Apostila de História Moderna I

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História Moderna Patrícia Albano Maia

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Apostila de História Moderna I

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  • Histria Moderna

    Patrcia Albano Maia

  • APRESENTAO

    com satisfao que a Unisa Digital oferece a voc, aluno(a), esta apostila de Histria Moderna, par-te integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinmico e autnomo que a educao a distncia exige. O principal objetivo desta apostila propiciar aos(s) alunos(as) uma apresentao do contedo bsico da disciplina.

    A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis-ciplinares, como chats, fruns, aulas web, material de apoio e e-mail.

    Para enriquecer o seu aprendizado, voc ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente s bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informao e documentao.

    Nesse contexto, os recursos disponveis e necessrios para apoi-lo(a) no seu estudo so o suple-mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formao completa, na qual o contedo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.

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  • SUMRIO

    INTRODUO ............................................................................................................................................... 5

    HISTRIA MODERNA I

    1 HISTRIA MODERNA: PERIODIZAO E CONCEITO ................................................... 71.1 Resumo do Captulo .......................................................................................................................................................91.2 Atividades Propostas ......................................................................................................................................................9

    2 CAPITALISMO COMERCIAL .......................................................................................................... 112.1 A Expanso Ultramarina.............................................................................................................................................112.2 O Desenvolvimento Comercial ...............................................................................................................................132.3 O Desenvolvimento Artesanal .................................................................................................................................142.4 O Mercantilismo ............................................................................................................................................................142.5 Resumo do Captulo ....................................................................................................................................................162.6 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................16

    3 RENASCIMENTO CULTURAL NA POCA MODERNA .................................................. 173.1 O Humanismo ................................................................................................................................................................173.2 Antiguidade Clssica: uma Inspirao ..................................................................................................................183.3 O Renascimento Cultural Europeu .........................................................................................................................203.4 Propagao do Renascimento Cultural ...............................................................................................................223.5 Resumo do Captulo ....................................................................................................................................................243.6 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................24

    4 REFORMAS RELIGIOSAS ................................................................................................................. 254.1 A Crise da Religiosidade Europeia ..........................................................................................................................254.2 Os Pr-Reformadores ..................................................................................................................................................264.3 Reforma Luterana .........................................................................................................................................................264.4 Calvinismo .......................................................................................................................................................................274.5 Reforma Anglicana .......................................................................................................................................................274.6 Reforma Catlica ...........................................................................................................................................................284.7 Resumo do Captulo ....................................................................................................................................................294.8 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................29

    HISTRIA MODERNA II

    5 FORMAO DAS MONARQUIAS NACIONAIS ABSOLUTISTAS ........................... 315.1 A Inglaterra......................................................................................................................................................................325.2 A Frana ............................................................................................................................................................................335.3 A Crise do Antigo Regime .........................................................................................................................................345.4 Resumo do Captulo ....................................................................................................................................................345.5 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................35

  • 6 REVOLUES INGLESAS ................................................................................................................ 376.1 Revoluo Puritana ......................................................................................................................................................386.2 A Repblica de Cromwell ..........................................................................................................................................386.3 Restaurao Monrquica ...........................................................................................................................................396.4 Revoluo Gloriosa ......................................................................................................................................................396.5 Resumo do Captulo ....................................................................................................................................................406.6 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................40

    7 ILUMINISMO ........................................................................................................................................... 417.1 Despotismo Esclarecido .............................................................................................................................................427.2 Resumo do Captulo ....................................................................................................................................................427.3 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................43

    8 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................................... 45

    RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 47

    REFERNCIAS ............................................................................................................................................. 51

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    INTRODUO

    Caro(a) aluno(a),

    Este material o texto bsico elaborado para o curso de Histria Moderna e seu contedo est dividido em duas partes, que contemplam duas disciplinas: Histria Moderna I e Histria Moderna II, oferecidas, respectivamente, no 10 e 11 mdulos do curso de licenciatura plena em Histria. Nele, voc encontrar todo o contedo que ser discutido ao longo das duas disciplinas.

    No curso de Histria Moderna, voc familiarizar-se- com a multiplicidade de interpretaes his-tricas sobre esse perodo. Voc estudar, a partir de uma historiografia multifacetada e pluridisciplinar, alguns contedos importantes desse perodo histrico. Recorreremos historiografia clssica e s novas tendncias das pesquisas de cunho histrico, privilegiando a anlise reflexiva e crtica. Neste curso, voc retomar alguns fatos e datas que so de conhecimento imprescindvel para professores de Histria.

    Um dos objetivos deste curso romper com as interpretaes tradicionalistas de cunho puramente factvel e de memorizao, porm conhecer algumas datas e alguns eventos necessrio para que voc se posicione no perodo, sem achar que o que ocorreu no sculo XIV o mesmo o que ocorreu no sculo XVIII. Quando, principalmente, a partir da Escola dos Annales, os historiadores comearam a dizer que era mais importante entender os processos histricos do que os fatos, com isso no quiseram dizer que os historiadores no deveriam conhecer os fatos. Com essa afirmao, pretendiam que os historiadores escrevessem textos que explicassem como e por que ocorreram as modificaes nas sociedades atravs dos tempos.

    Durante o curso, buscaremos chegar a um conceito de Histria Moderna. Faremos a relao entre os principais temas da Histria Moderna e procuraremos mostrar que Renascimento, Reformas religiosas e Expanso ultramarina so processos que ocorrem ao mesmo tempo e todos tm relaes entre si.

    Iniciaremos nosso curso discutindo os conceitos de Histria Moderna. Depois, partiremos para o estudo do Capitalismo comercial; a seguir, veremos o Renascimento cultural da poca moderna e, de-pois, as Reformas religiosas, encerrando aqui o contedo que ser visto na disciplina Histria Moderna I.

    A seguir, comearemos o estudo dos contedos que fazem parte da disciplina Histria Moderna II. Veremos a Formao das monarquias nacionais absolutistas, as revolues inglesas e o Iluminismo, ter-minando aqui o estudo do perodo moderno.

    Creio que, ao finalizar a leitura deste material, voc ter um panorama do que foi a poca Moderna e poder escolher qual modelo interpretativo agrada-lhe.

    Finalmente, desejo que voc faa timos mdulos, que estude e aprofunde seu conhecimento.

    Eu e toda a equipe da Unisa Digital estamos disposio para o que se fizer necessrio.

    Com os melhores cumprimentos,

    Patrcia Albano Maia

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    HISTRIA MODERNA:PERIODIZAO E CONCEITO1

    Caro(a) aluno(a),

    Neste captulo, voc entrar em contato com a discusso historiogrfica, atravs de refle-xes sobre o que e qual o recorte cronolgico que delimita a chamada Histria Moderna.

    Voc j deve saber que se convencionou chamar Histria Moderna o perodo compreendi-do entre a Queda do Imprio Romano do Oriente, em 1453, e a Revoluo Francesa, em 1789, po-rm esses marcos poderiam ser quaisquer outros que tambm tivessem importncia significativa para a poca, como, por exemplo, as reformas re-ligiosas, a descoberta da Amrica etc. Isso porque qualquer recorte cronolgico arbitrrio, ou seja, um autor ou um grupo de autores prope datas e fatos que, do seu ponto de vista, causaram mu-danas to grandes na sociedade que inaugura-ram uma nova poca.

    No passado, houve um momento em que o incio da poca moderna estava ligado s gran-des invenes: o papel, a plvora, a imprensa, a bssola. Era por meio delas que se comeava o estudo da Histria Moderna. Mais recentemente, os trabalhos dos historiadores passaram a privi-legiar os processos e as transformaes de natu-reza conjuntural e os fatos que haviam sido to utilizados nas explicaes histricas foram sendo deixados de lado.

    Durante certa poca, o processo da expan-so martima, colonial e comercial colocou em destaque a mudana do eixo econmico da Eu-ropa, da regio do Mediterrneo, para reas do Atlntico, o que levou ao declnio das cidades ma-rtimas italianas, entre outras, e ascenso econ-mica da regio ibrica.

    Depois, sob a influncia do marxismo, os fatores estruturais passaram a ser mais importan-tes para entender uma sociedade ou uma poca. Nesse momento, o incio da poca Moderna pas-sou a ser a passagem do modo de produo feu-dal ao capitalista.

    Alm da dificuldade de estabelecer um mar-co inicial para a Idade Moderna, esta ainda apre-senta o problema da caracterizao do perodo. Segundo Falcon (1977, p. 10), Mundo Moderno. primeira vista talvez haja muito poucas outras noes, dentre aquelas habitualmente maneja-das pelo professor de Histria, que contenham uma dose to considervel de fluidez e incerte-za. Normalmente, os manuais tratam do incio dos tempos modernos e da Idade Moderna como algo completamente claro. Procure se lembrar dos livros que voc estudou na escola. Mas o que definir uma poca como moderna? A diferena entre o novo, o atual, e o que velho e ultrapas-sado seria uma resposta possvel pergunta feita anteriormente, comprovada por meio das ideo-

    AtenoAteno

    Repare que, qualquer que seja o marco escolhido para dar incio poca Moderna, ele arbitrrio, ou seja, depende do ponto de vista que se quer privilegiar. No h nenhum marco universal.

    Para aprofundar seus conhecimentos a respeito do recorte cronolgico da poca Moderna, voc pode ler o texto de Laura de Mello e Souza, pu-blicado na revista Signum.

    MultimdiaMultimdia

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    logias que se pretendem novas frente ao que j existe, como negao do status quo, origem, des-se modo, de sucessivas modernidades. Por que optamos por absolutizar o moderno, fixando-o naquele momento do passado que seria a Idade Moderna?

    Pense como deve ser difcil para uma crian-a do Ensino Fundamental I compreender que aquele perodo histrico compreendido entre os anos de 1453 e 1789, to longnquo cronologica-mente dela, que vive no sculo XXI, chamado Moderno. Esse aluno deve-se perguntar por que esse perodo, que no recente, que no atual, que no de sua poca, chamado moderno.

    A ideia de moderno no suficiente, por si s, para contar alguma coisa de concreto ou defi-nitivo sobre o perodo tratado aqui.

    Modernos foram os nominalistas medie-vais, os humanistas do Renascimento, e aqueles que, no sculo XVII, travaram for-midvel batalha contra os antigos. S aos poucos, nas sociedades ocidentais, foi ha-vendo uma tomada de conscincia quan-to modernidade nascente, em cujo seio j se vislumbra, indecisa, a teoria do pro-gresso. Foi a partir da que se originou a noo de uma Histria Moderna, distinta enquanto poca daquelas que lhe ha-viam precedido. (FALCON, 1997, p. 10).

    Se nos prendssemos ao significado da pa-lavra Moderno, teramos que Histria Moderna a histria atual do tempo presente. A histria contempornea significaria o mesmo. A diferena entre os vocbulos moderno e contemporneo existe mais no plano etimolgico do que no se-mntico. Quando dizemos que Csar foi contem-porneo de Ccero ou que o papa Bento XVI contemporneo da rainha Elizabeth II da Inglater-ra, nossas afirmaes no geram dvidas; todos

    entendem que Csar e Ccero viveram na mesma poca, assim como o papa Bento XVI e a rainha Elizabeth II da Inglaterra.

    Agora, se dissermos que Aristteles foi mais moderno do que Plato ou vice-versa, ou que o uso do metal introduziu uma economia mais mo-derna que aquela da pedra, nossas afirmaes podem criar dvidas; preciso explic-las. As afir-maes no bastam por si s.

    O uso do termo moderno menos inocen-te que o uso do termo contemporneo. O voc-bulo moderno traz junto uma afirmao de valor ou ideolgica. preciso explicar o que a histria moderna, para no deixar dvidas sobre que pe-rodo ela abarca.

    Como j se dissemos antes, a histria mo-derna estuda o perodo compreendido entre a queda do Imprio Romano do Oriente e a Revo-luo Francesa, e recebeu o nome moderna por-que, na poca em que essa delimitao cronol-gica foi feita, acreditava-se que a sociedade que vivia na poca moderna era mais desenvolvida do que a que havia vivido no perodo imediata-mente anterior. H, aqui, um juzo de valor. Hoje, continuamos a usar essa periodizao, mas no concordamos mais que a sociedade moderna mais desenvolvida ou melhor que a medieval. Hoje, percebemos que so sociedades distintas, mas no acreditamos mais que uma melhor do que a outra.

    Autores que seguem a interpretao mar-xista de Histria, como Adhemar Marques, Flvio Berutti e Ricardo Faria, dizem que a poca Mo-derna, enquanto objeto de estudo, compreende o perodo que se estende da crise da sociedade feudal europeia, no sculo XIV, s revolues democrtico-burguesas dos sculos XVII e XVIII. Lembre-se de que essa periodizao pode e deve ser questionada se o leitor/pesquisador tem como referncias outros parmetros. Como j foi dito, qualquer recorte cronolgico passvel de ser questionado.

    DicionrioDicionrio

    Moderno: adj. 1. Recente; 2. Presente, atual, dos nossos dias; 3. Que est na moda; subst.. masc. 4. Aquilo que moderno. (SOARES AMORA).

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    1.1 Resumo do Captulo

    Caro(a) aluno(a),

    Neste captulo, voc estudou que o recorte cronolgico da poca moderna passvel de ser ques-tionado. Voc tambm viu que qualquer recorte cronolgico arbitrrio e estudou que o termo moder-no um vocbulo que, quando empregado para definir uma poca da histria, ideolgico e traz com ele a ideia de que a poca moderna melhor, mais desenvolvida, do que o perodo anterior. Voc no deve se esquecer de que essa ideia de que a poca moderna melhor do que a anterior no mais uma ideia aceita unanimemente pelos historiadores.

    1.2 Atividades Propostas

    Vejamos, agora, como se deu seu aprendizado. Responda s perguntas a seguir:

    1. A poca moderna delimitada cronologicamente pela queda do Imprio Romano e pela Re-voluo Francesa. Todos os historiadores concordam com esse recorte? Justifique sua respos-ta.

    2. A expresso Histria Moderna uma expresso de cunho ideolgico? Explique sua resposta.

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    Caro(a) aluno(a),

    Neste captulo, voc estudar as transfor-maes econmicas que ocorreram durante a poca moderna.

    Voc j deve ter aprendido que, durante a poca moderna, houve o aparecimento do capi-talismo comercial e que este est baseado tanto no desenvolvimento econmico dos sculos XI a XIII quanto na crise dos sculos XIV e XV. O pri-meiro elemento contribuiu para a formao da burguesia, o desenvolvimento da vida urbana, o aumento da produtividade agrcola e artesanal, a intensificao do comrcio e o surgimento do sis-tema financeiro. O segundo elemento, a crise do final da Idade Mdia, desarticulou de tal maneira a sociedade europeia que se fez necessria a in-terveno do Estado, recm-criado, para superar os problemas surgidos.

    CAPITALISMO COMERCIAL2

    Em um sentido amplo, o sistema econmi-co surgido da crise do final da Idade Mdia pode ser definido como um sistema econmico funda-mentado na propriedade privada dos meios de produo (terras, mquinas, mercadorias, moeda etc.), que eram usados de modo a se reproduzi-rem continuamente (lucro). Os indivduos sem capital juntam-se ao sistema colocando venda a nica coisa que possuem: sua fora de trabalho, entendida como uma mercadoria e, portanto, tendo valor varivel, conforme sua oferta e pro-cura. Vendendo sua fora de trabalho, o indivduo antes desprovido de capital passa a ter capital para consumir outras mercadorias, aumentando o lucro dos capitalistas, que, para manterem seus negcios, continuam consumindo a mercadoria trabalho, perpetuando-se, assim, o sistema.

    Na histria do capitalismo, a relativa impor-tncia dos setores econmicos muda, existindo, em cada fase, uma atividade principal, respon-svel por criar lucros em maior quantidade; tal situao possibilita a acumulao de capitais e, consequentemente, a expanso do sistema. Nos sculos XV a XVIII, a atividade principal foi a mer-cantil, da utilizarmos o termo capitalismo comer-cial.

    AtenoAteno

    Lembre-se de que o desenvolvimento do capita-lismo comercial, durante a poca moderna, deu--se baseado tanto no crescimento econmico que ocorreu na Europa entre os sculos XI e XIII quanto na crise econmica dos sculos XIV e XV.

    A sucesso de crises no final da Idade Mdia causou uma modificao estrutural na sociedade europeia. A Europa precisava crescer economica-mente, expandir-se, procurar novas solues para seus problemas. Essas solues no foram encon-tradas no sistema feudal, mas no sistema capita-lista.

    2.1 A Expanso Ultramarina

    O desenvolvimento do capitalismo est li-gado expanso martima e comercial da Europa, ocorrida entre os sculos XV e XVI. Como decor-rncia dessa expanso, surgiram o descobrimento de novos caminhos martimos para as longnquas regies comerciais do Oriente e o descobrimento e conquista colonial da Amrica.

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    A expanso ultramarina europeia foi uma forma de se recuperar da depresso econmica dos sculos XIV e XV, por meio da busca de ouro e especiarias. As tcnicas de navegao, praticadas desde o sculo XII, foram aperfeioadas, tornan-do mais simples a expanso. Pode-se dizer que a depresso gerou a necessidade da expanso.

    Elementos econmicos, sociais, polticos e culturais ajudaram a expanso martima e comer-cial europeia. Entre eles, destacam-se:

    a busca de uma nova rota para o Orien-te: entre as mercadorias mais procura-das pelo comrcio europeu, estavam as especiarias (pimenta, cravo, canela, noz--moscada, gengibre) e as mercadorias de luxo (porcelana, seda, marfim, perfu-mes). Todas as mercadorias vinham do Oriente (sia e frica) e chegavam Eu-ropa aps percorrerem um longo e di-fcil caminho por terra e por mar, o que encarecia o seu preo final. No sculo XV, o comrcio de especiarias e mer-cadorias de luxo do Oriente era muito lucrativo e praticamente monopoliza-do pelas cidades italianas de Gnova e Veneza. Os comerciantes navegavam rumo ao Oriente pelo mar Mediterrneo at Constantinopla, onde recebiam as mercadorias, e depois retornavam para a Europa, onde revendiam as mercado-rias por um preo bem alto. A burgue-sia comercial europeia no ligada aos venezianos e aos genoveses buscava romper com o monoplio das cidades italianas, tentando descobrir rotas alter-nativas para o comrcio com o Oriente.

    Com a queda de Constantinopla, em 1453, os turcos fecharam o comrcio de especiarias realizado pelo mar Medi-terrneo. Desse modo, passou a existir certo interesse geral da burguesia euro-peia, agora incluindo a participao de genoveses e venezianos, na procura de um novo caminho para se chegar aos fornecedores de produtos orientais;

    a necessidade de novos mercados: a necessidade de descobrir novas rotas para o Oriente significava, tambm, descobrir novos mercados que se inte-ressassem pelos produtos europeus. As manufaturas e o artesanato europeus precisavam ver o seu nmero de con-sumidores crescer. Todas as necessida-des de venda e compra de produtos s poderiam ser satisfeitas com o cresci-mento do mercado consumidor fora da Europa;

    a falta de metais preciosos: as minas de metais preciosos existentes na Europa no produziam mais em quantidade suficiente para a cunhagem de metais. Faltava metal, porque grande parte do que era extrado transformava-se em forma de pagamento dos produtos vin-dos do Oriente. Para solucionar o pro-blema da escassez de metal precioso, os europeus precisavam descobrir no-vas minas fora da Europa;

    a formao dos Estados nacionais: os novos Estados Nacionais Absolutistas tinham interesses mercantis. A expan-so comercial aumentaria os poderes do rei, manteria os privilgios da no-breza e elevaria os lucros da burguesia. Desse modo, esses Estados deram todo o apoio expanso martima;

    a propagao da f crist: os que esta-vam envolvidos na expanso martima e comercial europeia haviam recebi-do da Idade Mdia um entusiasmo e o desejo de aventura das novelas de ca-valaria, nas quais se misturavam resqu-

    Sobre os grandes descobrimentos, voc pode assistir ao filme 1492 A conquista do paraso, dirigido por Ridley Scott.

    MultimdiaMultimdia

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    cios do ideal cruzadista de propagar a f crist. Portanto, impossvel ignorar, nesse perodo, o peso da religiosidade e

    a justificativa de conquistar e converter povos no cristos do mundo.

    Figura 1 Principais rotas martimas da poca moderna.

    Fonte: Wikipdia (2012).

    2.2 O Desenvolvimento Comercial

    O comrcio interno europeu, na Idade Mo-derna, no mostrava grandes diferenas em rela-o ao perodo medieval. Afora as dificuldades de comunicao entre as vrias regies, existia cer-ta tendncia autossuficincia, com cada locali-dade produzindo todos os bens necessrios ao mercado consumidor local. Mesmo assim, quanti-tativamente, o comrcio conheceu certa prospe-ridade, tendo como principais centros: Anturpia (sculos XV e XVI), Amsterd (sculos XVI e XVII) e Londres (a partir do sculo XVII).

    As grandes modificaes comerciais ocor-reram no plano internacional, com os europeus abrindo e organizando um circuito mercantil, pela primeira vez, mundial.1 A ndia foi, por muito tempo, a rea mais importante desse circuito, por conta de especiarias ali produzidas. No incio do

    sculo XVI, um lote de especiarias valia oito ve-zes a carga de mercadorias europeias levada para troca. Por conta desse grande lucro, franceses, ho-landeses e ingleses passaram a concorrer com os portugueses, os primeiros europeus a chegarem ndia.

    Outro importante fluxo comercial envolvia trs continentes: frica, Amrica e Europa, sendo conhecido como comrcio triangular. Nesse caso, a frica fornecia escravos negros, que eram ven-didos na Amrica, e comprava tabaco, rum, armas e tecidos dos europeus; a Amrica fornecia me-tais preciosos, acar, algodo tabaco, rum, cere-ais, madeira e peles; e a Europa fornecia produ-tos manufaturados. Esse comrcio triangular deu uma incrvel dinmica ao comrcio mundial da poca moderna.

    1 Braudel, na obra El Mediterraneo e o mundo mediterraneo en la epoca de Felipe II, afirma, pela primeira vez, que a poca moderna o primeiro momento da histria europeia em que ocorreu um processo de mundializao ou globalizao.

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    2.3 O Desenvolvimento Artesanal

    Durante a poca moderna, as manufaturas europeias desenvolveram-se muito. Nesse pe-rodo, a Europa ainda no conhecia o progresso tcnico e o aumento de produtividade que con-seguiria a partir do final do sculo XVIII.

    O desenvolvimento da indstria aconteceu quando, devido ao crescimento populacional e formao de imprios coloniais, o setor produtivo foi pressionado para intensificar suas atividades. Consequentemente, a indstria artesanal pre-cisou expandir-se, abandonando o sistema de corporaes de ofcio que utilizava desde a Idade Mdia e desenvolvendo um novo sistema: o siste-ma domstico.

    O sistema de corporaes de ofcio encon-trava-se j disseminado na Idade Moderna e, apesar de ter surgido um novo sistema, o antigo continuou a ser utilizado por ser facilmente con-trolado pelo Estado, que, nessa poca, tentava supervisionar todas as atividades econmicas.

    Cada corporao de ofcio era rigidamente dirigi-da por um conjunto de regulamentos, que esta-belecia em detalhes as matrias-primas a serem utilizadas, as tcnicas produtivas, a qualidade e o preo de venda da mercadoria. Comuns em toda a Europa, as corporaes sobreviveram at a in-dustrializao do sculo XIX, tendo vida mais cur-ta apenas na Inglaterra e na Holanda (MARONE; FRANCO, 1982).

    Os comerciantes, que queriam fugir das re-gulamentaes corporativas, criaram o sistema domstico, uma forma de organizao em que o arteso trabalhava em sua prpria casa. O co-merciante fornecia ao arteso a matria-prima e pagava-lhe por unidade produzida. Desse modo, ele era o dono da mercadoria, podendo vend--la da maneira que mais lhe interessasse. Sendo assim, os comerciantes no atuavam s na rea comercial, mas tambm na produtiva.

    2.4 O Mercantilismo

    Como j vimos, a interveno do Estado era o modelo seguido mais rpido e eficaz para superar a crise do final da Idade Mdia. Na esfe-ra poltica, o fortalecimento do Estado levou ao Absolutismo e, no plano econmico, criou o Mer-cantilismo. Sendo assim, este pode ser definido como uma poltica econmica de interveno do Estado Moderno, especialmente das monarquias nacionais absolutistas. Este foi utilizado como ins-trumento de unificao nacional, de superao das crises e de engrandecimento nacional. Sem Estado moderno, no h mercantilismo; sem mer-cantilismo, no h Estado Moderno.

    O mercantilismo foi pautado no trip: me-talismo, balana comercial favorvel e protecio-nismo.

    A primeira caracterstica do mercantilismo era o metalismo. O desejo pelo metal precioso re-forava a ideia, seguida da observao de que o pas mais poderoso do incio da Modernidade, a Espanha, era o que maior estoque metlico pos-sua, graas s suas minas de ouro e de prata na Amrica.

    Os pases que no tivessem suas prprias fontes de metais preciosos deveriam consegui--los de outros pases, por meio do comrcio, ou

    DicionrioDicionrio

    Metalismo: concepo econmica de que a rique-za de cada pas estaria na razo direta da quantida-de de metais preciosos que possusse.

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    seja, deveriam vender mercadorias, que seriam pagas com o metal. O mais importante era expor-tar, mais do que importar, de modo que houvesse um saldo positivo na balana comercial. Resumin-do, existia a concepo de uma limitao dos re-cursos mundiais.

    O mercantilismo procurava sobretudo os meios de proporcionar o maior lucro possvel a cada pas. Representava uma grande mudana em relao ao ideal me-dieval de autarquia, que pressupunha em ltima anlise a imutabilidade da situa-o dos indivduos e das classes dentro da sociedade. No interior do pas o mer-cantilismo perseguia objetivos dinmi-cos. Porm, esta concepo se conjuga-va com uma ideia esttica da economia mundial vista em conjunto, o que criava a desarmonia fundamental que servia de fermento s interminveis guerras co-merciais. Estes elementos levavam con-cluso de que era possvel mudar e conti-nuar desenvolvendo a economia de um pas, mas somente s expensas de outros pases. (HECKHER, 1943, p. 471).

    Dificultar as importaes de mercadorias es-trangeiras era um modo para conseguir um saldo favorvel na balana comercial. Assim, adotava-se uma poltica econmica protecionista, cobrando altos impostos alfandegrios sobre os produtos importados, especialmente aqueles que tivessem similares nacionais. As matrias-primas, contudo, escapavam a essa norma, pois eram transforma-das em produtos manufaturados nacionais, que mais tarde seriam exportados.

    O protecionismo mercantilista no s bus-cava impedir a entrada de produtos estrangeiros, mas tambm dificultar a sada de mercadorias nacionais que pudessem fortalecer ou enriquecer outros pases, como algumas matrias-primas, ferramentas, navios e armas. Pela mesma razo, buscava-se proibir que pessoas que tivessem co-nhecimentos tcnicos sassem de seu pas.

    Basicamente, o protecionismo protegia a nascente indstria nacional e o comrcio nacio-nal. O incentivo exportao, principalmente de manufaturados que conseguiriam preo mais

    alto no mercado internacional, era outro caminho adotado para ter um saldo comercial favorvel. A regulamentao das corporaes de ofcio tinha por objetivo esse caminho, pois controlava a qua-lidade e a quantidade da produo, em grande parte destinada exportao. O grande interesse pela venda ao exterior explica a poltica demogr-fica aplicada pelos Estados absolutistas: incentiva--se o crescimento populacional (com iseno de impostos para famlias numerosas), para que hou-vesse uma grande oferta de mo de obra e conse-quente reduo salarial, levando, desse modo, ao barateamento do produto manufaturado, pois os custos industriais seriam menores e os produtos nacionais poderiam competir com maior facilida-de no comrcio internacional.

    Como todos os pases europeus adotavam praticamente as mesmas medidas, chegava-se a uma situao de impasse, que gerava muitas guerras, com cada pas querendo impor aos de-mais tratados comerciais que lhe dessem van-tagens. A soluo para tal problema foi a busca por colnias, que se tornariam mercados consu-midores exclusivos dos produtos metropolitanos e forneceriam matrias-primas e produtos que poderiam ser reexportados pela metrpole. Sen-do assim, graas exportao de suas colnias, as economias nacionais europeias conseguiram acumular capitais e atingir os objetivos da poltica econmica mercantilista.

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    2.5 Resumo do Captulo

    Caro(a) aluno(a),

    Neste captulo, voc estudou as principais transformaes econmicas que ocorreram na Europa durante a poca moderna, viu como surgiu o Capitalismo comercial e como se organizou a expanso ultramarina, estudou a poltica econmica da poca moderna o Mercantilismo e examinou as trans-formaes que ocorreram no trabalho artesanal.

    2.6 Atividades Propostas

    Para terminar o estudo das transformaes econmicas da poca moderna, vamos ver como se deu seu aprendizado. Responda s questes:

    1. O mercantilismo aspirava colocar a vida econmica a servio do interesse de poder do Esta-do. (HECKSHER, 1983). Justifique essa afirmao.

    2. A expanso europeia dos sculos XV e XVI teve como ponto de partida a Pennsula Ibrica. Por que isso ocorreu?

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    RENASCIMENTO CULTURALNA POCA MODERNA3

    Caro(a) aluno(a),

    No captulo que se inicia, voc estudar o Renascimento cultural da poca moderna e en-trar em contato tanto com as ideias filosficas desse momento quanto com as manifestaes artsticas.

    O sculo XVI, poltica e economicamente, caracterizou-se por seus aspectos revolucion-

    rios, pelo absolutismo e pelo mercantilismo. No plano cultural, surgiu uma nova viso do homem: o Humanismo. Esse movimento apresentou ca-ractersticas como a exaltao do valor humano, como meio e como finalidade, na certeza de se reviver uma poca considerada um modelo uni-forme: a Antiguidade Clssica.

    3.1 O Humanismo

    Sempre que o valor principal de uma dou-trina a pessoa humana, o sentimento, a origina-lidade e a superioridade do homem sobre as for-as da natureza, fala-se em Humanismo.

    O termo, entretanto, possui uma conota-o histrica localizada no tempo e no espao: descreve um movimento esttico, filosfico e re-ligioso preparado pelas correntes do pensamen-to medieval, que adquiriu, neste momento, uma conotao nova. Surgido no sculo XV, na Itlia, e difundido, no sculo XVI, atravs da Europa, o humanismo caracterizou-se por um esforo em avaliar o homem em sua essncia, propondo uma arte de vida em que ele se perpetuasse (MARRO-NE; FRANCO JNIOR, 1982).

    Figura 2 O homem vitruviano, de Leonardo da Vinci, sintetiza o iderio renascentista humanista e clssico.

    Fonte: Wikipdia (2012).

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    O Humanismo baseou-se, inicialmente, na herana medieval, mesmo contrapondo-se ao sistema existente. Desse modo, atravs dos tem-pos, a Bblia forneceu aos homens uma cosmo-logia, uma histria, uma moral e uma finalidade existencial, enquanto a Idade Mdia construiu uma filosofia, de incio submissa teologia, mas tentando explicar os temas em que a Bblia no mais satisfazia a curiosidade do esprito humano. Surgiu, assim, uma cincia que possibilitou ao ho-mem entender o mundo em que vivia.

    A filosofia e a cincia apoiavam-se em Aris-tteles, conhecido muito bem desde o sculo XIII, por meio de textos traduzidos e comentados pe-los rabes e judeus. Por intermdio das tradues, difundiram-se a obra de Aristteles e seus ensina-mentos.

    Santo Toms de Aquino, em face de um modo de pensamento to diferente ao do cris-tianismo, introduziu uma soluo global, promo-

    vendo a unidade da verdade, por meio do acordo da f com a razo. Contudo, no fim do sculo XV, apenas alguns pensadores defendiam o tomis-mo, pois o nominalismo de Guilherme DOccam (1280-1349) passou a dominar os ensinamentos na universidade. Para DOccam, as verdades da f no eram suscetveis de serem analisadas racio-nalmente, enquanto a razo, a partir das aparn-cias sensveis, podia elaborar uma cincia racio-nal puramente experimental, que nada devia aos Textos Sagrados (CORVISIER, 1995).

    A separao entre f e razo proposta por DOccam trouxe vrias consequncias para as re-as religiosa, filosfica e cientfica, gerando a crise do pensamento medieval, a qual explica a hosti-lidade dos humanistas Escolstica e o sucesso dos novos modos de pensar.

    3.2 Antiguidade Clssica: uma Inspirao

    A fonte mais viva do Humanismo talvez seja a Antiguidade Clssica. Embora a Idade Mdia no tenha ignorado tal perodo, entendia-o de modo deformado e truncado. Truncado porque no co-nhecia a maior parte dos textos gregos, seno por meio de tradues, como, por exemplo, Homero atravs de Virglio e os estoicos atravs de Ccero. Deformado, por essas obras atenderem apenas politicamente s instituies do Estado Romano.

    No sculo XIV, Petrarca (1304-1374) e Bocca-cio (1313-1375) iniciaram devagar um movimento para reconquistar a herana antiga, ao introduzi-rem na Europa manuscritos de obras desconhe-cidas. Criaram, desse modo, a primeira filologia clssica, restituindo a latinidade e integrando a civilizao ocidental, por meio de tradues la-tinas de obras importantes como as de Homero e Herdoto. Depois, Loureno Vlala (1407-1457) fundou a sua crtica externa aos textos e elaborou um modelo de bela linguagem, em Elegantiarum linguae latinae.

    Na segunda metade do sculo XV, forma-ram-se vrios crculos de intelectuais, em Roma, apoiados por eclesisticos; em Florena, apoiados pelos Medici; e, em Veneza, os quais introduziram vrios manuscritos contendo os ensinamentos da lngua, completando o processo de reconquista cultural. Esses homens que apoiaram os intelec-tuais e artistas receberam o nome genrico me-cenas.

    O contato com Plato, a partir da traduo latina, em 1421, que Leonardo Bruni fez da obra Dilogos, ao lado do conhecimento da lngua grega, possibilitou um estudo crescente da Anti-guidade. Da mesma forma, o estudo da filosofia platnica satisfez as necessidades espirituais de um sculo profundamente religioso. Tambm importante para as cincias que se baseavam em Aristteles foi a redescoberta de compiladores bi-zantinos mais fiis de Pitgoras, Ptolomeu e Eucli-des (MARRONE; FRANCO JNIOR, 1982).

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    Essa aproximao com autores gregos que, durante a Idade Mdia, no foram muito estuda-dos fez surgir uma aproximao entre as culturas do passado e a cultura moderna; esse contato propiciou que a poca moderna fizesse suas leitu-ras e interpretaes do passado, transformando a Antiguidade Clssica em fonte de inspirao para se pensar o mundo de modo distinto daquele que se pensava na Idade Mdia.

    Com o estudo da filosofia de Plato, a filoso-fia de Aristteles tambm foi reavaliada. Averres (1126-1189) props uma nova interpretao de Aristteles: a separao total da filosofia e da f. Em Pdua, Pietro Pompanazzi (1462-1525) funda-mentou a doutrina filosfica naturalista. Outros pensadores de Pdua continuaram seus ensina-mentos, que introduziram no universo um estrito determinismo, no cedendo lugar interveno divina. O averroismo paduano foi bastante impor-tante durante todo o sculo, influenciando desde Rabelais at Coprnico.

    Todavia, a verdadeira filosofia humanista, impregnada pelo pensamento de Plato, conso-lidou-se com Marsiglio Ficino (1433-1499), pro-tegido por mecenas como Cosme e Loureno, o Magnfico. Ficino escreveu Teologia platnica, em que criou uma ontologia para o neoplatonismo.

    Deus o ser de que emanam todos os ouros seres hierarquizados segundo suas ordens de pureza. As almas austrais e anjos so puras criaturas celestiais, imor-tais e perfeitas, que asseguram a marcha que compe o universo incorruptvel. Em contraposio, encontra-se o universo material, composto por criaturas e ideias prximas de Deus, que necessitam de formas sensveis para existir, mas estas formas no so mais que tradues im-perfeitas e corruptveis dos arqutipos divinos. (FICINO apud MARRONE; FRAN-CO JNIOR, 1982, p. 92).

    Resumindo, no centro do universo, o ho-mem era alma imortal, imagem de Deus, criatura privilegiada entre todas as demais, embora sendo material. Sua vocao pelo conhecimento ultra-passava o mundo das aparncias sensveis e atin-gia as ideias que lhe permitiam alcanar Deus.

    AtenoAteno

    O homem do Renascimento Cultural da poca moderna no era ateu.

    Figura 3 Criao de Deus, de Michelangelo (fragmento do teto da Capela Sistina, em que Michelan-gelo mostrou a grandiosidade humana).

    Fonte: Wikipdia (2012).

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    O homem podia assemelhar-se a Deus pri-meiramente e, depois, identificar-se com Ele, se Deus assim quisesse, pela criao. O homem era, como Deus, um artista universal.

    O homem viu bem a ordem dos cus, a origem dos seus movimentos, sua pro-gresso, sua distncia e sua ao. Quem poderia portanto negar que ele possui o prprio gnio do criador e que seria ca-paz de moldar os cus, se tivesse os ins-trumentos e a matria celeste? O homem o Deus de todos os seres materiais que ele trata, modifica e transforma. (MOUS-NIER, 1980, p. 22).

    Essa filosofia, profundamente idealista, ba-seada na procura do divino, caracterizou o pensa-mento dos humanistas italianos no final do scu-lo XV e incio do sculo XVI.

    As ideias humanistas espalharam-se pela intelectualidade europeia, mas no foram conhe-

    cidas por todos os homens dessa poca. Um cam-pons da regio da Toscana no tinha a menor ideia do que se discutia nos centros intelectuais.

    A imprensa conquistou um importante pa-pel na difuso das ideias humanistas. A fundao da oficina de Gutenberg, em 1348, e a inveno dos tipos mveis criaram as tcnicas necessrias impresso. Os manuscritos das primeiras obras dos humanistas foram largamente disseminados, pois foram impressos. Nos sculos XV e XVI, mul-tiplicaram-se consideravelmente os centros que faziam impresso na Europa, criando uma maior circulao de obras antigas e contemporneas, que foram os principais meios de difuso das ideias humanistas. Devem-se levar em conta, ain-da, as viagens, que promoviam um grande inter-cmbio cultural entre as vrias regies europeias, principalmente com professores universitrios passando uma temporada em uma universidade diferente da que estava normalmente sediado.

    De maneira geral, o movimento cultural e intelectual que marcou a transio da mentali-dade medieval para a mentalidade moderna foi o Renascimento. A crise do sculo XIV no atin-giu apenas os setores econmicos e polticos; atingiu tambm o plano cultural. Desse modo, o movimento renascentista mostra uma resposta a uma tentativa de compreender o homem e, con-sequentemente, o universo nessa poca de crise do feudalismo.

    O Renascimento traduzia as novas concep-es culturais, que tinham como referncia inte-lectual o humanismo, que buscava definir o papel ocupado pelo homem no universo.

    Deve-se destacar que o termo Renasci-mento traz consigo a ideia de uma ruptura com o mundo medieval. Hoje em dia, esse conceito no mais aceito; aceitamos que esse perodo que se condicionou chamar Renascimento um perodo de transio entre as concepes medieval e mo-

    3.3 O Renascimento Cultural Europeu

    derna do papel ocupado pelo homem no mundo. As transformaes no plano cultural j vinham ocorrendo desde muito antes. Desde o incio do sculo XII, temas como individualismo e raciona-lismo ocupavam as preocupaes dos estudiosos da poca. O empirismo, uma das caractersticas distintivas do Renascimento, j era objeto de es-tudo e discusso nas Universidades de Oxford e Paris, em pleno sculo XIII, por intelectuais como Roger Bacon, por exemplo.

    O Renascimento foi um movimento to complexo que provocou intensos debates e afir-maes, como veremos a seguir.

    O renascimento surge aos nossos olhos como um oceano de contradies, um concerto por vezes estridente de aspira-es divergentes, uma difcil concomi-tncia da vontade de poderio e de uma cincia ainda balbuciante, do desejo de beleza e de um apetite malso pelo hor-

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    rvel, uma mistura de simplicidade e de complicaes de pureza e de sensualida-de, de caridade e de dio. (DELUMEAU, 1984, p. 22).

    Como j dissemos, o Renascimento no po-dia ser considerado um retorno cultura greco--romana, por um simples motivo: nenhuma cul-tura renasce fora de sua poca. Assim,

    devemos interpretar com prudncias o ideal de imitao (imitatio) dos antigos, proposto como o objetivo maior e mais sublime dos humanistas por Petrarca, um de seus mais notveis representantes. A imitao no seja a mera repetio, de resto impossvel, do modo de vida e das circunstncias histricas de gregos e ro-manos, mas a busca de inspirao em seus atos, suas crenas, suas realizaes, de forma a sugerir um novo comporta-mento do homem europeu. (SEVCENKO, 1984, p. 14).

    O Renascimento foi um fenmeno tipica-mente urbano, que atingiu a elite economica-mente dominante das cidades prsperas. Marcou no apenas uma mudana na qualidade da pro-duo intelectual, mas tambm uma modificao na quantidade da produo, em sentido crescen-te.

    Apesar do esforo para apresentar os ele-mentos comuns que marcaram o Renascimento, devemos lembrar que esse movimento histrico, ocorrido em diversas regies da Europa Ociden-tal, no foi de modo algum uma manifestao cultural homognea.

    A expresso Renascimento englobou mo-vimentos intelectuais e artsticos muito diversos; algumas vezes, estes se assemelhavam e, outras vezes, eram diferentes e contraditrios entre si. Todavia, a caracterstica comum a todas as mani-festaes foi procurar por alternativas para a so-ciedade da poca, ainda que nem todas as solu-es oferecidas indicassem para o mesmo ponto.

    O Renascimento comeou na Pennsula It-lica, expandindo-se depois para outras regies europeias. Entre os principais centros urbanos em que se desenvolveu, devemos destacar Florena, no sculo XV, Roma e Veneza, no sculo XVI.

    Vrios foram os motivos para que o Renas-cimento iniciasse na Pennsula Itlica; vejamos al-guns a seguir:

    desenvolvimento comercial e urbano: as cidades italianas tiveram um grande desenvolvimento comercial, tendo sido governadas ou dirigidas por uma classe de poderosos mercadores. Esses mer-cadores acumularam grandes riquezas comercializando via mar Mediterrneo. Essa camada sentiu necessidade da im-plantao da ordem econmica capita-lista, que possibilitava a livre concorrn-cia, o individualismo e a busca racional do lucro. Enfim, queria os novos valores que o pensamento renascentista refle-tia;

    o mecenato: a burguesia italiana esti-mulava os artistas e intelectuais do Re-nascimento por meio de patrocnio, ou seja, pagavam para que esses artistas e intelectuais pudessem viver de suas obras de arte e suas pesquisas;

    a fuga dos sbios bizantinos: depois da queda de Constantinopla, vrios sbios bizantinos migraram para a Pennsula Itlica, levando com eles elementos da cultura clssica preservados em Bizn-cio;

    a sede do Imprio Romano: a Itlia foi a sede do Imprio Romano, havendo a vrios monumentos que sobreviveram desde a Antiguidade, como, por exem-plo, monumentos arquitetnicos, est-tuas, arcos de triunfo etc.

    Para conhecer um pouco mais sobre o Renasci-mento Italiano, principalmente sobre a pintura do teto da Capela Sistina, assista ao filme Agonia e xtase, dirigido por Carol Reed.

    MultimdiaMultimdia

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    Intelectuais e artistas europeus acredita-vam que a arte renascentista italiana era um pa-radigma a ser seguido. Influenciados pelos novos elementos estticos, viajavam sempre para as cidades italianas em busca de conhecimento e inspirao. Nesse processo de contato cultural, a imprensa tambm ocupou papel de destaque, por facilitar a circulao das novas ideias.

    Nos Pases Baixos, a entrada das ideias/esttica renascentistas foi lenta e difcil. Na pin-tura, a preocupao com a arte nacional, desde o princpio do sculo XV, permitiu que o artista dedicasse-se mais aos problemas religiosos do que a questes filosficas ligadas ao neoplatonis-mo. Assim, artistas, como E. van Eyck, propuseram um tipo de pintura inserida na linha do realismo minucioso, ainda dominado pelas formas gticas. Repare, na imagem a seguir, a riqueza de deta-lhes; o pintor criou a cena de modo que quem a visse se sentisse participando da cena retratada. Preste ateno no espelho; ele est ali colocado para que quem veja o quadro tenha uma viso mais completa dele, ou seja, no se v apenas o que est de frente, mas tambm as costas de quem foi retratado. Repare no cachorro, no chine-lo, na decorao do quarto.

    Figura 4 Casal Arnolfini, de van Eyck.

    Fonte: Wikipdia (2012).

    3.4 Propagao do Renascimento Cultural

    Vejamos, agora, outro excelente pintor: Je-rnimo Bosch (1450-1516), mais um exemplo de independncia com relao esttica italiana. Bosch pintou um mundo fantstico, de formas e seres que mostravam as inquietaes e os fantas-mas do final da poca medieval. Repare, nas figu-ras a seguir, como o artista cria seres fantsticos.

    Figura 5 Detalhe do inferno de O jardim das delcias, de Bosch.

    Fonte: Wikipdia (2012).

    Figura 6 O jardim das delcias, de Bosch.

    Fonte: Wikipdia (2012).

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    Deixemos, agora, um pouco de lado os ar-tistas plsticos dos Pases Baixos e dediquemo--nos ao mais importante representante do huma-nismo evanglico dessa regio: Desidrio Erasmo (1460-1536), que, influenciado, a princpio, por John Colet e por Lefvre dEtaples, achou, nas Cartas de So Paulo, uma concepo de vida cris-t livre, que rejeitava as cerimnias e as prticas. Em 1500, publicou Adgios, em que mostrou que a sabedoria humana deveria auxiliar o homem a entender as leis divinas. Nas obras Elogio da lou-cura e Manual do cavalheiro cristo, mostrou qual deveria ser a conduta de um bom cristo e con-firmou que a verdade s poderia ser encontrada na Bblia.

    Erasmo fez uma traduo do Novo Testa-mento (1516), buscando aproximar-se o mximo possvel do original. No concordava com a erudi-o dos nominalistas e dos tomistas, que, para ele, s se preocupavam com disputas interpreta-tivas e filosficas.

    Erasmo influenciou Lutero, mas no concor-dava plenamente com as ideias do futuro refor-mador da religio catlica.

    Vejamos, agora, o caso da Pennsula Ibrica. Mesmo que Espanha e Portugal fossem ligados poltica e economicamente Itlia, no concor-davam com todos os valores do Renascimento, reagindo contra as ideias de Erasmo e contra o paganismo presente nas pinturas e esculturas.

    A arquitetura renascentista espanhola en-controu seu principal exemplar no Escorial, de Juan Herrera, um edifcio com uma planta quadra-da, ladeada por janelas, colunas, cpulas e torres.

    DicionrioDicionrio

    Nominalismo: a doutrina que no admite a exis-tncia do universal, nem no mundo das coisas nem no pensamento.Tomismo: a doutrina ou filosofia escolstica de Santo Toms de Aquino.

    Figura 7 Vista panormica do complexo de San Lorenzo de El Escorial.

    Fonte: Wikipdia (2012).

    No campo literrio, na Espanha, destacou--se Miguel de Cervantes (1547-1616), autor de D. Quixote, um livro que satiriza a luta pela sobrevi-vncia dos ideais medievais. A cavalaria associa-da a esses ideais e mostra-se irreal e decadente, enquanto Sancho Pana representa o pragmatis-mo e o racionalismo mordaz do capitalismo. Os

    dois principais personagens, o cavaleiro e seu ar-mador, prendem-se conscincia de Cervantes frente transio do feudalismo para o capitalis-mo.

    No campo da pintura, El Greco (1540-1614) foi o principal artista do Renascimento espanhol.

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    Figura 8 O enterro do Conde de Orgaz, de El Greco.

    Fonte: Wikipdia (2012).

    J em Portugal, o expoente mximo do Re-nascimento foi Lus de Cames (1524-1580), autor de vrias obras literrias. Sua obra mais conhecida e mais importante Os lusadas, poema pico em que se narra a viagem de Vasco da Gama para as ndias. Nessa obra, o heri uma entidade abs-trata.

    O Renascimento ingls destacou-se mais na literatura, tendo como principais nomes Thomas Morus (1478-1530) e William Shakespeare (1564-1616). Morus o autor de Utopia, obra de grande importncia para o humanismo e que influenciou

    Erasmo, que exprimiu os mesmos ideais. Nesse li-vro, o autor descreve um pas imaginrio, em que a ideia de tirania no existia. William Shakespeare destacou-se na elaborao de textos teatrais. Sua obra mais importante Hamlet, pea pessimista e crtica, de grande anlise psicolgica, mostrando as paixes humanas na crueza da realidade.

    Na Alemanha, o crescimento das ideias re-nascentistas e a influncia italiana foram cerce-ados pela diviso poltica e religiosa da regio. Na pintura, destacou-se Drer, influenciado pelo gtico e, depois de sua viagem Itlia, por artis-tas italianos como Bellini e Da Vinci. Sua obra de-monstra profunda religiosidade.

    Na Frana do sculo XVI, a arte gtica ain-da sobrevivia. Durante o reinado de Francisco I, a arte italiana foi apreciada e patrocinada pelo rei. Em 1534, Rabelais escreveu sua principal obra: Gargntua e Pantagruel, em que se pode encon-trar uma stira Igreja Catlica, escolstica e aos costumes sociais.

    Montaigne escreveu, em 1580, Ensaios, mostrando sua filosofia ctica a qualquer dogma ou verdade definitiva.

    3.5 Resumo do Captulo

    Caro(a) aluno(a),

    Neste captulo, voc estudou como e onde surgiu o Renascimento Cultural da poca moderna e viu as principais caractersticas do Renascimento de vrios pases europeus.

    3.6 Atividades Propostas

    Verifique, agora, como foi o seu aprendizado. Responda s questes:

    1. Descreva a nova dimenso que o Humanismo deu ao homem renascentista.

    2. O Renascimento cultural, nos Pases Baixos, foi marcado pelas ideias de Erasmo. Quais eram as suas principais concepes religiosas?

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    REFORMAS RELIGIOSAS4

    Caro(a) aluno(a),

    Neste captulo, voc estudar as transfor-maes que ocorreram no mbito da religio durante a poca moderna. Veremos as Reformas: Luterana, Calvinista, Anglicana e Catlica.

    No final do sculo XIX e incio do sculo XX, afirmou-se que os fatores responsveis pe-las reformas religiosas haviam sido os abusos fi-nanceiros da Igreja e a incapacidade religiosa do clero. Associaram-se essas justificativas reforma luterana, direcionada em favor de prncipes lute-ranos, que queriam apropriar-se, principalmente,

    das terras da Igreja. H outra viso que reduz o movimento religioso a uma consequncia do ca-pitalismo, sem considerar que, desde o sculo XIII, as formas pr-capitalistas existiam na Itlia e nos Pases Baixos, onde ocorriam movimentos refor-mistas.

    No h dvida de que esses fatores colabo-raram com as Reformas religiosas. Contudo, elas foram movimentos religiosos cujas causas princi-pais s podem ser entendidas a partir de razes religiosas.

    A reforma religiosa no foi gerada na cris-tandade, religiosamente enfraquecida, mas num mundo cujas necessidades espirituais cresciam ao lado de uma total incapacidade da Igreja.

    Para compreendermos os movimentos reformistas, preciso, inicialmente, entender o clima de inquietao religiosa no final da Idade Mdia. Todos se sentiam culpados; o medo dos castigos eternos traduzia-se nas imagens terrveis dos pintores e poetas.

    A Guerra das Duas Rosas e a crescente ame-aa turca acentuaram nos indivduos a culpa e a responsabilidade por desgraas. Uma angstia generalizada marcou uma poca de profunda f e todas as camadas sociais foram dominadas por esses sentimentos. No final do sculo XV, espalhou-se a crena de que ningum entraria no paraso aps o Cisma do Ocidente. Esse clima angustiante foi ainda reforado por telogos e pregadores populares, que, preocupados com os

    4.1 A Crise da Religiosidade Europeia

    graves pecados, enxergavam os ltimos anos da Idade Mdia como o prembulo do Apocalipse.

    Nessa atmosfera de angstia e medo co-letivos, fcil compreender o sucesso dos esca-pulrios, das indulgncias e das relquias, que se transformaram em expresses de segurana en-contradas pelo cristo diante da morte e da per-dio eterna.

    A elite cultural e intelectual encontrava-se tambm desesperada; Occan modificou a religio em uma srie de dogmas proclamados autori-tariamente, fazendo com que o povo recebesse com passividade ritos impostos.

    Segundo Marrone e Franco Jnior (1982), o tomismo buscou traduzir em linguagem lgica o mistrio divino, levando os telogos do final do sculo XV a submeterem a f a conceitos de silo-gismos. Essa postura tornou a salvao inteligvel apenas a uma elite intelectualizada. A maior par-

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    te da populao viu-se desamparada, sem conse-guir entender como deveria proceder para conse-guir ser um bom fiel.

    DicionrioDicionrio

    Silogismo: propor, em termos racionais, a relao do fiel a Deus.

    A Igreja Catlica j vinha tendo movimen-tos que propunham reformas, antes mesmo do movimento liderado por Lutero. Esse momento pr-reformista teve seu incio no sculo XII, com Pedro Valdo, um comerciante da cidade de Lyon. Ele encomendou a traduo da Bblia em lingua-gem popular e ps-se a preg-la populao mais pobre, que no tinha acesso a sacerdotes. Abandonou a vida anterior ao exerccio da prega-o e dividiu seus bens com os pobres. Rejeitava o uso das imagens, que, para ele, era idolatria.

    Outro movimento a favor de uma religio sem corrupes ocorreu no sculo XIV e foi leva-

    4.2 Os Pr-Reformadores

    do adiante por John Wycliffe, que fez vrios ques-tionamentos Igreja Catlica Apostlica Romana. Desejava a volta a uma Igreja primitiva, com igre-jas sem ostentaes. Para ele, a pobreza que pre-gava para a Igreja Catlica era incompatvel com os desejos pontifcios.

    Outro pr-reformador foi Jan Hus, um tche-co que comeou seu movimento religioso funda-mentando suas ideias em Wycliffe. Todos foram perseguidos e mortos.

    4.3 Reforma Luterana

    Lutero no se preocupava com uma re-forma na Igreja, mas com a salvao da alma. A partir das Cartas de So Paulo, desenvolveu suas reflexes, todas voltadas justificao da f como nico ponto de partida para extrapolar os ensina-mentos que recebeu. Segundo ele, Deus no nos julga pelos pecados e pelas obras, mas pela nossa f. Lutero encontrou a paz em uma noo reno-vada de penitncia, concebida a partir da justifi-cao pela f do cristo, independente dos seus mritos.

    A concesso de indulgncias, como prtica de devoo, era entendida pelos cristos como absolvio. A justificao pela f defendida por Lutero no permitia atribuir s obras de caridade algum valor, contrapondo-se teoria da salvao pelo mrito, defendida por parte da Igreja Cat-lica.

    Indignado com a pregao do dominicano Teztel, que vendia indulgncias, Lutero revoltou--se e, em 1517, publicou suas 95 teses, denuncian-do as falsas seguranas dadas aos fiis. Segundo o telogo, s Deus podia perdoar, e no o papa, e a nica fonte de salvao da Igreja residia no Evan-gelho.

    Iniciou-se, assim, em torno dessa nova po-sio, um conflito na Alemanha, entre os domi-nicanos e os agostinianos. O papado de Leo X interferiu, repudiando o posicionamento de Lu-tero, que rejeitou a infalibilidade do pontificado e a funcionalidade dos sacramentos distantes da f. A disputa prolongou-se at 1519, culminando com um alerta romano a Lutero em relao s consequncias das suas afirmaes. Mesmo as-sim, o telogo agostiniano rejeitou a primazia ro-mana e a autenticidade dos conclios, propondo

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    como valor nico a Escritura, negando a tradio dogmtica e no aceitando a existncia do purga-trio (MARRONE; FRANCO JNIOR, 1982).

    Ainda que a fora de Lutero viesse de sua prpria convico, ele recebeu apoio de muitos na Alemanha: dos humanistas, como Hutten e Melanchton, dos estudantes de Wittemberg e de Erfurt e de muitos nobres.

    A revolta, que, no incio, era individual, transmutou-se em um cisma. Na Alemanha, exis-tiam condies propagao da ideia de Lutero.

    Concomitantemente aos problemas religio-sos, existiu uma srie de fatores sociais e econ-micos que facilitou a propagao das ideias lute-ranas na Alemanha. Entre esses fatores, podemos destacar o fato de grande parte das terras alems pertencer Igreja Catlica, existindo um grande interesse da nobreza de se apoderar dessas terras.

    Com sede de poder e de riqueza, a nobreza e a burguesia mostravam-se descontentes com a Igreja e o Imperador. Os camponeses e os arte-sos urbanos tambm julgavam a Igreja pela situ-ao de misria em que viviam.

    AtenoAteno

    Lutero, a princpio, no queria romper com a Igre-ja Catlica.

    4.4 Calvinismo

    O luteranismo instalou-se na Alemanha do Norte e na Escandinvia, onde se transformou em instituio de Estado, perdendo todo o seu dina-mismo. As disputas entre prncipes catlicos e protestantes eram mais questes polticas do que religiosas. Nesse quadro, as ideias de Calvino apa-receram em um momento favorvel.

    Em 1536, Joo Calvino (1509-1564) publi-cou sua obra mais importante, Instituio da re-ligio crist, em que declara que o ser humano estava predestinado, de modo absoluto, a mere-cer o Paraso ou o Inferno. Nada que os homens

    fizessem em vida poderia alterar-lhes o destino, j traado anteriormente.

    A f presente em algumas pessoas poderia ser entendida como um sinal de que elas faziam parte do grupo dos eleitos por Deus salvao. Essas pessoas sentiam, dentro dos seus coraes, uma irresistvel vontade de combater o mal pre-sente no mundo.

    A prosperidade econmica de algumas pes-soas tambm poderia ser entendida pelos segui-dores de Calvino como um sinal de salvao.

    4.5 Reforma Anglicana

    Henrique VIII (1509-1547), rei da Inglaterra, havia sido, durante certo tempo, aliado do papa, tendo recebido, inclusive, o ttulo de defensor da f, porm uma srie de fatores polticos, econ-micos e sociais fez com que ele rompesse com a Igreja Catlica e fundasse uma Igreja nacional na Inglaterra: a Igreja Anglicana.

    A Igreja Catlica tinha uma grande influ-ncia poltica na Inglaterra, pois era proprietria de vastas extenses de terras e comercializava os objetos sagrados, sem ter que disputar mercado com ningum. Para fortalecer o poder na monar-quia inglesa, seria necessrio diminuir a influn-cia do papado dentro dos domnios ingleses.

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    Como j havia ocorrido com outros pases europeus, a nobreza inglesa possua interesse econmico em apreender as terras da Igreja. Para que isso acontecesse, essa camada notou que de-veria aliar-se ao rei, com o propsito de enfraque-cer os poderes da Igreja Catlica na Inglaterra.

    Alm dessas questes poltico-econmicas, houve ainda um desentendimento entre o rei e o papa. Henrique VIII era casado com a princesa espanhola Catarina de Arago; desse casamento, nasceu uma filha. Contudo, o rei no queria mais manter o casamento. O rei solicitou ao papa a anulao de seu casamento, porm o papa no deu. Isso gerou mais atrito entre a monarquia in-glesa e o papado.

    Henrique VIII solicitou ao alto clero e ao Parlamento que reconhecessem o seu pedido de separao da rainha. Em 1534, o Parlamento in-gls votou um Ato de Supremacia, no qual o rei foi reconhecido como chefe supremo da Igreja Anglicana.

    Os ingleses, por juramento, deveriam submeter-se a essa supremacia, caso con-trrio seriam excomungados e persegui-

    dos pela justia real. Houve pouca resis-tncia, nela includa a de Thomas Morus, que foi decapitado. Suprimiu-se o clero regular e seus bens, devolvidos coroa, foram vendidos. (CORVISIER, 1980, p. 75).

    A Igreja Anglicana promoveu uma unio original entre os ritos catlicos e os dogmas de carter protestante. Essa soluo foi criada pela monarquia inglesa para conseguir a convivn-cia social dos diversos grupos religiosos rivais no pas. Desse modo, de acordo com as necessida-des, a Igreja Anglicana oscilava entre a forma ca-tlica e o contedo protestante, conforme queria agradar a um ou outro grupo.

    Para conhecer um pouco mais sobre a Reforma Luterana, assista ao filme Lutero, dirigido por Eric Till.

    MultimdiaMultimdia

    A Igreja Catlica vagarosamente se cons-cientizou da amplitude contestatria que a cerca-va. No comeo, acreditou que a posio de Lute-ro, como a de Wycliffe e Huss, tinha uma extenso limitada e que a represso do Estado ou uma ten-tativa de conciliao eliminaria as rupturas, mas, a partir de 1530, fez-se necessrio que a Igreja Catlica tomasse medidas contra os avanos pro-testantes.

    Em 1532, o papa Paulo I introduziu a In-quisio Romana, confiando aos dominicanos a obrigao de implant-la nos Estados italianos. Depois da Itlia, a inquisio foi criada em ou-tros pases. Essa instituio foi eficiente na Itlia, Espanha e Portugal, onde perseguiu todos aque-les que, por meio do humanismo ou de teologias luteranas e calvinistas, contrariavam a ortodoxia catlica ou cometiam heresias.

    4.6 Reforma Catlica

    A Igreja Catlica j vinha, desde o sculo XIII, passando por pequenas reformas, porm, a partir de 1530, foi obrigada a se posicionar frente s crticas que estava recebendo. Assim, chamou, em 1545, um Conclio para discutir como deve-ria agir frente s crticas que recebia. O Conclio reuniu-se na cidade de Trento, entre os anos de 1545 e 1563, no em tempo contnuo. Ao final do Conclio, apresentou-se uma srie de decises destinadas a garantir a unidade da f catlica e a disciplina eclesistica.

    No ano de 1540, foi aprovada a criao de uma nova ordem religiosa: a dos Jesutas. Estes receberam o monoplio da educao e da cate-quese e funcionaram como um brao do poder papal nas regies recm-descobertas. O objetivo dessa ordem era expandir os domnios catlicos.

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    Caro(a) aluno(a),

    Neste captulo, voc estudou os principais movimentos que fizeram surgir novas religies na poca moderna. Repare que, na viso que foi passada a voc, a Reforma Catlica no foi um movimento para contra-atacar a Reforma Protestante, mas um movimento que se iniciou antes da Reforma Luterana e que, aps esta, teve que assumir postura mais rgida frente corrupo religiosa que estava se alastrando pela instituio.

    4.7 Resumo do Captulo

    4.8 Atividades Propostas

    Vamos, agora, ver como se deu seu processo de aprendizagem. Responda s questes:

    1. Caracterize resumidamente as realizaes da Reforma Catlica e da Reforma Protestante.

    2. A modernidade tambm foi marcada pela Reforma Religiosa. Aponte resumidamente as prin-cipais causas do movimento reformista protestante.

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    FORMAO DAS MONARQUIAS NACIONAIS ABSOLUTISTAS5

    Caro(a) aluno(a),

    No captulo que agora se inicia, voc estu-dar como se deu o processo de formao das monarquias nacionais absolutistas. Os casos Fran-cs e Ingls sero tratados com mais detalhes.

    Diante do mundo do final da Idade Mdia, dividido pelo feudalismo e afetado pela fome e pela guerra, o homem, totalmente inseguro e desacreditado dos velhos valores, procurava uma nova realidade. Desse modo, surgiu, sob o aspec-to econmico, o Capitalismo; o cultural, o Renasci-mento; o religioso, o Protestantismo; e o poltico, o Estado Moderno, no qual o indivduo esperava encontrar a ordem, a paz, a segurana, enfim, as condies de sobrevivncia que constantemente lhe faltaram nos sculos XIV e XV.

    Completou-se, assim, o processo de centra-lizao poltica iniciado por monarcas medievais, passando o rei a ter jurisdio sobre todo o pas. A tributao estatal substituiu a senhorial; a fora armada nacional suplantou as hostes feudais; os vassalos tornaram-se sditos; todos os homens, cidados. O rei passou a englobar todos os pode-res da nao: era o administrador, o chefe do exr-cito e o representante de Deus; o legislador, o juiz e o executor. Seu poder estendeu-se a todos os campos da vida nacional: dirigia a vida econmi-ca, controlava a sociedade, fixava as metas pol-ticas, determinava o relacionamento com o exte-rior e definia os valores culturais. Ele era, portanto, o soldado que protegia seu povo, o administrador que cuidava de suas riquezas, o pai que educava seus filhos, o porta-voz de Deus que trabalhava na Terra para Sua maior glria. Segundo a famo-sa expresso de Lus XIV, o monarca era o prprio Estado.

    O monarca tinha a pretenso de centrali-zar politicamente a nao desde a Idade Mdia Central, mas apenas na Idade Moderna surgiram as condies que lhe possibilitaram concretizar seu ideal. De fato, para centralizar, o rei precisava superar dois obstculos: um interno (a nobreza feudal) e outro externo (a Igreja). Ora, na Idade Moderna, a concentrao de poderes tornou-se possvel graas contraposio entre os poderes universalistas e supranacionais (o Sacro Imprio Romano Germnico e o Papado) e os poderes particularistas e regionalistas (as cidades medie-vais autnomas e os feudos). A luta interna entre esses componentes, as longas disputas entre o imperador e o papa pela hegemonia europeia e os conflitos entre a burguesia urbana e a nobreza feudal enfraqueceram-nos, favorecendo o des-pontar de um poder nacional.

    Portanto, naquele contexto, os fatores de-terminantes do Absolutismo foram o Renasci-mento, a Reforma Protestante e as lutas sociais entre a burguesia e a nobreza. O Renascimento contribuiu para a formao do Estado Moderno Absolutista, ao eliminar o monoplio cultural--religioso, roubando parte do prestgio da Igreja, e ao revalorizar o direito romano, que defendia a concentrao da autoridade pblica.

    A Reforma Protestante tambm abalou as pretenses polticas da Igreja, enfraquecendo-a, o que facilitou a organizao de Estados nacionais e permitiu que muitos reis exercessem os poderes anteriormente de competncia eclesistica. sig-nificativo que, em certos pases, como Inglaterra e Sucia, os prprios monarcas tenham liderado o movimento reformista contra a Igreja.

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    O fator mais importante do Absolutismo, porm, foi a oposio de interesses entre a bur-guesia e a nobreza. Para os burgueses, a des-centralizao poltica feudal e a consequente multiplicidade de impostos representavam uma barreira expanso dos negcios. Para os nobres, claro, a fraqueza da monarquia significava maior prestgio e poder. Assim, numa primeira fase, deu--se a aliana rei-burguesia contra a nobreza (cen-tralizao). Contudo, prevendo futuras dificul-dades com a burguesia, o monarca no destruiu totalmente o poder da nobreza; tornando-se o fiel da balana entre uma fora ainda frgil, po-rm ascendente, e uma forte, mas decadente, o rei ganhou todos os poderes (Absolutismo).

    Contudo, exista uma contradio que seria, no futuro, fonte de graves problemas:

    Precisando de recursos crescentes para, no plano externo, se impor frente aos ou-tros Estados que nasciam, e, no plano in-terno, para se separar da sociedade civil, o Estado apoiava o comrcio para tribut--lo e assim se manter. No entanto, desta forma, promovia-se o fortalecimento da burguesia, desequilibrando o sistema. Em suma, o Estado Moderno Absolutista, para manter o equilbrio social sobre o qual se fundava, precisava sustentar a no-breza decadente, necessitando para tan-to de recursos, da o mercantilismo; desta maneira, porm provocava a ruptura do equilbrio e comprometia sua prpria existncia. O mercantilismo foi, assim, a fora e a fraqueza do Estado Moderno. (FRANCO JNIOR; CHACON, 1980, p. 162).

    Como todo sistema, tambm as Monar-quias Nacionais Absolutistas tiveram idelogos, filsofos e polticos preocupados em justificar e legitimar a concentrao de poderes nas mos do

    rei. Thomas Hobbes (1588-1679) acreditava ser o homem originalmente mau, vivendo em constan-te luta contra seus semelhantes. Como o homem o lobo do homem, tornou-se indispensvel a presena do Estado, verdadeiro monstro (Levia-t) delimitador da liberdade de todos, um mal necessrio. Esse monstro surge de um contrato social assinado entre indivduos que resolveram escolher para si um chefe que pudesse por fim guerra de todos contra todos. Sendo assim, por uma questo de segurana, os homens criaram o Estado e entregaram sua direo ao rei.

    Outro idelogo do Absolutismo foi Jean Bo-dim (1530-1596), segundo quem o Estado nasceu como prolongamento da famlia, sendo, portan-to, portador da soberania. Como esta una e indi-visvel, deveria ser exercida por apenas uma pes-soa, espcie de pai da famlia, o rei. Mesmo que o monarca excedesse no poder, o povo no poderia se rebelar, j que a mais dura tirania melhor que a anarquia. Na realidade, o rei deveria obedecer lei divina, pois sua autoridade originava-se da ordem divina.

    Jacques Bossuet (1627-1704), outro idelo-go do absolutismo, por sua vez, justificava o po-der absolutista afirmando que, na unidade, reside a vida; fora da unidade, a morte certa. Para ele, o rei seria o representante de Deus na Terra; por-tanto, todo o Estado est nele, o desejo do povo encerrado no seu; como em Deus, est presente toda a perfeio e toda a virtude. Desse modo, todo o poder dos indivduos est presente no rei.

    AtenoAteno

    O absolutismo da poca moderna no sinni-mo de ditadura.

    5.1 A Inglaterra

    A Guerra das Duas Rosas (1455-1485), en-volvendo famlias postulantes ao trono ingls, eliminou milhares de nobres e, dessa forma, for-

    taleceu o poder real. Em funo disso, a famlia Tudor, que conquistou o poder no final da guerra, tornou-se a primeira dinastia absolutista inglesa.

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    Henrique VII (1509-1547) dedicou-se a con-solidar o poder real, assinando, em 1534, o Ato de Supremacia, que o transformava em chefe da Igreja da Inglaterra. Assim, ele uniu aos seus po-deres civis o poder religioso. Fora isso, ao dissol-ver os mosteiros e confiscar seus bens, o rei fez crescer sua riqueza.

    Os reinados de seus sucessores, Eduardo VI e Maria I, no foram significativos, mesmo com os ideais do absolutismo tendo sido mantidos. Na Inglaterra, esse sistema poltico teve seu pice no reinado de Elizabeth I (1558-1603), outra filha de Henrique VII. Muito hbil nas relaes com o Par-lamento e muito firme em sua posio frente s presses da Igreja Catlica, a rainha obteve gran-de popularidade.

    Elizabeth morreu sem deixar herdeiros, o que levou a uma mudana dinstica; o trono passou para as mos de seu primo, Jaime I (1603-1625), da famlia Stuart, de origem escocesa, mo-tivo de descontentamento para os ingleses. Alm do problema com a origem da famlia real, os monarcas dessa dinastia mostraram-se inbeis no trato com a sociedade inglesa.

    O descontentamento com a poltica fiscal e religiosa de Carlos I (1525-1649) levou re-volta aberta do Parlamento, liderada por Oliver Cromwell. Vitoriosa a revolta, Cromwell mandou decapitar o rei e governou o pas de modo ditato-rial at sua morte (1658). Isso s foi possvel gra-as ao apoio que recebeu da burguesia mercantil, agradecida pelos Atos de Navegao (1651), leis que beneficiaram a economia inglesa: os produ-tos estrangeiros s poderiam entrar na Inglater-ra por meio de navios ingleses ou de navios dos pases de origem dos produtos, eliminando-se os intermedirios.

    Pouco tempo depois da morte de Cromwell, a dinastia Stuart regressou ao poder, com Carlos II. De novo, a intolerncia e o radicalismo dos reis geraram nova oposio. No reinado de Jaime II, eclodiu a Revoluo Gloriosa (1688-1689), pon-do fim ao absolutismo ingls. A filha de Jaime II e seu marido, Guilherme DOrange, tornaram-se reis depois de aceitarem a Declarao de Direitos, que limitava os poderes reais, deixando para o Parlamento o efetivo governo do pas.

    5.2 A Frana

    O poder real francs vinha se fortalecendo desde o final da Guerra dos Cem Anos (1337-1453), principalmente em razo das lutas religio-sas entre catlicos e protestantes, na segunda metade do sculo XVI. Desse modo, quando Hen-rique IV subiu ao trono, no havia mais resistncia ao poder absoluto do rei. Esse rei buscou pacifi-car definitivamente o pas, assinando, em 1598, o dito de Nantes, que dava liberdade de culto aos protestantes, integrando-os vida nacional.

    Com a morte de Henrique IV, assumiu o go-verno da Frana uma regncia, pois o herdeiro, Luiz XIII, ainda era menor. Quando este assumiu o trono, nomeou o cardeal Richelieu como seu mi-nistro. Este foi o verdadeiro comandante da Fran-a nesse perodo. Suas principais atuaes foram: limitar o poder poltico dos protestantes, subju-

    gar a nobreza e transformar a Frana em uma po-tncia europeia.

    Desse modo, estava preparando o terreno para o surgimento do absolutismo francs, com Luiz XIV (1643-1715). Valendo-se da mesma pol-tica do cardeal Richelieu, o rei levou-a at as l-timas consequncias. Segundo Marrone e Franco Jnior (1982), para impedir que os protestantes fossem um Estado dentro do Estado, Luiz XIV re-vogou o dito de Nantes, em 1685, provocando a sada do pas de milhares de cidados economi-camente ativos (comerciantes, artesos, banquei-ros). Para impedir a atuao poltica da nobreza, o rei levou-a para perto de si. Para dar hegemonia Frana, o monarca envolveu o pas em vrias guerras desastrosas.

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    Portanto, Luiz XV (1715-1774) herdou um pas em difcil situao econmica. Essa situao foi particularmente agravada pela Guerra dos Sete Anos (1756-1763), que colocou, de um lado, Inglaterra e Prssia e, de outro, Frana e ustria disputando a hegemonia europeia e os territrios coloniais. A derrota francesa desprestigiou ainda mais a dinastia Bourbon, derrubada no reinado

    de Luiz XVI, no incio da Revoluo Francesa, em 1789, que ps fiz ao absolutismo na Frana.

    Para conhecer mais sobre o absolutismo fran-cs, assista ao filme O absolutismo A ascenso de Luiz XIV, dirigido por Roberto Rossellini.

    MultimdiaMultimdia

    Para Franco Jnior (1976), antigo regime um termo tradicional, que originalmente desig-nava a estrutura social e poltica da Frana, que viria a desaparecer com a Revoluo Francesa.

    Na verdade, tal designao pode ser apli-cada, apesar de diferenas regionais, a todos os pases da Europa cuja estrutura baseava-se no Absolutismo, na sociedade estamental e no ca-pitalismo comercial. Na medida em que esses elementos eram interdependentes, a crise de um afetava os outros, cujos problemas repercutiam no primeiro, num processo de crculo vicioso que debilitava o todo, o Antigo Regime. Portanto, a crise deste foi a crise de seus elementos compo-

    5.3 A Crise do Antigo Regime

    nentes. Sem a preocupao de localizar o ponto inicial dessa ruptura, lembremos apenas que a cri-se na sociedade estamental refletiu-se no capita-lismo comercial e, desse modo, afetou tambm o Absolutismo, fazendo surgir uma nova ideologia contrria a ele: o Iluminismo, ocorrendo, assim, sua derrocada.

    Resumindo, o Antigo Regime nasceu para lutar contra as crises e a desagregao do mun-do feudal, visando a atender s necessidades de uma poca, mas de tal modo desindividualizou o homem, abafou sua criatividade e reduziu sua li-berdade que logo deixou de satisfazer os desejos humanos. Como j foi dito,

    a hierarquia, a disciplina, a ordem ga-rantida pela autoridade, os dogmas que regulam a vida com firmeza: eis o que os homens do sculo XVII amavam. Su-jeies, autoridade, dogmas: eis o que detestavam os homens do sculo XVIII. (HAZARD, 2007, p. 7).

    DicionrioDicionrio

    Antigo regime: a expresso que se usa hoje em dia para designar um Estado que, durante a po-ca moderna, tinha Monarquia Absolutista, poltica econmica mercantilista e organizao social es-tamental.

    5.4 Resumo do Captulo

    Caro(a) aluno(a),

    Neste captulo, voc estudou como se deu o processo de centralizao do poder nas mos do rei e viu que esse processo ocorreu em toda a Europa Ocidental, mas no em todos os pases ao mesmo tempo. Tambm conheceu os processos de formao das monarquias nacionais absolutistas inglesa e francesa.

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    5.5 Atividades Propostas

    Agora, vamos ver como se deu seu processo de aprendizagem. Responda s questes:

    1. Explique duas das condies que contriburam para a centralizao poltica e a adoo do absolutismo na poca moderna.

    2. Explique o significado da Teoria do Direito Divino, que justificava o absolutismo dos monarcas da poca moderna.

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    REVOLUES INGLESAS6

    Caro(a) aluno(a),

    Neste captulo, voc estudar um momen-to de grande instabilidade poltica, social e eco-nmica na Inglaterra. A esse momento, damos o nome Revolues Inglesas. Veremos como elas puseram fim ao Absolutismo, iniciando, assim, uma nova forma de governo na Inglaterra: a Mo-narquia Constitucional.

    Durante o sculo XVII, a Inglaterra foi sacu-dida por grandes tremores polticos, econmicos e sociais. Tratava-se das Revolues Inglesas, um perodo de mais ou menos 50 anos de lutas, que representaram o embate das velhas estruturas feudais com as novas foras do capitalismo em crescimento. Ao final, essas revolues puseram fim ao absolutismo na Inglaterra e abriram cami-nho para o desenvolvimento industrial ingls.

    As disputas poltico-sociais do sculo XVII foram o modo atravs do qual a Inglaterra ps fim definitivamente ao que restava do sistema feudal, desenvolvendo o capitalismo como meio transformador da estrutura agrria e das relaes trabalhistas no campo e promovendo o aperfei-oamento da tcnica de produo.

    No plano poltico, pode-se dizer que a In-glaterra fez a substituio do Estado Absolutista pelo Estado liberal capitalista, em que existiam 3 poderes distintos: o Executivo, o Legislativo e o Judicirio.

    A Revoluo Inglesa foi a primeira revolu-o burguesa da Europa ocidental. Ante-cipou em 150 anos a Revoluo Francesa. Representou a destruio do Estado ab-solutista e a criao de condies para o avano do capitalismo industrial na Ingla-terra. Desse ponto de vista, a Revoluo Inglesa e a Revoluo Industrial represen-

    tam duas faces de uma mesma moeda. (ARRUDA, 1988, p. 89).

    A situao econmica da Inglaterra no s-culo XVII era bastante heterognea, modificando--se de regio para regio. No oeste e norte do pas, ainda era dominante a estrutura agrria de tipo feudal, embora j estivessem passando por um processo de modificao, com o rompimento das relaes servis e a instituio da mo de obra assalariada. No leste e sul, havia grandes mudan-as do ponto de vista agrrio, existindo fazendas de tipo capitalista, assim como uma indstria ar-tesanal e manufatureira voltada para o mercado interno. Nas grandes cidades, havia sociedades de comerciantes e uma indstria artesanal.

    Em cada regio do pas, predominava uma camada social. Nas regies oeste e norte, havia a predominncia de nobres, interessados em man-ter seus direitos feudais. J nas regies sul e les-te, encontrava-se uma maior concentrao de homens vinculados aristocracia, que explorava suas terras segundo os preceitos capitalistas. Essa camada social recebeu o nome gentry e foi ela que levou adiante o processo revolucionrio in-gls do sculo XVII. Ainda nas regies sul e leste, havia uma camada de pequenos posseiros/pro-prietrios, os yoman, que formavam a massa do processo revolucionrio.

    DicionrioDicionrio

    Gentry: proprietrios de terra que a exploraram se-gundo preceitos capitalistas.Yoman: pequenos proprietrios de terra que, para sobreviver, alm de trabalharem em suas terras, trabalhavam tambm em terras de terceiros.

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    Nas grandes cidades, havia a burguesia, os mestres das corporaes de ofcio e os trabalha-dores assalariados.

    No sculo XVII, a dinastia que governava a Inglaterra era a Tudor, que exercia o absolutismo de fato, sem a oposio da burguesia, pois prati-cava uma srie de aes administrativas que cor-respondiam aos desejos da burguesia. Entre essas aes, podem-se destacar: a centralizao do po-der como garantia da ordem social, a unificao de pesos, medidas, moedas e tarifas alfandeg-rias e a autorizao para praticar a pirataria.

    No sculo XVII, a dinastia Stuart pretendeu transformar o absolutismo de fato em absolutis-mo de direito, isto , plenamente reconhecido no plano jurdico. A monarquia procurava, desse modo, sua legitimidade, porque estava em cho-que com o Parlamento ingls.

    Em 1628, o Parlamento determinou, atravs da Petio de Direitos, que o rei no poderia mais criar impostos, convocar o exrcito ou prender pessoas sem sua autorizao. Carlos I, no ano se-guinte, reagiu dissolvendo o Parlamento e perse-guindo lderes polticos oposicionistas.

    Em 1640, Carlos I foi obrigado a reconvo-car o Parlamento, para obter recursos financeiros para combater uma revolta na Esccia contra seu governo. Depois de reunido, o Parlamento tomou uma srie de decises que desagradaram o rei.

    Os constantes conflitos entre o Parlamento e o rei desencadearam as Revolues Inglesas, que podem ser divididas em 4 fases: guerra civil ou revoluo puritana (1642-1648), repblica de Cromwell (1649-1658), restaurao monrquica (1660-1688) e revoluo gloriosa (1688-1689).

    6.1 Revoluo Puritana

    Carlos I revoltou-se contra as medidas ado-tadas pelo Parlamento e mandou que sua guarda invadisse o Parlamento e prendesse seus princi-pais lderes. Estes, por sua vez, criaram foras ar-madas para lutar contra as tropas reais. Iniciou-se uma sangrenta luta, uma guerra civil, que foi cha-mada Revoluo Puritana.

    As tropas do Parlamento foram lideradas por Oliver Cromwell, que organizou um exrcito, cujos postos de comando foram definidos pelo critrio do merecimento militar e no pela origem da famlia, como ocorria no exrcito da nobreza.

    Estavam apoiando a monarquia: a burgue-sia financeira, os mestres de corporaes de ofcio e o alto clero anglicano. Apoiavam o Parlamento: a burguesia mercantil, a gentry, os mestres manu-fatureiros e os camponeses.

    Para saber mais sobre a Revoluo Puritana, as-sista ao filme Cromwell, dirigido por Ken Hughes.

    MultimdiaMultimdia

    6.2 A Repblica de Cromwell

    Finda a Revoluo Puritana, o exrcito par-lamentar havia vencido as tropas reais e o rei Car-los I foi preso e condenado morte, tendo sido decapitado em 30 de janeiro de 1649. Instalou-se

    no pas o regime republicano, sob o comandado de Oliver Cromwell, que ficou no poder de 1649 at 1658.

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    Os principais acontecimentos desse pero-do foram: os atos de navegao, a guerra contra os holandeses e a ditadura de Cromwell.

    Em 1653, Cromwell assumiu o ttulo de Lor-de Protetor da Comunidade Britnica. Seu cargo tornou-se vitalcio e hereditrio. Logo em segui-

    da, dissolveu o Parlamento e passou a governar de maneira ditatorial.

    Em 1658, Cromwell morreu. Para dar conti-nuidade ao governo republicano, assumiu o po-der seu filho, Ricardo.

    6.3 Restaurao Monrquica