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IX Seminário Nacional do Centro de Memória - Unicamp “Um Passeio além do Temp(l)o” Experiências lúdico-midiáticas e agenciamento da história no “Jardim Bíblico” do Templo de Salomão da IURD. BIANCA FREIRE-MEDEIROS * NATHALIA PEREIRA DA SILVA ** Resumo: O maior complexo evangélico do Brasil, conhecido como Templo de Salomão, foi inaugurado em 2014, em São Paulo. Por ali passam, semanalmente, centenas de interessados tanto nos serviços religiosos da IURD quanto em vivenciar a atmosfera das produções audiovisuais da Rede Record, reproduzida no tour pago pelo “Jardim Bíblico”. Esse “passeio além do tempo” reconta a trajetória da aliança dos homens com Deus, a partir de uma certa narrativa do Êxodo do povo hebreu. Conduzido por uma figura de autoridade híbrida o sacerdote é pastor e guia -, o visitante percorre três edificações em que objetos variados ofertam fruição concomitantemente pedagógico-religiosa e lúdico-midiática. Em diálogo com o paradigma das mobilidades (Sheller e Urry) e com base num projeto de pesquisa socioetnográfico, propomos examinar como a sobreposição entre cosmologias religiosas, pactos narrativos próprios do turismo e estratégias de marketing originadas no campo do entretenimento permitem novos agenciamentos da história. O resultado permite discutir como cultura material, espaço e memória coletiva se entrelaçam nesse território onde a noção de autenticidade ganha sentidos diversos. Palavras-chave: Usos da história; Mobilidades turísticas; Memória coletiva * Professora do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP). ** Bacharel em História pela Universidade de São Paulo (USP).

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IX Seminário Nacional do Centro de Memória - Unicamp

“Um Passeio além do Temp(l)o”

Experiências lúdico-midiáticas e agenciamento da história no “Jardim Bíblico” do

Templo de Salomão da IURD.

BIANCA FREIRE-MEDEIROS*

NATHALIA PEREIRA DA SILVA**

Resumo: O maior complexo evangélico do Brasil, conhecido como Templo de Salomão, foi

inaugurado em 2014, em São Paulo. Por ali passam, semanalmente, centenas de interessados

tanto nos serviços religiosos da IURD quanto em vivenciar a atmosfera das produções

audiovisuais da Rede Record, reproduzida no tour pago pelo “Jardim Bíblico”. Esse “passeio

além do tempo” reconta a trajetória da aliança dos homens com Deus, a partir de uma certa

narrativa do Êxodo do povo hebreu. Conduzido por uma figura de autoridade híbrida – o

sacerdote é pastor e guia -, o visitante percorre três edificações em que objetos variados ofertam

fruição concomitantemente pedagógico-religiosa e lúdico-midiática. Em diálogo com o

paradigma das mobilidades (Sheller e Urry) e com base num projeto de pesquisa

socioetnográfico, propomos examinar como a sobreposição entre cosmologias religiosas,

pactos narrativos próprios do turismo e estratégias de marketing originadas no campo do

entretenimento permitem novos agenciamentos da história. O resultado permite discutir como

cultura material, espaço e memória coletiva se entrelaçam nesse território onde a noção de

autenticidade ganha sentidos diversos.

Palavras-chave: Usos da história; Mobilidades turísticas; Memória coletiva

* Professora do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP). ** Bacharel em História pela Universidade de São Paulo (USP).

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Introdução

Nesta comunicação, apresentaremos alguns resultados preliminares de uma pesquisa

socioetnográfica que toma, como um de seus chãos empíricos, o passeio pelo Jardim Bíblico,

tour pago e guiado que faz parte do cardápio de atrações

oferecidas no Complexo do Templo de Salomão, da

Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Neste

“passeio além do tempo”, a trajetória da aliança dos

homens com Deus é recontada a partir de uma certa

narrativa performada sobre o Êxodo do povo hebreu,

que ocorre entre três edificações. Nelas estão dispostos

artefatos diversos, que reproduzem não só uma certa

leitura da Bíblia, mas a atmosfera das novelas e

filmes da Rede Record.

Recorremos a visitas de campo,1 registro

fotoetnográfico, assim como análise de elementos das culturas visual e material, buscando

perceber em que medida uma experiência de fruição concomitantemente pedagógico-religiosa

e lúdico-midiática pode fornecer os meios para a realização daquilo que Maurice Halbwachs

entende como “condição essencial” para que a memória coletiva de um grupo seja moldada e

mantida: isto é, a transposição ativa dessa memória para uma materialidade que lhe empreste

sua forma. Para nos ajudar a entender a importância de uma memória coletiva impressa em uma

paisagem sacralizada, encontramos companhia valiosa em um texto do autor dedicado

especificamente à Terra Santa: La topographie légendaire des Évangiles en Terre Sainte: étude

de mémoire collective (1941).

1 O campo foi realizado em dois momentos: entre fevereiro e junho de 2017, cujos resultados preliminares foram

apresentados no 18o Congresso da SBS no GT de Sociologia da Cultura (Cf. Freire-Medeiros et al., 2017), e entre

fevereiro e março de 2019, quando cinco incursões a campo foram realizadas em diferentes dias da semana.

Logo oficial do passeio Fonte: página oficial do

Jardim Bíblico no Facebook

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O material de divulgação para o passeio antecipa o que a nossa pesquisa traz como

hipótese: não é possível compreender os fluxos de visitantes em direção ao Jardim Bíblico sem

levar em consideração as mobilidades midiáticas; e em especial, mas não apenas, a novela “Os

Dez Mandamentos”. É um primeiro exemplo de como esses universos – o das produções

midiáticas e a atração turística – se encontram e se informam mutuamente.

Propomos, assim, examinar brevemente como a sobreposição entre cosmologias

religiosas, pactos narrativos próprios do turismo e estratégias de marketing originadas no campo

do entretenimento permitem novos agenciamentos da história.

Mobilidades e memórias

O Complexo do Templo de Salomão (CTS) foi inaugurado em 2014 para abrigar a sede

principal da IURD. Está localizado no Brás, área central da cidade de São Paulo, onde intensa

atividade comercial e migratória é garantida por sistemas de mobilidades de várias ordens. A

obra durou quatro anos e, segundo dados da própria IURD, custou por volta de R$ 680 milhões

totalmente custeados por seus fiéis. A localização favorece a recepção de visitantes que chegam

Encarte de promoção do passeio Fonte: acervo fotoetnográfico

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tanto de metrô, quanto de carro. A proximidade com a Marginal Tietê, aliás, facilita o acesso

dos ônibus de caravanas de fiéis que chegam em excursões, principalmente aos domingos.

Enquanto território construído, ocupado e imaginado, o CTS seria impensável sem o

entrecruzamento dos sistemas de mobilidade (URRY, 2007), entre práticas e objetos que estão

em trânsito global e que pretendem se afirmar enquanto tais: entre pedras trazidas de Israel e

oliveiras importadas do Uruguai, diversos itens cumprem papel simbólico de destaque e são

elencados como moedas de prestígio. É essencial pensar também nos fluxos midiáticos, que

atravessam o cotidiano do CTS, tanto porque o espaço é constantemente divulgado como local

de peregrinação, como porque é usado como cenário em novelas e programas diários da Record.

Em seu conjunto, a convergência desses vários fluxos permite-nos tomar o CTS como

um ancoradouro, nos termos de Hannam, Sheller e Urry (2006): trata-se de uma infraestrutura

socioespacial de interação que é atravessada por circuitos de mobilidade. O passeio pelo Jardim

Bíblico, por sua vez, não é tomado aqui como um lugar de memória, como define Pierre Nora

(1993). Antes, nós o consideramos um espaço disputado, nos termos de Edward Bruner (2005),

ou seja, um lugar em que ocorrem rituais de interação entre diferentes atores sociais que, no

mercado do turismo, disputam a “autoridade de autenticar”.

A primeira edificação do passeio é uma estrutura em forma de cabana com uma série de

objetos e referências visuais – esfinges, deuses e pirâmides – que rapidamente nos transportam

para um Egito Antigo genérico, próprio das narrativas do Orientalismo de que fala Edward Said

(2007).

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Protegidos por uma redoma de vidro, alguns bonecos de cera em tamanho natural

reproduzem personagens da novela. Moisés, muito significativamente, fica ao lado de uma

réplica das tábuas com os dez mandamentos

e o cajado de Arão, que é o primeiro

sacerdote dos hebreus. Não se trata, porém,

de uma representação qualquer; Moisés foi

construído a partir do semblante de

Guilherme Winter, ator que interpreta a

personagem em “Os Dez Mandamentos”.

Espaço “Egito Antigo” Fonte: página oficial do

Jardim Bíblico no Instagram

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Os passeios são conduzidos por uma figura de

autoridade híbrida – guia e pastor – que incorpora a figura de um levita e, portanto, um

descendente de Arão. Essa figura bíblica é constantemente evocada pela IURD, e designa, por

exemplo, os auxiliares no culto, em uma clara evocação de personagens do Velho Testamento

ligadas à orientação espiritual. No passeio, esses levitas assumem o desafio de criar um sentido

de continuidade entre as práticas de culto hoje e aquelas que compõem a memória sobre o

Êxodo.

Boneco de cera representando Moisés em

postagem no Instagram

Fonte: página oficial do Jardim Bíblico no Instagram

Os sacerdotes ou “pastores-guia”

Fonte: página oficial do Jardim Bíblico

no Instagram

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O pastor-guia explica que está vestido “como sacerdote” porque “o passeio é temático”.2

Os espaços devem servir para que o visitante “tenha a impressão de que entrou na história”, no

caso, a história que se desenrola entre Êxodo e Levíticos, textos do Antigo Testamento que

estruturam o roteiro do Jardim Bíblico. Após a narração da saída dos hebreus do Egito,

seguimos para outro ambiente.

A segunda edificação que compõe o roteiro é o Tabernáculo. Na entrada , o pastor-guia

faz uma pausa e avisa que ali tinha início o “sacrifício para a remissão dos pecados”. O ritual

em questão começa a ser narrado e encenado ali e segue pátio adentro, contando com a

participação ativa dos visitantes. Como diria o pastor-guia, o Tabernáculo é “o primeiro templo

da Bíblia”, ou seja, primeiro espaço que intermediaria o pacto de sangue, fidelidade e

exclusividade entre hebreus e o Deus de Israel. É explicado que o templo foi construído porque

2 Esta e outras colocações, quando reproduzidas entre aspas, foram por nós gravadas durante os passeios. Para

evitar a identificação do sacerdote responsável pelo guiamento, e coerentes com a técnica de composite narrative,

combinamos as várias falas sem respeitar ordens cronológicas ou autoria.

Pastor-guia posando com visitantes no átrio

do Tabernáculo

Fonte: acervo fotoetnográfico

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“Deus falou: ‘Moisés, me faz um santuário, um tabernáculo, para que eu possa

habitar no meio de vocês...’ O templo (...) era o local onde as pessoas iriam para se

aproximarem de Deus. E como se aproximariam de Deus? Através de suas ofertas.”

As referências são apresentadas, portanto, como orientações de conduta e obrigações

religiosas. Mas como são ao mesmo tempo míticas e históricas, dependem, em última instância,

da capacidade de o pastor-guia atualizá-las no vocabulário do tempo presente que é,

inevitavelmente, encharcado de referências midiáticas. Por meio dessa tradução passado-

presente, acontece um trabalho de valorização das práticas de adoração que devem ser mantidas

pelos fiéis, independente do momento histórico. A oferta não é condição para se entrar na casa

de Deus hoje, mas se a história bíblica da IURD conta que a construção de templos agrada e a

oferta redime, qual fiel não gostaria de dar sua contribuição?

Dentro da tenda, o “Lugar Santo”, há a mesa dos pães, o menorah (candelabro de sete

pontas) e o altar do incenso. O “Santo dos Santos” guarda a maior preciosidade que o passeio

revela: a Arca da Aliança. O pastor-guia faz questão de notar que: “Tudo que nós vemos aqui,

nada é invenção nossa. Os sacerdotes, na época de Moisés, tinham a mesma visão que vocês

estão tendo agora.”

Apesar do esforço na reprodução minuciosamente fidedigna, o pastor-guia reconhece

que: “Nem tudo nós temos 100% exatamente o que era, porque tudo nós seguimos de acordo

com as Escrituras, mas ninguém estava lá para fotografar”.

O “Lugar Santo”

Fonte: vídeo oficial da música

“Jardim Bíblico” no Youtube

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Como argumenta Bruner (2015), não se trata de questionar se os itens são autênticos ou

não; a indústria do turismo é impensável sem que os sentidos atribuídos à autenticidade sejam

multiplicados. E se o turismo é, em qualquer circunstância, uma arena privilegiada para os jogos

de poder em torno da autenticidade, nas atrações patrimoniais, museais ou religiosas ela é

acentuada, uma vez que a autenticidade dependerá dos certificados que instituições tidas como

legítimas venham a atribuir às réplicas, cópias ou simulações.

Antes de chegarmos à última edificação – o Memorial de Jerusalém – passamos pelo

jardim das Oliveiras, que o pastor-guia ressalta ao lembrar que “assim como em Israel existe o

Gethsêmani, onde Jesus orava, nós temos aqui o nosso jardim também”. Com o Gethsêmani, o

jardim bíblico por excelência, temos um espaço que conecta diretamente a tradição judaica,

mas agora também o cristianismo.

Aprendemos com Halbwachs: é a partir da ação ativa de inscrição de elementos de

memória que um lugar pode ser percebido, vivenciado e consumido como sagrado. A memória

tem, portanto, a capacidade de transfigurá-lo e o tornar constantemente sublime aos olhos dos

peregrinos. É essencial, nos diz Halbwachs, que o fiel possa acessar sua fé no mundo material.

O local é uma “certeza sensível”, nele “o passado se torna, em parte, presente: é possível tocá-

lo, estar em contato direto com ele” (1941: 2), produzindo uma noção de permanência.

Jardim das Oliveiras

Fonte: Página oficial do Jardim Bíblico no

Instagram

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O Memorial é um espaço estruturado como museu, onde réplicas de itens da cultura

judaica aparecem mais uma vez, agora feitos com detalhes mais elaborados e expostos como

relíquias, guardadas dentro de caixas de vidro. Antes de serem levados ao interior do museu,

porém, os visitantes assistem a um vídeo que traz, em 12 minutos, uma linha narrativa focada

nas consequências nefastas da idolatria e dos proveitos que a retomada da aliança monogâmica

– o Deus único e somente ele - traz a cada fiel.

O passeio termina na loja de suvenires, onde são vendidos livros e CDs de evangelização

da IURD, além de produtos diretamente ligados à tradição judaica. Muito próximo à saída, um

Museu do Memorial de Jerusalém

Fonte: Página oficial do Jardim Bíblico no Instagram

Sala de cinema para exibição do vídeo

Fonte: acervo fotoetnográfico

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monitor disposto na parede projeta, em loop, o videoclipe oficial do Jardim Bíblico que

condensa, numa estética bastante devedora das narrativas audiovisuais da Disney, os vários

fluxos míticos e midiáticos de que o trajeto guiado é feito.

Considerações finais

Não seria exagero dizer que, para a IURD, se trata menos de criar um ambiente que

provoque nostalgias de um passado bíblico, e mais de empregar os meios materiais e simbólicos

que orientem a ação de seus fiéis a partir de uma narrativa de origem - as ofertas diante do altar

entre elas.

Assim como no caso do Centro Cultural Jerusalém,3 os custos de construção e

manutenção do CTS são justificados pelo papel democratizador e mediador que esses espaços

cumpririam ao recriar um “pedaço da Terra Santa no Brasil”. Democratizador porque

viabilizam um lugar supostamente tão sagrado quanto aquele, porém mais acessível a todos os

fiéis; mediador porque o que se oferece não é apenas um conjunto de materialidades em

exposição, mas uma experiência de guiamento espiritual por meio do entretenimento mesclado

à fala pedagógica.

Como procuramos demonstrar, a IURD se vale de tecnologias de representação as mais

diversas para construir um cenário pedagógico, lúdico e inspirador; para seus fiéis e para

quaisquer visitantes, como eles fazem questão de ressaltar. Afinal, como nos assegurou uma

das recepcionistas: “aqui nós recebemos todo tipo de gente, independente de raça e credo. Já

veio budista, macumbeiro...”. Desses corpos que para lá confluem, talvez sejam os visitantes

vindos de Israel os que mais conferem prestígio ao passeio, por sua capacidade simbólica de

reforçar a posição ocupada pela IURD como detentora do vocabulário correto e das

materialidades necessárias para fazer a ponte entre as culturas evangélica e judaica.

3 Em 2008 foi inaugurado, junto à Catedral da fé em Del Castilho (Rio de Janeiro), o Centro Cultural Jerusalém.

Sob o slogan “Conheça a Terra Santa sem sair do Brasil!”, a atração é divulgada como um espaço para quem

deseja conhecer, “por meio da arte”, “a história da cidade de Jerusalém em um recorte histórico de 1000 a. C. a

70 d. C.” (http://centroculturaljerusalem.com.br/ Acesso em: abril, 2019).

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Bibliografia

AIRES, Gustavo Tiago. “Templo de Salomão: Entre turistas e fiéis”: Uma análise etnográfica

sobre a formação e mobilização de públicos. Relatório final de pesquisa (IC em Antropologia

Social). FFLCH, Universidade de São Paulo, 2018.

BRUNER, Edward M. Culture on Tour: Ethnographies of Travel. Chicago: University of

Chicago Press, 2005.

FREIRE-MEDEIROS, B.; MICHELINO, M.; ZERBINATTI, L. Os dez mandamentos de um

tour bíblico: Espiritualidade e entretenimento no Templo de Salomão”. In: 18o CONGRESSO

BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA, 2017.

HALBWACHS, Maurice. La topographie légendaire des Évangiles en Terre Sainte: étude de

mémoire collective. Paris: Pr. Univ. de France, 1941.

HANNAM, K.; SHELLER, M.; URRY, J. Editorial: Mobilities, Immobilities and Moorings.

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LARSEN, Jonas; URRY, John. The Tourist Gaze 3.0. London: Sage, 2011.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, São

Paulo, n.10, p. 7-28, 1993.

SAID, Edward W. Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia

das Letras, 2007.

URRY, John. Mobilities. Cambridge: Polity Press, 2007.