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Ano I Nº 3 setembro de 2007

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Budô Newsletter

Apresentação

O Budô pode ser traduzido como “o caminho do guerreiro e da atividade iluminada”.

No Budô, as artes marciais e a espiritualidade se fundem no mais alto nível do conhecimento.

O propósito da Budô Newsletter é levar até você os ensinamentos essenciais do Budô, oferecidos pelos maiores mestres de diversas artes marciais como o Karatê, o Kendô, o Judô, o Jiu-Jitsu, o Aikidô, dentre outras.

O conhecimento existente nesse trabalho é realizado não só para os praticantes das artes marciais, mas também para quem busca viver em harmonia consigo e com os outros.

Estudiosos do Budô têm como objetivo conhecer a si mesmo, tornando-se seres humanos melhores, de caráter, e é através do aperfeiçoamento pessoal que conseguem alcançar uma paz interior inabalável.

A Budô Newsletter é uma publicação trimestral e sua publicação ocorre nos meses de março, junho, setembro e dezembro. O intervalo entre uma publicação e outra se faz necessário para que possamos nos aprofundar nos estudos de forma que você sempre receba informações corretas, precisas, imparciais e com a qualidade merecida.

Boa leitura e até a próxima!

Carlos Camacho [email protected]

A palavra japonesa budo compõe-se de dois caracteres. Embora o caractere bu geralmente seja traduzido por “marcial”, os componentes originais desse ideograma têm o sentido de “parar o conflito com armas”, o que implica, exatamente, restaurar a paz. Bu também pode ser interpretado como “ação de valor”, “modo corajoso de viver” e “compromisso com a justiça”. Do significa o Tao, “o Caminho para a verdade”, “a Vereda para a libertação”. Os dois conceitos se juntam para formar Budô, “o Caminho para ações de coragem e de iluminação”.

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S U M Á R I O

Miyamoto Musashi 04 O livro da Água

Yoshitaka Funakoshi 15 O criador das técnicas modernas do Karate-do japonês

Entrevista com o Sensei 18 Sensei Li

Textos relacionados 20 Documentos diversos

Sobre a Budô Newsletter 39 O Caminho para encontrar as próximas edições

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Miyamoto Musashi

O livro da Água

O Livro da Água

O espírito da Escola Niten-Ichi é baseado na água, e assim denomino este capítulo de Livro da Água. Aqui explico como alcançar a vitória pelo método de manejar a espada longa adotado por nosso estilo. Não será possível traduzir em palavras todos os detalhes do que quero transmitir, mas na falta delas o trabalho intuitivo será a ferramenta para o entendimento. Dessa forma, tudo o que aqui estiver registrado deve ser assimilado, palavra por palavra, letra por letra, sempre acompanhado de reflexão cuidadosa.

Uma leitura apressada e superficial esconde o perigo de desviá-lo do caminho intencionado. Embora aqui se detalhe o combate individual homem a homem, é importante potencializar a mente com uma ampla visão para aplicar os mesmos fundamentos numa batalha entre dois exércitos de 10 mil homens. Neste Caminho especialmente, existe o perigo de desvio no aprendizado, que mesmo sendo mínimo poderá trazer péssimas consequências. Só a simples leitura deste livro não conduzirá ao verdadeiro aprendizado das estratégias de luta. Considere este registro como o guia-mor e não se limite apenas em lê-lo, memorizá-lo ou simplesmente simular os movimentos descritos nele, mas procure incorporá-lo e interiorizar seus ensinamentos. Se assim o fizer, chegará um dia em que sua força parecerá a extensão única de seu próprio espírito.

Postura espiritual na estratégia militar

Segundo os princípios da estratégia, o estado espiritual do guerreiro em combate não deve estar diferente do que é nos dias normais. Tanto no cotidiano como nos momentos de luta, o espírito precisa permanecer inalterado, alerta, perfeitamente equilibrado e tranquilo, sem ficar tenso ou relaxado demais. Nunca se permita paralisar, conserve o espírito sempre libre, mas de prontidão. Mesmo com o corpo relaxado em situações de repouso, mantenha o espírito alerta e, quando o corpo estiver agitado, o espírito deve permanecer tranquilo. Do mesmo modo que o espírito não segue o corpo, o corpo não deve ser levado pelo espírito. Fique atento mais ao espírito do que ao corpo. O espírito deve estar totalmente presente, mas sempre sereno e sem excessos. Mesmo que você pareça fraco por fora, o espírito deve se manter forte por dentro, e nunca deixe transparecer para o inimigo seu interior.

O lutador de corpo pequeno deve estar familiarizado com as grandezas do espírito, e aquele de corpo grande deve conhecer todas as minúcias do espírito. Mas tanto o pequeno quanto o grande devem ostentar o espírito correto, assumindo sempre uma atitude imparcial em relação aos outros e a si mesmo. Conserve o espírito limpo, aberto, com a sabedoria firmada por amplos horizontes. É de suma importância polir a mente e a alma. Afie o conhecimento, aprenda a discernir entre o justo e o injusto, o bem e o mal, vivencie os diferentes Caminhos para conhecer as outras manifestações de arte, e assim ficar imune aos que tentarem iludí-lo. Só então estará apto a conhecer a verdadeira sabedoria da estratégia militar – que trará o poder do discernimento. Assim, mesmo em um momento conturbado de combate, por meio dos princípios da estratégia o espírito estará firme e inabalável. Reflita bem sobre isso.

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O livro da Água

Postura corporal na estratégia militar

A postura corporal correta é de vital importância. A cabeça deve ficar erguida, sem inclinar para a frente, para trás, para os lados ou ficar retraída. O olhar precisa estar concentrado, sem enrugar a fronte, só as sobrancelhas levemente contraídas. Os olhos devem estar firmes e semicerrados para não piscar; o rosto, sereno, e o nariz, em linha reta, com o queixo ligeiramente levantado. Não flexione a nuca, distribuindo o peso por igual em todo o corpo, ombros relaxados, coluna reta. Sem empinar o traseiro, sustente o corpo com a força concentrada nos joelhos até a ponta dos pés e contraia o abdômen para dar firmeza aos quadris. A bainha da espada curta, wakizashi, deve ser fica na cintura, firme de encontro ao ventre para evitar que a faixa se afrouxe, como ensina a lógica de “apertar a cunha”. Resumindo, é preciso manter a postura de combate mesmo no dia-a-dia, ou seja, a postura cotidiana deve ser a mesma da de combate. Estude minuciosamente todos esses ensinamentos.

A visão na estratégia militar

A visão deve ser a mais ampla e aberta possível. Há duas formas de ver: com os olhos e com a percepção. Enquanto o olhar da percepção é poderoso, os olhos apenas nos dão uma visão limitada da realidade. É muito importante olhar o longe como se estivesse perto e o perto como se estivesse longe.

Conhecer a espada do inimigo, sem que seja necessário seguir cada movimento dela, é essencial na estratégia militar e exige muito preparo. O olhar deve ser o mesmo em combates individuais e em grandes batalhas. É preciso também ter habilidade para enxergar ambos os lados sem mover os olhos. Não é fácil, porém, aplicar tudo isso na urgência do momento. Será necessário estudar essa prática com cuidado, incorporar esse tipo de visão ao seu cotidiano de forma que ela seja sempre a mesma em qualquer circunstância. Reflita muito sobre isso.

Como segurar a espada longa

Segure a espada longa entre o polegar e o indicador, deixando-os flexíveis. O dedo médio não pode estar muito apertado nem muito frouxo, e os dedos restantes envolvem o cabo com firmeza. Não pode haver folga entre a palma da mão e a empunhadura. Segure a espada como se fosse realmente cortar um inimigo. Ao golperar o adversário, a palma da mão deve continuar na mesma posição e estar maleável para qualquer movimento, sem endurecer. Quando tiver que interceptar, desviar, prender ou golpear a espada do oponente, altere só um pouco a pressão na pegada do polegar e do indicador, com a firme intenção de cortar o inimigo. Seja nos “cortes para teste”, seja num combate real, não deve haver diferença na maneira de segurar a espada, que sempre terá como finalidade última cortar um homem. De qualquer forma, nem a espada nem as mãos devem ficar rígidas. A rigidez significa que as mãos estão mortas. A flexibilidade lhe dá vida. Tenha sempre isso em mente.

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Movimentação dos pés

Concentre o peso nos calcanhares e deixe leves as pontos dos pés. Mesmo levando em conta as diferenças no tamanho ou na velocidade dos passos que cada ocasião exige, o movimento dos pés deve sempre seguir o ritmo do caminhar.

Eles não devem ficar saltando, flutuando, nem podem estar muito presos ao chão. Os passos, no Caminho da estratégia, devem ser feitos de acordo com os princípios do Yin e do Yang. Nele, um pé nunca se movimenta independentemente do outro. Na hora de golpear o oponente, recuar dele ou mesmo aparar seu golpe, a transferência de peso da esquerda para a direita e da direita para a esquerda deve ser feita com base no conceito de cheio e vazio do Yin-Yang. Repetindo, nunca mova apenas um pé de forma autônoma. É necessário refletir sobre isso.

As cinco posições de guarda

Existem apenas cinco posições que são: alta (espada acima da cabeça), média (espada na altura do rosto), baixa (ponta da espada para baixo), lateral direita e lateral esquerda. Apesar de separadas em cinco diferentes posturas, todas elas têm uma só finalidade – golpear o inimigo. Qualquer que seja ela, não se preocupe tanto com a correção da forma, e sim em atingir o oponente. A maior ou menor guarda da postura será determinada pelas circunstâncias do momento. As posições alta, média e baixa são básicas. As laterais têm aplicação adaptável a cada situação, sendo usadas quando não há espaço suficiente acima da cabeça e um dos lados está obstruído. A escolha entre esquerda vai depender do local. No Caminho da estratégia, tenha sempre em mente que a posição mais importante a ser compreendida é a do meio, por ser a essência da estratégia. Ela é a origem de todas as posições. Aplicando-as à formação militar, a média corresponde à do general de exército, que é flanqueado pelas outras quatro posições. Reflita profundamente sobre isso.

O caminho da espada longa

Conhecer o Caminho da espada longa significa conseguir dominar a sua trajetória natural a ponto de guiá-la livremente com os dois dedos, subjugando-à a sua vontade. Porém, quando se busca a rapidez além dos limites, há o perigo de contrariar o Caminho, o que pode acarretar dificuldades no manejo da espada. O espírito deve estar calmo, e o ritmo da espada longa deve ser respeitado. Não se pode querer brandi-la com a rapidez do movimento que se tem ao usar um leque ou um facão curto, porque isso contraria a própria natureza da espada longa. Esse tipo de técnica não o ajudará numa luta, na hora de cortar um inimigo real.

Para golpear verticalmente, levante bem a espada longa até uma altura adequada. Para o golpe lateral, volte com a espada na mesma trajetória lateral até o ponto mais apropriado, com os cotovelos bem abertos, e golpeie com força. Esse é o Caminho da espada longa. Quando compreender bem o uso das cinco posturas de guarda da nossa escola, terá aprendido a natureza da espada longa e dominado o seu manuseio. Mas para isso será necessário uma prática constante.

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Sequência de movimentos das cinco posições

A primeira posição de guarda é a média. Com o inimigo diretamente à sua frente, direcione a ponta da espada para o rosto dele. Ao ser atacado, leve sua espada para a direita e “monte” sobre a espada inimiga. Quando ele tentar novo ataque, pressione a ponta de sua espada contra a espada adversária e empurre-a para baixo, mantendo-a nessa posição.

Numa nova tentativa de ataque, corte as mãos do oponente com um golpe de baixo para cima. Essa é a sequência da primeira posição. De qualquer forma, é impossível compreender na totalidade a base das cinco posições de guarda apenas com uma descrição escrita. Será preciso que elas sejam continuamente praticadas, segundo os princípios da espada longa aqui registrados. Uma fez aprendida a lógica das cinco posições, você estará em condições de entender o Caminho de sua própria espada, bem como antever a trajetória da espada inimiga. Insisto em dizer que na Escola Nitô não há outras posições de guarda além das cinco descritas aqui, mas para compreendê-las será necessário muita dedicação.

A segunda posição de guarda é a alta, na qual a espada deve ficar acima da cabeça. Dessa posição, golpeie o oponente no exato momento em que ele começa a atacar. Se o golpe não atingí-lo, deixe a espada na posição em que ficou e golpeie de baixo para cima no momento em que ele atacar novamente. Continue com esse mesmo procedimento nos ataques subsequentes. Para executar bem as posições descritas aqui, mesmo em situações psicológicas adversas ou ritmos diferentes, será necessário treinar bastante seguindo os preceitos da Escolha Ichi. O conhecimento detalhado e completo das cinco posições da espada longa o levará de uma forma ou de outra à vitória, mas é preciso haver constância e dedicação nos treinamentos.

A terceira posição de guarda é a baixa, quando se deve manter a ponta da espada para baixo como se estivesse carregando algo com a mão. Ao avanço do inimigo, procure golpear suas mãos num golpe de baixo para cima. Nessa hora, ele pode tentar derrubar a espada de suas mãos com um golpe descendente. Mude então o alvo, procurando atingir o braço num golpe horizontal. A posição baixa consiste em dar um golpe certeiro de espada de baixo para cima no exato instante em que o inimigo avança. Essa técnica pode ser usada tanto no começo como nos estágios mais avançados do aprendizado do Caminho da espada, mas primeiro treine bastante para poder sustentar a espada longa com desenvoltura.

A quarta posição é a lateral esquerda. Posicione a espada no seu lado esquerdo e golpeie as mãos do inimigo cortando de baixo para cima. Se nessa hora ele tentar derrubar sua espada, apare seu golpe e em seguida dê um contragolpe, levando a espada acima da altura do ombro e baixando-a em diagonal. Esse também é o Caminho da espada, quando se vence o ataque inimigo com um rápido contragolpe.

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A quinta posição é a lateral direita. Posicione a espada no lado direito do corpo e, ao interceptar o ataque inimigo, erga a espada obliquamente da lateral baixa até acima da cabeça e contra-ataque, golpeando o adversário frontalmente de cima para baixo. No Caminho da espada, é muito importante conhecer bem essa posição. Quando dominá-la bem, já estará acostumado ao peso da espada longa e conseguirá manejá-la com desenvoltura.

Não vou descrever aqui todos os detalhes da execução das cinco posições de guarda. O importante é que conheça os princípios gerais da espada longa ensinados em nossa escola, compreenda as noções de tempo, saiba identificar o estilo de espada adotado pelo inimigo e treine diariamente com afinco para aprimorar a sequência de movimentos das cinco posições. Quando estiver enfrentando um inimigo, compreenda a real natureza da espada longa para dominar sua trajetória, perceba de antemão as intenções do inimigo e imponha ritmos diferentes nos movimentos. Assim a vitória estará assegurada.

O princípio da forma da não –forma

A forma da não-forma, ou Ukô-Mukô, a princípio quer dizer que não deve haver uma forma rígida ou sequência predeterminada a ser seguida. Já expliquei sobre as cinco posições de guarda, que não deixam de ser formas determinadas, mas o mais importante é adaptá-las de acordo com a ação do inimigo, o local, a posição e o ambiente para alcançar o objetivo único – cortá-lo.

Dependendo das circunstâncias, a espada acima da cabeça da posição alta poderá ser baixada um pouco até chegar à posição média, e esta, do mesmo modo, pode voltar à original, levantando-se de leve a espada. Igualmente, se ela for levantada um pouco acima da posição baixa, poderá assumir a média. Se das posições laterais direita e esquerda levarmos a espada um pouco na direção do centro, elas se tornam posições média ou baixa.

Esse é o princípio do Ukô-Mukô, ou seja, a forma não pode ser rígida, devendo ser adaptada conforme a situação. Uma vez com a espada nas mãos, o único objetivo deve ser cortar o inimigo de qualquer maneira. Quando sob ataque estiver interceptando, desviando, empurrando a espada inimiga ou resistindo a ela, pense apenas em cortar o adversário. Se nessa hora ficar preocupado em “como” interceptar, “como” desviar, “como” empurrar ou “como” resistir, acabará perdendo o momento certo de agir e falhará. É essencial concentrar o pensamento apenas em cortar, deixando o corpo agir sozinho.

Em escala militar, a disposição das forças no campo de batalha também pode ser considerada uma posição de guarda, e tudo é válido na busca da vitória. Só a imobilidade é reprovável. Reflita cuidadosamente sobre isso.

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Golpear o inimigo em um único tempo

Quando estiver próximo do inimigo o suficiente para atingí-lo com a espada, golpeá-lo “num único tempo” consiste em, sem mover o corpo nem preparar o espírito, dar um golpe rápido e certeiro enquanto ele está desprevenido. O tempo que impossibilita qualquer reação, como recuar, desviar ou atacar, é o que chamo de “golpe de um tempo”. É necessário muito treino até atingir a velocidade exigida por esse golpe.

Golpe de dois tempos com os quadris

Numa situação em que o inimigo recuar rapidamente ao seu ataque e assumir uma posição de defesa, primeiro finja a finalização do golpe. Em seguida, aproveite o breve instante de relaxamento do seu oponente, que virá após a tensão da defesa ao primeiro ataque, e quebre o seu ritmo num rápido contra-golpe. A isso chamo de “golpear em dois tempos”. É difícil dominar essa técnica apenas com a leitura, mas chegará facilmente à sua compreensão com algumas instruções práticas.

Golpeando com o inconsciente

No momento em que ambos iniciarem o ataque, prepare corpo e espírito para atacar, mas, sem planejar primeiro como agir, deixe o Vazio comandar suas mãos num golpe rápido e forte. Este é o Munen-Musô, ou golpe do inconsciente, uma das principais técnicas de combate. Ela deverá ser utilizada com muita frequência e, portanto, é importante que seja muito bem compreendida e praticada.

Golpe da água que flui

Num confronto direto espada contra espada, quando o inimigo tentar recuar, desviar ou desembaraçar-se com muita rapidez, engrandeça corpo e espírito e, assim como a água represada do rio diminui sua velocidade, mude o ritmo e golpeie o oponente o mais lentamente possível com toda a força. A isso chamo “golpe da água que flui”. Se for capaz de usá-lo, a vitória estará ao seu lado. Mas antes deve avaliar bem o nível de seu adversário.

Golpe contínuo

Ao atacar o inimigo, se ele tentar interceptar ou desviar do seu golpe, atinja-o com um só golpe na cabeça, mas mãos e nas pernas. O “golpe contínuo” consiste em acertar várias partes do corpo do oponente utilizando a trajetória da espada num único movimento. É aconselhável treinar essa técnica de ataque constante e insistentemente, uma vez que sua aplicação é bem frequente.

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Golpe da faísca da pedra

O golpe da faísca de pedra consiste em bater com toda a força sua própria espada, sem levantá-la, contra a do inimigo no exato momento em que elas se chocam. Isto é, golpear com rapidez usando toda a força das pernas, do corpo e das mãos. Sem um treinamento constante, será difícil aplicar esse golpe com eficácia, e só com muita dedicação chegará à força necessária.

Golpe Momiji

O golpe Momiji consistem em derrubar a espada do inimigo e reassumir a posição de guarda inicial. Quando ele estiver à sua frente com a intenção de golpear, desviar ou aparar, você deve preparar o espírito para o Munen-Musô ou mesmo o golpe da faísca de pedra, bater forte contra a espada dele e, sem perder contato, pressionar para baixo a ponta da espada. Isso com certeza fará o inimigo largar sua arma. Com a devida prática, conseguirá derrubar a espada adversária facilmente. É preciso, porém, treinar com afinco.

Golpe do corpo que substitui a espada

Poderia também se chamar golpe da “espada que substitui o corpo”. Geralmente o corpo acompanha o movimento da espada quando se golpeia o inimigo. Entretanto, dependendo do ataque adversário, é possível primeiro jogar o corpo à frente em ataque e depois desferir o golpe. Se o oponente permanecer imóvel, começa-se o ataque cortando primeiro com a espada, mas em geral é o corpo que deve avançar antes do golpe ser desferido. Reflita bem sobre isso e treine esse movimento.

Golpear e cortar

Golpear e cortar são duas coisas distintas. Quando se dá o golpe, qualquer que seja ele, o espírito deve estar determinado e resoluto. Ao passo que “cortar” não é mais do que um toque sobre o inimigo. Mesmo quando o corte é profundo e o oponente acaba morrendo, ainda assim é apenas um corte.

Já o golpe é um ato consciente de abater o inimigo. Cortar-lhe as mãos e os pés é o mesmo que tocar. Esse toque inicial deve ser seguido pelo golpe forte e decidido. Treine bastante até conseguir distinguir com facilidade a diferença entre golpear e cortar, dominando seus conceitos.

Corpo de Shukô

O corpo de shukô é o espírito de nunca avançar com os braços. Ao atacar, avance rapidamente com o corpo sem estender os braços, adiantando-se ao inimigo antes que ele comece a atacar. Se existe a necessidade de estender os braços, o alvo está distante demais, e por isso mesmo o corpo todo deve ser deslocado. Quando o oponente estiver no seu campo de ação, será ainda mais fácil avançar com o corpo. Esse é mais um aspecto a ser cuidadosamente estudado.

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Corpo de laca e cola

Esta técnica consiste em colar seu corpo ao do adversário sem permitir que ele se afaste. Faça-o de corpo inteiro, grudando fortemente cabeça, tronco e pernas ao oponente.

A tendência geral é avançar rápido só com a cabeça e as pernas, esquecendo-se do tronco. O certo, porém, é colar firmemente seu corpo ao do inimigo sem deixar nenhuma fresta entre eles. Reflita bem sobre isso e pratique.

Vencendo pela estatura

A técnica de vencer pela estatura consiste em avançar contra o inimigo sem encolher o corpo. Alongue ao máximo pernas, quadril e pescoço, emparelhando seu rosto com o dele. O importante é distender seu corpo ao extremo para ganhar mais altura e avançar com força contra o inimigo, subjugando-o. Pratique essa técnica.

Técnica de aderência

Nesta técnica, deve-se aparar o ataque do inimigo com um contragolpe e colar espada com espada, mantendo esse contato. Ao avançar, não deixe que elas se separem e procure controlar a força, que não pode ser exagerada.

O segredo é manter o contato da espada e pressionar com toda a tranquilidade. Colar é direrente de enroscar. Colar traz a força, enroscar é sinal de fraqueza. Aprenda a distinguir entre essas duas situações.

Golpe com o corpo

Golpear com o corpo significa aproximar-se do inimigo por uma abertura em sua guarda e atacar com o corpo. Com o rosto virado um pouco de lado, bata o ombro esquerdo no peito do inimigo. Esse golpe deve ser aplicado com muita força, saltando com a velocidade de uma flecha sobre o adversário. Se bem executado, esse ataque é capaz de lançar seu oponente a 4 ou 5 metros de distância e pode fazê-lo perder a consciência. Treine bastante essa técnica.

Três formas de defesa

Há três maneiras de defender-se de um ataque inimigo: - Posicione a ponta da própria espada na direção dos olhos do oponente como se

fosse furá-los e intercepte sua espada desviando-a para a direita; - Intercepte o golpe da espada inimiga como se fosse espetar seu olho direito e

cortar-lhe o pescoço com uma tesourada; - Deixe a espada inimiga seguir sua trajetória enquanto, com a espada curta na

mão esquerda, tenta cortar-lhe a face. Golpeie como se fosse dar um soco com o punho cerrado no rosto do adversário.

É preciso muito treino para dominar essas técnicas.

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Apunhalar a face

Esta tática consiste em concentrar no espírito o firme propósito de apunhalar a face do inimigo no momento do confronto das espadas, aproveitando o espaço deixado entre elas. Se o avanço for firme e decidido, o adversário, na tentativa de evitar o golpe, quebrará sua postura de guarda e deixará rosto e corpo vulneráveis. Com um oponente vulnerável surgem várias oportunidades de vencer. Concentre-se nesse ponto. Durante um combate, deixar o inimigo vulnerável é o caminho rápido para a vitória. Portanto, nunca se esqueça de avançar contra o rosto dele. Nos treinamentos de arte marcial, é importante exercitar essa tática para tirar vantagem dela.

Apunhalar o coração

A técnica de apunhalar o coração aplica-se quando há obstáculos acima e nos lados e fica difícil atingir o oponente.

Com a intenção de desviar a espada inimiga, estenda a espada longa com o dorso para cima à vista do adversário. Em seguinda, aplique uma estocada no coração, tomando cuidado para que a ponta dela não flexione. Essa tática é útil em momentos de cansaço físico ou quando, por algum motivo, sua espada longa já estiver cega nas laterais. Aprenda a aplicação correta desse método.

Gritar “Katsu!” “Totsu!”

Katsu e totsu são fortes emissões vocais usadas para revidar o contragolpe do inimigo encurralado depois de um ataque.

Aplica-se um rápido corte de baixo para cima gritando: “Katsu! Totsu!” Ou melhor, mova a espada gritando katsu e, na hora de cortar, grite totsu. Esse tempo rápido é muito utilizado nas trocas de golpes. O segredo dessa técnica é levantar a espada e cortar num único golpe. O movimento de levantar e cortar num tempo só deve ser treinado repetidas vezes até que se consiga captar seu tempo.

Bloqueio com Golpe

Se, durante uma troca de golpes com o inimigo, o ritmo de combate se tornar confuso, bloqueie o ataque dele batendo forte contra sua espada e finalize com mais um golpe rápido. A intenção da pancada não é desviar nem golpear com força, mas sim contrapor sua espada com energia proporcional ao ataque inimigo e rapidamente dar outro golpe. O importante é adiantar-se tanto no bater quanto no golpear. Descobrindo o tempo certo, por mais que todo golpe do adversário seja poderoso, com um pouco de resistência sua espada jamais recuará. Pratique com constância para assimilar essa técnica.

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Enfrentar inimigos numerosos

Essa técnica se aplica quando se enfrenta sozinho muitos adversários. Primeiro desembainhe as duas espadas, a longa e a curta. Tome posição de guarda com ambas estendidas bem abertas à direita e à esquerda. Mesmo enfrentando ataques de todos os lados, procure rechaçá-los direcionando todos a um mesmo ponto. Quando iniciarem o ataque, procure perceber quem avança primeiro e quem vem depois, atacando rapidamente os que estiverem na frente, sem contudo perder o controle da situação geral. À media que eles avançam, use as duas espadas alternadamente cortando o oponente que está à frente e aproveitando para cortar os que estiverem ao lado quando puxar a espada de volta, sem desperdício de tempo e de golpe. Volte rapidamente à posição de guarda com as espadas posicionadas nos dois lados, ataque os que estiverem na frente e vá avançando para os demais que estiverem atrás. Force-os a formar uma fila, como se fosse encurralar um cardume de peixes e, na confusão que surgir durante a formação, ataque rápido com toda a força e determinação. Deve-se combater direto pela frente, sem esperar que, um a um, todos ataquem. Estude o ritmo deles, ataque nos pontos fracos e chegue à vitória. Procure treinar com um grande número de pessoas no papel de adversários e assim aprenda a melhor forma de combatê-los.

Dominando bem essa técnica, poderá enfrentar e vencer não só um como dez ou vinte inimigos juntos sem dificuldade. Pratique bastante.

Vantagens da troca de golpes

A vantagem em sr hábil na troca de golpes é que, por meio dela, pode se chegar à vitória. Como não é possível descrever por escrito todos os detalhes da boa técnica, é preciso praticar muito para reconhecer o Caminho da vitória. A tradição oral diz que “o verdadeiro Caminho da estratégia militar é revelado pela espada longa”.

Golpe único

Compreendendo o espírito do “golpe único”, a vitória estará ao seu lado. Mas não é possível apreender seu sentido sem um estudo profundo da arte militar. O treinamento constante nessa arte traz o entendimento do princípio da estratégia e, com ela, vem o Caminho da vitória. A prática é primordial.

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Comunicação direta

A comunicação direta é o método pelo qual os verdadeiros princípios da Escola Niten-Ichi serão ensinados e transmitidos. A tradição oral diz que “devemos treinar intensamente o corpo para compreender o princípio da arte militar”.

Registrei aqui em linhas gerais a técnica da espada na Escola Ichi. Para saber como vencer com a espada longa na estratégia militar, aprenda primeiro a sequência de movimentos das cinco posições e com elas as cinco posições de guarda, compreendendo com o corpo os princípios que regem o Caminho da espada.

Seu corpo deve estar maleável, o espírito, alerta, para impor o tempo adequado e assim manejar a espada com naturalidade, deixando que o corpo e as pernas se movimentem em harmonia com o espírito. Vencendo um, depois dois, com o tempo começará a entender o valor da estratégia na arte militar. Estude o conteúdo desse livro treinando item por item, lutando com inimigos e conquistando aos poucos as vantagens do Caminho da estratégia. Com determinação e paciência, absorva as virtudes do que está sendo ensinado, treinando em duelos contra adversários que, por ventura, encontre pela frente. Aprenda a reconhecer seus pensamentos. Assim, passo a passo, esse Caminho o levará a percorrer as mais longas distâncias. Considere que a prática dessa arte é um dever do guerreiro. Vença primeiro a si mesmo, depois os menos preparados e, por fim, os mais competentes.

Siga os ensinamentos deste livro, sempre alerta quanto a possíveis desvios no Caminho, porque mesmo que derrote muitos oponentes, se seu triunfo não for baseado no que foi aqui ensinado, não vai trilhar os princípios do verdadeiro Caminho.

Quano atingir a real compreensão, estará preparado para triunfar sozinho sobre dezenas de adversários. Desse modo terá dominado a arte da espada e, por consequência, a estratégia militar aplicada tanto em duelos individuais como em grandes batalhas envolvendo exércitos.

Tenha sempre em mente que, a cada mil dias de treinamento, seguem 10 mil dias de aperfeiçoamento. Reflita bem sobre isso.

Décimo segundo dia do quinto mês do segundo ano da era Shoho. 12 de maio de 1645.

Para Terao Magonojo

De Shinmen Musashi

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Yoshitaka Funakoshi

O criador das técnicas modernas do Karate-do japonês

Yoshitaka Funakoshi (1906 - 1945)

Mesmo tendo falecido jovem, antes de completar 40 anos (primavera de 1945) Gigo Funakoshi (ou Yoshitaka, dependendo de como se lê os dois Kanji que formam seu nome), o terceiro filho de Mestre Funakoshi teve grande influência no Karate moderno.

Visto que seu pai foi responsável por transformar o Karate de uma mera técnica de luta para um caminho de filosofia marcial (um modo de vida), Yoshitaka foi o responsável por seu desenvolvimento, sob a supervisão de seu pai e auxiliado por outros importantes artistas marciais, uma técnica de Karate que definitivamente distinguiu o Karate-do japonês da arte de Okinawa, dando-lhe um sabor japonês completamente diferente.

Yoshitaka começou seu treinamento de Karate formalmente quando tinha 12 anos de idade, mas muito antes ele já tinha tido contato com o Karatê. No livro de Mestre Funakoshi Karate-do: o meu modo de vida, o mestre conta como ele sempre treinava Karate com seus mestres, Y. Itosu e Y. Azato na companhia de seus filhos, eles podiam assistí-lo executando os kata, e então os mestres podiam perguntar às crianças sobre eles também.

Apesar de não possuir uma estatura alta, ele era extremamente forte para seu tamanho. Ele chegou a ser realmente um fenômeno no campo das artes marciais, atingindo um extraordinário nível técnico e a maestria do Karate-do. Ele foi considerado, e continha o sendo por muitos, o melhor karateca que já existiu, pelo menos tecnicamente e fisicamente, foi dito que Mestre Shigeru Egami considerou ele um gênio do Karate. Egami também contou como Yoshitaka treinou com seu makiwara: "Seu soco era incrível, ele tomava distância do alvo como se estivesse motando num cavalo (kiba dachi) e disparava seus socos contra o makiwara da posição na qual seus braços saiam da altura de sua cintura, sem usar muito o quadril. A potência de seus socos era inquestionável e ele avançava com todo o peso de seu corpo fazendo multiplicar essa força. Frequentemente ele quebrava o makiwara em dois.

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Yoshitaka Funakoshi

O criador das técnicas modernas do Karate-do japonês

Tendo isso como exemplo nós tentávamos sempre imitá-lo e treinávamos muito duro com o objetivo de quebrar o makiwara". ("The Way of Karate, Beyond Technique", Shigeru Egami). Existem muitas histórias sobre as façanhas de Gigo, mas atualmente é difícil distinguir o que é verdade do que é lenda.

Quando tinha apenas 7 anos, ele foi diagnosticado como sendo portador da Tuberculose, uma doença letal antes de serem descobertos antibióticos especiais, e os médicos estimaram que ele não passaria dos 20 anos de idade. Yoshitaka parecia decidido, em parte devido a sua doença, que treinaria com toda a sua energia, para atingir o nível mais alto possível na arte do Karate, antes de perder na luta contra a morte.

Sua garra e força física tornaram-se o instrumento da criação de novas técnicas. Extendendo a criação de seu pai, Gigo foi o criador técnico do Karate moderno. Assim, onde as técnicas davam ênfase ao uso e desenvolvimento dos membros superiores, Yoshitaka descobriu novas técnicas de perna, Mawashi Geri, Yoko Geri Kekomi, Yoko Geri Keage, Fumikomi, Ura Mawashi Geri [embora eu tenha sido informado de que Kase sensei foi o responsável por essa técnica] e Ushiro Geri. Tudo isso tornou-se parte do grande arsenal da antiga estilo de Okinawa. As técnicas de perna eram executadas levantando-se o joelho muito mais rápido do que nos estilos anteriores, e o uso dos quadris foi enfatizado.

Outros desenvolvimentos técnicos foram: o giro do tronco para uma posição semi-frontal (hanmi) quando bloqueamos; o giro do tronco para frente com a rotação do quadril quando atacamos, a idéia principal era desferir o ataque utilizando todo o corpo.

Yoshitaka insistiu no uso de curtas distâncias e ataques profundos, técnicas complementares, coisa que o distinguiu imediatamente do Karate de Okinawa. Ele também deu importância ao oi zuki e gyaku zuki. As sessões de treinamento eram muito exaustivas, durante elas, Gigo esperava que seus alunos dessem o dobro de energia que eles colocariam em uma luta real, assim eles estariam certamente preparados para se manter em pé numa situação real.

Mestre Gichin Funakoshi aprovou sem exceções, mesmo que o que ele ensinou, às vezes, ao menos aparentemente, contradizia o que seu filho estava ensinando. Gigo sempre foi muito respeitado pelos estudiosos do Karate e por seus alunos, além de não ver impedimento algum na evolução do até então chamado estilo Shotokan, e nunca criou conflitos entre Mestres e alunos.

Sob a liderança de Gigo grandes mudanças vieram à tona entre 1930 e 1935. A maioria delas relacionada ao kumite. Visto que seu pai deu mais enfase aos kata, Gigo desenvolveu técnicas de treinamento para a luta. Primeiro ele criou o Gohon Kumite (treino combinado com cinco ataques em avanço), um sistema semelhante ao usado no Kendo, uma arte que Yoshitaka também praticou e estudou sob a supervisão do Grão Mestre Hakudo Nakayama, de onde ele obteve importante inspiração para os futuros desenvolvimentos no Karate.

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Yoshitaka Funakoshi

O criador das técnicas modernas do Karate-do japonês

Em 1933 ele havia estabelecido o Kihon Ippon Kumite (treino combinado de um passo por vez) seguido pelo Jiyu Ippon Kumite, semelhante ao Kihon Ippon Kumite mas em movimento (Yoshitaka gostava bastante dessa forma de Kumite), e tudo isso inspirou o kata TEN NO KATA. Esse processo terminou com a luta livre, Jiyu Kumite, em 1935.

Dentre os muitos karatecas que participaram do time de treinamento e desenvolvimento envolvendo Gigo estavam Shigeru Egami e Genshin Hironishi.

Em 1936 foi publicado o livro Karate-do Kyohan, onde estavam incluídos os métodos básicos de luta mas na maioria estavam inclusas alterações nos Kata, seguindo um novo conjunto de técnicas estabelecidas. Esse livro representou claramente o nascimento do Karate-do como uma nova arte marcial japonesa, finalmente crescendo de sua herança okinawana, isso ficou muito claro ao se estabelecer a alteração do kanji para "Kara" e também pela renomeação dos Kata com nomes japoneses que soavam "bem".

Yoshitaka e Gichin Funakoshi publicaram um novo livro em 1943, Karate-do Nyumon, onde Yoshitaka disse ter escrito a parte técnica e seu pai os capítulos iniciais e a seção histórica.

Como todo mundo sabe, infelizmente para o mundo do Karate, como resultado de uma vida em condições muito difíceis durante a 2a. Guerra Mundial em conjunto com o treinamento muito duro e impiedoso, a doença que o seguiu por tantos anos levou-o a morte, assim a estrela brilhante que Gigo representou para o Karate foi extinta.

(...)

M. Gallardo. Março de 1996.

Tradução por Carlos Camacho em 23 de julho de 2007 com autorização do Sr. Mogens Gallardo. Fonte: http://www.shotokai.com/ingles/bios/yoshieng.html

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Entrevista com o Sensei

Sensei Li

João Batista Santos Silva

Desde pequeno João sempre teve uma paixão por artes marciais.

Aos 7 anos, quando um amigo o levou a uma aula de judô, ele ficou encantado.

O Dojo ficava na sede de um templo Seicho-No-Iê e João ajudava a tirar as cadeiras do templo e montar o tatame, depois da aula devolvia tudo aos seus devidos lugares. Depois de algumas aulas o Sensei entregou a João um documento e pediu que levasse para seu pai assinar. Tratava-se de uma autorização para que João pudesse começar seu treinamento.

Quando falou com seu pai, este pensou tratar-se de "coisa e criança" e disse: "-Ah, se você quer tanto assim praticar Judô então vá catar latinhas." João não percebeu que seu pai estava apenas brincando e encheu o quintal de sua

casa de latinhas. Ele iria vendê-las para pagar as mensalidades do Dojo. Quando seu pai viu aquilo, percebeu que o menino falava sério e permitiu que

ele treinasse Judô.

Alguns meses depois seu irmão Vicente levou-o pela primeira vez a uma aula de Karatê-Do. Tratava-se da única academia do estilo Shorinji Kempo existente em São Paulo, presidida por Tadao Tsukiyama Sensei.

João ficou ainda por algum tempo frequentando o Judô e o Karatê-Do, mas quanto mais conhecia o Karatê-Do mais se apaixonava pela arte e acabou deixando o Judô para dedicar-se completamente ao Karatê-Do.

Continuou sob supervisão de Tsukiyama Sensei até seus 12 anos de idade, quando Tsukiyama Sensei saiu do País.

Foi nessa época que João conheceu o estilo Shotokan através de João Ribeiro Sensei e Luis Távola Sensei.

Treinou com eles e com Aldo Borges Sensei, que era aluno de Ito Sensei e amigo pessoal de Sasaki Sensei.

Após um tempo João foi treinar com Sasaki Sensei na Universidade de São Paulo - USP e ficou sob sua supervisão durante um bom tempo mas seu pai ficou muito doente e João e seu irmão dedicaram-se a cuidar dele durante o período que ele suportou viver naquela delicada condição.

Vendo a impossibilidade do aluno em treinar na USP, Sasaki Sensei indicou seu grande amigo e parceiro de Budô - Ito Sensei -, cujo Dojo ficava mais perto de onde João residia.

Sob supervisão de Ito Sensei, João aprendeu muito sobre Budô e o Karatê-Do tradicional. Ito Sensei era um homem muito simples e humilde, seu karatê no entanto, era preciso e filosófico.

Quanto mais aprendia com Ito Sensei, mais João se identificava com seu mestre e mais se interessava pelo que ele dizia ou fazia.

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Entrevista com o Sensei

Sensei Li

Passados 34 anos de prática, todos os alunos de Li Sensei (é assim que João Sensei é chamado por seus alunos) agradecem de forma intensa todos que participaram dessa trajetória.

Agradecem desde o pai de seu amiguinho que o levava de carro para as aulas de Judô até Ito Sensei que lhe ensinou o Budô que ele transmite através não só de suas aulas, mas também do seu modo de viver.

Sensei Li é um budoka e acredita que o Karatê-Do pode se tornar um agente da educação. As muitas faces dessa arte marcial podem nortear a vida de um ser humano. Este é um fascinante universo de valores (o Budô) que Sensei Li transmite às pessoas que estão no seu convívio.

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Reflexões sobre uma aula que perdi (baseado em fatos reais)

Reflexões sobre uma aula que perdi...

Era uma noite de quarta-feira, a data era dia 1º de agosto de 2007...

Há mais de um mês não treinava sob orientação de Ramon Sensei porque ele estava em retiro organizando a parte administrativa do Dojo...

Já sabia que ele havia retomado o treinamento desde 18 de Julho, mas eu ainda não tinha retomado os treinos...

Ao rever Ramon Sensei e meus amigos de treino Lamarque, Tiago, Darison, Nilson e Ladson San fiquei muito feliz. Não pude chegar a tempo para treinar mas assisti a aula até o fim.

Era um dia em que Ramon Sensei estava ensinando Kata e técnicas de defesa pessoal. Foi uma aula muito enriquecedora.

Darison é faixa laranja mas demonstrou maturidade ao executar o heian godan. Assim sendo, Ramon Sensei decidiu ensinar-lhe Bassai Daí, e assim foi feito. Já passou-se o tempo para que Darison San realize exame de faixa, creio que ele deva estar muito entretido com os estudos do curso superior que iniciou este ano e isso certamente o está impossibilitando de treinar com o mesmo afinco de outrora.

Nilson, faixa branca, já está realizando o Heian Shodan com Kime, é questão de tempo para que melhore seu kihon. Seu filho Nilson Júnior é meu aluno e é muito legal os dois estarem empenhados no Karatê-Do, tenho certeza de que isso os aproxima ainda mais.

Ladson San, filho de Lamarque Sensei, é muito jovem e está apenas se ambientalizando com o Dojo... É a tradição passando de pai pra filho.

Lamarque Sensei e Tiago Sensei, ambos faixa preta shodan, receberam honradamente ensinamentos de Ramon Sensei sobre o Kata Jitte.

Não posso deixar escapar a oportunidade para falar um pouco sobre o que vem a ser Jitte. Vamos lá!

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Reflexões sobre uma aula que perdi (continuação)

O poder do Jitte.

Em primeiro lugar devo dizer que Jitte é uma arma e era usada pelos Samurais para desarmar um adversário que estava portando uma Katana – a espada Samurai.

Quem vê pela primeira vez um samurai portando um jitte pode não se impressionar muito. Formado por um bastão de metal de aproximadamente 45 cm, com cabo feito por cordões e pequena haste projetada no final da empunhadura, não parece ser uma ferramenta eficaz contra a mortífera espada samurai. Esta primeira impressão é desfeita logo que se vê o samurai utilizando a Jitte. Capaz de desarmar ou até mesmo quebrar espadas, esta arma foi usada por séculos pelas forças policiais dos samurais, por permitir vencer sem precisar matar ou ferir gravemente o atacante.

O próprio nome da arma, Jitte, dá uma amostra de seu poder. Formada pelos caracteres ju (dez) e te (mão), significa dez mãos, ou seja, com a Jitte é possível um homem ter a força de dez, graças ao perspicaz uso da alavanca formada pela haste de metal ao prender a espada do oponente.

Se precisar, a jitte também podia ser usada com força letal. Tanto a haste projetada como as extremidades do bastão podiam ser usadas para golpear e causar um trauma severo.

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Reflexões sobre uma aula que perdi (continuação)

Durante o Japão feudal, a cor do cordão trançado do cabo do jitte podia designar o posto de seu dono dentro da hierarquia militar. Comparando-as com as patentes militares atuais, teríamos as seguintes associações:

Vermelho-violeta Coronel, General

Violeta Tenente, Capitão, Major

Vermelho-alaranjado Cabo, Sargento

Preto Soldado

Na época dos samurais havia muitos estilos de Jitte. Destes estilos, o principal em nossos dias é o Ikkaku Ryu.

Falando em Jitte, vejo-me obrigado a falar sobre um grande mestre da atualidade, Kaminoda Tsunemori Sensei.

Kata de jitte executado por Kaminoda Sensei

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Reflexões sobre uma aula que perdi (continuação)

Kaminoda Sensei foi Uchi deshi de Shimizu Takaji Sensei, o 25° sucessor de Muso Gonnosuke e maior mestre de Jô da primeira metade do século XX. Shimizu Sensei era filho de samurais e amigo pessoal do fundador do Judô, Jigoro Kano.

- Viajou por todos os continentes ensinando o Jojutsu.

- Foi responsável pela introdução do Jojutsu na polícia japonesa, onde até hoje é utilizado para controle de multidões.

- Foi responsável pela implantação da segurança da JAL (Japan Air Lines), onde treinou seguranças e funcionários do staff a lidarem com situações de risco como seqüestros e o controle de tumultos.

- Foi instrutor do FBI e responsável pelo treinamento de um dos atores que encarnou nos cinemasas telas o papel de James Bond.

- Em seu trabalho na polícia metropolitana de Tókio enfrentou um mafioso armado com um katana real. Kaminoda Sensei utilizou um jite para desarmá-lo e em seguida o amarrou por meio do hojojutsu (antigas técnicas samurai para imobilização).

- É reconhecidamente o maior mestre da atualidade no Shindo Muso Ryu Jojutsu, estilo que herdou de Shimizu Sensei.

É isso aí amigos, agora teremos muito mais inspiração no momento em que estivermos executando o Kata Jitte. Como todo Kata, é claro que serão necessários anos de prática para compreender um pouco sobre ele, mas quem é que está com pressa? Eu não...

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Geiko ou Keiko (por Humberto Heyden Sensei)

Geiko ou Keiko

Na prática das artes marciais, deve-se distinguir treinamento e prática. No Japão a palavra renshu é usada para definir treinamento, que significa preparar ou treinar o corpo; e keiko é a palavra usada para definir a prática, que significa treinar ou preparar o espírito. É importante frisar que a palavra keiko não é importante apenas no Budo mais em muitas outras atividades culturais, por exemplo, a cerimônia do chá e o Kado, arranjo de flores. Keiko significa literalmente "refletir sobre, revisar o passado", isto implica treinar em um aspecto religioso, consistindo de um profundo respeito e preservação das melhores e antigas tradições.

O fato é que o keiko é fundamental para as manifestações culturais japonesas, reflete o respeito que os japoneses têm por suas tradições. O treinamento no período mais quente do verão (Shochu-Geiko) e o treinamento no período mais rigoroso de inverno (Kan-Geiko) são parte dessa grande herança.

Há muitas razões para esses treinamentos sob condições extremas, assim como o treinamento na primeira hora da manhã e à meia-noite, mas uma razão muito presente, é que se dá às pessoas a oportunidade de estar em contato direto com elas mesmas e com a natureza. A prática do Budo, que contém o melhor da arte tradicional, implica num caminho no qual os seres humanos podem compreender melhor suas raízes e voltar à natureza.

Autor: Humberto Heyden.

Tradução por Carlos Camacho em 01 de agosto de 2007 com autorização do Sr. Mogens Gallardo. Fonte: http://www.shotokai.com/ingles/filosofia/geikoeng.html

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Entre amigos

No dia 4 de agosto de 2007, um sábado, fui convidado para assistir a um exame de faixa a ser realizado numa academia próxima à Avenida Paulista (Rua Matias Aires), em São Paulo – Capital.

Não poderia deixar de prestigiar o evento até mesmo porque quem conduziria o exame seria Li Sensei, homenageado nesta edição da Budô Newsletter. Era a minha chance de complementar a entrevista do Sensei e solicitar a autorização para que eu pudesse tirar algumas fotos.

A ansiedade era tanta que me fez acordar mais cedo. Horas antes do evento já estava eu com minha máquina fotográfica de prontidão, devidamente carregada (memory card e pilhas novas) e, é claro, munição reserva (pilhas carregadas de reserva para garantir qualquer eventualidade).

No caminho para o evento peguei um trânsito de “outro mundo”, parecia até o trânsito de um dia útil em São Paulo as 8 horas da manhã...

Felizmente consegui chegar antes do início do exame.

Ao me receber Li Sensei perguntou se eu havia trazido meu karate-gui. “- Oss!” respondi prontamente. Ele então me pediu para vestí-lo, mostrando-me o caminho para o vestiário...

Acabei de me trocar quando, de repente, que surpresa! Fernando Sensei acabara de chegar trazendo seus alunos que iriam fazer o exame. Pouco tempo depois também chegou Sidney Sensei. Fiquei muito feliz em revê-los, pois posso dizer que são amigos de infância! Afinal treinamos muitos anos juntos há algum tempo sob a supervisão de Coradini Sensei.

Já havia trocado alguns e-mails com Li Sensei sobre a possibilidade dele ser entrevistado para essa publicação, mas ainda não tínhamos conversado sobre isso pessoalmente. Para a minha total surpresa, Li Sensei pediu que eu fizesse parte da banca examinadora. Aceitei o convite com muito prazer, foi uma honra para mim.

Antes do início do evento, Li Sensei falou-me sobre o funcionamento da ficha de avaliação. Amigos e amigas, fiquei admirado com a quantidade de movimentos que seria exigida aos alunos. As notas não eram numéricas, ao invés disso haviam conceitos como Excelente, Ótimo, Bom, Regular, Insuficiente; Também havia espaço para que o avaliador detalhasse algo que ele considerasse relevante: algum ponto a ser melhorado, etc. Pena que na hora não me lembrei de pedir para alguém filmar o evento. As exigências de quantidade de posturas e a variedade no Kihon era diferente para cada graduação.

A banca estava composta por três examinadores: Sidney Fernandes, Fernando Félix e Carlos Camacho. Foi iniciado o exame; Enquanto Li Sensei solicitava aos alunos que fizessem os movimentos, a banca examinadora apontava sua opinião nas fichas.

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Entre amigos (continuação)

Em um determinado momento, pedi para que uma aluna (Amanda) realizasse um Uraken Uchi frontalmente, pois ela estava executando o movimento horizontalmente como geralmente usa-se em competições. Nesse instante Li Sensei interrompeu e explicou o ocorrido:

A Amanda executou corretamente o movimento solicitado, mas Carlos Sensei também interviu corretamente. Como pode ser isso? A maioria das pessoas presentes cruzou olhares perguntando-se como ambos poderiam estar corretos... Li Sensei continuou:

Esse é um dos motivos que pedi para que os professores participassem dessa banca. Às vezes, um golpe de nome único é executado de um jeito por um estilo de Karatê, e o nome com mesmo nome é executado de outra forma por outro estilo de Karatê; Na verdade isso ocorre dentro do mesmo estilo, devido às regiões do Japão em que a arte foi desenvolvida.... Li Sensei continuava sua explicação e percebíamos seu total fascínio pela arte*.

Quando um Brasileiro entra num trem no Japão, os japoneses nascidos lá sabem que trata-se de um brasileiro, mesmo sem a pessoa ter dito uma palavra. Sabem isso através do modo que ela anda... do gingado característico do povo brasileiro, - talvez devido à tradição do samba – brinca o Sensei...

No Karatê ocorre o mesmo, dependendo de onde o mestre viveu, se foi em uma região repleta de rochas e montanhas, a arte se desenvolveu de uma forma diferente se comparada a um mestre que desenvolveu sua arte numa região plana.

Se pedirmos para uma pessoa criada no interior do Estado correr nas calçadas aqui da Av. Paulista, acharemos engraçado pois ela vai correr levantando bem as pernas entre um passo e outro. Isso porque onde ela cresceu a vegetação era alta e ela corria levantando bem os pés para não tropeçar e cair. E se pedirmos para uma pessoa que nasceu aqui na capital correr na Av. Paulista, ela vai correr com os pés passando bem próximos ao chão, pois cresceu num lugar plano, sem muitos obstáculos para sua locomoção. Por outro lado, se pedirmos para a pessoa que nascida na capital correr numa fazenda do interior, fatalmente ela irá tropeçar e se machucar. - Lembro-me também quando Li Sensei falou sobre as várias versões que existem de um mesmo Kata...

Essa variedade cultural também existe no Karatê-Do e adoro estudar isso. Noutro dia executamos aqui três versões do Kata Tekki Shodan. O enbusen (linha de atuação) do Tekki Shodan é uma linha reta. Tekki Shodan era usado pelos pescadores para defender sua pesca de saqueadores/piratas. Para andar sobre as canoas era preciso andar em linha reta, e era importante levantar bem os pés para não tropeçar (...).

* Nota: Dias depois percebi que Li Sensei usou a palavra Tate ao solicitar o Uraken Uchi, isso faz com que o movimento executado horizontalmente pela Amanda seja o correto, pois a mão ficava na posição correta (Tate) na hora do ataque.

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Textos relacionados

Entre amigos (continuação)

A maneira calma de Li Sensei se expressar fazia com que todos ficassem muito atentos, em contrapartida a empolgação e o fascínio que ele tem pelas artes marciais nos fazia querer ouví-lo sempre mais.

O exame continuou e os alunos continuavam demonstrando muitas técnicas de defesa e ataque, confesso que muitas eu nem conhecia o nome.

Você já ouviu falar em morote-sokumen-ude-uke? Não? É aquela defesa dupla que os praticantes do estilo Shotokan executam no início do Heian Nidan. Isso mesmo! (É, eu também não sabia...)

Em determinado momento do exame, Li Sensei já havia percebido minha boca aberta diante do que estava presenciando, me disse calmamente:

- Viu! É isso que quero que você escreva na sua revista. A tradição da arte marcial está se perdendo com Dojos treinando exclusivamente para as competições. Só Kisame e Gyaku Zuki não podem ser a representação do Karatê-Do, temos que resgatar a tradição e passá-la adiante para que isso não se perca...

Amigo(a) leitor(a), sabe aquele ditado onde dizemos que “a carapuça serviu”? Pois bem, a carapuça serviu direitinho.

Infelizmente não pude ficar até o fim do exame, mas a lição de Li Sensei não teve preço.

Concordei plenamente com Li Sensei e decidi tomar uma atitude. Mas então pensei: O que posso fazer para passar isso adiante? Aha! Viva a Budô Newsletter! Um canal de comunicação que temos com você, admirador ou praticante das artes marciais e que veio a calhar nessa hora...

Uma vez um amigo me disse: “Certa vez ouvi de um mestre Shotokai: Uma melhor compreensão do Budô se dá na relação mestre-aluno”.

Tenho refletido sobre isso muitas vezes, pois concordei com ele (meu amigo Agostinho Filié) e fiquei questionando a eficácia dessa publicação. Ela consegue atingir seu propósito? Um dia conseguirá?

Ainda não tenho a resposta, mas sinto que de alguma forma, ela é válida. Concordo com meu amigo Filié, afinal foi no dia-a-dia, convivendo com os

Senseis que aprendi valores que ficarão para sempre, valores estes que tento transmitir aos meus alunos na esperança de que eles aproveitem isso para seu benefício e dos seus semelhantes (...).

Concluindo: E foi através deste ponto de vista que me decidi por escrever essa matéria intitulada “Entre amigos”. O momento de cooperação ocorrido naquele 4 de agosto acrescentou muito, e quem disse que isso não pode ser compartilhado?

Tendo isso como meta, quero “falar” um pouco de Karatê-Do. Espero que tenha alguém aí querendo “ouvir”... Eheheh!

As armas do Karatê-Do são as várias partes do corpo humano. Toda parte que possa ser eficaz na defesa ou ataque é usada. Treinar o corpo de forma sistêmica é a única forma de desenvolver as armas para que estas estejam preparadas para serem usadas a qualquer momento, em qualquer lugar e em qualquer situação. Isso me lembra Coradini Sensei ao dizer: “Quando fico um tempo sem treinar, ando inseguro pela rua, sinto-me despreparado... Mas quando estou com o treinamento em dia sinto-me confiante, ando em qualquer lugar sem medo algum”.

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Textos relacionados

Entre amigos (continuação)

Nessa edição da Budô Newsletter vou falar exclusivamente sobre o uso das mãos.

As mãos podem ser usadas abertas ou fechadas. Quando a mão está fechada, chamamos ela de punho. Existem vários tipos de punhos (Ken) e vários tipos de mão aberta (Kaisho). É preciso praticar bastante isso no kihon para que nosso corpo assimile os movimentos.

Alguns dos tipos de punhos são:

1) Seiken; 2) Uraken; 3) Tettsui; 4) Ippon-Ken; 5) Nakadaka-Ken; 6) Hiraken.

1) Seiken (Frente de Punho)

Os nós dos dedos indicador e médio são usados para golpear o alvo. O punho precisa ficar tenso e inflexível, o dorso da mão e o pulso formando uma reta, como se fosse a lâmina de uma espada. Todo o Kimê precisa fluir passando pelo seu braço até os nós dos dedos.

2) Uraken (Dorso do Punho)

O Dorso da mão e os nós dos dedos indicador e médio são usados principalmente para atacar (uchi). Fazendo uso da força da alavanca do cotovelo, o golpe é dado num movimento para o lado ou um movimento vertical de cima para baixo. Obs.: Quando usado lateralmente, chama-se Tate Uraken Uchi. Quando verticalmente, chama-se simplesmente Uraken Uchi.

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Textos relacionados

Entre amigos (continuação)

Colocando em prática:

Alunos do Dojo Shotokaikan 11 de agosto de 2007.

3) Tettsui (Martelo de Ferro)

Esse aqui também é conhecido como Kentsui (Punho-martelo) ou Shutsui (mão-martelo). O ataque ao adversário é realizado com a base do punho. Ah! É aquele que eu aprendi no Kata Heian Shodan, você poderia estar pensando agora... Isso mesmo, você está certo. Ele pode ser usado tanto verticalmente, como é o caso do Heian Shodan, como lateralmente, golpeando a região das costelas.

Colocando em prática:

Alunos do Dojo Shotokaikan 11 de agosto de 2007.

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Textos relacionados

Entre amigos (continuação)

4) Ippon-Ken (Punho com um nó do dedo)

Com os dedos médio, anular e mínimo o mesmo que no punho frontal, o nó médio do dedo indicador é estendido com o polegar pressionado contra ele. Os alvos mais comuns desse ataque é o cavalete do nariz (o ponto imediatamente abaixo do nariz) e o espaço entre as costelas.

Colocando em prática:

Alunos do Dojo Shotokaikan 11 de agosto de 2007.

5) Nakadaka-Ken (Punho com o nó do dedo médio)

Parece com o anterior, a diferença é que a articulação média do dedo médio é estendida e os dedos indicador e anular são pressionados com força contra o dedo médio. O polegar fica pressionado contra os dedos indicador e médio. Os alvos mais comuns são os mesmos do Ippon Ken. Esse golpe também é chamado de nakadaka-ippon-ken (punho com um único nó do dedo médio).

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Textos relacionados

Entre amigos (continuação)

Colocando em prática:

Alunos do Dojo Shotokaikan 11 de agosto de 2007.

6) Hiraken (Punho semicerrado com os nós para a frente)

Os dedos são dobrados até que suas pontas toquem na palma da mão e o polegar fica pressionado contra o dedo indicador. Os nós dos dedos são usados para atacar entre as costelas ou o ponto imediatamente abaixo do nariz.

Colocando em prática:

Alunos do Dojo Shotokaikan 11 de agosto de 2007.

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Textos relacionados

Entre amigos (continuação)

Alguns tipos de mão aberta (Kaisho) são:

1) Shuto; 2) Haito; 3) Haishu; 4) Yonhon Nukite; 5) Nihon Nukite; 6) Teisho; 7) Seiryuto; 8) Kumade; 9) Washide; 10) Keito; 11) Kakuto;

1) Shuto (Mão em espada)

Com os dedos estendidos e comprimidos entre si, a borda externa da palma da mão é usada como uma espada, ou para impedir o ataque ou para atacar. Entre os alvos estão as têmporas, a artéria catódica (lateral do pescoço) e as costelas.

2) Haito (Dorso da mão em espada)

A mesma forma de Shuto, mas a borda oposta da mão é usada, centrada sobre a articulação da base do dedo indicador. É usada com os mesmos propósitos do Shuto.

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Conversando com amigos

3) Haishu (Dorso da mão)

Toda a superfície do dorso da mão aberta pode ser usada para

golpear, nas na maioria das vezes é usada para bloquear.

4) Yonhon Nukite (Mão ponta de lança)

A mão fica semelhante ao Shuto, mas as pontas dos dedos ficam levemente inclinadas. Pode-se atacar as costelas, o plexo solar ou o ponto abaixo do nariz.

5) Nihon Nukite (Mão ponta de lança com dois dedos)

Apenas dois dedos podem formar a mão ponta de lança. Os dedos são o médio e o indicador. O alvo principal são os olhos do adversário.

6) Teisho (Base da palma da mão)

É formada pela mão aberta dobrando-se inteiramente o pulso para trás. É eficaz para girar o traço atacante para um lado ou para baixo. Quando usada para atacar, é eficaz para golpear o queixo.

7) Seiryuto (Golpe com a Base da mão em espada)

Dobrando-se a mão de lado, a borda da palma e o pulso formam uma curva. Então, a borda da palma do lado do dedo mínimo pode ser eficaz para bloquear um avanço do oponente ou para atacá-lo no rosto ou na clavícula.

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Conversando com amigos

8) Kumade (Mão de urso)

Os dedos ficam dobrados de maneira que as pontos mal

toquem a palma da mão. O polegar também é dobrado. Toda a superfície da palma da mão é dirigida num ataque potente contra o rosto do oponente.

9) Washide (Mão Bico de Águia)

As pontas dos dedos e do polegar são juntadas de maneira a parecer o bico de um pássaro. São usados para atacar a garganta ou outros pontos vitais.

10) Keito (Base do dedo polegar)

A mão é dobrada para fora, com o polegar dobrado na articulação e os dedos flexionados. A superfície atacante é o polegar, desde a base até o nó. Ela pode ser usada contra o braço atacante ou sua axila.

11) Kakuto (Dorso do punho dobrado)

Dobrando-se a mão para dentro ao máximo de sua extensão, o pulso pode tornar-se uma arma poderosa. Pode ser usada contra o braço golpeante do oponente ou para atacar-lhe a axila.

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Entre amigos (continuação)

Segundo Li Sensei, antigamente as mulheres japonesas proibidas de treinarem artes marciais, inseriram movimentos da arte na dança para que pudessem praticar. Sensei Li resgata essa história ao ensinar isso para suas alunas, que nas fotos abaixo estão realizando um Kata utilizando o leque:

Nossa que legal! Pena que não tem movimento não é?! Você é que pensa!

Acesse: http://www.karate-do.com.br/budo/100SSCAM/alunas_li.avi

(tudo bem, foi um pecado não ter capturado a linda música japonesa que tocava de fundo... Na próxima eu capricho mais, ok?!)

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Entre amigos (continuação)

Tive a honra de tirar uma foto ao lado de Li Sensei:

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Reflexão

É momento de fazer uma pausa para explanar sobre as responsabilidades de um Karateca. Pois bem, vamos lá.

Sei que todos são conscientes e não vão sair por aí experimentando esses golpes para constatar sua eficácia (Eheheh!!), mas vale a pena frisar que golpes como Tettsui, Ippon-Ken, Nakadaka-Ken ou Hiraken só devem ser treinados indidivualmente, na forma de kihon, para que você os assimile. Nunca podem ser usados em shiai kumitê e nem nas “sombras” que você faz com seu amigo no Dojo e/ou Academia e eles são proibidos em competições. Não existe o sun dome (parar o golpe a 3cm do alvo) para esses movimentos. Sem kimê eles não são eficazes.

Meu objetivo aqui só foi mostrar que o Karatê-Do possui uma beleza que muitas vezes fica um pouco de lado quando estamos transmitindo ou absorvendo esse conhecimento, isso não deve acontecer.

Participe você também dessa corrente para mantermos viva a tradição do Karatê-Do em sua totalidade! Se você é instrutor reflita sobre a possibilidade de passar esse conhecimento aos seus alunos. Se você é aluno, mostre esse material para o seu Sensei!

Descobriu algo novo ou aprendeu o nome de um movimento que você já praticava mas nem sabia como se chamava? Isso é só a ponta do iceberg! O braço (Ude), cotovelo (Hiji ou Empi), pés e pernas também são usados de diversas formas.

Se falarmos em posturas, temos: Shizen-tai, Heisoku-dachi, Musubi-dachi, Uchi-hachinoji-dachi, Heiko-dachi, Hachinoji-dachi, Teiji-dachi, Renoji-dachi. Temos também as mais conhecidas: Zenkutsu-dachi, Kokutsu-dachi, Kiba-dachi, mas aí vem também Sanchin-dachi, Shiko-dachi, Hangetsu-dachi, Fudo-dachi, Neko-ashi-dachi (...).

Outro ponto importante observado no Dojo de Li Sensei foi a cortesia. Todos falam em tom alto e alegre “Onegai Shimass!” antes de iniciar o treino de uma técnica com o amigo. Ao terminar a aplicação da ténica, falam com alegria “Domo Arigato Gozaimashita!”. Isso é educação, é cortesia, é Budô.

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Reflexão

Vamos procurar buscar essa harmonia na convivência com as pessoas, isso só tem a acrescentar coisas boas na vida de todos nós. É preciso refletir sobre nossos atos do dia-a-dia, eles estão sendo úteis para você e para os outros?

É isso aí amigos... O Karatê-Do é uma arte muito rica e será necessário uma vida inteira de dedicação para compreendermos sua gama de ensinamentos. Caberá a cada um de nós:

- Buscar manter o que conhecemos através do treinamento constante; - Estar com a mente aberta para sempre melhorarmos tanto no aspecto físico

quanto no espiritual; - Buscar coisas novas para aprendermos sempre; - Agradecer à Deus todos os dias pela nossa saúde, pela família e pelos amigos.

Conforme os ensinamentos do Bushido, viva a vida intensamente, reconhecendo-a em cada respiração.

Para finalizar essa matéria agradeço à todos que contribuíram para que ela fosse possível, obrigado à você que a leu até o fim, e agradeço especialmente Li Sensei, um Budoka estudioso do Karatê-Do, por sua amizade e seus valiosos ensinamentos.

À todos, meu mais sincero Domo Arigato Gozaimashita! (Muito obrigado!).

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