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Curso de Metodologia da Pesquisa Cientfica Aplicada Educao Bsica

SUMRIO1 METODOLOGIA DE PESQUISA CIENTFICA.........4A evoluo da razo no ocidente................................4 Questes metodolgicas fundamentais......................10

2 ELABORAO DE PROJETOS CIENTFICOS.......14Porque elaborar um projeto de pesquisa...................14 Como formular um problema de pesquisa.................14 Como construir hiptese..........................................15 Porque definir objetivos...........................................15 Referencial terico...................................................16 Anlise dos dados....................................................16

3 NORMAS TCNICAS DE APRESENTAO ESCRITA DO TRABALHO CIENTFICO....................17Artigo cientfico.......................................................17 Apresentao de artigos na revista Acta Amazonica....17 Estrutura do artigo cientfico....................................17

4 REDAO DO TRABALHO CIENTFICO.............20Manual de redao cientfica ..................................2o As qualidades de um texto.......................................22 Relatrio de pesquisa, o que ? E como se faz? ........22

1. METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTFICARoberto Monteiro de Oliveira

A evoluo dA rAzo no ocidenteIntroduoUltrapassando a rotina do dia a dia; excedendo os limites territoriais de sua existncia; indo alm da percepo direta de seus sentidos os homens colocaram para si, em todos os recantos da Terra, as questes fundamentais da vida e da morte; da natureza e da sociedade; dos seres visveis e invisveis. Os historiadores colocam nos sculos VI e VII antes de Jesus Cristo o momento em que em vrios lugares da Terra surgiram ideias articuladas a partir das quais se estabelecem as bases para o desenvolvimento da razo humana em direo ao futuro. Na China o taoismo assenta o grande princpio da ordem universal. Confcio define a busca de um caminho superior (Tao) como forma de viver bem e em equilbrio entre as vontades da Terra e as do cu propondo uma sociedade e uma pessoa virtuosa que orientam a tica e a razo chinesa at hoje. Na ndia o hindusmo atravs do livro sagrado Os Vedas mostrou as verdades eternas reveladas pelos deuses: a ordem que rege as coisas e os seres tratando tambm sobre a origem da natureza e do mundo. No Oriente Mdio os hebreus conceberam a noo de um Deus nico, criador, senhor e sustentador de todas as coisas. O que se deve observar que inicialmente, resolvidas as questes relativas sua sobrevivncia material o que sem dvida lhes d oportunidade de desenvolver os primeiros conhecimentos tcnicos, os homens colocam para si as questes fundamentais da prpria existncia. Da advindo, para a maioria dos autores, o conhecimento mtico, o conhecimento religioso, o conhecimento filosfico e o conhecimento cientfico. O grande desafio atual conciliar o chamado conhecimento tradicional com o conhecimento cientfico. A civilizao crist ocidental - A civilizao crist ocidental percorreu um longo caminho at chegar forma atual da sua maneira de pensar e raciocinar. Nesta caminhada tomaremos como ponto de partida espao/temporal o momento em que a civilizao ocidental, na Grcia, atinge o estgio de organizao em cidade/estado. No se pode desvincular o desenvolvimento tcnico-cientfico do desenvolvimento sociocultural. Os pr-socrticos - Pela importncia das reflexes e das idias que desenvolveram h mais de vinte sculos costuma-se considerar como precursores dessa evoluo os pr-socrticos, Scrates, Plato e Aristteles. Essas pessoas passaram para a Histria como sendo os sbios. A partir de Pitgoras essas pessoas, se autodenominaram de filsofos, ou seja, amigos da sabedoria. Aristteles os considerou como fsicos, ou seja, filsofos da natureza. Posteriormente foram conhecidos como naturalistas para se distinguirem de Scrates, no no sentido cronolgico, mas devido

ao objeto de sua filosofia em relao s questes introduzidas por Scrates ficaram ento conhecidos como pr-socrticos. A caracterstica comum aos pr-socrticos a preocupao com o mundo natural (physis, natureza em grego), da serem tambm chamados de fisilogos. Ao tentar explicar a natureza das coisas reduzindo sua multiplicidade a um nico princpio, eles rompem com a forma de pensamento do mundo antigo. Inauguram uma nova mentalidade baseada na razo e no mais no sobrenatural e na tradio mtica. Tales de Mileto, Anaximandro (611 a.C.-547 a.C.) e Anaxmenes (570 a.C.-500 a.C.), da escola de Mileto, esto entre os primeiros pr-socrticos. Para Tales, a gua a origem de todas as coisas. Anaximandro acha que a substncia primeira o infinito ou a matria ilimitada, da qual provm todos os seres finitos e limitados. J Anaxmenes acredita que do ar que derivam todas as coisas, por causa de seu movimento duplo de rarefao e condensao. Herclito (544 a.C. - 480 a.C.) defende que as coisas se produzem a partir da estrutura contraditria e movedia do real e do logos (a razo). Da elas existirem em permanente contradio e fluncia. Parmnides identifica a existncia de uma verdade imutvel e um ser completo, uno e imvel. Empdocles de Agrigento nomeia como substncias fundamentais os quatro elementos: a terra, a gua, o ar e o fogo. Demcrito acredita que a realidade composta de tomos e do vazio. O eterno movimento entre eles e suas diferentes combinaes explicam a formao dos diversos mundos. Ao apontar como verdadeira substncia do mundo algo imaterial, como a alma imortal e as essncias eternas, que constituem o mundo da harmonia e dos nmeros, Pitgoras (582 a.C. - 500 a.C.) encerra essa fase, tornando-se o primeiro pensador do sculo VI a antecipar o mundo platnico das ideias. O que se pode concluir que a partir dessas reflexes comeam a se delinear campos especficos de conhecimentos como: a mitologia, o senso comum, o conhecimento religioso, conhecimento filosfico e o conhecimento cientfico. Os pr-socrticos se preocupavam com as questes cosmolgicas, com o mundo fsico, buscando os princpios, explicaes para a realidade primeira, originria e fundamental ou o que primrio, essencial e persistente, em oposio ao que secundrio, derivado e transitrio. Posteriormente, outras questes passam a fazer parte das preocupaes dos filsofos surgindo a sofstica, mudando o foco do mundo fsico, o cosmo para a sociedade, para as questes morais. Fica claro, portanto, que desde o incio da civilizao se distingue com clareza as questes relativas natureza

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e as questes relativas sociedade como objeto das preocupaes dos pensadores, filsofos ou cientistas. Scrates ((470 a.C. - 399 a.C.) - Scrates estudando seus antecessores e contemporneos conclui que eles eram contraditrios entre si apresentando teorias conflitantes impedindo uma nica concluso verdadeira. Para Scrates, o mais importante era saber o que bom, o que certo, o que justo, ou seja, estabelecer um conhecimento que ajudasse a pautar uma conduta correta para o ser humano. O Mtodo socrtico consistia em andar pelas ruas e praas de Atenas, questionando a moral e a poltica de sua poca. As pessoas se juntavam a sua volta e Scrates ia fazendo perguntas levando as pessoas a irem corrigindo as respostas ou at mesmo neg-las. Para Scrates, a verdadeira catstrofe consiste na corrupo da alma. Por isso, ele dizia que a melhor sofrer uma injustia do que comet-la. O mal consequncia da ignorncia e a busca do conhecimento coincide com a busca da virtude. Por ser contrrio a escrita, que ele julgava prejudicar a memria Scrates no deixou nenhuma obra. Tudo que se sabe sobre Scrates veio atravs da obra Dilogos, de Plato. Estimulando estas discusses ele se considerava um parteiro de idias. Com esta postura, Scrates foi considerado um revolucionrio, pois ele levava os atenienses a questionar tudo e, alm disso, muitas vezes demonstrava a ignorncia e a incompetncia de alguns polticos e outros poderosos. O governo de Atenas mandou prender Scrates por corrupo da sociedade, sobretudo da juventude e condenou-o a morrer por envenenamento, bebendo cicuta. Plato (427 AC - 347 AC, Atenas) um dos pensadores mais importantes de todos os tempos. O platonismo concentra-se na distino do mundo entre o que visvel, sensvel, o mundo das coisas e dos seres, e o que invisvel, inteligvel, ou seja, o mundo das ideias, o hiperurnio. Plato um dos filsofos que mais influenciaram a cultura ocidental, nasceu de uma famlia rica, envolvida com polticos. Ainda na juventude, tornou-se discpulo de Scrates, iniciando-se na filosofia. Depois de acompanhar todo o processo que condenou o seu mestre Scrates, Plato, desiludido com a democracia ateniense, viaja para outras cidades da Grcia, Egito e sul da Itlia, e comea a escrever. Em 387 AC, funda em Atenas uma escola chamada Academia, com uma exigncia, escrita na fachada: Que aqui no entre quem no for gemetra. Na Academia, Plato trata de recuperar a filosofia de Scrates e incentiva o estudo e a pesquisa em reas como cincia, matemtica e retrica, alm da filosofia. Em pouco tempo, esta escola tornou-se um dos maiores centros culturais da Grcia, tendo recebido polticos e filsofos como Aristteles e Demstenes. A sua obra conta com 28 dilogos basicamente centrados em Scrates, onde procura definir noes como a

mentira, o dever, a natureza humana, a sabedoria, a coragem, a amizade, a piedade e a retrica. O destino de Plato deveria ser a poltica. Mas, a experincia dos polticos que governaram Atenas por imposio de Esparta (404AC/403 AC), entre os quais estavam dois de seus tios, fez Plato afastar-se dessa forma de poltica. De acordo com Plato, uma cidade-modelo deveria distribuir os seus habitantes em trs segmentos: os sbios deveriam pertencer ordem dos governantes, os corajosos, que deveriam zelar pela segurana, ordem dos guardies, e os demais, responsveis pela agricultura e comrcio, fariam parte da ordem dos produtores. Plato no concordava que os polticos mais votados assumissem os principais cargos em uma cidade ou pas. Para Plato, nem sempre o mais votado era o mais bem preparado. Dentro deste contexto, era necessrio criar uma alternativa para impedir que a corrupo e a incompetncia tomassem conta do poder pblico. A forma dos escritos platnicos o dilogo, transio espontnea entre o ensinamento oral e fragmentrio de Scrates e o mtodo estritamente didtico de Aristteles. As obras mais conhecidas de Plato so Apologia de Scrates, em que retoma as teorias de seu mestre Scrates; O Banquete, em que expe de forma potica a dialtica do amor; e A Repblica, que sintetiza toda a sua filosofia sobre a organizao da cidade, a poltica, a dialtica e a questo da imortalidade da alma. Aristteles (384 a.C.- 322 a.C.). Considerado o fundador da lgica, sua obra tem grande influncia na teologia crist na Idade Mdia. Em Atenas organizou sua prpria escola, o Liceu, voltada para a pesquisa das cincias naturais. Desenvolveu a partir da um sistema filosfico de orientao realista, no qual defende a investigao dos fenmenos da realidade com base na experimentao. Para ele, deve-se procurar o conhecimento por meio do intelecto ativo, como denomina a inteligncia. Seus escritos lgicos esto reunidos no livro Organon. A importncia de Aristteles na histria da formao do pensamento cientfico vem do fato de ter sido ele um dos primeiros a utilizar a observao metdica, rigorosa e direta da realidade para obter o mximo de informaes da sociedade e da natureza. o que ficou conhecido como o realismo de Aristteles. Aristteles realizou plenamente o ideal dos sbios gregos de seu tempo. Interessou-se por todas as reas do conhecimento. Varias cincias especializadas da atualidade reconhecem nas obras de Aristteles as suas origens. Aristteles sistematizou a forma de organizar e desenvolver o pensamento atravs do silogismo. O que passou para a Histria como a lgica formal aristotlica. Na obra Organon, Aristteles define a lgica como um mtodo do discurso demonstrativo, que utiliza trs operaes da inteligncia: o conceito, o juzo e o raciocnio. O conceito a representao mental dos objetos. O juzo a afirmao ou negao da relao entre o sujeito e seu predicado. E o raciocnio que leva concluso sobre os vrios juzos contidos no discurso.

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Aristteles estuda a estrutura lgica da argumentao e descobre que alguns argumentos podem ser convincentes, embora no sejam corretos. A lgica, segundo Aristteles, um instrumento para atingir o conhecimento cientfico. S se pode chamar de cincia aquilo que metdico e sistemtico, ou seja, lgico. Os raciocnios podem ser analisados como silogismos, nos quais uma concluso decorre de duas premissas. Todo homem mortal. Scrates homem, logo, Scrates mortal, diz ele, para exemplificar. Scrates, homem e mortal so conceitos. Scrates mortal e Scrates homem so juzos. O raciocnio a progresso do pensamento que se d entre as premissas e, a concluso, ou seja, a organizao e disposio lgica das premissas de forma a se chegar a uma concluso: Todo homem mortal, Scrates homem Logo, Scrates mortal. Como filsofo Aristteles refletiu muito para entender as causas de tudo que observava o que ainda hoje a razo de ser da maioria dos experimentos da cincia moderna. Por tudo isso, e por muito mais Aristteles de Estagira (como ficou conhecido) de fato colocou as bases e os fundamentos da boa cincia ocidental que se conservam at hoje: a lgica, o mtodo e a observao da natureza e da sociedade. A Idade Mdia - a partir do sculo XI at o Renascimento, nas questes relativas ao conhecimento humano, no ocidente, prevalece o que ficou conhecido como Escolstica. A escolstica foi a tentativa de conciliar a f crist com a razo, representada pelos princpios da filosofia clssica grega, em especial os ensinamentos de Plato e Aristteles. Desenvolve-se a partir da filosofia patrstica, elaborada pelos padres (Doutores) da Igreja Catlica, que faz a primeira aproximao entre o cristianismo e uma forma racional de organizar a f e seus princpios, baseada no platonismo. Com a escolstica, a filosofia medieval continua ligada religio, uma vez que so as questes teolgicas que suscitam a discusso filosfica. A fase inicial da escolstica profundamente influenciada pelo pensamento de Santo Agostinho (354430), o mais importante nome da filosofia patrstica. Retomando os princpios do platonismo, entre eles o de que h uma verdade absoluta acima das verdades particulares, Santo Agostinho v na revelao divina o meio pelo qual a verdade introduzida no esprito humano. O perodo mais importante da escolstica corresponde ao do desenvolvimento do tomismo, doutrina crist criada no sculo XIII por So Toms de Aquino (12241274), com base na filosofia aristotlica. Para So Toms de Aquino e para seus seguidores, h duas ordens de conhecimento: o sensvel e o intelectual, sendo que o intelectual pressupe o sensvel. A impresso que um objeto deixa na alma chamada de conhecimento sensvel. O conhecimento intelectual considera apenas

as caractersticas comuns entre os objetos e elabora o conceito. Sobre as relaes entre filosofia e teologia, So Toms de Aquino afirma que a filosofia conhecimento e demonstrao racionais, que parte de princpios evidentes e chega a concluses inteligveis. J a teologia fundada sobre a revelao divina, da qual no se pode duvidar. A revelao, porm, prevalece quando h contradio entre a verdade intelectual e a verdade revelada. A escolstica entra em crise no final da Idade Mdia, por volta do sculo XIV, perodo marcado pelo surgimento do humanismo renascentista, pelas novas descobertas cientficas e pela Reforma Protestante. Entretanto, sobrevive na era moderna como um pensamento cristo tradicional o neo-tomismo. O Renascimento - A partir do Renascimento se comea criticar a maneira como se procurava explicar os fenmenos da natureza. Usava-se muita razo, muita lgica, muito sistema bem organizado, mas se descuidaram da observao e no se controlavam os fatos que se queria explicar. Foram Francisco Bacon e Galileu Galilei que trabalharam para nos dar um mtodo diverso e que chamamos hoje de mtodo experimental. Sucintamente este mtodo consiste no seguinte: 1 observar os fatos; 2 levantar hipteses explicativas dos mesmos; 3 retornar a experincia para verificar se as hipteses esto certas, de acordo com os fatos. Aos poucos vai se firmando como cientfico somente aquilo que procurava as leis do mundo fsico e que prova suas afirmaes com o controle dos fatos. Com isso somente a fsica adquiriu foros de cincia. Mas com a adoo do mtodo da fsica nas outras pesquisas tambm estas outras pesquisas passam a ter o status de cincias de tal forma que quando falamos hoje de cincia entendemos o tipo de conhecimento que de alguma forma usa o mtodo experimental. As cincias humanas procuraram ento se enquadrar em um mtodo semelhante ao da fsica para serem chamadas cincias. Neste contexto as cincias adquiriram algumas caractersticas. Caractersticas da Cincia Moderna - A primeira caracterstica a matematizao ou quantificao, ou seja, as qualidades e propriedades da natureza passam a ser medidas por uma linguagem simblica muito precisa, de compreenso universal unvoca: 50mm, 9km, 120 4kg e etc.... Uma outra caracterstica da cincia moderna a funcionalidade, ao cientista interessa relatar como esta sendo processado o experimento e a quanto ou em que medida o mesmo se processa em vista unicamente de seus resultados. No interessa ao cientista buscar as causas ltimas. A terceira caracterstica da cincia moderna o carter seletivo. Isso quer dizer que para fazer uma hiptese explicativa o cientista tem que selecionar os elementos e variveis com que vai tratar, ou seja, tem que escolher as variveis que vo ficar sob controle. Por

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esse procedimento do dado particular, pode o cientista chegar a uma Lei Geral. Uma outra caracterstica da cincia moderna o seu carter aproximativo. Esta caracterstica diz respeito a tentativas de interpretar ou representar plasticamente os fatos ou fenmenos estudados. Toda vez que uma teoria cientfica cria uma explicao para um fato ou fenmeno, na sua linguagem simblica inventa e interpreta como se o smbolo substitusse a realidade. So os chamados modelos explicativos. A cincia moderna, como no podia deixar de ser, tem tambm um carter progressivo acumulativo, os conhecimentos vo se acumulando e se aperfeioando, e as teorias vo sendo reelaboradas. Existe ainda uma caracterstica ligada ao carter quantitativo da cincia moderna que a exatido. A cincia exata precisamente na sua formulao unvoca, e tem que ser unvoca exatamente pela dependncia dos seus resultados. Este modelo de fazer cincia ficou conhecido como positivismo. Positivismo - Para o positivismo a cincia a nica forma vlida de conhecimento. As descobertas cientficas dando novas explicaes sobre a natureza, sobre a sociedade e sobre as homens justificaram a concluso de que a nica filosofia verdadeira era a prpria cincia. O positivismo considerando os fracassos da filosofia prope o domnio do homem sobre a natureza atravs da cincia e que a cincia seja a base da organizao da sociedade humana. Os positivistas tem uma concepo dinmica da natureza. Os fenmenos se sucedem num processo evolutivo e ininterrupto do mundo inferior, inorgnico, passando por uma srie progressiva de formaes intermedirias, cada vez mais complexas at atingir o mundo superior, o mundo humano. O positivismo trouxe para a sociedade humana as mesmas leis encontradas no mundo animal legitimando a supremacia dos mais fortes sobre os mais fracos atravs da concorrncia. Da advm uma srie de outras consequncias perversas para a convivncia humana e para o funcionamento e relacionamento das sociedades e naes como, por exemplo, a legitimidade da destruio e invaso do territrio dos mais fracos se os mais fortes se sentirem ameaados. Comparando o Positivismo com o Materialismo Histrico e dialtico, constatamos que eles possuem em comum a concepo de que a matria o princpio supremo e a causa de toda a realidade. Alm disso, tanto o materialismo como o positivismo possuem uma preocupao com o homem. O materialismo de Marx e seus seguidores procura libertar o homem das alienaes ideolgicas, das sujeies e das opresses polticas. O materialismo positivista procura adquirir um conhecimento exato do homem como ser social empregando, para isso, o mtodo das cincias experimentais. Como as cincias so aptas para formular as leis relativas ao desenvolvimento dinmico da realidade natural, devem ser aptas tambm para

formular a leis relativas ao desenvolvimento social humano. Na verdade Augusto Comte usou o termo POSITIVO, em oposio ao que ele considerava NEGATIVO, isto , o iluminismo. O positivista tem uma postura afirmativa no sentido da ORDEM rejeitando as crticas romnticas dos conservadores feitas sociedade propondo solues para os problemas presentes em alternativas buscadas no passado. Os positivistas rejeitam tambm o pensamento critico progressista que prope um projeto social alternativo para o presente e o futuro da sociedade. O paradigma da anlise positivista - Os positivistas lutam pela integrao, pelo consenso, e pela harmonia social analisando a sociedade segundo o seguinte paradigma: 1 - A sociedade um organismo, regulado por leis naturais, cujas partes so mutuamente dependentes, como um organismo vivo; 2 - O funcionamento tranquilo de todo o corpo depende do bom funcionamento de todas as partes constitutivas. Qualquer patologia em uma das partes pode levar todo o corpo morte; 3 - Cada rgo isolado desempenha uma funo especfica, mas deve estar conectado e integrado para o bom desempenho de todo o corpo social. O principio integrador da sociedade positivista definir exatamente a funo de cada parte ou rgo da sociedade; A normalidade da sociedade positivista o funcionamento ordeiro, integrado, harmonioso e consensual das partes que compem o corpo social. Por fim; 4 - Os positivistas consideram a importncia que todos tm para o funcionamento harmonioso do corpo social e que, portanto cada um deve aceitar resignado e naturalmente desempenhar a prpria funo na sociedade. Para as positivistas, os conflitos sociais, as contradies da sociedade, so fenmenos marginais, imperfeies - o natural a sade do corpo, no sua doena. Na comparao positivista entre a sociedade e o organismo biolgico, a tendncia natural que as partes constitutivas do todo, ainda que diferenciadas, cooperem no sentido da manuteno da sade do corpo. Se natural que o corpo tenda a normalidade, todos os sintomas que possam comprometer sua sade so patologias, anormalidades. Expresses do Positivismo - Para Durkheim uma das maiores expresses do Positivismo, a raiz dos problemas sociais no de natureza econmica, mas sim em relao a fragilidade da moral e ao estado de anomia, ou seja, a inexistncia ou insuficincia de regulamentao, uma indeterminao jurdica. O positivismo durkheimiano expressa um elemento de continuidade com o objetivo proposto por Augusto Comte de reconciliar ORDEM e PROGRESSO. Sua preocupao bsica o restabelecimento da sade do organismo social. Para isso pensava ser necessrio

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desenvolver novos hbitos e comportamentos. Ele remete a soluo dos problemas sociais para a moral e o direito. Se cada um cumprir sua funo de maneira apropriada, o todo, a sociedade funcionar de forma integrada: trata-se da solidariedade orgnica. Isto, em termos polticos, se traduz na defesa de uma proposta corporativa que nega a sociedade como dividida em classes sociais. Segundo Durkheim:O que necessrio, para que reine a ordem social, que o conjunto dos homens se contente com seu destino. Mas o que necessrio para que eles se contentem no que tenham mais ou menos, mas que estejam convencidos de que no Ihes assiste o direito de ter mais. Para isso, preciso, necessariamente que haja uma autoridade superior reconhecida, que estabelea o direito. Porque, abandonado exclusivamente a presso das suas necessidades, o indivduo nunca admitiria que chegou ao limite extremo dos seus direitos. (Apud ARON, 1982: 354)

Na religio o homem explica os fenmenos naturais pelas causas sobrenaturais. Na fase filosfica, a fase crtica a explicao dada por princpios; na fase positiva as explicaes decorrem das leis naturais que explicam por si ss os fenmenos. A histria do homem, segundo Comte resume-se em ter sido telogo na infncia, metafsico na juventude e fsico na idade adulta. A filosofia a forma mais alta do saber a rainha de todas as cincias. Sua funo classificar as cincias, determinar seus limites, julgar os seus progressos e dirigir as cincias em suas pesquisas. Sistematizando suas reflexes sobre a humanidade, Comte concluiu que a humanidade o nico Deus que merece o nosso culto. A humanidade o grande ser enquanto conjunto dos seres passados, futuros e presentes que concorrem livremente para o aperfeioamento da ordem universal. para este ser que deve ser dirigida a religio de todos os membros da sociedade. Ainda quanto ao aspecto filosfico da obra de Augusto Comte importante considerar o seu ltimo escrito dedicado a filosofia Matemtica (1856), onde, tentando associar a cincia da natureza ao sentimento introduz a trindade positivista. Ao lado do Grande Ser que a humanidade, Comte coloca como objeto de adorao o Grande Fetiche a Terra, e o Grande Meio, o Espao. Concluindo, Comte afirma que a humanidade est em contnuo progresso realizando um aperfeioamento constante com a preponderncia crescente das tendncias mais nobres da natureza. A humanidade tende a unidade poltica quando ser governada por uma corporao de filsofos positivistas. Finalmente, a humanidade guiada por uma s lei moral: viver para os outros. O homem tem instintos altrustas que a educao positivista pode desenvolver progressivamente. As regras bsicas do mtodo positivista foram enunciados por Augusto Comte na sua obra Discour sur LEsprit Posittif publicada em 1844. A primeira regra parte da afirmao de que a verdadeira observao a nica base possvel dos conhecimentos. A partir disso afirma que toda proposio que no possa reduzir-se estritamente ao simples enunciado de um fato, particular ou geral, no pode oferecer nenhum sentido real e inteligvel. Em conseqncia dessas colocaes a imaginao perde a sua antiga supremacia e fica subordinada a observao, e como de fato no possvel conhecer mais que as conexes naturais entre os fenmenos observados, da resulta a revoluo fundamental da poca positivista: substituir em tudo as inacessveis determinaes das leis, quer dizer, pelas relaes constantes que existem entre os fenmenos observados. A Segunda regra se refere a necessidade de reduzir a pesquisa somente aos fenmenos renunciando a descobrir sua origem primeira e o seu destino final. O conhecimento positivo recusa o conhecimento absoluto e afirma que o conhecimento deve permanecer sempre relativo nossa organizao e nossa situao,

Entre os positivistas tem lugar de destaque Charles Darwin que em 1831, participa, como naturalista, de uma expedio de volta ao mundo no navio Beagle, promovida pela Marinha inglesa. Durante cerca de cinco anos desta viagem, obtm informaes para fundamentar a Teoria da Evoluo das Espcies, publicada em 1859 no livro A Origem das Espcies, na qual afirma que o meio ambiente seleciona os seres mais aptos e elimina as menos dotados. O positivismo pode ser entendido no duplo aspecto de um mtodo cientfico e uma concepo filosfica do mundo. Na verdade existe uma ntima correlao entre esses dois aspectos. O enfoque Positivista aparece em vrios autores sendo admitido que as bases do Positivismo foram colocadas por Saint-Simon em suas obras: Introduo aos Trabalhos Cientificos do sculo XIX publicada em 1808, Reorganizao da Sociedade Europeia, de 1814; Novo Cristianismo de 1825 e outras menores em que analisa a crise da sociedade europeia da poca moderna e aponta as solues para super-las. Claude-Henri Saint-Simon sde urn Habitante (17/10/1760-19/5/1825) que Genebra a seus1Contemporaneos (1802) socialismo com o livro Carta. O principal terico do Positivismo na verdade Augusto Comte (1798-1856). Em 1830 publica o Curso de Filosofia Positivista, onde desenvolve a nova cincia da humanidade e cria uma nova religio, a religio da humanidade. Objetivo principal de Augusto Comte era elaborar uma filosofia da histria baseada no princpio da evoluo espontnea e mecnica. Mas a parte da obra de Augusto Comte que teve mais repercusso entre seus contemporneos e ainda hoje, foi a que trata do valor e da funo da cincia. Augusto Comte admite que todo universo procede da matria por via de evoluo e o homem produto da evoluo da matria. Quando a evoluo atingiu o estgio humano teve inicio a histria. As fases da histria segundo Comte so: religiosa, filosfica e cientfica.

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de modo que as especulaes racionais no podem ter nunca a certeza absoluta que os metafsicos suponham. Finalmente a terceira regra prope a previso racional como destino e objetivo das leis positivas. Diante do empirismo estreito que se limita a uma estril acumulao de fatos incoerentes, o verdadeiro esprito positivo procura as leis dos fenmenos. Deve-se salientar que a verdadeira cincia longe de ser formada por simples observaes, tende sempre a dispensar, por quanto for possvel, a explorao direta, substituindo-a pela previso racional que constitui, em todos os aspectos a principal caracterstica do esprito positivo. Deste modo, o verdadeiro esprito positivo consiste antes de tudo em ver para prever, em estudar o que a fim de concluir o que ser, segundo o dogma da invariabilidade das leis naturais. Estas regras do mtodo Positivista aparecem repetidas de uma maneira ou de outra nos vrios seguidores do Positivismo cotidiano, mas tem particular destaque a obra de John Stuart Mill, System of Logic, de 1843, que e o texto clssico da lgica indutiva positivista. A base do mtodo Positivista sempre o raciocnio indutivo, que parte da observao e mediante classificao e comparaes se eleva a concluses gerais ou descobrimento de leis. Na verdade o essencial nesse tipo de raciocnio o seu encadeamento lgico segundo o silogismo clssico. A possibilidade de realizar previses o objetivo essencial do mtodo Positivista e deriva do postulado de que h uma ordem constante e necessria nos fenmenos da natureza a qual alcanada atravs de induo. Estas previses sendo possveis na natureza devero tambm ser possveis na sociedade humana. O modelo ideal da cincia est nas cincias da natureza e em particular da biologia Augusto Comte pretendeu mesmo a construo de uma fsica social como outros pretenderam elaborar uma biologia social. Esta pretenso tem sua raiz no postulado positivista da unidade profunda da cincia e do mtodo cientifico. Trata-se da certeza de que os modos de aquisio de um saber vlido so fundamentalmente os mesmos em todos os campos da experincia. Segundo o Materialismo Positivista s existe a realidade natural da qual o mundo fsico e psquico so duas faces ou manifestaes distintas da mesma realidade. A vida humana reduzida a um complexo de fenmenos fsico-qumicos. Os fatos psicolgicos so considerados como funes cerebrais, ou emanaes do crebro tal qual a segregao biliar do fgado. Positivismo no Brasil - O positivismo teve uma fortssima influncia nos ideais dos republicanos brasileiros. Entre os quais se destacam Miguel Lemos, Teixeira Mendes e Benjamin Constant. Os governos de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto colocaram as marcas dos ideais positivistas na Repblica Brasileira que foram eternizados na bandeira nacional: ordem e progresso.

O materialismo histrico e dialtico - Outra maneira de entender e fazer cincia o materialismo histrico e dialtico. O materialismo histrico e dialtico parte da dimenso dinmica da realidade dos seres. uma forma de pensar a realidade em constante mudana. Para o materialismo histrico e dialtico existe uma ligao intrnseca entre a sociedade e a natureza de forma que impossvel entender a vida da sociedade humana fora de sua ligao com a natureza. Foi no seu relacionamento com a natureza atravs do trabalho produzindo e utilizando ferramentas que o homem evoluiu, se separou e se distinguiu dos outros animais desenvolvendo o crebro e adquirindo outras caractersticas prprias. Entre estas caractersticas se destacam a comunicao articulada pela linguagem e a sociabilidade. Dinstinguindo-se e separando-se dos outros animais o homem se torna um ser social. O materialismo histrico e dialtico parte do princpio de que os fatos humanos so historicamente determinados e que estas determinaes cientificamente observadas e analisadas permitem e garantem a interpretao e o conhecimento desses fatos podendo at descobrir suas leis. O materialismo dialtico porque considera que o mundo por sua natureza material existindo independentemente das sensaes humanas. O materialismo histrico e dialtico considera ainda que a matria se encontra em contnuo movimento que se realiza no espao e no tempo. O movimento, o espao e o tempo so as formas fundamentais de existncia da matria. Deve-se observar que o materialismo histrico e dialtico entende o movimento como todas as transformaes que ocorrem no universo desde os mecanismos mais simples da natureza aos processos mais complexos do pensamento humano. Historicamente determinados significa que os fatos sociais so criados por pessoas que tm interesses individuais e da classe a que pertencem. So esses interesses sociais, polticos, econmicos conflitantes e divergentes entre as classes sociais que fazem a humanidade caminhar em direo ao futuro. nesse caminhar coletivo onde ocorrem os processos sociais econmicos e polticos que determinam as transformaes histricas. A histria no se faz individualmente. O materialismo histrico e dialtico demonstrou que os fatos humanos so produzidos em condies objetivas concretas onde os homens pensam e realizam suas aes. As primeiras aes humanas no sentido de prover a prpria sobrevivncia colocam os homens em relao com a natureza iniciando o processo de construo do territrio atravs do trabalho. Nesse trabalho de construo da prpria territorialidade cria organizaes instituies, (a famlia, por exemplo), ideias, valores e smbolos que do sustentao e legitimidade a essas instituies e prticas. Portanto, o materialismo histrico e dialtico mostrou a alta correlao positiva existente entre a base material

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das edificaes, construes e instituies produzidas pelos homens e as ideias, valores e prticas utilizados para justificarem e legitimarem essas instituies e situaes. A cincia se coloca na Histria da Humanidade tentando dar explicaes verdadeiras aos fenmenos que envolvem toda a existncia humana e a natureza. nessa busca apaixonada e apaixonante que o homem tenta libertar-se de todas as alienaes e entraves que o escravizam e o impedem de encontrar a plena felicidade. No tenhamos dvida ou temores: A VERDADE NOS LIBERTAR.

devendo servir, sobretudo, como sugesto e perguntas que o pesquisador deve fazer a si em situaes concretas. a) Inicialmente recomendvel ter em vista um objetivo para o estudo em lugar de coletar material esperando encontr-lo no decorrer do trabalho ou s no fim deste. Este pode ser um problema relevante a resolver, uma hiptese ou um modelo terico a testar, mesmo emprestado de uma outra disciplina e que tentar aplicar para uma situao especial. Na formulao dos objetivos bem como no prprio desenvolvimento dos trabalhos, devem estar envolvidos obrigatoriamente todos os aspectos conceituais pertinentes, apresentados de forma lgica e consistente. A busca de uma contribuio ao corpo tericoconceitual da disciplina deve ser sempre uma preocupao do pesquisador, mesmo quando seu trabalho for essencialmente aplicado; b) Uma vez definido um objetivo e o quadro conceituai bsico, necessrio fazer a coleta das informaes consideradas relevantes que, podem ser conseguidas de maneira direta ou indireta, primria ou secundria, obtidas atravs de trabalho de campo, material publicado em forma numrica ou de fontes como a fotografia area ou mapas existentes. As amostras so frequentemente necessrias. c) Os dados devem ser preparados e guardados. Se so apresentados em um mapa, este torna-se um tipo de armazenagem. Dados de interesse geogrficos podem tambm ser reunidos em tabelas e particularmente em matrizes de armazenagem no precisa ser a pgina impressa: mtodos modernos, por exemplo, permitem armazen-los em grandes quantidades em cartes de computao ou fitas. d) Depois de preparar os dados, estes devem ser processados. Cada vez mais so utilizados, mtodos matemticos e inferncias estatsticas derivadas de processos matemticos. Muitas anlises precisam de computao sem isso o tempo gasto e, consequentemente, os custos seriam enormes. e) Com estes passos, os resultados devero ser encontrados. A interpretao dos resultados ser dada em forma compreensvel, seja verbal, numrica, cartogrfica ou de alguma outra forma que possa ser entendida. Os resultados confrontados com os objetivos iniciais podem indicar muitas direes: - podem ser to insatisfatrios que o pesquisador deva recomear o trabalho a partir do primeiro ou segundo passo; a este respeito, raramente o pesquisador admite a possibilidade de encontrar resultados negativos em seus trabalhos, indicando o reincio dos mesmos por um outro caminho ou a necessidade de complementao, fato de grande importncia no processo cientfico. - podem indicar suplementar; a necessidade de trabalho

Questes metodolgicAs fundAmentAisA elaborao de trabalhos acadmicos uma habilidade pontual na formao de qualquer profissional que empreende pesquisas e constri conhecimentos no decorrer de sua formao universitria. O domnio das tcnicas e dos procedimentos de elaborao e apresentao dos tratados, estudos e pesquisas garantem a qualidade formal do material em questo, facilitando os critrios de avaliao dos mesmos. Trata-se de a partir de algumas diretrizes operacionais, desenvolver um instrumental de apoio s atividades didtico-cientficas dos que buscam desenvolver competncias especficas nos seus vrios ramos de trabalho. Sabe-se que a questo da competncia supe, no apenas o domnio de contedos e tcnicas prprios especificidade da atividade profissional, como tambm o domnio de aspectos relacionados forma e sistematizao do prprio pensare a maneira de apresent-los. O processo de produo do conhecimento sobre o mundo scioambiental passa necessariamente pela reelaborao daquilo que vemos, na forma de representaes. Ou seja, para tentar compreender o mundo, sociedade e natureza preciso num primeiro momento decomp-lo e analis-lo, e depois apresentlo de uma forma descritiva convincente. Entendemos por cincia um mtodo de estudo, ou seja, um processo no qual se constri, passo a passo, um modelo da realidade, supervisionado e manejvel. Esta realidade pode envolver somente fenmenos naturais ou humanos ou ainda uma combinao dos dois. Com isto, afastamo-nos da ideia de cincia como sendo somente o estudo de certos conjuntos de fenmenos, como, por exemplo, os naturais em oposio aos humanos, problema ainda relevante em nossos dias. Cole e King (1968, p.18) afirmam, a este respeito, que a possibilidade de uma cincia existir determinada no pelo o que, mas pelo como, no pelo assunto mas pelo mtodo. Assim sendo, todos os assuntos podem ser objeto de investigaes cientficas. aquilo que a lgica chama de objeto material e o objeto formal de uma cincia. Etapas da pesquisa - Cole e King (1968, p.18-19) sugerem uma seqncia de etapas ou passos para uma pesquisa que ser mostrada a seguir, de forma simplificada. Antes, porm, preciso deixar claro que esta sequencia no relevante para todas as situaes,

- podem tambm ser apresentados como um estudo completo, contribuindo para o conhecimento do fenmeno e para o desenvolvimento do corpo tericometodolgico naquele campo especfico da cincia. A questo Induo e deduo em Geografia - Os mtodos utilizados na cincia so classificados, em

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geral, em dois grupos epistemolgicos e metodolgicos: o indutivo e o dedutivo. Dois autores, Harvey (1969) e Daugherty (1974), apresentam as principais etapas do mtodo cientfico aplicado Geografia, fazendo distino entre abordagem indutiva e a dedutiva. No mtodo indutivo movimentamo-nos dos fatos para as idias, de observaes para generalizaes, do particular para o geral. Embora sendo utilizado comumente, segundo Moss (1979, p.224), trs defeitos deste mtodo podem ser apontados: a) existe um hiato lgico entre os fatos e as idias onde impossvel especificar o passo racional atravs do qual a generalizao derivada de observaes; b) as generalizaes se referem somente ao conjunto de dados dos quais elas foram derivadas; c) permanece sempre dentro do processo de pensamento um elemento indefinvel, no limitvel, de julgamento subjetivo. Mesmo existindo estes problemas, este mtodo teve e tem ainda um papel importante na pesquisa geogrfica visando o desenvolvimento do conhecimento cientfico. Por outro lado, tambm segundo Moss, os mtodos dedutivos oferecem uma maneira mais segura para chegar a generalizaes vlidas. Neste caminho os movimentos do pensamento so do geral para o particular, das ideias para os fatos, da generalizao para a observao. Uma ideia derivada indutivamente, dedutivamente ou mesmo intuitivamente, rigorosamente estruturada de acordo com as regras de um clculo, ou seja, como um especfico e definido sistema lgico, e ento desenvolvido dedutivamente at que um conjunto de proposies observadas obtido o qual pode ser diretamente comparado com os fatos empricos, pela experimentao (Moss, 1979, p.2). Inmeros autores tm destacado que o mtodo dedutivo caracteriza bem as disciplinas cientficas mais desenvolvidas, sendo responsvel, em grande parte, pelo extraordinrio progresso cientfico e tecnolgico registrado nas ltimas dcadas em todo o mundo. Em ambas as abordagens destaca-se, de qualquer forma, a importncia da anlise dos dados. As etapas a isto referentes correspondem fase intermediria entre a formulao do problema e a proposio dos resultados. Por outro lado, a falta de relevncia de muitas anlises quantitativas e o consequente distanciamento de questes fundamentais de ordem scio-espacial e ambiental tem sido apontada nos ltimos anos. Com base em Moss (1979, p.232) podemos dizer que realmente, em muitos casos, houve uma preocupao exagerada com o tratamento dos dados e uma insuficiente ateno com o rigor do pensamento cientfico em relao aos laos que devem necessariamente existir entre as ideias e os dados. A elaborao de projetos de pesquisa Toda cincia, tem seu campo de atuao delimitado pela natureza dos problemas com os quais lida e seu progresso realizado atravs da busca da soluo desses problemas. A pesquisa cientfica, de modo geral, se inicia quando detectamos ou identificamos problemas e estabelecemos diretrizes que nos orientem na sua soluo. Essas

diretrizes compem um projeto de pesquisa que tem sua estrutura formal estabelecida nos compndios de metodologia cientfica e de pesquisa como aqueles de Salomon (1973), Rey (1972), Severino (1976), Cervo e Bervian (1972). Nesta parte vamos apenas indicar alguns pontos de importncia na formulao de projetos. O conhecimento da cincia que praticamos e da realidade que nos cerca o ponto de partida para a identificao de problemas que meream a preocupao do pesquisador. Geralmente so enunciados por frases interrogativas do tipo: at que ponto a mecanizao da agricultura responsvel pela migrao campo-cidade? ou qual a natureza e o grau de relao que existe entre a distribuio da pluviosidade e a colheita do produto x? Identificado e enunciado claramente o problema, o passo seguinte colocar esta questo num contexto mais amplo, quer quanto a outros problemas correlatos, quer dentro do conhecimento acumulado sobre o assunto. Para esse efeito, a pesquisa bibliogrfica adquire carter essencial e ajuda, alm da colocao do problema, a justificar seu estudo e demonstrar sua importncia. Problemas merecem soluo e esta a busca da Cincia, mas, a Cincia no parte para esta busca s escuras, o cientista deve estabelecer estratgias de ao que orientem a busca e no dispersem esforos em direes dispares. Este o papel das hipteses. Hipteses so solues provveis e, por isso mesmo, enunciadas atravs de frases afirmativas. So elas que orientaro todo o trabalho de coleta de dados e dirigiro a ao do pesquisador devendo, portanto, serem formuladas de maneira clara e objetiva, com base no bom senso, conhecimento da cincia e realidade. Como dissemos, hipteses so solues provveis e, como tal, deve ser testadas na sua validade como explicadoras dos fenmenos estudados. Dentro desta perspectiva, a primeira tarefa operacionalizar os conceitos constantes do problema de pesquisa e estabelecer sua mensurao. Por exemplo, o conceito de mecanizao agrcola pode ser operacionalizado e/ou mensurado atravs de horas de mquinas utilizadas por unidade de rea trabalhada nmero de tratores; valor, em cruzeiros, investido na compra de equipamentos etc. A mensurao dos conceitos guarda estreita relao com o tipo de fonte de dados que ser utilizada e com as tcnicas de anlise que pretendemos pr em prtica para o teste da hiptese. Todo o levantamento de informaes direcionado pela tomada de deciso na operacionalizao dos conceitos. Uma vez decidida a forma de operacionalizao dos conceitos podem partir para o levantamento de informaes que pode ser feito de forma direta, atravs de entrevistas, questionrios, tomadas de medidas no campo, ou indireta atravs de dados censitrios, cadastrais, mapas, fotografias ou imagens areas. Obtidos os dados ou informaes os mesmos devero ser submetidos a processos de anlise qualitativa, ou quantitativa que permitam verificao da hiptese ou das hipteses colocadas de incio.

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Alm da estrutura cientfica do trabalho, deve constar do projeto da pesquisa uma avaliao dos recursos que sero necessrios para desenvolv-lo o que direcionar a tomada de deciso quanto utilizao de amostragem para obteno de informao e tipo de elaborao que os dados devero sofrer realimentando, ento a deciso quanto aos materiais e tcnicas. Um esquema resumido de um projeto de pesquisa deve conter: 1 - Proposio do problema de pesquisa - o que? quando? onde? 2 - Justificativa, objetivos e importncia do estudo porque? para que? 3 - Hipteses - O que. Quando. Onde. 4 - Material e tcnicas e/ou mtodos - como? 5 - Custos - quanto? 6 - Bibliografia bsica referencial - quem j fez o que a respeito? 7 - Cronograma de desenvolvimento. Embora possa no ser explicitada no projeto, a questo para quem; deve ser preocupao do pesquisador que deve estar consciente do seu papel e do papel do seu trabalho na sociedade. Levantamento das informaes - A escolha da fonte de obteno de dados est diretamente relacionada ao tipo de problema, objetivos do trabalho, escala de atuao e disponibilidade de recursos e tempo. A obteno de dados primrios se realiza atravs de coleta de observaes no campo atravs de mensuraes diretas (altitudes, temperaturas, contagens) ou de entrevistas ou questionrios aplicados a sujeitos de interesse para a pesquisa. O levantamento primrio, dado ao fato de ser realizado em unidades de observao mais restritas ou mais localizadas, tem vantagens sobre os dados secundrios quer do ponto de vista do grau de detalhamento que permite quer no que diz respeito ao interesse dos quesitos levantados, quer quanto a preciso das informaes obtidas. A escolha do tipo de fonte de dados, como j ficou implcito, depende dos objetivos e amplitude do trabalho a ser realizado e da disponibilidade de tempo e recursos do pesquisador. Vale ressaltar que a escala da pesquisa restrio importante quanto utilizao de dados primrios ou secundrios pois se estamos trabalhando ou pretendemos trabalhar, por exemplo, com todo um estado, em termos do comrcio de varejo, certamente teremos dificuldade realizar um levantamento a nvel de estabelecimentos varejistas mas, teremos resultados num grau de generalizao aceitvel se trabalharmos com dados censitrios a nvel de municpios. Da mesma forma, se nosso foco de pesquisa um municpio, de nada adiantaro os dados publicados pelos censos, desde que a unidade mnima de observao, neste caso, deve ser o estabelecimento agrcola ou comercial propriedade ou cada residncia ou ainda postos meteorolgicos especiais.

Noes de amostragem - H situaes em que um levantamento completo invivel, seno impossvel, devido a restries de custo, tempo, material, mo de obra etc., o que nos leva a adotar a amostragem como soluo. Antes de qualquer discusso, alguns termos especiais devem ser conhecidos e entendidos: - amostra - uma parte representativa de uma populao. - amostragem - o processo de retirada da amostra. - populao - um conjunto de elementos com uma caracterstica comum (no caso da Geografia poderia ser o conjunto de propriedades agrcolas plantadoras de cana do municpio x ou o conjunto dos postos fluviomtricos da do rio y). - unidades amostrais (ou unidades taxonmicas de observao) so elementos a partir dos quais so levantadas as informaes (por exemplo, municpios, propriedades agrcolas, postos meteorolgicos, pontos em fotos areas, estabelecimentos comerciais ou industriais). As unidades amostrais podem ser espaciais (pontos, linhas e reas) ou no espaciais (dados j existentes de levantamentos peridicos como censos, ou contnuos como registro civil, dados climticos). A amostragem tem sido usada de longa data pelos pesquisadores, embora em sentido diferente do uso atual em pesquisa. De qualquer forma, devemos lembrar que amostras intencionais no se prestam a tratamentos estatsticos que levem a inferncias sobre a populao sendo seus resultados vlidos apenas dentro dos limites da prpria amostra. A amostragem probabilstica se caracteriza por privilegiar o elemento chance na escolha das unidades amostrais. A aleatoriedade da seleo dos indivduos amostrados o princpio bsico deste tipo de amostragem que se assenta em teorias e regras matematicamente estabelecidas de tal sorte que os resultados obtidos para a amostra podem ser estendidos para a populao com grau de confiana determinado. O tamanho da amostra - Decidido a utilizar amostragem em seu trabalho, o pesquisador levado a se perguntar quantas unidades amostrais devo selecionar para poder representar com certo grau de confiana minha populao?. O problema do tamanho da amostra tem sido discutido em dezenas de livros de estatstica e quantificao em Geografia e basicamente funo do nmero de indivduos componentes da populao, sua variabilidade e nvel de preciso desejada para as inferncias a partir da amostra. Assim, regra geral, quanto maior o nmero de indivduos na populao, proporciona/mente menor o nmero de indivduos que devem ser selecionados pela amostra. Quanto maior a variabilidade da populao, maior deve ser a amostra, para representar esta variabilidade. Quanto maior o grau de preciso desejado, maior deve ser a amostra.

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No trataremos nesta oficina das formas de estabelecimento do nmero ideal de indivduos que deve conter uma amostra, mas reproduzimos uma tabela, em que, a partir do tamanho de N (nmero de indivduos

que compem a populao), nos d o tamanho de A (nmero de indivduos que devem compor a amostra), com a qual poderemos facilmente trabalhar.

Determinao do tamanho da amostra a partir do tamanho da populaoTamanho da populao 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 Tamanho da amostra 10 14 19 24 28 32 36 40 44 48 52 56 59 63 66 70 73 76 80 86 92 97 103 108 113 118 123 127 132 136 Tamanho da populao 220 230 240 250 260 270 280 290 300 320 340 360 380 400 420 440 460 480 500 550 600 650 700 750 800 850 900 950 1.000 1.100 Tamanho da amostra 140 144 148 152 155 159 162 165 169 175 181 186 191 196 201 205 210 214 217 226 234 242 248 254 260 265 269 274 278 285 Tamanho da populao 1.200 1.300 1.400 1.500 1.600 1.700 1.800 1.900 2.000 2.200 2.400 2.600 2.800 3.000 3.500 4.000 4.500 5.000 6.000 7.000 8.000 9.000 10.000 15.000 20.000 30.000 40.000 50.000 75.000 1.000.000 Tamanho da amostra 291 297 302 306 310 313 317 320 322 327 331 335 338 341 346 351 354 357 361 364 367 368 370 375 377 379 380 381 382 384

Fonte: KREJCIE, R. V. e MORGAN, D. W. Determining sample size for research activities. Educational and Psychological Measurement, 30(3): 607-610, 1970

BibliografiaARON, Raymond. As etapas do pensamento sociolgico. So Paulo, Martins Fontes; Braslia: Editora da Universidade de Braslia, 1982. CAPEL, Horacio. El positivismo y la geografia. In: Filosofia y Ciencia en la Geografia Contempornea. Barcelona, Editorial Barcanova, 1981, cap. X, pag. 267-311. GIANNOTTI, Jose Arthur. (Org.) DURKEHIM, Emile. So Paulo, Abril cultural, 1983, 2a ed. (Coleo Os Pensadores). MARCUSE, Herbert. Razo e Revoluo. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978 (4a edio). MONDIN. Batista. Os Positivistas. In: Curso de Filosofia. So Paulo, Edies Paulinas, 1983, vol. 3, cap. VI, pag. 112-126). MORAES FRANCISCO, Evaristo de. Comte - Sociologia. So Paulo, tica, 1989. (Coleo Grandes Cientistas Sociais).

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2. ELABORAO DE PROJETOS CIENTFICOSAna Claudia Maquin Dutra

PorQue elAborAr um Projeto de PesQuisAComo toda atividade racional e sistemtica, a pesquisa exige que as aes desenvolvidas ao longo de seu processo sejam efetivamente planejadas. De modo geral, concebe-se o planejamento como a primeira fase da pesquisa, que evolve a formulao do problema, a especificao de seus objetivos, a construo de hipteses, a operacionalizao dos conceitos etc. A moderna concepo de planejamento, apoiada na Teoria Geral dos Sistemas, envolve quatro elementos necessrios a sua compreenso: processo, eficincia, prazos e metas. Assim, nessa concepo, o planejamento da pesquisa pode ser definido como o processo sistematizado mediante o qual se pode conferir maior eficincia investigao para em determinado prazo alcanar o conjunto das metas estabelecidas. O planejamento da pesquisa concretiza-se mediante a elaborao de um projeto, que o documento explicitador das aes a serem desenvolvidas ao longo do processo de pesquisa. O projeto deve, portanto, especificar os objetivos da pesquisa, apresentar a justificativa de sua realizao, definir a modalidade de pesquisa e determinar os procedimentos de coleta e anlise de dados. Deve, ainda, esclarecer do cronograma a ser seguido no desenvolvimento da pesquisa e proporcionar a indicao dos recursos humanos, financeiros e materiais necessrios para assegurar o xito da pesquisa.

Definio dos recursos humanos, financeiros a serem alocados.

materiais

e

como formulAr um ProblemA de PesQuisA?O que mesmo um problema? Toda pesquisa se inicia com algum tipo de problema, ou indagao. Todavia, a conceituao adequada de problema de pesquisa no constitui tarefa fcil, em virtude das diferentes acepes que envolvem este termo. O dicionrio Houaiss da Lngua portuguesa indica os seguintes significados de problema: 1. Assunto controverso, ainda no satisfatoriamente respondido em qualquer campo do conhecimento, e que pode ser objeto de pesquisas cientficas ou discusses acadmicas. 2. Questo levantada para inquirio, considerao, discusso ou soluo. 3. Situao difcil, conflito. A primeira acepo a que ser considerada, pois a que mais propriamente caracteriza o problema de pesquisa cientfica. Assim fica claro que nem todo problema passvel de tratamento cientfico. Isso significa que para se realizar uma pesquisa necessrio, em primeiro lugar, verificar se o problema cogitado se enquadra na categoria de cientfico. Pode-se dizer que um problema de natureza cientfica quando envolve proposies que podem ser testadas mediante verificao emprica. Sejam os exemplos: Em que medida a escolaridade influencia na preferncia poltico-partidria?, A desnutrio contribui para o rebaixamento intelectual?. Estes so problemas que envolve variveis suscetveis de observao. possvel, por exemplo, identificar a preferncia poltico-partidria dos integrantes de um grupo social, bem como seu nvel de escolaridade para depois verificar em que medida esses fatores esto relacionados entre si. A formulao do problema no se faz mediante a observao de procedimentos rgidos e sistemticos. No entanto, existem algumas condies que facilitam essa tarefa, tais como: imerso sistemtica no objeto, estudo da literatura existente e discusso com pessoas que acumulam muita experincia prtica no campo de estudo (SELLTZ, 1967). A experincia acumulada dos pesquisadores possibilita ainda o desenvolvimento de certas regras prticas para a formulao de problemas cientficos, tais como: a) o problema deve ser formulado como pergunta; b) o problema deve claro e preciso; c) o problema deve ser emprico; d) o problema deve se suscetvel de soluo; e) o problema deve ser delimitado a uma dimenso vivel.

Quais os elementos de um projeto de pesquisa?No h, evidentemente, regras fixas acerca da elaborao de um projeto. Sua estrutura determinada pelo tipo de problema a ser pesquisado e tambm pelo estilo de seus autores. necessrio que o projeto esclarea como se processar a pesquisa, quais as etapas que sero desenvolvidas e quais os recursos que devem ser alocadas para atingir seus objetivos. necessrio, tambm, que o projeto seja suficientemente detalhado para proporcionar a avaliao do processo de pesquisa. Os elementos habitualmente requeridos num projeto so os seguintes: Formulao do problema; Construo objetivos; de hiptese ou especificao dos

Identificao do tipo de pesquisa; Operacionalizao das variveis; Seleo da amostra; Elaborao dos instrumentos e determinao da estratgia de coleta de dados; Determinao do plano de anlise dos dados; Previso da forma de apresentao dos resultados; Cronograma da execuo da pesquisa;

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como construir hiPtese?O que so Hipteses?Foi dito anteriormente que a pesquisa cientfica se inicia com a construo de um problema passvel de soluo mediante a utilizao de mtodos cientficos. O passo seguinte consiste em oferecer uma soluo possvel, mediante a construo de hipteses. Por hiptese entende-se uma suposio ou explicao provisria do problema. Essa hiptese, que em sua forma simples consiste numa expresso verbal que pode ser definida como verdadeira ou falsa, deve ser submetida a teste. Se em decorrncia do teste for reconhecida como verdadeira, passa a ser reconhecida como resposta ao problema. As hipteses podem se apresentar em diferentes nveis de formulao. Algumas so casusticas, ou seja, referem-se a algo que ocorre em determinado caso. Outras so capazes de descrever um fenmeno. H, por fim, hipteses que especificam relaes entre dois ou mais fenmenos. Estas ltimas so as que mais interessam investigao cientfica e correspondem definio por Kerlinger (1980, p. 38): Uma hiptese um enunciado conjectural das relaes entre duas ou mais variveis. Nem todas as hipteses so testveis. Com frequncia, os pesquisadores elaboram extensa relao de hipteses e depois de detida anlise descartam a maior parte delas. Para que uma hiptese possa ser considerada logicamente aceitvel, deve apresentar determinadas caractersticas. Deve-se considerar alguns requisitos para formulao de uma hiptese: a) deve ser conceitualmente clara; b) deve ser especfica; e c) deve ter preferncia emprica.

por objetivo estudar as caractersticas de um grupo: sua distribuio por idade, sexo, procedncia, nvel de escolaridade, estado de sade fsica e mental etc. Outras pesquisas deste tipo so as que se propem a estudar o nvel de atendimento dos rgos pblicos de uma comunidade, as condies de habitaes de seus habitantes, o ndice de criminalidade que a se registra etc. As pesquisas explicativas tm como propsito fatores que determinam e contribuem para a ocorrncia de fenmenos. Estas pesquisas so as que mais aprofundam o conhecimento da realidade, pois tm como finalidade explicar a razo, o porqu das coisas.

Como classificar as pesquisas segundo os mtodos empregadosPara que se possa avaliar a qualidade dos resultados de uma pesquisa, torna-se necessrio saber como os dados foram obtidos, bem como os procedimentos adotados em sua anlise e interpretao. Defini-se alguns dos delineamentos de uma pesquisa: Pesquisa Bibliogrfica elaborada com base em material j publicado com livro, jornais, teses, revistas, dissertaes e anais de eventos cientficos, revistas e peridicos digitais, e outros. Pesquisa Documental utilizada em praticamente todas as cincias sociais e constitui um dos delineamentos mais importantes no campo da histria e da economia. Assemelha-se a pesquisa bibliogrfica, porm a pesquisa bibliogrfica fundamenta-se em material elaborado por autores para ser lido por publico especfico. J a pesquisa documental vale-se de toda a sorte e documentos, elaborados com finalidades diversas autorizao, comunicao, etc. Pesquisa Estudo de caso uma modalidade de pesquisa que consiste no estudo profundo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento. Pesquisa-ao um tipo de pesquisa com base emprica que concebida e realizada em estreita associao com uma ao ou ainda, com a resoluo de um problema coletivo, onde todos os pesquisadores e participantes esto envolvidos de modo cooperativo e participativo. Pesquisa Participante uma modalidade de pesquisa que tem como propsito auxiliar a populao envolvida a identificar por si mesma os seus problemas, a realizar a anlise crtica destes e a buscar as solues adequadas. Seleo da Amostra to logo tenha sido delimitado o universo da pesquisa, surge o problema de delimitar os elementos que sero pesquisados. Quando o universo de investigao geograficamente concentrado e pouco numeroso, convm que sejam pesquisados todos os elementos. Isto importante para garantir a conscientizao e a mobilizao da populao a ser pesquisada. Quando, porm, o universo numeroso e esparso, recomendvel a seleo de uma amostra. Coleta de Dados so inmeras as ferramentas de coletas de dados que sero escolhidas a partir do tipo de pesquisa a ser desenvolvido:

PorQue definir objetivos?O objetivo serve para nortear o trabalho, para traar o que deve ser alcanado.

Como classificar as pesquisas segundo seus objetivos mais geraisToda pesquisa tem seus objetivos, que tendem, naturalmente, a ser diferentes dos objetivos de qualquer outra. No entanto em relao aos objetivos mais gerais, ou propsito, as pesquisas podem ser classificadas em exploratrias, descritivas e explicativas. As pesquisas exploratrias tm como propsito proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torn-lo mais explicito ou a construir hipteses. Seu planejamento tende a ser bastante flexvel, pois interessa considerar os mais variados aspectos relativos ao fato ou fenmeno estudado. Pode-se afirmar que a maioria das pesquisas realizadas com propsitos acadmicos, pelo num primeiro momento pouco provvel que o pesquisador tenha uma definio clara ir investigar. As pesquisas descritivas tm como objetivo a descrio das caractersticas de determinada populao. Podem ser elaboradas tambm com a finalidade de identificar possveis relaes entre variveis. Entre as pesquisas descritivas, salientam-se aquelas que tm

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a) Questionrio aberto ou semi-aberto; b) Entrevista estruturada ou semi-estruturada; c) Mapa Mental; d) Grupos Operativos; e) Histria de vida; f) Observao participante;

Banco de Dados uma coleo de dados inter-relacionados, representando informaes sobre um domnio especfico. Exemplos: Livro de registo de nascimentos, lista telefnica;

QualitativoIndaga porque determinado fato ou problema est ocorrendo - Estudar as motivaes; - indutivo; - Ajuda a definir hipteses; - exploratrio; - Permite conhecer tendncias, comportamentos e atitudes e etc; - Fornece informaes detalhadas a perguntas ou problemas sobre projeto ou atividade do mesmo, - No permiti inferir resultados a toda uma populao

referenciAl tericoO desenvolvimento terico ai de uma viso mais ampla at a idia principal do trabalho; Definir quais os tericos que esto na linha de pensamento da linha terica j definida (positivismo, fenomenologia, dialtica); Fazer um fichamento da idias principais das obras que correspondem a recorte do trabalho; Organizao das informaes para a organizao lgica do trabalho.

Anlise dos dAdos o processo pelo qual se d ordem, estrutura e significado aos dados. Consiste na transformao dos dados coletados em concluses e/ou lies, teis e credveis. A partir dos tpicos estabelecidos processam-se os dados, procurando tendncias, diferenas e variaes na informao obtida.

Quantitativo(a)- Estuda aes ou intervenes; - Fornece dados para provar hipteses; - indutivo; - conclusivo; - Mede o nvel das intervenes, tendncia e atividades; - Produz informao quantificveis sobre a magnitude de um problema, mas no fornece informao sobre o motivo do fato que est ocorrendo; - possvel inferir os resultados a toda uma populao.

Propsito da Anlise de Dados- Descrever e Resumir dados - Identificar relaes e diferenas entre variveis - Comparar variveis

BIBLIOGRAFIAGIL, Antonio Carlos. Como elaborar projeto de pesquisa. 5 ed. So Paulo: Atlas, 2010.

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3. NORMAS TCNICAS DA APRESENTAO ESCRITA DO TRABALHO CIENTFICOElisabet Alfonso Peixoto

Artigo cientficoConforme a NBR 6022 (2003), o artigo cientfico consiste:[...] parte de uma publicao com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, mtodos, tcnicas, processos e resultados nas diversas reas do conhecimento.

texto do autor o artigo trata e similares, figuras, tabelas, grficos, frmulas, equaes e diagramas. A extenso recomendada, segundo a revista Acta Amazonica para os resumos informativos a seguinte: - Notas e comunicaes = at 150 palavras; Artigos = at 250 palavras. - Palavras-chave: em nmero de trs a cinco. Cada palavra-chave pode conter dois ou mais termos. Porm, no repetir palavras utilizadas no ttulo. Separ-las por vrgula (segundo normas da Acta). - Abstract (em ingls) ou Resumen (em espanhol) ou Rsum (em francs): Conforme a NBR 6022 (2003), a verso do texto do resumo em lngua estrangeira um elemento obrigatrio. - Keywords (em ingls) ou Palabras clave (em espanhol) ou Mots-cls (em francs): aqui as palavraschave so traduzidas para a mesma lngua estrangeira do resumo. b) Textuais: Introduo, desenvolvimento concluso segundo a Acta Amazonica; e

A referida norma estabelece duas modalidades de acordo com os procedimentos tcnicos que sero utilizados na sua construo. Assim, o artigo pode ser: a) original: que consiste numa publicao que apresenta temas ou abordagens originais a partir de relatos de experincia, pesquisa de campo, estudos de caso, etc; b) reviso: consiste numa publicao que resume, analisa e discute informaes j publicadas.

APresentAo de Artigos nA revistA ActA AmAzonicA- Ttulo; - Nome do(s) autor(es); - Endereo institucional e eletrnico; - Resumo; - Palavras Chave; - Abstract, keywords (palavras-chave em ingls); - Introduo; - Material e Mtodos; - Resultados e Discusso; - Concluses; - Agradecimentos (includo apoio financeiro); - Bibliografia Citada.

- Introduo: Deve enfatizar o propsito do trabalho e fornecer de forma sucinta o estado do conhecimento sobre o tema em estudo e especificar claramente os objetivos ou hipteses a serem testados. No incluir resultados ou concluses na introduo. A introduo tem a funo de despertar o interesse do leitor em relao ao texto. Assim, recomenda-se que a introduo seja a ltima parte do trabalho a ser redigida. - Metodologia: Descreve a delimitao do universo estudado (populao e amostra), o mtodo e as tcnicas de coleta de dados, como foram desenvolvidas as etapas da pesquisa e suas limitaes. Deve sempre ser escrito com o verbo no tempo passado, pois descreve o que j foi investigado. Nesta parte do trabalho podem ser usados subttulos para as partes. - Material e Mtodos: Seo organizada cronologicamente deve explicar os procedimentos realizados, de tal modo que outros pesquisadores possam repetir o estudo, o procedimento estatstico utilizado deve ser descrito nesta seo. Procedimentos-padro devem ser apenas referenciados e o equipamento especfico utilizado no estudo deve ser descrito (modelo, fabricante, cidade e pas de fabricao). - Apresentao de resultados: Esta fase do artigo designada a apresentar e interpretar os resultados alcanados de forma direta, objetiva, sucinta e clara, apontando sua significncia e sua relevncia. Pode-se fazer uso de tabelas e figuras para apresentao dos resultados. - Resultados e discusses: Apresentar os dados obtidos com o mnimo de julgamento pessoal, no necessrio repetir no texto toda a informao contida em tabelas e figuras.

estruturA do Artigo cientficoUm artigo cientfico composto por um texto integral, com os seguintes elementos: a) Pr-textuais: Ttulo, Nome(s) do(s) Autor(es), Resumo na lngua do texto e as palavras-chave na lngua do texto, resumo e palavras-chave em lngua estrangeira; - Ttulo: Deve representar a ideia central do trabalho. - Resumo: De acordo com NBR 6028 (2003), uma descrio sumria da totalidade do artigo, em que so destacados os objetivos, o mtodo, os resultados e concluses. Uso do verbo na voz ativa e na terceira pessoa do singular. Deve-se evitar o uso de pargrafos, frases longas, citaes e descries ou explicaes detalhadas, expresses do tipo: o autor trata, no

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Os algarismos devem estar separados de unidades: 60 C e NO 60 C; exceto para percentagem 5% e NO 5 %. Utilizar unidades e smbolos do sistema internacional e simbologia exponencial: (19g kg-1). A discusso deve ter como alvo os resultados obtidos. Evitar mera especulao. Entretanto, hipteses bem fundamentadas podem ser incorporadas. Apenas referncias relevantes devem ser includas. - Concluses: Este item contm a interpretao dos resultados obtidos no trabalho. Podem ser apresentadas como um tpico separado ou includas na seo de resultado discusso. c) Ps-textuais: Ttulo em lngua estrangeira (se houver), nota(s) explicativas(s), referncias, glossrio, apndice(s), anexo(s). - Bibliografia citada: Pelo menos 70% das referncias devem ser artigos de peridicos cientficos publicados nos ltimos 10 anos. Os nomes dos autores devem ser citados em ordem alfabtica e as referncias devem se restringir a citaes que aparecem no texto. Nesta seo, o ttulo do peridico NO deve ser abreviado. Exemplos de organizao das referencias: a) Artigos de peridicos: Walker, I. 2009. Omnivory and resource - sharing in nutrient - deficient Rio Negro Waters: Stablilization of biodiversity? Acta Amazonica, 39: 617-626. Alvarenga, L.D.P.; Lisboa, R.C.L. 2009. Contribuio para o conhecimento da taxonomia, ecologia e fitogeografia de brifitas da Amaznia Oriental. Acta Amazonica, 39: 495-504. b) Dissertaes e teses: Ribeiro, M.C.L.B. 1983. As migraes dos jaraquis (Pisces: Prochilodontidae) no rio Negro, Amazonas, Brasil. Dissertao de Mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia/Fundao Universidade do Amazonas, Manaus, Amazonas. 192 pp. c)Livros: Goulding, M. 1980. The fishes and the forest. Explorations in Amazonian natural history. University of California Press, Berkeley, CA, USA. 280 pp. d)Captulos de livros: Absy, M.L. 1993. Mudanas da vegetao e clima da Amaznia durante o Quaternrio, p. 3-10. In: Ferreira, E.J.G.; Santos, G.M.; Leo, E.L.M.; Oliveira, L.A. (Eds.). Bases cientficas para estratgias de preservao e desenvolvimento da Amaznia. v.2. Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia, Manaus, Amazonas.

e) Citao de fonte eletrnica: CPTEC, 1999. Climanalise, 14: 1-2 (www.cptec.inpe. br/products/climanalise). Acesso em 19/05/1999. - Citaes No texto, citaes de referncias seguem a ordem cronolgica. Para duas ou mais referncias do mesmo ano citar conforme a ordem alfabtica. Exemplos: Um autor: Pereira (2007) ou (Pereira, 2007). Os desequilbrios dos minerais na dieta animal podem ocorrer tanto pela deficincia como pelo excesso (Pereira, 2007); Outros autores como Pereira (2000) e Menezes (2005) encontraram percentuais de lipdeos. Dois autores: Oliveira e Souza (2003) ou (Oliveira e Souza, 2003). Planta usada contra picadas de cobra e ferradas de arraia (Amorozo e Gly, 1998). Segundo Carvalho e Freitas (1995), o camu-camu um dos frutos mais importante da regio. Trs ou mais autores: Rezende et al. (2002) ou (Rezende et al., 2002). Barbosa et al. (2005) descreveram achados clnicos e epidemiolgicos das enfermidades que acometem bfalos na Amaznia... Quantidades absorvidas de ferro pelas plantas (Foy et al., 1978) justificando os resultados obtidos (....) Citaes de anos diferentes (ordem cronolgica) Silva (1991), Castro (1998) e Alves (2010) ou (Silva 1991; Castro 1998; Alves 2010). Citaes no mesmo ano (ordem alfabtica) Ferreira et al. (2001) e Fonseca et al. (2001); ou (Ferreira et al. 2001; Fonseca et al. 2001). - Tabela As tabelas so informaes numricas que indicam o calculo de um resultado proporcionado pela informao constante na clula vertical x horizontal e devem ser organizadas e numeradas sequencialmente em algarismos arbicos. O nmero mximo de tabelas de cinco para os artigos e de duas tabelas para as comunicaes e notas cientficas. A numerao e o ttulo (breve e descritivo) devem estar em posio superior tabela. A tabela pode ter notas de rodap. O significado das siglas utilizadas na tabela (cabealhos, etc) deve ser descrito no ttulo ou no rodap. Exemplo:

Tabela 1. Caractersticas fsicas dos frutos de camu-camu oriundo de terra firme (Fazenda Yurikan)Fruto (g) Mdia CV (%) 9,21 1,63 17,69 Mesocarpo (g) 4,02 0,87 21,69 Epicarpo (g) Semente (g) 2,572 0,28 10,81 Dimetro transversal (cm) 2,60 0,73 2,57 0,27 27,98 10,5 Dimetro longitudinal (cm) 2,59 0,32 12,8

CV= coeficiente de variao

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- Figuras Fotografias, desenhos e grficos devem ser de alta resoluo, em preto e branco com alto contraste, numerados sequencialmente em algarismos arbicos. A legenda da figura deve estar em posio inferior a esta. Em grfico de disperso, pode-se usar smbolos abertos ou slidos (crculos, quadrados, tringulos, ou losangos) e linhas em preto (contnuas, pontilhadas ou tracejadas). Para grfico de barra, pode-se usar barras pretas, bordas pretas, barras listradas ou pontilhadas. Na borda da rea de plotagem utilizar uma linha contnua e fina, porm NO usar uma linha de borda na rea do grfico. Evitar legendas desnecessrias na rea de plotagem. Nas figuras, NO usar letras muito pequenas (< tamanho 10 pt), nos ttulo dos eixos ou na rea de plotagem. Nos eixos (verticais, horizontais) usar marcas de escala internas. NO usar linhas de grade horizontais ou verticais, exceto em mapas ou ilustraes similares. O significado das siglas utilizadas deve ser descrito na legenda da figura. No manuscrito, as figuras devem limitar-se a sete e devem ser de alta qualidade. As figuras devem estar dimensionadas de forma compatvel com as dimenses da Revista, ou seja, largura de uma coluna (8 cm) ou de uma pgina 17 cm e permitir espao para a legenda.

As ilustraes podem ser redimensionadas durante a processo de produo para otimizar o espao da Revista. Na figura, quando for o caso, a escala deve ser indicada por uma linha ou barra (horizontal) e, se necessrio, referenciadas na legenda da figura, por exemplo, barra = 1 mm. No texto, a citao das figuras deve ser com letra inicial maiscula, na forma direta ou indireta (entre parntesis). Por exe.: Figura 1 ou (Figura 1). Na legenda, a figura deve ser numerada seguida de ponto antes do ttulo. Por exe.: Figura 1. Anlise... Para figuras no originais ou publicadas anteriormente, os autores devem informar explicitamente no manuscrito que a permisso para reproduzi-las foi concedida. As fotografias e ilustraes (Bitmap) devem estar no formato Jpeg ou Tiff, em alta resoluo (mnimo de 300 dpi). Em grficos de disperso ou de barras utilizar o formato Xls, Eps, Cdr, Ai ou Wmf. Arquivos que sejam relevantes para o entendimento do artigo como audio, video, etc, devem ser carregados no sistema da Revista Cincia na Escola em arquivo separado, como um documento suplementar. Exemplo:

Quadro 1. Espcies Micobacterianas conforme a condio de patogenicidade para o homem. PATOGNICAS M. tuberculosis M. Africanum M. bovis M. genavense M. haemophilum M. kansasii M. gordonae M. hassiacum M. microti M. microti M. malmoense M. marinum M. scrofulaceum M. obuense M. parafortuitum M. porcinum M. leprae M. simiae M. szulgai M. xenopi M. shimoidei M. smegmatis M. thermoresistibile POTENCIALMENTE PATOGNICAS M. avium M branderi M . A v i u m M. celatum paratuberculosis M. asiaticum M. fortuitum RARAMENTE PATOGNICA M. agri M. aichiense M. brumae M. cooki M. diernhoferi M. farcinogenes

Figura 1 Etapas de processamento das amostras de escarroCurso de Metodologia da Pesquisa Cientfica Aplicada Educao Bsica - PCE/2012

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4. REDAO DO TRABALHO CIENTFICORoberto Monteiro de Oliveira

Algumas qualidades de um bom textoA redao de trabalhos acadmicos e de artigos para peridicos cientficos se reveste de algumas caractersticas que devem ser obedecidas pelo autor para que a transmisso da informao e a sua compreenso por parte do leitor sejam eficazes. Alguns dos princpios bsicos desta interao que deve existir entre autor e leitor so os seguintes, sem qualquer ordem de prioridade: 1- Clareza de expresso Tudo que tiver sido escrito deve ser perfeitamente compreensvel pelo leitor. Este no deve ter nenhuma dificuldade para entender o texto. As sentenas esto bem construdas? As ideias esto bem encadeadas? H uma sequncia adequada na apresentao dos seus resultados e de sua argumentao? Leia cuidadosamente o que escreveu como se voc fosse o seu leitor. Ser que ele estar recebendo a mensagem que quer transmitir? Se voc tropear na leitura, pior ser com seu leitor. 2- Objetividade na apresentao Convm escolher criteriosamente o material que ser utilizado no texto de uma dissertao, tese ou artigo. Nem tudo que foi observado durante a execuo do trabalho ou que foi lido na literatura dever ser necessariamente relatado ao leitor. Muitas observaes talvez tenham sido importantes em uma determinada fase do projeto, mas perderam sua importncia. Terminado o trabalho, alguns tpicos talvez acabaram se revelando apenas como tentativas de anlises ou de experimentos, mas que terminaram em becos sem sada. H observaes e argumentos que no contribuem com a ideia central do relato e desviam a ateno do leitor para pontos menos importantes. Selecione a informao que voc dispe e apresente s o que for relevante. O leitor quer um relato lgico, objetivo e, se possvel, retilneo tanto das observaes como do raciocnio feitos pelo autor. Isto ainda mais importante em um artigo, em que a conciso geralmente desejada pelo peridico e pelo leitor. 3- Preciso na linguagem A linguagem cientfica deve ser precisa. As palavras (e, se for o caso, seus acompanhantes figuras, grficos, tabelas) so signos, so smbolos, por isso elas necessitam ser decodificadas pelo leitor, medida que este percorre o texto. Ser que os signos so facilmente decodificveis? Muitos signos tm vrias possibilidades de decodificao (muitas palavras tm vrios significados). Cuidado com termos vagos ou que podem ser mal interpretados. Para o leitor, nada deve ficar obscuro ou subentendido. As palavras e figuras que entraro no seu texto devem ser escolhidas com cuidado para exprimir o que voc tem em mente. Os vrios sinnimos de uma palavra tm

diferenas pequenas e sutis entre si. Voc est usando sempre aquele que melhor transmite seu pensamento? Vale a pena pensar em cada uma das palavras a serem usadas no seu texto assim como no conjunto lgico que elas devem iro constituir. 4- Utilizao correta das regras da lngua No necessrio perder muito tempo e espao com esta recomendao, escrever erradamente pode resultar de ignorncia ou de desleixo. Se for por ignorncia, informe-se melhor, consulte dicionrios e textos de gramtica. Se for por desleixo, o leitor (e membro da Banca Examinadora) ter todo direito de pensar que o trabalho em si tambm foi feito com desleixo. Seja qual for a razo, um desrespeito ao leitor, portanto ao redigir, coloque-se sempre na posio do leitor.

mAnuAl de redAo cientficAGian Danton

ApresentaoEste livro surgiu quando percebi a dificuldade que meus alunos tinham para escrever cientificamente. O texto cientfico muito diferente de uma dissertao de vestibular. Um aluno tpico de graduao ou de cursos sequenciais tem uma srie de dvidas: Como fazer uma referncia bibliogrfica? Como fazer uma citao? Como fazer uma bibliografia? Resenha o mesmo que resumo? Para que serve o fichamento? Esse livro pretende responder a essas questes de forma simples e prtica. Ele destinado, portanto, a estudantes que esto se iniciando na redao cientfica, que precisam fazer um trabalho para determinada disciplina, mas no sabem como faz-lo. Para evitar que a obra se tornasse demasiadamente extensa, no foram abordados aspectos metodolgicos. Se voc encontra dificuldades metodolgicas, procure livros sobre o assunto. H timas obras de metodologia cientfica no mercado.

IntroduoAs caractersticas da redao cientfica A redao cientfica apresenta algumas caractersticas que a diferenciam de todos os outros tipos de redao. A primeira delas, claro, refere-se ao objetivo. Um texto cientfico no pretende divertir ou distrair (embora possa fazer essas duas coisas). Sua inteno transmitir informaes cientficas. Mas aqui h uma diferena. Existem dois tipos de textos relacionados cincia. O primeiro seria a comunicao cientfica primria. Nesse caso, o cientista divulga sua descoberta ou suas ideias para outros cientistas. E h a comunicao cientfica secundria, em que o cientista escreve para o leigo.

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Atualmente apenas o primeiro tipo tem sido considerado um texto cientfico. O segundo caso, em que o cientista escreve para no-cientistas, seria divulgao cientfica. O texto cientfico (comunicao primria) representado pelas monografias, papers, artigos cientficos e resenhas publicadas em revistas especializadas. A divulgao cientfica representada pelos artigos em jornais e revistas populares, como a Superinteressante e a Galileu. A redao cientfica apresenta algumas caractersticas formais muito facilmente perceptveis. A primeira delas a utilizao do argumento da autoridade. Cada informao importante deve ser validada e confirmada por uma autoridade no assunto. Essa a razo pela qual os textos cientficos tm tantas citaes. A segunda caracterstica formal a linguagem unvoca. Ou seja, cada palavra importante deve ser muito definida para evitar dupla interpretao. O correto que todas as pessoas que leiam o texto o compreendam da mesma maneira, ao contrrio da literatura, que busca a linguagem plurvoca. Ou seja, cada vez que lemos um bom livro, temos uma interpretao diferente. Isso, que uma caracterstica da boa literatura, um pecado mortal em um texto cientfico. Os textos que apresento a seguir mostram bem essa diferena entre um texto cientfico e um texto de divulgao cientfica. Ambos discutem alguns aspectos bsicos da epistemologia e do, ao leitor, uma ideia bsica a respeito da discusso sobre o que cincia e o que distingue o conhecimento cientfico de outros tipos de conhecimento. Reparem que a estrutura do primeiro mais rgida e que h a utilizao quase excessiva do argumento da autoridade. Cada afirmao importante acompanhada de uma afirmao semelhante de uma autoridade, a fim de refor-la. Por outro lado, o texto muito preocupado com o rigor no uso das palavras. Evita-se o uso de metforas ou de frases que possam ter dupla significao.

os contextos da descoberta e da justificativa. Como explica Isaac Epstein, tal distino remonta a Hans Reinchenbach: Eu introduzirei os termos contexto da descoberta e contexto da justificativa para marcar a bem conhecida diferena entre o modo como o pensador descobre seu teorema e a sua maneira de apresent-lo ao pblico. A imaginao pertence ao contexto da descoberta e os cientistas que defendem tal separao, pregam que esse um contexto que no interessa cincia. Hempel explica essa valorizao: O que determina a solidez de uma hiptese no o modo como se chegou a ela (pode ter sido sugerida at mesmo por um sonho ou por uma alucinao), mas o modo como se mantm quando confrontada com os dados relevantes relacionados com a observao. Essa maneira de ver a cincia faz parte de uma tentativa de purificao da mesma. Seus idealizadores pretendiam, com isso, facilitar a distino entre o que o que no cientfico. Assim, a maneira pela qual o cientista chegou ao seu descobrimento seria irrelevante, algo a ser estudado pela histria ou pela psicologia da cincia. O que interessaria realmente seria como a hiptese se aguentaria depois de examinada, justificada, criticada e aferida Isaac Epstein, no entanto, argumenta que essa diviso sublinhada muito mais pelos autores cujos trabalhos se incluem no contexto da justificao do que por aqueles que se ocupam do contexto da descoberta:Para esses ltimos (Feyerabend um exemplo) a prpria diviso dos contextos irrelevante e artificial. Khun duvida da validade da distino.

O trabalho de Kuhn, ao mostrar que a cincia caminha ao passo das revolues e no da evoluo continuada, valoriza os aspectos sociais e principalmente histricos da cincia. Sua obra pertence ao contexto da descoberta. Kuhn, alis, reclama da pouca ateno dada histria da cincia: Se a histria da cincia fosse vista como algo mais que um repositrio para anedotas e cronologias, poderia produzir uma transformao decisiva na imagem da cincia que atualmente nos domina. Da mesma forma, a imaginao no valorizada pela cincia que, com isso, corre o risco de parecer ingrata. Segundo Edgar Morin,A imaginao, a iluminao, a criao sem as quais o progresso das cincias no teria sido possvel, s entravam na cincia s escondidas: no eram logicamente assimilveis e eram sempre epistemologicamente condenveis. Falavase delas nas biografias dos grandes sbios, mas nunca nos manuais e tratados, de que no entanto a sombria compilao, como camadas subterrneas do carvo, eram constituda pela fossilizao e pela compreenso de que, em primeiro lugar, tinham sido fantasias, hipteses, proliferao de ideias, invenes, descobertas.

Exemplo iCincia e imaginao(Texto extrado da dissertao de mestrado A Divulgao Cientfica nas Histrias em Quadrinhos: Anlise do Caso Watchmen).

No editorial da edio de janeiro de 1988 da revista de divulgao cientfica Superinteressante lemos o seguinte: Quero afirmar um dos princpios bsicos de Superinteressante: nossa matria prima a realidade. Jamais usaremos a imaginao para torn-la mais rica, fantstica ou atraente, pois acreditamos que o mundo real muito mais fascinante do que qualquer outro que o homem possa criar. Depreende-se do texto que a imaginao como um corpo estranho cincia, um parasita que deve ser eliminado por aqueles que pretendem, de fato, realizar cincia ou exercer a divulgao cientfica. Tal posio identifica-se, evidentemente, com a distino entre

Portanto, a cincia e a imaginao esto intimamente ligados: Vemos, alis, logo que se pensa na investigao, com sua atividades de esprito, com o papel da imaginao, toma-se conscincia de que as noes de arte e cincia,

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que se opem na ideologia dominante, tm alguma coisa em comum. Essa relao ocorre em duas vias. Por um lado o cientista influenciado pela sociedade na qual vive. Essa influncia se d em vrios aspectos. No s na teoria, na hiptese, como na observao. Gerald Fourez explica que existe tambm, anterior a todo objeto, uma estrutura organizada do mundo no qual se inserem objetos. o que os socilogos Peter Berger & Thomas Luckman (1978) chamaram de a construo social da realidade. Por isso, entendem essa organizao do universo ligada a uma determinada cultura, seja a de uma tribo de pescadores da Amaznia, seja a nossa cultura industrial, e que situa a viso de um tal modo que cada uma das coisas pode encontrar seu lugar (ou antes) , que determina o que sero os objetos. Portanto, o cientista constantemente influenciado pela sociedade na qual vive. Suas teorias so sugeridas pela arte e a viso do mundo que determina os objetos tambm constantemente influenciada pela arte. Voltando imaginao, ela interfere na metodologia cientfica ainda em dois aspectos: na construo de modelos e nas hipteses. O real jamais apreendido exatamente como ele . Segundo Isaac Epstein: A percepo e inteligibilidade so graus sucessivos de abstrao atravs dos quais nos damos conta da realidade. Percebemos um objeto ou entendemos uma lei, e estes contm sempre menos variedade ou informao do que o estado mais desordenado do qual esse objeto ou esta lei so abstrados. Portanto, a percepo se d sempre atravs de modelos e usamos a imaginao para condensar essa informao. Alguns argumentariam que esse processo de criao de modelos racional. Este , sem dvida, um ponto de vista equivocado. Isso porque o processo de construo ocorre diariamente, a todo instante, e no um processo conscie