Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA...

52
Ano 3 • n 0 32 • 2005 • www.multirio.rj.gov.br/nosdaescola

Transcript of Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA...

Page 1: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

Ano 3 • n0 32 • 2005 • www.multirio.rj.gov.br/nosdaescola

Page 2: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

2

EMPRESA MUNICIPAL DE MULTIMEIOS LTDA.Largo dos Leões, 15 - 9º andar - Humaitá - Rio de Janeiro - RJ - CEP 22260-210www.multirio.rj.gov.br [email protected] de atendimento: (21) 2528-8282 - Fax: (21) 2537-1212

CESAR MAIA

PREFEITO

SONIA MOGRABI

SECRETÁRIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

REGINA DE ASSIS

PRESIDENTE DA MULTIRIO

MARCOS OZÓRIO

DIRETOR DE MÍDIA E EDUCAÇÃO

MARIA INÊS DELORME

DIRETORA DO NÚCLEO DE PUBLICAÇÕES E

IMPRESSOS E JORNALISTA RESPONSÁVEL (MTB. 22.628)

ÉLIDA VAZ

ASSESSORA DE COMUNICAÇÃO E OUVIDORA

EQUIPE DE PRODUÇÃO:

GERÊNCIA PEDAGÓGICA

CRISTINA CAMPOS

JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO)

GERÊNCIA DE JORNALISMO

EDITORA

MARTHA NEIVA MOREIRA

SUBEDITOR

HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA

EDIÇÃO DE TEXTO

RENATA PETROCELLI

REPORTAGEM

FÁBIO ARANHA

PRISCILA FAGUNDES (ESTAGIÁRIA)

REVISÃO

CÉSAR GARCIA

FOTOGRAFIA

ALBERTO JACOB FILHO

GERÊNCIA DE ARTES GRÁFICAS

ANTÔNIO CASTRO (GERÊNCIA E DIREÇÃO DE ARTE)

GUAIRA MIRANDA (PROJETO GRÁFICO/DIREÇÃO DE ARTE)

VIVIAN RIBEIRO (PRODUÇÃO GRÁFICA)

IMPRESSÃO

CIDADE AMÉRICA ARTES GRÁFICA

TIRAGEM 36.500 EXEMPLARES

Page 3: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

3

DESENHOS DOS ALUNOS

RENATA ALVES DOS SANTOS, – 12 ANOS, 6ª SÉRIE

DAIANE OLIVEIRA DA SILVA – 13 ANOS, 6ª SÉRIE

ANDRÉ LUIZ B. DE SOUZA – 12 ANOS, 6ª SÉRIE E

MAICON N. PARAHYBA – 13 ANOS, 6ª SÉRIE

OFICINA DE DESENHO E PINTURA - PÓLO DE EDUCAÇÃO PELO TRABALHO - ALZIRA ARAÚJO - 9ª CRE

Page 4: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

4

nº 3

2/20

05

ano 2 no 32/2005

Um debate de todos

Esta edição da NÓS DA ESCOLA trata daclassificação indicativa dos programas de TV,ou seja, das formas de classificá-los de acordocom os critérios pensados pela SecretariaNacional de Justiça, que até o final do ano,através de audiências públicas realizadas emdiversas capitais brasileiras, estará colhendoinformações e opiniões da população para criaruma legislação sobre o assunto.

O tema é polêmico. Atualmente, existe uma preocupação manifesta com abaixa qualidade da programação oferecida à população e com o seuimpacto sobre a formação do cidadão, especialmente a das crianças ejovens, discutida exaustivamente durante a 4ª Cúpula Mundial de Mídia paraCrianças e Adolescentes, realizada no Rio de Janeiro, em abril de 2004. Noentanto, a discussão sobre a qualidade na mídia depende não só doconteúdo a ser veiculado pela TV, mas de sua adequação formal àlinguagem televisiva. A questão, portanto, é complexa, tem inúmeras facetase é importante a participação de todos no debate, principalmente oseducadores.

Além disso, na seção Perfil, a revista trata também da trajetória de HelenaAntipoff e sua importância para a educação especial.

O tema da gravidez na adolescência e as formas de lidar com a questão naescola, além de uma seção sobre o quarto tema dos fascículos damultieducação, o ciclo, também integram esta edição.

Uma boa leitura para todos.

Sonia Mograbi

Secretária Municipal de Educação

4 editorial Um debate de todos

5 cartas6 ponto e contraponto

A arte que vem da periferia

10 zoomHora de pensar na programação

12 cariocaEducação em forma de aventura

14 século XX1“O futuro da internet está na construção deinteligência coletiva”

16 parceriaRio-águas: Não à poluição e ao esgoto

18 pan 2007A educação pelo esporte

19 professor online‘E-mail’ ao alcance de todos

20 olho mágicoUm kit de conteúdo e diversão

22 caleidoscópioAtualização da Multieducação: 1º ciclo de formação

24 rede falaredação não deve ser uma forma de castigo

25 atualidadeDengue: prevenir é essencial

28 capaUm esforço de classificação e educação

32 artigoOs critérios de qualidade na seleção dosprogramas infantis

36 presente do futuroCompromisso fora de hora

39 pé na estradaUm remédio na dose certaMagia, sonho e imaginação nas escolas da RedeViagem pela literatura mundial

44 foi assimFábrica que teceu um bairro

46 perfilPioneirismo que ainda inspira

48 tudoteca49 agenda50 MULTIRIO na tevê

Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Converse com os seus alunos sobrea programação da televisão a queeles assistem quando querembuscar informações, aprender,divertir-se ou simplesmente ocuparas horas vagas.Registre a opinião de cada um,tabule os dados e use os íconespara preencher o cartaz sobre afreqüência, o horário, onde e comquem assistem a cada tipo deprograma.Criar uma ilustração para cada TV,com o programa mais votado,personalizará o cartaz da turma.

Para usar o cartaz

editorial

Page 5: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

55

nº 32/2005cartas

Largo dos Leões, 15 - 9º andar, sala 908 - Humaitá - CEP 22260 210 - Rio de Janeiro - ou mande e-mail para [email protected] colaborar com a seção Rede Fala envie-nos seu artigo. O texto deve ser digitado em fonte Arial, corpo 12, e ter, no máximo, 6 mil caracteres. Todos os artigos serãosubmetidos a avaliação e publicados de acordo com a programação da revista. A MULTIRIO não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos e se reserva o direitode, sem alterar o conteúdo, resumir e adaptar os textos.Visite nosso site: www.multirio.rj.gov.br

ESCREVA PARA O NÚCLEO DE PUBLICAÇÕES E IMPRESSOS DA MULTIRIOESCREVA PARA O NÚCLEO DE PUBLICAÇÕES E IMPRESSOS DA MULTIRIOESCREVA PARA O NÚCLEO DE PUBLICAÇÕES E IMPRESSOS DA MULTIRIOESCREVA PARA O NÚCLEO DE PUBLICAÇÕES E IMPRESSOS DA MULTIRIOESCREVA PARA O NÚCLEO DE PUBLICAÇÕES E IMPRESSOS DA MULTIRIO

Ladeira acima, ladeira abaixoA edição 27 da revista NÓS DAESCOLA publicou o jogo Ladeiraacima, ladeira abaixo. Se você o jogoucom seus alunos ou aproveitou otabuleiro (Cartaz, na foto ao lado) e asregras (Giramundo) para realizar algumoutro tipo de atividade em sala de aula,envie-nos uma carta ou e-mail contandocomo foi a experiência. Seu relato seráavaliado por nossa equipe e poderá serpublicado ou transformado em umamatéria.

Vitória IA equipe de NÓS DA ESCOLA dá osparabéns ao aluno Rodrigo SoaresNunes, da turma 801, da E. M. Josédo Patrocínio, em Irajá. Ele ficouclassificado em 2º lugar no rankingestadual e em 32º no nacional da 1ªOlimpíada Brasileira de Matemáticadas Escolas Públicas (OBMEP),realizada este ano. Rodrigo ganhoumedalha de ouro e uma bolsa deiniciação científica. Aproveitamostambém para parabenizar seuprofessor de matemática, AfonsoHenriques Raimundo.

PoemaSou professora da Escola MunicipalRosa da Fonseca e gostaria de saberqual o procedimento para que umpoema elaborado pelos alunos daquinta série seja publicado na revistaNÓS DA ESCOLA.N. da R.: Envie-nos por e-mail opoema que faremos uma avaliação.

Vitória IIÉ com grande orgulho que desejamoscompartilhar uma alegria de nossaescola: a aluna Karla Marques VitezaGomes, da turma 401, da professoraLucília, foi classificado em primeirolugar no 1º Concurso de RedaçãoAcorda Zumbi, com o tema"Consciência negra – o meu Zumbinos dias de hoje. O concurso épromovido pelo Centro CulturalMoacyr Bastos para alunos dasescolas públicas do estado do Rio deJaneiro.Equipe da direção, professores efuncionários da Escola MunicipalPablo Picasso

AtençãoNão deixe de responder à pesquisado Giramundo. Sua opinião fará adiferença!

Page 6: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

6

nº 3

2/20

05po

nto

e co

ntra

pont

o

A arte que vem da periferia

Quem já teve a oportunidade de ouvir algum rap de MV Bill sabe bem que

sua letra é dura e retrata de forma crua o drama dos jovens de periferia

que se vêem perdidos entre o crime, a brutalidade policial e o racismo

do nosso apartheid social. Quem já teve a

oportunidade de conversar com MV Bill por pelo

menos meia hora tem a perfeita noção de que

tudo o que é denunciado nessas letras o

incentiva a lutar por direitos amplos e por

reforma social. A Cufa, Central Única das

Favelas, é a materialização dessa luta. A

ONG, criada por Bill, atende a centenas de

jovens de áreas carentes do Rio de Janeiro.

Jovens que encontram principalmente

na arte (grafite, hip-hop, teatro) um

meio de não sucumbir ao apelo da

criminalidade. Só na Cidade de

Deus, onde Bill nasceu, foi

criado e mora até hoje, já são

120 jovens compondo uma

companhia teatral. “É uma

virtude poder transformar

uma rotina violenta em

arte. E é com muita

naturalidade que eu e

outros jovens lá da Cufa

fazemos esse trabalho”,

comenta o rapper, que concedeu

à equipe de

NÓS DA ESCOLA

a entrevista que segue.

Page 7: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

7

ponto e contraponto

Qual a proposta da Cufa?A Cufa surgiu por causa do hip-hop. Eu tam-bém emergi e ganhei visibilidade por conta dessamúsica. No entanto o que temos visto é que ohip-hop não pode ser o único caminho a ser seguido.Tem que criar outras alternativas. O hip-hop tema fama de ser a música da informação, da edu-cação. O cara que é o MC [mestre de cerimô-nias], o cara que manda as mensagens, precisaestar atento a tudo. Exatamente por isso fui buscarmais informações nos livros. Descobri o valorda leitura. A Cufa é a experiência prática daquilo,de tudo aquilo que a gente trata na música. Fa-zíamos eventos nas comunidades, shows. Masainda era pouco. Então pensamos em criar umaorganização onde se pudesse praticar tudo oque era discursado nas letras. E isso foi possí-vel através da Cufa.

E como tem sido o trabalho? Como funcio-na o dia-a-dia?Temos no Rio ações na Cidade de Deus, emMadureira, em Acari e no Jacarezinho. A de Acari,a gente está prestes a fechar porque os recur-sos são nossos mesmo, temos poucas parce-rias. Muitas empresas não querem nem ligar seunome a essa produção cultural porque para elasnão é interessante. Elas consideram um públi-co não consumidor. Acontece que não se tra-ta de uma questão comercial, mas de vidas quepodemos salvar a partir das ações da Cufa. Dentrodas bases, a gente criou um curso de audiovisual.Eu não entendo nada de televisão, de cinema,mas reconheço a importância de fazer com queos jovens se auto-retratem. Com parte do di-nheiro dos nossos shows, compramos equipa-mentos e fomos atrás das parcerias. Cacá Diegues,Joelzito, Caetano Veloso já foram lá dar aulas.Criamos também tele-salas com computadoresligados à internet, para democratizar o uso dela.E tem uma oficina de produção musical, ondeos jovens produzem e aprendem o ano inteiro.No final do ano eles apresentam o que fizeramno Hutuz, que é a maior premiação do hip-hopda América Latina.

Sempre com o hip-hop? Ou você trabalhacom outras manifestações artísticas?Montamos na Cufa uma companhia de teatro.Incentivamos dois jovens que já tinham feito

curso de formação de atores, mas nunca havi-am conseguido atuar na área, a criar uma com-panhia de teatro a partir da restauração, com aajuda do jogador Ronaldo, de um prédio aban-donado. Ninguém sabe, mas há um teatro dentroda Cidade de Deus. Hoje já são cerca de 120jovens que fazem parte da companhia e ensi-nam outras crianças. Não há uma ligação dire-ta desse trabalho com o hip-hop, a não ser aforma de pensar, de se expressar. Eles fazempeças sobre outros assuntos. Oferecemos tambémoficinas de grafite e de DJ. E há sempre reuni-ões para falar com os alunos sobre asuntos políticos,culturais, sociais...

Você acha que tratar, nas letras das músi-cas, da violência, da criminalidade nas co-munidades e da condição do negro, não podeacabar reforçando um estereótipo da populaçãoque vive nas áreas carentes da cidade?É uma virtude pegar um dia-a-dia violento e trans-formar aquilo em arte. Pelo menos para mim setornou uma coisa natural. Eu poderia fazer ou-tro tipo de música, falando de amor, de praia...

Seria mais fácil?O que eu e os jovens que estão produzindo culturana Cufa fazemos é com muita naturalidade. Sóque existe um quadro de invisibilidade que nãoé só em relação a quem é bandido, ou está paravirar bandido. É uma situação que se estendepor toda a população das comunidades. Entãoexiste uma necessidade, por parte dessa juventude,de que as pessoas saibam o que acontece alidentro. Depois que apagam as luzes, só as pessoasque entram na favela indo para as suas casasé que sabem o que acontece por lá. Porque muitasvezes socialites, políticos, antropólogos, soci-ólogos vão à televisão, fazem discursos base-ados em alguma coisa que na maioria da vezesfoi outra pessoa que também não viveu aquiloque escreveu. Essa necessidade de mostrar aprópria realidade cotidiana faz com que os jo-vens encarem o que fazem artisticamente de umaforma natural.

É mais legítimo falar de tudo pela arte?É uma forma mais verdadeira. São pessoas quevivem aquilo diretamente na pele. Tem uma cargaemocional muito grande. Tem muitos

TEXTO

HUGO R. C. SOUZA E

MARTHA NEIVA MOREIRA

FOTO

ALBERTO JACOB FILHO

Page 8: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

8

nº 3

2/20

05po

nto

e co

ntra

pont

o

grupos, artistas, que acabam fazendo dissouma forma de aparecer, de ser mais conhe-cido, e acabam banalizando um assunto queé tão sério. Mas a maioria das pessoas queestão produzindo cultura nas comunidades fazde forma muito verdadeira. Eles transformamlixo em luxo.

Há mesmo poesia em muitas produções...Quando eu falo dessa possibilidade de trans-formar o lixo em luxo, ou seja, pobreza e vio-lência em arte, é porque a gente atende a jovensque têm a possibilidade de ter um futuro di-ferente. É pegar o menino que era fogueteirodo tráfico e dar a ele a oportunidade de des-cobrir um dom. E se o dom dele é o desenhoele não vai desenhar a praia de Copacabana;ele vai desenhar o caveirão invadindo a co-munidade, o baile funk, as pessoas passan-do na rua. O dia-a-dia que é vivido.

Que preconceitos você observa em rela-ção à cultura da periferia?Estamos no sexto ano do prêmio Hutus e sóagora conseguimos patrocínio. Há cinco anosfazemos com dinheiro do bolso. Até hoje qual-quer dinheiro que eu ganhe, com música, comlivro, metade é doada à Cufa para podermosdar seqüência às ações. A gente não tem umaquantidade de apoio suficiente. Observamosque alguns desses jovens de comunidades,quando percebem que outros estão seguin-do um caminho diferente, querem o mesmo.É complicado ter de fechar a porta e dizer quenão pode atender a mais ninguém. E aí vocêpõe no seu quintal, diz para dormir na sua casa.Desde o início, a maioria das coisas que fa-zemos é com dinheiro do nosso bolso.

Vocês estão no caminho certo? Já estão sendoouvidos? Já existe uma aceitação maior?O hip-hop se tornou meio moda para algumaspessoas. Começou a ganhar um certo es-paço e rolou quase uma apropriação. Saiu

da marginalidade para se tornar músicafashion, música de boate. Existe um esfor-ço muito grande de gravadoras, emissorasde rádio etc. de descobrir o Eminem bra-sileiro. Eles acreditam que dessa forma,desconstruindo todo o discurso social, o hip-hop consiga vender mais. Só que a propostanunca foi essa. A proposta é não prestaresse desserviço. Hoje o hip-hop, com cer-teza, é a única música em todo o Brasil quetoca com tanta veemência na questão ra-cial, social, violência, inclusão, preconcei-to, estereótipos. Pegar esse tipo de músicae transformá-lo em outra coisa é um grandemal. As tentativas nesse sentido já foram maisintensas do que são hoje, devido à resistên-cia, não só minha, mas de vários outros ca-ras. Na verdade não é problerma nenhum tocaro hip-hop numa boate de Ipanema. O problemaé desconstruir um discurso que a gente le-vou mais de 20 anos para consolidar no Bra-sil. Quando eu comecei, nunca me coloqueicomo artista. Quando eu disse que não meconsiderava artista muitas pessoas foram contramim. Eu não tenho essa proposta de ven-der disco para ganhar disco de ouro, de fi-car indo para a televisão a toda hora. Eu sófui para a televisão quando eu vi a oportu-nidade de dizer as coisas que eu queria dizer.

E você sofreu críticas?Devo ter sofrido. Não chegaram a mim, masprovavelmente aconteceu. Eu não sou una-nimidade também no hip-hop. Tem muita genteque pensa diferente de mim e eu acho queas questões que são abordadas são tão im-portantes que não podem ficar restritas aopessoal que faz hip-hop. Eu proponho umdiálogo entre etnias, classes, povos. Acreditoque a pobreza só pode ser resolvida como auxílio da riqueza. Então, como resolvero problema sem dialogar? Pela violência.Para alguns o hip-hop é uma forma de com-bater as injustiças sociais. Para mim, é uma

SAIBA MAISSite do Programa Século XX1chaves Funk e Rap e NovoMundo do Trabalhowww.multirio.rj.gov.br/seculo21/

Page 9: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

9

ponto e contraponto

forma de dialogar, de questionar, de mar-car a sua posição. Mas a arte não pode fi-car presa a uma função social. Arte é arte.E o hip-hop tem esse poder de usar a artepara poder questionar e propor o diálogo.

A cultura e a arte, então, são de fato uma al-ternativa para esses jovens de periferia?Ninguém obriga ninguém a entrar no tráfi-co, mas parece que tem uma mão te em-purrando. Parece que o dest ino estápré-escrito. E você vai ser isso. São pou-cos os que conseguem driblar a regra e setornar uma exceção. Cada caso é um caso.Eu consegui por causa do hip-hop. Até porquenem todos têm talento para algum tipo dearte, e mesmo que tivessem não teria es-paço para todo mundo. E nem eu tenho in-teresse que só saia de lá cantor, dançarino.Eu faço parte desse elo vicioso que só permitea ascensão através do futebol, da arte. Meumaior papel dentro do hip-hop é fazer comque algumas pessoas tenham um futuro di-ferente daquele que está desenhado. Nãovou conseguir salvar a vida de todo mun-do. Não vou conseguir ajudar todas as pes-soas. Mas tenho feito o que posso. Osresultados que temos colhido são resulta-dos muito bons. Antes chegava um mole-que para mim e dizia “se eu sair, o que quetu vai me dar?”. E eu ficava sem resposta. Hojeé diferente. Aos jovens que me pedem para sairdo tráfico, eu posso dar uma oportunidade.

E a escola, que papel deve ter diante da re-alidade avassaladora das crianças mora-doras de comunidades carentes da cidade?Eu nasci e fui criado na Cidade de Deus etive uma infância que eu chamo de padrão:estudar até onde dá. Meus pais, como a maioriados pais do local, me incentivaram a trabalhare não a estudar. Assim, a falta de incenti-vo ao estudo partiu de dentro de casa. Muitasdas coisas que passaram a fazer parte da

minha vida acabaram sendo descobertas narua e pela leitura. Pensando na minha his-tória, eu chego à conclusão de que a es-cola deveria funcionar como uma segundacasa. Mas sei que isso é difícil, eles ficamdesestimulados. O mesmo acontece comos pais, que também não são incentivadosa manter seus filhos na escola. Costuma-mos conversar sobre a escola com os jo-vens nos cursos, falamos que ela é tãoimportante quanto qualquer outra coisa navida. Mas acho também que é necessárioreformular o ensino, a educação. Aqui noBrasil duas coisas que deveriam ser bási-cas custam muito caro: educação e saúde.Para você ter uma boa educação você temque pagar por isso. Vendo por esse ângu-lo, acho que é muito difícil para o jovem tera escola como referência. O ensino sobrea africania, a afrodescendência deveria fazerparte da escola. É lei. Mas isso não é apli-cado. Então a escola acaba sendo um es-paço tragicamente desvalorizado dentro dacomunidade. São poucos os jovens quevêem na escola uma possib i l idade deum futuro diferente.

A Cufa, em suas ações, promove algu-ma integração com as escolas doslocais atendidos?Sim. Mas ainda existem muitas dificuldades,principalmente burocráticas. Os diretoresnão têm total autonomia para fazer o quequerem. Principalmente as escolas que fi-cam no centro da comunidade. E sãoessas escolas que mais precisam manterum diálogo aberto e efetivo com a comuni-dade. E não apenas para falar de nota dosalunos, para educar os pais também.

Como assim?Posso estar totalmente enganado, mas talvezessas escolas tenham de ter uma funçãoque vá além das escolas tradicionais. Temde haver uma integração maior, para o jo-vem não ver a escola como um lugar cha-to, ru im. Tem escolas que são fe ias,feitas de cimento, parecem uma prisão. Nãodeveria ser assim, a escola tem que ser umlugar bonito, de prazer.

Page 10: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

10

nº 3

2/20

05zo

om

Hora de de pensar na programaA classificação indicativa é um instrumento de controle da qualidade da programação de

televisão, cinema, vídeo, teatro e games. A TV é a mídia que submete a maior quantidade

de produtos a classificação. Em 2000, o Ministério da Justiça baixou portaria estabelecendo

critérios para classificar os programas de TV. A portaria está prestes a ser regulamentada e

deverá entrar em vigor no início de 2006. Para fundamentar suas decisões, o Ministério

promoveu, ao longo de 2005, audiências públicas em seis estados da Federação e realizou

consulta em seu site na internet sobre que parâmetros adotar. A iniciativa tem suscitado

questionamentos sobre o que passa na tela da TV e como regular a veiculação desse

conteúdo, como mostram alguns dos depoimentos abaixo, veiculados na série

Encontros com a mídia e apurados nas ruas pela equipe de NÓS DA ESCOLA.

Hora de de pensar na programa

Silas Soares (publicitário)– A classificação indicativa éimportante para que os pais

tenham noção do que vai passarnos programas, o que já é feito

por alguns canais. Não achoessencial, mas é bom que tenha.Seria interesante que houvesseinformações sobre o conteúdo

do programa antes do seu início.

Sérgio Faria (administrador)– A classificação é relevante porque vocênão tem como saber o conteúdo daprogramação. Assisto a vários programascom meus filhos e, às vezes, até as novelasabordam temas que não são apropriadospara crianças. Precisamos ter informaçõessobre drogas, sexo e violência no conteúdodos programas, de preferência, antes do seuinício e na volta dos comerciais.

Bianca Ferreira (mãe)– Se você souber orientar otipo de informação eacompanhar como acriança a está absorvendo,a televisão se torna umaporta para o mundo.

Page 11: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

11

zoom

amação

Patrícia Carvalho (mãe)– Eu acho que tudo temhorário. As próprias novelasabrangem hoje uma realidadeda qual não podemos fugir.Mas eu acho que temos derespeitar a idade da criançaque está assistindo a televisão.Aparecem cenas de sexo explícito em horários indevidos. Háo tema do homossexualismo. Tudo tem que ser abordado, sim,mas no seu devido horário. Nem todos são obrigados a assistira esses tipos de programa, principalmente, as crianças.

amação

Kátia Marina (enfermeira)– Eu acho fundamental que, dentroda sua casa, os pais tenham o direitode optar sobre os programas aque seus filhos têm acesso. Aclassificação indicativa proporcionainformações valiosas para auxiliá-los.Mas também acho importante queeles criem discernimento na criançasobre o que é bom ou ruim. A vinhetadeve ser mostrada antes de oprograma começar e durante oscomerciais também, porque, se o pailigar a televisão com o programacomeçado, ele não terá como saberqual é a classificação.

Eliete Canela (médica)Eu acho a classificação indicativa

importante, mas não primordial. Ospais têm mais obrigação de

fiscalizar aquilo que seus filhosassistem do que o governo de

classificar. Mas ela pode auxiliar,pois nem todos os pais têm omesmo nível de informação.

Elizabeth Dantas (operadora de caixa)– É preciso haver a classificação dos programas,porque muitos contêm violência que as crianças nãodeveriam ver, inclusive, os desenhos. Há muitosdesenhos violentos. Elaajuda a proteger a criançade conteúdo impróprio, masdepende também daeducação que os pais dão aseus filhos, para que elesaceitem a orientação dospais. É interessante que aindicação apareça antes edurante o programa.

Page 12: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

12

nº 3

2/20

05ca

rioca

Educação em forma de aventuraFundação RioZoo e Obra Social da Cidade do Rio de Janeiro lançam o projeto Zoomóvel

Uma escola it inerante, em cujo espaçocenográfico tartarugas marinhas, lobos-guará,jibóias e outros animais ajudam a despertarnas crianças o amor pela natureza e a cons-ciência sobre a importância da preservaçãodo meio ambiente. A novidade pode até pa-recer brincadeira, mas faz parte de um trabalhosério de educação ambiental, que circula peloRio de Janeiro desde o início de outubro. É oZoomóvel, um ônibus que sofreu adaptaçõespara mostrar os valores da biodiversidadebrasileira, sob a orientação de biólogos do centrode educação da RioZoo.

O projeto, desenvolvido pela Obra Social daCidade do Rio de Janeiro, com patrocínio doInstituto Vivo, órgão de responsabilidade socialda operadora de telefonia móvel Vivo, reúnediversão e aprendizado e se destina basica-mente às comunidades carentes do municí-pio.1 Depois do “embarque”, os participantesrecebem informações sobre os ecossistemase os animais ameaçados de extinção no Bra-sil e observam animais vivos e empalhados,além de assistirem a um vídeo em que um pa-pagaio e um tamanduá falam sobre a fauna e

a flora brasileiras. “A importância é mostraro porquê do desmatamento, o porquê de osanimais estarem ameaçados de extinção, evi-denciando o que deve ser feito para preservaro meio ambiente”, explica Anita Carolina,presidente da Fundação RioZoo.

Mas o maior mérito do Zoomóvel é levaresse conhecimento a comunidades distantesou de baixa renda, que normalmente nãotêm acesso ao Jardim Zoológico. É o quedestaca Mariangeles Maia, diretora-presi-dente da Obra Social da Cidade do Riode Janeiro: “É importante entrar nas co-munidades, sobretudo hoje em dia, dian-te desse processo de degradação mundial.Precisamos alertar as crianças e as famí-lias das crianças.”

São justamente as crianças as mais ani-madas com o projeto. Fabiana Silva e DiogoOliveira, de 12 anos, e Jonathan Barbo-sa, de 11, alunos da 5a série da Escola Mu-nicipal Finlândia, puderam complementarcom o passeio as informações assimiladasna sala de aula. “Com o vídeo fica mais fácil

FOTOS: ALBERTO JACOB FILHO

Page 13: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

13

carioca

1 Escolas públicas e instituições que desenvolvemtrabalhos sociais podem agendar gratuitamenteas visitas ao Zoomóvel, na RioZoo, pelo telefone2569-2024, ramais 227 e 253.

Terminada a viagem no Zoomóvel, a aventura pode continuar para quemvisita o Jardim Zoológico. São quase 2 mil animais, entre aves,mamíferos e répteis, abrigados numa área de 138 mil m2. Para que ascrianças em idade escolar possam aproveitar ao máximo o passeio,aprendendo e se divertindo ao mesmo tempo, o projeto Zôo Educardesenvolve uma série de atividades educativas. Nas visitas guiadas paraescolas, os estudantes conhecem os bastidores do Zoológico,descobrindo o que acontece em espaços como a cozinha dos animais eos laboratórios de pesquisa. As escolas públicas podem participargratuitamente, agendando uma visita entre os meses de março edezembro, pelo telefone 2567-9732.

Já o professor interessado em integrar o conteúdo da sala de aula àvisita pode se transformar, ele próprio, no guia de seus alunos. Nosmeses de abril e setembro, o Zôo Educar oferece um curso decapacitação para professores da rede municipal de ensino, com oobjetivo de prepará-los para a visita escolar. O curso tem duração de ummês e as aulas acontecem às quintas-feiras, entre as 13h e as 17h30,para professores indicados pela Secretaria Municipal de Educação.“Ensinamos os professores a seguirem um roteiro predeterminado,focando a atividade de acordo com os interesses de conteúdo. Docontrário, eles ficam muito perdidos e o aproveitamento não é tão bom”,explica Denise Monsores, diretora técnica do Jardim Zoológico.

O projeto oferece ainda apoio a pesquisas escolares, com uma mini-biblioteca que pode ser utilizada por qualquer estudante. Lá, os alunosencontram fichas com dados biológicos de todas as espéciesexistentes no Zoológico, além de informativos sobre a fauna brasileira eséries sobre animais classificados em categorias como notívagos,urbanos e carnívoros, entre outras. A partir de janeiro do ano que vem,os estudantes poderão conferir também uma amostragem de todos osecossistemas brasileiros, reproduzidos no Museu da Fauna.

Diversão a serviço do aprendizado

aprender, porque fica tudo ilustrado”, opinaFabiana. “Gostei de ver a parte sobre aMata Atlântica, estamos estudando issona escola. Nunca tinha visto os animaiscomo pude ver hoje, porque só tinha vin-do ao zoológico uma vez. Agora vai ficarmais fácil para quem mora longe ou nãotem como vir”, completa Diogo.

Para o presidente do Instituto Vivo, João LuizBarroso, as crianças são mesmo os perso-nagens centrais. “Elas serão as aliadas nes-te processo de conscientização ambiental.O espírito do Zoomóvel é despertar nelas aconsciência de que a destruição de recur-sos naturais compromete as gerações futu-ras”, justifica João Luiz. A parceria com oInstituto Vivo, que possibilitou levar o ôni-bus à rua, veio a calhar. “Este projeto eraum desejo muito antigo nosso”, ressalta osecretário municipal de Meio Ambiente,Ayrton Xerez.

Page 14: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

14

nº 3

2/20

05sé

culo

XX

1

Um Mar de PalavrasMultieducação

A internet já se integrou ao cotidiano de muitaspessoas. Mas ainda há dúvidas quanto aofuturo da web...Para falar do futuro, é preciso refletir sobre o passado.Às vezes, nem nos damos conta de que a internettem só uma década de existência. Pelo menoscomo a conhecemos hoje, ela surgiu em 1994nos Estados Unidos e chegou ao Brasil em de-zembro de 1995. Representou uma revolução nacomunicação, pois permitiu pela primeira vez acomunicação “de muitos para muitos”, como dizo pensador Pierre Lévy.

Você se refere à democratização daprodução e do acesso à informação?A muito mais que isso. Quebrou-se um paradigma.Antes, havia o veículo enviando a sua mensagem aum grupo imenso de receptores – era a comunica-ção de poucos para muitos. Não existia espaço paracontestação. Com a internet, não só muitos pude-ram produzir informação para muitos, como se tornaramalvo de contestação pela audiência. O processode comunicação ficou muito mais rico com a internet.Se eu crio um blog e publico algo polêmico, de ante-mão imagino que receberei críticas e elogios, que estarãonos comentários do blog. Meus leitores conhecerãoos dois lados da moeda.

Esta situação não é regra, mas exceção.Os grandes portais de informação, porexemplo, mantêm a lógica da comunicaçãode poucos para muitos...A internet criou uma nova dinâmica, uma nova for-ma de articulação do pensamento. Aí talvez estejao grande erro de quem trabalha ou quer trabalhar

“O futuro da internet está na const

com ela. Poucos perceberam que não se pode,por exemplo, criar um site usando a lógica dapublicação impressa ou do audiovisual. O quevemos na web, na maioria das vezes, é a meratransposição de linguagens de um veículo paraoutro. É preciso haver um salto de qualidade.

De que forma?As linguagens que precederam a internet tra-zem uma lógica linear e cartesiana que não seenquadra na lógica hipertextual da web. Nes-te ponto, a internet funciona de forma muitoparecida com o nosso pensamento: um temapuxa outro, que desemboca em um terceiro,que segue por algo completamente diferentedo tema inicial. Nós pensamos exatamente assim.O mesmo acontece com a internet.

Mas é preciso que haja algum tipo desistematização. Caso contrário, ainformação se dilui.Esse é o ponto. Organizar não significa engessarem formatos semelhantes, por exemplo, ao dapágina de uma revista. É necessário aprovei-tar o caráter hipertextual da web e investir naprodução conjunta de conteúdo.

Como?Despindo-se de qualquer tipo de arrogância ouprepotência típica dos “donos do saber”. Nãodá mais para simplesmente formular um conteúdoe colocá-lo na internet. É salutar que esse con-teúdo seja manipulado, alterado, transformadopelos internautas, em um processo de troca, decomplementação. A internet é um espaço de in-

Carlos Nepomuceno assistiu ao nascimento da internet e acompanhou de perto seus primeirospassos no Brasil. Foi um dos primeiros jornalistas a se especializar em informática e escreve sobre otema desde 1983. Ao longo de duas décadas, viveu a fase da reserva de mercado, quando possuirum microcomputador moderno era quase impossível; viu a popularização dos PCs; assistiu aocrescimento e à explosão da bolha da internet; e acompanhou a eclosão do movimento pela inclusãodigital. Nesta entrevista, ele aborda conceitos muito debatidos e pouco implementados no cotidianoda grande rede, discute o papel de professores e jornalistas, sugere um novo modelo de web e alerta

para as grandes transformações que surgirão nos próximos anos.

TEXTO

MARLÚCIO LUNA

(EDITOR DE CONTEÚDO DO

PROGRAMA SECULO XX1)

Page 15: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

15

século XX

1

Oficina Carta Animada pela Paz

Iaraonstrução de inteligência coletiva”

teligência coletiva, construída cotidianamente. Essaidéia assusta alguns grupos profissionais espe-cíficos. Jornalistas e professores são duas cate-gorias que servem como exemplo. A primeira porqueteme perder a condição de canal de comunica-ção com a sociedade – o que é um temor infun-dado, pois as técnicas de comunicação continuarãoa ser empregadas pelos jornalistas. Para os pro-fessores, a situação é ainda mais complexa, vistoque os educadores temem ser substituídos pelainternet ou pelos computadores. Já vimos esse filmequando surgiram o rádio, a televisão e o videocassete.As tecnologias se consolidaram e o professor mantevea sua função, que é essencial para a sociedade.Tanto os jornalistas quanto os professores preci-sam compreender que suas atividades passarãopor transformações inerentes aos novos tempos.Ambos cumprirão o papel de mediadores. No primeirocaso, haverá mediação de informação. No se-gundo, a mediação será no campo da cons-trução de saberes.

Essa é uma perspectiva de curto prazo?Prever o ritmo de mudança é algo temerário. Masacredito que a necessidade de transformação éimediata. Quem demorar a perceber isso vai per-der o trem da história. O futuro da internet é a in-teligência coletiva. Os grupos de pesquisa de pontajá trabalham nesse sentido. Um exemplo é a Coppe[Coordenação dos Programas de Pós-Graduaçãoem Engenharia] da UFRJ [Universidade Federaldo Rio de Janeiro]. Lá, estamos trabalhando na

consolidação do Centro de Referência em Inte-ligência Coletiva (Crico). A idéia é gerar uma fer-ramenta baseada em softwares livres para quequalquer grupo, entidade ou pessoa possa criarsites capazes de implementar o conceito de in-teligência coletiva.

Que efeitos práticos isso pode trazer?Eu diria que há a possibilidade de radicalizar umacaracterística já presente na internet. Em queatividade econômica uma pessoa ou um pequenogrupo pode ameaçar uma grande corporação?Só na internet isso é possível. Pegue o exem-plo da disputa entre Microsoft e Linux. Um des-conhecido estudante de ciência da computaçãoda Universidade de Helsinque, na Finlândia, decidiuenfrentar Bill Gates, criou um sistema operacionalaberto e o colocou na internet. Ele foi aprimora-do graças às contribuições de milhares de usu-ários ao redor do mundo. Eis um exemplo deinteligência coletiva que pôs em xeque a maiorempresa do planeta. A web tem o poder de de-sencadear revoluções globais nas mais variadasáreas a partir de iniciativas individuais ou locais.

Mas, afinal, qual é o futuro da internet?Ao contrário do que muita gente pensa, o futuroda web não está na tecnologia ou na convergên-cia de mídias. Isso já é o presente. Limitaçõestecnológicas atuais serão superadas. Há menos decinco anos, era impossível a transferência de arqui-vos com filmes de longa-metragem. Hoje, graçasaos softwares de compactação, já é possível. Consideroexageradas essas notícias alertando para o riscode a internet parar em 2010 por causa do exces-so de tráfego de dados. Elas não levam em contaos avanços que ocorrerão até lá. O futuro da webpassa pela percepção de todo o potencial que elaoferece. Hoje, é como ter uma Ferrari para di-rigir no engarrafamento. A principal caracte-rística da Ferrari – a velocidade – não aparecee ela fica igual ao Fusca. A web não deve selimitar simplesmente a fornecer conteúdo. Elaprecisa assumir o papel de ferramenta de ela-boração coletiva de conteúdo. A internet vaise transformar em um espaço democrático deconstrução de inteligência coletiva, cujos efeitospoderão beneficiar a sociedade.

Page 16: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

16

nº 3

2/20

05pa

rcer

ia

Sanear significa tornar são, sadio, saudável. Sa-neamento, portanto, tem tudo a ver com saúde.Nas áreas saneadas as possibilidades de con-tágio por moléstias são eliminadas, a mortalida-de infantil é reduzida e a procura das famílias porhospitais e postos de saúde, minimizada. Cabeà administração pública oferecer os cinco tipos deserviço que compõem o saneamento básico: abas-tecimento de água potável, esgotamento sanitário,drenagem, coleta e destino final adequado ao lixoe controle de transmissores, como ratos e mosquitos.Mas a população também tem muito a fazer paraevitar a poluição e manter casas e cidades limpas.

Na cidade do Rio de Janeiro, a gestão dos ser-viços de abastecimento de água e saneamentoestá a cargo do governo do estado desde afusão dos estados da Guanabara e do Rio deJaneiro, em 1975. A Prefeitura, no entanto, vemapresentando proposições para a modificaçãodo modelo vigente, além de garantir aimplementação do esgotamento sanitário emregiões carentes desse tipo de serviço1 . Cri-ada em 1998, a Fundação Rio-Águas é um mar-co do poder executivo municipal, que vemampliando a sua ação nas decisões de ges-tão, regulação, outorgas e concessões no setor.

Fim das fossas – Com o Programa Munici-pal de Saneamento, a Rio-Águas está trans-formando o precário sistema de esgotamentosanitário dos bairros do Recreio dos Bandei-rantes, Vargem Grande e Vargem Pequena, naZona Oeste, que até hoje funciona com fos-sas, sumidouros2 e valas. Com investimentode R$ 23 milhões, o programa prevê a implan-tação de 149 quilômetros de redes coletoras,a construção de 21 estações elevatórias e de

TEXTO

DURVAL MELLO

(ENGENHEIRO E CHEFE DE

GABINETE DA FUNDAÇÃO

RIO-ÁGUAS)

FOTOS

ALBERTO JACOB FILHO

•Não deixe folhas, galhos, plásticos e outros objetos obstruírem ralos ecaixas de inspeção.•Não jogue papel higiênico, preservativos, absorventes, fio dental,cotonetes etc. nos vasos sanitários.•Não deixe restos de comida escoarem pelo encanamento da pia.•Verifique vazamentos em casa e no trabalho.•Não “varra” quintais e calçadas com água. Use a vassoura.•Não deixe a torneira aberta enquanto escova os dentes, faz a barba oulava a louça.

Para deixar a cidade limpa

Não à poluição e ao esgotoRIO-ÁGUAS

Em muitas praias da cidade a sujeira diiculta a vida dos banhistas

Page 17: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

17

parceria

quatro estações de tratamento de nível se-cundário, reduzindo em até 90% a carga or-gânica do esgoto. O método ut i l i zadopreconiza o tratamento na própria bacia deesgotamento, o que evita o transporte agrandes distâncias, diminui o custo de im-plantação e garante mais rapidez e eficá-cia na prestação do serviço à população.

O sistema já está ativado no Recreio dos Ban-deirantes, com duas estações de tratamento empleno funcionamento. A queda do número decasos de doenças transmitidas por água con-taminada e a preservação de lagoas, rios e ca-nais, que antes recebiam toda a carga poluentein natura, sem qualquer tipo de tratamento, con-tribuíram para a melhoria da qualidade de vidana região. Em Vargem Grande e em VargemPequena, as obras estão em fase final, com pre-visão de término para o ano de 2006. Juntamentecom os sistemas municipais implantados noFavela-Bairro e Bairrinho, o programa per-mitirá a construção de redes de esgotamen-to sanitário para uma população superiora 500 mil habitantes.

1 A Lei Municipal nº 2617, de junho de 1998,autoriza o Poder Executivo a explorar, direta ouindiretamente, os serviços de abastecimento deágua e esgoto de interesse do Município doRio de Janeiro.

2 Sumidouros são escavações utilizadas para receberos efluentes das fossas em ruas sem canalizaçãode águas pluviais. Nessas escavações, a água éabsorvida pelo subsolo. Ela jamais deve ser lançadaao ar livre ou em sarjetas, por conta do alto graude contaminação.

Uma instalação de esgoto sanitário é formada por tubos e caixas de concreto. As caixas destinam-se à manutenção dasinstalações e devem ter tampa de ferro fundido, para mais proteção. A instalação deve ter ao menos uma abertura para oexterior – o tubo de ventilação, destinado à saída dos gases da rede coletora de esgotos e à entrada de ar na canalização.

A responsabilidade da concessionária do serviço se limita à ligação ao prédio, trecho entre a última caixa de inspeção e ocoletor público. É necessário, portanto, que donos e ocupantes dos imóveis tomem alguns cuidados como:• a limpeza semanal da caixa de gordura, com lançamento dos resíduos, devidamente embalados, no lixo;• o controle imediato de vazamentos internos ou de um imóvel para outro (não só de esgotos, como também de água),

que oferecem alto risco de contaminação;• a verificação do nível de água dos desconectores (caixas dotadas de camada de água para evitar a penetração dos

gases da rede de esgotos no interior do imóvel, como o vaso sanitário, a caixa de gordura, o ralo sifonado e a caixasifonada). O volume de água deve ser suficiente para evitar o mau cheiro;

• as águas de chuva, piscinas e jardins não devem ser escoadas pelas instalações de esgotos sanitários.

Manutenção das instalações

Quando não existe rede coletora de esgoto sanitário dotada detratamento adequado, é necessário que o tratamento ocorra na área doimóvel. Utiliza-se então a chamada fossa séptica, um dispositivo de fluxocontínuo, à venda nas lojas de material de construção. O volume mínimode uma fossa séptica é de 1.250 litros, ideal para um imóvel com até cincopessoas. O volume máximo é de 75 mil litros, suficiente para 500 pessoas.

Antes de ser utilizada, a fossa deve estar cheia de água limpa. Ao menosuma vez por ano, deve ser limpa, para a retirada do lodo e da escuma, umlíquido que se acumula na superfície. Nessas ocasiões, deixa-se o volumecom cerca de 25 litros, para que o tratamento não seja interrompido.Convém que a fossa séptica seja instalada na frente do terreno, próxima àrua, para facilitar a limpeza. Altamente contaminado, o lodo deve serimediatamente enterrado.

Fossas sépticas

Esgoto a céu aberto é perigoso, sobretudo para crianças

que podem ser contaminadas

•Ministério das CidadesSecretaria Nacional deSaneamento AmbientalDiretrizes para os serviçospúblicos de saneamentobásico e Política Nacional deSaneamento Ambiental –PNSA (anteprojeto de lei)•http://www.cedae.rj.gov.br•http://www.cidades.gov.br

SAIBA MAIS

Page 18: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

18

nº 3

2/20

05pa

n 20

07

Em épocas de grandes eventos internacionais, comoa Copa do Mundo, as Olimpíadas ou os JogosPan-americanos, o esporte vira assunto em todolugar. No Brasil, o futebol ainda rende conversao ano inteiro. Mas nem sempre a prática esporti-va ganha o merecido destaque no dia-a-dia. Alémde essencial à preservação de hábitos de vida sau-dáveis, ela pode ser um poderoso aliado no pro-cesso de educação. Pensando em todos os benefícios,a Prefeitura do Rio de Janeiro realiza há 14 anosos Jogos Estudantis Municipais, que reúnem cercade 24 mil alunos e 1.800 professores da rede municipalde ensino. A cerimônia de premiação deste anoaconteceu no último dia 12.

A iniciativa, coordenada pela Secretaria Munici-pal de Educação (SME), atende aos objetivos deeducar a juventude pela prática esportiva, difun-dindo valores como ética, compreensão mútua,fraternidade e solidariedade. Às vésperas dos JogosPan-americanos de 2007, serve ainda para pre-parar os futuros anfitriões da festa do esporte. Aprendera competir é uma experiência e tanto, mas os re-sultados das competições perdem importância dianteda mobilização de professores, alunos e escolas.“Somos a maior rede de educação pública da AméricaLatina e atividades dessa natureza ganham importânciamuito grande”, ressalta Ana Lúcia de Azevedo, co-ordenadora interina dos Jogos Estudantis desteano.

A realização dos Jogos fica a cargo da Super-visão de Projetos Culturais da Divisão de Edu-cação Fundamental (DEF). “São oportunidadespara as crianças se posicionarem de forma in-tegral na sociedade. Priorizar só a sala de aulaseria desperdiçar as potencialidades delas”, avaliaAna Lúcia. Há competições para meninos e me-ninas, divididos em quatro categorias: pré-mi-rim (9-10 anos de idade), mirim (11-12 anos),infantil (13-14 anos) e infanto-juvenil (15-16 anos).Entre os meses de julho e dezembro, os parti-cipantes disputam oito modalidades esportivas:atletismo, basquete, futsal, handebol, natação,tênis de mesa, voleibol e xadrez.

A educação pelo esporteJogos Estudantis Municipais mobilizam cerca de 24 mil alunos da rede

TEXTO

RENATA PETROCELLI

Organização – A ação das Coodenadorias Re-gionais de Educação (CREs) também é decisivapara os Jogos Estudantis. Cada uma das 10 CREsrealiza, entre suas escolas, a primeira etapa dostorneios de quadra, que acontece entre julho esetembro, nas próprias unidades escolares, emquartéis militares, clubes, associações comuni-tárias, universidades e complexos desportivos. Deoutubro a novembro, são conhecidos os vence-dores de cada CRE. Supervisor técnico dos jo-gos nas áreas da 3ª e 4ª CREs , Hilton César deMattos Vieira ressalta a importância do períodoque antecede os jogos. “O processo nas esco-las é mais importante que a competição. Tudo dependeda forma como o professor conduz os trabalhose difunde os valores do esporte”.

Na modalidades de atletismo, tênis de mesa, xa-drez e natação, os jogos são realizados em etapaúnica, coordenados pela própria Supervisão deProjetos Culturais da DEF. De agosto a novem-bro, cada mês é dedicado a um esporte. As fe-derações são contratadas para viabilizar cada etapa.Centros desportivos com total infra-estrutura sediamas competições. Este ano, por exemplo, a etapade atletismo aconteceu no Estádio Célio de Bar-ros . Para Ana Lúcia, esta é outra grande conquistados Jogos.”Só o fato de as crianças poderem com-petir em lugares como este já é fantástico”, enfatiza.

Os Jogos Estudantis Municipais contemplam commedalhas e troféus alunos e unidades escolaresclassificados em até 3º lugar em cada modalida-de, sexo e categoria. A unidade que somar o mai-or número de pontos leva ainda o troféu de campeãgeral. Professores classificados em até 20º lugarganham bolsas esportivas, agasalhos e as esco-las, material para a prática de esportes. Os resul-tados, no entanto, superam as expectativas: “Ascrianças aprendem coisas que levam para a vidainteira”, ressalta Ana Lúcia. Sobre o valor de sa-ber perder, ela faz uma ressalva. “Às vezes, é maisimportante saber ganhar. A criança tem de aprendera respeitar o outro, encarar a vitória com humil-dade, responsabilidade e ética”, justifica.

Page 19: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

19

professor on line

Desde a sua criação, a internet revolucionou osprocessos de comunicação do homem moderno.Junto com a rede mundial, veio o correio ele-trônico, ou e-mail, que se tornou fundamentalno dia-a-dia de milhões de pessoas, como fer-ramenta de trabalho e para a troca de corres-pondências com amigos e familiares. Atualmente,vários provedores oferecem este serviço deforma gratuita.

Para abrir uma conta de e-mail gratuita, bastaacessar os sites de provedores como Hotmail,BOL, Yahoo, Zipmail e IG. É só preencher umcadastro, criar um endereço, escolher uma se-nha e pronto! Toda a praticidade da comunica-ção via internet estará a seu dispor.

Não é necessário nem mesmo ter computadorem casa para usar um e-mail. Com o login (nomecom o qual é identificada cada conta de e-mail) e a senha escolhidos no momento de sua cri-ação, a conta de endereço eletrônico pode seracessada de qualquer computador ligado àinternet. Basta clicar no site do provedor e, delá, enviar e receber e-mails, além de armazenaras mensagens recebidas.

Muitas escolas da Rede têm acesso à internetem salas de leitura e nos laboratórios deinformática. Mas há também lugares públicosque disponibilizam o acesso. Na maioria dosshoppings, por exemplo, podem ser encon-trados quiosques de provedores de internetbanda larga, como Velox, Vírtua e Speedy.Além disso, é possível conectar-se à rede mun-dial de computadores em lanchonetes, lanhouses e cyber cafes.

Mudança de comportamento – A criação dainternet é considerada um dos principais acon-tecimentos da história da humanidade. Comela, pessoas comuns ganharam a possibilida-de de produzir, gerenciar e distribuir informa-ções em larga escala. Trata-se do maior sistemade comunicação já desenvolvido pelo homem.

‘E-mail’ ao alcance de todosQuem ainda não tem endereço eletrônico pode criar o serviço gratuitamente

Além de aumentar exponencialmente a circu-lação de informações, a internet mudou o com-portamento do ser humano, que hoje passahoras por dia na frente do monitor, navegan-do na rede mundial de computadores por lazerou a trabalho.

A primeira rede de transmissão de dados sur-giu em 1969, com o objetivo de conectar asbases militares dos Estados Unidos. Com opassar dos anos, o acesso foi liberado para ci-entistas de universidades e, em 1989, chegouao grande público com a criação da World WideWeb (www). No ano seguinte, tornaram-se po-pulares os primeiros provedores de acesso –empresas que fornecem infra-estrutura para osusuários se conectarem e utilizarem a internet.No Brasil, apenas em 1995 este serviço foidisponibilizado comercialmente.

Hoje, são mais de 30 milhões de brasileirosconectados à internet, sendo 11 milhões usu-ários domiciliares. O número aumenta rapida-mente, assim como a velocidade das conexões.Os provedores de banda larga, que oferecemconexões rápidas, chegaram em 1999. Canaisde TV a cabo e operadoras telefônicas obtive-ram o direito de prover acesso à rede e pas-saram a oferecer serviços com velocidadesde até 256 kbps (kilobits por segundo), bemacima da conexão discada via modem, cujavelocidade máxima é de 56 kbps. Atualmen-te, os provedores oferecem serviços de co-nexão com velocidade de até 8.000 kbps.

TEXTO

FÁBIO ARANHA

Page 20: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

20

nº 3

2/20

05ol

ho m

ágic

o

mundo dos bichos e Grupo dos cinco explo-ram diferentes características dos animais. Háainda No fundo do mar, sobre os segredosdo mundo submarino; Natureza e tecnologia,que relaciona mecanismos de plantas e animaisàs invenções humanas; e Olho vivo, que tratade temas da história natural e da ciência.

Ainda na área de ciência, destacam-se Gran-des questões e pesquisas científicas, que dis-cute a origem do homem, as forças que governamo universo e outros temas inquietantes; Infini-tamente curvo, que explica a Teoria da Relati-vidade de Einstein com analogias de fácilentendimento; e Legendas da ciência, sobre aven-turas e façanhas que resultaram em extraordi-nárias descobertas.

Os programas de literatura são Escritores, tes-temunhas do seu tempo, que mostra como ocontexto histórico influencia os autores, e Épi-cos animados, série que adaptou Dom Quixote,Moby Dick e outros clássicos para desenhoanimado. Assim como os escritores, pintorese filósofos também têm vez: Arte na galeria analisaquadros da National Gallery de Londres, enquantoTempo dos filósofos e Investigadores do nos-so tempo apresentam as idéias de grandes nomesda filosofia ou das ciências sociais.

Um kit de conteúdo e diversãoP s adquiridas pela MULTIRIO chegam às escolas em cópias VHS

TEXTO

FERNANDA MARQUES

IMAGENS

REPRODUÇÃO DAS SÉRIES

História, literatura, meio ambiente, ciência, re-lações sociais... Esses e outros assuntos vãoganhar novas abordagens nas salas de aula coma distribuição do terceiro kit de produtos licenci-ados da MULTIRIO. São episódios de 30 sériesadquiridas junto a produtoras nacionais e inter-nacionais, já exibidos na programação veiculadana Net, na Band e na TV Alerj. Os programas chegamàs escolas em cópias VHS, assim como aconte-ceu com o primeiro e o segundo kits, distribuídosem 2003 e 2004, respectivamente.

Para garantir o amplo acesso de alunos e pro-fessores a essas produções, a Secretaria Mu-nicipal de Educação (SME) distribui os kits paraas 30 salas de leitura pólo, as Divisões de Edu-cação (DEDs) de todas as CoordenadoriasRegionais de Educação (CREs), o Centro deReferência da Educação Pública (Crep), a Di-retoria de Educação Fundamental (DEF), a Divisãode Mídia e Educação e a Biblioteca Louren-ço Filho, as três últimas do Departamento Geralde Educação (E/DGED).

Os temas relacionados à natureza são recor-rentes entre as séries que compõem o terceirokit. Animação verde, produzida pela ONG WorldWildlife Fund (WWF), ressalta a importância dapreservação do meio ambiente. Já O divertido

Além-mar Pequenas histórias da natureza

Além do olho nu Quando o mundo falava árabe As religiões do mundo Cristopher, por favor, limpe o quarto Matilda O cosmo

Ecce homo Alma negra Minha casa Arte na galeriaPalestina As crianças perguntam

Dragolândia Vida selvagem As plantas

Page 21: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

21

O que já tem na sua escola

Christopher muda de nome

A dança dos brutos

O inverno nos salgueiros

Não faltam também séries sobre questões histó-ricas, como A misteriosa Idade Média; Índia; Ir-landa, Irlandas; Palestina, história de uma terra;As religiões do mundo; Cenas do século;Apartheid; e Grandes nomes da história.

As diferentes formas de expressão e organiza-ção das sociedades humanas estão em Eccehomo. Crianças do mundo todo apresentam oscostumes de seus países, sua estrutura famili-ar e os diferentes meios de locomoção nas sé-ries Minha casa, Minha família e Transporte,

respectivamente. Já no programa Expresso Brasil,personalidades brasileiras fazem um tour peloestado onde nasceram.

Há espaço também para o universo das crianças.Um dividido por dois mostra memórias e senti-mentos despertados nos filhos quando os pais sedivorciam. Um sonho de criança aborda o imagi-nário infantil, enquanto em As crianças pergun-tam o público mais jovem pode tirar suas dúvidassobre os mais variados assuntos, como o vôo dospássaros ou a utilidade dos óculos.

Dino-safáriEcovídeo Contos desfeitos

Em 2003 e 2004 a MULTIRIO distribuiu dois kits, cujas séries estão listadas abaixo:

Épicos animados – Mobi Dick O mundo mágico de Bia e Beto

O inverno nos salgueirosChristopher muda de nomeChristopher, por favor, limpe o quartoCiências, por favorDino-safáriUm sonho de criançaShakespeare, histórias animadasAlma negraComo eles fazem...A máquina dos alimentosO cosmoSe eu fosse um bichoViva a diferençaNos quadrosArte em questãoCiência nua e cruaO mundo naturalA origem das espéciesAlém-marNa rota dos orixásVisões do esportePor que será?Escolhi viver aquiUm dia de festaMomento BrasilNa ponta dos pésMestres da literaturaEcovídeoO menino do vestido rosaPequenas histórias para se saborearRetratos de animaisParaíso perdido

Mestres da literatura

Meu pequeno planetaDragolândiaO olho do ciclopeA dança dos brutosChuáO mundo mágico de Bia e BetoO planeta de PipsqueakE foi assim...Os álbunsCrônicas da minha escolaCiências na escolaVida selvagemPequenas histórias da naturezaImagens da naturezaQuando o mundo falava árabeMuseu mutanteMeteorologiaPrimeira aulaA lagarta faminta e outras históriasO homem e suas descobertasSenhores dos animaisAs plantasContos desfeitosJantar para doisOs multochesO que é isso?Lucas e LucindaPedro e o loboPequenas histórias da naturezaAs crianças perguntamMatildaO vento nos salgueiros

Ciências, por favor

Na rota dos orixás

Pedro e o Lobo

Para obter cópias deproduções da MULTIRIO, asescolas da Prefeitura do Riodevem enviar ofício à Centralde Atendimento MULTIRIO,pelo fax 2537-1212,informando o nome da série eo título desejado. A remessa éfeita pelas CREs. Para maisinformações, basta entrar emcontato com a Central deAtendimento, pelo telefone2528-8282.

Serviço

Page 22: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

22

nº 3

2/20

05ca

leid

oscó

pio

O fascículo Refletindo sobre o trabalho no1º ciclo de formação – a multieducação nasala de aula tem como principal objetivo pos-sibilitar aos professores do 1º ciclo de formaçãoe das turmas de progressão a reflexão sobreum caminho metodológico de alfabetizaçãoa implementar com seus alunos. Aborda tambémquestões fundamentais sobre a importânciado aprender a ler e escrever a língua mater-na sem encarar esse processo de maneirareducionista, referente a um período de for-mação humana. A língua assume um nível di-ferenciado na escola, em que a oralidade érepresentada simbolicamente pela escrita,trabalhando a essência de sentidos e signifi-cados estabelecidos social, cultural e histo-ricamente.

Entendendo que a aprendizagem da leitura eda escrita possibilitará um salto qualitativo nodesenvolvimento do aluno, os professores en-tenderão, também, que serão 600 dias leti-vos de muito investimento e trabalho. Desde

Atualização da Multieducação:1º ciclo de formação

TEXTO

ANDREA FILIPECKI

(Assistente da Diretoria de

Educação Fundamental

do DGED da SME)

o primeiro dia, professores e alunos estarãoimersos numa rede de significações e senti-dos tecida no ir-e-vir dos signos, e que ago-ra precisa ser tratada de maneira especial noespaço da sala de aula.

A principal característica do ciclo de forma-ção é a reconceituação da escola como es-paço de formação, não só de aprendizagem.Impossível, pois, pensar esse processo de al-fabetização apenas como a apropriação deum código. Desta maneira, é de fundamentalimportância que o trabalho se desenvolva apartir do texto enquanto unidade significati-va, percebendo-o e valorizando-o em todasas áreas de conhecimento, afastando-se daidéia de que texto se refere apenas à área delíngua portuguesa. É preciso ter clareza deque em ciências, matemática, história e geo-grafia também se tem um universo de textosque possibilita um excelente trabalho de apro-priação da escrita, desde que seja conside-rado de forma contextualizada e significativa.

Page 23: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

23

caleidoscópio

O desenho do aluno francês mostra a integração entre crianças de diferntes raças

Outra característica marcante do regime cicladoé o trabalho coletivo, exigindo planejamentoconjunto dos professores e utilização de es-paços articulados e diferenciados. Caso contrário,como garantir continuidade na reorganizaçãodo tempo escolar e do tempo na escola?

No fascículo, o professor encontrará os eixosbásicos que irão nortear seu fazer pedagógi-co, parecendo, a princípio, óbvios a qualquertrabalho, mas que, compreendidos na dinamicidadeque os caracteriza, permitirão a flexibilida-de e concretude de ações com os alunosno período de desenvolvimento humano do1º ciclo de formação. São eles: ver, ouvir,falar, ler, escrever, contar.

Também, são definidos alguns pressupostospara o desenvolvimento do trabalho. Desta-cam-se, aqui, dois deles:• Aprende-se a ler e a escrever se aprende

lendo, escrevendo e pensando, ou seja, éno próprio ato da interação via escrita quese dá a apropriação desse sistema de re-presentação.

• Os alunos se apropriam de conhecimentosformais e, especificamente, da leitura e daescrita, por meio de processos de interaçãodialógica, em que o professor é o seu prin-cipal interlocutor.

No fascículo poderão ser encontrados, ain-da, alguns dos objetivos de trabalho para o1º ciclo de formação, nas áreas de línguaportuguesa e matemática. Houve o cuidadode redigi-los de forma que não gerassemdescontinuidade nas ações pedagógicas duranteos 600 dias letivos, visto que não há uma de-terminação temporal rígida como na seriação.É importante que os professores leiam, ana-lisem e tracem um paralelo desses objeti-vos com os que vêm sendo elaborados emseus planejamentos. Definir objetivos cla-ros é condição básica para que um traba-lho de qualidade possa ser desenvolvido.

O carro-chefe do fascículo é a proposta detrabalho com a leitura e a escrita enquantoartefato cultural, onde é resgatada a discus-são de que essas aprendizagens precisam ser

ensinadas, considerando como grande desafiocompatibilizar a interdiscursividade (que in-clui o aspecto fundamentalmente social dasfunções, das condições e do funcionamentoda escrita: para quê, para quem, onde, como,por que escrevo), com a discussão e refle-xão dos vários conteúdos da língua portu-guesa, necessários para compor um texto(espaçamento entre as palavras, unidadesemântica, relação fonema-grafema etc.

Sendo assim, professor, é de vital importân-cia o trabalho com diferentes linguagens, pro-piciando espaços alternativos, onde os alunosse expressem de diferentes formas e realmentesejam sujeitos do seu próprio processo de apren-dizagem. Torna-se imprescindível que você com-preenda as práticas culturais dos alunos, traga-aspara a sala de aula e discuta sobre elas, re-lacionando-as às suas próprias práticas, e juntos,construam, ampliem e avancem em seus co-nhecimentos de mundo.

Espera-se que a reflexão sobre o trabalho no1º ciclo de formação apresentado no fascí-culo contribua para novos direcionamentosno cotidiano de sala de aula, efetivando o di-álogo entre os conhecimentos de todos e pos-sibilitando aos sujeitos envolvidos nessa tramanovos olhares sobre si mesmos e novas con-figurações do saber.

REPRODUÇÃO

Page 24: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

24

nº 3

2/20

05re

de f

ala

Nos dias de hoje, uma grande queixa e um enor-me desafio para o educador estão na questãoreferente à produção textual. Entendamos,primeiramente, o que é produção textual, esta-belecendo para isso a diferença entre redaçãoe texto. Enquanto o primeiro termo estárevestido de aspectos de textualidade, comoinferências, intertextualidade, interdiscursividadee intenção comunicativa, o segundo, por suavez, não está. Ou seja, redação é uma pro-dução escrita que se configura de maneiramenos original e rica do que o texto, efetivamente,repleto de marcas textuais. O que é necessá-rio, então, para desenvolver no aluno essa pos-tura diante da prática textual?

Não há, de fato, receitas prontas, a não ser al-guns caminhos. É preciso fazer com que o alu-no se sinta, sobretudo, autor de seu próprio texto.Também é preciso abolir definitivamente a práticade redação como forma de castigo. Escrevernão é um dom divino, como algumas pessoaserroneamente pensam. É técnica que, como tal,deve ser constantemente aprimorada.

Não quero execrar a gramática, mas, sim,humanizar a postura dos que se tornam escra-vos da normatização, tratando a língua de ma-neira ortodoxa, fazendo com que esta se torneum todo acabado e não um continuum de sen-tidos em construção. Assim, desprezam a va-riante do aluno, imputando-lhe o imperialismoda normatização, que concebe o falante comomero reprodutor. Não devemos sucumbir àmetalinguagem, muito menos adotar a posturareducionista de que a língua é um sistema aca-bado, arbitrário e hermético.

A produção textual está vinculada às várias áreasdo conhecimento, mas é no ensino e na apren-dizagem da língua materna que essa importân-cia se notabiliza. Sabemos das dificuldades nocampo em que muitos professores titubeiam eacabam cometendo vários equívocos e, princi-palmente, terminam por depreciar a competêncianatural do aluno, pois o que é considerado re-levante é apenas o que está na contramão dasexpectativas do próprio educando. Pensemos

Redação não deve ser uma forma de castigo

Alex Swander

professor do ensino fundamental na

E. M. Fernando de Azevedo, Mestre em

Letras, especialista em Língua

Portuguesa, doutorado em Science of

Language

mais um pouco: o que é falar e escrever bem?Numa visão tradicional, é agir em concomitânciaà norma culta-padrão. Mas se fugirmos dos es-tereótipos da ortodoxia, veremos que falar eescrever bem é agir de maneira pragmática ecoerente, permitindo a concatenação dos enun-ciados e a recuperação do sentido.

É crucial refletirmos se estamos ou não ade-quando nossas estratégias de ensino frenteaos currículos (muitas vezes alheios à reali-dade por não privilegiarem os educandos oupor torná-los meros reprodutores), paraque assim tenhamos em conseqüência aconcatenação de um trabalho no mínimo dignoe desprovido de demagogia.

É fundamental que os professores que traba-lham e ensinam a língua portuguesa aliem co-nhecimentos lingüísticos à sua formação. Venhorefletindo sobre como as produções escritas denossos alunos – sejam textos livres ou redaçõesorientadas – têm sido avaliadas. Lamentavelmen-te constato que, em face de tantas incoerênci-as de certos professores, a produção textual émuitas vezes cerceada por aqueles que se con-sideram verdadeiros avaliadores, que estufamorgulhosamente o peito para afirmar bobagensconcluídas após delimitarem o foco de atençãona mediocridade da informação periférica, sub-vertida numa visão meramente gramatical epseudo-educativa.

É preciso mudar essa postura, mas antes de tudoé preciso repudiar a intolerância não da gramá-tica, mas dos que se fazem dela meros escra-vos e fazedores de reprodutores de palavras,sem o menor embrião de criticidade e ideolo-gia. Em outras palavras, ensinar português é,sobretudo, interagir no processo de leitura e pro-dução de textos, é ter um compromisso com arealidade e as necessidades do aluno, sem quepara tal seja preciso constituir um palco em queo professor tome para si o papel de um pretensi-oso protagonista. Até porque na verdadeele não o é e, se esta consciência não formudada, que país estaremos deixando paraos nossos filhos?

Page 25: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

25

atualidade

Durante todo o ano, milhares de cariocas aguardamansiosamente a chegada do verão, sinônimo desol, praia, férias e diversão. Mas a estação é tambéma época em que prolifera o vírus da dengue, doençainfecciosa com alta incidência em áreas tropi-cais e subtropicais, como o Brasil. Como aprevenção é o melhor remédio, a prefeiturado Rio tem investido em diversas ações deconscientização da população sobre os ris-cos da doença. O trabalho vai desde a pro-dução de material informativo, disponível no siteda Secretaria Municipal de Saúde, até a orga-nização do Dia D, data que mobiliza todo o paísno combate à dengue.

O vírus que provoca a doença é transmitido peloAëdes aegypti, mosquito com hábitos diurnos,encontrado no perímetro urbano, dentro ou forade casas e apartamentos, em qualquer recipi-ente que acumule água limpa, como pneus,vasos, garrafas, latas, caixas d´água e cister-nas. Sua aparência é marcante – ele é mais escuroque o pernilongo e tem listras brancas no cor-po e nas patas. Hoje, o Aëdes aegypti se re-produz em mais de 3.600 municípios brasileiros,principalmente nas regiões Nordeste e Sudeste.

Embora tenha sido erradicado diversas vezesno Brasil, o Aëdes aegypti reapareceu em 1976em Salvador, na Bahia. Detectado no ano se-guinte no Rio, não foi eliminado até hoje. Des-de a década de 1980, as epidemias sãoconstantes por aqui, o que dá à dengue a clas-sificação de doença endêmica no país. Entre1986 e 1987, foram registrados cerca de 90mil casos da doença. Fato semelhante se re-petiu em 1990-91, quando aproximadamen-

Dengue: prevenir é essencialCombate à doença tem de ser feito o ano inteiro para evitar epidemias

TEXTO

FÁBIO ARANHA

FOTOS

ALBERTO JACOB FILHO

te 100 mil pessoas foram infectadas. Outraepidemia, no início de 2001, teve registradoscerca de 20 mil casos. A pior e mais recenteaconteceu entre dezembro de 2001 e abril de2002, quando foram relatados mais de 140 milcasos de infecção. No ano de 2005, até o mêsde outubro, registraram-se menos de 400 casos.Em todo o mundo são relatados entre 50 e 100milhões de vítimas da doença por ano.

Existem quatro tipos de vírus que causam a in-fecção. Os tipos 1, 2 e 3 já foram detectadosem todo o território nacional. A dengue 4, atéhoje, só apareceu na região Norte. Ao ser infectadopor um tipo de vírus, um indivíduo fica imune anovas infecções. Nada impede, no entanto, quese contamine pela exposição a algum dos trêsvírus restantes. Por isso, pode contrair a den-gue até quatro vezes.

Mas não basta ser picado pelo mosquito trans-missor para ficar doente. O inseto precisa pi-car uma pessoa que já esteja infectada e, como vírus multiplicado dentro do organismo, con-taminar alguém que ainda não tenha contraídoa enfermidade. Além disso, somente a fêmeado Aëdes aegypti é transmissora do vírus. Ossintomas da infecção são febre alta, dor de ca-beça, nos olhos e nas juntas, falta de apetite,fraqueza, manchas avermelhadas, coceira epossivelmente vômito. Em certos casos, podeocorrer sangramento na gengiva e no nariz. Nor-malmente, há melhora após quatro ou cinco dias,com cura total depois de cerca de 10 dias.

Agravamento e choque – A grande preocu-pação em relação à doença é a dengue

Além de combater os focos do mosquito, o agente de saúde informa a população sobre os riscos da doença

Page 26: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

26

nº 3

2/20

05at

ualid

ade

hemorrágica, sua manifestação mais grave, quecorresponde a menos de 1% dos casos. Masé um equívoco pensar que somente esta for-ma da doença representa ameaça à integri-dade física do indivíduo infectado. Enquantomuitos pacientes apresentam quadro de denguehemorrágica sem qualquer gravidade, a den-gue clássica também pode conduzir à formagrave da enfermidade e até levar à morte. Naepidemia de 2002, por exemplo, a maior partedos óbitos no Rio teve como causa a den-gue clássica. Os sinais de agravamento –tonteira, queda de pressão acentuada, vô-mitos em seqüência e dor abdominal intensae contínua – aparecem nos três primeirosdias depois que a febre começa a baixar.O indivíduo que apresenta estes sintomasprecisa ser levado com urgência a uma unidademédica para receber tratamento.

Ao contrário do que se acredita, a morte por denguenão decorre de hemorragia e, sim, do chama-do choque hipovolêmico. A doença causaaumento da permeabi l idade dos vasossangüíneos, o que leva à perda de líquidos,provocando o choque. “Nossas veias são comoum encanamento. Por elas, passam todos osnutrientes que correm no sangue. Eles são trans-feridos para os músculos e outros tecidos atravésde microporos. Por alguma razão, a dengue fazcom que estes poros aumentem enormementede tamanho. Dessa forma, além de saírem nu-trientes, sai também todo o líquido que se acumulanos tecidos. Chega-se assim ao estado de cho-que hipovolêmico. É como se a pessoa tives-

se levado uma facada e sangrado até a morte”,explica a médica Cecília Nicolai, gerente daVigilância Epidemiológica da Secretaria Mu-nicipal de Saúde (SMS).

Hoje, não existe vacina nem tratamento espe-cífico para curar a dengue. As recomendaçõessão que o paciente beba muito líquido para evitara desidratação e fique em repouso. Antitérmicospodem ser usados para atenuar a febre. “É muitodifícil saber como a doença vai evoluir. Por isso,é importante que a pessoa procure o posto desaúde assim que aparecerem os primeiros sinto-mas”, enfatiza a médica Mônica Vieira Coe-lho, assistente da Superintendência de Vigilânciaem Saúde da SMS.

Caso não haja complicações, o tratamento é feitoem casa. É necessário, no entanto, ter algunscuidados. Medicamentos que contêm ácidoacetilsalicílico, como AAS, Aspirina e semelhantes,podem aumentar o risco de sangramento e devemser evitados. Outros remédios podem causarerupções na pele, como os que contêm dipirona,incluindo Novalgina e Dorf lex. Por f im,antiinflamatórios também não devem ser uti-lizados, pois podem provocar efeitos colateraiscomo hemorragia digestiva e reações alérgicas.

Medidas de prevenção – A melhor forma deevitar a dengue é erradicar o mosquito. A SMSconta com agentes de saúde que visitam todosos bairros, casa a casa, para eliminar focosde proliferação. Além de identificar possíveiscriadouros e coletar material para análise, elesensinam os moradores a evitar a instalaçãodo mosquito.

O Aëdes aegypti se desenvolve em água pa-rada. Em qualquer lugar onde haja acúmulode líquido, portanto, há risco de surgir umcriadouro. Os ovos do mosquito podem du-rar até um ano e não são eliminados com asimples remoção da água de um recipiente con-taminado. É necessário limpá-lo com bucha ouescova para remover os ovos que podem es-tar grudados às paredes. Outros cuidados são:adicionar areia aos pratinhos de vasos de plantas,trocar com regularidade a água de vasos deplantas aquáticas e bebedouros de animais, manter

A equipe da SMS no Dia D

Page 27: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

27

atualidade

piscinas limpas e tratadas com cloro, tampar caixasd´água, guardar pneus, garrafas e vasilhamesao abrigo das chuvas, limpar as calhas e des-pejar água sanitária ou desinfetante em ralos ondehaja água parada.

Os agentes também ficam atentos à existênciade macrofocos, ou seja, áreas onde ocorre pro-liferação do mosquito. “Às vezes, há uma casaabandonada ou um terreno baldio com grandescriadouros. Se estes espaços não forem cui-dados, de nada adiantarão os esforços dos vi-zinhos”, explica a médica Mônica Coelho.

Educando a população – A SMS organizamutirões em comunidades, com a participa-ção de instituições públicas e privadas, e como apoio de escolas, associações de moradorese outras entidades locais. A Comlurb (Com-panhia Municipal de Limpeza Urbana), porexemplo, higieniza as áreas de risco poten-cial. Empresas ou instituições que ocupamgrandes espaços recebem treinamento espe-cífico e seus empregados passam a sermultiplicadores dos conhecimentos adquiri-dos durante o treinamento.

O trabalho de prevenção também é realiza-do o ano inteiro nas escolas, especialmentenas da rede municipal. Para isso, a SMS mantémum grupo de teatro, formado por agentes desaúde que encenam esquetes para os alunos.O objetivo é mudar o comportamento das cri-anças e de seus pais e alertá-los sobre os pe-rigos e as formas de enfrentar a doença. A SMStambém disponibiliza o vídeo educativoAmbiente saudável – fruto de parceria com aSecretaria Municipal de Educação (SME) eMULTIRIO –, para ser exibido nas salas de es-pera dos postos de saúde e nas escolas da Rede.

Dia D – A SMS participa ainda ativamente dodia da mobilização nacional contra a doença,o chamado Dia D, realizado no último dia 19.O dia é marcado por palestras, treinamentoe distribuição de material informativo em praçaspúblicas e escolas. Participam organizaçõesnão-governamentais (ONGs), colégios,asssociações comerciais e de moradores,empresas, jornais de bairro e rádios comuni-

tárias, com ampla cobertura pelos principaisveículos de comunicação do país.

Para a médica Mônica Coelho, o Dia D é im-portante pelo impacto que proporciona. É possívelmobilizar a população e, conseqüentemente,eliminar um grande número de criadouros doAëdes aegypti. A escolha da data – normal-mente em torno da terceira semana de novembro– é estratégica, pois funciona como prepa-ração para o verão, estação mais propícia àproliferação do inseto. “Nosso papel é alertaras pessoas sobre os riscos, pois elas se es-quecem dos cuidados e só vão se preocuparquando aumenta o número de casos ou, pior,quando começa a haver óbitos. O moradorprecisa se sentir co-responsável pela lutacontra a doença. Não adianta pensar nadengue apenas uma vez por ano. É preci-so fazê-lo todo dia”, ressalta.

A médica acrescenta que sem a participaçãoda sociedade qualquer iniciativa de combate àdoença está fadada ao fracasso. “A Secretariade Saúde sozinha não dá conta da dengue, poissomos quase 6 milhões de pessoas no muni-cípio do Rio. É fundamental que todos se unampara evitar o surgimento de criadouros e a pro-liferação do mosquito. É a única forma de con-trolar a doença”, afirma.

Para a médica Mônica Coelho, a prevenção deve ser feita o ano inteiro

Page 28: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

28

nº 3

2/20

05ca

pa

— Por que não trouxe uma balinha? O conteúdo da fala do personagem da zebra, no

desenho animado Madagascar, foi o motivo alegado pelo Ministério da Justiça (MJ)

para elevar a classificação indicativa do filme de livre para inadequado a menores de

12 anos. Segundo técnicos do Ministério, o termo “balinha” poderia ser interpretado

como alusão a comprimidos de ecstasy. A decisão foi alvo de protesto e de aplauso ao

mesmo tempo, com argumentos que transitaram entre o repúdio ao exagero da interpretação e

o louvor pelo cumprimento da lei. Polêmicas à parte, desde 1990 a prerrogativa de informar

sobre faixas etárias e horários apropriados a espetáculos públicos é do Departamento

de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação, um órgão do Ministério vinculado à

Secretaria Nacional de Justiça. Amparada pela Constituição Federal e pelo Estatuto

da Criança e do Adolescente, a classificação indicativa envolve a análise de obras audiovisuais

em filme, vídeo, DVD, jogos eletrônicos, RPG, peças teatrais, eventos musicais e programas de

TV. A Portaria 796, de setembro de 2000, estabeleceu alguns critérios de classificação para

programas de TV. Para ampliar a compreensão sobre o tema, o MJ está promovendo audiências

públicas em todo o território nacional com vistas à criação de uma regulamentação definitiva.

As categorias indicativas, cuja base são os critérios previstos em lei – violência, sexo e drogas –,

poderão passar por total ou parcial revisão.

Um esforço de classif

Page 29: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

29

capa

Enquanto a discussão que envolve os cri-térios de análise dos programas de TV ga-nha corpo país afora, o sistema já funcionapara outros produtos audiovisuais. As fai-xas hoje utilizadas pela classificação indicativana TV vão dos programas livres aos apro-priados a idades de 12, 14, 16 e 18 anos.Em 2004 foi acrescida a faixa etária de 10anos, mas somente para cinema, vídeo e DVD.Para receber a classificação indicativa, umaobra audiovisual passa por três fases dis-tintas de análise.

A primeira é a da descrição factual, que registrarelacionamentos e condutas, graus de nu-dez dos personagens, efeitos sonoros e visuaisna obra, tipos de drogas e até armas utili-zadas em cenas de violência. A fase seguinteé a da descrição temática, indispensável,já que o contexto das situações e aborda-gens utilizadas em uma trama ficcional podesuscitar questões relativas a discriminaçãoracial e de gênero, direitos da criança e doadolescente, direitos do idoso, liberdade deexpressão etc.

Terminadas essas duas fases, a obra é ana-lisada à luz dos princípios constitucionaisque regem a comunicação social no país,tendo sempre em conta que as manifesta-ções culturais devem dar preferência a fi-nalidades educativas, artísticas, culturais einformativas, respeitando valores éticos esocias. A etapa final é a da gradação, rea-lizada a partir das conclusões obtidas nasfases anteriores. Essas informações é queirão nortear a inclusão da obra em uma dasseis faixas de classificação hoje em vigor.

Toda classificação atribuída pelo Ministé-rio da Justiça a uma obra audiovisual épublicada no Diário Oficial da União, ondeconsta também uma apresentação resumidado grau de intensidade das cenas que en-volvem violência, sexo e drogas. Há umcomprometimento do MJ em identificar ostemas das cenas de maior impacto – comoviolência doméstica, prostituição infantil etortura –, a fim de envolver a sociedade nadiscussão de temas caros aos valores de-mocráticos.

ssificação e educação

TEXTO

HUGO R.C.SOUZA

FOTOS

ALBERTO JACOB FILHO

Page 30: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

30

nº 3

2/20

05ca

pa

Segundo José Eduardo Romão, diretor do De-partamento de Justiça, Classificação, Títulos eQualificação da Secretaria Nacional de Justi-ça, um sistema de classificação indicativa sig-nifica muito mais do que a obrigação do Estado,o dever da União de informar os pais e prote-ger crianças e adolescentes dos produtosaudiovisuais de baixa qualidade. Para ele, tra-ta-se de um esforço educativo. “É necessárioarticular uma rede de classificação indicativaque tenha nos educadores o seu epicentro.Estamos tentando vincular o tema da classifi-cação a processos pedagógicos, através dodiálogo com instituições e entidades que tra-balham com educação”, diz.

Audiências e consulta – Desde o dia 30 desetembro o MJ está promovendo audiências pú-blicas sobre a regulamentação do sistema declassificação indicativa para programas de TVnas cidades de Brasília, Rio Branco,Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre,Recife e Rio de Janeiro. No dia anterior às au-diências e no dia seguinte a elas são reali-zadas discussões com educadores em escolaspúblicas municipais.

Os debates têm reunido entidades ligadas àcomunicação social, cidadãos comuns, juízes,

promotores, professores, estudantes, represen-tantes de emissoras de radiodifusão e de uni-versidades. Para o diretor do Departamento deJustiça essas audiências serão decisivas paraa formatação do sistema, principalmente depoisda repercussão que tiveram as duas primeiras,quando o processo ganhou a mídia e virou no-tícia. O número de interessados se multiplicoue os debates se intensificaram de tal forma quevieram à tona demandas que de certo modo atéfogem do âmbito do projeto. “Publicidade dirigidaà criança, por exemplo, foi um tema levantado,apesar de ser uma questão que não entra na nossaregulamentação. Não esperávamos que o processopudesse se desdobrar com tanta ênfase, com aspessoas comparecendo para discutir, debater equestionar o Estado”, avalia.

Até o final de novembro, que é o prazo parao fim das audiências, será elaborada a pro-posta de critérios indicativos para a TV. Emjaneiro de 2006 o texto da nova regulamen-tação deverá ser concluído e a previsão é deque a lei entre em vigor a partir de março. Comoos critérios adotados para a classificaçãoindicativa – violência, sexo e drogas – já es-tão fixados em lei, todo o trabalho que estásendo desenvolvido pelo MJ é um esforço paraaprimorar a sua aplicação.

A expectativa de José Eduardo Romão(foto) era de que os debates emtorno da audiência no Rio de Janeiro, no dia 10 de novembro, fossem oápice do processo, já que a cidade reúne grande número de entidadesde pesquisa, ONGs e instituições públicas que vêm produzindocomunicação sobre o tema, como a MULTIRIO. Além disso, ele avaliaque há anos a cidade inclui na agenda da educação o tema da mídia eda qualidade da educação. “O debate já existe. E o Ministério da Justiçaquer se associar ao debate travado pelos educadores do Rio de Janeiro.Precisamos mobilizar esses educadores para dar seguimento a umprocesso já em andamento no Rio”. Cerca de 60 pessoascompareceram à audiência pública na cidade. Além de Romão,participaram a secretária Nacional de Justiça, Cláudia Chagas, e apresidente da MULTIRIO, Regina de Assis. O evento, que aconteceu nasede do Ministério Público Estadual, foi o sexto realizado no país. Forammuitas as questões levantadas durante o debate, entre elas aclassificação de programas jornalísticos, a publicidade na TV – temasque fogem da área de atuação da classificação – e questionamentos arespeito das faixas etárias.

Audiência pública com participação da MULTIRIO

Page 31: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

31

capa

Outra vertente do processo é a consulta pú-blica que foi deflagrada pelo MJ em 19 de se-tembro. Até o último dia 8, o MJ já haviacontabilizado cerca de 8.700 questionáriosrespondidos, dos quais 5.774 aplicados emescolas. A expectativa era receber 20 mil con-tribuições, mas, de acordo com Romão, essenúmero deverá ser superado quando o prazofinal se esgotar. A consulta consiste em um ques-tionário com nove questões de múltipla esco-lha sobre as especificidades do tema, cujaavaliação ajudará a definir os princípiosnorteadores da consolidação do projeto. Oquestionário, disponível no site do MJ, poderáser respondido por qualquer cidadão, por cor-reio eletrônico ou convencional.

A consulta abrange desde a inclusão ou não dafaixa etária de 10 anos nas recomendações paraprogramas de TV até perguntas sobre em quemomentos, durante esses programas, deverãoser exibidos símbolos e informações de classi-ficação indicativa. Outra questão diz respeito aohorário de proteção à criança e ao adolescentena TV. O Ministério pergunta à população se ohorário atual, entre 6h e 20h, deve ser alteradopara alternativas que variam entre 6h e 23h.Há ainda uma consulta sobre a natureza dos sím-bolos a serem utilizados quando a classifica-ção entrar em vigor. Outra pergunta é se esses

avisos deverão aparecer apenas em imagem,em imagem e som, ou em imagem, som e lin-guagem de sinais ao mesmo tempo.

A necessária participação nas duas frentesabertas pelo Ministério da Justiça1 visando aoaprimoramento dos critérios de classificaçãoindicativa para a TV não quer dizer, porém, quepara a escola esta discussão se encerra nesseprocesso institucional. Pesquisas indicam queas crianças brasileiras dedicam cerca de trêshoras por dia à televisão e no mínimo quatro,à escola. A sala de aula não pode, portanto,abrir mão de encarar as formas e os conteú-dos televisivos como partes integrantes da ex-periência humana e como organizadores dela.A TV deve ser vista não como concorrente daescola, mas como veiculadora de elementosmuito presentes na vida de crianças, adoles-centes e adultos.

1 O Departamento de Justiça e Classificação Indicativaestá com inscrições abertas para interessados emparticipar de uma rede de colaboradores voluntá-rios. Os selecionados serão periodicamente convi-dados para atuar em grupos externos de análise dasobras audiovisuais. Para se candidatar a uma vagaé preciso preencher um formulário disponível na internete enviá-lo junto com currículo para o [email protected], ou pelo correio para o endereçoEsplanada dos Ministérios, Bloco T, Anexo II, sala319, 70064-901 Brasília-D.

Alunos da E.M. Presidente Costa e Silva conheceram o questionário elaborado pelo Ministério da Justiça

Page 32: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

32

nº 3

2/20

05ca

pa

mercado e as possibilidades de regulaçãodos produtos audiovisuais produzidos numcontexto de disputa de audiência – um temacujo debate não pode abrir mão dos valo-res da democracia e da liberdade como seusprincípios fundamentais.

José Eduardo Romão é enfático: “Não é con-trole da programação. A classi f icaçãoindicativa oferece aos pais um conjunto deinformações metodologicamente produzi-das. É uma recomendação e um incentivoà discussão de temas relevantes. E trata-se de um decreto. Vai haver o cumprimen-to por parte das emissoras. É possível garantirque as pessoas receberão uma classifica-ção dos conteúdos divulgados, uma infor-mação consistente produzida pelo Estado,de acordo com o papel que lhe cabe. Nos-

Há quanto tempo o educador brasileiro conscientereivindica a melhoria da qualidade da TV no Brasil? Nojornal Opinião de 10 de outubro de 1975, Mário Steiner,em artigo sobre televisão, já é sugestivo desde o título:“O pirulito mecânico – Clique! 114 assassinatos, 128assaltos, 49 mortes, nove raptos, dois suicídios, seistorturas físicas e uma agressão a cada seis minutos.Clique!”. A análise assusta porque, mesmo sem fazerestatística dos episódios de agressão nos noticiários,desenhos animados, filmes e novelas, deixa visível, comonum espelho da alma nacional, que hoje a realidade é amesma, ou talvez um pouco pior, se considerarmos aeficiência da transmissão de TV ao vivo, via satélite, detodas as tragédias e oriundas de qualquer canto donosso sofrido planeta.

Já faz parte do senso comum o reconhecimento de queessa exposição precoce à violência está associada aoaumento da freqüência de interações agressivas ou éresponsável, co-determinante da gravidade das lesõesprovocadas por crianças e menores de 18 anos. O sensocomum chama esse fenômeno de “banalização daagressão”, ou seja, há uma anulação da carga de dor esofrimento que um soco, um chute, uma ofensa verbal ouuma guerra produzem. Na TV, pode-se socar sem luvase não quebrar os ossos da mão ou destruir o rosto dosadversários.

POR MÔNICA RODRIGUES DA COSTA E PAULO PEDRO P. R. DA COSTA *

Efeito semelhante sofrem as crianças durante sua exposiçãoàs cenas sobre a vida sexual dos adultos. Será essa a causado aumento na freqüência da gravidez na adolescência? Oque se pode esperar se estivermos suprimindo o que apsicanálise denomina fase de latência (período em que aexpressão da sexualidade está sublimada, após a descobertado próprio sexo e da origem dos bebês entre cinco e 12 anosde idade) na evolução da sexualidade infantil? Um maiornúmero de perversões e neuroses de caráter... em vez de...neuroses histéricas e obsessivas?

O que deve fazer um educador com compromissoexistencial com a justiça e o bem comum, para todos?Neste breve comentário, seus autores propõem discutirnão uma intensificação da censura das mídias da TVaberta e da internet e, sim, a falta de estímulo por parte damídia em divulgar trabalhos de qualidade – mesmo quenão sejam sucessos midiáticos –, como poesia e teatro.

É quase criminosa, por parte da mídia, a ausência deprogramas com excelência, com o mesmo borderô doFantástico, sobre obras de arte que questionem os valoreséticos, religiosos e morais – são elas que formam, melhorque o Big Brother, o senso crítico sobre normas e valoresque a própria cultura impõe. É gritante a falta decontadores de mitos indígenas e pretos, ao pé da fogueira,que, com suas sucessivas variantes do mito de origem,

Os critérios de qualidade na seleção dos programa

Mídia, Estado e sociedade – O questioná-rio abre com uma pergunta sobre a naturezaconceitual e as consequências práticas do processode aperfeiçoamento da classificação: “Nasua opinião, a classificação indicativa podeser explicada como: A – Serviço de informa-ção de caráter pedagógico sobre o conteúdo daprogramação televisiva; B – Instrumento de controleda qualidade da informação e de defesa dos di-reitos humanos; C – Censura da programaçãotelevisiva; D - Outra”.

A princípio, algumas das alternativas nãosão nem mesmo auto-excludentes – na ver-dade não se trata de uma prova, onde épossível errar ou acertar. Mas todas reme-tem a um tema fundamental, que transcendea classificação indicativa em si: o papel dasconcessões públicas numa sociedade de

Page 33: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

33

caparecriam seus costumes, sugerem novas formas deorganização social.

Ou seja, não basta a nós dizer que a mídia está impregnadade apelos abusivos ao sexo, violência e o consumismoexcessivo, impostos goela abaixo pela carga massiva depropagandas com um único objetivo: promover a qualquercusto o lucro de empresários sem se importar se o produtovendido são cigarros que causam câncer, bebidas queviciam, doces cariogênicos que distorcem a tênueorientação nutricional que a maioria das crianças recebe emsua casa ou escola.

O dilema moderno de quem se propõe a criticar o conteúdoda mídia para as massas é formular as necessáriasperguntas anteriores à discussão: quais os critérios dequalidade e quem os determina, o dono da emissora ou odinheiro dos anúncios? O que é a ética da informação? Quala necessidade da arte?

Um caminho seguro para essas respostas é a revisãoconstante da formação cultural da nação. Não deveríamosnos afastar da preservação das culturas formadoras denossa nacionalidade. Reconhecer os erros de umpassado escravagista e usurpador de terras indígenas.Ter consciência e ética para devolver a pretos e índios oque os europeus retiraram deles, promovendo,

intensificando mecanismos de reparação social. Naesfera da produção cultural, promover a eqüidade naexpressão dos valores e contribuições de cada cultura,ameríndia, africana, européia (portuguesa, italiana,alemã) e asiática.

Outro caminho, que já foi mais seguro quando tínhamoscrença na verdade científica, mas é ainda válido, são osprogramas sobre ciência, e/ou orientados pela psicologia epsicanálise, que têm recomendações para odesenvolvimento infantil saudável.

Em princípio, a atenção do educador tem que ser ampliada,tem que envolver o esforço para compreender osdeterminantes ideológicos, os interesses escusos, ocultos noque se promove como saudável e como lazer na televisão.

* Mônica Rodrigues da Costa é doutora em comunicação esemiótica, professora de comunicação social nas FaculdadesJorge Amado, em Salvador, foi editora da Folhinha, cadernopara crianças da Folha de S. Paulo de 1987 a 2004 e éeditora de A Tardinha, do jornal baiano A Tarde desdeagosto de 2005.

Paulo Pedro P. R. da Costa é psicólogo na Apae – Camaçari,sanitarista, poeta e autor de livros e sites infantis como OsSegredos do Macaco e Tubarão Feroz, o Mestre do Mar.

ogramas infantis

so esforço é para produzir uma legislaçãoque faça sentido. Além do controle do Es-tado, existe um controle da sociedade”.

Para ele, é inevitável que se forme na so-ciedade a impressão de que o Estado estáa exercer o seu poder de censura, mas aregulamentação está nos limites da Cons-tituição federal. Normas constitucionais eparticipação dos mais diferentes interessesno debate são as garantias de um proces-so democrático. “Não discutimos somen-te com pessoas que defendem a moral e osbons costumes, discutimos com toda a so-ciedade. Há tantos interesses nesse pro-cesso que o que de fato garante a qualidadedo resultado final é a participação. O Es-tado não quer pensar por todos nem tampoucoimaginar o que todos pensam”.

Romão acredita que o público ficará mais seleti-vo e poderá aprimorar o modo de ver o conteúdoda programação de TV, tendo a seu dispor uminstrumento que aponta a alta e a baixa qualida-de dos produtos audiovisuais: “Embora a classi-ficação se restrinja a descrever inadequações, elasugere ou identifica, por conseqüência, critériosou padrões de qualidade nessa programação.Certamente o público, ao dispor de uma informa-ção sobre inadequações, saberá selecionar me-lhor. A expectativa é que o Ministério da Justiçareúna, com sucesso, num primeiro momento,informações sobre inadequações e, num segun-do, que a gente possa fixar padrões de qualida-de para programações de qualidade junto comONGs e com instituições do Estado”.

Na imensa maioria das questões conflituosasda vida os consensos são no mínimo

Ministério da Justiça(www.mj.gov.br/classificacao)Riomídia(www.riomidia.com.br)

SAIBA MAIS

Page 34: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

34

nº 3

2/20

05ca

pa

cuja finalidade última seja a garantia de quedesejos e individualidades continuem a ser res-peitados. A TV não é boa nem má; é uma re-alidade. Sua programação balizada pela lógicada concorrência e da disputa de audiência éum fator histórico, uma produção humana.Lidar com isso de forma responsável nãosignifica permanecer de dedo em riste à pro-cura de heróis e vilões; significa tentar in-terferir no âmbito das idéias. O Estado pareceestar fazendo a sua parte ao transformar idéiasexaustivamente discutidas em regulamen-tação. A escola precisa participar desse pro-cesso, dar seguimento a ele e entender a salade aula como o local por excelência para ondeconvergem os temas caros à vida comum, eao futuro.

No encarte Giramundo, desta edição, está aíntegra do questionário da classificação indicativapara ser respondido pelos professores da RedeMunicipal. Além de ser uma questão que precisaestar sempre presente na sala de aula, par-ticipar da consulta pública promovida peloMinistério da Justiça é uma contribuição in-dispensável ao debate de um tema que afetapais, alunos e professores. É uma forma tambémde o Rio de Janeiro mostrar sua força comopólo de discussão das questões relativas àinfância e adolescência. O MJ espera uma con-tribuição valiosa dos professores da cidade.Responder a consulta e estar atento ao pra-zo é uma maneira de não decepcionar.

A maneira de regulamentar a programação de TV assumecaracterísticas variadas nos diferentes países, de acordo com asespecificidades de cada um. Nos Estados Unidos vigora o V-Chip, ummecanismo de classificação pelo qual as próprias emissoras ficamencarregadas de produzir as informações dirigidas aos pais, que sãorepresentados através de uma comissão que fiscaliza o processo deavaliação. Na Argentina a supervisão de conteúdos veiculados é feitapelo Comitê Federal de Radiodifusão, formado por representantes dasForças Armadas, Secretaria de Informação Pública e Secretaria deComunicação. Balizado por critérios relacionados ao horário de proteçãoao menor, o sistema funciona através de multas por faltas leves ou faltasgraves relativas a descumprimentos por parte das emissoras. NaAustrália há uma parceria entre as emissoras e uma agênciagovernamental, que resultou num detalhado sistema de classificaçãoindicativa, particularmente cuidadoso com a programação dirigida acrianças com idades abaixo de 14 anos, com recomendaçõesespecíficas a crianças que estão no ensino fundamental ou em idadepré-escolar. Já a Suécia tocou diretamente na questão da publicidade:proibiu totalmente qualquer anúncio dirigido a menores de 12 anos.

Questão importante em todo o mundo

suspeitos. Em contrapartida, quando se falaem legislação e regulamentação por parte dosetor público, um mínimo de consenso é o pontode partida para que as instituições funcionemem prol da cidadania. Ao mesmo tempo emque é impossível abrir mão dos desejos e in-dividualidades – de especificidades que tor-nam a natureza humana algo ambíguo eencantador – é também difícil imaginar a neces-sária organização da vida pública pelo Es-tado sem um processo democrático de discussão

A equipe do MJ realizou palestra para alunos de escolas do município do Rio

Page 35: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

35

Por que um sistema de classificaçãoindicativa é importante hoje no Brasil?Porque o impacto de imagens e palavrasrelativas a sexo ou violência varia com a idadee pode deixar traumas incorrigíveis. A induçãoà sexualidade precoce, por exemplo, é muitasvezes produto da exposição da vítima a cenasde sexo, propiciando a banalização do tema.

Os critérios que orientam a classificaçãopor sexo e violência são corretos? Aquestão dos preconceitos, por exemplo,não deveria estar presente?Sim, são corretos. Manifestaçõespreconceituosas devem ser simplesmentebanidas dos meios de comunicação. Mas seriaridículo fixar uma hora a partir da qual oreceptor pudesse assistir a cenas explícitas depreconceito racial, sexual ou religioso.

De que forma as consultas e audiênciaspúblicas realizadas país afora podemcontribuir para o aperfeiçoamento dosistema?O debate, por produzir a reflexão e oaprofundamento do tema, é capaz de ajudar nadefinição da opinião e pode ajudar aaperfeiçoar a idéia. Alguns cuidados sãoessenciais, porém. Considerando-se asdimensões continentais do Brasil e o fato deque é um dos poucos países onde coexistemdois fusos horários, é preciso regulamentarcom muita atenção as transmissões queabrangem todo o território nacional, para evitarque uma criança do Acre, por exemplo, assistaàs 9 da noite a programação liberada norestante do país para entrar no ar à meia-noite,como eu próprio testemunhei em Rio Branco.

Uma TV mais responsável e conseqüente

E este é apenas um dos cuidados queprecisam ser tomados, existem outros.

Quais as perspectivas de impacto daclassificação nas programações doscanais de TV?Do ponto-de-vista dos detentores dos canais,as perspectivas não são boas, claro. Vãoperder audiência – em outras palavras, vãoperder anunciantes – pela impossibilidade detransmissão de conteúdos impróprios adeterminadas faixas de idade, com o queatraíam uma bela fatia de público aficcionadapor cenas de violência ou sexo. Emcompensação, a televisão brasileira se tornarámais responsável e conseqüente, e asociedade terá uma chance de resgatar a TVcomo veículo formador e não deformador devalores, como tem se comportado em diversase conhecidas ocasiões.

Como implementar um sistema declassificação indicativa sem cair nasarmadilhas do politicamente correto edos falsos moralismos?Debate, debate, e debate. Oitiva deespecialistas. Oitiva de organizações dasociedade civil. Oitiva de autoridades dosetor. Oitiva de representantes deentidades religiosas, sem o compromissode sujeição aos seus cânones, mas nabusca de um consenso ou média deopiniões capaz de levar à mais democráticae justa decisão a respeito. E um exameminucioso das condições geográficas dopaís, para que não se cometam erros porafrouxamento ou excesso de rigidez danorma adotada.

Paulo José Cunha tem uma longa história de envolvimento com a TV brasileira.Tudo começou de forma inusitada: para conseguir ingressar no curso dejornalismo, que não existia no Piauí, onde morava, Paulo escreveu uma carta àentão primeira-dama da República e foi atendido. Foi para a Universidade deBrasília (UnB), onde se formou, e seguiu carreira notável. Trabalhou comorepórter da TV Globo, esteve à frente do Centro de Produção de Cinema eTelevisão da UnB e hoje dirige a TV Câmara. Para ele, o sistema de classificaçãoindicativa é “uma oportunidade de resgatar a TV como veículo formador – nãodeformador – de valores”. Uma visão contundente, nem sempre de acordo cominterpretações que se prezam por não separar as coisas em extremos opostos

capa

Page 36: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

36

nº 3

2/20

05pr

esen

te d

o fu

turo

No rma lmente assoc iada às idé ias dequestionamento, conflito e crise, a adolescênciaé um período de profundas transformaçõesfísicas e psicológicas. Em alguns anos, passa-se da descompromissada infância ao exigentemundo adulto, com a adoção de comporta-mentos e escolhas que podem repercutirdurante a vida inteira. Para muitas adoles-centes, este delicado momento de transiçãoganha tons ainda mais decisivos. Das brincadeirasde boneca, elas fazem uma viagem sem es-calas para os compromissos com fraldas, ma-madeiras e as atenções requeridas por umacriança recém-nascida. Entre 2001 e 2003,nasceram no Brasil cerca de 2 milhões de cri-anças filhas de jovens entre 15 e 19 anos deidade. Outras 82.834 meninas foram mães entreos 10 e os 14 anos1 . O tema da gravidez naadolescência merece atenção e requer da família,da escola e da sociedade uma abordagem in-formativa, ampla e inclusiva, livre de precon-ceitos e moralismos. “O problema é comointerpretar os números. O significado nem sempreé a falta de informação”, destaca Regina Novaes,secretária nacional da Juventude.

O Ministério da Saúde define a adolescênciacomo o período que vai dos 10 aos 19 anosde idade. Na faixa dos 15 aos 19, a gravideze as dificuldades dela decorrentes já se trans-formaram na terceira causa de óbitos entreas mulheres, atrás apenas de acidentes de trân-sito e homicídios. Boa parte das complicações,no entanto, poderia ser evitada caso as jovensprocurassem atendimento médico logo no inícioda gravidez – o que raramente acontece, emfunção da vergonha e do medo da reação dospais2 . Segundo a médica Maria de Fátima GoulartCoutinho, gerente do Programa de Saúde doAdolescente da Secretaria Municipal de Saúde,as adolescentes grávidas devem fazer pelomenos nove consultas pré-natais, três a maisque as gestantes maduras. “Como estão emfase de crescimento, elas têm necessidadesmais acentuadas de saúde”, justifica3 .

TEXTO

RENATA PETROCELLI

IMAGENS

REPRODUÇÃO DO EPISÓDIO

MENINO OU MENINA, DA SÉRIE

PRESENTE DO FUTURO

Compromisso fora de horaCerca de 83 mil meninas de 10 a 14 anos de idade engravidaram entre 2001 e 2003

Maria de Fátima coordena o projeto Horizon-tes, voltado à sensibilização dos profissionaisde saúde do município quanto às necessida-des específicas das adolescentes grávidas. Outrofoco do programa é a prevenção da segundagravidez, através da conscientização das jovenssobre as conseqüências da maternidade pre-coce. “Na maioria dos casos, o intervalo entreuma gravidez e outra é muito curto”, ressalta ela.Capacitar profissionais da saúde e da educa-ção para lidar com o assunto é objetivo tambémda ONG Centro de Educação Sexual (Cedus),que defende a inclusão do tema na escola emsentido muito mais amplo que o da simples ori-entação sexual. “É preciso discutir sentimentos,projetos de vida, a auto-estima e a inserção social”,exemplifica a psicóloga Regina Mello, especi-alista em sexualidade humana.

Informação e reflexão – De fato, nem tudoé falta de informação no universo da gravidezna adolescência. Atualmente, vários especialistasconcordam que boa parte dos jovens tem acessoàs informações sobre métodos contraceptivose doenças sexualmente transmissíveis, mas aindafalta um debate amplo sobre assuntos quetranspassam a sexualidade e a juventude, comoa afetividade, as questões de gênero e, até, aentrada no mercado de trabalho e as perspec-

1Dados sobre a gravidez em adolescentes fazem partede três estudos em fase de conclusão: Saúde Brasil2005, do Ministério da Saúde, Juventudes brasilei-ras e Juventudes e sexualidade, da Organização dasNações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura(Unesco).

2O episódio “Menino ou menina?”, da série Presen-te do futuro, produzida pela MULTIRIO, mostra a apre-ensão da jovem grávida diante da reação dos pais,fruto de um relacionamento difícil e sem diálogo aberto.

3Parceria das secretarias municipais de Saúde e deEducação, o projeto Sinal Verde permite que os edu-cadores encaminhem jovens para o atendimentoprioritário na rede municipal de saúde. Nos casosde suspeita de gravidez, a ação do projeto facilita odiagnóstico precoce e o acesso da jovem às con-sultas pré-natais.

Page 37: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

37

presente do futuro

tivas para o futuro. “É preciso elevar o nível dodebate, saindo do aspecto meramente sanita-rista e falando dos significados físicos, biológi-cos e sociais de um filho na vida de um adolescente”,opina Regina Novaes4 .

Um espaço onde o adolescente possa ouvir eser ouvido, falando de suas angústias, neces-sidades e dúvidas e recebendo orientações quequebrem tabus e preconceitos relacionados àsexualidade. É justamente esta a proposta dosNúcleos de Adolescentes Multiplicadores, atu-almente presentes em 96 escolas do municí-pio, reunindo, cada um, de 25 a 30 alunos de5a a 8a séries. Quando o assunto é gravidez, aorientação da equipe dos Núcleos é contem-plar aspectos relacionados à informação, aosdireitos e à acolhida. “Tentamos contribuir parao fortalecimento da auto-estima das jovens grávidas,fornecer informações necessárias para que seusdireitos sejam atendidos e favorecer o acolhi-mento na unidade escolar”, exemplifica MárciaVinchon, supervisora do Programa de Orienta-ção Sexual e Prevenção do Uso Indevido de Drogas,do qual os Núcleos fazem parte.

Garantir a permanência da jovem no ambienteescolar é essencial para que a gravidez preco-ce não perpetue um ciclo de exclusão, dificul-tando a inserção social e o acesso ao conhecimentoe ao mercado de trabalho. Daí a importância deuma abordagem cuidadosa por parte dos pro-fessores e da escola. Se a gravidez for vista porângulos moralistas ou sensacionalistas, o afas-tamento é uma conseqüência quase certa. Nessescasos, o que já representa a perda de uma faseimportante da vida passa a significar tambémuma verdadeira sentença de privação de direi-tos – o direito à educação, ao trabalho, à pers-pectiva de um futuro digno e, conseqüentemente,às condições de criação dos filhos num ambi-ente salutar e promissor.

Para a antropóloga Maria Luiza Heilborn,coordenadora do Centro Latino-americanoem Sexualidade e Direitos Humanos da

SAIBA MAISA MULTIRIO já produziudiversos programas queabordam as questões relativasà gravidez na adolescência.Entre eles, “O que é ser pai naadolescência”, da série Rio, acidade!, exibido em 2002, e“Pai adolescente, mãeadolescente”, da série Abrindoo verbo, exibido em 2003.

4Pais adolescentes, embora não sofram conseqüên-cias físicas, passam por problemas sociais e psicoló-gicos semelhantes aos enfrentados pelas jovens grávidas,em função das exigências de responsabilidade quea criança representa.

Page 38: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

38

nº 3

2/20

05pr

esen

te d

o fu

turo

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj),esta é uma das mais importantes contribuiçõesda escola na questão da gravidez na adolescência.“Tendo uma grávida na escola, faça de tudo paraela ficar. Não estigmatize”, recomenda. MariaLuiza é uma das coordenadoras de uma pes-quisa conhecida como Gravad (ver box). Umdos dados mostra que no Rio de Janeiro 19%das jovens grávidas abandonaram completamenteos estudos, enquanto 22% passaram um perí-odo afastadas, mas voltaram a estudar mais tarde.O percentual maior, no entanto, compreendejovens que já estavam afastadas da escola: 53%.

Problema social – Números como estes mostramque é impossível tratar da gravidez na adoles-cência sem considerar questões sociais. Asdiferenças, também neste caso, são abissais.Dados da Pesquisa Nacional sobre Demografiae Saúde (PNDS), de 1996, realizada pela ONGBem-Estar Familiar no Brasil (Benfam), mostramque engravidam 54% das jovens entre 10 e 19anos com baixa escolaridade, contra 6,4% dasjovens da mesma faixa etária com mais de noveanos de estudo. As explicações para tamanhadisparidade vão bem além do simples desco-nhecimento. Na verdade, o abismo se constróinas diferentes perspectivas de vida que têm ume outro grupo. Camadas mais altas da popula-ção encaram a gravidez como uma escolha,enquanto para muitos desfavorecidos ela apa-rece como uma “saída”. “O método contraceptivoé apenas uma pontinha da prevenção. Não adiantaconhecer e ter acesso aos métodos se as jo-vens desejam engravidar. Para muitas, é a ilu-são de sair de casa, de encontrar um ambientefamiliar adequado”, avalia a médica Maria de Fátima.

Regina Novaes tem opinião semelhante. “Nascamadas populares, há a visão do que a gravi-dez pode trazer de positivo: esperança, proje-ção para o futuro, chance de se recolocar nomundo. Muitas meninas se sentem valorizadasquando estão grávidas. Para os meninos, é umaafirmação da sexualidade”, ressalta. O proble-ma, portanto, tem raízes profundas. Lidar comele exige atenção ao ambiente que cerca osadolescentes, sensibilidade quanto a seusquestionamentos e medos e, sobretudo, o aban-dono de qualquer tipo de preconceito. Os pa-drões de comportamento são outros, a virgindadedeixou de ser tabu há um bom tempo, a mídiaexalta o jovem erotizado, de corpo perfeito e formascuidadosamente trabalhadas. Mas as condiçõesde reprodução social não evoluíram na mesmaproporção. Quaisquer trabalhos que favoreçama inclusão e quaisquer debates que levem emconta as necessidades físicas, psicológicas esociais dos jovens cumprirão o seu papel naabordagem do problema da gravidez na ado-lescência. “Só chegaremos ao ideal quando todospuderem tratar a gravidez como escolha, frutode reflexão e planejamento”, conclui a secre-tária nacional da Juventude.

Retrato em númerosA pesquisa Gravidez na adolescência: estudo multicêntrico sobre jovens,sexualidade e reprodução no Brasil foi realizada pelas universidades doEstado do Rio de Janeiro (Uerj), Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) eFederal da Bahia (UFBA). Foram entrevistados 4.634 moças e rapazesdas cidades do Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre. Os jovens tinhamentre 18 e 24 anos de idade, já que o objetivo da pesquisa era avaliar asconseqüências de episódios de gravidez na adolescência. Dasentrevistadas, 1,6% engravidou antes dos 15 anos e 20,4%, antes dos 18.

A pesquisa aponta uma série de outros aspectos que merecem reflexão.Um deles diz respeito à natureza da relação que originou o filho. Entre asmeninas, 60% disseram ter engravidado do namorado. Já para 71% dosrapazes a gravidez foi fruto de um encontro ocasional. Maria LuizaHeilborn vê nesses índices uma diferença crucial na forma como meninose meninas encaram os relacionamentos. “Os rapazes minimizam o vínculoamoroso. Neste sentido também o papel da escola é importante. É precisoconscientizar os jovens sobre as diferenças de gênero. Eles têm deconhecer o ponto de vista do outro sobre a relação”, opina.

Page 39: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

39

pé na estrada

Fase difícil na vida de qualquer criança, asinternações em hospitais podem ganhar tonsmenos traumáticos a partir de um trabalho simples,mas extremamente importante. As classes hos-pitalares levam a rotina escolar para dentro dasunidades de atendimento médico, amenizandoa dor e a ansiedade causadas pelas doençase lembrando aos pequenos pacientes que a vidacontinua durante e depois do tratamento. O trabalhoé coordenado pelo Instituto Helena Antipoff,entidade responsável pela educação especialna Rede Municipal de Ensino. Atualmente, 11unidades conveniadas oferecem o serviço nacidade do Rio de Janeiro.

As classes hospitalares funcionam como extensãoda escola nos hospitais As aulas são plane-jadas a partir de um tema e adaptadas de acordocom as condições de saúde de cada crian-ça. No Hospital Geral de Bonsucesso, por exem-

Um remédio na dose certa

plo, o atendimento pedagógico é dividido emtrês grupos: classe de pediatria, leito da pe-diatria e leito da ortopedia. As aulas seguemo calendário da Rede Municipal de Ensino eseu principal objetivo é que as crianças man-tenham o contato com as atividades escola-res. “Não conseguimos estabelecer um elo coma escola em que o paciente está matricula-do, mas priorizamos a leitura, a escrita e asoperações matemáticas. Se a criança tiver con-tato com estas áreas, pode dar continuidadeaos estudos sem perder o vínculo com a es-cola”, explica a professora Mônica Cristina SantosMoreira, que dá aulas no Hospital Geral deBonsucesso.

Apesar da intenção de levar o mundo e a roti-na da escola para os hospitais, a dinâmica dotrabalho é bem diferente. Os professores de-vem estar preparados para lidar com a

CLASSE HOSPITALAR

O Hospital Geral de Bonsucesso é uma das 11 unidades da

Rede que oferecem a classe hospitalar

FOTOS: ALBERTO JACOB FILHO

Page 40: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

40

nº 3

2/20

05pé

na

estr

ada

fragilidade das crianças e motivá-las a parti-cipar. As estratégias priorizam atividades lúdicas,com auxílio de computador, jogos, textos, te-levisão, música, brinquedos e pinturas. O maisimportante, no entanto, é o jogo de cintura,já que nem tudo acontece conforme o pla-nejado. “Temos uma proposta educacional,mas, ao chegar ao leito, encontramos a cadadia uma realidade diferente. A criança podeestar animada, mas também pode estar de-bilitada, e precisamos encarar isso com na-turalidade. O mais importante é dar a ela aoportunidade de pintar, desenhar, pensar edizer: ‘eu sou criança’”, ressalta Rosane Con-ceição Loureiro da Silva, que trabalha há seisanos com educação especial. “Não adiantachegarmos aqui e impor um trabalho. Às vezes,tudo o que a criança quer é brincar”, com-pleta Míriam Gerbis Lopes, professora do leitode ortopedia do Hospital Geral de Bonsucesso.

Uma vitória diária – O trabalho das classeshospitalares é desenvolvido com base no princípiode que a criança internada tem os mesmos in-teresses, sonhos e desejos de qualquer outracriança. Manter o seu contato com a orienta-ção educacional motiva o retorno às escolas,ajuda a diminuir o tempo de internação e ga-rante a integração à realidade fora do tratamentohospitalar. Thiago da Silva Daniels, de 9 anos,aluno da 3a série da Escola Municipal Aldebaran,recebeu os primeiros atendimentos no leito dapediatria. Somente depois de quatro dias nohospital pôde participar das aulas na própriaclasse, com a ajuda de uma cadeira de rodas.“Com as atividades escolares, o tempo pas-sa bem mais rápido”, garante Thiago, que sónão consegue amenizar as saudades da escolae dos colegas de turma.

Os resultados podem ser conferidos nas re-ações de cada criança. Para os professores,a ansiedade dos pequenos pacientes pelasaulas e os sorrisos que surgem em suas fa-ces em meio a dor e fragilidade valem a pena.“No início, causamos uma sensação estranha,porque as crianças acham que vão se livrarda escola por um tempo, mas no segundo outerceiro dia elas esperam ansiosas pelas au-las”, ressalta Mônica.

A parceria com os pais é fundamental para o bomandamento do trabalho. “Nas classes hospita-lares, as crianças estão mais fragilizadas e a presençados pais é fundamental”, assegura RosângelaMonteiro de Aguiar Cavalcanti, agente de edu-cação especial da 4ª CRE. Israel Silva, de 11 anos,aluno da 5a série da Escola Municipal México,vai ficar internado no leito de ortopedia do Hos-pital Geral de Bonsucesso por no mínimo 15 dias.O motivo foi um tombo de bicicleta. As dores naperna machucada incomodam, mas as ativida-des da professora Miriam Gerbis divertem o menino.“Gosto de pintar e fazer os deveres, porque as-sim tenho alguma coisa para me distrair”, con-ta. A mãe de Israel, Josefa Maria de Lima, lamentaa internação do filho, mas garante que está sa-tisfeita com o trabalho das classes hospitalares.“Assim ele não fica atrasado na escola, esque-ce que tem de ficar mais um tempo no hospitale volta a ser criança”, conclui Josefa.

As crianças internadas costumam esperar ansiosas pelo horário das aulas

Page 41: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

41

Magia, sonho e imaginaçãonas escolas da RedeMagia, sonho e imaginaçãonas escolas da Rede

pé na estrada

Um dia diferente, em que pais também foramàs escolas e as aulas ganharam um sabor es-pecial. Assim foi a 1ª Maratona de Histórias dasEscolas do Município do Rio de Janeiro, reali-zada em 26 de outubro, com o objetivo de pro-mover o hábito da leitura entre os alunos. Aolado deles, familiares, professores, coordena-dores pedagógicos e funcionários das unida-des escolares passaram um dia inteiro contandoe ouvindo histórias.

A iniciativa foi idealizada pela Diretoria de Mídia-Educação da Secretaria Municipal de Educação(SME), inspirada em três marcos do mundo daleitura que aconteceram em 2005: o Ano Ibero-Americano da Leitura, conhecido no Brasil comoViva Leitura, o bicentenário de Hans ChristianAndersen, considerado o pai da literatura infantil,e o aniversário de 400 anos de Dom Quixote, per-sonagem de Miguel de Cervantes. “A idéia foi bemsimples: mobilizar todas as escolas em torno dacontação e leitura de histórias, privilegiando nãosó a sala de leitura, como também as salas de aula,

TEXTO

FÁBIO ARANHA

FOTOS

ALBERTO JACOB FILHO

o pátio, o recreio, os intervalos, enfim, todos osespaços e horários da escola. A intenção era queo ato de compartilhar histórias fosse vivenciadopor toda a Rede”, explica Simone Monteiro, dire-tora de Mídia-Educação da SME.

Criatividade – Cada unidade escolar teve auto-nomia para programar suas atividades. Na EscolaMunicipal Pedro Ernesto, na Lagoa, a movi-mentação começou bem cedo. Recebidos commúsica, os alunos ganharam um livrinho de históriacom explicações sobre a maratona e as da-tas comemorativas que lhe serviram de ins-piração. Nas salas de aula, ouviram narrativase as transformaram em livrinhos ilustrados,expostos em murais. Além disso, assistirama vídeos e leram contos infantis pela internet.“Neste mundo tecnológico, as crianças estãose afastando do livro. É importante que hajaeste resgate, mas sem deixar de lado outrostipos de mídia, como a internet, que são mui-to relevantes”, ressalta Karla Barrozo, professorada Sala de Leitura e de Música da escola.

FORMAÇÃO DE LEITORES

Page 42: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

42

nº 3

2/20

05pé

na

estr

ada A música deu o tom das atividades durante todo

o dia. Cantigas de roda animavam o recreio emúsicas que contam histórias, como O pato eA casa, de Vinícius de Moraes, e Aquarela, deToquinho, eram cantadas por professores e alunos.O mais importante era incentivar a criatividadedo aluno. “As histórias abrem um mundo mági-co da imaginação e do sonho. A receptividadeé enorme, eles adoram. Além disso, é ótimo paradesinibir e incentivar a criança”, afirma Karla, quejá tem planos para a próxima edição da mara-tona. “Queremos que os alunos escrevam suaspróprias histórias, que pretendemos reunir emuma coletânea”.

À espera do bisÀ espera do bisÀ espera do bisÀ espera do bisÀ espera do bis – Animados, os alunos apro-varam o dia dedicado às histórias e ficaram comum gostinho de “quero mais”. Ana Paula Gonçalves,da 3a série do ensino fundamental, quer que ainiciativa seja repetida no ano que vem. “Eu gosteimuito de ler histórias na sala de aula e fazer exer-

cícios no computador. Aprendi várias coisas”, conta.O mesmo vale para Bernardo Bittencourt Costa,também da 3a série. Suas atividades preferidasforam fazer o livrinho ilustrado e ouvir e cantarmúsicas. “Eu fiz uma história e desenhei os per-sonagens, foi muito legal. Adorei as músicas também,principalmente a do pato. Foi muito divertido. Es-pero que aconteça de novo”, torce.

No que depender da Divisão de Mídia-Educa-ção da SME, os alunos não perdem por espe-rar. A intenção é que a maratona se torne anual.Já para a próxima edição, a Divisão quer queos alunos participem da elaboração e da divul-gação do evento, criando um símbolo para amaratona.

Importância do livroImportância do livroImportância do livroImportância do livroImportância do livro – Para Simone Monteiro,os resultados mais importantes da 1a Marato-na de Histórias são a reafirmação do livro comoobjeto cultural importante, que precisa estaracessível a todos, e a divulgação do acervo exis-tente nas escolas. Ela ressalta que o hábito daleitura é fundamental para a formação dos alu-nos e deve ser incentivado sempre que possí-vel. “Nunca é demais desenvolver ações nessesentido. É claro que isso não se esgota aí, muitopelo contrário. Mas esta idéia de juntar dife-rentes esforços para um mesmo fim é uma formade dar um tom de unidade dentro da diversi-dade da Rede. Isso é muito importante”, des-taca a diretora, que aposta na longevidade damaratona. “Este foi um casamento perfeito: li-vros, alunos, leitores. Ainda mais em outubro,o mês da criança. A partir de agora, este tam-bém será o mês da leitura”, comemora.

Gabriel Luiz Brito (esq.) e Antônio Marco de Abreu, alunos da E.M Pedro Ernesto, aprendem e

se divertem na primeira Maratona de Histórias da Rede

Deborah dos Santos, aluna do ano inicial, conhece uma nova história durante a maratona

Page 43: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

43

pé na estrada

Um homem que lia muito e acabou misturandorealidade e fantasia. Dois jovens apaixonados,filhos de famílias inimigas, que morreram poramor. Uma moça rebelde e desobediente, quese transforma depois de casar-se com um rapazde nome engraçado, e inspirou a novela O cravoe a rosa, exibida pela TV Globo em 2000. Éassim, com suas próprias palavras e referências,que um grupo de 39 alunos da 3ª série da EscolaMunicipal Professor Carneiro Ribeiro (foto) descrevealguns clássicos da literatura mundial, como DomQuixote, de Miguel de Cervantes, e Romeu eJulieta e A megera domada, de William Shakespeare.Os dois autores formam a base do projeto Obrasda Literatura Mundial – Shakespeare e Miguel deCervantes, desenvolvido pela professora ÂngelaMaria de Lima desde o começo de setembro.

Tudo começou nas rodas de leitura, quando osalunos demonstraram interesse por informaçõesreferentes aos dois autores. Uma matéria derevista falava do quarto centenário do céle-bre cavaleiro errante de Cervantes. Já Shakespeareé um velho companheiro nas aulas de Ângela.“Sempre trago alguma obra dele para os alunos,pelo conhecimento que demonstra da almahumana. É tudo muito real, presente e sempredesperta uma curiosidade muito grande”, jus-tifica a professora.

De fato, curiosidade foi o que não faltou naturma de Ângela. Animada, a professora re-solveu elaborar o projeto. Ao longo das au-las, os alunos leram seis obras na íntegra, emversões adaptadas para a idade escolar: asjá citadas Dom Quixote, Romeu e Julieta eA megera domada e mais Otelo, Hamlet e Sonhode uma noite de verão, de Shakespeare. Aleitura inspirou atividades como desenhos,pinturas, recorte e colagem, elaboração deacrósticos sobre as obras, produção de tra-balhos escritos e pesquisas sobre a biogra-fia dos dois autores. A idéia encontrou respaldono projeto político-pedagógico da escola, quedestaca neste ano a valorização da qualidadede vida. “Leitura é uma das coisas mais im-portantes para a qualidade de vida em nos-sa época. Com a leitura, os alunos ficam maisatentos a suas produções textuais, ressaltaa diretora da escola, Deise Maria Fernandesde Castro e Silva.

Leitura e escrita – Cada obra foi divididaem três ou quatro partes, lidas uma a cadaaula. Ao final, o grupo discutia o estilo da es-crita, as características dos principais perso-nagens e as tramas apresentadas. O próximopasso era a produção de material pelos pró-prios alu-nos. O mais importante, no entanto,

Viagem pela literatura mundial

TEXTO

RENATA PETROCELLI

FOTOS

ALBERTO JACOB FILHO

LEITURA

Page 44: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

44

nº 3

2/20

05pé

na

estr

ada

foi a possibilidade da apropriação dossignificados, dando às crianças a chance deexternar interpretações pessoais a respeitodas obras. “Gostei de Romeu e Julieta por-que ensina as pessoas a amar, a conviver e aajudar o próximo, mas o final é triste. Se euescrevesse esta história, eles viveriam juntos,com muitos filhos, e as famílias fariam as pa-zes”, imagina Vanessa Muniz Gusmão, de 11anos.

Entre as obras, uma das que despertaram maisinteresse foi A megera domada. Tudo porqueas crianças reconheceram na peça os perso-nagens de O cravo e a rosa, novela de WalcyrCarrasco inspirada na obra de Shakespeare eexibida pela Globo. “Eu sabia que já tinha ouvi-do aqueles nomes em algum lugar”, revela LetíciaParedes Ferreira, de nove anos, lembrando ospersonagens centrais, Catarina e Petruchio. “Namesma hora eu descobri que a história era a mesmada novela”, orgulha-se Andreza Santos SilvaMacedo, de 10.

Já entre os meninos, as peripécias de DomQuixote e seu companheiro Sancho Pança ea trama de inveja, preconceito e ciúme de Otelofizeram mais sucesso. “Gostei mais de Miguelde Cervantes, porque fala sobre aventura”, explicaJohnny de Freitas, de nove anos. “Eu fiqueimuito triste, mas quero dizer que a história foimuito legal”, escreveu Cleiton Moreira Ben-to, de 10 anos.

AAAAAutoria compartilhadautoria compartilhadautoria compartilhadautoria compartilhadautoria compartilhada – Os resultados forambem além do que imaginava Ângela. Inicial-mente, a idéia era desenvolver as atividades

ao longo de 20 dias. Mas os debates rende-ram, a leitura levou mais tempo do que o es-perado e o projeto acabou se estendendo porquase três meses. “Era importante que a gentefosse lendo e discutindo. Não adiantava ficaraquele acúmulo de leitura sem uma conver-sa em grupo”, explica Ângela.

Entre os alunos, a receptividade também nãopoderia ser melhor. Empolgados, eles pesquisaramsobre a vida dos dois autores e ficaram en-cantados ao descobrir detalhes como o fato deeles terem sido contemporâneos – Shakespearenasceu em 1564 e Cervantes, em 1547, e am-bos morreram em 1616. Além disso, o traba-lho despertou a curiosidade por outras obrasda literatura. “Nunca tinha lido uma obra deShakespeare, agora quero ler outras”, contaElen Paiva de Lima, de 12 anos.

Quando propôs obras da Literatura Mundial– Shakespeare e Cervantes, Ângela pensa-va em fazer dois painéis com os trabalhos dosalunos. Mas a produção das crianças tambémsuperou as expectativas da professora. Paravalorizar os desenhos e trabalhos escritos, elaresolveu reuni-los em um grande livro, produzidopelos próprios alunos, com cola, tesoura, papele cartolina. A idéia não poderia ter sido maisbem recebida. Todos puseram mãos à obrae, agora, o livro serve de exemplo a outras turmasda escola. “Temos um centro de estudos ondeos professores tomam conhecimento do queestá acontecendo nas outras salas. E no fi-nal do bimestre sempre fazemos uma expo-sição com os trabalhos produzidos. Mas aprodução do livro foi importante, porque au-mentou o reconhecimento pelo trabalho queeles fizeram”, avalia Sônia da Silva Pinto, co-ordenadora pedagógica da escola.

No que depender de Ângela, a idéia vai ren-der frutos. Até porque, em 31 anos de ma-gistério, ela faz questão de valorizar a leitura,seja qual for a série com a qual esteja traba-lhando. “Os resultados foram riquíssimos. Elesavaliaram a escrita e se fizeram perguntas: éatual? É muito diferente? Estas coisas acon-tecem hoje em dia? Eles viram que sim, queos autores continuam absolutamente atuais.Isso é importante para que desenvolvam o gostopela leitura”, conclui a professora.

Alunas descobriram detalhes da vida de Shakespeare e Cervantes

Page 45: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

45

foi assim

Quem passa pela Rua Fonseca, no bairro deBangu, não consegue imaginar que no lugar emque hoje está sendo construído um shoppingcenter funcionou há mais de um século a Fá-brica de Tecidos Bangu. Uma referência eco-nômica política e cultural na cidade durantedécadas, que gerou um bairro, um time de futebole roubou a cena cultural carioca nos anos de1950 com o concurso Miss Elegante Bangu.

A companhia foi fundada em 1889. Suas ins-talações se situavam no terreno da antiga Fa-zenda Bangu, que deu origem ao nome da fábricae, posteriormente, do bairro. Sua instalação levoua energia elétrica à região, abriu uma série denovas ruas e iniciou a construção de várias moradiaspara seus empregados. Outra conseqüência doempreendimento foi a inauguração da estaçãoferroviária, em 1890.

O êxito da fábrica pode ser medido por seu cres-cimento. Em 1893, ela empregava cerca de 750trabalhadores. Em 1930, esse número havia che-gado a 6.700. Crescia também o bairro. Bemantes de 1920, Bangu já tinha sistemas de águae esgoto, armazéns, escolas, estádio de fute-bol, cinemas, teatros e templos religiosos.

Pioneirismo e culturaPioneirismo e culturaPioneirismo e culturaPioneirismo e culturaPioneirismo e cultura– A fábrica tambémfoi uma das responsáveis pela popularização dofutebol na cidade. Trazido por técnicos ingle-ses contratados para montar o novo empreen-dimento têxtil, o esporte rapidamente se difundiuentre os operários, que o praticavam em seushorários de lazer. Assim, em 1904, surgiu o BanguAthletic Club, com o objetivo de organizar jo-gos de futebol, críquete e tênis. Em 1905, o Bangufoi o primeiro time de futebol no Brasil a ter umnegro em seu plantel, fato durante muito tem-po creditado ao Vasco da Gama, que foi cam-peão carioca em 1923 com uma equipe em suamaioria formada por negros e mestiços.

A Fábrica Bangu também se tornou conhecidapelos desfiles que promoveu durante décadas

no Dia do Trabalho. O gramado da Rua Fonse-ca 240 era tomado por carros alegóricos ealas representando os departamentos da fá-brica. Bandas das Forças Armadas e da pró-pria fábrica se apresentavam e a Esquadrilhada Fumaça animava o desfile com seus vôosacrobáticos. Vedetes e atores famosos tambémpodiam ser vistos na celebração anual.

Mas talvez o mais marcante acontecimento pro-movido pela fábrica tenha sido o concurso MissElegante Bangu, criado no início dos anos 50.Participar do certame era o sonho de muitasmoças da alta sociedade. Elas desfilavam comos tecidos produzidos pela fábrica e o concur-so repercutia em jornais e revistas, que estam-pavam as vencedoras nas suas capas. No seuapogeu a fábrica chegou a produzir tecidospara os principais centros de moda da Euro-pa, até mesmo para coleções de exigentesestilistas franceses.

A partir dos anos 1970, a fábrica perdeucompetitividade até ser desativada por completo.Hoje está sendo transformada em shoppingcenter, com previsão de inauguração para2006. O empreendimento preservará a arqui-tetura neoclássica da construção, tombadapelo Patrimônio Histórico em 1995.

Fábrica que teceu um bairroA Tecidos Bangu influenciou a rotina da cidade no século passado e gerou até um time de futebol

Vista da fábrica Bangu reproduzida do Álbum da Exposição Nacional de 1908, gentilmente

cedido pela Biblioteca da Firjan

TEXTO

FÁBIO ARANHA

Page 46: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

46

nº 3

2/20

05pe

rfil

Psicóloga e educadora, Helena Antipoff de-senvolveu um trabalho pioneiro com educa-ção especial no Brasil. Nascida na Rússia, elaestudou na França e na Suíça, onde conviveucom profissionais como o educador Jean Piaget,mas foi aqui que, a exemplo do que aprenderanas universidades européias, reuniu teoria e prá-tica na construção de uma ambiência propíciaà educação e à assistência a crianças portadorasde necessidades especiais. Fundadora da So-ciedade Pestalozzi do Brasil, Helena deixou se-guidores e desde sua morte, em 1974, emprestaseu nome ao órgão atualmente responsável peloacompanhamento da educação especial na Se-cretaria Municipal de Educação (SME).

Helena Antipoff chegou ao Brasil em 1929, aconvite do então secretário do Interior de Mi-nas Gerais, Francisco Campos. Na época, elatrabalhava no Laboratório de Psicologia da Uni-versidade de Genebra como assistente do psi-cólogo Edouard Claparède, pioneiro no estudo

do mecanismo de aprendizagem das crianças.Campos, empenhado na implantação de umareforma no ensino do estado, convidou-a a le-cionar na recém-criada Escola de Aperfeiçoa-mento de Professores de Minas Gerais, em BeloHorizonte, voltada à formação de educadorescomprometidos com os novos métodos de en-sino, fortemente inspirados na psicologia.

Na Escola, onde também coordenava o Labo-ratório de Psicologia e acompanhava a aplicaçãode testes de inteligência, Helena encontrou es-paço para desenvolver uma série de pequisas sobreo desenvolvimento mental, ideais e interesses dascrianças mineiras, unindo a teoria às demonstra-ções no laboratório, equipado com aparelhos clás-sicos da psicologia experimental. Foi nesteperíodo que ela introduziu o termo excepcional,em lugar de retardado, para definir as criançascujos resultados nos testes afastavam-se da faixade normalidade.

Ideais em construção – Em novembro de1932, apenas três anos após chegar ao país,Helena fundou em Belo Horizonte a SociedadePestalozzi do Brasil. Com o objetivo de asse-gurar o cuidado às crianças excepcionais e as-sessorar professores de classes especiais dosgrupos escolares, a entidade contava com oapoio de alguns dos alunos de Helena e de umgrupo de médicos, educadores e religiosos. Emalguns anos, expandiu-se para outros estados, for-mando o movimento pestalozziano brasileiro.

A partir de 1938, a Sociedade Pestalozzi co-meçou a planejar a criação de uma granja-es-cola, com o objetivo de ministrar ensinamentose habilitar os adolescentes em profissões liga-das à produção agroindustrial. Foi esta a ori-gem do Complexo Educacional Fazenda doRosário, que iniciou suas atividades em 1940,em Ibirité, a 26 quilômetros de Belo Horizonte.

A fazenda, dirigida por Helena, funcionava comoum grande centro rural de pesquisa, preparo,

TEXTO

JOANNA MIRANDA

(Pedagoga do Núcelo de

Publicações e Impressos)

A russa Helena Antipoff dedicou a vida ao trabalho com educação especial no Brasil

Centro de referência no paísO Insituto Helena Antipoff é oórgão da SME responsávelpelo acompanhamento dasações educacionais voltadas aportadores de necessidadeseducacionais especiais, bemcomo à atualizaçãoprofissional dos professoresde ensino especial.

Criado na década de 60, com o nome de Instituto do Excepcional, eraadministrado pelo estado. Em outubro de 1974, dois meses depois dofalecimento de Helena Antipoff, ganhou o nome da psicóloga eeducadora e, em 1975, passou a ser gerido pelo município. O Institutoatua na educação infantil, no ensino fundamental e no Programa deJovens e Adultos, com 67 profissionais, mantendo nove oficinaspermanentes: teatro, dança, música, informática, oficina vivencial deajudas técnicas e pedagógicas, ginástica, artes plásticas ebrinquedoteca.

O Instituto fica na Rua Mata Machado, 15 – Maracanã.

Pioneirismo que ainda inspira

Page 47: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

nº 32/2005

47

perfil

orientação e divulgação de assuntos educaci-onais, atendendo a indivíduos de qualquer ní-vel mental e condição social, em escolas comunsou especiais. Assim, ao mesmo tempo em quelevava a educação ao meio rural, criava um am-biente adequado ao desenvolvimento das cri-anças e adolescentes excepcionais, gerando altaintegração social. Os excepcionais ganhavammaior grau de autonomia e a população rural,a possibilidade de permanecer no campo, semnecessidade de migrar para as grandes cida-des em busca de novos conhecimentos e demelhoria da qualidade de vida. O exemplo dafazenda frutificou, dando origem a diversas ins-tituições educativas, que viriam a compor oComplexo Educacional do Rosário.

Trajetória – Helena Wladimirna Antipoff nas-ceu em 25 de março de 1892 em Grodno, naRússia. De família aristocrata, vivia em SãoPetersburgo, na época importante centro polí-tico e cultural do império czarista. Aos 17 anos,mudou-se com a mãe e a irmã mais nova paraParis. Envolvida pelo clima intelectual da cida-de, logo passou a freqüentar seminários naSorbonne.

Foi assistindo a palestras de Pierre Janet e HenriBergson que Helena começou a se interessarpela psicologia. Entre 1909 e 1912, iniciou suaformação científica e estagiou no Laboratóriode Psicologia da Universidade de Paris, parti-cipando dos ensaios de padronização dos testesde nível mental das crianças, elaborados porAlfred Binet e Théodule Simon. Entre 1912 e1916, cursou o Institut des Sciences deL’Éducation da Universidade de Genebra, ondeobteve o diploma de psicóloga, com especiali-zação em psicologia da educação. Nessa época,trabalhou pela primeira vez com o psicólogoEdouard Claparède, no Instituto de Ciências daEducação Jean-Jacques Rousseau.

De Genebra, Helena voltou à Rússia em buscado pai, ferido em combate na Primeira GuerraMundial. Lá, casou-se com o jornalista e escri-tor Victor Iretzky, com quem teve um filho. Asidéias divulgadas em obras literárias de Victor,consideradas nocivas à Revolução Russa, le-varam o casal a se exilar em Berlim. Em 1925,

no entanto, Helena se separou do marido eretornou a Genebra, onde voltou a trabalhar comEdouard Claparède, desta vez no laboratório dePsicologia da Universidade de Genebra, alémde atuar como professora de Psicologia da Cri-ança na Escola de Ciências da Educação, doInstituto Jean-Jacques Rousseau.

Depois de vir para o Brasil, Helena não dei-xou mais o país. Ela faleceu em Ibirité, no dia9 de agosto de 1974, aos 82 anos. Essa ci-dadã brasileira – título concedido em 1951pelo presidente Getúlio Vargas –, que acre-ditava na escola como chave da salvação detodos os males, morreu na fazenda que idea-lizou, no país e na cidade que escolheu paraviver e dedicar-se ao que mais sabia fazer: lutarpor práticas democráticas de ensino e por umaescola pública gratuita e de qualidade, na qualtodos tivessem iguais direitos à educação.

Encontros com a mídiaPrograma n° 17 – “Criançasespeciais e a mídia: Reginade Assis entrevista LeilaBlanco, diretora do Centro deReferência Helena Antipoff.”

SAIBA MAIS

Page 48: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

48

nº 3

2/20

05tu

dote

ca

relação entre pais e filhos, entre osseres humanos e seus deuses,entre os homens e sua pátria. Umahistória de amizade e traição quenos leva dos últimos dias damonarquia do Afeganistão àsatrocidades de hoje.

• A criança e a violência na mídiaOrganizador: Ulla CarlssonEditora CortezA obra reúne em seu conteúdo osmais avançados estudos dasprincipais organizaçõesinternacionais que defendem osdireitos das crianças eadolescentes. Muito mais que umsimples apanhado de dados, o livrorevela com precisão como o temaviolência na mídia deve ser tratadoquando se dirige ao público maisespecial: o infantil.

• Helena Antipoff – textosescolhidosRegina Helena de Freitas CamposEditora Casa do Psicólogo, 2003Os textos selecionados para estelivro exemplificam a contribuição deHelena Antipoff nas áreas em queela atuou como psicóloga,

Livros• O livro do palhaçoCláudio ThebasCompanhia dasLetras, 2005Neste lançamento daColeção Profissões, oescritor CláudioThebas intercala sua

trajetória como palhaço – vocaçãoque descobriu pouco antes dos 30anos – com a história da profissão.Desde as origens na China e noEgito até as aparições no cinema,Thebas apresenta as anedotas, ospersonagens mais famosos e ascuriosidades do mundo dospalhaços. Através de entrevistas –com o Picolino, o Carequinha e ofilho do Arrelia – e depoimentos decolegas de profissão, o autor narra atrajetória dos palhaços no Brasil eainda descreve o treinamentonecessário para quem deseja um diacalçar sapatos enormes e fazer opúblico morrer de rir.

• O caçador de pipasKhaled HosseiniEditora Nova Fronteira, 2005O caçador de pipas é uma narrativainsólita e eloqüente sobre a frágil

A entrevista concedida pelo diretor do Departamento de Justiça,Classificação, Títulos e Qualificação da Secretaria Nacional deJustiça, José Eduardo Romão, ao programa Encontros com a mídia é oprincipal destaque deste mês. No programa, Romão fala sobreclassificação indicativa, que é o tema central desta edição. Outro temarecorrente e relacionado a este – os direitos de crianças e adolescentes– é objeto de estudos de especialistas das principais organizaçõesinternacionais no livro A criança e a volência na mídia. Destaque tambémpara a coletânea com textos produzidos pela psicóloga Helena Antipoff,cujo perfil está na página 46.

educadora e pesquisadora – apesquisa sobre as relações entrecultura e desenvolvimento humano;sobre o desenvolvimento afetivo esocial de crianças e adolescentes; apsicologia do excepcional e aeducação especial; psicologia ecomunidade; e métodos depesquisa e de exame psicológico.

• João e Maria-de-BarroLuiz Antonio AguiarEditora Record, 2005

Um caipiramuito malandrodecide usar suamágica etransforma umavila numatremendaconfusão.Poderia ser

apenas mais uma história deencantamento, amor e aventura,mas Luiz Antonio Aguiar faz deJoão e Maria-de-Barro um conto detradição popular. Poético,surpreendente, engraçado eemocionante, o texto de Aguiarganha força e leveza com asilustrações de Márcia Széliga.

Série Encontros com a mídiaProdução da MULTIRIOPrograma nº 12 – “O controle da TV em suas mãos”O programa entrevista José Eduardo Elias Romão, diretor do Departamento deJustiça, Classificação, Títulos e Qualificação da Secretaria Nacional de Justiça.Durante a entrevista Romão revela como é realizada a classificação indicativados programas de TV, destaca que este trabalho não é censura e explica aimportância da consulta pública que o Ministério da Justiça está promovendoneste momento em todo o país. Vale a pena conferir.

Vídeos

Page 49: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

4949

nº 32/2005agenda

Lembranças dos tempos decriançaInfância é o tema da peça demesmo nome em cartaz no Teatrodo Jockey. A direção é de KarenAcioly e a história gira em tornodas lembranças que temos dostempos de criança. A montagem évoltada ao público infantil, mas adiretora garante que os paistambém vão gostar. O espetáculoacontece sábados e e domingos,às 16h30.Teatro do JockeyRua Bartolomeu Mitre 110, GáveaInformações: 2540-9853

Arte em geralEm 2000 o Museu do Telefone,situado numa construção de 1918 noFlamengo, foi revitalizado e setransformou no Instituto CulturalTelemar. O espaço, marcado por umaarquitetura que reúne em hamonia ovelho e o novo, oferece aos visitantesuma ampla programação cultural quepassa por exposições de artecontemporânea, shows, teatroinfantil, seminários etc.Instituto Cultural TelemarRua Dois de Dezembro 63, Flamengowww.institutotelemar.org.br/centroculturalInformações: 3131-3060

História da educaçãoA Universidade Federal deUberlândia, em Minas Gerais, vaisediar entre os dias 17 e 20 de abrilde 2006 o IV Congresso Luso-Brasileiro de História da Eduação. Opagamento da taxa de inscrição eenvio do formulário podem ser feitosaté o dia 15 de fevereiro. Este ano oevento terá como proposta temáticaa discussão sobre os desafios dapesquisa e do ensino de história daeducação.Universidade Federal deUberlândiaNúcleo de Estudos e Pesquisas emHistória e Historiografia da EducaçãoSecretaria do VI Congresso Luso-Brasileiro de Históriia da EducaçãoAvenida João Naves D´Ávila 2160Campus Santa Mônica, Bloco U, sala1U116-8www.faced.ufu.br/colubhe06

Variedade no acervoLocalizado no Parque da Cidadeem um belo solar do século XIX, oMuseu da Cidade é um passeioimperdível para quem gosta dearte. Quem visitar o local vai semaravilhar com as pinturasdecorativas nas paredes, omobiliário totalmente conservado,as esculturas, gravuras, além defotografias e o rico acervobibliográfico.Museu da CidadeEstrada de Santa Marinha s/n,GáveaInformações: 2512-2353

Escritor de CantagaloA Casa Euclides da Cunha, emCantagalo, oferece aos visitantesuma exposição permanente sobreo grande escritor. São objetospessoais, recortes de jornal deépoca, entre outros documentos.Vale conferir. O local está abertode segunda a domingo, das 8hàs 17h.Casa de Euclides da Cunha/FunarjRua Maria Zulmira Torres, s/n,Cantagalo

IlustraçãoAs obras que melhor definem atrajetória de Rui de Oliveira estão naexposição Rui de Oliveira: 30 anos deilustração de livros. A mostra foiinaugurada mês passado naAcademia Brasileira de Letras (ABL)e segue até o dia 15 de dezembro, desegunda a sexta-feira, das 10h às18h.Academia Brasileira de LetrasAvenida Presidente Wilson 203,CentroInformações: 3974-2548

REPRODUÇÃO

Arte recicladaMamulengos, pinturas e construçõesvariadas produzidas com materialreciclado fazem parte de umaexposição permanente do Cemasi doVidigal. A visita é aberta ao público ea entrada é gratuita.CemasiAvenida Presidente João Goulart s/n,VidigalInformações: 3322-6083 (AndréiaJunqueira)

A política de VargasA Secretaria Municipal dasCulturas convida professores ealunos a visitarem a Exposiçãopermanente sobre a vida deGetúlio Vargas. O passeio é umaboa oportunidade para conhecermais sobre a história do país. OMemorial Getúlio Vargas ficaaberto de terça a domingo e asvisitas escolares podem ser feitasentre 10h e 14h30.Memorial Getúlio VargasPraça Luís de Camões, GlóriaInformações: 2557-9444 ou2557-9444 (visitas de grupo)E-mail: [email protected]

Page 50: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

50 nº 32/2005 MULTIRIO na TV

VideotecaSéries e documentáriospara gravar

SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SÁBADO DOMINGOB

and

Rio

Net

- c

anal

14

Net

Edu

caçã

o

A MULTIRIOtambém está na

TV Alerj (canal 12)

De segunda a sexta,das 8h às 10h e das 21h às 22h.

Aos sábados e domingos,a partir das 20h.

*Interprogramas MULTIRIO - Atletas do Rio (Jovens e esportes), Gerúndio e Cacófato (Dicas de Português), Memórias Cariocas (Histórias do Rio).Programação sujeita a alterações. Para mais informações consulte <www.multirio.rj.gov.br>.

VideotecaSéries e documentáriospara gravar

Abrindo o verboTemas: Animação, Beleza,Jornalismo e Jongo.

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas,ao vivo

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas

Sériese DocumentáriosMesa Brasileira,

Formas do Invisível,

Apartheid,

Contos de Oscar Wilde,

É Tempo de Diversão,

Minha Família e outros

Cantos do RioMPB

Acervo MULTIRIOO melhor da programação

VideotecaSéries e documentáriospara gravar

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas,ao vivo

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas,ao vivo

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas,ao vivo

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas,ao vivo

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas

VideotecaSéries e documentáriospara gravar

VideotecaSéries e documentáriospara gravar

VideotecaSéries e documentáriospara gravar

VideotecaSéries e documentáriospara gravar

VideotecaSéries e documentáriospara gravar

Sériese Documentários

Acervo MULTIRIOO melhor da programação

Acervo MULTIRIOO melhor da programação

Acervo MULTIRIOO melhor da programação

Acervo MULTIRIOO melhor da programação

Acervo MULTIRIOO melhor da programação

Encontros com a MídiaConvidados: Jailson de Souzae Pier Rivoltella, entre outros.

Reflets -Curso de Francês

Reflets -Curso de Francês

Reflets -Curso de Francês

Reflets -Curso de Francês

Br@nchéLíngua francesa

Gerúndio e CacófatoSéries eDocumentários

Gerúndio e CacófatoSéries eDocumentários

Gerúndio e CacófatoSéries eDocumentários

InterprogramasMULTIRIO*Aventuras Cariocas

Gerúndio e CacófatoSéries eDocumentários

Encontros com a MídiaConvidados: Jailson de Souzae Pier Rivoltella, entre outros.

Cantos do RioMPB

Séries eDocumentários

Abrindo o VerboTemas: Animação, Beleza,Jornalismo e Jongo.

Nós da EscolaTemas: Esporte e mídia, Afamília na escola, entre outros.

Abrindo o VerboTemas: Animação, Beleza,Jornalismo e Jongo.

Abrindo o VerboTemas: Animação, Beleza,Jornalismo e Jongo.

Encontros com a MídiaConvidados: Jailson de Souzae Pier Rivoltella, entre outros.

Encontros com a MídiaConvidados: Jailson de Souzae Pier Rivoltella, entre outros.

InterprogramasMULTIRIO*Aventuras Cariocas

Cantos do RioMPB

Sériese DocumentáriosMesa Brasileira,

Formas do Invisível,

Apartheid,

Contos de Oscar Wilde,

É Tempo de Diversão,

Minha Família e outros

Sériese DocumentáriosMesa Brasileira,

Formas do Invisível,

Apartheid,

Contos de Oscar Wilde,

É Tempo de Diversão,

Minha Família e outros

Sériese DocumentáriosMesa Brasileira,

Formas do Invisível,

Apartheid,

Contos de Oscar Wilde,

É Tempo de Diversão,

Minha Família e outros

Rio, a Cidade!Programa de entrevistas

Rio, a Cidade!Tema: Arte e Cultura

Nós da EscolaTemas: Esporte e mídia, Afamília na escola, entre outros.

Cantos do RioMPB

InterprogramasMULTIRIO*Aventuras Cariocas

Abrindo o VerboTemas: Animação, Beleza,Jornalismo e Jongo.

Cantos do RioMPB

Encontros com a MídiaConvidados: Jailson de Souzae Pier Rivoltella, entre outros.

Cara de CriançaProgramas infantis,

O mundo encantado de

Richard Scarry,

Matilda,

O divertido mundo

dos bichos,

entre outros.

Abrindo o VerboTemas: Animação, Beleza,Jornalismo e Jongo.

Noah e SaskiaSérie canadense

Cara de CriançaProgramas infantis,

O mundo encantado

de Richard Scarry,

Matilda,

O divertido mundo

dos bichos,

entre outros.

Noah e SaskiaSérie canadense

Reflets - Cursode FrancêsCara de CriançaInterprogramasMULTIRIO*Aventuras Cariocas

Br@nchéLíngua francesaCara de CriançaNós da EscolaTemas: Esporte e mídia, Afamília na escola, entre outros.

Nós da EscolaTemas: Esporte e mídia, Afamília na escola, entre outros.

Encontros com a MídiaConvidados: Jailson de Souzae Pier Rivoltella, entre outros.

Nós da EscolaTemas: Esporte e mídia, Afamília na escola, entre outros.

Encontros com a MídiaConvidados: Jailson de Souzae Pier Rivoltella, entre outros.

InterprogramasMULTIRIO*Aventuras Cariocas

Reflets - Cursode FrancêsCara de Criança

Reflets - Cursode FrancêsCara de Criança

InterprogramasMULTIRIO*Aventuras Cariocas

Séries eDocumentários

7h-7h30

7h30-8h

14h-14h30

14h30-15h

7h30-8h

8h-8h30

8h30-9h

9h-9h30

9h30-10h

10h-10h30

10h30-11h

11h-11h30

12h-12h30

12h30-13h

13h-13h30

13h30-14h

horáriocanal

9h-9h30

9h30-10h

Page 51: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

51 51 nº 32/2005

*Interprogramas MULTIRIO - Atletas do Rio (Jovens e esportes), Gerúndio e Cacófato (Dicas de Português), Memórias Cariocas (Histórias do Rio).Programação sujeita a alterações. Para mais informações consulte <www.multirio.rj.gov.br>.

Page 52: Ano 3 • n32 • 2005 •  · JOANNA MIRANDA (COORDENAÇÃO) GERÊNCIA DE JORNALISMO EDITORA MARTHA NEIVA MOREIRA SUBEDITOR HUGO RANGEL DE CASTRO E SOUZA EDIÇÃO DE TEXTO RENATA

No próximo número: TV pública

central de atendimento: (XX21)2528 8282 • [email protected]