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Governança Corporativa
Professor
Eduardo Giarola
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Copyright 2011. Todos os direitos desta edição reservados ao Sistema Universidade Aberta do Brasil. Nenhumaparte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia eoutros, sem a prévia autorização, por escrito, do autor.
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Sumário
APRESENTAÇÃO .................................................................................... 4
TEORIA DO AGENTE E DO PRINCIPAL ............................................. 7
OBJETIVO ................................................................................................ 8
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GOVERNANÇA CORPORATIVA . 9
CUSTO DE AGÊNCIA ........................................................................... 11
TIPOS DE RELAÇÃO DE AGÊNCIA ................................................. 144
RESUMO ................................................................................................. 27
O QUE É GOVERNANÇA CORPORATIVA ........................................ 29
OBJETIVO .............................................................................................. 30
INTRODUÇÃO ....................................................................................... 31
GOVERNANÇA E GOVERNANÇA CORPORATIVA ........................ 38
ORIGEM DA GOVERNANÇA CORPORATIVA ................................. 46
EVOLUÇÃO DA GOVERNANÇA CORPORATIVA ..........................55
RESUMO ................................................................................................. 66
GOVERNANÇA CORPORATIVA: MODELO DE GESTÃO .............. 66
INTRODUÇÃO ....................................................................................... 68CONCEITO DE ACIONISTA CONTROLADOR ................................. 73
O ABUSO DE PODER DO ACIONISTA CONTROLADOR ............... 77
A PARTICIPAÇÃO DE STAKEHOLDERS NAS ASSEMBLÉIAS E.......
NOS CONSELHOS ................................................................................ 79
DIREITOS DOS PREFERENCIALISTAS EM ASSEMBLÉIAS .......... 82
O CASO ENRON .................................................................................... 83
RESUMO ................................................................................................. 89
REFERÊNCIAS ....................................................................................... 90CURRÍCULO PROF. EDUARDO GIAROLA ..................................... 977
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Apresentação
Prezado(a) estudante e em um futuro muito próximo,
prezado Administrador!
Com certeza temos uma grande expectativa a respeito da
disciplina de Governança Corporativa (GC). Por quê? Porque o
termo GC é um dos vários tópicos bastante comentados atualmente
nos meios científico e empresarial. E qual o motivo para tantos
comentários?
Uma resposta plausível é a vinculação da GC, ou seja, a
aplicação de práticas de GC como um componente para a
continuidade das organizações. Veremos que vários escândalos
corporativos mundiais seriam evitados com a implementação de um
sistema de Governança Corporativa.
Caro aprendiz, a definição operacional do termo GC será
mais bem trabalhada no decorrer do texto, mas já podemos dizer
que a globalização dos mercados tem motivado a qualidade destagovernança. Com isso, a compatibilidade de práticas de governança
com padrões dos mercados contribui para o sucesso corporativo,
pois essas práticas se transformaram em um pré-requisito para toda
a corporação controlar seus recursos eficazmente e captar novos
recursos.
Você sabia que investidores estariam dispostos a pagar, em média,um prêmio de 20% por ações de empresas com boa governança.
Uma comparação simples é quando você entra em uma loja e tem
uma propensão a gastar mais por causa de um atendimento: bom,
justo e transparente!
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Assim, o texto que está sendo apresentado a você tem como
objetivo proporcionar a oportunidade de conhecer a GC. Uma
primeira definição é dada pelo Instituto Brasileiro de GovernançaCorporativa (IBGC), ou seja, GC é o sistema pelo qual as
sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os
relacionamentos entre Acionistas/Cotistas, Conselho de
Administração, Diretoria, Auditoria Independente e Conselho
Fiscal.
Começamos, na unidade 1, com explicações sobre Teoria do
agente e do principal. Tema introdutório que mostrará a você queGC tem relação direta com a busca pela minimização dos
problemas de agência, nas relações contratuais entre o principal –
quem delega; no caso, o dono da organização – e o agente – quem
executa; no caso, os demais atores da organização.
Na segunda unidade, você será apresentado à Governança
Corporativa (GC). Você aprenderá como foi o surgimento e qual é
o conceito de GC. Iremos discutir a origem da governança e da GC.
Na última parte dessa unidade é apresentada a evolução dos estudos
sobre governança corporativa.
Na última e terceira unidade, você verá a GC como modelo
de gestão. Nesta última unidade descrevemos a Governança
Corporativa na visão de quatro grandes pesquisadores: Edson
Cordeiro Da Silva, Leslie Amendolara, Roberto Gonzalez e
Marcelo Del Vigna. Serão 05 artigos da revista “Relações com
Investidores” (nº 105, Nov. 2006) que terão como objetivo o
embasamento de toda a teoria de GC vista nas duas primeiras
unidades.
Nessa unidade veremos que, nos últimos anos, a GC tem
estado em evidência, e ganhou maior projeção com o escândalo que
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surgiu com a empresa americana Enron em 2001. Esse será
apresentado como atividade de aprendizagem no final da unidade.
Veremos que vários escândalos pelo mundo deixaram osinvestidores preocupados e confusos e levou os governos e
políticos a pensarem em processos mais rígidos de gestão. Os
temas trabalhados nessa unidade são: a gestão pela GC, conceito de
acionista controlador, abuso de poder do acionista controlador,
participação de stakeholders nas assembléias e nos conselhos, e
direitos dos preferencialistas em assembléias.
Deste modo, com a disciplina veremos a importância da GCno sentido de aumentar o valor da organização, facilitar seu acesso
ao capital e contribuir para a sua perenidade. Esperamos que você
aproveite a disciplina e retire deste estudo um significativo
aprendizado para a sua futura profissão como administrador.
Seja bem-vindo à disciplina e sucesso a você e bons
estudos!
Professor Eduardo Giarola
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UNIDADE
1
Teoria do agente e do principal
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Objetivo
Nesta unidade, prezado aluno, você conhecerá a teoria do
agente e do principal, a chamada relação de agency. Também
conhecida como “ Agency Theory” ou “Teoria de Agency” ou
simplismente “Teoria de Agência”. Estudará os problemas de
agência (custos de agência), nas relações contratuais entre o
principal – quem delega; e o agente – quem executa. Também
entenderá os tipos de relação de agency existentes e as diferentes
visões sobre o assunto. Ao final da unidade, esperamos que você,
aprendiz, possa conceituar e identificar as relações de agency
existentes nas diversas organizações. Você terá a oportunidade, por
exemplo, em seu trabalho, de estudar essas relações e identificar os
mecanismos para a redução de custos gerados pelo problemas de
agência. É um tema de suma importância para a descrição e análise
do tema Governança Corporativa que será vista na unidade
seguinte. Então, vamos ao trabalho?
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Introdução ao estudo da Governança Corporativa
Caro Estudante,
É com muito prazer que iniciamos a primeira unidade da nossa
disciplina com um tema muito importante para o estudo da
Governança Corporativa: a teoria do agente e do principal. Mas, o
que é falado nessa teoria? Qual a importância dessa teoria para o
estudo da GC? Principalmente, como essa disciplina irá ajudá-lo na
sua profissão de Administrador?Como futuro Administrador você deverá possuir uma “caixa de
ferramentas” que tenha amplitude e qualidade de recursos. Ao se
deparar com um determinado problema você abrirá essa caixa e
retirará uma ferramenta específica para solucionar esse problema.
Você será um perito na utilização dessas ferramentas!
Agora, imagine que você se depare com uma organização que é
eminente os problemas de relacionamento entre os seus atores:
acionistas, gestores, Conselho de Administração e outros. É visto
que a necessidade de controle e de relacionamento entre esses
atores é antiga. O que fazer?
Com o estudo dessa disciplina teremos uma “nova ferramenta”, ou
seja, um novo instrumento que possibilitará a implantação de
mecanismos de incentivo e controle que visa harmonizar a relação
entre acionistas e gestores pela redução dos “custos de agência”,
numa situação de separação de propriedade e controle. Parece
simples, mas teremos que aprender muitos conceitos antes de
partirmos para a prática. Vamos lá!
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Você pode observar que um conceito predominante na
economia, desde os tempos de Adam Smith, é o fato de que ela
deve ser conduzida da forma mais eficiente possível, assegurandoque cada indivíduo desempenhe sua tarefa da melhor maneira.
Para Pratt & Zeckhauser (1985), sempre que um indivíduo
depende de outro, surge uma relação de “agency”. Aquele que
executa a ação é o agente, enquanto a parte afetada é o principal.
Assim, o objeto de estudo da Teoria do Agente-Principal são as
transações realizadas entre atores, ou seja, um contrato negociado
entre duas partes. Uma parte, o principal, contrata uma outra parte,o agente, para que este atue em seu interesse. O problema, então,
consiste em estruturar acordos e contratos que induzam os agentes
a trabalhar pelos interesses do principal, mesmo quando as ações e
informações detidas pelo agente não são observadas ou de
conhecimento do principal. Esta consideração remete à questão da
assimetria de informação, isto é, os agentes estão mais próximos do
objeto do que o principal, portanto, sabem mais a respeito das
tarefas. Observam ainda os autores que o desafio reside no fato de
que o principal não pode monitorar perfeitamente as ações e
informações do agente, tornando possível que este atue em seu
próprio interesse.
Antes de continuar a ler a unidade, escreva abaixo algum exemplo
vivido por você em relação a atuação de algum indivíduo em seu
próprio interesse. Pode ser um exemplo do seu trabalho, da sua
casa ou do bairro aonde você mora. O importante é você pensar em
uma relação de agency. Aproveite para conversar com os seus
amigos de curso e debater com o seu orientador. A construção do
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conhecimento terá início com esses debates!
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Custo de Agência
Jensen e Meckling (1976), segundo Bialoskorski Neto
(1998b), afirmam que os atores econômicos procuram a
maximização de seu bem-estar. Dessa forma, dificilmente o agente
buscará satisfazer o interesse do principal, em detrimento de seu
próprio bem-estar. O problema, portanto, está relacionado ao
monitoramento e aos incentivos que promovam a atuação do agente
em favor do principal, buscando minimizar o comportamento
oportunístico. Porém, não se pode esperar que este monitoramento
e incentivos não tenham custos, configurando, assim, os custos de
agency*.
Saiba mais...
Trabalho importante foi desenvolvido por Jensen e Meckling
(1976). Segundo os autores as grandes corporações estão
GLOSSÁRIO
* Custo de Agência: oconflito entre
principal e agente éoneroso e gera custos,conforme descrido aseguir a partir deJensen & Meckling(l976):Custos demonitoração:incorridos peloprincipal; que são asdespesas incorridaspelo principal nainstituição de
mecanismos (sistemade informações,auditoria externa ouinterna, conselhofiscal,entre outros) quevisam vigiar ocomportamento doagente dentro daorganização;·Custos dedemonstração doagente: dada apossibilidade de
conflito, o agente teráinteresse emdemonstrar que suaação administrativanão vem emdetrimento dosresultados da firma,visto que,do contrário,ele será penalizadofinanceiramente juntoao mercado detrabalho, ou a firmapoderá ter seu valor de
mercado deprimido,entre outros.·Perda residual: quedecorre da redução dopagamento dedividendos oucomprometimentodefluxos futuros dafirma que, em últimainstância, seriamtransferidos aosacionistas, vistos aquicomo credores
residuais.
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permeadas pela relação de agência, que nada mais é do que um
contrato em que uma ou mais pessoas (principais) outorgam
autoridade a terceiros (agentes), para cuidarem de seus interesses.Como ambas as partes são maximizadoras da utilidade, há razões
para crer que existam situações em que os interesses sejam
divergentes.
Fonte: < http://www.anpad.org.br/periodicos/arq_pdf/a_738.pdf >.
Acesso em: 12 de dezembro de 2010
Aproveite o artigo utilizado como fonte para aprofundar os
seus conceitos sobre teoria da agente e do principal. Lembre-seque o seu orientador é um grande aliado para esse
aprofundamento teórico.
Artigo: A Teoria da Firma e a fundamentação teórica para
fusões e aquisições: uma análise de suas interfaces. Autores:
Marcos Antônio de Camargos e Eduardo Senra Coutinho
Os custos de agency serão maiores quando os interesses e
valores dos agentes e principais divergirem substancialmente.
Sendo assim, Pratt & Zeckhauser (1985) afirmam que o principal e
o agente devem ter o interesse comum em definir uma estrutura de
monitoramento e incentivos que produza rendas, de tal maneira que
os custos de agency sejam minimizados, fazendo com que esse
benefício seja compartilhado pelas partes envolvidas.
A interação entre Principal e Agente é visualizada na figura
abaixo.
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Figura 1: Relação Principal x Agente
Fonte: adaptado de Silveira, 2002, p.14 .
Bialoskorski Neto (1998b) considera que existe uma perda
residual ocasionada pelas divergências entre agente e principal, em
função da incompletude dos contratos que, por sua vez, têm esta
característica devido à racionalidade limitada*, à assimetria de
informações* e ao oportunismo. O desafio, então, refere-se à forma
de motivação apropriada dos participantes da organização, no casoos agentes, de maneira a torná-la tão produtiva quanto poderia ser
no caso de os agentes serem os principais, ou seja, os proprietários.
Fama e Jensen (1983), segundo Bialoskorski Neto (1998b),
afirmam que a estrutura contratual pode ser combinada com a
estrutura produtiva e com o ambiente institucional. Desse modo, os
custos de agency serão determinantes da estrutura organizacional e
deverão ser minimizados como decorrência da relação contratual,por meio da redução das possibilidades de manifestação de
oportunismo e de incentivos modificadores do comportamento das
partes envolvidas. Ressalta-se, porém, que um esforço ex-ante no
estabelecimento do contrato não é capaz de prever todas as
GLOSSÁRIO
* Em economia,informaçãoassimétrica é umfenômeno queocorre quando doisou mais agenteseconômicosestabelecem entre siuma transação
econômica com umadas partesenvolvidas detendoinformaçõesqualitativa ouquantitativamentesuperiores aos daoutra parte. Já aracionalidadelimitada, asdecisões sãotomadas tendo como
base uma parte dasituação ou apenasalguns aspectos dela.Fonte: wikipedia.org
AGENTE PRINCIPALCONTRATO
Problema de Agency
Custos de Agenciamento
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situações ex-post . Assim, no estabelecimento contratual, devem ser
determinados os direitos ao resíduo (residual claims), isto é, a
diferença entre o pagamento fixo e aquele dependente dodesempenho, como também a definição de aspectos relativos ao
processo decisório.
A teoria da agência se originou na economia neoclássica, e
suas versões sociológicas também se baseiam na abordagem da
escolha racional, que parte da suposição que, de um leque de ações
alternativas, as pessoas escolhem racionalmente aquelas que
maximizam as chances de conseguir suas metas e realizar seusprojetos. Nessa teoria o principal é qualquer pessoa ou organização
que quer que outra faça algum serviço para ela. O agente é a pessoa
ou organização que provê o serviço.
Tipos de relação de agência
Há dois tipos gerais de agência. Seguindo uma distinção dacommon law da Inglaterra e suas ex-colônias, se pode distinguir a
agência do tipo senhor-servo [master-servant ] de agência do tipo
contratante* independente [independent contractor ] (Coleman
1990: 146-9). No primeiro tipo, a relação de emprego dá ao
principal autoridade sobre o agente. O principal tipicamente é
dono do lugar, da matéria prima e das ferramentas usados no
trabalho. No segundo tipo, o principal encomenda um serviço ao
agente mas o agente não é empregado do principal. Assim o
principal não tem o direito de mandar nele ou de especificar como
vai fazer o serviço. Tipicamente o principal paga só pelo serviço.
Muitos profissionais liberais, por exemplo, são contratantes
independentes. Esta apostila focaliza a agência senhor-servo, mas
GLOSSÁRIO
* Esse tipo derelação de agênciatem origem noconceito de contrato,ou seja, um vínculoentre dois ou maissujeitos de direitocorrespondido pelavontade, daresponsabilidade doato firmado,resguardado pelasegurança jurídicaem seu equilíbrio
social.Fonte: elaboradopelo autor.
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argumenta que, nas relações de emprego duradouras, elementos
importantes de agência do tipo contratante independente entram na
relação.O problema mais importante com esta abordagem, como a
escolha racional em geral, é que se baseia numa teoria da ação
empobrecida, presumindo que as pessoas têm interesses claros e
escolhem conscientemente as ações mais adequadas para servir a
seus interesses. Isso implica que as pessoas avaliam as linhas de
conduta possíveis e, dentro dos limites do seu conhecimento,
escolhem as ações que acham mais eficazes para conseguir o fimdesejado. A teoria da agência se mostra eficaz para identificar
alguns dos problemas e das contradições centrais nas relações entre
principais e agentes, e serve para explicar alguns aspetos das
soluções adotadas na prática, mas uma teoria da ação enfatizando o
habitus e o conhecimento prático, baseada no trabalho de Pierre
Bourdieu* e Anthony Giddens*, permite uma compreensão mais
completa dessas soluções. Em particular, capta melhor os
processos que levam a esses arranjos.
A abordagem principal-agente se desenvolveu na economia,
mas atraiu a atenção dos sociólogos de escolha racional porque
parece ajudar a entender as instituições. Em geral, os economistas
tendem a ver o mundo como um grande mercado, e os economistas
que estudam fenômenos sociais tendem a focalizá-los no olhar do
mercado (e.g., Becker 1976). Nessa linha de análise, os cônjuges
se juntam no mercado de casamentos; os políticos competem entre
si no mercado de votos; as igrejas competem no mercado de fiéis,
etc. Mas os sociólogos que se interessam pela escolha racional
querem usá-la para entender as instituições sociais e não para
redefinir as instituições como mercados.
GLOSSÁRIO
* Pierre FélixBourdieu foi umimportante sociólogofrancês. De origemcampesina, filósofode formação, chegoua docente na Écolede Sociologie duCollège de France,instituição que oconsagrou como umdos maiores
intelectuais de seutempo. Desenvolveu,ao longo de sua vida,mais de 300trabalhos abordandoa questão dadominação e é, semdúvida, um dosautores mais lidos,em todo o mundo,nos campos daAntropologia e
Sociologia.Fonte: wikipedia.org
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Esses sociólogos vêm dizendo que grande parte da
sociologia não reconhece que estruturas e instituições não têm vida,
necessidades ou desejos, e que só agem através da ação dosindivíduos. Assim, um dos principais projetos deles é entender
como as estruturas, os sistemas e as instituições sociais podem
emergir e se reproduzir através das ações racionais dos indivíduos.1
As relações de emprego e outras relações de agência
institucionalizadas constituem fenômenos chaves a serem
explicados pela ação racional.
Às vezes, esses sociólogos (e.g., Hechter & Kanazawa1997) admitem que muitas ações não são tão calculadas assim, que
as pessoas fazem muitas coisas por força de hábito ou impulsos
emocionais. Mas, como os modelos de escolha racional parecem
corresponder aos padrões de atividade observadas em muitos
estudos empíricos, concluem que a existência de ação não
calculada não ameaça a abordagem básica. Devem faltar
correlações sistemáticas entre as ações emocionais e as ações
calculadas, assim deixando ilesos os padrões estatísticos formados
pelas ações racionais. E os hábitos podem ser racionais porque se
pode pensar neles como derivados de alguma ação calculada no
passado que depois virou rotineira.
Outros sociólogos, e provavelmente a grande maioria dos
economistas, nem se preocupam com a variedade dos princípios
geradores de ações. Num exemplo claro do que Bourdieu designa
de "derrapar do modelo da realidade à realidade do modelo"
1 Veja especialmente o debate entre James Coleman e William Sewell Jr. naAmerican Journal of Sociology e os comentários subseqüentes de Wacquant eCalhoun (Coleman 1986; Sewell 1987; Wacquant & Calhoun 1989). Vejatambém Coleman 1990; Coleman 1994; Friedman & Hechter 1988; Hechter &Kanazawa 1997.
GLOSSÁRIO
* Anthony Giddens éum sociólogobritânico, renomadopor sua Teoria daestruturação.Considerado pormuitos como o maisimportante filósofosocial inglêscontemporâneo,figura de proa donovo trabalhismobritânico e teóricopioneiro da Terceiravia. Do ponto devista acadêmico, oseu interesse centra-se em reformular a
teoria social ereexaminar acompreensão dodesenvolvimento eda modernidadeFonte: wikipedia.org
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(Bourdieu 1977: 29), eles simplesmente presumem que, se os
modelos de escolha racional descrevem mais ou menos bem os
padrões de ação estudados, essas ações realmente devem decorrerde cálculos racionais. Assim os economistas e sociólogos de
escolha racional acabam substituindo o estudo da geração da ação
por um modelo abstrato da ação, no qual toda a humanidade age
pela mesma lógica e as instituições sociais são criadas do nada
pelas interações de indivíduos racionais e livres da história.
Aqui proponho substituir a idéia de escolha racional pelo
habitus e o conhecimento prático como geradoras da ação,misturando idéias de Bourdieu e Giddens (Bourdieu 1977; Giddens
1984). O cerne da teoria da ação dos dois é quase idêntico: ambos
enfatizam estratégias que as pessoas dominam para resolver
problemas e prosseguir a vida, mas que não sabem explicar em
palavras. Na linguagem de Bourdieu, o sentido prático consiste de
esquemas de percepção e ação que são transponíveis entre
situações homólogas. Na concepção de Giddens, o conhecimento
prático é formado de estruturas de significação e procedimentos
metodológicos que são generalizáveis entre problemas análogos.
Esses esquemas ou procedimentos residem no que Giddens chama
de "consciência prática," que ele contrasta com a "consciência
discursiva," que abrange os pensamentos formulados em palavras.
Há diferenças entre esse autores também. Bourdieu
enfatiza mais as disposições embutidas no corpo e nos sentimentos,
enquanto Giddens enfatiza mais a intencionalidade da ação (mesmo
se as conseqüências não correspondem às intenções) e a
compreensão, dentro de limites, dos atores. Como o que interessa
aqui é os fundamentos da ação e suas relações com as metas mais
ou menos conscientes dos atores, vou juntar as disposições, por um
GLOSSÁRIO
*O conceito dehabitus foidesenvolvido pelosociólogo francêsPierre Bourdieu como objetivo de pôr fimà antinomiaindivíduo/sociedadedentro da sociologiaestruturalista.Relaciona-se àcapacidade de umadeterminada
estrutura social serincorporada pelosagentes por meio dedisposições parasentir, pensar e agir.Fonte: wikipedia.org
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lado, e a intencionalidade, por outro, com a idéia central de
esquemas de percepção e ação para interpretar as relações entre
principal e agente no caso das fazendas de gado.2
A idéia da escolha racional implica o uso do raciocínio
discursivo para escolher entre ações alternativas, num
procedimento parecido aos pensamentos do cientista social que
elabora um modelo discursivo de escolha racional para descrever a
ação dos outros (veja Schutz 1943). A idéia do conhecimento
prático implica uma arte da vida na qual as pessoas têm um sentido
dos procedimentos adequados a várias situações, mas geralmentenão fazem uma escolha consciente entre uma lista das condutas
possíveis. Mesmo quando há um elemento de escolha consciente, o
habitus e o conhecimento prático vão moldar a definição do
problema, limitar as ações pensáveis e orientar as estratégias para
resolver o problema. Essa abordagem permite ressituar os atores
na história, como produtos históricos, e permite levar em conta que
instituições, tais como relações de emprego, não emergem num
vácuo, mas são transformações de instituições preexistentes, feitas
por atores formados num determinado contexto histórico.
Mas, apesar de seus defeitos, a teoria da escolha racional
tem sua utilidade. Nas situações em que as pessoas têm metas
relativamente claras, serve para identificar problemas que elas têm
de resolver para ganhar o que querem. Mas, ao contrário do que
pensam os sociólogos de escolha racional, a percepção desses
problemas e as estratégias para lidar com eles vão variar de um
2 Bourdieu também focaliza mais os processos de internalização do habitus, através da imitação, das homologias entre várias esferas da vida, dos ditados,etc., enquanto Giddens salienta especialmente como a ação humana reproduz asestruturas e sistemas sociais, através da interação situada, da rotina e do"esticamento" da interação no espaço e no tempo.
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contexto histórico e cultural para outro. Assim os problemas
identificados pela teoria serviriam para orientar a pesquisa do
cientista social, que pode estudar como os atores os resolvem narealidade. É de se esperar que a abordagem sirva especialmente
para estudos de instituições econômicas, porque os atores
geralmente têm metas claras, tais como lucros ou sobrevivência,
mesmo se elas vêm misturada com outras metas ou projetos menos
conscientes e mais difíceis de definir. Como a abordagem vem
emprestada da economia, grande parte do aparelho teórico já se
refere à vida econômicaComo nada nas noções de habitus e conhecimento prático
contradiz a idéia de que as pessoas têm interesses e respondem a
incentivos, as idéias da escolha racional também podem ajudar a
entender porque certas soluções funcionam, mesmo se não resultam
de nenhuma escolha consciente entre alternativas. Mas o habitus
vai influenciar a definição dos interesses e, por isso, a natureza dos
incentivos mais eficazes e como as pessoas respondem a eles. O
conhecimento prático influenciará as estratégias das pessoas que
querem influenciar a ação de outras, especialmente a natureza dos
incentivos que oferecem e a maneira de oferecê-los.
Essas soluções funcionariam não no sentido da otimização,
mas no sentido de serem satisfatórias. Já nos anos 50, Herbert
Simon criticou o grosso da teoria econômica por presumir atores
com informação perfeita e capacidades de cálculo ilimitadas
(Simon 1957: 196-206, 241-73). Dado os limites humanos,
geralmente não compensa tentar otimizar as decisões. Em vez
disso, as pessoas, segundo Simon, fazem o que ele chama
satisficing, no qual poupam seu tempo e suas capacidades
cognitivas aceitando soluções viáveis. Os estudos empíricos da
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sociologia de escolha racional geralmente são estudos de
satisficing, embora não reconheçam isso. Tipicamente tentam
explicar porque algum arranjo institucional ou linha de conduta quese observa num contexto determinado é racional para os atores
envolvidos. A explicação é geralmente uma explicação de porque
o arranjo ou ação é satisfatório, não uma demonstração que é o
melhor possível, o que exigiria uma comparação dos prováveis
resultados de vários dos arranjos ou ações possíveis.3 Simon ainda
acreditava numa versão de escolha racional, embora modificada,
mas o conhecimento prático permite ações satisfatórias em muitassituações sem nenhum cálculo ou avaliação de condutas
alternativas.
A teoria da agência focaliza os problemas gerados pelo fato
que o agente tem de fazer alguma coisa pelo principal, mas não tem
os mesmos interesses. Ao mesmo tempo, o principal nunca tem
informação completa sobre as atividades do agente, e muitas vezes
nem sabe fazer as tarefas do agente. Assim, essa abordagem tenta
descobrir que arranjos contratuais e institucionais podem melhor
alinhar ou compatibilizar os interesses do agente com os interesses
do principal.4
Como a abordagem pressupõe que os agentes "se
comportam egoisticamente e o fazem com astúcia" (Peterson 1993:
279), não adianta procurar agentes honestos ou com um forte
sentido de dever ou ética profissional. Tem de procurar agentes
que têm algo a perder. Se o agente tem uma boa reputação
3 Por aplicações empíricas da teoria da agência na sociologia, veja Adams 1996;Heimer 1985; Kiser 1994; Kiser & Tong 1992; Kiser & Schneider 1994.4 Boas discussões gerais dessa abordagem se acham em Bergen, Dutta & Walker1992; Coleman 1990: 145-57; Eggertsson 1990: 40-5; Heimer mímeo; Peterson1993; Jensen & Meckling 1976; Pratt & Zeckhauser 1991.
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construída numa história de transações anteriores, tem algo de valor
que pode perder se fizer um trabalho ruim ou desfalcar um cliente
(Pratt & Zeckhauser 1991: 12-4). Em geral, a perda de futurosclientes decorrente da perda da boa reputação vai ser maior que o
ganho de uma fraude ou um trabalho mal feito.
Para trabalhadores comuns, que não têm uma reputação que
o empregador pode averiguar sem incorrer altos custos, a literatura
recomenda estágios probatórios e oportunidades para promoções
por bom desempenho. Também recomenda dar algo de valor que o
agente pode perder com mau desempenho. Uma das possibilidadesmais interessantes é pagar o trabalhador mais que o seu valor de
mercado, assim aumentando o custo de perder o emprego e levando
o agente a evitar ações que podem implicar o risco de ser demitido,
uma estratégia conhecida como "salário de eficiência" (efficiency
wages) (Pratt & Zeckhauser 1991: 10; Pearce 1992: 123-4).
O grosso dessa literatura tenta identificar as condições que
estimulam maiores esforços dos agentes. Enfatiza especialmente
os tipos e combinações de incentivos e fiscalização que são mais
adequados para os interesses do principal em vários tipos de
agência. Especialmente importante aqui é a diferença entre
recompensas para resultados, como pagamento por peça, e
recompensas para o tempo gasto no trabalho, como salários. Se os
resultados são fáceis para o principal avaliar, recompensas para
resultados são melhores para o principal, mas o problema neste
caso é que os resultados dependem só parcialmente dos esforços e
das capacidades do agente. A matéria prima pode chegar
estragada, as máquinas podem quebrar, o mercado para os produtos
pode cair, as secas ou enchentes podem destruir a produção rural.
Na maioria das relações de emprego os empregados não podem ou
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não querem assumir o risco de receber pouco ou nada por causa de
flutuações em condições fora de seu controle. Assim o principal
tem de oferecer um salário básico para achar pessoas dispostas aservir como agentes. Esse salário pode ser combinado com outros
prêmios para os resultados.
Quando as tarefas do empregado são mais variadas ou
complexos, e os resultados, especialmente a qualidade do produto,
não são fáceis de avaliar, pode ser perigoso para o principal
oferecer só recompensas para resultados, porque o empregado vai
se esforçar mais nos aspectos do trabalho que podem ser medidosou avaliados (Holmstrom & Milgrom 1991). Vai negligenciar
outros aspectos e pode maltratar o capital (equipamentos,
construções ou animais) do principal no esforço para produzir mais.
Assim, por exemplo, o operário pode produzir mais peças mas vão
ser peças de pior qualidade e ele pode desgastar as máquinas; o
funcionário avaliado pelo número de processos que despacha pode
despachar mais, mas ao custo de descortesia no atendimento ao
público; o professor pode botar mais alunos na sala de aula (assim
aumentando o índice de produtividade do MEC) mas vai dar menos
trabalhos para os alunos fazerem em casa (para não ter de corrigir
tantos trabalhos) e vai gastar menos tempo tirando dúvidas
individuais, e assim os alunos vão aprender menos.
Se a conexão entre esforços e resultados não é clara ou as
tarefas são variadas, o principal tem de oferecer mais recompensas
para o tempo trabalhado e menos prêmios para resultados. Com
recompensas para tempo como salários, aumenta a necessidade
para fiscalização do empregado para prevenir evasão dos deveres
ou uso do tempo o dos recursos do principal pelo agente em
proveito próprio. Mas a fiscalização custa e tampouco é perfeita.
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O empregado pode fingir estar trabalhando para mostrar serviço, ou
concentrar mais nas tarefas mais fáceis de fiscalizar, criando
distorções parecidas com as produzidas por recompensas baseadasem só um aspecto do produto.
Essa teoria enfatiza os arranjos que servem melhor aos
interesses do principal. Assim, as teorias da agência senhor-servo
podem ser vistas como teorias da melhor maneira de explorar
trabalhadores sob várias condições. Alguns autores reparam nesse
viés, mas ninguém tentou reformular a teoria da agência para
superá-lo. Pratt e Zeckhauser (1991: 2) mencionam que, às vezes,a relação de agência é recíproco, com o principal providenciando
alguns serviços ao agente. James Coleman (1990: 155) nota que o
agente na agência senhor-servo depende do principal para não
extrapolar o poder dele, mas não desenvolve mais essa discussão.
Numa das discussões mais inteligentes, Herbert Simon (1957: 170-
82) notou que a teoria da firma da economia neoclássica toma o
ponto de vista do empresário ou da firma, e quase sempre
desenvolve uma função matemática maximizando o lucro,
enquanto a sociologia das organizações trata a empresa como um
sistema social com vários grupos de participantes que provêm
contribuições e recebem incentivos, principalmente donos,
empregados, fregueses e fornecedores. A teoria das organizações
tenta identificar as condições para a participação continuada de
todos esses grupos, não as condições que maximizam o lucro (veja
também Barnard 1947). Embora essa formulação tenha conotações
funcionalistas, devemos chamar a atenção para a interdependência
de principal e agente e as obrigações do principal a respeito do
agente. No seu manual da sociologia das organizações, Charles
Perrow* nota que as teorias de agência não levam em conta as
GLOSSÁRIO
*A teoria da agênciaenfatiza quaseexclusivamente onão cumprimento dedeveres porsubordinados(agentes) como aúnica forma de
comportamentoegoísta e interesseirocontra o qual se deveproteger. Apossibilidade de queo capitalista(principal) possamentir aostrabalhadores sobreníveis de lucros ouameaças de negóciosperdidos, falsificar
os registros dosprodutos deles,ameaçar a saúde dosagentes, tudo paraextrair mais lucros,ou simplesmentepara faltar com suasresponsabilidades, éignorado, ouafastado aomencionar que umafirma protege suareputação (Perrow1986: 227).
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obrigações do principal para com o agente.
Mas Perrow só usa esta observação para advertir contra o
viés conservador dessa teoria e não a usa para repensar a teoria.
Devido à continuidade no tempo da relação entre empregador e
trabalhador, o agente (empregado) depende do principal
(empregador) para cumprir várias obrigações, tais como pagar
salário, manter contas honestas e manter condições saudáveis de
trabalho. Por isso, em quase qualquer relação de emprego
duradouro, o principal original vira o agente do agente original.
Esta é um tipo de agência mais parecida com a do contratante
independente porque o empregado não ganha autoridade sobre o
empregador, mas depende dele por certos serviços. Algumas das
análises mais interessantes de agência feitas por sociólogos tratam
de contratantes independentes (e.g., Heimer 1985; Shapiro 1987).
Nessas relações, a falta de informação sobre as atividades do
agente tende a ser especialmente grave para o principal. O médico,
o mecânico, o advogado ou o corretor de seguros tipicamente tem
muito mais informação que o cliente sobre o serviço que está
prestando. Para encomendar tais serviços, o cliente tem de confiar
que o agente vai atuar a favor de seus interesses, mas muitas vezes
o principal (o cliente) tem boas razões para desconfiar que o agente
(o prestador de serviços) está manipulando informação para poder
fazer o que mais convém a ele. A literatura sobre esse tipo de
agência focaliza especialmente as condições necessárias para queos principais possam confiar nos agentes. Esses autores
tipicamente contrastam o controle através da reputação do agente,
que funciona melhor em pequenas comunidades ou em redes de
pares, com o controle através de instituições e organizações
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especializadas, tais como conselhos profissionais, firmas de
auditoria, associações de consumidores ou o judiciário, mais
adequados à impersonalidade das sociedades complexas (vejatambém Greif 1994).
Se o empregador não cumprir obrigações a curto prazo, tais
como pagar salários, o empregado pode se demitir ou buscar seus
direitos na justiça, embora esta alternativa seja muitas vezes
custosa e demorada. É mais difícil confiar que o empregador vai
cumprir suas obrigações para com o empregado a longo prazo, em
parte porque várias dessas obrigações não se acham em contratosexplícitos, mas em promessas vagas ou contratos implícitos, e em
parte porque o empregado não pode ter certeza que o empregador
vai ter condições no futuro para cumprir essas obrigações, mesmo
querendo. Os empregados têm uma forte tendência a definir a
relação de emprego como uma relação de troca recíproca na qual o
patrão acumula obrigações morais com os empregados em função
do tempo de serviço deles. Muitos trabalhadores esperam que a
empresa vá oferecer promoções no futuro ou que vá pagar pensões
na velhice ou no caso de acidentes de trabalho, mas é difícil ter
certeza hoje que o patrão vai cumprir essas obrigações daqui há
vários anos ou décadas. Para muitos empregados, uma das maiores
obrigações do empregador é simplesmente a de manter a relação de
emprego, mas a maioria dos empregadores, embora incentivem a
crença que o emprego é permanente para estimular a identificação
com a empresa, negam essa obrigação no momento de fechar uma
firma ou uma fábrica. Por causa da falta de instituições obrigando
empregadores a dar aos trabalhadores informações verdadeiras
sobre as atividades e contas da empresa, é difícil o trabalhador
saber se os gerentes estão levando a empresa à falência ou estão
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planejando mudar a fábrica para outra região com mão-de-obra
mais barata ou menos sindicalizada.
Recompensas futuras confiáveis podem ser fundamentaispara estimular lealdade em empregados, para estimular esforços
maiores e para facilitar a fiscalização (porque muitas vezes é mais
fácil medir o resultado do trabalho a longo prazo). Mas qualquer
principal que quer oferecer incentivos a longo prazo tem de se
preocupar com as condições de confiabilidade desses promessas.
Se os trabalhadores não acreditam que o patrão vá cumprir suas
promessas, incentivos à longo prazo não vão funcionar.Bom, antes de finalizar esta unidade, gostaria que você,
estudante e futuro administrador, acesse o link abaixo, do saiba
mais, leia o texto e reflita sobre às seguintes questões:
• O que você conhecia sobre a teoria do agente e do
principal?
• O que julga ser o mais importante desta teoria?
• Qual a importância dessa teoria para entendermos oque é a Governança Corporativa?
• Como essa teoria se reflete na sua vida profissional?
Saiba mais...
Texto – “Um modelo de gestão por resultados segundo a teoria daagência. Um estudo de caso: banco do estado de Santa CatarinaS/A.
Autores: Jorge Luiz dos Santos, Martinho Luís Kelm e AlineFrança de Abreu
Link: <http://novosolhos.com.br/site/arq_material/18471_19835.pdf >
Acesso em: 12 de dezembro de 2010
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Assim, veremos na próxima unidade que uma solução que
pode contribuir para a diminuição dos custos de agenciamento é o
desenvolvimento de práticas adequadas de Governança
Corporativa. Na unidade 2 estudaremos os fundamentos da
Governança Corporativa. Seu histórico e a evolução no mundo e no
Brasil.
Atividade de Aprendizagem
Essas perguntas têm o objetivo de solidificar os conceitossobre a teoria do agente e principal. Questões:
1. Qual seria o ponto ótimo de uma relação contratual
com relação aos custos de agência?
2. Os arranjos contratuais e institucionais realmente
podem alinhar ou compatibilizar os interesses do
agente com os interesses do principal?
Resumo
Nesta unidade, prezado aluno, nós aprendemos que a teoria do
agente e do principal enfatiza as relações existentes entre
indivíduos. Como foi visto, sempre que um indivíduo depende de
outro, surge uma relação de agency. Aquele que executa a ação é
o agente, enquanto a parte afetada é o principal. Assim, o objeto deestudo da teoria do agente e do principal são as transações
realizadas entre atores, ou seja, um contrato negociado entre duas
partes. O problema, então, consiste em estruturar acordos e
contratos que induzam os agentes a trabalhar pelos interesses do
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principal, mesmo quando as ações e informações detidas pelo
agente não são observadas ou de conhecimento do principal.
Dentro desse enfoque surge os problemas de agência (custos deagência), nas relações contratuais entre o principal – quem delega;
e o agente – quem executa. Esses custos podem ser: custos de
monitoração incorridos pelo principal; custos de demonstração do
agente; e a perda residual.Também vimos os tipos de relação de
agency existentes e as diferentes visões sobre o assunto. É um tema
de suma importância para a descrição e análise da Governança
Corporativa. Então, vamos ao trabalho!
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UNIDADE
2
O que é governança corporativa
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Objetivo
Nesta unidade, você será apresentado à Governança
Corporativa (GC). Você aprenderá como foi o surgimento e qual é
o conceito de GC. Iremos discutir a origem da governança e da
governança corporativa. Na última parte dessa unidade é
apresentada a evolução dos estudos sobre governança corporativa.
Assim, aprendiz, você será capaz, no final dessa unidade, perceber
a relação existente entre os principais e os agentes, a participação
da GC nesses problemas e identificar como os custos de
agenciamento podem aparecer nesse relacionamento.
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Introdução
Caro Aprendiz,
Lembra-se da caixa de ferramentas citada na unidade anterior.
Bem, agora iremos começar a manusear uma ferramenta muito
específica do nosso curso de Administração. Para maximizar essa
ferramenta você deve interagir com os seus colegas e o seu
orientador. Mas, que ferramenta é essa?Vamos chamá-la de boas práticas de Governança Corporativa.
Assim, nessa segunda unidade você será apresentado a GC. Você já
ouviu falar em GC? Você sabe o que significa e para que serve essa
governança?
Nada melhor do que uma revisão para embasarmos os conceitos.
Assim, peço que você, aprendiz, volte aos a unidade 01 através da
figura abaixo e caracterize a relação existente entre GC e a Teoria
de Agência. Logo após, descreva suas opiniões sobre a GC.
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Figura 2: Problema de Agência e a Governança Corporativa
Fonte: adaptado de Silveira, 2002, p.14 .
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Pronto, com a sua participação conseguimos perceber a
Fluxo de
RemuneraçãoPrincipais(acionistas)
Fluxo deServiços
Agentes(gestores)
Decisão 01
Tomada dedecisão quemaximiza ariqueza dosacionistas
Tomada dedecisão quemaximiza a
utilidadepessoal dos
gestores
Decisão 02
Decisões
GC – conjunto de mecanismos de incentivo e controle que visaharmonizar a relação entre acionistas e gestores pela redução
dos custos de agência, numa situação de separação dapropriedade e controle
Mecanismos Internos
• Conselho deAdministração;
• Sistema deremuneração;
• Estrutura depropriedade (posse deações pelos gestores econselheiros).
Mecanismos Externos
• Mercado de aquisiçãohostil;
• Mercado de trabalhocompetitivo;
• Relatórios contábeisperiódicos fiscalizadosexternamente (auditoriae agentes mercadofinanceiro)
• Crescimento Excessivo;• Diversificação Excessiva;• Resistência à liquidação oufusão vantajosa para os acionistas;• Resistência à substituição• Fixação de gastos pessoaisexcessivos (salários, benefícioscorporativos);• Roubo dos lucros;• Definição de preço detransferência ou venda de ativosabaixo do preço de mercado;• Designação de membros dafamília desqualificados paraposições gerenciais;• Obstrução do acesso ao mercadode capitais;• Empreendimento de projetosdevido ao seu gosto pessoal;
C u s t o s d e A g ê n c i a
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relação existente entre os principais e os agentes (unidade 01), a
participação da GC nesses problemas e identifica como os custos
de agenciamento podem aparecer nesse relacionamento. Mas,vamos voltar um pouco para descobrir a origem da expressão
“Corporate Governance”
Corporate Governance é a expressão inglesa que deu origem
a governança corporativa* (GC). A Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico - OCDE (1999, p. 5), fala que
governança corporativa é um o conjunto de relações entre a
administração de uma empresa, seu conselho de administração,
seus acionistas e outras partes interessadas. Também proporciona a
estrutura que define os objetivos da empresa, como atingi-los e a
fiscalização do desempenho.
Saiba mais...
Para saber mais sobre Governança Corporativa, acesse ossites a seguir:
• Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC < http://www.ibgc.org.br/Home.aspx>,
• Centro de Estudos em Governança Corporativa -FIPECAFI < http://www.ceg.org.br/>,
• Wikipédia<http://pt.wikipedia.org/wiki/Governan%C3%A7 a_corporativa>,
• Instituto Português do Corporate Governance
<http://www.cgov.pt/>,• The European Corporate Governance Institute
<http://www.ecgi.org/>.
GLOSSÁRIO
De acordo com(Wikipédia)governança
corporativa* é osistema pelo qual associedadesempresariais sãodirigidas emonitoradas pelomercado de capitais,envolvendo osrelacionamentosentre acionistas,conselho, diretoria eauditoria. Descreveo processo detomada de decisão ede implementaçãoou nãoimplementação dasdecisões tomadas.Fonte: wikipedia.org
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Pesquise nesses sites e busque os conceitos de GC. Nesses
sites são apresentadas, também, inúmeras contextualizações sobre o
tema em estudo. Aproveite! Vamos voltar ao nosso estudo!A governança corporativa tem recebido crescente atenção
da comunidade acadêmica e empresarial sendo um tópico de
grande destaque, tanto em trabalhos acadêmicos quanto na
imprensa.
O conceito de governança corporativa existe há mais de 50
anos. Mesmo não sendo um tema relativamente novo, nos últimos
anos, mais precisamente na última década do século passado,tornou-se uma preocupação importante em vários países, tanto
naqueles de economias desenvolvidas quanto naqueles de
economias consideradas emergentes.
A origem do termo governança é relacionada ao seu
emprego na área pública, representando algo que indicaria uma
ampla estratégia de reformas para reforçar as instituições da
sociedade civil, de forma a tornar os governos mais abertos,
responsáveis, transparentes e democráticos.
A governança refere-se ao modus operandi das políticas
governamentais incluindo, dentre outras, questões ligadas ao
formato político-institucional dos processos decisórios, à definição
do mix apropriado do público/privado nas políticas, à participação
e descentralização, aos mecanismos de financiamento das políticas
e ao alcance global dos programas. Assim, para o Banco Mundial, a
definição geral de governança é o exercício de autoridade, controle,
administração e poder de governar (SANTOS, 1997).
A capacidade de administrar, a existência de um quadro
legal que proteja a todos independente de sua posição na sociedade,
o direito de participação nas decisões, a transparência dos atos e
GLOSSÁRIO
“a governança é osistema e a estruturade poder que regem
os mecanismosatravés dos quais ascompanhias sãodirigidas econtroladas” (THECOMMITTEE,1992).
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ações dos gestores através de prestação de contas são sinônimos do
que se pode chamar de boa governança.
Foi com base nestes mesmos requisitos da boa governançana área pública que na área privada começou-se a utilizar a
expressão governança corporativa*, como resultado da pressão de
fundos de pensão nos Estados Unidos. Exigia-se mais informação,
transparência e limites aos controladores e diretores das empresas.
De forma bem similar à área pública, a governança na área das
corporações privadas envolve transparência, equidade de
tratamento dos acionistas e prestação de contas.No entanto, apesar da terminologia governança corporativa
ter surgido nos anos 1990, a preocupação com as estruturas de
propriedade, de controle e os conflitos de interesses nas grandes
corporações remontam a Adam Smith.
Smith (1776) foi o primeiro a questionar a estrutura de
dispersão da propriedade, a qual, em sua visão, levaria a uma
ineficiência na administração da empresa. No entanto foram Berle e
Means (1932) que lançaram luzes mais fortes sobre as pesquisas na
área de governança corporativa. Seu estudo que trata da separação
de propriedade e controle corporativos representa a base de
inúmeros trabalhos, sendo uma citação obrigatória nas discussões
sobre governança corporativa.
Além de Berle e Means (1932) há que se ressaltar a
contribuição relevante de outros pesquisadores, que com seus
estudos ajudaram na construção de um suporte teórico para a
realização de inúmeras pesquisas sobre governança corporativa em
todo o mundo. Destacam-se os trabalhos sobre direitos de
propriedade e teoria dos contratos de Coase (1937); sobre a teoria
da agência de Jensen e Meckling (1976); Williamson (1979) com
GLOSSÁRIO
*Stakeholder (emportuguês, parteinteressada ouinterveniente), é umtermo usado emdiversas áreas comoadministração earquitetura desoftware referente aspartes interessadasque devem estar deacordo com aspráticas degovernançacorporativaexecutadas pelaempresa.De maneira mais
ampla, compreendetodos os envolvidosem um processo, quepode ser de carátertemporário (comoum projeto) ouduradouro (como onegócio de umaempresa ou a missãode umaorganização).Fonte: wikipedia.org
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sua contribuição sobre as relações contratuais, que são essenciais
para compreender a organização e a dimensão das firmas e de
North (1994) cujas formulações analíticas vieram contribuirefetivamente para a perspectiva da Nova Economia Institucional,
onde as instituições são as regras do jogo de uma sociedade.
A governança corporativa é de maneira geral entendida com
um conjunto de regras que tem por objetivo minimizar os
problemas de agência. A visão tradicional na área é que os conflitos
de agência ocorreriam entre administradores e acionistas, tendo por
base a visão do trabalho de Berle e Means (1932). O problema deagência seria então conseqüência da existência de estruturas de
propriedade totalmente pulverizadas.
No entanto, estudos recentes como o de La Porta et al
(1998, 1999), tem demonstrado que este tipo de conflito é comum
em países como os Estados Unidos e Inglaterra. O que predomina
em outros países é uma estrutura de propriedade concentrada,
sendo comum a presença de um grande acionista controlador ou
bloco de grandes acionistas. O problema de agência passa então a
ser relacionado à relação entre acionistas minoritários e
majoritários, onde haveria a tendência destes em expropriar
aqueles. O Brasil insere-se nesse modelo de governança
corporativa.
Outro aspecto que vem sendo destacado é a necessidade de
um ambiente legal que tenha instrumentos de proteção aos
minoritários. Países como o Brasil ainda são carentes de legislação
mais rigorosa. Destaca-se, no entanto, iniciativas como o Novo
Mercado da Bovespa – Bolsa de Valores de São Paulo, ao criar um
ambiente de negociação de ações de empresas que tenha como um
dos objetivos a proteção dos acionistas minoritários.
GLOSSÁRIO
O termoShareholderssignifica acionistas,é um termo utilizadopara designar todosaqueles que possuemparte da empresa ouda organização, é
um assunto bastantedireto, pois falou deshareholders já sesabe que são osacionistas. Já otermo Stakeholders significa “parteinteressada” e é umtema pouco maisamplo que osShareholders, foiutilizado pela
primeira peloamericano R.Edward FreemanFonte:<http://www.administradores.com.br/inf orme-se/producao-academica/shareholders-e-stakeholders/513/>Acesso em: 13 dedezembro de 2010.
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O que são os Níveis Diferenciados de GC propostos pela
Bovespa? Quais são as obrigações que as empresas devem seguir para aderir a esses níveis?
De acordo com Barret (2005, p. 2), a definição padrão de
governança coorporativa entre acionistas e estudantes jurídicos
reporta à defesa dos interesses dos acionistas. Enquanto o termo
governança coorporativa não tem uma única definição aceita, é
geralmente compreendida como a maneira pela qual umaorganização é administrada, sua estrutura, cultura, políticas,
estratégias e o modo como o qual negocia com suas várias partes
interessadas, os stakeholders*.
Nessa mesma direção, Iudícibus et al (2003, p. 118)
consideram a governança coorporativa um sistema pelo qual as
empresas são dirigidas e controladas, mas acrescentam que ela
assegura aos proprietários o governo estratégico da empresa e a
efetiva monitoração da diretoria executiva. Consideram ainda, que
a relação entre propriedade e controle ocorre por meio do conselho
de Administração, da Auditoria Independente e do Conselho Fiscal,
que devem assegurar aos proprietários a equidade – fairness, a
transparência - disclousure, a responsabilidade pelos resultados -
accountability e o cumprimento de leis e normas - compliance.
De acordo com Cerda (2000, p. 2), um sistema de
governança corporativa possui dois objetivos essenciais:
1. fornecer uma estrutura eficiente de incentivos para a
administração da empresa, visando a maximização de
valor;
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2. instituir responsabilidades e outros tipos de salva-
guardas para evitar que os gestores - insiders promovam
qualquer tipo de expropriação de valor em detrimentoaos acionistas – shareholders* e demais partes
interessadas – stakeholders (clientes, funcionários,
fornecedores, comunidade, entre outros).
Assim, os mecanismos de governança visam diminuir os
efeitos da assimetria informacional, atribuindo importância idêntica
aos interesses de todas as partes da organização, conseqüentementeminimizando os problemas decorrentes do conflito de agência. Um
sistema pelo qual as organizações são dirigidas e controladas.
Governança e Governança Corporativa
As discussões sobre governança corporativa não são vistas
mais como uma novidade ou modismo, seja no meio acadêmico, no
setor empresarial ou no mercado de capitais. O tema ocupa um
grande espaço na academia, seja a análise realizada pela ótica
pública ou privada. Da mesma forma, seja no setor governamental
ou no privado, o debate não é menos intenso.
Ao propor aprofundar e detalhar o estudo de um
determinado assunto, muitas vezes no primeiro momento busca-se
explicar o significado dos termos que indicam o objeto a ser
estudado. Porém, destaca Gonçalves (2006) que um dos sérios
problemas da análise científica é a imprecisão dos conceitos, sendo
que com a palavra governança* parece estar acontecendo um
movimento de uso amplo da expressão, sem que sua utilização
esteja cercada do cuidado analítico que requer. Necessário se torna
GLOSSÁRIO
Governança* é aatividade degovernar. Relaciona-se com decisões quedefinem asexpectativas, o poderde subvenção, ouverificar odesempenho. Eleconsiste de umprocesso separadoou de uma parteespecífica dosprocessos de gestão
ou liderança. Àsvezes as pessoasestabeleceram umgoverno paraadministrar estesprocessos e sistemas.Fonte: wikipedia.org
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precisar o seu significado no contexto em que é aplicado. Além
disso, ressalta, vale a pena destacar que governança tem aplicação
em variados campos, com sentidos diferentes.Cita Araújo (2002) que o termo governança foi inicialmente
empregado e utilizado nos anos 1960, sendo a primeira citação
atribuída a Samuel Huntington, cientista político norte-americano.
No entanto, após a crise do Estado nos anos 1970 é que o termo
passou a constar com maior frequência nos papers da área e a ser
encarado como um instrumental analítico importante para a
compreensão desse período de transformação que tem ocorrido nosúltimos anos, sobretudo da reforma do Estado e de seu aparelho
(ARAÚJO, 2002; STREIT e KLERING, 2004).
Naquele momento o que caracterizava a utilização da
expressão era sua aplicação exclusivamente na área pública. Por
essa ótica, governança pode ser entendida como algo que indicaria
uma ampla estratégia de reformas para reforçar as instituições da
sociedade civil e tornar os governos mais abertos, responsáveis,
transparentes e democráticos (MEDEIROS e GUIMARÃES,
2005).
Dentro desta ótica o conceito de governança não se
restringiria, somente, aos aspectos gerenciais e administrativos do
Estado, tampouco ao funcionamento eficaz do aparelho de Estado.
Ele incorporaria questões relativas a padrões de articulação e
cooperação entre atores sociais e políticos e arranjos institucionais
que coordenam e regulam transações dentro e através das fronteiras
do sistema econômico. Incluindo-se aí os mecanismos tradicionais
de agregação e articulação de interesses, tais como partidos
políticos e grupos de pressão, como também redes sociais informais
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(de fornecedores, famílias, gerentes), hierarquias e associações de
diversos tipos (SANTOS, 1995).
Segundo Diniz (1995) o termo “governance” (traduzidopara o português como governança) foi introduzido no debate
público internacional a partir de reflexões conduzidas
principalmente pelo Banco Mundial, com o objetivo de aprofundar
o conhecimento das condições que garantem um Estado eficiente.
A capacidade governativa não seria avaliada apenas pelos
resultados das políticas governamentais, e sim também pela forma
pela qual o governo exerce o seu poder.O conceito de governança, segundo Borges (2003, p. 3) é
definido pelo Banco Mundial como "a maneira pela qual o poder é
exercido na administração dos recursos econômicos e sociais do
país, com vistas ao desenvolvimento" É a provisão de regras
abstratas e universais, de instituições capazes de garantir seu
cumprimento, e de mecanismos previsíveis para regular conflitos
relativos tanto às regras quanto ao seu cumprimento.
O Banco Mundial estabeleceu quatro dimensões-chave para
a boa governança: administração do setor público - diz respeito à
melhora da capacidade de gerenciamento econômico e de prestação
de serviços sociais; quadro legal - estabelecimento de um marco
legal enunciada como um elemento crítico em face da "síndrome da
ilegalidade" que caracterizaria muitos países em desenvolvimento;
participação e accountability*; e informação e transparência - a
participação e a transparência são consideradas de fundamental
importância para aumentar a eficiência econômica, envolvendo a
disponibilidade de informações sobre as políticas governamentais,
a transparência dos processos de formulação de política e alguma
GLOSSÁRIO
Equidade – fairness;Transparência –disclousure;Responsabilidadepelos resultados –accountability*Cumprimento de leise normas -compliance.Fonte: Iudícibus etal. (2003, p. 118)
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oportunidade para que os cidadãos possam influenciar a tomada de
decisão sobre as políticas públicas (BORGES, 2003).
Tem-se assim que não basta ter governança, mas boagovernança. A noção de boa governança encontra-se
intrinsecamente associada à capacidade governativa, sendo
primordial para criar e sustentar um ambiente que proporcione um
forte desenvolvimento eqüitativo, e é um complemento essencial
para políticas econômicas sólidas. Dessa forma, a boa governança
passa a ser requisito indispensável para um desenvolvimento
sustentado, que incorpora ao crescimento econômico eqüidadesocial e também direitos humanos (SANTOS, 1997).
Além da área pública, o termo governança é encontrado
também na área econômica. Segundo Williamson (1979; 1989)
governança é a coordenação das atividades econômicas através de
relações não-mercadológicas. Afirma que governança é a matriz
institucional pela qual as transações são definidas e são
estabelecidos objetivos, tais como o de minimizar os custos de
transações; o de obter a complementaridade de competências e o de
definir as relações de poder.
Com base neste raciocínio as empresas e suas estruturas
devem ser analisadas pelo processo produtivo relacionado aos
diferentes estágios de relacionamento concernentes à produção,
sendo a ênfase nos custos de transação, em que a governança torna-
se fator de grande importância na diminuição de riscos (JENSEN;
MECKLING, 1976; WILLIAMSON,1996).
A estrutura de governança é definida como um conjunto de
formas organizacionais que condiciona o relacionamento entre
agentes que estão empenhados em uma atividade, determinando os
incentivos individuais e a alocação dos recursos disponíveis. As
GLOSSÁRIO
Custo de transação éo custo incorporadopor terceiros em umatransaçãoeconômica. Oscustos de transação,
impostos porexemplo, causamimpacto sobre a aoferta e demanda deum mercado, pois ovalor pago pelocomprador não éinteiramenterepassado aovendedor.Fonte: wikipedia.org
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estruturas de governança incluem as formas específicas de direito
de propriedade dos ativos, as regras básicas – contratuais ou não –
que regulam as relações entre agentes, a utilização de ativoscomuns e individuais, a distribuição das rendas, previstas em
contratos ou residuais, os instrumentos de premiação e punição
utilizados pelo grupo e o arcabouço legal/institucional da economia
que ampara as regras de convivência e os contratos estabelecidos
entre agentes (BUAINAIN et al., 1999, citado por RABELO E
SILVEIRA, 1999).
Barbosa (2008) citando Farina, Azevedo e Saes (1997)apresenta a definição de uma estrutura de governança como “um
conjunto de regras (instituições) – tais como contratos entre
particulares ou normas internas às organizações – que governam
uma determinada transação” A governança adequada resulta num
prêmio de eficácia compatível com as características das
transações.
Analisando a governança a partir da ótica das grandes
corporações, encontra-se o termo governança corporativa* – GC –,
cujo surgimento e adoção são recentes. Segundo Andrade e
Rossetti (2004), a expressão foi empregada pela primeira vez em
1991. A GC é o conjunto de práticas que tem por finalidade
otimizar o desempenho de uma companhia ao proteger os
stakeholders, facilitando o acesso ao capital. A análise das práticas
de governança corporativa envolve, principalmente, transparência,
eqüidade de tratamento dos acionistas e prestação de contas.
É importante observar que a governança corporativa é
também um meio e processo capaz de produzir resultados eficazes
na gestão das empresas, coincidindo com o entendimento geral
GLOSSÁRIO
Pode-se definir agovernançacorporativa* comoum conjunto devalores, princípios,propósitos e regrasque rege o sistemade poder e os
mecanismos degestão dascorporações,buscando amaximização dariqueza dosacionistas e oatendimento dosdireitos de outraspartes interessadas,minimizandooportunismos
conflitantes com estefim” (ANDRADE EROSSETTI, 2004).
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sobre governança apresentado nos parágrafos anteriores
(GONÇALVES, 2006).
O apêndice “corporativa” amplia o conceito de governança,o qual passa a identificar um conjunto de relações mais amplas,
presentes nas estruturas administrativas das grandes corporações,
representando um conjunto de práticas que tem por finalidade
otimizar o desempenho de uma companhia ao proteger todas as
partes relacionadas. A análise das práticas de governança
corporativa envolve, principalmente, transparência, equidade de
tratamento dos acionistas e prestação de contas.Segundo Garcia e Souza (2005) a expressão governança
corporativa no português foi criada a partir da tradução literal do
original de língua inglesa. Contexta a autora que, no entanto, pode-
se questionar essa tradução, apesar, destaca, o fato do termo
governança já ter sido assimilado pelo vernáculo. Afirma que o
termo governança não é apto a abranger todo o seu real significado,
não cumprindo sua função de representar o seu abrangente
conteúdo. Já o termo corporativo, em português, designa, segundo
Boulos e Szterling (2002), citados por Garcia e Souza (2005) algo
próprio de corporação, a qual é uma associação de pessoas com
regras, direitos, deveres, privilégios comuns, ou como indivíduos
que, coletivamente, administram ou dirigem certos negócios de
interesse público. O termo inglês corporate remete às corporations,
cujo similar mais próximo em nosso direito são as sociedades
anônimas. Conclui a citada autora que apesar de não ser a
denominação mais adequada, o termo governança corporativa pelo
menos ajuda a remeter ao nome usado nos EUA, o qual é
mundialmente reconhecido como identificador do movimento de
governança corporativa*.
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O que vem, portanto, a ser GOVERNANÇA
CORPORATIVA*? Foi colocado na forma de Glossário vários
conceitos (“bem fundamentadas”) de GC para que você, aluno,possa se familiarizar com o tema proposto. Assim, uma análise na
literatura recente que aborda o tema proporciona uma gama
considerável de definições e conceitos, desde colocações bem
fundamentadas a outras bem superficiais. Aquelas bem
fundamentadas representam um conjunto que permite entender de
forma mais clara o que seja governança corporativa. É o que se
pode chamar de “pressupostos teóricos da governança corporativa”.Esses conceitos e definições, de forma bem próxima, são
fundamentados nas mesmas bases teóricas.
Os trabalhos dos autores citados na Figura 1 representam a
base teórica para as atuais discussões sobre governança
corporativa. Não é possível afirmar que entre eles haja uma relação
de causa e efeito, mas a contribuição de cada um está presente na
determinação das estruturas e nos mecanismos de governança
corporativa atualmente adotadas pelas empresas.
GLOSSÁRIO
“Governançacorporativa*consiste no conjuntode mecanismospelos quaisfornecedores decapital para asempresas seasseguram de que
receberão retornoadequado sobre seusinvestimentos”(CARVALHO,2007).
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Figura 3: Pressupostos teóricos da governança corporativa
Fonte: elaborado pelo autor.
A diversidade de conceitos de governança corporativa
presentes na literatura com maior ou menor abrangência buscamestabelecer ou delimitar o escopo de emprego das estruturas de
governança corporativa. Sem a pretensão de apresentar uma revisão
completa dos conceitos encontrados na literatura, mas com o
objetivo de subsidiar as demais discussões a serem apresentadas
nessa apostila são apresentados a seguir alguns destes conceitos.
Pode-se dizer que a palavra governança contém um
elemento positivo: governança necessariamente é a boagovernança. De certa forma há uma relação entre os conceitos de
governança apresentados. Em países democráticos o governo
divide-se em três poderes, o executivo, o legislativo e o judiciário.
Esses três poderes são assessorados por outros órgãos que auxiliam
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na gestão e na fiscalização. A governança corporativa* segue
estrutura bem próxima, baseando-se também em três poderes: a
diretoria executiva, o conselho de administração e o conselhofiscal, além da previsão do estabelecimento de auditoria interna,
externa, comitês e conselhos consultivos. Estes órgãos existem para
auxiliar na fiscalização da governança da companhia.
A governança não é ação isolada de gestores, acionistas
majoritários ou minoritários buscando e defendendo espaços de
participação e influência. Deve, ao contrário, representar um
conjunto de normas e ações que tenham por objetivos preservar ealinhar os interesses das partes interessadas na maximização dos
resultados da empresa. Transparência, equidade, prestação de
contas devem ser os pilares da boa governança. A (boa) governança
diz respeito aos meios e processos que são utilizados para produzir
resultados eficazes, através de atos propositados e não apenas de
comandos tácitos.
Origem da Governança Corporativa
Os estudos sobre governança corporativa* ganharam maior
relevância com o surgimento das modernas corporações, sendo que
o centro das discussões sempre esteve relacionado à estrutura de
propriedade, ao controle e aos conflitos de interesses. De acordo
com Berle e Means (1932, 1984) o advento de grandes empresas
financiadas pelo público (sociedades anônimas) transformou a vida
dos proprietários, dos trabalhadores e as formas de propriedade.
Assim, o divórcio entre a propriedade e o controle, resultante desse
processo, envolveu quase necessariamente uma nova forma de
organização econômica da sociedade.
GLOSSÁRIO
A governançacorporativa* é umconjunto de
relacionamentosentre a gerência dacompanhia, seusconselhos,acionistas, e outrosstakeholders.Governançacorporativa tambémfornece a estruturapela qual osobjetivos dacompanhia são
estabelecidos, e osmeios para atingi-lose o monitoramentoda performance sãodeterminados. A boagovernança deveriafornecer incentivosespecíficos para osconselhos e para osgestores na buscados objetivos querepresentam osinteresses dacompanhia e dosacionistas, bemcomo deveriafacilitar o efetivomonitoramento dosnegócios” (OECD –ORGANISATIONFOR ECONOMICCO-OPERATIONAND
DEVELOPMENT,2004).
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A governança corporativa faz parte da pesquisa em
empresas desde a publicação de Adam Smith (1776) “Uma
Investigação na Natureza e Causas da Riqueza das Nações”. Apesarde repudiar a sociedade anônima como mecanismo comercial,
Smith (1996) contribuiu para a análise da negligência e
esbanjamento com que os administradores agiriam, ao administrar
o dinheiro dos outros e não o seu. Afirmava que a dispersão da
propriedade tornava impossível uma administração eficiente, ou
seja, foi o primeiro insight relacionado à estrutura de propriedade e
de controle das firmas.
Saiba mais...
Palavras de Adam Smith:
“. . . sendo que os diretores de tais companhias
administram mais do dinheiro de outros do que o próprio, não é de
esperar que dele cuidem com a mesma irrequieta vigilância com aqual os sócios de uma empresa privada frequentemente cuidam do
seu. Como os administradores de um homem rico, eles tem
propensão a considerar que não seria honroso para o patrão
atender a pequenos detalhes, e com muitas facilidade dispensam
esses pequenos cuidados. Por conseguinte, prevalecem sempre e
necessariamente a negligência e o esbanjamento em grau maior
ou menor, na administração dos negócios de uma companhia. É por isso que as companhias de capital acionário para o comércio
exterior raramente tem sido capazes de sustentar a concorrência
contra aventureiros privados. Consequentemente, poucos êxitos
têm obtido sem qualquer privilégio de exclusividade e, muitas
GLOSSÁRIO
“Governançacorporativa* é um
sistema de normasde estruturação dasociedade anônima,visando aoaprimoramento dasrelações entre osdiversos segmentosenvolvidos naatividadeempresarial, deforma a garantir-lhestratamentoequânime,informação plena,impondo aoscontroladores e aosadministradores aresponsabilidadepelos resultados,tanto em relação aosminoritários, quantoaos demaisenvolvidos direta ou
indiretamente nadinâmicaempresarial,inclusive acomunidade”(GARCIA eSOUZA, 2005).s com este fim”(ANDRADE EROSSETTI, 2004).
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vezes, nem sequer com isto têm logrado sucesso. Sem um privilégio
de exclusividade, geralmente tem administrado mal o comércio.
Com tal privilégio, além de administrar mal, tem limitado ocomércio.” (Smith, A., 1996, p. 214).
No entanto aponta-se que os estudos sobre governança
corporativa ganharam ímpeto através da clássica publicação de
Berle e Means (1932) “A Moderna Sociedade Anônima e a
Propriedade Privada” que trata da separação de propriedade e
controle corporativos, a qual é apontada como sendo as raízes das
pesquisas sobre governança corporativa. Os autores posteriores
buscaram explicar por que uma empresa com vários acionistas
espalhados investe de controle e poderes o gerente que pode não ter
partes significativas na empresa. Mesmo após o jubileu de
diamante desta publicação clássica, ainda há interesse inigualável
no campo com relação a governança corporativa (NANKA-
BRUCE, 2006). Muito da literatura sobre governança corporativa
baseia-se no princípio de que as empresas pertencem aos acionistas
e que, portanto, a sua administração deve ser feita em benefício
deles (CARVALHO, 2007).
O trabalho de Berle e Means (1932) teve como objetivo
analisar empiricamente a composição acionária das grandes
empresas norte-americanas e discutir os inevitáveis conflitos de
interesse que estruturas de propriedade pulverizadas, tais como
as encontradas, poderiam acarretar para o desempenho e valor
das companhias. Eles foram os primeiros a discutir os
benefícios e custos potenciais da separação entre propriedade e
controle que já se verificava em algumas grandes corporações
de sua época. Entre os custos potenciais, os autores observaram
GLOSSÁRIO
“GovernançaCorporativa* é osistema pelo qual asorganizações sãodirigidas,
monitoradas eincentivadas,envolvendo osrelacionamentosentre proprietários,Conselho deAdministração,Diretoria e órgãos decontrole. As boaspráticas deGovernançaCorporativa
convertem princípiosem recomendaçõesobjetivas, alinhandointeresses com afinalidade depreservar e otimizaro valor daorganização,facilitando seuacesso a recursos econtribuindo parasua longevidade”
(IBGC, 2009).
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que a pulverização da propriedade fortaleceria o poder dos
gestores, aumentando as chances de os mesmos agirem em seu
próprio interesse, e não no interesse dos acionistas. Tem-se
assim que a estrutura de propriedade e os conflitos de interesse
na alta gestão das empresas sempre estiveram no centro das
discussões sobre governança corporativa* (SAITO; SILVEIRA,
2008).
Os custos potenciais a que se referiam Smith (1776) e
Berle e Means (1932) são os que anos depois Jensen e Meckling
(1976) denominaram de custos de agência (visto na unidade 01).Relembrando, esses custos somente existiriam em função da
necessidade da diminuição da existência de assimetria de
informação na relação entre agente e principal nas empresas. No
entanto quando da publicação do artigo de Ronald Coase em 1937,
intitulado “A natureza da firma”, a teoria econômica passou a
reconhecer além dos custos de produção, os custos de transação. Os
custos de transação são os custos de negociar, de redigir e de
garantir o cumprimento de contratos, de estabelecer marcas, de
obter informações que podem também ser denominados como
custos da organização. A Teoria dos Custos de Transação - TCT
suspende a hipótese clássica da simetria de informação entre
comprador e vendedor, tornando os custos de transação
significativos na produção empresarial (VILLELA, 2003). Além do
mais a assimetria de informações é um pontos cruciais para o
estabelecimento de uma estrutura de governança corporativa nas
empresas.
Ao analisarem a separação entre propriedade e controle
Berle e Means (1984) já se preocupavam com a situação que
criava uma condição em que os interesses do proprietário e do
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administrador poderiam, com freqüência, divergir, e dessa forma os
mecanismos que antes existiam para limitar o abuso de poder
desapareceriam. A divisão da propriedade, em propriedade formal eo poder associado a ela, estabelece uma nova relação, a qual tem
implicações inclusive na natureza do objetivo corporativo de busca
da maximização do lucro.
A necessidade de novos mecanismos de controle é abordada
por Coase (1937) ao introduzir a visão da firma como um nexo de
contratos e a formação lógica básica da economia dos custos de
transação. Este foi um novo conceito que revolucionou as análiseseconômicas em períodos recentes, através do qual se demonstrou
como a introdução de custos de transação na economia determina
as formas organizacionais e as instituições do ambiente social.
Segundo Coase (1937), os custos de transação decorrem
fundamentalmente da tentativa de obtenção das informações de
mercado, pressupondo-se que este procedimento é particular a cada
organização, e da negociação e estabelecimento dos contratos,
incluindo, neste caso, custos de monitoramento das cláusulas
acordadas.
Segundo Villela (2003) é necessário considerar os fatores
cruciais nos custos de transação tais como a racionalidade limitada
dos agentes econômicos, a complexidade e incerteza do ambiente e
os diferentes tipos de contratos estabelecidos entre as organizações.
Destaca que as análises de Simon (1979) discutem os processos
decisórios e a racionalidade limitada dos agentes econômicos, ou
seja, o comportamento administrativo não é perfeito uma vez que a
racionalidade dos indivíduos é imperfeita. Desta forma pode-se ter
decisões no máximo satisfatórias, pois normalmente não existe
perfeição em termos de decisões devido à complexidade e às
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incertezas do ambiente. No entanto para que se obtenha decisões
satisfatórias, as organizações devem buscar uma grande amplitude
de informações e serem capazes de analisar os possíveisdesdobramentos de uma dada escolha. Porém, contextos complexos
e incertos possibilitam que agentes envolvidos adotem iniciativas
oportunistas, tais como a manipulação da assimetria de
informações. Neste aspecto os custos de transação (monitoramento)
são essencialmente custos de governança. A minimização dos
custos de governança é assim diretamente relacionada à estrutura
que uma empresa deseja ter. Se o objetivo é proteger os direitos depropriedade, maior incidência haverá destes custos.
O estabelecimento de mecanismos e estruturas de
governança passam a ser fundamentais na forma de gestão de uma
empresa, incluindo aí suas relações com o mercado. Williamson
(1979), a partir das contribuições apresentadas por Coase (1937)
propõe uma taxonomia de coordenação econômica que divide-se
em: (i) mercado; (ii) redes e (iii) hierarquia. A governança,
coordenação das atividades econômicas através de relações não –
mercadológicas, se resume na coordenação das redes e das
hierarquias. O autor além de demonstrar a importância das
instituições, mostra que, estas, são passiveis de receberem
interpretações analíticas.
Segundo Zylbersztajn (2009) o modelo apresentado por
Williamson (1979) permite testar hipóteses sobre os mecanismos
de governança das organizações, sobre as relações entre firmas que
não ocorrem por meio dos mercados e sim dos contratos. Indo além
do conceito de governança corporativa, o trabalho de Williamson
(1979) lançou luz sobre decisões estratégicas fundamentais, como
por exemplo, a decisão estratégica sobre o crescimento vertical das
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organizações. O modelo de Williamson (1979) abriu caminhos para
a análise do crescimento das firmas e das relações contratuais
complexas que caracterizam as cadeias produtivas e as redes decorporações modernas.
Jensen e Meckling (2008) asseveram que as relações
contratuais compõem a essência da firma, não somente com os
empregados, mas também com fornecedores, clientes, credores etc.
Segundo eles o problema dos custos de agência e de
monitoramento existe para todos esses contratos,
independentemente de haver uma produção coletiva. Os custos deagência são definidos por estes autores como sendo a soma (1) das
despesas de monitoramento por parte do principal; (2) das despesas
com a concessão de garantias contratuais por parte do agente; (3) e
do custo residual.
Os custos de agência decorrem da existência da relação de
agência. Sendo que na maioria das relações de agência, o principal
e o agente incorrerão em custos positivos de monitoramento e de
concessão de garantias contratuais (tanto não pecuniários quanto
pecuniários) e, além disso, haverá algum nível de divergência entre
as decisões do agente.
Pode-se depreender da definição que os custos de agência*
ou custos de transação são passíveis de serem mensurados em
função da existência de relações estabelecidas mediante contrato.
Segundo North 1994 o custo de quantificação dos atributos dos
bens e serviços ou desempenho dos agentes constitui a chave dos
custos de transação. Esse valor provém dos diversos atributos do
bem ou serviço ou, no caso do desempenho de um agente, das
inúmeras atividades isoladas que constituem esse desempenho.
Para North 1994, custos de transação podem ser definidos como
GLOSSÁRIO
A relação de agência*é definida “como
um contrato sob o
qual uma ou mais
pessoas (o(s)
principal (is))
em¬prega uma
outra pessoa
(agente) para
executar em seu
nome um serviço
que implique adelegação de algum
poder de decisão ao
agente. Se ambas as
partes da rela¬ção
forem
maximizadoras de
utilidade, há boas
razões para
acreditar que o
agente nem sempre
agirá de acordo
com os interesses
do principal” Fonte:
Jensen e Meckling.
(2008, p. 89).
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aqueles a que estão sujeitas todas as operações de um sistema
econômico.
De acordo com North (2006) o desempenho econômico éfunção das instituições e de sua evolução. Juntamente com a
tecnologia empregada, elas determinam os custos de transação e
produção. Destaca que as instituições constituem as regras do jogo
numa sociedade. Ou seja, formalmente, representam os limites
estabelecidos pelo homem para disciplinar as relações humanas.
Conseqüentemente, e em compensação, estruturam os incentivos de
natureza política, social e econômica (BALBINOTTO NETO,2006). Tem-se assim que as instituições determinam: (i) os direitos
de propriedade; (ii) A estrutura de mercado; (iii) a alocação de
recursos; (iv) a distribuição do excedente.
O direito de propriedade, que é um tema recorrente em
governança corporativa, é segundo Balbinoto Neto (2006) um
conjunto de leis (ou normas) que descreve o que as pessoas e as
empresas podem fazer com suas respectivas propriedades. Nas
sociedades anônimas as normas visam basicamente eliminar os
problemas de agência, pois de acordo com Carvalho (2007) espera-
se que o agente deva tomar decisões em benefício do principal, mas
muitas vezes ocorrem situações em que os interesses dos dois são
conflitantes, dando margem a um comportamento oportunista por
parte do agente (referido como moral hazard ou oportunismo).
O oportunismo resulta do comportamento do indivíduo na
busca do seu auto interesse. Ele parte de um princípio de jogo não
cooperativo, no qual a informação que um agente possa ter sobre a
realidade, não acessível a outro agente, pode permitir que o
primeiro desfrute de algum benefício do tipo monopolístico.
A teoria dos custos de transação assume que apesar da
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“competência cognitiva” limitada dos agentes, sua conduta
econômica possui um caráter racional, refletido no fato de que estes
procuram avaliar as conseqüências das suas decisões e estabelecercritérios para a escolha entre ações alternativas. Segundo
Williamson (1985), citado por Santos, Pereira e Rodrigues (2001,
p. 4) o oportunismo refere-se a ações que resultam em um
“desenvolvimento incompleto ou distorcido de informações,
especialmente quando associado a esforços premeditados para
enganar, deturpar, disfarçar, ofuscar ou de alguma forma,
confundir”, o que abrange todo comportamento estratégico queenvolve a manipulação ou o ocultamento de informações e/ou
intenções perante a outra parte da transação.
O conceito de oportunismo traz consigo a conotação de
ética comportamental dos indivíduos que, na base da teoria dos
custos de transação, apenas assume que os indivíduos podem agir
de modo oportunístico. Diante dessa possibilidade, os contratos
ficam expostos a ações que demandam monitoramento ou inclusão
de salvaguardas, o que não ocorre sem custos. Segundo Neves
(1995), a ação oportunística pode ser reduzida por meio de
mecanismos de controle e fiscalização e de mecanismos de
remuneração e incentivos.
Em uma empresa, o controle (agente) deve ser
supostamente, guardião dos interesses de determinados grupos
(principais). Em alguns casos, o controle deve preservar apenas os
interesses dos acionistas. Governança corporativa é assim o
conjunto de mecanismos instituídos para fazer com que o controle
atue de fato em benefício das partes com direitos legais sobre a
empresa, minimizando o oportunismo (CARVALHO, 2007).
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A racionalidade limitada e o oportunismo são dois fatos que
parecem condizentes com a realidade, em que se encontram
incertezas e assimetria informacional, pressupostos para aexistência de uma estrutura de governança. Por isso devem ser
considerados nos contratos, implicando custos associados às
salvaguardas contratuais e aos mecanismos de monitoramento e
controle (ALVES; STADUTO, 1999).
O objetivo de uma estrutura de governança corporativa deve
ser o de diminuir os problemas de agência, entre gestores e
acionistas, gestores e investidores, e entre acionistas minoritários emajoritários. A redução da assimetria informacional é um ponto
chave deste processo, pois somente com equidade, informação e
transparência torna-se possível reduzir a ameaça de oportunismo
por parte de quem detém a informação. Mecanismos efetivos de
governança corporativa não somente são essenciais, como também
podem contribuir para diminuir os custos de agência ou transação.
Evolução da Governança Corporativa
Segundo Carvalho (2007) predominou, por décadas, da
visão descrita em Berle & Means (1932), segundo a qual as grandes
empresas modernas possuem propriedade acionária dispersa,
moldando o debate sobre governança corporativa: o grande
problema de agência era visto como o conflito entre
administradores (agentes) e acionistas (principais). O oportunismo
consistiria de decisões dos administradores que não visassem à
maximização do valor das ações. Dentro desse paradigma, boa
governança empresarial significaria a adoção de mecanismos que
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forçassem os administradores (não-acionistas) a proteger os
interesses dos acionistas.
Através de raciocínio semelhante Silveira et al. (2007)destacam que a maior parte da literatura sobre governança
corporativa foi desenvolvida para o contexto anglo-saxão, no qual
o principal conflito de agência ocorre entre acionistas e gestores,
em decorrência da estrutura de propriedade pulverizada presente na
maioria das grandes companhias abertas.
Segundo Leal (2007) estudos recentes sugerem que o
modelo de Berle e Means (1932) de propriedade dispersa não écomum nem em mercados desenvolvidos, pois mesmo em países
ricos encontram-se grandes acionistas controlando um número
significativo de companhias. Na mesma linha destaca Carvalho
(2007) que pesquisas tem demonstrado que o paradigma de Berle
& Means (1932) é uma exceção restrita aos Estados Unidos e à
Grã-Bretanha. Na maioria dos países, o modelo que predomina é o
de um acionista majoritário que detém o controle da empresa e
aponta seus administradores. Nesta situação há mudança no
paradigma de governança corporativa, pois pode passar a existir
conflitos de interesses entre os grupos de acionistas: a boa
governança não mais consiste em proteger o interesse dos
acionistas, mas em evitar que os acionistas controladores
expropriem os minoritários.
La Porta et al. (1998, 1999) desenvolveram uma série de
estudos acerca das diferenças entre os diversos mercados de
capitais nacionais e concentração acionária. Os estudos apontam
que apenas em países com excelente proteção ao investidor
(Estados Unidos e Inglaterra) foi encontrada a predominância do
controle pulverizado, de acordo com a imagem que Berle e Means
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(1932) faziam da corporação moderna. Sendo que a concentração
da estrutura de propriedade (menor proteção ao investidor) é bem
maior no restante do mundo, onde é comum a presença de umgrande acionista controlador ou bloco de grandes acionistas. Ou
seja, exceto em algumas economias com grande proteção ao
acionista, poucas empresas possuem propriedade dispersa. Eles
identificaram os proprietários dos direitos de voto e fluxo de caixa
em países desenvolvidos nos quais desenvolveram as pesquisas e que possuem leis de diferentes origens e enforcement. A maioria
das empresas é controlada por famílias ou pelo Estado. Os direitosde voto dos acionistas controladores em geral excedem os direitos
de fluxo de caixa, principalmente pelo uso de estruturas indiretas
de controle, tais como pirâmides.
Segundo La Porta et. al (1998, 1999) nestas situações o
controle das empresas é bem definido, existindo o risco dos
minoritários serem expropriados. Em países com estas
características o problema de agência verificado com mais
freqüência é a expropriação do acionista minoritário pelo
majoritário. Destacam os autores que a concentração da
propriedade acionária é negativamente relacionada à proteção dos
direitos de acionistas, ou seja, países com melhor proteção tendem
a apresentar maior dispersão da propriedade das companhias.
Destaca Garcia e Souza (2005) que os estudos atuais sobre
governança corporativa além de serem voltados à proteção dos
direitos dos minoritários, englobam também a defesa de todos os
demais interessados na sociedade anônima. Desta forma,
complementa, houve a necessidade de se modificar o enfoque da
gestão empresarial, além de provocar reformas na legislação
societária dos países de economia de mercado e a criação de
GLOSSÁRIO
Enforcement –execução.
“These authoritiesshould be given aminimum of commoninvestigation andenforcement
powers”.
“Estas autoridadesdeverão ter ummínimo comum decompetências deinvestigação e de.”
Fonte: Elaborado
pelo autor
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programas de incentivo à adoção das boas práticas de governança
corporativa.
Cita-se que a relevância alcançada pelos estudos sobregovernança corporativa é relacionada ao movimento surgido nos
Estados Unidos, em decorrência da pressão dos fundos de pensão,
como por exemplo, Calpers e Fidelity, que passaram a exigir mais
informação e transparência das companhias. O objetivo era impor
limites aos abusos dos controladores. Paralelamente, foi editado na
Inglaterra, em 1992, o Cadbury Report , o primeiro de todos os
códigos de melhores práticas de governança corporativa. Em outrospaíses, como na França através da publicação do Relatório Vienot ,
na Itália e na Alemanha também ocorreram mudanças em função
da necessidade de adequação aos princípios de governança
corporativa. Porém, os escândalos corporativos envolvendo
empresas como a Enron (esse será apresentado em forma de estudo
de caso na unidade 03) e a WorldCom no Estados Unidos na
década de 1990, que surpreenderam o mercado, para o qual eram
empresas saudáveis e com credibilidade, e trouxeram descrença dos
investidores, abalando a credibilidade das instituições (GARCIA E
SOUZA, 2005), é um de certa forma uma marco negativo para a
ampliação e fortalecimento das discussões sobre governança
corporativa.
De acordo com Garcia e Souza (2005) a conseqüência dos
escândalos corporativos foi reabrir a discussão acerca da eficiência
dos mecanismos de controle da gestão das sociedades anônimas.
Os sistemas de controle foram revistos e reformados, com a
governança corporativa evoluindo para uma nova etapa, com foco
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na busca da eficiência na aplicação de suas regras, de modo a
assegurar mais respeito ao investidor e recobrar a credibilidade do
mercado. Nos Estados Unidos o marco desta etapa da governançacorporativa foi a Lei Sarbanes-Oxley*, promulgada em julho de
2002, representando uma resposta às fraudes que desafiaram os
controles do sistema acionário norte-americano. Esta legislação
adotou normas rígidas de governança corporativa, procurando
assegurar maior transparência nas informações, mais independência
aos órgãos de auditoria, maior confiabilidade aos resultados e
sanções severas contra fraudes societárias. A eficácia da leiSarbanes-Oxley se estende além dos limites territoriais americanos,
se aplicando também a toda e qualquer empresa que negocie no
mercado de valores mobiliários norte-americano.
No Brasil, segundo Garcia e Souza (2005), grande parte dos
preceitos estabelecidos na lei Sarbanes-Oxley já tinha sido
instituída pela Lei nº 6.404/1976 - Lei das Sociedades Anônimas,
incluindo aí as alterações introduzidas pela Lei nº 10.303 de 2001.
Destacam-se no instrumento legal brasileiro aspectos como o fato
do administrador responder civilmente pelos prejuízos que causar a
sociedade, por atos que extrapolem os poderes a ele delegados em
afronta à lei ou aos estatutos, ou ainda por atos culposos ou
dolosos, mesmo que dentro do âmbito de suas atribuições.
No entanto, Gorga (2004), analisando a promulgação da Lei
nº 10.303 de 2001, cita que a cultura pode influenciar a governança
corporativa, pois pode ser um fator determinante de mudanças
institucionais, tanto no setor privado como no setor público. Cita
que, apesar dos avanços contemplados na nova lei, o
desenvolvimento do mercado ainda parece ser tímido e
insuficiente.
GLOSSÁRIO
A Lei Sarbanes-Oxley (em inglês,Sarbanes-Oxley Act )é uma leiestadunidense,assinada em 30 de
julho de 2002.Motivada porescândalosfinanceiroscoorporativos
(dentre eles o daEnron, que acaboupor afetardrasticamente aempresa de auditoriaArthur Andersen),essa lei foi redigidacom o objetivo deevitar oesvaziamento dosinvestimentosfinanceiros e a fugados investidorescausada pelaaparente insegurançaa respeito dagovernançaadequada dasempresas.
Fonte: Sarbanes-Oxley Act of 2002.Disponível em:
<http://corporate.findlaw.com/industry/corporate/docs/publ107.204.html>,acesso em:20.08.2010
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Esse é um dos aspectos que caracteriza o ambiente
institucional brasileiro, com raízes no desenvolvimento econômico
e na cultura empresarial nacional, que em muitas situaçõesrepresentam obstáculos às mudanças institucionais no Brasil
(GORGA, 2004). Segundo Motta e Caldas (1997), grandes
empresas nacionais ainda retêm valores aristocráticos e a
mentalidade tradicional da casa-grande em suas organizações.
Afirmam os autores que, embora frequentemente sintam a
necessidade de adotar novas estratégias, as organizações não são
capazes de implementá-las, porque isso requereria uma mudançanos valores e expectativas.
A cultura e a ideologia ajudam a explicar a manutenção do
status quo* de alguns grupos no poder, como também podem
explicar a emergência de outros grupos de interesses, como
exemplo os acionistas minoritários (GORGA, 2004; PEREIRA,
1997; GRÜN, 2003).
Camera e Araújo (2008), também abordaram os aspectos da
cultura brasileira e a origem da empresa familiar. Salientam que a
característica do empreendedor brasileiro está mais apoiada em
variáveis e características emocionais do que em qualquer visão
racional ou estratégica. E é por essa razão que boa parte dos
fundadores empreendedores não consegue fazer uma distinção
entre família, propriedade e empresa.
Deve-se ter em conta, também, que a economia brasileira,
desde os anos 1930, teve seu crescimento calcado na articulação do
clássico tripé capital privado nacional/estatal/estrangeiro Nesse
cenário, predominavam grandes empresas estatais atendendo ao seu
controlador (governo), empresas privadas com controle familiar e
filiais de empresas estrangeiras – todas, ainda que com
GLOSSÁRIO
Statu quo* (daexpressão in statuquo res erant antebellum) é umaexpressão latina quedesigna o estadoatual das coisas, sejaem que momentofor.
Emprega-se estaexpressão,geralmente, paradefinir o estado decoisas ou situações.
Na generalidade dasvezes em que éutilizada, aexpressão aparececomo "manter ostatu quo", "defendero statu quo" ou, aocontrário, "mudar ostatu quo".Fonte: wikipedia.org
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performance diferenciada, inseridas em uma economia com o
processo concorrencial “controlado” (SIFFERT FILHO, 1998;
GRÜN, 2003).Porém, diversas transformações vêm ocorrendo na
economia brasileira a partir dos anos 1990. Mudanças estruturais,
como a abertura comercial, os novos padrões de consumo e
produção, a redefinição do papel do governo e o processo de
privatização alteraram o ambiente institucional, trazendo para as
empresas novos desafios. A capacidade de adaptação passa a ser
fundamental nesse novo processo.Como consequência desse novo cenário, principalmente
devido ao processo de privatização, alterou-se a configuração
societária de empresas em diversos setores da economia.
Atividades como siderurgia, papel e celulose, fertilizantes, química
e petroquímica, transporte ferroviário e mineração, entre outras,
que até os anos 1980 eram estatais, passaram a ter novo controle.
Siffert Filho (1998) destaca que a empresa familiar nacional
encontrou-se (e ainda encontra-se) sob forte pressão, seja pelo lado
das dificuldades de se estabelecer uma adequada estrutura de
capital, com maior participação de equity (recursos não-exigíveis)
no financiamento dos investimentos, seja pelas dificuldades
inerentes a uma economia com maior exposição aos capitais
externos. Deve-se destacar que os processos de fusões,
incorporações e aquisições de empresas ocorridos nos últimos anos
têm contribuído para mudanças na estrutura de controle de muitas
empresas familiares. Dessa forma, novos agentes ganham relevo
enquanto articuladores estratégicos do controle de grandes
empresas nacionais: os investidores institucionais, em especial os
fundos de pensão e os investidores externos.
GLOSSÁRIO
Statu quo* (daexpressão in statuquo res erant antebellum) é umaexpressão latina que
designa o estadoatual das coisas, sejaem que momentofor.
Emprega-se estaexpressão,geralmente, paradefinir o estado decoisas ou situações.Na generalidade dasvezes em que é
utilizada, aexpressão aparececomo "manter ostatu quo", "defendero statu quo" ou, aocontrário, "mudar ostatu quo".Fonte: wikipedia.org
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A partir do envolvimento e da participação dos novos
atores, novas composições societárias são estabelecidas, criando
um contexto no qual novas formas de governança corporativapassam a ser necessárias, tornando-se presentes na economia
brasileira. Em função desse novo ambiente no contexto das
empresas, houve a necessidade da criação e do aperfeiçoamento de
normas jurídicas que ordenaram as diversas tendências (reforma da
Lei 6.404/1976) e a redefinição das funções de órgãos estatais ou
paraestatais (o CADE – Conselho Administrativo de Defesa
Econômica – e a CVM – Comissão de Valores Mobiliários), poucorepresentativos em momentos anteriores (SIFFERT FILHO, 1998;
GRÜN, 2003; GORGA, 2004). Destacam-se dentro desse contexto
outras iniciativas institucionais, como a da Bovespa (criação do
Novo Mercado), a da CVM (cartilha de “Recomendações da CVM
sobre governança corporativa”) e a do IBGC – Instituto Brasileiro
de Governança Corporativa (Código de Melhores Práticas do
IBGC) (VIGNA, 2004).
A valorização e a liquidez das ações de um mercado são
influenciadas positivamente pelo grau de segurança que os direitos
concedidos aos acionistas oferecem e pela qualidade das
informações prestadas pelas empresas. De acordo com a Bovespa,
qual segmento de listagem possui essa premissa básica?
Todas essas iniciativas alteraram os ambientes institucional
e legal, representando uma intervenção no cotidiano das
organizações e alterando práticas arraigadas em função da cultura
empresarial predominante, como cita Siffert Filho (1998), em
função das mudanças de natureza societária que experimentam as
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maiores empresas, com alterações na forma de controle societário
das corporações, tendo como acionistas principalmente investidores
institucionais, tanto nacionais como estrangeiros.A década de 1990 marca o surgimento do movimento da
governança no Brasil, de certa forma como uma reação à
necessidade captação de recursos. Segundo Garcia e Souza (2005)
os investidores institucionais de países desenvolvidos passaram a
pressionar os mercados de ações dos países emergentes, exigindo
sua modernização, através da implementação de proteção aos
direitos dos investidores. Como nesses mercados há necessidade derecursos de médio e longo prazo, a reação foi imediata, pois o
acesso às fontes de recursos estrangeiras só viria a partir do
momento que existisse confiança dos investidores, a qual só seria
sentida com a adoção de padrões de governança corporativa.
Estes aspectos corroboram as pesquisas realizadas por La
Porta et al (1998, 1999) que enfatizam que grau de
desenvolvimento da intermediação financeira e do mercado de
capitais depende do nível de proteção do qual gozam os
minoritários.
Tem-se a partir do exposto que o foco da governança
corporativa, com exceção do contexto anglo-saxão, deve ser
direcionado principalmente ao estabelecimento de estruturas de
governança que promovam mecanismos de proteção aos
minoritários, tanto acionistas quanto investidores.
Depreende-se que não somente as pesquisas realizadas na
área, como fatos que ocorreram em diversas economias reforçam a
evolução nos estudos sobre governança corporativa, com a
conseqüente estruturação de um corpo teórico mais consistente.
GLOSSÁRIO
Linha do tempo*.Disponível em:<http://www.ibgc.org.br/LinhaTempo.aspx>. Acesso em23.03.2010
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O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC
(2010) disponibiliza em sua página de internet um levantamento,
denominado “Linha do Tempo*”, que de forma bem condensadaapresenta as iniciativas, os movimentos e os fatos que contribuíram
para a disseminação e a evolução das práticas de governança
corporativa.
O que é o IBGC? Quais os principais pilares da GC
evidenciados por esse órgão?
Assim, tendo em vista a GC como uma possível solução ao
problema de Agency, visualizamos as seguintes interfaces que serão
trabalhadas na unidade 03: valor da empresa, desempenho da
empresa e transparência das informações.
Atividade de Aprendizagem
Essa atividade tem como objetivo juntar os conceitos, ou
seja, relacionar a teoria vista na unidade 1 com a teoria que
estamos vendo na unidade 2. A questão é:
1. Como a teoria do agente e principal pode ser
relacionada a Governança Corporativa?
Na segunda questão vamos discutir sobre os escândalos
corporativos atuais. Assim, temos:
2. Pesquise alguns exemplos e argumente quais
práticas de Governança Corporativa podem prevenir esses
escândalos.
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Resumo
Nesta unidade, prezado aluno, foi apresentado a definição de
Governança Corporativa. Nós aprendemos que ao propor um
aprofundamento e um detalhamento do estudo de um determinado
assunto, muitas vezes no primeiro momento busca-se explicar o
significado dos termos que indicam o objeto a ser estudado. Porém,
como foi visto, um dos sérios problemas da análise científica é a
imprecisão dos conceitos, sendo que com a palavra governança
parece estar acontecendo um movimento de uso amplo da
expressão, sem que sua utilização esteja cercada do cuidado
analítico que requer. Deste modo, a unidade propôs uma distinção
entre os termos Governança e Governança Corporativa. Vimos
também a origem da GC e a visão de vários autores que
trabalharam e trabalham na definição e aplicação da CG no uso
corporativo ou público. Por último, apresentamos uma evolução
dos estudos da GC no mundo e no Brasil. Bons estudos e até a
próxima unidade.
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UNIDADE
3
Governança corporativa: modelo degestão
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ObjetivoNesta última unidade descrevemos a Governança
Corporativa na visão de quatro grandes pesquisadores: Edson
Cordeiro Da Silva, Leslie Amendolara, Roberto Gonzalez e
Marcelo Del Vigna. Serão 05 artigos da revista “Relações com
Investidores” (nº 105, Nov. 2006) que terão como objetivo o
embasamento de toda a teoria de GC vista nas duas primeiras
unidades. Assim, veremos que, a GC tem estado em evidência,
nesses últimos anos, e ganhou maior projeção com o escândalo que
surgiu com a empresa americana Enron em 2001. Os temas
trabalhados nessa unidade são: a gestão pela GC, conceito de
acionista controlador, abuso de poder do acionista controlador,
participação de stakeholders nas assembléias e nos conselhos, e
direitos dos preferencialistas em assembléias. Esses temas serão
trabalhados junto a análise da Lei das Sociedades por Ações (Lei
6.404/76) e das Instruções da CVM - Comissão de Valores
Mobiliários que disciplinam o funcionamento do mercado de
valores mobiliários e a atuação de seus protagonistas. No final
dessa unidade você será capaz de fazer uma análise minuciosa dos
problemas gerados pelos conflitos de agência e as possíveis
soluções com a aplicação de boas práticas de Governança
Corporativa nas organizações.
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Introdução
Caro Estudante,
Estamos iniciando a terceira e última unidade da nossa disciplina.
Já devidamente apresentada, a Governança Corporativa será
analisada a partir do foco do gerenciamento, ou seja: GC como
modelo de gestão. Para esse aprofundamento você deverá sempre
consultar o seu orientador. Discuta, pergunte, debata e aprofunde os
conceitos apresentados nessa unidade. Vamos lá!
Essa introdução é adaptado do artigo “GovernançaCorporativa: modelo de gestão”, por Edson Cordeiro da Silva, da
da revista Relações com Investidores (nº 105, Nov. 2006, p.16).
Sob essa ótica, nos últimos anos, a GC tem estado em
evidência, e ganhou maior projeção com os vários escândalos
corporativos envolvendo empresas como a Enron e a WorldCom
nos Estados Unidos na década de 1990, que surpreenderam o
mercado, para o qual eram empresa saudáveis e com credibilidade,e trouxeram descrença dos investidores, abalando a credibilidade
das instituições (GARCIA E SOUZA, 2005). A consequência foi a
implementação pelos governos e políticos de processos mais
rígidos de gestão.
Hoje, há novas regulamentações, códigos de boa
governança em vigor e conselhos de administrações mais
eficientes. Os investidores reconhecem e estão de olho nasempresas bem geridas, pois apresentam um desempenho melhor.
No entanto, o Brasil ainda tem uma longa caminhada na
governança corporativa.
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A governança não é modismo, é um sistema aperfeiçoado
de gestão, porque dele emana o comprometimento da diretoria
executiva de passar mais informações ao mercado como maneira deagregar valor ao negócio e também de estruturar a administração da
empresa para o valor dos acionistas seja aumentando, através do
mercado de capitais.
Você concorda com o seguinte conceito? Em caso negativo,
apresente sua opinião. “O objetivo final da política de divulgação
de informações para o mercado de capitais pode ser entendidocomo um processo de aprimoramento do mercado de capitais, cujo
maior objetivo é o aumento da capacidade financeira das
instituições que integram o mercado de capitais.”
É responsabilidade da diretoria da empresa passar
credibilidade mediante a transparência e equidade dos dados por
meio dos relatórios econômico-financeiros e informações
fidedignas, as quais são apresentadas como os resultados da
governança corporativa. É importante a estrutura da governança
corporativa para o crescimento da empresa. Ao procurar a
eficiência e buscar o máximo retorno sobre o capital em benefício
dos acionistas, os responsáveis devem levar em conta as
dimensões: social, ambiental, e ética de suas atividades.
A governança corporativa engloba um conjunto de regras,
procedimentos, atitudes e instituições que condicionam a ação dos
administradores no sentido de atender aos interesses dos
financiadores e das partes interessadas na empresa, particularmente
os acionistas (stakeholders). Práticas de governança, juntamente
com as leis e a atuação dos tribunais e dos legisladores, visam
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evitar que uma parte seja expropriada por outra. Você percebe
como esses dizeres relacionam perfeitamente com a nossa
discussão do fórum da unidade 2!O conceito de governança corporativa se enquadra, em
última análise, em um objetivo maior: o de criar condições para
uma organização mais racional, ética e pluralista da economia e da
sociedade como um todo. Baseada na explanação sobre a
governança corporativa, a gestão de qualidade* da informação se
encontra embutida na própria governança.
O mercado é o melhor meio de determinar a alocaçãoadequada de recursos e orientar as ações dos agentes econômicos.
O mercado não é, contudo, um valor. Não pode funcionar sem
balizamento ético ou em um vácuo regulatório. São necessárias
garantias de que as mesmas condições de concorrência se aplicam à
todos esses agentes econômicos e de que todos os agentes
econômicos seguem padrões de comportamento capazes de
assegurar um desenvolvimento, econômico e social sustentável.
São igualmente necessários mecanismos distributivos, que
assegurem que os benefícios do crescimento e desenvolvimento
econômicos se façam sentir em todas as camadas da sociedade. Em
outras palavras: transparência, equidade, sustentabilidade.
Essa organização mais ética do espaço econômico decorre
da percepção de que padrões de comportamento meramente
oportunistas terminam por ser insustentáveis. É o caso, por
exemplo, do suborno e da corrupção de agentes econômicos para
obtenção ou renovação de contratos, a concessão de licitações ou
em outras vantagens indevidas.
O eventual ganho material imediato para uma empresa que
suborna é mais do que compensado, negativamente, se a pratica se
GLOSSÁRIOA gestão daqualidade é definidapela AssociaçãoBrasileira deNormas Técnicas(ABNT)(1994, p. 6) como“modo de gestão deuma organização,centrado na
qualidade, baseadonaparticipação detodos os seusmembros, visandoao sucesso a longoprazo, através dasatisfação do clientee dos benefícios paratodos os membros daorganização e para asociedade”.
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generaliza com o efeito adverso, sobre a alocação eficiente de
recursos, decorrente da distorção da livre concorrência provocada
pelo suborno. Dito de outra forma, procura-se que ocomportamento correto seja não apenas aquele que se segue por
considerações morais e jurídicas, mas também por ser o mais
racional em sociedades abertas e competitivas.
Uma organização mais racional, ética e pluralista* da
economia e da sociedade tem o nome de Governança Corporativa.
A governança cria oportunidades, mas também apresenta desafios,
sobretudo num mundo que, embora mais próximo de um consensosobre as formas eficazes de organização social e econômica, se
depara com fenômeno inédito da globalização.
A globalização dos padrões de consumo e produção obriga
os governos reconsiderarem suas políticas: comercial e de
investimento. Aproxima, cada vez mais, realidades econômicas e
culturas empresariais distintas e sociedades com valores e
prioridades diferentes. Esse fenômeno tem gerado dois tipos de
preocupação, distintos, porém complementares.
Saiba mais...
É importante à estrutura da governança corporativa para o
crescimento da empresa. Ao procurar a eficiência e buscar o
máximo retorno sobre o capital, em benefícios dos acionistas, os
seus responsáveis devem levar em conta as dimensões: social,
ambiental e ética de suas atividades.
Nesse sentido, é significativo que você leia o artigo e
discuta com os seus colegas de curso e orientador.
GLOSSÁRIO
*Pluralismo é, numsentido amplo, oreconhecimento dadiversidade. Oconceito é usado,freqüentemente demodos diversos,numa ampla gamade questões.
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Artigo Governança Corporativa & Ética nas
Organizações. Autor: Leocir Dal Pai. Para ler o artigo acessar: <
http://www.uniesp.edu.br/revista/revista6/pdf/10.pdf>
O Brasil está como grande país emergente, no centro do
debate. Os conceitos de governança, meio ambiente,
sustentabilidade, de responsabilidade social das empresas, de
cidadania empresarial começam a se enraizar entre nós, mas ainda
falta um esforço concentrado para melhor difundi-los e adaptá-los,
na medida do necessário, às condições próprias do Brasil. Para as empresas brasileiras, os princípios de governança
corporativa e de responsabilidade social das empresas apresentam
um grande desafio. Não é mais suficiente publicar um balanço
favorável no fim do ano, maximizar os lucros dos acionistas
majoritários e distribuir os dividendos.
Hoje é necessário assegurar a atualização tecnológica, a
competitividade global e o respeito a regras de governança
corporativa, sobretudo a regra de responsabilidade (accountability)
com relação aos acionistas minoritários. É igualmente necessário
garantir a divulgação adequada de toda informação relevante,
inclusive dos honorários da diretoria, assim como da composição
do Conselho de Administração e da relação da empresa com as
demais partes interessadas (stakeholders).
Notícias sobre fraudes e conflitos de interesse vindos dos
EUA, assim como outras histórias de fraudes contábeis e de
favorecimento pelos que deveriam cultivar sua reputação de
isenção perante o público, originárias da Europa, representam casos
que ilustram problemas da ausência de governança corporativa.
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No Brasil, como em muitos outros países, o controle das
empresas é concentrado. Nisto não há novidade. Pesquisas recentes
demonstram que os cinco maiores acionistas detêm na média maisdo que 85% do capital votante e que a concentração se mostra
elevada, seja na propriedade direta das ações da companhia, seja na
propriedade indireta por meio de uma estrutura de empresas
holdings. Esta é também conhecida como estrutura de pirâmide, em
que várias holdings* em sucessão possuem participações umas nas
outras, permitindo que o acionista no final da cadeia de controle da
empresa de capital aberto com menos votos do que seria necessáriopor lei.
Conceito de acionista controlador
Essa item é adaptado do artigo “O Abuso de Poder do
Acionista Controlador”, por Leslie Amendolara, da revista
Relações com Investidores (nº 105, Nov. 2006, p.24). A evolução
natural do direito acionário levou à proteção dos acionistas
minoritários, em razão mesmo desse poder, como salienta Waldirio
Bulgarelli (180): “apesar da igualdade formal dos acionistas
reconhece-se que alguns detêm o controle da sociedade o que
acresce seus direitos de acionistas mais o poder decorrente da
direção da sociedade”. E conclui o ilustre mestre: Procura – se
assim manter o equilíbrio que é fundamental na vida societária.
“Deve-se, portanto atentar bem para esse aspecto a fim de não fazer
pender a balança para qualquer dos lados.” ( A proteção às
Minorias na Sociedade Anônima – Ed. Biblioteca Pioneira de
Direito Empresarial).
GLOSSÁRIO
* Uma sociedadegestora departicipaçõessociais (conhecidaem inglês porholding) é forma desociedade criadacom o objetivo de
administrar umgrupo delas(conglomerado). Naholding, essaempresa criada paraadministrar possui amaioria das ações ouquotas das empresascomponentes dedeterminado grupode empresas. Essaforma de sociedade émuito utilizada pormédias e grandescorporações enormalmente visamelhorar a estruturade capital daempresa ou comoparte de algumaparceria com outrasempresas. Fonte: wikipedia.org
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Decorre dessa proteção que, em algum momento, quer por
interesse pessoal, que por interesse pessoal, quer com objetivo de
evitar interferência nos negócios da Sociedade, os controladorespassam a desrespeitá-la. Chegamos, então ao ponto muito
importante, que é a análise, o conceito e a prática do abuso do
poder de controle.
O art.117 da Lei das S/As, em seu “caput” diz que o
acionista controlador responde pelos danos causados por atos
praticados com abuso de poder. Em seguida o parág. primeiro
passa a relacionar em 8 alíneas o que considera modalidades deexercício abusivo do poder a que foram acrescidas outras
modalidades através da Instrução 323 da CMV.
Saiba mais...
A lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976 dispõe sobre asSociedades por Ações.
“Art. 117. O acionista controlador responde pelos danoscausados por atos praticados com abuso de poder.
§ 1º São modalidades de exercício abusivo de poder:a) orientar a companhia para fim estranho ao objeto
social ou lesivo ao interesse nacional, ou levá-la a favorecer outrasociedade, brasileira ou estrangeira, em prejuízo da participação dosacionistas minoritários nos lucros ou no acervo da companhia, ou daeconomia nacional;
b) promover a liquidação de companhia próspera, ou atransformação, incorporação, fusão ou cisão da companhia, com o fim
de obter, para si ou para outrem, vantagem indevida, em prejuízo dos demaisacionistas, dos que trabalham na empresa ou dos investidores em valoresmobiliários emitidos pela companhia;
c) promover alteração estatutária, emissão de valoresmobiliários ou adoção de políticas ou decisões que não tenham por fim ointeresse da companhia e visem a causar prejuízo a acionistas minoritários, aosque trabalham na empresa ou aos investidores em valores mobiliários emitidos pela companhia;
GLOSSÁRIO
* A Comissão deValores Mobiliários (CVM) é umaautarquia vinculadaao Ministério daFazenda do Brasil,instituída pela Lei6.385, de 7 dedezembro de 1976,alterada pela Lei nº6.422, de 8 de junho
de 1977, Lei nº9.457, de 5 de maiode 1997, Lei nº10.303, de 31 deoutubro de 2001,Decreto nº 3.995, de31 de outubro de2001, Lei nº 10.411,de 26 de fevereiro de2002, na gestão dopresidente ErnestoGeisel, e juntamente
com a Lei dasSociedades porAções (Lei6.404/76)disciplinaram ofuncionamento domercado de valoresmobiliários e aatuação de seusprotagonistas.
Para acessar a
Instrução 323 daCMV:
<http://www.cvm.gov.br/asp/cvmwww/atos/exiato.asp?Tipo=I&File=/inst/inst323.htm>
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d) eleger administrador ou fiscal que sabe inapto, moral outecnicamente;
e) induzir, ou tentar induzir, administrador ou fiscal a praticar ato ilegal, ou, descumprindo seus deveres definidos nesta Lei e no estatuto,
promover, contra o interesse da companhia, sua ratificação pela assembléia-geral;
f) contratar com a companhia, diretamente ou através deoutrem, ou de sociedade na qual tenha interesse, em condições de favorecimentoou não equitativas;
g) aprovar ou fazer aprovar contas irregulares deadministradores, por favorecimento pessoal, ou deixar de apurar denúncia quesaiba ou devesse saber procedente, ou que justifique fundada suspeita deirregularidade.
h) subscrever ações, para os fins do disposto no art. 170, com arealização em bens estranhos ao objeto social da companhia. (Incluída dada pela Lei nº 9.457, de 1997)
§ 2º No caso da alínea e do § 1º, o administrador ou fiscal que praticar o ato ilegal responde solidariamente com o acionista controlador.
§ 3º O acionista controlador que exerce cargo de administrador ou fiscal tem também os deveres e responsabilidades próprios do cargo.”
Apesar da igualdade formal dos acionistas reconhece-se que
alguns detêm o controle da sociedade o que acresce aos seus
direitos de acionistas mais o poder decorrente da direção da
sociedade.
Procura-se assim manter o equilíbrio que é fundamental na
vida societária. Deve-se portanto atentar bem para esse aspecto a
fim de não fazer pender a balança para qualquer dos lados”.
A pergunta que se impõe, antes de analisarmos algumas
dessas alíneas, é: qual a natureza jurídica dessa responsabilidade?
Como não há no texto legal nenhuma referência expressa, a
doutrina tem buscado encontrar a resposta no art.246 que, embora
tratando da sociedade controladora, aplicar-se ia a todas as
situações por analogia. Esse artigo dispõe que a sociedade será
obrigada a reparar os danos praticados por infração aos artigos 116
e 117 da Lei das S.As. Como o art.246 fala reparar danos a ação
será a de responsabilidade civil por perdas e danos.
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Voltemos, porém, à questão central. O que caracteriza o
abuso de poder do acionista controlador? Como este apertado
resumo não comportaria uma analise muito pormenorizada de todasas situações previstas na lei e na instrução da CMV, vamos nos ater
àquelas que mais de perto dizem respeito ao acionista minoritário.
A alínea do parág.1° do art.117 considera exercício abusivo
de poder “orientar a companhia para fim estranho ao objeto social
em prejuízo da participação dos acionistas minoritários nos
lucros”. Esta hipótese não raro está ligada á teoria “Ultra Vires
Societatis”que é uma maneira dos controladores desviarem –se doobjeto da sociedade para realizar negócios de seu exclusivo
interesse.
(A alínea c) fala em “promover alteração estatuária,
emissão de valores mobiliários que não tenham por fim os
interesses da companhia e visam a causar prejuízo aos acionistas
minoritários”. Alterações no estatuto costumam ser efetivadas para
restringir ou até cancelar direitos concedidos a minoritários em
diferentes classes de ações.
A Instrução CMV 323 relacionou outros quinze itens cuja
prática considera abuso de poder, dentre eles alguns se referem
diretamente à proteção do minoritário, a saber:
Item I – denegar o direito de voto com exclusividade aos
titulares de ações preferenciais ou aos minoritários por parte do
acionista controlador que detenha ações da mesma espécie. O
dispositivo da lei que permite a participação de preferencialistas e
acionistas minoritários em assembléias para eleger seus
representantes na sociedade é de ordem publica e não poderia ser
afastado pelos controladores, através de sua participação na
votação com ações da mesma espécie.
GLOSSÁRIO
* Assembléia GeralOrdinária (AGO) -Reunião deacionistas de umacompanhia comconvocação anualobrigatória peladiretoria para:a) tomada de
contas dosadministradoresb) exame e votaçãodas demonstraçõesfinanceirasc) destinação doslucrosd) distribuição dedividendose) eleição dosadministradores e
Conselho Fiscal.
Fonte:<http://www.b2i.us/profiles/investor/ fullpage.asp?f=1&BzID=1462&to=cp&Nav=1&LangID=3&s=0&ID=5140>
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Item VIII - promover diluição injustificada dos acionistas
não controladores por meio de aumento de capital em proporções
quantitativamente desarrazoadas ou pela fixação do preço deemissão das ações substancialmente elevados em relação a
cotação da bolsa.
Em ambas as hipóteses o objetivo é fazer com que pelo
elevado desembolso que terá que realizar quer, é evidente, porque
preferirá adquirir no pregão a preço mais baixo.
Item X – A obstaculização, por qualquer modo, direta ouindiretamente, à realização da assembléia geral convocada pelo
Conselho Fiscal ou dos Acionistas não controladores. O Conselho
Fiscal pode convocar Assembléia Geral quando os órgãos da
Administração retardarem por mais de um mês a convocação da
AGO* e a extraordinária sempre que ocorrerem motivos urgentes
ou graves (inciso V do art. 163da Lei das S.A’s); os acionistas não
controladores poderão convocar assembléias quando os
administradores retardarem por mais de sessenta dias nos casos
previstos em lei ou nos estatutos ( alínea b do art.123 da Lei das
S.A’s.). Além do abuso do poder essa obstaculização constitui
violação de norma de ordem pública também aqui interrogável pela
vontade dos controladores.
Estas são algumas observações sobre o abuso do poder do
acionista controlador frente às minorias, de suma importância num
mercado de capitais, que se pretenda transparente e forte.
O abuso de poder do acionista controlador
GLOSSÁRIO
* A Comissão deValores Mobiliários (CVM) é umaautarquia vinculadaao Ministério daFazenda do Brasil,instituída pela Lei6.385, de 7 dedezembro de 1976,alterada pela Lei nº6.422, de 8 de junho
de 1977, Lei nº9.457, de 5 de maiode 1997, Lei nº10.303, de 31 deoutubro de 2001,Decreto nº 3.995, de31 de outubro de2001, Lei nº 10.411,de 26 de fevereiro de2002, na gestão dopresidente ErnestoGeisel, e juntamente
com a Lei dasSociedades porAções (Lei6.404/76)disciplinaram ofuncionamento domercado de valoresmobiliários e aatuação de seusprotagonistas.
Para acessar aInstrução 323 daCMV:
<http://www.cvm.gov.br/asp/cvmwww/atos/exiato.asp?Tipo=I&File=/inst/inst323.htm>
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Essa item é adaptado do artigo “O Abuso de Poder do
Acionista Controlador”, por Leslie Amendolara, da revista
Relações com Investidores (nº 105, Nov. 2006, p.24).Os juristas romanos construíram um monumento de leis
para regular os negócios privados, especialmente no campo do
direito contratual: o “CORPUS JURIS CIVILIS*”. A sociedade
romana antiga foi a primeira da história a estabelecer as relações
privadas através de contratos formais.
Como diz Alexandre Correia e Gaetano Scascia (1969):
“toda a evolução do sistema contratual romano deve-se considerara árvore genealógica das modernas figuras contratuais”. O famoso
brocado “Pacta sunt servanda*” inspirou todos os Códigos Civis
do mundo ocidental. Baseada na tradição romano-germânica as
cláusulas de um contrato fazem lei entre as partes.
Com o advento do direito moderno, a partir do século XX,
esse conceito evoluiu no sentido de que os direitos também
deveriam ter um limite à sua plena fruição, o que ficou agora
expresso no Novo Código Civil n art.187, que reza:
Art.187 – Também comete ato ilícito o titular de um
direito que, ao exercê-lo, excede manifestadamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa – fé ou pelos
bons costumes.
Essa nova concepção que já inspira o Código Civil Italiano
de 1942 ganhou força também no campo do direito societário. O
legislador pátrio acolheu as teses da restrição ao uso ilimitado do
poder e as incorporou à nossa Lei das S.As.
Para tanto a lei acionária separou as figuras do acionista
controlador daquela dos administradores da sociedade. Aos
primeiros relacionou - os com o poder do voto nas assembléias,
GLOSSÁRIO
Pacta sunt servanda é um brocardo latinoque significa "ospactos devem serrespeitados" ou
mesmo "os acordosdevem sercumpridos". É umprincípio base doDireito Civil e doDireitoInternacional. Fonte:wikipedia.org
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enquanto aos segundos atos de gestão. Assim o abuso de poder dos
acionistas controladores concentra-se nas decisões assembleiares
que causem danos à Companhia e aos acionistas minoritários emparticular.
A participação de stakeholders nas assembléias e nosconselhos
Essa item é adaptado do artigo “A Participação de
Stakeholders nas Assembléias e nos Conselhos”, por Roberto
Gonzalez, da revista Relações com Investidores (nº 105, Nov.
2006, p.29).
Faz parte do conceito de sustentabilidade o diálogo com os
mais diversos públicos estratégicos. A GRI - Global Reporting
Initiative defende que toda empresa expresse no seu relatório anual,
o relacionamento com os stakeholders durante o ano.
Tudo muito bom, tudo muito bem, mas será que este canal
de comunicação pode ser estendido? Ampliando às Assembléias e
aos órgãos de decisão corporativos? E a multidisciplinariedade na
composição do Conselho de Administração?
Saiba mais...
Na lei das S/A, no artigo 140, parágrafo único, figura um
lembrete interessante:
“... O estatuto poderá prever a participação no conselho de
representantes dos empregados, escolhidos pelo voto destes, em
eleição direta, organizada pela empresa, em conjunto com as
entidades sindicais que os representem”.
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Em suma: os profissionais de uma empresa podem ter um
representante no Conselho de Administração. Mas, pode haveroutras formas dos públicos estratégicos participarem.
Empresas que já experimentaram a multidisciplinariedade
comprovam que quanto um profissional tem o assento no Conselho
de Administração passa a exercer um papel altamente estratégico,
pois compartilha informações estratégicas e o ponto de vista dos
trabalhadores; e não apenas o do capital representado pelos
acionistas.O Conselho de Administração pode incluir na agenda, antes
da reunião propriamente dita, a realização de um “warm-up” ou
uma pauta de percepções, em que os diversos stakeholders
apresentam a visão que têm da empresa e o que esperam desta no
futuro. Os convites devem ser feitos com antecedência ao público
reconhecidamente de interesse. O exercício dos participantes passa
a ser enxergar (e dar sinais) da maneira como encara a corporação
hoje e amanhã.
Para os primeiros encontros, por ser uma situação nova para
todos, pode-se estipular dez minutos para cada representante
convidado em se manifestar; cinco minutos para a percepção
existente e, para terminar, cinco minutos para o “futuro”.
Aconselha-se que, em um primeiro momento, as empresas
definam com critério os públicos estratégicos. Inicialmente, a boa
prática pode ser o convite a seis representantes que, dessa forma,
ocupariam sessenta minutos para as fases de manifestação,
percepção e futuro.
O público estratégico que se expressaria pode ser composto,
por exemplo, por representante do sindicato dos trabalhadores, que
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traria uma visão diferente do profissional que está no Conselho;
uma organização ambiental; um representante do legislativo ou do
executivo municipal, estadual ou federal; um concorrente direto;um cliente e um fornecedor.
O comitê além de ser composto por conselheiros e
especialistas no assunto, pode manter diálogos com públicos
estratégica da companhia que contribuam para o andamento dos
trabalhos e tomada de decisões no âmbito do comitê.
Este modelo pode valer muito bem para as Assembléias
Gerais. Arrisco dizer que pode contribuir para um comparecimentomaior de acionistas, afinal será algo novo e diferente todos os
pressentes receberão informações de como a sociedade (mercado)
enxerga a empresa. Com certeza alguns acionistas sairão com boas
ou más surpresas das companhias em que investem, é possível que
alguns riscos e oportunidades se tornem evidente.
É importante destacar que em nenhum momento está-se
dizendo que as decisões serão tomadas pelos públicos estratégicos.
Muito pelo contrário. Modelos como esses permitem a existência
de dialogo nas esferas de decisão da companhia. Depois de se
expressar, os públicos estratégicos se retiram e os membros
oficiais, sejam do comitê, do Conselho ou da Assembléia
continuam a reunião e tomam suas decisões, só que agora com mais
informações.
Para tomar essa decisão a companhia tem que estar disposta
a rever conceitos, estratégias, deliberações, etc. tendo em vista o
melhor para a cultura corporativa. Caso contrário é melhor nem
pensar em promover encontros desta natureza.
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Direitos dos preferencialistas em assembléias
Essa item é adaptado do artigo “Direitos dosPreferencialistas em Assembléias”, por Leslie Amendolara, da
revista Relações com Investidores (nº 105, Nov. 2006, p.26).
É notório que os acionistas detentores de ações preferenciais
sem direto a voto, raramente comparecem às assembléias, porque
nem sempre têm conhecimento dos diretos que alei lhes outorga.
Vamos então mencionar aqui alguns desses direitos, meio
escondidos em alíneas e parágrafos da nossa Lei Societária. Afora
aquelas assembléias especiais cujo voto é exclusivo de acionistas
preferencialistas, em que podem eleger soberanamente, em eleição
em separada seus representantes, como é o caso do Conselho Fiscal
e agora também do Conselho de Administração, a Lei das S/As
concede-lhes vários direitos durante a realização de assembléias.
Assim, o único parágrafo do art.125 dispõe que os
acionistas sem direito a voto podem comparecer à assembléia geral
e discutir a matéria submetida à votação. Embora não participem da
votação poderão manifestar sua posição e, talvez, influenciar na
decisão de acionistas votantes. Entendemos também que os
acionistas não votantes podem apresentar propostas, discuti-las
para os mesmos efeitos acima mencionados.
O parágrafo3 do inciso IV do artigo 126 faculta o acionista
sem direito a voto que represente 0,5% (meio por cento) do capital
social solicitar relação de endereços dos acionistas para obter
procurações a fim de com elas votarem. Desse modo, tanto para
aumentar a posição da classe em assembléias de preferencialistas,
como para obter procurações de acionistas votantes e com elas
participar diretamente da votação este é um direito importante.
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A alínea b) do parágrafo 1 do art. 130 estabelece que a
pedido de acionista interessado, a mesa autentique exemplar ou
cópia de proposta, declaração de voto ou dissidência ou protesto,para que esta possa ser publicada em forma de sumário. Como a lei
fala em acionista interessada o sócio preferencialista poderá
registrar seu protesto que deverá constar do sumário da ata. Através
desse registro será possível, se for o caso, não apenas alertar
terceiros para determinada matéria aprovada, como servir de base
para a tomada de medidas judiciais.
Parágrafo 2 do art.157 autoriza que qualquer acionistarequeira sejam reduzidos a escrito e autenticados pela mesa da
assembléia, sendo-lhes fornecida cópia, esclarecimentos prestados
pelos administradores. Essa possibilidade é concedida tanto para o
acionista votante minoritário como para o preferencialista e,
também é importante porque pode conter dado que permitirão uma
vez transcritos, a tomada de decisões contra a administração. Como
diziam os romanos: verba volant, scripta manent( as palavras voam,
os escritos permanecem).
Recorda-se ainda que, ao amparo da alínea “a” do art. 130,
os documentos ou propostas submetidas à assembléia, referidas na
ata, deverão ser numeradas e arquivadas na companhia.
Atividade de Aprendizagem
O caso Enron
Essa item é adaptado do artigo “ENRON: 5 anos depois”,
por Marcelo Del Vigna, da revista Relações com Investidores (nº
105, Nov. 2006, p. 36).
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Em 02 de dezembro de 2001, foi iniciado um dos maiores
processos falimentares dos últimos tempos. Um escândalo
corporativo jamais imaginado e cujas conseqüências ultrapassam asfronteiras.
Não se pode negar, mas, infelizmente, o colapso da Enron
foi um marco na revolução do ambiente empresarial. Em grande
parte, foi devido à sua falência que assuntos como governança
corporativa e ética empresarial constam hoje no horizonte das
empresas que desejam estar em voga no mercado.
Assim, com um breve retrospecto sobre estes últimos anos,pode-se constatar que as conseqüências do caso Enron estão
divididas em dois planos:
• As internas, que resultaram em investigações,
condenações e até mesmo mortes:
• As externas, que ocasionaram a descoberta de
outros escândalos, uma revisão da legislação e
a atuação marcante de organismos estatais.
Jeffrey Skilling, ex-presidente da Enron, possuía uma
personalidade arrogante, depressiva e chegou a insultar um analista
financeiro em uma conference call. Durante a reunião para
esclarecimentos sobre o balanço divulgado em abril de 2001,
Jeffrey foi alvo de perguntas inteligentes de quem realmente havia
lido as entrelinhas dos números da Enron. E, para se desvencilhar
do analista, ele abruptamente encerrou uma rodada de perguntas
chamando-o de “asshole”. Tal impropério não foi bem visto pelos
demais executivos da empresa e do mercado, culminando no
afastamento do então presidente, pouco tempo depois.
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Ainda que insista em dizer que é inocente de todas as 28
acusações que sofreu, Skilling foi condenado em pelo menos 19
delas por sua marcante participação no escândalo. Durante quatromeses de audiências, ocorridos no inicio de 2006, a promotoria
norte-americana liderou os trabalhos para relatar e explicar ao júri o
esquema de fraudes, insider trading, manipulação de informações,
criação de falsos hedges e outros atos ilegais, culminando na
sentença de 24 anos de prisão publicada no ultimo 23 de outubro.
Não se pode esquecer também d Kenneth Lay, CEO da
Enron durante quase todos os anos de sua vida. Dono de umainvejável rede de contatos políticos, Lay elevou o status da
companhia de uma simples empresa de gás para uma de energia,
incluindo negócios complexos ligados ao saneamento básico e
internet, todos espalhados pelo mundo. Contudo, nos últimos anos,
ele se afastou da administração direta, passando a ter uma função
institucional na companhia.
Para os norte-americanos, porém o maior erro que Lay
cometeu foi ter dito publicamente que investimentos em ações da
Enron deveriam continuar, enquanto seu valor despencava na
bolsa. Contudo, ao mesmo tempo, ele vendia suas ações ao
mercado e se livrava do prejuízo, pois já vislumbrava o trágico
resultado. Ou seja, apesar de também ter sido considerado culpado
pelo colapso, Lay não chegou a cumprir pena, pois faleceu em 5 de
julho de 2006, vítima de um ataque cardíaco aos 64 anos de idade.
Já o ex-CFO Andrew Fastow utilizou sua inteligência não
apenas para maquiar os números da Enron, mas também para lucrar
mais de 60 milhões de dólares em apenas dois anos. Tudo através
da fraudulenta criação de SPE’s e fundos de investimentos, em
flagrante conflito entre seus interesses pessoais e os da companhia.
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Curioso foi que em outubro de 1999 Fastow foi considerado
“The Finest in Finance” pela CFO Magazine. Apesar de tal titulo,
sob seu comando a Enron não possuía um bom sistema decontroles internos. Não se conhecia, com exatidão, informações
reais sobre o seu fluxo de caixa e de contas a pagar.
Porém, durante o processo criminal que sofreu, Fastow
decidiu assumir erros e, em troca de diminuição de pena,
comprometeu-se a ajudar as investigações. Como resultado de sua
leniência, foi condenado a apenas seis anos de prisão.
Um trágico resultado foi o suicídio do executivo Cliff Baxter que, pouco antes do colapso da Enron, vendeu suas ações ao
mercado. Ele também estava sendo investigado por uma comissão
especial do Congresso norte-americano e apresentava um
temperamento depressivo desde que tais fatos apareceram na mídia.
Ele deixou sua esposa e um casal de filhos em janeiro de 2002.
Além da Enron, outras empresas como WorldCom, Aldephi,
Global Crossing e Tyco protagonizaram escândalos semelhantes
que geraram prejuízos superiores a 300 bilhões de dólares. Segundo
informações do Departamento de Justiça dos EUA, já ocorreram
1063 condenações, incluindo a de 167 presidentes e CEO’s e 36
CFO’s desde julho de 2002 relacionados a fraudes empresariais.
Ocorre que, antes mesmo do pedido de falência solicitado
no final de 2001, a Enron já estava sob investigação da Securities
and Exchange Commission – SEC por conta de sua “peculiar”
contabilidade. Além disso, as empresas de auditoria independente
estavam sofrendo pressão para segregar a função de consultoria
evitando, assim, eventuais conflitos de interesse. E com as
adversidades econômicas surgidas após o ataque terrorista de
11/09/2001, a liquidez financeira mundial diminuiu o que apenas
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estimulou a ocorrência dos escândalos e a reformulação das regras
básicas de governança das companhias.
Como fruto, podemos citar a edição da famosa Sarbanes-Oxley Act (“SOX”) que foi o maior marco legal para o mercado de
capitais dos Estados Unidos nos últimos 70 anos. Esta lei ainda
afetou empresas estrangeiras que negociam valores mobiliários no
mercado norte americano, pois tais companhias também precisam
se adequar com as novas regras para continuarem ativas naquele
país.
A SOX tem sofrido muitas criticas por seu rigor excessivo ecomo sendo causa de aumento de custos. Já se discute, inclusive,
uma reformulação de suas obrigações para torná-las mais brandas.
Ocorre que, tal lei foi aprovada pelo Congresso norte-americano
quase sem debates, pressão de lobistas e com apenas três votos
contrários. Ou seja, seu grande trunfo foi ter sido uma resposta
imediata às fraudes cometidas, mas algumas medidas já se mostram
ineficazes.
Com uma política de vigilância constante, a SEC vem
investigando a contabilização de stock options. É que alguns
executivos utilizavam uma brecha legal para modificar a data de
contabilização de suas opções para, assim, enriquecerem em
detrimento dos acionistas. Tal manipulação denota um flagrante
conflito de interesses.
Neste sentido, a SEC publicou em agosto de 2006 uma
regra especifica para regular a prestação de informações sobre
compensação financeira de executivos (SEC Release No. 33-
8732A). Além disso, já investiga mais de 100 empresas por conta
de tal prática.
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Interessante notar que há cinco anos o mundo corporativo
está em constante progresso. E como bem Kurt Eichndwald em seu
Conspiracy of Fools (um livro repleto de detalhes sobre a historiada Enron), o desastre da empresa que propiciou tais avanços nada
mais foi que resultado da ganância humana. Uma epopéia, sem
heróis que envolveram mortes, egocentrismo exacerbados, traições,
disputas internas, vaidades, mentiras, dinheiro e falência.
Fonte: elaborado pelo autor
Questões referentes ao Estudo de Caso
1. Em sua opinião quais os principais mecanismos da
Governança Corporativa deveriam ser aplicados na a
organização Enron para evitar o escândalo corporativo gerado
pela empresa?
2. Quais são os principais efeitos do escândalo da organizaçãoEnron para o mundo dos negócios?
A teoria apresentada conclui que a adoção de práticas
adequadas de GC é útil para a redução dos custos de agency.
Espera-se, com as conclusões obtidas nesta disciplina, a
contribuição para a importância e o fortalecimento das práticas de
GC, de modo a permitir que os acionistas obtenham o aumento desua riqueza através das atividades solicitadas aos administradores.
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Resumo
Nesta unidade, prezado aluno, foi apresentado a GC comomodelo de gestão. Cinco artigos muito importantes em relação a
GC foram trabalhados com você. Vimos que, nos últimos anos, a
GC tem estado em evidência, e ganhou maior projeção com o
escândalo que surgiu com a empresa americana Enron em 2001.
Esse foi apresentado como atividade de aprendizagem no final da
unidade. Vimos que vários escândalos pelo mundo deixaram os
investidores preocupados e confusos e levou os governos e
políticos a pensarem em processos mais rígidos de gestão. Outro
tema trabalho foi conceito de acionista controlador e o abuso de
poder do acionista controlador. Ambos analisados através da Lei
das Sociedades por Ações (Lei 6.404/76) e das Instruções da CVM
- Comissão de Valores Mobiliários. Esses disciplinam o
funcionamento do mercado de valores mobiliários e a atuação de
seus protagonistas. Por último foi visto a participação de
stakeholders nas assembléias e nos conselhos, e direitos dos
preferencialistas em assembléias.
Bem, chegamos ao final desta empreitada. Governança
Corporativa pode não ser o principal assunto de seu curso, mas sem
dúvida, qualquer que seja a área de gestão em que você atue ou
venha atuar, alguma relação com os princípios da GC existirá. Esta
disciplina destacou alguns aspectos importantes, mas o mais
relevante pode ser lido na frase a seguir:
“Quanto maior a Governança Corporativa mais desenvolvida será
as organizações que a utiliza”.
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Currículo Prof. Eduardo Giarola
Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal deSão João Del Rei. Especialização em Controladoria e FinançasEmpresariais pela Universidade Federal de Lavras. Mestre emAdministração pela Universidade Federal de Lavras. Professorconcursado da Faculdade de Gestão e Negócios da UniversidadeFederal de Uberlândia. Atua em EaD na Universidade Federal deUberlândia desde 2009 e atualmente é coordenador daEspecialização em Gestão Pública Municipal (PNAP), modalidadea distância.