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    Aparelhos Ideol6gicos de Estado., .

    ;,_ .. . ' ' " ~

    APARELHOSIDEOLOGICOS DE

    ESTADONota sobre os Aparelhos

    . ldeol6gicos de Esta.Qo,.,I

    N.Cham. 141.82 A467p 6. ed. =690 deAutor: Althysser, Louis, 1918- JERQUETitulo: Aparelhos ideologicos de est.Jdo

    lllllllllllllllllllfllllllllllllllllllllllllll9604856 Ac. 244742llCE

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    BIBLIOTECA PE CI:tNCIAS SOCIAlSVol. N.0 25

    Serle: POLfTICACoorde11adores: Bras Jose de Araujo

    Eurico de Lima Figueiredo

    comel.ho Editorial:Antonio Celso Alves PereiraCarlos Esteva.m MartinsCarlos Nelson CoutinhoCharles PessanhaEdson de Oliveira NunesHelgio Trinda.deJose Alvaro Moises;r. A. Guilllon Albuquerque,Jose NUo 'l'ava.resLeandro Kondarl.u.is Wernook Vl.a.n.naReginaldo di. Piero

    ...... ......uhL

    LOUIS ALTHUSSER

    APARELHOS,IDEOLOGICOS DE

    ESTADONO TA SOBRE OS APARELHOS

    IDEOL(>GICOS DE ES TADOlntrodUfiio Critica de

    J. A. GUILHON ALBUQUERQUETradu9fio de

    WALTER JOSE EVANGELlSTAMARIA LAURA VIVEIROS DE CASTRO

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    'i!i!'

    Traduzido do original em francesPosicion.Revisora: Aurea Moraes SantosProduc;ao Gnifica: Orlando Fernandes1! e d i ~ : 1983

    CIP. Brasil. C a t a l o g ~ a o n a f o n t eSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

    Althusser, Louis, 1918-A469a Aparelhos Ideol6gicos de Estado: nota sabre os aparelhos

    ideol6gicos de Estado (AlE) I Louis Althusser; traduc:;ao deWalter Jose Evangelista e Maria Laura Viveiros de Castro:introduc:;ao crftica de Jose Augusto Guilhon Albuquerque.--Rio de Janeiro : Edic:;oes Graal, 1985, 2" edic:;ao. (Biblioteca de ciencias saciais; v. n. 25)Traduc:;ao de: Posicion1. 0 Estado 2. Estado - Teoria I. Titulo IT. Serie

    CDD-320.1320.101CDU3 2133-0350 , . .1 .... , : r 321 .01,,;,;,,..,..::, ......~ : : : : 1 - . = I ~ t ..:. : : : ~ . : ~ - - - - - - - - - - - - - - - - - -

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    Di.rdos adquiridos pelaE D I ~ 6 E S GRAAL LTDA.

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    Rua H 1 ~ r m c n c g i l c l o de Barros, 31-AGl.6ria, Rio de Janeiro, RJCEP: 20241Tel: (021) 252-8582que:. se resc:rva o cl.ireito desta traduqao.Atendemw; pd o Reembolso Postal1992Impresso no Bm.

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    APAREUIOS IDEOLOG ICOS DE ESTADO

    1'raduqaode

    MARIA LAURA VIVEIROS DE CA.'3TRO

    Sobre a 1 : 1 4 ~ p r o d u ~ f . c:hm Coml i !i=6es de o d u ~ ~ o 1Impoe-se que traoomos de um a questao apenas esbogada em nossa a n ~ H i s e ,(qmmdo fa larnos cta necessidade de renovagao dos meios de pr odw;;ao para que a

    produQao seja possivel. Era aperu1.s um a rapida indiCllagao. C o n s i d e r a l a - e m o s agora JlOr si mesma..Como o dizia Marx , ate mna crianQa sabe que uma

    o r : m ~ social que ~ l f . L o repr oduz as condiyoes de pro-dugao ao mesmo tempo que pr ofluz , nao 8obreviver a~ 1 e m por um ano.2 Portanto a e o n d i ~ a . o tiltim.a da

    ~ r o c ~ U Q a o e a.11 o d u ~ f t o das ccmdiQi5es d . ~ ~ p r o c u ~ ~ a o .Es1A:I. pod.e Her I I simples" (e ~ n : t a o se li:rnita Ell r e p r o f i u ~zir as c U Q 6 t ~ s pn':-ex:istentes de prodw;;ao) ou "am.-pliada" (quEmdo as .amplia). i 1 , 1 o . s , po r hont., estan ~ a . o iadp:0 que e entf'o a R e p r o d da.s ~ 6 e s cl.e Pro

    d u ~ o - ~Penet:ramos aqui num dominio ao me.smo tempobastante farniliar , desde o Livro II do Capital, e singu-

    1 0 , eJtto a ser lid,o se constitu1 de tlo1s trec]lo!; dEl um estttcloainda em curso. 0 autor fez questao de entitula.-los Notas paraum a pesquisa. As ideias expostas devem se r consideradas comoUnl!L introduc;ao a disCUSSaO.2 Carta a Kugelmann, 117-1863 (C ar tas sobre o Capita l, Ed So-

    a l ~ . s . p. 229).53

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    ~ r m ~ n t e ? ~ s c o n h e c i d o . As evidencias tenazes (evidt'k-C,las 1deolog1cas de carater empirista) do ponto de vistaaa me ra produgao e da simples pratica produtiva ( abst: ata em. si mesma com relagao ao processo de produgao) se mcorpo1arn de ta l fo rma a nossa conscienciaque_ e extrernamente diffcil, para nao dizer1mposs1vel, alcanQar o pon to de vis ta da reprod u ~ a o . Portanto, se este ponto de vista nao e adotadotudo permanece abstrato Cmais do que pa rcial: defor:

    ~ a d o ) mes:no ao nivel da produgao, e, com mais razaoamda, ao mvel da simples pratica.Tentaremos examina r as coisas com metoda.Para simplificaJ nossa exposigao e se consideramosque tod.. e s materiais da produgao .

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    R e p r o d u ~ a o da f o r ~ a de trabalhoCertamente alguma coisa tera chamado a atenc;aodo leitor. Referimo-nos a reproduc;ao dos meios de produc;ao, mas nao a reproduc;ao das forc;as produtivas.- Omitimos portanto a reproduc;ao do que distingue as

    forc;as produtivas dos meios de produ

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    tos da produc;ao (um a instruc;ao para os operarios,uma outra para as tecnicos, um a ter.ceira para as engenheiros, um a Ultima para OS quadr OS SUperiores , etc . . . )Aprende-se o "know-how".Porem , ao mesrno tempo, e junto com essas tecnicas e conhecimentos, aprendern-se na escola as "regras" do born comportamento, isto e as convenienciasque devem ser observadas po r todo agen te da divisfwdo trabalho conforme o pasta que ele esteja "destinado"a ocupar; as regras de moral e de consciencia civica epr ofissional, o que na realidade sao regras de respeitoa divisao social -tecnica do t r abalho e, em definitive , regras da ordem estabe lecida pela dominar:;ao de classe.Aprende-se tambern a "falar bern o idioma", a "r edigirbern", o que na verdade significa (para os futures capitalistas e seus servidores ) saber "dar ordens" , isto e,(solur:;ao ideal) dirigir-se adequadamente aos open\riosetc . ,JCnunciando este fato numa linguagem mais cientffica, diremos que a reproduc;ao da fon;a de trabalhonao exige somente um a reprodugao de sua qualificar:;aomas ao mesmo tempo um a reprodur:;ao de sua submissao as norma.s da ordern vigente, isto e, urna reproduda submissi:io dos operari(>s a ideologia domina ntepor parte dos operario s e um a reprodw;;ao da eapaddade perfeito dominic da jdeologia dam:inante pa rparte dos agentes da exploraGii.o repressao, de modoa qU4l a s s e 1 ~ m e r . r l m ~ r n : palavm'' o predomin.io da classe dominante .Em autras pa lavras, a oscola (mas tambem outras

    i n s t ~ o e s do Estado1 como a I g N ~ ; i a e outt'OS aparelhos como o ~ r c i ensi:na o "know-how" n:ms sobfo:nuas que asseguram a s1.t'bmissaci a d E ! O l o g i ~ dorninante ou o cfominio de su a p r ~ t i q a " . ~ o d o s as agentesda produc;ao, da ex.pl.oraQao e da !l:epressao, sem falardos "profi:ssionais da d E ~ o l devem de uma,foima au de outra estar " imbuidos" desta ideologiapara desempenhar "oonsce nsiosamente '' suas tarefas ,seja a de ex.plorados (os operarios) seja a de explo radores 1 capitalistas J, seja a de aux.iliares na exploragao58

    (as quadros) , seja a de grandes sacerdates da ideologiadominante (seus "funcionarios") etc . . .A e p r o d u ~ a o da f o r ~ de trabalho evidencia, comocondit;;ao sine quae non, nao somente a reprodu r:;ao desua "qualificac;:aa" ma s tambem a reprodur:;ao de sua

    submissaa a idoologia dorninante, ou da "pratica" destaideologia., d e v ~ n ficar claro que nao basta d.izer: "na osomente mas ta mbem", pa is a r e p t ' I Q d ~ da qu alifica.

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    social", naquilo em que ela se distingue da "totalidade"hegeliana. Dissemos,

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    Pensamos que e a par tir da r e p r o d u ~ a o que e possivel e necessarto pensar o qu e caracteriza o essencialda existencia e natureza da superestrutura. Basta colocar-se no ponto de vista da reproduQao para que se esc l a r e ~ a m muita.S questoes que a me tafora espacial doediffcio indicava a existencia sem d.ar -lhes resposta con-ceitual. ""

    Sustentarnos como tes e fundamental qu e somentee possivel lev::'llntar estas quest6es ( e portanto responde-las) a pa1tir do ponto de vista da reprodur;ao.Analisaremos brevemente o Direito, o Ji:stado e a

    e o l o g i ~ a partir deste ponto de vista. E mostraremosao mesmo tempo o que ocorre a partir do ponto devista cla pratica. e da prod1.v;;ao po r urn d ~ . 1 . da r ep:K'Oduc;;ao por outro .

    A a d . i ~ ~ a o marxista formal: desde o Manifesto edo 18 Bn.t.mdrio (e em todos os . textos classicos post

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    pelo efeito mesmo desta "contradic;ao", urn desenvolvimento da teoria que supere a forma da ''descric;ao".Precisemos nosso pensamento voltando ao nossoobjeto presente: o Estado.Quando dizemos que a "teoria" marxista do Estadoque utilizarnos e parcialmente "descritiva", isto significaem. primeiro lugar e antes de mais nada que esta "t eoria" descritiva e, sem duvida algurna, o inicio da teoriamarxista do Estado, e que ta l inicio nos fornece o -essencial isto e, o principia decisive de todo desenvolvimento posterior da teoria.Diremos, com efeito, que a teoria descritjva do Es ..rtado e justa uma vez que a definic;ao dada por ela deseu objeto pode perfeit amente corresponder a :i:mensarnaiora dos fatos observaveis no dominio que lhe con- cerne. Assi;m , a definic;ao de Estado como l!:stado declasse, existente no aparelho repressive de Estado, ~ l u -

    cida de maneira fulgurante todos os fa.tos obse1vaveisnos diferentes niveis da repressao, qualquer que sejao seu dominio : desde os massacres de junho de 1848 eda Comuna de P ~ u - i s , do domingo sangrento de maio de19'05 em Petrogrado, ruu H.E-)sisteneia, de Cba:r:onoe, et c . .atE; as nn.ai s sil:rlplm; relativmnente a t ~ 6 d i n l l S ) il1tervengoes de mna "eensm'1:t'' que proibe- a RelifriOsa deDi.derot ou tm1a .obm de Gatti s o l ~ r e :!?:ranco; elucidatodas as formas diretas ou iindiretas de e x p l o r a ~ a . o eexterminio das massa.s p opu l::JJtes (a s gl.:tenas imperiai s ~ a . s elucida a s1itil i n a ~ cotlid.lam1. a.onde seevidencia (nas formas da democracia politica, por exemplo) o que Lenin chamou depois de Marx de ditadurada burguesia.

    I G n t r ~ ~ t a n a t e m ~ a dmrcritiva do l ~ s t a d o representa um a etapa cl!a eonstituigao da teoria, que e ~ d g e elamesma a. p e r E t < ~ f . ' l ! o c i E ~ s etapa. E'ortanto estF.L daroque se I.'L def:inic;:io em questiio ng . Q ~ ~ r ; g ~ e e _ os g ~ i Q ~ ........para identiiicar e rooonheoer. os fatos opressrvos . a ; r : t k .." du.Ia-los com o Es-tado concebido como"'a:parelho r e p ; r . : g ~ : ..... 'sivo de Estado, esta ' a r t i ( ~ u [ a ~ a o " qa lugar a um tipode evidehCia mil.lto"""espeeia.'t, a que tererrios oporfiii:J:'"-dade de nos referir mais adiante: "Sim, e assim, e s ~ ~64

    prefeito!" '3 E a acumula

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    de pe quando da tomada do poder pela a l i a n ~ a do proletariado e do campesinato pobre: Lenin o repetiu inumeras vezes.Pode-se di;r.er que esta distin

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    a repressao admipistrativa, pa r exemplo, pode r e v . ~ s t i r::;e de formas nao fisicas).

    Designamos pelo nome de aparelhos ideol6gicos doEstado urn certo numero de realidades que apresentam-se ao observador imediato sob a forma de instituic;6es distintas e especializadas. Propomos uma lista empirica, que devera necessariamente ser examinada e.mdetalhe, posta a prova, retificada e remanejada. Comtodas as reservas que esta exigencia acarreta podemos,.pelo momenta, considerar como aparelhos i d e o l 6 g i c o ~do Estado as seguintes instituic;6es

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    Podemos precisar, retificando esta distinQao. Diremos, com efeito, que todo Aparelho do Est ado , seja elerepressive ou ideol6gico, "funciona" tanto atraves daviolencia como atraves da ideologia, ma s com um a dife-renQa muito importante, que impede que se confundamos Aparelhos Ideol6gicos do Estado com o Aparelho(repressive) do Estado.

    0 aparelho (repressive ) do Estado funciona predominantemente atraves da repressao (inclusive a fisica)e secundariamente atraves da ideologia. (Nao existeaparelho unicamente repressive). Exemplos: o Exercitoe a Policia funcionam tambem atraves de ideologia,tanto para garantir sua propria coesao e reprodugao,como para divulgar os "valores" pa r eles propostos.Da mesma forma, ma s inversamente, devemos dizerque os Aparelhos Ideol6gicos do Estado funcionam principalmente atraves da ideologia, e secundariamenteatraves da repressao sej a ela bastante atenuada, dissi

    mulada, ou mesmo simb6lica. (Nao existe aparelho pu ramente ideol6gico). Desta forma, a Escola, as Igrejas"moldam" po r metodos pr6prios de sanc;6es, exclus6es,selec;ao etc... nao apenas seus funciomirios mas tambern suas ovelhas. E assim a Familia .. Assim o ,Aparelho IE cultural (a censur'a, para mencionar apenasela) etc .Sera preciso dizer que esta determinac;ao .do duplo"funcionamento" (de .forma principal, de forma secundaria) atraves da repressao ou atraves da ideologia, segundo a qual trata-se ou do Aparelbo (repressive) doEstado ou dos Aparelhos Ideol6gicos do Estado, permite compreender que constantemente tecem-se sutis

    combinag6es tacitas ou explicitas entre o jogo do Aparelho (repressive) do Estado e o jogo dos AparelhosIdeol6gicos do Estado? A vida cotidiana oferece-nosimlmeros exemplos, que todavia devemos estudar detalhadamente para superarmos esta simples observagao .Esta observac;ao nos possibilita compreender o queconstitui a unidade do corpo aparentemente dispersedos AlE. Se os AlE "funcionam" pr edominantementea.traves da ideologia , o que unifica a sua diversidade

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    e este funcionamento mesmo, na medida em que aideologia, na qual funcionam, esta de fato sempre unificada, apesar da sua diversidade e contradiQ6es, soba ideologia dominante, que e a ideologia da "classedominante". Se consideramos que pa r principia a "c lasse dominante" detem o poder do Estado (de formaclara ou, mais frequentemente pa r alianc;as de classesou de frag6es de classes) e que disp6e portanto doAparelho (repressive) do Estado, podemos admitir quea mesma classe dominante seja ativa nos AparelhosIdeol6gicbs do Estado. Bern entendido, agir po r leis edecretos no Aparelho (repressive ) do Estado e outracoisa que agir atraves da ideologia dominante nosAparelhos Ideol6gicos d6 Es tado. Seria preciso detalharesta diferenc;a, - que no entanto nao deve encobrirJealidade de um a profunda identidade. Ao que sabemos,nenhuma classe pode, de forma duradoura, deter o po-der do Estado sem exercer ao mesmo tempo sua hege-monia sabre e nos Aparelhos Id eol6gicos do Estado.Cito apenas urn exemplo e prova: a lancinante pre9-cupaQao de Lenin em revolucionar o Aparelho ideol6gicode Estado escolar (entre outros) para permitir ao pro-letariado sovietico, que se apropriara do poder doEstado, garantir nada mais nada menos do que o proprio futuro da ditadura do proletariado e a passagempara o social)fmo. 1oEsta ultima o b s e r v ~ a o nos permite compreenderque os Aparelhos ideol6gicos do Estado podem naoapenas ser os meios mas tambem o lugar da luta declasses, e frequentemente de formas encarniQadas daluta de classes. A classe lou alianc;a de classes) nopoder nao dita tao facilmente a lei nos AlE como noaparelho (repressive) do Estado , nao somente porque

    as antigas classes dominantes podem conservar durantemuito tempo fortes posi96es naqueles, mas porque aresi stencia das classes exploradas pode encontrar o meioe a ocasiao de expressar-se neles, utilizando as contra-10 Em urn texto patetico, datado de 1937, Krupskaia relata osesfon;os desesper ados de Lenin , e o que ela via como o seufracasso ("Le chemin parcouru).

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    digoes existentes ou conquistando pela luta p o s i ~ o e s decombate 10 bls.Concluamos nossas observa

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    tonomos, susceptiveis de oferecer urn campo objetivoas contradigoes que expressam, de formas or a limitadas, or a mais amplas, os efeitos dos cheques entre aluta das classes capitalista e proletaria, assim como desuas formas subordinadas.3. Enquanto que a unidade do Aparelho (repressive) do Estado esta assegurada pa r sua organizac;;aocentralizada, unificada sob a direc;;ao dos representantes das classes no poder, executantes da politica da!uta de classes das classes no poder - a unidade entreos diferentes Aparelhos Ideol6gicos do Estado estaassegurada, geralmente de maneira contradit6ria, pelaideologia dominante, a da classe dominante.Tendo em conta estas caracteristicas, podemos no srepresentar a reproduc;ao da s relac;;oes de prodw;ao 12da seguinte maneira, segundo um a especie de "divisaodo trabalho":0 papel do aparelho repressive do Estado c o n s i ~ t eessencialmente, como aparelho repressive , em garantirpela forc;a Cfisica ou nao) as condig6es politicas dareproduc;;ao das relac;;oes de produc;;ao, que sao em ultima instancia relac;;oes de explorac;;ao. Nao apenas oaparelho de Estado contrib'V.i para -sua propria reproduc;;ao ( existem no Estado capitalista as dinastias politicas, as dinastias militares, etc.) mas ta mbern, esobretudo o Aparelho de Estado assegura pela repressao(da forc;;a fisica mais brutal as simples ordens e proibi

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    confrarias dos mercadores, dos banqueiros, as associagoes dos empregados etc.) Ate a Edigao e a o r m a ~ ; a oconheceram incontestavel desenvolvimento, bern comoos espetaculos, inicialmente integrados a Igreja, depoiscada vez mais independentes dela.No periodo hist6rico pre-capitalista que examinamossumariamente, e evidente que havia um aparelho ideo-l6gico de Estado dominante. a I greja, que reunia nao s6as func;oes religiosas, mas tambem as escolares, e umaboa parcela das func;oes de informac;ao e de "cultura".Nao foi po r acaso que toda a !uta ideol6gica do seculoXVI ao XVIII, desde o primeiro abalo da Reforma, seconcentrou numa !uta anticlerical e anti-religiosa, foi emfunc;ao mesmo da posic;ao dominante do aparelho ideo- I16gico do Estado religioso. _,A Revoluc;ao francesa teve, antes de mais nada,como objetivo e resultado nao apenas a transferenciado poder do Estado da aristocracia feudal para a bur

    guesia capitalista-comercial, a quebra parcial tlo antigoaparelho repressive do Es tado e su a substituic;ao po rurn novo (ex. o Exercito nacional popular), - mas oataque ao aparelho ideol6gico do Estado n.0 1: a Igreja.Dai a constituic;ao civil do clero, a confiscac;ao dos bensda Igreja, e a criac;ao de rlovos aparelhos ideol6gicosdo Estado para substituir o aparelho ideol6gico do Estado religiose em seu papel dominante.Naturalmente as coisas nao caminharam po r si s6s:como exemplo temos o concordat, a ~ e s t a u r a c ; a o , e a longa luta de classe entre a Aiistocracia fun diaria e aburguesia industrial durante todo seculo XIX, para oestabelecimento da hegemonia burguesa nas func;oes

    anteriormente preenchidas pela Igreja: antes de maisnada pela Escola. Pode-se dizer que a burguesia seapoiou no novo aparelho ideol6gico de Estado politico,democratico-parlamentar, estabelecido nos primeirosanos da Revoluc:;ao, restaurado , apos longas e violentaslutas, po r alguns meses em 1848 , e durante dezenas deanos ap6s a queda do Segundo Imperio, para combatera Igreja e apossar-se de suas func;oes ideologicas, emsuma para assegurar _nao so sua hegemonia politica,

    ma s tambem a su a hegemonia ideo16gica, indispensavel a reproduc;ao das rela

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    antes de "atravessar" a Republica de Weimar e de entregar-se ao nazismo.Acreditamos portanto te r boas razoes para afirmarque, por tras dos jogos de seu Aparelho Ideol6gico de- Estado politico, que ocupava o primeiro plano do pa lco, a burguesia estabeleceu como seu aparelho ideol6gico de Estado n.o 1, e portanto dominante, o aparelhoescolar, que, na realidade, substitui o antigo aparelhoideol6gico de Estado dominante, a Igreja, em suas fungoes. Podemos acrescentar: o pa r Escola-Familia substitui o pa r Igreja-Familia.Po r que o aparelho escolar e o aparelho ideol6gicode Estado dominante nas formag6es sociais capitalistase como funciona?No momento e suficiente responder:1 - Todos os aparelhos ideol6gicos de Estado,quaisquer que sejam, concorrem para o mesmo fim: a

    reprodugao da s relagoes de produc;;ao, isto e, das relac;oes de explorac;ao capitalistas.2 - Cada urn deles concorre para este fim unicona maneira que lhe e pr6priaJ 0 aparelho politico submetendo os individuos a i d e ~ l o g i a politica do Estado,a ideologia "democratica", "indireta" (parlamentar) ou"direta" (plebiscitaria ou fascista). 0 aparelho de informagao despejando pela imprensa, pelo radio, pela televisao doses diarias de nacionalismo, chauvinismo, liberalismo, moralismo, etc. 0 mesmo ocorre com o aparelho cultural (o papel do esporte no chauvinismo e deprimeira importfmcia) ,.. etc. 0 aparelho religioso lembrando nos sermoes e em outras cerim6nias do Nasci

    mento, do Casamento e da Morte que o home m e cinzae sempre o sera, a nao se r que arne seu irmao ao pontode da r a outra face aquele que primeiro a espofetear.0 aparelho familiar .. . Nao insistamos.3 - Este concerto e regido por uma unica partitura, po r vezes perturbada po r contradic;;oes (as do restante da s antigas classes dominantes, as dos proletariose suas organizag6es): a Ideologia da classe atualmentedominante, qUe inclui em su a musica OS grandes temas

    ...

    do Humanismo dos Grandes Ancestrais, que realizaram, antes do Cristianismo, o Milagre grego, e depoisa Grandeza de Roma, a Cidade eterna, e os temas dointeresse, particular e geral etc. Nacionalismo, moralismo e economismo.4 - Portanto, neste concerto, urn aparelho ideol6-gico do Estado desempenha o papel dominante, muitoembora nao escutemos su a musica a tal ponto ela esilenciosa! Trata-se da Escola.Ela se encarrega das crianc;;as de todas as classessociais desde o Maternal, e desde o Maternal ela lhes inculca, durante anos, precisamente durante aqueles emque a crianga e mais "vulneravel", espremida entre oaparelho de Estado familiar e o aparelho de Estado escolar, os saberes c6ntidos na ideologia dominante (ofrances, o calculo, a hist6ria natural, as ciencias, a literatura), ou sin1plesmente a ideologia dominante emestado puro (moral, educac;;ao civica, filosofia}. Po r vol

    ta do 16.0 ano, um a enorme massa de crianc;;as entra"n a produc;;ao": sao os operarios ou os pequenos camponeses. Uma outr a parte da juventude escolarizavelprossegue: e, seja como for, caminha par a os cargos dospequenos. e medios ql}adros , empregados, funcionarios pequenos e medias , pequenos bu rgueses de todotiP,O. Uma ultima parcela chega ao final do percurso, seja para cair nu m semi-desemprego. intelectual, seja parafornecer alem dos "intelectuais do trabalhador coletivo", os agentes da exploragao (capitalistas, gerentes ),os agentes da repressao (militares, policiais, politicos,administradores) e os profissionais da ideologia (padresde toda especie, que em sua maioria sao '' leigos" convictos).Cada grupo dispoe da ideologia que convem ao pa pel que ele deve preencher na sociedade de classe: papelde explorado (a consciencia "profissional", "moral", "c ivica", "nacional" e apolitica altamente "desenvolvida" );papel de agente da exp lorac;;ao (saber comandar e dki-gir-se aos operarios: as "relagoes humanas") , de agentes da repressao (saber comandar, fazer-se obedecer"sem discussao", ou saber ma.nipular a demagogia daret6rica dos dirigentes politicos), au de profissionais

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    da ideologia (saber tratar as consciencias com o respeito, ou seja, o desprezo, a chantagem, a demagogiaque convem, com as enfases na Moral, na Virtude, na"Transcendencia", na Na

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    rapidarnente leva-lo ao confronto com esta realidade eobriga-lo a aprofundar suas primeiras intuig6es.Portanto estamos diante de urn paradoxa bastantesurpreendente. Tudo parecia levar Marx a formularuma teoria da ideologia. De fato, a Ideologia alemii nosoferece, depois dos Manuscritos de 44, um a teoria ex

    plicita da ideologia, mas . . . ela nao e marxista (nos overemos daqui a pouco). Quanta ao capital, mesmo quecontendo inumeras indicag6es para um a teoria das ideologias (a mais visivel: a ideologia dos economistas vulgares), ele nao contem esta teoria em si, que dependeem grande parte de um a teoria da ideologia em geral.Desejaria arriscar-me a proper urn primeiro e muitoesquematico esbogo. As teses que apresentarei nao saocertamente improvisadas, mas nao podem ser sustentadas e corriprovadas, isto e, confirmadas ou retificadas,a nao se r atraves de estudos e amilises aprofundadas.

    A Jdeologia nao tern hist6riaUma advertencia antes de expor a razao de principia que me parece fundar, ou ae1 menos autorizar, oprojeto de uma teoria da ideologia em geral, e nao deum a tebria das ideologias particulares, que expressamsempre, qualquer que seja sua forma (religiosa, moral,juridica, politica) posir;oes de classe.Evidentemente sera .necessaria empreender um ateoria das ideologias, a partr da dupla relagao que acabamos de indicar . Veremos entao que um a teoria dasideologias repousa em ultima analise na hist6ria da s formag6es sociais, e portanto dos modos de produgaocombinadas nas formag6es sociais, e das lutas de classe

    .que se desenvolvem nelas. Neste sentido, fica clara quenao se trata de uma teoria das ideologias em geral, um avez que as ideologias ( definidas pela dupla relagao indicada acima: regional e de classe) tern uma historia cujadeterminaQao em Ultima instancia se encontra evidentemente fora delas, em tudo que lhes concerne.Por outro lado, se eu posso apresentar o projeto deuma teoria tU:f ideologia em geral, e se esta teoria e urn

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    dos elemento:... do qual dependem as teorias das ideologias, isto implica numa proposigao aparentemente para-doxa! qu e enunciarei nos seguintes termos: a ideologianao tem hist6ria.Sabemos que esta formula aparece com todas asIetras numa passagem da Ideologia alema. Marx a enun-.cia a proposito da metafisica que, segun do ele, nao ternmais historia do que a moral

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    Na Ideologia alemii. a tese de que a ideologia nao ternhist6ria e portanto um a tese puramente negativa quesignifica ao mesmo tempo que;1. - a ideologia, nao e nada mais do que purosonho (fabricada: nao se sabe po r que poder a nao ser

    pela alienac;ao da divisao do trabalho, porem esta determinac;ao tambern e um a determinac;ao negativa>.2. - a ideologia nao tern hist6ria, o que nao querdizer que ela nao tenha um a hist6ria (pelo contnirio,uma vez que ela nao e mais do que o pa.lido reflexo va-zio invertido da hist6ria real) ma s que ela nao tern um ahist6ria sua.A tese que gostaria de defender, retomando formalmente os termos da Ideologia alemii ("a ideologia naotern hist6ria") e radicalmente diferente da tese positivistahistoricista da I deologia alemii.Porque, po r urn Iado, acredito poder sustentar queas ideologias tem uma hist6ria sua (embora seja ela,

    em ultima instancia, determinada pela !uta de classes);e po r ou tro lado, acredito poder sustentar ao mesmotempo que a ideologia em geral niio tem hist6ria, naoem urn sentido negativo co de que sua historia esta foradelaJ, ma s num sentido totaJmente positivo.Este sentido e positive se consideramos que a ideologia tern um a estruturiJ. e urn funcionamento tais quefazem dela uma realidade nao-hist6rica, isto e, omnihist6rica, no sentido em que esta es trutura e este runcionamento se apresentam na mesma forma imutavelem toda hist6ria, no sentido em que o Manifesto definea hist6ria como hist6ria da !uta de classes, ou seja, historia das sociedades de classe.Eu diria, fornecendo um a referencia te6rica retomando o exemplo do r.onho, desta vez na concepc;ao freudiana, que nossa proposic;ao: a ideologia nao tern hist6ria pode e deve (e de um a forma que nada tern dearbitraria, mas que e pelo contrario teoricamen te necessaria, pois ha urn vinculo organico entre as duas pr oposic;oes) ser diretamente relacionada a proposic;ao deFreud de que 0 inconsciente e eterno isto e, nao temhist6ria.

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    Se eterno significa, nao a transcendencia a toda hist6ria (temporal), mas omnipresenc;a, transhist6ria eportanto imutabilidade em su a forma em toda extensaoda historia, eu retomarei palavra po r palavra da expre!:i-sao de Freud e direi: a ideologia eeterna, como o incom:ciente. E acrescentarei que esta aproximagao me pareceteoricamente justificada pelo fato de que a eternidadedo inconscient e nao deixa de ter relac;ao com a eternidade da ideologia em geral.

    Eis porque me considero autorizado, ao meno1:. presuntivamente, a propor uma teoria da ideologia em ge-ral, no mesmo sentido em que Freud apresentou um ateoria do inconsciente em geral.Levando em conta o que foi dito das ideologia:s,para simplificar a expressao, designaremos a ideologiaem geral pelo termo ideologia propriamente dita, queconforme o dissemos nao tern hist6ria, au, o que da nomesmo, e eterna, onipresente, sob su a forma imutavel,em toda a hist6ria ( = a historia das formac;6es sociais

    de classe). Limito-me provisoriamente as "sociedades declasses" e a su a hist6ria.A ldeologia e uma r e p r e s e n t a ~ a o " da relac;ao imaginariados lndividuos com suas condic;:oes reais de existencia

    Para abordar a tese central sabre a estrutura e ofuncionamento da ideologia, apresentarei inicialttlenteduas teses, sendo um a negativa e a outra positiva. A primeira trata do objeto que e "representado" sob a formaimaginaria da ideologia, a segunda tr ata da materialidade d.a ideologia.Tese 1: A ideologia represents a rela ,que esta ldeologia de que falamos a partir de urn ponto

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    de vista cdtico, _ u ~ m e ~ e _ ! ! l E i l l l _ a n t e _ e t n 0 t v g - ~ . 'dos mitos de uma "sociedade primitiva", que essas "concepg6es de mundo" sao em grande parte imagimirias, ouseja, nao "correspondem a realidade".Portanto, admitindo que elas nao correspondem a

    realidade e que entao elas constituem um a ilusao, admitimos que elas se .referem a realidade e que basta "interpreta-las" para encontrar, sob a sua r e p r e s e n t a ~ a oimagimiria do mundo, a realidade mesma desse mundo(ideologia = ilusao1alusao).Existern diferentes tipos de interpretac;ao. As maisconhecidas sao a .mecanicista, COrrente no seculo XVIII,tDeus e a representac;ao imaginaria do Rei real) e a

    "b&:rm&n,_e_uJj.JJ", inaugurada pelos primeiros Padres daIgreja e retoma:da po r Feuerbach e pela escola teol6gicofilos6fica originada nele, por exemplo o te6logo Barth,etc. (para Feuerbach, po r exemplo, Deus e a essenciado Homem real) . Chego ao essencial afirmando que, interpretando a transposic;ao (e inversao) imaginaria daideologia, concluimos que nas ideologias "os homens representam-se , de forma imaginaria, suas condic;oes reaisde existencia".

    Infelizmente esta interp'retac;ao deixa em suspensourn pequeno problema: porque os homens "necessitam"dessa transposigao imaginaria de suas condic;oes reaisde existencia, para "representar-se" suas condiC,(oes deexistencia reais?A primeira resposta (a do seculo XVIII) propoeuma soluc;ao simples: Por culpa dos Padres ou dos Despotas. Eles "forjaram" Belas Mentiras para que, pensan

    do obedecer a Deus, os homens obedecessem de fato aosPadres ou aos Despotas, que na maioria da s vezes aliavam-se em sua impostura: os padres a servic;o dos despotas ou vice-versa, segundo as posic;oes politicas dos"te6ricos" em questao. Ha portanto uma causa paiS- atransposic;ao imaginaria da s condic;oes de existenciareais: essa causae a existencia de urn pequeno grupo dehomens cinicos que assentam sua .dominac;ao e sua explor a ~ a o do "povo '' sobre um a representac;ao falseada doBfi

    mundo, imaginada por eles para .subjugar os espiritospela dominac;ao de sua imagina.vao.A segunqa resposta (a de Feuerbach, retomada palavra por palavra por Marx em suas Obras da Juven

    tude) e mais "profunda", e igualmente falsa. Ela buscae encontra uma causa para a transposic;ao e ~ d e f o r m ac;ao imaginaria das condic;oes de existencia reais doshomens, para a alienac;ao no imaginario da representac;ao das condic;6es de existencia dos homens. Esta causa .nao e nem mais os padres ou os despotas, nem a suapropria imaginac;ao ativa ou a imaginac;ao passiva desuas vitimas. causa, e a alienacao mater!gl g_ue reina nas condic;6es mesmas de existencia dos homens. :E-desta mane1ra que Marx defende, na Questao Jud{a e emoutras obras, a idtHa feuerbachiana de que os homensse fazem uma representac;ao ( = imaginaria) de suascondic;oes de existencia porque estas condic;6es de existencia sao em si alienadas

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    Em linguagem marxista, se e verdade que a representac;ao das condic;oes de existencia reais dos individuosque ocupam postos de agentes da produc;ao, da explorac;ao, da repressao, da ideologizac;ao e da pratica cientifica, remete em ultima instancia as relac;oes de produc,;ao e as relac;oes derivadas da s relac;oes de produc;ao,podemos dizer .que: toda ideologia representa, em suadeformac;ao necessariamente imaginaria, nao as relac,;oes de produc;ao existentes ( e as outras relac;oes delasderivadas) mas sobretudo a relac;ao (imaginaria) dosindividuos com as relac,;oes de produc;ao e demais relac;oes dai derivadas. Entao, e representado na i,deologianao o sistema das relac;oes reais que govemam a existencia dos homens, mas a re lac;ao imagina ria desses in-dividuos com as relac;oes reais sob as quais eles vrvem.

    Sendo ass im, a questao da "causa" da deformacaoimaginaria da s relac;oes reais na ideologia desaparece, edeve se r substitu ida por uma outra questao: por que arepresentac;ao dos individuos de sua rela

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    que esta relaQao imagim\.ria e em si mesma dotada deuma existencia materiaLConstata.mos o seguinte:Urn individuo ere em Deus, ou no Dever, ou na Justic;:a, etc. Esta crenga provem

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    material, pais suas ideias sao seus atos materiais inseridos em pniticas materiais . reguladas pa r rituais rnateriais, eles mesmos definidos pelo aparelho ideol6gicomaterial de onde provem as ideias do dito sujeito. Naturalmente, os quatro adjetivos "materiais" referem-sea diferentes modalidades: a materialidade de urn deslocamento para a missa, de uma genuflexao, de urn sinalda cruz ou de urn mea culpa, de uma frase, de uma orac;ao, de um a contric;ao. de um a penitencia, de urn olhar.de urn aperto de mao, de urn discurso verbal interne(a consciencia) ou de urn discurso verbal externo naosao uma mesma e unica materialidade. Deixamos emsuspenso a teoria da diferen

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    cionamento nas formas materiais de existencia destemesmo funcionamento.Para compreender o que dai decorre, e preciso es.ta r alerta para o fato de que, tanto aquele que escreveestas linhas como o leitor que as le, sao sujeitos, e par

    tanto sujeitos ideol6gicos (formulaQao tauto16gica) ouseja, o autor e o leitor destas linhas. vivem "esponta-neamente" ou "naturalmente'' na ideologia, no sentidoem que dissemos que "o homem e par natureza urn)animal ideol6gico" .0 fato do autor, enquanto autor de urn discursoque se pretende cientifico, estar completamente ausente, como "sujeito", de "seu" discurso cientffico (todoo discurso cientifico e po r d e f i n i ~ a o urn discurso sernsujeito, s6 existe urn "Sujeito da ciencia" numa ideologia da ciencia), e urn outro problema que, pelo momenta , deixaremos de lado.Como o dizia Sao Paulo admiravelmente, e no. . : L O . : .

    ,g,os.'', leia-se na ideologia, que apreendemos "o ser, omovimento e a vida". Segue-se que, tanto para vocescomo para mim, a categoria de sujeito e uma "evidencia" primeira (as evidencias sao sempre primeiras) :esta clara que voces, comQ eu, somas sujeitos Oivres,marais, etc.) . Como todas as evidencias , inclusive asque fazem com que uma palavra "designe urna coisa"ou "possua urn significado" (portanto inclusive as evidencias da "transparencia" da linguagem), a evidenciade que voces e eu somas sujeitos -- .. e ate ai que nao haproblema - e urn efeito ideol6gico, o efeito ideol6gicoelementar 15 Este e alias o efeito caracteristico daideologia - impor (sem parecer faze-lo, uma vez quese tratam de "evidencias") as evidencias como evidencias, que na o podemos deixar de reconhecer e diantedas quais, inevitavel e naturalmente, exclamamos

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    "tern" um nome pr6prio, mesmo que eu o i ~ o r efaz com que voce seja reconhecido como SUJeito urucoetc) nos cta apenas a- "consciencia" de nossa praticai n c e ~ s a n t e (etema) do reconhecimento ideol6gico - aconsciencia dele, ou seja o seu reconhecimento - .ma snao nos da o conhecimento ( cientifico ) do mecamsmodeste reconhecimento. E preciso chegar a este conhecimento se queremos, falando da ideologia no seio daideologia esboc;ar urn discurso que tente romper coma i d e o l o ~ a . pretendendo se r o inici? de discursocientifico (sem sujeito) acerca da 1deologm.

    Entao para representar a razao p ~ l a qual egoria de sujeito constitutiva da ideolog1a a q : U ~ l so e ~ ~ -te para constituir s u j e ~ t o s concretes er:n_ U J ~ , 1 t o s , u t 1 ~ ;zarei uma forma particular de expos1c;ao: concretao suficiente para que possa ser reconhecida, e abstrata osuficiente para que possa se r pensavel e pensada,dando origem ao conhecimento.

    N ~ a primeira formulagao direi: toda i d ~ o _ l o g i a interpela os individuos concretos enquanto S U J ~ t t o s concretos, atraves do funcionamento da categona de sujeito.. i< d' 1-'Esta formulac;ao i m ~ l i c a , pelo momenta, na gao entre as individuos concretes po r ~ ~ : n lado, e ~ U J 1 tos concretes po r outro, embora o SUJeltO concreto s6exista neste nivel nu m fundamentado individuo concreto.Sugerimos entao que a ideologia " ~ g ~ " ou "funciona" de tal forma que ela "recruta" SUJettos dentre osindividuos (ela os remuta a todos), au "transfor111a"os individuos ern sujeitos (ela os transfonna a todos)

    atraves desta operagao muito precisa que c ~ a m a m ~ sinterpelar;iio, que p ~ d e ~ n t e n d i d a _como ~ 1 p obanal de interpelac;ao pohCial (ou nao) cottdiana. e1,voce af!"P

    17 A i n t e r p e l ~ a o , pra.tica cotidiana, submetida a ~ ritl!-a;l preciso toma uma forma bastante especial na pratlca pol!ctal de" i ~ t ~ r p e l ~ f L o " , quando se trata de interpelar "suspeitos".96

    Supondo que a cena te6rica ocorre na rua, o individuo interpelado se volta. Nesse simples movimentofisico de 1800 ele se tom a sujeito. Par que? Porque elereconheceu que a interpelac;ao se dirigia "certamente aele", e que "certamente era ele o interpelado"

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    mesmo). 0 que nos faz dizer que a ideologia nao possuium exterior (para si mesma> ma s que ao mesmo tempoela e exterioridade (para a ciencia e para a realidade).

    Spinoza explicou isto perfeitamente duzentos anosantes de Marx, que o praticou, sem explica-lo detalhadamente. Mas abandonemos esta questao, rica de conseqtiencias nao apenas te6ricas, ma s diretarnente politicas, da qual depende po r exemplo toda a teoria da critica e autocritica, regra de ouro da pratica da luta declasses marxista-leninista.

    Portanto a ideologia interpela os individuos enquanto sujeitos. Sendo a ideologia eterna, devemos agora suprimir a temporalidade em que apresentarnos o funcionamento da ideologia e dizer: a ideologia sempre / jainterpelou os individuos como sujeitos, o que quer dize r que os individuos forarn sempre/ a interpeladospela ideologia como sujeitos, o que necessariamentenos leva a urna ultima formulac;ao: os individuos saosempre/ ci. sujeitos. Os individuos sao portanto ."abstratos" ern relac;ao aos sujeitos que existem desde sempre. Esta formulagao pode parecer urn paradoxa.Que urn individuo seja sempre ; ja s ~ e i t o , antesmesrno de nascer, e no entanto a mais simples realidade, acessivel a qualquer 'urn, sern nenhum paradoxa .Que os individuos sejam sempre "abstratos'' em relac;ao aos sujeitos que sao desde sempre, F reud ja o demonstrou, assinalando simplesmente o ri tual ideo16gico que envolve a espera de urn "nascimento", este "feliz acontecimento". Todos sabemos como e quanto e esperada a crian

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    das"). Ela diz: Eis quem tu es: Tu es Pedro! E:is a tuaorigem, tu foste criado pelo Deus de toda eternidade,embora tenha nascido em 1920 depois de Cristo! Ei s oteu lugar no mundo! Eis o que tu deves fazer! Se ofizeres, observando o "mandamento do amor", tu serassalvo, tu Pedro, e faras parte do Glorioso Corpo doCristo! etc . . .

    Eis ai um discurso bastante conhecido e banal, ma sao mesmo tempo profundamente surpreendente.Surpreendente se considerarmos que a ideologia religiosa se dirige aos individuos 18 para "transformaIos em sujeitos", interpelando o individuo Pedro parafazer dele um sujeito, livre para obedecer ou desobedecer a este apelo, ou seja, as ordens de Deus; se ela oschama po r seu nome, reconhecendo desta forma queeles sao chamados sempre/ ja enquanto sujeitos possuidores de uma identidade pessoal (a ponto de o Cristode Pascal dizer: "E por ti que derramei esta gota de

    meu sangue"); se ela os interpela de tal modo que osujeito responde "sim, sou eu!"; se ela obtem o reconhecimento de que o espru;o por eles ocupado lhes foi porela designado como seu no mundo como uma residencia fixa: "e verdade, eu. aqui estou, operario, patrao,soldado!" neste vale de lagrimas; se ela obtem o reconhecimento de um destino (a vida au a danayao eternas) que depende do respeito ou do desprezo com queserao observados OS "mandamentos divines", a Lei torn ada Amor; - s e tudo isso ocorre (nas conhecidaspraticas dos rituais do batismo, da crisma, da comunhao, da confissao e da extrema-um;ao, etc . . . ) devemosobservar que todo este "procedimento'', gerador de su-jei.tos religiosos cxistaos, e dominado po r um estranhofenomeno: s

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    que termina na Cruz), sujeito ma s Su jeito, homem masDeus, para realizar aquila atraves do que a Reden

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    uma autoridade superior, desprovido de liberdade, anao ser a de livremente aceitar a sua submissao. Estaultima conotar;ao nos da o sentido desta amb igUidade.que reflete 0 efeito que a produz: 0 individuo e nterpelado como sujeito (livre ) para livremente . submeter-seas ordens do Sujeito. para aceitar, portanto (livremente) sua submissiio, para que ele "realize por si mesmo"os gestos e atos de sua submissao. Os sujeitos se constituem pela sua sujeir;iio. Por isso e que "caminha:rn porsi mesmos" .

    "Assim seja!" .. . Estas palavras, que expressam oefeito a ser obtido, provam que as coisas nao sao "naturalmente " assim ("naturalmente": fora desta orar;ao,fora da intervenr;ao ideol6gica). Estas palavras provamque e preciso que assim seja, para que as coisas sejamo que devem ser usemos a palavra; para que a reprodugao das relar;oes de produr;ao seja, nos processes de produgao e de circular;ao, assegurada diariamente, na"consciencia", ou seja, no comportamento dos . individuos-sujeitos, ocupantes dos pastas que a divisao socialtecnica do trabalho lhes designa na produao, na explorar;ao, na repressao, na ideologizar;ao, na pratica cientlfica, etc. Neste mecanisme do reconhecimento especular do Sujeito e dos individuos interpelados como sujeitos, da garantia dada peio Sujeito a.os sujeitos casoestes aceitem livremente sua submissao as "ordens" doSujeito, como o que exatamente nos defrontRmos'? Arealidade posta em questao neste mecanisme, a que ne:cessariamente e desconhecicla pelas formas mesmas doreconheclmento 1 deologia ::::: reconhecimento /desconhecimento), e certamente em ultima instancia, a reprodur;ao das relaQ6es de produQao e demais .rela

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    tendo um a verdade este mecanismo e abs trato emrelaifcio a qualquer formar;ao ideol6gica real.Ja expusemos a idEHa de que as ideologias se rea-lizavam nas instituic;oes , em seus rituais e pniticas, osAlE. Vimos que e desta maneira que elas concorriam

    para es ta fo rma de luta de classe, vita l pa ra a classedominante que e a reproduc;ao das relac,;oes de produr;ao. Mas mesmo este ponto de vista, por mais real queseja, perm anece abstrato.Com efeito, o Estado e seus Aparelhos, s6 ternsentido do ponto de vista da Iuta de classes, enquantoaparelho da luta de classes mantenedor da opressao declasse e das condig6es da exploragao e sua reprodugao.Nao ha a luta de classes sem classes antag6nicas. Quemdiz luta de classe da classe dominante diz resis tencia,revolta e luta de classe da classe dominada.Par isso os AlE nao sao a realiza

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    NOTA SOBRE OS APARELHOS IDEOL()GICOSDE EST ADO (AlE)

    Tradu9eto deWALTER JOSE EVANGELISTA*

    Revisiio Tecnica deALAIDE lNAH GONzALEZ

    IA critica que mais freqUentemente foi dirigida-con

    tr a meu ensaio de 19,69/7 0 sabre os Ail!! 1 foi a de tun-cionalisrno. ,Quiseram ver, em minhas notas teoricas,um a tentativa de recuperar, em favor do marxismo, umainterpretagfw que definisse os 6rgaos somente po r suasf u n ~ ~ o e s e d i a t a s , fixanclo, desse moc;to, a socieclade nointer:io r de c ~ r t a s institu:ic;:oes ideologieas , enea.rregadasde exercer J:un96es de submetimento em ultima analise,uma i n t e r p r e t a g ~ o nao dialetica, cuja 16gica mais profunda excluisse toda p o s s b i l i d ~ d e de }uta de cl.asses.Penso, no en an to , que nao leram, com suficienteaten

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    Pode-se dizer, com efeito, que o especifico da teoriaque se pode retirar qe Marx sobre a ideologia e jl afirmagao da prima.zia da luta de classes sabre as fun

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    ,sibilidade de vir a existir, algum dia , o modelo de Estado etico; cujo ideal utopic0 Gramsci havia retiradode Croce. Assim como nunca pode dar-se como acabada a luta de classes, tampouco pode dar-se po r finalizado o combate da classe dominante que tenta unificar . os elementos e as formas ideol6gicas existentes.Isso equivale a dizer que a ideologia dominante, emboraseja essa a sua fun(,(ao, nunca chega a resolver, total-mente, suas pr6pr,ias contradi

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    ~ o r t a r q u i a _

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    sal), perante os quais o governo, eleito pelo chefe deEstado ou pelo proprio Parlarnento, deve respon$abilizar-se p.or sua politica. No entanto, sabemos que, na realidade - e nisso reside a vantagem desse aparelho paraa burguesia-, o governo disp6e de um a quantidade impressionante de meios para eludir e 'contornar essa responsabilidade, ja comegando pelo pxincipio, ou seja(prescindindo agora de todas as formas de pressao ima-gimiveis), fazendo armadilhas com o sufnigio dito un'iversal, e continuando pelas disposigoes parlamentares .vigentes (sistema censitario, exclusao do voto das mulheres e dos jovens, eleigao em multiples niveis, duplacamara com uma base eleitoral distinta, divisao de poderes, proibigao dos partidos revolucionar ios, etc.).Essa e a realidade dos fatos. Mas o que permite,.em (tltima instancia, !alar do sisterrw. politico como de urn .aparelho ideol6gico de Estado e a jicqiio, que corresponde a um a certa realidade, de que as per,;as desse sistema, assim como seu. pr incipia de funcionamento,ap6iam-se na ideologia da liberdade e da igualdade doindividuo eieitor, na livre escolha dos representantes dopovo pelos individuos que compoem esse povo, em fungao da ideia que cada qual {az da politica que deve seguir o Estado. sobre a ba,se dMsa ficgf:i!o f i c f ~ a oporque a politica do Es tado esta ctete:rminacia, em ultima instancia, pelos interesses da elasse dom inante na luta de classes) que se c:ri.ara;m os pattidos polidcos,aos qmds cabe expressar e repl'esentar as grandes opc-;oes divergentes Cou c ~ : m v e r g e n t e s ) da politica nacional. Cada individuo pode,. entao, livremente expressarsua opiniao, votando no pa rtido politico de sua escolba(see que es te nao tenha sido condElll1ado. a ilegalidade).Veja_m que pode haver uma certa realidade nos partidos politicos. Em gEnai, se a luta de classes estd su- ficie:ztem_ente desenvoZvida, podem representar, a grossomodo, os interesses de classes e de : f r a ~ 6 e s de classesantagonicas na luta cle classes, ou de camadas sociais

    \

    que desejam ver seus interesses particulares prevalecerem no interior dos conflitos cte classe. _E e atravesdessa realidade que pode finalmente fazer-se visivel,apesar de todos os obstaculos e todas as i m p o s ~ 1 r a s _dosistema, o ariltagonismo das classes fundamentals. D1gopode, uma vez que sabemos de paises burgueses ~ E E U U ,Gra-Bretanha, Alemanha Federal, etc.) nos qua1s o desenvolvimento politico das lutas de classe nao chega aultmpassar o umbml da representw;;ao eleitoral: nes.secaso, os antagonismos parlamentares sao apenas indicadores muito remotos, inclusive completamente deformados, dos antagonismos de classe reais. A burguesia se encontra, entao, perfeitamente a salvo, protegidapo r urn regime parlamentar que da voltas no vazio. Poroutro lado, podem dar-secasos em que a luta de classesecon6mica e politica da classe operaria adquira um aforca tal que a burguesia possa temer que o veredi to ,do ,sujragio univetsal se volte contra ela (Franga, Italia) embora continue dispcmdo de consideraveis recursos 'para r e v o g ~ i - l o ou para reduzi-lo a nada. Pense-sena C i ~ m a r a da Frente Popuh:.r na Franqa:

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    nio majoritario e que e essa vontade gera l, representadaP:los deputados dos partidos, que faz a politica da naQao- 9-uando , em definitive, a unica coisa que faz sem-.pre e a politica de um a classe, da classe dominante.. um a ta l ideologia polftica seja uma parte daIdeolog1a clominante, e que seja homogenea com ela ealgo demasiado evidente: essa mesma ideologia secontra todos os !ados dentro da ideologia burguesa(a qua l, e born lembrar, esta mudando nos tiltimos dezanos)._sso e surpreendente se se sabe que a matrizdessa ldeologia dominante e a ideologia ju r idica ind ispensavel ao funcionamento do direito burgues. 'o fatode que a encontremos po r todos os lados e que indicaestarmos frente a ideologia dominante. E e dessa correspondencia continua de

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    nistas. Como estes sao as organizagoes cte !uta de classeoperaria, sao, em principia (ja que tambem eles podemcair no reformismo e no revisionisma) totalmentealheios aos interesses da classe burguesa e a sistemaPolitico. Sua ideologia

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    com algumas variag6es que afetam os partidos das diversas frac;oes da burguesia. Basta; aos pa rtidos burgueses, quase sempre, organizar bern sua campanha eleitoral, para o que se mobilizam, nipida e eficazmente, erecolher os fru tos desse dominio convertido em conviceleitoral. Po.r isso, e alem disso, urn partido bu rguesnao tern necess1dade de uma doutrina cientifica ou denenhuma doutrina, para subsistir: basta-lhe possuir al

    g u m ~ s ideias, extraidas do fundo comum da ideologiadommante, para ganhar partidar ios ja convencidos deantemao , par interesse au po r medo.Pelo contnirio, urn partido operario nada tern a oferecer ao s que a ele aderem: nem as sinecuras nem asvantagens rnateriais com que as partidos burgueses

    c o m ~ r ~ m sua clientela, em caso de dt1vida. Um pa rtidooperano se apresenta como o que e; uma organizac;aoda Iuta de classe operari a, que dispoe, como princii)aisforQas do ins tinto de classe dos exploractos de umadoutrina cientifica e da llvre vontade de seus ;nembrosrecrutados a base dos es tatutos do partido. O r g a n i z ~seus membros imediatamente, de modo a Ievar a lutade ~ l a s s e em toclas as suas formas : economica (em co

    n ~ > . : a o com as organizac;6es :Sindicais) , politica e :ideol6g1ea. Define su a linha e .suas pr a.ticas nao somente so'brea da rebeliao dos trabalhaelores explorados, ma stambeq1 sobre a base das telaQoes de f o r g entre as

    c ~ a ~ s e s , - .analisadas de forma eoncre ta, gJ"l:tt;;as aos prinClpios cloutrina cientifica , enr iquecida por todasas expenencms de !uta de classes. Considera, pois cuidaclosamen e as modalidades e a fort;;a da Iut a de dJasseda classe dominante, nao somente em t.->scala nacional .tambem , .ern escala rhundia.l. :E em funt;;ao dessa:lmha que pode julgar tit i l e coneto entrar, ern tal ou

    q t ~ a l mot?ento, num governo de esqum:da , p ar a realizarall sua Iuta de classe, com seus objetivos pr6prios. 1 ~q ~ a l q u e r dos casos, subordina sempre os interesses ime-, i a t o ~ .do movimento aos . nteresses futuros da. classeoperana. Submete sua tatica a es trategia do comunis-122

    mo, ou seja, a estrategia da sociedade sem classes.Estes sao, ao menos, os principios .

    Nestas condit;;6es, os comunistas tern nizao ao falarde seu partido como sendo urn partido de um tipo novo,to talmente diferente dos pa rtidos burgueses, e delesmesmos como sendo militantes de um tipo novo, totalmente diferentes clos politicos burgueses. Su a praticada po litica, ilegal ou legal, pa rlamentar ou extraparlamentar, nada tem aver com a pnitica politica burguesa.

    P o d e r ~ i dizer-se, indubitavelmente, que o partido cbmunista se constitui tambem , como todos os partidos ,sabre a base de um a ideologia, a qual ele mesmo chamaa ideologia. proletdria. Certo. Tambem nele a ideologiadesempenha urn papel de cimento (Gramsci) de urngrupo social definido , cujo pensamento e praticas un ifica . Tambem nele essa. ideologia inter:pela os individuoscomo sujeitos, muito exatamente como sujeitos-militantes: basta te r alguma experiencia concreta de urn partido comun ista par a ver como se clesenvolve esse mecanismo e essa diharnica, que, em pr incipia, nfto rnarcamais o dest.ino de tun individuo do que o faz qualqueroutra ideologia, temio .se em eonta o jogo e as contradique e x i ~ t e m entre as diferentes ideologias. Mas oque se chama a ideologia proletaria nao e a ideologiapuramente espontanea do proletariado, na qual elemen-tos (Lenine) e t ~ i r i o s se combinam com elen1entosburguese.s, estando , em geral , submetioos a estes. :E: issoporque, para existi r como ciasse consciente de su a unid a d l ~ e ativa em sua o r g a n i z a ~ a o de !uta, o- proletariadonecessita nfho somente cla experieneia (a da s lutas declasses em que combate ha mais de urn sec:ulo), ma stambem de c o n l z e c ~ r n e n t o s objetivos, cujos fundamentos ,a teoria ma1:xista lhe p:roporciona. Sobte a duph}base dessas experincias, iluminadas pela teoria ma rxista , eonstitu i-se a ideologia prolet:iria, ideologia de massas, capaz de urrifidu a vanguarda da elasse operariaem organizac;6es de lu.ta de classe. Trata-se, :por-

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    tanto, de uma ideologia muito particular: e ideologia,uma vez que a nivel das massas, funciona como todaideologia (interpelando os individuos como sujeitos),mas impregnada de experiencias historicas, iluminadaspa r principios de analise cientifica. Tal como se apresenta, constitui uma das jormas da fusao do movimentooperario com a teoria marxista, Jusao. nao carente detensoes e contradigoes, ja que entre a ideologia proleta ria, tal como se realiza num momenta dado, e o partido em que se realiza, pode existir uma forma de un idade opaca para a propria teoria marxista, que, no entanto, esta presente nessa unidade. A teoria marxista e,entao, tratada como simples argumento de autoridade,isto e, como urn sinal de reconhecimento ou como urndogma e, levando as coisas ao extrema, ao mesmo tempo em que se diz que el a e a teoria do partido, pode simplesmente desaparecer, em beneficia de uma ideologia

    pragmatica e sectaria, que s6 serve aos int eresses departido ou de Estado. Nao e preciso fazer grandes discursos para reconhecer, aqui, a situat;ao presente, quedomina nos partidos marcados pela etapa estalinista, epara concluir disso que a ideologia proletdria e tambemo cenario de uma luta de cli\sses que ~ : i n g e o p r o l e a r i ~do em seus prorJl'ios prindpios de unidade e de a c ; ~ 1 . 6 fquando a ideolop,;ia domimmte burguesa e a. pratica polil:ica burguesa penetra m nas organizat;6es da luta declasses operaria.

    1:1:: ideologia, claro. No entanto, a ideolog:i.H. proletaria nao e uma ideologia qualquer. E:fetivEmlente, cadacla.sse se reconhece a si mesrna mima ideologia particular, e nf:i:o arhitraria, aquela que esta. enraizada emsua ptdtica estrategica, que e capaz de unifica-la e orientar sua luta de classe. Sal::!emos que a classe feudal sereconhecta na ideologia religiosa do Cl'istianisrno, parrazoes que se deve,l'iam an.alisar, e que a classe burp,;ue-sa se reconhecia, igualmente, pelo menos nos temposde seu dorninio classico, antes do recente desenvolvintento do :i!mperialismo, na ideologia juridica. A classe124

    .,,

    openiria, ainda que seja sensivel a elementos de ideolo-gia religiosa, moral e juridica r e c o n h e c e - ~ ~ a n t ~ s demais nada numa ideologia de natureza p o l ~ t w a , nao naideologia ~ o l i t i c a burguesa (dominio de classe), ma sna ideologia politica proletaria, a luta de_classes paraa supressao das classes e para Aa mstauragao c o ~ u -nisrno. :E essa ideologia, espontanea ern suas pnmeu asformas (0 socialismo utopico), e instruida desde a fusao do rnovimento operario e da ~ n a r x i s t a , o queconstitui o nucleo da ideologia pr oletana.

    Existe, freqtientemente, a c r e n ~ a de que um a ideo-logia como esta resultou de um e n s i n a m e n ~ o dado pa rcertos intelectuais (Marx e :E!::ngels) ao mov1mento operario, 0 qual a teria adotado po rque se teria r e c o ~ h e c i d onela: dever-se-ia, entao, explicar como certos mtelectuais burgueses pude1am produzir esse mi1agre, o de

    U l l l ! ~ , l , teoria a medida do proletariado.'I'ampouco foi , como queria Kautsky, n ~ r o d u z i d a defota para o or do movirnento O_Perano, um a vez

    que Marx e ~ n g e l s nao tf:1riam_ pod1?0 c o n c : : e ~ e rteoria. se ni:i.o a tivessem const:rmdo sabre pos1goes teor :lcas de c l a s ~ ~ e efeito di:mto do fato de per:enememorganiearn:ente ao movimento 0 1 ~ e r a r i o d_e su a ~ ~ e ~ Narealiclade, a teoxia marxista fm eonceb1da POI mtelec-t ''""JI' .s c l ' ~ ! l o provxdos de uma vasta culhua, ma sl , l ! ( ~ . , : ; ) ,. inte1ior e a p a r t i ~ do interioT do rnovimento ? P ~ m n o ;Maquiavel dizia que para co:mp1eender os pn;;mpes epmdso que se seja povo. Urn intelectual que n ~ n_ascepovo deve taze1-se povd para compleender os p r m c 1 p e ~ ,e (l p o d ~ ~ conseguir iSSO compartilh.alil.dO d a s 1 l ~ t a s clessepo;vo. F'bi o que :fez lll.[arx: converteu-se ern ~ ~ t e l e c t u a lorgani.eo do pr oletariado (Gran1sci) eomo nuhtan:tesuas P.l\i.rnehas o:rganiza({oes e foi a partir das posiGoes

    p o l i t i ~ s e teoricas do proleta1iado que pode comp-reende r o capital. 0 falso problema ru1. injegiio da teoriamarxista a partir do exterior converte-se, assim, no ? ~ o -blema da difusao, no inte1ior do mov:imento operano .

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    de uma teoria concebida no interior do movimento operdrio. Naturalmente, essa difusao foi o resultado de umalonguissima luta de classe, atraves de duas vicissitudes- - e que ainda continua, po r meio de dramaticas cisoes,dirigidas pela luta de classe do imperialismo.Resumindo o essencial dessa analise acerca eta natureza do partido revolucionario, podemos recuperar atese da primazia da luta de classes sobre o aparelho de

    Estado e sabre os aparelhos ideol6gicos de Estado. Farrmalmente, urn partido como o pa1tido comunista podeparecer urn partido como 'Os demais, quando desfrutado direito de te r representantes, po r meio das eleic;;oeslno Pariamento. Formalmente pode parecer, inclusive,que aceita essa regra do jogo e, com ela, todo o sistemaideol6gico que nela se realiza: o sistema ideo16gico politico burgues. E a hist6ria do rnovimento openi:rio ofe-l'Elce suficientes exemplos em que o partido r e v o l u o i o ~ u i -r io, jogando corn essa regra do jogo, acabou oaindotivamente nas armadilhas desse jogol abandonando alillta de classe pe la colabol'agao de classe, sob a infliUencia de ideologia bUl'guesa dominante. 0 formal p o d , ~assim, faze:r-se r e a ~ , sob a :influencia da luta de c l . a s s E ~ ~ ;

    Esse risco, sempre presente fa>t.-nos t E ~ r em conta. a.condigao a qual foi r:mbmetida 1 pa:ra a sua c::onstituiQa,o,o r.noyirhento operftrio: o dom:f.nio da; luta de classe h)l.r-guesa sobre a luta. de classe operaria. reriamos um.aideia equf.vocada da luta de classes se acreditassemosque esta e o r e s ~ t l t a d o da rebeliao da classe opera1"ia .contra a injustit;;a Fvodal, a desigualdade, ou l inclusi.ve,contra a exploraQao capi.taUsta, isto e, reduzindo a lutade c l ~ s s e s a luta da classe opera1ia contra certas c"bnd;ic;;oes de explo:raQa.Q da.cias, p : r i m ~ ~ i r o , a rr:?pliqa da .

    T o t l l f ~ ' l ~ e s i a a. essa. 1uta , E ~ ) o : i s ][sso se1ia esquece r .quecondiQ5es de exploJ'ali(ao existem antes, que o pl'Ocessode constituit;(ao da s condiQoes da explorac;ao operal"ia e.a forma fundamental da luta de classe burguesa, quel pm'tanto, a explOl'ac;ao ja e lut a de classe, e que a l ~ t a126

    de classe burguesa eanterior. Toda a hist6ria da acumulagao primitiva pode ser entendlda. como a produc;ao daclasse operd.ria pela classe bp,rguesa, num processo deIuta de classe que cria as condic;;oes para a explora.gaocapitalista.Se essa tese esta certa 1 demonstra claramente emque a luta de classe burguesa domina, desde sua orgiem,a lurta de classe operaria, porque a luta da classe operari a levou tanto tempo para tamar forma e encontrarseus modos de existencia, porque a lqta declasse e f1,1!1-damentalmente desiguall porque nao se efetiva com asmesmas praticas pela burguesia e pelo proletariado, eporque a burguesia impoe, nos aparelhos ideologicos deE:stado /01-rnas encaminhadas no sentido de prevenir esubmeter a a.Qao revolucionaria cla classe opel'aria.A gl'ande v i n d i c ~ i ~ i o estrategica da classe opera

    ~ i l l f . L autonomia, exp;ressa essa condigao. Sub metidaao dominio do l!:stado burgues e aos eifeitos de intimi- dnqao e de evidencia da ideologia dominante, a classeopeni.r:ia s6 pode conc;p . .sua autonomia sob a. condigoo de libmtar-se da ideologiu ('lor.runante, de" llil:a!I'Car

    d ~ ~ e r e : n q a 8 cmn ela, a nm de se proporciona.r fonnas deo ~ g ~ ' L n 1 . z a r ; < F . ' i o agaJ() que r e a l i z ( stua p:rc5pri.a ideologkt, a 'ideologia proleiltria. 0 especifido dessa :ruptttJ.a;:wd e ~ > ~ e - clistanciamento r a d i c a ~ e que a ~ : t u e l a s so podetn:maJizmr-se atraves de u:rna. luta de Jongo a n c e quec]eve, russo, levar em conta as jcnrnas de domih,ioburgues e de combate r a"burguesia no seio de suas pt6-prias jorrnas de dom.inagao, mas sem nunca deixar-see n g ~ m a r po r essa1:; formas, que nao sfl,o simples tvrn.uzsneu tras, rnas aparellvOs que reaii.zam 'lienden\)iahnente ae."Ciste-ncia. da id.eologia dominante.

    Ta.) co:mo escrevi ern m:F.nlui. Nota de 1970: "se e' verdade que os AIE r e p r e s e n ~ a m a forma na q1,:m..l aideologia da classe dominante deve reaJ.izar-se (para se ri c a ~ n e n ~ ' at:iva), e a forma corn a qual a ideologiada cl.asse dominada deve necessa.riamef te compara:l'-se

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    ,.' j

    e defrontar-se, as ideologias nao nascem nos A.IE, ma stem sua origem nas classessociais envolvidas na luta declasses: em suas condigoes de existencia, em suas p n ~ -ticas, em suas experimcias de luta, etc".

    As condi