Anuário acerca do teatro de grupo de SP - 2012 · formação de espectadores e espectadoras...

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LABORATÓRIO – PORTAL TEATRO SEM CORTINAS TEATRO DE GRUPO Anuários acerca dos grupos de teatro paulistanos Trabalhos apresentados para a disciplina Teatro Brasileiro IV, sob orientação do professor Alexandre Mate. 2º semestre de 2012. Autores e autoras: Alice Fonseca Nunes Ariane Cuminale Bárbara Esmenia Pacheco da Silva Danilo Lopes Eraldo Eudes Maia Felipe Fachim Francisco Vinícius de Freitas Pereira Helena Cardoso João Paulo Rafaelli Natália Guimarães Priscila Ortelã André Novo Roberto de Mello Júnior Sarah Reimann Oliveira Revisão: Diego Cardoso Arquivo: 03.TDG.0001

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LABORATÓRIO – PORTAL TEATRO SEM CORTINAS

TEATRO DE GRUPO

Anuários acerca dos grupos de teatro paulistanos

Trabalhos apresentados para a disciplina Teatro Brasileiro IV, sob orientação do

professor Alexandre Mate. 2º semestre de 2012.

Autores e autoras:

Alice Fonseca Nunes

Ariane Cuminale

Bárbara Esmenia Pacheco da Silva

Danilo Lopes

Eraldo Eudes Maia

Felipe Fachim

Francisco Vinícius de Freitas Pereira

Helena Cardoso

João Paulo Rafaelli

Natália Guimarães

Priscila Ortelã André Novo

Roberto de Mello Júnior

Sarah Reimann Oliveira

Revisão: Diego Cardoso

Arquivo: 03.TDG.0001

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Loucas de Pedra Lilás, Capulanas Cia. De Arte Negra e Companhia Estável de Teatro 1

Introdução São vários os motivos que determinam a importância do fazer teatral em grupo,

destes destacamos o desenvolvimento técnico, a ampliação de possibilidades estéticas

e o desenho de posturas político-ideológicas contribuindo para o posicionamento crítico

e construção de princípios éticos fundados no debate permanente com a sociedade.

É o compromisso do trabalho coletivo, a partir da elaboração colaborativa, que

garante o enriquecimento das habilidades dos integrantes de um grupo artístico bem

como o seu resultado final, traduzido em espetáculo ou outras ações de intervenção

artística, as várias experiências subjetivas voltadas para um único propósito revelam

uma estética elaborada, consequente e de forte capacidade de prazerosa fruição para

seu público e este como resposta ao contato sugerido pela arte, na troca, potencializa

os argumentos para o debate social e participam de uma re-elaboração dos caminhos

políticos da sociedade.

Motivadores da Escolha

Com a determinação dos propósitos expostos (técnico, estético e ético)

escolhemos para este estudo os coletivos supra citados, com histórias semelhantes na

conquista de valores éticos no tocante a uma política e ideologia de denuncia nas ações

e firme compromisso com a luta por uma sociedade justa, igualitária e em constante

debate. A Loucas de Pedra Lilás atende ao propósito de discussão contra a hegemonia

machista/patriarcal que ainda impera na sociedade em várias regiões do país manifesta

por violência doméstica, diferenças salariais etc., motivos concernentes às ações da

Cia. Capulanas, com um viés de discussão também concentrado nas ações de

denúncia de posturas preconceituosas quanto às diferenças étnicas e de classe. A

escolha da Cia. Estável sintoniza essas demandas e traduz suas ações em

interferências artísticas e aproximação de movimentos sociais.

Por todas essas questões, e tantas outras que não cabe aqui listar, optamos por

uma breve descrição das características desses 3 coletivos, que sabemos não são os

únicos, nem tão poucos, mas que podem apontar a importância dos trabalhos coletivos,

1 Pesquisa realizada por Alice Fonseca Nunes e Roberto Mello Júnior

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principalmente nos últimos 20 anos com as leis de incentivos públicos e atuações mais

assertivas de movimentos populares de confronto com o modelo hegemônico de divisão

de classes, valorização do valor (valor de troca ou mercado) e o processo de forte

individualização inerente à manutenção política dessa sociedade.

Grupo ou Coletivo

Capulanas Cia de Arte Negra

Capulanas é composta por jovens negras de movimentos artístico políticos de

São Paulo: Flávia Rosa, Priscila Preta, Carol Euaci Rocha, Débora Marçal e Adriana

Paixão. O primeiro espetáculo realizado pela companhia – Solano Trindade e Suas

Negras Poesias contou com um processo de criação coletiva fundamentado em uma

concepção cênica que tornasse híbrido teatro, dança e música dando vida as poesias e

explorando as próprias vivências cotidianas de cada componente. No ano de 2009 foi

contemplada pelo PROAC – Edital Inédito de Teatro da Secretaria de Estado da Cultura

e pelo Edital de Intercâmbio Cultural do MINC, onde o espetáculo ficou em cartaz em

Salvador – BA no Teatro Gamboa Nova.

Em 2010 a companhia é contemplada na 16° Edição da Lei de Fomento ao

Teatro da Cidade de São Paulo, com o Projeto Pé no Quintal, que previa a

apresentação em espaços não convencionais. No Projeto Pé no Quintal foram

realizadas 30 apresentações em quintais das periferias de São Paulo e atividades de

formação denominadas ONNIM – “Quem não sabe pode saber aprendendo”, referência

ao símbolo Adinkra (ideograma do povo Akan) do conhecimento, da aprendizagem e da

busca contínua do saber. Como ação final do projeto, lançaram a publicação [Em]Goma

dos pés à Cabeça, os quintais que sou.

Loucas de Pedra Lilás

As “Loucas”, como são carinhosamente chamadas, se definem como uma

organização não governamental formada por mulheres e fundada em 1996, no Recife,

Pernambuco. O grupo, na verdade, foi criado como tal em 1989, a partir do desejo de

mulheres feministas de se expressarem, por meio do teatro e da comicidade as

opressões vividas pelas mulheres. As “Loucas” possuem um núcleo central de

participantes, formado por: Ana Bosch (artista gráfica), Gigi Blander (educadora),

Cristina Nascimento (arte-educadora) e Cristina Maia (técnica de departamento

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pessoal), com idades que variam entre vinte e cinquenta anos.

Neste ano de 2012 as “Loucas” foram convidadas a integrar a Mostra

Internacional de Teatro de Grupo, organizada pela Cooperativa Paulistana de Teatro e

cujo tema foi “Mulher – como assunto ou direção ou feitura / investimos”. Também

participaram da Cúpula dos Povos, com incorporação de outras participantes

(chamadas de “loucas cariocas”) onde inventaram uma nova performance para

apresentar nos corredores do Congresso Nacional, e nas ruas de Recife, onde também

incorporam cada vez mais feministas ativistas para executá-la.

Companhia Estável de Teatro

A Cia Estável de Teatro tem origem no encontro de experiências teatrais em

certa medida semelhantes exercidas em várias regiões do Estado de São Paulo: São

Caetano do Sul, Ribeirão Pires, Santo André e a cidade de São Paulo, Essas ações, na

década de 1990 do século passado, foram desenvolvidas em grupos amadores e

oficinas culturais que mantinham procedimentos e objetivos diferentes dos que

conhecemos hoje, eram em grande parte pautados por uma hierarquização dos

componentes, marcadamente na figura do diretor, e miravam principalmente a

utilização, em pequenas temporadas, dos espaços públicos e festivais. A formação de

todos os integrantes na Fundação das Artes de São Caetano do Sul em turmas

diferentes e a participação de parte deste grupo em um núcleo de teatro mantido pela

Escola, nos moldes dos corpos de baile municipais, chamado Núcleo Estável de

Repertório, influenciou o nome do coletivo e a continuidade de sua atuação.

Em 2001 A Companhia Estável participou da Ocupação de Teatros Distritais,

uma iniciativa da prefeitura de São Paulo para a gestão artística de grupos sobre os

espaços de Teatro, seis na época, com risco de sub utilização. O grupo geriu o Teatro

Flávio Império com todas as precariedades do local, enfrentou dificuldades com a

administração do Teatro e o Departamento de Teatros da SMC. Valeria o esforço pois o

grupo avaliava o potencial de articulação da região através dos moradores e com a

remontagem da peça Os Menestréis, criado originalmente na Fundação, explorando o

artifício de máscaras da Commedia dell´arte e o contato com outro grupos, Folias

d´Arte, Cia. do Latão, Teatro da Vertigem entre outros , a Cia Estável de Teatro iniciava

suas atividades.

Particularidades estéticas

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Capulanas Cia de Arte Negra

O nome da companhia é inspirado nos tecidos utilizados pelas mulheres

moçambicanas, que possui grande valor cultural e simbólico. Para o grupo o uso das

capulanas possibilita o exercício da independência e mobilidade da mulher. O grupo se

dedica à pesquisa da cultura da oralidade para a diáspora africana, a partir da

valorização da memória e da ancestralidade.

A proposta de atuação do grupo também se baseia na vivência africana que não

separa a arte do cotidiano e também não fragmenta em linguagens artísticas como

teatro música, literatura e dança. Pelo contrário, em seu espetáculo tudo está unido e

equilibrado, como uma grande mostra de artes em relação.

Em dezembro de 2011 a companhia é contemplada pelo Edital de passagens do

MinC e a convite da atriz Lucrécia Paco foram para Moçambique durante o mês de

fevereiro de 2012, onde ministraram uma série de workshops, palestras e trocas

artísticas sobre a experiência do Projeto Pé no Quintal e sobre as temáticas do novo

espetáculo da companhia, intitulado Sangoma.

Loucas de Pedra Lilás

Durante vinte e três anos esse grupou atuou em diversas cidades na luta pelos

direitos das mulheres, questionando dialeticamente sua atual condição, criticando o

patriarcado e o capitalismo. Tem como proposta estética-política promover por meio do

teatro e do humor a reflexão sobre as relações entre homens e mulheres e as questões

urgentes e atuais como educação sexual e reprodutiva, prevenção e combate à

violência, a prevenção do câncer, maternidade segura, dentre outros temas que tangem

o feminismo.

As atrizes pintam seus rostos com maquiagem de palhaço, usam roupas e

acessórios coloridos, propondo cenas e intervenções cômicas e em constante diálogo

com o público. As peças apresentadas tiveram como temática: o direito de decidir, os

problemas enfrentados pelos(as) portadores(as) de HIV, as mulheres na História, a

saúde mental, a diversidade sexual, racismo e identidade, a exploração sexual infanto-

juvenil.

Companhia Estável de Teatro

A Cia Estável de Teatro teve um início difícil na ocupação do Espaço Flavio

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Império, região de Cangaíba e Engenheiro Goulart (zona leste de São Paulo), porém o

projeto com previsão de seis meses foi prorrogado por mais seis e executado com muita

intensidade, apresentações gratuitas, oficinas e apresentações de grupos convidados

com cobrança simbólica de ingressos, R$ 4,00, aumentando consideravelmente as

produções locais. O valor acima citado é simbólico, uma vez que no atual contexto do

mercado de arte e entretenimento no Brasil é um preço considerado viável de ser pago

por grande parte da população, em contraponto aos exorbitantes valores das casas de

teatro e shows.

Em 2002, a partir da contemplação da Lei de Fomento - conquista dos coletivos

da cidade de São Paulo de um movimento contra a mercantilização da produção teatral

chamado Arte Contra a Barbárie -, o grupo conseguiu intensificar suas atividades com o

projeto “Amigos da Multidão” pautado pela construção de uma estética teatral como

reflexo da participação da comunidade inerente aos trabalhos. O projeto fomentado

durou até 2004 e a nova gestão da prefeitura não permitiu a ocupação do teatro, além

de pôr em dúvida a continuidade a proposta da Lei de Fomento. Em 2005, enfrentando

dificuldades de espaço, o grupo se aproximou do Arsenal da Esperança, instituição de

acolhida para homens da região do Brás. Contemplado pela Lei de Fomento em 2006

com o projeto “Vagar Não é Preciso” foi possível uma aproximação da realidade das

pessoas do espaço. Depois do projeto Homem Cavalo & Sociedade Anônima, o grupo

intensifica sua aproximação de movimentos populares e organizações políticas e

militância para além do teatro.

Conclusão

A pesquisa dos três grupos teatrais, acima citados, e os encontros que tivemos

com os grupos Engenho Teatral, Cia. Hiato e Cia. Antropofágica contribuiu com a nossa

formação enquanto pesquisadores, educadores e artistas, uma vez que nos inspiraram

a repensar e recriar a relação que temos com o teatro coletivo. Nos possibilitou refletir

como a relação libertária no momento de criar e educar é fundamental para a produção

de experimentos estéticos e pedagógicos, proporcionando um trabalho prazeroso e com

aprofundamento teórico, sempre com o objetivo de colocar o tema e o grupo em

questão, em perspectiva e histórica e provocá-lo a transformar suas relações com a

sociedade. Esse processo torna-se visível na relação que esses coletivos têm com o

publico, durante os espetáculos e debates, assim como a generosidade e

disponibilidade durante as entrevistas realizadas para essa pesquisa.

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O Teatro de Grupo mostra-se fundamental, portanto, por enfrentar o sistema

político hegemônico – o qual defende a hierarquia e o lucro – e contribuir para a

formação de espectadores e espectadoras capazes de relacionar as obras com suas

vidas na tentativa de fazer os seus desejos – e os do coletivo – se transformarem em

realidade.

Bibliografia

CAPULANAS, Cia. de Arte Negra. EmGoma – Dos pés À cabeça, os quintais que sou.

Capulanas: São Paulo, 2012.

ESTÁVEL, Cia. de Teatro. Das margens e bordas: relatos de interlocução

teatral.Cooperativa Paulista de Teatro: São Paulo, 2011.

Quem são elas. Acedido em: 23/05/2012 em: http://www.loucas.org.br/

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Companhia dos Atores, Companhia de Teatro Documentá rio e Teatro

Ventoforte 2

Introdução

O chamado teatro de grupo surge como uma resposta ao teatro essencialmente

comercial, largamente praticado a partir da década de 1970 (decorrente da ditadura

civil-militar), que consiste na montagem de espetáculos normalmente encomendados

por uma produção. Atores, diretores, artistas se uniram em torno da vontade e

necessidade de se aprofundarem na pesquisa de formas e conteúdos das artes

cênicas.

O movimento de teatro de grupo ganhou corpo na cidade de São Paulo. A

importância desse movimento tem como um dos principais resultados a criação da Lei

de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo, a partir do Movimento Arte Contra a

Barbárie. Com a nova Lei, passou a existir o investimento de dinheiro público para a

pesquisa teatral, levando em consideração a importância do processo de criação e não

o resultado final.

Motivadores das escolhas

A empatia pelas singularidades estéticas de cada um desses três grupos,

somada ao desejo de aprofundarmos nosso conhecimento sobre o trabalho deles,

foram as motivações para a escolha. A heterogeneidade dos estilos e das formas de

produção teatral desses grupos nos interessava como um recorte investigativo da

riqueza do nosso teatro.

Consideramos ainda a relevância desses grupos na história do teatro brasileiro,

pelos seguintes aspectos: A Cia. dos Atores pela sua criação coletiva e por sua cena

híbrida; a Cia. de Teatro Documentário que recém-nascida vem nos provocando, a

medida que olhamos e nos relacionamos com o material social da cidade, à perceber a

poesia que nele existe; e o Teatro Ventoforte, sediado no Parque do Povo, na cidade de

São Paulo, por sua militância e comprometimento em fazer um teatro infantil aliado a

um pensamento pedagógico.

2 Pesquisa realizada por Ariane Cuminale e Juliana Leme

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Os grupos

Cia. dos Atores

Em 1988, no Rio de Janeiro, Enrique Diaz se une a amigos artistas para

experimentar novas possibilidades da cena teatral. Bel Garcia, César Augusto, Drica

Moraes, Gustavo Gasparini, Marcelo Olinto, Marcelo Valle e Susana Ribeiro formam a

equipe que leva o nome de Cia. dos Atores, importante nome da cena brasileira de

teatro de grupo. No ano de 1994, o grupo encena sua primeira peça infantil. Em 2004, a

companhia se sedia no bairro da Lapa, inaugurando-a oficialmente em 2006, juntamente

com o livro que percorre os 18 anos da companhia, intitulado Na Companhia dos

Atores. Em 2010, sem recursos para arcar com os gastos da sede, a companhia

anuncia a falência, convocando os trabalhadores de teatro cariocas para reivindicar

projetos de fomento às produções teatrais da cidade.

O grupo se manteve unido até novembro de 2012, quando Enrique Diaz

anunciou sua saída e o restante da companhia noticiou seu último projeto para 2013,

quando completará 25 anos de existência.

Cia. Teatro Documentário

A Cia. formada em 2006 - integrada pelos atores Elaine Grava, Gustavo

Idelbrando, Márcio Rossi, Natalia Lemos e o diretor Marcelo Soler -, desenvolve uma

pesquisa teórico-prática da estética do teatro documentário. O principal material para

seus trabalhos é a memória social. A Cia. teve o seu primeiro espetáculo apresentado

em 2007, Desde quando eu era travesti e ou Lamentos do Palácio das Princesas.

Contemplada pela 16ª edição da Lei de Fomento ao Teatro da Cidade de São

Paulo, com o projeto Como se pode brotar poesia na casa da gente?, em 2010,

documentam pessoas em suas próprias casas e a relação delas com a cidade, dando

início à pesquisa sobre o centro urbano como lugar de encontro e troca, que se estende

ao novo projeto Mapear histórias ou como disse Guimarães, o real não está na saída e

nem na chegada: ele se dispõe para gente é no meio da travessia, contemplado

novamente pela Lei de Fomento em 2012. Desta vez o objeto documental é a rua Maria

José, no Bixiga, onde a companhia está sediada.

Teatro Ventoforte

O grupo Teatro Ventoforte se formou no Rio de Janeiro, em 1974, pelo diretor

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argentino radicado no Brasil, Ilo Krugli. O primeiro espetáculo do grupo, História de

Lenços e Ventos, confere grande prestígio diante da critica de teatro infantil e de

animação, por haver conteúdo suficientemente elaborado para crianças e adultos. Em

1980, devido a maior perspectiva de trabalho, o grupo se muda para a cidade de São

Paulo e, após um período com uma sede alugada, em 1984 ocupa um terreno

abandonado, próximo à ponte Cidade Jardim, criando sua sede permanente,

recentemente tombada.

O coletivo, que é constantemente renovado com novos parceiros de trabalho,

tem como premissa a não separação de arte e educação. Em sua sede, o grupo

promoveu inúmeras oficinas de criação artesanal de cenários, bonecos etc., núcleos de

formação de atores, arte-educadores e, até os dias de hoje, acontece anualmente a

Feira de Teatro, que consiste em encontros com manifestações da cultura popular

brasileira, ensaios abertos e apresentações do grupo.

Particularidades estéticas

Cia dos Atores

Tendo o trabalho coletivo como premissa, a Cia. dos Atores dá voz a todos os

integrantes que, de várias maneiras, investigam as potencialidades múltiplas da cena

teatral, se utilizando de diversos tratamentos estilísticos no mesmo espetáculo. A

fisicalização, musicalidade, utilização de multimídias, metateatralidade e a dramaturgia

própria de cada ator são alguns dos principais traços da companhia, que tem a

preocupação de promover diversas oficinas para outros artistas, tornando alguns deles

parceiros de trabalho.

Pina Bausch, Tadeusz Kantor, Meyerhold, Beckett, e o surrealismo são algumas

das referencias citadas pelos artistas da companhia. A opção pelo gênero

melodramático e a utilização de autores como Oswald de Andrade em algumas

montagens, vem com o intuito de conceber um teatro nacional, que reflita as pulsações

dos brasileiros, comunicando de fato com o espectador. Rua Cordelier – tempo e morte

de Jean Paul Marat (1988), A bao a qu (1990), A Morta (1992), Melodrama (1995), O rei

da Vela (2000) e ensaio.hamlet (2004), são algumas das principais montagens da

companhia.

Teatro Documentário

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O trabalho documentário que a companhia desenvolve não tem a

intencionalidade de registrar a realidade como ela é, mas de construir um ponto de vista

sobre a mesma, buscando ter o olhar atento às metáforas presentes e, a partir de

materiais simbólicos, potencializar a poesia da vida. As dramaturgias dos

espetáculos/intervenções são construídas a partir de entrevistas e da observação do

objeto documental.

As apresentações dos trabalhos são em lugares não convencionais, para poucos

espectadores e, quando resignificados pela encenação, tornam-se lugares de interação

e troca entre as pessoas. Entre os elementos que compõem as encenações estão

materiais áudio-visuais de registros feitos pela companhia durante a pesquisa.

É uma prática da companhia estabelecer parcerias com outros coletivos ou

artistas. Para o projeto Como se pode brotar poesia na casa da gente as parcerias

fundamentais foram feitas nas outras quatro regiões da cidade com A Brava Companhia,

Cia. Antropofágica, Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes e uZyNonimados3.

Teatro Ventoforte

No Teatro Ventoforte, todos os artistas participantes do processo são criadores,

entretanto, a assinatura final do espetáculo é feita pelo criador do grupo Ilo Krugli. As

músicas, danças e histórias da cultura popular brasileira e da América Latina são

elementos constantes nas montagens do grupo, assim como os textos do espanhol

Federico Garcia Lorca. Os quatro elementos da natureza associados aos contos de

fada são bases importantes para a criação da história.

O grupo lança mão de diversos recursos que juntos combinam uma série de

referências que estabelecerão contato direto com o espectador, tornando-o ativo

participante do espetáculo. A narrativa é constantemente presente nos espetáculos da

companhia, inclusive por se tratar de atores-contadores de história, que escancaram os

mecanismos presentes nas cenas, em um dos expedientes épicos influenciados por

Bertolt Brecht. O trabalho com bonecos entra como um complemento à expressividade

do ator em cena.

Conclusão

A diversa cena teatral contemporânea, que abarca grupos de maior tradição e

grupos novos, nos mostra a importância da verticalização em linhas de pesquisa. 3 Grupo de teatro formado em 2008, com sede na zona norte de São Paulo.

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Notamos a preocupação dos grupos pesquisados em se apropriar da cultura brasileira,

cada um à sua maneira. A Cia. dos Atores encena autores brasileiros e transita com a

linguagem das massas, como o melodrama; a Cia. de Teatro Documentário traz à cena

as histórias do cotidiano da sociedade paulistana e o Teatro Ventoforte utiliza-se de

elementos da cultura popular tradicional.

O estabelecimento dos grupos promove o fortalecimento da linguagem e

produção teatral. Sua atuação cultural na cidade torna-se mais intensa, à medida que

esses grupos compartilham sua pesquisa com a comunidade e outros coletivos

culturais.

Conhecer o Teatro Brasileiro nos torna autônomos e possibilita nossas próprias

descobertas artísticas, e nos impulsiona a fazer parte desse cenário.

Bibliografia

DIAZ, Enrique; CORDEIRO, Fabio; OLINTO, Marcelo (Org.). Na Companhia dos Atores

– Ensaios sobre os 18 anos da Cia dos Atores. Rio de Janeiro: Senac RJ, 2006.

Página da internet da Cia. dos Atores. Disponível em:

<http://www.ciadosatores.com.br>. Acesso em 7 de outubro de 2012.

Página da internet do Grupo Teatro Documentário. Disponível em: <http://teatro-

documentario.blogspot.com.br/>. Acesso em 10 de outubro de 2012.

REZENDE, Wilton Carlos Amorim. Teatro Ventoforte de 1985 a 1995 a formação de um

artista e arte-educador. 2009. 291 f. Dissertação (Mestrado em Artes) – Instituto de

Artes, Universidade Estadual Paulista, São Paulo. 2009.

SOLER, Marcelo. Teatro Documentário: a pedagogia da não ficção. São Paulo:

HUCITEC, 2010.

SOUZA, Alex de. Só, mas bem acompanhado: atuação solo e animação de bonecos à

vista do público. 2011. 174 f. Dissertação (Mestrado em Teatro) – Universidade do

Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2011.

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Pombas Urbanas, Grupo Galpão e Cia. São Jorge de Va riedades 4

Introdução

Atualmente percebemos, espalhada por todo o território brasileiro, a presença

marcante dos grupos teatrais que, contrários a uma tendência de um teatro por vezes

denominado comercial e administrado como uma empresa com giro de funcionárias/os,

organizam-se como coletivos de fazedoras(es) artísticas(os).

É perceptível como prática artística desses sujeitos atuantes em seus grupos,

uma pesquisa estética baseada em conversas e discussões entre as(os) integrantes,

em que, na maioria dos coletivos, está aliada a um posicionamento político de militância

do grupo.

Identificar tais coletivos e reconhecer a importância de historicizar este importante

momento do teatro brasileiro contemporâneo torna-se o objetivo principal do

desenvolvimento deste trabalho.

Motivadores das escolhas

Pombas Urbanas

Escolha pessoal por conta de ser o início de um contato teatral, participando da

oficina ministrada no período de ocupação do teatro Martins Pena, em 2001, no bairro

da Penha.

Ali, com Lino Rojas e a trupe, foi possível potencializar olhares tanto de si quanto

do mundo – longo caminho. Reconhecimento da importância do grupo como

desenvolvimento de um trabalho de resistência e transformação em lugares onde os

aparelhos culturais são escassos, quando não inexistentes. Como exemplo, São Miguel

Paulista, no início do grupo na década de 1980, e Cidade Tiradentes, atual trabalho do

coletivo com a ocupação de um galpão localizado a 35 quilômetros da Praça da Sé e o

projeto de nome Arte em Construção.

Grupo Galpão

É incomensurável a importância do Galpão para a história do teatro brasileiro e

para a solidificação de uma identidade teatral nacional. Numa compilação de grupos 4 Pesquisa realizada por Bárbara Esmenia e Helena Cardoso

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teatrais brasileiros em atividade em 2012, o Galpão merece destaque por diversos

motivos: além de completar exatos 30 anos de vida, possui um vasto repertório

composto basicamente por clássicos da literatura mundial, sempre aclimatados para a

realidade brasileira, utilizando-se dos expedientes do teatro de rua, do circo e de outras

formas populares, alcançando um resultado palatável ao público em geral, mesclando o

erudito e o popular, o universal e o regional, a tradição e a contemporaneidade. Sua

pesquisa é notória não apenas em seu repertório, mas também em seus projetos no

Galpão Cine Horto, importante centro de pesquisa teatral.

Cia. São Jorge de Variedades

Em 2013 o coletivo completa 15 anos muito bem sucedidos. Sua produção de

opções estéticas ecléticas, que se debruça especialmente nas manifestações

ritualísticas de canto e dança, e de dramaturgia de forte cunho político, aborda os

paradoxos da cultura brasileira, faz da São Jorge uma das companhias significativas no

panorama de teatro contemporâneo brasileiro. Sua relação com a vida da cidade de

São Paulo se reflete não apenas em seus espetáculos mas também em seu fanzine

(Fanzine São Jorges), canal paralelo de interlocução com o público que visa estimular

novas maneiras de relação com a cidade. Nos últimos dois anos, circulou pelo país

colhendo material em festas populares, pesquisa que culminou no espetáculo itinerante

Barafonda, pensado nas possibilidades de intervenção artística na forma bakhtiana da

polissemia e a interlocução entre diferentes formas de coro.

Grupos ou coletivos

Pombas Urbanas

É por meio de um projeto de oficinas teatrais, proposto pelo diretor peruano

radicado no Brasil, Lino Rojas, e realizado com jovens de São Miguel Paulista, zona

leste de São Paulo, que se inicia a trajetória do grupo Pombas Urbanas.

Em 1989, o/as jovens participantes não imaginavam que aquela iniciação

artística se consolidaria em um grupo que celebra seu 23º aniversário e cujo projeto foi

denominado Semear Asas.

De lá em diante, o grupo concebeu um repertório de criações que atualmente

conta com treze espetáculos, participou de diversas mostras no Brasil e em outros

países.

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Em 2001 ocupou o Teatro Martins Pena, localizado na Penha, zona leste, por meio do

1º Edital de ocupação dos teatros distritais realizado pela Secretaria Municipal de

Cultura; em 2003 o grupo é contemplado com a 3ª edição do Programa de Fomento ao

Teatro para a Cidade de São Paulo. Em 2004 o grupo ocupa e consegue a cessão de

um galpão na Cidade Tiradentes, zona leste, em regime de comodato por vinte anos –

local onde atualmente são realizadas as atividades do coletivo em processo

colaborativo com moradora/es da região.

Cia. São Jorge de Variedades

A Companhia São Jorge de Variedades surge em 1998, a partir da união de

jovens recém-formado/as na Escola de Arte Dramática-EAD e ECA/USP a fim de

criarem um coletivo de pesquisa e de criação teatral.

Em sua primeira montagem, a companhia leva à cena o espetáculo Pedro, o cru,

no mesmo ano de 1998. Desde então, a montagem de espetáculos e experimentações

distintos se somam à trajetória do grupo, marcada pela constante inovação e arriscar-se

em cena.

Após a primeira encenação, o grupo prossegue com os seguintes espetáculos:

Um credor da fazenda nacional (1999), Biedermann e os incendiários (2001), As

Bastianas (2002), O santo guerreiro e o herói desajustado (2007), Quem não sabe mais

quem é, o que é e onde está, precisa se mexer (2009) e Barafonda (2012).

Em 2001, a companhia participa do projeto Harmonia na diversidade, em

conjunto com o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e a Companhia Bonecos Urbanos,

ocupando por dois anos o Teatro de Arena. Entre 2002 e 2004, participa de ocupações

artísticas em projetos sociais como os albergues Boracea e o Canindé, resultando da

montagem As Bastianas.

Atualmente o grupo ocupa um espaço localizado na rua Lopes de Oliveira, 342,

na Barra Funda, zona oeste de São Paulo.

Grupo Galpão

Em 1982, Teuda Bara, Eduardo Moreira, Wanda Fernandes e Antônio Edson se

encontraram em uma oficina de teatro em Belo Horizonte, onde trabalharam acrobacias,

técnicas corporais e jogos com objetos. Saem de lá decididos a criar um grupo de

pesquisa. Durante a criação de seu 1º espetáculo, E a noiva não quer casar, aproveitam

uma razão social constituída anos antes e adotam o nome Galpão. Estreiam numa

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praça central da cidade após cinco semanas de ensaio num antigo hospital ocupado por

estudantes.

Ao longo dos 30 anos de existência, o Galpão tem suas raízes no teatro popular

e de rua. Os encontros com Gabriel Villela, Cacá Carvalho, Paulo José, Ulysses Cruz,

entre outros, ajudaram na formação de uma sólida linguagem teatral. Seus 20

espetáculos já foram apresentados em todas as regiões do Brasil e em diversos países.

Além de seu repertório, o grupo mantém desde 1998 o Galpão Cine Horto, um

centro cultural voltado para pesquisa e o estímulo à criação teatral, onde oferecem

cursos, uma sala de cinema e uma biblioteca teatral abertas à comunidade e vários

projetos de criação, fomento e difusão cultural que beneficiam artistas de Minas Gerais

e de todo o Brasil.

Particularidades estéticas

Pombas Urbanas

Ao longo de sua trajetória, o grupo esteve sempre às voltas com questões

pertinentes ao momento de vida de suas/seus integrantes. Desde a primeira montagem,

Os tronconenses, em que apresentavam o universo de jovens da periferia, a

dramaturgia característica do grupo apresenta um olhar ao popular em mescla com

personagens tipicamente urbanas. Com seu segundo espetáculo, Funâmbulo, o grupo,

em rara ocasião, inspira-se no texto de Jean Genet a fim de se dedicar "[...] com maior

disciplina ao fazer teatral, momento de consolidação do texto e da dramaturgia; além do

aprofundamento da pesquisa do ator e da profissionalização do grupo" (SILVESTRE,

2009, p. 61.). É com a peça Mingau de concreto, (1996), que o grupo vai, pela primeira

vez, às ruas, revelando personagens típicas das vias de transição da cidade. Neste

momento o popular se redimensiona em contato com o público distinto que, até então,

ia assistir ao grupo em salas fechadas. A partir daí, o grupo encena novos espetáculos

em salas fechadas, contudo, alternando espetáculos de rua, como é o caso de Bichos

pela paz (2003), Largo da matriz (2004) e Histórias para serem contadas (2007), e,

inclusive, um espetáculo encenado em piscinas públicas, Quadrúpedes aquáticos

(2002).

Grupo Galpão

“Hoje podemos afirmar que o Galpão já tem uma linguagem

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própria, onde se misturam Brecht e Stanislavski, as técnicas circenses com o teatro balinês, a música folclórica com os experimentos musicais mais contemporâneos, a dramaturgia clássica com o melodrama, Eugenio Barba com Gabriel Villela, Eduardo Garrido com Shakespeare, marujadas com Molière, teatro épico com drama psicológico, o provinciano com o universal, a tradição com a transgressão. Tudo se mistura nesse caldeirão que os alquimistas do Galpão transformam, com visão crítica e generosidade, em teatro da mais pura cepa, arte maior, celebração da vida”. (Citação de Paulo José presente no endereço eletrônico do grupo)

Magistrais na apropriação de clássicos, ambientando-os em cenários e sotaques

brasileiros, o Galpão tem como principais trabalhos: Romeu e Julieta (1992), A rua da

amargura (1994), Um Moliére imaginário (1997), Um trem chamado desejo (2000), O

inspetor geral (2003), entre outros. O grupo acumula mais de 100 prêmios brasileiros,

incluindo a Ordem do Mérito Cultural, condecoração do Ministério da Cultura a grupos

que contribuem para a cultura brasileira.

Cia São Jorge de Variedades

Apesar de cada espetáculo requerer escolhas estéticas diferentes, a companhia

tem como investigação constante as manifestações ritualísticas de canto e dança,

sempre se referindo às influências das religiões afro-brasileiras na expressão artística

brasileira. A dramaturgia, em todos os seus espetáculos, discute invariavelmente

posicionamentos éticos em relação à diversidade e aos paradoxos da cultura brasileira

ao longo de sua formação. Sua pesquisa mais recente, que culminou com a montagem

de Barafonda, tem por lema e mote “Do Coro vieste, ao Coro retornarás!”: em tempos

de extrema individualidade, a companhia toma as ruas de seu bairro-sede para levantar

questões pertinentes à complexa sociedade paulistana, movendo-se como um grande

corpo composto por 30 atores-músicos, anunciando-se à sociedade “[...] de maneira

lúcida, crítica, sem produzir discursos nem estagnar o pensamento e as energias”,

(Fanzine São Jorge, 2012, p. 1) numa demonstração de verdadeira criação e ação

coletiva.

Conclusão

Os três grupos aqui descritos têm em comum, além da criação coletiva, a

preocupação com o ponto de vista do espectador. São grupos preocupados com a

comunicação direta com o público: ao montar obras clássicas, trazem referências da

realidade do espectador; ao criarem novas obras, procuram dar voz ao espectador,

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trazendo questões que incomodam e movem a sociedade. Para isso, cada um, à sua

maneira, mergulha em manifestações artísticas populares e vai às ruas, mesclando seu

resultado artístico ao ritmo da cidade. Seu trabalho com/para a comunidade se estende

para além da obra artística, mantendo suas sedes, publicações e projetos populares em

permanente atividade de conscientização.

Teatro da Vertigem, Grupo XPTO e Grupo Teatral Moit ará 5

Introdução

O fenômeno dos agrupamentos em teatro brasileiro tem relevância, entre outros

aspectos, como forma de resistência ao teatro dito comercial e de fácil acesso, que se

utilizam do formato das telenovelas e das comédias, sustentadas por um humor de fácil

digestão, cuja única função aparente é o desserviço para com a sociedade, ao reafirmar

os antigos preconceitos, historicamente instaurados, contra as minorias.

É possível notar, em uma cidade como São Paulo, por exemplo, graças à

mobilização e à luta da classe artística, a existência de incentivo proveniente de

iniciativas públicas e privadas, com a finalidade de instaurar um fluxo de grupos e, após

certo período de experiência subsidiada, constata-se grupos que já possuem linguagem

artística própria, proveniente de pesquisa experimental.

Motivadores das escolhas

A escolha dos três grupos - Teatro da Vertigem, Grupo XPTO e Grupo Teatral

Moitará – se deu, principalmente, pelo interesse que tínhamos acerca dos

procedimentos e dos expedientes estéticos, dos quais os grupos utilizam. A respeito do

Teatro da Vertigem, o que nos interessou foi, primeiro, o fato deste ser referência para a

história do teatro no Brasil, com a proposta de apropriação de espaços não-

convencionais para a cena teatral e, também, da metodologia de trabalho inovadora

para o período nos grupos não popular: o processo colaborativo.

Já, no que concerne aos grupos XPTO e Moitará, o que constituiu nosso

interesse foi o trabalho que ambos desenvolvem, cada um de uma maneira específica,

com a linguagem do teatro de animação, principalmente, na pesquisa com bonecos,

5 Pesquisa feita por Danilo Lopes e Felipe Fachim

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objetos e máscaras.

Grupos ou Coletivos

Teatro da Vertigem

Surge com um grupo de estudos da ECA – USP6, composto por estudantes e

professores do curso de Artes Cênicas, dentre os quais podemos citar Antônio Araújo,

Gabriel Vilela, Maria Thaís, Sérgio de Carvalho, Lúcia Romano, entre outros, em 1991.

A principal preocupação do grupo era o ator, daí a proposta inicial de pesquisar a

mecânica da física clássica aplicada ao movimento do corpo deste, que gerará

repertório de treinamento para o primeiro espetáculo, estreado em 1992.

Responsável por um procedimento de trabalho posteriormente denominado

processo colaborativo, o Teatro da Vertigem apresenta, enquanto característica

fundamental a busca por espaços não convencionais para a apresentação de suas

obras. Trata-se de uma apropriação do espaço, que, por sua vez, está relacionado à

temática da montagem, para ressignificá-lo esteticamente. O grupo completa vinte anos

em 2012 com formação diferenciada, porém com os mesmos procedimentos e força

vital agressiva, vertiginosa e causadora de espanto.

Grupo XPTO

A atuação do grupo XPTO inicia-se no ano de 1984, sob a coordenação do

artista plástico argentino Oswaldo Gabrielli e pelo músico e compositor brasileiro

Roberto Firmino. O desenvolvimento das atividades do grupo iniciaram em forma de

performance nas casas noturnas underground paulistana no inicio do ano 1980. Devido

a essa característica performática, o processo criativo de Gabrielli permite que todos os

atores contribuam para a encenação como criadores, não apenas de suas

personagens, mas também do roteiro em que se inserem. Os espetáculos normalmente

fundem música, dança, circo, manipulação de bonecos e objetos e, claro, linguagens

teatrais mais convencionais. Isso, com absoluto rigor técnico e precisão de acabamento.

Grupo Teatral Moitará

O Grupo Teatral Moitará, sediado na cidade do Rio de Janeiro (RJ), desde 1988,

6 Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo.

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desenvolve uma pesquisa continuada sobre o trabalho do ator, buscando compreender

os princípios que fundamentam sua arte, tendo nos estudos dos aspectos e funções da

Máscara Teatral a base para a elaboração de uma metodologia própria. A Máscara é o

mais representativo elemento de toda história do teatro e em todas as culturas são

encontradas Máscaras como elementos de comunicação capazes de transmitir a

essência da vida de seu povo. Por esta razão, o trabalho do grupo consiste numa

pesquisa teórica e prática do significado artístico e sociocultural da Máscara,

elaborando a sua função cênica através da confecção e do jogo que ela propõe. Os

principais nomes que compõe o grupo são: Venício Fonseca – fundador do grupo, Erika

Retti – fundadora, também, André Marcos – ator-pesquisador e mascareiro e Fabiano

Manhães – ator-pesquisador e mascareiro, além dos colaboradores.

Particularidades estéticas

Teatro da Vertigem

A grande particularidade do Teatro da Vertigem é, justamente, a relevância

histórica que este tem com a apropriação dos espaços. A Trilogia Bíblica – três

primeiras montagens que o grupo concebeu. São elas: O Paraíso Perdido (1992),

apresentada na igreja da Santa Efigênia (SP); O Livro de Jó (1995), apresentada no

hospital Humberto Primo (SP) e Apocalipse 1,11 (2000), apresentada no Presídio do

Hipódromo (SP) – foi bem recebida pelo público e pela crítica, viajou o Brasil e outros

países e ganhou os principais prêmios da época.

Após conquistar o seu espaço na cena teatral, ele segue com a montagem de

BR-3 (2006), apresentada no Rio Tietê. BR-3 traz a história dos “Brasis” que cabem no

Brasil, ao propor uma viagem por três BRs distintos: Brasilândia (SP), Brasília e

Brasiléia (AC).

Atualmente (2012) o grupo está em cartaz com a peça Bom Retiro 958m. Com

esta, que aborda a história do bairro Bom Retiro em São Paulo e as transformações que

esta região sofreu, comemora os 20 anos de existência.

Grupo XPTO

O Grupo XPTO tem um histórico expressivo dentro do panorama teatral

brasileiro. Caracterizado pela realização de espetáculos com grande apelo visual e

musical, vem, nas últimas duas décadas, contribuindo para a formação de um teatro

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brasileiro contemporâneo. Apresentou-se em diversas capitais brasileiras e também no

exterior (Argentina, Uruguai, Venezuela, Colômbia, Espanha, França, Portugal,

Iugoslávia e Hong Kong), obtendo sempre grande sucesso de público e de crítica.

Recebeu, ao longo de 23 anos de carreira, 40 dos mais importantes prêmios do teatro

brasileiro (APCA, Mambembe, Shell, APETESP, Governador do Estado, Fundacen,

Coca Cola e Panamco, entre outros). O processo de pesquisa do grupo tem como foco

a construção de uma poética contemporânea, que seja reflexo de nosso momento

histórico, que revele nossas motivações como integrantes de um grupo urbano inserido

num contexto repleto de contrastes culturais, éticos, estéticos e sociais.

Grupo Teatral Moitará

Da sua fundação até hoje o Moitará notabiliza-se pela diversidade em seus

projetos sócio-culturais. Em 1990, o grupo aproximou-se do Centro Maschere e

Strutture Gestuali e, em 1992 e 1995, participou das VI e VIII Edizione del Seminário

Laboratorio Internazionale Arte della Maschera (Itália). Em parceria com o Grupo Fora

do Sério e Donato Sartori, Moitará realizou a pesquisa teatral e texto do documentário

Breve História da Máscara e Método Sartori e Viagem ao mundo da Máscara em 1997.

Em 1999, o Grupo estreou Rifinfim no Medelim, no Teatro do Museu da República (RJ).

Em 2002, junto a Alessandra Vannucci, o Moitará produziu a oficina Quel Buffone di

Arlecchino, ministrada por Enrico Bonavera na UniRIO7. Em 2003, estreou Imagens da

Quimera. Em 2006, Quiprocó. Em 2007, é agraciado com o prêmio Myriam Muniz de

fomento ao Teatro. Sua sede é um Ponto de Cultura e abriga o projeto PALAVRAS

VISÍVEIS: Capacitação técnica para atores surdos com a linguagem da Máscara Teatral,

que é um projeto inédito na cena teatral brasileira e se configura como uma nova frente

de iniciativa sócio-cultural, na busca pela alteração do quadro de exclusão do deficiente

auditivo, ao visar integração e afirmação identitária.

Conclusão

Promover pesquisa enciclopédica acerca de grupos, a princípio distantes tanto

na ideologia quanto nos procedimentos artísticos, possibilita, primeiro, quebrar com

paradigmas ou preconceitos pré-estabelecidos além de, durante e após a feitura do

texto, (re)descobrir a importância social e política que estes grupos apresentam para a

história. História tal, que o Brasil insiste em encobrir. Histórias de uma arte

7 Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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fundamentalmente brasileira que está no patamar de vanguarda, de linguagem

processual experimental de qualidade igual e até superior à de grupos europeus

considerados paradigmas e referência na história mundial do teatro. Estabelecer o

panorama proposto nos remete, portanto, à necessidade que o Brasil tem de revisitar

suas terras e delas se lhes sujarem corpo e alma.

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Teatro de Narradores, Grupo Proposta de Teatro e En genho Teatral 8

Introdução

É no começo de 1990 que surge, e para outros ressurgem, o Teatro de Grupo,

termo que identificava a maior parte do teatro que se fazia neste período, e, ainda hoje.

O teatro de grupo tem como características fortes o território alternativo, a coletividade

como essência, a quebra das hierarquias e a articulação em grupo para adquirir a

sobrevivência, contudo, há diversidade nas formas e nos modelos de como tratar estas

questões, nas quais entram subjetividades e estéticas que cada grupo desenvolve.

Uma grande contribuição deste movimento para atualidade foram “(...) os

investimentos dos grupos em compreender os seus próprios processos coletivos”9, que

nos trouxe desdobramentos de novos campos poéticos e de trabalhos politicamente

radicais. Outra contribuição, especificamente em São Paulo, foi o movimento Arte

contra a Barbárie criada pela união dos grupos da cidade, em 1999, para lutar contra a

“Colonização mental da indústria cultural” e “(...) as situações criadas pelas leis de

renúncia fiscal”10 tendo como resultado desta luta a implementação da Lei de Fomento

ao Teatro para a cidade de São Paulo que potencializou os investimentos em projetos

pedagógicos e políticos dos grupos teatrais paulistanos.

UM TEATRO DE NARRADORES

Breve histórico

Nascido na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo, no ano de

1997, O Teatro de Narradores é mais um belo feto fecundado no útero do movimento

Arte Contra a Barbárie. José Fernando de Azevedo (atual diretor do grupo), Sandro

Willig, Marcelo Daher, Silvana Ramos, Teth Maiello e Bárbara Araújo trouxeram à luz

para a cena teatral paulistana o Teatro de Narradores. Estreando em 1997 com A lata

de lixo da história, o grupo manteve-se ligado ao ambiente universitário até o ano 2000.

Daí para cá, apresentou doze espetáculos, numa produção média de um espetáculo por

ano, culminando com Cidade Desmanche (2009), com o qual ganhou o prêmio

8 Pesquisa realizada por Eraldo Eudes Maia e Francisco Vinícius de Freitas Pereira

9 Carreira, André: Teatro de grupo: um Território Multifacético. Próximo ato: Teatro de grupo/ organização: Antônio Araújo, José Fernando Azevedo e Maria Tendlau – São Paulo: Itaú Cultural, 2011. 10 Mate, Alexandre: Teatro Vivo em São Paulo:

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Cooperativa Paulista de Teatro, como melhor espetáculo, e com Cidade fim, cidade

coro, cidade reverso (2011) seu meu mais recente trabalho.

Particularidades estéticas

Situado na rua treze de maio, o grupo coloca o Bixiga como personagem no

centro de uma reflexão sobre as formas de convívio na atualidade. É aí que se insere o

espetáculo Cidade Desmanche (2009) a encabeçar um processo de pesquisa acerca da

ocupação artística e da relação de convívio com o entorno. O espetáculo seguinte

Cidade Coro, Cidade Fim, Cidade Reverso (2011) aprofunda o processo de diálogo com

a comunidade e de ocupação artística das ruas do Bixiga

Apoiado em cena de matriz épica e numa crescente aproximação com o teatro

brechtiano, como retomada de confronto e apropriação da experiência social de Bertolt

Brecht, o Teatro de Narradores procura produzir experiências que possam potencializar

encontros, nos quais abram-se flancos para serem investigados temas e formas.

Segundo José Fernando de Azevedo há, hoje, no Teatro de Narradores uma

preocupação com o cruzamento entre teoria e forma, como também busca-se investigar

a cena tanto no interior da sala de espetáculos quanto na rua.

Mais um filho da luta

Como teatro de grupo, o Teatro de Narradores é mais um exemplo positivo dos

frutos que renderam o movimento Arte contra a barbárie. Apoiado, hoje, por Lei de

Fomento à Cultura, o Teatro de Narradores se sente confortável para dedicar-se a um

processo acurado de pesquisa sobre suas relações com o entorno. O foco reside na

cidade, não como cenário, mas como opção efetiva em que possa descobrir

possibilidades de configurar a cena num processo de negociação com os habitantes à

sua volta. Para José Fernando, essa preocupação com a ocupação urbana, começou,

ainda, no início dos anos dois mil, quando experimentaram o contato com grupos que

lutam por moradia no centro da cidade de São Paulo. É com a cidade e principalmente

com a comunidade que o cerca que o Teatro de Narradores dialoga, sem perder de vista

pesquisas no âmbito estético e formal em salas de ensaio. Para 2013, num projeto que

abrangerá mais uma vez a ocupação das ruas do Bixiga, novamente, Brecht será

chamado à cena e Arturo Ui será seu grande mote. Evoé!

GRUPO PROPOSTA DE TEATRO

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TIMON-MA

Breve histórico

Fundado em outubro de 1990 com o nome de Grupo Teatral Família de Astros.

Do elenco de fundadores somente o diretor Roger Ribeiro ainda participa do grupo,

que tem produzido, em média, uma peça a cada dois anos. Dentre elas merecem

destaque: O chip nosso de cada dia (1995), Circo desmontado (1998), O diário da

bruxa (2007), Uma história pelo avesso e outras histórias (2003) Um brasileiro no céu

(2008). O grupo tem forte atuação junto à cidade timonense, em ações culturais

contínuas pelas ruas e praças do município por meio de oficinas, montagens de

espetáculo e realização de Mostras de Teatro.

Com o objetivo de formar plateia e desenvolver a arte teatral na cidade, o grupo

traz em sua experiência profissional a realização de projetos, como: Literatura em Cena,

inicialmente em parceria com o SESC local, cujo foco é provocar nos estudantes o

gosto pela literatura, preferencialmente piauiense ou maranhense.

Particularidades estéticas

O Grupo prima por pesquisar e levar à cena, através do cômico, o linguajar

popular do Meio Norte do Brasil. Sob a orientação do ator Vitorino Rodrigues,

especialista em literatura brasileira, desenvolvem-se pesquisas sobre as histórias

populares, o modo de falar, as lendas e causos esquecidos do povo piauiense e

maranhense, priorizando os dramaturgos e contadores de histórias do lugar. Ruas,

praças, pontos de ônibus, feiras livres são espaços utilizados não somente para

apresentações de espetáculos, mas também para discussões e experiências de troca

com a comunidade. Os atores do Proposta trabalham de dia em outras atividades e à

noite dedicam-se à arte do teatro, no melhor estilo amador. A criação coletiva e a posse

de seus meios de produção são buscados com afinco.

Ousadia e disposição

Sem apoios financeiros ou leis de incentivo, algo ausente, naquela comunidade,

o Proposta arregaça as mangas e vai à luta, buscando contato com o povo,

incentivando-o a ver-se e rever-se na cena que conta sua própria história. Projetos

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ousados como Enquanto o Teatro Não Vem, apresentado em locais como rodoviárias,

Centrais de Abastecimento, feiras, hospitais, buscam sensibilizar as autoridades e a

população sobre a importância de se ter uma casa de espetáculos, que se transforme

em ponto de apoio ao teatro local. O projeto Sexta Só Riso, que traz à cena montagens

de comédias já realizadas pelo Grupo, além de participações de outras companhias da

cidade, objetiva visibilidade à arte teatral, insistindo numa regularidade de

apresentações artísticas como meio de formação de público. Complementam o quadro

fóruns de discussões e mostras de teatro, sempre com o foco na divulgação da arte do

palco e na busca pela inserção do homem como dirigente de sua própria história.

Evoé! rapaziada.

ENGENHO TEATRAL

Breve histórico

Em plena ditadura militar (1979) surge para cena teatral brasileira o Apoena,

estreando com o espetáculo Mãos sujas de terra. Segundo seu fundador Luiz Carlos

Moreira, durante catorze anos o grupo viveu o que chama de circuito Bixiga: atores que

trabalhavam de dia se reuniam à noite em torno de um texto predeterminado para

fazerem espetáculos. As dificuldades, segundo Moreira, eram de toda ordem:

temporada curta, com poucos espetáculos, apresentados de terça a domingo para um

público minguado.

Em 1986, o Apoena se une ao Engenho de Arte, outro grupo pertencente à

Cooperativa Paulista de Teatro, e em 1993, já com o nome de Engenho Teatral, dá o

grande salto. Diz Moreira: “A partir daí a gente pegou o boné e se exilou”. O teatro

reduzido à mercadoria não nos interessava mais, aliás, nunca nos interessou. Seus

últimos trabalhos Outro$ 500 (2008); Pequenas histórias que à História não contam

(2002) e Opereta de Botequim (2012), considerado como único musical épico dialético

do teatro paulistano, consolidam o pensamento do grupo em direção à recusa definitiva

a um teatro produzido nos moldes capitalistas de produção.

Escolhas estéticas

A recusa aos meios capitalistas de produção implica, em circunstâncias atuais,

sobreviver à margem, e é assim que o Engenho Teatral sobrevive: à margem. Um teatro

que se propõe encontrar seu público na periferia, que compreende sua produção

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artística como não-mercadoria, que considera a cena como um conjunto de relações

que se estabelecem principalmente fora do palco, que busca alterar as relações para a

partir daí verificar como isso implica na cena, cuja relação com o público se dá de modo

dialético e não por formatação ou instrução pedagógica, que compreende a formação

de público como formação de gente, é um teatro construído em moldes que,

necessariamente, colidem com os meios de produção do mercado, procurando mostrar

que há outras alternativas.

Aquele que diz não

Participante ativo na fundação da Cooperativa Paulista de Arte, bravo lutador no

movimento Arte contra a barbárie, incansável na luta contra os desmandos do capital,

Luiz Carlos Moreira, fundador do Engenho Teatral é um daqueles homens que lutam

para que os meios de produção pertençam aos trabalhadores. Seu teatro, gratuito e

popular, busca o estreitamento das relações com movimentos da periferia e procura se

afirmar, no âmbito interno, ancorado em relações horizontais. “Ninguém é dono de

nada, aqui” afirma Moreira.

Determinado e confiante, assim se expressa Luis Carlos Moreira: O Opereta de

Botequim (2012) foi a maior produção coletiva que fizemos; parece que estamos na

direção desejada.

Conclusão

O engajamento político de parte da classe artística paulistana no final dos anos

noventa e início dos anos 2000, com o movimento Arte Contra a Barbárie, combinado

com a vigilante e permanente atuação junto aos órgãos legislativo e executivo da cidade

de São Paulo têm garantido, por meio das atuais Leis de Fomento à cultura, que artistas

e grupos teatrais locais possam desenvolver um teatro de pesquisa. É claro que ainda

estamos distantes do necessário, onde o que se reivindica é uma real política de cultura

nacional em que ações concretas de nossos parlamentares possam reservar para o

Ministério da Cultura fatias significativas do orçamento da união para a cultura

brasileira. Porém, o exemplo de luta dos artistas e intelectuais paulistanos, com

organizados movimentos de pressão junto aos legisladores da cidade, para garantir no

orçamento local valores que possam atender minimamente projetos de cultura, pode

servir de exemplo a uma ação conjunta dos artistas nacionais num movimento que

abranja do Oiapoque ao Chuí. Tudo dependerá de nossos modos de organização e do

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entendimento de que fazemos parte de uma única nação. De nosso engajamento e

atuação política dependem novos fomentos ao teatro nacional. Vamos à luta!

Clowns de Shakespeare, Cia. da Revista e Cia. do Ti jolo 11

Introdução

A importância do teatro de grupo no Brasil

O “fenômeno” Teatro de Grupo, que em São Paulo despontou, de modo mais

sistemático, na década de 1940, tem apresentado notório desenvolvimento no país ao

longo dos anos, revelando coletivos com diferentes estéticas, efeitos de teatralidade,

relação com o público, diversidade temática, mas com uma característica em comum: o

processo de criação coletiva.

Nesse sentido, nós, estudantes do quarto ano de Licenciatura em Arte-Teatro

propusemo-nos a estudar o fato, realidade contemporânea brasileira. Dividindo-nos em

duplas escolhemos dois coletivos do Estado de São Paulo e um de outro estado para

registrarmos historicamente sua forma de produção cênica.

Neste capítulo do anuário será possível conhecer, brevemente, os grupos:

Clowns de Shakespeare, Cia da Revista e Cia do Tijolo.

Motivadores das escolhas

Partindo da tarefa concedida ao quarto ano de Licenciatura em Arte-Teatro do

Instituto de Artes da Unesp em pesquisar coletivos que trabalhem com o fenômeno

discutido, o Teatro de Grupo, nós João Paulo Rafaelli e Priscila Ortelã, selecionamos: os

Clowns de Shakespeare (RN), a Cia da Revista (SP) e a Cia do Tijolo (SP).

A vontade em pesquisar os Clowns de Shakespeare despontou pela curiosidade

que nós pesquisadores possuímos sobre o coletivo. Em relação à Cia da Revista, o

desejo surgiu pelo fato desta ter pouco registro histórico, principalmente na Academia. E

por fim, a vontade em investigar a Cia do Tijolo veio pela experiência que ambos

tivemos ao assistir Concerto de Ispinho e Fulô, espetáculo da companhia apresentado

no Sesc Pompeia, em 2011.

Os Grupos

11 Pesquisa realizada por João Paulo Rafaelli e Priscila Ortelã

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Clowns de Shakespeare

O grupo Clowns de Shakespeare é um coletivo da cidade de Natal, Rio Grande

do Norte. Sua fundação oficial foi em 1993, mas o início se deu em 1992 no Colégio

Objetivo quando ainda eram vestibulandos coordenados pelo professor de Literatura

Brasileira.

Em 1996 iniciaram a construção da sede – Espaço Cultural Casa da Ribeira,

pronta em março de 2001. Em 2003 para comemorar uma década de vida, convidaram

o diretor do Grupo Galpão, Eduardo Moreira para construir junto do então diretor do

grupo, Fernando Yamamoto, o espetáculo Muito Barulho Por Quase Nada, obra que

revelou os Clowns de Shakespeare no país.

O ano de 2008 foi marcado por forte atividade política: Fernando Yamamoto foi

eleito conselheiro nacional do movimento Redemoinho12; fundaram o movimento A

Lapada13. Atualmente, são fortes atuantes em movimentos de articulação política com

vários grupos teatrais do Brasil.

O coletivo possui séria preocupação com a pesquisa cênica atoral, a

musicalidade da cena e do corpo e com o teatro popular e por isso desenvolvem estes

aspectos, principais objetivos de investigação. As obras shakesperianas servem como

inspiração aos seus questionamentos: não procuram um caráter “museológico”, mas se

propõem ao desafio de, sem retirar a genialidade do dramaturgo, encontrar o que faz

sentido as suas criações.

Cia. da Revista

Criada em 1997, a Cia. da Revista se formou com o propósito de investigar e

recuperar o teatro popular brasileiro por meio do gênero Teatro de Revista14,

observando o diálogo existente entre esta linguagem e a contemporaneidade.

Neste ano a companhia completou quinze anos de existência tendo onze obras

12 Criado em 2002, o Redemoinho Movimento Brasileiro de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa tem por objetivo lutar por uma sociedade em que arte e cultura sejam um direito do cidadão. 13 A Lapada tem por objetivo realizar trocas artísticas e fomentar o teatro de grupo no Nordeste. É formado pelos grupos: Bagaceira (CE), Máquina (CE), Clowns de Shakespeare (RN), Alfenin (PB), Piollin (PB) E Ser Tão (PB). 14 O Teatro de Revista é um gênero teatral que surgiu no século XVIII junto aos Vaudevilles franceses. Tinham por principal característica revisitar o passado, colocando “em revista” e de maneira cômica os acontecimentos da vida citadina cotidiana. Os espetáculos tinham por característica a reunião de números musicais entrecortados por cenas cômicas, quadros de fantasias e cenas apoteóticas que eram grandiosas e reuniam todo o elenco, finalizando a obra. No Brasil, as Revistas despontaram na década de 1910.

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registradas em seu repertório artístico. Por terem sido contemplados pelo Fomento ao

Teatro, o coletivo conseguiu inaugurar sua sede, o MINITEATRO na Praça Roosevelt,

no centro da cidade de São Paulo em 13 de abril de 1999.

Atualmente composta por sete mulheres e cinco homens, a companhia conta

com a fiel direção de Kleber Montanheiro, fundador do coletivo.

Cia. do Tijolo

A Cia. do Tijolo se formou a partir do show musical Cante lá, que eu canto cá

(2008) baseado em músicas e poesias do poeta cearense Patativa do Assaré. A ideia foi

trazida por Dinho Lima Flor, integrante do grupo, quando durante sua passagem por

Assaré (CE), reuniu um rico material sobre Patativa. Isto fez com que tivesse o desejo

de transformar este material em um sarau, monólogo ou um show.

Nesta iniciativa embarcaram Rodrigo Mercadante e Fabiana Barbosa.

Percebendo que o show não era suficiente para contar a história pela qual se

admiraram - um poeta cantador, que estudou apenas seis meses e todos os

conhecimentos que possuía acerca do mundo eram de suas vivências - resolveram

montar o espetáculo Concerto de Ispinho e Fulô (2009).

A criação do nome do grupo, Cia. do Tijolo, surgiu a partir das proposições

didáticas de Paulo Freire. Autor do material que acompanhou a criação do espetáculo,

Freire utilizou em seus processos de alfabetização o que denominou de “palavras

geradoras”, expressões que auxiliavam os estudantes a compreender e intervir no

mundo ao seu redor. TIJOLO é uma destas. A companhia entende que o processo pelo

qual Patativa passou é muito próximo das vivências propostas por Freire e assim

utilizou de uma das palavras geradoras para nomearem o grupo. A Cia. do Tijolo faz

muitas temporadas tanto com o show Cante lá que eu canto Cá quanto com a obra

Concerto de Ispinho e Fulô e não realizou nenhum novo trabalho.

Particularidades estéticas

Clowns de Shakespeare

O primeiro espetáculo da companhia foi Arte Pura-Literatura sem Censura,

construído em 1992. Em 1993, oficialmente fundados, montaram a primeira obra de

Shakespeare, Sonho de Uma Noite de Verão. Após passagem do diretor Fernando

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Yamamoto pela Inglaterra, o coletivo investiu em sua formação trazendo para a

capacitação dos atores os profissionais: Sávio Araújo, Edson Claro e Marcelo Neves.

Em 1996 tiveram o primeiro contato com a linguagem do palhaço por meio de

Adelvane Néia.

Anos mais tarde, estrearam dois espetáculos, o infantil Fábulas e O Casamento

do Pequeno Burguês, de Bertolt Brecht. Em 2009 montaram O Capitão e a Sereia, livre

criação a partir do livro homônimo de André Neves. 2010 foi marcado pela criação da

obra Farsa da Boa Preguiça, em parceria com o grupo paraibano Ser Tão Teatro. Em

seguida criaram Sua Incelença, Ricardo III, com direção de Gabriel Villela. Esta obra

proporcionou ao grupo a participação em importantes festivais brasileiros, além de

cumprirem, em 2012, pequena temporada no Sesc Belenzinho em São Paulo.

Cia. da Revista

A Cia. da Revista tem por estética base as proposições do teatro de revista,

buscando o diálogo desta linguagem com o momento histórico vivenciado e com o país.

Também utilizam como inspiração os cabarés alemães, uma vez que para o diretor

Kleber Montanheiro, este é um gênero extremamente teatral e provocativo. Neste

sentido, a companhia resgata em suas pesquisas, principalmente, a forma musical e os

artistas da época, o que alimenta as construções cênicas.

A primeira obra do coletivo foi A Cor de Rosa (1995-1999), musical baseado em

Noel Rosa. Em 1999, estrearam um dos espetáculos mais importantes do repertório,

Kabarett (1999-2000) que procurou a construção e posterior desconstrução da fábula,

além do constante diálogo com o público.

De 2001 a 2003 fizeram parceria com o grupo As Graças e construíram Tem

Francesa no Morro, narrando, a partir de quatro vedetes, a história de demolição do

espaço Teatro Recreio no Rio de Janeiro.

2007 e 2008 foram marcados pela construção do espetáculo infantil O Doente

Imaginário uma adaptação da peça de Molière. Posteriormente, Cada Qual no Seu

Barril (2011), também infantil, caracterizou-se por forte imersão nos acontecimentos do

mundo. Foi livremente inspirado no livro de Ruth Rocha – Dois idiotas sentados cada

qual no seu barril e teve por característica a construção física improvisacional.

Carnavalha criado em 2011 baseou-se na peça brechtiana Ascensão e Queda

da Cidade de Mahagonny. Foi o resultado de uma pesquisa de três anos a partir da

conquista da Lei de Fomento ao Teatro.

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Em 2012 Cabeça de Papelão, livremente inspirado em O Homem da Cabeça de

Papelão de João do Rio, marcou a companhia pela excelente mescla entre a revista e o

gênero épico.

Cia. do Tijolo

A companhia possui um trabalho em seu repertório, Concerto de Ispinho e Fulô,

uma obra que conta a história de um grupo de atores que vão a Assaré (CE) para

entrevistar Patativa. Neste processo, comentam sobre o sítio Santa Cruz do Deserto,

um local que abrigava várias pessoas que ali subsistiam e viviam em comunidade, mas

que foram atacados brutalmente, todos mortos, por uma luta territorial.

A companhia trabalhou com o gênero épico para contar a história, repleta de

músicas em que o sertão pode ser ouvido e visto a partir de objetos e figurinos que

passeiam pelo espetáculo, mas também pode ser observado em qualquer comunidade

atacada injustamente como a do Pinheirinho em 2011. Possuem no elenco integrantes

de vários outros coletivos como Ventoforte, Casa Laboratório e Cia. São Jorge. São

eles: Karen Menatti, Aloísio Oliver, Rogério Tarifa, Thais Pimpão, Jonathan Silva e

Mauricio Damasceno.

Conclusão

Durante um semestre pudemos estudar, observar e vivenciar este fenômeno que

vem tomando grandes proporções no país, principalmente na cidade de São Paulo.

Tivemos a oportunidade de conhecer e visitar três coletivos paulistanos:

Engenho Teatral, Cia Hiato e Cia Antropofágica, além de um encontro no Instituto de

Artes da Unesp com cinco mulheres, profissionais do teatro: Patrícia Guifford (Cia. São

Jorge), Verônica Fabirini (Boa Companhia, de Campinas), Andreia Nhur (Grupo

Katharsis, de Sorocaba), Renata Melo e Fernanda Azevedo (Cia. Kiwi). Os encontros

não só proporcionaram conhecimento, como também o início de uma amizade com

estas pessoas, militantes que constroem nossa história teatral diariamente.

No que concerne a esta pesquisa, destacamos a importância em recuperar a

historiografia destes grupos, que possuem forte papel no universo de nosso teatro,

auxiliando na manutenção da história do Brasil. Ter a oportunidade de redigir sobre eles

nos dá a certeza de termos auxiliado fortemente para o registro histórico do Teatro

Brasileiro.

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Bibliografia

Revista Clowns de Shakespeare , 15 encontros (15 anos).

Revista Balaio , ano 1, nº 1, set-09.

Sites Pesquisados:

http://www.youtube.com/watch?v=Rf6WziISFL8. Acesso em 10/10/2012.

http://concertodeispinhoefulo.blogspot.com.br/. Acesso em 10/10/2012.

www.clowns.com.br. Acesso em 17/10/2012.

http://www.ciadarevista.art.br/. Acesso em 24/10/2012.

http://www.nossadica.com/kabarett.php. Acesso em 07/11/2012.

Portfólio Cia da Revista - reunião de matérias de jornais acerca de todos os espetáculos

do grupo: http://www.ciadarevista.art.br/paginas/index.asp?link=btHistorico. Acesso em

14/11/2012.

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Cia. Club Noir, Cia. Livre e Ói Nóis Aqui Traveiz 15

Introdução

O teatro de grupo é uma condição teatral na qual os artistas se unem por meio

de um processo de afinidades estéticas e ideológicas. Essa categoria desenvolve a

produção e organização teatral a partir da busca do grupo por uma mesma finalidade,

criando um processo de continuidade e pesquisa do feito teatral, que caracteriza o

desenvolvimento de uma linguagem própria.

A prática coletiva assume um lugar de dissonância em relação ao modo de

produção comercial do teatro, em que a maior preocupação é o espetáculo final em vez

da formação dos artistas e da pesquisa cênica.

O movimento de teatro de grupo tem se mostrado cada vez mais forte, revelando

uma constelação de elementos estéticos e processos criativos diversos. Assim, o teatro

de grupo tem dado novos rumos a prática desta arte no Brasil, por conta de sua

multiplicidade artística e política.

Motivadores das escolhas

Este trabalho pretende analisar três grupos de teatro da atualidade, sendo que

dois deles tem sede na cidade de São Paulo (Cia. Club Noir e Cia. Livre) e o outro em

Porto Alegre (Ói Nóis Aqui Traveiz).

Escolhemos a Cia. Club Noir por sua linguagem peculiar pautada no pós-

dramático; a Cia. Livre foi escolhida por ser um campo desconhecido que ansiamos

pesquisar, devido a sua importância na cena teatral paulistana contemporânea e o Ói

Nóis Aqui Traveiz nos interessa pela preocupação social e por sua estética popular, uma

vez o coletivo transita, também, com a linguagem do teatro de rua.

Depois de quatro anos estudando teatro no Instituto de Artes da Unesp,

trocamos experiências, tanto práticas quanto teóricas, que moldaram nosso feitio

teatral. Durante esse período, estudamos e discutimos muitos tipos de manifestações

teatrais, dentro e fora do Brasil.

Nossas escolhas estéticas são, em parte, fruto do desenvolvimento originado

15 Pesquisa realizada por Sarah Reimann Oliveira e Natália guimarães

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desse processo e estarão sublinhadas aqui.

Os grupos

Cia. Club Noir O Club Noir, sediado no centro de São Paulo, foi fundado em 2006 pelo diretor e

dramaturgo Roberto Alvim e pela atriz Juliana Galdino. O objetivo da companhia era

encenar prioritariamente autores contemporâneos (brasileiros e internacionais), embora

tenha adaptado clássicos do teatro e da literatura à sua estética. Segundo Alvim:

Nosso trabalho em arte é norteado pela criação de espetáculos que traduzem cenicamente as obras de autores contundentes, provocativos, desestabilizadores; criadores de Poéticas que nos levam a construir o modo como percebemos, pensamos e sentimos o mundo [...] (ALVIM, s.n.).16

Por conta do estudo da obra dos novos autores, os integrantes da companhia

sentiram a necessidade de aprofundamento em técnicas específicas no que concerne à

atuação/encenação destes textos. Surgiu assim, a pesquisa do Club Noir: a

investigação da palavra e a exploração inusual da fala humana. Ao longo de seus seis

anos de existência, a companhia assimilou uma série de novos componentes em sua

formação. Atualmente, o Club Noir se configura como um grupo de aproximadamente

15 artistas, que trabalham diariamente em sua sede.

16 Esta referência foi retirada do sítio oficial da Cia. Club Noir e pode ser encontrada no seguinte endereço eletrônico: www.ciaclubnoir.com.br.

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Fotos (da esquerda pra direita): Orestéia II, adaptação de Roberto Alvim à tragédia de Ésquilo, e

Happycinio, de Angélica R. Kauffmann. Ambas ficaram em cartaz no Club Noir em 2012. Fotos: Julieta

Bacchin e Gabriel Chiarastelli.

Cia. Livre

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Foto da peça Vemvai – O Caminho dos Mortos, de Newton Moreno, que estreou em 2007. Foto:

Roberto Setton. A Cia. Livre foi fundada em 1999, em São Paulo, por Alessandra Domingues,

Cibele Forjaz, Edgar Castro, Isabel Teixeira e Simone Mina. Ao longo dos anos, muitos

outros artistas foram agregados ao coletivo. O maior objetivo da companhia era criar um

grupo de artistas criadores que se revezassem em diversas funções no fazer teatral.

Em toda a sua trajetória, a Cia. Livre priorizou a pesquisa cênica e teatral e

realizou oito grandes projetos: Tragédias Cariocas de Nelson Rodrigues - Estudos

Públicos (1999); Projeto Kroetz (2003); Arena Mostra Novos Dramaturgos (2004); Arena

Conta Arena 50 anos (2004); Diálogos Entre Teatro e Rito - Estudo Público (2008);

Teatro e Ritual: Mito de Amor e Morte - 3 Estudos Cênicos (2009); Cia. Livre 10 anos -

Estudo Público (2010); África/Brasil - Estudo Público (2011).

Em 2006 os integrantes da Cia. Livre ocuparam um galpão na Barra Funda e,

desde então, esta é a sua sede. Esse espaço, denominado “Casa Livre”, reúne o acervo

cênico do grupo e é o local onde criam, ensaiam e, por vezes, apresentam suas peças.

Ói Nóis Aqui Traveiz

A Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz surge em março de 1978, em Porto

Alegre (RS), em um momento de ebulição social e de luta pelas liberdades

democráticas. Assim, a ideia dos artistas era a de fazer um teatro que estivesse ligado a

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tudo o que estava acontecendo no país. O coletivo pretendia não só fazer uma reflexão

do momento político atual, mas também trazer novos elementos estéticos em sua forma

teatral.

Por que “Tribo de Atuadores”? O termo tribo, é usado para trabalhar a ideia da

não-hierarquia nas funções do grupo e a noção de “atuador” vem para ressaltar a

importância de um artista que é atuante e consciente, tanto na criação teatral quanto em

suas relações socais.

Em 1984, o Oi Nóis Aqui Traveiz inaugura sua sede, chamada “Terreira da

Tribo”. Assim como o grupo, a sede é gerida por uma forma de organização coletiva. Em

2000, por conta da experiência desenvolvida com Oficinas Populares de Teatro, o

coletivo constituiu a Escola de Teatro Popular da Terreira da Tribo.

O Ói Nóis Aqui Traveiz é referência internacional para o teatro de rua e, por esse

motivo, o grupo é frequentemente convidado a participar de conferências internacionais

de teatro para relatar suas experiências.

Foto da peça O Amargo Santo da Purificação, da Cia. Óis Nóis Aqui Traveiz, que estreou em 2008.

Foto: Cláudio Etges

Particularidades estéticas

Cia. Club Noir

Roberto Alvim afirma que o teatro feito pelo Club Noir é uma “alteridade radical”

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em relação a outras formas estéticas estabelecidas no panorama teatral, inclusive no

que concerne ao teatro contemporâneo.

Nos espetáculos da companhia não há espaço para a ação – os atores ficam

grande parte do tempo paralisados no palco, não agem, apenas falam; não há espaço

para personagens – a companhia transita com o que eles chamam de “figuras”; bem

como não há espaço para a história contada por meio de diálogos – não se tratam mais

de diálogos, mas sim de “monólogos desarticulados”. O Club Noir nega em suas

encenações os seguintes preceitos: narrativa, fábula, ação, diálogos, personagens etc.

Tais características, dentre outras, aproximam o grupo do chamado “teatro pós-

dramático”.17

Ao longo de sua trajetória, o Club Noir encenou textos de dramaturgos

contemporâneos como Harold Pinter e Richard Maxwell. Além disso, a companhia, por

vezes, propõe uma adaptação a clássicos do teatro e também encena textos inéditos.

Em 2012, por exemplo, o Club Noir estreou onze peças, sendo que cinco delas foram

peças inéditas de dramaturgos brasileiros e as outras seis foram tragédias de Ésquilo,

adaptadas por Roberto Avim.

Foto da encenação de Comunicação a uma academia, de Franz Kafka, que ficou em cartaz no

Club Noir em 2009. Este trabalho rendeu à Juliana Galdino uma indicação ao prêmio Shell de melhor atriz.

Foto: Edson Kumasaka.

17 O conceito de “teatro pós-dramático” foi cunhado por Hans-Thies Lehmann (2012).

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Cia. Livre

Foto da peça Raptada pelo Raio 2.0, de Pedro Cesarino, que ficou em cartaz em 2011. Foto: Cacá

Bernardes. A Cia. Livre sempre trabalhou com diversas raízes estéticas, apesar disso, elas

possuem um fio condutor em comum: a pesquisa teatral continuada. A princípio, com a

leitura encenada de sete peças de Nelson Rodrigues, a companhia pretendia ser

rotatória: a direção passava de mão em mão e todos entravam em cena. Esse estudo

inicial rendeu novas montagens, como Toda nudez será castigada e Os sete gatinhos.

Cada um com um diretor diferente, as montagens ficaram totalmente distintas. Assim,

para que mantivessem certa identidade artística, preferiram deixar sempre a direção de

arte nas mãos de Simone Mina e a iluminação à Alessandra Domingues.

Nos anos que se seguiram, a Cia. Livre passou por linguagens diversas e

destacaremos dois momentos que, a nosso ver, mostram a variedade estética que

perpassou à trajetória da companhia: o primeiro foi quando o grupo colocou em prática

o projeto Tennessee Williams 4 x 4, que tinha como objetivo estudar o realismo ; o

segundo foi quando a Cia. Livre ocupou o Teatro de Arena Eugênio Kusnet e transitou

com a linguagem épica .

Várias pesquisas foram realizadas e o projeto mais recente da companhia foi o

denominado “África/Brasil – Estudo Público”, que deu origem ao espetáculo A travessia

da Calunga Grande, que ficou em cartaz em 2012, no Sesc Pompeia.

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Ói Nóis Aqui Traveiz

O Ói Nóis Aqui Traveiz tem uma organização não formal: denominam-se como

uma tribo, na qual não há hierarquia entre os artistas, e afirmam que o grupo é uma

comunidade onde todos produzem, dirigem e atuam. O grupo transita,

fundamentalmente, com a linguagem do teatro de rua. Os “atuadores” acreditam que

esse tipo de manifestação artística permite uma relação espontânea com o público, pois

o espectador participa, compartilha e, inclusive, modifica as cenas que vê. Segundo os

artistas, esse tipo de relação é o que caracteriza o que eles chamam de “Teatro de

Vivências”.

As escolhas estéticas do Ói Nóis Aqui Traveiz tem como base: a composição

indígena; preceitos artaudianos; teatro físico; ações não cotidianas, da dança e do ritual;

conceitos de Grotowski; características do teatro pânico e do teatro épico brechtiano.

O grupo teatral também valoriza a pesquisa do trabalho de ator, que deve

renunciar as suas máscaras psico-sociais, estar sempre lúcido e ambicionar mudar a

sociedade.

Ao todo, o Ói Nóis Aqui Traveiz encenou trinta e uma peças, dentre elas estão: A

divina Proporção (1978), Fim de Partida (1986), A exceção e a regra (1986) e A Missão

(2006).

Foto da peça A saga de Canudos, de César Vieira, que estreou em 2000. Foto: Rafael Nino.

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Conclusão

Durante toda a nossa trajetória na universidade, descobrimos diversas facetas

da cena teatral nacional e nos surpreendemos com a multiplicidade de linguagens dos

vários grupos que fizeram e que fazem parte da nossa história. Além disso, tivemos

contato com artistas arrebatadores, passamos a valorizar os diferentes tipos de

propostas estéticas e nos desfizemos de preconceitos.

O presente trabalho veio para corroborar com tudo o que vivemos nos últimos

quatro anos. Escolhemos três grupos muito diversos, tanto em suas formas quanto em

seus ideais políticos. Cada qual com sua pesquisa, com seus ideais, com suas

propostas e vontades, os grupos escolhidos nos surpreenderam com o trabalho que

fazem e isso, para nós, foi o mais enriquecedor desta pesquisa.

Por fim, ressaltamos o desafio de escrever um texto a quatro mãos,

principalmente, se tratando de trechos tão sucintos como estes. Todas as vezes que nos

reuníamos, tínhamos que discutir, escrever, (re)escrever... Trabalhar juntas certamente

nos fez amadurecer.

Assim, finalizamos este trabalho muito satisfeitas com a pesquisa realizada e

também por compartilhar, por meio deste editorial, parte de nosso aprendizado sobre

três grupos teatrais tão diferentes.

Bibliografia

ALVIM, Roberto. Dramáticas do Transumano e outros escritos seguidos de Pinokio. Rio

de Janeiro: Editora 7 letras, 2012.

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