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II Seminário Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010 Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR
ISSN 2178-8200
ANÁLISE DISCURSIVA DA SAGA DE CREPÚSCULO: CINEMA E
LITERATURA
Vicenti, Alana (PG-ESAP)1 Nath, Margareth Aparecida (UNIOESTE)²
RESUMO: A presente pesquisa irá tratar de uma análise do discurso utilizado nas obras da saga de Crepúsculo, de Stephanie Meyer, dos quais irá tratar sobre a linguagem
utilizada, o discurso e sua ideologia histórica e social, o público alvo e o resumo das obras, bem como uma comparação das mesmas na escrita e a atuação no cinema. Serão
utilizados como referência, as obras de José Luiz Fiorin a respeito da ideologia da linguagem e os elementos da análise do discurso. Foi realizada também uma pesquisa de campo em uma turma do segundo ano de ensino médio do Colégio Estadual
Brasmadeira, situado na cidade de Cascavel, Paraná, explicando a preferência dos alunos por obras fictícias e outros critérios. Apresenta também algumas propostas de
como o professor poderá aplicar obras de ficção científica em sala de aula, levando em conta ainda a literatura norte-americana medieval. A ideologia tratada na análise do discurso ocupar-se-á de estudar o histórico da literatura norte-americana e inglesa que se
baseou em clássicos vampirescos e toda sua ideologia histórica, e como a segunda parte da história fala sobre lobisomens, será retratado um resumo histórico a seu respeito
também, bem como apresentação social que a obra traz em geral. PALAVRAS-CHAVE: análise do discurso; ideologia histórica; literatura; cinema;
1 - Introdução
A série Crepúsculo conta a história de uma garota chamada Isabella Swan que
sai da sua cidade natal, Phoenix, e vai morar com seu pai em Forks, uma cidade
pequena, com raros dias ensolarados e muitos dias chuvosos. Matricula-se na única
escola de ensino médio da cidade e, nos primeiros dias, acha tudo que está em sua volta
totalmente tedioso. Até que na aula de biologia, senta-se ao seu lado o bonitão da escola
Edward Cullen, que passa o final da aula olhando-a com pavor. Mais tarde, ela descobre
que está apaixonada por ele, pois percebe que Edward não é um garoto qualquer. Desde
o quase acidente em frente à escola, quando uma van estava deslizando no asfalto
pronta para atingir Isabella e matá-la, Edward empurrou a van em uma força e
velocidade inatingíveis que fizeram a menina notar que ele possuía qualidades
anormais.
1 Pós-graduanda do curso de Educação Especial ESAP Cascavel, Paraná, 2010.
² Professora orientadora e co-autora.
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No decorrer da história, Bella, como preferia ser chamada, descobre que Edward
Cullen é um vampiro que sobrevive de sangue animal, como um humano “vegetariano”,
mas o sangue de Bella é tão atraente para ele que era muito difícil se afastar dela. Além
disso, Edward lia os pensamentos de qualquer pessoa a sua volta, com exceção de Bella.
E isso fazia com que ela se tornasse mais fascinante para ele do que antes.
Bella e Edward começaram a namorar, mas de uma maneira inocente, pois se
Edward se aproximasse muito dela, poderia matá-la, e ele não queria correr esse risco.
Mas, certo dia, Bella foi conhecer a casa dele e sua família e decidiram jogar baseball, e
outros vampiros que andavam pelas redondezas apareceram. Ao descobrir que a família
Cullen estava com uma humana, eles correram para tentar matá-la e se alimentarem do
sangue dela.
Edward correu para salvar a vida de Bella enquanto dois dos vampiros estavam à
caça dela. Eles eram três vampiros, mas um deles, Laurent, desistiu da caça, pois queria
se tornar vegetariano como a família Cullen. Mas os outros dois, Victoria e James, não
desistiram e rastrearam o cheiro da garota. James encontrou Bella em uma sala isolada e
deu uma mordida nela, mas Edward chegou a tempo de salvá-la e tirou o veneno de suas
veias. Os outros membros da família Cullen mataram o vampiro James queimando-o.
Bella ficou triste por Edward ter deixado ela viver como humana, se ele não
tivesse tirado o veneno dela, ela teria se transformado em vampiro e vivido a eternidade
com seus 17 anos. E assim, na continuação da história, que é o livro dois, Lua Nova, ela
faz 18 anos e fica muito triste por estar envelhecendo e Edward sempre com seus 17
anos a mais de um século. Então, para comemorar seu aniversário, os Cullen organizam
uma festa para Bella, mas na hora de abrir um dos presentes, Bella corta o dedo,
espalhando o cheiro de sangue pela casa toda e, Jasper, um dos membros da família, não
suporta o cheiro e inconscientemente tenta matá-la para beber o sangue. Mas Edward o
empurra com força para afastar-se de Bella. Infelizmente até Edward é obrigado a
retirar-se do local, pois o cheiro de sangue o deixava louco de desejo para sugá-lo.
Com esse acontecimento, Edward percebeu que estava colocando a vida de Bella
em perigo demais e resolve despedir-se dela, dizendo que iria deixá-la viver sua vida
como deveria ser, e dizendo que isso seria melhor para ela. A menina entra em profunda
depressão, e só uma pessoa consegue fazer essa tristeza passar por um momento, o
amigo Jacob, filho de Billie Black, que era muito amigo de seu pai, Charlie.
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Jacob vendeu sua caminhonete velha para Bella e era cheio de inspirações para
construir veículos automotivos. Um dia, arrumou duas motocicletas para eles se
divertirem juntos, e por aí foram os dias de Bella para se esquecer de Edward, mas ela
não conseguia deixar de amá-lo, mesmo que Jacob gostasse dela, ela não poderia amá-lo
como amava a Edward.
Certa vez, Bella estava estranhando o jeito de Jacob. Ele não queria sair de casa
e evitava vê-la. Então Bella descobriu que Jacob havia mudado, ele se transformou em
um lobo, ou melhor, o chamado lobisomem. Fazendo crescer rapidamente sua força, seu
corpo e também adquirir uma temperatura corporal acima do normal para um humano.
Jacob sempre sentia calor e quase não usava roupas, devido à transformação repentina
de humano para lobo.
Após conhecer Jacob melhor e ser a melhor amiga dele, Bella resolveu aprontar
a sua. Pulou de um penhasco para cair em um rio e se divertir um pouco, mas acabou
quase morrendo, Jacob foi salvá-la. E isso ficou nas visões de Alice, irmã de Edward
que via o futuro. Quando Alice teve sua visão de Bella pulando o penhasco, Edward
ligou na casa de Charlie para saber se havia acontecido algo com Bella, mas quem
atendeu foi o enciumado Jacob, que quando percebeu a voz de Edward no telefone,
disse que Charlie não estava em casa e que ele havia ido a um funeral.
Edward achou que o funeral que Charlie foi era o funeral de Bella e ficou
desesperado. Dirigiu-se para a Itália e tentou se matar. Mas graças a chegada de Alice
na casa de Bella para avisá-la dos planos de Edward, isso não aconteceu. Bella correu
ao encontro de Edward na Itália e fez ele voltar imediatamente para Forks prometendo
nunca mais deixá-la.
Para continuar essa história, entraremos no livro três, chamado Eclipse. Nesse
livro, Jacob fica triste com a volta de Edward e faz de tudo para ter Bella de volta como
sua amiga que era. Bella faz 19 anos e insiste a Edward que lhe transformasse em
vampira. Ele promete fazer isso com algumas condições: que ela terminasse o colegial e
se matriculasse na universidade, que se casasse com ele e, por último, eles teriam ainda
que combater a vampira Victoria que ainda estava viva e a procura de Bella.
Para combater Victoria, era necessário que os lobos se juntassem aos vampiros,
pois Victoria estava montando um exército de vampiros recém-criados para lutar contra
os Cullens e os lobisomens. Muito treino foi necessário até que eles estivessem
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preparados para lutarem lado a lado. Assim feito, os vampiros destruíram Victoria e seu
exército de vampiros. E ainda, Bella conseguiu que os lobos e os vampiros se tornassem
amigos, fazendo com que Edward pedisse a permissão de Jacob para quebrar o acordo
feito entre os lobos e vampiros: a transformação de um humano em vampiro. Pois era
algo que Bella queria, ser transformada e poder viver eternamente com Edward.
Apesar de Jacob amar Bella, ele cedeu o pedido de Edward, pois era algo que ela
queria muito. E assim, inicia-se o quarto e ultimo livro da saga, Amanhecer.
Bella e Edward se casam, mas ela ainda é humana. E eles vão para a lua de mel
na ilha de Esmee, a mãe adotiva de Edward. Então acontece o inesperado: Bella fica
grávida de Edward, e o pior, a gravidez a fazia mal. Isso fez com que o casal antecipasse
sua volta para casa, onde o doutor Carlisle Cullen, pai adotivo de Edward, cuidasse dela.
Foi necessário muitos cuidados, pois o bebê estava deixando ela cada dia mais fraca,
sem conseguir comer comida, foi necessário beber sangue para sustentar o bebê, que ia
ficando cada vez mais forte e machucando a mãe.
Jacob acompanhou a gravidez de Bella na casa dos Cullen e disse que se algo
acontecesse a Bella, ele mataria os vampiros, especialmente Edward por ter relação
sexual com uma humana, isso foi extremamente perigoso.
Quando estava na hora do parto, Bella iria morrer e, para que isso não
acontecesse, foi necessário transformá-la em vampira, e Carlisle teve que aplicar uma
injeção de veneno de vampiro em seu peito. Assim, a menina “humana-vampira”
nasceu, seu nome era Renesmee, René era o nome da mãe de Bella e Esmee, o nome da
mãe de Edward. Mas após o nascimento, a criança estava crescendo mais rápido que o
normal. E Jacob acabou se apaixonando pela criança, e passou a chamá-la de Nessie.
Mas algo ruim estava para acontecer. Os Volturi, grupo líder de vampiros que vivem na
Itália estavam a caminho para fazer um julgamento referente a este caso, se deveriam ou
não deixar a criança sobreviver.
No final da história, depois de muitas discussões, os Volturi perceberam que não
havia mal algum em deixar Nessie viver, pois ela não era uma ameaça para ninguém e,
aos quinze anos, ela deixaria de continuar a crescer, ou seja, dentro de quatro anos, ela
atingiria a idade adulta e viveria a eternidade junto com Jacob Black, que dali em
diante, viveria feliz também com sua amada Nessie.
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Após este breve resumo da história, será feito uma análise discursiva referente às
obras apresentadas, descrevendo suas ideologias e a quem o discurso foi dirigido. Nota-
se que a série foi dirigida a jovens e adolescentes, entretanto, através dessa análise,
pode-se incluí-la como uma obra para adultos também. É interessante notar que através
desses aspectos, o professor de Língua Portuguesa poderá trabalhar a obra em sala de
aula, e dessa forma, estará agradando seus alunos e possibilitando-os o acesso à leitura
de fruição, ou seja, aquela que se le por prazer, e não é necessário um conhecimento
crítico ou científico, mas esse conhecimento será trabalhado pelo professor que irá
orientá-lo e assim, o aluno vai desenvolvendo aos poucos para aprender a sua análise
crítica de obras clássicas e outras literaturas, como o professor desejar.
2 - Análise Do Discurso
O discurso se constrói em meio a fatos históricos, sociais, políticos e
ideológicos. É uma exposição sobre certo assunto. Influencia no raciocínio ou nos
sentimentos do leitor. Ainda, é o espaço de materialização das formações ideológicas,
sendo por elas determinado. As formações ideológicas são formadas a partir do conceito
que o indivíduo adquire após o estudo histórico e solcial do discurso. É visto como
correspondente à voz de um grupo social. Para conseguir analisá-lo é necessário
observar, primeiramente, suas origens. Analisando as obras de Stephanie Meyer, é
preciso verificar atentamente cada um dos livros da série, bem como os fatores que
levaram a autora a escrever a história.
O discurso são as combinações de elementos lingüísticos (frases ou conjuntos constituídos de muitas frases), usadas pelos falantes com o propósito de exprimir seus pensamentos, de falar do mundo exterior ou de seu mundo interior, de agir sobre o mundo. A fala é a exteriorização psicofísico-fisiológica do discurso. Ela é rigorosamente individual, pois é sempre um eu quem toma a palavra e realiza o ato de exteriorizar o discurso. (FIORIN, 1990, P.11)
O fato de o discurso ser individual faz com que possamos, nesse texto,
compreender melhor a personagem protagonista, pois, o texto é narrado em primeira
pessoa (Isabella Swan), e isso cria um efeito de sentido de subjetividade, pois cria um
ponto de vista pessoal fazendo com que o falante apresente estratégias argumentativas
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para convencer o leitor de suas imagens feitas do interlocutor manipulando-o. Como
exemplo, Bella descreve suas noites de sono em que sonha com Edward deixando o
leitor curioso para o que poderá acontecer depois, como se a cena estivesse acontecendo
com o próprio leitor:
No meu sonho estava muito escuro, e a pouca luz que
havia lá parecia estar vindo da pele de Edward. Eu não conseguia ver ele, só as costas dele enquanto ele andava para longe de mim, me deixando na escuridão. Não
importava o quanto eu corresse, eu não conseguia acompanhá-lo; não importava o quanto eu gritasse por ele,
ele nunca se virava. Confusa, eu acordei no meio da noite e não consegui mais dormir, pelo que pareceu ser um longo tempo. Depois disso, ele estava nos meus sonhos
praticamente toda noite, mas sempre distante, nunca ao meu alcance. (Crepúsculo, 2005, p. 26)
Apesar das obras serem ficcionais, existe a possibilidade de se analisar a
realidade vivida pelos personagens. Pode-se tirar a verdadeira mensagem que se procura
mostrar no decorrer da trama. Isabella é uma menina tímida, comum, que se muda para
uma cidade do interior e acaba se apaixonando por um herói “anti-herói”, que seria o
menino que todas as garotas da escola acham bonito e sabem que é um amor impossível,
mas justamente a menina tímida e novata chama a atenção do herói. Edward é
considerado um anti-herói pelo fato de sua beleza ser um fator essencial para chamar a
atenção dos humanos, atraí-los para o local de perigo e serem “devorados”. Sua beleza é
perigosa.
Olhei meio de lado para o garoto lindo, que agora olhava para a bandeja dele, picando um pãozinho com dedos
pálidos e longos. Seus lábios se moviam rapidamente, seus lábios perfeitos mal se abrindo. (Crepúsculo, 2005, p. 10)
Outro fato ficcional a ser observado é o caso do amigo Jacob. No livro um,
Jacob é somente um conhecido de Bella, um garoto qualquer. Mas a partir do segundo
livro, ele passa a adquirir qualidades incomuns, assim como Edward. Mas apesar de
Jacob ser diferente dos meninos da escola, Bella não consegue substituir o amor que
sente por Edward.
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Eu vacilei. Eu não queria Jacob ou nenhum dos outros
tentando acabar com Victória. Eu olhei para o rosto de Jake; ele estava relaxado, quase o mesmo do qual eu me lembrava antes dessa coisa de lobo, e extremamente
despreocupado com a idéia de caçar vampiros. (Lua Nova, p.155, 2006)
Este fato está ligado com a realidade, obviamente, não pelo fato de Jacob ser um
lobisomem e Edward ser um vampiro, mas sim pela essência de seus personagens.
Se há inversão da realidade, a ideologia está contida no objeto, no social, não podendo, portanto, ser reduzida à consciência. Ela existe independentemente da consciência dos agentes sociais.
É uma forma fenomênica da realidade, que oculta as relações mais profundas e expressa-as de um modo invertido. A inversão
da realidade é a ideologia. (FIORIN, 1990, p.29)
Ao tratar de ideologia, discute-se o papel das classes sociais em um determinado
discurso. A obra é apresentada para diversas classes sociais. Entretanto, observa-se que
Bella é de uma classe social média baixa, enquanto Edward é muito rico. Bella
conseguiu uma caminhonete velha para poder ir à escola, já Edward, possuía um Volvo,
carro do ano, e cada um de seus irmãos tinha um carro top e novo em folha, moravam
em uma mansão e viajavam muito. Não há nenhuma passagem das obras que demonstre
o interesse de Bella pelo poder aquisitivo dos Cullen, mas existem várias passagens
onde o fato de que os Cullen possuíam dinheiro ajudava em muitos aspectos. Como
exemplo, no livro Lua Nova, há um capítulo que descreve Alice dirigindo um Porsche
Turbo, carro de luxo, e ainda dando um maço de dinheiros ao policial italiano para
liberar sua passagem num lugar proibido.
Um Porshe amarelo brilhante nos chamou a atenção á
alguns passos de onde estávamos. A palavra turbo estava pregada em letras prateadas na parte de trás. Todo mundo
além de mim na calçada cheia do aeroporto parou pra olhar. "Corre, Bella!", Alice gritou impacientemente pela janela aberta do passageiro. Eu corrí para a porta e me
joguei pra dentro, sentindo que eu podia muito bem estar usando uma meia clça preta na cabeça. "Nossa, Alice", eu
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reclamei. "Será que você poderia escolher um carro mais
suspeito pra roubar?" O interior era de couro preto, e as janelas eram de fumê escuro. Eu me sentí mais segura do lado de dentro, como se fosse noite. (Lua Nova, p. 202,
2006)
Apesar dos fatos que envolvem dinheiro na história parecerem inocentes para o
leitor, existe a possibilidade de que a leitura ideológica revele o que ocorre na vida real:
a classe dominante é aquela que possui maior poder aquisitivo. Como afirma Fiorin
(1990, p. 32) “Uma formação ideológica deve ser entendida como a visão de mundo de
uma determinada classe social, isto é, um conjunto de representações, de ideias que
revelam a compreensão que uma dada classe tem do mundo.”
Dessa forma, entende-se que não há igualdade social, mas sim a predominância
da classe dominante, a classe burguesa. No primeiro livro, Edward entrega uma grande
quantidade de dinheiro para uma garçonete escolher um local de maior privacidade para
o casal em um restaurante, e com isso, ela arranjou imediatamente.
O restaurante não estava lotado- não era alta estação em
Port Angeles. A maitre era mulher, e eu entendi a expressão no seu olhar enquanto ela assessorava Edward.
Ela o recebeu um pouco mais educadamente do que era necessário. Eu fiquei surpreendida dever o quanto isso me incomodou. Ela era vários centímetros mais alta que eu, e
o louro do cabelo dela não era nem um pouco natural. "Mesa pra dois" A voz dele era fascinante, fosse
intencional ou não. Eu vi ela olhar pra mim e afastar o olhar, obviamente feliz por eu ser tão comum, e pela cautelosa distância que Edward mantinha entre nós. Ela
nos guiou para uma mesa grande o suficiente para quatro pessoas no centro da área mais cheia do restaurante. Eu
estava quase me sentando, quando Edward balançou a cabeça pra mim. "Talvez algo mais particular?" ele insistiu para a maitre. Eu não tinha certeza, mas podia jurar que o
vi dar uma gorjeta na mão dela. Eu nunca tinha visto uma pessoa recusar uma mesa antes, exceto nos filmes antigos.
(Crepúsculo, p. 79, 2005).
Analisando desse modo, o leitor perceberá que a autora do livro pretende
demonstrar que a classe burguesa domina e manipula a classe trabalhadora, pois esta
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necessita do dinheiro daquela para seu consumo, e assim sucessivamente. Fiorin (1990,
p.74) afirma que: “Quando um enunciador reproduz em seu discurso elementos da
formação discursiva dominante, de certa forma, contribui para reforçar as estruturas de
dominação.”
Portanto, mesmo havendo essas aversões entre classe dominante e classe
dominada, não se pode deixar de observar o contexto histórico da obra para melhor
análise da ideologia. Pois (FIORIN,1990, p.77) “O itinerário pelo discurso não se esgota
no interior do próprio discurso, mas se projeta na história. É preciso levar em conta o
intertexto para ler o texto.”
3 - Análise Histórica
A escritora Stephanie Meyer era uma dona de casa de 34 anos. Certa vez, teve
um sonho onde uma garota de 17 anos se apaixona por um vampiro, e assim, Stephanie
cria a saga de livros Crepúsculo, cada um com aproximadamente quinhentas páginas,
com uma linguagem clara e direta, de voz feminina e em primeira pessoa do singular.
A história de vampiros surgiu no século XIX, na literatura inglesa. Mas os
fenômenos fictícios existem há muito tempo, desde a literatura medieval, com o
aparecimento de bruxas e seres mitológicos. Entretanto, os lobisomens existem desde o
século XVII, ou seja, antes da criação dos vampiros, e desde essa época, suas histórias
fictícias fascinam o público jovem e adulto.
Algumas histórias de sucesso com a origem vampiresca foram: "O Estranho de
Um Mundo Perdido" (1956), "A Maldição de Frankeistein" (1957), "O Vampiro da
Noite" (1958), "As noivas do Vampiro" (1960), "Drácula, príncipe das Trevas" (1966) e
"Luxúria de Vampiros” (1940).
O lobisomem foi criado primeiramente para o público infantil, mas até hoje,
muitas religiões espíritas acreditam que ele realmente existe, e constroem até seitas para
recebê-lo. Mas ambos os vampiros e lobisomens são considerados clássicos da literatura
inglesa e norte-americana.
4 - A Quem o Discurso é Dirigido – Formação Discursiva
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A formação discursiva como prática institucional, revela condições de produção
segundo uma série de dispositivos identificáveis. A análise almeja o desmascaramento
das intenções do discurso, conforme desvela seus procedimentos de controle,
provocando modificações nas relações de poder aí articuladas. A série Crepúsculo é
considerada para todos os públicos, tanto crianças quanto jovens e adultos. E atualmente
é considerada uma literatura fictícia, mas poderá tornar-se um clássico literário devido
aos personagens se tratarem de vampiros e lobisomens.
A obra foi escrita em uma linguagem clara, e por isso, torna-se atrativa ao
público jovem quando for necessário trabalhá-la em sala de aula. A primeira obra talvez
não agrade tanto o público masculino, por tratar-se de uma história de amor entre Bella
e Edward. Mas, no segundo livro, ocorrem muitas outras ações e a história começa a
acontecer mais rapidamente, fazendo o público masculino se interessar pela obra, -
principalmente no filme Lua Nova, segundo livro e segundo filme da saga -.
Uma pesquisa de campo foi realizada com os alunos do 2º ano A do Colégio
Estadual Brasmadeira, da cidade de Cascavel, Paraná, para descobrir qual é o tipo de
leitura mais atraente para os alunos, e os resultados foram os seguintes:
A primeira pergunta foi a freqüência de leitura dos alunos, sendo que a maioria
deles respondeu que só têm o hábito de ler quando é obrigado, ou quando o professor
exige a leitura para algum trabalho avaliativo, caso contrário, nunca leem. Já na segunda
pergunta, descobre-se que os adolescentes preferem livros de ficção quando forem
escolher uma obra – isso soma pontos para o professor na hora de incentivar o aluno à
leitura -. E, por incrível que pareça, a próxima pergunta era se eles preferem ler o
resumo ou a obra integral, e a maioria prefere a obra integral – se o assunto lhes
interessar - se não, eles leem o resumo – normalmente o resumo é optado quando o livro
é escolhido pela professora - .
Com relação à quarta pergunta, se eles gostam de ler, obteve-se um empate entre
sim e não. Na quinta questão era para explicar o motivo do desgosto da leitura, e a
maioria dos alunos responderam que têm indisposição para ler, principalmente os livros
que não lhes interessam. Já na sexta pergunta, foi pedido aos alunos que sugerissem
algum livro que lhes havia despertado algum interesse, e muitos alunos colocaram
clássicos de literatura, livros de histórias em quadrinhos e ficção.
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Não basta recomendar que o aluno leia atentamente o texto muitas vezes, é preciso mostrar o que é que se deve
observar nele. A sensibilidade não é um dom inato, mas algo que se cultiva e se desenvolve. (...) É preciso ensinar-lhes a gramática do discurso, para que eles possam, com
mais eficácia, interpretar e redigir textos. (FIORIN, 1996, p.03)
Como afirma Fiorin, o professor precisa trabalhar a obra com seus alunos de
uma forma que irá contribuir para seu desenvolvimento argumentativo, irá melhorar sua
forma de escrita, não somente na questão gramatical, mas irá ajudá-lo a fazer uma
análise completa de uma obra, que, talvez não seja de um assunto de seu contexto
social, mas pode treiná-lo para melhorar nesses aspectos e, quando for analisar um texto
científico, ou de outro gênero, saiba expor suas ideias, argumentos e posições.
5 - Considerações Finais
Tendo em vista os aspectos apresentados nesta pesquisa, os livros de Stephanie
Meyer foram criados talvez com o intuito de mostrar uma história de amor entre uma
garota humana e o vampiro, parecendo algo inocente. Entretanto, ao analisar o contexto
histórico e ideológico dessa história, existem muitos acontecimentos que podem
questionar o leitor sobre seu lugar na sociedade, ou até mesmo a que público o
interlocutor teve o interesse?
Levando-se em consideração que Edward Cullen é uma pessoa da alta classe
social, e Bella, uma garota simples e desajeitada, pode criar um mistério para pessoas
adolescentes, pois, ao ler o primeiro livro da série, o jovem coloca-se no lugar do
personagem e acaba se tornando sua realidade, ou pelo menos tenta criá-la. E, com isso,
o desejo do adolescente de continuar lendo os próximos livros ou assistindo os
próximos filmes tende a crescer e fazer com que o professor utilize como chave para
iniciar seus estudos literários e de análise argumentativa de um texto com seus alunos.
É preciso incentivar o aluno à leitura, pois é com ela que seu texto melhorará. A
maior dificuldade para o professor é encontrar uma ferramenta que possa contribuir para
que o aluno inicie o hábito de leitura. Então, o professor deve iniciar pelos livros que
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mais chamem atenção do aluno, que tenham a ver com sua realidade e que trabalhem
com a imaginação. Após conquistar esse hábito do aluno, o professor poderá começar a
trabalhar com textos que trarão os argumentos dos alunos. Mas, o importante no início,
é ter calma e cautela ao preparar seu aluno para que tenha o hábito de ler, após esse
passo, o professor aprenderá como praticar os argumentos através da leitura que o aluno
fez de obras de maior porte literário.
Referências
FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. 6ª ed. São Paulo: Contexto,
1996. FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ática, 1990.
MEYER, S. Crepúsculo. Nova York: Intrínseca, 2005.
MEYER, S. Lua Nova. Nova York: Intrínseca, 2006.
MEYER, S. Eclipse. Nova York: Intrínseca, 2007
MEYER, S. Amanhecer. Nova York: Intrínseca, 2008.