Visualizar arquivo pdf de Apresentação da 10ª reunião Visualizar
APLICAÇÃO DE UM MODELO INTEGRANDO LEAN, SEIS … · sentido, uma ferramenta útil é a Árvore da...
Transcript of APLICAÇÃO DE UM MODELO INTEGRANDO LEAN, SEIS … · sentido, uma ferramenta útil é a Árvore da...
APLICAÇÃO DE UM MODELO INTEGRANDO LEAN, SEIS
SIGMA E TOC NA ATIVIDADE DE RECEBIMENTO FÍSICO-FISCAL DE SUPRIMENTOS: O CASO DE UMA EMPRESA
DE ECONOMIA MISTA DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO
Área temática: Gestão pela Qualidade
Lucio Cruz
Marcelo Monteiro
Resumo: Restrições legais e normativas, ingerência política, orçamento contingenciado por diretrizes
governamentais, fiscalização pela sociedade e por órgãos externos de controle, são fatores que permeiam e cerceiam
as atividades das empresas de economia mista, cujo controle majoritário pertence à esfera pública, embora compitam e
lidem diariamente com as mesmas pressões por resultados e eficiência exigidas das companhias do ambiente privado.
Nesse cenário, o presente artigo apresenta a realidade de uma dessas organizações, uma empresa do setor de energia
elétrica nacional, que, atravessando um cenário de contenção de custos e redução de pessoal, busca melhorar a
eficiência e a eficácia dos processos organizacionais referentes à atividade de Recebimento Físico e Fiscal de
Suprimentos, sobretudo quanto ao cumprimento de prazos legais, contábeis e contratuais. Para tanto, será estudada a
aplicação de um modelo híbrido baseado no uso combinado de três consagradas abordagens de melhoria de negócios -
Lean, Seis Sigma e Teoria das Restrições (TOC) - visando a conceder agilidade aos processos internos, através do
melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, do combate a desperdícios de qualquer natureza, do controle da
variabilidade do processo e da elevação no rendimento do sistema produtivo, sempre focando o trabalho que agrega
valor ao cliente.
Palavras-chaves: Economia Mista; Setor Elétrico; Recebimento Físico e Fiscal; Lean; Seis Sigma;
TOC
ISSN 1984-9354
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
2
1 INTRODUÇÃO
Algumas entidades, como as empresas de economia mista, acabam percebendo-se pertencentes
tanto ao setor público quanto ao privado, e, por isso, tem sofrido pressões de ambos os lados para que
suas atitudes e comportamentos sejam condizentes com as demandas dos dois contextos. Essas
empresas tem se deparado constantemente com o dilema de terem de concorrer em um mercado
altamente competitivo e internacionalizado, enquanto baseiam-se em normas, regulamentos e
processos em igual grau de burocratização.
O presente artigo apresenta a realidade de uma dessas organizações - uma empresa de capital
aberto controlada pelo governo brasileiro (o que, em síntese define uma empresa de economia mista),
que atua nas áreas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica - que, equilibrando-se
entre as contingências do público e do privado, e atravessando um cenário de contenção de custos e
redução de pessoal, depara-se com problemas relacionados a deficiências no processo de uma suas
áreas de negócio - particularmente a atividade responsável pelo Recebimento Físico e Fiscal (RFF) de
suprimentos. Esse panorama e seus desafios foram abordados e atacados através da aplicação de um
modelo híbrido baseado no uso combinado de três abordagens de melhoria de negócios - Lean, Seis
Sigma e Teoria das Restrições -, com o fim de atender as necessidades dos clientes, justamente através
do melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, com foco no combate a desperdícios de qualquer
natureza, no controle da variabilidade do processo e elevação no rendimento do sistema produtivo, no
trabalho que agrega valor ao cliente, e na simplicidade de conceitos e na implementação.
2 A SITUAÇÃO PROBLEMA
No intuito de aprimorar os mecanismos de controle e gestão sobre os entes públicos e privados,
o governo brasileiro tem buscado novas alternativas, de enfoque majoritariamente econômico e
operacional, para melhorar a capacidade de rastreabilidade dos atos de seus agentes, a troca e a
disponibilização de informações, a racionalização administrativa, a redução de custos e o
fortalecimento da segurança em suas transações. Como marco relevante dessas iniciativas, em 2005 o
governo federal instituiu um novo modelo nacional de documento fiscal eletrônico, ou Nota Fiscal
Eletrônica (NF-e), que viria a substituir gradualmente, até 2010, a então vigente sistemática de emissão
de documento fiscal, com fins de simplificar as transações e, ao mesmo tempo, viabilizar o
acompanhamento real das operações comerciais pelo Fisco. Também em 2010, o Conselho Nacional
de Política Fazendária definia que, a partir de 2012, em caso de vícios ou problemas após a emissão,
esses documentos eletrônicos deveriam ser cancelados em até 24h decorridos após a geração (01 dia),
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
3
contra um prazo anterior de 168 horas (07 dias) (BRASIL, MINISTÉRIO DA FAZENDA, 2012). Na
prática, tal medida obrigava a empresa contratante e recebedora dos produtos a seguir igual prazo para
se manifestar quanto à necessidade ou não do citado cancelamento. Caso não comunicasse no tempo
limite ao fornecedor, este não poderia mais proceder ao cancelamento da NF-e, restando à companhia
a responsabilidade pela execução interna dos trâmites para devolução dos bens e documentos
correlatos.
Com efeito, tal cenário em particular constituiu-se, à época, como elemento de grande
preocupação e problema a ser enfrentado pela empresa estudada, não somente porque a mesma não
dispunha da flexibilidade e liberdade de movimentos típicas das empresas privadas, mas, sobretudo,
pelas características e peculiaridades próprias do setor público - como restrições normativas e
estratégias atreladas a políticas publicas - que tornariam difícil a adaptação necessária para lidar com a
nova legislação, em tempo relativamente curto. Afinal, levantamentos de órgãos de controle interno na
empresa apontaram indícios de que a atividade de entrada de Nota Fiscal Eletrônica na empresa (seja
fisicamente, seja no sistema integrado de gestão) vinha sendo realizada, desde 2010, de forma
inadequada e intempestiva, gerando uma probabilidade significativa de descumprimento do prazo
legal. Outrossim, além da questão da intempestividade na comunicação em 24 horas, entre a empresa e
o emissor da Nota Fiscal Eletrônica, para eventual aviso de cancelamento, também foram apontados
indícios do não cumprimento de prazos atrelados a princípios contábeis (como a escrituração no
período de competência) e a prazos de pagamentos aos fornecedores estabelecidos por força contratual,
que poderiam levar a empresa à apuração imprópria de tributos e deixa-la à mercê de penalidades de
órgãos de controle externo e do mercado.
Finalmente, como fator agravante desse panorama, a empresa estudada adentrou, em 2012,
grave crise financeira, ocasionada pelos efeitos adversos da Medida Provisória 579/2012 – convertida
na Lei 12.783/2013 – que promoveu mudanças nas regras para renovação dos contratos de produção e
transmissão de energia elétrica, haja vista a elevada participação da mesma dentre as concessões
prorrogadas, e que a fez amargar, entre 2012 e 2013, o maior prejuízo da história da organização, em
torno de 10 bilhões de Reais. Com isso, viu-se forçada a rever diretrizes de curto e médio prazo
focando na eficiência operacional, com contingenciamento de orçamento e despesas chegando a 30%,
inclusive com a redução do quadro de pessoal. Em suma, todo esse quadro configurava um problema
para a empresa, e especificamente à área de Recebimento Físico e Fiscal, que se via obrigada a
procurar alternativas para aprimorar seus processos internos, de modo a descobrir meios de adaptar-se
ao novo paradigma e tornar a operação de suas atividades mais ágeis e precisas - a fim de reduzir seus
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
4
prazos de atendimento -, contingenciada, todavia, por um panorama de limitação de gastos e contenção
de despesas para realizá-las, evitando investir em soluções dispendiosas, dado o panorama econômico-
financeiro anunciado.
3 OBJETIVO
Diante do cenário e do problema relatado, o presente artigo tem como objetivo apresentar os
resultados da implementação de ações de melhoria no processo referente à atividade de Recebimento
Físico e Fiscal de Suprimentos de uma empresa de economia mista do setor de energia elétrica
nacional, através de um modelo integrado de aplicação (framework) baseado nas abordagens Lean,
Seis Sigma e Teoria das Restrições.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Em termos de método de pesquisa e análise de dados a serem utilizados, optou-se pelo Método
do Estudo de Caso, por ser aquele que parece ser o mais compatível com o tipo de investigação que se
pretende realizar. Esta posição é advinda da leitura de Gil (2008), quando afirma que esse método “é
caracterizado pelo estudo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento
amplo e detalhado”. (GIL, 2008, p. 57 a 58). Complementarmente, Yin (2005, p.32), esclarece que “o
estudo de caso é um estudo empírico que investiga um fenômeno atual dentro do seu contexto de
realidade (...) no qual são utilizadas várias fontes de evidência”. Gil (2008), por seu turno, comenta que
este método cada vez mais vem sendo utilizado por pesquisadores sociais haja vista permitir explorar
situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos, descrever a situação do contexto
em que está sendo feita determinada investigação e explicar as variáveis causais de determinado fato
em situações muito complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos.
Quanto ao nível da pesquisa, conclui-se que a mesma é do tipo exploratória, pois essa, segundo
Gil (2008), tem no esclarecimento e no desenvolvimento de conceitos e ideias suas principais
finalidades, já que permite formular, de maneira mais precisa, problemas pesquisáveis para estudos
decorrentes. Segundo o autor, esse tipo de estudo normalmente abarca levantamento bibliográfico e
documental e o próprio estudo de caso. Em sua visão, esse é um tipo de pesquisa implementado com o
objetivo de proporcionar visão holística, de tipo aproximativo, sobre determinada matéria, mas que ao
final do desenvolvimento traz como produto processos mais bem esclarecidos e passíveis de
averiguação através de procedimentos sistematizados.
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
5
Contudo, antes que os resultados do Estudo de Caso sejam apresentados, uma breve revisão da
literatura deve ser feita consolidando as informações referentes às três abordagens-base que compõe o
modelo de aplicação (framework) utilizado pela empresa estudada para a melhoria de seus processos e
busca da resolução da situação problema relatada.
5 REVISÃO DA LITERATURA
Segundo Demchuk; Baitsar (2015), o Lean constitui-se como uma abordagem profundamente
focada na eliminação de atividades não agregadoras de valor e geradoras de desperdícios pelo sistema
produtivo, em busca de eficiência na utilização de recursos, da melhoria contínua de processos, e da
satisfação dos clientes. Com efeito, ao reduzir ou limar desperdícios do processo como transporte,
estoques, filas, defeitos, movimentos, entre outros, a organização pode reduzir substancialmente seus
custos de operação sem, contudo, reduzir a qualidade oferecida.
Já o Seis Sigma configura-se como uma abordagem de melhoria de negócios voltada a reduzir a
variabilidade de processos e estabilizar as características das saídas do processo produtivo, através do
amplo uso de ferramentas estatísticas, do foco no que é crítico para a satisfação do consumidor, na
tomada de decisões baseadas em dados precisos e, sobretudo, de um método estruturado e prescritivo
de análise investigativa, que se configura como um conjunto sequencial de técnicas e ferramentas
altamente focado, integrado e disciplinado que visa a alcançar a elevação da qualidade de processos e
fornecer disciplina e visão científica à implementação, denominado Ciclo DMAIC - acrônimo para a
sequência em inglês Define (Definir), Measure (Medir), Analyse (Analisar), Improve (Melhorar) e
Control (Controlar) (GEORGE, 2009; DEMCHUK; BAITSAR, 2015).
Finalmente, a Teoria das Restrições (TOC) surge como uma metodologia que visa a identificar
os fatores de restrição do sistema, a fim de descobrir as soluções para resolvê-los ou melhorá-los no
intuito de atingir um desempenho de alto nível do processo produtivo de produtos ou serviços de modo
que o gerenciamento e o uso eficiente dos gargalos do sistema produtivo permitam aprimorar a sua
performance (TSOU, 2013). A TOC, portanto, atua na identificação de causas-raiz de problemas a longo
tempo não resolvidos, partindo-se do pressuposto que Efeitos Indesejáveis irão existir enquanto houver
fatores concorrentes que minem continuamente o sistema (SAHRAOUI; ELARREF, 2014). Nesse
sentido, uma ferramenta útil é a Árvore da Realidade Atual (ARA) que, justamente, confere ao gestor a
oportunidade de visualizar, analisar e diagnosticar as verdadeiras origens das restrições de desempenho
(DE PÁDUA et. al., 2014).
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
6
Em suma, o modelo para aplicação adotado na empresa estudada para a melhoria em seus
processos é um amálgama de três abordagens de análise e melhoria de processos: Lean, Seis Sigma e
Teoria das Restrições, contudo com pesos diferenciados (ênfase na primeira e empréstimos de método
e ferramentas das demais). Em termos do Lean, metodologia base para o modelo, utilizaram-se dois
conceitos como referência: o Lean Manufacturing (Karim; Arif-Uz-Zaman, 2013) e o Lean Office
(Tapping; Shuker, 2010), pois cada um representa cenários com características próprias, de origens
distintas, mas complementares: indústria x serviço. Tudo visando a aproveitar o potencial do Lean para
o baixo custo de implementação; a simplicidade de implantação; e a possibilidade de acelerar a
velocidade de qualquer processo através da redução de desperdícios em todas as suas formas e a
capacidade de evidenciar oportunidades ocultas. Já do Seis Sigma o modelo absorve apenas o
necessário para facilitar a implementação do Lean através do amplo arsenal de ferramentas estatísticas
e da capacidade de direcionamento e sequenciamento de atividades ao longo das fases prescritas pelo
DMAIC. Por fim, a TOC contribui na identificação e tratamento dos gargalos que afetam o processo
como um todo, através da ferramenta denominada Árvore da Realidade Atual (ARA). O Apêndice A
traz o modelo utilizado pela empresa objeto do estudo na implementação de ações de melhoria no
processo referente à atividade de Recebimento Físico e Fiscal de Suprimentos.
6.1 Apresentando o perfil da empresa e da área estudada
O presente Estudo de Caso foi conduzido em uma empresa de economia mista que atua em
todos os segmentos do setor elétrico brasileiro e lidera um sistema composto de mais de uma dezena
de subsidiárias, sendo hoje importante agente de integração e desenvolvimento nacional. Contudo,
apesar dessa grandiosidade, a companhia foi uma das maiores afetadas pela Lei 12.783/2013 que
promoveu mudanças nas regras para renovação dos contratos de produção e transmissão de energia,
haja vista a elevada participação da mesma dentre as concessões prorrogadas. Nesse sentido, face ao
novo panorama econômico-financeiro do setor elétrico, a empresa definiu diretrizes de curto e médio
prazo para o seu realinhamento estratégico focadas na eficiência operacional, que visavam, entre outras
medidas, à redução de custeio, vendo-se obrigada a ser mais enxuta em todas as suas frentes de ação,
em todas as suas áreas, em todos os seus projetos.
Já a atividade que foi objeto de estudo, a área de Recebimento Físico e Fiscal (RFF) está
subordinada à área de Suprimentos da empresa-alvo e é responsável, na empresa, pela receptação,
análise e revisão fiscal e tributária de todas as Notas Fiscais Eletrônicas (NF-e) que são emitidas contra
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
7
a companhia referentes às contratações realizadas, bem como o respectivo registro (lançamento) no
Sistema Integrado de Gestão (ERP) e a revisão quanto aos impostos a serem retidos.
6.2 Aplicando o Modelo Lean, Seis Sigma, TOC (LST)
Tendo em vista o contexto apresentado, o Modelo foi aplicado na empresa conforme roteiro e
passos definidos no framework do Apêndice A.
FASE 01 – DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E DE VALOR PARA O CLIENTE
1. Identificar quem são os clientes e quais as suas prioridades
O primeiro passo desta etapa consistiu em identificar, de maneira clara, quais eram os clientes
cujas necessidades e expectativas deveriam ser atendidas. Logo, a partir do cenário inicial e da
documentação institucional disponível (fluxogramas, organogramas, etc.), puderam-se delimitar os
principais agentes e áreas envolvidas no processo em estudo que recebiam produtos das atividades da
área-alvo, estabelecendo o que os mesmos consideravam como padrão de desempenho e qualidade
para o serviço prestado. Com esse intuito, realizaram-se entrevistas pessoais preliminares (não
estruturadas) com os gestores das áreas envolvidas no processo, e, ao mesmo tempo, pesquisa
documental envolvendo relatórios de gestão, planilhas eletrônicas, legislação específica, documentos
de compra e de cobrança e tipos de reclamações recebidas. Neste ponto, identificaram-se os principais
clientes externos (Fornecedores, Órgãos de Controle e Sociedade) e internos (Contabilidade,
Pagamentos, Requisitantes e Auditoria e Riscos), que totalizaram um conjunto de 23 requisitos
relacionados a Prazo, Custo e Qualidade, correspondendo assim à especificação de valor.
2. Identificar macroprocessos e os grandes problemas
Esta etapa consistiu em caracterizar os macroprocessos do negócio e, após novas entrevistas e
Brainstormings com os gestores funcionais dos macroprocessos considerados chave, expor e
apresentar visualmente suas interelações em um nível generalista e explicitar, sob a perspectiva das
vozes das áreas-clientes (VOC), o que essas enxergavam como os maiores óbices às atividades de
Recebimento Físico-Fiscal na empresa estudada. Nesse sentido, construiu-se a visão de como a
empresa esperava atender as exigências e requisitos dos clientes separando o processo em
Fornecedores, Entradas, Processo, Saídas e Clientes, em um Diagrama SIPOC. Em seguida, partiu-se
para a realização de novas rodadas de Brainstorming com gestores das áreas diretamente envolvidas no
processo (funcionais). A intenção era que, após perceberem a influência em relação às etapas prévias e
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
8
subsequentes às suas, esses gestores pudessem identificar os grandes problemas que impunham
obstáculos aos resultados almejados pelos clientes para a atividade de RFF.
3. Definir as principais métricas de desempenho
Como pôde ser observado na etapa anterior, considerando-se as informações do Diagrama
SIPOC, das análises VOC, e os grandes problemas apontados pelos gestores dos macroprocessos,
comprovou-se que como ponto central a ser atacado por qualquer plano de melhoria proposto,
encontrava-se a questão do não atendimento de prazos legais, incluindo-se aí aspectos de ordem fiscal,
contábil e contratual. Desse modo, os indicadores selecionados focaram em medições do fator “tempo”
dentro do processo, representando, também, a convergência de todas as ações de melhoria de
desempenho aplicadas em termos de estrutura, modelos de trabalho e procedimentos do processo então
vigente. A seguir, são apresentadas as principais métricas de desempenho que foram estabelecidas pela
empresa.
Tempo para o Primeiro Contato da NF-e com a área especialista (RFF).
Trata-se do principal indicador para a empresa estudada, e, como visto na definição da
situação-problema refere-se à capacidade da empresa para, em no máximo 24 horas após a emissão,
detectar, validar e comunicar ao emitente (fornecedor do produto) a necessidade de cancelamento da
Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) para casos de vícios, anomalias ou inconformidades que ensejem o
cancelamento da mesma e impeçam o recebimento das mercadorias contratadas. Nesse sentido, como
o prazo legal vigente é de apenas 01 dia corrido para a manifestação da empresa, quanto mais próximo
estiver a média de tempo deste indicador da meta estabelecida, menores as chances da ocorrência de
sanções governamentais.
Percentual de Notas Fiscais lançadas, no sistema de gestão empresarial, no Período de
Competência contábil/fiscal.
Representa o cumprimento de prazos contábeis e tributários específicos da empresa perante o
Fisco, que monitora o adimplemento de obrigações relativas ao período e forma de escrituração
Contábil. Uma Nota Fiscal lançada de maneira apropriada e de acordo com princípios e legislação
contábil deve ser registrada no sistema no mesmo mês de sua emissão (competência). Portanto, para
que uma intervenção pudesse ser considerada bem sucedida, era necessário que este indicador
demonstrasse que a empresa estava conseguindo reduzir as ocorrências de Notas Fiscais lançadas fora
do Período de Competência.
Percentual de Notas Fiscais enviadas para pagamento antes do vencimento.
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
9
Este indicador representa o nível de atendimento dos requisitos da área de Pagamentos, naquilo
que se refere à antecedência mínima que um determinado documento de cobrança deve ser enviado
àquela área, pelo RFF, de modo a permitir que o fornecedor externo receba tempestivamente pelo
material entregue, sendo tal parâmetro essencial para assegurar o cumprimento dos prazos contratuais
firmados com o fornecedor.
4. Obter o apoio da Alta Administração.
A partir dos dados e posicionamentos até então levantados e apresentados, buscou-se obter o
apoio da alta administração da empresa e outras partes interessadas para a efetiva execução da
iniciativa de melhoria nos procedimentos e modelos de trabalho, através de workshop que culminaram
na definição de quais seriam os patrocinadores-chave do projeto. Contudo, a fim de sintetizar a
importância do esforço e comprometimento contínuo da liderança da empresa, o modelo utiliza uma
Fase Paralela (P1) que permeia todas as Fases Centrais, garantindo sustentabilidade.
5. Definir a equipe núcleo de implementação.
Nesta última etapa da Fase 01, foi definida a equipe base que conduziu o projeto melhoria até o
fim e a quem coube garantir a execução das decorrentes ações de monitoramento e controle após o
encerramento. Pela complexidade e diversidade de visões e interesses existentes sobre a matéria,
optou-se por uma equipe multidisciplinar separada em duas frentes: uma para suporte metodológico; e
outra com os conhecimentos operacionais. Além disso, estabeleceu-se uma representação esquemática
visando a permitir a identificação das relações hierárquicas estabelecidas e das funções esperadas,
conforme a tipologia que define, para um projeto, as Responsabilidades (R), Responsabilização (A),
Consulta (I) e Informação (I) – Matriz RACI. Finalmente, construiu-se também um Contrato de
Projeto.
FASE 02 – MENSURAR E AVALIAR O DESEMPENHO ATUAL
6. Identificar o fluxo a ser melhorado
As ações de melhoria foram concentradas no fluxo de suprimentos, informações e documentos
desde o momento em que os mesmos são recebidos na empresa-alvo, até o momento em que os
documentos fiscais são remetidos para pagamento no órgão competente, mas sem, contudo, abster-se
de considerar e incluir em seus diagnósticos, discussões, proposições e alternativas de solução,
atividades que influenciam ou sofrem influência dos desdobramentos e ações da área principal
estudada, como Pagamento, Contabilidade ou o próprio Requisitante.
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
10
7. Identificar métodos vigentes de mensuração
Após entrevistas como pessoal que operacionaliza o processo de RFF e coleta de evidências in
loco, identificou-se que havia formas simples, porém eficazes, de monitoramento do desempenho do
fluxo de informações. Por outro lado, havia indicadores que mensuravam, mas não correspondiam à
realidade. Finalmente, observou-se que, a despeito de existirem procedimentos manuais, uma grande
base de dados vinha sendo subutilizada que era o Sistema ERP da companhia.
8. Mensurar métricas de desempenho e estabelecer a performance atual
Esta etapa teve por objetivo coletar dados e estabelecer o nível de desempenho então vigente do
processo através da mensuração de indicadores da área de RFF, mediante ferramentas de controle
estatístico como Gráficos de Controle, Histogramas e técnicas de priorização. A análise e todas as
métricas utilizadas foram realizadas tendo por base registros cruzados contidos tanto em planilhas
eletrônicas de controle, quanto no sistema automatizado e integrado de gestão corporativo, e envolveu
toda a população de 5.000 Notas Fiscais recebidas ao longo dos 12 meses do ano de 2011. Para fins de
análise comparativa, todos os resultados dessa fase estão destacados na seção 7 desse artigo.
9. Mapear o fluxo de valor (estado atual) - VSM
Na empresa estudada, o Mapa do Estado Atual foi construído através de análise documental,
entrevistas com os envolvidos no fluxo transversal e mensuração diretamente no local onde as coisas
aconteciam, a fim de aprofundar as mensurações apresentadas na etapa anterior. Deste modo, foi
possível identificar, para o fluxo de uma única unidade de trabalho, neste caso uma Nota Fiscal, os
tempos efetivamente gastos no processamento da mesma (Tempo de Ciclo) e os tempos de fila não
agregadores de valor (Tempo de Espera). Com efeito, foi possível representar o fluxo de comunicações
e a direção do trabalho, bem como os possíveis gargalos desse fluxo.
10. Evidenciar problemas específicos
Justamente a partir da visualização de maneira simples do modo como as coisas aconteciam na
empresa (via VSM), e da técnica de Brainstorming, pôde-se expandir a participação na atividade de
compreensão dos problemas existentes para um número maior de indivíduos, envolvendo também o
pessoal operacional de cada área afetada pelo processo de RFF, a fim de identificar e entender os
problemas específicos com que cada ente se deparava. Com base nessas sessões, pôde-se elencar cerca
de 70 problemas específicos experimentados pelos participantes em suas rotinas diárias.
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
11
FASE 03 – ANÁLISE DOS EFEITOS INDESEJADOS E CAUSAS-RAIZ
11. Identificar todas as possíveis causas para os problemas, relacionando cada efeito
indesejado a cada causa.
A partir da análise do VSM construído, da tabulação de dados e da observação atenta dos
mecanismos de trabalho praticados até aquele momento, pôde-se iniciar procedimentos para
compreender o fluxo então vigente e delinear estruturas de ligação entre os problemas. Para isso, pela
grande quantidade de itens elencados pelo grupo de trabalho (pouco mais de 70), utilizou-se a técnica
da Árvore da Realidade Atual (ARA), visando a identificar fatores que interagiam para produzir outros
problemas em níveis hierárquicos, em uma relação de causa e efeito, permitindo identificar causas
primárias potenciais para os problemas expostos. Em seguida, utilizou-se a ferramenta dos “Cinco
Porquês”, visando a levar os participantes a pensarem sobre o problema de uma maneira mais
aprofundada. Finalmente, a partir da análise das respostas pelos participantes, seguiu-se à plotagem
dessas conexões e defeitos na ARA, ponderando a melhor disposição desses fatores no conjunto
gráfico previamente existente. Ao final, foram definidas 16 Causas-Raiz em potencial para os
problemas levantados pelo grupo.
12. Priorizar as possíveis causas.
Considerando-se que um quantitativo elevado de Causas-Raiz em potencial foi levantado
previamente, foi necessário priorizar os esforços a fim de direcioná-los para a definição das restrições
mais relevantes para o desempenho global, e que, se atacadas, possuíam o mais alto potencial de
impacto na resolução dos problemas. A ferramenta Pareto foi utilizada neste sentido, conseguindo
reduzir em 50% esse quantitativo.
13. Identificar as restrições-chave e estabelecer o que precisa ser mudado.
Após os resultados apresentados na etapa antecedente, puderam-se representar, finalmente, na
Árvore da Realidade Atual, as Restrições-Chave que deveriam ser tratadas para resolver o problema da
pesquisa: descentralização do recebimento de materiais por toda empresa; ausência de orientação clara
ao Fornecedor; colaborador desconhece seu papel e responsabilidades no processo; excesso de controle
e tramite de documento em papel; ausência de Planejamento de Necessidade de Material e de
Programação para a Entrega; norma e procedimentos inexistentes ou desatualizados, pois fazem
referência à Nota Fiscal de papel; espaço físico e infraestrutura inadequada para o recebimento; ERP
não contempla todas as operações possíveis. A figura 01 abaixo traz um extrato da ARA.
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
12
Figura 01 – Identificação das Restrições-Chave do sistema através da Árvore da Realidade Atual (extrato)
Fonte: Criado pelo autor.
14. Representar visualmente
A intenção nesta etapa era, em última análise, fornecer uma base concreta para corroborar,
visualmente, tanto os Gargalos (Causas-Raiz), quanto à análise inicial do Fluxo de Valor descrito na
Fase 02. Esperava-se que a partir da inclusão e posicionamento no Mapa das Causas priorizadas na
etapa anterior, pudesse-se compreender como as coisas aconteciam e evidenciar áreas onde ocorriam
desperdícios e atividades não agregadoras de valor. Como pode ser observado no VSM da na figura
02, cada uma das Causas foi plotada no Mapa nos momentos mais próximos aos acontecimentos e
atividades, visando representar a realidade.
22
5
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
13
Figura 02 – Representação visual no VSM das Causas-Raiz priorizadas
Fonte: Criado pelo autor.
FASE 04 – PROPOR IDEIAS E IMPLEMENTAR SOLUÇÕES PARA A MELHORIA.
15. Gerar e propor ideias.
Após sessões de Brainstorming e aprendizados trazidos por Benchmarking, a fim de obter
sugestões de possíveis soluções para atingir os gargalos priorizados anteriormente, a Equipe conseguiu
que, para cada Causa-Raiz, 32 Alternativas de Solução fossem propostas.
16. Priorizar e selecionar soluções
Como o número de alternativas propostas era elevado, era interessente utilizar algum
mecanismo para tentar diminuir tais opções, priorizando aquelas que tinham maior potencial para
causar impacto eliminatório nos Efeitos Indesejados, prazos de implementação mais curtos, e maior
possibilidade de sustentação das eventuais mudanças ao longo do tempo, em face da viabilidade
técnica e econômica da mesma. Assim, visando a identificar não somente as que seriam realizadas,
mas quais ocorreriam primeiro, optou-se pela utilização de uma Matriz de Seleção de Soluções (Matriz
GUT) e, posteriormente, por nova aplicação de Pareto. No final, 14 Alternativas de Solução foram
selecionadas para serem aplicadas.
17. Desenhar o Estado Futuro (VSD)
De posse dos dados levantados, foi possível confeccionar o mapa que serviria de orientação
para todos os agentes do processo de RFF executarem suas atividades, detalhando graficamente as
23
0
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
14
principais rotinas e ajudando-os a se posicionar no novo modo de trabalho. Esse Desenho do Fluxo de
Valor (ou VSD) buscou eliminar Atividades Não Agregadoras de Valor, explorar e mover os Gargalos
do processo para o início do fluxo, de modo a nivelar e balancear o trabalho depois da entrada das NF-
e e, ao mesmo tempo, possibilitar um fluxo integrado, contínuo, puxado, e sempre buscando a
perfeição, eliminando os desperdícios que afetam o alcance das metas da empresa. No VSD utilizaram-
se também as técnicas Lean de Padronização, 5S, Kanban, FIFO, Heijunka e Pulmão e Segurança.
18. Implementar soluções
Na última etapa desta Fase, tendo sido desenhado o novo Fluxo de Valor para o processo
analisado, era chegado o momento de implementar as soluções apontadas no VSD. Nesse sentido,
foram realizados treinamentos e reuniões de sensibilização para o novo quadro que se delineava,
envolvendo a Equipe Núcleo, o “chão de fábrica” e a liderança da empresa. Ao mesmo tempo, optou-
se pela realização de testes operacionais-piloto com o fluxo de valor projetado, em um cenário
envolvendo poucas pessoas, áreas específicas e por um breve período de tempo. Ao final do evento-
piloto, os resultados foram divulgados à empresa.
FASE 05 – CONTROLAR RESULTADOS E MELHOR CONTINUAMENTE
19. Tornar à prova de erros
Para que se elevassem as chances de que o que fora desenhado no VSD pudesse ser alcançado e
sustentado no dia-a-dia, fez-se necessário encontrar mecanismos capazes de reduzir ao máximo as
oportunidades de erro. Especificamente no caso estudado, utilizou-se a figura de um checklist
eletrônico como agente de monitoramento e controle, onde cada área poderia preencher somente a
parte que lhe cabia, ao mesmo tempo em que o não preenchimento do campo adequado impediria o
prosseguimento do processo (ferramenta Jidoka). Por outro lado, como outro mecanismo à prova de
erros, o preenchimento do checklist tinha campos com valores pré-definidos nos quais o usuário só
tinha três opções de escolha por parâmetro, reduzindo a variabilidade do processo (ferramenta Poka
Yoke).
20. Documentar e padronizar
A fim de minimizar o efeito da subjetividade aos novos procedimentos instalados, evitar o
empirismo, e promover a disseminação do conhecimento, fez-se necessário que os processos
mapeados, as soluções propostas e as rotinas implementadas fossem traduzidos em Normas e
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
15
Procedimentos Operacionais Padrão (SOP), que poderiam ser registrados e ajustados quando
necessário a partir de uma mesma fonte de informação.
21. Comunicar o novo paradigma
A fim de envolver os colaboradores relacionados de alguma forma ao novo processo e torna-los
em agentes da mudança, foi desenvolvido um Plano, simples, de comunicação. Após ficar definido o
que seria comunicado (o novo paradigma de RFF), para quem (todos os envolvidos direta ou
indiretamente no fluxo de valor), quando (a partir do Evento-Piloto) e como (através dos SOPs e meios
de comunicação internos), passou-se à etapa de implementação do Plano, buscando-se ferramentas de
comunicação já existentes na empresa.
22. Avaliar/mensurar resultados; checar com o planejado; ajustar para aprimorar o
desempenho ou readequar o plano.
O objetivo era mensurar e evidenciar benefícios, riscos e novos problemas que viessem a
surgir, mas, antes de tudo, apurar os resultados após a implementação, avaliá-los face ao planejado e
atuar para melhorar continuamente o processo; mais uma vez envolvendo a população de 5000 NF-e
(entre Outubro/2013 e Outubro/2014). Na empresa estudada, utilizaram-se Planos e Gráficos de
Controle, Gestão Visual a fim de guiar as etapas de avaliação, checagem e ação corretiva de etapas do
processo, de reuniões Kaizen, a fim de conceder agilidade na identificação de soluções para questões
cotidianas, e da apresentação do VSD final pós-intervenção. A figura 03 a seguir traz esse Mapa.
FASE PARALELA (P1)- COMPROMETIMENTO/ESFORÇO CONTÍNUO GENERALIZADO
Como visto ao longo das Fases Centrais já apresentadas - desde a definição do problema,
passando pela implementação das soluções propostas, até a comunicação e monitoramento sobre o
novo paradigma –, todas as ações só puderam ser realizadas, pois contaram com apoio ou da Equipe
Núcleo, ou dos Patrocinadores ou, principalmente, do pessoal operacional que faz as coisas
acontecerem, ou seja, com comprometimento contínuo de todos, paralelamente aos esforços
empregados. O papel da Alta Administração, portanto, foi essencial para que todo o corpo funcional
não só assimilasse o tamanho do desafio, como se solidarizasse com os motivos que levaram a
empresa a buscar formas de melhorar os indicadores do citado Processo.
FASE PARALELA (P2) - APRENDER FAZENDO CONTINUAMENTE.
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
16
Ao longo do Projeto, e pela análise das Fases Centrais, ficou evidente que a melhor forma de
engajar colaboradores com o processo de mudança é envolvê-los, e a melhor forma de envolvê-los é
torna-los mais do que expectadores passivos e recebedores de conhecimento ditado, mas transformá-
los, eles próprios, em agentes da mudança. Por isso esta Fase perpassa todas as demais e por isso,
durante toda a jornada, os trabalhadores foram instigados a colaborarem com aquilo que ocorria à sua
volta e, mais do que isso, a “puxarem” das lideranças tudo o que precisassem para fazer com que suas
contribuições tivessem mais e mais relevância para os resultados, sob o prisma de uma cultura de
melhoria contínua. Também foram realizadas oficinas com as equipes a fim de instruí-los sobre os
conceitos básicos a respeito dos princípios e ferramentas utilizadas pelo framework, à medida que as
mesmas iam precisando ter acesso àquela informação e poderiam aplicá-las na prática, sobretudo
através de eventos Kaizen, que foram aplicados para resolver problemas cotidianos.
Figura 03 – VSD ajustado para representar os indicadores coletados no cenário pós-intervenção Fonte: Criado pelo autor.
7 APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
Após a implementação do novo e redesenhado processo de Recebimento Físico e Fiscal, e
tendo a fase de monitoramento e controle levantado os indicadores do novo paradigma, pode-se,
finalmente, analisar e discutir os resultados do Projeto de Melhoria realizado na empresa estudada.
Nesse sentido, são apresentadas a seguir comparações e as respectivas ponderações entre os
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
17
indicadores do processo coletados entre 1º de Janeiro e 1º de Janeiro de 2012, antes, portanto, que
qualquer ação de melhoria pudesse ser efetuada; e os indicadores de desempenho coletados no período
durante e após a implementação do novo processo de RFF, especificamente entre 1º de Outubro de
2013 e 1º de Outubro de 2014.
a) Indicador 01: Tempo para o Primeiro Contato com a área especialista (RFF)
Como explicitado, este indicador representa o tempo médio para que a área especialista (RFF)
da empresa possa realizar a tarefa de receber, validar e comunicar ao emitente da Nota Fiscal
Eletrônica a necessidade de cancelamento ou a autorização para envio da mercadoria, a fim de se
manifestar tempestivamente sobre a necessidade ou não de cancelamento do documento por ele
emitido e, com isso, garantir que os prazos para a realização dessa atividade possam ser cumpridos.
Logo, para que a implementação pudesse ser considerada bem sucedida, seria necessário que o
monitoramento do indicador demonstrasse que a empresa estava conseguindo realizar esta tarefa em
até 24 horas.
Inicialmente, as mensurações da Fase 02 indicaram que a Média era elevadíssima, quando
considerado o prazo legal vigente: 11,65 dias; enquanto o Desvio Padrão era de 23,47 dias,
nominalmente um valor bem elevado, tendo em vista a meta legal estabelecida. Já no levantamento
pós-intervenção, constatou-se clara mudança positiva nos resultados deste indicador, seja em
comparação com o cenário anterior, seja se confrontado com a realidade do prazo legal. Afinal, a
Média de tempo para o primeiro contato com o RFF passou a ser de 0,60 dias, o que dá cerca de 15
horas. Em termos percentuais, significa que a empresa reduziu seu tempo de processamento para esta
rotina em aproximadamente 97%. Finalmente, como pode ser observado na figura 04 abaixo, no
cenário anterior somente 17% das Notas Fiscais recebidas alcançavam o RFF dentro do limite de 24
horas após a emissão. Após a intervenção, 90% ocorrem dentro do prazo legal exigido.
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
18
Figura 04
– Comparação do comportamento do Indicador “Tempo para o Primeiro Contato com a área especialista (RFF)”, no cenário
prévio e posterior às ações de melhoria realizadas.
Fonte: Criado pelo autor a partir de dados coletados na empresa-alvo.
b) Indicador 02: Notas Fiscais lançadas, no sistema de gestão empresarial, no Período de
Competência fiscal/contábil.
Como comentado na apresentação do Problema, havia indícios do não cumprimento de prazos
atrelados ao princípio contábil da escrituração no período de competência, o qual determina, segundo a
descrição deste indicador, que as transações devam ser registradas nos livros contábeis e fiscais e
apresentadas nas demonstrações financeiras no mesmo período no qual os bens foram entregues ou a
NF-e emitida. Portanto, para que as ações de melhoria pudessem ser consideradas bem sucedidas, seria
necessário que o monitoramento deste indicador demonstrasse que a empresa estava conseguindo
reduzir tais ocorrências. Nesse sentido, conforme vislumbrado na figura 05 a seguir, os levantamentos
realizados na Fase 02 indicaram que, no cenário prévio, somente 55,60% das Notas Fiscais eram
lançadas dentro do Período de Competência. Por outro lado, as mensurações realizadas na Fase 05
mostraram que, após as ações de melhoria, esse patamar subiu para 96%, uma evolução nominal de 40
pontos percentuais no indicador. Portanto, constata-se o sucesso quanto a este requisito.
ANTES DA MELHORIA DEPOIS DA MELHORIA
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
19
Figura 05 – Comparação do comportamento do Indicador “Notas Fiscais lançadas no Período de Competência” Fonte: Criado pelo autor a partir de dados coletados na empresa-alvo.
c) Indicador 03: Notas Fiscais enviadas para pagamento em relação ao prazo de vencimento.
Para que uma intervenção pudesse ser considerada bem sucedida, seria necessário que o
monitoramento deste indicador evidenciasse que a empresa estava conseguindo elevar o prazo de
antecedência com que as NF-e eram enviadas à área de Pagamentos, de modo a permitir que o
fornecedor externo recebesse em tempo pelo material entregue. A figura 06 apresenta os resultados
comparativos das mensurações realizadas na Fase 02 e na Fase 05.
Figura 06 – Comparação do comportamento do percentual de NFs enviadas para pagamento. Fonte: Criado pelo autor a partir de dados coletados na empresa-alvo.
No comparativo apresentado na figura 06, percebe-se que o total de Notas Fiscais enviadas para
pagamento antes e até o vencimento era de 74%. Por outro lado, os dados coletados pós-melhoria,
mostraram que agora 97% dos documentos de cobrança são enviados até a data do vencimento
ANTES DA MELHORIA DEPOIS DA MELHORIA
ANTES DA MELHORIA DEPOIS DA MELHORIA
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
20
(inclusive), o que evidencia nítida evolução de desempenho da área de Recebimento Físico-Fiscal.
Nesse sentido, percebe-se uma evolução nominal positiva de 23% no indicador. Finalmente, a figura
07 traz um quadro-resumo dos resultados alcançados.
VALOR AFERIDO
INDICADOR ANTES DA MELHORIA
DEPOIS DA MELHORIA
Tempo para o Primeiro Contato com a área especialista (RFF)
11,65 dias (média) 0,60 dias (média)
Percentual de Notas Fiscais registradas dentro do Período de Competência
56% 96%
Antecedência do envio das Notas Fiscais para pagamento quanto à data de vencimento.
74% 97%
Figura 07 – Comparação entre os resultados prévios e posteriores às ações de melhoria realizadas - resumo. Fonte: Criado pelo autor, a partir de dados coletados na empresa-alvo.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelos resultados alcançados na empresa estudada, pode-se concluir que a implementação da
mentalidade Lean, apoiada em estrutura e ferramentas das metodologias Seis Sigma e Teoria das
Restrições, foi bem sucedida em possibilitar a redução de todos os prazos envolvidos com o processo
de recebimento físico e fiscal, desde a emissão da NF-e até o pagamento ao fornecedor, bem como
elevar os índices de conformidade em relação ao cumprimento do princípio de competência contábil e
à adequação aos requisitos da área de pagamentos, possibilitando, consequentemente, um pagamento
mais veloz aos fornecedores de mercadorias e, ao mesmo tempo, uma operação mais estável e eficiente
para todos os membros da cadeia de valor. Contudo, é importante destacar que a despeito de todos os
objetivos alcançados, mais significativo para a empresa foi perceber que os colaboradores passaram a
observar e questionar criticamente a maneira de se fazer as coisas e os paradigmas vigentes sob a luz
da racionalidade. Finalmente, em termos de pesquisas futuras, nova investigação poderia ser conduzida
sobre a aplicação do framework aqui apresentado em outras empresas (públicas ou privadas), a fim de
estimulá-las a reimaginar e revisitar conceitos há muito arraigados, mas que conduzem a ineficiências
e perda de foco no cliente.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
21
BRASIL. Ministério da Fazenda. Portal sobre a Nota Fiscal Eletrônica. Brasília: [Ministério da
Fazenda], 2012. Disponível em <
http://www.nfe.fazenda.gov.br/portal/sobreNFe.aspx?tipoConteudo=HaV+iXy7HdM=#mQhuA1Z2dC
o=>Acesso em 01.jul.2012.
DE PÁDUA, Silvia Inês Dallavalle; DA COSTA, Janaina Mascarenhas Hornos; SEGATTO, Mayara;
DE SOUZA JÚNIOR, Melchior Aparecido; JABBOUR, Charbel José Chiappetta. BPM for change
management: two process diagnosis techniques. Business Process Management Journal, vol. 20, n. 2,
pp. 247 - 271. 2014.
DEMCHUK, Lesya; BAITSAR, Roman. Combined usage of Theory of Constraints, Lean and Six
Sigma in quality assurance of manufacturing processes. Key Engineering Materials, vol. 637, pp. 21-
26. 2015.
GEORGE, Michael L. Lean Seis Sigma para Serviços: como utilizar velocidade Lean e qualidade Seis
Sigma para melhorar serviços e transações. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2009.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed., São Paulo : Atlas, 2008.
KARIM, Azharul; ARIF-UZ-ZAMAN, Kazi. A methodology for effective implementation of Lean
strategies and its performance evaluation in manufacturing organizations. Business Process
Management Journal, vol. 19, n. 1, pp. 169-196. 2013.
TAPPING, Dom.; SHUKER, Tom. Lean Office: gerenciamento do fluxo de valor para áreas
administrativas. São Paulo: Leopardo, 2010.
TSOU, Chi-Ming. On the strategy of supply chain collaboration based on dynamic inventory target
level management: A theory of constraint perspective. Applied Mathematical Modelling, n. 37, pp.
5204–5214. 2013.
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
APÊNDICE A – Modelo LST aplicado na empresa estudada
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
22
Pesq
uisa
s, Entrevista
s e Ob
servaçã
o;
Ben
chm
arking
Bra
insto
rmin
g;
Simu
lações / W
orksh
op
s;
Ca
ses de Su
cesso;
Discu
ssões em
Gru
po
;
Evento
s Ka
izen;
Ap
rend
er Fazen
do
.
Elab
orar estratég
ia para o
apren
dizad
o e ap
licar treinam
ento
.
Avaliar resu
ltados e rep
etir ciclo.
Niv
elar e difu
ndir co
nhecim
ento
sobre o
s conceito
s-chav
e necessário
s
Iden
tificar os g
aps d
e apren
dizad
o en
tre os en
volv
ido
s no p
rojeto
. A
PR
EN
DE
R
FA
ZE
ND
O
- CO
NT
INU
AM
EN
TE
-
FASE 02
MENSURAR E AVALIAR
O DESEMPENHO ATUAL
Identificar Fluxo de Valor a ser analisado
Identificar métodos vigentes de mensuração
Estabelecer o nível de desempenho atual
Mensurar métricas de desempenho selecionadas
Mapear o Fluxo de Valor (Estado Atual)
Evidenciar problemas / defeitos específicos
Índice de Defeitos;
Gráficos de Controle;
Histogramas/ Pareto;
Coleta de Dados;
Análise do Sist. de Medição.
VSM;
Estudo dos Tempos e de Eficiência de Ciclo;
Análise de VA e NVA;
Análise de Direção do Fluxo de Trabalho;
Controle Visual;
Brainstorming.
Fluxo de
Valor
Identify the
Value Stream
FASE 04
PROPOSIÇÃO DE IDEIAS E
IMPLEMENTAÇÃO DE SOLUÇÕES
(MELHORIA)
Gerar e Propor Ideias
Priorizar e Selecionar Soluções
Desenhar o Estado Futuro (VSD)
Implementar Soluções
Brainstorming
Benchmarking
Matriz GUT
Gráfico de Pareto
Padronização; 5S;
Nivelamento;
Balanceamento;
Heijunka;
Kanban;
FIFO;
Teoria do Gargalo;
Pulmão e Segurança;
Fluxo Puxado Integração de Proc.
Reuniões de Sensib;
Treinamento específ.
Pilotagem/Simulação
Comunicação de Res.
Flow Without
Interruptions
Fluxo
Contínuo
Fluxo
Puxado
Let the Customer
Pull Value from
the Producer
FASE 05
CONTROLAR RESULTADOS E
MELHORAR CONTINUAMENTE
Buscar a
Perfeição
Pursue
Perfection
Avaliar/Mensurar resultados da Implementação
Checar com o Desenhado/Planejado
Ajustar para aprimorar o desempenho ou readequar o
plano, continuamente.
Plano de Controle;
Gráficos de Controle;
Follow-Up;
Kaizen;
Controle Visual de Processo.
Documentar e Padronizar.
Comunicar o novo paradigma
PoKa-Yoke; Jidoka
Normatização; Proc. Op. Padrão (SOP)
Plano de Comunicação
Prevenir e/ou Tornar à prova de erros
FASE 01
DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E
DE VALOR PARA O CLIENTE
Identificar quem são os clientes e suas prioridades
Identificar macroprocessos
Definir principais métricas de desempenho
Identificar Grandes Problemas
Obter apoio da Alta Administração
Definir Equipe Núcleo de Implementação
Diagrama SIPOC
Fluxogramas;
Entrevistas;
Análise Documental;
Análise VOC;
Brainstorming;
Apresentação Visual
Entrevistas/Reuniões
Workshops;
Contrato do Projeto;
Matriz RACI
Proposição
de Valor
Specify Value
FASE 03
ANÁLISE DOS EFEITOS
INDESEJADOS E CAUSAS-RAIZ
Identificar todas as possíveis causas p/ os problemas
Relacionar cada efeito indesejável a cada causa
Identificar as Restrições-Chave (causas-raiz)
Priorizar as possíveis causas
Estabelecer o que precisa ser mudado
Representar visualmente
Brainstorming;
Equipe Multifuncional
5 Por quês;
ARA
Árvore da Realidade Atual - ARA
Fluxo de
Valor
Gráfico de Pareto
Value Stream Map
Identify the
Value Stream
Gar
anti
r co
mpro
met
imen
to e
apoio
per
man
ente
da
alta
ad
min
istr
ação
, co
m a
loca
ção
de
tem
po, re
curs
os,
ince
nti
vos
e re
moçã
o d
e bar
reir
as.
P
roje
ct C
ha
rter
;
R
elat
ório
s d
e St
atu
s;
R
eun
iões
de
Sen
sib
iliza
ção
.
A
3.
Co
mp
arti
lhar
a V
isão
(se
nso
de
urg
ênci
a);
“B
ate-
Bo
la”
entr
e o
Ger
ente
e a
Eq
uip
e;
C
om
un
icaç
ão/T
ran
spar
ênci
a;
F
eed
ba
ck c
on
stru
tivo
;
R
eco
nh
ecim
ento
, Co
mem
ora
ção
.
Est
abel
ecer
est
rutu
ra c
onfi
ável
par
a as
contr
ibu
içõ
es d
o p
esso
al
Est
imula
r o e
nvolv
imen
to d
os
cola
bora
dore
s em
cad
a pas
so
Pro
mover
o e
ngaj
amen
to t
ota
l do c
orp
o f
unci
on
al
CO
MP
RO
ME
TIM
EN
TO
E
ES
FO
RÇ
O
CO
NT
ÍNU
O
EM
T
OD
OS
O
S
NÍV
EIS