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APORMOR PRESTA HOMENAGEM A FIGURAS DO MEIO TAURINO DE MONTEMOR-O-NOVO news N.º 4 | Setembro 2019 www.apormor.pt Montemor-o-Novo capital nacional da pecuária extensiva EXPOMOR 2019

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APORMOR PRestA hOMenAgeM A figuRAs dO MeiO tAuRinO de MOnteMOR-O-nOvO

news N.º 4 | Setembro 2019

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Montemor-o-Novo capital nacional da pecuária extensiva

expomor 2019

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COnsuMiR CARne de vACA – PelA libeRdAde de esCOlhA,

COntRA Os fundAMentAlisMOs

A Apormor, enquanto associação do mundo rural, onde a preservação dos ecossistemas é preocupação dominan-te, não pode deixar de manifestar a sua profunda indi-gnação pela tomada de decisão do reitor da Universida-de de Coimbra ao abolir o consumo da carne de bovino das suas 14 cantinas. Numa casa onde a Ciência devia prevalecer, tomam-se decisões ao sabor de modas vin-das da confusão de ideias urbanas, por vezes oriundas de seitas conhecidas em outras partes do mundo, sem qualquer sustentação científica. E quando estas ideias merecem acolhimento em mem-bros do Governo, como é o caso do ministro do Am-biente e do próprio Primeiro-Ministro, julgo que sem medirem as consequências deste ataque aos ecossis-temas onde a pecuária extensiva assume um papel es-sencial, este assunto torna-se num caso de extrema im-portância na defesa do nosso território onde a presença

das pessoas é fundamental. E elas só permanecerão na planície, nos vales e nos campos se tiverem condições socioeconómicas suficientes para garantirem a sua sobrevivência. Se saírem e abandonarem as suas ati-vidades, os campos voltarão a tornar-se em matagais, com fogos constantes e onde o sequestro do carbono deixará de ser possível. Mesmo que as vacas libertem algum metano (há análises de peritos que dizem que não, que isso é uma falácia) a sua quantidade não é comparável aos dos outros gases com efeito de estufa, libertados pela queima de combustíveis fósseis, como é o caso dos milhares de automóveis que circulam, per-manentemente, nos grandes centros urbanos. Isso não é preocupação desta gente?

Joaquim Capoulas, presidente da APORMOR

editorial

► Maria do Céu Salgueiro, membro da Direção da APORMOR, esteve no Programa da “Cristina”, na SIC, a 23 de Setembro, num frente-a-frente com o eurodeputado do PAN, onde afirmou que «combater as alterações climáticas faz-se com agricultores ativos e não sem agricultura e pe-cuária» e lembrou que «a liberdade nas escolhas alimentares é uma questão de bom-senso».

Veja AQUI

APORMOR eM defesA dA PecUáRIA extensIVA nO PROgRAMA dA “cRIstInA” e nA cM tV

► A 20 de Setembro, no Programa da Manhã da CM TV, Maria do Céu Salgueiro lembrou que há «uma gestão sustentável dos recursos e um ba-lanço positivo do carbono no sistema agrosilvo-pastoril do montado».

Veja AQUI

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Na tenda dos Ovinos realizaram-se concursos das raças Ille de France

II Concurso da Raça Aberdeen Angus

O charolês “Nacho” do nosso associado António Alfacinha foi arrematado por 8550€ no Leilão de Machos Reprodutores das raças Charolesa e Limousine

Tenda dos Ovinos

Jantar de sócios da Apormor

Almoço com participantes do colóquio sobre o Toiro Bravo

Joaquim Capoulas, presidente da APORMOR, com Joaquim Grave, proprie-tário da Ganadaria Murteira Grave

Grupo de Forcados Amadores de Montemor-o-Novo

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APORMOR PRestA hOMenAgeM A figuRAs dO MeiO tAuRinO

de MOnteMOR-O-nOvO

O colóquio contou com a presença da Presidente da Câ-mara Municipal de Montemor-o-Novo, Hortênsia Menino, de representantes de associações de agricultores do Alentejo e da Confederação dos Agricultores de Portu-gal. A APORMOR convidou para uma “Barreira de Hon-ra” empresários do meio taurino, ganadeiros, cavaleiros e forcados de Montemor-o-Novo, aos quais prestou ho-menagem pela sua dedicação e valor no meio taurino. Os homenageados foram Simão Comenda, Paulo Vacas de Carvalho, Joaquim Alves Lopes de Andrade, Francisco Gregório de Oliveira, Luis Miguel da Veiga e António Va-cas de Carvalho.O ganadeiro Joaquim Grave, que dirige a afamada Ga-nadaria Murteira Grave, fundada na Granja em 1944, deu uma verdadeira aula sobre o Toiro Bravo, demonstrando profundo conhecimento técnico-científico e verdadeira paixão pelo tema. Na sua palestra começou por falar da evolução histórica do toiro de lide, desde o século XVIII até à atualidade, considerando que hoje «estamos pe-rante um verdadeiro milagre zootécnico». O toiro bravo dos nossos dias apresenta-se mais forte do que nunca,

em virtude de melhor profilaxia e sanidade e alimenta-ção mais equilibrada. A bravura do toiro de lide é uma característica extraordinária que resulta do trabalho do Homem na seleção da raça durante os últimos 250 anos, e por isso dizemos que é Cultura. Na definição de Joa-quim Grave «o toiro bravo é rijo, pronto na investida, tem mobilidade, humilha com recorrido e raça, transmitindo emoção durante a lide». O ganadeiro fez uma caracteri-zação exaustiva do comportamento do toiro no campo ao longo das diversas fases etárias, destacando algumas curiosidades como a hierarquia social muito forte entre os animais desta raça. Entre os sentidos mais apurados do toiro está a vista de 330º, que lhe permite um campo de visão bastante alargado, e a audição. Capta vibra-ções sonoras como, por exemplo, o som dos chocalhos nos cabrestos que o guiam na praça, mas é sensível ao excesso de ruído. Por isso se exige silêncio absoluto na tenta para que o toiro não se distraia. Ficámos também a saber que o toiro bravo emite 4 tipos de vozes prin-cipais – pitido, reburdeo, berreo e bramido – consoan-te as emoções e a intenção do seu comportamento. A

O Toiro Bravo foi figura central na feira EXPOMOR 2019. A APORMOR organizou um colóquio, a 31 de Agosto, onde cerca de 150 participantes debateram e celebraram

as tradições da Festa Brava e os valores do Mundo Rural.

A sala dos leilões da APORMOR encheu-se para debater e celebrar o Toiro Bravo, uma raça ímpar da Pecuária Extensiva

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aula prosseguiu sobre os fatores ambientais que podem condicionar a lide e a apreciação do comportamento do toiro na praça. «Desde que sai até que morre pode esta-belecer-se uma lista de mais de 100 rasgos, que corres-pondem a cada momento da lide e que são a expressão da natureza da cada animal (…) e no entanto cada um de nós tende a valorizar ou mesmo a sobrevalorizar um ou outro deles», explicou o ganadeiro, para concluir que «do toiro não sabemos nada! O caráter quase indecifrá-vel do seu comportamento, tão matizado, tão evolutivo, tão dependente das oportunidades para demonstrá-lo, contribui para o seu mistério e alimenta a paixão que lhe dedicamos há tanto tempo». O segundo orador do colóquio foi José Fernando Potier, presidente da Associação Nacional de Grupos de Forca-dos, criada em 2002 para defender os valores e interes-ses comuns dos forcados portugueses e que atualmente tem 39 grupos de forcados associados. «Todos os forca-dos amadores podem contar com a nossa associação, só em conjunto podemos ter uma voz comum em defesa da praça de toiros e do forcado amador como manifesta-ção cultural do nosso país», disse o também ex-forcado do Grupo de Forcados Amadores de Montemor-o-Novo. No período de debate surgiu a pergunta que na atualida-

de inquieta muitos de nós: como reagir ao ataque cerra-do à Tauromaquia perpetrados por grupos de pretensos defensores dos animais?Joaquim Grave disse não temer os movimentos “anima-listas”, porque ataques às touradas sempre os houve ao longo da história, embora com diferentes matizes, e de-fendeu a necessidade de reforçar a comunicação sobre a componente cultural da atividade tauromáquica e abrir as portas das ganadarias a quem as queira visitar e conhe-cer. «Os nossos argumentos devem ser mais trabalhados e sustentados na componente cultural, mas sem qual-quer timidez ou receio de dizer que somos aficionados e se formos atacados devemos ripostar», afirmou de forma desassombrada.

No final da sessão, a APORMOR homenageou António Vacas de Carvalho, atual cabo do Grupo de Forcados Amadores de Montemor-o-Novo, com a oferta simbólica de um prato pintado à mão representando uma pega. Através deste ato simbólico a APORMOR prestou ho-menagem a todos os forcados amadores que perten-ceram ou pertencem ao Grupo de Forcados Amadores de Montemor-o-Novo, que este ano celebra 80 anos de atividade.

A Presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, Hortênsia Menino, com o presidente da APORMOR na sessão de encerramento do colóquio

António Vacas de Carvalho, atual cabo do Grupo de Forcados Amadores de Montemor-o-Novo, recebe da Direção da APOMOR um presente simbólico de homenagem pelos 80 anos de atividade deste grupo de forcados

José Fernando Potier, presidente da Associação Nacional de Grupos de Forcados, apresentou a associação criada em 2002 e que tem 39 grupos de forcados associados

O ganadeiro Joaquim Grave deu uma verdadeira aula sobre o Toiro Bravo, muito apreciada por todos os presentes

“Barreira de Honra” do meio taurino montemorense homenageada pela APORMOR

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sOlO dO MOntAdO AlentejAnO – A iMPORtânCiA dA suA MAnutençãO

O investigador Luís Alcino Conceição, da Escola Superior Agrária de Elvas, apontou as vantagens da adoção de novos modelos de gestão do solo baseados em novas tecnologias de diagnóstico – como o mapeamento da condutividade elétrica do solo ou a georreferenciação do montado – para uma gestão mais eficaz das corre-ções de solo. Lembrou também que a implementação de técnicas de conservação e de melhoria da fertilidade do solo é uma das linhas de ação do Programa de Ação para a Adaptação às Alterações Climáticas, publicado em Diário da República, no passado dia 2 de Agosto. No âmbito deste Plano estão alocados 1,4 milhões do PDR2020 a um conjunto de medidas, entre as quais, a instalação de pastagens sobcoberto e de pastagens bio-diversas, a arborização com espécies melhoradoras do solo ou sementeira direta ou mobilização na linha. Podem concorrer às ajudas agricultores e produtores florestais, associações de produtores, entre outras entidades.A Terra Prima indicou o uso de pastagens permanen-tes biodiversas semeadas como uma ferramenta de pastoreio sustentável. Estas pastagens contribuem para o aumento da matéria orgânica e da retenção de água no solo, tornado o montado mais resiliente à seca, às pragas e doenças e permite aumentar o encabeçamen-to de forma sustentável. Além disso, contribuem para o sequestro de carbono, chegando a sequestrar 6,5 toneladas de CO2/hectare/ano.A Nutrisystem destacou a importância da correção dos solos das pastagens alentejanas (de elevada acidez) com soluções alcalinas. Solos ácidos apresentam em geral deficiências na mineralização da matéria orgânica e redu-zida atividade microbiana do solo, produzindo pastagens de fraca qualidade. «Um solo com pH de 5 (ácido) absor-ve metade do azoto, fósforo e potássio (do que um solo de pH equilibrado), dai a importância de corrigirmos o pH com soluções alcalinas», alertou Marco Ricardo.A Tecniferti apresentou uma forma inovadora de aplica-ção dos seus adubos líquidos em jovens plantas de so-breiro, visando aumentar a taxa de sucesso das novas

plantações: o Humigel B Floresta em forma de saquetas para colocar como um frapé à volta das jovens plantas, no momento da plantação. A empresa desenvolveu tam-bém o substrato PremoSeed (à base de farelo de ma-deira de pinho incorporado em gel) que ajuda a absorver a humidade do solo e a reter a água e o adubo junto à planta. Os dois produtos estão a ser testado em sobrei-ros e medronheiros.

diagnóstico e controlo do BVd e IBRO colóquio contou com duas apresentações sobre a saúde de bovinos e ovinos. Silvia Lopes, técnica da Co-prapec, enumerou as vantagens do programa Bovicare no diagnóstico e controlo da BVD- Diarreia Viral Bovina e da IBR- Rinotraqueíte Infeciosa Bovina. Estas doenças podem representar perdas económicas de 58€/vaca/ano, no caso do BVD, e de 23 a 46€/vaca/ano no caso do IBR, segundo dados apresentados pela médica ve-terinária. O rastreio do BVD e IBR através de análises ao sangue dos animais em laboratório, a vacinação e a ado-ção de medidas de biossegurança fazem parte do proto-colo do programa Bovicare, que a APORMOR recomen-da aos seus associados. Recorde-se que a APORMOR foi pioneira ao exigir que os bovinos apresentados no seu leilão de reprodutores, realizado anualmente na feira EXPOMOR, estejam comprovadamente isentos destas doenças. Programas como o Bovicare e o ViteloMax (iniciado este ano pela APORMOR) permitem controlar perdas econó-micas e preparar o futuro do comércio externo dos bo-vinos, «uma vez que a tendência é para que a legislação europeia seja cada vez mais exigente com as questões de sanidade animal, podendo em breve vir a impedir a comercialização de animais não rastreados e imunizados quanto a IBR e BVD», recordou Silvia Lopes.Deolinda Silva, responsável da Hypra em Portugal, rea-lizou uma apresentação muito pedagógica sobre como controlar abortos em ovinos (ver Artigo Técnico nesta edição).

O colóquio “Solo do Montado Alentejano – a importância na sua manutenção” reuniu na APORMOR cerca de 60 participantes, numa iniciativa conjunta com a COPRAPEC,

a 2 de Setembro, no âmbito da EXPOMOR 2019.

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A AtuAlidAde dOs AbORtOseM OvinOs

Numa exploração de ovinos de carne, onde a principal fonte de lucros é a venda dos borregos, uma boa fer-tilidade é a peça chave para garantir a produtividade e rentabilidade da exploração. Neste âmbito, é essencial prevenir e controlar os abortos para garantirmos um par-to e borregos saudáveis. O objetivo numa exploração é ter menos de 5% de abor-tos por ano. Uma taxa entre 5 a 10% já nos indica que existem problemas na exploração, devendo ser imple-mentado um programa de controlo. Quando uma explo-ração tem mais de 10% de abortos significa que tem um problema sério, que sem dúvida afetará a sua produtivi-dade e rentabilidade.

Quando é que os abortos podem ocorrer? Os abortos podem ocorrer em qualquer fase da gesta-ção. Quando a perda é no 1º mês chamamos de mor-talidade embrionária, havendo um retorno ao cio ou um “não parto” na data prevista do parto. Quando a perda de gravidez ocorre antes do 100º dia de gestação, chama-mos de aborto precoce. E a partir desta data considera-mos ser um aborto tardio. A partir dos 142 dias de gesta-ção consideramos nado-mortos ou nascidos fracos.

causas de abortos?Os abortos podem ter origem não infeciosa, como por exemplo, traumas, problemas nutricionais (ex. tóxicos), doenças metabólicas (ex. toxémia de gestação), causas genéticas, etc. No entanto, a maioria dos abortos é de ori-gem infeciosa. Neste campo também podemos ter muitos

agentes envolvidos, desde bactérias (ex. Chlamydia abor-tus e Salmonella Abortusovis), vírus (ex. Vírus da Língua Azul), parasitas (ex. Neospora ou Toxoplasma) e fungos.No Foro Ovino em 2018, T. Navarro referiu que a Chlamy-dia abortus e a Salmonella Abortusovis estavam implica-das em 79% dos abortos diagnosticados. Sendo a C. abortus considerada a principal causa de abortos (57%), seguida da Salmonella Abortusovis (8%), e em 14% dos abortos estes agentes estavam envolvidos em infeção mista com outros patógenos.Em Portugal, poucos estudos estão publicados sobre a prevalência de abortos causados por C. abortus, mas Luis Cristóvão (2014) refere uma prevalência de 40% em Ovinos Serra da Estrela. No refere à Salmonella Abor-tusovis, a sua pesquisa não é comummente efetuada, estando muito provavelmente sub-diagnosticada.De referir que a C. abortus pode afetar outras espécies, como o gado caprino e bovinos, e até o Homem, poden-do provocar o aborto em mulheres gestantes.

Aborto enzoótico Ovino (AeO)O AEO é causado pela Chlamydia abortus. Por ser o agente mais frequente, é o tipo de aborto que mais per-das causa numa exploração. O contágio pode produzir-se por via oronasal, mediante a ingestão de clamídias presentes na água ou na comida contaminadas, ou me-diante a lambidela e ingestão de restos placentários. De forma pouco significativa, está descrita a via venérea com possível via de transmissão. Os sintomas mais comuns são abortos na

artiGo tÉCNiCo

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| 8Propriedade: APORMOR – Associação de Produtores de Bovinos, Ovinos e Caprinos da Região de Montemor-o-Novo • Parque de Leilões/Exposições • 7050-020 MONTEMOR-O-NOVO • Tel. 266 898 300 • [email protected] | Coordenação e produção editorial: Comunicland Lda • [email protected] | Design gráfico: Catarina Martins

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fase final da gestação, borregos nascidos mortos ou fracos.Após o aborto, a ovelha infetada fica com defesas (imu-nidade natural decorrente da infeção) que a protegem de abortos sucessivos, durante 1 a 3 anos, embora conti-nuem a excretar C. abortus ocasionalmente durante os partos e nos cios nos três anos posteriores, favorecendo desta forma a manutenção e a disseminação da doen-ça no rebanho afetado e dificultando a sua erradicação. Quando as defesas diminuem, as ovelhas podem voltar a abortar, podendo ocorrer novo surto de abortos a cada 4 a 5 anos na exploração, caso não se implementem medi-das de prevenção e a vacinação.As fêmeas que abortam eliminam a C. abortus nas des-cargas vaginais, sendo as principais responsáveis pela transmissão da doença. Nas ovelhas, a excreção de cla-mídias é produzida massivamente no momento do abor-to e nos 2 dias seguintes, depois continuarão a excretar através da vagina, de forma intermitente durante mais 2 a 4 semanas.

Aborto Paratifóide (AP)O AP é causado pela Salmonella Abortusovis (SAO). Este agente é específico dos ovinos, mas também foi isolado em caprinos. A transmissão é também por via oronasal. A principal fonte de infeção são excreções de animais abortados, mas também pode ocorrer através de comi-da e água contaminadas. No AP os sintomas são muito semelhantes aos da C. abortus: abortos em fase final da gestação, borregos nascidos mortos ou fracos, mortes por septicémia nas 1as horas de vida, diarreias e pneu-monias no 1º mês de vida.

Impacto económico dos abortosO custo de um aborto em ovelhas não está só relacio-nado com as perdas diretas (perda do borrego), mas também devemos considerar os custos de manutenção e de improdutividade durante mais de seis meses, o tem-po necessário para que os animais recuperem e voltem a desenvolver uma nova gestação para serem produti-vos. Existem estudos que referem que, dependendo da prolificidade da raça, peso e preço médio de venda dos borregos, e custo de alimentação, o custo de um aborto em explorações de ovinos de carne pode situar-se entre os 70 e 150€. Considerando a Raça Merina Portuguesa (Branca e Preta) e os parâmetros acima referidos, pode-mos estimar que o custo de um aborto pode rondar os 80€ por animal. Se, por exemplo, numa exploração de 500 animais ocorrer um surto de abortos de 10 a 25%, podemos estar a falar de um custo total ente 4.000€ a 10.000€.

diagnósticoO diagnóstico da causa de abortos é essencial para poderem ser implementadas as medidas de controlo e

prevenção adequadas. O diagnóstico deve ser rápido e conclusivo, sendo o apoio laboratorial essencial, uma vez que os sintomas clínicos podem ser comuns a vários agentes infeciosos. A consulta do médico veterinário as-sistente da exploração é fundamental para definição da causa e medidas de controlo e prevenção.

Medidas de Prevenção e controloA prevenção dos abortos começa por se estabelecer medidas de biossegurança que impeçam a entrada da doença na exploração. Por exemplo, evitar o contacto com outras explorações e evitar a compra de animais de outras explorações que possam estar infetados subclini-camente com C. abortus e/ou Salmonella Abortusovis.Devem-se implementar também medidas de maneio que diminuam a transmissão da doença dentro da explora-ção: limpeza e desinfeção das instalações, nomeada-mente das maternidades, eliminação imediata do feto e placenta, separação dos animais abortados, limpeza dos bebedouros e manjedouras, assim, como controlo de al-guns animais como cães, gatos, ratos e aves, que podem ser transmissores de agentes causadores de abortos.A vacinação contra o AEO e AP é um fator-chave na di-minuição dos sintomas clínicos (abortos e borregos mor-tos ou fracos) e na diminuição das novas infeções (dimi-nuição da excreção dos animais previamente infetados). Para facilitar o maneio da vacinação na exploração é im-portante que a vacina utilizada seja eficaz na redução da sintomatologia e excreção, seja segura para os animais vacinados (nomeadamente em animais gestantes), com um protocolo flexível que facilite o maneio na exploração.É importante referir que a utilização de antibióticos como medida preventiva não é recomendada. Não só potencia a infeção latente (animais subclínicos), como não está de acordo com as normas europeias atuais de redução e uso prudente dos antibióticos.

conclusões1. A Chlamydia abortus e a Salmonella Abortusovis são os principais agentes infeciosos envolvidos em abortos de ovinos.2. O custo de um aborto em ovinos de carne situa-se entre 70 a 150€/ animal.3. Para controlar eficazmente os abortos numa explora-ção é necessário implementar medidas de prevenção e um protocolo vacinal adequado.

Dada à extensa bibliografia utilizada para a redação deste artigo, as referências não foram incluídas no texto. Caso o leitor pretenda obter informação suplementar, pode realizar a sua consulta aos au-tores através do seguinte endereço de email: [email protected]

Por: Dr.ª Deolinda Silva (HIPRA PORTUGAL) e Dr. Miguel Ángel Sanz (HIPRA ESPANHA)