinria segundo a teoria hidrodinmica. Nagaoka et al., em

    1995, observaram que a invaso bacteriana aconteceu mais rapidamente em dentes

    no vitais que em dentes vitais, quando a superfcie dentinria foi exposta ao meio

    bucal por 150 dias. A invaso foi mais rpida, talvez, devido ausncia do fludo

    intertubular e dos prolongamentos odontoblsticos que serviriam como uma

    resistncia invaso bacteriana.

    Dentina Peritubular

    Parte da dentina mineralizada que desenha os tbulos dentinrios

    denominada de dentina peritubular. caracterizada pelo alto contedo mineral, pois

    uma quantidade escassa de matriz orgnica remanesce aps a desmineralizao da

    dentina peritubular, consistindo praticamente de algumas fibras colgenas. A

    remoo dessa poro da dentina pelos agentes condicionadores cidos, durante

    os procedimentos restauradores aumenta o dimetro dos tbulos dentinrios e

    consequentemente a permeabilidade dentinria.

    Devido ao alto grau de mineralizao, a dentina peritubular serve de reforo

    estrutural para toda a dentina intertubular dando mais resistncia mecnica ao

    dente.

    Dentina Intertubular

    A dentina intertubular encontrada entre os aros de dentina peritubular que

    forma o arcabouo dos tbulos dentinrios e constitui o corpo da dentina

    circumpulpar. Sua matriz orgnica contm uma quantidade abundante de fibras

    colgenas orientadas em ngulo reto em relao aos tbulos dentinrios.

    3.4 - Permeabilidade Dentinria

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    Os tbulos dentinrios representam a via de difuso de fluido atravs da

    dentina. medida que se tem um aumento no dimetro e no nmero de tbulos

    dentinrios, tem-se um aumento da permeabilidade dentinria. A concentrao de

    tbulos dentinrios no corpo da dentina aumenta em direo ao tecido pulpar, sendo

    que prximo juno amelo-dentinria representa somente 1% da rea total da

    superfcie dentinria, enquanto prximo polpa chega a 45%. Assim, deve-se

    considerar que num preparo cavitrio profundo a dentina da parede pulpar muito

    mais permevel que aquela dentina encontrada num preparo mais raso.

    Quando do preparo cavitrio uma camada de dentina amorfa se forma a partir

    do acmulo de debris dentinrios formados em funo do desgaste da dentina, essa

    camada denominada Smear Layer, sendo capaz de diminuir a permeabilidade

    dentinria pela obliterao da luz dos tbulos dentinrios. Se, durante o processo

    restaurador, o condicionamento cido utilizado, tem-se um aumento da

    permeabilidade dentinria pela remoo da Smear Layer e pela desmineralizao

    da dentina peritubular, com consequente ampliao da embocadura do tbulo

    dentinrio.

    A permeabilidade dentinria apresenta diferenas quando se compara a

    dentina coronria e a radicular. Fogel et al., em 1988, constataram que a dentina

    radicular muito menos permevel que a coronria devido diminuio da

    densidade dos tbulos dentinrios, de 42.000/mm2 na dentina cervical para

    8.000/mm2 na dentina radicular, dessa forma, o deslocamento de lquido cai

    drasticamente para apenas 2% daquele observado na coroa.

    Quando de uma leso cariosa, possvel observar histologicamente uma

    alterao pulpar mesmo sem constatao de infeco. O que denuncia que

    produtos txicos do metabolismo bacteriano atingem o tecido pulpar antes que os

    corpos bacterianos o faam.

    4 - TECIDO PULPAR

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    A polpa dental um tecido conjuntivo frouxo, especializado e de origem

    mesodrmica. O tecido pulpar desenvolve vrias funes como: induo da

    diferenciao de clulas do epitlio interno do esmalte em ameloblastos para que

    seja produzido esmalte; formao contnua de dentina pelos odontoblastos; nutrio

    da dentina atravs do fludo intratubular; defesa do tecido atravs da formao da

    dentina reacional e reparadora; transmisso de sinais a partir de estmulos na

    dentina atravs da inervao. De uma forma geral, o tecido pulpar possui uma

    estrutura semelhante de outros tecidos conjuntivos.

    4.1 - Estrutura do Tecido Pulpar

    Os elementos estruturais que compem o tecido pulpar so semelhantes

    queles encontrados em um tecido conjuntivo de outras partes do corpo humano.

    Esses elementos so representados por clulas, fibras e substncia fundamental. A

    diferena bsica se d pelo fato do tecido pulpar estar localizado no interior de um

    tecido duro, representado pela dentina, resultando em um comportamento

    fisiopatolgico ligeiramente diferente.

    Histologicamente, ao se examinar o tecido pulpar da regio mais prxima

    dentina para o centro, observam-se camadas distintas denominadas: camada

    odontoblstica; camada pobre em clulas; camada rica em clulas; e polpa

    propriamente dita.

    A camada mais externa (camada odontoblstica) est completamente

    presente somente em polpas que no esto sofrendo nenhum tipo de injria. Os

    corpos dos odontoblastos localizam-se em contato ntimo com a pr-dentina e

    podem no estar integramente presentes quando o dente est sofrendo alguma

    injria como a crie dental ou trauma pelo preparo cavitrio, por exemplo. Nessa

    camada podem ser encontrados capilares sanguneos, fibras nervosas e clulas

    dendrticas. Os odontoblastos possuem variao de tamanho e posio de ncleo,

    assim d a impresso de irregularidade dessa camada, sugerindo a presena de

    uma camada com mais de 3 clulas de espessura. Os odontoblastos so unidos por

    junes tipo gap, desmossomos, e junes estreitas.

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    A camada pobre em clulas localiza-se logo abaixo da camada de

    odontoblastos, assumindo uma espessura de aproximadamente 40m, onde

    praticamente no se pode observar clulas. possvel notar que vasos sanguneos,

    fibras amielnicas e processos citoplasmticos de fibroblastos a atravessam. Parece

    haver uma relao entre a presena dessa camada e o estado funcional do tecido

    pulpar, pois em polpas jovens ou polpas envelhecidas no possvel observ-la.

    A camada rica em clulas est em contato com a camada pobre em clulas,

    onde possvel observar uma quantidade significante de fibroblastos, macrfagos e

    linfcitos. A polpa propriamente dita o corao do tecido, pois contm a maioria

    dos vasos sanguneos e fibras nervosas. Contm normalmente, clulas como os

    fibroblastos, macrfagos, linfcitos, e clulas mesenquimais.

    4.2 - Clulas do Tecido Pulpar

    Odontoblastos

    Os odontoblastos so clulas mesenquimais altamente diferenciadas, cuja

    funo principal est relacionada produo de dentina, por isso serem

    caracterizados como clulas do complexo dentino-pulpar.

    O processo de formao da dentina, do cemento e do osso so semelhantes,

    por isso h semelhanas entre as clulas relacionadas com a formao desses

    tecidos. Essas clulas produzem a matriz orgnica que posteriormente sofre

    maturao e mineralizao. Possuem organelas relacionadas produo de

    protenas, como o complexo de Golgi e retculo endoplasmtico rugoso, grnulos de

    secreo e mitocndrias. O odontoblasto em repouso ou inativo apresenta um

    nmero reduzido de organelas.

    Os odontoblastos so clulas sintetizadoras e secretoras, produzem

    basicamente glicoprotenas, colgeno e substncia fundamental. As protenas so

    transportadas pelos processos odontoblsticos, responsveis pela secreo. A

    matriz secretada forma a pr-dentina que se matura e mineraliza. Parece que o

    odontoblasto sintetiza principalmente colgeno tipo I e pouco colgeno tipo V.

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    sabido que os processos odontoblsticos estendem-se para o interior da

    dentina, mas a profundidade de extenso tem sido motivo de discusso. Acreditava-

    se que os processos odontoblsticos atingiam apenas 1/3 da dentina. Contudo,

    Kelly et al., em 1981 descreveram a presena de tbulos dentinrios at a juno

    amelo-dentinria com auxlio da microscopia eletrnica. Esses conhecimentos sero

    importantes no momento em que se as teorias da sensibilidade dentinria forem

    abordadas.

    Fibroblastos

    Os fibroblastos so clulas tipo constitutivo e se encontram em abundncia

    no tecido pulpar. Esto envolvidos na produo de colgeno e substncia

    fundamental, bem como na eliminao do excesso de colgeno pulpar.

    Embora estejam presentes em todo o tecido pulpar, so mais abundantes na

    zona rica em clula. Os fibroblastos estabelecem contatos entre si a partir de seus

    processos citoplasmticos. Alguns contatos formam junes tipo Gap. Quando as

    clulas so imaturas, apresentam um complexo de organelas muito rudimentar, mas

    quando da maturao, as clulas adquirem um formato estrelado. O Complexo de

    Golgi, bem como o Retculo Endoplasmtico Rugoso proliferam-se e aparecem as

    vesculas secretoras e, portanto, apresentam-se como clulas sintetizadoras de

    protena.

    Parece que os fibroblastos tm relao com o processo de reparo pulpar, pois

    a atividade mittica precedente diferenciao para substituio dos odontoblastos

    parece ocorrer entre os fibroblastos.

    Clulas de Defesa

    Macrfagos e linfcitos so encontrados no tecido pulpar. Outras clulas

    inflamatrias como os neutrfilos, plasmcitos e mastcitos podem ser encontrados

    em situaes de inflamao pulpar. O macrfago uma clula residente nos

    tecidos, que se origina dos moncitos sanguneos. So geralmente encontrados

    prximos aos vasos sanguneos e relacionam-se com a atividade imunolgica. Os

    macrfagos participam do sistema de vigilncia imunolgico por ser uma clula

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    apresentadora de antgeno. So clulas responsveis pela liberao de inmeras

    citocinas e quimiocinas importantes para o desenvolvimento e manuteno do

    processo inflamatrio.

    A presena de mastcitos no tecido pulpar motivo de discusso. Eda e

    Langeland, em 1970, observaram que os agentes desmineralizadores alteravam a

    fluorescncia de mastcitos. E por outro lado, os procedimentos de remoo do

    tecido pulpar, podiam danific-lo, pela ao de frceps, cinzis, brocas, ou discos.

    Miller et al., em 1978, utilizaram polpas extirpadas de dentes com aberturas

    coronrias realizadas com alta rotao. Observaram que os mtodos

    metacromticos falharam na demonstrao de mastcitos em polpas no

    inflamadas, enquanto que duas das polpas inflamadas apresentaram um grande

    nmero de mastcitos sem evidncia de degranulao. A importncia da presena

    dos mastcitos em polpas dentais deve-se a sua relao com o desencadeamento

    do processo inflamatrio. Sabe-se que os mastcitos so clulas residentes no

    tecido conjuntivo e responsveis pela liberao de mediadores qumicos,

    principalmente a histamina, que degranulada quando da interao com antgenos

    diversos. Essa uma resposta inespecfica, embora determinados antgenos

    possam desenvolver uma resposta especfica, em processos alrgicos. A partir da

    se desencadeiam os eventos vasculares e nervosos do processo inflamatrio.

    Entretanto, no parece ter sido observadas tais clulas em um tecido pulpar normal,

    o que difere de outras regies do organismo.

    Clulas Mesenquimais Indiferenciadas

    As clulas que repem os odontoblastos que so danificados durante os

    processos patolgicos ou durante o tratamento odontolgico de uma forma geral

    tm sido motivo de estudo e parece que se originam de fibroblastos e de clulas

    indiferenciadas.

    4.3 - Componentes Extracelulares

    Os componentes extracelulares so representados basicamente pelas fibras

    e substncia fundamental amorfa. As fibras encontradas no tecido pulpar incluem

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    fibras reticulares, que se coram em preto quando se utiliza nitrato de prata; colgeno

    tipo I e III, que representam a maioria das fibras encontradas na polpa; e fibras de

    elastina que se encontram somente na parede dos vasos sanguneos.

    A substncia fundamental amorfa do tecido pulpar possui caractersticas

    semelhantes a de outros tecidos conjuntivos do corpo. A substncia fundamental

    representada pela matriz extracelular amorfa que contm principalmente, protenas,

    polissacardeos, ons e gua. sintetizada pelas mesmas clulas envolvidas na

    produo de fibras, apresentando-se em forma de gel, portanto diferente dos fluidos

    tissulares. Ocupa a maior parte do tecido conjuntivo e responsvel pela reserva

    hdrica do tecido. Quase todas as protenas so glicoprotenas e tm a finalidade de

    sustentar as clulas e mediar muitas das interaes celulares.

    A finalidade bsica das glicoprotenas agir como molculas de adeso. A

    fibronectina a principal glicoprotena, que juntamente com o colgeno influencia na

    adeso, mobilidade, crescimento e diferenciao celular. Inclusive a resposta

    reparadora do tecido pulpar a estmulos, como o hidrxido de clcio, parece estar

    relacionado ao aumento na produo da fibronectina pelas clulas pulpares.

    A substncia fundamental age tambm como um meio para excreo celular,

    onde os produtos do metabolismo celular, bem como nutrientes podem trafegar

    entre as clulas, as fibras e os vasos sanguneos. Durante um processo

    inflamatrio, ocorre a degradao da matriz extracelular pelas enzimas lisossomais

    como: enzimas proteolticas, hialuronidase, condroitina sulfatase e enzimas

    bacterianas. Dessa forma, a regulao osmtica e a nutrio celular se vm

    comprometidas.

    4.4 - Inervao Pulpar

    Sabe-se que a maioria das queixas principais dos pacientes que procuram

    atendimento endodntico est relacionada dor de origem pulpar ou perirradicular.

    Assim o entendimento da inervao pulpar necessrio para que se possa

    estabelecer um completo entendimento do quadro, e realizar um perfeito

    planejamento e tratamento do caso clnico.

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    Os sinais recebidos pelo dente so captados por fibras nervosas mielinizadas

    e amielinizadas presentes no tecido pulpar, as quais transmitem os estmulos ao

    crebro para que sejam decodificados. A inervao pulpar vem da diviso

    mandibular e maxilar do nervo trigeminal.

    Independente do estmulo (alterao trmica ou injria fsica), as fibras

    nervosas aferentes transmitem o sinal ao crebro e este decodifica como sensao

    de dor. Diferente da pele, por exemplo, que consegue distinguir entre o quente, o

    frio, a agulhada e o belisco.

    No tecido pulpar, alm das fibras aferentes, que conduzem os estmulos

    sensoriais ao crebro, esto presentes as fibras autnomas, responsveis pelo

    controle neurognico da microcirculao e fibras simpticas que controlam a

    vasoconstrio arteriolar.

    Existem dois diferentes tipos de fibras nervosas no tecido pulpar, cada uma

    com funo, dimetro e velocidade de conduo do impulso nervoso distintos. A

    fibra tipo A (mielinizada) e a fibra tipo C (amielinizada). A fibra tipo A apresenta-se

    na forma de A-beta (A) e A-delta (A). A maior quantidade de fibras sensoriais

    encontradas no tecido pulpar so as fibras A-delta e C. As fibras A delta esto

    relacionadas dor, temperatura e toque, possuem um dimetro de 1 a 5 m e

    velocidade de conduo do estmulo de 6-30 m/s. Enquanto as fibras tipo C so

    relacionadas dor, possuem um dimetro de 0,4-1,0 m e velocidade de conduo

    menor de 0,5-2,0 m/s.

    interessante lembrar que as fibras nervosas pulpares so relativamente

    persistentes necrose, devido resistncia autlise. Mesmo quando da

    degenerao pulpar, as fibras tipo C podem ainda responder aos testes de

    sensibilidade pulpar. de se esperar que as fibras tipo C mantenham-se excitveis

    mesmo em situaes de hipxia. Como se sabe, os testes que avaliam a resposta

    pulpar aos estmulos trmicos e eltricos, analisam na verdade a resposta sensorial

    e indiretamente vitalidade pulpar. A segurana na utilizao dos testes de

    aproximadamente 80% com o teste trmico e de 64% com o teste eltrico. O laser

    Doppler, por sua vez, um mtodo em que se avalia o fluxo sanguneo, e portanto,

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    a vitalidade do tecido. Assim, pode-se aferir a vitalidade pulpar de uma forma direta,

    garantindo maior segurana para o diagnstico das alteraes pulpares.

    Os feixes nervosos adentram a polpa radicular juntamente com os vasos

    sanguneos at distenderem-se na zona rica em clulas onde se ramificam dando

    origem a um plexo de axnios denominado plexo de Raschkov. A extenso em que

    os filetes nervosos penetram na dentina ainda motivo de discusso. Acredita-se

    que a maior parte dos axnios penetre somente alguns micrometros na dentina,

    enquanto outros poucos podem penetrar at 100m.

    Testes Pulpares

    O teste eltrico visa a estimulao das fibras tipo A presentes na regio entre

    a dentina e a polpa. As fibras do tipo C no respondem adequadamente aos testes

    eltricos, pois necessria uma corrente eltrica de maior amplitude para que se

    possa estimul-las. O ponto ideal para estimulao eltrica em dentes anteriores a

    borda incisal, devido ao menor limiar de excitabilidade das terminaes nervosas.6

    J os testes trmicos visam a estimulao das mesmas fibras atingidas pelo teste

    eltrico. As fibras tipo C tm pouca participao na resposta aos testes de

    vitalidade, e so ativas quando os testes atingem uma intensidade que causam

    alguma injria ao tecido pulpar.

    A concentrao e o tipo de fibras nervosas na polpa dependem do estgio de

    desenvolvimento dental. O tecido pulpar provido de fibras nervosas sensoriais que

    aumentam em nmero aps a erupo. Devido a esse fenmeno, os testes de

    vitalidade pulpar no so definitivos nos dentes parcialmente ou recentemente

    irrompidos.

    Sensibilidade Dentinria

    A dentina pode ser sensvel ao toque, calor, frio, alimentos doces, solues

    hipertnicas, e outros estmulos. Acreditava-se que a participao nervosa no

    desenvolvimento da dor era o principal mecanismo, contudo em virtude da

    dificuldade de se obter cortes histolgicos que permitissem a observao das

    referidas fibras no interior da dentina, a comprovao cientfica era difcil. Com a

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    utilizao da microscopia eletrnica, foi possvel demonstrar que as terminaes

    nervosas penetram no interior dos tbulos dentinrios podendo chegar a uma

    profundidade de at 100m. Contudo, no foi demonstrado a presena de nervos na

    periferia da dentina, local onde particularmente sensvel. Dessa forma, de se

    esperar que outros mecanismos, que no s a estimulao direta, estejam

    envolvidos na conduo do estmulo doloroso na dentina.

    Embora seja possvel observar a presena de fibras nervosas nos tbulos

    dentinrios em ntimo contato com os odontoblastos, estes no apresentam

    estruturas especiais de membrana que permitam a interao com as terminaes

    nervosas, tais como junes tipo gap ou sinapses. Assim, o odontoblasto no est

    agindo como uma clula receptora, at porque, o potencial de membrana do

    odontoblasto baixo para a conduo do estmulo nervoso, respondendo mal

    estimulao eltrica.

    Acredita-se que a movimentao do fluido no interior dos tbulos dentinrios

    seja o mecanismo de conduo do estmulo s terminaes nervosas sensoriais

    localizados na rea limtrofe entre a dentina e a polpa. A teoria hidrodinmica foi

    proposta por Brannstrm, em 1963, e prope que o rpido movimento do fluido no

    interior dos tbulos dentinrios de dentro para fora da polpa causa deslocamento do

    contedo dos tbulos dentinrios e distoro mecnica dos receptores nervosos, e

    assim, origina a sensibilidade dolorosa.

    Trwobridge et al., em 1980, mostraram que a aplicao de calor ou frio sobre

    a superfcie externa de pr-molares humanos provocou uma resposta dolorosa

    antes de qualquer dano ao tecido pulpar. A estimulao com frio causa

    deslocamento do fludo no interior dos tbulos dentinrios, pela contrao do

    mesmo, com ativao dos receptores nervosos na polpa circunjacente. J quando

    da aplicao de calor, ocorre a expanso do lquido e uma fora no sentido

    contrrio, ou seja, em direo polpa. A movimentao rpida do lquido causa uma

    deformao da membrana do receptor nervoso levando a um aumento no fluxo de

    ons pela membrana. A ionizao da membrana gera um potencial eltrico, que pela

    capacidade de comunicao sinptica entre uma clula nervosa e outra, seria

    conduzido at o crebro para ser decodificado.

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    Quando da aplicao de jato de ar com a inteno de secagem do preparo

    cavitrio previamente aplicao do sistema restaurador, ocorre movimentao de

    fluido de tal magnitude que os corpos dos odontoblastos chegam a ser aspirados

    para o interior dos tbulos dentinrios.

    Portanto, durante o procedimento

    restaurador, deve-se ter conscincia dos princpios biolgicos que devem ser

    considerados durante todo o tratamento.

    A hipersensibilidade dentinria parece ser o resultado de uma ativao das

    fibras de dor A delta, principalmente. Os estmulos que ativam estes nervos so

    principalmente os que promovem a movimentao do fluido dos tbulos dentinrios

    e mobilizam foras capilares, ao mesmo tempo em que causam um fluxo rpido

    para no sentido contrrio polpa. A aplicao de um estmulo frio promove

    contrao do fluido, resultando em um fluxo externo rpido. A hipersensibilidade ao

    frio tambm evidente quando os tbulos contm bactrias. Experincias

    mostraram que uma dentina recm exposta que se apresenta com tbulos abertos

    mais sensvel que uma superfcie contaminada por uma camada de smear layer. O

    desenvolvimento de hipersensibilidade cervical e superfcies oclusais devem-se a

    efeitos mecnicos e cidos do ambiente oral, abraso pela escovao,

    componentes erosivos na dieta, placa e invaso bacteriana. s vezes, a dentina

    est exposta por terapia restauradora e cargas oclusais ocasionalmente excntricas

    podem contribuir para a hipersensibilidade. A sensibilidade pode persistir a menos

    que as aberturas tubulares sejam seladas.

    Contudo, nem todos os efeitos aos estmulos podem ser explicados por essa

    teoria, pois quando se faz uma sondagem com explorador, desencadeia-se uma

    sensibilidade que deve estar pouco relacionada movimentao de lquido no

    interior dos tbulos dentinrios. Assim, preciso entender a hipersensibilidade como

    uma manifestao clnica potencialmente multifatorial e que no est totalmente

    compreendida.

    4.5 - Vascularizao Pulpar

    A polpa dental ricamente vascularizada como j foi comprovada por vrios

    estudos e por tcnicas experimentais diferentes, como perfuso com corantes e

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    microscopia eletrnica. Contudo, os vasos sanguneos podem ser verificados em

    exames histolgicos de rotina. Os vasos sanguneos entram e saem da polpa

    pelo(s) forame(s) apical(is) ou por canais acessrios ao longo da raiz.

    Na poro arterial, parte dos vasos dirige-se diretamente poro coronria

    sem se ramificar, enquanto outros se ramificam em arterolas em direo parede

    do canal radicular, concentrando-se na camada subodontoblstica da polpa

    coronria. As arterolas atravessam a poro central da polpa radicular e emitem

    ramificaes que se espalham lateralmente formando um plexo capilar. medida

    que se ramificam, as arterolas diminuem de dimetro e formam a rede capilar

    subodontoblstica, sendo responsvel pela nutrio dos odontoblastos e estruturas

    circundantes. Os capilares subodontoblsticos possuem uma membrana basal e

    podem apresentar fenestraes nas paredes sendo capazes de transportar

    nutrientes para os odontoblastos adjacentes.

    As vnulas seguem o trajeto das arterolas e localizam-se em maior

    quantidade na poro central da polpa. Muitas vezes so encontradas trades

    formadas por arterola, vnula e fibras nervosas. As vnulas constituem a via de

    sada (eferente) do sangue ao contrrio da rede de arterolas (aferente). O sangue

    passa pelo plexo capilar e em seguida para as vnulas e aps sair da raiz, as

    vnulas se unem e drenam para a veia maxilar e da para a veia facial. A parede das

    vnulas fina e exibe uma delgada camada muscular, o que facilita a

    movimentao do fluido em seu interior.

    O fluxo sanguneo pulpar bastante intenso, sendo que o fluxo coronrio

    quase duas vezes o radicular. O controle do fluxo sanguneo pulpar realizado por

    vrios sistemas. Um deles representado pela presena de msculos lisos nas

    paredes das arterolas e vnulas, os quais so inervados por fibras simpticas

    amielinizadas que quando estimuladas produzem contrao das fibras musculares e

    diminuio do dimetro do vaso, fenmeno denominado de vasconstrio. A

    diminuio do fluxo sanguneo pode tambm ser observada pela estimulao

    eltrica das fibras simpticas, bem como pela administrao de substncias

    anestsicas que contenham vasoconstritor.

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    O fato de que a polpa insere-se entre paredes inextensveis gerou a ideia de

    que ela no resistiria aos processos inflamatrios pela incapacidade de acomodar o

    exsudato de forma a preservar as estruturas do tecido. Van Hassel, em 1971, deu

    suporte a teoria da necrose pulpar por estrangulao dos vasos sanguneos.

    Segundo essa teoria, durante um processo inflamatrio agudo, a vasodilatao

    aumentaria o fluxo sanguneo, e assim o volume de sangue e o aumento da presso

    intersticial. O aumento da presso levaria compresso das vnulas que possuem

    presso intravascular menor que as arterolas e capilares. A compresso das

    vnulas ocasionaria isquemia e necrose localizadas. Contudo, esta teoria foi

    recentemente questionada, pois a polpa rica em proteoglicanas, molculas que

    tem uma afinidade pela gua tornando a polpa um tecido resiliente. Dessa forma, as

    vnulas pulpares estariam localizadas em um meio capaz de proteg-las de uma

    alterao abrupta de presso. Alm disso, segundo a lei de Starling, quando a

    presso intersticial excede a presso intravascular, o fluido forado para dentro

    das vnulas, e no o contrrio. Paralelamente, os vasos linfticos auxiliam na

    remoo do excesso de fluido. A remoo do fluido pulpar parece ser eficiente, pois

    a presso pode comear a diminuir mesmo com aumento do fluxo sanguneo.

    A presso tissular na verdade a presso hidrosttica no fluido intersticial

    que cerca as clulas pulpares. Esta presso fora dos vasos normalmente

    considerada mais baixa que a presso sangunea dentro dos vasos. A polpa dental

    tem uma baixa resistncia intersticial devido estar enclausurada entre paredes de

    dentina rgidas. Assim, at mesmo um aumento modesto no volume de fluido pulpar

    eleva a presso de tecido, o que pode comprimir vasos sanguneos e conduzir a

    isquemia e necrose.

    A inflamao pode conduzir tanto a um aumento no volume do fluido

    intersticial quanto no volume de sangue na polpa e assim, pode aumentar a presso

    do tecido. Porm, a presso aumentada do tecido pode, em troca, iniciar o aumento

    de fluxo de linfa e absoro de fluido em vasos capilares na poro de tecido vizinho

    no inflamado. Ambos os fatores so capazes de transportar o fluido para fora da

    rea afetada e abaixar a presso do tecido.

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    O aumento na presso do tecido, se causada pelo aumento no volume de

    sangue ou aumento da filtrao capilar, capaz de promover um fluxo externo de

    fluido pelos tbulos dentinrios expostos e assim ajudaria a proteger a polpa contra

    a entrada de substncias prejudiciais. Ento, parece fisiologicamente benfico para

    a polpa ter uma presso de tecido alta que prontamente aumenta quando o fluxo de

    sangue aumenta.

    Outro fator importante durante os eventos inflamatrios a presena de

    mediadores qumicos. Dentre os mediadores qumicos mais importantes, esto as

    aminas vasoativas (histamina e serotonina), proteases plasmticas (sistema

    complemento, sistema de cininas e sistema de coagulao), metablitos do cido

    araquidnico (prostaglandinas, leucotrienos e lipoxinas) fatores ativadores

    plaquetrios, citocinas, quimiocinas, xido ntrico e neuropeptdeos.17

    Talvez a

    influncia desses mediadores qumicos durante o processo inflamatrio possa

    ajudar a explicar os mecanismos de estagnao pulpar durante o processo

    inflamatrio.

    Kim et al., em 1992, usando tcnicas de macrocirculao, radioistopo , laser

    Doppler e mtodos de microcirculao, de fluorescncia intravital, examinaram os

    efeitos de mediadores qumicos como 5-hidroxitryptamina (5-HT), prostaglandina E2

    (PG-E2), bradicicina (BK), substncia P (SP), gene de calcitonina relacionada a

    peptdeo (CGRP) e histamina no fluxo sanguneo e permeabilidade vascular na

    polpa de animais experimentais. Surpreendentemente, SP e CGRP causaram

    pequeno extravasamento de albumina na polpa, enquanto o oposto ocorre em

    outros tecidos como o msculo, sugerindo que os vasos em um ambiente de baixa

    capacidade de se dilatar, como a polpa, podem no ser to permeveis em resposta

    aos mediadores qumicos selecionados. Injeo intra-arterial de 5-HT causou uma

    vasoconstrio forte mediado pelo subtipo 5-HT1p do receptor. A microscopia de

    fluorescncia intravital mostrou que histamina, BK e PGE2 aumentaram a

    permeabilidade, considerando que isoproteranol causaram inibio parcial do

    aumento BK-induzido. Em um modelo de inflamao de polpa induzido por placa

    bacteriana, o fluxo de sangue aumentou mais de 40% na polpa moderadamente

    inflamada, demonstrando vasodilatao severa e acmulo de leuccitos polimorfos

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    nucleares. Na polpa parcialmente necrtica, o fluxo de sangue diminuiu quase 35%.

    Os resultados do estudo mostram que h uma correlao estrutural e funcional na

    microcirculao de polpas inflamadas e que os efeitos dos mediadores qumicos na

    hemodinmica so complexos.

    Outro componente importante na inflamao pulpar a atividade sensorial

    nervosa que no pode ser separado das alteraes vasculares. A excitao de

    fibras tipo A-delta parece ter um efeito insignificante no fluxo de sangue de pulpar

    (PBF), e a ativao das fibras tipo C causa um aumento em PBF. Esta induo no

    aumento do PBF pelas fibras tipo C causado atravs de neurocinas,

    especialmente a substncia P que liberada das terminaes nervosas das fibras

    tipo C. A Manipulao de PBF tem efeitos variados na atividade sensorial nervosa.

    Um aumento em PBF causa excitao de fibras tipo A-delta e fibras tipo C por um

    aumento na presso tecidual. Neste estudo, observou-se que a reduo do fluxo

    tem um efeito inibitrio nas fibras tipo A-delta, mas nenhum efeito discernvel em

    fibras tipo C.

    Como se pode notar, alguns estudos ainda so necessrios para que se

    consiga atingir o completo entendimento desses fenmenos, principalmente no

    papel da presso pulpar e dos mediadores qumicos na manuteno da vitalidade

    pulpar durante o processo inflamatrio.

    4.6 - Vasos Linfticos

    O sistema linftico apresenta vasos semelhantes s vnulas e devido a esta

    semelhana, a identificao diferencial do ponto de vista histolgico dificultada. Os

    vasos linfticos podem ser caracterizados por um endotlio fino com poros

    intercelulares ocasionais, ausncia ou estado incompleto de membrana basal,

    ausncia de hemcias, e presena de um material filamentoso entre o endotlio e

    fibrilas de colgeno.

    Bernick, em 1977, utilizando dentes sem crie obtidos de indivduos de 15 a

    50 anos de idade, estudou a drenagem linftica da polpa humana. Seces de 50 a

    150 m foram coradas com hematoxilina frrica para a demonstrao de linfa e

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    vasos sanguneos. Os vasos capilares linfticos puderam ser identificados pelas

    suas paredes finas e extenso reduzida, bem como pelo grande calibre dos vasos e

    pela presena de vlvulas, uma estrutura que no pode ser verificada em veias do

    mesmo tamanho. Concluiu que os vasos linfticos da polpa humana devem ser

    considerados como um caminho para a remoo do excesso de fluido tissular em

    polpas normais e doentes. No mesmo ano, o mesmo autor apresentou resultados

    mostrando o aumento de volume dos vasos linfticos na regio prxima rea

    inflamada de polpas humanas acometidas de processo carioso, fato no observado

    em dentes sem crie.

    Foi possvel evidenciar vasos linfticos na polpa de animais e de humanos

    atravs da dupla colorao com 5'-nucleotidase-fosfatase alcalina e observao em

    microscopia ptica e eletrnica. Com esta colorao, os vasos linfticos puderam

    ser diferenciados dos vasos sanguneos, bem como localizar a sua ocorrncia.

    Dessa forma, foi possvel observ-los mais na regio central que na periferia do

    tecido pulpar.

    Bishop & Malhotra, em 1990, realizaram um estudo em gatos para evidenciar

    a presena de vasos linfticos na polpa e observaram com a utilizao de

    microscpio eletrnico de varredura a sua existncia. Contudo, a distribuio no foi

    muito bem estabelecida, pois no foi possvel identific-los no tero coronrio e

    mdio de alguns espcimes. Resultados semelhantes foram encontrados, atravs

    de exame histolgico em microscopia de luz e eletrnica de dentes humanos recm

    extrados, evidenciando a presena de estruturas semelhantes aos vasos linfticos

    somente na poro apical. Assim, possivelmente a linfa da regio coronria seja

    coletada pelo tecido intersticial e escoada para a regio apical, de onde

    transportada por vasos capilares linfticos.

    4.7 - Calcificaes Pulpares

    As calcificaes pulpares significam clinicamente uma dificuldade para o

    tratamento endodntico na medida em que bloqueiam o acesso ao sistema de

    canais radiculares. Podem estar presentes tanto na polpa coronria quanto na

    radicular, bem como estarem aderidas parede dentinria, includas nela ou livres

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    no tecido conjuntivo. As calcificaes pulpares apresentam duas formas histolgicas

    distintas, ou seja, existem aquelas de forma ovide com superfcie regular e

    formao lamelar e outras de formas inespecficas e superfcies irregulares.

    No se conhecem as causas que levam calcificao pulpar, podendo

    ocorrer ao redor de clulas em degenerao, trombos sanguneos, raspas de

    dentina ou fibras colgenas em funo de trauma, crie, ou doena periodontal.

    Contudo, tambm ocorre em locais sem degenerao celular, o que dificulta a

    explicao.

    Arys et al., em 1993, observaram em 95% dos primeiros molares

    examinados, a presena de calcificaes que variavam em quatro tipos: pedras

    pulpares, calcificao difusa, tecido em forma de marfim, e calcificaes em forma

    de esferas. Al-Hadi et al., em 1999 examinaram radiografias inter-proximais de 4573

    pacientes e identificaram calcificaes em 22% dos dentes examinados e relataram

    que a incidncia no diferiu em funo da idade. A observao de calcificaes em

    gmeos univitelinos leva a ideia da correlao com a hereditariedade. Assim, essas

    recentes evidncias sugerem que as calcificaes no esto estritamente

    relacionadas com a idade ou a processos patolgicos.

    O componente de matriz orgnica de pedras clcicas de polpas humanas foi

    investigado atravs de imuno-histoqumica, usando anticorpos especficos para

    colgeno tipo I e protenas no colgenas (osteopontina, osteonectina, e

    osteocalcina), relacionadas formao do componente orgnico das pedras

    clcicas. Colgeno tipo I estava localizado uniformemente nas pedras, indicando

    que o componente principal da matriz. Colorao forte de osteopontina foi

    observada na rea perifrica das pedras, mas no se apresentaram da mesma

    forma para osteonectina e osteocalcina. A Osteopontina j foi encontrada em outras

    calcificaes patolgicas, como pedras urinrias, placas aterosclerticas, e clculo

    dental. Os resultados sugerem que osteopontina produzida pelas clulas da polpa

    dental est possivelmente associada com calcificao da matriz das pedras clcicas

    na polpa. J o componente orgnico consiste de di-hidrato de fosfato de clcio.

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    5 - ALTERAES PROVOCADAS PELA IDADE

    Vrios estudos sobre as mudanas na polpa dental com o envelhecimento

    tm sido realizados. As alteraes observadas com o avano da idade so de difcil

    correlao exclusiva com o processo de envelhecimento, pois as alteraes

    fisiolgicas, defensivas e patolgicas se superpem.

    De qualquer forma, uma das principais modificaes refere-se ao tamanho da

    cmara pulpar e consequentemente o volume do tecido pulpar com a contnua

    formao de dentina secundria, em funo do envelhecimento. Oi et al., em 2004,

    observaram, in vitro, as alteraes morfolgicas ocorridas na cavidade pulpar de

    primeiros molares superiores de pacientes na faixa dos 20, 40 e 60 anos, com a

    utilizao de tomografia computadorizada e concluram que a cavidade pulpar

    diminui em tamanho e altera sua forma com o avanar da idade. Lovschall et al., em

    2002, observaram, em molares de ratos, as alteraes com o avano da idade. Os

    Animais foram sacrificados nos perodos de 19 dias, 1, 3, 6, 8, 12, e 24 meses. A

    avaliao histolgica mostrou, dentre outros achados, formao de dentina

    secundria de forma mais pronunciada na parede mesial da cmara pulpar, alm

    disso, dentina terciria foi encontrada correspondendo s reas de atrio oclusal e

    rea cervical.

    Morse et al., em 1993, realizaram um estudo radiogrfico retrospectivo para

    examinar as alteraes no dimetro e comprimento dos canais radiculares em

    funo da idade. Concluram que os achados podem prover dados para utilizao

    antropolgica, forense e como um biomarcador do envelhecimento. Embora a

    dentina secundria seja formada durante toda a vida, parece haver uma reduo na

    velocidade de formao em pacientes idosos.

    Como consequncia do estreitamento da cmara pulpar e do forame apical,

    h um comprometimento do suprimento vascular, linftico e nervoso. Essas

    alteraes na circulao e na inervao, embora no tenham sido completamente

    determinadas, podem ser o primeiro passo para o processo de envelhecimento

    pulpar. Alguns pesquisadores revelaram, com a utilizao de microscopia eletrnica

    de varredura, a existncia de trs camadas na composio da rede vascular

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    superficial de polpas jovens: uma rede capilar na camada odontoblstica, uma rede

    capilar formada por pr e ps-capilares e uma rede venosa. Com o avano da idade,

    esta caracterstica de trs camadas substituda por uma simples camada que se

    converge para um sistema venoso principal. Alm disso, alteraes na prpria

    estrutura endotelial podem ser observadas com a idade.

    Estudos morfolgicos e histolgicos tm evidenciado que o volume pulpar

    reduz com a idade, e esse processo acompanhado por fibrose, calcificao,

    atrofia, perda da celularidade, e degenerao de odontoblastos. Murray et al., em

    2002, propuseram-se a quantificar a alterao da densidade de clulas pulpares de

    ratos relacionando com a idade do animal (entre 1 e 18 meses). Observaram que

    independente da idade, a densidade de odontoblastos e sub-odontoblastos foi

    menor em regies imaturas. Entretanto, a densidade da camada odontoblstica e

    subodontoblstica decresceu com a idade aps a maturao dental. Com os

    resultados, ventilaram a hiptese de que a reduo da densidade de odontoblastos

    e subodontoblastos com a idade pode explicar parcialmente a baixa taxa de

    secreo de dentina secundria e diminuio da atividade reparadora.

    As alteraes bioqumicas durante o envelhecimento da polpa humana

    tambm tm sido estudadas em relao aos nveis de colgeno e osteocalcina.

    Hillmann & Geurtsen, em 1997, estudaram a distribuio dos diferentes tipos de

    colgeno na matriz extracelular do tecido conjuntivo de polpas dentais humanas em

    vrias idades, com a utilizao de microscopia de luz polarizada e de

    imunofluorescncia indireta. Observaram que as fibras colgenas tipo I representam

    o principal componente da matriz extracelular de polpas dentais humanas, mas os

    demais tipos de colgeno tambm foram encontrados. Com o avano da idade, a

    matriz extracelular apresentou-se condensada e pequenas agregaes foram

    observadas. Alm disso, a participao de fibras colgenas na composio de

    clculos pulpares foi notada, e em maior frequncia com o avano na idade. Vrios

    estudos tm sido realizados para se verificar a ao do envelhecimento sobre

    diversos tipos celulares, mostrando diminuio na capacidade proliferativa e

    sintetizadora.

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    I - BIOLOGIA PULPAR

    Os estudos sobre o envelhecimento do tecido pulpar so importantes devido

    a sua ntima relao com o processo de reparo, o qual se torna deficiente medida

    que a proliferao celular no tem o mesmo ritmo. Shiba et al., em 2003,

    observaram que a fosfatase alcalina, que est presente tanto no tecido sseo

    quanto no pulpar, e que essencial ao processo de mineralizao, foi produzida em

    menor quantidade por clulas pulpares de doadores de idade avanada quando

    comparado produo por clulas pulpares de doadores jovens e sugerem que a

    dificuldade de reparo da polpa e dentina em pacientes idosos se deva, pelo menos

    em parte, pela reduo da capacidade proliferativa e pela atividade da Fosfatase

    Alcalina diminuda.

    Por outro lado, Ranly et al., em 1997, observaram, com a utilizao do

    mtodo RT-PCR, que a expresso de osteocalcina por clulas da polpa,

    presumivelmente odontoblastos, no diminui relativamente com a reduo celular.

    Sugerindo que a despeito da reduo no volume e no nmero de clulas, a polpa de

    dentes envelhecidos mantm a capacidade de deposio de dentina e o potencial

    de resistncia a traumas e crie.

    Okiji et al., em 1996, avaliaram o potencial de defesa da polpa dental

    desenvolvido por uma variedade de clulas imunocompetentes, principalmente

    clulas com expresso do complexo de histocompatibilidade maior da classe II e

    macrfagos. Observaram que a densidade e composio das clulas variaram com

    o envelhecimento, o que pode provavelmente conferir mudanas no potencial de

    defesa imunolgica da polpa contra infeces.

    obvio que o completo entendimento das alteraes pulpares decorrentes do

    envelhecimento est longe de ser atingido. Ser necessrio o esforo

    multidisciplinar para que projetos de pesquisa sejam desenvolvidos no intuito de

    acrescentar paulatinamente os conhecimentos necessrios para esta abordagem.

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    II - BIOLOGIA DOS TECIDOS PERIAPICAIS

    II - BIOLOGIA DOS TECIDOS PERIAPICAIS

    1 - INTRODUO

    O periodonto de sustentao dividido em cemento, ligamento periodontal e

    osso alveolar. Classicamente, estudam-se os tecidos periapicais, ou seja, tecidos ao

    redor do pice dental, pois so eles que iro se manifestar frente maioria das

    agresses, sejam elas de natureza qumica, mecnica ou infecciosa provenientes do

    sistema de canais radiculares. Contudo, necessrio lembrar que em funo da

    complexidade do sistema de canais radiculares, podemos ter uma comunicao

    endo-periodontal em uma posio diferente da apical. Assim, o periodonto de

    sustentao deve ser considerado como um todo, e no se restringir somente ao

    pice dental.

    2 - DESENVOLVIMENTO DO PERIODONTO

    O desenvolvimento da dentina e da polpa radicular no se separa, na

    essncia, dos acontecimentos relacionados formao do cemento, ligamento

    periodontal e osso alveolar. Embora os eventos relacionados formao da raiz e

    do periodonto de sustentao aconteam praticamente de forma simultnea, por

    finalidade didtica, sero apresentados separadamente para que se facilite o

    entendimento.

    2.1 - Cementognese

    Aps a formao da dentina radicular, a bainha epitelial de Hertwig se

    fragmenta e permite que clulas do folculo dentrio migrem entre as clulas

    epiteliais e coloquem-se em contato com a superfcie externa da dentina radicular.

    Aparecem assim fibrilas colgenas entre as clulas epiteliais, e estas migram para o

    saco dentrio e reduzem-se em nmero. Contudo, aglomerados dessas clulas

    epiteliais do origem aos Restos Epiteliais de Malassez e podem permanecer no

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    II - BIOLOGIA DOS TECIDOS PERIAPICAIS

    ligamento periodontal por toda a vida. As clulas epiteliais so unidas por

    desmossomos e exibem pouca substncia intercelular. Aquelas clulas que no

    migraram e permaneceram junto dentina, podem ser incorporadas ao cemento. Os

    cementoblastos, nesse momento, exibem-se de forma contnua ao longo da

    superfcie radicular para produzir matriz orgnica de cemento, que se deposita em

    ntimo contato com a dentina. A mineralizao ocorre aps a formao de uma

    camada de matriz orgnica, pela deposio de finos cristais minerais dentro e entre

    as fibrilas colgenas. Sendo que o longo eixo dos cristais paralelo ao longo eixo

    das fibrilas.

    2.2 - Desenvolvimento Do Ligamento Periodontal

    As estruturas dentrias se desenvolvem no interior de uma cripta ssea

    rodeada por uma camada de tecido conjuntivo denominado folculo dentrio que se

    mantm em contato, mas no aderido ao osso. Possui duas camadas, sendo que

    uma delas encapsula o dente e se constitui de um tecido densamente fibroso.

    Enquanto a camada mais externa tem uma estrutura frouxa.

    Durante a erupo dentria, as estruturas de suporte tornam-se

    paulatinamente mais orientadas e o folculo pode se dividir em trs camadas, de

    forma que a camada mdia apresenta fibras orientadas paralelas superfcie

    radicular. Enquanto que prximo ao osso, de um lado, e ao cemento de outro, as

    fibras aparecem numa orientao oblqua podendo-se observar fibras inseridas

    nesses tecidos que so denominadas Fibras de Sharpey.

    medida que o dente alcana contato oclusal, as fibras do ligamento

    assumem o arranjo estrutural e funcional normal, de forma que a camada

    intermediria de fibras longitudinais no pode ser identificada.

    2.3 - Desenvolvimento do Osso Alveolar

    O osso alveolar formado concomitantemente com a erupo dentria e

    alcana o pico de formao ao final da dentio. No incio da erupo dentria, as

    clulas osteognicas do saco dentrio se diferenciam em osteoblastos, os quais

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    II - BIOLOGIA DOS TECIDOS PERIAPICAIS

    comeam a produzir a matriz orgnica do osso alveolar. A osteognese continua por

    toda a vida fazendo parte da remodelao ssea.

    A mineralizao do osso alveolar se d pela deposio de cristais de

    hidroxiapatita no interior e entre as fibrilas de tecido conjuntivo. O grau de

    mineralizao varivel em funo do processo fisiolgico. O tecido jovem menos

    mineralizado, enquanto o mais antigo pode ter suas lacunas completamente

    obstrudas.

    3 - LIGAMENTO PERIODONTAL

    O ligamento periodontal representa a estrutura de unio entre a raiz

    (cemento) e o osso alveolar. Comunica-se diretamente com o tecido pulpar atravs

    do forame apical e das ramificaes do canal principal. O ligamento periodontal,

    como todo tecido conjuntivo, composto por fibras periodontais, clulas, vasos,

    nervos e substncia fundamental.

    3.1 - Fibras Periodontais

    As fibras do ligamento periodontal so de natureza colgena e se dispem

    em feixes que seguem um trajeto ondulado quando observados em seces

    longitudinais. Os feixes de fibras colgenas esto profundamente includos no

    cemento e no osso alveolar atuando como um elemento de ancoragem dental e so

    denominados fibras de Sharpey.

    O colgeno uma protena composta por diversos tipos de aminocidos

    como glicina, prolina, hidroxilisina e hidroxiprolina, principalmente. A sntese de

    colgeno ocorre a partir de fibroblastos, os quais produzem o tropocolgeno que se

    une em microfibrilas, as quais se agregam em fibrilas, que se associam em fibras e

    da em feixes. A configurao molecular das fibras colgenas confere grande

    resistncia trao e alta flexibilidade.

    As fibras principais se dividem em grupos: transeptal, da crista alveolar,

    oblquo, apical e inter-radicular. Sendo que as fibras apicais e as oblquas so mais

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    II - BIOLOGIA DOS TECIDOS PERIAPICAIS

    envolvidas com as patologias de origem endodntica, em funo da evoluo dos

    processos patolgicos se darem nessa regio na maioria dos casos. Contudo, os

    demais grupos no devem ser esquecidos em funo da anatomia dos canais, como

    j foi mencionado. Existem feixes de fibras que no so regulares e se encontram

    distribudas entre os grupos de fibras principais e atuam como coadjuvante no

    processo fisiolgico de sustentao do elemento dental. As fibras principais so

    remodeladas pelas clulas do ligamento periodontal para se adaptarem s

    necessidades fisiolgicas em resposta a diferentes estmulos.

    A espessura do ligamento periodontal, em condies normais, varia de 0,1-

    0,4mm, com variao individual, interdental e em cortes diferentes no mesmo dente.

    O ligamento periodontal mais delgado prximo ao fulcro dos movimentos

    fisiolgicos dentrios, que est localizado mais ou menos na regio mdia da raiz. O

    ligamento periodontal mais extenso em dentes decduos que nos permanentes.

    3.2 - Clulas do Ligamento Periodontal

    As clulas do tecido conjuntivo incluem: fibroblastos, cementoblastos,

    osteoblastos e osteoclastos. Alm de clulas relacionadas com o processo

    inflamatrio como macrfagos e mastcitos, as quais tambm atuam como

    produtoras de mediadores qumicos importantes durante o metabolismo normal.

    As clulas mais abundantes so os fibroblastos, apresentando forma ovide,

    orientada ao longo das fibras colgenas principais e apresentando pseudpodes.29

    Possuem a capacidade de sintetizar colgeno bem como degradar fibras atravs da

    hidrlise enzimtica, promovendo a remodelao do colgeno.6 J foi demonstrado

    que existem diferenas fenotpicas e funcionais entre colnias de fibroblastos

    humanos provenientes de uma mesma fonte doadora, embora essas diferenas no

    sejam percebidas com a utilizao de microscpio ptico ou eletrnico. Essas

    diferenas podem dar suporte s funes distintas dos fibroblastos dentro do

    ligamento periodontal.

    Svoboda et al., em 1979, observaram em um estudo in vitro, atravs da

    microscopia eletrnica que os fibroblastos podem fagocitar colgeno; que o

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    II - BIOLOGIA DOS TECIDOS PERIAPICAIS

    colgeno intracelular no resultado da agregao de colgeno sintetizado de

    forma endgena.

    Osteoblastos, osteoclastos, cementoblastos e cementoclastos so

    encontrados na superfcie do cemento e osso alveolar e sero abordados quando se

    descrever o cemento e osso alveolar.

    Restos epiteliais de Malassez representam outro tipo de clula encontrada no

    ligamento periodontal. So considerados os restos epiteliais da bainha epitelial de

    Hertwig que se desintegra durante a formao radicular. Formam uma rede no

    ligamento periodontal e se distribuem prximo ao cemento, em toda a extenso do

    ligamento periodontal da maioria dos dentes, com maior concentrao na regio

    apical e cervical. Os restos epiteliais proliferam-se quando estimulados, e participam

    da formao de cistos periapicais e laterais.

    Birek et al., em 1980, cultivaram in vitro clulas dos restos epiteliais de

    Malassez, e observaram atravs da microscopia eletrnica que as clulas foram

    capazes de fagocitar colgeno. Alm disso, atravs da microscopia ptica,

    observou-se que o colgeno estava contido no interior das clulas. Sugeriram, a

    partir dos resultados, que o processo de digesto da substncia extracelular do

    tecido conjuntivo possa contribuir para a formao de cistos in vivo. Salonen et al.,

    em 1991, tambm observaram em um estudo in vitro que clulas epiteliais tm

    capacidade de fagocitar colgeno.

    3.3 - Substncia Fundamental

    A substncia fundamental do ligamento periodontal semelhante quela

    encontrada no tecido conjuntivo gengival e composto por glicosaminoglicanas

    (cido hialurnico e proteoglicanas) e glicoprotenas (fibronectina e laminina),

    apresentando um alto contedo de gua ao redor de 70%.

    3.4 - Funes do Ligamento Periodontal

    O ligamento periodontal tem relao com as seguintes funes:

    Funo Fsica

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    II - BIOLOGIA DOS TECIDOS PERIAPICAIS

    Funo Formadora

    Funo Remodeladora

    Funo Nutricional

    Funo Sensorial

    Funo Defensora

    Funo Fsica

    As funes fsicas do ligamento periodontal incluem sustentao do dente,

    manuteno dos tecidos gengivais em posio, transmisso de foras ao osso,

    alojamento do suprimento vascular e nervoso. Sustentao do Dente: A funo

    primordial do ligamento periodontal manter o dente em posio em seu respectivo

    alvolo. Assim, o tecido necessita ser resistente, mas sem perder elasticidade, de

    forma a se interpor entre os tecidos mineralizados (cemento e osso alveolar), dando

    origem a uma articulao denominada gonfose. O ligamento periodontal formado

    por fibras colgenas que seguem diversas direes, por isso recebem

    denominaes diferentes: grupo da crista, grupo horizontal, grupo oblquo, grupo

    apical, grupo transeptal, grupo dentogengival e grupo dentoperiostal como j

    descritas. O grupo apical de grande interesse para endodontia, pois o primeiro

    grupamento a ser desorganizado durante o processo de leso periapical. Assim,

    quando da avaliao histolgica do processo de reparo, pode-se observar, nos

    casos de sucesso do tratamento endodntico, a reinsero das fibras periodontais

    apicais tanto no osso alveolar quanto no cemento neoformado. Considera-se que a

    direo, posicionamento e resistncia das fibras periodontais depende da ao de

    foras oclusais e relaciona-se com a direo, frequncia e magnitude, bem como do

    estado fisiolgico local e sistmico do indivduo. Howard et al., em 1998,

    observaram num estudo in vitro que as clulas do ligamento periodontal submetidas

    deformao biaxial numa frequncia de 30 vezes/min por 24 horas produziram

    mais colgeno e fibronectina. Concluram que os achados indicam que o aumento

    na produo de substncia fundamental em resposta a uma tenso de magnitude

    especfica pode explicar a interferncia das clulas do ligamento periodontal na

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    II - BIOLOGIA DOS TECIDOS PERIAPICAIS

    remodelao dos tecidos apicais. Von den Hoff, em 2003, observou degradao de

    matriz extracelular ao redor de clulas do ligamento periodontal submetidas a

    tenso em um modelo in vitro utilizando gel de flutuao livre. Concluiu que a

    sensibilidade das clulas do ligamento periodontal tenso mecnica pode ser

    essencial para remodelao dos tecidos periapicais e sua adaptao s foras

    fisiolgicas e ortodnticas. Dessa forma, o ligamento periodontal como um todo

    assimila as foras a que submetido para que se adapte e mantenha o dente em

    condies de normalidade no alvolo. Manuteno dos Tecidos Gengivais em

    Posio: Devido s caractersticas de justaposio entre as estruturas do tecido

    conjuntivo gengival e periodontal, pode-se dizer que parte das fibras do ligamento

    periodontal dirige-se gengiva mantendo-a em posio durante a mastigao.

    Transmisso de Foras Ao Osso Alveolar: Quando da aplicao de foras

    oclusais na direo axial e sentido apical ocorre o desenvolvimento de uma energia

    potencial de deslocamento do dente para dentro do alvolo. A energia potencial no

    se torna cintica em sua totalidade, pois parte da fora intrusiva recebe a oposio

    da resistncia do ligamento periodontal. Assim, as fibras oblquas se estiram de

    forma a se oporem ao deslocamento, gerando uma tenso na insero das fibras.

    Dessa maneira, importante o conhecimento da anatomia do ligamento periodontal

    para que se entenda a necessidade dos diferentes grupamentos de fibras

    periodontais para se opor s diferentes direes de incidncia de fora. Como as

    fibras oblquas representam a maior parcela das fibras do ligamento periodontal,

    de se considerar que as foras mais bem aceitas, do ponto de vista fisiolgico, so

    aquelas orientadas no sentido axial, enquanto as foras com componente horizontal

    geram resultante que exige um maior esforo horizontal para anular o movimento e

    o dente no possui fibras suficientes para tanto e gera uma situao passvel de

    dano ao periodonto. Quando uma fora horizontal aplicada, o dente gira ao redor

    de seu prprio eixo, de tal forma que a raiz se movimenta em direo oposta

    coroa. Em reas de tenso, os feixes de fibras ficam esticados e em reas de

    presso ficam comprimidos, ocorrendo uma distoro ssea em direo ao

    movimento radicular. Deve-se considerar que a absoro das foras pode ser

    explicada no somente pela tenso atribuda s fibras do ligamento periodontal,

    como tambm capacidade hidrodinmica e tixotrpica do ligamento periodontal. A

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    II - BIOLOGIA DOS TECIDOS PERIAPICAIS

    teoria hidrodinmica ventila a hiptese de que o deslocamento dental controlado

    pelo movimento de lquidos, de tal forma que, quando da aplicao de foras, os

    lquidos extravasam para os espaos medulares atravs de foraminas na cortical,

    absorvendo a fora exercida. Enquanto a teoria tixotrpica atribui ao ligamento

    periodontal a capacidade de tornar-se fluido quando sob fora e em seguida ao

    estado semi-slido (gel), de forma a dissipar a fora aplicada. Embora, as vrias

    teorias possam coexistir, a absoro de foras mais bem compreendida e pode

    ser melhor atribuda presena das fibras do ligamento periodontal. Alojamento do

    Suprimento Vascular e Nervoso: O ligamento periodontal envolve o sistema

    circulatrio e nervoso do espao periodontal, protegendo-os da injria mecnica. Os

    feixes vsculo-nervosos so envolvidos por feixes de fibras periodontais que os

    comprime levemente quando se esticam durante a aplicao de foras. Dessa

    forma, possvel que a aplicao de foras desencadeie a sensao de contato

    pela estimulao mecnica das terminaes nervosas.

    Funo Formadora e Remodeladora

    As clulas do ligamento periodontal atuam na formao e reabsoro de

    cemento, osso, e de matriz extracelular, quando da movimentao fisiolgica do

    dente, na acomodao do periodonto s foras oclusais e na reparao de injrias,

    sejam elas de origem mecnica, qumica ou microbiana.

    O ligamento periodontal est constantemente sendo remodelado, pois clulas

    e fibras velhas so substitudas por novas e a atividade mittica pode ser observada

    nos fibroblastos e clulas endoteliais. As clulas do ligamento periodontal so

    responsveis pela formao de osso, cemento e ligamento periodontal, uma vez que

    podem se diferenciar em osteoblastos, cementoblastos e fibroblastos. Amar e

    Chung, em 1994 observaram que as clulas indiferenciadas presentes no ligamento

    periodontal so responsveis pela manuteno da homeostasia do ligamento

    periodontal, pois, tendo origem no mesnquima da papila dental, podem se

    diferenciarem em cementoblastos, osteoblastos e fibroblastos, e tem grande

    potencial para serem utilizadas no processo de regenerao periodontal.

    Funo Nutricional e Sensorial

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    II - BIOLOGIA DOS TECIDOS PERIAPICAIS

    O ligamento periodontal possui elementos que proporcionam a nutrio para

    o cemento, o osso alveolar e a gengiva atravs do sistema vascular sanguneo. O

    suprimento sanguneo originado das artrias alveolares superiores e inferiores

    alcanando o ligamento periodontal de trs formas: vasos apicais, vasos que

    penetram pelo osso alveolar, e vasos que se anastomosam da gengiva. Os vasos

    apicais se ramificam e suprem a regio apical do ligamento periodontal antes de

    adentrarem polpa.

    A inervao sensitiva do ligamento periodontal deriva do nervo trigmeo

    capaz de transmitir sensao tctil, de presso e dolorosa. Os nervos tm

    terminaes nervosas, tambm chamadas de receptores nervosos, que

    transformam os estmulos em impulsos nervosos para transmiti-los ao sistema

    nervoso central. Um tipo de receptor aquele encontrado no ligamento periodontal e

    denominado de proprioceptor, que se relaciona com sensaes de posio e

    presso. Os proprioceptores do informao sensorial relacionada a cada dente. A

    inervao ttil acusa todo estmulo mecnico que a coroa do dente recebe e pode

    indicar durao, direo e potncia, evitando luxaes que poderiam ocorrer com a

    aplicao de uma fora excessiva. A trajetria dos filetes nervosos no ligamento

    segue a dos vasos sanguneos.

    Funo Defensora

    O ligamento periodontal tambm est relacionado a uma importante funo

    que relacionada proteo do organismo contra agresses, no s de origem

    mecnica, como j discutida, mas tambm microbiana e qumica. Quando da

    difuso da agresso pelo sistema de canais radiculares, bem como pela bolsa

    periodontal, ocorre o desencadeamento de um processo inflamatrio de intensidade

    compatvel com a natureza e magnitude do agente agressor aliado capacidade de

    resposta do hospedeiro. Para que este processo possa ocorrer necessria uma

    interao entre clulas, mediadores qumicos, vasos sanguneos, sistema nervoso e

    outras entidades presentes ou produzidas no ligamento periodontal. O intuito deste

    processo muito mais barrar a evoluo do agente agressor que causar

    desconforto doloroso, embora a sensibilidade exagerada seja motivo de muitos

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    atendimentos odontolgicos de urgncia. Assim, ao ligamento periodontal, pode

    tambm ser creditada a funo de defesa.

    4 - CEMENTO

    O cemento um tecido mesenquimal mineralizado que recobre externamente

    a dentina radicular. Gottlieb, em 1942, descreveu dois tipos de cemento: acelular e

    celular. Sendo que ambos so constitudos por uma matriz fibrilar calcificada. Possui

    muitas semelhanas com o tecido sseo, mas se diferenciam pela presena de

    vascularizao no osso e ausncia no cemento. Alm disso, ao contrrio do osso

    que sofre reabsoro e remodelao, a camada de cemento sobre a raiz do dente

    somente aumenta com a idade pela deposio de novas camadas.

    4.1 - Composio do Cemento

    O cemento o menos duro e mineralizado dos trs tecidos dentrios

    mineralizados. O contedo mineral de aproximadamente 65% do peso, a matriz

    orgnica constitui 23%, e 12% so representados por gua. A poro mineral

    constituda por clcio e fosfato, sob a forma de hidroxiapatita. Outros elementos

    tambm podem ser encontrados como, por exemplo, o flor em pequenas

    concentraes. A matriz orgnica constituda por fibrilas colgenas e substncia

    fundamental.

    4.2 - Entidades Estruturais do Cemento

    O cemento constitudo por clulas e substncia intercelular. A superfcie do

    cemento revestida por clulas denominadas cementoblastos. Essas clulas tm

    caractersticas estruturais de uma clula secretora de protenas e polissacardeos,

    pois possui retculo endoplasmtico e complexo de Golgi desenvolvidos, alm do

    grande nmero de mitocndrias. Os cementoblastos produzem colgeno e

    substncia fundamental durante a cementognese que constate durante a vida.

    Yajima et al., em 1989, em um estudo em primeiros molares de ratos, observaram

    que o cemento tambm est envolvido na fagocitose de fibrilas colgenas do

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    ligamento periodontal. Alm disso, a presena de vacolos contendo colgeno no

    interior dos cementoblastos com atividade da fosfatase cida indica a ocorrncia da

    degradao de colgeno. Os resultados sugeriram que os cementoblastos assumem

    um papel importante na remodelao fisiolgica do colgeno no ligamento

    periodontal.

    O cemento acelular o primeiro a ser formado e recobre o tero cervical e

    mdio da raiz numa espessura de 30 a 230 m. Ancora a maior parte das fibras de

    Sharpey, que esto inseridas perpendicularmente superfcie radicular e

    respondem pela sustentao do dente no alvolo. As fibras de Sharpey se

    apresentam calcificadas e com intensidades de mineralizao diferentes em funo

    da atividade de mineralizao de