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    Cosmt icos: a qumica da beleza

    FernandoGalembeckYaraCsordas

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    SaladeLeituraCosmticos:aqumicadabeleza

    Sumrio

    Introduo e

    Objetivo....................................................................................................3

    1. Definies bsicas1.1. O que um cosmtico?.............................................................................4

    1.2. Cosmecuticos.......................................................................................5

    2. Histrico

    2.1. Os cosmticos na Antiguidade............................................................5

    2.2. Os cosmticos na Idade Mdia............................................................5

    2.3. Os cosmticos na Era Moderna............................................................6

    3. Classificao e principais produtos..................................................................7

    4. Caractersticas dos principais locais de aplicao................................................8

    4.1. Pele...........................................................................................8

    4.2. Cabelos.......................................................................................9

    4.3. Boca e Lbios...............................................................................104.4. Olhos.........................................................................................11

    4.5. Ps, Mos e Unhas.........................................................................11

    4.6. Outras regies corporais..................................................................12

    5. Matrias-primas

    5.1. Agentes antiacne e anticaspa...............................................................16

    5.2. Agentes antienvelhecimento e bloqueadores de UV....................................17

    5.3. Agentes de perolizao......................................................................19

    5.4. Antioxidantes..................................................................................19

    5.5. Bases oleosas..................................................................................20

    5.6. Bases solventes...............................................................................20

    5.7. Biocidas e conservantes.....................................................................20

    5.8. Ceras...........................................................................................21

    5.9. Condicionadores..............................................................................21

    5.10. Corantes e pigmentos......................................................................21

    5.11. Corretores de pH............................................................................22

    5.12. Emolientes (ou agentes umectantes)....................................................23

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    SaladeLeituraCosmticos:aqumicadabeleza

    5.13. Espessantes e agentes para controle da viscosidade.................................23

    5.14. Essncias e fixadores..........................................................................23

    5.15. Estabilizadores de espuma e antiespumantes.............................................23

    5.16. Propelentes.....................................................................................24

    5.17. Tensoativos e Surfactantes...................................................................24

    6. Alergenicidade e toxidez............................................................................25

    7. Tecnologia de Produo.............................................................................27

    7.1. Agitao.......................................................................................27

    7.2. Moagem e classificao de partculas....................................................28

    7.3. Controle de microorganismos..............................................................28

    7.4. Cristalizao e resfriamento...............................................................31

    7.5. Degasagem....................................................................................31

    7.6. Filtrao..........................................................................................31

    7.7. Tratamento de gua.........................................................................32

    7.8. Embalagem e acondicionamento.............................................................33

    8. Referncias............................................................................................33

    8.1. Livros em portugus............................................................................33

    8.2. Livros em ingls..............................................................................358.3. Referncias on-line.........................................................................35

    9. Experimentos simples................................................................................37

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    SaladeLeituraCosmticos:aqumicadabeleza

    Cosmt icos: Uma Int roduo

    Introduo e objetivoOs desenvolvimentos cientficos dos ltimos sculos tm permitido o atendimento das necessidades

    bsicas (alimentao, sade e vesturio) de uma significativa parcela da crescente populao humana.

    O aumento da renda, da qualidade de vida e da longevidade dessa populao faz com que homens e

    mulheres dediquem muito mais tempo, recursos e esforos ao cultivo da higiene pessoal e da melhor

    aparncia possvel ao longo de sua vida.

    O uso intensivo do petrleo na produo em grande escala de substncias sintticas e muitas outras

    mudanas econmicas e sociais do sculo 20 levaram ao surgimento de uma vasta e rentvel indstria

    de cosmticos e produtos para o cuidado pessoal, estendendo o seu consumo para todos os segmentos

    sociais. Nesse setor industrial, coexistem multinacionais gigantescas ao lado de empresas artesanais.

    Hoje, a indstria de cosmticos extremamente importante dentro da economia de grande parte dos

    pases mais desenvolvidos, dentre os quais se inclui o Brasil, contribuindo para a gerao de empregos

    e a reduo de desigualdades regionais, atravs da explorao sustentvel de vrias espcies do nosso

    bioma, especialmente na Amaznia. A sociedade vem exigindo a adoo de tecnologias de produo

    limpas, econmicas e ambientalmente corretas que, por sua vez, requerem um enorme e entusistico

    esforo de estudantes, professores, pesquisadores e engenheiros, na Universidade e na Indstria, na

    busca de ingredientes diferenciados, naturais e competitivos e de processos de formulao inovadores.

    Pesquisa, desenvolvimento, produo e comercializao de cosmticos oferecem perspectivas

    promissoras de carreira para profissionais com formao muito variada: qumicos, engenheiros de

    vrias modalidades, bioqumicos, farmacuticos, gestores de vrios tipos, publicitrios e

    comunicadores. Esse setor possibilita e mesmo exige relaes interdisciplinares e trabalhos conjuntos

    com mdicos (cirurgies plsticos, dermatologistas), pois alm da sua contribuio higiene e

    esttica, muitos cosmticos hoje apresentam tambm propriedades teraputicas.

    Este texto fornece um conjunto enxuto de informaes bsicas sobre o assunto, para que possa servir a

    voc, leitor, como referncia, proporcionando uma viso introdutria, porm global, dos cosmticos,

    desde as matrias-primas at a sua aplicao.

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    1. Definies bsicas1.1.O que um cosmtico?Cosmticos so substncias, misturas ou formulaes usadas para melhorar ou para proteger a

    aparncia ou o odor do corpo humano. No Brasil, eles so normalmente tratados dentro de uma classe

    ampla, denominada produtos para a higiene e cuidado pessoal, como veremos no item 3.

    No passado, cosmticos tinham o principal objetivo de disfarar defeitos fsicos, sujeira e mau-cheiro.

    Com a mudana nos hbitos de limpeza e cuidado pessoal, seu uso hoje muito mais difundido e

    diferente do que ocorria, por exemplo, nas cortes europeias do sculo 18.

    Cosmticos so percebidos de diferentes maneiras em diferentes pases. A legislao dos EUA, por

    exemplo, no lista sabes como cosmticos, enquanto, na Frana, os perfumes formam uma classe de

    produtos industriais parte dos cosmticos. No Brasil, a legislao tarifria incentivou a criao de um

    produto que desodoriza, mas escolhido e comprado como um perfume: a deocolnia.

    muito difcil se fazer uma distino precisa entre os cosmticos para embelezamento por cobertura

    pura e simples, como as maquiagens, e aqueles cosmticos destinados ao cuidado pessoal e obteno

    de propriedades especficas, como reduo na formao de rugas.

    Figura 1: O Brasil o sexto consumidor mundial de maquiagens e o segundo consumidor mundial de sabonetes

    per capit (FAO/ONU, 2009)

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    1.2.CosmecuticosNos ltimos anos surgiram produtos que tm funes mais complexas do que a limpeza ou o

    embelezamento. Esto sendo chamados pelos fabricantes de cosmecutico, dermocosmtico, cosmtico

    funcional ou ainda cosmtico de desempenho, mas essas palavras no so usadas ou mesmo aceitas

    uniformemente. Tratam-se de formulaes de uso pessoal que atuam beneficamente sobre o

    organismo, causando modificaes positivas e durveis na sade da pele, mucosas e couro cabeludo.

    So muitos produtos diferentes, que usam muitas substncias qumicas como matrias-primas:

    colgeno e elastina, cafena, nanocompsitos de ouro, retinis, estrgenos e vrias outras.

    2. Histrico2.1.Os cosmticos na AntiguidadeA palavra cosmtico deriva da palavra grega kosmetiks, que significa hbil em adornar. Existem

    evidncias arqueolgicas do uso de cosmticos para embelezamento e higiene pessoal desde 4000

    anos antes de Cristo. Os primeiros registros tratam dos egpcios, que pintavam os olhos com sais de

    antimnio para evitar a contemplao direta do deus Ra, representado pelo sol. Para proteger sua pele

    das altas temperaturas e secura do clima desrtico da regio, os egpcios recorriam gordura animal e

    vegetal, cera de abelhas, mel e leite no preparo de cremes para a pele. Existem registros de

    historiadores romanos relatando que a rainha Clepatra frequentemente se banhava com leite paramanter pele e cabelos hidratados.

    Na Bblia, possvel encontrar muitos relatos do uso de cosmticos pelos israelitas e por outros povos

    do antigo Oriente Mdio, como: a pintura dos clios (de Jezebel) com um produto base de carvo; os

    tratamentos de beleza e banhos com blsamos que Ester tomava para amaciar sua pele; e a lavagem

    com vrios perfumes e leos de banho dos ps de Jesus, por Maria - irm de Lzaro.

    Os gregos e romanos foram os primeiros povos a produzir sabes, que eram preparados a partir de

    extratos vegetais muito comuns no Mediterrneo, como o azeite de oliva e o leo de pinho, e tambm a

    partir de minerais alcalinos obtidos a partir da moagem de rochas. Atores do teatro romano eram

    grandes usurios de maquiagem para poderem incorporar diferentes personagens ao seu repertrio.

    Pastas eram produzidas misturando leos com pigmentos naturais extrados de vegetais (aafro ou a

    mostarda) ou de rochas. Mortes por intoxicao eram comuns entre os atores, pois muitos dos

    pigmentos minerais da poca continham chumbo ou mercrio em sua composio.

    2.2.Os cosmticos na Idade MdiaA queda do Imprio Romano, aps as invases brbaras, fez com que os banhos entrassem em declnio.

    E apenas no Imprio Bizantino se manteve a tradio dos banhos. Por isso, temos hoje a expressobanhos turcos.

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    SaladeLeituraCosmticos:aqumicadabeleza

    No sculo 10, os cabelos eram lavados no com gua, mas com misturas de ervas e argilas, que

    limpavam, matavam piolhos e combatiam outras infestaes do couro cabeludo.

    No Sculo 13, com a epidemia de peste negra, os banhos foram proibidos, pois a medicina da poca e o

    radicalismo religioso pregavam que a gua quente, ao abrir os poros, permitia a entrada da peste no

    corpo. Durante os 400 anos seguintes, os europeus evitaram os banhos e a gua era somente usada

    para matar a sede. Lavar o corpo por completo era considerado um sacrilgio e o banho era associado a

    prticas lascivas. Mos, rosto e partes ntimas eram limpas com pastas ou com perfumes, e as prticas

    de higiene eram mnimas, o que muito contribuiu para o crescimento do uso da maquiagem e dos

    perfumes.

    2.3.Os cosmticos na Era Moderna

    O reconhecimento do benefcio da higiene pessoal cresceu ao longo do sculo 19. Donas de casa dessa

    poca fabricavam cosmticos em suas prprias residncias utilizando limonadas, leite, gua de rosas,

    creme de pepino etc. A influncia do Romantismo e o contato dos europeus com os povos indgenas da

    Amrica, cuja cultura estava profundamente associada ao banho e higiene, voltaram a glorificar a

    natureza do banho como um ato saudvel. Em 1878, foi lanado o primeiro sabonete, pela empresa

    Procter & Gamble.

    No sculo 20, a indstria de cosmticos cresceu muito. Em 1910, Helena Rubinstein abriu em Londres o

    primeiro salo de beleza do mundo. Em 1921, pela primeira vez o batom embalado em um tubo e

    vendido em cartucho para as consumidoras. Entre as inovaes da indstria de cosmticos, destacam-

    se: os desodorantes em tubos, os produtos qumicos para ondulao dos cabelos, os xampus sem

    sabo, os laqus em aerossol, as tinturas de cabelo pouco txicas e a pasta de dentes com flor.

    Nos anos 50, polticas de incentivo trouxeram para o Brasil empresas multinacionais gigantescas, como

    a americana Avon e a francesa LOral. Essas empresas lanaram novidades como a venda direta e

    produtos para o pblico masculino. A maquiagem bsica, que se compunha de p-de-arroz e batom, foi

    se diversificando e se sofisticando.

    Nos anos 90, o tempo entre a aplicao do cosmtico e o aparecimento do efeito prometido na bula

    diminui de 30 dias para menos de 24 horas. Surgem os cosmticos multifuncionais, como batons com

    protetor solar e hidratantes antienvelhecimento. Neste incio do sculo 21, os alfa-hidroxicidos,

    utilizados em cremes para renovar a pele, comeam a ser substitudos por enzimas, mais eficazes. Outra

    tendncia a descoberta de novas matrias-primas contendo vrias funes. No momento atual, as

    pesquisas avanam na direo da manipulao gentica para melhorar a esttica.

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    3. Classificao e principais produtosCosmticos no Brasil so controlados pela Cmara Tcnica de Cosmticos da ANVISA (CATEC/ANVISA) e

    pela Resoluo RDC n. 211, de 14 de julho de 2005. A definio oficial de cosmticos adotada por essa

    Cmara compreende todos os produtos de uso pessoal e perfumes que sejam constitudos por

    substncias naturais ou sintticas para uso externo nas diversas partes do corpo humano pele,

    sistema capilar, unhas, lbios, rgos genitais externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral

    com o objetivo exclusivo ou principal de limp-los, perfum-los, alterar sua aparncia, corrigir odores

    corporais, proteg-los e/ou mant-los em bom estado. Os produtos do setor so divididos em 4

    categorias e 2 grupos de risco, de acordo as Resolues 79/2000 e 335/1999.

    Categorias:

    Produtos para higiene;

    Cosmticos;

    Perfumes;

    Produtos para bebs.

    Grupos de risco:

    Risco nvel 1 Risco mnimo. Ex.: maquiagem (ps compactos, bases lquidas, sombras, rmel,delineadores, batons em pasta e lquidos), perfumes, sabonetes, xamps, cremes de barbear, pastas

    dentais, cremes hidratantes, gis para fixao de cabelos, talcos perfumados, sais de banho, etc.

    Figura 2: Produtos para bebs so especialmente formulados e comercializados em embalagens diferenciadas.

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    Risco nvel 2 Risco potencial. Ex.: xampus anticaspa, desodorantes e sabonetes lquidosntimos femininos, desodorantes de axilas, talcos antisspticos, protetores labiais e solares, cremes

    depiladores, repelentes, tinturas para cabelos, sprays para fixao e modeladores de penteados,clareadores de pelos, enxaguatrios bucais, esmaltes, leos para massagens, etc. Todos os produtos

    para bebs, apesar de totalmente incuos, so classificados como grupo de risco nvel 2, pois

    passam por processos mais rigorosos de inspeo antes de serem comercializados.

    4. Regies de aplicao4.1.PeleA pele humana formada por trs camadas:

    - A epiderme, ou camada externa: composta principalmente pela queratina, uma protena fibrosa

    secundria constituda por 15 aminocidos, destacando-se a cistena. As macromolculas de queratina

    possuem uma estrutura tridimensional complexa, da qual participam hlices, folhas pregueadas e

    pontes dissulfeto, que lhes conferem resistncia e elasticidade. A epiderme recoberta por uma fina

    camada de gordura que impermeabiliza a pele contra a entrada de gua e mantm seu pH entre 3.5 e

    5.0, protegendo-a do ataque de micro-organismos. Mesmo sendo uma camada de clulas mortas, ela

    impede a penetrao dos micro-organismos e a desidratao das clulas vivas que esto logo abaixo,

    na mesoderme.

    - A mesoderme, ou camada intermediria: composta por colgeno e elastina. O colgeno uma

    protena em hlice tridimensional formada por 3 aminocidos, cuja sntese depende da presena da

    vitamina C. Representa 30% de todas as protenas existentes no corpo humano e tem a funo de unir e

    sustentar os tecidos. A produo de colgeno mxima na adolescncia e comea a cair a partir dos 30

    anos, sendo uma das causas da formao de rugas e da flacidez da pele. A elastina uma protena

    helicoidal, na forma de uma mola, que liga a pele aos tecidos musculares e muito elstica, permitindo

    que a pele retorne ao seu estado original aps ser submetida a um estiramento forado. O mximo de

    produo de elastina ocorre na adolescncia e durante a gravidez, permitindo que a pele da barriga se

    expanda, acompanhando a expanso uterina decorrente do crescimento do feto. Quando a produo

    de elastina no suficiente, ocorre a formao de rachaduras no interior da mesoderme, denominadas

    estrias. A elastina tambm tem a funo de sustentar os pequenos vasos sanguneos que irrigam a pele.

    - A endoderme, ou camada interna: composta por vrias protenas fibrosas e por polissacardeos

    sulfatados, fazendo a ligao entre as camadas externas da pele e os tecidos musculares e conjuntivos

    dos rgos internos.

    O pH da pele levemente cido, mas maior onde existe transpirao, como na virilha, nas axilas e

    entre os dedos dos ps, devido secreo de sais. Por isso, o pH dos desodorantes o maior dentre

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    todos os cosmticos, estando prximo a 7.0. A pele, as unhas e os cabelos, formados por queratina, so

    atacados por lcalis fortes (substncias ou solues aquosas), ocorrendo a quebra da estrutura

    dimensional da protena. Por isso, os cosmticos destinados para a pele possuem pH em torno de 5.0.

    Qualquer cosmtico criado para fornecer um princpio ativo para a pele ou para o organismo precisa

    vencer a proteo lipdica, que pode ser removida por solventes ou por agentes alcalinos. A partir do

    momento em que a proteo lipdica rompida, as substncias contidas nos cosmticos podem ser

    adsorvidas na superfcie da pele ou serem absorvidas pelos poros at a mesoderme ou a endoderme,

    podendo entrar na circulao sangunea perifrica, chegando a outras regies do corpo. Essa

    propriedade permite que nanopartculas de vacinas, frmacos ou outros princpios ativos encapsuladas

    por biopolmeros ou por outros compostos incuos possam ser aplicadas na pele e, atravs dela e da

    circulao do sangue, possam chegar at os rgos de interesse.

    A cada banho, a cobertura lipdica (triglicerdeos, lanolina e colesterol) removida pela gua,

    regenerando-se diariamente. O pH alcalino dos sabes e sabonetes emulsiona essas gorduras,

    dispersando-as em gua e facilitando a sua remoo.

    4.2.CabelosOs cabelos so formados por trs camadas:

    - A camada central ou medula, que pode ser oca ou no, dependendo da estrutura gentica doindivduo;

    - O crtex, que o corpo principal do cabelo e composto por clulas de queratina de fibras longas

    (interligadas por cadeias de polipeptdeos), formando a configurao de uma hlice tridimensional;

    - A cutcula, que formada por pequenas camadas de escamas de queratina que se superpem sobre o

    crtex, de uma forma muito semelhante superposio de telhas em um telhado. Essas camadas se

    encaixam e se ajustam numa direo preferencial, que vai da raiz at a ponta dos cabelos,

    acompanhando seu crescimento natural.

    Os cabelos so recobertos por uma fina camada de gua, lipdeos e sais minerais, principalmente de

    cloreto de sdio e de potssio, provenientes do suor humano e das secrees naturais do couro

    cabeludo. Essa camada atrai sujeiras que se depositam sobre ela. Assim como ocorre com a pele,

    xamps saponificam e hidrolizam essa camada, fazendo com que ela possa ser removida pela gua,

    limpando os cabelos.

    Cada cabelo produzido dentro de uma clula denominada folculo, posicionada abaixo do couro

    cabeludo. Cada folculo tem um padro individual de produo do seu prprio cabelo, por isso os

    cabelos variam tanto na espessura, cor e textura, alm de terem regimes diferentes de crescimento. A

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    forma do cabelo definida na passagem do fio do cabelo pela abertura do folculo, que determinada

    pela estrutura gentica e pode ser totalmente circular (cabelos lisos) ou ter formas irregulares (cabelos

    encaracolados). Um ser humano saudvel possui aproximadamente 100.000 folculos produtivos emseu couro cabeludo e repe em mdia de 50 a 100 cabelos por dia, sendo que um cabelo cresce

    aproximadamente 1,5 cm por ms. Disfunes genticas decorrentes de variaes hormonais ligadas

    aos hormnios sexuais masculinos causam o que se denomina alopecia, vulgarmente conhecida como

    calvcie, caracterizada pela perda total da funo folicular.

    4.3. Boca e lbiosA saliva uma secreo aquosa salina secretada no interior da boca, lngua e lbios, pelas glndulas

    partidas. Uma fina pelcula de saliva recobre os dentes aderindo ao esmalte. nessa pelcula que so

    retidas as bactrias causadoras da crie, demais micro-organismos e os resduos dos alimentos

    consumidos. Essa camada removida pela escovao dentria e a saliva volta a cobrir os dentes,

    conferindo a proteo.

    Os produtos cosmticos para a boca e os lbios tm pH entre 6 e 7 para serem compatveis com o pH

    da saliva humana e para que no ataquem as gengivas e os dentes. Os cosmticos tambm precisam

    ser resistentes ao de diversas enzimas presentes na saliva que esto envolvidas no incio da

    digesto alimentar e na proteo da cavidade oral contra infeces bacterianas.

    Figura 3: Os lbios so estruturas sensveis que necessitam de hidratao constante.

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    A pele dos lbios trs vezes mais fina do que a pele das demais regies do corpo humano. Ela

    composta apenas da epiderme e da mesoderme. Isso faz com que os vasos sanguneos perifricos

    estejam muito prximos da camada externa e por isso os lbios possuem tonalidade avermelhada esangram intensamente quando sofrem cortes. Existem muitos terminais nervosos ligados aos lbios e

    devido pequena espessura da sua pele, eles so muito sensveis ao toque e temperatura. Os lbios

    no possuem folculos, no produzem secrees sebceas e no so recobertos pelo filme protetor

    lipdico como as demais regies do corpo, portanto so muito propensos desidratao e a rachaduras.

    4.4.OlhosO globo ocular fica acondicionado dentro de uma cavidade ssea e protegido pelas plpebras. Possui

    em seu exterior seis msculos que so responsveis pelos movimentos oculares e trs camadas

    concntricas de tecidos e msculos aderidas entre si para a funo da viso e para a proteo do

    conjunto, sendo que a camada mais interna constituda pela retina, que est ligada com o nervo tico.

    O conjunto ocular ainda compreende as plpebras, as sobrancelhas, as glndulas lacrimais e os clios. A

    funo dos clios ou pestanas impedir a entrada de poeira e de excesso da luz. As sobrancelhas

    impedem o escorrimentode suor da testa e da entrada de outros lquidos nos olhos. A conjuntiva

    uma membrana que reveste internamente as duas dobras da pele envolvendo o globo ocular, que so

    as plpebras, responsveis pela proteo dos olhos e pela difuso do fluido lquido que conhecemos

    como lgrimas - uma emulso de sais minerais, triglicrides e protenas em gua, produzida nasglndulas lacrimais para lavagem e lubrificao do olho.

    4.5.Ps, mos e unhasOs ps e as mos esto submetidos a maiores esforos mecnicos e atrito no contato direto com

    diversos tipos de superfcies, alm de estarem expostos a micro-organismos e a substncias qumicas.

    Portanto, a pele dessas regies precisa ser mais grossa e mais resistente. Para que o aumento da

    espessura da pele no cause perda de sensibilidade, a superfcie da pele das mos e dos ps recoberta

    por pequenas elevaes denominas papilas, que conte.m as terminaes nervosas e que tambm

    aumentam a rea de contato dessas regies com a superfcie desejada. A formao e o desenho dessas

    ranhuras nas mos e ps so nicos, sendo o princpio da tcnica de impresso digital.

    Voc poder visualizar a imagem com as partes de uma unha (1 Camada plana, 2

    Cutcula, 3 Lnula, 4 Matriz ) em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Fingernail-

    Anatomia-externa-dumb2.png.

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    As unhas tambm so formadas por queratina. Seu crescimento se inicia na matriz, que um conjunto

    de clulas posicionadas na base da unha, embaixo da epiderme. A unha emerge da base como uma

    estrutura circular mais clara, denominada lnula, facilmente visvel nos dedos, e que normalmente ondulada com pequenas ranhuras, que determinam a orientao do crescimento. A partir do limite da

    lnula, prximo metade da rea ocupada pela unha, a queratina comea a se acomodar em camadas

    planas e comea a se compactar, formando a parte mais dura da unha. Em uma pessoa saudvel, o

    crescimento mdio de 3 a 4 mm por ms, acentuando-se no vero. A unha permevel ao oxignio,

    umidade, a produtos qumicos e a outros processos mecnicos de desgaste, perdendo sua resistncia

    mecnica e podendo se quebrar quando submetida a grandes esforos.

    4.6.Outras regies corporaisAlgumas regies especficas do corpo, como o pescoo, os seios femininos, a regio gltea e as virilhas

    possuem pele mais fina e com uma menor quantidade de melanina e folculos, sendo portanto muito

    mais sensveis ao do sol e de agentes externos. Devido grande quantidade de vasos sanguneos, a

    pele do pescoo muito irrigada e se regenera com menor frequncia e velocidade mais baixa do que

    no resto do corpo.

    A axila um espao situado entre a parede torcica e a lateral do brao na forma de um cone invertido,

    que contm folculos, glndulas sudorparas, gnglios linfticos, reservas de gordura e ainda abriga a

    passagem de vasos e artrias. A intensa perspirao que ocorre nesta rea do corpo, em conjunto com aao de micro-organismos residentes nos pelos, causa a formao de odores. A perspirao composta

    na sua maioria pelo suor, cuja composio muito parecida com a da lgrima, e tambm por

    feromnios - substncias qumicas secretadas em situaes especficas, como na defesa de um

    territrio, pelo medo ou pela atrao sexual, desencadeando respostas especficas nos indivduos de

    uma mesma espcie. O suor em si no possui odor. Esse causado pela ao das bactrias, mas alguns

    dos feromnios possuem odores muito sutis, que podem ser percebidos por pessoas sensveis e

    perfumistas ou por perfumistas especialmente treinados para desenvolver a percepo olfativa.

    5. Matrias-primasAs formulaes de cosmticos so complexas e utilizam muitas matrias-primas diferentes, porque

    cada cosmtico deve apresentar vrias propriedades simultaneamente ajustadas para as aplicaes

    desejadas.

    A Tabela 1 apresenta substncias qumicas que so muito usadas na fabricao de cosmticos.

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    SaladeLeituraCosmticos:aqumicadabeleza

    Tabela 1

    Matrias-primas mais comuns na indstria de cosmticos

    Classificao Funo Exemplos de produtos Aplicao

    Corantes epigmentos

    Agentes deperolizao

    Mica, estearatos, quartzomicronizado

    Xamps, condicionadores,sabonetes lquidos, loes

    cremosas, maquiagens,esmaltes

    Corantes epigmentos

    Colorao

    Dixido de Titnio e xidode Zinco (branco), Negro deFumo (preto), ndigo (azul),

    Clorofila (verde), Carmim(vermelho), Euxantina

    (amarelo), Aafro (laranja),

    so exemplos de corantesnaturais, entre outros.

    Todos os cosmticos quenecessitem de cor

    Essncias Aroma

    leos essenciais extradosde diversas flores, frutos,

    folhas e cascas de rvores earbustos, musk, vrios

    lcoois (como o benzlico),terpenos, cetonas, acetatos

    e aldedos.

    Perfumes e todas asaplicaes que requeiram

    odor

    ExcipientesAbrasivos e cargas

    mineraisCaulim, slica, sais de

    alumnio, dixido de titnioPastas de dentes, loes ecremes parapeeling facial

    Excipientes Antiespumantes erepelentes de gua leos de silicone Protetores solares

    Excipientes AntioxidantesBHT, BHA, betacarotenos,

    propilgalatos, sulfitos

    Cremes antienvelhecimento,protetores solares corporais

    e labiais, xamps de usodirio e de proteo da cor,

    tinturas para cabelos,condicionadores

    Excipientes Bases oleosas

    leo de soja, leo demamona, leo de canela,leo de algodo, leo deoliva, leo de gergelim,

    leo mineral.

    Esmaltes, batons lquidos,emulses leo/gua (cremes

    e loes), leos demassagem corporal, leos

    de hidratao ps-banho

    ExcipientesBases solventes e

    propelentes

    Butano, isopropano, etanol,dimetilter, acetato de etila,

    acetato de butila, acetona

    Esmaltes e seusremovedores, sprays paracabelo, desodorantes em

    aerosol, perfumes

    Excipientes Controle de fluidezSlica, talco, dixido de

    titnio

    Sombras, ps compactos,sais de banho, talcos

    perfumados

    Excipientes Controle de pHBorato de sdio, carbonato

    de sdio, cido ctrico,cido ascrbico, cido ltico

    Vrios cosmticos de baseaquosa

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    Excipientes Emolientes

    Ureia, miristatos orgnicos,glicerina, lactose, sorbitol,

    imidazol, cido ltico,vaselina, lanolina, jojoba,aloe vera (babosa), ceras(coco, carnaba, abelha)

    Batons slidos e lquidos,protetores labiais, sombrasem creme, rmel, lpis para

    olhos, delineadores,sabonetes, loes

    hidratantes, cremes para pse mos, banhos de creme

    para cabelos

    ExcipientesEmulsificantes,tensoativos esurfactantes

    lcool cetlico, lcoolcetearlico, cido oleico,

    oleatos, polisorbatos,dodecilsulfato de sdio,

    laurilsulfato de sdio,cloreto de cetilpiridnio,

    cloreto de benzalcnio,alquilfenis, sorbitan,lecitina de soja

    Tintas para cabelo,condicionadores, cremes eloes faciais, loes ps-barba, protetores solares,

    xamps, sabonetes lquidos

    Excipientes

    Espessantes econtroladores deviscosidade e de

    densidade

    Laca, breu, goma arbica,celulose microcristalina,amido, gluten, glicerina,

    lanolina, polietilenoglicis,polivinilpirrolidona, cido

    poliacrlico, propilenoglicol,cloreto de sdio

    Batons, xamps,condicionadores, saboneteslquidos, loes de limpeza

    base de gua

    ExcipientesEstabilizantes de

    espumaDi e monoetanolaminas

    Xamps, sabonetes lquidos,tinturas para cabelos

    ExcipientesSequestrantes de

    ons

    EDTA, metionina, cidosorgnicos (fosfnico, ctrico,tartrico, ascrbico, oxlico

    e succnico)

    Xamps, condicionadores,sabonetes lquidos, tinturas

    para cabelos, loes ps-bronzeamento

    Princpiosativos

    Agentesbloqueadores de

    UV

    Benzofenonas,hidroquinonas, tocoferis,

    melaninas, xido de titnio,xido de zinco, vitamina A

    (retinol)

    Cremes antienvelhecimento,protetores solares corporaise labiais, shampoos de usodirio e de proteo da cor,

    tinturas para cabelos,condicionadores

    Princpiosativos Antiacne

    Perxido de benzola, cidonaftoico, enxofre, taninos Loes e cremes

    Princpiosativos

    Anticaspa Sulfetos de selnio Xamps

    Princpiosativos

    Antitranspirantes Sais de alumnio e zircnioDesodorantes lquidos, em

    barra ou em p para os ps eaxilas

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    Princpiosativos

    Preservantes ebiocidas

    Benzoato de sdio, sorbato

    de potssio, cloreto debenzalcnio, cido

    benzoico, cloroacetamida,parabenos, fenis, sais

    quaternrios de amnio,timerosal

    Desodorantesantitranspirantes,

    cosmticos de uso hospitalar(sabonetes lquidos, gis de

    desinfeco), loesantiacne e todos os

    cosmticos de base aquosa(ex.: loes de limpeza,

    hidratantes, enxaguatriosbucais etc.)

    Existem muitos critrios para seleo de uma matria-prima: disponibilidade, logstica de entrega e dedistribuio, vida til, possibilidade de estocagem, versatilidade da embalagem em que fornecida,

    possibilidade de substituio por outra matria-prima, condies do processamento industrial,

    toxicidade, riscos ambientais. Atualmente, o mercado d importncia origem das matrias-primas, ou

    seja, se provm de fontes naturais (orgnicas) ou sintticas renovveis ou se so produzidas sob

    princpios sociais e ambientais de sustentabilidade. A escolha das matrias-primas crucial, porque

    essas representam aproximadamente 65% do custo direto de produo de um cosmtico.

    As matrias-primas usadas em cosmticos normalmente so incuas para a sade, com raras excees,

    logo suas quantidades devero ser estritamente controladas. O uso industrial de substncias qumicasest sujeito a normas de rgos reguladores e, como visto no item 3, no Brasil os cosmticos precisam

    ser registrados na ANVISA. Nos Estados Unidos, o controlador o FDA (Food and Drug Administration),

    rgo governamental cujas normas so frequentemente adotadas em outros pases. Essas normas so

    baseadas em estudos de cada substncia com respeito a sua toxicidade para o homem, animais e meio

    ambiente, a curto e longo prazo, determinando quais so as substncias incuas e definindo limites

    para sua utilizao na produo de alimentos, farmacuticos ou cosmticos.

    As matrias-primas so classificadas como excipientes ou princpios ativos. Excipiente todo aquele

    ingrediente inerte adicionado a uma formulao que lhe confere consistncia (ou corpo, termo muitousado na indstria) para que a formulao possa ser aplicada, manipulada e embalada

    apropriadamente. Os excipientes so essenciais na produo dos cosmticos no s porque

    proporcionam diferentes veculos de aplicao, com distintos tamanhos, volumes e caractersticas, mas

    tambm porque barateiam o custo final do produto. Existem mais de 8.000 excipientes aprovados pelo

    FDA para uso em cosmticos e, em mdia, 50 novos excipientes se juntam a essa lista a cada ano.

    Os princpios ativos so as substncias que efetivamente atuam e promovem modificaes sobre o

    rgo em que o cosmtico ser aplicado e cujas quantidades necessitam ser controladas em virtude

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    dos limites aceitveis de aplicao, da sua toxicidade, das consequncias de doses excessivas, de

    possveis efeitos colaterais e da possibilidade de sensibilizao e reaes alrgicas.

    Pigmentos, solues de corantes orgnicos e aromas (denominados essncias em cosmetologia) so

    grupos especiais de matrias-primas, pois apesar de serem inertes e no modificarem muito o local de

    aplicao, sua quantidade necessita ser muito bem controlada.

    As matrias-primas costumam ser apresentadas segundo a funo que possuem dentro da formulao,

    como veremos a seguir.

    5.1. Agentes antiacne e anticaspaA acne ocorre devido a um desequilbrio dos hormnios sexuais, que estimulam a produo dasgorduras (especialmente o colesterol) pela pele. muito comum na adolescncia, porm pode ocorrer

    tambm durante a gravidez e a menopausa ou andropausa. As bactrias que normalmente habitam os

    folculos, onde os pelos se abrigam, alimentam-se do excesso de gordura, formando colnias que

    causam inchao e a posterior erupo do folculo, originando a acne. Portanto, a acne ocorre com maior

    intensidade e frequncia nos homens, porque eles possuem mais pelos e produzem mais gordura na

    pele do que as mulheres.

    Os cosmticos antiacne contm frmacos especficos para o combate das bactrias. Alm disso,

    abaixam o pH da pele e removem a camada superficial de gordura da epiderme e dos poros, impedindoa proliferao das bactrias. Um dos agentes antiacne naturais usado desde a Antiguidade o enxofre,

    na forma pura ou de seus sais. Outras substncias naturais usadas por vrias civilizaes indgenas so

    os taninos e o quinino, extrados da casca de rvores, transformados em pasta e aplicados sobre a acne.

    H tambm produtos formulados a partir de perxido de benzoila.

    O couro cabeludo sofre uma descamao mensal de pequena intensidade que corresponde reposio

    das clulas mortas de queratina. A descamao excessiva dessas clulas, em um curto intervalo de

    tempo, causa a caspa. Esse descontrole pode ser causado por um elevado stress, exposio prolongada

    ao sol ou calor, por variaes hormonais ou por infestaes de fungos, piolhos e caros. Em algumasocasies, a caspa tambm pode ser formada aps reaes alrgicas do couro cabeludo a substncias

    qumicas presentes nos xamps e condicionadores, especialmente os preservantes.

    A caspa pode ser combatida atravs do uso de xamps de elevado grau de limpeza (maior pH,

    surfactantes no-inicos ou catinicos e com baixo teor de slidos) que contenham ureia, cido

    saliclico, alcatro, piritionato de zinco ou sulfeto de selnio em sua composio, devido a propriedade

    queratinizante e fungicida que estes compostos oferecem.

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    5.2. Agentes antienvelhecimento e bloqueadores de UVNossa pele particularmente sensvel luz solar ou artificial. As reaes de oxidao so irreversveis e

    seus efeitos sobre a pele variam em funo do tempo de exposio luz, acumulando-se

    progressivamente ao longo dos anos.

    Os raios infravermelhos danificam a pele atravs da sua desidratao por efeito do calor. Quando a

    exposio ao sol muito intensa, a gua evapora muito rapidamente sem que seja reposta a tempo.

    Acima do limite mximo de perda de gua, a epiderme se descola da mesoderme em um processo

    irreversvel, causando o que chamamos de descascar. Exposies repetitivas e prolongadas podem

    chegar a desidratar a superfcie da mesoderme, causando queimaduras de 2 e 3 grau, que expem a

    pessoa a perigosas infeces devido perda da barreira protetora contra os micro-organismos do

    ambiente.

    Os raios UV tm um efeito nefasto sobre a pele. Quando atingem clulas vivas, quebram o seu DNA e

    causam a destruio e o envelhecimento precoce da pele. A quebra do DNA pode algumas vezes no

    destruir a clula, mas causar uma mutao, modificando seu cdigo gentico e tornando-a uma

    potencial precursora do cncer.

    A agresso da pele pelos raios UV minimizada pela presena da melanina, um pigmento escuro de

    composio qumica varivel que determina a cor da pele e a resistncia humana ao UV. A ausncia da

    melanina causa a disfuno que conhecemos como albinismo, na qual a pele e todos os pelos do corpo

    do indivduo se apresentam totalmente brancos. A melanina tambm est presente nos cabelos, lbios,

    mamilos e rises dos olhos. H a presena de melanina em outros seres vivos, sendo o principal

    componente da tinta excretada pelos polvos quando se defendem dos predadores. As manchas e

    pintas que aparecem em nossa pele so devidas s elevadas concentraes de melanina em uma

    determinada rea.

    A passagem dos raios UV pela pele estimula a produo da melanina, que absorve a radiao

    ultravioleta, impedindo a formao de radicais livres e de clulas cancergenas. Como consequncia,

    pessoas negras tem maior resistncia a queimaduras por raios UV do que pessoas brancas, embora

    estejam igualmente sujeitas s queimaduras por raios infravermelhos. A melanina presente na ris

    ocular protege os olhos da ao dos raios UV.

    O escurecimento da pele devido produo da melanina caracteriza o que denominamos bronzeado,

    que nada mais do que uma reao da pele ao envelhecimento acelerado causado pelos raios UV e que

    erroneamente associado por muitas pessoas beleza e a um estilo de vida saudvel. Por outro lado, a

    exposio ao sol no pode ser totalmente evitada ou interrompida, pois o homem necessita dos raios

    UV para sintetizar a vitamina D, essencial para a formao dos ossos. A exposio controlada ao sol,

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    privilegiando a ao dos raios UV-A (que ocorrem no incio e no final do dia) e a proteo da pele com

    protetores solares e bloqueadores anti-UV deve ser feita desde a mais tenra idade.

    Figura 4: Desde jovem faa do sol o seu amigo

    Cosmticos podem ser enriquecidos com melanina em sua formulao tpica (para aplicao direta na

    pele) e uma nova forma de produtos contendo melanina foi desenvolvida para ingesto oral visando a

    um aumento da sua concentrao basal na pele e ao desenvolvimento de um bronzeado uniforme e de

    maior tempo de durao, em contato com a luz UV.

    Hoje os pesquisadores esto trabalhando profundamente no desenvolvimento de protetores solares de

    elevada cobertura que sejam transparentes, bastante resistentes gua e que permaneam por longo

    perodo na pele sem a necessidade de reaplicao. Devido ao aumento da radiao solar e da

    intensidade da luz ultravioleta sobre a superfcie da Terra, o consumo desses produtos tem aumentado

    muito.

    A luz no danifica somente a queratina da pele, mas tambm a dos cabelos. Tambm responsvel por

    atacar os pigmentos coloridos e mudar a cor dos cabelos que foram tingidos. Portanto, a adio de

    agentes UV em shampoos e condicionadores fundamental para que eles possam manter sua

    resistncia, brilho e uniformidade da cor.

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    As principais substncias qumicas usadas para proteo contra a radiao ultravioleta esto listadas na

    Tabela 1. Dentre os agentes antienvelhecimento mais conhecidos, destacam-se a vitamina e a pr-

    vitamina A, conhecidos respectivamente por retinol e betacaroteno e os tocoferis.

    5.3.Agentes de perolizaoO termo perolizarsignifica adicionar uma substncia qumica ou um pigmento especial a uma tinta ou

    mistura ou tratar fisicamente uma superfcie slida para que a luz possa ser refletida por esses produtos

    com grande intensidade e em diferentes ngulos, de forma a gerar diferentes efeitos de cor e de brilho.

    Esse efeito muito valorizado em cosmticos e os agentes de perolizao so preparados a partir da

    moagem conjunta de minerais como a mica e o quartzo com ceras (normalmente estearatos).

    Voc poder visualizar uma imagem com pigmentos perolados que do efeitos muito

    valorizados de brilho aos cosmticos em

    http://www.pearlmagiccustompaints.com/page6.php. A imagem encontra-se no tpico

    Crystal Pearl Pigment Series.

    5.4.AntioxidantesCosmticos com base oleosa, quando expostos ao ar ou luz por longo tempo, podem se degradar poroxidao, gerando o desagradvel odor de rano. Para combater a oxidao, so adicionados os

    antioxidantes.

    As reaes de oxidao tambm podem se iniciar sob ao da luz ultravioleta. Portanto, na grande

    maioria dos cosmticos tambm so adicionados bloqueadores de UV, ou seja, substncias que

    apresentam a capacidade de absorver esses raios antes que eles possam atacar os lipdios da base

    oleosa. Os cosmticos de base aquosa ou solvente so menos susceptveis ao ataque do UV. Os agentes

    que absorvem o UV tambm protegem outros componentes sensveis das formulaes, como as

    vitaminas, os pigmentos e corantes e as essncias.

    Os antioxidantes mais comumente usados em cosmticos so os tocoferis, o cido ctrico, o cido

    ascrbico e os compostos aromticos, como o butilhidroxitolueno (BHT). As hidroquinonas so

    antioxidantes que possuem tambm a propriedade de clarear a pele humana, sendo regularmente

    usadas em cremes e loes para remoo de manchas.

    A presena de ons metlicos nos cosmticos - especialmente de ferro, cobre e nquel - indesejvel

    devido s suas reaes com vrias substncias orgnicas, provocando alteraes na cor e na textura do

    cosmtico. Para que isso no ocorra so usados sequestrantes, que capturam e imobilizam os ons

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    metlicos. Um dos sequestrantes mais comuns na indstria de cosmticos o EDTA, cido

    etilenodiamino-tetractico.

    5.5.Bases oleosasMuitas substncias usadas em cosmticos so insolveis em gua, mas so dissolvidas por leos,

    usados como base de formulaes. As bases oleosas mais comuns so os leos vegetais, especialmente

    os de oliva e de soja.

    Quando os ingredientes lquidos so aquosos ou pr-dissolvidos em gua, eles sero insolveis ou

    parcialmente solveis nos leos e haver a formao de emulses. Essas emulses podem ser dos

    ingredientes na base (gua/leo) ou da base nos ingredientes (leo/gua). Isso determina as

    propriedades de espalhamento e a sensao de oleosidade ou de hidratao da formulao.

    5.6.Bases solventesSlidos, lquidos e gases usados na produo de cosmticos, que no so solveis em gua, podem ser

    dissolvidos por lquidos orgnicos cujo ponto de ebulio esteja prximo da temperatura ambiente. No

    momento da aplicao do cosmtico sobre a pele, axilas ou outras partes do corpo, o solvente evapora

    rapidamente sem deixar resduos, dando a sensao de refrescncia e de secura no local da aplicao.

    Solventes apropriados para cosmticos so atxicos, ambientalmente seguros, pouco inflamveis,

    inodoros, de baixa densidade e, no caso dos solventes polares, no podem formar perxidos quando

    em contato com o ar ou com a luz solar. A Tabela 1 mostra os solventes comumente usados na

    produo de cosmticos.

    5.7.Biocidas e conservantesBiocidas so substncias qumicas sintticas, naturais ou produzidas atravs de processos

    microbiolgicos que destroem, neutralizam, impedem ou controlam a ao de um micro-organismo

    nocivo para a sade. A Tabela 1 mostra uma vasta quantidade de substncias usadas na indstria de

    cosmticos para conservao das suas formulaes.

    A seleo de um biocida apropriado para formulaes cosmticas deve considerar se ele atxico, se

    eficaz em baixas concentraes (para baratear a frmula e minimizar a possibilidade de sensibilizao

    alrgica), se eficaz em diferentes pHs, se possui boa resistncia luz e ao calor, se solvel na base da

    formulao, se no reagir desfavoravelmente com os demais ingredientes presentes na formulao e

    se possui longa vida til.

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    5.8.CerasCeras so importantes veculos para cosmticos em fase slida e semisslida, como batons, perfumes

    em pasta, sombras em creme, blushes para as mas do rosto, cremes para os ps e mos e protetores

    labiais. As ceras so steres de cidos e lcoois graxos que podem ser naturalmente extradas de

    palmeiras como o coco, a carnaba e a jojoba. As ceras tambm podem ser obtidas de animais (como a

    cera de abelha e a lanolina do pelo de ovelhas) ou sintetizadas a partir do petrleo (vaselina). Tm a

    propriedade de serem slidas temperatura ambiente e se liquefazerem ou amolecerem temperatura

    corporal humana (36 a 37 oC), ajudando a melhorar o espalhamento e a formao do filme de cosmtico

    sobre a pele. So tambm impermeveis gua, contribuindo para reduzir a perda de gua do

    organismo e manter a pele hidratada e saudvel.

    5.9.CondicionadoresQuando o cabelo lavado com um xamp comum, que normalmente contm tensoativos aninicos,

    ocorrem vrios fenmenos eletrostticos e de adeso capilar que o tornam difcil de pentear.

    Condicionadores contm tensoativos e polmeros catinicos que se depositam nos cabelos, evitando a

    adeso entre os fios de cabelo midos e aumentando a maleabilidade, a lisura e a maciez dos cabelos

    secos.

    5.10. Corantes e pigmentosPigmento toda substncia qumica que absorve seletivamente a luz natural, refletindo-a em um

    determinado comprimento de onda, ou seja, em uma cor especfica.

    Pigmentos e corantes podem ser inorgnicos, como o dixido de titnio ou o xido de ferro, ou

    orgnicos, como o azul de metileno. Podem ser obtidos de fontes naturais (rochas, minrios, flores,

    folhas, cascas de rvores, sementes) ou sintetizados por diferentes mecanismos de reaes

    orgnicas.

    Corantes e pigmentos determinam diretamente as caractersticas de cor e, portanto, a sensao de

    beleza. So componentes caros e bastante controlados, dentro de uma formulao.

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    Figura 5: Esmaltes so exemplos de cosmticos muito dependentes de pigmentos e corantes

    5.11. Corretores de pHUma das propriedades mais importantes de um cosmtico o pH, que deve ser o mais prximo possvel

    do pH natural da regio onde ser aplicado. Enquanto cremes e loes para aplicao na pele devem

    ter pH prximo de 4.5, outros cosmticos como maquiagens para os olhos (rmeis, sombras e lpis

    coloridos) devem ter pH em torno de 7.5, que o pH da lgrima. Sabonetes e desodorantes ntimos

    devem ter pH ainda menor do que 4.5, para terem ao bactericida. Desodorantes antitranspirantes,

    devido aos sais de alumnio presentes em sua composio, possuem pH mais bsico.

    O pH ajustado usando cidos orgnicos fracos, como os cidos ltico, ascrbico e ctrico. Quando necessria uma alcalinizao, ela feita com hidrxido de alumnio ou brax (borato de sdio). cidos e

    bases inorgnicas fortes normalmente so evitados devido dificuldade de controle industrial do pH e

    possibilidade de formao de resduos indesejados.

    5.12. Emolientes ou agentes umectantesUm ingrediente muito comum nos cremes e loes hidratantes a ureia. Esta uma substncia

    altamente higroscpica que absorve gua do ar e hidrata a pele. Devido ao seu pH bsico, a ureia

    tambm causa a descamao da superfcie da pele, promovendo a sua renovao e expondo parte da

    mesoderme. A ureia a base da formulao dos cremes e loes destinados apeelings faciais.

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    SaladeLeituraCosmticos:aqumicadabeleza

    A reteno da umidade na pele tambm pode ser feita atravs do uso de cremes e loes que formem

    um filme impermevel, como a vaselina ou as ceras de abelha ou de carnaba.

    5.13. Espessantes e agentes para controle de viscosidadeEstes compostos ajustam a viscosidade e a fluidez de uma formulao e tambm podem promover a

    rpida fixao da formulao lquida em seu local de aplicao, principalmente quando a formulao

    aplicada por asperso (caso dos sprays de cabelo). So normalmente usados em xamps, sabonetes

    lquidos e loes de limpeza base de gua. H um grande nmero de substncias qumicas usadas

    com essa finalidade, muitas delas naturais. Na sua maioria, so polmeros solveis em gua, como a

    carboximetilcelulose.

    5.14. Essncias e fixadoresEssncia o nome dado em perfumaria aos aromas produzidos sinteticamente ou extrados de flores,

    folhas, frutas, sementes, madeira e cascas de rvores, resinas vegetais e secrees de animais. Fixadores

    so substncias qumicas, tambm naturais ou sintticas, que podem ou no ter aromas, e que so

    usados em combinao com as essncias para reduzir a sua velocidade de evaporao, melhorar a

    estabilidade das suas misturas e aumentar a intensidade do seu odor nas superfcies em que so

    aplicadas.

    Mais de 6.000 substncias qumicas podem ser usadas como essncias e fixadores em perfumaria,

    porm aproximadamente somente 100 delas so ingredientes essenciais na produo de perfumes,

    como o acetato de benzila, o citronelol e o lcool feniletlico, alm do isopropanol, muito usado como

    veculo .

    Os principais grupos qumicos constituintes das essncias so steres, terpenos, aldedos e cetonas.

    Normalmente as matrias-primas naturais so extradas com solventes ou com vapor e em seguida os

    leos essenciais so destilados para purificao ou para separao das substncias de interesse. O

    rendimento das extraes muito baixo, o que explica o elevado preo das essncias naturais. Para

    extrao de 50 ml de essncia natural de rosas, usada no Chanel n 5 e em outros perfumes famosos,em mdia, usada uma tonelada de ptalas de rosas.

    Nos primrdios da perfumaria, os fixadores eram removidos de secrees de animais, como o castor, as

    civetas (um tipo de felino), a baleia e o veado-campeiro. Grupos de conscientizao animal

    contriburam enormemente para que a indstria de perfumaria moderna desenvolvesse fixadores

    sintticos e hoje mais nenhum animal sacrificado para obteno de fixadores.

    5.15. Estabilizadores de espuma e antiespumantesAntiespumantes so aditivos adicionados a uma formulao que reduzem ou impedem a formao deespuma, seja para facilitar o processamento industrial ou para fornecer esta propriedade ao produto

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    final. O antiespumante fragiliza e quebra os filmes lquidos encerrando as bolhas de ar que formam a

    espuma fazendo com que a espuma abaixe e se incorpore suspenso ou emulso. Algumas

    substncias usadas como antiespumantes so as slicas micronizadas, leos vegetais, cidos graxos decadeias longas e leos de silicone.

    Figura 6: Para algumas aplicaes a espuma indesejada

    5.16. PropelentesPropelentes so gases ou solventes volteis utilizados para arrastar os componentes de uma

    formulao que ser aplicada na forma de aerosol, ou seja, de uma pequena nuvem de partculas

    lquidas. As formulaes so guardadas em embalagens sob presso, suficientes para liquefazer os

    propelentes. No momento em que a vlvula spray pressionada para liberao da formulao, h umareduo de presso e estes propelentes se vaporizam, liberando a nuvem de gotculas. Os propelentes

    devem ser inodoros e incuos sade humana e ao meio ambiente, sendo esta ltima a razo pela qual

    os clorofluorcarbonos (ou CFCs) foram banidos da indstria de cosmticos no final do sculo 20.

    5.17. Tensoativos e surfactantesA limpeza da pele e cabelos o objetivo principal da grande maioria dos cosmticos. Para isso so

    usados tensoativos, substncias que reduzem a tenso superficial da gua permitindo a formao de

    emulses estveis e a preparao de misturas uniformes de substncias qumicas imiscveis.

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    Os surfactantes so compostos orgnicos formados por molculas possuidoras dos grupos polares e

    apolares que respectivamente atraem e repelem gua, sendo simultaneamente solveis em gua e em

    solventes orgnicos. Dependendo da existncia ou no de cargas eltricas em sua estrutura, dividem-seentre inicos e no-inicos. Os inicos podem ser catinicos, aninicos ou anfteros e as suas

    interaes com pele e cabelos dependem muito da sua carga.

    Figura 7: Estrutura simplificada de um tensoativo

    A parte apolar das molculas dos surfactantes formada por cadeias alqulicas ou alquil-arlicas longas

    que, dissolvidas em lquidos, associam-se formando micelas. Os surfactantes inicos mais importantes

    na produo de cosmticos so os alcois graxos de cadeia longa, seus derivados e os

    alquilbenzenosulfonatos de sdio. Derivados do xido de etileno e de poliis so os surfactantes no-

    inicos mais comumente usados. Os alquilsulfatos so particularmente importantes na produo de

    pastas de dente, pois no deixam sabor residual no produto, ao contrrio dos demais surfactantes. J

    os sulfonatos tm baixo custo e so excelentes produtores de espuma uma propriedade muitas

    vezes desejada pelos consumidores mas deixam a pele mais seca aps sua aplicao, porque

    removem as gorduras da pele com mais eficincia do que os outros surfactantes.

    6. Alergenicidade e toxidezReaes alrgicas podem ser produzidas por exposio continuada do indivduo a uma determinada

    substncia presente em um cosmtico ou alimento. Apesar dos mecanismos de evoluo do processo

    alrgico ainda no estarem muito bem esclarecidos, acredita-se que ocorra uma combinao de uma

    substncia exgena com algumas protenas presentes no organismo, causando falhas bioqumicas ou

    enzimticas, cuja intensidade depende da gentica do indivduo. O crebro humano reage

    interpretando que esta substncia um invasor perigoso eproduz histamina, visando a neutralizar a

    ao da agressora. Os efeitos da histamina variam de pessoa para pessoa, porm em todos os casos

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    ocorre uma reduo da imunidade do indivduoe o aumento da sua propenso a doenas. Em casos

    mais extremos de sensibilizao, o organismo reage muito rapidamente visando a impedir a entrada

    do agressor, causando o fechamento das vias respiratrias e morte por sufocao.

    A reao alrgica mais comum produzida por um cosmtico a dermatite de contato, que se traduz

    pela irritao da pele ou do couro cabeludo, pela formao de eczemas e por rachaduras. Os solventes

    e os biocidas ou preservantes (como o formaldedo) so os componentes que desencadeiam com

    mais frequncia essas reaes.

    A toxidez de uma matria-prima ou de um cosmtico avaliada atravs de testes de exposio a curto

    e longo prazo de alguns animais (normalmente coelhos e outros roedores), mas h objees ao uso

    dos animais, devido ao sofrimento causado a estes. Atualmente, a grande maioria dos produtores decosmticos baniu ou vem tentando reduzir ao mximo os testes em animais.

    Figura 8: Selos internacionais de certificao de cosmticos livres de testes em animais.

    Vrios rgos internacionais que regulam a produo de cosmticos, alimentos e farmacuticos

    disponibilizam para acesso pblico um vasto banco de dados para a grande maioria dos ingredientes

    de cosmticos. Esse banco de dados contm as informaes mais importantes sobre cada substncia

    aplicada para diversos organismos vivos, incluindo o homem. Esto listados dados como doses

    mximas de ingesto, de exposio cutnea ou de inalao, dose letal, antdotos em caso de overdoses

    e outras informaes importantes ligadas toxicidade das substncias. Normalmente tambm esto

    disponveis nesse banco de dados informaes com respeito ecotoxicidade desses compostos e as

    consequncias para o meio ambiente (ar, gua doce, oceanos e solo), em caso de um derramamento ou

    vazamento dessas substncias, alm do tempo que as mesmas levaro para ser totalmente

    biodegradadas pela natureza.

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    7. Tecnologia de produoO sucesso no desenvolvimento de um novo cosmtico depende no s de escolher corretamente as

    matrias-primas que o compem, mas tambm do seu processamento atravs de operaes industriais

    adequadas, como descreveremos a seguir.

    7.1. AgitaoA mistura dos componentes de uma formulao sob agitao controlada um dos processos mais

    comuns dentro da indstria de cosmticos e usada quando h necessidade de incorporar um ou mais

    ingredientes a uma fase, normalmente chamada base, para que a essa ltima seja fornecida uma

    propriedade ou funo especfica. As misturas podem ser de lquidos em lquidos, ps em lquidos,

    lquidos em ps e ps em ps. J as bases podem ser aquosas, oleosas ou compostas por lquidosorgnicos, como o etanol. Portanto, os produtos resultantes dos processos de mistura compreendem

    solues, emulses, disperses, suspenses, pastas ou ps slidos.

    Os processos de mistura so regidos por princpios fsico-qumicos e termodinmicos em que ocorre

    uma transferncia de energia mecnica (e, eventualmente, tambm de energia trmica) e diferenas de

    densidade e de concentrao entre a base e os demais ingredientes. A eficincia da mistura depender

    do nmero de ocorrncias desses fenmenos, da temperatura do meio e do tempo de contato entre a

    base e os ingredientes.

    Equipamentos normalmente utilizados na indstria para realizar os processos de mistura so projetados

    em funo da variao da viscosidade que a mistura pode sofrer quando submetida variao da

    temperatura ou da intensidade da agitao, o que em Fsico-Qumica denominamos reologia. A

    intensidade da agitao pode ser controlada atravs da variao da rotao, que depende da fora e do

    torque do agitador. Um exemplo prtico da variao da viscosidade com a fora pode ser visto quando

    escovamos os nossos dentes com pasta ou passamos batons sobre nossos lbios. A viscosidade desses

    produtos diminui na medida em que aplicamos fora sobre eles, permitindo que a pasta dental saia do

    tubo e o batom se espalhe. A grande maioria dos cosmticos formulada para escoar sob ao

    mecnica, imobilizando-se quando cessa esta ao.

    A homogeneizao dos ingredientes normalmente feita em recipientes fechados, que em Engenharia

    so denominados reatores ou vasos agitados. A capacidade dos reatores pode variar muito,

    dependendo do custo do produto e da necessidade de produo, variando desde pequenos reatores

    de 5 a 10 litros at vasos de 50 a 100 mil litros. Como as restries para agitar um vaso de grande

    volume so muito maiores, nestes casos muitas vezes so usados processos auxiliares de agitao, em

    que os ingredientes podem ser bombeados a alta velocidade e presso ou passar por equipamentos

    especialmente construdos para causar turbulncia, chamados de misturadores estticos.

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    Os agitadores dos reatores so construdos sob vrios projetos que promovem diferentes tipos de fluxo,

    dependendo da composio e da reologia da formulao do cosmtico, muito semelhantes s

    diferentes ps que nossas mes adaptam nas batedeiras culinrias quando querem processar diferentesalimentos. Existem formas de ncora, disco serrilhado, planetrias, helicoidais, etc.

    Os agitadores, alm de realizarem homogeneizao da mistura, tambm podem quebrar partculas

    slidas, contribuindo para a produo de suspenses e disperses mais finas.

    7.2.Moagem e classificao de partculasA moagem outra operao muito importante no processamento dos cosmticos. As matrias-primas

    slidas devem ser transformadas em ps muito finos e muitas delas so higroscpicas, ou seja,

    absorvem gua, formando aglomerados ou agregados muito difceis de quebrar que reduzem a fluidez

    e a capacidade de homogeneizao dos ingredientes na mistura. A textura, brilho, fineza, perfeita

    cobertura de cor e a sensao de conforto de sombras, ps, blushes e batons dependem de uma

    perfeita moagem da fase slida. Aps a moagem, para promover a separao e classificar as partculas

    dentro do tamanho desejado, os slidos so peneirados.

    Cargas minerais (veja exemplos na Tabela 5.1), pigmentos, corantes, resinas slidas (como o breu) e

    ceras geralmente so modas antes do seu processamento. Os tamanhos de partculas podero variar

    desde milmetros at nanmetros, dependendo do tipo e do desempenho do equipamento de

    moagem. Alguns desses equipamentos precisam ser refrigerados, pois o atrito das partculas com a

    superfcie do moinho pode liberar uma grande quantidade de calor, geralmente prejudicial

    formulao.

    Todas essas operaes com slidos liberam ps muito finos, que precisam ser recolhidos

    apropriadamente para que no se espalhem no ar e causem problemas respiratrios aos operadores de

    processo que esto trabalhando constantemente nas reas industriais. Essa funo realizada por

    sistemas de coleta e exausto acoplados aos equipamentos que processam os ps, normalmente

    compreendendo um ventilador, um filtro e um vaso coletor, que se denomina ciclone. Os ps

    recolhidos, normalmente so reciclados no processo visando a minimizar perdas e a aumentar o

    rendimento produtivo.

    7.3.Controle de micro-organismosMuitos cosmticos precisam ser estreis, ou seja, livres de micro-organismos que possam contaminar o

    usurio ou causar a degradao precoce do produto. Cremes antienvelhecimento, loes antiacne,

    desodorantes e sabonetes ntimos esto entre os vrios tipos de cosmticos que se encaixam nessa

    classe.

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    Cosmticos so particularmente suscetveis ao ataque microbiano, pois contm os nutrientes bsicos

    para crescimento das colnias: substncias orgnicas que so fontes de carbono (ou seja, de energia),

    sais minerais e gua. A ao de micro-organismos sobre os cosmticos pode desencadear vrias reaesde transformao ou de degradao, como a oxidao do etanol formando cido actico e a

    decomposio da ureia em amnia.

    A preservao de cosmticos e cosmecuticos pode ser feita por diferentes processos qumicos. Energia

    trmica calor usada para esterilizar e pasteurizar formulaes. Esterilizar pela ao do calor

    significa manter a mistura sob uma determinada temperatura por um definido perodo de tempo, at

    que todos os organismos vivos presentes no meio peream. O calor fornecido mistura por

    resistncias eltricas acopladas ao reator (ou vaso de mistura) ou pela passagem de vapor de gua pela

    formulao. Quando o vapor saturado, a transferncia do calor latente faz com que ele se condense

    na mistura, diluindo a mesma com gua. Quando o vapor est superaquecido, ele aquece a mistura sem

    condensao de gua, saindo do equipamento e retornando para o processo. O equipamento que

    esteriliza base de vapor recebe o nome especial de autoclave.

    Na pasteurizao, a mistura aquecida at uma determinada temperatura, geralmente em torno de 70

    oC, e permanece nessa temperatura por um tempo muito especfico, variando em funo do micro-

    organismopatognico (prejudicial sade) que possa estar presente na mistura. Em seguida, a mistura

    resfriada muito rapidamente at uma temperatura prxima do congelamento da mistura, onde ocorre

    o rompimento da membrana celular dos micro-organismos residuais que sobreviveram ao do calor.

    Somente o calor ou o congelamento no suficiente para destruio dos micro-organismos

    patognicos, pois muitos deles conseguem se encapsular na forma de esporos e resistir por longo

    tempo, porm a destruio da membrana celular pelo choque trmico impede que esses micro-

    organismos residuais tornem-se resistentes e potencialmente mais perigosos sade.

    Outro mtodo de impedir a contaminao dos cosmticos pela passagem ou pela adio de

    substncias qumicas s formulaes. Um dos grandes desafios dos qumicos formuladores de

    cosmticos reside em escolher e aplicar biocidas nas formulaes que sejam incuas sade humana e

    que no deixem resduos de potencial toxicidade no meio ambiente. A esterilizao, por exemplo, pode

    ser feita pela passagem de uma corrente gasosa de xido de etileno pela mistura. J para impedir a

    proliferao e o crescimento de micro-organismos, podem ser adicionados ingredientes especficos s

    formulaes, os preservantes ou biocidas, como visto no item 5. Esses biocidas normalmente so sais

    orgnicos de metais, cido benzoico, formaldedo e solues alcolicas, especialmente de etanol.

    Os cosmticos tambm podem ser preservados com a adio de substncias qumicas que promovam a

    desidratao do meio, impedindo a proliferao de micro-organismos. Substncias desidratantes que

    podem ser adicionadas aos cosmticos, nesse caso, so o sal de cozinha (NaCl), outros sais inorgnicosincuos ou solues altamente concentradas de carbohidratos, principalmente acares como glicose e

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    sacarose. J nas bases totalmente oleosas no h necessidade de se adicionar preservantes, pois a

    quantidade de gua presente no meio no suficiente para permitir a sobrevivncia dos micro-

    organismos. Em cosmticos na forma de ps h necessidade de se adicionar preservantes, pois elesnormalmente no so esterilizados por razes de custo e podem conter alguns micro-organismos na

    forma de esporos, que tm a capacidade de sobreviver inativos por longos perodos de tempo, at que

    reencontrem condies ideais para seu crescimento.

    O controle do pH do cosmtico muito importante para garantir a sua preservao. Meios com pH

    cido (abaixo de 5, em geral) limitam a proliferao de muitos micro-organismos e a contaminao dos

    cosmticos. O controle efetuado atravs da adio controlada de cidos fracos ao meio, geralmente

    cidos orgnicos como o ctrico e o ascrbico.

    Ao contrrio do que muitas pessoas imaginam, limitar a disponibilidade de oxignio no um fator que

    restrinja o crescimento dos micro-organismos, pois h muitos micro-organismos anaerbios, ou seja,

    que no necessitam de oxignio para seu desenvolvimento.

    Por outro lado, o corpo humano possui naturalmente muitos micro-organismos permanentemente

    residentes na pele, boca, axilas e outras regies do organismo, cuja quantidade depende do sexo, raa,

    estilo de vida e das condies climticas e ambientais s quais o indivduo est submetido. Muitos

    cosmticos so produzidos de forma a controlar essa populao de micro-organismos e trazer conforto

    ao usurio. Exemplos so os desodorantes, formulaes antiacne, sabonetes bactericidas e outrosprodutos voltados para uso hospitalar. Nesse caso, os cosmticos precisam trazer em sua composio

    biocidas que venham a atuar especificamente em contato com os micro-organismos presentes no

    corpo humano. muito importante lembrar que o uso contnuo de cosmticos e cosmecuticos

    biocidas poder desencadear resistncia dos micro-organismos e consequentemente sujeitar o

    indivduo a infeces mais graves, portanto a sua aplicao somente deve ser feita sob recomendao e

    superviso mdica.

    A minimizao de possveis contaminaes dos cosmticos durante seu processo de produo pode ser

    atingida atravs de Projetos de Engenharia apropriados, da escolha de materiais de construo nobres

    e da instituio no ambiente de produo do que chamamos de Boas Prticas de Fabricao (ou GMP,

    Good Manufacturing Practices). Equipamentos devem ser construdos em ao inox sanitrio (que pode

    ser esterilizado e bastante resistente corroso), tubulaes devem ter trechos curtos (para no haver

    reteno de produto) e emendas e soldas devem ser minimizadas ou eliminadas (pois se constituem em

    pontos de contaminao). Os procedimentos operacionais devem considerar a manipulao segura de

    matrias-primas e de outros insumos de produo e promover a limpeza e desinfeco peridicas dos

    equipamentos e das reas comuns de produo com solues microbiocidas (gua oxigenada ou

    hipoclorito de sdio as mais comuns).

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    A entrada do ar no ambiente de produo tambm pode ser monitorada para evitar a proliferao de

    microorganismos patognicos. Os equipamentos de produo devem ser preferencialmente

    alimentados com ar limpo, seco e frio a fluxo constante e com uma pequena presso positiva para quea circulao de ar novo promova a sada do ar usado para fora do ambiente de produo, carregando

    possveis microorganismos e poeiras.

    7.4.Cristalizao e resfriamento rpido (choque trmico)Cosmticos slidos temperatura ambiente e que se espalham por meio do aumento da temperatura

    ou da fora de aplicao (como os protetores labiais, batons e perfumes slidos) so normalmente

    produzidos a quente, em forma lquida, e depois submetidos a uma etapa de resfriamento muito

    rpido, quando cristalizam. Esse procedimento muito importante para manter a homogeneidade, cor

    e o brilho desses produtos.

    O resfriamento realizado no momento da moldagem: o cosmtico lquido depositado no molde

    desejado e submetido a um choque trmico, que pode acontecer pelo mergulho do molde em gua

    gelada, pela passagem de ar ou nitrognio lquido ou pela colocao do molde dentro de uma estufa a

    vcuo em baixa temperatura.

    7.5.DegasagemA operao de degasagem, ou remoo de ar, realizada sempre que o cosmtico precisa ser

    formulado na ausncia de oxignio ou para evitar a formao de bolhas ou de espuma durante seu

    processamento.

    Alguns ingredientes, especialmente solues colorantes e pigmentos, podem mudar sua cor devido a

    reaes de oxidao que ocorrem quando eles ficam expostos por longo tempo ao oxignio do ar. Para

    impedir isso, muitas vezes o oxignio removido fazendo-se passar uma corrente de nitrognio.

    J na fabricao de sabonetes lquidos, xamps e outras formulaes lquidas, o ar presente no interior

    do reator se incorpora mistura, formando bolhas e espuma, o que inconveniente e reduz o

    rendimento do processo. Nesse caso, o ar deve ser lentamente removido do interior do equipamentoatravs da aplicao de vcuo, que tem de ser muito bem controlado para minimizar riscos de

    acidentes e para que no haja perdas de substncias volteis importantes para a formulao, como as

    essncias e os solventes.

    7.6. FiltraoAlguns cosmticos necessitam ser filtrados para remoo de slidos residuais, gis ou outras impurezas

    que tenham surgido ou se formado ao longo do processo de mistura. Essa operao necessria

    especialmente no caso em que o cosmtico ser aplicado por asperso (em spray), para impedir

    entupimentos da vlvula da embalagem.

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    Geralmente a filtrao de cosmticos realizada a frio para remover a maior quantidade de slidos

    possvel. Diferentes tcnicas de filtrao so usadas, dependendo do tamanho das partculas slidas a

    serem removidas, variando desde a filtrao por leitos de areia (para remover partculas na escala demilmetros) at a ultrafiltrao por membranas seletivas, que chega a remover espcies nanomtricas

    como ons e protenas.

    7.7.Tratamento da guaA produo de cosmticos requer muita gua, que necessita ser filtrada para remoo de impurezas

    slidas e, sempre que necessrio, tratada para remoo de micro-organismos e de alguns ons

    especficos. As operaes de filtrao e de remoo de micro-organismos, j foram discutidas acima e

    so normalmente aplicadas para a gua. Ento, vamos falar do processo de remoo de ons, mais

    conhecido como dessalinizao.

    A dessalinizao necessria sempre que a gua de processo contiver uma elevada quantidade de sais

    de clcio e de magnsio nela dissolvidos, geralmente bicarbonatos. Essa caracterstica da gua

    comum quando ela aflora naturalmente na superfcie do solo ou quando ela extrada de poos

    artesianos ou de lenis freticos localizados em solos alcalinos. Essa gua normalmente denominada

    gua dura, pois, nos cosmticos, os ctions clcio e magnsio reagem com tensoativos e surfactantes,

    formando compostos insolveis e inibindo a formao de espuma.

    Quando a gua dura aquecida, ocorre uma reao de decomposio com liberao de gs carbnico,

    quando o bicarbonato de clcio se transforma em carbonato de clcio, que precipita. Esse sal se

    deposita na superfcie de tubulaes, de reatores e de outros equipamentos de processo, podendo

    causarentupimentos e srios acidentes, especialmente quando a gua destinada para produo de

    vapor nas caldeiras.

    O Brasil possui poucas fontes de gua dura devido s caractersticas dos seus solos, mas normalmente a

    gua que provm de poos artesianos precisa ser tratada para evitar maiores transtornos. Existem trs

    formas de tratamento:

    - Fervura ou reao da gua com hidrxido de clcio para precipitao do carbonato;

    - Adio de substncias qumicas conhecidas como abrandadoras, como o EDTA, j visto no item 5, quecomplexam os ons clcio e magnsio;

    - A passagem da gua por unidades que absorvam os ctions clcio e magnsio.

    As unidades mais comuns na indstria de cosmticos so as colunas de troca inica e as unidades de

    ultrafiltrao ou de osmose reversa. As colunas de troca inica so geralmente tubos finos e longos

    recheados por um polmero especfico que contm ons sdio. Quando a gua passa (oupermeia) esse

    polmero, ocorre uma troca dos ons clcio e magnsio pelos ons sdio, formando o bicarbonato de

    sdio, totalmente solvel na gua. Essa troca ocorre at o momento em que todo o sdio presente no

    polmero tenha sido trocado pelo clcio ou pelo magnsio. A partir desse momento, o polmero precisa

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    ser regenerado, ou seja, ele sofre a reao de troca inversa, onde o clcio ou o magnsio retidos no

    polmero so trocados pelos ons sdio fornecidos por outra soluo salina, concentrada. A coluna pode

    ser vrias vezes regenerada durante sua vida til.

    Quando necessria uma dessalinizao completa - ou seja, deseja-se remover no s o clcio e o

    magnsio do processo, mas tambm outros ctions (ou algumas vezes, nions) - so usadas unidades

    de ultrafiltrao ou de osmose reversa, onde a gua permeia uma membrana polimrica cujos poros

    tm dimetro suficientemente pequeno para reter o on de interesse.

    7.8.Embalagem e acondicionamentoOutro importante desafio a ser vencido no processamento de cosmticos a seleo de maquinrio

    apropriado para acondicionar o cosmtico na embalagem selecionada pelo pessoal de marketing,

    trabalhando com os consumidores formadores de opinio. As embalagens representam, em mdia, de

    15 a 30% do custo final de um cosmtico. Portanto, a escolha de material apropriado e de um design de

    excelncia passa a ser no s uma deciso de estratgia comercial e de marketing, mas tambm da

    engenharia de produo. A embalagem deve ser resistente ao produto (no pode sofrer ataque ou

    corroso do mesmo), passagem do tempo e aos diversos esforos e stress a que submetida ao longo

    do seu uso.

    Existem muitos exemplos de produtos com alta penetrao e com posicionamento de destaque no

    mercado de cosmticos devido beleza, versatilidade, praticidade e facilidade de manipulao e de

    aplicao oferecida pela sua embalagem. Perfumes so um exemplo clssico de cosmticos valorizados

    pela sua embalagem, ainda mais do que pelo seu contedo. Um exemplo de sucesso de mercado

    baseado em um desenho inovador e funcional de embalagem o batom pop-up, que a usuria pode

    abrir usando somente um dedo.

    8. Referncias8.1. Livros emportugusOs livros listados abaixo podem ser encontrados nas principais livrarias do pas e alguns deles em

    muitas bibliotecas tcnicas e de Universidades para consulta.

    Ashenburg, Katherine. Passando a Limpo: O Banho da Roma Antiga at Hoje. Larousse do Brasil, 1Ed., 2008, 304p.O livro aborda a histria do banho, desde a antiguidade at os dias modernos.

    As diferentes culturas e pocas so mostradas no livro de forma interessante e com humor,

    alm de conter uma srie de ilustraes, pinturas e fotografias sobre a adaptao do banho ao

    passar dos sculos.

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    Barata, Eduardo A. F. Cosmticos: Arte e Cincia. 1 Ed., 2002. Este livro lista algumas das principaisformulaes cosmticas e fornece detalhes principalmente sobre os locais de aplicao (pele,

    cabelos, unhas etc.). Coleo Beleza e Esttica, 7 vol. (Mos, Pele I, Pele II, Maquiagem, Cabelos, Corpo, Rosto). Editora

    DCL, 2008. Cada volume um guia de tratamento e de referncia que descreve produtos

    adequados e cuidados especiais para as diversas reas de aplicao dos cosmticos.

    Draelos, Zoe Diana. Cosmecuticos: Procedimentos e Produtos em Dermatologia Cosmtica.Elsevier, 2 Ed., 2009. Este texto fala sobre as diferenas entre cosmticos e cosmecuticos,

    baseadas em evidncias cientficas e sobre o ponto de vista mdico, discutindo cosmticos

    funcionais preparados a partir de retinoides, vitaminas, antioxidantes e outros princpios ativos.

    Garcillan, Mencia de. Marketing para Cosmticos: Uma Abordagem Internacional. 1 Ed., 2007,196p. Este livro ajuda o leitor a entender melhor a relao bem prxima que existe entre

    marketing e cosmtica. muito importante escolher corretamente cores, embalagens, slogans,

    etc., e entender os valores culturais e tendncias do mercado, porque eles podero fazer muita

    diferena para o sucesso e o fracasso de um produto. O livro mostra exemplos reais de

    processos de desenvolvimento de um cosmtico e das estratgias de publicidade e de

    promoo que so utilizadas pelas principais empresas produtoras para alcanar seu pblico.

    Gomes, Rosaline K. Cosmetologia: Descomplicando os Princpios Ativos. LMP Editora, 3 Ed., 2009,365p. O livro bastante atual e fala sobre as principais matrias-primas para produo dos

    cosmticos, suas fontes e processos de manipulao e preparao, de forma bem didtica.

    Ovdio. Remdios do Amor: Os Cosmticos para o Rosto da Mulher. 1 Ed., 1994, 104p. Nesse texto,escrito pelo poeta romano Ovdio no ano 5 d.C., o poeta recomenda s mulheres romanas que

    se enfeitem para seus maridos e para que sua beleza seja preservada ao longo dos anos. O

    texto muito interessante sob o ponto de vista histrico e Ovdio detalha no seu final cinco

    receitas precisas de tratamentos cosmticos para a pele que eram preparadas com ingredientes

    da poca, como aveia, mel, leite e outros.

    Rebello, Tereza. Guia de Produtos Cosmticos. 7 Ed., 2008. Este livro fornece informao bsica ebastante atualizada sobre as principais matrias-primas necessrias para produzir os

    cosmticos, alm de listar os principais produtos e formulaes disponveis no mercado

    brasileiro.

    Santi, Erika de Andrei. Dicionrio de Princpios Ativos em Cosmetologia. 1 Ed., 2003. Boa obra dereferncia para conceitos fundamentais e para conhecimento de princpios ativos e excipientes

    usados na produo de cosmticos.

    Vanzin, Sara B.; Camargo, Cristina P. Entendendo Cosmecuticos: Diagnsticos e Tratamentos. Santos Editora, 1 Ed., 2008, 390p. Este livro para quem quer se aprofundar no conhecimento

    de formulaes para atender objetivos especficos de tratamento, como clareadores de pele,

    fotoprotetores, loes antiacne, cremes antienvelhecimento, etc.

    Vita, Ana Carlota R. Histria da Maquiagem, da Cosmtica e do Penteado: Em busca da perfeio. Anhembi-Morumbi, 1 Ed., 2008, 160p. O livro mostra como surgiu a maquiagem, como os

    penteados foram mudando de forma, volume e cor e como o conceito de beleza mudou ao

    longo da histria em diferentes sociedades.

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    8.2. Livros eminglsPara quem tenha domnio do idioma e queira se aprofundar no assunto, principalmente com relao

    produo de cosmticos (industrial e em laboratrio), segue uma literatura em ingls bastanteinteressante para consulta. Os livros podem ser encontrados nas principais livrarias e nas bibliotecas

    brasileiras e alguns deles esto disponveis para consulta no Google Books (http://books.google.com/)

    Appell, Louis. Cosmetics, fragrances and flavors: their formulation and preparation with anintroduction to the physical aspects of odor and selected syntheses of aromatic chemicals. Novox,

    1982, 440 p.

    Brummer, Reudiger. Rheology essentials of cosmetic and food emulsions. Springer, 2006, 180 p. Calkin, R. R.; Jellinek, J. S. Perfumery: Practice and Principles. John Willey and Sons, 1994, 287 p. Falbe, J. Surfactants in Consumer Products: Theory, Technology and Application. Springer-Verlag,

    March 1987, 547 p. Goddard, E. Desmond; Gruber, James V.Principles of Polymer Science and Technology in Cosmetics

    and Personal Care. 1st ed. (March 10, 1999), 671 p.

    Gunstone, F. D.; Harwood, J. L.; Padley, F. B. The Lipid Handbook. 2nd ed., 1994, 1273 p. Kirk-Othmer Encyclopedia of Chemical Technology, Vol. 7. John Wiley & Sons, Inc., 5th ed., 2001. Nowak, G. A. Cosmetic Preparations, Vol. 1: Process Technology of Cosmetics, Microbiology, GMP,

    Preservation, Data on Skin and Special Active Agents and Adjuvants. 3rd ed., 1995, 351 p.

    Schlossman, Mitchell L. The Chemistry and Manufacture of Cosmetics, Vol. 1 Basic Science. 3rd ed.,2000, 452 p.

    Smolinske, Susan C. Handbook of Food, Drug and Cosmetic Excipients. CRC Press, 1992, 296 p. Stark, Norman. The Formula Book. Andrews McMeel Pub, November 1975, 209 p. The Dirty Secrets of Bathtime, Times Online, 26/03/2009. Williams, D. F.; Schmitt, W. H. Chemistry and Technology of the Cosmetics and Toiletries Industry.

    2nd ed., 1996, 395 p.

    Winter, Ruth. A Consumer's Dictionary of Cosmetic Ingredients: Complete Information about theHarmful and Desirable Ingredients Found in Toiletries and Cosmetics. Three Rivers Press, 5th ed. (July

    20th, 1999), 472 p.

    8.3. Referncias on-lineNa Internet podem ser encontradas diversas informaes, compreendendo desde os principais

    produtores de cosmticos mundiais at receitas de formulaes cosmticas, passando por estudos de

    mercado, por dados tcnicos sobre matrias-primas e por processos de fabricao. Lembre-se de checar

    sempre se as referncias da informao que voc est buscando na Internet so provenientes de fontes

    idneas e confiveis, e no tente fazer nenhum experimento em casa sem superviso de um adulto!

    Seguem alguns sites interessantes para consulta:

    Wikipedia, www.wikipedia.org, informaes de referncia sobre todos os itens que foram listadosnesse texto.

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