ANOS VIDA

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ARAÚJO, Alcione (1945- ) Muitos anos de vida Drama familiar urbano/1 ato/10 personagens/4 fem. 6 masc./Conflito de gerações/Atualidade/Contexto político SINOPSE Muitos anos de vida poderia ser considerada uma peça representativa do teatro dos anos setenta, não fosse a clara intenção do autor de investigar outros conflitos que emergiam também na mesma época, como causa ou consequência dos conhecidos fatos políticos. Otaviano é um patriarca, antigo dono de fazenda, que perdeu suas terras devido à desapropriação promovida pelo governo ditatorial com vias de expansão, isto é, para a construção de multi-nacionais. A história da peça se passa num dia. O dia do aniversário de Otaviano que completa 73 anos. Ex-integralista, inimigo dos comunistas, Otaviano há vinte anos dorme separado de sua esposa, mantém uma de suas janelas lacrada, e diz que é por causa dos comunistas, que um dia já invadiram sua casa. Otaviano vive também na suspeita de traição de sua mulher Judith. Esta tem um problema emocional que a faz repetir cada frase três vezes. Aos poucos, os convidados vão chegando. Está em cena Eleonora, a filha mais velha, e Otaviano. Eles dicutem o número de convidados. Logo depois, chega Edgar, um dos filhos, motorista de táxi e grosseirão. Eleonora, que saiu da casa do marido, um político de direita, discute com a mãe e se nega a voltar. Chega Rosa, a sobrinha de Eleonora e de Edgar. É uma menina de dezesseis anos, ao mesmo tempo que ingênua, bastante insinuante e desbocada. Logo percebe-se um clima entre ela e o tio Edgar. Judith e Eleonora chamam a atenção da menina para o perigo que está correndo. A próxima convidada a chegar é Eunice, a filha do meio, e mãe de Rosa. Está acabada, cansada e de mau-humor, e já chega falando mal do marido, Leopoldo, que considera um perdedor e de quem pensa se separar. Revela que convidou o marido de Eleonora, Nogueira, para a festa, com o intuito de pedir um emprego para seu marido. Logo depois, chega Leopoldo, humilhado e vestindo roupas surradas. Dá de presente ao sogro uma caixa de sabonetes. Todos riem dele, menos Eleonora. Logo fica evidenciado o carinho existente entre os dois. Chega Nogueira, que vem acompanhado de um verdadeiro batalhão de seguranças, deixando claro que teme represálias por ser colaborador e, talvez, executor da política de repressão. Leopoldo tenta recusar a pressão de Eunice

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sinopse de teatro teatral "Anos Vida" de Araújo

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ARAÚJO, Alcione (1945- )

Muitos anos de vidaDrama familiar urbano/1 ato/10 personagens/4 fem. 6 masc./Conflito de gerações/Atualidade/Contexto políticoSINOPSE

Muitos anos de vida poderia ser considerada uma peça representativa do teatro dos anos setenta, não fosse a clara intenção do autor de investigar outros conflitos que emergiam também na mesma época, como causa ou consequência dos conhecidos fatos políticos.

Otaviano é um patriarca, antigo dono de fazenda, que perdeu suas terras devido à desapropriação promovida pelo governo ditatorial com vias de expansão, isto é, para a construção de multi-nacionais.

A história da peça se passa num dia. O dia do aniversário de Otaviano que completa 73 anos. Ex-integralista, inimigo dos comunistas, Otaviano há vinte anos dorme separado de sua esposa, mantém uma de suas janelas lacrada, e diz que é por causa dos comunistas, que um dia já invadiram sua casa. Otaviano vive também na suspeita de traição de sua mulher Judith. Esta tem um problema emocional que a faz repetir cada frase três vezes.

Aos poucos, os convidados vão chegando. Está em cena Eleonora, a filha mais velha, e Otaviano. Eles dicutem o número de convidados. Logo depois, chega Edgar, um dos filhos, motorista de táxi e grosseirão. Eleonora, que saiu da casa do marido, um político de direita, discute com a mãe e se nega a voltar. Chega Rosa, a sobrinha de Eleonora e de Edgar. É uma menina de dezesseis anos, ao mesmo tempo que ingênua, bastante insinuante e desbocada. Logo percebe-se um clima entre ela e o tio Edgar. Judith e Eleonora chamam a atenção da menina para o perigo que está correndo. A próxima convidada a chegar é Eunice, a filha do meio, e mãe de Rosa. Está acabada, cansada e de mau-humor, e já chega falando mal do marido, Leopoldo, que considera um perdedor e de quem pensa se separar. Revela que convidou o marido de Eleonora, Nogueira, para a festa, com o intuito de pedir um emprego para seu marido. Logo depois, chega Leopoldo, humilhado e vestindo roupas surradas. Dá de presente ao sogro uma caixa de sabonetes. Todos riem dele, menos Eleonora. Logo fica evidenciado o carinho existente entre os dois. Chega Nogueira, que vem acompanhado de um verdadeiro batalhão de seguranças, deixando claro que teme represálias por ser colaborador e, talvez, executor da política de repressão. Leopoldo tenta recusar a pressão de Eunice para que se humilhe diante de Nogueira e aceite um emprego, apesar das divergências de opiniões e de posições políticas. Por último, chega Eduardo, o filho pederasta de Otaviano. Este se recusa a falar com o filho mais novo, mas a mãe o abraça e o recebe com carinho. Ao ver Eduardo, Edgar se revolta e ameaça sair de casa se o irmão permanecer ali. A mãe protege Eduardo, e Edgar, revoltado, num ato de vingança, tira a virgindade de Rosa no quarto e exibe o lençol sujo de sangue para toda a família. Rosa grita que foi bom,

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e depois de lavar o sangue que escorria das pernas, ajudada por seu pai, sai cambaleante para o quintal.

Edgar diz que vai embora, depois de ser expulso por Otaviano. Eunice, ao perceber o que estava acontecendo e apesar do que o irmão havia feito com a filha, convence o pai a pedir que Edgar fique, pois sem o dinheiro dele não seria possível sustentar a casa. Edgar fica. Ao voltar para o quarto, encontra seu irmão Eduardo prestes a injetar uma seringa no braço. Chora comovido e abraça o irmão. Eunice insite em que Leopoldo se humilhe diante de Nogueira, este se recusa e sai, dizendo que vai embora. Eleonora diz que precisam conversar. Se encontram no quarto de janela lacrada. Leopoldo salta a janela, e, finalmente fica claro o mistério, seja do comunista seja do amante da mulher. O homem era Leopoldo, que havia mantido um caso com Eleonora antes de se casarem ambos com outras pessoas. Leopoldo diz que voltou ali, mas para se despedir. Nesse momento, Judith traz o enorme bolo com a bandeira do Brasil e setenta e três velas em volta. Cantam parabéns, como se nada tivesse acontecido.