Apometria Romance - o Amor Nunca Morre
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O amor
nuncamorreCamila Sampaio
Pelo esprito Ronaldo
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Uma emocionante histria sobre amor,depresso, suicdio e Apometria
Mariana uma mulher de trinta anos, casada com Carlos e me de dois
filhos Fabrcio e Murilo. Tem uma vida harmnica e feliz, rodeada de bons
amigos, como a inseparvel Cia.
Tudo vai bem, at que em determinado momento ela passa a sentir
angstia, tristeza, vontade de desistir de tudo. A tendncia suicida vai se fazendo
cada vez mais presente.
Todos ficam assustados e buscam ajuda espiritual para Mariana. S a
descobrem o poder da obsesso e da auto-obsesso.
Quatro vidas passadas precisam ser harmonizadas. Cada uma tem sua
histria e seus interesses, mas todas tm um objetivo comum: o suicdio de
Mariana.
Dirigente de um grupo de Apometria Esprita, dona Eullia se dispe a
ajudar. E a partir de ento travada uma intensa batalha entre o bem e o mal.
O amor nunca morre vem para explicar melhor a realidade da auto-
obsesso, que assola tantas pessoas. Tem o objetivo tambm de ajudar pessoas
que queiram cometer suicdio e suas famlias a lidarem melhor com o
assunto.
Esse primeiro romance do esprito Ronaldo, atravs da mdium Camila
Sampaio, vem para provar que o amor nunca morre, e quando encontrado pode
mudar a vida de todos que precisam de ajuda.
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Camila Sampaio nasceu em 1979, em So Paulo.
Seu primeiro contato com a espiritualidade foi atravs da sua famliamaterna. Sua av Edith e sua me Alice eram mdiuns psicofnicas ativas.
Na juventude a mediunidade de Camila comeou a se desenvolver, at seatingir a sua plenitude: ela clarividente, clariaudiente, mdium psicofnica,doutrinadora e atua com psicografia.
Hoje Camila coordena o Grupo Apomtrico Luz do Senhor, em So Paulo.
terapeuta de vidas passadas, formada em Histria e Psicologia. Nessaparceria com Ronaldo, uma das primeiras terapeutas de vidas passadas domundo a psicografar romances, o que possibilita Espiritualidade que ela sejaum instrumento para trazer a pblico conhecimentos sobre vidas passadas,Histria, auto-obsesso, obsesso, atuao de grupos socorristas e mecanismos
de nosso funcionamento psquico.O Amor nunca morre seu romance de estria. autora de dois livros
sobre Terapia de Vidas Passadas: O Fio de Ariadne Abordagens da Terapia deVidas Passadas (2008) e Era uma vez Terapia de Vidas Passadas comcrianas (2009).
Atualmente atende em seu consultrio, em So Paulo, e reside com seumarido, Hugo Lapa, em Atibaia.
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Agradecimentos
Agradeo a Ronaldo, pela companhia maravilhosa durante esses meses, e
por me dar a oportunidade de fazermos esse trabalho juntos. Sua luz se fezpresente de vrias formas na minha vida, alm de sua pacincia britnica comigo.
Obrigada, querido mentor!
Agradeo meu marido, Hugo Lapa, pela compreenso com as longas horas
que precisei me ausentar para escrever esse livro, e por seu carinho e
companheirismo. O amor nunca morre mesmo, ele nos reuniu novamente nessa
encarnao e um prazer pass-la ao seu lado, amor das minhas vidas!
Agradeo ao dois grupos dos quais fao parte, pelo carinho, suporte,
incentivo e socorro durante esse trabalho, to visado pelas trevas. Ao Grupo
Mahaidana: Walkiria, Patrcia, Adriana, Gustavo, Denis e Marcos. Agradeo a
toda a equipe da Casinha Azul, especialmente Dona Leticia (Mainha), Mazinho e
Lcia. E equipe de Edson Higo, por seu carinho e apoio.
Agradeo minha me, por todas as lies que ela me levou a vivenciar.Meu pai querido, pelo suporte filha bruxinha.
E aos amigos: Vanessa Romero, Soraia Jorge, Ludmila Grant, Emlia
Olivieri, Paulo Dutra, Ingrid Kuhn, Valria Carrijo, Bel, Dad, Manoel Lapa,
Margareth Soares, Vera, Ricardo, Renata Chaves, Gensio e Catuba, por estarem
ao meu lado.
Obrigada!
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Suicdio
Em tenebrosa manso, triste e geladaO remorso, este carrasco, me torturaComo um espectro vagueio pelo nada
Nos miserveis abismos da amargura-----------------------------------------Orai por mim, irmo, tem piedade!
Fui insensato, tresloucado, sem juzoNo refleti, abusei da liberdade
E em lancinantes dores agonizo-----------------------------------------
Ah, quem me dera voltar, ter mais pacinciaEram to fartas, eram tantas as sadas!Ver o propsito sublime da existnciaMas naufraguei na escurido dos suicidas
Perdo
Recebe a ofensa dura, enfrenta a provaNa humildade encontra a paz e agradeceTolerncia calor que se renova
A chama do amor tudo enobrece------------------------------------------
Revela o bem ao teu redor, cuida e consertaAos coraes empedernidos mostra a luzDa redeno que o esprito libertaO entendimento fortaleza que conduz-----------------------------------------
No te revoltes, perdoa o opressorSaibas usar, com maestria, a caridadeVejas que a sanha violenta do agressor
triste e degradante enfermidade
(Joo, mentor de Marcos Cavuto, ex-paciente e grande amigo)
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ndice
Captulo 1 Hora da Deciso8
Captulo 2 A Origem ..9Captulo 3 Novos Rumos ..15
Captulo 4 A Busca ....20
Captulo 5 Sentimentos Pesados ...25
Captulo 6 Primeira Ajuda ...32
Captulo 7 A Viagem .38
Captulo 8 Aliados .45
Captulo 9 Atuao das trevas ..50
Captulo 10 Suporte ...55
Captulo 11 H tempos ..60
Captulo 12 Influncias .65
Captulo 13 Mergulho ...70
Captulo 14 Abismo de tristeza 75
Captulo 15 Traio ...80
Captulo 16 O mundo espiritual ...85
Captulo 17 Atendimento ..90
Captulo 18 O sofrimento da famlia ...95
Captulo 19 Apoio 100
Captulo 20 A quarta vida ..105
Captulo 21 Sob nova direo .110Captulo 22 Impacto ....115
Captulo 23 Consequncias .120
Captulo 24 Confronto 125
Captulo 25 Raiva 130
Captulo 26 Mais ajuda ...135
Captulo 27 Dor na alma .140
Captulo 28 Intensificam-se os ataques .145
Captulo 29 Um caso ...150
Captulo 30 Carlos desconfia .155Captulo 31 As trevas vencem uma partida ..160
Captulo 32 Confuso ..165
Captulo 33 Unio 170
Captulo 34 Amparo dos amigos espirituais .175
Captulo 35 Fim da linha 180
Captulo 36 Resistncia ...185
Captulo 37 Dvida ..190
Captulo 38 Desdobramento ...195
Captulo 39 Amor de verdade 200Captulo 40 Chega a hora ...205
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Captulo 41 Onde est minha famlia? 211
Captulo 42 Descanso 217
Captulo 43 Carinho ..222
Captulo 44 Dupla traio .227
Captulo 45 Questes existenciais .232Captulo 46 Batalha final ...237
Captulo 47 Argumentao 242
Captulo 48 Retorno ...247
Captulo 49 Vale a pena 252
Captulo 50 O amor nunca morre 256
Nota da mdium 260
Anexo As 13 leis da Apometria 263
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Captulo 1Hora da deciso
Mariana estava muito confusa com os ltimos acontecimentos de sua vida.As vozes, as confuses, as situaes que haviam sido criadas por todos os
envolvidos. O que ela poderia fazer?
Ela se sentia sem sada e acuada. Sabia que estava vivendo um momento
srio e decisivo. Que aquilo definiria muitas coisas. Ela se lembrava de todas as
orientaes que recebera nas conversas com dona Eullia, de todo o acolhimento
que tivera.
- Ser que serei mesmo punida se me matar? Mas afinal, quem decide
sobre minha vida no sou eu?
Ela lembrava em rpidos flashes tudo o que ocorrera nos ltimos meses. O
abandono, a traio, os conflitos familiares. O quanto se sentia acusada
injustamente por uma srie de atos que no cometera. O quanto, depois de um
tempo, passara at a parar de tentar se defender, j que ningum a ouvia.
S uma pessoa ouviu: dona Eullia. Foi a me que ela nunca teve. Marianatinha 30 anos, era bonita de corpo, me de dois lindos meninos e casada com um
homem que sempre fora o sonho de sua vida. Justamente por isso ningum
entendia quando ela tentava explicar o que se passava em sua alma. Sua vida era
to perfeita que ela era frequente alvo de inveja e maledicncia.
Claro, nos piores momentos sempre teve o apoio de Carlos. Ele era o
marido ideal: ajudava-a com tudo na casa e tinha uma carreira estabelecida.
Assim como ela, que amava o trabalho que fazia em escolas. Dava aula em umarede com cinco instituies, e o carinho das crianas era fundamental na sua
existncia.
- Meu Deus, o que fao? No sei o que fazer. No sei para onde ir! O que
o Senhor espera de mim? ela gritou, desesperada. J no sabia a quem recorrer.
E, como acontecia sempre nos ltimos meses, as vozes voltaram:
- Sua tonta, acaba logo com isso.
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- Na minha opinio, isso tudo fraqueza. Quero ver se voc forte mesmo
para se matar!
- No faa isso, minha querida. Voc sabe que de nada ir adiantar.
- E por que no? Melhor do que viver nesse tdio que ela vive! Tudoperfeitinho demais!
- Maldita hora que voc ouviu aquela mulher, que s atrapalhou a gente!
Eram sempre cinco vozes. Uma apoiava, as outras quatro atacavam. Mas
dessa vez o ataque sem querer deu uma boa ideia:
- Dona Eullia! S ela pode me ajudar!
Pegou as chaves do carro e correu para l.
Captulo 2A origem
Cinco meses antes, encontramos Mariana em seus afazeres normais. As
crianas tinham acabado de tomar caf da manh e ela j estava atrasada para o
trabalho. Precisava se apressar.- Bom dia, filhos queridos! Fabrcio, passa o po para a mame?
- Me, preciso mesmo ir escola?
- claro, Fabrcio! Mame j no te explicou o quanto importante
aprender, para voc crescer forte e inteligente?
- Eu sei, me, mas estou com tanto sono hoje...
- assim mesmo, meu filho. Infelizmente s vezes as aulas comeam
mesmo cedo demais. A mame tambm est cansada, mas j est aqui preparadapara mais um dia de trabalho. Depois, quando voc acordar melhor, vai gostar de
estar entre seus amigos.
Era sempre assim, Fabrcio era mesmo dorminhoco. Fazia parte da
rotina matinal incentiv-lo a fazer o que precisava para chegar na hora. Nem era
mais razo de briga, Mariana simplesmente aceitava essa caracterstica de seu
filho, sempre o tratando com carinho, amor e respeito, sem crticas.
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Mariana gostava muito de ser me. Tinha um talento natural para
entender o universo infantil. Seus filhos, Fabrcio e Murilo, eram a luz da sua
vida. Mesmo sendo professora, sempre se policiava para no favorec-los na
escola e trat-los como a todos, j que eles estudavam l. Era muito elogiada peladireo por sua disciplina e dedicao ao trabalho.
Fabrcio tinha nove anos. Era um menino alegre, divertido, com timas
tiradas sobre a vida. Quando nasceu foi a coroao de um casamento feliz:
Mariana e Carlos j estavam juntos havia trs anos. Fabrcio foi altamente bem
vindo e comemorado como o primeiro neto da famlia. Tinha lindos olhos azuis,
sempre curiosos e buscando novidades menos de manh, claro, quando tudo
que ele queria era dormir...
Criar Fabrcio exigia limites claros, coisa que Mariana sempre fez com
muito amor. Ela percebia as dificuldades das mes de seus alunos e sempre
buscava explicar que crianas com ms tendncias so apenas anjos que
esqueceram como se faz para voar. Nada que pais amorosos e atenciosos no
resolvessem. E, reclamaes parte, Fabrcio era um doce de menino, daqueles
de arrancar suspiros quando a famlia ia passear no shopping, pois era muito
bonito.
J Murilo, o caula, tinha sete anos. Moreno e de olhos bem pretos, era
mais quieto e contemplativo, gostava muito de ficar sozinho. Era bem sensvel e
daria um grande mdium quando crescesse. Receb-lo no lar deixou Mariana
mais madura, porque ele no se contentava nunca com respostas prontas ou
chaves, queria ser tratado como um ser inteligente. Ela j estava acostumada a
lidar com vrias crianas ndigo na escola, mas dentro de casa sempre maisprofundo e emocionante!
Mariana era uma das professoras prediletas da escola justamente por
entender esse novo tipo de crianas que estava encarnando. As chamadas
crianas ndigo, que so absolutamente inteligentes, precisam ser sempre
estimuladas, no aceitam regras sem sentido ou palavras impensadas. Como as
crianas sentiam abertura com tia Mariana, muitas vezes faziam confidncias, s
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vezes ela era at meio psicloga. Mas fazia tudo de corao, sempre buscando
ajudar cada criana dentro da sua realidade.
Naquele dia, Carlos sara mais cedo porque tinha uma reunio, mas
normalmente todos tomavam caf juntos. Era uma famlia absolutamenteharmnica e feliz. Carlos era o paizo, completamente apaixonado pela esposa e
seus dois meninos. Eles eram to almas afins que se entendiam quase
telepaticamente, nem precisavam falar.
Carlos tinha 32 anos e era um homem bem bonito, atltico, gostava de
se cuidar. Era extremamente atencioso, carinhoso, priorizava a famlia acima de
tudo. Sempre foi muito estudioso, por isso acabou se destacando na profisso.
Ele e Mariana tambm tinham por hbito fazer caminhadas no final da
tarde, quando ambos voltavam do trabalho. Apesar de morarem em So Paulo, o
bairro do Campo Belo era bem arborizado e possua lindas paisagens. Gostavam
muito de ver o pr-do-sol juntos e ficar se declarando como eternos namorados.
- Me, vamos logo, j est na hora!
- Estou indo, Murilo!
Mariana retocou a maquiagem suave, gostava sempre de passar uma boa
impresso. S naquele momento percebeu o bilhetinho que Carlos tinha deixado
em cima do criado-mudo:
Voc a mulher dos meus sonhos. Espero nunca acordar!
- Ah, Carlos, voc realmente me faz a mulher mais feliz desse mundo!
pensou Mariana, com um sorriso.
Os meninos j estavam prontos. Ondina entregou as lancheiras de cada
um, hora de comear mais um dia.
***
Infelizmente, naquele dia a paz comearia a sumir daquele lar. E tudo
comeou naquele momento de sada para a escola: Mariana colocou as crianas
no carro e deu r, como fazia todas as manhs. Quando estava saindo pelo porto,
um caminho freou a meio metro do carro, quase matando a todos.
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Imediatamente Mariana desmaiou na direo. Fabrcio, que j tinha
nove anos, conseguiu pular para a frente e puxar o freio de mo, como j tinha
visto a me fazer. E foi correndo para casa ligar para seu pai.
Carlos chegou correndo minutos depois, j que trabalhava a duasquadras de casa. Apavorado, j foi gritando com o motorista, que estava branco
como papel e rezando pela misericrdia divina, por ter poupado a vida da mulher
e das crianas. No foi culpa de ningum, apenas um acidente.
Alguns momentos depois, Mariana acordou. Comeou a chorar de
alegria, ao ver que todos estavam bem. Aceitou as desculpas do motorista. Carlos
foi levar as crianas e contou o ocorrido direo da escola, que prontamente
aceitou que Mariana ficasse repousando. A contragosto, ela voltou para o quarto
e se deitou.
- Credo, que susto, Ondina!
- Nem diga, dona Mariana! Mas graas a Deus esto todos bem. Vou
preparar tudo para a senhora, fique descansada.
- Obrigada, Ondina, voc um amor. O que seria da gente sem voc?
- Depois de tantos anos aqui, voc como uma filha para mim.
Descanse agora.
Seguindo os conselhos de Ondina, Mariana foi se deitar. Desde pequena
ela sempre fora muito intuitiva, sabia que era mdium e adorava a
espiritualidade. Sempre que algo de ruim ia acontecer ela j meio que sabia antes,
pressentia de alguma forma. Naquele dia ela tinha acordado com um humor
estranho, indefinvel. Pensou que fosse besteira, mas agora entendia o por qu.
O que ela estranhou que, sempre que algo de ruim ia acontecer, elacostumava ter um sonho ruim antes. Dessa vez nada aconteceu, mas ao ir para o
quarto descansar teve o tal sonho um aviso meio atrasado.
***
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Teve um sonho muito estranho. Sonhou que estava em uma carruagem
em disparada, com os cavalos desgovernados. Estava com um vestido armado,
cheio de saias, e com um olhar duro e frio.
A carruagem percorreu longo percurso sem direo. E o que pareciamais estranho: aquela mulher, que tinha os mesmos olhos de Mariana, no
esboava qualquer reao. Parecia at estar gostando.
Por fim, a carruagem bateu com grande estrondo em uma rvore e
Mariana acordou dando um grito. Estava toda suada, no conseguia respirar
direito. A pancada fora to real que parecia ter sido h cinco minutos.
O telefone tocou e ela deu outro grito, assustada. Era Carlos querendo
saber como ela estava.
- Meu amor, tive um sonho horrvel!
- No se preocupe querida, voc deve estar impressionada pelo que
aconteceu. J falei com Ondina, ela vai preparar um ch relaxante para voc e
tudo ficar bem. Estou aqui agilizando meu trabalho, para poder voltar o mais
rpido possvel para casa.
- No h necessidade, voc sabe que no gosto de ser tratada assim.
Afinal, quem educa as crianas sou eu!
- Pois no tem nada de mal em ser mimada de vez em quando. Eu adoro
te paparicar, e do jeito que voc durona, sei que isso no durar mais do que um
dia. Amanh voc j estar pronta para o trabalho, como sempre.
***
Carlos chegou noite. Mariana estava levando vida normal, ignorando
solenemente o acontecido. Afinal, que importncia aquilo poderia ter?
- Como foi o trabalho, meu amor? Fechou aquele contrato?
- Fechei. Essa parceria vai trazer timos contatos para a empresa. Sabe
como , propaganda a alma do negcio.
- Se sei, a escola investe bastante tambm. Afinal, o que adianta fazer
um bom trabalho com os alunos se novos pais no chegarem nos anos seguintes?
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Mariana estava sorridente, preparando o jantar.
- Voc que vai cozinhar hoje, amor? Ondina no deixou nada pronto?
- No, dispensei ela mais cedo. J que fui obrigada pelas circunstncias
a ficar em casa de molho, fiz o prato preferido do meu maridinho: lazanha aquatro queijos.
- No acredito! Vou mandar rezar uma missa por aquele motorista de
caminho! H meses que no era homenageado assim!
- Ah, amor, voc merece!
- Voc caprichou no queijo gorgonzola?
- Claro, do jeito que voc gosta, vem provar.
- Eu realmente sou o homem mais feliz do mundo!
O casal deu um beijo apaixonado, enquanto os meninos chegavam
correndo para saborear a lazanha da mamma.
- Nossa, mame, que maravilha de lazanha!
- Obrigada, Murilo.
- Que bom que no aconteceu nada com ningum, n?
- verdade, meu filho. Vamos comer?
- Vamos sim. Mas antes
Os dois correram e abraaram a me, at derruba-la no cho, entre
muitas risadas.
Era mais uma noite de alegria e brincadeiras, entre quatro almas que se
amavam. Como era bom estar em um lar harmnico, feliz, onde todos se sentiam
capazes de realizar qualquer coisa.
Carlos e Mariana trocaram um sorriso de cumplicidade. Estavam muitofelizes com o crescimento de seus dois meninos, que tantas alegrias lhes davam.
- Te amo, Carlos!
- Eu tambm, mulher da minha vida
Mas dessa vez novos dias chegavam at aquele lar, aquela felicidade
estava com os dias contados...
Captulo 315
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Novos rumos
Mariana era a professora mais querida da Escola Pai e Me. As crianas
sempre esperavam ansiosas pela sua aula. Ela ensinava com o corao e amava oque fazia. Em vez de fazer seus alunos decorarem nomes e datas, contava
histrias e os envolvia de forma divertida. Justamente por isso, todos prestavam
ateno e iam bem nas provas naturalmente, sem presso.
Nem precisava chegar nas datas especiais para ela ganhar presentes. As
prprias mes gostavam tanto dela que mandavam mimos, perfumes, bolos, tudo
que ela demonstrasse gostar. Mesmo que ficasse sem graa, ela sempre aceitava
com carinho as homenagens, para no ofender ningum. Mas para ela era tudo
to natural que ela at estranhava as reaes dos alunos e dos pais, com suas
demonstraes de afeto.
- Tia Mariana, o que vamos aprender hoje?
- Hoje, crianas, vamos aprender algo muito especial. Sei que estamos
estudando o Imprio Romano, mas hoje vamos falar de algum que nasceu nessa
poca, e mudou todo o mundo. Quero ver se vocs adivinham quem !- Hum - disse Maria Estela d uma dica!
- Ele era a bondade em pessoa.
- Mais uma! pediu Csar.
- Ele atraa multides quando ia contar suas histrias, que chamava de
parbolas. Uma das histrias que ele contou, que falava da humildade, era sobre
lrios.
- Lrios, tia? Csar estranhou.- , lrios. Sobre como eles ficam no campo sem nenhuma roupa
importante e so to bonitos.
- Ih, tia Mariana, ser que esse cara era jardineiro? perguntou Cntia.
- Olha, Cntia, pode-se dizer que sim. Ele era um jardineiro de almas!
- Eu j sei, tia! gritou Maria Estela. Jesus!
- Ele mesmo, crianas! Vocs j ouviram falar dele, e de qual a
importncia dele?
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E por a continuava. O que poderia ser encarado como chato numa aula
de Catecismo virava uma festa nas aulas de Histria. E no s sobre Jesus, mas
sobre qualquer assunto que Mariana abordasse.
Dirigindo para casa naquele dia, Mariana estava absorvida por seuspensamentos. Foi quando ouviu uma voz bem clara, como que cochichando em
sua cabea:
- Pois para mim isso tudo perda de tempo. Jesus! Ele destruiu a minha
vida! Nada daquilo teria acontecido se no fosse Jesus! Eu perdi meu amor por
causa dele!
Escandalizada duplamente, com o absurdo da ideia e com a fora que
aquela voz desconhecida assumiu, Mariana ficou assustada. Mas logo esqueceu
daquilo, pois tinha que cuidar do almoo das crianas. Ser que Ondina j estava
com tudo pronto?
Quem no esqueceu o assunto foi a dona da voz, que era a mesma moa
da carruagem desgovernada, aquela que Mariana viu em seu sonho. Observando
Mariana descarregar as compras do carro, a mulher pensou:
- J j as coisas vo mudar por aqui, ou no me chamo Suzette!
***
Depois do almoo era sempre hora de brincar com as crianas. Mariana
considerava um hbito absolutamente saudvel, sempre incentivava que todas as
mes fizessem o mesmo com seus filhos.
Nas brincadeiras as crianas criavam um vnculo de confiana muitomais profundo com a me e se sentiam livres para expressar o que quisessem,
sem medo de censuras.
Naquela semana eles estavam brincando de Disney. As crianas
adoravam os personagens, especialmente os do desenho O Rei Leo. Logo, a sala
de brinquedos tinha se transformado em uma verdadeira selva africana.
Deu para notar que o acidente tinha causado grande impacto em Murilo,
pois ele resolveu brincar de caminho andando desenfreado pela savana. Como
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no tinha caminho nenhum no desenho, Mariana apenas observou e deixou que
o filho desabafasse. Quem era ela para dizer qualquer coisa, se tambm tinha
ficado to abalada?
Pouco tempo depois as brincadeiras voltaram ao normal. As crianas brincavam com os bichinhos da histria, cantavam as msicas-tema, se
divertindo bea. O problema que alguma energia estranha estava rondando
aquela casa, como que esperando o momento de dar o bote. Mariana sentia, mas
como no podia fazer nada, decidiu apenas esperar.
Carlos chegou e se juntou brincadeira. Murilo pulou nas suas costas e
Carlos foi promovido a leo, tendo que rugir bem alto. Logo as crianas caram
na gargalhada com a imitao dele de leo afinal, era bem engraado um leo
de terno e gravata
- Tudo bom, amor?
- Tudo
- Vem c, me d um abrao. Voc ainda t assustada, n?
Mariana se deixou abraar e de repente caiu em um choro convulsivo.
As crianas ficaram assustadas e preocupadas.
- Papai, a mame t bem? perguntou Fabrcio.
- Ela t dodi? disse Murilo, assustado.
- Ela vai ficar bem, meus filhos. No se preocupem no. Ela s precisa
descansar. Peam para a tia Ondina trazer um copo de gua com acar, eu vou
lev-la para a cama, t bem?
Mariana chorou nos braos de Carlos at dormir. Ele sentia que algo
estava muito errado, ento comeou a rezar.- Mentores queridos, ajudem minha esposa a superar esse trauma.
Espero que ela se recupere logo e que eu possa ajudar a fazer tudo voltar ao
normal. Amm.
Tudo foi se acalmando, as crianas dormiram, Mariana tambm. Mas
Carlos ainda no se sentia tranquilo. Era como um vazio, um aperto no peito,
uma sensao ruim. E no havia motivo: no aconteceu nada demais no quase
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acidente, ningum se machucou, a vida deles continuava como sempre foi. A
empresa estava indo bem, ningum estava doente.
Mas aquele vazio interno parecia um sinal de que as coisas ainda no
estavam resolvidas como deveriam. O que poderia ser?Como eles nunca tiveram nenhum problema conjugal, Carlos estava
meio perdido em relao ao que fazer. Se fosse algo que ele fez, seria mais fcil:
bastava rever seu erro e pedir desculpas.
Pelo visto, parecia que Mariana tinha se abalado com o acidente. Mas
por que, se no aconteceu nada?
Ele lembrou de matrias que j tinha visto na tv, sobre traumas e fobias,
e o que momentos como um acidente podem despertar nas pessoas. Ser que era
interessante procurar uma terapia para sua esposa?
Ou ser que era s stress? Sim, faria sentido. Ela era super atarefada,
cuidava de todas os alunos na escola, dos filhos, do marido, da casa. Vai ver que
ela s precisava de apoio, estava querendo se sentir protegida e acolhida.
Baseado nessa ltima hiptese, que pareceu a mais provvel, Carlos a
abraou bem forte, para que pudessem dormir juntinhos. Ela reagiu bem, e ele
decidiu deixar as coisas como estavam por enquanto. Se fosse necessrio, mais
para frente ele buscaria ajuda extra.
***
Antes de dormir, Mariana tinha o hbito de pensar em coisas positivas,
para ter uma boa noite de sono e fazer um trabalho produtivo na espiritualidade.Como ainda no desenvolvera sua mediunidade, ela no sabia para onde era
levada exatamente. Mas, como j sonhara diversas vezes com o tema, tinha
certeza que fazia algum tipo de trabalho socorrista.
Naquela noite, Mariana escolheu como lembrana favorita o dia que
Carlos a pediu em casamento. Eles estavam fazendo um piquenique romntico no
campus da universidade. Era um piquenique de despedida, ambos estavam se
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formando, e guardavam as melhores lembranas possveis daquela fase. Foram
anos de aprendizado e de muito carinho entre eles, entre uma aula e outra.
- Vou sentir falta daqui. E estou com medo: amanh comeo no meu
novo trabalho.- Tenho certeza que voc se sair bem, meu amor. Voc nasceu para
ensinar. At o que voc no sabe d um jeitinho de aprender e ensinar de forma
didtica o que seria de mim em vrias provas se no fosse voc?
- Assim fico encabulada - disse ela, corando.
- Pois no precisa. Tenho certeza que voc ser muito amada por vrias
crianas, assim como te amo. Voc pode me passar a manteiga?
Quando Mariana se virou para pegar o pote e o abriu, l estava uma
aliana. Ela comeou a chorar de emoo.
- Se voc aceitar, serei o homem mais feliz do mundo.
- Mas claro que aceito!
Carlos colocou a aliana no dedo dela, e eles se beijaram apaixonados.
Era o comeo de uma unio feliz, planejada pelos cus.
Lembrando de tudo, Mariana sorriu e se preparou para dormir. Mas logo
em seguida a tristeza e os pensamentos negativos voltaram cena, o que a
deixava cada vez mais preocupada.
- Por que, meu Deus, por que no consigo controlar a minha prpria
cabea? Como posso ter sentimentos to fortes, que sei que no so meus? ela
pensava. Tem que existir alguma explicao!
Assim que Mariana dormiu, sua mentora veio busca-la para uma
energizao.- Um dia voc vai entender, minha querida
Era hora das atividades noturnas.
Mariana foi levada para uma cmara de harmonizao, onde uma luz
violeta ficou alinhando seus chakras.
- Voc ter que vir quase toda noite agora, querida. a nica forma de
aguentar todo o peso vibracional que ir enfrentar. Durma bem.
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Captulo 4A busca
Carlos chegou naquela manh de segunda feira ao trabalho inquieto. Emcasa ele buscava disfarar, mas bem sabia que algo muito estranho estava
acontecendo. Mariana estava esquisita e ele sentia uma energia forte
acompanhando-a havia uma semana, desde que ela passara pelo quase acidente.
Na verdade ele estava com medo, sem saber direito o que pensar sobre aquilo e
desconcertado sobre como agir para ajudar a quem mais amava. Apesar da
recente deciso de esperar para ver o que acontecia, algo interno dizia que aquilo
no seria suficiente, que ele precisaria buscar solues.
Lembrou-se de quando conhecera sua esposa, naquela festa da
faculdade. Era festa fantasia, e Mariana estava vestida de princesa. E ele, por
coincidncia absoluta, de prncipe! Lembrou que gargalharam quando se viram
pela primeira vez, e todos os amigos comentaram que aquilo cheirava a destino.
- Nunca te vi por aqui, voc tambm faz engenharia naval?
- No, fao Letras. E estou espantada com a coincidncia! Por que vocescolheu a sua fantasia?
- Porque eu estou cansado de sofrer com as emoes e estou de fato
procurando a mulher da minha vida, a minha princesa. E voc?
- Quando fui loja escolher, simplesmente me senti magnetizada por
essa roupa, como se eu j tivesse usado algo parecido. No sei, voc acredita em
vidas passadas?
- Acredito sim, frequento um grupo muito agradvel sobre isso disseCarlos.
- Eu nunca me interessei direito por essas coisas, mas no posso dizer
que no exista. S sei que senti isso quando vi a fantasia. E voc, o que faz da
vida?
E continuaram conversando por horas, como se j se conhecessem. Dali
a dias comearam a namorar, e pouco tempo depois casaram, encantados um com
o outro. Carlos foi trabalhar na firma onde estava entrando hoje, a qual
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conseguira comprar e virar o dono, depois de dez anos de trabalho duro. E
Mariana dedicou-se a lecionar, o que ela fazia como ningum.
Havia muitos invejosos de planto, que sempre agouravam o
relacionamento dos dois. Um dia, um dos seus funcionrios estava muitomagoado com o trmino de um relacionamento e resmungando pelos cantos.
Carlos ouviu uma conversa dele com um colega:
- Ah, vida nenhuma nessa Terra perfeita. Tenho certeza que um dia
seu Carlos vai ter os problemas dele tambm. Em vidas perfeitinhas assim,
quando o problema chega, ele vem a galope!
Carlos se lembrou desse dia, tinha sido havia um ano. Como tinha uma
relao aberta com seus funcionrios, resolveu chamar Ricardo para uma
conversa.
- Pois no, seu Carlos, fiz algum erro em meu trabalho?
- No, Ricardo, de maneira nenhuma, voc um timo profissional e
estou muito satisfeito. O que quero te perguntar uma curiosidade mesmo.
- Diga, seu Carlos, no que eu puder ajudar...
- Lembra uma vez que voc disse que os problemas em vidas
perfeitinhas chegam a galope?
- Meu Deus, o senhor ouviu isso? Peo perdo, seu Carlos, naquele dia
eu estava muito triste, no tinha inteno nenhuma de magoar o senhor!
- Eu sei, Ricardo, no se preocupe quanto a isso, no o estou
recriminando. Quero apenas saber se voc disse aquilo se referindo diretamente a
mim, ou se estava falando de modo geral. Parece que agora o galope est se
intensificando, e eu estou buscando solues para isso.- Eu falei de forma geral. Mas a vida me ensinou isso tambm, seu
Carlos. Sabe, eu frequento um terreiro de Umbanda, e o Pai de Santo de l
sempre diz que a gente t aqui pra pagar o que fez no passado. Se assim, ele
fala que impossvel algum no ter nenhum problema, porque ningum vem
Terra a passeio. S os santos e elevados, mas mesmo eles tm os seus
sofrimentos. Jesus no sofreu na cruz?
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- Hum, faz sentido. Eu nunca tinha pensado nisso, mas interessante o
jeito dele pensar.
- O senhor religioso, seu Carlos?
- Eu frequentei um grupo de estudos esotricos anos atrs, quandoestava na faculdade. Depois, conforme fui crescendo na profisso, tive que
abandonar por causa dos meus horrios. Talvez seja hora de retomar e levar
Mariana comigo, para entender o que est acontecendo. Hoje esse grupo virou
um centro esprita grande, que coordenado por meu amigo Antnio.
- Se precisar de ajuda, te levo l no terreiro.
- Obrigado, Ricardo, mas primeiro quero buscar entender o que est
ocorrendo, para depois decidir o que farei para tratar. Com certeza, se decidirmos
por um tratamento de Umbanda, voltarei a falar com voc. Obrigado por
compartilhar esses ensinamentos comigo.
- Por nada, seu Carlos. Sempre digo que sou abenoado pelo emprego
que tenho. Onde j se viu, discutir essas coisas com o chefe?
- O mundo est mudando rpido, Ricardo, e quem no acompanhar as
mudanas ter cada vez mais problemas. Mesmo tendo abandonado os estudos
espirituais, sei que devo tratar a todos como gostaria de ser tratado. Alguns anos
atrs eu estava a, trabalhando no mesmo cargo que voc. Se estou aqui, porque
trabalhei para isso. Logo, sei que no h nenhuma diferena entre eu e voc,
apenas experincia.
- Que Oxal continue te abenoando, seu Carlos, para que um dia todos
os patres sejam que nem o senhor!
Carlos se despediu de Ricardo com um sorriso, e pensou consigo:- Pois , estou fazendo a minha parte, e Mariana, a dela. Se mesmo
assim os problemas esto chegando, deve haver algo importante por trs disso
tudo. E eu vou descobrir o que !
***
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Lembrou-se de quando era dirigente do grupo de estudos. Foi um
perodo muito agradvel da sua vida e ele deu muita sorte, pois todo o grupo era
amigo, dedicado, comprometido. No havia brigas, fofocas, melindres, todos
estavam l por amor. Tanto era verdade que Carlos s ouvia falar bem do grupoatual, que j tinha atendido milhares de pessoas na sua ausncia.
Mesmo a sua sada foi altamente harmnica, sem brigas. Ele
simplesmente chegou em um ponto da vida onde tinha que se dedicar
integralmente ao trabalho para poder dar conta de comprar a firma, o que
aconteceu depois.
Uma caracterstica importante do grupo, que inclusive fez com que ele
crescesse tanto, era a falta total de preconceito com qualquer outra religio. Eram
espritas, mas todos tinham uma mentalidade universalista, sabiam que a religio
um caminho e que todas as religies levam ao mesmo fim. Isso fazia com que o
alcance do grupo fosse muito maior e fosse possvel prestar ajuda a todos os tipos
de pessoas, sem distino. Todos se sentiam acolhidos e compreendidos.
- Acho que preciso mesmo falar com meus velhos amigos e pedir ajuda.
Vamos ver como as coisas se encaminham pensou Carlos Deixe-me terminar
logo essa papelada para poder ir para casa e cuidar de Mariana. a nica coisa
que posso fazer no momento.
Carlos terminou seu trabalho, mas sua cabea estava a mil, pensando no
que poderia estar acontecendo com a esposa. Ser que ela sofreu um acidente em
alguma vida passada e isso foi acionado? Ser que algum esprito entrou nela
quando ela desmaiou no volante? Ou era algum esprito cobrador, que queria a
infelicidade deles?Sacudindo a cabea para evitar os maus pensamentos, Carlos tomou
uma deciso mental:
- Seja o que for, estarei ao lado dela. Mesmo que ela enlouquea. Jurei
quando casamos que estaria ao lado dela na riqueza e na pobreza, na sade e na
doena. Afinal, que tipo de pessoa ama sua esposa apenas quando ela est bem e
sorridente?
Ao adotar essa nova postura, Carlos se sentiu mais confiante.
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***
A vida profissional de ambos era algo absolutamente bem resolvido. E,
at o momento, a vida afetiva tambm. De fato, no parecia haver nada de erradona vida conjugal deles. O problema parecia ser interno, de Mariana com ela
mesma.
Era essa a parte que Carlos mais se questionava: se era uma questo
interna, o que ele poderia fazer para ajudar? Como poderia saber exatamente o
que Mariana sentia, se ela no expressava?
- Sorte que minha equipe hoje em dia muito bem treinada, porque no
estou com cabea nenhuma para trabalhar ele pensou. E ela ainda me pede para
ficar calmo!
Voltando para casa, Carlos pensava e pensava. Estava tranquilo com a
deciso de esperar, mas ainda sentia que estava perdendo alguma oportunidade
de ajudar.
Decidiu chegar em casa e conversar seriamente com ela.
- Oi, amor, tudo bom?
- Tudo, querida. Podemos conversar?
- Claro. Algum problema no trabalho?
- No. Eu quero na verdade saber o que est acontecendo com voc.
- Nada, amor. O que poderia estar acontecendo comigo? ela
desconversou.
- No minta, Mariana. Eu sinto que voc no est bem.
- No sei do que voc est falando.- Desse jeito vou comear a pensar que voc est me traindo.
- Carlos, que horror! Voc sabe que eu nunca faria uma coisa dessas
com o homem que eu amo, meu marido, pai dos meus filhos!
- Ento o que ?
- No nada. Vai passar.
Encerrando assim a conversa, ela saiu da sala. E ele comeou a rezar,
para que o que quer que fosse se resolvesse, e ela voltasse ao normal.
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Captulo 5Sentimentos pesados
J estava ficando cansativo para Mariana fingir que estava tudo bem.
Mesmo porque, ela sabia que no estava sendo convincente. Talvez fosse para
algum que no a conhecesse profundamente como Carlos. Almas afins sofrem
quando um dos dois no est bem: como se o mundo perdesse o colorido
enquanto o parceiro no reencontra seu brilho.
Fazia um ms que o acidente na porta de casa acontecera, e Mariana sentia
como se tivesse atravessado um portal de tristeza. Desde aquele dia perdera suapaz de esprito. Nos seus trinta anos de idade tivera adversidades, naturalmente,
mas sempre lidara com elas de forma bem humorada e esperanosa.
Uma coisa que sempre fez parte de sua vida foi a f. Mariana sempre
acreditou que teria o melhor na vida, porque era merecedora disso. Simplesmente
assim. Nunca se preocupou com o sucesso profissional e a vida afetiva, porque
tudo sempre aconteceu do jeito que deveria ser e deu certo naturalmente. Teve
um pequeno revs antes de conhecer Carlos, mas quem nunca teve alguma
desiluso amorosa na vida?
Quando sentia aquelas avalanches de tristeza reagia imediatamente, pois
nunca fora dada a dramas. Naqueles momentos, buscava energias positivas nas
boas lembranas de passado. Eram tantas, era s escolher!
Uma das preferidas era o dia do nascimento de Murilo. Ela no estava
mais to assustada com o parto, pois j era a segunda vez. Mas como sempresentira que Murilo era diferente, j sabia que estava recebendo uma alma
especial.
E no deu outra: por incrvel que parea, ela teve parto normal e no
sentiu absolutamente nada de dor. Ele simplesmente saiu dela, assim sem mais
nem menos. Sempre que ela contava isso para algum achavam que era exagero
de me coruja, mas era a pura verdade: um parto sem dor!
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Quando pegou Murilo no colo pela primeira vez, sentiu como se estivesse
embalando um anjo.
- bom mesmo, para contrabalanar. Afinal, o Fabrcio exige que a gente
seja duas enciclopdias ambulantes, isso porque tem apenas dois anos! brincouCarlos.
- Meu amor, voc est me fazendo a mulher mais feliz do mundo!
Aquele foi um dos beijos mais apaixonados que eles j deram. Ali sabiam
que a famlia estava completa e feliz.
Lembrando de tudo aquilo, Mariana pensou:
- Ah, deve ser isso! Quando tive o quase acidente, eu devo ter ficado com
medo de perder meus filhos, por isso fiquei em choque. Agora tudo vai ficar
bem.
O racional assim falava, mas no era o que ela sentia. A tristeza vinha
cada vez mais forte e mais frequente, as vozes falando mal de Jesus, a sensao
de estar sendo sempre acompanhada. O que ser que estava acontecendo afinal?
***
Ceclia, sua melhor amiga, chegou para tomar o lanche da tarde. Logo
estranhou quando viu que Mariana no tinha arrumado a mesa, como de costume.
- Mari, o que est acontecendo com voc?
- Nada, querida. Obrigada por perguntar.
-Vamos l, Mari, somos amigas h vinte anos, no precisa disfarar ou
mentir para mim. Quero te ajudar!- Eu sei, Cia, mas nem eu sei te dizer o que est acontecendo comigo. Eu
ando muito estranha ultimamente, e intrigada com o que vem acontecendo.
Minha vida est normal, no fiz nada de errado, mas simplesmente ideias
estranhas me vem na cabea e eu no consigo evitar.
- Que tipo de ideias?
- Sobre Jesus. Onde j se viu, pensar mal de Jesus?
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- Mal de Jesus? Mas Mari, voc nem religiosa , nunca te vi nem tocar no
assunto!
- Pois , mas por mais que no me preocupe com isso, nunca fui de
maldizer nada do gnero, Deus me livre ofender ou blasfemar com essesassuntos! Simplesmente, desde aquele dia que eu quase sofri o acidente essas
ideias no me deixam em paz. como se eu tivesse raiva de Jesus e de toda a
Igreja Catlica!
- Nossa, amiga, que estranho. Se fosse uma pessoa religiosa, daquela que
combate a f dos outros, eu at poderia tentar entender. Mas voc realmente no
tem esse perfil.
- E tem mais: toda noite tenho o mesmo sonho. Uma moa, numa
carruagem em disparada, que de repente bate num estrondo. O mais estranho,
Cia, que ela parece querer morrer. Como se ela tivesse provocado a disparada
da carruagem, sabe?
- Mari, ser que voc no est estressada? No quer tirar uma semana de
frias e viajar comigo, a gente pode ir para uma praia no Nordeste, o que acha?
- Pirou, Cia? Como vou largar os alunos assim? Alm disso, a passagem
de So Paulo para o Nordeste cara!
- No se preocupa com isso. Carlos comentou comigo que a diretora da
rede de escolas que voc trabalha ficou sabendo o que aconteceu, e ela mesma
sugeriu que voc descansasse. A gente sabe que professor acaba no tendo frias:
planejamento, reunies, compromissos que no acabam. Da parte dela no tem
problema te substituir por uma semana. E quanto ao custo, como trabalho com
eventos, estou com um evento para fazer em Macei, e posso esticar a volta.Tenho vrias milhas sobrando, e voc poderia ir de graa. O que acha?
- Nossa, pelo visto voc pensou em tudo!
- Pensei mesmo, Mari, j vi at bab para os meninos. Eu ia te fazer
surpresa, mas sei que voc prtica e gosta de saber de tudo certinho. Eu resolvi
fazer tudo isso para te dar presente de aniversrio adiantado, j que a data daqui
a 15 dias. Se voc topar, embarcamos depois de amanh. E a, topa?
- E tem como recusar um presente desses? Claro, vai ser o mximo!
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***
As amigas ficaram fazendo planos para a viagem surpresa, enquantoSuzette observava a cena.
- Que tonta essa Mariana, se acha que vai ter folga assim... Vai apenas
buscar mais um aliado para mim!
Ao lado, Sofia sorria e meditava.
- Suzette esquece que no cai uma folha de uma rvore sem que o Pai
saiba. Mariana vai sofrer, infelizmente, mas vai se libertar de sculos de
sofrimento quando tudo terminar. Vai ser timo assistir!
***
Cia foi embora contente, parecia ter cumprido seu objetivo de animar a
amiga. Mas a alma de Mariana no estava tranquila, embora ela mesma estivesse
super feliz. Ela estava na verdade ficando cada vez mais desesperada.
Como j era de costume, resolveu pensar em coisas boas. Uma tima
lembrana era quando conheceu Cia, praticamente uma amiga irm. As duas
desde ento sempre viveram grudadas e nunca mais deixaram de se ver.
Apesar de fazer tanto tempo, Mariana lembrava como se fosse hoje: Cia
estava chateada por ser caoada no colgio, elas estavam na sexta srie. Como
era ruiva, com o cabelo bem vermelho, Cia estava sendo excluda por ser
diferente e por inveja, porque seu cabelo era lindo.Mariana chegou no ptio e viu a menina nova na escola triste, sozinha,
quase chorando. No pode deixar de ir l falar com ela:
- Oi, tudo bom?
- Oi disse Cia, limpando uma lgrima.
- No liga no, essas meninas aqui da escola so meio chatas mesmo. So
frescas, s gostam de pensar em besteiras. Eu queria mesmo uma amiga que
pensasse como eu. Quer ser minha amiga?
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- Claro!
Era tudo que a pequena Cia queria ouvir. E tamanha foi a lealdade que as
duas passaram todo o ginsio e colegial juntas. Quando chegou a hora da
faculdade, mesmo fazendo cursos diferentes, fizeram questo de estudar nomesmo campus. Mari fez Letras e Cia Turismo, mas como os prdios eram
perto elas sempre se visitavam, aproveitavam inclusive para apresentar amigos
em comum.
Na festa que Mari conheceu Carlos, Cia estava l, vestida de odalisca.
Ela nunca fora chegada a relaes duradouras como Mari, mas acompanhou
todos os passos do namoro e logo tornou-se grande amiga de Carlos.
No dia do casamento, Cia foi a madrinha que ficou ajeitando o vestido
e chorando, claro. No dia que Fabrcio nasceu ela estava l, dando as mos para
Mari aguentar a dor. Quem no quer uma amiga assim?
Pelo menos isso Mariana tinha certeza: podia contar com a amiga para
qualquer coisa. Inclusive se sentia mais vontade falando com ela do que com o
prprio marido, pois no queria incomodar Carlos com o que considerava ser
uma bobagem passageira. Ela sabia o alto grau de responsabilidade que ele tinha
na empresa como chefe e todos os compromissos que ele enfrentava diariamente.
Alm disso, a comunicao de alma que tinha com Cia ia alm dos cinco
sentidos. Tinha assuntos que eram coisas de mulher mesmo, que s uma grande
amiga entende.
- Como possvel que eu no me sinta melhor com uma viagem dessas?
Ser que estou enlouquecendo? De onde vem toda essa tristeza sem motivo?
Aquilo parecia um eterno quebra-cabea, que Mariana no conseguiaentender. Tinha que existir algo por trs de tudo aquilo. Como que uma tristeza
to forte pode acontecer do nada e no ir embora?
***
Suzette andava de um lado para o outro, mergulhando em suas
lembranas. Todo seu sofrimento comeou com uma viagem.
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Era 1730, Frana. Ela era uma linda moa, com cabelo cacheado e
vestidos finos. Seus pretendentes esperavam ansiosos pelos dias de baile, onde
podiam cortej-la e disputar sua mo em casamento.
Suzette sabia que em sua realidade os casamentos eram um jogo deinteresses, mas no se incomodava com isso. Gostava do jogo do flerte, e
esperava ansiosamente por um marido rico que lhe fizesse todos os caprichos.
Essa sem dvida seria a probabilidade mais alta de trajetria para sua vida, j que
era o que acontecia com todas as damas de sociedade.
Sua maior diverso era pensar como seria quando encontrasse o amor de
sua vida. Era muito romntica e acreditava que era possvel ser feliz. Mesmo que
o escolhido por seu corao fosse algum difcil de alcanar, ela lutaria com
unhas e dentes pelo seu amor. Isso ia totalmente contra as idias da poca, pois
mulheres no tinham direito a escolha, muito menos a veto. O casamento era
decidido pelos pais e ponto final. Mas Suzette no pensava assim.
Porm, quando estava perto do seu aniversrio de dezesseis anos, seus pais
a levaram para uma viagem casa de campo da famlia, como acontecia
anualmente. Dessa vez, em um dos seus passeios vespertinos, ela deparou com o
novo padre da parquia: o jovem Rolland.
Quando seus olhares se cruzaram, a calma de Rolland despertou o
desespero de Suzette. Ela sabia que, a partir daquele dia, sua vida terminara e no
haveria a menor possibilidade de felicidade. Ela se apaixonou fervorosamente,
era como se fosse impossvel pensar na menor hiptese de vida conjunta com
qualquer outra pessoa que no fosse ele.
Rolland sentira o mesmo pela moa e tambm sabia que as coisas seriamdiferentes dali em diante. Mas tinha prometido sua vida Igreja e no tencionava
desistir.
***
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- Por que ser que sinto essa angstia em meu peito? pensava Mariana.
Minha vida maravilhosa, tenho o homem que amo, filhos perfeitos, um trabalho
de sonho! O que mais posso desejar?
- , de fato pensou Suzette. Rolland estava l, reencarnado com ela,como Carlos. O que dava mais dio ainda no peito de Suzette, e um profundo
desejo de vingana!
Suzette tinha decidido levar aquela perseguio at o fim. Ento, ao invs
de melhorar com o passar do tempo, Mariana s piorava. A cada dia a angstia, o
sentimento de perda, a dor no peito, a solido, a sensao de sufocamento e a
ansiedade s aumentavam. Um sofrimento sem fim, avassalador e inexplicvel.
S quem sente na pele sabe o quanto difcil passar por uma perseguio
espiritual. Os sentimentos se misturam, as sensaes invadem o corpo sem a
menor explicao lgica, fica difcil explicar aos outros o que estamos sentindo.
Era exatamente essa a situao de Mariana. E a notcia da viagem era um
exemplo de como aqueles sentimentos todos eram insensatos: ao invs de ficar
feliz e saltitante, que seria a reao esperada, ela estava desesperada, com falta de
ar, e morrendo de vergonha por estar se comportando assim.
- Gente, ser que estou pirando? Virei doente mental?
Esse era o maior medo de Mariana: enlouquecer. Ela sempre achou que
para loucura no existia muito remdio, algumas pessoas vinham com esse karma
e tinham que enfrent-lo. Ser que tinha chegado a vez dela sofrer?
O mais gostoso era o apoio de Carlos. Mesmo sem entender nada do que
estava acontecendo, ele era caloroso, afetuoso e meigo, como sempre. Nesse
departamento ela tinha tirado a sorte grande, tinha um marido de sonho.- Voc est melhor, meu amor? perguntou Carlos.
- No Para voc posso falar a verdade, n? Melhor do que ficar
escondendo o que sinto.
- Claro que pode! E fica tranquila, vai passar.
- Quando? E como voc pode ter certeza?
- No sei Mas vai passar. Uma hora vai.
- Se a gente pelo menos soubesse o que
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Captulo 6Primeira ajuda
Carlos decidiu pedir ajuda a seus antigos amigos, do grupo de estudos do
qual fizera parte na faculdade. Fez contato com o lder e soube o endereo do
centro esprita que eles abriram, que inclusive era prximo da sua casa.
Na poca que fizera parte do grupo Carlos era o lder, ele tinha ficado
muito triste em ter que se afastar. Sempre prometera a si mesmo que voltaria,
assim que seu tempo se normalizasse. Mas, como acontece com muitos,
conforme foi crescendo na vida o tempo foi ficando cada vez mais escasso, e ele
acabou deixando a espiritualidade de lado. Carlos lamentava muito que isso
tivesse ocorrido e inclusive se culpava por s estar procurando ajuda agora,
quando algo fora de seu controle estava acontecendo.
J com muitos anos de trabalho, o centro era grande, mas acolhedor. Era
premissa bsica que todos estudassem bastante, para constituir um grupo
harmnico e com trabalho srio. No era nem nunca foi um grupo ortodoxo:
todos buscavam alm da codificao e das obras complementares estudar todo oconhecimento oriental tambm, para fazer um trabalho o mais completo possvel.
Mariana acabou aceitando ir l para tratamento antes de viajar, pois
realmente algo errado estava acontecendo e ela queria resolver logo aquilo, no
fazia nem de longe parte do seu perfil ser uma pessoa triste e macambzia. S
podia ser coisa de esprito obsessor mesmo.
Logo chegou sua vez, e aps tomar um passe foi encaminhada para a sala
de desobsesso.
- Minha irmzinha, vamos conversar?
- No quero conversa gritou Suzette. No se metam com a minha vida!
- Mas voc percebe que no vive mais entre ns? disse o doutrinador.
- Claro que sim, no sou burra!
- E por que tem acompanhado ento a nossa irm?
- Porque ela vive entre vocs, e eu no posso fazer nada!
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- Minha irm, tudo que voc precisa de descanso. Deite nessa maca e
receba a ajuda de nossa equipe. V em paz.
Foi explicado a Carlos e Mariana, que no assistiram ao tratamento:
tratava-se de uma mulher obsediando Mariana, e j estava tudo resolvido.Normalmente essa explicao nem seria dada, mas como Carlos era um velho
amigo, foi feita uma exceo. Muitos eram atendidos por noite, ento o processo
de encaminhamento costumava ir bem direto ao assunto, para abreviar o tempo
de atendimento e dar espao a todos.
Os dois respiraram aliviados e agradeceram, seguindo para casa. De fato,
Mariana se sentia bem mais disposta, como era antes. Agora sim estava pronta
para viajar.
***
Por quatorze dias, Suzette dormiu. Quando acordou percebeu Sofia ao p
de sua cama. Era um lugar iluminado, com poucos leitos em volta, que trazia
uma profunda paz. O ar parecia cheirar a margaridas, a temperatura era amena.
Logo Suzette percebeu que estava em alguma colnia astral.
- Por que fui trazida para c?
- Para dar uma trgua a Mariana.
- Ningum nunca se preocupou em dar uma trgua para mim!
- Suzette, voc s est lembrando a parte que quer da histria. Lembra das
conversas que teve com Rolland?
- No sei do que voc est falando.- Ento vou te ajudar.
Sofia tocou o chakra frontal de Suzette, que a regio responsvel pelas
nossas percepes extrassensoriais. Como elas estavam em um hospital no astral,
o acesso s memrias era ainda mais fcil e rpido.
Suzette foi se lembrando de tudo o que aconteceu aps aquele primeiro
encontro. Todos os dias ela saa com Rolland para passear, alegando que queria
confessar-se. E todos os dias confessava seu amor a ele.
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Apesar de tambm am-la, Rolland resistia e explicava a ela como deveria
proceder. Aquele amor era impossvel e ela teria que aceitar. Rolland tinha uma
grande determinao nesse sentido, pois seu amor causa que abraara era
realmente sincero e desprovido de hipocrisias.- Suzette, voc to linda, pode ter o homem que quiser a seus ps.
Desista de mim.
- Rolland, voc que tem que desistir dessa batina. Tudo bem, voc fez
seus votos, mas pode desfaz-los! Qual a necessidade de ficar a vida inteira na
Igreja? Voc pode ajudar a Igreja sem ser padre!
- Posso, mas no quero. Essa foi a vida que escolhi para mim desde
criana. Entendo seu amor, pois tambm o sinto. Mas prefiro optar em transmut-
lo e viver esse amor como um amor universal, por voc e por todas as pessoas.
- Rolland, eu no consigo! Estou enlouquecendo! Penso em voc todo o
tempo, sem parar!
- Voc s precisa aprender a direcionar essa paixo toda para outras
coisas. Pode fazer trabalho voluntrio, inclusive junto comigo, se a aprouver.
Pode casar e ser feliz, ser uma boa me para seus filhos.
- No consigo me imaginar deitando com outro homem! Quero voc!
- Suzette, no seja caprichosa. O amor nunca morre, ns nos
encontraremos depois no Reino do Senhor, se ambos cumprirmos nossas
misses.
- Eu no quero esperar tanto!
Suzette no se conteve nesse momento. Estavam os dois sozinhos em um
campo florido, e ela apaixonadamente o beijou. O beijo foi to forte e to intensoque Rolland correspondeu. Os dois se beijaram com amor e desespero, pois
Rolland sabia que aquele seria o primeiro e nico beijo que dariam naquela vida.
Carinhosamente, ele a segurou nos braos e disse:
- Guarde esse beijo como prova do meu amor por voc. No nos veremos
mais, farei isso pelo seu bem. Um dia voc entender.
Ele se afastou e quando chegou Igreja foi falar com seu superior,
pedindo transferncia para outra parquia.
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Suzette gritou, se desesperou, implorou, mas foi intil. Rolland foi para a
clausura e no a recebeu mais, pedindo que ela se confessasse com o padre que o
substituiria.
Ela parou de se alimentar, se tornou um zumbi. No comia, no dormia,apenas sofria. O sofrimento tomou posse de todo seu corpo. Ficava deitada no
quarto o dia inteiro, com cortinas fechadas e no aceitava receber ningum. Para
ela sua vida tinha acabado.
Seus pais no sabiam o que fazer e decidiram marcar seu casamento, para
que ela se ocupasse com os preparativos e com o vestido de noiva, j que sabiam
que a filha sempre quis um marido rico. Sem saberem de nada sobre Rolland,
acreditaram que aquilo a tiraria daquele torpor.
Quando soube da notcia, Suzette pegou uma carruagem e saiu em
desabalada carreira. Tudo que queria era morrer. Conduziu os cavalos at um
local de mata fechada e ficou esperando o fim.
***
- Lembra-se agora, Suzette?
- Sim, Sofia, obrigada por me torturar mais ainda com essas lembranas.
- No fiz por isso. Rolland cumpriu sua promessa, e lutou muito para
reencarnar ao seu lado. Carlos e Mariana hoje so felizes. Por que voc, uma vida
passada dela, no se sente feliz com isso, e se comporta como uma obsessora?
- Porque ela est vivendo a felicidade que tinha de ser minha! Eu no
quero Rolland vivo ao lado dela, eu o quero desencarnado ao meu lado!Nesse momento, Rolland adentrou o quarto.
- Meu amor, por que no os deixa em paz?
- Eu no consigo ser evoluda como voc! Nem entendo direito, pois se
ambos estamos l reencarnados neles, como voc pode vir aqui visitar-me?
Como eu posso estar aqui? Isso no seria possvel apenas se fssemos espritos?
- Nossas personalidades de passado tm uma existncia autnoma, de
acordo com a energia que fornecemos para elas. No caso de Mariana, sem dvida
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temos uma defasagem evolutiva. Apesar de estarmos felizes hoje, ela tem uma
carga espiritual que precisa ser drenada. Carlos, do qual fao parte, um esprito
mais adiantado, que aceitou encarnar para ajud-la a limpar essa carga de toxinas
espirituais.- E por que eu no consigo aceitar a existncia de Mariana, e estou aqui
vivendo como se fosse outra pessoa?
- Por que voc sente como se no tivesse vivido a sua vida, por ter se
matado to jovem. Alm disso, aconteceu com Mariana o que acontece com
milhares de encarnados sem o conhecimento deles. Quando ela passou pelo
quase acidente com o caminho e desmaiou, foi reativada a memria da morte
como voc, Suzette, onde houve o choque da carruagem.
- E por que vim parar nesse hospital agora?
- Porque o local onde Mariana foi atendida ainda no conhece a realidade
da auto-obsesso, que a obsesso causada por nossas prprias personalidades
de passado. Eles a encaminharam como se voc fosse um esprito obsessor. De
qualquer forma, voc foi tratada, mas com menor eficcia do que seria se eles
aprofundassem seus estudos. No seu caso, estou aqui podendo ajudar porque fao
parte de Carlos, estou envolvido na histria, e tenho conhecimento para te
explicar o que acontece.
- Tudo bem, entendi. Mas continuo discordando. No justo que ela viva
o amor, e eu no. Vou voltar a acompanh-la.
-Sim, Suzette, sabemos disso disse Sofia. Essas explicaes foram
apenas para comear o seu processo de entendimento. Voc apenas a primeira
etapa do processo de Mariana.- S uma ltima pergunta, Rolland. Como voc pode saber de tudo isso se
era padre? A Igreja nem acredita em reencarnao!
- Fui padre como Rolland, mas j tive muitas outras vidas, com bastante
acesso ao conhecimento. Tambm estudei bastante no entrevidas.
- Voc est ento me chamando de ignorante?
- No, meu amor. Estou apenas dizendo que cada um tem a sua hora de
despertar, e eu vou esperar pela sua.
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- Bom, tudo bem. Agora vou voltar ao trabalho. Mariana vai desistir da
vida, assim como eu fiz, e meu caminho estar livre!
Suzette estava irredutvel e no tensionava desistir. Mesmo sabendo que
seria assim, s vezes Sofia desanimava. Mas como sabia que no podia se deixarabater, ela logo se recolhia s suas meditaes.
- No posso me deixar dominar por esse cansao e desnimo, o que as
trevas querem.Quando aceitei o cargo, sabia que no seria fcil. Mas confio no
Pai, sei que isso apenas passageiro. E que preciso estar bem para ser til.
Sofia recolheu-se em prece, e ficou algumas horas concentrada. Sabia que
era necessrio proceder assim, para harmonizar sua energia.
Seu orientador, Agenor, observava ao longe.
- Que orgulho tenho dela! Tinha certeza que Sofia seria uma grande
trabalhadora aps concluir seu curso. Ela muito carinhosa, dedicada, alm do
fato de ter ligao krmica com o grupo, o que facilita a parte afetiva. Quando
nos importamos com algum, cuidamos dessa pessoa com mais afinco. ele
refletiu.
- Ol, Agenor!
- Ol, menina Sofia! No quis interromper. Parabns, fez a harmonizao
exatamente como te ensinei. E parabns pelo seu trabalho.
- Que bom, no estou cometendo erros, ento?
- No. O caso de Mariana ir exigir bastante pacincia. Tudo apenas
acontecer na hora certa.
- Bem que foi dito nas aulas, o quanto importante ter pacincia para ser
um bom mentor.- Sem dvidas. Imagine se os nossos no tivessem todo pacincia com a
gente? No estaramos aqui!
- verdade. E pelo visto, s preciso ter um pouco de pacincia, a
tendncia que tudo se resolva, no?
- Se Mariana cumprir seu aprendizado, sim. Veremos como ela ir reagir e
se comportar daqui em diante...
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Captulo 7A viagem
Mariana se sentia tima desde o dia em que foi casa esprita. Estava
alegre, junto com Cia, esperando o avio completar o trajeto entre So Paulo e
Macei.
- Cia, voc tinha razo! Tudo que eu precisava era de uma mudana de
ares! Sabe que nem fao questo de sair do resort? O lugar to lindo, pelo que
vi nas fotos, que s de ficar no hotel relaxando j estarei feliz!
- Amiga, tinha certeza que isso te faria bem, por isso armei tudo. Ser
esposa, me, profissional, tudo junto, no fcil, estressa qualquer um. Eu, quenem marido tenho ainda, vivo na maior correria, no sei como voc aguenta!
- Ah, isso para mim nem difcil, sabia? Eu amo tanto o Carlos e os
meninos que cuido deles com todo o carinho. Voc vai ver, Cia, quando estiver
com a pessoa certa, at cozinhar para ele vai ser gostoso!
- Bom, prendas domsticas nunca foram muito meu forte, mas eu posso
tentar!
As amigas riram, lembrando de vrias histrias de receitas fracassadas que
Cia tentou fazer no passado e das travessuras dos meninos quando eram
pequenos. Aquela realmente prometia ser uma tima viagem!
Elas no puderam deixar de lembrar do dia que Murilo estava brincando
no quintal do stio que alugavam nos finais de semana.
- Mame, que bicho aquele, peludo e cheio de perninhas?
- uma taturana, meu filho. Ela queima, viu? No pode chegar perto!- Nossa, parece o bigode do moo que trabalha l no supermercado!
E no deu outra: quando foram ao supermercado na prxima vez, l foi
Murilo:
- Moo, o senhor tem uma taturana no rosto!
Mariana quase morreu de vergonha naquele dia, mas agora, lembrando, as
duas tiveram uma boa gargalhada, incluindo quem estava nas poltronas por perto
no avio
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Ao ouvirem o aviso de apertar os cintos, ambas se prepararam para o
pouso. Quase sem flego de tanto rir!
***
No dia seguinte, Cia foi trabalhar e Mariana ficou tomando sol na piscina
do hotel. O lugar realmente era paradisaco, ela nem podia acreditar que estava
ali de graa at a estadia Cia conseguiu de presente.
Deitada ali na espreguiadeira, comeou a pensar no quanto era feliz e
abenoada. Tinha uma famlia maravilhosa, um emprego que amava, era feliz em
todos os sentidos.
Pensando nisso, adormeceu. O sol estava forte, mas ela nem se importou.
Ficou ali pelo menos uma hora dormindo, sentindo suas energias sendo
restauradas.
Acordou com o calor. Levou um grande susto, pois podia jurar ter visto
um homem que a encarava de frente. Mas quando abriu melhor os olhos ele
desapareceu. Quem estava chegando era Cia, trazendo uma gua de coco.
- Eu e meus sonhos!
- Sonhou de novo, Mari? Era a moa da carruagem?
- No, essa no vi mais. Desta vez, quando acordei, pensei ter visto um
homem na minha frente. Ele parecia um daqueles bedunos rabes, com aqueles
panos na cabea, e me olhava de forma firme.
- Ah Mari, deve ter sido o sol quente. J acabei o trabalho de hoje, vamos
para a piscina?Mariana engoliu a explicao, mas sentia que tinha algo mais por trs
daquele beduno. Ser que ela estava comeando a ver espritos?
Sua me era mdium, trabalhava no mesmo grupo havia vinte e cinco
anos. Mariana ia desde pequena nas sesses e sentia grande familiaridade com o
mundo espiritual. Sentia-se acolhida, bem vinda e com uma saudade indefinida
no peito de algum tempo muito bom.
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Ela sabia que quando crescesse teria que desenvolver sua mediunidade e
no considerava isso ruim. Mas como logo virou me e casou, nunca teve muito
tempo para se dedicar ao assunto. Ser que aquelas vises estranhas queriam
dizer que o prazo de espera estava encerrado revelia?Realmente, seria melhor buscar um local para trabalhar quando voltasse a
So Paulo. Quando queremos sempre achamos tempo para fazer o que
precisamos, ela sempre dizia. Estava na hora de dar espiritualidade a ateno
devida. Mesmo porque, ela sabia que poderia ajudar muitos com o dom que
possua. T certo que ela j ajudava as crianas, mas estava mesmo na hora de
ampliar seu foco de atuao.
Ela lembrava de uma moa no centro que no tinha trabalhado a
espiritualidade. Ela sempre conversava e orientava essa moa.
- Ah, Mariana, ter que vir aqui toda semana? Eu me sinto presa!
- Clarissa, vai te fazer bem! Alm disso, mediunidade um dom que
recebemos e devemos fazer bom uso, sempre de forma gratuita. Os espritos
precisam de ns como instrumento para trabalhar, e esse foi um compromisso
que assumimos antes de encarnar.
De tanto ela insistir, Clarissa se engajou no grupo e nunca faltava. Depois
veio contar que realmente era uma delcia fazer parte da equipe.
Mas isso tudo foi antes de Mariana fazer 21 anos. E quando ela fez, logo
se casou e foi se dedicar famlia. O tempo foi passando sem ela nem perceber, e
dez anos depois aqui estava ela, com dificuldades nesse campo. Bom, se era isso,
seria brevemente sanado, assim que voltasse ela ia se inscrever no curso de
mdiuns do centro.Mesmo tendo essa conscincia ela no conseguia entender por que aqueles
espritos especficos estavam se aproximando dela. Um beduno e uma mulher
contra a Igreja? Que ligao eles poderiam ter?
***
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noite, as amigas foram jantar e depois assistir um show que o hotel
estava promovendo. Era uma linda danarina do ventre, que encantava a todos
com seus movimentos precisos. Mariana sempre fora apaixonada por dana, mas
aquela moa era realmente especial.Acompanhada no derbake (um instrumento de percusso) por um rabe,
ela rodopiava pelo salo com uma espada na cabea, fazendo uma dana
tradicional. Mariana no conseguia tirar os olhos da espada.
***
Quase hipnotizada, sua mente a levou para o passado. Uma danarina
parecida estava danando no meio da roda, enquanto a tribo de bedunos assistia
ensandecida, batendo palmas e se alimentando com tmaras.
Emir olhava a danarina e j fazia planos para passar a noite com ela. Mas
o seu rival, Mustaf, tambm queria a mesma moa. Os dois resolveram duelar, e
Emir ganhou. No foi fcil, Mustaf era um dos melhores guerreiros da tribo,
mas a vontade de Emir de ter a linda danarina era to forte que lhe deu
motivao.
O casal no passou somente aquela noite juntos. A danarina, Silsih,
conquistou o amor de Emir e tempos depois eles se casaram. Ela passou a
integrar a caravana, e foi a me de seus filhos.
Os dois tiveram anos de felicidade casados, criando os filhos. Eram
apaixonados e companheiros, faziam tudo juntos. Mesmo vivendo na dura
realidade do deserto, eram felizes.- Silsih, voc a mulher dos meus sonhos, como um osis!
- Al seja louvado por te trazer para mim como marido, Emir. Vou te amar
para sempre e nunca vou te esquecer!
O passatempo preferido era observar as estrelas, toda noite. Como era
comum na cultura rabe, Emir conhecia bem as constelaes, e gostava de contar
todos os mitos para sua amada. Eles faziam juras de amor e davam graas ao dia
que se conheceram e iniciaram sua felicidade.
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Um dia, quando estavam passando por uma zona perigosa, o grupo foi
atacado. Emir foi para a batalha junto com os homens, defender sua tribo.
Quando voltou, encontrou sua mulher e seus filhos mortos, junto com o restante
da aldeia.No desespero, com seus amigos tentando impedi-lo, Emir pegou a espada
afiada e decepou sua prpria cabea com um golpe.
***
Toda aquela histria passou pela frente de Mariana em um segundo e ela
deu um grito, assustada. Ceclia achou melhor tirar a amiga dali, pois algumas
pessoas j estavam intrigadas com seu comportamento.
- Mari, o que aconteceu com voc?
- Eu no sei, Cia disse Mariana, chorando copiosamente. Eu no sei o
que est acontecendo comigo! Por que estou vendo essas coisas horrveis?
Aps contar amiga toda a cena que viu, Mariana deitou em seu colo e
deixou as lgrimas correrem.
- Mari, eu acho que o que voc tem espiritual. Eu tenho lido muito sobre
isso, estudado mesmo a fundo. Acho que voc est tendo lembranas de suas
vidas passadas.
- Mas por qu?
- Pelo que li, possvel que chegue um ponto especfico das nossas vidas
onde nossas vidas passadas comeam a aflorar, para que a gente possa trat-las.
Com cada pessoa acontece de uma forma. Por algum motivo que ainda noentendi qual, no seu caso est acontecendo super rpido.
- Ento, Cia, voc quer dizer que esse homem que vi, e aquela mulher da
carruagem, eles so vidas passadas minhas?
- o que parece. Se fossem s espritos, e fosse a sua mediunidade
aflorando, as vivncias no seriam to fortes, voc no sentiria como se a histria
fosse sua.
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- Mas Cia, se a vida j passou, por que eu iria sentir as coisas assim, de
um jeito to forte?
- Bom, Mari, eu no sou nenhuma expertno assunto, mas pelo que entendi
das leituras podemos ter assuntos inacabados das vidas, e a elas ficam meiocomo um captulo de livro que no foi terminado, sabe?
- E o que eu posso fazer ento?
- Eu conheo um lugar que cuida disso. uma casa de Apometria, que
uma tcnica nova que trata essas coisas. A dirigente de l chama Dona Eullia,
ela um amor. O que acha de quando voltarmos para So Paulo eu te levar l?
- Bom, eu acho que vai ser preciso, porque no estou dando conta disso
sozinha!
- Ento relaxa, amiga. Vamos continuar curtindo a viagem, e na volta levo
voc e o Carlos l. Vamos tomar um drinque? Sem lcool, claro!
- Mas e o rabe, o que fazemos com ele?
- Vamos fazer o seguinte, Mari: me d sua mo.
Cia fez uma prece sentida, pedindo para o mentor ou mentora de Mariana
recolher aquela vida passada para tratamento, at que as duas fossem ao centro.
Sofia, mentora de Mariana, atendeu prontamente o pedido e levou Emir
para o hospital. Com o ectoplasma recolhido da prece das duas, aproveitou para
recompor a cabea do rabe e comear a tratar de suas feridas.
Graas interveno de Sofia, o resto da viagem correu sem problemas.
As duas aproveitaram os dias de sol, as mordomias do hotel e as belezas naturais
de Macei. Mariana no pensou em mais nada sobre aqueles sentimentos e
angstias at pisar novamente em sua casa.
***
- Mari, quer mais uma gua de coco?
- Eu quero, amiga. Quer que eu pegue?
- No, pode deixar, o barman um gato
- Ahahaha, essa minha amiga no tem jeito!
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- Bom, enquanto no encontro meu prncipe encantado, posso me divertir,
no posso?
- Claro. S cuidado para no se magoar.
- T brincando com voc, Mari, no faria nada disso, no. Imagina s. Setem uma coisa que aprendi nessa minha solteirice que, se queremos encontrar o
cara certo, temos que nos preservar e no sair por a com qualquer um.
- Ah bom, melhor assim. Concordo. O que adianta um bonito, se no dia
seguinte no ter mais nada?
- Ento voltemos ao sol. Pra que lado t melhor?
- Esse aqui, minha direita. Acho que tem uma espreguiadeira ali do
lado.
- Aaaah, que delcia! Isso que vida!
- Eu t amando tambm. Mas acredita que j t com saudade de casa?
- Claro. Se eu tivesse uma famlia que nem a sua esperando, tambm teria
saudade
- Voc vai encontrar a sua, querida. Uma mulher to especial como voc,
merece o melhor dos homens.
- E o beduno, voltou a ver alguma coisa?
- No, ficou mesmo tudo bem. Espero, n?
- Em So Paulo a gente cuida disso. Vamos dar um mergulho?
- Ai, no joga gua em mimrisos uma criana mesmo!
- E no gostoso ser criana de vez em quando?
- Claro! Toma mais gua!
- Aaai!Rindo muito, as duas continuaram a brincar na piscina. Um descanso
merecido para Mariana, que estava enfrentando tantos sentimentos contraditrios
nos ltimos tempos.
Com o carinho da amiga, ela se sentia mais energizada e pronta para
entender o que estava acontecendo na volta da viagem. Cia tinha razo: devia
mesmo ser espiritual, e ela buscaria ajuda.
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Captulo 8Aliados
Suzette, a moa da carruagem, ainda no sabia que podia viajarmentalmente, ento ficou esperando Mariana em casa. Estava louca para
continuar seu trabalho, pois na cabea dela Mariana tinha que se matar, assim
Suzette ficaria com Rolland todo para ela.
- Carlos, a viagem foi linda! A Cia mesmo um amor, no se fazem mais
amigos assim!
- Que bom, meu amor! Eu queria ter ido com voc, mas como no podia
me ausentar da firma, fico muito feliz. E acho que voc estava mesmo precisando
de colo de amiga.
- L aconteceram mais umas coisas estranhas, mas a Cia me ajudou a
resolver.
Mariana contou tudo com detalhes, falou tambm da explicao da amiga
e das leituras que ela vinha fazendo.
- Interessante, amor. Vou falar com a Cia, quero comprar esses livros eentender melhor. Na poca do grupo a gente quase foi por esse lado de influncia
das vidas passadas, ou auto-obsesso, mas no tinha muito livro para estudar
naqueles tempos. Hoje em dia muita coisa nova j foi publicada, eu devo mesmo
estar desatualizado. Mas voc no sabe a ltima do Murilo, agora resolveu que
est apaixonado pela Claudinha!
- Ai que lindo, o primeiro amor do meu menino! E olha que ele ainda tem
sete anos, imagina quando crescer, quantos coraes vai conquistar!Enquanto o casal ficava atualizando as novidades da semana e Mariana
contava todas as maravilhas de Macei, Suzette pensava em como agir para
acabar com aquela felicidade toda. Quando viu os dois falarem das crianas,
achou a ideia tima!
Foi at o leito de Fabrcio e Murilo. Observou bem e viu que Murilo era
mais sensvel, por ser o mais novo. Resolveu ento cobrar uma velha dvida.
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Suzette passou muitos anos nas trevas quando cometeu suicdio. Mesmo
com Mariana continuando seu ciclo de encarnaes ela continuou vivendo no
submundo, dissociada, onde conseguiu bastante destaque. Isso quer dizer que
enquanto a alma de Mariana seguiu tendo outras vidas, Suzette seguiu emparalelo no astral, atuando nas trevas.
Tinha por l um grupo de quinze homens que a seguia, para os quais fez
alguns favores e exigiu liderana. Esse grupo andava pela Terra obsediando
pessoas, vampirizando energias e disseminando o mal.
Pedro era o especializado em implantes parasitas do grupo. Suzette foi ter
com ele, para conseguir seu intento.
- Ol, querido, como vai meu servo predileto?
- Muito bem, chefinha. Com saudade dos seus beijos. Vamos ter outra
noite de amor hoje?
- Bom, meu assunto no era esse, mas at que no m ideia...
Os dois entregaram-se a uma cena de sexo desregrado, com as vibraes
mais densas possveis. J era noite, e essa vibrao chegou at Mariana como
desejo sexual. Ela seduziu o marido e os dois se amaram, porm sem os dois
perceberem aquela energia de amor puro foi vampirizada por Suzette e Pedro,
para consumir seu desejo no astral.
Mariana e Carlos sentiram que realmente aquela noite foi diferente, mais
cheia de desejo carnal que o comum, mas no deram ateno, pois estavam
mesmo com saudade por causa da viagem. Mal sabiam os dois o mau uso que
essa energia estava tendo, ali mesmo no quarto do casal.
Deitada ao lado do amante, Suzette abordou o assunto que a trouxera ali.- Pedro, como anda seu trabalho com os aparelhos parasitas? Desenvolveu
algo novo?
- Ando sempre estudando para aprimor-los, chefinha. Quem o alvo
dessa vez?
- Murilo, uma criana de sete anos.
- Ah sim, em crianas sempre mais fcil. J levantou a ficha krmica
dele para ver qual a rea sensvel?
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- J sim. Ele tem uma srie de encarnaes ligadas ao cio, nas quais se
entregou a vcios como lcool e pio.
- Nesse caso ento vou fazer um aparelho em forma lquida, pode ser? As
vidas dele vo pensar que lcool e vo ficar bebendo sempre.- Perfeito! Autoenvenenamento, adoro isso! D muito menos trabalho do
que recrutar obsessores plantonistas para ficar ao lado dele, ele faz o trabalho
contra si mesmo. Por isso que gosto de voc, Pedro, voc sempre til!
- Um prazer, chefinha. Quando precisar s avisar. Quando teremos outra
noite juntos?
- Melhor no abusar, no quero que ela perceba e v naquele centro de
novo. Foi muito chato ficar afastada. Trabalhe nesse aparelho lquido, vai ser
timo! O menino vai ficar doente e ela vai esquecer essa coisa de Apometria e de
Centro esprita.
- Pode deixar, chefinha!
Nesse momento chegou Emir, o beduno, a segunda vida passada aflorada
de Mariana. Ele entrou no quarto, andando com a cabea refeita e chorando pela
morte de sua mulher e filhos.
- Ol, Emir, pensei que ficaria mais tempo por l.
- No, Suzette, eles quiseram me convencer que devo retomar a vida, que
agora estou ligado a Mariana e devo aproveitar a felicidade que ela vive. Mas no
consigo! Preferi ouvir os seus conselhos.
- Muito sbio, Emir. isso mesmo, trabalhe comigo. Nada que essa tonta
da Mariana faa vai nos dar o que ns queremos.
- No meu caso, tudo que eu queria era minha mulher e meus filhos. Nosei onde eles reencarnaram. Voc sabe?
- No, no sei. E se soubesse no te diria. Quero que voc me ajude a
deixar Mariana triste.
- Suzette, pensando bem, acho que vou te ajudar sim. Se ela se matar eu
ficarei livre para procurar minha famlia, sem precisar ficar preso nela. J que
no consigo me livrar dessa tristeza, vou pass-la para ela.
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- Muito bom, faa isso, Emir. Pelo que sei, ainda falta a chegada de dois
aliados para ns, que ser em breve. Por enquanto eu cuido do moleque e voc
cuida da tristeza. Ns vamos conseguir!
Sofia olhou para a cena preocupada. Era muito difcil ver Mariana sofrer,uma criana ser envolvida no processo e assistir passiva. Mas ela lembrou das
orientaes claras que recebeu e continuou apenas orando.
Embora parecesse passividade, a atitude dela era apenas de pacincia. Os
espritos mais elevados compreendem que para tudo existe um tempo e que o
livre arbtrio deve ser respeitado. Logo, a atuao dela seria bem mais proveitosa
incentivando Mariana a buscar ajuda do que tentando impedir a atuao malfica
das vidas passadas.
- Uma boa mentora trabalha com prioridades. Preciso ajudar a manter a
vibrao de Mari elevada, para que ela se lembre de buscar dona Eullia o mais
rpido possvel. As coisas vo ficar cada vez mais difceis e ela precisa se
defender pensou Sofia.
Ou seja, do mesmo jeito que o mal estava se mobilizando, o bem tambm
estava preparando sua atuao cada um com seus mtodos.
***
Suzette estava feliz com o bom andamento de seus planos. Emir que no
conseguia pensar em outra coisa a no ser sua Silsih.
Antes de ingressar na caravana, Silsih fazia parte de outro povo. No
comeo ela foi recebida com certa ressalva pelas mulheres do grupo, por serestrangeira. Mas como ela era uma pessoa muito doce e de fcil convivncia,
logo foi adotada por todas e ficou cheia de amigas.
Emir lembrava-se como se fosse ontem:
- Silsih, voc est feliz aqui comigo?
- Muito. Sinto falta de minha famlia, mas faz parte da vida de mulher
casada. Mesmo que voc fosse do meu povo, no teramos mais a mesma
convivncia.
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- Se voc quiser, ms que vem estaremos passando por l e podemos
visit-los.
- Voc faria isso por mim, Emir?
- Claro. Eles podem at nos dar abrigo, no?- Claro que sim! Ah, que felicidade!
No ms seguinte a caravana aportou na regio do povo de Silsih, e foram
recebidos com grande festa. Ela fez uma dana especial, e estava absolutamente
deslumbrante. Emir sentia muito orgulho, pois ela era elogiada por todos.
A dana naqueles tempos era sagrada, e no banalizada, como alguns
fazem hoje. Era um contato com o sagrado, e uma forma do povo do deserto
agradecer pelo trabalho e pela prosperidade que alcanavam com o comrcio.
Uma danarina era vista com profunda reverncia e respeito.
- Al me d foras para aguentar a separao de minha amada e de meus
pequenos...
E a cada dia Mariana se sentia mais triste, com uma saudade profunda no
peito, dava at vontade de gritar. Era a dor que Emir no podia evitar. A dor da
saudade, do amor perdido, do medo, da falta de aceitao.
Todas as noites ele sentava e olhava para as estrelas, como fazia com sua
Silsih. Mariana fazia o mesmo, procurando o que quer que fosse, que nem ela
mesma sabia.
Carlos observava, preocupado. E ia com ela olhar as estrelas, mesmo sem
saber por que aquilo era to importante. Se importava a ela, era fundamental para
ele tambm. Um dia resolveu comprar uma gata de presente para a esposa, que
sempre adorou gatos. Ela ficou encantada, mas ainda triste.- Qual vai ser o nome dela, querida?
Sem saber por que, Mariana respondeu:
- Silsih...
E a linda gatinha ficou batizada de Silsih. Mal Mariana sabia que era uma
homenagem de sua vida passada beduna, o eterno apaixonado Emir.
- Que Al me d foras - ele suspirou.
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Captulo 9Atuao das trevas
Pedro rapidamente desenvolveu a espcie de implante astral que faria nopequeno Murilo. Enquanto preparava a poo especfica que iria usar, pensava o
quanto era bom o fato dos encarnados saberem ainda muito pouco sobre
aparelhos e implantes astrais. Isso permitia desenvolver a criatividade e achar
modalidades de atuao como aquela, que seriam consideradas impossveis aos
olhos dos acostumados com a obsesso tradicional.
Naquele momento Pedro se lembrou de vrios outros trabalhos que
executara. Era sempre contratado por chefes com conhecimento mais avanado
da obsesso moderna, que confiavam absolutamente nos seus re