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DESENHANDO CIDADES Karina Kuschnir sociologia&antropologia | v.02.04: 295 –314, 2012 CONHECER O MUNDO, UM DESENHO DE CADA VEZ 1 [os objetos] estão sempre “abertos para novos campos de significação”, pois “existem perante os olhos que os olham” [...]. “Cada olhar tem a sua própria história, feita de construção intelectual, experiência, sensibilidade e do próprio devaneio em que procura os seus limites” (Brito, 2009: 4-5). Para o antropólogo Joaquim Pais de Brito, desenhar é uma forma de conhecer, compreender, se apropriar, narrar, produzir. “Desenhar para ver”, escreve ele no catálogo da exposição com desenhos da artista plástica Bárbara Assis Pa- checo sobre obras do acervo do Museu Nacional de Etnologia de Lisboa. O desenho é uma das múltiplas linguagens que produzem um conhecimento mais rico sobre tudo que nos cerca. 2 1. Desenho de Gabi Campanario da cidade de Zafra, Espanha. Publicado no seu blog com legenda sobre a experiência de viajar e desenhar no local. Disponível em <http://goo.gl/tgGvr>

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  • DESENHANDO CIDADES

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    CONHECEr O muNDO, um DESENHO DE CADA vEz1

    [os objetos] esto sempre abertos para novos campos de significao,

    pois existem perante os olhos que os olham [...]. Cada olhar tem a sua

    prpria histria, feita de construo intelectual, experincia, sensibilidade

    e do prprio devaneio em que procura os seus limites

    (Brito, 2009: 4-5).

    Para o antroplogo Joaquim Pais de Brito, desenhar uma forma de conhecer, compreender, se apropriar, narrar, produzir. Desenhar para ver, escreve ele no catlogo da exposio com desenhos da artista plstica Brbara Assis Pa-checo sobre obras do acervo do Museu Nacional de Etnologia de Lisboa. O desenho uma das mltiplas linguagens que produzem um conhecimento mais rico sobre tudo que nos cerca.2

    1. Desenho de Gabi Campanario da cidade de Zafra, Espanha. Publicado no seu blog com legenda sobre a experincia de viajar e desenhar no local. Disponvel em

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    Em novembro de 2007, Gabriel (Gabi) Campanario, espanhol radicado nos EUA como ilustrador-jornalista do jornal The Seattle Times, criou no site Flickr um grupo de postagem de desenhos com o ttulo urban sketches [dese-nhos urbanos]. Um ano depois, a iniciativa deu origem a um blog e, em dezem-bro de 2009, tambm Urban sketchers (USK) organizao sem fins lucrativos e com o objetivo de organizar eventos, levantar fundos e oferecer bolsas para artistas. Alm de reunir membros de mais de 50 pases, a USK gerou tambm cerca de 25 blogs locais afiliados, como o USK-Portugal, USK-Indonesia, USK--Argentina etc. O primeiro encontro internacional promovido pela ONG ocorreu em 2010, em Portland, EUA. No ano seguinte, em Lisboa, Portugal, houve um segundo evento, de que participaram cerca de 250 desenhadores urbanos, entre professores, alunos e palestrantes.3 O esprito da USK est sintetizado em seu manifesto, traduzido aqui (por mim) de modo ligeiramente resumido:

    Desenhamos no local, capturando aquilo que vemos pela observao direta. Nossos desenhos contam a histria do que nos rodeia, dos lugares onde vivemos e por onde viajamos. Nossos desenhos so um registro do tempo e do lugar. Somos fiis s cenas que presenciamos. Usamos qualquer tipo de tcnica e valorizamos a diversidade de estilos. Apoiamo-nos uns nos outros e desenhamos em grupo. Compartilhamos nossos desenhos online. Mostramos o mundo, um desenho de cada vez.

    A ltima frase do manifesto tornou-se um smbolo do grupo e um lema. Estampada com destaque em todos os seus blogs no original We show the world, one drawing at a time , as palavras chamam a ateno para um fenme-no interessante no mundo atual: conhecer o mundo atravs dos desenhos.

    A expresso show the world no quer dizer apenas mostrar o mundo, e sim explorar e conhecer este mundo, como as muitas tradues do verbo to show explicitam: apresentar, revelar, manifestar, expor, marcar, dar provas de, realar, atestar, salientar, deixar ver, fazer compreender, demonstrar, tornar visvel.4

    Teresa Carneiro explora tais dimenses, apresentando os desenhos do livro Dirios grficos em Almada que conta com a participao de vrios mem-bros da USK de Portugal e Espanha como experincias que exprimem um olhar mais atento, uma investigao sistemtica, uma atitude de interro-gar e redescobrir as mediaes e modos de ver o mundo para, finalmente, (re)encontrar o mundo pelo desenho.5

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    NO SOmOS DESENHADOrES pErfEItOS

    Para Eduardo Salavisa, no ser um desenhador perfeito um valor. A noo de que possvel produzir desenhos sem se autodenominar artista (ou pro-fissional do desenho) torna-se central neste universo, como explica:

    Os autores dos desenhos dos cadernos expostos no pretendem ser artistas. Se o so, e alguns sero, no foi por isso que participam dessa exposio. O serem muito bons desenhadores, que o so, no foi tambm por isso que esto aqui. Participam porque tm um hbito: desenharem em cadernos de maneira sistemtica, diariamente, diria mesmo, obsessivamente (Salavisa, 2011: 9).

    No universo de pessoas que colaboram com o USK, destaca-se um de-senhador e blogueiro-chave: Danny Gregory. Este novaiorquino autor de pelo menos trs livros centrais para o mundo dos desenhos em cadernos e para a sua interface online.6 Tudo comea em 2003, com a publicao do livro Everyday matters: a memoir, uma autobiografia feita de textos e desenhos, definida em sua contracapa como uma graphic memoir.7 Gregory narra ali a histria do acidente que deixou paraplgica a sua esposa Patty e de como o casal seguiu a vida criando o filho Jack, na poca do acidente um beb de apenas dez meses. O sentido da histria encontra-se assim resumido na contracapa do livro (em traduo livre):

    Num mundo onde nada parecia ter muito sentido, Danny decidiu ensinar a si prprio a desenhar, e o que ele aprendeu foi espantoso. De repente, as coisas tinham cor e valor novamente. O resultado Everyday matters, um dirio de suas descobertas, recuperao e cotidiano na cidade de Nova York. um livro engraado, espirituoso e surpreendente, como a prpria vida.

    Na pgina 12 da obra, o prprio Gregory narra, com certo suspense: Ento, numa noite, decidi ensinar a mim mesmo a desenhar. A pausa (numa noite), o inusitado (ensinar a mim mesmo) e a habilidade mgica (dese-nhar) renem todos os ingredientes de um ritual de transformao, onde o heri supera obstculos e descobre um mundo novo. Em suas prprias palavras: [...] no importava o que desenhasse; importava apenas desenhar a partir daquele lento, cuidadoso e contemplativo olhar (slow, careful gaze), atravs do qual aprendeu a valorizar cada dia (every day matters) e cada objeto, por mais simples que fosse. Latas de comidas abertas, velhos pares de sapato, uma es-quina de Nova York tudo pode ganhar espao em seus cadernos de desenhos.

    Saul Steinberg, citado por Gregory como uma de suas fontes de inspi-rao, escreve sobre desenhar como esse processo de conhecimento: preci-so estabelecer uma cumplicidade com o objeto que se est desenhando, at que se chegue a um conhecimento profundo dele. O desenho de observao, diz o artista, obriga [o desenhador] a encontrar respostas para perguntas nun-ca antes formuladas (Steinberg, 2011:125-126).

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    Vrios desses elementos aparecem em The creative license livro mais extenso de Gregory e onde encontramos explcito o objetivo de celebrar o amadorismo (contracapa) e fazer do desenho um processo, um meio de des-coberta e recuperao de si mesmo, como enfatizam ttulo e subttulo: Licen-a criativa: dando permisso a si mesmo para ser o artista que voc realmente (The creative license: giving yourself permission to be the artist you truly are). H um jogo de palavras difcil de traduzir, onde os termos license e permission remetem ideia de se ganhar uma carteira de habilitao (para conduzir automveis). Ou seja, aprender a desenhar seria como aprender a dirigir. Todos podem. este o mesmo princpio nas entrelinhas do manifesto USK (que no utiliza a palavra artista) e explicitamente no texto de Salavisa, citado acima. Na epgrafe do livro de Gregory, no por acaso, l-se: Dedicado a voc, o artista. Na introduo de An illustrated life, Gregory conversa com o seu leitor:

    Espero que eles [os desenhadores deste livro] o encorajem a comprar um pequeno livro de desenho para comear a registrar [desenhar] os contedos do seu armrio de remdios, seus companheiros de viagem diria de ida e volta para o trabalho, a baguna na sua mesa. Seja voc artista, designer, escritor, msico ou contador, espero que venha a descobrir a riqueza, a aventura e os horizontes infinitos de sua prpria vida ilustrada (Gregory, 2008, traduo minha).

    Tornar-se um desenhador, neste universo, uma jornada de autoconhe-cimento que transforma e confere identidade. Trata-se de desenhos onde os objetos no existem em si mesmos; os objetos so sempre objetos desenha-dos por algum. Como nos diz John Berger, o desenho de uma rvore no nos mostra uma rvore, mas uma rvore-sendo-olhada. Teresa Carneiro comple-ta a ideia afirmando que os desenhos produzidos por estes desenhadores ex-pem qualquer coisa de autobiogrfico sobre aquele que desenha e ainda sobre as condies em que cada desenho foi realizado como se revelassem uma conscincia da prpria experincia de ver.8

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    DESENHANDO CIDADES

    Desenhar uma cidade no apenas captur-la no papel.

    realmente conhec-la, senti-la, torn-la sua

    Nina Johansson, correspondente

    do blog Urban Sketchers, em Estocolmo, Sucia.

    Na obra de Danny Gregory, a temtica dos desenhos surge ampla e com uma forte dimenso de observao do universo privado: objetos pessoais, animais de estimao, parentes, amigos, autorretratos. Ao mesmo tempo, desde Everyday matters, a cidade de Nova York mantm-se um personagem forte na sua iden-tidade de desenhador, uma das quatro mecas criativas do mundo (ao lado de Los Angeles, Paris e Londres); e para l que os seus leitores devem seguir em busca de ideias e pessoas estimulantes. Seus prprios livros, cadernos e publi-caes online esto recheados de desenhos de Nova York, bem como de muitas outras cidades por onde passou em viagens.

    No universo de observao dos urban sketchers, como o prprio nome diz, o desenho do espao urbano o ponto central e valorizado. A relao do desenhador com a sua prpria cidade ou com as cidades por onde viaja cons-titui uma das caractersticas que singulariza esse projeto. Os nomes das cida-des observadas encontram-se nos ttulos dos blogs, das pginas, dos livros e na maioria das legendas dos desenhos do universo USK. Todo o encontro in-ternacional do USK, em Lisboa, organizou-se em torno da ideia de se desenhar a cidade. Seu caderno tinha um desenho de Lisboa na capa, um mapa da ci-dade no verso e uma programao, em que todos os workshops foram denomi-nados a partir dos locais onde seriam feitos os desenhos.

    A coluna e o blog de Gabi Campanario chamam-se Seattle Sketcher e tm como objetivo ser um dirio ilustrado da vida na regio. Alm dos dese-nhos no local, o jornalista-ilustrador escreve sobre o tema desenhado, conta

    2. Desenho de Tia Boom Sim de North Bridge Road, em Singapura. Publicado no seu Facebook. Disponvel em

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    a sua histria e entrevista pessoas relacionadas ao assunto (agentes do poder pblico, habitantes da cidade, comerciantes). O modelo a reportagem jorna-lstica no estilo imagem-texto, mas acrescido da dimenso artesanal e criativa do desenho, com referncias s escolhas de cores, aos materiais e a outros elementos do mundo das artes.

    Dezenas de outros urban sketchers encontram na cidade o principal tema de seus desenhos. Paul Heaston, por exemplo, destacou-se no grupo por seu projeto de desenhar todos os prdios da rua principal de Bozeman, no estado de Montana, Estados Unidos. Pete Scully, presente nos dois encontros interna-cionais do USK (at 2011), vem desenhando as principais ruas da cidade de Davis, California, num caderno Moleskine, em formato conhecido como japo-ns (por suas pginas unidas pelas laterais umas s outras). Nina Johansson, cuja citao destaquei no incio desta seo, foi professora de um workshop no encontro USK de Lisboa e v nas cenas de rua da cidade de Estocolmo, Sucia, um de seus temas favoritos.

    No evento de 2011, em Portugal, as seis palestras oferecidas relaciona-vam-se ao tema do desenho em meio urbano. Ruth Rosengarten (sobre a qual falarei mais adiante) refletiu sobre a histria e os debates acadmicos em tor-no do tema. James Richards destacou a revalorizao do desenho de observao, feito mo, nos projetos de comunicao, arquitetura e entretenimento. Mat-thew Brehm discorreu sobre como ensinar alunos de arquitetura a desenhar no local, valorizando vrios dos elementos presentes no manifesto USK. An-tonio Jorge Gonalves contou do projeto de viagens que o levou a desenhar passageiros do metr em dez cidades do planeta, gerando o livro Subway Life. J Tia Boom Sim falou sobre como ela e o grupo de desenhadores do USK--Cingapura acabaram desencadeando um processo de redescoberta e reva-lorizao de um bairro da cidade, atravs do desenho. Simoneta Capecchi mostrou as imagens e os bastidores da realizao do projeto O terremoto de Aquila: uma reportagem coletiva. Diante do prolongamento da tragdia, que resultou em 300 mortos e 1.600 feridos, e tornou Aquila (Itlia) uma cidade totalmente evacuada por mais de um ano, um grupo resolveu desenhar o local e, atravs dos desenhos, contar a sua histria e a de seus habitantes.10

    DISpOSItIvOS pArA DESENHAr

    Para desenhar a cidade, uma das marcas do universo USK a realizao de desenhos em cadernos. Podem ser pequenos, em branco, quadrados, em estilo japons, de marcas famosas (como o Moleskine), feitos mo ou mesmo bas-tante especficos, como cadernos de contabilidade antigos que se tornaram um smbolo facilmente identificado com Lapin, apelido de Julien Fassel, ilus-trador francs radicado em Barcelona, membro do board da USK e desenhador admirado pelos urban sketchers de todo o mundo.

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    Um caderno com textos e desenhos, escreve Gregory (2008), pode tornar--se o seu ombro amigo e o seu terapeuta, mas muito mais do que isso. Em Creative license, lista para os seus leitores pelo menos doze motivos a favor da produo de desenhos em dirios: so compactos, portteis, baratos, pessoais, teis, cumulativos, familiares, estimulam o desenho com o lado direito do crebro, vlvula de escape, forma de arte, forma de meditao, privado ou pblico, facilita esconder os erros. Detestou seu desenho?, brinca Gregory, vire a pgina e comece de novo.11

    Alm dos princpios j levantados desenhar para ver, no ser um desenhador perfeito, desenhar a cidade e utilizar cadernos como suporte para os seus desenhos , o universo dos urban sketchers (delimitado aqui atra-vs de seu manifesto, dos blogs e de uma seleo de obras representativas) est repleto de dispositivos que estabelecem regras e condies de execuo dos desenhos.

    Utilizo o conceito de dispositivo tal como na definio do cinema--documentrio de Joo Salles, explicada por Arbel Griner. Dispositivo seria, ento, a regra, a priso, os limites que o documentarista se auto-impe ao fazer um filme. [...] sua maneira de enquadrar o mundo (Griner, 2010:46). Os desenhos dos urban sketchers, do mesmo modo, no so simplesmente dese-nhos: so enformados por uma certa viso de mundo e constituem em si mesmo um mundo da arte, nos termos de Becker (1982). H delimitaes do lugar de quem v (on location), do uso da observao direta (por contraste com o desenho de memria), da busca por uma narrativa (contar uma histria a partir do mundo observado) e da oferta de um contexto (do tempo e do local). H uma base moral (ser truthful, fiel quilo que se observa) e uma filosfica (Mostrar o mundo, desenho a desenho poderia ser comparado ao dito chins: A jornada de mil milhas comea com um passo). H um respeito diversi-dade e aos estilos individuais, bem como um princpio de no distino entre artista e no-artista, implcito na defesa do caderno (e no da galeria de arte) e da sua identidade coletiva e no comercial (apoiamo-nos uns nos outros, desenhamos em grupo e compartilhamos nossos desenhos online).

    A partir destes dispositivos gerais, muito frequente que cada desenha-dor estabelea os seus prprios, tais como desenhar todos os dias (vrios, em Salavisa, 2008); desenhar durante um ms apenas as roupas do seu armrio (Gregory, 2006); desenhar sempre em p, para nunca se sentir confortvel demais (M. Brehm);12 ou desenhar qualquer coisa em menos de 30 minutos (Steel, 2010) ou em mdias muito particulares, como os j mencionados cader-nos de contabilidade antigos de Lapin.

    Como nos documentrios de Salles, em seu projeto Subway Life, Gonal-ves (2010) estabeleceu uma lista de dispositivos para si prprio: desenhar pes-soas no metr; desenhar as pessoas em corpo inteiro, mas no o ambiente em torno; no selecionar um personagem do desenho: obrigar-se a desenhar o

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    passageiro que estivesse sua frente (para driblar a ideia do desejo pelo objeto desenhado); desenhar apenas em cadernos quadrados (paixo pes-soal, depois abandonada, segundo o autor, quando chegou a Nova York e des-cobriu passageiros grandes demais para aquele formato); desenhar em metrs de dez cidades diferentes; e desenhar por todas as linhas do metr escolhido, em todos os horrios possveis de seu funcionamento, em sesses dirias de trs a seis horas cada.13

    Um dos objetivos desta investigao aprofundar o entendimento de tais dispositivos, aqui apenas esboados. Acredito que seja este um bom ca-minho para se compreender como os desenhadores urbanos se relacionam com a cidade atravs dos desenhos, ou tambm poderamos perguntar a ns mes-mos de que modo esses desenhadores constroem os seus desenhos atravs das formas como enquadram a cidade.

    ANtrOpOlOgIA, CIDADE, DESENHO

    A possibilidade de transformar o USK num universo de pesquisa ganhou densi-dade quando li o texto de Oscar Wilde, The decay of lying: an observation. Nesse pequeno ensaio, escrito sob a forma de dilogos, o autor escreveu uma de suas famosas frases: ... a vida imita a arte, muito mais do que a arte imita a vida (... life imitates art far more than art imitates life). A mxima, de to conhecida, no desperta muita ateno. Uma vez colocada em seu contexto, isto , na argu-mentao dos personagens de Wilde, revela, no entanto, uma abordagem pro-fundamente antropolgica da relao entre a produo artstica e a vida social:

    As coisas so porque ns as vemos, e o que vemos, e como vemos, depende de como a Arte nos influenciou. [...] As pessoas veem fogs no porque existam fogs, mas porque os poetas e os pintores lhes ensinaram o misterioso encanto dos seus efeitos. Deve ter havido fogs em Londres por sculos. [...] Mas ningum os via, e, portanto, no sabamos nada sobre eles. Eles no existiam at que a Arte os inventou.14

    Van Gogh fala-nos da dificuldade de se abrir caminho pelo muro invi-svel que se interpe entre o que artista v (e sente) e o que o seu desenho produz: O que desenhar? Como conseguimos? a ao de abrir caminho atravs de um muro de ferro invisvel, que parece encontrar-se entre o que sentimos e o que podemos (Van Gogh, 2002: 102).

    A exatido no a verdade, diz Matisse em seus Escritos e reflexes sobre arte. preciso levar em conta o sentimento profundo do artista perante os obje-tos que escolheu, sem supor que uma reunio dos detalhes exatos e pacien-temente agrupados permita recriar a natureza num desenho (Matisse, 2007: 192).

    Como Matisse e Van Gogh, Paul Klee tambm refletiu sobre a necessi-dade de o artista sentir, selecionar, achar o seu caminho:

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    A arte no reproduz o visvel, mas torna visvel. [...] Tem de haver alguma regio comum aos espectadores e artistas, na qual possvel uma aproximao mtua, e onde o ar-tista no precisa aparecer como algo parte, mas sim como uma criatura que, como os senhores, foi lanada sem aviso num mundo multiforme e, como os senhores, tem que achar seu caminho, por bem ou por mal (Klee, 2001: 52, grifo meu).

    Arrisco dizer que transpor o muro invisvel de Van Gogh, o sentimen-to profundo de que nos fala Matisse e o caminho para tornar visvel o mun-do multiforme de Klee so caminhos possveis para se entender o olhar do desenhador sobre a cidade; um olhar que produz, recorta, significa a cidade por meio do desenho.

    Essa busca de significados para a cidade e para a experincia de se viver em cidades situa-se no cerne das fontes desta pesquisa. Seleciono trs autores-chave no universo dos urban sketchers: Gabriel Campanario (2012), Danny Gregory (2003, 2006, 2008) e Eduardo Salavisa (2008, 2010a, 2010b, 2011) autores e/ou organizadores de coletneas representativas que congregam dezenas de outros desenhadores, de variadas origens e estilos.15 J Gonalves (2010) e Steel (2010) surgem como dois exemplos diferentes de obras que re-produzem cadernos de desenhos, sendo o primeiro fruto de um grande proje-to, e o segundo, um livreto impresso e comercializado pela prpria autora.

    3. Desenho de Karina Kuschnir de leitor no metr do Rio de Janeiro.

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    Tais publicaes (sempre em interao com os seus respectivos blogs, flicrks e facebooks) constituem fontes para a pesquisa, mas tambm dialogam com o campo de reflexo acadmico. especialmente rica a introduo de Salavisa (2008) acerca do universo dos cadernos de desenho, dos cadernos de viagens e dos dirios grficos ao longo da histria e por diferentes tipos de artistas, como Eugne Delacroix, Edward Hopper, Frida Kahlo, Pablo Picasso, Le Corbusier, entre outros.16 Nesse texto, bem como no paper de Ruth Rosengarten historiadora da arte, alm de artista e urban sketcher , h uma bibliografia acadmica selecionada, e so apontadas muitas questes que conversam com os objetos desta pesquisa. A autora destaca alguns temas centrais no projeto USK: o desenho de observao no local (on location), o desenho como teste-munho e o desenho feito em perambulao urbana. E completa (em traduo ligeiramente resumida por mim):

    Historicamente, o sketchbook se situa em algum lugar no espectro entre a objetividade e a subjetividade. um companheiro para o viajante e um instrumento para o etn-grafo, registrando no apenas seu entorno, urbano e natural, mas tambm as vidas e os hbitos dos nativos [...].

    Rosengarten sugere a aproximao entre desenhadores, historiadores e antroplogos que realizam uma observao detalhada do cotidiano (everyday life) da cidade. Para a autora, central a reflexo de Michel de Certeau: aquele que perambula pelas ruas pode perder a viso do todo, mas realiza uma ex-plorao corporal e sensitiva, apropriando-se de maneira nova dos espaos da cidade.17

    Tambm desenhador, o antroplogo Manoel Joo Ramos afirma que de-senhar realiza uma oportunidade de participar de um mundo que no seu, criando-se ordens imaginrias e organizando-se na memria as experincias vividas. Alm disso, o ato de desenhar, por contraste ao de fotografar ou filmar, permitiria um dilogo mais aberto com as pessoas com as quais o viajante se defronta. Para Ramos, no caso do etngrafo, o gesto de desenhar especial-mente importante, pois se torna um convite ao nativo para que olhe, para que dialogue com ele, para que lhe conceda o estatuto de ser humano.18

    No Brasil, o projeto de desenhar para conhecer a cidade ganha fora na fala da arquiteta e ilustradora paulistana Paula Caff. Desenhar no local torna-se uma forma nova de ver e se apropriar da cidade:

    Permanecer no local faz muita diferena no desenho: pela movimentao, pelos pe-destres, pelo clima. [...] No livro da Avenida Paulista eu resgatei essa metodologia de desenhar na rua. [...] importante a gente desenhar a nossa cidade, no sentido de pr no mapa. [...] Eu espero que meu desenho instigue as pessoas a desenharem a sua cidade. Porque eu acho que o desenho uma forma de conhecimento. Ao desenhar, voc acaba conhecendo muitas coisas; acaba descobrindo muitas coisas. No s coisas interiores, suas, como coisas que esto a, para serem desenhadas (grifos meus).19

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    registros de pesquisa | karina kuschnir

    Projetos contemporneos, exclusivamente de desenho em (ou de) cida-des, como Av. Paulista, no so muito numerosos na bibliografia sobre o tema, mesmo se levarmos em conta o rico acervo ficcional s vezes tambm docu-mental dos romances grficos (graphic novels) que produziram volumes como Nova York: a vida na grande cidade (Eisner, 2009).

    Sobre o Rio de Janeiro, com a sua longa tradio de cidade desenhada, o nmero de obras incalculvel. Mas trabalhos recentes so poucos. Rio de Ja-neiro: les carnets de Voyage de Jano , sem dvida, uma obra especial, bem como o livro Quando rua vira casa (Santos & Vogel, 1981) onde fotos e desenhos se misturam numa riqussima interao com o texto dos pesquisadores. Temos tambm algumas publicaes realizadas a partir das exposies de desenhos de humor, charges e ilustraes, como, por exemplo, em Caruso (2009). Fontes como essas so uma referncia importante para o desenvolvimento de uma paisagem semntica na histria recente da cidade (1975-2011).20

    Merecem ateno especial os trabalhos sobre J. Carlos, por tratarem es-pecificamente da relao entre o desenhador (ilustrador) e a cidade do Rio de Janeiro: O bonde e a linha: um perfil de J. Carlos (Loredano, 2002) e O Rio de J. Carlos (Loredano & Ventura, 1998). Os autores nos mostram, atravs de textos e imagens, como se foram construindo as influncias mtuas entre a socieda-de que se urbanizava e a sua expresso nos desenhos de J. Carlos. Os tipos das

    4. Desenho de Eduardo Salavisa de leitores no Jardim da Estrela, Lisboa, publicado em seu blog com comentrios sobre o local. Disponvel em

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    ruas, os homens pblicos, os bairros, os automveis, a praia, o lazer, o futebol, as construes... tantos objetos e temas sendo desenhados numa abordagem bastante prxima do que Julia ODonnell (2008) chamou de temperamento etnogrfico. Aproximam-se tambm do olhar sobre a cidade que Gilberto Ve-lho buscava em sua obra. Em Antropologia urbana (Velho, 1999), Cordeiro & Cos-ta mostram jogos de disputas em torno dos bairros, o que acaba por revelar variadas mitografias, imagens e narrativas que cada cidade escolhe para se vestir. No mesmo livro, Castro (1999) mostra-nos, atravs da transformao das representaes cartogrficas do Rio de Janeiro, diferentes formas de o tu-rista experimentar a cidade, feitas de narrativas e imagens muitas vezes dis-sonantes e conflitivas entre si, como em distintas provncias de significado, nos termos de Alfred Schutz.

    com este esprito, de experimentar e observar narrativas dissonantes, que Saul Steinberg recorda, com humor, a atividade de desenhar as ruas de Nova York:

    Em 1950, fiz desenhos mais ou menos a partir da observao de paisagens americanas, ruas americanas, coisas que j no existem mais. Na poca, no havia ningum que se interessasse por essas coisas; os pintores americanos procuravam lugares, ngulos que se parecessem com a verdadeira pintura. Mesmo numa main street, buscavam uma nesga de pintura inglesa ou alguma coisa de Rembrandt ou de Vermeer. Havia vrios pintores em Nova York Reginald Marsh, por exemplo que buscavam na rua 14 alguma coisa maneira de Hogarth ou de Rubens (Steinberg, 2010:132-33).

    Sendo eu mesma desenhadora (Kuschnir, 2012) e antroploga, vislumbrei no universo dos urban sketchers a possibilidade de realizar um trabalho de cam-po em que o desenho e a cidade se entrelaassem. O projeto, aprovado pelo CNPq e iniciado em 2012, teve a sorte de ver a criao do Urban sketchers no Brasil, com base em So Paulo e com representantes em diversas cidades do Pas.

    A pesquisa tomar esse universo de desenhadores e suas fontes como ponto de partida, mas pretende explorar outros grupos que desenham em re-as urbanas e em regies de favelas, hoje mais comumente chamadas por seus moradores de comunidades.

    So muitas perguntas a responder. Quem desenha qual cidade? Que narrativas sobre a cidade so produzidas? Que reas, temas e elementos so selecionados, recortados, desenhados? Como se do as relaes entre dese-nhadores e a cidade, por meio de dispositivos e percursos para a produo de seus registros grficos? Quais significaes emergem desses desenhos? Quais as continuidades e rupturas das construes grficas e simblicas sobre a ci-dade frente paisagem semntica hegemnica, construda ao longo da sua histria, no caso especfico do Rio de Janeiro? Estes questionamentos formam o meu ponto de partida para a pesquisa etnogrfica.

    Recebido para publicao em julho de 2012.

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    5. Desenho de Eduardo Bajzek da Avenida Pompia, So Paulo, publicado em seu blog com comentrios sobre sua realizao. Disponvel em

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    Karina Kuschnir professora do Departamento de Antropologia Cultural e do Programa de Ps-Graduao em Sociologia e

    Antropologia (PPGSA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). autora de Antropologia da poltica (2007) e co-organizadora

    (com Gilberto Velho) de Pesquisas urbanas: desafios do trabalho antropolgico (2003), entre outras publicaes. Desenvolve

    atualmente os projetos Histria audiovisual das cincias sociais nos pases da CPLP e Desenhando a cidade: um estudo

    etnogrfico no Rio de Janeiro (ambas financiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPq).

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    registros de pesquisa | karina kuschnir

    NOtAS

    1 Este texto faz parte de um projeto de pesquisa e tem outras verses (Kuschnir, 2011). Agradeo a Gilberto Velho (in me-moriam) por todo o apoio e companheirismo nesse empre-endimento. Um agradecimento muito especial tambm a Gabi Campanario, Eduardo Salavisa, Tia Boom Sim e Edu-ardo Bajzek que autorizaram a reproduo de seus dese-nhos neste artigo.

    2 Todas as citaes esto em Brito (2009: 4 e 5). Sobre a ori-gem e a pluralidade de significados da palavra desenhar, ver Gomes (1996).

    3 Informaes detalhadas sobre a USK esto disponveis em .

    4 Cambridge Advanced Learners Dictionary (software), Cambrid-ge University Press, v. 1, 2003.

    5 Esta e as demais citaes de Teresa Carneiro esto em seu texto Desenhar o olhar sobre o mundo, publicado em Sa-lavisa (2011).

    6 Seus trs livros principais esto citados na bibliografia. Gregory tambm foi o criador e moderador do grupo de discusso online fundado em 2004, hoje com mais de 4 mil membros, no site Yahoo Groups. Desde 2011, seu blog est em .

    7 Referncia ao conceito de graphic novel termo consa-grado para livros de arte sequencial, com temas mais den-sos, para adultos, que no se enquadram na categoria his-trias em quadrinhos. Sobre tais termos, ver o captulo 7 de Quadrinhos e a arte sequencial, de Will Eisner (1999).

    8 O trecho de Berger (2005) citado por Teresa Carneiro em Salavisa (2011).

    9 No original: Drawing a city isnt just capturing it on paper, its really about getting to know it, to feel it, to make it your own, publicada na seo About us, no blog Urban Sketchers. Disponvel em .

    10 Todos os links para os blogs dos referidos palestrantes po-dem ser encontrados em .

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    11 A expresso desenhar com o lado direito do crebro tor-nou-se famosa pelo ttulo do livro de Betty Edwards (2005) e significa, resumidamente, realizar um desenho de obser-vao despindo-se dos conceitos conhecidos intelectual-mente sobre os objetos observados. A referncia bastan-te citada em livros e blogs no universo USK.

    12 Informao oral, dada por Matthew Brehm em seu workshop, no II Symposium USK, em Lisboa.

    13 Dispositivos apresentados por Antnio Jorge Gonalves, em sua palestra no II Symposium USK, em Lisboa.

    14 Traduo livre a partir do original (Wilde, 1889). Agradeo a Alberto Goyena pela indicao desse texto.

    15 Em 2011, foi publicada outra obra importante do gnero, organizada por Cathy Johnson (2011), com colaborao de vrios dos desenhadores aqui mencionados.

    16 Outro exemplo, publicado no Brasil, so os Cadernos de via-gem, de Debret ([1816] 2006).

    17 As ideias esto em Certeau (2000, citado por Rosengarten, 2011).

    18 O texto de Manoel Joo Ramos est publicado em Salavisa (2011: 152-153). Espero poder desenvolver uma aproximao entre esse conceito de experincia vivida atravs do de-senho e o de teoria vivida atravs da etnografia, tal como proposta por Peirano (2006).

    19 Depoimento sobre o livro Av. Paulista (Caff, 2009) para o site da Editora Cosac Naify. Disponvel em . Caff tambm autora de uma premiada coluna, intitulada Cidade nua, com desenhos e textos sobre a cidade de So Paulo, publicada na revista do jornal Folha de S. Paulo, entre 1991 e 1994.

    20 Ver Goslin (2010), Rebelo (2007) e o livro de Jano em Michel (2001). H tambm um recente livro sobre sketch books, edi-tado em So Paulo, mas pouco voltado para o desenho da cidade (Almeida & Bassetto, 2010). No Rio de Janeiro, exis-tem alguns guias tursticos ilustrados apenas com dese-nhos mas so publicaes que, pela sua prpria finalida-de, se distanciam muito dos princpios dos urban sketchers.

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    rEfErNCIAS BIBlIOgrfICAS

    Almeida, Czar de & Bassetto, Roger. Sketchbooks - As pgi-nas desconhecidas do processo criativo. So Paulo: POP, 2010.

    Becker, Howard S. Art worlds. Berkeley/Los Angeles/Londres: University of California Press, 1982. (Edio portuguesa: Mundos da arte: edio comemorativa do 25 aniversrio Re-

    vista e aumentada. Trad. Lus San Payo. Lisboa: Livros Hori-zonte, 2010.)

    Berger, John. Drawn to that moment. In: Savage, Jim (org.). Berger on drawing essays. Cork: Ireland Occasional Press, 2005.

    Brito, Joaquim Pais de (org.). Desenhar para ver. Catlogo da exposio Desenhar para ver: o encontro de Brbara Assis Pacheco com as galerias da Amaznia. Lisboa: Museu Na-cional de Etnologia, 2009.

    Caff, Carla. Cidade Nua (Coluna semanal de desenhos da cidade). Folha de S. Paulo, Revista da Folha, 1991-1994.

    ____. Av. Paulista (Coleo pera Urbana). So Paulo: Cosac Naify/SESC-SP, 2009.

    Campanario, Gabriel (org.) The art of urban sketching: Drawing on location around the world. Beverly, MA: Quarry Books, 2012.

    Caruso, Eliana (org.). 2 Festival Internacional de Humor do Rio de Janeiro: A arte de desdesenhar. Rio de Janeiro: Minis-trio da Cultura, 2009.

    Castro, Celso. Narrativas e imagens do turismo no Rio de Janeiro. In: Velho, Gilberto (org.). Antropologia urbana. Cul-tura e sociedade no Brasil e em Portugal. Rio de Janeiro: Zahar, 1999, p. 80-87.

    Certeau, Michel de. A inveno do cotidiano. Artes do fazer. Petrpolis: Vozes, 2000, vol. 1.

    Cordeiro, Graa ndias & Costa, Antnio Firmino da. Bairros, contexto e interseco. In: Velho, Gilberto (org.). Antropo-logia urbana: cultura e sociedade no Brasil e em Portugal. Rio de Janeiro: Zahar, 1999, p. 58-79.

    Debret, Jean-Baptiste. Caderno de viagem. Julio Bandeira (org.). Rio de Janeiro: Sextante, 2006.

    Edwards, Betty. Desenhando com o lado direito do crebro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

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    Eisner, Will. Quadrinhos e a arte sequencial. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1999.

    ____. Nova York: a vida na grande cidade. So Paulo: Compan-hia das Letras (Quadrinhos na Cia.), 2009.

    Gomes, Luiz Vidal Negreiros. Desenhismo. Santa Maria: Ed. Universidade Federal de Santa Maria, 1996.

    Gonalves, Antnio Jorge. Subway life/Vida subterrnea. Lis-boa: Assrio e Alvim, 2010.

    Goslin, Priscilla Ann & Carneiro, Carlos. How to be a Cario-ca: the alternative guide for the tourist in Rio. 3. ed. Rio de Janeiro: TwoCan, 2010.

    Gregory, Danny. Everyday matters: a memoir. Nova York: Hy-perion, 2003.

    ____. The creative license: giving yourself permission to be the artist you truly are. Nova York: Hyperion, 2006.

    ____. An illustrated life: drawing inspiration from the private sketchbooks of artists, illustrators and designers. Cincinnati, Ohio: How Books, 2008.

    Griner, Arbel. A esttica da tica: uma anlise do cinema do-cumentrio de Eduardo Coutinho, Eduardo Escorel. Dissertao de Mestrado. PPGSA/Universidade Federal do Rio de Janei-ro, 2010.

    Johnson, Cathy. Artists journal workshop: Creating your life in words and pictures. Cincinnati, Ohio: North Light Books, 2011.

    Klee, Paul. Sobre a arte moderna e outros ensaios. Rio de Ja-neiro: Zahar, 2001.

    Kuschnir, Karina. Drawing the city: A proposal for an ethno-graphic study in Rio de Janeiro. Vibrant, 2011, 8/2, p. 608-642.

    ____. Desenho Cais do Sodr captar o movimento. In: Sa-lavisa, Eduardo (coord.). Urban sketchers em Lisboa: desenhan-do a cidade. Lisboa: Quimera, 2012, p. 70. (Edio bilngue: Urban sketchers in Lisbon: drawing the city).

    Loredano, Cssio (org.) & Ventura, Zuenir (texto). O Rio de J. Carlos. Rio de Janeiro: Lacerda, 1998.

    ____. O bonde e a linha: um perfil de J. Carlos. So Paulo: Capivara, 2002.

    Matisse, Henri. Matisse: escritos e reflexes sobre arte. In: Fourcade, Dominique (org.). So Paulo: Cosac Naify, 2007.

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    registros de pesquisa | karina kuschnir

    Michel, Albin. Rio de Janeiro: les carnets de voyages de Jano. Paris: Sefam, 2001.

    ODonnell, Julia. De olho na rua: a cidade de Joo do Rio. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

    Peirano, Mariza. A teoria vivida. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

    Rebelo, Marques. Guia antiturstico do Rio de Janeiro (com ilustraes de Jaguar e prefcio de Millr). Rio de Janeiro: Desiderata/Batel, 2007.

    Rosengarten, Ruth. Passing by, stopping, walking on: urban sketching in context. Texto apresentado no II In-ternational Urban Sketching Symposium. Lisboa, 2011. Disponvel em .

    Salavisa, Eduardo (org.) Dirios de viagem: desenhos do quo-tidiano 35 autores contemporneos. Lisboa: Quimera, 2008.

    ____. (org.). Dirio de viagem em Lisboa. Edio Bilngue. Lisboa: Quimera, 2010a.

    ____. Dirio de viagem em Cabo Verde. Edio Bilngue. Lis-boa: Quimera, 2010b.

    ____. (org.). Dirios grficos em Almada No somos dese-nhadores perfeitos. Almada: Cmara Municipal/Museu da Cidade, 2011.

    ____. (org.) Urban sketchers em Lisboa: desenhando a cidade. Lisboa: Quimera, 2012. (Edio bilngue: Urban sketchers in Lisbon: drawing the city).

    Steel, Liz. From my sketchbooks. Impresso por Blurb.com, 2010.

    Steinberg, Saul. Reflexos e sombras (com a colaborao de Aldo Buzzi). So Paulo: Instituto Moreira Salles, 2011.

    Van Gogh, Vincent. Cartas a Tho. Pierre Ruprecht (org.). Porto Alegre: LP&M, 2002.

    Velho, Gilberto. A utopia urbana: um estudo de antropologia social. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

    Santos, Carlos Nelson F. & Vogel, Arno (orgs.). Quando a rua vira casa: a apropriao de espaos de uso coletivo em um

    centro de bairro. 2. ed. Rio de Janeiro: Ibam/Finep, 1981.

    Wilde, Oscar. The Decay of Lying: an Observation, 1889. Dis-ponvel em . Acesso em 5 set. 2012.

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    Resumo: Notas sobre a pesquisa Desenhando a cidade, que teve incio em maro de 2012. Apresento a trajetria e os valo-res de um grupo internacional que se autodenomina de-senhadores urbanos (urban sketchers). Trata-se de um projeto que valoriza o desenho como uma forma de olhar, conhecer e registrar a experincia de se viver em cidades. Fao algumas aproximaes entre desenho e antropologia, bem como sobre a sua relao com as cidades e com o Rio de Janeiro, em particular. Que narrativas sobre a cidade so produzidas? Que reas, temas e elementos so seleciona-dos, recortados, desenhados? Como se do as relaes en-tre desenhadores e a cidade, por meio de dispositivos e percursos para a produo de seus registros grficos? Estes so alguns dos questionamentos que formam o meu pon-to de partida para a pesquisa etnogrfica.

    Abstract: Notes on the research Drawing the city, which began in March 2012. I begin by mapping the production of an in-ternational group calling themselves urban sketchers whose collective project extols drawing as a form of looking, knowing and registering the experience of living in cities. Next I show the connections between drawing and anthropology, as well as their relation to cities and to Rio de Janeiro in particular. What narratives about the city are produced? What areas, themes and elements are selec-ted, cut, drawn? These are some of the questions that form the starting point for my ethnographic research.

    Palavras-chave: Desenho; Cidade; Antropologia; Desenhadores urbanos; Rio de Janeiro.

    Keywords: Drawing; City; Anthropology; Urban sketchers; Rio de Janeiro.

  • rESENHA