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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO LETRAS SECRETARIADO EXECUTIVO ANNA CATHARINA DE MENDONÇA PAES COMPETÊNCIA TRADUTÓRIA: O ESTUDO DE UM CASO REAL DE TRADUÇÃO EM UMA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL Florianópolis, 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

LETRAS – SECRETARIADO EXECUTIVO

ANNA CATHARINA DE MENDONÇA PAES

COMPETÊNCIA TRADUTÓRIA: O ESTUDO DE UM CASO REAL DE

TRADUÇÃO EM UMA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL

Florianópolis, 2016

ANNA CATHARINA DE MENDONÇA PAES

COMPETÊNCIA TRADUTÓRIA: O ESTUDO DE UM CASO REAL DE

TRADUÇÃO EM UMA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL

Monografia redigida como requisito

final de avaliação da disciplina

LLE5194 - Estágio Profissionalizante e

como Trabalho de Conclusão de

Curso, requisito para obtenção de título

de Bacharel em Secretariado

Executivo, apresentada à Universidade

Federal de Santa Catarina, no Centro

de Comunicação e Expressão, sob a

orientação do Prof. Dr. Lincoln Paulo

Fernandes.

.

Florianópolis, 2016

ANNA CATHARINA DE MENDONÇA PAES

COMPETÊNCIA TRADUTÓRIA: O ESTUDO DE UM CASO REAL DE

TRADUÇÃO EM UMA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL

Monografia redigida como Trabalho de

Conclusão de Curso, requisito para

obtenção de título de Bacharel em

Secretariado Executivo, apresentada à

Universidade Federal de Santa

Catarina, na área de Comunicação.

Florianópolis, 11 de julho de 2016.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Prof. Dr. Lincoln Paulo Fernandes

________________________________________________

Profª. Drª. Donesca Cristina Puntel Xhafaj

________________________________________________

Profª. Drª. Maria Ester Wollstein Moritz

Coordenadora de Curso e de Estágios de Secretariado Executivo

Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras (DLLE)

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

PAES, Anna Catharina de Mendonça. Competência tradutória: o estudo de um caso real de

tradução em uma organização internacional. Curso de Graduação em Secretariado Executivo,

UFSC, 2016.

RESUMO

Este estudo de caso descreve a situação real em que uma graduanda do curso de Secretariado

Executivo prestou serviços de tradução à sede brasileira de uma organização internacional. O

objetivo dessa descrição é investigar se a subcompetência estratégica – parte constituinte da

Competência Tradutória – tende a utilizar-se mais de conhecimentos prévios ou de pesquisa

pontual e em que proporção isso tende a ocorrer. Com base no modelo holístico de

Competência Tradutória, proposto pelo grupo PACTE (Processo de Aquisição da

Competência Tradutória e Avaliação), é realizado um estudo aplicado a um projeto de

tradução iniciado em setembro de 2012 e concluído em junho de 2013 em Florianópolis/SC.

Nesta pesquisa, o uso de conhecimentos prévios é a ocorrência mais frequente enquanto que o

uso de pesquisa pontual ocorre em aproximadamente 15%, ou em três a cada vinte, dos 227

problemas tradutórios analisados.

Palavras-chave: Competência Tradutória; Subcompetência Estratégica; Estudo de Caso.

ABSTRACT

This case study describes a non-fictional case in which an undergraduate Executive

Secretariat student offered translation services to the Brazilian quarters of an international

organization. The objective of this description is to investigate if the Strategic Subcompetence

– constituent part of the general Translation Competence (TC) - tends to rely more on

previous knowledge or on punctual research and in which proportion this tends to occur.

Based on the holistic model of Translation Competence, as proposed by the PACTE (Process

of Acquisition of Translation Competence and Evaluation) Group, a study applied to a

translation project carried out from September of 2012 to June of 2013 in Florianopolis/ Santa

Catarina – Brazil. In this research, the use of previous knowledge is more frequent while the

use of punctual research occurs in approximately 15%, or in three out of twenty, of the 227

translation problems analyzed.

Key-words: Translation Competence; Strategic Subcompetence; Case Study.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - Exemplo de uma Tarefa de Tradução da Disciplina LLE 5166 .......................... 14

FIGURA 2 - Identificação e Classificação do PSS .................................................................. 24

FIGURA 3 - Levantamento quantitativo das ocorrências de usos combinados de

subcompetências tradutórias ..................................................................................................... 32

FIGURA 4 - Levantamento qualitativo das tendências de uso da subcompetência estratégica

.................................................................................................................................................. 35

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

CBO Código Brasileiro de Ocupações

CT Competência Tradutória

LLE Letras e Literatura Estrangeiras

MMS Modern Mystery School (Escola Moderna de Mistérios)

PSS Processo Sócio-Semiótico

PACTE Proceso de Adquisición de la Competencia Traductora y Evaluación (Processo

de Aquisição da Competência Tradutória e Avaliação)

TF Texto fonte

TT Texto traduzido

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 7

2 REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................... 9

3 MÉTODO ......................................................................................................................... 16

4 RELATO DE CASO ........................................................................................................ 20

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO CASO REAL DE TRADUÇÃO NA ORGANIZAÇÃO

INTERNACIONAL MMS ................................................................................................... 20

4.1.1 SOBRE A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL MMS E SUA CHEGADA

AO BRASIL ..................................................................................................................... 20

4.1.2 A DEMANDA DE TRADUÇÃO ...................................................................... 22

4.1.3 BRIEFING: A FORMULAÇÃO DO ESCOPO TRADUTÓRIO E A

IDENTIFICAÇÃO DO PSS ............................................................................................. 22

4.2 A SUBCOMPETÊNCIA ESTRATÉGICA APLICADA AO CASO – DESCRIÇÃO

DO PROCESSO TRADUTÓRIO ........................................................................................ 24

4.3 REFLEXÕES SOBRE O CASO ............................................................................... 27

4.3.1 OBSTÁCULOS ENFRENTADOS NO DECORRER DA EXECUÇÃO DO

PROJETO TRADUTÓRIO .............................................................................................. 27

4.3.1 REFLEXÃO: BASTA SER BILÍNGUE PARA TRADUZIR BEM? ............... 28

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: ESTUDO DA APLICAÇÃO DA

SUBCOMPETÊNCIA ESTRATÉGICA .................................................................................. 30

5.1 TIPOS DE CONHECIMENTO E OCORRÊNCIAS DE USO ................................. 31

5.2 RELATO DOS TIPOS DE PESQUISA PONTUAL REALIZADAS ...................... 33

5.3 JUSTIFICATIVAS DE ESCOLHA E OCORRÊNCIAS DE USO .......................... 34

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 37

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 41

APÊNDICE A – PLANILHA ELETRÔNICA (EXEMPLOS DE PREENCHIMENTO) ...... 43

APÊNDICE B - ESBOÇO DO ORGANOGRAMA DA MMS (MODERN MYSTERY

SCHOOL – ESCOLA MODERNA DE MISTÉRIOS) ............................................................ 46

APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO ............................................................... 47

ANEXO A - ENTREVISTA .................................................................................................... 48

ANEXO B ................................................................................................................................ 51

ANEXO C ................................................................................................................................ 52

7

1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa abordará o tema "subcompetências tradutórias e procedimentos da prática

tradutória”, tomando como base o modelo de Competência Tradutória proposto pelo grupo

PACTE (Proceso de Adquisición de la Competencia Traductora y Evaluación - Processo de

Aquisição da Competência Tradutória e Avaliação), com o estudo aplicado a uma situação

real de projeto de tradução iniciado em setembro de 2012 e concluído em junho de 2013 em

Florianópolis, Santa Catarina.

Realizado com o intuito de trazer o tema da competência tradutória e da prática da

tradução à área de atuação dos profissionais de Secretariado Executivo, este trabalho é

resultado da aplicação prática de conhecimentos adquiridos no curso de graduação em

Secretariado Executivo na Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.

O objetivo geral é investigar se a subcompetência tradutória estratégica utiliza-se mais de

conhecimentos prévios ou de pesquisa pontual e em que proporção isso tende a ocorrer.

Os objetivos específicos são:

a) verificar quantitativamente a ocorrência de pesquisa pontual versus o uso de

conhecimento prévio nas escolhas tradutórias em um corpus de textos traduzidos;

b) relatar tipos de pesquisa pontual realizadas;

c) indicar tipos e fontes de conhecimentos prévios mais usados na solução dos problemas

de tradução.

Esta pesquisa é relevante para tradutores e para secretários executivos bilíngues, os quais

podem ser solicitados a prestar serviços de tradução para seu empregador, pois realiza um

estudo exploratório da relação entre pesquisa pontual e conhecimentos prévios do prestador

de serviços de tradução dentro do contexto de uma organização internacional.

8

O trabalho está organizado da seguinte maneira: após esta seção, de caráter introdutório,

a seção 2 apresenta a revisão da literatura pertinente, com ênfase no modelo de Competência

Tradutória (CT) proposto pelo Grupo de Pesquisa PACTE (2008); a seguir, a seção 3

apresenta o Método que informa os procedimentos adotados; na sequência, a seção 4 relata o

caso aqui estudado; a seção 5 discute os resultados obtidos; finalmente, a seção 6 tece

considerações finais, levando em conta os objetivos da pesquisa.

9

2 REVISÃO DE LITERATURA

Dentro das várias atividades desempenhadas pelos secretários executivos, espera-se

que desenvolvam a competência tradutória, visto que a prestação de serviços de tradução está

listada como uma de suas atribuições na regulamentação da profissão Lei nº 7.377, de 30 de

setembro de 1985, Art. 4º, Inciso IV – “versão e tradução em idioma estrangeiro, para atender

às necessidades de comunicação da empresa”. De acordo com a descrição sumária da

ocupação “Secretárias(os) executivas(os) e afins” do Código Brasileiro de Ocupações – CBO,

esses profissionais

Assessoram os executivos no desempenho de suas funções, atendendo pessoas (cliente

externo e interno), gerenciando informações, elaborando documentos, controlando

correspondência física e eletrônica, prestando serviços em idioma estrangeiro,

organizando eventos e viagens, supervisionando equipes de trabalho, gerindo

suprimentos, arquivando documentos físicos e eletrônicos auxiliando na execução de

suas tarefas administrativas e em reuniões (grifo nosso).

Pelo CBO, no “Relatório Tabela de Atividades”, são especificadas como atividades do

secretário bilíngue e trilíngue prestador de serviços em idioma estrangeiro: “prestar serviço de

intérprete; ciceronear visitas; redigir documentos em idioma estrangeiro; sintetizar textos em

idioma estrangeiro; traduzir documentos; revisar traduções; dar suporte a expatriados”.

Facilitar e mediar a comunicação entre pessoas distanciadas por barreiras linguísticas e

culturais é uma demanda crescente do rol de habilidades multi- e interdisciplinares

requisitadas do profissional de Secretariado Executivo (MELO, 2013, p. 8). São percebidos

como aspectos comunicativos necessários ao desempenho do papel de mediador pelo

profissional de secretariado, segundo Melo (2013, p. 6): "a sintonia cultural (entendimento do

contexto em que os atores estão inseridos), o domínio das línguas materna e estrangeira(s),

além da competência interpessoal". Dentro desse contexto, acentua-se a tendência a solicitar

10

que secretários executivos atuem como tradutores e intérpretes no exercício de seu trabalho

nos ambientes corporativos.

A respeito da competência tradutória em si, é possível compreendê-la, nos dias de

hoje, como “o conjunto de conhecimentos, habilidades [know-how] e atitudes que capacitam

um indivíduo para atuar como um tradutor profissional” (PALUMBO, 2009, p. 22).

Aos profissionais interessados em adquirir e desenvolver competência tradutória, o

modelo holístico de Competência Tradutória do grupo PACTE poderá servir de referência.

Com base em estudos empíricos, o modelo de Competência Tradutória (CT) do grupo PACTE

(2003, p. 16-17) propõe que se considere CT como o sistema subjacente de conhecimento,

combinando o conhecimento procedimental e o declarativo, necessário para traduzir. Segundo

o modelo do grupo PACTE (2008, p. 106), destacam-se quatro características distintas da CT:

é conhecimento especializado que não é possuído por todos os bilíngues; o conhecimento

procedimental predomina sobre o conhecimento declarativo; é composta de várias

subcompetências inter-relacionadas; a subcompetência estratégica é de particular relevância.

Dada a importância da distinção conceitual entre os tipos de conhecimento

procedimental e declarativo para o Modelo Holístico de Competência Tradutória do grupo

PACTE, vale notar que, segundo Anderson (1989, p. 320-342): o conhecimento

procedimental está orientado para o uso prático, ou seja, se refere ao “como fazer” e se

adquire fazendo/praticando, sendo difícil de relatar em palavras; o conhecimento declarativo

não está estritamente associado a algum uso em particular e, basicamente, descreve

fatos/teorias.

O modelo de Competência Tradutória (CT) proposto compreende cinco

subcompetências bem como componentes psicofisiológicos (PACTE, 2008, p. 16-17):

subcompetência bilíngue; subcompetência extralinguística; subcompetência de conhecimentos

sobre tradução; subcompetência instrumental; subcompetência estratégica. Para atingir o

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objetivo desta pesquisa, serão entendidos como conhecimentos prévios todos aqueles que

estejam relacionados a essas quatro primeiras subcompetências, com destaque para as

subcompetências bilíngue e extralinguística. A seguir, serão descritas as 5 subcompetências e

os componentes psicofisiológicos do Modelo Holístico de CT (PACTE, 2008, p. 16-17).

A subcompetência bilíngue é, predominantemente, o conhecimento procedimental

necessário para a comunicação nas duas línguas envolvidas numa tradução. É composta por

conhecimentos pragmático, sociolinguístico, textual, gramatical e lexical das duas línguas.

Conhecimento pragmático é o conhecimento das convenções pragmáticas necessárias para

realizar atos de linguagem que sejam aceitáveis em um dado contexto; tais convenções tornam

possível o uso da linguagem para expressar e entender funções linguísticas e atos de discurso.

Conhecimento sociolinguístico é o conhecimento das convenções sociolinguísticas

necessárias para realizar atos de linguagem que sejam aceitáveis em um dado contexto; isso

inclui conhecimento de registros de linguagem (variações de acordo com o campo, modo e

tenor) e conhecimento de dialetos (variações de dialeto de acordo com particularidades

regionais, de grupos sociais e de época). Conhecimento textual é conhecimento de textura

(mecanismos de coerência e coesão) e de diferentes gêneros com suas convenções respectivas

(estrutura, características de linguagem, etc.). Conhecimento léxico-gramatical é o

conhecimento de vocabulário, morfologia, sintaxe e fonética/ortografia. Neste estudo, são

necessárias, como parte da subcompetência bilíngue da tradutora aprendiz, a capacidade de

leitura e compreensão da Língua Inglesa, juntamente com a habilidade de comunicação por

escrito em Língua Portuguesa, com correção gramatical e com vocabulário adequado ao

Contexto de Situação (CS).

A subcompetência extralinguística é, predominantemente, conhecimento declarativo,

tanto implícito como explícito, sobre o mundo em geral e em áreas específicas. Isso inclui: (1)

conhecimento bicultural (sobre as culturas fonte e alvo); (2) conhecimento enciclopédico

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(sobre o mundo em geral); (3) conhecimento de assuntos (em áreas específicas). Para

exemplificar a subcompetência extralinguística neste trabalho temos o conhecimento

adquirido pela tradutora aprendiz como estudante da Escola de Mistérios e sua vivência nas

culturas brasileira e norte-americana, sendo os textos fonte de origem canadense e os textos

traduzidos em Português Brasileiro.

A subcompetência de conhecimentos sobre tradução é, predominantemente,

conhecimento declarativo, tanto implícito quanto explícito, sobre o que é tradução e sobre

aspectos da profissão. Isso inclui: (1) conhecimento sobre como a tradução funciona – tipos

de unidades de tradução, processos requisitados, métodos e procedimentos usados (estratégias

e técnicas) e tipos de problemas; (2) conhecimento relacionado à prática da tradução

profissional – conhecimento do mercado de trabalho (diferentes tipos de demanda, cliente,

público-alvo, etc.). Como estudante do curso de Secretariado Executivo, ao longo do curso a

tradutora aprendiz estudou disciplinas de ensino teórico e prático da Tradução e o aprendizado

do conhecimento sobre tradução traz noções como “unidade de tradução”, “contexto de

situação” e “brief”.

A subcompetência instrumental é, predominantemente, conhecimento procedimental

relacionado ao uso de fontes de documentação e de informação e às tecnologias de

comunicação aplicadas à tradução: dicionários diversos, enciclopédias, gramáticas, guias de

estilo, textos paralelos, corpora eletrônicos, buscadores on-line, etc. Nesta pesquisa, a

subcompetência instrumental é exemplificada pelo uso da pesquisa pontual para a verificação

de ocorrências similares em Língua Portuguesa, com uso do buscador on-line “Google”, a fim

de verificar tendências de combinações frequentes entre palavras em Português Brasileiro.

Outro exemplo é a conferência para confirmação de ortografia em dicionários monolíngues da

Língua Portuguesa.

13

A subcompetência estratégica é o conhecimento procedimental que garante a

eficiência do processo tradutório e soluciona os problemas encontrados. Esta é uma

subcompetência essencial, que afeta todas as demais e causa inter-relações entre as

subcompetências, porque controla o processo tradutório. Suas funções são: (1) planejar o

processo e executar o projeto de tradução (escolha do método mais adequado); (2) avaliar o

processo e os resultados parciais obtidos em relação ao propósito final; (3) ativar as diferentes

subcompetências e compensar por deficiências nas subcompetências; (4) identificar

problemas de tradução e aplicar procedimentos para solucioná-los. É possível exemplificar a

ativação de múltiplas subcompetências para resolver um único problema tradutório, como

nesta pesquisa, em que foram encontradas ocorrências do uso combinado das

subcompetências bilíngue, extralinguística e instrumental (veja a seção 5.1)

Os componentes psicofisiológicos são diferentes tipos de componentes cognitivos,

atitudes e mecanismos psicomotores. Isso inclui: (1) componentes cognitivos como memória,

percepção, atenção e emoção; (2) atitudes como curiosidade intelectual, perseverança, rigor,

espírito crítico, conhecimento de e confiança em habilidades individuais, a habilidade de

medir as próprias habilidades, a própria motivação, etc.; (3) habilidades como criatividade,

argumentação lógica, análise e síntese, etc. Como exemplo da influência negativa de

componentes psicofisiológicos, temos o cansaço por falta de sono, o qual coloca empecilhos à

boa prática de tradução.

Na quarta função da subcompetência estratégica, foi mencionada a aplicação de

procedimentos para solucionar problemas de tradução, dentre esses procedimentos este estudo

se concentrará sobre a pesquisa pontual. Segundo Aubert (2001), a “pesquisa terminológica

pontual é aquela que visa à solução de problemas isolados de designação” e seus

procedimentos fundamentais incluem: diálogo com o cliente, consulta a dicionários, consulta

a especialista, dicionários bilíngues, traços conceituais, verificação de ocorrência, criação

14

neológica, importação direta da língua fonte (empréstimo), adaptação (como “deletar”) e

outros.

A tomada de decisões, no âmbito da subcompetência estratégica, também se vale do

entendimento do contexto do texto e de sua tradução, conforme ensinou a Professora Dra.

Maria Lúcia Barbosa de Vasconcellos ao ministrar, aos alunos de Graduação em Secretariado

Executivo da UFSC em setembro de 2012, a disciplina de Letras e Literatura Estrangeiras

(LLE) 5166 – Tradução e Versão do Inglês I. Antes de iniciar a tradução, há algumas

perguntas úteis ao tradutor, para que formule previamente uma estratégia que atenda ao

escopo: “Que atividade está acontecendo? Quem está envolvido nessa atividade? Qual é o

modo da linguagem usada?” Cita-se como ilustração o material usado em sala de aula:

MATERIAL DE APOIO 2. Reconhecimento do contexto de situação no qual textos

acontecem (Matthiessen 2008) como base para o entendimento do texto.

É essencial para o tradutor reconhecer “o contexto de situação” no qual o texto acontece. O

“Contexto de Situação” (CS) é o ambiente do texto. Ele consiste em três variáveis: (i) o que está

acontecendo (campo), ou seja, o tipo de ação social; (ii) quem está participando (relações), ou

seja, o posicionamento social, a relação entre os participantes e o grau de formalidade; (iii) como

a linguagem é usada nas interações (modo), ou seja, modo escrito, modo falado, modo

audiovisual, etc.

Contexto de Situação (PSS)

Texto

Relações Modo

Campo

Parâmetros do Contexto de Situação (Butt, Fahey, Feez, Spinks, Yallop, 2000)

Para o reconhecimento do contexto de situação é necessário:

1) Responder as perguntas: Que atividade está acontecendo? Quem está envolvido nessa

atividade? Qual é o modo da linguagem usada?

2) Adquirir estratégias para reconhecer o CS (o processo sócio semiótico em questão) a

partir das variáveis ‘campo’, ‘relações’ e ‘modo’, bem como buscar e justificar as

soluções.

3) Assimilar a importância do reconhecimento do CS para melhor entendimento de

qualquer texto. Figura 1 - Exemplo de uma Tarefa de Tradução parte integrante da Unidade Didática 1, Tarefa 2, da

disciplina LLE 5166 – Tradução e Versão do Inglês I.

15

No exemplo dessa tarefa, o estudante de tradução deve refletir sobre quem são os

participantes dos processos comunicativos, durante uma comunicação: quem é o emissor e

quem é o receptor (público-alvo), de uma mensagem veiculada. Como parte da caracterização

do contexto de situação ou PSS (Processo Sócio-semiótico) o estudante deve se preparar para

identificar o “modo” como as mensagens serão veiculadas nos exemplos práticos: por escrito,

discurso oral, uso de imagens sem texto, etc. Depois desta tarefa de reflexão generalizada,

foram apresentados exemplos práticos em que os estudantes tiveram a tarefa de identificar

“relações”, ou seja, como é a relação entre aqueles envolvidos nos processos comunicativos

observados, qual o grau da formalidade e qual o tom da conversa, o qual varia quando a

relação é entre pares ou entre superior e subalterno. Nas tarefas seguintes com exemplos

práticos, também foram investigados o tipo de ações sociais realizadas, o que define o

“campo”: expor, reportar, compartilhar, recriar, recomendar, habilitar e explorar ou realizar.

Esse treinamento em sala de aula influenciou fortemente a análise do processo tradutório da

situação real relatada neste trabalho.

16

3 MÉTODO

Este trabalho acadêmico é uma pesquisa de campo do tipo exploratório que, segundo

Tripodi et al. (1975 apud MARCONI; LAKATOS, 1990, p.77), é uma investigação de

pesquisa empírica com o objetivo de formular questões ou um problema com três possíveis

fins: o desenvolvimento de hipóteses; o aumento da familiaridade do pesquisador com um

ambiente, fato ou fenômeno, para realizar uma pesquisa futura mais precisa; a modificação e

o esclarecimento de conceitos. Dentre essas três finalidades citadas, destaca-se a segunda, ou

seja, o aumento da familiaridade com o tema e facilitar o direcionamento de pesquisas futuras

sobre as questões investigadas neste trabalho. Em sua parte teórica, a pesquisa exploratória

envolve levantamento bibliográfico, a fim de auxiliar a esclarecer e delimitar o tema

escolhido (GIL, 1999, p. 43).

Quanto à sua natureza, esta pesquisa pode ser classificada em como uma pesquisa

qualitativa, apesar de se utilizar de dados numéricos e de estatísticas, não se qualifica como

pesquisa quantitativa, visto que predomina a busca detalhada da caracterização dos processos

analisados e do contexto em que os problemas analisados estão inseridos. Essa diferença é

esclarecida por Araújo e Oliveira, que sintetizam a pesquisa qualitativa como um estudo que

(1997, p. 11 apud PONTE, 2006, p. 7):

(...) se desenvolve numa situação natural, é rico em dados descritivos, obtidos no

contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do

que o produto, se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes, tem um plano

aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada.

Para tanto, é feito um estudo de caso único para fins exploratórios, sem a pretensão

alcançar respostas conclusivas que possam ser generalizadas, mas com o intuito de instigar

futuras pesquisas de casos reais de projetos de tradução executados por profissionais de

Secretariado Executivo.

17

Segundo Yin (2001, p. 21), “o estudo de caso permite uma investigação para se

preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real”. Isso pode ser

aplicado a um projeto de tradução para que os fatores do contexto de situação que determinam

o registro e o gênero sejam compreendidos, juntamente com a investigação das formas de

aquisição das subcompetências do tradutor e a aplicação prática da competência tradutória

adquirida. Também vale ressaltar que, segundo Yin (2001, p.19):

o estudo de caso é uma inquirição empírica que investiga um fenômeno

contemporâneo dentro de um contexto da vida real, no qual os comportamentos

relevantes não podem ser manipulados, mas onde é possível se fazer observações

diretas e entrevistas sistemáticas.

A observação direta, neste estudo de caso, incide sobre: a) o processo de tradução

realizado e reconstituído conforme a memória da tradutora aprendiz; b) as traduções

realizadas pelos bilíngues Eric Thompson e Liza Rossi; c) a organização Brasil MMS

(Modern Mystery School), hoje conhecida como Escola Moderna de Mistérios, dentro do

contexto local, como filial no Brasil e dentro do contexto internacional da Modern Mystery

School (MMS), como parte da organização internacional, serve como um ponto de

transmissão de conhecimentos. Este estudo de caso possui como foco de interesse a análise do

processo de tradução, item “a” dentro do contexto dos demais itens, “b” e “c”, observados.

A fim de analisar o processo de tradução, depois de realizar levantamento

bibliográfico relacionado ao tema escolhido, foram desenvolvidos alguns instrumentos de

pesquisa para coletar dados, a saber: uma planilha eletrônica (veja o “Apêndice A – Planilha

Eletrônica” p. 43-45) para levantar as ocorrências de escolhas tradutórias e classificar de

forma simplificada o tipo de subcompetência tradutória mais relevante para cada escolha

efetuada pela tradutora aprendiz entre, no mínimo, duas opções de soluções tradutórias; um

questionário desenvolvido para colher informações sobre as formas de aquisição e utilização

das subcompetências dos tradutores envolvidos no projeto; questões para realizar uma

entrevista semi-estruturada com os clientes do serviço de tradução (veja a transcrição em

18

“Anexo A - Entrevista”, p.48-51), que são bilíngues e traduziram parte do website de sua

própria empresa antes de contratar os serviços de uma tradutora aprendiz.

A tradutora aprendiz contratada para executar o projeto de tradução é graduanda em

Secretariado Executivo, é autora desta pesquisa, possui experiência como professora de

Inglês, tradutora voluntária de um website sobre espiritualidade durante o período de julho de

2007 a maio de 2009 (http://www.circleoflight.net/index.php/messages/translations/39-

translations/portuguese), pesquisadora informal de esoterismo e espiritualidade desde 2000,

traduz principalmente do Inglês para o Português, trabalhou como secretária de agosto de

2010 a outubro de 2013 e, no momento, é prestadora de serviços autônoma, trabalhando com

terapias holísticas/complementares e também é autora de um blog bilíngue sobre

esoterismo/espiritualidade, autoconhecimento/autoajuda e ficção

(http://transcendamatrix.blogspot.com.br/).

A planilha mencionada foi desenvolvida com a intenção de estudar qualitativamente

os conhecimentos utilizados no processo de tomada de decisões de tradução, observando se:

prevaleceu na maioria das ocorrências o conhecimento prévio ou a habilidade de realizar

pesquisa pontual como estratégia tradutória; quais os tipos de conhecimento prévio utilizado;

qual o tipo de pesquisa pontual utilizado. A planilha está preenchida como (re)construção

retrospectiva do processo tradutório e conta com comentários da tradutora registrados nos

arquivos dos textos traduzidos (os comentários estão disponíveis em: “Apêndice A – Planilha

Eletrônica” páginas 44 e 45, na última coluna das tabelas). Na verificação das ocorrências no

corpus, observam-se especificamente os conhecimentos prévios relacionados às

subcompetências bilíngue e extralinguística, verificando em que medida esses conhecimentos

permitem tomar decisões tradutórias sem recorrer à pesquisa pontual ou são apenas

confirmados por pesquisa pontual.

19

Há um questionário dirigido à tradutora aprendiz e aos clientes do serviço de tradução,

tradutores não-profissionais que traduziram as primeiras páginas do próprio website. Os

questionários colhem informações sobre a formação e experiência prévia dos tradutores

envolvidos, sobre os recursos e procedimentos que costuma utilizar, sobre sua visão do papel

do tradutor (tendência teórica).

Todavia, essa investigação dos perfis dos tradutores é muito ampla e se desvia dos

objetivos deste trabalho, portanto não pode ser realizada neste trabalho, mas pode ser feita em

um momento futuro.

A entrevista semi-estruturada se dirige aos clientes para que façam um relato a

respeito da chegada da Modern Mystery School (MMS) ao Brasil e para que descrevam a

tarefa de traduzir para a MMS no Brasil. Além disso, ao final da entrevista (“Anexo A -

Entrevista”, p. 51), é feita uma breve avaliação dos serviços de tradução prestados pela

tradutora aprendiz.

Por fim, a tradutora aprendiz faz uma auto-avaliação sobre a aquisição e o

desenvolvimento de competência tradutória. Essa auto-avaliação leva em conta os estudos de

Tradução em disciplinas na Universidade Federal de Santa Catarina e a comparação dos

procedimentos tradutórios utilizados ao longo do projeto de tradução empreendido. Aqui está

registrado como conhecimentos acadêmicos foram aplicados à prática da tradução.

Vale destacar que, apesar da participação da pesquisadora na situação real estudada

neste trabalho, não há de fato uma pesquisa-ação, pois não há um círculo de análise de

problemas, planejamento, ação, avaliação e repetição desse processo de intervenção. Isso se

confirma, pois a pesquisa deste trabalho difere da definição de pesquisa-ação do psicólogo

Kurt Lewin (1965), para o qual a pesquisa-ação consiste de:

[...] análise, evidência e conceitualização sobre problemas; planejamento de programas

de ação, executando-os e então mais evidências e avaliação; e então a repetição de

todo esse círculo de atividades; certamente, uma espiral de tais círculos. Por meio

dessa espiral de círculos, a pesquisa-ação cria condições sobre as quais comunidades

20

de aprendizagem podem ser estabelecidas, ou seja, comunidades de investigadores

comprometidos com a aprendizagem e compreensão de problemas e efeitos de sua

própria ação estratégica e de fomento dessa ação estratégica na prática (LEWIN,1965,

p.177)

Depois de coletar todas as informações que os instrumentos de pesquisa escolhidos

permitem, essas informações são analisadas e é apresentado o relato do estudo de caso na

seção a seguir (seção 4 “Relato de Caso”), em que consta a caracterização do contexto de

situação, a demanda de tradução (do Inglês para o Português) conforme a necessidade dos

clientes e a caracterização do campo e registro correspondente. Depois, na seção 5 “Discussão

dos resultados: estudo da aplicação da subcompetência estratégica”, são apresentadas as

informações obtidas, especialmente aquelas obtidas com a análise das planilhas (veja o

“Apêndice A – Planilha Eletrônica (exemplos de preenchimento)” p. 43-45). Por fim, na

seção 6 “Considerações finais”, são comentados os resultados, avaliando em que medida os

objetivos propostos foram alcançados.

4 RELATO DE CASO

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO CASO REAL DE TRADUÇÃO NA ORGANIZAÇÃO

INTERNACIONAL MMS

4.1.1 Sobre a Organização Internacional MMS e sua chegada ao Brasil

Segundo Eric Thompson, Presidente da sede brasileira da MMS (ver a transcrição da

entrevista, “Anexo A - Entrevista”, p. 48-51) é uma instituição com fins educacionais, uma

Universidade da Espiritualidade. Os cursos são predominantemente vivenciais e seu foco é

oferecer ferramentas práticas que facilitem o autoconhecimento, autodesenvolvimento do

potencial dos indivíduos, autocura (a partir dos níveis mental, emocional e energético). Eric

destaca que essas ferramentas trazem resultados positivos para os participantes dos cursos,

seus amigos e familiares, o que inspira muitos dos estudantes a levarem essas ferramentas a

21

seus países/cidades natais. Sob essa inspiração, Eric Thompson (estadunidense) e Liza Rossi

(brasileira), que moravam nos EUA até janeiro de 2009, decidiram trazer a MMS ao Brasil,

disponibilizando e ministrando cursos no Brasil para os quais se capacitaram a lecionar,

ingressando, primeiramente, como estudantes nesta Universidade da Espiritualidade, a MMS

em sua sede em Toronto – Canadá.

A MMS está organizada, para fins administrativos, em uma parte Ocidental (Matriz

em Toronto) e em uma parte Oriental (Matriz sediada em Tókio - Japão). As decisões

executivas da parte Ocidental são tomadas pelo CEO Dave Lanyon (canadense) em

concordância com o CEO da parte Oriental, também fundador da organização, Gudni

Gudnason (nascido na Islândia). Há também o Conselho INT (Conselho Internacional)

formado por Professores-Mestres Internacionais, com atribuições de poder legislativo, e o

Conselho dos Guias (todos os Professores habilitados a iniciar estudantes dentro da linhagem

milenar desta Escola de Mistérios), com poder de fornecer propostas a serem submetidas ao

Conselho INT. No “Apêndice B - Esboço do organograma da MMS” (p. 46), apresenta-se,

para fins ilustrativos, um esboço do organograma da MMS Ocidental.

A sede brasileira existiu primeiramente como um nicho dentro do empreendimento

“Shambala Spa”, inaugurado em dezembro de 2009 em Florianópolis, no bairro turístico,

comercial e residencial Lagoa da Conceição. Os proprietários Liza Rossi e Eric Thompson

ofereciam alguns cursos livres da MMS e sessões de atendimento individual com uso

terapêutico de ferramentas da MMS no Shambala Spa. Outros cursos, por causa da demanda

de espaço para acomodar um maior de participantes, foram muitas vezes realizados em

espaços locados.

Desde agosto de 2013 até outubro de 2014, a Presidência da Brasil MMS realizou,

participando como organizadores, intérpretes e professores assistentes, três eventos

internacionais semestrais ou congressos internacionais. Os congressos trouxeram ao Brasil

22

cursos inéditos com professores trazidos do exterior para ministrar cursos em Língua Inglesa

com tradução consecutiva feita principalmente pelos próprios presidentes da sede brasileira,

contando com o apoio e a assistência de alguns dos estudantes.

Em julho de 2014, foi inaugurada a sede física da Escola Moderna de Mistérios no

bairro Canto da Lagoa, a fim de melhor comportar os grupos cada vez mais numerosos de

estudantes dos cursos livres, introdutórios e eventos regionais.

4.1.2 A demanda de tradução

Soube informalmente, em conversa com os Presidentes da Escola Moderna de

Mistérios, que um website brasileiro da MMS estava em fase de criação. Sabendo da

importância vital de criar visibilidade para a MMS no Brasil e para facilitar na divulgação dos

cursos, a Presidência da Brasil MMS decidiu que o website precisava ser concluído o quanto

antes. Ao final da conversa, eu me voluntariei para ajudar a traduzir o website. Pouco depois,

em 16 de setembro de 2012, recebi os links primeiros textos em Inglês (da Canadian

Headquaters -Escritório Matriz do Ocidente). A princípio, seriam apenas 11 textos, mas

surgiram novas demandas e, ao todo, 13 textos foram traduzidos no período entre 18/09/2012

e 10/06/2013.

4.1.3 Briefing: a formulação do escopo tradutório e a identificação do PSS (Processo

Sócio-semiótico)

O escopo foi formulado considerando-se os objetivos da realização desta lista de

tarefas tradutórias, a saber: facilitar o acesso a informações por parte de estudantes, clientes

do Shamabla Spa e de outras pessoas que já conheciam a existência da MMS no Brasil; a

ampliação da visibilidade da MMS Brasil de nível regional a níveis nacional e internacional

(alcançando os leitores da Língua Portuguesa em todo o mundo); viabilizar a inscrição on-line

em cursos. Os Textos Traduzidos (TTs) poderiam substituir parte da divulgação inicial por

meio do contato pessoal, poupando o tempo dos presidentes, os quais poderiam passar a ser

23

procurados pelos interessados apenas para acertar detalhes de pagamento e inscrição, em vez

de buscarem os potenciais estudantes interessados, os quais, por sua vez, costumam ser

contatados por e-mail para saber de existência, conteúdo e data dos cursos. Dessa forma, os

conteúdos dos TTs deveriam ser claros, adaptados ao público brasileiro e ao contexto da

cultura alvo. Além disso, os TTs precisavam de adaptação para servirem de voz da MMS do

Brasil, em vez de voz da MMS Canadense – origem dos TFs (textos-fonte). O brief da

tradução desses textos pode ser apresentado como:

Cliente da tradução: a Escola de Mistérios (Brasil MMS) representada por Eric

Thompson e Liza Rossi;

Objetivo/função da tradução: atrair estudantes para os cursos da Escola de

Mistérios;

Público-alvo: Estudantes em potencial que residam no Brasil, pessoas

interessadas em autoconhecimento, empoderamento pessoal e espiritualidade;

Tipo de texto/registro: recomendação e exposição da Brasil MMS, com uso da

linguagem do campo de conhecimento “Espiritualidade e Esoterismo”, a

relação entre professores e potenciais estudantes da Brasil MMS dá ao texto

um tom amigável, com pouca formalidade;

Veículo: texto escrito em website da Brasil MMS.

Com base nos procedimentos praticados nas aulas da disciplina LLE 5166 – Tradução

e Versão do Inglês I, é possível identificar e classificar o PSS e sua influência sobre as tarefas

tradutórias deste projeto da seguinte maneira:

24

Figura 2 - Identificação e Classificação do PSS

Vale notar que há um conflito entre “relações” e “modo” no âmbito do grau de

formalidade, visto que, se por um lado, em “modo” existe a formalidade do texto escrito que

deve transmitir informações especializadas com precisão, pelo outro lado, em “relações” há

necessidade de redução da formalidade para produzir efeito de aproximação entre professores

e estudantes em potencial. Durante a tradução, houve a conciliação desse conflito através do

uso de linguagem moderada, ou seja, nem muito formal nem tão coloquial quanto um diálogo

oral, segue-se o padrão do tom de formalidade do texto fonte.

4.2 A SUBCOMPETÊNCIA ESTRATÉGICA APLICADA AO CASO – DESCRIÇÃO DO

PROCESSO TRADUTÓRIO

Minha tendência teórica: foco na comunicação e em reproduzir no leitor-alvo a mesma

reação que o leitor do texto-fonte (TF), retextualizando conforme o escopo. Quanto ao

25

escopo, temos um novo par de locutor e interlocutor: - Escola Moderna de Mistérios do

Brasil e potenciais estudantes brasileiros (novo em relação ao par de locutor e interlocutor dos

textos fonte - matriz canadense da MMS e norte-americanos) e também temos a combinação

do objetivo do Texto Traduzido (TT) para divulgação para expansão acelerada com o objetivo

de cada TF de cunho informativo e esclarecedor. A divulgação da MMS no Brasil através dos

TTs do website deve promover divulgação e auxiliar a manter ou ampliar o ritmo de expansão

da MMS no Brasil.

Quanto à natureza do conhecimento prévio utilizado do âmbito “subcompetência

extralinguística”, tendo em conta as experiências da tradutora aprendiz, as bases do

conhecimento da terminologia do Campo de Conhecimento “Espiritualidade e Esoterismo”

são resultantes de pesquisas, cursos ou estudos autodidatas na área de Espiritualidade e

Esoterismo e da leitura de textos na Língua Inglesa, de modo geral. Há também um

conhecimento tácito das diferenças culturais entre a cultura dos TFs (textos-fonte) e a cultura

do público-alvo dos TTs (textos traduzidos). É um conhecimento que fica implícito na leitura

e compreensão dos TFs, resultante da imersão na cultura norte-americana, pois a tradutora

aprendiz residiu com sua família nos EUA por quase quatro anos, dos 5 aos 9 anos de idade.

O resultado almejado foi redigir o texto traduzido (TT) com naturalidade, para que se

parecesse com um texto não traduzido, originalmente escrito em Português Brasileiro, mas, ao

mesmo tempo, transmitiu-se, com cuidadosa precisão, a cultura do texto-fonte (TF) ao leitor.

Essa transmissão intercultural se fez ao traduzir palavras ou expressões por orações que

explicitam o significado (TT mais longo que TF). Exemplos: “healer” e “healing” quando

utilizadas em Inglês em itálico, seguidas de oração apositiva com a devida explicação, ou

traduzidas com expressões equivalentes dentro do contexto da frase.

Quanto à utilização, durante o processo tradutório, de algumas das estratégias de

pesquisa pontual (AUBERT, 2001): o diálogo com o cliente foi utilizado eventualmente; os

26

neologismos foram evitados; o empréstimo ocorreu raras vezes; a consulta a especialista foi

frequente; o uso da adaptação eventual de termos não foi por criatividade própria, não criei

mas reproduzi adaptações já em uso neste campo; houve consulta a dicionários monolíngues

em todos os textos; eventualmente foram consultados dicionários bilíngues; com grande

frequência houve a verificação de ocorrência em corpora paralelos e ad hoc; foram pouco

utilizados os glossários de termos técnicos, pois são raros os glossários confiáveis, universais

e neutros neste campo, visto que costumam ser bastante específicos para um determinado

contexto e/ou autor.

Por motivo de uso frequente, é relevante exemplificar o item “consulta a especialista”

a qual se fez através de textos de autores amplamente reconhecidos neste campo, fossem

traduzidos ou originais, através da leitura de artigos de websites brasileiros reconhecidos pelo

público, com anos de tradição, como http://somostodosum.ig.com.br/ ou websites diversos de

organizações internacionais, como a MMS, com representação no Brasil como Summit

Lighthouse do Brasil -http://www.summit.org.br/.

A fim de esclarecer o que se considerou no item em que se menciona a estratégia

“adaptação”, dão-se dois exemplos: 1.“empoderar” (adaptação do verbo “to empower”); 2.

“vivenciar” (equivalente escolhido em vez de adaptar “experienciar” na tradução do verbo “to

experience”). O critério do uso ou não-uso de termos adaptados se fundamentou na

observação e reprodução de termos adaptados, com uso difundido neste campo nos textos

traduzidos para Português Brasileiro e textos brasileiros originais, com pesquisa pontual on-

line apenas para confirmar o conhecimento prévio da tradutora aprendiz.

Além dessas estratégias, é possível citar dois outros recursos tradutórios utilizados:

“comentário do tradutor” - Recorri apenas uma vez ao recurso de comentário de rodapé no TT

“Geometria Sagrada 2” e não deixei explícito que era comentário da tradutora; uso de

tradutores automáticos (exemplo: Google tradutor)– experiência insatisfatória e abandonada

27

devido à perda de tempo com retrabalho na tradução de frases ou parágrafos, mas foram

consultados como dicionários bilíngue extras para a tradução de expressões ou termos

isolados.

4.3 REFLEXÕES SOBRE O CASO

4.3.1 Obstáculos enfrentados no decorrer da execução do projeto tradutório

Dentre os componentes psicofisiológicos que influem no desempenho do tradutor,

mencionamos “(1) componentes cognitivos como memória, percepção, atenção e emoção”.

Tais componentes podem ser influenciados negativamente por comportamentos como não

suprir devidamente as necessidades de sono ou trabalhar em horários em que o relógio

biológico se desacelera em preparo para o sono. E se isso ocorreu, foi devido a falhas de

planejamento e falta de conhecimento dos próprios limites fisiológicos. O depoimento da

tradutora aprendiz abaixo exemplifica isso, a fim de servir de alerta a quem mais se disponha

a traduzir como atividade paralela a trabalho e para estudos universitários:

Nos primeiros meses, ao final da 7ª fase do curso de graduação, o tempo reservado ao trabalho

tradutório era tarde da noite, com muito gosto por estar ajudando em uma boa causa, depois das

aulas noturnas e de um longo dia de trabalho. Por conta do cansaço e da natural sonolência

nesse turno escolhido para realizar o trabalho voluntário, as primeiras traduções tiveram erros

de digitação e outros sinais da falta de concentração. Somente muito depois, pude notar essa

perda desnecessária da qualidade das traduções ao analisar os TTs para coleta de dados para o

projeto de TCC.

Outros componentes psicofisiológicos a lembrar são (2) atitudes como curiosidade

intelectual, perseverança, rigor, espírito crítico, conhecimento de e confiança em habilidades

individuais, a habilidade de medir as próprias habilidades, a própria motivação, etc.”. Essas

atitudes podem ser influenciadas pela insegurança e falta de confiança nas próprias

habilidades, muito comum entre tradutores aprendizes iniciantes. Sobre a insegurança segue

um relato da tradutora aprendiz descrevendo os procedimentos tradutórios:

Muito insegura em relação aos termos técnicos, no primeiro texto, traduzi frase por

frase dentro de colchetes em meio ao texto-fonte, com a intenção de assegurar que os

empresários, já habituados a traduzi-los para confecção de apostilas didáticas, conferissem os

termos técnicos no primeiro TT, antes de publicar no espaço do website. Depois, passei a fazer

28

a tradução parágrafo por parágrafo, em seguida a cada parágrafo do TF, ainda com a mesma

intenção de estimular a conferência por parte dos empresários antes de publicar. Superada a

insegurança, os últimos 5 TTs foram traduzidos no espaço abaixo do TF num arquivo de texto,

preservando figuras e formatação, e justificativas de escolhas tradutórias foram inseridas como

comentários na primeira parte do arquivo, no TF.

Ainda em relação ao segundo conjunto dos componentes psicofisiológicos, há um

fator muito relevante para o empenho do tradutor: a motivação. E sobre a busca do aumento

da motivação, foram tomadas atitudes práticas e foi negociado um pagamento sob a forma de

permuta, conforme se narra abaixo:

Depois das 4 semanas iniciais, percebendo que esse trabalho, para ser feito com a devida

qualidade, tomaria muito mais tempo do que eu havia previsto, perguntei aos meus clientes se

seria possível uma permuta de serviços. Recebi uma resposta afirmativa em 22/10/2012. Desse

momento em diante, com mais motivação e comprometimento com a qualidade das traduções,

passei a reservar horários “nobres” (tardes e início da noite nos finais de semana), em que

estaria com melhor disposição física para realizar as tarefas tradutórias.

Portanto, esse exemplo de experiência de trabalho de assessoria, como tradutora em

uma organização educacional internacional, demonstra que o conhecimento prévio de uma

pessoa bilíngue, como fator isolado na equação do processo tradutório, não assegura uma

tradução de boa qualidade. Na próxima subseção será expandido o olhar sobre a questão

polêmica “basta ser bilíngue para traduzir bem?”, sem a pretensão de esgotar todas as

perspectivas válidas sobre o tema

4.3.1 REFLEXÃO: BASTA SER BILÍNGUE PARA TRADUZIR BEM?

Neste caso, podemos definir “traduzir bem” como alcançar o objetivo de comunicar ao

público-alvo não bilíngue uma mensagem que: a) colabore para despertar o interesse em

participar de cursos, eventos e sessões de atendimento com terapias complementares; b)

intermedeie o diálogo escrito – tradução de apostilas didáticas - ou oral – palestras abertas ou

aulas de cursos vivenciais - entre os professores estrangeiros e o público-alvo brasileiro. Vale

lembrar que a tradutora aprendiz recebeu e executou tarefas tradutórias do escopo a) e os

empresários continuaram a traduzir demandas do escopo b).

29

Vale ressaltar que os empresários possuem ampla experiência com os conteúdos do

campo de conhecimento “Espiritualidade e Esoterismo”, além da experiência direta de terem

feito os cursos da MMS e estudado os textos das apostilas primeiramente como estudantes.

Logo, há familiaridade com os conteúdos e a linguagem específica, componentes da

subcompetência tradutória extralinguística. Ou seja, não lhes bastou serem bilíngues para

traduzir bem, pois contaram com conhecimentos prévios relativos às subcompetências

bilíngue e extralinguística. Além disso, admitiram fazer pesquisa pontual, em especial o

“diálogo com clientes”, neste caso, o diálogo com os autores dos TFs das apostilas, nas

palavras de Liza Rossi: “Essa é uma tradução muito séria. Então, sempre estou checando,

checo com os professores, os que escreveram” (“Anexo A - Entrevista”, p. 49).

Sob uma perspectiva pragmática, é possível afirmar que os empresários Eric e Liza,

ambos bilíngues sem treinamento formal para traduzir, contando com conhecimentos prévios

da subcompetência extralinguística, traduzem bem, visto que a organização Brasil MMS está

em franca expansão. Com suas atitudes empreendedoras e visionárias, o casal versátil de

empresários, donos do Shambala Spa, Eric e Liza, há mais de 7 anos buscam formação e

aperfeiçoamento contínuo como instrutores da Escola Moderna de Mistérios, e trabalham

incessantemente para trazer cursos internacionais ao Brasil, e assim fundaram a sede brasileira

da organização internacional MMS em Florianópolis. O sucesso pode ser medido pelo grande

número de participantes nos cinco primeiros congressos internacionais, organizados pelo casal

a cada semestre (desde agosto de 2013), e pelo fato de haver demanda por parte do público

para justificar a realização de um sexto congresso internacional da MMS em Florianópolis,

realizado em março de 2016.

Sob uma perspectiva técnica, possibilitada pela capacidade de auto-avaliação da

tradutora aprendiz, bilíngue desde os 5 anos de idade, assumir a responsabilidade de colaborar

para esse processo de crescimento da Escola Moderna de Mistérios no Brasil provocou

30

insegurança quanto às suas habilidades de tradução. Como consequência, buscou o

aperfeiçoamento contínuo através da reflexão com base em leitura de textos acadêmicos sobre

Tradução, do aprendizado teórico-prático em disciplinas oferecidas pela UFSC e da análise e

revisão dos primeiros textos traduzidos entre 2012 e 2013. Essa tendência à busca pelo

aperfeiçoamento contínuo resultou em melhorias qualitativas dos TTs de 2014, que foram o

cumprimento de prazos mais curtos para a entrega dos TTs, a colaboração para formatação e

ilustração, a apresentação frequente das justificativas das escolhas tradutórias em comentários

direcionados aos clientes. Ao realizar tais melhorias, a tradutora obteve resultados que ela

considerou mais satisfatórios e também obteve feedbacks positivos por parte dos clientes.

Em síntese, tanto sob a perspectiva dos tradutores não profissionais, presidentes da

Brasil MMS, quanto sob a perspectiva da auto avaliação sobre a experiência prática da

tradutora aprendiz, há motivos para afirmar que não basta ser bilíngue para que se traduza

bem. Sem concordar com a afirmação “basta ser bilíngue para traduzir bem”, a tradutora

aprendiz passou por um processo que lhe trouxe um aumento da autoconfiança em habilidades

desenvolvidas pela prática embasada em ensino teórico-prático recebido na UFSC e em

buscas de leituras de aprofundamento do aprendizado, por conta da necessidade de

compreensão das discussões acadêmicas do campo de conhecimento da Tradução.

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: ESTUDO DA APLICAÇÃO DA

SUBCOMPETÊNCIA ESTRATÉGICA

O estudo da aplicação da Subcompetência Estratégica, neste estudo de caso, está

relacionado aos tipos de conhecimento que subsidiam os processos decisórios e à observação

de tendências de escolha de soluções tradutórias. Neste estudo, é feito uma tentativa de

identificar se há algum padrão que indique o uso predominante de um dos tipos de

conhecimentos: aqueles obtidos ou confirmados com Pesquisa Pontual (PP), ou

conhecimentos prévios do âmbito da Subcompetência Bilíngue (SB) ou da Subcompetência

31

Extralinguística (SE). Também são observadas e nomeadas justificativas de escolha, as quais

funcionam como critérios de “desempate”, para selecionar a mais apropriada opção entre

possíveis soluções tradutórias.

Consideram-se, para seleção de amostra desta pesquisa, como problemas de tradução

as ocorrências que exigem do(a) tradutor(a) escolha entre duas ou mais possíveis soluções

tradutórias elaboradas com base em conhecimento prévio e/ou com base em pesquisa pontual.

Ao todo, foram selecionados 227 problemas de tradução para esta pesquisa, provenientes da

tradução de 13 textos para o cliente “Escola Moderna de Mistérios”.

Nos procedimentos deste estudo de caso, são registradas as possíveis soluções

tradutórias para cada um dos 227 problemas de tradução. Qualificam-se as soluções

tradutórias pelo tipo de conhecimento em que se fundamentam e também pela motivação ou

justificativa que aponta a solução tradutória mais apropriada, segundo a perspectiva da

tradutora aprendiz. Primeiramente, são comparadas as ocorrências dos tipos de conhecimentos

que originam as soluções tradutórias. Na sequência, são listadas as justificativas de escolha e

seus registros de ocorrência de uso na amostra deste estudo.

5.1 TIPOS DE CONHECIMENTO E OCORRÊNCIAS DE USO

Ocorrências em que há uso de conhecimentos prévios pela tradutora aprendiz são

classificadas como referente às Subcompetências Bilíngue e/ou Extralinguística e, sempre que

se consulta a fontes diversas para confirmar ou buscar soluções tradutórias, registra-se a

ocorrência de Pesquisa Pontual.

De acordo com a contagem, o uso da Subcompetência Bilíngue ocorre em 198

ocasiões, o uso da Subcompetência Extralinguística ocorre 100 vezes e a Pesquisa Pontual é

usada 34 vezes. Quanto a proporções, o uso de conhecimentos prévios é a ocorrência mais

frequente enquanto que o uso de pesquisa pontual ocorre em aproximadamente 15%, ou em

32

três a cada vinte, dos 227 problemas tradutórios analisados. Dentre os tipos de conhecimento

prévio, a Subcompetência Bilíngue prevalece como o tipo de conhecimento prévio mais

utilizado para apontar possíveis soluções tradutórias existentes, seu uso ocorre em

aproximadamente 87% dos 227 problemas tradutórios, enquanto que o uso da

Subcompetência Extralinguística ocorre em 44% dos problemas analisados.

Além disso, observa-se que em mais de um terço dos problemas de tradução, ou seja,

em 85 dos problemas analisados, há uso combinado de pelo menos dois tipos de

conhecimentos necessários para a escolha da solução tradutória mais apropriada. Isso indica

que alguns dos problemas de tradução podem exigir uma abordagem mais complexa, a qual

pode incluir a combinação e/ou comparação de diferentes tipos de conhecimento.

Usos combinados Contagem de ocorrências

SB & SE 58

PP & SB 12

PP & SE & SB 11

PP & SE 4

Figura 3 - Levantamento quantitativo das ocorrências de usos combinados de subcompetências

tradutórias

Conforme resume o quadro acima, notamos que tanto a Subcompetência Bilíngue

quanto a Subcompetência Extralinguística (SB & SE) são usadas em cinquenta e oito (58)

problemas tradutórios para fornecer possíveis soluções. A Pesquisa Pontual e a

Subcompetência Bilíngue (PP & SB) são ambas necessárias para encontrar a soluções para 12

problemas tradutórios. Combinam-se Pesquisa Pontual, Subcompetência Extralinguística e

Subcompetência Bilíngue (PP & SE & SB) em onze (11) ocasiões. Também há combinação

do uso de Pesquisa Pontual e Subcompetência Extralinguística (PP & SE) na resolução de

quatro (4) problemas tradutórios.

Abreviações SB: Subcompetência Bilíngue SE: Subcompetência Extralinguística PP: Pesquisa Pontual

33

5.2 RELATO DOS TIPOS DE PESQUISA PONTUAL REALIZADAS

A seguir, nesta subseção, são relatados os tipos de Pesquisa Pontual utilizados e

também são dados alguns exemplos.

Um tipo de Pesquisa Pontual bastante usado neste estudo de caso é a verificação de

ocorrências similares em Língua Portuguesa, com uso do buscador on-line “Google”, a fim de

verificar tendências do que se chama em Inglês de word collocation, ou seja, tendências de

combinações frequentes entre palavras de uma língua. Esse tipo de Pesquisa Pontual é

utilizado 31 (trinta e uma) vezes, na subseção seguinte, corresponde ao critério “Ocorrências

PORT” nas justificativas ou critérios de escolha entre opções tradutórias. Um exemplo disso

foi a escolha entre as opções de solução tradutória “Escola Moderna” ou “Moderna Escola”.

A verificação de ocorrências com o Google mostra um número elevado de ocorrências de

textos com "Escola Moderna" (120.000 ocorrências) e, em contrapartida, há 19.000

ocorrências relacionadas a "Moderna Escola". Portanto, a tradução escolhida para Modern

Mystery School figura como “Escola Moderna de Mistérios”.

A consulta on-line a dicionários em Língua Portuguesa é uma forma de Pesquisa

Pontual que também subsidia a justificativa de escolha “Ocorrências PORT”, como segundo

passo após verificar o maior número de ocorrências, pois o uso on-line massificado da Língua

Portuguesa pode se assemelhar à oralidade e, assim, pode não estar de acordo com as normas

padrão de ortografia. Um exemplo disso é a verificação de “autodescoberta”, termo usado por

diversas fontes disponíveis on-line. Verifica-se que possui entrada em dicionário online

“http://www.aulete.com.br/autodescoberta”, com essa confirmação de ortografia, chega-se à

conclusão de que essa opção de solução, baseada em conhecimentos prévios, é adequada para

traduzir “self discovery”.

34

Ainda dentro do critério abreviado como “Ocorrências PORT”, há também a consulta

ao texto de autores em Língua Portuguesa especialistas no campo de conhecimento

“Espiritualidade e Esoterismo”, o que também consta entre as diversas fontes on-line da

pesquisa sobre o uso do termo “autodescoberta”, do exemplo dado no parágrafo anterior.

Além disso, a consulta a especialistas também evita a criação desnecessária de neologismos e

confirma necessidade de não traduzir no exemplo da palavra grid, que introduz algo inédito

no Brasil, durante a tradução do texto Geometria Sagrada II (Sacred Geometry II).

No caso do exemplo citado acima, também se utiliza a Pesquisa Pontual entre textos

traduzidos, com uso de fontes como “www.linguee.com.br”, para confirmar a falta de

ocorrências prévias da tradução do termo grid (crystal grid), de modo que o resultado é

traduzir como “grid de cristais”.

A consulta on-line a dicionários bilíngues (Língua Portuguesa/Língua Inglesa) e a

consulta on-line a dicionários monolíngues em Língua Inglesa é mais uma das formas de

Pesquisa Pontual utilizadas, além da consulta on-line a glossários, conjugadores verbais,

dicionários de sinônimos e de expressões idiomáticas. Essas formas de Pesquisa Pontual são

bastante eficazes para confirmar a precisão dos conhecimentos prévios.

5.3 JUSTIFICATIVAS DE ESCOLHA E OCORRÊNCIAS DE USO

Justificativas de escolha, para os fins deste estudo de caso, são critérios ou tendências

que norteiam a preferência por uma das possíveis soluções tradutórias. A fim de diferenciar e

delimitar tais critérios ou tendências, é feita uma classificação sob os títulos: naturalidade,

expressividade, explicitar pressuposto, campo, ocorrência PORT, registro, ocorrência TRAD,

tenor, escopo ID, estrangeirizar. A seguir, estão as explicações sobre os títulos das diversas

classificações de justificativas de escolha e o número de ocorrências de uso por ordem de

relevância numérica decrescente.

35

Figura 4 - Levantamento qualitativo das tendências de uso da subcompetência estratégica

“Naturalidade” se refere à tendência do esforço para adaptar o texto traduzido à

Língua Portuguesa, de modo que o texto traduzido possa substituir o texto fonte e o resultado

se pareça com um texto originalmente escrito em Língua Portuguesa. Esta tendência orientou

a escolha da solução tradutória em 88 dos 227 problemas de tradução.

“Expressividade” está relacionada à tendência de preservar significados metafóricos,

hierarquia de significados ou ênfase, a fim de que o texto traduzido produza um impacto

equivalente ao impacto do texto fonte, ou seja, espera-se que o público-alvo do texto

traduzido possa reagir tal como o público-alvo do texto fonte tende a reagir. Esta tendência

orientou a escolha da solução tradutória em 80 dos problemas de tradução.

“Explicitar pressuposto” é a justificativa usada para acrescentar palavras ou redigir o

texto traduzido de tal maneira a expor com a maior clareza possível os pressupostos, e seus

significados implícitos, referentes ao contexto, ao campo de conhecimento específico, à

28%

25% 12%

10%

10%

5%

4% 3%

2% 1%

Justificativas (nº de ocorrências)

naturalidade (88)

expressividade (80)

explicitar pressuposto (39)

campo (32)

ocorrência PORT (31)

registro (16)

ocorrência TRAD (12)

tenor (10)

escopo ID (5)

estrangeirizar (3)

36

cultura do texto fonte e a conteúdos anteriormente mencionados no texto. São registradas 39

ocorrências dessa justificativa de escolha de solução tradutória.

“Campo” é o título sob o qual estão as ocorrências em que o conhecimento do

vocabulário específico de um campo de conhecimento especializado se faz necessário para

justificar a escolha da solução tradutória mais apropriada. São registradas 32 ocorrências

dessa justificativa de escolha de solução tradutória.

“Ocorrência PORT” é um critério baseado em observação e/ou em pesquisa on-line de

qual a combinação mais usada de palavras (word collocation) na Língua Portuguesa e,

principalmente, na Língua Portuguesa usada por brasileiros. Este critério colaborou para a

escolha da solução tradutória em 31 dos problemas de tradução.

“Registro” é o título sob o qual estão as ocorrências em que o conhecimento dos

Processos Sócio-Semióticos, realizados pelo texto, possui relevância na tomada de decisão

entre duas ou mais possíveis soluções tradutórias. Nos textos da amostra deste estudo de caso,

os registros mais notados foram “exploring-exposition” (explorar - exposição) e

“recommending-advert” (recomendar - anunciar). O reconhecimento do registro foi

determinante para a escolha da solução tradutória em dezesseis (16) dos problemas de

tradução.

“Ocorrência TRAD” indica que há outros textos traduzidos servindo como referência

(consulta a outros textos da Escola Moderna de Mistérios traduzidos anteriormente, corpora

paralelos como, por exemplo, Linguee) para subsidiar a escolha da solução tradutória em doze

(12) dos problemas de tradução.

“Tenor” é o título sob o qual estão as ocorrências em que o reconhecimento da relação

entre autor e público alvo possui relevância na tomada de decisão entre duas ou mais

possíveis soluções tradutórias. São observadas variações do grau de formalidade ou do tom de

diálogo. Ao todo, são dez (10) desse tipo de ocorrência.

37

“Escopo ID” indica a tendência de adaptação à demanda de redigir um texto apropriado

ao uso pelo cliente, que possui identidade cultural diferente da identidade do autor do texto

fonte. Logo, indica que a solução tradutória escolhida deve colaborar para adaptar o texto para

ser coerente com a situação do cliente, uma sede brasileira de uma organização internacional

presente em mais de 40 países do mundo. Esta tendência orientou a escolha da solução

tradutória em cinco (5) dos problemas de tradução.

“Estrangeirizar” aponta para a tendência de trazer elementos da cultura estrangeira ao

leitor, para que o público-alvo se familiarize com novidades trazidas pela organização

internacional ou com termos estrangeiros sem correspondência na Língua Portuguesa. Em

uma dessas ocorrências, por exemplo, no texto Geometria Sagrada II, foi utilizado o termo em

Inglês “grid” com nota de rodapé explicativa. Esta tendência orientou a escolha da solução

tradutória em três (3) dos problemas de tradução.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo abordou o tema "subcompetências tradutórias e procedimentos da

prática tradutória”, tomando por base o modelo de Competência Tradutória proposto pelo

grupo PACTE, com o estudo aplicado a um caso real de projeto de tradução iniciado em

setembro de 2012 e concluído em junho de 2013 em Florianópolis/SC.

O objetivo geral foi investigar se a Subcompetência Tradutória Estratégica se utiliza

mais de conhecimentos prévios ou de Pesquisa Pontual e em que proporção isso tende a

ocorrer.

Os objetivos específicos foram assim explicitados:

a) verificar quantitativamente a ocorrência de Pesquisa Pontual versus o uso de

conhecimento prévio nas escolhas tradutórias em um corpus de textos traduzidos;

38

b) relatar tipos de Pesquisa Pontual realizadas;

c) indicar tipos e fontes de conhecimentos prévios mais usados na solução dos

problemas de tradução.

Após a realização da pesquisa, foi possível verificar se a maior incidência de utilização

de conhecimentos prévios. A proporção em que isso ocorreu foi relatada na subseção 5.1.

Destaca-se a utilização combinada de pelo menos dois tipos de fontes de conhecimento na

resolução de mais de um terço dos problemas tradutórios, de modo que a Pesquisa Pontual é

necessária tanto para confirmar soluções tradutórias baseadas em conhecimento prévio quanto

para obter informações novas. Também vale notar que a Subcompetência Bilíngue é o tipo de

conhecimento prévio mais frequentemente utilizado, segundo a contagem.

Com relação ao alcance dos objetivos específicos, podem-se tecer as seguintes

considerações:

Quanto ao objetivo específico (a), o desenho e os procedimentos utilizados permitiram

verificar quantitativamente a ocorrência de Pesquisa Pontual versus o uso de conhecimento

prévio nas escolhas tradutórias no corpus de textos traduzidos. Ressalta-se que o uso do

conhecimento prévio derivado da Subcompetência Bílingue ocorre quase o dobro de vezes

(198 ocorrências) em relação ao uso do conhecimento prévio derivado da Subcompetência

Extralinguística (100 ocorrências).

Quanto ao objetivo específico (b), os tipos de pesquisa pontual realizadas evidenciam

uma preocupação com a verificação de ocorrências em Língua Portuguesa e de ocorrências

em copora paralelos de textos traduzidos, com a confirmação por meio da consulta a

dicionários e a textos de especialistas.

Quanto ao objetivo específico (c), os dados da pesquisa revelaram tipos e fontes de

conhecimentos prévios mais usados na solução dos problemas de tradução, quais sejam:

conhecimentos acumulados das Línguas Portuguesa e Inglesa (Subcompetência Bilíngue);

39

conhecimentos acumulados pela leitura de textos sobre o campo de conhecimento

“Espiritualidade e Esoterismo” (Subcompetência Extralinguística); conhecimentos específicos

a respeito dos conteúdos dos textos da demanda de tradução devido a experiências como

estudante da Escola de Mistérios desde 2011. Segundo Liza Rossi (veja o “Anexo A -

Entrevista”, p.51), “Era o que a gente estava procurando, tecnicamente, quanto à parte de ser

alguém com a experiência dos cursos. É um processo de experiência que acontece dentro da

Escola, esse processo de experiência teve peso”.

Finalmente, a título de consideração final, ressalta-se que Nonato Júnior¹, em um

paper publicado nos Anais VIII Encontro Nacional dos Estudantes de Secretariado (2016),

discute a evolução da área secretarial às Ciências da Assessoria e define a prestação de

serviços de tradução como um tipo de “assessoria intelectual”: [...] Assessorística (Assessoria

Intelectual) [...] é a assessoria que o profissional de Secretariado exerce através de um pensar

mais aprofundado, exige pesquisas e estudos sobre determinado assunto (MIRANDA, R. S.;

NONATO JÚNIOR, R. 2016 p. 540-541). Um desses assuntos, para o profissional de

Secretariado Executivo, é a tradução, tema pesquisado neste trabalho.

Dentro da Assessorística, o secretário executivo, com formação acadêmica diferenciada e o

conhecimento em línguas estrangeiras passa a ser ainda mais valorizado e buscado no mercado

de trabalho pelas organizações, principalmente na atividade de tradução ou versão de

documentos para idioma estrangeiro. (MIRANDA, R. S.; NONATO JÚNIOR, R. 2016 p. 541)

Justifica-se assim, nos termos da própria profissão, a pesquisa aqui realizada, cuja

relevância foi explicitada na introdução deste trabalho:

Esta pesquisa é relevante para tradutores e para secretários executivos bilíngues, os quais

podem ser solicitados a prestar serviços de tradução para seu empregador, pois realiza um

estudo exploratório da relação entre pesquisa pontual e conhecimentos prévios do prestador de

serviços de tradução dentro do contexto de uma organização internacional.

_________________________________

¹ Raimundo Nonato Júnior é docente do curso de Secretariado Executivo/UNICENTRO

Bacharel em Secretariado Executivo e Mestre em Educação Brasileira pela Universidade

Federal do Ceará (UFC).

40

Como sugestão de pesquisas futuras, propõem-se estudos para verificar, em outras

situações reais ou simuladas de tradução por secretários executivos ou por estudantes de

secretariado executivo, a ocorrência do uso das subcompetências bilíngue e extralinguística,

de modo a elucidar qual a mais relevante para solução dos problemas tradutórios. Para melhor

caracterizar esses estudos, propõe-se a aplicação de questionários sobre o perfil dos tradutores

participantes da pesquisa, de forma a orientar a comparação dos resultados obtidos. Esses

estudos poderão subsidiar o direcionamento dos esforços de capacitação do secretário

executivo para tradução.

A autora espera, assim, ter contribuído para a consolidação do trabalho do Secretário

Executivo nesta importante área de assessoria intelectual - a tradução -, contribuindo para sua

transformação em um “profissional intelectual” capaz e atuar nas áreas de assessoria, gestão,

consultoria e pesquisa acadêmica, de acordo com as Ciências da Assessoria (CAMARGO et

al, 2015).

41

REFERÊNCIAS

ANDERSON, John Robert. A Theory of the Origins of Human Knowledge. Artificial

Intelligence. Amsterdã, v. 40, p. 313-351, 1989. Disponível em: <

http://mind.cog.jhu.edu/faculty/smolensky/050.326-

626/Foundations%20Readings%20PDFs/Anderson-1989-OriginsHumanKnowledge-AI.pdf >.

Acesso em: 24 abr 2014.

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Pesquisa Terminológica Bilingüe.2. ed. São Paulo: Humanitas FFLCH/USP, 2001.

Disponível em:

<http://citrat.fflch.usp.br/sites/citrat.fflch.usp.br/files/u10/Cad.%20Terminologia%202.pdf>.

Acesso em: 5 maio 2014.

CAMARGO, M. et al. A evolução da área secretarial às Ciências da Assessoria.

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e pelo Grupo de Pesquisa em Secretariado Executivo da Unioeste, Toledo, PR, v. 14, n. 14,

2015.

Disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/expectativa/article/view/9355/8153>.

Acesso em: 2 nov. 2015.

CÓDIGO BRASILEIRO DE OCUPAÇÕES – CBO. 2523 :: Secretárias(os) executivas(os) e

afins. Disponível em:

<http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTituloResultado.jsf>. Acesso

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CÓDIGO BRASILEIRO DE OCUPAÇÕES. Relatório Tabela de Atividades.

Disponível em:

<http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/ResultadoFamiliaCaracteristicas.jsf>.

Acesso em: 29 set. 2013.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1999.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Técnicas de Pesquisa. 2. ed.São

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LEWIN, Kurt. Teoria de Campo em Ciência Social. Trad Carolina M. São Paulo: Pioneira,

1965, p.177.

MELO, Sheila De Souza Corrêa de. O secretário executivo e a tradução no ambiente

corporativo. In: SEMINÁRIO MULTIPROFISSIONAL INTEGRADO DE

SECRETARIADO DA REGIÃO NORDESTE, 12., 2013, Porto Seguro. Anais... Porto

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MIRANDA, Rosimeri dos Santos; NONATO JÚNIOR, Raimundo. Tradução/versão de

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assessoria intelectual. Anais do VIII ENESEC - Encontro Nacional dos Estudantes de

42

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PACTE, Grupo. First Results of a Translation Competence Experiment: 'Knowledge of

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PALUMBO, Giuseppe. Key Terms in Translation Studies. Londres: Continuum. 2009

PONTE, Vera Maria Rodrigues et al. Análise das metodologias e técnicas de pesquisas

adotadas nos estudos brasileiros sobre balanced scorecard: um estudo dos artigos

publicados no período de 1999 a 2006. p. 7. Arquivo do I Congresso ANPCONT - Associação

Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis. Disponível em:

<http://www.anpcont.com.br/site/docs/congressoI/03/EPC079.pdf>. Acesso em 5 maio 2012.

Regulamentação da Profissão de Secretário. Lei 9.261 de 10/01/96 (Lei 7.377 de 30/09/85).

Disponível em:

<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=120900&norma=14288

1>. Acesso em: 1 maio 2012.

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2 ed.. Porto Alegre: Bookman.

2001.

43

APÊNDICE A – PLANILHA ELETRÔNICA (EXEMPLOS DE PREENCHIMENTO)

Frase em questão (Texto)

Frase em questão (Retextualização)

Problemas de tradução

Possíveis soluções – método utilizado (pesquisa pontual, conhecimento prévio subcompetência bilíngue - SB - ou extralinguística - SE)

Justificativa da escolha - classificações do critério da escolha: registro (exploring-exposition & recommending-advert); tenor (grau de formalidade - tom de diálogo); campo (vocabulário específico do campo de conhecimento); explicitar pressuposto cultural; naturalidade (adaptar à Língua de Chegada/alvo); estrangeirizar (trazer elementos da cultura estrangeira ao leitor); ocorrência PORT; ocorrência TRAD; expressividade (preservar significados metafóricos, hierarquia de significados ou ênfase, por exemplo); escopo ID

Welcome to the Canadian Headquarters of the Modern Mystery School (MMS)!

Bem-vindos à filial brasileira da Escola Moderna de Mistérios

Canadian Headquarters

filial brasileira; sede brasileira - subcompetência extralinguística (vocabulário do campo/field Administrativo)

filial brasileira - a)campo (ADMINISTRAÇÃO) - expressa o reduzido grau de autonomia em relação à sede canadense dentro de uma estrutura hierárquica centralizada; b) explicitar pressuposto cultural - por seu caráter incipiente no Brasil, essa organização não possui estrutura física (prédios, salas) dedicadas a seu uso exclusivo, portanto não possui dimensão estrutural para ser considerada uma sede organizacional.

We believe that discovering one’s true purpose in life is the greatest gift one can achieve

Acreditamos que a descoberta do verdadeiro propósito da vida de cada um é a maior graça que se pode alcançar

gift one can achieve

gift - SB e SE - escolha lexical quanto à nuance de significado - dom, presente, dádiva, graça (sentido místico); one can achieve - SB - escolha léxico-gramatical entre sinônimos e possíveis estruturas verbais - que se (alguém) pode alcançar (impessoalidade - voz ativa); que se pode obter; que pode ser atingida (voz passiva - mudança do sujeito); a combinação com relação sintagmática mais frequente entre opções de tradução de "gift" e "achieve" (word collocation) precisava de confirmação com pesquisa pontual.

graça que se pode alcançar - a) campo (ESPIRITUALIDADE) - com o conhecimento prévio do campo "Espiritualidade e Esoterismo", formulou-se esta hipótese de solução; b) pesquisa de ocorrência em textos não traduzidos na Língua de Chegada - com pesquisa pontual de verificação de ocorrências no google, foi confirmada a utilização da expressão "alcançar uma graça" (120.000 ocorrências).

Nome do texto fonte: Homepage/ Página inicial

44

Frase em questão (Texto)

Frase em questão (Retextualização)

Problemas de tradução

Possíveis soluções – método utilizado (pesquisa pontual, conhecimento prévio subcompetência bilíngue - SB - ou extralinguística - SE)

Justificativa da escolha - classificações do critério da escolha: registro (exploring-exposition & recommending-advert); tenor (grau de formalidade - tom de diálogo); campo (vocabulário específico do campo de conhecimento); explicitar pressuposto cultural; naturalidade (adaptar à Língua de Chegada/alvo); estrangeirizar (trazer elementos da cultura estrangeira ao leitor); ocorrência PORT; ocorrência TRAD; expressividade (preservar significados metafóricos, hierarquia de significados ou ênfase, por exemplo); escopo ID

Psychic ability, a sixth sense, the gift of prophecy, clairovoyance, clairsentience - there are many names to describe this quality we simply call "spiritual intuition".

Habilidade psíquica, sexto sentido, dom da profecia, clarividência, clarissenciência - há muitos nomes para descrever esse aspecto que simplesmente chamamos de "intuição espiritual".

clairsentience

a) clarissenciência - (PP)

clarissenciência - campo; ocorrência PORT [Comentário com justificativa da tradutora: Clarissenciência – clari + senciência. Senciência – qualidade dos seres sencientes (termo budista). Exemplo de uso da tradução proposta:“clarissenciência (uma pessoa empática e intuitiva, com uma consciência dos sentidos interiores expandida).” Fonte: http://www.anjodeluz.com.br/ronna%20julho%202009.htm ]

Frase em questão (Texto)

Frase em questão (Retextualização)

Problemas de tradução

Possíveis soluções – método utilizado (pesquisa pontual, conhecimento prévio subcompetência bilíngue - SB - ou extralinguística - SE)

Justificativa da escolha - classificações do critério da escolha: registro (exploring-exposition & recommending-advert); tenor (grau de formalidade - tom de diálogo); campo (vocabulário específico do campo de conhecimento); explicitar pressuposto cultural; naturalidade (adaptar à Língua de Chegada/alvo); estrangeirizar (trazer elementos da cultura estrangeira ao leitor); ocorrência PORT; ocorrência TRAD; expressividade (preservar significados metafóricos, hierarquia de significados ou ênfase, por exemplo); escopo ID

Sacred Geometry 2: Crystal Healing, Reading , Gridding

Geometria Sagrada 2: Cura, Psicometria e Grids[1] com Cristais

Crystal Healing

a) cura com cristais (SB); b) tratamento terapêutico com cristais (SB); c) terapia energética com cristias (SE)

cura com cristais - ocorrência TRAD (na expressão oral e escrita por parte dos clientes/tradutores não-profissionais, "cura" foi a tradução mais usada para "healing"

Sacred Geometry 2: Crystal Healing, Reading , Gridding

(crystal) Reading

a) leitura com cristais (SB); psicometria com cristias (SE)

psicometria com cristais - CAMPO; ocorrência PORT [comentário da tradutora no texto enviado aos clientes: Acredito que podemos aproveitar o “jargão” espírita. PSICOMETRIA, pois corresponde a acessar os Registros Akashicos. Veja: “A obra Mecanismos da Mediunidade", psicografada por Chico Xavier e Waldo Vieira, também ditada pelo espírito André Luiz, esclarece que "a psicometria é a faculdade de perceber o lado oculto do ambiente e de ler impressões e lembranças ao contato de objetos e documentos.” http://www.ippb.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3876&catid=81 ]

Nome do texto fonte: Sacred Geometry II/ Geometria Sagrada II

Nome do texto fonte: Spiritual Intuition/ Intuição Espiritual

45

Sacred Geometry 2: Crystal Healing, Reading , Gridding

(crystal) Gridding

A) grade; B) Pesquisa Pontual - não traduzir - nota de rodapé explicativa: Grids [1] Grids de cristais são feitos com o posicionamento de cristais em um padrão geométrico para o propósito específico de direcionar energia rumo a um objetivo.

grids[1] - estrangeirizar; CAMPO; explicitar pressuposto cultural - [ comentários da tradutora aos clientes: Repensei e achei melhor não traduzir. Obs.: o termo mais difícil de traduzir foi "gridding" pois não encontrei correspondências nas poucas referências de cristaloterapia que encontrei na internete. Os grids são todos num formato específico? Eu encontrei mandalas de cristais com a tradução (grid) ao lado entre parênteses, porém não estou satisfeita. Pelo visto, não são em formato de mandala, parece um "caracol" na foto. Talvez não queiram traduzir, parece algo que ainda não está difundido no Brasil, talvez vcs sejam os primeiros a ensinarem isso em cursos. Se optarem por não traduzir (pensando bem, acho que é melhor), basta escrever Grids em itálico. Segue anexa a versão final, com grid em Inglês e em itálico.]

Crystal Healings – by laying crystals on the physical body for healing

Curas com Cristais - posicionando cristais no corpo físico para a cura e harmonização energética.

for healing

a) para cura (SB); b) para tratamento terapêutico (SB); c) para cura e harmonização energética (SE)

para cura e harmonização energética - explicitar pressuposto cultural sobre "healing" - [Comentário da tradutora aos clientes: Ao traduzir, explicitei que não é apenas healing do tipo “cura de doenças”. Vejam se aprovam - a tradução ficou “cura e harmonização energética”]

46

APÊNDICE B - ESBOÇO DO ORGANOGRAMA1 DA MMS (MODERN

MYSTERY SCHOOL – ESCOLA MODERNA DE MISTÉRIOS)

1 Este é um mero esboço e está sujeito a correções ou a ser totalmente desconsiderado pelo CEO Dave Lanyon.

Os Presidentes da sede brasileira da MMS – Escola Moderna de Mistérios – colaboraram com correções e

melhorias do primeiro esboço apresentado a eles durante a entrevista.

47

APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu aceito participar da Pesquisa da estudante de graduação, Anna Catharina de Mendonça

Paes, de forma livre e espontânea, observados o conteúdo informado e o compromisso

firmado pela pesquisadora na “Carta de Apresentação e Solicitação de Participação” a seguir:

Eu, ANNA CATHARINA DE MENDONÇA PAES, graduanda do curso de Secretariado

Executivo da Universidade Federal de Santa Catarina e aluna da disciplina LLE5194 - Estágio

Profissionalizante do Curso de Secretariado Executivo da UFSC, apresento minha proposta de

pesquisa para a elaboração de Trabalho de Conclusão de Curso, sob a orientação da Profª. Drª.

Maria Lúcia Barbosa de Vasconcellos e sob a co-orientação da Doutoranda Edelweiss Vitol

Gyse. Minha pesquisa, intitulada “COMPETÊNCIA TRADUTÓRIA: O ESTUDO DE UM

CASO REAL DE TRADUÇÃO EM UMA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL” investiga

se a subcompetência estratégica – parte constituinte da Competência Tradutória – tende a

utilizar-se mais de conhecimentos prévios ou de pesquisa pontual e em que proporção isso

tende a ocorrer. Esta pesquisa é desenvolvida sob a forma de um estudo de caso, que se utiliza

de questionários e entrevista para descrever um caso real em que a graduanda em Secretariado

Executivo, ANNA CATHARINA DE MENDONÇA PAES, prestou serviços de tradução à

sede brasileira de uma organização internacional, a Modern Mystery School (Escola Moderna

de Mistérios). Com este intuito, nos procedimentos metodológicos a serem adotados

comprometo-me a obedecer aos preceitos éticos implicados em pesquisas envolvendo seres

humanos, conforme normatizado pelas Resoluções 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

Estes preceitos incluem: • sua liberdade de adesão voluntária ao estudo, cientes da sua

natureza; • a não publicação de informações pessoais sem o consentimento dos participantes; •

a garantia de utilização dos dados tão somente para os fins deste estudo. Isto posto, solicito

sua participação em minha pesquisa, ao tempo em que me disponibilizo para prestar todo e

qualquer esclarecimento que se faça necessário. Telefone: 048 8466-1135 / E-mail:

[email protected]

Li o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e estou de acordo

____________________________________________

Nome completo:

Florianópolis, de dezembro de 2014

48

ANEXO A - ENTREVISTA

Entrevistados: Liza Rossi (natural de Goiânia) e Eric Thompson (nascido nos EUA)

Entrevistadora: Anna Catharina de Mendonça Paes

Data: 04/12/2014 - Local: Shambala Spa, Lagoa da Conceição, Florianópolis.

-Quando começaram a estudar com a Escola Moderna de Mistérios?

Liza: Em julho de 2008, quando morávamos em Los Angeles (EUA).

-Quando (quanto tempo depois de começar os estudos na MMS) se formaram professores/ guias da

MMS?

Liza: Em janeiro de 2009 e em fevereiro viemos para o Brasil, começamos em Goiânia.

-Quando decidiram seguir este caminho de formação, já estavam com o intuito de um dia trazer a MMS

ao Brasil?

Eric: Foi algo gradual, primeiramente, os estudos eram para o nosso próprio crescimento pessoal e

depois surgiu a ideia de levar os ensinamentos ao público. Primeiro a Ativação (de Vida), Primeira

Iniciação, Mestre de Rituais, Segunda Iniciação. E depois disso, vi o bem que estava fazendo para mim

e o bem que estava fazendo para minha família, meus amigos, todo mundo. E pensei “Nossa, quero

fazer isso para os outros”.

-No início vocês eram algo como “representantes”, não era algo grande o suficiente pra ser

considerado uma filial, uma sede e isso foi se expandindo, como foi isso?

Eric: A gente começou e a gente criou essa ideia: de trazer a escola de mistérios pra cá. Aí nós

começamos com o primeiro curso, começamos primeiro com a 1ª Iniciação (o curso). A gente montou

uma turma de pessoas conhecidas que a gente achou que podia desfrutar da 1ª Iniciação e era toda a

família dela (Liza), então estava cheio de pessoas de Goiânia e de familiares. Isso fez bem às pessoas

e aí depois acho que nós fizemos o curso em Brasília também. Nós trouxemos outro professor que

estava também nos monitorando (em nosso treinamento de Guias/professores) naquela época. Depois,

a gente começou a procurar algum lugar pra morar e abrir a Escola de Mistérios e abrir também os

nosso Centro (de atendimento com terapias). E aí começou a se expandir.

Liza: No início de 2009, morávamos em Goiânia. E aí a gente passou o primeiro semestre escolhendo

qual a cidade em que a gente queria morar no Brasil, queríamos morar numa cidade com praias.

Decidimos nos mudar pra Florianópolis em julho de 2009. Então a gente começou a reforma aqui do

local do Shambala Spa (Lagoa da Conceição), e abrimos o Shambala em dezembro de 2009. Então a

partir do momento em que abrimos o Shambala, o Shambala foi considerado a sede da Escola de

Mistérios no Brasil. Então pode-se dizer que a gente abriu o espaço (para cursos da MMS). Apesar de

já termos começado a dar os cursos antes, porque primeiro trouxemos o professor para Goiânia e para

Brasília.

-O Shambala Spa teve essas duas funções, Centro (de atendimento com terapias) e também sede da

Escola de Mistérios?

Liza: Sim.

-E agora tem um local que é só para a sede da Escola de Mistérios?

Liza: Exatamente. Agora cresceu tanto que a Escola de Mistérios não cabe mais no Shambala Spa,

então a gente precisou agora abrir um espaço só da Escola, que abrimos já faz uns 4 ou 5 meses...

49

-Vocês receberam um prêmio na sede da MMS em Toronto. Qual foi o motivo dessa premiação, ou

seja, por que vocês foram escolhidos pra receber esse reconhecimento?

Liza: Existem centenas de guias no mundo inteiro. E eu e o Eric somos os guias que iniciam mais.

Estamos entre os guias que iniciam mais pessoas (com o curso Primeira Iniciação). Então a gente

realmente está levando o trabalho da Escola a sério. E a gente acredita, e a gente quer realmente

ajudar as pessoas com o que a Escola oferece e a gente trabalha duro para isso.

-Parabéns. Sobre a Escola Moderna de Mistérios, enquanto uma organização internacional, como que

vocês definem esta organização?

Liza: A gente pode falar que é uma universidade que dá aulas. É uma escola, uma universidade.

Eric: Não é só um lugar em que a pessoa pode ir lá e escolher o que ela quiser estudar para ter

conhecimento e também para aprimorar os seus talentos, os seus dons. Mas também é um lugar onde

a pessoa pode aprender para ela mesma saber como fazer. E essa é a diferença da Escola aqui, o que

a gente faz é não só dar muito conhecimento, a gente empodera para ela fazer o próprio trabalho.

Então quem estuda com a Escola tem a possibilidade de fazer esse trabalho na sua cidade, no seu

país e levar isso.

-E, aí isso se multiplica?

Eric: Isso, se multiplica.

-Gostaria de saber se tem alguma hierarquia, alguma estrutura organizacional, uma ordem de

influência, em relação a isso do ensino, à difusão do ensino, às decisões de quais os cursos novos vão

abrir, se algum curso muda, ou muda de nome. Tem uma estrutura de quem toma essas decisões e de

quem repassa para quem, quem que vai aplicar isso na prática. Existe algum organograma? Se não

tiver, vocês tem alguma ideia para passar sobre isso? (Em resposta a essa questão, os minutos

seguintes da entrevista foram utilizados para elaborar um esboço do organograma da MMS, apenas

como uma tentativa de compreensão da estrutura organizacional, para dar suporte a este estudo de

caso, veja o Apêndice B p. 46.)

-Desde o início, já estava prevista a necessidade de traduzir aulas de professores estrangeiros como

intérprete e textos para apostilas e para formar um website?

Liza: Sim, isso é uma coisa que a gente pensou. Ah, a gente quer trazer a Escola, então a gente

trouxe, né? A gente viu que tem apostila para traduzir, tem professor para traduzir...

-E quanto a traduzir as apostilas, os textos, escritos? No começo, foi mais difícil, com a prática foi

melhorando, como foi?

Liza: Essa é uma tradução muito séria. Então, sempre estou checando, checo com os professores, os

que escreveram.

-O autor do texto de cada apostila?

Liza: Sim, então a gente está sempre em contato, para traduzir da melhor forma.

Eric: Uma dificuldade seria o caso das palavras que não temos em Português, são coisas novas, a

gente tem que olhar outras coisas publicadas, e tentar manter a tradição (da Linhagem dos

ensinamentos) ao mesmo tempo. Às vezes, soa melhor de uma forma, mas os professores nos dizem

que não pode ser assim, "Porque na Kabbalah (Cabala), tem que ser usada essa palavra".

-E vocês ficaram satisfeitos com os textos que traduziram, de modo geral?

Liza: A gente está sempre melhorando, agora a gente está refazendo as apostilas. O trabalho com a

tradução é sem fim, a gente está sempre melhorando o que já fez.

-A gente pode revisar e pode vir uma nova ideia, né? Tem agora aqui, sobre o website, uma questão:

se houve alguma exigência por parte da sede internacional, do pessoal lá de Toronto, para a criação de

50

um website em Português da Escola de Mistérios no Brasil? E se tinha algum prazo definido para isso,

ou não? Disseram se precisava ter um website?

Liza: Não, eles nunca falaram nada. A gente sabe da necessidade de ter um website. Essa é uma

forma como as pessoas "te acham" e é uma forma de você comunicar sua mensagem.

-E por que decidiram solicitar a alguém assistência na prestação de serviços de tradução?

Eric: Por quê? Porque a gente precisava... precisava de ajuda, precisava de alguém profissional.

-Podem dizer se teve a ver com ter sido uma carga grande de trabalho? Ou se teve mais a ver com a

questão do tempo?

Liza: A gente precisava de ajuda porque a gente não tem tempo para fazer tudo que a gente precisa

fazer, e ter a oportunidade de estar trabalhando com alguém em que a gente pode confiar é muito

importante. Porque se não fosse alguém em que eu confiasse, acho que seria difícil passar esse

trabalho para qualquer pessoa.

Eric: Eu tive a oportunidade de trabalhar com a Anna Catharina, no congresso, CONISE, como é que

era mesmo o nome? O Congresso Internacional de Secretariado que teve na UFSC. Aí sua tradução

era muito boa, deu certo então.

-E também, precisava de se conhecer os cursos, saber das coisas para poder traduzir sobre elas. Esse

conhecimento dos conteúdos e da prática, não dava para ser uma pessoa sem esse conhecimento,

sem essa experiência, alguém que traduzisse só com o texto, não dava.

Liza: Sim.

Eric: Sim.

-Vocês ficaram satisfeitos com os textos traduzidos, de modo geral, mas não os textos deste ano, e sim

aqueles primeiros. Algum comentário?

Eric: Ficaram bons.

Liza: Ficaram ótimos. Era o que a gente estava procurando, tecnicamente, quanto à parte de ser

alguém com a experiência dos cursos. É um processo de experiência que acontece dentro da Escola,

esse processo de experiência teve peso.

-Fez alguma diferença ter feito, como tradutora aprendiz, justificativa sobre as escolhas tradutórias, na

hora de revisar e aceitar os textos traduzidos? São aqueles de 2013, tinham comentários nos arquivos

do Word.

Liza: Eu achei importante isso, justificar. Foi mais fácil de a gente entender o que estava se passando

por trás de cada escolha.

-Legal. E agora uma pergunta: notaram um aumento da qualidade dos outros textos traduzidos em

2014 (que não fazem parte desta pesquisa)? Teve muita reflexão entre lá (os primeiros textos) e cá.

Eric: Sim, eu acho que talvez, por causa de ter mais experiência dentro da Escola de Mistérios, como

estudante, por ter mais consciência sobre os conteúdos e a aplicação, pode ter mudado algo e isso

ajuda nas traduções. Não sei se essa é a resposta que você está procurando, mas acho que isso

influencia.

-Sim. Entre lá e cá, eu estive também estudando Teoria da Tradução e descobri que podia melhorar,

descobri muita coisa que podia me ajudar na hora da tradução e de justificar as escolhas. Fora isso,

quanto mais a gente pratica uma coisa, mais a gente pode melhorar.

Eric: Isso é bom, a gente estar crescendo, estar num processo de crescimento.

-Muito obrigada pela entrevista... Depois tenho que passar a transcrição para vocês.

Liza: E se precisar de mais alguma coisa, pode falar com a gente.

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ANEXO B

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ANEXO C