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IX Seminário de Estudos Filológicos – SEF Filologia em diálogo: descentramentos culturais e epistemológicos

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS

Salvador, Bahia, Brasil,

05 a 07 de setembro de 2018

CADERNO DE RESUMOS DO IX SEF

Salvador

2018

REALIZAÇÃO

APOIO

S471c Seminário de Estudos Filológicos (9. : 2018 : Salvador, BA). Caderno de Resumos do IX SEF / Coordenação Risonete Batista de Souza, Célia Marques Telles, Rosa Borges dos Santos. –Salvador : Memória e Arte, 2018.

143 p.

ISBN: 978-85-69960-09-6

1. Estudos Filológicos. 2. Linguística Românica. 3. Crítica Textual. 4. Pesquisa em Letras. I. Título.

CDD 417.7

Ficha catalográfica: Letícia Oliveira de Araújo CRB5/1836

Universidade Federal da Bahia

Reitor João Carlos Salles Pires da Silva Vice-Reitor Paulo Cesar Miguez de Oliveira Pró-Reitor de Pesquisa, Criação e Inovação Olival Freire Júnior Diretora do Instituto de Letras Risonete Batista de Souza Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura Alvanita Almeida Santos Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura Danniel da Silva Carvalho Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários Alessandra Leila Borges Gomes Fernandes

Memória e Arte Diretora Vanilda Salignac de Sousa Mazzoni Conselho Editorial Maria da Glória Bordini

Célia Marques Telles

Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida

Alícia Duhá Lose

Jorge Augusto Alves Lima

Sandro Marcío Drumond Alves Marengo Fabiano Cataldo de Azevedo

Comissão organizadora IX SEF

Coordenação Risonete Batista de Souza (UFBA) Célia Marques Telles (UFBA) Rosa Borges dos Santos (UFBA) Secretaria Isabela Santos de Almeida (UFBA) Débora de Souza (UFBA) Lívia Borges Souza Magalhães (UFBA) Tesouraria Alvanita Almeida (UFBA) Rosa Borges (UFBA) Divulgação Fabiana Prudente (UFBA) Alícia Lose (UFBA) Carla Ceci Fagundes (UFBA) Logística Risonete Souza (UFBA) Rosinês Duarte (UFBA) Nancy Vieira (UFBA) Eliana Brandão (UFBA) Captação de recursos Eliana Brandão (UFBA) Norma Pereira (UFBA) Celina Abbade (UNEB)

Comissão cientifica Aléxia Teles Duchowny (UFMG) Alícia Lose (UFBA) Ari Sacramento (UFBA) Ceila Maria Ferreira (UFF) Célia Marques Telles (UFBA) Célia Regina dos Santos Lopes (UFRJ) Celina Abbade (UNEB) Cleber Alves de Ataide (UFRPE) Débora de Souza (UFBA) Eduardo Matos (Sartre/COC) Eliana Brandão (UFBA) Fabiana Prudente (UFBA) Isabela Almeida (UFBA) Mabel Meira Mota (UFBA) Manoel Mouri. Santiago-Almeida (USP) Maria da Conceição Reis (UNEB) Norma Suely Pereira (UFBA) Patrício Barreiros (UEFS) Risonete Souza (UFBA) Rita Queiroz (UEFS) Sandro Marcio Drumond Alves Marengo (UFS) Rosa Borges (UFBA) Rosinês Duarte (UFBA) Valéria Gomes (UFRPE)

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................................... 3

RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS ................................................................................................................ 5

RESUMOS DAS MESAS-REDONDAS ......................................................................................................... 8

RESUMOS DAS SESSÕES COORDENADAS .......................................................................................... 38

Eixo temático: Filologia e ensino ....................................................................................................... 38

Eixo temático Filologia e questões teóricas da contemporaneidade .............................. 50

Eixo temático Teorias e práticas editoriais ................................................................................. 53

Eixo temático Teorias e práticas editoriais ................................................................................. 57

Eixo temático Teorias e práticas editoriais ................................................................................. 61

Eixo temático: Filologia e memória ................................................................................................. 66

RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES ORAIS .............................................................................................. 70

Eixo temático: Filologia e ensino ....................................................................................................... 70

Eixo temático: Filologia e humanidades digitais ...................................................................... 95

Eixo temático: Filologia e literatura................................................................................................ 97

Eixo Temático: Filologia e memória ............................................................................................. 108

Eixo temático: Filologia e questões teóricas da contemporaneidade ......................... 127

Eixo Temático: Teorias e práticas editoriais ........................................................................... 131

RESUMOS DOS MINICURSOS ................................................................................................................. 143

3

APRESENTAÇÃO

O Seminário de Estudos Filológicos (SEF) é um evento bienal que visa trazer à

tela pesquisas no campo da Filologia e de áreas afins. A proposta do SEF se ancora na

memória da Semana de Filologia Românica, de 1964, e dos Seminários de Filologia

Românica, realizados dos anos 1960 aos anos 1990, pelo Prof. Dr. Nilton Vasco da Gama -

Professor Emérito da Universidade Federal da Bahia, fundador da cadeira de Filologia

Românica desta universidade e líder do Grupo de Pesquisa de Filologia Românica, até o

ano de seu falecimento.

Tais Seminários constituíram espaços de debate, que, dentre outros resultados,

contribuíram para a formação de diversos docentes pesquisadores que, atualmente,

dedicam-se à Filologia em, pelo menos, quatro universidades baianas, a saber:

Universidade Federal da Bahia, Universidade Estadual de Feira de Santana, Universidade

do Estado da Bahia e Universidade Católica do Salvador. Considerando a importância

desses seminários para o formação de novas gerações de filólogos, em 2006, as

discípulas de Nilton Vasco da Gama, Rosa Borges (UFBA), Rita Queiroz (UEFS) e Maria da

Conceição Reis (UNEB), retomaram a proposta das discussões em seminários e

realizaram o I Seminário de Estudos Filológicos, no ano de 2006, promovendo discussões

de grande relevância no âmbito dos estudos filológicos, congregando pesquisadores de

todo o país. Os resultados do I SEF foram publicados no livro Diferentes perspectivas dos

estudos filológicos.

O evento assumiu o caráter itinerante, ocupando as diferentes universidades da

Bahia. Ano a ano foram propostos temas pertinentes aos debates contemporâneos em

Filologia, que passamos a elencar: em 2007, Filologia e História: múltiplas possibilidades

de estudo, sediado na UEFS; em 2008, A Filologia e a preservação do patrimônio Cultural

escrito: arquivos, acervos, edições e estudos, que teve lugar na UFBA; em 2009, Filologia

e estudos da linguagem: o léxico em questão, na UCSal; em 2010, Filologia: diálogos

possíveis, nas Faculdades São Bento. A partir de então, optou-se pela realização bienal do

evento.

Em 2012, a sexta edição do SEF foi realizada concomitantemente ao I Congresso

Internacional de Estudos Filológicos, sediado na UFBA, a temática abordada foi Filologia,

Críticas e Processos de Criação, realizado em homenagem ao Prof. Dr. Nilton Vasco da

Gama. A edição de 2014, que ocorreu na UNEB – Campus I, homenageou a Profa. Dra.

Albertina Gama e versou sobre a as relações Entre o texto e o discurso. Em 2016,

Filologia e Humanidades Digitais foi a temática do evento que rendeu homenagem à

Profa. Dra. Célia Marques Telles.

Em 2018, o SEF ocorrerá na UFBA, com o apoio da CAPES, através do PAEP.

Tendo com o tema a Filologia em diálogo: descentramentos culturais e epistemológicos.

Pretendemos manter a tradição de um congresso que enfatiza as diferentes perspectivas

dos estudos filológicos, pensadas, também, em função dos descentramentos necessários

aos estudos contemporâneos. O espaço da Filologia, considerado como campo teórico e

disciplinar, tem proposto percursos de investigação que entrecruzam aspectos textuais,

culturais, linguísticos, literários, sociais e históricos para o estudo do texto. Acionados

por agendas contemporâneas, os pesquisadores têm mobilizado o conhecimento secular

dessa área a fim de propor interações disciplinares, objetos de investigação, perspectivas

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de leituras e projetos editoriais, visando realizar estudos que resultam na renovação dos

fazeres filológicos. Por sua vez, o desenvolvimento dessas pesquisas tem como resultado

importantes revisões epistemológicas, que consolidam os estudos filológicos na

contemporaneidade.

O evento renderá homenagem à Profa. Dra. Rosa Borges, uma das idealizadoras

do SEF que, em 28 anos de carreira, muito tem contribuído para repensar a práxis

filológica, promovendo, em seu exercício como docente e pesquisadora, diálogos entre

campos de saber e descentramentos epistemológicos através da Filologia.

Neste Caderno de Resumos, reunimos os resumos de Conferências, Mesas

redondas, Sessões de comunicação coordenada e Sessões de comunicação individual,

estas últimas organizadas por eixo temático e ordem alfabética pelo primeiro nome do

autor e, por fim, aparecem os resumos dos Minicursos.

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RESUMOS CONFERÊNCIAS

Conferência de abertura

LINGUÍSTICA ROMÂNICA: UM OLHAR SOBRE O QUE FAZEMOS

Célia Marques Telles (UFBA/CNPq)

O título proposto leva à lembrança de que, já, em 13 de fevereiro de 1906,

Antoine Meillet, em sua aula inaugural no Collège de France, falava que

“L’observation des faits actuels est encore plus capable d’expliquer le passé que

l’étude du passé d’expliquer le présent [...]” (MEILLET, 1948, p. 5). O ensino e

estudo da Filologia Românica, através de suas várias disciplinas, que hoje se faz

no Instituto de Letras da UFBA, é o resultado de um processo lento, implantado

nos idos dos anos 50 do século XX, quando o mestre Nilton Vasco da Gama

assumiu a regência da cadeira de Filologia Românica nos Cursos de Letras

Clássicas e de Letras Neolatinas na Faculdade de Filosofia da Universidade da

Bahia. Sessenta e quatro anos são passados e eis-nos, hic et nunc, ensinando a

estudar e a pesquisar no âmbito da Filologia Românica. A homenageada deste IX

Seminário de Estudos Filológicos vem seguindo o caminho traçado pelo nosso

mestre. De uma disciplina única, oferecida, anualmente, a apenas dois dos cursos

de Letras, passando, em 1964, para a oferta a todos os cursos de Letras e em

quatro disciplinas. Mais tarde, já em 1972, passamos a ter apenas a oferta em

somente um semestre, mas oferendo disciplinas de Filologia Românica para os

Cursos de Letras e as de Paleografia e Ecdótica para os Cursos de Biblioteconomia

e de História. Hoje, somos dez docentes encarregados, nos cursos de Graduação e

de Pós-Graduação, nas pesquisas ligadas a duas linhas de investigação, que se

distribuem nas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Docentes estes que

integram o Grupo de Pesquisa Studia Philologica, assim denominado, em 2012,

em homenagem ao nosso saudoso mestre. Como se desenvolveu todo o trabalho

dentro da equipe é o objetivo dessa conversa.

Palavras-chave: Filologia. Universidade Federal da Bahia. Ensino.

MEILLET, Antoine. L’état actuel des études de linguistique générale. In: _______.

Linguistique historique et linguistique générale. Paris: Honoré Champion, 1948.

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Conferência II

DA LA FILOLOGÍA LITERARIA A LA HISTORIA DE LA LITERATURA

Belem Clark de Lara (UNAM)

Después de una rápida revisión sobre el estado que guarda la historia de la

literatura en el ámbito de la academia, y particularmente en México, la

comunicación versa sobre el rescate de la producción de nuestros escritores del

siglo XIX, los avances que en este campo se han tenido y la importancia que la

filología literaria entendida como la fusión de la ecdótica (esto es, la recuperación

del texto exacto de una obra mediante procedimientos científicos) y la

hermenéutica (es decir, el aparato histórico, lingüístico, exegético, que permite

una plena y rigurosa interpretación, y que condiciona las valoraciones

ideológicas, sociales y estéticas), al decir de Jean Starobinski y Vittore Franca,

concepto que ha guiado el quehacer del Seminario de Edición Crítica de Textos de

la Universidad Nacional Autónoma de México. Se se hará un breve recuento de los

pasos de la crítica textual y se ejemplificará con la novela Por donde se sube al

cielo (1882) y la columna periodística “Plato del día”, ambas como parte del

proyecto dedicado a la recuperación de la obra de Manuel Gutiérrez Nájera,

primer modernista mexicano.

Palabras clave: Historia de la literatura. Filología literaria. Edición crítica de

textos. Manuel Gutiérrez Nájera.

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Conferência de encerramento

EXPERIÊNCIAS E DESCENTRAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS NA PRÁTICA

FILOLÓGICA

Rosa Borges (UFBA)

O trabalho filológico de trazer, por meio da atividade editorial, os

documentos e as letras nacionais, proporciona aos historiadores da literatura, aos

historiadores da língua, aos críticos literários, aos especialistas de áreas afins e

aos leitores, de modo geral, um vasto conhecimento da nossa cultura. No campo

dos Estudos Filológicos, as diversas abordagens críticas (textual, genética e

sociológica) dialogam, sendo práticas relevantes para a interpretação de uma

cultura nacional, a partir dos materiais reunidos nos diversos acervos em dado

espaço e do arquivo como lugar de memória, oferecendo novas leituras e novos

enfoques teóricos, além de novos saberes que são, nos arquivos,

(des)construídos. A minha experiência com os textos de autores modernos e, em

especial, com os textos teatrais censurados, trouxe mudanças à prática filológica

editorial que realizo ao longo de 28 anos de trabalho. Inicialmente, penso as

teorias e metodologias da edição de textos, articulando diálogos entre a Crítica

Textual e a Crítica Genética, mais tarde, entre a Crítica Textual, a Crítica Genética

e a Sociologia dos Textos. Em minha tese, trouxe a perspectiva de trabalho da

Crítica Genética para o campo da edição de textos modernos, com a intenção de

pensar o texto em movimento, o texto que se transformava pelas mãos do sujeito

da escrita, mas também por consequência das relações que tal sujeito assume

com outros sujeitos que partilham do trabalho de criação ou que compartilham

do gesto de escrita, dando a sua colaboração. Em minhas aulas da pós-graduação

e nas reuniões do Grupo de Edição e Estudo de Textos (GEET), trouxe, juntamente

com alunos e, sobretudo com meus orientandos, os desbravadores desta nova

seara, a proposta de trabalharmos outra abordagem crítica, a Sociologia dos

Textos. Ao nos valermos de tais abordagens críticas, aplicadas às práticas da

edição, tivemos como resultado edições crítico-genética, sinóptico-críticas,

histórico-críticas, digitais/eletrônicas, além de ampliação das perspectivas de

leituras críticas do objeto texto. Em quaisquer das abordagens desenvolvidas, os

descentramentos existiram, do texto, do autor, do próprio leitor-editor. Pela

nossa experiência, o texto se apresenta em várias posições, não somente no

centro, os gestos de produção e publicação de um texto evidenciam os registros

das ações de vários sujeitos para além do autor, a autoria é construída, e o leitor-

editor assume suas escolhas e se faz intérprete do(s) texto(s) que edita,

responsável pela edição. O trabalho filológico que realizamos com os textos

modernos tem contribuído para o conhecimento das letras, dramaturgias e

culturas nacionais.

Palavras-chave: Filologia. Descentramentos epistemológicos. Prática editorial.

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RESUMOS MESAS-REDONDAS

Mesa-redonda 1: Teorias e práticas editoriais

EPISTOLOGRAFIA BRASILEIRA: VICISSITUDES EDITORIAIS

Marcos Antonio de Moraes (USP)

Partindo de extensivo levantamento bibliográfico de edições de

correspondência de escritores no Brasil, realizado na pesquisa Epistolografia

brasileira: levantamento bibliográfico, vicissitudes editoriais e perspectivas de

exploração nos estudos literários (CNPq), esta comunicação pretende detectar

nelas justificativas (pessoais, culturais, sociais, institucionais etc) para a difusão

de documentos da vida privada. Tenciona, igualmente, avaliar as diversas

escolhas editoriais que orientaram a difusão das cartas, colocando em pauta

fundamentos filológicos empregados no estabelecimento de texto e a presença de

corrupções e de censuras no processo de transcrição das mensagens.

Palavras-chave: Epistolografia. Filologia. Edição.

NAS TRILHAS FILOLÓGICAS: EDIÇÃO DE DOCUMENTOS MANUSCRITOS

BAIANOS

Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS)

Desde que a humanidade passou a registrar seus feitos, suas emoções,

seus anseios através da escrita, seja nos variados suportes: pedra, pergaminho,

papiro, papel, dentre outros, que se tem um acúmulo de documentos. A partir do

desenvolvimento da escrita alfabética, promovido pelos gregos a partir da criação

dos fenícios, temos um legado inestimável. No século III a.C., na Biblioteca de

Alexandria, reuniram-se os filólogos Zenódoto, Aristarco e Aristófanes de

Bizâncio a fim de editarem a obra de Homero, cuja tradição se inicia oralmente no

século IX a.C. Surge então a Filologia, ciência que se ocupa da língua, da literatura

e da cultura de um povo ou de um grupo de povos através da sua produção

escrita. Seguindo essa tríade, e a fim de salvaguardar a documentação manuscrita

baiana, foram implantados na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)

projetos de pesquisa cujo objetivo é editar documentos manuscritos lavrados em

Feira de Santana ou em seu entorno. Assim, desde 1996, empreendemos a

realização de edições semidiplomáticas (trazendo as descrições extrínsecas e

intrínsecas, bem como acompanhadas das edições fac-similar), por acreditarmos

ser este o tipo que mais se adeque ao corpus selecionado: cartas de alforria,

certidões de compra e venda de terras, registro de nascimento, queixas crime (de

porte de armas, de defloramento, de estupro, de assassinato, etc.). Neste sentido,

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já foram publicadas algumas dessas edições nos livros: Documentos do acervo de

Monsenhor Galvão: edição semidiplomática e Manuscritos baianos dos séculos XVIII

ao XX – livro de notas de escrituras. Objetivamos, então, apresentar as edições

semidiplomáticas, de acordo com critérios da Filologia Textual, de dois acervos:

Biblioteca Monsenhor Galvão e Centro de Documentação e Pesquisa, ambos

órgãos da UEFS. Para tanto, selecionamos os seguintes documentos a serem

apresentados: carta de alforria da escrava Martina; auto de defloramento de

Maria José; certidão de nascimento de Maria Eusébia; certidão de alistamento

eleitoral de 1881; queixa crime de arrombamento e auto de curandeirismo.

Palavras-chave: Filologia. Documentos manuscritos. Edição semidiplomática.

VIDA E ARTE DE ELIZABETH BISHOP EM CORRESPONDÊNCIA INÉDITA COM

ALICE METHFESSEL

Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)

Elizabeth Bishop, conhecida como poeta viajante, escreveu incontáveis

cartas a amigos, parentes, outros artistas, especialmente poetas, e, naturalmente,

aos grandes amores de sua vida: Lota Macedo Soares, seu amor brasileiro, e Alice

Methfessel, última companheira, nascida nos Estados Unidos e que esteve com ela

até o final. Sua correspondência é de relevância a todos os estudiosos de Bishop

porque aquele era o seu espaço íntimo para falar da própria criação, expor suas

ideias sobre poesia, além de revelar muitos dos locais pelos quais passou e viveu,

como o Brasil, onde morou de 1951 a 1971, período sempre entremeado por

inúmeras viagens. A Companhia das Letras publicou, em 2008, um compêndio de

inúmeras cartas escritas por Bishop, uma vasta coletânea intitulada Uma arte: as

cartas de Elizabeth Bishop. Mas, em 2011, a escritora norte americana Megan

Marshall, sua biógrafa, encontrou um lote contendo algo inédito e inesperado:

nove anos de correspondência entre Bishop e Alice, sua companheira mais jovem

que ela trinta e dois anos, o que deixava Bishop insegura e, com frequência,

deprimida. Quando Alice morreu, em 2009, essas cartas foram encaminhadas a

Special Collection de Vassar College, Poughkeepsie, New York, onde se encontra o

Acervo Elizabeth Bishop, desde a morte da poeta, em 1979. O presente objeto de

análise é uma cópia dessas cartas inéditas, que foi adquirida da Biblioteca de

Vassar College. A correspondência em questão revela detalhes da vida da poeta,

em particular, sua paixão por Alice, sua ideologia, sua arte e os locais por onde

passou, merecendo este material ser analisado e organizado em uma plataforma

eletrônica, disponibilizada a quem se interesse em estudar Elizabeth Bishop.

Palavras-chave: Correspondência. Elizabeth Bishop. Alice Methfessel.

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FILOLOGIA E ARQUIVÍSTICA EM TEMPOS DIGITAIS

Mabel Meira Mota (UFBA)

O presente trabalho tem como objetivo apresentar o arquivo hipertextual

(URBINA et. al. 2005), de orientação pragmática, construído para o texto A

Escolha ou O Desembestado, do dramaturgo baiano Ariovaldo Matos,

disponibilizado através da Internet no domínio www.ariovaldomatos.com. Em

sua estrutura, a edição apresenta um módulo “leitura” e um módulo “mediação”,

no qual coexistem três diferentes modelos editoriais – edição sinóptica,

interpretativa e fac-similar. Além disso, apresenta-se o Sistema Informatizado de

Gerenciamento de Documentos (SIGD-ED), a partir do qual foram

disponibilizados os documentos que compõem o dossiê arquivístico de A Escolha

ou O Desembestado, de Ariovaldo Matos, objetivando a disseminação e o acesso

controlado à informação.

Palavras-chave: Ariovaldo Matos. Teatro. Filologia. Arquivística. Arquivo

hipertextual.

Mesa-redonda 2: Filologia e História da Língua

A TESSITURA DO CONHECIMENTO: O CORPUS NA CONSTRUÇÃO DE

ESTUDOS SEMÂNTICOS SÓCIO-HISTÓRICO-COGNITIVOS

A. Ariadne Domingues Almeida (UFBA/UNEB-PNPD-CAPES)

Apresentaremos, nesta mesa-redonda destinada ao enfoque da inter-

relação entre a Filologia e a História da Língua, no IX Seminário de Estudos

Filológicos, reflexões acerca de algumas implicações geradas pela constituição de

um corpus a partir de textos do passado, como as cantigas de escárnio e maldizer

galego-portuguesas, para a construção de saberes a respeito da semântica de

tempos pretéritos, especificamente, para a compreensão de fenômenos, a

exemplo da conceptualização, da categorização, da metáfora e da metonímia. Para

isto, selecionamos, como referencial teórico, alguns aportes da Linguística sócio-

histórico-cognitiva, trazendo para o debate autores como Fernández Jaén (2013;

2008; 2006), Leite (2017) e Santos (2011), bem como procuramos estabelecer

uma discussão, a partir da obra de outros estudiosos como Lapa (1995) e Lopes

(2002), editores de textos medievais galego-portugueses, e, também,

considerando o trabalho de outros pensadores, a exemplo de Maturana e Varela

(1984), biólogos cognitivistas, de Maffesoli (2016), sociólogo, de Gleiser (2014),

físico, de modo a propor uma discussão interdisciplinar, a propósito das referidas

implicações, no que diz respeito à constituição das teias de conhecimento

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elaboradas sobre os fenômenos postos em pauta. Enfim, com a nossa participação

nesta mesa-redonda, almejamos, primordialmente, a geração de um debate

relativo à flexibilidade, à perspectivação e à dinamicidade, no âmbito da

construção de saberes atinentes a fenômenos semânticos, com base em textos do

passado, pelo olhar sócio-histórico-cognitivo.

Palavras-chave: Semântica. Corpus. Conhecimento.

A CURA ENQUANTO CRIME NO ACERVO DE DOCUMENTOS BAIANOS DA UEFS

Celina Marcia de Souza Abbade (UNEB)

O estudo do léxico de uma língua nos remete sempre ao conhecimento da

história de quem a utiliza. Diversos aspectos da cultura de um povo podem ser

delineados a partir de um levantamento lexical. Com o objetivo de preservar e

resgatar o patrimônio sociocultural e histórico do sertão baiano, realizou-se o

estudo e edição semidiplomática de um documento do início do século XX

encontrado no acervo de documentos manuscritos baianos da Universidade

Estadual de Feira de Santana que trata de uma denúncia de “crime de

curandeirismo”. O documento, exposto em vinte fólios, datado de 1902-1903, é o

documento 257 da caixa 14, série CRIME da seção JUDICIÁRIO. A partir da edição,

fez-se o levantamento das lexias a fim de buscar os conceitos das mesmas à

época. Buscou-se também a datação e etimologia dessas lexias, quando possíveis.

A partir daí elas foram estruturadas em seus respectivos campos lexicais,

seguindo a proposta de uma semântica diacrônica estrutural em que as lexias se

organizam em campos e não apenas em ordem alfabética, o que nos dá uma visão

mais ampla e coerente do conteúdo estudado. Essa proposta foi fundamentada

pelo linguista Eugenio Coseriu (1977/1987). Apresentar-se-á aqui o campo

lexical da cura, a fim de resgatar um pouco acerca da história e cultura feirense

deixado em seus textos. Dessa forma, poder-se-á estabelecer alguns aspectos da

formação lexical desse povo a partir da estruturação dessas lexias em seus

respectivos campos lexicais e assim contribuir nas investigações lexicológicas e

nos estudos lexicais ainda tão carentes de pesquisadores no Brasil.

Palavras-chave: Filologia. Campo lexical. Curandeirismo.

PENITÊNCIA E OSTENTAÇÃO: ASPECTOS DAS PRÁTICAS CULTURAIS EM

FONTES PRIMÁRIAS DA BAHIA COLONIAL

Norma Suely da Silva Pereira (UFBA)

A edição e estudo de fontes primárias tem possibilitado ampliar a

compreensão acerca das práticas culturais e dos papéis sociais na Bahia colonial.

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No contexto dos documentos eclesiásticos, observa-se como o ensino da doutrina

cristã imposto ao homem colonial com o recurso dos catecismos e cartilhas de

orientação medieval entra em choque com as práticas e necessidades concretas

vivenciadas na América portuguesa. Desse modo, estabelecendo-se uma interface

entre a Filologia e a História da Língua, e direcionando o olhar para elementos

discursivo-pragmáticos busca-se evidenciar aspectos das escolhas lexicais de

enunciadores em dadas situações discursivas, observando a construção do ethos

discursivo que objetiva afirmar uma postura de contrição e piedade cristã, o que

é recorrente nos documentos notariais selecionados. O estudo de práticas

culturais e do léxico em documentos eclesiásticos desenvolve-se com a utilização

de um arcabouço teórico e metodológico de constituição multidisciplinar

integrando a Filologia Textual (SPINA,1994; CANO AGUILAR, 2000; CAMBRAIA,

2005), os métodos da Paleografia (ANDRADE, 2010; ACIOLI, 1994) e da

Diplomática (BELLOTTO, 2002; DURANTI, 2015), e a História Cultural (LE GOFF,

1990; CHARTIER, 2002), para respaldar o estudo das atitudes, crenças e

comportamentos dos indivíduos, permitindo uma adequada compreensão do uso

da língua em seu contexto. Para o estudo acerca do ethos discursivo e das cenas

enunciativas, acrescentam-se ainda os conceitos aplicados por Dominique

Maingueneau (2002, 2008, 2011), na perspectiva dos estudos da Análise do

Discurso de linha francesa. Com a leitura, edição, análise diplomática e estudo

linguístico dos documentos selecionados, busca-se fornecer novos dados que

possam auxiliar no esclarecimento, ampliação ou ressignificação dos aspectos

que envolvem as práticas socioculturais e a História da língua portuguesa no

Brasil colônia.

Palavras-chave: Práticas culturais. Ethos. Léxico colonial.

CRÍTICA TEXTUAL E SOCIOTERMINOLOGIA EM DOCUMENTOS MILITARES

BAIANOS OITOCENTISTAS

Sandro Marcío Drumond Alves Marengo (UFS/UFBA/CNPq)

Os Livros de Registros do Detalhe (DET) da Polícia Militar da Bahia

(PMBA) são documentos que tem por função apresentar, em detalhes, os

acontecimentos mais importantes ocorridos diariamente na Instituição (LOSE;

MARENGO, 2016). Contando com um montante de 165 volumes, temporalmente

circunscritos entre 1859 a 1940, suas páginas guardam relatos da participação da

corporação da PMBA em momentos importantes na história da Bahia, do Brasil e,

também, da América Latina. A importância histórica dessas fontes documentais

está intimamente interligadas à língua em uso em sincronias passadas. Nesse

sentido, é de grande valor tomá-los como objetos para pesquisas sobre usos

linguísticos de tempos pretéritos, pois “ao estudar-se a evolução da organização

militar, torna-se mais inteligível a evolução da própria sociedade” (MARQUES,

13

1999, p. 14) e, portanto, da linguagem em uso constituída no seio dessa sociedade

– e, certamente, da comunidade de prática dos policiais militares que a integram.

Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo geral apresentar os

resultados parciais das edições fac-símile e semidiplomática (SPINA, 1990;

CAMBRAIA, 2005), bem como a formulação de glossário terminológico

(MARENGO, 2016, 2017) e estudo socioterminológico de cunho variacionista de

termos militares (MARENGO, 2017, 2016c, 2016b, 2016c; FAULSTICH, 2002)

constantes no DET 68, que se refere ao Livro de Registros das Ordens do Dia da

Brigada Policial da Bahia, manuscrito em língua portuguesa no período de 1885 a

1890. Nosso foco específico no estudo socioterminológico de caráter diacrônico é

o de apresentar os tipos de variantes (FAULSTICH, 2001, 2002) na terminologia

militar identificada no corpus primário editado.

Palavras-chave: Linguística Histórica. Crítica Textual. Socioterminologia.

Mesa-redonda 3: Filologia e memória

IMPRENSA ESCRITA NA BAHIA, PRODUÇÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS,

RESGATE, EDIÇÃO DE TEXTOS E PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA

Maria da Conceição Reis Teixeira (UNEB)

Durante fins do século XIX e início do século XX, praticamente inexistiam

editoras interessadas em publicar a produção local. Em função disto, muitos

intelectuais se reuniram em agremiações para fundar periódicos (revistas e

jornais) objetivando fazer circular sua produção intelectual e, consequentemente,

alcançar um público leitor. Na Bahia, esta prática ultrapassou os limites dos

grandes centros urbanos, chegando às longínquas e pacatas cidadezinhas do

interior. Em Caeteté-Ba, por exemplo, João Gumes fundou a gazeta A Penna

fazendo circular, no alto sertão baiano, as suas narrativas ficcionais e a produção

em verso de seus conterrâneos. Em Nazaré-Ba, um grupo de amigos idealizou O

conservador, periódico semanal, que circulou entre 1912 a 1920 tornando-se o

principal órgão de comunicação e de difusão da cultura do recôncavo baiano.

Trazia o subtítulo “Semanario, Noticioso, Litterario e Popular” que denunciava sua

vocação de difusor de textos literários – poemas, crônicas, contos e romances

folhetins – produzidos em solo baiano. Utilizaram-se do Conservador como o

espaço ideal para veicular sua produção escritores como Anísio Melhor, Antônio

Dantas Trindade, Antônio Ferreira dos Santos, Euricles de Matos, Flávio Andrade,

Joaquim Embiruçú, Joel Lopes, José Bomfim, Nelson de A. Ribeiro. Na presente

comunicação, almeja-se discutir o papel do filólogo no resgate de textos

veiculados em periódicos especialmente para a recuperação de um legado

cultural que se encontrava condenado ao esquecimento como acontece com parte

14

da produção literária baiana veiculada nas gazetas de vida efêmera fundadas, no

interior do estado, por intelectuais de parcos recursos financeiros. Além de

contribuir para o preenchimento de lacuna a ainda existente na historiografia

literária baiana, especialmente ao recuperar a produção daqueles que veicularam

a sua produção no referido periódico, o trabalho de resgate e a preparação de

edições dos textos recolhidos dos periódicos muito contribuirão para a

preservação da memória cultural, literária e linguística da Bahia.

Palavras-chave: Periódicos baianos. Resgate. Preservação.

EDIÇÃO DE TEXTOS E MEMÓRIA: NOTÍCIAS DA CIDADE DO SALVADOR

Maria das Graças Telles Sobral (FCS/FTC)

O labor filológico abarca diversas atividades, dentre elas a função

denominada de transcendente por Segismundo Spina em Introdução à edótica:

Crítica textual. Esta função aproxima a filologia da história permitindo ao filólogo

o conhecimento de aspectos da cultura de um povo. Dessa forma, ao editar um

texto, isto é, fixar em novo suporte relatos que gradativamente se perdem,

preservam-se e resgatam-se informações importantes para a compreensão da

formação de uma sociedade em um dado momento da história capaz de fazer

compreender sua evolução e suas diferentes formas de expressão. Assim,

tomando como base as palavras de Ladislas Mandel, para quem a escrita é o

espelho dos homens e das sociedades, os estudos que tratam da História da Bahia

de Luis Henrique Dias Tavares, Thales de Azevedo e Antonio Risério e a

concepção de Memória de Jacques Le Goff, este artigo tem como objetivo destacar

aspectos da memória que revelam o modo de ser, de agir e pensar que ficaram

registrados em documentos editados sobre a Cidade do Salvador.

Palavras-chave: Filologia. Memória. Cidade de Salvador.

TEXTO E MEMÓRIA: UM OLHAR EM MANUSCRITOS HISTÓRICOS DE

SALVADOR

Gilberto Nazareno Telles Sobral (UNEB)

Cada vez mais, tem-se discutido acerca da necessidade de preservação do

patrimônio histórico, tendo em vista a memória histórico-social de um povo.

Neste contexto, é crescente o interesse de pesquisadores de instituições públicas

e privadas no vasto acervo, muitas vezes, esquecido em museus e bibliotecas e

pouco conhecido da sociedade a que pertence, além dos acervos particulares. A

15

crítica textual, considerada por muitos estudiosos como a mais nobre atividade

filológica, tem sido de fundamental importância na preservação e divulgação de

importantes acervos - dispersos, modificados, perdidos - uma vez que tem como

propósito principal a restituição de um texto a sua forma original. Em 2018, a

Cidade do Salvador completou 469 anos de fundação e incontáveis são os

acontecimentos que fazem parte da história do povo soteropolitano, muitos

desconhecidos, mas determinantes para a compreensão do ser e viver deste povo.

Neste trabalho, discorre-se acerca da importância da Crítica Textual na

preservação da vasta documentação manuscrita – materializações da memória -,

que faz parte do acervo do Arquivo Histórico Municipal de Salvador, e, em

seguida, reflete-se acerca da memória social, a partir de discursos materializados

nos referidos documentos, a fim de compreender como os sujeitos se constituem

socialmente.

Palavras-chave: Salvador. Discurso. Memória.

Mesa-redonda 4: Teorias e práticas editoriais

DO MANUSCRITO DE IMPRENSA À EDIÇÃO PRINCEPS DAS MEMÓRIAS DE

FREI GASPAR DA MADRE DE DEUS

Renata Ferreira Costa (UFS)

As Memórias para a História da Capitania de São Vicente, hoje chamada de

São Paulo do Estado do Brasil, do historiador Frei Gaspar da Madre de Deus,

foram publicadas pela Academia de Ciências de Lisboa, doravante ACL, em 1797.

Essa edição, denominada princeps por ser impressa pela primeira vez a partir do

manuscrito original do autor, foi o modelo para as cinco edições posteriores da

obra, de modo que todos os estados do texto constituem as Memórias tal como

foram transmitidas a seus leitores desde o fim do século XVIII. A questão

subjacente à transmissão dessa obra, contudo, está no fato de sua edição princeps

não representar o texto que Frei Gaspar imaginou e desejou que viesse a público,

mas uma reformulação, como forma de conferir uniformidade global ao texto,

adaptando-o ao cânone da Academia e à “norma” linguística portuguesa. A

explicitação das modificações inseridas nas Memórias de Frei Gaspar, que

perpassam toda a sua tradição impressa, insere-se no âmbito da Crítica Textual

do original presente, o que permite verificar as alterações ou variantes inseridas

em um texto durante seu processo de transmissão e recuperar a sua forma

genuína. Desta forma, o propósito deste trabalho é identificar as duas camadas

textuais do manuscrito original: a redação de Frei Gaspar, que se mantém

uniforme ao longo dos fólios, sem rasuras e emendas, o que configura um texto

16

finalizado, e as interferências provenientes de outra mão, e apresentar as

alterações introduzidas no texto na passagem de uma tradição a outra. Uma

análise como a que se propõe contribuirá para se refletir e discutir sobre o

processo de publicação impressa no período colonial, as normas de edição da

casa editorial da ACL, o papel do revisor à época, o conceito de coautoria e a

importância da publicação de uma edição crítica da obra.

Palavras-chave: Crítica Textual. Cultura Escrita. Século XVIII.

PRIMEIRAS NOTÍCIAS SOBRE A EDIÇÃO DO DOSSIÊ SOBRE ADMINISTRAÇÃO

DA ALDEIA DOS ÍNDIOS MENHÃS EM PORTO SEGURO, BAHIA (1764)

Alícia Duhá Lose (UFBA)

A história dos povos indígenas que viviam em terras brasileiras começou a

mudar com a chegada do colonizador. O contato das nações "civilizadas" com as

populações indígenas gerou uma série de conflitos e mudou para sempre a

história da nação brasileira. Os povos indígenas de variadas nações que viviam

em todo território da então chamada colônia portuguesa passaram a viver sob a

administração lusitana. Uma das medidas tomadas pelo reino foi a organização de

aldeamentos sob a responsabilidade de religiosos de diversas ordens com a

intenção de promover a conversão dos índios ao catolicismo e harmonizar o

convívio com a população, fornecendo, ainda, mão de obra de baixo custo para o

desenvolvimento da colônia. A presente comunicação trata do trabalho de edição

que pretende dar a conhecer, através de uma leitura conservadora, os

documentos pertencentes ao "Dossiê dos aldeamentos indígenas" sob a guarda

do Arquivo Público do Estado da Bahia. O Dossiê foi composto em 1764 e trata da

administração da aldeia dos índios menhãs em Porto Seguro, na Bahia. Tais

documentos, devido a sua relevância, foram nominados no Programa Memória do

Mundo da UNESCO, juntamente com todos os documentos do Tribunal da Relação

da Bahia. Para além das informações históricas, esses documentos guardam

relevantes informações linguísticas. O maço foi preparado por "Joze da Costa e

Sylva Pinto, escrivaõ da / Ouvedoria geral e Correissão nesta villa de / Nossa

Senhora da Penna Capitania de Portto / Seguro" a pedido do "Re / verendo

Lessenssiado Joze de Araujo Ferraz", no ano de 1764. A edição proposta é

preparada com critérios que contemplem as diversas características linguísticas

dos textos do dossiê, partindo de um princípio conservador que ofereça

informações de qualidade para pesquisas de diversas áreas com o intuito de

auxiliar futuras pesquisas.

Palavras-chave: Edição de documentos históricos. Aldeamentos indígenas.

História do Brasil Colônia.

17

MEMÓRIA E PATRIMÔNIO: A HISTÓRIA DA TIPOGRAFIA BAIANA NO SÉCULO

XIX

Vanilda Salignac de Sousa Mazzoni (UFBA/MEMÓRIA E ARTE)

É indiscutível o papel das antigas tipografias / editoras / livrarias /

gráficas ou qualquer nome que se queira dar ao lugar onde se vendia ou

produzia livros, principalmente em uma cidade como Salvador, que, embora

tivesse sido palco de vários acontecimentos importantes e decisivos para a

história social, política e econômica do país, no século XIX sofreu vários revezes

com a transferência da capital para a Corte do Rio de Janeiro, e a consequência é

que, com isso, toda a prosperidade financeira e influência política foram juntas.

Com a chegada da tipografia, a vida cultura tem um avanço pouco visto antes.

Todavia, a memória tipográfica baiana ainda carece de muitas pesquisas,

estudos e investigações, pois são muitas lacunas, muitas histórias perdidas e

pouca coisa para ser recuperada, embora neste trabalho possamos citar pelo

menos 14 em pleno funcionamento no século XIX. A mais importante, a

Typographia Silva Serva, abriu caminho para tantas outras, mas a pouca

responsabilidade e a prática do esquecimento sobre nosso patrimônio

documental fizeram com que em algumas delas só tenhamos o nome e o antigo

endereço. Sobre essas histórias resgatadas é que iremos conversar, pois se abre

uma gama de oportunidade para novas investigações e novas descobertas,

inclusive no âmbito da linguística e da filologia, pois o acesso a novas

publicações através de impressores locais e principalmente a oportunidade de

escritores baianos em publicar com menor custo e de os leitores não mais

precisarem encomendar livro de outros locais muito facilitou o acesso ao

conhecimento. Este estudo teve como referência para levantamento das

tipografias o acervo pertencente à Biblioteca Monsenhor Manoel de Aquino

Barbosa, da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da

Conceição da Praia, que possui uma importante coleção de publicações sobre

história da Bahia impressas em Salvador, e foi desenvolvido através do

Programa de Pós-doutorado junto ao PPGLinc/UFBA.

Palavras-chave: Tipografia. Impressos baianos. Século XIX. Memória

documental.

A EDIÇÃO INTERPRETATIVA: DESCORTINAR O TEXTO, PROPOR LEITURAS

Isabela Santos de Almeida (UFBA)

A edição interpretativa é, frequentemente, definida como uma edição de

testemunho único, em que há um maior grau de intervenção ao texto, uma vez

que o filólogo-editor atualiza as formas gráficas e linguísticas do seu objeto de

18

estudo, tornando-o acessível a leitores contemporâneos não especializados. A

exemplo de Dionísio (2006), há, por outro lado, os que apontam que a edição

interpretativa também comporta a possibilidade de cotejo entre as fontes e o

texto, bem como a proposição de notas explicativas. Seguindo essa perspectiva,

objetivo, neste trabalho, discutir como a edição interpretativa pode propor ao

leitor caminhos para descortinar aspectos da história e da cultura representados

no texto, por meio da composição de um aparato de notas que, além de dar conta

das interferências do editor ao texto, na atualização do estado de língua, elucide

aspectos da construção do texto e das referências histórico-culturais ali

presentes. Para desenvolver a referida discussão, tomo as edições interpretativas

elaboradas ou em construção para os textos teatrais do Projeto Chapéu de Palha,

que se caracterizam por encenar a história e as narrativas orais de cidades do

interior da Bahia e por se utilizar de colagem de textos na composição do script,

aspectos que serão evidenciados para os leitores a partir da edição interpretativa.

Com este procedimento, acredito ser possível dispor de uma edição em que o

leitor possa se apropriar do texto editado e de seu aparato de maneira ativa,

conforme suas expectativas e interesses, conferindo-lhe novos percursos

interpretativos.

Palavras-chave: Edição interpretativa. Projeto Chapéu de Palha. Texto teatral.

Mesa-redonda 5: Filologia e memória

AS FONTES DO TRIBUNAL DA INQUISIÇÃO E A HISTÓRIA DO LETRAMENTO

NO BRASIL QUINHENTISTA

Ana Sartori Gandra (UFBA)

A partir das fontes do Tribunal da Inquisição Portuguesa, em sua primeira

visita ao Brasil, realizada ao final do século XVI, é possível tecer uma análise do

letramento no Brasil quinhentista. As fontes inquisitoriais nos trazem uma

amostra representativa dos indivíduos inseridos na sociedade colonial brasileira

que eram capazes e incapazes de assinar o próprio nome nos depoimentos

prestados perante o Santo Ofício. Para além dos percentuais de indivíduos que

revelavam, através de suas assinaturas, algum acesso ao letramento, a leitura dos

depoimentos registrados nos documentos quinhentistas desvela uma realidade

social complexa, no que tange ao diferenciado acesso às práticas de leitura e

escrita, que poderiam ou não passar por um processo formal de escolarização.

Analisar esse diferenciado acesso ao letramento é também trazer à memória as

diversificadas relações sociais que se estabeleciam nessa fase recuada da história

do Brasil, entre homens e mulheres, entre senhores de engenho, religiosos,

burocratas, artesãos, carpinteiros, feitores, escravos, entre brancos, índios,

19

negros, mamelucos, mulatos... Práticas sociais e culturais – entre elas, a

comunicação linguística – entrecruzam-se às práticas culturais da leitura e da

escrita. A documentação da primeira visita inquisitorial traz à tona um momento

da nossa história em que a própria concepção de letramento era outra. Entre as

mulheres, era comum o total alheamento à cultura escrita; quando possuíam

algum acesso ao letramento, o esperado era que não soubessem mais do que ler.

Para muitos indivíduos que exerciam pequenos ofícios, saber assinar o nome

seria o bastante. Quanto aos escravos, não se esperava que pegassem na pena ou,

quando pegassem, que fosse para fazer o desenho da cruz no lugar da sua

assinatura. Entre os religiosos, a realidade configurava-se de forma bastante

diversa – encontravam-se, entre eles, níveis bastante elevados de letramento, que

incluía a leitura em latim – ficando, assim, restrita quase que completamente a

esses a leitura direta da Bíblia, já que era proibida pela Inquisição a Bíblia

traduzida para o português.

Palavras-chave: Fontes inquisitoriais. Letramento. Brasil Quinhentista.

FILOLOGIA, ACERVO E MEMÓRIA: ITINERÁRIO DE UMA PESQUISA

Débora de Souza (UFBA)

Rosa Borges (UFBA - Orientadora)

No lugar teórico da Filologia, enquanto crítica político-ideológica que se

relaciona com os estudos pós-modernos e pós-coloniais, em diálogo com a

Arquivologia e com a Ciência da Informação, têm-se desenvolvido atividades de

edição e crítica filológica de textos teatrais. Almeja-se, neste trabalho, em

especial, tecer considerações sobre a Filologia como procedimento para a leitura

crítica de textos teatrais censurados, da dramaturga, diretora e intelectual baiana

Nivalda Costa, dos/e nos documentos pertencentes ao dossiê da Série de estudos

cênicos sobre poder e espaço, parte integrante do Acervo Nivalda Costa, visando

promover a circulação e a difusão dos mesmos, bem como dar a conhecer aquela

mulher, artista multifacetada, que atuou de forma engajada no teatro e na

sociedade, principalmente, na década de 1970. Aquele acervo pertence ao Fundo

Textos Teatrais Censurados, vinculado ao Instituto de Letras da Universidade

Federal da Bahia, Arquivo Textos Teatrais Censurados, organizado no âmbito do

Grupo de Edição e Estudo de Textos, Equipe Textos Teatrais Censurados. A crítica

filológica, em diálogo com outros campos do saber, como leitura

humanística, propicia o conhecimento da história do texto e a revisão de

narrativas e discursos, a partir da pesquisa em arquivos e acervos, públicos e

privados, como lugar de memória, do estudo da materialidade e da historicidade

dos documentos, da análise dos contextos de produção, transmissão, circulação e

recepção e da investigação quanto aos sujeitos, mediadores, envolvidos nesses

processos. Essa leitura filológica é resultante de um reposicionamento quanto aos

20

paradigmas de cientificidade em efervescência nos séculos XVIII e XIX, o qual tem

promovido outras orientações de leitura e práticas editoriais.

Palavras-chave: Filologia. Acervo. Texto teatral.

A CONSTRUÇÃO DE CORPUS HISTÓRICO ELETRÔNICO: LÍNGUA E MEMÓRIA

Williane Silva Corôa (UNICAMP/UNEB)

A utilização de corpora com fins de investigação linguística é um recurso

de pesquisa bastante utilizado, pois, a coleta e a exploração de conjunto de dados

linguísticos textuais são úteis para descrição e análise linguística. Mais

recentemente, muitos pesquisadores têm se dedicado a construção de corpora em

meio eletrônico, com textos morfológica e sintaticamente anotados. A construção

de corpora eletrônicos anotados apresenta inúmeras vantagens: (1) tornam o

conjunto de textos permanente e extensível a novas pesquisas e (2) uma vez que

a anotação codifica as informações presentes nos textos, registrando-as de modo

controlado, explícito e recuperável, permite que as investigações linguísticas

sejam replicadas. Neste trabalho, portanto, apresentaremos as etapas de

construção do Corpus eletrônico de Textos Históricos da Cidade de Salvador e seu

Recôncavo, composto por cartas, atas e registros tanto das câmaras municipais de

Salvador e das Cidades do Recôncavo quanto do conselho ultramarino. A partir da

tecnologia de codificação de textos usada no Corpus Histórico Anotado do

Português Tycho Brahe, primeiro corpus eletrônico anotado em língua

portuguesa, exploraremos a interface entre procedimentos filológicos,

linguísticos e computacionais envolvidos na construção de corpora histórico

eletrônico e seus lugares de memória (NORA, 1993) quer capturadas e

codificadas tecnologicamente, quer expressas na materialidade do texto. Os

corpora eletrônicos anotados reúnem diferentes camadas de representação sobre

a linguagem e a materialidade dos textos e nos permite apontar as especificidades

do trabalho em ambiente digital no campo da filologia e da linguística histórica, e

sugerir alguns caminhos para o debate sobre os desafios e perspectivas na

construção de corpora históricos eletrônicos.

Palavras-chave: Corpora histórico eletrônico. Língua. Memória. Lugares de

memória.

21

Mesa-redonda 6: Filologia e História da Língua

OS GLOSSÁRIOS COMO FONTE DE ESTUDO DO LÉXICO: O CASO DAS

PALAVRAS COMPOSTAS

Antonia Vieira dos Santos (UFBA)

Mattos e Silva (2008) indica os glossários, entre outros tipos de estudos,

como uma importante fonte secundária para o conhecimento do português

arcaico. Importa saber que os glossários, tanto os exaustivos quanto os seletivos,

constituíram uma das fontes utilizadas por Antônio Geraldo da Cunha para a

composição do Vocabulário histórico-cronológico do Português Medieval (2014,

edição revista), "importante levantamento do léxico da língua portuguesa entre o

século XIII e o século XV" (MAIA, 2016). Considera-se que os glossários que

acompanham edições preparadas para estudos de natureza linguística são uma

extensão do labor filológico do editor e têm a mesma qualidade, em termos de

fiabilidade, da edição à qual se vincula. Assim, pretende-se, neste trabalho,

atribuir o protagonismo aos glossários como fontes de estudo do léxico,

analisando-se e discutindo-se a frequência de registro de unidades multilexicais

como lema, em especial as palavras compostas, nesse tipo de material. As

unidades multilexicais são definidas como "sequências de palavras com

comportamentos unitários ou tendencialmente unitários, isto é, semelhantes aos

de uma palavra única, resultantes de conexões formais e semânticas que se foram

estabelecendo entre os seus elementos e que o uso consagrou" (NASCIMENTO,

2013, p. 215 apud RIO-TORTO et al., 2016, p. 466). Citam-se, entre as edições

acompanhadas de glossário, e que serão consideradas neste estudo, o Foro Real,

as Cantigas de Santa Maria, as Cantigas d'Escarnho e de Mal Dizer, o Cancioneiro

da Ajuda, a Crónica de D. Pedro e o Orto do Esposo.

Palavras-chave: Glossários. Unidades multilexicais. Palavras compostas.

PRÁXIS FILOLÓGICA E ESTUDOS LEXICAIS: INTERFACES NA LEITURA DE

DOCUMENTOS HISTÓRICOS

Eliana Correia Brandão Gonçalves (UFBA)

O texto é objeto de estudo do filólogo, que articula, através do seu labor

crítico, as atividades de reconfiguração dos fragmentos das histórias e a

composição de produções editoriais, resgatando parte do patrimônio linguístico-

cultural dos sujeitos (GONÇALVES, 2017). Para tanto, o conhecimento dos textos

está vinculado aos usos linguísticos e sociais da escrita, que circularam em fases

pretéritas da história da língua. Considerando-se essas questões, o presente

trabalho apresenta reflexões sobre a importância da práxis filológica na

22

elaboração de edições que preservem as marcas linguísticas do texto, com a

finalidade de desenvolver pesquisas sobre o léxico histórico presente em

documentos sobre guerras e revoltas na Bahia dos séculos XVIII e XIX, constantes

no acervo da Biblioteca Nacional e no Arquivo Histórico Ultramarino. Portanto,

serão desenvolvidas análises e discussões sobre a organização de produtos

lexicográficos, com perfis terminológicos, dando destaque à relevância da

constituição de corpora de documentos históricos, para o desenvolvimento de

estudos filológico-linguísticos de cunho lexical, a partir da articulação dialógica

da Filologia (PONS RODRÍGUEZ, 2006; GUZMÁN GUERRA, TEJADA CALLER,

2000), com a Lexicografia (HAENSCH, 1982; BARBOSA, 2001; BARROS,

ISQUERDO, 2010) e a Terminologia (CABRÉ, 1999; AUGER, ROUSSEAU, 1988;

REY, 1992; KRIEGER, 2010; 2013; FINATTO, 2001). A edição de textos para

estudos de cunho linguístico permite a seleção, a descrição e a análise do léxico

temático, com o objetivo de compor glossários e vocabulários, mostrando

diferentes compreensões linguísticas e discursivas sobre o componente lexical,

que se apresenta dinâmico e mutante, a depender da tipologia textual. Nesse viés,

o estudo da compilação das unidades lexicais disponibiliza aos pesquisadores e

ao público em geral dados importantes sobre narrativas históricas baianas e luso-

brasileiras, registradas nesses documentos, tematizando a violência institucional

em contextos político-sociais de guerras e revoltas comuns na história dos grupos

sociais.

Palavras-chave: Filologia. Lexicografia. Terminologia. Documentos históricos.

ESTUDO LEXICOLÓGICO EM DOCUMENTOS DOS SÉCULOS XVII AO XIX PARA

A HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Expedito Eloísio Ximenes (UECE)

Os textos escritos em qualquer época histórica testemunham ocorrências

do seu tempo, pois tanto os fatos histórico-sociais quanto os fatos linguísticos

emergem na superfície dos textos. Os elementos de uma língua no campo da

grafia, da morfologia, da sintaxe e, principalmente, do léxico, revelam-se como

fotografias de um tempo nos registros dos scriptores no corpo dos documentos.

Desta feita, nesta comunicação apresentaremos algumas lexias tantos de teor

formal quanto informal usadas em documentos escritos nos séculos XVII, XVIII e

XIX, nos setores administrativos da então Capitania do Ceará. Potier (1978)

classifica as lexias em simples, compostas, complexas e textuais, assim sendo,

trataremos aqui das lexias usadas no período histórico seguindo essa taxionomia

que nos possibilita o reconhecimento de uma fase da história da língua

portuguesa. As lexias analisadas foram coletadas em diversos gêneros textuais

como: autos de querela, autos de arrematação, portarias, alvarás, requerimentos,

provisões, cartas de sesmaria, dentre outros, escritos produzidos no Ceará, no

23

período colonial. Os textos foram editados conforme o método conservador da

Filologia em que adotamos a edição diplomático-interpretativa, obedecendo

rigorosamente às normas que o grupo Práticas de Edição de Textos do Estado do

Ceará (PRAETECE) vem utilizando em suas pesquisas, em que transcrevemos o

manuscrito dos velhos livros de papel para o suporte eletrônico com a utilização

do software Word, com o tipo de letra Times New Roman, tamanho 12, com o

máximo de cuidado de reproduzi-lo em sua forma mais próxima da genuína. Esse

cuidado permite preservar não só as formas gráficas, mas a estrutura

morfossintática da língua e manter intacta a constituição estrutural do texto e das

formas linguísticas. Com isso podemos conhecer os usos linguísticos no período

estudado, avaliar o que mudou e o que permanece no percurso histórico da língua

portuguesa. A história de uma língua só pode ser constituída por meio da

observância do que restou escrito do passado, mesmo que essa escrita não seja

totalmente fiel à realidade dos usos da população da época, os textos oficiais

registram uma aproximação do que os falantes utilizavam em suas práticas

linguageiras que nos permitem conhecer e constituir o percurso histórico do

idioma português.

Palavras-chave: Edição de textos. História da língua. Unidades fraseológicas.

Mesa-redonda 7: Filologia e Literatura

AVANTE! LENDO AS ESCRITORAS OITOCENTISTAS

Nancy Rita Ferreira Vieira (UFBA)

Esta comunicação pretende fazer uma leitura da contribuição dos estudos

feministas para o resgate das escritoras oitocentistas e de seus textos - literários,

críticos e da imprensa - para a história da literatura baiana, procurando destacar

a importância da pesquisa de fontes primárias para tais estudos.

Palavras-chave: Literatura Baiana. Fontes Primárias. Autoria Feminina.

POR UMA POÉTICA DA ORALIDADE: NO EMARANHADO DOS ARQUIVOS

SONOROS E DAS TRANSCRIÇÕES

Alvanita Almeida Santos (UFBA)

No estudo de textos escritos, os percursos das análises e interpretações

são bem conhecidos, já tendo, inclusive, passado por críticas e reformulações

metodológicas. Em termos acadêmicos, tais textos suscitaram o interesse dos

pesquisadores de diferentes áreas, considerando-os documentos, valiosos ou não,

24

conforme o estatuto do literário a cada época e contexto histórico-social. Esse

interesse levou ao desenvolvimento e à consolidação de uma área ampla como

dos estudos das linguagens e de áreas mais específicas como a da filologia e da

literatura. Ainda que para contestar, não é difícil pensar uma poética do texto

escrito, fartamente descrita em tratados clássicos, desde, pelo menos, a

Antiguidade greco-romana. Quando decidimos nos debruçar sobre textos de

outra modalidade e suportes, com as produções orais, não se observa o mesmo

fenômeno, ainda que uma sociedade da escrita propriamente dita - ou como

concebemos hoje - só tenha começado a se desenvolver na segunda parte da

Idade Média no mundo dito Ocidental, lá pelos anos 1100/1200, com muitas

limitações, uma vez que escrever e ler era um privilégio de muito poucos.

Podemos registrar o interesse por uma poética da oralidade nos finais do século

XIX e início do século XX, especialmente por medievalistas, sobretudo por uma

perspectiva de pensar as sociedades que fundaram a Modernidade como

sociedades da voz. Trabalhos como os de Milman Parry, continuado por Albert

Lord; de Walter Ong; de Erick Havelock, voltados para um estudo dos textos de

Homero acentuando-se seu caráter de oralidade, são alguns dos que se conhecem

privilegiando a oralidade. Nos finais do século XX e início do XXI, os estudos

decoloniais, que se ocupam de uma reflexão sobre os processos de colonização e

de lutas pela libertação colocam em evidência sociedades em que a voz se

apresenta como um valor e outras epistemes lutam para ser consideradas no

conjunto dos saberes institucionais (estudiosos do eixo Sul, como Hampaté-Bâ,

Anibal Quijano, Vansina, Walter Mignolo pensam por outro lugar). Nesse ponto, o

objetivo desta apresentação é problematizar os modelos de interpretação e

análise dos textos literários, enfrentando o paradoxo da "literariedade" de

produções orais, considerando que é possível propor uma poética da oralidade.

Assim, é relevante discutir as formas de abordagem dos textos literários que

estão consolidadas, mas que funcionam para os textos escritos; refletir sobre que

métodos seriam mais eficazes diante das possibilidades sonoras e, muitas vezes,

também visuais; discutir as formas de registro para esses textos orais; e

empreender as leituras possíveis desses textos que se constituem em

documentos culturais de fundamental importância, mas que também têm uma

estética própria.

Palavras-chave: Poética da oralidade. Texto oral. Arquivos sonoros e transcrições.

AS EDIÇÕES DA LÍRICA PROFANA GALEGO-PORTUGUESA: UMA ANÁLISE DO

CONJUNTO

Risonete Batista de Souza (UFBA)

A poesia lírica de tema profano produzida nas cortes da península Ibérica

entre finais do século XII ou início do XIII até meados do XIV e legada, sobretudo,

25

pelos três principais cancioneiros remanescentes – o Cancioneiro da Ajuda, o

Cancioneiro da Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Vaticana –, tem sido

publicada desde o século XIX por diferentes estudiosos de diferentes escolas e

que seguiram critérios os mais variados. A maior parte das edições tem como

público alvo o estudioso da literatura, o que se justifica por serem as cantigas

textos líricos e, portanto, literários. No entanto, o leitor atual, que tem acesso a

esta produção exclusivamente através destas edições, mesmo as que buscam

manter o texto mais próximo possível ao legado no manuscrito, encontra-se, em

muitos casos, bem distante do texto que circulara no ambiente em que floresceu a

poesia lírica românica medieval. Neste trabalho, faremos uma breve descrição

dos diferentes modelos de edição destas cantigas, compararemos os critérios

adotados e elegeremos alguns textos especialmente problemáticos que foram

apresentados pelos editores sem maiores explicações de suas especificidades.

Trabalharemos com as edições fac-similares dos três cancioneiros acima

mencionados, com algumas edições críticas totais, parciais por gêneros ou por

autores, quando houver, bem como com duas edições disponíveis on line: a

preparada pela equipa de Graça Videira Lopes,

http://cantigas.fcsh.unl.pt/apresentacao.asp e a coordenada por Manoel Ferrero

https://universocantigas.gal, ainda em andamento. Estas duas últimas edições

têm a vantagem de tornar acessível ao público interessado o conjunto total de

textos manuscritos legados não apenas pelos principais cancioneiros, mas

também as folhas volantes – Pergaminho Sharrer e Pergaminho Vindel – bem

como o texto crítico, glossários, bibliografia relacionada aos textos e comentários.

Palavras-chave: Literatura medieval. Lírica profana galego-portuguesa. Edições.

RUMOR INSURGENTE, ARQUIVO INTERVALAR

Fábio Ramos Barbosa Filho (IEL/UNICAMP/PNPD-CAPES)

O rumor insurgente é uma discursividade que organiza a cena pública

baiana nos oitocentos, jogando com as tensas relações entre o poder político, a

elite comercial e os africanos na Província da Bahia. Ele é insurgente na medida

em que é um rumor sobre a insurreição, mas também na medida em que é um

rumor que des/re-organiza sentidos sendo, ele mesmo, insurgente. Tomo como

objeto de leitura documentos – sobretudo periódicos – que no contexto pós-1835

enredam uma extensa boataria em torno de possíveis insurreições africanas na

Bahia. No movimento que proponho, o que interessa não é o “conteúdo” do

rumor, mas a sua irrupção enquanto forma que significa as tensões entre a

memória da insubmissão africana, os cidadãos e o poder político baiano nas

relações dos “boatos” com a memória. Nas frestas do arquivo, a leitura nos expõe

ao primeiro impasse. O impasse que marca o próprio da Análise de Discurso face

ao trabalho do historiador: o acontecimento discursivo transcende o fato

26

histórico. Ao mesmo tempo, o conceito de discurso nos alerta para o fato de que o

documento não pode ser lido de maneira sequencial. Ou seja, o enunciado não pode

ser compreendido na transparência da horizontalidade sintática, na medida em

que o efeito de linearidade da sintaxe dissimula as dobras do discurso. Nessa

posição, o arquivo se coloca como resultado de diversos feixes, níveis e estratos.

Isso, em primeiro lugar, nos ajuda a derrubar a ideia do documento como unidade

monolítica na medida em que esse conjunto de determinações contingentes

desorganiza, de saída, a ilusão de homogeneidade desse material. É nesse sentido

que eu gostaria de pensar no arquivo como um intervalo entre textualização e

acontecimento na medida em que dito e não-dito compõem a materialidade do

arquivo.

Palavras-chave: Discurso. Arquivo. Rumor.

Mesa-redonda 8: Filologia e Humanidades digitais

OS (DES)CAMINHOS DAS EDIÇÕES DIGITAIS

Patrício Nunes Barreiros (UEFS)

O objetivo da comunicação é discutir o impacto das Humanidades Digitais

no âmbito da Filologia, especialmente, no que diz respeito à edição de textos. Nos

concentraremos em aspectos teórico-metodológicos que têm subsidiado as

edições digitais, considerando as especificidades da linguagem da Web e os

impactos da migração de textos manuscritos e impressos para o meio virtual.

Buscaremos entender, a partir da análise de edições digitais, como os filólogos

estão lidando com esse novo paradigma da crítica textual e quais as principais

inovações teórico-metodológicas que despontam no cenário acadêmico.

Pretende-se refletir ainda acerca de critérios de edição e o perfil do editor para

atuar no campo da filologia digital. Sabe-se que a filologia tem um caráter

interdisciplinar desde sua origem, mas, ao se aproximar da informática, ela

ampliou suas fronteiras para outras disciplinas, tornando a atividade filológica

ainda mais desafiadora.

Palavras-chave: Filologia Digital. Crítica Textual. Edições Digitais.

O USO DE FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS NA PESQUISA FILOLÓGICA E NA

ELABORAÇÃO DE TRABALHOS LEXICOGRÁFICOS

Liliane Lemos Santana Barreiros (UEFS)

Os benefícios alcançados com as ferramentas computacionais certamente

são inúmeros. Além da velocidade na execução das atividades e da ampla

27

capacidade de armazenamento de dados, as novas tecnologias permitem aos

linguistas coletar, selecionar, registrar, analisar, aperfeiçoar, recuperar dados e

gerar documentos publicáveis com baixo custo. Nesta comunicação, objetiva-se

demonstrar como as ferramentas disponíveis atualmente facilitam a construção

de bancos de dados e de trabalhos lexicográficas (dicionários, vocabulários,

glossários etc.). Adota-se os princípios teórico-metodológicos da Lexicografia

(BIDERMAN, 1978; 1984; 2001; HAENSCH, 1982; WERNER, 1982; VILELA, 1983;

1995; PORTO DAPENA, 2002, BARREIROS, L., 2017, entre outros) e da Linguística

de corpus (BEBER SARDINHA, 2004; OTHERO; MENUZZI, 2005; ALUÍSIO;

GLADIS, 2006). Toma-se como base dois programas: O AntConc, um software

gratuito para análise de corpus, e o FieldWorks Language Explorer (FLEx), que

permite a construção de banco de dados e a edição de verbetes. Estes softwares

permitem identificar, a partir de um corpus estabelecido, como uma palavra

ocorre, o quanto ocorre, em que contextos e quais outras a acompanham,

encontrar padrões e variáveis de uso na escrita e fazer levantamento

terminológico. As vantagens dessas ferramentas favorecem ao progresso das

pesquisas linguísticas de diversas áreas, atrelando produtividade com qualidade

e acessibilidade. O corpus da pesquisa compreende 215 textos em prosa, escritos

em vida por Eulálio Motta ou publicados postumamente, sendo: 36 textos

publicados na coluna Rabiscos do jornal Mundo Novo (1931 a 1932, Mundo Novo-

BA); 17 textos publicados no jornal O Lidador (1933 a 1935, Jacobina-BA); 45

textos publicados no jornal O Serrinhense (1950 a 1951, Serrinha-BA); 24 textos

publicados no jornal Gazeta do Povo (1960-1961, Feira de Santana-BA); 43

panfletos escritos de 1949 a 1983 (BARREIROS, P., 2015) e 50 causos que

compõem Bahia Humorística, escritos de 1933 a 1934 (BARREIROS, L., 2016). O

vocabulário produzido a partir dessa seleção é composto por 700 entradas,

organizadas de A a Z, sendo 513 lexias simples, 35 lexias compostas e 152 lexias

complexas (POTTIER, 1977), e tem como finalidade contribuir para a preservação

de costumes e valores culturais do homem sertanejo, expresso no uso da língua.

Palavras-chave: Eulálio Motta. Vocabulário. AntConc. FLEx.

PAPÉIS QUE NARRAM: O ACERVO DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO DA BAHIA

CONTA A HISTÓRIA DA INSTITUIÇÃO

Lívia Borges Souza Magalhães (UFBA)

O avanço tecnológico tem exigido que o filólogo adote novas práticas para

suprir as demandas do leitor do século XXI, caracterizado, principalmente, pela

multimodalidade. O objetivo deste trabalho foi apresentar uma proposta de

produção de uma edição filológica capaz de servir como um registro

histórico/memorialístico do Mosteiro de São Bento da Bahia, até 1934, e, assim,

tornar as informações referentes à instituição beneditina acessíveis ao público,

28

retirando das prateleiras da abadia registros que, direta e indiretamente,

constituem a história de formação do povo soteropolitano, baiano e brasileiro.

Ressalta-se que, o acervo escolhido é parte do primeiro mosteiro das Américas,

detentor de um conjunto bibliográfico e documental formado por mais de

duzentas mil obras, entre impressos e manuscritos. Para a execução do trabalho

desenvolveu-se uma edição digital, utilizando a linguagem de marcação html e

alguns recursos de Java, adequada para colocar em diálogo alguns documentos

pertencentes ao acervo da abadia baiana – Coleção de Livros do Tombo, Livro de

Aforamentos, Carta de profissão monástica, Diretório monástico e o Livro de

Crônicas. Destaca-se que há, ainda, imagens e hiperlinks direcionando os leitores

para outros sites disponíveis na web, explorando as possibilidades da

multimodalidade leitura e suprindo a necessidade constante por informação

facilmente disponível.

Palavras-chave: Filologia. Edição digital. Mosteiro de São Bento da Bahia.

A FILOLOGIA NO CONTEXTO DAS HUMANIDADES DIGITAIS: NOVAS

METODOLOGIAS DE PESQUISA E CONSTRUÇÃO DE ACERVOS

Aquiles Alencar Brayner (British Library)

O desenvolvimento de novas ferramentas de extração e análise de dados

em documentos eletrônicos, bem como a possibilidade de conexão em rede que

facilita um trabalho colaborativo mais amplo entre pesquisadores, vêm

transformando os modelos de pesquisa e formação de materiais de pesquisa para

as Humanidades. O objetivo deste paper é apresentar, a partir de exemplos de

projetos na área de Humanidades Digitais com foco em pesquisas filológicas, o

modo como as novas técnicas computacionais aplicadas a documentos textuais

estão nos auxiliando a gerar novas hipóteses de estudo e determinar novos

modelos de trabalho no campo da Filologia e áreas afins.

Palavras-chave: Curadoria Digital. Crowdsourcing. Humanidades Digitais.

29

Mesa-redonda 9: Filologia e ensino

A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO FILOLÓGICO: IDEIAS NORTEADORAS

DO LIVRO OLHARES SOBRE O PORTUGUÊS MEDIEVAL: FILOLOGIA, HISTÓRIA E

LÍNGUA

Célia Regina dos Santos Lopes (UFRJ)

A proposta de trabalho para a mesa-redonda sobre Filologia e ensino é

bastante modesta e visa apresentar as ideias que nortearam a elaboração do livro

Olhares sobre o português medieval: Filologia, História e Língua que foi lançado,

em 2017, como resultado de um edital da FAPERJ e, em 2018, pela editora

Parábola. A obra foi concebida como um livro-laboratório com noções de

paleografia, filologia e história externa e interna do português. A pretensão não

era a de substituir os manuais consagrados utilizados nos cursos de História da

Língua Portuguesa, mas trazer um material de apoio em que o estudante tivesse

um papel mais atuante no seu processo de ensino e aprendizagem da disciplina.

Para tanto, não são apresentadas listas de características linguísticas e de

aspectos históricos isolados e desconectados do contexto de produção dos textos,

mas sim procura-se habilitar o estudante na leitura dos textos remanescentes,

permitindo que ele próprio construa a história do português a partir dos textos

escritos em sincronias passadas. Para ilustrar a proposta, pretende-se apresentar

uma síntese do primeiro capítulo intitulado A preparação de textos para o estudo

da história da língua: a edição filológica. Como etapa inicial do fazer filológico, o

trabalho é iniciado com um texto bastante atual (uma mensagem de whatsapp). O

objetivo é mostrar na prática a importância do trabalho do filólogo no processo

de preservação e fixação dos textos, através da elaboração de edições filológicas

diferenciadas de acordo com o grau de intervenção do editor: edição diplomática,

semidiplomática e modernizada.

Palavras-chave: Material didático. Edições filológicas. Ensino.

A LEITURA CRÍTICO-FILOLÓGICA COMO REFERÊNCIA PARA A CONSTRUÇÃO

DE UMA PEDAGOGIA DA MATERIALIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Eduardo Silva Dantas de Matos (Sartre | Escola SEB)

As experiências de pesquisa desenvolvidas no Grupo de Edição e Estudo

de Textos da Universidade Federal da Bahia (GEET - UFBA) colocaram-nos, em

várias oportunidades, diante dos elementos da produção, transmissão, circulação

e recepção dos textos. Esse olhar material deslocou e desconstruiu a nossa forma

de atuar com diferentes textualidades e textualizações na Educação Básica,

forjando novas possibilidades de compreender as práticas de ensino da leitura e

30

da escrita. Isso tem nos levando à construção daquilo que estamos chamando de

“Pedagogia da Materialidade”, qual seja, uma prática docente que visa a ensinar a

ler (n)as materialidades, considerando que ali estão boas pistas para o

aprimoramento da competência leitora e para o desenvolvimento de

performances adequadas na escrita. Nesse sentido, mais que uma oportunidade

de demonstrar que textos de discentes podem servir a exercícios editoriais, este

trabalho pretende ser um testemunho e uma provocação para a percepção de que

a formação na Crítica Filológica pode levar – e leva – a práticas docentes bastante

profícuas na seara do ensino de Língua Portuguesa.

Palavras-chave: Crítica Filológica. Educação Básica. Ensino. Texto. Leitura.

Escrita.

ESTUDO DO PROCESSO DE TRANSMISSÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS EM

LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA

Josenilce Rodrigues de Oliveira Barreto (UFOB/USP)

A investigação acerca dos processos de reprodução e transmissão de

textos literários sempre foi uma das preocupações do crítico textual que, há

muito, vem realizando edições de textos, os quais percorreram, muitas das vezes,

variados caminhos até chegar aos seus leitores, através, por exemplo, dos Livros

Didáticos de Língua Portuguesa, doravante LDLP. Sobre estes, o que tem nos

preocupado bastante, enquanto críticos textuais e professores de Língua

Portuguesa, são as seguintes questões: os textos literários veiculados em tais

materiais advém de obras genuínas? Ou melhor, é, de fato, possível asseverar que

os fragmentos de obras literárias constantes nos LDLP condizem com a versão

dada/publicada por seus autores? Diante de tais questionamentos, decidimos

enveredar pelo mundo dos livros didáticos, a fim de melhor conhecermos e

asseverarmos a genuinidade dos textos literários reproduzidos em tais materiais.

Neste meandro, iniciamos uma investigação não com o objetivo de estabelecer

uma edição crítica de cada uma das obras estudadas, mas para identificarmos se

os textos reproduzidos nos LDLP partem/partiram de uma versão genuína ou se

são textos que apresentam corrupções em seu processo de transmissão. Para

isso, coletamos, a princípio, dezesseis LDLP com o intuito de averiguar a

trajetória que as obras Os Sertões, de Euclides da Cunha, e O Guarani, de José de

Alencar, percorreram até chegar, como produto final, às mãos de estudantes e

professores (Cf. BALDOW, 2013). Dos livros coletados, apenas oito apresentaram

fragmentos dos referidos textos, os quais serviram de fonte para a realização do

cotejo com os textos-base, estes definidos como a última edição publicada ainda

em vida pelos seus respectivos autores. Após o cotejo, detectamos, como alguns

resultados de nossa investigação ainda em andamento, algumas mutilações no

que tange à adição, omissão, alteração ou substituição de pontuação, palavras,

31

frases ou trechos inteiros, o que nos leva a acreditar que há um prejuízo no

entendimento e no conhecimento do próprio texto por parte de seus leitores, já

que muitos estudantes têm acesso a variados textos literários somente a partir de

tais materiais didáticos. Feitas estas considerações, destacamos que, para a

realização deste trabalho, amparamo-nos nos preceitos teórico-metodológicos de

Blecua (1983), Cambraia (2005), Spaggiari e Perugi (2004) e Spina (1994), que

versam sobre o labor do crítico textual, bem como sobre a transmissão de textos

literários.

Palavras-chave: Crítica Textual. Os Sertões. O Guarani. Livros Didáticos de Língua

Portuguesa.

“ENSINANDO A TRANSGREDIR”: A CRÍTICA FILOLÓGICA NA SALA DE AULA

DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Rosinês de Jesus Duarte (UFBA)

Mobilizado pela força motriz da transgressão proposta por Bell Hooks

(2013) que tem a convicção de que “é possível dar aula sem reforçar os sistemas

de dominação existentes”, este artigo objetiva discutir sobre a pertinência dos

estudos filológicos na sala de aula da educação básica, como instrumento teórico

instigador de leitura de textos que, cotidianamente, não chegam ao contexto da

sala de aula através dos livros didáticos. A partir da análise de livros didáticos,

bem como das estratégias didáticas de professores da rede pública do 1º ano do

ensino médio, pretende-se propor percursos metodológicos, agenciados pela

filologia, tais como: estudo do processo de produção, transmissão e circulação de

textos que não integram um cânone literário, tendo como foco principal a

presença/ ausência de textos de escritoras negras na sala de aula da educação

básica e no livro didático usado nesse contexto escolar. As reflexões teórico-

metodológicas serão alicerçadas na proposta didática de Bell Hooks (2003), no

exercício de crítica democrática proposto por Said (2007), no compromisso de

refletir e exercer os cinco poderes da filologia de Gumbrescht (2007), no ato de

redimensionar a crítica filológica como um exercício não silenciador de discursos,

defendido por Borges et al( 2012), dentre outros. Nesse contexto, o percurso

metodológico desse artigo caminhará também no sentido de responder como a

filologia pode contribuir para auxiliar às professoras da educação básica na Bahia

a fazerem o papel de “ensinar a transgredir”, através do uso de uma produção

literária dissidente nas suas aulas de língua portuguesa. Espera-se, com isso,

potencializar, no espaço da sala de aula, a emergência de enunciados que podem

ter sido silenciados pelo cânone literário e pela lógica do mercado editorial,

contribuindo, assim, para a formação de leitores críticos no contexto da sala de

aula do ensino médio da rede pública.

Palavras-chave: Filologia e ensino. Produção, transmissão e circulação de textos

de mulheres negras. “Ensinando a transgredir”.

32

Mesa-redonda 10: Filologia e História da Língua

HERANÇAS AFRICANAS NA TOPONÍMIA DA BAHIA: CAMINHOS FILOLÓGICOS

PARA ESTUDOS ONOMÁSTICOS

Clese Mary Prudente (UNEB)

Considera-se a interdisciplinaridade dos estudos filológicos, em suas

possibilidades de diálogo com a Onomástica (ramo da Lexicologia que estuda

nomes próprios de pessoas e lugares) para estudo da história da língua,

analisando aspectos referentes à origem, mudança e causa nominativa de

designativos de municípios baianos considerados como de provável

etimologia africana. Ressalta-se a escassez de fontes primárias para estudo

documental e a pouca representatividade toponímica africana como indicativo do

epistemicídio colonizatório que invisibiliza esse importante contingente do

mosaico étnico que se constitui o povo brasileiro. Nessa perspectiva, entendem-

se os signos toponímicos como testemunhos da história da língua e da história de

um povo, conciliando-se as abordagens teóricas da Filologia, Etnolinguística e da

Lexicologia, com foco nos estudos onomásticos e no sistema classificatório

proposto por Dick (1990, 1992) para a realidade toponímica brasileira. Os dados

coletados na pesquisa pautaram-se nas seguintes obras lexicográficas: Dicionário

Yorubá-Português, de José Beniste, edição 2014; Dicionário Etimológico da

Língua Portuguesa, de Antônio Geraldo da Cunha, edição 2013; Novo Dicionário

Banto do Brasil, de Nei Lopes, edição 2012; Dicionário Houaiss da Língua

Portuguesa, edição 2001; Falares Africanos na Bahia: um Vocabulário Afro-

brasileiro, de Yeda Pessoa de Castro, edição 2001. A partir desse estudo,

produziram-se fichas lexicográfico-toponímicas, adaptadas do modelo

desenvolvido por Dick (2004), para os seguintes topônimos baianos: Banzaê,

Caculé, Candiba, Gandu, Gongogi, Maiquinique, Mulungu do Morro e Quijingue.

Dessa forma, verifica-se a relação dos signos onomásticos com o ambiente

cultural em que estes estão inseridos, envolvendo fatores históricos, econômicos,

políticos e sociais responsáveis pela discreta presença africana na toponímia da

Bahia, além de favorecer o reconhecimento das contribuições linguístico-

culturais africanas para a formação do português do Brasil.

DIMENSÕES ANALÍTICAS NA PERSPECTIVA DAS TRADIÇÕES DISCURSIVAS

Valéria Severina Gomes (UFRPE)

Considerando a escassa difusão do conceito de Tradição Discursiva no

cenário nacional, esta comunicação pretende abordar a gênese da noção de

Tradição Discursiva (TD) como paradigma teórico (COSERIU, 1987), (KOCH,

33

1997) e discutir a polissemia do termo como objeto de análise, visto que estudos

atuais em TD mostram que esse objeto pode ser encarado em diferentes

dimensões como: a) a tradicionalidade dos gêneros; b) a tradicionalidade

estrutural; c) a tradicionalidade dos tipos; c) a tradicionalidade dos estilos; d) a

tradicionalidade linguística (dos modos de dizer). A perspectiva das Tradições

Discursivas (TD) remonta a uma série de formulações e reformulações que vêm

desde os anos 1980 no âmbito da Filologia Pragmática Alemã e têm dado uma

nova orientação aos estudos histórico-diacrônicos da linguagem. Nesse contexto,

partimos dos seguintes objetivos: discutir a relevância e a difusão do conceito de

TD; situar historicamente algumas pesquisas realizadas sobre TD no Brasil e

principalmente no Nordeste; apresentar os pontos de intersecção entre os

estudos de TD e algumas áreas teóricas. As pesquisas realizadas até o momento

atestam que o modelo das Tradições Discursivas tem se mostrado relevante para

discutir questões referentes à historicidade do texto e da língua.

Palavras-chave: Linguística Sócio-histórica. Tradições discursivas. Dimensões de

análise.

TRADIÇÃO DISCURSIVA E A MUDANÇA LINGUÍSTICA: UMA ANÁLISE DO

SISTEMA DE JUNTORES EM CARTAS PÓS-REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE

1817

Cleber Ataíde (UFRPE)

Este trabalho parte da relevância de considerar os estudos da história dos

textos para a descrição e mudança linguística. Para considerar a integração

desses estudos, parto da hipótese de que a mudança da língua está atrelada a

evolução/mudança dos textos. Sendo assim, é possível considerar que as regras

mais gerais que emergem a partir de operações do sistema são ativadas em

combinação com eventos específicos de uso e cada uso tem um aspecto individual

e único, sugerindo que não podemos decidir sobre como utilizar as estruturas

que o sistema nos fornece sem adaptá-las a esse contexto singular. Isso garante,

portanto, que as regras sejam concebidas não como absolutas, mas como

contextualmente dependentes, refletindo a atuação de um organismo biológico

em um ambiente cultural. Essa perspectiva de integração pode-nos oferecer

evidências de que “certos usos linguísticos podem estar fortemente

correlacionados ao tipo de texto, uma vez que existem fórmulas fixas, estruturas

relativamente estáveis ou propriedades convencionalizadas que se repetem em

determinado gênero particular” (OESTERREICHER, 1997; LOUREDA LAMAS,

2006). Como exemplo dessa abordagem, apresento a aplicação do modelo de

análise do sistema de juntores em cartas oficiais da Revolução Pernambucana de

1817 pertencentes ao corpus do Laboratório de Documentação Linguística de

Pernambuco.

Palavras-chave: Tradições discursivas. Mudança linguística. Sistema de juntores.

34

Mesa-redonda 11: Filologia e questões teóricas da contemporaneidade

FILOLOGIA COMO “UTENSÍLIO”: CRÍTICA FILOLÓGICA E PENSAMENTO

DECOLONIAL

Arivaldo Sacramento (UFBA)

A ligação dos estudos filológicos com os monumentos bibliográficos de

erudição europeia é evidente: foi por eles e para eles que ela foi formada, com

todas as convenções que garantiram a estabilidade de verdades, de poder e de

hierarquias. Nesse contexto, foi forjado inúmeros discursos naturalizadores de

uma versão do humanismo, cada vez mais dito universal e, por isso mesmo,

marcadamente etnocêntrico. Os caminhos pelos quais essa frondosa arquitetura

foi possível podem ser observados nas metodologias e conceitos estabelecidos

para proteção desse cânon. Por isso, ainda hoje, é difícil operar com categorias

que desafiem conceitos como “autoria”, “fidedignidade", “original” etc. Entretanto,

no que pese essa blindagem, é possível ler, a contrapelo, de que modo tais

princípios foram estabelecidos, ignorando a complexidade epistêmica, cultural,

social e política de quase tudo que é posto no lugar da diferença. Diante disso,

propomos discutir de que modo todo esse empreendimento filológico pode ser

utilizado para própria desconstrução dele e do humanismo totalizador. Para fazer

isso sem deparar teoria da prática, elegemos como corpus dissidente desta

discussão os manuscritos e edições que compõe conto e romance, homônimos,

Clara dos Anjos de Lima Barreto. Nessa tradição textual, podemos observar como

autor, editores e processos de criação e transmissão textual são movidos de modo

a representar a complexidade daquilo que é ser sujeito dissidente no início do

século XX. Com isso, assumimos a Filologia como um utensílio, na expressão

derridiana do termo, para promoção de novos operadores críticos, novas

metodologias que, a um só tempo, ressignifiquem a tradição disciplinarmente

constituída e possibilitem a articulação com epistemologia decoloniais. Sobre

este, salientamos, que não se trata de um repertório coeso, teoricamente

estabelecido por uma bibliografia que legalmente separa teoria, prática e arte,

mas são lugares de construção de enunciados que instauram interpretações de

mundo que se propõem, no dizer de Glissant, poéticas de relação.

Palavras-chave: Filologia. Estudos culturais. Descentramentos epistemológicos.

POR UM ARQUIVO DO COLORISMO NO BRASIL

Rogério Modesto (UFBA)

Segundo o mito da “democracia racial”, o Brasil escapou da instituição do

racismo porque os brasileiros não se enxergam através do viés racial, tampouco

35

discriminam ou prejudicam pessoas pela raça. Tal pensamento, que teve em

Gilberto Freyre ancoragem e força de circulação, sustenta-se em, basicamente,

duas ideias falaciosas: i) a de que a relação entre senhores (benevolentes) e

escravos (conformados) era amistosa; e ii) a de que a miscigenação brasileira

prova a integração de brancos, negros e índios no processo de formação da

sociedade brasileira. Durante a década de 1970, o mito da democracia racial foi

duramente combatido por nomes como Abdias do Nascimento e Florestan

Fernandes, mas o projeto pelo qual a ideia de “brasilidade” foi erigida já se

tornaria eficaz em ratificar a crença da miscigenação pacífica e cordial. Nesses

termos, um arsenal de palavras, expressões e enunciados darão conta de

corroborar a “mistura” como ponto central da cultura brasileira. Neste trabalho,

meu objetivo é analisar o funcionamento discursivo de algumas dessas palavras –

crioulo, mestiço e mulato –, a partir de dicionários de língua portuguesa

produzidos entre os séculos XVIII e XXI, e propor a formação de um arquivo das

palavras do “colorismo” brasileiro. Na contemporaneidade, uma série de

acontecimentos sociais e discursivos têm permitido a problematização do que a

escritora e poetiza Alice Walker tem chamado de colorismo, ou pigmentocracia,

conceito que visa a definir uma hierarquização entre negros de pele clara – os

pardos, como indica a classificação demográfica do Brasil, e os crioulos, mestiços

e mulatos, como se diz mais largamente na cultura popular – e os negros de pele

retinta – os pretos, conforme a mesma classificação oficial. Esse debate atualiza a

memória discursiva do mito da democracia racial do Brasil e dá outros (novos?)

sentidos para as expressões aqui em pauta, por isso um retorno histórico ao

funcionamento discursivo dos dicionários, instrumentos linguísticos que

gramaticizam a língua, se mostra relevante. Assim, apoiado em um dispositivo

teórico-analítico da Análise de Discurso que se orienta por uma perspectiva

materialista, bem como na História das Ideias Linguísticas, quero trazer à baila o

funcionamento discursivo da cadeia significante do colorismo, além de pautar a

construção de um arquivo a partir dos dicionários de língua portuguesa ao longo

da história.

Palavras-chave: Colorismo. Arquivo. Discurso.

POR UMA FILOLOGIA ENGAJADA: DIÁLOGOS ENTRE CRÍTICA POLÍTICA E

CRÍTICA FILOLÓGICA PARA ESTUDO DE TEXTOS TEATRAIS CENSURADOS

Fabiana Prudente (UFBA)

Rosa Borges (UFBA) -Orientadora

Parte-se da diversidade de práticas acadêmicas que se ocupam do texto

em perspectiva material e histórica como panorama humanístico da Filologia

para propor um diálogo entre a Crítica Política e a Crítica Filológica, tomando

para estudo textos teatrais censurados durante o golpe civil-militar de 1964, que

36

estabeleceu uma política ditatorial pautada na repressão dos direitos civis do

povo brasileiro e na censura. Pretende-se estudar a dramaturgia censurada de

Roberto Athayde, autor carioca que produziu sete textos teatrais durante o

período ditatorial, a saber: O Reacionário, Um Visitante do Alto, Manual de

Sobrevivência na Selva, Os Desinibidos, Crime e Impunidade, e sua obra-prima

Apareceu a Margarida, o único trabalho autoral athaydiano que alcançou sucesso

incontestável de público, com tradução em mais de cinco idiomas e encenação em

diversos países, inclusive em tempos atuais. Caracterizados por manifestar o

engajamento do autor em diversos temas políticos e sociais que enfrentam o

senso comum da consciência burguesa e o conservadorismo moral brasileiro (do

paradigma racial escravista estruturante na divisão de classes à problematização

de padrões heteronormativos e patriarcais, do enfrentamento do ascetismo

cristão à discussão aberta de dissidências políticas e teorias sociais,

antropológicas, filosóficas e psicanalíticas), tais textos foram escritos e encenados

(com exceção do inédito O Reacionário) entre os anos 1971 e 1983, período em

que o Brasil atravessou a fase mais severa da ditadura, estabelecida pelo decreto

do Ato Institucional 5 (AI-5), de 13 de dezembro de 1968, que, entre outras

medidas, institucionalizou a censura prévia a todas as atividades artísticas,

privando a liberdade de expressão e conferindo poderes absolutos ao regime.

Nesse sentido, ao compreender a produção literária (no caso específico, de textos

teatrais) e a mediação editorial como gestos públicos que instituem a formação

de uma comunidade interpretativa e de uma instância de legitimação literária

que cercam e condicionam quais e como os textos são produzidos, lidos, editados

e transmitidos socialmente, considera-se a dimensão política da produção

literária e da práxis filológica para propor uma Filologia engajada e coerente com

o papel público de intelectuais nas novas bases do estudo e prática humanistas

propostas por Edward Said (2004), em Humanismo e Crítica Democrática, e por

Terry Eagleton (1983), ao concluir seu estudo introdutório em Teoria da

Literatura tratando de Crítica Política. Dessa forma, em conformidade com a

Filologia Política estudada por Zancarini (2008), defende-se o estatuto político do

filólogo, que se manifesta não somente na escolha dos textos a serem lidos,

editados e estudados, mas, sobretudo, no enfoque engajado e crítico que suplanta

o mito de uma teoria filológica pura e enfrenta os jogos de poder em que se

inscrevem as produções literárias ao longo da história política e das dinâmicas

sociais.

Palavras-chave: Crítica Política. Crítica Filológica. Textos teatrais censurados.

SOBRE FILOLOGIA, TEXTO E PRÁTICA EDITORIAL

Hérvickton Israel de Oliveira Nascimento (UFBA)

37

Parte-se aqui da ideia de que a Filologia se ocupa do estudo da produção,

circulação, recepção e transmissão do texto, concepção que vem no rastro de D.

McKenzie e realinha a importância do texto em sua materialidade, portanto,

também em sua historicidade. Assim, pretende-se pensar o conceito de texto

como um operador para/na prática filológica e a importância de problematizá-lo

no lugar de pacífico de um artefato que se encerra numa pretensa objetividade

científica. Para tanto, será abordado um trabalho que teve ampla receptividade

nos estudos filológicos no Brasil, os Textos medievais portugueses e seus

problemas, de Serafim da Silva Neto (1956), na tentativa de se perceber como

esse autor concebia explícita ou implicitamente o texto e como isso implicava

teórica e metodologicamente nas atividades editoriais. Acredita-se que a reflexão

do texto como um operador filológico conduza a práticas editoriais mais

historicizantes, uma vez que, além de considerar a sua materialidade e os efeitos

de sentido produzidos a partir dela, também situa o pesquisador como leitor

crítico.

Palavras-chave: Filologia. Texto. Práticas editoriais.

38

RESUMOS DAS SESSÕES COORDENADAS

Eixo temático: Filologia e ensino

Sessão Coordenada 1:

Filologia e ensino: contribuições filológicas para o ensino e formação de

professores de língua portuguesa

Coordenadora: Josenilce Rodrigues de Oliveira Barreto (UFOB/ USP)

Cada vez mais tem sido necessária a utilização dos conhecimentos

filológicos para o ensino e formação de professores de Língua Portuguesa. Nisto,

estão incluídos o processo de investigação da transmissão de textos literários,

disponíveis em Livros Didáticos de Língua Portuguesa, já que a maioria dos textos

tem apresentado mutilações, sejam estas de adição, omissão, alteração ou

substituição de palavras, frases ou trechos inteiros do texto-base; e a inserção da

prática filológica ainda na educação básica e na Pós-Graduação Lato Sensu, cujo

objetivo é inserir o estudante do Ensino Médio dentro da pesquisa filológica e

melhor preparar o professor de Língua Portuguesa junto aos preceitos teórico-

metodológicos da Crítica Textual, atividade principal de todo filólogo, para

melhor atender às demandas voltadas para o ensino e para a investigação

filológica ligada aos materiais de ensino. Dito isto, objetivamos com esta sessão

coordenada apresentar quatro trabalhos, dos quais dois versam sobre o processo

de transmissão de alguns textos literários em Livros Didáticos de Língua

Portuguesa, apresentados por Josenilce Rodrigues de Oliveira Barreto e Bárbara

Bezerra de Santana Pereira, o terceiro sobre a inserção da pesquisa e prática

filológica na educação básica, mais especificamente no Ensino Médio da Escola

Adventista da Bahia, proposta feita por Daianna Quelle da Silva Santos da Silva, e

o quarto sobre a criação e implementação de um Curso de Especialização em

Estudos Linguísticos e Filológicos, na Universidade do Estado da Bahia, Campus

XIII, pensado e coordenado pela professora Jeovania Silva do Carmo, e voltado

para professores da educação básica, com pouco conhecimento sobre a prática

filológica aliada à atividade de ensino. Desta feita, intentamos associar trabalhos

que aliem o ensino de Língua Portuguesa com a prática/ pesquisa filológica, já

que ensino e pesquisa continuam compondo a tríade (ensino, pesquisa e

extensão) difundida por toda universidade brasileira que se preze.

Palavras-chave: Filologia. Ensino. Formação de professores.

39

ALGUMAS NOTÍCIAS SOBRE O PROCESSO DE TRANSMISSÃO DE

GRANDE SERTÃO: VEREDAS, DE GUIMARÃES ROSA, EM LIVROS DIDÁTICOS

DE LÍNGUA PORTUGUESA

Josenilce Rodrigues de Oliveira Barreto (UFOB/ USP)

Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida (USP) - Orientador

Historicamente, a Crítica Textual se constituiu, desde o século III a.C., como

atividade imprescindível para a realização de edição de textos escritos sobre os

quais estão inseridas as investigações acerca do seu processo de reprodução e de

transmissão. Logo, quando se tratam, principalmente, de textos literários,

considerados antigos, perdidos ou de difícil localização é indispensável a reflexão

por parte do crítico textual sobre a trajetória que eles percorreram até chegar à

forma que temos acesso atualmente. Desta feita, ao folhearmos Livros Didáticos

de Língua Portuguesa, doravante LDLP, do Ensino Fundamental e do Ensino

Médio nos deparamos com textos literários variados, que são veiculados em tais

materiais didáticos e que suscitam no professor de Língua Portuguesa a certeza

de estarmos trabalhando com textos genuínos. Contudo, isso nem sempre ocorre

e, por conta disso, o professor de Língua Portuguesa, capacitado filologicamente,

acaba sendo levado a investigar se os textos transmitidos nos referidos materiais

didáticos condizem ou não com a versão dada por seus autores, o que,

infelizmente, nem sempre acontece. Partindo desse tipo de inquietação,

realizamos, neste trabalho, uma investigação acerca da trajetória que o texto

Grande Sertão: Veredas (1967), de Guimarães Rosa, percorreu até chegar, como

produto final, às mãos dos alunos e professores, através dos LDLP. Para isso,

coletamos dezesseis LDLP, dos quais apenas cinco apresentaram fragmentos do

referido texto literário, nos quais realizamos o cotejo entre os fragmentos

encontrados da obra nos LDLP com o texto-base, este definido como a quinta

edição da referida obra, publicada em 1967, ainda em vida do autor. Após o

cotejo, detectamos algumas mutilações no que tange à adição, omissão, alteração

ou substituição de pontuação, palavras, frases ou trechos inteiros, o que pode

prejudicar o entendimento e o conhecimento do próprio texto, já que muitos

estudantes têm acesso a muitos textos literários somente a partir de tais

materiais didáticos. Feitas estas considerações, destacamos que, para a realização

deste trabalho, amparamo-nos nos preceitos teórico-metodológicos de Blecua

(1983), Cambraia (2005), Spaggiari e Perugi (2004) e Spina (1994), que versam

sobre o labor do crítico textual, bem como sobre a transmissão de textos

literários.

Palavras-chave: Livros Didáticos de Língua Portuguesa. Grande Sertão: Veredas.

Crítica Textual.

40

DO JORNAL AO LIVRO DIDÁTICO: A CRONÍSTICA RUBEMBRAGUIANA EM

FOCO

Bárbara Bezerra de Santana Pereira (UNEB / USP)

Manoel Mourivaldo Santiago Almeida (USP) - Orientador

A presente comunicação tem por principal objetivo analisar, à luz da

Crítica Textual, o processo de transmissão da crônica “Ela tem alma de pomba”,

do escritor capixaba Rubem Braga, encontrada em três Livros Didáticos de

Língua Portuguesa. Braga, ao longo de 62 anos de atividade jornalístico-literária,

escreveu cerca de 15 mil crônicas e sua constante presença nas páginas de livros

didáticos motivou a escolha e delimitação desse corpus. A partir do cotejo de três

tipos de testemunhos (a saber, Texto Didático, Texto Base e Texto Fonte),

apresentamos o levantamento e a classificação de variantes que consideramos

substantivas, ou seja, que interferem no sentido e no estilo do texto. Tomamos de

empréstimo algumas terminologias postuladas por Blecua (1983) para

classificarmos as variantes existentes entre os testemunhos, são elas: adição,

omissão, substituição, alteração de ordem e reelaboração do texto. Através desse

processo inicial de análise, levantamos hipóteses quanto às origens dessas

variantes, suas possíveis motivações e as implicações dessas para uma análise

crítico-literária. Ao propormos averiguar a transmissão do gênero crônica no

Livro Didático, buscamos também refletir acerca da realidade de produção e das

características do material didático utilizados nas escolas. Para tanto, nos

ancoramos em referências basilares da Crítica Textual, tais como, Auerbach

(1972), Spina (1994), Spaggiari e Perugi (2004), entre outros. Quanto à cronística

rubembraguiana, nos amparamos em Arrigucci (1987), Cândido (2003), Coutinho

(1971) e Castelo (2013). Quanto à história e realidade do Livro Didático

ressaltamos Freitag; Motta; Costa (1989), Coracini (1999) e Ota (2009). Para

ampliar nossas reflexões acerca da relação entre Crítica Textual e Ensino, nos

baseamos nos trabalhos de Mendes (1985), Baldow (2013) e nas ponderações de

Cambraia (2005).

Palavras-chave: Transmissão. Crônica. Livro Didático.

OS ESTUDOS FILOLÓGICOS NO LATO SENSU: PROJETO E RESULTADOS DO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS E FILOLÓGICOS DA

UNEB - CAMPUS XIII – ITABERABA-BA

Jeovania Silva do Carmo (UNEB)

Objetiva-se apresentar, nesta comunicação, os estudos filológicos

desenvolvidos no âmbito do Lato Sensu, os quais foram oferecidos pela

Universidade do Estado da Bahia, no Departamento de Educação - Campus XIII

41

em Itaberaba – Bahia, e os resultados obtidos no Curso de Especialização em

Estudos Linguísticos e Filológicos ministrado nos anos de 2016 e 2017. Para isso,

parte-se da assertiva de que o ensino de Filologia vem ocupando atualmente um

espaço de relevância no meio acadêmico baiano, na busca do resgate de textos

manuscritos da Bahia, que desvendam histórias e contribuem para a preservação

da memória social e linguística, já que os textos editados e estudados, em sua

maioria, perpassam também pela análise de um fenômeno linguístico. O objetivo

inicial do projeto do referido curso foi o de aprimorar a formação continuada de

profissionais que atuam no ensino de Língua Portuguesa, ampliando a discussão e

a pesquisa sobre os estudos linguísticos e filológicos, através de diferentes

concepções teóricas e práticas, a fim de promover uma melhor qualidade do

ensino e do desenvolvimento da pesquisa linguística e filológica na região da

Chapada Diamantina – BA. Portanto, apresentamos, nesta mesa, uma sucinta

explanação acerca das pesquisas, que foram realizadas durante o Curso de

Especialização em Estudos Linguísticos e Filológicos, as quais reverberaram em

monografias, que versaram sobre o ensino de Língua Portuguesa, e os estudos

filológicos e linguísticos.

Palavras-chave: Especialização. Estudos Filológicos. Ensino.

Eixo temático: Filologia e história da língua

Sessão Coordenada 2:

Gramática de Construções e Linguística Histórica: reflexões sobre a história

do latim e das línguas românicas

Coordenador: Natival Almeida Simões Neto (UFBA/UEFS)

Nesta sessão coordenada, pretendemos reunir trabalhos que aplicam o

arcabouço teórico da Gramática de Construções aos estudos da história das

línguas. A Gramática de Construções (GC) é uma proposta de análise gramatical

que se insere no paradigma maior da Linguística Cognitiva, teoria em que a

Semântica assume um papel central. Dessa forma, a GC é um modelo centrado no

uso. Atualmente, o nome de maior destaque dessa proposta é Adele Goldberg. O

seu trabalho de 1995 permitiu reformular a noção de construção nas línguas,

pelo fato de não sobrepor forma ao sentido, e por não separar construções

lexicais de construções sintáticas. Assim, para a GC, todas as construções de uma

língua devem ser analisáveis. Além do trabalho de Goldberg (1995, 2006, 2013),

há outros modelos construcionais, tais como a Gramática de Construções

Radicais, de Croft (2001), e a Morfologia Construcional, de Booij (2010). É

importante notar que a maioria das aplicações dos modelos construcionais tem

sido de natureza sincrônica, sendo o investimento diacrônico ainda bastante

tímido. Dessa forma, esta sessão tem como principal intuito apresentar análises

construcionais de dados obtidos em pesquisas diacrônicas. Uma vez que a GC é

42

um modelo baseado no uso, ao se alinhar com a Linguística Histórica, a

dependência da Filologia se faz notória, não só pela edição de textos antigos,

como também pelas discussões acerca de autoria, recepção, transmissão e

circulação dos textos, o que nos permite aprimorar as análises feitas nessa

proposta, em que os significados das construções são compreendidos, levando em

consideração uma série de contextos, interpretações e intenções. De maneira

mais específica, esta sessão reúne discussões acerca da gramática (estrutura,

significado e funcionamento) do latim clássico, latim medieval, português arcaico,

castelhano arcaico e português brasileiro. Espera-se que esses trabalhos

contribuam não só para o aprimoramento teórico-metodológico da GC, quanto

para a Linguística Histórica, no momento em que oferece a ela uma nova

possibilidade de olhar os dados.

Palavras-chave: Gramática de Construções. Linguística Histórica. Filologia.

CONSTRUÇÕES EM LÍNGUA PORTUGUESA NO PERÍODO ARCAICO E A

ABORDAGEM CONSTRUCIONAL: ALGUMAS REFLEXÕES, HIPÓTESES E

AMOSTRAS

Deivid Borges Santos (PPGLinC - UFBA)

Pretende-se, com esta pesquisa, estudar as variadas construções com o

verbo dar no período arcaico (PA) da língua portuguesa (LP). Para tal, serve-se da

edição de fontes medievais, considerando a relevância das mesmas para o estudo

linguístico-histórico, em singular, para o estudo de fases pretéritas da LP. Os

pressupostos teórico-metodológicos que dão suporte a essa empreitada,

encontram-se embasados pela abordagem construcional da gramática de

Goldberg (1995; 2006), conhecida como Gramática das Construções e pelas

demais teorias que cercam a Linguística Cognitiva. Dessa forma, apoia-se na

proposta teórica goldbergiana que define língua como uma rede de unidades

simbólicas, ou seja, as construções (pareamentos de forma com função semântica

ou pragmática) que materializam processos cognitivos subjacentes à mente

humana. Além disso, tendo à disposição a documentação escrita, se estabelece

diálogo com a Linguística Histórica, pois busca-se reconstituir, de forma

aproximada, a realidade linguística da época, a partir da perspectiva strico sensu

desenvolvida por Mattos e Silva (2008), por isso, prioriza-se a utilização de

edições elaboradas com rigor filológico, como é o caso da edição presente no

Corpus Informatizado do Português Medieval, local onde estão registradas e

disponibilizadas as construções com o verbo DAR que serão alvo de análise. Ao

realizar, por fim, uma descrição construcional e em perspectiva sincrônica, busca-

se, por meio de uma abordagem de cunho quali-quantitativa, de natureza

bibliográfica, descritiva e analítica, responder quais as construções encontradas

no PA com o verbo DAR e qual a importância dessas construções para o estágio

43

atual da Língua Portuguesa, no que diz respeito ao comportamento observável

desse verbo.

Palavras-chave: Português Arcaico. Linguística Histórica. Gramática das

Construções.

UMA ABORDAGEM CONSTRUCIONAL DA ANTROPONÍMIA BRASILEIRA EM

PERSPECTIVA HISTÓRICA

Juliana Soledade (UnB)

Natival Simões Neto (UFBA/UEFS)

Construções linguísticas na abordagem cognitivista da linguagem são

compreendidas como um pareamento entre forma e função. Essas construções,

segundo Goldberg, em seu artigo Constructionist approach (2013), estão inter-

relacionadas por relações de herança, nas quais esquemas mais gerais dão origem

a esquemas mais específicos em todos os níveis linguísticos (sintaxe, léxico,

morfologia). O estudo que ora se apresenta parte da hipótese de que o fenômeno

da neologia antroponímica, característico da língua portuguesa na sua variedade

brasileira, obedece a padrões construcionais uma vez que se apresentam através

de combinações convencionais depreendidas do contexto de uso dos nomes no

Brasil. Por sua vez, as inferências de padrões construcionais antroponímicos

parecem sofrer importante influência da antroponímia de origem germânica, não

só no que se refere à incorporação recorrente de elementos formativos

relacionados a esse étimo, como também no que diz respeito à sua configuração

morfológica essencialmente biformativa (tradicionalmente entendidas como

bitemáticas). Ao observarmos um amplo conjunto de nomes neológicos chegamos

à hipótese de que essas construções biformativas podem ser a base

predominante das formações antroponímicas brasileiras, seja através de

processos concatenativos, seja através de processos não concatenativos de

formação de palavras. Por entender que os formativos são generalizações

emergentes sobre palavras existentes na forma de modelos parcialmente

preenchidos, a gramática das construções amplia a percepção acerca do papel da

morfologia na organização do léxico das línguas e isso inclui poder analisar

formativos antroponímicos, historicamente opacificados semanticamente, dentro

de um espectro mais amplo acerca do que se entende por morfologia. Portanto,

nesse estudo, que se esteia nos pressupostos da Morfologia Construcional (BOOIJ,

2010) e da Gramática das Construções (Goldberg, 1995), pretendemos

apresentar um conjunto de exemplos de prenomes que foram analisados à luz da

hipótese biformativa focalizando os tipos de processos construcionais

empregados na sua criação, tomando como referencial teórico Gonçalves (2016).

Como resultado, podemos afirmar que o estudo encontrou um conjunto bastante

44

amplo de dados que parecem sustentar a hipótese biformativa na neologia

antroponímica brasileira. Por fim, ressaltamos, com Goldeberg (2013, p. 9) que

“Encontrar duas construções em duas línguas diferentes que são exatamente

iguais em forma, função e distribuição é uma ocorrência rara fora dos casos de

história diacrônica mútua ou de contato entre as línguas”. Assim, impõe-se o

contato linguístico proporcionado pela presença sueva e visigoda na Península

Ibérica que terá reflexos consideráveis na antroponímia brasileira, uma vez que

não só parece predominar o modelo biformativo em prenomes neológicos, como

também os formativos de origem germânica apresentam-se como construções

similares em forma, função e distribuição, como será demonstrado nos exemplos

estudados por essa pesquisa.

Palavras-chave: Morfologia Construcional. Antroponímia. Português brasileiro.

ANÁLISE HISTÓRICO-CONSTRUCIONAL DO PREFIXO ARCHI- ~ ARQUI-: DO

GREGO AO ESPANHOL CONTEMPORÂNEO

Mailson dos Santos Lopes (UFBA)

O escopo da proposta finca-se num despretensioso rastreamento da

evolução histórica do formativo archi- ~ arqui-, desde o grego e latim antigos até

o castelhano medieval e, deste, inflectindo-se ao castelhano moderno e

contemporâneo, período no qual particularmente passa a gozar de franca

vitalidade. Para tanto, a partir de uma leitura crítica das incursões teórico-

analíticas de Soledade (2013a; 2013b; 2015a; 2015b; 2016; 2017; 2018), Simões

Neto (2016a; 2016b; 2017a; 2017b) e Lopes (2016a; 2016b; 2018a; 2018b),

lança-se mão de um recurso a um modelo morfológico holístico (LOPES, em

curso), que tenciona conjugar o esteio das propostas da Gramática das

Construções de Goldberg (1995; 2003; 2006) e da Morfologia Construcional de

Booij (2010a; 2010b; 2012a; 2012b; 2013; 2015; 2017a; 2017b; 2018) à devida

apreciação do fator sociohistórico que perpassa e caracteriza todo e qualquer

fenômeno linguístico. A partir de dados extraídos de gramáticas históricas,

dicionários etimológicos e, sobretudo, de um corpus empírico constituído por

meia centena de documentos do castelhano arcaico e de vários outros de seu

período moderno e contemporâneo, apresentar-se-á um esquema construcional

diacrônico unificado (do grego ao castelhano atual) para o elemento prefixal em

tela, explicitando-se também a formação paulatina de sua rede polissêmica,

mormente na última centúria, quando passou a gerar sentidos novéis

materializados em um conjunto considerável de derivados. Concomitantemente a

uma apreciação semântica do formativo, apresentar-se-á também um rol de

observações quanto à sua manifestação formal e ao seu comportamento

funcional, bem como a respeito de sua produtividade e vitalidade. A partir do

estudo, parece ser lícito preconizar a legitimidade de uma abordagem

45

morfológica que atrele simbioticamente história, empiria, cognição e

conhecimento enciclopédico na análise de operações prefixais, tendo em vista um

olhar mais dinâmico, integrador e eficiente sobre o complexo, polimorfo e

multiaxífero domínio da lexicogênese.

Palavras-chave: Prefixação. Castelhano. Morfologia Construcional.

AS CONSTRUÇÕES X-ARI- EM DOIS LATINS: DIFERENÇAS SEMÂNTICAS

ENTRE O CLÁSSICO E O MEDIEVAL

Natival Simões Neto (UFBA)

Nesta apresentação, pretende-se dar notícias de uma pesquisa de

doutoramento, voltada para a morfologia e semântica do latim e das línguas

românicas e que se baseia em modelos gramaticais desenvolvidos no âmbito da

Linguística Cognitiva, tais como a Gramática de Construções (GOLDBERG, 1995;

2006), a Teoria dos Mapas Semânticos (HASPELMATH, 2003) e a Morfologia

Construcional (BOOIJ, 2010). Uma vez que a pesquisa se insere como uma

continuidade da uma dissertação de mestrado (SIMÕES NETO, 2016) que

trabalhou com as construções portuguesas X-eir, desde a sua origem latina (X–

ārĭ) até o português arcaico, alguns aspectos desse trabalho de 2016 são

retomados. A respeito dos estudos sobre as construções sufixais X-eir,

encontram-se muitas descrições por parte dos morfólogos. Além de Simões Neto

(2016), destacam-se as dissertações de Botelho (2004), Marinho (2004),

Pizzorno (2010). Registram-se também a tese de doutoramento de Tavares da

Silva (2017) e a tese de livre-docência de Viaro (2011). São encontrados artigos e

capítulos de livro de Rocha (1998), Gonçalves, Yacovenco e Costa (1998),

Almei¬da e Gonçalves (2005), Rio-Torto (2008), Soledade (2013) e Simões Neto e

Soledade (2014). Um ponto que aproxima a maioria desses estudos é a tendência

aos recortes sincrônicos que não fazem remissão à origem do referido afixo, o –

ārĭu latino. Sobre a forma do latim, existem poucas descrições robustas e

sistemáticas, sendo Viaro (2011), Simões Neto (2016) e Tavares da Silva (2017) –

a partir dos dados de Simões Neto (2016) –, os únicos a se encarregarem de tal

tarefa, a partir de diferentes perspectivas teórico-metodológicas. Em Simões Neto

(2016), trabalhei com 246 construções X–ārĭ , extraídas do Dicionário Escolar

Latino-Português, de Faria (1995). Agora, além dessas, o trabalho conta com mais

458 construções, extraídas do Dicionário Latim-Português, da Editora Porto

(2012), totalizando 704 construções, todas do latim clássico. Outra inovação em

relação à pesquisa de 2016 é a análise de dados do latim medieval. Sabe-se que

essa variedade do latim, mesmo que apenas escrita, tal como o latim clássico,

havia absorvido características fonético-fonológicas, semântico-lexicais e

morfossintáticas do latim vulgar. Assim, a comparação entre o latim medieval e o

latim clássico pode nos dar algumas pistas sobre o latim falado. Para a obtenção

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desses dados, foi utilizado o Mediae Latinitatis Lexicon Minus, de Niermeyer

(1976), de onde foram coletadas 700 construções X-ari-.

Palavras-chave: Sufixação. Língua Latina. Morfologia Construcional.

Eixo temático: Filologia e Memória

Sessão Coordenada 3:

DE FONTES DOCUMENTAIS PARA UMA HISTÓRIA SOCIAL DA CULTURA

ESCRITA NO BRASIL: PERCURSOS DE PESQUISA

Coordenador: Pedro Daniel dos Santos Souza (UFBA)

A História Social da Cultura Escrita (HSCE), uma forma particular de fazer

História Cultural, tem como objetivo central interpretar as práticas e

representações sociais do escrever e do ler, assim como os discursos produzidos

por uma determinada sociedade sobre o que escreve e lê. Transcendendo a

concepção de escrita enquanto mero sistema gráfico, tomando-a, portanto, como

uma “ótica” a partir da qual as sociedades podem ser conhecidas, a HSCE

promoveu a expansão do método paleográfico, tradicionalmente restrito às

questões o que se escreveu? (“leitura correta”), quando se escreveu? (“datação”),

onde se escreveu? (“localização”) e como se escreveu? (“tipos gráficos”),

introduzindo no labor da investigação do objeto escrita duas novas questões:

quem escreveu? (“difusão social”) e por que escreveu? (“função social”). Ademais,

a emergência da HSCE vai ao encontro das rupturas promovidas na historiografia

quanto aos temas, objetos, métodos e fontes, abrindo espaço para debates

interdisciplinares entre a História, a Linguística, as Ciências Sociais, a Pedagogia,

entre outras áreas. Considerando as políticas de memória manifestadas na

prática arquivística de nosso país, para a escrita de uma história social da cultura

escrita no Brasil, o problema das fontes assume uma grande importância quando

se pretende recuar em nossa história pregressa e entrever as formas de

participação dos diversos sujeitos históricos no complexo mundo da escrita.

Diante dessas questões, na presente comunicação coordenada, pretendemos

discutir como, especificamente, a questão das fontes documentais tem-se

colocado para aqueles que investigam a história social da cultura escrita no

Brasil, em tempos e espaços diversos, na direção mais ampla de uma escrita da

história social linguística do país.

Palavras-chave. História Cultural. Cultura Escrita. Estudo de fontes.

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CULTURA ESCRITA E POPULAÇÕES INDÍGENAS NA BAHIA SETECENTISTA:

UM OLHAR SOBRE AS FONTES

Pedro Daniel dos Santos Souza (UFBA)

Na segunda metade do século XVIII, as reformas promovidas pela “nova”

política indigenista do governo de D. José I (1750-1777), transformando as

aldeias em vilas e as missões em vigairarias, refletiram não só em significativas

mudanças político-administrativas desses espaços, mas também na escolarização

das populações indígenas e, por extensão, na sua participação no complexo

mundo da cultura escrita no Brasil colonial. Embora, no âmbito da nova

historiografia sobre os povos indígenas, essa questão esteja consolidada, o

problema das fontes documentais para uma melhor compreensão das formas de

apropriação da escrita por esses sujeitos históricos ainda carece maior atenção.

Diferentemente da América espanhola, as poucas evidências materiais de uma

escrita indígena na América portuguesa, ainda que não neguem a participação

dos povos indígenas na cultura escrita, colocam desafios para os que se inserem

nesse debate. A par disso, no presente trabalho, buscamos refletir sobre as

formas de entrever, nas escassas fontes que dispomos até o momento, como se

deu a escolarização das populações indígenas na Bahia setecentista, já que só

dessa forma podemos “aventurar” uma história social da cultura escrita entre

esses povos no período em questão, buscando assim “fazer o melhor uso dos mais

dados”. Inscrevendo-se no campo da História Social da Cultura Escrita (HSCE) e

apoiando-se no método indiciário, nossa análise lança mão de fontes documentais

do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), cujo acesso à documentação ocorreu

por meio do Projeto Resgate de Documentação Histórico Barão do Rio Branco, ou

simplesmente Projeto Resgate, e do Arquivo do Estado da Bahia (APEB). Em

termos de tradições discursivas, as fontes analisadas envolvem uma

documentação composta por cartas, ordens régias, leis, alvarás, consultas,

provisões, requerimentos, instruções, ofícios, avisos, decretos, entre outros

gêneros próprios da administração e das práticas de governar do Império

português. Embora muitas questões ainda estejam por ser respondidas, a

discussão dessas fontes documentais abre caminhos para uma história social da

cultura escrita entre as populações indígenas na América portuguesa e, em

particular, na Capitania da Bahia, na segunda metade do século XVIII,

configurando-se como a escrita de mais um capítulo de nossa história social

linguística.

Palavras-chave: América portuguesa. Populações indígenas. Cultura escrita.

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O LIVRO DE RAZÃO DO CAMPO SECO E A MEMÓRIA SOCIAL LINGUÍSTICA DO

SERTÃO DA BAHIA OITOCENTISTA

Adilson Silva de Jesus (UFBA)

Este trabalho, que se encontra inserido na linha da História da Cultura

Escrita, tem por objetivo divulgar os primeiros resultados de um estudo em

andamento, que busca contribuir para a reconstrução da história social

linguística do Brasil, através da análise das práticas de escrita de uma família, no

sertão da Bahia oitocentista. Para tanto, apresenta-se a edição semidiplomática e

fac-similar de alguns fólios do Livro de Razão do Campo Seco, manuscrito de foro

privado do período colonial, escrito por três pessoas da mesma família, a saber:

Antônio Pinheiro Pinto, segundo senhor do Brejo; Inocêncio Pinheiro Canguçu,

terceiro senhor do Brejo, e Miguel Joaquim de Castro Mirante. O documento se

conservou no arquivo do Sobrado do Brejo, da família Pinheiro Canguçu, no

povoado de Bom Jesus dos Meiras – que pertenceu à Comarca de Rio de Contas –,

hoje denominado Brumado, no sertão da Bahia. Para além da edição, os seguintes

aspectos serão discutidos: i. as normas utilizadas; ii. os problemas de leitura do

manuscrito; iii. os aspectos relacionados às circunstâncias de produção do texto;

iv. as condições sociais nas quais ocorreu a apropriação da capacidade de

escrever dos sujeitos e, principalmente, a política da memória dos indivíduos e

das instituições que, historicamente, exercem jurisdição sobre o patrimônio

escrito. Julga-se importante tal abordagem, pois o documento escrito é também o

lugar de memória e, segundo Martin (2003), “Toda língua é feita de camadas

diversas: é necessário um mínimo de cultura histórica para discerni-las. Explicar

uma língua é, ao menos em parte, compreender sua história.”.

Palavras-chave: História social linguística. Livro de Razão. Lugar de memória.

ESCRITAS COTIDIANAS DOS SERTANEJOS BAIANOS: NOVOS ACHADOS

Huda da Silva Santiago (UFBA)

Neste trabalho, o objetivo é apresentar o conjunto de 40 cartas pessoais,

localizadas e editadas na atual etapa da pesquisa de doutorado, em andamento,

cujo projeto é intitulado “A escrita por mãos inábeis: aspectos linguísticos e

história da cultura escrita no sertão da Bahia (século XX)”. Essas cartas foram

escritas na mesma região e na mesma época das 91 cartas que constituem o

corpus principal da pesquisa; a maioria, pelos menos remetentes. Pretende-se,

portanto, discutir sobre como a ampliação desse corpus pode contribuir para

uma melhor caracterização dos redatores, no sentido de aumentar a quantidade

de dados para a construção de um contínuo, referente à inabilidade com a escrita

alfabética, que possa facilitar o reconhecimento de textos escritos por pessoas

49

com pouco domínio da técnica de escrita. A partir dos trabalhos de Marquilhas

(2000), Barbosa (1999) e Oliveira (2006), descrevem-se alguns aspectos

referentes à escriptualidade (desconhecimento de convenções do padrão gráfico),

assim como as propriedades físicas presentes nos documentos, já que, em se

tratando de cartas privadas, o conjunto das características físico-materiais pode

reafirmar as propriedades de uma escrita cotidiana, rápida, informal. Como

afirma Marquilhas (2015), no gênero epistolar, um registro muito próximo da

oralidade espontânea, esses recursos funcionam como uma forma de compensar

algumas características específicas da comunicação face a face. Além disso,

discute-se sobre as opções filológicas que envolvem a constituição de corpora

diacrônicos, na perspectiva das Humanidades Digitais, comentando-se acerca de

algumas questões metodológicas envolvidas nas edições realizadas (fac-similar,

semidiplomática e modernizada), na organização e na disponibilização do acervo.

Palavras-chave: Escrita cotidiana. Edição. Mãos inábeis.

ENTRE AS DEVASSAS DO BRASIL, OS PROCESSOS DE INSURREIÇÃO: UMA

FONTE PARA O ENTENDIMENTO DO FENÔMENO DA DIFUSÃO SOCIAL E DA

CIRCULAÇÃO DA ESCRITA NA HISTÓRIA DO BRASIL

André Luiz Alves Moreno (UFBA)

Em busca de pistas que possam nos aproximar de uma história da cultura

escrita no Brasil, este trabalho, a partir de cenários orquestrados em atmosferas

sediciosas, tem como objetivo apresentar uma possível fonte para as

investigações que se debrucem pela reconstituição histórica da difusão social da

escrita no Brasil colonial e pós-colonial: as devassas de insurreição. Estas

compõem uma importante fonte da história do Brasil, pois, tendo a finalidade de

investigar o delito de lesa-majestade – que representa um ultraje a uma

monarquia, porque manifestam os movimentos contrários à Coroa –, imprimem

em seu conteúdo aspectos relevantes da constituição sociológica do contexto em

que estão sendo implantadas. Isso as elegem como fontes privilegiadas para as

investigações que queiram se debruçar sobre esse campo de pesquisas, porque

nelas se fazem presentes os seus registros de assinatura, demarcando aqueles

que assinaram, a partir de firmas autógrafas, idiógrafas ou não alfabéticas, e

aqueles que não assinaram. Além disso, as apreensões realizadas pela junta

investigativa permitem-nos avaliar a circulação da escrita em meio a tais

conjunturas, pois a principais provas materiais que compõem os processos são

constituídas de elementos que estão diretamente relacionados com as práticas de

leitura e escrita dos envolvidos em tais movimentos.

Palavras-chave: História da Cultura Escrita. Difusão social da escrita no Brasil.

Insurreições coloniais.

50

Eixo temático Filologia e Questões teóricas da contemporaneidade

Sessão Coordenada 4:

PERSPECTIVAS CRÍTICO-LINGUÍSTICAS E O ENSINO DE LÍNGUA(S)

Coordenadora: Denise Maria Oliveira Zoghbi (UFBA)

Na contemporaneidade, a Filologia tem alargado seu campo de

investigação, avançando-se para além da atividade editorial, pelo viés da

interpretação, atualizando-se através da hermenêutica e da exegese, no diálogo

como outros campos do saber. Nos estudos da linguagem, o texto é objeto de

diferentes teorias, com uma prática que envolve atores sociais, em interação

discursiva, e o grupo a que pertencem. Nesse lugar, toma-se a Filologia como um

procedimento de leitura ativa e crítica do(s) texto(s), firmando relações com a

Análise do Discurso Crítica e com a Linguística Aplicada Crítica, configurando,

assim, uma relação disciplinar interativa, produtiva para análise dos temas aqui

propostos. Em consonância com estudos discursivos críticos, esta sessão

coordenada visa discutir como algumas áreas crítico-linguísticas contribuem para

o desenvolvimento de um sujeito mais crítico, mais reflexivo, considerando o

sujeito pós-moderno descentrado, fragmentado e perfomativo. A primeira

comunicação apresenta a Linguística Aplicada Crítica que dá voz aos grupos

socialmente excluídos, como mulheres, comunidade gay, pobres, negros, índios,

entre outros. O diálogo que a LAC mantém com outras ciências sociais e humanas

ajuda a discussão de temas como inclusão e diversidade em programas de

pesquisa que dão maior visibilidade e voz aos grupos de periferia. A segunda

comunicação discute o discurso político pedagógico e as interferências na

autonomia de ensino, levando em conta a contribuição da Análise do Discurso

Crítica. A terceira comunicação discute como os Estudos Críticos do Discurso

podem contribuir para o desenvolvimento de um ensino crítico da Língua

Materna. Para tanto, traz experiências vivenciadas no âmbito do Programa

Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID-UFBA.

Palavras-chave: Filologia. Linguística Aplicada. Discurso

CONTRIBUIÇÕES DA LINGUÍSTICA APLICADA CRÍTICA PARA UM ENSINO

CRÍTICO-REFLEXIVO

Denise Maria Oliveira Zoghbi (UFBA)

Na contemporaneidade, a Linguística Aplicada (LA) apresenta uma

identidade independente da Linguística, ciência autônoma, e considerada pura,

de onde a LA se originou. A sua vertente crítica, a chamada Linguística Aplicada

Crítica, envolve-se em questões, que na sua fase inicial estavam completamente

fora de suas discussões, como por exemplo, discursos em contextos não escolares,

51

diversidade, heterogeneidade do sujeito sócio-historicamente situado,

identidades performativas, entre outras. A LAC com sua vocação metodológica

interventiva crítica dá voz aos grupos de periferia que por muito tempo estavam

silenciados e ‘baixando a cabeça’ para grupos hegemônicos que os dominavam,

impondo suas visões de mundo e seus desejos. Segundo Kleiman ( 2013), a partir

da década de 90, no Brasil, a LAC vem dialogando de forma frutífera com outras

ciências sociais e humanas, como teorias críticas da Análise do Discurso, a Crítica

Literária, os Estudos Culturais, a Antropologia, a Sociologia, em busca de

respostas às questões que envolvem a linguagem e a constituição de saberes, os

mais diversos possíveis: feministas, étnicos-raciais, sociais e outros. Programas

de pesquisa que estão em desenvolvimento pretendem dar visibilidade e voz aos

participantes de movimentos feministas, de movimentos étnico-raciais, de

movimentos gays, dos sem-terra, dos sem-teto, dos sem-escrita, bem como aos

alfabetizadores e professores. Nós professores, particularmente, temos uma

responsabilidade social muito maior do que no passado. Precisamos ajudar a

construir sujeitos mais críticos, mais envolvidos com problemas sociais. Há uma

necessidade premente de conscientização e de fortalecimento da cidadania. E,

acreditamos que a Educação é a janela para que esse universo se apresente ao

nosso aluno. Somente através de um ensino crítico-reflexivo, conseguiremos

formar cidadãos que reivindiquem seus direitos e transformem a realidade global

e local.

Palavras-chave: Linguística Aplicada Crítica. Diversidade. Ensino crítico-reflexivo

DISCURSO POLÍTICO PEDAGÓGICO E ENSINO CRÍTICO

Elvira Mejía Herrejón (UFBA)

A visão crítica de mundo vem da educação e permite observar aspectos

discursivos relevantes que possibilitam a identificação de mecanismos de

controle e manipulação, nem sempre perceptíveis pela intuição. A falta de

investimento na educação crítica faz com que a maioria das pessoas não se atente

aos tentáculos do sistema e, sem o perceber, passe a ser defensora de uma

ideologia que não é sua e que na verdade a prejudica. Esta fala tem como marco

de referência a crise conjuntural de controle ideológico no Brasil, objetiva

analisar os discursos político pedagógicos que desestimulam a dimensão crítica

no ensino e aprendizagem de quaisquer conteúdos acadêmicos, dentre os quais o

ensino de línguas. Faz-se uma crítica ao controle das massas por meio da

produção de mais valia ideológica, termo cunhado a Ludovico Silva (2013), poeta

venezuelano e professor de filosofia, para quem o tempo livre em nossas

sociedades é o tempo destinado a esse tipo de produção, por meio da qual se

nutre o sistema capitalista. Em efeito o sistema vigente se alimenta do saldo

anímico de cidadãos alienados, extraindo deles toda energia psíquica, impedindo-

52

lhes um engajamento significativo na transformação da sociedade. O excedente

ideológico, tão importante quanto a mais valia econômica que os trabalhadores

produzem enquanto assalariados, se produz de várias formas, entre as quais a

compulsão e mecanicidade no uso da televisão, internet, celular, smartphone e

quaisquer outros meios de alienação social. Semear inseguranças, receios e

ameaças à liberdade de escolhas individuais e coletivas são formas de produção e

absorção de energia psíquica que deixa grande saldo de passividade, falta de

estímulos para a leitura, o estudo e a pesquisa de caráter crítico, terreno propício

para o cidadão comum se tornar aliado ao sistema que critica, pois é, segundo

Vasconcelos (2013) pela mais-valia ideológica que os explorados e oprimidos

prestam lealdade aos opressores. Daí a necessidade de aprender a analisar os

discursos políticos pedagógicos e a maneira como estes determinam o arcabouço

teórico e a exercício educacional; discutir as crenças rígidas sobre ensino e

aprendizado; as correntes ideológicas e doutrinárias que integram esses

discursos e suas interferências na prática do abuso de poder, na desigualdade e

no preconceito que se reproduz e determina os rumos da educação.

Palavras-chave: Discurso Político Pedagógico. Mais-Valia Ideológica. Autonomia

Educacional.

ENSINO CRÍTICO DE LÍNGUA MATERNA: UMA EXPERIÊNCIA PIBID-UFBA

Lavínia Neves dos Santos Mattos (UFBA)

Em tempos de tecnologias voláteis e multifacetamento social e cultural das

realidades escolares, novos e diferentes desafios confrontam as práticas

educacionais atuais, evidenciando a necessidade de estratégias que melhor

respondam às suas demandas, sobretudo em relação aos usos sociais da língua

materna (doravante LM). No segmento de ensino da LM, a atenção recai não

apenas sobre o professor que já está atuando, e o seu processo de atualização e

capacitação profissional, como ganha destaque na figura do professor em

formação, e suas perspectivas enquanto futuro profissional. Para ambos, a

inegável necessidade de interfaces eficientes entre competências e habilidades

para um ensino funcional da língua materna e, não obstante, a possibilidade de

assunção de uma postura política, autônoma e reflexiva da e sobre a prática, esta

sempre em fluxo e (re)significações. Tais constatações repousam sobre o campo

do ensino sob a perspectiva dos estudos críticos da linguagem, foco este o da

nossa discussão a ser apresentada nessa comunicação, mais especificamente pelo

viés dos Estudos Críticos de Discurso, a partir de conceitos que delineiam a noção

de criticidade, sujeito, práticas e papel social. Para dar corporeidade a essas

reflexões sobre o ensino crítico da língua materna, exporemos experiências

vivenciadas no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à

Docência – PIBID – UFBa, Subprojeto Letras Língua Portuguesa, durante o

53

segundo semestre de 2017, a partir da articulação entre orientações, concepções

e práticas entre o professor da academia, o da rede básica de ensino e o que está

em formação inicial, este estudante de licenciatura em Letras Vernáculas. A partir

dessa discussão e relatos de experiências, buscamos somar possibilidades para o

campo de formação de professores da LM e o Ensino de LM sob a perspectiva

crítica da linguagem.

Palavras-chave: Ensino Crítico de Língua Materna. Estudos Críticos de Discurso.

PIBID UFBA Letras Língua Portuguesa.

Eixo temático Teorias e práticas editoriais

Sessão Coordenada 5:

DEVIR FILOLÓGICO: EDIÇÕES DE DOCUMENTOS VÁRIOS

Coordenadora: Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS)

Desde que a escrita passou a ser o meio pelo qual a humanidade se utilizou para

deixar à posteridade seus feitos, suas emoções, seus anseios, que o acúmulo de

documentação se tornou implacável. Em variados suportes, a escrita se fez

presente, seja nas tabuinhas de argila, seja nos papiros e pergaminhos, seja no

papel e, atualmente, nos meios virtuais. Sendo assim, a intervenção das mãos de

quem escreve, datilografa ou digita, ocorre inevitavelmente. Deste modo, no

século III a.C., diante de inúmeras versões para os textos de Homero, que alguns

filólogos se reuniram em centros gregos de estudo, neste caso a Biblioteca de

Alexandria, para estabeleceram criticamente esses textos, ou seja, para chegaram

àquele que o autor teria concebido. Surge então a Filologia, ciência que se ocupa

do estudo da língua, da literatura e da cultura de um povo ou grupo de povos

através de sua produção escrita. Isto posto, propõe-se nesta sessão coordenada o

estudo de documentos vários, manuscritos ou impressos, de épocas distintas, sob

a ótica da Filologia. Sendo assim, serão analisados documentos referentes à 1ª

Visitação do Santo Ofício na Bahia, datado do século XVI; documentos cartoriais

do Brasil Império sobre venda, permuta e doação de escravos da Vila da

Independência (Paraíba); sobre o periódico baiano que circulou no século XIX,

Echo Santamarense, e seus textos que ora eram favoráveis à escravidão e ora já a

davam por finda; e os documentos referentes à prática de defloramento e

curandeirismo da região de Feira de Santana (Bahia), do início do século XX. A

partir destes, as integrantes desta sessão farão suas abordagens seguindo as

trilhas filológicas iniciadas no século III a.C.

Palavras-chave: Filologia. Documentação. Edições.

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A PRÁTICA DA SODOMIA COMO CRIME PERSEGUIDO PELO TRIBUNAL DO

SANTO OFÍCIO NA BAHIA DO SÉCULO XVI: EDIÇÕES FAC-SIMILAR E

SEMIDIPLOMÁTICA

Ana Claúdia de Ataide Almeida Mota (UNIT)

Nos idos do século XVI, entre 1591-1592, atracou na capital da Baía de

Todos os Santos, Salvador, a comitiva de familiares do Santo Ofício vinda

diretamente de Portugal, a fim de identificar os crimes perseguidos pela Santa

Inquisição. Tal temática desperta o interesse sob o viés filológico na medida em

que permite uma abordagem multidisciplinar da documentação produzida por

ocasião da 1ª Visitação do Santo Ofício, a saber: livros de confissões,

reconciliações e denunciações. Nesta pesquisa, os estudos filológicos da

documentação em apreço foram desenvolvidos com base no Primeiro livro de

Reconciliações e Confissões da Visitação do Santo Ofício ao Brasil, disponível

online no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, no qual se descreve uma dezena

de crimes condenados pela Santa Inquisição e, dentre eles, localiza-se a sodomia.

Ora, a prática em questão é definida como um pecado nefando “abominável” e,

como tal, foi um dos crimes mais perseguidos pelo Tribunal do Santo Ofício

(ORDENAÇÕES AFONSINAS, Livro V, Título III, p. 1162). Nessa perspectiva,

busca-se descrever a confissão realizada por Frutuoso Alvares, vigário da Igreja

de Nossa Senhora do Matoim, realizada perante o inquisidor Heitor Furtado de

Mendonça, cuja incumbência é atestar e condenar os crimes perseguidos pelo

Santo Ofício. A confissão do vigário é a primeira descrita no códice pelo visitador,

a qual posteriormente foi seguida por 120 que representaram os mais diversos

crimes, a exemplo do judaísmo, blasfêmia, gentilismo, luteranismo, leitura de

livro proibido, bigamia, feitiçaria, solicitação e fornicação. A partir das edições

fac-símile e semidiplomática, busca-se descrever a confissão em questão sob a

perspectiva sócio-histórica e cultural do códice.

Palavras-chave: Filologia. Santo Ofício. Edições.

DOCUMENTOS CARTORIAIS DO BRASIL IMPÉRIO: ESCRITURAS DE

VENDA, PERMUTA E DOAÇÃO DE ESCRAVOS

Antonieta Buriti de Souza Hosokawa (UFPB)

A pesquisa intitulada DOCUMENTOS CARTORIAIS DO BRASIL IMPÉRIO:

ESCRITURAS DE VENDA, PERMUTA E DOAÇÃO DE ESCRAVOS tem como objetivo

fazer a leitura e edição semidiplomática justalinear de escrituras de contratos

registrados na Vila da Independência -PB, no ano de 1876. O corpus total é

composto por 192 fólios escritos no recto e verso e foi registrado por três

copistas, no entanto, selecionaremos, para esta apresentação, apenas os

55

documentos que discorram sobre: venda, permuta e doação de escravos. Além da

edição, faremos um breve levantamento do léxico com vistas à organização de um

glossário com micro e macroestruturas. Vale lembrar que a importância desses

documentos, para essa pesquisa, é de grande valia porque revela um momento

histórico da atual cidade de Guarabira-PB, pois não há estudos sobre a

documentação manuscrita dessa cidade, o que nos impulsiona a desenvolver

pesquisas com vistas aos estudos linguísticos e históricos, pois no dizer de Le Goff

(1996, p.547 apud ABBADE, 2016, p. 159), o documento não é inócuo, é

monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro -

voluntária ou involuntariamente - determinada imagem de si próprio, além disso,

nos permite ampliar nossos conhecimentos sobre o estado da língua portuguesa

desse tempo, pois esse pode nos revelar elementos da dinâmica da Língua

Portuguesa escrita no Brasil. É importante ressaltar que resgatar documentos

manuscritos que retratem a nossa história é de suma importância para os estudos

filológicos, históricos e evolução da Língua Portuguesa pois, segundo Vera Acioli

(2003, p. 1): "O documento manuscrito é considerado a mola-mestra da História"

por representar um verdadeiro patrimônio cultural.

Palavras-chave: Documentos cartoriais. Escrituras de venda, permuta e doação de

escravos. Edições.

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AGRICULTURA E ABOLIÇÃO EM O ECHO SANT’AMARENSE: EDIÇÃO

INTERPRETATIVA

Maria da Conceição Reis Teixeira (UNEB)

Vários periódicos circularam na Bahia do século XIX, uns defendiam a

bandeira dos escravos, outros, a dos escravocratas. Em Salvador, a capital

política, econômica e cultural, vários intelectuais fundaram agremiações,

irmandades e periódicos para discutir e propagar os ideais abolicionistas e/ou

escravistas. Fora dos limites da capital baiana muitos também se engajaram

fundando periódicos, por exemplo. Em Santo Amaro-Bahia, devido ao alto nível

cultural e econômico do município e sua relevância como polo econômico do

estado, a imprensa também esteve bastante ativa. A gazeta Echo Sant’amarense,

um dos principais jornais que circulou na última década da escravidão negra em

Santo Amaro, pertencia ao partido conservador e funcionou como porta-voz dos

escravagistas baianos. Entre os anos 1881 a 1886, publicou em suas páginas

textos de gêneros diferentes que, embora estivessem contra a bandeira

abolicionista, revelam que a escravidão institucionalizada estava por chegar ao

fim. Os textos veiculados no referido periódico trazem informações preciosas que

poderão revelar nuances ainda desconhecidas sobre este capítulo obscuro da

história da Bahia. Pretende-se, na presente comunicação, tecer considerações a

respeito do trabalho filológico desenvolvido com a coleção do referido periódico

correspondente ao período de julho de 1881 a outubro de 1881. Acredita-se que,

ao resgatar o texto oferecendo-o ao público edições fac-similar e interpretativa de

textos lavrados em épocas pretéritas, o filólogo estará contribuindo para a

compreensão do período em que os textos foram lavrados e, por conseguinte,

para desvendar alguns aspectos da história sócio-política, cultural, literária e

linguística de uma sociedade. Dessa forma, o trabalho de resgate dos textos

veiculados em periódicos baianos é de suma importância para a preservação da

história da Bahia, especialmente para aquele período em que predominou o

regime escravista no Brasil.

Palavras-chave: Filologia. Echo Santamarense. Edição interpretativa.

ENTRE AUTOS DE DEFLORAMENTO E CURANDEIRISMO: EDIÇÕES FAC-

SIMILAR E SEMIDIPLOMÁTICA

Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS)

Documentos sob a guarda de acervos públicos e/ou privados constituem-

se como verdadeiros patrimônios sócio-linguístico-histórico-culturais, pois são

registros que vão sendo deixados ao longo do caminho. Neste sentido, o filólogo,

ao se deparar com acervos dessa natureza, acha-se no dever e na obrigação de

57

realizar estudos filológicos, nos quais a documentação possa ser editada e

ofertada a outros pesquisadores e/ou a um público menos especializado. Tais

estudos se acercam das questões sócio-linguístico- histórico-culturais, as quais se

voltam para a língua em que o texto foi escrito, aspectos sociais e históricos da

época em que os documentos foram lavrados, e a cultura que permeia a tríade

sócio-linguístico-histórica. Deste modo, enveredamos pelo acervo do Centro de

Documentação e Pesquisa, doravante CEDOC (Cf. www.uefs.br/cedoc), órgão da

Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), no qual se encontram

documentos manuscritos, datiloscritos e impressos, das esferas cível e crime, dos

séculos XIX e XX. Neste acervo, nos deparamos com autos de defloramento,

documentação que trata do desvirginamento de jovens menores de idade; bem

como de queixas sobre a prática de curandeirismo, nas quais pessoas são

acusadas de promoverem “candomblé” ou feitiçarias, ministrarem substâncias

dos reinos da natureza para a cura de enfermidades. Diante desses documentos

manuscritos, datados do início do século XX, empreendemos as edições fac-

similar e semidiplomática, a fim de trazer à tona questões sócio-linguístico-

histórico-culturais. Deste modo, propomos neste trabalho a apresentação das

edições do auto de defloramento de Maria José e da queixa crime sobre

curandeirismo (cujos reús são Victorino Araujo da Silva e Pedro Alves d’Almeida).

Neste sentido, a edição semidiplomática traz em seu bojo os aspectos intrínsecos

e extrínsecos, os quais serão explanados.

Palavras-chave: Filologia. Autos de defloramento e curandeirismo. Edições.

Eixo temático Teorias e práticas editoriais

Sessão Coordenada 6:

Estudos de processos interartes

Coordenadora: Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)

A presente mesa tem como objetivo divulgar os trabalhos realizados por

pesquisadores do Grupo de Pesquisa e Extensão Tradução, Processo de Criação e

Mídias Sonoras (PRO.SOM): Estudos de Tradução Interlingual e Interartes,

coordenado pela Profa. Dra. Sílvia Maria Guerra Anastácio, no Instituto de Letras

da Universidade Federal da Bahia. Nesta sessão, pretende-se contemplar

abordagens críticas que articulem diálogos entre estudos de crítica genética e

criações multimodais a fim de que se possa analisar e discutir a sua construção

nos meios artísticos audiovisuais contemporâneos. O foco estará ainda centrado

na percepção do processo criativo de audiolivros, legendas e audiodescrição,

tendo como finalidade tornar obras artísticas acessíveis para o público com

deficiência visual e auditiva, bem como refletir sobre processos de criação no

cinema e processos de tradução que geraram audiolivros a partir de obras

teatrais.

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Palavras-chave: Estudos de processo. Tradução. Obras audiovisuais.

ADAPTAÇÕES FANTÁSTICAS E COMO SÃO FEITAS: A GÊNESE DE "ANIMAIS

FANTÁSTICOS E ONDE HABITAM" PARA O CINEMA

Flávio Azevêdo Ferrari (UFBA)

Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)

Esta pesquisa objetiva estudar o processo criativo do filme Animais

Fantásticos e Onde Habitam (2016), baseado no livro homônimo, de Joanne

Kathleen Rowling (J.K. Rowling), publicado em 2001 para angariar fundos para

uma instituição de caridade britânica. Trata-se de um livro didático ficcional

utilizado pelos estudantes da escola de magia e bruxaria de Hogwarts, parte da

popular série literária Harry Potter. Na adaptação intermidiática, a releitura

contemplou as especificidades do cinema, a partir da expansão dos ensinamentos

do livro, composto de um catálogo das criaturas fantásticas do mundo de Harry

Potter, para um drama em longa-metragem com novos personagens, trama

linear; estrutura e arcos dramáticos, trilha sonora, efeitos visuais em computação

gráfica entre outros. Toda uma rede de criação é tecida em torno dos documentos

digitais que envolvem a criação do filme em análise, desde making ofs, pequenos

vídeos extras, entrevistas encontradas na versão em Blu-ray da obra, além de

livros com rascunhos de sets, figurinos, artes conceituais e storyboards. Chama a

atenção, no que concerne os estudos de processo, dois vídeos interativos em 360

graus que apresentam o processo de criação de alguns dos sets do filme,

permitindo ao pesquisador acompanhar o processo criativo em qualquer direção,

e não apenas em um plano fixo como nos vídeos tradicionais. Deseja-se, assim,

discutir o papel dessa nova modalidade audiovisual e suas possíveis implicações

nos estudos em Crítica Genética. Como principais eixos teórico-metodológicos,

além dos estudos de processo, a pesquisa apoia-se em estudos sobre adaptação e

tradução intersemiótica, teoria do drama, roteiro cinematográfico e teoria do

cinema.

Palavras-chave: Crítica Genética. Cinema. Adaptação.

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A CARTILHA "TRÊS VIVAS PARA O BEBÊ" EM AUDIOLIVRO: A CRIAÇÃO DE

UM ROTEIRO PARA PEÇA RADIOFÔNICA

Mirela Dornelles Gonzalez Paz (UFBA)

Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)

Estudar o processo de criação de roteiros para audiolivro é uma

investigação instigante, que requer conhecimentos, especialmente, sobre a

estética radiofônica. O que se percebe, inicialmente, é que os roteiros podem ter

um ou mais pontos de partida. Podem surgir de uma inspiração; de uma ideia

qualquer que sirva de gatilho para gerar uma trama; de trás para frente, pois é

possível começar escrevendo o final da história para depois pensar o resto da

trama; ou ainda, da adaptação de outra obra, dentre tantas possibilidades. Os

mecanismos de criação de um autor podem ser diversos, assim como diferentes

tipos de roteiro podem gerar formas distintas de criação. Diante de todos esses

possíveis caminhos, o foco da presente pesquisa é a análise do processo de

criação de um roteiro para uma peça radiofônica. Especificamente, neste caso,

uma adaptação que teve como ponto de partida a cartilha intitulada Três Vivas

para o bebê! Guia para mães e pais de crianças com microcefalia. O material foi,

originalmente, desenvolvido pelos grupos Movimento Down e Abraço à

Microcefalia, tendo sido publicada a cartilha em março de 2016. Ela foi idealizada

para servir como um guia de instruções e apoio a mães e pais de crianças com

microcefalia. O audiolivro Três Vivas para o bebê! Cartilha roteirizada para

audiolivro foi produzido com o intuito de dar acessibilidade à cartilha a pessoas

com baixo nível de escolaridade, deficientes visuais ou com baixa visão. Todo o

material que abrange desde a adaptação do texto escrito à direção dos ensaios e

gravação do roteiro criado a partir da cartilha transformada em peça radiofônica

foi arquivado e organizado sob a forma de dossiê de criação, tendo como

embasamento teórico e metodológico a Crítica Genética. O objetivo deste trabalho

é compartilhar os resultados parciais desta pesquisa.

Palavras-chave: Roteiro. Intermídia. Estudos de processo.

DESVENDANDO O PROCESSO CRIATIVO DA TRADUÇÃO DA PEÇA DE ATHOL

FUGARD, “STATEMENTS AFTER AN ARREST UNDER THE IMMORALITY ACT”

Raquel Borges Dias (UFBA)

Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)

O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados parciais da tese de

doutorado O processo de criação da tradução da peça “Statements after an arrest

under the Immorality Act”, de Athol Fugard. Caracterizado por seu engajamento

60

em questões políticas e direitos humanos, Fugard (1932 - ) apoiou o movimento

contra o Apartheid por mais de trinta anos, o que o levou a ser vigiado pela

polícia e a sofrer restrições do governo. Com isso, o autor começou a produzir

peças, com ampla divulgação fora de seu país, demonstrando forte consciência

dos problemas locais para todo o mundo. Autor de diversas obras mundialmente

conhecidas, uma das peças mais relevantes de Athol Fugard é “Statements After

an Arrest Under the Immorality Act” (1974). O texto dramático de Fugard

demonstra a consciência social do autor frente ao contexto em que a África do Sul

se encontrava na década de 1970, uma vez que retrata um romance entre uma

mulher branca e um homem negro, naquela região, em um período marcado pelo

regime do Apartheid e da Lei da Imoralidade, que proibia relações sexuais inter-

raciais. O texto foi traduzido para o português como “Depoimentos após o

flagrante de uma infração à Lei da Imoralidade” por pesquisadores de iniciação

científica entre 2011 e 2012, tendo sido posteriormente gravado em audiolivro.

Considerando-se o caráter inédito da obra em língua portuguesa, interessa-nos

refletir acerca do processo criativo da tradução em questão. Para tanto, estão

sendo realizadas as seguintes etapas da pesquisa: considerações acerca do

embasamento teórico-metodológico utilizado; contextualização histórica da obra

de Fugard; comentários sobre o autor da peça e o texto dramático em si; e

proposta de adaptação para peça radiofônica do texto dramático de Fugard.

Interessa-nos, portanto, divulgar o trabalho que já foi realizado, propondo uma

edição genética do material disponibilizado com a finalidade de dialogar com

outros pesquisadores, que se interessem pela temática apresentada.

Palavras-chave: Criação. Tradução. Athol Fugard.

ESTUDO SOBRE ACESSIBILIDADE NA RECRIAÇÃO DO ROTEIRO SONORO DO

AUDIOLIVRO "A ACENDEDORA DE LAMPIÕES"

Renata Mariani Miranda (UFBA)

Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)

A presente pesquisa é um estudo sobre acessibilidade a partir da peça

radiofônica em audiolivro, A Acendedora de Lampiões, traduzida e adaptada pelo

Grupo Pro.Som em 2013 e baseada no texto fonte, The Lamplighter, Jackie Kay,

2007. Escrito pela autora escocesa Jackie Kay, o texto de partida é também uma

peça radiofônica. Trata-se de uma narrativa de gênero épico, que apresenta o

drama vivido por negros nos séculos XVIII e XIX, vindos da África e trazidos em

navios negreiros para o Reino Unido a fim de serem escravizados nas colônias

britânicas. A história é contada por cinco mulheres negras e a temática desta

pesquisa emergiu da necessidade de analisar o roteiro sonoro da referida peça

radiofônica e identificar a inclusão de recursos de áudio, que se fizeram

necessários, para favorecer a compreensão de determinados trechos da narrativa,

61

que estavam gerando ambiguidade na recepção do referido audiolivro. Por se

tratar de uma mídia sonora, em que a imagem visual não atua como recurso

auxiliar para a ambientação das cenas, o som se torna, naturalmente, a

ferramenta principal de transmissão das informações inerentes ao enredo; daí a

necessidade de se investir em todo o tipo de recursos sonoros, que possam

contribuir para enriquecer o processo de criação em estudo. Como o audiolivro A

Acendedora de Lampiões está divulgado em streaming no Repositório da EDUFBA

e se constatou a presença de problemas nessa gravação, após a sua publicação,

decidiu-se fazer uma revisão do áudio lançado pela editora. Para tanto, foi

realizada uma série de testes de recepção aplicada pela equipe técnica do

Pro.Som à pessoas com deficiência visual que, tendo em vista sua reconhecida

acuidade auditiva e experiência no uso do audiolivro como ferramenta de

acessibilidade, se mostraram eficientes no sentido de sugerir os ajustes

necessários; assim, tais ajustes foram incorporados ao novo roteiro técnico e

passaram a fazer parte do processo de revisitação do áudio em questão para que

uma nova versão seja colocada em streaming. Esse processo tem sido

acompanhado pela proponente desta pesquisa, cujo recorte de investigação

aborda os registros colhidos no referido processo de revisão, em estudo. Os

encontros entre a equipe técnica do PRO.SOM e o grupo de pessoas com

deficiência visual têm sido registrados, em meio digital, através de gravações de

áudio, que guardam os depoimentos colhidos com o intuito de direcionar os

ajustes necessários, processo em que os ouvintes convidados, como sujeitos

ativos desse processo de criação, acabaram por gerar uma nova proposta de

roteiro sonoro e, consequentemente, nova versão do audiolivro mencionado.

Palavras-chave: Audiolivro. Acessibilidade. Roteiro sonoro.

Eixo temático Teorias e práticas editoriais

Sessão coordenada 7:

Estudos de processos interartes

Coordenadora: Sirlene Ribeiro Góes (UFBA)

O ROMANCE "FLORES RARAS E BANALÍSSIMAS" REVISITADO NO FILME

"FLORES RARAS“

Rosana Amorim (UFBA)

Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)

A literatura e o cinema, como formas de linguagem e expressão artística,

têm dialogado de maneira cada vez mais próxima. Ao pensar na adaptação do

texto de partida, o romance de Carmem Lucia Oliveira, para o filme de Bruno

Barreto, podemos considerar que essa recriação no texto de chegada se apresenta

62

com múltiplas possibilidades interpretativas, trazendo “rastros” do texto de

partida. É sob esse prisma que a presente comunicação objetiva mostrar o filme

Flores Raras como uma adaptação do romance Flores Raras e Banalíssimas. Com o

objetivo de conhecer os caminhos que levaram à criação da obra cinematográfica,

com base nos roteiros disponibilizados pela Produtora L.C. Barreto, refletiremos

sobre a gênese da referida obra pelo viés da análise dos seus documentos de

processo, utilizando princípios e critérios da crítica genética, além dos estudos de

adaptação e intermidialidade. O que planejamos é uma reflexão sobre a gênese da

referida obra pelo viés da análise dos manuscritos deixados pelos roteiristas,

utilizando princípios e critérios da crítica genética. Entendemos que esse

processo de análise de transposição entre o texto literário Flores Raras e

Banalíssima e o texto fílmico Flores Raras revela que a tão debatida oposição

livro/filme tende a se transformar cada vez mais numa relação de “suplemento”,

reafirmando que todo texto é completo em si mesmo, mas traz em si as

particularidades do olhar de cada autor, inclusive do roteirista que se propôs a

ressignificá-lo.

Palavras-chave: Literatura. Cinema. Flores Raras.

UMA PROPOSTA DE EDIÇÃO GENÉTICA: A PEÇA RADIOFÔNICA "A LENDA DE

IPING"

Sandra Cristina Souza Corrêa (UFBA)

Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)

Produzidas em autoria colaborativa pelo Grupo PRO.SOM da Universidade

Federal da Bahia, as peças radiofônicas publicadas em audiolivros apresentam

traços multimidiáticos, os quais se revelam, ao longo desse processo criativo.

Conceitos que se reportam aos estudos interartes e intermidiáticos,

especialmente propostos por Claus Clüver (2016) e Irina Rajewsky (2016), têm

sido úteis nesta investigação, que dialoga com questões de tradução, estética

radiofônica, semiótica e crítica genética. Interessa conhecer o processo de criação

de uma peça radiofônica a partir do seu texto de partida, no presente pesquisa,

um romance de língua inglesa, sabendo que tal processo se constituiu por etapas

diferentes, a saber: inicialmente, a tradução interlingual para o português,

seguida da recriação desse texto para um roteiro de gravação; o referido roteiro

já inclui efeitos sonoros pontuais, que marcam um encadeamento de ações

diversas de cada cena, mas também, efeitos de fundo sonoro, que sugerem

ambiências, além da inclusão de músicas, trilhas e cortinas sonoras, ou um jogo

de pausas e silêncios mais marcantes, que acompanham o ator principal do

audiolivro: a voz, que entra com diferentes modulações e ritmos, expressando

impressões e sensações as mais diversas. Segundo Santaella (2010), a linguagem

sonora é uma matriz predominantemente icônica, e, como tal, geradora das

63

sensações, dos sentimentos e das emoções as mais variadas; é essa matriz sonora

a base dos estudos semióticos do processo de criação da peça radiofônica em

estudo. Todos esses documentos de processo são gerados em meio digital e

armazenados no Google Drive, o que possibilita que todos os agentes envolvidos

na referida criação possam trabalhar ao mesmo tempo, em rede. Finalmente, no

estúdio, no Programa Pro.Tools, são gravadas as trilhas das peças radiofônicas e,

produzidos, assim, mais manuscritos digitais, sendo que tal processo é registrado

por filmadoras e gravadores, que testemunham a gênese em estudo; inclusive, os

ensaios relâmpagos, que ocorrem, antes das gravações propriamente ditas são

amplamente registrados. Este estudo apresenta a proposta de uma edição

genética do processo criativo da peça radiofônica A Lenda de Iping, baseada no

romance The Invisible Man publicado em (1897) do escritor britânico H. G. Wells

(1866-1946), sendo que o recorte escolhido é abordar, em especial, a construção

do roteiro de gravação e sua passagem para a linguagem sonora, analisando,

inclusive, problemas técnicos que precisaram ser enfrentados para dar conta

dessa transposição midiática.

Palavras-chave: Crítica Genética. Peça radiofônica. A Lenda de Iping.

FANSUBBING: OS BASTIDORES DA LEGENDAGEM AMADORA

Shirlei Tiara de Souza Moreira (UFBA)

Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)

A presente proposta busca analisar o processo de criação das legendas de

séries televisivas produzidas pelos grupos dos fansubbers. Os fansubbers são

legendistas amadores, geralmente fãs de uma determinada série, que se

organizam em grupos para legendar os episódios de uma forma mais rápida e

dinâmica, disponibilizando-os na internet, sem precisar esperar até que a legenda

oficial - produzida por um tradutor profissional, esteja disponível ao grande

público. Considerando a dimensão e amplitude deste fenômeno, tentaremos

entender como os legendistas amadores organizam suas práticas e como

estabelecem as normas que regem suas escolhas tradutórias, para tal,

buscaremos apoio teórico-metodológico na Crítica Genética, na tentativa de

reconstruir e privilegiar o processo de criação dessas legendas, e não apenas

analisar e cotejar seu produto final, buscando compreender essa demanda

tradutória, na perspectiva de processo e de um trabalho fruto de uma produção

coletiva. Para analisar as legendas, no que diz respeito aos parâmetros técnicos,

nos amparamos nos Estudos Tradutórios relacionados à Tradução Audiovisual,

nos escritos de Chaume e Diaz-Cintas, trazendo como contraponto as

especificidades técnicas do manual elaborado pelo próprio grupo. Acessaremos

os bastidores dessa criação tradutória, através da análise da captura de tela que

detalhará o processo de criação do legendista, nos fornecendo o passo a passo de

64

todo o processo tradutório, bem como, com a aplicação de questionários que

investiga o modus facendi dos legendistas amadores. Nossa análise, além de

permitir compreender a dinâmica dos grupos de fansubbers, contribui com os

estudos e pesquisas no âmbito da Crítica Genética, da Tradução Cultural e

Audiovisual.

Palavras-chave: Fansubbing. Crítica Genética. Tradução Audiovisual.

ESTUDOS DE PROCESSO DE OBRAS AUDIOVISUAIS: FORMAS DE REGISTRO E

RESGATE

Sirlene Ribeiro Góes (UFBA)

Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)

Embora obras audiovisuais circulem abundantemente em redes

televisivas, sites, dispositivos móveis e em mídias diversas, o estudo de processos

criativos dessa materialidade encontra-se em estado embrionário. Poucas

investigações são conhecidas sob esse viés de análise, mas já despertam o

interesse de alguns pesquisadores. O interesse é observado, por exemplo, no

Grupo de Pesquisa Tradução, Processo de Criação e Mídias Sonoras: Estudos de

Tradução Interlingual e Interartes – PRO.SOM, da Universidade Federal da Bahia,

cujos membros têm desenvolvido pesquisas sobre o processo de tradução,

adaptação e gravação de mídias sonoras (audiolivros), o processo de criação de

legendas fílmicas e o processo de tradução/interpretação em Janela de Libras

(Língua Brasileira de Sinais). Notamos que a dificuldade em conseguir dossiês de

obras audiovisuais se configura no principal entrave para a expansão de estudos

dessa temática. Dessa forma, o presente estudo objetiva apresentar e discutir

formas de registro e resgate de documentos de processo pertencentes a criações

audiovisuais, refletindo sobre seus locais de guarda, circulação e estratégias para

o resgate de movimentos genéticos, imprescindíveis para a análise. De modo a

apresentar uma exemplificação dos itens discutidos, serão trazidos trechos de

processos de criação audiovisuais referentes à legendagem e à

tradução/interpretação em Janela de Libras da animação fílmica Raccoon &

Crawfish (2007), um curta metragem de aproximadamente oito minutos, criado

pela Nação Indígena Oneida, como forma de salvaguardar as suas tradições e

transmiti-las a outras culturas e gerações. Neste trabalho, contamos com o

embasamento teórico-metodológico da Crítica Genética e da Tradução

Audiovisual para, respectivamente, investigar a constituição, o registro e o

resgate de documentos de processo audiovisuais para embasar as análises feitas

a partir de práticas de tradução audiovisual.

Palavras-chave: Estudos de processo. Tradução audiovisual. Janela de Libras.

65

A PESQUISA NARRATIVA AUTOBIOGRÁFICA E PRÁTICAS ACADÊMICAS

INCLUSIVAS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO DE UMA ALUNA COM

BAIXA VISÃO

Adriana da Paixão Santos (UFBA)

Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)

Esta investigação, que se configura como uma pesquisa narrativa

autobiográfica (BAUER; GASKELL, 2002) consiste em analisar documentos

diversos, como entrevistas, textos autobiográficos, diários e anotações pessoais

por parte do sujeito cujo material produzido é alvo de análise. A abordagem

adotada privilegia perceber e registrar as emoções, bem como, os desafios

encontrados pelo sujeito alvo da pesquisa, sobretudo, nas suas interações em sala

de aula, mas também, fora dela, através de entrevistas com o sujeito analisado. No

caso em estudo, trata-se do acompanhamento do processo de construção de

conhecimento de uma aluna, que cursa graduação de Pedagogia na UFBA e que

tem baixa visão. Esse tipo de pesquisa é fundamental para o investigador, no caso,

um geneticista, compreender a dinâmica dos espaços onde ocorrem as interações

interpessoais e outras condições de comunicação, que irão gerar manuscritos de

trabalho para a presente análise. A pesquisa proposta, então, pretende investigar

a funcionalidade da narrativa autobiográfica como instrumento de coleta de

dados e acompanhamento do processo de construção de conhecimentos, a partir

das experiências acadêmicas de uma aluna com baixa visão, do segundo semestre,

em uma universidade pública federal. O objetivo é, portanto, mostrar o quanto da

trajetória pessoal dessa aluna cursando o ensino superior pode ser relevante e

contribuir na elaboração de estratégias inclusivas dentro e fora da sala de aula. A

abordagem narrativa autobiográfica, neste trabalho, irá dialogar com a crítica

genética (SALLES, 2017; BIASI, 2010), a qual dará ao investigador as diretrizes

necessárias para montar o seu prototexto de pesquisa a partir da organização do

dossiê genético em estudo. A base do trabalho tem, pois, como fundamento

metodológico a pesquisa narrativa, que irá ajudar o pesquisador a organizar

vivências passadas e presentes do sujeito investigado, registrando como elas irão

refletir nas experiências futuras do aprendiz. Os instrumentos de pesquisa

utilizados como dados coletados oferecem informações importantes para a

análise proposta, sendo usado como recurso um tablete que irá funcionar como

gravador de áudio e vídeo, auxiliando nos registros a serem feitos em sala de aula,

como também, em entrevistas fora do ambiente acadêmico; logo, os rastros do

processo coletados serão registrados, em sua maioria, em meio digital.

Compreendo a importância desta pesquisa, que irá contribuir para

enriquecimento da formação daquele docente que precisa lidar com um aluno

que apresente deficiência visual, pois, para este aprendiz, é justamente a

dificuldade de se aproximar do seu professor, e vice versa, que funciona como

entrave no processo de aquisição do conhecimento, o que se reflete, inclusive, na

66

interação de tal sujeito com seus colegas e com o entorno. Essa condição de

precariedade no ambiente de ensino em nosso país acaba dificultando o

planejamento e a adoção de práticas pedagógicas, que sejam inclusivas. Este

trabalho, certamente, também virá a enriquecer o espectro de estudos de

processos de criação relacionados à inclusão, que se configura como uma Crítica

Genética Inclusiva (ANASTÁCIO, 2011).

Palavras-chave: Deficiência visual. Crítica genética inclusiva. Narrativa

autobiográfica.

Eixo temático: Filologia e memória

Sessão coordenada 8:

“De luva na mão, ao arder de paixão”: acervos e epistemologias

contemporâneas

Coordenador: Rafael Marques Ferreira Barbosa Magalhães (UFBA)

Arquivos são espaços privilegiados para as áreas do conhecimento que se

dedicam ao estudo do homem e seus feitos. Não obstante, a documentação que

eles contêm provê de informações muitas vezes inéditas e exclusivas aos

pesquisadores. A Filologia, contemporaneamente, dedica-se ao estudo do texto,

não apenas como um produto dos processos de comunicação e interação da

atividade humana, mas, para além disso, como um sistema cultural que abarca

todas as suas possibilidades de realização material e virtual, todas as técnicas e

processos envolvidos desde a confecção dos materiais utilizados em sua

produção até a cognição e a materialização / realização textual. Por essa razão,

múltiplas, são as abordagens que os pesquisadores dessa área do conhecimento

adotam para tratar o seu objeto, possibilitando que a documentação de arquivos

possa ser abordada em sua diversidade. Nessa sessão coordenada, serão tratados

aspectos da pesquisa em arquivos e acervos documentais que, pela diversidade

de materiais que salvaguardam, apresentam diversas possibilidades de

abordagem contemporâneas ao texto / documento.

Palavras-chave: Filologia. Filologia Textual. Arquivos e acervos documentais.

MEMÓRIA EM DETALHES: REFLEXÕES SOBRE O RECURSO À

DOCUMENTAÇÃO ESCRITA COMO FERRAMENTA MNEMÔNICA POR MEIO

DOS LIVROS DE REGISTRO DO DETALHE DA POLÍCIA MILITAR DA BAHIA

Rafael Marques Ferreira Barbosa Magalhães (UFBA)

A memória é uma construção condicionada pelas idiossincrasias do

indivíduo. É por meio de um elemento mnemônico, que forneça elementos

67

alusivos, especialmente de natureza contextual, que se processa a recordação.

Dessa maneira, não somente pratica-se a ação de recorda, como também

reorganizam-se os elementos mnemônicos disponíveis, exercício que ocasiona a

constituição da memória. Acervos são um ambiente mnemônico por natureza, o

que faz com que eles ganhem a dimensão de espaços apropriados à produção de

memórias. A documentação contida em acervos, especialmente os de natureza

histórica, são uma das principais fontes sobre o passado, permitindo o acesso a

dados, muitas vezes, inéditos sobre os fatos. Nesta comunicação, apresentam-se

reflexões sobre como os Livros de Registro do Detalhe da Polícia Militar da Bahia,

especialmente o DET 93, podem ser estudados enquanto fontes mnemônicas,

buscando evidenciar as potencialidades desses documentos para as pesquisas

memorialísticas, observando as estratégias mnemônicas adotadas pela instituição

produtora, e as peculiaridades desse documento em específico. Os Livros de

Registro do Detalhe da Polícia Militar da Bahia foram nominados como Memória

do Mundo pela UNESCO, por conterem os registros diários do cotidiano da

instituição, por conseguinte, registrando sua perspectiva acerca de diversos

acontecimentos históricos, como a participação dos Voluntários da Pátria na

Guerra do Paraguai e o enfrentamento ao Cangaço. Dessa maneira, pretende-se

entender como as práticas de escrita adotadas pela instituição constituem-se em

seu patrimônio mnemônico e permitem acessar e reorganizar os elementos que

constituem a memória institucional e, consequentemente, contribuem para a

construção do imaginário popular sobre as instituições militares na Bahia atual.

Palavras-chave: Filologia. Manuscrito. Memória. Livros de Registro do Detalhe.

DET93.

TECNOLOGIA A SERVIÇO DO ESTUDO DE ACERVOS DOCUMENTAIS

Lívia Borges Souza Magalhães (UFBA)

Darwin estabeleceu que a sobrevivência das espécies está intimamente

ligada com a adaptação dos organismos. Quando analisada a relação entre ciência

e tecnologia, pode-se observar a questão da sobrevivência: ou as ciências

adaptam-se, para suprir a demanda da sociedade, caracterizada pelo constante

avanço da tecnologia computacional, ou logo perderá espaço no mundo online,

pois, é fato inegável que, os computadores têm ocasionado uma nova

configuração social, em que se percebe uma mudança na dinâmica de acesso à

informação. Essas máquinas ocupam espaços, alteram práticas do cotidiano e,

inclusive, dinâmicas de trabalho como, por exemplo, as realizadas em acervos

documentais. Esse processo pode ser observado nas preocupações constantes em

digitalizar, gerar bancos de dados e, principalmente, permitir a ampla circulação

da informação que, outrora, vivia salvaguardada e isolada nas prateleiras dos

arquivos e bibliotecas. O Mosteiro de São Bento da Bahia, instituição secular que

se destaca pela produção e preservação de material arquivístico, uma influência

68

direta da tradição medieval de produção e conservação de documentos pelos

mosteiros estabelecida pelo próprio Patriarca São Bento e continuada, ao longo

dos séculos, por seus sucessores, vivencia esse momento de transformação e

adaptação em função de uma série de pesquisas desenvolvidas pelo grupo de

pesquisa Memória em Papel. O grupo desenvolve atividades que cobrem desde a

gestão de acervos, incluindo descrição, organização e inventariação, até a

pesquisa, contando com um corpo de especialistas nas mais diversas áreas

(Filologia, História, Filosofia, Conservação e Restauro, Humanidades) e

abrangendo investigações desde a elaboração de edições filológicas de

documentos manuscritos até investigações sobre memória e produção de

conhecimento com base nos livros, documentos avulsos e fundos do acervo da

instituição. Nesta comunicação pretende-se, pontuar algumas atividades de

pesquisas do Grupo, destacando aquelas que auxiliaram o processo de

preservação e divulgação do acervo beneditino baiano.

Palavras-chave: Tecnologia. Acervo. Mosteiro de São Bento da Bahia.

REFLEXÕES SOBRE O OFÍCIO DE PESQUISAR

Tamires Alice Nascimento de Jesus (UFBA)

Este trabalho objetiva refletir sobre o processo de busca do pesquisador

pela compreensão do seu objeto. Para tal, será utilizado como ponto de partida a

confecção do levantamento de dados feito nas Correspondências recebidas sobre

doação de livros às escolas públicas, documento manuscrito que compõe o acervo

do Arquivo Público do Estado da Bahia, o qual contém os títulos dos manuais

didáticos doados às escolas públicas da Bahia, entre os anos de 1837 e 1868. As

correspondências estão acomodadas no maço de número 4038 e são organizadas

da seguinte forma: para cada ano há uma pasta específica, e cada uma das pastas

está organizada por ano. No que se refere ao seu conteúdo, elas são

diversificadas: algumas tratam a respeito da dificuldade de implementar o

método por conta da falta de livros, outras se caracterizam por terem um teor

sugestivo de oferecimento de exemplares, há ainda aquelas que se apresentam

em tom de denúncia da falta de manuais, por exemplo. Mas há outros aspectos

que configuram um padrão, que dizem respeito à sua forma: a maioria apresenta

uma saudação (Ilustríssimo Excelentíssimo Senhor), seguida da data do registro,

depois vem o texto e, ao final, nota-se a fórmula Deus Guarde Vossa Excelência,

por vezes, segue-se com o nome do presidente da província e, ao final, é

apresentada a assinatura do doador. Com o intuito de apresentar o processo

relacional da pesquisa, nesta comunicação vai-se começar pela procura do

documento, a reflexão se estenderá ao momento da descoberta, investigação e

análise do que se transformou em objeto. Deseja-se observar, ainda, como nesses

69

diferentes momentos, ocorre o diálogo entre o pesquisador e o pesquisado e

como isso se manifesta nas diferentes pesquisas.

Palavras-chave: Reflexão. Pesquisa. Objeto. Correspondências.

70

RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES ORAIS

Eixo temático: Filologia e ensino

DIÁLOGOS POSSÍVEIS ENTRE A FILOLOGIA E O ENSINO DOS GÊNEROS

TEXTUAIS EM SALA DE AULA

Ygor Braga de Almeida (UECE)

Expedito Eloísio Ximenes (UECE)- orientador

O presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre diálogos possíveis

envolvendo a Filologia e as abordagens de gêneros textuais no ensino em nível de

graduação no curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará. Primeiramente,

trazemos o conceito de gênero de Bazerman (2011), em que o autor afirma que

estes são formas de ação social. A partir daí, pretendemos mostrar que a

preservação de textos antigos pertencentes a um determinado gênero textual

possibilita discussões em sala de aula a respeito das funções destes quando dos

seus contextos sociais e históricos reais de uso. Para exemplificação, usaremos

exemplares do gênero portaria, todos originais do Ceará do século XVIII, descritas

por Almeida (2015). Na ocasião, foi analisada a organização sociorretórica de

portarias do século XVIII, através do diálogo entre duas áreas tidas muitas vezes

como distintas: a Filologia, cuja principal função concentra-se na preservação de

textos pertencentes ao passado histórico e suas ligações com os estudos da

língua; e a Linguística Moderna, em especial os estudos acerca da natureza e

construção dos gêneros textuais, destacando-se a perspectiva sociorretórica de

caráter etnográfico, baseada nos estudos de Swales (1990, 1992, 1998, 2003) e

Bhatia (1993). Nesta apresentação, portanto, partindo dessa pesquisa realizada

anteriormente, pretendemos mostrar como a edição de textos antigos, como

exemplo as portarias já citadas, possibilitam a descrição do gênero, englobando

também seus usos e propósitos comunicativos, e sua posterior abordagem em

sala de aula como conteúdo para o ensino da língua portuguesa e para a

compreensão da produção e circulação dos gêneros textuais no passado e no

presente.

Palavras-chave: Filologia. Gêneros textuais. Ensino.

71

Eixo temático: Filologia e História Da Língua

ESTUDO DA TERMINOLOGIA NAÚTICA A PARTIR DO OFÍCIO DO

CONSTRUTOR MANUEL ARAÚJO SILVA

Adriana dos Santos Silva (UFBA)

Eliana Correia Brandão Gonçalves (UFBA) - Orientadora

Este trabalho visa apresentar um estudo terminológico a partir da edição

semidiplomática de um Ofício, que faz referência à Bahia do século XVIII,

destacando-se a importância do labor filológico, na realização de estudos

linguísticos de documentos históricos. Destarte, por ser de natureza técnico-

profissional, o Ofício é uma fonte histórica relevante para o estudo de termos

especializados, principalmente no que tange a terminologia náutica. Dessa forma,

propõe-se apresentar um estudo da terminologia náutica registrada no Ofício do

construtor Manuel de Araújo Silva ao vice-rei e capitão-general do Brasil, Conde

das Galveas, dando conta do dano causado à fragata de guerra Nossa Senhora da

Glória pelo temporal que houve na noite junho de 1741. Assim, neste estudo,

serão selecionados e analisados alguns termos náuticos encontrados no referido

Ofício, com base nas discussões sobre léxico e terminologia desenvolvidas por

Cabré (1999), Krieger (2010; 2013), Krieger; Finatto (2004), Murakawa; Nadin

(2013) e Gonçalves (2007; 2017), ao tempo em que se verificará se as

terminologias utilizadas para descrever partes das embarcações do século XVIII

ainda são empregadas na arquitetura naval hodiernamente. Ressalta-se ainda que

o estudo por meio dos termos viabiliza a percepção dos componentes das

embarcações, das tecnologias e da arquitetura naval, ao tempo em que possibilita

uma compreensão da evolução histórica náutica do período colonial aos tempos

atuais. Conclui-se então que a elaboração da edição semidiplomática é

indispensável para a produção de corpora, visando à análise linguística em uma

perspectiva histórica. Portanto, tal como o Ofício é uma fonte documental

interinstitucional essencial para a compreensão de termos que fizeram ou fazem

parte da memória técnico-administrativa da língua portuguesa, tão logo estudá-

los pelo viés terminológico é manter a vivacidade e a dinamicidade da língua

tornando-a atemporal.

Palavras-chave: Terminologia náutica. Ofício. História da língua.

72

O SERTÃO DOS TOCÓS E SEUS SABORES: TRANSCRIÇÃO E ANÁLISE

LINGUÍSTICO-FILOLÓGICA DE UM CADERNO DE RECEITAS DO SÉCULO XIX

Adriana Gonsalves da Silva Fontes (UFBA)

Fredson Pereira dos Santos (UFBA) - Orientador

Este trabalho apresenta a necessidade da edição de textos para a

conservação de documentos antigos, tendo em vista a sua importância, enquanto

testemunho e comprovação da existência cultural de um povo. Neste sentido,

tendo conhecimento da existência do “Caderno de Receitas” de Idalina Moreira de

Oliveira, filha de Venâncio Moreira de Freitas e Felicidade Hermenegilda de

Oliveira, filhos de portugueses que vieram de Beira Alta, Portugal, comprar terras

de sesmarias. Idalina Moreira de Oliveira nasceu a 8 de setembro de 1869, na

fazenda Serrote em Tanquinho-Bahia. Foi alfabetizada por ordem do Arcebispo

Primaz do Brasil, Dom Luís Antônio dos Santos, por um padre que na ocasião

estava enfermo de tuberculose e veio se tratar com os ares do sertão por

recomendação médica. Para editar o “Caderno de Receitas”, foi realizada a

descrição, transcrição e análise de aspectos linguístico-ortográficos e lexicais do

Português e do Yorubá. O documento está dividido em duas partes: uma de

receitas luso-brasileiras e outra composta por receitas africanas. Este documento

pertence ao acervo pessoal de sua neta, Antônia Nolay de Lima Moreira, residente

na cidade de Serrinha-Bahia, que o cedeu para a realização deste trabalho. Dentre

as edições, escolheu-se a edição-semidiplomática, porque, após a realização desta

tarefa, o documento estará desprovido de dificuldades de natureza paleográfica,

isto é, aquelas ocasionadas pelo ato da escrita, como também evitará o contato

direto com o original, preservando-o da sua destruição física. Deste modo,

apresentar-se-á nesta comunicação, a edição semidiplomática do “Caderno de

Receitas” de Idalina Moreira de Oliveira à luz dos pressupostos teóricos da

Filologia Textual.

Palavras-chave: Filologia. Edição semidiplomática. Caderno de receitas

CARTA ENTRE AMIGOS: UMA MISSIVA SOBRE NEGÓCIOS PESSOAIS,

NEGÓCIOS DO MUNICÍPIO E A POLÍTICA ESTADUAL

Antonio Marcos de Almeida Ribeiro (UEFS)

Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS)- Orientadora

A Filologia é um a ciência antiga que se ocupa da edição de textos desde o

século III A.C. Neste momento, Zenódoto, Aristarco e Aristófanes se reuniram na

monumental Biblioteca de Alexandria para editar criticamente as obras de

Homero. Desde então, os filólogos têm se ocupado de edições dos mais variados

73

textos e em diferentes suportes. Seguindo essa direção, a partir do conhecimento

da carta pessoal de João Bastos, dirigida a Rosalvo de Souza Ribeiro, integrante

do acervo da família Ribeiro, optamos por editá-la semidiplomaticamente,

seguindo os princípios metodológicos da Crítica Textual. Os sujeitos envolvidos

na carta são do município de Maracás, Bahia. João Bastos foi político, poeta, fez o

primeiro jornal da cidade de Maracás “O Literato”, fundador da Sociedade

Literária, uma agremiação de poetas e escritores. Foi patrono da Academia de

Letras de Jequié-Ba. Já Rosalvo de Souza Ribeiro foi coronel da Guarda Nacional e

possuía terras na localidade chamada Serra do Vitorino, veio a falecer em 1938. O

teor da carta refere-se aos negócios particulares e a política local. Deste modo,

este documento encerra em si informações importantes sobre a língua, a

memória e a cultura da região Centro-sul da Bahia. Decerto também, a carta

possui um valor histórico imprescindível, isso porque nessa missiva se

apresentam pontos de vista sobre determinado período da história, ou seja, uma

observação pessoal dos acontecimentos da época vivida. Contudo, permite

conhecer variações linguísticas, a grafia, vocabulário, sendo assim, um leque

favorável de muitas temáticas para pesquisas na contemporaneidade. Diante do

exposto, para esta comunicação, apresentaremos a edição semidiplomática da

referida carta, atentando-a para os aspectos extrínsecos e intrínsecos do texto.

Deste modo, traremos à cena uma edição conservadora.

Palavras-chave: Carta pessoal. Filologia. Edição semidiplomática.

UMA ANÁLISE COGNITIVA DO USO DA LEXIA MISSA EM UM TESTAMENTO

COLONIAL

Bruno de Jesus Espirito Santo (UFBA)

O ser humano é guiado por sua cognição, logo pode se afirmar que o

pensamento e a ação desses seres são estruturados pela conceptualização que

eles têm dos objetos do mundo. Esse processo de conceptualizar se dá através das

relações físicas dos indivíduos com o planeta, o que significa dizer que as

experiências vividas pelo corpo nos diversos campos sociais onde ele passa

interfere diretamente na configuração mental dos significados. Sabe-se que há

muito tempo a cultura move os povos quanto aos seus comportamentos, estudos

de múltiplas áreas demonstram que muitos são os povos que utilizavam desde

objetos simbólicos e rituais específicos a fim de atender os princípios de suas

óticas, por isso, um estudo que evidencie como uma ideologia universalizante

molda as ações de uma sociedade contribui não só para o conhecimento de

hábitos antigos como também para a reflexão sobre os aspectos cognitivos que

motivavam esses atos. Na Bahia colonial a Igreja Católica tinha expressão política

e administrativa, por esta razão, recomendava aos seus fieis práticas que os

tornassem coesos à vontade governamental e religiosa da época. Uma dessas

74

atividades era o intitulado ritual da “boa morte”, rito que possuía protocolos

antes e pós-morte a fim de propiciar aos cristãos coloniais a possibilidade da

remissão dos pecados por Deus e a possível salvação. Dentre os elementos desse

procedimento recomendado pela instituição cristã, existia a redação de um

testamento onde o autor além de argumentar e persuadir a corte divina quanto

ao perdão dos seus erros, doa o seu legado piedoso com o intuito de ratificar o

seu arrependimento. Ao ler toda essa argumentação em um desses documentos

supracitados foi possível perceber como a lexia Missa exerce um papel expressivo

no movimento de convencimento da corporação celeste em relação a validação da

imagem de fiel contrito, arrependido e humilde edificada pelo testador. Por esta

razão este trabalho busca, utilizando o arcabouço teórico-metodológico da

Semântica Cognitiva (LAKOFF & JOHNSON, 1980; LAKOFF, 1987; KÖVECSES,

2002; SARDINHA, 2007; FERRARI, 2014; ABBADE, 2016), analisar um documento

notarial presente no Livro Velho do Tombo do Mosteiro de São Bento na Bahia, a

fim de demonstrar como a arquitetura de metáforas conceptuais da Missa era

influenciada pelas sensações, emoções e medos da sociedade colonial baiana

frente à imposição social da crença cristã. Os resultados dessa investigação irão

denotar como o movimento de subjulgo do sujeito colonial a ideologia cristã

conseguiu rotear os alicerces psíquicos dessas pessoas.

Palavras-chave: Semântica cognitiva. Manuscritos coloniais. Missa.

DEFLORAMENTO E CRÍTICA TEXTUAL: EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA DE UM

PROCESSO-CRIME OITOCENTISTA EM ARACAJU

Camila dos Santos Reis (UFS)

Camila Pereira Costa(UFS)

Nossa proposta de trabalho está vinculada às pesquisas desenvolvidas por

parte da equipe de Sergipe, responsável pela constituição do banco de dados

diacrônicos e análise linguística em pancronia, que participa do projeto nacional e

interinstitucional intitulado Para a História do Português Brasileiro (PHPB). O

PHPB/SE tem como propósito descrever a realidade linguística do português de

Sergipe dos últimos séculos, enquadrando-se na metodologia de trabalho do

projeto coletivo, de levantamento de fontes específicas e representativas,

oriundas de arquivos históricos (MARENGO; FREITAG, 2016). Os corpora do

projeto nacional e, consequentemente, dos subprojetos estaduais vinculados a

ele, são definidos por Simões e Kewitz (2010) a partir da categorização,

denominado no âmbito da pesquisa como corpus mínimo comum. O objetivo

deste trabalho é apresentar uma breve descrição codicológica bem como o

resultado da edição semidiplomática (CAMBRAIA, 2005; SPINA, 1990) de um

processo-crime de defloramento, manuscrito em finais do século XIX, ano de

1888, na cidade de Aracaju, Estado de Sergipe. O documento está localizado no

75

Arquivo Geral do Poder Judiciário do Estado de Sergipe sob a cota caixa nº 01,

acervo 02, módulo II, número geral 2543. O corpus delimitado foi produzido no

ano de 1888. Trata-se de processo crime de defloramento em que a vítima é uma

menor de treze anos chamada Benedicta, oriunda da cidade de Simão Dias,

interior de Sergipe. A edição deste manuscrito constituirá o banco de dados dos

corpora diacrônicos do português brasileiro de Sergipe, onde também serão

apresentadas a contextualização histórica da época (COSTA, LELIS, 2016) e dados

importantes relativos à (re)construção da história da cultura escrita em Sergipe

(MARENGO, 2017).

Palavras-chave: Crítica Textual. Edição Semidiplomática. Defloramento.

O LÉXICO ECLESIÁSTICO DA CAPITANIA DA BAHIA: OS CONVENTOS DE

RELIGIOSOS DA BAHIA COLONIAL

Carla Carolina Ferreira Gomes Querino (UFBA)

Norma Suely da Silva Pereira (UFBA) - Orientadora

O período colonial no Brasil configurou-se como um momento de

organização social, política e econômica das Capitanias hereditárias. A Igreja

Católica detinha grande controle nessas áreas, prova disso é o processo de

catequização ao qual os nativos foram submetidos, demonstrando que a língua já

era utilizada como instrumento de poder e controle. A formação do léxico na

Colônia mostra a grande influência do colonizador, oferecendo pistas acerca das

práticas culturais do período. A pesquisa tem como objetivo principal o estudo

das práticas culturais na Bahia colonial, e no presente trabalho, compreendendo a

importância dos estudos de lexicografia histórica para um melhor entendimento

da história das mentalidades, apresenta-se como objetivo específico o estudo do

léxico presente em oito fólios selecionados da obra Notícia Geral de toda esta

capitania da Bahia desde o seu descobrimento até o pre(zen)te anno de 1759,

tomando por base a edição fac-similar do manuscrito, impressa pela Tipografia

Beneditina (CALDAS, 1951 [1759]), disponível na Biblioteca Universitária Reitor

Macedo Costa. Os fólios selecionados integram a seção intitulada Noticia dos

Conventos de Religiozos que há nesta Cid(ad)e. O estudo desenvolvido parte da

leitura e interpretação do documento e abrange, entre outros, o estudo do

contexto histórico relativo ao corpus estabelecido; o estudo dos aspectos

intrínsecos e extrínsecos dos documentos selecionados e o estudo das

características lexicais, com construção de verbetes que integrarão um glossário

de termos eclesiásticos, em que se registrará parte dos usos linguísticos no

referido contexto, o que poderá auxiliar no estudo dos papéis sociais e políticos

ocupados pelos eclesiásticos na estruturação da hierarquia social na América

portuguesa. O manuscrito em questão foi escrito pelo professor José Antônio

Caldas, Sargento mor da Capitania da Bahia, homem erudito, que registrou a

76

organização da Colônia em três instâncias, o Governo Eclesiástico, o Governo Civil

ou Secular e o Governo Militar. O estudo de caráter interdisciplinar envolve as

metodologias da Filologia (CAMBRAIA, 2005); da História (NUNES, 2017;

TAVARES, 2001), além de conhecimentos de lexicologia e da lexicografia (VILELA,

1994; MURAKAWA, 2013).

Palavras-chave: Léxico Eclesiástico. Capitania da Bahia. Práticas culturais.

ESTUDO DO CAMPO LEXICAL DA SEXUALIDADE DE UM PROCESSO CRIME DE

ESTUPRO DO INÍCIO DO SÉCULO XX

Claudice Ferreira Santos (UEFS)

Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS) - Orientadora

O presente trabalho tem como objetivo de pesquisa apresentar as lexias do

campo lexical da sexualidade presentes em um documento manuscrito,

precisamente um processo crime de estupro, lavrado em 1911, início do século

XX, ocorrido no distrito de Tanquinho de Feira, termo da cidade de Feira de

Santana – Bahia. Vale ressaltar que o documento está sob a guarda e armazenado

no acervo do CEDOC - Centro de Documentação e Pesquisa, localizado na UEFS -

Universidade Estadual de Feira. Sendo o léxico de uma língua o acervo no qual se

descortina o modus vivendi de um povo, podemos estudá-lo sob diversos

aspectos. Assim, o corpus deste estudo são as lexias que se relacionam ao campo

da sexualidade. Desse modo, os estudos lexicais são inerentes aos estudos

linguísticos, visto que tudo perpassa pelo léxico. Dessa forma, acrescentamos os

postulados científicos acerca do léxico e de sua importância para os estudos

linguísticos. Portanto, para embasar tal pesquisa, recorremos a Biderman (2001),

Abbade (2003, 2006, 2009, 2011), Queiroz (2009). Este trabalho integra uma

pesquisa, em andamento, a nível de Iniciação Científica, com bolsa PROBIC –

UEFS, tendo, apenas, resultados parciais. Dessa forma, trazemos as discussões

acerca da preponderância do léxico e alguns recortes do corpus em estudo.

Palavras-chave: Léxico. Sexualidade. Campos Lexicais.

FONTES PARA O ESTUDO DO PORTUGUÊS NO BRASIL: EDIÇÃO E ANÁLISE DE

CARTAS SETECENTISTAS

Daví Lopes Franco (UFRJ)

Leonardo Lennertz Marcotulio (UFRJ) - Orientador

O período colonial no Brasil nos deixa uma rica coleção documental que

ainda não foi, em sua totalidade, divulgada. Nesta comunicação, daremos notícias

do trabalho filológico e linguístico que vem sendo realizado com a documentação

77

deixada por dom Luís de Almeida Portugal Soares Alarcão Eça Melo Pereira

Aguiar Fiel de Lugo Mascarenhas Silva Mendonça e Lencastre, segundo marquês

do Lavradio, 11º vice-rei do Brasil, durante o século XVIII, no âmbito do

Laboratório de História da Língua (HistLing). Embora trabalhos como Marcotulio

(2010) e Conceição (2011) tenham dado visibilidade a textos do Lavradio, o

códice 10631, da Biblioteca Nacional de Portugal, ainda não foi sistematicamente

editado e nem estudado. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é editar, de

acordo com os preceitos da Filologia / Crítica Textual (Cambraia, 2005), um

conjunto de dez missivas trocadas entre o vice-rei e o governador da capitania de

São Paulo, Martim Lopez Lobo de Saldanha, entre os anos de 1776 e 1777. No que

se refere ao trabalho filológico, realizamos uma edição semidiplomática de

acordo com as normas do Projeto Para uma História do Português Brasileiro

(PHPB). Acreditamos que, dessa maneira, conseguimos manter a fidedignidade ao

texto original, assim como disponibilizar uma edição que possa despertar

interesses de naturezas diversas. De modo a proporcionar um diálogo entre

Filologia e História da Língua, o nosso objetivo linguístico é levantar elementos

que permitam a discussão sobre a distinção existente entre o português do Brasil

e o português no Brasil (Barbosa, 1999). Para tanto, a partir de um estudo sobre a

colocação pronominal, pretendemos oferecer elementos que possibilitem uma

caracterização sintática do português setecentista.

Palavras-chave: Edição. Cartas Setecentistas. Lavradio.

OS LIVROS DE REGISTROS DO DETALHE DA POLÍCIA MILITAR DA BAHIA:

EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA E TERMINOLOGIA DIACRÔNICA

Edsandro Santana dos Santos (UFBA)

Sandro Márcio Drumond Alves Marengo (UFS / UFBA)

Nosso objeto de estudo neste trabalho são os Livros de Registros do

Detalhe (DET) da Polícia Militar da Bahia, que, no ano de 2017, foram incluídos

no Registro Nacional do programa Memória do Mundo da Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Os DET são

documentos militares que tem por função apresentar, em detalhes, os

acontecimentos mais importantes ocorridos diariamente na secular Instituição

baiana (LOSE; MARENGO, 2017). Os 165 volumes que compõem o acervo são

datados da segunda metade do século XIX até o final da primeira metade do

século XX. Ao longo desses registros é possível encontrar vários acontecimentos

marcantes da história da corporação, além de conterem parte significativa da

história da Bahia, do Brasil e da América Latina, como, por exemplo, a Guerra do

Paraguai, a Guerra de Canudos, a Revolução de 1930 e as campanhas contra o

cangaço. Nosso intuito neste trabalho é apresentar os critérios estabelecidos para

a realização da edição semidiplomática do corpus manuscrito bem como os

78

resultados iniciais da edição do DET 70, do século XIX, que detalha as ações da

Brigada Policial da Bahia entre os anos de 1885 e 1890. Neste documento se

encontram importantes perspectivas históricas da Lei Saraiva-Cotegipe ou Lei do

Sexagenário (1885), da assinatura da Lei Áurea e a consequente libertação dos

escravos (1888) e, finalmente, da proclamação da República do Brasil (1889). O

direcionamento da confecção das nossas edições está voltado para futuros

estudos de descrição e análise linguística (CAMBRAIA, 1999; MARENGO, 2016),

particularmente centrados no campo da terminologia.

Palavras-chave: Edição semidiplomática. Livros de Registros do Detalhe da

Polícia Militar da Bahia. Terminologia.

EDIÇÃO FILOLÓGICA DO LIVRO DO GADO DA FAMÍLIA PINHEIRO CANGUÇU:

UM DOCUMENTO ESCRITO POR TRÊS GERAÇÕES (XVIII-XIX)

Elaine Brandão Santos (UEFS)

Mariana Fagundes de Oliveira Lacerda (UEFS - Orientadora)

Neste trabalho – desenvolvido no âmbito do Projeto Vozes do Sertão em

dados: história, povos e formação do português brasileiro, do Núcleo de Estudos

em Língua Portuguesa (NELP), da Universidade Estadual de Feira de Santana

(UEFS), e do Mestrado em Linguística (MEL) da referida instituição –,

apresentamos a edição fac-similar e semidiplomática do Livro do Gado, um dos

dois livros manuscritos do arquivo do sobrado do Brejo do Campo Seco (Bahia),

da família Pinheiro Canguçu. Trata-se de uma documentação dos séculos XVIII e

XIX, importante testemunho para a reconstrução sócio-histórica e linguística do

português brasileiro; importa, especialmente, para a história da penetração e

difusão da escrita no interior da Bahia. Com 57 fólios, o livro tem registros de três

gerações, referentes a operações pastoris – como a marcação de bezerros, de

poldros e poldras e de muares –, à distribuição e partilhas de animais pelas várias

fazendas e a recibos de inventários diversos. As normas de edição adotadas estão

de acordo com os critérios do Projeto Nacional para a História do Português

Brasileiro (PHPB), com adaptações, tendo em vista as especificidades do material.

Apresentam-se também, nesta oportunidade, a descrição gráfica dos diferentes

punhos identificados no manuscrito, características extrínsecas e intrínsecas do

documento e a lista de abreviaturas. Com essa pesquisa, buscamos colaborar com

o PHPB, que vem divulgando corpora manuscritos e impressos de períodos

pretéritos, para estudo da história do português culto e do português popular do

Brasil, do qual o Vozes é parceiro, executando a agenda referente à constituição

de corpus diacrônico.

Palavras-chave: Português Brasileiro. Livro de Fazenda. Edição Semidiplomática.

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AS GRANDEZAS DA BAHIA: OS ANIMAIS PRESENTES NO TRATADO

DESCRITIVO DO BRASIL EM 1587

Elian Conceição Luz (UFBA)

Norma Suely da Silva Pereira (UFBA - Orientadora)

No século XVI, a relação do colonizador com os povos indígenas era

fundamental para a instalação e manutenção do sistema colonial português.

Dadas as dificuldades em prover alimento e proteção para os colonos no Novo

Mundo, a Coroa Portuguesa, em um primeiro momento, estabeleceu alianças com

tribos nativas a fim de traçar estratégias para a dominação do território. O corpus

deste trabalho foi constituído dos capítulos relacionados aos animais

sistematizados pelo Gabriel Soares de Souza no Tratado descritivo do Brasil em

1587 onde é possível visualizar a importância de conhecimentos indígenas para a

garantia de recursos necessários à permanência dos europeus em um território

desconhecido. As informações registradas na referida obra possibilitam também

o desenvolvimento de estudos sobre a formação do Português Popular Brasileiro

e de línguas indígenas, bem como a elaboração de obras lexicográficas,

principalmente as de caráter histórico. Assim, partiu-se da análise do referido

corpus por meio da leitura da edição de Varnhegen (1851), com base nas leituras

de Pottier (1983, 1978) e Gonçalves (2007) para estudo do campo semântico

“dos animais”, de Paraíso (2012) para discussão das relações entre índios e

colonizadores e de consultas a dicionários sincrônicos do tupi e do português,

considerando variações grafemáticas registradas em parte da tradição

politestemunhal e equivalentes na Língua Portuguesa quando informados pelo

autor. Como resultado, apresentaram-se o contexto histórico, a sistematização

dos capítulos e os subgrupos que integram o campo “dos animais”, evidenciando

a importância da análise de obras paralexicográficas para o estudo histórico e de

língua, bem como da mediação filológica para leitura de documentos de épocas

pretéritas.

Palavras-chave: Filologia Textual. Semântica Lexical. Histórica Colonial.

O OFÍCIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO, OS METAPLASMOS COMO

MODIFICADORES: A TRANSFORMAÇÃO DO LATIM PARA O PORTUGUÊS

Elizabete Rodrigues Santos Neta (UNEB)

Vânia Lúcia Borges (UNEB)

A presente pesquisa terá como base a ladainha do Ofício da Imaculada

Conceição, sendo esta, uma Oração do Cristianismo. É uma das diversas

produções literárias da Igreja Apostólica Romana (Católica), escrita

originalmente por um franciscano italiano chamado Bernardino de Bustis, no

80

século XV no ano de 1678, passou por algumas traduções e está presente nas

representações eclesiásticas dos países que adotaram o catolicismo. Escrita

originalmente em Latim, ao longo dos anos, foi traduzida para o Português. Para

entendermos que a língua passa gradativamente por mudanças em sua estrutura,

no entanto, podendo manter o seu significado, esta pesquisa tende a buscar a

selecionar dentro da Ladainha do Ofício, alguns Adjetivos latinos que foram

mantidos na Língua Portuguesa em seu significado original, com isso, objetiva-se

analisar as transformações fonéticas/fonológicas sofridas por esses adjetivos

selecionados, através do Metaplasmos, ratificando a língua latina como a mãe da

língua falada, pela comunidade portuguesa. O percurso para tal constatação se

volta para uma metodologia descritiva, própria da Linguística Histórica. Como

base para essa discussão utilizaremos, Carlos Alberto Faraco (1998), Ivo Castro

(1991). Os adjetivos selecionados serão analisados a partir da sua presença na

ladainha do Ofício da Imaculada Conceição e sua forma escrita nos dicionários de

língua portuguesa e latina. Para análise das transformações linguísticas sofridas

por essa classe gramatical, utilizaremos como fontes primárias as gramáticas de

Faraco e Moura (1999) e Coutinho (1976), para definir o que vem a ser o adjetivo

e os dicionários de Houaiss (2009) e Ferreira (1999) constando a presença do

adjetivo na língua portuguesa.

Palavras-chave: Latim e Língua Portuguesa. Adjetivos. Metaplasmos.

“ESTE PÚBLICO INSTRUMENTO DE PODER”: ESTUDO SOBRE AS LEXIAS EM

ESCRITURAS DE COMPRA E VENDA DE ESCRAVOS DA PROVÍNCIA CEARENSE

DO SÉCULO XIX

Francisca Lisiani Rodrigues (UECE)

O presente trabalho tem como intuito mostrar um estudo em andamento

que consiste na análise de lexias presentes em documentos oitocentistas do

Ceará, referentes à escravidão, especificamente à transação comercial

envolvendo os negros escravizados. Partimos da premissa de que o léxico é um

aspecto linguístico que detém muitos pontos de contato com a realidade

extralinguística e, por isso, nos permite acessar a história e cultura de um povo.

Desse modo, fundamentando-nos na Filologia, amparados em Ximenes (2009), na

Lexicologia, fundamentados em Biderman (1987), e na História Social, com base

em Funes (2007), percorremos os seguintes caminhos: inicialmente,

selecionamos cento e setenta e cinco escrituras de compra e venda de escravos

datadas do período de 1870 a 1873. Em sequência, baseando-nos nas normas de

edição reelaboradas pelo grupo de pesquisa Práticas de Edição de Textos do

Estado do Ceará (PRAETECE), editamos semidiplomaticamente todos os

documentos. Realizamos, a posteriori, o levantamento de lexias presentes nas

escrituras, mediante a observação do contexto de uso e quando esse não foi

81

suficiente para esclarecer o sentido, recorremos aos dicionários de Moraes Silva

(1813), Houaiss, entre outros. Feito isso, organizaremos e analisaremos essas

lexias a partir de categorias compreendendo seu sentido dentro do discurso

social e jurídico sobre a escravidão, descrevendo e levantando hipóteses sobre a

comercialização de escravizados na província cearense. De modo específico, a

pesquisa pretende compreender um pouco da história da nossa língua e do Ceará

nos oitocentos no que se refere à escravização de negros.

Palavras-chave: Filologia. Lexicologia. Escravidão.

NOS CAMINHOS HISTÓRICOS DO SERTÃO: EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA DE

DOIS INVENTÁRIOS DA VILA DO RASO DE ARACI

Fredson Pereira dos Santos (UFBA)

Célia Marques Telles (UFBA) - orientadora

O presente estudo pretende trazer a lume como se deu a ocupação dos

sertões pelos colonizadores portugueses e seus descendentes e as expedições

missionários dos padres jesuítas no século XVII, mais precisamente na Vila do

Raso, localizada no alto sertão baiano. Intenta-se fazer a edição semidiplomática e

o estudo léxico dos inventários de Ireneo Antunes de Oliveira, Padre João Velho

Pereira de Oliveira e Leonídia Constantina de Oliveira Lima, escritos pelos

primeiros Padres e pelo escrivão Francisco Ferreira da Motta. Os Inventários

integram, respectivamente, o acervo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do

Raso de Araci e estão sob a guarda do Centro Cultural de Araci-BA. Os

documentos guardam registros de doações feitas aos primeiros habitantes em

108 anos, datados de 1779 a 1887, com inúmeras referências sócio-históricas.

Contém 264 fólios recto e verso, relatos de teor jurídico, sociais, históricos,

culturais, geográficas e políticas. A edição semidiplomática levantará dados do

léxico da época e da formação sócio-histórica do Português do período que será

estudado. Sabe-se que os cronistas da Corte fizeram vagas referências aos

aldeamentos existentes no alto sertão da Bahia, precisamente onde se situa o

Raso. Como a colonização portuguesa se processou do litoral para o interior,

especialmente a partir da metade do século XVI, as primeiras notícias sobre os

que habitavam os Sertões dos Tocós só chegaram ao nosso conhecimento no final

do século XX. Ao referir-se à Bahia, muito do que se tem escrito e pesquisado em

Linguística Histórica e Filologia é sobre Salvador, Recôncavo e Feira de Santana.

Com relação ao sertão, mesmo considerando os avanços, é preciso atentar que

ainda requer outras incursões. Visando estudar os aspectos diacrônicos da língua

portuguesa, pois conhecer a língua e a cultura de uma época passada, através do

texto, nos permite entender as variações desse sistema dinâmico passível de

mutações, uma vez que para entender as mudanças ocorridas até o presente é

necessário conhecer e avaliar o passado. Desse modo os documentos estão sendo

82

editados, adotando os critérios instituídos por Lose (2010) , Queiroz (2007)

,Telles (2006) para os tipos de edição fac-similar e semidiplomática.

Palavras-chave: Edição Semidiplomática. Inventários. Paleografia.

NOTAE IURIS: A RELAÇÃO ENTRE LATIM E DIREITO ATRAVÉS DOS LIVROS

DO TOMBO

Gustavo Santos Matos (UFBA)

Célia Marques Telles (UFBA) - Orientadora

A atividade jurídica remonta a um tempo muito longínquo. A prática do

Direito tal como conhecemos nasceu em Roma, o Ius Civile, e atravessou os

séculos. O latim, língua de diversas instituições romanas, foi de suma importância

para a ciência do Direito e forneceu para esta práticas, fórmulas e elementos

linguísticos que resistiram ao tempo. O latim e o Direito são assim elementos

indissociáveis, pelo menos no que tange ao mundo ocidental onde o Império

Romano ali se fez presente por um durável tempo. Em Portugal, a prática jurídica

é oriunda de diversas fontes, inclusive do Direito de Roma e será sob esta égide

do Direito Português que desenvolver-se-á o fazer jurídico na Colônia do Brasil.

As práticas jurídicas aqui estabelecidas e exercidas pela Coroa de Portugal ainda

traziam todas as características do Direito praticado no medievo lusitano, apesar

de, historicamente, já estarmos falando da Idade Moderna. Dos muitos

documentos que compõem o Arquivo do Mosteiro de São Bento da Bahia, os

Livros do Tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia, uma coleção de sete livros,

guardam em suas seculares páginas muito da história da cidade de Salvador da

Bahia, consequentemente, da vida colonial brasileira. Dois, deste total de sete

livros, serão objetos do trabalho que ora visa se desenvolver: O Livro Velho e o

Livro III. Os Livros do Tombo, por serem livros de teor jurídico, encerram muitas

dessas notae iuris, expressões jurídicas latinas. São estes elementos em latim,

dentro dos Livros do Tombo que serão analisados. Este trabalho propõe-se a

apresentar através da atividade notarial do Brasil Colônia por meio dos Livros

Velho e III do Tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia o uso e a função do latim

presente nestes textos, além de um breve histórico da formação do Direito em

voga no território português.

Palavras-chave: Latim. Direito. Livros do Tombo.

83

VOCABULÁRIO DA MODA NA IMPRENSA FRANCESA ENTRE 1907-1927: OS

PRIMEIROS PASSOS PARA A TESE

Ingrid Oliveira Santos Silva (UFBA)

Célia Marques Telles (UFBA - Orientadora)

No início do século XX, a França vivia um momento de estabilidade política

e de prosperidade financeira. Era o momento da Belle Époque, onde Paris era o

centro de referência cultural no ocidente. O vestuário empregado entre avenidas

e bulevares era visto como sinônimo de elegância e sofisticação, sendo

considerado como modelo a ser seguido. Assim como a língua, a moda também

pode ser considerada como um instrumento de comunicação. As roupas

utilizadas no cotidiano, os acessórios, o tipo e as cores do material utilizado

podem fornecer uma grande diversidade de informações relativas à profissão,

religião, nacionalidade etc. Ao longo do século XX, a imprensa tem sido uma

ferramenta de grande importância no processo de difusão de tendências,

renovação e reinvenção da moda. Desse modo, este trabalho tem por objetivo

analisar o léxico de língua francesa relacionado ao vestuário e seus acessórios

presentes nos periódicos franceses intitulados L’élan de la mode e La femme de

France publicados entre 1907 e 1927. Assim, ao tratar das roupas, seus tecidos,

usos, cortes e cores e dos diversos acessórios que as acompanhavam, analisa-se

não só o léxico empregado, mas leva-se em conta também o contexto sócio

histórico no qual ambos os periódicos foram produzidos. Assim, esta pesquisa se

vincula mais diretamente ao interesse de, ao menos, duas áreas de estudos da

linguagem, sendo a Lexicografia, voltada para trabalhos de sistematização do

léxico em dicionários, vocabulários e glossários, e a Filologia, ciência “do amor

pelo texto” que, a partir deste, visa o resgate e a preservação da cultura de um

povo. Por esta se tratar de uma pesquisa ainda em fase inicial, apresentar-se-á

apenas uma pequena amostra dos dados já coletados.

Palavras-chave: Belle Époque. Imprensa Francesa. Lexicografia.

EDIÇÃO E ESTUDO DAS VARIAÇÕES GRAFEMÁTICAS EM UM PROCESSO

CRIME DE HOMICÍDIO DO INÍCIO DO SÉCULO XX

Izaías Araújo das Neves Paschoal (UEFS)

O processo-crime é um registro da grafia dos escrivães, representante da

voz dos oficiais, que escreviam aquilo que lhes era ditado e, dessa maneira,

variavam a escrita das palavras de acordo com aquilo que conheciam. Nota-se,

portanto, que é comum ver a palavra escrita sendo tratada como um registro da

língua oral e que esse entendimento interfere na grafia. Em um mesmo

documento, é comum ver uma mesma palavra sendo grafada de maneiras

84

diferentes, tendo como base o escrivão que a escrevia. É correto dizer, portanto,

que o grafema é uma consequência da grafia apesar de, entre os pesquisadores,

não haver consenso entre a definição e os limites de cada um. Entretanto, o

grafema pode ser entendido como uma representação gráfica da língua oral

embasada por componentes fonético-fonológicos. Pretende-se, neste trabalho,

apresentar a edição semidiplomática de um processo-crime, ocorrido entre os

anos de 1902 e 1909, na cidade de Feira de Santana (BA), composto por 26 fólios,

os quais trazem a investigação sobre o homicídio cometido pelo réu Manoel

Mendes de Aragão contra a vítima Macellino Manoel dos Santos. Seguindo a

edição, será feito o estudo das variações grafemáticas que constam no

documento, ressaltando a importância do estudo diacrônico da língua

portuguesa, de maneira a investigar como foi o seu processo de mudança ao

longo do tempo. Além disso, através do estudo do manuscrito, pretende-se

aperfeiçoar o conhecimento sobre a cultura e os costumes de Feira de Santana no

início do século XX, já que a edição semidiplomática permite uma inserção na

realidade histórica para que se possa buscar uma compreensão de como se deu a

construção da cidade enquanto espaço social.

Palavras-chave: Edição semidiplomática. Variação grafemática. Processo-crime de

homicídio.

A PRIMEIRA DÉCADA DA ÁSIA DE JOÃO DE BARROS: UM ESTUDO

FILOLÓGICO-LEXICOGRÁFICO

Jane Keli Almeida da Silva (UFBA)

Cemary Correia de Souza (UFBA)

Quem quer que se interesse pela história do português, certamente,

haverá de consultar as “Décadas da Ásia”, de João de Barros, obra historiográfica,

que traz narrativas sobre a presença portuguesa nos diferentes pontos do globo,

num momento em que Portugal começava a se aventurar nas grandes

navegações. As Décadas narram o descobrimento do Oriente, nomeadamente, da

África e da Ásia, iniciado por volta do século XV, ao mesmo tempo, em que

relatam os grandes feitos realizados nessas regiões pelos portugueses. As

“Décadas da Ásia” foram publicadas em quatro volumes, dos quais o primeiro

saiu do prelo em Lisboa, no ano de 1552, na Casa tipográfica de German Galharde.

O texto do primeiro volume se volta à narração dos descobrimentos da Guiné que,

depois, se expandiram até a Índia, tendo como principais autores Vasco da Gama

e Pedro Álvares Cabral. Interessa neste artigo o estudo filológico-histórico da

primeira “Década da Ásia” por a obra estar muito próxima do limite final do

período arcaico do português (situado entre 1536 e 1540), e seu autor ser uma

notável figura histórica, por justamente ter elaborado a segunda gramática do

português, para além de ter se aventurado a narrar a colonização portuguesa no

Oriente, mesmo não tendo estado presente nas regiões descritas. Desse modo,

85

pretende-se, com este trabalho, depreender o imaginário desse homem

renascentista, discutindo também a percepção que esse sujeito tinha de história

no idos do século XVI. Considerando as interfaces possíveis e necessárias entre a

Filologia e a Lexicografia, apresentam-se, ainda, alguns verbetes de étimos não

românicos a fim de corroborar a natureza do corpus investigado, bem como a

identidade gramatical de João de Barros na Primeira Década.

Palavras-chave: As Décadas da Ásia. João De Barros. Filologia e Lexicografia.

A CONCEPTUALIZAÇÃO DA FEMINISTA EM MEMES

Lia Simões Nery (UFBA)

Apresentam-se resultados parciais do estudo realizado sobre o processo

de conceptualização da feminista em dois memes, que têm como tema a mulher

feminista, retirados da rede social Instagram. A pesquisa está pautada à luz dos

aportes teórico-metodológicos da Semântica Cognitiva, mais especificamente, da

Teoria da Metáfora e da Metonímia Conceptuais (LAKOFF; JOHNSON, 1980;

LAKOFF, 1999; GRADY, 1997). Em relação à multimodalidade, foram utilizados os

trabalhos de Forceville (1996, 2007). Conforme destaca esse autor, uma

consequência de aceitar a visão de que a metáfora é primariamente uma

atividade mental e apenas, derivacionalmente, uma atividade verbal, é que suas

manifestações devem ser examinadas em modos semióticos diferente da

linguagem apenas. Sendo assim, tem-se por objetivo geral discutir sobre o modo

como a feminista é conceptualizada nos dois memes que compõem o corpus da

pesquisa, buscando identificar que fatores sócio-cognitivo-histórico-culturais

interferiram nesse processo. Para isso, faz-se um diálogo interdisciplinar com

outras áreas do saber que têm como ponto central a história do feminismo,

promovendo, assim, o diálogo entre a Linguística Cognitiva e os estudos da

História (DEL PRIORE, 2016). Dentre os objetivos específicos, estão: estudar a

conceptualização da feminista à luz dos pressupostos teóricos e metodológicos da

Semântica Cognitiva; identificar os mecanismos cognitivos subjacentes à

conceptualização da feminista no corpus selecionado; identificar os domínios

conceptuais utilizados como domínio-fonte; discutir sobre o conceito de memes,

seu surgimento e impacto na sociedade contemporânea, bem como sua

importância como um texto multimodal de longo alcance que possibilita, aos seus

leitores/conceptualizadores, variadas conceptualizações; identificar quais os

esquemas de imagem estruturam a conceptualização da feminista no corpus

selecionado; e discutir os impactos das conceptualizações negativas da feminista

na sociedade e nas mídias digitais, repercutindo, assim, em discursos misóginos e

machistas. A pesquisa se justifica por ampliar os estudos na área da Semântica

Cognitiva, evidenciando que os significados emergem da interação entre

processos cognitivos e biológicos do conceptualizador, da influência de seu corpo

86

e da sua interação física ou social com o mundo. Justifica-se, ainda, pelo caráter de

originalidade, já que, ao estabelecer um diálogo com a Linguística Histórica,

chama atenção para uma nova área dos estudos semânticos: a Semântica

Histórica Cognitiva (JAÉN, 2014).

Palavras-chave: Conceptualização. Feminismo. Semântica Cognitiva Histórica.

EM VERDADE DOU FÉ: ANÁLISE HISTÓRICA DAS PARTÍCULAS JURÍDICAS DE

FINALIZAÇÃO SOB AS LENTES TEÓRICAS DA LINGUÍSTICA TEXTUAL DE

EUGÊNIO COSERIU

Márcia Amélia de Oliveira Bicalho (UNIEURO)

Este trabalho tem como objetivo um dos elementos de finalização em

textos jurídicos. O corpus faz parte de um processo criminal do século XIX da

cidade de Pombal – PB. A fundamentação teórica é interdisciplinar, envolvendo a

Linguística Textual de base coseriana, a Teoria das Tradições discursivas, a

História social da linguagem e História dos textos, notadamente na área do

direito. Entre os autores que compõem este trabalho, podemos destacar, Coseriu

(1977, 1978, 1979,1980, 2007, 2010), Fonseca (2003), Marcuschi (2003, 2012),

Kabatek (2006), Koch (2006, 2007), Oesterreicher (1996, 2006), dentre outros. O

processo que compõe o corpus deste trabalho apresenta-se em um volume

composto por sessenta e uma laudas (frente e verso) manuscritas e um total de

trezentas e noventa e nove peças processuais. Após a transcrição do corpus,

realizamos o mapeamento das ocorrências das partículas discursivas jurídicas e

analisamos a sua função dentro do texto, ampliamos o conceito de Eugênio

Coseriu a respeito das partículas discursivas e dividimos o conceito de partículas

discursivas em três categorias: partículas jurídicas de iniciação, partículas

jurídicas de passagem e partículas jurídicas de finalização. Para este trabalho,

apresentaremos as partículas jurídicas de finalização. Os resultados apresentados

ratificam a hipótese de que as partículas discursivas jurídicas, utilizadas pelos

escrivães, retomam a época de consolidação de leis criminais genuinamente

brasileiras, portanto, são tradições discursivas jurídicas. Concluímos o trabalho

demonstrando que as partículas discursivas jurídicas são utilizadas pelo escrivão

para direcionar a leitura e apresentar a sua fé pública, ou seja, a veracidade do

que, por ele, foi escrito ou retextualizado dentro da tradição discursiva jurídica.

Palavras-chave: Tradições Discursivas. Linguística Textual. Partículas Discursivas

Jurídicas.

87

UM OLHAR FILOLÓGICO PARA O LIVRO DE FÁBRICAS DA CATEDRAL DE

MARIANA (MG)

Marcus Vinícius Pereira das Dores (UFMG)

Em diferentes áreas científicas - Literatura e Linguística, História,

Educação, Direito, etc. -, documentos manuscritos antigos estão, cada vez mais,

sendo utilizados como fonte de pesquisa científica. Com o desenvolvimento

tecnológico, diferentes e sofisticadas técnicas foram aprimoradas e criadas com a

finalidade de auxiliar esses pesquisadores que trabalham com documentos de

períodos, muitas vezes, tão distantes em seu labor científico. É indiscutível a

importância desses textos, que trazem nas linhas e entrelinhas relevantes

informações, para a reconstrução da língua, história, costumes etc. da sociedade

que eles registram. Nossa proposta aqui é apresentar, de forma sucinta, parte da

pesquisa de mestrado, que estamos desenvolvendo no Programa de Pós-

Graduação em Estudos Linguísticos da UFMG, sob orientação da Profa. Dra. Alexia

Teles Duchowny, que tem por objetivos a edição diplomática do Primeiro Livro

de Fábricas de bens da Catedral da Arquidiocese de Mariana – MG (1749) e a

elaboração de um glossário de termos eclesiásticos. Por meio de uma edição

baseada em critérios filológicos, buscamos também recuperar o estado de língua

registrado naquele documento, de forma muito particular no nível lexical. A

pesquisa dos termos eclesiásticos presentes no manuscrito em questão, como

meio de identificá-los, recuperá-los e registrá-los, contribui diretamente para a

nossa memória linguística e para a história da lexicografia e da terminologia da

língua portuguesa. Atrelado a esse primeiro objetivo, desenvolvemos um trabalho

de preservação da memória daquela sociedade e do suporte físico do manuscrito,

que, com o passar do tempo, sofre diversas interferências causadoras de

deterioração.

Palavras-chave: Edição Diplomática. Manuscrito Setecentista. Terminologia

Eclesiástica.

FONTES DOCUMENTAIS PARA A HISTÓRIA DO PORTUGUÊS: EDIÇÃO E

ESTUDO DE CARTAS DA IGREJA EVANGÉLICA FLUMINENSE

Maria Elisa Lima de Souza (UFRJ)

Leonardo Lennertz Marcotulio (UFRJ) - Orientador

A Igreja Evangélica Fluminense, fundada em 1858 pelo Reverendo Robert

Reid Kalley, com sede no Centro do Rio, foi a primeira congregação protestante

brasileira a cultuar em português. A instituição religiosa dispõe de uma rica

88

coleção documental que ainda não recebeu tratamento arquivístico e filológico

adequado, o que impede a divulgação de documentos importantes sobre a

história da religião evangélica no Brasil e de seus membros fundadores. Nesse

sentido, o objetivo da presente comunicação é dar notícias sobre o trabalho que

vem sendo realizado de organização, catalogação, edição e estudo das fontes

documentais da Igreja Evangélica Fluminense, no âmbito do Laboratório de

História da Língua (HistLing), de modo a preservar e disponibilizar a memória do

acervo da Instituição. Os materiais levantados estão sendo editados sob os

rigorosos preceitos da Filologia / Crítica Textual (Cambraia, 2005), de acordo

com as normas do projeto Para uma História do Português Brasileiro. Uma edição

semidiplomática desse material estará disponível para diversos estudos

linguísticos considerando distintos níveis, como grafo-fônico ou morfossintático,

por exemplo. Uma particularidade desse material é o fato de ele permitir estudos

do português como língua estrangeira. Robert Reid Kalley era escocês, falante

nativo da língua inglesa, foi para Funchal em outubro de 1838, onde aprendeu o

português europeu. Após oito anos na Ilha da Madeira, foi para os Estados Unidos

e entre os anos de 1853 e 1854 ministrou aos refugiados madeirenses naquela

nação. Kalley chegou ao Brasil em 1855, depois de ter sido convidado para

ministrar aos que viviam no país, e então passou a ter contato com a variedade

brasileira do português.

Palavras-chave: Edição. Acervos Religiosos. História da Língua.

CONTRIBUIÇÕES METODOLÓGICAS PARA COLETA E ESTUDO DE NOMES

PRÓPRIOS NAS CANTIGAS DE SANTA MARIA E NAS CANTIGAS PROFANAS

Natalia Zaninetti Macedo (UNESP)

Nesta comunicação, apresentamos resultados do processo de coleta e

mapeamento de nomes próprios nas Cantigas de Santa Maria (CSM) e nas

cantigas profanas. No que se refere aos dados coletados nas CSM, levantamos

antropônimos e topônimos contidos no Glossário de Mettmann (1972). Nele,

coletamos 221 antropônimos e 334 topônimos. Partindo das informações dos

verbetes trazidos por este glossário, tais nomes próprios foram mapeados nas

cantigas. Depois, mostramos a relevância de consultas a outras fontes

secundárias de informação, que têm se mostrado adequadas para coleta de

informações referentes aos nomes medievais. Em duas diferentes tabelas,

elencamos informações referentes aos antropônimos e topônimos coletados nas

CSM e nas cantigas profanas. Na tabela referente às CSM, trazemos as seguintes

informações: nome próprio coletado no Glossário de Mettmann (1972), número

da CSM, número do verso, trecho da cantiga em que o nome próprio aparece e

também informações sobre esses nomes recolhidas do Glossário de Mettmann

(1972), no Dicionário Etimológico de Nomes e Sobrenomes de Guérios (2004), no

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Dicionário etimológico do Português Arcaico de Machado Filho (2013) e no

Dicionário da Língua Portuguesa Medieval de Carvalho da Silva (2007). De forma

semelhante construímos a tabela referente aos nomes próprios encontrados nas

cantigas profanas, sendo que nos baseamos nas informações fornecidas pela base

de dados online portuguesa disponibilizada no site

<http://cantigas.fcsh.unl.pt/listacantigas.asp>, resultante do projeto “Littera,

edição, atualização e preservação do património literário medieval português”,

financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (PTDC/ELT/69985/2006),

com sede no Instituto de Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e

Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Esta base de dados forneceu-nos

informações referentes aos antropônimos, topônimos, trechos e versos das

cantigas profanas em que constam nomes próprios, descrição do gênero da

Cantiga, autor e localização nas fontes manuscritas. Por meio dela, coletamos um

total de 323 antropônimos e 334 topônimos. Todos estes nomes foram

consultados, depois, em seis diferentes glossários e dicionários: o Glossário da

poesia medieval galego-portuguesa (GLOSA), do Grupo de Investigación

Lingüística e Literária (ILLA) da Universidade da Coruña, sob direção de Manuel

Ferreiro o Dicionário etimológico do Português Arcaico de Machado Filho (2013),

o Dicionário da Língua Portuguesa Medieval de Carvalho da Silva (2007), o

glossário das Cantigas d'amigo dos trovadores galego-portugueses, de Nunes

(1973 [1926/1929]), o Glossário do Cancioneiro da Ajuda de Michaëlis de

Vasconcelos (1990 [1904]) e as Notas gerais das Cantigas Medievais Galego

Portuguesas de Lopes e Ferreira, que são informações referentes aos nomes

próprios contidos nas cantigas profanas disponibilizadas na mesma base de

dados online do já mencionado Projeto Littera. Esperamos com esta comunicação

contribuir para o desenvolvimento de pesquisas onomásticas no período arcaico

da língua portuguesa, expondo a relevância das obras citadas e os resultados a

que chegamos.

Palavras-chave: Português Arcaico. Cantigas medievais. Onomástica.

BREVES NOTÍCIAS SOBRE A TERMINOLOGIA DAS ARMAS A PARTIR DE

DOCUMENTO HISTÓRICO DO SÉCULO XIX

Pollyana Macedo de Jesus (UFBA)

Eliana Correia Brandão Gonçalves (UFBA) - Orientadora

Neste trabalho será realizado um estudo terminológico, a partir da edição

semidiplomática de uma Relação das bocas de fogo e demais munições de guerra,

existentes no presídio do Morro de São Paulo, antiga Fortaleza de Tapirandu,

situado na Ilha de Tinharé, na Bahia. O documento escrito pelo Major Governador

e Comandante Interino, José Pedro de Alcântara, encontra-se disponibilizado na

base de dados da divisão de manuscritos da Biblioteca Nacional. Trata-se de um

90

documento histórico datado de 12 de agosto de 1824, que apresenta vários

termos relacionados às armas que eram utilizadas no período, a fim de suprir as

necessidades do presídio atuante no local. A referida Fortaleza de Tapirandu

contribuía para a defesa da região, visto que sua localização era estratégica e

permitia o acesso à Baía de Todos os Santos, sendo de grande importância para a

proteção local no período. Desta forma, com base na edição do texto, será

desenvolvido um estudo lexical com enfoque nos termos utilizados para fazer

referência à nomenclatura armamentista da época, situando-as historicamente.

Portanto, neste estudo são selecionados e analisados alguns termos relativos às

armas, utilizando-se como aporte teórico sobre léxico e terminologia, as

discussões desenvolvidas por Cabré (1999), Krieger (2010; 2013), Krieger;

Finatto (2004), Murakawa; Nadin (2013) e Gonçalves (2007; 2017). Para fins de

análise terminológica, serão considerados a edição do texto, o contexto histórico-

social e linguístico, em que o manuscrito foi produzido, algumas reflexões acerca

da temática e outros aspectos fundamentais para a composição do trabalho.

Evidencia-se, portanto, que é indispensável que se explorem as particularidades

da terminologia, em diferentes perspectivas, sobretudo linguística, histórica e

filológica.

Palavras-chave: Terminologia das armas. Filologia. História da língua.

NOTAS PARA UMA HISTÓRIA DO FUNCIONAMENTO DISCURSIVO DO

VERBETE "MACUMBA" EM DICIONÁRIOS EM CIRCULAÇÃO NO BRASIL (1940-

2018)

Renata de Loyola Prata (UFBA)

Rogério Modesto (UFBA) - Orientador

Um dos pilares mais fundamentais do programa de estudo desenvolvido

na História das Ideias Linguísticas (HIL) é a compreensão da constituição

histórica do saber metalinguístico da(s) língua(s). Nessa vertente teórica,

entender a produção e circulação de um saber metalinguístico em dada

conjuntura é condição sine qua non para a investigação e compreensão em torno

da construção de uma língua nacional. A fim de dar consequência ao seu

programa, a HIL pauta o conceito de gramatização a partir do qual é possível

refletir acerca do processo que conduz a descrição e instrumentalização de uma

língua tendo como base duas tecnologias específicas que são, por sua vez,

consideradas os pilares de um saber metalinguístico nacional: a gramática e o

dicionário. Essas duas tecnologias, assim, são consideradas instrumentos

linguísticos, ou seja, não servem apenas a uma mera descrição ou representação

de uma língua, pois desempenham um papel muito maior dentro de um projeto

de poder que visa a controlar e domesticar os tempos e os espaços linguísticos.

Tomando como base essa discussão, este trabalho tem o objetivo de analisar os

91

efeitos de sentido em funcionamento do verbete “macumba” em dicionários em

circulação no Brasil, partindo de um recorte temporal que compreende o período

entre 1940 e os dias atuais. Esse recorte foi delimitado por uma razão: é

justamente em 1940 que há a promulgação do Código Penal brasileiro atualmente

em vigor, documento no qual criminaliza-se o curandeirismo, o que acende

institucionalmente o debate em torno das práticas religiosas do povo de santo.

Tal fato dá indícios da força inegável da diversidade religiosa que constitui o

espaço social brasileiro. Neste trabalho, há uma questão-problema que sustenta a

investigação proposta: como, a partir da análise do funcionamento discursivo do

verbete “macumba”, é possível tensionar o papel desse instrumento linguístico

numa realidade nacional multilíngue, mas que se imagina monolíngue, como a

realidade brasileira? Dessa questão, surgem outras: como os discursos

minoritários/minoritizados aparecem na história do português do Brasil? A

partir de que bases discursivo-ideológicas as práticas religiosas de matriz

africana são significadas? A negação ou apagamento da cultura africana é também

a negação e o apagamento do papel das línguas africanas na história do português

brasileiro? Todas essas perguntas são postas em pauta neste trabalho a partir de

uma conjunção teórica que põe em diálogo a HIL, especialmente pela visão já

mencionada de instrumento linguístico, a Análise de Discurso materialista, por

permitir uma leitura dos efeitos de sentido e do funcionamento discursivo do

verbete em questão, e a Filologia, como disciplina que permite um aparato

específico pelo qual é possível organizar e ler o arquivo montado, ressaltando a

especificidade documental da pesquisa.

Palavras-chave: Dicionários. Instrumentos linguísticos. Macumba.

RECOLHIMENTO DE MULHERES DO VÉU PRETO: ESTUDO DO LÉXICO E DAS

PRÁTICAS CULTURAIS NA BAHIA COLONIAL

Rose Mary Souza de Souza (UFBA)

Norma Suely da Silva Pereira (UFBA) - Orientadora

Na perspectiva dos estudos paleográficos, filológicos e linguísticos, o

presente estudo busca divulgar a prática do recolhimento de mulheres que

usavam véu preto no Convento de Santa Clara do Desterro, na Bahia, primeira

instituição do gênero fundada na América Portuguesa, no ano de 1677. Para

tanto, apresenta-se a edição semidiplomática de um documento manuscrito,

datado do século XVIII, pertencente ao Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa,

que foi catalogado e disponibilizado online pelo Projeto Resgate Barão do Rio

Branco, na Biblioteca Nacional Digital. O pedido de recolhimento para as

mulheres que deveriam se tornar professas do véu preto, significava a

demarcação de relevância na comunidade religiosa, atendendo à necessidade das

famílias mais abastadas que pleiteavam para suas primogênitas uma posição de

92

destaque no Convento. Além da educação destas, as casas de recolhimento e

conventos também acolhiam moças pobres, com o fim de resguardar a dignidade

de donzelas e viúvas. Para se tornar professa do véu preto, pela distinção que o

letramento religioso lhes conferia, na celebração do Ofício Divino em latim,

somente mulheres letradas seriam aceitas. Como base teórica, utilizam-se os

pressupostos teórico-metodológicos da Paleografia (ACIOLI, 1994; BERWANGER

E LEAL, 2008); da Filologia Textual, (BORGES, 2012; CAMBRAIA, 2005; SPINA,

1997); e da Lexicografia, (MURAKAWA, 2014). Por meio da edição do documento,

pretende-se, além de contribuir para a ampliação do conhecimento acerca das

práticas culturais, colaborar com um maior esclarecimento da língua do período,

acrescentando um breve glossário cujos verbetes auxiliam na compreensão dos

costumes sociais e religiosos da época e com outros estudos de áreas diversas.

Palavras-chave: Edição Semidiplomática. Léxico. Recolhimento de mulheres.

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS TERMOS HAUÇÁS COLETADOS POR NINA

RODRIGUES NA SALVADOR OITOCENTISTA

Samantha de Moura Maranhão (UFPI)

Este estudo sobre o vocabulário hauçá documentado por Nina Rodrigues

em fins do século XIX teve por objetivo extrair-lhe informações variadas, como os

campos semânticos a que os vocábulos pertencem, a sua vitalidade e a existência

de empréstimos árabes. Buscou, portanto, responder à questão mais ampla: “Que

informações nos trazem os termos hauçás registrados na obra Os Africanos no

Brasil, de Nina Rodrigues?” As hipóteses testadas foram: 1. As formas hauçás

analisadas integram campos semânticos essenciais, como nomes de animais,

partes do corpo e relações de parentesco, os quais constituem o vocabulário

básico de qualquer língua; 2. O vocabulário hauçá em questão ainda está em uso

na Nigéria, estado político em que hoje se concentram os seus falantes; 3. Não há

empréstimos árabes, considerando a natureza dos campos semânticos

representados pelos termos analisados, os quais, sendo básicos, menos

frequentemente registram material léxico estrangeiro. Os fundamentos teóricos

deste estudo foram colhidos em autores diversos, sobretudo relacionados à

presença hauçá na Bahia (REIS, 2003; RODRIGUES, 2008) e à língua hauçá e ao

seu adstrato árabe, no Oeste-Africano (BALDI, 1988; DANLADI, 1992; DANZAKI,

2015; DOBRONRAVIN, 2004; GREENBERG, 1947; HASPELMATH, 2003;

MICHAELE, 1968). Quanto à metodologia, entrevista com informante nativo de

língua hauçá, para identificação das formas documentadas por Nina Rodrigues,

resultou em informações particularmente interessantes, como a forma (gráfica)

moderna dos vocábulos, a identificação de formas arcaicas, expressões atuais em

que alguns vocábulos ocorrem, etc. Para a análise dos campos semânticos e da

ocorrência de arabismos africanos entre as formas analisadas, concorreu a

93

pesquisa bibliográfica, em obras especializadas, conforme acima especificado.

Justificou a realização deste estudo a originalidade do tema, isto é, a

interpretação dos dados linguísticos colhidos por Nina Rodrigues sobre a língua

hauçá e o fato de fornecer subsídios para o resgate da história das línguas

africanas no Brasil, notadamente daquelas do Oeste-Africano.

Palavras-chave: Linguística africana. Língua Hauçá. Bahia Oitocentista.

EDIÇÕES FAC-SIMILAR E SEMIDIPLOMÁTICA DE UM AUTO DE

DEFLORAMENTO DE 1904

Samila de Cassia da Silva Santos (UEFS)

Josenilce Rodrigues de oliveira Barreto (UEFS) - Orientadora

A Filologia, ciência que objetiva a preservação de manuscritos, por meio

dela, conhecemos os hábitos, os costumes, a cultura e a língua de um povo,

através de documentos produzidos em uma dada época. Conhecemos um pouco

sobre o defloramento sofrido pela menor Maria Dias dos Santos, o qual ocorreu

no início do século XX. A partir da leitura deste documento que está guardado no

Centro de Documentação e Pesquisa, localizado na Universidade Estadual de

Feira de Santana (UEFS), conservamos as informações deste processo crime, que

foi lavrado em 1904. Maria Dias dos Santos, filha de José Dias dos Santos, morou

em Feira de Santana, de família pobre, menor de idade, foi deflorada pelo seu

namorado, Eduardo Tertuliano de Oliveira, o qual prometia casar-se. Objetivamos

preservar todas as informações que estão neste documento e para isso

realizamos dois tipos de edições filológicas: a edição semidiplomática, que é a

transcrição fiel de todo o texto, a qual permite termos toda a conservação do

manuscrito, e a edição fac-similar, que é a fotografia digital de todo o documento,

o que nos permitiu também identificar os aspectos codicológicos. Dessa forma,

para a realização dessas edições filológicas, utilizamos Barreto (2014), Queiroz

(2007), Cambraia (2005).

Palavras-chave: Auto de Defloramento. Filologia. Edições Fac-Similar e

Semidiplomática.

MULHER NA CULTURA DO ESTUPRO: METÁFORAS E METONÍMIAS

Simone Webering Martínez de Sant'Anna (UFBA)

Apresentam-se resultados do estudo realizado sobre o modo como a

mulher é conceptualizada na chamada cultura do estupro a partir de seis textos

multimodais publicados na edição de julho de 2015 da revista Superinteressante.

Ao retratar a violência contra a mulher e a forma como diversas instituições

94

abordam o tema, mostrando “pesos e medidas” impostos pela sociedade para

justificar o crime, manifestam-se diversas conceptualizações da mulher pautadas

em determinados modelos culturais. As premissas teóricas e metodológicas que

nortearam a pesquisa são as da Linguística Cognitiva e, mais especificamente, da

Teoria da Metáfora e da Metonímia Conceptuais (LAKOFF; JOHNSON, 1980;

LAKOFF, 1999; GRADY, 1997). Quanto às questões sobre a conceptualização

multimodal, foram utilizados os estudos de Forceville (1996, 2007, 2009). Faz-se

um diálogo com a Teoria da Complexidade, trazendo para a discussão o

pensamento de teóricos como Capra (2005), que afirma que o pensar complexo

forma interconexões em contraposição às visões reducionistas da ciência. Assim,

compreende-se o fenômeno da conceptualização através de uma visão holística e

interdisciplinar, sendo, portanto, visto como um fenômeno complexo. Buscou-se,

ainda, mostrar a aplicabilidade de um diálogo entre a Linguística Cognitiva e a

Linguística Histórica, evidenciando, assim, a importância que a Semântica

Cognitiva Histórica tem nos estudos das línguas, conforme explicita Jaén (2014).

Tem-se por objetivo geral promover uma discussão acerca do modo como ocorre

a conceptualização da mulher em textos multimodais publicados no século XXI,

identificando que fatores sócio-cognitivo-histórico-culturais interferiram nesse

processo, pautando-se, assim, em estudos da História cujo tema central seja as

mulheres através do tempo. Ademais, desenvolveram-se reflexões sobre os MCIs

metafóricos e metonímicos, estruturados por esquemas imagéticos no âmbito da

referida conceptualização, observando a existência da interconexão entre o

imagético e o verbal na produção de sentidos, conforme constatado pela metáfora

MULHER É RÉ presente no corpus.

Palavras-chave: Linguística Cognitiva. Semântica Cognitiva Histórica.

Conceptualização.

AUTO DE CORPO DELITO DE PROCESSOS-CRIME DE DEFLORAMENTO:

EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA E GLOSSÁRIO TERMINOLÓGICO

Soraya Carvalho Souza Biller Teixeira (UFS/ PPGL)

Deyvison Moreira Santos (UFS/ PIBIC/ CNPq)

Os processos-crime de defloramento são um conjunto de documentos

jurídicos que corporificam o andamento, desde a denúncia até a sentença final, de

uma queixa-crime prestada por haver ocorrido cópula carnal, com ou sem

consentimento, entre uma mulher (a vítima) e um homem (réu). Uma das

tipologias existentes ao longo do processo é o auto de corpo de delito, em que os

médicos legistas fazem a perícia a fim de descrever se houve ou não crime de

defloramento. Nosso objeto de estudo é o processo-crime de defloramento de

Alice Ramalho Porto, natural da cidade de Aracaju. A fonte documental está

alocada no acervo histórico do Arquivo Geral do Poder Judiciário do Estado de

95

Sergipe, localizado na cidade de Aracaju. A peça estudada possui 34 fólios

manuscritos, de média gramatura, sendo 30 deles escritos em recto e verso e 04

escritos somente em recto. Nosso intento é apresentar os resultados da edição

semidiplomática (CAMBRAIA, 2005; SPINA, 1990) do auto de corpo de delito

desse processo. A partir de sua edição, construída com base nas normas

estabelecidas pelo Projeto Para a História do Português Brasileiro (PHPB),

utilizamos procedimentos da Terminografia (BARROS, 2003) e propusemos a

construção de um glossário terminológico dos autos de corpo de delito. Nossa

pesquisa está adscrita ao Projeto regional do PHPB vinculado ao Estado de

Sergipe (PHPB-SE). O projeto em tela visa a descrição da realidade linguística e

cultural do português de Sergipe dos séculos XVIII a XX (MARENGO; FREITAG,

2016) a partir do conjunto documental categorizado como corpus comum mínimo

(SIMÕES; KEWITZ, 2010). Nossa contribuição se assenta na disponibilização da

edição para o banco de dados diacrônicos do Estado de Sergipe e no

desenvolvimento dos estudos terminológicos (KRIEGER; FINATTO, 2004) de viés

sócio-histórico (MARENGO, 2016).

Palavras-chave: Crítica textual. Edição semidiplomática. Defloramento.

Eixo temático: Filologia e Humanidades digitais

O TRATAMENTO DAS VARIAÇÕES TEXTUAIS COM O AUXÍLIO DE

FERRAMENTAS AUTOMÁTICAS DE COLAÇÃO

Edna Maria Viana Soares (ULISBOA)

Ao longo do tempo, estudos que se ocupam com a variabilidade do texto

fundamentam e enriquecem a crítica textual. À luz de métodos diversos, os

filólogos buscam erros e variações cujas responsabilidades pesam sobre os

ombros quer sejam de editores que os produzem por decisões alheias ao texto,

cópias infiéis ou acidentes técnicos; quer sejam de autores que reescrevem seus

autógrafos ou procedem revisões em suas edições. Ocupada com o estudo dos

originais do autor e seus dossiês de antetextos, a crítica textual moderna renega o

papel de ciência auxiliar, outrora a ela atribuído, equiparando-se à crítica

literária. A abolição da ideia de precedência de qualquer natureza entre os

estudos textuais e literários é defendida por Dionísio (2003) que também refuta o

papel de ancilar dos primeiros enquanto aponta para o recurso ao hipertexto por

seu potencial para reunir, num mesmo ambiente, texto ou textos editados e as

abordagens de cunho crítico-literárias que lhe são respeitantes. Ampliado, o

conceito de hipertexto foi retomado pelas humanidades digitais e associado ao de

hipermídia. Assim, o uso dos computadores na atividade editorial tem provocado

profundas mudanças estruturais e teóricas no campo das práticas editoriais

96

acadêmicas. Na realização da collatio codicum, fase mais ingrata e mais delicada

do processo editorial de identificação das variantes, conforme Blecua (1983,

p.43), os filólogos podem contar com o auxílio das ferramentas automáticas de

colação. Neste enfoque, a partir da colação dos testemunhos da crônica-conto “O

homem e as vitrines” de Vasconcelos Maia, que teve três versões publicadas em

vida do autor, apresento algumas destas ferramentas analisando as vantagens e

desvantagens de seu emprego numa prática editorial que leva em conta a

natureza dinâmica do texto.

Palavras-chave: Crítica Textual. Variantes textuais. Ferramentas de colação.

CORPUS ELETRÔNICO DE DOCUMENTOS HISTÓRICOS DO SERTÃO: UMA

ALIANÇA ENTRE A ANTIGA FILOLOGIA E AS NOVAS TECNOLOGIAS

Lara da Silva Cardoso (UEFS)

Mariana Fagundes de Oliveira Lacerda (UEFS - Orientadora)

A filologia, tendo o texto como seu objeto de estudo, adaptou-se aos

diferentes instrumentos e meios para a difusão do texto escrito conforme as

mudanças sociais. As técnicas de reprodução do texto no meio digital não só

criaram novos desafios para as edições filológicas como também ampliaram as

possibilidades de representação textual. Os tipos de edição existentes no campo

filológico deixaram de ser algo isolado e, dentro dos recursos computacionais

criados para tal fim, passaram a ser, segundo Paixão de Sousa (2013), camadas

possíveis sobre um mesmo texto. Este trabalho discute a realização da filologia

por meio de recursos tecnológicos, enfatizando o uso do eDictor, ferramenta

computacional desenvolvida por Kepler, Paixão de Sousa e Faria (2007),

especialmente voltada ao trabalho filológico e à análise linguística automática. O

eDictor permite a construção de um arquivo eletrônico, o qual possibilita gerar

possibilidades diferentes de apresentação final: as versões XML e diplomática (ou

semidiplomática, quando é o caso). Essa ferramenta é utilizada pelo projeto CE-

DOHS – Corpus Eletrônico de Documentos Históricos do Sertão, que trabalha em

parceria com o Projeto Nacional para a História do Português Brasileiro (PHPB),

constituindo corpora diacrônicos, manuscritos e impressos com a finalidade de

ampliar o banco de dados e o acesso aos materiais editados. Para demonstrar as

vantagens das edições eletrônicas é explicado, neste trabalho, o processo de

edição de parte do Livro de Notas de Escrituras, do século XIX (1881-1888),

realizado através de pesquisa de iniciação científica, com bolsa concedida pelo

CNPq. O referido livro, como afirma Queiroz (2007, p. 14), traz uma contribuição

inestimável para o estudo da língua portuguesa e o conhecimento sócio-histórico

da Bahia. A partir de sua edição eletrônica – e posterior anotação morfossintática

–, estudos linguísticos poderão ser feitos, por meio de buscas automáticas de

dados. Além de contribuir para o estudo da história do português do Brasil, a

97

edição eletrônica dos documentos supracitados pode constituir-se em fonte de

pesquisa em áreas diversas, como Geografia, Direito, Genealogia, Antropologia,

Sociologia, entre outras.

Palavras-chave: Filologia Digital. Edição eletrônica. eDictor.

A CONSTRUÇÃO DE UM CATÁLOGO ELETRÔNICO SOBRE OS ESCRITOS DE

MULHERES NA AMÉRICA PORTUGUESA

Vanessa Martins do Monte (USP)

Maria Clara Paixão de Sousa (USP)

Nesta comunicação damos notícia e debatemos os primeiros resultados da

construção do Catálogo “Mulheres na América Portuguesa” - MAP, formado por

documentos escritos por mulheres e documentos escritos sobre mulheres entre

1500 e 1822 no Brasil e no espaço atlântico português, um conjunto de fontes

escassas e imensamente importantes para os estudos filológicos e para os

estudos da história da língua, da história social, da história da escrita e da leitura

e da história das mulheres no Brasil. Produto do projeto ‘Agora andam me

jurando a pele’: escritos de mulheres e escritos sobre mulheres na América

Portuguesa, iniciado em 2017, o Catálogo eletrônico georreferenciado inclui

documentos de tipologias diversas, ou escritos por mulheres ou que contenham

sua ‘fala’, na forma de discurso relatado. A organização de uma documentação

com essas características pretende recuperar vozes quase nunca escutadas, e

envolve dificuldades e obstáculos consideráveis. Na apresentação, discutimos

algumas dessas dificuldades e apresentamos os primeiros resultados do trabalho,

acompanhados de considerações que, acreditamos, levantam aspectos

metodológicos de interesse nos campos da arquivística, da filologia e da

organização digital da informação. Além disso, trazemos alguns exemplos de

pesquisas decorrentes da construção e da disponibilização online do Catálogo

MAP, tais quais a elaboração de um índice onomástico das mulheres que fazem

parte do mesmo.

Palavras-chave: História das mulheres. Filologia. Catálogo eletrônico.

Eixo temático: Filologia e Literatura

CASSANDRA, PROTAGONISMO E RESISTÊNCIA SOB OS OLHOS DA CENSURA

Ana Gabriela Pio Pereira (UFBA)

Arivaldo Sacramento de Souza (UFBA) - Orientador

Este artigo trilha um pouco da trajetória da autora paulista Odete Rios,

conhecida pelo pseudônimo de Cassandra Rios, com o fim de tecer algumas

98

considerações acerca da censura à qual a autora e a sua obra foram submetidas

no decorrer de aproximadamente três décadas. Com uma vasta produção literária

voltada para a encenação de questões excluídas do cenário literário nacional, a

autora colocou na posição de protagonistas uma gama de sujeitos que, até então,

ocupavam as páginas dos romances de forma estereotipada e como coadjuvantes.

Prostitutas, usuários/as de drogas, gays e, sobretudo, lésbicas são as personagens

mais exploradas pela literatura cassandriana. Por conta disso, sua obra foi

censurada, assim como o seu próprio nome. Dentre os principais argumentos

para tirar de circulação os romances assinados por Cassandra Rios estava a

afirmação de que os textos da autora atentavam contra a instituição sociais,

sobretudo a família, e corroboravam para a destruição dos padrões morais

vigentes na sociedade, pondo em risco a formação sadia e digna da juventude e,

consequentemente, da nação. A literatura da autora foi classificada como

pornográfica e, com base nessa classificação, retiraram quase tudo o que ela

produziu de circulação. Com 36 livros censurados na década de 1970, Cassandra

Rios se tornou a autora mais perseguida, censurada e silenciada da literatura

brasileira, o que muito dificulta o resgate de sua obra. Nesse sentido, esse

trabalho tenta verificar como se deu essa censura, além de retomar alguns dos

principais textos lançados nas décadas de 1960 e 1970.

Palavras-chave: Censura. Literatura Cassandriana. Lésbicas.

TRAÇADOS NEGROS SOBRE UMA ESCRITA EM RIOGRAFIAS

Camila do Nascimento Carmo (UFBA)

Proponho, para este trabalho, por em cena a escrita negra da poeta Lívia

Natália que por entre os fios dos versos do poema “Meu caro amigo”, publicado

no livro Correntezas e outros estudos marinhos (2015), nos convoca a pensar

sobre os processos que configuram a escrita literária negra e feminina. Este

trabalho consiste em apresentar questões de uma pesquisa, ainda em andamento,

que evidencia a escrita da poeta Lívia Natália como riografias por seus versos,

assim como as águas, passarem as margens e assim desfazer as beiradas de modo

que se perceba o muito da existência. Desse modo, as riografias conduzem e

problematizam os discursos sobre as produções literárias de autoria feminina,

sobretudo de autoria feminina negra, as quais foram/são impressas em páginas,

algumas já amarelecidas, e outras ainda em busca de espaço no mercado

editorial. Com isso, é possível dizer que a ausência dessas escritas se faz não só

pela atribuição de menos status ao valor estético às produções literárias

elaboradas por mulheres negras, mas também pelo “apagamento” e

silenciamento produzido sobre as mulheres negras na vida social e pública

brasileira. Deste modo, é importante compreender que os mecanismos que

regulam tal produção literária compõem as tensões entre cânone e margem por

99

entre discursos hegemônicos, marcados por movimentos de resistência,

reexistência e visibilidade em espaços colonizados como também foi/é a

literatura. Os versos da poeta Lívia Natália, estão inseridos neste trabalho na

intersecção gênero-raça-classe como afirmação política e estratégica que

perturbe o amálgama construído pela colonialidade do poder de modo que seja

possível compreender o funcionamento das tecnologias de apagamento, ao

mesmo tempo em que potencialize a existência e a resistência produzindo assim,

reexistências por entre as riografias.

Palavras-chave: Autoria Feminina. Riografias. Teoria Literária.

ACERVO DIGITAL E MEMÓRIA DE DRAMATURGOS BAIANOS

Anete de Araújo Souza (UFBA)

Rosa Borges (UFBA) - Orientadora

Nesta comunicação, pretende-se apresentar o trabalho realizado com

acervos de dramaturgos baianos no âmbito da Equipe Textos Teatrais

Censurados (ETTC), coordenada pela Profa. Dra. Rosa Borges (UFBA), do Grupo

de Edição e Estudo de Textos (GEET). Consiste na organização dos acervos de

quatro dramaturgos identificados como ACERVO ADEMARIO RIBEIRO (AAR),

ACERVO JURANDYR FERREIRA, ACERVO MANOEL LOPES PONTES e ACERVO

MARIA DA CONCEIÇÃO PARANHOS. Os quatro integram o Arquivo Textos

Teatrais Censurados (ATTC), no qual se tem a relação de aproximadamente

sessenta dramaturgos que produziram ou tiveram seus textos encenados na

Bahia no período da ditadura militar (1964-1985). Tais acervos reúnem textos

teatrais, matérias de jornais, documentos censórios, entrevistas. No campo da

filologia, dentro de uma abordagem transdisciplinar, pois abrange diálogos com

áreas do conhecimento como a Arquivística e a Informática, desenvolve-se a

pesquisa para a organização do arquivo e dos acervos. Por intermédio da prática

arquivística, o pesquisador atua através de métodos e técnicas de organização de

arquivos que possibilitam o acesso permanente aos acervos, os quais adquirem

uma função social quanto à difusão de informações. Por meio de programas e

ferramentas informáticas, apresenta-se o arquivo digital para acomodar,

relacionar e divulgar os documentos pertencentes a cada acervo trabalhado, além

de salvaguardar os textos da manipulação e do desgaste material. No terreno da

Filologia, buscam-se fontes documentais, literárias, dramatúrgicas, que permitem

o estudo crítico-interpretativo dos textos teatrais e dos documentos que se ligam

aos mesmos. De modo que o ATTC se inscreve como lugar de memória, na medida

em que os acervos organizados serão disponibilizados aos leitores em meio

digital, sejam eles especializados ou não, proporcionando uma leitura material,

histórica e cultural de uma dada época e lugar, a partir dos documentos que

100

compõem determinado acervo. Seleciona-se, aqui, para demonstração do

trabalho realizado, o Acervo Ademario Ribeiro.

Palavras-chave: Acervo. Filologia. Memória.

"HISTÓRIA DA PAIXÃO DO SENHOR": O TEATRO BOSSA-NOVA DE JOÃO

AUGUSTO

Dâmaris Carneiro dos Santos (UFBA)

Isabela Santos de Almeida (UFBA) - Orientadora

História da Paixão do Senhor (HPS), do dramaturgo João Augusto, é

resultado da compilação e adaptação de textos teatrais medievais: Mistério da

Paixão, de Arnoul Gréban, O Pranto da Madona, de Jacopone da Todi, e A Via

Sacra, de Paul Claudel, traduzidos por Estela Froes. O texto narra a crucificação

de Jesus Cristo, apegando-se ao caráter dramático dos personagens envolvidos,

como Maria, mãe de Jesus, a qual durante toda a Via Crucis lamenta o fim

doloroso que espera o seu filho. O texto foi encenado na década de 1960 e, devido

a instauração do Regime Militar, o cenário cultural passou por cerceamentos.

Portanto, os textos teatrais eram submetidos aos órgãos censores que avaliavam

previamente o texto e a encenação para possível liberação ou veto do espetáculo.

Embora o período seja marcado, no fazer teatral, por espetáculos de cunho

nacionalista – a fim de representar uma identidade brasileira – e de protestos

contra o governo, João Augusto retomou, com HPS, um teatro canônico, e, por

isso, este teatro foi nomeado pela mídia como Bossa-Nova. Posto isto, no campo

da Filologia, no âmbito da Crítica Textual, buscou-se, neste trabalho, desenvolver

um estudo crítico-filológico acerca do teatro de João Augusto, tendo como objeto

de estudo o texto História da Paixão do Senhor e outras informações paratextuais,

com base em matérias jornalísticas que descrevem e apresentam críticas ao

espetáculo (LEÃO, 2006), a fim de compreender a ideia de teatro bossa-nova de

João Augusto naquele contexto. Para tanto, primeiro fez-se a leitura de HPS, com

atenção especial para a construção dos personagens, posteriormente foi feita a

recolha do material paratextual – matérias de jornal que fazem alusão ao

espetáculo – e, em última instância, buscou-se informações de cunho histórico

acerca do termo Bossa Nova, veiculado naquele período. Assim sendo, o estudo

deste objeto se torna relevante para a reconstrução da memória teatral baiana, a

partir do teatro de João Augusto, figura importante na dramaturgia da Bahia

durante o Regime Militar.

Palavras-chave: Filologia. Teatro. Regime Militar.

101

A CRIAÇÃO DOS ESPAÇOS NO POEMA "THE BURGLAR OF BABYLON": UM

ESTUDO GENÉTICO E TOPOANALÍTICO

Douglas Lima Rodrigues (UNEB)

Elisabete da Silva Barbosa (UNEB) - Orientadora

A proposta deste trabalho é apresentar um estudo genético dos

manuscritos do poema The Burglar of Babylon publicado no livro Questions of

Travel (1965) da escritora norte americana Elizabeth Bishop (1911-1979). Como

procedimento metodológico, o poema foi organizado cronologicamente, descrito

e passou por transcrição semidiplomática. No que diz respeito ao estudo crítico,

adotamos a perspectiva da espacialidade na literatura, buscando na Topoanálise

(BORGES FILHO, 2008) em associação com a crítica genética os fundamentos

para melhor entendermos o modo como Bishop lida com a questão espacial em

seu processo criativo. É importante notar que há um espelhamento do espaço real

na obra da autora e que o poema em questão nasceu tanto das observações das

favelas visualizadas por Bishop a partir de seu apartamento no bairro do Leme,

no Rio de Janeiro, como do acontecimento noticiado nos jornais da época, a fuga

de um ladrão a quem a escritora nomeia de Micuçu. Nos documentos de processo

desse poema, podemos observar um entrelaçamento de espacialidades diversas.

Se, por um lado, o poema é narrado por um observador que se encontra em um

lugar privilegiado a partir do qual tudo pode ver, por outro, o ladrão retratado

encontra-se totalmente desterritorializado, em busca de um lugar para abrigar-

se. Nesse aspecto, o conceito de multiterritorialidade desenvolvido pelo geógrafo

Haesbaert (2007) colabora para refletirmos como esses múltiplos territórios e

essas múltiplas espacialidades são elaboradas como elementos constituintes de

um texto que assume os papéis estético e social, pois, além de entreter o leitor

com sua sonoridade em formato de balada, denuncia as mazelas e desigualdades

sociais do Brasil.

Palavras Chave: Crítica Genética. Topoanálise. Elizabeth Bishop.

POR UMA LEITURA FILOLÓGICA DE AS ARTES DO CRIOULO DOIDO DE JOÃO

AUGUSTO

Emille Morgana Santos Mattos (UFBA)

Rosa Borges dos Santos (UFBA) - orientadora

Este trabalho trará notícias a respeito do texto teatral “As artes do Crioulo

Doido”, escrito pelo dramaturgo João Augusto Azevedo, carioca de nascimento,

mas que viveu e produziu na Bahia, sendo um dos nomes mais conhecidos e

expressivos no teatro baiano. O texto foi submetido a avaliação censória e traz,

102

nele, as marcas da intervenção dos técnicos de censura. Apesar de o único

testemunho da peça não trazer uma datação, podemos através de publicações na

imprensa referentes à mesma, conjecturar que o texto tenha sido encenado e

submetido ao processo de censura no ano de 1979, período no qual a ditadura

militar ainda ocorria no Brasil (1964-1985). A peça “As artes do Crioulo Doido”

integra o Acervo João Augusto (AJA), objeto da nossa pesquisa atual que consiste

em organizar tal acervo. Seu texto traz características do teatro de cordel, com

rimas e versos, com forte crítica ao tradicionalismo da sociedade da época em que

foi escrito, à trama política, aos políticos, aos problemas sociais. Compreendemos

o valor histórico do texto e o interpretamos à luz dos eventos e fatos ocorridos no

momento de sua produção e encenação, bem como a influência das leis e decretos

que regulamentavam a avaliação censória e os parâmetros utilizados para definir

os cortes no texto. A Filologia será o lugar teórico utilizado para estudo do texto

em questão, buscando examinar todos os aspectos do texto, desde o suporte

material até os processos de produção, circulação e recepção.

Palavras-chave: Filologia. Texto teatral. Censura.

ALOÍSIO RESENDE E GEORGINA ERISMANN: UM ESTUDO FILOLÓGICO PARA

O RESGATE DA LITERATURA DE FEIRA DE SANTANA-BA

Grazielle Maria Araujo Cerqueira (UEFS)

Queila Maia Santos (UEFS)

Liliane Lemos Santana Barreiros (UEFS) - Orientadora

Os estudos relacionados a escritores baianos não canônicos vêm ganhando

destaque no âmbito nacional, contribuindo para a valorização cultural e

preservação literária, linguística e histórica de uma determinada sociedade. Neste

contexto, o presente trabalho tem o intuito de apresentar um estudo filológico

dos poemas de dois escritores feirenses, Aloísio Resende (1900-1941) e Georgina

Erismann (1893-1940), publicados no jornal Folha do Norte. Os textos destacam-

se por discutir temas relevantes, trazendo à tona costumes e importantes fatos

sociais como: a emancipação feminina e o patriotismo no interior da Bahia por

Georgina Erismann, e as dificuldades vivenciadas pelos negros na sociedade,

embora livres, segundo Aloísio Resende. Apesar de terem sido personalidades

importantes para a história de Feira de Santana-BA, o principal meio em que

ambos publicaram foi o jornal Folha do Norte. Os textos inventariados, até o

momento, foram encontrados nas edições de 1909 a 1960, e são fontes históricas

memoráveis que expressam a vida dos escritores e evidenciam as lembranças que

constituem a identidade de cada um. O estudo proposto está subsidiado pela

Filologia Textual (SPINA, 1994; CAMBRAIA, 2005; BARREIROS, 2012) e por

pesquisas relacionadas a vida de Aloísio Resende (MORAIS; PORTO; ASSUNÇÃO,

2000; PEREIRA, 2009) e a Georgina Erismann (MELLO, 2007). Ressalta-se que o

103

trabalho de edição filológica contribui para o resgate da forma genuína dos

textos, salvaguardando-os do esquecimento, conforme a vontade do autor que

desvelam os detalhes da escrita, além de colaborar na preservação de textos

literários, a cultura, a língua e a história local do povo sertanejo do Semiárido

Baiano.

Palavras-chave: Aloísio Resende. Georgina Erismann. Edição.

O CAMPO LEXICAL AS MULHERES SEXUALIZADAS EM CACAU, DE JORGE

AMADO

Luana Cristine da Silva (UNEB)

Em Cacau (1934), Jorge Amado descreve, sob o olhar e por intermédio da

voz de José Cordeiro, a vida dos trabalhadores das fazendas de cacau no sul da

Bahia, focando principalmente aspectos culturais e sociais dos sujeitos retratados

no referido romance categorizado por alguns críticos como proletariado. As

mulheres descritas por Jorge Amado na referida obra, na maioria das vezes, são

mulheres fortes e representam a identidade e a cultura do povo baiano,

especialmente das baianas. Em Cacau, percebe-se a presença de um número

significativo de lexias para designar a mulher, quase sempre marcadas pela

sexualidade numa visão machista colocando a figura feminina como objeto de

desejo, certamente comportamento muito comum ao período retratado no

romance. No presente trabalho, objetivamos apresentar o campo lexical das

mulheres sexualizadas registradas na obra em questão. O estudo lexicológico

encontra-se lastreado nos princípios postulados por Coseriu (1977), no tocante a

teoria dos campos lexicais, na qual as lexias são agrupadas em consonância com a

aproximação semântica, ou seja, por deterem uma mesma substância semântica

linguisticamente formada, opondo-se por traços mínimos que a diferenciam e

constituindo uma mesma área do conhecimento. As lexias recolhidas com o

auxílio da ferramenta computacional informatizada Antconc foram organizadas

em conjuntos, subconjuntos e subdivisões (macro e microcampos lexicais)

levando em consideração a sua substância semântica. A amostra aqui a ser

apresentada incide sobre as lexias referentes à sexualidade. Acredita-se que o

estudo do léxico por este viés metodológico permitirá identificar alguns traços da

memória coletiva da região cacaueira, especialmente aquilo que tange ao papel da

mulher na sociedade nas primeiras décadas do século XX.

Palavras-chave: Lexicologia. Campos Lexicais. Jorge Amado.

104

OS TEXTOS TEATRAIS E OS TERRITÓRIOS DE IDENTIDADES NA BAHIA: UMA

ANÁLISE GEOGRÁFICA A PARTIR DE UMA LEITURA FILOLÓGICA

Luana Dall'Agnol Ribeiro (UFBA)

Isabela Santos de Almeida (UFBA) - Orientadora

O presente trabalho tem como objetivo compreender, à luz da Filologia e

da Geografia, de que forma os textos teatrais “Xique-Xique chique história” e

“Auto da barca do Rio das Lágrimas de Irati”, ambos do Projeto Chapéu de Palha,

ocorrido na década de 80, podem servir como instrumento de identificação de

alguns dos territórios de identidade da Bahia, uma vez que trazem elementos

paisagísticos, culturais e sociais das comunidades locais. A Filologia permite

entender o texto sob vários aspectos, dentre eles, a partir do contexto social em

que é produzido. No recorte aqui proposto, serão analisados os processos de

produção e de recepção bem como a organização do suporte de cada um dos

textos e de que forma atuaram os agentes envolvidos diretamente à realização

desse projeto, assim como este repercutiu nas comunidades locais. Os textos, aqui

compreendidos como registro escrito de uma possível leitura da realidade em

que foram construídos, serão analisados a fim de se identificar elementos

identitários que caracterizem territorialmente os lugares retratados nas duas

obras. A partir das informações presentes nos textos, serão compreendidos como

possibilidade de leitura da realidade local por parte de quem os assina, Sônia

Pereira e Jurema Penna, respectivamente. A Geografia, por sua vez, em suas

discussões referentes à análise do território, considerando que este não se

configura somente pelo seu caráter produtivo, mas também pelo seu caráter

simbólico, possibilitará entender como os territórios de identidade se configuram

na modernidade e a filologia auxiliará na identificação dos elementos identitários

presentes nos textos teatrais aqui selecionados a partir da leitura filológica.

Palavras-chave: Textos teatrais. Leitura filológica. Territórios de identidade.

EDIÇÃO DO POEMA “TU E VOCÊ”, DE EULÁLIO MOTTA

Maria Rosane Vale Noronha Desidério (UEFS)

Patrício Nunes Barreiros (UEFS) - Orientador

Este trabalho tem por objetivo apresentar a edição do poema “Tu e Você”,

do autor baiano Eulálio de Miranda Motta (1907-1988). O poema a ser editado

pertence ao dossiê das poesias avulsas de Eulálio Motta. Tal dossiê é composto

por uma série de poemas manuscritos e datilografados em papéis soltos que

foram arquivados pelo autor em gavetas e dentro de livros no decorrer de sua

vida. Posteriormente, este material foi reorganizado por Barreiros e o grupo de

105

pesquisa Edição das obras inéditas de Eulálio Motta, em local apropriado e

devidamente catalogado. Os poemas avulsos foram escritos entre os anos de

1940 a 1983. Muitos destes textos possuem marcas da movimentação escritural

do autor, além de uma considerável quantidade de politemunhais. Já o poema a

ser editado neste trabalho é monotestemunhal e foi burilado pelo autor. A edição

do poema “Tu e Você” toma como base os pressupostos teóricos da Crítica

Textual (SPINA, 1977; CAMBRAIA, 2005; SPAGGIARI e PERUGI, 2004); dos

estudos acerca dos acervos de escritores (BORDINI, 2009; HAY, 2003) e nos

critérios filológicos e genéticos elaborados por Barreiros (2012, 2015). A edição

da poesia avulsa de Eulálio Motta soma-se a outros trabalhos de cunho filológico

desenvolvidos no acervo do referido poeta a fim de conferir um material

confiável a novas pesquisas. Além de oportunizar que a poesia do interior da

Bahia do século XX possa ganhar mais visibilidade no atual cenário literário

brasileiro. Além de abrir espaço para novas discussões acerca dos espaços

preenchidos pelos autores localizados fora do Centro literário nacional.

Palavras-chave: Eulálio Motta. Poesias Avulsas. Edição.

EDIÇÃO DO POEMA INÉDITO “VOLTE, QUERIDA!”, DE EULÁLIO MOTTA

Pâmella Araujo da Silva Cintra (UEFS)

Patrício Nunes Barreiros (UEFS) - Orientador

O presente artigo tem por objetivo apresentar a edição do poema Volte,

Querida!, de autoria do poeta baiano Eulálio de Miranda Motta. Este preservou

uma grande quantidade de poesias inéditas em seu acervo, locus de pesquisa que

reúne a vasta documentação de fonte primária estudada pelo grupo de

pesquisadores vinculados ao projeto de pesquisa Edição das obras inéditas de

Eulálio Motta, na Universidade Estadual de Feira de Santana. No “laboratório de

criação” de Eulálio Motta, foram encontrados projetos editoriais de livros de

poesias que permanecem inéditos. Dentre eles, o livro Luzes do crepúsculo,

esboçado em caderno homônimo. Os poemas que integram o livro em questão

encontram-se salvaguardados em cadernos e papéis avulsos, com a indicação de

que seriam incluídos no referido livro. O poema editado dispõe de dois

testemunhos manuscritos autógrafos, providos de índices de escritura e de

reescritura, que permitiram observar o processo de construção do texto a partir

do estudo da gênese. Para isso, utilizou-se o modelo de edição crítica

convencional e a metodologia utilizada em edições genéticas, tomando como base

os pressupostos teóricos da crítica textual (CAMBRAIA, 2005; SPINA, 1977); da

crítica genética (GRÉSILLON, 2007; SALLES, 2002; WILLEMART, 2009); dos

estudos acerca dos acervos de escritores (BORDINI, 2001, 2009; Marque, 2003) e

os critérios de edição elaborados pelo professor doutor Patrício Nunes Barreiros

(2012, 2015).

106

Palavras-chave: Eulálio Motta. Acervo. Edição.

O ESPÓLIO EPISTOLAR DE HERMES FONTES: CONSIDERAÇÕES E PROPOSTA

DE EDIÇÃO

Renata Ferreira Costa (UFS)

José Douglas Felix de Sá (UFS)

Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes, mais conhecido como

Hermes Fontes, nasceu em Boquim/SE, em 1888, e foi considerado, desde a

publicação de sua primeira obra, de estética simbolista – Apoteoses (1908), um

dos mais importantes poetas brasileiros de sua geração. Muitos de seus escritos

ficaram por muitos anos sob a guarda de sua família, até ser doado a uma de suas

principais pesquisadoras, Ana Medina, que, então, teve a iniciativa de entregá-los

ao museu Raimundo Fernandes da Fonseca, localizado em sua cidade natal. No

espólio do poeta, encontra-se um conjunto significativo de correspondências

(cartas e telegramas) enviadas a parentes e amigos. Suas epístolas já foram objeto

de pesquisa e, inclusive, foram publicadas em 2006, por Medina, no livro

intitulado “Cartas de Hermes Fontes – Angústia e Ternura”. Revisitar seu espólio

epistolar, considerando as condições materiais de produção e de salvaguarda, a

circulação e o acesso aos seus escritos, além do conteúdo dos textos, torna

possível proceder à crítica interna e externa dos documentos e lançar

questionamentos que contribuirão para a chamada crítica genética, que visa

interpretar e sistematizar os sucessivos estágios de construção de uma obra,

ressignificando, assim, a importância da obra de Hermes Fontes e o seu lugar na

literatura brasileira. Ademais, reeditar ou editar sob outros critérios ou objetivos

as cartas manuscritas ativas do poeta sergipano não é um trabalho redundante,

como se poderia pensar, já que, em sua publicação, Ana Medina procedeu a uma

modernização linguística e ortográfica do original, de modo que esse trabalho não

pode ser fonte para pesquisas linguísticas. Desta forma, este trabalho,

fundamentado nos pressupostos teóricos e metodológicos da Filologia, visa

apresentar considerações sobre o espólio epistolar de Hermes Fontes sob a

guarda do museu Raimundo Fernandes da Fonseca, em Boquim, e propor uma

edição semidiplomática justalinear de um conjunto de 58 cartas manuscritas

produzidas pelo poeta entre 1903 e 1930.

Palavras-chave: Filologia. Espólio Epistolar. Hermes Fontes.

107

DIÁLOGOS ENTRE A CRIAÇÃO LITERÁRIA E A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO

NOS MANUSCRITOS DO POEMA "SANTARÉM" DE ELIZABETH BISHOP

Rosangela Silva Moreira (UNEB)

Elisabete Silva Barbosa (UNEB / UFBA) - Orientadora

O objetivo deste trabalho é desenvolver um estudo genético dos

manuscritos do poema Santarém (1978), da escritora norte americana Elizabeth

Bishop (1911-1979) com enfoque para as marcas deixadas no percurso criativo

até a obra publicada. Durante a sua vida, Bishop realizou deslocamentos espaciais

motivados por um desejo constante de mudar e de vivenciar novas experiências.

A viagem foi uma atividade frequente que alimentou a maior parte de seus textos.

Sua passagem pela cidade de Santarém acabou sendo transmutada para a forma

de poema (ANASTÁCIO, 1999), expressando uma riqueza de detalhes,

especialmente no que diz respeito às ações e aos lugares percorridos. Nos

apropriando da interpretação de Anastácio (1999), podemos afirmar que o uso

que a escritora faz das imagens espaciais para a criação de seus poemas

representa não somente a rotina dos lugares que visitou e que viveu, mas

também a construção uma paisagem que dá vida ao escrito. O estranhamento que

sentia diante de situações novas movia suas construções estéticas. No que diz

respeito às contribuições deste trabalho, destacamos a preservação e a

transmissão dos documentos de processo organizados para esta pesquisa. Ainda

no que tange ao enfoque genético, podemos afirmar que esse tipo de estudo

enriquece a obra publicada pois fornece novas hipóteses para uma melhor

compreensão do texto final. Como aporte teórico, utilizamos a crítica genética

(GRÉSILLON, 2007; SALLES, 2000) e a geografia interpretativa (SOJA, 1993;

HAESBAERT, 2007) a fim de entender como Bishop trabalhou ficcionalmente

questões relacionadas à geografia, tais como o espaço e o território.

Palavras-chave: Elisabeth Bishop. Espaço. Criação Literária.

A CRIAÇÃO LITERÁRIA E AS DIVERSAS TERRITORIALIZAÇÕES NO POEMA

"ARRIVAL AT SANTOS"

Thaís Santos Pereira (UNEB)

Elisabete da Silva Barbosa (UNEB) - Orientadora

Esta pesquisa adota como objeto os manuscritos do poema Arrival at

Santos (1952) da escritora norte-americana Elizabeth Bishop (1911-1979),

material que reflete uma forte relação entre espaços ficcionais e reais, pondo em

evidência o sujeito escrevente. Analisamos os manuscritos a partir dos

pressupostos da crítica genética para compreender o processo de criação

108

artística (SALLES, 2008) e as construções e reconstruções poéticas. Trata-se de

um prototexto composto por sete manuscritos que foram organizados

cronologicamente, com transcrição semidiplomática. Como aporte teórico,

recorremos à geografia interpretativa para realizar o estudo crítico dos

deslocamentos territoriais que foram representados no poema. Tais movimentos

podem ser rastreados tanto no processo criativo como na vida da autora (devido

ao fato de Bishop ter sido uma viajante,de ter nutrido o sentimento de expatriada

e de seu processo criativo ser alimentado por sua experiência pessoal), o que

acompanhamos a partir não somente dos manuscritos, mas também de textos

paralelos como os biográficos e epistolares. Trata-se de um dos primeiros

poemas que Bishop escreveu ao chegar ao Brasil, o qual expressa o

estranhamento cultural refletido na ficcionalização do lugar. Nas palavras de

Barbosa (2016), são instâncias que convergem para o espaço da escrita e que,

portanto, são reelaboradas no terreno do ficcional. Para este estudo, nos

apoiamos no conceito de multiterritorialidade desenvolvido por Haesbaert

(2007) para realizar uma análise textual pautada nos processos de

territorialização e desterritorialização delineados no poema, o que será

confrontado com os registros sobre as primeiras experiências de Bishop em

terras brasileiras. Esse conceito será aplicado ao acompanharmos o

desenvolvimento das imagens criadas por Bishop em seu processo criativo.

Palavras-chave: Elizabeth Bishop. Multiterritorialidade. Processo de Criação.

Eixo Temático: Filologia e Memória

A PREVALÊNCIA DOS DIREITOS INDIVIDUAIS NA REVOLTA DA VACINA:

EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA DE UM RECURSO EM HABEAS CORPUS DO

INÍCIO DO SÉCULO XX NO COMBATE À FEBRE AMARELA

Ana Carolina Estremadoiro Prudente do Amaral (USP)

A Revolta da Vacina foi um levante popular ocorrido no Rio de Janeiro no

início do século XX, durante o governo de Rodrigues Alves. Aprovada em 31 de

outubro de 1904, a Lei 1261 tornou obrigatória, em todo o país, a vacinação e a

revacinação contra a varíola e febre amarela, pretendendo o governo, sob a

orientação do médico sanitarista Oswaldo Cruz, erradicar essas doenças do

território nacional, cujas vítimas já ultrapassavam facilmente a marca das mil

mortes ao ano. As ações da Brigada Sanitarista consistiam na vacinação da

população à força e na entrada dos agentes públicos nas casas para a

pulverização e desinfecção, como medida preventiva para a não proliferação do

mosquito transmissor da febre amarela. Com uma ação educativa ineficaz (ou

com a falta dela), a população recusou a vacinação e desinfecção compulsórias,

levando à eclosão da revolta popular. Nesse contexto, a presente pesquisa, ainda

em andamento, tem como objetivo a transcrição filológica dos autos do Recurso

109

de Habeas Corpus RHC 2244, datado de 1905, editando-o semidiplomaticamente

a fim de se obter uma edição genuína e fidedigna para consulta e estudo. Para

tanto, far-se-á uma análise paleográfica e diplomática do documento judicial onde

o paciente Manoel Fortunato de Araujo Costa alegou ameaça de constrangimento

ilegal por ter recebido, pela segunda vez, uma carta de intimação de um agente

sanitário público para ingressar em sua residência e realizar a desinfecção contra

o vetor da doença. O processo judicial possui 38 fólios, cuja guarda pertence ao

Arquivo Nacional, mas disponível seu fac-símile online no sítio do Supremo

Tribunal Federal, na aba “julgamento históricos”, já que foi o órgão responsável

por julgar procedente o pedido do paciente em última instância. Cumprida essa

etapa, e tratando de tema ainda atual, será feita, buscando a função transcendente

da Filologia, uma análise jurídica sobre a perspectiva dada pelos julgadores de

1905 às garantias individuais, especialmente a da inviolabilidade de domicílio,

um dos fundamentos da decisão, impedindo a entrada dos agentes públicos na

residência do paciente. Seriam os direitos individuais, previstos na Constituição

de 1891, superiores aos sociais? E hoje, sob a égide da Constituição Federal de

1988, prevaleceria o interesse público em detrimento do individual,

considerando-se a vacinação e o controle dos focos de reprodução do mosquito

como obrigações sociais? A edição deste processo e os demais estudos permitirão

a sua comparação com decisões atuais que cuidam de conflitos semelhantes entre

direitos individuais e obrigações sociais.

Palavras-chave: Revolta da vacina. Edição semidiplomática. Recurso de Habeas

Corpus.

TOPÔNIMOS NO LIVRO III DO TOMBO: UM ESTUDO PRELIMINAR

Carine Rheinschmitt Santos (UFBA)

Célia Marques Telles (UFBA) - Orientadora

O Livro III do Tombo é o quarto volume da coleção dos Livros do Tombo

do Mosteiro de São Bento da Bahia, uma coleção que totaliza seis livros. O

Arquivo Histórico do Mosteiro de São Bento da Bahia e a sua Bibliotecas de Livros

Raros são entidades culturais diferentes, tombadas pelo IPHAN (Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O Livro III do Tombo foi escrito com a

finalidade de conservar e tornar público os "títulos de terras e propriedades" –

Cartas de Sesmarias, Aforamentos, Inventários e divisões de bens (propriedades,

escravos etc.) – que pertenciam ao Mosteiro de São Bento da Bahia. Os

documentos do Livro III já tinham sido trasladados em Livros de Tombo

anteriores: o Livro Velho do Tombo, o Livro I do Tombo e o Livro II do Tombo,

conforme foi pedido pelo Dom Abade do Mosteiro de São Bento da cidade do

Salvador: alguns desses documentos são, portanto, retrasladados. O trabalho

começou com a elaboração das fichas catalográficas, segundo o modelo de Clara

110

Crepaldi (TELLES, 2011), possibilitando a compreensão do conteúdo e da

estrutura diplomática dos documentos. A relação dos topônimos (e de suas

variantes) encontra-se em fase de verificação, o que começa a permitir

estabelecerem-se relações entre os documentos retrasladados e quais

documentos são retrasladados no Livro III do Tombo e no Livro Velho do Tombo.

Pode verificar-se a duplicação dos traslados até no mesmo livro, como é o caso do

documento: “Sesmaria de seiz legoaz daserra do Jurará”, objeto de estudo na

etapa anterior do projeto. O ponto de partida surgiu de três fatos que chamaram a

atenção durante o processo de edição dos documentos do Livro III do Tombo. Os

fatos acima referidos são: 1) o novo traslado que se mandou fazer dos

documentos, 2) as anotações marginais nos livros do Tombo, 3) as datas idênticas

dos documentos (TELLES, 2016). A identificação dos documentos iguais,

permitida pelas etapas da “recensio” e da “collatio”, tem levado à percepção da

existência de variantes na grafia dos topônimos (VICENTE, 2013) e dos

antropônimos ou ainda dos “lapsi calami”. Tais exemplos mostram indícios de

uma variação no sistema da língua portuguesa relativa à nominação, em especial

às formas provenientes da língua ameríndia.

Palavras-chave: Livros do Tombo. Documentos retrasladados. Toponímia.

MEMÓRIAS DO ENGENHO NO RECÔNCAVO BAIANO A PARTIR DA LEITURA

FILOLÓGICA DOS TEXTOS TEATRAIS DO PROJETO CHAPÉU DE PALHA

André Luís de Alcântara Santos (UFBA)

Isabela Santos Almeida (UFBA)- Orientadora

Objetiva-se neste trabalho apresentar um estudo sobre a representação do

Engenho do Recôncavo Baiano a partir dos textos teatrais A linda história da

heróica cidade do Porto de Cachoeira dos Martins e Adornos, antes porém dos

Cariris (1983) e Quem vai querer ([198-]), do Projeto Chapéu de Palha. Os textos

apontam referências sobre o sistema açucareiro, escravista, a imposição do poder

da sociedade aristocrata, além da violência e do processo de silenciamento nas

cidades de Cachoeira e Santo Amaro da Purificação. Fundado em 1983, o Projeto

Chapéu de Palha evidencia, por meio dos textos, as histórias do recôncavo baiano.

Estes textos trazem, a partir de sua materialidade, a memória e a história das

comunidades locais, como também apresentam a cultura e suas tradições. Para

iniciar a leitura dos textos, a pesquisa utilizou-se dos pressupostos da Crítica

Textual de modo a realizar o estudo sobre a relação de poder entre a sociedade

aristocrata e a sociedade menos abastada, representadas nas peças selecionadas.

Desta forma, pode-se afirmar que, o texto é um objeto de expressão do qual

emanam saberes culturais e históricos, lidos a partir da pluralidade de

significados. Outrossim, as leituras dos textos trazem relatos de acontecimentos

pertinentes para a compreensão das produções dramatúrgicas das cidades do

111

recôncavo baiano, a saber, Cachoeira e Santo Amaro da Purificação. Concebendo

os textos como principais fontes documentais, por meio do aporte teórico-

metodológico da Crítica Textual, elaborou-se uma ficha catálogo e uma edição fac-

similar para cada um dos testemunhos, de maneira a coletar dados para

investigar os elementos escritos nas produções cênicas pelas quais se revelam

aspectos culturais e históricos. Estes textos fazem parte do acervo do grupo de

pesquisa Equipe Textos Teatrais Censurados (ETTC). Portanto, a pesquisa em

questão torna-se relevante por contribuir, de maneira significativa, para a

conservação e memória do teatro baiano e do Recôncavo Baiano, a partir dos

estudos filológicos.

Palavras-chave: Projeto Chapéu de Palha. Textos Teatrais Baianos. Crítica textual.

CENAS EM TRÂNSITO: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE CIRCULAÇÃO DA

DRAMATURGIA DE DEOLINDO CHECCUCCI

Carla Cecí Rocha Fagundes (UFBA)

Rosa Borges (UFBA) - Orientadora

O teatro, durante as décadas de 1970 e 1980, teve notável

desenvolvimento, mesmo em uma sociedade controlada pela ditadura militar,

que foi instaurada em território nacional entre 1964 e 1985, restringindo a

liberdade de expressão, através da censura. Nesse contexto, destacamos a

dramaturgia de Deolindo Checcucci, autor que produz na Bahia desde a década de

1970. Caracterizando-se como um artista multifacetado, Checcucci assumiu no

cenário teatral baiano os papéis de diretor, ator, professor e dramaturgo. Através

de suas produções, buscava desenvolver um teatro crítico e inovador, capaz de

promover a reflexão e a mudança social. Diante da conjuntura ditatorial, alguns

de seus textos tiveram cortes e vetos. Esses movimentos podem ser observados

através dos documentos censórios, relacionados aos textos teatrais, e

armazenados no Acervo Deolindo Checcucci – Teatro Infantil (ADC-TI),

organizado no âmbito da Equipe Textos Teatrais Censurados – ETTC, coordenada

pela professora Dra. Rosa Borges, na Universidade Federal da Bahia – UFBA,

desde 2006. Através do ADC-TI propomos organizar os textos teatrais,

documentos censórios, entrevistas, matérias de jornal e demais documentos

relacionados à produção dramatúrgica de Deolindo Checcucci. Essa organização

será apresentada através de um arquivo hipertextual, em meio digital. Desse

modo, será possível estabelecer um diálogo entre a filologia, a arquivística e as

tecnologias informáticas. Neste trabalho, em perspectiva filológica, será oferecida

uma análise do processo censório da dramaturgia produzida por Deolindo

Checcucci. A partir das reflexões tecidas, acreditamos ser possível ler nos

documentos censórios e textos teatrais as marcas do processo de circulação da

dramaturgia baiana pelos órgãos da censura, durante a ditadura militar.

112

Palavras-chave: Filologia. Texto teatral censurado. Documentos censórios.

PROJETO CHAPÉU DE PALHA: O ESTUDO DO PARATEXTO

Ebert Vieira da Silva (UFBA)

Isabela Santos de Almeida (UFBA) - Orientadora

As ações empreendidas no plano de trabalho “Documentos da memória do

Projeto chapéu de palha: estudo do paratexto” desenvolvido no contexto do

projeto “Edição de textos teatrais do Projeto chapéu de palha: teatro baiano,

cultura e identidade”, dentro das atividades da Equipe Textos Teatrais

Censurados (ETTC), coordenada pela Profa. Dra. Rosa Borges, vêm se somando a

outros trabalhos da referida equipe para a criação de um catálogo descritivo

digital (CDD) da dramaturgia dos docentes da Universidade Federal da Bahia

(UFBA), cuja produção se deu no período do Regime Militar. Busca-se, nesse

artigo, apresentar os resultados do supracitado plano de trabalho, no qual se

tinha como objetivo estudar os documentos paratextuais referentes ao “Projeto

chapéu de palha” (PCP), composto por fotografias, panfletos, matérias de jornais,

entrevistas, apostilas de aula, dentre outros. Pretende-se também problematizar

os arquivos e acervos como um lugar de memória a partir da práxis filológica,

dando a conhecer os seus diversos estados de produção, formas de transmissão e

circulação, além da recepção. Para tanto, realizaram-se as seguintes atividades:

leitura e fichamento de material bibliográfico acerca das edições de textos

teatrais censurados, especificamente sobre o Projeto chapéu de palha e os

problemas relativos à Crítica Textual, na contemporaneidade; busca e

digitalização, em arquivos e acervos públicos e privados, da documentação

paratextual referente ao PCP , para posterior produção de edições fac-similares.

Desse modo, considera-se a relevância de tal atividade, pois, uma vez concluída,

possibilitará o acesso a esses documentos, ocupando-se do texto em sua história e

materialidade e evidenciando sua função de testemunho literário e documental.

Se o texto carrega elementos sociais e históricos, estudar o paratexto do PCP é

dispor de fontes que possibilitam notar a riqueza e diversidade do teatro baiano,

e observar os vestígios deixados pelos diferentes agentes culturais e sociais que

nele intervieram, evidenciando-se o contexto sócio-histórico do período em que o

PCP atuou nas cidades baianas. Espera-se que a realização das atividades de

estudo dos documentos paratextuais referentes ao PCP possam oferecer aos

pesquisadores materiais úteis à prática de edição e de estudo crítico de textos.

Palavras-chave: Teatro baiano. Crítica textual. Projeto Chapéu de Palha.

DONA CLARA CLAREOU: UMA VOZ FEMININA NO PERÍODO DA DITADURA

MILITAR

113

Fernanda Benfica (UFBA)

Isabela Santos de Almeida (UFBA) - Orientadora

114

O texto teatral Dona Clara Clareou ou Simplesmente Destroços, da

dramaturga Jurema Pena, cuja estreia ocorreu em 25 de março de 1982, na Sala

do Coro do TCA, sob direção de Leonel Amorim, tem como tema as dificuldades e

prazeres dos relacionamentos interpessoais humanos, neste caso, trazendo a

relação de Clara, uma mulher de meia idade cujo filho foi exilado, com Lucas, um

jovem rapaz bissexual, que se relaciona simultaneamente com Clara e com

Fernando, sendo dependente financeiramente de ambos. No presente trabalho,

intencionou-se analisar as questões de gênero durante o período da ditadura

militar, a partir de um estudo crítico-filológico, entendendo esse texto como

produto da cultura de uma época. O recorte da pesquisa em andamento toma

como objeto de estudo o referido texto teatral, bem como os respectivos

documentos paratextuais, para propor uma leitura da personagem Clara, que

sofre com o exílio do filho e também com o exílio de si mesma, aprisionada numa

realidade de opressão, cuja luta pela liberdade de expressão, financeira, amorosa

é cotidiana. Com esse contexto, considerando que o teatro, no período da

repressão militar, passou por diversos cerceamentos pelas peças possuírem

temas que iam contra as ideias e comportamentos defendidos pelo regime

ditatorial, não seria surpreendente afirmar que Dona Clara Clareou ou

Simplesmente Destroços tenha sofrido com as intervenções da censura, já que traz

a voz feminina em primeiro plano, esta que anseia por sua liberdade que por

muitas vezes fora calada por uma sociedade patriarcal, que estabelece padrões

comportamentais e cria barreiras à liberdade, à autonomia e à sexualidade da

mulher, sobretudo.

Palavras-chave: Filologia. Regime Militar. Gênero. Texto teatral. Crítica textual.

DO DECRETO À ESTRUTURA: O DESTACAMENTO DO NORDESTE EM

GEREMOABO COMO INSTITUIÇÃO EM DATILOSCRITOS DE 1936

Ivan Nascimento (UFBA)

Danilo Santos e Silva (UFBA)

O presente artigo objetiva a divulgação de dados referentes à criação e à

estruturação do Destacamento do Nordeste em Jeremoabo, na Bahia, a partir de

uma amostra de transcrições elaboradas na vigência do plano “DET-Jan-Jun. 1940

- DN: transcrição e levantamento lexical”. Este trabalho se filia ao projeto

“Documentos do ano de 1940 do "Destacamento do Nordeste" para o combate ao

banditismo: transcrição e levantamento lexical”, coordenado pela Profª Drª. Alícia

Duhá Lose, que se propõe a trabalhar com livros do arquivo histórico da Polícia

Militar da Bahia, alocados no Centro de Memória da PMBA, no Quartel dos Aflitos.

Os boletins n° 1 de 9 de março e o n° 4 de 12 de março de 1936, que pertencem a

um volume de boletins do “Commando das Forças em Operações Contra o

Banditismo no Nordeste do Estado da Bahia. P.C. em Geremoabo”, constituem o

115

objeto da discussão. Nesses textos, constam uma transcrição de decreto em que o

Governo do Estado da Bahia, durante o mandato do 24° governador Juracy

Montenegro Magalhães, aprova a criação do órgão de combate ao banditismo

para o “restabelecimento da ordem pública”; questões relativas à instalação e à

estrutura do destacamento e à distribuição das forças oficiais, informando

patentes e designações de cargo. Como arcabouço teórico, foram tomados os

princípios da Crítica Textual e da Paleografia para a elaboração das transcrições,

assumindo-se como ponto de partida a edição do Dietário (1582-1815) do

Mosteiro de São Bento da Bahia elaborada por Lose et al. (2009), no sentido de

alinhar-se à proposta do projeto afiliado.

Palavras-chave: Organização do Destacamento do Nordeste. Banditismo na Bahia.

Arquivo histórico da Polícia Militar da Bahia.

AS MEMÓRIAS DE DONA PEQUENA: AS PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES EM

SEUS MANUSCRITOS E NO IMAGINÁRIO SERTANEJO NO SÉCULO XIX

Jadione Cordeiro de Almeida (UFBA)

Maria Julieta Cedraz Friandes, ou Dona Pequena, nasceu na década de

1870(?) no então município de Riachão do Jacuípe, na fazenda Queimadinha,

atual cidade de Ichu – localizada a 176 km de Salvador-BA – estudante normalista

em Salvador, mas não conclui o curso, pois regressa ao interior do estado, quando

passa a ser a primeira professora daquela localidade, no engenho da fazenda

Canavial. Casada, passa a morar na fazenda Jitirana, onde, com seu cônjuge,

morreram de inanição na lendária Seca de 1932. Os conceitos de práticas e

representações serão essenciais para estabelecer os limites entre o real e o

imaginário em torno de Dona Pequena como mulher, sertaneja, mãe, professora e

poetisa, assim, este trabalho busca apresentar a história vista de baixo, como

sugerida por Thompson (1966), neste caso, contada por pessoas anônimas a

respeito de pessoas na mesma condição, mediante a gravação de trinta

entrevistas de membros da família e moradores da região sobre a vida dessa

mulher e a difusão da cultura escrita na região, logo foi preciso estabelecer um

diálogo entre método indiciário e etnográfico, numa perspectiva envolvendo

Filologia e História da Cultura Escrita, visando historiografar a vida e obra de

uma das primeiras poetisas baianas dos Sertões dos Tocós, a partir da edição face

a face (fac-símile e semidiplomática) de seus textos. Esta pesquisa busca revelar

ao público a importância desta mulher; descrever e analisar as condições de

produção e/ou adversidades encontradas por uma mulher nordestina em busca

de formação normalista e do direito de ler e escrever num século em que as

normalistas inicialmente eram igualadas às categorias dos loucos e prostitutas

(VILLELA, 2000); listar e agrupar os tipos de gêneros textuais organizados e

escritos também pela então estudante, bem como identificar com quais obras

116

e/ou autores ela especialmente tivera contato no contexto em que as mulheres

geralmente ainda eram privadas da cultura escrita; por fim, comparar as

mudanças de comportamento de leitora e escritora, antes e depois do casamento

num espaço hostil. Nesta primeira etapa da pesquisa, editou-se apenas o primeiro

livro, chegando à conclusão de que o corpus foi produzido entre o interior e a

capital baiana, nos anos de 1898 e 1899; trata-se de um livro manuscrito lido

pelas mulheres da família durante gerações; a organizadora das antologias lia

autores românticos e parnasianos; dos 97 poemas, 59% eram da autoria da

poetisa; além desses, no livro escreveu motes, epígrafes, quadras, pensamentos e

anotações avulsas de autoria variada, sendo 28/38 (74%) da própria poetisa. Já

professora e casada no início do século XX, abandona parcialmente a poesia e

dedica-se à família e à leitura religiosa, atitude comum a uma mulher à época.

Busca-se, portanto, analisar as reais práticas de leitura e escrita dessa autora e as

representações do imaginário coletivo a respeito dessa mulher atípica àqueles

Sertões do Tocós.

Palavras-chave: Dona Pequena. Edição. Memória.

ESTUDO DO LÉXICO DA SEXUALIDADE EM UM DOCUMENTO JURÍDICO

BAIANO LAVRADO EM 1914

Jéssica Pâmela Bomfim Silva (UEFS)

Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS - Orientadora)

O léxico é o conjunto de palavras de uma língua, é a identidade de um

povo, pois com aquelas é possível enveredarmos pelos vocabulários de diversas

comunidades linguísticas e trazer à tona aspectos históricos, sociais, culturais,

religiosos, jurídicos de uma sociedade, isto é, as histórias, os costumes, os cunhos

religiosos, as leis de um grupo social. Isto posto, propomos neste trabalho o

estudo do léxico da sexualidade em um documento jurídico baiano lavrado em

1914. O corpus encontra-se sob a guarda do Centro de Documentação e Pesquisa

(CEDOC), localizado na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS - BA) e

já se acha editado filologicamente. Tal documento retrata a história de Lindaura

Maria de Jesus, que foi seduzida por promessas de casamento e cedeu aos desejos

sexuais do seu noivo, João de Vasconcellos, sendo desvirginada e abandonada

grávida. Para tal estudo, fizemos o levantamento das lexias referentes à

sexualidade, definimos os macrocampos e os microcampos, analisamos as 28

lexias encontradas e buscamos a classe gramatical, o gênero, o significado e os

contextos em que as lexias aparecem no documento manuscrito. Em suma,

esperamos com este trabalho contribuir para as pesquisas na área da Filologia e

da Lexicologia, trazer à tona o léxico e os significados da comunidade linguística

de Almas, produzidos entre 1914 a 1924, e apresentar aos pesquisadores, à

comunidade acadêmica e ao público leitor esses resultados. Como aporte teórico,

117

tomamos por base os trabalhos desenvolvidos por Abbade (2006), Oliveira e

Isquerdo (2001), Queiroz (2002), Silva (2013), entre outros.

Palavras-chave: Léxico. Sexualidade. Documento Jurídico Baiano.

O ACERVO DE ILDÁSIO TAVARES NO ESPAÇO LUGARES DE MEMÓRIA DA

UFBA

Jhade Borges dos Santos Gomes (UFBA)

Rosa Borges (UFBA) -Orientadora

Arquivistas e filólogos são os principais responsáveis pela atividade de

conservação e acessibilidade do conjunto de memórias evidenciadas pela massa

documental que se encontra nos acervos. Tais documentos possibilitam a

produção de leituras diversas e práticas da edição de textos pelo filólogo-editor.

No estudo em desenvolvimento, tornar acessível o aparato documental que

promove a pesquisa e a atividade filológica é um dos principais objetivos dos

Projetos de Pesquisa Acervo de Escritores Baianos e Edição e Estudos de Textos

Teatrais Censurados no Período da Ditadura na Bahia (Parte IV): Práxis Filológica

e Arquivística. A partir da catalogação e digitalização das peças teatrais do

escritor baiano Ildásio Tavares e de documentos que permeiam o processo de

transmissão, produção, circulação e recepção dos seus textos, pretende-se

organizar o acervo do referido autor, que se encontra no Espaço Lugares de

Memória da Biblioteca Universitária Reitor Macedo Costa da UFBA, visando a

posterior criação de um acervo digital online. Ainda a partir da alcançabilidade

almejada, objetiva-se buscar elementos para exercício da prática editorial de uma

peça a ser escolhida, levando em consideração os processos históricos, sociais,

culturais, políticos e de qualquer outro fundamento que possa fornecer a

contextualização de espaço e tempo da obra por meio de uma prática crítico-

interpretativa, no lugar teórico da Filologia, considerando a trajetória e a história

do texto na trama do arquivo. Desse modo, a promoção de acesso à massa de

documentos provenientes do patrimônio artístico-cultural de determinado

escritor é de suma importância para servir como objeto de estudo da Filologia,

que, sendo disciplinar interativa, está em constante diálogo com diversas áreas de

conhecimento.

Palavras-chave: Filologia. Peças Teatrais. Acervo Digital.

OS ARQUIVOS DA PRELAZIA DE TEFÉ: A TRANSCRIÇÃO DO JOURNAL DE LA

COMMUNAUTÉ DU SAINT ESPRIT (1914-1938)

Jubrael Mesquita da Silva (UEA)

118

A presente transcrição é fruto do projeto intitulado “História, arquivo e

memória de Tefé”, financiado pela FAPEAM e com a finalidade de organizar e

democratizar o acervo da Prelazia de Tefé/AM, localizado na Rádio Educação

Rural do município, tem como objetivo apresentar parte da documentação

existente no acervo, notadamente os registros paroquiais e os periódicos,

destacando suas singularidades e potencialidades para os estudos de história,

geografia e ciências afins. Em 2013 com incentivo da agência de fomento a

pesquisa no Amazonas, FAPEAM, a partir da seleção junto ao edital Pro-acervo,

iniciou-se o projeto "História, arquivo e memória de Tefé". O projeto tinha como

objetivo central difundir e democratizar o acesso ao acervo histórico de Tefé/AM

por meio de ações de higienização, organização, digitalização e catalogação dos

documentos que o compõem. Cabe destacar que Tefé desde tempos coloniais,

quando se configurou enquanto Missão e, depois, tornando-se Vila de Ega,

caracterizou-se por ser um espaço estratégico, abarcando por força disso

interesses e questões políticas, econômicas, sociais e culturais que faziam da

região do Médio e Alto Solimões sua “extensão”. Com efeito, vários documentos

que remontam ao século XIX e XX encontram-se no acervo, localizado no Prédio

da Rádio Educação Rural de Tefé, sob a guarda da Prelazia. Esses documentos

referem-se à história do Médio e Alto Solimões, uma vez que versam sobre

cidades e regiões localizadas na calha do Solimões, mas também de seus

afluentes. Cidades como Santo Antônio do Içá, Amaturá, Fonte boa, Tefé e outras

são mencionadas em documentos que trazem consigo aspectos históricos delas.

Documentos de batismo, casamento e periódicos constituem-se em exemplos

significativos que se bem explorados possibilitam uma maior compreensão

histórica da região. Assim o arquivo possui dentre vários documentos o Journal

de la Communauté du Saint Esprit, que é uma documentação que se aproxima de

um diário escrito entre 1914 a 1938. Foi realizada uma transcrição do documento

original escrito em língua francesa a mão, possivelmente por um religioso ligado

a ordem dos Espiritanos.

Palavras-chave: Transcrição. Tefé. Arquivos.

119

SOBRE A EDIÇÃO DE TEXTOS NO LABORATÓRIO DE HISTÓRIA DA LÍNGUA

(HISTLING) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Leonardo Lennertz Marcotulio (UFRJ)

Célia Regina dos Santos Lopes (UFRJ)

Silvia Regina de Oliveira Cavalcante (UFRJ)

O Laboratório de História da Língua (HistLing), projeto atualmente

desenvolvido por professores da Faculdade de Letras da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, tem suas origens no antigo Laboratório de História do Português

(LaborHistórico), criado para atender a demanda do projeto integrado Para a

História do Português brasileiro. Nesta comunicação, desejamos fazer um

histórico do projeto de edição de textos antigos e constituição de corpora,

avaliando, no percurso de mais de dez anos de existência, o labor filológico, os

avanços e limitações, assim como as dificuldades e desafios enfrentados para

garantir a preservação da rica coleção documental da que dispomos. O

laboratório HistLing tem dois objetivos centrais: (i) fomentar estudos de filologia

e linguística histórica; e (ii) elaborar e divulgar um corpus documental de textos

antigos da língua portuguesa (HistLing-P) e da língua espanhola (HistLing-E),

possibilitando a qualquer pesquisador levantar dados representativos do

português no e do Brasil, do português europeu e do espanhol na América. Tal

proposta certamente favorece no avanço do debate teórico acerca da mudança

linguística e das interpretações sobre a nossa formação histórico-social. Com base

no material editado, os pesquisadores poderão ter acesso direto a fontes de

sincronias passadas sistemática e criteriosamente levantadas. Atualmente,

estamos dando ênfase à edição de cartas particulares escritas no Rio de Janeiro

por brasileiros e por portugueses, a partir dos séculos XVIII-XIX, localizadas em

acervos cariocas, como é o caso do Arquivo Nacional, Fundação Biblioteca

Nacional e Instituto Histórico Geográfico Brasileiro. Os documentos são

apresentados em versão semidiplomática juntamente a seus fac-símiles para que

qualquer pesquisador interessado possa conferir, meticulosamente, o texto

transcrito e editado com a versão original digitalizada, fazendo sua leitura

própria e pessoal dos documentos.

Palavras-chave: Edição de Textos. História da Língua. Constituição de Corpus.

CARTAS PESSOAIS NOVECENTISTAS: EDIÇÃO E ESTUDO

Letycia Dias Mallet (UFRJ)

Leonardo Lennertz Marcotulio (UFRJ) - orientador

O objetivo desta comunicação é dar notícias sobre o processo de

organização, edição e estudo de cartas de um acervo pessoal, desde a primeira

120

metade do século XX até a década de 80 do mesmo século. Trata-se do acervo

batizado como Didola, em homenagem à forma como era chamada a matriarca de

uma família, destinatária de muitas dessas cartas. Didola era uma mulher mineira

que, apesar de todas as dificuldades, financeiras e de outras ordens, tinha um

carinho inestimável para com o próximo. Mulher religiosa, amiga, prima, irmã,

mãe são características notáveis em sua correspondência passiva. No atual

estágio da pesquisa, o acervo está constituído de 28 cartas escritas por diferentes

remetentes como irmãos, filha, primas e amigos em geral. Esse material foi doado

pela família da destinatária para o projeto Laboratório de História da Língua

(HistLing), desenvolvido no âmbito da Faculdade de Letras da Universidade

Federal do Rio de Janeiro. O trabalho filológico tem como propósito a preservação

e divulgação da memória de um grupo familiar cujas redes se materializam em

diversos estados da região sudeste do Brasil. Os materiais levantados estão sendo

editados sob os rigorosos preceitos da Filologia / Crítica Textual (Cambraia,

2005), de acordo com as normas do projeto Para uma História do Português

Brasileiro, no que se refere à elaboração de edições semi-diplomáticas. Este

acervo é de grande importância para estudos da história do português, por

permitir a análise de aspectos paleográficos e linguísticos na escrita de

personagens não ilustres, assim como pelo fato de termos acesso a textos

produzidos por informantes, homens e mulheres, com distintos graus de

escolarização.

Palavras-chave: Cartas Novecentistas. Filologia. Memória.

EDIÇÃO DIPLOMÁTICA DE UMA MANUSCRITO DO FINAL DO SÉCULO XIX DA

CÂMARA MUNICIPAL DE CASCAVEL/CE

Luiz Carlos Cordeiro Lima (URCA)

Expedito Eloísio Ximenes (UECE) - Orientador

A Filologia é uma ciência que se ocupa em estudar o texto escrito. Ao se

desenvolver pesquisas filológicas, torna-se possível o contato com textos antigos

que, por vezes, incógnitos, fornecem informações significativas, as quais são

características de um período histórico, assim como de uma sociedade em

particular (XIMENES, 2013). Com base nesse pressuposto, pretende-se, com esta

comunicação, proceder à concretização de uma edição semidiplomática de um

documento manuscrito, do final do século XIX, o qual constitui o gênero aviso de

devolução do livro de atas da Câmara Municipal de Cascavel/CE, sendo, pois,

extraído do Portal da História do Ceará – uma página virtual, disponível em

http://portal.ceara.pro.br/, que permite o acesso a um acervo significativo de

diversos gêneros textuais riquíssimos para análise e entendimento de fatores

linguísticos, sócio-históricos e culturais de um corpo social de várias épocas. Para

tanto, buscou-se atender às normas de edição do grupo pesquisa Prática de

121

Edição de Textos do Estado do Ceará (PRAETECE), pelo fato de que levam em

conta a preservação integral dos textos para estudos de ordem paleográfica,

codicológica, diplomática, já que tais procedimentos favorecem para uma

compreensão mais ampliada dos documentos. Nessa perspectiva, o aporte

teórico-metodológico na tessitura dos conceitos inerentes à Filologia e ao labor

de edição buscará apoio nos estudos de Ximenes (2009), Cambraia (2005), Spina

(1994), dentre outros. Frente ao exposto, acredita-se que, com esta proposta de

trabalho, haverá possibilidade de se investigar variados aspectos linguísticos do

português do Brasil, contribuindo, assim para o também crescimento dos estudos

filológicos no Ceará.

Palavras-chave: Filologia. Aviso. Edição Semidiplomática.

OS ACTANTES NO LIVRO III DO TOMBO: UM ESTUDO ANTROPONÍMICO

Marcos dos Santos Nascimento (UFBA)

Célia Marques Telles (UFBA) - Orientadora

Muitos dos registros de um povo, suas crenças, sua organização social bem

como sua cultura podem ser observados na escolha dos nomes próprios, prática

antiga e que, em virtude desses aspectos, merece a atenção da linguística e dos

seus estudiosos. Usar a língua e sua significação simbólica para apropriar-se do

mundo tem sido uma constante desde os primórdios da raça humana. Este artigo

é parte do meu projeto de dissertação, em desenvolvimento, em nível de

mestrado, orientado pela Profa. Célia Marques Telles. Busca-se aliar pesquisas em

filologia, ao estudo da onomástica – arte que se dedica a investigar as origens e os

processos que formam os nomes próprios. Aqui faz-se uma breve exposição do

estudo antroponímico em manuscritos do Livro III do Tombo do Mosteiro de São

Bento da Bahia, a partir da edição semidiplomática já finalizada e disponível on

line. Esta pesquisa se dedica, mais particularmente, aos nomes de pessoas, ramo

denominado de antroponímia. Esse projeto objetiva reconhecer e identificar os

antropônimos no Livro III do Tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia, que

reúnem traslados de peças jurídicas e outros documentos pertinentes à

instituição, autenticados por um tabelião, que datam do século XVI ao XVIII,

contribuindo dessa forma para a história da prática notarial desse período.

Considerando a importância do estudo antroponímico nos Livros do Tombo e

suas preciosas contribuições para os estudos filológicos e de linguística histórica,

pergunta-se aqui, sobre antropônimos presentes no Livro III do Tombo, se já há

algum trabalho elucidativo no que diz respeito a sua identificação como actantes

ou protagonistas. Quando e onde esses antropônimos (portugueses, espanhóis e

africanos) aparecem ou se está esclarecido o fato de um mesmo nome que

aparece em mais de um documento referir-se à mesma pessoa ou se se trata

122

apenas de caso de homônimos, ou trata-se do mesmo documento ou de um

documento diferente.

Palavras-chave: Livro III do Tombo. Filologia. Onomástica

FILOLOGIA E LINGUÍSTICA: ESTUDO LEXICAL DE UM MANUSCRITO DATADO

DE 1900

Maria Aurilene Pinto Sampaio (UECE)

Expedito Eloísio Ximenes (UECE - Orientador)

Uma das tarefas do labor filológico é trazer à sociedade edições genuínas

de textos que guardam importantes dados linguísticos, culturais e históricos,

muitas vezes, não registrados nos manuais didáticos ou em livros diversos. Desta

forma, tomamos para o filólogo o adjetivo mencionado pelo autor do manuscrito

editado para este trabalho, quando anota: “Aqui ficapois ainda/registrada esta

restia de verdade para perpétuo tes/temunho da verdade histórica ao rebuscador

do passado.” Dado o exposto, intentamos, primordialmente, realizar a edição

semidiplomática de uma pequena nota encontrada dentro de um livro de

certidões de óbitos que está sob a custódia da cúria diocesana do município de

Itapipoca-Ce, cidade localizada aproximadamente a 140 km da capital Fortaleza.

O texto é intitulado de “nota” pelo padre Filomeno do Monte Coelho, que

registrava os óbitos da paróquia. Após a escritura de um óbito ocorrido em 1900,

encontramos no final do fólio 65v até o fólio 66v um desabafo contra o governo

do Ceará, à época, o senhor Antonio Pinto Nogueira Acioli. Apresentamos, nesta

comunicação, o texto editado e um estudo sobre o léxico que expressa a

indignação do padre diante a situação de seca e de morte do povo cearense. Cabe

ressaltar que, editar manuscritos requer letramento específicos, pois, faz-se

mister, além do cuidado no manuseio e obtenção do registro fac-similar do

manuscrito, o primor na edição e manutenção do registro fiel do texto em edição

semidiplomática. Portanto, para tal, nosso aporte teórico baseia-se, sobretudo,

em Cambraia (2005) e Spina (1977), dentre outros que lidam com a tarefa

filológica.

Palavras-chave: Textos. Edição Semidiplomática. Estudo Lexical.

123

A PROVISÃO DE PROFESSOR NO CONTEXTO DO CEARÁ OITOCENTISTA:

ANÁLISE DOS ASPECTOS LINGUÍSTICOS-FILOLÓGICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS

E EDUCACIONAIS

Nadja Maria Pinheiro (UFC)

Expedito Eloísio Ximenes (UECE) - Orientador

Professores que hoje ocupam as salas de aula do ensino público brasileiro

são submetidos a concursos em que inúmeros documentos fazem parte do

processo para admissão. Por meio de portaria ou nomeação, esses profissionais

são empossados para exercer o magistério. Voltando aos períodos colonial e

imperial, cumpria esse papel a espécie documental provisão, a qual, na definição

de Bellotto (2002), consistia no ato pelo qual a autoridade régia conferia algum

benefício ou cargo a alguém. No Arquivo Público do Estado do Ceará (APEC), é

possível constatar a recorrência do documento no contexto provincial cearense.

Desse modo, empreendemos a análise das provisões referentes ao cargo de

professor de Primeiras Letras na primeira metade do século XIX, com o intuito de

identificar a estrutura apresentada pelo gênero, considerando os fundamentos na

área da Diplomática propostos por Bellotto (2002) e Martinheira (2006). No que

se refere aos aspectos linguísticos-filológicos, o estudo visa esclarecer as

estruturas lexicais relativas à educação e, em especial, à figura do professor

presente nos manuscritos. Por fim, buscamos relacionar os dados que compõem

os documentos do corpus ao contexto sócio-histórico e educacional cearense para

construir um panorama acerca desses aspectos, para tanto, recorremos aos

estudiosos da história do Ceará, como Menezes (2001), Girão (1984) e Castelo

(1970). Ressaltamos que, para realizar as análises acima, os documentos

manuscritos foram semidiplomaticamente editados segundo as normas de edição

do grupo de pesquisa Práticas de Edição de Textos do Estado do Ceará

(PRAETECE). Para tornar-se acessível a um público maior, apresentamos ainda a

edição modernizada dos documentos.

Palavras-chave: Provisão de professor. Edição semidiplomática. Ceará Imperial.

O RECOLHIMENTO DE NOSSA SENHORA DOS HUMILDES E OS SEUS

MANUSCRITOS

Perla Andrade Peñailillo (UFBA)

Alícia Duhá Lose (UFBA) - Orientadora

A presente comunicação tem o objetivo de apresentar o trabalho de edição

realizado com 4 documentos do acervo da Congregação de Nossa Senhora dos

124

Humildes, sediada na cidade de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo

baiano. O Recolhimento dos Humildes foi fundado em 1793 e tinha como objetivo

inicial abrigar mulheres piedosas que se dedicassem ao culto divino,

posteriormente se tornou uma instituição de educação feminina. Os manuscritos

são registros escritos da história do homem, mas nem sempre esses documentos

foram idealizados com essa finalidade, no entanto, acabam virando testemunhas

dessa história. Os documentos objetos dessa análise foram “Cerimonial para se

lançar o Hábito e serem recebidas as Recolhidas de Nossa Senhora dos Humildes,

extraído do cerimonial das Recolhidas do Senhor Bom Jesus dos Perdões (de

1808 a 1869)”; o “Livro de Assentos de Entradas (de 1871 a 1928)”; o “Livro

Cerimonial” e o “Documento de Entradas (1885, 1890 e 1892)”. Para esses

documentos foi realizada uma edição conservadora com critérios de Lose (2009;

2011; 2014; 2016). Foram feitas tabelas scriptográficas com o intuito de

identificar as diversas mãos que o compõem os textos escritos ao longo dos 200

anos e de todos os documentos aqui citados, procedemos ao levantamento e

classificação, análises das abreviaturas tudo isso para que se pudessem estudar

melhor as documentações. Quando adentramos em um trabalho de pesquisa

documental, mergulhamos na história contida nos documentos, buscando

compreender, para além da escrita, o que não foi dito ou aquilo que foi silenciado

por anos de esquecimento e abandono. O papel da documentação produzida pela

instituição é imprescindível para compreensão e divulgação da história e da

memória do Recolhimento e da região santamarense.

Palavras-chave: Recolhimento dos Humildes. Nossa Senhora dos Humildes. Santo

Amaro. Paleografia. Manuscritos. Memória.

VOZES DO TEATRO BAIANO EM TEMPOS DE DITADURA MILITAR:

DEPOIMENTOS

Quelle Silva dos Santos (UFBA)

Isabela Santos Almeida (UFBA) - Orientadora

Este trabalho tem como objeto de estudo os depoimentos orais dos

docentes da UFBA, partícipes da cena teatral baiana, reunidos no “Seminário

vozes do teatro em tempo de ditadura militar”, realizado pelo Grupo de Edição e

Estudo de Texto - Equipe Textos Teatrais Censurados (GEET-ETTC), em 2016, na

UFBA. Participaram deste evento os professores Cleise Mendes, Luiz Marfuz,

Raimundo Matos, Ricardo Líper, Deolindo Checcucci e Fernando Conceição. É

através da Filologia e da atividade da Crítica Textual que se objetiva a

investigação do texto, seu processo de produção, circulação, transmissão e a sua

recepção dentro de determinado contexto. É o processo de recuperação desses

textos, a partir da práxis filológica, que vai levar o sujeito-pesquisador para a

consciência de que o texto tem valor documental e testemunhal, permitindo

125

novas interpretações do mesmo conforme sua materialidade e historicidade. Os

depoimentos tomados aqui são compreendidos como paratextos dos textos

teatrais, juntamente a outras documentações, pois constituem-se como fontes

que permitem formar um conjunto de perspectivas da cena teatral baiana e do

cotidiano da sociedade da época em que foram inscritos. Constituem-se como

lugares de memória, pois são testemunhos de um dado tempo e uma dada época,

contribuindo para o conhecimento de seu cenário político, cultural e social. Dessa

forma, a partir da composição de um referencial teórico-metodológico para o

desenvolvimento da pesquisa, foram elaborados critérios de transcrição

baseados no Programa de História Oral do Cpdoc, conforme Manual de História

Oral (ALBERTI, 2004), que, por sua vez, fornece orientações substanciais para o

desenvolvimento da pesquisa em questão, permitindo a preparação, realização,

tratamento e difusão dos depoimentos.

Palavras-chave: Docentes da UFBA. História oral. Filologia.

“O ADORÁVEL COGUMELO DA BOMBA ATÔMICA”: UMA EDIÇÃO

INTERPRETATIVA

Sebastião Rodrigues da Silva Júnior (UFBA)

Arivaldo Sacramento (UFBA) - Orientador

A resistência da sociedade brasileira à Ditadura Militar no Brasil se dá em

diversos campos. Entre os quais, situa-se o teatro. É neste cenário que se insere o

texto dramático, “O adorável cogumelo da bomba atômica”, escrito em 1967, pelo

intelectual baiano Ricardo Líper. Com o objetivo de produzir a peça no Teatro

Castro Alves, em Salvador, em 30 de maio de 1968, a obra foi submetida ao

Serviço de Censura de Diversões Públicas – Departamento de Polícia Federal –,

para obtenção de certificação para sua liberação. O texto recebeu certificado

favorável acima dos dezoito anos sem cortes em agosto do mesmo ano.

Entretanto, no ano de 1978, o texto foi apreciado novamente pelo mesmo órgão

que o considerou como impróprio para menores de dezesseis anos e permitido a

sua encenação a partir dessa idade, mas com cortes. A partir da documentação

gerada em todo processo, propõe-se, com este artigo, uma reflexão que conceba o

texto, objeto de estudo da Filologia Textual, como um bem documental que

retrate fatos históricos, sociais e culturais de uma época. Além disso, nas leituras

possíveis, são consideradas as condições materiais significativas ao labor

filológico, que evidenciam as marcas adquiridas pelo texto em seu processo de

produção, transmissão e circulação e, ao mesmo tempo, possibilitam entender

sua historicidade, demonstrando e/ou criando possibilidades de novas leituras.

Sendo assim, como resultado almeja-se apresentar uma edição interpretativa, na

qual, se discute a representação da militância de esquerda no teatro baiano no

período supracitado. Nesse sentido, conhecer de igual forma as circunstâncias da

126

escrita e seus projetos discursivos, políticos e estéticos se torna indispensável

para compreensão deste corpus.

Palavras-chave: Censura. Crítica Textual. Ditadura Militar.

GLOSSÁRIO CULINÁRIO DO LIVRO “LE VIANDIER DE TAILLEVENT”

Sherllon Santana de Araújo (UFBA)

Este trabalho apresenta um breve resumo sobre a elaboração de um

glossário culinário presente na obra “Le Viandier de Taillevant”, atribuída a

Guillaume Tirel, um dos livros de receitas em língua francesa, mais antigo

descoberto até então. É datado no período entre o Francês Médio e o Francês

Moderno. A obra Le Viandier de Taillevant possui grande valor nas vias históricas

da língua francesa por revelar costumes gastronômicos da época, em especial por

conter um rico arcabouço lexical. Nesse sentido, a história do léxico é muito mais

complexa do que se imagina, uma vez que ele carrega consigo o sentido da fala, da

cultura de um povo e, sobretudo, do peso histórico e linear de um determinado

idioma, em razão de a língua, de a história e de a cultura caminharem de mãos

dadas. Portanto, mergulhar no léxico do francês médio, através da elaboração de

um glossário, é investigar o processo sociolinguístico e cultural do seu povo. À luz

desta perspectiva, a obra de Guillaume Tirel, “Le Viandier, de Taillevent”, é muito

mais do que um simples texto instrucional, ele carrega em si um verdadeiro

tesouro lexical que permite trazer à tona o modus operandi da sociedade que se

propõe conhecer, sendo assim, uma contribuição de inestimável valor, pois,

perpassa pelas barreiras linguísticas na história da Língua Francesa. Para tanto, a

elaboração do glossário lexical da obra permitirá trazer contribuições linguísticas

que promovam uma melhor compreensão das mudanças ocorridas no léxico da

alimentação na língua francesa. Permitirá também servir de auxílio nos estudos

históricos comparativos das línguas românicas, no sentido de traçar com maior

riqueza de detalhes o perfil de cada uma delas, no âmbito lexical.

Palavras-chave: Le Viandier de Taillevant. Glossário de alimentação. Francês

médio.

CARTAS DO SÉCULO XVIII: DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICA E MEMÓRIA

Tamires Sales de Quadros (UFBA)

Eliana Brandão Correia Gonçalves (UFBA) - Orientadora

Este trabalho tem por objetivo expor os resultados do trabalho com

catalogação, descrição e transcrição de Cartas do século XVIII, que destacam

aspectos históricos, sociais, culturais, políticos e ideológicos do cotidiano da

127

Bahia neste período, bem como do Brasil Colonial. O registro desses

acontecimentos reflete as impressões e interpretações sobre os fatos de uma

época, consagra o ser humano como membro da comunidade em que vive, atesta

o seu pertencimento a esta realidade, de modo que seus escritos revelam uma

realidade que muito tem a dizer sobre um determinado período da história. Esses

registros encontram-se nas Cartas, utilizadas como instrumentos de comunicação

no período colonial, que são verdadeiros baús de memória, não só no que se

refere ao caráter documental, mas também por revelar diversas informações

sobre a língua, a história e a cultura. Nos ajuda a convocar o passado e reativar os

lugares de memória do texto, considerando que os documentos apresentam

historicidade de produção e intencionalidade de escrita próprias, as quais deve-

se estar atento ao atribuir os sentidos da realidade, como diria Chartier (2009).

Assim, recorre-se à Filologia, que se propõe ao estudo do texto escrito, analisando

a sua materialidade histórica, para interpretar tais documentos, explorando as

diversas significações que o texto pode apresentar, com base na língua. O filólogo,

ao conhecer estas significações, compreende melhor a sociedade. Deste modo, o

artigo apresenta reflexões sobre a relevância da tipologia documental Carta,

como representação da memória de um tempo, um lugar e um povo a partir da

perspectiva filológica, demonstrando como o labor filológico pode fazer vir a

lume as narrativas pretéritas de um passado histórico ainda obscuro,

ressignificando-o.

Palavras-chave: Carta. Filologia. Memória.

Eixo temático: Filologia e questões teóricas da contemporaneidade

A PRODUÇÃO DE ESCRITORAS BAIANAS NEGRAS NA DÉCADA DE OITENTA:

EM BUSCA DOS RASTROS PARA UMA CATALOGAÇÃO

Edilaine Andrade Teixeira (UFBA)

Rosinês de Jesus Duarte (UFBA) - Orientadora

Comprometida com uma perspectiva mais humanística e democrática, a

Filologia na contemporaneidade apresenta-se como esse lugar teórico do resgate

e do não silenciamento de textos que não integra(ra)m os lugares canônicos da

produção literária na nossa sociedade. Sendo assim, o presente trabalho tem por

objetivo refletir sobre a produção literária de escritoras negras baianas durante a

década de oitenta, utilizando-se de ferramentas acessadas pelos estudos

filológicos para fazer um catálogo descritivo dessa produção que circulou em

periódicos, especificamente, na revista literária Cadernos Negros, no período já

mencionado. Para produzir as discussões teóricas acerca da Crítica Filológica,

discutiremos a partir de Rosa Borges (2012), Michelle Warren (2003), dentre

outros. Para a reflexão da construção de lugares de memória, bem como sobre o

128

ato de arquivar e de acessar esse arquivo, serão utilizados de Derrida (2001) e

Ricoeur (2003). Para pensar análise do fazer, do pensar e veicular o texto

literário negro, será importante a contribuição dos estudos de Evaristo (2009) e

Souza; Lima (2006). Por tratar-se de uma pesquisa ainda em fase inicial, a

proposta desse trabalho é instigar a reflexão e vislumbrar questionamentos

acerca do estudo do processo de produção e circulação desses textos, que,

pensando no contexto de produção da década de oitenta, ainda figuram como um

ponto ínfimo diante da produção literária brasileira, majoritariamente branca e

masculina. Ao fim, pretende-se com este trabalho, contribuir para a redução do

silenciamento e invisibilidade que permearam/permeiam a produção de

escritoras baianas negras e periféricas, durante os anos oitenta.

Palavras-chave: Processos de Produção e circulação de textos. Escritoras negras

da Bahia. Catalogação.

CAETANO MOURA, O TRADUTOR NUMA BIOGRAFIA

Edson César de Souza Sobrinho (UFBA)

Neste trabalho perseguiremos o percurso biográfico de Caetano de Lopes

Moura (1780-1860) além da catalogação das suas obras através crítica filológica.

Citado como o primeiro tradutor profissional brasileiro segundo José Paulo Paes

(2003). Negro de Salvador na Bahia, Caetano Moura migrou para França onde

estudou e exerceu a profissão de médico e tradutor além da de escritor como

afirma Claudio Veiga (1979). É preciso notar que esta trajetória biográfica se

inicia nos primeiros anos do século XIX. Por isso, qual a trilha tomada por um

homem negro que nasce no século XVIII, no Brasil escravocrata, vai para a Europa

onde se casa, estuda medicina e vive também como tradutor e escritor?

Seguiremos, ainda, numa tentativa de inscrição dessa trajetória em um campo

biográfico dos povos da afrodiáspora africana. Sob a hipótese básica de uma mera

filiação “natural da Bahia” era a maneira pela qual Caetano Moura assinava seus

livros publicados na Europa. Nesse sentido, a questão que se abre é como um

negro baiano veio-a-ser o primeiro tradutor do Brasil imperial? Como o fato de

pertencer à raça negra é relevante nesse processo? Pois, tendo exercido papel,

ainda como, biógrafo – por exemplo escrevendo a biografia de si mesmo bem

como a de Napoleão Bonaparte (para quem serviu como médico) – além de ter

atuado como editor, organizador, escritor, tradutor (francês, inglês e alemão) de

romances e compêndios de medicina entre outros gêneros. Interessa-nos, por

isso, também, a catalogação de sua obra escrita na França país onde se radicou.

Diante de tais informações e na diversidade dos caminhos a conhecer, mais

estritamente, este trabalho servirá como tracejamento de uma pesquisa em torno

do percurso biográfico e bibliográfico de um homem negro cuja obra e narrativa

ainda não fora ensaiada (estudada) com a devida atenção. Tendo produzido

129

dezenas de livros, bem documentados pela biblioteca nacional da França, o

médico negro Caetano Moura nos suscita mais que curiosidade. Assim, essa

proposta de trabalho pretende ainda reafirmar uma trajetória negra singular,

usamos essa palavra em acepções diversas, tentando perceber as sutilezas de um

passado que ainda se organiza sob caminho diversos. Do migrante nu em direção

ao tradutor-biógrafo.

Palavras–chave: Biografia. Tradução. Afrodiáspora. Edição Crítica. Filologia.

DA ORALIDADE À ESCRITA, COMO SOBREVIVERAM OS CLÁSSICOS?

Gérsica Alves Sanches (UFBA)

A preocupação com processo de transmissão textual remonta aos tempos

arcaicos, em que textos orais literários, religiosos e filosóficos eram produzidos e

transmitidos observando uma certa estrutura formular, que favorecia a um maior

controle da alteração do texto em seu processo de reprodução e transmissão.

Com o propósito de estudar as tradições textuais orais e especificamente para

estudar o processo de transmissão dos textos homéricos, surge a Teoria Oral,

também chamada de Teoria Oral-Formular, propostas por classicistas como

Milman Parry (1971) e Albert Lord (1938; 1953; 1960; 1969; 1991 e 1995) e,

posteriormente, retomada e aprimorada por John Miles Foley (1986; 1988; 1992;

1997 e 1999). Estudando os textos homéricos e amparados nos estudos de

fraseologia e de métrica, os referidos teóricos buscavam marcas linguísticas,

composicionais e temáticas que permitissem depreender sistemas formulares ou

mecanismos de composição que funcionavam como blocos de linguagem usados

com recorrência por causa da sua utilidade ao poeta no momento da criação.

Assim, esta teoria aliou a noção de tradição à de oralidade. Interessa-nos, nesta

comunicação, compreender como a Teoria Oral-Formular ajudaria a pensar o

trabalho filológico no processo de transmissão textual não apenas do texto

escrito, como convencionalmente ocorre, mas também de outros gêneros textuais

orais que, pelas suas especificidades formulares, se perpetuam nas tradições ao

longo do tempo. Com isso, intenta-se discutir as noções correntes de texto nos

estudos filológicos contemporâneos, para deslocá-las e ampliá-las. Esses

deslocamentos permitirão lançar um novo olhar para a própria práxis filológica,

uma vez que é em torno das noções de texto – o objeto de estudo da filologia –

que se desenvolvem os estudos filológicos. Resta saber sobre que “texto” se

debruça a filologia. Com os Estudos Clássicos, espera-se chegar a uma noção de

texto que auxilie a pensar que textos os Estudos Filológicos têm passado ao largo.

Que textos foram recalcados, silenciados, desconsiderados por nem terem sido

considerados “textos” passíveis de serem estudados em seus processos de

produção, transmissão e recepção? Finalmente, deseja-se propor uma Filologia

nos Trópicos, que se dedica a refletir sobre o estudo de tradições textuais,

130

preferencialmente orais, provenientes de matrizes culturais historicamente

silenciadas e de base textual oral, como as indígenas e as afro-brasileiras, fazendo

emergir textos que deixam entrever as ligações bastante íntimas entre os códigos

linguísticos e culturais e os aspectos sócio-históricos.

Palavras-chave: Estudos Filológicos. Teoria Oral-Formular. Filologia Nos

Trópicos.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A POST-PHILOLOGY E AS PRÁTICAS FILOLÓGICAS

NA CONTEMPORANEIDADE

Isabela Araújo Calmon (UFBA)

Rosinês de Jesus Duarte (UFBA) - Orientadora

No âmbito da filologia, o labor realizado em tempos atuais integra um

processo que, para o sujeito pesquisador, passa a ser (auto) reflexivo. Ao

trabalhar com um manuscrito para estabelecê-lo criticamente, o leitor filólogo-

editor vê não apenas a possibilidade, mas também a necessidade de se executar

um gesto filólogo cuja práxis passa a se posicionar cada vez mais contra os

projetos estético-político narrativos de dominação. A filologia, portanto, se

mostrará, de acordo com Michelle Warren, uma pós-filologia ou post-philology.

Esta seria uma participante ativa no rompimento dos discursos hegemônicos e,

portanto, de poder. A autora utilizará o termo post-philology para designar o

trabalho filológico que, por vezes, é realizado na pós-modernidade. Questiona-se,

destarte, até que ponto a post-philology pode acompanhar o pós-moderno e o

pós-colonial. Não se encerrando na prática editorial, este conceito, que já ocorre

num certo zeitgeist, permite trazer à baila vozes de sujeitos tidos como

dissidentes. Assim, buscar-se-á, aqui, tecer breves considerações sobre a

exploração desse potencial crítico. Outros teóricos também atestam para o fato

dos vocábulos filologia (e, consequentemente filólogo) possuírem significados

muitos amplos e muito gerais ou, em seu extremo oposto, muito especializados.

Porém, a post-philology não significa empreender-se numa filologia pautada num

rompante cego de otimismo ou mera credulidade. Bosqueja-se, efetivamente,

empreender-se num labor que passa a dispensar hierarquias valorativas e

origens. Abre-se espaço, então, para o envolvimento da filologia na crítica

feminista, nas questões identitárias, de gênero, raça, sexualidade etc. e, o filólogo,

não mais seria aquele que se apresenta na figura de um detentor da verdade.

Antes, esse labor filológico abstém-se de quaisquer tentativas propor

caracterizações fechadas e sedimentadas. Concebe-se materialidades que

constroem sentidos através d’um olhar que recorre aos indícios e valoriza

minúcias. Assim, para este trabalho, utilizaremos como corpus da pesquisa o

texto “Uma Alegre Canção Feita de Azul”, escrito em 1973 por Yumara Rodrigues.

A peça integra o conjunto de textos que foram censurados durante o período da

ditadura militar na Bahia. Através do trabalho editorial, bem como do exercício

131

de crítica filológica, verificou-se que dessa materialidade textual emana uma

densa orquestração arregimentada que evidencia os vários sujeitos e vozes que

ali se presentificam. As partes mutiladas revelam o discurso contra-hegemônico

defendido pela atriz/autora que busca romper barreiras neste monólogo

autobiográfico.

Palavras-chave: Post-Philology. Crítica Textual. Literatura.

Eixo Temático: Teorias e Práticas Editoriais

EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA DE UM PROCESSO-CRIME DE OFENSAS VERBAIS

NO SERGIPE OITOCENTISTA (ESTÂNCIA, 1876)

Augusto Petrônio Pereira (UFS/ PPGL)

Marcos Mateus Campos Mota Nunes (UFS/ PIBIC/ CNPq)

Um dos centros de atenção da sociedade moderna se assenta no fato de a

reputação ser estabelecida e regulada publicamente pela opinião seleta da

vizinhança (SHOEMAKER, 2000). O bom nome e a fama são fatores primordiais

que se levantam na tipologia processual com a qual estamos trabalhando: os

processos-crime de ofensas verbais. Tal crime, sendo verídico ou não, era

potencialmente explosivo contra a ordem social e, portanto, passível de punição

pela justiça. Nosso objeto de estudo é um processo-crime de ofensa verbal

demandado no ano de 1876, no município de Estância, Estado de Sergipe. A fonte

remanescente faz parte do acervo histórico do Arquivo Geral do Poder Judiciário

do Estado de Sergipe e se encontra alocada sob a cota Caixa 695, documento 02,

comportando um total de 82 fólios manuscritos. A temática do processo está

centrada em ofensas verbais que foram veiculadas em um jornal de grande

circulação na cidade Estância, chamado O Rabudo. O processo foi demandado pela

queixosa Dona Mariana Joaquina de Macêdo, que acusa os senhores José

Gualberto de Vasconcelos e Pedro Frederico Ribeiro de ofendê-la por vários

nomes, dentre os quais o pior seria o de chamá-la de “Calango”. O objetivo desse

trabalho é apresentar uma breve descrição codicológica (CAMBRAIA, 2005) e os

resultados parciais da edição semidiplomática (CAMBRAIA, 2005; SPINA, 1990).

Os procedimentos metodológicos usados para a edição se assentam nas normas

estabelecidas pelo Projeto Para História do Português Brasileiro (PHPB).

Esperamos que a nossa edição, além de alimentar o banco de dados de estudos

diacrônicos do português sergipano (MARENGO; FREITAG, 2016), também

contribua para uma possível (re)construção da história da cultura escrita na

época do Império em Sergipe (MARENGO, 2017).

132

Palavras-chave: Crítica textual. Edição semidiplomática. Ofensas verbais.

"ISTORIA DELLE GUERRE DEL REGNO DEL BRASILE: ACCADUTE TRA LA

CORONA DI PORTOGALLO E LA REPUBLICA DI OLANDA": EDIÇÃO

INTERPRETATIVA E TRADUÇÃO

Bruno Ferreira (UFBA)

Norma Suely da Silva Pereira (UFBA) - Orientadora

O presente trabalho tem como objetivo apresentar a tradução e edição

interpretativa dos treze primeiros fólios do documento "Istoria delle guerre del

Regno del Brasile: accadute tra la corona di Portogallo e la Republica di Olanda,

composta, ed offerta alla sagra reale maesta’ di Pietro Secondo, Re di Portogallo &

C(ompagnia). Dal P(rete) F(rate) Gio(vanni) Gioseppe di S(anta) Teresa

Carmelitano Scalzo", um impresso do século XVII, composto na "Stamperia

degl'Eredi del Corbelletti", de Roma, na Itália. Este documento, escrito em língua

italiana pelo português João José de Santa Teresa, que no ano de 1678 passou a

integrar a Ordem dos Carmelitas Descalços, em Roma, é dividido em duas partes e

narra a história da América portuguesa desde o seu descobrimento até os

conflitos ocorridos ao final da ocupação holandesa na região nordeste, que teve

sua conclusão com a Insurreição Pernambucana, no século XVII. Tal obra foi

subsidiada por D. Pedro II, de Portugal, e recebeu contribuição de grandes

gravadores da época, que ilustraram tanto personalidades da monarquia

portuguesa, como Dom Sebastião e o Dom Pedro II, quanto gravuras de mapas

relativos à formação e à construção das capitanias do Brasil colônia, que se

mantêm ainda hoje como uma valorosa fonte para os estudos cartográficos. Para

a realização deste estudo que contempla a tradução e elaboração de uma edição

de cunho interpretativo, cujo intuito principal é o conhecimento e divulgação

desta importante obra encomendada pela Coroa portuguesa durante o século

XVII, que é também de grande valor material para os estudos cartográficos atuais,

utilizam-se, como base teórica, as obras de BORGES (2012), CAMBRAIA (2005) e

SPINA (1997), no que diz respeito à edição filológica de textos; para orientar a

tradução, ARROJO (2005), BARBOSA (1990), PYM (2013), além de ADONIAS

(2002), MICELI (2002), ROCHA (2010) no que tange ao estudo das gravuras e

imagens de projeções cartográficas.

Palavras-chave: Edição interpretativa. Cartografia. Brasil Colônia.

133

PELOS CAMINHOS DOS DOCUMENTOS:

EDIÇÕES E ESTUDO GRAFEMÁTICO DE UM TESTAMENTO DE 1909

Eliene Pinto de Oliveira (UEFS)

Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS) - Orientadora

Este trabalho teve por objetivo estudar filologicamente um Testamento

datado de 1909, visto que documentos escritos em épocas pretéritas são de

extrema importância para conhecermos a história de uma civilização. Sendo

assim, ao estudarmos estes documentos estamos contribuindo para que uma

comunidade se torne conhecida através dos escritos deixados pelos seus

antepassados. Partindo do pressuposto de que o labor filológico consiste na

restituição e conservação de textos produzidos em épocas pretéritas, escolhemos

fazer a edição filológica de um documento da área cível pertencente ao Fórum

Desembargador Filinto Bastos, arquivado no Centro de Documentação e Pesquisa

(CEDOC), localizado na Universidade Estadual de Feira de Santana. O referido

documento é um Testamento em nome de Felippe Ferreira Santiago, residente na

comunidade da Gameleira e datado de 1909, neste corpus ele descreve a partilha

de bens entres seus filhos, netos e amigos. A partir da escolha do documento,

foram feitas as edições fac-similar e semidiplomática para preservar e tornar

acessíveis as informações contidas no mesmo. Posteriormente, fizemos o estudo

grafemático, comparando as variações entre a ortografia vigente na época com a

atual, e assim percebemos quais mudanças ocorreram ao longo do tempo. Com a

realização deste trabalho, pretendemos contribuir com as pesquisas no âmbito da

Filologia, e tornar as informações deste documento acessíveis a pesquisadores de

diversas áreas do conhecimento e, bem como, com os estudos filológicos na

Bahia, especialmente aqueles produzidos na cidade de Feira de Santana. Para a

realização deste trabalho, nos apoiamos em Queiroz (2007), Spina (1994),

Cambraia (2005), Santos (2006) e Barreto (2014).

Palavras-chave: Edições Filológicas. Estudo grafemático. Testamento.

A PRODUÇÃO E A CIRCULAÇÃO DOS POEMAS "THE ARMADILLO" E "NORTH

HAVEN" DE ELIZABETH BISHOP

Elisabete da Silva Barbosa (UNEB)

O presente estudo visa a discutir a produção e a circulação dos poemas

The Armadillo (1957) e North Haven (1978) da autora norte-americana Elizabeth

Bishop (1911-1979). No que tange à criação textual, podemos afirmar que esses

poemas são frutos das experiências vivenciadas em lugares onde Bishop habitou

ou visitou. Tal fato permite realizar um estudo crítico que privilegia o texto como

134

representação de uma espacialidade construída ficcionalmente, embora o

impulso criativo da escritora esteja enraizado no mundo real. Com efeito, o exame

dos documentos privados de Bishop permite recuperar a “expressão testemunhal

que define um perfil biográfico” (MORAES 2006, p. 65). Traçar tal perfil torna-se

útil para elucidarmos alguns dos aspectos do processo criativo analisado, a

exemplo de buscar entender a preferência da escritora por certas escolhas e

soluções poéticas. Outra possibilidade, também apontada por Moraes (2007, p.

65), é a de “apreender a movimentação nos bastidores da vida artística”. Em se

tratando de Elizabeth Bishop, essa movimentação pressupõe o contato com

editores, o discernimento crítico que foi sendo desenvolvido a partir do envio de

cartas para intelectuais com os quais se relacionava (seja com fins profissionais

ou não) e a circulação dos poemas por meio de revistas ou por divulgação feita

pelos pares. Diante de tais evidencias encontradas em cartas e nos documentos

de processo, propomos realizar uma contextualização da produção, da publicação

e da circulação dos textos selecionados para este estudo, o que necessariamente

perpassa a relação de Bishop com o amigo e poeta Robert Lowell e com a

primeira editora de muitos de seus poemas, a revista The New Yorker.

Palavras-chave: Elizabeth Bishop. Processo de Criação. Circulação.

FAC-SÍMILE: BREVE PERCURSO DA IMAGEM FOTOGRÁFICA DO DOCUMENTO

NAS EDIÇÕES DE TEXTOS AO LONGO DA HISTÓRIA DA FILOLOGIA

CONTEMPORÂNEA

Giovane Santos Brito (UFBA)

A escrita é a representação gráfica do pensamento, é a fixação de uma

informação, de um momento, de uma cultura, de uma memória para ser acessada

em algum ponto do futuro. Do mesmo modo o são a imagem, a pintura, o desenho.

Desde a criação da fotografia, é possível colocar em diálogo numa mesma obra,

imagem fotográfica e texto, e os filólogos, há muitos anos fazem uso desses

recursos para colocar à disposição dos leitores de suas edições, ao lado do texto

por eles estabelecido, as respectivas imagens capturadas através das câmeras

fotográficas dos originais em suas mais variadas formas. Ao longo dos muitos

anos de labor filológico, se discutem os tipos e os critérios de edição para o

estabelecimento de um texto. No entanto, pouco ainda se fala sobre as imagens

fotográficas dos documentos que acompanham muitas das edições. A polifonia

vista desde a conceituação dessa imagem fotográfica do documento já denota

aquilo sobre o que queremos nos debruçar no presente trabalho. Enquanto

percurso possível para o nosso estudo, visamos então verificar como a imagem

fotográfica que dialoga com as edições se comporta ao longo da história da

filologia na contemporaneidade. A carência de referencial teórico específico

expressa a necessidade de discussão sobre essa temática. O presente trabalho,

135

portanto, se debruça sobre o conceito de fac-símile e verifica em um conjunto

representativo de edições, como se apresenta a imagem fotográfica do

documento original que acompanha os textos estabelecidos, com o intuito de

traçar um breve percurso desse tipo de imagem do documento nas edições de

textos ao longo da história da filologia contemporânea.

Palavras-Chave: Filologia. Fac-símile. Imagem Fotográfica.

DOCUMENTOS DE ELIZABETH BISHOP ACESSÍVEIS EM MEIO ELETRÔNICO:

MANUSCRITOS DO POEMA ONE ART DIALOGAM COM PUBLICAÇÕES DE

REVISTAS E JORNAIS

Ilana Silva Carvalho (Permanecer, UFBA)

Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA) - Orientadora

Esta proposta de trabalho faz parte de um projeto maior, intitulado “Os

Manuscritos de Elizabeth Bishop acessíveis em meio eletrônico”, que vem sendo

desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Pro.Som (Tradução, processos de criação e

mídias sonoras), coordenado pela Profa. Dra. Sílvia Anastácio. O Projeto tem

como objetivo a organização e o armazenamento de materiais do Acervo Bishop,

como entrevistas, contratos, fotos, ilustrações, anotações avulsas, registros de

áudio, bem como, artigos de jornais e revistas, cujos impressos se encontram no

Departamento de Germânicas da UFBA. Esses documentos, após digitalizados,

têm sido colocados em arquivos do Programa Prezi e colocados na Plataforma

Eletrônica PHL, onde entram em rede e dialogam uns com os outros. Todo o

material catalogado tem sido adicionado à plataforma com um resumo descritivo

do mesmo, enfatizando-se que, grande parte das revistas e dos jornais coletados

pela própria Elizabeth Bishop (1911-1979), ou sobre ela, remetem aos anos 60 e

70, quando a autora morou no Brasil. O presente trabalho focaliza o percurso

genético de One Art, publicado em 1976, em que imagens de perdas permeiam os

dezessete manuscritos, que compõem o seu dossiê de criação. Trata-se de um

texto com forte cunho autobiográfico e a voz lírica traz diversos aspectos da vida

da autora, ficcionalizados no poema. A circulação de jornais e revistas registradas

e guardadas no Acervo Bishop dialoga com esses manuscritos e testemunha

aspectos por eles mencionados.

Palavras-chave: Acervo Bishop. One Art. Circulação.

136

“CONSULTA DO CONSELHO ULTRAMARINO AO REI D(OM) JOSÉ RELATANDO

SUAS ATIVIDADES E EXECUÇÕES”: A ELEVAÇÃO DAS ALDEIAS EM VILAS NA

BAHIA DO SÉCULO XVIII

Jardel Jesus Santos Rodrigues (UFBA)

Fernanda Lima Almeida (UFBA)

O Diretório Pombalino é um marco na mudança da política indigenista no

Brasil Colônia. Implantado, primeiramente, nas capitanias do Maranhão e Grão-

Pará, em 1757, e estendido a toda América portuguesa através de alvará régio

datado de 8 de maio de 1758, tendo como objetivo principal integrar os índios à

sociedade e submetê-los como súditos da Coroa portuguesa, a nova política

proibiu o uso das línguas indígenas e instituiu a obrigatoriedade do ensino da

língua portuguesa para todas populações ameríndias. Diante deste contexto duas

consequências diretas puderam ser observadas, são elas: a mestiçagem e as

irreparáveis perdas linguísticas que moldaram o Brasil como um país

monolíngue, majoritariamente de língua portuguesa. Nesse sentido, no presente

trabalho tem-se como objetivo principal o conhecimento e a divulgação do

documento, “Consulta do Conselho Ultramarino ao rei D(om) José relatando suas

atividades e execuções desde a primeira sessão do tribunal em 13 de setembro

até o momento”, cujo acesso se deu através do Projeto Resgate de Documentação

Histórica Barão do Rio Branco, disponibilizado online pela Biblioteca Nacional

digital. Para o estudo do documento que se faz importante para as áreas da

história indigenista e para antropologia, auxiliando consideravelmente as

discussões no que tange às políticas linguísticas, uma vez que, o Diretório

pombalino previa a proibição das línguas indígenas ao passo que instruiu a

obrigatoriedade do ensino e catequização dos povos originários em língua

portuguesa, propõe-se a realização de uma edição semidiplomática dos sete

primeiros fólios do documento, utilizando-se como suporte teórico as obras de,

BORGES e col. (2012), CAMBRAIA (2005) e SPINA (1977) no que diz respeito à

edição filológica de textos, e com relação ao contexto sócio histórico utilizaremos

GARCIA (2007) e LAGO (2003).

Palavras-chave: Conselho Ultramarino. Diretório Pombalino. Políticas Indígenas.

137

EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA DE UM PROCESSO-CRIME OITOCENTISTA DE

SEDUÇÃO E ESTUPRO (ESTÂNCIA, 1854)

Mariana Augusta Conceição de Santana Fonseca (UFS)

Renato Ezequiel Noia (UFS)

Nossa proposta de trabalho está vinculada às pesquisas desenvolvidas por

parte da equipe de Sergipe, responsável pela constituição do banco de dados

diacrônicos e análise linguística em pancronia, que participa do projeto nacional e

interinstitucional intitulado Para a História do Português Brasileiro (PHPB). O

PHPB/SE tem como propósito descrever a realidade linguística do português de

Sergipe dos últimos séculos, enquadrando-se na metodologia de trabalho do

projeto coletivo, de levantamento de fontes específicas e representativas,

oriundas de arquivos históricos (MARENGO; FREITAG, 2016). Os corpora do

projeto nacional e, consequentemente, dos subprojetos estaduais vinculados a

ele, são definidos por Simões e Kewitz (2010) a partir da categorização,

denominado no âmbito da pesquisa como corpus mínimo comum. O objetivo

desse trabalho é apresentar uma breve descrição codicológica bem como o

resultado da edição semidiplomática (CAMBRAIA, 2005; SPINA, 1990) do

processo-crime de sedução e estupro, manuscrito em meados do século XIX, ano

de 1854, na cidade de Estância, Estado de Sergipe. No presente processo, a

ofendida é uma menina menor de 17 anos de idade, chamada Linda do Amôr

Divino, que foi violentada por José Joaquim Pereira Lima. O réu foi denunciado

baseado no artigo 219 do Código Penal vigente na época. A fonte documental faz

parte do acervo do Arquivo Geral do Poder Judiciário do Tribunal de Justiça do

Estado de Sergipe (AGPJ-SE). A edição desse manuscrito constituirá o banco de

dados dos corpora diacrônicos do português brasileiro de Sergipe, onde também

serão apresentadas a contextualização histórica da época (COSTA, LELIS, 2016) e

dados importantes relativos à (re)construção da história da cultura escrita no

Sergipe Imperial (MARENGO, 2017).

Palavras-chave: Crítica Textual. Edição Semidiplomática. Defloramento.

FILOLOGIA PORTUGUESA E UNIVERSALIZAÇÃO DE PRECEITOS

LACHMANNIANOS

Marinês de Jesus Rocha (UESB)

Marcello Moreira (UESB) - Orientador

Objetiva-se expor os problemas críticos referentes à universalização de

um método do fazer filológico, o lachmannismo, a partir da historicização de

autores e obras ligados à arte de editar textos, no mundo português, entre os

séculos XIX e XX. Empreende-se uma descrição da maneira como os estudiosos da

138

filologia de língua portuguesa se apropriaram de "artefatos bibliográficos e

textuais", sem considerar o elemento propriamente bibliográfico do objeto de

apropriação. Por outro lado, quando da “interpretação filológica” do elemento

textual, patente em edições e estudos críticos, essa se dá a partir de noções

vinculadas à ideia de ânimo autoral, sempre com o fim de restituir aos textos as

lições originais, e, quando possível, genuínas. A universalização da restituição

textus por muitos filólogos, desde os primeiros estudos críticos e textuais

publicados em língua portuguesa, pode ser entendida à luz de estudos

historiográficos que evidenciam certa inércia da crítica textual de base

lachmanniana, fundada na separação entre reflexão historiográfica e pensamento

filológico. Conforme Moreira (2011), a permanência da mesma finalidade ou telos

e dos mesmos procedimentos metodológicos fez com que os comentários e

resenhas críticas, produzidos pelos filólogos, desde o Oitocentos, nunca tivessem

como objetivo a discussão de princípios de cognição utilizados para se chegar a

um determinado resultado de pesquisa e edição. Portanto, para a composição de

uma história de autores de estudos críticos em língua portuguesa, que esteja

ligada à descrição dos principais conceitos e categorias a partir daqueles que

propuseram edições críticas, é preciso partir das análises que evidenciaram o

modo como a crítica textual em língua portuguesa cessou de se renovar, ao pôr

em funcionamento os mesmos lugares comuns críticos e filológicos, por mais de

um século, ao tempo em que se demonstra que a apropriação de um modelo de

fatura de edições gerou a “descontextualização” de cada uma dos artefatos

bibliográficos e textuais estudados.

Palavras-chave: Crítica Textual. Inverosismilhança. Historiografia.

EDIÇÃO FAC-SIMILAR E SEMIDIPLOMÁTICA DE UM AUTO DE

DEFLORAMENTO DE 1906

Marta Rios Carneiro Macêdo (UEFS)

Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS) - Orientadora

O presente trabalho é um exercício de edição semidiplomática, em fase

inicial, em nível de Iniciação Científica, desenvolvido na Universidade Estadual de

Feira de Santana - UEFS. Para realizar essa pesquisa, recorremos à Filologia, que é

uma ciência definida como a que se volta para a língua, a literatura e a cultura de

um povo ou grupo de povos, através dos textos produzidos, visando à

preservação dos mesmos. O estudo realizado é uma edição de um processo

judicial manuscrito, lavrado em 1906, em Feira de Santana, contra Sizinio José de

Oliveira, acusado pelo defloramento da jovem Maria Jovetina de Lima, maior de

idade, a qual estava prometida em casamento, filha de Maria Feliciana de Lima,

ambas moradoras de Feira de Santana - Bahia. Vale ressaltar que o documento

está sob a guarda e armazenado no acervo do Centro de Documentação e

139

Pesquisa - CEDOC, órgão da Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS.

Enfatizamos que as informações desse processo crime foram preservadas assim

como prescreve a Filologia, a qual permite, para a transcrição do texto,

utilizarmos a edição semidiplomática, a qual consentiu para a conservação dos

aspectos intrínsecos e extrínsecos do documento, tanto para a descrição quanto

para a transcrição. Dessa forma, através das edições filológicas (a fac-similar e a

semidiplomática utilizadas), podemos conhecer um crime ocorrido no início do

século XX, em Feira de Santana. Em suma, para tal pesquisa, recorremos aos

postulados teóricos estabelecidos por Cambraia (2005) e Queiroz (2007), no que

concerne às definições e tipos de edição, bem como aos critérios utilizados.

Palavras-chave: Filologia. Edição Semidiplomática. Defloramento.

EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA DE UM PROCESSO-CRIME DE DEFLORAMENTO:

O CASO DE FRANCISCA DE TAL (ARACAJU, 1902)

Natalia Larizza Sanches de Souza (UFS)

Rafaela Neres de Oliveira (UFS)

O Código Penal do ano de 1890 traz em seu artigo 267 a definição de crime

de defloramento, que consistia em tirar a virgindade de uma mulher menor de

idade empregando a sedução, o engano ou a fraude. O intuito da legislação era a

proteção da honra (FAUSTO, 2001), mas não se tratava de proteger a honra como

um atributo feminino e sim como um apanágio do homem ou da família

tradicional cristã. Nosso objeto de estudo nesse trabalho é o processo-crime de

defloramento, ocorrido no ano de 1902, no povoado Robalo, cuja vítima é

Francisca de Tal, descrita como órfã de pai de mãe, miserável, analfabeta e que

contava com mais ou menos 10 anos de idade. O acusado do crime chama-se Júlio

Costa. A fonte documental com a qual estamos trabalhando se encontra alocada

no acervo histórico do Arquivo Geral do Judiciário do Estado de Sergipe

“Desembargador Manuel Pascoal Nabuco D’Ávila”, localizado na cidade de

Aracaju. O processo se encontra sob a cota Cx. 2545 e está em bom estado de

conservação. Esse trabalho tem por objetivo apresentar uma breve análise

codicológica (CAMBRAIA, 2005) e os resultados parciais da edição

semidiplomática (CAMBRAIA, 2005; SPINA, 1990) do processo-crime de

defloramento em tela. As normas de edição usadas foram estabelecidas pela

equipe do Projeto Para a História do Português Brasileiro (PHPB). Nossa

contribuição se centra na disponibilização da edição para o banco de dados

diacrônicos do português sergipano e no entendimento sócio-histórico

(PETRUCCI, 2002) dos fatos descritos e relatados nos processos.

Palavras-chave: Crítica Textual. Edição semidiplomática. Defloramento.

140

DONA FELIPPA E SEU MÓVITO: EDIÇÃO SEMDIPLOMÁTICA DE UM

PROCESSO CRIME DE ABORTO DE 1926

Rebecca Cardoso Braga (UEFS)

Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS - Orientadora)

A preservação de documentos manuscritos possibilita ao homem conhecer

a si e a sociedade em que está inserido. Desde a Antiguidade, nas primeiras

bibliotecas de Alexandria, a escrita de documentos pelos gregos era de suma

importância, visto que era preciso registrar acontecimentos para que fosse de

conhecimento público o poder social que os documentos exerciam sobre os

povos. A comunicação escrita perpassou durante séculos como evidência

significativa e de influência na formação das grandes civilizações, portanto, os

gregos importavam-se em salvaguardar suas obras clássicas do esquecimento e

da degradação, criando assim a Filologia, no século III a.C, para atuar na edição

crítica dos textos eruditos. No Brasil, os primeiros escritos foram provindos da

colonização portuguesa e a tradição de produção, conservação e utilização de

documentos escritos foram imprescindíveis para a formação de arquivos

nacionais que desencadearam consequentemente a pesquisa filológica a partir

dos manuscritos históricos, políticos, econômicos e sociais que compõem o

cenário brasileiro. O labor filológico é fundamental para que se possa ter, através

da edição de textos, o reconhecimento histórico, cultural e linguístico de uma

determinada comunidade. O corpus deste trabalho é constituído por um

documento manuscrito, precisamente um processo-crime de aborto, lavrado em

1926 pelo escrivão Bernardino de Freitas, no distrito de Almas. A vítima chama-

se Dona Felippa do Espírito Santo, a qual sofreu um aborto por conta de uma

briga entre seu marido, Severo Balbino de Almeida, e o seu vizinho, Manoel

Baptista. Para este trabalho, será apresentada a edição semidiplomática desse

documento, de acordo com os critérios estabelecidos pelo Grupo de Edição de

Textos – GET/UEFS, coordenado pela professora Rita de Cássia Ribeiro de

Queiroz.

Palavras-chave: Filologia. Edição Semidiplomática. Processo crime de aborto.

OS LIVROS DE VISITAÇÃO INSQUISITORIAIS: DIÁLOGOS ENTRE PRÁTICAS

FILOLÓGICAS E HISTÓRIA SOCIAL DA CULTURA ESCRITA

Rodrigo Pereira Mota Soares (UFBA)

A filologia trilhou, durante a história, por diferentes caminhos no objetivo

comum de estudar o texto escrito. Assim, o labor filológico se interessa por

diversos elementos do universo da escrita, desde caracteres paleográficos até

elementos culturais presentes no texto, de modo que o estudo da produção

141

escrita como acesso aos comportamentos e hábitos de uma sociedade tem

ganhado maior visibilidade. A História da Cultura Escrita, por sua vez, emerge dos

estudos da Escola dos Annales, de base culturalista, e tem se debruçado sobre as

diversas práticas e representações da escrita para além da materialidade do

texto. Este trabalho objetiva, dentro dessa interface, apontar como as

interferências da História Cultural sobre filologia fazem emergir novas escolhas

editoriais no trato de fontes inquisitoriais, de modo a destacar como a filologia é

uma importante via de acesso para a compreensão das práticas sociais de outro

tempo, da mesma forma que os estudos culturais revelam novos caminhos para a

atividade filológica. A proposta dessa abordagem interdisciplinar requer, como

aparato metodológico, o levantamento de algumas edições de fontes

inquisitoriais da segunda visitação ao Brasil (desenvolvidas no âmbito do

Programa HISCULTE) e uma proposta de edição das fontes da primeira visitação

às ilhas do Atlântico. Ademais, a análise proposta pretende destacar a

complexidade das escolhas editoriais no que concerne aos livros de visitação, de

maneira a evidenciar a importância da relação entre a materialidade do texto e o

seu meio, isto é, as práticas sociais (e interpessoais) em que ele pode estar

inserido.

Palavras-chave: Filologia. História Social da Cultura Escrita. Práticas Editoriais.

MANUSCRITOS DE ELIZABETH BISHOP ACESSÍVEIS EM MEIO ELETRÔNICO:

ORGANIZAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA EM BIBLIOTECA DIGITAL

Talisson de Almeida Filgueira Figueredo (Permanecer, UFBA)

Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA) - Orientadora

A escritora norte-americana Elizabeth Bishop (1911-1979) viveu no Brasil

entre as décadas de 60 a 70 e usava a correspondência trocada com sua

companheira norte-americana Alice Methfessel (1943-2009), no período de

1971-1979, como forma de relatar sobre seu cotidiano em nosso país e

testemunhar aspectos culturais da época. O presente trabalho de pesquisa tem

como objetivo analisar cartas em que a escritora relata sobre sua relação com as

pessoas que trabalhavam para ela como domésticas na sua Casa Mariana, interior

de Minas Gerais. Ficou evidente que as diferenças culturais das relações sociais

lhe causavam estranheza e ela faz referências interessantes a esse tópico, que

acabam tomando certo destaque em sua correspondência. Este trabalho está

sendo realizado junto ao Projeto de Pesquisa Manuscritos de Elizabeth Bishop

acessíveis em meio eletrônico, coordenado pela Profa. Dra. Sílvia Maria Guerra

Anastácio. Tem como objetivo principal a organização de um banco de dados em

meio digital a partir dos manuscritos de trabalho da autora, que constituem o

acervo sediado no Instituto de Letras da UFBA, no Departamento de Letras

Germânicas e seu material foi colhido na Special Collections de Vassar College,

142

Poughkeespsie, New York. Considero que a pesquisa se justifica pela importância

da autora Elizabeth Bishop no panorama literário norte-americano, cuja obra foi

altamente influenciada pela cultura brasileira. As cartas trazem informações

preciosas sobre a época em que Bishop aqui viveu, além de comentários sobre o

próprio processo de criação.

Palavras-chave: Acervo Bishop. Correspondência. Relação social.

CARTAS DOS ROMEIROS A PE. CÍCERO: UMA ANÁLISE FILOLÓGICA SOBRE OS

ASPECTOS SOCIOCULTURAIS E LINGUÍSTICOS

Ticiane Rodrigues Nunes (UFC)

Expedito Eloísio Ximenes (UECE)- Orientador

A Filologia é uma ciência responsável por preservar a memória

documental de um povo e disseminar os escritos que documentam os aspectos

socioculturais através dos tempos, pois quando editados os documentos tornam-

se de fácil acesso para o público em geral. Desse modo, voltamo-nos para o estudo

filológico das cartas escritas por romeiros a Padre Cícero, santo popular venerado

por muitos fiéis em Juazeiro no Norte, no Ceará, e que até hoje atrai milhares de

pessoas em busca de um milagre ou que vão simplesmente agradecer por uma

graça alcançada. Envolto a esse contexto da religiosidade, nesse estudo,

objetivamos realizar a edição semidiplomática de um conjunto de cartas escritas

no período das décadas de 80 e 90, e analisar os aspectos socioculturais e

linguísticos que se destacam nessas cartas, a fim de compreender como a

religiosidade marca essa produção escrita espontânea. Como percurso

metodológico, primeiramente, realizamos a edição semidiplomática das cartas de

romeiros endereçadas a Padre Cícero, seguindo as normas de edição

estabelecidas pelo Grupo de Pesquisa Práticas de Edição de Textos do Estado do

Ceará (PRAETECE), e, posteriormente, realizamos a análise dos conteúdos dos

escritos monotestemunhais, considerando o contexto religioso e histórico-social

em que estão inseridos os autores dessas cartas. Como referencial teórico sobre

edição filológica apoiamo-nos em Cambraia (2005), Spina (1994) e Ximennes

(2004, 2009); e sobre os aspectos socioculturais e linguísticos baseamo-nos em

Williams (2007) e Melo (1974). A partir da edição semidiplomática das cartas, foi

possível observar que nesses documentos monotestemunhais, escritos quase que

majoritariamente por motivações pessoais, a religiosidade é retratada por uma

riqueza de elementos socioculturais percebidos por meio de pistas linguísticas

reveladas a partir das edições filológicas, o que ressalta a dimensão tomada por

esse fenômeno religioso que se espalhou por uma grande extensão territorial.

Palavras-chave: Edição semidiplomática. Documentos monotestemunhais. Cartas

a Padre Cícero.

143

RESUMOS DOS MINICURSOS

MINICURSO 1

ARQUIVOS E PROCESSOS DE CRIAÇÃO: LITERATURA, TEATRO E DANÇA

Mabel Meira Mota (UFBA)

Ivana Bittencourt dos Santos Severino (UFBA)

Ementa:

Propõe a discussão de princípios, conceitos e procedimentos

metodológicos próprios da arquivística, visando, a partir de uma abordagem

contextual, identificar e descrever os documentos em arquivos pessoais na

Literatura, no Teatro e na Dança, utilizando exemplos dos acervos de Ariovaldo

Matos, Lia Robatto e do Nós, Por Exemplo - Centro de Documentação e Memória,

situado no Teatro Vila Velha.

MINICURSO 2

AS ABREVIATURAS EM DOCUMENTOS MANUSCRITOS: UM ESBOÇO DA SUA

HISTÓRIA

Célia Marques Telles (UFBA)

Ementa:

G. Audisio e I.Rambaud (2003 [1991]) afirmam que, para ajudar na leitura

dos textos, tentam fornecer “algumas chaves de leitura para melhor compreender

os sinais e princípios da escrita nos inícios da época moderna e sua evolução até o

século XVIII”. A primeira dessas chaves são as abreviaturas. No minicurso

proposto, após apresentar-se o conceito de abreviatura, traça-se um breve

histórico da utilização de abreviaturas, desde o uso delas, ainda no período pré-

clássico do latim, por Ênio (239-169 a. C.), muito antes das notas tironianas

(século I a.C). As notas tironianas foram usadas durante mais de doze séculos

(PROU, 1910) e seu desaparecimento coincide com o começo da escrita corrente

em língua vulgar (PROU, 1910). A seguir, a partir da escrita gótica examinam-se

os principais tipos de abreviaturas, definindo-os e exemplificando-os na escrita

de diferentes momentos: abreviaturas por sigla, por suspensão, por contração,

por letras sobrepostas e por sinais abreviativos. Conclui-se com a prática de

leitura dos caracteres, acompanhada do desenvolvimento e transcrição das

abreviaturas. Espera-se fornecer aos participantes uma visão geral do sistema de

abreviaturas, ensinando-se a metodologia do seu desenvolvimento e

possibilitando classificá-las, segundo a tipologia clássica, ainda utilizada neste

século XXI (FLEXOR, 2008 [1979]).

144

MINICURSO 3

TRADIÇÃO DISCURSIVA E PROCESSOS DE MUDANÇA NO PORTUGUÊS

BRASILEIRO

Cleber Alves de Ataíde (UFRPE/UAST)

Valéria Severina Gomes (UFRPE/DL)

Ementa:

Pressupostos teóricos sobre mudança linguística/sociolinguística histórica

e tradições discursivas. Motivações sociolinguísticas, discursivas e fatores sócio-

pragmáticos nos processos de mudança linguística. Tradição textual e história da

língua.

MINICURSO 4

ANÁLISE DE DISCURSO E LEITURA DE ARQUIVO

Fábio Ramos Barbosa Filho (IEL/UNICAMP/PNPD-CAPES)

Desde a década de 70 a Análise de Discurso funciona como um campo de

articulação entre o trabalho do linguista e o do historiador. A partir, sobretudo,

da publicação do trabalho fundador de Régine Robin (“História e linguística”, de

1973) e do já clássico “Discurso e arquivo: experimentações em Análise do

Discurso”, que compila textos de Régine Robin, Denise Maldidier e Jacques

Guilhaumou escritos desde 1976, os diálogos e questões que atravessavam essas

disciplinas ganharam forma, o que permitiu que as inquietações se desdobrassem

em acontecimentos polêmicos e desafiadores tanto para o campo da história

quanto para a linguística. Mas especialmente a partir do colóquio “Materialidades

discursivas”, realizado em 1980 em Paris, a Análise de Discurso explorou de

forma decisiva os limites das tensas e produtivas relações com o campo da

história e das teorias que se ocupam da língua, do social, da subjetividade e do

arquivo. A fundação do grupo de pesquisas ADELA (“Analyse de Discours et

lecture d’archive”) na década de 80, institucionaliza essas questões candentes e

as leituras de arquivo surgem como um dos problemas fundamentais desse

campo, na medida em que o documento surge como um ponto de articulação

entre textualização e acontecimento e institui um trabalho de pesquisa coletivo

que rejeita categoricamente a complementaridade interdisciplinar e as

pretensões unificadoras explorando, ao contrário, o intervalo contraditório entre

os campos, os objetos e as inquietações teóricas. Partindo desse campo de

questões, o minicurso pretende apresentar os participantes os fundamentos

teórico-analíticos da leitura de arquivos, permitindo uma introdução ao trabalho

com documentos textuais. Serão abordadas, portanto, as relações entre língua,

145

arquivo, acontecimento e a singularidade da leitura de documentos textuais na

Análise de Discurso em face de outras práticas de leitura. As perguntas

fundamentais que mobilizarão as atividades são: o que faz o Analista de Discurso

diante de um objeto normalmente mobilizado pelo historiador ou pelo

arquivista? Como ler documentos quando o que está em questão é a articulação

entre (o real da) língua e (o real da) história? Para tanto, serão apresentados os

conceitos fundamentais da Análise de Discurso (condições de produção, formação

discursiva, interdiscurso, dentre outros) em direção às práticas de leitura com

documentos textuais. É fundamental precisar que no campo do discurso o

documento não pode ser compreendido como um suporte indistinto, mas

enquanto um intervalo material que põe ao pesquisador uma posição que

coloque em questão os domínios da textualização e do acontecimento. O

minicurso será dividido em duas partes: na primeira, trataremos do percurso

histórico da relação entre discurso e arquivo na Análise de Discurso, mobilizando

conceitos teóricos e trabalhos (na França e no Brasil) que trataram dessa

articulação. Na segunda, será precisada mediante uma análise a singularidade da

leitura mobilizada pela Análise de Discurso no confronto com o documento

textual. Recorreremos, portanto, a documentos pensando o funcionamento desse

suporte material na sua formulação e circulação e a articulação entre o linguístico

e o histórico.

Agência Brasileira do ISBN