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III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE
APAFUNK: A UTILIZAÇÃO DAS REDES SOCIAIS PARA UMA CONSTRUÇÃO SOCIAL.
Otacilio Evaristo Monteiro Vaz1
Introdução
Diversos movimentos culturais já sofreram algum tipo de perseguição ou
marginalização ao longo do tempo. O punk foi e é considerado um movimento agressivo
e que instiga a violência; o reggae é vinculado ao consumo da maconha; o samba do
início do século XX era considerado como marginal pela elite branca do Rio de Janeiro. O
mesmo pode ser visto com o funk carioca desde sua chegada ao Brasil, durante os anos
1970, até sua assimilação pelas comunidades periféricas durante a década de 1980 e sua
conseqüente marginalização durante os anos 1990, principalmente por decorrência de
eventos como os arrastões que aconteceram nas praias da Zona Sul carioca.
Atualmente o movimento vive uma outra situação, com maior aceitação da
sociedade e com a realização de bailes funk permitidos pela lei municipal do Rio de
Janeiro. Inserida nesse novo momento, a Associação dos Profissionais e Amigos do Funk
– Apafunk, criou em 2008 um blog com o objetivo de divulgar eventos, palestras, bailes
etc. Suas postagens possuem alguns assuntos de maior recorrência, como as conquistas
do movimento cultural no campo político, conseguindo eliminar leis municipais que
inviabilizavam os bailes, ações que buscam popularizar o funk carioca, como a Roda de
Funk, informações úteis para os profissionais envolvidos com o movimento e notícias que
mostram como o funk carioca ainda é considerado um movimento marginalizado. A
Apafunk está inserida em um movimento iniciado por um grupo de profissionais do funk
que adotaram o estilo “funk de raiz”. Esse grupo se desvincula do estilo que faz qualquer
tipo de apologia ao consumo de drogas ou ao crime, os chamados “proibidões”.
Através de uma comunicação mediada por computadores, teremos a possibilidade
de um maior número de pessoas tendo acesso a informação, em um alcance planetário.
A partir da web 2.0 foi possível a realização de trocas comunicacionais, dando ao
receptor a possibilidade de também emitir conteúdo, o que não acontecia em uma
comunicação massiva no seu formato mais básico.
O presente artigo faz parte de um projeto de mestrado em andamento na
Universidade Tuiuti do Paraná, onde pretendemos verificar como ocorre a interação do
movimento funk carioca com seus simpatizantes espalhados pelo mundo, não apenas
através do seu blog, mas também em mídias sociais como o Facebook. Também é
1 Mestrando em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná / Professor do curso de Comunicação Social da FACINTER. e-mail: [email protected]
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objetivo, perceber qual o papel colaborativo das redes sociais junto ao funk carioca, na
sua busca por um posicionamento integrado à sociedade, e não mais marginalizado.
Funk marginal
A primeira abordagem importante a ser feita diz respeito a raiz sociológica do baile
enquanto festa. Hermano Vianna, em seu estudo sobre os bailes funk cariocas, propõe
três funções básicas para todo tipo de festa: 1) superação das distâncias interindividuais;
2) produção de um estado de efervescência coletiva; 3) transgressão de normas sociais.
“Os bailes seriam uma festa coletiva, onde este mesmo corpo coletivo anula as
individualidades. O indivíduo é anulado, prevalecendo as atitudes da coletividade”
(VIANNA, 1985, p. 15).
Essa coletividade periférica que promove os bailes funk no Rio de Janeiro, sofreu ao
longo do tempo, uma imagem de marginalização, moldada em boa parte pelos meios de
comunicação de massa. “Essa imagem negativa atribuída aos chamados funkeiros2, os
determinam como autores de atividades desviantes3
” (FILHO, HERSHMANN, 2003, p.
60). Surgido no Rio de Janeiro do final dos anos 1970, o funk carioca nasce do estilo
musical afro-americano chamado Miami Bass, som de batida pesada e letras curtas, um
estilo feito para dançar, composto por sons eletrônicos e que, em alguns momentos,
utiliza vozes. A partir dos anos 1990 os bailes ganham uma grande cobertura da mídia
massiva. Como conseqüência da grande exposição, ficam mais evidentes, em alguns
casos, os vínculos dos bailes com a criminalidade e com o forte apelo sexual vistos
nessas festividades. Além disso, muitas gangues freqüentavam os bailes não apenas
para se divertir, mas também para brigar.
Bailes do tipo “Lado A, Lado B”, “Baile do Corredor”, onde as galeras rivalizavam entre si em momentos de forte violência física, forneceram provas para a definição “violência sangrenta” atribuída à essas festas e como conseqüência, um maior controle social sobre os mesmos (ALVIM, PAIM, 2010, p. 3).
Os confrontos entre as galeras4
2 Termo designado para os seguidores do movimento funk carioca, assim como “roqueiro” para os amantes do rock. Nota dos autores.
ocorridos durante os bailes, divulgados pela
mídia, contribuíram para a visão marginalizada sobre o movimento, o que inclui os bailes
e o próprio estilo musical. Como conseqüência, teremos a criação de uma série de
mecanismos de repressão e controle sobre o movimento.
3 As atividades desviantes estão relacionadas à chamada Sociologia do Pânico, associada ao trabalho do sociólogo Howard Becker (2009), e serão abordadas adiante. Nota dos autores. 4 Forma de organização dos grupos rivais pertencentes às comunidades.
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A situação se agrava a partir de outubro de 1992, quando irão ocorrer diversos
arrastões5
João Freire Filho e Micael Herschmann comentam que os favoráveis pelo
fechamento dos bailes utilizavam o argumento de que:
no Rio de Janeiro, amplamente divulgados pela mídia. Essa atividade ficou
associada aos membros das periferias e favelas cariocas. Por serem locais onde vivem
também pessoas envolvidas com o narcotráfico, consequentemente toda a comunidade
ficou vinculada a ações de criminalidade, violência e tráfico de drogas. Ao serem
realizados nessas localidades e pelas notícias das brigas que aconteciam entre alguns de
seus freqüentadores, os bailes funk passaram a sofrer duras críticas, surgindo um vínculo
da festa com o universo criminoso. Essa associação levou, na metade da década de
1990, à criação de uma lei que proibiu a realização dos bailes funk em clubes do Rio de
Janeiro, restringindo as festas à circunscrição das favelas. Em 2008, uma nova lei tornou
ilegal a realização dos bailes funk em qualquer lugar.
o funk, além de incomodar a vizinhança pelo barulho, consiste numa ameaça aos jovens freqüentadores de “boa família” (leia-se de classe média), já que essas festas dão ensejo a brigas entre as galeras e ao convívio promíscuo com “nativos” relacionados com o mundo do narcotráfico. A rivalidade entre as turmas é, no entanto, apenas um dos ingredientes do baile, do qual fazem parte, ainda, a alegria, o humor e o erotismo (FREIRE FILHO; HERSCHMANN, 2003, p. 63).
A partir do momento em que a infração de regras durante os bailes (brigas,
comportamento sexual explícito) chega ao conhecimento da sociedade por meio da
mídia, medidas mais rigorosas são tomadas contra os desviantes. Apesar de os bailes
apresentarem também aspectos positivos, a sociedade dominante (estabelecidos) passa
a ver as comunidades periféricas (desviantes) como uma ameaça em potencial, criando
mecanismos para mantê-los sob controle e, se possível distantes.
A proibição dos bailes não levou em conta que os moradores das comunidades
que não possuem nenhum tipo de envolvimento com ações criminosas, ficaram privados
de sua diversão. Pessoas que levam uma vida normal, dentro da lei, mas que por
morarem nas localidades que ficaram vinculadas ao crime, foram privadas da
oportunidade do encontro social e do lazer. O grupo de profissionais e amantes do funk
carioca que se sentiram prejudicados pelas ações das autoridades, se organizaram a fim
de buscar formas legais para a realização dos bailes funk, e de uma continuidade de suas
produções.
5 Evento em que grupos vindos das periferias e favelas, supostamente atacavam pessoas que se encontravam nas praias da Zona Sul carioca.
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Estudos do desvio
Segundo Howard Becker (2009), é considerado um outsider a pessoa, ou grupo
de pessoas, que não seguem as regras sociais definidas pelo grupo dominante, os
estabelecidos. Essas regras são como padrões de comportamento social, que podem ser
certos ou errados. Os outsiders podem ainda não concordar com o rótulo dado pelos
estabelecidos, não se sentindo como tal. Por sua vez, podem inverter o processo e definir
como outsider o grupo que os rotulou.
Essas regras de padrão de comportamento social podem variar, sendo algumas
informais, e o indivíduo pode ser outsider em maior ou menor grau dependendo do tipo
de infração que foi cometida. Os outsiders podem também criar argumentos que
justifiquem suas atitudes, questionando, dessa forma, os tipos de punição que possam
vir a sofrer, chegando a se sentirem incompreendidos.
As violações das regras são chamadas de atos desviantes. Um ato será desviante
ou não dependendo da forma como as pessoas reagirão a ele. E se for tratado como
desviante, o grau do desvio será ainda definido conforme quem o cometeu e quem se
sentiu prejudicado por ele. As punições aos atos desviantes podem ser aplicadas mais a
uns do que a outros:
Meninos de classe média, quando detidos, não chegam tão longe no processo legal como meninos de bairros miseráveis. O menino de classe média tem menos probabilidade, quando apanhado pela policia, de ser levado à delegacia; menos probabilidade, quando levado à delegacia, de ser autuado; e é extremamente improvável que seja condenado e sentenciado. A lei é aplicada de diferentes formas ao negro e ao branco. O negro que supostamente ataca uma mulher tem chances muito maiores de ser punido, do que o branco que comete o mesmo crime. (BECKER, 1960, p. 25).
O desvio não está no ato em si, mas sim na interação entre quem o comete e
quem reage a ele. O choque resultante das regras que cada grupo define para si
estabelece a forma de comportamento que será dada. Questões políticas e econômicas
definem como alguns grupos irão impor suas regras a outros grupos. “A classe média
traça regras que a classe baixa deve obedecer – nas escolas, nos tribunais e em outros
lugares” (BECKER, 2009, p. 29).
Apafunk e seu blog
Em dezembro de 2008, uma das figuras mais representativas do funk carioca, o
cantor e compositor MC6
6 Termo designado para o Mestre de Cerimônia, aquele que canta as músicas, acompanhado por uma base instrumental, feita pelo DJ (disk jockey).
Leonardo, criou a Apafunk - Associação dos Profissionais e
Amigos do Funk. A organização surge com o objetivo de trabalhar a favor do funk
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carioca, buscando formas legais para a sobrevivência e difusão do movimento. E para
divulgar e discutir suas propostas e atividades, a Apafunk criou um blog (figura 1). Neste
canal, notícias relacionadas ao funk são passadas ao público, possibilitando um maior
contato e mobilização entre os seus participantes. Pablo Laingnier (2010), em seus
estudos sobre o papel de cidadania que a Apafunk oferece aos profissionais envolvidos
com o funk carioca, comenta sobre as atividades desempenhadas pela associação, como
a difusão do gênero musical através das chamadas “Rodas de Funk”; cancelamento de
leis proibitivas ao funk carioca; participação em manifestações que visam melhorias para
moradores das favelas e o desenvolvimento da conscientização da classe dos
profissionais do funk sobre formas corretas de atuação no mercado de entretenimento, o
que envolve tanto shows quanto gravações de CD. O grupo de profissionais envolvidos
com a Apafunk pertencem ao movimento chamado “Funk de Raiz”, que procurou se
separar dos grupos que compõem no estilo proibidão. A Apafunk é bastante politizada e
com forte tendência de esquerda.
Figura 1 – postagem blog Apafunk divulgando a Rio Parada funk. Acesso em: 25/08/11.
www.apafunk.blogspot.com
Essas ações que são divulgadas no blog tornam possível trocas comunicacionais
entre os visitantes que estão envolvidos direta ou indiretamente com o movimento, onde
estes deixam suas opiniões, fazem sugestões e trocam informações entre eles. Segundo
Raquel Recuero:
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A atual sociedade da tecnologia permitiu uma maior mobilidade e difusão das informações, através da comunicação mediada por computadores. Ela mudou as formas de organização, conversação, mobilização e identidades sociais (RECUERO, 2009, p. 16).
Uma forma de mobilização como esta, mediada por computador, permite que se
forme uma rede social onde indivíduos ou grupos, ligados por interesses comuns, possam
trocar informações. A rede social se define pelo conjunto de dois pontos: o ator (as
pessoas ou instituições) e as conexões (interações ou laços sociais). A função dos atores
seria a de moldar as estruturas sociais, através de interação e constituição de laços
sociais (RECUERO, 2009).
Dentro do contexto das redes sociais, o blog se caracteriza como um ambiente
virtual de trocas de informações dentro de um mesmo grupo, que se identifica por laços
comuns. Os blogs são produzidos, consumidos e seu conteúdo retransmitido para outras
pessoas no universo on-line. “Esses leitores muitas vezes têm seus próprios blogs, que
reproduzem ou ampliam a discussão em torno do que leram” (TORRES, 2009, p. 123).
Os membros do funk carioca têm utilizado o blog como ferramenta para promover
a legalização dos bailes funk na cidade do Rio de Janeiro, além das outras ações já
citadas acima. Dentro do ambiente das redes sociais, o blog possibilita fomentar a
mobilização necessária para atingir esses objetivos, reforçando o processo de
reintegração social, e se distanciando cada vez mais da antiga situação de outsider.
A utilização de um blog ao invés de um site parece ser a melhor alternativa para a
Apafunk, já que o primeiro permite uma participação dos seus usuários através dos
comentários, dando suas opiniões, sugestões, relatos e reclamações sobre tudo que se
relaciona ao universo do funk carioca e dos bailes. Esta participação é importante, pois
auxilia no processo de reintegração do movimento. Por meio da análise do blog,
pretende-se verificar como o conteúdo divulgado e seus desdobramentos nas redes
sociais têm sido utilizados para a conquista dos objetivos da associação.
Para além do blog
A partir de observações feitas sobre as postagens do blog da Apafunk, detectamos
que a dinâmica de trocas das mensagens não estavam ali, mas em redes sociais como o
Facebook. Apesar de possuir todas as características que um blog possui, no caso da
Apafunk, ele serve muito mais como uma espécie de “mural digital de avisos”,
comunicando os encontros, shows, acontecimentos políticos e demais eventos
relacionados com a associação. Já no Facebook foi possível detectar trocas
comunicacionais. As postagens da Apafunk são comentadas pelos “amigos”, que
expressam suas opiniões sobre os variados assuntos ali divulgados. Esse grupo,
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conectado em uma rede social, pode ser vistos como nós e conexões, “enquanto os nós
são geralmente representados pelos atores envolvidos e suas representações na internet,
as conexões são mais plurais em seu entendimento” (Fragoso, 2011, p. 116). As
conexões são o resultado da interação entre os atores, que aqui poderiam ser os
comentários trocados pelos seguidores da Apafunk no Facebook. Segundo Recuero
(2008, apud Fragoso, 2011, p. 116) esse tipo de rede, mantida pelas interações entre os
atores, é denominada de redes emergentes. Quando a rede não é mantida por essas
relações, mas pelo mantenedor, chamados de redes de filiação ou associação. Segundo
Fragoso (2011), os estudos sobre as redes sociais são fruto de estudos sociológicos
desenvolvidos no início do século XX, e estão associados com a Sociometria, um
segmento matemático de análise.
Inserido no contexto das redes sociais, o Facebook não surge para revolucionar as
redes sociais, mas para trazer novos recursos e novas possibilidades nas trocas
comunicacionais. Segundo Daniel Miller (2011) o Facebook não inventa a rede social,
mas facilita e expande. Um dos grandes pontos fortes desta plataforma apontada pelo
autor, é a possibilidade de encontrarmos antigas amizades, resgatando assim, antigos
relacionamentos que foram interrompidos pelos mais diversos motivos. E esse resgate
não necessita de uma presença física entre as partes, o que evita certos
constrangimentos. As comunicações mediadas por computador nos protegem do contato
físico, que para muitos implica em viver situações embaraçosas, o que pode ser evitado
através de um contato virtual através de um chat, e-mail ou trocas de mensagens no
Facebook.
Sobre esses constrangimentos, Miller diz que:
Muitas pessoas também pesquisam por antigos amigos, que eles esperam encontrar novamente, a fim de salvar-se do constrangimento de ter esquecido algum evento importante da vida, ou mais detalhes triviais sobre o que eles têm feito nos últimos dias de forma que, quando eles se encontram, eles podem parecer em dia sobre a amizade em si7
(MILLER, 2011, p. 165-166).
Além do Facebook ser esse ambiente do resgate de amizades e de possibilitar a
“proteção” do distanciamento, também pode ser ele um ambiente de trocas e
mobilizações a partir de relações de afinidade entre os seus participantes, criando
comunidades virtuais que dividem um mesmo gosto por algum assunto, estilo,
movimento etc. Esse tipo de estrutura, de uma pequena rede de pessoas que trocam
7 Tradução nossa para: Many people also research long-term friends, whom theyt are about to meet again, in order to save themselves from the embarrassment of having forgotten some important life event or more trivial details about what they have been doing for the last few days so that, when they do meet, they can seem up-to-speed on the friendship itself.
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comentários sobre determinadas postagens, formam o que Fragoso (2011) chama de
cluster.
A partir de algumas observações feitas no perfil da Apafunk no Facebook, foi
possível verificar uma troca de comentários que não ocorrem no blog. As postagens
colocadas na rede social geraram comentários que demonstram participação e afinidade
de algumas pessoas com o movimento e com as ideias propostas pela associação.
Figura 2 – postagem perfil Apafunk divulgando programa sobre funk carioca na
Rádio Nacional. Acesso em: 25/08/11. www.facebook.com/Apafunk Associação
Percebemos nos comentários da postagem (figura 2) o que Fragoso (2011) chama
de comentários recíprocos em uma estrutura de rede funcionando em um processo
dinâmico, onde temos como conseqüência, uma interação direta entre os atores. Ela
também configura, segundo a autora, uma interação de manutenção, onde as interações
tem por objetivo manter um laço social, que neste caso gira em torno de assuntos
relacionados ao funk carioca. Na postagem a Apafunk reforça a participação dos
seguidores do perfil, para ouvirem o programa “Funk Nacional”, que vai ao ar
diariamente pela Rádio Nacional. O programa traz uma série de informações sobre bailes,
lançamentos e outras questões relacionadas ao movimento.
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Figura 3 – postagem perfil Apafunk divulgando show de funk na Rádio Nacional.
Acesso em: 25/08/11. www.facebook.com/Apafunk Associação
Na postagem da figura 3, podemos perceber a dinâmica comunicacional que não
acontece no blog da associação. Vemos aqui comentários de pessoas supostamente de
fora do Rio de Janeiro, mas que participam do movimento cultural. Temos aqui uma
valorização dos eventos relacionados com o funk carioca, no caso um show que irá
acontecer no auditório da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Neste tipo de interação
podemos perceber a manutenção de um capital social relacional (Fragoso, 2011, p. 135),
caracterizado tanto pela interação do comentarista habitual (Apafunk), quanto pelos
comentaristas esporádicos.
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Figura 4 – postagem perfil Apafunk divulgando lançamento do
programa da Apafunk na Rádio Nacional.
Acesso em: 25/08/11. www.facebook.com/Apafunk Associação
Nesta última postagem observada (figura 4), percebemos a criação/reforço de
laços construídos através das postagens que possuem algo em comum. Um mesmo
estímulo vinculado ao funk carioca e às ações que a Apafunk busca em prol do
movimento. Temos aqui novamente os comentários recíprocos em uma rede dinâmica
(Fragoso, 2011). E o capital social está novamente sendo trabalhado e valorizado pelo
comentarista habitual e pelos esporádicos. Podemos pensar nesse núcleo de
participantes e comentaristas das postagens da Apafunk no Facebook como um estrutura
de cluster, por formar um núcleo voltado para um mesmo tipo de assunto e com laços de
afinidade muito claros. Como dito anteriormente, as pesquisas feitas sobre a Apafunk,
nos mostram que suas ações são tentaculares. A associação vem buscando diferentes
canais, digitais ou não, a exemplo do programa de rádio, objetivando um maior número
de simpatizantes do funk carioca, estejam ou não nos limites geográficos do Rio de
Janeiro.
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Considerações finais
A partir das observações feitas no blog da Apafunk, e das discussões
desenvolvidas no mestrado e em congressos, percebemos que a dinâmica das trocas
comunicacionais oferecidas por uma comunicação mediada por computadores (CMC), não
estavam acontecendo naquele ambiente, apesar de, por se tratar de um blog, ofereça a
possibilidade de se postar comentários sobre as notícias ali divulgadas. Ao se perceber
que as trocas de mensagens entre os simpatizantes e envolvidos diretamente com o
movimento funk carioca não estavam ocorrendo no blog da Apafunk. O blog funciona
muito mais como uma espécie de quadro de avisos, onde lá são divulgadas as ações
realizadas pelas pessoas que coordenam a associação: bailes, programa de rádio,
apresentações ao ar livre (roda de funk), entre outras ações.
Percebemos no Facebook, uma participação ativa dos atores deste cluster, com
diversos tipos de notícias postadas pelo perfil chamado “Apafunk Associação”, com
comentários que parecem vir de simpatizantes ou profissionais do movimento. Essas
postagens parecem ter alguns objetivos, como uma construção/manutenção de capital
social relacional além da criação/reforço de laços que se constroem através das trocas de
mensagens postadas (Fragoso, 2011). As relações estabelecidas no Facebook podem
ainda se converter em relações presenciais, mas condicionadas a questões geográficas e
de outras naturezas. A rede social física que ocorre entre os simpatizantes e profissionais
do funk carioca que estão envolvidos com os eventos da Apafunk, será outra etapa da
pesquisa de mestrado que ocorrerá através de estudos de campo, desenvolvidos nas
periferias e favelas do Rio de Janeiro. A partir desses estudos, busca-se perceber como a
associação é vista pelas comunidades periféricas e qual o papel real de colaboração no
sentido de eliminar a imagem marginalizada que o movimento sofre. Há uma curiosidade
em saber se as ações da Apafunk visam realmente uma melhor situação do funk carioca
junto a opinião pública, e também uma melhor situação de trabalho para os profissionais
envolvidos com o estilo, ou se apenas se trata de algum tipo de trampolim político para
seus criadores.
Pelo menos nas observações feitas no seu blog e no perfil do Facebook,
percebemos que a Apafunk exerce um papel de construção social através de uma série
de atividades relacionadas com o funk carioca, visando maior esclarecimento dos
profissionais envolvidos, a realização de bailes e atividades públicas e principalmente
buscando mostrar para o mundo – através do alcance global das redes sociais – que o
funk carioca, apesar de ter sua origem nas comunidades periféricas e favelas do Rio de
Janeiro, e apesar de um convívio com pessoas envolvidas com atividades marginais, não
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se trata de um movimento marginal. O funk carioca já experimentou ao longo do tempo,
diferentes formas de ser visto pela sociedade. Desde seu surgimento no início dos anos
1980, quando foi tratado como uma nova onda vinda das periferias, passando por sua
marginalização no início dos anos 1990 e, ao final da mesma década, vivendo uma nova
fase de moda e aceitação por parte de uma sociedade estabelecida. Muito ainda há para
ser trabalhado por esse movimento cultural. Ainda existem Djs e MC’s que compõem no
estilo chamado proibidão, o que só reforça uma visão marginalizada para o funk. Ainda
veremos se o trabalho da Apafunk irá realmente gerar mudanças significativas no sentido
de uma construção social.
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