Aplicação do Espiritismo Encontro 17 Como desenvolver a vontade.
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Aplicação do Espiritismo
Encontro 17
Como desenvolver a vontade
“O Homem poderia sempre vencer as suas más tendências pelos seus próprios esforços?
- Sim, e às vezes com pouco esforço; o que lhe falta é a
vontade. Ah! Como são poucos os que se esforçam!”.
(LE, perg 909)
Vamos nos deter em analisar um pouco essa importante ferramenta que está de alguma forma presente em tudo o que
realizarmos: “a vontade”. De que modo podemos sempre vencer nossas más
inclinações? Haveria algum meio prático de dinamizar e fortalecer a nossa
vontade?
Como conseguir o controle sobre as nossas tendências comuns e sobrepujar
diante do erro iminente?
Já que não estamos certamente incluídos entre aqueles “poucos” que se
esforçam para vencer os vícios e defeitos, por faltar exatamente a
“vontade”, como então desenvolvê-la? Existe uma força de “vontade”?
Cremos tranquilamente que todos admitem ser a “vontade” a chave das
nossas conquistas em todas as áreas de trabalho.
Cada um de nós já teve provas evidentes de que, quando nos dispomos firmemente a conseguir algum
propósito, assim o obtemos. Isso nos tem sido ensinado nos tempos
escolares, no primeiro emprego, no carro que sonhávamos, na casa que tanto desejávamos, no trabalho, etc.
O que pretendemos, no entanto, é aplicar essa mesma “chave” das nossas
conquistas em direção dos valores íntimos. Para isso perguntemos em
primeiro lugar se estamos realmente dispostos e suficientemente
interessados nesses valores. Tem duvida? É natural, a vida é tão boa, as
diversões nos agradam muito, o comodismo é indiferente ao esforço de
se melhorar intimamente.
O interesse em reformar-se pode nos ter surgido de um impulso momentâneo, e
então formulamos um propósito de aperfeiçoamento, mas na maioria das vezes ainda é como um devaneio, um sonho pouco
sólido, mas sabemos o que nos aguarda.
No primeiro confronto com os testes de verificação, que naturalmente aparecem em nossa vida diária, vem aquela indisposição
sorrateira e deixamos para depois, a “vontade” sucumbe. O que nos falta nesse
caso? Força? Persistência? Interesse?
A nossa meta, no entanto, é de longo alcance; para atingirmos o nosso progresso moral será necessário
automatizar o nosso comportamento dentro dos padrões evangélicos, isto é,
reagirmos sempre, em quaisquer condições e situações, sem ódios, sem
violências, como o Mestre Nazareno nos exemplificou. É uma empreitada
paciente e contínua, requer esforços e tempo.
A vontade: Uma soma de fatores dinâmicos
A vontade é, assim, a expressão do nosso livre-arbítrio. Por ela damos os nossos testemunhos e demonstramos
os nossos ideais no bem. Podemos, para facilitar a nossa análise, considerar que a vontade é constituída dos seguintes
fatores dinâmicos: impulso, autodomínio, deliberação, determinação
e ação. Todos eles interligados e decorrentes entre si.
Impulso
A vontade, como já vimos, surge, primeiro como um impulso, uma
aspiração, um desejo, que pode ser de variada intensidade. Essa intensidade
indica a profundidade, a carga emocional, o conteúdo, o grau de interesse que se relaciona com a
permanência dentro de nós, ou seja, diz respeito ao afinco, à firmeza, à duração e
a persistência.
Do impulso que surge no campo sentimental, a nível emocional, deveríamos começar a fazer a elaboração mental, articulando pensamentos, plasmando idéias, ponderando possibilidades, prevendo obstáculos, balanceando impedimen-
tos, avaliando nossa própria capacidade de realização. É bem verdade que, de forma geral, as aspirações não são muito conscientizadas e nem tão mentalmente trabalhadas; elas ocorrem
quase sempre na superfície, e por isso são fugazes. Essa elaboração, trazendo os bons impulsos aos níveis de consciência, deve ser
intensificada, pois contribui grandemente para fundamentarmos com base aquelas importantes
aspirações.
Nessa fase – a mais delicada e importante – a grande maioria dos
iniciantes não passa das promessas, debanda e perde a oportunidade, que pode não se repetir. Não estão eles
suficientemente convencidos da importância daqueles seus impulsos,
vividos pela inspiração misericordiosa dos Amigos Espirituais que nos ajudam
a caminhar. Desperdiçamos, então, preciosa chance de progresso espiritual.
E por que isso acontece? Acontece porque ainda estamos muito presos aos interesses humanos e às ilusões do mundo físico; não
amadurecemos o suficiente, não formos bastante experimentados na própria carne
pelos resultados desastrosos dos erros cometidos, e não valorizamos as
oportunidades de redenção que aqueles impulsos renovadores nos ofereceram.
Comprazemo-nos nos envolvimentos dos prazeres, das sensações e deixamos de seguir no trem do progresso que marcha
sempre e não espera.
Autodomínio
Conseguindo contornar as dificuldades intimas, combatendo os momentos de
desanimo, exercemos domínio progressivo sobre as nossas paixões e apegos,
vencemos os obstáculos criados pelas nossas próprias fraquezas, limitações
psicológicas, receios e incertezas. Desenvolvemos, assim, o nosso domínio
próprio nessa fase de combate dentro de nós mesmos, no silencio operoso em que vamos
firmando os bons propósitos, concretizando-os consistentemente.
Deliberação
Esse domínio vai refletir-se nas nossas deliberações. Para deliberarmos em causa própria, devemos ter conhecimento amplo
das circunstancias favoráveis e desfavoráveis, o que implica em
dinamizar em nós o habito de analisar, de observar, de avaliar os acontecimentos da vida diária. As indecisões representam a nossa falta de exame e de ponderação
das situações vividas.
Discernimos aferindo os resultados. Daí escolhemos os rumos, deliberamos o
que fazer. Esse procedimento analítico, podemos cultivá-lo até mesmo sem
grande esforço, é um habito que nos agrada muito, coloca a nossa
imaginação e a nossa criatividade em ação. Nos faz um bem enorme, amplia a
nossa capacidade mental.
Determinação
Do conhecimento obtido, decidimos. E agora? Passamos para a execução, ou seja,
determinamos o que fazer. As ações a serem executadas, a disposição de
empreender, de cumprir as deliberações. A determinação é um primeiro ato da ação. Nessa fase programamos no tempo as
ações a serem tomadas, relacionamos os passos a seguir e nos empenhamos em
cumpri-los, um por um, com rigor e firmeza, com energia e coragem.
Ação
Finalmente a ação vem concluir toda a sequência encadeada, é a prova das
nossas intenções, é a manifestação viva, palpável, a concretização daqueles impulsos que foram articulados na
esfera dos nossos pensamentos. É a própria idéia condensada, materializada
numa realização.
Em resumo:
A vontade é semelhante a um
projétil.
Os impulsos e pensamentos são emissões de energias que direcionamos
para um certo alvo, as acoes são as expressões concretas, dessas
formulações, visíveis pelos seus efeitos.
A “vontade” não estaciona no impulso, prossegue no autodomínio, se firma na deliberação, começa a tomar forma na determinação e se concretiza na ação.
É um complexo dinâmico de fatores ativos que gera energia transformadora a partir dos impulsos, emitindo ondas
indutoras, que se fortalecem pela intensidade na concentração dos
pensamentos, constituindo nos campos mentais as conquistas, vencendo e
bombardeando os princípios mentais cristalizados que se contrapõem àqueles
impulsos renovadores.
A “vontade” é semelhante a um projétil dirigido que, ao ser acionado pelo
impulso intimo, se desloca, vencendo as barreiras das camadas para atingir com determinação aquele alvo desejado que, uma vez alcançado, se destrói pela ação detonadora da carga explosiva. O alvo
representa, assim, o conjunto dos nossos vícios e defeitos.
Um método para desenvolver a vontade
Comentamos que cada um de nós já teve provas demonstrativas de sua capacidade de realização e, portanto, de obter ou conquistar
um ideal.
Quase sempre, o que nos movimenta numa atividade é o interesse próprio em
desenvolvê-la. Em decorrência, concentramos a energia suficiente para vencer os
empecilhos, ocorrendo a sequência dinâmica que vai do impulso ao autodomínio, desse à deliberação e da determinação segue-se à
ação.
O que desencadeou ou acionou a “vontade” foi o interesse que estava por trás. Assim, as nossas indagações num
projeto estão nos “porquês” do seu objetivo. A que nos propomos? Por que desejamos? Estamos seguros do que
queremos?
O trabalho de desenvolvimento da “vontade” aplicada à nossa reforma íntima, à vitória sobre as nossas más tendências,
começa por avaliar o nosso interesse nesse propósito.
O Interesse na Reforma Intima
O interesse no nosso próprio aperfeiçoamento desponta intimamente na esfera emocional. De alguma forma
despertamos ou amadurecemos, surgem os anseios e buscamos valores outros
para preencher o vazio que nos inquietava o espírito. Já havíamos
peregrinado tentando as experiências que pudessem, ou que pensávamos poder
alimentar a nossa alma.
Tudo nos desenganara, a sede espiritual persistia e, afinal, depois de tanto
buscar, vivendo angustias atrozes, encontramos o caminho da nossa
redenção, um novo sol a luzir dentro de nós, uma esperança jubilosa a nos animar a vida. Então nos dispomos,
dentro das próprias possibilidades, a seguir os novos rumos. É o que desejamos, é o que passa a nos
interessar com profundidade.
Vemos que é um interesse sadio, não apegado a desejos mesquinhos e ilusórios; é o próprio ideal de auto
aperfeiçoamento. Esse interesse é que vai acionar, na mesma direção, a nossa
“vontade”, é ele que precisamos localizar e definir de uma vez por todas,
dentro de nós mesmos. E como o fazemos? Sondando, indagando,
verificando, revolvendo o terreno íntimo.
A concentração de esforços
Definido aquele nosso interesse, precisamos concentrar nele os próprios esforços, a nossa energia aplicada na
direção pretendida, que se converterá em trabalho produtivo. Conjugamos ao
interesse a carga energética. É a condição necessária para levarmos a bom terno o
empreendimento formulado, para sermos bem sucedidos.
Em geral nos confrontamos, nos debates interiores, com as próprias dificuldades,
pela nossa própria dispersão de pensamentos, em manter a concentração de esforços. Sabemos muito bem o que queremos conseguir, já fizemos nossas opções nos objetivos auto-renovadores,
mas nos perdemos em meandros, desperdiçando tempo e dissipando
energia, e em consequência verificamos a falta de persistência e o pouco resultado
prático, produtivo.
No desenvolvimento da capacidade de concentração está a raiz do
desenvolvimento da própria “vontade”.
Vejamos uma experiência física muito simples que temos praticado e que nos
elucida o valor da concentração de esforços. Ao tentar fixar um prego numa madeira, pela força que nele aplicamos com um martelo, logramos êxito porque concentramos num ponto único todo o
esforço muscular desenvolvido.
Invertendo a posição do prego e batendo agora contra a sua ponta, tentando fixá-lo na madeira pela
cabeça, apenas marcamos a madeira e entortamos o prego. Isso nos faz
concluir o simples fato de que a força aplicada sobre um único ponto age com mais eficiência do que se
fosse distribuída em muitos pontos.
De modo análogo ocorre com a nossa capacidade de concentrar os pensamentos num objetivo firme e
conduzi-los naquela direção. A nossa dificuldade reside exatamente
nisso, os nossos pensamentos se dispersam, mudam de direção, pula de um pólo a outro, se perdem na
estratosfera.
É fator de progresso espiritual a condição indispensável de educar os pensamentos, o
que significa selecioná-los, enfeixá-los, concentrá-los, centralizá-los numa direção,
num objetivo.
Geralmente somos ainda muito dispersivos, damos lugar às idéias de desanimo, de
fraqueza, de dificuldades e de obstáculos intransponíveis, o que nos leva, então, aos
fracassos e aos males sofridos. A nossa própria escravidão ou libertação está dentro de
nós mesmos, na esfera dos nossos pensamentos, mal conduzidos ou bem
direcionados.
A Prática da Auto-sugestão
Evidentemente, a capacidade de concentração de esforços, de educação dos pensamentos pode ser desenvolvida pelo
exercício, pela prática, o que também requer novamente um
certo esforço.
Um dos métodos para esse desenvolvi-mento da própria “vontade” é o da auto sugestão. Todos nós somos sensíveis a sugestões alheias. As palavras convin-centes, com certa carga emocional, pro-
nunciadas por alguém, nos impressionam e nos levam a refletir sobre as mesmas.
Todos somos muito sugestionáveis.
O que vamos então aplicar voluntariamente é a sugestão própria em
favor de nós mesmos, ou seja, a auto sugestão.
Toda idéia emitida por pensamento ou palavras produz uma impressão mental.
Quando essa idéia é suficientemente repetida, provoca a realização da ação que lhe corresponde. Esses princípios
aplicados é o que vamos exercitar:
1. coloquemo-mos num ambiente isolado e silencioso. Sentados, relaxemos o
corpo, sem nada pensar. Respiremos profundamente, por três ou quatro vezes, permanecendo nessa situação por alguns
minutos;
2. Vamos agora formular uma idéia com clareza e precisão, desejando que fique
indelevelmente gravada na nossa mente. Na formulação dessa idéia, vamos impre-gná-la com o nosso potencial emocional,
sentindo-a profundamente, desejando que os seus efeitos sejam realizados;
3. Pensemos, então, repetindo compassadamente:
“TENHO UMA VONTADE FIRME E REALIZADORA”
4. À medida que a formos repetindo, ajudemos a fazer
crescer dentro de nós a energia que aquela afirmação
vai gerando. É como se carregássemos o nosso interior dessa energia
impulsionadora;
5. No transcorrer do dia, lembremos de repeti-la muitas vezes, ainda que reali-zando atividades motoras que não ocu-pem esforço mental, fora do tempo da nossa prática. Mesmo ao deitar, tenha-
mo-la presente e deixemo-la agir no nos-so subconsciente durante o sono.
Façamos essa prática diariamente e pelo tempo necessário, até sentir que a idéia esteja suficientemente fortalecida dentro de nós. Isso se observa pela disposição incontida de trabalhar, de produzia, de
realizar;
6. Numa etapa seguinte, depois da prática acima, vamos transformar em ação aqueles impulsos. O que tivermos que fazer, mesmo
em assuntos corriqueiros e simples, identifiquemos cada um isoladamente e a seu tempo; tomemos a decisão firme de realizá-lo
com todo o emprenho, até a sua execução, sem receios ou impedimentos. Sintamos,
então, a força dinâmica que cresce em nós quando finalizamos concretamente o
propósito formulado. Esse método vai robustecendo a nossa “vontade”, tornando-a
cada vez mais indômita e inquebrantável;
7. Formulemos, agora que conhecemos o método e os seus resultados, as idéias que sejam importantes fixar e fortalecer em nós, repetindo-as do mesmo modo,
pelo tempo necessário, até senti-las suficientemente resistentes, uma por vez, centralizadas e concentradas, e
depois exercitadas nas ações voluntárias. Podemos, então, formular,
por exemplo, idéias como:
“Deixarei calmamente o
vício de fumar”
“Dominarei tranquilamente
a minha agressividade”
“Serei paciente e compreensi-vo com meus
filhos”
“Procurarei serenamente
conhecer meus erros e
defeitos”
“Não comentarei o mal em tempo
algum”
“Não guardarei rancor de ninguém”
“Perdoarei sempre a quem
me tiver ofendido”
Leia para alicerçar seus propósitos:
-O Livro dos Espíritos: Cap XII. Perfeição Moral
-Mecanismos da Mediunidade. Cap IV. Matéria Mental. Cap. XI. Onda Mental
-Pensamento e Vida. Cap II. Vontade (Emmanuel)
-Pensamento e Vontade. As Forcas Ideoplásticas. (Ernesto Bozzano)
Pratique para se auto educar:
-Sinal Verde. Cap XXIV. Desejos
-Respostas da Vida. Cap XV. Viver