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R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t ã oAno 121 / Dezembro, 2003 / No 2.097

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFederação Espírita Brasileira

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70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

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Capa: Rebouças & Associados

Tema da Capa: Destacamos, neste mês, o NATALCOM JESUS, como reflexão sobre a melhor forma decomemorarmos o Seu Nascimento na Manjedoura.

EDITORIAL 4Na preparação do Reino do Bem

PRESENÇA DE CHICO XAVIER 10Palavra aos espíritas – Emmanuel

ENTREVISTA: JANET DUNCAN 11O Espiritismo na Grã-Bretanha

ESFLORANDO O EVANGELHO 21Esperar em Cristo – Emmanuel

A FEB E O ESPERANTO 30Da utilidade do Esperanto para o Movimento Espírita – Clóvis Portes Le11o de Amo – Narcisa Amália (Spirito) 31

SEARA ESPÍRITA 42

Reflexões de dezembro – Juvanir Borges de Souza 5

A Estrela de Belém – Richard Simonetti 7

Brilhe a vossa luz – Bezerra de Menezes 8

Sentenças da vida – André Luiz 9

Somente hoje – Manoel Monteiro 13

Natal, um convite à Paz – Adésio Alves Machado 14

Luz no lar – Scheilla 15

Natal com Jesus – Passos Lírio 16

Pensamentos do Natal – Bezerra de Menezes e 16

Eurípedes Barsanulfo

O Reino de Deus está dentro de nós – Sonia Leal Maciel 17

A quem devemos educar? – Geraldo Henrique Corrêa 18

Santo Agostinho – Precursor do Espiritismo no século IV – 22

Washington Luiz Nogueira Fernandes

Elias da Silva – Centenário de desencarnação 25

O Evangelho e os ciclos evolutivos – Edil Reis 26

Felizes os que têm Deus – Cruz e Souza 27

Andando com as próprias pernas – Robinson Soares Pereira 28

Manoel Fernandes da Silva Sobrinho – Antonio Lucena 29

Referência passo a passo – Final – Periódico, artigos de 32

periódico e documento eletrônico –

Geraldo Campetti Sobrinho

De quem Jesus precisa agora? – Rogério Coelho 34

Quem foi Alfred Russel Wallace? – Jáder Sampaio 36

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Atendendo à pergunta formulada por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos(questão 627), os Espíritos Superiores esclarecem:

“Jesus empregava amiúde, na sua linguagem, alegorias e parábolas, porque fala-va de conformidade com os tempos e os lugares. Faz-se mister agora que a verdade setorne inteligível para todo mundo. Muito necessário é que aquelas leis [Leis de Deus]sejam explicadas e desenvolvidas, tão poucos são os que as compreendem e ainda menosos que as praticam. A nossa missão consiste em abrir os olhos e os ouvidos a todos,confundindo os orgulhosos e desmascarando os hipócritas: os que vestem a capa davirtude e da religião, a fim de ocultarem suas torpezas. O ensino dos Espíritos temque ser claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância e paraque todos o possam julgar e apreciar com a razão. Estamos incumbidos de preparar oreino do bem que Jesus anunciou. Daí a necessidade de que a ninguém seja possívelinterpretar a lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma leitoda de amor e de caridade.”

Na preparação do reino do bem, que é a tarefa desenvolvida por todos os espíri-tas em seus mais variados setores de atividades, é importante que tenhamos em con-ta os critérios que os Espíritos Superiores estabeleceram para este trabalho, ao trazeremo Consolador prometido por Jesus à Humanidade, marcados, acima de tudo, pelarazão, indispensável “a fim de que a nossa fé não se faça hipnose, pela qual o domínioda sombra se estabelece sobre as mentes mais fracas, acorrentando-as a séculos de ilusãoe sofrimento”, no dizer de Bezerra de Menezes*.

Neste mês de dezembro, quando a figura de Jesus se destaca na lembrança de to-dos, é justo lembrarmos dEle, o Mestre, não apenas como a expressão mais alta deAmor que a Humanidade conheceu, mas, também, como a expressão mais alta deSabedoria.

*Mensagem “Unificação”, psicografada por Francisco Cândido Xavier – Reformador, agosto de 2001, p. 248.

EditorialNa preparação do Reino do Bem

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Uma Luz tem brilhado sempreneste mundo de expiações eprovas, desde a vinda do

Cristo à Terra.Essa Luz inapagável, que se ir-

radia pelo mundo, sob a forma deMensagem permanente, escrita pe-los evangelistas, continuadores doCristo, foi malcompreendida e in-terpretada, mas ilumina sempre.

Na sua presciência do queocorreria no futuro, o Governadorespiritual deste orbe sabia o queocorreria com sua Mensagem e, porisso, prometeu repeti-la e ampliá-lano futuro.

O Consolador, prometido e en-viado, é o cumprimento da promes-sa do Mestre, numa demonstraçãoclara de sua preocupação permanen-te com o progresso da Humanida-de, refazendo o que os homens de-turparam e relembrando os ensinossobre o Amor e o Bem, que tantasvezes repetiu e exemplificou.

Jesus, assim, continua como oGuia e o Modelo para os homens,nessa jornada milenar, em busca doaprendizado e da prática do Amor

Soberano, que há de alcançar todosos habitantes deste mundo.

O Espiritismo, o Consolador,revive, no campo moral, os ensina-mentos do Mestre.

Continua a Nova Revelação aespalhar a Luz inextinguível entreos homens.

...A contagem do tempo é uma

antiqüíssima convenção humana.Os diversos calendários, não

coincidentes entre si, transpuseramdatas, meses e anos, de sorte que,acontecimentos antigos, transferidospara o nosso atual sistema de conta-gem do tempo, não se ajustam exa-tamente ao dia do mês e do ano emque realmente ocorreram.

O lembrete visa ressalvar que onascimento de Jesus, celebrado pe-la cristandade a 25 de dezembro decada ano, pode não corresponder àrealidade, por erro de transposiçãode datas.

Entretanto, o que nos importarealmente é recordar a vinda doMestre Incomparável ao convíviodos homens, iniciando uma NovaEra na história da Humanidade.

Assim, o dia 25 do mês de de-zembro toca de modo especial oscorações dos cristãos, em cada anoque passa.

E aos espíritas, seguidores doCristo e do Consolador, a época éocasião propícia para renovar-se,fortalecendo sua fé e esperança e

suas convicções baseadas nos ensi-nos do Mestre e da Doutrina dosEspíritos.

Transcorridos dois milêniosdesde a vinda do Mestre, retifica-dos pelo Consolador tantos des-vios de entendimento de sua Dou-trina, eis que os trabalhadores daúltima hora já têm condições deiniciar a transformação do quadroalarmante em que se encontra omundo, dominado pelo materialis-mo, pela ignorância da realidadeespiritual, e pelo egoísmo e insen-sibilidade moral de grande partede seus habitantes.

Com o início do terceiro milê-nio da Era Cristã é chegado o mo-mento do reajustamento das condi-ções espirituais e morais dos habi-tantes deste planeta.

As forças geratrizes da transfor-mação deste orbe, como sempre,partem de seu Governador, o Cris-to de Deus, renovadas pelo Espíri-to de Verdade. Aos homens compe-te acatar os ensinamentos sintetiza-dos no Amor e na Justiça constan-tes dos Evangelhos e da DoutrinaConsoladora e pô-los em execução,pela vivência.

Por isso, a transformação dascondições de vida na Terra é obrade educação intelecto-moral.

Não se pode transformar umser dotado de inteligência e de livre--arbítrio, que se transviou no mal ena ignorância, senão pela educaçãoe reeducação. >

Reflexões de dezembro*

Juvanir Borges de Souza

* O primeiro artigo, intitulado Reflexões dedezembro, foi publicado em Reformador dedezembro/97; o segundo, em dezembro/98.Estas Reflexões são o terceiro artigo da série.

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> A Mensagem do Cristo, revivi-da e ampliada nos tempos atuaispela Nova Revelação, mostram asrealidades da Vida e os Caminhoscorretos para alcançá-las. É a buscapermanente da Verdade, na síntesemaravilhosa que ficou expressa pa-ra todos que despertam.

Aquele que se afirma ser o Ca-minho, a Verdade e a Vida convida--nos, permanentemente, a conhecê--lo, nas suas manifestações de Amorao Pai e a nós.

Ele, mostrando-nos o Pai eCriador dos Universos e das leiseternas que regem a tudo o queexiste, nos campos da matéria e doespírito, dá-nos, ao mesmo tempo,a fé e a esperança nas incertezas enas aflições, a fortaleza e o bom âni-mo nos desalentos.

Do testamento do Cristo a to-da a Humanidade ressalta a vidaimortal, que Ele demonstrou aoreaparecer aos apóstolos após a cru-cificação. É a eternidade da vida es-piritual.

Em seu legado sobressaem ossentimentos bons resumidos noamor a Deus e ao próximo e todasas virtudes, como conquistas indi-viduais.

Não ficou o Mestre Incompa-rável adstrito ao ensino teórico.

Toda a sua passagem pela Ter-ra é uma demonstração viva, pelaexemplificação, dos ensinos quetransmitiu, nas mais diferentessituações.

Mostrou-nos como viver e co-mo morrer.

Mas não terminou no Calvá-rio a missão do Mestre. Essa mis-são, recebeu-a do Pai para, des-de o princípio, dirigir o progres-so deste planeta e dos seus habi-tantes.

Desde os tempos primitivosdo Globo tem acompanhado suastransformações, assistido por Espí-ritos Superiores.

Assim, a trajetória deste orbe ede sua Humanidade não se faz aoacaso. O Cristo está presente em to-das as épocas, mandando seus emis-sários, seus representantes, queorientaram civilizações, raças, na-ções de conformidade com suas ne-cessidades, entendimentos e desen-volvimento espiritual.

É a dedicação constante à Hu-manidade, presidindo e orientandoseu progresso, sem prejuízo dolivre-arbítrio do homem.

Uno com o Pai, no sentido deexecutor de Sua Vontade, como Elemesmo o declarou, a missão doVerbo do princípio, expressão doevangelista João, só pode ser com-preendida com os novos conheci-mentos trazidos pela DoutrinaConsoladora, quando o Espírito deVerdade esclarece:

“Os Espíritos do Senhor, quesão as virtudes dos Céus, qualimenso exército que se movimentaao receber as ordens do seu coman-do, espalham-se por toda a superfí-cie da Terra e, semelhantes a estre-las cadentes, vêm iluminar os ca-minhos e abrir os olhos aos cegos.

Eu vos digo, em verdade, quesão chegados os tempos em que to-das as coisas hão de ser restabele-cidas no seu verdadeiro sentido,para dissipar as trevas, confundir osorgulhosos e glorificar os justos.” (OEvangelho segundo o Espiritismo –Prefácio – 96a ed., FEB – destaquesnossos.)

A maior parcela dos habitantesdo nosso mundo, apesar dos ensi-nos morais das religiões, ainda nãocompreendeu que a felicidade indi-

vidual e coletiva não pode ser con-quistada senão pela purificação dossentimentos, que o Cristo sinteti-zou no Amor.

O progresso material, propor-cionado pelas ciências e pelos gover-nos e instituições humanas, sem aeducação moral, compreende apenasuma parte do problema da evolução.

As religiões tradicionais nãoconseguiram suprimir a violência, oegoísmo, as imposições, a corrup-ção de costumes e todas as mazelasmorais de todos os tempos, apesarde ser a transformação moral dohomem seu objetivo primacial.

Influenciadas por interesses di-versos, ficou em plano secundário afinalidade essencial da educação es-piritual dos sentimentos.

No Cristianismo podemos ob-servar nitidamente, a partir do IVséculo, a substituição dos ensinosde Jesus, sempre visando o cresci-mento espiritual, pelos interessesimediatistas, pelo poder temporal,pelos dogmas impróprios.

Esses desvios, somados às inter-pretações infelizes das Escrituras,explicam os fracassos e os erros reli-giosos diante da Mensagem per-manente do Cristo, que se resumeno Amor e na Verdade.

...Agora, as palavras do Consola-

dor prometido já se fazem ouvir noorbe terrestre.

Recebido na França, centro in-telectual do mundo, nos meados doséculo XIX, firmou-se especialmen-te na “Pátria do Evangelho”, paradaí difundir-se por toda parte.

Seu estudo atento representa oconhecimento necessário das verda-des eternas de que carecem os ho-mens para seu direcionamento.

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Desse conhecimento e práticaresulta o dever de sua divulgaçãopelo mundo, buscando interessar ascriaturas nas belezas e nas realida-des da novel Doutrina, que não sedirige aos sentidos, mas aos co-rações, aos sentimentos de seusseguidores.

Sendo a Terra um mundo deexpiações e provas, seus habitantesvivem ligados aos sofrimentos, comtréguas intercaladas em suas tra-jetórias.

O Espiritismo mostra com cla-reza a causa das amarguras e afli-ções, as leis justas e eqüitativas deDeus, o Criador, entre as quais a deJustiça, a das vidas sucessivas e a daresponsabilidade de cada um pelolivre-arbítrio em suas ações. Tudoisso como meio de reparação doserros praticados, suprimindo ogrande engano interpretativo do in-ferno eterno e das condenações irre-missíveis, criações teológicas das re-ligiões, incompatíveis com a bon-dade do Pai.

As Escrituras, fundamentosdas religiões, os Evangelhos, fon-tes do Cristianismo, são interpre-tados pela Revelação Espírita sobnova luz, portadora da verdade,da realidade dos fatos, sem os pre-juízos das contradições, do sobre-natural.

Graças contínuas temos recebi-do do Mestre Divino, relembradocom mais ênfase no mês de dezem-bro de cada ano, embora vele Elepor nós, continuamente.

Lembremo-nos mais uma vezde que, em sua passagem pela Ter-ra, nos disse que só a Verdade noslibertará da ignorância sobre as coi-sas importantes da Vida e que oAmor a Deus e ao próximo resumetoda a lei e os profetas.

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Segundo a tradição evangélica,uma estrela guiou a Belém ostrês sábios orientais, conheci-

dos como os reis magos Baltasar,Melchior e Gaspar.

A intenção era homenagear Je-sus, o enviado divino.

Aparentemente, apenas o triode peregrinos via o astro brilhante.

Ninguém mais foi conduzidoà cidade de Davi.

Isso significa que somente elespossuíam aqueles “olhos de ver”, deque Jesus falaria várias vezes, re-portando-se às pessoas dotadas deentendimento mais dilatado e depercepção para os valores espiri-tuais.

...A estrela de Belém fulge sem-

pre no mês de dezembro, mostran-do o caminho para que os discípu-los do Evangelho rendam, também,homenagens a Jesus.

Os que têm “olhos de ver”, apartir de um entendimento maisamplo da mensagem cristã, perce-bem que ela não aponta em direçãoàs Igrejas, aos Centros Espíritas, aosTemplos Evangélicos.

Embora respeitáveis em suas fi-nalidades, estimulando-nos à co-munhão com Deus e ao cultivo das

virtudes cristãs, não é neles que oMestre nos espera.

Se prestarmos atenção, se ob-servarmos com cuidado, percebere-mos que a Estrela de Belém apontapara a periferia, para casebres tãohumildes e pobres quanto a estre-baria que abrigou a família sublime.

Dizem os sociólogos que lá es-tão os excluídos, eufemismo comque definem os miseráveis que vi-vem abaixo da linha da pobreza.

Mais correto lembrar que lá es-tão, simplesmente, nossos irmãos!

É junto deles que Jesus nosprocura, nos fala, nos chama, nosespera para as providências necessá-rias, a fim de que possam desfrutarde um Natal feliz, marcado pelaabençoada esperança que viceja naalma dos sofredores, quando sen-tem que não estão abandonados àprópria sorte.

...Amigo leitor.Comemore o Natal. Abrace familiares e amigos,

nos júbilos da abençoada NoiteFeliz.

Mas, se deseja a presença doMestre Divino, lembre-se: é preci-so ir ao seu encontro, a fim de con-vidá-lo.

Contemple o Céu com “olhosde ver” e perceba a Estrela de Be-lém apontando os campos abençoa-dos da solidariedade.

Ali encontraremos Jesus.

A Estrela deBelém

Richard Simonetti

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Meus filhos:

Permaneça Jesus sendo o nosso zênite e o nossonadir.

Dealba dia novo!Não obstante, sombras teimosas permanecem di-

ficultando a claridade solar; as perspectivasde luminosidade plena ainda não sepuderam tornar realidade total.

Na grande transição, há pre-dominância do instinto huma-no sobre a razão, que abre espa-ço lentamente para a intuição.

O homem e a mulher an-cestrais com dificuldade vêmabandonando os arcabouços nosquais se aprisionavam para, encora-jados, avançar com decisão no rumoda grande luz.

Neste momento, contabi-lizamos glórias da Ciência, daTecnologia, do pensamento,da arte, da beleza, mas nãopodemos ignorar as devasta-doras estatísticas da perversi-dade que se deriva dos trans-tornos comportamentais, dasexolatria que resulta da alu-cinação do ser humano na busca do intérmino gozosensual, da violência que é um remanescer dos atavis-mos, ganhando campo nas imensas planícies da per-turbação que grassa na Terra, combatidas tenazmentea ética, a moral, as instituições dignificadoras como omatrimônio, a família, o respeito que se deve manterumas pelas outras pessoas.

Sentimos que as criaturas humanas ainda não en-contraram o ponto de realização plenificadora. Istoporque Jesus tem sido motivo de excogitações imedia-tistas no campeonato das projeções pessoais, na reli-gião, na política e nos interesses mesquinhos.

Graças às claridades incomparáveis do Espiritis-

mo, nosso Modelo e Guia assume o verdadeiro lugarque o Pai Lhe concedeu na história do planeta terrestre.

Ao Espiritismo, pois, tem cabido a tarefa de co-locar Jesus no centro das aspirações humanas, em con-siderando a Lei de Amor de que Ele se fez especialmodelo para viger entre todas criaturas.

Madrugada é esta de desafios!...As incompreensões e as lutas fazem-se

amiudadas. A resistência dos ideais deenobrecimento, porém, deve suportar aardência dos combates férreos direcio-nados contra os objetivos em pauta.

Medem-se a força e a grandeza deum ideal pelas resistências que ofere-

ce, superando as batalhas que lhesão direcionadas.

É necessário preservar o Espi-ritismo conforme o herdamos doeminente Codificador, matendo-

-lhe a claridade dos postula-dos, a limpidez dos seus con-teúdos, não permitindo que selhe instale adenda perniciosa,que somente irá confundir osincautos e os menos conhece-dores das suas diretrizes.

Não se trata aqui de esta-belecer um grupo de conser-

vadores ante o avanço de modernistas. O Espiritismojamais se candidatará a divisionismos nas suas fileiras.É uma Doutrina séria porque tem a ver com o serimortal. Não pode converter-se num clube de diver-timentos em nome da alegria, do espairecimento e dasnecessidades de entretenimentos.

A Boa Nova ou notícias de alegria, produz júbilointerno e não algazarra exterior. Por isso mesmo, norenascimento do Evangelho, ínsito na Codificação,não é licíto que nos transformemos em pessoas in-sensatas no trato com as questões espirituais. Preser-var, portanto, a pulcritude e a seriedade da Doutrinano Movimento Espirita é dever que nos compete a to-

Brilhe a vossa luz

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Reformador/Dezembro 2003 9447

dos e particularmente ao Conselho Federativo Nacio-nal através das Entidades Federadas.

Jamais o Espiritismo servirá para os prazeres egói-cos, as conversações chulas e o preenchimento dos es-paços vazios entre mentes ociosas de pessoas frívolas.Por isso mesmo, a mediunidade deve ser exercida san-tamente, cristãmente, com responsabilidade e critériosde elevação para não se transformar em instrumentode perturbação e desídia

Vós sois a luz do mundo! – propõe o Evangelhonovo, porquanto a Grande Luz é o Mestre, que deve-remos insculpir no mundo íntimo, para que brilheatravés de nós.

Não revidar ofensas, manter a consciência do de-ver acima de quaisquer conjunturas, perseverar quan-do outros abandonam ou são vítimas de defecções,porfiar no bem comum e viver a caridade sob todosos aspectos possíveis, dominados pelo amor que defluido incomparável Amigo e Benfeitor, são as diretrizesde ontem como de hoje.

Mantende o espírito de paz, preservando os obje-tivos abraçados e, caso seja necessário selar vosso com-promisso com testemunho, não titubeeis.

Cristo ou Mamom? É fácil eleger Aquele que deua Sua pela nossa vida, ensinando-nos mansuetude,retidão e paz.

Meus filhos, é necessário que os atos confirmemas palavras e que o Espírito do Cristo, habitando emnós, seja a nossa resposta aos desafios do momento,trabalhando em favor do meio-dia da madrugada quecomeça.

Muita paz! Que o Senhor nos abençoe!São os votos do servidor humílimo e paternal de

sempre,

Bezerra

(Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo PereiraFranco, em 9 de novembro de 2003, no encerramento da Reu-nião do Conselho Federativo Nacional, na sede da FederaçãoEspírita Brasileira, em Brasília. Revisão do Autor Espiritual.)

Cumpra os deveres desagradáveis.Buscar apenas o nosso deleite é comodismo

crônico.*

Vitalize os negócios com a fraternidade pura.O comércio não foge à ação da Providência Di-

vina.*

Coloque o bem de todos acima do interesse par-tidário.

A senda cristã nas atividades da vida será sempre“caridade”.

*Esqueça as narrativas que exaltem indiretamente

o erro.A moral da história mal contada é sempre a in-

vigilância.*

Liberte-se das frases de efeito.A palavra postiça sufoca o pensamento.

*Evite o divertimento nocivo ou claramente des-

necessário.Os pés incautos encontram a queda imprevista.

*Resista à desonestidade.O critério do amor não se modifica.

*Valorize os empréstimos de Deus.Dar não significa abandonar.

*Prestigie a sabedoria da Lei, obedecendo-lhe.O auxílio espiritual não surge sem preço.

André Luiz

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Estudee Viva, pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 9. ed.,Rio de Janeiro: FEB, 2001, cap. 25, p. 146 e 147.

Sentenças da vida

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Espiritismo revivendo o Cristia-nismo – eis a nossa respon-sabilidade.Como outrora Jesus revelou a

Verdade em amor, no seio das reli-giões bárbaras de há dois mil anos,usando a própria vida como espe-lho do ensinamento de que se fize-ra veículo, cabe agora ao Espiritis-mo confirmar-lhe o ministério divi-no, transfigurando-lhe as lições emserviço de aprimoramento da Hu-manidade.

Espíritas!Lembremo-nos de que templos

numerosos, há muitos séculos, fa-lam dEle, efetuando porfiosa corri-da ao poder humano, olvidando--lhe a abnegação e a humildade.

E porque não puderam aco-modar-se aos imperativos do Evan-gelho, fascinados que se achavampela posse da autoridade e do ouro,erigiram pedestais de intolerânciapara si mesmos.

Todavia, a intolerância é a ma-triz do fratricídio, e o fratricídio é aguerra de conquista em ação. E a leida guerra de conquista é o impérioda rapina e do assalto, da insolênciae do ódio, da violência e da cruel-dade, proscrevendo a honra e ani-quilando a cultura, remunerando aastúcia e laureando o crime, acen-dendo fogueiras e semeando ruínasem rajadas de sangue e destruição.

Somos, assim, chamados à ta-refa da restauração e da paz, sem

que essa restauração signifique re-torno aos mesmos erros e sem queessa paz traduza a inércia dos pân-tanos.

É imprescindível estudar edu-cando, e trabalhar construindo.

Não vos afasteis do Cristo deDeus, sob pena de converterdes ofenômeno em fator de vossa pró-pria servidão às cidadelas da som-bra, nem algemeis os punhos men-tais ao cientificismo pretensioso.

Mantende o cérebro e o cora-ção em sincronia de movimentos,mas não vos esqueçais de que o Di-vino Mestre superou a aridez do ra-ciocínio com a água viva do senti-mento, a fim de que o mundomoral do homem não se transformeem pavoroso deserto.

Aprendamos do Cristo a man-sidão vigilante.

Herdemos do Cristo a esperan-ça operosa.

Imitemos do Cristo a caridadeintemerata.

Tenhamos do Cristo o exem-plo resoluto.

Saibamos preservar e defendera pureza e a simplicidade de nossosprincípios.

Não basta a fé para vencer. Épreciso que a fidelidade aos compro-missos assumidos se nos instale porchama inextinguível na própria alma.

Nem conflitos estéreis.Nem fanatismo dogmático.Nem tronos de ouro.Nem exotismos.Nem perturbação fantasiada de

grandeza intelectual.Nem bajulação às conveniên-

cias do mundo.Nem mensagens de terror.Nem vaticínios mirabolantes.Acima de tudo, cultuemos as

bases codificadas por Allan Kardec,sob a chancela do Senhor, assina-lando-nos as vidas renovadas, norumo do Bem Eterno.

O Espiritismo, desdobrandoo Cristianismo, é claro como oSol.

Não nos percamos em labirin-tos desnecessários, porquanto ao es-pírita não se permite a expectaçãoda miopia mental.

Sigamos, pois, à frente, deste-merosos e otimistas, seguros no de-ver e leais à própria consciência, nacerteza de que o nome de NossoSenhor Jesus-Cristo está empenha-do em nossas mãos.

Emmanuel

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido.Religião dos Espíritos. 14. ed., Rio deJaneiro: FEB, 2001, p. 67, 68 e 69.

PRESENÇA DE CHICO XAVIER

Palavra aos espíritas

O Espiritismo,

desdobrando

o Cristianismo,

é claro

como o Sol

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ENTREVISTA: JANET DUNCAN

P. – Como se iniciou o “AllanKardec Study Group” (AKSG)?

Janet – Eu estudei e atuei noGrupo Espírita Batuíra, no bairro dePerdizes, em São Paulo, durante dezanos, entre 1971 e 1981. Naquelaoportunidade aprendi que havia ne-cessidade de difundir o Espiritismopelo mundo afora, pois o Homempoderia encontrar maior felicidade eprogresso em termos espirituais doque em termos materiais.

Após retornar a Londres emmarço de 1981, era óbvio para mimque iniciaria, em pouco tempo, umgrupo de estudos, pois não havianenhum Centro Espírita na Grã--Bretanha. Entretanto, não aconte-ceu até 1983 em razão de uma sériede circunstâncias pessoais. Mas numinício de dia fui impulsionada, porum amigo espiritual, a ir para a ruae para uma livraria próxima, ondeencontrei seis amigos ingleses pro-curando por algo que lhes ensinas-se sobre a natureza espiritual! Ogrupo de estudos iniciou-se imedia-tamente em minha residência.

P. – Como se desenvolveu o Gru-po durante estes anos?

Janet – Gradualmente as seispessoas tornaram-se quinze. Mas is-to foi dois anos antes de os primei-ros espíritas brasileiros chegarempara me ajudar. O nome começoua tomar forma imediatamente, porcausa da força que depositava no fa-to de que os ensinos eram coorde-

nados por Allan Kardec, e algumaspessoas passaram a chamá-lo deGrupo Allan Kardec. Gradualmen-te ele se tornou conhecido comoGrupo de Estudos Allan Kardec.Com o tempo, os encontros torna-ram-se públicos e iniciamos o “Cen-tro para Estudos Espíritas”.

Após a chegada dos colabora-dores brasileiros nós iniciamos o pri-meiro grupo do Centro de Orienta-ção e Educação Mediúnica (COEM)com os quinze participantes ingle-ses. Após três meses de estudo, semexceção, todos haviam abandonadoo curso. Então descobrimos queeram ligados a um médium do Spi-ritualism britânico, o qual os con-venceu de que o que ensinávamosera errado e eles se foram. Nós nun-ca contamos com mais do que doisou três ingleses freqüentando nossoGrupo. Há somente um inglês que

encontrou nosso Grupo duranteuma palestra de Divaldo Franco em1987 que ainda se acha conosco!Agora é nosso tesoureiro.

Em 1988 iniciamos encontrospúblicos às segundas-feiras em umsalão, alugado por hora. Após unsdoze anos de locação paga, achamosum novo e melhor local para en-contros com os Quakers, um gru-po religioso bastante conhecido naGrã-Bretanha, que é muito simpá-tico aos ensinos espíritas.

Em um ano, o AKSG não ha-via atendido, em média, além de 15a 20 pessoas, das quais 95% eramsempre brasileiros, poucos espanhóise portugueses, e ocasionalmente umescocês e um alemão. O públicobritânico ainda não está preparadopara estes maravilhosos ensinos! Is-to é muito ruim porque vemos oquanto sofrem em razão da igno-rância dos assuntos espirituais, masparece que ainda não desejam co-nhecê-los.

P. – Como funciona, no momen-to, o AKSG?

Janet – Atualmente, o AKSGrealiza três reuniões por semana:uma de fluidoterapia (pública),uma para mediunidade – desobses-são – (privativa) e uma terceira pa-ra estudos avançados, realizadas emnossa residência, mediante convite.No início de setembro de 2003,iniciamos um outro curso com oprograma do COEM.

Janet Duncan relata a origem e o funcionamento do “Allan Kardec Study Group”, que ela fundoue dirige em Londres, assim como fala sobre o Movimento Espírita na Grã-Bretanha e na Europa

O Espiritismo na Grã-Bretanha

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Janet Duncan

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Então, pode-se ver que em vin-te anos, que comemoramos em2003, não foi possível progredir co-mo desejávamos. Entretanto, con-fesso que o realizado no AKSG foio melhor possível e que o futuromostrará grandes progressos, por-que o Grupo é bem constituído eestá assentado em boas raízes. Osnovos participantes que agora che-gam estão mais maduros nas suasvisões de vida e freqüentemente jáeram espíritas no Brasil. Então esta-mos otimistas pelo futuro dos En-sinos Espíritas na Grã-Bretanha. Ésomente uma questão de tempo pa-ra a população acordar para a reali-dade espiritual da Vida.

P. – Existe alguma relação en-tre o Movimento efetivamente espí-rita com o antigo e tradicional Mo-vimento Spiritualism?

Janet – Efetivamente não hárelação entre esses Movimentos. OAKSG tem feito numerosas tentati-vas para iniciar este relacionamen-to, mas não tem sido concretizado.Entretanto, contamos com umasduas pessoas de contato que nosinformam que muitos Spiritualistsnão são avessos ao Espiritismo, mashá uma falta de conhecimento porparte da maioria dos Spiritualists.Muitos dos líderes Spiritualists sãochamados para o estudo, mas pare-cem não se interessar. Eles estãobem conscientes dos “Ensinos deKardec” (como eles os designam),mas não desejam adotá-los comoforma de estudo sistemático. É de-sejável que num futuro próximoeles venham a apreciar os EnsinosEspíritas, desejando também adotá--los.

P. – Há livros editados peloGrupo?

Janet – O AKSG administrou a

publicação de somente três títulos:O Evangelho segundo o Espiritismo(The Gospel According to Spiritism),em duas edições; Nosso Lar (The As-tral City) e Agenda Cristã (ChristianAgenda).

Recentemente, concluímos arevisão da 3a edição de O Evange-lho segundo o Espiritismo e cede-mos ao Conselho Espírita Interna-cional (CEI) os direitos autoraispara publicação.

P. – Em quais obras você atuoucomo tradutora para o inglês?

Janet – Embora tenha colabo-rado em muitas revisões, o único li-vro que traduzi inteiramente foi OEvangelho segundo o Espiritismo.Já conversei com o CEI e estou ini-ciando uma nova tradução de OLivro dos Médiuns.

P. – Quando e por que ocorreusua vinculação ao CEI?

Janet – Meu primeiro contatocom o órgão, agora conhecido co-mo Conselho Espírita Internacional,ocorreu ao final do Congresso Espí-rita Internacional realizado pela FEB,em Brasília, no ano de 1989. Repre-sentantes de diversos países estavampresentes e fui informada no Con-gresso que se pensava em formaruma organização internacional, jáque muitos países possuíam Federa-ções nacionais. Perguntaram minhaopinião e verificaram que eu era en-tusiasta da idéia e prontamente meapresentaram e mantive um diálogocom o Presidente da FEB, FranciscoThiesen. Tornei-me uma das apoia-doras do projeto e participei ativa-mente de várias reuniões anterioresà fundação do CEI, em Madrid, noano de 1992.

P. – Atualmente a British Unionof Spiritist Societies (BUSS) represen-ta o Movimento Espírita britânico

junto ao CEI. Quantos Centros in-tegram o BUSS?

Janet – Há nove Grupos Espí-ritas atuando na Grã-Bretanhae apenas um não é membro doBUSS. Há esperanças de que no fu-turo este Grupo também seja inte-grado à família da União Britânicade Sociedades Espíritas.

P. – Como avalia a evoluçãodo CEI nesses 10 anos de seu fun-cionamento?

Janet – Como toda nova orga-nização, há sempre um período delatência, até que as raízes se firmeme o CEI não é exceção. Esta organi-zação não trabalha com uma Fede-ração, nem tampouco com umpaís, mas com o planeta todo! Éum grande trabalho, necessitandode uma grande equipe, de encarna-dos e de desencarnados, para sus-tentá-lo. De início, foi óbvio que tí-nhamos uma grande equipe espi-ritual, mas temos de prosseguir jun-tos pelos anos, a fim de contarmostambém com uma grande equipede encarnados!

Na Reunião Anual do CEI rea-lizada em Brasília, em fevereiro de2002, comemoraram-se os 10 anosdo CEI. Foram 10 anos de trabalhoduro, de altos e baixos, de reuniõespacíficas e reuniões difíceis. Este foium processo natural de amadureci-mento desta importante organiza-ção, cuja responsabilidade é difun-dir os princípios básicos da Dou-trina Espírita à humanidade terres-tre. A Reunião de Brasília foi muitoimportante, pela especial localização– o coração espiritual do Espiritis-mo em nosso planeta. Esta reuniãofoi verdadeiramente abençoada pe-los Benfeitores das Altas Esferas!

A Reunião que ocorreu emmaio de 2003 em Estocolmo foi a

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mais espiritual e fraternal que acon-teceu, bem como a mais produtiva.A União Espírita Sueca, como anfi-triã, soube muito bem criar um bomambiente. O que mais teria a dizer?Somente que os membros do CEI,juntamente com a equipe espiritual,continue a se desenvolver e que umdia se torne uma liderança espiritualem nosso planeta. Quando este diachegar, distante no futuro, então aTerra terá iniciado sua Regeneração!Ultimamente oferecemos nossa gra-tidão de coração aos Benfeitores Es-pirituais pela sua paciência e tolerân-cia às nossas dificuldades humanas.Estamos totalmente cientes de quesem eles, apoiando os membros doConselho, no passado e no presente,oferecendo suas constantes orienta-ções e renovadas energias, o resulta-do dificilmente seria alcançado enem seria tão enriquecido.

P. – Por obséquio, uma mensa-gem aos espíritas do Brasil.

Janet – Vem em minha menteque o Brasil verdadeiramente é “oCoração do Mundo e a Pátria doEvangelho”, como disse Irmão X.Não tenho dúvida deste fato.

Mas por causa disto os espíritasbrasileiros têm especial responsabi-lidade em assegurar os ensinos con-tidos, em toda sua pureza, nos livrosde Allan Kardec. Estes são as ObrasBásicas da Doutrina Espírita. Elasnão podem ser adulteradas ou alte-radas de nenhuma maneira. Devemser nossas “obras de referência”.

Então, nos recordamos quan-do o querido Chico Xavier dizia atodos: “Emmanuel me disse que se eledissesse algo em contradição com Kar-dec e Jesus, ele deveria ser ignorado eeu permaneceria com Kardec e Jesus.”Estas palavras são muito sábias ehumildes, meus amigos.

Hoje, desafortunadamente hámuitas pessoas, alguns espíritas mi-litantes, que pensam que sabemmais! De acordo com seus pontosde vista, Kardec está envelhecido eultrapassado, de maneira que achamnecessário atualizar e modernizar oslivros de Kardec! Isto é inacreditá-vel! Recordemos o que foi feitocom o Novo Testamento, que em

idioma inglês se tornou irreconhe-cível. É de fazer o Cristo chorar!Meus queridos amigos espíritas nãovamos negá-lO outra vez. Reveren-ciemos as Obras de Kardec, recor-dando que representam a promessafeita por Jesus, que enviaria o Con-solador, para estar conosco por to-do o tempo!

Deus os abençoe!

Somente hojeHoje – a luz do presente!...Dia como este dia, em toda a vidaTerás este somente.

Recorda issoE atende a todo bemQue desejes fazer;Prestação de serviçoEm socorro de alguém,Atenção no dever,Felicidade e paz, esperança e carinhoQue aspires a plantar em lances do caminho,Alegria, favor,Dádiva que pretendas ofertar,Relações que precises recompor,Gentilezas no lar,Trabalho, o mais singelo e aquele que mais custe,Revisão, reajuste,Corrigenda, perdão,Provas de estima e consideração,Apoio espiritual em simples frasesNas tarefas que abraces e abençoes...Que nada disso atrases,Nem deixes que fazer para depois;Porque o tempo não volta,Contando sempre aquilo que se fez...E dia igual a hojeSó terás esta vez.

Manoel Monteiro

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Correio Fraterno, Autores Diversos. 5. ed.,Rio de Janeiro: FEB, 1998, cap. 60, p. 137 e 138.

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Os povos sempre viveram, emtodos os tempos, sob o jugoimpiedoso dos poderosos, dos

conquistadores terrenos implacá-veis, fazendo com que as expectati-vas de paz e as necessidades de equi-líbrio emocional/espiritual se cons-tituíssem num dos maiores anseiosdo ser humano.

Paz é a palavra do momento emuitos movimentos estão sendorealizados por todo Brasil e por to-do mundo, numa verdadeira roga-tiva para que haja na convivênciahumana pacificação, base funda-mental para a fraternidade.

Saibamos, no entanto, que a paznão vem de fora para dentro, mas emsentido contrário, ou seja, de nós pa-ra a sociedade. Pacificando-nos con-tribuiremos para a pacificação da co-munidade à qual pertencemos.

O povo judeu, que buscou apaz, não fugiria a esta verdadeira re-gra negra vigente na Humanidade.Foi escravizado por largos períodosde miséria e aflição. É fora de dúvi-da que ninguém sofre por acaso.Todavia, este povo nunca deixou deacalentar o sonho de libertação quelhe permitisse encontrar o ideal davida – a felicidade sua e a de seus fi-lhos, o que é muito natural.

Transformado em servo da si-tuação infeliz, onde as mentes e os

corações eram tangidos pelas pai-xões inferiores e inconfessáveis, es-te povo viu descaracterizados osseus sonhos de libertação e felicida-de que tanto esperava, segundo afir-mavam as profecias existentes nasvelhas letras escriturísticas.

A dominação romana era to-mada pelas dramáticas paixões mo-rais, sombrias, em razão da ambiçãoe da corrupção que se transforma-ram numa verdadeira epidemia, ar-rastando-se até hoje em todos os re-cantos do Planeta, levando as cria-turas a viver dias de situações mo-rais deploráveis.

As pessoas sofriam o abandonoe a perseguição inclemente dos es-birros de ambos os lados, afligindo--as impiedosamente.

Foi exatamente nesse panora-ma nebuloso de sofrimentos quesurgiu a figura incomum de Jesus,com Sua energia expressando bran-dura, Sua bondade sem mostrarpieguismo, Sua coragem vivida semtemor, Sua sabedoria irradiando-sesem constranger os menos cultos eSeu amor abrangendo todos osseres.

Muito complexo até hoje pe-netrar o pensamento de Jesus,entender-lhe a vida aqui na Terra,sua excruciante dor moral-espiri-tual ao dizer “Pai, perdoa-lhes por-que não sabem o que fazem”. Queestaria sentindo o divino Mestrenaquele momento terrível de Suapassagem pela Terra? Só Ele podedizer.

Será que não haveria um outromodo dEle deixar sua mensagemsem passar pelo que passou? Preci-saria deixar escorrer o Seu sangue,ser alvo de tanto escárnio, sofrer to-dos aqueles achincalhes e tipos deviolência? Devem ser perguntasque fervilham nas mentes de mui-tos. Só encontramos uma resposta:não. E por quê? Porque os seres hu-manos, daquela época, como osatuais e seguintes, somente atravésde exemplos tão marcantes e dife-rentes dos demais enviados à Terrapor Deus poderiam sentir-se estig-matizados de forma indelével pelosexemplos deixados por Ele. Ele foidiferente, nunca nada nem nin-guém se Lhe comparou. Outrosvieram antes e depois de Jesus semconseguirem marcar a vida do ho-mem como só Ele o fez. A históriado homem dividiu-se: antes e de-pois dEle.

Sua vida foi muito rica deexemplificações que agradavam aoPai, Pai que O enviara para nos ser-vir de Guia e Modelo. E Ele cum-priu até o último dos detalhes pre-vistos para Aquele que seria oEnviado Divino. Queria, precisavaser reconhecido, em Sua época co-mo agora. Submeteu-se a tudo poresta causa: ser identificado.

A Psicologia e todas as ciênciasda alma tardarão em compreendê-lOem Sua essencialidade de enviado deDeus, nosso Criador, mais aindaquando Ele foi taxativo em Suasmetáforas: “Eu sou a porta...”, “Eu

Natal, um convite à PazAdésio Alves Machado

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sou o pão da vida...”, “Eu sou ocaminho...”, “Eu sou a luz do mun-do...”, “Eu sou o bom pastor...”

Temos a necessidade de ir atéEle, deixarmo-nos por Ele penetrare procurarmos sentir no mais re-côndito de nosso ser toda a Suagrandeza espiritual. Será o momen-to do nosso encontro com a Luz daVida.

A melodia de Natal traz de no-vo a mensagem de Jesus aos nossosouvidos espirituais, ela que é todatecida de sabedoria, ternura, paz, fa-zendo com que a palavra do Mestrepossa tornar-se na maior das con-quistas a serem logradas em nossacaminhada evolutiva. Pobre dequem isto não reconhecer!

Inesquecível é a noite de Natalde Jesus, cuja lembrança leva os ho-mens a se deixarem dominar pelossentimentos mais nobres, bem aci-ma das sombrias ânsias de domina-ção, pairando sobre todos a clarida-de de Seu amor.

Deixemo-nos levar pelos senti-mentos de fraternidade e converta-mos nossos atos em demonstraçõesde paz e amor, pois que estamossob a égide do “amai-vos uns aosoutros assim como eu vos amei”.

Deixamos algumas sugestõespara o encontro da paz. Aceitemosa existência como nos foi progra-mada por Deus; auxiliemos a todossem absorver-lhes as responsabilida-des; desinteressados e desorganiza-dos, ajudemo-los sem violentar--lhes o livre-arbítrio; amemos os fa-miliares sem querê-los como obje-tos em nossas mãos, reconhecendo--os como criaturas de Deus; nãonos iludamos em querer mudarapressadamente as pessoas, porquetambém resistimos quando obser-vados em erros; feridos, esqueça-

mos, lembrando-nos de quantas ve-zes também magoamo-nos; a felici-dade obedece o ideal de cada um,não queiramos impor o nosso; res-peitemos os pontos de vista contrá-rios aos nossos, visto que somos di-ferentes; acatemos a fé dos outros,pois Deus oferece trilhas variadaspara o acesso ao Reino do Céu;aprendamos aqui a ser cada diamelhores, acumulando tesouros im-

perecíveis, pois só levamos para omundo espiritual os valores inapa-gáveis do Espírito; mantendo aconsciência tranqüila, trabalhemosservindo sempre. Caso consigamosagir assim, mesmo sem perceber, es-taremos dominados pela paz.

Feliz Natal, leitores! Feliz AnoNovo! São os nossos sinceros votos.Tenham dias muito felizes, vocês etodos os seus entes queridos!

Luz no lar

Se a tempestade nos devasta as plantações, não nos esqueçamos do Es-paço Divino do Lar, onde o canteiro de nossa boa vontade, na vinha

do Senhor, deve e pode florir para a frutificação, a benefício de todos.Organizemos o nosso agrupamento doméstico do Evangelho.O Lar é o coração do organismo social.Em casa, começa nossa missão no mundo.Entre as paredes do templo familiar, preparamo-nos para a vida

com todos.Seremos, lá fora, no grande campo da experiência pública, o

prosseguimento daquilo que já somos na intimidade de nós mesmos.Fujamos à frustração espiritual e busquemos no relicário domésti-

co o sublime cultivo dos nossos ideais com Jesus.O Evangelho foi iniciado na Manjedoura e demorou-se na casa

humilde e operosa de Nazaré, antes de espraiar-se pelo mundo.Não há serviço da fé viva, sem aquiescência e concurso do coração.Se possível, continuemos trabalhando sob a tormenta, removen-

do os espinheiros da discórdia ou transformando as pedras do mal emflores de compreensão, suportando, com heroísmo, o clima do sacrifí-cio, mas, se a ventania nos compele a pausas de repouso, não admita-mos o bolor do desânimo nos serviços iniciados.

Sustentemos em casa a chama de nossa esperança, estudando aRevelação Divina, praticando a fraternidade e crescendo em amor esabedoria, porque, segundo a promessa do Evangelho Redentor, “ondeestiverem dois ou três corações reunidos em Seu Nome”, aí estará Je-sus, amparando-nos para a ascensão à Luz Celestial, hoje, amanhã esempre.

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Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Luz no Lar, por Diversos Espíritos. 8. ed.,Rio de Janeiro: FEB, 1997, cap. 9, p. 33 e 34.

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Até aqui não temos feito outracoisa senão comemorarmos, ànossa moda, o Natal de Jesus.

Profusão de lantejoulas e orna-mentações a caráter.

Árvores esgalhadas, sem florese sem frutos, sem raízes e sem fron-des, sem seiva e sem vida, transfor-madas em lampadários multicolori-dos.

Manifestação de votos de boasfestas, expressas em cartões que va-riam em tipos, tamanho e impor-tância.

Saudações ditadas pelo gênioinspirador da Amizade.

Brindes e presentes, sugeridos,em alguns casos, pelos interesses econveniências; em outros, inspira-dos pela extensão e intensidade desinceros e acrisolados afetos.

Cânticos religiosos, músicas sa-cras, cultos externos traduzindo oteor multiforme das homenagens.

Artigos e crônicas, pontos econtos, poemas e sonetos – prosa epoesia estreitamente conjugadas pa-ra o mesmo fim.

Peças oratórias, páginas radio-fônicas, representações pictóricas,criações cenográficas, explorando omesmo filão histórico.

Lautas mesas, servidas de gulo-seimas e iguarias que fazem a delí-cia de refinados paladares.

Mas, impõe-se uma radicalmodificação nesta ordem de apre-sentação das coisas pelas criaturas,em relação ao Magno Evento.

É imperioso que o Homemavance um pouco mais e passe acompreender o Natal de Jesus co-mo sendo o Natal com Jesus.

Desvencilhando-se da gastro-nomia e consagrando-se à medi-tação.

Desapegando-se das exteriori-dades e concentrando-se no mun-do de si mesmo, através das doces erepousantes recordações de todos osfatos que se relacionam, remota ediretamente, com o Nascimento doFilho de Deus.

Ausentando-se do Presente tu-multuado e internando-se na crip-

ta augusta e silenciosa do Passado,para projetar-se nas claridades doFuturo, em arrojados vôos de espe-rança e idealismo.

Examinando-se conscienciosa-mente.

Alcandorando-se em idéias eaquisições.

Acrisolando-se em sentimen-tos.

Crescendo em espiritualidade.Renascendo para Deus.Natal com Jesus representa, an-

tes e acima de tudo, nossa inque-brantável disposição de ânimo decaminhar para Ele, ou a obtençãoda possibilidade de Sua vinda aténós, pelas condições favoráveis dehospedagem que Lhe ensejemos emnossos corações.

Natal com JesusPassos Lírio

Pensamentos do Natal

Sempre que te decidas a concretizar idéias e planos, na exaltação dobem, recorda que Jesus, o Governador da Terra, começou o apos-

tolado da redenção humana no obscuro recanto da estrebaria.

Bezerra de Menezes

Quando te sentires tão infortunado e tão pobre que não possas aju-dar aos mais pobres e mais infortunados que tu mesmo, lembra-te

de que o Senhor, relegado ao abandono e à carência no estábulo hu-milde, era louvado nas vozes dos anjos e marcado no céu pela luz deuma estrela.

Eurípedes Barsanulfo

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Antologia Mediúnica do Natal, EspíritosDiversos. 1. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1967, cap. 46, p. 131 e 132.

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Aprofundidade e a sapiência des-tas palavras definem a realida-de absoluta de Deus, funda-

mento eterno e criativo de toda aindividualidade humana.

E qual será essa realidade?Como podemos definir ou

identificar a Realidade Divina etambém a nossa, se não temos ain-da o desenvolvimento necessário pa-ra entender o que já existe muitoantes de nossa existência?

Inicialmente, temos que crerem Deus. Os Espíritos nos passamque Deus é a inteligência suprema,causa primária de todas as coisas, eque O reconhecemos pelas suasobras, o Universo e suas leis, a Na-tureza e os seres vivos, sempre emconstante evolução. É impossívelnegar Deus em face de tanta perfei-ção e de tantos fenômenos inteli-gentes na vida universal.

Crendo em Deus podemosseguir com o raciocínio e com-preendê-lO.

Criados simples e ignorantes,iniciamos uma longa jornada, cujodestino é a perfeição. Inicialmente,vibramos num estado emocionalprimitivo, e embora trazendo oamor de Deus latente, não nosapercebemos dEle, mas à medidaque crescemos vamos deixando pa-

ra trás o instinto rudimentar, edamo-nos conta de que somos cen-telhas Divinas, desenvolvendo-se noseio da Criação.

Mas será que crer em Deus ecompreendê-lO é o suficiente parasenti-lO dentro de nós? Muitos afir-mam crer em Deus, freqüentamtemplos e instituições religiosas,mas exploram, maltratam, furtam,destroem e matam. Vivem de ma-neira censurável, promovendo lutasreligiosas, verdadeiras guerras fratri-cidas que ceifam vidas ao invés depreservá-las. Quantos lutam pelaprerrogativa de liderança, promo-vendo ódio, tolhendo o dom maisprecioso que temos que é o livre-ar-bítrio! Outros até executam atenta-dos, massacres, fuzilamentos em no-me de uma crença em Deus.

Pobres irmãos enfermiços! Comtristes atitudes desmentem por simesmos os atributos do Criador, enem se dão conta de que a verdadenão pode ser agressiva e nem seopor ao Mestre Jesus, que exempli-fica o amor e a caridade, a união ea fraternidade como único caminhopara a evolução da Humanidade.Certamente desconhecem aindaque o Reino de Deus está acima doódio e da destruição. Não é um lu-gar circunscrito, uma morada ven-turosa, na qual se aspira a entrarbruscamente, com alarde. É um rei-no de amor e ajuda fraterna a todosos seres da Criação. É a imensidade

na virtude, conquistada gradativa-mente, de progresso em progresso,de ascensão em ascensão.

Não basta, portanto, crer emDeus e compreendê-lO, é precisovivê-lO por meio de uma busca dealgo mais sólido, de um sentidoamplo para a nossa vida, algo quenos traga a verdadeira consciênciado existir, permitindo-nos uma no-ção mais vasta de nossa origem edestino.

Somente a busca da sabedoriae do equilíbrio, obtidos através doestudo e do trabalho no bem, nosconduzirá a uma mudança na ma-neira de ser e de agir, e um instintode orientação nos impulsionará aoamor, ao perdão e ao concurso fra-ternal, libertando-nos do egoísmo.

Com todas essas mudançasafloramos e ampliamos o amor deDeus em nós, e vivendo esse amor,galgamos novos degraus de nossaescala evolutiva, desfrutando deoportunidades de futuras vivênciasentre humanidades siderais felizes.

A descoberta de Deus em nósé o despertar para a verdadeira feli-cidade, é a alegria de saber que exis-te um Pai que nos criou, muitos ir-mãos a quem amamos e um Uni-verso que nos ampara a vida.

Finalmente, vivendo Deus deuma forma plena, sentimos a gran-de dimensão do amor: “Do amorviemos, para o amor vivemos e sópelo amor retornamos ao Pai.”

O Reino de Deus estádentro de nós

Sonia Leal Maciel

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Narra-se que o extraordinárioorador ateniense Licurgo re-cebeu oportuno convite para

falar sobre a educação. Depois dehaver reflexionado, o mestre da ora-tória solicitou à comissão que lheconcedesse seis meses para prepararo tema.

Na oportunidade estabelecida,no imenso anfiteatro de Atenas, Li-curgo apresentou-se, levando algu-mas jaulas, nas quais estavam doiscães e duas pequenas lebres.

Antes de emitir qualquer con-ceito, o admirável filósofo, que erapsicólogo, abriu uma das jaulas e li-bertou uma lebre; ato contínuo,abriu outra jaula e libertou ummastim. O cão desesperado saiu emdesabalada correria, e, caçando a le-bre, surpreendeu-a, estraçalhando--a, diante da multidão comovida.

Ainda não terminara aqueleimpacto perturbador, quando Li-curgo abriu uma outra jaula e liber-tou outra lebre, abriu ainda maisuma e libertou outro cão. Domina-das pela cena grotesca de antes, aspessoas aguardavam que se repetis-se a cena deprimente. Para surpresageral, o cão acercou-se da lebre ecomeçou a brincar com solidarieda-de. A pequenina lebre também, porsua vez, acercou-se do animal e co-meçou a lamber-lhe as patas e, co-

mo dois amigos, estiveram deitan-do e rolando no solo.

Ante a emoção que tomouconta de todos, Licurgo começou asua peça de oratória dizendo:

Os dois cães são da mesma ra-ça, têm a mesma idade, receberama mesma alimentação. A diferençaentre o primeiro e o segundo é queo segundo foi educado, o primeiro,não.

Aí estava demonstrada, de ma-neira incontestável, a excelência daeducação. Educar é criar hábitos,hábitos saudáveis que se arraigam eque passam a constituir uma novanatureza em a criatura humana.

Situação-Problema

A todo instante estamos ou-vindo pessoas falarem da importân-cia do trabalho e da educação.

Diz Allan Kardec, na nota dapergunta 685 de O Livro dos Espíri-tos que nós, seres humanos, devemoster durante nossa existência uma ati-vidade de trabalho, que é imprescin-dível que tenhamos algo para nosocupar, pois a suspensão do trabalhose generaliza e toma as proporçõesde um flagelo como a miséria. Aciência econômica procura o remé-dio no equilíbrio entre a produção eo consumo para suprir essa falta detrabalho existente. Mas há um ele-mento que, comumente, não entrana balança no momento da buscadesse remédio e sem o qual a ciênciaeconômica não é mais que uma teo-

ria: a educação. Não a educação in-telectual, mas a educação moral, enão, ainda, a educação moral peloslivros, mas aquela que consiste na ar-te de formar os caracteres, a que dáos hábitos – porque a educação é oconjunto de hábitos adquiridos.

Comentam professores, educa-dores e aficionados pela arte de en-sinar que para haver educação deve-mos nos impor de duas premissasbásicas: amor e auto-educação, amarpara educar e auto-educar-se paraamar. Muitos ainda dizem que ameta maior da educação é promo-ver o desenvolvimento simultâneodas faculdades morais, físicas e inte-lectuais das pessoas.

Bem, se já sabemos que o centroda Educação deve ser o ser humanoe não o ensino, e se já temos uma vi-são do trabalho e da direção que de-vemos tomar para educar as nossascrianças, por que não as estamos con-seguindo educar a contento?

Pois bem, o que está aconte-cendo no terceiro milênio com osnossos jovens educados por profes-sores e educadores conhecedoresdos princípios básicos da educação?

O que pensar da massa de jo-vens jogados a toda hora no seio daHumanidade, sem princípios, semfreios e entregues aos seus própriosinstintos? Devemos nos espantardas conseqüências desastrosas quedisso resultam?

Busquemos os jornais nestesúltimos 180 dias; quantas mortesforam efetuadas pelos nossos jo-

A quem devemos educar?Geraldo Henrique Corrêa

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vens, qual foi o grau de barbárieutilizado nessas ações? QuantosPais, Mães, Avós e amigos foramatingidos por jovens educados poressa metodologia em voga.

Em 1828, Hippolyte Léon De-nizard Rivail (Allan Kardec), discí-pulo de Pestalozzi, já dizia que nãobasta conhecer o objetivo a ser atin-gido, é preciso ainda conhecer per-feitamente o caminho que se devepercorrer. E fazia a seguinte pergun-ta: O sistema educacional atual po-de nos conduzir até lá? Quais são osobstáculos que se opõem a isso?Quais são os meios de remediá-los?

Já estamos no terceiro milênioe até agora poucos conseguiram res-ponder à primeira pergunta deAllan Kardec. Por que será que osistema atual não pode nos condu-zir até lá?

É moda nos dias de hoje os pro-fessores e educadores dizerem queaplicam a metodologia do Constru-tivismo no Brasil. Mas será que defato eles sabem aplicar e conhecem afundo essa metodologia?

Dizem muitos educadores mal--informados por aí que a idéia cen-tral do Construtivismo foi desen-volvida por Piaget, ou seja, é o sujei-to (no caso a criança) que constróio seu próprio desenvolvimento.

Dora Incontri em a Educaçãoda Nova Era faz a seguinte obser-vação:

“Essa idéia já foi defendidadesde Sócrates, passando por Rous-seau, Pestalozzi, Montessori e tan-tos outros. Por ser uma idéia co-mum aos maiores filósofos e edu-cadores de todos os tempos e porser um fato que se pode observarempiricamente, trata-se de umaverdade incontestável. E nela re-pousa a filosofia de que o centro da

Educação deve ser a criança e nãoo ensino.

Mas é preciso distinguir as di-ferenças ideológicas que existem en-tre as diversas correntes.

Para Sócrates, Rousseau, Pesta-lozzi, Montessori e tantos outros,existe no ser humano um princípioespiritual, que é o centro da indivi-dualidade, da inteligência, do sen-timento. E é esse sujeito, o Espíri-to, embora condicionado pelo cor-po, que rege e determina o desen-volvimento, evidentemente numainteração com o meio. O sujeitoconstruindo seu desenvolvimento éo Espírito se manifestando.

Poderíamos, portanto, chamaressa corrente de construtivismo es-piritualista.

Já para autores como Piaget,Vygotsky e outros, o homem é ape-nas um ser biológico e social. Nãoexiste uma instância espiritual quecomanda o processo do desenvolvi-mento. Desse modo, quando se dizque é o sujeito que faz seu desen-volvimento, esse sujeito é uma da-da estrutura genético-biológica eponto. Chamemos, portanto, esseconstrutivismo de construtivismomaterialista.

Há uma contradição insuperá-vel no construtivismo materialista:

se o homem é apenas um ser bioló-gico, ele é predominantemente de-terminado pelas leis físicas, pela he-reditariedade, pelos instintos da es-pécie. É um animal que aprendeu apensar. Se ele tem também uma di-mensão social, sua mente é fruto deuma cultura dada, de uma histori-cidade, um produto de seu tempo.E é sobre esse determinismo físicoe social, que os construtivistas que-rem montar a liberdade humana, equerem pregar que o indivíduoconstrói a si mesmo! É um pensa-mento absurdo. Só a existência doEspírito, que transcende o determi-nismo biológico e o determinismosocial, é que pode explicar, justifi-car, e embasar a liberdade do ho-mem de fazer a si mesmo.”

Drauzio Varella, muito conhe-cido como médico e apresentadorda vida humana no Fantástico, au-tor do livro Estação Carandiru, emartigo na Folha de São Paulo, nocaderno Folha Ilustrada, de 25 dejaneiro de 2003, descreveu sobreOs genes e a alma humana. Logode partida já expôs o seu pensa-mento de forma clara e objetiva. “Amaioria de nós acredita na existên-cia de uma alma imortal, caracte-rística inequívoca da condição hu-mana. Pondo a imortalidade delado, pois se trata de questão de fé,seria cabível dizer que o conjuntode genes contidos no genoma cons-tituiria o substrato bioquímico daalma humana?”

Em outros parágrafos faz as se-guintes colocações:

“Embora a biologia molecularpossa nos ajudar a entender nossaconstituição orgânica e as diferen-ças e semelhanças entre nós e os de-mais seres vivos, através dela jamaisexplicaremos o mistério mais pro-

Há uma

contradição

insuperável no

construtivismo

materialista

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fundo da condição humana: comoemerge a consciência? ”

“O que chamamos a alma hu-mana liga-se à emergência de umaconsciência pessoal, única, sem aqual a individualidade não existe. Ea consciência é algo que transcende aestrutura do próprio sistema nervo-so, porque não está aprisionada emnenhuma circuitaria de neurônios,muito menos pode ser reduzida à ex-pressão do genoma contido num zi-goto. Ela nasce da construção deuma narrativa pessoal enriquecidapor fatos culturais que dependem dahistória de vida de cada um de nós.”

Pelo que vejo, a segunda per-gunta o Dr. Drauzio Varella já res-pondeu, agora só falta coragemaos homens para aceitar a existên-cia do Espírito e enfrentar a lei deCausa e Efeito, bem como o livre--arbítrio.

Mas mesmo assim vamos com-pletar a informação a respeito. Veja-mos agora o feito do admirável inves-tigador inglês Firsoff (1847-1946),que definiu o Espírito (alma huma-na encarnada) como sendo umaenergia semelhante à eletricidade e àgravidade, e a faculdade de pensarconstituída de mindons, de partícu-las de mente, demonstrando que oEspírito possui uma psicologia e umafisiologia, tendo, portanto, um peso,não sendo um ser abstrato, mas umser físico, dentro do conceito da Físi-ca Quântica.

Amit Goswami, Ph.D. em Fí-sica Quântica, no livro O UniversoAutoconsciente, editado em 1993,reafirma essa idéia e demonstra queo Universo é matematicamente in-consistente sem a existência de umconjunto superior (Deus). Isto tor-na sólida sua afirmação de que é aconsciência que cria a matéria e não

o contrário, como até hoje crê opensamento estabelecido.

A Psicologia Transpessoal veiodecretar a realidade da ciência espí-rita quando Allan Kardec interro-gou às Entidades Venerandas, con-forme se lê na questão 621 de OLivro dos Espíritos: “Onde está escri-ta a lei de Deus? Na consciência.”

A consciência não pertence aocérebro, a consciência é a exteriori-zação da realidade do ser eterno,que viaja na indumentária carnal,que mergulha no corpo e dele se li-berta, ininterrupta, incessantemen-te, até lograr o seu estado de Nirva-na, de Reino dos Céus, de pleni-tude ou de Samadi.

Neste momento só nos faltaresponder à última pergunta deAllan Kardec e de muitos Pais,Mães, Educadores, Professores.Quais são os meios existentes pararemediar toda essa agressividade, to-do esse ódio, todo esse desamor, to-da essa falta de educação constata-da através das infindáveis atitudesviolentas geradas por nossos jovense contidas em nossas consciências,à espera de uma breve resposta.

Na palestra de improviso pro-ferida pelo médium e orador espí-rita Divaldo Pereira Franco – “AEducação para a Plenitude do ser”–, na qual nos apoiamos para ali-mentar os nossos pensamentos,Allan Kardec considera que a so-lução para o grande problema daHumanidade é a educação. Nãoessa educação intelectual apenas,mas a de natureza moral, aquelaque pode mudar os quadros daviolência e da irresponsabilidade,essas duas grandes chagas da Hu-manidade, que a educação perfei-tamente aplicada pode superar.Volta a dizer que a educação ago-

ra é uma arte, arte difícil, porqueé vivencial, toda ela estabelecidaem bases em que a Pedagogia,com o apoio da Psicologia, reco-nhecem como necessárias.

Portanto, a Doutrina Espíritanos traz a proposta da educação pa-ra a plenitude do ser, dizendo queela começa no momento do auto--encontro da criatura, quando iden-tificamos a consciência e desperta-mos para a realidade espiritual quesomos, transmitindo àqueles queconosco vivem, aprendizes que so-mos todos uns dos outros, o contri-buto da nossa mensagem positiva,alimentadora de esperanças, enri-quecedora de valores.

Nesse sentido, a Doutrina Espí-rita faz um grande apelo, quandonos propõe educar o Espírito, orien-tar a forma, direcionar o instinto,coibir o abuso, disciplinar as tendên-cias negativas, as más inclinações, etrabalhar concomitantemente para odesenvolvimento intelecto-moral doser e desta forma contribuir para queele perceba que é uma criatura porDeus criada, com uma finalidade es-pecífica, que é a felicidade total.

Quando essa arte for conheci-da, cumprida e praticada, o homemocasionará no mundo hábitos deordem e de previdência para si mes-mo e os seus, de respeito por tudoo que é respeitável, hábitos que lhepermitirão atravessar, menos peno-samente, os maus dias inevitáveis.Esse é o ponto de partida, o ele-mento real do bem-estar, a garantiada segurança de todos.

Agora novamente volto a per-guntar aos nossos professores, edu-cadores e aficionados pela arte deformar os caracteres: A quem deve-mos educar e qual corrente constru-tivista devemos acatar?

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Esperar em Cristo“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos

os mais miseráveis de todos os homens.”– (I Coríntios, 15:19.)

O exame do versículo fornece ao estudioso explicações muito claras.

É natural confiar em Cristo e aguardar nEle, mas que dizer da angústiada alma atormentada no círculo de cuidados terrestres, esperando egoistica-mente que Jesus lhe venha satisfazer os caprichos imediatos?

Seria razoável contar com o Senhor tão-só nas expressões passageiras davida fragmentária?

É indispensável descobrir a grandeza do conceito de “vida”, sem con-fundi-lo com “uma vida”. Existir não é viajar da zona de infância, com esca-las pela juventude, madureza e velhice, até ao porto da morte; é participar daCriação pelo sentimento e pelo raciocínio, é ser alguém e alguma coisa noconcerto do Universo.

Na condição de encarnados, raros assuntos confundem tanto como os damorte, interpretada erroneamente como sendo o fim daquilo que não podedesaparecer.

É imprescindível, portanto, esperar em Cristo com a noção real daeternidade. A filosofia do imediatismo, na Terra, transforma os homens emcrianças.

Não vos prendais à idade do corpo físico, às circunstâncias e condiçõestransitórias. Indagai da própria consciência se permaneceis com Jesus. Eaguardai o futuro, amando e realizando com o bem, convicto de que a es-perança legítima não é repouso e, sim, confiança no trabalho incessante.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. 21. ed., Rio de Janeiro: FEB,2002, cap. 123, p. 261-262.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

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F igura muito importante na história do Cristianis-mo é Agostinho de Hipona (13/11/354-28/8//430), mais conhecido como Santo Agostinho.

Filho de Patrício, que era pagão e depois se converteuao Cristianismo, e Santa Mônica, uma verdadeira cris-tã, ele nasceu em Tagasta, Numídia (antiga região donorte da África, que passou a denominar-se Argélia noséculo XVI). Estudou em Tagasta e Cartago, Grécia,onde professou por nove anos o dualismo maniqueu(Maniqueísmo foi a Doutrina fundada por Manes, noséculo III, na Pérsia, segundo o qual o Universo eradominado por dois princípios que se combatiam: obem absoluto de Deus, e o mal absoluto, ou diabo).Seguindo para Milão, Itália, foi mestre de retórica. Te-ve um irmão chamado Navígio, e uma irmã chamadaPerpétua. Aos 19 anos, ligou-se a uma mulher, comquem teve o filho Adeodato; algum tempo depois seseparou, unindo-se a outra concubina, com a qual vi-veu também algum tempo, mas ficando sempre liga-do ao filho Adeodato. Seus principais amigos foramAlípio, Romaniano e Honorato.

Foi a leitura de Hortensius, de Cícero (106-43a.C.), que o despertou para a filosofia. Sentindo umardor religioso, afastou-se do ensino e, convertido aoCristianismo por Santo Ambrósio (340-397), voltoupara a África, distribuiu seus bens, ordenou-se sacer-dote, sagrando-se depois bispo de Hipona (antiga ci-dade da Numídia).

Santo Agostinho foi um trabalhador cristão bas-tante atuante, em diferentes formas. Além de suasquase 100 obras de teologia e filosofia, escreveu cercade 300 cartas e, como divulgador da Boa Nova, oral-

mente, deixou 400 sermões, e foi considerado um pre-gador muito eloqüente. Promovia o Evangelho tam-bém através do método da auto-reflexão e no comba-te das chamadas heresias da época.

Santo Agostinho foi um dos maiores nomes daPatrística (isto é, o pensamento dos Pais da Igreja, queteve suas fases marcantes antes e depois do pensamen-to agostiniano), juntamente com outros autores deorigem grega, como São Justino (100-165), Taciano(120-173), Atenágoras (séc. II), Santo Irineu (130--202), São Hipólito (c. 170-235), Clemente de Ale-xandria (150-216), Orígenes (185-254), Santo Ata-násio (c. 295-373), Gregório Nazianzeno (c. 329- c.390), Basílio Magno (c. 330-379), Gregório de Nissa(c. 335-395), Nemésio de Emesa (séc. V), Cirilo deAlexandria (c. 375-444), como também os pensado-res de origem latina, como Tertuliano (c. 160-245) eLactâncio (c. 260-325), representando praticamenteo pensamento cristão predominante, do século II aoVIII. Santo Agostinho contribuiu também para aconstrução da dogmática católica.

Ele recorreu à Filosofia de Platão, obtendo umavisão chamada de platonismo cristão, assim como maistarde outro grande teólogo, o italiano Tomás de Aqui-no (1225-1274), recorreu ao pensamento de Aristóte-les (384-322 a.C.), para compor a Escolástica (filoso-fia ensinada nas Escolas da Europa, que religava osdogmas cristãos e a Revelação à filosofia tradicional),que dominou o pensamento cristão do século X aoséculo XVI, destacando-se nesse sentido os nomes doabade normando Santo Anselmo (1033-1109), o teó-logo e filósofo francês Abelardo (1079-1142) e o teó-logo lombardo Pedro Lombardo (1100-1160).

Alguns dogmas religiosos de que Santo Agostinhofoi partidário, compatíveis com o desenvolvimento doCristianismo de sua época, foram as idéias do pecadooriginal, a redenção pela cruz, isto é, pela revelação, os

Santo Agostinho Precursor do Espiritismo no século IV

Washington Luiz Nogueira Fernandes

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sacramentos, que segundo ele eram necessários à salva-ção e obra de Deus. Compreende-se que ele viveu noséculo IV, e suas crenças eram compatíveis com suaépoca. Os primórdios de sua Espiritualidade ocorreramentre 393 e 394.

Santo Agostinho iniciou como encarnado osensinamentos do Evangelho segundo o

Espiritismo

Queremos destacar o fato de que Santo Agosti-nho, no século IV, era um ser já com-prometido com a essência do pensa-mento e vivência dos ensinamentosde Jesus. Isto deduzimos do fato deter sido ele um dos primeiros nesse re-cuado tempo a comentar o principaldos quatro sermões proferidos peloMestre, que foi o Sermão da Mon-tanha, compreendido no seu sentidoreal, e não no sentido dogmático cria-do pelas religiões (os outros três ser-mões ensinados por Jesus foram oSermão Profético, o Sermão dos Ais,e o Sermão do Cenáculo). O Sermãoda Montanha, por tão bem retratar osensinamentos cristãos de vida e com-portamento, foi incluído por AllanKardec em O Evangelho segundo oEspiritismo. O Codificador dedicoualguns capítulos deste livro para asbem-aventuranças (cap. VI a cap. Xdo ESE), que são a parte introdutóriadeste Sermão, e inseriu também emvários capítulos outros ensinamentose citações do mesmo. O mencionadopensador Tomás de Aquino incluiu este trabalho deSanto Agostinho sobre o Sermão da Montanha em seuprincipal livro, a Summa Teologica, evidenciando a sa-bedoria que a obra agostiniana representava. Esta va-liosa obra de Santo Agostinho foi traduzida e publica-da no Brasil pela Ed. Paulinas.

Nela, Santo Agostinho comentou muitos ensi-namentos que foram precursores dos ensinos dos Es-píritos Superiores na Doutrina Espírita, quinze sécu-los mais tarde.

Para termos uma idéia, podemos mencionar:

– Santo Agostinho explicou que a citação de Je-sus sobre os pobres de espírito se referia aos humildesde coração;

– ressaltou a importância de vencer o mal com obem;

– falou da porta estreita, como sendo nossas op-ções pela Espiritualidade e não pelas coisas do mundo;

– falou da importância da oração em nossa vida;– falou da necessidade do perdão na nossa vivên-

cia;– falou de se servir a Deus ou a Mamon (isto é, a

opção pelas coisas materiais ou coisasespirituais);

– comentou sobre os falsos pro-fetas, que seriam aqueles que prome-tem a sabedoria que não possuem;

– falou da necessidade de edifi-car a casa sobre a rocha, e não sobrea areia, o que significa o nosso esfor-ço para construir nosso caráter sobrea realidade do Espírito e não sobre ascoisas do mundo, habilitando-nosdessa maneira a enfrentar as vicissitu-des da vida com coragem e equilí-brio;

– falou da esmola em segredo,sem alarde;

– falou da trave no olho, comosendo a necessidade de corrigir pri-meiro nossas próprias imperfeições.

Em suas bem conhecidas obras,A Cidade de Deus (413-427) e AsConfissões (397), seu pensamento es-tá centrado em duas idéias principais:Deus e o Destino do Homem, ondeprocurou acima de tudo demonstrar,

metafisicamente, a existência de Deus, provada a prio-ri, e cuja natureza era de um Poder Racional Infinito,Eterno, Imutável, Espírito, Pessoa, Deus.

Em outras de suas importantes obras, Cuidadodevido aos Mortos e Imortalidade da Alma, constata-mos que o tema da imortalidade o incomodava, e ape-sar de ele aceitá-la, reconhecia-se incapaz de decifrarsua origem, julgando-se inapto a resolver esse enigma,e na verdade foram necessários mil e quinhentos anospara que o Espiritismo pudesse bem esclarecer esse as-sunto. Com relação ao tema dos mortos, redigido pe-

Santo Agostinho

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lo ano de 421, ele admitia suas manifestações, mas so-mente pelo poder de Deus, estando em um lugar deonde nada viam. Portanto, além da ética evangélica,no sentido verdadeiro, fez também reflexões precur-soras que o Espiritismo veio desvelar depois, mas San-to Agostinho teve seus primeiros insights para com-preender os temas que seriam esclarecidos pelaDoutrina Espírita.

Muitas vezes, lendo Santo Agostinho, no séculoIV, parece que estamos refletindo em O Evangelho se-gundo o Espiritismo, publicado em 1864, tal a seme-lhança de abordagem.

Santo Agostinho desempenhou relevante papelpara o desenvolvimento das idéias cristãs, um poucomais de três séculos após seu advento, evidenciandoque era um Espírito de escol, que desempenhava im-portante tarefa na evangelização do mundo.

O Espírito Santo Agostinho repetiu na DoutrinaEspírita ensinamentos que ministrou no século IV

Como Espírito, sua importância pode ser ava-liada em suas 34 comunicações espirituais (16 naCodificação Espírita e 18 da Revista Espírita). Emboa parte delas, o Sr. E. Vézy, que era médium daSociedade Parisiense de Estudos Espíritas, foi o in-termediário, e Santo Agostinho repetiu temas quedesenvolveu quase 1.500 anos antes, como porexemplo:

– Sobre a oração, como vemos em sua famosaresposta de O Livro dos Espíritos, questão 919a, on-de ele recomenda, para a prece e o auto-conheci-mento, que fizessem como ele fazia quando encar-nado na Terra: ao fim de cada dia, repassava todosos seus atos, avaliando erros e acertos; em O Evan-gelho segundo o Espiritismo, falou da felicidade que aprece proporcionava (ESE, cap. 27, item 23), e naRevista Espírita (Ed. Edicel), de 1862, p. 249, elevoltou a enfatizar o valor da prece. A oração e a ne-cessidade do auto-conhecimento continuavamsendo os mesmos importantes temas de suas refle-xões, e certamente o serão sempre;

– na Revista Espírita de 1864, p. 365, ele falousobre os mortos, tema que também desenvolvera nopassado, agora clareado pelas luzes da Terceira Reve-lação.

Ele destacou também temas mais atuais, como:

– o dos Anjos Guardiães, ressaltando o encanto edoçura desta doutrina (O Livro dos Espíritos, q. 495);

– o das Penas Eternas, totalmente rechaçadas pe-lo bom senso e a razão (O Livro dos Espíritos, q. 1009);

– falou da missão dos Bons Espíritos (O Livro dosEspíritos, Conclusão, item IX);

– falou da importância da caridade (O Livro dosMédiuns, cap. XXXI, item I);

– falou dos vários tipos de mundos (ESE, cap. 3,itens 16 a 18);

– falou do Mal e o Remédio (ESE, cap. 5, item 19);– falou do Duelo (ESE, cap. 12, item 12);– falou de A Ingratidão dos Filhos e os Laços de

Família (ESE, cap. 14, item 9);Na Revista Espírita, sua temática foi:– falou dos Milagres, demonstrando que eles não

passam de nossa insuficiência de conhecimentos (RE,1862/43);

– deu uma mensagem de bom ânimo aos espíri-tas de Constantina, que o escolheram como Guia Es-piritual (RE, 1862/234);

– falou das Férias (RE, 1862/283);– falou do Verdadeiro Espírito das Tradições, nas

Escrituras Sagradas (RE, 1863/354);– falou da importância do trabalho em nossa vi-

da (RE, 1866/186).Enfim, este Espírito, cuja superioridade se de-

monstra não só em sua vida e obra como encarnado,mas também pelas suas comunicações mediúnicas, naDoutrina Espírita, constitui-se num ser da esfera crís-tica, que desde o mais recuado dos tempos esteve vol-tado à difusão do ideal cristão na Terra e trabalhoucom afinco pela sua divulgação, servindo de modelopara todos nós.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Summa Teologica, Tomás de Aquino, Faculdade de Filosofia Sedes Sa-pientiae, 1959, SP, Tradut. Alexandre Correia.

Sermão da Montanha, Santo Agostinho, Ed. Paulinas.

Cuidado devido aos Mortos, Ed. Paulinas.

Imortalidade da Alma, Ed. Paulinas.

Enciclopédia Universal Ilustrada Europeo-Americana, Ed. EspasaCalpe, S.A., 1929.

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 120. ed., Riode Janeiro: FEB, 2002.

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Fundador de Reformador (21/1/1883) e da Fe-deração Espírita Brasileira (2/1/1884), Augusto Eliasda Silva desencarnou em 18 de dezembro de 1903.

Reproduzimos, abaixo, texto estampado na obraGrandes Espíritas do Brasil, de Zêus Wantuil, textoque sintetiza os momentos finais do valoroso espíri-ta, assim como alguns pronunciamentos panegíri-cos sobre sua vida e obra.

“Ou mais devagar ou mais depressa, dirigimo-nostodos à mesma morada, à morte.” Com estas palavraso genial poeta latino, Ovídio, lembrava aos ho-mens o fatal instante em que a alma terá quedespedir-se do corpo, rumo à verdadei-ra Pátria universal.

Findava o ano de 1903...Elias residia ainda naquela mes-

ma casa (agora sob o no 114) emque fora fundada a Federação. Mina-do o seu organismo pela tuberculosepulmonar*, aguardava ele sobre uma ca-ma a hora em que passaria desta vida.

Não temos dúvida de que seu lei-to permanecia rodeado carinhosamen-te dos luminosos Espíritos que foramna Terra sua sogra e sua esposa,e bem assim de companheirosdesencarnados que com elehaviam mourejado no Es-piritismo. De mais alto, des-ciam sobre aquele missionáriochuvas de bênçãos reconfortantes,que lhe amenizavam os sofrimen-tos e lhe proporcionavam serenidade e for-taleza de ânimo.

No dia 18 de Dezembro de 1903 cessaram, afi-nal, os derradeiros esforços vitais do conceituado fotó-grafo. Suavemente, por entre as preces dos amigos in-visíveis e visíveis, o Espírito de Elias desatou-se dosdébeis vínculos da carne. E enquanto nas regiões eté-reas o fiel servo da Verdade era recebido em festa deregozijo, na Terra chorava-se a perda de um grandetrabalhador da Seara.

No dia seguinte, às 11 horas, saía da rua da Ca-rioca, 114, o féretro com o prestimoso invólucro mor-tal de Elias em direção ao Cemitério de S. Francisco

Xavier. O “Jornal do Brasil”, de 19, rendia aoilustre morto homenagem sincera, que em

certo trecho dizia assim: “Era um bomhomem, como habitualmente se cos-tuma dizer, esse ativo trabalhador,cuja morte, sem dúvida, causougrande pesar a todos quantos lhe

conheceram os dotes de coração.”Pelo “Reformador” de 1o de Ja-

neiro de 1904, em bela página apolo-gética, a Federação Espírita Brasileira

exaltou a memória do seu benemérito fun-dador, que, na palavra ardorosa do ar-

ticulista, fora “um dos mais intré-pidos combatentes da primei-ra hora”, “um dos mais fortes

sustentáculos da Doutrina nes-ta Capital”. Toda a página é gran-

diloqüente, mas há um trecho quepara nós sobressai aos demais, e que

transcrevemos a seguir, por bem merecê--lo: “A fé que Elias depositava, no futuro da Causa

que em boa hora esposara, rivalizava com o desassom-bro em sustentar as suas convicções. A elas, durantemuitos anos, sacrificou os seus interesses pessoais, assuas comodidades, não tendo senão uma ambição: verprosperar, com a nossa Sociedade, a doutrina que lhedera origem.” >

Elias da SilvaCentenário de desencarnação

*Foi a causa do falecimento, segundo a Guia de Óbito da Santa Casada Misericórdia.

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> Uma outra página de justo elogio ao Espírito deElias da Silva foi escrita por Ewerton Quadros, quesaía do seu ostracismo voluntário para vir a público,através do “Reformador” de 15-1-1904, prestar ao seuinolvidável amigo de antanho as homenagens docoração.

Lembrando ter sido Elias o principal elemento dafundação da Federação Espírita Brasileira e do seu ór-gão publicitário, entre outras coisas escrevia ainda oprimeiro presidente dessa Casa: “Sempre pronto a irem auxílio dos que sofrem neste mundo de provaçõese expiações, sem anunciar ao som da trombeta os atosde caridade que praticava, o Espírito que acaba de

alar-se ao outro mundo sacrificou por mais de umavez os interesses materiais dos seus, sem jamais esmo-recer com os golpes que recebia dos ingratos e incons-cientes.

“Sua morte mesmo foi uma conseqüência de seudesapego dos interesses materiais deste mundo, sacri-ficando seus haveres e sua saúde ao bem-estar de seusirmãos.”

E assim concluía sua singela homenagem:“Que Deus lhe conceda a calma, a luz e a força

precisas para prosseguir na tarefa ingente que aqui em-preendeu, são os votos de seu velho amigo e compa-nheiro de lides, Ewerton Quadros.”

Aevolução é Lei Divina, e a suaprogressão contínua asseme-lha-se ao movimento em espi-

ral aberta, caracterizando os ciclosevolutivos. As experiências reencar-natórias, por exemplo, poderão serrepetidas, mas jamais serão exata-mente iguais, porque as condiçõesem tempos diferentes já não serãomais as mesmas.

“Nascer, morrer, renascer aindae progredir sempre tal é a Lei”, pre-sente na Criação, em todas as gra-duações, do micro ao macrocosmo,em quaisquer níveis de consciência,tanto para o indivíduo quanto paraas coletividades.

Haverá, então, um começo eum fim, isto é, uma primeira horae uma última hora, em cada ciclo,era ou período evolutivo.

Revela-nos a Doutrina Espíri-ta que há diferentes categorias demundos:

� mundos primitivos,� mundos de expiações e de

provas,� mundos regeneradores e� mundos felizes.

E sabemos, ainda, conforme os Es-píritos Consoladores, que a Terra éum dos mundos de expiações e deprovas, em via de transição para ociclo seguinte, de regeneração.

O Evangelho nos fala dos tra-balhadores da primeira e última ho-ras, esclarecendo-nos que os primei-ros serão os últimos e os últimosserão os primeiros.

No ciclo de expiações e de pro-vas, os trabalhadores da primeirahora – dizem os Espíritos –, são osprofetas, os patriarcas, os apóstolos.Porque os primeiros serão os últi-mos, é seguro concluirmos quemuitos deles estiveram, estão e esta-rão reencarnados na Terra, nessa fa-se de transição, de última hora, donosso atual ciclo evolutivo.

Já os espíritas-cristãos são ostrabalhadores da última hora, afir-

mam os Espíritos do Senhor. São osúltimos a se apresentarem para otrabalho, cabendo-lhes iniciar noponto onde os trabalhadores da pri-meira hora estão encerrando: nestefinal de ciclo evolutivo, de expia-ções e de provas.

Conclui-se com o Evangelho, àluz da Doutrina Espírita, que osservos fiéis, últimos de um cicloevolutivo, serão também os primei-ros e os últimos a trabalhar na Obrado ciclo seguinte.

Todavia, os espíritas-cristãosnão se devem esquecer da advertên-cia evangélica de que muitos serãochamados, mas poucos os escolhi-dos. Quer isto dizer que serão tra-balhadores da primeira hora do no-vo ciclo apenas os verdadeiros espí-ritas-cristãos, e não os que somenteassim se denominam.

Uma nova era nascerá para hu-manidade terrena. No ciclo evolu-tivo da regeneração o bem teráfranca supremacia sobre o mal; en-tretanto, compreendamos, como

O Evangelho e os ciclos evolutivosEdil Reis

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todo ciclo, o de regeneração tam-bém será longo, e exigirá trabalhoárduo e continuado por parte da-queles que herdarão a Terra – ospuros e mansos de coração. A fasede transição atual é mesmo a doApocalipse, com os seus ais, com assuas dores. Muitos de nós não al-cançarão a elevação necessária aostrabalhadores da primeira hora e,por aplicação da Divina Lei de Jus-tiça, haverão de recomeçar em ou-tro mundo o aprendizado indispen-sável ao despertamento da cons-ciência espiritual.

Nas “Instruções dos Espíritos”,contidas no capítulo XX – “Os Tra-balhadores da Última Hora” – de OEvangelho segundo o Espiritismo(Ed. FEB), encontram-se as seguin-tes considerações:

“O obreiro da última hora temdireito ao salário, mas é preciso quea sua boa-vontade o haja conserva-do à disposição daquele que o tinhade empregar e que o seu retarda-mento não seja fruto da preguiçaou da má-vontade (...).”

“Bons espíritas, meus bem--amados, sois todos obreiros da úl-tima hora.” (Constantino, EspíritoProtetor.)

“(...) os obreiros que chegaramna primeira hora são os profetas,Moisés e todos os iniciadores quemarcaram as etapas do progresso(...) e, finalmente, pelos espíritas(...). Últimos chegados, eles apro-veitam dos labores intelectuais dosseus predecessores (...) muitos den-tre aqueles revivem hoje, ou revive-rão amanhã, para terminarem aobra que começaram outrora. Maisde um patriarca, mais de um pro-feta, mais de um discípulo do Cris-to (...) se encontram no meio deles(...) trabalhando, não já na base e

sim na cumeeira do edifício (...).”(Henri Heine.)

“(...) mas, atenção! entre oschamados para o Espiritismo mui-tos se transviaram; reparai, pois,vosso caminho e segui a verdade.

(...) Reconhecê-los-eis pelosprincípios da verdadeira caridadeque eles ensinarão e praticarão. Re-conhecê-los-eis pelo número de afli-tos a que levem consolo; reconhecê--los-eis pelo seu amor ao próximo,pela sua abnegação, pelo seu desin-teresse pessoal; reconhecê-los-eis,finalmente, pelo triunfo de seusprincípios, porque Deus quer otriunfo de Sua lei; os que seguemSua lei, esses são os escolhidos e Elelhes dará a vitória; mas Ele destrui-rá aqueles que falseiam o espíritodessa lei e fazem dela degrau paracontentar sua vaidade e sua am-bição.” (Erasto, anjo da guarda domédium.) (Os grifos são nossos.)

“(...) Ditosos serão os quehouverem trabalhado no campo doSenhor, com desinteresse e sem ou-tro móvel, senão a caridade! (...)Ditosos os que hajam dito a seusirmãos: ‘Trabalhemos juntos e una-mos os nossos esforços, a fim deque o Senhor, ao chegar, encontreacabada a obra’, porquanto o Se-nhor lhes dirá: ‘Vinde a mim, vósque sois bons servidores, vós quesoubestes impor silêncio aos vossosciúmes e às vossas discórdias, a fimde que daí não viesse dano para aobra!’ (...).

(...) pois aos que não recuaremdiante de suas tarefas é que ele vaiconfiar os postos mais difíceis nagrande obra da regeneração peloEspiritismo. Cumprir-se-ão estaspalavras: ‘Os primeiros serão os úl-timos e os últimos serão os primei-ros no reino dos céus’.” (O Espíri-to de Verdade.)

Felizes os que têm DeusEntre esse mundo de apodrecimentoE a vida de alma livre, de alma pura,Ainda se encontra a imensidade escuraDas fronteiras de cinza e esquecimento.

Só o pensador que sofre e anda à procuraDa verdade e da luz no sentimento,Pode guardar esse deslumbramentoDa Fé – fonte de mística ventura.

Feliz o que tem Deus nessa batalhaDa miséria terrena, que estraçalhaTodo o anseio de amor ou de bonança!...

Venturoso o que vai por entre as doresAtravessando o oceano de amargores,No bergantim sagrado da Esperança.

Cruz e Souza

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Parnaso de Além-Túmulo. 16. ed., Rio deJaneiro: FEB, 2002, p. 251. Edição Comemorativa – 70 Anos.

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Ao longo da história da Huma-nidade, a partir da era do ra-ciocínio, o homem sempre ne-

cessitou de apegar-se a algo, umaforça, um poder, enfim, no que lhepudesse dar a certeza de que não ca-minhava sozinho sobre o Planeta.

É como se necessitasse de uma“muleta psicológica” para apoiar-se,principalmente nas horas difíceis davida.

Esse tipo de pensamento le-vou muitos eminentes estudiososda psique humana a uma teoriasimplista, atribuindo tudo que sereferia à religião a uma fuga psico-lógica do povo. Definição incorpo-rada pelo pensamento comunistade Karl Marx, que chamou as reli-giões de “ópio do povo”, já que asdificuldades materiais da vida e aincapacidade do Estado de resolveros graves problemas da grandemassa desabastada da população,levaria esta, a crer em algo que pe-lo menos pudesse abrandar, psico-logicamente, aquelas carências nãoatendidas.

A partir desse pensamento, co-meçaram a surgir em fins do séculoXIX e mais intensamente no séculopassado várias seitas “interessadas”em ocupar essa lacuna na socie-

dade. Algumas aproveitando-se atédessa fragilidade das pessoas quenão conseguiam, e até hoje nãoconseguem entender o seu sofri-mento à luz da razão; passaram, en-tão, tais seitas, a explorar a crençados sofredores, prometendo umavida nova sem dor, miséria, carên-cias materiais e afetivas, repleta debens materiais e até de fortunas fi-nanceiras.

Em contrapartida, na metadedo século XIX, em 18 de abril de1857, surgia em França o Consola-dor prometido por Jesus (João,14:15-17 e 26), Doutrina que viriamexer nas estruturas viciadas e ul-trapassadas, trazendo de volta oCristianismo primitivo, ou seja, aessência pura dos ensinos do Cristo.

O Espiritismo não era maisuma religião, mas a religião que vi-nha ensinar aos homens a “andaremcom suas próprias pernas”, contan-do sempre com o amparo do PaiCelestial, através de Jesus e dos Es-píritos Superiores, mostrando-nosque autores do nosso destino, comosomos de fato, cabem-nos as conse-qüências futuras de acordo com asnossas propostas de vida no pre-sente.

É a doutrina que devolveu aohomem a sua consciência, já queser espiritual e pensante que é, cria-do por Deus, não havia lógica emdeixar que o seu destino fosse traça-do “fatalmente” desde o nascimen-

to e consagrado para sempre com asua morte.

O Espiritismo mostra que a fécega não pode, por muito tempo,predominar sobre a fé racional, equanto mais a Humanidade cresceem inteligência, mais apta fica acompreender as verdades divinas,sendo necessário que cada coisa ve-nha a seu tempo (questão 628 de OLivro dos Espíritos).

Por essa razão e outras mais, oEspiritismo – que neste ano comple-tou 146 anos da sua codificação –tem crescido tanto em vários pon-tos do Planeta e, sobretudo, no Bra-sil, terra da constelação do Cruzei-ro, símbolo do martírio do Cristona Terra, conforme nos diz Hum-berto de Campos em psicografia deFrancisco Cândido Xavier, no livro:Brasil Coração do Mundo, Pátriado Evangelho, Ed. FEB.

Saibamos fazer com que, emnosso país, o Evangelho de Jesusdesperte de fato nas pessoas o pen-samento cristão do “Amai-vos unsaos outros como eu vos amei”, queé a grande tarefa do Espiritismo,através da maior manifestação deamor que podemos ter por nossossemelhantes – a prática da caridadena sua maior pureza, como a enten-dia Jesus: “Benevolência para comtodos, indulgência para as imperfei-ções dos outros, perdão das ofen-sas.” (Questão 886 de O Livro dosEspíritos.)

Andando com as próprias pernas

Robinson Soares Pereira

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Ainteligência, o dinamismo, oconstante bom humor são al-gumas das recordações que fi-

carão na lembrança de todos que ti-veram a alegria de conviver com oamigo Manoel Fernandes da SilvaSobrinho, que em 1o de setembroregressou ao Plano Espiritual, de-pois de alguns meses de enfermida-de junto ao leito. Mané Fernandes,como era conhecido entre os ami-gos, bem como nas redações dosgrandes jornais por onde passou nasdécadas de 1940 a 1970, era jorna-lista de primeira ordem. Começoude baixo e chegou a chefe de reda-ção na grande rede de jornais de As-sis Chateaubriand, os Diários Asso-ciados. Foi redator de anais noConselho Nacional de Economia emembro da Associação Brasileira deImprensa (ABI). Sua retidão de ca-ráter aliada ao espírito empreende-dor chamaram a atenção do Presi-dente Juscelino Kubitschek, dequem se tornou grande amigo eque o nomeou Diretor da AgênciaNacional de Notícias, cargo queexerceu com dedicação e honradez.

Nascido em 10 de agosto de1921, de família modesta, era o pri-mogênito de seis filhos. Seus pais,Sr. Fernando Fernandes da Silva eD. Carolina Esteves da Silva, desdecedo despertaram nele o gosto peloEspiritismo. Por essa razão, chegoua recusar propostas para atuar na vi-

da política. Precisava de tempo pa-ra se dedicar à Doutrina Espírita eao Esperanto, suas duas paixões.

Manoel Fernandes era daquelasfiguras ímpares que passam pelanossa vida, cheias de boas histórias.Quando garoto, conheceu em VilaIsabel, bairro onde morava, o com-positor Noel Rosa e, trabalhandocomo mensageiro, teve muitas vezescontato com Frederico Fígner, fun-dador das Casas Edison e da grava-dora Odeon, que após sua desencar-nação escreveria por Chico Xavier olivro Voltei, sob o pseudônimo Ir-mão Jacob. Com alegria, relembra-va a participação no I Congresso deMocidades Espíritas do Brasil, emjulho de 1948, junto a conhecidosnomes das lides espíritas, como Car-los Imbassahy, Lins de Vasconcelos,Deolindo Amorim, Aurino Barbo-sa Souto e Ruth Santana. Tambémcolaborou na fundação da Associa-ção Brasileira de Jornalistas e Escri-tores Espíritas (ABRAJEE), hoje As-sociação Brasileira de Divulgadoresdo Espiritismo (ABRADE).

Aposentado pelo Ministério dasComunicações, na função de comu-nicador social, pôde dedicar-seem tempo integral à divulgação doConsolador Prometido. Conheceuo saudoso Cel. Jaime Rolemberg deLima, fundador do Lar Fabiano deCristo (LFC) e da CAPEMI, amigoao qual sempre se referia com pro-funda emoção. Rolemberg o convi-dou a ingressar numa grandiosatarefa: a difusão do Espiritismo atra-vés das páginas do boletim SEI (Ser-

viço Espírita de Informações). Empouco tempo, Manoel Fernandestornou-se a mola mestra daqueletrabalho, que estendeu a outras par-tes do mundo pelas edições do pe-riódico em espanhol, inglês e Es-peranto. Nunca, porém, deixou queseu nome aparecesse. Preferia oanonimato. Foi, da mesma forma,cooperador incansável da SociedadeEditora Espírita F. V. Lorenz, aju-dando na tradução, revisão, enfim,em todo o processo de publicaçãodos livros na Língua Internacional.

Suas atividades se desenvolviamainda no Centro Espírita Bezerrade Menezes, no Estácio, e nas reu-niões do Grupo de Estudos Espíri-tas Jaime Rolemberg de Lima, noLar Fabiano. Era carinhosamentechamado por todos de Tio Manoel.

Manoel Fernandes da Silva So-brinho desencarnou em casa, noRio de Janeiro, aos 82 anos, deixan-do viúva a companheira BernadeteQueiroz da Silva, com quem foi ca-sado 50 anos e junto da qual per-maneceu até os últimos instantesno corpo.

O sepultamento de seu corpoocorreu às 14h30 do dia seguinteao desenlace, no Cemitério do Ca-tumbi. Na oportunidade, o diretordo Lar Fabiano de Cristo, CésarSoares dos Reis, enalteceu os exem-plos deixados pelo companheiro.Falaram ainda os confrades YvonLuz, seu amigo desde os tempos deredação nos jornais, e RobinsonMattos, que se expressou em Es-peranto.

Manoel Fernandes da Silva SobrinhoAntonio Lucena

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Em sua maioria, os espíritas bra-sileiros não sabem que a Dou-trina Espírita é muito pouco

conhecida no mundo. Em paísescomo os do Oriente e do OrienteMédio ela é completamente ignora-da, e, possivelmente por muitosanos ainda, esses povos não terão asobras kardequianas nos seus respec-tivos idiomas. No Ocidente, elas es-tão publicadas em algumas línguas,como o francês, o espanhol, o in-glês e o português, enquanto quesomente agora as obras subsidiáriascomeçam a ser divulgadas igual-mente em espanhol, inglês e fran-cês. E o que dizer, quando se tratada obra monumental legada porFrancisco Cândido Xavier?

Edições privadas, ou nascidasde esforços isolados, trouxeram alume versões de muitas obras emdiversos idiomas, atendendo a gru-pos, em sua maior parte familiares,ou a sociedades circunscritas. Assim,possuímos obras espíritas até mes-mo em árabe.

Conscientes dessa situação aFederação Espírita Brasileira e oConselho Espírita Internacional es-tão envidando esforços no sentidoda tradução e publicação das obras

básicas de Kardec e dos livros deFrancisco Cândido Xavier em ou-tros idiomas.

Quando o ideal altaneiro de Is-mael Gomes Braga vislumbrou aoportunidade e a necessidade daedição de obras espíritas em Espe-ranto, surgiram como que pequenassementes que, espalhadas pelo mun-do, certamente dariam seus frutos,quando caíssem em terra fértil. Efoi graças à iniciativa do grandepioneiro que, ao longo dos anos,pelas mãos de dedicados esperantis-tas, vimos surgir traduções diversasdas obras kardequianas, em línguastotalmente ignoradas, a partir deversões em Esperanto.

Por desfraldar uma bandeira deideal, o Esperanto, quando encon-tra um coração impregnado do des-prendimento e da solidariedadeapregoados pela filosofia esperantis-ta, consegue fazer luz ao seu redor.“Algo que seja divulgado em Espe-ranto, tornando-se objeto de inte-resse de um esperantista ou de umgrupo, passa a ter nessa pessoa ougrupo, um ponto de referência emseu país, ou nos povos falantes desua língua étnica. Esse indivíduoou grupo representará o tema di-vulgado, tornando-se um foco dedifusão e divulgação do mesmo,agora em sua própria língua, dooriente e do ocidente, do sul e donorte (a lista de representantes da

Associação Universal de Esperantoengloba mais de mil cidades em 98países, dados de 2001). Isso abre aoEsperanto a possibilidade de umpapel igualmente peculiar: o deponte entre as línguas étnicas, quesomam pelo menos três mil em to-do o mundo.” – no dizer da tradu-tora esperantista Neusa Priscotin.

Assim surgiram as primeirasobras espíritas nas mais remotas re-giões do Planeta, não diretamente dofrancês como seria óbvio, mas dasversões esperantistas editadas pelaFEB, bem como os primeiros núcleospara nelas difundirem o Espiritismo.

Assim está sendo na Turquia,onde uma esperantista iniciou o es-tudo em grupo da Doutrina Espíri-ta através de obras em Esperanto –repetimos – editadas no Brasil.

Na Estônia, um esperantistamantém um grupo de estudos tam-bém da mesma forma.

Na Lituânia, país de forte as-cendência católica e católico-orto-doxa, os esperantistas conhecem OEspiritismo em sua mais simplesexpressão através de uma versão li-tuana feita a partir de uma versãoem Esperanto.

Também na Albânia, um espe-rantista traduziu ao albanês o livrode Léon Denis, O Porquê da Vida,a partir da versão em Esperanto.

Na Hungria, país que detém omais alto índice de suicídios no

Da utilidade do Esperanto para oMovimento Espírita

Clóvis Portes

A FEB E O ESPERANTO

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mundo, entre outras obras espíritastraduzidas em húngaro temos, maisrecentemente, a obra monumentalde Yvonne A. Pereira, Memórias deum Suicida, traduzida naquele paíse editada e impressa no Brasil, apartir de uma versão em Esperanto.

Na Polônia, as obras espíritasem Esperanto despertaram um jo-vem estudante que se empenhouem escrever e editar obras sobre Es-piritismo em seu idioma. Ele acabade traduzir O Livro dos Espíritos e,estudando a vida e a obra de AllanKardec, escreveu um livro a ser pu-blicado em versão bilíngüe, Espe-ranto e português, sobre a atuaçãode Hyppolyte Léon Denizard Rivailno campo da educação em seu país,intitulado O Fundador do Espiri-tismo e a Educação.

Na República Tcheca, país saí-do recentemente da Cortina de Fer-ro, um jubilado senhor desde muitocultivava a crença na doutrina dosimortais por haver estudado a Dou-trina Espírita em versões esperantis-tas, muito havendo sofrido pelo ônusde sua escolha. Este nobre senhor, aotempo das perseguições políticas emseu país, foi perseguido, desemprega-do e preso, posteriormente transferi-do para um hospício estatal onde pa-decia horrores por não haver negadosua crença quando o Estado instituíaoficialmente o ateísmo como doutri-na social. Escapando do hospício porajuda de amigos, dedicou-se a tradu-zir as obras básicas para seu idioma,e hoje, já sexagenário, pede que se-jam publicadas estas traduções emseu idioma para lenir as dores de seupovo.

Seria bastante longa a lista, seincluíssemos brochuras e folhetosdoutrinários – muitos dos quaisdesconhecemos – que circulam pe-

lo mundo editados em vários idio-mas a partir de originais em Es-peranto.

Falar da utilidade da difusãodoutrinária como fonte de paz eequilíbrio para a Humanidade seriarepetir frases de efeito por demaisconhecidas. Mas, falar da utilidadedo Esperanto nesta tarefa divulgati-va é uma necessidade em nossomeio espírita.

Acostumados a uma estruturagigantesca em termos de Movi-mento Espírita em nosso país, nãopodemos perder a consciência deque existe um imenso campo a cul-tivar aonde ainda não chegou acharrua.

A charrua evangélica necessitade cavalos ágeis, dóceis e fortes quea conduzam. A charrua está pronta,o Esperanto pode ser este cavalo

domado e amigo que a faça chegarao seu destino.

Fomentar este trabalho de di-fusão doutrinária através do Espe-ranto, incluindo-o em nossos círcu-los de estudo, de debates, parautilizá-lo como uma ferramentaútil, é reconhecer a utilidade desseinstrumento na consolidação daspequenas sementes que já surgemno mundo como resultado dos es-forços que uns poucos brasileirosesperantistas-espíritas empreende-ram e souberam desenvolver comproveito.

Colocando obras geniais ao al-cance de homens idealistas, comoefetivamente o são os esperantistas,será reconhecer na obra de Zame-nhof a sua justa e nobre função decoadjuvante do Consolador, de sus-tentáculo da paz.

Le11o de Amo*

– “For, for, ci, kiu min kovris per malhonoro!...”–La patro blekas al filino peteganta:– “Indulgon! Min timegigas la nokto hanta!...“Li svingas ponardon en furia rankoro.

Preter la vivo la tempo flugas al foro...Li, elkarnulo, tristas sub l’ angor’ voranta,Al la filin’ revenas kun koro plorantaPro l’ intima sufer’ de l’ morala doloro.

Tra l’ memor’ al 7i senti1as lia korpremo,Kaj 7i reenkarnigas lin /e l’ luma /enoDe la pre1ofadenoj en /iela strio!...

Poste, sub paca 7irmo de l’ hejma sereno,Li diras: “Mia patrin’, por mi dol/a beno!...”Kaj 7i kantas: “Fil’, gardu vin la bona Dio!”...

Narcisa Amália (Spirito)

Mediume skribis Francisco Cândido Xavier. El la libro Luz no Lar (Lumo en la Hej-mo), De Diversaj Spiritoj. 8-a eldono, Rio de Janeiro: FEB, 1997, //ap. 26, p. 67. TradukisAffonso Soares.

* Lei de Amor – A versão original, em português, foi publicada em Reformador de outubro de 2003.

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Reformador/Dezembro 2003470

Para efeito didático, citemos al-guns exemplos que facilitarãoo entendimento de como re-

ferenciar periódicos.

PERIÓDICO NO TODO:

A REENCARNAÇÃO. Porto Ale-gre, RS: FERGS, 1934– . Semes-tral.PRESENÇA ESPÍRITA. Salvador,BA: Leal, 1974– . Bimestral.REFORMADOR. Rio de Janeiro:FEB, 1883– . Mensal.REVISTA ESPÍRITA. Sobradinho,DF: Edicel, 1858-1869. Mensal.Título do original francês: RevueSpirite.

A identificação do periódicono todo é simples. Basta registrar oseu título em letras maiúsculas, lo-cal, editora, ano inicial e final depublicação, quando já encerrada,ou ano inicial e traço, indicandoque o periódico continua em circu-lação e, finalmente, a periodicidade.

ARTIGOS DE PERIÓDICO (publi-cados em revistas)

Acompanhe nos exemplos aseguir. Você não terá dificuldades

em identificar os elementos refe-renciados:

ANDRADE, Hernani Guimarães.Mediunismo e animismo. A Reen-carnação. Porto Alegre, RS, ano 62,n. 411, p. 5-11, ago./dez. 1995.

SANTOS, Jorge Andréa dos. Corre-lações espirituais nos transtornos an-siosos, depressivos e fóbicos. Presen-ça Espírita. Salvador, BA, ano 28, n.233, p. 12-16, nov./dez. 2002.

SOUZA, Washington Borges de.Ciência e mistérios. Reformador.Rio de Janeiro, ano 120, n. 2.082,p. 278, set. 2002.

Repare que se dá a entradaprincipal pelo autor do artigo. Emseguida, cita-se:

o título do artigo;o título do periódico (destaca-do);local de sua publicação;ano;volume (quando tiver);número;página ou intervalo entre pági-na inicial e final; edata.

Os meses são registrados abre-viadamente, conforme o quadro ci-tado no final deste texto.

ARTIGOS DE PERIÓDICO (publi-cados em boletins, informativos ejornais)

MIRANDA, Hermínio Correia de.Chico volta para casa. Sei, ServiçoEspírita de Informações. Rio de Ja-neiro, p.1-2, 13 jul. 2002.

MOLITOR, Deborah. O papel docentro espírita. Dirigente Espírita.São Paulo, ano 12, n. 69, p. 3,jan./fev. 2002.

Observe um exemplo em quea entrada da referência foi realiza-da pelo título do artigo ou damatéria. Isso acontece quando nãohá identificação de autoria do tex-to. Neste caso, a primeira palavrasignificativa, incluindo artigos epreposições, é anotada em letrasmaiúsculas.

DIVALDO encerra ENTRAES 2002.A Senda. Vitória, ES, ano 81, n. 19,p. 4, nov. 2002.

RELAÇÃO DE MESES E ABREVIATURAS

Em português:janeiro – jan. fevereiro – fev.março – mar. abril – abr. maio – maio junho – jun.julho – jul. agosto – ago.

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Referência passo a passo– Final –

Periódico, artigos de periódico e documento eletrônicoGeraldo Campetti Sobrinho

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Reformador/Dezembro 2003 471

setembro – set. outubro – out.novembro – nov. dezembro – dez.

Em inglês:January – Jan. February – Feb.March – Mar. April – Apr.May – May June – JuneJuly – July August – Aug.September – Sept. October – Oct.November – Nov. December – Dec.

Em espanhol:enero – ene. febrero – feb.marzo – mar. abril – abr.mayo – mayo junio – jun.julio – jul. agosto – ago.septiembre – sep. octubre – oct.noviembre – nov. diciembre - dic.

Em francês:janvier – jan. février – fev.

mars – mars avril – avr.mai – mai juin – juinjuillet – juil. août – aoûtseptembre – sept. octobre – oct.novembre – nov. décembre – dec.

Em italiano:gennaio – gen. febbraio – feb.marzo – mar. aprile – apr.maggio – mag. giugno – giug.luglio – lug. agosto – ago.settembre – set. ottobre – ott.novembre – nov. dicembre – dic.

Em alemão:Januar – Jan. Februar – Feb.März – Mar. April – Apr.Mai – Mai Juni – JuniJuli – Juli August – Aug.September – Sept. Oktober – Okt.November – Nov. Dezember –Dez.

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Além dos elementos já conheci-dos na referenciação de publicações,os normalizadores, ao atualizarem aNorma Brasileira 6023 em 2002,preocuparam-se em detalhar duascaracterísticas fundamentais e espe-cíficas dos documentos eletrônicos:

� “disponível em”; e � “acesso em”.Essas características referem-se

ao endereço do site que hospeda ainformação e à data em que o tex-to foi acessado, considerando-se avolatilidade da informação na redemundial, a Internet.

Vejamos alguns exemplos quefacilitarão o entendimento de comose faz a referência de documentosdisponibilizados em meio eletrônico.

Como fazer a citação de umahistória que foi retirada de um CDou um artigo da Internet? Não étão difícil assim, ou será?

Confira os exemplos:

HOMENAGEM à grande dama daeducação brasileira. Boletim GEAE,São Paulo, ano 11, n. 459, 15 jul.2003. Disponível em: <http://www.geae.inf.br>. Acessoem: 31 jul. 2003.

Relembre que a entrada dareferência foi realizada pelo títu-lo da matéria. Trata-se de um edi-torial, não assinado. Portanto, nãohouve identificação de autoria,cabendo, assim, a entrada pelo tí-tulo.

A seguir o título do periódicofoi destacado em itálico e os demaiselementos apresentados conformejá vimos na terceira parte desta se-qüência de artigos.

Finalmente, foram incluídas asvariáveis novas para atender à iden-tificação da fonte da informação,

Documento eletrônico

bem como a data em que a mesmafoi acessada.

MACHADO, Flávio. Divulgadoresdo livro espírita realizam grandeencontro. Disponível em:<http//www.universoespirita.org.br//adeler/adeler.html>. Acesso em:31 jul. 2003.

Esta referência é simples. Suaentrada foi feita pelo autor. O títu-lo da matéria, destacado em itálico,veio a seguir. Logo após, foramidentificadas a página na Internetonde a matéria foi localizada e adata de seu acesso.

OI, Jesus, eu sou o Zé. In: MomentoEspírita, v. 3. Curitiba, PR: FederaçãoEspírita do Paraná, 1998. CD-ROM.

Aqui se trata de uma faixa con-tida em um CD. Inicia-se a referên-cia com a indicação do título, por-tanto a primeira palavra é registradaem maiúscula. A expressão latina Inantecede o título do documento.Por referir-se a uma coleção, é im-portante citar o número do volume.O local da edição vem seguido pelasigla do Estado para facilitar a iden-tificação. Inclui-se ainda o editor ea data da edição. Finalmente, ano-ta-se a especificação do material porser de natureza especial.

Nosso intuito ao elaborar essasérie de artigos foi facilitar o traba-lho dos que lidam com o estudo etêm interesse em registrar os resulta-dos de suas pesquisas. A obediênciaa normas técnicas de documentaçãoé fundamental para atender à padro-nização internacional e possibilitaro intercâmbio de informações obje-tivando a efetiva divulgação do Es-piritismo no Brasil e no exterior.

Esperamos ter sido úteis.

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“(...) Não vejamos em nossos ir-mãos de crença, ainda imperfeitos,espíritas indesejáveis, mas pupilosde uma Doutrina Celeste, recém--libertados de terríveis correntesmalignas (...).” Yvonne A. Pereira1

Segundo aprendemos com oinsuperável mestre Allan Kar-dec2, “o primeiro período do

Espiritismo foi consagrado ao estu-do dos princípios e das leis, que emseu conjunto tinham de constituira Doutrina (...). Foi o do plantio dasemente que, semelhante à da pará-bola do Evangelho, não frutificariaigualmente por toda parte. A crian-ça cresceu; tornou-se adulto e che-gado é o momento em que, ampa-rado por adeptos sinceros e devo-tados, tem que avançar para o obje-tivo que lhe está posto, sem ser obs-tado pelos retardatários.

Mas, como fazer essa seleção?Quem ousaria assumir a responsabi-lidade de um julgamento a incidirsobre as consciências individuais? (...)

(...) Desde o instante em quecada um é livre de aderir ou não aessa obra, ninguém se pode queixarde sofrer uma pressão arbitrária.Criamos a palavra Espiritismo, paraatender às necessidades da causa; te-

mos, pois, o direito de lhe determi-nar as aplicações e de definir as qua-lidades e as crenças do verdadeiro es-pírita.........................................................

Nem todos os que se dizem es-píritas pensam do mesmo modo so-bre todos os pontos; a divisão exis-te, de fato, e é muito mais preju-dicial, porque pode acontecer quenão se saiba se, num espírita, estáum aliado ou um antagonista. Oque faz a força é a universalidade:ora, uma união franca não poderiaexistir entre pessoas interessadas,moral ou materialmente, em nãoseguir o mesmo caminho e que nãoobjetivam o mesmo fim. Dez ho-mens unidos por um pensamentocomum são mais fortes do quecem que não se entendam. Em talcaso, a miscelânea de vistas diver-gentes tira a força de coesão entreos que desejariam andar juntos,exatamente como um líquido que,infiltrando-se num corpo, ergueobstáculo à agregação das molécu-las desse corpo.” (Destaque nosso.)

Sem embargo, os verdadeirosEspíritas “(...) se conhecerão e se es-tenderão mutuamente as mãos, deum extremo a outro do mundo.”

Além de desenhar o perfil doverdadeiro espírita3 Kardec pergun-ta4 aos Benfeitores Amigos “(...)

quais os sinais pelos quais reconhe-ceremos os que se encontram no bomcaminho?”, obtendo a seguinte res-posta de Erasto:

“Reconhecê-los-eis pelos princí-pios da verdadeira caridade que elesensinarão e praticarão. Reconhe-cê-los-eis pelo número de aflitos aque levem consolo; reconhecê-los-eispelo seu amor ao próximo, pela suaabnegação, pelo seu desinteresse pes-soal; reconhecê-los-eis, finalmente,pelo triunfo de seus princípios, por-que Deus quer o triunfo de Sua lei;os que seguem Sua lei, esses são osescolhidos e Ele lhes dará a vitória;mas Ele destruirá aqueles que fal-seiam o espírito dessa lei e fazemdela degrau para contentar suavaidade e sua ambição.” (Desta-que nosso.)

Esparzidas ao longo dos evan-gelhos sinópticos e no de Lucas(6:29-35), e de Mateus (5:39-44),encontramos muitas ordens de co-mando revolucionário expedidas porJesus, tais como: “Se alguém te ferirna face direita, oferece-lhe a outra; eàquele que tirar a tua túnica, larga--lhe também a capa; porque se vósnão amais senão os que vos amam,que méritos haveis de ter? Amai osvossos inimigos; orai pelos que vosperseguem e caluniam.” Portanto,para ser espírita verdadeiro, confor-me aprendemos com o médium flu-minense José Raul Teixeira, não bas-ta só querer: é preciso suportar...Suportar e cumprir os revolucioná-rios comandos de Jesus ipsis litteris.

De quem Jesus precisa agora?Rogério Coelho

1PEREIRA, Yvonne do Amaral. À Luz doConsolador, “A Grande Doutrina dos Fortes”,FEB.2 KARDEC, A. Obras Póstumas, Segunda Parte,“Constituição do Espiritismo”, item X, FEB.

3KARDEC, A. O Evangelho segundo o Espiri-tismo, cap. XVII, itens 3 e 4, FEB.4KARDEC, A. O Evangelho segundo o Espiri-tismo, cap. XX, item 4, FEB.

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Segundo a inolvidável e exem-plar espiritista Yvonne do AmaralPereira.1

“Nas mesmas condições enca-raremos os espíritas. Os caracteresfracos, tímidos, indecisos, demora-rão a se integrarem nos embatesfornecidos pelo Espiritismo. Tam-bém este é Doutrina para os fortes,ou seja, para aqueles que, em mi-grações terrenas do pretérito, tantoerraram, e no Além-Túmulo tantosofreram por isso, que agora se dis-puseram a uma reforma geral dopróprio caráter através do Espi-ritismo. E, com efeito! Combateras próprias imperfeições diaria-mente, não ignorando que, se onão fizer, desonrará a própria Dou-trina a que se julgou filiar; socor-rer necessitados sem possuir recur-sos suficientes para o mandato,confiante no auxílio do Mestre Na-zareno; medicar enfermos sem ha-ver cursado Medicina; subir a umatribuna diante de assembléia nu-merosa, que espreita pronta paraa crítica, a fim de defender a Ver-dade, sabendo que esse é um devera que não poderá fugir, porqueainda ontem, em existências tran-satas, deprimiu a mesma Verdade;enfrentar obsessores e fazê-los re-cuar dos abismos do Mal para assuaves trilhas do Amor e do Per-dão, certo de que é apenas intér-prete das forças do Céu, porquenão possui virtudes para tão altofeito; investigar o Invisível com aprópria fé e as forças do coração,porque sabe não ser anjo nem sá-bio; arvorar-se em secretário de en-tidades aladas para a produção decompêndios de Moral, de Filosofiaou de ciências transcendentes, eapresentá-los ao mundo impiedo-so com suas críticas, não sendo es-

critor e tampouco possuindo di-plomas universitários; submeter-seà vontade dos Mentores Espirituaise executá-los, sobrecarregando-se,dia a dia, das mais pesadas respon-sabilidades perante os homens e osEspíritos; ser levado, por amor aJesus, a perdoar e esquecer os ul-trajes que lhe ferem o coração econturbam o espírito; renunciar acada dia, às vezes até mesmo àsmais doces aspirações do coração,morrendo para si mesmo a fim deressurgir para Deus, e, acima detudo, filiar-se às falanges dos discí-pulos de Jesus e dos baluartes daTerceira Revelação – não será dis-por de forças supremas na Terra,não será ser corajoso por excelên-cia? E convenhamos que é dessestais que Jesus precisa agora, comoontem precisou dos pecadores, dosmendigos, dos malvistos pela so-ciedade para a propaganda da SuaDoutrina, únicos indivíduos que,apesar das imperfeições que porta-vam, estiveram à altura de com-preender e executar os sacrifícios

necessários à difusão da GrandeNova que surgia.

Muitos de nós, realmente,ainda não somos verdadeiros espí-ritas nem verdadeiros cristãos. Mastambém já não seremos homicidas,nem roubadores, nem traidores,nem devassos, nem ébrios, nemadúlteros, nem suicidas... Observa-remos, então, que nosso progressodentro do ensino espírita há sidofabuloso, pois ainda ontem fomostudo isso, não obstante alguns des-lizes que mais ou menos ainda pra-ticamos. Devemos, portanto, veruns nos outros espíritos valorososque lutam contra as próprias im-perfeições, sob a redentora prote-ção do Consolador enviado peloCristo de Deus!”

Como diz Yvonne A. Pereira,“não vejamos em nossos irmãos decrença, ainda imperfeitos, espíritasindesejáveis, mas pupilos de umaDoutrina Celeste, recém-libertadosde terríveis correntes malignas. E se,por nossa vez, nos julgamos harmo-nizados com os esplendores da Ver-dade, estendamos até eles nossosafetos, auxiliando-os o quanto pos-sível a se integrarem na verdadeiraessência da Doutrina Espírita, queé poderosa bastante para reeducaros necessitados de forças renovado-ras e de luzes espirituais. E todo es-se trabalho, que somos chamados aexecutar, será labor para espíritosfortes... porquanto, tal como acon-teceu aos primeiros discípulos doNazareno, também teremos de de-senvolver lutas árduas para o esta-belecimento das verdades celestessobre a Terra – supremo ideal da-queles que já conseguiram predis-posições para a comunhão com aForça Suprema do Eterno Bem.”(Destaque nosso.)

Muitos de nós,

realmente,

ainda não

somos

verdadeiros

espíritas nem

verdadeiros

cristãos

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Em nosso país, nos dias de hoje, quem conheceWallace deve espantar-se muito ao saber que eleera um defensor das idéias espíritas, e quem co-

nhece o Espiritismo talvez tenha ouvido falar de Al-fred R. Wallace como um sábio do século XIX, maspossivelmente ignora que ele é o co-autor da teoria daevolução das espécies a partir da seleção natural, comninguém menos que Charles Darwin.

Alfred Russel Wallace nasceu em 8 de janeiro de1823, na cidade de Usk, Monmouthshire, Inglaterra.Ele tinha dois irmãos mais velhos (William e John),duas irmãs mais velhas (Eliza e Frances), e viria a terum irmão mais novo, Herbert Edward.

Teve uma infância difícil e ainda adolescente foitrabalhar com William, que se tornara carpinteiro, emLondres. Nesta época, a diversão deles era freqüentaro Hall of Science durante a noite. Esta instituição erauma espécie de clube onde se jogava dominó, bebia--se café e ouviam-se palestras sobre os ensinos de Ro-bert Owen. Dentre as muitas idéias do Owenismo, asua visão de religião é brevemente descrita por PeterRaby na frase abaixo:

“A única religião benéfica era a que inculcava oserviço à humanidade, e cujo único dogma fossea irmandade do homem.” (Raby, 1991, p. 15.)

Ele estudou nos Mechanics Institutes de Kingstone Neath, sempre valorizando os estudos e a ciência.Em 1843, Thomas Wallace (pai de Alfred) faleceu e afamília teve suas dificuldades financeiras aumentadas.O jovem Alfred foi trabalhar como professor de ma-pas no Colegiate School of Manchester, recebendo umsalário modesto de 30 a 40 libras por ano.

Ainda jovem leu as narrativas de viagens deHumboldt e o trabalho de Malthus, que o impres-sionou bastante pelo raciocínio indutivo e capacida-de de síntese.

Dois anos depois, o irmão mais velho de Walla-ce, William, faleceu de pneumonia. Alfred deixou oemprego e mudou-se para Neath para cuidar dos ne-gócios do falecido. Ali ele pôde dedicar-se parcial-mente à botânica. Ele convenceu John a vir morarcom ele, o que ocorreu em 1846 e depois sua mãe eo irmão mais novo, Herbert. Eles alugaram um pe-queno sítio, que ficava a cerca de uma milha do cen-tro da cidade. Ele e o irmão participaram da cons-trução do novo Instituto de Mecânica em Neath,que foi inaugurado oficialmente em 1848. Eletornou-se curador do Neath Literary and Philosophi-cal Institute, que ele considerava um pequeno museucom pouco recurso disponível para a aquisição delivros.

Wallace Naturalista

Em viagem à França com sua irmã, Wallace visi-tou museus, livrarias e o Jardin des Plantes, o que fezcom que ele ficasse insatisfeito com a coleção que eleestava fazendo, por ter apenas espécimes locais. Isto,somado aos seus interesses teóricos, o fez desejar via-jar para fora da Inglaterra.

O jovem Alfred veio à Amazônia em 1848, semsalário e acompanhado por seu irmão, Herbert. Elecoletou na floresta tropical variados tipos de plantas,insetos, aves e outros animais. Desembarcou em Sa-linópolis em maio de 48 e viajou por Belém do Pará,Manaus e por localidades do Rio Negro, fazendo suascapturas de animais e vegetais. Para se ter uma idéiado trabalho de Wallace, em sua primeira remessa eleenviou cerca de 1.300 espécies diferentes de animaise de plantas.

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Quem foiAlfred Russel Wallace?

Jáder Sampaio

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Herbert contraiu febreamarela em Belém e faleceucom 22 anos, em junho de1851, deixando Alfred muitoabatido. Enquanto estava noRio Negro, Alfred tambémadoeceu gravemente, mas re-cuperou-se para voltar às ilhasbritânicas e constatar a perdade muitas das caixas que en-viou, em decorrência de tem-pestades e outros contratem-pos.

Uma vez na Inglaterra,Alfred R. Wallace foi aceitocomo pesquisador visitante naSociedade Entomológica, on-de fez duas conferências. Eleescreveu Travels on Amazonand Rio Negro e imprimiu250 volumes.

Wallace desejava fazeroutra viagem, e planejou umasegunda expedição para o Ar-quipélago Malaio, onde ficoupor oito anos. Ele chegou em Cingapura em abril de1854 e iniciou uma extensa exploração das ilhas embusca de espécimes diversos.

Segundo Raby (2000, p. 132), desde 1838 Wal-lace já propunha a luta pela sobrevivência como cau-sa da mudança das espécies no processo evolutivo,idéia que lhe ocorreu a partir da leitura de Malthus.Quatro anos depois ele escreveu um resumo de suasidéias em 35 páginas, que foram crescendo até o ve-rão de 1844, quando já havia escrito um volume de230 páginas.

Apenas em 1855 iniciar-se-ia a correspondênciaentre Wallace e Charles Darwin, devido ao seu inte-resse comum nos temas ligados à teoria da evolução.Em 58 Darwin recebeu uma carta de seu par que o as-sustou bastante, porque nela se via a teoria da seleçãonatural, que até então Darwin acreditava que fosse ori-ginalmente sua. Os dois naturalistas passaram a trocarcorrespondência regularmente, e entendo que vierama ser bons amigos.

Em 1858, as idéias dos dois naturalistas foramapresentadas em um encontro da Linnean Society, em

uma mesa que continha tam-bém uma carta da naturalistaamericana Asa Gray. O tra-balho de Wallace denomina-va-se “Sobre a tendência dasvariedades de se afastar inde-finidamente do tipo origi-nal”. As comunicações foramapresentadas na ordem cro-nológica, o que mostrava apreocupação dos naturalistasna Inglaterra em mostraremque Darwin não houveraroubado nenhuma idéia deWallace. Como Alfred en-contrava-se no ArquipélagoMalaio, seu trabalho foi lidopor um dos naturalistas en-volvido com o evento.

Darwin enviou as provasdo livro que o celebrizou, AOrigem das Espécies, para aavaliação de Wallace, no anoseguinte.

Wallace leu com admira-ção o trabalho, e Raby (2000, p. 151) transcreveu umcomentário que Alfred fez do livro a seu correspon-dente George Silk, onde afirmava:

“O Sr. Darwin deu ao mundo uma nova ciência,e seu nome devia, na minha opinião, ser coloca-do acima do de todos os filósofos dos tempos an-tigos ou modernos.”

A publicação do livro fez com que Wallace desis-tisse de publicar o seu próprio livro de teoria. Muitorecentemente alguns escritores, com base no sumiçoda correspondência de Charles Darwin, Alfred R.Wallace, Charles Lyell e Hooker, trocada pouco antesda famosa comunicação conjunta na Linnean Society,aventaram a hipótese de Darwin ter-se apropriado in-devidamente das idéias de Wallace para a solução deproblemas que não houvera resolvido em sua teoria.Esta idéia, entretanto, continua sendo apenas especu-lação e possibilidade.

Alfred R. Wallace retornou à Inglaterra de suagrande viagem em abril de 62. Neste período ele par-

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Alfred Russel Wallace

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ticipou ativamente de debates sobre a origem do ho-mem, tema sobre o qual Darwin se resguardava de dis-cutir, possivelmente por suas implicações religiosas epolíticas. Em 66 ele se casou com a Srta. Annie Mit-ten, com quem viveu por longos anos.

A vida intelectual de Wallace foi muito prolífica.Entre livros, artigos e entrevistas, Wallace realizou maisde 750 publicações. Os livros mais citados de Walla-ce em assuntos relacionados à Biologia são:

– Darwinismo (1889)– O Arquipélago Malaio (1869)– A Distribuição Geográfica dos Animais (1876)– A Vida Insular (1880)– A Natureza dos Trópicos e Outros Ensaios (1878)– Contribuições à Teoria da Seleção Natural (1870)

Wallace foi premiado diversas vezes por seus tra-balhos e se tornou membro das Sociedades Científi-cas Inglesas mais eminentes em sua área, dentre elas aZoological Society, a British Ornitologists Union, aLinnean Society e a British Society for the Advance-ment of Science. Tornou-se presidente da Entomolo-gical Society em 1872.

Como cientista ele expôs-se em situações polêmi-cas, como na condenação da vacinação que entendiaser um equívoco da medicina “que o futuro não tar-daria em mostrar”, na defesa da frenologia e ao acei-tar o desafio público que um leigo havia lançado comrelação ao relevo das ilhas, que Wallace venceu, ga-nhando uma soma em dinheiro adicionada ao desafe-to do adversário.

Wallace Espiritualista

Alfred R. Wallace foi introduzido ao pensamen-to de Robert Owen em sua juventude, como já o dis-semos. De uma certa forma, a influência de Owen in-centivou o seu gosto pelos estudos e pelas ciências.Ainda como professor em Leicester assistiu a uma con-ferência sobre mesmerismo, dada por Spencer Hall,que o levou a fazer experimentos com seus alunos, ob-tendo resultados que o impressionaram e marcaram oinício das pesquisas que o conduziriam ao exame dosfatos do espiritualismo.

Em suas viagens pela Amazônia e pelo Arquipéla-go Malaio ele não se esqueceu dos seus estudos mes-

méricos. No Pará, seu irmão Herbert fez alguns experi-mentos com índios e com a população local, e os bió-grafos relatam que ele levou curumins ao estado detranse profundo. Alfred paralisou o braço de um ho-mem de sua idade, empregando as técnicas de magne-tização que ele conhecia. Nas correspondências que tro-cava com os seus amigos e familiares foi informado daonda espiritualista que havia sido criada pelas viagensde médiuns norte-americanos pela Europa. No iníciodos anos 50, a Sra. Hayden converteu Robert Owen aoEspiritualismo Moderno e isto pode ter afetado a Wal-lace, que se interessou por realizar pesquisas sobre a me-diunidade quando retornasse às ilhas britânicas.

Smith (2002) entende que ele se converteu ao Es-piritualismo em meados de 1866, e permaneceu espi-ritualista até o final de seus dias, tendo realizado maisde 100 publicações sobre o assunto. Raby (2001) afir-ma que a sua irmã Fanny já era uma espiritualista ati-va, e que isto o influenciara, entretanto não há comonegar o interesse de Wallace pelo Owenismo desde ajuventude, assim como suas incursões pelo mesmeris-mo e pela frenologia, o que mostra uma trajetória pes-soal anterior à influência de Frances Wallace. Outrainfluência clara que se pode ler em um outro trabalhode Wallace é a da epistemologia dos empiristas ingle-ses, que postulavam a observação como base da cons-trução do conhecimento, bem como do seu natura-lismo. Este tipo de metodologia seria a escolhida porAlfred para o estudo dos fenômenos considerados es-pirituais, bem como para o debate que realizou comos céticos durante o resto de sua vida.

O próprio Wallace explica sua conversão àsidéias espiritualistas na entrevista que é transcritaabaixo:

“Quando voltei do exterior em 1862, li sobre oEspiritualismo, e, como a maioria das pessoas,achei que fosse tudo fraude, ilusão, estupidez. Euencontrei pessoas, aparentemente inteligentes esadias, que me asseguraram que haviam experien-ciado coisas maravilhosas. A Sra. Marshall erauma médium conhecida em Londres àquela épo-ca, e após um exame detido fiquei convencidoque os fenômenos associados a ela eram perfeita-mente genuínos. Mas levei três anos de investiga-ções subseqüentes para satisfazer-me de que eleseram produzidos por espíritos.” (Dawson, 1898.)

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Peter Raby conduziu suabiografia de Wallace mos-trando como a idéia do espi-ritualismo era mal recebidapelos círculos científicos daépoca e, de certa forma, ten-tando explicar como um ho-mem como ele teria sido cré-dulo o suficiente para defen-der estas idéias. A leitura daobra de Wallace mostrou-nosque ele trabalhou como umnaturalista em assuntos espi-ritualistas. Ele leu a literaturadisponível à sua época e so-ciedade, realizou pesquisasdiversas, criou mecanismosde identificação de fraude etentou sensibilizar seus parespara o tema, tendo sido malrecebido e interpretado namaioria das vezes em que ofez. Isto não o fez desanimar,o que foi interpretado porRaby como um traço obsessivo, em outras palavras,sua convicção foi entendida como sendo teimosia.

Wallace fez contato com pessoas do seu círculo derelação que se interessavam pelo Espiritualismo. Ini-cialmente assistiu a algumas sessões promovidas pelaSra. Marshall, uma médium profissional, onde pôdeassistir a fenômenos de mesas girantes e raps. Poste-riormente ele promoveu sessões de pesquisa em suaprópria residência, controlando com rigor o ambien-te e buscando obter fenômenos que lhe permitissemsustentar a hipótese espiritualista ante as outras hipó-teses concorrentes em voga, propostas por pessoas quebuscavam dar uma explicação diversa aos fenômenos.

O livro O aspecto científico do sobrenatural foipublicado em 1866. Neste livro, Wallace fez uma sín-tese dos precursores do movimento espiritualista in-glês, o Mesmerismo, a Frenologia1, o sonambulismoprovocado (clarividentes) e o Owenismo2. Ele apre-

senta ao leitor uma síntesedos principais livros sobre otema, que serviam de base aoconhecimento espiritualista,os médiuns, adeptos e sim-patizantes do espiritualismo,anteriores aos trabalhos deWilliam Crookes e da funda-ção da Sociedade de Pesqui-sas Psíquicas. O leitor encon-trará uma breve síntese dafilosofia e ensinos morais doEspiritualismo. Como con-clusão Wallace relata os fenô-menos dos quais foi testemu-nha ocular, sempre com asqualidades do naturalista queera, atento aos detalhes esempre debatendo com aspropostas teóricas alternati-vas às que ele esposava.

Em dezembro de 1866,Fanny, irmã do naturalista,encontrava-se em casa com

cerca de 25 exemplares de O aspecto científico do so-brenatural, que seriam destinados à doação para pes-soas interessadas. Ela narrou o seguinte acontecimen-to envolvendo fenômenos de efeitos físicos:

“Uma manhã, eu estava sentada à minha mesa,escrevendo, deixei a sala por alguns minutos equando eu retornei, a embalagem de papel esta-va aberta e os livros estavam sobre as mesas e ca-deiras em todas as direções – Eu imediatamentechamei a minha amiga médium e contei-lhe so-bre o acontecido, e foi-nos dito para escrever qualé o significado disto, então eu supus, que eles de-viam ser distribuídos e não ficar aqui sem uso.Sim sim, 3 pancadas3, e então foi ditada esta sen-tença, ‘Um para a minha irmã Frances, eu o mar-quei.’4 Após isto eu abri um dos livros e olhei

1É uma escola de pensamento médico do século XIX que propunha oestudo do caráter e das funções intelectuais do homem com base na as-sociação entre a conformação do cérebro e da caixa craniana. (Nota doTradutor.)2É a doutrina proposta pelo reformador social Robert Owen que visa-

Charles Darwin

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va, entre outras coisas, à melhoria das condições de vida da populaçãotrabalhadora. (Nota do Tradutor.)3A comunicação parece ter sido através de raps e de escrita direta.4Nesta data dois dos irmãos de Frances e Alfred já haviam desencarnado.Talvez se trate de Herbert, que faleceu de febre amarela no Pará em 1851.

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através das folhas e brevemente encontrei marcascom crayon vermelho que eu tinha sobre a mi-nha mesa. Eu então perguntei se ele podia fazeruma coisa enquanto o livro estava fechado: escre-ver meu nome sobre o livro que estava sobre amão, enquanto aí ele estivesse. Em alguns minu-tos eu abri o livro e encontrei Frances Wallace es-crito. Eu disse agora, ‘querido espírito, escrevameu nome de casada’. Eu fechei o livro e em doisminutos abri-o novamente e o segundo nome eraFrances Sims.”

Em 1871 Wallace escreveu e leu um trabalho cha-mado “Uma resposta aos argumentos de Hume, Leckye outros contra os milagres” para a Dialectical Society.Nesta época, Crookes estava realizando suas pesquisascom o médium Daniel D. Home. Wallace se tornouum defensor das idéias espiritualistas, como no episó-dio onde escreveu para uma revista um artigo de seispáginas, contrapondo-se a um trabalho de Tyndall,que contradizia a opinião de que Daniel Dunglas Ho-me, conhecido médium de materializações, não haviasido devidamente investigado.

Uma das médiuns que Wallace pesquisou foi aSra. Guppy (ex-srta. Nichols), que possuía faculdadesde efeitos físicos. Em março de 1874 ele identificou amãe em duas das fotos obtidas. Raby considera im-provável a existência anterior de alguma fotografia daSra. Guppy junto à família.

Neste mesmo ano Wallace publicou no Fort-nightly Review um grande ensaio denominado “A De-fesa do Espiritualismo Moderno”. Este ensaio mais osdois anteriores foram unidos em um livro que se cha-mou Milagres e o Espiritualismo Moderno e que foipublicado em março de 1875. Este livro teve diversaspublicações posteriores, às quais foram adicionadosoutros trabalhos. A última edição de que temos notí-cia foi a de 1970.

O médium Henry Slade, em viagem pela Euro-pa, realizou sessões pagas na Inglaterra a partir de se-tembro de 1876, quando teve suas faculdades estuda-das por diversos pesquisadores como o Prof. Barrett,o Rev. Stainton Moses, Serjeant Cox, o Dr. CarterBlake e o próprio Wallace. Ele foi acusado de fraudepelo Prof. Ray Lankester (biólogo), que fez uma car-ta-denúncia para o jornal The Times, acusando-o detomar dinheiro de modo fraudulento. O caso foi pa-

rar na barra dos tribunais, e Wallace partiu em defesado médium, reafirmando suas faculdades, relatandoas demais observações realizadas com ele por outrospesquisadores e explicando a posição de Lankestercom a seguinte sentença:

“O professor Lankester foi com a firme convic-ção de que tudo o que ia assistir era impostura e,assim, pensa que viu imposturas.” (Wallace apudDoyle, s. n., p. 241.)

Mesmo com a defesa realizada pelos espiritualis-tas, e a circunstancialidade das acusações, Slade foicondenado com base na lei da vagabundagem ingle-sa. Doyle dá alguns detalhes sobre o processo, deplo-rando a forma como o juiz julgou e sentenciou o mé-dium americano.

O fato de Wallace ter-se unido aos espiritualistasingleses na defesa do médium teve implicações emsua vida profissional, uma vez que o próprio Lankes-ter o denunciou aos seus pares da Sociedade Britâni-ca para o Progresso da Ciência de ter “degradado asdiscussões da sociedade pela introdução do espiritua-lismo”. Esta acusação se baseou em uma comunica-ção de William Barrett onde ele defendia a existênciada telepatia e referia-se a fenômenos mesméricos e es-piritualistas, que havia sido aprovada para um encon-tro da referida sociedade. A aprovação da comunica-ção se deu na subseção antropológica, com um votode Minerva dado por Wallace, que era presidente daseção biológica.

Toda esta publicidade negativa fez com que Wal-lace não fosse eleito secretário da Sociedade Britânicapara o Progresso da Ciência. Estes eventos também di-ficultaram a concessão posterior de uma pensão doGoverno Britânico, numa época em que ele passavapor dificuldades financeiras. Ele houvera escrito a Ara-bella Buckley, secretária de Lyell, solicitando-lhe aju-da para conseguir algum emprego que lhe permitissesustentar a sua família. Ela solicitou a Darwin que oindicasse para receber uma pensão do governo. Dar-win iniciou uma série de consultas a seus pares, quehesitaram em fazer uma recomendação de Wallace aoburocrata responsável, em decorrência dos eventos po-lêmicos e de sua adesão ao Espiritualismo, como sepode ler no seguinte trecho da correspondência deHooker:

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“Como pode um homem pedir a seus amigos queassinem tal solicitação? Além disto, que governopode honestamente ser informado que o candi-dato é um público e destacado Espiritualista!”(Raby, 2001, p. 222.)

Sem saber do acontecido, Wallace submeteu ostextos de seu livro Vida Insular a Hooker, acatou assuas sugestões e lhe fez uma dedicatória. Ao conhecê--lo melhor, como homem e como cientista, o pesqui-sador mudou de opinião e escreveu a Darwin incen-tivando-o a continuar com o pedido de pensão paraWallace, que foi concedida em 1881, tornando a vidade Wallace um pouco mais tranqüila.

Cinco anos depois Wallace viajou a Nova Yorkpara fazer conferências e fez visitas a três sociedades es-piritualistas norte-americanas, em Boston, Washing-ton e São Francisco (Fodor, s. n.). Ele assistiu a sessõese fez contatos com os espiritualistas norte-americanos.Nesta viagem ele encontrou-se com o conhecido psi-cólogo William James em diversas ocasiões. Em umadelas assistiu a sessões de materialização com a Sra.Ross, onde apareceram muitas pessoas e objetos, co-mo um índio, um rosto de bebê, que ele beijou etc.Em uma outra sessão ele identificou um primo, Alg.Wilson.

Houve uma acusação de fraude da médium, eWallace escreveu em sua defesa em uma carta publi-cada no jornal Banner of Light. Nesta época Wallacepublicou um artigo chamado “Estão os Fenômenosdo Espiritualismo em Harmonia com a Ciência?”,mas os biógrafos não se entendem quanto a data e lu-gares desta publicação. Raby e Fodor dizem que ocor-reu em 1886 no Banner of Light. Smith afirma quefoi publicado originalmente em 1885 no jornal Sun-day Herald, de Boston e depois republicado com pe-quenas modificações no periódico The Médium andDaybreak em dezembro de 1885. De qualquer forma,o texto em inglês pode ser lido no endereço:www.wku.edu/~smithch/s379.htm.

Wallace prosseguiu com suas publicações espiritua-listas até o seu falecimento em 7 de novembro de 1913.Alguns de seus artigos acham-se publicados na páginade Smith, mas foge ao objetivo deste pequeno esboçobiográfico apresentá-los à exaustão. Deixamos ao leitorapenas mais uma referência, a de um artigo intitulado“Espiritualismo e Trabalho Social”, publicado em 1898

na revista espiritualista Light e que pode ser acessadono endereço: www.wku.edu/~smithch/s545.htm.

Alfred Russel Wallace enfrentou a intolerância deuma época, intolerância contra sua origem social, con-tra sua religião e mesmo contra a sua honestidadecientífica. De alguma forma somos herdeiros do seutrabalho e por esta razão consideramos importantehomenageá-lo, trazendo à luz aquilo que fez de me-lhor enquanto encarnado: compreender.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAWSON, Albert (?). A visit to Dr. Alfred Russel Wallace, F. R. S. [on-

line] Disponível na Internet no endereço <http://www.wku.edu/

/~smithch/S738.htm>. [Originalmente publicado em janeiro de

1898.]

DOYLE, Arthur C. História do Espiritismo. São Paulo: Pensamento,

s. n.

FODOR, Nandor. Encyclopedia of Psychical Sciences.

RABY, Peter. Alfred Russel Wallace: A Life. New Jersey: Princeton Uni-

versity Press, 2001.

SMITH, Charles. The Alfred Russel Wallace Page [online] Modificado

em 6 de fevereiro de 2002. Disponível na Internet no endereço

<http://www.wku.edu/~smithch/index1.htm>.

WALLACE, A. R. Miracles and modern spiritualism. New York: Arno

Press, 1975.

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Reformador no Centro EspíritaA FEB faz, mensalmente, remessa gratuita de

Reformador aos Centros Espíritas de todo o Brasil,que estejam ou não ligados às respectivas EntidadesFederativas estaduais, com base no cadastro quepossui.

Para que essa oferta atinja seus objetivos de di-vulgação da Doutrina e do Movimento Espírita,solicitamos aos dirigentes dos Centros Espíritasque façam campanha de assinatura de Reformadorjunto aos seus trabalhadores.

Pedimos às Federativas que nos informem seas Casas Espíritas do Estado estão recebendo a Re-vista, assim como os nomes e endereços das novasinstituições.

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Ceará: Congresso Espírita A Federação Espírita do Estado do Ceará promoveuem Fortaleza, nos dias 28 a 30 de novembro passado,o VIII CONECE – Congresso Espírita do Estado doCeará –, tendo como tema central Espiritismo e aConstrução da Paz, desdobrado em vários subtemas,desenvolvidos pelos expositores: Alexandre Sech, AnaGuimarães, Francisco Cajazeiras, Luciano Klein,Nehemias Marien e Richard Simonetti.

R. G. do Norte: Encontro de Comunicação Social Espírita

Realizou-se em Natal o III Encontro de ComunicaçãoSocial Espírita do Nordeste, no período de 14 a 16 denovembro passado, sob a coordenação de Merhy Seba,Assessor de Comunicação Social das Comissões Re-gionais do Conselho Federativo Nacional, com o temaComunicação Interpessoal – Projeto Experimental doPlanejamento Estratégico na Comunicação Integrada.

Movimento Você e a PazRealizou-se em 4 de outubro, no Centro Poliesporti-vo Miécimo da Silva, bairro de Campo Grande, oI Movimento Você e a Paz na cidade do Rio de Janei-ro, evento organizado por espíritas, mas de caráterecumênico, com o objetivo de incentivar as pessoaspara a não-violência. A promoção foi do Clube dosLivreiros e Divulgadores do Espiritismo do Rio deJaneiro, com o apoio da UNESCO, da Mansão do Ca-minho (BA), da Federação Espírita Brasileira, do Cen-tro Espírita Léon Denis (RJ) e do Clube de Arte doLar Fabiano de Cristo (RJ). Divaldo Franco fez apalestra de encerramento.

Estônia: Movimento EspíritaO Centro Espírita Amor (La Spirita Centro Amo),de Vosu, esteve presente na 6a Reunião da Coorde-nadoria Européia do Conselho Espírita Internacio-nal, realizada em maio na Suécia (Estocolmo), atra-vés de seu diretor Augusto Kilk, que, falando emEsperanto, fez uma exposição sobre o MovimentoEspírita em seu país, informando que nos últimosoito anos fundou quatro Centros Espíritas, em Vo-su e no Sul da Estônia, com a freqüência de até 30

pessoas; tem traduzido obras de Emmanuel, psico-grafadas por Francisco Cândido Xavier, assim comomensagens, a partir das obras espíritas em Esperan-to; há quatro livros mediúnicos recebidos direta-mente no idioma da Estônia, sendo o primeiro pu-blicado em 1919.

São Gonçalo (RJ): Conselho de UnificaçãoSão Gonçalo, seguindo o exemplo da Federação Es-pírita do Estado do Rio de Janeiro (FEERJ) e da Uniãodas Sociedades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro(USEERJ), foi a primeira cidade daquele Estado emque os Centros Espíritas adesos ou filiados às citadasEntidades Federativas se uniram e formaram o Con-selho de Unificação do Movimento Espírita de SãoGonçalo.

Promovido pelo referido Conselho, realizou-se oXV Mês Espírita de São Gonçalo, no período de 7 a28 de setembro, com o tema central A Paz – Ogrande desafio dos tempos atuais.

Suíça: Livros do Espírito André LuizO Centre d'Études Spirites de Genève coloca à dis-posição do público os livros Nosso Lar e E a Vidacontinua..., no idioma francês. As obras são de au-toria do Espírito André Luiz, psicografadas por Fran-cisco Cândido Xavier, e receberam, respectivamente,os títulos Notre Demeure e Et la Vie continue... Atradução foi da própria instituição. Os interessadosem adquirir os livros devem entrar em contato dire-tamente com o Centre. Endereço: Case Postale 37 –Conches – CH-1231 Genebra – Suíça. (SEI.)

Casa Espírita CentenáriaA Sociedade Espírita “Anjo da Guarda”, de Santos(SP), fundada em 2 de novembro de 1883, comemo-rou 120 anos de ininterrupta atividade no estudo eprática da Doutrina Espírita, com a realização, no dia12 de novembro passado, de uma reunião públicacom palestra de José Raul Teixeira. A USE Intermu-nicipal de Santos, cuja fundação ocorreu, em 1951,na sede dessa centenária instituição espírita, participoudo evento, mediante a presença de seus dirigentes e devários Centros Espíritas unificados.

SEARA ESPÍRITA

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