APEGO MATERNO-FETAL E DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL DE … · impressionante “caesura” do ato do...

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Tese APEGO MATERNO-FETAL E DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL DE CARDIOPATIA Patricia Pereira Ruschel

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Tese

APEGO MATERNO-FETAL E DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL DE

CARDIOPATIA

Patricia Pereira Ruschel

INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL

FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA

Programa de Pós-Graduação em Medicina:

Área de Concentração: Cardiologia e

Ciências da Saúde

Apego materno-fetal e diagnóstico pré-natal de cardiopatia

Autora: Patricia Pereira Ruschel

Orientador: Prof. Dr. Paulo Zielinsky

Tese submetida como requisito para obtenção

de grau de Doutor ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências da Saúde, área de

Concentração: Cardiologia ou Ciências

Cardiovasculares, da Fundação Universitária

de Cardiologia/Instituto de Cardiologia do Rio

Grande do Sul.

Porto Alegre

2011

AGRADECIMENTOS

Após anos de trabalho para a construção e desenvolvimento desta tese, julgo

importante registrar a contribuição de muitas pessoas envolvidas para a presente

realização.

Inicialmente, agradeço as gestantes que compareceram ao rastreamento para

cardiopatia fetal na Unidade de Cardiologia Fetal do IC/FUC e consentiram participar

do estudo.

Manifesto meu agradecimento aos colegas médicos, psicólogos e alunos que

colaboraram com a realização desta pesquisa, executando ecocardiografia fetal e

coletando dados do apego materno-fetal.

Registro o carinho da equipe da Unidade de Cardiologia Fetal que foi incansável

em facilitar o trabalho do Serviço de Psicologia Clínica na coleta de dados.

Os professores e colegas do PPG da FUC merecem um agradecimento por tudo

que me ensinaram e pelo estímulo, colaborando para que eu vencesse esta caminhada

tão profícua.

Faço um agradecimento especial ao Dr. Paulo Zielinsky por sua orientação,

exemplo de seriedade e competência. O estímulo ao trabalho interdisciplinar, a

oportunidade de desenvolver a psicologia junto à cardiologia fetal, ao longo de muitos

anos, vem proporcionando um excelente aprendizado.

Agradeço a minha família por ter me auxiliado e estimulado a vencer esta etapa

tão importante da minha vida profissional.

SUMÁRIO

BASE TEÓRICA ..................................................................................................................... 1

1.1 DESENVOLVIMENTO DA GESTAÇÃO .................................................... 2

1.2 IMPACTO DO DIAGNÓSTICO DE MALFORMAÇÕES FETAIS............... 7

1.3 CARDIOPATIA FETAL - ASPECTOS MÉDICOS .................................... 16

1.4 CARDIOPATIA FETAL - ASPECTOS PSICOLÓGICOS .......................... 18

1.5 APEGO ...................................................................................................... 21

1.6 APEGO MATERNO-FETAL ..................................................................... 29

2 HIPÓTESE CONCEITUAL ........................................................................ 35

3 OBJETIVOS ................................................................................................ 37

3.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................... 37

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................... 37

4 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 39

5 ARTIGO .......................................................................................................................... 48

5.1 RESUMO............................................................................................... 50

5.2 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 51

5.3 MÉTODOS ............................................................................................ 52

5.4 RESULTADOS ...................................................................................... 53

5.5 DISCUSSÃO ......................................................................................... 55

5.6 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 61

5.7 TABELAS ............................................................................................. 65

5.8 FIGURAS .............................................................................................. 68

6 ARTIGO VERSÃO EM INGLÊS .............................................................................. 73

6.1 ABSTRACT........................................................................................... 75

6.2 INTRODUCTION .................................................................................. 76

6.3 METHODS ............................................................................................ 77

6.4 RESULTS .............................................................................................. 78

6.5 DISCUSSION ........................................................................................ 80

6.6 REFERENCES ....................................................................................... 85

6.7 TABLES ................................................................................................ 89

6.8 FIGURES............................................................................................... 92

BASE TEÓRICA

2

“Há mais continuidade entre a vida intra-uterina e a primeira infância do que a

impressionante “caesura” do ato do nascimento nos permite saber.”

Freud, 1926

1.1 DESENVOLVIMENTO DA GESTAÇÃO

Quando uma mulher descobre que está grávida, já está estabelecido dentro do

espaço uterino o minúsculo óvulo fertilizado, que terá uma influência de longo alcance,

marcando sua história interior que constará de sonhos, fantasias e vida emocional. O

corpo da futura mãe suprime suas defesas imunológicas para aceitar o feto dentro de si.

Também é referido que, psicologicamente, para apropriar-se da gravidez, a mulher deve

superar as ameaças representadas pela concepção, necessitando de uma adaptação em

sua realidade emocional e social1.

A relação de um casal sofre alterações quando ocorre a fecundação, que

determina a mudança da relação diádica para triádica. O embrião, que começa a crescer,

exige da mulher uma dedicação que transfere energia psíquica de outros investimentos

para o bebê2.

A primeira fase da gravidez caracteriza-se pela preocupação da mulher em

adaptar-se às novas sensações corporais, aos sintomas e ao desequilíbrio emocional,

ajustando-se às implicações práticas de seu estado diferente. A segunda fase, também

chamada intermediária, começa com os movimentos internos, quando a ênfase muda da

gravidez para a extraordinária ideia de um ser com vida própria e desconhecido

crescendo no seu interior. A terceira e última ocorre quando a gestante passa a imaginar

se o bebê poderia viver fora dela, se tivesse que nascer prematuramente. O foco passa

do feto à criança1.

3

Diante da proximidade do nascimento do bebê manifesta-se uma mistura de

sentimentos na gestante, dentre os quais o medo de perder o bebê da sua fantasia e o

caráter especial da gravidez, como um presságio de vacuidade e temor de fracasso.

Algumas gestantes se sentem feias em razão de seu aumento de peso, o que justifica a

pressa para se liberarem da “carga”1.

Piontelli3 realizou estudo sobre a vida pré-natal e seu impacto sobre o futuro

desenvolvimento do indivíduo. Observou onze fetos, três gestações singulares e quatro

pares de gêmeos, mensalmente, por cinco a seis vezes, a partir da décima sexta semana

até pouco antes do nascimento. Para complementar suas observações, no período após o

nascimento, utilizou o método de observação mãe-bebê, desenvolvido por Ester Bick4.

Seus achados sugerem a existência de notável continuidade em aspectos da vida pré e

pós-natal. Os fetos tinham características, registradas ultrassonograficamente que se

mantiveram na vida pós-natal. A autora sugere que a interação entre inato e adquirido

começa muito antes do que em geral se considera. Assim, identifica que algumas

experiências pré-natais podem ter efeito emocional profundo sobre a criança,

principalmente quando reforçadas pelas experiências pós-natais3.

A psicologia pré-natal é definida como o estudo do comportamento e do

desenvolvimento evolutivo e psico-afetivo-emocional do indivíduo, no período anterior

ao nascimento. O aprimoramento de modernas tecnologias, o desenvolvimento do

microscópio eletrônico e da fotografia intrauterina e as técnicas de fecundação in vitro

iluminaram um mundo ao qual não se tinha acesso. Vêm sendo desenvolvidas pesquisas

sobre os registros mnêmicos da vida intrauterina ou sobre a forma como surgem as

emoções provocadas pela interação fisiológica entre organismo da mãe e do feto5.

Os talentos, as capacidades e as habilidades apresentadas pelo recém-nascido

começam a se desenvolver antes do nascimento. Muito antes de nascer, o feto percebe

4

luz e som, é capaz de engolir, ter paladar, escolher uma posição predileta, registrar

sensações e mensagens sensoriais. O feto dorme, sonha, acorda, boceja, esfrega os

olhos, espreguiça, faz caretas, pisca, dá passos, reconhece a voz de sua mãe, brinca com

o cordão umbilical e com sua placenta, chupa o dedo e o dedão do pé, reage com

irritação quando se sente molestado e apresenta rudimentos de aprendizado. O bebê,

antes de nascer, tem uma vida emocional, pois é um ser que sente, tem emoções,

experimenta prazer e desprazer, dor, tristeza, angústia ou bem-estar, é capaz de

relacionar-se com a mãe, captando seus estados emocionais e sua relação afetiva com

ele. Com o avanço da técnica, o útero deixou de ser considerado aquele lugar seguro,

silencioso e totalmente recluso. Os ruídos internos que alcançam o útero têm um

volume próximo daquele produzido pelo tráfego urbano 5.

Os pais têm expectativas em relação ao filho que vai nascer. Surge o filho

imaginário naquele espaço criado entre o já conhecido e o novo, entre a história vivida

pelo pai e pela mãe como filhos e a angústia do desconhecido6.

Para Freud7 as atitudes afetuosas que os pais têm com seus filhos são a

reprodução de seu próprio narcisismo, já abandonado. Há a tendência de atribuir todas

as perfeições aos filhos e de ocultar e esquecer todas as deficiências. As crianças serão,

na idéia dos pais, o âmago da criação, chamadas sua majestade, o bebê, como cada um

de nós se imaginava. Para os pais, os filhos representam sua continuidade, sua

transcendência.

A hipótese de Balint8, estudioso da psicanálise, é que ocorre um investimento

significativo da mãe no feto, desde a vida pré-natal, mesmo que ainda existam objetos

indiferenciados. Nessa etapa, o self e o entorno encontram-se harmoniosamente

misturados. A complementariedade entre a mãe e o bebê tem a tarefa de sedimentar uma

ligação que se inicia na gravidez. O nascimento é visto pelo autor como trauma, que

5

rompe o equilíbrio por uma mudança radical que quebra a harmonia das expansões sem

limites.

Segundo Winnicott9, o ser humano já é capaz de ter experiências, acumular

memórias corporais, assim como organizar defesas contra possíveis traumas ainda na

vida uterina.

O efeito da consulta ultrassonográfica no casal grávido marca um processo

complexo, que permite simbolizar e imaginar o bebê que está para nascer. A visão do

bebê pode ser uma forma de interação com os pais, possibilitando um contato mais

íntimo, o qual proporciona um redimensionamento da parentalização e a aproximação

com uma realidade. Além disso, pode despertar a reorganização do lugar que o bebê

ocupa na família. Nestas situações, o médico serve de interlocutor, que introduz um

terceiro, o bebê que vai nascer, na relação do casal grávido10, 11

. O contato visual e

sonoro com a imagem do bebê é peculiar da ultrassonografia, que adquire um lugar

diferenciado entre os outros exames pré-natais11

.

A visualização do feto funciona, para os pais, como uma confirmação da

existência do filho e de sua capacidade de procriar. As projeções realizadas no bebê

passam, no momento da ultrassonografia, a ser alvo de indagação12

. Este processo

também pode funcionar como uma intervenção em termos de psicoprofilaxia na crise de

gestação11

.

Diante da possibilidade de um rastreamento para malformações fetais durante a

gestação, ocorre uma modificação de sentimentos da gestante, como a ansiedade13, 14

,

aumentando a felicidade e a “aproximação” sentidas em relação à criança que está

sendo gestada.14

Independentemente das repercussões positivas ou negativas da

ultrassonografia, quer o diagnóstico seja de normalidade ou de anormalidade fetal,

6

ocorre um impacto emocional no psiquismo da grávida que provavelmente repercutirá

na relação com o bebê15

.

Estudo realizado no hospital universitário de Estambul, com 200 gestantes e 104

pais, mostrou que a realização de screening pré-natal ou de testes diagnósticos causa

grande aflição e preocupação aos pais. Além de um formulário de entrevista, foi

utilizado o inventário de ansiedade traço estado de Spielberger, que detectou ansiedade

alta frente aos testes invasivos. Foi verificada a associação com escores aumentados das

mulheres quando a informação era insuficiente sobre o procedimento no teste que era

realizado pela primeira vez, em fumantes e em gestantes com baixo nível educacional16

.

Outra pesquisa, que utilizou o mesmo inventário de ansiedade e um questionário

elaborado pelos pesquisadores, que investigava preocupações específicas da gravidez e

suas características, apresentou também resultados importantes. Os pesquisadores

tiveram como objetivo investigar se a indicação de ecocardiografia fetal é um estressor

agudo que pode induzir uma ansiedade materna significativa. Os resultados compararam

as gestantes que realizaram ecocardiografia com outro grupo que não se submeteu ao

exame e tinham a mesma idade gestacional. Os dois grupos não se diferenciaram quanto

ao traço de ansiedade e foram significativamente diferentes quanto ao estado. Através

do modelo linear de regressão multivariada, a pesquisa controlou para raça e para idade

materna, demonstrando que a ecocardiografia era preditor independente forte do escore

de ansiedade de estado materno17

.

A detecção da anormalidade fetal é inesperada, não somente por causa da

natureza imprevisível da genética, das mudanças do desenvolvimento, da baixa

probabilidade de resultar em um problema, mas também pelo significado social que é

atribuído à ultrassonografia e experienciado pelas mulheres. Esta prática para a gestante

é vista como fonte de prazer e comunicação com o bebê. Os significados sociais

7

predominam sobre a visão médica. O exame está fortemente associado com ver o bebê,

tirar fotos, e com o vínculo parental com o filho. As mulheres não estão conscientes do

potencial diagnóstico da ultrassonografia, mas, quando se referem ao exame, ele é visto

mais como uma fonte de reafirmação da normalidade do que uma fonte potencial de má

notícia, como ocorre com a amniocentese18

.

Ao se examinar o feto e suas condições também se avalia a parentalidade. A

capacidade criativa e geradora dos pais, nestas situações, é avaliada de forma indireta.

Se os filhos são doentes ou imperfeitos, isto constitui um ataque à integridade psíquica

do indivíduo ou do casal. O tradicional temor da gestante frente a uma malformação do

bebê explicava que no passado, a primeira pergunta, após o nascimento, fosse sobre a

normalidade; hoje, a pergunta é antecipada: por ocasião da primeira ultrassonografia. As

épocas são distintas, mas o medo é o mesmo19

.

A medicina fetal e o diagnóstico pré-natal fizeram com que o auge das angústias

maternas fosse deslocado no tempo. Anteriormente, as revelações se davam no

momento do parto e, atualmente, durante a gravidez, podendo os exames gerar

tranqüilidade ou inquietação20

.

1.2 IMPACTO DO DIAGNÓSTICO DE MALFORMAÇÕES FETAIS

Anunciar uma patologia fetal mesmo que benigna, representa pôr fim a um

sonho20

.

Quando é anunciada uma malformação fetal, o bebê, que foi imaginado pelo

casal com determinadas características, nome, sexo e que foi progressivamente

construído e repensado, transforma-se em um bebê em perigo e perigoso. Em perigo,

porque é um ser frágil tentando se desenvolver. Perigoso, porque é um bebê que realiza

8

uma afronta ao narcisismo e à maturação sexual dos pais, também porque costuma

surgir a idéia de que coloca a vida da mãe em perigo20

.

Nas situações em que é realizado o diagnóstico pré-natal, é importante avaliar a

possibilidade de acompanhamento psicológico da gestante, visando apoio e

encaminhamento dos conflitos emocionais. A constatação de uma malformação pode

acarretar efeitos psicológicos na mulher21-23

. Pode funcionar como um trauma psíquico

que precisa de palavras para ser anunciado6. A sensação de ter um feto malformado é

angustiante e desestruturante20

. Além desta observação, as pesquisas também referem

que o casal, em caso de diagnóstico fetal, necessita de um atendimento

multidisciplinar24-28

.

Sobre as repercussões do diagnóstico durante a vida pré-natal nas gestantes, cita-

se um estudo do Hospital Universitário de Viena que avaliou escores de ansiedade e de

humor, imediatamente após o procedimento diagnóstico. Os autores mostraram que tais

os níveis experimentados puderam ser comparados com os de pacientes com episódio

depressivo maior. Além disso, todas as mulheres da amostra apresentaram estresse

expressivo, não só aquelas com diagnóstico de malformação fetal, desordens genéticas

ou morte intrauterina, mas também aquelas cujos bebês apresentaram apenas sinais

sonográficos. Através desse estudo, foi constatado que alto nível de ansiedade traço,

implementação de estratégias de coping (modos de enfrentamento) negativas e aborto

são variáveis preditivas de um resultado negativo no follow up, enquanto as variáveis

sociodemográficas não foram preditivas para resultado psicológico29

.

Outro estudo sobre a experiência de mulheres com achados inesperados à

ultrassonografia enfatizou o impacto que a gestante sofre frente ao diagnóstico,

referindo que o estresse e a ansiedade frente ao bebê malformado são uma conseqüência

natural. O trabalho destaca a importância do profissional estabelecer contato com a

9

gestante, permitindo que ela saiba do problema detectado, sua descrição e algum

prognóstico18

. A simples suspeita de uma malformação no feto ocasiona uma tensão

psicológica para a mulher grávida, e a ansiedade costuma acompanhar o período de

diagnóstico30-32

.

Nestas situações, o diagnóstico pode precipitar um longo período de estresse,

ansiedade e desespero33

. Um diagnóstico de malformação fetal desperta uma vivência

psicológica de desilusão e descrença que leva os pais a fazer o luto pelo filho ideal12, 28,

33. O filho com problemas, que difere do idealizado, não preenche mais o papel que lhe

era reservado no cenário familiar19

. Nessas situações, os pais precisam e são obrigados a

fazer uma grande e necessária adaptação. A fantasia que desenvolvem a partir da

notícia de que existe algo errado com o bebê pode se tornar mais perturbadora do que a

visão do filho malformado34

. Frequentemente, causa um processo desruptivo na mulher

grávida, que habitualmente está mais vulnerável devido às mudanças internas que

acompanham o ciclo gestacional, parto e puerpério. A vulnerabilidade emocional

estabelecida pode facilmente se transformar numa crise psíquica, se a realidade

confirma medos e fantasias primitivas relacionadas a si e ao bebê35

.

A investigação empírica do impacto da anomalia congênita descreve reações

parentais iniciais semelhantes à resposta de luto (choque, tristeza, ansiedade, culpa e

raiva), num processo gradual de adaptação, geralmente conducente à restituição do

equilíbrio emocional36

.

Também é ponderado que, em geral, as notícias de malformações são dadas à

gestante no segundo trimestre da gestação, época em que as estruturas do bebê são

melhor visualizadas ao exame ecográfico. O choque frente ao diagnóstico provoca uma

interrupção do processo psíquico normal da gestação. Ocorre uma regressão da mulher

10

ao primeiro trimestre da gestação, etapa na qual a discriminação mãe-bebê está pouco

evidente, e o feto volta a ser percebido como uma parte sua34

.

Quando se avalia o estresse da gestante em rastreamento pré-natal, dois aspectos

devem ser diferenciados: 1) estresse devido ao exame, tal como, medo de um exame

doloroso ou medo de que o exame prejudique o feto; e 2) estresse derivado do medo de

um resultado anormal, ou seja, que o exame indique alguma patologia no feto30, 32

.

Sobre o impacto da mãe com a visão de seu bebê ainda na vida intrauterina,

estudos mostram que ter acesso à visão do corpo, da forma e do comportamento de seu

filho, escutar os batimentos cardíacos, ver seu corpo se movimentar e observar as

feições do rosto faz com que conceba o filho como real, tudo isso podendo auxiliar no

estabelecimento do vínculo pré-natal1,3

. Com os dados concretos, os pais podem

confrontar o bebê imaginário como o bebê real37

. A ultrassonografia exerce impacto

emocional importante nas gestantes, influenciando a relação mãe-bebê, tanto nas

situações de diagnóstico de normalidade como de anormalidade fetal12

.

Destaca-se uma pesquisa que objetivou avaliar o impacto da ultrassonografia no

primeiro trimestre da gestação, através de escalas que mediram a ansiedade e a

vinculação pré-natal em gestantes e pais dos bebês antes e depois do exame. O trabalho

apontou que a vinculação pré-natal aumenta significativamente, enquanto a

sintomatologia compatível com ansiedade diminui depois da realização da ecografia. Os

autores chamamatenção para o papel tranqüilizador e potencializador da ligação dos

pais ao bebê que está por nascer e que os impactos podem ser diferentes entre os pais38

.

A literatura aponta que ainda é dada pouca atenção aos aspectos psicológicos do

diagnóstico na vida fetal. Embora o diagnóstico pré-natal de uma anomalia fetal

importante possa facilitar o manejo e a preparação psicológica, também pode precipitar

um longo período de estresse, ansiedade ou desespero14

.

11

A suspeita ou o conhecimento sobre a malformação do feto podem acionar um

complexo processo de defesas, coping, e uma intensa carga psicossocial para a gestante.

Além do medo de detectar a malformação, também está presente o medo de ele não ser

detectada. Em contraste, quando o rastreamento é negativo para a malformação, a

ansiedade é reduzida e é produzido um alívio18, 30

.

É necessário que a gestante tenha um tempo para se preparar para receber o

bebê. Atualmente é enfatizada a necessidade do estabelecimento de diretrizes para a

oferta de suporte psicológico21

. Quando o bebê nasce com alguma malformação, ocorre

uma tempestade psíquica, onde muitos sentimentos se manifestam e se abatem sobre o

casal 39

.

O risco de o bebê não poder se tornar aquele que vai realizar os sonhos de seus

pais pode despertar neles a busca cada vez maior de técnicas e de tratamentos para

terem de volta seu bebê perfeito40

.

As reações parentais frente à notícia de uma anormalidade fetal ocorrem em

diferentes fases:

1 - Choque: É marcado por uma perturbação abrupta do equilíbrio psíquico,

levando a comportamentos de fuga, crises de choro e descontrole emocional. Os pais

tendem a sentir que estão desamparados, experimentam uma sensação de que tudo está

perdido e se perguntam: “Por que comigo? O que foi que eu fiz?”. Essas questões

ocupam parte do discurso inicial frente ao diagnóstico e costumam retornar em alguns

outros momentos do desenvolvimento da gravidez e mesmo após o nascimento.

2 – Negação: É comum um período de descrença nos fatos e de necessidade de

confirmação do diagnóstico. O casal, nessa fase, costuma procurar outros médicos e

realizar novos exames, chegando, por vezes, a esconder a informação já sabida como

uma tentativa de obter resultados diferentes. Esse estado de negação vai,

12

paulatinamente, dando lugar a tristeza, pesar e raiva, o que constitui um momento

bastante difícil para o casal que se encontra com sua capacidade racional tomada por

sentimentos muito intensos. O casal começa a desejar compreender o que de fato

ocorreu e as suas causas, além de pensar em como será após o nascimento e como eles

podem se preparar para esperar o bebê, dando início a um período de equilíbrio e

organização.

3 – Tristeza e cólera: Como o bebê passa a ser visto como um ser

individualizado, surge a fase de liberação das reações impulsivas, que consiste em

dirigir os sentimentos de tristeza, raiva e decepção para um bebê que já assume uma

identidade. Nesta fase pode surgir a rejeição.

4 – Equilíbrio e organização: O casal começa a tentar compreender o que

ocorre e suas causas, a pensar como será após o nascimento e se prepara para receber o

filho41

.

Um estudo brasileiro qualitativo, através da análise de entrevistas estruturadas,

investigou as representações maternas acerca do nascimento de bebês com doenças

orgânicas graves e identificou que: 1) o foco da fala das mães passou a ser o diagnóstico

e não o bebê; 2) a perda do bebê imaginado mobilizou intensos afetos e idéias

depressivas; e 3) houve decréscimo da autoestima materna, sentimento de incapacidade

e procura da causa da doença6.

Outra pesquisa, realizada no Hospital Universitário de Sydney, investigou a

existência de associação entre o estado de humor pré-gestação (depressão e ansiedade) e

adaptação psicológica à gravidez. Os resultados mostraram que os níveis mais elevados

de ansiedade pré-natal estavam relacionados ao apego materno-fetal menos seguro. Este

influenciava a qualidade da ligação materno-fetal em atitudes negativas para a

maternidade e na autodeterminação como mãe. Tendências idênticas foram encontradas

13

para os sintomas da depressão; no entanto, a depressão não foi significativamente

relacionada com variáveis psicológicas na adaptação à gravidez. O significado da

ansiedade neste estudo destaca a importância de se considerar este sintoma no

ajustamento psicológico à gravidez42

.

Com o objetivo de avaliar o apego materno-fetal, os modos de enfrentamento e

os indicadores clínicos, a ansiedade e a depressão na fase pré-natal de gestantes que

receberam a notícia de malformação do feto, foram avaliadas 22 gestantes no prazo de

15 a 40 dias após terem recebido a notícia de malformação do feto. O grupo foi

separado por prognóstico do feto: letais, cirúrgicos e os que necessitavam nascer para

serem avaliados. Apenas no grupo de diagnósticos letais o apego materno-fetal não

alcançou nível máximo na sua totalidade. Quanto às estratégias de enfrentamento,

52,4% das gestantes que tinham apego máximo estavam no grupo que mais utilizou

estratégias focalizadas em práticas religiosas e 28,5% em atitudes focalizadas no

problema. No geral do grupo, as estratégias de enfrentamento mais utilizadas forma

focalizadas nas práticas religiosas e apoio social. As autoras do trabalho ponderam que

o recurso da religião possa ser fator de risco quando impede a visão da realidade com

clareza43

.

Outro estudo que avaliou o desenvolvimento do apego em mães de fetos com

diagnóstico de malformação durante a vida fetal, estudou 37 gestantes através de suas

respostas em entrevistas semiestruturadas. Estas ocorreram de uma a duas semanas após

o diagnóstico, e as gestantes foram acompanhadas até a primeira semana após o

nascimento. O início do vínculo relacionou-se com as mudanças corporais próprias da

gestação e com os movimentos fetais. Após o diagnóstico, 39% das gestantes

interromperam o vínculo, porém 57% destas refizeram o vínculo até o nascimento ou

logo após44

.

14

Na Alemanha, um estudo investigou o humor emocional das mulheres grávidas e

seus parceiros e o estresse emocional antes e depois de diferentes procedimentos pré-

natais.45

O trabalho foi realizado com 140 mulheres grávidas e com 108 de seus

parceiros que completaram um questionário antes e imediatamente depois dos testes.

Dependendo do procedimento pré-natal aplicado, os sujeitos foram divididos em grupo

invasivo (amniocentese e amostragem do cordão umbilical) e não-invasivo

(ultrassonografia) de acordo com o exame realizado. Utilizaram a versão alemã da

escala de Depressão Hautzinger do Centro de Epidemiologia e o questionário da

situação real percebida de estresse de Muller. O nível médio de depressão das mulheres

grávidas foi mais alto no grupo que se submeteu a exames não-invasivos, embora a

diferença entre os grupos não tenha sido significativa. Entretanto, para os parceiros o

nível médio de depressão foi significativamente diferente entre os dois grupos. Além

disso, as mulheres que sofreram procedimentos para diagnóstico através de métodos

invasivos encontravam-se significantemente mais deprimidas do que seus parceiros. A

análise dos escores do estresse real mostrou redução significativa do pré para o pós-

screening nas mulheres grávidas e seus parceiros, em ambos os grupos. Os autores

concluem que o fato de o exame ser invasivo não determina o nível de estresse

mobilizado, entendendo que os determinantes são relacionados às características

pessoais. A apresentação visual do feto e a confirmação de um resultado normal

reduzem o estresse previamente induzido pelo próprio teste pré-natal. Os autores

sugerem que esta contradição deveria ser discutida com os pais45

.

Outra pesquisa realizada pelo mesmo grupo utilizou uma amostra de 324

gestantes, entre 11 e 29 semanas da gestação, que aguardavam rastreamento para

malformações fetais, através do estudo de escalas que avaliou expectativas e

pensamentos relativos ao feto; usando adjetivos, mediram também o grau de ansiedade

15

e depressão. O resultado mostrou que existe uma ligação entre o bem-estar da gestante e

seu efeito sobre as características emocionais do feto46

.

Mais uma publicação do grupo sobre aspectos psicológicos da gestação e

diagnóstico pré-natal apontou a necessidade de uma cuidadosa preparação dos pais em

relação aos procedimentos de diagnóstico na vida fetal, especialmente aqueles

referentes a expectativas, ansiedades e incertezas 47

.

No passado, a atenção dos estudos era voltada para a depressão pós-parto.

Atualmente, há uma preocupação maior em relação à saúde mental materna,

principalmente quanto à depressão durante o período pré-natal. Um estudo foi realizado

na Universidade de Nagoya, no Japão, com o objetivo de avaliar a relação materno-fetal

e a depressão das gestantes no primeiro e no segundo trimestres, sendo a primeira

pesquisa a abordar a questão nestas fases iniciais. Os instrumentos utilizados foram o

Antenatal Maternal Attachment Scale (AMAS) e a Zung’s Self-Rating Depression Scale

(ZSDS). Contrariamente ao esperado pelos autores, a depressão não foi relacionada à

diminuição do apego da gestante com o feto a partir dos movimentos fetais. No entanto,

a educação, o tipo de vínculo empregatício, o planejamento ou não da gravidez e o

estado de humor antes da gestação estavam associados à depressão. O tipo de vínculo

empregatício, o planejamento da gravidez e as fontes de apoio, especialmente do

marido, foram fatores relacionados diretamente ao apego materno-fetal48

.

O filho malformado pode despertar nos pais o receio de se apegarem ou de

estabelecerem vínculo afetivo com a criança que tem poucas chances de sobreviver. Os

medos fazem com que se inverta a idéia natural de que o recém-nascido deve

representar vida e não morte, temor que surge quando existem riscos. Os pais lamentam

os defeitos do filho e podem culpar-se por isto de forma consciente ou inconsciente49

.

16

Um estudo canadense visou verificar as preferências das mulheres a respeito do

comportamento do profissional no fornecimento da informação sobre achados

ultrassonográficos anormais. As mulheres responderam questões com respeito à

qualidade da informação, à prontidão do fornecimento da informação, à atitude de quem

fornece a informação e ao ambiente no qual a informação foi fornecida. A pesquisa

demonstrou que as mulheres valorizam mais a qualidade da informação do que a sua

prontidão. A velocidade era ainda menos importante do que a empatia do fornecedor da

informação. As respostas quanto aos termos feto e bebê revelaram maior variação do

que os outros itens. A privacidade do local foi a mais importante das variáveis sobre o

ambiente, superior a algumas variáveis relativas à qualidade da informação. Variáveis

intervenientes incluíram variáveis demográficas e seriedade do prognóstico. A educação

foi um dos preditores mais úteis das preferências, sendo que as mulheres com nível

educacional mais alto valorizaram menos o ambiente e algumas variáveis da qualidade

da informação e tiveram preferências diferentes, quanto aos termos feto e bebê50

.

1.3 CARDIOPATIA FETAL - ASPECTOS MÉDICOS

As cardiopatias congênitas contribuem significativamente para as taxas de

mortalidade infantil, sendo consideradas uma das três principais causas de mortalidade

nas fases neonatal e perinatal51

.

Os avanços no âmbito da ultrassonografia, propiciaram o desenvolvimento da

ecocardiografia e da ecocardiografia fetal, possibilitando assim o diagnóstico pré-natal

da cardiopatia congênita, que permite o acompanhamento e o tratamento do cardiopata

desde a vida fetal52

. Ao método unidimensional simples somou-se o ecocardiograma

bidimensional, proporcionando uma visão direta e em tempo real das estruturas

cardíacas. A possibilidade de análise de fluxos pelo sistema Doppler permitiu o acesso a

17

dados fisiológicos e hemodinâmicos, acrescidos do mapeamento de fluxos a cores, que

capacitam agilizar o tempo de realização dos exames, através da imediata visualização

das alterações das características do fluxo sanguíneo intra e extracardíaco. Esta

evolução da técnica possibilita hoje diagnósticos cada vez mais precoces. A busca do

conhecimento de inúmeras particularidades anatômicas, funcionais e evolutivas do feto

tornou-se uma preocupação no campo da ciência e deu impulso à cardiologia fetal 53

.

Como mais de 90% das malformações cardíacas ocorrem em fetos sem qualquer

fator de risco, atualmente é preconizado que toda gestante submeta-se a uma

ecocardiografia fetal após a vigésima semana de gestação. Quando detectado um

problema cardíaco, é importante o acompanhamento realizado por um especialista. Em

algumas situações o tratamento é realizado durante a gestação, e em vários casos, o

parto é assistido pelo cardiologista para imediato tratamento após o nascimento52

.

As malformações cardiovasculares são o principal grupo de causas por

malformações congênitas,sendo responsáveis por um terço até a metade das mortes

neste grupo específico. Em 2006, foram publicados resultados de rastreamento e

diagnóstico ecocardiográfico das arritmias e cardiopatias congênitas fetais, mostrando

que o ecocardiograma fetal apresentou alto índice de sensibilidade e especificidade no

diagnóstico das arritmias e cardiopatias congênitas, possibilitando o tratamento precoce

de alterações graves54

.

Um estudo de coorte prospectivo realizado com 86 recém-nascidos com

diagnóstico de cardiopatia congênita grave concluiu que o diagnóstico precoce permitiu

que todos os recém-nascidos afetados tivessem uma assistência intervencionista

apropriada. Aqueles que não tiveram diagnóstico precoce e que sobreviveram foram

operados em idades mais tardias, tendo tempo e custo de hospitalização

significativamente maiores do que os diagnosticados precocemente51

.

18

1.4 CARDIOPATIA FETAL - ASPECTOS PSICOLÓGICOS

O órgão coração é mistificado por nossa sociedade. O simbolismo do amor é a

ele atribuído e também a palavra coração é utilizada de forma leiga para definir a

identidade ou as características de uma pessoa. Utiliza-se a expressão bom coração para

significar que uma pessoa tem boa índole ou bons valores. Estas ideias em torno do

coração estão presentes no momento em que nos deparamos com uma anomalia no

órgão. 55

Uma cardiopatia congênita é enfrentada basicamente com uma ansiedade de

morte incrementada, já que o coração representa o motor da vida 56

.

Uma pesquisa americana que estudou o impacto psicológico materno da

ecocardiografia fetal identificou que, na situação de normalidade, a ansiedade diminui,

aumentando a felicidade e a proximidade da mãe com o feto. Em contraste, quando o

exame detecta doença cardíaca, a ansiedade materna aumenta e as mães ficam menos

felizes com sua gestação. O impacto psicológico pode ser muito ruim diante do

diagnóstico de cardiopatia. As mulheres que deram à luz crianças com doença cardíaca

e que tinham o diagnóstico pré-natal referiam sentir menos responsabilidade pelos

defeitos das crianças e tenderam a melhorar o relacionamento com os companheiros14

.

Em situações de diagnóstico de anormalidade fetal, os sentimentos materno-

fetais parecem ficar, por defesa, resguardados até a certeza da sobrevida do bebê. O

diagnóstico de uma malformação desencadeia, nos pais, ansiedade e um processo

emocional semelhante ao do luto por morte14

. Frente ao diagnóstico da malformação

cardíaca, surge um abalo emocional na gestante que merece ser observado e

considerado. A ameaça de ter um filho malformado pode interferir na relação

estabelecida com o bebê, e o vínculo pode ser intensificado, ou, ao contrário, levar à

rejeição.57

Os complexos processos de luto que surgem frente ao filho idealizado

dificultam que a mãe invista no desejo da gestação e na experiência com seu bebê 58

. A

19

sobrecarga emocional não ocorre somente na gestante, mas também na família 21, 57

. A

descoberta da cardiopatia do filho fere, narcisicamente, a mãe58

.

Na Austrália, uma pesquisa mostrou que o diagnóstico pré-natal de uma

anomalia séria no feto precipita uma crise nos pais e que uma efetiva orientação pode

ajudar nesta fase difícil. Chamam atenção para o fato de que, se o casal resolveu investir

no feto e levar a gestação adiante, em conseqüência está melhor preparado para cuidar

do recém-nascido, pois já experienciaram o processo de pesar. O diagnóstico da

cardiopatia complexa no feto, realizado previamente em clínica de ultrassonografia

obstétrico, era, na sequência, confirmado por um outro exame, na presença de um

cardiologista pediátrico, que iniciava a explicação da anomalia. Observações de

brincadeiras feitas pelos pais, principalmente sobre a mãe lidando como recém-nascido,

parecem apoiar a percepção dos pais de que foram auxiliados pelo conhecimento prévio

do diagnóstico.Com o aumento dos diagnósticos pré-natais de anomalias importantes, é

significativo que os pais afetados tenham a oportunidade de entender a natureza da

anormalidade, seu significado, os efeitos no funcionamento da criança e sua

sobrevivência, além da possível necessidade de intervenção. Tais informações e o

trabalho durante o processo de luto durante o final da gestação podem ajudar a lidar

com o bebê depois de nascido, além de melhorar o vínculo59

.

Para muitas famílias, as dificuldades emocionais e sociais associadas com o

diagnóstico e o tratamento das cardiopatias congênitas podem persistir por muitos anos

após o diagnóstico inicial, podendo levar a dificuldades conjugais, no vínculo mãe-bebê

e no desenvolvimento emocional da criança60

.

Um estudo brasileiro objetivou compreender a vivência da mãe que possui um

filho portador de cardiopatia congênita, utilizando a abordagem fenomelógica. Foram

realizadas dez entrevistas abertas, estabelecendo como questão norteadora a pergunta: O

20

que é para você ter um filho com doença cardíaca?Através da análise das respostas a

pesquisa construiu três categorias: 1) descobrindo a doença: estar diante do

desconhecido; 2) convivendo com a cardiopatia: ser com o filho na doença e 3)

acreditando em uma força maior: a sustentação necessária. A discussão do trabalho

chama atenção para o fato de que, ao se deparar com a doença do filho, que não é como

ela imaginava e que pode morrer a qualquer instante, a mãe pode ter despertados

sentimentos de culpa. A partir desta etapa, percebe que é preciso conviver com o filho

imperfeito. A possibilidade de morte aterroriza, a superproteção costuma se

desenvolver, a fé é o que dá sustentação e coragem. Diante do estudo do enfrentamento

destas mães, é reforçado o importante papel da assistência à família e à criança

cardiopata27

.

Nos casos de cardiopatia congênita, habitualmente a relação que se estabelece

entre a mãe e o filho é caracterizada como relação simbiótica, com um aparente

benefício recíproco, na qual a mãe funciona como o coração sadio do filho, o que leva a

um aparente empobrecimento psicofísico do filho e a um estado de insatisfação e culpa

por parte dos pais61

. Estudiosos do assunto constataram que as mães eram mais

indulgentes e superprotetoras com os filhos cardiopatas e explicam que a superproteção

é decorrente do fato de elas se responsabilizarem pela malformação, sentindo-se

culpadas e vitimadas pela fatalidade. Além deste motivo, o estudo também enfatiza que

isso seria um reflexo da constatação dos pais de que seus filhos teriam dificuldades reais

para resolver problemas e precisariam de maiores atenções 62

.

Um trabalho que avaliou a compreensão da doença cardíaca pelos pais comparou

dois grupos. O primeiro teve diagnóstico pré-natal, e o outro, pós-natal. Foi

demonstrado que o diagnóstico pré-natal e a educação materna tiveram efeitos

independentes nos escores alcançados na avaliação, concluindo que o diagnóstico pré-

21

natal aumenta a compreensão parental da doença cardíaca congênita pré-natal,

permanecendo, contudo, a compreensão parental aquém do desejável63

.

Pesquisa realizada na Suécia comparou os sentimentos de angústia e de

desesperança entre pais de crianças com doenças cardíacas, com outras doenças e

saudáveis. Foram estudados 1092 pais de crianças com doença congênita cardíaca, 112

com outras doenças e 293 saudáveis. Frente à cardiopatia, os pais apresentavam maior

risco de angústia e desesperança. Pais de crianças com outras doenças relataram níveis

de angústia e desesperança iguais ao do grupo de pais de crianças saudáveis e maior do

que o de pessoas deprimidas. As mães dos três grupos tiveram níveis mais altos de

angústia e desesperança que os pais, sendo que os níveis maiores foram das mães de

crianças com doença congênita cardíaca se comparados aos das mães de outros grupos.

Os pais das crianças com doenças congênitas cardíacas apresentaram piores resultados

do que os pais dos outros grupos, mas os grupos dos pais de crianças com outras

doenças e de crianças saudáveis não apresentaram diferença entre grupos60

.

1.5 APEGO

Bowlby64

, conhecido por desenvolver psicanálise científica, na década de1940 já

escrevia sobre a relação prolongada da figura materna e o deslocamento de um caráter

especial. Na década de1950 realizou relatório para Organização Mundial da Saúde sobre

a saúde mental de crianças sem lar. Naquela época era aceito como verdade que a

criança desenvolve um forte laço com a mãe porque ela o alimenta. Dois tipos de

impulsos são postulados: o primário, alimento, e o secundário, relação pessoal a referida

dependência. O autor elaborou um método científico que estudou apego, perda e

separação.

22

Os estudos de Bowlby tiveram como marco uma pesquisa sobe as origens do

desenvolvimento psicopatológico na infância e, na idade adulta em uma pesquisa que

realizou na clínica Tavistock, na Inglaterra65

.

Em seus estudos, considerou que a maneira como a criança pequena se comporta

com relação à mãe, tanto na sua presença como na sua ausência, pode contribuir

imensamente para a compreensão do desenvolvimento da personalidade66

. As

experiências de aproximação e distanciamento dos pais, vividas pela criança, são as

mais significativas, ou até as responsáveis pela formação das estruturas infantis65

.

Ainswoth em 197167

, definiu o modelo típico de interação entre a criança e seus

pais, que pode fundamentar a exploração de uma base segura. Esta se traduz em uma

vivência familiar feliz, segura, com figuras de apego acessíveis, disponíveis e

receptivas, caracterizando uma homeostase satisfatória ambiental.

Cuidar de uma criança não é tarefa para uma só pessoa. A mãe precisa de

suporte de outra pessoa, que geralmente é seu parceiro. Nos primeiros meses de vida a

criança deve estar mais ou menos próxima da mãe. A função biológica desse

comportamento é postulada como de proteção, em especial contra predadores68

.

Concordando com esta ideia, Winnicott (1945) observou que um bebê não pode

existir sozinho, psicológica ou fisicamente, ou seja, necessita de uma pessoa que cuide

dele desde o início69

. Para que nos estágios primitivos o cuidado materno possa suprir

as necessidades, é importante que se desenvolva a preocupação materna primária, que se

inicia no final da gravidez e nas primeiras semanas após o nascimento da criança. Deve

surgir na mãe uma devoção ao cuidado do recém- nascido, que determina que, ao se

identificar com o filho, lhe seja possibilitado compreender exatamente quais são suas

necessidades70

.

23

John Bowlby, em 198966

, propôs que o vínculo com a mãe é o resultado da

atividade de um número de sistemas comportamentais que têm a proximidade com a

mãe como resultado previsível. Ao explicar as primeiras respostas, evidencia que o

equipamento perceptual está bem planejado para captar e processar estímulos

provenientes de pessoas, e tende a responder a tais estímulos de certos modos típicos.

Também refere que não é só o bebê que reage de forma típica, mas também a mãe.

Esse mesmo autor define apego como uma disposição persistente de busca de

contato com uma pessoa significativa, fundamental para um desenvolvimento saudável,

e transcorrendo ao longo da vida do indivíduo. Os traços do comportamento de apego

vão se formando, na medida em que vai se definindo a intensidade da emoção que

surge, dependendo do tipo da emoção vivenciada, de acordo com a qualidade da relação

entre a pessoa apegada e a figura de apego. Quando se desenvolve bem, gera satisfação

e senso de segurança, quando com ameaça, gera ciúmes, ansiedade e raiva. Nas ocasiões

em que ocorre ruptura, desperta dor e depressão. Fortes evidências mostram que a forma

como o comportamento de apego se organiza está ligada ao alto grau da experiência que

a pessoa teve com a família de origem68

.

Os comportamentos de cuidado e de apego se desenvolvem no curso normal dos

acontecimentos. Um dos pais do bebê vivencia uma tendência a ter comportamentos

como: embalar e acalmar quando chora e mantê-la aquecida, protegida e alimentada. O

processo reflete uma continuidade que inicia na infância dos futuros pais, dependendo

da forma como estes se relacionaram com suas mães68

.

O comportamento de vinculação definido por Bowlby é um conjunto integrado

de sistemas comportamentais, que visam à obtenção da segurança pessoal e que têm

suas origens na interação do bebê com o ambiente. A relação entre o bebê a mãe ou

cuidador, quando adequada será sentida como equilibrada e tranquila ou desagradável e

24

dolorosa. Desta última maneira, provocará o afastamento. A repercussão dessas

vinculações afetivas iniciais no desenvolvimento futuro, na formação da personalidade

normal e também sua contribuição para os transtornos psicopatológicos é observada na

idade adulta65

.

A proximidade com as figuras de apego para obtenção de segurança e apoio

psicológico é objetivada com os comportamentos de vinculação, que resultarão em

características básicas para a sobrevivência. Para que a criança possa ativar ou desativar

este sistema, ela deve desenvolvê-lo desde as primeiras experiências com as figuras

centrais de sua vida. Estas experiências são consideradas histórico-relacionais e

favorecerão os chamados modelos internos de trabalho, que terão a função de orientar a

criança em seus próximos laços afetivos65

.

A teoria do apego considera a importância de cinco respostas que conduzem ao

comportamento de apego: chorar, sorrir, seguir a mãe e agarrar-se a ela, retê-la junto a si

e a sugar o seio. Como outra resposta, que ocorre depois dos quatro meses, o bebê

chama sua mãe e, mais tarde, grita seu nome 66

.

Em 1975, foi realizada uma pesquisa, na Guatemala e nos Estados Unidos, com

22 bebês recém-nascidos, a termo e prematuros, em casa e no hospital, que formam

filmados por 10 minutos. As imagens mostraram uma mãe que, imediatamente após o

nascimento do filho, levanta-o e começa a acariciar seu rosto com a ponta de seus

dedos. Quando esta ação ocorre, o bebê se acalma. Foram observada outras

manifestações de carinho a seguir e que, após cinco ou seis minutos a mãe tende a

colocar o bebê no peito e que ele responde com movimentos de lambidas no bico do

seio. A mãe mostrar-se deslumbrada. Desde que o bebê nasce, toda a atenção tende a

voltar-se para ele71, 72

.

25

Bowlby cita que outros estudos demonstram que a mãe sensível, comum, entra

rapidamente em sintonia com seu bebê e que não somente o torna feliz como também

obtém sua cooperação68

.

Main e Weston (1981) 73

ampliaram o conhecimento sobre apego ao observarem

60 crianças, inicialmente com um dos pais e, após seis meses, com o outro. Quando as

crianças eram observadas como um grupo, os modelos de apego em relação aos pais se

assemelhavam muito aos relacionados aos das mães, porém quando observadas

individualmente, não foi encontrada nenhuma correlação entre o modelo que

apresentava com um dos pais e com outro. O estudo concluiu que uma criança pode ter

um apego seguro com a mãe e não ter o mesmo com o pai. Bowlby 68

enfatiza ainda que

já é provado que a criança não traumatizada no nascimento desenvolve em relação à

mãe o tratamento que recebe dela.

Uma base segura é importante para o bom desenvolvimento infantil, sendo a

partir desta condição que a criança pode arriscar-se a desenvolver suas potencialidades,

com distância dos pais, que poderão acolhê-la se houver necessidade 68

.

O comportamento de apego é definido como a forma de uma pessoa alcançar e

manter proximidade com algum outro indivíduo claramente identificado, considerado

mais apto para lidar com o mundo, e que também possui uma função biológica que tem

por objetivo diminuir o risco do indivíduo de entrar em perigo. O conhecimento de uma

figura de apego está disponível e oferece respostas, fornece um sentimento de segurança

forte e de grande extensão, o que encoraja a pessoa a valorizar e continuar a relação.

Refere-se também a qualquer das várias formas de comportamento, nas quais a pessoa

se engaja, de tempos em tempos, para obter ou manter uma proximidade desejada 68

.

São três as características para diferenciar o apego de outros vínculos

relacionais: busca de proximidade, efeito de base segura e protesto de separação74

.

26

A teoria do apego é uma tentativa de explicar o comportamento do apego, com

seus aparecimentos e desaparecimentos esporádicos, como também os apegos

duradouros que as crianças e outros indivíduos estabelecem em especial. O conceito é

concebido em analogia com um sistema fisiológico organizado homeostaticamente, para

assegurar que, como uma medida fisiológica, tal como temperatura do corpo ou pressão

sanguínea, seja mantida em limites apropriados 68

.

Ao falar dos processos defensivos, Bowlby68

enfatiza que sempre tiveram na

base da teoria psicanalítica. Observa a maneira como uma criança pequena se comporta

frente á sua mãe, depois de um período em hospital ou creche sem ter sido visitada. É

comum tratar a mãe como se ela fosse quase uma estranha, mas, depois de um tempo,

torna-se intensamente apegada, ansiosa, com medo de perdê-la novamente e com raiva.

O fato de os sentimentos desaparecerem foi denominado de desapego e entendido como

um processo defensivo que se opera na criança.

É comum, após algum tempo com pessoas estranhas, que a criança pequena

apresente comportamento de desapego, e o que se mostra peculiar é a ausência do

comportamento de apego. Quando seriamente ferida, esta criança não mostra nenhum

sinal de conforto. Os sinais que normalmente ativariam o comportamento de apego

falham68

.

Bowlby68

, ao tratar do desenvolvimento do indivíduo, enfatiza que é necessário

considerar o meio ambiente no qual cada indivíduo se desenvolve, assim como os

potencias genéticos com os quais ele é dotado. No princípio, o desenvolvimento

depende da interação entre o genoma, recentemente formado, e o meio ambiente

intrauterino. Ao nascimento, ele gira em volta da interação entre a constituição

biológica do recém-nascido, incluindo sua estrutura mental germinal e a família e mais

tarde o ambiente social.

27

A literatura, que tradicionalmente volta-se para os laços de dependência da

criança e sua mãe, passa a conceber como apego a busca de cuidados. Em termos gerais,

é considerado que aquele menos capacitado mantém proximidade ou comunicação com

outro mais capacitado. Esse comportamento é especialmente ativado pela dor, pela

fadiga, por qualquer coisa assustadora ou pela inacessibilidade que a figura de apego

estabelece ou parece estabelecer. Parece claro que um cuidado sensível e amoroso

resulta no desenvolvimento da confiança que a criança tem de que os outros a ajudarão,

quando houver necessidade68

.

O comportamento de apego é uma característica da natureza humana do início

ao final da vida, “do berço ao túmulo”. É menos intensa na adolescência e na idade

adulta do que nos primeiros anos de vida. É mais urgente naqueles momentos em que a

pessoa está aflita ou ansiosa68

.

Quanto ao desenvolvimento do apego no segundo trimestre do primeiro ano de

vida, os bebês são sensíveis e estão prontos para estabelecer um apego discriminado.

Após os seis meses de idade, eles ainda podem fazê-lo, mas, conforme vão crescendo,

as dificuldades para manter o apego vão aumentando e consequentemente no segundo

ano são maiores66

.

Sobre as influências que a mãe e o bebê podem ter um sobre o outro, Bowlby

66afirma que, assim como as características inicias de um bebê podem influenciar o

modo como a mãe cuida dele, também as características iniciais da mãe podem

influenciar a maneira como o bebê lhe responde. A participação da mãe é complexa e

depende da dotação inata, da história de relações interpessoais na família de origem e da

absorção de valores e práticas da cultura.

Existem inúmeras evidências da forte correlação entre o padrão de vínculo

observado em um bebê ou uma criança mais velha e o padrão de cuidados maternos que

28

elas receberam. As evidências são sugestivas de que o padrão de vínculo da criança com

a mãe é uma consequência do que ela recebeu de cuidados maternos65

.

Antes do nascimento, é possível prever a maneira como a mãe tratará seu bebê.

O trabalho de Moss, de 1967 66

, identificou que a reação de uma mãe ao choro do bebê

se correlacionava com sentimentos e ideias que ela expressava dois anos antes, prazeres

e frustrações que imaginava sentir a partir do nascimento do bebê. O estudo foi

realizado com 23 mães e bebês e verificou que as mães que aceitavam o papel de

nutriente e que exaltavam os aspectos gratificantes da maternidade eram mais

suscetíveis, após o nascimento do bebê, à sensibilidade ao choro e sentiam-se mais

consoladas do que aquelas que antes obtiveram uma baixa classificação nessas escalas.

A maneira idiossincrática pode ou não ser encorajada pelos avanços sociais do bebê,

uma pode ser mais solícita e paciente frente ao choro e outra mais impaciente. Nas

observações, fica claro que um dos pares respondia às iniciativas do outro, e as mães

variaram muito mais do que os bebês. Todos responderam nas ocasiões em que a mãe

iniciou a interação. A variância na incidência das respostas entre os bebês estavam perto

de zero, enquanto esta medida entre as mães era muito grande.

A teoria afirma que existem numerosas provas que mostram que, dependendo do

modo como a mãe se comporta, será determinado o comportamento de apego que o

bebê desenvolverá. 66

Bowlby chamou atenção para o estudo de Yarrow75

que

contribuiu para este tema demonstrando que a capacidade de um bebê para enfrentar a

frustração e a tensão estava correlacionada, de um modo elevado, com características do

comportamento materno. Considerou importante a contribuição, apesar de sua crítica ao

estudo, que não descreve os critérios que utilizou para medir capacidade. Os índices de

comportamento materno estavam positivamente correlacionados com a capacidade de

29

um bebê para enfrentar o estresse. Os dois índices mais elevados relacionaram-se com a

adaptação da mãe ao ritmo do bebê e ao seu desenvolvimento 68

.

Uma pesquisa que avaliou 136 gestantes, que foram atendidas em Unidades

Básicas de Saúde brasileiras, demonstrou que existe relação entre o padrão de

vinculação da gestante e o nível de apego materno-fetal, enfatizando que as gestantes

que apresentavam vinculação de tipo segura mantinham apego mais alto e sintomas de

ansiedade e depressão mínimos76

.

1.6 APEGO MATERNO-FETAL

Ao longo da gravidez, tanto a gestante como o pai do bebê vão gradativamente

adquirindo uma representação interna do feto. Esta imagem é uma mistura de fantasia e

realidade, e o processo psíquico que ocorre se caracteriza por ver o feto como recipiente

de projeções de cada um dos progenitores. Esta imagem interna colabora para o

desenvolvimento do vínculo emocional que se estabelece entre os pais e o feto. O

desejo de conhecer o feto e a satisfação de interagir com ele e ir ao encontro de suas

necessidades são indicadores de vínculo e da intensidade da relação da mãe com o

bebê77

. Conhecer o bebê antes do nascimento, estar com ele, pensar sobre ele, imaginar

suas características, traz implicações para a construção da representação do bebê e da

maternidade e para a atual relação mãe-bebê10

. A intensa interação entre a mãe e o feto

pode determinar conseqüências positivas ou negativas, e também é capaz de despertar

um alerta na gestante de que é preciso proteger seu filho78

. As imagens que a mãe faz

do bebê antes do parto são elementos importantes para a relação mãe-bebê que irá se

desenvolver10

.

A relação entre a mãe e a criança é reconhecida como sendo de importância para

o futuro desenvolvimento emocional e social da criança. O apego parental apresenta um

30

aumento gradual no curso da gestação, particularmente em resposta aos movimentos

fetais. A sensação provocada pelos movimentos do feto é ultrapassada quando são

apresentadas à mãe as imagens fetais ultrassonográficas em período precoce da

gestação. A percepção da vida real dentro do útero pode contribuir para sentimentos

mais fortes de apego para com o feto e melhora, também, as atitudes de cuidado com a

saúde durante a gravidez. A partir da exposição da gestante ao ultrassom ficam claras

três hipóteses sobre suas percepções:a primeira é a percepção clara do feto, a segunda,

o aumento no apego materno-fetal e a terceira o comportamento de saúde mais

positivo79

.

Os resultados de um estudo longitudinal, com uma amostra de 100 mulheres,

sugerem que o nível de envolvimento da mãe com o filho na etapa pré-natal pode ser

preditivo da qualidade do vínculo estabelecido depois do nascimento. As mães que

relataram maior afeição e que fantasiaram mais com o bebê durante a gravidez

evidenciaram maior envolvimento durante a interação com o bebê, e estimulavam mais

as capacidades do bebê, aos 12 meses pós-parto80

.

Uma pesquisa realizada na Austrália com o objetivo de verificar se existia

associação entre o estado de humor pré-natal (depressão e ansiedade) das gestantes e

ajuste psicológico à gestação, com participantes primíparas e com baixo risco

obstétrico, detectou que os níveis mais altos de ansiedade pré-natal foram relacionados à

qualidade de apego materno-fetal subótima, atitudes mais negativas com relação à

maternidade e o self como mãe. Para os sintomas depressivos foram encontradas

tendências similares, porém não foram significativamente relacionados ao ajuste

psicológico às variáveis da gravidez. O significado da ansiedade no estudo enfatiza a

importância de considerá-la no ajustamento psicológico da gravidez, assim como num

contexto de saúde mental perinatal mais geral42

.

31

O fenômeno do apego demonstrou ter implicações práticas para a saúde pública,

por oferecer uma dimensão quantificável e clinicamente utilizável, podendo colaborar

no auxílio psicológico da assistência pré-natal 81

.

As imagens internas que a mãe faz de seu filho antes do parto, e todos os

elementos que formam o bebê imaginário, são elementos presentes na futura relação

mãe-bebê37

. O feto é sensível o suficiente para captar as angústias maternas e necessita

desde então ser acolhido pelos pais 82

. Uma pesquisa revelou que o apego materno-fetal

pode ser positivamente correlacionado ao apego mãe-bebê77.

Essas primeiras relações

são responsáveis pela estruturação da personalidade83

; as vivências do período pré-natal

são fundamentais no desenvolvimento humano84

.

Cranley definiu apego materno-fetal como a intensidade com que as mulheres se

engajam em comportamentos que representam uma afilhação e uma interação com seu

filho na vida pré-natal. O apego inicia durante a gestação, como resultado da dinâmica e

de eventos psicológicos. A partir desta definição, desenvolveu uma ferramenta para

medir o apego materno durante a gestação. A escala tem 24 itens, com 5 subescalas

para medir a construção do apego materno-fetal durante a gestação. Foram testadas 71

gestantes no terceiro trimestre da gravidez 85

.

Para a construção das subescalas, foram consultados outros médicos e um grupo

de professores, e isto resultou em uma lista de afirmações feitas frequentemente pelas

futuras mães sobre si mesmas e sobre seus fetos. Estas afirmações forma submetidas à

apreciação de um grupo de cinco enfermeiras experts em maternidade e saúde da

criança. Um grupo de mulheres gestantes também revisou as afirmações, levando em

conta a compreensão e a propriedade. Desta forma, foram realizadas tentativas para

construir a validade do conteúdo, através do uso combinado da literatura, da experiência

clínica e do julgamento de um grupo de expert85

.

32

Os resultados da análise da escala de apego materno-fetal apoiam a crença de

que as mulheres demonstram apego a seus fetos durante a gestação85

.

Evidências na validação da escala indicam que o apoio social aumenta o apego

materno fetal, enquanto que o stress percebido inibe seu desenvolvimento. O estresse

percebido tende a aumentar quando o apoio social diminui (não tendo sido

estatisticamente significativo) Isto enfatiza a importância de avaliar o apoio social

disponível às gestantes e reforçá-lo quando necessário 85

.

As estimativas de confiabilidade e validade de escala de apego materno-fetal são

adequadas, embora outras pesquisas com esta escala em população maior e mais variada

sejam indicadas 85

.

Desde sua validação, a escala de apego materno-fetal vem sendo amplamente

utilizada nos Estados Unidos e em outros países de língua inglesa. Esta escala de apego

materno-fetal foi validada para uma amostra brasileira, por Feijó, em 1999,em pesquisa

realizada com 300 gestantes entre 6 e 9 meses de gestação e com idade média de

25±6,28 anos. As gestantes frequentavam o serviço de ambulatório de atendimento pré-

natal de dois hospitais do Rio de Janeiro. A maior parte da amostra era de multíparas

(53,3%) e o número máximo de filhos foi 8 (0,3%). O nível de escolaridade variou

desde analfabetismo (2,0%) até o superior completo (0,7%), sendo que 62,3% tinham

apenas o ensino fundamental incompleto. Com relação ao estado civil, 82% viviam com

companheiro. A consistência interna foi avaliada através do alfa de Cronbach, e as

subescalas não se mostraram precisas, mas a escala total teve um coeficiente de

consistência interna aceitável 81

.

Um estudo brasileiro aplicou a escala de apego materno-fetal, construída por

Cranley, em dois grupos de gestantes. Um deles teve diagnósticos variados de

malformações na vida fetal, independentemente da gravidade. Foram comparados os

33

índices de apego deste grupo com os dos que não tiveram diagnóstico.Os resultados

sugeriram que o diagnóstico de malformação realizado na vida fetal diminui o apego

materno-fetal86

.

Um estudo realizado na universidade de Wisconsin, com 252 gestantes entre 20

e 40 semanas de gestação recrutadas de 5 locais de cuidados pré-natais, analisou apego

materno-fetal, depressão, cuidados com a saúde e informações demográficas e da

gestação. Os pesquisadores estudaram os efeitos diretos e indiretos da depressão,

características pessoais (idade materna, risco da gestação, paridade, etnia, educação

renda e estado civil), apego materno-fetal e práticas de saúde, concluindo que educação

mais elevada, paridade menor e ter parceiro são preditores de práticas de saúde mais

positivas e que depressão é um importante preditor do apego materno-fetal. Tanto a

depressão quanto o apego materno-fetal são importantes preditores de prática de saúde

positiva, mas com direções opostas. A depressão teve uma relação negativa e o apego

materno-fetal, uma relação positiva com as práticas de saúde87

.

Um estudo fenomenológico a partir de entrevistas com 15 gestantes portadoras

de fetos com anormalidade congênita não letal conhecida demonstrou que a experiência

de tal gravidez foi paradoxal. Uma vez recebida a notícia da anormalidade do feto, as

mães sentiram que a experiência da gravidez tinha sido alterada. A informação teve

consequências positivas e negativas. O conhecimento da anormalidade fetal durante a

gravidez pelas mães não impediu o desenvolvimento do apego pré-natal. Isto corrobora

dados de estudos anteriores que não identificam diferença no nível de apego pré-natal

entre mães experenciando gestações de alto e de baixo risco. A análise das entrevistas

detectou três temas comuns, identificados como: 1) O tempo é bom, mas também é

inimigo. O tempo permitia o desenvolvimento do bebê, o desenvolvimento de planos

para a melhoria da saúde do bebê, a organização da acomodação da casa e do trabalho,

34

sendo possível o preparo para o parto, e ao mesmo tempo de forma paradoxal, havia

muita insegurança pela espera dos resultados. 2) Você sente pesar, mas também não

sente. A partir da tomada de conhecimento do diagnóstico surgiam os sentimentos de

perda do bebê perfeito e de pesar, por outro lado, aparecia o uso de estratégias de coping

positivas, que as auxiliavam no enfrentamento e algumas vezes as faziam se sentir

melhores 3) O bebê não é perfeito, mas ele é meu. O apego pré-natal era desenvolvido

apesar da anormalidade, reconhecendo que a anormalidade acompanharia a vida do

bebê e as dificuldades que surgiriam 88

.

35

2 HIPÓTESE CONCEITUAL

Um casal que recebe a notícia da gravidez passa a construir, nesse momento,

uma nova história. Suas expectativas, suas experiências anteriores, suas próprias

histórias farão parte da construção da personalidade do bebê que começou a ser gerado.

É importante o fato de que a mulher grávida passa por períodos característicos em

função das inseguranças geradas, das satisfações e modificações corporais que

ocorrerão ao longo desse período.

Por outro lado, a ultrassonografia possibilita a visualização do feto, o que

proporciona saber as condições em que o bebê se encontra. O fato de os pais poderem

visualizar e escutar o feto comprovam sua existência, proporcionando-lhes antecipar

etapas do desenvolvimento do apego com o filho, que sem este contato aconteceria a

partir dos movimentos fetais. As expectativas frente ao filho vão se construindo e vai

surgindo o filho imaginário, resultado do que é colocado entre o espaço do conhecido e

do novo. A tendência é imaginar filhos saudáveis, perfeitos, que supram todas as faltas e

falhas dos pais, que desejam, também muito mais facilidades para vida dos filhos do

que as que tiveram.

Durante a gestação, vai ocorrendo um período no qual a mãe sente o filho como

uma parte sua, sendo difícil detectar sua diferenciação, o que fica concretamente

marcado com o nascimento. Alguns autores definem esse momento como trauma do

nascimento.

Quando as gestantes são submetidas a rastreamento para malformações fetais,

detectam-se ansiedade e preocupação, ocorrendo um impacto emocional na gestante.

Nas situações em que o diagnóstico define a normalidade sobrevém, logicamente, um

grande alívio para a gestante, reafirmando sua segurança e tranqüilidade frente à

36

gravidez e ao seu bebê. Ao contrário, quando o diagnóstico é positivo e é detectada

alguma malformação, inicia-se um processo de preocupações e angústias. Sentimentos

de intranquilidade passam a existir independentemente da gravidade do diagnóstico. O

impacto pode ser tão forte que o anúncio de um diagnóstico de anormalidade fetal à

gestante é comparado ao fim de um sonho.

A superação dos sentimentos despertados pelo impacto de um diagnóstico na

vida pré-natal é visto como um processo que inclui a necessidade de passar um período

semelhante ao de um luto. Os estudiosos do assunto o definem como processo de luto

dos pais pelo filho ideal.

Em se tratando de malformações cardíacas, verifica-se a importância do

diagnóstico ainda na vida pré-natal. Como 90% das malformações cardíacas ocorrem

sem a presença de fatores de risco, é preconizado que toda gestante realize uma

ecocardiografia fetal a partir da vigésima semana de gestação. A vantagem é que se for

detectada alguma alteração, o feto passa a ser acompanhado e o tratamento, quando

necessário, planejado. Nos casos de maior gravidade, a gestante terá condições de

organizar um parto assistido por um cardiologista que se ocupará, imediatamente após o

nascimento, dos cuidados com o bebê. O avanço nesta área de diagnósticos vem

proporcionando maiores oportunidades de tratamento para essas crianças, possibilitando

maiores chances de sobrevivência e melhor qualidade de vida.

A partir dos estudos de Bowlby sobre o apego da mãe com o bebê, Cranley, com

seu grupo de trabalho, definiu o apego materno-fetal como a intensidade com que as

mulheres grávidas passam a ter comportamentos de cuidado e interação com a criança

que vai nascer. Um estudo citado por Bowlby refere que a maneira como a mãe irá

propor o apego já pode ser previsto anteriormente ao nascimento, através de suas

37

características pessoais. Quando é estabelecida uma relação intensa entre a mãe e o

bebê, pode se desenvolver um alerta na gestante de que é preciso proteger seu bebê.

A preocupação com esse tipo de apego materno-fetal definiu a construção de

uma escala com 24 itens, que objetiva a medida deste comportamento, demominada

Escala de Apego Materno-fetal. Ela foi traduzida e adaptada para amostra brasileira por

Feijó, em 1999.

O presente estudo propõe-se a analisar o apego materno-fetal através da referida

escala quando a gestante é exposta ao diagnóstico de cardiopatia na vida fetal, para

testar a hipótese de que o diagnóstico de cardiopatia fetal estabelecido através de

ecocardiografia no período pré-natal aumenta o apego materno-fetal.

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Avaliar o comportamento de apego materno-fetal através da Escala de Apego

Materno-Fetal(EAMF), elaborada por Cranley e validada por Feijó, em gestantes

expostas ao diagnóstico de ecocardiografia fetal.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1 - Testar a hipótese de que o apego materno-fetal, avaliado pela escala EAMF,

é maior na presença de diagnóstico pré-natal de cardiopatia.

2 – Estudar se os grupos com e sem diagnóstico de cardiopatia fetal possuem

diferenças significativas frente às variáveis sócio-demográficas.

38

3 – Testar a hipótese de que existe associação entre o nível de apego materno-

fetal nas gestantes com diagnóstico de cardiopatia fetal e a expectativa de sensações

maternas do parto.

4 – Identificar variáveis preditivas de apego materno-fetal na presença de

cardiopatia fetal.

39

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ARTIGO

APEGO MATERNO-FETAL E DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL DE CARDIOPATIA

49

Artigo a ser submetido à Ultrasound Obstet Gynecol Novembro 2011

APEGO MATERNO-FETAL E DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL DE CARDIOPATIA

Patricia Pereira Ruschel, Paulo Zielinsky, Cristiane Grings, Cynthia Seelig, Evelyn

Vigueras, Gisiane Fassini, Julia Pimentel, Liege Azevedo, Mariana Mari, Paula Pfeifer,

Rafaele Paniagua, Tadiela Lodéa, Antônio Piccoli Jr.

Short title: Apego e Cardiopatia fetal

Key words: fetal echocardiography, fetal cardiology, prenatal care, maternal-fetal

relaitions,pregnancy

Autor Correspondente:

Patrícia Pereira Ruschel

Serviço de Psicologia do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul/ FUC (IC/FUC)

Av. Princesa Isabel, 370 – Santana - Porto Alegre, RS Brasil CEP 90.620 – 000

[email protected]

50

RESUMO

Objetivo: Testar a hipótese de que existem diferenças no apego da gestante com o feto,

antes da realização do exame ecocardiográfico fetal e 30 dias após, na presença ou não

de alterações cardíacas. Método: Estudo de coorte em que foram realizadas entrevistas

semi-estruturadas sobre dados sociodemográficos e características da gestação, antes da

realização do exame. As gestantes responderam a uma escala validada de apego

materno-fetal (EAMF), que foi reaplicada um mês após o exame. O estudo comparou o

grupo de gestantes com diagnóstico de cardiopatia fetal (CCF) com o grupo de gestantes

sem diagnóstico de cardiopatia fetal (SCF). Resultado: Foram incluídas 197 gestantes

submetidas a ecocadiografia fetal, 96 no grupo CCF e 101 no grupo SCF. Antes do

rastreamento, as gestantes obtiveram média de apego 94,7 ± 9,7, sem diferença

significativa entre os grupos. Após 30 dias, o grupo CCF obteve 99,5 ± 8,9, e o SCF

95,5 ± 10 (p=0,003). A análise do índice de apego dos grupos, classificados por níveis,

nos momentos inicial e final, mostrou que não existia diferença significativa entre os

grupos na distribuição basal das gestantes nos níveis de apego (p=0,081). No momento

final, a diferença entre a migração do nível médio para alto foi significativamente maior

no grupo CCF (p=0,017). Comparando os grupos, a transição entre a avaliação inicial e

final do nível de apego médio para alto foi mais expressiva no grupo CCF (p=0,009) do

que no grupo SCF (p=0,05). Conclusão: O diagnóstico para cardiopatia fetal aumenta o

apego materno-fetal.

Palavras-chave: ecocardiografia fetal, cardiopatias fetais, relação materno-fetal,

cuidado pré-natal, gravidez.

51

INTRODUÇÃO

Como mais de 90% das malformações cardíacas ocorrem em fetos sem fator

de risco, a ecocardiografia fetal passou a ser procedimento de rotina, após a

vigésima semana de gestação1. Quando é detectado um problema cardíaco, é

importante o acompanhamento de um especialista. Em alguns casos, o tratamento é

realizado durante a gestação e o parto pode ser assistido pelo cardiologista, para a

tomada imediata de medidas terapêuticas após o nascimento 1.

O contato visual e sonoro dos pais com o feto, proporcionado pela

ultrassonografia, tem o efeito de confirmação da existência do filho e da capacidade

de procriar2, 3

.

A simples suspeita de uma malformação no feto ocasiona uma tensão

psicológica na gestante e a ansiedade costuma acompanhar o período de diagnóstico

4, 5. As cardiopatias congênitas possuem uma expressão considerável na mortalidade

infantil, em especial na etapa neo e perinatal, e constituem uma das três principais

causas de mortalidade6 .

Pesquisa, que avaliou ansiedade e humor, mostrou que seus níveis após o

diagnóstico de malformação fetal puderam ser comparados com aqueles de pacientes

com episódio depressivo maior7. Quando o diagnóstico de doença cardíaca foi

realizado no período pré-natal as mães referiam sentir menos responsabilidade pelos

defeitos e tenderam a melhorar seus relacionamentos conjugais8 .

O apego é definido como uma disposição persistente de busca de contato com

uma pessoa significativa, sendo fundamental para um desenvolvimento saudável e

transcorrendo ao longo da vida do indivíduo. A partir desta disposição são

52

desenvolvidos os comportamentos de apego, que se referem a formas que as pessoas

usam para obter ou manter proximidade entre elas 9 .

Em estudos sobre o tema, o apego materno-fetal foi definido como a

intensidade com que as mulheres se engajam em comportamentos de cuidado e

interação com o filho que vai nascer10

. Com a finalidade de medir o apego materno

durante a gestação foi desenvolvida a Escala de Apego Materno-Fetal10

, já validada

no Brasil. 11

Diante da importância do impacto de diagnósticos cardiológicos pré-

natais, foi delineado o presente estudo para testar a hipótese de que o apego

materno-fetal é maior quando é diagnosticada uma cardiopatia.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo de coorte controlado, que avaliou gestantes que

aguardavam a realização de ecocardiografia fetal, para rastreamento de cardiopatia

intraútero e que foram convidadas a participar da pesquisa. Inicialmente, os

objetivos foram explicados e as pacientes que concordaram assinaram o termo de

consentimento livre e esclarecido e responderam ao questionário sociodemográfico e

à Escala de Apego Materno-fetal (EAMF)11

. Após o exame, aquelas com

diagnóstico negativo para cardiopatia fetal passaram a compor o grupo SCF e as

com diagnóstico de cardiopatia fetal, o grupo CCF. Todas as gestantes retornaram

após um mês e responderam novamente à EAMF11

. Para o acompanhamento das

gestantes com diagnóstico positivo foi aplicada a escala em todas que realizaram o

rastreamento para cardiopatia fetal na Unidade de Cardiologia Fetal do Instituto de

Cardiologia/Fundação Universitária de Cardiologia (IC/FUC), durante o período de

coleta de dados (maio de 2008 a setembro de 2010). Foram excluídas do estudo

gestantes com diagnósticos com potencial para melhora intrauterina, as com doenças

53

incompatíveis com a vida e as que não responderam à segunda avaliação. O projeto

da pesquisa foi avaliado e liberado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do IC/FUC. O

questionário sociodemográfico, que também visa a caracterizar a gestação, foi

organizado e sistematizado pela equipe de psicologia do IC/FUC e tem sido

rotineiramente utilizado nessa Unidade. A EAMF11

, é uma escala Likert 12

,

composta por 24 itens, com pontuação em cinco níveis. O índice da escala varia de

24 a 120 pontos. Foram utilizados os seguintes níveis de apego materno-fetal,

conforme os pontos de corte estabelecidos através da validação brasileira da escala:

baixo (de 24 a 47 pontos), médio (de 48 a 97 pontos) e alto (de 98 a 120 pontos). Os

dados coletados foram armazenados no programa Microsoft Excel para posterior

análise estatística do programa PASW 18.0, através da utilização dos testes qui-

quadrado, teste t de Student e McNemar. A reprodutibilidade da escala foi analisada

pela medida das variabilidades interobservador e intraobservador, mediante cálculo

dos coeficientes intraclasse e gráficos de Bland-Altman13

.

RESULTADOS

A Escala de Apego Materno-Fetal foi aplicada em 2268 gestantes no período

anterior ao rastreamento para cardiopatia fetal.

Foram incluídas na pesquisa, 197 gestantes, divididas em dois grupos, de acordo

a presença ou não de alterações cardíacas fetais, sendo 96 no grupo CCF e 101 no SCF.

A tabela 1 contém a caracterização dos grupos, segundo variáveis pesquisadas

através do questionário sociodemográfico, demonstrando que os grupos apenas se

diferenciam por cidade de origem.

A figura 1 mostra a distribuição das anormalidades cardíacas diagnosticadas no

grupo CCF.

54

Os resultados indicam que houve diferença no aumento do índice de apego

materno-fetal, quando a gestante recebeu diagnóstico para cardiopatia fetal e foi

avaliada 30 dias após o rastreamento.

A média de apego materno-fetal das 2.268 gestantes avaliadas antes do

rastreamento foi 85,2±9,1.

Antes do rastreamento, quando responderam à EAMF11

as gestantes obtiveram

média de apego de 94,7 ± 9,7, sem diferença significativa entre os grupos. Após os 30

dias, constatou-se diferença entre os dois grupos. O grupo CCF obteve média do índice

de apego 99,5 ± 8,9 e o grupo SCF 95,5 ± 10,0 sendo esta diferença significativa

(p=0,003).

Conforme demonstrado na figura 2, a análise cruzando o índice de apego dos

grupos, classificados por níveis, nos dois momentos-inicial (antes do rastreamento para

cardiopatia fetal) e final (30 dias após o exame)-mostrou não haver diferença

significativa entre os grupos na distribuição basal das gestantes nos níveis de apego

(p=0,081). Ao contrário, no momento final, é demonstrado que a diferença entre a

migração do nível médio para alto é significativamente maior no grupo CCF (p=0,017).

Na avaliação intragrupo, conforme demonstrado na figura 3, em ambos os

grupos a transição entre a avaliação inicial e final do nível de apego médio para alto foi

mais expressiva no grupo CCF (p=0,009) do que no grupo SCF (p=0,050).

O questionário sociodemográfico, que avaliou características da gestação,

forneceu dados sobre as sensações que as gestantes imaginavam que sentiriam no parto,

demonstrado na tabela 2. Em relação à insegurança e a dúvida, o percentual de aumento

dos casos CCF foi significativamente maior do que o dos SCF: insegurança (p= 0,042) e

dúvida(p= 0,054).

55

A tabela 3 expressa o resultado da análise multivariada, na qual se observa que o

alto indice de apego está associado ao grupo CCF. As variáveis: imaginar sensação de

dor no parto, ter hipertensão arterial e ter planejado o filho também se mostram

preditivas de apego alto.

Foi realizado o cálculo da reprodutibilidade da EAMF utilizada no estudo. Os

coeficientes de correlação intraclasse para concordância interobservador e

intraobservador foram excelentes (0,98[IC: 0,95-0,99] e 0,97[IC: 0,93-0,99]

respectivamente), como expressos pelos gráficos de Bland-Altman nas figuras 4 e 5.

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo demonstram que o diagnóstico de cardiopatia na vida

fetal aumenta o apego da mãe ao feto.

A variação do grau de apego do grupo com e sem diagnóstico de cardiopatia

fetal foi avaliada no intervalo entre a realização da ecocardiografia fetal e 30 dias após.

A opção por este intervalo para o reteste deu-se em função do tempo necessário para a

gestante estabelecer seu padrão de relacionamento com o feto com diagnóstico de

cardiopatia congênita. Aquele grupo sem diagnóstico de cardiopatia também aumentou

o apego, confirmando dados referidos anteriormente14

, demonstrando que, com o passar

das semanas, as gestantes tendem a aumentar seu apego ao feto, porém o presente

trabalho mostra que ocorreu um aumento maior no grupo que recebeu diagnóstico de

cardiopatia. Trabalho anterior mostra que a intensa relação entre a gestante e o feto é

capaz de promover alerta de que é preciso proteger o filho15

. Neste estudo, o diagnóstico

mostrou o efeito do alerta na gestante, ou seja, despertou maior apego, em função da

expectativa da necessidade de maior cuidado do feto com cardiopatia fetal.

56

Na amostra total, não houve pontuação classificada no nível baixo de apego,

indicando que toda a gestante que se apresentava para o rastreamento de cardiopatia

fetal demonstrava no mínimo, nível médio de apego. A migração do nível médio de

apego inicial para alto foi de 21,8% no grupo SCF, e de 26,9% no grupo CCF,

evidenciando que ocorreu acréscimo do apego quando comparados os dois grupos, de

forma que, quando existe um diagnóstico de cardiopatia na vida fetal, este sentimento se

aguça.

Os resultados deste trabalho diferem dos de estudo anterior16

, realizado com a

mesma escala de apego, que concluiu que o diagnóstico de malformações na vida fetal

causaria a diminuição do apego materno-fetal. Esse trabalho anterior incluiu várias

malformações fetais, e diferentemente da presente pesquisa, que excluiu diagnósticos

incompatíveis com a vida, considerando apenas as cardiopatias fetais. As cardiopatias

não compatíveis com a vida poderiam explicar a diminuição do apego da gestante,

observada no trabalho citado. Tais considerações reforçam a ideia de que a mãe é

instigada a proteger o filho com malformações, que tem chance de sobreviver. Outra

pesquisa sobre os níveis de apego de gestantes com diagnóstico de malformações fetais

mostrou que o grupo cujos diagnósticos eram letais não alcançou nível de apego alto,

mas que com outros diagnósticos, este nível era alcançado. As constatações dos autores

desse trabalho auxilia a suportar a idéia de que diagnósticos letais têm efeitos diferentes

dos que incluem chances de sobrevivência do bebê, 17

como na amostra do presente

estudo.

A constatação do aumento do apego, em caso de diagnóstico na vida

intrauterina, reforça estudos anteriores, realizados com amostras menores 3, 17

que

verificaram que, mesmo após o diagnóstico de malformações fetais, as gestantes

seguem com apego ao filho, e podendo inclusive aumentar o grau de apego.

57

Quando se analisaram as características sociodemográficas da amostra,

observou-se diferença significativa entre os dois grupos: o grupo CCF apresentou um

maior número de gestantes provenientes do interior do estado para realização da

ecocardiografia fetal no IC/FUC. O mesmo grupo mostrou maior apego na avaliação

inicial, embora não chegasse a caracterizar uma diferença significativa, se comparado

com o grupo SCF. Estas constatações permitem levantar a hipótese de que este grupo se

caracterizou por gestantes que já tinham suspeita de diagnóstico, e assim maior apego.

Elas foram encaminhadas para um centro maior, mais especializado, para a confirmação

de diagnóstico de cardiopatia fetal. O grau de apego nestas gestantes foi incrementado

com a confirmação do diagnóstico, tornando a diferença entre os grupos significativa.

Os resultados também apontaram diferença significativa entre os grupos quando

as gestantes foram investigadas sobre as sensações que imaginavam que sentiriam no

parto, apontando que as gestantes do grupo CCF se caracterizavam por imaginarem

sentir dúvida e insegurança. Como esta investigação foi realizada em ambos os grupos

no primeiro momento da avaliação, antes do rastreamento, julga-se que a explicação

esteja no fato de estas gestantes apresentarem maior sensibilidade do que as do grupo

SCF, possivelmente também pela maior prevalência de suspeita pré-natal de cardiopatia

no encaminhamento.

Através da análise multivariada buscou-se identificar variáveis que poderiam

predizer um apego materno fetal alto, sendo demonstrado serem preditoras as seguintes

variáveis: diagnóstico de cardipatia fetal, receio da sensação de dor no parto,

hipertensão arterial e planejamento prévio da gravidez.

O diagnóstico de cardiopatia fetal é preditor de apego alto. Já foi estabelecido

por trabalho anterior 6 que anunciar uma patologia fetal representa pôr fim a um sonho,

mesmo que esta seja benigna.

58

Para a mãe, numa visão psicanalítica, um filho está destinado a cumprir uma

função de preencher uma profunda lacuna no sentimento de sua identidade subjetiva.

Quando se gera um filho diferente, os pais vão se deparar com uma falta18

. O fato de o

filho ser doente ou imperfeito, pode constituir um ataque à integridade psíquica do

casal19

e afrontar seu narcisismo e a sua maturação sexual20

. Quando existe um

diagnóstico de anormalidade fetal, são comuns o decréscimo da autoestima materna, o

sentimento de incapacidade e a procura da causa da doença21

, sendo necessário que os

pais façam o luto pelo filho ideal22-24

. A literatura também considera que este luto é do

bebê real, que corre risco de vida ou está com morte anunciada 25

.

No momento em que o diagnóstico da cardiopatia fetal é confirmado, a gestante

inicia um processo psíquico que se estende ao longo da gestação e dos primeiros anos

de vida de seu bebê. Os dados do presente estudo mostram que tomar consciência da

necessidade de cuidados ou acompanhamento cardiológico para o flho torna a gestante

predisposta(sensível) a aumentar o apego materno-fetal, traduzido em maior atenção e

preocupação do que no rastreamento, caso não se tivesse constatado anormalidade

cardíaca, o que ocorreu com as gestantes do gupo SCF.

O receio de sentir dor no parto, que foi verificado como uma variável preditora

de auento de apego materno-fetal, remete ao registro na literatura de que esta variável

pode ser um marco inicial na maternidade. É também referido que pode funcionar como

um preço a ser pago, para após receber o prêmio, que é o filho. Outra colocação é a de

que, no imaginário de algumas muheres, a boa mãe é aquela que sofreu para dar à luz

seus filhos, a fim de cumprir seu papel. Dentro da indivudualidade de cada gestante,

algumas têm o registro da dor como sofrimento e da analgesia como salvação. Outras,

por outro lado, julgam a dor do parto como a verdadeira maternidade26

.

59

A terceira variável identificada como preditora de aumento do apego materno-

fetal foi a hipertensão arterial. Os aspectos psicológicos mais encontrados no binômio

cardiopatia e gravidez são medo de intercorrências tais como: medo de não agüentar a

gestação, medo do coração não resistir ao trabalho de parto e medo de morrer27

. O fator

de risco na gestação faz surgir o medo em relação a si própria e ao filho, ao que está

ocorrendo em seu corpo, ou ao temor de que seu flho tenha anormalidades, além do

receio da perda do controle em relação à gravidez e a si mesma28

.

O planejamento prévio da gravidez foi também uma variável preditora do maior

apego materno-fetal. Várias mudanças irão ocorrer na vida da mulher que engravida:

alterações físicas inevitáveis, necessidade de organizar sua casa para receber este bebê e

os reflexos da inclusão de uma terceira pessoa na relação do casal.29

No resultado aqui

observado ficou demonstrado que o planejamento da gravidez, ou seja, estar em

momento de vida próprio para engavidar, proporciona maior apego materno-fetal, o que

já foi sugerido em estudo anterior.

Um potencial viés de seleção na presente pesquisa poderia ser representado pela

inclusão de gestantes encaminhadas com alguma suspeita de anormalidade cardíaca

fetal. Entretanto, os resultados mostram que, mesmo que o apego inicial já fosse

aumentado em função dessa supeita, ainda assim ocorreu incremento do apego após a

confirmação do diagnóstico.

Vieses de aferição foram controlados pelo cálculo da reprodutibilidade da escala

utilizada, que se mostrou excelente.

A análise multivariada considerou os eventuais vieses de confusão envolvendo o

apego materno-fetal, sendo representado, como já foi referido, pela hipertensão arterial

materna, pelo receio de dor no parto e pelo planejamento da gravidez.

60

Em conclusão, o apego materno-fetal mostra um incremento mais evidente

quando a gestante toma conhecimento de que seu bebê é portador de uma anormalidade

cardíaca do que na ausência desta condição.

61

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65

TABELAS

Tabela 1 - Caracterização da Amostra - Perfil Sociodemográfico das Gestantes.

SCF n=101 CCF n=96 p

Estado civil (com companheiro) 80(79,2) 85(88,5) 0,114

Cidade 0,002

Porto Alegre 54(53,5) 36(37,5)

Grande Porto Alegre 31(30,7) 23(24,0)

Interior do Estado 16(15,8) 37(38,5)

Escolaridade 0,251

Analfabeto 2(2,0) 0(0,0)

Ensino Fundamental incompleto 17(18,2) 24(25,0)

Ensino Fundamental completo 11(10,9) 17(17,7)

Ensino Médio incompleto 25(24,8) 14 (14,6)

Ensino Médio completo 31(30,7) 30 (31,3)

Ensino Superior 15(14,8) 11(11,5)

Renda (salários mínimos) 0,401

< 3 72(71,3) 71(74)

3 - 6 20(19,8) 21(21,9)

> 6 9(8,9) 4(4,2)

Possui religião 83(82,2) 78(81,3) 1,000

Idade da gestante (anos) 27,61± 6,40 28,97± 6,89 0,154

Idade gestacional (semanas) 26,67(4,17) 26,74(4,19) 0,911

Primípara 46(45,5) 35(36,5) 0,250

Perda de filho 18(17,8) 20(20,8) 0,723

Planejamento da gestação 50(49,5) 46(47,9) 0,936

Aceitação tranqüila da gestação 78(77,2) 72(75,0) 0,726

Definição de nome 87(86,1) 85(88,5) 0,770

Preocupações frente ao parto 99(98,0) 90(93,8) 0,247

SCF: sem cardiopatia fetal, CCF: com cardiopatia fetal, n (%), média±dp.

66

Tabela 2 - Sensações que as gestantes imaginam que sentiriam no parto.

Sensações SCF CCF P

Insegurança 34(33,7) 49(51,0) 0,042

Medo 39(38,6) 48(50,0) 0,143

Dúvida 25(24,8) 37(38,5) 0,054

Tranquilidade 46(45,5) 44(45,8) 1,000

Dor 48(47,5) 53(55,2) 0,349

Nervosismo 60(59,4) 61(63,5) 0,653

Alegria 66(65,3) 54(56,3) 0,245

SCF: sem cardiopatia fetal, CCF: com cardiopatia fetal, n(%).

67

Tabela 3 - Análise multivariada.das variáveis preditivas de alto apego materno-fetal

Variáveis Razão de chance Intervalo de confiança P

Cardiopatia fetal 2,19 1,21-3,98 0,010

Sensação de dor no parto 1,94 1,07-3,51 0,028

Hipertensão arterial 4,70 1,23-17,96 0,024

Planejamento do filho 1,85 1,02-3,37 0,044

68

FIGURAS

45

8

7

5

4

3

2

2

2

2

2

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

CIV

HVE

Arritmias

DVSVD

T.Fallot

DSAV

BAVT

CoAo+CIV

Int.Arco Ao+CIV

TGV

CoAo

DSAV+BAVT

DlMi+Aao

AP+CIV+hidropisia

DSAV+EAo+BAVT

DSAV+EP+BAVT+hidropisia

Ebstein

HVD+EP severa

S. Shone

Truncus

DVSVD+EP

CIV+Iao leve

DSAV+T.Fallot

DSAV+bradicardia

EP leve

Figura 1 – Número de casos das diferentes cardiopatias fetais.

Aao: atresia aórtica, AP: atresia pulmonar, BAVT: bloqueio atrioventricular, CIV:

comunicação interventricular, CoAo: coartação da aorta, DlMi: dupla lesão mitral,

DVSVD: dupla via de saída de ventrículo direito, DSAV: defeito septal atrioventricular,

EAo: estenose aórtica, EP: estenose pulmonar, HVD: hipoplasia de ventrículo direito,

HVE: hipoplasia de ventrículo esquerdo, Int. arco Ao: interrupção do arco aórtico,

S.Shone: síndrome de Shone, T. Fallot: tetralogia de Fallot, TGV: transposição de

grandes vasos.

69

Figura 2 – Comparação do nível de apego materno-fetal inicial e final.

CCF: com cardiopatia fetal, SCF: sem cardiopatia fetal.

70

Figura 3 – Comparação do nível de apego materno-fetal entre os grupos

CCF: com cardiopatia fetal, SCF: sem cardiopatia fetal.

71

Figura 4 - Concordância interobservador.

72

Figura 5 – Concordância intraobservador.

ARTIGO VERSÃO EM INGLÊS

MATERNAL-FETAL ATTACHMENT AND PRENATAL DIAGNOSIS OF HEART

DISEASE

74

Ultrasound Obstet Gynecol November 2011

MATERNAL-FETAL ATTACHMENT AND PRENATAL DIAGNOSIS OF HEART

DISEASE

Patricia Pereira Ruschel, Paulo Zielinsky, Cristiane Grings, Cynthia Seelig, Evelyn

Vigueras, Gisiane Fassini, Julia Pimentel, Liege Azevedo, Mariana Mari, Paula Pfeifer,

Rafaele Paniagua, Tadiela Lodéa, Antônio Piccoli Jr.

Short title: Attachment and Fetal Heart Disease

Key words: fetal echocardiography, fetal cardiology, prenatal attention, maternal-fetal

attachment,pregnancy

Correspondence Author:

Patrícia Pereira Ruschel

Serviço de Psicologia do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul/ FUC (IC/FUC)

Av. Princesa Isabel, 370 – Santana - Porto Alegre, RS Brasil CEP 90.620 – 000

[email protected]

75

ABSTRACT

Objective: To test the hypothesis that there are differences in the level of maternal-fetal

attachment before fetal echocardiography and 30 days later in the presence or absence

of cardiac abnormalities. Method: Cohort study in which semi-structured interviews

were conducted before the examination, for the collection of data on socio-demographic

and pregnancy characteristics. The mothers responded to a validated Maternal-Fetal

Attachment Scale (MFAS), which was re-applied one month after the examination. The

study compared the group of pregnant women with diagnosis of fetal heart disease

(FHD) with the non-fetal heart disease group (NFHD). Results: A total of 197 pregnant

women undergoing fetal echocardiography were included in the study. 96 with and 101

without a fetal diagnosis of heart disease. Before screening, maternal-fetal attachment

was in average 94.7 ± 9.7, with no significant difference between groups. After thirty

days, the level of attachment was 99.5 ± 8.9 in the FHD group and 95.5 ± 10 in the

NFHD group (p = 0.003). The analysis of the levels of attachment at the initial and final

periods showed no significant difference between groups in the distribution of baseline

attachment levels in pregnant women (p = 0.081). At the final period of analysis, the

migration of medium to high level of attachment was significantly higher in the case

group than in the NFHD group (p = 0.017). Comparing the groups, the transition from

medium to high attachment levels comparing the initial and final periods was more

pronounced in the FHD group (p = 0.009) than in the NFHD group (p = 0.05).

Conclusion: The diagnosis of fetal heart disease increases the level of maternal-fetal

attachment.

Key words: fetal echocardiography, fetal heart disease, prenatal attention, maternal-

fetal attachment, pregnancy.

76

INTRODUCTION

Since more than 90% of heart defects occur in fetuses without any known risk

factor, fetal echocardiography has become a routine procedure after the twentieth

week of pregnancy. The accompaniment of a professional is very important when a

heart problem is detected. In some cases, treatment is performed during pregnancy

and childbirth is assisted by a cardiologist, for immediate therapy after birth 1.

Visual and audible contact of the parents with the fetus, provided by

ultrasound, has the effect of confirming the existence of the child and the ability to

procreate2, 3.

The suspicion of a malformation in the fetus leads to a psychological stress

during pregnancy, and anxiety often accompanies the diagnosis period4,5

. Congenital

heart defects constitute a considerable percentage of infant mortality, especially in

the perinatal and neonatal stages, and are one of the three leading causes of

mortality6.

Studies have shown that the level of anxiety and mood after the diagnosis of

fetal malformation could be compared with those of patients with major depressive

episode7. When heart disease was the diagnosed in the pre-natal period, mothers

reported feeling less responsibility for the defects and tended to improve their

marital relationships8 .

Attachment is defined as a persistent desire to search for contact with a

significant person, and is fundamental to a healthy development, over the life of the

individual. Attachment behaviors, which refer to ways that people use to obtain or

maintain proximity between them, are based on this search9.

Maternal-fetal attachment is defined as the intensity with which women

engage in behaviors of care and interaction with their unborn child10

. The Maternal-

77

Fetal Attachment Scale 10

, which has been validated in Brazil 11

, was developed to

measure maternal attachment during pregnancy. Given the important impact of

prenatal cardiac diagnosis, the present study was designed to test the hypothesis that

the level of maternal-fetal attachment increases after diagnosis of heart disease in the

fetus.

METHODS

This controlled cohort study evaluated women who were awaiting the

completion of fetal screening for heart disease for screening of in utero heart

disease, and who were invited to participate. Initially, the objectives were explained

and the patients who agreed signed an informed consent form, answered a socio-

demographic questionnaire and assessed by the Maternal-Fetal Attachment Scale

(MFAS) 11

. After the examination, mothers with a negative diagnosis of fetal heart

disease were included in the NFHD group and those with a fetal diagnosis of heart

disease made up the study group. All pregnant women returned after one month and

responded again to the MFAS 11

. For the monitoring of pregnant women with

positive diagnosis, the Scale was applied in all pregnant women who underwent

screening for fetal heart disease in the Fetal Cardiology Unit of the Instituto de

Cardiologia/Fundação Universitária de Cardiologia (IC/FUC), during the period

between May 2008 and September 2010. The study excluded women with diagnosis

of potential improvement of fetal status, disease incompatible with life and those

who did not respond to the second evaluation. The research project was approved by

the Research Ethics Committee of IC/FUC. The socio-demographic questionnaire,

which also aimed to characterize the pregnancy, was organized and systematized by

the psychology staff of the IC/FUC and has been routinely used in this Unit. The

78

MFAS 11

, validated for the Brazilian sample, is a Likert scale 12

comprising 24

items, with scores ranging in five levels. The Index scale ranges from 24 to 120

points. In agreement with as the cutoff points established by the Brazilian validation

of the scale, the following levels of maternal-fetal attachment were considered: low

(24 to 47 points), medium (48 to 97 points) and high (98 to 120 points) . The data

collected were stored in Microsoft Excel for statistical analysis, which was

performed with the PASW 18.0 software, using the chi-square test, Student´s t test

and McNemar test. The reproducibility of the scale was analyzed by measuring the

inter-observer and intra-observer variability, by calculating the intraclass

coefficients and Bland-Altman plots 13

.

RESULTS

The scale was applied in 2268 pregnant women prior to fetal ecocardiografic

screening. A total of 197 pregnant women, who returned for reassessment after 30 days,

were included in the study. They were assigned to two groups according to presence

(FHD group, n=96) or absence (NFHD group, n=101) of fetal cardiac abnormalities.

The characterization of groups according to variables investigated by socio-

demographic questionnaire (Table 1) showed that the groups only differ by city of

origin.

Figure 1 shows the distribution of cardiac abnormalities diagnosed in the case

group. The results show a significant increase in the level of maternal-fetal attachment

after the diagnosis of fetal heart disease, as was assessed 30 days after the screening.

The mean attachment level of the 2268 pregnant women evaluated was 85.2±9.1.

Before the screening, the MFAS11

results showed mean maternal-fetal

attachment level of 94.7 ± 9.7, with no significant difference between the groups. After

79

thirty days, a significant difference (p = 0.003) was observed between the two groups.

The mean level of attachment was 95.5 ± 10 in the NFHD group and 99.51 ± 8.91 in the

FHD group.

As shown in Figure 2, the analysis of attachment across groups, classified by

levels, and performed in the initial (before screening for fetal heart disease) and late (30

days after the examination) periods, showed no significant difference between the

groups in the distribution of baseline attachment levels in pregnant women (p = 0.081).

Instead, in the final period the difference between the migration from medium to high

level is significantly higher in the FHD group (p = 0.017).

The intra-group evaluation (figure 3) showed that the transition from medium to

high level of attachment, analyzed in the initial and final periods, was more significant

in the FHD group (p = 0.009) than in the NFHD group (p = 0.050 ).

The socio-demographic questionnaire, which evaluated the characteristics of

pregnancy, provided data on the feelings that pregnant women thought they would have

during labor (Table 2). Women in the FHD group showed higher levels of insecurity

and doubt than NFHD women (p = 0.042 and p = 0.054, respectively).

Table 3 presents the result of multivariate analysis, which showed a higher rate

of attachment in the FHD group. The variables imagining a sensation of pain during

childbirth, high blood pressure and having planned the child were also predictive of

high level of attachment.

The reproducibility of the Scale of Maternal-Fetal Attachment used in the study

was determined. High intraclass correlation coefficients for interobserver and

intraobserver agreement were observed (0.98 [CI: 0.95 to 0.99] and 0.97 [CI: 0.93 to

0.99] respectively), as expressed by the Bland-Altman plots in figures 4 and 5.

80

DISCUSSION

The results of this study show that the diagnosis of heart disease in fetal life

increases the maternal-fetal attachment.

The variation of the level of attachment in mothers of the case and control

groups (with and without fetal diagnosis of heart disease, respectively) was evaluated

before fetal echocardiography and 30 days later. This time interval was considered

appropriate for the mother to establish a pattern of relationship with the fetus after the

diagnosis of congenital heart disease. Although the level of maternal-fetal attachment

was also increased in mothers of the control group, confirming data reported in previous

studies 14

showing a tendency of increase of attachment to the unborn child over the

weeks of pregnancy, our results show a significant greater increase in the case group. A

previous study showed that the intense maternal-fetal relationship may have the effect

of warning the mother about the need to protect the fetus15

. In this study, the diagnosis

of fetal heart disease had this warning effect, by inducing a higher attachment of the

mother reflecting the expectation of greater care of the fetus with fetal heart disease.

In the total sample, no score was classified as low level of attachment, showing

that all pregnant women who presented to the fetal heart screening showed at least

medium level of attachment. The migration of the initial medium level of attachment to

a high level was observed in 21.8% of mothers the NFHD group, and 26.9% in the FHD

group, indicating that a diagnosis of heart disease in fetal life results in an increase of

maternal-fetal attachment.

The results of the present study differ from a previous report 16

, performed with

the same scale of attachment, which concluded that the diagnosis of fetal malformations

in life resulted in a reduction of maternal-fetal attachment. That report included a

number of fetal malformations, unlike the present study which not include diagnoses

81

incompatible with life, considering only fetal heart diseases. The presence of heart

defects not compatible with life could explain the decrease in maternal-fetal attachment

observed in the work cited. These considerations reinforce the idea that the mother is

motivated to protect the child with malformations compatible with life. In another

study, the investigation of the levels of attachment of pregnant women to fetuses

diagnosed with malformations showed that high levels of maternal-fetal attachment

were not reached in cases of lethal fetal malformation. These results give support to the

idea that lethal diagnoses have effects different from those that include survival chances

for the baby 17

, as in the present study.

The finding of increased attachment when heart disease is diagnosed in

intrauterine life, reinforces previous studies conducted with smaller samples3, 17

, which

show that even after the diagnosis of fetal malformations, mothers maintain or even

increase the degree of attachment to the child.

The analysis of socio-demographic characteristics of the sample showed a

significant difference between the two groups: the case group presented a higher

number of women who came from smaller cities for performing fetal echocardiography

in the IC/FUC. This group showed higher levels of maternal-fetal attachment in the

initial assessment, although the difference was not significant, as compared with the

control group. These findings allow to hypothesize that the suspected diagnosis has

already induced greater attachment in women of this group, who were then referred to a

larger, more specialized center, for confirmation of diagnosis of fetal heart disease. The

degree of attachment in these pregnant women was increased with the confirmation of

the diagnosis, resulting in a significant difference between control and case groups.

The results also showed a significant difference on the feelings expected for

childbirth when the two groups were compared, pointing out that pregnant women in

82

the FHD group were characterized by expecting feelings of doubt and insecurity. As

this investigation was performed in both groups at first assessment, before the screening

for fetal heart disease, it is possible that these pregnant women were more sensitive than

mothers in the NFHD group, possibly due to higher prevalence of suspected diagnosis

of fetal heart disease.

The multivariate analysis was used to identify variables that could predict a high

level of maternal-fetal attachment. The following variables were shown to be predictive:

diagnosis of fetal heart disease, fear of feeling pain in childbirth, arterial hypertension

and previous planning of pregnancy.

The diagnosis of fetal heart disease is a predictor of high level of maternal-fetal

attachment. A previous study6 has already shown that diagnosis of a fetal pathology,

even if it is benign, represents putting an end to a dream.

For the mother, in a psychoanalytic point of view, a child is destined to fulfill a

task of filling a gap in the deep feeling of subjective identity. When a different child is

generated, parents will be faced with the lack of something18

. Illness or imperfection of

a child may represent a threat to the psychic integrity of the couple 19

, confronting their

own narcissism and sexual maturation20

. The diagnosis of fetal abnormality frequently

result in a decrease in maternal self-esteem, in feelings of helplessness, and in the search

for the cause of the disease, 21

implying the need for parents to mourn the loss of the

ideal son22-24

. The literature also describes this grief as a feeling directed to the

newborn, who is at risk of life25

.

When the diagnosis of fetal heart disease is confirmed, a mental process initiates

in the mother that will be conducted during pregnancy and early life of her baby. The

present study shows that the stimulation of care or observation for cardiac disease in the

fetus results in an increase in the level of maternal-fetal attachment, which leads to

83

greater attention and concern than was initially observed or than in mother of the NFHD

group, when no heart disease was diagnosed.

According to the literature, the fear of pain in childbirth, which was confirmed

as a predictor of increase in maternal-fetal attachment, may be seen as the first

milestone of maternity. It is also referred to as a price to be paid for receiving the

award, which is the child. Another point of view states that in the minds of some

women, the good mother must feel pain while she gives birth in order to fulfill her role.

For some pregnant women, pain is seen as suffering, and analgesia as salvation. For

others, however, the pain of labor is seen as the true maternity 26

.

The third variable that was found as a predictor of increased level of maternal-

fetal attachment is high blood pressure. Previous studies have shown that the

psychological aspects most commonly found in the binomial heart disease and

pregnancy are fear of complications such as not enduring pregnancy, failure of the heart

during labor and death27

. The risk factor in pregnancy may induce in the mother a new

type of fear, for herself and her son, for what is happening in her body, or for the

child´s abnormalities, beyond the fear of loss of control in relation to pregnancy and

herself28

.

Planning of pregnancy was also a predictor of increased maternal-fetal

attachment. Pregnancy results in several changes in the life of the woman: inevitable

physical changes, need to organize the home to receive the new baby and the inclusion

of a third person in the relationship of the couple. Our results show that planning of

pregnancy, ie, being in a period of life which is adequate for pregnancy, provides

greater maternal-fetal attachment, as already suggested in a previous study29

.

A potential selection bias in our study could be represented by the inclusion of

pregnant women referred with a suspicion of fetal heart abnormality. However, the

84

results show that, even if the initial attachment was already increased due to suspicion

of heart disease, a significant increase in maternal-fetal attachment occurred after

confirmation of diagnosis.

The reproducibility of the scale used was excellent, thus controlling potential

measurement biases.

Multivariate analysis considered the possible confusion factors affecting the

levels of maternal-fetal attachment, represented, as mentioned above, by maternal

hypertension, fear of pain in childbirth and pregnancy planning.

In conclusion, the level of maternal-fetal attachment is more evident in mothers

after knowing that her fetus is affected by a cardiac abnormality than in the absence of

this condition.

85

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89

TABLES

Table 1 - Sample Characterization - socio-demographic profile of pregnant women.

NFHD n=101 FHD n=96 p

Marital status (with partner) 80(79.2) 85(88.5) 0.114

City 0.002

Porto Alegre 54(53.5) 36(37.5)

Porto Alegre metropolitan region 31(30.7) 23(24.0)

Other cities in the state 16(15.8) 37(38.5)

Education 0.251

Illiterate 2(2.0) 0(0.0)

Incomplete primary 17(18.2) 24(25.0)

Complete primary 11(10.9) 17(17.7)

Incomplete high school 25(24.8) 14 (14.6)

High school 31(30.7) 30 (31.3)

Superior 15(14.8) 11(11.5)

Income (minimum wages) 0.401

< 3 72(71.3) 71(74)

3 - 6 20(19.8) 21(21.9)

> 6 9(8.9) 4(4.2)

Religious 83(82.2) 78(81.3) 1.000

Age of mother (years) 27.61± 6.40 28.97± 6.89 0.154

Gestational age (weeks) 26.67(4.17) 26.74(4.19) 0.911

Primiparous 46(45.5) 35(36.5) 0.250

Loss of child 18(17.8) 20(20.8) 0.723

Planning 50(49.5) 46(47.9) 0.936

Good acceptance 78(77.2) 72(75.0) 0.726

Name chosen 87(86.1) 85(88.5) 0.770

Concerns 99(98.0) 90(93.8) 0.247

NFHD: none fetal heart disease, FHD: fetal heart disease, n (%), mean±sd.

90

Table 2 - Feelings that pregnant women think they will have during childbirth.

Feelings NFHD FHD p

Insecurity 34(33.7) 49(51.0) 0.042

Fear 39(38.6) 48(50.0) 0.143

Doubt 25(24.8) 37(38.5) 0.054

Tranquility 46(45.5) 44(45.8) 1.000

Pain 48(47.5) 53(55.2) 0.349

Nervousness 60(59.4) 61(63.5) 0.653

Happiness 66(65.3) 54(56.3) 0.245

NFHD: none fetal heart disease, FHD: fetal heart disease, n(%).

91

Table 3 - Multivariate analysis of predictive variables of high-fetal attachment

Variables Odds ratio

Confidence

interval p

Fetal heart defect 2.19 1.21-3.98 0.010

Feeling pain in childbirth 1.94 1.07-3.51 0.028

Hypertension 4.70 1.23-17.96 0.024

Planning for child 1.85 1.02-3.37 0.044

92

FIGURES

45

8

7

5

4

3

2

2

2

2

2

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

VSD

HLHS

Arritmias

DORV

T.Fallot

DORV

AVB

AoCo+VSD

IAAo+VSD

TGV

AoCo

AVSD+AVB

DlMi+AoA

PA+VSD+hidropsis

AVSD+AoS+AVB

AVSD+PS+AVB+hidropsis

Ebstein

HLHS+PSsevere

Shone S

Truncus

DORV+PS

VSD+slightAoI

AVSD+T.Fallot

AVSD+bradycardia

slightPS

Figure 1 - Number of cases of different fetal heart defects

AoA: aortic atresia, PA: pulmonary atresia, AVB: atrioventricular block, VSD: ventricular septal defect, AoCo: aortic coarctation, DlMi: double mitral lesion, DORV:

double outlet right ventricle, AVSD: atrioventricular septal defect, AoS: aortic stenosis, PS: pulmonary stenosis, RVH, right ventricular hypoplasia, LVH, left ventricular

hypoplasia, IAA: interrupted aortic arch, Shone S: Shone syndrome, T. Fallot: Tetralogy of Fallot, TGV: transposition of great vessels.

93

Figure 2 -Comparison of initial and final levels of maternal-fetal attachment.

NFHD: non-fetal heart disease, FHD: fetal heart disease.

94

Figure 3 - Comparison of the level of maternal-fetal attachment in case and control

mothers.

NFHD: non-fetal heart disease, FHD: fetal heart disease.

95

Figure 4 - Interobserver concordance.

96

Figure 5 - Intraobserver concordance.