“A globalizaçom pretende converter-nos em borregos vivendo ... · vivendo em 'chalés adosados...

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NÚMERO 49 15 DE DEZEMBRO DE 2006 A 15 DE JANEIRO DE 2007 1 A alta velocidade ferroviária isolará o meio rural em benefício das grandes áreas urbanas O trem de grande velocidade e as autovias previstas apre- sentam-se como a soluçom para "tirar a Galiza do isola- mento", num contexto de crescimento dos grandes capi- tais que precisam de movi- mentos rápidos para as suas mercadorias e dirigentes. Em ausência de debate social sobre a suanecessidade, as obras do comboio continuam em diferentes troços o projec- to que deveria culminar em 2020 e que basicamente for- talecerá as principais vias exis- tentes de transporte e comunica- çom que fôrom potenciadas nos últimos vinte anos, em particular, o eixo Vigo- Corunha e a ligaçom à meseta. O discurso mediático domi- nante, que reduz a crítica a aspectos relacionados com as velocidades máximas atingí- veis ou à pertinência de tais ou quais variantes esconde um projecto de enormes reper- cussons que incomunicará ferroviariamente as pequenas localidades, causará danos ambientais e sociais irreversí- veis e acabará por liquidar o conceito de comboio como veículo de comunicaçom aces- sível e integrador. Os verda- deiros beneficiários: os cen- tros de poder económico e as classes dominantes. / Pág. 10 PRIMEIRA MARCHA AOS cárceres de Ávila e Cáceres em apoio aos presos independentistas / 06 E AINDA... Opinions de Beatriz Santos, Lídia Senra e Bases Democráticas Galegas. “A globalizaçom pretende converter-nos em borregos vivendo em 'chalés adosados'Tonhito de Poi, vocalista da Banda de Poi PÁGINA 20 XII Assembleia do BNG decide abandonar o assemblearismo nos próximos encontros, a partir de agora, congressuais Várias listas críticas opugérom-se ao novo modelo de 'voto delegado' sem êxito, mas obtendo mais apoios dos esperados / 15 “Na recriaçom da trama nunca pode faltar, como nos melhores filmes, o chefe-ideólogo” Na política galega vive-se nos últimos anos com certa espec- taçom o regresso à actualidade de alguns episódios de violên- cia política de baixa intensida- de que, porém, tenhem umha continuidade no tempo nada desprezível: quase umha déca- da. Trata-se de umha violência que, sem responder ao chama- mento realizado por siglas con- cretas, a polícia situou imedia- tamente no ámbito do inde- pendentismo, chegando a cri- minalizar, com certos meios de comunicaçom, organizaçons e pessoas com actividade pública reconhecida. O momento mais grave desta incriminaçom acon- teceu na seqüência da opera- çom Castinheira, com a qual se abriu um questionado processo contra maioritariamente mili- tantes da AMI, de cujo estado os próprios afectados e afecta- das se vam inteirando polos jor- nais com certa regularidade. Um dos argüidos, Antom Garcia Matos, encontra-se em paradei- ro desconhecido depois de ter sido assinalado pola polícia e a imprensa maioritária como ‘ideólogo’ e ‘cabecilha’ da cha- mada ‘resistência galega’. É precisamente contra esta cons- truçom mediático-policial que se insurge Garcia Matos num artigo remetido para o NOVAS DA GALIZA, que decidiu publicá-lo por ser um docu- mento de excepcional actuali- dade. O autor defende que a repressom e as conseguintes campanhas informativas devem ser ignoradas em prol da consti- tuiçom “do projecto social” de umha “futura Galiza livre”: “nom devemos resignar-nos a ser actores passivos de um guiom que escrevem por nós”. Para além das opinions que poda suscitar o texto, o nosso jornal é consciente da polémi- ca que a publicaçom de um simples artigo de opiniom como este pode trazer consigo. O nosso compromisso com a liberdade de expressom e com a informaçom crítica está, porém, por cima de qualquer autocensura que jamais aceita- ria o nosso público leitor, e muito menos nos tempos em que vivemos, que tornam este compromisso mais necessário que nunca. / Pág. 13 AS OBRAS PROVOCAM JÁ IMPORTANTES DANOS SÓCIO-AMBIENTAIS E NO PATRIMÓNIO Antom Garcia Matos escreve para o NOVAS DA GALIZA Presidentes do PP preocupados pola lei dos 500 metros anunciada pola Junta / 04 Detenhem dono de Cirsa na Argentina ao tentar introduzir 500.000 euros sem declarar / 05 Dous estudantes sofrem torturas após serem detidos num protesto em Compostela / 07

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NÚMERO 49 15 DE DEZEMBRO DE 2006 A 15 DE JANEIRO DE 2007 1 €

A alta velocidade ferroviária isolará o meio ruralem benefício das grandes áreas urbanas

O trem de grande velocidadee as autovias previstas apre-sentam-se como a soluçompara "tirar a Galiza do isola-mento", num contexto decrescimento dos grandes capi-tais que precisam de movi-mentos rápidos para as suasmercadorias e dirigentes. Emausência de debate socialsobre a suanecessidade, asobras do comboio continuamem diferentes troços o projec-

to que deveria culminar em2020 e que basicamente for-talecerá as principais vias exis-tentes de transporte e comunica-çom que fôrom potenciadasnos últimos vinte anos, emparticular, o eixo Vigo-Corunha e a ligaçom à meseta.O discurso mediático domi-nante, que reduz a crítica aaspectos relacionados com asvelocidades máximas atingí-veis ou à pertinência de tais ou

quais variantes esconde umprojecto de enormes reper-cussons que incomunicaráferroviariamente as pequenaslocalidades, causará danosambientais e sociais irreversí-veis e acabará por liquidar oconceito de comboio comoveículo de comunicaçom aces-sível e integrador. Os verda-deiros beneficiários: os cen-tros de poder económico e asclasses dominantes. / Pág. 10

PRIMEIRA MARCHA AOS cárceresde Ávila e Cáceres em apoio aospresos independentistas / 06

E AINDA...

Opinions de Beatriz Santos, Lídia Senrae Bases Democráticas Galegas.

“A globalizaçom pretende converter-nos em borregosvivendo em 'chalés adosados'”Tonhito de Poi, vocalista da Banda de Poi PÁGINA 20

XII Assembleia do BNG decideabandonar o assemblearismonos próximos encontros, a partir de agora, congressuais

Várias listas críticas opugérom-se ao novo modelode 'voto delegado' sem êxito, mas obtendo maisapoios dos esperados / 15

“Na recriaçom da trama nuncapode faltar, como nos melhoresfilmes, o chefe-ideólogo”

Na política galega vive-se nosúltimos anos com certa espec-taçom o regresso à actualidadede alguns episódios de violên-cia política de baixa intensida-de que, porém, tenhem umhacontinuidade no tempo nadadesprezível: quase umha déca-da. Trata-se de umha violênciaque, sem responder ao chama-mento realizado por siglas con-cretas, a polícia situou imedia-tamente no ámbito do inde-pendentismo, chegando a cri-minalizar, com certos meios decomunicaçom, organizaçons epessoas com actividade públicareconhecida. O momento maisgrave desta incriminaçom acon-teceu na seqüência da opera-çom Castinheira, com a qual seabriu um questionado processocontra maioritariamente mili-tantes da AMI, de cujo estadoos próprios afectados e afecta-das se vam inteirando polos jor-nais com certa regularidade.Um dos argüidos, Antom GarciaMatos, encontra-se em paradei-ro desconhecido depois de tersido assinalado pola polícia e aimprensa maioritária como‘ideólogo’ e ‘cabecilha’ da cha-mada ‘resistência galega’. Éprecisamente contra esta cons-truçom mediático-policial quese insurge Garcia Matos numartigo remetido para o NOVASDA GALIZA, que decidiupublicá-lo por ser um docu-mento de excepcional actuali-

dade. O autor defende que arepressom e as conseguintescampanhas informativas devemser ignoradas em prol da consti-tuiçom “do projecto social” deumha “futura Galiza livre”:“nom devemos resignar-nos aser actores passivos de umguiom que escrevem por nós”.Para além das opinions quepoda suscitar o texto, o nossojornal é consciente da polémi-ca que a publicaçom de umsimples artigo de opiniomcomo este pode trazer consigo.O nosso compromisso com aliberdade de expressom e coma informaçom crítica está,porém, por cima de qualquerautocensura que jamais aceita-ria o nosso público leitor, emuito menos nos tempos emque vivemos, que tornam estecompromisso mais necessárioque nunca. / Pág. 13

AS OBRAS PROVOCAM JÁ IMPORTANTES DANOS SÓCIO-AMBIENTAIS E NO PATRIMÓNIO

Antom Garcia Matos escreve para o NOVAS DA GALIZA

Presidentes do PP preocupados pola lei dos500 metros anunciada pola Junta / 04

Detenhem dono de Cirsa na Argentina ao tentarintroduzir 500.000 euros sem declarar / 05

Dous estudantes sofrem torturas após seremdetidos num protesto em Compostela / 07

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AComissom Europeia anun-ciou que pensa liberalizar omercado do leite e pôr fim

ao sistema de quotas em 2015. Paraos e as camponesas esta é umha mánotícia. Sempre que anunciamnovas oportunidades no mercadointernacional com a liberalizaçom,perdemos presença nos mercadoslocais e de proximidade e temosnovas descidas nos preços. Estaspolíticas sempre provocam a perdade postos de trabalho directos eindirectos.

É umha má notícia para o con-junto da populaçom, à qual se está aimpor a alimentaçom que decidemas multinacionais e a grande distri-buiçom sem ter em conta de modonenhum a qualidade nutritiva nema segurança dos produtos alimen-tares – já sabemos que nem tudo oque passar controlos é seguro: asvacas loucas som o mais claro exem-plo disto –, nem a sua cultura ali-mentar.

É umha má notícia, também,para os povos da Europa em geral epara o povo galego em particular,que é obrigado a depender cada vezmais do exterior para se alimentar,desrespeitando-se assim o seudireito a decidir as políticas agrá-rias e alimentares que mais lheinteressam.

Também, e apesar de a propa-ganda oficial dizer o contrário, éumha péssima notícia para os e ascamponesas dos países menos des-envolvidos, que vam ver os seuspostos de trabalho e as economiaslocais destruídas polas multinacio-

nais que ocuparám os seus merca-dos, igual que ocupam os nossos.Decerto, a fome e a miséria nomundo aumentarám com a liberali-zaçom.

Por isto, o Sindicato Labrego

Galego (SLG), trabalhará sem des-canso para o Conselho de Ministrosrejeitar a proposta da Comissom epara o estabelecimento de umhapolítica leiteira que supere as injus-tiças da política de quotas actual.

Neste sentido, o SLG e a CPE(Coordenadora CamponesaEuropeia) luita por:

1. Umha política leiteira que res-peite o direito de ‘soberania alimen-tar’. Cumpre priorizar a produçom

de leite para o consumo interno. Épreciso manter as cabeças de gadoem relaçom com as necessidades dopaís, para pôr fim à dependênciaeuropeia em alimentaçom do gado.A Comissom Europeia e os gover-nos devem abandonar o apoio aoscultivos energéticos, pois necessi-tamos da terra para alimentarmos ogado.

2. Manter o controlo da produ-çom e redistribuir o direito a produ-zir entre os camponeses e as campo-nesas na Uniom Europeia, superan-do o enquadramento dos Estados.Nom fai sentido que, se o mercadoé europeu, a quota seja por Estados.

3. A redistribuiçom deve fazer-seatendendo a critérios de viabilizar omáximo número de exploraçons deleite, de dimensom humana, emtodo o território europeu.

4. Ligado a tudo isto, senom seriatotalmente inviável, estabelecerum preço que cubra os custos e otrabalho de produçom.

5.- Políticas de apoio para a colo-caçom no mercado de leite e lácte-os de alta qualidade nutritiva; prio-rizar os mercados locais e de proxi-midade.

Entendemos que o futuro do sec-tor leiteiro nom pode ficar numsimples debate sectorial. Por isso,fazemos um chamamento a toda acidadania para se implicar no deba-te e na luita, porque umha outrapolítica agrária e alimentar ao servi-ço da sociedade é possível.

Lídia Senra é secretária-geral doSindicato Labrego Galego

LÍDIA SENRA

NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 200702 OPINIOM

O PELOURINHO DO NOVAS

Se tens algumha crítica a fazer, algumfacto a denunciar, ou desejas transmi-tir-nos algumha inquietaçom oumesmo algumha opiniom sobre qual-quer artigo aparecido no NGZ, este éo teu lugar. As cartas enviadas deve-rám ser originais e nom poderámexceder as 30 linhas digitadas a com-putador. É imprescindível que os tex-tos estejam assinados. Em caso con-trário, NOVAS DA GALIZA reserva-se odireito de publicar estas colaboraçons,como também de resumi-las ouestractá-las quando se consideraroportuno. Também poderám ser des-cartadas aquelas cartas que ostenta-rem algum género de desrespeito pes-soal ou promoverem condutas antiso-ciais intoleráveis. Endereço: [email protected]

E VAM TRÊS ANOS

Na Associaçom Cultural Revira dePonte Vedra, estamos a comemoraro terceiro aniversário. Neste tempotranscorrido, temos levado a cabodezenas de actividades a favor danossa cultura, polos direitos históri-cos da Galiza, pola defesa da terra eo ambiente e em solidariedade comoutros povos como o do Sara.Também temos promovido actosem solidariedade com o movimen-to feminista, de recuperaçom damemória histórica e de estudo domovimento operário ou da históriado País. Temos cedido os nossoslocais para associaçons juvenis, polí-ticas, de siareiros e siareiras, deheavy rock, de rol; temos realizadoroteiros, visionado ciclos de filmes,feito exposiçons de pintura, foto-grafia e outras artes na salaReimundo Patinho; jantares, pales-tras solidárias com os presos e pre-

sas, cursos diversos, festas e tradi-çons como o Magusto ou oEntrudo, concertos de rock, folk,rap galego e jam sessons tenhemocupado também as nossas salas,das quais saímos frequentementepara participarmos em actos como aFesta da Língua ou a Feira Franca,para realizarmos umha festa con-junta com o colectivo marroquinoou para nos manifestarmos emdefesa da ria e contra a ENCE.Participamos em colectivos que lui-tam contra a guerra, fazemos parteda REAL (rede de associaçons ami-gas da língua) e assim um muitolongo et cetera que fai com que aRevira, do mesmo modo que osoutros locais sociais que estám aformar umha rede em todo o País,sejam cada vez mais um referentepara a juventude e para as pessoasque querem umha Galiza sobera-na, apesar da ocultaçom e o boicotede sectores do nacionalismo insti-tucional.É por isto que ainda que falta

muito caminho por percorrer, hojetambém podemos estar fachendo-sos e fachendosas polo trabalho rea-lizado, e por termos construído umespaço, um lugar de encontro ondepessoas diversas se juntam parafazerem muitas cousas, como as járeferidas, e ainda para promover-mos um outro tipo de lazer. Porisso, estamos de festa...

A. Díaz (A.C. Revira)

LIBERTANDO OS VISONS?

A eucaliptizaçom e os incêndios,entre outras muitas causas, tenhemconduzido a umha realidadeambiental dramática em muitascomarcas do País. Nesses lugares, aextrema degradaçom da natureza éevidente, e os únicos redutos querestam à fauna autóctone de verte-brados, como insectívoros peque-nos e médios, carnívoros do taman-

ho do tourom, a lontra ou mesmoespécies omnívoras, som os bosquesripícolas que se distribuem ao longodos rios. Esse é o único acovilhoonde podem encontrar alimento eprotecçom. Um refúgio assaltadoda noite para a manhá por centosde animais carnívoros, espalhadospolas ribeiras, alimentando-se doque encontram, após terem sidolibertados de um suplício que nomtem justificaçom. Sinceramente,creio que há melhores procedimen-tos que as ‘excursons nocturnas’para abrir as gaiolas dos visons.Porém, a simplificaçom das ideias ea militáncia por impulsos som umsigno destes tempos. Por isso conti-nua a ser fundamental recuperar oespírito crítico baseado na análiseda informaçom. Libertar visons époupar esforços enveredando porum atalho que provoca um proble-ma, também silencioso. Como oque padecem estes animais.

Pedro Alonso (Ames)

Pola soberania alimentar do povo galego,paremos a liberalizaçom dos mercados

“A LIBERALIZAÇOM DO LEITE É UMHA MÁ NOTÍCIA PARA O CONJUNTO DAPOPULAÇOM, À QUAL SE ESTÁ A IMPOR A ALIMENTAÇOM QUE DECIDEM AS

MULTINACIONAIS E A GRANDE DISTRIBUIÇOM SEM TER EM CONTA DEMODO NENHUM A QUALIDADE NUTRITIVA NEM A SEGURANÇA DOS

PRODUTOS ALIMENTARES, NEM A SUA CULTURA ALIMENTAR”

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 2007 03EDITORIAL

Oprocesso de reajusta-mento interno da demo-cracia bourbónica está a

entrar na sua fase definitória.Quase três décadas de liberda-des tuteladas, monarquia impos-ta, neoliberalismo a crescer etentativa de regionalizaçom dasidentidades nom espanholas ser-vírom para fortalecer o Estadocontra as dissidências populares,mas nom finalizárom o trabalho.Está na hora de as elites actual-mente governantes rematarem atarefa com mais um verniz demodernizaçom à medida dasburocracias periféricas: apontoa-mento do sistema autonómico enovos regionalismos para todos:deixam que nos chamemos‘naçom’ porque vai ser, em últi-mo termo, a soberania espanholaa sancionar o nosso status. Ecom um termo ou outro, Madridacouta de partida o terreno dejogo enquanto as decisons estra-tégicas, as que afectam as maio-rias trabalhadoras, continuam aresolver-se no espaço estratosfé-rico, onde o capitalismo joga assuas cartas: longe da Galiza,longe dos parlamentos, modu-lando as condutas governamen-tais por meio de cadernetas decheques e de chantagens.

Zapatero em Espanha e o tan-dem Tourinho-Quintana naGaliza desenvolvem ajuizada-mente o seu papel: o processode reformas autonómicas terásucesso se se aplicar sobre movi-mentos populares desarticula-dos, com a esquerda capitalistaabsorta polos orçamentos doEstado e os espaços do circomediático vendidos a preço desaldo; se a populaçom assisteadormecida ao choque virtualcom a extrema-direita, em lugarde observar criticamente a reali-dade que piora. Enquanto osincautos pensam que a valentiados democratas governantes nosprotege da agressividade dosultras, o retrocesso popular nompara na Galiza: catástrofeambiental, deterioraçom laboral,desfeita urbanística e depreda-çom da costa, ritualizaçom doidioma, ausência de debatepúblico e maciço sobre as gran-des questons em que se dirime ofuturo colectivo. Para alguns, a

ambigüidade e fraqueza gover-namentais alimentam involunta-riamente estas e outras calami-dades; para outros, que vamossendo maioria, a inacçom gover-namental é fruto da cumplicida-de deliberada de quem só aspiraa blindar as suas prebendas asse-gurando o apoio dos que man-dam de verdade.

Na nossa história recente, areivindicaçom soberanista e aoposiçom frontal a todo o esta-tutismo comportou-se comocatalisador das mais significati-vas lutas populares. A autode-terminaçom, situada como hori-zonte irrenunciável implicava aauto-organizaçom como requisi-to quotidiano para edificar umPaís que nom precisava de sub-vençons, políticos profissionaisnem favores mediáticos. As pes-soas que hoje nos reunimosnesta praça nom o fazemos poracreditarmos nas virtudes dasefemérides ou das contra-efe-mérides; fazemo-lo com o intui-to de construirmos um espaçoautodeterminista que atinjaesse conjunto de projectospopulares, políticos ou sociaisque se espalham pola Galizatoda, ampliando o seu potenciale promovendo a sua activaçomem chaves de soberania nacio-nal e contra a fraude das refor-mas. Seria preciso que as gale-gas e os galegos que nom noscontentamos com as faragulhasde Madrid estivéssemos à alturados nossos inimigos: se eles pre-param com esmero a liquidaçomdefinitiva da nossa causa nacio-nal e a deserçom dos movimen-tos do cenário do combate, cum-priria que nós desenhássemoscom rigor umha intervençomsustentada, multiplicadora eque desse coesom àqueles sec-tores que nom se vendem. Oconsenso de todos os que man-dam – já sem máscaras de nen-hum tipo – para relegar a naçomà dependência e os trabalhado-res aos ditados neoliberais, deveser contestado com a maior dasamplitudes e a maior das con-tundências. Um movimento demovimentos pode erodir o auto-nomismo e fazer-nos dar passossignificativos para a autodeter-minaçom do futuro.

ALTA VELOCIDADE PARAIRMOS A NENHURES

HUMOR

Acumular forças polaAutodeterminaçom

BASES DEMOCRÁTICAS GALEGAS

D.LEGAL C-1250-02 / As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçomrespeitando a ortografia e citando procedência. A informaçom continua periodicamente no sítio web www.novasgz.com e no portal www.galizalivre.org.

EDITORA

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Carlos Barros G.

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Alonso Vidal, Antom Santos, Ivám Garcia,Xiana Árias, Sole Rei, F. Marinho, GerardoUz, Maria Álvares, Eduardo S. MaragotoAndré Casteleiro

DESENHO GRÁFICO E MAQUETAÇOM

Miguel Garcia, C.Barros, A. Vidal, X. Árias

IMAGEM CORPORATIVA

Miguel Garcia

FECHO DA EDIÇOM: 15/12/06

INTERNACIONAL

Duarte FerrínNuno Gomes (Portugal), Jon Etxeandia(País Basco) Juanjo Garcia (Países Cataláns)

COLABORAÇONS

Opiniom. Maurício Castro, X. Carlos Ánsia,Santiago Alba, Daniel Salgado, Kiko Neves,J.R. Pichel, R. Pinheiro, Carlos Taibo,Germám Ermida, Celso Á. Cáccamo, JorgePaços, Adela Figueroa, Joám Peres, PedroAlonso, Luís G. Blasco ‘Foz’, Alberte Pagán,Concha Rousia, Xurxo Martínez, AlexandreBanhos, Iván Cuevas, Raul Asegurado,Miguel Penas. Música. Jacobe Pintor. GalizaNatural. João Aveledo. Sexualidade. BeatrizSantos. Língua Nacional. Valentim Fagim.Descobre o que sabes. Salva Gomes. Desportos.Anxo Rua Nova, Xavier S. Paços. Cozinha.Joana Pinto, Miguel Burros, Ana Rocha

FOTOGRAFIA

Arquivo NGZNatália Gonçalves

ASSINANTES

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Suso Sanmartin, Pepe Carreiro, Pestinho+1,Xosé Lois Hermo, Gonzalo Vilas, Farruquinho,Aduaneiros sem fronteiras, Xosé Manuel

CORRECÇOM LINGÜÍSTICA

Eduardo Sanches MaragotoFernando Vázquez CorredoiraVanessa Vila Verde

“O PROCESSO DE REFORMAS AUTONÓMICAS TERÁSUCESSO SE SE APLICAR SOBRE MOVIMENTOS

POPULARES DESARTICULADOS, COM A ESQUERDACAPITALISTA ABSORTA POLOS ORÇAMENTOS DO

ESTADO E OS ESPAÇOS DO CIRCO MEDIÁTICOVENDIDOS A PREÇO DE SALDO ”

Outro grande projecto estratégico pairasobre as nossas cabeças no mais preocu-pante dos silêncios. A Galiza ajusta as suas

linhas ferroviárias ao novo plano da alta velocidadeque as instáncias estratosféricas da Europa políticaimpugérom no início de 2000. Por enquanto, sóalgumha voz do ambientalismo se fai ouvir norecanto jornalístico que os media reservam à oposi-çom, como quota de mercado presenteada àcorrecçom política. Com a obra consumada, ergue-rá-se o milhar de vozes críticas com o esbanjamen-to, a irracionalidade ou a desfeita do rural, comohoje se ergue o clamor virtual contra as obras deum Gaiás que quase todos aceitaram com timidezreverente.Quem viajar atento, hoje em dia, num dos últimostrens de proximidade, poderá deter-se a observar asucessom daquelas velhas estaçons ferroviáriascomestas polas silvas, em situaçom ruinosa, quenos lembram os tempos em que o comboio ligavaas localidades e os seus povos, e nom os centrosneurálgicos de umha economia que já saturou os

céus e agora desertifica de vez terras e paróquias.Deslocamento de executivos e turistas em troca demeio de transporte para as pessoas mais modestas;uniom vertiginosa de duas ilhas num espaço neu-tro, em troca de conexom em rede de toda umhamalha geográfica e social; complemento à loucurasanguinolenta de turismos e auto-estradas, emtroca de substituiçom progressiva do individualis-mo do ‘volante’. Com a obsessom de ‘encurtar dis-táncias’, terminamos no afastamento abismal coma nossa realidade mais íntima e próxima, que senos apresenta alheia e prescindível. O TAV é umhaestocada mui séria e ameaçadora aos últimos redu-tos que, na Galiza, fugiram às consignas da pressa eo produtivismo idiota que nos dita a modernidadetecnológica.Em ausência de grandes descontentamentos demassas, cabe à investigaçom, à palavra e à denún-cia, um lugar de privilégio. As pessoas e os movi-mentos podem ser desnaturalizados, mas as ideiasvoam livres e acabam por se encontrar e florescerno protesto organizado.

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 2007

NOTÍCIAS

04 NOTÍCIAS

Presidentes do PP preocupados pola leidos 500 metros anunciada pola Junta

Despovoamento do rural ameaça futuro das aves de rapina

No Návia-Eu, sob administraçom asturiana, a lei vigora desde há anos

Apesar de contarem com má reputaçom, desempenham umha funçom essencial no equilíbrio biológico e o controlo de pragas

A Ilha de Toralha, na Ria de Vigo, é um paradigma clássico de degradaçom da costa para benefício de construtores, políticos e milionários

REDACÇOM / Presidentes dediferentes Cámaras municipaisgovernadas polo PP estám amostrar publicamente a suapreocupaçom pola nova lei decostas anunciada por Maria JoséCaride, conselheira da PolíticaTerritorial. O presidente daCámara de Lalim, em nome daFederaçom Galega deMunicípios e Províncias, quetambém preside, nom foi oúnico que levantou a sua vozdeixando entrever que atrás dalei se esconde o propósito de“demonizar” governanteslocais, convertendo vereadorese presidentes de cámaras em“bodes expiatórios” dos proble-ma urbanísticos. Ainda que

nem de longe se poda dizer queos outros partidos que governá-rom os nossos concelhos este-jam isentos de culpa, sim pare-cem estar neste partido os polí-ticos que ficárom mais preocu-pados com o rascunho destanova lei. Também no sector doempresariado se pudo notarcerta preocupaçom nos primei-ros dias, que no entanto pare-ceu desaparecer depois da reu-niom que mantivérom Touriñoe Antonio Fontenla (daConfederaçom de Empresáriosda Galiza) em que este chegoua afirmar que a lei apenas blo-quearia “algum investimentoconcreto”.A galega nom seria a primeira

comunidade autónoma afecta-da por umha lei semelhante, eoutras como a Catalunha ou asAstúrias encontra-se muitoavançadas nesta questom. Defacto, umha pequena parte daGaliza, a comarca Návia-Eu,encontra-se subordinada aoPlano de Ordenaçom do LitoralAsturiano (POLA) que mesmoprevê que nalguns pontos alimitaçom da voragem constru-tora seja limitada nom em 500metros mas num quilómetro.Porém, nesta comarca, a reali-dade é mais permissiva do quese pensa, e em concelhos comoa Veiga ou Tápia de Casaregoconstruiu-se sem demasiadoproblema nos últimos anos,

inclusive sem se respeitarem os200 metros vigentes no resto daGaliza. De facto a lei apenasprevê a qualificaçom ‘preventi-va’ como nom urbanizável dosolo dessa faixa costeira. Assim,o ambientalismo critica que oPOLA permita campos de golfenessa faixa e indicam que, afi-nal, é cada cámara municipal adecidir onde é solo urbano eonde nom, ou se este chega ounom à beira do mar. E é que,como no caso da norma galega,a medida nom afecta solo urba-no consolidado, isto é, nom serápossível proteger, de um pontode vista ambiental, terrenosentre os quais já fôrom levanta-das edificaçons.

REDACÇOM / Muito se tem faladodas conseqüências negativas queterá para os galegos e galegas oprogressivo abandono do meiorural. Para as próprias pessoas queainda residem nesse ámbito e quetenhem na agricultura a sua formade vida, umha das primeiras reper-cussons negativas está a ser a infla-çom dos preços do solo. Para quemjá partiu, problemas de desarrei-gamento.Para o próprio meio natural, asconseqüências estám a ser nefas-tas, pois os montes abandonadosrevelam-se como umha bombapronta a estourar com resultadosimprevisíveis nos Veraos – dúzias

de incêndios diários –, e ainda con-tra o Outono – com chuvas torren-ciais.Umha outra conseqüência negati-va está a ser o equilíbrio biológico,que corre um grande risco se fos-sem confirmadas as piores expec-tativas da Associaçom SectorialFlorestal Galega (ASEFOGA).Esta organizaçom assegurou aoNOVAS DA GALIZA que “entre40 e 50 por cento das espécies deaves de rapina da Galiza tenhemameaçada a sua sobrevivência”.Segundo confirmaram a esteperiódico, das 28 espécies que seregistam na Galiza, entre as maisameaçadas estám o milhafre e a

águia, cuja populaçom desceu ver-tiginosamente nos últimos anos,nomeadamente graças “ao seulento ciclo biológico – nom costu-mam pôr mais de dous ou trêsovos –, que está combinado comumha mortalidade de cerca de 25por cento”.

Controlo de pragasOutros perigos habituais paraestas aves encontramo-los na defi-ciente infra-estrutura eléctrica –som freqüentes as electrocussons–, o uso abusivo de fertilizantes ede pesticidas – determinadoscomponentes afectam a composi-çom da casca dos ovos, tornando-a

excessivamente dura ou mole – ouas repovoaçons maciças com euca-liptos, “espécie arborescentemuito agressiva com o meio e quenom favorece a presença das pre-sas predilectas destas aves”.Apesar da má imagem que tradi-cionalmente tenhem estas aves,“o seu papel na natureza é essen-cial, já que para além de seremexcelentes indicadores da saúdeambiental – pois som muito exi-gentes quanto a determinadasnecessidades ecológicas –, man-tenhem constante a populaçomde roedores e de insectos, ademaisde exercerem de mecanismonatural de controlo de pragas”.

REDACÇOM / Um nutrido grupo decolectivos e organismos da comarcade Trás-Ancos constituírom aPlataforma Ártabra-21 em defesa deum desenvolvimento sustentávelcom base no ambientalismo, a defe-sa dos serviços públicos, o direito àhabitaçom e a preservaçom da lín-gua e património, entre outros objec-tivos. Na sua assembleia fundacio-nal aprovárom apoiar umha mobiliza-çom contra a central de Gás promo-vida por Reganosa que se está a cons-truir em Mugardos, como tambémsolidarizar-se com a vizinhança dobairro de Sartanha na oposiçom àconstruçom de um centro de lazerprivado na sua praça principal.

Num recente comunicado ques-tionam a decisom da CámaraMunicipal de Ferrol que resolveuretirar os recursos judiciais contra apresença da central gasística no cora-çom da ria. Este acordo contou como apoio inicial do BNG e a sucessivaabstençom deste grupo e o PSOE, oque permitiu a retirada da totalidadede recursos à iniciativa do PP. ParaÁrtabra-21, esta atitude “é conse-quência de umha política erráticadas duas forças da oposiçom, queanteponhem políticas baseadas eminteresses por cima da defesa da ria ea segurança dos seus habitantes”.

REDACÇOM / A saída principal docorredor de alta capacidade doMorraço em Cangas foi cortada porquarta vez este ano na segundasemana de Dezembro. A intensida-de das chuvas acabou por provocarmovimentos num penedo de 60toneladas que ficou ao descobertoameaçando a própria via, de maneiraque Política Territorial ordenou oencerramento até se proceder à reti-rada da rocha e o apontoamento daárea. O risco de desprendimentos foitambém a causa dos anteriores ence-rramentos da via, o que ocasionou odescontentamento dos usuáriosdesta obra infraestrutural que foicontestada por numerosos organis-mos e vizinhos da comarca duranteanos por considerá-lo um corredorde grve impacto ambiental e social,perigoso, desnecessário e que nomresolve os problemas de engarrafa-mentos e acidentalidade. A esta pro-blemática há de somar-se a localiza-çom, na falda de umha montanhaatacada polos incêndios deste Verao,o que está a intensificar os efeitosclimatológicos sobre o seu traçado.

Fecham de novoa Via Rápida doMorraço

Constituem em Trás-Ancos a PlataformaÁrtabra-21

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 2007 05NOTÍCIAS

Detenhem dono de Cirsa na Argentina quandotentava introduzir 500.000 euros sem declarar

Novas da Galiza é utilizado como prova documental num processo judicial no Chile

10.11.2006

Visita de Touriño à Alemanha e àSuíça para contactar com entida-des galegas nos dous países.

11.11.2006

Procuram marinheiros desapare-cidos na costa da Namíbia.

12.11.2006

Touriño anuncia que o novo esta-tuto recolherá que os emigrantesham de ter um retorno justo àGaliza.

13.11.2006

Quarto aniversário do afundamen-to do Prestige. Ex-conselheiro dasPescas López Veiga acusa o gover-no bipartido de nom ter feitonada.

14.11.2006

Vice-ppresidente Quintana fala emgalego no Conselho de Ministrosda Cultura da UE depois de tê-lofeito o conselheiro do TrabalhoRicardo Varela dias antes.

15.11.2006

Reuniom entre Touriño e Feijóopara levar avante projecto do novoEstatuto de Autonomia.

16.11.2006

Rajoy di que levará o novoEstatuto galego ao Constitucionalse recolhe a definiçom de‘naçom’.

17.11.2006

Telefónica sancionada pola segun-da vez com a maior multa por nomoferecer serviços ao operadorJazztel.

18.11.2006

O governo galego e o português

CRONOLOGIA

REDACÇOM / O presidente daCorporaçom Cirsa Manuel LaoHernández foi detido, junto comdous executivos do grupo, com500.000 euros sem declarar nopassado dia 14 de Dezembro numaeroporto argentino. À chegada dovoo privado procedente deEspanha, os agentes aduaneiroslocalizárom o dinheiro numerárioentre a bagagem dos detidos, cai-xas de presentes e outras de pre-suntos, de maneira que pugéromos factos em conhecimento dasautoridades judiciárias. Estas per-mitírom a libertaçom dos argüi-dos, perante as “moléstias esto-macais” de Lao, que rapidamentesaiu de aviom do lugar dos factos,conforme recolhe a imprensa lati-no-americana. No entanto, teráque pagar umha sançom estimadaentre 500.000 e 1.500.000 euros,para além do arresto do dinheirolocalizado. A detençom dos exe-cutivos foi completamente silen-ciada pola imprensa espanhola.Segundo fontes a que tivo acessoeste jornal, a chegada de ManuelLao coincidia com a presença nacapital argentina do Superinten-dente de Casinos e Jogos doChile, Francisco Javier Leiva, queestá a ser investigado polaProcuradoria Económica e deFuncionários deste país em rela-çom com as suas actuaçons no quedi respeito a Cirsa por supostaprevaricaçom.

Este incidente corrobora asdenúncias publicadas no número25 do Novas da Galiza, que apon-tavam a que a empresa vinculadaaos jogos da sorte participava emoperaçons de branqueamento de

dinheiro procedente do narcotrá-fico. Na altura fazíamos públicas,entre outras, as investigaçons domagistrado Baltasar Garzón, queiniciara a instruçom 251/99 parainvestigar actividades irregulares

em que Cirsa estava implicada,derivando na detençom de váriosexecutivos e evitando inculparManuel Lao. Este sumárioencontra-se fechado na prática,sem ter concluído a indagaçomde responsabilidades. Esta publi-caçom já revelara na altura a exis-tência de investigaçons por partedas autoridades argentinas sobreas actividades ilícitas da compan-hia, como também informarasobre as conexons do seu máximodirigente com elementos dacúpula do PSOE.No passado mês de Agosto, Cirsaapresentou umha querela porinjúrias contra um advogado dorival Grupo Martínez que figeradeclaraçons que apontavam àvinculaçom da empresa de Laocom o branqueamento de capi-tais. Neste processo aberto, omencionado número de Novasda Galiza está a ser utilizadocomo prova documental das acti-vidades ilícitas da multinacionaldo jogo. Por sua vez, o represen-tante legal de Martínez, JorgeBofill, interpujo simultaneamen-te outra demanda contra ManuelLao por “denúncia caluniosa”.A Corporaçom Cirsa, fundada em1978, integra 225 empresas com12.000 empregados no total econta com presença em 70 paí-ses. O grupo é proprietário naGaliza do Casino da Toja e oGrande Hotel Samil de Vigo.

Acta de Intervençom Alfandegária em que se detalha o achádego dos 500.000 euros

Debate sobre a hora galega irrompe com forçanos meios após a Assembleia Nacional do BNGREDACÇOM / Para além do fulgu-rante regresso de X. M. Beiras àluita política dentro do BlocoNacionalista Galego, o rescal-do mediático da assembleia dafrente deixou outros debatesem cima da mesa. Um deles,absolutamente inesperado atépara os sectores mais avançadosdo reintegracionismo político.O plenário do dia 3 deDezembro decidia unanime-mente que o Bloco começasse atrabalhar em prol da acomoda-

çom da Galiza à sua hora natu-ral, coincidente com a oficialem Portugal. Os meios decomunicaçom madrilenos apro-veitárom a iniciativa para diri-gir ao BNG todo o tipo de qua-lificativos sarcásticos, aindaque em poucos dias parecêromdecidir silenciar o tema, visto aopiniom dos científicos emesmo da Comissom Nacionalpara a Racionalizaçom dosHorários Espanhóis ser clara-mente partidária à proposta.

Polo contrário, a imprensa gale-ga mostrou-se receptiva à análi-se da proposta, e nalgum caso,como nas páginas do GaliciaHoxe, chegou-se a fazer umhadefesa explícita da mesma.Também a populaçom recebeucom interesse a iniciativa,ainda que os inquéritos que porenquanto tratárom a questomnom sejam demasiado fiáveis.Mesmo assim, a maior partedos líderes do BNG, perante asperguntas dos meios de comu-

nicaçom e do Partido Popular,tentárom restar importáncia àdecisom assemblear, tirando-lhe o carácter de prioritária.Touriño, por sua vez, já semanifestou contra o mudançade fuso horário. Cumpre lem-brar que a normalizaçom dohorário galego é umha velhareivindicaçom de diversoscolectivos de tendência reinte-gracionistas, que mesmo ten-hem realizado campanhas emprol da mesma.

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 200706 NOTÍCIAS

anunciam que o AVE atlánticoestará a funcionar em 2013.

19.11.2006

Inquérito de La Voz de Galiciaoferece melhores resultados aossocialistas nas municipais.

20.11.2006

Forte temporal. Cortada via rápi-da do Salnês e Vila Garcia nom serecupera das inundaçons.

21.11.2006

Futuro de ASTANO enfrentaproprietários e SEPI com a Juntapara a entrada de capital privado.

22.11.2006

Forte debate por causa da lei deprotecçom da costa entre o presi-dente da Junta e Feijóo.

23.11.2006

Junta assina convénio com caixaspara concessom de microcréditospara mulheres empreendedoras.

24.11.2006

Junta e Ministério do Meio Am-biente colaboraram para a protec-çom do litoral.

25.11.2006

Umha outra vítima durante otemporal perto de Cedeira.

26.11.2006

Nigerianos de Vigo pedem reso-luçom por morte de umha com-patriota aparecida no cais dacidade.

27.11.2006

Feijóo reconhece que a macroe-conomia galega anda bem masque em 2007 os galegos viverámpior.

28.11.2006

Em Vila Garcia 800 crianças nompodem ir à escola ao se inundarescola municipal.

29.11.2006

O temporal deixa na Galiza seteestradas cortadas e 1.200 criançassem escola.

Primeira marcha às prisons de Ávila e Cáceres em apoio de Giana e UgioREDACÇOM / Desde os últimosanos oitenta e princípio dosnoventa nom se produzia naGaliza um cortejo destascaracterísticas. Cárceresespanhóis voltam a albergar noseu interior dous independen-tistas desde há mais de umano. A dispersom dos presos epresas políticas ao largo doterritório espanhol dificulta aconexom das pessoas detidascom o seu ámbito familiar esocial, que há de fazer enor-mes esforços económicos efísicos (as viagens realizam-senormalmente à noite) paraque os seus chegados nom

deixem de receber visitastodas as semanas. As marchassom umha maneira de paliaresta situaçom, “levando às pri-sons o calor humano e políti-co” de pessoas que desejamfazer a visita apesar do cansa-tivo que podem ser tantashoras de viagem. Nesta ocasiom fôrom 1700km. de ónibus em só 28 horas.Polas palavras de umha repre-sentante do organismo anti-repressivo Ceivar, organizadorda primeira marcha às prisonsem apoio de Giana Rodriguese Ugio Camanho, a viagemvoltará “a repetir-se todos os

anos que seja preciso até con-seguir a repatriaçom e a liber-dade dos detidos”. Apesar daslongas horas de deslocamen-to, “o ambiente é dos que valea pena viver”, indica-nos umdos viajantes. As pessoas,durante toda a viagem, vammui unidas por um sentimen-to de solidariedade, e “nestecontexto, a solidariedade temum valor ético, político ehumano transcendental”.Este ano deslocárom-se cin-qüenta, muitos e muitas daquais nom conheciam as pes-soas presas. Saírom daCorunha à meia-noite, recol-

hêrom gente em Compostelae Vigo e na manhá do domingo17 chegárom a Cáceres, ondese encontra Ugio Camanho,que apesar das dificuldadesconseguiu comunicar com a‘marcha’ pendurando umhabandeira galega na janela dasua cela. Chegou entom omomento de partir paraBrieva, na província de Ávila,onde se produzírom momen-tos de grande emoçom, poisGiana Rodrigues chegoumesmo a poder falar “aosberros” com as pessoas que defora faziam penetrar os seuscánticos nos muros da cadeia.

Meio cento de pessoas levou a sua solidariedade atéos cárceres espanhóis

Primeira Linha realiza o seuquarto congresso em FerrolREDACÇOM / A organizaçomcomunista Primeira Linha rea-lizou no passado dia 16 deDezembro o seu quarto con-gresso, com o slogan‘Revoluçom Galega’, na cidadede Ferrol. Neste encontro apro-vou a gestom realizada nos últi-mos anos e desenvolveu umhatese política destinada princi-palmente a negar a definiçomda Galiza como colónia espan-hola na sua análise da depen-dência nacional a partir deperspectivas histórico-políti-cas. Porém, o congresso con-cluiu que existe umha relaçom

directa entre esta dependênciae o “atraso económico e socialdo País”, de maneira que iden-tifica a independência como“umha necessidade que estepovo tem para sobreviver”.Os Estatutos fôrom modifica-dos parcialmente para “actuali-zar a estrutura partidária conso-ante as mudanças aconteci-das”, enquanto o plenário ree-legeu Carlos Morais comoSecretário Geral. O novoComité Central apresenta umperfil continuísta em relaçomao que dirigiu Primeira Linhadesde o congresso de 2002.

Aguilhoar quer recuperarmemória histórica de AntelaREDACÇOM / A associaçom limiáAguilhoar pretende dar a conhe-cer a perda que sofreu estacomarca com a desapariçom dalagoa de Antela: “Poucas pessoassabem já que umha lei aprovadaem Madrid, num mês deDezembro de há cinquentaanos, sentenciava à morte anossa Lagoa.” Quarenta e dousquilómetros quadrados faziamda Lagoa de Antela o espaçolacustre mais importante daPenínsula, acolhendo umhafauna e flora muito diversifica-da. Paragem obrigada de gansos,cisnes e patos que nunca mais

se vírom na Límia e mesmo naGaliza, servia de pastagem paramilhares de cabeça de gado, massobretudo singularizava estazona e até o País inteiro comopoucas paragens naturais. A Aguilhoar pretende instituirum acto em lembrança da queconsideram “penosa data de 27de Dezembro”. Na actualidade,após “50 anos de esquecimento,hoje a lembrança mais nítidaque podemos deter sobre aLagoa, é um canal, afogado derepresas, endireitado pola furio-sa maquinaria” de vários regimespolíticos dirigidos por Madrid.

A presa independentista Giana Gomes saúda as e os participantes na marcha com umha bandeira nacional improvisada, da sua cela no cárcere de Brieva

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 2007 07NOTÍCIAS

30.11.2006

Junta destinará 5 milhons deeuros para ajudas contra desastresdas inundaçons.

01.12.2006

Novo navio para a luita contra dacontaminaçom marítima terá abase em Corcubiom.

02.12.2006

Início da 12ª assembleia do BNGem Compostela após três anosdesde a eleiçom de Quintana.

03.12.2006

Assembleia do BNG aprova novosistema representativo por dele-gados. Beiras di que BNG renun-cia a um dos sinais de identidade.

04.12.2006

Vice-ppresidenta do Governo es-panhol reúne com empresáriosafectados polas cheias, que pedemisençons fiscais.

05.12.2006

Vice-ppresidente e presidente daJunta pedem para se fazeremesforços para chegar a um acordona reforma do Estatuto deAutonomia.

06.12.2006

Encerrada a via do Salnês durante5 meses para ser reparada.

07.12.2006

Junta destinará, em 2007, 40 mil-hons de euros para novas tecnolo-gias nos centros de ensino.

08.12.2006

Junta di que corredor do Salnêsnom poderá estar arranjado emcinco meses por substituiçom decanalizaçons defeituosas.

09.12.2006

Zonas sem luz na Galiza por culpado temporal.

10.12.2006

Plano de reformas na central tér-mica das Pontes em andamento;metade da energia é produzidacom carvom importado.

NUNO GOMES / Em 2004 osaldo comercial entre o Nortede Portugal e a Galiza foi favorá-vel à região portuguesa. Osdados disponíveis indicam que,no período entre 1994 e 2004,este foi o primeiro ano em quetal aconteceu. O crescimentodas trocas neste período entre oNorte e a Galiza foi de 391%,enquanto que no sentido inver-so o aumento foi de 276%.

Depois do Museu da LínguaPortuguesa ter sido criado emSão Paulo (Brasil), chegou a vezde Lisboa ter o seu museu dalíngua. Este terá o nome de OMar da Língua, e será instaladoaté 2008 no edifício ocupado atéagora pelo Museu de ArtePopular, em Belém. A ideia terápartido do grande sucesso obti-do até agora pelo museu de SãoPaulo (o mais visitado do país),mas o seu congénere lisboeta

não se dedicará apenas à língua.Como o seu nome indica, estemuseu fará a ligação entre a lín-gua e os Descobrimentos.

Um ano após a sua criação,entrou em funcionamento aUniminho, a primeira associaçãotransfronteiriça da PenínsulaIbérica. A sua criação parte daCIVM (ComunidadeIntermunicipal do Vale doMinho) e a Deputação de PonteVedra, e engloba municípios dasduas comunidades. Terá cincoáreas de acção principal:Emprego, Turismo, MeioAmbiente, Sociedade deInformação e Infra-estruturas eServiços. A sede é em Valença eterá disponíveis 500 milhões deeuros para investir em projectoscomuns até 2013.

A euro-rregião Norte dePortugal/Galiza criou uma pla-

taforma de cooperação que temo mar como motor de desenvol-vimento económico. Esta coo-peração incidirá na qualidade domeio marinho, nos seus recur-sos, na biotecnologia, na cons-trução naval, no sector alimen-tar e na cultura/lazer. O objecti-vo principal será candidatar aeuro-região (e ainda o centro dePortugal) a programas de apoiocomo o Programa OperacionalRegional ou o INTERREG. Oaproveitamento dos fundos doINTERREG levou também asduas regiões a unirem-se nocombate aos incêndios. 5 milhõ-es de euros serão distribuídos nacompra de novas viaturas decombate aos incêndios e naconstrução/ampliação de infra-estruturas de apoio aos bombei-ros (apenas na Galiza), assimcomo em acções conjuntas. Aprimeira realizou-se no dia 9 deDezembro com um simulacro

na fronteira de Chaves.

A conclusão do troço entre oPorto e Valença (da nova liga-ção ferroviária Lisboa/Corunha)estará terminado em 2013. Otroço será em VelocidadeElevada (até 250 km/h), e o trá-fego será misto (passageiros emercadorias). A primeira fase,até 2013, consistirá na conver-são da bitola da linha entrePorto e Braga (ibérica) para aeuropeia (e obras de valorizaçãodo troço Contumil-Ermesinde ena Trofa) e a construção de umanova linha entre Braga eValença, em bitola europeia. Édeixada para outra fase a cons-trução de uma nova linha entreo Porto e Braga, que passaria noaeroporto Francisco Sá Carneiro,que fica pendente da evoluçãoda procura. O custo da primeirafase será de mil milhões deeuros.

NOVAS DE ALÉM-MINHO

Os dous detidos dias depois de serem libertados em Compostela

Dous jovens sofrem torturas depois de se manifestaremcontra a política israelita e a visita de Shlomo Ben-AmiREDACÇOM / Dous estudantescompostelanos fôrom detidosentre agressons e levados àesquadra policial no passado dia21 de Novembro, onde perma-necêrom catorze horas e sofrê-rom torturas. O testemunho dosjovens é esclarecedor, comotambém som as marcas deixa-das polas Forças de Segurançado Estado no corpo de um dosdetidos. Apesar disso, o mutis-mo nos meios de comunicaçomconvencionais foi absoluto enumha conferência de imprensaoferecida polo organismo anti-repressivo Ceivar, seis diasdepois do acontecido, só seapresentárom meios ligados aredes informativas alternativas.

Para Ceivar nom é compreensí-vel que a investigaçom dos fac-tos nom avançasse, quando foireclamada por numerosos colec-tivos políticos e sociais e até foipresenciada por diversos cargospolíticos que se encontravam noacto do ex-ministro israelita,como Méndez Ro-meu, CamiloNogueira ou Ma-nuelAmeijeiras. Deste último, dele-gado do Governo espanhol naGaliza, e de Obdulia Taboadela,subdelegada do anterior naCorunha, pedírom a destitui-çom imediata por “claros co-res-ponsáveis” da actuaçom policial.

Impunidade policial“O único que se fijo foi berrar,

em nenhum momento se inte-rrompeu o tránsito, nem seimpediu a entrada à sala deconferências em que se ia reali-zar o acto”. Para A.L., um dosjovens detidos acusados dedesobediência e injúrias quenunca se produzírom, a carga“começou sem mais”, como nosasseguram outros presentes naconcentraçom, que assinalamque os dous jovens fôrom con-duzidos às carrinhas policiaisfazendo uso de umha agressivi-dade desproporcionada,mesmo punhadas nos genitais.Em seguida começou o medoque os polícias alimentáromcom o conhecido jogo do ‘bome do mau’: “Levárom-nos para

um parque de estacionamentoque nom tinha cámaras e ondefomos malhados por três polí-cias, entre eles os dous queconduziam o carro. O ‘políciabom’ começou a pedir ao colegapara se acalmar, mas este nomatendia e voltava a dar outracacetada.” Depois, noutra sala,as provocaçons dos políciasincluíam golpes na cabeçadados com umha mao enluvadae ameaças do tipo “vou-chemeter o corno polo cu”. Oresultado, por enquanto, comode costume: os agredidosserám criminalizados e pode-rám ser condenados enquantoos polícias continuam a gozarde impunidade.

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 200708 INTERNACIONAL

INTERNACIONAL

Pinochetismo continua no Chileapesar da morte do ex-ditador

O trabalho sujo dosexércitos privados

O primeiro que fijo Pinochet, para-lelamente ao assassínio, a tortura eo exílio de muitas pessoas, foi pas-sar todas as empresas públicas parao sector privado, para novos e vel-hos grupos de capitalistas que pas-sárom a ser multimilionários.Pinochet foi a vanguarda dosactuais privatizadores, para o qualrecebeu todo o apoio do BancoMundial. Recebeu muitos emprés-timos cuja contrapartida era o quechamam as leis de flexibilidadelaboral, despossuindo de todos osdireitos os operários e operárias econcentrando o poder no grandecapital.Depois impujo um plano de auste-ridade para os trabalhadores e astrabalhadoras, entrementes punhaincentivos ao grande capital. Nessaépoca, todas as medidas tinhamque passar pola ditadura. O sindi-

calismo classista e o movimentocamponês continuavam fortes, epara implementar o que os parla-mentares fam agora com liberda-de e com a cumplicidade dos sindi-catos e dos lideres popularescorruptos, nessa época, posterior aAllende, era preciso impô-lo com aforça da repressom. Agora, as antigas práticas económi-cas e sociais de Pinochet som idên-ticas às que estám a aprovar osgovernos civis, e a chamadaVerdade e Reconciliaçom é sóumha farsa para os militares daremsimplesmente testemunho dasmatanças, para que depois sejatudo perdoado.Os líderes dos partidos que fôrompara o exílio a correr, abandonandoas bases populares, voltam depoisde castigados por Pinochet, pac-tuando com ele e aceitando a sua

Constituiçom; a liçom que apren-dêrom do golpe é que ‘há que aco-modar-se à burguesia porquesenom vam castigar-nos e tirar-nosos nossos assentos no Parlamento,na Presidência e nos Ministérios’.Entom Pinochet fica ameaçante namemória de todos os parlamenta-res que se autodefinem progressis-tas e esquerdistas. Nesse sentido,todos os partidos que seguem estalinha som cúmplices de Pinochet.As Forças Armadas do Chile, gerí-rom-se sós e a capacidade doExecutivo para as submeter à suavontade é praticamente nula.Aliás, as FFAA tenhem um grandepoder sobre o Executivo e demaispoderes do Estado: é o poder deveto (e acçom violenta, se o esti-marem necessário) que lhes dá omonopólio único e exclusivo dasarmas.

REDACÇOM / Os mercenáriosprivados contratados pologoverno dos EUA que operamno Iraque som uns 100.000, quesomado a um número indeter-minado de subcontratados dáum total que se achega ao daforça militar estado-unidenseno Iraque. Estes contratadosdesempenham tarefas antesreservadas aos soldados: cons-truçons de bases militares, pro-visom de serviços logísticos aoexército, ‘fornecimento desegurança’ e ‘interrogatório deprisioneiros’. No Iraque e noAfeganistám treinam as forçasarmadas locais e participam emacçons de combate. Os merce-nários, estado-unidenses e deoutras nacionalidades, somrecrutados por companhias‘provedoras de segurança’, cujascasas matrizes se acham, sobre-tudo, nos EUA e na GramBretanha. Muitos provenhemde forças especiais e serviçossecretos, que deixam para gan-harem mais: um comando deumha companhia privada podeganhar mais de 300.000 eurospor ano, cinco vezes o queganha um comando do SAS bri-tánico.

Estas empresas, como aDynCorp ou a Blackwater, for-mam especialistas da guerra eda repressom. No campo deoperaçons, eles tenhem licençapara matar: um documento docomando dos EUA, autoriza ascompanhias militares privadasno Iraque para usarem ‘força

letal’ nom só para a autodefesa,como também para ‘defender apropriedade’, e também para‘deter e confiscar civis’. Desde oano 2003 fôrom justiçados noIraque 650 destes mercenárioscontratados. Mas seguramenteo número é mais alto, dado quea maior parte das mortes nomsom registadas.

Os seus clientes costumamser empresas multinacionais, oPentágono, o Departamento deEstado e mesmo a CIA e o FBI,e operam por todo o mundo.

A guerra do Iraque é desen-volvida sobre dous planos: um, àluz do dia, com bombardeamen-tos e operaçons em terra efec-tuados polas forças estado-uni-denses e aliadas; outro, secreto,com operaçons levadas a cabonom só polas forças especiais,como também polo exército nasombra dos mercenários. Esteúltimo é sem dúvida usado noIraque para desenvolver umhaestratégia favorável aos interes-ses estado-unidenses: a divisomdo país em três partes (xiita,curda e sunita) ou até em maispartes ainda. Tal estratégia, jáefectuada nos Balcáns, é, cadavez mais, vista por Washingtoncomo única alternativa para queos EUA, mediante acordos comos chefes locais, podam contro-lar a área e em particular os seusrecursos petrolíferos. O modomais eficaz para dividir o Iraqueé alimentar o choque entre asfacçons internas e levar o país aumha guerra civil.

REDACÇOM /Em Fevereiro de2003 a justiça espanhola, atra-vés da sua controversaAudiência Nacional, decidiuencerrar o diário Egunkaria,único redigido completamenteem basco, e deter sete dos seustrabalhadores e colaboradoresacusados de associaçom ilícitasubordinada à ETA. Vários dosdetidos denunciaram ser víti-mas de torturas durante a sua

incomunicaçom. Tentava-seassim vincular o diário com ogrupo armado, argumentando,entre outras razons, que osmembros da ETA estavamentre os seus leitores maisfiéis. A perseguiçom judicial jáestava em andamento haviatempo, principalmente por terdecidido o jornal publicarentrevistas com membros daETA, vetadas no resto da

imprensa. Na altura, as reac-çons de indignaçom provoca-das polo encerramento fôrommuito intensas no seio do povobasco, perante a desapariçompor ordem do tribunal deexcepçom espanhol de ummeio de importáncia funda-mental no terreno cultural,muito aplaudido polo seu con-tributo para a recuperaçom dalíngua basca. Este processo

também foi denunciado pormuitas associaçons profissio-nais e cívicas, que o considerá-rom como um ataque à liberda-de de expressom e ao direito àinformaçom.Agora, quase quatro anosdepois, o fiscal conclui quedurante a trajectória deEuskaldunon Egunkaria, quese prolongou por dez anos,“nom se encontra nem umha

só notícia, editorial ou artigo”que denote que os seus res-ponsáveis participárom de“umha estratégia político-social que tentasse aglutinarpopulaçom em torno da ETA”.Também nom se conseguiudescrever “umha linha edito-rial que verifique” queEgunkaria foi um artificio legalpara o cumprimento dos objec-tivos da ETA.

Quando explode umha bomba nummercado do Iraque, nom estádescartado que seja a mao de algumobscuro mercenário contratado

DUARTE FERRIN / O pinochetismo som asprivatizaçons, a venda de empresas públicas, oreverso da reforma agrária, a concentraçom dariqueza... e tudo continua igual, com a mesma

Constituiçom, as mesmas leis laborais, o mesmosistema judicial, e com certeza as mesmas forçasarmadas: o pinochetismo sem Pinochet continuaexactamente igual.

Egunkaria poderá ganhar, ainda que demasiado tarde

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 2007 09OPINIOM

Pedírom-nos que désse-mos a nossa opiniomsobre o Trem de Alta

Velocidade (TAV) e nomencontramos umha frase mel-hor. Um destino funesto é oque nos espera quando os ricose poderosos exercerem todo oseu poder e implantarem o TAVnas entranhas da terra. Nom seise vos lembrades do anúnciocontra a droga em que apareciaum verme metendo-se numnariz, pois isso mesmo é o queestám a fazer agora connosco.

Depois deste começo poético-depressivo vou explicar a minhaopiniom quanto a este mons-truoso atentado contra a terra,que pode que seja já o definitivo.

Começárom por abrir as pis-tas da parcelária por toda aparte, continuárom com as 'viasrápidas', que passárom de viasrápidas a cemitérios, depoisfôrom os portos desportivos eurbanizaçons ao pé das praias, eagora para acabar com tudo eque morra a Galiza rural em quemuitos e muitas de nós fomoscriadas, inçam-nos de auto-estradas, urbanizaçons em todoo litoral, campos de golfe, e omais temível e despiedadoplano urdido polo poder, o TAV.

Até agora tivemos um tremdo século XIX, e ninguém pare-cia preocupado mas agora derepente querem-nos venderum trem do século XXII e istotem, para eles, a sua razom deser. Desde que acabou o mono-pólio da Ibéria, os preços dosbilhetes de aviom começároma cair, produzindo um grandeaumento de passageiros. Este

facto provoca que as classespoderosas nom se encontremcómodas a viajar com a chusma.Este aumento da chusma (pas-sageiros) é o culpado dos atra-sos nos aeroportos e até sepodem meter terroristas nosseus avions. Isto tudo fai que setenha de inventar outro meiode transporte o suficientemen-te rápido e cómodo para pode-rem viajar eles sós à vontade,sem se misturarem com a chus-ma, e nom se lhes ocorreu mel-hor ideia que montar um TAVconectando toda a Europa.Com isto matam vários pássa-ros de um tiro, começam isolan-do as povoaçons rurais, obrigan-do-as a emigrar, para assim con-centrarem todo o poder econó-mico nas cidades, e ter cartabranca para poderem exploraros recursos do rural sem oposi-çom de nenhum tipo e a preçode saldo.

O TAV é o último elo da

nossa cadeia, a cadeia em quenos fôrom enleando desde quecomeçárom com o seu plano,sim, o 'Plan Galicia'. Este planonom foi para nos compensarempola poluiçom do Prestige,nom, foi para poderem apertar-nos um pouco mais e ainda porcima dizer obrigado.Embrulhárom-no com papel depresente e nós dizemos 'por fimse lembram de nós', até Adega,supostos e supostas ambienta-listas e grupo satélite do BlocoNacionalista Galego, se vendeuao poder aceitando as obrasfaraónicas do TAV, e eu pergun-to-me: como um grupo supos-tamente ambientalista podeaceitar umha obra em quehaverá centos de túneis (commilhares de explosons) e cen-tos de viadutos (e milhares depilares), milhons de toneladasde escombros, centos decimenteiras, grandes movimen-tos de terras, etc.? Como pode

alguém minimamente coerentecom as suas ideias aceitar umtrem que nos vai levar, devidoao grande consumo de energiaque precisa, à era nuclear?

Pode parecer algo exageradoo da era nuclear, mas agora vo-loexplico. Segundo a Adega, umTrem de Alta Velocidade (umTAV é um comboio que podealcançar os 350 km/h) necessitada electricidade que consomeumha vila de 50.000 habitantes;por isso eles querem um demédia velocidade (250 km/h)que pode consumir o de umhavila de 35.000 habitantes,quase nada (para eles). A istohá que acrescentar todo o siste-ma de ventilaçom dos centosde túneis, milhares se falamosde toda a Europa. Ademais damacro-estaçom subterráneacom centro comercial que que-rem os empresários ourensa-nos. Também temos que somara derradeira migraçom do ruralpara a cidade, que tambémimplicará um aumento de con-sumo de energia, mais ilumina-çom pública, mais carros, maisconsumo em geral. Todo esteconsumo nom pode ser assumi-do por todas as barragens,moinhos de vento, nem ener-gias rentáveis, desculpa, reno-váveis, por isso nom fica outraalternativa para além da energianuclear. Nom somos científi-cos, mas somando duas maisduas chegamos a esta conclu-som. Se cada vez fam mais 'par-ques' eólicos, e mais barragens,e mais energias rentáveis (des-culpai o engano mais umha vez:renováveis) e ainda non come-

çou o grande consumo que vailevar o TAV, isso quer dizer quefai falta mais energia, e a ener-gia mais rentável, agora sim,para o poder é a nuclear. E senom vos perdestes na minhaexplicaçom podemos fazer aseguinte pergunta: se os supos-tos ambientalistas da Adegaestám a favor do trem de médiavelocidade, também estám afavor da energia nuclear? Nomsei, mas os galegos e galegassempre somos os primeiros nospiores rankings, e seriam os pri-meiros ambientalistas a esta-rem a favor da energia nuclearno mundo. Espero que nom,que se posicionem contra estamonstruosidade e sejam mini-mamente coerentes com assuas ideias, ainda que tenhamque enfrentar o poder, ondeagora está o seu partido.

Por último, esperamos quenom se torne realidade a frasecom que comecei este escrito, epodamos mudar este destinofunesto que agora mesmo nosestá a espreitar, e isso só opodemos fazer nós, luitandocom todas as nossas forças con-tra esta nova imposiçom dopoder. Quando esta grande obraestiver acabada já nom teremosnada que fazer, simplesmentemeter-nos no nosso apartamen-to-nicho nas urbanizaçons peri-féricas de qualquer cidade epôr-nos todo o fim-de-semana aver vídeos de tempos melhoresonde ainda existiam grandespaisagens naturais.

Marco Antonio Revisoré membro da Assembleia Contra o TAV

Aí vem o trem... Ó! Destino funesto!MARCO ANTÓNIO REVISOR ACELERADO

Até agora tivemos um trem do século XIX, e ninguém parecia preocupado

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 200710 A FUNDO

HILDA CARVALHO / Os trabalhos deconstruçom das infra-estruturasnecessárias para tornar possível otrem de grande velocidade conti-nuam o seu curso, principalmentenos troços do Eixo Atlántico e naligaçom entre Compostela eOurense. As proclamas doMinistério do Fomento falam deligar Vigo e Corunha em 50 minu-tos e situar Madrid a três horas detrem do nosso País. Noutro degraude prioridades situa-se a ligaçomcantábrica, ainda pendente deestudo, e a ligaçom Vigo-Porto,considerada estratégica polaUniom Europeia que financiará aconstruçom. O principal troço novoserá o que ligue Ourense à localida-de sob administraçom samorana deLuviám, num percurso de elevadoimpacto que abrirá caminho à inte-graçom da rede ferroviária com asvias procedentes da capital doEstado. Ourense virá a ser a cidadede referência para o novo trem, comnovas saídas para Vigo, Compostelae Lugo, o que está a originar inten-sos debates entre a patronal e osagentes políticos movidos por inte-resses divergentes.

O que está destinado a ser o pro-jecto de construçom civil maisostentoso da península, ligará asprincipais cidades e capitais dei-xando à margem as pequenas loca-lidades que atravessa, aquelas quesofrerám o seu impacto e verámpassar por diante um comboiofugaz que nom oferecerá paragenspara os núcleos de povoaçommenos desenvolvidos economica-mente. A desatençom destas locali-dades é umha das principais dife-renças a respeito do trem conven-cional, até hoje o meio de comuni-caçom motorizado mais ecológico eum exemplo de articulaçom poloserviço prestado às localidades queatravessa. Isso sim, numha redeferroviária desatendida, insuficien-te e arcaica, que os dirigentes polí-ticos deixarám definhar em parale-lo à construçom das novas infra-estruturas. É pois que nom se con-sidera a demandada conexom entreCompostela e Lugo nem o fortale-cimento da vertebraçom interna do

País, mas a substituiçom das velhaslinhas pola linha de grande veloci-dade, que desatenderá a maiorparte do território, obrigando a des-locarem-se para as cidades e paga-rem muito mais polas viagens àspessoas que queiram viajar nesteveículo de comunicaçom que pre-tende concorrer com o aviom.

Os poderes políticos e os gruposempresariais continuam a defen-der os alegados benefícios que aca-rretará o seu desenvolvimento,

especialmente aos vizinhos e vizin-has das zonas afectadas pola cons-truçom das linhas. Como exemplo,a localidade de Vedra, onde o ferro-carril passará sobre umha mina dequartzo, destruindo numerosospostos de trabalho ou bem terá quelevar por diante vivendas. Nestalocalidade, os defensores do pro-jecto indicam que este favorecerá odesenvolvimento da área por bene-ficiar o abastecimento e a projec-çom da sua área industrial. No

entanto, a linha Ourense-Santiago,que atravessa Vedra, assim como osseus entroncamentos para aMadrid e Ponte Vedra estarám des-tinadas só ao tránsito de pessoas, oque resta consistência às promes-sas mencionadas. A decisom derestringir o transporte de merca-dorias nestas vias provocará conse-quências curiosas também emcidades como Vigo, cujas mercado-rias deverám dirigir-se para aCorunha ou para o Porto paradepois chegarem à meseta por viasferroviárias de grande velocidade.

Duvidosa rendibilidadeEntre as poucas críticas que atin-gem a palestra mediática encon-tra-se a dificuldade para susten-tar economicamente um projectode tal envergadura, para o que aUniom Europeia prevê investir62.000 milhons até o ano 2010. Asviagens encarecerám-se, mudan-do na prática a modalidade deusuário do caminho de ferro, poiso novo comboio está destinado acomunicar a grande velocidadedirigentes e mercadorias entrecentros económicos. O ingentegasto da construçom, somado às

A FUNDO

APARENTE CONSENSO SOCIAL E MEDIÁTICO OCULTA O ELEVADO IMPACTO SÓCIO-AMBIENTAL QUE HÁ PROVOCAR

O trem de grande velocidade e as autovias previstas apresentam-sse como a soluçom para"tirar a Galiza do isolamento", num contexto de crescimento dos grandes capitais que pre-cisam de movimentos rápidos para as suas mercadorias e dirigentes. Em ausência de deba-te social sobre a sua necessidade, as obras do comboio continuam em diferentes troços o pro-jecto que deveria culminar em 2020 e que basicamente fortalecerá as principais vias decomunicaçom que fôrom potenciadas nos últimos vinte anos, em particular, o eixo Vigo-

Corunha e a ligaçom à meseta. O discurso mediático dominante, que reduz a crítica a aspec-tos relacionados com as velocidades máximas atingíveis ou à pertinência de tais ou quaisvariantes esconde um projecto de enormes repercussons que incomunicará ferroviariamen-te as pequenas localidades, causará danos ambientais e sociais irreversíveis e acabará porliquidar o conceito de comboio como veículo de comunicaçom acessível e integrador. Os ver-dadeiros beneficiários: os centros de poder económico e as classes dominantes.

Num país de montanhas como o nosso, os efeitos acentuam-se tornando necessário construir numerosos túneise viadutos, realizar grandes movimentos de terra e dotar amplos espaços, por exemplo, para depositar entulhos

Avançam os projectos de grande velocidade quedestruirám o modelo popular de transporte ferroviário

Entre as poucascríticas que atingema palestra mediáticaencontra-se adificuldade parasustentar um projectode tal envergadura,para o que a UniomEuropeia prevêinvestir 62.000milhons até o ano2010. As viagensencarecerám-se,mudando na prática amodalidade de usuáriodo caminho de ferro

O PSOE lançou o Plano Estratégico de Infra-estruturas e Transporte (PEIT) em2005, no que anunciava a construçom do "trem de altas prestaçons"

O que estádestinado a ser o

projecto deconstruçom civil

mais ostentoso dapenínsula, ligará as

principais cidades ecapitais deixando

à margem aspequenas localidades

que atravessa,aquelas que

sofrerám o seuimpacto e verámpassar por diante

um comboio fugazque nom oferecerá

paragens para osnúcleos menosdesenvolvidos

economicamente

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despesas de manutençom e inves-timentos estruturais dispara ascifras económicas.

Na França, onde a alta velocida-de está muito mais desenvolvida,estám a ser eliminados cada anoentre 4000 e 5000 empregos nosector, em paralelo ao debatesobre o possível fechamento de6000 quilómetros de linhas porcausa da sua escassa rendibilida-de. A alternativa ao fechamentoestá na privatizaçom, um dos des-tinos prováveis para as linhas quenom cumprirem os critérios delucro que delimitará no Estadoespanhol o Administrador deInfra-estruturas Ferroviárias(ADIF), um organismo criadopolo Ministério do Fomento paradirigir este tipo de infra-estrutu-ras com critérios empresariais.

Ao nível comunitário europeu,os macro-planos ferroviários pla-nificam reduzir os 155.000 quiló-metros de vias para os deixar em36.000, encenando na prática apriorizaçom das comunicaçonsinterurbanas por cima dos objecti-vos vertebradores e as consequên-cias desta escolha.

Impacto sócio-eeconómicoPara além de mudar de forma

radical a ideia de comboio, a redede alta velocidade incidirá na con-figuraçom das zonas onde pare,fortalecendo os núcleos metropo-litanos mais activos e marcando asáreas de desenvolvimento embase às infra-estruturas, segundodirectrizes emanadas de Bruxelase Madrid. As grandes áreas urba-nas continuarám a crescer, engo-lindo progressivamente os concel-hos circunvizinhos e aumentandoas distâncias a respeito das zonasmenos favorecidas polos investi-mentos. Os lugares afectadospolas vias que nom dispugeremde paragem nom auferirám maisbenefício que as consequênciasdo seu impacto. A rede ferroviáriainterporá barreiras entre áreasdantes comunicadas e impediráplanificar de forma endógena odesenvolvimento das zonas deimpacto, que terám que se adap-tar por necessidade às grandeslinhas infra-estruturais. Prevê-se,pois, a intensificaçom do esvazia-mento rural e um maior abando-no do sector agro-pecuário,numha Europa que caminha àsalancadas em direcçom ao "pro-gresso entendido como desenvol-vimento tecnológico desregrado",em palavras do investigador e

escritor Miguel Amorós, quemassinala a justificaçom da neces-sidade deste comboio na "con-gestom do tráfego aéreo devidoao incessante deslocamento daselites e ao auge desmesurado daindústria turística". Nesta linha,entende que a alta velocidade"nom tem em vista a melhora dacondiçom humana por meio datécnica, mas a adaptaçom dahumanidade à evoluçom tecnológi-ca", o que acarreta o prejuízo damaioria para beneficiar uns poucos.

E entre os tais beneficiados,muitos dos compradores das habi-taçons construídas e projectadasno litoral, cujos promotores jáanunciam na imprensa espanholaa futura ligaçom por alta velocida-de. Especialistas vinculados àsociologia referem que este tipode comunicaçons favorece a ten-dência a que moradores oriundosdo interior peninsular ocupem acosta galega: compram longe maspor esta via podem ter acesso rápi-do à sua casa de lazer.

Agressons ambientaisOs ataques ao meio natural seráminevitáveis se se quer dar viabili-dade a umha rede ferroviária velozque precisa de grandes rectas ou,no seu defeito, curvas mui aber-tas, seguindo um traçado que con-tará com dez metros de largura,umha cifra que em muitos troçosse multiplicará para dar cabimen-to às duas vias e à área de seguran-ça necessária até superar os cemmetros. Num país de montanhascomo o nosso, os efeitos acen-tuam-se tornando necessárioconstruir numerosos túneis e via-dutos, realizar grandes movimen-tos de terra e dotar amplos espa-ços, por exemplo, para depositarentulhos. Entrementres, numero-sos ecossistemas ficarám altamen-te danificados, tais como carval-heiras, vegetaçons ribeirinhas,lagoas, rios e ecossistemas do sub-solo. E umha vez construído, inci-dirá no desenvolvimento da faunae gerará por onde decorrer perigo-sos campos magnéticos que pode-

rám repercutir no funcionamentocelular humano e no sistema hor-monal das pessoas que morempróximas da linha férrea.

Recentemente, a vizinhança dediferentes paróquias do Irijo,entre o troço de Lalim e doCarvalhinho, padeceu de maneiradirecta as consequências de umhaobra destas dimensons com arotura de canalizaçons de água, ainvasom de parcelas privadas semexpropriar para obrar noutras, osdanos contínuos no asfalto e nospasseios pola maquinaria ou ainterrupçom dos cursos aquáticospara permitir a construçom, o quederivou em alagamentos de lamanas estradas de acesso à área.Várias queixas chegárom já à viajudiciária face às ameaças daUniom Temporária de Empresas(UTE) constituída por Sacyr eCavosa, adjudicatária de 13,2 qui-lómetros de vias no traçado deOurense a Compostela.

Vigo aguarda a construçom dedous grandes túneis, um para asaída sul que o ligará à cidade doPorto e outro maior, o dasMaceiras, para a linha norte. Esteúltimo, de seis quilómetros, pre-cisará de 47 meses de trabalhos apartir de 2007. Entre as obras demaior envergadura, em VilaGarcia está prevista a construçomde um impressionante viadutoque será para a Conselheira MariaJosé Caride o "emblema do EixoAtlántico", marcando visivelmen-te a paisagem costeira da vila aoatravessar a Ria de Arouça numviaduto de mais de quinhentosmetros de comprimento que viráa somar-se a outro de 1.275metros sobre o rio Úmia.Redondela, já atravessada porvárias pontes infra-estruturais,será outra das localidades maisafectadas. Às pontes já existen-tes, virám a acrescentar-se dousviadutos: um de 310 metros eoutro de 570, para além do anun-ciado impacto da construçom deum novo troço de autovia queatravessará o mesmo concelho tal-hando-o em duas partes.

NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 2007 11A FUNDO

Ao nível comunitário, os macro-planos ferroviários planificam reduzir os 155.000 qm. de vias para os deixar em 36.000, encenandoa priorizaçom das comunicaçons interurbanas por cima dos objectivos vertebradores e as consequências desta escolha

Para além de mudarde forma radical aideia de comboio, arede de alta velocidadeincidirá na configuraçomdas zonas onde pare,fortalecendo os núcleosmetropolitanos maisactivos e marcando asáreas de desenvolvimentoem base às infra--estruturas,segundodirectrizes emanadasde Bruxelas e Madrid.As grandes áreasurbanas continuaráma crescer, engolindoprogressivamente osconcelhos circunvizinhose aumentando asdistâncias a respeitodas zonas menosfavorecidas

A linha de grande velocidade fortalecerá as ligaçons entre os grandes núcleosurbanos, sem resolver os problemas de incomunicaçom de numerosas comarcas

A electricidade será a fonte deenergia básica que porá aandar o novo comboio, queprecisará de consumir o equi-valente a umha cidade devárias dezenas de milhares dehabitantes, ainda que o impac-to definitivo a este nível este-ja ainda por quantificar. Noentanto, o Ministério daIndústria já anunciou que teráque potenciar a subestaçomeléctrica de Louriçám paraabastecer o AVE no seu per-curso pola província de Ponte

Vedra. Ao mesmo tempo, con-sidera rever o seu planeamen-to energético quando estiverdefinida a linha que ligaráPonte Vedra a Ourense.

O elevado consumo destamodalidade de comboio, jun-tamente com os índices decrescimento exponencial dedemanda eléctrica por partedas empresas e os usuários,tornarám necessária a constru-çom de novas instalaçons paragerar energia no País, o que setraduzirá previsivelmente em

novas barragens e moinhos devento. A nível europeu, tendoem conta as dimensons domacro-projecto de alta veloci-dade, será necessário aumen-tar de maneira notória a produ-çom eléctrica, perante o quenom poucos analistas adver-tem que será necessário cons-truir centrais nucleares, as úni-cas que, conforme aos seusdados, poderiam alimentar anova Europa pós-industrialabandeirada polo comboio dagrande velocidade.

Voracidade energética

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 200712 A FUNDO

Ataques ao patrimónioAs grandes obras de infra-estrutu-ras tenhem levado por diantenumerosos restos arqueológicosnos últimos vinte anos, comoconstatámos no número 28 deNOVAS DA GALIZA em que abordá-mos a cumplicidade de Patrimóniono desleixo continuado a este res-peito. De forma semelhante, asobras do trem de grande velocida-de arrasarám com jazigos seminvestigar e também com outrosjá catalogados. É o que acontececom dous assentamentos localiza-dos em Lalim, o castro doCastrinho, na parroquia deBendoiro, e Coto do Castrelo deCostóia na parroquia de Vila Nova.O geógrafo local António Presasdenunciou junto da DirecçomGeral do Património os danos queiria ocasionar o traçado em vigor:

passaria a 65 metros do reconheci-do Castro de Bendoiro, mesmopolo lugar onde está localizadooutro de maior antiguidade, o cha-mado Castrinho, em cujo núcleose abrirá a boca de um túnel. Oorganismo dependente daConselharia da Cultura avaliounegativamente a passagem pololugar do Bendoiro, polo que aempresa adjudicatária se viu obri-gada a realizar umha escavaçomcomo possível saída para permitirmanter o túnel. Para AntónioPresas trata-se de umha "pseudo-escavaçom" em que se estám aseleccionar só "determinadosexemplares" de forma semi-meca-nizada por utilizar retro-escavado-ras, daí que estes trabalhos ofere-çam "pouca fiabilidade". O geógra-fo pom em causa o papel do

Património por consentir que arecolha de materiais seja feita por"terceiras pessoas dependentes daconstrutora e nom por equipasneutrais", polo que reclama umhaescavaçom completamentemanual para valorizar e respeitarimportáncia do jazigo e apela àCultura para que se oponha ao tra-jecto actual. Por outra parte, naparóquia de Vila Nova situa-se oCoto do Castrelo de Costóia, ondefôrom localizados vestígios queapontam a que aloja um castroainda sem inventariar. Neste lugar,que atravessará o novo caminho deferro, só fôrom realizados trabalhoselementais de reconhecimentosem escavaçom completa manual,perante a indignaçom das vozescríticas com a falta de previsom nasalvaguarda os bens patrimoniais.

Escavaçom no castro do Castrinho de Bendoiro, que vai a ser totalmente destruído polo novo comboio

EM DADOS...

TROÇOS. Cristovo-PocomacoPocomaco-UxesUxes-Brégua

Brégua-MeiramaMeirama-CerzedaCerceda-QueixasQueixas-Ordes NorteOrdes Norte-Ordes Sul

Ordes Sul-OrosoOroso-BerdiaBerdia-CompostelaCompostela-OsebeOsebe-PadromPadrom-Vila GarciaVila Garcia-PortasPortas-Portela

Portela-CerponçonsCerponçons-Ponte VedraPonte Vedra-Vila BoaVila Boa-Souto MaiorSouto Maior-RedondelaRedondela-Das MaçairasDas Maçairas-VigoVigo-Rio Minho

EMPRESA--UTE Brégua (Sacyr, ConstruccionesParaño e Cavosa Obras y Proyectos)---UTE (Copasa, Corsan-Coviam)UTE Ordes (Obrascon Huarte Lain eGuinovart Obras y Servicios Hispania SA)AZVI SANECSO Entrecanales Cubiertas-UTE Comsa S.A. e FCCUTE Osebe (FCC e Comsa)-UTE Vila Garcia (Coprosa e Sando)UTE Portas (Aldesa, Obras Subterráneas,Tapusa e Dicaminos)--------

Algumhas concessons previstasEIXO ATLÁNTICO

As grandes linhas do comboio degrande velocidade partírom deBruxelas e plasmárom-se durante apresidência italiana da Uniom com aIniciativa de Crescimento Europeuem Novembro de 2003. RomanoProdi e a comissária Loyola dePalacio, juntamente com o presi-dente do Conselho dos Transportese construtor de túneis PietroLunardi marcavam a orientaçom deum sistema de transporte ferroviárioque desse saída à ingente demandapara acelerar o movimento de mer-cadorias de maneira a nom deter aacumulaçom de capitais no espaçoeconómico europeu. Já no Estado, o

PSOE lançava a começos de 2005 oPlano Estratégico de Infra-estrutu-ras e Transporte (PEIT), que veu asubstituir no nosso País o PlanoGaliza e anunciava a construçomdas infra-estruturas ferroviáriasrequeridas para o novo "trem dealtas prestaçons" até 2020. Comeste objectivo, projectou destinar42% do quarto de bilhom de eurosque conformavam os orçamentos,dos quais 75% iria parar à constru-çom de 9000 quilómetros de linhasde grande velocidade, o que torna-ria o Estado espanhol em ponteiro anível mundial na dotaçom de linhasde grande velocidade.

O modelo ferroviário, desenhadolonge da Galiza, evita portanto ummodelo centrado nas necessidadescomunicativas do interior do País elimita-se a fortalecer eixos já comuni-cados na maior parte por grandesestradas. A ausência de crítica, con-forme especialistas consultados,nom evitará que muitos levem àsmaos à cabeça quando o projectoestiver praticamente consumado, talcomo acontece hoje com a "Cidadeda Cultura". Entretanto, a constru-çom das linhas prossegue os seus pla-nos, sem que nenhum grupo políticocom representaçom parlamentartenha manifestado a sua oposiçom.

As origens do macro-projecto

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QM.3,74,34,6

5,08,06,14,37,2

4,09,76,610,23,827,16,67,7

5,56,29,02,53,54,0930

TROÇOOurense-AmoeiroAmoeiro-MasideMaside-CarvalhinhoCarvalhinho-IrijoIrijo-Lalim (Abeledo)Lalim (Abeledo-Baxám)Lalim (Baxám-Ançó)Ançó-Silheda (Carvoeiro)Silheda (Carv.-Dornelas)Silheda (Dornelas)-VedraVedra-BoqueixomBoqueixom-Compostela

EMPRESACorsan-CoviamUTE FCC e ComsaUTE FCC e ComsaUTE Sacyr e CavosaUTE Sacyr e CavosaUTE ACS e Vias y Construcciones--UTE Teconsa e ExtracoUTE Dragados e TecsaUTE Dragados e TecsaObrascon Huarte Lain

OURENSE-COMPOSTELAQM.6,46,35,86,76,59,895,476,46,95,8

Trabalhadores da mina de Villar Mir em Vedra protestam contra o traçadode grande velocidade, que provocará a sua mais que provável clausura

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OPINIOM

NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 2007 13OPINIOM

Nenhum movimento quepersiga espaços de liber-dade e novas sociabiliza-

çons sobre bases alternativas dereproduçom social, deve resignar-se a sobreviver sob a extorsom doconjunto de imagens e representa-çons do regime político democráti-co. O risco de nos acabarmos com-portando como réplicas mais oumenos inconscientes das imagensque constroem os meios de comu-nicaçom é certo. Quem sabe, atépode ser que lá no fundo, muito nofundo, haja dentro de nós umsuposto 'radical fanatizado' que porumha série de quem sabe que tipode avatares biográficos acabou porser pasto da insatisfaçom e da des-afeiçom contra o mundo. Podemoster muitas dúvidas em torno deinfinidade de questons vitais esociais, o qual nom é nenhuma tra-gédia, pois a dúvida, costumadizer-se, é filha da imaginaçom edo movimento. Mas do que simnom duvidamos nem umha milési-ma de segundo é que o infernosocial nom somos nós. Esta cargamoral que perversamente se pre-tende transferir dia sim e dia tam-bém às pessoas e movimentossociais que pretendem viver alémdo regime de normalidade demo-crática nom nos pesa em absoluto.Hoje declaramo-nos todas e todosprófugos da injustiça e do sistemanormativo que outorga e retiralegitimidades sociais, declaramo-nos insubmissos aos tópicos e luga-res comuns que os altifalantes poli-ciais e mediáticos apregoam semnenhum pudor.

A alienaçom colectiva mais auto-destrutiva é aquela que vive a pró-pria identidade como reflexo daimagem construída pola engenha-ria social dos aparelhos mediático-repressivos. As imagens que nosdominam som o triunfo do que nomsomos e do que nos expulsa de nósmesmos. A nossa identidade, o quesomos e o que representamos, avida que queremos para os nossos,sabemo-lo nós; é um tesouro quenom podemos deixar que seja lixa-do polos repressores espanholistas.

Nom devemos submeter-nos àúnica voz de mando. Nom deve-mos resignar-nos a ser actores pas-sivos de um guiom que escrevempor nós e para nós aquelas pessoas

que estám dispostas a aniquilar-nos individualmente para acaba-rem com a contestaçom social. Porisso continuamos a falar e a nosexpressarmos abertamente, emvoz alta, sem medos e sem com-plexos, alterando a ordem das pala-vras, as imagens truncadas e ossentidos corrompidos que constro-em outros actores sociais.

A trama institucional repressivaespanhola tem sobrada experiênciaem recriar 'terroristas' e 'bandasarmadas' à sua exacta medida. Fai-no, ademais, à imagem e semelhan-ça do seu sistema jurídico e penal,porque deve garantir detençons efortes castigos para os sectoressociais dissidentes. Nesta constru-çom nunca pode faltar, como nosmelhores filmes, o chefe-ideólogo, oque pensa por todos, o vértice dapirámide..., num paralelismo com omodelo das organizaçons militares eideológicas do próprio Estado.Porque qualquer Estado deve invi-sibilizar as críticas e contestaçonssociais, deve ocultar os sujeitoscolectivos e os movimentos sociais,coando tudo através do estreitofunil do voluntarismo individualis-ta, dos bodes expiatórios. Os esfor-ços para traduzir qualquer riquezaou complexidade social incómodaem estereótipos facilmente deglutí-veis polo aparelho penal e judicial eassimilados por essa massa amorfa,maleável e normalizada que é a opi-niom pública, som realmente enco-miásticos. Nisto sempre foram mui-tíssimo mais práticos e resolutivos

que os desvarios da esquerda.Os mandos policiais acabam de

vender-nos, com a ribombánciahabitual, o pacote inteiro para onovo episódio de terrorismo naGaliza. Conhecemos o retrato-robô,retrato feito por umha maquinariaque certamente fai mal, mas queapenas é capaz de reproduzir cópiasde cópias. Já tenhem siglas 'conven-cionais' e 'homologadas', já tenhem a'rama política' e a 'rama armada' queobrigam os manuais de rigor, ten-hem a cabeça pensante e omnipre-sente que exibir, e os seus meios deinteligência já nos informam pon-tualmente das próximas acçonsbombistas projectadas. Tudo volta aestar em ordem, no seu sítio exacto,"sob controlo" (como apontou opor-tunamente Touriño). Existe todaumha linguagem sempre oportuna-mente ao serviço do Estado. Asnovas dinámicas sociais e de luitados e das independentistas, espe-cialmente aquelas mais surpreen-dentes e desagradáveis para o regi-me, som de novo visualizadas atra-vés dos desfasados (que nom querdizer inoperantes) parámetros anti-terroristas cozinhados no processo

da Transiçom, voltam a estar tradu-zidas à mesma caduca linguagempolicial dos últimos 30 anos, aos res-sessos e fossilizados dialectos jurídi-co-penais, onde devem estar devi-damente confinadas. As velhas ins-truçons som novamente consignasclaras, listas para ser metabolizadassocialmente, executadas policial-mente e vigiadas com precisommecánica pola burocracia penal.

Os antecedentes, há que situá-lostempo atrás. Durante meses, recu-sou-se a todos os incursos naOperaçom Castinheira o mais ele-mentar direito à defesa. O segredode justiça, recurso jurídico excepcio-nal, converteu-se na regra nos pro-cessos judiciais contra o indepen-dentismo. A judicializaçom de pes-soas e organizaçons nacionalistastornou-se assim num permanenteestado de excepcionalidade, ondeprima a consecuçom de objectivospenais, sociais e políticos frente àsgarantias formais e processais dasquais a própria democracia formalespanhola se orgulha. À ocultaçomsistemática e permanente dos por-menores das acusaçons e das dili-gências pesquisadoras do processo, à

confusom de ámbitos jurisdicionaiscompetentes..., que impedem quepessoas e organizaçons podam exer-cer o direito à sua defesa, devesomar-se o fabrico de implicaçonsdisparatadas e provas falsas para for-çar novas detençons. Nom acreditá-vamos antes na sua justiça e menosainda o podemos fazer agora.Perante este panorama, como é quese atrevem a exigir-nos algum tipode dever constitucional?

Porque ainda nos fica algo dedignidade e nom estamos dispos-tos a ser farrapos de usar e tirar,submetidos às suas tramas repres-sivas, aos seus tempos e às suasincertezas calculadas, dançandopermanentemente ao ritmo doseu tam-tam mortuório. Aindapodemos e devemos exercercomo galegos e galegas livres.

Hoje mais que nunca a repres-som nom deve apagar a nossa alegriae o nosso projecto social. Frente àsestratégias de guerra desenhadasnos gabinetes policiais devemosreforçar as nossas marcas mais per-duráveis e indeléveis, aquelas quese lavram nas ruas, no trabalhosocial, no fortalecimento da comu-nidade nacional..., porque, semlugar a dúvidas, elas som as que vamfazer possível umha resposta exito-sa à repressom. Nom dizemos nadanovo quando advertimos que a inti-midaçom e o medo som as armasmais poderosas que tem um Estadopara bloquear os movimentossociais. Devemos impedir que istoocorra. Algum dia haverá que come-çar a escrever umha história dosmedos (o medo é sempre investi-mento de um campo social) paraencontrarmos muitas explicaçons ànossa atribulada história como povo.

Os esforços sociais do indepen-dentismo por se desfazer do cadá-ver da política-espectáculo devemcontinuar. Devemos continuar aandar montanhas, a percorrer oscaminhos do País, a desfrutar e a lui-tar longe do consumo e do valorcapitalista, a pelejar polo que énosso, a construirmos espaçossociais interligados que constituamum novo poder social galego.Porque hoje o nosso processo cons-tituinte é este: alimentar o germesocial da futura Galiza livre. É umdesejo que é possível viver e poloque vale a pena luitar.

A repressom nom deve paralisar o nosso projecto social

NGZ publica em exclusiva um artigo de Antom Garcia Matos em que o militanteindependentista reflecte sobre a necessidade de superar os efeitos da repressomsobre os movimentos populares e a manipulaçom informativa que costuma acompan-

há-lla. Entre os objectivos do nosso jornal encontra-sse dar voz a quem os meiosde comunicaçom convencionais silenciam, com base num firme compromissopola liberdade de expressom.

Hoje mais quenunca a repressomnom deve apagar a

nossa alegria e o nossoprojecto social. Nom

dizemos nada novoquando advertimos

que a intimidaçom eo medo som as armas

mais poderosas quetem um Estado

para bloquear osmovimentos sociais

ANTOM GARCIA MATOS

Imagem de um roteiro polos Montes Aquilianos organizado pola Agrupaçom deMontanha Águas Limpas, da qual fazia parte Antom G. Matos, no centro da foto

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 200714 ANÁLISE

ANÁLISE

Com efeito, e antes de mais,quem encomenda umestudo semelhante coloca

nele os temas que considera seremde importância. O inquérito porquestionário pressupõe que existeum consenso na sociedade sobre arelevância de tais temas e, aindamais, que todas as pessoas têm amesma capacidade para produziruma resposta. Numa sociedadecomo a nossa, onde os meios para asubsistência material, a formaçãocultural e o acesso à informaçãoestão desigualmente repartidos,isto é muito supor. Por exemplo, àpergunta "como se definiria emtermos de identificação nacionalnuma escala?", é preciso que oindivíduo inquirido esteja em con-tacto com a realidade da formula-ção. Uma pessoa, na Galiza, podeperfeitamente julgar que se trataduma questão alheia ao seu quoti-diano. Esta alheação pode provo-car um desinteresse e uma inibiçãona busca de fundamentos parauma possível opinião sobre oassunto. Colocado pela primeiravez na disjuntiva da escolha pelasituação fictícia do inquérito, apessoa inquirida improvisará umaresposta que será provavelmenteuma solução de 'não-compromisso'com valores extremos ("tão galegocomo espanhol", 59'8%); o qual éperfeito para o tratamento estatís-tico dos dados, já que a distribuiçãodos casos se ajustaria à 'curva nor-mal' (amplo número de casos comvalores centrais e poucos extre-mos). Por outro lado, considerar-mos que quase 60% da amostra-gem não tem uma opinião ao res-peito, talvez não seja totalmentecerto. A 'sociologia ingénua'(senso comum) pode conceber,sem qualquer problema, os ter-mos 'galego' e 'espanhol' como

complementares. É na vivênciadas crises que os indivíduos sevêem forçados a escolher, e não naescolha proposta pela situaçãoimaginária que cria o pesquisador.

Além das críticas relativas àssuposições em que se apoia ametodologia quantitativa no trata-mento de dados obtidos de respos-tas subjectivas (representativida-de da amostragem, escolha devariáveis, extracção de factores,etc.), em bastantes ocasiões sus-peitas de artificialidade; há aindauma outra objecção mais importan-te de ordem gnosiológica. O 'estu-do de opinião' realiza-se paraobservar o estado de algo cuja exis-tência é mais do que discutível,pelo menos nos termos que a defi-

nem: a 'opinião pública'. Estefunesto construto enxerga a socie-dade como se fosse um conjuntode cidadãos com uma opinião indi-vidual fundada que escolhem livre-mente entre uma série de perspec-tivas que mantêm entre si umaconcorrência discursiva perfeita.Neste sentido, a opinião públicaseria a soma das diferentes opi-niões individuais, constituindouma vontade colectiva mais oumenos homogénea: o famoso 'inte-resse geral' que os políticos espan-hóis esgrimem para justificarem assuas gestões. Acho que não é preci-so rebater estes argumentos: ageneralização é abusiva, a forma-ção duma opinião é um processomuito mais complexo e a imagem

da escolha entre várias possibilida-des é simplesmente uma impostu-ra. Além disso, esta concepção dosocial entra em conflito com osprincípios da Sociologia: a socieda-de não é o somatório dos seusmembros, quer dizer, as proprieda-des da sociedade galega (para ocaso) não são directamente derivá-veis dos galegos e galegas, mas hápropriedades que 'emergem' dasrelações que estes mantêm entresi. Esta sentença é partilhada porquase a totalidade das correntesteóricas da disciplina. Como exem-

plo assaz conhecido: a afirmaçãomarxista da sociedade como pro-duto da 'acção recíproca' das pesso-as determinada ou condicionadapelas 'relações' de produção.

Para não abusar da paciência dosleitores e leitoras do NOVAS DA

GALIZA, não desenvolvo algum dospontos que sugiro na crítica.Entendo que tal como foram esbo-çados bastam para impugnar qual-quer resultado de qualquer inquéri-to baseado na percepção subjectivada amostragem. O emprego destemétodo apenas depende de questõ-es políticas, para-científicas e eco-nómicas. As primeiras dizem respei-to à legitimação democrática depolíticas previamente decididas.Para as elites, a velho recurso aDeus como fonte de legitimidade,tornou-se hoje apelo à 'opiniãopública'. As segundas respondem aum complexo de inferioridade dasciências humanas a respeito das físi-cas ou exactas. O questionárioexprime os seus resultados numeri-camente e brinda a ilusão dumacientificidade não especulativa. Porúltimo, é um processo sistemático,rotineiro, temporário e pouco custo-so em relação a outra metodologiade carácter qualitativo. A precarie-dade é a norma nos sondadores.

O independentismo deve reveralguns elementos pertencentes aoestudo da realidade social demaneira a estar em melhores con-dições para alcançar os objectivosmarcados. É o caso do questioná-rio, que mascara as relações deforça existentes na Galiza trás umasérie de mitos democráticos eingénuos. Ao fim e ao cabo, o factode pertencermos ao Estado espan-hol não depende de a populaçãogalega concordar maioritariamentecom tal pertença. Basta concorda-rem as suas elites.

Tão galegos como espanhóis

É um processo sistemático, rotineiro, temporário e pouco custoso em relação aoutra metodologia qualitativa. A precariedade é norma nos sondadores

ÂNGELO PINEDA / Por um inquérito encomendado pela Junta publicado em 18 deNovembro, ficámos a saber que 21% da população galega (e não duma amostragem) se defi-ne como sendo mais galega do que espanhola e que 6'4% se identifica só como galega (comum 5'8% e 5'4% respectivamente para os casos contrários). Segundo uma organização polí-tica (tanto tem qual) é preciso relativizar os resultados do inquérito em função dos interes-ses de quem encomendou o estudo. Donde que se infere que, muito provavelmente, uma

investigação objectiva e sem qualquer viés, ofereceria uns resultados ainda mais favoráveisàs posições em favor da independência. Mas a distorção talvez não provenha apenas do pro-cedimento e do desenho das conclusões, mas da própria metodologia. Essa é a posição deuma parte importante da Sociologia, que entende o questionário como uma 'superstiçãocientífica'. É por isso que julgo que o independentismo não deve cair na armadilha intelec-tual de atribuir valor absoluto a este método de pesquisa.

REFLEXOM A RESPEITO DA DUVIDOSA FIABILIDADE DOS INQUÉRITOS SOBRE IDENTIDADE NACIONAL

O independentismodeve rever elementosdo estudo da realidadesocial para alcançaros objectivos marca-dos. É o caso doquestionário, quemascara as relaçõesde força existentesna Galiza trás umasérie de mitosdemocráticos eingénuos. Ao fim eao cabo, o facto depertencermos aoEstado espanholnão depende de apopulação galegaconcordar com talpertença. Bastaconcordarem as elites

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 2007 15REPORTAGEM

REPORTAGEM

Afigura de Xosé ManuelBeiras parecia soterrada sobas pesadas lajes que a UPG e

Quintana lhe tinham colocado naúltima assembleia e poucos acre-ditavam na sua ressurreiçom. Maso veterano dirigente soubo atrair,como apoio à sua candidatura, osmilitantes descontentes com aderiva do BNG, principalmente nasua acçom de governo.Desconfiados com as mudançasque o quintanismo introduziu nomodelo organizativo, temerosos deque se afiançasse umha forma deorganizaçom em que as bases con-tassem cada vez menos, os militan-tes necessitavam de um cabo segu-ro a que agarrar-se neste tempo demar revolto para a nau nacionalista;e nada melhor que o cabo da expe-riência e da história. Talvez sejacerto, como afirmavam no sectoroficial da frente, que Beiras repre-senta o passado, mas os militantesdeixárom claro que se tratava emtodo caso do 'melhor passado': Ogrande timoneiro da etapa anteriorde maior expansom nacionalista emelhores resultados eleitorais.Tratava-se em definitivo de algotam simples como investir emvalores seguros, nas essências doprojecto inicial. A predisposiçomao efeito Beiras provavelmenteexistia perante o panorama caóticode várias candidaturas enfrentadas.O seu magnífico discurso naassembleia fijo o resto.

Alternativa, aoposiçomperseveranteEsta confiança da militáncia críticana candidatura de Beiras prejudi-cou a Alternativa, que confiava emque, desta vez sim, pudesse agluti-nar ao seu redor umha massa consi-derável de apoios contrários à pre-tensom de acabar com o assemble-arismo, que depois da primeira ses-som estava já calculada num nadadesprezível 40%. Eram os 'alterna-tivos e alternativas' as que maisespaço mediático ocuparam nassemanas prévias à assembleia comoforça realmente opositora forte-mente organizada e isso pudoresultar-lhe contraproducente aoser talvez interpretado, alimentadoconvenientemente polas mensa-gens que partiam do sector oficial,como elemento desestabilizador.

Em todo o caso apresentavam-seoptimistas e intimamente confian-tes em que após fracassada a candi-datura conjunta com os 'irmandin-hos', fosse a sua a lista referente daoposiçom: a pretensom de Beiras dese apresentar no último momentocom umha candidatura própriapodia significar pouco menos que oseu suicídio político. E certamentenom lhe faltavam razons de pesopara acreditar em algo semelhante,visto também o abandono, comumha portada, dos dirigentes irman-dinhos encarregados da fracassadanegociaçom. Sempre ficará a dúvidade se umha candidatura unitáriaAlternativa-Irmandinha teria sidocapaz de mexer polo menos nacadeira de Quintana.

A alternativa apresentava-se fun-damentalmente ao redor de umpartido político, EsquerdaNacionalista, bem organizado mascom dificuldades para crescer den-tro do BNG. Os seus dirigentestenhem claro qual é o espaço cen-tral que deve ocupar na rede ideo-lógica e organizativa do BNG, emesmo presumem , talvez commotivos, de representar um perfilque se corresponde com o militan-te ou votante tipo do nacionalismomaioritário. Mas parece nomserem capazes de contactar plena-

mente com ele, nem sequer nestemomento tam favorável aos seusposicionamentos. Devem começara pensar nas causas dessa carência.

A 'continuidade' do MovimentoQue o Movimento pola base temum caminho a percorrer, ficouclaro. Ainda que nom esteja tamclaro que este seja dentro doBNG. Catalogada nos meios comoumha outra UPG 'autêntica',defensora dos valores eternos daesquerda transformadora, e con-trária à visom politicamentecorrecta da acçom de governo, aconvivência com o sector deFrancisco Rodríguez dentro dafrente parece complicadas, vista aexperiência de anteriores cisonsneste grupo. Em diversos secto-res esperava-se que fosse a candi-datura a dar a surpresa por contro-lar diversas comarcas e grandeparte da CIG. E os resultadosfôrom mais do que aceitáveis. Porenquanto também ganhárom naassembleia ao se afirmarem na suacoerência política e respeito à plu-ralidade, com umha liçom de dis-creçom, que os militantes agrade-cêrom. Nom tentárom pactos'espúrios', conformando-se com asua representaçom no ConselhoNacional, e renunciando â execu-

tiva, mas sem descuidar o apoiopara que os outros sectores críti-cos pudessem apresentar-se.

Quintana também ganhaGanhou em capacidade de mano-bra após a assembleia. E liderança,que hoje ninguém pom já em dúvi-da por nom haver alternativa. Oseu sector, agora também nutridodos antigos 'nom adscritos', ideolo-gicamente mais perto dos críticosda Alternativa e Irmandinhos doque da UPG, viu-se favorecido polamobilizaçom que esta última levoua cabo para minguar a oposiçom econseguir umha executiva bicolor.Assim resistiu bem o embate.

Mas curiosamente o seu maiortriunfo pode estar na negociaçom inextremis da candidatura conjunta àexecutiva. Habilmente Quintanacedeu postos aos críticos, em detri-mento da UPG, que nom tivo forçasuficiente para se opor ou para vetarBeiras, conseguindo assim que estase dividisse praticamente em ter-ços. Quintana vê aberto agora o seucampo de acçom e poderia tentar,após um adequado período de apro-ximaçom, apoiar-se finalmente emsectores mais próximos ideologica-mente, renunciando ao sempre con-troverso e caro mediaticamenteapoio da UPG.

Sem novidade: a UPG resisteCerto que ainda é maioria naExecutiva, mas esse sector poderiaver com certa preocupaçom os futu-ros movimentos de Quintana. É queo hipotético fim da relaçom simbió-tica do quintanismo com a UPGrepercutiria no poder desta última,já minguado polas dissidências, enecessitado agora de grande mobili-zaçom das bases à procura do maiornumero de postos do Conselho atra-vés das assembleias comarcais.

Mas também é certo que os vaticí-nios dos eternos inimigos do sectorde Paco Rodriguez que auguravamum contínuo desangrado da U apóstantos anos na sombra, com movi-mentos camaleónicos sempre à pro-cura do controlo efectivo da frente,nom se cumprírom. O sangue nomchegou ao rio. Os militantes da UPGsabem resistir nas piores condiçons.Eles também ganhárom, sem dúvi-da, ainda que fosse empatando.

XII Assembleia do BNG:quem nom ganha, empata

A UPG poderia ver com certa preocupaçom os futuros movimentos de Quintana. É que ohipotético fim da relaçom simbiótica do quintanismo com o partido repercutiria no seu poder

ALONSO VIDAL / Se analisarmos as opinions proferidas após a XII Assembleia do BNG levada acabo nestes primeiros dias de Dezembro podemos convergir na ideia, freqüente neste tipo deactos,dequetodoomundofoi triunfador.Certamente,emprimeiro lugar, os seusmilitantes,queacudírom esperançados a debater livremente o caminho da sua organizaçom. Apesar das opinionsencontradas nos corredores do Palácio de Congressos, o ambiente era de unidade e confiança nofuturo. As críticas confluíam na necessidade de procurar a melhor fórmula para crescer e multipli-car-sse.Nopensamento demuitosmilitantes estava talvezahipótesedeser aultimavezqueacu-

diam representando-sse a sim próprios a umha assembleia e nom era possível evitar certas sauda-desdovelhomodeloorganizativoquesedespedia.Masesseúltimoencontroeraomais importan-te.Porqueo funcionamentodohistóricoBNGestavaemparteemcausaechegavaomomentodecolocar as propostas de futuro sobre a mesa de debate. Os diversos sectores soubérom guardar asformas e vestírom muitas das diferenças ideológicas, e nom poucas pessoais, de diálogo construti-vo e unidade final na sessom de encerramento. Afinal, os militantes colocárom cada grupo conco-rrente no seu lugar. E, como habitualmente, a satisfaçom com o resultado foi a nota geral.

Os vaticínios doseternos inimigosdo sector de PacoRodríguez queauguravam umcontínuo desangradoda U após tantosanos na sombra,com movimentoscamaleónicos sempreà procura do controloefectivo da frente,nom se cumprírom.O sangue nom chegouao rio. Os militantesda UPG sabemresistir nas piorescondiçons. Elestambém ganhárom,sem dúvida, aindaque fosse empatando

NATÁLIA GONÇALVES

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 200716 CULTURA

CULTURA

Xurxo Seara, é um dos responsá-veis polo autêntico sucesso dapara já, 4ª ediçom do FestivalReperkusión, que cada ano seorganiza na vila de Alhariz ameados de Setembro, na de2006, 15-16 e 17 de Setembro,e que nasce como mais um pro-jecto da promotora musical'Festicul-tores', de que é máxi-mo responsável Xurxo Seara,junto com Miguel Rumbao eEmilio Oro. Além da reperku-sión, som vários os espectáculos,que a promotora oferece portodo o país, num intuito de"levar a gente à rua e fazê-la par-tícipe da Festa!"

Xurxo, com quê objectivosnasce Reperkusión?Reperkusión nasce da necessi-dade de cobrir um espaço ape-nas abrangido polos festivais doPaís, temos umha 'Ortigueira'onde o nosso folk é sobejada-mente representado, temosalgum festival de rock, mascumpria apostar em levar à rua afesta, cumpria apostar na inter-disciplinaridade, no teatro, naaminaçom em rua, nas exposi-çons fotográficas para que sefosse além dos concertos, marcoconcreto e típico nos festivaisdo País.

E é nisto que quereis continuara trabalhar, apontalar as outrasofertas do festival, além dosconcertos?Sim, de facto, é um dos alvosprincipais que nos temos marca-do para o ano que vem, conti-nuar a reconhecer o trabalho derua, o imenso labor de colectivoscomo Pistacatro e o seu teatroem rua, manikómikos...enfim

dar a conhecer o que se faz noPaís em disciplinas por vezes dis-criminadas dos grandes eventos.

Como achas que esta o panora-ma na Galiza, no que diz respei-to a estes colectivos que trabal-ham em rua?Tem-se melhorado e muito,parece com que isto do cámbioclimático a nós veu-nos bem!(risas) já a sério, muito pessoalque tivera que emigrar, agoraestá a encontrar espaços e umpúblico sincero com o que podertrabalhar, e do que poder viver.Nós próprios, Festicultores, fica-mos muito contentos da respos-ta do pessoal aos nossos espectá-culos.

Foi a 4ª ediçom da Reperkusión,que conclusões após dois meses,tirais do evento?Bom, quanto o público, ficamosmuito contentos, na verdadetentamos melhorar ano apósano, havia queixas por mor dofrio, este ano trabalhamos direc-tamente nisso, colocando carpase fazendo com que o pessoal sesentisse mais à vontade, aCámara trabalhou mao-a-maoconnosco, sobretudo a nível deinfra-estruturas.A nossa queixavem no entanto do sector daHostalaria, é incompreensívelque tendo em conta os rendi-mentos que podem tirar deeventos como a Reperkusión,nom haja umha verdadeira von-tade de colaboraçom.

Já trabalhais no ano que vem?Estamos prontos para começar-mos, agora vem o tempo decriar, de organizar, já lá vamosver os resultados.

Ainda que de escasso valor paraa normalizaçom dos nossosapelidos, a Cartografiaapresentada em Compostela nomês passado será um instrumentode incalculável valia para aspessoas que se dedicavam arastejar a presença de parenteslongínquos noutras comarcasatravés de listas telefónicas. Omérito da mesma consiste,precisamente, nisto, ao se teremreunido as listas telefónicas dasquatro províncias da ComunidadeAutónoma Galega, com o valoracrescentado de nom terem sidoocultos os apelidos de nenhummembro da família nem ignoradosos utentes dos telemóveis, cujosapelidos constam agora numplano de enorme grafismo em quepodemos constatar a presença decada apelido em cada concelho daAutonomia. O trabalho foielaborado a partir dos dadoscensais proporcionados poloInstituto Nacional de Estatísticaà RAG e permite localizar aszonas de maior densidade de cadaum dos apelidos e até traçar aslinhas da sua expansom.

Escasso valor restauradorNum Estado com tantas

instituiçons dedicadas àestatística cumpririaquestionarmo-nos sobre otrabalho desenvolvido (e ossubsídios recebidos) por umInstituto dedicado à investigaçomlingüística. O mapa é totalmenteasséptico quanto àcastelhanizaçom dos nossosapelidos e só pudemos conhecer aopiniom dos filólogos ao respeitoatravés de declaraçons aos meiosde comunicaçom, sendo osresultados bem pobres nestecampo. Na apresentaçom doestudo, a professora Ana Boullóne o professor Xulio Sousasublinhárom que "a Galizaconserva quase 'invariáveis' osseus apelidos desde o século XIII"

embora nos últimos séculos setenha detectado umha "profundacastelhanizaçom, principalmenteem formas como Otero e Villa,originalmente Outeiro e Vila". Naverdade, para chegar à conclusomde que Otero (no posto 17 entreos mais freqüentes) foicastelhanizado nom fazia falta olaborioso trabalho. Qualquerpessoa, por pouco observadoraque seja, conhece dous ou trêslugares de nome Outeiro ou Vila eoutros tantos amigos ou parentesde apelido Otero e Villa, tendoadvertido a deficientecorrespondência em mais deumha ocasiom. Para a equipaelaboradora nada deve haver deestranho em que a forma dos 20primeiros coincida com oespanhol, mormente os acabadosem -ez, cujas formas tradicionais(acabadas em -es) se conservamainda espalhadas por todo o país,nomeadamente através dealcunhas familiares (que nomfiguram nos Bilhetes deIdentidade) e de apelidos cujatraduçom para o espanhol setornava mais complicada: Pais(Peláez), Bieites (Benítez), etc.Advertem também osinvestigadores que "em oitavolugar se situa o primeiro apelidopuramente galego, Vázquez". Se a

reflexom foi bem recolhida polosmeios de comunicaçom dá quepensar. Será que os seteanteriores, os mais freqüentescom grande diferença, nom sompuramente galegos? Ou será queao estarem castelhanizadoscoincidem com o espanhol? Nopróprio Vázquez (de Vasco),chama a atençom tanto -z, e oanterior (Martínez: 7º lugar) éainda Martis/Martins na alcunhade muitas famílias galegas.

Até o EuCurioso país este em que

organizaçons políticas fam mapascientíficos e institutos científicosfam mapas políticos. No ano 1990Xerais editava obra Dialectoloxía daLíngua Galega, de FranciscoFernández Rei, destacadoinvestigador do ILG. Naquelaobra fundamental sim se incluíamtodos os dialectos galegos a nortedo Minho, que esta instituiçomcompostelana tem comoreferência. Que mudou para que omesmo Instituto, da mesmalíngua, decida agora que os seusestudos, teoricamentelingüísticos, ham de estarlimitados polas fronteiraspolíticas das quatro províncias?Pressons políticas ou fronteirasmentais?

REPERKUSIÓN:Ganharmos a rua

ILG ignora Galiza oriental naCartografia dos Apelidos

EDUARDO MARAGOTO / O Instituto da Língua Galega(ILG), ligado à Universidade de Santiago de Compostelae redactor das polémicas normas 'oficiais' do galego apro-vadas pola RAG (Real Academia Galega), voltou à actua-lidade com um trabalho de enorme valor prático paracuriosos e amantes das estatísticas: a Cartografia dos

Apelidos da Galiza, disponibilizado na Internet para aconsulta do público geral. As eivas do trabalho, no entanto,também som salientáveis, chamando a atençom que a carto-grafia se limite às quatro províncias ou que apresente umformato absolutamente asséptico quanto à castelhanizaçomda maioria dos nossos apelidos.

Para a equipa elaboradora nada há de estranho em que aforma dos 20 primeiros coincida com o espanhol e fala da

castelhanizaçom de Villa e Otero

1. RODRÍGUEZ 8,858 %

2. FERNÁNDEZ 8,391 %

3. GONZÁLEZ 6,570 %

4. LÓPEZ 6,310 %

5. GARCÍA 5,831 %

6. PÉREZ 4,753 %

7. MARTÍNEZ 4,212 %

8. VÁZQUEZ 3,827 %

9. ÁLVAREZ 3,009 %

10.GÓMEZ 2,581 %

11. CASTRO 2,258 %

12. IGLESIAS 2,088 %

13. DÍAZ 1,892 %

14. SÁNCHEZ 1,852 %

15. BLANCO 1,739 %

16. VARELA 1,618 %

17. ALONSO 1,618 %

18. OTERO 1,593 %

19. DOMÍNGUEZ 1,553 %

20. REY 1,341 %

EM DADOS...

OS VINTE PRIMEIROS

ANDRÉ CASTELEIRO / Alhariz, 16 de Setembro, soam os 'Eskorzo' deGranada (Andaluzia) alguém conhece? Nem todos, mas no Campo de VilaNova mais de 4000 pessoas, ficam espantadas com a qualidade destes moçosandaluzes com sete anos de percurso musical.

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 2007 17CULTURA

Ela é umha mulheranónima da Baixa Límia,nascida em 1973 e esta é

a sua verdadeira história. Comoma contárom, conto-vo-la.

Vaia por diante que, aindaque o seu signo zodiacal eraVirgem, ela nunca tivo vocaçomde tal.

Cedo soubo que na parte altada sua cona habitava algomágico.

Antes de dar-se à tacto-genitalidade passou pola etapade roce contra tudo o quetivesse a altura e a formaajeitada: esquinas das cadeiras,patas das mesas, marcos dasportas... Até que descobriu queno seu leito e com a sua mao acousa podia ter tantaprolongaçom como quigesse eque o calorinho fazia ferver nomsó os seus genitais mas tambéma sua cabeça.

Quando começou a dar beijosde língua e apalpar-se um diasim e outro também com ummoço anónimo da Baixa Límia jáa sua fantasia figera quetivessem vários orgasmosjuntos.

Um dia tivérom umharevelaçom superior, a SantaOral-Genitalidade!!! Passáromumha temporada de encontrosonde o seu era orgasmeargloriosamente por obra e graçado espírito-tacto.

Nada mais que umha veztentárom a cópula e ela puxo talcara de dor que ele nunca maisvoltou ter umha erecçomnaquelas circunstáncias.

Adoravam as suas bocas e osseus genitais e fôrom tamfelizes como se pode chegar aser.

Um dia, e aqui perdo-me umpouco na história, eledesaparece. Nom sei bemporquê, nom sei bem quando.

Assim, à medida que via como

bocas e mais bocas e genitais emais genitais iam embora paraquem sabe onde, ela voltou àsua tacto-genitalidade usual.

Escuitando um programaradiofónico soubo da Inse-minaçom Artificial. Nomdormiu em três dias após osquais tivo a revelaçom de que iaser mae.

Removeu Vigo com Santiagoaté dar neste com o sítio ondeademais de inseminardispunham de banco de sémen.Poupou, poupou e fijo-seinseminar várias vezes atéengravidar. Estava a chegar aPrimavera e a Baixa Límia co-meçava a ser um leito de flores.

O 23 de dezembro soube quetinha chegado o momento, foipara o CHOU. Ali puxou epuxou e nom dilatou nem um sómilímetro. O vinte e quatro àtardinha figérom-lhe umhacesárea.

Entom, chegou um lindo eanónimo menino esperto e deolhos vivos.

Quando todos os Natales nopovo se questionam avirgindade da Virgem ela sabebem que agora mais que nuncaaquilo é possível.

- Sim mulher sim, pola fé,tens cada cousa...

- Nom mulher nom, pororgasmos sem fim, polaemigraçom, a inseminaçomartificial e as cesáreas.

ERRATA: Na primeira frasedesta secçom do número anterior foireproduzida erróneamente o seguintetexto: "A SEXUAÇOM ou feito deSEXUARSE, o sexo, agrupa umhaserie de fenómenos conectados entresim, elementos SEXUANTES (vid.nº40 NGZ) entre os que se atopa amenstruaçom [menstruo =mensual]".

A CONJUGAR O VERBO SEXUAR

BEATRIZ SANTOS

A AUTÊNTICA VIRGEM DABAIXA LÍMIA, CONTO DE NATALumha viagem por Orgasmo-Genitália

JOÃO AVELEDO

Dezenove, Dezembro,vésperas do Natal,Vilalva, Feira dos Capões,

a mais famosa da Terra Chã. A doscapões de Vilalva é uma dessaspeculiaridades gastronómicasgalegas com as quehomogeneização globalizadoraainda não conseguiu acabar. PorSantos começa a criaçãotradicional dos capões, umaprática que, como a seguirveremos, não respeita muito osdireitos dos animais. Com unsquatro messes escolhem-se osmelhores pintos, que logo sãocastrados e encerrados nascapoeiras, onde se amontoam semquase se poder mover. Três vezespor dia, os capões são cebados amão com um amassado que se fazde farinhas diversas e leite, e queà força lhes introduzem no bico,depois é costume dar-lhes umpouco de vinho doce que faz comque os capões sesteiem. E assim,dia após dia, até seremsacrificados. Mas o nossointeresse nesta tradição vem porestar associada a uma raçaautóctone galega, a galinha deMós.

A galinha de Mós recebe o seunome da freguesia chairega de S.Jião de Mós, se bem em temposesteve amplamente distribuídapor toda a Galiza. A suarecuperação começou nos anoscinquenta a partir dos trabalhosdo veterinário Rof Codina. A deMós é uma galinha pesada decabeça pequena, crista poucodesenvolvida, cor leonada e penaspretas iridescentes na cauda, quepõe ovos de grande tamanho.

Mas não é a de Mós a única raçade galinha autóctone que temosna Galiza. Muito maisdesconhecida é a galinhaPinheira, chamada assim polapeculiar cor da sua plumagem quelembra a folha dos pinheiros,ainda que há quem diga que onome o toma do seu solar, oconcelho do Pinho e as suasredondezas. Raça muitoprimitiva, como o demonstra aconspícua camuflagem dos pintosque lembra à doutras galináceasselvagens. A Pinheira é galinhaligeira de aspecto bravio, comcabeça parecida aos galos de brigae olhos de perdiz; os galos têmpeito negro e penas betadas e as

galinhas apresentam coressimilares às da fêmea do faisão. Acarne, de pouca gordura, tem umsabor entre o frango e a caça.

A galinha Pinheira foi salva doesquecimento e de uma extinçãocerta graças aos esforços doveterinário Jesus Garcia. Esteveterinário relaciona-afilogeneticamente com asgalinhas que os celtas espalharampola faixa atlântica europeia, defacto, existe uma raça quaseidêntica na França.

A estas duas raças do Aquém-Minho, haveria que acrescentaroutras três próprias do Norte dePortugal, a galinha Amarela, aPreta Lusitânica e a PedrêsPortuguesa, que muitoprovavelmente, também atinjamna sua distribuição a Galizameridional.

No último século, a revoluçãoagropecuária que abalou o campolevou a uma produção intensivade alimentos, no caminhoperdemos um patrimóniogenético de incalculável valor,mas também alimentossaudáveis... e qualidades efragrâncias e sabores.

A GALIZA NATURAL

Tempo de capões

No

A conspícua camuflagem dos pintos lembra à doutras galináceas selvagens

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 200718 E TAMBÉM...

O Prêmio Carvalho Calero deNarrativa Curta/2006 foi destina-do, merecidamente a Inxalá deCarlos Quiroga. Não fugindo àregra, o tema da viagem é tambémrecorrente neste seu novo livro -porém com vários desdobramen-tos: sendo o mais relevante o cará-ter de uma peregrinação. Se bus-carmos o sentido da palavra pere-grinação, vemos a sua origem nolatim "peregrinus, que significaestrangeiro, intinerante, aqueleque viaja por terras distantes."Assim, numa sociedade contem-porânea em que o multiculturalis-mo já é um fenômeno mundial, abusca da identidade torna-se umanova ordem; principalmentequando no diálogo de culturasocorre o difícil pressuposto ético:o reconhecimento e respeito pelodiferente, além do seu próprio.

Assim, vemos o protagonista deInxalá escolher um intinerário parasua peregrinação, também perco-rrido e registrado por outros artis-tas como Rimbaud, Gauguin e oescritor Fernão Mendes Pinto,assim como os primeiros navegan-tes das viagens de descobertasportuguesas: o Oriente (a palavraoriente, do latim oriens, 'o sol nas-cente', de orior, orire, "surgir, tor-nar-se visível" palavra da qual vemtambém "origem"; em oposição aocidente, occ-cidere, "cair"), decerta maneira já anunciado em seutítulo, na palavra árabe Inshalá,que tem o sentido de "Se Deusassim quiser". Vemos então o pro-tagonista em busca de suas ori-gens, de si, através de percursosvários, dentre os quais sobressai-sea própria escrita como fuga/desti-no - aludindo a Fernando Pessoa -"o rapaz português fugiu da reali-dade para a escrita" (p.12) e afir-mando: "Por coincidência estou namesma ferocidade e fazendo uso

da escrita"(p.12). E esta escritavem trazer o "adn" de cada um, areferência básica da identidadesocial, a língua. Como já diziaFernando Pessoa: "minha pátria éa língua portuguesa" E tal percur-so tem inicio por cidades ondepoderia haver "relíquias da minhalíngua" (p.14).

O percurso/a peregrinação peloOriente vem aclarar quantas são asmúltiplas culturas e religiões empercursos e distâncias tão próxi-mos. O caminho pelo Oriente exó-tico cheio de cheiros, cores e dife-renças, desenha uma cartografiade descobertas de si através dooutro - do deserto do outro para oencontro consigo, como fim deacabar com a solidão: "O medo dasolidom e da morte som a puraessência do deserto" (p.109).

Ainda nesta cartografia de des-cobertas a memória de si (do pro-tagonista) surge em lances signifi-cativos: a profissão de médico, aLisboa tão conhecida e vivida,assim como a Galiza que apareceem metonímias de costumes

comidas e um dos ícones de pere-grinação: Santiago de Compostela.Memória que trazida à tona para ointerlocutor, aliás, toda a narrativaé dirigida a um interlocutor, quetambém tinha um caminho/desti-no a seguir - "Porque também tin-has um caminho, um destino, umregresso" (p.35)

Na verdade o que tambémpodemos observar em Inxalá sãoperegrinações paralelas: umhomem em busca de si em camin-hos do deserto - com memóriaslatentes e encontros com o outronuma atitude de doação contínua;o relevo para o conhecimento denossa história, das diferenças e(in)tolerâncias construídas pornós. Enfim, a convergência de per-cursos, culturas e religiões, tãobem descritos e vividos pelo pro-tagonista pode ser metaforizadana textura de areias em fotos inse-ridas no livro: a identidade forma-da por linhas/culturas distintas,registradas em palavras/livros, ladoa lado, sem conflitos. Horizontedesejado por todos nós: Inxalá.

LÍNGUA NACIONAL

1. 1908-1910 2. Buenos Aires 3. 73 4. Monja revolucionáriafilipina 5. 2/3 partes 6. 1944

DESCOBRE O QUE SABES... por Salva Gomes.

1. Quando se realizam os primeiros fil-mes que rematam com o referenteShakesperiano nessa arte?

- 1908-1910- 1928-1930- 1936-1938

2. Em que lugar da América do Sul des-envolve Antom Moreda o seu activismopolítico nas Mocidades Galeguistas?- Buenos Aires- Córdova- Rosário

3. Quantos Movimentos dos Sem Terraexistem hoje no Brasil em inter-rrela-çom e co-oorganizaçom?- 27 - 50 - 73

4. Quem é Mary John Manaza?- Monja revolucionária filipina- Monja revolucionária de Porto Rico- A conhecida como 'monja dos pobresem Rodésia'

5. Quanta superfície de Portugal pos-suia a igreja católica no começo doséculo XVIII?- 1/5 parte- 2/4 partes- 2/3 partes

6. En que ano escreveu Daniel Castelaoo Sempre em Galiza,reafirmando-sse eavançando nos seus ideais?- 1944- 1945- 1946

Soluçons :

Carlos Quiroga num acto em Trás-os-Montes

A palavra Língua bem comoNaçom e ainda outras tenhemumha carga de abstraçom quefaz com que por vezesperdamos o sentido darealidade. E o que é arealidade? Um cidadao galegoquer tirar a carta de conduçome o exame está em espanhol; adiferença da maioria dos seuscoterráneos, nega-se a fazer aprova. No Flandres váriascâmaras municipais exigem àspessoas candidatas a umhavivenda de protecçom oficialsaberem holandês (200 anosatrás o 'holandês' era umhalíngua estrangeira). EmBruxelas, por questons depoupança, decidem eliminarvárias línguas dos serviços detraduçom nas conferências deimprensa, entre elas oespanhol, o governo do Reinoreage e protesta usando osmesmos argumentos que os

nacionalismos subestatais, etudo volta ao ponto de partida.

Ora, persistem discursosesquisitos a respeito daLíngua. Alguém escreve queduas línguas eram a mesma atéque se "separárom" (como sese tratasse de um protozoário).Outro afirma que a língua Xestá a "devorar" a língua Y e atédá pormenores do processo dedigestom. Há também quemdiz que umha língua se está"desenraizando" e nom faltaquem afirme que uma língua é"irmá" de outra, prima de umhaterceira e neta de umha quartacriando árvores genealógicasde coerência difícil.

Observando isto tudoacabamos por nom saber seestamos perante umha análisesócio-lingüística ou umdocumentário da NationalGeographic. Som as pessoas,porra!

Som as pessoas, porra!

VALENTIM R. FAGIM

ANA ROCHA / Picamos 2 cebo-las bem picadas num tacho,junto a um dente de alho,salsa, e meio copo de azeite deoliva. Umha vez refogado,acrescentamos as amêijoascom um pouco de sal.Juntamos 1 bom copo de vinhobranco, 3 doses de açafrám e 2copos de água. Quando come-çarem a abrir as amêijoas jun-tamos 1 punhado de pam rala-do. Noutro tacho mais peque-

no picamos 1 cebola bem picadin-ha e acrescentamos os fidéus,depois de termos aquecido umpouco de azeite e água antes.Quando estiverem 'al dente' jun-tamos as amêijoas.Fervemo-lo durante 5 minutos epronto. Se figesse falta, acrescen-tamos a água necessária durante afervura para evitar umha espessu-ra excessiva do molho. Sugestom: misturar umha vezcozinhado com favas cozidas.

ARROZ COM CHÍCHAROSAmêijoas com fidéus

ENTRE LINHAS

I Jornadas Galego-Lusófonas de Software Livre

MÔNICA SANT'ANNA

Inxalá, de Carlos Quiroga

GERARDO UZ / Entre 30 de No-vembro e 3 de Dezembro, alocalidade do Porrinho foi a sé dasI Jornadas Galego-Lusófonas deSoftware Livre, ponto deencontro de várias dúzias deespecialistas galegos e brasileiros.O Novas da Galiza falou com umdos representantes galegos noevento, o economista RobertoBrenlla, sócio fundador daassociaçom AGNIX(www.agnix.org). Em opiniom

dele, "no Brasil levam-nos dous outrês anos de vantagem", e achaque esta circunstáncia se deve,principal-mente, "à apostadecidida que fizo a adminis-traçom brasileira".

Como exemplo desta atitude,pujo o caso de que no Brasil sefizeram "migraçons maciças desdeplataformas com softwarelicenciatário para entornos desoftware livre" -o estado do Paranáaforrou graças a isto 42 milhons

de euros em 2005-. Outrosbenefícios destes programas somque ao terem liberado o seucódigo, pode-se conhecer o seufuncionamento interno emelhorar a sua segurança.

Brenlla também acha muitonecessário actuar sobre o ensinosecundário -"aí passamos todos"-para formar pessoas capazes de semover em entornos de softwarelivre e nom convertê-los "emescravos" do software privativo.

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NOVAS DA GALIZA15 de Dezembro de 2006 a 15 de Janeiro de 2007 19DESPORTOS

DESPORTOS

REDACÇOM/ Respira-se jáno ambiente a próxima citainternacional da selecçom gale-ga. Trás o enorme seguimentopopular do jogo de 2005, aguar-da-se umha entrada mais quedigna em Riazor e umha audiên-cia televisiva tam importantecomo entom. Da conselharia decultura e desporto facilita-se aparticipaçom da juventude e for-nece-se apoio logístico aSiareir@s Galeg@s, principaldinamizador da torcida do País.

No entanto, segue sem havernenhuma declaraçom da Juntaem favor da oficialidade dasselecçons desportivas, e ÁnxelaBugallo manifestou-se “encan-tada” da colaboraçom autonó-mica com a volta a Espanha.Um ano depois, voltamos a con-tactar com Siareir@s [email protected] agrupaçom de claques doPaís está-se a revelar como aforça mobilizadora de mais enti-dade em favor das selecçonsdesportivas oficiais.

Na entidade acaban de editarmilheiros de cartons para as e osnovos sócios, que servirám paradistribuir entradas e encherumha das bancadas do estádiocorunhês. Com a legenda“Galiza, algo mais que um jogo”,a plataforma organiza umha mar-cha para o próprio dia 28 quesairá às 19:00 da estaçom decomboios da Corunha. Aguarda-se que a marcha seja mais nutri-da ainda polos autocarros quedisponibiliza a subdirecçomgeral para o desporto.

Primeiras críticasAinda, nom todo é louvaçom paracom a subdirecçom deDomínguez Olveira. Davide,membro de Siareir@s emCompostela, comenta-nos que“repetimos umha e outra vezque um jogo cada Natal nom nossatisfaz. As bancadas exigemmais”. Com efeito, o membro daclaque refere-se à pouca contun-

dência da Junta à hora de ultra-passar o encontro ritual de cadaInverno e solicitar às instituiçonsdo Estado a oficialidade dasselecçons desportivas, e nomapenas da de futebol. “Comoestamos tam mal afeitos -conti-nua Davide- pensamos que sub-vencionar um encontro despor-tivo, pôr autocarros ou facilitar otrabalho de Siareir@s Galeg@ssom grandes concessons daJunta; pois nom, som simplesmedidas normais dum governonormal que escuita as reivindi-caçons mais sentidas”.

Esta realidade, para Davide,nom deveria de ocultar o funda-mental: “que a Galiza nom contano palco desportivo internacio-nal e, o que é pior, as institui-çons autonómicas parecem nomter vontade de que conte. Mas a

ambigüidade nom se explicita sóneste terreno.

Entre o espanholismo davolta e os negócios de KarpinOs direitos nacionais nom pare-cem contar em todas os encon-tros desportivos. Tanto é assi,que a concelheira de cultura nomduvidou em deslocar-se a Madridpara apresentar a saída da volta aEspanha 2007 desde Vigo,Alhariz e Viveiro.Desconsiderando que esteencontro desportivo -ao igual quemuitos homólogos em outras lati-tudes europeias- tem umha fun-çom nacionalizadora e homoge-neizadora de primeira magnitu-de, Ánxela Bugallo exprimiu oapoio autonómico ao evento emostrou-se encantada de que “aGaliza seja o campo e o mar de

Espanha em 2007”. A grandeaposta polo desporto do País que,no terreno do ciclismo, conduzDomínguez Olveira, é a conheci-da equipa “Karpin Galicia”. Masse ainda nom sabemos o que este

colectivo fará polo desportodesde a base, si conhecemos quefunciona como magnífica mano-bra promocional deste ex-futebo-lista metido a empresário. Os“novos valores” que introduz ovaledor do ciclismo galego paten-teiam-se nas suas declaraçons: “éabsurdo falar da existência demáfias da construçom”, dixo aosmeios o russo. Karpin comprouum bairro inteiro no centro deVigo para fazê-lo zona residencialde luxo, e prevê erguer urbaniza-çons nas ruas Progresso, Areal eAlfonso XIII. Nom exclui intro-duzir-se no têxtil ou nas comuni-caçons, e aplaude “que por fimchegue o comboio de alta veloci-dade e as infra-estruturas com-petitivas”. Serám estes os valo-res do desporto galego, e estes osseus únicos mecenas?

Entre as selecçons nacionais e a ‘vuelta a España’

Siareir@s Galeg@s é a principal agrupaçom dinamizadora da torcida do País

A plataforma acabade editar milharesde cartons para as e os novos sóciosque servirám paradistribuir entradase com a legenda“Galiza, algo maisque um jogo” organizam umhamarcha para opróprio dia 28 naCorunha. Aguarda-seque seja maisnutrida ainda polosautocarros quedisponibiliza aSubdirecçom Geralpara o Desporto

Siareir@s:Um jogo cadaNatal nom nossatisfai, Galiza nom conta no palco desportivointernacionalnem parece havervontade disto

CONSELHARIA DE CULTURA E DESPORTOS CONTINUA NA AMBIGÜIDADE

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APARTADO 39 (15701) COMPOSTELA - GALIZA / TEL: 630 775 820 / PUBLICIDADE: 699 430 051 / [email protected]

OPINIOM 2EDITORIAL 3NOTÍCIAS 4INTERNACIONAL 8

A FUNDO 10ANÁLISE 14CULTURA 16DESPORTOS 19

- Aió, e logo diz que vão botar oFraga à rua...!- A rua.... a que rua? Não mulher,para botar alguém a rua tem queestar trabalhando, ou algo... - Pois eu ouvi na rádio... que o que-riam pôr na rua...- Boh! a gente muito fala, se ainda fossequando estava no mando... mas agora...que vão botar, isso é a gente que nãotem paria... vir com esse conto... E chegou o terceiro em discórdia,que nestes casos vem mui bem.- Olha que sois... há que saber escu-tar, no que se fala na rua não é debotar a Fraga à rua, que já foi bota-do... polas urnas...- Ai pois eu não lhe votei!- Nem eu...- Calai com a votadela e escutai... Oque querem é dedicar-lhe uma rua.- Dedicar-lhe uma rua? E logo não lhechega com que lhe dediquem umacanção num programa desses... comoaquele que havia quando ele era minis-tro... da coisa essa... a propaganda... - 'De España para los españoles' sechamava.- Pois logo mesmo com oPorrompompero já lhe chegava...! - Escutai...! O que querem é queuma rua leve o seu nome, o nomede 'Fraga'- Que o leve? A rua não é um reguei-ro para levar nada...- E que culpa tem a rua para que lhecaia Fraga?- E tu figura-te... que che toca natua... passar de chamar-se rua 'tal'ou 'qual' a chamar-se 'Fraga'... aindache devolvem as cartas...!- E haveria gente que se teria quemudar e tudo, por causa disso... - Que não hom! Que já escolherãouma que não tenha nome, ou lhomudarão a alguma que esteja cadu-cada...- Ai sim, reciclar não é mau, tam-bém dantes se fazia para ter maisesterco...- Bom matar matar, matavam umaque a outra nem a asustavam...- Pois olha que também é mágoaque tiraram a cabeça do Baltar daída eira da festa d'Os Blancos, quesenão agora com mudar o nometambém valia, e já de passo tinhatambém estátua... - Valia, que a cachola tem-chaparecida...- Pois eu penso que para nãomolestar o que tinham é que pô-lanum polígono industrial desses, epronto!- ...Boa ideia, ou num cemitério,que diz que nas cidades são maisgrandes que o demo e perde-sedentro a gentinha...- Pois a ver se se perde ele logopor lá.

Por CONCHA ROUSIA

“É preciso perder-se para encontrar-se, e às vezesdescobrir os demais é descobrir-se a um próprio”

- JJá vai um ano de 'Mór'...- 'Mór' foi um achegamento a mis-turar muitas cousas: umha ideolo-gia, unir um mesmo povo que foidividido, unir umhas guitarras comumha tecnologia e alguns efeitos...que foi complicado, porque éramosnovatos nisso. E agora já estamos atrabalhar no segundo -gravamosnestes dias no Porto-, mas aindanom lhe temos nome. De momen-to estamos forçando ainda mais amáquina. O importante é estarmosjuntos para poder criar!

- CComo vês o panorama musical ?- A música o bom que tem é quenom tem fronteiras, nom temespaço físico, por isso é de todos.Ademais, na música ninguém tira osítio a ninguém, porque isso é lite-ralmente impossível: quanto mel-hor lhes vaia aos outros, maior é afelicidade própria. Desde a épocado 'Xabarín', quando começárom asair bandas... nom tivem umha sen-saçom de umha cousa tam frutífe-ra. Porém, isso tapou-se e agoravolta a haver suporte, sobretudo na

rádio... programas como o de XurxoSouto estám a fazer muitíssimo.

-EEporquêéachasqueaconteceuisso?- Porque se assustárom! (risos)Porque o rock'n'roll é a granderebeliom! Moços a cantar em gale-go, grupos portugueses vindotocar aqui... Mimadrinha querida!Botárom as maos à cabeça e dixé-rom "o que é isto?", e tivérom queapagar. Nom vês que a música é amelhor arma de destruiçom maci-ça... Eu penso que agora pouquin-ho a pouco vamos indo.

-AABandadePoiunificagalegosepor-tugueses, e cruzais habitualmente oMinho.Comoveisotemahorário?- Acho que unificar a hora seria opróprio! Viver sem sol, o pior paraa cabeça e para o rim (risos). Valeque che vendem o dos benefí-cios energéticos, mas temos deviver polo horário biológico, oreal... o sol, hóstias! (risos) O devincular-se ao sol é fundamental.É que já nom é umha questompolítica, é de sermos pessoas!

- CCom tanta luz artificial, custaguiar-sse polo sol...- O que se passa é que somos escra-vos e acreditamos que somos livres.Nom há pior escravo. Robôs. Háumha pintada no Porto que diz'foste um bom robô hoje?'. E agente que a vê e caminha por baixodo semáforo vai ter de dizer: 'sim'(risos). O primeiro é ser conscientedisso e depois avançar sem medo,que nom te convençam. O medoestorva para andar polo mundo.

- PParece que já nom criticam o teupasso do Ñ ao NH.- Suponho que se meterám, masnom fago muito caso... A sériometêrom-se comigo por isso?(risos) Em Portugal, isso do Ñ era oque mais chocava, e eu entendia-o.É preciso perder-se para encontrar-se, e às vezes descobrir os demais édescobrir-se a um próprio.

- SSempre reivindicaste o galegocomo algo fundamental...- Para mim, que se perda o idioma éumha tragédia muito grande, por-que o idioma tem muita sabedoria.Como dizia meu avô, "quem tra-balha é porque nom tem nada mel-hor que fazer"... fam falta muitosanos para começar a perceber o quequer dizer isso. Quando falas, o quedizes, a tua voz... és tu. É umhaparte importante da identidade. Eisto serve para medrar, e para isso énecessário ter raízes. É igual que

cortar um carvalho para fazer lenhapara a chaminé: isso é o que que-rem fazer connosco. É isto que é aglobalizaçom: converter-nos emborregos vivendo em casas gemi-nadas.

- AAgora que o dizes, a crítica docapitalismo é umha constante natua trajectória.- Eu tenho um amigo americano,Ben Temple, que conhecim quan-do fum fazer um curso de actor emMadrid. Ali, o primeiro que nosensinavam era que tínhamos deperder o sotaque galego, mas quan-do ele me ouvia falar... alucinava!(risos). Dizia-me "tu falas, e cheiraa mar e a terra". Eu expliquei-lhedonde sou, e ele nom tinha nemideia do nosso País, e dixem-lhepara vir, e gravámos umha curta-metragem. Quando conheceu ascasas de lavrança galegas, com asleiras, as vacas, a distribuiçom dascousas... vai e diz: "Mas se aquinom eram necessários supermer-cados! Por isso arruinárom este sis-tema de vida". Saiu da sua cabecin-ha. Já o dizia minha avó: "filhinho,tem ao menos um pedacinho deterra". É o que nos estám a arreba-tar agora. Hoje em dia, se nom tensum eurinho no bolso, já nomcomes! Dás umha olhadela paraatrás e vês-nos a todos em fileiras,com os carrinhos da compra... élamentável. Lembra-me a pintadado Porto, 'foste um bom robô hoje?'.

GERARDO UZ / Mordaz, irónico e incisivo; alegre, despreocupado e crí-tico a um tempo. Assim é Antom Ageitos Ares, mais conhecido comoTonhito de Poi (Ribeira, 1969). Após finalizar a sua etapa n'OsHeredeiros da Crus, o polifacético barbançano -mmarinheiro, guionista,produtor, actor e músico- rrodeou-sse de um grupo de amigos da Galiza e dePortugal, A Banda de Poi. Há pouco mais de um ano editárom 'Mór', e nomomento de realizar esta entrevista já estám a trabalhar arreu no que seráo seu segundo disco. Embora a música seja a grande protagonista -""éumhanecessidadevital", repete-, nomvai seroúnicoque lhesofereçamos.

TONHITO DE POI MÚSICO E ARTISTA

Rua Fraga

NO TORREIRO