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Teorias Sociológicas Clássicas 1ª Frequência 1 1. Origens e Fundadores do Pensamento Social 1.1. Positivismo Sociológico e Evolucionismo Organicista 1.1.1. A Ciência Positiva de Comte O século XIX traz profundas alterações à vida das sociedades. August Comte (1798-1857) Filósofo francês, foi o fundador do Positivismo Trata-se de uma filosofia das ciências que permitiu fundamentar um método de conhecimento e de análise e sintetizar os diferentes ramos científicos numa filosofia; Caracteriza-se como uma atitude epistemológica que se baseia em métodos científicos racionais e experimentais; É uma luta contra a ambiguidade teológica; O positivismo de August Comte estudou e analisou a sociedade europeia no século XIX e chegou a uma conclusão: que a sociedade encontrava-se em grande crise, devido ao facto de coexistência de 2 lógicas sociais contraditórias ou antagónicas que perturbam a ordem social. Lógica Teológica - Militar Lógica Científica - Industrial * Conservação dos valores do * Visão do futuro e procura do passado; progresso; * Assenta em dois poderes: * O espírito mais avançado está nas - O poder político nas mãos mãos da ciência. Já não está nas do poder militar (a + antiga); mãos da igreja, mas sim da ciência.

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1. Origens e Fundadores do Pensamento Social

1.1. Positivismo Sociológico e Evolucionismo Organicista

1.1.1. A Ciência Positiva de Comte

O século XIX traz profundas alterações à vida das sociedades.

August Comte (1798-1857)

Filósofo francês, foi o fundador do Positivismo

Trata-se de uma filosofia das ciências que permitiu fundamentar um método de conhecimento e de análise e sintetizar os diferentes ramos científicos numa filosofia;

Caracteriza-se como uma atitude epistemológica que se baseia em métodos científicos racionais e experimentais;

É uma luta contra a ambiguidade teológica;

O positivismo de August Comte estudou e analisou a sociedade europeia no século XIX e chegou a uma conclusão: que a sociedade encontrava-se em grande crise, devido ao facto de coexistência de 2 lógicas sociais contraditórias ou antagónicas que perturbam a ordem social.

Lógica Teológica - Militar Lógica Científica - Industrial

* Conservação dos valores do * Visão do futuro e procura do passado; progresso;* Assenta em dois poderes: * O espírito mais avançado está nas - O poder político nas mãos mãos da ciência. Já não está nas do poder militar (a + antiga); mãos da igreja, mas sim da ciência. - O poder da mentalidade nas mãos do poder religioso (da igreja).

Segundo Comte o facto de existir duas lógicas contraditórias ou antagónicas é negativo, porque deixa de existir aquela harmonia necessária, e desorienta as pessoas, daí a crise na sociedade, crise esta, que só será superada quando o modelo científico e industrial triunfar.

As duas lógicas acima referidas, apontam ainda para uma evolução social.

Comte cria então a lei dos 3 estados

É uma lei que resulta da análise/evolução das sociedades. É uma dupla lei que deve ser seguida.

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O alicerce fundamental da obra Comtiana é sem dúvida a Lei dos Três Estados

Formulou-a a partir da percepção do progresso humano

Observando a evolução das concepções intelectuais da humanidade, Comte percebeu que essa evolução passa por 3 estados teológicos diferentes:

1º) Estado Teológico / Fictício

Estado inicial das sociedades; Caracteriza-se por procurar verdades absolutas, uma explicação para a forma como o

mundo está a evoluir socialmente e culturalmente; Neste estado a capacidade humana é muito limitada, mas ambiciosa.

Este Estado tem 3 fases:

1- Fetichismo – Consiste em atribuir a todos os corpos externos uma vida análoga à dos seres humanos;

2- Politeísmo – É a adoração de vários Deuses / entidades sobrenaturais. Esta fase corresponde ao nascimento das civilizações clássicas e ao predomínio da livre imaginação;

3- Monoteísmo – Adoração de um só Deus. Construção / surgimento das grandes religiões em que só existe um Deus (cristianismo; judaísmo…).

Comte caracteriza este estado como a idade da infância. Porque é a idade que as pessoas fazem perguntas infantis. Perguntas que não têm respostas. É a fase do descobrimento.

2º) Estado Metafísico / Abstracto

Estado de transição em que começa a haver verdadeira observação da natureza; Estado em que já começa a emergir alguma ciência (não a ciência científica, mas a

ciência básica); Corresponde ao final da idade média; Substituem-se os deuses pela natureza.

Comte caracteriza este estado como a fase da adolescência, onde se põe em causa certas verdades, mas ainda não há respostas concretas.

3º) Estado Positivo / Real

É o estado emergente em que a ciência terá um valor de verdade inigualável; É o estado onde a ciência consegue provar verdades cientificamente.

Comte caracteriza este estado como a idade adulta. A humanidade chegou à fase da evolução, à idade em que está capaz de transformar a natureza, a sua sociedade – fase da maturidade humana.

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Este estado apresenta 4 características:

1- Subordinação da Imaginação à Observação - O conhecimento é construído pela interpretação que se faz dos factos observados. A ciência moderna não pode inventar.

2- Natureza Relativa do Espírito Positivo – Qualquer facto ou fenómeno só pode ser apreendido e explicado pelas relações que estabelece com outros factos e fenómenos; Para se observar é preciso haver condições de observação. É preciso haver instrumentos. A ciência só avança porque há uma evolução dos instrumentos científicos;

3- Previsão Racional – A previsão é a consequência necessária das relações constantes descobertas entre os fenómenos;

4- Extensão Universal do Dogma Fundamental da Invariabilidade das Leis Naturais – Pretende que as leis da sociedade sejam leis seguras, que não devem andar sempre a serem postas em causa, e quer que as leis científicas sejam do conhecimento de todos os indivíduos.

Desta forma Comte faz nascer a Sociologia:

A Sociologia tem duas áreas:

Sociologia Estática – Estuda a ordem social, ou seja, a forma como os membros de uma colectividade conseguem criar um consenso. Teoria da Ordem

Sociologia Dinâmica – Estuda o progresso (a transformação das sociedades através da história da humanidade).

Teoria do Progresso

É também uma ciência que estuda o comportamento

humano em função do meio e dos processos que interligam o indivíduo em

associações, grupos e instituições

Pretende explicar a totalidade do seu universo de

pesquisa

É a área científica que se dedicará ao estudo e análise dos

fenómenos sociais. Tem como alvo resolver a crise do mundo

moderno, ou seja, contribuir para um sistema de ideias científicas

que guiará à reorganização social, à mudança social

Para Comte a Sociologia é a ciência da sociedade, muito importante na recuperação e perseverança da ordem social e na concretização do progresso social.

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1.1.2. O Evolucionismo Organicista de Spencer

A teoria evolucionista de Herbert Spencer assenta em 3 características:

Integração – A evolução implica integração. Implica uma mudança progressiva de uma forma menos coerente para outra mais coerente;

Diferenciação – A evolução faz-se de homogeneidade para a heterogeneidade;

Definição de Funções – A evolução acarreta a definição de funções à medida que evoluem, os elementos que ao princípio são confusos, vão conhecendo uma determinação gradual.

Spencer foi influenciado directamente por Darwin, construindo uma teoria possível de interpretar-se como darwinismo social – a evolução encontra-se na sociedade tal como nos organismos físicos. A Sociologia seria a história natural das sociedades, seria a atribuição de uma ordem (científica) às mudanças que as sociedades vão conhecendo e embora reconhecendo que a Sociologia não era uma ciência exacta, defendia que a ciência era a busca das leis que regem os fenómenos e, ao mesmo tempo, uma interpretação sobre eles.

Desta forma, existem 3 formas de evolução:

Evolução Inorgânica – Diz respeito à evolução dos corpos celestes, portanto, dos astros, sobre os quais se debruça a astronomia;

Evolução Orgânica – Diz respeito aos organismos vivos, dos agregados individuais, que são estudados pela biologia;

Evolução Superorgânica – Consiste no estudo dos corpos compostos pelos agregados individuais, a sociedade – a ciência que os estuda é a Sociologia.

Para o autor só podemos encontrar superorganismos entre certos vertebrados superiores – os humanos – e a sociologia é a ciência que os estuda. No entanto, o método que aplica ao estudo do superorganismo é o que aplicou ao estudo dos organismos, dizendo que existe um conjunto de semelhanças:

Crescimento – Tal como os organismos vivos, as sociedades também crescem, vão passando de agregados mais simples para agregados maiores;

Complexidade de estruturas – O crescimento leva a um grau mais elevado de complexidade das suas estruturas; os organismos vivos podem começar por um embrião passando a uma unidade complexa. Nas sociedades as estruturas iniciais foram muito simples, mas à medida que elas foram crescendo, foi necessário que essas estruturas se fossem sofisticando, tornando-se mais complexas;

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Diferenciação de funções: A complexidade é acompanhada ou seguida por uma diferenciação de funções – quando surgem agregados mais complexos, as funções que as unidades desempenham, passam a ser outras. A evolução social trouxe a necessidade dos indivíduos desempenharem funções diferentes mediante o grau de complexidade;

Reciprocidade – A diferenciação de funções levou à especialização da função desempenhada - cada unidade tende a desempenhar com maior capacidade uma função que até desempenhava;

Independência – As unidades do superorganismo são independentes umas das outras, mas daqui resulta a diferença com o organismo – por mais que possamos isolar as partes de um organismo estas nunca assumem a mesma independência dos seres humanos.

Essas diferenças dizem respeito:

Discrição – Enquanto que as unidades orgânicas são concretas, ou contínuas, as unidades do superorganismo são discretas ou descontínuas, embora necessitem de viver em cooperação;

Cooperação – A cooperação do superorganismo faz-se através da linguagem que permite a comunicação entre as pessoas, a cooperação dos organismos vivos faz-se através do contacto físico, ou seja, como se tratam de unidades contínuas, há um lado físico que as liga;

Benefício – Enquanto que o organismo procura o benefício do todo, o superorganismo procura o beneficio das partes

Spencer procede ainda à classificação das sociedades, de acordo com dois níveis de classificação: composição e actividade social dominante, sendo que quanto à composição temos:

Sociedades Simples – Caracterizam-se pelo seu grau de desconexão entre as várias unidades, praticamente não existe concertação nem cooperação;

Sociedade Compostas – São as que resultam dos moldes de associação das primeiras: as unidades já possuem laços entre si, já têm exclusivamente uma forma de governos, mas muito rudimentar ainda – o chefe é supremo e governa os chefes dos grupos;

Sociedades Duplamente Compostas – Podem ter conhecido o mesmo esquema de formação a partir das sociedades compostas;

Sociedades Triplamente Compostas – São o último patamar da hierarquia; são aquelas que se formaram a partir das anteriores e onde o processo evolucionista atingiu o seu mais elevado grau.

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Temos ainda as sociedades militares e as sociedades industriais, em que as primeiras estão fundamentalmente preparadas para a guerra e as segundas preparadas para o desenvolvimento e progresso.

1.2.Democracia e revolução em Alexis de Tocqueville

1.2.1. Teoria política e sociedade democrática

1.2.2. A democracia americana

1.2.3. A Revolução Francesa

1.3.O Materialismo Histórico

1.3.1. Fontes filosóficas do pensamento marxistaa) Hegel e o princípio da dialécticab) Feuerbach: o princípio do materialismo e a alienaçãoc) O Materialismo Dialéctico1.3.2. Classes sociais, Estado e ideologiaa) Infra-estrutura e superstruturab) Lutas de classe e revoluçãoc) A sociedade comunista1.3.3. Crítica do capitalismoa) Mudança das condições de produçãob) Trabalho, valor e lucro

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2. A Sociologia de Émile Durkheim

2.1. Factos sociais e método sociológico

2.1.1. Os factos sociais: objectivos, nomotéticos, previsionais

O núcleo central da teorização de Durkheim diz respeito aos factos sociais como base da metodologia sociológica: esta teorização sobre os factos sociais assume para Durkheim um método ou uma metodologia, ou seja, para ele a sociologia é a ciência que analisa os factos sociais.

Durkheim começa a sua exposição afirmando que respeita o primado da razão sobre as coisas sensíveis, no acto de conhecer. De acordo com a sua explicação, os factos sociais têm de ser vistos como coisas, algo que se desconhece e que só o estudo pode verificar empiricamente, e exteriores aos indivíduos na medida em que são pré-existentes.

Os factos sociais, segundo Durkheim “consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de um poder coercivo em virtude do qual se lhe impõem”.

São portanto, modos de agir, mas também de pensar, que se encontram inscritos na sociedade (exterioridade), aos quais os indivíduos obedecem, embora não seja de uma maneira cega. A coercibilidade dos factos sociais não corresponde a uma coacção física, ou determinística, mas como um imperativo moral. É, fundamentalmente, uma integração do indivíduo na normalidade social.

Os factos sociais apresentam as seguintes características:

Objectivos – A ciência deve ser objectiva, portanto, procura a compreensão dos fenómenos sociais para lá daquilo que os indivíduos interiorizam – os factos sociais possuem existência objectiva, não se reduzem aos indivíduos que neles participam;

Nomotéticos – Implica que o conhecimento científico constrói leis e regras – a ciência é a construção das leis que se observam nos factos: estes tendem a construir padrões de comportamento, sendo tarefa da ciência a sua objectivação – o tornar realidade;

Previsionais – As leis forjadas pela ciência têm uma capacidade previsional: é possível estabelecer conhecimento que reconheça uma pauta de antecipação dos factos sociais – a ciência social deve ser previsional.

Tal como Kant e Comte, Durkheim vem dizer que a ciência, e a sociologia, deve ser alicerçada com base na experiência, e deve atender as regularidades observáveis entre os factos – os acontecimentos – e não deve procurar as formas puras ou as essências. Por outro lado, deve

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ser autónoma, deve constituir-se como um esforço no sentido de apreender a realidade e, deste modo, ocupar um espaço ainda não preenchido (“espaço analítico”).

Os factos sociais não se fundamentam nas motivações psíquicas ou psicológicas dos indivíduos – os factos são construídos pelos indivíduos quando em interacção, em relação com os outros.

Por exemplo, o suicídio como facto social, não se explica porque existem pessoas mais ou menos propensas, psicologicamente, para esta forma de terminar com a vida, nem isso tem a ver com questões de natureza biológica, como por exemplo, a raça, a cor da pele, etc.

Esse facto social deve antes procurar a sua explicação no contexto da sociedade em que se verifica, e nos outros factos sociais que aí ocorrem, por exemplo, a religião (no caso do suicídio egoísta).

Esta característica, que releva da realidade, constituiria a sociologia como uma ciência experimental, como ciência que se constrói a partir da observação empírica (dos dados da experiência).

Os processos e as instituições sociais são o resultado de interacções, não resultam da acção individual, mas quando esta se alicerça entre os indivíduos.

Durkheim afirma que “nenhuma ciência copia a realidade” negando, assim, o senso comum: assim, se por um lado são os sentidos (a experiência) que dão a partida para a observação dos factos sociais, a razão tem o papel fundamental de permanente orientação e comando.

2.1.2. O método

Para lá da delimitação dos factos sociais é ainda necessário que se proceda à sua determinação, ou seja, à recolha de elementos que permitem verificar os factos sócias.

Durkheim parte da ideia de que convém definir os factos sociais por traços exteriores facilmente reconhecíveis, a fim de evitarmos os preconceitos ou pré-noções.

O método que Durkheim propõe para a análise dos factos sociais consiste:

Numa primeira operação, na definição do fenómeno, procurando delimitá-lo, circunscrevê-lo ao âmbito sociológico;

Em segundo lugar, o sociólogo deve apresentar a refutação das anteriores abordagens sobre o fenómeno – se as houver – sejam elas de carácter científico, sejam elas do senso comum;

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Em terceiro lugar, Durkheim propõe a sua própria visão do facto social considerado, recorrendo à construção de uma tipologia – quadro ou matriz em que se delineia os vários elementos e variações do fenómeno.

Trata-se de construir um quadro em que são estabelecidas, pela primeira vez, as correlações entre os factos sociais e os elementos que o constituem.

A tipologia serve de grelha de conceptualização do fenómeno, tratando-se, por isso, já de uma operação intelectual de construção do fenómeno (tipificação).

Este método apresenta uma característica que estará sempre presente nos estudos realizados por Durkheim: o autor rejeita sempre as interpretações racionalizantes e individualistas, tal como as que são seguidas na economia do seu tempo.

O que interessa a Durkheim é perceber o que se passa com a realidade do mundo social, por conseguinte, entende que a realidade é ela própria portadora das diferentes distinções que a conceptualização refere.

a) Análise funcional e análise histórica

Todos os factos sociais só se explicam por outros factos sociais, sendo possível observá-los através de duas análises:

Análise histórica – Durkheim diz que esta análise não serve a sociologia, visto que não se pode compreender a sociedade contemporânea se só e apenas recorrermos à história. Há que ter em conta os fenómenos sociais e não apenas os históricos.

Análise funcional – é a análise que segundo Durkheim serve a sociologia. É a análise das funções que os factos sociais cumprem.

b) Normal e patológico

Boa parte da teoria de Durkheim é dedicada à distinção entre o que é normal e o que é patológico – entendido como o que é disfunção, ou seja, doentio, perverso.

A convocatória do que é normal e do que é patológico pretende restabelecer aquilo que Durkheim entende como patologia social, a doença ou formas de doença social.

Em primeiro lugar, Durkheim recusa todas as explicações que afirmavam não ser possível à ciência estabelecer um paralelismo entre os juízos de facto e os juízos de valor, ou seja, entre a ciência e moral.

Começa por referir que tanto os juízos de facto como os juízos de valor são realidades empíricas, utilizadas pelos indivíduos no contexto da sua sociedade.

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À ciência compete analisar essas realidades e guiar os sujeitos na escolha dos melhores objectivos sociais; não os objectivos que socialmente estão disponíveis, mas aqueles que contribuem para a realização da sociedade, do conjunto dos indivíduos.

Por isso, propõe-se a usar a distinção entre o que é normal e o que é patológico.

Por normal deve-se entender um fenómeno social – ou um conjunto de fenómenos – que constituem uma generalidade para essa sociedade.

Por outras palavras, o normal pode ser entendido como um facto que se realiza de maneira geral na sociedade. É aquilo que é frequente, aquilo que é frequente.

Contrariamente, o patológico é algo que sai do âmbito da normalidade, o seu carácter é extraordinário, a sua frequência conhece “picos”, acentuação ou crescimento e nesta medida, o patológico deve ser combatido.

É obvio que o que Durkheim defende tem a ver com a sua posição filosófica: à sociologia cabe a resolução das patologias sociais, dos problemas sociais.

Durkheim coloca assim em grande plano a utilidade da sociologia: mais do que um conhecimento, a sociologia deve ser útil, deve contribuir para a plena integração dos indivíduos na sociedade.

Deste modo, a sociologia seria a ciência moral da sociedade, a ciência que tem como finalidade explicar os comportamentos morais dos indivíduos e servir de orientação futura.

2.2. Solidariedade social e divisão do trabalho

O tema do livro “Da Divisão do Trabalho Social” é o tema central do pensamento durkheimiano: o da relação entre os indivíduos e a colectividade.

Na obra, Durkheim analisa a evolução das sociedades agrárias às sociedades industriais. Analisa como se passa de uma vínculos sociais muito fortes, para uma sociedade mais moderna, muito apontada para o individualismo, que se caracteriza por ser muito mais livre, sem que isto sofra o risco de completa desagregação.

2.2.1. Solidariedade social e Direito

Outra questão, a qual Durkheim se ocupou prende-se com a análise do tipo de normas que predominaram nas sociedades arcaicas, como os que predominavam nas sociedades modernas, tornando-se assim conhecido como o primeiro sociólogo que se havia pronunciado sobre a questão do direito.

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Segundo o autor, há dois tipos de direito:

O direito repressivo – que sanciona as faltas ou os crimes. É o revelador da consciência colectiva nas sociedades de solidariedade mecânica, uma vez que, pelo próprio facto de multiplicar as sanções, manifesta a força dos sentimentos comuns, a sua extensão e a sua particularização.

O direito restitutivo ou cooperativo - cuja essência não é sancionar as infracções das regras sociais, mas repor as coisas em ordem, depois de cometida uma falta, ou organizar a cooperação entre os indivíduos. Quem não reembolsou a sua dívida deve pagá-la. É característico das sociedades de solidariedade orgânica.

2.2.2. Solidariedade mecânica e solidariedade orgânica

Como já foi referido anteriormente, o tema principal do livro “Da Divisão do Trabalho Social”, é o da relação entre o indivíduo e a colectividade. À questão: como é que uma colecção de indivíduos pode constituir uma sociedade? A esta questão fundamental, Durkheim responde pela distinção entre duas formas de solidariedade: Solidariedade Mecânica e Solidariedade Orgânica.

a) Solidariedade mecânica ou por similitude

É como Durkheim refere, uma solidariedade por semelhança.

Quando esta forma de solidariedade domina uma sociedade, os indivíduos diferem pouco uns dos outros. A sociedade é coerente porque os indivíduos ainda não se diferenciaram.

As sociedades chamadas de primitivas são caracterizadas pela predominância da solidariedade mecânica. Nestas, cada indivíduo é o que os outros são.

b) Solidariedade orgânica ou dual da organização do trabalho

É aquela em que a unidade coerente da colectividade, resulta da, ou é expressa, pela diferenciação. Os indivíduos já não são semelhantes, mas diferentes.

2.2.3. Densidade social e diferenciação social

As duas formas de solidariedade correspondem, no pensamento de Durkheim, a duas formas extremas de organização social.

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3. A sociologia compreensiva de Max Weber

3.1. A teoria da ciência e a acção social

3.1.1. Teoria da ciência

A concepção epistemológica de Weber funda-se na teoria Kantiana do conhecimento.

As influências de Kant sobre Max Weber são 4:

Em primeiro lugar, não se pode reduzir a realidade ao saber, ou seja, o conhecimento é um olhar sobre a realidade, mas que não a esgota. A realidade é irredutível ao conhecimento;

Em segundo lugar, afirma a subordinação do objecto ao sujeito, o que quer dizer que o sujeito é a parte activa do conhecimento e subordina o objecto aos seus princípios;

Em terceiro lugar, existe uma especificidade do conhecimento das condutas humanas, sendo que ela revela do facto dos sujeitos atribuírem “sentido” às condutas dos indivíduos;

Por último, há que separar juízos de facto de juízos de valor.

Influenciado por estas 4 premissas, Weber afirma que o mundo é demasiado vasto e intenso para se perceberem todas as alterações, mudanças e especificidades dos fenómenos que nele acontecem. Só podemos apropriar uma parte desse real.

Trata-se, por isso, de uma construção racional e intelectual, apoiada na compreensão da realidade que já esta construída, de certo modo, à priori, pela razão.

Para Weber, a ciência é, fundamentalmente, uma racionalidade criada pela civilização ocidental com o intuito de entender os diversos fenómenos que a realidade lhe coloca.

Mas, a ciência não é uma maneira de compreender o real superior às outras formas: conhecimento filosófico, religioso, de senso comum, etc. Com efeito, segundo Weber, não se pode afirmar que o conhecimento científico seja superior aos outros, mas mais racional, justamente porque percebe que a sua especificidade é realizada com base numa construção pela razão.

Portanto, trata-se de um conhecimento no qual a razão intervém mais activamente e do qual existe uma consciência da construção puramente racional que ele elabora.

Juízos da ciência Juízos que as pessoas praticam no seu quotidiano

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Uma vez que não se trata de uma forma superior de conhecimento, a sua legitimidade é-lhe garantida pelos meios e recursos que disponibiliza – recursos e meios sociais de reconhecimento – podendo assim, alcançar uma “validade universal”.

Tal como Durkheim, Weber reclama para a ciência uma formulação com base na construção de conceitos, na relacionação entre estes e fundamentada na verificação empírica, sendo esta última característica, o que distingue a ciência de senso comum.

Como se disse, Weber entende a ciência como um protocolo racional e técnico, um conjunto de normas e precedências que vão permitindo construir esse conhecimento – a sua teoria assenta fundamentalmente no conceito de acção.

3.1.2. Acção social

Acção é todo o comportamento humano, seja interior ou exterior, desde que o indivíduo lhe comunique um sentido.

Acção Social é entendida como:

“Um comportamento humano (pouco importando que se trate de um acto exterior ou íntimo, de uma omissão ou de uma tolerância), quando e enquanto o agente ou agentes lhe comunicam um sentido subjectivo. E por actividade social (actividade aqui é acção) a actividade que, segundo o seu sentido visado pelo agente ou agentes, se refere ao comportamento de outrém, em relação ao qual o seu desenvolvimento se orienta”.1

Diferentemente de Durkheim, a acção social é definida em termos de relevância para o sujeito, quando estes lhe comunicam o sentido, ainda que subjectivo, valido para os sujeitos.

Assim entendida, a acção está quase nos antípodas do facto social (exterior e coercivo), pois o seu carácter social advém-lhe da característica de se orientar para os outros (sujeitos).

No entanto, a acção pode ser explícita – um acto concreto – ou difusa – uma omissão ou uma tolerância -, isto é, algo que não resulta de um acto em concreto, mas de uma maneira de pensar ou sentir, como diria Durkheim.

A acção social é um comportamento do qual o sujeito constrói uma imagem, um sentido, que não só tem relevância para ele, como para os outros. Quer isto dizer que o sentido da acção é construído tanto pelo sujeito que a pratica, como pelos sujeitos que a reconhecem.

Então, a sociologia seria a ciência que se propõe compreender e explicar, por interpretação, a acção social, o seu desenvolvimento e os seus efeitos.

Esta concepção da acção social e da sociologia cria, de imediato, uma ruptura com a tradição positivista e, em especial, com a formulação de Durkheim.

1 Weber, Economia y Sociedad, p.4.

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Durkheim tinha proposto a ideia de autonomia do social: a sociedade impunha-se aos indivíduos por um poder coercivo que lhe é exterior. Weber não aceita este princípio, propondo, em contrapartida, que o esforço de compreender a sociedade não pode situar-se na esfera dessa identidade abstracta, transcendente diríamos, aos sujeitos.

Para Weber, a forma de estudar a sociedade é feita a partir dos indivíduos, dos seres observáveis, porque só eles podem atribuir sentidos aos actos que realizam.

Sentido que está presente em todos os níveis da acção social (instituições, costumes, regras, etc.), sentido que é produzido pelos homens e que os rege nas suas relações.

Com base neste programa discursivo, Weber vai construir o seu esquema de análise da sociedade, teorizando 4 tipos de acção social:

a) Acção Racional por Referência a um Objecto

Trata-se do tipo de acção na qual o actor – aquele que a desenvolve – vislumbra claramente como atingir um fim, combinado para isso os elementos de que dispõe (exemplo: engenheiro que constrói uma ponte, ou um cirurgião que realiza uma operação)

Este tipo de acção envolve a racionalidade do sujeito, ou seja, na base da sua acção está a razão que lhe fornece os meios que lhe permitem a escolha dos instrumentos para levar a efeito aquilo que pretende.

Esta racionalidade não é uma característica atribuída pelo investigador – ela está inscrita na acção que o indivíduo realiza.

Mesmo quando o indivíduo escolhe os meios errados para atingir o seu objectivo, isso não quer dizer que ele agiu irracionalmente. A sua racionalidade é que não incorporou os melhores elementos, mas isso não quer dizer que o indivíduo não utilizou a razão para nortear a sua acção.

Deste modo, toda a acção é provida de sentido, de racionalidade, já que o é para o sujeito, mesmo quando esta racionalidade parece desajustada aos olhos do investigador/sociológico.

b) Acção Racional por Referência a um Valor

É o tipo de acção que não pretende atingir um fim, mas um valor ético-normativo. O indivíduo não pratica a acção para obter qualquer ganho ou prestígio, mas porque cumpre uma obrigação ética, que ele assim a considera.

Acção racional por referência a um objecto; Acção racional por referência a um valor;

Acção Afectiva ou Emocional; Acção Tradicional;

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Tal como na anterior, poderá parecer desajustada a quem a analisa, mas ela é relevante para quem a pratica, que se obriga a cumpri-la; é também racional, já que o indivíduo lhe atribui um sentido forjado pela sua racionalidade (exemplo: o comandante de um navio que se deixa afundar, porque reconhece que isso é um dever – imperativo categórico, diria Kant).

c) Acção Afectiva ou Emocional

É a acção espontânea e imediata do sujeito e que lhe é ditada pelo seu estado de consciência, sendo, portanto, a acção emocional, forjada pelas circunstâncias do momento e que não se encontra reflectida num objectivo, nem um sistema de valores éticos.

Não se caracteriza pela racionalidade, mas, ainda assim, possui um sentido, atribuído pelo sujeito, muito embora seja mais fruto do momento ou dos acontecimentos envolventes. (exemplo: a repreensão do pai, quando dá uma bofetada ao filho).

d) Acção Tradicional

Aquela que é realizada por simples obediência a um conjunto de normas, hábitos e costumes ancestrais. (exemplo: a moda, os gestos do quotidiano – desfazer a barba nos homens – etc.)

A acção deriva da obediência a factores que lhe são exteriores e que ele incorporou na sua actividade e em que o sentido até pode não assentar numa racionalidade do sujeito.

3.2. Ciência e racionalidade: a compreensão sociológica

Esta tipificação da acção social é uma das preocupações de Weber, reflectindo uma preocupação da sua época, a racionalidade e os diferentes tipos de acção derivam da racionalidade crescente das sociedades contemporâneas, muito embora a racionalidade esteja presente nos dois tipos primeiros, também pode estar nos últimos.

O tipo de acção mais racional é o primeiro, já que o sujeito tem que escolher entre os mais variados elementos aqueles que mais se ajustam à finalidade, ou seja, envolve uma racionalidade nunca acabada, ela consiste numa acção que pode ser constantemente alterada.

O segundo tipo é também racional, mas apenas para o sujeito, já que se trata de uma racionalidade cultural – a acção tem sentido, sobretudo, para o sujeito – a prática religiosa, por exemplo.

O terceiro tipo de acção é o menos racional já que deriva das condições do momento, não implicando, portanto, um esforço racional no sentido de adequar meios e fins. Tal como a acção tradicional, está nos limites da racionalidade, pode sê-lo, mas é pouco provável que assim se verifique.

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A acção tradicional, também está fora da racionalidade estrita entendida por Weber, e é o menos racional, já que o sujeito não tem uma finalidade, nem um valor, nem um sentido vago da acção.

Por outras palavras, pratica-a porque assim é ditado pela sua cultura, pelo exterior, embora se possa dizer que também existe um sentido, ainda que muito vago, para o suspeito.

A racionalização da vida e das acções humana domina o pensamento weberiano e edificou o seu modo de pensar as sociedades.

Com efeito, a racionalização da economia, do estado, etc., é dominante como forma de organização do colectivo, da sociedade.

Esta preocupação é fundamental para Weber, já que, um dos problemas que sentia era delimitar a fronteira entre aquilo que é a ciência e que aquilo que é do âmbito da política.

Ambas as formas de acção tinham a sua razão de ser, para Weber, mas havia que traçar a fronteira entre aquilo que era fruto de uma racionalidade estritamente actuante, de intervenção social, e de uma racionalidade analítica.

Para Weber, a ciência não tem nenhum papel de orientação da conduta dos indivíduos, ou melhor, não deverá ter. A ciência é uma forma de analisar a sociedade que não é superior a nenhuma das outras existentes, apenas mais racional, e a racionalidade é uma forma de organização colectiva ocidental.

Deste modo, a ciência seria um tipo de acção racional por referência a um objecto.

Mas a ciência é também uma acção racional por referência a um valor, ou seja, a ciência é uma acção humana que combina as duas formas de acção social preconizadas por Weber.

A racionalidade científica deriva do respeito pelas regras da lógica da pesquisa, pois só este respeito poderá permitir chegar a verdades universalmente válidas.

Quer isto dizer que, para Weber, a ciência é um processo que se inscreve social e historicamente nas sociedades contemporâneas – Weber afirma mesmo que a contemporaneidade assume esta especificidade em relação a outras épocas históricas: um saber racional do modo e funcionamento e do de desenvolvimento social, não apenas historicamente datado, mas ocidentalmente localizado.

Outra característica fundamental da teoria weberiana deriva daqui: sendo a ciência uma forma específica de racionalidade do processo histórico, a ciência nunca termina, por outras palavras, a ciência é o devir da própria ciência.

Em suma, a racionalidade é fundamental para se compreender Weber, mas essa racionalidade levou a que alguns críticos da sua obra a entendessem como instrumental.

Isto é, para Weber, a racionalidade é o processo segundo o qual os indivíduos fazem escolhas, o processo que envolve a adequação de meios e recursos a um objectivo, explícito ou não, que o individuo também realizou.

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Isto quer dizer que não existem tipos puros de acção, elas combinam-se e o mais provável é que não se encontrem acções humanas que possam apenas ser referenciadas a um só tipo.

De facto, as acções humanas inscrevem-se dentro daquilo que Weber pensa ser o mundo – uma teia vasta e muito complexa de relações e efeitos, as acções humanas são isso mesmo, portanto os tipos de acção combinam-se - veja-se o exemplo: o ensino pode ser um tipo de acção social, que combina as 4 formas de acção descritas por Weber.

3.2.1. Ciência e compreensão

Desta forma, a ciência é, para o autor, fundamentalmente, compreensiva, embora a compreensão no âmbito das ciências físicas seja diferente da compreensão das ciências sociais.

Compreensiva, na medida, em que pretende restituir e interpretar o sentido da acção que o indivíduo realiza.

Sentido esse que já não é o mesmo que o sujeito tem para si próprio, mas torná-lo coerente dentro das várias formas de acção combinadas que existem socialmente.

Enquanto que nas ciências físicas o que se pretende é explicar os fenómenos por meio de proposições quantificáveis, por recurso à matemática, os fenómenos sociais são substancialmente diferentes.

Melhor dizendo, não são os fenómenos que são diferentes, mas a compreensão científica que deles se realiza – o que por vezes é confundido.

A compreensão não pode nem deve ser confundida com intuição (senso comum), ela só pode ser realizada se se apoiar num programa lógico de pesquisa, na metodologia que será desenvolvida mais à frente.

Daqui resulta que a inteligibilidade dos actos humanos pode, de facto, ser acessível sem a intermediação de proposições gerais, típicas do método das ciências naturais.

a) Sociologia e História

Para Weber, os actos humanos não podem ser analisados sob o mesmo sentido, já que eles não possuem um sentido verdadeiramente universal, sendo isto válido para todas as sociedades e culturas.

Dito de outro modo, os actos humanos possuem uma dimensão histórica particular que carece estar nos fenómenos físico-naturais.

Contrariamente a Durkheim, Max Weber não concebe a sociologia desligada da história, pois as duas análises complementam-se.

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Por um lado, é necessário contextualizar os actos humanos, ver aquilo que é repetível do que não é, aquilo que é tradicional daquilo que é novo ou reconstruído.Por outro lado, a análise dos processos sociais implica a reconstrução do funcionamento das instituições e do sentido que os actores lhe atribuíram e/ou lhe atribuem.

Ou seja, a sociologia faz uma distinção clara entre aquilo que são juízos de valor e aquilo que são juízos de facto.

b) Juízos de valor e juízos de facto

O juízo de valor é um julgamento, uma operação racional, que é pessoal, que tem um sentido subjectivo, portanto válido para o indivíduo, exprimindo a personalidade de cada indivíduo;

É o juízo típico da acção por referência a um valor, o sujeito aprecia ou não isto ou aquilo e constrói a partir daí um sentido válido para si. Trata-se de uma reflexão sobre a natureza do valor considerado, do seu significado subjectivo, e que é transcrito sob a forma de positividade/negatividade.

O juízo de facto é substancialmente diferente, tratando-se, em primeiro lugar, de um juízo em relação a valores. É um juízo que analisa valores, consistindo numa relação racional que confronta os factos, relaciona-os, verifica as suas regularidades e estabelecendo os seus e desenvolvimento, sendo, por isso, os juízos próprios do conhecimento científico.

3.2.2. Metodologia da investigação

a) Interpretar, compreender e explicar

Para atingir a interpretação sociológica são precisas 3 formas de modalidade:

1 ª Interpretar; 2ª Compreender; 3ª Explicar

A primeira forma significa conceptualizar a acção, ou seja, perceber como a acção em concreto é desenvolvida e depois conceptualiza-la enquadrando-a nos modelos que Weber apresenta;

Compreender significa apreender o sentido da acção que o sujeito ou sujeitos lhe aplicaram. O investigador tem que sair de si mesmo e colocar-se na óptica do agente que investiga, e tentar perceber o sentido ou sentidos que os agentes deram às suas acções. Não para as justificar ou rectificar, mas para perceber o sentido que o agentes dão às acções que tiveram. Compreender significa não julgar, não rectificar, mas sim perceber;

A terceira forma de modalidade é explicar e significa atribuir uma relação de casualidade entre os fenómenos. Não basta apenas ter visível a relação entre a razão e sentido.

Programa teórico criado por Weber, para se fazer sociologia

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São estes os 3 actos fundamentais que fazem parte da metodologia de investigação, da sociologia compreensiva de Weber.

b) Causalidade histórica e causalidade sociológica

As ciências históricas e sociológicas não são apenas interpretações compreensivas dos sentidos subjectivos dos comportamentos. São também ciências causais.

Ou seja, as ciências históricas e sociológicas querem explicar causalmente, ao mesmo tempo que interpretar de maneira compreensiva. A análise das determinações causais é um dos procedimentos que garantem a validade universal dos resultados científicos.

A investigação causal, segundo Max Weber, pode orientar-se em duas direcções:

Causalidade histórica e

A causalidade histórica supõe as seguintes operações:

Em primeiro lugar, é necessário construir-se a individualidade histórica, cujas causas se pretendem encontrar. Esta permite determinar com precisão as características do acontecimento cujas causas se investigam. A primeira regra da metodologia causal, em matéria histórica e sociológica, é definir com precisão as características do indivíduo histórico que se quer explicar.

Em segundo lugar, convém analisar o fenómeno histórico, complexo por natureza, nos seus elementos. Uma relação causal é sempre uma relação parcial e construída entre certos elementos do indivíduo histórico e certos dados anteriores.

Em terceiro lugar devemos, depois de termos procedido à análise do indivíduo histórico e dos antecedentes, supor por uma experiência mental que um dos elementos antecedentes não se produzia, ou se produzia de modo diferente.

Causalidade sociológica

Determina as circunstâncias únicas que provocaram certo

acontecimento

Supõe o estabelecimento de uma relação regular entre dois

fenómenos

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Para que possa haver uma análise causal, é necessário que se sugira implicitamente que na ausência de certa acção, o curso dos acontecimentos teria sido diferente , sendo isto, tudo o que esta metodologia sugere.

As relações causais são parciais e não globais, e comportam um carácter de probabilidade e não de determinação necessária.

3.2.3. O ideal tipo ou tipo ideal

A solidariedade da história e da sociologia surge muito claramente na concepção do tipo ideal, que é, de certa maneira, o centro da doutrina epistemológica de Max Weber.

O tipo ideal liga-se à noção de compreensão, uma vez que qualquer tipo ideal é uma organização de relações inteligíveis próprias, ou de um conjunto histórico, ou de uma consecução de acontecimentos.

Por outro lado liga-se ao que é característico da sociedade e da ciência modernas, ou seja, ao processo de racionalização.

A construção de tipos ideais é uma expressão do esforço de todas as disciplinas científicas para tornarem inteligivel a matéria identificando a sua racionalidade interna.

Por fim, o tipo ideal liga-se também à concepção analítica e parcial da causalidade. Permite com efeito a apreensão d indivíduos históricos ou conjuntos históricos.

A tendência ideal-típica liga-se à filosofia geral de Weber, implicando a relação com os valores e a compreensão. Esta é inseparável do caracter compreensível do comportamento e da existência humana, ao mesmo tempo que da operação inicial das ciências da cultura, a relação com os valores.

a) Tipos de ideal tipo

Max Weber chama tipos ideias a 3 espécies de conceitos:

I. Uma primeira espécie é a dos tipos ideais de indivíduos históricos, por exemplo o capitalismo. O tipo ideal, neste caso, é a reconstrução inteligível de uma realidade histórica global e singular.

II. Uma segunda espécie é a dos tipos ideais que designam elementos abstractos da realidade histórica que se encontram em grande número de circunstâncias . Estes conceitos permitem, quando combinados, caracterizar e compreender os conjuntos históricos reais.

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III. Finalmente, a terceira espécie de tipos ideais é constituída pelas reconstruções racionalizantes de comportamentos com um carácter particular.

Sendo assim, o tipo ideal apresenta ainda 4 dimensões:

I. É sempre uma compreensão de um conjunto histórico, bem como das relações que ele convoca;

II. O tipo ideal é uma racionalização da ciência que esta cria, para perceber o passado tornado significativo para o presente. Os conceitos são racionalizações da ciência;

III. É uma continuação do esforço de compreensão empreendida pela ciência de modo a tornar inteligível a realidade;

IV. Está ligado à percepção sociológica da realidade.

III.3. Ética protestante e capitalismo

Max Weber na sua obra “Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” esforça-se por refutar o materialismo histórico então em voga.

A obra propõe uma compreensão do capitalismo que parte, ao invés do âmbito económico (as relações sociais de produção, como diria Marx), do âmbito espiritual, cultural.

Weber quis demonstrar que a conduta dos homens nas diversas sociedades só pode ser compreendida dentro do quadro da concepção geral que esses homens têm da existência,distinguindo-se de Marx que se propõe analisar as sociedades pela produção material doshomens.

Os dogmas religiosos são partes integrantes dessa visão do mundo e influenciam aconduta dos indivíduos, nomeadamente o seu comportamento económico. Weber quis provar que as concepções religiosas determinam a conduta económica e, por isso, são uma das causas das transformações económicas das sociedades.

III.3.1. Capitalismo e burocracia

Segundo Max Weber, não há um capitalismo, mas capitalismos. Ou seja, toda a sociedade capitalista apresenta singularidades que não se encontram sob a mesma precisa forma nas outras sociedades do mesmo tipo, aplicando-se neste caso o método dos tipos ideais.

Para o autor, o capitalismo é definido pela existência de empresas, cujo objectivo é produzir o maior lucro possível utilizando uma organização racional do trabalho e da produção.

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O traço singular do capitalismo ocidental é a união entre o desejo de lucro e a disciplina racional do trabalho:

previsões de um mercado regular;

separação entre o espaço de residência e do trabalho;

utilização das técnicas desenvolvidas pela ciência com vista àrentabilidade.

É neste contexto que nasce também a burocracia. Esta, no sentido weberiano, define-se por certos traços estruturais. É a organizaçao permanente da cooperaçao entre numerosos indivíduos, exercendo cada uma deles uma função especializada.

O burocrata exerce uma profissão separada da vida familiar. Deve cumprir a sua tarefa que nada tem a ver com os filhos ou familiares. Esta impessoalidade é essencial na natureza da burocracia, no interior da qual teoricamente cada um dos seus membros deve conhecer as leis e agir em função das ordens asbtratas de uma regulamentação restrita. A burocracia garante a todos os que trabalham no seu seio uma remuneração, fixada de acordo com regras, o que exige que disponha de recursos próprios.

A definição do capitalismo pela empresa que trabalha em vista da acumulação indefinida do lucro e que funciona segundo uma racionalidade burocrática, aproxima-se da de Marx, contudo apresenta também algumas diferenças.

Max Weber Karl Marx

Ambos pensam que a essência do regime capitalista é a procura do lucro por intermédio do mercado.

Ambos insistem na presença de trabalhadores juridicamente livros, alugando a sua força de trabalho ao proprietário dos meios de produção.

Ambos sublinham ainda que a empresa capitalista moderna utiliza meios cada vez mais poderosos renovando perpetuamente as técnicas a fim de acumular lucros suplementares.

Ambos admitem que progresso técnico é de resto o resultado não visado mas obtido pela concorrência dos produtores

A diferença é entre Marx e Weber é que a característica maior da sociedade moderna e do capitalismo é, para Weber, a racionalização burocrática, que não pode deixar de continuar a

progredir seja qual for o estatuto de propriedade dos meios de produção.

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Weber associa ainda o surgimento do capitalismo ocidental ao nascimento da classe burguesa ocidental.

III.3.2. Capitalismo e ética protestante

Weber afirma que quanto à formação/iniciação do regime capitalista, não se pode assegurar que nada teve a ver com as crenças religiosas.

Weber não quer provar que as concepções religiosas determinem o êxito económico, mas quer saber se as crenças religiosas exercem uma influência sobre os homens e os grupos, nomeadamente no que respeita às atitudes em relação ao trabalho.

A hipótese adiantada pelo autor, é que uma certa interpretação do protestantismo, criou certas motivações que favoreceram a formação do regime capitalista.

Para confirmar essa hipótese, Weber desenvolveu as suas investigações em três direcções:

Em primeiro lugar pretende saber se as concepções religiosas exercem influência sobre a orientação que os homens e os grupos dão à sua actividade;

Depois pretende estabelecer a conformidade, intelectual ou espiritual, entre o espírito da ética protestante e o espírito do capitalismo. Trata-se, de por em relação de modo compreensivo um pensamento religiosos e uma atitude perante certos problemas da acção;

Por fim Max Weber investigou se, ou em que medida, as condições sociais e religiosas eram favoráveis ou desfavoráveis à formação de um capitalismo de tipo ocidental noutras civilizações.

Após o seu estudo, o que Weber verifica é que o capitalismo vai assentar primeiro nos países/regiões onde o catolicismo não é predominante. Por outras palavras, o capitalismo desenvolveu-se primeiro nos países onde predominava o protestantismo, a ética protestante.

A ética protestante a que Weber se refere é essencialmente a concepção calvinista – em que o fundamento da sua fé é a salvação da alma, existe por isso, apenas a palavra de Deus – que ele resume em 5 proposições:

I. Existe um Deus absoluto, transcendente, que criou o mundo e que o governa, mas que não pode ser percebido pelo espírito finito dos homens;

II. Esse Deus absoluto predestinou cada um de nós para a salvação ou para a condenação, sem que através das nossas obras, esse decreto divino fixado de antemão ;

III. Deus criou o mundo para a sua própria glória;

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IV. O homem, que será salvo ou condenado, tem o dever de trabalhar para a glória de deus e criar o reino de Deus nesta terra;

V. A salvaçao só pode ser atingida por graça divina – é Deus quem salva e não os homens.

Segundo Weber, todos estes elementos existem dispersos noutras concepções religiosas, mas a sua combinação é original e única. E as consequências deste facto são da maior importância.

É com base nestas premissas que Weber afirma que o calvinismo criou uma determinada atitude em relação ao trabalho que favoreceu o aparecimento do capitalismo ocidental.

Não diz que é a única crença que estabeleceu o capitalismo, mas é a que mais o favoreceu o espírito do capitalismo.

III.4. Poder, dominação e legitimidade

III.4.1. Política e poder

Max Weber é directamente influenciado pelo contexto político e social alemão. É desta forma que nos é possível verificar com clareza que o objectivo primordial de Weber era compreender o seu tempo à luz da história universal.

A sociologia política de Weber assenta numa distinção entre a essência da economia e a essência da política, estabelecida a partir do sentido subjectivo dos comportamentos humanos.

Para Weber o conceito de política caracteriza-se pela dominação exercida por um ou alguns homens sobre outros homens.

É portanto, o conjunto dos comportamentos humanos que incluem a dominação do homem pelo homem.

Em relação ao poder, este define-se simplesmente pela probabilidade que um actor possui de impor a sua vontade a um outro, mesmo contra a resistência deste . Situa-se portanto no interior de uma relação social e designa a situação de desigualdade que faz com que um dos actores possa impor a sua vontade a outro.

III.4.2. Estado e Nação

O Estado racional weberiano é definido como uma comunidade humana que pretende o monopólio do uso legítimo da força física dentro de determinado território . Como todas as organizações políticas, funda-se no meio de violência física.

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O Estado é assim a única fonte do direito de uso à violência e constitui-se numa relação de homens que dominam outros homens, sendo esta relação mantida por meio de violência considerada legítima.

Segundo o autor, para que um Estado exista é necessário que um conjunto de pessoas obedeça à autoridade alegada pelos detentores do poder no referido Estado e por outro lado, para que os dominados obedeçam é necessário que os detentores do poder possuam uma autoridade reconhecida como legítima.

Dessa forma, observamos que para Weber existem dois elementos essenciais que constituem o Estado: a autoridade e a legitimidade.

O conceito de Estado difere do conceito de Nação

III.4.3. Dominação e legitimidade

Todas as formas de dominação derivam do Estado.

A dominação é um caso particular do poder. É o poder que se exerce e que encontra obediência. Por ser assim transforma-se em dominação.

O conceito de dominação, segundo Weber, define-se como a probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas dentro de determinado grupo de pessoas.

É por encontrar obediência que a dominação se legitima, ou seja, quando o poder é obedecido reconhece-se a legitimação.

Max Weber, num dos seus estudos mais importantes, apresentou três tipos puros de dominação legítima, cada um deles produzindo diferentes categorias de autoridade.

Esses tipos são classificados como puros porque só podem ser encontrados isolados no nível da teoria, combinando-se quando observados em exemplos concretos.

3 tipos de dominação:

O primeiro é a organização política da nação. Não admite concorrência e é a única forma legítima de exercer a dominação;

O segundo é a comunidade cultural, linguística, que partilham o que hoje designamos de cultura. É o território geográfico.

Dominação racional ou legal;

Dominação Carismática.

Dominação Tradicional;

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III.4.4. Dominação racional ou legal

A dominação racional ou legal é a dominação que se exerce através das leis.

Nessa situação, um grupo de indivíduos submete-se a um conjunto de regras formalmente definidas e aceitas por todos os integrantes. São essas regras que determinam, ao mesmo tempo, a quem e em que medida as pessoas devem obedecer.

A dominação racional ou legal especifica-se por encontrar legitimidade no direito estabelecido de modo racional, com pretensão de ser respeitado pelos membros da associação.

A administração racional supõe cuidar dos interesses da associação, nos limites da lei. O soberano está sujeito à lei. Há uma ordem de carácter impessoal. Quem obedece, não obedece à pessoa do soberano, mas obedece ao direito e fá-lo como membro da associação.

O exercício da autoridade racional depende de um quadro administrativo hierarquizado e profissional, "separado" do poder de controlo sobre os meios de administração. A administração racional caracteriza-se, tipicamente, pela existência de uma burocracia.

Correspondem ao tipo de dominação legal não apenas a estrutura moderna do Estado, mas toda organização, empresarial ou não, que disponha de um quadro administrativo hierarquizado.

Um exemplo de dominação racional ou legal é o Estado, que se impôs através de uma burocracia.

III.4.5. Dominação tradicional

A dominação significa aquela situação em que a obediência se dá por motivos de hábito, porque tal comportamento já faz parte dos costumes. É a relação de dominação enraizada na cultura da sociedade.

Especifica-se por encontrar legitimidade na validade das ordens e poderes de autoridade herdadas pela tradição. Os que exercem a dominação estão determinados pela tradição. Os dominados não são membros de uma associação, mas companheiros ou súbditos do senhor.

Pode haver ou não quadro administrativo. As relações do quadro administrativo (quando existe um) com o soberano não são determinadas pelo dever do cargo, mas pela fidelidade pessoal. Não se obedece a uma ordem estabelecida, mas à pessoa delegada pela tradição.

As ordens são legítimas em parte pela força da tradição, em parte pelo juízo do soberano em interpretar essa tradição.

Existem 3 formas de dominação tradicional: patriarcalismo, patrimonialismo e feudalismo

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a) Patriarcalismo

É o poder exercido por um patriarca. Eram geralmente um chefe tribal ou um chefe de uma família.

Era considerado por Weber como uma forma de poder muito instável, e que envolvia algum poder de negociação por parte do chefe.

b) Patrimonialismo

Esta forma de poder deriva da primeira, na medida em que o chefe é o patriarca.

A diferença é que nesta, já existe algum valor económico, ou seja, já existem alguns recursos. Há uma relação com base num património, o que implica a existência de funcionários.

c) Feudalismo

É o regime dominante da época medieval. Aqui o senhor feudal é rei e não patriarca. Este regime predominou até à existência do Estado moderno.

3.4.6. Dominação carismática

É a dominação mais pura que tem como fundamento o carisma.

Neste tipo de dominação, a relação sustenta-se pela crença dos subordinados nas qualidades superiores do líder. Essas qualidades podem ser dons supostamente sobrenaturais, quanto a coragem e a inteligência inigualáveis.

A dominação carismática especifica-se por encontrar legitimidade no facto de que a obediência dos dominados é uma obediência ao carisma e ao seu portador. Carisma é a qualidade extraordinária de uma personalidade considerada sobrenatural, sobre-humana ou mágica.

A obediência é obediência ao líder enquanto portador de carisma. A administração dá-se sem qualquer quadro racional, sem regras fixas, hierarquia ou competências. Simplesmente o chefe carismático cria ou anuncia novos mandamentos (direitos, normas, punições, etc) pela "revelação" ou pela sua vontade de organização.

Weber considera-a como instável e efémera. É o tipo de dominação que se encontra sempre na passagem da dominação tradicional para a dominação racional ou legal.

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4. Ciência e acção em Vilfredo Pareto

4.1. Ciência social e teoria social4.2. Acção lógica e acção não lógica4.3. A teoria das elites