Anta
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rodolfo-almeida -
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Transcript of Anta
linha amarelaesnobe e incompleta
quem é vocêpra impedir que
nos atiremos aos trilhos?
ANTA é um zine de várias coisas e ANTA ai-nda não sabe o que é. ANTA é inteligente e caminha sinuosa, pau no cu dos modernistas. ANTA não sabe o que faz. ANTA pede descul-pas aos modernistas, foi um exagero. ANTA é decididamente de esquerda. ANTA não é esquerdista. ANTA opta pela moda de revis-tas enigmáticas. ANTA sabe que a época das revistas manifesto já passou. ANTA acha que temos informação demais. ANTA não quer filtrar a informação pra ninguém. ANTA não é vanguarda. ANTA não tem razão de ser. ANTA é. ANTA tem um computador. ANTA não se incomoda em mudar de ideia porque ANTA é burra. ANTA passa tempo demais na internet. ANTA lê poesia. ANTA cansou de ser moderna. ANTA está procurando o que fazer. ANTA não gosta do jornal. ANTA escreve direto no digital. ANTA não sabe es-crever. ANTA não tem conteúdo. Mas ANTA não desperdiça um sentimento e quer fazer
S O B R E
algo com isso. ANTA aprendeu a escrever manifesto. ANTA não sabe desenhar. Mas ANTA desenha. ANTA não sabe escrever. Mas ANTA está escrevendo. ANTA tem dé-ficit de atenção. ANTA deveria estar fazendo isso na internet. ANTA não deveria jogar pa-pel fora. ANTA entende as críticas. ANTA é inocente de tudo. ANTA quer ser inteligente e engraçada. Mas ANTA força um pouco a barra. ANTA não vai dizer muita coisa (você já sabe tudo mesmo). ANTA acaba de deixar o currículo numa grande editora e está apre-ensiva. ANTA quer construir alguma coisa.ANTA quer ter um círculo de amigos artis-tas. ANTA jura que sabe escrever academi-camente. ANTA só não quer. ANTA sabe até fazer crítica, sério.
ANTA é um zine no meio de tudo isso.ANTA pede desculpas.
FALÉSIAou
COISAS QUE EU TENTEI TE DIZER E VOCÊ NÃO
DEU A MENOR BOLAou
O DISCRETO CHARME DAS LÂMPADAS DE
TUNGSTÊNIOou
PROVISÓRIAS SÃO AS COISAS TANGÍVEIS
sei que não é debom alvitre ficarescutando conversas alheiasmas certa feita ouvi no trem quea vida é tipo ummoleiro gordo quecome baconzitos logo de manhã elimpa a mão na calça.
descrever
é suprimir
3/4da fruição
que é feito
adivinhar
pouco apouco
sugeri-lo
eis o sonho
da felicidade de
do poema
imagina meu espanto aome dar conta de que oburacão que me atormentoudurante a infânciaficava exatamenteembaixo daminha sala de estar.
Na mãão imensa da onçça
A forçça moendo mo-endo
O corpo inteiro seguindoO homem - lenho estalando
Sobre ti, agora, caindoO homem - lenho rachando
Faíísca quente che-gando
Faíísca quente che-gando
O homem - gomo esticadoEsticado o talo nascendo
O homem - gomo esticadoEsticado o talo nascendoO corpo inteiro seguindo
Na mãão imensa da onçça
A forçça moendo mo-endo
O homem - lenho estalandoSobre ti, agora, caindo
Faíísca quente che-gando
O homem - lenho rachandoSobre ti, agora, caindo
O homem - gomo esticadoEsticado o talo nascendo
Com o encanto guardadoJibóia - baúú de encan-
tosJibóia - baúú de encan-
tosJibóóia branca cara a
caraJibóóia branca cara a
caraJibóóia branca fez de ponteCom ela parada no meioParada dentro da passagemCom ela parada no meioGameleira cheia de frutasZoando levou emboraNuvem de curica brancaZoando leou emboraPaxiúúba cheia de frutasNuvem de queixada brancaTan-tan queixo batendoPaxiúíuba cheia de frutasNuvem de queixaba brancaTan-tan queixo batendoO cacho apoiado no esteioOuvindo primeiro subindoJabuti esticando a líín-
guaOuvindo primeiro subindocom ela parada no meioJiboia - baúú de encantosJiboia branca fez de ponteJiboia branca cara a caraCom ela parada no meio
Há de se inventar uma coisa qualquer que se possa amar muito. O suficiente para que
alguém, em seguida, a possa odiar muito.
o colesterole o bemstar social
e a tve os suicídios coletivos
e as orquídeas previsíveise a lipoaspiração
urgea respiração dos leões marinhos
sôfregae o sangue fino
e o formiato de etilae o rum de verdade
e os piratas somalis quenão tomam rum de verdade
mas nem por isso são piratas de mentira.
e o martelo estratigráfico galvanizadoadquirido na peg & faça quica pelaabóboda celeste ese liquefaz quase queinstantaneamente aotocar aborda do mando d'ele.
esculpasem culpapernas de
cadeira demadeira boa
desculpanão te vi
parada aíatrás no
resguardo maissilencioso e
volátil como o maistriste flavorizante
emprestando saborduvidoso a
alguma bala queserá vendida a
setenta centavos maspor hora descansa entre seus
pares sob aluz pálida de uma
lâmpada fluorescente quefalha intermitente
num galpão em guarulhos.me toca uma cantata dacaçaprofanae os cornos mal esperam ahora deestender asluzinhas de natal só praesmigalhar os bulbos comgalochas esmerdeadas eintroduzir os cacos no ânus.
Ao Sr. Paul
Deme-ny
QUEM?
E então a Mãe, fechando o livro de dever,
Lá se ia satisfeita e orgul-hosa, sem ver
Em seus olhos azuis, sob as protuberâncias
Da face, a alma do filho ent-regue a repugnâncias.
O dia inteiro ele suou de obediência; que
Inteligente! e entanto, uns tiques maus, um quê
Já demonstravam nele acres hipocrisias.
No escuro corredor, junto às tapeçarias
Mofadas, estirava a língua, os punhos fundos
Nos bolsos e, fechando os olhos, via mundos.
Sobre a noite uma porta abria-se: na rampa da
Escada, a resmungar, o viam, sob a lâmpada,
Como um golfo de luz a pender do teto. E no
Verão, abatido, ar estúpido, o menino
Teimava em se trancar no frescor das latrinas
Para pensar em paz, are-jando as narinas.
Quando o jardim de trás da casa se lavava
Dos odores do dia e, no inverno, aluarava,
Jazendo ao pé do muro, enterrado na argila,
Para atrair visões esfregava a pupila
E ouvia o esturricar das plan-tas nas treliças.
Pobre ! para brincar só cri-anças enfermiças
De fronte nua, olhar vazio que lhes erra
Pela face, escondendo as mãos sujas de terra
Nas roupas a cheirar a fezes, todas rotas,
Falando com essa voz me-losa dos idiotas!
E quando o surpreendia em práticas imundas,
A mãe se horrorizava; o menino, profundas
Carícias lhe fazia, a apaziguar-lhe a mente.
Era bom. Ela tinha o olhar azul, — que mente !
Aos sete anos compunha histórias sobre a vida
No deserto, onde esplende a Liberdade haurida,
Florestas, rios, sóis, savanas! Recorria
A revistas nas quais, encabu-lado, via
Italianas a rir e espanholas bonitas.
Quando vinha, olhos maus, louca, em saias de chitas,
A filha — oito anos já! — do operário do lado,
A pirralha infernal, que após lhe haver pulado
Às costas, de algum canto, a sacudir as roupas,
Ele por baixo então lhe mor-discava as popas,
Porquanto ela jamais andava de calçinha.
— Cheio de pontapés e so-cos, ele vinha
Trazendo esse sabor de carne para o quarto.
Da viuvez invernal dos do-mingos já farto,
Junto à mesa de mogno, empomadado, a ter de
Recitar a Bíblia encadernada em verde
E a sofrer a opressão dos sonhos maus em que arde,
Já não amava Deus; mas os homens, que à tarde,
Via, sujos, chegando em suas casas baixas,
Quando vinha o pregoeiro, entre ruflar de caixas,
A ler seus editais entre risos e pragas.
— Sonhava as vastidões de prados onde as vagas
De luz, perfumes bons, dou-radas lactescências
Se movem calmamente e evolam como essências!
E como saboreava antes de tudo arcanasCoisas, se punha, após baixar as persianas,
A ler no quarto azul, que cheirava a mofado,Seu romance sem cessa em sonhos meditado,Cheio de plúmbeos céus, florestas, pantanais,
Flores de carne viva em bosques siderais,Vertigens, comoções, derrotas, falcatruas !– Enquanto progredia a agitação das ruas
Embaixo, — só, deitado entre peças de telaDe lona, a pressentir intensamente a vela !
26 de maio de 1871.
M E N I N O R I M B A U Dporque sim
Existem insanidades essenciais e não-essenciais.
As últimas são de caráter solar, as primeiras estão liga-das à lua.
As insanidades não-essenciais são um frágil amálgama de ambição, agressão e ansiedade pré-adolescente — lixo que deveria ter sido jogado fora há muito tempo. Insanidades essenciais são aqueles impulsos que senti-mos instintivamente como virtuosos e corretos, embora os nosso companheiros os considerem maluquice.
Insanidades não-essenciais fazem uma pessoa arran-jar confusão consigo mesma. Insanidades essenciais fazem uma pessoa arranjar confusão com os outros. É sempre preferível a confusão com os outros. De fato, pode ser essencial.
A poesia, no que ela tem de melhor, é lunar e preo-cupa-se com as insanidades essenciais. O jornalismo é solar (existem diversos jornais chamados O Sol, e nenhum chamado A Lua) e dedica-se ao não-essencial.
veio o primeiro fogoo primeiro fogo é meu
dezenas de quilômetros nosemi-árido
e o madeireiro não cedea madeira prometida
enxadasrastelos
e machadinhas.
Sob um grande céu cinzen-to, numa grande planície poeirenta, sem caminhos, sem gramados, sem uma urtiga, encontrei vários homens que andavam cur-vados.
Cada um deles carregava nas costas uma enorme Quimera, tão pesada quanto um saco de farinha ou de carvão, ou os apet-rechos de um soldado da infantaria romana.
Mas a monstruosa besta não era um peso inerte; pelo contrário, en-volvia e oprimia o homem com seus músculos elásticos e possantes; grampeava-se com suas duas vastas garras no peito de sua mon-taria; e sua cabeça fabulosa sobressaía acima da fronte do homem, como um daqueles capacetes horríveis com os quais os antigos guer-reiros esperavam acirrar o terror inimigo.
Interroguei um desses homens, e perguntei-lhe aonde iam assim. Respondeu-me que de nada sabia, nem ele, nem os outros, mas que evidentemente iam a algum lugar, já que eram levados por uma in-vencível necessidade de andar.
Coisa curiosa de se notar: nenhum dos viajantes parecia irritado com a besta feroz pendurada em seu pescoço e colada em suas cos-tas; dir-se-ia que a considerava como fazendo parte de si mesmo. Todos esses rostos cansados e sérios não demonstravam desespero;
CADA QUAL COM SUA QUI-MERA
sob o céu, com os pés mergulhados na poeira de um solo tão desolado quanto este céu, eles caminhavam com fisionomia resignada daqueles que estão conde-nados a ter sempre esperança.
E o cortejo passou a meu lado e afundou na atmos-fera do horizonte, no lugar em que a superfície ar-redondada do planeta se esquiva à curiosidade do olhar humano.
E, durante alguns instantes, teimei em querer com-preender esse mistério; mas em seguida a irresistível indiferença se abateu sobre mim, e me deixou mais duramente oprimido do que eles próprios por suas esmagadoras Quimeras.
B A U D E L A I R Etambem porque sim
.......Uma tarde
............é suficiente para ficar loucoou ir ao Museu ver Bosch............uma tarde de inverno...........................sobre um grave pátio.....onde garòfani .... milk-shake & Claude....................obcecado com anjos..........ou vastos motores que giram com.............................uma graça seráfica.............tocar o banjo da Lembrançasem o Amor encontrado ... provado ...sonhado............& longos viveiros municipais........sem procurar compreender
imaginara medula sem olhos
ou pássaros virgensaconteceu que eu revi
a simples torre mortal do Sonhonão com dedos reais & cilíndricos
Du Barry Byron Marquesa de SantosSwift Jarry com barulho
de sinos nas minhas noites de bárbaroos carros de fogo
os trapézios de mercúriosuas mãos escrevendo & pescando
ninfas escatológicaspequenos canhoes do sangue & os grandes olhos abertos
para algum milagre da Sorte
ROBERTO PIVAPIAZZA I
há vida além debrasilit etetos de zincoalvo primordialvirginalventre blancoa perda daspregashá vida além dacapital-olha o craqueiro atravessando a rua.e nos desvãos dosmeus versos oponto focal évocê ese essamania éinsalubre nãovale a penaviver.
sueliserá que temoso mesmo número?trate de quitar suas dívidassuelipra que a eletropaulonão encha meu saco.
Mariana Louro é
Miguel Nassif é
Rodolfo Almeida é