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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação X Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – São Luis, MA – 12 a 14 de junho de 2008. 1 “Nanook, O Esquimó” e o Discurso do Documentário: Estratégias Ficcionais 1 Tatyanne de MORAIS 2 Faculdades Integradas Barros Melo – AESO Resumo: O artigo discute o filme documentário “Nanook, O Esquimó” (1922), considerada a “primeira obra” deste gênero, a partir da premissa de que há, do ponto de vista do discurso cinematográfico, um conjunto de estratégias tipicamente ficcionais na elaboração da “trama”. Para reconhecermos as disposições aqui apresentadas, debatemos questões ligadas ao documentário enquanto campo cinematográfico, passamos por algumas noções da Antropologia Visual e fazemos apontamentos tomando como exemplos fragmentos do filme. Palavras-chave: Documentário; Antropologia Visual; Representação; Discurso. Desde o surgimento do termo documentário em 1879, o gênero de não-ficção é definido de modo insuficiente. Teorizado como cinema-verdade devido à captação fiel da realidade através da câmera - utensílio considerado reprodução do olho humano - o documentário é, na verdade, uma representação do mundo. “Representa uma determinada visão do mundo, uma visão com a qual talvez nunca tenhamos nos deparado antes, mesmo que os aspectos do mundo nela representados nos sejam familiares” (NICHOLS, 2007, p. 47). Primordialmente, a dificuldade em compreender o conceito de documentário é derivada da complexidade de distinguir gêneros, especificamente entre a não-ficção e a ficção. “Filmes e documentários apresentam a mesma complexidade” (NICHOLS, 2007, p. 21). A obra de ficção e o documentário não apresentam divergências que os separam em gêneros completamente distintos. A semelhança começa a partir de elementos narrativos que ambos apresentam, como os objetivos, relações entre o tema abordado e o diretor e as expectativas no público. As práticas convencionais de utilizar a encenação, roteirização, ensaio, interpretação e reconstituição também assemelham o documentário da ficção. No documentário “Santiago” (2007), de João Moreira Salles, temos o próprio diretor questionando a encenação do personagem (o mordomo do título) como uma artificialidade, uma invenção herdada do cinema de ficção – e do controle do 1 Trabalho apresentado no GT – Audiovisual, do Iniciacom, evento componente do X Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste. 2 Estudante de Graduação em Comunicação Social – Jornalismo das Faculdades Integradas Barros Melo (AESO). Integrante do grupo de pesquisa de iniciação científica Gedoc (Grupo de Estudos do Documentário).

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“Nanook, O Esquimó” e o Discurso do Documentário: Estratégias Ficcionais1

Tatyanne de MORAIS2

Faculdades Integradas Barros Melo – AESO Resumo: O artigo discute o filme documentário “Nanook, O Esquimó” (1922), considerada a “primeira obra” deste gênero, a partir da premissa de que há, do ponto de vista do discurso cinematográfico, um conjunto de estratégias tipicamente ficcionais na elaboração da “trama”. Para reconhecermos as disposições aqui apresentadas, debatemos questões ligadas ao documentário enquanto campo cinematográfico, passamos por algumas noções da Antropologia Visual e fazemos apontamentos tomando como exemplos fragmentos do filme. Palavras-chave: Documentário; Antropologia Visual; Representação; Discurso.

Desde o surgimento do termo documentário em 1879, o gênero de não-ficção é

definido de modo insuficiente. Teorizado como cinema-verdade devido à captação fiel

da realidade através da câmera - utensílio considerado reprodução do olho humano - o

documentário é, na verdade, uma representação do mundo.

“Representa uma determinada visão do mundo, uma visão com a qual talvez nunca tenhamos nos deparado antes, mesmo que os aspectos do mundo nela representados nos sejam familiares” (NICHOLS, 2007, p. 47).

Primordialmente, a dificuldade em compreender o conceito de documentário é

derivada da complexidade de distinguir gêneros, especificamente entre a não-ficção e a

ficção. “Filmes e documentários apresentam a mesma complexidade” (NICHOLS,

2007, p. 21). A obra de ficção e o documentário não apresentam divergências que os

separam em gêneros completamente distintos. A semelhança começa a partir de

elementos narrativos que ambos apresentam, como os objetivos, relações entre o tema

abordado e o diretor e as expectativas no público. As práticas convencionais de utilizar

a encenação, roteirização, ensaio, interpretação e reconstituição também assemelham o

documentário da ficção. No documentário “Santiago” (2007), de João Moreira Salles,

temos o próprio diretor questionando a encenação do personagem (o mordomo do título)

como uma artificialidade, uma invenção herdada do cinema de ficção – e do controle do

1 Trabalho apresentado no GT – Audiovisual, do Iniciacom, evento componente do X Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste. 2 Estudante de Graduação em Comunicação Social – Jornalismo das Faculdades Integradas Barros Melo (AESO). Integrante do grupo de pesquisa de iniciação científica Gedoc (Grupo de Estudos do Documentário).

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diretor sobre o real. Do mesmo modo, o filme ficcional possui aspectos característicos

da não-ficção, como o uso de câmeras portáteis (evocando a tradição do cinema direto),

filmagens externas, não-atores, entre outros. Movimentos cinematográficos como o

Neo-Realismo Italiano e obras como “Roma, Cidade Aberta” (1945), de Roberto

Ressellini, já traziam esta premissa: a de que o cinema, mesmo de ficção, pode ser

filmado na rua, em externa, sem atores profissionais. Um exemplo mais contemporâneo

de ficção com características de documentário é o filme de terror “A Bruxa de Blair”

(1999), de Eduardo Sanchez e Daniel Myrick. O uso de enquadramentos e planos

amadores serve para dar o aspecto de extrema realidade à ficção. Afirmar os elementos

e técnicas que devem ser utilizados no documentário é uma tarefa árdua, já que por mais

que consigamos unir o gênero em um conjunto, eles possuem diferenças. A linguagem

documental, apesar de sua coerência, é modificada constantemente, de modo que

dificulta o conceito do gênero não-ficcional.

“Filme, vídeo e, agora, imagens digitais podem testemunhar o que aconteceu diante da câmera com extraordinária fidelidade. A pintura e o desenho parecem uma imitação pálida da realidade quando comparados com as representações nítidas, altamente definidas e precisas disponíveis nos filmes, nos vídeos e nas telas dos computadores”. (NICHOLS, 2007, p. 18)

O artigo que apresentamos visa trazer uma investigação sobre as formas de

interseção entre ficção e não-ficção, usando como objeto de análise o filme “Nanook, O

Esquimó”, de Robert Flaherty. O texto é fruto de discussões e debates realizados no

Grupo de Estudos de Documentário (Gedoc) das Faculdades Integradas Barros Melo

(Aeso), em Olinda (PE). A seguir, fazemos uma breve revisão bibliográfica sobre os

conceitos que trabalharemos na análise.

Documentário: questionando a representação

A evolução dos meios de comunicação tem feito com que o indivíduo passe a

acreditar em uma forma mais eficiente de representação. Anterior ao surgimento da

tecnologia de captação de imagem por dispositivos técnicos, os quadros realistas de

Renoir, por exemplo, reproduziam fielmente a realidade através do detalhamento. Hoje,

os quadros são considerados reproduções estáticas e “infiéis” desta realidade, em

relação ao dinamismo e credibilidade da imagem digital. Da pintura passando pela

fotografia (as imagens “estáticas”), chegando ao cinema e ao vídeo (as imagens “em

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movimento”), é possível perceber que o real tornou-se mais acessível aos indivíduos. O

real aparece em todas as instâncias da produção visual, algumas vezes, como uma

representação linear, outras, subvertendo o objeto original, mas sempre sendo o traço de

um autor. Falando sobre as imagens técnicas3, estas podem ser manipuladas e o receptor

não tem idéia de como a cena foi gravada. A imagem bruta4 raramente será igual à

finalizada, já que na captação e edição do filme, há diferenças de filtros, foco e

contraste.

Por outro lado, o uso da tecnologia é uma forma de presentificar a imagem. O

documentário, em seus primórdios, não passava da reconstituição da realidade.

Conforme Nichols (2007), o documentário não é uma reprodução da realidade, mas uma

representação do mundo vivenciado, por mais que a visão apresentada não tenha sido

analisada pelo homem. O documentário é julgado pela fidelidade ao original.

“Esperamos mais da representação que da reprodução” (NICHOLS, 2007, pág. 48). No

documentário, duas questões são colocadas: a ótica do cineasta e a verossimilhança da

representação do real segundo a percepção do diretor. Para seguirmos no debate sobre a

relação entre as estratégias de ficção e não-ficção no documentário “Nanook, O

Esquimó”, é preciso reconhecermos o campo de estudos da Antropologia Visual.

Cinema Documentário e Antropologia Visual

De acordo com Andréa Barbosa e Edgar Teodoro Cunha (2006), a antropologia

visual é um assunto que está sendo abordado há pelo menos 40 anos. O motivo pelo

qual a discussão tem-se abrangido é o desenvolvimento da linguagem fotográfica e

cinematográfica junto ao crescimento da antropologia.

“De forma geral, elas expressaram formas de olhar e de construir problemas de maneira homóloga, mas que evidencia o quanto a antropologia, a fotografia e o cinema, enquanto construções culturais, podem compartilhar o desafio de entender e significar o mundo e sua diversidade” (BARBOSA; CUNHA, 2006, p. 8).

3 Por imagens técnicas, considera-se aquelas produções visuais que são feitas a partir de dispositivos óticos (câmeras de fotografia, cinema e vídeo) analógicas e os equipamentos digitais. 4 Imagem bruta é aquele conjunto de planos feitos na ocasião da captação das imagens que vão compor a obra. Chama-se “bruta” por não ter ainda sido “burilada”, “trabalhada” na edição.

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Com o surgimento da antropologia5, o pensamento filosófico humanista buscava

sistematizar o conhecimento sobre o homem não-europeu a fim de criar uma noção de

alteridade, ressaltando divergências e semelhanças. A teoria do “bom selvagem” de

Rousseau é a base para o pensamento que os grupos étnicos americanos, africanos e

asiáticos, que estiveram em contato com os europeus através da expansão mercantilista,

desde o final do século XV, são considerados os europeus num passado mítico. Segundo

o humanismo, a diferença estaria entre a natureza e a cultura, ou seja, fatores externos

como clima e localização geográfica. Exemplos desta percepção são as pinturas em telas

grandes dos humanos locais que Albert Eckhout6 pintou quando esteve no Brasil.

“Podemos perceber certa ambivalência no tratamento dos personagens quanto a sua humanidade e ao lugar em que ocupam no mundo. Os indígenas ora são uma alegoria da domesticação e por isso humanizados, como o índio tupi, ora são uma alegoria da selvageria e da barbárie, como os índios tapuia. Por meio dos atributos associados a cada personagem o artista constrói valores opostos, e essa ambivalência que torna esses retratos tão instigantes até hoje”. (BARBOSA; CUNHA, 2006, p. 10 e 11).

A alteridade era derivada da busca de uma origem da humanidade que não era

mais lembrada, mas o homem “selvagem” poderia ser uma solução para retomar a

imagem e conceito perdidos. A necessidade de reconstruir esse semelhante visível

também acompanhava às reflexões filosóficas.

Entretanto, com o surgimento do evolucionismo na segunda metade do século

XIX, a alteridade foi transformada em problema epistemológico quando é deslocada

para o âmbito da cultura. A cultura não envolveria apenas artefatos, mas hábitos,

valores, costumes e comportamentos que necessitavam ser observados e registrados. “O

‘selvagem’ torna-se o ‘primitivo’, o que vive em situação semelhante à do homem

civilizado europeu em seu passado histórico” (BARBOSA; CUNHA, 2006, p. 11).

Segundo Barbosa e Cunha, a história da humanidade passa a ser vista por etapas de

desenvolvimento dos grupos humanos, na qual os “primitivos” eram considerados os

remanescentes desse desenvolvimento e os europeus o ponto mais alto do processo

evolutivo da sociedade humana.

5 A antropologia é uma disciplina científica criada pelo humanismo do século XVIII em um momento específico para a história do pensamento, preocupado com a sistematização racional do conhecimento humano sobre diversas áreas, aí incluídos o próprio homem e a sua vida em sociedade. 6 Albert Eckhout (1610-65) foi um dos artistas que esteve na missão de Maurício de Nassau ao Brasil entre 1939 e 1644. O artista pintou oito figuras humanas, sendo quatro casais em retratos posados: “Índio tupi e Índia tupi, Índio tapuia e Índia tapuia, Mulher mameluca e Homem mestiço, Mulher Africana e Homem africano”.

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Sendo assim, o objetivo passou a ser o de aproximar o que estava longe para

perto. Entre o final do século XIX e o início do XX se tem conhecimento de diversas

expedições etnográficas realizadas com a meta de buscar essa aproximação. Neste

momento, há o encontro entre antropologia e audiovisual. A antropologia busca

entrelaçar a diversidade cultural do movimento colonial ao estudo evolucionista, assim

como o cinema e a fotografia também realizam registros dos diferentes tipos físicos e

culturais através da expedição multidisciplinar ao estreito de Torres, realizada em 1898,

liderada pelo pesquisador Alfred Haddon, da Universidade de Cambridge. Os objetos

fotográficos e cinematográficos eram considerados como instrumentos científicos já que

fixavam dados e facilitavam a análise posterior.

Contudo, mesmo que a cultura fosse determinante na diferença entre os povos,

os “primitivos” continuavam a ser representados visualmente pelo fator natural,

opondo-se ao mundo civilizado europeu. Eram destacados a nudez, artefatos manuais e

comportamentos exóticos.

“No esforço de demonstrar os ganhos advindos das descobertas técnicas e científicas dessas formas de conhecer o outro – a antropologia com palavras e a fotografia e o cinema com imagens -, os pesquisadores esqueceram-se de considerar um elemento fundamental que permeia a ação de ambos: a imaginação. Tanto a antropologia como a fotografia e o cinema, em seus diferentes processos de construção de conhecimento, elaboram métodos e formas de representar, de dar corpo a uma imaginação existente sobre a alteridade. Imaginação aqui mencionada em seu sentido mais interessante, que é o de formular imagens de objetos e situações, que já foram ou não percebidos articulando novas combinações de conjuntos e de referências”. (BARBOSA; CUNHA, 2006, p. 14).

O cinema e a fotografia serviam como técnicas na lógica racionalista e da crença

na potencialidade da modernidade como solução para o desenvolvimento humano, mas

ambos também já eram utilizados como linguagem e encantavam a sociedade. Do

mesmo modo que os filmes registravam cenas em tempo real do cotidiano, havia outros

que reproduziam encenações populares e magia, distanciando-se do registro

documental. Deste modo, o século XIX é marcado pela busca do conhecimento do

mundo pelos europeus, o surgimento da etnografia e registro visuais ressaltando as

questões importantes sobre essas formas de representação da realidade social.

“As expedições cientificas e as técnicas fotográficas e fílmicas vão possibilitar o registro de acontecimentos de um mundo mais amplo que o delimitado pelo continente europeu e permitir a apreensão da diversidade racial e social” (BARBOSA; CUNHA, 2006, p. 17).

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Sendo assim, o cinema passa a assumir o papel de objeto significante de

reconstruir a realidade por meio de imagens. O registro de outros povos é construído

através de elementos que divergem e assemelham a relação entre homem e natureza,

demonstrando imagens de humanos que os europeus acreditam estar mais próximo à

natureza do que da civilização. O início do século XX é marcado pelo desenvolvimento

da antropologia e do cinema e são necessários novos métodos para sustentar a expansão.

As teorias evolucionistas começam a ser reavaliadas com o crescimento do capitalismo

e o desenvolvimento da industrialização. Neste momento, imagens ainda não vistas

pelos europeus são registradas pela fotografia e pelo cinema.

Com a Primeira Guerra Mundial, novos conceitos são introduzidos no processo

de conhecimento da história do desenvolvimento do homem. O modelo evolucionista é

questionado e surge a possibilidade de haver “civilização” na vida do homem

“selvagem”. Diante deste quadro teórico, com “Nanook, O Esquimó”, Robert Flaherty

busca a construção de um novo olhar sobre o chamado povo primitivo. “Aspirava a um

novo método de realização capaz de construir um filme que apresentasse os nativos em

sua luta cotidiana” (BARBOSA; CUNHA, 2006, p. 19).

Flaherty aplica o modelo de análise conhecido por “presente etnográfico”, na

qual o pesquisador isola um grupo e se insere na realidade daquelas pessoas por longa

permanência com o objetivo de compreender seu funcionamento por completo. Segundo

Barbosa e Cunha, ao observar a cultura nativa, Flaherty inclui o conceito de câmera

participante, que além de registrar as cenas também busca refletir a perspectiva do

nativo. A prova disto consta no material registrado e nos comentários realizados pelo

autor no filme.

“Outro mérito desse filme reside no fato de o espectador ser levado a identificar-se com pessoas reais que pertencem a um contexto social definido e distinto. Flaherty acreditava que a história deveria emergir do material de campo. Ele, contudo, reconstrói esse mundo a partir de uma perspectiva que é, em alguns sentidos, fixa. Flaherty passou 12 meses filmando Nanook of the North interessado em traçar um perfil de uma cultura por meio das ações dos indivíduos que lhe dão corpo”. (BARBOSA; CUNHA, 2006, p. 24 e 25).

Flaherty tinha consciência do indivíduo e da importância de destacar a cultura

através de suas práticas. Seu interesse pelos esquimós começou com uma viagem em

1910, quando foi trabalhar estudos para a construção de uma ferroviária no norte do

Canadá. Nesta época, Flaherty produziu uma grande quantidade de imagens, que ele

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considerava amadoras, durante as seis expedições realizadas, mas o material foi perdido

em um incêndio depois do retorno a Toronto. Logo, o interesse pelo cinema progrediu e

em 1920 deu início a uma nova produção, com o patrocínio de uma empresa que

comercializava peles. Entre as técnicas de Flaherty, estava a possibilidade e revelar os

filmes e mostrá-los aos esquimós assim que eram realizados. A primeira cena do filme

vista pelos esquimós foi a da caça à foca, em que Nanook luta sozinho para capturar o

animal. Também foi a primeira vez que eles viram a um filme.

O diálogo durante a produção do filme e o fato de Falherty exibir as cenas

gravadas ao grupo estabeleceram uma relação de confiança entre Flaherty e os

esquimós. Segundo Barbosa e Cunha, Nanook contava suas façanhas a Flaherty e

esperava que ele filmasse. “Nanook, O Esquimó” foi o primeiro filme nomeado pelo

termo documentário, cunhado por John Grierson, cineasta inglês dos anos 30

preocupado com a representação da realidade e a criação de um gênero específico.

Flaherty era um cineasta que tinha um perfil oposto aos dos realizadores da

antropologia científica, já que era viajante e amador. Logo, foi rejeitado diversas vezes

pelos antropólogos durante anos. “No entanto, podemos perceber que a ameaça não

estava na figura do aventureiro, mas na postura consciente, da necessidade de provocar

uma reflexão sobre a natureza da humanidade” (BARBOSA; CUNHA, 2006, p. 28.). A

hipótese deste trabalho é a de que, o fato de Flaherty ser este aventureiro e viajante

derivou a estética mais “dura” de realização de documentário. Notamos, em “Nanook”,

uma série de estratégias de discurso bastante próximas do cinema de ficção.

O documentário estabelece uma relação de proximidade com o real. Isto ocorre

através da escolha de planos, enquadramento, montagem, pré-produção, edição e

iluminação e também com registro in loco, ambientes naturais, imagens de arquivo e

não-direção de atores. Do mesmo modo que os recursos da ficção não invalidam um

registro documental. Segundo Melo (2002), o registro in loco pode ser classificado em

in loco contemporâneo, in loco (re)construído e in loco referencial evolutivo. O

primeiro refere-se ao tempo e espaço contemporâneos ao documentário. O segundo

busca o passado, mas ocorre no tempo real, como por exemplo, o uso de cenários para

facilitar a visualização da ação. Por fim, o in loco referencial evolutivo também busca o

passado, mas não há interferência do cineasta no ambiente, como por exemplo, a já

citada técnica de uso de depoimentos de pessoas envolvidas com o objetivo de resgatar

o fato e reaproximar à representação da realidade.

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“O fato de ser um discurso sobre o real e utilizar imagens in loco são

características que aproximam o documentário da prática jornalística. No

entanto, não devemos esquecer que, mesmo configurando-se como um discurso

real, documentários e reportagens não são reflexos, mas construções da

realidade social”. (MELO, 2002, p. 6)

Deste modo, tanto a matéria jornalística quanto o documentário não são simples

e isentas documentações, mas um conjunto de construção de conceitos e valores. Porém,

ambos divergem ao tratar da noção de parcialidade. Enquanto grande parte dos produtos

jornalísticos busca evidenciar o fato e não o ponto de vista através de informações

“objetivas”7, o documentário permite a parcialidade por meio do subjetivismo,

ressaltando o ponto de vista do diretor. “O documentarista não precisa camuflar a sua

própria subjetividade ao narrar um fato. Ele pode opinar, tomar partido, se expor,

deixando claro para o espectador qual o ponto de vista que defende” (MELO, 2002, p.

7). De acordo com Amir Labaki, a objetividade é uma busca do jornalismo, mas não do

cinema não-ficcional. O gênero documentário procura ser fiel à verdade do ambiente e

pessoas filmadas. O cineasta João Moreira Salles também concorda e espera que um

documentário de qualidade o possibilite de enxergar o ponto de vista do diretor.

“Nanook” em questão O documentário “Nanook, O Esquimó” (1922), dirigido por Robert Flaherty é

considerado o marco inicial do gênero. O filme de não-ficção aborda a luta pela

sobrevivência dos esquimós no Canadá. No longa-metragem, são exploradas cenas do

cotidiano, comportamento e hábitos dos esquimós. Para realizar a não-ficção, Flaherty

utilizou a técnica do presente etnográfico durante os doze meses em que esteve

filmando. Nanook, chefe de uma das famílias, é o habitante que mais se destaca através

de suas experiências e situações, tornando-se o personagem principal do documentário

de Flaherty. No entanto, por que Nanook é considerado o marco inicial do cinema

documentário?

A primeira hipótese é devido ao documentário ser o primeiro filme de não-ficção

a retratar o comportamento e os hábitos do chamado homem “primitivo”. Dessa forma,

o cinema passava a ser um “contato” entre civilização e os povos primitivos. A segunda

7 Sabe-se que a objetividade no jornalismo é considerada uma utopia, uma vez que para obtê-la é necessária a imparcialidade, ou seja, um ponto de vista neutro.

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hipótese abordada evoca as técnicas usadas para a realização do filme, que se

assemelham às utilizadas pela ficção, gênero que fomenta a indústria cinematográfica.

Nanook faz uso de atores, cenas inusitadas, cenários artificiais, humor e drama,

elementos que compõem o gênero ficcional. A terceira hipótese foi o grande sucesso

obtido pelo documentário. Em 1964, por exemplo, “Nanook, O Esquimó” foi escolhido

como “Melhor Documentário” no Festival de Mannheim. A repercussão, as técnicas e o

tema retratado contribuíram para que o filme alcançasse êxito imediato. Por fim, a

última hipótese é derivada de que Nanook foi a primeira produção de não-ficção norte-

americana. Nesta época, o cinema já era utilizado para entreter as pessoas e o

surgimento do gênero serviu como mais uma forma de atrair o público.

Robert Flaherty, um “desbravador”, nasceu em Michigan em 16 de fevereiro de

1889. Influenciado pela profissão do pai (engenheiro de minas), Flaherty realizou

expedições em busca de novas terras. No ano de 1910, fez uma expedição de estudos

para a construção de uma ferroviária no norte do Canadá. Seguindo à sugestão do chefe,

Flaherty optou gravar a viagem, mas antes realizou um curso de três meses para

aprender a filmar. Flaherty produziu uma grande quantidade de imagens da vida dos

esquimós, consideradas por ele mesmo como amadoras. Os negativos do material foram

perdidos durante um incêndio no retorno da viagem, Segundo Felipe Bragança (2003),

Flaherty tenta recriar por meio de forma autêntica o conteúdo do material original em

sua refilmagem de 1920 de “Nanook, O Esquimó”.

“Longe de buscar a Verdade, o que parecia interessar a Flaherty era a

descoberta de uma nova impressão de autenticidade, uma nova forma de

construção de verossimilhança (aparência de verdade) capa de se aproximar do

exótico, do homem não adestrado, do desconhecido”. (BRAGANÇA, 2003).

Em 1920, com o patrocínio de uma empresa comerciante de peles, Flaherty

começou a refazer “Nanook, O Esquimó”. Após um ano de filmagens e outro de edição,

o filme foi finalizado em 1922. Flaherty tentou fechar contrato com as grandes

companhias cinematográficas existentes na época, como a Paramount, porém nenhuma

se dispôs a distribuir o documentário por acreditar ser um filme pouco comercial. Sendo

assim, Flaherty obteve êxito com a organização francesa Pathé, que distribuiu Nanook e

teve sucesso imediato após o lançamento. Supõe-se que a Pathé optou por comercializar

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o longa-metragem devido ao ponto de vista da organização cinematográfica francesa em

não pressupor um sucesso imediato, ao contrário das companhias americanas.

Em 1926, após o sucesso de Nanook, a Paramount fez contrato com Robert

Flaherty e o solicitou num projeto, inclusive, sem impor limitações. Sendo assim, neste

mesmo ano, surgiu Moana, documentário de Roberty Flaherty logo após Nanook,

considerado um fracasso. O filme de não-ficção abordava o povo de Samoa, arquipélago

do Pacífico.

Flaherty buscava um novo olhar do homem primitivo e com este objetivo

resolveu filmar Nanook. Procurava refletir a perspectiva do nativo através do filme e do

documentário, acreditava a utilização da câmera para a compreensão de outras culturas

e que os melhores atores para um filme são os próprios habitantes. Deste modo, Flaherty

optava por escolher os melhores personagens, assim como fez ao escolher Nanook.

Contudo, o discurso de Flaherty se contradiz na escolha da mulher que interpreta a

esposa de Nanook, já que não é ela mesma, mas uma atriz. Quando regravou o

documentário, a cena de caça às focas – quando filmada pela segunda vez – já não era

mais um hábito dos esquimós. Flaherty acreditava que a história deveria surgir em

campo, mas utilizou artefatos de reconstrução da realidade apresentada pelos habitantes

do norte do Canadá. Por motivos como esses, Flaherty foi acusado de ilusionismo,

idealização da realidade e criação da relação de incerteza entre cinema ficcional e não-

ficcional. O diretor utilizou procedimentos que evocam o cinema de ficção, como por

exemplo, presença de atores, locação, cenas de situações inesperadas, entre outros

elementos que divergem a ficção do documentário. Enquanto esperava-se uma

reprodução semelhante à realidade, Flaherty optou por realizar o documentário com

estratégias do filme ficcional. A seguir, enumeramos seis cenas que podem reforçar a

nossa hipótese sobre o filme identificando as estratégias ficcionais presentes na obra.

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1. Uso de atores no documentário

Fig. 1

No cinema ficcional, o uso de atores para interpretar ou representar cenas é um recurso

comum. Em “Nanook, O Esquimó”, Flaherty utiliza uma atriz (Fig.1) para interpretar a

esposa de Nanook, contrapondo-se com à idéia formulada por ele mesmo de que, no

cinema documental, os personagens reais são os próprios atores, como é o caso do

esquimó Nanook. Deste modo, a técnica aproxima o documentário da ficção.

2. Humor como recurso pitoresco

Fig. 2

Um dos gêneros da ficção é a comédia. O humor é utilizado para entreter os

espectadores por meio de cenas cômicas. Em “Nanook, O Esquimó”, a idéia do homem

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“primitivo” é exposta a partir do momento em que Nanook tenta comer um disco vinil

(Fig. 2) apresentado a ele por desconhecer seu uso. A cena assemelha-se ao filme de

ficção por promover a comédia num tom pitoresco e preconceituoso.

3. Uso de dramaticidade

Fig. 3

O drama, gênero da ficção, estabelece relação entre público e ator por meio da

representação. A ação dramática, composta por enredo e trama, reúne fatos,

proporcionando conflito e clímax. Em uma das cenas de “Nanook, O Esquimó”, o

protagonista puxa a corda para caçar uma foca (Fig. 3). Enquanto o animal tenta fugir

da armadilha, o caçador luta, gerando um clima de dramaticidade à cena, logo, de

conflito.

4. Apelo para o “inusitado”

Fig. 4

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A ficção utiliza o apelo ao inusitado para surpreender o público espectador. Em

“Nanook, O Esquimó”, a primeira cena do filme mostra Nanook navegando em um

barco, aparentemente sozinho. Após chegar às margens da água, o protagonista começa

a retirar toda sua família de dentro do transporte (Fig. 4), um de cada vez. A cena parece

“inacreditável” e o espectador questiona a veracidade da situação após ser surpreendido.

5. Ambientação em Cenários Artificiais

Fig.5

No cinema, o cenário é o ambiente no qual a história se passa ou se resume à montagem

de um local, quando é criado de acordo com o roteiro. No filme analisado, Nanook

constrói um iglu (Fig. 5) para a família passar a noite. Contudo, para facilitar a

iluminação da gravação, Flaherty optou utilizar “meio iglu”. Sendo assim, o uso de

cenário artificial proposto pelo diretor é uma estratégia do cinema ficcional.

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6. Constituição de personagem maniqueísta

Fig. 6

Por meio da arte, a cultura de massa popularizou a figura do herói e do vilão evocando

uma lógica maniqueísta. Deste modo, o bem e o mal também passaram a ser utilizados

pelo cinema de ficção. A partir do momento em que Nanook e sua família caçam as

focas como forma de subsistência e conseguem capturar os animais, ganham a posição

de heróis. Contudo, também se tornam vilões, já que as focas são mortas por eles

mesmos.

Considerações finais

Este trabalho é um primeiro momento de pesquisa sobre “Nanook, O Esquimó”

(1922), o documentário de Robert Flaherty, considerado o marco inicial do gênero. O

nosso projeto de pesquisa tenta compreender as variáveis sociológicas que levam a se

“eleger” “Nanook, O Esquimó” como “o primeiro” filme do gênero documentário. A

nossa hipótese é de que, grande parte do apelo do filme está em justamente utilizar

recursos do cinema de ficção – já largamente utilizado, antes da produção do cinema

documental. Dessa forma, a pesquisa que aqui se inicia se desdobra no debate futuro em

torno do conceito de “mito fundador”, do sociólogo Pierre Bourdieu. Através deste

artigo, averiguamos que o sucesso do filme de Flaherty se dá devido à semelhança com

o cinema ficcional, fomentador da indústria cinematográfica. “Nanook, O Esquimó”

apresenta técnicas e artefatos característicos da ficção, tais como uso de humor, atores,

dramaticidade, ambientação em cenários artificiais.

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