Antropologia Teologica

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ANTROPOLOGIA TEOLÓGICA

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Curso de Antropologia Teologica

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  • ANTROPOLOGIA

    TEOLGICA

  • SUMRIO

    Palavra do professor-autor.............................................................................

    Ambientao....................................................................................................

    Trocando ideias com os autores...................................................................

    Problematizando.............................................................................................

    1 ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA ANTROPOLOGIA...........................

    1.1 O que Antropologia Teolgica?.............................................................

    1.2 Breve transcurso histrico da disciplina...................................................

    2 O SENTIDO METAFSICO DO HOMEM.....................................................

    2.1 Interpretao egocntrica......................................................................

    2.2 Interpretao filantrpica..........................................................................

    2.3 Interpretao teocntrica.........................................................................

    3 TEMAS EM ANTROPOLOGIA TEOLGICA..............................................

    3.1 O Homem como imagem de Deus......................................................

    3.2 O pecado original...................................................................................

    3.3 A natureza do homem ..........................................................................

    3.4 O destino do homem..............................................................................

    3.5 A vida eterna: imortalidade da alma ou ressurreio?...........................

    Aprendendo a pensar...................................................................................

    Explicando melhor com a pesquisa............................................................

    Leitura obrigatria........................................................................................

    Pesquisando na internet.............................................................................

  • Saiba mais..................................................................................................

    Vendo com os olhos de v..........................................................................

    Revisando....................................................................................................

    Autoavaliao.............................................................................................

    Bibliografia...................................................................................................

  • Palavra do Professor

    Que o homem? Esta no uma pergunta meramente curiosa, mas intrigante. No uma pergunta a ser descartada como irrelevante, mas de

    fundamental importncia por inquirir a significao do que somos

    essencialmente. Ela penetra no mago de todos os seres humanos requerendo

    a verdade acerca de si mesmo e do outro. Esta questo fez parte das primeiras

    intuies filosficas que se desenvolveu entre os gregos. Mas tambm

    anterior prpria filosofia e encontrou expresso nas mais diversas formas de

    religio por meio do mito. A verdade que o homem o nico ser no mundo

    que por possuir autoconscincia advinda da sua racionalidade, no consegue

    viver sem questionar a si mesmo e o prprio mundo a razo final da sua

    existncia. O homem no consegue viver feliz sem conhecer essa verdade. O

    maior de todos os sofrimentos aquele que penetra no ntimo da alma

    humana; aquele produzido pela falta de significado ltimo. Sem esta

    perspectiva clara, tudo mais se torna pueril, efmero, descartvel e a vida

    perde a sua vivacidade.

    O mundo moderno experimenta elevado denvolvimento cientfico

    tecnolgico que se traduz em uma vida mais confortvel - para alguns -, dando

    ao homem maior poder econmico, maior capacidade de aquisio de bens,

    mercadorias e o consumismo est em voga. Acreditou-se, alguns ainda

    acreditam, que todas essas benesses advindas do desenvolvimento cientfico,

    daria ao homem uma vida feliz, comumente chamado de bem-estar. Uma vida

    onde no faltaria alimentao para a populao mundial, onde todas as

    enfermidades encontrariam a cura, onde o homem experimentaria um alto nvel

    desenvolvimento racional, chegaria ao esclarecimento, as naes se

    consolidariam em ligas de naes que constituiriam uma legislao universal,

    vlida para todos e a paz perptua se tornaria uma realidade. inegvel o

    contributo da cincia, graas a ela milhares de doenas, que antes conduziria

    milhares ao tmulo, hoje so superadas graas s maravilhas da medicina

    moderna. Mas ainda estamos muito longe daquilo que os racionalistas

    pensaram ser um sonho iminente. A fome persiste em muitos lugares. A AIDS

    continua dizimando milhares na frica. Estima-se que 60% a populao foi

    afetada. As guerras no cessaram e o homem ainda um ser em angustia.

    Qual o destino da raa humana? Existe algum destino para a espcie humana?

    Que devem esperar as geraes futuras dos nossos filhos e netos, e as

    geraes depois deles?

    O prolongar da vida, a sade fsica e mental, boas condies

    financeiras, embora devam ser alvos a serem conquistados ainda no

    sintetizam tudo aquilo que o homem necessita para viver feliz. A angustia

    existencial, o tdio, o sofrimento emocional, adviro sempre e levaro muitos a

    um estado existencial deplorvel e a infelicidade. Conhecer o sentido da vida

    humana fornecer uma blindagem emocional e espiritual capaz de proteger o

  • eu da fragmentao e autodestruio diante de sofrimento. Constituir um

    fundamento slido e inabalvel mesmo diante das maiores tragdias.

    Nesse contexto a disciplina Antropologia Teolgica, que na sua

    constituio interdisciplinar, contribuir na formao acadmica e humana, ao

    problematizar temticas que conduziro o estudante a uma reflexo que

    permitiro conhecer uma perspectiva, uma tentativa de resposta questo

    fundamental sob a luz da Revelao e da tradio teolgica judaico-crist. Ela

    expe o problema da existncia humana, sua origem, o valor da vida humana,

    o sofrimento, o significado da vida e da morte, o que fazer e o que esperar.

    Desejo sinceramente que atravs destes estudos voc consiga atribuir

    maior valor a sua prpria existncia e a dos outros.

  • Ambientao

    O que Antropologia Teolgica?

    Trata-se de uma disciplina que estuda o ser humano a partir da

    Revelao de Deus encarnado na humanidade atravs de Jesus Cristo.

    O estudo da Antropologia Teolgica fundamenta-se nas Escrituras

    Sagradas e na teologia crist, e prope a pensar o ser

    humano a partir destas fontes, permitindo formar uma

    cosmoviso e integrando o conhecimento da filosofia e da

    teologia crist.

    Trocando ideias com os autores

    Para aprofundamento do assunto, sugerimos a leitura desta obra que aborda

    os conceitos necessrios compreenso do contedo

    referente disciplina de Antropologia Teolgica.

    O autor apresenta vrios temas como: o mundo e sua

    criao, o homem como imagem de Deus, na Bblia e na

    tradio, a constituio do homem como ser pessoal e

    social, o homem pecador e o pecado original, o homem na

    graa de Deus, a graa como transformao interior do

    homem, a plenitude da obra de Deus e a plenitude do homem.

    LADARIA, de Luiz F. Introduo a Antropologia teolgica. 3 ed. So Paulo:

    Loyola, 2007.

  • Prezados estudantes, sugerimos a leitura da obra O Homem

    Integrado: abordagens de Antropologia Teolgica, a qual aborda uma viso

    associada do homem e da vida crist, mostrando a transformao religiosa no

    mundo atual. Apresenta caractersticas como individualismo, imediatismo, sem

    se preocupar com os prprios atos, e as perspectivas de decompor conceitos

    da cultura moderna (ou ps-moderna) causam, ao mesmo tempo, a fartura de

    tendncias religiosas e a falta de dilogo, crtica e religiosidade.

    RUBIO, Alfonso Garcia. O Homem Integrado: abordagens de Antropologia

    Teolgica. Petrpolis: Vozes, 5 ed., 2011.

    Sugerimos que leia a obra Imagem Humana Semelhana de Deus.

    Esta faz uma ponderao que parte da f para pensar sobre a

    condio humana levantando questionamentos de quem o homem

    e qual o seu destino no plano de Deus. Aborda a antropologia

    teolgica dos Padres da Igreja, indicando um esclarecimento sobre a

    criao do ser humano nas Escrituras Sagradas, e, em seguida,

    analisa como o filsofo e telogo Mestre Eckhart concebe a alma e seu

    percurso em direo Unidade.

    SOUZA, Jos Neivaldo de. Imagem Humana Semelhana de Deus. So

    Paulo: Paulinas, 2010

    Aps a leitura das obras, faa uma sntese das ideias e identifique

    algumas semelhanas e diferenas entre estas. Se esses conceitos so

    diferentes, em que consistem tais diferenas? E se so semelhantes, em que

    consistem tais semelhanas?

  • Problematizando

    Uma das grandes questes implicada no estudo da Antropologia

    Teolgica a questo se existe um significado para a vida humana como

    indivduo e como espcie. Se tal sentido de fato existe, como conhec-lo? A

    antropologia teolgica diferencia da antropologia trabalhada em cursos de

    Sociologia ou filosofia. A Antropologia como cincia o estudo do homem

    envolvendo suas dimenses sociais, biolgicas culturais, incluindo sua origem,

    comportamento, desenvolvimento cultural, social e fsico. A antropologia

    teolgica atua numa esfera dupla onde procura articular o conhecimento

    racional e conhecimento teolgico, priorizando o ltimo, que implica a f na

    Revelao divina. Para a antropologia teolgica a existncia de Deus um fato

    inquestionvel. O mundo e a vida humana uma criao divina, fruto de um

    plano arquitetado pelo criador. A vida, portanto obra de um Criador amoroso

    que tudo criou com perfeio.

    Mas o mundo que vivemos no perfeito. A dor e o sofrimento

    encontram-se espalhados por toda parte. A vida humana violada, ainda na

    sua infncia muitas vezes. Se o mundo foi criado perfeito, como explicar a

    imperfeio atual? Todos os dias seres humanos morrem, muitos por acidentes

    dos mais variados, outros so assassinados, outros levados por molstias.

    Ento, o homem lcido, olha para o mundo e pergunta: qual o sentido de tudo

    isso? H um sentido maior para a vida humana ou estamos simplesmente

    sujeitos as leis da natureza que controlam a vida biolgica no planeta, com o

    nascer e o morrer? Se Deus existe ento existe um sentido para a vida

    humana. Mas se Deus no existir, no h sentido algum para nada. O que a

    Revelao tem a dizer sobre estas questes complexas?

  • Origem e Desenvolvimento da

    Antropologia

    1 COMPETNCIAS

    Conhecimento

    Conhecer a origem e o significado da disciplina.

    Habilidade

    Saber conceituar cada etapa do desenvolvimento histrico da disciplina.

    Atitude

    Ser um cidado tico na relao social.

  • 1 ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA

    ANTROPOLOGIA TEOLGICA

    1.1 O que antropologia teolgica?

    Todas as cincias so cincias humanas, no sentido de serem

    produzidas pelo intelecto humano, sejam as cincias da natureza ou as

    cincias humanas, todas so criaes do homem. Diferenciam-se pelo objeto

    de estudo. Mas em todo caso, todas tem como sujeito o prprio homem. O

    conhecimento cientfico caracterizado pelo mtodo que procura conhecer a

    realidade com rigor e elevado grau de certeza. O conhecimento filosfico de

    carter especulativo e questionador, procura dar conta das questes de carter

    universal, estimula o crescimento do conhecimento, embora no possa por os

    ps no porto seguro da verdade absoluta, pois isso resultaria na sua morte. Ou

    seja, o grau de certeza do conhecimento filosfico relativamente menor do

    que o produzido pela cincia, pois quanto mais se trata de questes em nvel

    universal e de absolutos, menos eficaz se torna o mtodo cientfico. J o

    conhecimento teolgico, baseia-se numa irrestrita confiana na Revelao de

    Deus, crer que ela infalvel, ou seja, no pode errar em seus temas

    abordados e que uma expresso da verdade maior que Deus.

    Sujeitos e objetos das cincias:

    Cincias naturais

    Sujeito=homem; objeto=natureza

    Cincias humanas

    Sujeito=homem; objeto=homem

    Teologia

    Sujeito=homem; objeto=Deus/Revelao

    A antropologia como estudo reflexivo do homem, existe desde a poca

    dos sofistas, Scrates, Plato e Aristteles, quando descobriu-se que a

    questo fundamental e decisiva a de conhece-te a ti mesmo. A partir de

    ento, a pesquisa filosfica ter em mira o estudo do homem, das capacidades,

    dos deveres, do sentido e do fim da vida humana. No entanto a filosofia jamais

    conseguiu adquirir um conhecimento satisfatrio do homem. Que at hoje

    permanece ainda um profundo mistrio para todos.

    De onde vim?

    Quem sou?

    Para onde vou?

    Qual meu destino?

  • Qual o significado da vida humana?

    Qual o valor do homem?

    Por que sofremos?

    Por que existe o mal?

    Uma definio filosfica antiga para o homem que ele um animal

    racional e poltico. Certamente trata-se de uma boa definio, mas no

    completa. O certo que da resposta dessa pergunta depende o sentido da

    vida humana e da morte. Decifrar o problema da existncia humana conhecer

    a condio humana e sua situao atual.

    A teologia e o homem

    A Teologia, como um conhecimento que procura articular o conhecimento

    da f com o conhecimento filosfico (razo) pretende conhecer e explicar o

    significante do mundo e do homem; a mais antiga de todas as filosofias.

    Sempre se ocupou com o homem, pois a Revelao sua fonte principal com

    a qual alimentasse da verdade.

    Na Grcia, teologia era o estudo dos deuses, inicialmente era

    essencialmente mitolgico. O mito serviu para explicar e dar significado a vida

    do homem naquele perodo. Os poetas gregos, os narradores do mito, foram

    chamados de telogos, porque proferiam um discurso acerca dos deuses. Mas

    ainda no era uma cincia ou uma disciplina acadmica.

    A teologia como disciplina acadmica veio a se consolidar com o

    pensamento cristo, especialmente com Agostinho, bispo de Hipona. Tal

    pensamento foi elaborado a partir das reflexes dos chamados pais da igreja

    que conjugaram a filosofia grega (razo), principalmente Plato e Plotino com o

    pensamento cristo (f). A teologia procura fazer uma conciliao entre a f

    crist e o pensamento filosfico racional. No perodo patrstico quem mais xito

    obteve foi o filosofo e telogo Agostinho de Hipona, que fez uma espcie de

    conciliao entre a f crist e o neoplatonismo. Sem dvida por encontrar

    elementos que pareciam intercambiveis em tais estruturas de pensamento.

    Posteriormente, no perodo Escolstico, So Toms de Aquino dialogou

    com Aristteles. Alguns dizem que ele cristianizou Aristteles. No perodo

    moderno surgem vrias teologias de cunho antropolgico. Embora a Teologia

    seja o estudo de Deus, ela sempre se ocupou como o homem, pois sempre

    procurou compreender melhor a histria da salvao, que por sua vez so os

    gestos efetuados por Deus para salvao do homem. A novidade advinda do

    surgimento da teologia, que agora os contedos da revelao so expressos

    e significados com o auxlio da razo filosfica, que lhe empresta os

    instrumentos e a linguagem que estrutura-se em torno do conceito, para

    comunicar a verdade divina.

  • A teologia acredita que a vida tem um sentido transcendental. Porque o

    mundo inteligvel e racional. Assim, deve haver tambm uma razo ltima

    para a vida humana. A teologia crer que esta razo ltima, esse significado

    maior encontra-se num princpio exterior ao homem, que pode ser encontrado

    de forma intuitiva pela razo e mais profundamente pela f na Revelao.

    Tesmo e atesmo

    O tesmo uma perspectiva filosfica teolgica que crer no Ser superior,

    causa do mundo sensvel e invisvel. Explicao maior da existncia do cosmo.

    Este ser comumente chamado de Deus. Na cosmologia crist o universo no

    eterno, mas foi criado por uma mente superpoderosa, uma inteligncia

    superior e transcendente chamado de Deus. curioso notar que na filosofia

    grega antiga o cosmo considerado infinito e eterno, no era uma criao dos

    deuses. Hoje, olhando para as melhores teorias cosmolgicas acreditasse que

    o universo teve origem e ainda est em expanso. Exemplo a teoria que

    ficou conhecida como Big-bang. Georges Lematre props a teoria Big Bang

    sobre a origem do Universo, embora ele tenha chamado como "hiptese do

    tomo primordial.

    Assim, na perspectiva cientifica o universo teve origem, exatamente o

    que o livro do Gnesis afirma com o diferencial que no Gnese a causa da

    origem do universo Deus, enquanto que na cincia no se sabe qual foi a

    causa do universo. Parte da comunidade cientfica no acredita na existncia

    de um Ser criador. O Atesmo nega a existncia de Deus. Para estes o mundo

    racional no precisa de sentido.

    Mas conhecer o sentido do mundo uma exigncia da prpria razo. O

    mundo inteligvel, inteligvel deva ser a sua causa. Pois um mundo racional

    no poderia ter uma causa irracional. Se a causa do mundo racional ento o

    mundo possui um sentido racional. Se esse sentido encontra-se no prprio

    homem, esse j teria encontrado no uso pleno da sua racionalidade sem lanar

    mo da f. Como ainda no fez, bastante plausvel lanar mo da f e aceitar

    a revelao que Deus faz de si mesmo. A razo nos ajuda a saber o que o

    homem, a f, o que ele significa.

    A antropologia teolgica trabalha temas como: o Homem como imagem

    de Deus (a divinizao do homem), o pecado original, a natureza humana, a

    libertao crist, as virtudes (f, esperana, caridade, alegria), e o destino

    eterno do homem). Todos os assuntos esto situados no vasto contexto do

    debate teolgico atual.

    1.2 Breve transcurso histrico da disciplina

  • A Antropologia, palavra de origem grega anthropos, homem, ser

    humano; e Logos, estudo, tratado. Surgiu com o filsofo grego Herdoto, no

    sculo V a.C. Por ser o primeiro, pelo que se sabe, a tratar sistematicamente

    do tema, considerado o pai da Antropologia. Ao longo da histria, porm, esta

    cincia passou por grandes mudanas, gerando vrias correntes. Destacamos

    trs delas:

    a) A Antropologia Filosfica pag, mas aberta ao transcendente. Os

    filsofos antigos buscavam a autonomia da razo, mas no desprezavam ou

    negavam a possibilidade da existncia de divindades e at as levavam em

    conta, chegando at mesmo divinizao do cosmos.

    b) A Antropologia Teolgica (de ndole judaico-crist). a que estuda

    o homem tendo como referncia fundamental Deus. Passou-se da

    centralizao no cosmo divinizado (fase pag) para Deus, quando o

    cristianismo suplantou a viso grega da realidade e colocou tudo o que existe

    na relao com o Deus revelado (fase crist).

    A Antropologia teolgica trabalha a questo quem o homem, sua

    origem, sua natureza, suas virtudes e torpezas, sua autotranscedncia e seus

    limites; suas aspiraes e linguagem, comportamentos, mas luz da revelao

    divina. Visa-se chegar a algo fundamental: o ser humano capaz de Deus, de

    acolh-lo, conviver com ele, em comunho e parceria com ele.

    H um pressuposto para esta vertente da Antropologia: Deus no uma

    fantasia ou um agregado mental na vida humana. Ele integra a prpria

    estrutura humana e lhe confere a vocao transcendente, que impulsiona o ser

    humano a ir alm de si, a aspirar ao infinito, a reconhecer suas limitaes

    (fraqueza, enfermidade, erros, morte, pecado), que o desafiam a respeito do

    sentido da vida, do sofrimento, da morte e da ps-morte.

    Deus d ao ser humano a capacidade de reconhecer o valor de tudo o

    que existe e de transcender realidade do aqui-agora, por um valor maior e

    mais plenificador. exatamente esta busca do transcendente que ele

    humaniza de modo maravilhoso a si mesmo como ser humano, isto , quanto

    mais ele se insere em Deus e no Projeto dele, mais encontra a felicidade. E

    esta extraordinria capacidade que o faz, tambm, humanizar tudo no cosmos,

    estud-lo, manipul-lo e canalizar todas as suas riquezas em vista da

    felicidade, um desejo insacivel que faz parte de seu ser como gente.

    O principio arquitetnico e hermenutico

    Aos poucos apareceram dois princpios estruturais na antropologia

    teolgica: o arquitetnico e o hermenutico. O arquitetnico como eixo do

    ordenamento de todos os eventos da histria da salvao em funo de um

    Plano que Deus tem para a histria do cosmos, da terra e da humanidade: o

    Plano Salvfico. O hermenutico como portador da verdade primria sob cuja

  • luz a teologia procura compreender e interpretar e interligar os aspectos da

    histria da salvao. Todos os grandes pensadores do cristianismo

    colaboraram com o desenvolvimento da antropologia teolgica, vista no seu

    todo.

    c) A Antropologia Filosfica Secularista. Realiza a mudana da

    centralizao em Deus para a centralizao no homem, mas sem Deus. Este

    passo ocorreu na poca moderna em consequncia da secularizao e do

    atesmo, este ltimo desenvolvido no seio da filosofia europeia e,

    especialmente, pelo comunismo. Mas este vertente tem seus incios j no

    Renascimento (sculo XVI), Deus desaparece de cena e cede lugar ao homem.

    O esprito humano abre-se a um novo modo de ver e agir. D-se um violento

    contraste com o modo precedente de entender todas as coisas e

    acontecimentos, que tinha Deus como centro de tudo e de todo interesse

    humano, e passa a assumir o homem como centro de tudo. Acontece, portanto,

    a passagem do teocentrismo para o antropocentrismo. Os mais importantes

    filsofos dessa virada histrica do modo de pensar o sentido e a razo de ser

    do ser humanos so Descartes, Hume, Spinosa, Hobbes, Kant. Mas

    Immanuel Kant, sem dvida, quem atinge o pice do pensamento

    independente da referncia a Deus, religio; ao afirmar que o homem no

    mais simplesmente o ponto de partida, mas tambm o ponto de chegada da

    reflexo filosfica e de toda a histria. ele que abre as possibilidades para

    que dali em diante muitos filsofos deem continuidade, aprofundem e motivem

    levar prtica o secularismo ateu.

    2. A antropologia teolgica hoje

    2.1 Sempre em busca.

    No h dvida e o dia-a-dia o comprova a humanidade continua sua

    busca do sentido da vida e da histria, do sentido da existncia do cosmos e de

    tudo o que nele existe, especialmente do prprio ser humano na complexidade

    da histria do cosmos. Multiplicam-se sem cessar artigos, livros, filmes,

    canes, obras de arte, que alimentam o debate levando-se em conta a

    existncia de Deus nesta trama misteriosa do mundo e da vida humana ou

    negando-a, ridicularizando-a e considerando toda e qualquer religio como

    uma inveno prejudicial ao ser humano.

    Porem a teologia crist continua a afirmar que o ser humano s encontra

    sua verdadeira explicao e compreenso no mistrio do Verbo encarnado, isto

    , no Filho de Deus que assumiu a condio humana na histria com o nome

    de Jesus de Nazar. Segundo a Revelao o ser humano, criado imagem e

  • semelhana do prprio Deus, criado em liberdade, rompeu com o seu Criador

    (pecado original), Deus, porm, no somente no o abandonou, mas deixou

    plasmado na natureza prpria do ser humano a necessidade de Deus e o

    impulso natural para busc-lo.

    Ele concedeu liberdade humana a graa do chamado incessante para

    restabelecer a unio homem-Deus, Deus-homem. Depois de manifestar-se de

    muitos modos ao longo da histria, quando chegou plenitude do tempo, na

    linguagem bblica, Deus deu-lhe a maior prova de amor, o seu prprio Filho

    divino em forma humana (cf. Hebreus 1, 1; 1Joo 4, 9-10), que viveu entre os

    homens com plenitude humana, como o ser humano perfeito, por ser ao

    mesmo tempo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem.

    pelo Cristo que o ser humano justificado (recupera a justia perdida

    pelo pecado). E a partir dele, nele, com ele e por ele, que o ser humano vive

    da graa do Pai, do Filho e do Esprito Santo. em direo a Cristo, o

    referencial humano-divino que, na liberdade, o ser humano procura alcanar

    progressivamente e com o impulso da graa que ele nos alcanou, o estado

    adulto, a estatura de Cristo em sua plenitude (Efsios. 4,13). este o cerne da

    Antropologia teolgica crist.

    a partir do olhar antropolgico-teolgico que detectamos o que a

    Revelao diz sobre o ser humano no contexto da obra da criao: uma

    criatura feita no tempo e que no teve existncia espiritual antes da corprea

    para usufruir da felicidade neste mundo e da glria de Deus na vida eterna

    feliz. Os textos bblicos no pretendem apresentar dados cientficos, mas

    mostrar o propsito de Deus, no relacionamento dele com os homens e, mais

    ainda, a sua experincia no mundo como ser humano em Jesus Cristo e,

    consequentemente, a identidade profunda e nica do especificamente humano

    assim enriquecido com a comunho com Deus e que abre o ser humano

    definitivamente e de modo privilegiado para a comunho consigo mesmo, com

    os outros, com a natureza.

    Este mesmo olhar de comunho, assim plena, considera o homem como

    imagem e semelhana de Deus e tem a Jesus como a imagem verdadeira do

    Pai, e ns, como seu reflexo. E o ser humano como imagem de Deus (imago

  • Dei), carrega em si mesmo as marcas do Criador, do Filho Redentor e do

    Esprito Santificador, principalmente em sua a capacidade de conhecer e amar

    o Pai, por meio de Filho, no amor do Esprito Santo e como co-criador e

    cooperado em seu Plano de Amor sobre o mundo e a humanidade.

    2.2 A estrutura bsica do ser humano segundo a f.

    Um dos diferenciais da antropologia teolgica judaico-crist, em relao

    s outras antropologias, seu modo de entender e explicar o ser humano

    como um organismo psicofsico resultado da estreitssima unio entre corpo e

    esprito.

    So Paulo, formado para ser rabino, em sua carta aos Tessalonicenses

    fala do ser humano como corpo-alma-esprito: Que o esprito, a alma e corpo

    de vocs sejam conservados de modo irrepreensvel para a vinda de Nosso

    Senhor Jesus Cristo (1Ts 5, 23). evidente que para ele a Antropologia no

    existia como discurso reflexivo. S posteriormente e muito lentamente, com a

    influncia da cultura grega, que se chegou ao seu incio e no ocidente ao seu

    desenvolvimento.

    Expliquemos um pouco, mas com os termos em hebraico, grego, latim e

    portugus, esta viso integrada do homem, segundo a viso hebraica e que

    Paulo utiliza na carta aos Tessalonicenses:

    a) Corpo (bsar, sarx, caro = corpo de carne) a nossa realidade fsica,

    biolgica); b) O termo esprito ruach(hebraico) tem seu correspondente no

    grego a pneuma, e em latim spiritus, significa sopro divino energia vital

    presente no homem e nos animais. a dimenso vital similar a de todos os

    demais seres vivos.

    O termo Alma (nephesh, psych, anima = o homem na sua

    integralidade (Cf. Genesis 2.7). Tambm pode se referir a dimenso psquica,

    afetiva, intelectiva, colitiva, relacional. Pode se referir a auto-conscincia, do

    afeto-relacionamento, da liberdade, da vontade, do senso tico, da busca do

    bem, do belo, da verdade e da felicidade. Mas nunca, nas Escrituras o termo se

    refere a uma entidade imaterial que sobreviva fora do corpo aps a morte.

  • O termo esprito tambm pode se referir, em alguns textos, dimenso

    transcendente espiritual, a dimenso exclusiva do ser humano, fruto da

    criao direta de Deus (sopro-ruach, ser vivente em Deus e para Deus), que

    assegura a possibilidade de comunicao e comunho com Deus. Alguns,

    como o Pe. J.M. Bover S.J., em seu livro Teologia de San Pablo, interpreta a

    distino corpo, alma e o esprito, feita por Paulo, como uma distino que o

    Apstolo faz de dois aspectos da mesma alma: enquanto princpio de

    animao do corpo e enquanto elemento puramente espiritual que sobrepassa,

    sob forma de inteligncia e vontade.

    Esta reflexo importante porque houve na histria do cristianismo,

    confuso entre os intrpretes e estudiosos, alguns afirmando que Paulo tinha

    uma viso tricotmica do ser humano, isto , um composto de trs partes

    separveis, enquanto outros defendiam a concepo dualista de corpo e alma,

    duas partes separveis. Na concepo hebraica as trs realidades se

    apresentam como dimenses integradas, formando uma unidade, um todo.

    Mas, sob a influncia da filosofia grega, sofrida durante o perodo patrstico,

    principalmente com o telogo-filosofo Santo Agostinho, concluiu que a alma e

    o esprito so imortais, ao passo que o corpo corruptvel. Mas esta no era a

    crena da igreja crist primitiva (perodo apostlico), que depositava toda a sua

    esperana na doutrina da ressurreio. A ressurreio de Jesus a garantia de

    que um dia todos os que morreram sero ressuscitados, uns para a vida

    eterna outros para o juzo.

    Pois, se os mortos no ressuscitam, nem mesmo Cristo ressuscitou. 1

    Corntios 15:16.

    E, se Cristo no ressuscitou, intil a nossa pregao, como tambm

    intil a f que vocs tm. 1 Corntios 15:14.

    Na reflexo tradicional e oficial da teologia crist, o predomnio da

    cultura Greco latina na teologia fez acontecer uma diviso entre corpo e alma,

    e uma fuso entre esprito e alma. Embora, na Revelao sejam coisas

    distintas. Com isso, quando, se fala em alma, entende-se por (ruach, pneuma,

    spiritus-esprito), uma compreenso errnea, pois ruach (esprito) no o

    mesmo que alma (nephesh) ser vivente cf. Gen.2.7. Um esprito no sentido

  • original apenas flego de vida (ruach) no uma entidade consciente que

    possa viver fora do corpo como um ser autnomo.

    Segundo os documentos do Magistrio da Igreja afirmam que a alma

    espiritual e dotado de imortalidade. Ora, se a alma espiritual, no pode ser

    corrompida, pois sendo esprito, dotado de existncia prpria, autnoma e

    independente da matria, no se extingue com a corrupo do corpo. Ora,

    percebe-se que os ensinamentos do Magistrio da Igreja destoa no puro e

    original ensinamento bblico que em parte alguma afirma a imortalidade da

    alma ou que a mesma possa existir fora do corpo como um ser consciente

    autnomo. Pelo contrrio, o nico ser que possui imortalidade Deus: O nico

    que imortal e habita em luz inacessvel, a quem ningum viu nem pode ver. A

    ele sejam honra e poder para sempre. Amm. (1 Timteo 6:16). Como visto

    anteriormente, o ensinamento que a alma imortal no tem origem na tradio

    judaico-crist , nem nas Escrituras, mas foi absorvida da filosofia grega, que

    aprendeu de uma antiga religio, o rfismo, e incorporou e adaptou ao

    cristianismo no perodo patrstico, desenvolvido por telogos como Agostinho,

    Toms de Aquino, entre outros.

  • O sentido metafsico do

    homem

    2 Conhecimento

    Conhecer as interpretaes mais aceita e conhecidas acerca do sentido

    metafsico do homem elaborado pela filosofia e teologia.

    Habilidade

    Ser capaz argumentar em nvel conceitual identificando a interpretao

    teocntrica; e justificar sua coerncia interna como a explicao mais coerente

    para a autotranscedncia humana.

    Atitude

    Assumir atitude critica acerca do conhecimento adquirido e provocar reflexes

    e autoconhecimento no estudante.

  • 2 O SENTIDO METAFSICO DO HOMEM

    O que a vida? Tem ela algum significado? De onde provem tantas

    profanaes prpria vida? Tantas agresses a vida, tantas injustias,

    violncias, vcios, maldades. O homem perdeu o sentido da sua prpria

    existncia? O cristo que tem f, sabe o sentido da sua prpria existncia. Mas

    e quem no tem f, ser possvel somente pela razo obter conhecimento

    seguro sobre o sentido do homem? Para responder esta pergunta,

    examinaremos a experincia singular e universal da autotranscedncia.

    Transcender Passar alm dos limites, ser superior a, exceder,

    sobrepujar, ultrapassar, chegar a um alto grau de superioridade.

    Autotranscedncia o movimento pelo qual o homem se supera

    sistematicamente a si mesmo, a tudo que , tudo que adquiriu, tudo que crer,

    pensa e realiza.

    Ao examinar a atividade cognitiva, vemos que sua busca do saber

    insacivel e inexaurvel. Quer sempre conhecer mais sobre o homem e sobre

    o mundo. Nossa vontade nunca se satisfaz. Possui uma poderosa tendncia

    para a autotranscedncia, que nunca se aplaca. Tambm no campo das

    paixes. Existe nas grandes paixes uma inteno transcendente que no

    pode proceder seno da atrao infinita da felicidade.

    O prprio corpo humano, um corpo que transcende a prpria natureza

    da corporeidade e torna-se epifania do esprito. A autotranscedncia uma das

    caractersticas mais ntidas no ser humano. um movimento, e todo

    movimento tem uma direo, tende para uma meta.

    Para onde se dirige, qual o seu alvo, ao projetar-se continuamente para

    alm da situao presente?

    O sentido do homem

    Praticamente todos os filsofos e telogos do passado e de hoje

    cuidaram desse problema e chegaram a trs concluses bsicas.

    Interpretao egocntrica

    Interpretao filantrpica

    Interpretao teocntrica

    Qual interpretao possui maior credibilidade?

  • 2.1 Interpretao egocntrica

    A autotranscedncia tem como objetivo primrio o aperfeioamento do

    sujeito que se autotranscende. J apresentada pela filosofia grega e

    renascentista, foi retomada pela filosofia moderna e contempornea, sobretudo

    pela corrente existencialista, a partir de F. Nietzsche.

    Na obra Assim falou Zaratrusta, e em todos os seus escritos, o autor

    sustenta que a vida em geral e a vida humana em particular um esforo

    constante de superao a si mesmo.

    E a prpria vida, anuncia Zaratustra, confiou-me este segredo: Veja,

    disse, eu sou a continua, necessria superao de mim mesmo.

    A vida quer subir, e subindo quer superar a si mesma.

    A meta sempre o homem, mais exatamente o super-homem. O homem

    deve ser superado. Para realizar-se plenamente o homem deve romper todos

    os grilhes da metafsica, da moral e da religio. Deve eliminar qualquer ideia

    de Deus. Deus est morto.

    Nietzsche, Sartre e Heidegger concordam que na vida presente, o

    homem encontra-se numa situao precria, alienada, decada. Existe no

    homem uma teno para libertar-se da ignorncia, do erro, do medo, das

    paixes. Mas este esforo de autotranscedncia no quer ser uma imerso em

    algum outro ser diferente de si.

    Crtica

    Essa interpretao afirma a realidade da autotranscedncia em nvel

    pessoal, o que positivo. Mas ainda permanece insolvel o problema do como

    levar a cabo o processo de autotranscedncia. Os autores citados, confiam tal

    iniciativa a foras humanas. Mas a experincia humana ensina, que nosso

    esforos so sistematicamente frustrados, no alcanam nunca o saber, nem o

    ter, nem o poder. A autotranscedncia se torna um esforo vo e insensato?

    2.2 Interpretao Filantrpica

    A interpretao filantrpica, seu objetivo o aperfeioamento da

    comunidade humana, isto , a humanidade. A partir de Marx e Comte,

    numerosos autores viram na autotranscedncia um movimento de superao

    dos limites do individualismo e do egosmo e uma tentativa de criar uma nova

    humanidade, liberta das misrias individuais e das desigualdades sociais, em

    condies de alcanar a felicidade perfeita.

  • Marcuse escreve: O ser do homem sempre mais do que seu ser

    atual, supera qualquer situao e encontra-se, portanto, em discrepncia

    inarredvel com esta: discrepncia que exige um constante esforo de

    superao, ainda que o homem no chegue nunca a repousar na posse de si

    mesmo e do mudo.

    Para Marcuse, a transcendncia do homem, tem carter puramente histrico e

    temporal (no metafsico e sobrenatural): um projetar-se da sociedade para

    um futuro melhor que o presente.

    Crtica

    H uma dimenso positiva, reconhecer na superao de si mesmo uma

    dimenso social. Mas reconhecer o componente social no significa

    absolutamente que no comporte tambm um elemento pessoal. No se pode

    simplesmente ignorar tudo quanto se afirma sobre a concepo egocntrica,

    como fazem todos os marxistas. Portanto, a soluo que Marx e seus

    discpulos oferecem no pode ser aceita.

    Atribuir ao movimento de autotranscendncia metas fascinantes e

    espetaculares que s podero ser atingidas pela humanidade num futuro

    remoto, como fazem Marx, Comte, Bloch, Marcuse e tantos outros, significa

    deixar completamente desalentadas e desenganadas as esperanas reais do

    homem de hoje, que alm do nvel social e coletivo, espera tambm, o

    individual e pessoalmente, que elas venham a se realizar para cada um deles.

    O significado da existncia no pode estar simplesmente no prximo

    (sociedade). Todos os fenmenos desse mundo esto destinados a decair com

    o tempo, no podendo conferir um sentido permanente s coisas. Para

    encontrar um significado necessrio pressupor uma instancia permanente.

    2.3 Interpretao Teocntrica

    Seu objetivo ltimo Deus: quem autotranscende separa-se de si

    mesmo para alcanar a Deus. O homem sai constantemente de si mesmo e

    ultrapassa os limites da prpria realidade, porque impelido por uma vontade

    superior, Deus. Este, graa sua generosidade, bondade, perfeio,

    onipresena, polariza em si todas as criaturas, especialmente o homem.

    Entre os mais insignes representantes desta linha de interpretao

    figuram os nomes de Plato, Aristteles, Plotino, Santo Agostinho, So Tomas

    de Aquino, Descartes,Spinosa, Kant, dos filsofos do passado. Scheler, Karl

    Rahner, Teilhard de Chardin, De Finance, Barbotin, Pannemberg, Lonergan,

    entre os estudiosos de hoje.

  • Para K.Rahner, o homem um ser essencialmente aberto. Esta infinita

    abertura consiste essencialmente na autotranscedncia que impele o homem

    sempre para frente. Mas no se trata de uma abertura para o vazio, nem

    tampouco para um futuro que jamais se tornar realidade, mas uma abertura

    que desfecha no Absoluto (Deus).

    Este Absoluto, vai ao seu encontro como nico capaz de abrang-la e

    consolid-la. O Supra-essencial, aquilo que a transcende o que lhe confere

    estabilidade, significado, futuro e movimento ltimo. A essncia da criatura

    espiritual no por isso diminuda, mas justamente atinge seu valor final, sua

    consistncia ltima, e progride.

    A caracterstica fundamental do homem a autotranscedncia, que ele

    qualifica como abertura ilimitada para o mundo. A interrogao sobre Deus

    encontra-se, pois dentro do horizonte do homem. A subjetividade

    transcendental do homem fica mutilado ou suprimida se no se estende para

    o inteligvel, o incondicionado, o bem do valor.

    Para Mondim (1979) a interrogao sobre Deus encontra-se, pois dentro

    do horizonte do homem. Existe no seu horizonte uma regio para o divino, um

    santurio para uma santidade ltima. O ateu pode declar-lo vazio. O

    agnstico pode dizer que esta busca no chegar a lugar nenhum. Mas toas

    estas negaes pressupem a centelha em nossa argila, nossa orientao

    inata para o divino.

    A interpretao teolgica da autotranscedncia interessante e

    fascinante. Parece capaz de oferecer uma resposta conclusiva busca de

    sentido, implica na tendncia de o homem autotranscender-se continuamente,

    enquanto a reconduz quele que o fundamento de todos os sentidos e

    valores, Deus. Mas muitos filsofos creem que Deus um ser indemonstrvel,

    que uma inveno da mente humana. E a?

    K.Rahner afirma que a interpretao do movimento de

    autotranscedncia no pressupe nenhuma demonstrao da existncia de

    Deus, mas, ao contrrio, mostra que precisamente este movimento que

    fornece um documento claro em favor da realidade de Deus.

    Sendo a autotranscedncia um movimento exige um sentido, uma meta.

    Como vimos anteriormente, nem o indivduo, nem a humanidade podem

    fornecer o sentido exigido. Resta-nos, portanto, reconhecer o sentido ultimo da

    autotranscedncia, e assim, do homem, situado fora do prprio homem e se

    encontra em Deus, o prprio Deus.

    No sai o homem dos limites do prprio ser para mergulhar no nada, mas sai

    de si mesmo para abismar-se em Deus, que o nico ser capaz de levar o

    homem perfeita e perene realizao de si mesmo.

  • Por isso muitos filsofos erram ao contrapor a transcendncia horizontal a

    transcendncia vertical. Existem fundados motivos para sustentar que a

    transcendncia horizontal s adquire sentido e realidade atravs da

    transcendncia vertical.

    Segundo Mondim (1979) a revelao bblica, ensina-nos que Deus, no

    obstante nossas quedas, nossas culpas e friezas e hostilidades, quis

    igualmente dar satisfao a nossas aspiraes de nos tornarmos como ele,

    inserindo-nos em sua prpria vida divina, tanto na vida presente como na vida

    futura.

    Para o cristo, o sentido verdadeiro e conclusivo do homem o prprio

    Deus; esta certeza, porem, no esta em contraste e sim em perfeita sintonia

    com as perspectivas da razo humana; encontra confirmao no estudo do

    sentido profundo que encerra em si mesmo a prpria experincia onipresente

    da autotranscedncia.

    Assim, o sentido maior para a vida humana no pode ser conseguido

    pela filosofia humana, por especulaes do raciocnio, mas somente por meio

    da Revelao divina. Somente por meio da Revelao possvel conhecer o

    plano divino por trs de todas as coisas, do universo, do mundo e do homem,

    h um proposito maior.

    Deus, um ser livre, quis criar o mundo e o homem. Quis que o homem

    fosse criado a sua imagem e semelhana, conferindo um status superior, acima

    de todas as outras coisas criadas. O criou livre, semelhante a Si mesmo,

    conferindo a liberdade. Sem a Revelao, sem Deus, impossvel saber qual o

    sentido da existncia humana. Se algum arriscar dizer que no ha sentido

    para a existncia humana, tal raciocnio nulo, pois a mente racional exige um

    sentido para todas as coisas.

  • Temas da Antropologia

    Teolgica

    3 Conhecimento

    Aprofundar o conhecimento sobre os temas fundamentais da antropologia

    teolgica.

    Habilidade

    Identificar e compreender as principais questes controversas discutidas nos

    diversos temas fundamentais da antropologia teolgica, articulando com a

    experincia prtica.

  • Atitude

    Articular o conhecimento terico teolgico com prticas mais conscientes e

    valorativas do homem, em seus diversos contextos scio cultural e religioso.

    3 TEMAS ESPECIAIS EM ANTROPOLOGIA

    TEOLGICA

    A doutrina da imago dei, ou seja, da semelhana do homem com Deus,

    o tema fundamental da antropologia crist e lhe abrange todos os aspectos,

    de modo que se poderia, a partir da mesma, desenvolver uma doutrina

    completa do homem. Esse assunto foi tratado por quase todos os telogos e

    muitos escolsticos at Toms de Aquino.

    Abordar-se- o tema luz da Antiguidade e da Idade mdia, no perodo

    em que os pensadores cristos, ao interpretar a mensagem crist luz da

    filosofia platnica, desenvolveram uma hermenutica antropolgica.

    3.1 A doutrina do imago dei no Antigo Testamento

    A doutrina do homem considerado como imagem de Deus o ncleo

    central da antropologia do Velho Testamento. encontrada nos primeiros

    captulos do Gnesis. O texto fundamental Genesis 1. 26-27. E Deus disse:

    faamos o homem nossa imagem, nossa semelhana... Deus criou o

    homem sua imagem, criou-o imagem de Deus.

    As melhores interpretaes dadas pelos telogos acerca desse versculo

    so:

    a) A posio privilegiada que cabe ao homem, como ponto alto e

    conclusivo da criao;

    b) A funo de representar o criador no mundo.

  • O homem foi criado imagem e semelhana de Deus, isso algo dito

    acerca unicamente do homem. Ou seja, todos os demais seres, embora

    criaturas de Deus, no foram feitos imagem do Criador. Somente o homem

    possui essa particularidade. Ser imagem e semelhana de Deus o coloca

    acima das outras coisas e no topo da criao, numa posio superior aos

    animais, uma posio privilegiada. Os telogos discutiram em que consistia

    essa imagem e essa semelhana. Basicamente o que se conclui que o

    homem possui caractersticas que so prprias da divindade, como:

    inteligncia racional, personalidade, liberdade e governo. Estes aspectos

    foram compartilhados pelo criador apena com o homem. Os animais possuem

    vida, possuem movimento, alguma forma de inteligncia, mas agem por

    instintos e no por razo. Eles no sabem de si, mas apenas o homem sabe

    de si, ou seja, possui autoconscincia e por meio da razo exerce domnio

    sobre o mundo, ou seja sobre a natureza, manipulando-a e adaptando-a as

    suas necessidades. Deve faz-lo com respeito e responsabilidade, pois no o

    proprietrio definitivo da natureza, mas apenas um administrador. Como bom

    governante deve ter sabedoria para usufruir e ao mesmo tempo preservar a

    natureza a fim de que os recursos naturais no venham a ser exauridos,

    prejudicando as geraes futuras. Todo administrador sabe que prestar

    contas da sua administrao.

    Segundo a Revelao Deus criou o homem distinto dos animais, criou

    sua semelhana. Talvez parea antiquado crer nisso no mundo moderno. Mas

    s e assim, porque a mdia televisiva e escrita bombardeia manipularam a

    opinio popular com as falsas ideias da teoria da evoluo; agindo com

    parcialidade no apresentando outras posies, como o criacionismo e a teoria

    do designer inteligente que, alm de apresentarem forte argumentos a favor

    de uma Inteligncia superior criadora, apontam as fraquezas e contradies da

    teoria evolucionista. passado para o pblico em geral que a teoria da

    evoluo uma verdade incontestvel. Nada mais longe da verdade. Uma

    pesquisa feita nos Estados Unidos da Amrica revelou que 40% dos cientistas

    americanos acreditam que o mundo veio existncia instantaneamente, como

    descrito na Bblia, e no por meio de uma evoluo de bilhes de anos.

  • O conceito da imago dei importantssimo, pois enobrece a existncia

    humana e corrobora para uma maior valorizao do homem. A vida como um

    todo, e especialmente a vida humana deve ser respeitada, valorizada. Se todos

    so imagem de Deus, todos merece serem respeitados e tratados com

    dignidade.

    Outro aspecto que podemos abstrair de tal conceito, que o homem foi

    criado originalmente imagem do criador. Assim, na origem, essa imagem foi

    refletida com perfeio, visto que fora criado perfeito. Aps a queda (pecado

    original), a natureza humana foi corrompida, tornando-se pecaminosa e m.

    Podemos deduzir que o pecado corrompeu aquelas faculdades que refletiam a

    imagem do criado, embora no tenha eliminado de um todo. Por essa razo, o

    homem que fora criado perfeito, hoje, pode atingir elevado ndice de

    dessemelhana e corruptibilidade. Quanto mais se aliena do criador, mais

    corrompido e dessemelhante se torna. o caso daqueles capazes que praticar

    os crimes hediondos, sem paralelo nem mesmo no reino animal.

    3.2 O pecado original

    inegvel a presena nesse planeta da dor, sofrimento, maldades e da

    morte. A prpria vida to revestida de brilho e beleza, fenece dando lugar a

    doena, enfermidades e sombras.

    Vemos pessoas capazes de atos gentis, amveis, altrustas, por outro,

    vemos pessoas cruis capazes de cometer crimes inacreditveis ao ser

    humano.

    Como explicar que toda a humanidade estar envolvida em dor e

    sofrimento? Como explicar este contraste? Por que na natureza humana se

    abriga sentimentos e princpios to antagnicos? Como explicar um mundo to

    belo, um planeta to rico em vida, existir paralelamente desgraas, infortnios,

    fome, misria? Os telogos ao estudarem a Revelao encontram uma

    resposta dada pela mesma, em mais de uma perspectiva. A explicao dada

    pela Revelao que o mundo est todo envolto em pecado. O pecado

    representou uma queda, de uma posio espiritual, fsica e moral elevado para

  • uma condio decada e inferior. Este tema estudado na teologia como

    pecado original. E abordado e interpretado nas seguintes perceptivas:

    Interpretao jurdica

    Deus criou o homem sua imagem. Deus um ser pessoal e moral. Ser

    um ser moral significa ser capaz de fazer diferena entre o bem e o mal,

    capacidade de escolher e de decidir, de conhecer e seguir certos princpios,

    normas e leis, bem como de desobedecer a tais princpios. Deus um ser

    moralmente perfeito e bom, pois suas escolhas sempre so boas e corretas.

    Ele criou o homem com a mesma qualidade, deu-lhes ordens, mandamentos,

    leis, porm o homem as desobedeceu, vindo a tornar-se culpado diante da lei,

    que requer punio ao desobediente, recebendo a justa condenao.

    A teologia hebraica-crist ensina que Deus criou o homem perfeito. No

    principio o homem no possua nenhuma propenso para o mal. Foi o mau uso

    do livre-arbtrio que o fez violar ou desobedecer as leis divinas. O primeiro ato

    de desobedincia chamado de pecado original. Ao pecar o homem se tornou

    culpado diante de Deus, merecedor de uma justa condenao.

    A doutrina do pecado original s possvel, dentro de uma concepo

    de liberdade humana. Deus criou o homem como ser livre, havia escolha. O

    homem no estava controlado (obrigado) por nenhuma lei exterior. A nica

    motivao para obedecer devia ser o amor ao seu Criador. O homem

    originalmente vivia uma vida de santidade, ou seja, estava apartado do mal. O

    pecado acarretou consequncias terrveis. So Paulo claramente explica:

    Portanto, assim como por um s homem entrou o pecado no mundo, e

    pelo pecado a morte, assim a morte passou a todos os homens, porque todos

    pecaram. Rom.5.12.

    Pecado nessa perspectiva, visto como transgresso da lei. Os

    Padres, sobretudo Tertuliano e Agostinho reafirmam tal doutrina. Todos os

    homens esto co-envoltos num pacto especial que Deus estipulara com Ado,

    na sua autoridade de chefe moral do gnero humano: o pacto fazia depender a

    conservao e a perda dos dons sobrenaturais diretamente do comportamento

    de Ado.

  • Portanto se Ado no tivesse pecado, teria transmitido a seus

    descendentes, alm da existncia fsica, tambm uma elevada condio moral

    e espiritual. Ao ser dotado de razo e liberdade, o homem tambm se tornou

    responsvel por suas aes, essa responsabilidade envolvia no somente o

    cuidar de si propriamente, mas dos seus descentes, que herdariam as suas

    caractersticas. O homem foi criado como uma unidade corporativa. O que

    afetou o primeiro homem afetou a todos, pois todos estavam, de alguma forma,

    unidos ao primeiro, pela natureza comum herdada.

    Assim todos os seres humanos ao nascerem, nascem culpados em

    virtude da consequncia universal do pecado de Ado. J nascem

    condenados, antes mesmo de praticarem qualquer pecado voluntrio. Por isso

    todos morrem. A morte a condenao que sobrevm ao pecador pelo

    julgamento divino contra o pecado. Esta interpretao do pecado original

    chamada de teoria jurdica.

    Interpretao histrico-ontolgica

    Nessa interpretao do pecado original, admite-se uma unidade

    fundamental de todos os homens em Ado. Uma certa presena fsica,

    ontolgica de toda natureza humana em Ado, uma certa unio real de todos

    os homens na sua primeira origem.

    A universalidade da ao de Cristo pressupe a universalidade do

    pecado, a redeno universal; houve portanto, uma queda universal.

    (MERSCH, E. A teologia do corpo mstico. Louvain, (1954, p.193).

    A humanidade foi criada em uma singular unidade. Com seu pecado

    Ado no perdeu apenas a sua unio com Deus, mas tambm prejudicou

    gravemente a unidade da natureza humana. Depois do pecado de Ado, Deus

    ainda mantm sua oferta de salvao por meio da graa salvadora manifestada

    no Seu Filho Jesus Cristo. Recusar esta oferta constitui a essncia do pecado

    original.

    Teoria existencial do pecado original

    Para o telogo R.Bultmann: Qualquer interpretao da Palavra de Deus

    implica uma pr-compreenso da realidade da parte do homem. Deus como

  • criador, solicita o homem a depositar nele sua confiana, a entregar-lhe a

    prpria vida. Solicita a no fazer depender a prpria existncia e a prpria

    felicidade da pose das coisas deste mundo, mas no cumprimento da vontade

    divina.

    Mas o homem, no suportando viver na insegurana diante de Deus;

    procura a segurana da prpria existncia e se empenha em obt-la, quer

    vivendo simplesmente no mundo disponvel, na preocupao ou no prazer dos

    sentidos, quer procurando intencionalmente sua glria diante de Deus com a

    observncia formal da lei.

    A essncia do pecado original esta justamente nisso: em procurar obter,

    do mundo mais que de Deus, a segurana da prpria existncia. Pecado

    significa querer viver de si mesmo, com as prprias foras, e no numa radical

    doao a Deus, quilo que Deus exige.

    O verdadeiro pecado consiste na atitude fundamental do homem, na

    vontade de obter a prpria justia e de gloriar-se diante de Deus. - Bultmann.

    Qual o elemento sedutor do mundo? Diversamente de Deus, ser

    disponvel. Mas porque o homem incorre na tentao? Porque tem medo da

    insegurana da sua existncia quando procura sua vida em Deus.

    Deus de fato no esta nunca disponvel ao homem, e sim diante dele.

    Deus somente uma possibilidade enquanto o homem se mantm aberto ao

    encontro indisponvel com Deus. De tal insegurana, que se apresenta no seu

    aspecto de terror e ameaa, o homem escapa refugiando-se no mundo das

    coisas disponveis.

    Mas o homem que se abandona no mundo se torna escravo do mundo.

    O pecado uma fraqueza da sua natureza. O homem nasce num

    mundo corrompido, cheio de falsas aspiraes, ao atingir a maturidade da

    razo, assume a culpa concreta. Torna-se corresponsvel.

    O telogo K.BARTH considera o pecado uma desintegrao da prpria

    natureza humana. Remos aqui um retorno a ortodoxia protestante. Somente

    por obra da revelao o homem adquire conscincia de sua condio de

  • pecador. Como seria verdadeiramente possvel perceber o pecado e

    reconhecer-nos pecadores se Deus mesmo no tivesse dito ao homem que ele

    pecou?

    A natureza do pecado segundo K. Barth

    Nessa incapacidade de o homem tomar conhecimento da prpria culpa,

    Barth v o aspecto mais grave do pecado. Sendo o pecado revelado apenas

    pela revelao, sendo Jesus a maior revelao de Deus, somente Jesus Cristo

    revelaria ao homem em que consiste a natureza do pecado.

    Jesus Cristo manifestou absoluta confiana, obedincia, submisso ao

    Pai. Assim o pecado do homem consiste em orgulho, desobedincia e na

    incredulidade. Jesus se fez servo. Ns queremos a emancipao, poder e

    domnio. Jesus se submeteu ao julgamento divino. Ns queremos ser juzes.

    Jesus, inocente, se fez culpado por causa dos pecados da humanidade; Nos,

    na condio de julgado queremos assumir a condio de juzes.

    Jesus submeteu as leis de Deus (elas definem o bem e mal), ns

    mesmos queremos estabelecer o critrio de bem e mal. Queremos julgar a ns

    mesmos, enquanto s Deus juiz. E s sua vontade norma do bem e do mal.

    A luz da Palavra de Deus o pecado arruinou a essncia do homem, fazendo-o

    permanecer sob a ameaa do nada. O pecado e um evento pessoal. A

    responsabilidade s pode ser atribuda a quem comete. No podemos dizer

    que herdamos o pecado de Ado. No transmitido hereditariamente, mas

    provem do sujeito.

    O pecado de Ado tem sobre os pecados dos outros apenas uma

    prioridade cronolgica, mas nenhuma prioridade ontolgica. Aceita o dado da

    universalidade do pecado. Mas acredita que a revelao apenas diz que todos

    os homens so pecadores, mas no afirma que isso tenha acontecido por

    culpa de Ado. Todos so pecadores porque se comportam como Ado.

    Participao na vida divina

    Um conceito bem familiar teologia crist aquele chamado graa de

    Deus. A revelao mostra que Deus sempre quis estabelecer um

    relacionamento de intimidade especial com o homem. Chamando-o a um

  • gnero de vida superior. Este relacionamento singular incide profundamente

    no sentido da existncia humana e no prprio ser do homem, que assume um

    carter divino. Embora o homem tenha recusado esta amizade com Deus, a

    bondade e a misericrdia de Deus so to grandes, que Deus quer tornar a

    oferecer aos homens a sua amizade. E o fez enviando-nos seu prprio Filho.

    Aos que reconhecerem em Jesus Cristo o Filho de Deus e o amarem

    incondicionalmente, ele o faz participar de sua vida divina. Desta forma a

    participao na vida eterna decorre prioritariamente de um dom maravilhoso

    concedido gratuitamente ao homem, que para usufru-la precisa responder

    positivamente a esta graa.

    Nesse aspecto, os esforos humanos por mais bem intencionados que

    sejam no possui em si mrito algum. Os mritos so do prprio Filho de Deus

    que se entregou em sacrifcio pela humanidade, conquistando o direito legal de

    salvar a tantos quantos aceitem sua mediao. O papel das boas obras, nesse

    contexto, mais efeito do que causa de salvao, ou seja, aqueles que foram

    alcanados pela graa divina produziro boas obras. J ensinava apstolo

    Paulo aos efsios: Porque pela graa sois salvos, por meio da f; e isto no

    vem de vs, dom de Deus. No vem das obras, para que ningum se glorie;

    Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as

    quais Deus preparou para que andssemos nelas (Efsios 2:8-10).

    3.3 A natureza do homem segundo o texto bblico

    A antropologia do Novo Testamento que se inspira no Antigo

    Testamento ensina que o homem mortal. O homem foi criado, segundo o

    Gnesis 2.7, da combinao do p da terra e do flego de vida. Dessa unio

    harmnica o criador fez a alma vivente, ou seja, o ser vivente, o homem. Se a

    natureza humana existe de forma integrada, ao desfazer suas partes com a

    morte, desaparece o que chamamos natureza humana.

    Segundo essa perspectiva bblica antropolgica, o homem no existe

    como um ser dicotmico (dividido) em corpo e alma. A viso bblica v o

    homem como um ser integrado em suas partes. A revelao informa que o

  • homem foi criado potencialmente para viver eternamente. Mas sua imortalidade

    era condicional a uma vida em harmonia com os preceitos de Deus. Estes

    preceitos morais esto espalhados por toda a Bblia. Parte deles foram

    sintetizados em dez mandamentos (cf.xodo 20), e estes ainda foram

    resumidos em dois grandes mandamentos: o amor a Deus e o amor ao

    prximo.

    Como visto no tpico anterior, o homem veio a transgredir e a

    consequncia da queda foi a morte. A morte uma espcie de desestruturao

    daquelas partes que antes fora perfeitamente ordenadas pelo criador e postas

    em plena harmonia e funcionamento. Essa desestruturao implica na

    separao da matria e da energia vital soprada pelo criador, resultando na

    morte do homem. Com a separao das partes o todo perde a sua forma e

    deixa de existir. A matria ou o cadver no mais homem. O que

    chamvamos de homem no mais existe.

    Outra perspectiva sobre o tema, no compartilhada pelo autor deste

    material, ensina que o homem um ser dicotmico, ou seja, esta constitudo de

    corpo e de uma alma imortal, sendo a alma responsvel pelo aspecto racional

    do homem. Sendo esta no material, mas espiritual, no est sujeita a morte,

    pois tida como indestrutvel. Esta perspectiva muito popular e a que mais se

    divulgou no meio religioso, como o catolicismo, protestantismo e espiritismo,

    entre muitas outras religies mundiais.

    3.4 O destino do homem

    O destino do homem um tema que interessa a antropologia teolgica.

    Afinal, est intimamente relacionado com o sentido da vida humana. Sobre este

    assunto a Revelao oferece um ensinamento claro e preciso.

    A Bblia no ensina a crena em uma vida na morte, nem em espritos

    desencarnados, ou que almas boas vo para o cu, e as ms vo para o

    inferno aps a morte. Essas doutrinas foram desenvolvidas posteriormente pelo

    cristianismo, j no perodo patrstico, e desenvolvidas posteriormente por toda

    Idade Mdia, em funo de infiltraes da filosofia, como o neoplatonismo,

    cujas crenas acerca da imortalidade da alma derivaram do rfismo e

  • pitagorismo, mas no faziam parte das crenas do cristianismo primitivo

    (entenda primitivo como primeiro). Os profetas e apstolos nada ensinaram

    sobre este assunto. Num estgio mais avanado da Revelao, profetas como

    Isaias e Daniel falaram acerca da ressurreio fsica dos mortos (Daniel 12: 2 e

    3). Durante muito tempo a esperana do povo de Deus (Israel) consistiu em

    viver na sua prpria terra, Cana, colhendo e usufruindo seus frutos, tendo

    uma vida prspera e longa, na prtica da justia (Isaias 65:17,25). No se ver

    nenhum ensinamento sobre almas num paraso celestial.

    Posteriormente, com o aparecimento de Jesus de Nazar e seus

    apstolos, foi elaborado o texto do Novo Testamento que reflete os

    ensinamentos do Antigo Testamento. Estes ensinaram, em harmonia com os

    profetas, que haveria um juzo final, onde os mortos ressuscitariam para serem

    julgados e receberiam sua recompensa segundo suas obras no ltimo dia. No

    ensinaram que almas separadas do corpo, seriam recompensadas na morte.

    Criam que os corpos ressuscitariam no ltimo dia, ou seja, no dia do juzo final.

    Marta, irm de Lzaro sabia que seu irmo retornaria no ltimo dia: Disse-lhe

    Marta: Eu sei que h de ressuscitar na ressurreio do ltimo dia. Joo 11:24.

    Assim, os primeiros cristos no acreditavam que receberiam o cu ou o

    inferno por ocasio da morte. Nem to pouco, criam num estado intermedirio

    onde almas aguardariam pacientemente ou em tormentos o dia do juzo final.

    A vitria sobre a morte

    Ao pensar acerca do destino do homem, necessariamente pensa-se na

    morte. A ameaa da morte uma constante na vida de todos os seres

    humanos que vivem nesse planeta. Ningum escapa da ameaa do no-ser.

    Um dia todos morrero. Fica ento a pergunta carregada de expectativa:

    haver alguma coisa depois da morte? Como saber com certeza? Se h algo, o

    que devemos esperar? Uma vida melhor ou pior que a atual?

    Estamos num campo onde as cincias no podem nos ajudar, este o

    terreno da religio. A prpria filosofia nos decepciona, pois tambm no

    conseguem responder estas questes com segurana, ainda porque, a

  • metafsica est fora de moda na filosofia moderna. Mas onde a cincia e a

    filosofia falham miseravelmente, a palavra de Deus nos socorre e nos anuncia

    uma verdade altamente consoladora. A morte uma cessao da vida, mas

    no tem a ltima palavra, mas Deus tem.

    O cristianismo uma religio cujas esperanas se prolongam para alm

    da morte. Uma das suas crenas centrais que Jesus Cristo superou a morte

    quando ressuscitou ao terceiro dia. Os ensinos de Jesus tinham como pano de

    fundo a premissa que a vida eterna uma possibilidade real, transcendendo os

    confins do tempo e do espao. Os apstolos e os demais seguidores de Jesus

    sabiam que ele era o caminho para a vida eterna. Jesus certa feita disse que

    Ele era o caminho, a verdade e a vida. Durante seu ministrio testemunhas

    viram Jesus trazer vida alguns mortos, estes relatos histricos esto

    registrados nos evangelhos. Os seguidores de Jesus tinham esperana de

    superarem a morte e receberem a vida eterna por meio dEle. Os cristos

    sabiam qual era o destino final do homem, a vida eterna, bemaventurada,

    desfrutada no santo gozo da contemplao infinita do belo e perfeito Deus, em

    comunho com todos os justos.

    Mas isso no retira o aspecto tremendo e terrvel da morte. Como

    qualquer outro, o cristo ainda chora a perca dos seus entes queridos. O

    prprio Jesus chorou quando seu amigo Lzaro morreu. Jesus comeou a

    apavorar-se e a angustiar-se (Marcos 14:34) quando comeou a se aproximar

    da morte. A minha alma est triste at a morte. Mas Jesus no teme a morte

    como um covarde. No tem medo dos homens maus, nem das dores que

    suportaria. Mas tem medo da morte em si, pois o grande poder do mal. A

    morte nada tem de divino, algo horrvel. Jesus ora ao Pai com toda angustia

    de um humano diante da morte, a grande inimiga.

    Jesus morreu, mas no foi derrotado definitivamente pela morte. Ele

    triunfaria sobre tudo e sobre todos, inclusive sobre a morte. J antes, havia

    anunciado que aps trs dias iria ressuscitar dos mortos. De fato ocorreu, aps

    sua crucificao, ao terceiro dia ele ressuscitou dos mortos e foi visto por mais

    de quinhentas pessoas durante um perodo de 40 dias.

  • A ressurreio de Jesus no ocorreu como um acontecimento isolado,

    nico e singular. Sua ressurreio foi a principal entre muitas que ainda haveria

    de ocorrer. Foi uma antecipao do destino de toda humanidade. O prprio

    Jesus disse:

    Em verdade, em verdade, vos digo: vem a hora e agora em que

    os mortos ouviro a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem, vivero.

    Assim como o Pai tem avida em si mesmo e lhe deu o poder de julgar,

    porque filho do homem. No vos admireis com isto: vem a hora em

    que todos os que repousam nos sepulcros ouviro a sua voz e sairo: os

    que tiverem feito o bem, para uma ressurreio de vida; os que tiverem

    praticado o mal, para uma ressurreio de condenao (Joo 5:25-29).

    Sobre o intervalo de tempo passado entre o dia da morte e o dia da

    ressurreio, necessrio dizer que esse tempo no existe para os mortos.

    Tempo e espao existe para os vivos que deles tem conscincia. Na morte

    cessa toda conscincia, portanto no existe tempo. Ao tomarem parte da

    ressurreio os mortos, estes no tero conscincia que estiveram mortos

    durante anos ou sculos. Sua memria jaz no esquecimento e para sempre

    no tem eles parte em coisa alguma que se faz debaixo do sol [na terra].

    Eclesiastes 9.3-5,10. Ou seja, os mortos no tem conscincia e no h,

    portanto, possibilidade alguma de manterem contato conosco. No h uma

    porta de comunicao entre os vivos e os mortos. Todas as crenas que dizem

    ser possvel no tem base na Palavra de Deus.

    O significado da morte

    O significado que a teologia tradicional atribui morte ser um tributo

    que o homem deve pagar em consequncia do pecado original. Visto que a

    morte veio por um homem, tambm por um homem veio a ressurreio dos

    mortos. Pois como todos morrem em Ado, em Cristo todos recebero a vida (

    I Corntias 15:21-22).

    A queda espiritual do primeiro homem Ado, o representante da raa

    humana, resultou na sua morte e consequentemente na morte de todos os

    seus descendentes. Jesus Cristo, o segundo representante da raa humana,

  • pagou os dbitos da humanidade com sua prpria morte, e garantiu a

    ressurreio de toda humanidade. Por meio dele o cristo tem a esperana de

    uma vida nova, de uma vida eterna. A morte vista como uma coisa negativa,

    um inimigo que deve se vencido.

    Esta interpretao dada pelo cristianismo primitivo contrape-se quelas

    dadas por religies espiritualistas que ensinam a existncia de espritos de

    mortos desencarnados. Estas religies veem a morte como algo natural,

    tratando-se apenas de uma passagem desta dimenso para outra melhor. Essa

    crena tem seu aspecto perigoso. Pois se a morte uma simples mudana de

    plano, pessoas que realmente acreditam nisso, em situao de profunda

    tristeza e desespero, podem achar conveniente dar cabo de sua prpria vida a

    fim de experimentarem coisas melhores em outra vida.

    Esta perspectiva parece poder retirar o valor intrnseco da prpria vida.

    Valorizando o que ainda no existe, e desvalorizando a vida presente, que foi

    dada como dom de Deus. Existem registrado vrios casos em que seitas

    msticas cometeram suicdios coletivos baseado em tais crenas. Homens

    bomba se entregam ao suicdio por acreditarem em uma vida melhor na ps-

    morte. No entanto, nem todos que acreditam em tais crenas chegaro a

    atitudes to radicais, porque o instinto de sobrevivncia e o apego vida quase

    sempre fala mais alto. Alm do que, bons leitores das Escrituras sabem que o

    suicdio um ato contrrio vontade de Deus, e por isso evitaro atitudes

    estremas ou fanticas.

    3.5 A vida eterna: imortalidade da alma ou ressurreio?

    Como se deve conceber a vida eterna? Ser uma realidade

    absolutamente nova, conferida ao homem no momento da sua morte, ou trata-

    se de uma realidade que implica numa continuao com a precedente, que ele

    possua durante a vida terrena? Esta vida bemaventurada ser desfrutada por

    uma alma incorprea ou por um ser corpreo?

    Afirma Mondim, que A posio da teologia catlica e do magistrio

    jamais variou nesse ponto. Tem ensinado constantemente que a vida eterna

  • entendida, antes de tudo, como imortalidade da alma e, secundariamente,

    como reassuno do corpo no momento da ressurreio final.

    Tambm a teologia protestante pronunciou-se quase sempre a favor da

    imortalidade da alma. Mas durante os ltimos decnios, vem-se tornando

    sempre mais considervel, entre os autores evanglicos, o nmero dos que

    no mais aceitam esta doutrina. Sustentam que a teoria da imortalidade da

    alma uma teoria filosfica, abstrada pela igreja antiga do pensamento grego

    para dar expresso ao ensinamento bblico sobre o destino ltimo do homem.

    O fato que a bblia em parte alguma afirma a imortalidade da alma, mas

    promete ao homem a ressurreio de todo seu ser.

    O mais autorizado e influente defensor desta posio Oscar Cullmann.

    Em um famoso ensaio intitulado Imortalidade da alma ou ressurreio dos

    mortos. Paideia, Brscia, 1970. Onde sustenta as seguintes teses:

    1. A Concepo bblica da morte fundamentada sobre uma histria da

    salvao (a de cristo) e no pode, portanto, deixar de diferir totalmente da

    concepo grega. O filsofo grego Scrates (que acreditava na

    imortalidade da alma) esperou a morte como libertao do corpo e das

    mazelas inerentes a este. Cristo, por outro lado, sente horror a este

    acontecimento e procura subtrair-se a ele. Rogou ao Pai que passasse o

    clice. Ou seja, no desejava a morte. Por que esta diferena?

    Certamente por que ambos tinham compreenses diferentes do que era

    a morte ou da vida ps-morte.

    2. Para os primeiros cristos a alma no imortal em si, mas assim se torna

    graas unicamente a ressurreio de Jesus Cristo, o primognito entre

    os mortos e graas f em Cristo.

    3. A antropologia do Novo Testamento no a mesma do pensamento

    grego; mas, antes, liga-se a judaica. As divergncias principais referem-

    se prpria concepo da bondade da natureza humana e s relaes

    entre corpo e alma. Enquanto para o pensamento grego a natureza

    intrinsicamente boa, para o Novo Testamento corpo e alma so bons

    enquanto criados por Deus; ambos so maus na medida em que o poder

    da morte, a carne, o pecado toma posse deles. Mas ambos podem e

  • devem ser libertados pela fora de vida do Esprito Santo. A libertao

    aqui no libertao da alma do corpo; ambos so libertados do poder

    da morte que a carne.

    At aqui percebemos que a resposta para a questo se h ou no vida

    aps a morte, uma questo que no possui uma nica resposta, nem mesmo

    entre os telogos cristos. O homem consciente da morte se pergunta? Ela

    constitui ou no o fim de todo ser humano? A primeira vista a resposta parece

    ser sim, pois todos as pessoas que conhecemos possuem uma estrutura fsico-

    psicolgica que destruda e a vida cessar por ocasio da morte.

    Para quem defende que aps a morte, ainda sobreviver uma

    essncia, ou a alma, a morte do corpo no representa a morte do ser

    inteiramente, mas apenas do seu aspecto fsico ou corpreo. Mas como vimos,

    esta uma resposta cuja base est na filosofia grega, embora presente em

    muitas religies do mundo.

    Para os cristos primitivos, aqueles que viveram no sculo I, herdeiros

    da pregao de Cristo e dos apstolos, a resposta para a questo se h ou no

    vida aps a morte, era um contundente sim. Haveria uma vida ps morte,

    mas no sentido que os mortos ressuscitariam no ltimo dia da histria humana.

    No criam que houvesse vida na morte, ou seja, enquanto mortos, no

    poderiam viver de alguma forma. Morte interpretada como anttese da vida.

    Seria um contrassenso afirmar que um morto vive. Se vive no est morto. O

    correto era afirmar como Jesus afirmou: Quem crer em mim, ainda que esteja

    morto viver. Jesus no disse que seu amigo Lzaro, enquanto morto, estava

    vivendo em alguma lugar. Durante os quatro dias que assim permaneceu, no

    fez nenhum passeio astral viajando pelo espao csmico, pelo paraso, inferno

    ou purgatrio. Jesus afirmou categoricamente que Lazaro estava de fato morto.

    Mas ele iria ressuscit-lo, ou seja, iria traz-lo de volta a vida.

    Nessa perspectiva, incorreto afirmar que haja qualquer alma no cu

    ou no inferno. No faria sentido algum condenar uma pessoa a um pesado

    castigo sem antes haver um justo julgamento. Para os que defendem a

    existncia da alma imortal, aqueles que nessa vida agiram mal e morreram

  • sem salvao, esto nesse momento, ardendo nas profundezas do inferno,

    sendo afligidas continuamente sem alvio algum, e tudo isso sem terem ainda

    passado pelo julgamento final. Essa imagem grotesca e conspira contra o

    carter santo e justo de Deus. difcil compreender e aceitar como um Deus

    justo e amoroso poder lanar em torturas infindveis aqueles que haviam

    criado como filhos amados.

    Somente uma m interpretao das Escrituras poderia levar algum a

    ensinar tais doutrinas. Mas exatamente isto que acontece com muitos, que

    tomam figuras de linguagens como algo literal, e assim ao interpretar o fogo

    eterno ou o fogo que no se apaga, do uma interpretao errnea,

    considerando que este fogo seja eterno em sua durao, quando sabemos

    que eterno nos seus efeitos E isso algo completamente diferente.

    O destino eterno do homem, na teologia crist, depende da sua

    deciso e da sua resposta ao plano da salvao. Uma resposta negativa

    implicar em perca da vida eterna. Uma resposta positiva resultar na

    aquisio da vida eterna. Para os que acreditam na alma imortal, os que

    perdem a salvao, sua sorte terrvel, pois no podendo morrer ou ser

    destruda, a alma ter que sofrer para todo o sempre. Isso terrivelmente cruel

    e injusto.

    Por outro lado, se entendermos que no existe alma imortal, e que o

    homem inteiro que ressuscitar para ser julgado, e caso seja condenado,

    sofrer o dado da morte eterna, e sendo mortal, ser ento destrudo, e para

    sempre no viver. Nessa perspectiva, o sofrimento dos injustos e maus tero

    um fim. O fogo eterno no eterno em durao, ou seja, no ficar acesso

    indefinidamente, mas apenas at cumprir sua finalidade. As consequncias do

    fogo que so eternas, pois nunca mais os que forem consumidos tornaro a

    viver novamente.

    Embora a morte seja o fim da vida, dos projetos, das atividades, das

    interaes e relaes, do amor e afeto, e por isso seja algo to indesejado, nos

    causa angustia pensar que teremos de enfrent-la algum dia. Por outro lado, a

    f crist nos proporciona uma esperana de uma superao, de uma vitria

  • sobre a morte. Essa f nos diz que a morte um fim, mas um fim provisrio e

    que a palavra final e definitiva ser dada por Deus. A f crist foi fundada sobre

    a promessa de superao da morte como algo definitivo, e a perspectiva de

    uma vida eterna.

    E como afirma Mondim para o cristo, a morte deve constituir o ltimo

    ato de f no Deus que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos.

  • COMCLUSO

    Podemos perceber ao longo dos nossos estudos que a questo mais

    complexa a ser respondida, a que diz respeito questo o que o homem.

    Sobre este tema se debruaram filsofos e telogos, alm de outros

    acadmicos. notria a complexidade do tema visto que vrias cincias o

    estudam e ainda no esgotaram tudo aquilo que poderiam afirmar acerca do

    mesmo.

    Em virtude da complexidade que o homem, onde est presente

    aspectos como o racional, emocional, poltico, econmico e cultural, parece

    que todos estes aspectos separados e juntos ainda no conseguem dar conta

    do que seja o homem. Um ser incompleto, inacabado, sempre em construo,

    sempre um vir a ser. Um ser caracterizado fundamentalmente pela liberdade,

    que pensa por si mesmo, pelo menos o que se espera de um homem

    esclarecido, no dizer do filsofo Emmanuel Kant, embora alguns homens

    permitam que outros pensem por eles, mesmo assim pensam, de qualquer

    forma. O homem tambm um ser religioso, com uma vocao s questes

    transcendentais. O homem quer sempre ser mais do que no presente.

    Embora seja mortal, aspira a imortalidade. No encontrando resposta para

    suas inquietaes no mundo sensvel, busca-o no mundo espiritual. Ele quer

    encontrar o sentido ltimo para sua vida, para o mundo.

    Apesar de confusas, alienantes, contraditrias, preconceituosas e at

    supersticiosas que algumas religies podem se configurar, s boas religies

    parecem oferecer ao homem algo mais do que oferecido pelas cincias.

    claro que algum dir que a promessa da religio de uma vida eterna mera

    iluso. Mas o homem parece necessitar de iluses ou seria esperana? No de

    qualquer iluso/esperana; algumas so extremamente nocivas, mas uma

    iluso, que quer se tornar sonho, esperana de um futuro melhor parece justa.

    Se a natureza ou Deus, o grande Criador foi to benevolente em nos conferir a

    vida e uma vida superior, em virtude da nossa racionalidade, tambm nos

    conferiu a capacidade de sonhar, de ter f e esperana. Se a natureza no faz

    nada em vo, como dizia Aristteles, no daria ao homem uma potncia ou um

    atributo para o qual nenhuma utilidade teria. A natureza teria criado coisas

    inteis, isso inconcebvel para a razo.

    Esperar dias melhores, crer que o futuro nos trar uma forma de vida

    mais autntica e feliz que a atual, fundamentada em promessas de ordem

    espiritual, no significa desprezar a vida atual ou deixar de viver o presente,

    como afirmam alguns, mas significa querer ser mais do que somos, e no vejo

    como isso possa ser algo ruim ou prejudicial espcie humana.

    A teologia crist oferece uma perspectiva, um sonho, uma esperana de

    vida eterna, mas no para por a. Ela tambm ensina a valorizar a vida

  • humana, ensina a viver em liberdade no transgredindo ou violando as leis que

    protegem a vida e o bem-estar fsico-espiritual. Ou seja, ensina o homem a ser

    tico nas suas relaes interpessoais, ensina lies profundas de humanidade

    para com o outro, elabora uma tica baseada no amor ao prximo, um amor

    altrusta que se praticado ao modo de Jesus de Nazar, transformaria o

    mundo.

    Ainda que se descartasse o aspecto sobrenatural, transcendente

    presente na religio restaria muita coisa til, como a matizao de princpios

    morais to caros a humanidade. Mais ai, j no seria religio, mas apenas uma

    filosofia. Pois o que caracteriza definitivamente a religio tratar das questes

    transcendentais.

  • Pesquisando na Internet

    Para aprofundamento dos contedos desta disciplina, o aluno

    dever realizar uma pesquisa na internet, em site de revistas

    eletrnicas, artigos, monografias, teses, sobre o tema :

    Desenvolvimento humano na ps-modernidade.

    Saiba mais

    Acesse o link e tenha acesso a entrevista

    Vendo com os olhos de ver

    No (Russell Crowe) vive com a esposa Naameh (Jennifer Connelly) e os

    filhos Sem (Douglas Booth), Cam (Logan Lerman) e Jaf (Leo McHugh Carroll)

  • em uma terra desolada, onde os homens perseguem e matam uns aos outros.

    Um dia, No recebe uma mensagem do Criador de que deve encontrar

    Matusalm (Anthony Hopkins). Durante o percurso ele acaba salvando a vida

    da jovem Ila (Emma Watson), que tem um ferimento grave na barriga. Ao

    encontrar Matusalm, No descobre que ele tem a tarefa de construir uma

    imensa arca, que abrigar os animais durante um dilvio que acabar com a

    vida na Terra, de forma a que a viso do Criador possa ser, enfim, resgatada.

    Assista ao filme No e faa uma anlise crtica do filme destacando

    aspectos relevantes que tenham relao com algum tema discutido na

    disciplina.

    Revisando

    A Antropologia Teolgica trata do estudo o homem e sua relao com

    Deus. Teve sua mudana em duas transies: a do cosmo para Deus, quando

    o teocentrismo cristo suplantou a viso grega da realidade, e a outra foi no

    antropocentrismo, de Deus para o homem, o que ocorreu na poca moderna

    em consequncia da secularizao e do atesmo. Repentinamente Deus

    desaparece de cena e cede lugar ao homem, dando surgimento ao

    Antropocentrismo.

    Durante o estudo da primeira unidade, vimos como tal disciplina se

    desenvolveu ao longo da histria. A teologia como disciplina acadmica veio a

    se consolidar com o pensamento cristo, especialmente com Agostinho. Tal

    pensamento foi elaborado a partir das reflexes dos chamados pais da igreja

    que conjugaram a filosofia grega (razo) com o pensamento cristo (f). Vimos

    como a teologia procura fazer uma conciliao entre a f crist e o pensamento

    filosfico racional. No perodo patrstico quem mais xito obteve foi o filosofo e

    telogo Agostinho de Hipona, que fez uma espcie de conciliao entre a f

    crist e o neoplatonismo.

    Na segunda unidade estudamos o sentido metafsico do homem,

    destacando a autotranscedncia como o caminho a ser percorrido a fim de

  • entendermos o sentido ltimo da existncia humana. Vimos como A

    interpretao teocntrica destaca-se em relao s demais elaboradas pela

    filosofia, caso da interpretao egocntrica e filantrpica. A interpretao

    teocntrica se impe como a melhor explicao para o movimento interior da

    autotranscedncia no homem. Como todo movimento h sempre uma direo,

    e tem como alvo o ser absoluto transcendente que Deus. Assim o homem

    encontra a sua plena realizao ao se unir a fonte maior, ao Supremo Bem e a

    realidade absoluta e universal que significa a existncia de todas as coisas.

    Na terceira unidade trabalhamos vrios temas da antropologia

    teolgica. Vimos como o Imago Dei fornece um significado maior para o

    homem criado imagem e semelhana de Deus, impregnando um valor

    inestimvel a cada ser humano. Vimos que o pecado, uma rebelio interna

    contra as leis divinas, representa uma alienao e um afastamento de Deus, e

    foi a causa de todos os males que existem no planeta. O pecado tambm um

    estado de natureza com a qual todos os seres humanos nascem, uma

    propenso natural para o mal. Ele acarretou diversas consequncias para o

    gnero humano, a pior delas foi a morte. Por meio do pecado o homem se

    tornou mortal, sujeito a corrupo, sofrimento e morte. A morte a

    consequncia final e a paga para o pecado. O salrio do pecado a morte.

    Mas o dom gratuito de Deus a vida eterna em Cristo Jesus. Ao mesmo

    tempo em que h uma condenao para o homem, h tambm uma promessa

    de salvao e de vida eterna. A promessa que aos que tem f, ser possvel

    vencer at mesmo a morte. uma f incondicional no poder do Filho de Deus,

    que resgatou a humanidade por meio dos seus sofrimentos. H uma

    escatologia (um desfecho final) prevista na Revelao. A raa humana no

    vagara indefinidamente nesse espao-tempo nas condies atuais. Portanto o

    destino final do homem est implicado no destino de toda a raa humana, e

    este destino eterno ser realizado no final de todas as coisas, quando tambm

    haver a renovao de tudo por ocasio da segunda vinda de Cristo, segundo

    suas palavras no evangelho de Joo 14. 1-3.

    Por fim, a antropologia Teolgica mantem seu olhar firme na

    Revelao, sempre disposta a responder as questes mais cruciais referentes

  • a questo do significado ltimo da existncia humana. Responde as perguntas

    existenciais mais profundas: de onde viemos, quem somos e para onde vamos.

    Bibliografia

    BRAKEMEIER, Gottfried. O ser humano em busca de identidade:

    Contribuies para uma Antropologia Teolgica. Editora: Sinodal, 2002.

    LADARIA, Luis F. Introduo Antropologia Teolgica. 5.ed. So Paulo:

    Loyola, 2011.

    RUBIO, Alfonso Garcia. O Homem Integrado: abordagens de Antropologia

    Teolgica. 5.ed. Petrpolis: Vozes, 2011.

    SOUZA, Jos Neivaldo de. Imagem Humana Semelhana de Deus. So

    Paulo: Paulinas, 2010.

    MONDIN, Batttista. Antropologia Teolgica: Histria, problemas, perspectivas.

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