Ano II – número 14 –...

28
Ano II – número 14 – setembro/2007 1 http://sisejuferj.org.br

Transcript of Ano II – número 14 –...

Ano II – número 14 – setembro/2007 1http://sisejuferj.org.br

2 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br

Ano II – número 14 – setembro/2007 3http://sisejuferj.org.br

Í N D I C E

EditorialSetembro é um mês de lembranças som-brias. Idéias apresenta uma edição quediscute o papel do Estado e da sociedadena superação dos conflitos.Página 4

Um Rio contra a PEC 02Trem da Alegria é contestado no STFe Sisejufe prepara ato público contraa imoralidade no dia 5 de outubro.Página 5

SindicaisSisejufe participou, em São Paulo, doSeminário sobre Organização Sindi-cal do Setor Público, promovido pelaISP.

SindicaisSaiba como foi o último Botequim doSisejufe e como será o próximo nestaseção. Saiba também a situação do PL319 na Câmara e como anda a regula-mentação do PCS3. Ainda: o avanço nanegociação do PLP 01, a proibição dese descontar dias parados em grevedurante as férias do servidor e novi-dades sobre a ascenção funcional.Páginas 8 e 9

Dicas CulturaisLiteratura, música, cinema e uma ex-posição de Eliseu Visconti. Veja deta-lhes na programação cultural sugeri-da por Bianca Rocha.Página 10

OpiniãoA coordenadora do Setor Educativodo Centro Cultural da Justiça Federal,Glória Horta, fala de cabelos e olha-res em sua crônica.Página 11

11 de setembroCom a publicação do último discursodo presidente chileno Salvador Allen-de, durante o bombardeio do Paláciode La Moneda, em Santiago, homena-geamos todos os que lutam e lutarampor democracia e por uma sociedademais justa e sem a exploração do tra-balho pelo capital.Páginas 12 e 13

TeatroA Cia. Curuminerê, do diretor AndréCâmara, monta Romeu e Julieta no an-tigo casarão do Mercado das Pulgas,em Santa Teresa, e dá oportunidadepara jovens atores desenvolveramseus talentos na arte dramática.Páginas 16 e 17

NacionalRui Falcão revela os verdadeiros inte-resses da grande mídia ao atacar os in-vestimentos do governo federal como funcionalismo público.Páginas 18 e 19

Teia de IdéiasQual a relação entre o cineasta nor-te-americano Spike Lee, o antropólo-go e ex-subsecretário de Segurançado Estado do Rio Luiz Eduardo Soa-res, o jornalista Caco Barcellos, o do-cumentarista João Moreira Salles e oator Wagner Moura?Página 20 e 21

Justiça FederalTremor no prédio da Avenida Vene-zuela causa apreensão entre servido-res e visitantes.Página 6

InternacionalMário Augusto Jakobskind alertapara a histeria midiática contra o Irãe fala da comunidade judaica não-si-onista que vive naquele país do Ori-ente Médio.Página 22

Nossa HistóriaContinuamos a série sobre a históriado sindicalismo no Brasil. Nesse se-gundo artigo, o historiador Hel-der Molina registra a situaçãodas organizações sindicais du-rante o Estado Novo.Página Central

ExclusãoO escritor e teólogo Leonardo Boff re-laciona os métodos policiais usadosno Rio de Janeiro em localidades ca-rentes e controladas por criminososcom a doutrina norte-americana paraa guerra do século XXI.Página 23

MulheresO Comitê de Luta pela Legalização doAborto, que será lançado no Rio em28 de setembro, colabora com textoque defende a legalização da práticacomo política de saúde pública.Página 24

Fulgêncio Pedra BrancaNosso colaborador conta, com muitohumor, a ira de sua tia Zefinha diantedas notícias do movimento Cansei.Página 25

Contos da Guerra do IraqueO cartunista Latuff apresenta o desfechoda saga de Juba, o franco-atirador queatormenta as tropas invasoras no Iraque.Página 26

4 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br

SEditorial Colabore você também com a nossa revista

DIRETORIA: André Gustavo Souza Silveira da Silva, David Batista Cordeiro da Silva, Dulavim de Oliveira Lima Júnior, Flávio Braga Prieto da Silva, JoãoRonaldo Mac-Cormick da Costa, Leonor da Silva Mendonça, Lucilene Lima Araújo de Jesus, Márcio de Souza Marques, Nilton Alves Pinheiro, Otton Cid daConceição, Renato Gonçalves da Silva, Ricardo de Azevedo Soares, Roberto Ponciano Gomes de Souza Júnior e Valter Nogueira Alves.

Filiado à FENAJUFE e à CUT

SEDE: Avenida Presidente Vargas 509, 11º andar – Centro – Rio de Janeiro-RJ – CEP 20071-003TEL./FAX: (21) 2215-2443 – PORTAL: http://sisejuferj.org.brENDEREÇO ELETRÔNICO: [email protected]

IDÉIAS EM REVISTA – REDAÇÃO: Henri Figueiredo (MTb 3953/RS) – Max Leone (MTb 18.091) – Bianca Rocha (Estagiária de Jornalismo)PROJETO GRÁFICO ORIGINAL: Claudio Camillo (Mtb 20.478) – DIAGRAMAÇÃO: Deisedóris de Carvalho – ILUSTRAÇÃO: LatuffASSESSORIA POLÍTICA – Márcia BauerCONSELHO EDITORIAL – Roberto Ponciano, João Mac-Cormick, Henri Figueiredo, Max Leone, Márcia Bauer, Valter Nogueira Alves, Nilton Pinheiro.IMPRESSÃO: PALAVRAS PINTADAS Editora e Gráfica Ltda. (7.500 exemplares)

Impresso emPapel Reciclato

As matérias assinadas são de responsabilidade exclusiva dos autores. As cartas de leitor estão sujeitas a edição por questões deespaço. Demais colaborações devem ser enviadas em até 2 mil caracteres e a publicação está sujeita a aprovação do Conselho Editorial.Todos os textos podem ser reproduzidos desde que citada a fonte.

Setembro é um mês de lembranças sombriaspara todos os que defendem a democracia e atolerância num mundo marcado pelos funda-mentalismos – da religião ao capital. Por isso,nesta 14ª edição de Idéias em Revista tratamosde temas que expressam a luta por uma socie-dade em que o Estado não seja mínimo e nemapenas repressor, mas sim cumpra o papel depromotor de políticas públicas inclusivas. Umasociedade em que a mídia esteja mais próximada população e de seus anseios do que dos ga-binetes refrigerados das autoridades, muitasvezes apartadas da realidade e vivendo um uni-verso em que os problemas do povo só são re-solvidos nas laudas dos discursos.

O leitor vai encontrar nestas páginas um arti-go, de Rui Falcão, que faz justamente a análise doquanto o Estado é importante na construção dacidadania e o quanto a grande imprensa brasileiraainda se agarra ao “pensamento único” neolibe-ral, que esgota os recursos naturais do planeta eexplora a massa trabalhadora – mera “reserva demercado”. Leonardo Boff escreve sobre o recentelivro de Mike Davis, Planeta Favela, e mostra quetalvez estejamos vivendo hoje, no Brasil, o labora-tório do combate que o Império planeja para oséculo XXI como meio de sustentar sua assusta-dora indústria bélica.

A beligerância contra o diferente, que fez ruiras Torres Gêmeas em 2001, remonta outro 11 de

setembro, o de 1973. Naquele ano o presidentechileno Salvador Allende, democraticamente elei-to, foi derrubado e forçado à morte num golpe vi-olento patrocinado pelo governo norte-america-no e levado a cabo por militares que deveriam ser-vir ao seu povo. Nossa revista faz uma justa home-nagem a Allende e aos resistentes do Chile e detodo o mundo, que acreditam que os argumentossão mais fortes que ataques terroristas, patrocina-dos ou não pelo poder estatal.

Para se argumentar, primeiro é preciso ter li-berdade. Na seção Teia de Idéias mostramos comoa liberdade de diversos artistas estabeleceu cone-xões, nos últimos 20 anos, entre o abandono doEstado e da sociedade aos mais pobres, guetiza-dos nas favelas cariocas, e como o crime encon-trou ali terreno fértil para proliferar.

Publicamos também texto sobre a legalizaçãodo aborto, com o alerta de que o Sistema Único deSaúde atende, em média, 250 mil mulheres por anocom infecções e hemorragias, em decorrência deabortos mal feitos. No Brasil, a prática já é a quartacausa de mortalidade materna.

O leitor de Idéias vai encontrar aqui tudo isso emuito mais. Teatro, história, quadrinhos, humor.Além de tudo, apresentamos nestas primeiras pá-ginas um panorama das novidades nas lutas da ca-tegoria dos servidores do Judiciário Federal. Umaboa leitura!

Ano II – número 14 – setembro/2007 5http://sisejuferj.org.br

STF julga inconstitucionalidade das PECsUm Rio contra a PEC 02

Trem da Alegriaé contestado no STF

O Sisejufe vai integrar na sex-ta-feira, 5 de outubro, às 18h,em frente à Câmara de Vereado-res do Rio, o ato público Um Riocontra a PEC 02. A iniciativa visapressionar os parlamentares arechaçar a proposta. Apesar deo presidente da Câmara, deputa-do Arlindo Chinaglia (PT/SP) terafirmado no dia 28 de agostoque não mais colocará em vota-ção a PEC, o lobby dos interessa-dos na aprovação da emendacontinua forte em Brasília.

Imagine, por exemplo, queum cidadão prestou concursopúblico para ser guarda munici-pal numa cidade do Interior.Imagine que nessa cidade foiaberta uma nova vara do PoderJudiciário e este guarda foi cedi-do pela Prefeitura ao Poder Ju-diciário para exercer, por exem-plo, uma função na SecretariaGeral da vara.

Se a PEC 02 for aprovada eeste cidadão estiver a mais detrês anos na função, ele vai setornar um analista judiciário ga-nhando bem mais do que ganha-va na sua função original. E semprestar concurso para isso. A in-corporação de todo esse pesso-al também vai pesar nas contasda Previdência.

A sociedade civil começa a se mobi-lizar contra a possibilidade de mais umescândalo de repercussão nacionalocorrer, caso sejam aprovadas as Pro-postas de Emenda Constitucional 2/2003(PEC 02) e a 54/1999 (PEC 54), tambémconhecidas como as PECs do Trem da Ale-gria. A Ordem dos Advogados do Brasil(OAB) condenou a aprovação da PEC 02em tramitação no Congresso. Em outrafrente, o deputado federal Augusto Carva-lho (PPS/DF) impetrou, no dia 31 de agos-to, no Supremo Tribu-nal Federal (STF), ummandado de segurança(MS 26.883) com pedi-do de liminar para ten-tar impedir a tramitaçãona Câmara das duasPECs. Juntas, elas bene-ficiam cerca de 300 milfuncionários com a efe-tivação no serviço públi-co. O ministro do STFMarco Aurélio é o rela-tor do mandado.

Assim como o par-lamentar do PPS, aComissão de Estudos Constitucionaisdo Conselho Federal da OAB, ao exami-nar a PEC 02, concluiu que ela é incons-titucional e recomendou o ajuizamen-to de uma Ação Direta de Inconstituci-onalidade (Adin) no STF, caso a matériaseja aprovada pelo Congresso. “Chega-mos à conclusão de que se trata de pro-posta escancaradamente inconstitucio-nal”, afirmou o presidente da Comissãode Estudos Constitucionais da Ordem,Valmir Pontes, afirmando que o parecerpela inconstitucionalidade foi aprovadopor unanimidade pela comissão.

Na ação, Augusto Carvalho relata quea PEC 02, de autoria do deputado fede-ral Gonzaga Patriota (PSB/PE), propõeacrescentar dois artigos ao Ato das Dis-posições Constitucionais Transitórias(ADCT), com o objetivo de permitir aosservidores públicos que se encontrem hámais de três anos requisitados para umórgão optar pela efetivação neste setor.A medida se aplicaria a todos os servido-res aprovados em concurso público rea-lizados após a vigência da Constituição

Federal, ou anteriora 5 de outubro de1988, desde queamparados pela lei.

Já a PEC 54, dodeputado Celso Gi-glio (PTB/SP), deacordo com o depu-tado do DF, tambémacrescenta artigo aoADCT para integrarao quadro temporá-rio em extinção to-dos os funcionáriosem exercício – mes-mo os não admiti-

dos por concurso público, à medida quesurgirem vagas nos órgãos. O autor daproposta alega que existem contingen-tes de funcionários contratados tempo-rariamente, que teriam ficado à mar-gem dos preceitos da Constituição. Aexigência constitucional do concurso,conclui Augusto Carvalho, finca raízesno princípio da isonomia, “consubstan-ciado em direito individual do cidadãoa buscar em igualdade de condiçõesuma vaga no serviço público”.

Ato público em5 de outubro

A exigênciaconstitucional doconcurso finca raízesno princípio daisonomia. É um direitoindividual do cidadãoa busca em igualdadede condiçõesde uma vagano serviço público.

(Da Redação)

6 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br

Justiça Federal Direção quer parecer técnico sobre condições do prédio

Tremores no prédio da JFainda não têm explicação

s condições de estabilidade doedifício da avenida Venezuela134, sede da Justiça Federal noRio, ainda não têm um laudo

conclusivo para determinar os moti-vos que provocaram a oscilação do dia27 de agosto. A Secretaria Geral, aSubsecretaria de Infra-estrutura e aSubsecretaria de Serviços Gerais daSeção Judiciária do Rio de Janeiro daJustiça Federal informaram, por meioda Assessoria de Imprensa da SJRJ,que “está sendo elaborada uma espe-cificação para contratação de empre-sa especializada, com vistas à emissãode laudo conclusivo quanto a estabi-lidade do prédio”.

No dia 4 de setembro, a direção doSisejufe encaminhou ofício (312/2007)ao diretor do Foro, Mauro Souza Mar-ques da Costa Braga, cobrando umaavaliação mais apurada das possíveiscausas e conseqüências do abalo noedifício. Na avaliação da diretoria dosindicato, os servidores lotados na JF

não se sentem seguros com o resulta-do dos laudos iniciais passados pelotribunal por meios eletrônicos.

“Solicitamos formalmente umaposição da direção em relação aosprocedimentos técnicos que estão ouserão providenciados pelo tribunal,como uma avaliação mais apurada naestrutura do prédio e do solo, usan-do equipamentos adequados para talprocedimento”, explica Roberto Pon-ciano, diretor do Sisejufe.

Questionada sobre os procedi-mentos, a Direção do Foro informouque tomou uma atitude rápida e aci-onou 18 profissionais técnicos para aavaliação do imóvel. Segundo a dire-toria, quatro engenheiros da DefesaCivil, um do Crea, dois da empresaque instalou o sismógrafo (equipa-mento que mede as vibrações), um daempresa que presta serviço de manu-tenção predial à Seção Judiciária doRio de Janeiro, três do TRF, quatro da

SJRJ e três de empresas especializadase que atuam no ramo de engenhariacivil estiveram no local.

A leitura das vibrações teria sidofeita na manhã de terça-feira, 28 deagosto e apresentou o valor máximode 1,21mm/s, que corresponde a 8%do valor limite admitido pela normatécnica brasileira (15mm/s). A direto-ria ressaltou que “todos os Boletinsde Ocorrência da Defesa Civil conclu-íram que o imóvel não apresenta si-nais que denotem risco à integridadeda edificação” e que “as avaliaçõesrealizadas não apontaram qualquerdano à estrutura da edificação, sendoas fissuras existentes superficiais enão estruturais”. Na tarde de 28 deagosto, o Sisejufe acompanhou a vis-toria do Crea e da Defesa Civil. A soli-citação para que o Sindicato fosse aoprédio foi feita pelos servidores eatendida pela diretora da SecretariaGeral da JF, Patrícia Longhi.

O tremor causou pânico nos servido-res e visitantes do prédio na tarde de 27de agosto. O sindicato foi notificado pordiversos funcionários sobre o tremor eentrou em contato com a diretora da Se-cretaria Geral, Patrícia Longhi. De acor-do com Patrícia, o tremor provocou a que-da de objetos no primeiro e no segundoJuizado. A direção do Foro liberou os fun-cionários e, imediatamente, chamou aDefesa Civil. Ainda de acordo com Patrí-cia Longhi, os técnicos da Defesa Civil nãodetectaram nenhuma rachadura ou alte-ração estrutural que ameace a seguran-ça do edifício, apenas queda de reboco.

Oscilação assusta servidores e visitantesO local foi liberado para funcionamentonormal.

Inicialmente, a Defesa Civil supôs queos tremores teriam sido causados pelaoscilação da estrutura da avenida Perime-tral. No dia seguinte, foram instalados sis-mógrafos para medir o grau de oscilaçãoda estrutura. De acordo com a Defesa Ci-vil municipal, a trepidação foi mais inten-sa no 10º andar. Para a diretoria da JF, ba-seada em boletim da própria Defesa Civil,que menciona a existência de equipamen-tos de refrigeração que provocam vibra-ções leves e ruídos, eles não teriam contri-

buído para provocar as trepidações noprédio.

“Ao que parece, o tremor foi localiza-do. A princípio não houve movimentaçãode terra”, afirmou o coordenador da De-fesa Civil do município, coronel João Car-los Mariano. O tremor não foi percebidoem prédios da vizinhança. Segundo ele, odepartamento recebeu seis pedidos de so-corro a respeito da trepidação – um fax en-caminhado pela administração do edifícioe cinco ligações feitas do prédio. “Nenhu-ma outra comunicação foi feita por vizi-nhos”, afirmou Mariano.

A

Da Redação.

Ano II – número 14 – setembro/2007 7http://sisejuferj.org.br

*Da Redação.

Sindicais Seminário em São Paulo pede que OIT monitore regulamentação

movimento sindical cutista e aInternacional de Serviços Públi-cos (ISP) Brasil querem que a Or-ganização Internacional do Tra-

balho (OIT) acompanhe de perto todoprocesso que o governo federal e oPoder Legislativo pretendem implan-tar sobre negociação coletiva e a re-gulamentação do direito de greve dofuncionalismo público. A iniciativa desolicitar o acompanhamento é umadas deliberações do Seminário da ISPsobre Organização Sindical do SetorPúblico, em conjunto com a CUT, re-alizado em São Paulo nos dias 8 e 9de agosto. O objetivo é forçar o go-verno a negociar com os representan-tes dos servidores uma proposta queatenda aos interesses das categorias.Os sindicalistas também querem umainterferência na proposta de ratifica-ção da Convenção 151 da OIT.

O governo, no entanto, vem dei-xando claro que pretende aprovaruma legislação para amordaçar o mo-vimento sindical. O ministro do Pla-nejamento, Paulo Bernardo, inclusive,já garantiu que um projeto de lei será

ISP e CUT debatem direito de greveMax Leone* encaminhado ao Congresso, ainda

este ano, para regulamentar a greve noserviço público. A proposta conta como apoio do presidente Lula e do minis-tro da Previdência, Luiz Marinho, doisex-sindicalistas do campo da CUT. En-tre as formas de inibir a organizaçãodos servidores está a previsão do des-conto dos dias parados.

Sisejufe esteve presenteno seminário

O Seminário da ISP reuniu 66 diri-gentes sindicais, assessores e advoga-dos de várias partes do mundo. Nosdois dias de discussões, os participan-tes debateram, entre outros assuntos,a repercussão dos novos modelos degestão do Estado na organização dotrabalho; e trocaram experiências deorganização sindical de outros paísescomo o do sindicato finlandês Tehy.Estiveram presentes, a presidente daentidade Jaana Pesola e a secretáriade Relações Internacionais, Sari Koi-vuniemi. O Sisejufe foi representadopelo diretor Roberto Ponciano.

“O objetivo do seminário foi claro:fortalecer o movimento sindical no

setor público para que se possa defi-nir um novo modelo de organizaçãoe assim atuarmos em processos nego-ciais existentes quanto à regulamen-tação do direito de greve”, explicouPonciano.

Ficou definido que será feito umlevantamento nacional de todas asmesas e processos de negociaçãoocorridos e em curso no país, e detodos os projetos de lei relativos à ne-gociação coletiva no setor público eregulamentação do direito de grevedo funcionalismo. A terceirizaçãotambém foi discutida. Nesse sentido,os participantes aprovaram que é pre-ciso buscar de forma articulada estra-tégias que se adeqüem às especifici-dades do setor público. O fortaleci-mento da Coordenação de ServiçoPúblico da CUT e a criação de meca-nismos para que a Confederação Na-cional dos Trabalhadores em Educa-ção (CNTE) e a Confederação Nacio-nal dos Trabalhadores Municipais(Confetam) possam acompanhar asnegociações coletivas sobre direitode greve foram aprovadas.

Foto: Sisejufe

O

8 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br

Quem não gosta de samba,bom sujeito não é...

Depois de meses sentado so-bre o PL 319, do qual é o relator,o deputado do Rodrigo Maia(DEM-RJ) finalmente elaborouparecer e enviou o projeto paraa Comissão de Trabalho e Servi-ço Público. O problema é que odeputado fez um acordo com ostribunais superiores, sem consul-tar os servidores do Judiciário, ecolocou um destaque que des-configura a intenção original doprojeto. Com a emenda, ficam le-

Tem razão Caymmi: quem nãofoi ao último Botequim do Sise-jufe, na Noite da Gafieira, em 24de agosto, ou é ruim da cabeçaou doente do pé. Mais de 300pessoas dançaram ao som doChora o Samba na Madrugada,capitaneado por Lisa de Ambróis,com sua voz doce e potente, e DuBasconça ao violão. Samba-can-ção, samba de breque, samba degafieira e samba sincopado em-balaram os casais que dançarampor mais de uma hora de apre-sentação. Na seqüência, Roberta

Foram publicadas as regulamen-tações de “Ingresso e Enquadra-mento” e “Desenvolvimento na Car-reira” do PCS3 dos servidores da Jus-tiça Eleitoral ocupantes de cargosde provimento efetivo dos quadros

Rodrigo Maia favorece Trem daAlegria nos tribunais superiores

galizados o nepotismo e a imo-ralidade administrativa, pois es-tão previstos que os limites de80% para destinação de FCs e de50% para ocupação de CJs, des-tinadas especificamente paraservidores da carreira do Judici-ário, não sejam mais observadasnos tribunais superiores. Issofere os princípios de moralida-de, impessoalidade, abre as por-tas para o nepotismo cruzado ea barganha de cargos.

O Sisejufe vai realizar um cursode atualização da Língua Portugue-sa com o professor Waldemar PedroAntônio. As aulas serão às sextas-feiras, de 8h às 11h. As inscriçõesestão abertas e as aulas terão inícioassim que se alcançar o número mí-nimo de 20 alunos. Serão aulas di-nâmicas, com simulados e interpre-tações textuais. As inscrições de-vem ser feitas pelo endereço eletrô-nico: [email protected] sindicalizados o valor é de R$10 por mês, para dependentes R$30, para convidados de sindicaliza-dos que não pertençam a categoria,R$ 70, e para não sindicalizados ovalor é de R$ 150.

Sisejufe promovecurso de LínguaPortuguesa

Justiça Eleitoral dá seguimentoà regulamentação do PCS3

dos tribunais. O Sisejufe continuana luta para que o estágio probató-rio seja de 24 meses no âmbito doTRE-RJ. Veja na página do sindicatoa íntegra da regulamentação (http://sisejufe.org.br).

A Comissão de Constituição eJustiça da Câmara dos Deputados(CCJC) votará a Proposta de Emen-da a Constituição (PEC) 555/06, querevoga o dispositivo da emenda daReforma da Previdência que instituia cobrança de contribuição previ-denciária sobre os salários dos ser-vidores aposentados. A PEC, de au-toria do ex-deputado Carlos Motta(PSB-MG), foi desarquivada e terácomo relator o deputado ArnaldoFaria de Sá (PTB-SP). O parlamentar,um aliado dos aposentados, segun-do o Diap, emitiu parecer pela cons-titucionalidade da proposta. (Fonte:Diap e Sintrajufe)

CCJC da Câmaravotará PEC contracontribuiçãode aposentados

S I

N D

I C

A I

S

Nistra e convidados não deixaramninguém recuperar o fôlego. Comum repertório eclético, nas qua-se duas horas de apresentação,Roberta mostrou muito forró,maxixe, e xaxado. Foi uma noitemágica, mas quem perdeu nãoprecisa lamentar: o 8º Botequimvai trazer Diogo Nogueira, filhodo mestre João Nogueira. Agen-de-se, a próxima noite de sambaé em 26 de outubro, a partir das19h, no Clube do Empresário(Rua da Candelária, 9 – 14º andar– Centro – Rio de Janeiro).

Ano II – número 14 – setembro/2007 9http://sisejuferj.org.br

Representantes de entidades sin-dicais do servidores, membros dogoverno federal e parlamentares reu-niram-se dia 11 de setembro para ne-gociar alterações no limitador dedespesa com pessoal previsto no PLP01/07. Durante a reunião, o deputa-do José Pimentel (PT-CE), apresentouas principais modificações. Obser-vando que existem fortes preocupa-

A Comissão de Trabalho, de Ad-ministração e Serviço Público anali-sa o Projeto de Lei 6.739/06, do de-putado Marco Maia (PT-RS), que pro-íbe o desconto de dias de greve doperíodo de férias do empregado.

O parlamentar argumenta que odireito às férias é garantido pelaConstituição. Além disso, o projeto

Avança a negociaçãono PLP 01

ções com o formato do limitador ex-presso na formula “INPC + 1,5%”,com a necessidade de criação de “ex-tra-tetos” para abrigar a admissão deconcursados em substituição aos ter-ceirizados e dúvidas quanto ao pra-zo de vigência da nova lei. A próxi-ma reunião deverá acontecer dia 25de setembro. (Fonte: Fenajufe comCUT-DF)

Comissão analisa proibiçãode descontar dias paradosem greve das férias

estabelece que os dias de greve nãoserão considerados como falta aoserviço, e períodos superiores a 30dias de suspensão do contrato de tra-balho não significam a perda do aqui-sitivo de férias. O relator, deputadoRoberto Santiago (PV-SP), apresen-

O projeto encaminhado pelo go-verno ao Congresso que regulamen-ta o fundo de previdência dos servi-dores e viabiliza o pagamento deaposentadorias limitadas ao teto fi-xado pelo INSS, de R$ 2.800, enfren-tará a resistência do Judiciário.“Esse é um tema que vai causar cer-tamente polêmica no âmbito do Ju-diciário. Sabemos que o tema daprevidência do servidor público ésério para todos, não só para o Ju-diciário mas também para o Minis-

Ministro avalia que reformaprevidenciária pode parar no STF

tério Público e para os demais ser-vidores”, disse o ministro GilmarMendes, do STF.

A reforma da Previdência, apro-vada pelo governo Lula em 2003, au-torizou o governo a limitar o paga-mento das aposentadorias dos ser-vidores públicos, mas a medida nãoentrou em vigor porque o fundo deprevidência complementar que de-veria ter sido criado ainda não foi re-gulamentado. (Fonte: Sinjus-DFcom Folha de São Paulo)

tou parecer favorável. (Fonte: http://camara.gov.br)

A aprovação da volta da ascen-são funcional para os servidoresdeu um passo importante na Câma-ra. No dia 4 de setembro, a Comis-são de Constituição e Justiça e deCidadania (CCJ) aprovou a admissi-bilidade das propostas de emendaà Constituição (PECs) 257/95 e 34/07, que restabelecem o concursointerno, excluído pela Constituiçãode 1988. A votação acompanhou oparecer do relator, deputado JoséGenoino (PT-SP). A PEC 257/95, dodeputado João Pizzolatti (PP-SC),cria a possibilidade de promoçõesinternas, de acordo com critériosdos planos de carreira, sem a neces-sidade da realização de concursopúblico. Já a PEC 34/07, do deputa-do Índio da Costa (DEM-RJ), autori-za a realização de concurso internopara servidores públicos com maisde dez anos no cargo. (Fonte: Sind-jus-DF)

Ascensão funcionalavança na Câmara

No dia 11 de setembro, os diretoresdo Sisejufe Roberto Ponciano e NiltonPinheiro foram recebidos pela desem-bargadora Dóris Castro Neves, presi-dente do TRT do Rio. Foram discutidoso pagamento dos Quintos e da URV. Apresidente não fixou data para paga-mento desses passivos e também ale-gou problemas orçamentários para re-gulamentar o pagamento do Adicionalde Qualificação. Sobre o treinamentopara o pessoal do Interior, disse que nãohá orçamento. Em relação ao curso paraOficial de Justiça ad hoc, o sindicato aler-tou para o desvio de função e o conflitode legalidade com a lei do PCS3. A de-sembargadora disse que há a necessi-dade do serviço, e o concurso demora-ria demais. O sindicato discorda e vaientrar com medida legal contra o des-vio de função.

Sisejufe temreunião no TRT

10 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br

D

I C A

S C

U L

T U

R A

I SDossiê DrummondO livro é centrado na última – e rara – grande entrevista de Carlos Drummond de An-

drade, concedida ao jornalista Geneton Moraes Neto em 1987, semanas antes da mortedo poeta. À entrevista foram juntados vários depoimentos valiosos. A longa e abrangenteentrevista é, em si, matéria suficiente para fazer deste livro um volume fundamental nabibliografia sobre o poeta. Além dela e dos muitos depoimentos, esta edição conta, ainda,com a reprodução de um artigo de Paulo Francis à guisa de introdução; com reproduçõesde fitas gravadas por Drummond; com um posfácio do organizador; com um completoíndice onomástico; com um belíssimo projeto gráfico e, finalmente, com as enriquecedo-ras interpolações de fragmentos de poemas em meio às respostas da entrevista.

Lovie

Festival do Rio 2007

Exposição Eliseu Visconti

O Festival do Rio vai exibir 300 filmes em 20 salas decinemas, praia e lonas entre 20 de setembro e 4 de ou-tubro. A Première Brasil do evento, maior janela do ci-nema nacional, apresentará 34 longas e 24 curtas. O fil-me escolhido para a abertura do festival é Tropa de Eli-te, de José Padilha. Na programação filmes como o do-cumentário Rita Cadillac, A Lady do Povo, de ToniVenturi, e o longa-metragem de Murilo Salles NomePróprio. O longa O amor em tempos de cólera, de MikeNewell, baseado no romance de Gabriel Garcia Már-quez, fechará o festival e conta com a presença deFernanda Montenegro no elenco. A 9ª edição do Fes-tival do Rio vai promover seminários sobre a indús-tria cinematográfica e trazer para a cidade convida-dos do cinema mundial. Os filmes da Première Brasilconcorrerão em diversas categorias, desde as tradici-

A cantora Lovie se revela como a cara da nova geração da MPB. Lançadaem dezembro de 2004 no Projeto Novo Canto por Jairzinho de Oliveira, acantora e compositora mistura em seu repertório drum’n’bass e bossa novacom tambores, djambê e sinos tibetanos. O CD De Paris ao Vidigal, traba-lho feito em conjunto com o DJ Mustafá está sendo lançado este ano nosEUA, no Japão e na Europa, onde já se encontra no 12° lugar no Top Euro30. No Rio, ela vai participar do Projeto Bossa Jump, dia 22 de setembro, às21h30min, na Livraria New Books, Shopping Fashion Mall (Estrada da Gá-vea, 899, São Conrado). Lovie também se apresentará no Prêmio Rio Músi-ca, concorrendo com sua música “Alma gêmea”, no dia 4 de outubro às20h, no Vittorio, Cittá América (Av. das Américas, 700). Ingressos a R$ 10.

A exposição Eliseu Visconti – Arte e design está em cartaz no Centro Cultural Caixa. Eliseu foio pioneiro do design no Brasil tendo pintado o pano de boca, teto e o foyer do Theatro Muni-cipal. A mostra tem ao todo 94 peças e 30 documentos, dentre eles selos para os correios,cartas, bilhetes, projetos de pratos e de jarros em cerâmica, vasos, vitrais, marchetaria, lumi-nárias, estamparia em tecidos e papéis de parede. Todos os trabalhos estão divididos em se-ções. A exposição comemora também o centenário do pano de boca do Theatro Municipal doRio de Janeiro, pintado por Visconti em Paris, entre 1906 e 1907. Na época, o artista chegou aser censurado por ter inserido negros no painel entre os figurantes do povo brasileiro. A ex-posição fica no Centro Cultural Caixa até 30 de setembro. O Centro Cultural fica na AvenidaAlmirante Barroso 25, no Largo da Carioca, e funciona de 10 às 22h, de terça a domingo. Esco-las públicas podem agendar as visitas pelos telefones 2544-3029/7666. A entrada é franca.

onais, como Melhor Ator e Melhor Direção, e tambémMelhor Curta-Metragem, Prêmio Especial do Júri eMelhor Curta Voto Popular.

Ano II – número 14 – setembro/2007 11http://sisejuferj.org.br

Opinião Tomei coragem para conhecer minha verdadeira face

uem viu o mundo de antes datele-ausência, da presença virtu-al, do Grande Olho que tudo es-pia sem ser visto percebe melhor

como nos desconectamos. Quedê asrodas em volta da fogueira? Quedê osencontros naturais, que hoje quemquer precisa comprar, e instalam-se“grupos”. Grupos para falar, dançar,respirar, dançar, comer, sobreviver,chorar, tocar-nos uns ao outros comum “facilitador”. Tive turma de esqui-na, turma de praia, turma.

Cortei os cabelos curtos tomandocoragem para conhecer minha verda-deira face, aquela que hoje é grisalha eeu, pasmem, alourada. Queria ver, nemque por algumas semanas, como é omeu cabelo hoje sem tinturas. E pego amania de reparar no cabelo de todomundo. Nenhuma cabeça me escapa.Não são cabelos ignorados, têm inter-ferência de cortes, cores, modelitos li-sos, artificialmente lisos, artificialmen-te clareados, escurecidos, quase todosfeios. Como se a cara não combinasse.Como perucas mal-escolhidas.

Saio com meu amigo e mostro-lhetodos os cabelos que vemos pelo ca-minho: olha aquele! Meu amigo me dizque preciso falar dessa mania na tera-pia, e dois minutos depois me cutucae aponta uma cabeleira desajustada.Digo que meu terapeuta fez cinqüen-ta anos e pergunta pra todo mundoque encontra: quantos anos você tem?

Meu amigo, sessentão, ri e diz quea pergunta dele é do que morreu. Eassim, rindo, envelhecemos.

Meu sobrinho, aos quinze anos,aprende a dançar hip hop pela televi-são e faz malabarismos voadores, pi-ruetas, contorcionismos impressio-

Cabelos, melhor não tê-los...Texto e fotoGlória Horta*

nantes. Onde? Pergunto, quero ir nes-sa festa. Em qualquer lugar, ele res-ponde. Pode ser num shopping. Numshopping? Estou pasma. Cadê sua tur-ma? Para que servem afinal as comu-nidades do Orkut se não for para isso?Para localizar os iguais e encontrá-lospessoalmente?

Vejo, na ciclovia, um homem sujo,com um dente preto quebrado, cabe-ça baixa, cara de dor, andando sozi-nho. Paro a bicicleta, meus olhos seenchem d’água. Faço a manobra, se-paro dez reais da carteira e intercep-to-o: posso ajudá-lo em alguma coi-sa? O homem levanta os olhos arre-galados e diz: não preciso de nada.Mas sua cara é de muito sofrimento.Minha cara é assim mesmo. Tem cer-teza que não posso ajudá-lo? Não,responde, com medo. Aceita um Gua-raviton (eu trazia uma garrafa na mo-chila). Ele dá um passo pra trás, talveznão saiba o que é um Guaraviton. É umrefrigerante, digo. Tenho aqui, por fa-vor, aceita. Ele aceita e eu sigo, na dú-vida se a louca sou eu ou os transeun-tes que passam por ele, indiferentes.

Talvez fosse apenas um canal no den-te, concluo, lembrando a minha dor, que

foi tanta, no metrô rumo ao dentista, queuma idosa me deu o assento!

Um idoso me aborda na rua pedin-do dinheiro para uma refeição. Até queenfim alguém me olhou, é uma vergo-nha para um homem, diz. Dou cincoreais, assustada, e perco o rumo, medesoriento, dou a volta ao quarteirãoem busca do restaurante a quilo ondeia almoçar domingo sozinha e eis querevejo o homem com um saco plásticocontendo uma quentinha.

Agora ele não me escapa. Onde osenhor mora? Não tem família? Deonde veio? Fique o senhor sabendoque quando a gente não olha não éporque não vê. As pessoas não olham,mas têm insônia, depressão e síndro-me de pânico. E mais, minto: perdimeus pais e queria que eles estives-sem aqui, mesmo dependendo demim, porque sou separada, minha fi-lha casou e eu me sinto muito sozi-nha, ouviu? Digo, quase ralhando.Detesto ser enxergada de madame.

*Jornalista, poeta, mestra emAntropologia da Arte e coordena-

dora do Setor Educativo do CentroCultural Justiça Federal.

Q

11 de setembro Último discurso inspira os que lutam pela democracia

12 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br

Seguramente, esta será a últimaoportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A Força Aérea bombar-deou as antenas da Rádio Magallanes.Minhas palavras não têm amargura,mas decepção. Que sejam elas um cas-tigo moral para quem traiu seu jura-mento: soldados do Chile, comandan-tes-em-chefe titulares, o almiranteMerino, que se autodesignou coman-dante da Armada, e o senhor Mendo-za, general raste-jante que aindaontem manifesta-ra sua fidelidade elealdade ao Gover-no, e que tambémse autodenomi-nou diretor geraldos carabineros.

Diante destesfatos só me cabedizer aos traba-lhadores: Não vourenunciar! Colo-cado numa encru-zilhada histórica,pagarei com mi-nha vida a lealda-de ao povo. E lhesdigo que tenho acerteza de que asemente que en-tregamos à consciência digna de mi-lhares e milhares de chilenos, nãopoderá ser ceifada definitivamente.[Eles] têm a força, poderão nos avas-salar, mas não se detém os proces-sos sociais nem com o crime nemcom a força. A história é nossa e a fa-zem os povos.

Trabalhadores de minha Pátria:quero agradecer-lhes a lealdade quesempre tiveram, a confiança que de-

A História é nossa e a fazem os povospositaram em um homem que foi ape-nas intérprete de grandes anseios dejustiça, que empenhou sua palavra emque respeitaria a Constituição e a lei,e assim o fez.

Neste momento definitivo, o últi-mo em que eu poderei dirigir-me avocês, quero que aproveitem a lição:o capital estrangeiro, o imperialismo,unidos à reação criaram o clima paraque as Forças Armadas rompessemsua tradição, que lhes ensinara o ge-

neral Schneider ereafirmara o co-mandante Araya,vítimas do mes-mo setor socialque hoje estaráesperando comas mãos livres, re-conquistar o po-der para seguirdefendendo seuslucros e seus pri-vilégios.

Dirijo-me a vo-cês, sobretudo àmulher simplesde nossa terra, àcamponesa quenos acreditou, àmãe que soubede nossa preocu-pação com as cri-

anças. Dirijo-me aos profissionais daPátria, aos profissionais patriotas quecontinuaram trabalhando contra a se-dição auspiciada pelas associaçõesprofissionais, associações classistasque também defenderam os lucros deuma sociedade capitalista. Dirijo-meà juventude, àqueles que cantaram ederam sua alegria e seu espírito deluta. Dirijo-me ao homem do Chile, aooperário, ao camponês, ao intelectu-al, àqueles que serão perseguidos, por-

que em nosso país o fascismo está hátempos presente; nos atentados terro-ristas, explodindo as pontes, cortandoas vias férreas, destruindo os oleodu-tos e os gasodutos, frente ao silênciodaqueles que tinham a obrigação deagir. Estavam comprometidos. A histo-ria os julgará.

Seguramente a Rádio Magallanesserá calada e o metal tranqüilo de mi-nha voz não chegará mais a vocês. Nãoimporta. Vocês continuarão a ouvi-la.Sempre estarei junto a vocês. Pelomenos minha lembrança será a de umhomem digno que foi leal à Pátria. Opovo deve defender-se, mas não sesacrificar. O povo não deve se deixararrasar nem tranqüilizar, mas tam-pouco pode humilhar-se.

Trabalhadores de minha Pátria,tenho fé no Chile e seu destino. Su-perarão outros homens este momen-to cinzento e amargo em que a trai-ção pretende impor-se. Saibam que,antes do que se pensa, de novo seabrirão as grandes alamedas por ondepassará o homem livre, para construiruma sociedade melhor.

Viva o Chile! Viva o povo! Viva ostrabalhadores! Estas são minhas últi-mas palavras e tenho a certeza de quemeu sacrifício não será em vão. Tenhoa certeza de que, pelo menos, seráuma lição moral que castigará a perfí-dia, a covardia e a traição.

* Último discurso do presidentechileno Salvador Allende, às nove

horas e dez minutos da manhã de 11de setembro de 1973, durante o

ataque dos militares patrocinadospelos EUA ao Palácio de La Moneda.

Salvador Allende*

Dirijo-me ao homem do Chile,ao operário, ao camponês, aointelectual, àqueles que serãoperseguidos, porque em nossopaís o fascismo está há tempospresente; nos atentadosterroristas, explodindo aspontes, cortando as viasférreas, destruindo osoleodutos e os gasodutos,frente ao silêncio daqueles quetinham a obrigação de agir.Estavam comprometidos.A historia os julgará.

Ano II – número 14 – setembro/2007 13http://sisejuferj.org.br

14 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br

Era Vargas – Do sindicalismo indeHelder Molina*

O período que vai de 1930a 1945 é conhecido na histó-ria brasileira como Era Vargasou Estado Novo. Uma novaetapa na história do movimen-to operário, especialmente noque se refere aos sindicatos,com uma crescente integraçãodos sindicatos ao controle doEstado. Isso se dá mais clara-mente a partir da criação doMinistério do Trabalho, porVargas, em novembro de1930. Em março de 1931 é pu-

No período 1930-45 dá-seuma profunda mudança nacomposição da classe operária,devido a seu crescimento de500%. A ampla maioria dostrabalhadores são de origemrural, fruto da migração docampo para a cidade. Nesseperíodo se consolidam váriasgarantias sociais com aConsolidação das Leis doTrabalho (CLT), salário mínimo,aposentadoria, e estabilidadepara operários com mais de10 anos de serviço. Isso levaa um grande apoiodos trabalhadores a Vargas.

Na CLT se inserem várias vanta-gens trabalhistas conquistadas pelossindicatos e que são, então, estendi-das para todas as categorias profissi-onais, independentemente de esta-rem organizadas. A CLT também ga-rante a tutela do Estado nas negocia-ções entre empregados e empregado-res. Sua estrutura se mantém no cor-porativismo, que impedia que sindi-catos de diferentes categorias de umamesma localidade se articulassementre si. Impedia-se, assim, a forma-ção de uma grande organização detrabalhadores, na forma de uma cen-tral sindical. A estrutura era vertical esubordinada ao Estado, que dirigia ofuncionamento da organização sindi-cal nos três planos: desde o sindica-to, federação e confederação.

A Constituição de 1937 e a CLT, de1943, confirmam a Lei de Sindicaliza-ção de 1931. Um elemento funda-mental da nova estrutura foi o impos-to sindical: um dia/ano de salário obri-gatoriamente pago por todo operário

(sindicalizado ou não). Ainda hojeesse imposto é recolhido pelo Minis-tério do Trabalho e distribuído aossindicatos. O imposto permite umcontrole direto do Estado sobre as fi-nanças e as atividades da entidade;subvenciona serviços sociais (serviçosmédicos, colônias de férias etc.), con-vertendo-o assim numa instituição deassistência social. Além de manteruma burocracia sindical política e eco-nomicamente vinculada ao Ministériodo Trabalho.

O imposto sindical trazia para o Es-tado e as corporações quantias enor-mes de recursos financeiros. Dinheiroesse que era proibido para fundos degreve e para propaganda política. Suadestinação específica era cuidar dabeneficência e do exercício da função

blicada a Lei da Sindicalização, quetinha como objetivo submeter a ativi-dade sindical ao controle do Estado.A lei proibia, entre outras questões,toda “propaganda ideológica” nosindicato. O Estado, e a política tra-balhista desenvolvida por ele, esti-mula o corporativismo, isto é, que ossindicatos sejam organizados por ca-tegoria profissional e não por ramode atividade econômica.

Em 1932 são promulgadas váriasleis sociais e trabalhistas, definindocritérios de aposentadoria, jornadade trabalho de 8 horas e proteçãoao trabalho das mulheres. Foramconquistas alcançadas após longosanos de luta dos trabalhadores, soba direção dos comunistas, anarco-sindicalistas e socialistas-anarquis-tas. As leis implementadas pelo go-verno Vargas, na verdade, tinham aintenção de criar uma base socialoperária para o Estado. Em 1935ocorre a formação da Aliança Naci-onal Libertadora (ANL) e o levantecomunista de 1935, com uma re-pressão brutal da polícia e de outrosórgãos do governo sobre o movi-mento operário. É aí que o EstadoNovo empreende uma violenta re-pressão aos comunistas e a elimina-ção de quadros operários.

NO

SS

A H

IST

ÓR

IA

Ano II – número 14 – setembro/2007

Ano II – número 14 – setembro/2007 15http://sisejuferj.org.br

ependente ao sindicalismo tutelado

*Historiador, assessor de forma-ção da CUT-RJ e coordenador do

curso Marxismos do Sisejufe.

administrativa (posição contrária a dosantigos militantes). Criou-se, assim,uma relação de dependência entre omovimento operário e o Estado.

A estrutura sindical construída noEstado Novo se manteve no pós-guer-ra. Entre 1945 e 1964, período conhe-cido como “nacional desenvolvimen-tista”, em que o Estado se associa aogrande capital internacional para am-pliar as bases da industrialização e daexpansão ao interior. Um projeto na-cional de infra-estrutura para a con-solidação do modo de produção capi-talista baseado na indústria. Cresce,com isso, a importância da classe ope-rária, principalmente nos grandes cen-tros, tendo o ABC em São Paulo comoseu núcleo mais dinâmico.

Os sindicatos continuam subordi-nados ao poder do Estado. O contro-le dá-se principalmente pelo impos-to sindical, extraído compulsoriamen-te dos trabalhadores e transformadoem recursos financeiros nas mãos dospatrões e dos sindicalistas “pelegos”(termo que se refere àqueles que uti-lizam a estrutura sindical para “amor-tecer” a luta de classes, e transformaos aparelhos em “anteparo” dos con-flitos, feito um acolchoado no lombodos cavalos para amaciar o atrito e fa-cilitar a montaria do cavaleiro).

É corrente entre os estudiosos dahistória política e social brasileiraidentificar esse período como o da“redemocratização”, pois estamossaindo de um período de ditadura,

marcada pela repressão policial, co-optação ou atrelamento do movimen-to sindical, cassação dos direitos po-líticos e prisão das lideranças que sealinhavam contra Vargas e o EstadoNovo. Essa ditadura teve seu auge nosanos 1937-1945.

Mesmo com a chamada redemocrati-zação, os instrumentos de controle e re-pressão permaneceram. O movimentosindical, pelo menos nos seus setoresmajoritários, permaneceu atrelado aoimposto sindical e ideologicamente nãose buscou o rompimento dos laços or-gânicos que subordinavam os sindica-tos ao Estado.

Ano II – número 14 – setembro/2007

16 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br

T E

A T

R O

Com um elenco de 23 ato-res, na maioria jovens das co-munidades de Santa Teresa,estreou no sábado, 15 de se-tembro, no casarão do Merca-do das Pulgas em Santa Tere-sa, a mais recente encenação

Lirismo e tragédiaCia. Curuminerê apresenta Romeu e Julieta com jongoe maculelê no antigo casarão do Mercado das Pulgas

Henri Figueiredo* de Romeu e Julieta no Rio de Janeiro. Aantiga edificação, no Largo dos Gui-marães, remete à Verona onde Willi-am Shakespeare ambientou uma dasmais conhecidas, e trágicas, históriasde amor da humanidade. Dessa vez,contudo, figurino e cenário são sin-créticos, híbridos, reciclados. Puramesmo é a entrega com que o elenco

encarna as rusgas das duas fa-mílias rivais – com o uso do

maculelê e da capoeira,por exemplo.

Com direçãogeral de André

Luiz Câmara,também res-ponsável pelaadaptação daobra, essa ver-

são de Romeu eJulieta conjuga

etnias, matrizesculturais e atores

em diferentes estági-os na arte da represen-

tação. Daí deparamos comMontecchios e Capuletos ne-

gros e brancos, em ambos os la-dos; ouvimos a métrica da

prosa poética do bardoinglês e, em seguida,

o ritmo do jongo;e percebemos

o duelo pro-

posto pelo ator experiente àquele ou-tro, que pela primeira vez compõe umpersonagem.

Alguns dos atores do grupo já fo-ram dirigidos por André Câmara, em2001 e 2002, na premiada e bem cri-ticada peça Menino no meio da rua, queera composta de quadros que retra-tavam o duro cotidiano na favela, aluta pela sobrevivência e a falta deperspectiva da juventude pobre. Des-sa vez, de acordo com o diretor, odesafio é outro. “Antes, os atores ex-pressavam a sua realidade. Agora, épreciso entrar no personagem, elabo-rá-lo, entendê-lo”, diz Câmara. Porisso, um dos objetivos do projeto Ro-meu e Julieta é incentivar que esses jo-vens se aprofundem na formação tea-tral. As primeiras ferramentas estãosendo dadas e, o público pode confe-rir, bem aproveitadas.

Desde o início do ano o elenco deRomeu e Julieta vive uma intensa pre-paração artística com oficinas de dan-ça, técnica vocal, arte e adereços. Oconvívio levou o grupo a formar a Cia.Curuminerê, calcada justamente nacapacitação do elenco em construirpersonagens distantes cultural e so-cialmente de sua realidade. “Por issocomeçamos a pensar em autores dadramaturgia universal e chegamos àsobras de Shakespeare”, explica o di-retor André Câmara.

Para o intérprete de Romeu, Bru-no Gomes, 20 anos, a experiência de

Bruno Gomes:“A Curuminerê precisa de patrocínio, nãotemos financiamento, mas sobram talentos.Lutamos bastante para chegar até aqui e opúblico não vai se decepcionar”.

Ano II – número 14 – setembro/2007 17http://sisejuferj.org.br

a em Santa Teresaviver um personagem clássico diferede tudo o que ele já fez. Aos 14 anos,Bruno viveu Tilico, o protoganista deMenino no meio da rua. Desde então, jáfez cinema (No meio da rua, de Antô-nio Carlos Fontoura) e novela (Desejosde Mulher), além de várias peças comoCapitães de Areia (adaptação de VictorHugo para o texto de Jorge Amado) eO Pagador de Promessas (adaptação deMichelle Cabral para o texto de DiasGomes). “Romeu tem uma fala rebus-cada, é preciso clareza, domínio dotexto e de uma vasta gama de senti-mentos. É o personagem mais com-pleto que já fiz e esse é um espetácu-lo que me dá mais base para enfren-tar outros trabalhos”, diz Bruno.

Sentimento parecido tem Gabrie-la Luiz, 21 anos, a Julieta. “A genteaproxima o clássico do nosso cotidi-ano mas não perde a linguagem, acomposição da personagem. Otempo todo o público está com agente, vivendo a história, acompa-nhando os atores pelo cenário queé o casarão” conta Gabriela. Profes-sora de dança em Caxias, a jovem atriztambém tem passagens pelo cinema.Ela integrou o elenco de Anjos do sol,filme de Rudi Lagemann, sobre a ex-ploração sexual infantil, que ganhouo Festival de Gramado, em 2006. Diasatrás, Gabriela concluiu as filmagensdo filme 174, longa de ficção de Bru-no Barreto inspirado na história dosobrevivente da Chacina da Candelá-ria Sandro Nascimento. No filme deBarreto, Gabriela vive Soninha, a na-morada de Sandro.

E como a vida imita a arte (ou se-ria o contrário?) Bruno e Gabriela tam-bém formam um casal. “Estávamosrompidos quando começamos a en-saiar Romeu e Julieta. A peça serviucomo reconstrução da nossa relação,

parecia que os textos eram fei-tos pra gente, como se a vozdo personagem fosse a mi-nha”, revela Bruno. A jo-vem atriz completa:“Hoje falar disso é en-graçado, mas no iníciodos ensaios foi bemcomplicado. Nós tí-nhamos terminado onamoro”.

O público que qui-ser conferir estaversão deRomeu e

• Sábados e Domingos, 20h – R$15,00 (inteira)

• Adaptação e Direção Geral:André Luiz Câmara

• Centro Cultural João Fernan-dez – Mercado das Pulgas –Largo dos Guimarães, Rua Al-mirante Alexandrino, 501 –Santa Teresa – Rio de Janeiro*Da Redação.

Romeu e Julieta

Julieta interpretada por dois na-morados deve se apressar. Em ou-tubro, Bruno e Gabriela estréiamoutro espetáculo sob a direção deHilton Cobra, da Cia dos Comuns,e provavelmente deixarão o atualelenco. “Mas a peça vai adiante le-vada pela Cia. Curuminerê. Que-remos causar impacto e espera-mos encantar o público. A Curu-minerê precisa de patrocínio, nãotemos financiamento mas sobramtalentos. Lutamos bastante parachegar até aqui”, diz Bruno. Ochamado está feito. Agora é seagendar para evitar perder “obonde” dessa história.

Gabriela Luiz:“A gente aproximao clássico do nosso cotidianomas não perde a linguagem e acomposição da personsagem”.

18 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br

A julgar pelo que dizemeditoriais dos grandes jornaise semanários de circulação na-cional a respeito da propostagovernamental de contrataçãode novos servidores federais, éde reconhecer que há neles uminchaço de desinformação nosseus vitupérios contra a supos-ta “gastança” do governo dopresidente Lula.

A nova oportunidade deverberar a atual administração

Gastos com o funcionalismoRui Falcão* dutivo estatal e quase dois milhões de

vagas no restante da administração.

Na verdade – à parte a desinforma-ção confusionista contida na expres-são “inchaço” – é correto admitir-seque é política deliberada do governoLula recuperar a capacidade de inter-venção do Estado, mediante, entreoutras iniciativas, a ampliação do qua-dro de funcionários públicos e de suacapacitação.

Pretextos neoliberais nãotêm respaldo nos fatos

Ante os desafios que se propõe oEstado, em seu novo papel de indu-tor do crescimento econômico e daconstrução da sociedade de bem-es-tar, “não se pode afirmar que nos diasde hoje o Estado brasileiro encontra-se inchado de pessoal”, afirma MárcioPochmann, professor de Economia daUnicamp e presidente do IPEA.

Nas últimas décadas de hegemoniado pensamento único, tornou-se lugarcomum atribuir-se a crise financeirados Estados, expressa na geração dedéficits orçamentários crescentes, aosgastos públicos, em especial os gastoscom a folha de pagamentos e com osistema de bem-estar social. (...)

A análise dos dados, entretanto,mostra que o pretexto utilizado pe-los neoliberais não encontra res-paldo nos fatos. Foi exatamente noperíodo de maior desenvolvimentodo Welfare State que as economiaseuropéias exibiram maior dinamis-mo; além disso, nesse período, osdéficits orçamentários eram menoshabituais do que viriam a ser nosanos em que a expansão dos pro-gramas de Welfare State desacele-rou-se fortemente, como resultadodos ataques sofridos pelos seusopositores.

Mas, a despeito do discurso neoli-beral, o emprego público continuoua crescer em termos absolutos nosquatro principais países europeus.Assim, o número de funcionários pú-blicos na Itália, França, Alemanha eReino Unido, que em 1980 somava16,9 milhões, elevou-se a 18,3 mi-lhões em 1990, atingindo 18 milhõesem 2000. O emprego público nos pa-íses desenvolvidos apresentou pe-quena queda, em termos absolutos,somente durante a década de 1990,considerando-se o agregado dessesquatro países. Mesmo assim, a quedafoi pouco expressiva, mantendo-se opeso do emprego público em patamarsemelhante ao do final dos anos 70.

Em contraste com o que ocorria naEuropa – como resultado da investi-da neoliberal contra o Estado brasilei-ro – a exemplo do enfermiço Jeca Tatuantes de seu restabelecimento pelobiotônico, o Leviatã raquítico dispu-

N A

C I

O N

A L

emerge da notícia de que a propostade Orçamento para 2008 autoriza acontratação de 56 mil funcionáriospúblicos, 40 mil deles pelo Executivo.A proposta atual somente perderiaem apetite empregatício para o pri-meiro projeto orçamentário, de 2004,quando se previa a abertura de 70 milvagas.

E a retórica da desinformação se-gue adiante, ao “constatar” que a ad-ministração Lula inverteu a tendênciade enxugamento da máquina estatal,por ter contratado um número de ser-vidores (43,8 mil) superior ao de pos-tos vacantes. No total, são atualmente659,8 mil funcionários civis e 423,8 milmilitares. “O inchaço”, conclui a Folhade S. Paulo – em linha com os demaisjornais –, “é uma política deliberada”.

Sintomaticamente, os mesmos jor-nais se esquecem de informar que ainversão da tendência de enxugamen-to teve início no governo anterior,quando foram contratados 56 mil no-vos funcionários, de uma propostainicial de 78 mil. Tratava-se, então, derecompor minimamente o que haviarestado do desmantelamento da má-quina pública, resultante do progra-ma de privatizações, que eliminouquase 550 mil empregos no setor pro-

Ano II – número 14 – setembro/2007 19http://sisejuferj.org.br

o e inchaço de desinformação

nha, em 2005, de apenas 4,5 funcio-nários públicos para cada grupo de100 brasileiros, enquanto em 1990esse número elevava-se a quase cin-co, segundo dados mencionados porPochmann, com base em informaçõesdo IBGE, em artigo publicado no jor-nal Valor (06/09/2007).

À luz desses fatos, é fácil de com-preender que o argumento da supos-ta incompetência gerencial do Execu-tivo federal, brandido pela oposição,serve apenas como cortina de fuma-ça para dissipar a percepção públicadas conseqüências desastrosas dodesmantelamento do aparelho do Es-tado nos períodos Collor e FHC. (...)

Políticas Públicas não sãoefetivas sem um Estado forte

Recuperar para o Estado o poderde ação é o que propõe o governo Lulacom seu projeto de recompor o qua-dro do funcionalismo, mediante novas

contratações. Trata-sede iniciativa com baseno entendimento deque as funções sociaisdo Estado – educação,saúde e segurança, en-tre outras – encon-tram-se comprometi-das como resultadodas investidas neolibe-rais do período anteri-or, do governo tucano.

Diferentementedos neoliberais, o go-verno Lula entendeque a qualidade da in-tervenção do Estadona economia dependeda qualidade da de-mocracia. A interven-ção do Estado deveser orientada pelo ob-jetivo de configurarestratégias e institui-ções que permitam à

sociedade realizar seus objetivos co-letivos, por conferirem ao governo acapacidade de intervir na economia epor submetê-lo ao controle popular.

Como observa Adam Przeworski,a democracia é um sistema que reco-nhece direitos de cidadania a todos osindivíduos, mas não cria automatica-mente as condições sociais e econô-micas necessárias para um efetivoexercício desses direitos. Por conse-guinte, à medida em que as desigual-dades econômicas e sociais limitam oacesso ao sistema político, tornam-senecessárias políticas públicas quecontribuam para a redução das desi-gualdades e para a inclusão social epolítica. A participação dos benefici-ários no processo de tomada de deci-são e uma melhor distribuição dos re-cursos disponíveis, que capacitem aoexercício da cidadania, são, portanto,necessárias para que os mecanismosde responsabilidade possam funcionar– e isso pressupõe o fortalecimento do

papel do Estado mediante, entre ou-tros fatores, o aumento do dispêndioem recursos humanos qualificados.

Cautela, leitor, ante a manipulaçãodas informações promovida pelos edito-riais. Quando se relaciona a evolução doemprego público como proporção da po-pulação total e com o dispêndio do setorpúblico como proporção do PIB, chega-seà conclusão precisa – adverte Pochmann –, de que a verdade encontra-se no ladooposto: o que ocorre na atualidade é ummenor peso da ocupação de pessoal noEstado brasileiro. Uma análise dos dadosdo IBGE indica ocorrência de queda noemprego público no total da ocupação,estimada em 14,7%, entre 1990 e 2005.

É verdade que o gasto com pessoal nogoverno central aumentou em 23,9% emrelação ao PIB, nesse período, observaPochmann, que acrescenta: “Em grandemedida, essa discrepância encontra-seassociada à expansão absoluta dos inati-vos (2,2% ao ano), uma vez que o empre-go ativo na União decresceu 0,2% ao ano,em média, no mesmo período. Em resu-mo, conclui, a elevação relativa do gastocom pessoal encontra-se mais relaciona-da ao crescimento dos inativos do que àelevação do salário dos empregados ati-vos no governo federal.

Em seu artigo, Pochmann mostra tam-bém que no conjunto das despesas pú-blicas em relação ao PIB, outras despesas,mais do que os gastos com pessoal, pas-saram a ter importância relativa. A des-pesa com os juros da dívida pública, porexemplo – uma herança e criação tuca-nas – multiplicou-se no período por 2,9vezes. Em contraste, entre 1991 e 2005,enquanto a despesa total do governofederal em relação ao PIB subiu82,1%, o gasto com o pessoal aumen-tou 23,6%. Eis os fatos.

*Jornalista, advogado e deputadoestadual pelo PT-SP.

20 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br

A história começa em 1996, quan-do o cineasta negro norte-americanoSpike Lee (Faça a coisa certa, MalcolmX) negociou com traficante MárcioAmaro de Oliveira, o Marcinho VP(morto aos 34 anos em Bangu 3, emjulho de 2003) a filmagem de um cli-pe de Michael Jackson no Morro DonaMarta, em Botafogo. Uma das produ-toras do clipe foi a cineasta Katia Lund

Grupo Unibanco, João Morei-ra Salles. Financiados poruma TV francesa, que enco-

(Cidade de Deus). Meses depois, o ci-neasta Walter Salles (Central do Brasil)quis saber de Katia como os gringosconseguiram “autorização” para fil-mar com o astro pop numa favela con-trolada pelo tráfico. Começava a sur-gir, dessa conversa, o documentárioNotícias de uma guerra particular, co-di-rigido por Kátia e outro herdeiro do

Os autores sabiam que precisavammostrar de um lado o tráfico, de ou-tro a polícia e, no fogo cruzado, omorador das regiões conflagradas. Ocontato com Marcinho VP abriu por-tas no Morro Dona Marta. Lá, encon-traram o morador Adão Xalebaradã,um verdadeiro filósofo. E, no Batalhãode Operações Policiais Especiais(Bope), depois de uma entrevista “ofi-cialesca” com o comandante, surpre-enderam-se com o único policial queaparentou um certo incômodo dianteda invasão iminente de uma favela:“Essa guerra entre nós e o tráfico já équase uma guerra particular”. O autorda frase é o capitão Rodrigo Pimentel.

seu teor em si, mas por quem os dá.O chefe de Polícia Civil à época, Hé-lio Luz, em determinado momentodiz que a polícia no Rio é eficientesim, se não fosse há muito tempo otráfico teria tomado a cidade. Eemenda que a sua polícia é “política”,pois mantém o excluído onde a soci-edade quer que ele fique, quieto nafavela. Em outro momento, o capitãoPimentel, do Bope, afirma que denada adiantam as incursões diáriasnas favelas para apreender armas ematar traficantes, porque a polícia éo único braço do Estado que sobe omorro. E para cada traficante morto,há dez na fila para ocupar o posto.

O documentário foi aclamado,rendeu, e rende, inúmeros debates ehoje, nove anos depois, a situação sópiorou. Meses depois da filmagem deNotícias, o chefe de polícia deixou ocargo para concorrer a deputado, ocapitão deixou o batalhão para estu-dar, produzir cinema e dar consulto-ria na área de segurança, os trafican-tes mostrados no filme estão mortos,e os moradores continuam sob fogocruzado. O filme, no entanto, é umadessas obras seminais, que gerammuitas outras correlatas.

Dentre as obras nascidas a partirdas descobertas e proposições de No-tícias estão um documentário de Wal-ter Salles sobre o morador do morrochamado Adão; um livro do jornalis-

T E I A D E I D É I A Smendara um documentário sobre aviolência no Rio, João e Katia, junta-mente com o fotógrafo Walter Carva-lho, começaram a filmar apenas como “esqueleto” do filme, sem saber exa-tamente que tipo de material reuniri-am.

Em Notícias de uma guerra particular(1999, 56 minutos) encontram-se de-poimentos surpreendentes não por

Spike Lee

Michael Jackson

Katia Lund

Rodrigo Pimentel

João Salles

Ano II – número 14 – setembro/2007 21http://sisejuferj.org.br

ta Caco Barcellos, Abusado, que contaa vida de Marcinho VP, chamado nolivro de Juliano VP; e o estilo de filma-gem do documentário “Ônibus 174”,de José Padilha, sobre o seqüestro doônibus no Jardim Botânico que culmi-nou com a morte da refém e do se-qüestrador numa ação desastrada dapolícia.

O diretor José Padilha e o roteiris-ta Bráulio Mantovani juntaram-se aoex-capitão do Bope Rodrigo Pimentel(que lhes foi apresentado porJoão Salles) e passaram aescrever o roteiro de umfilme de ficção que con-tasse a história do com-bate ao tráfico pela óti-ca da polícia: Tropa deElite. O roteiro já anda-va, quando Pimentel, otambém policial André Ba-tista e o antropólogo LuísEduardo Soares (ex-subsecretário deSegurança Pública do Estado do Rio)começaram a escrever o livro (de fic-

ção, dizem eles) Elite da Tropa (Obje-tiva, 315 páginas, 2005).

E chegamos a setembro de 2007.

Semanas antes da estréia nos cinemasde Tropa de Elite, cujo protagonista éo bom ator Wagner Moura (o Olavo danovela da Globo) as ruas do Centro doRio estão inundadas por cópias piratas

do filme.

O sucesso é tanto quemesmo antes da es-tréia, o filme é assuntopreferencial em qual-quer boteco cariocacom gente descolada,

bem informada e chega-da numa pirataria. Na ten-

tativa de manter o volume devendas nas alturas, os piratas do Cen-tro foram criativos e lançaram o Tro-pa de Elite 2 – Proibidão da (sic) Bope.Quem comprou, confirma: não é umacontinuação, não é o mesmo filmecom um final diferente, é apenas etão-somente o DVD de Notícias de umaguerra particular, o filme seminal.

Mas o círculo dessa teia não esta-ria fechado se não lembrássemos,aqui no epílogo, o que foi, de fato, oprólogo. Nos extras do DVD originalde Notícias é apresentado um filme dodocumentarista Eduardo Coutinho(Cabra marcado para morrer, EdifícioMaster) feito sob encomenda para oInstituto de Estudos da Religião (Iser),

em 1987. Neste filme, de 20 anos atrás,Coutinho e sua equipe sobem o Mor-ro Dona Marta com a autorização daAssociação dos Moradores para entre-vistar trabalhadores e a polícia.

Texto: Henri Figueiredo, da RedaçãoFotos: Internet

Um dos adolescentes entrevista-dos ali mostra-se inconformado como destino reservado à ele pela socie-dade e diz que sonha em ser desenhis-ta industrial. Seu nome: Márcio Ama-ro de Oliveira. Depois conhecidocomo Marcinho VP. O resto da histó-ria a gente já conhece.

Caco Barcellos

José Padilha

Wagner Moura

Eduardo Coutinho

Marcinho VP

22 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br

Internacional Um mundo sem guerras religiosas é possível e urgente

Prestem atenção. Nas próximassemanas vão se intensificar na gran-de mídia matérias sobre o “perigo ira-niano”. O país dos aiatolás voltará aser considerado como uma nova “Ale-manha nazista” e o presidente Mah-moud Ahmadinejad, o novo Hitler.Tais estereótipos vão aparecer commais freqüência e a questão nuclearserá mais uma vez apresentada comoo perigo a ser enfrentado. Dirigentesisraelenses de todas as matizes, dopresidente Shimon Peres ao extremis-ta de direita Binyamin Netanyahu, se-rão convocados para alertar Washing-ton sobre o projeto nuclear iraniano.Vão insistir na tese que Ahmadinejadprepara um “novo holocausto” contrao Estado de Israel. Em suma: tudo seráfeito no sentido de convencer o go-verno Bush sobre a necessidade deuma ação imediata e preparar a opi-nião pública para aceitar uma eventu-al intervenção militar contra o Irã.

O vice-presidente Dick Cheney jádefende abertamente bombardeioscontra o Irã e assim sucessivamente.

A mesma mídia que criminaliza oregime iraniano e apóia incondicional-mente o governo israelense não infor-mará à opinião pública sobre comovive no Irã a comunidade judaica com-posta por 25 mil pessoas, por sinal amaior e mais antiga do Oriente Médio.Judeus iranianos estão lá instalados hácerca de três mil anos.

Jonathan Cook, um jornalista britâ-nico baseado em Nazareth, Israel, eautor do livro Sangue e Religião: O des-mascaramento do Estado democrático ju-deu, ainda não traduzido para o portu-guês, dá algumas dicas sobre como vi-vem pacificamente os 25 mil judeusiranianos que não aceitam o sionismo

Irã tem comunidade judaica não-sionistaMário Augusto Jakobskind*

como bandeira política. Ele faz atéuma comparação entre como vivemos judeus iranianos e os palestinosnos territórios ocupados por Israel. Sea opinião pública for informada cor-retamente poderá concluir por si sósobre este tópico, sem manipulaçãodo noticiário.

*Jornalista.

Cook informa, e a mídia conserva-dora omite, que em Teerã existem seisaçougues que vendem carne kosher,uma carne especial que segue os pre-ceitos recomendados pela religião ju-daica. No Irã funcionam regularmente30 sinagogas. O Parlamento iranianotem representantes judeus eleitos.Apesar da intensa propaganda no sen-tido de os judeus iranianos emigrarempara Israel, de outubro de 2005 a se-tembro de 2006 apenas 152 dos 25 mildeixaram o país, emigração feita porrazões econômicas e não políticas, re-vela o jornalista Cook.

Recentemente, o “anti-semita”, naconcepção sionista, presidente Ahma-dinejad fez doações financeiras paraum hospital judaico de Teerã. Cook nãorevelou o valor da doação.

Os judeus iranianos podem não termuita influência na esfera governamen-tal ou militar, mas desfrutam de liber-dades que os palestinos, tanto os quevivem em Israel como nos territóriosocupados, não têm.

Vale a pena conhecer o pensamen-to de Ciamak Moresadegh, um líder dacomunidade judaica iraniana, sobre al-gumas questões relevantes. É ele quemdiz que “se você pensa que o judaísmoe o sionismo são a mesma coisa, é omesmo que imaginar que o islã e o tali-bã são uma coisa só”.

Mas, como estas informações sãopraticamente ignoradas pela mídia oci-dental, o regime iraniano e Ahmadine-jad continuarão sendo apresentadoscomo perigosos e em preparativos para“riscar Israel do mapa”. Enquanto isso,George W. Bush, Condoleezza Rice,Shimon Peres e Ehud Olmert serãoapresentados pelo esquema do barãomidiático Rupert Murdoch como osdefensores do Ocidente.

Ahmadinejad: um mundo sem Sionismo

Paz: líder judeu e o presidente do Irã

Fotos: www.iranjewish.com/pic.htm

Ano II – número 14 – setembro/2007 23http://sisejuferj.org.br

Exclusão Doutrina do Império inspira métodos policiais no Rio

O verdadeiro choque de civilizaçõesLeonardo Boff*

A expressão “choque de civiliza-ções” como formato das futuras guer-ras da humanidade foi cunhada pelofracasssado estrategista da Guerra doVietnã Samuel P. Huntington. ParaMike Davis, um dos criativos pesqui-sadores norte-americanos sobre te-mas atuais como “holocaustos colo-niais” ou “a ameaça global da gripeaviária”, a guerra de civilizações sedaria entre a cidade organizada e amultidão de favelas do mundo.

Seu recente livro Planeta Favela(2006) apresenta uma pesquisa minu-ciosa (apesar da bibliografia ser qua-se toda em inglês) sobre a favelizaçãoque está ocorrendo aceleradamentepor todas as partes. A humanidadesempre se organizou de um jeito quegrupos fortes se apropriassem da Ter-ra e de seus recursos, deixando gran-de parte da população excluída. Coma introdução do neoliberalismo a par-tir de 1980 este processo ganhou livrecurso: houve uma privatização de qua-se tudo, uma acumulação de bens eserviços em poucas mãos de tal montaque desestabilizou socialmente os pa-íses periféricos e lançou milhões e mi-lhões de pessoas na pura informalida-de. Para o sistema, eles são “óleo quei-mado”, “zeros econômicos”, “massasupérflua” que sequer merece entrarno exército de reserva do capital.

Essa exclusão se expressa pela fa-velização que ocorre no planeta intei-ro na proporção de 25 milhões depessoas por ano. Segundo Davis,78,2% das populações dos países po-

bres é de favelados (p.34). Dados da CIA,de 2002, davam o espantoso número de1 bilhão de pessoas desempregadas ousubempregadas favelizadas. Junto com afavela vem toda a sorte de perversida-des, como o exército de milhares de cri-anças exploradas e escravizadas, comoem Varanasi (Benares) na Índia na fabri-cação de tapetes, ou as “fazendas derins” e outros órgãos comercializadosem Madras ou no Cairo e formas inima-gináveis de degradação, onde pessoas“vivem literalmente na m”(p.142).

Ao Império norte-americano nãopassaram desapercebidas as conseqü-ências geopolíticas de um “planeta defavelas”. Temem “a urbanização darevolta” ou a articulação dos faveladosem vista de lutas políticas. Organiza-ram um aparato MOUT (Military Ope-rations on Urbanized Terrain: opera-ções militares em terreno urbaniza-do) com o objetivo de se treinaremsoldados para lutas em ruas labirínti-cas, nos esgoto, nas favelas, em qual-quer parte do mundo onde os interes-ses imperiais estejam ameaçados.

Será a luta entre a cidade organi-zada e amedrontada e a favela enfu-

recida. Um dos estrategistas diz fria-mente: “as cidades fracassadas e fero-zes do Terceiro Mundo, principalmen-te seus arredores favelados, serão ocampo de batalha que distingüirá oséculo XXI; a doutrina do Pentágonoestá sendo reconfigurada nessa linhapara sustentar uma guerra mundial debaixa intensidade e de duração ilimi-tada contra segmentos criminalizadosdos pobres urbanos. Esse é o verdadei-ro choque de civilizações” (p.205).

Será que os métodos usados recen-temente no Rio de Janeiro com a mili-tarização do combate aos traficantesnas favelas, com verdadeiras execuções,já não obedece a esta estratégia, inspi-rada pelo Império? Estamos entre ospaíses mais favelizados do mundo, efei-to perverso provocado por aqueles quesempre negaram a reforma agrária e ainclusão social das grandes maioriaspois lhes convinha deixá-las empobre-cidas, doentes e analfabetas. Enquantonão se fizerem as mudanças de inclu-são necessária, continuará o medo e orisco real de uma guerra sem fim.

*Escritor e teólogo.

Caveirão da Ford: a luta do século XXI será entre a cidade e a favela enfurecida

http://www.amnesty.org/images/resources/air2006/presspreview/Brazil.jpg

24 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br

Mulheres O problema é uma questão de saúde pública, sem hipocrisia

a luta pela vida da mulher bra-sileira defendemos a legaliza-ção do aborto. O Brasil é umEstado laico, e sendo assimtem o dever de lidar com este

problema como questão de saúde pú-blica. A solução para a questão doaborto não está na criminalização dasmulheres que o realizam, mas na com-preensão das razões que as levam aesta decisão, que seguramente não éuma decisão fácil. A sociedade brasi-leira precisa conhecer as razões queestão por trás dessas decisões, parasuperar a postura hipócrita diantedesta realidade.

As clínicas de aborto clandestinaslucram muito com esta política hipó-crita. Segundo dados da ONU, estasclínicas são hoje a terceira atividademais lucrativa no país, perdendo ape-nas para armas e drogas.

Concepções religiosas sobre omundo e sobre a vida não podem sesobrepor a um problema público epolítico a ser enfrentado e soluciona-do pelo Estado. Mesmo na Itália, ondese situa o Vaticano, sede da IgrejaCatólica, a legalização do aborto foiconquistada pelo conjunto das mu-lheres italianas.

Ao aprovar a legalização do abor-to enquanto política pública o Estadonecessita ampliar o serviço de preven-ção, assim como de educação sexual.

Legalizar o aborto é defender a vidaComitê de Luta pela

Legalização do Aborto*É necessário mais investi-mento em Saúde e Educa-ção, para garantir melho-res condições de vida paraas mulheres brasileiras. Éimportante a distribuiçãogratuita de contracepti-vos, com informação eatendimento continuadonos serviços de saúde, as-sim como é importantedesenvolver programasadequados de educação se-xual nas escolas, para con-tribuir na diminuição dosíndices de abortamento.

Os países em que oaborto está legalizado,onde o nível educacional éalto e a oferta de métodos contracep-tivos extensa, possuem as menorestaxas médias de abortamento porano. Este é o caso da Bélgica, Alema-nha, Holanda e França, onde esta taxaé de menos de 10 por mil mulheres.Na América Latina, região com as leismais restritivas, menor nível educaci-onal e onde é pior a qualidade dosserviços de saúde, esta taxa é de 37por mil mulheres. No Brasil, em tor-no de 30% das gestações terminamem abortamento e as estimativas di-zem que todos os anos ocorrem 1,4milhão de abortamentos espontâne-os e/ou inseguros.

Lutamos para que, junto com a le-galização do aborto, seja cumprida,em todo o território nacional a Lei dePlanejamento Familiar, sancionada

em 1996. Deste modo as mulheresterão condições inclusive de garantiruma maternidade segura, com quali-dade de pré-natal, parto e atendimen-to no puerpério.

Não queremos, para o país, umapolítica de mero controle da natalida-de, voltada para mulheres pobres enegras. Não queremos mais ver nopaís mulheres tendo as trompas liga-das, inclusive em hospitais públicos,sem sua autorização. E não queremosmais ver mulheres pobres com váriosfilhos, batendo de hospital em hospi-tal buscando uma ligação de trompassem conseguir.

Estamos lutando sim em defesa davida! Não queremos mais ver mulhe-res deixando de viver em conseqüên-cia de abortos mal feitos. E, tampou-co, queremos ver mulheres perderema vida em conseqüência da gravidezou de um parto no momento em queescolheram ser mães.

*Rio de Janeiro.

N

Sexta-feira, 28 de setembro –11h – Salão Nobre da OAB-RJRua Marechal Câmara, 150 – Castelo – Rio de Janeiro – RJ

Ato público no Largo da Carioca das 11h às 15h

Lançamento do Comitê de Luta pela Legalização do Aborto

Ano II – número 14 – setembro/2007 25http://sisejuferj.org.br

Tia Zezé, que mora em Caixa Pre-go do Mato de Dentro, telefonou in-trigada querendo saber, afinal de con-tas, o que eu achava do tal Movimen-to Cansei. Tia Zezé não tem Internete ainda se comunica por carta e ore-lhão. Primeiro ela pensou que fosseuma campanha publicitária da Philipspara recuperar espaço no mercadobrasileiro. Depois, quando viu o elen-co, com Ana Maria Brega, Ivete SemGraça, Regininha Tô com Medo Duar-te e Hebe Tutankhamon Queops Ca-margo, achou que só podia ser cam-

Esse negócio tem cheiro de marcha de 64Fulgêncio Pedra Branca

*Fulgêncio é alcoótra, hipocondríaco e escreve de graça para esta páginapor falta de coisa mais útil para fazer.

íba para dar coça com vara de marme-lo nas breguetes cansadas.

“Estão cansadas de quê, meu fi-lho?”, esbravejou tia Zefinha. “A Re-gina de ser estrela da ditadura en-quanto o cacete descia no lombo dagente? A Hebe tá cansada de ser ga-rota propaganda do Maluf? A Ivete,com a morte do painho, deve ter can-sado de puxar o saco dos herdeirosMagalhães, gente de grande carátercomo ela mesmo disse? E Ana Mariatá cansada de ganhar 2 milhões daGlobo e perder no Ibope para dese-nho animado de outra emissora?”

E tia Zefinha continuou: “Este pes-soal tá cansado de quê? De sonegarimposto? De pagar mal ao trabalha-dor? De viajar para a Europa? De man-dar e desmandar no país, igual na épo-ca do Mequetrefe da Sorbonnne quevendeu o patrimônio público a preçode banana? Cansados? Não nos fazemfalta, que embarquem para Miami,junto com a Athina Onassis, que é amusa do cansados!”

É, tia Zefinha não tem Internet masé espírita-vidente. É velha como omundo, mas não perdeu o juízo. E eutenho que assinar embaixo.

panha de agência funerária. Mascomo publicitário pensa que é gênioe a mídia é capaz de vender Tiriricacomo artista e Angélica e Xuxa comocantoras, tia Zezé, Zefinha para os ín-timos, ponderou que talvez se tratas-se de uma campanha dos cansadoscom a terceira divisão, estilo Flumi-nense na década de 90.

Quando eu expli-quei que este negó-cio era uma tentati-va de reeditar a TFPe aquelas malfada-das marchas pró-ditadura de 64, e queas “estrelas” decadentescombinaram o seu cachê nocasamento da filha do picoléde Chuchu Alck-min, fato docu-mentado pela edu-cativa Caras, tiaZefa quis sair dointerior da Pinda-

Edmundo não assinou o manifestodo Movimento Cansei, que diz que osricos estão cansados de pagar imposto,mas podia. Saiu no jornal Lance, do Riode Janeiro, que ele estaria pau da vidacom a direção do Palmeiras porque nãocumpriu o acordo da diretoria. Teriamcombinado com o jogador pagar o salá-rio “por fora” para que ele não pagasseimposto... É mole? Aí João Dória, cha-ma o Animal para o palanque.

Edmundo cansou

26 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br

Ano II – número 14 – setembro/2007 27http://sisejuferj.org.br

28 Ano II – número 14 – setembro/2007http://sisejuferj.org.br