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EDITORIAL BOLETIM INFORMATIVO CulturAche NOVEMBRO DE 2013 ANO VIII — Nº 101 Embora não tenha já a importância doutros tempos esta tradição não se perdeu completamente. Muitos se lembrarão ainda quando crianças deambulávamos pelas ruas de cesta no braço a pedir o Santoro às pesso- as e lá vinham uns figos, umas no- zes, umas maçãs, romãs, amêndoas, castanhas e outros frutos colhidos no final do Verão e no Outono. Os padrinhos davam aos afilhados uns trocos e uma Bica em forma de fer- radura. Era dia Santo de Guarda e todos faziam questão de o respeitar com mais ou menos devoção. Agora já não se vêem crianças a pedir o Santoro, porque são poucas as que há por cá, mas os avós continuam a dá-lo aos netos, recordando outros tempos. O segundo foi porque com o fim do feriado muitas pessoas que traba- lham não puderam ir ao cemitério “visitar” os seus defuntos, pois era nesse dia feriado que o faziam. Outro ainda foi o óbito do nosso amigo e associado António Dias Lopes, Necas para os amigos, a quem prestamos a devida home- nagem na última página. O que de bom aconteceu por cá foi o Festival de Vinhos e Licores que trouxe à nossa terra milhares de visitantes. Houve muita anima- ção, muitos expositores com varia- dos produtos desde o artesanato até aos enchidos, queijos, licores, etc. Na parte cultural destacamos dois grupos de música tradicional alentejana, muito bons, a partici- pação do nosso grupo de canta- res, folclore e no encerramento uma sessão de fados. Não falta- ram as tasquinhas com comes e bebes muito frequentadas. NESTA EDIÇÃO EDITORIAL NOTÍCIAS DA ASSOCIAÇÃO OUTRAS NOTÍCIAS CANTINHO DOS POETAS HOMENAGEM CRÓNICA FICHA TÉCNICA NOVEMBRO... Vários acontecimentos se verificaram na nossa terra neste penúltimo mês do ano que nos merecem algumas considerações, uns bons, outros nem tanto. Começamos pelos menos bons. O primeiro foi que o governo nos tirou o feriado do Dia de Todos os Santos, um dia que nos trás gratas recorda- ções duma tradição que era pedir o Santoro.

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E D I T O R I A L

B O L E T I M I N F O R M A T I V O

CulturAche

NOVEMBRO DE 2013 ANO VIII — Nº 101

Embora não tenha já a importância

doutros tempos esta tradição não se

perdeu completamente. Muitos se

lembrarão ainda quando crianças

deambulávamos pelas ruas de cesta

no braço a pedir o Santoro às pesso-

as e lá vinham uns figos, umas no-

zes, umas maçãs, romãs, amêndoas,

castanhas e outros frutos colhidos

no final do Verão e no Outono. Os

padrinhos davam aos afilhados uns

trocos e uma Bica em forma de fer-

radura. Era dia Santo de Guarda e

todos faziam questão de o respeitar

com mais ou menos devoção. Agora

já não se vêem crianças a pedir o

Santoro, porque são poucas as que

há por cá, mas os avós continuam a

dá-lo aos netos, recordando outros

tempos.

O segundo foi porque com o fim do

feriado muitas pessoas que traba-

lham não puderam ir ao cemitério

“visitar” os seus defuntos, pois era

nesse dia feriado que o faziam.

Outro ainda foi o óbito do nosso

amigo e associado António Dias

Lopes, Necas para os amigos, a

quem prestamos a devida home-

nagem na última página.

O que de bom aconteceu por cá

foi o Festival de Vinhos e Licores

que trouxe à nossa terra milhares

de visitantes. Houve muita anima-

ção, muitos expositores com varia-

dos produtos desde o artesanato

até aos enchidos, queijos, licores,

etc. Na parte cultural destacamos

dois grupos de música tradicional

alentejana, muito bons, a partici-

pação do nosso grupo de canta-

res, folclore e no encerramento

uma sessão de fados. Não falta-

ram as tasquinhas com comes e

bebes muito frequentadas.

NESTA EDIÇÃO EDITORIAL

NOTÍCIAS DA ASSOCIAÇÃO

OUTRAS NOTÍCIAS

CANTINHO DOS POETAS

HOMENAGEM

CRÓNICA

FICHA TÉCNICA

NOVEMBRO...

Vários acontecimentos se verificaram

na nossa terra neste penúltimo mês

do ano que nos merecem algumas

considerações, uns bons, outros nem

tanto.

Começamos pelos menos bons. O

primeiro foi que o governo nos tirou o

feriado do Dia de Todos os Santos,

um dia que nos trás gratas recorda-

ções duma tradição que era pedir o

Santoro.

Page 2: ANO VIII Nº 101 NOVEMBRO DE 2013 CulturAchesaomigueldacha.pt/culturache Novembro13.pdf · O encontro/convívio no qual participa-des, familiares e convidados, potenci-ais novos aderentes,

NOTÍCIAS DA ASSOCIAÇÃO

Na sua reunião mensal a direcção

da nossa associação aprovou por

unanimidade o balancete de con-

tas respeitante ao mês de Outubro,

o qual acusa um saldo positivo de

2 517,47€, que somado ao saldo

do mês anterior dá um total de

8 536,56€, que transitou para o

mês de Novembro.

Na mesma reunião foi também

aprovado adquirir mesas e equipa-

mento para os instrumentos musi-

cais do grupo de cantares.

SUBSÍDIO

A Câmara Municipal de Idanha atri-

buiu à nossa Associação um subsí-

dio de 3 000,00€ no âmbito do

programa PAMIN, destinado a apoi-

ar as associações do concelho que

cumpram os requisitos exigidos no

referido programa. O subsídio é

uma ajuda fundamental para a

sobrevivência da nossa associa-

ção, considerando que cada vez

mais sócios se esquecem de pagar

as quotas. É também, a nosso ver,

um justo prémio pelo trabalho que

vimos desenvolvendo na defesa e

divulgação do nosso património

imaterial e do concelho.

GRUPO DE CANTARES

Como referimos no editorial, o nos-

so grupo de cantares participou no

festival de vinhos e licores, convi-

dado pela Câmara Municipal.

Como se tratava duma actuação

na nossa terra e sabíamos que

muitos conterrâneos lá estariam

para nos ver e ouvir, decidimos

introduzir no reportório as modas

mais conhecidas que se cantavam

P á g i n a 2 C u l t u r A c h e

e dançavam de roda nos entrudos

de antanho. Decidimos também

vestir as senhoras do grupo com os

trajes de Arraiana para dar maior

ênfase ao repertório e foi um su-

cesso. Os nossos conterrâneos, e

não só, cantaram e dançaram as

nossas modas como o faziam nou-

tros tempos.

MAGUSTO

Como tínhamos anunciado no Bo-

letim anterior a nossa colectivida-

de ofereceu um magusto aos seus

associados e familiares no passa-

do dia 17 de Novembro. Embora

tenhamos enviado um convite indi-

vidualizado a todos os sócios resi-

dentes incluído no jornal do mês

passado, poucos foram os que

compareceram.

Com início pelas 15,00 horas pas-

samos uma tarde alegre comendo

castanhas assados, bebendo boa

jeropiga e bom vinho, ouvindo e

vendo em gravação preparada pelo

Mário o nosso grupo a cantar as

nossas modas. Ao cair da noite

houve ainda uma sessão de Karao-

ke, onde alguns mostraram as su-

as qualidades vocais. Pena que os

nossos sócios não participassem

em maior número. Esperamos que

para o próximo ano venham mais.

FESTA DA FILHÓ

Amplamente divulgada nas redes

sociais com cartazes, também afi-

xados no comércio local e nas ruas

da nossa terra, vamos realizar mais

uma festa da filhó no próximo dia

22 de Dezembro. Do programa

consta o início às 14,30 horas com

uma demonstração na rua junto ao

salão paroquial da forma como os

nossos avós as faziam e fritavam,

seguindo-se no interior do salão a

oferta de filhoses a todos os que

quiserem estar presentes, acompa-

nhadas com café ferrado, este

também servido grátis apenas em

canecas de barro previamente ad-

quiridas no local.

Vai haver também o concurso da

filhó mais tradicional a que todos

podem concorrer. Será vencedora a

que mais se assemelhe às que os

nossos avós faziam, considerando o

formato e o sabor e os ingredientes

utilizados. Contudo, este, só se rea-

liza se houver mais de 3 concorren-

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tes.

VINHOS E LICORES

Decorreu nos passados dias 9 e 10 de

Novembro, mais um Festival de Vinhos

e Licores que atraiu à nossa terra

milhares de pessoas. O tempo esteve

bom, não choveu como em anos ante-

riores, pelo que a afluência de foras-

teiros foi maior.

Como referiu o Presidente do Municí-

pio, Sr. Engº. Armindo Jacinto, na

abertura do festival, este tipo de festi-

vais temáticos promovidos em quase

todas as freguesias do concelho, têm

como finalidade promover e divulgar

os produtos naturais do concelho,

atrair visitantes e dar oportunidade de

negócio aos seus produtores.

Em relação aos concursos do vinho e

dos licores, foram vencedores do me-

lhor vinho o Sr. José Milheiro, de Oledo

e dos licores a Srª. Lucinda Bentes, de

S. Miguel, com um licor de amoras.

P á g i n a 3 A N O V I I I — N º 1 0 1

Pelas 17 horas terá início a tarde cul-

tural com a participação dos meninos

e meninas do Jardim de Infância e o

Grupo de Cantares Tradicionais de S.

Miguel de Acha.

O encerramento da festa será por

volta das 19,30 horas com cânticos

tradicionais de Natal.

Na rua, durante a festa, haverá um

pequeno madeiro a arder para aque-

cer os mais friorentos e no interior do

salão não faltará uma tasquinha com

vinho novo e jeropiga.

OUTRAS NOTÍCIAS

dos pobres do interior.

CANTINHO DOS POETAS

SONETO/SAUDADE

Deixaste meus olhos molhados

Quando te foste então.

Ficaram tristes, de magoados,

Pelas lágrimas do coração.

Deixaste sonhos por cumprir.

Não esperavas partir assim.

Foste sem te despedir

E tanto vazio ficou em mim!

Não mais será preenchido,

Porque no teu espaço, agora vazio,

Nele não estarás tu, amigo.

E, depois da saudade ter vencido

Só me resta o penoso desafio

De estar em mente sempre contigo.

Ao meu amigo João Gomes, com

muita saudade.

João Alberto Bentes (03/10/2013)

A TUA AUSÊNCIA

Consome-me

O tempo vazio

Que a tua ausência

Deixou.

O silêncio transeunte

Que me olha

Inquieta-me

E sufoca-me.

Resisto, já sem ânimo,

Ao espaço só,

Sem ti, comigo.

Por fim, adormeço

Incomodado.

Acordo. Estremeço.

Tudo é nada

Sem ti a meu lado!

Vem depressa.

Não sei esperar.

Talvez eu mereça,

Para confirmar

A falta que me faz

A tua presença.

Vem depressa!

João Alberto Bentes (15/03/2013)

CONFRARIA DO SOVENTRE

No dia 9 de Novembro, coincidindo

com o primeiro dia do festival, reuniu

mais uma vez a Confraria do Soventre.

O encontro/convívio no qual participa-

ram mais de 60 pessoas entre confra-

des, familiares e convidados, potenci-

ais novos aderentes, decorreu no sa-

lão paroquial onde foi degustado o

tradicional prato gastronómico da nos-

sa terra.

Antes, porém, foi observado um minu-

to de silêncio em memória do João

Gomes, um entusiasta confrade recen-

temente falecido.

Pela tarde os confrades levaram so-

ventre para o festival, onde o deram a

provar a quem quisesse.

ENCERRAMENTO DO SAP DE IDANHA

A partir do dia 1 de Dezembro o Servi-

ço de Atendimento Permanente do

Centro de Saúde de Idanha

(urgência), encerra à meia noite.

O motivo, segundo notícia publicada

na imprensa regional, prende-se com

o pagamento de horas extraordinárias

aos médicos e enfermeiros que terão

atingido o plafond destinado a manter

o serviço nocturno.

Este governo/troika tem dinheiro para

todos os boys que vai metendo nos

ministérios com direito a subsídios e

ordenados chorudos, mas não o tem

para acudir aos problemas de saúde

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noite. Mais uma perda para a popula-

ção. A partir de agora quem no Con-

celho precisar de médico, a partir da

meia noite, terá de percorrer entre

28 a 50 Km. Quantos sacríficos mais

chegam para contentar a troika e a

sua fúria de cortar tudo aquilo que

não é ganho para os mercados finan-

ceiros? Voltamos a pertencer ao ter-

ceiro mundo e não sabemos se é

suficiente para aqueles senhores

ficarem satisfeitos.

Manuel Ruivo

A MINHA HOMENAGEM AO NECAS

Conheci-o há muitos anos e desde os

primeiros diálogos que travamos per-

cebi que tinha nele um interlocutor

que sabia ouvir e opinar com convic-

ção e ponderação. Era um homem

inteligente, culto, instruído, quiçá um

pouco utópico, mas duma persistên-

cia a toda a prova. Com ele aprendi a

nunca desistir de projectos destina-

dos ao bem comum na nossa terra.

Foi amigo de S. Miguel, que conside-

rava a sua segunda terra, para onde

veio a residir, bem como das suas

gentes.

Porque muitos desconhecerão a sua

participação cívica em S. Miguel nas

áreas do desporto e da cultura, refiro

que foi dirigente da ACRA e da Casa

do Povo, onde promoveu o futebol de

salão e o atletismo.

Enquanto dirigente da Casa do Povo

teve um especial carinho pelo grupo

de danças e cantares que eu criei e

depois entreguei à tutela dessa insti-

tuição na década de 90 do século

passado. Foi ele que me indicou o

alfaiate que viria a confeccionar os

fatos que ainda hoje vestimos. Foi

ele que fundou o jornal da casa do

povo chamado Estrada Nova, onde

eu comecei a escrever algumas das

tradições da nossa terra, de que veio

CRÓNICA

Escrever na Água

A Festa do Vinho e Licores em S.

Miguel é já um acontecimento a ní-

vel do Concelho. O recinto apinhado

de gente. Os automóveis encontra-

vam-se estacionados em todas as

ruas. Muitos dos naturais dispersos

por esse “mundo” encontravam-se

com a alegria genuína de se reve-

rem. As tendas, apesar da crise, lá

iam conseguindo colocar os seus

produtos. S. Miguel viveu um clima

de festa que há muito não se via.

Por convite de um amigo provei um

vinho cultivado na nossa terra – o

Súbito. O néctar em causa, o Súbito,

é um tinto DOC Beira Interior, produ-

zido a partir das castas Touriga Naci-

onal, Aragonês, Trincadeira e Syrah.

O sabor é intenso e demonstra per-

sonalidade.

Trata-se do único geovinho do mun-

do, devido à localização da vinha em

território Geopark Naturtejo. Um

senão, o preço.

A autarquia vem fazendo um traba-

lho meritório chamando a atenção

com estes eventos em quase todas

as freguesias, para o que existe de

bom produzido nestes locais, apesar

da queda demográfica do Concelho

ser cada vez mais acentuada.

É uma luta desigual, mas que podia

ter maior apoio da “sociedade civil”,

que me parece demasiado instala-

da, gozando o que vai acontecendo.

Uma palavra para a Confraria do

Soventre que neste dia faz questão

de estar presente e partilhar com

toda a gente os sabores dessa igua-

ria que lhe dá o nome. A sua presen-

ça também dinamiza este aconteci-

mento.

Idanha vai ficar sem urgências no

centro de Saúde a partir da meia

a resultar por seu conselho e insis-

tência, a publicação em 2002 do

livro que escrevi com o título S.

Miguel de Acha - Memórias da Cul-

tura Tradicional, editado pela casa

do povo com o apoio da câmara

municipal de Idanha.

Outra das suas facetas era a facili-

dade de comunicação e o poder de

mobilização das pessoas. Para

quem não saiba o Necas foi um

dos principais mentores da campa-

nha que levou o Engº Álvaro Rocha

à presidência da Câmara de Ida-

nha. Foi também sindicalista e nos

últimos anos deputado municipal

em Penamacor. Tinha ainda outra

faceta, que era a de pintor, cujas

obras só mostrava aos amigos.

Termino deixando aqui a minha

sentida homenagem ao homem e

ao amigo que muito lutou para en-

grandecer e divulgar a nossa terra.

Bem-Haja amigo Necas por tudo

quanto me ajudaste e ensinaste

A.M.

ÓBITOS

No dia 10 de Novembro faleceu no

hospital de Castelo Branco António

José Morão Dias Lopes “Necas”,

com 62 anos de idade;

No dia 29 de Novembro faleceu

Luis Geraldes Raposo “Luis da Mo-

ta”, com 68 anos.

Às famílias enlutadas enviamos

sentidas condolências.

P a g i n a 4 C u l t u r A c h e

Ficha Técnica: Director: António Milheiro

Propriedade: Associação de Defesa do Patri-

mónio Cultural de S. Miguel de Acha -

ADEPAC

Associada da INATEL com o nº. 5 627

Internet: - Mário Milheiro

Apoios: Município de Idanha-a-Nova,INATEL

Impressão: Vídeo - Foto Quaresma

Endereço: Bº Chão do Castanheiro, Lote 62 -

6060-511 S. Miguel de Acha

Telef. 968 629 276

E-Mail : [email protected] Internet: - http://www.adepac.pt.vu