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IX Seminário de Estudos Filológicos – SEF Filologia em diálogo: descentramentos culturais e epistemológicos
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE LETRAS
Salvador, Bahia, Brasil,
05 a 07 de setembro de 2018
CADERNO DE RESUMOS DO IX SEF
Salvador
2018
S471c Seminário de Estudos Filológicos (9. : 2018 : Salvador, BA). Caderno de Resumos do IX SEF / Coordenação Risonete Batista de Souza, Célia Marques Telles, Rosa Borges dos Santos. –Salvador : Memória e Arte, 2018.
143 p.
ISBN: 978-85-69960-09-6
1. Estudos Filológicos. 2. Linguística Românica. 3. Crítica Textual. 4. Pesquisa em Letras. I. Título.
CDD 417.7
Ficha catalográfica: Letícia Oliveira de Araújo CRB5/1836
Universidade Federal da Bahia
Reitor João Carlos Salles Pires da Silva Vice-Reitor Paulo Cesar Miguez de Oliveira Pró-Reitor de Pesquisa, Criação e Inovação Olival Freire Júnior Diretora do Instituto de Letras Risonete Batista de Souza Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura Alvanita Almeida Santos Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura Danniel da Silva Carvalho Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários Alessandra Leila Borges Gomes Fernandes
Memória e Arte Diretora Vanilda Salignac de Sousa Mazzoni Conselho Editorial Maria da Glória Bordini
Célia Marques Telles
Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida
Alícia Duhá Lose
Jorge Augusto Alves Lima
Sandro Marcío Drumond Alves Marengo Fabiano Cataldo de Azevedo
Comissão organizadora IX SEF
Coordenação Risonete Batista de Souza (UFBA) Célia Marques Telles (UFBA) Rosa Borges dos Santos (UFBA) Secretaria Isabela Santos de Almeida (UFBA) Débora de Souza (UFBA) Lívia Borges Souza Magalhães (UFBA) Tesouraria Alvanita Almeida (UFBA) Rosa Borges (UFBA) Divulgação Fabiana Prudente (UFBA) Alícia Lose (UFBA) Carla Ceci Fagundes (UFBA) Logística Risonete Souza (UFBA) Rosinês Duarte (UFBA) Nancy Vieira (UFBA) Eliana Brandão (UFBA) Captação de recursos Eliana Brandão (UFBA) Norma Pereira (UFBA) Celina Abbade (UNEB)
Comissão cientifica Aléxia Teles Duchowny (UFMG) Alícia Lose (UFBA) Ari Sacramento (UFBA) Ceila Maria Ferreira (UFF) Célia Marques Telles (UFBA) Célia Regina dos Santos Lopes (UFRJ) Celina Abbade (UNEB) Cleber Alves de Ataide (UFRPE) Débora de Souza (UFBA) Eduardo Matos (Sartre/COC) Eliana Brandão (UFBA) Fabiana Prudente (UFBA) Isabela Almeida (UFBA) Mabel Meira Mota (UFBA) Manoel Mouri. Santiago-Almeida (USP) Maria da Conceição Reis (UNEB) Norma Suely Pereira (UFBA) Patrício Barreiros (UEFS) Risonete Souza (UFBA) Rita Queiroz (UEFS) Sandro Marcio Drumond Alves Marengo (UFS) Rosa Borges (UFBA) Rosinês Duarte (UFBA) Valéria Gomes (UFRPE)
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................................... 3
RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS ................................................................................................................ 5
RESUMOS DAS MESAS-REDONDAS ......................................................................................................... 8
RESUMOS DAS SESSÕES COORDENADAS .......................................................................................... 38
Eixo temático: Filologia e ensino ....................................................................................................... 38
Eixo temático Filologia e questões teóricas da contemporaneidade .............................. 50
Eixo temático Teorias e práticas editoriais ................................................................................. 53
Eixo temático Teorias e práticas editoriais ................................................................................. 57
Eixo temático Teorias e práticas editoriais ................................................................................. 61
Eixo temático: Filologia e memória ................................................................................................. 66
RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES ORAIS .............................................................................................. 70
Eixo temático: Filologia e ensino ....................................................................................................... 70
Eixo temático: Filologia e humanidades digitais ...................................................................... 95
Eixo temático: Filologia e literatura................................................................................................ 97
Eixo Temático: Filologia e memória ............................................................................................. 108
Eixo temático: Filologia e questões teóricas da contemporaneidade ......................... 127
Eixo Temático: Teorias e práticas editoriais ........................................................................... 131
RESUMOS DOS MINICURSOS ................................................................................................................. 143
3
APRESENTAÇÃO
O Seminário de Estudos Filológicos (SEF) é um evento bienal que visa trazer à
tela pesquisas no campo da Filologia e de áreas afins. A proposta do SEF se ancora na
memória da Semana de Filologia Românica, de 1964, e dos Seminários de Filologia
Românica, realizados dos anos 1960 aos anos 1990, pelo Prof. Dr. Nilton Vasco da Gama -
Professor Emérito da Universidade Federal da Bahia, fundador da cadeira de Filologia
Românica desta universidade e líder do Grupo de Pesquisa de Filologia Românica, até o
ano de seu falecimento.
Tais Seminários constituíram espaços de debate, que, dentre outros resultados,
contribuíram para a formação de diversos docentes pesquisadores que, atualmente,
dedicam-se à Filologia em, pelo menos, quatro universidades baianas, a saber:
Universidade Federal da Bahia, Universidade Estadual de Feira de Santana, Universidade
do Estado da Bahia e Universidade Católica do Salvador. Considerando a importância
desses seminários para o formação de novas gerações de filólogos, em 2006, as
discípulas de Nilton Vasco da Gama, Rosa Borges (UFBA), Rita Queiroz (UEFS) e Maria da
Conceição Reis (UNEB), retomaram a proposta das discussões em seminários e
realizaram o I Seminário de Estudos Filológicos, no ano de 2006, promovendo discussões
de grande relevância no âmbito dos estudos filológicos, congregando pesquisadores de
todo o país. Os resultados do I SEF foram publicados no livro Diferentes perspectivas dos
estudos filológicos.
O evento assumiu o caráter itinerante, ocupando as diferentes universidades da
Bahia. Ano a ano foram propostos temas pertinentes aos debates contemporâneos em
Filologia, que passamos a elencar: em 2007, Filologia e História: múltiplas possibilidades
de estudo, sediado na UEFS; em 2008, A Filologia e a preservação do patrimônio Cultural
escrito: arquivos, acervos, edições e estudos, que teve lugar na UFBA; em 2009, Filologia
e estudos da linguagem: o léxico em questão, na UCSal; em 2010, Filologia: diálogos
possíveis, nas Faculdades São Bento. A partir de então, optou-se pela realização bienal do
evento.
Em 2012, a sexta edição do SEF foi realizada concomitantemente ao I Congresso
Internacional de Estudos Filológicos, sediado na UFBA, a temática abordada foi Filologia,
Críticas e Processos de Criação, realizado em homenagem ao Prof. Dr. Nilton Vasco da
Gama. A edição de 2014, que ocorreu na UNEB – Campus I, homenageou a Profa. Dra.
Albertina Gama e versou sobre a as relações Entre o texto e o discurso. Em 2016,
Filologia e Humanidades Digitais foi a temática do evento que rendeu homenagem à
Profa. Dra. Célia Marques Telles.
Em 2018, o SEF ocorrerá na UFBA, com o apoio da CAPES, através do PAEP.
Tendo com o tema a Filologia em diálogo: descentramentos culturais e epistemológicos.
Pretendemos manter a tradição de um congresso que enfatiza as diferentes perspectivas
dos estudos filológicos, pensadas, também, em função dos descentramentos necessários
aos estudos contemporâneos. O espaço da Filologia, considerado como campo teórico e
disciplinar, tem proposto percursos de investigação que entrecruzam aspectos textuais,
culturais, linguísticos, literários, sociais e históricos para o estudo do texto. Acionados
por agendas contemporâneas, os pesquisadores têm mobilizado o conhecimento secular
dessa área a fim de propor interações disciplinares, objetos de investigação, perspectivas
4
de leituras e projetos editoriais, visando realizar estudos que resultam na renovação dos
fazeres filológicos. Por sua vez, o desenvolvimento dessas pesquisas tem como resultado
importantes revisões epistemológicas, que consolidam os estudos filológicos na
contemporaneidade.
O evento renderá homenagem à Profa. Dra. Rosa Borges, uma das idealizadoras
do SEF que, em 28 anos de carreira, muito tem contribuído para repensar a práxis
filológica, promovendo, em seu exercício como docente e pesquisadora, diálogos entre
campos de saber e descentramentos epistemológicos através da Filologia.
Neste Caderno de Resumos, reunimos os resumos de Conferências, Mesas
redondas, Sessões de comunicação coordenada e Sessões de comunicação individual,
estas últimas organizadas por eixo temático e ordem alfabética pelo primeiro nome do
autor e, por fim, aparecem os resumos dos Minicursos.
5
RESUMOS CONFERÊNCIAS
Conferência de abertura
LINGUÍSTICA ROMÂNICA: UM OLHAR SOBRE O QUE FAZEMOS
Célia Marques Telles (UFBA/CNPq)
O título proposto leva à lembrança de que, já, em 13 de fevereiro de 1906,
Antoine Meillet, em sua aula inaugural no Collège de France, falava que
“L’observation des faits actuels est encore plus capable d’expliquer le passé que
l’étude du passé d’expliquer le présent [...]” (MEILLET, 1948, p. 5). O ensino e
estudo da Filologia Românica, através de suas várias disciplinas, que hoje se faz
no Instituto de Letras da UFBA, é o resultado de um processo lento, implantado
nos idos dos anos 50 do século XX, quando o mestre Nilton Vasco da Gama
assumiu a regência da cadeira de Filologia Românica nos Cursos de Letras
Clássicas e de Letras Neolatinas na Faculdade de Filosofia da Universidade da
Bahia. Sessenta e quatro anos são passados e eis-nos, hic et nunc, ensinando a
estudar e a pesquisar no âmbito da Filologia Românica. A homenageada deste IX
Seminário de Estudos Filológicos vem seguindo o caminho traçado pelo nosso
mestre. De uma disciplina única, oferecida, anualmente, a apenas dois dos cursos
de Letras, passando, em 1964, para a oferta a todos os cursos de Letras e em
quatro disciplinas. Mais tarde, já em 1972, passamos a ter apenas a oferta em
somente um semestre, mas oferendo disciplinas de Filologia Românica para os
Cursos de Letras e as de Paleografia e Ecdótica para os Cursos de Biblioteconomia
e de História. Hoje, somos dez docentes encarregados, nos cursos de Graduação e
de Pós-Graduação, nas pesquisas ligadas a duas linhas de investigação, que se
distribuem nas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Docentes estes que
integram o Grupo de Pesquisa Studia Philologica, assim denominado, em 2012,
em homenagem ao nosso saudoso mestre. Como se desenvolveu todo o trabalho
dentro da equipe é o objetivo dessa conversa.
Palavras-chave: Filologia. Universidade Federal da Bahia. Ensino.
MEILLET, Antoine. L’état actuel des études de linguistique générale. In: _______.
Linguistique historique et linguistique générale. Paris: Honoré Champion, 1948.
6
Conferência II
DA LA FILOLOGÍA LITERARIA A LA HISTORIA DE LA LITERATURA
Belem Clark de Lara (UNAM)
Después de una rápida revisión sobre el estado que guarda la historia de la
literatura en el ámbito de la academia, y particularmente en México, la
comunicación versa sobre el rescate de la producción de nuestros escritores del
siglo XIX, los avances que en este campo se han tenido y la importancia que la
filología literaria entendida como la fusión de la ecdótica (esto es, la recuperación
del texto exacto de una obra mediante procedimientos científicos) y la
hermenéutica (es decir, el aparato histórico, lingüístico, exegético, que permite
una plena y rigurosa interpretación, y que condiciona las valoraciones
ideológicas, sociales y estéticas), al decir de Jean Starobinski y Vittore Franca,
concepto que ha guiado el quehacer del Seminario de Edición Crítica de Textos de
la Universidad Nacional Autónoma de México. Se se hará un breve recuento de los
pasos de la crítica textual y se ejemplificará con la novela Por donde se sube al
cielo (1882) y la columna periodística “Plato del día”, ambas como parte del
proyecto dedicado a la recuperación de la obra de Manuel Gutiérrez Nájera,
primer modernista mexicano.
Palabras clave: Historia de la literatura. Filología literaria. Edición crítica de
textos. Manuel Gutiérrez Nájera.
7
Conferência de encerramento
EXPERIÊNCIAS E DESCENTRAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS NA PRÁTICA
FILOLÓGICA
Rosa Borges (UFBA)
O trabalho filológico de trazer, por meio da atividade editorial, os
documentos e as letras nacionais, proporciona aos historiadores da literatura, aos
historiadores da língua, aos críticos literários, aos especialistas de áreas afins e
aos leitores, de modo geral, um vasto conhecimento da nossa cultura. No campo
dos Estudos Filológicos, as diversas abordagens críticas (textual, genética e
sociológica) dialogam, sendo práticas relevantes para a interpretação de uma
cultura nacional, a partir dos materiais reunidos nos diversos acervos em dado
espaço e do arquivo como lugar de memória, oferecendo novas leituras e novos
enfoques teóricos, além de novos saberes que são, nos arquivos,
(des)construídos. A minha experiência com os textos de autores modernos e, em
especial, com os textos teatrais censurados, trouxe mudanças à prática filológica
editorial que realizo ao longo de 28 anos de trabalho. Inicialmente, penso as
teorias e metodologias da edição de textos, articulando diálogos entre a Crítica
Textual e a Crítica Genética, mais tarde, entre a Crítica Textual, a Crítica Genética
e a Sociologia dos Textos. Em minha tese, trouxe a perspectiva de trabalho da
Crítica Genética para o campo da edição de textos modernos, com a intenção de
pensar o texto em movimento, o texto que se transformava pelas mãos do sujeito
da escrita, mas também por consequência das relações que tal sujeito assume
com outros sujeitos que partilham do trabalho de criação ou que compartilham
do gesto de escrita, dando a sua colaboração. Em minhas aulas da pós-graduação
e nas reuniões do Grupo de Edição e Estudo de Textos (GEET), trouxe, juntamente
com alunos e, sobretudo com meus orientandos, os desbravadores desta nova
seara, a proposta de trabalharmos outra abordagem crítica, a Sociologia dos
Textos. Ao nos valermos de tais abordagens críticas, aplicadas às práticas da
edição, tivemos como resultado edições crítico-genética, sinóptico-críticas,
histórico-críticas, digitais/eletrônicas, além de ampliação das perspectivas de
leituras críticas do objeto texto. Em quaisquer das abordagens desenvolvidas, os
descentramentos existiram, do texto, do autor, do próprio leitor-editor. Pela
nossa experiência, o texto se apresenta em várias posições, não somente no
centro, os gestos de produção e publicação de um texto evidenciam os registros
das ações de vários sujeitos para além do autor, a autoria é construída, e o leitor-
editor assume suas escolhas e se faz intérprete do(s) texto(s) que edita,
responsável pela edição. O trabalho filológico que realizamos com os textos
modernos tem contribuído para o conhecimento das letras, dramaturgias e
culturas nacionais.
Palavras-chave: Filologia. Descentramentos epistemológicos. Prática editorial.
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RESUMOS MESAS-REDONDAS
Mesa-redonda 1: Teorias e práticas editoriais
EPISTOLOGRAFIA BRASILEIRA: VICISSITUDES EDITORIAIS
Marcos Antonio de Moraes (USP)
Partindo de extensivo levantamento bibliográfico de edições de
correspondência de escritores no Brasil, realizado na pesquisa Epistolografia
brasileira: levantamento bibliográfico, vicissitudes editoriais e perspectivas de
exploração nos estudos literários (CNPq), esta comunicação pretende detectar
nelas justificativas (pessoais, culturais, sociais, institucionais etc) para a difusão
de documentos da vida privada. Tenciona, igualmente, avaliar as diversas
escolhas editoriais que orientaram a difusão das cartas, colocando em pauta
fundamentos filológicos empregados no estabelecimento de texto e a presença de
corrupções e de censuras no processo de transcrição das mensagens.
Palavras-chave: Epistolografia. Filologia. Edição.
NAS TRILHAS FILOLÓGICAS: EDIÇÃO DE DOCUMENTOS MANUSCRITOS
BAIANOS
Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS)
Desde que a humanidade passou a registrar seus feitos, suas emoções,
seus anseios através da escrita, seja nos variados suportes: pedra, pergaminho,
papiro, papel, dentre outros, que se tem um acúmulo de documentos. A partir do
desenvolvimento da escrita alfabética, promovido pelos gregos a partir da criação
dos fenícios, temos um legado inestimável. No século III a.C., na Biblioteca de
Alexandria, reuniram-se os filólogos Zenódoto, Aristarco e Aristófanes de
Bizâncio a fim de editarem a obra de Homero, cuja tradição se inicia oralmente no
século IX a.C. Surge então a Filologia, ciência que se ocupa da língua, da literatura
e da cultura de um povo ou de um grupo de povos através da sua produção
escrita. Seguindo essa tríade, e a fim de salvaguardar a documentação manuscrita
baiana, foram implantados na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
projetos de pesquisa cujo objetivo é editar documentos manuscritos lavrados em
Feira de Santana ou em seu entorno. Assim, desde 1996, empreendemos a
realização de edições semidiplomáticas (trazendo as descrições extrínsecas e
intrínsecas, bem como acompanhadas das edições fac-similar), por acreditarmos
ser este o tipo que mais se adeque ao corpus selecionado: cartas de alforria,
certidões de compra e venda de terras, registro de nascimento, queixas crime (de
porte de armas, de defloramento, de estupro, de assassinato, etc.). Neste sentido,
9
já foram publicadas algumas dessas edições nos livros: Documentos do acervo de
Monsenhor Galvão: edição semidiplomática e Manuscritos baianos dos séculos XVIII
ao XX – livro de notas de escrituras. Objetivamos, então, apresentar as edições
semidiplomáticas, de acordo com critérios da Filologia Textual, de dois acervos:
Biblioteca Monsenhor Galvão e Centro de Documentação e Pesquisa, ambos
órgãos da UEFS. Para tanto, selecionamos os seguintes documentos a serem
apresentados: carta de alforria da escrava Martina; auto de defloramento de
Maria José; certidão de nascimento de Maria Eusébia; certidão de alistamento
eleitoral de 1881; queixa crime de arrombamento e auto de curandeirismo.
Palavras-chave: Filologia. Documentos manuscritos. Edição semidiplomática.
VIDA E ARTE DE ELIZABETH BISHOP EM CORRESPONDÊNCIA INÉDITA COM
ALICE METHFESSEL
Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)
Elizabeth Bishop, conhecida como poeta viajante, escreveu incontáveis
cartas a amigos, parentes, outros artistas, especialmente poetas, e, naturalmente,
aos grandes amores de sua vida: Lota Macedo Soares, seu amor brasileiro, e Alice
Methfessel, última companheira, nascida nos Estados Unidos e que esteve com ela
até o final. Sua correspondência é de relevância a todos os estudiosos de Bishop
porque aquele era o seu espaço íntimo para falar da própria criação, expor suas
ideias sobre poesia, além de revelar muitos dos locais pelos quais passou e viveu,
como o Brasil, onde morou de 1951 a 1971, período sempre entremeado por
inúmeras viagens. A Companhia das Letras publicou, em 2008, um compêndio de
inúmeras cartas escritas por Bishop, uma vasta coletânea intitulada Uma arte: as
cartas de Elizabeth Bishop. Mas, em 2011, a escritora norte americana Megan
Marshall, sua biógrafa, encontrou um lote contendo algo inédito e inesperado:
nove anos de correspondência entre Bishop e Alice, sua companheira mais jovem
que ela trinta e dois anos, o que deixava Bishop insegura e, com frequência,
deprimida. Quando Alice morreu, em 2009, essas cartas foram encaminhadas a
Special Collection de Vassar College, Poughkeepsie, New York, onde se encontra o
Acervo Elizabeth Bishop, desde a morte da poeta, em 1979. O presente objeto de
análise é uma cópia dessas cartas inéditas, que foi adquirida da Biblioteca de
Vassar College. A correspondência em questão revela detalhes da vida da poeta,
em particular, sua paixão por Alice, sua ideologia, sua arte e os locais por onde
passou, merecendo este material ser analisado e organizado em uma plataforma
eletrônica, disponibilizada a quem se interesse em estudar Elizabeth Bishop.
Palavras-chave: Correspondência. Elizabeth Bishop. Alice Methfessel.
10
FILOLOGIA E ARQUIVÍSTICA EM TEMPOS DIGITAIS
Mabel Meira Mota (UFBA)
O presente trabalho tem como objetivo apresentar o arquivo hipertextual
(URBINA et. al. 2005), de orientação pragmática, construído para o texto A
Escolha ou O Desembestado, do dramaturgo baiano Ariovaldo Matos,
disponibilizado através da Internet no domínio www.ariovaldomatos.com. Em
sua estrutura, a edição apresenta um módulo “leitura” e um módulo “mediação”,
no qual coexistem três diferentes modelos editoriais – edição sinóptica,
interpretativa e fac-similar. Além disso, apresenta-se o Sistema Informatizado de
Gerenciamento de Documentos (SIGD-ED), a partir do qual foram
disponibilizados os documentos que compõem o dossiê arquivístico de A Escolha
ou O Desembestado, de Ariovaldo Matos, objetivando a disseminação e o acesso
controlado à informação.
Palavras-chave: Ariovaldo Matos. Teatro. Filologia. Arquivística. Arquivo
hipertextual.
Mesa-redonda 2: Filologia e História da Língua
A TESSITURA DO CONHECIMENTO: O CORPUS NA CONSTRUÇÃO DE
ESTUDOS SEMÂNTICOS SÓCIO-HISTÓRICO-COGNITIVOS
A. Ariadne Domingues Almeida (UFBA/UNEB-PNPD-CAPES)
Apresentaremos, nesta mesa-redonda destinada ao enfoque da inter-
relação entre a Filologia e a História da Língua, no IX Seminário de Estudos
Filológicos, reflexões acerca de algumas implicações geradas pela constituição de
um corpus a partir de textos do passado, como as cantigas de escárnio e maldizer
galego-portuguesas, para a construção de saberes a respeito da semântica de
tempos pretéritos, especificamente, para a compreensão de fenômenos, a
exemplo da conceptualização, da categorização, da metáfora e da metonímia. Para
isto, selecionamos, como referencial teórico, alguns aportes da Linguística sócio-
histórico-cognitiva, trazendo para o debate autores como Fernández Jaén (2013;
2008; 2006), Leite (2017) e Santos (2011), bem como procuramos estabelecer
uma discussão, a partir da obra de outros estudiosos como Lapa (1995) e Lopes
(2002), editores de textos medievais galego-portugueses, e, também,
considerando o trabalho de outros pensadores, a exemplo de Maturana e Varela
(1984), biólogos cognitivistas, de Maffesoli (2016), sociólogo, de Gleiser (2014),
físico, de modo a propor uma discussão interdisciplinar, a propósito das referidas
implicações, no que diz respeito à constituição das teias de conhecimento
11
elaboradas sobre os fenômenos postos em pauta. Enfim, com a nossa participação
nesta mesa-redonda, almejamos, primordialmente, a geração de um debate
relativo à flexibilidade, à perspectivação e à dinamicidade, no âmbito da
construção de saberes atinentes a fenômenos semânticos, com base em textos do
passado, pelo olhar sócio-histórico-cognitivo.
Palavras-chave: Semântica. Corpus. Conhecimento.
A CURA ENQUANTO CRIME NO ACERVO DE DOCUMENTOS BAIANOS DA UEFS
Celina Marcia de Souza Abbade (UNEB)
O estudo do léxico de uma língua nos remete sempre ao conhecimento da
história de quem a utiliza. Diversos aspectos da cultura de um povo podem ser
delineados a partir de um levantamento lexical. Com o objetivo de preservar e
resgatar o patrimônio sociocultural e histórico do sertão baiano, realizou-se o
estudo e edição semidiplomática de um documento do início do século XX
encontrado no acervo de documentos manuscritos baianos da Universidade
Estadual de Feira de Santana que trata de uma denúncia de “crime de
curandeirismo”. O documento, exposto em vinte fólios, datado de 1902-1903, é o
documento 257 da caixa 14, série CRIME da seção JUDICIÁRIO. A partir da edição,
fez-se o levantamento das lexias a fim de buscar os conceitos das mesmas à
época. Buscou-se também a datação e etimologia dessas lexias, quando possíveis.
A partir daí elas foram estruturadas em seus respectivos campos lexicais,
seguindo a proposta de uma semântica diacrônica estrutural em que as lexias se
organizam em campos e não apenas em ordem alfabética, o que nos dá uma visão
mais ampla e coerente do conteúdo estudado. Essa proposta foi fundamentada
pelo linguista Eugenio Coseriu (1977/1987). Apresentar-se-á aqui o campo
lexical da cura, a fim de resgatar um pouco acerca da história e cultura feirense
deixado em seus textos. Dessa forma, poder-se-á estabelecer alguns aspectos da
formação lexical desse povo a partir da estruturação dessas lexias em seus
respectivos campos lexicais e assim contribuir nas investigações lexicológicas e
nos estudos lexicais ainda tão carentes de pesquisadores no Brasil.
Palavras-chave: Filologia. Campo lexical. Curandeirismo.
PENITÊNCIA E OSTENTAÇÃO: ASPECTOS DAS PRÁTICAS CULTURAIS EM
FONTES PRIMÁRIAS DA BAHIA COLONIAL
Norma Suely da Silva Pereira (UFBA)
A edição e estudo de fontes primárias tem possibilitado ampliar a
compreensão acerca das práticas culturais e dos papéis sociais na Bahia colonial.
12
No contexto dos documentos eclesiásticos, observa-se como o ensino da doutrina
cristã imposto ao homem colonial com o recurso dos catecismos e cartilhas de
orientação medieval entra em choque com as práticas e necessidades concretas
vivenciadas na América portuguesa. Desse modo, estabelecendo-se uma interface
entre a Filologia e a História da Língua, e direcionando o olhar para elementos
discursivo-pragmáticos busca-se evidenciar aspectos das escolhas lexicais de
enunciadores em dadas situações discursivas, observando a construção do ethos
discursivo que objetiva afirmar uma postura de contrição e piedade cristã, o que
é recorrente nos documentos notariais selecionados. O estudo de práticas
culturais e do léxico em documentos eclesiásticos desenvolve-se com a utilização
de um arcabouço teórico e metodológico de constituição multidisciplinar
integrando a Filologia Textual (SPINA,1994; CANO AGUILAR, 2000; CAMBRAIA,
2005), os métodos da Paleografia (ANDRADE, 2010; ACIOLI, 1994) e da
Diplomática (BELLOTTO, 2002; DURANTI, 2015), e a História Cultural (LE GOFF,
1990; CHARTIER, 2002), para respaldar o estudo das atitudes, crenças e
comportamentos dos indivíduos, permitindo uma adequada compreensão do uso
da língua em seu contexto. Para o estudo acerca do ethos discursivo e das cenas
enunciativas, acrescentam-se ainda os conceitos aplicados por Dominique
Maingueneau (2002, 2008, 2011), na perspectiva dos estudos da Análise do
Discurso de linha francesa. Com a leitura, edição, análise diplomática e estudo
linguístico dos documentos selecionados, busca-se fornecer novos dados que
possam auxiliar no esclarecimento, ampliação ou ressignificação dos aspectos
que envolvem as práticas socioculturais e a História da língua portuguesa no
Brasil colônia.
Palavras-chave: Práticas culturais. Ethos. Léxico colonial.
CRÍTICA TEXTUAL E SOCIOTERMINOLOGIA EM DOCUMENTOS MILITARES
BAIANOS OITOCENTISTAS
Sandro Marcío Drumond Alves Marengo (UFS/UFBA/CNPq)
Os Livros de Registros do Detalhe (DET) da Polícia Militar da Bahia
(PMBA) são documentos que tem por função apresentar, em detalhes, os
acontecimentos mais importantes ocorridos diariamente na Instituição (LOSE;
MARENGO, 2016). Contando com um montante de 165 volumes, temporalmente
circunscritos entre 1859 a 1940, suas páginas guardam relatos da participação da
corporação da PMBA em momentos importantes na história da Bahia, do Brasil e,
também, da América Latina. A importância histórica dessas fontes documentais
está intimamente interligadas à língua em uso em sincronias passadas. Nesse
sentido, é de grande valor tomá-los como objetos para pesquisas sobre usos
linguísticos de tempos pretéritos, pois “ao estudar-se a evolução da organização
militar, torna-se mais inteligível a evolução da própria sociedade” (MARQUES,
13
1999, p. 14) e, portanto, da linguagem em uso constituída no seio dessa sociedade
– e, certamente, da comunidade de prática dos policiais militares que a integram.
Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo geral apresentar os
resultados parciais das edições fac-símile e semidiplomática (SPINA, 1990;
CAMBRAIA, 2005), bem como a formulação de glossário terminológico
(MARENGO, 2016, 2017) e estudo socioterminológico de cunho variacionista de
termos militares (MARENGO, 2017, 2016c, 2016b, 2016c; FAULSTICH, 2002)
constantes no DET 68, que se refere ao Livro de Registros das Ordens do Dia da
Brigada Policial da Bahia, manuscrito em língua portuguesa no período de 1885 a
1890. Nosso foco específico no estudo socioterminológico de caráter diacrônico é
o de apresentar os tipos de variantes (FAULSTICH, 2001, 2002) na terminologia
militar identificada no corpus primário editado.
Palavras-chave: Linguística Histórica. Crítica Textual. Socioterminologia.
Mesa-redonda 3: Filologia e memória
IMPRENSA ESCRITA NA BAHIA, PRODUÇÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS,
RESGATE, EDIÇÃO DE TEXTOS E PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA
Maria da Conceição Reis Teixeira (UNEB)
Durante fins do século XIX e início do século XX, praticamente inexistiam
editoras interessadas em publicar a produção local. Em função disto, muitos
intelectuais se reuniram em agremiações para fundar periódicos (revistas e
jornais) objetivando fazer circular sua produção intelectual e, consequentemente,
alcançar um público leitor. Na Bahia, esta prática ultrapassou os limites dos
grandes centros urbanos, chegando às longínquas e pacatas cidadezinhas do
interior. Em Caeteté-Ba, por exemplo, João Gumes fundou a gazeta A Penna
fazendo circular, no alto sertão baiano, as suas narrativas ficcionais e a produção
em verso de seus conterrâneos. Em Nazaré-Ba, um grupo de amigos idealizou O
conservador, periódico semanal, que circulou entre 1912 a 1920 tornando-se o
principal órgão de comunicação e de difusão da cultura do recôncavo baiano.
Trazia o subtítulo “Semanario, Noticioso, Litterario e Popular” que denunciava sua
vocação de difusor de textos literários – poemas, crônicas, contos e romances
folhetins – produzidos em solo baiano. Utilizaram-se do Conservador como o
espaço ideal para veicular sua produção escritores como Anísio Melhor, Antônio
Dantas Trindade, Antônio Ferreira dos Santos, Euricles de Matos, Flávio Andrade,
Joaquim Embiruçú, Joel Lopes, José Bomfim, Nelson de A. Ribeiro. Na presente
comunicação, almeja-se discutir o papel do filólogo no resgate de textos
veiculados em periódicos especialmente para a recuperação de um legado
cultural que se encontrava condenado ao esquecimento como acontece com parte
14
da produção literária baiana veiculada nas gazetas de vida efêmera fundadas, no
interior do estado, por intelectuais de parcos recursos financeiros. Além de
contribuir para o preenchimento de lacuna a ainda existente na historiografia
literária baiana, especialmente ao recuperar a produção daqueles que veicularam
a sua produção no referido periódico, o trabalho de resgate e a preparação de
edições dos textos recolhidos dos periódicos muito contribuirão para a
preservação da memória cultural, literária e linguística da Bahia.
Palavras-chave: Periódicos baianos. Resgate. Preservação.
EDIÇÃO DE TEXTOS E MEMÓRIA: NOTÍCIAS DA CIDADE DO SALVADOR
Maria das Graças Telles Sobral (FCS/FTC)
O labor filológico abarca diversas atividades, dentre elas a função
denominada de transcendente por Segismundo Spina em Introdução à edótica:
Crítica textual. Esta função aproxima a filologia da história permitindo ao filólogo
o conhecimento de aspectos da cultura de um povo. Dessa forma, ao editar um
texto, isto é, fixar em novo suporte relatos que gradativamente se perdem,
preservam-se e resgatam-se informações importantes para a compreensão da
formação de uma sociedade em um dado momento da história capaz de fazer
compreender sua evolução e suas diferentes formas de expressão. Assim,
tomando como base as palavras de Ladislas Mandel, para quem a escrita é o
espelho dos homens e das sociedades, os estudos que tratam da História da Bahia
de Luis Henrique Dias Tavares, Thales de Azevedo e Antonio Risério e a
concepção de Memória de Jacques Le Goff, este artigo tem como objetivo destacar
aspectos da memória que revelam o modo de ser, de agir e pensar que ficaram
registrados em documentos editados sobre a Cidade do Salvador.
Palavras-chave: Filologia. Memória. Cidade de Salvador.
TEXTO E MEMÓRIA: UM OLHAR EM MANUSCRITOS HISTÓRICOS DE
SALVADOR
Gilberto Nazareno Telles Sobral (UNEB)
Cada vez mais, tem-se discutido acerca da necessidade de preservação do
patrimônio histórico, tendo em vista a memória histórico-social de um povo.
Neste contexto, é crescente o interesse de pesquisadores de instituições públicas
e privadas no vasto acervo, muitas vezes, esquecido em museus e bibliotecas e
pouco conhecido da sociedade a que pertence, além dos acervos particulares. A
15
crítica textual, considerada por muitos estudiosos como a mais nobre atividade
filológica, tem sido de fundamental importância na preservação e divulgação de
importantes acervos - dispersos, modificados, perdidos - uma vez que tem como
propósito principal a restituição de um texto a sua forma original. Em 2018, a
Cidade do Salvador completou 469 anos de fundação e incontáveis são os
acontecimentos que fazem parte da história do povo soteropolitano, muitos
desconhecidos, mas determinantes para a compreensão do ser e viver deste povo.
Neste trabalho, discorre-se acerca da importância da Crítica Textual na
preservação da vasta documentação manuscrita – materializações da memória -,
que faz parte do acervo do Arquivo Histórico Municipal de Salvador, e, em
seguida, reflete-se acerca da memória social, a partir de discursos materializados
nos referidos documentos, a fim de compreender como os sujeitos se constituem
socialmente.
Palavras-chave: Salvador. Discurso. Memória.
Mesa-redonda 4: Teorias e práticas editoriais
DO MANUSCRITO DE IMPRENSA À EDIÇÃO PRINCEPS DAS MEMÓRIAS DE
FREI GASPAR DA MADRE DE DEUS
Renata Ferreira Costa (UFS)
As Memórias para a História da Capitania de São Vicente, hoje chamada de
São Paulo do Estado do Brasil, do historiador Frei Gaspar da Madre de Deus,
foram publicadas pela Academia de Ciências de Lisboa, doravante ACL, em 1797.
Essa edição, denominada princeps por ser impressa pela primeira vez a partir do
manuscrito original do autor, foi o modelo para as cinco edições posteriores da
obra, de modo que todos os estados do texto constituem as Memórias tal como
foram transmitidas a seus leitores desde o fim do século XVIII. A questão
subjacente à transmissão dessa obra, contudo, está no fato de sua edição princeps
não representar o texto que Frei Gaspar imaginou e desejou que viesse a público,
mas uma reformulação, como forma de conferir uniformidade global ao texto,
adaptando-o ao cânone da Academia e à “norma” linguística portuguesa. A
explicitação das modificações inseridas nas Memórias de Frei Gaspar, que
perpassam toda a sua tradição impressa, insere-se no âmbito da Crítica Textual
do original presente, o que permite verificar as alterações ou variantes inseridas
em um texto durante seu processo de transmissão e recuperar a sua forma
genuína. Desta forma, o propósito deste trabalho é identificar as duas camadas
textuais do manuscrito original: a redação de Frei Gaspar, que se mantém
uniforme ao longo dos fólios, sem rasuras e emendas, o que configura um texto
16
finalizado, e as interferências provenientes de outra mão, e apresentar as
alterações introduzidas no texto na passagem de uma tradição a outra. Uma
análise como a que se propõe contribuirá para se refletir e discutir sobre o
processo de publicação impressa no período colonial, as normas de edição da
casa editorial da ACL, o papel do revisor à época, o conceito de coautoria e a
importância da publicação de uma edição crítica da obra.
Palavras-chave: Crítica Textual. Cultura Escrita. Século XVIII.
PRIMEIRAS NOTÍCIAS SOBRE A EDIÇÃO DO DOSSIÊ SOBRE ADMINISTRAÇÃO
DA ALDEIA DOS ÍNDIOS MENHÃS EM PORTO SEGURO, BAHIA (1764)
Alícia Duhá Lose (UFBA)
A história dos povos indígenas que viviam em terras brasileiras começou a
mudar com a chegada do colonizador. O contato das nações "civilizadas" com as
populações indígenas gerou uma série de conflitos e mudou para sempre a
história da nação brasileira. Os povos indígenas de variadas nações que viviam
em todo território da então chamada colônia portuguesa passaram a viver sob a
administração lusitana. Uma das medidas tomadas pelo reino foi a organização de
aldeamentos sob a responsabilidade de religiosos de diversas ordens com a
intenção de promover a conversão dos índios ao catolicismo e harmonizar o
convívio com a população, fornecendo, ainda, mão de obra de baixo custo para o
desenvolvimento da colônia. A presente comunicação trata do trabalho de edição
que pretende dar a conhecer, através de uma leitura conservadora, os
documentos pertencentes ao "Dossiê dos aldeamentos indígenas" sob a guarda
do Arquivo Público do Estado da Bahia. O Dossiê foi composto em 1764 e trata da
administração da aldeia dos índios menhãs em Porto Seguro, na Bahia. Tais
documentos, devido a sua relevância, foram nominados no Programa Memória do
Mundo da UNESCO, juntamente com todos os documentos do Tribunal da Relação
da Bahia. Para além das informações históricas, esses documentos guardam
relevantes informações linguísticas. O maço foi preparado por "Joze da Costa e
Sylva Pinto, escrivaõ da / Ouvedoria geral e Correissão nesta villa de / Nossa
Senhora da Penna Capitania de Portto / Seguro" a pedido do "Re / verendo
Lessenssiado Joze de Araujo Ferraz", no ano de 1764. A edição proposta é
preparada com critérios que contemplem as diversas características linguísticas
dos textos do dossiê, partindo de um princípio conservador que ofereça
informações de qualidade para pesquisas de diversas áreas com o intuito de
auxiliar futuras pesquisas.
Palavras-chave: Edição de documentos históricos. Aldeamentos indígenas.
História do Brasil Colônia.
17
MEMÓRIA E PATRIMÔNIO: A HISTÓRIA DA TIPOGRAFIA BAIANA NO SÉCULO
XIX
Vanilda Salignac de Sousa Mazzoni (UFBA/MEMÓRIA E ARTE)
É indiscutível o papel das antigas tipografias / editoras / livrarias /
gráficas ou qualquer nome que se queira dar ao lugar onde se vendia ou
produzia livros, principalmente em uma cidade como Salvador, que, embora
tivesse sido palco de vários acontecimentos importantes e decisivos para a
história social, política e econômica do país, no século XIX sofreu vários revezes
com a transferência da capital para a Corte do Rio de Janeiro, e a consequência é
que, com isso, toda a prosperidade financeira e influência política foram juntas.
Com a chegada da tipografia, a vida cultura tem um avanço pouco visto antes.
Todavia, a memória tipográfica baiana ainda carece de muitas pesquisas,
estudos e investigações, pois são muitas lacunas, muitas histórias perdidas e
pouca coisa para ser recuperada, embora neste trabalho possamos citar pelo
menos 14 em pleno funcionamento no século XIX. A mais importante, a
Typographia Silva Serva, abriu caminho para tantas outras, mas a pouca
responsabilidade e a prática do esquecimento sobre nosso patrimônio
documental fizeram com que em algumas delas só tenhamos o nome e o antigo
endereço. Sobre essas histórias resgatadas é que iremos conversar, pois se abre
uma gama de oportunidade para novas investigações e novas descobertas,
inclusive no âmbito da linguística e da filologia, pois o acesso a novas
publicações através de impressores locais e principalmente a oportunidade de
escritores baianos em publicar com menor custo e de os leitores não mais
precisarem encomendar livro de outros locais muito facilitou o acesso ao
conhecimento. Este estudo teve como referência para levantamento das
tipografias o acervo pertencente à Biblioteca Monsenhor Manoel de Aquino
Barbosa, da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da
Conceição da Praia, que possui uma importante coleção de publicações sobre
história da Bahia impressas em Salvador, e foi desenvolvido através do
Programa de Pós-doutorado junto ao PPGLinc/UFBA.
Palavras-chave: Tipografia. Impressos baianos. Século XIX. Memória
documental.
A EDIÇÃO INTERPRETATIVA: DESCORTINAR O TEXTO, PROPOR LEITURAS
Isabela Santos de Almeida (UFBA)
A edição interpretativa é, frequentemente, definida como uma edição de
testemunho único, em que há um maior grau de intervenção ao texto, uma vez
que o filólogo-editor atualiza as formas gráficas e linguísticas do seu objeto de
18
estudo, tornando-o acessível a leitores contemporâneos não especializados. A
exemplo de Dionísio (2006), há, por outro lado, os que apontam que a edição
interpretativa também comporta a possibilidade de cotejo entre as fontes e o
texto, bem como a proposição de notas explicativas. Seguindo essa perspectiva,
objetivo, neste trabalho, discutir como a edição interpretativa pode propor ao
leitor caminhos para descortinar aspectos da história e da cultura representados
no texto, por meio da composição de um aparato de notas que, além de dar conta
das interferências do editor ao texto, na atualização do estado de língua, elucide
aspectos da construção do texto e das referências histórico-culturais ali
presentes. Para desenvolver a referida discussão, tomo as edições interpretativas
elaboradas ou em construção para os textos teatrais do Projeto Chapéu de Palha,
que se caracterizam por encenar a história e as narrativas orais de cidades do
interior da Bahia e por se utilizar de colagem de textos na composição do script,
aspectos que serão evidenciados para os leitores a partir da edição interpretativa.
Com este procedimento, acredito ser possível dispor de uma edição em que o
leitor possa se apropriar do texto editado e de seu aparato de maneira ativa,
conforme suas expectativas e interesses, conferindo-lhe novos percursos
interpretativos.
Palavras-chave: Edição interpretativa. Projeto Chapéu de Palha. Texto teatral.
Mesa-redonda 5: Filologia e memória
AS FONTES DO TRIBUNAL DA INQUISIÇÃO E A HISTÓRIA DO LETRAMENTO
NO BRASIL QUINHENTISTA
Ana Sartori Gandra (UFBA)
A partir das fontes do Tribunal da Inquisição Portuguesa, em sua primeira
visita ao Brasil, realizada ao final do século XVI, é possível tecer uma análise do
letramento no Brasil quinhentista. As fontes inquisitoriais nos trazem uma
amostra representativa dos indivíduos inseridos na sociedade colonial brasileira
que eram capazes e incapazes de assinar o próprio nome nos depoimentos
prestados perante o Santo Ofício. Para além dos percentuais de indivíduos que
revelavam, através de suas assinaturas, algum acesso ao letramento, a leitura dos
depoimentos registrados nos documentos quinhentistas desvela uma realidade
social complexa, no que tange ao diferenciado acesso às práticas de leitura e
escrita, que poderiam ou não passar por um processo formal de escolarização.
Analisar esse diferenciado acesso ao letramento é também trazer à memória as
diversificadas relações sociais que se estabeleciam nessa fase recuada da história
do Brasil, entre homens e mulheres, entre senhores de engenho, religiosos,
burocratas, artesãos, carpinteiros, feitores, escravos, entre brancos, índios,
19
negros, mamelucos, mulatos... Práticas sociais e culturais – entre elas, a
comunicação linguística – entrecruzam-se às práticas culturais da leitura e da
escrita. A documentação da primeira visita inquisitorial traz à tona um momento
da nossa história em que a própria concepção de letramento era outra. Entre as
mulheres, era comum o total alheamento à cultura escrita; quando possuíam
algum acesso ao letramento, o esperado era que não soubessem mais do que ler.
Para muitos indivíduos que exerciam pequenos ofícios, saber assinar o nome
seria o bastante. Quanto aos escravos, não se esperava que pegassem na pena ou,
quando pegassem, que fosse para fazer o desenho da cruz no lugar da sua
assinatura. Entre os religiosos, a realidade configurava-se de forma bastante
diversa – encontravam-se, entre eles, níveis bastante elevados de letramento, que
incluía a leitura em latim – ficando, assim, restrita quase que completamente a
esses a leitura direta da Bíblia, já que era proibida pela Inquisição a Bíblia
traduzida para o português.
Palavras-chave: Fontes inquisitoriais. Letramento. Brasil Quinhentista.
FILOLOGIA, ACERVO E MEMÓRIA: ITINERÁRIO DE UMA PESQUISA
Débora de Souza (UFBA)
Rosa Borges (UFBA - Orientadora)
No lugar teórico da Filologia, enquanto crítica político-ideológica que se
relaciona com os estudos pós-modernos e pós-coloniais, em diálogo com a
Arquivologia e com a Ciência da Informação, têm-se desenvolvido atividades de
edição e crítica filológica de textos teatrais. Almeja-se, neste trabalho, em
especial, tecer considerações sobre a Filologia como procedimento para a leitura
crítica de textos teatrais censurados, da dramaturga, diretora e intelectual baiana
Nivalda Costa, dos/e nos documentos pertencentes ao dossiê da Série de estudos
cênicos sobre poder e espaço, parte integrante do Acervo Nivalda Costa, visando
promover a circulação e a difusão dos mesmos, bem como dar a conhecer aquela
mulher, artista multifacetada, que atuou de forma engajada no teatro e na
sociedade, principalmente, na década de 1970. Aquele acervo pertence ao Fundo
Textos Teatrais Censurados, vinculado ao Instituto de Letras da Universidade
Federal da Bahia, Arquivo Textos Teatrais Censurados, organizado no âmbito do
Grupo de Edição e Estudo de Textos, Equipe Textos Teatrais Censurados. A crítica
filológica, em diálogo com outros campos do saber, como leitura
humanística, propicia o conhecimento da história do texto e a revisão de
narrativas e discursos, a partir da pesquisa em arquivos e acervos, públicos e
privados, como lugar de memória, do estudo da materialidade e da historicidade
dos documentos, da análise dos contextos de produção, transmissão, circulação e
recepção e da investigação quanto aos sujeitos, mediadores, envolvidos nesses
processos. Essa leitura filológica é resultante de um reposicionamento quanto aos
20
paradigmas de cientificidade em efervescência nos séculos XVIII e XIX, o qual tem
promovido outras orientações de leitura e práticas editoriais.
Palavras-chave: Filologia. Acervo. Texto teatral.
A CONSTRUÇÃO DE CORPUS HISTÓRICO ELETRÔNICO: LÍNGUA E MEMÓRIA
Williane Silva Corôa (UNICAMP/UNEB)
A utilização de corpora com fins de investigação linguística é um recurso
de pesquisa bastante utilizado, pois, a coleta e a exploração de conjunto de dados
linguísticos textuais são úteis para descrição e análise linguística. Mais
recentemente, muitos pesquisadores têm se dedicado a construção de corpora em
meio eletrônico, com textos morfológica e sintaticamente anotados. A construção
de corpora eletrônicos anotados apresenta inúmeras vantagens: (1) tornam o
conjunto de textos permanente e extensível a novas pesquisas e (2) uma vez que
a anotação codifica as informações presentes nos textos, registrando-as de modo
controlado, explícito e recuperável, permite que as investigações linguísticas
sejam replicadas. Neste trabalho, portanto, apresentaremos as etapas de
construção do Corpus eletrônico de Textos Históricos da Cidade de Salvador e seu
Recôncavo, composto por cartas, atas e registros tanto das câmaras municipais de
Salvador e das Cidades do Recôncavo quanto do conselho ultramarino. A partir da
tecnologia de codificação de textos usada no Corpus Histórico Anotado do
Português Tycho Brahe, primeiro corpus eletrônico anotado em língua
portuguesa, exploraremos a interface entre procedimentos filológicos,
linguísticos e computacionais envolvidos na construção de corpora histórico
eletrônico e seus lugares de memória (NORA, 1993) quer capturadas e
codificadas tecnologicamente, quer expressas na materialidade do texto. Os
corpora eletrônicos anotados reúnem diferentes camadas de representação sobre
a linguagem e a materialidade dos textos e nos permite apontar as especificidades
do trabalho em ambiente digital no campo da filologia e da linguística histórica, e
sugerir alguns caminhos para o debate sobre os desafios e perspectivas na
construção de corpora históricos eletrônicos.
Palavras-chave: Corpora histórico eletrônico. Língua. Memória. Lugares de
memória.
21
Mesa-redonda 6: Filologia e História da Língua
OS GLOSSÁRIOS COMO FONTE DE ESTUDO DO LÉXICO: O CASO DAS
PALAVRAS COMPOSTAS
Antonia Vieira dos Santos (UFBA)
Mattos e Silva (2008) indica os glossários, entre outros tipos de estudos,
como uma importante fonte secundária para o conhecimento do português
arcaico. Importa saber que os glossários, tanto os exaustivos quanto os seletivos,
constituíram uma das fontes utilizadas por Antônio Geraldo da Cunha para a
composição do Vocabulário histórico-cronológico do Português Medieval (2014,
edição revista), "importante levantamento do léxico da língua portuguesa entre o
século XIII e o século XV" (MAIA, 2016). Considera-se que os glossários que
acompanham edições preparadas para estudos de natureza linguística são uma
extensão do labor filológico do editor e têm a mesma qualidade, em termos de
fiabilidade, da edição à qual se vincula. Assim, pretende-se, neste trabalho,
atribuir o protagonismo aos glossários como fontes de estudo do léxico,
analisando-se e discutindo-se a frequência de registro de unidades multilexicais
como lema, em especial as palavras compostas, nesse tipo de material. As
unidades multilexicais são definidas como "sequências de palavras com
comportamentos unitários ou tendencialmente unitários, isto é, semelhantes aos
de uma palavra única, resultantes de conexões formais e semânticas que se foram
estabelecendo entre os seus elementos e que o uso consagrou" (NASCIMENTO,
2013, p. 215 apud RIO-TORTO et al., 2016, p. 466). Citam-se, entre as edições
acompanhadas de glossário, e que serão consideradas neste estudo, o Foro Real,
as Cantigas de Santa Maria, as Cantigas d'Escarnho e de Mal Dizer, o Cancioneiro
da Ajuda, a Crónica de D. Pedro e o Orto do Esposo.
Palavras-chave: Glossários. Unidades multilexicais. Palavras compostas.
PRÁXIS FILOLÓGICA E ESTUDOS LEXICAIS: INTERFACES NA LEITURA DE
DOCUMENTOS HISTÓRICOS
Eliana Correia Brandão Gonçalves (UFBA)
O texto é objeto de estudo do filólogo, que articula, através do seu labor
crítico, as atividades de reconfiguração dos fragmentos das histórias e a
composição de produções editoriais, resgatando parte do patrimônio linguístico-
cultural dos sujeitos (GONÇALVES, 2017). Para tanto, o conhecimento dos textos
está vinculado aos usos linguísticos e sociais da escrita, que circularam em fases
pretéritas da história da língua. Considerando-se essas questões, o presente
trabalho apresenta reflexões sobre a importância da práxis filológica na
22
elaboração de edições que preservem as marcas linguísticas do texto, com a
finalidade de desenvolver pesquisas sobre o léxico histórico presente em
documentos sobre guerras e revoltas na Bahia dos séculos XVIII e XIX, constantes
no acervo da Biblioteca Nacional e no Arquivo Histórico Ultramarino. Portanto,
serão desenvolvidas análises e discussões sobre a organização de produtos
lexicográficos, com perfis terminológicos, dando destaque à relevância da
constituição de corpora de documentos históricos, para o desenvolvimento de
estudos filológico-linguísticos de cunho lexical, a partir da articulação dialógica
da Filologia (PONS RODRÍGUEZ, 2006; GUZMÁN GUERRA, TEJADA CALLER,
2000), com a Lexicografia (HAENSCH, 1982; BARBOSA, 2001; BARROS,
ISQUERDO, 2010) e a Terminologia (CABRÉ, 1999; AUGER, ROUSSEAU, 1988;
REY, 1992; KRIEGER, 2010; 2013; FINATTO, 2001). A edição de textos para
estudos de cunho linguístico permite a seleção, a descrição e a análise do léxico
temático, com o objetivo de compor glossários e vocabulários, mostrando
diferentes compreensões linguísticas e discursivas sobre o componente lexical,
que se apresenta dinâmico e mutante, a depender da tipologia textual. Nesse viés,
o estudo da compilação das unidades lexicais disponibiliza aos pesquisadores e
ao público em geral dados importantes sobre narrativas históricas baianas e luso-
brasileiras, registradas nesses documentos, tematizando a violência institucional
em contextos político-sociais de guerras e revoltas comuns na história dos grupos
sociais.
Palavras-chave: Filologia. Lexicografia. Terminologia. Documentos históricos.
ESTUDO LEXICOLÓGICO EM DOCUMENTOS DOS SÉCULOS XVII AO XIX PARA
A HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Expedito Eloísio Ximenes (UECE)
Os textos escritos em qualquer época histórica testemunham ocorrências
do seu tempo, pois tanto os fatos histórico-sociais quanto os fatos linguísticos
emergem na superfície dos textos. Os elementos de uma língua no campo da
grafia, da morfologia, da sintaxe e, principalmente, do léxico, revelam-se como
fotografias de um tempo nos registros dos scriptores no corpo dos documentos.
Desta feita, nesta comunicação apresentaremos algumas lexias tantos de teor
formal quanto informal usadas em documentos escritos nos séculos XVII, XVIII e
XIX, nos setores administrativos da então Capitania do Ceará. Potier (1978)
classifica as lexias em simples, compostas, complexas e textuais, assim sendo,
trataremos aqui das lexias usadas no período histórico seguindo essa taxionomia
que nos possibilita o reconhecimento de uma fase da história da língua
portuguesa. As lexias analisadas foram coletadas em diversos gêneros textuais
como: autos de querela, autos de arrematação, portarias, alvarás, requerimentos,
provisões, cartas de sesmaria, dentre outros, escritos produzidos no Ceará, no
23
período colonial. Os textos foram editados conforme o método conservador da
Filologia em que adotamos a edição diplomático-interpretativa, obedecendo
rigorosamente às normas que o grupo Práticas de Edição de Textos do Estado do
Ceará (PRAETECE) vem utilizando em suas pesquisas, em que transcrevemos o
manuscrito dos velhos livros de papel para o suporte eletrônico com a utilização
do software Word, com o tipo de letra Times New Roman, tamanho 12, com o
máximo de cuidado de reproduzi-lo em sua forma mais próxima da genuína. Esse
cuidado permite preservar não só as formas gráficas, mas a estrutura
morfossintática da língua e manter intacta a constituição estrutural do texto e das
formas linguísticas. Com isso podemos conhecer os usos linguísticos no período
estudado, avaliar o que mudou e o que permanece no percurso histórico da língua
portuguesa. A história de uma língua só pode ser constituída por meio da
observância do que restou escrito do passado, mesmo que essa escrita não seja
totalmente fiel à realidade dos usos da população da época, os textos oficiais
registram uma aproximação do que os falantes utilizavam em suas práticas
linguageiras que nos permitem conhecer e constituir o percurso histórico do
idioma português.
Palavras-chave: Edição de textos. História da língua. Unidades fraseológicas.
Mesa-redonda 7: Filologia e Literatura
AVANTE! LENDO AS ESCRITORAS OITOCENTISTAS
Nancy Rita Ferreira Vieira (UFBA)
Esta comunicação pretende fazer uma leitura da contribuição dos estudos
feministas para o resgate das escritoras oitocentistas e de seus textos - literários,
críticos e da imprensa - para a história da literatura baiana, procurando destacar
a importância da pesquisa de fontes primárias para tais estudos.
Palavras-chave: Literatura Baiana. Fontes Primárias. Autoria Feminina.
POR UMA POÉTICA DA ORALIDADE: NO EMARANHADO DOS ARQUIVOS
SONOROS E DAS TRANSCRIÇÕES
Alvanita Almeida Santos (UFBA)
No estudo de textos escritos, os percursos das análises e interpretações
são bem conhecidos, já tendo, inclusive, passado por críticas e reformulações
metodológicas. Em termos acadêmicos, tais textos suscitaram o interesse dos
pesquisadores de diferentes áreas, considerando-os documentos, valiosos ou não,
24
conforme o estatuto do literário a cada época e contexto histórico-social. Esse
interesse levou ao desenvolvimento e à consolidação de uma área ampla como
dos estudos das linguagens e de áreas mais específicas como a da filologia e da
literatura. Ainda que para contestar, não é difícil pensar uma poética do texto
escrito, fartamente descrita em tratados clássicos, desde, pelo menos, a
Antiguidade greco-romana. Quando decidimos nos debruçar sobre textos de
outra modalidade e suportes, com as produções orais, não se observa o mesmo
fenômeno, ainda que uma sociedade da escrita propriamente dita - ou como
concebemos hoje - só tenha começado a se desenvolver na segunda parte da
Idade Média no mundo dito Ocidental, lá pelos anos 1100/1200, com muitas
limitações, uma vez que escrever e ler era um privilégio de muito poucos.
Podemos registrar o interesse por uma poética da oralidade nos finais do século
XIX e início do século XX, especialmente por medievalistas, sobretudo por uma
perspectiva de pensar as sociedades que fundaram a Modernidade como
sociedades da voz. Trabalhos como os de Milman Parry, continuado por Albert
Lord; de Walter Ong; de Erick Havelock, voltados para um estudo dos textos de
Homero acentuando-se seu caráter de oralidade, são alguns dos que se conhecem
privilegiando a oralidade. Nos finais do século XX e início do XXI, os estudos
decoloniais, que se ocupam de uma reflexão sobre os processos de colonização e
de lutas pela libertação colocam em evidência sociedades em que a voz se
apresenta como um valor e outras epistemes lutam para ser consideradas no
conjunto dos saberes institucionais (estudiosos do eixo Sul, como Hampaté-Bâ,
Anibal Quijano, Vansina, Walter Mignolo pensam por outro lugar). Nesse ponto, o
objetivo desta apresentação é problematizar os modelos de interpretação e
análise dos textos literários, enfrentando o paradoxo da "literariedade" de
produções orais, considerando que é possível propor uma poética da oralidade.
Assim, é relevante discutir as formas de abordagem dos textos literários que
estão consolidadas, mas que funcionam para os textos escritos; refletir sobre que
métodos seriam mais eficazes diante das possibilidades sonoras e, muitas vezes,
também visuais; discutir as formas de registro para esses textos orais; e
empreender as leituras possíveis desses textos que se constituem em
documentos culturais de fundamental importância, mas que também têm uma
estética própria.
Palavras-chave: Poética da oralidade. Texto oral. Arquivos sonoros e transcrições.
AS EDIÇÕES DA LÍRICA PROFANA GALEGO-PORTUGUESA: UMA ANÁLISE DO
CONJUNTO
Risonete Batista de Souza (UFBA)
A poesia lírica de tema profano produzida nas cortes da península Ibérica
entre finais do século XII ou início do XIII até meados do XIV e legada, sobretudo,
25
pelos três principais cancioneiros remanescentes – o Cancioneiro da Ajuda, o
Cancioneiro da Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Vaticana –, tem sido
publicada desde o século XIX por diferentes estudiosos de diferentes escolas e
que seguiram critérios os mais variados. A maior parte das edições tem como
público alvo o estudioso da literatura, o que se justifica por serem as cantigas
textos líricos e, portanto, literários. No entanto, o leitor atual, que tem acesso a
esta produção exclusivamente através destas edições, mesmo as que buscam
manter o texto mais próximo possível ao legado no manuscrito, encontra-se, em
muitos casos, bem distante do texto que circulara no ambiente em que floresceu a
poesia lírica românica medieval. Neste trabalho, faremos uma breve descrição
dos diferentes modelos de edição destas cantigas, compararemos os critérios
adotados e elegeremos alguns textos especialmente problemáticos que foram
apresentados pelos editores sem maiores explicações de suas especificidades.
Trabalharemos com as edições fac-similares dos três cancioneiros acima
mencionados, com algumas edições críticas totais, parciais por gêneros ou por
autores, quando houver, bem como com duas edições disponíveis on line: a
preparada pela equipa de Graça Videira Lopes,
http://cantigas.fcsh.unl.pt/apresentacao.asp e a coordenada por Manoel Ferrero
https://universocantigas.gal, ainda em andamento. Estas duas últimas edições
têm a vantagem de tornar acessível ao público interessado o conjunto total de
textos manuscritos legados não apenas pelos principais cancioneiros, mas
também as folhas volantes – Pergaminho Sharrer e Pergaminho Vindel – bem
como o texto crítico, glossários, bibliografia relacionada aos textos e comentários.
Palavras-chave: Literatura medieval. Lírica profana galego-portuguesa. Edições.
RUMOR INSURGENTE, ARQUIVO INTERVALAR
Fábio Ramos Barbosa Filho (IEL/UNICAMP/PNPD-CAPES)
O rumor insurgente é uma discursividade que organiza a cena pública
baiana nos oitocentos, jogando com as tensas relações entre o poder político, a
elite comercial e os africanos na Província da Bahia. Ele é insurgente na medida
em que é um rumor sobre a insurreição, mas também na medida em que é um
rumor que des/re-organiza sentidos sendo, ele mesmo, insurgente. Tomo como
objeto de leitura documentos – sobretudo periódicos – que no contexto pós-1835
enredam uma extensa boataria em torno de possíveis insurreições africanas na
Bahia. No movimento que proponho, o que interessa não é o “conteúdo” do
rumor, mas a sua irrupção enquanto forma que significa as tensões entre a
memória da insubmissão africana, os cidadãos e o poder político baiano nas
relações dos “boatos” com a memória. Nas frestas do arquivo, a leitura nos expõe
ao primeiro impasse. O impasse que marca o próprio da Análise de Discurso face
ao trabalho do historiador: o acontecimento discursivo transcende o fato
26
histórico. Ao mesmo tempo, o conceito de discurso nos alerta para o fato de que o
documento não pode ser lido de maneira sequencial. Ou seja, o enunciado não pode
ser compreendido na transparência da horizontalidade sintática, na medida em
que o efeito de linearidade da sintaxe dissimula as dobras do discurso. Nessa
posição, o arquivo se coloca como resultado de diversos feixes, níveis e estratos.
Isso, em primeiro lugar, nos ajuda a derrubar a ideia do documento como unidade
monolítica na medida em que esse conjunto de determinações contingentes
desorganiza, de saída, a ilusão de homogeneidade desse material. É nesse sentido
que eu gostaria de pensar no arquivo como um intervalo entre textualização e
acontecimento na medida em que dito e não-dito compõem a materialidade do
arquivo.
Palavras-chave: Discurso. Arquivo. Rumor.
Mesa-redonda 8: Filologia e Humanidades digitais
OS (DES)CAMINHOS DAS EDIÇÕES DIGITAIS
Patrício Nunes Barreiros (UEFS)
O objetivo da comunicação é discutir o impacto das Humanidades Digitais
no âmbito da Filologia, especialmente, no que diz respeito à edição de textos. Nos
concentraremos em aspectos teórico-metodológicos que têm subsidiado as
edições digitais, considerando as especificidades da linguagem da Web e os
impactos da migração de textos manuscritos e impressos para o meio virtual.
Buscaremos entender, a partir da análise de edições digitais, como os filólogos
estão lidando com esse novo paradigma da crítica textual e quais as principais
inovações teórico-metodológicas que despontam no cenário acadêmico.
Pretende-se refletir ainda acerca de critérios de edição e o perfil do editor para
atuar no campo da filologia digital. Sabe-se que a filologia tem um caráter
interdisciplinar desde sua origem, mas, ao se aproximar da informática, ela
ampliou suas fronteiras para outras disciplinas, tornando a atividade filológica
ainda mais desafiadora.
Palavras-chave: Filologia Digital. Crítica Textual. Edições Digitais.
O USO DE FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS NA PESQUISA FILOLÓGICA E NA
ELABORAÇÃO DE TRABALHOS LEXICOGRÁFICOS
Liliane Lemos Santana Barreiros (UEFS)
Os benefícios alcançados com as ferramentas computacionais certamente
são inúmeros. Além da velocidade na execução das atividades e da ampla
27
capacidade de armazenamento de dados, as novas tecnologias permitem aos
linguistas coletar, selecionar, registrar, analisar, aperfeiçoar, recuperar dados e
gerar documentos publicáveis com baixo custo. Nesta comunicação, objetiva-se
demonstrar como as ferramentas disponíveis atualmente facilitam a construção
de bancos de dados e de trabalhos lexicográficas (dicionários, vocabulários,
glossários etc.). Adota-se os princípios teórico-metodológicos da Lexicografia
(BIDERMAN, 1978; 1984; 2001; HAENSCH, 1982; WERNER, 1982; VILELA, 1983;
1995; PORTO DAPENA, 2002, BARREIROS, L., 2017, entre outros) e da Linguística
de corpus (BEBER SARDINHA, 2004; OTHERO; MENUZZI, 2005; ALUÍSIO;
GLADIS, 2006). Toma-se como base dois programas: O AntConc, um software
gratuito para análise de corpus, e o FieldWorks Language Explorer (FLEx), que
permite a construção de banco de dados e a edição de verbetes. Estes softwares
permitem identificar, a partir de um corpus estabelecido, como uma palavra
ocorre, o quanto ocorre, em que contextos e quais outras a acompanham,
encontrar padrões e variáveis de uso na escrita e fazer levantamento
terminológico. As vantagens dessas ferramentas favorecem ao progresso das
pesquisas linguísticas de diversas áreas, atrelando produtividade com qualidade
e acessibilidade. O corpus da pesquisa compreende 215 textos em prosa, escritos
em vida por Eulálio Motta ou publicados postumamente, sendo: 36 textos
publicados na coluna Rabiscos do jornal Mundo Novo (1931 a 1932, Mundo Novo-
BA); 17 textos publicados no jornal O Lidador (1933 a 1935, Jacobina-BA); 45
textos publicados no jornal O Serrinhense (1950 a 1951, Serrinha-BA); 24 textos
publicados no jornal Gazeta do Povo (1960-1961, Feira de Santana-BA); 43
panfletos escritos de 1949 a 1983 (BARREIROS, P., 2015) e 50 causos que
compõem Bahia Humorística, escritos de 1933 a 1934 (BARREIROS, L., 2016). O
vocabulário produzido a partir dessa seleção é composto por 700 entradas,
organizadas de A a Z, sendo 513 lexias simples, 35 lexias compostas e 152 lexias
complexas (POTTIER, 1977), e tem como finalidade contribuir para a preservação
de costumes e valores culturais do homem sertanejo, expresso no uso da língua.
Palavras-chave: Eulálio Motta. Vocabulário. AntConc. FLEx.
PAPÉIS QUE NARRAM: O ACERVO DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO DA BAHIA
CONTA A HISTÓRIA DA INSTITUIÇÃO
Lívia Borges Souza Magalhães (UFBA)
O avanço tecnológico tem exigido que o filólogo adote novas práticas para
suprir as demandas do leitor do século XXI, caracterizado, principalmente, pela
multimodalidade. O objetivo deste trabalho foi apresentar uma proposta de
produção de uma edição filológica capaz de servir como um registro
histórico/memorialístico do Mosteiro de São Bento da Bahia, até 1934, e, assim,
tornar as informações referentes à instituição beneditina acessíveis ao público,
28
retirando das prateleiras da abadia registros que, direta e indiretamente,
constituem a história de formação do povo soteropolitano, baiano e brasileiro.
Ressalta-se que, o acervo escolhido é parte do primeiro mosteiro das Américas,
detentor de um conjunto bibliográfico e documental formado por mais de
duzentas mil obras, entre impressos e manuscritos. Para a execução do trabalho
desenvolveu-se uma edição digital, utilizando a linguagem de marcação html e
alguns recursos de Java, adequada para colocar em diálogo alguns documentos
pertencentes ao acervo da abadia baiana – Coleção de Livros do Tombo, Livro de
Aforamentos, Carta de profissão monástica, Diretório monástico e o Livro de
Crônicas. Destaca-se que há, ainda, imagens e hiperlinks direcionando os leitores
para outros sites disponíveis na web, explorando as possibilidades da
multimodalidade leitura e suprindo a necessidade constante por informação
facilmente disponível.
Palavras-chave: Filologia. Edição digital. Mosteiro de São Bento da Bahia.
A FILOLOGIA NO CONTEXTO DAS HUMANIDADES DIGITAIS: NOVAS
METODOLOGIAS DE PESQUISA E CONSTRUÇÃO DE ACERVOS
Aquiles Alencar Brayner (British Library)
O desenvolvimento de novas ferramentas de extração e análise de dados
em documentos eletrônicos, bem como a possibilidade de conexão em rede que
facilita um trabalho colaborativo mais amplo entre pesquisadores, vêm
transformando os modelos de pesquisa e formação de materiais de pesquisa para
as Humanidades. O objetivo deste paper é apresentar, a partir de exemplos de
projetos na área de Humanidades Digitais com foco em pesquisas filológicas, o
modo como as novas técnicas computacionais aplicadas a documentos textuais
estão nos auxiliando a gerar novas hipóteses de estudo e determinar novos
modelos de trabalho no campo da Filologia e áreas afins.
Palavras-chave: Curadoria Digital. Crowdsourcing. Humanidades Digitais.
29
Mesa-redonda 9: Filologia e ensino
A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO FILOLÓGICO: IDEIAS NORTEADORAS
DO LIVRO OLHARES SOBRE O PORTUGUÊS MEDIEVAL: FILOLOGIA, HISTÓRIA E
LÍNGUA
Célia Regina dos Santos Lopes (UFRJ)
A proposta de trabalho para a mesa-redonda sobre Filologia e ensino é
bastante modesta e visa apresentar as ideias que nortearam a elaboração do livro
Olhares sobre o português medieval: Filologia, História e Língua que foi lançado,
em 2017, como resultado de um edital da FAPERJ e, em 2018, pela editora
Parábola. A obra foi concebida como um livro-laboratório com noções de
paleografia, filologia e história externa e interna do português. A pretensão não
era a de substituir os manuais consagrados utilizados nos cursos de História da
Língua Portuguesa, mas trazer um material de apoio em que o estudante tivesse
um papel mais atuante no seu processo de ensino e aprendizagem da disciplina.
Para tanto, não são apresentadas listas de características linguísticas e de
aspectos históricos isolados e desconectados do contexto de produção dos textos,
mas sim procura-se habilitar o estudante na leitura dos textos remanescentes,
permitindo que ele próprio construa a história do português a partir dos textos
escritos em sincronias passadas. Para ilustrar a proposta, pretende-se apresentar
uma síntese do primeiro capítulo intitulado A preparação de textos para o estudo
da história da língua: a edição filológica. Como etapa inicial do fazer filológico, o
trabalho é iniciado com um texto bastante atual (uma mensagem de whatsapp). O
objetivo é mostrar na prática a importância do trabalho do filólogo no processo
de preservação e fixação dos textos, através da elaboração de edições filológicas
diferenciadas de acordo com o grau de intervenção do editor: edição diplomática,
semidiplomática e modernizada.
Palavras-chave: Material didático. Edições filológicas. Ensino.
A LEITURA CRÍTICO-FILOLÓGICA COMO REFERÊNCIA PARA A CONSTRUÇÃO
DE UMA PEDAGOGIA DA MATERIALIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Eduardo Silva Dantas de Matos (Sartre | Escola SEB)
As experiências de pesquisa desenvolvidas no Grupo de Edição e Estudo
de Textos da Universidade Federal da Bahia (GEET - UFBA) colocaram-nos, em
várias oportunidades, diante dos elementos da produção, transmissão, circulação
e recepção dos textos. Esse olhar material deslocou e desconstruiu a nossa forma
de atuar com diferentes textualidades e textualizações na Educação Básica,
forjando novas possibilidades de compreender as práticas de ensino da leitura e
30
da escrita. Isso tem nos levando à construção daquilo que estamos chamando de
“Pedagogia da Materialidade”, qual seja, uma prática docente que visa a ensinar a
ler (n)as materialidades, considerando que ali estão boas pistas para o
aprimoramento da competência leitora e para o desenvolvimento de
performances adequadas na escrita. Nesse sentido, mais que uma oportunidade
de demonstrar que textos de discentes podem servir a exercícios editoriais, este
trabalho pretende ser um testemunho e uma provocação para a percepção de que
a formação na Crítica Filológica pode levar – e leva – a práticas docentes bastante
profícuas na seara do ensino de Língua Portuguesa.
Palavras-chave: Crítica Filológica. Educação Básica. Ensino. Texto. Leitura.
Escrita.
ESTUDO DO PROCESSO DE TRANSMISSÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS EM
LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Josenilce Rodrigues de Oliveira Barreto (UFOB/USP)
A investigação acerca dos processos de reprodução e transmissão de
textos literários sempre foi uma das preocupações do crítico textual que, há
muito, vem realizando edições de textos, os quais percorreram, muitas das vezes,
variados caminhos até chegar aos seus leitores, através, por exemplo, dos Livros
Didáticos de Língua Portuguesa, doravante LDLP. Sobre estes, o que tem nos
preocupado bastante, enquanto críticos textuais e professores de Língua
Portuguesa, são as seguintes questões: os textos literários veiculados em tais
materiais advém de obras genuínas? Ou melhor, é, de fato, possível asseverar que
os fragmentos de obras literárias constantes nos LDLP condizem com a versão
dada/publicada por seus autores? Diante de tais questionamentos, decidimos
enveredar pelo mundo dos livros didáticos, a fim de melhor conhecermos e
asseverarmos a genuinidade dos textos literários reproduzidos em tais materiais.
Neste meandro, iniciamos uma investigação não com o objetivo de estabelecer
uma edição crítica de cada uma das obras estudadas, mas para identificarmos se
os textos reproduzidos nos LDLP partem/partiram de uma versão genuína ou se
são textos que apresentam corrupções em seu processo de transmissão. Para
isso, coletamos, a princípio, dezesseis LDLP com o intuito de averiguar a
trajetória que as obras Os Sertões, de Euclides da Cunha, e O Guarani, de José de
Alencar, percorreram até chegar, como produto final, às mãos de estudantes e
professores (Cf. BALDOW, 2013). Dos livros coletados, apenas oito apresentaram
fragmentos dos referidos textos, os quais serviram de fonte para a realização do
cotejo com os textos-base, estes definidos como a última edição publicada ainda
em vida pelos seus respectivos autores. Após o cotejo, detectamos, como alguns
resultados de nossa investigação ainda em andamento, algumas mutilações no
que tange à adição, omissão, alteração ou substituição de pontuação, palavras,
31
frases ou trechos inteiros, o que nos leva a acreditar que há um prejuízo no
entendimento e no conhecimento do próprio texto por parte de seus leitores, já
que muitos estudantes têm acesso a variados textos literários somente a partir de
tais materiais didáticos. Feitas estas considerações, destacamos que, para a
realização deste trabalho, amparamo-nos nos preceitos teórico-metodológicos de
Blecua (1983), Cambraia (2005), Spaggiari e Perugi (2004) e Spina (1994), que
versam sobre o labor do crítico textual, bem como sobre a transmissão de textos
literários.
Palavras-chave: Crítica Textual. Os Sertões. O Guarani. Livros Didáticos de Língua
Portuguesa.
“ENSINANDO A TRANSGREDIR”: A CRÍTICA FILOLÓGICA NA SALA DE AULA
DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Rosinês de Jesus Duarte (UFBA)
Mobilizado pela força motriz da transgressão proposta por Bell Hooks
(2013) que tem a convicção de que “é possível dar aula sem reforçar os sistemas
de dominação existentes”, este artigo objetiva discutir sobre a pertinência dos
estudos filológicos na sala de aula da educação básica, como instrumento teórico
instigador de leitura de textos que, cotidianamente, não chegam ao contexto da
sala de aula através dos livros didáticos. A partir da análise de livros didáticos,
bem como das estratégias didáticas de professores da rede pública do 1º ano do
ensino médio, pretende-se propor percursos metodológicos, agenciados pela
filologia, tais como: estudo do processo de produção, transmissão e circulação de
textos que não integram um cânone literário, tendo como foco principal a
presença/ ausência de textos de escritoras negras na sala de aula da educação
básica e no livro didático usado nesse contexto escolar. As reflexões teórico-
metodológicas serão alicerçadas na proposta didática de Bell Hooks (2003), no
exercício de crítica democrática proposto por Said (2007), no compromisso de
refletir e exercer os cinco poderes da filologia de Gumbrescht (2007), no ato de
redimensionar a crítica filológica como um exercício não silenciador de discursos,
defendido por Borges et al( 2012), dentre outros. Nesse contexto, o percurso
metodológico desse artigo caminhará também no sentido de responder como a
filologia pode contribuir para auxiliar às professoras da educação básica na Bahia
a fazerem o papel de “ensinar a transgredir”, através do uso de uma produção
literária dissidente nas suas aulas de língua portuguesa. Espera-se, com isso,
potencializar, no espaço da sala de aula, a emergência de enunciados que podem
ter sido silenciados pelo cânone literário e pela lógica do mercado editorial,
contribuindo, assim, para a formação de leitores críticos no contexto da sala de
aula do ensino médio da rede pública.
Palavras-chave: Filologia e ensino. Produção, transmissão e circulação de textos
de mulheres negras. “Ensinando a transgredir”.
32
Mesa-redonda 10: Filologia e História da Língua
HERANÇAS AFRICANAS NA TOPONÍMIA DA BAHIA: CAMINHOS FILOLÓGICOS
PARA ESTUDOS ONOMÁSTICOS
Clese Mary Prudente (UNEB)
Considera-se a interdisciplinaridade dos estudos filológicos, em suas
possibilidades de diálogo com a Onomástica (ramo da Lexicologia que estuda
nomes próprios de pessoas e lugares) para estudo da história da língua,
analisando aspectos referentes à origem, mudança e causa nominativa de
designativos de municípios baianos considerados como de provável
etimologia africana. Ressalta-se a escassez de fontes primárias para estudo
documental e a pouca representatividade toponímica africana como indicativo do
epistemicídio colonizatório que invisibiliza esse importante contingente do
mosaico étnico que se constitui o povo brasileiro. Nessa perspectiva, entendem-
se os signos toponímicos como testemunhos da história da língua e da história de
um povo, conciliando-se as abordagens teóricas da Filologia, Etnolinguística e da
Lexicologia, com foco nos estudos onomásticos e no sistema classificatório
proposto por Dick (1990, 1992) para a realidade toponímica brasileira. Os dados
coletados na pesquisa pautaram-se nas seguintes obras lexicográficas: Dicionário
Yorubá-Português, de José Beniste, edição 2014; Dicionário Etimológico da
Língua Portuguesa, de Antônio Geraldo da Cunha, edição 2013; Novo Dicionário
Banto do Brasil, de Nei Lopes, edição 2012; Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa, edição 2001; Falares Africanos na Bahia: um Vocabulário Afro-
brasileiro, de Yeda Pessoa de Castro, edição 2001. A partir desse estudo,
produziram-se fichas lexicográfico-toponímicas, adaptadas do modelo
desenvolvido por Dick (2004), para os seguintes topônimos baianos: Banzaê,
Caculé, Candiba, Gandu, Gongogi, Maiquinique, Mulungu do Morro e Quijingue.
Dessa forma, verifica-se a relação dos signos onomásticos com o ambiente
cultural em que estes estão inseridos, envolvendo fatores históricos, econômicos,
políticos e sociais responsáveis pela discreta presença africana na toponímia da
Bahia, além de favorecer o reconhecimento das contribuições linguístico-
culturais africanas para a formação do português do Brasil.
DIMENSÕES ANALÍTICAS NA PERSPECTIVA DAS TRADIÇÕES DISCURSIVAS
Valéria Severina Gomes (UFRPE)
Considerando a escassa difusão do conceito de Tradição Discursiva no
cenário nacional, esta comunicação pretende abordar a gênese da noção de
Tradição Discursiva (TD) como paradigma teórico (COSERIU, 1987), (KOCH,
33
1997) e discutir a polissemia do termo como objeto de análise, visto que estudos
atuais em TD mostram que esse objeto pode ser encarado em diferentes
dimensões como: a) a tradicionalidade dos gêneros; b) a tradicionalidade
estrutural; c) a tradicionalidade dos tipos; c) a tradicionalidade dos estilos; d) a
tradicionalidade linguística (dos modos de dizer). A perspectiva das Tradições
Discursivas (TD) remonta a uma série de formulações e reformulações que vêm
desde os anos 1980 no âmbito da Filologia Pragmática Alemã e têm dado uma
nova orientação aos estudos histórico-diacrônicos da linguagem. Nesse contexto,
partimos dos seguintes objetivos: discutir a relevância e a difusão do conceito de
TD; situar historicamente algumas pesquisas realizadas sobre TD no Brasil e
principalmente no Nordeste; apresentar os pontos de intersecção entre os
estudos de TD e algumas áreas teóricas. As pesquisas realizadas até o momento
atestam que o modelo das Tradições Discursivas tem se mostrado relevante para
discutir questões referentes à historicidade do texto e da língua.
Palavras-chave: Linguística Sócio-histórica. Tradições discursivas. Dimensões de
análise.
TRADIÇÃO DISCURSIVA E A MUDANÇA LINGUÍSTICA: UMA ANÁLISE DO
SISTEMA DE JUNTORES EM CARTAS PÓS-REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE
1817
Cleber Ataíde (UFRPE)
Este trabalho parte da relevância de considerar os estudos da história dos
textos para a descrição e mudança linguística. Para considerar a integração
desses estudos, parto da hipótese de que a mudança da língua está atrelada a
evolução/mudança dos textos. Sendo assim, é possível considerar que as regras
mais gerais que emergem a partir de operações do sistema são ativadas em
combinação com eventos específicos de uso e cada uso tem um aspecto individual
e único, sugerindo que não podemos decidir sobre como utilizar as estruturas
que o sistema nos fornece sem adaptá-las a esse contexto singular. Isso garante,
portanto, que as regras sejam concebidas não como absolutas, mas como
contextualmente dependentes, refletindo a atuação de um organismo biológico
em um ambiente cultural. Essa perspectiva de integração pode-nos oferecer
evidências de que “certos usos linguísticos podem estar fortemente
correlacionados ao tipo de texto, uma vez que existem fórmulas fixas, estruturas
relativamente estáveis ou propriedades convencionalizadas que se repetem em
determinado gênero particular” (OESTERREICHER, 1997; LOUREDA LAMAS,
2006). Como exemplo dessa abordagem, apresento a aplicação do modelo de
análise do sistema de juntores em cartas oficiais da Revolução Pernambucana de
1817 pertencentes ao corpus do Laboratório de Documentação Linguística de
Pernambuco.
Palavras-chave: Tradições discursivas. Mudança linguística. Sistema de juntores.
34
Mesa-redonda 11: Filologia e questões teóricas da contemporaneidade
FILOLOGIA COMO “UTENSÍLIO”: CRÍTICA FILOLÓGICA E PENSAMENTO
DECOLONIAL
Arivaldo Sacramento (UFBA)
A ligação dos estudos filológicos com os monumentos bibliográficos de
erudição europeia é evidente: foi por eles e para eles que ela foi formada, com
todas as convenções que garantiram a estabilidade de verdades, de poder e de
hierarquias. Nesse contexto, foi forjado inúmeros discursos naturalizadores de
uma versão do humanismo, cada vez mais dito universal e, por isso mesmo,
marcadamente etnocêntrico. Os caminhos pelos quais essa frondosa arquitetura
foi possível podem ser observados nas metodologias e conceitos estabelecidos
para proteção desse cânon. Por isso, ainda hoje, é difícil operar com categorias
que desafiem conceitos como “autoria”, “fidedignidade", “original” etc. Entretanto,
no que pese essa blindagem, é possível ler, a contrapelo, de que modo tais
princípios foram estabelecidos, ignorando a complexidade epistêmica, cultural,
social e política de quase tudo que é posto no lugar da diferença. Diante disso,
propomos discutir de que modo todo esse empreendimento filológico pode ser
utilizado para própria desconstrução dele e do humanismo totalizador. Para fazer
isso sem deparar teoria da prática, elegemos como corpus dissidente desta
discussão os manuscritos e edições que compõe conto e romance, homônimos,
Clara dos Anjos de Lima Barreto. Nessa tradição textual, podemos observar como
autor, editores e processos de criação e transmissão textual são movidos de modo
a representar a complexidade daquilo que é ser sujeito dissidente no início do
século XX. Com isso, assumimos a Filologia como um utensílio, na expressão
derridiana do termo, para promoção de novos operadores críticos, novas
metodologias que, a um só tempo, ressignifiquem a tradição disciplinarmente
constituída e possibilitem a articulação com epistemologia decoloniais. Sobre
este, salientamos, que não se trata de um repertório coeso, teoricamente
estabelecido por uma bibliografia que legalmente separa teoria, prática e arte,
mas são lugares de construção de enunciados que instauram interpretações de
mundo que se propõem, no dizer de Glissant, poéticas de relação.
Palavras-chave: Filologia. Estudos culturais. Descentramentos epistemológicos.
POR UM ARQUIVO DO COLORISMO NO BRASIL
Rogério Modesto (UFBA)
Segundo o mito da “democracia racial”, o Brasil escapou da instituição do
racismo porque os brasileiros não se enxergam através do viés racial, tampouco
35
discriminam ou prejudicam pessoas pela raça. Tal pensamento, que teve em
Gilberto Freyre ancoragem e força de circulação, sustenta-se em, basicamente,
duas ideias falaciosas: i) a de que a relação entre senhores (benevolentes) e
escravos (conformados) era amistosa; e ii) a de que a miscigenação brasileira
prova a integração de brancos, negros e índios no processo de formação da
sociedade brasileira. Durante a década de 1970, o mito da democracia racial foi
duramente combatido por nomes como Abdias do Nascimento e Florestan
Fernandes, mas o projeto pelo qual a ideia de “brasilidade” foi erigida já se
tornaria eficaz em ratificar a crença da miscigenação pacífica e cordial. Nesses
termos, um arsenal de palavras, expressões e enunciados darão conta de
corroborar a “mistura” como ponto central da cultura brasileira. Neste trabalho,
meu objetivo é analisar o funcionamento discursivo de algumas dessas palavras –
crioulo, mestiço e mulato –, a partir de dicionários de língua portuguesa
produzidos entre os séculos XVIII e XXI, e propor a formação de um arquivo das
palavras do “colorismo” brasileiro. Na contemporaneidade, uma série de
acontecimentos sociais e discursivos têm permitido a problematização do que a
escritora e poetiza Alice Walker tem chamado de colorismo, ou pigmentocracia,
conceito que visa a definir uma hierarquização entre negros de pele clara – os
pardos, como indica a classificação demográfica do Brasil, e os crioulos, mestiços
e mulatos, como se diz mais largamente na cultura popular – e os negros de pele
retinta – os pretos, conforme a mesma classificação oficial. Esse debate atualiza a
memória discursiva do mito da democracia racial do Brasil e dá outros (novos?)
sentidos para as expressões aqui em pauta, por isso um retorno histórico ao
funcionamento discursivo dos dicionários, instrumentos linguísticos que
gramaticizam a língua, se mostra relevante. Assim, apoiado em um dispositivo
teórico-analítico da Análise de Discurso que se orienta por uma perspectiva
materialista, bem como na História das Ideias Linguísticas, quero trazer à baila o
funcionamento discursivo da cadeia significante do colorismo, além de pautar a
construção de um arquivo a partir dos dicionários de língua portuguesa ao longo
da história.
Palavras-chave: Colorismo. Arquivo. Discurso.
POR UMA FILOLOGIA ENGAJADA: DIÁLOGOS ENTRE CRÍTICA POLÍTICA E
CRÍTICA FILOLÓGICA PARA ESTUDO DE TEXTOS TEATRAIS CENSURADOS
Fabiana Prudente (UFBA)
Rosa Borges (UFBA) -Orientadora
Parte-se da diversidade de práticas acadêmicas que se ocupam do texto
em perspectiva material e histórica como panorama humanístico da Filologia
para propor um diálogo entre a Crítica Política e a Crítica Filológica, tomando
para estudo textos teatrais censurados durante o golpe civil-militar de 1964, que
36
estabeleceu uma política ditatorial pautada na repressão dos direitos civis do
povo brasileiro e na censura. Pretende-se estudar a dramaturgia censurada de
Roberto Athayde, autor carioca que produziu sete textos teatrais durante o
período ditatorial, a saber: O Reacionário, Um Visitante do Alto, Manual de
Sobrevivência na Selva, Os Desinibidos, Crime e Impunidade, e sua obra-prima
Apareceu a Margarida, o único trabalho autoral athaydiano que alcançou sucesso
incontestável de público, com tradução em mais de cinco idiomas e encenação em
diversos países, inclusive em tempos atuais. Caracterizados por manifestar o
engajamento do autor em diversos temas políticos e sociais que enfrentam o
senso comum da consciência burguesa e o conservadorismo moral brasileiro (do
paradigma racial escravista estruturante na divisão de classes à problematização
de padrões heteronormativos e patriarcais, do enfrentamento do ascetismo
cristão à discussão aberta de dissidências políticas e teorias sociais,
antropológicas, filosóficas e psicanalíticas), tais textos foram escritos e encenados
(com exceção do inédito O Reacionário) entre os anos 1971 e 1983, período em
que o Brasil atravessou a fase mais severa da ditadura, estabelecida pelo decreto
do Ato Institucional 5 (AI-5), de 13 de dezembro de 1968, que, entre outras
medidas, institucionalizou a censura prévia a todas as atividades artísticas,
privando a liberdade de expressão e conferindo poderes absolutos ao regime.
Nesse sentido, ao compreender a produção literária (no caso específico, de textos
teatrais) e a mediação editorial como gestos públicos que instituem a formação
de uma comunidade interpretativa e de uma instância de legitimação literária
que cercam e condicionam quais e como os textos são produzidos, lidos, editados
e transmitidos socialmente, considera-se a dimensão política da produção
literária e da práxis filológica para propor uma Filologia engajada e coerente com
o papel público de intelectuais nas novas bases do estudo e prática humanistas
propostas por Edward Said (2004), em Humanismo e Crítica Democrática, e por
Terry Eagleton (1983), ao concluir seu estudo introdutório em Teoria da
Literatura tratando de Crítica Política. Dessa forma, em conformidade com a
Filologia Política estudada por Zancarini (2008), defende-se o estatuto político do
filólogo, que se manifesta não somente na escolha dos textos a serem lidos,
editados e estudados, mas, sobretudo, no enfoque engajado e crítico que suplanta
o mito de uma teoria filológica pura e enfrenta os jogos de poder em que se
inscrevem as produções literárias ao longo da história política e das dinâmicas
sociais.
Palavras-chave: Crítica Política. Crítica Filológica. Textos teatrais censurados.
SOBRE FILOLOGIA, TEXTO E PRÁTICA EDITORIAL
Hérvickton Israel de Oliveira Nascimento (UFBA)
37
Parte-se aqui da ideia de que a Filologia se ocupa do estudo da produção,
circulação, recepção e transmissão do texto, concepção que vem no rastro de D.
McKenzie e realinha a importância do texto em sua materialidade, portanto,
também em sua historicidade. Assim, pretende-se pensar o conceito de texto
como um operador para/na prática filológica e a importância de problematizá-lo
no lugar de pacífico de um artefato que se encerra numa pretensa objetividade
científica. Para tanto, será abordado um trabalho que teve ampla receptividade
nos estudos filológicos no Brasil, os Textos medievais portugueses e seus
problemas, de Serafim da Silva Neto (1956), na tentativa de se perceber como
esse autor concebia explícita ou implicitamente o texto e como isso implicava
teórica e metodologicamente nas atividades editoriais. Acredita-se que a reflexão
do texto como um operador filológico conduza a práticas editoriais mais
historicizantes, uma vez que, além de considerar a sua materialidade e os efeitos
de sentido produzidos a partir dela, também situa o pesquisador como leitor
crítico.
Palavras-chave: Filologia. Texto. Práticas editoriais.
38
RESUMOS DAS SESSÕES COORDENADAS
Eixo temático: Filologia e ensino
Sessão Coordenada 1:
Filologia e ensino: contribuições filológicas para o ensino e formação de
professores de língua portuguesa
Coordenadora: Josenilce Rodrigues de Oliveira Barreto (UFOB/ USP)
Cada vez mais tem sido necessária a utilização dos conhecimentos
filológicos para o ensino e formação de professores de Língua Portuguesa. Nisto,
estão incluídos o processo de investigação da transmissão de textos literários,
disponíveis em Livros Didáticos de Língua Portuguesa, já que a maioria dos textos
tem apresentado mutilações, sejam estas de adição, omissão, alteração ou
substituição de palavras, frases ou trechos inteiros do texto-base; e a inserção da
prática filológica ainda na educação básica e na Pós-Graduação Lato Sensu, cujo
objetivo é inserir o estudante do Ensino Médio dentro da pesquisa filológica e
melhor preparar o professor de Língua Portuguesa junto aos preceitos teórico-
metodológicos da Crítica Textual, atividade principal de todo filólogo, para
melhor atender às demandas voltadas para o ensino e para a investigação
filológica ligada aos materiais de ensino. Dito isto, objetivamos com esta sessão
coordenada apresentar quatro trabalhos, dos quais dois versam sobre o processo
de transmissão de alguns textos literários em Livros Didáticos de Língua
Portuguesa, apresentados por Josenilce Rodrigues de Oliveira Barreto e Bárbara
Bezerra de Santana Pereira, o terceiro sobre a inserção da pesquisa e prática
filológica na educação básica, mais especificamente no Ensino Médio da Escola
Adventista da Bahia, proposta feita por Daianna Quelle da Silva Santos da Silva, e
o quarto sobre a criação e implementação de um Curso de Especialização em
Estudos Linguísticos e Filológicos, na Universidade do Estado da Bahia, Campus
XIII, pensado e coordenado pela professora Jeovania Silva do Carmo, e voltado
para professores da educação básica, com pouco conhecimento sobre a prática
filológica aliada à atividade de ensino. Desta feita, intentamos associar trabalhos
que aliem o ensino de Língua Portuguesa com a prática/ pesquisa filológica, já
que ensino e pesquisa continuam compondo a tríade (ensino, pesquisa e
extensão) difundida por toda universidade brasileira que se preze.
Palavras-chave: Filologia. Ensino. Formação de professores.
39
ALGUMAS NOTÍCIAS SOBRE O PROCESSO DE TRANSMISSÃO DE
GRANDE SERTÃO: VEREDAS, DE GUIMARÃES ROSA, EM LIVROS DIDÁTICOS
DE LÍNGUA PORTUGUESA
Josenilce Rodrigues de Oliveira Barreto (UFOB/ USP)
Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida (USP) - Orientador
Historicamente, a Crítica Textual se constituiu, desde o século III a.C., como
atividade imprescindível para a realização de edição de textos escritos sobre os
quais estão inseridas as investigações acerca do seu processo de reprodução e de
transmissão. Logo, quando se tratam, principalmente, de textos literários,
considerados antigos, perdidos ou de difícil localização é indispensável a reflexão
por parte do crítico textual sobre a trajetória que eles percorreram até chegar à
forma que temos acesso atualmente. Desta feita, ao folhearmos Livros Didáticos
de Língua Portuguesa, doravante LDLP, do Ensino Fundamental e do Ensino
Médio nos deparamos com textos literários variados, que são veiculados em tais
materiais didáticos e que suscitam no professor de Língua Portuguesa a certeza
de estarmos trabalhando com textos genuínos. Contudo, isso nem sempre ocorre
e, por conta disso, o professor de Língua Portuguesa, capacitado filologicamente,
acaba sendo levado a investigar se os textos transmitidos nos referidos materiais
didáticos condizem ou não com a versão dada por seus autores, o que,
infelizmente, nem sempre acontece. Partindo desse tipo de inquietação,
realizamos, neste trabalho, uma investigação acerca da trajetória que o texto
Grande Sertão: Veredas (1967), de Guimarães Rosa, percorreu até chegar, como
produto final, às mãos dos alunos e professores, através dos LDLP. Para isso,
coletamos dezesseis LDLP, dos quais apenas cinco apresentaram fragmentos do
referido texto literário, nos quais realizamos o cotejo entre os fragmentos
encontrados da obra nos LDLP com o texto-base, este definido como a quinta
edição da referida obra, publicada em 1967, ainda em vida do autor. Após o
cotejo, detectamos algumas mutilações no que tange à adição, omissão, alteração
ou substituição de pontuação, palavras, frases ou trechos inteiros, o que pode
prejudicar o entendimento e o conhecimento do próprio texto, já que muitos
estudantes têm acesso a muitos textos literários somente a partir de tais
materiais didáticos. Feitas estas considerações, destacamos que, para a realização
deste trabalho, amparamo-nos nos preceitos teórico-metodológicos de Blecua
(1983), Cambraia (2005), Spaggiari e Perugi (2004) e Spina (1994), que versam
sobre o labor do crítico textual, bem como sobre a transmissão de textos
literários.
Palavras-chave: Livros Didáticos de Língua Portuguesa. Grande Sertão: Veredas.
Crítica Textual.
40
DO JORNAL AO LIVRO DIDÁTICO: A CRONÍSTICA RUBEMBRAGUIANA EM
FOCO
Bárbara Bezerra de Santana Pereira (UNEB / USP)
Manoel Mourivaldo Santiago Almeida (USP) - Orientador
A presente comunicação tem por principal objetivo analisar, à luz da
Crítica Textual, o processo de transmissão da crônica “Ela tem alma de pomba”,
do escritor capixaba Rubem Braga, encontrada em três Livros Didáticos de
Língua Portuguesa. Braga, ao longo de 62 anos de atividade jornalístico-literária,
escreveu cerca de 15 mil crônicas e sua constante presença nas páginas de livros
didáticos motivou a escolha e delimitação desse corpus. A partir do cotejo de três
tipos de testemunhos (a saber, Texto Didático, Texto Base e Texto Fonte),
apresentamos o levantamento e a classificação de variantes que consideramos
substantivas, ou seja, que interferem no sentido e no estilo do texto. Tomamos de
empréstimo algumas terminologias postuladas por Blecua (1983) para
classificarmos as variantes existentes entre os testemunhos, são elas: adição,
omissão, substituição, alteração de ordem e reelaboração do texto. Através desse
processo inicial de análise, levantamos hipóteses quanto às origens dessas
variantes, suas possíveis motivações e as implicações dessas para uma análise
crítico-literária. Ao propormos averiguar a transmissão do gênero crônica no
Livro Didático, buscamos também refletir acerca da realidade de produção e das
características do material didático utilizados nas escolas. Para tanto, nos
ancoramos em referências basilares da Crítica Textual, tais como, Auerbach
(1972), Spina (1994), Spaggiari e Perugi (2004), entre outros. Quanto à cronística
rubembraguiana, nos amparamos em Arrigucci (1987), Cândido (2003), Coutinho
(1971) e Castelo (2013). Quanto à história e realidade do Livro Didático
ressaltamos Freitag; Motta; Costa (1989), Coracini (1999) e Ota (2009). Para
ampliar nossas reflexões acerca da relação entre Crítica Textual e Ensino, nos
baseamos nos trabalhos de Mendes (1985), Baldow (2013) e nas ponderações de
Cambraia (2005).
Palavras-chave: Transmissão. Crônica. Livro Didático.
OS ESTUDOS FILOLÓGICOS NO LATO SENSU: PROJETO E RESULTADOS DO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS E FILOLÓGICOS DA
UNEB - CAMPUS XIII – ITABERABA-BA
Jeovania Silva do Carmo (UNEB)
Objetiva-se apresentar, nesta comunicação, os estudos filológicos
desenvolvidos no âmbito do Lato Sensu, os quais foram oferecidos pela
Universidade do Estado da Bahia, no Departamento de Educação - Campus XIII
41
em Itaberaba – Bahia, e os resultados obtidos no Curso de Especialização em
Estudos Linguísticos e Filológicos ministrado nos anos de 2016 e 2017. Para isso,
parte-se da assertiva de que o ensino de Filologia vem ocupando atualmente um
espaço de relevância no meio acadêmico baiano, na busca do resgate de textos
manuscritos da Bahia, que desvendam histórias e contribuem para a preservação
da memória social e linguística, já que os textos editados e estudados, em sua
maioria, perpassam também pela análise de um fenômeno linguístico. O objetivo
inicial do projeto do referido curso foi o de aprimorar a formação continuada de
profissionais que atuam no ensino de Língua Portuguesa, ampliando a discussão e
a pesquisa sobre os estudos linguísticos e filológicos, através de diferentes
concepções teóricas e práticas, a fim de promover uma melhor qualidade do
ensino e do desenvolvimento da pesquisa linguística e filológica na região da
Chapada Diamantina – BA. Portanto, apresentamos, nesta mesa, uma sucinta
explanação acerca das pesquisas, que foram realizadas durante o Curso de
Especialização em Estudos Linguísticos e Filológicos, as quais reverberaram em
monografias, que versaram sobre o ensino de Língua Portuguesa, e os estudos
filológicos e linguísticos.
Palavras-chave: Especialização. Estudos Filológicos. Ensino.
Eixo temático: Filologia e história da língua
Sessão Coordenada 2:
Gramática de Construções e Linguística Histórica: reflexões sobre a história
do latim e das línguas românicas
Coordenador: Natival Almeida Simões Neto (UFBA/UEFS)
Nesta sessão coordenada, pretendemos reunir trabalhos que aplicam o
arcabouço teórico da Gramática de Construções aos estudos da história das
línguas. A Gramática de Construções (GC) é uma proposta de análise gramatical
que se insere no paradigma maior da Linguística Cognitiva, teoria em que a
Semântica assume um papel central. Dessa forma, a GC é um modelo centrado no
uso. Atualmente, o nome de maior destaque dessa proposta é Adele Goldberg. O
seu trabalho de 1995 permitiu reformular a noção de construção nas línguas,
pelo fato de não sobrepor forma ao sentido, e por não separar construções
lexicais de construções sintáticas. Assim, para a GC, todas as construções de uma
língua devem ser analisáveis. Além do trabalho de Goldberg (1995, 2006, 2013),
há outros modelos construcionais, tais como a Gramática de Construções
Radicais, de Croft (2001), e a Morfologia Construcional, de Booij (2010). É
importante notar que a maioria das aplicações dos modelos construcionais tem
sido de natureza sincrônica, sendo o investimento diacrônico ainda bastante
tímido. Dessa forma, esta sessão tem como principal intuito apresentar análises
construcionais de dados obtidos em pesquisas diacrônicas. Uma vez que a GC é
42
um modelo baseado no uso, ao se alinhar com a Linguística Histórica, a
dependência da Filologia se faz notória, não só pela edição de textos antigos,
como também pelas discussões acerca de autoria, recepção, transmissão e
circulação dos textos, o que nos permite aprimorar as análises feitas nessa
proposta, em que os significados das construções são compreendidos, levando em
consideração uma série de contextos, interpretações e intenções. De maneira
mais específica, esta sessão reúne discussões acerca da gramática (estrutura,
significado e funcionamento) do latim clássico, latim medieval, português arcaico,
castelhano arcaico e português brasileiro. Espera-se que esses trabalhos
contribuam não só para o aprimoramento teórico-metodológico da GC, quanto
para a Linguística Histórica, no momento em que oferece a ela uma nova
possibilidade de olhar os dados.
Palavras-chave: Gramática de Construções. Linguística Histórica. Filologia.
CONSTRUÇÕES EM LÍNGUA PORTUGUESA NO PERÍODO ARCAICO E A
ABORDAGEM CONSTRUCIONAL: ALGUMAS REFLEXÕES, HIPÓTESES E
AMOSTRAS
Deivid Borges Santos (PPGLinC - UFBA)
Pretende-se, com esta pesquisa, estudar as variadas construções com o
verbo dar no período arcaico (PA) da língua portuguesa (LP). Para tal, serve-se da
edição de fontes medievais, considerando a relevância das mesmas para o estudo
linguístico-histórico, em singular, para o estudo de fases pretéritas da LP. Os
pressupostos teórico-metodológicos que dão suporte a essa empreitada,
encontram-se embasados pela abordagem construcional da gramática de
Goldberg (1995; 2006), conhecida como Gramática das Construções e pelas
demais teorias que cercam a Linguística Cognitiva. Dessa forma, apoia-se na
proposta teórica goldbergiana que define língua como uma rede de unidades
simbólicas, ou seja, as construções (pareamentos de forma com função semântica
ou pragmática) que materializam processos cognitivos subjacentes à mente
humana. Além disso, tendo à disposição a documentação escrita, se estabelece
diálogo com a Linguística Histórica, pois busca-se reconstituir, de forma
aproximada, a realidade linguística da época, a partir da perspectiva strico sensu
desenvolvida por Mattos e Silva (2008), por isso, prioriza-se a utilização de
edições elaboradas com rigor filológico, como é o caso da edição presente no
Corpus Informatizado do Português Medieval, local onde estão registradas e
disponibilizadas as construções com o verbo DAR que serão alvo de análise. Ao
realizar, por fim, uma descrição construcional e em perspectiva sincrônica, busca-
se, por meio de uma abordagem de cunho quali-quantitativa, de natureza
bibliográfica, descritiva e analítica, responder quais as construções encontradas
no PA com o verbo DAR e qual a importância dessas construções para o estágio
43
atual da Língua Portuguesa, no que diz respeito ao comportamento observável
desse verbo.
Palavras-chave: Português Arcaico. Linguística Histórica. Gramática das
Construções.
UMA ABORDAGEM CONSTRUCIONAL DA ANTROPONÍMIA BRASILEIRA EM
PERSPECTIVA HISTÓRICA
Juliana Soledade (UnB)
Natival Simões Neto (UFBA/UEFS)
Construções linguísticas na abordagem cognitivista da linguagem são
compreendidas como um pareamento entre forma e função. Essas construções,
segundo Goldberg, em seu artigo Constructionist approach (2013), estão inter-
relacionadas por relações de herança, nas quais esquemas mais gerais dão origem
a esquemas mais específicos em todos os níveis linguísticos (sintaxe, léxico,
morfologia). O estudo que ora se apresenta parte da hipótese de que o fenômeno
da neologia antroponímica, característico da língua portuguesa na sua variedade
brasileira, obedece a padrões construcionais uma vez que se apresentam através
de combinações convencionais depreendidas do contexto de uso dos nomes no
Brasil. Por sua vez, as inferências de padrões construcionais antroponímicos
parecem sofrer importante influência da antroponímia de origem germânica, não
só no que se refere à incorporação recorrente de elementos formativos
relacionados a esse étimo, como também no que diz respeito à sua configuração
morfológica essencialmente biformativa (tradicionalmente entendidas como
bitemáticas). Ao observarmos um amplo conjunto de nomes neológicos chegamos
à hipótese de que essas construções biformativas podem ser a base
predominante das formações antroponímicas brasileiras, seja através de
processos concatenativos, seja através de processos não concatenativos de
formação de palavras. Por entender que os formativos são generalizações
emergentes sobre palavras existentes na forma de modelos parcialmente
preenchidos, a gramática das construções amplia a percepção acerca do papel da
morfologia na organização do léxico das línguas e isso inclui poder analisar
formativos antroponímicos, historicamente opacificados semanticamente, dentro
de um espectro mais amplo acerca do que se entende por morfologia. Portanto,
nesse estudo, que se esteia nos pressupostos da Morfologia Construcional (BOOIJ,
2010) e da Gramática das Construções (Goldberg, 1995), pretendemos
apresentar um conjunto de exemplos de prenomes que foram analisados à luz da
hipótese biformativa focalizando os tipos de processos construcionais
empregados na sua criação, tomando como referencial teórico Gonçalves (2016).
Como resultado, podemos afirmar que o estudo encontrou um conjunto bastante
44
amplo de dados que parecem sustentar a hipótese biformativa na neologia
antroponímica brasileira. Por fim, ressaltamos, com Goldeberg (2013, p. 9) que
“Encontrar duas construções em duas línguas diferentes que são exatamente
iguais em forma, função e distribuição é uma ocorrência rara fora dos casos de
história diacrônica mútua ou de contato entre as línguas”. Assim, impõe-se o
contato linguístico proporcionado pela presença sueva e visigoda na Península
Ibérica que terá reflexos consideráveis na antroponímia brasileira, uma vez que
não só parece predominar o modelo biformativo em prenomes neológicos, como
também os formativos de origem germânica apresentam-se como construções
similares em forma, função e distribuição, como será demonstrado nos exemplos
estudados por essa pesquisa.
Palavras-chave: Morfologia Construcional. Antroponímia. Português brasileiro.
ANÁLISE HISTÓRICO-CONSTRUCIONAL DO PREFIXO ARCHI- ~ ARQUI-: DO
GREGO AO ESPANHOL CONTEMPORÂNEO
Mailson dos Santos Lopes (UFBA)
O escopo da proposta finca-se num despretensioso rastreamento da
evolução histórica do formativo archi- ~ arqui-, desde o grego e latim antigos até
o castelhano medieval e, deste, inflectindo-se ao castelhano moderno e
contemporâneo, período no qual particularmente passa a gozar de franca
vitalidade. Para tanto, a partir de uma leitura crítica das incursões teórico-
analíticas de Soledade (2013a; 2013b; 2015a; 2015b; 2016; 2017; 2018), Simões
Neto (2016a; 2016b; 2017a; 2017b) e Lopes (2016a; 2016b; 2018a; 2018b),
lança-se mão de um recurso a um modelo morfológico holístico (LOPES, em
curso), que tenciona conjugar o esteio das propostas da Gramática das
Construções de Goldberg (1995; 2003; 2006) e da Morfologia Construcional de
Booij (2010a; 2010b; 2012a; 2012b; 2013; 2015; 2017a; 2017b; 2018) à devida
apreciação do fator sociohistórico que perpassa e caracteriza todo e qualquer
fenômeno linguístico. A partir de dados extraídos de gramáticas históricas,
dicionários etimológicos e, sobretudo, de um corpus empírico constituído por
meia centena de documentos do castelhano arcaico e de vários outros de seu
período moderno e contemporâneo, apresentar-se-á um esquema construcional
diacrônico unificado (do grego ao castelhano atual) para o elemento prefixal em
tela, explicitando-se também a formação paulatina de sua rede polissêmica,
mormente na última centúria, quando passou a gerar sentidos novéis
materializados em um conjunto considerável de derivados. Concomitantemente a
uma apreciação semântica do formativo, apresentar-se-á também um rol de
observações quanto à sua manifestação formal e ao seu comportamento
funcional, bem como a respeito de sua produtividade e vitalidade. A partir do
estudo, parece ser lícito preconizar a legitimidade de uma abordagem
45
morfológica que atrele simbioticamente história, empiria, cognição e
conhecimento enciclopédico na análise de operações prefixais, tendo em vista um
olhar mais dinâmico, integrador e eficiente sobre o complexo, polimorfo e
multiaxífero domínio da lexicogênese.
Palavras-chave: Prefixação. Castelhano. Morfologia Construcional.
AS CONSTRUÇÕES X-ARI- EM DOIS LATINS: DIFERENÇAS SEMÂNTICAS
ENTRE O CLÁSSICO E O MEDIEVAL
Natival Simões Neto (UFBA)
Nesta apresentação, pretende-se dar notícias de uma pesquisa de
doutoramento, voltada para a morfologia e semântica do latim e das línguas
românicas e que se baseia em modelos gramaticais desenvolvidos no âmbito da
Linguística Cognitiva, tais como a Gramática de Construções (GOLDBERG, 1995;
2006), a Teoria dos Mapas Semânticos (HASPELMATH, 2003) e a Morfologia
Construcional (BOOIJ, 2010). Uma vez que a pesquisa se insere como uma
continuidade da uma dissertação de mestrado (SIMÕES NETO, 2016) que
trabalhou com as construções portuguesas X-eir, desde a sua origem latina (X–
ārĭ) até o português arcaico, alguns aspectos desse trabalho de 2016 são
retomados. A respeito dos estudos sobre as construções sufixais X-eir,
encontram-se muitas descrições por parte dos morfólogos. Além de Simões Neto
(2016), destacam-se as dissertações de Botelho (2004), Marinho (2004),
Pizzorno (2010). Registram-se também a tese de doutoramento de Tavares da
Silva (2017) e a tese de livre-docência de Viaro (2011). São encontrados artigos e
capítulos de livro de Rocha (1998), Gonçalves, Yacovenco e Costa (1998),
Almei¬da e Gonçalves (2005), Rio-Torto (2008), Soledade (2013) e Simões Neto e
Soledade (2014). Um ponto que aproxima a maioria desses estudos é a tendência
aos recortes sincrônicos que não fazem remissão à origem do referido afixo, o –
ārĭu latino. Sobre a forma do latim, existem poucas descrições robustas e
sistemáticas, sendo Viaro (2011), Simões Neto (2016) e Tavares da Silva (2017) –
a partir dos dados de Simões Neto (2016) –, os únicos a se encarregarem de tal
tarefa, a partir de diferentes perspectivas teórico-metodológicas. Em Simões Neto
(2016), trabalhei com 246 construções X–ārĭ , extraídas do Dicionário Escolar
Latino-Português, de Faria (1995). Agora, além dessas, o trabalho conta com mais
458 construções, extraídas do Dicionário Latim-Português, da Editora Porto
(2012), totalizando 704 construções, todas do latim clássico. Outra inovação em
relação à pesquisa de 2016 é a análise de dados do latim medieval. Sabe-se que
essa variedade do latim, mesmo que apenas escrita, tal como o latim clássico,
havia absorvido características fonético-fonológicas, semântico-lexicais e
morfossintáticas do latim vulgar. Assim, a comparação entre o latim medieval e o
latim clássico pode nos dar algumas pistas sobre o latim falado. Para a obtenção
46
desses dados, foi utilizado o Mediae Latinitatis Lexicon Minus, de Niermeyer
(1976), de onde foram coletadas 700 construções X-ari-.
Palavras-chave: Sufixação. Língua Latina. Morfologia Construcional.
Eixo temático: Filologia e Memória
Sessão Coordenada 3:
DE FONTES DOCUMENTAIS PARA UMA HISTÓRIA SOCIAL DA CULTURA
ESCRITA NO BRASIL: PERCURSOS DE PESQUISA
Coordenador: Pedro Daniel dos Santos Souza (UFBA)
A História Social da Cultura Escrita (HSCE), uma forma particular de fazer
História Cultural, tem como objetivo central interpretar as práticas e
representações sociais do escrever e do ler, assim como os discursos produzidos
por uma determinada sociedade sobre o que escreve e lê. Transcendendo a
concepção de escrita enquanto mero sistema gráfico, tomando-a, portanto, como
uma “ótica” a partir da qual as sociedades podem ser conhecidas, a HSCE
promoveu a expansão do método paleográfico, tradicionalmente restrito às
questões o que se escreveu? (“leitura correta”), quando se escreveu? (“datação”),
onde se escreveu? (“localização”) e como se escreveu? (“tipos gráficos”),
introduzindo no labor da investigação do objeto escrita duas novas questões:
quem escreveu? (“difusão social”) e por que escreveu? (“função social”). Ademais,
a emergência da HSCE vai ao encontro das rupturas promovidas na historiografia
quanto aos temas, objetos, métodos e fontes, abrindo espaço para debates
interdisciplinares entre a História, a Linguística, as Ciências Sociais, a Pedagogia,
entre outras áreas. Considerando as políticas de memória manifestadas na
prática arquivística de nosso país, para a escrita de uma história social da cultura
escrita no Brasil, o problema das fontes assume uma grande importância quando
se pretende recuar em nossa história pregressa e entrever as formas de
participação dos diversos sujeitos históricos no complexo mundo da escrita.
Diante dessas questões, na presente comunicação coordenada, pretendemos
discutir como, especificamente, a questão das fontes documentais tem-se
colocado para aqueles que investigam a história social da cultura escrita no
Brasil, em tempos e espaços diversos, na direção mais ampla de uma escrita da
história social linguística do país.
Palavras-chave. História Cultural. Cultura Escrita. Estudo de fontes.
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CULTURA ESCRITA E POPULAÇÕES INDÍGENAS NA BAHIA SETECENTISTA:
UM OLHAR SOBRE AS FONTES
Pedro Daniel dos Santos Souza (UFBA)
Na segunda metade do século XVIII, as reformas promovidas pela “nova”
política indigenista do governo de D. José I (1750-1777), transformando as
aldeias em vilas e as missões em vigairarias, refletiram não só em significativas
mudanças político-administrativas desses espaços, mas também na escolarização
das populações indígenas e, por extensão, na sua participação no complexo
mundo da cultura escrita no Brasil colonial. Embora, no âmbito da nova
historiografia sobre os povos indígenas, essa questão esteja consolidada, o
problema das fontes documentais para uma melhor compreensão das formas de
apropriação da escrita por esses sujeitos históricos ainda carece maior atenção.
Diferentemente da América espanhola, as poucas evidências materiais de uma
escrita indígena na América portuguesa, ainda que não neguem a participação
dos povos indígenas na cultura escrita, colocam desafios para os que se inserem
nesse debate. A par disso, no presente trabalho, buscamos refletir sobre as
formas de entrever, nas escassas fontes que dispomos até o momento, como se
deu a escolarização das populações indígenas na Bahia setecentista, já que só
dessa forma podemos “aventurar” uma história social da cultura escrita entre
esses povos no período em questão, buscando assim “fazer o melhor uso dos mais
dados”. Inscrevendo-se no campo da História Social da Cultura Escrita (HSCE) e
apoiando-se no método indiciário, nossa análise lança mão de fontes documentais
do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), cujo acesso à documentação ocorreu
por meio do Projeto Resgate de Documentação Histórico Barão do Rio Branco, ou
simplesmente Projeto Resgate, e do Arquivo do Estado da Bahia (APEB). Em
termos de tradições discursivas, as fontes analisadas envolvem uma
documentação composta por cartas, ordens régias, leis, alvarás, consultas,
provisões, requerimentos, instruções, ofícios, avisos, decretos, entre outros
gêneros próprios da administração e das práticas de governar do Império
português. Embora muitas questões ainda estejam por ser respondidas, a
discussão dessas fontes documentais abre caminhos para uma história social da
cultura escrita entre as populações indígenas na América portuguesa e, em
particular, na Capitania da Bahia, na segunda metade do século XVIII,
configurando-se como a escrita de mais um capítulo de nossa história social
linguística.
Palavras-chave: América portuguesa. Populações indígenas. Cultura escrita.
48
O LIVRO DE RAZÃO DO CAMPO SECO E A MEMÓRIA SOCIAL LINGUÍSTICA DO
SERTÃO DA BAHIA OITOCENTISTA
Adilson Silva de Jesus (UFBA)
Este trabalho, que se encontra inserido na linha da História da Cultura
Escrita, tem por objetivo divulgar os primeiros resultados de um estudo em
andamento, que busca contribuir para a reconstrução da história social
linguística do Brasil, através da análise das práticas de escrita de uma família, no
sertão da Bahia oitocentista. Para tanto, apresenta-se a edição semidiplomática e
fac-similar de alguns fólios do Livro de Razão do Campo Seco, manuscrito de foro
privado do período colonial, escrito por três pessoas da mesma família, a saber:
Antônio Pinheiro Pinto, segundo senhor do Brejo; Inocêncio Pinheiro Canguçu,
terceiro senhor do Brejo, e Miguel Joaquim de Castro Mirante. O documento se
conservou no arquivo do Sobrado do Brejo, da família Pinheiro Canguçu, no
povoado de Bom Jesus dos Meiras – que pertenceu à Comarca de Rio de Contas –,
hoje denominado Brumado, no sertão da Bahia. Para além da edição, os seguintes
aspectos serão discutidos: i. as normas utilizadas; ii. os problemas de leitura do
manuscrito; iii. os aspectos relacionados às circunstâncias de produção do texto;
iv. as condições sociais nas quais ocorreu a apropriação da capacidade de
escrever dos sujeitos e, principalmente, a política da memória dos indivíduos e
das instituições que, historicamente, exercem jurisdição sobre o patrimônio
escrito. Julga-se importante tal abordagem, pois o documento escrito é também o
lugar de memória e, segundo Martin (2003), “Toda língua é feita de camadas
diversas: é necessário um mínimo de cultura histórica para discerni-las. Explicar
uma língua é, ao menos em parte, compreender sua história.”.
Palavras-chave: História social linguística. Livro de Razão. Lugar de memória.
ESCRITAS COTIDIANAS DOS SERTANEJOS BAIANOS: NOVOS ACHADOS
Huda da Silva Santiago (UFBA)
Neste trabalho, o objetivo é apresentar o conjunto de 40 cartas pessoais,
localizadas e editadas na atual etapa da pesquisa de doutorado, em andamento,
cujo projeto é intitulado “A escrita por mãos inábeis: aspectos linguísticos e
história da cultura escrita no sertão da Bahia (século XX)”. Essas cartas foram
escritas na mesma região e na mesma época das 91 cartas que constituem o
corpus principal da pesquisa; a maioria, pelos menos remetentes. Pretende-se,
portanto, discutir sobre como a ampliação desse corpus pode contribuir para
uma melhor caracterização dos redatores, no sentido de aumentar a quantidade
de dados para a construção de um contínuo, referente à inabilidade com a escrita
alfabética, que possa facilitar o reconhecimento de textos escritos por pessoas
49
com pouco domínio da técnica de escrita. A partir dos trabalhos de Marquilhas
(2000), Barbosa (1999) e Oliveira (2006), descrevem-se alguns aspectos
referentes à escriptualidade (desconhecimento de convenções do padrão gráfico),
assim como as propriedades físicas presentes nos documentos, já que, em se
tratando de cartas privadas, o conjunto das características físico-materiais pode
reafirmar as propriedades de uma escrita cotidiana, rápida, informal. Como
afirma Marquilhas (2015), no gênero epistolar, um registro muito próximo da
oralidade espontânea, esses recursos funcionam como uma forma de compensar
algumas características específicas da comunicação face a face. Além disso,
discute-se sobre as opções filológicas que envolvem a constituição de corpora
diacrônicos, na perspectiva das Humanidades Digitais, comentando-se acerca de
algumas questões metodológicas envolvidas nas edições realizadas (fac-similar,
semidiplomática e modernizada), na organização e na disponibilização do acervo.
Palavras-chave: Escrita cotidiana. Edição. Mãos inábeis.
ENTRE AS DEVASSAS DO BRASIL, OS PROCESSOS DE INSURREIÇÃO: UMA
FONTE PARA O ENTENDIMENTO DO FENÔMENO DA DIFUSÃO SOCIAL E DA
CIRCULAÇÃO DA ESCRITA NA HISTÓRIA DO BRASIL
André Luiz Alves Moreno (UFBA)
Em busca de pistas que possam nos aproximar de uma história da cultura
escrita no Brasil, este trabalho, a partir de cenários orquestrados em atmosferas
sediciosas, tem como objetivo apresentar uma possível fonte para as
investigações que se debrucem pela reconstituição histórica da difusão social da
escrita no Brasil colonial e pós-colonial: as devassas de insurreição. Estas
compõem uma importante fonte da história do Brasil, pois, tendo a finalidade de
investigar o delito de lesa-majestade – que representa um ultraje a uma
monarquia, porque manifestam os movimentos contrários à Coroa –, imprimem
em seu conteúdo aspectos relevantes da constituição sociológica do contexto em
que estão sendo implantadas. Isso as elegem como fontes privilegiadas para as
investigações que queiram se debruçar sobre esse campo de pesquisas, porque
nelas se fazem presentes os seus registros de assinatura, demarcando aqueles
que assinaram, a partir de firmas autógrafas, idiógrafas ou não alfabéticas, e
aqueles que não assinaram. Além disso, as apreensões realizadas pela junta
investigativa permitem-nos avaliar a circulação da escrita em meio a tais
conjunturas, pois a principais provas materiais que compõem os processos são
constituídas de elementos que estão diretamente relacionados com as práticas de
leitura e escrita dos envolvidos em tais movimentos.
Palavras-chave: História da Cultura Escrita. Difusão social da escrita no Brasil.
Insurreições coloniais.
50
Eixo temático Filologia e Questões teóricas da contemporaneidade
Sessão Coordenada 4:
PERSPECTIVAS CRÍTICO-LINGUÍSTICAS E O ENSINO DE LÍNGUA(S)
Coordenadora: Denise Maria Oliveira Zoghbi (UFBA)
Na contemporaneidade, a Filologia tem alargado seu campo de
investigação, avançando-se para além da atividade editorial, pelo viés da
interpretação, atualizando-se através da hermenêutica e da exegese, no diálogo
como outros campos do saber. Nos estudos da linguagem, o texto é objeto de
diferentes teorias, com uma prática que envolve atores sociais, em interação
discursiva, e o grupo a que pertencem. Nesse lugar, toma-se a Filologia como um
procedimento de leitura ativa e crítica do(s) texto(s), firmando relações com a
Análise do Discurso Crítica e com a Linguística Aplicada Crítica, configurando,
assim, uma relação disciplinar interativa, produtiva para análise dos temas aqui
propostos. Em consonância com estudos discursivos críticos, esta sessão
coordenada visa discutir como algumas áreas crítico-linguísticas contribuem para
o desenvolvimento de um sujeito mais crítico, mais reflexivo, considerando o
sujeito pós-moderno descentrado, fragmentado e perfomativo. A primeira
comunicação apresenta a Linguística Aplicada Crítica que dá voz aos grupos
socialmente excluídos, como mulheres, comunidade gay, pobres, negros, índios,
entre outros. O diálogo que a LAC mantém com outras ciências sociais e humanas
ajuda a discussão de temas como inclusão e diversidade em programas de
pesquisa que dão maior visibilidade e voz aos grupos de periferia. A segunda
comunicação discute o discurso político pedagógico e as interferências na
autonomia de ensino, levando em conta a contribuição da Análise do Discurso
Crítica. A terceira comunicação discute como os Estudos Críticos do Discurso
podem contribuir para o desenvolvimento de um ensino crítico da Língua
Materna. Para tanto, traz experiências vivenciadas no âmbito do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID-UFBA.
Palavras-chave: Filologia. Linguística Aplicada. Discurso
CONTRIBUIÇÕES DA LINGUÍSTICA APLICADA CRÍTICA PARA UM ENSINO
CRÍTICO-REFLEXIVO
Denise Maria Oliveira Zoghbi (UFBA)
Na contemporaneidade, a Linguística Aplicada (LA) apresenta uma
identidade independente da Linguística, ciência autônoma, e considerada pura,
de onde a LA se originou. A sua vertente crítica, a chamada Linguística Aplicada
Crítica, envolve-se em questões, que na sua fase inicial estavam completamente
fora de suas discussões, como por exemplo, discursos em contextos não escolares,
51
diversidade, heterogeneidade do sujeito sócio-historicamente situado,
identidades performativas, entre outras. A LAC com sua vocação metodológica
interventiva crítica dá voz aos grupos de periferia que por muito tempo estavam
silenciados e ‘baixando a cabeça’ para grupos hegemônicos que os dominavam,
impondo suas visões de mundo e seus desejos. Segundo Kleiman ( 2013), a partir
da década de 90, no Brasil, a LAC vem dialogando de forma frutífera com outras
ciências sociais e humanas, como teorias críticas da Análise do Discurso, a Crítica
Literária, os Estudos Culturais, a Antropologia, a Sociologia, em busca de
respostas às questões que envolvem a linguagem e a constituição de saberes, os
mais diversos possíveis: feministas, étnicos-raciais, sociais e outros. Programas
de pesquisa que estão em desenvolvimento pretendem dar visibilidade e voz aos
participantes de movimentos feministas, de movimentos étnico-raciais, de
movimentos gays, dos sem-terra, dos sem-teto, dos sem-escrita, bem como aos
alfabetizadores e professores. Nós professores, particularmente, temos uma
responsabilidade social muito maior do que no passado. Precisamos ajudar a
construir sujeitos mais críticos, mais envolvidos com problemas sociais. Há uma
necessidade premente de conscientização e de fortalecimento da cidadania. E,
acreditamos que a Educação é a janela para que esse universo se apresente ao
nosso aluno. Somente através de um ensino crítico-reflexivo, conseguiremos
formar cidadãos que reivindiquem seus direitos e transformem a realidade global
e local.
Palavras-chave: Linguística Aplicada Crítica. Diversidade. Ensino crítico-reflexivo
DISCURSO POLÍTICO PEDAGÓGICO E ENSINO CRÍTICO
Elvira Mejía Herrejón (UFBA)
A visão crítica de mundo vem da educação e permite observar aspectos
discursivos relevantes que possibilitam a identificação de mecanismos de
controle e manipulação, nem sempre perceptíveis pela intuição. A falta de
investimento na educação crítica faz com que a maioria das pessoas não se atente
aos tentáculos do sistema e, sem o perceber, passe a ser defensora de uma
ideologia que não é sua e que na verdade a prejudica. Esta fala tem como marco
de referência a crise conjuntural de controle ideológico no Brasil, objetiva
analisar os discursos político pedagógicos que desestimulam a dimensão crítica
no ensino e aprendizagem de quaisquer conteúdos acadêmicos, dentre os quais o
ensino de línguas. Faz-se uma crítica ao controle das massas por meio da
produção de mais valia ideológica, termo cunhado a Ludovico Silva (2013), poeta
venezuelano e professor de filosofia, para quem o tempo livre em nossas
sociedades é o tempo destinado a esse tipo de produção, por meio da qual se
nutre o sistema capitalista. Em efeito o sistema vigente se alimenta do saldo
anímico de cidadãos alienados, extraindo deles toda energia psíquica, impedindo-
52
lhes um engajamento significativo na transformação da sociedade. O excedente
ideológico, tão importante quanto a mais valia econômica que os trabalhadores
produzem enquanto assalariados, se produz de várias formas, entre as quais a
compulsão e mecanicidade no uso da televisão, internet, celular, smartphone e
quaisquer outros meios de alienação social. Semear inseguranças, receios e
ameaças à liberdade de escolhas individuais e coletivas são formas de produção e
absorção de energia psíquica que deixa grande saldo de passividade, falta de
estímulos para a leitura, o estudo e a pesquisa de caráter crítico, terreno propício
para o cidadão comum se tornar aliado ao sistema que critica, pois é, segundo
Vasconcelos (2013) pela mais-valia ideológica que os explorados e oprimidos
prestam lealdade aos opressores. Daí a necessidade de aprender a analisar os
discursos políticos pedagógicos e a maneira como estes determinam o arcabouço
teórico e a exercício educacional; discutir as crenças rígidas sobre ensino e
aprendizado; as correntes ideológicas e doutrinárias que integram esses
discursos e suas interferências na prática do abuso de poder, na desigualdade e
no preconceito que se reproduz e determina os rumos da educação.
Palavras-chave: Discurso Político Pedagógico. Mais-Valia Ideológica. Autonomia
Educacional.
ENSINO CRÍTICO DE LÍNGUA MATERNA: UMA EXPERIÊNCIA PIBID-UFBA
Lavínia Neves dos Santos Mattos (UFBA)
Em tempos de tecnologias voláteis e multifacetamento social e cultural das
realidades escolares, novos e diferentes desafios confrontam as práticas
educacionais atuais, evidenciando a necessidade de estratégias que melhor
respondam às suas demandas, sobretudo em relação aos usos sociais da língua
materna (doravante LM). No segmento de ensino da LM, a atenção recai não
apenas sobre o professor que já está atuando, e o seu processo de atualização e
capacitação profissional, como ganha destaque na figura do professor em
formação, e suas perspectivas enquanto futuro profissional. Para ambos, a
inegável necessidade de interfaces eficientes entre competências e habilidades
para um ensino funcional da língua materna e, não obstante, a possibilidade de
assunção de uma postura política, autônoma e reflexiva da e sobre a prática, esta
sempre em fluxo e (re)significações. Tais constatações repousam sobre o campo
do ensino sob a perspectiva dos estudos críticos da linguagem, foco este o da
nossa discussão a ser apresentada nessa comunicação, mais especificamente pelo
viés dos Estudos Críticos de Discurso, a partir de conceitos que delineiam a noção
de criticidade, sujeito, práticas e papel social. Para dar corporeidade a essas
reflexões sobre o ensino crítico da língua materna, exporemos experiências
vivenciadas no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência – PIBID – UFBa, Subprojeto Letras Língua Portuguesa, durante o
53
segundo semestre de 2017, a partir da articulação entre orientações, concepções
e práticas entre o professor da academia, o da rede básica de ensino e o que está
em formação inicial, este estudante de licenciatura em Letras Vernáculas. A partir
dessa discussão e relatos de experiências, buscamos somar possibilidades para o
campo de formação de professores da LM e o Ensino de LM sob a perspectiva
crítica da linguagem.
Palavras-chave: Ensino Crítico de Língua Materna. Estudos Críticos de Discurso.
PIBID UFBA Letras Língua Portuguesa.
Eixo temático Teorias e práticas editoriais
Sessão Coordenada 5:
DEVIR FILOLÓGICO: EDIÇÕES DE DOCUMENTOS VÁRIOS
Coordenadora: Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS)
Desde que a escrita passou a ser o meio pelo qual a humanidade se utilizou para
deixar à posteridade seus feitos, suas emoções, seus anseios, que o acúmulo de
documentação se tornou implacável. Em variados suportes, a escrita se fez
presente, seja nas tabuinhas de argila, seja nos papiros e pergaminhos, seja no
papel e, atualmente, nos meios virtuais. Sendo assim, a intervenção das mãos de
quem escreve, datilografa ou digita, ocorre inevitavelmente. Deste modo, no
século III a.C., diante de inúmeras versões para os textos de Homero, que alguns
filólogos se reuniram em centros gregos de estudo, neste caso a Biblioteca de
Alexandria, para estabeleceram criticamente esses textos, ou seja, para chegaram
àquele que o autor teria concebido. Surge então a Filologia, ciência que se ocupa
do estudo da língua, da literatura e da cultura de um povo ou grupo de povos
através de sua produção escrita. Isto posto, propõe-se nesta sessão coordenada o
estudo de documentos vários, manuscritos ou impressos, de épocas distintas, sob
a ótica da Filologia. Sendo assim, serão analisados documentos referentes à 1ª
Visitação do Santo Ofício na Bahia, datado do século XVI; documentos cartoriais
do Brasil Império sobre venda, permuta e doação de escravos da Vila da
Independência (Paraíba); sobre o periódico baiano que circulou no século XIX,
Echo Santamarense, e seus textos que ora eram favoráveis à escravidão e ora já a
davam por finda; e os documentos referentes à prática de defloramento e
curandeirismo da região de Feira de Santana (Bahia), do início do século XX. A
partir destes, as integrantes desta sessão farão suas abordagens seguindo as
trilhas filológicas iniciadas no século III a.C.
Palavras-chave: Filologia. Documentação. Edições.
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A PRÁTICA DA SODOMIA COMO CRIME PERSEGUIDO PELO TRIBUNAL DO
SANTO OFÍCIO NA BAHIA DO SÉCULO XVI: EDIÇÕES FAC-SIMILAR E
SEMIDIPLOMÁTICA
Ana Claúdia de Ataide Almeida Mota (UNIT)
Nos idos do século XVI, entre 1591-1592, atracou na capital da Baía de
Todos os Santos, Salvador, a comitiva de familiares do Santo Ofício vinda
diretamente de Portugal, a fim de identificar os crimes perseguidos pela Santa
Inquisição. Tal temática desperta o interesse sob o viés filológico na medida em
que permite uma abordagem multidisciplinar da documentação produzida por
ocasião da 1ª Visitação do Santo Ofício, a saber: livros de confissões,
reconciliações e denunciações. Nesta pesquisa, os estudos filológicos da
documentação em apreço foram desenvolvidos com base no Primeiro livro de
Reconciliações e Confissões da Visitação do Santo Ofício ao Brasil, disponível
online no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, no qual se descreve uma dezena
de crimes condenados pela Santa Inquisição e, dentre eles, localiza-se a sodomia.
Ora, a prática em questão é definida como um pecado nefando “abominável” e,
como tal, foi um dos crimes mais perseguidos pelo Tribunal do Santo Ofício
(ORDENAÇÕES AFONSINAS, Livro V, Título III, p. 1162). Nessa perspectiva,
busca-se descrever a confissão realizada por Frutuoso Alvares, vigário da Igreja
de Nossa Senhora do Matoim, realizada perante o inquisidor Heitor Furtado de
Mendonça, cuja incumbência é atestar e condenar os crimes perseguidos pelo
Santo Ofício. A confissão do vigário é a primeira descrita no códice pelo visitador,
a qual posteriormente foi seguida por 120 que representaram os mais diversos
crimes, a exemplo do judaísmo, blasfêmia, gentilismo, luteranismo, leitura de
livro proibido, bigamia, feitiçaria, solicitação e fornicação. A partir das edições
fac-símile e semidiplomática, busca-se descrever a confissão em questão sob a
perspectiva sócio-histórica e cultural do códice.
Palavras-chave: Filologia. Santo Ofício. Edições.
DOCUMENTOS CARTORIAIS DO BRASIL IMPÉRIO: ESCRITURAS DE
VENDA, PERMUTA E DOAÇÃO DE ESCRAVOS
Antonieta Buriti de Souza Hosokawa (UFPB)
A pesquisa intitulada DOCUMENTOS CARTORIAIS DO BRASIL IMPÉRIO:
ESCRITURAS DE VENDA, PERMUTA E DOAÇÃO DE ESCRAVOS tem como objetivo
fazer a leitura e edição semidiplomática justalinear de escrituras de contratos
registrados na Vila da Independência -PB, no ano de 1876. O corpus total é
composto por 192 fólios escritos no recto e verso e foi registrado por três
copistas, no entanto, selecionaremos, para esta apresentação, apenas os
55
documentos que discorram sobre: venda, permuta e doação de escravos. Além da
edição, faremos um breve levantamento do léxico com vistas à organização de um
glossário com micro e macroestruturas. Vale lembrar que a importância desses
documentos, para essa pesquisa, é de grande valia porque revela um momento
histórico da atual cidade de Guarabira-PB, pois não há estudos sobre a
documentação manuscrita dessa cidade, o que nos impulsiona a desenvolver
pesquisas com vistas aos estudos linguísticos e históricos, pois no dizer de Le Goff
(1996, p.547 apud ABBADE, 2016, p. 159), o documento não é inócuo, é
monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro -
voluntária ou involuntariamente - determinada imagem de si próprio, além disso,
nos permite ampliar nossos conhecimentos sobre o estado da língua portuguesa
desse tempo, pois esse pode nos revelar elementos da dinâmica da Língua
Portuguesa escrita no Brasil. É importante ressaltar que resgatar documentos
manuscritos que retratem a nossa história é de suma importância para os estudos
filológicos, históricos e evolução da Língua Portuguesa pois, segundo Vera Acioli
(2003, p. 1): "O documento manuscrito é considerado a mola-mestra da História"
por representar um verdadeiro patrimônio cultural.
Palavras-chave: Documentos cartoriais. Escrituras de venda, permuta e doação de
escravos. Edições.
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AGRICULTURA E ABOLIÇÃO EM O ECHO SANT’AMARENSE: EDIÇÃO
INTERPRETATIVA
Maria da Conceição Reis Teixeira (UNEB)
Vários periódicos circularam na Bahia do século XIX, uns defendiam a
bandeira dos escravos, outros, a dos escravocratas. Em Salvador, a capital
política, econômica e cultural, vários intelectuais fundaram agremiações,
irmandades e periódicos para discutir e propagar os ideais abolicionistas e/ou
escravistas. Fora dos limites da capital baiana muitos também se engajaram
fundando periódicos, por exemplo. Em Santo Amaro-Bahia, devido ao alto nível
cultural e econômico do município e sua relevância como polo econômico do
estado, a imprensa também esteve bastante ativa. A gazeta Echo Sant’amarense,
um dos principais jornais que circulou na última década da escravidão negra em
Santo Amaro, pertencia ao partido conservador e funcionou como porta-voz dos
escravagistas baianos. Entre os anos 1881 a 1886, publicou em suas páginas
textos de gêneros diferentes que, embora estivessem contra a bandeira
abolicionista, revelam que a escravidão institucionalizada estava por chegar ao
fim. Os textos veiculados no referido periódico trazem informações preciosas que
poderão revelar nuances ainda desconhecidas sobre este capítulo obscuro da
história da Bahia. Pretende-se, na presente comunicação, tecer considerações a
respeito do trabalho filológico desenvolvido com a coleção do referido periódico
correspondente ao período de julho de 1881 a outubro de 1881. Acredita-se que,
ao resgatar o texto oferecendo-o ao público edições fac-similar e interpretativa de
textos lavrados em épocas pretéritas, o filólogo estará contribuindo para a
compreensão do período em que os textos foram lavrados e, por conseguinte,
para desvendar alguns aspectos da história sócio-política, cultural, literária e
linguística de uma sociedade. Dessa forma, o trabalho de resgate dos textos
veiculados em periódicos baianos é de suma importância para a preservação da
história da Bahia, especialmente para aquele período em que predominou o
regime escravista no Brasil.
Palavras-chave: Filologia. Echo Santamarense. Edição interpretativa.
ENTRE AUTOS DE DEFLORAMENTO E CURANDEIRISMO: EDIÇÕES FAC-
SIMILAR E SEMIDIPLOMÁTICA
Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS)
Documentos sob a guarda de acervos públicos e/ou privados constituem-
se como verdadeiros patrimônios sócio-linguístico-histórico-culturais, pois são
registros que vão sendo deixados ao longo do caminho. Neste sentido, o filólogo,
ao se deparar com acervos dessa natureza, acha-se no dever e na obrigação de
57
realizar estudos filológicos, nos quais a documentação possa ser editada e
ofertada a outros pesquisadores e/ou a um público menos especializado. Tais
estudos se acercam das questões sócio-linguístico- histórico-culturais, as quais se
voltam para a língua em que o texto foi escrito, aspectos sociais e históricos da
época em que os documentos foram lavrados, e a cultura que permeia a tríade
sócio-linguístico-histórica. Deste modo, enveredamos pelo acervo do Centro de
Documentação e Pesquisa, doravante CEDOC (Cf. www.uefs.br/cedoc), órgão da
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), no qual se encontram
documentos manuscritos, datiloscritos e impressos, das esferas cível e crime, dos
séculos XIX e XX. Neste acervo, nos deparamos com autos de defloramento,
documentação que trata do desvirginamento de jovens menores de idade; bem
como de queixas sobre a prática de curandeirismo, nas quais pessoas são
acusadas de promoverem “candomblé” ou feitiçarias, ministrarem substâncias
dos reinos da natureza para a cura de enfermidades. Diante desses documentos
manuscritos, datados do início do século XX, empreendemos as edições fac-
similar e semidiplomática, a fim de trazer à tona questões sócio-linguístico-
histórico-culturais. Deste modo, propomos neste trabalho a apresentação das
edições do auto de defloramento de Maria José e da queixa crime sobre
curandeirismo (cujos reús são Victorino Araujo da Silva e Pedro Alves d’Almeida).
Neste sentido, a edição semidiplomática traz em seu bojo os aspectos intrínsecos
e extrínsecos, os quais serão explanados.
Palavras-chave: Filologia. Autos de defloramento e curandeirismo. Edições.
Eixo temático Teorias e práticas editoriais
Sessão Coordenada 6:
Estudos de processos interartes
Coordenadora: Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)
A presente mesa tem como objetivo divulgar os trabalhos realizados por
pesquisadores do Grupo de Pesquisa e Extensão Tradução, Processo de Criação e
Mídias Sonoras (PRO.SOM): Estudos de Tradução Interlingual e Interartes,
coordenado pela Profa. Dra. Sílvia Maria Guerra Anastácio, no Instituto de Letras
da Universidade Federal da Bahia. Nesta sessão, pretende-se contemplar
abordagens críticas que articulem diálogos entre estudos de crítica genética e
criações multimodais a fim de que se possa analisar e discutir a sua construção
nos meios artísticos audiovisuais contemporâneos. O foco estará ainda centrado
na percepção do processo criativo de audiolivros, legendas e audiodescrição,
tendo como finalidade tornar obras artísticas acessíveis para o público com
deficiência visual e auditiva, bem como refletir sobre processos de criação no
cinema e processos de tradução que geraram audiolivros a partir de obras
teatrais.
58
Palavras-chave: Estudos de processo. Tradução. Obras audiovisuais.
ADAPTAÇÕES FANTÁSTICAS E COMO SÃO FEITAS: A GÊNESE DE "ANIMAIS
FANTÁSTICOS E ONDE HABITAM" PARA O CINEMA
Flávio Azevêdo Ferrari (UFBA)
Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)
Esta pesquisa objetiva estudar o processo criativo do filme Animais
Fantásticos e Onde Habitam (2016), baseado no livro homônimo, de Joanne
Kathleen Rowling (J.K. Rowling), publicado em 2001 para angariar fundos para
uma instituição de caridade britânica. Trata-se de um livro didático ficcional
utilizado pelos estudantes da escola de magia e bruxaria de Hogwarts, parte da
popular série literária Harry Potter. Na adaptação intermidiática, a releitura
contemplou as especificidades do cinema, a partir da expansão dos ensinamentos
do livro, composto de um catálogo das criaturas fantásticas do mundo de Harry
Potter, para um drama em longa-metragem com novos personagens, trama
linear; estrutura e arcos dramáticos, trilha sonora, efeitos visuais em computação
gráfica entre outros. Toda uma rede de criação é tecida em torno dos documentos
digitais que envolvem a criação do filme em análise, desde making ofs, pequenos
vídeos extras, entrevistas encontradas na versão em Blu-ray da obra, além de
livros com rascunhos de sets, figurinos, artes conceituais e storyboards. Chama a
atenção, no que concerne os estudos de processo, dois vídeos interativos em 360
graus que apresentam o processo de criação de alguns dos sets do filme,
permitindo ao pesquisador acompanhar o processo criativo em qualquer direção,
e não apenas em um plano fixo como nos vídeos tradicionais. Deseja-se, assim,
discutir o papel dessa nova modalidade audiovisual e suas possíveis implicações
nos estudos em Crítica Genética. Como principais eixos teórico-metodológicos,
além dos estudos de processo, a pesquisa apoia-se em estudos sobre adaptação e
tradução intersemiótica, teoria do drama, roteiro cinematográfico e teoria do
cinema.
Palavras-chave: Crítica Genética. Cinema. Adaptação.
59
A CARTILHA "TRÊS VIVAS PARA O BEBÊ" EM AUDIOLIVRO: A CRIAÇÃO DE
UM ROTEIRO PARA PEÇA RADIOFÔNICA
Mirela Dornelles Gonzalez Paz (UFBA)
Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)
Estudar o processo de criação de roteiros para audiolivro é uma
investigação instigante, que requer conhecimentos, especialmente, sobre a
estética radiofônica. O que se percebe, inicialmente, é que os roteiros podem ter
um ou mais pontos de partida. Podem surgir de uma inspiração; de uma ideia
qualquer que sirva de gatilho para gerar uma trama; de trás para frente, pois é
possível começar escrevendo o final da história para depois pensar o resto da
trama; ou ainda, da adaptação de outra obra, dentre tantas possibilidades. Os
mecanismos de criação de um autor podem ser diversos, assim como diferentes
tipos de roteiro podem gerar formas distintas de criação. Diante de todos esses
possíveis caminhos, o foco da presente pesquisa é a análise do processo de
criação de um roteiro para uma peça radiofônica. Especificamente, neste caso,
uma adaptação que teve como ponto de partida a cartilha intitulada Três Vivas
para o bebê! Guia para mães e pais de crianças com microcefalia. O material foi,
originalmente, desenvolvido pelos grupos Movimento Down e Abraço à
Microcefalia, tendo sido publicada a cartilha em março de 2016. Ela foi idealizada
para servir como um guia de instruções e apoio a mães e pais de crianças com
microcefalia. O audiolivro Três Vivas para o bebê! Cartilha roteirizada para
audiolivro foi produzido com o intuito de dar acessibilidade à cartilha a pessoas
com baixo nível de escolaridade, deficientes visuais ou com baixa visão. Todo o
material que abrange desde a adaptação do texto escrito à direção dos ensaios e
gravação do roteiro criado a partir da cartilha transformada em peça radiofônica
foi arquivado e organizado sob a forma de dossiê de criação, tendo como
embasamento teórico e metodológico a Crítica Genética. O objetivo deste trabalho
é compartilhar os resultados parciais desta pesquisa.
Palavras-chave: Roteiro. Intermídia. Estudos de processo.
DESVENDANDO O PROCESSO CRIATIVO DA TRADUÇÃO DA PEÇA DE ATHOL
FUGARD, “STATEMENTS AFTER AN ARREST UNDER THE IMMORALITY ACT”
Raquel Borges Dias (UFBA)
Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)
O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados parciais da tese de
doutorado O processo de criação da tradução da peça “Statements after an arrest
under the Immorality Act”, de Athol Fugard. Caracterizado por seu engajamento
60
em questões políticas e direitos humanos, Fugard (1932 - ) apoiou o movimento
contra o Apartheid por mais de trinta anos, o que o levou a ser vigiado pela
polícia e a sofrer restrições do governo. Com isso, o autor começou a produzir
peças, com ampla divulgação fora de seu país, demonstrando forte consciência
dos problemas locais para todo o mundo. Autor de diversas obras mundialmente
conhecidas, uma das peças mais relevantes de Athol Fugard é “Statements After
an Arrest Under the Immorality Act” (1974). O texto dramático de Fugard
demonstra a consciência social do autor frente ao contexto em que a África do Sul
se encontrava na década de 1970, uma vez que retrata um romance entre uma
mulher branca e um homem negro, naquela região, em um período marcado pelo
regime do Apartheid e da Lei da Imoralidade, que proibia relações sexuais inter-
raciais. O texto foi traduzido para o português como “Depoimentos após o
flagrante de uma infração à Lei da Imoralidade” por pesquisadores de iniciação
científica entre 2011 e 2012, tendo sido posteriormente gravado em audiolivro.
Considerando-se o caráter inédito da obra em língua portuguesa, interessa-nos
refletir acerca do processo criativo da tradução em questão. Para tanto, estão
sendo realizadas as seguintes etapas da pesquisa: considerações acerca do
embasamento teórico-metodológico utilizado; contextualização histórica da obra
de Fugard; comentários sobre o autor da peça e o texto dramático em si; e
proposta de adaptação para peça radiofônica do texto dramático de Fugard.
Interessa-nos, portanto, divulgar o trabalho que já foi realizado, propondo uma
edição genética do material disponibilizado com a finalidade de dialogar com
outros pesquisadores, que se interessem pela temática apresentada.
Palavras-chave: Criação. Tradução. Athol Fugard.
ESTUDO SOBRE ACESSIBILIDADE NA RECRIAÇÃO DO ROTEIRO SONORO DO
AUDIOLIVRO "A ACENDEDORA DE LAMPIÕES"
Renata Mariani Miranda (UFBA)
Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)
A presente pesquisa é um estudo sobre acessibilidade a partir da peça
radiofônica em audiolivro, A Acendedora de Lampiões, traduzida e adaptada pelo
Grupo Pro.Som em 2013 e baseada no texto fonte, The Lamplighter, Jackie Kay,
2007. Escrito pela autora escocesa Jackie Kay, o texto de partida é também uma
peça radiofônica. Trata-se de uma narrativa de gênero épico, que apresenta o
drama vivido por negros nos séculos XVIII e XIX, vindos da África e trazidos em
navios negreiros para o Reino Unido a fim de serem escravizados nas colônias
britânicas. A história é contada por cinco mulheres negras e a temática desta
pesquisa emergiu da necessidade de analisar o roteiro sonoro da referida peça
radiofônica e identificar a inclusão de recursos de áudio, que se fizeram
necessários, para favorecer a compreensão de determinados trechos da narrativa,
61
que estavam gerando ambiguidade na recepção do referido audiolivro. Por se
tratar de uma mídia sonora, em que a imagem visual não atua como recurso
auxiliar para a ambientação das cenas, o som se torna, naturalmente, a
ferramenta principal de transmissão das informações inerentes ao enredo; daí a
necessidade de se investir em todo o tipo de recursos sonoros, que possam
contribuir para enriquecer o processo de criação em estudo. Como o audiolivro A
Acendedora de Lampiões está divulgado em streaming no Repositório da EDUFBA
e se constatou a presença de problemas nessa gravação, após a sua publicação,
decidiu-se fazer uma revisão do áudio lançado pela editora. Para tanto, foi
realizada uma série de testes de recepção aplicada pela equipe técnica do
Pro.Som à pessoas com deficiência visual que, tendo em vista sua reconhecida
acuidade auditiva e experiência no uso do audiolivro como ferramenta de
acessibilidade, se mostraram eficientes no sentido de sugerir os ajustes
necessários; assim, tais ajustes foram incorporados ao novo roteiro técnico e
passaram a fazer parte do processo de revisitação do áudio em questão para que
uma nova versão seja colocada em streaming. Esse processo tem sido
acompanhado pela proponente desta pesquisa, cujo recorte de investigação
aborda os registros colhidos no referido processo de revisão, em estudo. Os
encontros entre a equipe técnica do PRO.SOM e o grupo de pessoas com
deficiência visual têm sido registrados, em meio digital, através de gravações de
áudio, que guardam os depoimentos colhidos com o intuito de direcionar os
ajustes necessários, processo em que os ouvintes convidados, como sujeitos
ativos desse processo de criação, acabaram por gerar uma nova proposta de
roteiro sonoro e, consequentemente, nova versão do audiolivro mencionado.
Palavras-chave: Audiolivro. Acessibilidade. Roteiro sonoro.
Eixo temático Teorias e práticas editoriais
Sessão coordenada 7:
Estudos de processos interartes
Coordenadora: Sirlene Ribeiro Góes (UFBA)
O ROMANCE "FLORES RARAS E BANALÍSSIMAS" REVISITADO NO FILME
"FLORES RARAS“
Rosana Amorim (UFBA)
Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)
A literatura e o cinema, como formas de linguagem e expressão artística,
têm dialogado de maneira cada vez mais próxima. Ao pensar na adaptação do
texto de partida, o romance de Carmem Lucia Oliveira, para o filme de Bruno
Barreto, podemos considerar que essa recriação no texto de chegada se apresenta
62
com múltiplas possibilidades interpretativas, trazendo “rastros” do texto de
partida. É sob esse prisma que a presente comunicação objetiva mostrar o filme
Flores Raras como uma adaptação do romance Flores Raras e Banalíssimas. Com o
objetivo de conhecer os caminhos que levaram à criação da obra cinematográfica,
com base nos roteiros disponibilizados pela Produtora L.C. Barreto, refletiremos
sobre a gênese da referida obra pelo viés da análise dos seus documentos de
processo, utilizando princípios e critérios da crítica genética, além dos estudos de
adaptação e intermidialidade. O que planejamos é uma reflexão sobre a gênese da
referida obra pelo viés da análise dos manuscritos deixados pelos roteiristas,
utilizando princípios e critérios da crítica genética. Entendemos que esse
processo de análise de transposição entre o texto literário Flores Raras e
Banalíssima e o texto fílmico Flores Raras revela que a tão debatida oposição
livro/filme tende a se transformar cada vez mais numa relação de “suplemento”,
reafirmando que todo texto é completo em si mesmo, mas traz em si as
particularidades do olhar de cada autor, inclusive do roteirista que se propôs a
ressignificá-lo.
Palavras-chave: Literatura. Cinema. Flores Raras.
UMA PROPOSTA DE EDIÇÃO GENÉTICA: A PEÇA RADIOFÔNICA "A LENDA DE
IPING"
Sandra Cristina Souza Corrêa (UFBA)
Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)
Produzidas em autoria colaborativa pelo Grupo PRO.SOM da Universidade
Federal da Bahia, as peças radiofônicas publicadas em audiolivros apresentam
traços multimidiáticos, os quais se revelam, ao longo desse processo criativo.
Conceitos que se reportam aos estudos interartes e intermidiáticos,
especialmente propostos por Claus Clüver (2016) e Irina Rajewsky (2016), têm
sido úteis nesta investigação, que dialoga com questões de tradução, estética
radiofônica, semiótica e crítica genética. Interessa conhecer o processo de criação
de uma peça radiofônica a partir do seu texto de partida, no presente pesquisa,
um romance de língua inglesa, sabendo que tal processo se constituiu por etapas
diferentes, a saber: inicialmente, a tradução interlingual para o português,
seguida da recriação desse texto para um roteiro de gravação; o referido roteiro
já inclui efeitos sonoros pontuais, que marcam um encadeamento de ações
diversas de cada cena, mas também, efeitos de fundo sonoro, que sugerem
ambiências, além da inclusão de músicas, trilhas e cortinas sonoras, ou um jogo
de pausas e silêncios mais marcantes, que acompanham o ator principal do
audiolivro: a voz, que entra com diferentes modulações e ritmos, expressando
impressões e sensações as mais diversas. Segundo Santaella (2010), a linguagem
sonora é uma matriz predominantemente icônica, e, como tal, geradora das
63
sensações, dos sentimentos e das emoções as mais variadas; é essa matriz sonora
a base dos estudos semióticos do processo de criação da peça radiofônica em
estudo. Todos esses documentos de processo são gerados em meio digital e
armazenados no Google Drive, o que possibilita que todos os agentes envolvidos
na referida criação possam trabalhar ao mesmo tempo, em rede. Finalmente, no
estúdio, no Programa Pro.Tools, são gravadas as trilhas das peças radiofônicas e,
produzidos, assim, mais manuscritos digitais, sendo que tal processo é registrado
por filmadoras e gravadores, que testemunham a gênese em estudo; inclusive, os
ensaios relâmpagos, que ocorrem, antes das gravações propriamente ditas são
amplamente registrados. Este estudo apresenta a proposta de uma edição
genética do processo criativo da peça radiofônica A Lenda de Iping, baseada no
romance The Invisible Man publicado em (1897) do escritor britânico H. G. Wells
(1866-1946), sendo que o recorte escolhido é abordar, em especial, a construção
do roteiro de gravação e sua passagem para a linguagem sonora, analisando,
inclusive, problemas técnicos que precisaram ser enfrentados para dar conta
dessa transposição midiática.
Palavras-chave: Crítica Genética. Peça radiofônica. A Lenda de Iping.
FANSUBBING: OS BASTIDORES DA LEGENDAGEM AMADORA
Shirlei Tiara de Souza Moreira (UFBA)
Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)
A presente proposta busca analisar o processo de criação das legendas de
séries televisivas produzidas pelos grupos dos fansubbers. Os fansubbers são
legendistas amadores, geralmente fãs de uma determinada série, que se
organizam em grupos para legendar os episódios de uma forma mais rápida e
dinâmica, disponibilizando-os na internet, sem precisar esperar até que a legenda
oficial - produzida por um tradutor profissional, esteja disponível ao grande
público. Considerando a dimensão e amplitude deste fenômeno, tentaremos
entender como os legendistas amadores organizam suas práticas e como
estabelecem as normas que regem suas escolhas tradutórias, para tal,
buscaremos apoio teórico-metodológico na Crítica Genética, na tentativa de
reconstruir e privilegiar o processo de criação dessas legendas, e não apenas
analisar e cotejar seu produto final, buscando compreender essa demanda
tradutória, na perspectiva de processo e de um trabalho fruto de uma produção
coletiva. Para analisar as legendas, no que diz respeito aos parâmetros técnicos,
nos amparamos nos Estudos Tradutórios relacionados à Tradução Audiovisual,
nos escritos de Chaume e Diaz-Cintas, trazendo como contraponto as
especificidades técnicas do manual elaborado pelo próprio grupo. Acessaremos
os bastidores dessa criação tradutória, através da análise da captura de tela que
detalhará o processo de criação do legendista, nos fornecendo o passo a passo de
64
todo o processo tradutório, bem como, com a aplicação de questionários que
investiga o modus facendi dos legendistas amadores. Nossa análise, além de
permitir compreender a dinâmica dos grupos de fansubbers, contribui com os
estudos e pesquisas no âmbito da Crítica Genética, da Tradução Cultural e
Audiovisual.
Palavras-chave: Fansubbing. Crítica Genética. Tradução Audiovisual.
ESTUDOS DE PROCESSO DE OBRAS AUDIOVISUAIS: FORMAS DE REGISTRO E
RESGATE
Sirlene Ribeiro Góes (UFBA)
Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)
Embora obras audiovisuais circulem abundantemente em redes
televisivas, sites, dispositivos móveis e em mídias diversas, o estudo de processos
criativos dessa materialidade encontra-se em estado embrionário. Poucas
investigações são conhecidas sob esse viés de análise, mas já despertam o
interesse de alguns pesquisadores. O interesse é observado, por exemplo, no
Grupo de Pesquisa Tradução, Processo de Criação e Mídias Sonoras: Estudos de
Tradução Interlingual e Interartes – PRO.SOM, da Universidade Federal da Bahia,
cujos membros têm desenvolvido pesquisas sobre o processo de tradução,
adaptação e gravação de mídias sonoras (audiolivros), o processo de criação de
legendas fílmicas e o processo de tradução/interpretação em Janela de Libras
(Língua Brasileira de Sinais). Notamos que a dificuldade em conseguir dossiês de
obras audiovisuais se configura no principal entrave para a expansão de estudos
dessa temática. Dessa forma, o presente estudo objetiva apresentar e discutir
formas de registro e resgate de documentos de processo pertencentes a criações
audiovisuais, refletindo sobre seus locais de guarda, circulação e estratégias para
o resgate de movimentos genéticos, imprescindíveis para a análise. De modo a
apresentar uma exemplificação dos itens discutidos, serão trazidos trechos de
processos de criação audiovisuais referentes à legendagem e à
tradução/interpretação em Janela de Libras da animação fílmica Raccoon &
Crawfish (2007), um curta metragem de aproximadamente oito minutos, criado
pela Nação Indígena Oneida, como forma de salvaguardar as suas tradições e
transmiti-las a outras culturas e gerações. Neste trabalho, contamos com o
embasamento teórico-metodológico da Crítica Genética e da Tradução
Audiovisual para, respectivamente, investigar a constituição, o registro e o
resgate de documentos de processo audiovisuais para embasar as análises feitas
a partir de práticas de tradução audiovisual.
Palavras-chave: Estudos de processo. Tradução audiovisual. Janela de Libras.
65
A PESQUISA NARRATIVA AUTOBIOGRÁFICA E PRÁTICAS ACADÊMICAS
INCLUSIVAS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO DE UMA ALUNA COM
BAIXA VISÃO
Adriana da Paixão Santos (UFBA)
Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA)
Esta investigação, que se configura como uma pesquisa narrativa
autobiográfica (BAUER; GASKELL, 2002) consiste em analisar documentos
diversos, como entrevistas, textos autobiográficos, diários e anotações pessoais
por parte do sujeito cujo material produzido é alvo de análise. A abordagem
adotada privilegia perceber e registrar as emoções, bem como, os desafios
encontrados pelo sujeito alvo da pesquisa, sobretudo, nas suas interações em sala
de aula, mas também, fora dela, através de entrevistas com o sujeito analisado. No
caso em estudo, trata-se do acompanhamento do processo de construção de
conhecimento de uma aluna, que cursa graduação de Pedagogia na UFBA e que
tem baixa visão. Esse tipo de pesquisa é fundamental para o investigador, no caso,
um geneticista, compreender a dinâmica dos espaços onde ocorrem as interações
interpessoais e outras condições de comunicação, que irão gerar manuscritos de
trabalho para a presente análise. A pesquisa proposta, então, pretende investigar
a funcionalidade da narrativa autobiográfica como instrumento de coleta de
dados e acompanhamento do processo de construção de conhecimentos, a partir
das experiências acadêmicas de uma aluna com baixa visão, do segundo semestre,
em uma universidade pública federal. O objetivo é, portanto, mostrar o quanto da
trajetória pessoal dessa aluna cursando o ensino superior pode ser relevante e
contribuir na elaboração de estratégias inclusivas dentro e fora da sala de aula. A
abordagem narrativa autobiográfica, neste trabalho, irá dialogar com a crítica
genética (SALLES, 2017; BIASI, 2010), a qual dará ao investigador as diretrizes
necessárias para montar o seu prototexto de pesquisa a partir da organização do
dossiê genético em estudo. A base do trabalho tem, pois, como fundamento
metodológico a pesquisa narrativa, que irá ajudar o pesquisador a organizar
vivências passadas e presentes do sujeito investigado, registrando como elas irão
refletir nas experiências futuras do aprendiz. Os instrumentos de pesquisa
utilizados como dados coletados oferecem informações importantes para a
análise proposta, sendo usado como recurso um tablete que irá funcionar como
gravador de áudio e vídeo, auxiliando nos registros a serem feitos em sala de aula,
como também, em entrevistas fora do ambiente acadêmico; logo, os rastros do
processo coletados serão registrados, em sua maioria, em meio digital.
Compreendo a importância desta pesquisa, que irá contribuir para
enriquecimento da formação daquele docente que precisa lidar com um aluno
que apresente deficiência visual, pois, para este aprendiz, é justamente a
dificuldade de se aproximar do seu professor, e vice versa, que funciona como
entrave no processo de aquisição do conhecimento, o que se reflete, inclusive, na
66
interação de tal sujeito com seus colegas e com o entorno. Essa condição de
precariedade no ambiente de ensino em nosso país acaba dificultando o
planejamento e a adoção de práticas pedagógicas, que sejam inclusivas. Este
trabalho, certamente, também virá a enriquecer o espectro de estudos de
processos de criação relacionados à inclusão, que se configura como uma Crítica
Genética Inclusiva (ANASTÁCIO, 2011).
Palavras-chave: Deficiência visual. Crítica genética inclusiva. Narrativa
autobiográfica.
Eixo temático: Filologia e memória
Sessão coordenada 8:
“De luva na mão, ao arder de paixão”: acervos e epistemologias
contemporâneas
Coordenador: Rafael Marques Ferreira Barbosa Magalhães (UFBA)
Arquivos são espaços privilegiados para as áreas do conhecimento que se
dedicam ao estudo do homem e seus feitos. Não obstante, a documentação que
eles contêm provê de informações muitas vezes inéditas e exclusivas aos
pesquisadores. A Filologia, contemporaneamente, dedica-se ao estudo do texto,
não apenas como um produto dos processos de comunicação e interação da
atividade humana, mas, para além disso, como um sistema cultural que abarca
todas as suas possibilidades de realização material e virtual, todas as técnicas e
processos envolvidos desde a confecção dos materiais utilizados em sua
produção até a cognição e a materialização / realização textual. Por essa razão,
múltiplas, são as abordagens que os pesquisadores dessa área do conhecimento
adotam para tratar o seu objeto, possibilitando que a documentação de arquivos
possa ser abordada em sua diversidade. Nessa sessão coordenada, serão tratados
aspectos da pesquisa em arquivos e acervos documentais que, pela diversidade
de materiais que salvaguardam, apresentam diversas possibilidades de
abordagem contemporâneas ao texto / documento.
Palavras-chave: Filologia. Filologia Textual. Arquivos e acervos documentais.
MEMÓRIA EM DETALHES: REFLEXÕES SOBRE O RECURSO À
DOCUMENTAÇÃO ESCRITA COMO FERRAMENTA MNEMÔNICA POR MEIO
DOS LIVROS DE REGISTRO DO DETALHE DA POLÍCIA MILITAR DA BAHIA
Rafael Marques Ferreira Barbosa Magalhães (UFBA)
A memória é uma construção condicionada pelas idiossincrasias do
indivíduo. É por meio de um elemento mnemônico, que forneça elementos
67
alusivos, especialmente de natureza contextual, que se processa a recordação.
Dessa maneira, não somente pratica-se a ação de recorda, como também
reorganizam-se os elementos mnemônicos disponíveis, exercício que ocasiona a
constituição da memória. Acervos são um ambiente mnemônico por natureza, o
que faz com que eles ganhem a dimensão de espaços apropriados à produção de
memórias. A documentação contida em acervos, especialmente os de natureza
histórica, são uma das principais fontes sobre o passado, permitindo o acesso a
dados, muitas vezes, inéditos sobre os fatos. Nesta comunicação, apresentam-se
reflexões sobre como os Livros de Registro do Detalhe da Polícia Militar da Bahia,
especialmente o DET 93, podem ser estudados enquanto fontes mnemônicas,
buscando evidenciar as potencialidades desses documentos para as pesquisas
memorialísticas, observando as estratégias mnemônicas adotadas pela instituição
produtora, e as peculiaridades desse documento em específico. Os Livros de
Registro do Detalhe da Polícia Militar da Bahia foram nominados como Memória
do Mundo pela UNESCO, por conterem os registros diários do cotidiano da
instituição, por conseguinte, registrando sua perspectiva acerca de diversos
acontecimentos históricos, como a participação dos Voluntários da Pátria na
Guerra do Paraguai e o enfrentamento ao Cangaço. Dessa maneira, pretende-se
entender como as práticas de escrita adotadas pela instituição constituem-se em
seu patrimônio mnemônico e permitem acessar e reorganizar os elementos que
constituem a memória institucional e, consequentemente, contribuem para a
construção do imaginário popular sobre as instituições militares na Bahia atual.
Palavras-chave: Filologia. Manuscrito. Memória. Livros de Registro do Detalhe.
DET93.
TECNOLOGIA A SERVIÇO DO ESTUDO DE ACERVOS DOCUMENTAIS
Lívia Borges Souza Magalhães (UFBA)
Darwin estabeleceu que a sobrevivência das espécies está intimamente
ligada com a adaptação dos organismos. Quando analisada a relação entre ciência
e tecnologia, pode-se observar a questão da sobrevivência: ou as ciências
adaptam-se, para suprir a demanda da sociedade, caracterizada pelo constante
avanço da tecnologia computacional, ou logo perderá espaço no mundo online,
pois, é fato inegável que, os computadores têm ocasionado uma nova
configuração social, em que se percebe uma mudança na dinâmica de acesso à
informação. Essas máquinas ocupam espaços, alteram práticas do cotidiano e,
inclusive, dinâmicas de trabalho como, por exemplo, as realizadas em acervos
documentais. Esse processo pode ser observado nas preocupações constantes em
digitalizar, gerar bancos de dados e, principalmente, permitir a ampla circulação
da informação que, outrora, vivia salvaguardada e isolada nas prateleiras dos
arquivos e bibliotecas. O Mosteiro de São Bento da Bahia, instituição secular que
se destaca pela produção e preservação de material arquivístico, uma influência
68
direta da tradição medieval de produção e conservação de documentos pelos
mosteiros estabelecida pelo próprio Patriarca São Bento e continuada, ao longo
dos séculos, por seus sucessores, vivencia esse momento de transformação e
adaptação em função de uma série de pesquisas desenvolvidas pelo grupo de
pesquisa Memória em Papel. O grupo desenvolve atividades que cobrem desde a
gestão de acervos, incluindo descrição, organização e inventariação, até a
pesquisa, contando com um corpo de especialistas nas mais diversas áreas
(Filologia, História, Filosofia, Conservação e Restauro, Humanidades) e
abrangendo investigações desde a elaboração de edições filológicas de
documentos manuscritos até investigações sobre memória e produção de
conhecimento com base nos livros, documentos avulsos e fundos do acervo da
instituição. Nesta comunicação pretende-se, pontuar algumas atividades de
pesquisas do Grupo, destacando aquelas que auxiliaram o processo de
preservação e divulgação do acervo beneditino baiano.
Palavras-chave: Tecnologia. Acervo. Mosteiro de São Bento da Bahia.
REFLEXÕES SOBRE O OFÍCIO DE PESQUISAR
Tamires Alice Nascimento de Jesus (UFBA)
Este trabalho objetiva refletir sobre o processo de busca do pesquisador
pela compreensão do seu objeto. Para tal, será utilizado como ponto de partida a
confecção do levantamento de dados feito nas Correspondências recebidas sobre
doação de livros às escolas públicas, documento manuscrito que compõe o acervo
do Arquivo Público do Estado da Bahia, o qual contém os títulos dos manuais
didáticos doados às escolas públicas da Bahia, entre os anos de 1837 e 1868. As
correspondências estão acomodadas no maço de número 4038 e são organizadas
da seguinte forma: para cada ano há uma pasta específica, e cada uma das pastas
está organizada por ano. No que se refere ao seu conteúdo, elas são
diversificadas: algumas tratam a respeito da dificuldade de implementar o
método por conta da falta de livros, outras se caracterizam por terem um teor
sugestivo de oferecimento de exemplares, há ainda aquelas que se apresentam
em tom de denúncia da falta de manuais, por exemplo. Mas há outros aspectos
que configuram um padrão, que dizem respeito à sua forma: a maioria apresenta
uma saudação (Ilustríssimo Excelentíssimo Senhor), seguida da data do registro,
depois vem o texto e, ao final, nota-se a fórmula Deus Guarde Vossa Excelência,
por vezes, segue-se com o nome do presidente da província e, ao final, é
apresentada a assinatura do doador. Com o intuito de apresentar o processo
relacional da pesquisa, nesta comunicação vai-se começar pela procura do
documento, a reflexão se estenderá ao momento da descoberta, investigação e
análise do que se transformou em objeto. Deseja-se observar, ainda, como nesses
69
diferentes momentos, ocorre o diálogo entre o pesquisador e o pesquisado e
como isso se manifesta nas diferentes pesquisas.
Palavras-chave: Reflexão. Pesquisa. Objeto. Correspondências.
70
RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES ORAIS
Eixo temático: Filologia e ensino
DIÁLOGOS POSSÍVEIS ENTRE A FILOLOGIA E O ENSINO DOS GÊNEROS
TEXTUAIS EM SALA DE AULA
Ygor Braga de Almeida (UECE)
Expedito Eloísio Ximenes (UECE)- orientador
O presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre diálogos possíveis
envolvendo a Filologia e as abordagens de gêneros textuais no ensino em nível de
graduação no curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará. Primeiramente,
trazemos o conceito de gênero de Bazerman (2011), em que o autor afirma que
estes são formas de ação social. A partir daí, pretendemos mostrar que a
preservação de textos antigos pertencentes a um determinado gênero textual
possibilita discussões em sala de aula a respeito das funções destes quando dos
seus contextos sociais e históricos reais de uso. Para exemplificação, usaremos
exemplares do gênero portaria, todos originais do Ceará do século XVIII, descritas
por Almeida (2015). Na ocasião, foi analisada a organização sociorretórica de
portarias do século XVIII, através do diálogo entre duas áreas tidas muitas vezes
como distintas: a Filologia, cuja principal função concentra-se na preservação de
textos pertencentes ao passado histórico e suas ligações com os estudos da
língua; e a Linguística Moderna, em especial os estudos acerca da natureza e
construção dos gêneros textuais, destacando-se a perspectiva sociorretórica de
caráter etnográfico, baseada nos estudos de Swales (1990, 1992, 1998, 2003) e
Bhatia (1993). Nesta apresentação, portanto, partindo dessa pesquisa realizada
anteriormente, pretendemos mostrar como a edição de textos antigos, como
exemplo as portarias já citadas, possibilitam a descrição do gênero, englobando
também seus usos e propósitos comunicativos, e sua posterior abordagem em
sala de aula como conteúdo para o ensino da língua portuguesa e para a
compreensão da produção e circulação dos gêneros textuais no passado e no
presente.
Palavras-chave: Filologia. Gêneros textuais. Ensino.
71
Eixo temático: Filologia e História Da Língua
ESTUDO DA TERMINOLOGIA NAÚTICA A PARTIR DO OFÍCIO DO
CONSTRUTOR MANUEL ARAÚJO SILVA
Adriana dos Santos Silva (UFBA)
Eliana Correia Brandão Gonçalves (UFBA) - Orientadora
Este trabalho visa apresentar um estudo terminológico a partir da edição
semidiplomática de um Ofício, que faz referência à Bahia do século XVIII,
destacando-se a importância do labor filológico, na realização de estudos
linguísticos de documentos históricos. Destarte, por ser de natureza técnico-
profissional, o Ofício é uma fonte histórica relevante para o estudo de termos
especializados, principalmente no que tange a terminologia náutica. Dessa forma,
propõe-se apresentar um estudo da terminologia náutica registrada no Ofício do
construtor Manuel de Araújo Silva ao vice-rei e capitão-general do Brasil, Conde
das Galveas, dando conta do dano causado à fragata de guerra Nossa Senhora da
Glória pelo temporal que houve na noite junho de 1741. Assim, neste estudo,
serão selecionados e analisados alguns termos náuticos encontrados no referido
Ofício, com base nas discussões sobre léxico e terminologia desenvolvidas por
Cabré (1999), Krieger (2010; 2013), Krieger; Finatto (2004), Murakawa; Nadin
(2013) e Gonçalves (2007; 2017), ao tempo em que se verificará se as
terminologias utilizadas para descrever partes das embarcações do século XVIII
ainda são empregadas na arquitetura naval hodiernamente. Ressalta-se ainda que
o estudo por meio dos termos viabiliza a percepção dos componentes das
embarcações, das tecnologias e da arquitetura naval, ao tempo em que possibilita
uma compreensão da evolução histórica náutica do período colonial aos tempos
atuais. Conclui-se então que a elaboração da edição semidiplomática é
indispensável para a produção de corpora, visando à análise linguística em uma
perspectiva histórica. Portanto, tal como o Ofício é uma fonte documental
interinstitucional essencial para a compreensão de termos que fizeram ou fazem
parte da memória técnico-administrativa da língua portuguesa, tão logo estudá-
los pelo viés terminológico é manter a vivacidade e a dinamicidade da língua
tornando-a atemporal.
Palavras-chave: Terminologia náutica. Ofício. História da língua.
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O SERTÃO DOS TOCÓS E SEUS SABORES: TRANSCRIÇÃO E ANÁLISE
LINGUÍSTICO-FILOLÓGICA DE UM CADERNO DE RECEITAS DO SÉCULO XIX
Adriana Gonsalves da Silva Fontes (UFBA)
Fredson Pereira dos Santos (UFBA) - Orientador
Este trabalho apresenta a necessidade da edição de textos para a
conservação de documentos antigos, tendo em vista a sua importância, enquanto
testemunho e comprovação da existência cultural de um povo. Neste sentido,
tendo conhecimento da existência do “Caderno de Receitas” de Idalina Moreira de
Oliveira, filha de Venâncio Moreira de Freitas e Felicidade Hermenegilda de
Oliveira, filhos de portugueses que vieram de Beira Alta, Portugal, comprar terras
de sesmarias. Idalina Moreira de Oliveira nasceu a 8 de setembro de 1869, na
fazenda Serrote em Tanquinho-Bahia. Foi alfabetizada por ordem do Arcebispo
Primaz do Brasil, Dom Luís Antônio dos Santos, por um padre que na ocasião
estava enfermo de tuberculose e veio se tratar com os ares do sertão por
recomendação médica. Para editar o “Caderno de Receitas”, foi realizada a
descrição, transcrição e análise de aspectos linguístico-ortográficos e lexicais do
Português e do Yorubá. O documento está dividido em duas partes: uma de
receitas luso-brasileiras e outra composta por receitas africanas. Este documento
pertence ao acervo pessoal de sua neta, Antônia Nolay de Lima Moreira, residente
na cidade de Serrinha-Bahia, que o cedeu para a realização deste trabalho. Dentre
as edições, escolheu-se a edição-semidiplomática, porque, após a realização desta
tarefa, o documento estará desprovido de dificuldades de natureza paleográfica,
isto é, aquelas ocasionadas pelo ato da escrita, como também evitará o contato
direto com o original, preservando-o da sua destruição física. Deste modo,
apresentar-se-á nesta comunicação, a edição semidiplomática do “Caderno de
Receitas” de Idalina Moreira de Oliveira à luz dos pressupostos teóricos da
Filologia Textual.
Palavras-chave: Filologia. Edição semidiplomática. Caderno de receitas
CARTA ENTRE AMIGOS: UMA MISSIVA SOBRE NEGÓCIOS PESSOAIS,
NEGÓCIOS DO MUNICÍPIO E A POLÍTICA ESTADUAL
Antonio Marcos de Almeida Ribeiro (UEFS)
Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS)- Orientadora
A Filologia é um a ciência antiga que se ocupa da edição de textos desde o
século III A.C. Neste momento, Zenódoto, Aristarco e Aristófanes se reuniram na
monumental Biblioteca de Alexandria para editar criticamente as obras de
Homero. Desde então, os filólogos têm se ocupado de edições dos mais variados
73
textos e em diferentes suportes. Seguindo essa direção, a partir do conhecimento
da carta pessoal de João Bastos, dirigida a Rosalvo de Souza Ribeiro, integrante
do acervo da família Ribeiro, optamos por editá-la semidiplomaticamente,
seguindo os princípios metodológicos da Crítica Textual. Os sujeitos envolvidos
na carta são do município de Maracás, Bahia. João Bastos foi político, poeta, fez o
primeiro jornal da cidade de Maracás “O Literato”, fundador da Sociedade
Literária, uma agremiação de poetas e escritores. Foi patrono da Academia de
Letras de Jequié-Ba. Já Rosalvo de Souza Ribeiro foi coronel da Guarda Nacional e
possuía terras na localidade chamada Serra do Vitorino, veio a falecer em 1938. O
teor da carta refere-se aos negócios particulares e a política local. Deste modo,
este documento encerra em si informações importantes sobre a língua, a
memória e a cultura da região Centro-sul da Bahia. Decerto também, a carta
possui um valor histórico imprescindível, isso porque nessa missiva se
apresentam pontos de vista sobre determinado período da história, ou seja, uma
observação pessoal dos acontecimentos da época vivida. Contudo, permite
conhecer variações linguísticas, a grafia, vocabulário, sendo assim, um leque
favorável de muitas temáticas para pesquisas na contemporaneidade. Diante do
exposto, para esta comunicação, apresentaremos a edição semidiplomática da
referida carta, atentando-a para os aspectos extrínsecos e intrínsecos do texto.
Deste modo, traremos à cena uma edição conservadora.
Palavras-chave: Carta pessoal. Filologia. Edição semidiplomática.
UMA ANÁLISE COGNITIVA DO USO DA LEXIA MISSA EM UM TESTAMENTO
COLONIAL
Bruno de Jesus Espirito Santo (UFBA)
O ser humano é guiado por sua cognição, logo pode se afirmar que o
pensamento e a ação desses seres são estruturados pela conceptualização que
eles têm dos objetos do mundo. Esse processo de conceptualizar se dá através das
relações físicas dos indivíduos com o planeta, o que significa dizer que as
experiências vividas pelo corpo nos diversos campos sociais onde ele passa
interfere diretamente na configuração mental dos significados. Sabe-se que há
muito tempo a cultura move os povos quanto aos seus comportamentos, estudos
de múltiplas áreas demonstram que muitos são os povos que utilizavam desde
objetos simbólicos e rituais específicos a fim de atender os princípios de suas
óticas, por isso, um estudo que evidencie como uma ideologia universalizante
molda as ações de uma sociedade contribui não só para o conhecimento de
hábitos antigos como também para a reflexão sobre os aspectos cognitivos que
motivavam esses atos. Na Bahia colonial a Igreja Católica tinha expressão política
e administrativa, por esta razão, recomendava aos seus fieis práticas que os
tornassem coesos à vontade governamental e religiosa da época. Uma dessas
74
atividades era o intitulado ritual da “boa morte”, rito que possuía protocolos
antes e pós-morte a fim de propiciar aos cristãos coloniais a possibilidade da
remissão dos pecados por Deus e a possível salvação. Dentre os elementos desse
procedimento recomendado pela instituição cristã, existia a redação de um
testamento onde o autor além de argumentar e persuadir a corte divina quanto
ao perdão dos seus erros, doa o seu legado piedoso com o intuito de ratificar o
seu arrependimento. Ao ler toda essa argumentação em um desses documentos
supracitados foi possível perceber como a lexia Missa exerce um papel expressivo
no movimento de convencimento da corporação celeste em relação a validação da
imagem de fiel contrito, arrependido e humilde edificada pelo testador. Por esta
razão este trabalho busca, utilizando o arcabouço teórico-metodológico da
Semântica Cognitiva (LAKOFF & JOHNSON, 1980; LAKOFF, 1987; KÖVECSES,
2002; SARDINHA, 2007; FERRARI, 2014; ABBADE, 2016), analisar um documento
notarial presente no Livro Velho do Tombo do Mosteiro de São Bento na Bahia, a
fim de demonstrar como a arquitetura de metáforas conceptuais da Missa era
influenciada pelas sensações, emoções e medos da sociedade colonial baiana
frente à imposição social da crença cristã. Os resultados dessa investigação irão
denotar como o movimento de subjulgo do sujeito colonial a ideologia cristã
conseguiu rotear os alicerces psíquicos dessas pessoas.
Palavras-chave: Semântica cognitiva. Manuscritos coloniais. Missa.
DEFLORAMENTO E CRÍTICA TEXTUAL: EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA DE UM
PROCESSO-CRIME OITOCENTISTA EM ARACAJU
Camila dos Santos Reis (UFS)
Camila Pereira Costa(UFS)
Nossa proposta de trabalho está vinculada às pesquisas desenvolvidas por
parte da equipe de Sergipe, responsável pela constituição do banco de dados
diacrônicos e análise linguística em pancronia, que participa do projeto nacional e
interinstitucional intitulado Para a História do Português Brasileiro (PHPB). O
PHPB/SE tem como propósito descrever a realidade linguística do português de
Sergipe dos últimos séculos, enquadrando-se na metodologia de trabalho do
projeto coletivo, de levantamento de fontes específicas e representativas,
oriundas de arquivos históricos (MARENGO; FREITAG, 2016). Os corpora do
projeto nacional e, consequentemente, dos subprojetos estaduais vinculados a
ele, são definidos por Simões e Kewitz (2010) a partir da categorização,
denominado no âmbito da pesquisa como corpus mínimo comum. O objetivo
deste trabalho é apresentar uma breve descrição codicológica bem como o
resultado da edição semidiplomática (CAMBRAIA, 2005; SPINA, 1990) de um
processo-crime de defloramento, manuscrito em finais do século XIX, ano de
1888, na cidade de Aracaju, Estado de Sergipe. O documento está localizado no
75
Arquivo Geral do Poder Judiciário do Estado de Sergipe sob a cota caixa nº 01,
acervo 02, módulo II, número geral 2543. O corpus delimitado foi produzido no
ano de 1888. Trata-se de processo crime de defloramento em que a vítima é uma
menor de treze anos chamada Benedicta, oriunda da cidade de Simão Dias,
interior de Sergipe. A edição deste manuscrito constituirá o banco de dados dos
corpora diacrônicos do português brasileiro de Sergipe, onde também serão
apresentadas a contextualização histórica da época (COSTA, LELIS, 2016) e dados
importantes relativos à (re)construção da história da cultura escrita em Sergipe
(MARENGO, 2017).
Palavras-chave: Crítica Textual. Edição Semidiplomática. Defloramento.
O LÉXICO ECLESIÁSTICO DA CAPITANIA DA BAHIA: OS CONVENTOS DE
RELIGIOSOS DA BAHIA COLONIAL
Carla Carolina Ferreira Gomes Querino (UFBA)
Norma Suely da Silva Pereira (UFBA) - Orientadora
O período colonial no Brasil configurou-se como um momento de
organização social, política e econômica das Capitanias hereditárias. A Igreja
Católica detinha grande controle nessas áreas, prova disso é o processo de
catequização ao qual os nativos foram submetidos, demonstrando que a língua já
era utilizada como instrumento de poder e controle. A formação do léxico na
Colônia mostra a grande influência do colonizador, oferecendo pistas acerca das
práticas culturais do período. A pesquisa tem como objetivo principal o estudo
das práticas culturais na Bahia colonial, e no presente trabalho, compreendendo a
importância dos estudos de lexicografia histórica para um melhor entendimento
da história das mentalidades, apresenta-se como objetivo específico o estudo do
léxico presente em oito fólios selecionados da obra Notícia Geral de toda esta
capitania da Bahia desde o seu descobrimento até o pre(zen)te anno de 1759,
tomando por base a edição fac-similar do manuscrito, impressa pela Tipografia
Beneditina (CALDAS, 1951 [1759]), disponível na Biblioteca Universitária Reitor
Macedo Costa. Os fólios selecionados integram a seção intitulada Noticia dos
Conventos de Religiozos que há nesta Cid(ad)e. O estudo desenvolvido parte da
leitura e interpretação do documento e abrange, entre outros, o estudo do
contexto histórico relativo ao corpus estabelecido; o estudo dos aspectos
intrínsecos e extrínsecos dos documentos selecionados e o estudo das
características lexicais, com construção de verbetes que integrarão um glossário
de termos eclesiásticos, em que se registrará parte dos usos linguísticos no
referido contexto, o que poderá auxiliar no estudo dos papéis sociais e políticos
ocupados pelos eclesiásticos na estruturação da hierarquia social na América
portuguesa. O manuscrito em questão foi escrito pelo professor José Antônio
Caldas, Sargento mor da Capitania da Bahia, homem erudito, que registrou a
76
organização da Colônia em três instâncias, o Governo Eclesiástico, o Governo Civil
ou Secular e o Governo Militar. O estudo de caráter interdisciplinar envolve as
metodologias da Filologia (CAMBRAIA, 2005); da História (NUNES, 2017;
TAVARES, 2001), além de conhecimentos de lexicologia e da lexicografia (VILELA,
1994; MURAKAWA, 2013).
Palavras-chave: Léxico Eclesiástico. Capitania da Bahia. Práticas culturais.
ESTUDO DO CAMPO LEXICAL DA SEXUALIDADE DE UM PROCESSO CRIME DE
ESTUPRO DO INÍCIO DO SÉCULO XX
Claudice Ferreira Santos (UEFS)
Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS) - Orientadora
O presente trabalho tem como objetivo de pesquisa apresentar as lexias do
campo lexical da sexualidade presentes em um documento manuscrito,
precisamente um processo crime de estupro, lavrado em 1911, início do século
XX, ocorrido no distrito de Tanquinho de Feira, termo da cidade de Feira de
Santana – Bahia. Vale ressaltar que o documento está sob a guarda e armazenado
no acervo do CEDOC - Centro de Documentação e Pesquisa, localizado na UEFS -
Universidade Estadual de Feira. Sendo o léxico de uma língua o acervo no qual se
descortina o modus vivendi de um povo, podemos estudá-lo sob diversos
aspectos. Assim, o corpus deste estudo são as lexias que se relacionam ao campo
da sexualidade. Desse modo, os estudos lexicais são inerentes aos estudos
linguísticos, visto que tudo perpassa pelo léxico. Dessa forma, acrescentamos os
postulados científicos acerca do léxico e de sua importância para os estudos
linguísticos. Portanto, para embasar tal pesquisa, recorremos a Biderman (2001),
Abbade (2003, 2006, 2009, 2011), Queiroz (2009). Este trabalho integra uma
pesquisa, em andamento, a nível de Iniciação Científica, com bolsa PROBIC –
UEFS, tendo, apenas, resultados parciais. Dessa forma, trazemos as discussões
acerca da preponderância do léxico e alguns recortes do corpus em estudo.
Palavras-chave: Léxico. Sexualidade. Campos Lexicais.
FONTES PARA O ESTUDO DO PORTUGUÊS NO BRASIL: EDIÇÃO E ANÁLISE DE
CARTAS SETECENTISTAS
Daví Lopes Franco (UFRJ)
Leonardo Lennertz Marcotulio (UFRJ) - Orientador
O período colonial no Brasil nos deixa uma rica coleção documental que
ainda não foi, em sua totalidade, divulgada. Nesta comunicação, daremos notícias
do trabalho filológico e linguístico que vem sendo realizado com a documentação
77
deixada por dom Luís de Almeida Portugal Soares Alarcão Eça Melo Pereira
Aguiar Fiel de Lugo Mascarenhas Silva Mendonça e Lencastre, segundo marquês
do Lavradio, 11º vice-rei do Brasil, durante o século XVIII, no âmbito do
Laboratório de História da Língua (HistLing). Embora trabalhos como Marcotulio
(2010) e Conceição (2011) tenham dado visibilidade a textos do Lavradio, o
códice 10631, da Biblioteca Nacional de Portugal, ainda não foi sistematicamente
editado e nem estudado. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é editar, de
acordo com os preceitos da Filologia / Crítica Textual (Cambraia, 2005), um
conjunto de dez missivas trocadas entre o vice-rei e o governador da capitania de
São Paulo, Martim Lopez Lobo de Saldanha, entre os anos de 1776 e 1777. No que
se refere ao trabalho filológico, realizamos uma edição semidiplomática de
acordo com as normas do Projeto Para uma História do Português Brasileiro
(PHPB). Acreditamos que, dessa maneira, conseguimos manter a fidedignidade ao
texto original, assim como disponibilizar uma edição que possa despertar
interesses de naturezas diversas. De modo a proporcionar um diálogo entre
Filologia e História da Língua, o nosso objetivo linguístico é levantar elementos
que permitam a discussão sobre a distinção existente entre o português do Brasil
e o português no Brasil (Barbosa, 1999). Para tanto, a partir de um estudo sobre a
colocação pronominal, pretendemos oferecer elementos que possibilitem uma
caracterização sintática do português setecentista.
Palavras-chave: Edição. Cartas Setecentistas. Lavradio.
OS LIVROS DE REGISTROS DO DETALHE DA POLÍCIA MILITAR DA BAHIA:
EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA E TERMINOLOGIA DIACRÔNICA
Edsandro Santana dos Santos (UFBA)
Sandro Márcio Drumond Alves Marengo (UFS / UFBA)
Nosso objeto de estudo neste trabalho são os Livros de Registros do
Detalhe (DET) da Polícia Militar da Bahia, que, no ano de 2017, foram incluídos
no Registro Nacional do programa Memória do Mundo da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Os DET são
documentos militares que tem por função apresentar, em detalhes, os
acontecimentos mais importantes ocorridos diariamente na secular Instituição
baiana (LOSE; MARENGO, 2017). Os 165 volumes que compõem o acervo são
datados da segunda metade do século XIX até o final da primeira metade do
século XX. Ao longo desses registros é possível encontrar vários acontecimentos
marcantes da história da corporação, além de conterem parte significativa da
história da Bahia, do Brasil e da América Latina, como, por exemplo, a Guerra do
Paraguai, a Guerra de Canudos, a Revolução de 1930 e as campanhas contra o
cangaço. Nosso intuito neste trabalho é apresentar os critérios estabelecidos para
a realização da edição semidiplomática do corpus manuscrito bem como os
78
resultados iniciais da edição do DET 70, do século XIX, que detalha as ações da
Brigada Policial da Bahia entre os anos de 1885 e 1890. Neste documento se
encontram importantes perspectivas históricas da Lei Saraiva-Cotegipe ou Lei do
Sexagenário (1885), da assinatura da Lei Áurea e a consequente libertação dos
escravos (1888) e, finalmente, da proclamação da República do Brasil (1889). O
direcionamento da confecção das nossas edições está voltado para futuros
estudos de descrição e análise linguística (CAMBRAIA, 1999; MARENGO, 2016),
particularmente centrados no campo da terminologia.
Palavras-chave: Edição semidiplomática. Livros de Registros do Detalhe da
Polícia Militar da Bahia. Terminologia.
EDIÇÃO FILOLÓGICA DO LIVRO DO GADO DA FAMÍLIA PINHEIRO CANGUÇU:
UM DOCUMENTO ESCRITO POR TRÊS GERAÇÕES (XVIII-XIX)
Elaine Brandão Santos (UEFS)
Mariana Fagundes de Oliveira Lacerda (UEFS - Orientadora)
Neste trabalho – desenvolvido no âmbito do Projeto Vozes do Sertão em
dados: história, povos e formação do português brasileiro, do Núcleo de Estudos
em Língua Portuguesa (NELP), da Universidade Estadual de Feira de Santana
(UEFS), e do Mestrado em Linguística (MEL) da referida instituição –,
apresentamos a edição fac-similar e semidiplomática do Livro do Gado, um dos
dois livros manuscritos do arquivo do sobrado do Brejo do Campo Seco (Bahia),
da família Pinheiro Canguçu. Trata-se de uma documentação dos séculos XVIII e
XIX, importante testemunho para a reconstrução sócio-histórica e linguística do
português brasileiro; importa, especialmente, para a história da penetração e
difusão da escrita no interior da Bahia. Com 57 fólios, o livro tem registros de três
gerações, referentes a operações pastoris – como a marcação de bezerros, de
poldros e poldras e de muares –, à distribuição e partilhas de animais pelas várias
fazendas e a recibos de inventários diversos. As normas de edição adotadas estão
de acordo com os critérios do Projeto Nacional para a História do Português
Brasileiro (PHPB), com adaptações, tendo em vista as especificidades do material.
Apresentam-se também, nesta oportunidade, a descrição gráfica dos diferentes
punhos identificados no manuscrito, características extrínsecas e intrínsecas do
documento e a lista de abreviaturas. Com essa pesquisa, buscamos colaborar com
o PHPB, que vem divulgando corpora manuscritos e impressos de períodos
pretéritos, para estudo da história do português culto e do português popular do
Brasil, do qual o Vozes é parceiro, executando a agenda referente à constituição
de corpus diacrônico.
Palavras-chave: Português Brasileiro. Livro de Fazenda. Edição Semidiplomática.
79
AS GRANDEZAS DA BAHIA: OS ANIMAIS PRESENTES NO TRATADO
DESCRITIVO DO BRASIL EM 1587
Elian Conceição Luz (UFBA)
Norma Suely da Silva Pereira (UFBA - Orientadora)
No século XVI, a relação do colonizador com os povos indígenas era
fundamental para a instalação e manutenção do sistema colonial português.
Dadas as dificuldades em prover alimento e proteção para os colonos no Novo
Mundo, a Coroa Portuguesa, em um primeiro momento, estabeleceu alianças com
tribos nativas a fim de traçar estratégias para a dominação do território. O corpus
deste trabalho foi constituído dos capítulos relacionados aos animais
sistematizados pelo Gabriel Soares de Souza no Tratado descritivo do Brasil em
1587 onde é possível visualizar a importância de conhecimentos indígenas para a
garantia de recursos necessários à permanência dos europeus em um território
desconhecido. As informações registradas na referida obra possibilitam também
o desenvolvimento de estudos sobre a formação do Português Popular Brasileiro
e de línguas indígenas, bem como a elaboração de obras lexicográficas,
principalmente as de caráter histórico. Assim, partiu-se da análise do referido
corpus por meio da leitura da edição de Varnhegen (1851), com base nas leituras
de Pottier (1983, 1978) e Gonçalves (2007) para estudo do campo semântico
“dos animais”, de Paraíso (2012) para discussão das relações entre índios e
colonizadores e de consultas a dicionários sincrônicos do tupi e do português,
considerando variações grafemáticas registradas em parte da tradição
politestemunhal e equivalentes na Língua Portuguesa quando informados pelo
autor. Como resultado, apresentaram-se o contexto histórico, a sistematização
dos capítulos e os subgrupos que integram o campo “dos animais”, evidenciando
a importância da análise de obras paralexicográficas para o estudo histórico e de
língua, bem como da mediação filológica para leitura de documentos de épocas
pretéritas.
Palavras-chave: Filologia Textual. Semântica Lexical. Histórica Colonial.
O OFÍCIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO, OS METAPLASMOS COMO
MODIFICADORES: A TRANSFORMAÇÃO DO LATIM PARA O PORTUGUÊS
Elizabete Rodrigues Santos Neta (UNEB)
Vânia Lúcia Borges (UNEB)
A presente pesquisa terá como base a ladainha do Ofício da Imaculada
Conceição, sendo esta, uma Oração do Cristianismo. É uma das diversas
produções literárias da Igreja Apostólica Romana (Católica), escrita
originalmente por um franciscano italiano chamado Bernardino de Bustis, no
80
século XV no ano de 1678, passou por algumas traduções e está presente nas
representações eclesiásticas dos países que adotaram o catolicismo. Escrita
originalmente em Latim, ao longo dos anos, foi traduzida para o Português. Para
entendermos que a língua passa gradativamente por mudanças em sua estrutura,
no entanto, podendo manter o seu significado, esta pesquisa tende a buscar a
selecionar dentro da Ladainha do Ofício, alguns Adjetivos latinos que foram
mantidos na Língua Portuguesa em seu significado original, com isso, objetiva-se
analisar as transformações fonéticas/fonológicas sofridas por esses adjetivos
selecionados, através do Metaplasmos, ratificando a língua latina como a mãe da
língua falada, pela comunidade portuguesa. O percurso para tal constatação se
volta para uma metodologia descritiva, própria da Linguística Histórica. Como
base para essa discussão utilizaremos, Carlos Alberto Faraco (1998), Ivo Castro
(1991). Os adjetivos selecionados serão analisados a partir da sua presença na
ladainha do Ofício da Imaculada Conceição e sua forma escrita nos dicionários de
língua portuguesa e latina. Para análise das transformações linguísticas sofridas
por essa classe gramatical, utilizaremos como fontes primárias as gramáticas de
Faraco e Moura (1999) e Coutinho (1976), para definir o que vem a ser o adjetivo
e os dicionários de Houaiss (2009) e Ferreira (1999) constando a presença do
adjetivo na língua portuguesa.
Palavras-chave: Latim e Língua Portuguesa. Adjetivos. Metaplasmos.
“ESTE PÚBLICO INSTRUMENTO DE PODER”: ESTUDO SOBRE AS LEXIAS EM
ESCRITURAS DE COMPRA E VENDA DE ESCRAVOS DA PROVÍNCIA CEARENSE
DO SÉCULO XIX
Francisca Lisiani Rodrigues (UECE)
O presente trabalho tem como intuito mostrar um estudo em andamento
que consiste na análise de lexias presentes em documentos oitocentistas do
Ceará, referentes à escravidão, especificamente à transação comercial
envolvendo os negros escravizados. Partimos da premissa de que o léxico é um
aspecto linguístico que detém muitos pontos de contato com a realidade
extralinguística e, por isso, nos permite acessar a história e cultura de um povo.
Desse modo, fundamentando-nos na Filologia, amparados em Ximenes (2009), na
Lexicologia, fundamentados em Biderman (1987), e na História Social, com base
em Funes (2007), percorremos os seguintes caminhos: inicialmente,
selecionamos cento e setenta e cinco escrituras de compra e venda de escravos
datadas do período de 1870 a 1873. Em sequência, baseando-nos nas normas de
edição reelaboradas pelo grupo de pesquisa Práticas de Edição de Textos do
Estado do Ceará (PRAETECE), editamos semidiplomaticamente todos os
documentos. Realizamos, a posteriori, o levantamento de lexias presentes nas
escrituras, mediante a observação do contexto de uso e quando esse não foi
81
suficiente para esclarecer o sentido, recorremos aos dicionários de Moraes Silva
(1813), Houaiss, entre outros. Feito isso, organizaremos e analisaremos essas
lexias a partir de categorias compreendendo seu sentido dentro do discurso
social e jurídico sobre a escravidão, descrevendo e levantando hipóteses sobre a
comercialização de escravizados na província cearense. De modo específico, a
pesquisa pretende compreender um pouco da história da nossa língua e do Ceará
nos oitocentos no que se refere à escravização de negros.
Palavras-chave: Filologia. Lexicologia. Escravidão.
NOS CAMINHOS HISTÓRICOS DO SERTÃO: EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA DE
DOIS INVENTÁRIOS DA VILA DO RASO DE ARACI
Fredson Pereira dos Santos (UFBA)
Célia Marques Telles (UFBA) - orientadora
O presente estudo pretende trazer a lume como se deu a ocupação dos
sertões pelos colonizadores portugueses e seus descendentes e as expedições
missionários dos padres jesuítas no século XVII, mais precisamente na Vila do
Raso, localizada no alto sertão baiano. Intenta-se fazer a edição semidiplomática e
o estudo léxico dos inventários de Ireneo Antunes de Oliveira, Padre João Velho
Pereira de Oliveira e Leonídia Constantina de Oliveira Lima, escritos pelos
primeiros Padres e pelo escrivão Francisco Ferreira da Motta. Os Inventários
integram, respectivamente, o acervo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do
Raso de Araci e estão sob a guarda do Centro Cultural de Araci-BA. Os
documentos guardam registros de doações feitas aos primeiros habitantes em
108 anos, datados de 1779 a 1887, com inúmeras referências sócio-históricas.
Contém 264 fólios recto e verso, relatos de teor jurídico, sociais, históricos,
culturais, geográficas e políticas. A edição semidiplomática levantará dados do
léxico da época e da formação sócio-histórica do Português do período que será
estudado. Sabe-se que os cronistas da Corte fizeram vagas referências aos
aldeamentos existentes no alto sertão da Bahia, precisamente onde se situa o
Raso. Como a colonização portuguesa se processou do litoral para o interior,
especialmente a partir da metade do século XVI, as primeiras notícias sobre os
que habitavam os Sertões dos Tocós só chegaram ao nosso conhecimento no final
do século XX. Ao referir-se à Bahia, muito do que se tem escrito e pesquisado em
Linguística Histórica e Filologia é sobre Salvador, Recôncavo e Feira de Santana.
Com relação ao sertão, mesmo considerando os avanços, é preciso atentar que
ainda requer outras incursões. Visando estudar os aspectos diacrônicos da língua
portuguesa, pois conhecer a língua e a cultura de uma época passada, através do
texto, nos permite entender as variações desse sistema dinâmico passível de
mutações, uma vez que para entender as mudanças ocorridas até o presente é
necessário conhecer e avaliar o passado. Desse modo os documentos estão sendo
82
editados, adotando os critérios instituídos por Lose (2010) , Queiroz (2007)
,Telles (2006) para os tipos de edição fac-similar e semidiplomática.
Palavras-chave: Edição Semidiplomática. Inventários. Paleografia.
NOTAE IURIS: A RELAÇÃO ENTRE LATIM E DIREITO ATRAVÉS DOS LIVROS
DO TOMBO
Gustavo Santos Matos (UFBA)
Célia Marques Telles (UFBA) - Orientadora
A atividade jurídica remonta a um tempo muito longínquo. A prática do
Direito tal como conhecemos nasceu em Roma, o Ius Civile, e atravessou os
séculos. O latim, língua de diversas instituições romanas, foi de suma importância
para a ciência do Direito e forneceu para esta práticas, fórmulas e elementos
linguísticos que resistiram ao tempo. O latim e o Direito são assim elementos
indissociáveis, pelo menos no que tange ao mundo ocidental onde o Império
Romano ali se fez presente por um durável tempo. Em Portugal, a prática jurídica
é oriunda de diversas fontes, inclusive do Direito de Roma e será sob esta égide
do Direito Português que desenvolver-se-á o fazer jurídico na Colônia do Brasil.
As práticas jurídicas aqui estabelecidas e exercidas pela Coroa de Portugal ainda
traziam todas as características do Direito praticado no medievo lusitano, apesar
de, historicamente, já estarmos falando da Idade Moderna. Dos muitos
documentos que compõem o Arquivo do Mosteiro de São Bento da Bahia, os
Livros do Tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia, uma coleção de sete livros,
guardam em suas seculares páginas muito da história da cidade de Salvador da
Bahia, consequentemente, da vida colonial brasileira. Dois, deste total de sete
livros, serão objetos do trabalho que ora visa se desenvolver: O Livro Velho e o
Livro III. Os Livros do Tombo, por serem livros de teor jurídico, encerram muitas
dessas notae iuris, expressões jurídicas latinas. São estes elementos em latim,
dentro dos Livros do Tombo que serão analisados. Este trabalho propõe-se a
apresentar através da atividade notarial do Brasil Colônia por meio dos Livros
Velho e III do Tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia o uso e a função do latim
presente nestes textos, além de um breve histórico da formação do Direito em
voga no território português.
Palavras-chave: Latim. Direito. Livros do Tombo.
83
VOCABULÁRIO DA MODA NA IMPRENSA FRANCESA ENTRE 1907-1927: OS
PRIMEIROS PASSOS PARA A TESE
Ingrid Oliveira Santos Silva (UFBA)
Célia Marques Telles (UFBA - Orientadora)
No início do século XX, a França vivia um momento de estabilidade política
e de prosperidade financeira. Era o momento da Belle Époque, onde Paris era o
centro de referência cultural no ocidente. O vestuário empregado entre avenidas
e bulevares era visto como sinônimo de elegância e sofisticação, sendo
considerado como modelo a ser seguido. Assim como a língua, a moda também
pode ser considerada como um instrumento de comunicação. As roupas
utilizadas no cotidiano, os acessórios, o tipo e as cores do material utilizado
podem fornecer uma grande diversidade de informações relativas à profissão,
religião, nacionalidade etc. Ao longo do século XX, a imprensa tem sido uma
ferramenta de grande importância no processo de difusão de tendências,
renovação e reinvenção da moda. Desse modo, este trabalho tem por objetivo
analisar o léxico de língua francesa relacionado ao vestuário e seus acessórios
presentes nos periódicos franceses intitulados L’élan de la mode e La femme de
France publicados entre 1907 e 1927. Assim, ao tratar das roupas, seus tecidos,
usos, cortes e cores e dos diversos acessórios que as acompanhavam, analisa-se
não só o léxico empregado, mas leva-se em conta também o contexto sócio
histórico no qual ambos os periódicos foram produzidos. Assim, esta pesquisa se
vincula mais diretamente ao interesse de, ao menos, duas áreas de estudos da
linguagem, sendo a Lexicografia, voltada para trabalhos de sistematização do
léxico em dicionários, vocabulários e glossários, e a Filologia, ciência “do amor
pelo texto” que, a partir deste, visa o resgate e a preservação da cultura de um
povo. Por esta se tratar de uma pesquisa ainda em fase inicial, apresentar-se-á
apenas uma pequena amostra dos dados já coletados.
Palavras-chave: Belle Époque. Imprensa Francesa. Lexicografia.
EDIÇÃO E ESTUDO DAS VARIAÇÕES GRAFEMÁTICAS EM UM PROCESSO
CRIME DE HOMICÍDIO DO INÍCIO DO SÉCULO XX
Izaías Araújo das Neves Paschoal (UEFS)
O processo-crime é um registro da grafia dos escrivães, representante da
voz dos oficiais, que escreviam aquilo que lhes era ditado e, dessa maneira,
variavam a escrita das palavras de acordo com aquilo que conheciam. Nota-se,
portanto, que é comum ver a palavra escrita sendo tratada como um registro da
língua oral e que esse entendimento interfere na grafia. Em um mesmo
documento, é comum ver uma mesma palavra sendo grafada de maneiras
84
diferentes, tendo como base o escrivão que a escrevia. É correto dizer, portanto,
que o grafema é uma consequência da grafia apesar de, entre os pesquisadores,
não haver consenso entre a definição e os limites de cada um. Entretanto, o
grafema pode ser entendido como uma representação gráfica da língua oral
embasada por componentes fonético-fonológicos. Pretende-se, neste trabalho,
apresentar a edição semidiplomática de um processo-crime, ocorrido entre os
anos de 1902 e 1909, na cidade de Feira de Santana (BA), composto por 26 fólios,
os quais trazem a investigação sobre o homicídio cometido pelo réu Manoel
Mendes de Aragão contra a vítima Macellino Manoel dos Santos. Seguindo a
edição, será feito o estudo das variações grafemáticas que constam no
documento, ressaltando a importância do estudo diacrônico da língua
portuguesa, de maneira a investigar como foi o seu processo de mudança ao
longo do tempo. Além disso, através do estudo do manuscrito, pretende-se
aperfeiçoar o conhecimento sobre a cultura e os costumes de Feira de Santana no
início do século XX, já que a edição semidiplomática permite uma inserção na
realidade histórica para que se possa buscar uma compreensão de como se deu a
construção da cidade enquanto espaço social.
Palavras-chave: Edição semidiplomática. Variação grafemática. Processo-crime de
homicídio.
A PRIMEIRA DÉCADA DA ÁSIA DE JOÃO DE BARROS: UM ESTUDO
FILOLÓGICO-LEXICOGRÁFICO
Jane Keli Almeida da Silva (UFBA)
Cemary Correia de Souza (UFBA)
Quem quer que se interesse pela história do português, certamente,
haverá de consultar as “Décadas da Ásia”, de João de Barros, obra historiográfica,
que traz narrativas sobre a presença portuguesa nos diferentes pontos do globo,
num momento em que Portugal começava a se aventurar nas grandes
navegações. As Décadas narram o descobrimento do Oriente, nomeadamente, da
África e da Ásia, iniciado por volta do século XV, ao mesmo tempo, em que
relatam os grandes feitos realizados nessas regiões pelos portugueses. As
“Décadas da Ásia” foram publicadas em quatro volumes, dos quais o primeiro
saiu do prelo em Lisboa, no ano de 1552, na Casa tipográfica de German Galharde.
O texto do primeiro volume se volta à narração dos descobrimentos da Guiné que,
depois, se expandiram até a Índia, tendo como principais autores Vasco da Gama
e Pedro Álvares Cabral. Interessa neste artigo o estudo filológico-histórico da
primeira “Década da Ásia” por a obra estar muito próxima do limite final do
período arcaico do português (situado entre 1536 e 1540), e seu autor ser uma
notável figura histórica, por justamente ter elaborado a segunda gramática do
português, para além de ter se aventurado a narrar a colonização portuguesa no
Oriente, mesmo não tendo estado presente nas regiões descritas. Desse modo,
85
pretende-se, com este trabalho, depreender o imaginário desse homem
renascentista, discutindo também a percepção que esse sujeito tinha de história
no idos do século XVI. Considerando as interfaces possíveis e necessárias entre a
Filologia e a Lexicografia, apresentam-se, ainda, alguns verbetes de étimos não
românicos a fim de corroborar a natureza do corpus investigado, bem como a
identidade gramatical de João de Barros na Primeira Década.
Palavras-chave: As Décadas da Ásia. João De Barros. Filologia e Lexicografia.
A CONCEPTUALIZAÇÃO DA FEMINISTA EM MEMES
Lia Simões Nery (UFBA)
Apresentam-se resultados parciais do estudo realizado sobre o processo
de conceptualização da feminista em dois memes, que têm como tema a mulher
feminista, retirados da rede social Instagram. A pesquisa está pautada à luz dos
aportes teórico-metodológicos da Semântica Cognitiva, mais especificamente, da
Teoria da Metáfora e da Metonímia Conceptuais (LAKOFF; JOHNSON, 1980;
LAKOFF, 1999; GRADY, 1997). Em relação à multimodalidade, foram utilizados os
trabalhos de Forceville (1996, 2007). Conforme destaca esse autor, uma
consequência de aceitar a visão de que a metáfora é primariamente uma
atividade mental e apenas, derivacionalmente, uma atividade verbal, é que suas
manifestações devem ser examinadas em modos semióticos diferente da
linguagem apenas. Sendo assim, tem-se por objetivo geral discutir sobre o modo
como a feminista é conceptualizada nos dois memes que compõem o corpus da
pesquisa, buscando identificar que fatores sócio-cognitivo-histórico-culturais
interferiram nesse processo. Para isso, faz-se um diálogo interdisciplinar com
outras áreas do saber que têm como ponto central a história do feminismo,
promovendo, assim, o diálogo entre a Linguística Cognitiva e os estudos da
História (DEL PRIORE, 2016). Dentre os objetivos específicos, estão: estudar a
conceptualização da feminista à luz dos pressupostos teóricos e metodológicos da
Semântica Cognitiva; identificar os mecanismos cognitivos subjacentes à
conceptualização da feminista no corpus selecionado; identificar os domínios
conceptuais utilizados como domínio-fonte; discutir sobre o conceito de memes,
seu surgimento e impacto na sociedade contemporânea, bem como sua
importância como um texto multimodal de longo alcance que possibilita, aos seus
leitores/conceptualizadores, variadas conceptualizações; identificar quais os
esquemas de imagem estruturam a conceptualização da feminista no corpus
selecionado; e discutir os impactos das conceptualizações negativas da feminista
na sociedade e nas mídias digitais, repercutindo, assim, em discursos misóginos e
machistas. A pesquisa se justifica por ampliar os estudos na área da Semântica
Cognitiva, evidenciando que os significados emergem da interação entre
processos cognitivos e biológicos do conceptualizador, da influência de seu corpo
86
e da sua interação física ou social com o mundo. Justifica-se, ainda, pelo caráter de
originalidade, já que, ao estabelecer um diálogo com a Linguística Histórica,
chama atenção para uma nova área dos estudos semânticos: a Semântica
Histórica Cognitiva (JAÉN, 2014).
Palavras-chave: Conceptualização. Feminismo. Semântica Cognitiva Histórica.
EM VERDADE DOU FÉ: ANÁLISE HISTÓRICA DAS PARTÍCULAS JURÍDICAS DE
FINALIZAÇÃO SOB AS LENTES TEÓRICAS DA LINGUÍSTICA TEXTUAL DE
EUGÊNIO COSERIU
Márcia Amélia de Oliveira Bicalho (UNIEURO)
Este trabalho tem como objetivo um dos elementos de finalização em
textos jurídicos. O corpus faz parte de um processo criminal do século XIX da
cidade de Pombal – PB. A fundamentação teórica é interdisciplinar, envolvendo a
Linguística Textual de base coseriana, a Teoria das Tradições discursivas, a
História social da linguagem e História dos textos, notadamente na área do
direito. Entre os autores que compõem este trabalho, podemos destacar, Coseriu
(1977, 1978, 1979,1980, 2007, 2010), Fonseca (2003), Marcuschi (2003, 2012),
Kabatek (2006), Koch (2006, 2007), Oesterreicher (1996, 2006), dentre outros. O
processo que compõe o corpus deste trabalho apresenta-se em um volume
composto por sessenta e uma laudas (frente e verso) manuscritas e um total de
trezentas e noventa e nove peças processuais. Após a transcrição do corpus,
realizamos o mapeamento das ocorrências das partículas discursivas jurídicas e
analisamos a sua função dentro do texto, ampliamos o conceito de Eugênio
Coseriu a respeito das partículas discursivas e dividimos o conceito de partículas
discursivas em três categorias: partículas jurídicas de iniciação, partículas
jurídicas de passagem e partículas jurídicas de finalização. Para este trabalho,
apresentaremos as partículas jurídicas de finalização. Os resultados apresentados
ratificam a hipótese de que as partículas discursivas jurídicas, utilizadas pelos
escrivães, retomam a época de consolidação de leis criminais genuinamente
brasileiras, portanto, são tradições discursivas jurídicas. Concluímos o trabalho
demonstrando que as partículas discursivas jurídicas são utilizadas pelo escrivão
para direcionar a leitura e apresentar a sua fé pública, ou seja, a veracidade do
que, por ele, foi escrito ou retextualizado dentro da tradição discursiva jurídica.
Palavras-chave: Tradições Discursivas. Linguística Textual. Partículas Discursivas
Jurídicas.
87
UM OLHAR FILOLÓGICO PARA O LIVRO DE FÁBRICAS DA CATEDRAL DE
MARIANA (MG)
Marcus Vinícius Pereira das Dores (UFMG)
Em diferentes áreas científicas - Literatura e Linguística, História,
Educação, Direito, etc. -, documentos manuscritos antigos estão, cada vez mais,
sendo utilizados como fonte de pesquisa científica. Com o desenvolvimento
tecnológico, diferentes e sofisticadas técnicas foram aprimoradas e criadas com a
finalidade de auxiliar esses pesquisadores que trabalham com documentos de
períodos, muitas vezes, tão distantes em seu labor científico. É indiscutível a
importância desses textos, que trazem nas linhas e entrelinhas relevantes
informações, para a reconstrução da língua, história, costumes etc. da sociedade
que eles registram. Nossa proposta aqui é apresentar, de forma sucinta, parte da
pesquisa de mestrado, que estamos desenvolvendo no Programa de Pós-
Graduação em Estudos Linguísticos da UFMG, sob orientação da Profa. Dra. Alexia
Teles Duchowny, que tem por objetivos a edição diplomática do Primeiro Livro
de Fábricas de bens da Catedral da Arquidiocese de Mariana – MG (1749) e a
elaboração de um glossário de termos eclesiásticos. Por meio de uma edição
baseada em critérios filológicos, buscamos também recuperar o estado de língua
registrado naquele documento, de forma muito particular no nível lexical. A
pesquisa dos termos eclesiásticos presentes no manuscrito em questão, como
meio de identificá-los, recuperá-los e registrá-los, contribui diretamente para a
nossa memória linguística e para a história da lexicografia e da terminologia da
língua portuguesa. Atrelado a esse primeiro objetivo, desenvolvemos um trabalho
de preservação da memória daquela sociedade e do suporte físico do manuscrito,
que, com o passar do tempo, sofre diversas interferências causadoras de
deterioração.
Palavras-chave: Edição Diplomática. Manuscrito Setecentista. Terminologia
Eclesiástica.
FONTES DOCUMENTAIS PARA A HISTÓRIA DO PORTUGUÊS: EDIÇÃO E
ESTUDO DE CARTAS DA IGREJA EVANGÉLICA FLUMINENSE
Maria Elisa Lima de Souza (UFRJ)
Leonardo Lennertz Marcotulio (UFRJ) - Orientador
A Igreja Evangélica Fluminense, fundada em 1858 pelo Reverendo Robert
Reid Kalley, com sede no Centro do Rio, foi a primeira congregação protestante
brasileira a cultuar em português. A instituição religiosa dispõe de uma rica
88
coleção documental que ainda não recebeu tratamento arquivístico e filológico
adequado, o que impede a divulgação de documentos importantes sobre a
história da religião evangélica no Brasil e de seus membros fundadores. Nesse
sentido, o objetivo da presente comunicação é dar notícias sobre o trabalho que
vem sendo realizado de organização, catalogação, edição e estudo das fontes
documentais da Igreja Evangélica Fluminense, no âmbito do Laboratório de
História da Língua (HistLing), de modo a preservar e disponibilizar a memória do
acervo da Instituição. Os materiais levantados estão sendo editados sob os
rigorosos preceitos da Filologia / Crítica Textual (Cambraia, 2005), de acordo
com as normas do projeto Para uma História do Português Brasileiro. Uma edição
semidiplomática desse material estará disponível para diversos estudos
linguísticos considerando distintos níveis, como grafo-fônico ou morfossintático,
por exemplo. Uma particularidade desse material é o fato de ele permitir estudos
do português como língua estrangeira. Robert Reid Kalley era escocês, falante
nativo da língua inglesa, foi para Funchal em outubro de 1838, onde aprendeu o
português europeu. Após oito anos na Ilha da Madeira, foi para os Estados Unidos
e entre os anos de 1853 e 1854 ministrou aos refugiados madeirenses naquela
nação. Kalley chegou ao Brasil em 1855, depois de ter sido convidado para
ministrar aos que viviam no país, e então passou a ter contato com a variedade
brasileira do português.
Palavras-chave: Edição. Acervos Religiosos. História da Língua.
CONTRIBUIÇÕES METODOLÓGICAS PARA COLETA E ESTUDO DE NOMES
PRÓPRIOS NAS CANTIGAS DE SANTA MARIA E NAS CANTIGAS PROFANAS
Natalia Zaninetti Macedo (UNESP)
Nesta comunicação, apresentamos resultados do processo de coleta e
mapeamento de nomes próprios nas Cantigas de Santa Maria (CSM) e nas
cantigas profanas. No que se refere aos dados coletados nas CSM, levantamos
antropônimos e topônimos contidos no Glossário de Mettmann (1972). Nele,
coletamos 221 antropônimos e 334 topônimos. Partindo das informações dos
verbetes trazidos por este glossário, tais nomes próprios foram mapeados nas
cantigas. Depois, mostramos a relevância de consultas a outras fontes
secundárias de informação, que têm se mostrado adequadas para coleta de
informações referentes aos nomes medievais. Em duas diferentes tabelas,
elencamos informações referentes aos antropônimos e topônimos coletados nas
CSM e nas cantigas profanas. Na tabela referente às CSM, trazemos as seguintes
informações: nome próprio coletado no Glossário de Mettmann (1972), número
da CSM, número do verso, trecho da cantiga em que o nome próprio aparece e
também informações sobre esses nomes recolhidas do Glossário de Mettmann
(1972), no Dicionário Etimológico de Nomes e Sobrenomes de Guérios (2004), no
89
Dicionário etimológico do Português Arcaico de Machado Filho (2013) e no
Dicionário da Língua Portuguesa Medieval de Carvalho da Silva (2007). De forma
semelhante construímos a tabela referente aos nomes próprios encontrados nas
cantigas profanas, sendo que nos baseamos nas informações fornecidas pela base
de dados online portuguesa disponibilizada no site
<http://cantigas.fcsh.unl.pt/listacantigas.asp>, resultante do projeto “Littera,
edição, atualização e preservação do património literário medieval português”,
financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (PTDC/ELT/69985/2006),
com sede no Instituto de Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Esta base de dados forneceu-nos
informações referentes aos antropônimos, topônimos, trechos e versos das
cantigas profanas em que constam nomes próprios, descrição do gênero da
Cantiga, autor e localização nas fontes manuscritas. Por meio dela, coletamos um
total de 323 antropônimos e 334 topônimos. Todos estes nomes foram
consultados, depois, em seis diferentes glossários e dicionários: o Glossário da
poesia medieval galego-portuguesa (GLOSA), do Grupo de Investigación
Lingüística e Literária (ILLA) da Universidade da Coruña, sob direção de Manuel
Ferreiro o Dicionário etimológico do Português Arcaico de Machado Filho (2013),
o Dicionário da Língua Portuguesa Medieval de Carvalho da Silva (2007), o
glossário das Cantigas d'amigo dos trovadores galego-portugueses, de Nunes
(1973 [1926/1929]), o Glossário do Cancioneiro da Ajuda de Michaëlis de
Vasconcelos (1990 [1904]) e as Notas gerais das Cantigas Medievais Galego
Portuguesas de Lopes e Ferreira, que são informações referentes aos nomes
próprios contidos nas cantigas profanas disponibilizadas na mesma base de
dados online do já mencionado Projeto Littera. Esperamos com esta comunicação
contribuir para o desenvolvimento de pesquisas onomásticas no período arcaico
da língua portuguesa, expondo a relevância das obras citadas e os resultados a
que chegamos.
Palavras-chave: Português Arcaico. Cantigas medievais. Onomástica.
BREVES NOTÍCIAS SOBRE A TERMINOLOGIA DAS ARMAS A PARTIR DE
DOCUMENTO HISTÓRICO DO SÉCULO XIX
Pollyana Macedo de Jesus (UFBA)
Eliana Correia Brandão Gonçalves (UFBA) - Orientadora
Neste trabalho será realizado um estudo terminológico, a partir da edição
semidiplomática de uma Relação das bocas de fogo e demais munições de guerra,
existentes no presídio do Morro de São Paulo, antiga Fortaleza de Tapirandu,
situado na Ilha de Tinharé, na Bahia. O documento escrito pelo Major Governador
e Comandante Interino, José Pedro de Alcântara, encontra-se disponibilizado na
base de dados da divisão de manuscritos da Biblioteca Nacional. Trata-se de um
90
documento histórico datado de 12 de agosto de 1824, que apresenta vários
termos relacionados às armas que eram utilizadas no período, a fim de suprir as
necessidades do presídio atuante no local. A referida Fortaleza de Tapirandu
contribuía para a defesa da região, visto que sua localização era estratégica e
permitia o acesso à Baía de Todos os Santos, sendo de grande importância para a
proteção local no período. Desta forma, com base na edição do texto, será
desenvolvido um estudo lexical com enfoque nos termos utilizados para fazer
referência à nomenclatura armamentista da época, situando-as historicamente.
Portanto, neste estudo são selecionados e analisados alguns termos relativos às
armas, utilizando-se como aporte teórico sobre léxico e terminologia, as
discussões desenvolvidas por Cabré (1999), Krieger (2010; 2013), Krieger;
Finatto (2004), Murakawa; Nadin (2013) e Gonçalves (2007; 2017). Para fins de
análise terminológica, serão considerados a edição do texto, o contexto histórico-
social e linguístico, em que o manuscrito foi produzido, algumas reflexões acerca
da temática e outros aspectos fundamentais para a composição do trabalho.
Evidencia-se, portanto, que é indispensável que se explorem as particularidades
da terminologia, em diferentes perspectivas, sobretudo linguística, histórica e
filológica.
Palavras-chave: Terminologia das armas. Filologia. História da língua.
NOTAS PARA UMA HISTÓRIA DO FUNCIONAMENTO DISCURSIVO DO
VERBETE "MACUMBA" EM DICIONÁRIOS EM CIRCULAÇÃO NO BRASIL (1940-
2018)
Renata de Loyola Prata (UFBA)
Rogério Modesto (UFBA) - Orientador
Um dos pilares mais fundamentais do programa de estudo desenvolvido
na História das Ideias Linguísticas (HIL) é a compreensão da constituição
histórica do saber metalinguístico da(s) língua(s). Nessa vertente teórica,
entender a produção e circulação de um saber metalinguístico em dada
conjuntura é condição sine qua non para a investigação e compreensão em torno
da construção de uma língua nacional. A fim de dar consequência ao seu
programa, a HIL pauta o conceito de gramatização a partir do qual é possível
refletir acerca do processo que conduz a descrição e instrumentalização de uma
língua tendo como base duas tecnologias específicas que são, por sua vez,
consideradas os pilares de um saber metalinguístico nacional: a gramática e o
dicionário. Essas duas tecnologias, assim, são consideradas instrumentos
linguísticos, ou seja, não servem apenas a uma mera descrição ou representação
de uma língua, pois desempenham um papel muito maior dentro de um projeto
de poder que visa a controlar e domesticar os tempos e os espaços linguísticos.
Tomando como base essa discussão, este trabalho tem o objetivo de analisar os
91
efeitos de sentido em funcionamento do verbete “macumba” em dicionários em
circulação no Brasil, partindo de um recorte temporal que compreende o período
entre 1940 e os dias atuais. Esse recorte foi delimitado por uma razão: é
justamente em 1940 que há a promulgação do Código Penal brasileiro atualmente
em vigor, documento no qual criminaliza-se o curandeirismo, o que acende
institucionalmente o debate em torno das práticas religiosas do povo de santo.
Tal fato dá indícios da força inegável da diversidade religiosa que constitui o
espaço social brasileiro. Neste trabalho, há uma questão-problema que sustenta a
investigação proposta: como, a partir da análise do funcionamento discursivo do
verbete “macumba”, é possível tensionar o papel desse instrumento linguístico
numa realidade nacional multilíngue, mas que se imagina monolíngue, como a
realidade brasileira? Dessa questão, surgem outras: como os discursos
minoritários/minoritizados aparecem na história do português do Brasil? A
partir de que bases discursivo-ideológicas as práticas religiosas de matriz
africana são significadas? A negação ou apagamento da cultura africana é também
a negação e o apagamento do papel das línguas africanas na história do português
brasileiro? Todas essas perguntas são postas em pauta neste trabalho a partir de
uma conjunção teórica que põe em diálogo a HIL, especialmente pela visão já
mencionada de instrumento linguístico, a Análise de Discurso materialista, por
permitir uma leitura dos efeitos de sentido e do funcionamento discursivo do
verbete em questão, e a Filologia, como disciplina que permite um aparato
específico pelo qual é possível organizar e ler o arquivo montado, ressaltando a
especificidade documental da pesquisa.
Palavras-chave: Dicionários. Instrumentos linguísticos. Macumba.
RECOLHIMENTO DE MULHERES DO VÉU PRETO: ESTUDO DO LÉXICO E DAS
PRÁTICAS CULTURAIS NA BAHIA COLONIAL
Rose Mary Souza de Souza (UFBA)
Norma Suely da Silva Pereira (UFBA) - Orientadora
Na perspectiva dos estudos paleográficos, filológicos e linguísticos, o
presente estudo busca divulgar a prática do recolhimento de mulheres que
usavam véu preto no Convento de Santa Clara do Desterro, na Bahia, primeira
instituição do gênero fundada na América Portuguesa, no ano de 1677. Para
tanto, apresenta-se a edição semidiplomática de um documento manuscrito,
datado do século XVIII, pertencente ao Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa,
que foi catalogado e disponibilizado online pelo Projeto Resgate Barão do Rio
Branco, na Biblioteca Nacional Digital. O pedido de recolhimento para as
mulheres que deveriam se tornar professas do véu preto, significava a
demarcação de relevância na comunidade religiosa, atendendo à necessidade das
famílias mais abastadas que pleiteavam para suas primogênitas uma posição de
92
destaque no Convento. Além da educação destas, as casas de recolhimento e
conventos também acolhiam moças pobres, com o fim de resguardar a dignidade
de donzelas e viúvas. Para se tornar professa do véu preto, pela distinção que o
letramento religioso lhes conferia, na celebração do Ofício Divino em latim,
somente mulheres letradas seriam aceitas. Como base teórica, utilizam-se os
pressupostos teórico-metodológicos da Paleografia (ACIOLI, 1994; BERWANGER
E LEAL, 2008); da Filologia Textual, (BORGES, 2012; CAMBRAIA, 2005; SPINA,
1997); e da Lexicografia, (MURAKAWA, 2014). Por meio da edição do documento,
pretende-se, além de contribuir para a ampliação do conhecimento acerca das
práticas culturais, colaborar com um maior esclarecimento da língua do período,
acrescentando um breve glossário cujos verbetes auxiliam na compreensão dos
costumes sociais e religiosos da época e com outros estudos de áreas diversas.
Palavras-chave: Edição Semidiplomática. Léxico. Recolhimento de mulheres.
CONSIDERAÇÕES SOBRE OS TERMOS HAUÇÁS COLETADOS POR NINA
RODRIGUES NA SALVADOR OITOCENTISTA
Samantha de Moura Maranhão (UFPI)
Este estudo sobre o vocabulário hauçá documentado por Nina Rodrigues
em fins do século XIX teve por objetivo extrair-lhe informações variadas, como os
campos semânticos a que os vocábulos pertencem, a sua vitalidade e a existência
de empréstimos árabes. Buscou, portanto, responder à questão mais ampla: “Que
informações nos trazem os termos hauçás registrados na obra Os Africanos no
Brasil, de Nina Rodrigues?” As hipóteses testadas foram: 1. As formas hauçás
analisadas integram campos semânticos essenciais, como nomes de animais,
partes do corpo e relações de parentesco, os quais constituem o vocabulário
básico de qualquer língua; 2. O vocabulário hauçá em questão ainda está em uso
na Nigéria, estado político em que hoje se concentram os seus falantes; 3. Não há
empréstimos árabes, considerando a natureza dos campos semânticos
representados pelos termos analisados, os quais, sendo básicos, menos
frequentemente registram material léxico estrangeiro. Os fundamentos teóricos
deste estudo foram colhidos em autores diversos, sobretudo relacionados à
presença hauçá na Bahia (REIS, 2003; RODRIGUES, 2008) e à língua hauçá e ao
seu adstrato árabe, no Oeste-Africano (BALDI, 1988; DANLADI, 1992; DANZAKI,
2015; DOBRONRAVIN, 2004; GREENBERG, 1947; HASPELMATH, 2003;
MICHAELE, 1968). Quanto à metodologia, entrevista com informante nativo de
língua hauçá, para identificação das formas documentadas por Nina Rodrigues,
resultou em informações particularmente interessantes, como a forma (gráfica)
moderna dos vocábulos, a identificação de formas arcaicas, expressões atuais em
que alguns vocábulos ocorrem, etc. Para a análise dos campos semânticos e da
ocorrência de arabismos africanos entre as formas analisadas, concorreu a
93
pesquisa bibliográfica, em obras especializadas, conforme acima especificado.
Justificou a realização deste estudo a originalidade do tema, isto é, a
interpretação dos dados linguísticos colhidos por Nina Rodrigues sobre a língua
hauçá e o fato de fornecer subsídios para o resgate da história das línguas
africanas no Brasil, notadamente daquelas do Oeste-Africano.
Palavras-chave: Linguística africana. Língua Hauçá. Bahia Oitocentista.
EDIÇÕES FAC-SIMILAR E SEMIDIPLOMÁTICA DE UM AUTO DE
DEFLORAMENTO DE 1904
Samila de Cassia da Silva Santos (UEFS)
Josenilce Rodrigues de oliveira Barreto (UEFS) - Orientadora
A Filologia, ciência que objetiva a preservação de manuscritos, por meio
dela, conhecemos os hábitos, os costumes, a cultura e a língua de um povo,
através de documentos produzidos em uma dada época. Conhecemos um pouco
sobre o defloramento sofrido pela menor Maria Dias dos Santos, o qual ocorreu
no início do século XX. A partir da leitura deste documento que está guardado no
Centro de Documentação e Pesquisa, localizado na Universidade Estadual de
Feira de Santana (UEFS), conservamos as informações deste processo crime, que
foi lavrado em 1904. Maria Dias dos Santos, filha de José Dias dos Santos, morou
em Feira de Santana, de família pobre, menor de idade, foi deflorada pelo seu
namorado, Eduardo Tertuliano de Oliveira, o qual prometia casar-se. Objetivamos
preservar todas as informações que estão neste documento e para isso
realizamos dois tipos de edições filológicas: a edição semidiplomática, que é a
transcrição fiel de todo o texto, a qual permite termos toda a conservação do
manuscrito, e a edição fac-similar, que é a fotografia digital de todo o documento,
o que nos permitiu também identificar os aspectos codicológicos. Dessa forma,
para a realização dessas edições filológicas, utilizamos Barreto (2014), Queiroz
(2007), Cambraia (2005).
Palavras-chave: Auto de Defloramento. Filologia. Edições Fac-Similar e
Semidiplomática.
MULHER NA CULTURA DO ESTUPRO: METÁFORAS E METONÍMIAS
Simone Webering Martínez de Sant'Anna (UFBA)
Apresentam-se resultados do estudo realizado sobre o modo como a
mulher é conceptualizada na chamada cultura do estupro a partir de seis textos
multimodais publicados na edição de julho de 2015 da revista Superinteressante.
Ao retratar a violência contra a mulher e a forma como diversas instituições
94
abordam o tema, mostrando “pesos e medidas” impostos pela sociedade para
justificar o crime, manifestam-se diversas conceptualizações da mulher pautadas
em determinados modelos culturais. As premissas teóricas e metodológicas que
nortearam a pesquisa são as da Linguística Cognitiva e, mais especificamente, da
Teoria da Metáfora e da Metonímia Conceptuais (LAKOFF; JOHNSON, 1980;
LAKOFF, 1999; GRADY, 1997). Quanto às questões sobre a conceptualização
multimodal, foram utilizados os estudos de Forceville (1996, 2007, 2009). Faz-se
um diálogo com a Teoria da Complexidade, trazendo para a discussão o
pensamento de teóricos como Capra (2005), que afirma que o pensar complexo
forma interconexões em contraposição às visões reducionistas da ciência. Assim,
compreende-se o fenômeno da conceptualização através de uma visão holística e
interdisciplinar, sendo, portanto, visto como um fenômeno complexo. Buscou-se,
ainda, mostrar a aplicabilidade de um diálogo entre a Linguística Cognitiva e a
Linguística Histórica, evidenciando, assim, a importância que a Semântica
Cognitiva Histórica tem nos estudos das línguas, conforme explicita Jaén (2014).
Tem-se por objetivo geral promover uma discussão acerca do modo como ocorre
a conceptualização da mulher em textos multimodais publicados no século XXI,
identificando que fatores sócio-cognitivo-histórico-culturais interferiram nesse
processo, pautando-se, assim, em estudos da História cujo tema central seja as
mulheres através do tempo. Ademais, desenvolveram-se reflexões sobre os MCIs
metafóricos e metonímicos, estruturados por esquemas imagéticos no âmbito da
referida conceptualização, observando a existência da interconexão entre o
imagético e o verbal na produção de sentidos, conforme constatado pela metáfora
MULHER É RÉ presente no corpus.
Palavras-chave: Linguística Cognitiva. Semântica Cognitiva Histórica.
Conceptualização.
AUTO DE CORPO DELITO DE PROCESSOS-CRIME DE DEFLORAMENTO:
EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA E GLOSSÁRIO TERMINOLÓGICO
Soraya Carvalho Souza Biller Teixeira (UFS/ PPGL)
Deyvison Moreira Santos (UFS/ PIBIC/ CNPq)
Os processos-crime de defloramento são um conjunto de documentos
jurídicos que corporificam o andamento, desde a denúncia até a sentença final, de
uma queixa-crime prestada por haver ocorrido cópula carnal, com ou sem
consentimento, entre uma mulher (a vítima) e um homem (réu). Uma das
tipologias existentes ao longo do processo é o auto de corpo de delito, em que os
médicos legistas fazem a perícia a fim de descrever se houve ou não crime de
defloramento. Nosso objeto de estudo é o processo-crime de defloramento de
Alice Ramalho Porto, natural da cidade de Aracaju. A fonte documental está
alocada no acervo histórico do Arquivo Geral do Poder Judiciário do Estado de
95
Sergipe, localizado na cidade de Aracaju. A peça estudada possui 34 fólios
manuscritos, de média gramatura, sendo 30 deles escritos em recto e verso e 04
escritos somente em recto. Nosso intento é apresentar os resultados da edição
semidiplomática (CAMBRAIA, 2005; SPINA, 1990) do auto de corpo de delito
desse processo. A partir de sua edição, construída com base nas normas
estabelecidas pelo Projeto Para a História do Português Brasileiro (PHPB),
utilizamos procedimentos da Terminografia (BARROS, 2003) e propusemos a
construção de um glossário terminológico dos autos de corpo de delito. Nossa
pesquisa está adscrita ao Projeto regional do PHPB vinculado ao Estado de
Sergipe (PHPB-SE). O projeto em tela visa a descrição da realidade linguística e
cultural do português de Sergipe dos séculos XVIII a XX (MARENGO; FREITAG,
2016) a partir do conjunto documental categorizado como corpus comum mínimo
(SIMÕES; KEWITZ, 2010). Nossa contribuição se assenta na disponibilização da
edição para o banco de dados diacrônicos do Estado de Sergipe e no
desenvolvimento dos estudos terminológicos (KRIEGER; FINATTO, 2004) de viés
sócio-histórico (MARENGO, 2016).
Palavras-chave: Crítica textual. Edição semidiplomática. Defloramento.
Eixo temático: Filologia e Humanidades digitais
O TRATAMENTO DAS VARIAÇÕES TEXTUAIS COM O AUXÍLIO DE
FERRAMENTAS AUTOMÁTICAS DE COLAÇÃO
Edna Maria Viana Soares (ULISBOA)
Ao longo do tempo, estudos que se ocupam com a variabilidade do texto
fundamentam e enriquecem a crítica textual. À luz de métodos diversos, os
filólogos buscam erros e variações cujas responsabilidades pesam sobre os
ombros quer sejam de editores que os produzem por decisões alheias ao texto,
cópias infiéis ou acidentes técnicos; quer sejam de autores que reescrevem seus
autógrafos ou procedem revisões em suas edições. Ocupada com o estudo dos
originais do autor e seus dossiês de antetextos, a crítica textual moderna renega o
papel de ciência auxiliar, outrora a ela atribuído, equiparando-se à crítica
literária. A abolição da ideia de precedência de qualquer natureza entre os
estudos textuais e literários é defendida por Dionísio (2003) que também refuta o
papel de ancilar dos primeiros enquanto aponta para o recurso ao hipertexto por
seu potencial para reunir, num mesmo ambiente, texto ou textos editados e as
abordagens de cunho crítico-literárias que lhe são respeitantes. Ampliado, o
conceito de hipertexto foi retomado pelas humanidades digitais e associado ao de
hipermídia. Assim, o uso dos computadores na atividade editorial tem provocado
profundas mudanças estruturais e teóricas no campo das práticas editoriais
96
acadêmicas. Na realização da collatio codicum, fase mais ingrata e mais delicada
do processo editorial de identificação das variantes, conforme Blecua (1983,
p.43), os filólogos podem contar com o auxílio das ferramentas automáticas de
colação. Neste enfoque, a partir da colação dos testemunhos da crônica-conto “O
homem e as vitrines” de Vasconcelos Maia, que teve três versões publicadas em
vida do autor, apresento algumas destas ferramentas analisando as vantagens e
desvantagens de seu emprego numa prática editorial que leva em conta a
natureza dinâmica do texto.
Palavras-chave: Crítica Textual. Variantes textuais. Ferramentas de colação.
CORPUS ELETRÔNICO DE DOCUMENTOS HISTÓRICOS DO SERTÃO: UMA
ALIANÇA ENTRE A ANTIGA FILOLOGIA E AS NOVAS TECNOLOGIAS
Lara da Silva Cardoso (UEFS)
Mariana Fagundes de Oliveira Lacerda (UEFS - Orientadora)
A filologia, tendo o texto como seu objeto de estudo, adaptou-se aos
diferentes instrumentos e meios para a difusão do texto escrito conforme as
mudanças sociais. As técnicas de reprodução do texto no meio digital não só
criaram novos desafios para as edições filológicas como também ampliaram as
possibilidades de representação textual. Os tipos de edição existentes no campo
filológico deixaram de ser algo isolado e, dentro dos recursos computacionais
criados para tal fim, passaram a ser, segundo Paixão de Sousa (2013), camadas
possíveis sobre um mesmo texto. Este trabalho discute a realização da filologia
por meio de recursos tecnológicos, enfatizando o uso do eDictor, ferramenta
computacional desenvolvida por Kepler, Paixão de Sousa e Faria (2007),
especialmente voltada ao trabalho filológico e à análise linguística automática. O
eDictor permite a construção de um arquivo eletrônico, o qual possibilita gerar
possibilidades diferentes de apresentação final: as versões XML e diplomática (ou
semidiplomática, quando é o caso). Essa ferramenta é utilizada pelo projeto CE-
DOHS – Corpus Eletrônico de Documentos Históricos do Sertão, que trabalha em
parceria com o Projeto Nacional para a História do Português Brasileiro (PHPB),
constituindo corpora diacrônicos, manuscritos e impressos com a finalidade de
ampliar o banco de dados e o acesso aos materiais editados. Para demonstrar as
vantagens das edições eletrônicas é explicado, neste trabalho, o processo de
edição de parte do Livro de Notas de Escrituras, do século XIX (1881-1888),
realizado através de pesquisa de iniciação científica, com bolsa concedida pelo
CNPq. O referido livro, como afirma Queiroz (2007, p. 14), traz uma contribuição
inestimável para o estudo da língua portuguesa e o conhecimento sócio-histórico
da Bahia. A partir de sua edição eletrônica – e posterior anotação morfossintática
–, estudos linguísticos poderão ser feitos, por meio de buscas automáticas de
dados. Além de contribuir para o estudo da história do português do Brasil, a
97
edição eletrônica dos documentos supracitados pode constituir-se em fonte de
pesquisa em áreas diversas, como Geografia, Direito, Genealogia, Antropologia,
Sociologia, entre outras.
Palavras-chave: Filologia Digital. Edição eletrônica. eDictor.
A CONSTRUÇÃO DE UM CATÁLOGO ELETRÔNICO SOBRE OS ESCRITOS DE
MULHERES NA AMÉRICA PORTUGUESA
Vanessa Martins do Monte (USP)
Maria Clara Paixão de Sousa (USP)
Nesta comunicação damos notícia e debatemos os primeiros resultados da
construção do Catálogo “Mulheres na América Portuguesa” - MAP, formado por
documentos escritos por mulheres e documentos escritos sobre mulheres entre
1500 e 1822 no Brasil e no espaço atlântico português, um conjunto de fontes
escassas e imensamente importantes para os estudos filológicos e para os
estudos da história da língua, da história social, da história da escrita e da leitura
e da história das mulheres no Brasil. Produto do projeto ‘Agora andam me
jurando a pele’: escritos de mulheres e escritos sobre mulheres na América
Portuguesa, iniciado em 2017, o Catálogo eletrônico georreferenciado inclui
documentos de tipologias diversas, ou escritos por mulheres ou que contenham
sua ‘fala’, na forma de discurso relatado. A organização de uma documentação
com essas características pretende recuperar vozes quase nunca escutadas, e
envolve dificuldades e obstáculos consideráveis. Na apresentação, discutimos
algumas dessas dificuldades e apresentamos os primeiros resultados do trabalho,
acompanhados de considerações que, acreditamos, levantam aspectos
metodológicos de interesse nos campos da arquivística, da filologia e da
organização digital da informação. Além disso, trazemos alguns exemplos de
pesquisas decorrentes da construção e da disponibilização online do Catálogo
MAP, tais quais a elaboração de um índice onomástico das mulheres que fazem
parte do mesmo.
Palavras-chave: História das mulheres. Filologia. Catálogo eletrônico.
Eixo temático: Filologia e Literatura
CASSANDRA, PROTAGONISMO E RESISTÊNCIA SOB OS OLHOS DA CENSURA
Ana Gabriela Pio Pereira (UFBA)
Arivaldo Sacramento de Souza (UFBA) - Orientador
Este artigo trilha um pouco da trajetória da autora paulista Odete Rios,
conhecida pelo pseudônimo de Cassandra Rios, com o fim de tecer algumas
98
considerações acerca da censura à qual a autora e a sua obra foram submetidas
no decorrer de aproximadamente três décadas. Com uma vasta produção literária
voltada para a encenação de questões excluídas do cenário literário nacional, a
autora colocou na posição de protagonistas uma gama de sujeitos que, até então,
ocupavam as páginas dos romances de forma estereotipada e como coadjuvantes.
Prostitutas, usuários/as de drogas, gays e, sobretudo, lésbicas são as personagens
mais exploradas pela literatura cassandriana. Por conta disso, sua obra foi
censurada, assim como o seu próprio nome. Dentre os principais argumentos
para tirar de circulação os romances assinados por Cassandra Rios estava a
afirmação de que os textos da autora atentavam contra a instituição sociais,
sobretudo a família, e corroboravam para a destruição dos padrões morais
vigentes na sociedade, pondo em risco a formação sadia e digna da juventude e,
consequentemente, da nação. A literatura da autora foi classificada como
pornográfica e, com base nessa classificação, retiraram quase tudo o que ela
produziu de circulação. Com 36 livros censurados na década de 1970, Cassandra
Rios se tornou a autora mais perseguida, censurada e silenciada da literatura
brasileira, o que muito dificulta o resgate de sua obra. Nesse sentido, esse
trabalho tenta verificar como se deu essa censura, além de retomar alguns dos
principais textos lançados nas décadas de 1960 e 1970.
Palavras-chave: Censura. Literatura Cassandriana. Lésbicas.
TRAÇADOS NEGROS SOBRE UMA ESCRITA EM RIOGRAFIAS
Camila do Nascimento Carmo (UFBA)
Proponho, para este trabalho, por em cena a escrita negra da poeta Lívia
Natália que por entre os fios dos versos do poema “Meu caro amigo”, publicado
no livro Correntezas e outros estudos marinhos (2015), nos convoca a pensar
sobre os processos que configuram a escrita literária negra e feminina. Este
trabalho consiste em apresentar questões de uma pesquisa, ainda em andamento,
que evidencia a escrita da poeta Lívia Natália como riografias por seus versos,
assim como as águas, passarem as margens e assim desfazer as beiradas de modo
que se perceba o muito da existência. Desse modo, as riografias conduzem e
problematizam os discursos sobre as produções literárias de autoria feminina,
sobretudo de autoria feminina negra, as quais foram/são impressas em páginas,
algumas já amarelecidas, e outras ainda em busca de espaço no mercado
editorial. Com isso, é possível dizer que a ausência dessas escritas se faz não só
pela atribuição de menos status ao valor estético às produções literárias
elaboradas por mulheres negras, mas também pelo “apagamento” e
silenciamento produzido sobre as mulheres negras na vida social e pública
brasileira. Deste modo, é importante compreender que os mecanismos que
regulam tal produção literária compõem as tensões entre cânone e margem por
99
entre discursos hegemônicos, marcados por movimentos de resistência,
reexistência e visibilidade em espaços colonizados como também foi/é a
literatura. Os versos da poeta Lívia Natália, estão inseridos neste trabalho na
intersecção gênero-raça-classe como afirmação política e estratégica que
perturbe o amálgama construído pela colonialidade do poder de modo que seja
possível compreender o funcionamento das tecnologias de apagamento, ao
mesmo tempo em que potencialize a existência e a resistência produzindo assim,
reexistências por entre as riografias.
Palavras-chave: Autoria Feminina. Riografias. Teoria Literária.
ACERVO DIGITAL E MEMÓRIA DE DRAMATURGOS BAIANOS
Anete de Araújo Souza (UFBA)
Rosa Borges (UFBA) - Orientadora
Nesta comunicação, pretende-se apresentar o trabalho realizado com
acervos de dramaturgos baianos no âmbito da Equipe Textos Teatrais
Censurados (ETTC), coordenada pela Profa. Dra. Rosa Borges (UFBA), do Grupo
de Edição e Estudo de Textos (GEET). Consiste na organização dos acervos de
quatro dramaturgos identificados como ACERVO ADEMARIO RIBEIRO (AAR),
ACERVO JURANDYR FERREIRA, ACERVO MANOEL LOPES PONTES e ACERVO
MARIA DA CONCEIÇÃO PARANHOS. Os quatro integram o Arquivo Textos
Teatrais Censurados (ATTC), no qual se tem a relação de aproximadamente
sessenta dramaturgos que produziram ou tiveram seus textos encenados na
Bahia no período da ditadura militar (1964-1985). Tais acervos reúnem textos
teatrais, matérias de jornais, documentos censórios, entrevistas. No campo da
filologia, dentro de uma abordagem transdisciplinar, pois abrange diálogos com
áreas do conhecimento como a Arquivística e a Informática, desenvolve-se a
pesquisa para a organização do arquivo e dos acervos. Por intermédio da prática
arquivística, o pesquisador atua através de métodos e técnicas de organização de
arquivos que possibilitam o acesso permanente aos acervos, os quais adquirem
uma função social quanto à difusão de informações. Por meio de programas e
ferramentas informáticas, apresenta-se o arquivo digital para acomodar,
relacionar e divulgar os documentos pertencentes a cada acervo trabalhado, além
de salvaguardar os textos da manipulação e do desgaste material. No terreno da
Filologia, buscam-se fontes documentais, literárias, dramatúrgicas, que permitem
o estudo crítico-interpretativo dos textos teatrais e dos documentos que se ligam
aos mesmos. De modo que o ATTC se inscreve como lugar de memória, na medida
em que os acervos organizados serão disponibilizados aos leitores em meio
digital, sejam eles especializados ou não, proporcionando uma leitura material,
histórica e cultural de uma dada época e lugar, a partir dos documentos que
100
compõem determinado acervo. Seleciona-se, aqui, para demonstração do
trabalho realizado, o Acervo Ademario Ribeiro.
Palavras-chave: Acervo. Filologia. Memória.
"HISTÓRIA DA PAIXÃO DO SENHOR": O TEATRO BOSSA-NOVA DE JOÃO
AUGUSTO
Dâmaris Carneiro dos Santos (UFBA)
Isabela Santos de Almeida (UFBA) - Orientadora
História da Paixão do Senhor (HPS), do dramaturgo João Augusto, é
resultado da compilação e adaptação de textos teatrais medievais: Mistério da
Paixão, de Arnoul Gréban, O Pranto da Madona, de Jacopone da Todi, e A Via
Sacra, de Paul Claudel, traduzidos por Estela Froes. O texto narra a crucificação
de Jesus Cristo, apegando-se ao caráter dramático dos personagens envolvidos,
como Maria, mãe de Jesus, a qual durante toda a Via Crucis lamenta o fim
doloroso que espera o seu filho. O texto foi encenado na década de 1960 e, devido
a instauração do Regime Militar, o cenário cultural passou por cerceamentos.
Portanto, os textos teatrais eram submetidos aos órgãos censores que avaliavam
previamente o texto e a encenação para possível liberação ou veto do espetáculo.
Embora o período seja marcado, no fazer teatral, por espetáculos de cunho
nacionalista – a fim de representar uma identidade brasileira – e de protestos
contra o governo, João Augusto retomou, com HPS, um teatro canônico, e, por
isso, este teatro foi nomeado pela mídia como Bossa-Nova. Posto isto, no campo
da Filologia, no âmbito da Crítica Textual, buscou-se, neste trabalho, desenvolver
um estudo crítico-filológico acerca do teatro de João Augusto, tendo como objeto
de estudo o texto História da Paixão do Senhor e outras informações paratextuais,
com base em matérias jornalísticas que descrevem e apresentam críticas ao
espetáculo (LEÃO, 2006), a fim de compreender a ideia de teatro bossa-nova de
João Augusto naquele contexto. Para tanto, primeiro fez-se a leitura de HPS, com
atenção especial para a construção dos personagens, posteriormente foi feita a
recolha do material paratextual – matérias de jornal que fazem alusão ao
espetáculo – e, em última instância, buscou-se informações de cunho histórico
acerca do termo Bossa Nova, veiculado naquele período. Assim sendo, o estudo
deste objeto se torna relevante para a reconstrução da memória teatral baiana, a
partir do teatro de João Augusto, figura importante na dramaturgia da Bahia
durante o Regime Militar.
Palavras-chave: Filologia. Teatro. Regime Militar.
101
A CRIAÇÃO DOS ESPAÇOS NO POEMA "THE BURGLAR OF BABYLON": UM
ESTUDO GENÉTICO E TOPOANALÍTICO
Douglas Lima Rodrigues (UNEB)
Elisabete da Silva Barbosa (UNEB) - Orientadora
A proposta deste trabalho é apresentar um estudo genético dos
manuscritos do poema The Burglar of Babylon publicado no livro Questions of
Travel (1965) da escritora norte americana Elizabeth Bishop (1911-1979). Como
procedimento metodológico, o poema foi organizado cronologicamente, descrito
e passou por transcrição semidiplomática. No que diz respeito ao estudo crítico,
adotamos a perspectiva da espacialidade na literatura, buscando na Topoanálise
(BORGES FILHO, 2008) em associação com a crítica genética os fundamentos
para melhor entendermos o modo como Bishop lida com a questão espacial em
seu processo criativo. É importante notar que há um espelhamento do espaço real
na obra da autora e que o poema em questão nasceu tanto das observações das
favelas visualizadas por Bishop a partir de seu apartamento no bairro do Leme,
no Rio de Janeiro, como do acontecimento noticiado nos jornais da época, a fuga
de um ladrão a quem a escritora nomeia de Micuçu. Nos documentos de processo
desse poema, podemos observar um entrelaçamento de espacialidades diversas.
Se, por um lado, o poema é narrado por um observador que se encontra em um
lugar privilegiado a partir do qual tudo pode ver, por outro, o ladrão retratado
encontra-se totalmente desterritorializado, em busca de um lugar para abrigar-
se. Nesse aspecto, o conceito de multiterritorialidade desenvolvido pelo geógrafo
Haesbaert (2007) colabora para refletirmos como esses múltiplos territórios e
essas múltiplas espacialidades são elaboradas como elementos constituintes de
um texto que assume os papéis estético e social, pois, além de entreter o leitor
com sua sonoridade em formato de balada, denuncia as mazelas e desigualdades
sociais do Brasil.
Palavras Chave: Crítica Genética. Topoanálise. Elizabeth Bishop.
POR UMA LEITURA FILOLÓGICA DE AS ARTES DO CRIOULO DOIDO DE JOÃO
AUGUSTO
Emille Morgana Santos Mattos (UFBA)
Rosa Borges dos Santos (UFBA) - orientadora
Este trabalho trará notícias a respeito do texto teatral “As artes do Crioulo
Doido”, escrito pelo dramaturgo João Augusto Azevedo, carioca de nascimento,
mas que viveu e produziu na Bahia, sendo um dos nomes mais conhecidos e
expressivos no teatro baiano. O texto foi submetido a avaliação censória e traz,
102
nele, as marcas da intervenção dos técnicos de censura. Apesar de o único
testemunho da peça não trazer uma datação, podemos através de publicações na
imprensa referentes à mesma, conjecturar que o texto tenha sido encenado e
submetido ao processo de censura no ano de 1979, período no qual a ditadura
militar ainda ocorria no Brasil (1964-1985). A peça “As artes do Crioulo Doido”
integra o Acervo João Augusto (AJA), objeto da nossa pesquisa atual que consiste
em organizar tal acervo. Seu texto traz características do teatro de cordel, com
rimas e versos, com forte crítica ao tradicionalismo da sociedade da época em que
foi escrito, à trama política, aos políticos, aos problemas sociais. Compreendemos
o valor histórico do texto e o interpretamos à luz dos eventos e fatos ocorridos no
momento de sua produção e encenação, bem como a influência das leis e decretos
que regulamentavam a avaliação censória e os parâmetros utilizados para definir
os cortes no texto. A Filologia será o lugar teórico utilizado para estudo do texto
em questão, buscando examinar todos os aspectos do texto, desde o suporte
material até os processos de produção, circulação e recepção.
Palavras-chave: Filologia. Texto teatral. Censura.
ALOÍSIO RESENDE E GEORGINA ERISMANN: UM ESTUDO FILOLÓGICO PARA
O RESGATE DA LITERATURA DE FEIRA DE SANTANA-BA
Grazielle Maria Araujo Cerqueira (UEFS)
Queila Maia Santos (UEFS)
Liliane Lemos Santana Barreiros (UEFS) - Orientadora
Os estudos relacionados a escritores baianos não canônicos vêm ganhando
destaque no âmbito nacional, contribuindo para a valorização cultural e
preservação literária, linguística e histórica de uma determinada sociedade. Neste
contexto, o presente trabalho tem o intuito de apresentar um estudo filológico
dos poemas de dois escritores feirenses, Aloísio Resende (1900-1941) e Georgina
Erismann (1893-1940), publicados no jornal Folha do Norte. Os textos destacam-
se por discutir temas relevantes, trazendo à tona costumes e importantes fatos
sociais como: a emancipação feminina e o patriotismo no interior da Bahia por
Georgina Erismann, e as dificuldades vivenciadas pelos negros na sociedade,
embora livres, segundo Aloísio Resende. Apesar de terem sido personalidades
importantes para a história de Feira de Santana-BA, o principal meio em que
ambos publicaram foi o jornal Folha do Norte. Os textos inventariados, até o
momento, foram encontrados nas edições de 1909 a 1960, e são fontes históricas
memoráveis que expressam a vida dos escritores e evidenciam as lembranças que
constituem a identidade de cada um. O estudo proposto está subsidiado pela
Filologia Textual (SPINA, 1994; CAMBRAIA, 2005; BARREIROS, 2012) e por
pesquisas relacionadas a vida de Aloísio Resende (MORAIS; PORTO; ASSUNÇÃO,
2000; PEREIRA, 2009) e a Georgina Erismann (MELLO, 2007). Ressalta-se que o
103
trabalho de edição filológica contribui para o resgate da forma genuína dos
textos, salvaguardando-os do esquecimento, conforme a vontade do autor que
desvelam os detalhes da escrita, além de colaborar na preservação de textos
literários, a cultura, a língua e a história local do povo sertanejo do Semiárido
Baiano.
Palavras-chave: Aloísio Resende. Georgina Erismann. Edição.
O CAMPO LEXICAL AS MULHERES SEXUALIZADAS EM CACAU, DE JORGE
AMADO
Luana Cristine da Silva (UNEB)
Em Cacau (1934), Jorge Amado descreve, sob o olhar e por intermédio da
voz de José Cordeiro, a vida dos trabalhadores das fazendas de cacau no sul da
Bahia, focando principalmente aspectos culturais e sociais dos sujeitos retratados
no referido romance categorizado por alguns críticos como proletariado. As
mulheres descritas por Jorge Amado na referida obra, na maioria das vezes, são
mulheres fortes e representam a identidade e a cultura do povo baiano,
especialmente das baianas. Em Cacau, percebe-se a presença de um número
significativo de lexias para designar a mulher, quase sempre marcadas pela
sexualidade numa visão machista colocando a figura feminina como objeto de
desejo, certamente comportamento muito comum ao período retratado no
romance. No presente trabalho, objetivamos apresentar o campo lexical das
mulheres sexualizadas registradas na obra em questão. O estudo lexicológico
encontra-se lastreado nos princípios postulados por Coseriu (1977), no tocante a
teoria dos campos lexicais, na qual as lexias são agrupadas em consonância com a
aproximação semântica, ou seja, por deterem uma mesma substância semântica
linguisticamente formada, opondo-se por traços mínimos que a diferenciam e
constituindo uma mesma área do conhecimento. As lexias recolhidas com o
auxílio da ferramenta computacional informatizada Antconc foram organizadas
em conjuntos, subconjuntos e subdivisões (macro e microcampos lexicais)
levando em consideração a sua substância semântica. A amostra aqui a ser
apresentada incide sobre as lexias referentes à sexualidade. Acredita-se que o
estudo do léxico por este viés metodológico permitirá identificar alguns traços da
memória coletiva da região cacaueira, especialmente aquilo que tange ao papel da
mulher na sociedade nas primeiras décadas do século XX.
Palavras-chave: Lexicologia. Campos Lexicais. Jorge Amado.
104
OS TEXTOS TEATRAIS E OS TERRITÓRIOS DE IDENTIDADES NA BAHIA: UMA
ANÁLISE GEOGRÁFICA A PARTIR DE UMA LEITURA FILOLÓGICA
Luana Dall'Agnol Ribeiro (UFBA)
Isabela Santos de Almeida (UFBA) - Orientadora
O presente trabalho tem como objetivo compreender, à luz da Filologia e
da Geografia, de que forma os textos teatrais “Xique-Xique chique história” e
“Auto da barca do Rio das Lágrimas de Irati”, ambos do Projeto Chapéu de Palha,
ocorrido na década de 80, podem servir como instrumento de identificação de
alguns dos territórios de identidade da Bahia, uma vez que trazem elementos
paisagísticos, culturais e sociais das comunidades locais. A Filologia permite
entender o texto sob vários aspectos, dentre eles, a partir do contexto social em
que é produzido. No recorte aqui proposto, serão analisados os processos de
produção e de recepção bem como a organização do suporte de cada um dos
textos e de que forma atuaram os agentes envolvidos diretamente à realização
desse projeto, assim como este repercutiu nas comunidades locais. Os textos, aqui
compreendidos como registro escrito de uma possível leitura da realidade em
que foram construídos, serão analisados a fim de se identificar elementos
identitários que caracterizem territorialmente os lugares retratados nas duas
obras. A partir das informações presentes nos textos, serão compreendidos como
possibilidade de leitura da realidade local por parte de quem os assina, Sônia
Pereira e Jurema Penna, respectivamente. A Geografia, por sua vez, em suas
discussões referentes à análise do território, considerando que este não se
configura somente pelo seu caráter produtivo, mas também pelo seu caráter
simbólico, possibilitará entender como os territórios de identidade se configuram
na modernidade e a filologia auxiliará na identificação dos elementos identitários
presentes nos textos teatrais aqui selecionados a partir da leitura filológica.
Palavras-chave: Textos teatrais. Leitura filológica. Territórios de identidade.
EDIÇÃO DO POEMA “TU E VOCÊ”, DE EULÁLIO MOTTA
Maria Rosane Vale Noronha Desidério (UEFS)
Patrício Nunes Barreiros (UEFS) - Orientador
Este trabalho tem por objetivo apresentar a edição do poema “Tu e Você”,
do autor baiano Eulálio de Miranda Motta (1907-1988). O poema a ser editado
pertence ao dossiê das poesias avulsas de Eulálio Motta. Tal dossiê é composto
por uma série de poemas manuscritos e datilografados em papéis soltos que
foram arquivados pelo autor em gavetas e dentro de livros no decorrer de sua
vida. Posteriormente, este material foi reorganizado por Barreiros e o grupo de
105
pesquisa Edição das obras inéditas de Eulálio Motta, em local apropriado e
devidamente catalogado. Os poemas avulsos foram escritos entre os anos de
1940 a 1983. Muitos destes textos possuem marcas da movimentação escritural
do autor, além de uma considerável quantidade de politemunhais. Já o poema a
ser editado neste trabalho é monotestemunhal e foi burilado pelo autor. A edição
do poema “Tu e Você” toma como base os pressupostos teóricos da Crítica
Textual (SPINA, 1977; CAMBRAIA, 2005; SPAGGIARI e PERUGI, 2004); dos
estudos acerca dos acervos de escritores (BORDINI, 2009; HAY, 2003) e nos
critérios filológicos e genéticos elaborados por Barreiros (2012, 2015). A edição
da poesia avulsa de Eulálio Motta soma-se a outros trabalhos de cunho filológico
desenvolvidos no acervo do referido poeta a fim de conferir um material
confiável a novas pesquisas. Além de oportunizar que a poesia do interior da
Bahia do século XX possa ganhar mais visibilidade no atual cenário literário
brasileiro. Além de abrir espaço para novas discussões acerca dos espaços
preenchidos pelos autores localizados fora do Centro literário nacional.
Palavras-chave: Eulálio Motta. Poesias Avulsas. Edição.
EDIÇÃO DO POEMA INÉDITO “VOLTE, QUERIDA!”, DE EULÁLIO MOTTA
Pâmella Araujo da Silva Cintra (UEFS)
Patrício Nunes Barreiros (UEFS) - Orientador
O presente artigo tem por objetivo apresentar a edição do poema Volte,
Querida!, de autoria do poeta baiano Eulálio de Miranda Motta. Este preservou
uma grande quantidade de poesias inéditas em seu acervo, locus de pesquisa que
reúne a vasta documentação de fonte primária estudada pelo grupo de
pesquisadores vinculados ao projeto de pesquisa Edição das obras inéditas de
Eulálio Motta, na Universidade Estadual de Feira de Santana. No “laboratório de
criação” de Eulálio Motta, foram encontrados projetos editoriais de livros de
poesias que permanecem inéditos. Dentre eles, o livro Luzes do crepúsculo,
esboçado em caderno homônimo. Os poemas que integram o livro em questão
encontram-se salvaguardados em cadernos e papéis avulsos, com a indicação de
que seriam incluídos no referido livro. O poema editado dispõe de dois
testemunhos manuscritos autógrafos, providos de índices de escritura e de
reescritura, que permitiram observar o processo de construção do texto a partir
do estudo da gênese. Para isso, utilizou-se o modelo de edição crítica
convencional e a metodologia utilizada em edições genéticas, tomando como base
os pressupostos teóricos da crítica textual (CAMBRAIA, 2005; SPINA, 1977); da
crítica genética (GRÉSILLON, 2007; SALLES, 2002; WILLEMART, 2009); dos
estudos acerca dos acervos de escritores (BORDINI, 2001, 2009; Marque, 2003) e
os critérios de edição elaborados pelo professor doutor Patrício Nunes Barreiros
(2012, 2015).
106
Palavras-chave: Eulálio Motta. Acervo. Edição.
O ESPÓLIO EPISTOLAR DE HERMES FONTES: CONSIDERAÇÕES E PROPOSTA
DE EDIÇÃO
Renata Ferreira Costa (UFS)
José Douglas Felix de Sá (UFS)
Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes, mais conhecido como
Hermes Fontes, nasceu em Boquim/SE, em 1888, e foi considerado, desde a
publicação de sua primeira obra, de estética simbolista – Apoteoses (1908), um
dos mais importantes poetas brasileiros de sua geração. Muitos de seus escritos
ficaram por muitos anos sob a guarda de sua família, até ser doado a uma de suas
principais pesquisadoras, Ana Medina, que, então, teve a iniciativa de entregá-los
ao museu Raimundo Fernandes da Fonseca, localizado em sua cidade natal. No
espólio do poeta, encontra-se um conjunto significativo de correspondências
(cartas e telegramas) enviadas a parentes e amigos. Suas epístolas já foram objeto
de pesquisa e, inclusive, foram publicadas em 2006, por Medina, no livro
intitulado “Cartas de Hermes Fontes – Angústia e Ternura”. Revisitar seu espólio
epistolar, considerando as condições materiais de produção e de salvaguarda, a
circulação e o acesso aos seus escritos, além do conteúdo dos textos, torna
possível proceder à crítica interna e externa dos documentos e lançar
questionamentos que contribuirão para a chamada crítica genética, que visa
interpretar e sistematizar os sucessivos estágios de construção de uma obra,
ressignificando, assim, a importância da obra de Hermes Fontes e o seu lugar na
literatura brasileira. Ademais, reeditar ou editar sob outros critérios ou objetivos
as cartas manuscritas ativas do poeta sergipano não é um trabalho redundante,
como se poderia pensar, já que, em sua publicação, Ana Medina procedeu a uma
modernização linguística e ortográfica do original, de modo que esse trabalho não
pode ser fonte para pesquisas linguísticas. Desta forma, este trabalho,
fundamentado nos pressupostos teóricos e metodológicos da Filologia, visa
apresentar considerações sobre o espólio epistolar de Hermes Fontes sob a
guarda do museu Raimundo Fernandes da Fonseca, em Boquim, e propor uma
edição semidiplomática justalinear de um conjunto de 58 cartas manuscritas
produzidas pelo poeta entre 1903 e 1930.
Palavras-chave: Filologia. Espólio Epistolar. Hermes Fontes.
107
DIÁLOGOS ENTRE A CRIAÇÃO LITERÁRIA E A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO
NOS MANUSCRITOS DO POEMA "SANTARÉM" DE ELIZABETH BISHOP
Rosangela Silva Moreira (UNEB)
Elisabete Silva Barbosa (UNEB / UFBA) - Orientadora
O objetivo deste trabalho é desenvolver um estudo genético dos
manuscritos do poema Santarém (1978), da escritora norte americana Elizabeth
Bishop (1911-1979) com enfoque para as marcas deixadas no percurso criativo
até a obra publicada. Durante a sua vida, Bishop realizou deslocamentos espaciais
motivados por um desejo constante de mudar e de vivenciar novas experiências.
A viagem foi uma atividade frequente que alimentou a maior parte de seus textos.
Sua passagem pela cidade de Santarém acabou sendo transmutada para a forma
de poema (ANASTÁCIO, 1999), expressando uma riqueza de detalhes,
especialmente no que diz respeito às ações e aos lugares percorridos. Nos
apropriando da interpretação de Anastácio (1999), podemos afirmar que o uso
que a escritora faz das imagens espaciais para a criação de seus poemas
representa não somente a rotina dos lugares que visitou e que viveu, mas
também a construção uma paisagem que dá vida ao escrito. O estranhamento que
sentia diante de situações novas movia suas construções estéticas. No que diz
respeito às contribuições deste trabalho, destacamos a preservação e a
transmissão dos documentos de processo organizados para esta pesquisa. Ainda
no que tange ao enfoque genético, podemos afirmar que esse tipo de estudo
enriquece a obra publicada pois fornece novas hipóteses para uma melhor
compreensão do texto final. Como aporte teórico, utilizamos a crítica genética
(GRÉSILLON, 2007; SALLES, 2000) e a geografia interpretativa (SOJA, 1993;
HAESBAERT, 2007) a fim de entender como Bishop trabalhou ficcionalmente
questões relacionadas à geografia, tais como o espaço e o território.
Palavras-chave: Elisabeth Bishop. Espaço. Criação Literária.
A CRIAÇÃO LITERÁRIA E AS DIVERSAS TERRITORIALIZAÇÕES NO POEMA
"ARRIVAL AT SANTOS"
Thaís Santos Pereira (UNEB)
Elisabete da Silva Barbosa (UNEB) - Orientadora
Esta pesquisa adota como objeto os manuscritos do poema Arrival at
Santos (1952) da escritora norte-americana Elizabeth Bishop (1911-1979),
material que reflete uma forte relação entre espaços ficcionais e reais, pondo em
evidência o sujeito escrevente. Analisamos os manuscritos a partir dos
pressupostos da crítica genética para compreender o processo de criação
108
artística (SALLES, 2008) e as construções e reconstruções poéticas. Trata-se de
um prototexto composto por sete manuscritos que foram organizados
cronologicamente, com transcrição semidiplomática. Como aporte teórico,
recorremos à geografia interpretativa para realizar o estudo crítico dos
deslocamentos territoriais que foram representados no poema. Tais movimentos
podem ser rastreados tanto no processo criativo como na vida da autora (devido
ao fato de Bishop ter sido uma viajante,de ter nutrido o sentimento de expatriada
e de seu processo criativo ser alimentado por sua experiência pessoal), o que
acompanhamos a partir não somente dos manuscritos, mas também de textos
paralelos como os biográficos e epistolares. Trata-se de um dos primeiros
poemas que Bishop escreveu ao chegar ao Brasil, o qual expressa o
estranhamento cultural refletido na ficcionalização do lugar. Nas palavras de
Barbosa (2016), são instâncias que convergem para o espaço da escrita e que,
portanto, são reelaboradas no terreno do ficcional. Para este estudo, nos
apoiamos no conceito de multiterritorialidade desenvolvido por Haesbaert
(2007) para realizar uma análise textual pautada nos processos de
territorialização e desterritorialização delineados no poema, o que será
confrontado com os registros sobre as primeiras experiências de Bishop em
terras brasileiras. Esse conceito será aplicado ao acompanharmos o
desenvolvimento das imagens criadas por Bishop em seu processo criativo.
Palavras-chave: Elizabeth Bishop. Multiterritorialidade. Processo de Criação.
Eixo Temático: Filologia e Memória
A PREVALÊNCIA DOS DIREITOS INDIVIDUAIS NA REVOLTA DA VACINA:
EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA DE UM RECURSO EM HABEAS CORPUS DO
INÍCIO DO SÉCULO XX NO COMBATE À FEBRE AMARELA
Ana Carolina Estremadoiro Prudente do Amaral (USP)
A Revolta da Vacina foi um levante popular ocorrido no Rio de Janeiro no
início do século XX, durante o governo de Rodrigues Alves. Aprovada em 31 de
outubro de 1904, a Lei 1261 tornou obrigatória, em todo o país, a vacinação e a
revacinação contra a varíola e febre amarela, pretendendo o governo, sob a
orientação do médico sanitarista Oswaldo Cruz, erradicar essas doenças do
território nacional, cujas vítimas já ultrapassavam facilmente a marca das mil
mortes ao ano. As ações da Brigada Sanitarista consistiam na vacinação da
população à força e na entrada dos agentes públicos nas casas para a
pulverização e desinfecção, como medida preventiva para a não proliferação do
mosquito transmissor da febre amarela. Com uma ação educativa ineficaz (ou
com a falta dela), a população recusou a vacinação e desinfecção compulsórias,
levando à eclosão da revolta popular. Nesse contexto, a presente pesquisa, ainda
em andamento, tem como objetivo a transcrição filológica dos autos do Recurso
109
de Habeas Corpus RHC 2244, datado de 1905, editando-o semidiplomaticamente
a fim de se obter uma edição genuína e fidedigna para consulta e estudo. Para
tanto, far-se-á uma análise paleográfica e diplomática do documento judicial onde
o paciente Manoel Fortunato de Araujo Costa alegou ameaça de constrangimento
ilegal por ter recebido, pela segunda vez, uma carta de intimação de um agente
sanitário público para ingressar em sua residência e realizar a desinfecção contra
o vetor da doença. O processo judicial possui 38 fólios, cuja guarda pertence ao
Arquivo Nacional, mas disponível seu fac-símile online no sítio do Supremo
Tribunal Federal, na aba “julgamento históricos”, já que foi o órgão responsável
por julgar procedente o pedido do paciente em última instância. Cumprida essa
etapa, e tratando de tema ainda atual, será feita, buscando a função transcendente
da Filologia, uma análise jurídica sobre a perspectiva dada pelos julgadores de
1905 às garantias individuais, especialmente a da inviolabilidade de domicílio,
um dos fundamentos da decisão, impedindo a entrada dos agentes públicos na
residência do paciente. Seriam os direitos individuais, previstos na Constituição
de 1891, superiores aos sociais? E hoje, sob a égide da Constituição Federal de
1988, prevaleceria o interesse público em detrimento do individual,
considerando-se a vacinação e o controle dos focos de reprodução do mosquito
como obrigações sociais? A edição deste processo e os demais estudos permitirão
a sua comparação com decisões atuais que cuidam de conflitos semelhantes entre
direitos individuais e obrigações sociais.
Palavras-chave: Revolta da vacina. Edição semidiplomática. Recurso de Habeas
Corpus.
TOPÔNIMOS NO LIVRO III DO TOMBO: UM ESTUDO PRELIMINAR
Carine Rheinschmitt Santos (UFBA)
Célia Marques Telles (UFBA) - Orientadora
O Livro III do Tombo é o quarto volume da coleção dos Livros do Tombo
do Mosteiro de São Bento da Bahia, uma coleção que totaliza seis livros. O
Arquivo Histórico do Mosteiro de São Bento da Bahia e a sua Bibliotecas de Livros
Raros são entidades culturais diferentes, tombadas pelo IPHAN (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O Livro III do Tombo foi escrito com a
finalidade de conservar e tornar público os "títulos de terras e propriedades" –
Cartas de Sesmarias, Aforamentos, Inventários e divisões de bens (propriedades,
escravos etc.) – que pertenciam ao Mosteiro de São Bento da Bahia. Os
documentos do Livro III já tinham sido trasladados em Livros de Tombo
anteriores: o Livro Velho do Tombo, o Livro I do Tombo e o Livro II do Tombo,
conforme foi pedido pelo Dom Abade do Mosteiro de São Bento da cidade do
Salvador: alguns desses documentos são, portanto, retrasladados. O trabalho
começou com a elaboração das fichas catalográficas, segundo o modelo de Clara
110
Crepaldi (TELLES, 2011), possibilitando a compreensão do conteúdo e da
estrutura diplomática dos documentos. A relação dos topônimos (e de suas
variantes) encontra-se em fase de verificação, o que começa a permitir
estabelecerem-se relações entre os documentos retrasladados e quais
documentos são retrasladados no Livro III do Tombo e no Livro Velho do Tombo.
Pode verificar-se a duplicação dos traslados até no mesmo livro, como é o caso do
documento: “Sesmaria de seiz legoaz daserra do Jurará”, objeto de estudo na
etapa anterior do projeto. O ponto de partida surgiu de três fatos que chamaram a
atenção durante o processo de edição dos documentos do Livro III do Tombo. Os
fatos acima referidos são: 1) o novo traslado que se mandou fazer dos
documentos, 2) as anotações marginais nos livros do Tombo, 3) as datas idênticas
dos documentos (TELLES, 2016). A identificação dos documentos iguais,
permitida pelas etapas da “recensio” e da “collatio”, tem levado à percepção da
existência de variantes na grafia dos topônimos (VICENTE, 2013) e dos
antropônimos ou ainda dos “lapsi calami”. Tais exemplos mostram indícios de
uma variação no sistema da língua portuguesa relativa à nominação, em especial
às formas provenientes da língua ameríndia.
Palavras-chave: Livros do Tombo. Documentos retrasladados. Toponímia.
MEMÓRIAS DO ENGENHO NO RECÔNCAVO BAIANO A PARTIR DA LEITURA
FILOLÓGICA DOS TEXTOS TEATRAIS DO PROJETO CHAPÉU DE PALHA
André Luís de Alcântara Santos (UFBA)
Isabela Santos Almeida (UFBA)- Orientadora
Objetiva-se neste trabalho apresentar um estudo sobre a representação do
Engenho do Recôncavo Baiano a partir dos textos teatrais A linda história da
heróica cidade do Porto de Cachoeira dos Martins e Adornos, antes porém dos
Cariris (1983) e Quem vai querer ([198-]), do Projeto Chapéu de Palha. Os textos
apontam referências sobre o sistema açucareiro, escravista, a imposição do poder
da sociedade aristocrata, além da violência e do processo de silenciamento nas
cidades de Cachoeira e Santo Amaro da Purificação. Fundado em 1983, o Projeto
Chapéu de Palha evidencia, por meio dos textos, as histórias do recôncavo baiano.
Estes textos trazem, a partir de sua materialidade, a memória e a história das
comunidades locais, como também apresentam a cultura e suas tradições. Para
iniciar a leitura dos textos, a pesquisa utilizou-se dos pressupostos da Crítica
Textual de modo a realizar o estudo sobre a relação de poder entre a sociedade
aristocrata e a sociedade menos abastada, representadas nas peças selecionadas.
Desta forma, pode-se afirmar que, o texto é um objeto de expressão do qual
emanam saberes culturais e históricos, lidos a partir da pluralidade de
significados. Outrossim, as leituras dos textos trazem relatos de acontecimentos
pertinentes para a compreensão das produções dramatúrgicas das cidades do
111
recôncavo baiano, a saber, Cachoeira e Santo Amaro da Purificação. Concebendo
os textos como principais fontes documentais, por meio do aporte teórico-
metodológico da Crítica Textual, elaborou-se uma ficha catálogo e uma edição fac-
similar para cada um dos testemunhos, de maneira a coletar dados para
investigar os elementos escritos nas produções cênicas pelas quais se revelam
aspectos culturais e históricos. Estes textos fazem parte do acervo do grupo de
pesquisa Equipe Textos Teatrais Censurados (ETTC). Portanto, a pesquisa em
questão torna-se relevante por contribuir, de maneira significativa, para a
conservação e memória do teatro baiano e do Recôncavo Baiano, a partir dos
estudos filológicos.
Palavras-chave: Projeto Chapéu de Palha. Textos Teatrais Baianos. Crítica textual.
CENAS EM TRÂNSITO: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE CIRCULAÇÃO DA
DRAMATURGIA DE DEOLINDO CHECCUCCI
Carla Cecí Rocha Fagundes (UFBA)
Rosa Borges (UFBA) - Orientadora
O teatro, durante as décadas de 1970 e 1980, teve notável
desenvolvimento, mesmo em uma sociedade controlada pela ditadura militar,
que foi instaurada em território nacional entre 1964 e 1985, restringindo a
liberdade de expressão, através da censura. Nesse contexto, destacamos a
dramaturgia de Deolindo Checcucci, autor que produz na Bahia desde a década de
1970. Caracterizando-se como um artista multifacetado, Checcucci assumiu no
cenário teatral baiano os papéis de diretor, ator, professor e dramaturgo. Através
de suas produções, buscava desenvolver um teatro crítico e inovador, capaz de
promover a reflexão e a mudança social. Diante da conjuntura ditatorial, alguns
de seus textos tiveram cortes e vetos. Esses movimentos podem ser observados
através dos documentos censórios, relacionados aos textos teatrais, e
armazenados no Acervo Deolindo Checcucci – Teatro Infantil (ADC-TI),
organizado no âmbito da Equipe Textos Teatrais Censurados – ETTC, coordenada
pela professora Dra. Rosa Borges, na Universidade Federal da Bahia – UFBA,
desde 2006. Através do ADC-TI propomos organizar os textos teatrais,
documentos censórios, entrevistas, matérias de jornal e demais documentos
relacionados à produção dramatúrgica de Deolindo Checcucci. Essa organização
será apresentada através de um arquivo hipertextual, em meio digital. Desse
modo, será possível estabelecer um diálogo entre a filologia, a arquivística e as
tecnologias informáticas. Neste trabalho, em perspectiva filológica, será oferecida
uma análise do processo censório da dramaturgia produzida por Deolindo
Checcucci. A partir das reflexões tecidas, acreditamos ser possível ler nos
documentos censórios e textos teatrais as marcas do processo de circulação da
dramaturgia baiana pelos órgãos da censura, durante a ditadura militar.
112
Palavras-chave: Filologia. Texto teatral censurado. Documentos censórios.
PROJETO CHAPÉU DE PALHA: O ESTUDO DO PARATEXTO
Ebert Vieira da Silva (UFBA)
Isabela Santos de Almeida (UFBA) - Orientadora
As ações empreendidas no plano de trabalho “Documentos da memória do
Projeto chapéu de palha: estudo do paratexto” desenvolvido no contexto do
projeto “Edição de textos teatrais do Projeto chapéu de palha: teatro baiano,
cultura e identidade”, dentro das atividades da Equipe Textos Teatrais
Censurados (ETTC), coordenada pela Profa. Dra. Rosa Borges, vêm se somando a
outros trabalhos da referida equipe para a criação de um catálogo descritivo
digital (CDD) da dramaturgia dos docentes da Universidade Federal da Bahia
(UFBA), cuja produção se deu no período do Regime Militar. Busca-se, nesse
artigo, apresentar os resultados do supracitado plano de trabalho, no qual se
tinha como objetivo estudar os documentos paratextuais referentes ao “Projeto
chapéu de palha” (PCP), composto por fotografias, panfletos, matérias de jornais,
entrevistas, apostilas de aula, dentre outros. Pretende-se também problematizar
os arquivos e acervos como um lugar de memória a partir da práxis filológica,
dando a conhecer os seus diversos estados de produção, formas de transmissão e
circulação, além da recepção. Para tanto, realizaram-se as seguintes atividades:
leitura e fichamento de material bibliográfico acerca das edições de textos
teatrais censurados, especificamente sobre o Projeto chapéu de palha e os
problemas relativos à Crítica Textual, na contemporaneidade; busca e
digitalização, em arquivos e acervos públicos e privados, da documentação
paratextual referente ao PCP , para posterior produção de edições fac-similares.
Desse modo, considera-se a relevância de tal atividade, pois, uma vez concluída,
possibilitará o acesso a esses documentos, ocupando-se do texto em sua história e
materialidade e evidenciando sua função de testemunho literário e documental.
Se o texto carrega elementos sociais e históricos, estudar o paratexto do PCP é
dispor de fontes que possibilitam notar a riqueza e diversidade do teatro baiano,
e observar os vestígios deixados pelos diferentes agentes culturais e sociais que
nele intervieram, evidenciando-se o contexto sócio-histórico do período em que o
PCP atuou nas cidades baianas. Espera-se que a realização das atividades de
estudo dos documentos paratextuais referentes ao PCP possam oferecer aos
pesquisadores materiais úteis à prática de edição e de estudo crítico de textos.
Palavras-chave: Teatro baiano. Crítica textual. Projeto Chapéu de Palha.
DONA CLARA CLAREOU: UMA VOZ FEMININA NO PERÍODO DA DITADURA
MILITAR
114
O texto teatral Dona Clara Clareou ou Simplesmente Destroços, da
dramaturga Jurema Pena, cuja estreia ocorreu em 25 de março de 1982, na Sala
do Coro do TCA, sob direção de Leonel Amorim, tem como tema as dificuldades e
prazeres dos relacionamentos interpessoais humanos, neste caso, trazendo a
relação de Clara, uma mulher de meia idade cujo filho foi exilado, com Lucas, um
jovem rapaz bissexual, que se relaciona simultaneamente com Clara e com
Fernando, sendo dependente financeiramente de ambos. No presente trabalho,
intencionou-se analisar as questões de gênero durante o período da ditadura
militar, a partir de um estudo crítico-filológico, entendendo esse texto como
produto da cultura de uma época. O recorte da pesquisa em andamento toma
como objeto de estudo o referido texto teatral, bem como os respectivos
documentos paratextuais, para propor uma leitura da personagem Clara, que
sofre com o exílio do filho e também com o exílio de si mesma, aprisionada numa
realidade de opressão, cuja luta pela liberdade de expressão, financeira, amorosa
é cotidiana. Com esse contexto, considerando que o teatro, no período da
repressão militar, passou por diversos cerceamentos pelas peças possuírem
temas que iam contra as ideias e comportamentos defendidos pelo regime
ditatorial, não seria surpreendente afirmar que Dona Clara Clareou ou
Simplesmente Destroços tenha sofrido com as intervenções da censura, já que traz
a voz feminina em primeiro plano, esta que anseia por sua liberdade que por
muitas vezes fora calada por uma sociedade patriarcal, que estabelece padrões
comportamentais e cria barreiras à liberdade, à autonomia e à sexualidade da
mulher, sobretudo.
Palavras-chave: Filologia. Regime Militar. Gênero. Texto teatral. Crítica textual.
DO DECRETO À ESTRUTURA: O DESTACAMENTO DO NORDESTE EM
GEREMOABO COMO INSTITUIÇÃO EM DATILOSCRITOS DE 1936
Ivan Nascimento (UFBA)
Danilo Santos e Silva (UFBA)
O presente artigo objetiva a divulgação de dados referentes à criação e à
estruturação do Destacamento do Nordeste em Jeremoabo, na Bahia, a partir de
uma amostra de transcrições elaboradas na vigência do plano “DET-Jan-Jun. 1940
- DN: transcrição e levantamento lexical”. Este trabalho se filia ao projeto
“Documentos do ano de 1940 do "Destacamento do Nordeste" para o combate ao
banditismo: transcrição e levantamento lexical”, coordenado pela Profª Drª. Alícia
Duhá Lose, que se propõe a trabalhar com livros do arquivo histórico da Polícia
Militar da Bahia, alocados no Centro de Memória da PMBA, no Quartel dos Aflitos.
Os boletins n° 1 de 9 de março e o n° 4 de 12 de março de 1936, que pertencem a
um volume de boletins do “Commando das Forças em Operações Contra o
Banditismo no Nordeste do Estado da Bahia. P.C. em Geremoabo”, constituem o
115
objeto da discussão. Nesses textos, constam uma transcrição de decreto em que o
Governo do Estado da Bahia, durante o mandato do 24° governador Juracy
Montenegro Magalhães, aprova a criação do órgão de combate ao banditismo
para o “restabelecimento da ordem pública”; questões relativas à instalação e à
estrutura do destacamento e à distribuição das forças oficiais, informando
patentes e designações de cargo. Como arcabouço teórico, foram tomados os
princípios da Crítica Textual e da Paleografia para a elaboração das transcrições,
assumindo-se como ponto de partida a edição do Dietário (1582-1815) do
Mosteiro de São Bento da Bahia elaborada por Lose et al. (2009), no sentido de
alinhar-se à proposta do projeto afiliado.
Palavras-chave: Organização do Destacamento do Nordeste. Banditismo na Bahia.
Arquivo histórico da Polícia Militar da Bahia.
AS MEMÓRIAS DE DONA PEQUENA: AS PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES EM
SEUS MANUSCRITOS E NO IMAGINÁRIO SERTANEJO NO SÉCULO XIX
Jadione Cordeiro de Almeida (UFBA)
Maria Julieta Cedraz Friandes, ou Dona Pequena, nasceu na década de
1870(?) no então município de Riachão do Jacuípe, na fazenda Queimadinha,
atual cidade de Ichu – localizada a 176 km de Salvador-BA – estudante normalista
em Salvador, mas não conclui o curso, pois regressa ao interior do estado, quando
passa a ser a primeira professora daquela localidade, no engenho da fazenda
Canavial. Casada, passa a morar na fazenda Jitirana, onde, com seu cônjuge,
morreram de inanição na lendária Seca de 1932. Os conceitos de práticas e
representações serão essenciais para estabelecer os limites entre o real e o
imaginário em torno de Dona Pequena como mulher, sertaneja, mãe, professora e
poetisa, assim, este trabalho busca apresentar a história vista de baixo, como
sugerida por Thompson (1966), neste caso, contada por pessoas anônimas a
respeito de pessoas na mesma condição, mediante a gravação de trinta
entrevistas de membros da família e moradores da região sobre a vida dessa
mulher e a difusão da cultura escrita na região, logo foi preciso estabelecer um
diálogo entre método indiciário e etnográfico, numa perspectiva envolvendo
Filologia e História da Cultura Escrita, visando historiografar a vida e obra de
uma das primeiras poetisas baianas dos Sertões dos Tocós, a partir da edição face
a face (fac-símile e semidiplomática) de seus textos. Esta pesquisa busca revelar
ao público a importância desta mulher; descrever e analisar as condições de
produção e/ou adversidades encontradas por uma mulher nordestina em busca
de formação normalista e do direito de ler e escrever num século em que as
normalistas inicialmente eram igualadas às categorias dos loucos e prostitutas
(VILLELA, 2000); listar e agrupar os tipos de gêneros textuais organizados e
escritos também pela então estudante, bem como identificar com quais obras
116
e/ou autores ela especialmente tivera contato no contexto em que as mulheres
geralmente ainda eram privadas da cultura escrita; por fim, comparar as
mudanças de comportamento de leitora e escritora, antes e depois do casamento
num espaço hostil. Nesta primeira etapa da pesquisa, editou-se apenas o primeiro
livro, chegando à conclusão de que o corpus foi produzido entre o interior e a
capital baiana, nos anos de 1898 e 1899; trata-se de um livro manuscrito lido
pelas mulheres da família durante gerações; a organizadora das antologias lia
autores românticos e parnasianos; dos 97 poemas, 59% eram da autoria da
poetisa; além desses, no livro escreveu motes, epígrafes, quadras, pensamentos e
anotações avulsas de autoria variada, sendo 28/38 (74%) da própria poetisa. Já
professora e casada no início do século XX, abandona parcialmente a poesia e
dedica-se à família e à leitura religiosa, atitude comum a uma mulher à época.
Busca-se, portanto, analisar as reais práticas de leitura e escrita dessa autora e as
representações do imaginário coletivo a respeito dessa mulher atípica àqueles
Sertões do Tocós.
Palavras-chave: Dona Pequena. Edição. Memória.
ESTUDO DO LÉXICO DA SEXUALIDADE EM UM DOCUMENTO JURÍDICO
BAIANO LAVRADO EM 1914
Jéssica Pâmela Bomfim Silva (UEFS)
Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS - Orientadora)
O léxico é o conjunto de palavras de uma língua, é a identidade de um
povo, pois com aquelas é possível enveredarmos pelos vocabulários de diversas
comunidades linguísticas e trazer à tona aspectos históricos, sociais, culturais,
religiosos, jurídicos de uma sociedade, isto é, as histórias, os costumes, os cunhos
religiosos, as leis de um grupo social. Isto posto, propomos neste trabalho o
estudo do léxico da sexualidade em um documento jurídico baiano lavrado em
1914. O corpus encontra-se sob a guarda do Centro de Documentação e Pesquisa
(CEDOC), localizado na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS - BA) e
já se acha editado filologicamente. Tal documento retrata a história de Lindaura
Maria de Jesus, que foi seduzida por promessas de casamento e cedeu aos desejos
sexuais do seu noivo, João de Vasconcellos, sendo desvirginada e abandonada
grávida. Para tal estudo, fizemos o levantamento das lexias referentes à
sexualidade, definimos os macrocampos e os microcampos, analisamos as 28
lexias encontradas e buscamos a classe gramatical, o gênero, o significado e os
contextos em que as lexias aparecem no documento manuscrito. Em suma,
esperamos com este trabalho contribuir para as pesquisas na área da Filologia e
da Lexicologia, trazer à tona o léxico e os significados da comunidade linguística
de Almas, produzidos entre 1914 a 1924, e apresentar aos pesquisadores, à
comunidade acadêmica e ao público leitor esses resultados. Como aporte teórico,
117
tomamos por base os trabalhos desenvolvidos por Abbade (2006), Oliveira e
Isquerdo (2001), Queiroz (2002), Silva (2013), entre outros.
Palavras-chave: Léxico. Sexualidade. Documento Jurídico Baiano.
O ACERVO DE ILDÁSIO TAVARES NO ESPAÇO LUGARES DE MEMÓRIA DA
UFBA
Jhade Borges dos Santos Gomes (UFBA)
Rosa Borges (UFBA) -Orientadora
Arquivistas e filólogos são os principais responsáveis pela atividade de
conservação e acessibilidade do conjunto de memórias evidenciadas pela massa
documental que se encontra nos acervos. Tais documentos possibilitam a
produção de leituras diversas e práticas da edição de textos pelo filólogo-editor.
No estudo em desenvolvimento, tornar acessível o aparato documental que
promove a pesquisa e a atividade filológica é um dos principais objetivos dos
Projetos de Pesquisa Acervo de Escritores Baianos e Edição e Estudos de Textos
Teatrais Censurados no Período da Ditadura na Bahia (Parte IV): Práxis Filológica
e Arquivística. A partir da catalogação e digitalização das peças teatrais do
escritor baiano Ildásio Tavares e de documentos que permeiam o processo de
transmissão, produção, circulação e recepção dos seus textos, pretende-se
organizar o acervo do referido autor, que se encontra no Espaço Lugares de
Memória da Biblioteca Universitária Reitor Macedo Costa da UFBA, visando a
posterior criação de um acervo digital online. Ainda a partir da alcançabilidade
almejada, objetiva-se buscar elementos para exercício da prática editorial de uma
peça a ser escolhida, levando em consideração os processos históricos, sociais,
culturais, políticos e de qualquer outro fundamento que possa fornecer a
contextualização de espaço e tempo da obra por meio de uma prática crítico-
interpretativa, no lugar teórico da Filologia, considerando a trajetória e a história
do texto na trama do arquivo. Desse modo, a promoção de acesso à massa de
documentos provenientes do patrimônio artístico-cultural de determinado
escritor é de suma importância para servir como objeto de estudo da Filologia,
que, sendo disciplinar interativa, está em constante diálogo com diversas áreas de
conhecimento.
Palavras-chave: Filologia. Peças Teatrais. Acervo Digital.
OS ARQUIVOS DA PRELAZIA DE TEFÉ: A TRANSCRIÇÃO DO JOURNAL DE LA
COMMUNAUTÉ DU SAINT ESPRIT (1914-1938)
Jubrael Mesquita da Silva (UEA)
118
A presente transcrição é fruto do projeto intitulado “História, arquivo e
memória de Tefé”, financiado pela FAPEAM e com a finalidade de organizar e
democratizar o acervo da Prelazia de Tefé/AM, localizado na Rádio Educação
Rural do município, tem como objetivo apresentar parte da documentação
existente no acervo, notadamente os registros paroquiais e os periódicos,
destacando suas singularidades e potencialidades para os estudos de história,
geografia e ciências afins. Em 2013 com incentivo da agência de fomento a
pesquisa no Amazonas, FAPEAM, a partir da seleção junto ao edital Pro-acervo,
iniciou-se o projeto "História, arquivo e memória de Tefé". O projeto tinha como
objetivo central difundir e democratizar o acesso ao acervo histórico de Tefé/AM
por meio de ações de higienização, organização, digitalização e catalogação dos
documentos que o compõem. Cabe destacar que Tefé desde tempos coloniais,
quando se configurou enquanto Missão e, depois, tornando-se Vila de Ega,
caracterizou-se por ser um espaço estratégico, abarcando por força disso
interesses e questões políticas, econômicas, sociais e culturais que faziam da
região do Médio e Alto Solimões sua “extensão”. Com efeito, vários documentos
que remontam ao século XIX e XX encontram-se no acervo, localizado no Prédio
da Rádio Educação Rural de Tefé, sob a guarda da Prelazia. Esses documentos
referem-se à história do Médio e Alto Solimões, uma vez que versam sobre
cidades e regiões localizadas na calha do Solimões, mas também de seus
afluentes. Cidades como Santo Antônio do Içá, Amaturá, Fonte boa, Tefé e outras
são mencionadas em documentos que trazem consigo aspectos históricos delas.
Documentos de batismo, casamento e periódicos constituem-se em exemplos
significativos que se bem explorados possibilitam uma maior compreensão
histórica da região. Assim o arquivo possui dentre vários documentos o Journal
de la Communauté du Saint Esprit, que é uma documentação que se aproxima de
um diário escrito entre 1914 a 1938. Foi realizada uma transcrição do documento
original escrito em língua francesa a mão, possivelmente por um religioso ligado
a ordem dos Espiritanos.
Palavras-chave: Transcrição. Tefé. Arquivos.
119
SOBRE A EDIÇÃO DE TEXTOS NO LABORATÓRIO DE HISTÓRIA DA LÍNGUA
(HISTLING) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Leonardo Lennertz Marcotulio (UFRJ)
Célia Regina dos Santos Lopes (UFRJ)
Silvia Regina de Oliveira Cavalcante (UFRJ)
O Laboratório de História da Língua (HistLing), projeto atualmente
desenvolvido por professores da Faculdade de Letras da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, tem suas origens no antigo Laboratório de História do Português
(LaborHistórico), criado para atender a demanda do projeto integrado Para a
História do Português brasileiro. Nesta comunicação, desejamos fazer um
histórico do projeto de edição de textos antigos e constituição de corpora,
avaliando, no percurso de mais de dez anos de existência, o labor filológico, os
avanços e limitações, assim como as dificuldades e desafios enfrentados para
garantir a preservação da rica coleção documental da que dispomos. O
laboratório HistLing tem dois objetivos centrais: (i) fomentar estudos de filologia
e linguística histórica; e (ii) elaborar e divulgar um corpus documental de textos
antigos da língua portuguesa (HistLing-P) e da língua espanhola (HistLing-E),
possibilitando a qualquer pesquisador levantar dados representativos do
português no e do Brasil, do português europeu e do espanhol na América. Tal
proposta certamente favorece no avanço do debate teórico acerca da mudança
linguística e das interpretações sobre a nossa formação histórico-social. Com base
no material editado, os pesquisadores poderão ter acesso direto a fontes de
sincronias passadas sistemática e criteriosamente levantadas. Atualmente,
estamos dando ênfase à edição de cartas particulares escritas no Rio de Janeiro
por brasileiros e por portugueses, a partir dos séculos XVIII-XIX, localizadas em
acervos cariocas, como é o caso do Arquivo Nacional, Fundação Biblioteca
Nacional e Instituto Histórico Geográfico Brasileiro. Os documentos são
apresentados em versão semidiplomática juntamente a seus fac-símiles para que
qualquer pesquisador interessado possa conferir, meticulosamente, o texto
transcrito e editado com a versão original digitalizada, fazendo sua leitura
própria e pessoal dos documentos.
Palavras-chave: Edição de Textos. História da Língua. Constituição de Corpus.
CARTAS PESSOAIS NOVECENTISTAS: EDIÇÃO E ESTUDO
Letycia Dias Mallet (UFRJ)
Leonardo Lennertz Marcotulio (UFRJ) - orientador
O objetivo desta comunicação é dar notícias sobre o processo de
organização, edição e estudo de cartas de um acervo pessoal, desde a primeira
120
metade do século XX até a década de 80 do mesmo século. Trata-se do acervo
batizado como Didola, em homenagem à forma como era chamada a matriarca de
uma família, destinatária de muitas dessas cartas. Didola era uma mulher mineira
que, apesar de todas as dificuldades, financeiras e de outras ordens, tinha um
carinho inestimável para com o próximo. Mulher religiosa, amiga, prima, irmã,
mãe são características notáveis em sua correspondência passiva. No atual
estágio da pesquisa, o acervo está constituído de 28 cartas escritas por diferentes
remetentes como irmãos, filha, primas e amigos em geral. Esse material foi doado
pela família da destinatária para o projeto Laboratório de História da Língua
(HistLing), desenvolvido no âmbito da Faculdade de Letras da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. O trabalho filológico tem como propósito a preservação
e divulgação da memória de um grupo familiar cujas redes se materializam em
diversos estados da região sudeste do Brasil. Os materiais levantados estão sendo
editados sob os rigorosos preceitos da Filologia / Crítica Textual (Cambraia,
2005), de acordo com as normas do projeto Para uma História do Português
Brasileiro, no que se refere à elaboração de edições semi-diplomáticas. Este
acervo é de grande importância para estudos da história do português, por
permitir a análise de aspectos paleográficos e linguísticos na escrita de
personagens não ilustres, assim como pelo fato de termos acesso a textos
produzidos por informantes, homens e mulheres, com distintos graus de
escolarização.
Palavras-chave: Cartas Novecentistas. Filologia. Memória.
EDIÇÃO DIPLOMÁTICA DE UMA MANUSCRITO DO FINAL DO SÉCULO XIX DA
CÂMARA MUNICIPAL DE CASCAVEL/CE
Luiz Carlos Cordeiro Lima (URCA)
Expedito Eloísio Ximenes (UECE) - Orientador
A Filologia é uma ciência que se ocupa em estudar o texto escrito. Ao se
desenvolver pesquisas filológicas, torna-se possível o contato com textos antigos
que, por vezes, incógnitos, fornecem informações significativas, as quais são
características de um período histórico, assim como de uma sociedade em
particular (XIMENES, 2013). Com base nesse pressuposto, pretende-se, com esta
comunicação, proceder à concretização de uma edição semidiplomática de um
documento manuscrito, do final do século XIX, o qual constitui o gênero aviso de
devolução do livro de atas da Câmara Municipal de Cascavel/CE, sendo, pois,
extraído do Portal da História do Ceará – uma página virtual, disponível em
http://portal.ceara.pro.br/, que permite o acesso a um acervo significativo de
diversos gêneros textuais riquíssimos para análise e entendimento de fatores
linguísticos, sócio-históricos e culturais de um corpo social de várias épocas. Para
tanto, buscou-se atender às normas de edição do grupo pesquisa Prática de
121
Edição de Textos do Estado do Ceará (PRAETECE), pelo fato de que levam em
conta a preservação integral dos textos para estudos de ordem paleográfica,
codicológica, diplomática, já que tais procedimentos favorecem para uma
compreensão mais ampliada dos documentos. Nessa perspectiva, o aporte
teórico-metodológico na tessitura dos conceitos inerentes à Filologia e ao labor
de edição buscará apoio nos estudos de Ximenes (2009), Cambraia (2005), Spina
(1994), dentre outros. Frente ao exposto, acredita-se que, com esta proposta de
trabalho, haverá possibilidade de se investigar variados aspectos linguísticos do
português do Brasil, contribuindo, assim para o também crescimento dos estudos
filológicos no Ceará.
Palavras-chave: Filologia. Aviso. Edição Semidiplomática.
OS ACTANTES NO LIVRO III DO TOMBO: UM ESTUDO ANTROPONÍMICO
Marcos dos Santos Nascimento (UFBA)
Célia Marques Telles (UFBA) - Orientadora
Muitos dos registros de um povo, suas crenças, sua organização social bem
como sua cultura podem ser observados na escolha dos nomes próprios, prática
antiga e que, em virtude desses aspectos, merece a atenção da linguística e dos
seus estudiosos. Usar a língua e sua significação simbólica para apropriar-se do
mundo tem sido uma constante desde os primórdios da raça humana. Este artigo
é parte do meu projeto de dissertação, em desenvolvimento, em nível de
mestrado, orientado pela Profa. Célia Marques Telles. Busca-se aliar pesquisas em
filologia, ao estudo da onomástica – arte que se dedica a investigar as origens e os
processos que formam os nomes próprios. Aqui faz-se uma breve exposição do
estudo antroponímico em manuscritos do Livro III do Tombo do Mosteiro de São
Bento da Bahia, a partir da edição semidiplomática já finalizada e disponível on
line. Esta pesquisa se dedica, mais particularmente, aos nomes de pessoas, ramo
denominado de antroponímia. Esse projeto objetiva reconhecer e identificar os
antropônimos no Livro III do Tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia, que
reúnem traslados de peças jurídicas e outros documentos pertinentes à
instituição, autenticados por um tabelião, que datam do século XVI ao XVIII,
contribuindo dessa forma para a história da prática notarial desse período.
Considerando a importância do estudo antroponímico nos Livros do Tombo e
suas preciosas contribuições para os estudos filológicos e de linguística histórica,
pergunta-se aqui, sobre antropônimos presentes no Livro III do Tombo, se já há
algum trabalho elucidativo no que diz respeito a sua identificação como actantes
ou protagonistas. Quando e onde esses antropônimos (portugueses, espanhóis e
africanos) aparecem ou se está esclarecido o fato de um mesmo nome que
aparece em mais de um documento referir-se à mesma pessoa ou se se trata
122
apenas de caso de homônimos, ou trata-se do mesmo documento ou de um
documento diferente.
Palavras-chave: Livro III do Tombo. Filologia. Onomástica
FILOLOGIA E LINGUÍSTICA: ESTUDO LEXICAL DE UM MANUSCRITO DATADO
DE 1900
Maria Aurilene Pinto Sampaio (UECE)
Expedito Eloísio Ximenes (UECE - Orientador)
Uma das tarefas do labor filológico é trazer à sociedade edições genuínas
de textos que guardam importantes dados linguísticos, culturais e históricos,
muitas vezes, não registrados nos manuais didáticos ou em livros diversos. Desta
forma, tomamos para o filólogo o adjetivo mencionado pelo autor do manuscrito
editado para este trabalho, quando anota: “Aqui ficapois ainda/registrada esta
restia de verdade para perpétuo tes/temunho da verdade histórica ao rebuscador
do passado.” Dado o exposto, intentamos, primordialmente, realizar a edição
semidiplomática de uma pequena nota encontrada dentro de um livro de
certidões de óbitos que está sob a custódia da cúria diocesana do município de
Itapipoca-Ce, cidade localizada aproximadamente a 140 km da capital Fortaleza.
O texto é intitulado de “nota” pelo padre Filomeno do Monte Coelho, que
registrava os óbitos da paróquia. Após a escritura de um óbito ocorrido em 1900,
encontramos no final do fólio 65v até o fólio 66v um desabafo contra o governo
do Ceará, à época, o senhor Antonio Pinto Nogueira Acioli. Apresentamos, nesta
comunicação, o texto editado e um estudo sobre o léxico que expressa a
indignação do padre diante a situação de seca e de morte do povo cearense. Cabe
ressaltar que, editar manuscritos requer letramento específicos, pois, faz-se
mister, além do cuidado no manuseio e obtenção do registro fac-similar do
manuscrito, o primor na edição e manutenção do registro fiel do texto em edição
semidiplomática. Portanto, para tal, nosso aporte teórico baseia-se, sobretudo,
em Cambraia (2005) e Spina (1977), dentre outros que lidam com a tarefa
filológica.
Palavras-chave: Textos. Edição Semidiplomática. Estudo Lexical.
123
A PROVISÃO DE PROFESSOR NO CONTEXTO DO CEARÁ OITOCENTISTA:
ANÁLISE DOS ASPECTOS LINGUÍSTICOS-FILOLÓGICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS
E EDUCACIONAIS
Nadja Maria Pinheiro (UFC)
Expedito Eloísio Ximenes (UECE) - Orientador
Professores que hoje ocupam as salas de aula do ensino público brasileiro
são submetidos a concursos em que inúmeros documentos fazem parte do
processo para admissão. Por meio de portaria ou nomeação, esses profissionais
são empossados para exercer o magistério. Voltando aos períodos colonial e
imperial, cumpria esse papel a espécie documental provisão, a qual, na definição
de Bellotto (2002), consistia no ato pelo qual a autoridade régia conferia algum
benefício ou cargo a alguém. No Arquivo Público do Estado do Ceará (APEC), é
possível constatar a recorrência do documento no contexto provincial cearense.
Desse modo, empreendemos a análise das provisões referentes ao cargo de
professor de Primeiras Letras na primeira metade do século XIX, com o intuito de
identificar a estrutura apresentada pelo gênero, considerando os fundamentos na
área da Diplomática propostos por Bellotto (2002) e Martinheira (2006). No que
se refere aos aspectos linguísticos-filológicos, o estudo visa esclarecer as
estruturas lexicais relativas à educação e, em especial, à figura do professor
presente nos manuscritos. Por fim, buscamos relacionar os dados que compõem
os documentos do corpus ao contexto sócio-histórico e educacional cearense para
construir um panorama acerca desses aspectos, para tanto, recorremos aos
estudiosos da história do Ceará, como Menezes (2001), Girão (1984) e Castelo
(1970). Ressaltamos que, para realizar as análises acima, os documentos
manuscritos foram semidiplomaticamente editados segundo as normas de edição
do grupo de pesquisa Práticas de Edição de Textos do Estado do Ceará
(PRAETECE). Para tornar-se acessível a um público maior, apresentamos ainda a
edição modernizada dos documentos.
Palavras-chave: Provisão de professor. Edição semidiplomática. Ceará Imperial.
O RECOLHIMENTO DE NOSSA SENHORA DOS HUMILDES E OS SEUS
MANUSCRITOS
Perla Andrade Peñailillo (UFBA)
Alícia Duhá Lose (UFBA) - Orientadora
A presente comunicação tem o objetivo de apresentar o trabalho de edição
realizado com 4 documentos do acervo da Congregação de Nossa Senhora dos
124
Humildes, sediada na cidade de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo
baiano. O Recolhimento dos Humildes foi fundado em 1793 e tinha como objetivo
inicial abrigar mulheres piedosas que se dedicassem ao culto divino,
posteriormente se tornou uma instituição de educação feminina. Os manuscritos
são registros escritos da história do homem, mas nem sempre esses documentos
foram idealizados com essa finalidade, no entanto, acabam virando testemunhas
dessa história. Os documentos objetos dessa análise foram “Cerimonial para se
lançar o Hábito e serem recebidas as Recolhidas de Nossa Senhora dos Humildes,
extraído do cerimonial das Recolhidas do Senhor Bom Jesus dos Perdões (de
1808 a 1869)”; o “Livro de Assentos de Entradas (de 1871 a 1928)”; o “Livro
Cerimonial” e o “Documento de Entradas (1885, 1890 e 1892)”. Para esses
documentos foi realizada uma edição conservadora com critérios de Lose (2009;
2011; 2014; 2016). Foram feitas tabelas scriptográficas com o intuito de
identificar as diversas mãos que o compõem os textos escritos ao longo dos 200
anos e de todos os documentos aqui citados, procedemos ao levantamento e
classificação, análises das abreviaturas tudo isso para que se pudessem estudar
melhor as documentações. Quando adentramos em um trabalho de pesquisa
documental, mergulhamos na história contida nos documentos, buscando
compreender, para além da escrita, o que não foi dito ou aquilo que foi silenciado
por anos de esquecimento e abandono. O papel da documentação produzida pela
instituição é imprescindível para compreensão e divulgação da história e da
memória do Recolhimento e da região santamarense.
Palavras-chave: Recolhimento dos Humildes. Nossa Senhora dos Humildes. Santo
Amaro. Paleografia. Manuscritos. Memória.
VOZES DO TEATRO BAIANO EM TEMPOS DE DITADURA MILITAR:
DEPOIMENTOS
Quelle Silva dos Santos (UFBA)
Isabela Santos Almeida (UFBA) - Orientadora
Este trabalho tem como objeto de estudo os depoimentos orais dos
docentes da UFBA, partícipes da cena teatral baiana, reunidos no “Seminário
vozes do teatro em tempo de ditadura militar”, realizado pelo Grupo de Edição e
Estudo de Texto - Equipe Textos Teatrais Censurados (GEET-ETTC), em 2016, na
UFBA. Participaram deste evento os professores Cleise Mendes, Luiz Marfuz,
Raimundo Matos, Ricardo Líper, Deolindo Checcucci e Fernando Conceição. É
através da Filologia e da atividade da Crítica Textual que se objetiva a
investigação do texto, seu processo de produção, circulação, transmissão e a sua
recepção dentro de determinado contexto. É o processo de recuperação desses
textos, a partir da práxis filológica, que vai levar o sujeito-pesquisador para a
consciência de que o texto tem valor documental e testemunhal, permitindo
125
novas interpretações do mesmo conforme sua materialidade e historicidade. Os
depoimentos tomados aqui são compreendidos como paratextos dos textos
teatrais, juntamente a outras documentações, pois constituem-se como fontes
que permitem formar um conjunto de perspectivas da cena teatral baiana e do
cotidiano da sociedade da época em que foram inscritos. Constituem-se como
lugares de memória, pois são testemunhos de um dado tempo e uma dada época,
contribuindo para o conhecimento de seu cenário político, cultural e social. Dessa
forma, a partir da composição de um referencial teórico-metodológico para o
desenvolvimento da pesquisa, foram elaborados critérios de transcrição
baseados no Programa de História Oral do Cpdoc, conforme Manual de História
Oral (ALBERTI, 2004), que, por sua vez, fornece orientações substanciais para o
desenvolvimento da pesquisa em questão, permitindo a preparação, realização,
tratamento e difusão dos depoimentos.
Palavras-chave: Docentes da UFBA. História oral. Filologia.
“O ADORÁVEL COGUMELO DA BOMBA ATÔMICA”: UMA EDIÇÃO
INTERPRETATIVA
Sebastião Rodrigues da Silva Júnior (UFBA)
Arivaldo Sacramento (UFBA) - Orientador
A resistência da sociedade brasileira à Ditadura Militar no Brasil se dá em
diversos campos. Entre os quais, situa-se o teatro. É neste cenário que se insere o
texto dramático, “O adorável cogumelo da bomba atômica”, escrito em 1967, pelo
intelectual baiano Ricardo Líper. Com o objetivo de produzir a peça no Teatro
Castro Alves, em Salvador, em 30 de maio de 1968, a obra foi submetida ao
Serviço de Censura de Diversões Públicas – Departamento de Polícia Federal –,
para obtenção de certificação para sua liberação. O texto recebeu certificado
favorável acima dos dezoito anos sem cortes em agosto do mesmo ano.
Entretanto, no ano de 1978, o texto foi apreciado novamente pelo mesmo órgão
que o considerou como impróprio para menores de dezesseis anos e permitido a
sua encenação a partir dessa idade, mas com cortes. A partir da documentação
gerada em todo processo, propõe-se, com este artigo, uma reflexão que conceba o
texto, objeto de estudo da Filologia Textual, como um bem documental que
retrate fatos históricos, sociais e culturais de uma época. Além disso, nas leituras
possíveis, são consideradas as condições materiais significativas ao labor
filológico, que evidenciam as marcas adquiridas pelo texto em seu processo de
produção, transmissão e circulação e, ao mesmo tempo, possibilitam entender
sua historicidade, demonstrando e/ou criando possibilidades de novas leituras.
Sendo assim, como resultado almeja-se apresentar uma edição interpretativa, na
qual, se discute a representação da militância de esquerda no teatro baiano no
período supracitado. Nesse sentido, conhecer de igual forma as circunstâncias da
126
escrita e seus projetos discursivos, políticos e estéticos se torna indispensável
para compreensão deste corpus.
Palavras-chave: Censura. Crítica Textual. Ditadura Militar.
GLOSSÁRIO CULINÁRIO DO LIVRO “LE VIANDIER DE TAILLEVENT”
Sherllon Santana de Araújo (UFBA)
Este trabalho apresenta um breve resumo sobre a elaboração de um
glossário culinário presente na obra “Le Viandier de Taillevant”, atribuída a
Guillaume Tirel, um dos livros de receitas em língua francesa, mais antigo
descoberto até então. É datado no período entre o Francês Médio e o Francês
Moderno. A obra Le Viandier de Taillevant possui grande valor nas vias históricas
da língua francesa por revelar costumes gastronômicos da época, em especial por
conter um rico arcabouço lexical. Nesse sentido, a história do léxico é muito mais
complexa do que se imagina, uma vez que ele carrega consigo o sentido da fala, da
cultura de um povo e, sobretudo, do peso histórico e linear de um determinado
idioma, em razão de a língua, de a história e de a cultura caminharem de mãos
dadas. Portanto, mergulhar no léxico do francês médio, através da elaboração de
um glossário, é investigar o processo sociolinguístico e cultural do seu povo. À luz
desta perspectiva, a obra de Guillaume Tirel, “Le Viandier, de Taillevent”, é muito
mais do que um simples texto instrucional, ele carrega em si um verdadeiro
tesouro lexical que permite trazer à tona o modus operandi da sociedade que se
propõe conhecer, sendo assim, uma contribuição de inestimável valor, pois,
perpassa pelas barreiras linguísticas na história da Língua Francesa. Para tanto, a
elaboração do glossário lexical da obra permitirá trazer contribuições linguísticas
que promovam uma melhor compreensão das mudanças ocorridas no léxico da
alimentação na língua francesa. Permitirá também servir de auxílio nos estudos
históricos comparativos das línguas românicas, no sentido de traçar com maior
riqueza de detalhes o perfil de cada uma delas, no âmbito lexical.
Palavras-chave: Le Viandier de Taillevant. Glossário de alimentação. Francês
médio.
CARTAS DO SÉCULO XVIII: DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICA E MEMÓRIA
Tamires Sales de Quadros (UFBA)
Eliana Brandão Correia Gonçalves (UFBA) - Orientadora
Este trabalho tem por objetivo expor os resultados do trabalho com
catalogação, descrição e transcrição de Cartas do século XVIII, que destacam
aspectos históricos, sociais, culturais, políticos e ideológicos do cotidiano da
127
Bahia neste período, bem como do Brasil Colonial. O registro desses
acontecimentos reflete as impressões e interpretações sobre os fatos de uma
época, consagra o ser humano como membro da comunidade em que vive, atesta
o seu pertencimento a esta realidade, de modo que seus escritos revelam uma
realidade que muito tem a dizer sobre um determinado período da história. Esses
registros encontram-se nas Cartas, utilizadas como instrumentos de comunicação
no período colonial, que são verdadeiros baús de memória, não só no que se
refere ao caráter documental, mas também por revelar diversas informações
sobre a língua, a história e a cultura. Nos ajuda a convocar o passado e reativar os
lugares de memória do texto, considerando que os documentos apresentam
historicidade de produção e intencionalidade de escrita próprias, as quais deve-
se estar atento ao atribuir os sentidos da realidade, como diria Chartier (2009).
Assim, recorre-se à Filologia, que se propõe ao estudo do texto escrito, analisando
a sua materialidade histórica, para interpretar tais documentos, explorando as
diversas significações que o texto pode apresentar, com base na língua. O filólogo,
ao conhecer estas significações, compreende melhor a sociedade. Deste modo, o
artigo apresenta reflexões sobre a relevância da tipologia documental Carta,
como representação da memória de um tempo, um lugar e um povo a partir da
perspectiva filológica, demonstrando como o labor filológico pode fazer vir a
lume as narrativas pretéritas de um passado histórico ainda obscuro,
ressignificando-o.
Palavras-chave: Carta. Filologia. Memória.
Eixo temático: Filologia e questões teóricas da contemporaneidade
A PRODUÇÃO DE ESCRITORAS BAIANAS NEGRAS NA DÉCADA DE OITENTA:
EM BUSCA DOS RASTROS PARA UMA CATALOGAÇÃO
Edilaine Andrade Teixeira (UFBA)
Rosinês de Jesus Duarte (UFBA) - Orientadora
Comprometida com uma perspectiva mais humanística e democrática, a
Filologia na contemporaneidade apresenta-se como esse lugar teórico do resgate
e do não silenciamento de textos que não integra(ra)m os lugares canônicos da
produção literária na nossa sociedade. Sendo assim, o presente trabalho tem por
objetivo refletir sobre a produção literária de escritoras negras baianas durante a
década de oitenta, utilizando-se de ferramentas acessadas pelos estudos
filológicos para fazer um catálogo descritivo dessa produção que circulou em
periódicos, especificamente, na revista literária Cadernos Negros, no período já
mencionado. Para produzir as discussões teóricas acerca da Crítica Filológica,
discutiremos a partir de Rosa Borges (2012), Michelle Warren (2003), dentre
outros. Para a reflexão da construção de lugares de memória, bem como sobre o
128
ato de arquivar e de acessar esse arquivo, serão utilizados de Derrida (2001) e
Ricoeur (2003). Para pensar análise do fazer, do pensar e veicular o texto
literário negro, será importante a contribuição dos estudos de Evaristo (2009) e
Souza; Lima (2006). Por tratar-se de uma pesquisa ainda em fase inicial, a
proposta desse trabalho é instigar a reflexão e vislumbrar questionamentos
acerca do estudo do processo de produção e circulação desses textos, que,
pensando no contexto de produção da década de oitenta, ainda figuram como um
ponto ínfimo diante da produção literária brasileira, majoritariamente branca e
masculina. Ao fim, pretende-se com este trabalho, contribuir para a redução do
silenciamento e invisibilidade que permearam/permeiam a produção de
escritoras baianas negras e periféricas, durante os anos oitenta.
Palavras-chave: Processos de Produção e circulação de textos. Escritoras negras
da Bahia. Catalogação.
CAETANO MOURA, O TRADUTOR NUMA BIOGRAFIA
Edson César de Souza Sobrinho (UFBA)
Neste trabalho perseguiremos o percurso biográfico de Caetano de Lopes
Moura (1780-1860) além da catalogação das suas obras através crítica filológica.
Citado como o primeiro tradutor profissional brasileiro segundo José Paulo Paes
(2003). Negro de Salvador na Bahia, Caetano Moura migrou para França onde
estudou e exerceu a profissão de médico e tradutor além da de escritor como
afirma Claudio Veiga (1979). É preciso notar que esta trajetória biográfica se
inicia nos primeiros anos do século XIX. Por isso, qual a trilha tomada por um
homem negro que nasce no século XVIII, no Brasil escravocrata, vai para a Europa
onde se casa, estuda medicina e vive também como tradutor e escritor?
Seguiremos, ainda, numa tentativa de inscrição dessa trajetória em um campo
biográfico dos povos da afrodiáspora africana. Sob a hipótese básica de uma mera
filiação “natural da Bahia” era a maneira pela qual Caetano Moura assinava seus
livros publicados na Europa. Nesse sentido, a questão que se abre é como um
negro baiano veio-a-ser o primeiro tradutor do Brasil imperial? Como o fato de
pertencer à raça negra é relevante nesse processo? Pois, tendo exercido papel,
ainda como, biógrafo – por exemplo escrevendo a biografia de si mesmo bem
como a de Napoleão Bonaparte (para quem serviu como médico) – além de ter
atuado como editor, organizador, escritor, tradutor (francês, inglês e alemão) de
romances e compêndios de medicina entre outros gêneros. Interessa-nos, por
isso, também, a catalogação de sua obra escrita na França país onde se radicou.
Diante de tais informações e na diversidade dos caminhos a conhecer, mais
estritamente, este trabalho servirá como tracejamento de uma pesquisa em torno
do percurso biográfico e bibliográfico de um homem negro cuja obra e narrativa
ainda não fora ensaiada (estudada) com a devida atenção. Tendo produzido
129
dezenas de livros, bem documentados pela biblioteca nacional da França, o
médico negro Caetano Moura nos suscita mais que curiosidade. Assim, essa
proposta de trabalho pretende ainda reafirmar uma trajetória negra singular,
usamos essa palavra em acepções diversas, tentando perceber as sutilezas de um
passado que ainda se organiza sob caminho diversos. Do migrante nu em direção
ao tradutor-biógrafo.
Palavras–chave: Biografia. Tradução. Afrodiáspora. Edição Crítica. Filologia.
DA ORALIDADE À ESCRITA, COMO SOBREVIVERAM OS CLÁSSICOS?
Gérsica Alves Sanches (UFBA)
A preocupação com processo de transmissão textual remonta aos tempos
arcaicos, em que textos orais literários, religiosos e filosóficos eram produzidos e
transmitidos observando uma certa estrutura formular, que favorecia a um maior
controle da alteração do texto em seu processo de reprodução e transmissão.
Com o propósito de estudar as tradições textuais orais e especificamente para
estudar o processo de transmissão dos textos homéricos, surge a Teoria Oral,
também chamada de Teoria Oral-Formular, propostas por classicistas como
Milman Parry (1971) e Albert Lord (1938; 1953; 1960; 1969; 1991 e 1995) e,
posteriormente, retomada e aprimorada por John Miles Foley (1986; 1988; 1992;
1997 e 1999). Estudando os textos homéricos e amparados nos estudos de
fraseologia e de métrica, os referidos teóricos buscavam marcas linguísticas,
composicionais e temáticas que permitissem depreender sistemas formulares ou
mecanismos de composição que funcionavam como blocos de linguagem usados
com recorrência por causa da sua utilidade ao poeta no momento da criação.
Assim, esta teoria aliou a noção de tradição à de oralidade. Interessa-nos, nesta
comunicação, compreender como a Teoria Oral-Formular ajudaria a pensar o
trabalho filológico no processo de transmissão textual não apenas do texto
escrito, como convencionalmente ocorre, mas também de outros gêneros textuais
orais que, pelas suas especificidades formulares, se perpetuam nas tradições ao
longo do tempo. Com isso, intenta-se discutir as noções correntes de texto nos
estudos filológicos contemporâneos, para deslocá-las e ampliá-las. Esses
deslocamentos permitirão lançar um novo olhar para a própria práxis filológica,
uma vez que é em torno das noções de texto – o objeto de estudo da filologia –
que se desenvolvem os estudos filológicos. Resta saber sobre que “texto” se
debruça a filologia. Com os Estudos Clássicos, espera-se chegar a uma noção de
texto que auxilie a pensar que textos os Estudos Filológicos têm passado ao largo.
Que textos foram recalcados, silenciados, desconsiderados por nem terem sido
considerados “textos” passíveis de serem estudados em seus processos de
produção, transmissão e recepção? Finalmente, deseja-se propor uma Filologia
nos Trópicos, que se dedica a refletir sobre o estudo de tradições textuais,
130
preferencialmente orais, provenientes de matrizes culturais historicamente
silenciadas e de base textual oral, como as indígenas e as afro-brasileiras, fazendo
emergir textos que deixam entrever as ligações bastante íntimas entre os códigos
linguísticos e culturais e os aspectos sócio-históricos.
Palavras-chave: Estudos Filológicos. Teoria Oral-Formular. Filologia Nos
Trópicos.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A POST-PHILOLOGY E AS PRÁTICAS FILOLÓGICAS
NA CONTEMPORANEIDADE
Isabela Araújo Calmon (UFBA)
Rosinês de Jesus Duarte (UFBA) - Orientadora
No âmbito da filologia, o labor realizado em tempos atuais integra um
processo que, para o sujeito pesquisador, passa a ser (auto) reflexivo. Ao
trabalhar com um manuscrito para estabelecê-lo criticamente, o leitor filólogo-
editor vê não apenas a possibilidade, mas também a necessidade de se executar
um gesto filólogo cuja práxis passa a se posicionar cada vez mais contra os
projetos estético-político narrativos de dominação. A filologia, portanto, se
mostrará, de acordo com Michelle Warren, uma pós-filologia ou post-philology.
Esta seria uma participante ativa no rompimento dos discursos hegemônicos e,
portanto, de poder. A autora utilizará o termo post-philology para designar o
trabalho filológico que, por vezes, é realizado na pós-modernidade. Questiona-se,
destarte, até que ponto a post-philology pode acompanhar o pós-moderno e o
pós-colonial. Não se encerrando na prática editorial, este conceito, que já ocorre
num certo zeitgeist, permite trazer à baila vozes de sujeitos tidos como
dissidentes. Assim, buscar-se-á, aqui, tecer breves considerações sobre a
exploração desse potencial crítico. Outros teóricos também atestam para o fato
dos vocábulos filologia (e, consequentemente filólogo) possuírem significados
muitos amplos e muito gerais ou, em seu extremo oposto, muito especializados.
Porém, a post-philology não significa empreender-se numa filologia pautada num
rompante cego de otimismo ou mera credulidade. Bosqueja-se, efetivamente,
empreender-se num labor que passa a dispensar hierarquias valorativas e
origens. Abre-se espaço, então, para o envolvimento da filologia na crítica
feminista, nas questões identitárias, de gênero, raça, sexualidade etc. e, o filólogo,
não mais seria aquele que se apresenta na figura de um detentor da verdade.
Antes, esse labor filológico abstém-se de quaisquer tentativas propor
caracterizações fechadas e sedimentadas. Concebe-se materialidades que
constroem sentidos através d’um olhar que recorre aos indícios e valoriza
minúcias. Assim, para este trabalho, utilizaremos como corpus da pesquisa o
texto “Uma Alegre Canção Feita de Azul”, escrito em 1973 por Yumara Rodrigues.
A peça integra o conjunto de textos que foram censurados durante o período da
ditadura militar na Bahia. Através do trabalho editorial, bem como do exercício
131
de crítica filológica, verificou-se que dessa materialidade textual emana uma
densa orquestração arregimentada que evidencia os vários sujeitos e vozes que
ali se presentificam. As partes mutiladas revelam o discurso contra-hegemônico
defendido pela atriz/autora que busca romper barreiras neste monólogo
autobiográfico.
Palavras-chave: Post-Philology. Crítica Textual. Literatura.
Eixo Temático: Teorias e Práticas Editoriais
EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA DE UM PROCESSO-CRIME DE OFENSAS VERBAIS
NO SERGIPE OITOCENTISTA (ESTÂNCIA, 1876)
Augusto Petrônio Pereira (UFS/ PPGL)
Marcos Mateus Campos Mota Nunes (UFS/ PIBIC/ CNPq)
Um dos centros de atenção da sociedade moderna se assenta no fato de a
reputação ser estabelecida e regulada publicamente pela opinião seleta da
vizinhança (SHOEMAKER, 2000). O bom nome e a fama são fatores primordiais
que se levantam na tipologia processual com a qual estamos trabalhando: os
processos-crime de ofensas verbais. Tal crime, sendo verídico ou não, era
potencialmente explosivo contra a ordem social e, portanto, passível de punição
pela justiça. Nosso objeto de estudo é um processo-crime de ofensa verbal
demandado no ano de 1876, no município de Estância, Estado de Sergipe. A fonte
remanescente faz parte do acervo histórico do Arquivo Geral do Poder Judiciário
do Estado de Sergipe e se encontra alocada sob a cota Caixa 695, documento 02,
comportando um total de 82 fólios manuscritos. A temática do processo está
centrada em ofensas verbais que foram veiculadas em um jornal de grande
circulação na cidade Estância, chamado O Rabudo. O processo foi demandado pela
queixosa Dona Mariana Joaquina de Macêdo, que acusa os senhores José
Gualberto de Vasconcelos e Pedro Frederico Ribeiro de ofendê-la por vários
nomes, dentre os quais o pior seria o de chamá-la de “Calango”. O objetivo desse
trabalho é apresentar uma breve descrição codicológica (CAMBRAIA, 2005) e os
resultados parciais da edição semidiplomática (CAMBRAIA, 2005; SPINA, 1990).
Os procedimentos metodológicos usados para a edição se assentam nas normas
estabelecidas pelo Projeto Para História do Português Brasileiro (PHPB).
Esperamos que a nossa edição, além de alimentar o banco de dados de estudos
diacrônicos do português sergipano (MARENGO; FREITAG, 2016), também
contribua para uma possível (re)construção da história da cultura escrita na
época do Império em Sergipe (MARENGO, 2017).
132
Palavras-chave: Crítica textual. Edição semidiplomática. Ofensas verbais.
"ISTORIA DELLE GUERRE DEL REGNO DEL BRASILE: ACCADUTE TRA LA
CORONA DI PORTOGALLO E LA REPUBLICA DI OLANDA": EDIÇÃO
INTERPRETATIVA E TRADUÇÃO
Bruno Ferreira (UFBA)
Norma Suely da Silva Pereira (UFBA) - Orientadora
O presente trabalho tem como objetivo apresentar a tradução e edição
interpretativa dos treze primeiros fólios do documento "Istoria delle guerre del
Regno del Brasile: accadute tra la corona di Portogallo e la Republica di Olanda,
composta, ed offerta alla sagra reale maesta’ di Pietro Secondo, Re di Portogallo &
C(ompagnia). Dal P(rete) F(rate) Gio(vanni) Gioseppe di S(anta) Teresa
Carmelitano Scalzo", um impresso do século XVII, composto na "Stamperia
degl'Eredi del Corbelletti", de Roma, na Itália. Este documento, escrito em língua
italiana pelo português João José de Santa Teresa, que no ano de 1678 passou a
integrar a Ordem dos Carmelitas Descalços, em Roma, é dividido em duas partes e
narra a história da América portuguesa desde o seu descobrimento até os
conflitos ocorridos ao final da ocupação holandesa na região nordeste, que teve
sua conclusão com a Insurreição Pernambucana, no século XVII. Tal obra foi
subsidiada por D. Pedro II, de Portugal, e recebeu contribuição de grandes
gravadores da época, que ilustraram tanto personalidades da monarquia
portuguesa, como Dom Sebastião e o Dom Pedro II, quanto gravuras de mapas
relativos à formação e à construção das capitanias do Brasil colônia, que se
mantêm ainda hoje como uma valorosa fonte para os estudos cartográficos. Para
a realização deste estudo que contempla a tradução e elaboração de uma edição
de cunho interpretativo, cujo intuito principal é o conhecimento e divulgação
desta importante obra encomendada pela Coroa portuguesa durante o século
XVII, que é também de grande valor material para os estudos cartográficos atuais,
utilizam-se, como base teórica, as obras de BORGES (2012), CAMBRAIA (2005) e
SPINA (1997), no que diz respeito à edição filológica de textos; para orientar a
tradução, ARROJO (2005), BARBOSA (1990), PYM (2013), além de ADONIAS
(2002), MICELI (2002), ROCHA (2010) no que tange ao estudo das gravuras e
imagens de projeções cartográficas.
Palavras-chave: Edição interpretativa. Cartografia. Brasil Colônia.
133
PELOS CAMINHOS DOS DOCUMENTOS:
EDIÇÕES E ESTUDO GRAFEMÁTICO DE UM TESTAMENTO DE 1909
Eliene Pinto de Oliveira (UEFS)
Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS) - Orientadora
Este trabalho teve por objetivo estudar filologicamente um Testamento
datado de 1909, visto que documentos escritos em épocas pretéritas são de
extrema importância para conhecermos a história de uma civilização. Sendo
assim, ao estudarmos estes documentos estamos contribuindo para que uma
comunidade se torne conhecida através dos escritos deixados pelos seus
antepassados. Partindo do pressuposto de que o labor filológico consiste na
restituição e conservação de textos produzidos em épocas pretéritas, escolhemos
fazer a edição filológica de um documento da área cível pertencente ao Fórum
Desembargador Filinto Bastos, arquivado no Centro de Documentação e Pesquisa
(CEDOC), localizado na Universidade Estadual de Feira de Santana. O referido
documento é um Testamento em nome de Felippe Ferreira Santiago, residente na
comunidade da Gameleira e datado de 1909, neste corpus ele descreve a partilha
de bens entres seus filhos, netos e amigos. A partir da escolha do documento,
foram feitas as edições fac-similar e semidiplomática para preservar e tornar
acessíveis as informações contidas no mesmo. Posteriormente, fizemos o estudo
grafemático, comparando as variações entre a ortografia vigente na época com a
atual, e assim percebemos quais mudanças ocorreram ao longo do tempo. Com a
realização deste trabalho, pretendemos contribuir com as pesquisas no âmbito da
Filologia, e tornar as informações deste documento acessíveis a pesquisadores de
diversas áreas do conhecimento e, bem como, com os estudos filológicos na
Bahia, especialmente aqueles produzidos na cidade de Feira de Santana. Para a
realização deste trabalho, nos apoiamos em Queiroz (2007), Spina (1994),
Cambraia (2005), Santos (2006) e Barreto (2014).
Palavras-chave: Edições Filológicas. Estudo grafemático. Testamento.
A PRODUÇÃO E A CIRCULAÇÃO DOS POEMAS "THE ARMADILLO" E "NORTH
HAVEN" DE ELIZABETH BISHOP
Elisabete da Silva Barbosa (UNEB)
O presente estudo visa a discutir a produção e a circulação dos poemas
The Armadillo (1957) e North Haven (1978) da autora norte-americana Elizabeth
Bishop (1911-1979). No que tange à criação textual, podemos afirmar que esses
poemas são frutos das experiências vivenciadas em lugares onde Bishop habitou
ou visitou. Tal fato permite realizar um estudo crítico que privilegia o texto como
134
representação de uma espacialidade construída ficcionalmente, embora o
impulso criativo da escritora esteja enraizado no mundo real. Com efeito, o exame
dos documentos privados de Bishop permite recuperar a “expressão testemunhal
que define um perfil biográfico” (MORAES 2006, p. 65). Traçar tal perfil torna-se
útil para elucidarmos alguns dos aspectos do processo criativo analisado, a
exemplo de buscar entender a preferência da escritora por certas escolhas e
soluções poéticas. Outra possibilidade, também apontada por Moraes (2007, p.
65), é a de “apreender a movimentação nos bastidores da vida artística”. Em se
tratando de Elizabeth Bishop, essa movimentação pressupõe o contato com
editores, o discernimento crítico que foi sendo desenvolvido a partir do envio de
cartas para intelectuais com os quais se relacionava (seja com fins profissionais
ou não) e a circulação dos poemas por meio de revistas ou por divulgação feita
pelos pares. Diante de tais evidencias encontradas em cartas e nos documentos
de processo, propomos realizar uma contextualização da produção, da publicação
e da circulação dos textos selecionados para este estudo, o que necessariamente
perpassa a relação de Bishop com o amigo e poeta Robert Lowell e com a
primeira editora de muitos de seus poemas, a revista The New Yorker.
Palavras-chave: Elizabeth Bishop. Processo de Criação. Circulação.
FAC-SÍMILE: BREVE PERCURSO DA IMAGEM FOTOGRÁFICA DO DOCUMENTO
NAS EDIÇÕES DE TEXTOS AO LONGO DA HISTÓRIA DA FILOLOGIA
CONTEMPORÂNEA
Giovane Santos Brito (UFBA)
A escrita é a representação gráfica do pensamento, é a fixação de uma
informação, de um momento, de uma cultura, de uma memória para ser acessada
em algum ponto do futuro. Do mesmo modo o são a imagem, a pintura, o desenho.
Desde a criação da fotografia, é possível colocar em diálogo numa mesma obra,
imagem fotográfica e texto, e os filólogos, há muitos anos fazem uso desses
recursos para colocar à disposição dos leitores de suas edições, ao lado do texto
por eles estabelecido, as respectivas imagens capturadas através das câmeras
fotográficas dos originais em suas mais variadas formas. Ao longo dos muitos
anos de labor filológico, se discutem os tipos e os critérios de edição para o
estabelecimento de um texto. No entanto, pouco ainda se fala sobre as imagens
fotográficas dos documentos que acompanham muitas das edições. A polifonia
vista desde a conceituação dessa imagem fotográfica do documento já denota
aquilo sobre o que queremos nos debruçar no presente trabalho. Enquanto
percurso possível para o nosso estudo, visamos então verificar como a imagem
fotográfica que dialoga com as edições se comporta ao longo da história da
filologia na contemporaneidade. A carência de referencial teórico específico
expressa a necessidade de discussão sobre essa temática. O presente trabalho,
135
portanto, se debruça sobre o conceito de fac-símile e verifica em um conjunto
representativo de edições, como se apresenta a imagem fotográfica do
documento original que acompanha os textos estabelecidos, com o intuito de
traçar um breve percurso desse tipo de imagem do documento nas edições de
textos ao longo da história da filologia contemporânea.
Palavras-Chave: Filologia. Fac-símile. Imagem Fotográfica.
DOCUMENTOS DE ELIZABETH BISHOP ACESSÍVEIS EM MEIO ELETRÔNICO:
MANUSCRITOS DO POEMA ONE ART DIALOGAM COM PUBLICAÇÕES DE
REVISTAS E JORNAIS
Ilana Silva Carvalho (Permanecer, UFBA)
Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA) - Orientadora
Esta proposta de trabalho faz parte de um projeto maior, intitulado “Os
Manuscritos de Elizabeth Bishop acessíveis em meio eletrônico”, que vem sendo
desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Pro.Som (Tradução, processos de criação e
mídias sonoras), coordenado pela Profa. Dra. Sílvia Anastácio. O Projeto tem
como objetivo a organização e o armazenamento de materiais do Acervo Bishop,
como entrevistas, contratos, fotos, ilustrações, anotações avulsas, registros de
áudio, bem como, artigos de jornais e revistas, cujos impressos se encontram no
Departamento de Germânicas da UFBA. Esses documentos, após digitalizados,
têm sido colocados em arquivos do Programa Prezi e colocados na Plataforma
Eletrônica PHL, onde entram em rede e dialogam uns com os outros. Todo o
material catalogado tem sido adicionado à plataforma com um resumo descritivo
do mesmo, enfatizando-se que, grande parte das revistas e dos jornais coletados
pela própria Elizabeth Bishop (1911-1979), ou sobre ela, remetem aos anos 60 e
70, quando a autora morou no Brasil. O presente trabalho focaliza o percurso
genético de One Art, publicado em 1976, em que imagens de perdas permeiam os
dezessete manuscritos, que compõem o seu dossiê de criação. Trata-se de um
texto com forte cunho autobiográfico e a voz lírica traz diversos aspectos da vida
da autora, ficcionalizados no poema. A circulação de jornais e revistas registradas
e guardadas no Acervo Bishop dialoga com esses manuscritos e testemunha
aspectos por eles mencionados.
Palavras-chave: Acervo Bishop. One Art. Circulação.
136
“CONSULTA DO CONSELHO ULTRAMARINO AO REI D(OM) JOSÉ RELATANDO
SUAS ATIVIDADES E EXECUÇÕES”: A ELEVAÇÃO DAS ALDEIAS EM VILAS NA
BAHIA DO SÉCULO XVIII
Jardel Jesus Santos Rodrigues (UFBA)
Fernanda Lima Almeida (UFBA)
O Diretório Pombalino é um marco na mudança da política indigenista no
Brasil Colônia. Implantado, primeiramente, nas capitanias do Maranhão e Grão-
Pará, em 1757, e estendido a toda América portuguesa através de alvará régio
datado de 8 de maio de 1758, tendo como objetivo principal integrar os índios à
sociedade e submetê-los como súditos da Coroa portuguesa, a nova política
proibiu o uso das línguas indígenas e instituiu a obrigatoriedade do ensino da
língua portuguesa para todas populações ameríndias. Diante deste contexto duas
consequências diretas puderam ser observadas, são elas: a mestiçagem e as
irreparáveis perdas linguísticas que moldaram o Brasil como um país
monolíngue, majoritariamente de língua portuguesa. Nesse sentido, no presente
trabalho tem-se como objetivo principal o conhecimento e a divulgação do
documento, “Consulta do Conselho Ultramarino ao rei D(om) José relatando suas
atividades e execuções desde a primeira sessão do tribunal em 13 de setembro
até o momento”, cujo acesso se deu através do Projeto Resgate de Documentação
Histórica Barão do Rio Branco, disponibilizado online pela Biblioteca Nacional
digital. Para o estudo do documento que se faz importante para as áreas da
história indigenista e para antropologia, auxiliando consideravelmente as
discussões no que tange às políticas linguísticas, uma vez que, o Diretório
pombalino previa a proibição das línguas indígenas ao passo que instruiu a
obrigatoriedade do ensino e catequização dos povos originários em língua
portuguesa, propõe-se a realização de uma edição semidiplomática dos sete
primeiros fólios do documento, utilizando-se como suporte teórico as obras de,
BORGES e col. (2012), CAMBRAIA (2005) e SPINA (1977) no que diz respeito à
edição filológica de textos, e com relação ao contexto sócio histórico utilizaremos
GARCIA (2007) e LAGO (2003).
Palavras-chave: Conselho Ultramarino. Diretório Pombalino. Políticas Indígenas.
137
EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA DE UM PROCESSO-CRIME OITOCENTISTA DE
SEDUÇÃO E ESTUPRO (ESTÂNCIA, 1854)
Mariana Augusta Conceição de Santana Fonseca (UFS)
Renato Ezequiel Noia (UFS)
Nossa proposta de trabalho está vinculada às pesquisas desenvolvidas por
parte da equipe de Sergipe, responsável pela constituição do banco de dados
diacrônicos e análise linguística em pancronia, que participa do projeto nacional e
interinstitucional intitulado Para a História do Português Brasileiro (PHPB). O
PHPB/SE tem como propósito descrever a realidade linguística do português de
Sergipe dos últimos séculos, enquadrando-se na metodologia de trabalho do
projeto coletivo, de levantamento de fontes específicas e representativas,
oriundas de arquivos históricos (MARENGO; FREITAG, 2016). Os corpora do
projeto nacional e, consequentemente, dos subprojetos estaduais vinculados a
ele, são definidos por Simões e Kewitz (2010) a partir da categorização,
denominado no âmbito da pesquisa como corpus mínimo comum. O objetivo
desse trabalho é apresentar uma breve descrição codicológica bem como o
resultado da edição semidiplomática (CAMBRAIA, 2005; SPINA, 1990) do
processo-crime de sedução e estupro, manuscrito em meados do século XIX, ano
de 1854, na cidade de Estância, Estado de Sergipe. No presente processo, a
ofendida é uma menina menor de 17 anos de idade, chamada Linda do Amôr
Divino, que foi violentada por José Joaquim Pereira Lima. O réu foi denunciado
baseado no artigo 219 do Código Penal vigente na época. A fonte documental faz
parte do acervo do Arquivo Geral do Poder Judiciário do Tribunal de Justiça do
Estado de Sergipe (AGPJ-SE). A edição desse manuscrito constituirá o banco de
dados dos corpora diacrônicos do português brasileiro de Sergipe, onde também
serão apresentadas a contextualização histórica da época (COSTA, LELIS, 2016) e
dados importantes relativos à (re)construção da história da cultura escrita no
Sergipe Imperial (MARENGO, 2017).
Palavras-chave: Crítica Textual. Edição Semidiplomática. Defloramento.
FILOLOGIA PORTUGUESA E UNIVERSALIZAÇÃO DE PRECEITOS
LACHMANNIANOS
Marinês de Jesus Rocha (UESB)
Marcello Moreira (UESB) - Orientador
Objetiva-se expor os problemas críticos referentes à universalização de
um método do fazer filológico, o lachmannismo, a partir da historicização de
autores e obras ligados à arte de editar textos, no mundo português, entre os
séculos XIX e XX. Empreende-se uma descrição da maneira como os estudiosos da
138
filologia de língua portuguesa se apropriaram de "artefatos bibliográficos e
textuais", sem considerar o elemento propriamente bibliográfico do objeto de
apropriação. Por outro lado, quando da “interpretação filológica” do elemento
textual, patente em edições e estudos críticos, essa se dá a partir de noções
vinculadas à ideia de ânimo autoral, sempre com o fim de restituir aos textos as
lições originais, e, quando possível, genuínas. A universalização da restituição
textus por muitos filólogos, desde os primeiros estudos críticos e textuais
publicados em língua portuguesa, pode ser entendida à luz de estudos
historiográficos que evidenciam certa inércia da crítica textual de base
lachmanniana, fundada na separação entre reflexão historiográfica e pensamento
filológico. Conforme Moreira (2011), a permanência da mesma finalidade ou telos
e dos mesmos procedimentos metodológicos fez com que os comentários e
resenhas críticas, produzidos pelos filólogos, desde o Oitocentos, nunca tivessem
como objetivo a discussão de princípios de cognição utilizados para se chegar a
um determinado resultado de pesquisa e edição. Portanto, para a composição de
uma história de autores de estudos críticos em língua portuguesa, que esteja
ligada à descrição dos principais conceitos e categorias a partir daqueles que
propuseram edições críticas, é preciso partir das análises que evidenciaram o
modo como a crítica textual em língua portuguesa cessou de se renovar, ao pôr
em funcionamento os mesmos lugares comuns críticos e filológicos, por mais de
um século, ao tempo em que se demonstra que a apropriação de um modelo de
fatura de edições gerou a “descontextualização” de cada uma dos artefatos
bibliográficos e textuais estudados.
Palavras-chave: Crítica Textual. Inverosismilhança. Historiografia.
EDIÇÃO FAC-SIMILAR E SEMIDIPLOMÁTICA DE UM AUTO DE
DEFLORAMENTO DE 1906
Marta Rios Carneiro Macêdo (UEFS)
Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS) - Orientadora
O presente trabalho é um exercício de edição semidiplomática, em fase
inicial, em nível de Iniciação Científica, desenvolvido na Universidade Estadual de
Feira de Santana - UEFS. Para realizar essa pesquisa, recorremos à Filologia, que é
uma ciência definida como a que se volta para a língua, a literatura e a cultura de
um povo ou grupo de povos, através dos textos produzidos, visando à
preservação dos mesmos. O estudo realizado é uma edição de um processo
judicial manuscrito, lavrado em 1906, em Feira de Santana, contra Sizinio José de
Oliveira, acusado pelo defloramento da jovem Maria Jovetina de Lima, maior de
idade, a qual estava prometida em casamento, filha de Maria Feliciana de Lima,
ambas moradoras de Feira de Santana - Bahia. Vale ressaltar que o documento
está sob a guarda e armazenado no acervo do Centro de Documentação e
139
Pesquisa - CEDOC, órgão da Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS.
Enfatizamos que as informações desse processo crime foram preservadas assim
como prescreve a Filologia, a qual permite, para a transcrição do texto,
utilizarmos a edição semidiplomática, a qual consentiu para a conservação dos
aspectos intrínsecos e extrínsecos do documento, tanto para a descrição quanto
para a transcrição. Dessa forma, através das edições filológicas (a fac-similar e a
semidiplomática utilizadas), podemos conhecer um crime ocorrido no início do
século XX, em Feira de Santana. Em suma, para tal pesquisa, recorremos aos
postulados teóricos estabelecidos por Cambraia (2005) e Queiroz (2007), no que
concerne às definições e tipos de edição, bem como aos critérios utilizados.
Palavras-chave: Filologia. Edição Semidiplomática. Defloramento.
EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA DE UM PROCESSO-CRIME DE DEFLORAMENTO:
O CASO DE FRANCISCA DE TAL (ARACAJU, 1902)
Natalia Larizza Sanches de Souza (UFS)
Rafaela Neres de Oliveira (UFS)
O Código Penal do ano de 1890 traz em seu artigo 267 a definição de crime
de defloramento, que consistia em tirar a virgindade de uma mulher menor de
idade empregando a sedução, o engano ou a fraude. O intuito da legislação era a
proteção da honra (FAUSTO, 2001), mas não se tratava de proteger a honra como
um atributo feminino e sim como um apanágio do homem ou da família
tradicional cristã. Nosso objeto de estudo nesse trabalho é o processo-crime de
defloramento, ocorrido no ano de 1902, no povoado Robalo, cuja vítima é
Francisca de Tal, descrita como órfã de pai de mãe, miserável, analfabeta e que
contava com mais ou menos 10 anos de idade. O acusado do crime chama-se Júlio
Costa. A fonte documental com a qual estamos trabalhando se encontra alocada
no acervo histórico do Arquivo Geral do Judiciário do Estado de Sergipe
“Desembargador Manuel Pascoal Nabuco D’Ávila”, localizado na cidade de
Aracaju. O processo se encontra sob a cota Cx. 2545 e está em bom estado de
conservação. Esse trabalho tem por objetivo apresentar uma breve análise
codicológica (CAMBRAIA, 2005) e os resultados parciais da edição
semidiplomática (CAMBRAIA, 2005; SPINA, 1990) do processo-crime de
defloramento em tela. As normas de edição usadas foram estabelecidas pela
equipe do Projeto Para a História do Português Brasileiro (PHPB). Nossa
contribuição se centra na disponibilização da edição para o banco de dados
diacrônicos do português sergipano e no entendimento sócio-histórico
(PETRUCCI, 2002) dos fatos descritos e relatados nos processos.
Palavras-chave: Crítica Textual. Edição semidiplomática. Defloramento.
140
DONA FELIPPA E SEU MÓVITO: EDIÇÃO SEMDIPLOMÁTICA DE UM
PROCESSO CRIME DE ABORTO DE 1926
Rebecca Cardoso Braga (UEFS)
Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS - Orientadora)
A preservação de documentos manuscritos possibilita ao homem conhecer
a si e a sociedade em que está inserido. Desde a Antiguidade, nas primeiras
bibliotecas de Alexandria, a escrita de documentos pelos gregos era de suma
importância, visto que era preciso registrar acontecimentos para que fosse de
conhecimento público o poder social que os documentos exerciam sobre os
povos. A comunicação escrita perpassou durante séculos como evidência
significativa e de influência na formação das grandes civilizações, portanto, os
gregos importavam-se em salvaguardar suas obras clássicas do esquecimento e
da degradação, criando assim a Filologia, no século III a.C, para atuar na edição
crítica dos textos eruditos. No Brasil, os primeiros escritos foram provindos da
colonização portuguesa e a tradição de produção, conservação e utilização de
documentos escritos foram imprescindíveis para a formação de arquivos
nacionais que desencadearam consequentemente a pesquisa filológica a partir
dos manuscritos históricos, políticos, econômicos e sociais que compõem o
cenário brasileiro. O labor filológico é fundamental para que se possa ter, através
da edição de textos, o reconhecimento histórico, cultural e linguístico de uma
determinada comunidade. O corpus deste trabalho é constituído por um
documento manuscrito, precisamente um processo-crime de aborto, lavrado em
1926 pelo escrivão Bernardino de Freitas, no distrito de Almas. A vítima chama-
se Dona Felippa do Espírito Santo, a qual sofreu um aborto por conta de uma
briga entre seu marido, Severo Balbino de Almeida, e o seu vizinho, Manoel
Baptista. Para este trabalho, será apresentada a edição semidiplomática desse
documento, de acordo com os critérios estabelecidos pelo Grupo de Edição de
Textos – GET/UEFS, coordenado pela professora Rita de Cássia Ribeiro de
Queiroz.
Palavras-chave: Filologia. Edição Semidiplomática. Processo crime de aborto.
OS LIVROS DE VISITAÇÃO INSQUISITORIAIS: DIÁLOGOS ENTRE PRÁTICAS
FILOLÓGICAS E HISTÓRIA SOCIAL DA CULTURA ESCRITA
Rodrigo Pereira Mota Soares (UFBA)
A filologia trilhou, durante a história, por diferentes caminhos no objetivo
comum de estudar o texto escrito. Assim, o labor filológico se interessa por
diversos elementos do universo da escrita, desde caracteres paleográficos até
elementos culturais presentes no texto, de modo que o estudo da produção
141
escrita como acesso aos comportamentos e hábitos de uma sociedade tem
ganhado maior visibilidade. A História da Cultura Escrita, por sua vez, emerge dos
estudos da Escola dos Annales, de base culturalista, e tem se debruçado sobre as
diversas práticas e representações da escrita para além da materialidade do
texto. Este trabalho objetiva, dentro dessa interface, apontar como as
interferências da História Cultural sobre filologia fazem emergir novas escolhas
editoriais no trato de fontes inquisitoriais, de modo a destacar como a filologia é
uma importante via de acesso para a compreensão das práticas sociais de outro
tempo, da mesma forma que os estudos culturais revelam novos caminhos para a
atividade filológica. A proposta dessa abordagem interdisciplinar requer, como
aparato metodológico, o levantamento de algumas edições de fontes
inquisitoriais da segunda visitação ao Brasil (desenvolvidas no âmbito do
Programa HISCULTE) e uma proposta de edição das fontes da primeira visitação
às ilhas do Atlântico. Ademais, a análise proposta pretende destacar a
complexidade das escolhas editoriais no que concerne aos livros de visitação, de
maneira a evidenciar a importância da relação entre a materialidade do texto e o
seu meio, isto é, as práticas sociais (e interpessoais) em que ele pode estar
inserido.
Palavras-chave: Filologia. História Social da Cultura Escrita. Práticas Editoriais.
MANUSCRITOS DE ELIZABETH BISHOP ACESSÍVEIS EM MEIO ELETRÔNICO:
ORGANIZAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA EM BIBLIOTECA DIGITAL
Talisson de Almeida Filgueira Figueredo (Permanecer, UFBA)
Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA) - Orientadora
A escritora norte-americana Elizabeth Bishop (1911-1979) viveu no Brasil
entre as décadas de 60 a 70 e usava a correspondência trocada com sua
companheira norte-americana Alice Methfessel (1943-2009), no período de
1971-1979, como forma de relatar sobre seu cotidiano em nosso país e
testemunhar aspectos culturais da época. O presente trabalho de pesquisa tem
como objetivo analisar cartas em que a escritora relata sobre sua relação com as
pessoas que trabalhavam para ela como domésticas na sua Casa Mariana, interior
de Minas Gerais. Ficou evidente que as diferenças culturais das relações sociais
lhe causavam estranheza e ela faz referências interessantes a esse tópico, que
acabam tomando certo destaque em sua correspondência. Este trabalho está
sendo realizado junto ao Projeto de Pesquisa Manuscritos de Elizabeth Bishop
acessíveis em meio eletrônico, coordenado pela Profa. Dra. Sílvia Maria Guerra
Anastácio. Tem como objetivo principal a organização de um banco de dados em
meio digital a partir dos manuscritos de trabalho da autora, que constituem o
acervo sediado no Instituto de Letras da UFBA, no Departamento de Letras
Germânicas e seu material foi colhido na Special Collections de Vassar College,
142
Poughkeespsie, New York. Considero que a pesquisa se justifica pela importância
da autora Elizabeth Bishop no panorama literário norte-americano, cuja obra foi
altamente influenciada pela cultura brasileira. As cartas trazem informações
preciosas sobre a época em que Bishop aqui viveu, além de comentários sobre o
próprio processo de criação.
Palavras-chave: Acervo Bishop. Correspondência. Relação social.
CARTAS DOS ROMEIROS A PE. CÍCERO: UMA ANÁLISE FILOLÓGICA SOBRE OS
ASPECTOS SOCIOCULTURAIS E LINGUÍSTICOS
Ticiane Rodrigues Nunes (UFC)
Expedito Eloísio Ximenes (UECE)- Orientador
A Filologia é uma ciência responsável por preservar a memória
documental de um povo e disseminar os escritos que documentam os aspectos
socioculturais através dos tempos, pois quando editados os documentos tornam-
se de fácil acesso para o público em geral. Desse modo, voltamo-nos para o estudo
filológico das cartas escritas por romeiros a Padre Cícero, santo popular venerado
por muitos fiéis em Juazeiro no Norte, no Ceará, e que até hoje atrai milhares de
pessoas em busca de um milagre ou que vão simplesmente agradecer por uma
graça alcançada. Envolto a esse contexto da religiosidade, nesse estudo,
objetivamos realizar a edição semidiplomática de um conjunto de cartas escritas
no período das décadas de 80 e 90, e analisar os aspectos socioculturais e
linguísticos que se destacam nessas cartas, a fim de compreender como a
religiosidade marca essa produção escrita espontânea. Como percurso
metodológico, primeiramente, realizamos a edição semidiplomática das cartas de
romeiros endereçadas a Padre Cícero, seguindo as normas de edição
estabelecidas pelo Grupo de Pesquisa Práticas de Edição de Textos do Estado do
Ceará (PRAETECE), e, posteriormente, realizamos a análise dos conteúdos dos
escritos monotestemunhais, considerando o contexto religioso e histórico-social
em que estão inseridos os autores dessas cartas. Como referencial teórico sobre
edição filológica apoiamo-nos em Cambraia (2005), Spina (1994) e Ximennes
(2004, 2009); e sobre os aspectos socioculturais e linguísticos baseamo-nos em
Williams (2007) e Melo (1974). A partir da edição semidiplomática das cartas, foi
possível observar que nesses documentos monotestemunhais, escritos quase que
majoritariamente por motivações pessoais, a religiosidade é retratada por uma
riqueza de elementos socioculturais percebidos por meio de pistas linguísticas
reveladas a partir das edições filológicas, o que ressalta a dimensão tomada por
esse fenômeno religioso que se espalhou por uma grande extensão territorial.
Palavras-chave: Edição semidiplomática. Documentos monotestemunhais. Cartas
a Padre Cícero.
143
RESUMOS DOS MINICURSOS
MINICURSO 1
ARQUIVOS E PROCESSOS DE CRIAÇÃO: LITERATURA, TEATRO E DANÇA
Mabel Meira Mota (UFBA)
Ivana Bittencourt dos Santos Severino (UFBA)
Ementa:
Propõe a discussão de princípios, conceitos e procedimentos
metodológicos próprios da arquivística, visando, a partir de uma abordagem
contextual, identificar e descrever os documentos em arquivos pessoais na
Literatura, no Teatro e na Dança, utilizando exemplos dos acervos de Ariovaldo
Matos, Lia Robatto e do Nós, Por Exemplo - Centro de Documentação e Memória,
situado no Teatro Vila Velha.
MINICURSO 2
AS ABREVIATURAS EM DOCUMENTOS MANUSCRITOS: UM ESBOÇO DA SUA
HISTÓRIA
Célia Marques Telles (UFBA)
Ementa:
G. Audisio e I.Rambaud (2003 [1991]) afirmam que, para ajudar na leitura
dos textos, tentam fornecer “algumas chaves de leitura para melhor compreender
os sinais e princípios da escrita nos inícios da época moderna e sua evolução até o
século XVIII”. A primeira dessas chaves são as abreviaturas. No minicurso
proposto, após apresentar-se o conceito de abreviatura, traça-se um breve
histórico da utilização de abreviaturas, desde o uso delas, ainda no período pré-
clássico do latim, por Ênio (239-169 a. C.), muito antes das notas tironianas
(século I a.C). As notas tironianas foram usadas durante mais de doze séculos
(PROU, 1910) e seu desaparecimento coincide com o começo da escrita corrente
em língua vulgar (PROU, 1910). A seguir, a partir da escrita gótica examinam-se
os principais tipos de abreviaturas, definindo-os e exemplificando-os na escrita
de diferentes momentos: abreviaturas por sigla, por suspensão, por contração,
por letras sobrepostas e por sinais abreviativos. Conclui-se com a prática de
leitura dos caracteres, acompanhada do desenvolvimento e transcrição das
abreviaturas. Espera-se fornecer aos participantes uma visão geral do sistema de
abreviaturas, ensinando-se a metodologia do seu desenvolvimento e
possibilitando classificá-las, segundo a tipologia clássica, ainda utilizada neste
século XXI (FLEXOR, 2008 [1979]).
144
MINICURSO 3
TRADIÇÃO DISCURSIVA E PROCESSOS DE MUDANÇA NO PORTUGUÊS
BRASILEIRO
Cleber Alves de Ataíde (UFRPE/UAST)
Valéria Severina Gomes (UFRPE/DL)
Ementa:
Pressupostos teóricos sobre mudança linguística/sociolinguística histórica
e tradições discursivas. Motivações sociolinguísticas, discursivas e fatores sócio-
pragmáticos nos processos de mudança linguística. Tradição textual e história da
língua.
MINICURSO 4
ANÁLISE DE DISCURSO E LEITURA DE ARQUIVO
Fábio Ramos Barbosa Filho (IEL/UNICAMP/PNPD-CAPES)
Desde a década de 70 a Análise de Discurso funciona como um campo de
articulação entre o trabalho do linguista e o do historiador. A partir, sobretudo,
da publicação do trabalho fundador de Régine Robin (“História e linguística”, de
1973) e do já clássico “Discurso e arquivo: experimentações em Análise do
Discurso”, que compila textos de Régine Robin, Denise Maldidier e Jacques
Guilhaumou escritos desde 1976, os diálogos e questões que atravessavam essas
disciplinas ganharam forma, o que permitiu que as inquietações se desdobrassem
em acontecimentos polêmicos e desafiadores tanto para o campo da história
quanto para a linguística. Mas especialmente a partir do colóquio “Materialidades
discursivas”, realizado em 1980 em Paris, a Análise de Discurso explorou de
forma decisiva os limites das tensas e produtivas relações com o campo da
história e das teorias que se ocupam da língua, do social, da subjetividade e do
arquivo. A fundação do grupo de pesquisas ADELA (“Analyse de Discours et
lecture d’archive”) na década de 80, institucionaliza essas questões candentes e
as leituras de arquivo surgem como um dos problemas fundamentais desse
campo, na medida em que o documento surge como um ponto de articulação
entre textualização e acontecimento e institui um trabalho de pesquisa coletivo
que rejeita categoricamente a complementaridade interdisciplinar e as
pretensões unificadoras explorando, ao contrário, o intervalo contraditório entre
os campos, os objetos e as inquietações teóricas. Partindo desse campo de
questões, o minicurso pretende apresentar os participantes os fundamentos
teórico-analíticos da leitura de arquivos, permitindo uma introdução ao trabalho
com documentos textuais. Serão abordadas, portanto, as relações entre língua,
145
arquivo, acontecimento e a singularidade da leitura de documentos textuais na
Análise de Discurso em face de outras práticas de leitura. As perguntas
fundamentais que mobilizarão as atividades são: o que faz o Analista de Discurso
diante de um objeto normalmente mobilizado pelo historiador ou pelo
arquivista? Como ler documentos quando o que está em questão é a articulação
entre (o real da) língua e (o real da) história? Para tanto, serão apresentados os
conceitos fundamentais da Análise de Discurso (condições de produção, formação
discursiva, interdiscurso, dentre outros) em direção às práticas de leitura com
documentos textuais. É fundamental precisar que no campo do discurso o
documento não pode ser compreendido como um suporte indistinto, mas
enquanto um intervalo material que põe ao pesquisador uma posição que
coloque em questão os domínios da textualização e do acontecimento. O
minicurso será dividido em duas partes: na primeira, trataremos do percurso
histórico da relação entre discurso e arquivo na Análise de Discurso, mobilizando
conceitos teóricos e trabalhos (na França e no Brasil) que trataram dessa
articulação. Na segunda, será precisada mediante uma análise a singularidade da
leitura mobilizada pela Análise de Discurso no confronto com o documento
textual. Recorreremos, portanto, a documentos pensando o funcionamento desse
suporte material na sua formulação e circulação e a articulação entre o linguístico
e o histórico.