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LINHA MESTRA, N.22, JAN.JUL.2013

DESENROLA BRASIL - A SINGULARIDADE DE UMA AÇÃO

www.desenrolabrasil.com.br

Adriana Ap. Noronha

Cristina Mattoso

Márcia R. Hespanholeto1

A apatia é um mau à democracia. Fechar os olhos para a resolução de problemas de ordem pública interfere não

apenas em sua vida, mas no cotidiano de familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho e da sociedade em geral.

Humberto Dantas Enrolação é descaso, incompetência, desordem, enganação. Também pode

significar estar enrolado em si mesmo, não ver o outro, não saber que todos nós

somos interdependentes e fazemos parte de uma comunidade.

A reação das pessoas quando leem os jornais, modifica bastante. Algumas

não se incomodam e consideram o noticiário repetitivo e banal. Violência nas ruas,

corrupção, má gestão, descaso, morte por falta de atendimento, são alguns

exemplos corriqueiros que não os incomodam mais. Outras se sentem indignadas,

mas só reclamam entre si acreditando que nada vai mudar. São poucas as pessoas

que manifestam sua indignação e direcionam suas reclamações para os que podem

fazer alguma coisa.

Nosso trabalho é incentivar as pessoas a examinar do que são feitos os rolos

e a descobrir seu papel.

Quem permite que os políticos decidam seus próprios salários?

Por que o dinheiro público é desviado?

Por que a corrupção é banalizada?

Por que a violência está aumentando dia a dia?

1 Educadoras no Projeto Desenrola Brasil.

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Por que a população pouco manifesta seu desconforto diante das noticias

ruins?

Que tipo de cidadão sou eu?

Manifesto minha insatisfação no lugar certo?

Acredita-se que somente ações complexas e grandiosas podem surtir algum

efeito, no entanto, se a maior parte de nós utilizar um centésimo do seu tempo para

cuidar do bem comum, que afinal, também nos interessa, iremos atingir grandes

metas com pequenas ações.

“Posso por exemplo, me unir ao poder público ao invés de me manter separada,

reclamando do que ainda falta fazer. Posso apoiar as centenas de organizações não

governamentais que estão trabalhando incansavelmente por um país melhor.

Posso ler jornal e ouvir o noticiário com olhar critico e disposto. Posso aprender a

votar com mais cuidado. Posso comprar produtos de empresas atentas ao

desenvolvimento sustentável e à responsabilidade social...etc.”

O Movimento Desenrola Brasil surgiu da inquietude de sua idealizadora

Cristina Mattoso* em julho de 2004, quando a cidade de Campinas começava a se

preparar para novas eleições. Como aceitar um sistema eleitoral que permite a

eleição de pessoas despreparadas para o cargo público a que se candidatam e

frequentemente sem compromisso com a população que os elegeu?

Essa inquietude tomou forma quando foi trocar o rolo de papel higiênico. O

interesse pelo mecanismo simples que permite que o papel se desenrole e sirva aos

seus propósitos, provocou algumas analogias. Pode ser um símbolo para

manifestar enrolação porque é um material limpo, reciclável e acessível a todos. E

Podemos juntar num determinado dia,

milhares de rolos de papelão em praça

pública numa manifestação pacífica de

algum anseio, para que sejam recolhidos e

transformados em coisa nova.

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também pode ser uma chamada para desenrolar o papel de cada um a favor do

bem comum.

A curiosidade a impeliu para saber como era feito aquele pequeno rolo de

papelão e descobriu que, mergulhado na água durante 15 minutos, transforma-se

em 2 folhas parecidas com losangos.

A transformação do rolo passa a constituir a base da proposta de trabalho

do MOVIMENTO DESENROLA BRASIL e o rolo e suas folhas, o símbolo do

movimento.

O movimento foi amadurecendo e despertando curiosidade das pessoas,

organizações e indo ao encontro das ansiedades e preocupações dos cidadãos,

preocupados com o país que estava sendo construído; o entendimento, de que

todos fazem parte desta construção e estão igualmente no “rolo”, começou a

agregar essas pessoas.

No início batizado de “CHEGA DE ROLO”, trazia a

inconformidade como marca. Foi apresentado

na praça do Centro de Convivência de Campinas,

lugar onde foi empossado o novo governo

municipal, no dia 1º de janeiro de 2005. A

artista plástica Elza Cencig, criou uma cadeira

feita com rolos de papel de vários tamanhos,

representando a cadeira que o prefeito eleito de

Campinas iria ocupar . Por cima da cadeira um

cartaz com os dizeres: “Reclamar é fácil. Difícil é

trabalhar para um país melhor, tendo que

enfrentar tantos rolos”.

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A carência de acesso à informação de qualidade, a despeito de significativas

mudanças na organização da sociedade civil, ainda levam os indivíduos a uma

visão distorcida do que é público e do que é privado.

A consciência da importância da educação de valores, da mobilização do

cidadão em torno de campanhas positivas e da necessidade de se divulgar as

organizações que estão trabalhando por um Brasil de mais oportunidade, mais

verdade e mais beleza, criou nossas CAMPANHAS e OFICINAS que passaram a ser

as ferramentas principais do MOVIMENTO DESENROLA BRASIL. Consideramos de

grande valia estimular valores, a criatividade, o lúdico, a inclusão e a

responsabilidade com diferentes olhares, linguagens e mídias.

CAMPANHAS

“O analfabeto político estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe que da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto...”

Bertolt Brecht - 1898-1956

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Como se posiciona o cidadão diante das notícias que o incomodam, como

interage com esse cenário que se apresenta diariamente diante de si? Nossa

proposição é dar espaço para manifestações e trabalhar criativamente com

estratégias que busquem alternativas positivas.

As campanhas têm como estratégias fundamentais de trabalho:

• A promoção de ações participativas, de forma lúdica e criativa, em prol

do bem comum e do interesse coletivo.

• O incentivo para que os indivíduos sejam co-criadores de comunidades

saudáveis, sustentáveis e desenvolvidas.

• A motivação para os cuidados com o patrimônio, com os recursos e as

questões de interesse público.

• O fomento para acompanhamento das ações governamentais e da

atuação política dos representantes eleitos.

Dentre outras, fizemos listas de abaixo assinado apoiando: a criação do

Ficha Limpa e o apoio ao projeto de lei 1300/1999 que facilitam a destinação de

parte do Imposto de Renda para o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do

Adolescente

Outra estratégia a ser implantada em CAMPANHA é a construção de Muros.*

"O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons."

Martin Luther King

Existem muros invisíveis que nos separam de um Brasil melhor. Invisíveis,

mas concretos. Dentre eles: o Muro dos Valores Corrompidos, Muro do

Desrespeito Geral, Muro do Desequilíbrio entre Direitos e Deveres, não importa

muito o nome que daremos a eles - o importante é termos consciencia que estes

muros atrapalham o desenvolvimento do país e geram desconforto ou sofrimento

para milhares de pessoas, incluindo você e eu.

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Podemos dar visibilidade a estes muros invisíveis para que, sendo bem

vistos, possam ser transformados, através de algumas ações.

Convidamos escolas, empresas, ONGs, administrações públicas e até

políticos a participar. Afinal somos todos eleitores, consumidores e pagadores de

impostos.

O foco do muro nunca é uma pessoa e sim um tema ou atitude que deve ser

transformado. Valores importantes estão sendo pouco a pouco corrompidos na

familia, na escola, na politica. No entanto, todo ser humano é digno e sente o anseio

pelo bem. Quando pensa somente em si mesmo ou compactua com ações

prejudiciais é que perde sua dignidade.

Operacionalização de um Muro – Instruções para um grupo

• Escolham um tema que os incomode*.

• Comecem a juntar rolos de papelão

• Durante este tempo selecionem noticias de jornais ou revistas que

produzam desconforto ou indignação, ligados a este tema. Noticias do

julgamento do mensalão, da CPI por exemplo.

• Anotem as inúmeras consequências que este rolo irá criar, para dar

visibilidade a esta questão. Cada acontecimento relatado na noticia gera

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inúmeras consequências e raramente o responsável pela ação que gerou a

noticia, tem consciência do que acontece depois do ato que cometeu.

Exemplos:

Descrédito na justiça – que por sua vez gera inúmeros outros rolos,

dentre eles a tentação de infringir as leis, porque afinal, o castigo não

é tão mal assim.

Desvio de dinheiro público – com a consequente falta de verba

para educação, saúde, esporte, cultura, lazer, infraestrutura etc que

gerarão outros rolos como classes com numero excessivo de alunos,

espaços de cultura, esporte e lazer sucateados, pessoas procurando

significado da vida nas drogas, morte por falta de atendimento de

qualidade na saúde etc.

• Usem uma caixa de sapatos para colocar os rolos e “suas consequências”. A

caixa pode ser de qualquer tamanho e deve representar um tema que seu

grupo considere importante.

• Para montar a caixa, é preciso cortar os rolos, de comprido, para que caibam

uns dentro dos outros simbolizando o problema e suas consequências. Ao

juntar os rolos de papelão desta maneira, em pouco tempo a caixa será

preenchida com cerca de 200 rolos que pesarão um pouco mais de meio

kilo.

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Uma caixa como esta, por exemplo, pode ser enviada para o SUPREMO

TRIBUNAL FEDERAL, ou para o escritório representante da OAB, para serem

vistas e enviadas para reciclagem. Desta forma poderão ser transformadas em

papel novo.

OFICINAS

“Nós devemos ser a mudança que queremos ver no mundo” Mahatma Ghandi – 1869 - 1948

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A sensibilização individual trabalha com incertezas, complexidades e leva

aluno-professor, a construir linguagens e conhecimentos em um processo de

interatividade com o tema em questão. Essa interatividade amplia a consciência e o

diálogo, formando uma rede social pensante e atuante com possibilidades de

intervir na realidade de forma significativa.

As oficinas que podem acontecer tanto em escolas como empresas ou

instituições e desenvolvem os seguintes temas:

Auto responsabilidade - A intenção desta oficina é deixar claro que somos

responsáveis por nossas escolhas. Fazemos escolhas o tempo todo. Escolhas

conscientes e escolhas não conscientes. Algumas delas resultam em bem

estar e outras não.

Assertividade – Esta oficina incentiva o individuo a sair da queixa e da

acusação para ir direto ao que o incomoda, sem reclamar à toa, ou acusar.

Direitos Humanos – Divulgação da Declaração dos Direitos Humanos e

reflexões sobre a importância do equilíbrio entre Direitos e Deveres.

Estatuto da Criança e do Adolescente – Proporcionar uma reflexão sobre

a utilização do ECA nas escolas e divulgar as ferramentas disponíveis para

proteger as crianças e adolescentes da violência.

Ética - Reflexões sobre o equilíbrio entre o respeito a si próprio e o respeito

ao outro.

Inclusão - Esta oficina oferece uma oportunidade para se compartilhar a

dor da rejeição e o desenrolar das diferenças. A tirania da imagem

idealizada não nos permite aceitar confortavelmente as diferenças.

Meio Ambiente – Sensibilizar as pessoas para seu poder de contribuir com

as causas do meio ambiente.

O trabalho hoje conta com inúmeros colaboradores, que simpáticos à causa,

trabalham para despertar o cidadão para sua responsabilidade social, para

promover a educação da cidadania por meio da arte e levá-lo a prática de ações

concretas e assertivas de interesse coletivo, basicamente através de uma situação

de incomodo, no caso de notícias publicadas na imprensa escrita e outras mídias.

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“(...) o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra montão.“

Guimarães Rosa

Zé do Rolo reclama para quem não pode fazer nada

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- Brinquedoteca Zamira Nunes

Rolos enviados para o Senado junto com assinaturas de 7.000 pessoas em apoio o

PL 1300/1999

Rolos de todos os tipos

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Cristina Mattoso *2

Não sei direito quem sou, mas já me disseram que sou metida a querer

ensinar. Em parte é verdade. Se eu não compartilhar o que me maravilhou, morro

de indigestão.

Aprendi que nem sempre é possível amar ao próximo, mas sempre é

possível respeitar sua essência.

Aprendi que a verdade e o respeito a si mesmo e ao outro e devem ser

preservados a qualquer custo porque dão origem a todos os outros valores.

Aprendi que o que era verdade ontem, não é necessariamente verdade hoje.

Aprendi que somos todos imperfeitos e que é preciso aceitarmos nossas

imperfeições para poder aceitar as imperfeições dos outros.

Aprendi que é importante escolher bem nossos pensamentos e que

pensamentos bons produzem melhorias... e toda a sorte de sentimentos de amor.

Aprendi que o amor está acima de tudo.

O amor dá gosto e sentido à vida.

Referências LODI, LUCI HELENA. Ética e cidadania: construindo valores na escola e na sociedade. – Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos: Ministério da Educação, SEB, SETEC, SEED, 2003. TURINO, CÉLIO. Uma visão inclusiva: arte, cultura e esporte. São Paulo: Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural, 2011.

2 Educadora, responsável pelo surgimento do Movimento Desenrola Brasil www.desenrolabrasil.com.br E-mail: cristinamattoso@yahoo.com.br