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  • Aos ex, atuais e futuros acampantes, monitores e

    funcionrios da Cia do Lazer, amigos que de

    variadas formas contriburam para a

    concretizao deste trabalho.

    Ao meu filho Joo que apesar da pouca idade

    soube entender minha ausncia.

    Ao meu amor Pedroca pelo carinho e incentivo

    em todos os momentos.

  • Motivada pela paixo do seu trabalho o mestrado foi a porta para aprofundar e conhecer cientificamente os benefcios que os acampamentos de frias trazem para vida das crianas e jovens. Pesquisa de concluso do Mestrado Profissional em Gesto empresarial realizado por Rose Jarocki com os acompanhamentos da Prof Sonia Maria Rodrigues Calado Dias, Phd. Acampantes, ex-monitores, monitores e ex-monitores participaram da pesquisa.

    Esta pesquisa nos trs uma grande inovao a favor da educao onde a Cultura da Perfformance (desempenho) e deixada em segundo plano trazendo tona a importncia da Cultura do Acampamento (o ser, o conviver) como uma excelente ferramenta pedaggica para transformar nossas crianas em profissionais bem sucedidos e felizes.

    O aprender fazendo tem sido identificado como uma maneira eficaz de provocar mudanas significativas, pois a aprendizagem pela ao traz tona a importncia nos processos, no individuo, no saber como, na facilitao, no ativo gerativo, no trabalho em grupo, na independncia, na cooperao, na capacidade de mudar, no aprender com os outros e com os erros, na prtica em teoria e nos resultados qualificados.

    O ciclo de aprendizado, crescimento e desenvolvimento acontece

    de forma sistmica onde deixamos de nos ver isoladamente no mundo e nos percebemos parte integrante do mesmo, aprendendo com uma organizao onde as pessoas conseguem criar sua prpria realidade e reconhecer a sua responsabilidade pessoal pelos seus atos, aes e comportamentos vendo alm dos limites de suas perspectivas. Este o nosso compromisso

    CIA DO LAZER

  • ACAMPAMENTOS EDUCATIVOS

    A CULTURA DA EXPERINCIA A FAVOR DA FORMAO

    ROSE JAROCKI

  • PREFCIO

    Ao longo de 21 anos tive o privilgio de acompanhar como famlia,

    me de trs ex-acampantes e colega de mestrado a dedicao e o

    profissionalismo do trabalho exercido por Rose frente da Cia do Lazer ao

    lado do seu fiel e sonhador marido, Pedroca.

    Durante vrias temporadas de frias nos perguntvamos quando da

    volta das crianas aps quatro ou cinco dias no acampamento educativo da

    Cia do Lazer em Porto de Galinhas, que mgica era aquela que acontecia

    naqueles dias que trazia de volta crianas exaustas, mas extremamente

    felizes; queimadas de sol, mas com mil histrias para contar e amigos para

    abraar; com roupas esquecidas para trs, mas extremamente confiantes

    na sua capacidade de independncia. Quando perguntvamos aos nossos

    filhos e sobrinhos em busca de uma resposta sobre a experincia,

    simplesmente nos respondiam com brilho nos olhos: Foi legal, brincamos

    muito! E nada mais saia daquelas boquinhas, apenas um sorriso no

    semblante afirmando e confirmando a felicidade. A Cia do Lazer evoca este

    tipo de lembranas e recordaes que ficam cravadas no corao e mente

    dos acampantes, ex-acampantes e seus pais.

    E so estas provas do brincar experienciando um acampamento

    educativo que podem ser apreciadas desde o primeiro captulo do livro.

  • Para Rose, brincar um exerccio do educar, uma ferramenta para se

    frequentar o universo dos sonhos destas crianas que um dia brincaram e

    conviveram nos campos, alojamentos e fogueiras de um acapamento de

    frias. De acordo com o educador Lev Vigotski, O brincar uma atividade

    humana criadora, na qual imaginao, fantasia e realidade interagem na

    produo de novas possibilidades de interpretao, de expresso e de ao

    pelas crianas, assim como de novas formas de construir relaes sociais

    com outros sujeitos, crianas e adultos.

    E foi pensando justamente nesta relao entre brincar e o

    significado dos acampamentos na vida adulta de ex-acampantes, bem como

    entender o papel dos recreadores, os tios nesta relao, que Rose voltou

    seus estudos de mestrado para a mentoria. Juntando suas inquietaes

    vontade de transformar suas suposies em resultados cientificamente

    comprovados, o trabalho seguiu baseado nas pesquisas da American Camp

    Association ACA e nos estudos de mentoria. Os resultados que podem

    ser apreciados integralmente na leitura deste livro revelaram o que se

    esperava: que os acampamentos contribuem para a formao de adultos

    em relao s habilidades sociais como fazer amigos, liderana e conforto

    social.

    Acredito que este livro ser um marco para os estudos e pesquisas

    da vida em acampamentos educativos, portanto uma leitura recomendvel

  • para pais e para aqueles que trabalham com crianas, jovens e com todas

    as reas do conhecimento que se preocupam com a relao do homem

    com o sonho, a emoo e o futuro.

    Isabella Jarocki

    Educadora na rea da Hospitalidade

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1- Gnero de Ex-acampantes............................................

    Grfico 2 - Idade Atual ..................................................................

    Grfico 3 - Idade quando participou do Acampamento..................

    Grfico 4 - Quantos Acampamentos j participou .........................

    Grfico 5 - Quando foi o seu ltimo acampamento........................

    Grfico 6 Gnero II .....................................................................

    Grfico 7 - Situao Atual do Monitor em relao a Cia do Lazer .

    Grfico 8 - Resultados do Constructo Liderana ...........................

    Grfico 9 - Liderana .....................................................................

    Grfico 10 - Liderana na percepo do monitor/ex-monitor.........

    Grfico 11 - Resultados do Constructo Fazer Amigos...................

    Grfico 12 - Fazer Amigos..............................................................

    Grfico 13 - Fazer Amigos na percepo do monitor/ex-monitor...

    Grfico 14 - Resultados do Constructo Conforto Social ................

    Grfico 15 - Conforto Social ..........................................................

    Grfico 16 - Conforto Social na percepo do monitor/ex-monitor

    Grfico 17 - Resultados do Constructo Relao de Pares ............

    Grfico 18 - Relao de Pares.......................................................

    Grfico 19 - Relao de Pares na percepo do monitor/ex-

    monitor............................................................................................

    Grfico 20 - Relao das Habilidades Sociais................................

    119

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    150

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    155

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    159

  • Grfico 21 - Lembra-se de algum que, durante o acampamento,

    marcou positivamente sua vida ......................................................

    Grfico 22 - Lembra-se de algum acontecimento, que durante o

    acampamento, tenha marcado sua vida ........................................

    Grfico 23 - Acampamento ajudou na sua vida profissional na

    percepo do Ex-acampante .........................................................

    Grfico 24 - Classifique sua experincia no acampamento Cia do

    Lazer ..............................................................................................

    Grfico 25 - Classificao na percepo dos monitores/ex-

    monitores.........................................................................................

    Grfico 26 - Aprendeu algo novo ...................................................

    Grfico 27 - Melhorou em habilidades............................................

    164

    167

    172

    177

    178

    181

    182

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Domnios e Constructos ..............................................

    Quadro 2 - Mentoria para Jovens ..................................................

    Quadro 3 - Habilidades Sociais - Liderana ..................................

    Quadro 4 - Habilidades Sociais Fazer Amigos...............................

    Quadro 5 - Habilidades Sociais Conforto Social ............................

    Quadro 6 - Habilidades Sociais Relao de Pares ........................

    Quadro 7 - Mentoria .......................................................................

    Quadro 8 - Benefcios no Mundo Organizacional ..........................

    Quadro 9 - Percepo do Monitores ..............................................

    21

    83

    101

    101

    102

    102

    103

    103

    104

  • 15

    SUMRIO

    Introduo ................................................................................... 18

    Justificativa.................................................................................. 26

    Acampamentos educativos de frias.............................................. 31

    Acampamentos no Mundo ............................................................. 32

    American Camp Association - ACA ............................................. 36

    Acampamentos no Brasil ............................................................... 39

    Acampamentos no nordeste do Brasil ........................................... 43

    Mundo Organizacional e o Aprendizado......................................... 45

    Habilidades Sociais no mbito do Modelo da ACA ..................... 49

    Habilidades Sociais ....................................................................... 58

    Habilidade social Liderana ........................................................ 59

    Habilidade social Fazer amigos .................................................. 61

    Habilidade social Conforto social................................................ 64

    Habilidade social Relao de pares ........................................... 67

    Mentoria ......................................................................................... 70

    Funes de mentoria ..................................................................... 74

    Mentoria para Jovens .................................................................... 80

    Mentoria, acampamentos educativos de frias e o mundo

    organizacional ................................................................................

    85

    Metodologia ................................................................................... 88

    Delineamento da Pesquisa ............................................................ 90

  • 16

    Locus de estudo Cia do Lazer .................................................... 91

    Populao ..................................................................................... 96

    Instrumentao das Variveis ...................................................... 98

    Coleta de Dados ............................................................................ 106

    Instrumento .................................................................................... 107

    Processo......................................................................................... 107

    Mtodo de Anlise ........................................................................ 109

    Limites e limitaes da pesquisa .................................................. 112

    Limites .......................................................................................... 113

    Limitaes ...................................................................................... 114

    Anlise e discusso dos achados ................................................. 116

    Amostra - Ex-acampantes ............................................................. 118

    Gnero ........................................................................................... 119

    Idade atual ..................................................................................... 120

    Idade que participou do Acampamento ......................................... 124

    Quantidade de acampamentos que participaram .......................... 127

    Quando foi a ltima temporada ..................................................... 128

    Amostra Monitores/Ex-Monitores ............................................... 131

    Gnero ........................................................................................... 132

    Idade atual ..................................................................................... 133

    Situao atual do monitor em relao a Cia do Lazer ................... 133

    Formao Acadmica dos Monitores/Ex-Monitores ...................... 134

    Habilidades Sociais na percepo dos ex-acampantes,

  • 17

    monitores e ex-monitores .............................................................. 135

    Liderana dentro do contexto do Acampamento ........................... 136

    Fazer Amigos dentro do contexto do Acampamento ..................... 141

    Conforto social dentro do contexto do acampamento ................... 147

    Relao de Pares dentro do contexto do Acampamento .............. 153

    Mentoria dentro do contexto do Acampamento ............................. 161

    Acampamento e benefcios para a vida profissional ..................... 170

    Outros achados relevantes............................................................ 175

    Concluses .................................................................................... 186

    Sugestes de pesquisas e Aes.................................................. 190

    Sugestes de Pesquisas................................................................ 191

    Sugestes de aes ...................................................................... 194

    Fotos do Acampamento.................................................................. 197

    Referncias ................................................................................... 201

  • 18

    INTRODUO

  • 19

    Nos Estados Unidos, todo vero, mais de 10 milhes de crianas

    pernoitam ou passam o dia em acampamentos de frias. So espaos

    patrocinados por igrejas, agencias sem fins lucrativos para jovens e

    pela iniciativa privadas de acordo com o Journal of Family Issues

    (2007). O volume de instituies com o propsito de acolher essas

    crianas tem despertado o interesse dos estudiosos em identificar o

    impacto destes acampamentos no desenvolvimento dos jovens e

    crianas. Smith (2002) ressalta que os lderes e defensores dos

    acampamentos de frias organizados acreditam ter criado um

    ambiente nico para a socializao das crianas.

    [...]acampar concede oportunidades para que as crianas se desenvolvam como pessoas e como membros de grupos, fornecendo experincias no encontradas comum e facilmente durante as reunies e nas atividades na cidade. O acampar auxilia no desenvolvimento da engenhosidade, autoconfiana, apreciao e responsabilidade pelos arredores naturais de uma localidade (EELLS, 1998, p.71).

    Muitas pesquisas tm sido desenvolvidas nos Estados Unidos por

    uma srie de instituies e associaes para identificar a importncia deste

    movimento a favor da formao de jovens e crianas (THE JORNAL OF

    EXPERIMENTIAL EDUCATION, 2006). A American Camp Association

    ACA - anteriormente conhecida como American Camping Association uma

    comunidade de profissionais de acampamentos, fundada em 1910 com

    intuito de partilhar o conhecimento e experincia garantindo a qualidade dos

  • 20

    programas de acampamento. Reconhecida como uma das maiores

    autoridades no desenvolvimento da juventude, a ACA trabalha para

    preservar, promover e melhorar a experincia do acampamento (ACA,

    2011).

    Recentemente a ACA realizou uma pesquisa, conduzida pela

    Philliber Research Associaties e com o suporte da Lilly Endowment Inc.,

    denominada Development and Application of a Camper Growth Index for

    youth (CGI-C) Desenvolvimento e aplicao do ndice de crescimento nos

    acampantes (2000 a 2006) com objetivo principal: 1) medir os resultados de

    desenvolvimento na percepo dos acampantes, pais e equipe de trabalho;

    2) saber ainda quais elementos do programa do acampamento foi

    relacionado ao resultado apresentado; 3)desenvolver um instrumento de

    medio e materiais de treinamento para uso nas avaliaes futuras e; 4)

    utilizar os dados que promove o papel dos acampamentos no

    desenvolvimento da juventude positiva.

    O resultado apontou a existncia de quatro domnios que podem

    ser desenvolvidos nos Acampamentos de Frias. Estes foram classificados

    como: Identidade Positiva (IP), Habilidades Sociais(HS), Habilidades Fsicas

    e Cognitivas(HFC), Valores Positivos e Espirituais(VPE). Ainda dentro desta

    linha, identificou-se mais dez constructos que foram identificados e

    reconhecidos como: Liderana(LID), Auto Estima(AE), Valores e

    Decises(VD), Fazer Amigos(FA), Espiritualidade(E), Conscincia

    Ambiental(CA), Conforto Social(CS), Independncia(IND), Relao de

  • 21

    Pares(RP), Aventura e Explorao(AE) - (THE JORNAL OF

    EXPERIMENTIAL EDUCATION, 2006).

    No entanto, esse estudo ir investigar e avaliar o domnio

    habilidades sociais e seus constructos: liderana, fazer amigos, conforto

    social e relao de pares conforme quadro 01 abaixo. Todo o detalhamento

    da pesquisa para esse estudo ser apresentado na metodologia. Sobre a

    pesquisa realizada pela Philliber Research Associates (2006) afirma-se que

    este estudo ir contribuir em muito para os acampamentos e outros tantos

    programas que visam o desenvolvimento dos jovens e dar mais suporte

    tcnico para melhorar os programas de liderana e oportunidades

    existentes em todo o mundo.

    Quadro 1 - Domnios e Constructos

    Pesquisa American Camp Association CGI-C (2005)

    DOMNIOS CONSTRUCTOS

    HABILIDADES

    SOCIAIS Liderana Fazer Amigos Conforto Social

    Relao de

    Pares

    Fonte: Adaptado pela autora da Pesquisa American Camp Association

    No Brasil h pouca, ou nenhuma, bibliografia que retrate a

    importncia dos Acampamentos de Frias. Em 1999 foi fundada a

    Associao Brasileira de Acampamentos Educativos (ABAE), com sede em

    So Paulo, tendo como finalidade agrupar, trocar informaes e

    compartilhar experincias entre os acampamentos associados. De acordo

  • 22

    com esta instituio dos 400 acampamentos organizados em todo o pas,

    apenas 15 fazem parte do seu quadro de associados e nesse perodo

    nenhuma pesquisa foi realizada para identificar os benefcios dos

    acampamentos para os acampantes (ABAE, 2011).

    Considerando esta lacuna o presente estudo pretende pesquisar no

    Brasil um dos quinze acampamentos associados ABAE, o nico

    acampamento educativo de frias da regio nordeste que no tem como

    foco a religio. O Acampamento Companhia do Lazer, localizado no

    municpio de Ipojuca, na Praia de Porto de Galinhas em Pernambuco tem

    em sua proposta uma preocupao com a formao verdadeiramente

    integral, onde corpo e mente possibilitam movimentos contnuos e

    sistmicos buscando intencionalmente o aprendizado em grupo,

    autoconhecimento, bem estar, construo de amizade, liderana, disciplina,

    respeito, experimentao, participao, reflexo, estimulo s relaes,

    criatividade e responsabilidade (CIA DO LAZER, 2011).

    Dentro desta perspectiva as Habilidades Sociais esto presentes e

    Freitas (2006) aponta a infncia como o perodo mais importante para a

    aprendizagem de habilidades interpessoais. H evidncias segundo o autor

    que se a criana amplia o seu repertrio de comportamentos sociais ter

    mais possibilidades de desenvolver, futuramente, relaes sociais mais

    saudveis e com menor risco de rejeio por seus pares. Acreditando nisto

    que estudos sugerem que o desenvolvimento de habilidades sociais na

    infncia possam constituir um fator de proteo contra a ocorrncia de

  • 23

    dificuldades de aprendizagem e de comportamentos anti-sociais j que as

    prticas e valores parentais servem como background cultural e

    socioeconmico importantes para a competncia social da criana (DEL

    PRETTE, DEL PRETTE, Z. A. P, 2006).

    Acreditando ainda que as habilidades sociais, por meio de seus

    constructos, contribuam para o crescimento pessoal destes jovens que se

    pode caracterizar, numa relao entre pares, a presena de mentoria,

    possibilitando um relacionamento capaz de alterar vidas e de inspirar o

    crescimento, o aprendizado, e o desenvolvimento mutuo. Seus efeitos

    podem ser inesquecveis, profundos e duradouros (RAGINS; KRAM, 1985).

    As experincias nos acampamentos so diferentes para cada criana, no entanto evidente que para muitos jovens essa experincia esta na maioria das vezes associada ao crescimento pessoal dentro dos quatro domnios, identidade positiva, habilidades sociais, habilidades fsicas e cognitivas, valores positivos e espirituais (CHENERY, 1990, p.3).

    Para Druker (2002) o desenvolvimento pessoal est na busca da

    excelncia, pois isto ir trazer a satisfao pessoal e far a diferena na

    qualidade do trabalho e no mundo dos negcios, pois sem habilidade no

    se faz um bom trabalho. Druker (2002) ainda ressalta a importncia da

    aquisio das habilidades bsicas que a de proporcionar autoconfiana e

    competncia aos iniciantes, para dar-lhes condies, daqui uns anos de ter

    um bom desempenho na sociedade ps-capitalista. A sociedade do

    conhecimento, onde, as pessoas precisam aprender a aprender est indo

  • 24

    ao encontro de quebras de paradigmas onde, possivelmente em um futuro

    bem prximo as matrias tenham menos importncia do que a capacidade

    do aluno em continuar a aprender e motivar-se para enfrentar durante toda

    a sua vida o mundo dos negcios. Ainda necessrio que os alunos

    adquiram um mnimo de competncia em habilidades essenciais e

    transformem-se em alunos que realizam e no apenas em alunos que

    obedecem (DRUKER, 2002).

    Decerto parte dessa pesquisa cientifica da ACA - CGI-C ser

    reaplicada, de forma adaptada, para os ex-acampantes da Cia do Lazer

    buscando identificar se houve o desenvolvimento do domnio habilidade

    social e seus constructos - liderana, fazer amigos, conforto social e relao

    de pares e se houve ocorrncia de mentoria durante este processo e se

    esta experincia trouxe algum benefcio para a vida profissional do mesmo.

    vlido ressaltar que esta pesquisa realizada pelo Philliber Research

    Associaties j foi validada corroborando assim para este estudo. Diante a

    um resultado excelente e uma pesquisa de alto nvel, esta ferramenta vem

    reafirmar a importncia dos acampamentos como uma oportunidade de

    aprendizagem experimental visando o desenvolvimento positivo dos jovens

    (THE JORNAL OF EXPERIMENTIAL EDUCATION, 2006).

    Com bases nessas premissas, foi definida a seguinte pergunta de

    pesquisa: At que ponto os acampamentos educativos de frias da

    Companhia do Lazer desenvolvem habilidades sociais, mentoria e os

    benefcios para mundo organizacional a partir da percepo dos ex-

  • 25

    acampantes, monitores e ex-monitores?

  • 26

    JUSTIFICATIVAS

  • 27

    Os Acampamentos de Frias so espaos propcios para

    pesquisas, pois so, no mnimo, ambientes curiosos para profissionais das

    mais diversas reas. Considerando as contribuies tericas, este estudo

    trar novos conhecimentos no campo das habilidades sociais para jovens e

    crianas dentro dos acampamentos. Na viso de Henderson, Thunder,

    Whitaker, Bialeschki, Scanlin (2006) muitas pessoas acreditam no valor da

    experincia dos acampamentos como uma oportunidade educacional, mas

    existem poucos instrumentos desenvolvidos para avaliar esse desempenho.

    Alm disso, contribuir com o ambiente acadmico brasileiro, fornecendo

    dados sobre mentoria nos programas de acampamentos com o foco na

    funo psicossocial considerando ainda a pouca literatura existente sobre o

    tema proposto.

    Diante do exposto torna-se importante identificar o significado deste

    estudo para novos campos de pesquisa. Segundo Chandler e Kram (2007)

    existe uma necessidade de ao se discutirem as pesquisas o cenrio

    nacional deve ser respeitado. Existe ainda um fato interessante que o

    grande volume de estudos sobre mentoria natural para jovens sendo o foco

    corretivo, a exemplo de programas desenvolvidos em comunidades com

    jovens em situao de vulnerabilidade social como Big Brothers, Big Sisters,

    onde fica estabelecida uma relao de pares voluntrios (RHODES, SIPE,

    2002).

    Vislumbrando ainda o mundo organizacional fundamental

    identificar que no mundo industrializado de hoje, a produo de bens e

  • 28

    servios no pode ser desenvolvida por pessoas que trabalhem

    individualmente (CHIAVENATO, 2004). As organizaes so feitas de

    pessoas e o impacto que estas organizaes criam sobre a vida das

    mesmas enorme, pois as pessoas nascem, crescem, vivem, so

    educadas, trabalham e se divertem dentro das organizaes que dependem

    das pessoas para atingir suas metas e misses (CHIAVENATO, 2004, p.

    17). Portanto, fica claro mais uma vez a importncia das relaes dentro

    das organizaes, pois o ser humano eminentemente social e interativo,

    trazendo assim a importncia de incentivar e motivar essas relaes desde

    pequeno.

    Este estudo torna-se, portanto, relevante diante da ampliao dos

    conhecimentos acadmicos no Brasil despertando novos interesses nas

    reas de Educao, Mentoria e Habilidades Sociais dentro dos

    Acampamentos Educativos de Frias e sua contribuio para o mundo

    organizacional como ferramenta de desenvolvimento dos jovens e crianas.

    Cada projeto surge de uma idia que nasce na cabea e no corao

    de quem a pensa. concebido da observao da realidade/necessidade e

    se abastece da viso de um futuro. Na opinio de Minayo (1996, p. 90):

    nada pode ser intelectualmente um problema, se no tiver sido, em

    primeira instncia, um problema na vida prtica.

    Dessa forma, as justificativas a seguir podem sugerir maneiras

    inovadoras de desenvolver pessoas e suas habilidades sociais. Na primeira

    fase da vida, segundo Del Prette. A, Del Prette. Z. A. P (1999) se faz

  • 29

    necessrio a ateno para esta habilidade. A possibilidade de enxergar

    como melhorar os programas extracurriculares, pois na opinio de Silva

    (1993), a educao de boa qualidade deve ser oferecida por educadores de

    boa qualidade, pois, alm de um simples produto, a educao uma

    relao entre pessoas. Perante esta realidade torna-se imprescindvel ao

    educador ter presente que a influncia que possa vir a exercer sobre o

    educando ser aquela que atinja a identidade dele, a qual, de fato, o que

    garante um sentido organizador do eu, do mundo, das relaes. a

    resposta que se d pergunta: Quem sou eu? o critrio com que

    julgamos o mundo e nossas aes, considerando-as necessrias e

    possveis (SILVA, 2003).

    De acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais para a

    Educao Infantil (PCN, 1998, p. 23):

    [...]educar significa propiciar situaes de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relao interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude bsica de aceitao, respeito e confiana, e o acesso, pelas crianas, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.

    No entanto no existem programas efetivos de incentivos pblicos

    ou privados que vislumbrem o desenvolvimento pessoal dos jovens.

    No contexto do mundo organizacional a grande contribuio prtica

    perpassa pelo olhar empreendedor que a corporao exige como perfil para

  • 30

    as pessoas que a compe, pois para Morris (1998), o empreendedorismo

    trata de sete diferentes tipos de criao no excludentes entre si: criao de

    riqueza, de empresas, de inovao, de mudanas, de empregos, de valor e

    de crescimento. J para Lopes (1999) empreendedor um indivduo que

    identifica oportunidades e toma iniciativa de reunir, organizar recursos,

    assumindo uma quantidade de riscos, envolvendo-se e comprometendo-se

    com os resultados. Afirma Dornellas (2000) o empreendedorismo significa

    fazer algo novo, diferente, mudar a situao atual e buscar de forma

    interessante, novas oportunidades de negcio, tendo como foco a inovao

    e a criao de valor. Por qualquer dos prismas vale salientar que so as

    pessoas que se destacam onde quer que trabalhem e dediquem sua

    persistncia e capacidade de reconhecer, avaliar e explorar uma

    oportunidade para fazer a diferena no mundo dos negcios.

    Assim sendo, dentro de uma perspectiva prtica, ser vinculada

    possibilidade de ampliar o mercado de trabalho para profissionais da rea

    de educao fsica, lazer, turismo, pedagogia, psicologia, dentre outras.

    Certamente tambm dar subsdios acadmicos para a Associao

    Brasileira de Acampamentos Educativos (ABAE). Por sua vez a Companhia

    do Lazer estar alicerada com elementos para fortalecer e ampliar seu

    empreendimento e, por conseguinte, atuar como catalisadora contribuindo

    para o mundo dos negcios.

  • 31

    ACAMPAMENTOS EDUCATIVOS DE FRIAS

  • 32

    ACAMPAMENTOS NO MUNDO

    A vida ao ar livre por jovens em pequenos grupos dentro de

    comunidades maiores de acampamentos, isolados da distrao da cidade,

    especialmente selecionadas por suas habilidades de compreenso e

    liderana o conceito americano de acampamento (CARLSON, 1986).

    O acampamento americano ideal fornece um ambiente educativo que um dos meios mais favorveis possveis para ajudar a juventude a crescer, desenvolver e alcanar a compreenso de si mesmo e um senso de responsabilidade pelos outros e pelo meio ambiente (CARLSON, 1986, p. 4).

    O mesmo autor ainda ressalta a herana vinda dos ndios, pois

    aqueles que exploraram, colonizaram e tiraram proveito da antiga Amrica

    tinham uma atitude ambivalente quanto aos ndios americanos. Temiam e,

    por vezes, os detestavam. Diante dos sentimentos que os ndios

    americanos haviam sido mal compreendidos e subestimados na poca da

    colonizao Ernest Thompson (1986) incluiu vrios aspectos teis e

    pitorescos da vida indgena em sua organizao para meninos. Ele

    enfatizou as virtudes da honestidade e franqueza, da vida ao ar livre,

    conselhos ao redor de fogueiras e danas indgenas. Esta herana vinda

    dos ndios persiste em muitos programas de acampamentos at hoje. [...]os

    acampamentos de vero so a maior contribuio para a educao que a

    Amrica do Norte tem dado ao mundo. (ELLIOT, 1916, p. 91).

  • 33

    Este movimento espalhou-se rapidamente pela Europa, sia,

    Amrica do Sul, Pacfico Sul e frica e em cada local. Segundo Carlson

    (1986) com o passar do tempo, percebeu-se que os acampamentos

    organizados poderiam tambm servir para propostas diferenciadas e

    especificas. Nos pases comunistas, por exemplo, este tipo de atividade era

    utilizado como forma de doutrinar o comunismo: j em alguns pases

    usavam o mesmo a favor da religio para captarem novos fiis; tambm foi

    usado com fins polticos, visando propagao de ideais (EELLS, 1986).

    Entretanto, deve-se ainda destacar nomes que fizeram a histria

    dos acampamentos que so citados no livro Histria de Acampamento

    Organizado: os primeiros cem anos de Eleanor P. EElls como Frederick

    Willian Gunn, educador norte-americano, nascido em Washington em 1816,

    falecido em 1881, que com seus mtodos diferentes e acolhedores realizou

    a primeira experincia registrada em acampamentos juntamente com a sua

    mulher, em 1861, levando toda a escola a uma viagem de duas semanas

    em Long Island Sound. Gunn conhecido como o pai do acampamento

    organizado (EELLS, 1986).

    To importante quanto seus antecessores, Ernest Balch, com suas

    fortes convices missionrias desenvolveu acampamentos organizados e

    em 1881 precedeu regras e objetivos escritos, conhecido tambm como pai

    do movimento de acampamentos organizados. Balch escreveu que o seu

    acampamento existia para: 1) o desenvolvimento de um senso de

    responsabilidade no menino, tanto para si como para os outros e 2) uma

  • 34

    apreciao pelo valor do trabalho (BENSON; GOLDBERG, 1951).

    O movimento de Escoteiros conhecido como Escotismo teve grande

    contribuio na histria dos acampamentos com suas metodologias

    diferenciadas que utilizavam a forma humana circular do incio da reunio.

    Assim como a disposio circular das barracas nos acampamentos

    escoteiros de todo o mundo, se repete h mais de 100 anos, desde 1907,

    quando o general ingls Robert Baden-Pawell, ou simplesmente B-P, como

    chamado pelos escoteiros, reuniu um grupo de 21 jovens e alguns

    auxiliares na pequena Ilha de Brownsea, que fica na costa da Inglaterra, no

    Canal da Mancha onde organizou o primeiro acampamento escoteiro, em

    agosto 1907 (EELLS, 1986).

    Baseado no pensamento de que a ocasio seria ideal para pr em

    prtica um mtodo de atividades ao ar livre que contribuiriam para a

    educao de jovens, B-P enviou, ento, uma carta para alguns pais e mes

    conhecidos seus: "Me proponho a realizar um acampamento com meninos

    selecionados, para que aprendam Escotismo durante uma semana, nas

    prximas frias de agosto" (BP apud EELS, 1986, p. 34). O primeiro

    acampamento escoteiro foi um sucesso e Baden-Powell percebeu que as

    atividades ao ar livre exerciam forte atrao sobre os jovens de todas as

    classes sociais, que aprendiam tcnicas e, ao mesmo tempo, eram

    educados para uma vida futura como cidados dignos (EELLS, 1986).

    Resumindo ento, a trajetria dos primeiros cem anos de

    acampamentos segundo Phyllis M.Ford (1986) conclui-se que os

  • 35

    acampamentos ao longo destes cem anos vieram atender uma serie de

    necessidades da sociedade e em sua primeira fase teve como proposta

    fundamental a preocupao em atender a realidade educativa, ociosidade

    das frias de vero e necessidade de um retorno a natureza, respondendo

    assim aos movimentos da educao progressista.

    No entanto, os acampamentos firmados durante a Primeira Guerra

    Mundial (1914 a 1918) ofereciam programas baseados no patriotismo. J os

    acampamentos na poca da Grande Depresso (1929) se tornaram

    acampamentos de trabalho simples, custo baixo e ensinamentos de

    trabalhos teis. Os acampamentos nascidos na Segunda Guerra Mundial

    (1939 a 1945) viraram jardins de vitria e acolhiam refugiados da Europa,

    ensinado a fazer sabo e aulas de primeiros socorros. Com a chegada dos

    anos 50 e a preocupao com a forma fsica, trouxeram programas fsicos,

    iniciados os anos 60 e a preocupao ambiental foram desenvolvidos

    programas ecolgicos.

    Lamentavelmente, durante estes cem primeiros anos nenhuma

    pesquisa documentou satisfatoriamente o valor do acampamento

    organizado, mesmo tendo trazido para os Estados Unidos e, por

    conseguinte, ao mundo, um enigma nico e de difcil compreenso, mas

    tambm forte e poderoso, o qual persiste como fora social transformadora (

    EELLS, 1986).

    A seguir breve histrico sobre a American Camp Association (ACA),

    sua importncia para o mundo dos acampamentos e sua pesquisa.

  • 36

    AMERICAN CAMP ASSOCIATION - ACA

    Nos Estados Unidos existe uma instituio, sem fins lucrativos,

    denominada American Camp Association (Associao Americana de

    Acampamentos). uma comunidade de profissionais da rea de

    acampamentos que, h cem anos, se uniu para partilhar o conhecimento e

    a experincia e garantir a qualidade dos programas de acampamento (ACA,

    2011). Como uma das maiores autoridades no desenvolvimento da

    juventude a ACA trabalha para preservar, promover e melhorar a

    experincia do acampamento.

    A associao tem como misso: atender os acampamentos

    comprometidos com a segurana, carinho ao ambiente; cuidar e criar

    modelos competentes de adultos; experincias adequadas e saudveis ao

    desenvolvimento; servio comunidade e ao mundo natural; oportunidades

    de liderana e crescimento pessoal; descoberta a educao experiencial, e

    oportunidades de aprendizagem; excelncia e a melhoria contnua de

    autoconhecimentos; ACA Programa de Acreditao (ACA, 2011).

    No que concerne ao significado que estas instituies tm diante

    deste movimento vlido dizer que ultrapassa geraes e barreiras

    culturais. Chenery (1999) alega de forma muito simples a importncia

    destas instituies utilizando a seguinte argumentao:

    O que estou dizendo para voc e para os tomadores de deciso entre voc e ao seu redor que o que voc faz

  • 37

    muito importante, e claramente algo para comemorar. Em face de crises de coragem, esperana e amor, acampamentos ensinam coragem, esperana e amor. A comunidade, o programa, a beleza da paisagem natural nos acampamentos capacita e inspira os jovens a fazer uma diferena positiva no seu prprio futuro e o de seus semelhantes. Certamente esse o objetivo da educao (CHENERY, 1999, p. 6).

    A American Camp Association (ACA) por meio de suas aes

    apresentou uma pesquisa independente realizada em 2004 (THE JOURNAL

    OF EXPERIMENTIAL EDUCATION, 2006). Este estudo de investigao

    resultou na maior pesquisa j realizada nos Estados Unidos at ento. Os

    resultados confirmaram que os acampamentos constroem muitas das

    habilidades necessrias para preparar os acampantes para assumir papis

    de adultos bem sucedidos. Os pais, acampantes, e os monitores,

    independentemente registraram crescimento em reas como a

    autoconfiana, aprender novas habilidades, conviver com os outros, fazer

    amigos, e tomar decises saudveis. Na verdade, o acampamento oferece

    experincias de crescimento para os jovens que podem colher resultados

    com a idade adulta (THE JORNAL OF EXPERIMENTIAL EDUCATION,

    2006).

    A pesquisa da ACA aps toda a reviso de literatura e de todos as

    escalas e teorias revisadas, foi aplicada em 92 acampamentos em mais de

    50 localidades dos Estados Unidos, mais de 3 mil famlias participaram

    desta pesquisa e cerca de 2 mil acampantes entre 08 a 14 anos

  • 38

    responderam os questionrios. A ferramenta final da ACA ficou com 52 itens

    sendo 47 relacionados com os domnios e a diferena com dados

    demogrficos. A pesquisa optou tambm por utilizar apenas uma escala

    Likert de 4 pontos, porque partiram do princpio que uma escala de 4 pontos

    seria mais visvel e mais fcil para as crianas responderem. Essa tarefa foi

    realizada por pesquisadores associados com a ACA. O Camper Frowth

    Index for Youth (CGC-I) ou o ndice de Crescimento do Acampantes, foi

    projetado em pr, durante e aps seis meses da primeira entrevista. A Lilly

    Endowment, Inc. recebeu a concesso e a empresa independente Philliber

    Research Associates foi assegurada de realizar a coleta de dados e anlise.

    (DEVELOPMENT AND APPLICATION OF A CAMPER GROWTH INDEX

    FOR YOUTH, 2006).

    Existem outras entidades e estudiosos responsveis pela

    acreditao de todos os tipos de acampamentos nos Estados Unidos. A

    American Camp Associates (ACA), j acreditou mais de 2.300

    acampamentos em todo o pas que visam fornecer ambientes seguros,

    modelos positivos de adultos, educao experencial e experincias de

    crescimento humano. Por consequncia desta chancela existe atualmente

    mais de 7.000 programas para crianas e jovens que tm a oportunidade de

    aprender lies poderosas em comunidade, construo do carter,

    desenvolvimento de competncias, e uma vida saudvel - lies que no

    podem ser aprendidas em nenhum outro lugar (ACA, 2011).

  • 39

    ACAMPAMENTOS NO BRASIL

    No Brasil, o Movimento Escoteiro chegou em 1910, mesmo ano em

    que Baden-Powell decidiu pedir afastamento do exrcito ingls para se

    dedicar exclusivamente ao Escotismo. Baden-Pawell percebeu que poderia

    ser mais til ao seu pas instruindo a nova gerao para uma boa cidadania,

    ao invs de preparar homens adultos para uma futura guerra. Ele faleceu

    em 1941 (JAROCKI, 2007)

    Os acampamentos no Brasil tm seu primeiro registro por volta de

    1927, segundo dados da Associao Crist de Moos, (ACM, 2003) que o

    nome da ramificao brasileira da The Young Men's Christian Association

    (YMCA), uma organizao fundada em 6 de junho de 1844, em Londres,

    por um jovem chamado George Williams. Na ocasio, o objetivo era

    oferecer aos jovens que chegavam para trabalhar em Londre, uma opo

    de vida, incentivando a prtica de princpios cristos, atravs de estudos

    bblicos e oraes. A proposta da YMCA era incomum poca, pois

    propunha uma ruptura nas rgidas separaes entre denominaes crists e

    classes sociais que delineava a sociedade inglesa do momento. Com uma

    proposta diferenciada disposta incluso de qualquer homem, mulher, ou

    criana, independentemente de raa, religio ou nacionalidade. A nfase no

    contato social tambm foi, desde o incio, uma caracterstica da associao

    (ACM, 2011).

    Atualmente a ACM adota uma abordagem multidisciplinar, visando

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Londreshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Associa%C3%A7%C3%A3o_Crist%C3%A3_de_Mo%C3%A7os#O_fundador#O_fundadorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Crist%C3%A3o

  • 40

    ao desenvolvimento espiritual, intelectual e fsico. Esta abordagem

    representada na marca da ACM/YMCA pelo tringulo vermelho,

    simbolizando a misso de construir um esprito, corpo e mente saudveis

    (ACM, 2011). De acordo com Silva (2003), essa associao sem fins

    lucrativos, guiava-se pelos modelos americanos, onde se trabalhavam

    valores advindos do cristianismo, juntamente a educao integral e a

    recreao.

    Por volta dos anos 40 surgia uma instituio de muita importncia, o

    Acampamento Paiol Grande SP, que representou um marco. um dos

    mais antigos acampamentos do Brasil, considerada uma escola de

    referncia para todos que atuam nesta rea. O Paiol Grande surgiu em

    1946 como o primeiro acampamento tcnico educacional do Brasil, atravs

    de seus idealizadores Luiz Dumont Villares, Erico Stickel, Job Lane, Alfredo

    Veloso, Otvio Lotufo, dentre outros. Suas primeiras instalaes foram

    construdas entre as dcadas de 40 e 50. Desde o incio, a espiritualidade

    era componente integral da programao, importante legado dos Padres

    Oblatos de Maria Imaculada. H registros do primeiro Acampamento no

    Paiol Grande no ano de 1948 (PAIOL GRANDE, 2011).

    Foi introduzido no acampamento um modelo educacional onde,

    alm de estarem em contato com a natureza, os jovens encontravam um

    ambiente sadio e um clima de fraternidade e amizade. O lema do

    acampamento, desde a sua concepo, Educar Brincando e desde

    ento, os jovens no aprendem as coisas atravs de palestras ou aulas,

  • 41

    mas sim pela vivncia com outros jovens no dia-a-dia, pelas brincadeiras,

    prticas desportivas, atividades culturais, entre outras. Esse trabalho

    desenvolvido pelo Paiol Grande visa colaborar na formao dos jovens,

    auxiliando-os a valorizar o equilbrio entre o comunitrio e o individual. Em

    1960 o Acampamento Paiol Grande tornou-se uma Fundao (PAIOL

    GRANDE, 2011). De acordo com Pereira (1998), antes mesmo da dcada

    de 40, as igrejas evanglicas utilizavam-se de atividade semelhante na qual

    o contedo era apenas espiritual visando manter os jovens longe dos

    folguedos carnavalescos.

    Entre as dcadas de 60 e 80 muitos movimentos espalharam-se

    pelo Brasil. Uma serie de organizaes que tinham como proposta os

    acampamentos, multiplicaram-se: A Mocidade para Cristo ligada Youth

    Christ (YFC), de origem americana instalou-se em Belo Horizonte/MG,

    Palavra da Vida, ligada Word of Life (WOL), tambm de origem

    americana, se fixou em Atibaia/SP, Janz Team, de origem Alem, se

    instalou em Gramado/RS e o Acampamento MAB, de origem sua,

    localizado em Cosmpolis/SP alm de outros organizaes de menor porte

    (PEREIRA, 1998). relevante registrar que todas as organizaes

    supracitadas encontram-se em pleno funcionamento (JANZTEAM;

    PVNORDESTE; MPC; MAB, 2011).

    Corroborando com Baden Powell (1941) que afirma se queremos

    que nossos jovens sejam felizes, devemos lev-los a praticar o bem ao

    prximo e cultivar as relaes, a apreciao da natureza, sendo assim as

  • 42

    historias e sonhos de alguns idealizadores de acampamentos perpassam

    por esta ideologia de vida (RIBEIRO, 2007), o Acampamento Nosso

    Recanto, conhecido como NR, fundado em julho de 1953, nasceu em meio

    a um lugar aconchegante, cheio de rvores frutferas e apenas uma

    pequena casa e alguns galpes. Uma ideia feliz de um idealista que jamais

    poderia imaginar, naquela poca, o quo importante o NR seria na vida de

    tantos jovens, que durante todos esses anos vm frequentando o espao.

    Assim, o Professor Affonso Maurcio Vivolo, o Safo para os mais prximos,

    deu incio a esse que seria tambm um dos mais importantes lugares de

    formao de jovens lderes do Brasil (ACAMPAMENTO NOSSO RECANTO,

    2011).

    Ao longo de 30 anos de existncia muitas conquistas foram

    alcanadas e desafios foram superados at que em 1988 era inaugurado o

    NR2 (MG), a Fazenda, um lugar mgico que marcou geraes de

    acampantes. Abriga at hoje, nas frias, a turma maiores, para jovens de 11

    a 16 anos. O NR2 cresceu tendo em sua filosofia a formao fsica e

    espiritual dos jovens. Desenvolve a convivncia social, o esprito de

    cooperao, a independncia e o amor natureza. Oferece oportunidades

    para o desenvolvimento de suas potencialidades e um treinamento de

    liderana. Exercita-os no cumprimento dos deveres e na defesa de seus

    direitos (ACAMPAMENTO NOSSO RECANTO, 2011).

    Na opinio de Stoppa (2001), o olhar diferenciado para este negcio

    impulsionou uma dezena de novos espaos, ampliando sua atuao atravs

  • 43

    de uma proposta e filosofia voltadas para a educao atravs do lazer.

    H em todo o Brasil, principalmente na Regio Sudeste do Pas, a presena de uma centena de espaos de lazer chamados de acampamentos de frias e, em alguns casos, de acantonamentos de frias, que so locais destinados a receber grupos de crianas e adolescentes nos perodos de frias escolares ou, ainda, grupos de escolas, igrejas, famlias e empresas em outras pocas do ano (STOPPA, 2004, p. 9).

    At onde ento, os acampamentos chegaram e qual a realidade

    deste projeto no nordeste do pas?

    ACAMPAMENTOS NO NORDESTE DO BRASIL

    Ao passo que no Sul e Sudeste do pas j existiam organizaes

    estabelecidas o primeiro registro no Nordeste foi datado em 1971 com o

    Acampamento Palavra da Vida Nordeste (Word of Life - WOL), iniciado o

    ento seminarista Abner Assis, convidou George Theis e Steve Peterson

    (missionrios americanos que trabalhavam na Orao pela Vida - OPV em

    So Paulo) que aceitaram e vieram a Recife para comear o primeiro

    acampamento no Nordeste do Brasil (PALAVRA DA VIDA, 2011).

    Em 1973, foram doadas Palavra da Vida as terras de um orfanato,

    onde hoje funciona toda a estrutura do acampamento e da organizao.

    Naquele ano, oficialmente, iniciou-se o Ministrio Palavra da Vida Nordeste,

    cuja proposta resulta numa ferramenta eficaz na vida de jovens,

  • 44

    adolescentes, crianas e famlias. Em um ambiente de contato com a

    natureza e infraestrutura mpar no Nordeste, este ministrio tem sido

    instrumento de grande importncia para novos seguidores do Evangelho de

    Cristo na regio (PALAVRA DA VIDA, 2011).

    H ainda outra importante referncia no Nordeste que o

    Acampamento Ministrio Centralizado na Bblia (MCB) que surgiu com

    trabalho de acampamentos semestrais voltados para Adolescentes e

    Jovens. Hoje, alm desse ministrio, outros esto em pleno funcionamento

    como: Ministrio Clube Bblico, Acampamento Criana Carente e

    Evangelismo no Interior. O objetivo desse ministrio o alcance de

    Crianas e Adolescentes nas escolas pblicas e municipais de

    Pernambuco. Atinge crianas e adolescentes carentes, cerca de 5.423

    pessoas, com a ajuda de voluntrios, alguns em tempo integral e outros,

    parcial (MINISTERIO CRISTO DA BBLA, 2011).

    Existe ainda registro do primeiro acampamento privado do

    Nordeste, sem vinculo com nenhum credo religioso, localizado em

    Pernambuco, que tem desenvolvido aes desde 1989. Este acampamento

    conhecido como Acampamento Companhia do Lazer ser o instrumento

    deste estudo e ser abordado com mais detalhes na metodologia (CIA DO

    LAZER, 2011).

  • 45

    MUNDO ORGANIZACIONAL E O

    APRENDIZADO

  • 46

    Notria velocidade das mudanas organizacionais ocorridas nas

    ltimas dcadas tem deixado o mundo acadmico e os empreendedores

    atentos a seus impactos. De acordo com Honrio e S (2010) as constantes

    mudanas e inovaes tm exigido dos membros envolvidos uma

    necessidade frequente de aprendizagem com uma perspectiva no campo

    acadmico assim como na prxis organizacional. Os autores ainda afirmam

    que as interaes sociais encontram novas possibilidades de

    desenvolvimento, vislumbrando caminhos diferentes para os indivduos e

    construindo conhecimentos, mudando a si e aos outros em termos de

    habilidades, conhecimentos e atitudes a partir do encontro com a

    diversidade de concepes.

    Se uma organizao constituda por pessoas, o seu sucesso

    perpassa pelo conjunto de sucesso de seus integrantes. Corroborando com

    S, Oliveira e Honrio (2004) o sucesso de uma organizao depende

    tanto do seu projeto, quanto de suas qualidades tcnicas e humanas.

    Entretanto, so estas ltimas as responsveis pelo carisma, dinamismo,

    intuio, ideias e inovaes. Diante desta realidade percebe-se o valor da

    construo das relaes para o crescimento das organizaes e enxerga-se

    claramente a essencial contribuio que Ragins e Kram (1988) trouxeram

    para o mundo corporativo quando afirmaram que o processo de mentoria

    dentro das empresas desenvolvido por meio de relaes e capaz de

    provocar mudanas na vida e transformar grupos, despertando o mesmo

    para o aprendizado e o desenvolvimento dos envolvidos, tornando esta

  • 47

    experincia marcante, consistente e duradoura.

    Uma organizao moderna no pode mais acreditar que possa

    funcionar apenas com pessoas que pensam e outras que s fazem o que

    lhes mandam. Atualmente as organizaes e as comunidades onde quer

    que estejam inseridas no s necessitam de um nvel de conhecimento e

    habilidades de todos os seus integrantes como tambm o desenvolvimento

    da independncia, autoconfiana, segurana pessoal e capacidade de

    exercitar a liderana de forma empreendedora. Todos so desafiados a

    serem empreendedores e a produzir novos significados, novos valores,

    conquistando resultados efetivos para as empresas (SEBRAE, 2011).

    De acordo com Jarocki (2007) se a educao a chave que abre

    possibilidades de se transformar o homem annimo, sem rosto, naquele que

    sabe que pode escolher, que ele sujeito participante de sua reflexo, da

    reflexo do mundo e da sua prpria histria, assumindo a responsabilidade

    dos seus atos e das mudanas que fizer acontecer, entende-se a

    importncia da preocupao de educar para a vida logo da infncia, pois

    para Freire (1979) as relaes no se do apenas com os outros, mas se

    do no mundo e pelo mundo.

    Dentro deste contexto, os acampamentos podem contribuir no

    desenvolvimento das capacidades de apropriao e conhecimento das

    potencialidades corporais, afetivas, emocionais e ticas, para a formao de

    crianas felizes e saudveis. Assim, uma das misses dos acampamentos

    construir um cidado pleno, a fim de que ele se reconhea como tal e

  • 48

    prepar-lo para a vida. Druker (2002) afirma que o mais importante dentro

    das empresas so as pessoas e para que a verdadeira liderana acontea

    no necessrio estar pautada em traos comuns de personalidade e muito

    menos em carisma, preciso estar pautada em responsabilidade, trabalho e

    confiana.

    Nesse vis percebe-se a relevncia do aprender sempre e das

    relaes como fator preponderante do sucesso do profissional e das

    empresas. Ento, se a educao pode ser encarada como uma proposta

    vivida e uma grande aventura, os acampamentos tornam-se ambientes

    perfeitos para essa experincia, desenvolvendo habilidades, valores,

    conhecimentos, aprendizado, criatividade, comprometimento e uma

    diversidade de atividades, construdas pelo prazer e pela brincadeira, que

    sua principal linguagem para adquirir novas situaes e criar outras regras,

    desenvolvendo vrios aspectos sociais, emocionais, cognitivos, motores e

    trazendo o mundo simblico para bem perto, ao mesmo tempo no se

    desfazendo do real (JAROCKI, 2007).

  • 49

    HABILIDADES SOCIAIS NO MBITO DO

    MODELO DA ACA

  • 50

    A American Camp Association (ACA) atravs de suas aes para o

    crescimento da juventude com a experincia do acampamento veio

    apresentar uma pesquisa independente realizada em 2004. O estudo

    concluiu a maior investigao dos resultados dos acampantes j realizados

    nos Estados Unidos, com mais de 5.000 famlias entre pais e acampantes e

    92 acampamentos em todos os Estados Unidos (DEVELOPMENT AND

    APPLICATION OF A CAMPER GROWTH INDEX FOR YOUTH, 2006).

    Essa pesquisa foi desenvolvida por uma equipe de pesquisadores e

    estudiosos. Publicada no The Journal of Experiential Education; 2006; 29, 1;

    ProQuest Central recebendo o nome original de Development and

    Application of a Camper Growth Index for Youth. Grandes

    pesquisadores participaram deste trabalho como: Henderson, Karla

    A;Thurber, Christopher A;Leslie Schueler Whitaker;Bialeschki, M

    Deborah;Scanlin, (DEVELOPMENT AND APPLICATION OF A CAMPER

    GROWTH INDEX FOR YOUTH, 2006).

    No incio de 2000 um grupo de profissionais com experincias em

    pesquisa de campo no tema desenvolvimento da juventude, formou a

    Comisso de Pesquisa da ACA. A equipe da ACA iniciou 20 visitas

    informais nos acampamentos e conversou com funcionrios e acampantes

    aps esta visita foi documentado o resultado encontrado em campo (ACA

    Research Interim Report, 2000). A comisso de investigao analisou uma

    serie de instrumentos como, por exemplo, autoconceitos, escalas,

    avaliaes e controle de raiva, mas no conseguiu encontrar parmetros

  • 51

    especficos que fossem comuns aos acampamentos.

    Com base em uma reviso dos dados da ACA e literatura

    examinada, quatro domnios principais evoluram e representaram os

    resultados dos programas mais procurados para os acampamentos. Quatro

    domnios foram identificados: Identidade Positiva; Habilidades Sociais;

    Valores Positivos e Crescimento Espiritual e Habilidades Fsicas e

    Cognitivas (DEVELOPMENT AND APPLICATION OF A CAMPER

    GROWTH INDEX FOR YOUTH, 2006).

    A pesquisa da ACA aps toda a reviso de literatura e de todas as

    escalas e teorias revisadas foi aplicada em 92 acampamentos em mais de

    50 localidades dos Estados Unidos, mais de 3 mil famlias participaram

    desta pesquisa e mais de 2 mil acampantes entre 08 a 14 anos

    responderam aos questionrios. A ferramenta final da ACA ficou com 52

    itens sendo 47 relacionados com os domnios e a diferena com dados

    demogrficos. Os pesquisadores optaram por utilizar apenas a escala Likert

    de 4 pontos porque partiram do princpio que uma escala de 4 pontos seria

    mais visvel e mais fcil para as crianas responderem. Essa tarefa foi

    realizada por pesquisadores associados com a ACA. O Camper Frowth

    Index for Youth (CGC-I) ou o ndice de Crescimento do Acampantes, foi

    projetado antes, durante e aps seis meses da primeira entrevista. A Lilly

    Endowment, Inc. recebeu a concesso e a empresa independente Philliber

    Research Associates foi assegurada a realizar a coleta de dados e anlise.

    (DEVELOPMENT AND APPLICATION OF A CAMPER GROWTH INDEX

  • 52

    FOR YOUTH, 2006).

    O modelo tambm forneceu uma maneira de analisar vrios

    elementos do desenvolvimento da juventude positiva. O trabalho do instituto

    de pesquisa tem sido amplamente utilizado pela organizao de outros

    jovens que veem a experincia nos acampamentos fonte eficaz de

    contribuio para formao de adultos bem sucedidos (CAMPING

    MAGAZINE, 2001).

    Portanto, esta pesquisa da ACA analisou o processo de

    desenvolvimento e as propriedades psicomtricas do instrumento ndice de

    Crescimento dos Acampantes (CGC-I). Esta medida foi destinada a medir

    os resultados de experincias nos acampamentos entre os jovens

    (DEVELOPMENT AND APPLICATION OF A CAMPER GROWTH INDEX

    FOR YOUTH, 2006).

    Diante a um resultado excelente e uma pesquisa de alto nvel esta

    ferramenta, vem reafirmar a importncia dos acampamentos como uma

    oportunidade de aprendizagem experimental visando o desenvolvimento

    positivo dos jovens (DEVELOPMENT AND APPLICATION OF A CAMPER

    GROWTH INDEX FOR YOUTH, 2006).

    Para os acampamentos organizados este momento foi de

    fundamental importncia. At ento no existia um instrumento de largura e

    comprimento suficientemente adequado para fazer esta mensurao de

    forma clara e objetiva. Este instrumento nico, personalizado, confivel e

    vlido media os constructos para desenvolvimento dos jovens de forma

  • 53

    jamais vista at ento (DEVELOPMENT AND APPLICATION OF A

    CAMPER GROWTH INDEX FOR YOUTH, 2006).

    Os resultados confirmaram que os acampamentos constrem

    muitas das habilidades necessrias para preparar os acampantes para

    assumir papis de adultos bem sucedidos. Os pais, acampantes, e os

    monitores, independentemente registraram crescimento em reas como a

    autoconfiana, aprender novas habilidades, conviver com os outros, fazer

    amigos, e tomar decises saudveis. Na verdade, o acampamento oferece

    experincias de crescimento para os jovens que podem colher resultados

    com a idade adulta (DEVELOPMENT AND APPLICATION OF A CAMPER

    GROWTH INDEX FOR YOUTH, 2006).

    O desenvolvimento da juventude engloba esforos para criar

    organizaes e comunidades que suportem a oferta e a oportunidade

    necessria para ir alm da preveno e uma juventude capaz de mover-se

    em direo a vida adulta. Especialistas em desenvolvimento da juventude

    tm indicado que, alm de uma escola competente, os jovens precisam

    experimentar oportunidades para crescer fisicamente, emocionalmente,

    civicamente e desenvolver competncias sociais atravs do suporte da

    famlia, comunidade e outras instituies incluindo os programas de

    acampamentos. H evidncias que projetos bem implementados e uma

    juventude centrada em programas conscientes usando o modelo de

    desenvolvimento de juventude resulta em frutos positivos tanto para os

    jovens como para as suas comunidades (DEVELOPMENT AND

  • 54

    APPLICATION OF A CAMPER GROWTH INDEX FOR YOUTH, 2006).

    As habilidades sociais e seus constructos que sero abordados

    nesta pesquisa tm sido considerados como fatores determinantes para a

    qualidade de vida de muitas pessoas. Por conseguinte o indivduo pode

    desenvolver relaes interpessoais mais satisfatrias, maior realizao

    pessoal, sucesso profissional, alm de melhor sade fsica e mental.

    Habilidades Sociais (HS) o domnio que rene nossas

    competncias e formas de nos comportar perante as situaes do cotidiano.

    O campo terico-prtico das habilidades sociais teve origem na Psicologia

    Clnica e do Trabalho como afirma Del Prette. A, Del Prette.Z.A.P (2006) e

    na base do desenvolvimento desse campo encontram-se os conceitos de

    habilidades sociais e competncia social. No Manual de avaliao e

    treinamento das habilidades sociais, Vicente Caballo (2003) afirma que

    habilidades sociais so comportamentos que ajudam o indivduo a lidar com

    situaes em que: a) ele deve interagir com ao menos um outro indivduo;

    b) para chegar a um resultado desejado e c) cumprir os itens anteriores

    mantendo sua autoestima e uma boa relao com quem interage.

    O desempenho social refere-se emisso de um comportamento ou sequncia de comportamentos em uma situao qualquer. J o termo habilidades sociais aplica-se noo de existncia de diferentes classes de comportamentos sociais no repertrio do individuo para lidar com as demandas das situaes interpessoais. A competncia social tem sentido avaliativo que remete aos efeitos do desempenho das habilidades nas situaes vividas pelo individuo (DEL PRETTE, Z, A, P; DEL PRETT, A, 2001, p. 31).

  • 55

    Em suma podemos concluir com a exemplificao de Jos

    Humberto da Silva sobre a resenha Psicologia das Habilidades Sociais

    (2003), que as habilidades sociais esto diretamente ligadas s conexes

    com o cotidiano. Esta habilidade facilmente percebida quando um amigo

    lhe pede algo emprestado e voc se sente constrangido em negar o pedido

    ou disfarando sua pouca vontade, cede solicitao emprestando.

    Quando ainda algum entra na sua frente naquele fila em que voc j

    aguarda a sua vez h muito tempo, e voc se sente na obrigao de se

    defender. So situaes do cotidiano que atravs de seu comportamento

    estabelecem-se as habilidades sociais (SILVA, 2003).

    Muitos problemas humanos poderiam ser evitados, segundo

    Caballo (2006) se as habilidades sociais fossem percebidas e tratadas na

    infncia. Dentro da perspectiva da juventude importante perceber alguns

    aspectos que podem contribuir de forma positiva para a construo das

    relaes com o seu eu, com a famlia, com a sociedade civil e com as

    relaes de pares.

    Diante do mundo globalizado e cheio de influncias fica claro que

    no s a famlia e a escola so responsveis pela educao das crianas e

    jovens, mas tambm a percepo do mundo e dos outros ir influenciar

    suas relaes e sentimentos. Para Druker (2002) a percepo o ponto de

    partida dentro das organizaes, pois a preocupao com os cenrios vai

    ao encontro da percepo que temos do mundo e do outro.

    vlido enfatizar que a percepo entendida por meio de vrios

  • 56

    olhares e dentro de muitas reas. A psicologia social que um ramo da

    psicologia que se preocupa com a maneira pela qual os pensamentos,

    sentimentos e comportamentos dos indivduos so inlfuenciados por outras

    pessoas, um deles. A percepo perpassa por vrios processos que

    podem interferir na formao de impresses sobre o outro e sobre o mundo,

    como: defeitos com aparncia fsica, onde claro que no se deve julgar

    um livro por sua capa, esquemas cognitivos que so estruturas que

    orientam o processamento das informaes e que as pessoas usam estes

    esquemas para se organizarem no mundo social, esteretipos, que so

    convices amplamente sustentadas de que as pessoas tm certas

    caractersticas porque fazem parte de um determinado grupo e ainda a

    subjetividade na percepo da pessoa, que ocorre quando as pessoas

    estimam que encontraram mais caractersticas sociais do que aquilo que

    realmente viram e por fim a perspectiva evolucionista sobre a

    tendenciosidade na percepo da pessoa, onde afirmam que os seres

    humanos so programados pela evoluo para classificar as pessoas como

    membro do mesmo grupo o qual se identifica ou de um grupo externo com o

    qual no identifica-se (WEITEN, 2010).

    Provalvemente, para se entender o sentido da percepo vrios

    fatores devero ser ponderados. Tuan (1980) afirma que: a percepo

    uma atividade, um estender-se para o mundo. Os orgos dos sentidos

    pouco eficazes quando no ativamente usados (TUAN, 1980, p. 75).

    Portanto, fica claro que a percepo um processo em que as pessoas

  • 57

    tomam conhecimento de si e do mundo a sua volta. Robbins (1943) define

    ainda como sendo um processo pelo qual os indivduos se organizam e

    interpretam suas impresses sensoriais com finalidade de dar sentido ao

    meio ambiente.

    Assim, se habilidades sociais tm uma relao com

    comportamentos e atitudes, ento a forma como a percepo se manifesta

    no indivduo implicar em todo este processo de reconhecimento de

    habilidades sociais, sendo uma ferramenta fundamental nos

    relacionamentos, pois agua a interpretao de sinais interiores e

    exteriores, provoca reflexes crticas gerando nas pessoas a necessidade

    de reavaliar suas prprias crenas como mecanismo de preservao da

    qualidade de vida e da sua identidade humana. A famlia sendo

    caracterizada como um sistema onde todos os seus membros se

    influenciam reciprocamente pertence ao mais amplo sistema da sociedade e

    suas mltiplas influncias. De acordo com Del Prette. A. e Del Prette (2001)

    a criana expressa emoes e emite comportamentos deste o nascimento

    at a mais tenra idade que so gradativamente modelados por seus pais.

    Todavia para efeitos do atual estudo sero utilizados os quatro

    constructos estabelecidos pela pesquisa da ACA, por meio da percepo

    dos acampantes e dos monitores para avaliar as habilidades sociais que

    so: liderana, fazer amigos, conforto social e relao de pares e ainda a

    sua percepo em relao ocorrncia de mentoria e os benefcios que

    esta relao causou dentro de sua vida profissional.

  • 58

    HABILIDADES SOCIAIS

  • 59

    HABILIDADE SOCIAL LIDERANA

    Liderana tem sido um tema de muito investigado no campo da

    psicologia social e comportamental. Com o passar do tempo, a pesquisa e a

    literatura sobre liderana evoluram muito, no entanto boa parte buscou

    explicar os comportamentos dos lderes em face de seus subordinados, ao

    invs de examin-los no contexto maior de suas organizaes. (BOWDITH,

    BUONO, 2004). Para os autores a chave est nas definies de liderana,

    pois uma relao entre pessoas s quais a influncia faz parte do

    processo e a liderana s possvel quando existem liderados, ou seja, no

    h lderes sem seguidores.

    Ainda para Bowdith e Buono (2006) as pesquisas sobre liderana

    podem ser agrupadas em trs categorias: a abordagem do trao, a

    perspectiva comportamental ou funcional, e o ponto de vista situacional ou

    contigencial. Este constructo vem sendo estudado desde a antiguidade.

    Hoje o mundo acadmico est repleto das mais diversas definies e

    teorias e apesar destas estarem bem disseminadas, nenhuma delas parece

    explicar, por si s, toda a dinmica subjacente liderana.

    De acordo com Minicucci (1995) pesquisas iniciais sobre liderana

    focalizavam o prprio lder com a sua personalidade, e tinha-se a impresso

    que a eficcia de sua liderana poderia ser explicada isolando suas

    caractersticas psicolgicas e fsicas. Isto o diferenciava dos demais

    membros do grupo, todavia, estes estudos no produziram os resultados

  • 60

    esperados e no existe prova confivel quanto existncia de

    caractersticas universais de liderana j que os lderes no funcionam

    isoladamente e esto dentro do contexto social, cultural e fsico.

    A liderana tem vrias facetas e para cada situao existe um

    determinado tipo de papel a ser exercido. Petterson e Seligman (2004)

    reconhecem a liderana enquanto qualidade pessoal e referem-se a uma

    constelao de atributos cognitivos integrados a temperamentos que

    promovam uma orientao para influenciar e ajudar os outros com direes

    e motivaes para se obter o sucesso coletivo. Desta forma, os indivduos

    com esta predisposio almejam atuar como dominantes por meio de

    relacionamentos e situaes sociais ressaltando ainda, que liderana

    intrisicamente um fenmeno social.

    Um lder atento com sculo XXI deve estabelecer novos

    paradigmas e criar diferentes habilidades para ser reconhecido como tal. De

    acordo com Robbins (2005) liderana a capacidade de influenciar um

    grupo para alcanar uma meta. O autor tambm ressalta que necessrio

    incorporar alguns elementos da inteligncia emocional como a

    autoconscincia, autogerenciamento, automotivao, empatia, habilidades

    sociais e que o conjunto destes elementos potencializar o desempenho

    deste profissional para uma forma satisfatria.

    A falta de consenso sobre o assunto desperta para o

    aprofundamento da discusso, mas para efeito do estudo que hora se

    apresenta ser considerado que liderana : ... o carter evolutivo das

  • 61

    ideias mais aceitas; algo situacional, dinmico e profundamente ligado

    natureza humana (FIORELLE, 2007, p. 200).

    Dentro desta perspectiva concluiremos que liderana no

    concedida conquistada atravs de atitudes e comportamentos positivos.

    Carnegie (1981) caracteriza alguns princpios de uma boa liderana que so

    facilmente percebidas nos acampamentos como uma apreciao sincera,

    conversar sobre erros, falar sobre suas falhas antes de falar das outras,

    perguntar ao invs de dar ordens, permitir que cada indivduo se defenda,

    elogiar todo e qualquer progresso, ser sincero em seus elogios e

    proporcionar uma boa reputao para a pessoa. No existem receitas para

    que a liderana acontea e sim comportamentos e atitudes transformadas

    em aes.

    Os acampamentos neste aspecto desenvolvem a liderana a partir

    do momento em que estabelecem responsabilidades, confiana, respeito e

    obrigaes para as crianas e jovens assim como feito pelos familiares

    em casa. O comportamento de cada um que ir diferenci-lo dos outros

    sendo um lder ou no (YOUTH DEVELOPMENT OUTCOMES OF THE

    CAMP EXPERIENCE, 2006).

    HABILIDADE SOCIAL FAZER AMIGOS

    Cientistas sociais tm analisado a amizade entre crianas e

    adolescentes durante um sculo ou mais. Hartup, Bukowski e Newcomb

  • 62

    (1998) acreditam que a relao social de crianas e adolescentes est

    centrada em seua amigos, bem como em seus familiares. E ainda

    importante estar ciente de que a amizade deve ser considerada com um

    olhar multidimensional, pois h na amizade mais do que ter amigos e que

    todas as amizades no so iguais; que a amizade envolve a interao social

    que so, por vezes, afirmando, mas s vezes contrapondo, para que

    diferentes benefcios e responsabilidades possam derivar de ter que seus

    amigos esto, e que a amizade pode ser descrita em diversas maneiras

    alm do tempo que as crianas passam juntas ou a intimidade de suas

    trocas sociais (HARTUP; BUKOWSKI; NEWCOMB, 1998, p. 2).

    Portanto o significado de fazer amigos extremamente valioso na

    infncia. Estas relaes na primeira fase da vida so fatos marcantes no

    desenvolvimento de habilidades sociais na vida adulta e que ter amigos

    geralmente uma boa coisa na experincia da criana (HARTUP,

    BUKOWSKI E NEWCOMB, 1998, pg 05).

    Porque amigos so importantes para as crianas e adolescentes?

    Mooney e Laursen (2005) afirmam que essa estima durante a infncia

    possibilita experincias que so cruciais e normativas para a cognio,

    emoo e para o desenvolvimento de habilidades sociais. Primeiramente a

    amizade se faz importante porque atravs dos amigos que acontece o

    suporte social, pois grande parte do tempo das crianas acontece fora do

    ambiente familiar.

    Esses laos tambm permitem uma possibilidade de explorar as

  • 63

    emoes do mundo e por fim, a amizade nesta fase da vida o primeiro

    relacionamento em que a criana comea a preocupar-se e entender o

    outro respondendo e entendendo os sentimentos e problemas do outro. De

    acordo com Hartup (1992) a essncia da amizade est associada

    reciprocidade, comprometimento e a interao que existe na relao.

    Algumas pesquisas apontam que a amizade exerce uma srie de funes

    na vida das crianas, tais como recursos emocionais, cognitivos,

    habilidades sociais bsicas e percussoras de uma relao subsequente.

    A amizade enquanto recurso emocional favorece a criana a

    possibilidade de conhecer novas pessoas, enfrentar problemas e explorar

    um ambiente diferente do qual j se encontra inserida, essas relaes

    apoiam o processo de diverso e podem proteger as crianas diante de

    problemas adversos como conflitos familiares, fracasso escolar, doenas,

    dentre outros. Amigos quanto recurso cognitivo para a resoluo de

    problemas e aquisio de conhecimento. Como habilidade social bsica a

    comunicao social, a cooperao e a gesto de conflitos so mais

    facilmente resolvidas no ambiente entre amigos. Ainda como uma relao

    subsequente as amizades so pensadas para serem modelos para as

    relaes posteriores (HARTUP, 1992).

    Os relacionamentos construdos nos acampamentos ajudam a

    minar os esteretipos e contribui com a verdade, respeito e ajudam as

    pessoas sentirem-se melhores com elas mesmas. Ideologicamente os

    acampamentos criam uma cultura de fazer amigos independentemente de

  • 64

    panelinhas, bulling e materialismos (YOUTH DEVELOPMENT OUTCOMES

    OF THE CAMP EXPERIENCE, 2006). Para Furnman (1998) em qualquer

    caso, as percepes das crianas tendem a moldar o curso das relaes,

    tanto por interferir no seu prprio comportamento e nas suas interpretaes

    do comportamento de seus parceiros.

    Os acampamentos de frias favorecem a criao da harmonia e de

    novas amizades e valorizam vrios destes comportamentos supracitados.

    Desta forma positiva, se constri o desenvolvimento das crianas e

    adolescentes, pois estudos correlatos mostraram que as crianas que tm

    amigos so mais competentes socialmente do que crianas que no tm.

    As crianas com muitos amigos desenvolvem caractersticas desejveis,

    incluindo a amizade, cooperativismo, o altrusmo, a boa perspectiva de

    resultados e a autoestima (NEWCOMB; BAGWELL, 1998).

    Valores, comportamentos, atitudes e aes efetivas contemplam o

    sucesso de uma amizade. A essncia da comunicao bem sucedida pode

    ser o incio de uma grande amizade e essa harmonia a habilidade de

    entrar no mundo de algum para fazer esse algum sentir que voc o

    entende.

    HABILIDADE SOCIAL CONFORTO SOCIAL

    A convenincia e conforto social um dos mais interessantes

    campos da vida. A histria da humanidade a histria da produo de

  • 65

    regras de convvio coletivo. Segundo Maputo (2011) os indivduos

    inscrevem-se em limites suportveis, limites supostos, retiram-se

    ou escondem-se da sua periculosidade. O desconforto individual gerado em

    mltiplas situaes tem como contrapartida o conforto social, que esto de

    acordo com as regras do viver coletivo e de acordo com o particular de

    grupos e estatutos.

    A competncia de utilizar as habilidades sociais no cotidiano a favor

    de um bem comum uma tarefa aparentemente simples, mas nem sempre

    conquistada e utilizada de forma adequada. Del Prette. A e Del Prette. Z. A.

    P. (2011) destacam as habilidades sociais da seguinte forma: habilidades

    de comunicao (fazer e responder perguntas, dar e pedir feedback, elogiar,

    iniciar, manter e encerrar conversao); habilidades de civilidade (dizer por

    favor, agradecer, apresentar-se, cumprimentar); habilidades assertivas de

    enfrentamento ou defesa de direitos e de cidadania (expressar opinio,

    discordar, fazer e recusar pedidos, interagir com autoridades, lidar com

    crticas, expressar desagrado, lidar com a raiva do outro, pedir mudana de

    comportamento, etc.); habilidades empticas e de expresso de sentimento

    positivo e outras duas mais abrangentes que foram nomeadas como

    habilidades sociais profissionais ou de trabalho (coordenao de grupo,

    falar em pblico), e as habilidades sociais educativas de pais, professores e

    outros agentes envolvidos na educao ou treinamento. Na base de

    qualquer desempenho socialmente competente, destaca-se a automonitoria,

    enquanto habilidade geral de observar, descrever, interpretar e regular

  • 66

    pensamento, sentimentos e comportamentos em situaes sociais (DEL

    PRETTE.A, DEL PRETTE, Z, A, P, 2001).

    De acordo com Tasa Grn (2008), habilidades sociais (HS) so

    comportamentos que os indivduos precisam aprender para conviver bem

    em sociedade, incluindo as habilidades de comunicao, resoluo de

    problemas e cooperao. No prestar ateno, ou melhor, no valorizar

    esse desenvolvimento e no corrigi-los a tempo podem gerar obstculos

    para a interao social produtiva do individuo e valorizar a importncia

    destas experincias para as crianas em acampamentos pode fortalecer e

    aflorar esta habilidade, pois Silva (2003) recomenda que toda e qualquer

    ao educativa subsista de uma viso de homem que fruto de uma

    escolha fundada em valores, contribuindo para que se formem cidados

    participativos, crticos, atuantes.

    Isto exposto, percebe-se a relao com este constructo dentro dos

    acampamentos. Por meio de uma ao intencional, estas relaes so

    favorecidas nestes programas e comum escutar dos acampantes que eles

    se sentem melhores nestes ambientes do que na escola ou na vizinhana

    sendo um grande indicador que sentir-se bem consigo, com o seu corpo e

    com os amigos faz parte do constructo conforto social (YOUTH

    DEVELOPMENT OUTCOMES OF THE CAMP EXPERIENCE, 2006).

  • 67

    HABILIDADE SOCIAL RELAO DE PARES

    Criana e adolescente dedicam a um tempo significativo do seu dia

    na companhia de amigos. As habilidades e interaes sociais so

    consolidadas atravs da manuteno dos diferentes tipos de

    relacionamento de pares. Principalmente em momentos de conflitos com

    colegas que as crianas comeam a adquirir o conhecimento de si e de

    suas relaes. Em consequncia as crianas comeam a aprender e

    identificar os diferentes tipos de amizade, esta seleo comea na escola,

    no bairro, em casa. (ODEN, 1987).

    O poder destas relaes ultrapassa as idades e pode alcanar a

    idade adulta e ir alm de ambientes formais. Os colegas so vistos como

    poderosos agentes de socializao, contribuindo alm das influncias da

    famlia, escola e vizinhana, de forma social, emocional, cognitiva

    vislumbrando ainda o bem-estar (RUBIN; BUKOWSKI; LAURSEN, 2009).

    Conviver com crianas de idades diferentes contribui para o

    desenvolvimento scio-cognitivo e de linguagem da criana mais nova,

    melhorando as habilidades instrutivas da criana mais velha (HARTUP,

    1983).

    As relaes de pares podem ser grandes aliadas para o

    desenvolvimento das habilidades sociais e os relacionamentos ntimos

    podem apoiar este desenvolvimento. As crianas com essa competncia

    estabelecem melhores vnculos afetivos. Nem todas as amizades so

  • 68

    iguais, algumas so seguras, outras so rochosas quando se trata de

    desacordos e conflitos. As relaes prximas so susceptveis para

    contribuir com tudo, no entanto, no seguro evidenciar que desenvolver

    relaes sadias de pares garantia de resultado de um bom

    desenvolvimento (HARTUP, 1992).

    Pelo contrrio, a amizade pode contribuir mais para algumas

    adaptaes, como uma auto atitude ou a autoestima, que com as

    habilidades sociais amplamente concebidas. A relao de pares tambm

    pode contribuir mais para o funcionamento do relacionamento que para o

    bem-estar geral. Se esta relao contribui no desenvolvimento de crianas e

    adolescentes isto permanece incerto, porm crianas com amigos so

    melhores que crianas sem amigos, contudo se necessrio, outras relaes

    podem ser substitudas por amizades. Consequentemente, as amizades so

    mais vistas como vantagens que necessidades de desenvolvimento, e as

    evidncias atuais sobre amizades como contextos educativos devem ser

    lidas a essa luz (HARTUP, 1992).

    importante para as crianas que estabeleam amizade com um

    ou mais adultos e nos acampamentos estes ltimos dedicam um tempo

    para cultivar e manter estas relaes de pares de amizade, pois alm de

    serem bons exemplos podem mediar, ajudar, contribuir, facilitar as outras

    relaes que esto sendo construdas e desenhadas naquele momento

    (YOUTH DEVELOPMENT OUTCOMES OF THE CAMP EXPERIENCE,

    2006). Os acampamentos de frias so espaos propcios para esta

  • 69

    relao, pois a convivncia e as relaes so estimuladas a todo o

    momento por meio de atividades sociais. Para Hay, Caplan e Nash (2009) as crianas esto biologicamente preparadas para as relaes sociais em

    geral, e podem desenvolver capacidades para interagir com diversas

    pessoas, incluindo seus colegas.

  • 70

    MENTORIA

  • 71

    Abordar mentoria nos dias atuais abrir um enorme leque de

    possibilidades para decifrar e entender este constructo. Os acadmicos

    passaram vinte anos trabalhando com o mito e com o significado de

    mentoria (RAGINS; KRAM, 1988). O tema relativamente jovem, mas um

    antigo arqutipo da mitologia grega. Na Odissia de Homero, Mentor era um

    conselheiro sbio e confivel que protegia o filho de Odisseus, Telemachus,

    enquanto Odisseus navegava contra Tria. interessante notar que o

    arqutipo original de mentoria abrangia tanto os atributos masculinos quanto

    femininos (RAGINS; KRAM, 1988).

    Os nobres e reis desde a antiguidade, contratavam mentores para

    cuidar do aprendizado de seus protegidos e a mentoria sempre esteve

    presente por meio de seus conselheiros, educadores, orientadores e

    modeladores de conduta (SANTOS, 2007). Dentro deste contexto, o mentor

    era reconhecido como um pai adotivo, onde era o responsvel pelo

    crescimento fsico, social, intelectual e espiritual de jovens (CARR, 1999).

    Uma relao cheia de significado pessoal para ambas as partes e

    com um olhar para uma relao transparente, cheia de aprendizado e

    segura pode ser considerada mentoria. Para Ragins e Kram (1988) pode

    ser uma relao capaz de provocar mudanas na vida, transformar grupos,

    organizaes, comunidades e despertar para o crescimento por meio do

    aprendizado e do desenvolvimento dos envolvidos. Torna-se uma

    experincia marcante, consistente e duradoura.

    Diante desta afirmao, possvel entender que mentoria pertence

  • 72

    esfera das relaes, ou seja, da interao entre pessoas. Allen (1988)

    afirma que uma relao de mentoria um processo inerentemente

    complexo e cada um tm diferentes papis e responsabilidades na relao

    e todo e qualquer sucesso da orientao contingente ao comportamento

    de ambos. Ainda dentro de uma leitura tradicional, a mentoria pode ser

    entendida como um processo de desenvolvimento e para Kram e Ragins

    (1988), este relacionamento pode ser considerado como transformacional

    independentemente da rea em que seja investigada.

    Estes relacionamentos que fazem a diferena na vida de algum,

    so marcantes, significativos e do coragem para que o indivduo realize

    algo alm do que pudesse imaginar. Essa leitura vai ao encontro de Klasen

    e Clutterbuck (2007) ao afirmarem que: mentoria um dos melhores

    mtodos para aprimorar o aprendizado e o desenvolvimento do indivduo

    em todos os caminhos da vida. Portanto, ainda com uma viso tradicional

    pode-se entender mentoria como um relacionamento entre um adulto

    jovem e um mais velho e mais experiente que ajuda o mais novo a aprender

    a navegar no mundo adulto e no mundo do trabalho (KRAM, 1988, p. 5).

    O modelo tradicional de Kram (1988) prev ainda uma relao

    biunvoca, entre mentor e mentorado, pois a autora sustenta que a pessoa

    pode ter, ao longo da vida e carreira, um conjunto de relaes que a mesma

    denominou de constelao de relacionamentos, que vo lhe provendo

    vrios suportes distintos em pocas diferentes de sua vida. Mantendo este

    vis, Kram (1988) inclui as relaes sociais, familiares, amigos, dentro e

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    fora do trabalho. Higgins e Thomas (2001) utilizaram a expresso

    constelao de relacionamentos para identificar este movimento e

    posteriormente Higgins e Kram (2001) utilizaram a expresso rede de

    desenvolvimento. Para as autoras essa rede constituda pelo conjunto de

    pessoas que, em algum momento, foi importante e que deu suporte para a

    carreira ou ainda o suporte psicossocial.

    Dentro desta nova viso de mentoria alguns autores afirmam que o

    mentor no precisa, necessariamente, ser uma pessoa mais velha e o que

    importa que o mentor tenha conhecimento e experincia confivel e

    relevante para compartilhar (PHILIP; HENDRY, 2000). Ainda dentro das

    inovaes que abordam o fenmeno mentoria Fletcher e Rangins (2007)

    trazem o conceito de episdio de mentoria como interaes de curto prazo

    que ocorrem em pontos determinados de tempo. As autoras ainda trazem a

    possibilidade de novas perspectivas de anlise, que contribuem para o

    entendimento deste relacionamento quando ressalta que um fato isolado

    pode acontecer sem ainda estarem vivenciando efetivamente um

    relacionamento de mentoria. A frequncia e a qualidade dos episdios so

    os responsveis pela conexo, profundidade e comprometimento entre as

    partes e ao longo do tempo a frequncia de episdios de boa qualidade

    podem gerar um relacionamento a um nvel que possa ser considerado de

    mentoria.

    Ensher e Murphy (2005) tambm fazem aluso a mentores de

    momento. P