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ANÁLISE DAS POLÍTICAS EXTERNAS DA ARGENTINA E DO BRASIL
EM RELAÇÃO À ALEMANHA, À ITÁLIA E AOS ESTADOS UNIDOS DA
AMÉRICA DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
(1939-1945)
Jorge Luiz P. Ferrer
DRE: 109.001.923
Rio de Janeiro, 2014.
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Trabalho apresentado à Banca Final de Tese
de Doutorado do Programa de Pós-
Graduação em História Comparada da
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
formada pelos Professores Doutores
Alexander Zhebit (orientador), Francisco
Carlos Teixeira da Silva, Wagner Pinheiro
Pereira, Maria Celina Soares D’Araújo e
Vágner Camilo Alves.
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FICHA CATALOGRÁFICA
FERRER, Jorge Luiz Pereira
Rio de Janeiro, 2013
ANÁLISE DAS POLÍTICAS EXTERNAS DA ARGENTINA E DO BRASIL EM RELAÇÃO À
ALEMANHA, À ITÁLIA E AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA DURANTE A SEGUNDA
GUERRA MUNDIAL (1939-1945)
Tese – Universidade Federal do Rio de Janeiro – Instituto de História - Programa de Pós
Graduação em História Comparada, 2013.
Orientador: Alexander Zhebit
1. História das Relações Internacionais 2. Pan-americanismo 3. Política Externa Comparada 4.
Política Externa da Argentina 5. Política Externa do Brasil 6. Segunda Guerra Mundial.
I - Zhebit, Alexander.
II – Teses, Universidade do Rio de Janeiro - Instituto de História – Programa de
Pós Graduação em História Comparada. III – Título.
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Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ - Instituto de História/IH
Programa de Pós-graduação em História Comparada/PPGHC
TÍTULO DA TESE
ANÁLISE DAS POLÍTICAS EXTERNAS DA ARGENTINA E DO BRASIL EM
RELAÇÃO À ALEMANHA, À ITÁLIA A AOS ESTADOS UNIDOS DURANTE A
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1939-1945)
TESE DE DOUTORADO ELABORADA POR Jorge Luiz Pereira Ferrer
DRE: 109.001.923
BANCA EXAMINADORA __________________________________________________________________
Prof. Dr. Alexander Zhebit (Orientador – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ)
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Francisco Carlos Teixeira da Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro – PPGHC/UFRJ)
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Wagner Pinheiro Pereira (Universidade Federal do Rio de Janeiro – PPGHC/UFRJ)
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Vágner Camilo Alves (Universidade Federal Fluminense – PPGEST/UFF)
__________________________________________________________________
Prof. Dra. Maria Celina Soares D’Araujo (Pontifícia Universidade Católica – PPGCS/PUC)
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Ivo José de Aquino Coser (Universidade Federal do Rio de Janeiro – PPGHC/UFRJ)
_________________________________________________________________
Prof. Dr. Jorge Calvário dos Santos (Universidade Federal Fluminense – PPGEST/UFF)
RIO DE JANEIRO, DEZEMBRO 2013
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“Para cada Estado, a guerra é sempre incessante e
perpétua contra qualquer outro Estado... Pois aquilo que
a maioria dos homens chama de “Paz” na verdade é só
um nome – na verdade, todos os Estados, por sua
própria natureza, estão sempre travando uma guerra
informal contra todos os outros Estados”.
- Platão
“Certo dia, o Presidente Roosevelt disse-me que estava
pedindo sugestões, publicamente, sobre como se
deveria chamar esta guerra. Retruquei de pronto: “a
Guerra Desnecessária”. Nunca houve guerra mais fácil
de impedir do que esta que acaba de destroçar o que
restava do mundo após o conflito anterior”.
- Winston Churchill
“A política é o ventre do qual a guerra se origina, em que
os caracteres principais da guerra jazem em um estado
rudimentar, como as qualidades dos seres vivos nos
seus embriões.”
- Karl von Clausewitz
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AGRADECIMENTOS
A Deus, por mais essa oportunidade, evento bastante raro, em um país de milhões de
excluídos.
Ao Dr. Alexander Zhebit, pela orientação clara e objetiva para que esse trabalho pudesse
ser realizado, colocando esse aluno, algumas vezes rebelde, na direção correta, na
construção de uma tese pragmática e rica em informações diplomáticas. Agradeço a
tolerância e a paciência, podendo afirmar, com muito apreço, que mais que um professor
se transformou em um grande amigo.
Ao Dr. Francisco Carlos Teixeira da Silva, pelo incentivo constante e por ter sido a causa
deste doutorando, capacitando um aluno oriundo de outra área de atuação (Arquitetura)
a realizar um sonho de se transformar em um pesquisador sobre a Segunda Guerra
Mundial.
Aos Funcionários do Arquivo Histórico do Itamaraty (Rio de Janeiro), José Luiz Miranda,
Roseana Rigas Martins e Sebastião Machado, sempre prestativos e empenhados em
auxiliar-me na procura de documentos importantes para a realização deste trabalho e,
sem os quais, não poderia realizar essa tese de Doutorado. Minha gratidão por eles será
inesquecível.
Aos Funcionários do Arquivo Histórico da Chancelaria do Ministério das Relações
Exteriores e Culto da Argentina (Buenos Aires), Alba Lombardi, Belén Sánchez, Laura
Assali e Martin Di Bartolo, que foram sempre solícitos e simpáticos, me orientando na
pesquisa dos arquivos sobre a Segunda Guerra Mundial.
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Ao meu grande amigo, Ricardo Cabral, que sempre apoiou e incentivou essa pesquisa,
uma pessoa por quem eu sempre guardarei uma eterna gratidão.
À Márcia Lemos e à Prof. Dra. Gracilda Alves, pelo auxílio e ajuda a todos os doutorandos
do Programa de Pós-Graduação de História Comparada (PPGHC–UFRJ).
À minha gatinha Florzinha, que ficou sempre ao meu lado durante todo o processo de
elaboração desta tese, inclusive, utilizando o teclado do computador para digitar algumas
de suas ideias, no intuito de engrandecer este trabalho.
À minha amada esposa, pelo seu incentivo, apoio e companheirismo, proporcionando-
me uma força hercúlea para a realização deste trabalho.
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RESUMO
Esta tese de doutorado analisa, comparativamente, as políticas externas da
Argentina e do Brasil em relação aos Países Europeus do Eixo (Alemanha e Itália) e aos
Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. A política argentina de neutralidade
ocasionou uma forte oposição dos EUA, que produziu uma série de represálias políticas
e comerciais contra o Governo Argentino, principalmente, quando os militares
nacionalistas argentinos resolveram buscar apoio nos regimes fascistas europeus, na
tentativa de recuperar a sua hegemonia regional, perdida com o pan-americanismo,
liderado pelos EUA. No caso do Brasil, por causa da importância estratégica do nordeste
brasileiro e, com a possibilidade de conseguir investimentos para a construção de uma
siderúrgica, que levaria, no futuro, ao surgimento de uma política desenvolvimentista no
país, o Governo Brasileiro optou pelo pan-americanismo. Esta opção política de se aliar
aos EUA acarretou o rompimento de relações diplomáticas e, posteriormente, na
declaração de guerra às Potências do Eixo. Dessa forma, esta tese apresenta os
interesses e as motivações por trás das decisões políticas que contribuíram para que o
Brasil tomasse o partido dos aliados durante a guerra, e a Argentina mantivesse uma
posição de neutralidade, até quase o final do conflito.
Palavras-chave: História de Relações Internacionais, Política Externa Comparada, Pan-
americanismo, Política Externa do Brasil, Política Externa da Argentina, Segunda Guerra
Mundial.
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ABSTRACT
This thesis examines, comparatively, the foreign policies of Argentina and
Brazil, regarding the European Countries of the Axis (Germany and Italy) and the United
States during World War II. The Argentine political neutrality caused a strong U.S.
opposition, which produced a series of political and commercial reprisals against the
Argentine Government, especially when the military nationalists in Argentina decided to
seek support from the fascist regimes in Europe, in an attempt to regain its regional
hegemony, lost with the pan-Americanism pursued by the USA. In Brazil's case, because
of the strategic importance of the Brazilian Northeast, and with the possibility of getting
investments to build a steel plant, which would allow, in the future, the emergence of a
developmental policy in the country, the Brazilian Government decided in favour of pan-
Americanism. This policy option to ally with the U.S. resulted in the rupture of diplomatic
relations and, subsequently, in the declaration of war on the Axis Powers. Thus, this thesis
presents the interests and motivations behind the policy decisions that contributed so that
Brazil took sides with the allies during the war, and Argentina maintained a position of
neutrality, until almost the end of the conflict.
Keywords: History of International Relations, Comparative Foreign Policy, Pan-
Americanism, Foreign Policy of Brazil, Argentina's Foreign Policy, World War II.
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LISTA DE ABREVIATURAS
ABWEHR Serviço Secreto Militar Alemão
AIB Ação Integralista Brasileira
AHI Arquivo Histórico do Itamaraty
ANVIL Nome código da invasão do sul da França
ASKI Auslander Sonderkonto für Inlandszahlungen (Conta Especial do Estrangeiro para Pagamentos Internos)
CIAA Comisión de Investigación de las Actividades Anti-argentinas (Comissão de Investigação das Atividades Anti-argentinas)
DAF Deutsche Arbeits-Front (Frente de Trabalho Alemã)
DIP Departamento de Imprensa e Propaganda
DRAGOON Nome código da invasão do sul da França
EUA Estados Unidos da América
FAB Força Aérea Brasileira
FBI Federal Bureau of Investigation
FEB Força Expedicionária Brasileira
GESTAPO Geheimestaatspolizei (Polícia Secreta Federal)
GOU Grupo de Oficiais Unidos ou Grupo de Ordem e Unidade
ITAMARATY Ministério de Relações Exteriores do Brasil
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MAGIC Grupo de criptógrafos norte-americanos que decifravam mensagens secretas do inimigo
MNS Movimento Nacional Socialista Chileno
MRE Ministério das Relações Exteriores do Brasil
MREC Ministerio das Relaciones Exteriores y Culto da Argentina
NSDAP Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (Partido Nacional Socialista Alemão)
ONU Organização das Nações Unidas
OVERLORD Nome código da invasão da Normandia – França
PAA Pan-American Airways
PBV Política da Boa Vizinhança
PURPLE Nome do Código Naval Japonês (NJ-25)
RAF Royal Air Force (Força Aérea da Grã-Bretanha)
SLC Standing Committee Liaison (Comitê de Apoio e Incentivo Cultural à América Latina)
SS Schutzstaffeln (Tropas de Choque)
SD Sicherheitsdienst (Serviço de Inteligência do NSDAP)
TOM Teatro de Operações do Mediterrâneo
U-BOATS Submarinos alemães
ULTRA Grupo de criptógrafos britânicos que decifravam mensagens secretas do inimigo
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SUMÁRIO
Introdução 15
1º Capítulo. Brasil: Adesão ao Pan-americanismo como Opção de Política Externa
37
1.1. Política de Solidariedade Continental 38
1.2. Aproximação com os EUA 42
1.3. Neutralidade Continental 48
1.4. Oposição dos EUA e do Brasil à Proposta de “Não Beligerância” da Argentina
Argentina
53
1.5. A Unidade Pan-americana 56
1.6. Ruptura das Relações Diplomáticas com as Potências do Eixo 61
1.7. A Retaliação das Potências do Eixo 66
1.8. Declaração de Guerra às Potências do Eixo 67
1.9. Apoio Definitivo ao Pan-americanismo 69
1.10. Conclusões Parciais
77
2º Capítulo. Brasil: Relação Conflituosa com as Potências do Eixo 81
2.1. Cerceamento das Atividades Estrangeiras no Brasil 82
2.2. Crise diplomática com a Alemanha e Troca de Embaixadores 87
2.3. Golpe Integralista e Crise Diplomática com a Itália 90
2.4. Neutralidade e Criação de uma Zona de Segurança Continental de 300 milhas 93
2.5.Crise com a Grã-Bretanha por causa de Material Bélico Comprado na Alemanha 94
2.6. Política de Defesa Continental e Atitude Belicosa Norte-americana 97
2.7. Brasil Rompe Relações com as Potências do Eixo 103
2.8. Começam as Represálias das Potências do Eixo 104
2.9. Brasil Declara Guerra às Potências do Eixo 113
2.10. Criação da força Expedicionária Brasileira 115
2.11. Conclusões Parciais 122
3º Capítulo. Argentina: Política de Neutralidade Contrária à Política de Solidariedade Norte-americana
125
3.1. Política de Neutralidade 126
3.2. Mudança para a Política de “Não Beligerância” 133
3.3. Cooperação Militar em Defesa do Continente 135
13
3.4. Defesa das Colônias Europeias no Continente (Havana) 137
3.5. Argentina Fora do Programa “Lend and Lease” 140
3.6. Argentina e Chile Mantêm a Neutralidade 144
3.7. Pressão dos EUA contra a Argentina e o Chile 149
3.8. O Golpe dos Militares Nacionalistas 154
3.9. Ruptura e Reaproximação com os EUA 163
3.10. Conclusões Parciais 165
4º Capítulo. Argentina: Envolvimento com as Potências do Eixo 168
4.1. Atividades das Potências do Eixo na Argentina e Reação do Governo 169
4.2. Atividades Fascistas na Argentina 174
4.3. Incidentes com a Marinha Alemã 186
4.4. Alemanha Contesta o Pan-americanismo 195
4.5. Aproximação com a Alemanha 203
4.6. Argentina Rompe Relações com as Potências do Eixo 209
4.7. Conclusões Parciais 211
Considerações Finais 213
Referências 225
Fontes Oficiais 225
1) Ministério das relações Exteriores do Brasil (MRE) – Arquivo Histórico do Itamaraty (AHI)
225
2) Ministerio de relaciones Exteriores y Culto de la República Argentina (MREC) – Archivo Histórico de Cancillería – División Asuntos Políticos (DAP)
225
3) Ministério das Relações exteriores do Brasil – Imprensa Nacional 225
4) Arquivo Nacional – Atas Sessões do Conselho de Segurança Nacional (CSN) 226
5) Relação dos Telegramas Utilizados na Pesquisa 226
Capítulo Nº 1 226
Capítulo Nº 2 243
Capítulo Nº 3 265
Capítulo Nº 4 276
Referências Bibliográficas 298
Referências Bibliográficas de Apoio 303
14
Trabalhos do Autor Publicados sobre o Tema 310
Referências de Meios Eletrônicos 311
Lista de Tabelas 313
Anexos 314
15
INTRODUÇÃO:
A Segunda Guerra Mundial foi a maior catástrofe do século XX, causando a
morte de dezenas de milhões de pessoas (± 60 milhões), afetando um grande número
de países de várias regiões do planeta. Os Países Latino-americanos procuraram,
através de uma política de neutralidade continental, se isolar das consequências nocivas
da guerra, mas com o prolongamento da mesma, acabaram sendo envolvidos, muitas
vezes, de uma maneira indireta, no turbilhão que arrastou os EUA para o conflito, com o
ataque da Marinha Japonesa ao Havaí e as declarações de guerra da Alemanha e Itália.
Esta tese faz uma análise comparativa das relações diplomáticas da Argentina e do
Brasil, nesse momento tão complexo, com as Potências Europeias do Eixo e os EUA, na
busca de soluções capazes de diminuírem os reflexos da guerra, seja através de uma
política de neutralidade como a da Argentina, ou apoiando o pan-americanismo,
conforme o Brasil, como forma de obter apoio político, econômico e militar para que o
país pudesse superar seus problemas internos e participasse da guerra contra as
Potências do Eixo.
DISCUSSÃO HISTORIOGRÁFICA:
A importância fundamental da política interna nas posições tomadas por
Argentina e Brasil, em suas decisões externas, mostrou que as Instituições de Poder
(Governos) eram, naquele momento histórico, as principais representações políticas nas
relações internacionais. As necessidades internas ditavam as regras e um estudo
comparativo entre as demandas argentinas e brasileiras mostrou que tipo de política
externa esses países acabaram adotando durante a guerra. No início, a neutralidade foi
o posicionamento adequado, de ambos os países, para a defesa do continente e de suas
respectivas soberanias. Com a guerra se alastrando, as políticas externas da Argentina
e do Brasil tomam rumos diferentes, principalmente, por razões históricas e econômicas,
com a Argentina adotando a política universalista e o Brasil se posicionando ao lado do
pan-americanismo. Com as disposições aprovadas nas Conferências dos Ministros das
Relações Exteriores Americanos, esse hiato político, entre eles, se acentuou, com os
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Governos Argentinos (civil e militar) apostando na vitória das Potências do Eixo e o
Governo Vargas se colocando ao lado dos EUA em defesa do continente americano.
Com a derrocada das Potências do Eixo, seus interesses internos voltaram a ter a mesma
perspectiva política, com ambos os países participando das Nações Unidas.
A Argentina optou pela política de neutralidade, como uma medida de proteção
aos seus interesses políticos e comerciais, que exigiam a necessidade de manter livre e
desimpedido o comércio com a Europa, onde seus dois principais parceiros comerciais,
a Alemanha e a Grã-Bretanha, estavam em estado de beligerância. Podemos assinalar
que, durante toda a guerra, alemães e britânicos aplicaram um acordo tácito, que impedia
que navios, com bandeira argentina, fossem atacados pelas suas respectivas marinhas
de guerra. BANDEIRA (2003) e PARADISO (2005) assinalam que, naquele momento,
havia uma convergência entre os interesses comerciais de britânicos e alemães pela
manutenção do fluxo de produtos argentinos (cereais e carne congelada) para as suas
economias de guerra. Esses dois pesquisadores enfatizam que o posicionamento
universalista do Governo Argentino com relação à Europa estava baseado,
principalmente, na sua necessidade econômica em detrimento de seus compromissos
políticos. Entretanto, PAZ & FERRARI (1971) atestam que a ligação afetiva com o velho
continente era proveniente das raízes europeias da Argentina, descoberta e colonizada
por espanhóis e com uma expressiva colônia de imigrantes italianos, espanhóis e
alemães. Os autores entendem que a Argentina tinha uma relação muito mais cordial
com a Europa do que com seus vizinhos de língua espanhola. Uma dissonância entre
estas posições leva-nos a questionar a visão economicista de BANDEIRA e PARADISO.
Nossa posição está mais próxima da ideia que ressalta a importância do mercado
europeu, mas entende que o vínculo com os povos da Europa supera a necessidade
econômica do Governo Argentino.
Com a guerra se estendendo por toda a Europa, o Governo de Roberto Ortíz
(1938-1940) procurou modificar sua política externa, adotando o estado de “não
beligerância” contra as Potências do Eixo, revoltado com a invasão alemã da Dinamarca
e Noruega, sem aviso prévio. Ortíz sentiu que a neutralidade não garantia uma posição
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segura e equidistante do conflito e, ao procurar ajuda dos EUA, ficou decepcionado com
a recusa do Departamento de Estado Norte-Americano. PAZ & FERRARI (1971),
PARADISO (2005) e HILTON (1994) afirmam que, até esse momento (04/1940), os
Governos Argentino e Norte-Americano caminhavam em perfeita sintonia, mas por causa
da situação política interna dos EUA, com o Presidente Roosevelt tentando concorrer a
um novo mandato presidencial (terceiro), era necessário que ele se utilizasse de certa
cautela, em virtude da presença de um forte grupo isolacionista que existia no Congresso
e na opinião pública norte-americana, contrários a qualquer intervenção dos EUA na
guerra. GERSON MOURA (2012) enfatiza que Roosevelt, depois de reeleito, passou a
apoiar a política de “não beligerância”, mas acabou mantendo sua política de
solidariedade pan-americana, por achar que os EUA não estavam preparados para
confrontar a Alemanha. BANDEIRA (2006) descreve que o Governo Norte-Americano,
além de iniciar um vasto programa financeiro para a fabricação de equipamentos
militares, violou diversas vezes a neutralidade, patrulhando as rotas que levavam
mercantes com suprimentos norte-americanos para a Inglaterra e, posteriormente,
atacando submarinos das Potências do Eixo, sem ter feito qualquer declaração de guerra.
Esses atos de agressão aos submersíveis das Potências do Eixo são facilmente
detectados nos telegramas do Embaixador Brasileiro vindos de Washington, relatando,
inclusive, as reações do Presidente Roosevelt quando navios norte-americanos eram
atingidos. É de consenso de todos os autores que pretendemos verificar, com base em
documentos originais e opiniões posteriores, que a recusa dos EUA enfraqueceu o
Governo Ortíz e, após a sua renúncia, por problemas de saúde, fortaleceu o grupo
germanófilo entre os políticos e militares argentinos.
O Vice-Presidente Ramón Castillo substituiu o combalido Ortíz e, temendo que
as forças nacionalistas, contrárias aos aliados, assumissem o governo, resolveu se aliar
aos militares para permanecer no poder. Inclusive flertou com a Alemanha, buscando
uma alternativa contra as pressões norte-americanas, após seu governo não aceitar
romper relações com as Potências do Eixo na Conferência do Rio de Janeiro. DONGHI
(2004) e FAUSTO & DEVOTO (2004) enfatizam a impossibilidade de sobrevivência da
República Argentina diante de tantas correntes divergentes no meio político e militar. Eles
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alegam que os governos civis, apesar das promessas, continuavam a utilizar a fraude
eleitoral para se elegerem, ocasionando desconfianças e fissuras com a oposição e os
militares. Os militares estavam muito divididos entre apoiar os aliados e as Potências
Europeias do Eixo, o que ficou evidente durante o golpe de 43 (04/06/1943). FAUSTO &
DEVOTO declaram que, a partir de outubro de 1943, os oficiais germanófilos haviam
vencido a disputa pelo poder, apesar de não existir nenhum projeto institucional que não
fosse, somente, a tomada do poder por um longo período, criando um regime autoritário.
BANDEIRA (2003) concorda com essa posição, informando que a derrubada do
Presidente Castillo foi a forma que os militares nacionalistas encontraram para a
manutenção da sua hegemonia regional, criando uma política contrária aos interesses
dos EUA no sul do continente latino-americano.
Para manter esse poder, os oficiais nacionalistas precisavam de equipamentos
militares para enfrentar o crescimento regional do Brasil e a hegemonia continental dos
EUA. Diante da negativa da Alemanha em fornecê-los, por se encontrar debilitada e
necessitando de todas as armas que sua indústria bélica fabricava, os militares
argentinos se sentiram fragilizados e resolveram intensificar sua indústria bélica, na
tentativa de fazer um contraponto contra o grande fornecimento de armas norte-
americanas para o Brasil. O Governo Argentino viu sua soberania ameaçada com a
presença da 4ª Frota Norte-Americana em Montevidéu (03/1944) que, segundo
BANDEIRA (2003), com a autorização do Departamento de Estado Norte-Americano,
tinha como finalidade o bloqueio total do Rio da Prata. Esse procedimento acarretaria em
um conflito armado entre os EUA e a Argentina, porém com a negativa do Brasil de
participar de tão tresloucada intervenção, o plano foi abortado. BANDEIRA afirma que o
Presidente Vargas e o Ministro Aranha não apoiaram a proposta do Departamento de
Estado Norte-Americano e, com uma política independente de apaziguamento,
conseguiram que os EUA arrefecessem sua política coercitiva contra o Governo de
Farrell. HILTON (1994) vai mais além ao afirmar que Aranha era contra as ações
coercitivas provenientes do Departamento de Estado Norte-Americano, que só levavam
o Governo Argentino para os braços do fascismo europeu. McCANN (1995) destaca a
preocupação do Brasil e dos EUA sobre uma possível tentativa dos militares argentinos
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em reconstruir o Vice-Reinado do Prata sob sua esfera de influência, teoria que
contestamos por considerá-la mais como uma panaceia encontrada pelos agentes
políticos da época para destacar o perigo das intenções propostas pelos militares
nacionalistas argentinos.
Com a guerra chegando ao seu final na Europa, com a invasão da Alemanha
por vários exércitos aliados (1945), o Governo Argentino resolveu mudar de atitude,
assinalando que a continuação da política de neutralidade levaria o país ao isolamento
total, tanto na América, quanto na impossibilidade de participar das Nações Unidas.
ROMERO (2006), HILTON (1994), FAUSTO & DEVOTO (2004) e McCANN (1995)
afirmam que o Governo Argentino mudou sua política externa quando recebeu o apoio
de todos os Países Latino-Americanos, para que revertesse sua política externa e
declarasse guerra às Potências do Eixo, assinando, posteriormente, a Ata da Conferência
de Chapultepec (México), fato facilmente esclarecido pelos documentos encontrados no
Ministério de Relações Exteriores da Argentina. O Governo Farrell declarou guerra aos
Países do Eixo (27/03/1945), alegando a presença de agentes fascistas em território
argentino, apoiados e financiados pela embaixada alemã. Essa atitude de retornar ao
convívio da política de solidariedade pan-americana ocasionou uma nova postura do
Departamento de Estado Norte-Americano, que sinalizou uma reaproximação política e
comercial, dando condições para que a Argentina pudesse participar da Conferência de
São Francisco (Nações Unidas). FAUSTO & DEVOTO acham que as elites argentinas,
após o final do conflito, iriam repudiar a política externa de neutralidade argentina durante
a guerra, que afastou os investimentos norte-americanos para manter uma aliança pouco
confiável com a Grã-Bretanha. Alegavam que, enquanto o Brasil se beneficiou com a
adoção do pan-americanismo, a política de neutralidade argentina contribuiu muito pouco
para as necessidades internas e, até mesmo, em uma melhor imagem do país no
contexto da política continental e mundial.
O Brasil, inicialmente, como todos os Países da América Latina, buscou, na
política de neutralidade, uma maneira de escapar das agruras de um conflito armado das
proporções que foi a Segunda Guerra Mundial. GERSON MOURA (1980,2012) salienta
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que, enquanto neutro, o país continuava mantendo a sua política de “equilíbrio
pragmático” com a Alemanha e os EUA, executada pelo Governo Vargas durante toda a
década de 30, principalmente na área comercial. Segundo MOURA, essa política
consistia em uma forma de o Brasil se beneficiar de acordos comerciais, políticos e
militares, tanto com a Alemanha como com os EUA, adquirindo benesses dessas duas
grandes potências que, naquele momento, precisavam adquirir matérias-primas para as
suas indústrias bélicas. VÁGNER CAMILO ALVES (2002) faz uma análise mais
aprofundada dessa política pragmática e contesta a capacidade do Brasil, um país
subdesenvolvido, se tornar o elo fundamental nas relações com a Alemanha e os EUA.
Seus sérios problemas sociais, econômicos e financeiros faziam o Brasil totalmente
dependente dos EUA, a potência hegemônica do continente, postura adotada por
HILTON (1994) e McCANN (1995) em seus trabalhos sobre a política brasileira da época.
É importante ressaltar que MOURA, em outra obra mais moderna (1991), fez uma
reavaliação da política externa brasileira, colocando um peso maior nas relações políticas
das duas grandes potências (Alemanha e EUA). GERSON MOURA (1991, 2012) enfatiza
que o Presidente Vargas era favorável à política de solidariedade pan-americana, porque
precisava de armamento moderno para as suas Forças Armadas e aporte financeiro para
iniciar uma política desenvolvimentista no país, sabendo que só os EUA, principalmente
após o início do conflito, seria capaz de financiar.
Entretanto, ALTEMANI (2005) assinala que o Governo Brasileiro, ao se alinhar
com a política de solidariedade pan-americana, levou o país a participar, intensamente,
do conflito que tanto quis evitar. Ele destaca que o Presidente Vargas tinha plena
consciência disso, quando permitiu que bases norte-americanas fossem instaladas no
saliente nordestino (05/1941), e que ficou mais comprometido, ainda, quando recebeu
aporte financeiro para a instalação de uma siderúrgica em Volta Redonda, acordos
comerciais importantes e equipamento militar, através do sistema “Lend and Lease”, para
equipar as suas três forças militares. HILTON (1994) e McCANN (1995) concordam com
essa posição e vão mais além, afirmando que o Governo Brasileiro foi obrigado a se
decidir definitivamente pelo pan-americanismo, quando os EUA entraram na guerra
(12/1941). O Brasil passou a exercer uma política de “falsa neutralidade”, pois do solo
21
brasileiro saíam belonaves e aviões norte-americanos que atacavam barcos corsários e
submarinos das Potências do Eixo, no Atlântico Sul, além de permitir que bombardeiros
norte-americanos fizessem escala em Natal, antes de se dirigirem para a África e o
Pacífico. Outros autores (AMADO CERVO, CASTELLO BRANCO, CLODOALDO
BUENO, GERSON MOURA, HILTON, McCANN, MONIZ BANDEIRA, VÁGNER CAMILO
ALVES) são unânimes em afirmar que a instalação de uma grande base aérea e o trânsito
de contingentes militares dos EUA no saliente nordestino, ponto mais próximo do
continente africano, foi a razão do benefício outorgado pelos EUA ao Brasil, sob a forma
de investimento para a construção de uma usina siderúrgica, em retribuição pelo uso do
território brasileiro. BANDEIRA (1978) destaca, com muita propriedade, que os EUA
pagaram um preço muito barato, financiando as necessidades brasileiras em troca de
bases navais e aéreas em solo brasileiro. Uma invasão do território brasileiro, segundo
ele, acarretaria um custo incalculável de vindas e uma grave crise política no continente.
Quando os EUA, já beligerante, propuseram aos Países Latino-Americanos que
rompessem com as Potências do Eixo, o Brasil acatou essa política e,
consequentemente, começou a sofrer as primeiras represálias de submarinos alemães e
italianos. FAUSTO & DEVOTO (2004) declaram que essa opção de ruptura do Governo
Vargas não tinha nenhum viés ideológico e, sim, um faro político, apesar de os aliados,
naquele momento, não mostrarem supremacia sobre as Potências do Eixo, fato
confirmado na ata da Quinta Reunião do Conselho de Segurança Nacional (01/42).
GERSON MOURA (2012) diz que o Governo Brasileiro decidiu definitivamente apoiar os
EUA, rompendo com a política de “equidistância pragmática” que vinha utilizando até o
final de 1941, posicionamento idêntico apresentado por ALTEMANI (2005). HILTON
(1994), McCANN (1995) e CERVO & BUENO (2002) concordam que, enquanto os
Chanceleres discutiam as resoluções na Conferência do Rio de Janeiro, os
Embaixadores das Potências do Eixo enviavam cartas separadas com ameaças para
Aranha, informando que a ruptura de relações poderia acarretar um estado de guerra
latente entre seus países contra o Brasil. Navios brasileiros começaram a ser caçados
em várias partes do mundo, principalmente próximos da costa norte-americana que, até
aquele momento, estava totalmente desguarnecida. Os historiadores brasilianistas
22
descrevem que o alinhamento com os EUA levou, imediatamente, à entrada do Brasil na
guerra, com os afundamentos de navios de cabotagem nas costas da Bahia e Sergipe,
com mais de seiscentos mortos, muitos deles mulheres e crianças. GERSON MOURA
(2012) apresenta esse mesmo viés analítico ao destacar que o envolvimento do Brasil,
com o esforço de guerra norte-americano, levou ao confronto direto com os submarinos
das Potências Europeias do Eixo. HILTON (1994) e McCANN (1995) afirmam que a
beligerância transformou o Brasil no país mais importante da América do Sul, com a
possibilidade de conquistar um espaço importante na política internacional.
Com a conquista da África do Norte pelas tropas aliadas, a diminuição dos
ataques de submarinos no Atlântico Sul e a construção de uma base aérea na ilha
britânica de Ascenção, entre o Brasil e a África, pelo Batalhão de Engenharia da Marinha
dos EUA (Seabees), o saliente nordestino perdeu sua função estratégica. Após a reunião
de Vargas e Roosevelt, em Natal (1943), ficou estabelecido que o país precisava ter uma
participação mais ativa na guerra, enviando tropas para alguma região de combate.
CAMILO ALVES (2007), CERVO & BUENO (2002), GERSON MOURA (1991), HILTON
(1994), McCANN (1995) e MUYLAERT (2012) confirmam que a participação direta do
Brasil na guerra foi uma vontade política do Governo Brasileiro e não uma imposição dos
EUA, inclusive, também, contrariando o Governo Britânico. HILTON e McCANN
discorrem que Vargas era o maior interessado no envio de soldados brasileiros para
combater ao lado dos aliados, pedindo que a Comissão Mista de Defesa Brasil - Estados
Unidos, criada em maio de 1943, que viabilizasse, junto com os militares norte-
americanos, que quantidade de soldados poderia ser equipada, suprida e treinada pelo
Exército dos EUA para a criação da Força Expedicionária Brasileira (FEB).
Com o final da guerra na Europa, McCANN (1995) assinala que a campanha
dos pracinhas na Itália, ao lado de forças militares democráticas, transformou a FEB em
um instrumento político, que ameaçava a ditadura do Estado Novo. McCANN destaca a
posição do Ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, em desmobilizar os pracinhas, como
forma de impedir que mudanças de liberdade política pudessem afetar a ditadura do
Governo Vargas. Segundo ele, Vargas temia ser derrubado pelos militares, notadamente,
23
pelo General Dutra, que tinha intenções com a futura democratização do país. Diante das
mudanças que a vitória aliada trazia, o Departamento de Estado Norte-Americano
começou uma pressão para que eleições fossem marcadas o mais rápido possível,
pressionando o Presidente Vargas a iniciar uma abertura política, que acabou por alija-lo
do poder. Por outro lado, CASTELLO BRANCO (1960) diz que os expedicionários tinham
como único pensamento, retornar aos seus empregos, seus lares e suas famílias,
reconhecendo que poderia haver alguma vontade de alguns em reformas políticas.
No cenário internacional, esperava-se que o Brasil pudesse ter uma
participação mais destacada na formação das Nações Unidas, como um assento
permanente no Conselho de Segurança, ideia proposta por Roosevelt, como forma de
recompensar a participação do Brasil na guerra ao lado dos aliados. BANDEIRA (2006)
destaca que as tentativas de Roosevelt em manter sua promessa foram rejeitadas pela
União Soviética e a Grã-Bretanha. BANDEIRA argumenta que Stalin considerava o Brasil
um fiel vassalo dos EUA, alegando que estes teriam um voto certo em todas as questões
discutidas no conselho. PAZ &FERRARI (1971), também, confirmam que os soviéticos
foram os principais opositores da participação da Argentina nas Nações Unidas,
salientando que o Governo Argentino não havia participado da guerra e tinha apoiado,
quase até o final, as Potências do Eixo. Segundo eles, a União Soviética considerava
todas as Repúblicas Latino-Americanas satélites dos EUA. A Grã-Bretanha foi outra
nação que negou a participação do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas,
afirmando que não queria mais que cinco membros no corpo consultivo, destacando que
o Brasil não era uma grande potência, mas um país com um futuro político, econômico e
militar incerto. Encontramos documentos que mostram os vetos da União Soviética e da
Grã-Bretanha no Arquivo Histórico do Itamaraty (AHI), confirmando as pesquisas
realizadas por BANDEIRA e PAZ & FERRARI.
OBJETO:
A análise comparativa das relações diplomáticas da Argentina e do Brasil com
os EUA e os Países Europeus do Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial, constitui o
24
objeto principal, de estudo pormenorizado, desta tese de Doutorado. As discussões
economicistas foram estudadas na dissertação de Mestrado, onde foram apresentadas
estatísticas e tabelas de Exportação/Importação, mostrando o comércio existente entre a
Argentina e o Brasil com as Potências Europeias do Eixo e os EUA, durante toda a
década de 30 do século passado. Não fizemos nenhuma pesquisa minuciosa no campo
militar, pois acreditamos que a tese perderia o seu foco principal que é o exame dos
documentos diplomáticos, trocados entre os representantes dos negócios estrangeiros
argentinos e brasileiros, nos países em epígrafe, e seus respectivos ministérios. Pelo
mesmo motivo, nos abstivemos de destacar as relações culturais.
OBJETIVOS:
O objetivo principal foi realizar o exame comparativo das ligações diplomáticas,
destacando suas semelhanças e suas diferenças, resgatando as estratégias públicas
adotadas pelos Governos Argentino e Brasileiro, através de um razoável conteúdo
documental para explicar as decisões adotadas pelos seus respectivos governos, ou
seja, a política de neutralidade, no caso da Argentina, e a participação na Segunda
Guerra Mundial, no caso do Brasil. O objetivo secundário era dar respostas sobre por
que, apesar das diferenças, na maior parte do tempo de suas políticas externas, os
Governos Argentino e Brasileiro mantiveram uma relação bastante amistosa,
formalizando acordos comerciais relevantes, com o Brasil sendo tratado pela Argentina
como um país “não beligerante”, conforme os acordos pan-americanos e como a
diplomacia brasileira adotou uma política de aproximação e apaziguamento com os
militares argentinos ao reconhecer os novos Governos Boliviano e Argentino (1944),
preferindo apoiá-los em vez de segregá-los, conforme o posicionamento do Governo
Norte-Americano.
CONCEITOS:
A tese introduz, na análise, os seguintes conceitos políticos e históricos, cujo
emprego é indispensável para a elucidação e o cumprimento dos objetivos propostos.
25
o PODER E INSTITUIÇÕES
Estudo das Instituições (governos, ministérios, corporações) e das diversas formas
de poder político e militar, em defesa de interesses nacionais, interagindo com
agentes políticos internos e externos.
o DOUTRINA DA POLÍTICA DE BOA VIZINHANÇA
Política instrumentalizada pelos EUA com o intuito de cooptar os Países Latino-
Americanos para a sua esfera de influência. Essa política preconizava uma
melhora nas relações diplomáticas entre o Governo Norte-Americano e seus
vizinhos latino-americanos, substituindo as ações coercitivas (intervencionismo)
do passado por uma relação política mais amigável e perene, com a intenção de
criar uma política solidária no continente americano.
o DOUTRINA UNIVERSALISTA
Política externa que defende uma relação diplomática com todos os poderes
mundiais, buscando acordos políticos, comerciais e econômicos no sistema
internacional, agindo acima de qualquer política de solidariedade continental.
o DOUTRINA PAN-AMERICANISTA
Política proposta pelos EUA, com a intenção de defender o continente americano
da ingerência política, econômica e militar de algum país “extracontinental”,
cooptando os Países Latino-Americanos para uma política de solidariedade
continental.
o ANTIHEGEMONISMO
Posição contrária à política de supremacia (hegemonia) de uma nação em relação
a outras, resistindo ou combatendo uma dominação ideológica, econômica,
cultural ou militar.
o DIPLOMACIA EM TEMPOS DE GUERRA
Política adotada, em vários níveis, pela maioria dos países diante de um conflito
armado em defesa das suas necessidades e disposições internas. Com o
prolongamento da guerra e a interferência desta nas suas políticas externas,
26
podem adotar acordos bilaterais, regionais ou continentais, com a intenção de
preservar interesses comuns.
o NEUTRALIDADE
Política que busca escapar dos problemas graves causados (sociais, econômicos,
financeiros e militares) pela guerra que, direta e indiretamente, afetam todos os
países em um conflito mundial. Estados neutros não acatam nenhuma forma de
alinhamento com os países beligerantes e não participam de nenhuma aliança
militar que possa modificar sua política externa de afastamento do conflito.
o NÃO BELIGERÂNCIA
Conceito que mantém a política de neutralidade, mas coloca um Estado em
posição de assumir um partido entre as partes em conflito1.
HIPÓTESES REFERENTES À COMPARAÇÃO ENTRE:
a)- Política Externa Argentina:
1- O conflito de interesses políticos da Argentina com os EUA, pela hegemonia
continental, intensificou-se quando, na Conferência de Lima (1938), os Países Latino-
Americanos resolveram aderir ao pacto de segurança coletiva, preconizado por
Roosevelt, como forma de defender o continente de ameaças extracontinentais. Com a
negativa do Governo Argentino em aceitar esse acordo de defesa continental, sua
influência sobre as demais Nações Latino-Americanas perdeu força, principalmente,
entre os países vizinhos, abrindo espaço para o crescimento da hegemonia norte-
americana, dando impulso à política de solidariedade pan-americana que levou as
demais repúblicas a ficarem sob a influência dos EUA, à medida que a guerra se
aproximava do continente americano.
1 Dicionários utilizados:
SOUZA, Fernando. Dicionário de Relações Internacionais. Edições Afrontamento/CEPESE, 2005. Disponível em:
cleusafernandes.com.br/dicionário%20de%20Relações%20Internacionais.pdf. Acesso: 07/01/2014.
SILVA, Guilherme A., Gonçalves Williams. Dicionário de Relações Internacionais. Barueri, SP, Manole, 2005.
27
2- Com o Governo Argentino se afastando do pan-americanismo (1942), a
importância regional do Brasil teve um incremento considerável, pois o país surgiu como
o principal parceiro político, econômico e militar dos EUA no continente sul-americano. O
aporte financeiro norte-americano na economia brasileira, equacionando os problemas
da dívida externa com os credores estadunidenses, o empréstimo para a construção de
uma siderúrgica e a entrega de grande quantidade de armamentos pelo sistema “Lend
and Lease”, obrigaram os políticos e militares argentinos a repensarem sua política
regional, procurando uma reaproximação com os países vizinhos, como forma de
contrapor o crescimento e a influência do Brasil na disputa pela hegemonia regional.
3- O comércio argentino com os seus dois principais parceiros europeus, a Grã-
Bretanha e a Alemanha, não foi afetado no início do conflito, mas com a intensificação
do bloqueio marítimo aplicado pela Marinha Real Britânica contra a Alemanha, o mercado
alemão, praticamente, cessou. A Argentina teve que compensar essa grande perda
comercial, financiando, na sua quase totalidade, o comércio de carnes congeladas e
cereais com a Grã-Bretanha. Por causa das pressões realizadas pelos norte-americanos,
o mercado inglês esteve ameaçado, mas com a posição dos ingleses de não acatar os
ditames mais coercitivos do Departamento de Estado Norte-Americano, a Argentina
acabou mantendo o seu principal aporte comercial. Preocupada com o seu excedente
produtivo, a Argentina acabou realizando acordos comerciais com os seus vizinhos,
principalmente com o Brasil, procurando manter sua importância regional e, ao mesmo
tempo, outras opções comerciais que seriam incrementadas após o final da guerra.
4- O Governo Argentino, procurando preservar sua política de neutralidade,
buscou apoio nos Governos Fascistas Europeus (Alemanha, Espanha e Itália), com a
intenção de adquirir armas para suas Forças Armadas, na tentativa de criar um equilíbrio
de forças na região sul, como forma de contrabalançar a ajuda maciça que o Governo
Norte-Americano vinha disponibilizando às demais Repúblicas Americanas,
principalmente ao Brasil. Com a vitória dos Países do Eixo, políticos e militares argentinos
pretendiam adquirir uma posição de destaque no continente americano, se
transformando no principal fornecedor de alimentos para a Alemanha vitoriosa e à Europa
28
dominada pelo fascismo. Entretanto, os Governos Argentinos (civil e militar), como forma
de se resguardarem, caso os países aliados fossem os vencedores, mantinham uma
política de aproximação com o pan-americanismo, classificando os EUA e o Brasil como
países “não beligerantes”, em apoio aos acordos propostos nas Conferências de
Consultas dos Chanceleres Americanos.
b)- Política Externa Brasileira:
1- A posição geográfica do nordeste brasileiro interferiu no posicionamento da
política externa brasileira, durante a Segunda Guerra Mundial. O saliente nordestino era
fundamental para a defesa do continente americano, estando dentro dos planos do
Estado-Maior Norte-Americano para a defesa do Atlântico Sul, das rotas marítimas e
aéreas para o oriente (África e Pacífico) e do apoio estratégico (norte) às forças que
deveriam defender o Canal do Panamá (“Planos Rainbows I e IV”). O “Rainbow I”
determinava a defesa de todo o território dos EUA e parte do Hemisfério Ocidental,
compreendendo a América Central, Caribe e o saliente nordestino brasileiro. O “Raiwbon
IV” era uma extensão do “Rainbow I”, com as Forças Armadas Norte-Americanas
patrulhando todo o continente sul-americano. A principal região de apoio para as Forças
Armadas Norte-Americanas era o nordeste brasileiro (Natal e Recife) e acordos foram
realizados entre os dois países, meses antes do início da guerra, com o Governo
Brasileiro, permitindo a ocupação e a construção de bases militares no território nacional.
Ao cedê-las, deixou a política de neutralidade por um posicionamento de “nação
beligerante”, sem declarar guerra ao inimigo e, por causa dessa ambiguidade política e
militar, acabou levando o país à guerra com as Potências Europeias do Eixo.
2- A economia brasileira, apesar do grande incremento comercial com a
Alemanha (1935-1939), estava fortemente vinculada ao mercado norte-americano para
os seus principais produtos. O Governo Vargas procurou manter, ao mesmo tempo,
acordos comerciais com a Alemanha e os EUA, ciente de que essa ambiguidade teria um
prazo de validade, com o surgimento da política de solidariedade continental (“política da
boa vizinhança”), proposta pelos EUA. Com a entrada dos EUA na guerra, o país tornou-
29
se totalmente dependente deste comércio, com exceção dos acordos bilaterais firmados
com alguns Países Latino-Americanos, como forma de encontrar soluções paliativas para
compensar o mercado europeu, fechado pelo bloqueio marítimo da Grã-Bretanha. A
aceitação do pan-americanismo foi causada por motivos de uma aliança histórica com os
EUA e da necessidade de permanecer sob a sua esfera de influência, para se transformar
no seu principal parceiro na região, adquirindo um “status” hegemônico em relação às
vizinhas Repúblicas Americanas.
3- O Governo Brasileiro, ciente da debilidade econômica brasileira, tinha como
principal objetivo encontrar um parceiro que financiasse o projeto de instalação de uma
siderúrgica no país, tentando criar uma política que estimulasse um processo de
industrialização capaz de eliminar a inércia econômica do país. O auxílio necessário foi
adquirido com o seu principal companheiro comercial, os EUA, que financiou a
construção da siderúrgica de Volta Redonda (Acordos de Washington). A parceria
satisfazia ambas as partes, com o Brasil recebendo investimentos importantes para o seu
crescimento industrial, e os EUA ganhando facilidades para a utilização de bases e portos
brasileiros para montar um sistema apropriado para a defesa continental e ajudar no seu
esforço de guerra no Atlântico Sul.
4- A derrota alemã na África do Norte, a liberação do Mediterrâneo para os
navios mercantes aliados e a diminuição dos ataques submarinos das Potências do Eixo
no Atlântico Sul reduziram, consideravelmente, a importância do saliente nordestino para
a defesa do continente. O Governo Brasileiro, temendo que os investimentos financeiros
e o fornecimento de equipamentos militares diminuíssem de maneira proporcional à falta
de importância estratégica do território brasileiro, resolveu participar com mais
intensidade na guerra, enviando tropas para frente de combate.
METODOLOGIA:
A metodologia utilizada na análise do objeto da pesquisa é da História
Comparada que estuda, de forma comparativa, os aspectos decorrentes de duas ou mais
30
características políticas dos países relatados. É preciso encontrar certas analogias ou
diferenças, para que as regras de comparação funcionem e possam apresentar
resultados fundamentais para o esclarecimento das sociedades estudadas. MARC
BLOCH (1928) afirmava que o ideal era estudar duas sociedades próximas e
contemporâneas para uma melhor avaliação da interação entre as suas políticas externas
com suas características convergentes ou divergentes. O método comparativo desse
trabalho visa a estabelecer correlações entre as políticas externas da Argentina e do
Brasil, durante o período decorrido, com base na análise comparativa de suas
semelhanças e diferenças, com relação aos seguintes parâmetros: a política externa dos
EUA, a doutrina do pan-americanismo, a política de neutralidade, as relações bilaterais
com os EUA, as relações bilaterais com a Alemanha e Itália e a aliança com os EUA.
Com base nestas correlações, são tiradas as conclusões referentes às posturas, tanto
próximas, quanto distantes, da Argentina e do Brasil na Segunda Guerra Mundial e às
causas destas semelhanças e diferenças, em fases diferentes do período examinado.
Nossa pesquisa foi baseada na análise textual de documentos político-
diplomáticos (telegramas e memorandos) enviados pelas Embaixadas Argentinas e
Brasileiras, em cada capital dos países envolvidos na pesquisa (Alemanha, Argentina,
Brasil, EUA e Itália) para o Ministerio das Relaciones Exteriores y Culto da Argentina
(MREC) e para o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE). Nosso trabalho,
também, consistiu no exame dos telegramas expedidos pelos Chanceleres Argentinos e
Brasileiros para suas embaixadas, mostrando a interação dinâmica existente entre os
Ministros e seus representantes diplomáticos, durante o período da Segunda Guerra
Mundial. Foram pesquisados documentos nos arquivos do MRE (Itamaraty), no Rio de
Janeiro, e no MREC, em Buenos Aires. A grande maioria dos documentos verificados se
referiam às relações políticas, econômicas e militares entre os países estudados. Outros
destacavam as consequências da guerra, mostrando as movimentações bélicas, as
ofensivas dos exércitos, as grandes batalhas, as vítimas e as destruições causadas pela
guerra e os restantes ressaltavam as ações de reciprocidade regionais ou bilaterais entre
os países americanos (Argentina, Brasil e EUA). Todos os telegramas de maior
31
relevância para esta tese são relacionados com descrição sucinta na parte documental
das fontes.
Estudamos a documentação produzida pelas Conferências Interamericanas e
de Consulta dos Chanceleres Americanos (Buenos Aires, Lima, Panamá, Havana, Rio
de Janeiro e Chapultepec), mostrando como as suas principais resoluções transformaram
a “política de boa vizinhança”, proposta por Roosevelt (1936), em um engajamento
conjunto de todas as Repúblicas Americanas na construção de uma política de defesa
continental, com o surgimento da Segunda Guerra Mundial. Essa política de
solidariedade pan-americana teve um forte crescimento, principalmente, após a aplicação
do sistema “Lend and Lease” pelo Governo Norte-Americano, que facilitava aos Países
Latino-Americanos a aquisição de equipamentos e armamentos para equipar suas forças
armadas. Um fator relevante foi o término do processo de unanimidade adotado nas
conferências pan-americanas, desde a Conferência de Havana, que facilitou o
surgimento de acordos bilaterais entre os EUA e as demais Repúblicas Americanas,
criando um sistema de defesa em todos os Países Latino-Americanos, com exceção da
Argentina. Os Países Latino-Americanos firmaram diversos acordos comerciais e
militares com os EUA, que adquiriram bases e portos de apoio para a sua Marinha e
Força Aérea para desempenharem um patrulhamento mais adequado para a defesa
continental e do Canal do Panamá.
As três reuniões realizadas, no período da Segunda Guerra Mundial, pelo
Conselho de Segurança Nacional (Arquivo Nacional), complementam os papéis oficiais
estudados, no intuito de esclarecer, com detalhes, a política externa adotada pelo
Governo Brasileiro neste período. Na 4ª Reunião (09/1939), foi tomada a decisão de que
o Brasil devesse permanecer neutro e, se possível, equidistante da guerra, procurando
equacionar os problemas que um conflito europeu poderia gerar na economia e na vida
cotidiana dos brasileiros. Na Quinta Reunião (01/1942), foi proporcionado o apoio
irrestrito aos EUA, por razões históricas, na guerra contra as Potências do Eixo,
aprovando a utilização de portos e bases militares pelas Forças Armadas Norte-
Americanas. A Sexta (07/1944), teve como referência a defesa continental, com a
32
regulamentação de normas para utilização das bases militares existentes no país, pelas
forças armadas do Brasil e dos EUA, salientando a preocupação com a atitude argentina
de continuar mantendo relações com as Potências do Eixo.
É importante assinalar que essa tese foi realizada como aprofundamento e
desenvolvimento de uma pesquisa anterior, cujo enfoque temporal compreendeu os dois
anos anteriores à deflagração da Segunda Guerra Mundial (1938-1939) até o momento
de inflexão, quando os aliados conseguiram deter e ripostar os avanços militares das
Potências do Eixo (1943), iniciando o longo caminho para a vitória final. Estendemos o
corte temporal da nossa tese até o fim da guerra (1945) e, ao reavaliarmos essa vasta
documentação, como resposta para as nossas indagações acadêmicas, achamos mais
conveniente utilizar os documentos e acontecimentos já pesquisados, acrescidos pela
nova documentação estudada e por novos fatos, investigados no decorrer do doutorado,
tanto no Brasil, quanto na Argentina. Gostaríamos de frisar que toda a documentação
colhida, além de extensa, é de uma riqueza de detalhes que poderão, no futuro, colaborar
com outras pesquisas comparativas sobre as políticas externas adotadas pela Argentina
e pelo Brasil durante a Segunda Guerra Mundial.
JUSTIFICATIVA DA RELEVÂNCIA E DA ORIGINALIDADE:
A justificativa da relevância e da originalidade da pesquisa consiste em que,
apesar de um grande número de trabalhos publicados sobre o tema2, a maioria dos
pesquisadores não utilizou documentos oficiais de uma forma comparativa, acoplando-
os em uma única pesquisa histórica, como nós realizamos nesta tese de doutorado. A
2 Podemos destacar os pesquisadores Alberto Conil Paz, Amado Luiz Cervo, Boris Fausto, Clodoaldo Bueno, Fernando
Devoto, Frank McCann, Gerson Moura, Gustavo Ferrari, Henrique Altemani de Oliveira, José Paradiso, Luís Alberto
Romero, Manoel Thomaz Castello Branco, Moniz Bandeira, Roberto Muylaert, Stanley Hilton, Túlio Halperin Donghi
e Vágner Camilo Alves (ver Referências Bibliografias).
33
originalidade desta tese está no fato de analisarmos paralelamente com os documentos
brasileiros, os textos documentais da diplomacia argentina, comparando as políticas
externas dos dois países, face ao conflito mundial, em uma única pesquisa histórica,
tirando conclusões mais amplas e exaustivas acerca da abordagem da Segunda Guerra
mundial pelos dois maiores atores nacionais da América Latina e construindo uma
retrospectiva histórica mais abrangente, mais documentada e mais objetiva. Novos
documentos diplomáticos argentinos, que discorreram sobre a diplomacia argentina no
período estudado, entraram na circulação científica, devido ao método comparativo,
aceito como ferramenta principal de análise. As principais hipóteses e conclusões desta
tese de Doutorado foram testadas nas publicações do autor da tese, em periódicos
científicos e monografias, em que é abordado o objeto da pesquisa em questão3.
ESTRUTURA:
Essa tese é composta de quatro capítulos, onde a metodologia utilizada foi o
estudo comparativo das políticas externas da Argentina e do Brasil em relação às da
Alemanha, EUA e Itália, utilizando documentos oficiais que foram produzidos, nas
capitais desses países (Berlim, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Roma e Washington) que,
quando confrontados, mostraram uma visão específica de cada política adotada em
relação ao contexto global da Segunda Guerra Mundial. Nas considerações finais,
cruzamos todas essas informações, provando os principais objetivos dessa nossa tese
de doutorado.
No primeiro capítulo, relatamos a adesão do Brasil ao pan-americanismo em
função da posição estratégica do saliente nordestino, da dependência do mercado norte-
americano, do aporte financeiro conseguido para a instalação de uma siderúrgica em
Volta Redonda e da aquisição de equipamentos militares, através do sistema “Lend and
Lease”, para equipar as suas três forças militares. O Brasil passou a exercer uma política
de “falsa neutralidade”, pois do solo brasileiro saíam belonaves e aviões norte-
americanos que atacavam barcos corsários e submarinos das Potências do Eixo, no
3 Verificar nas Referências, os trabalhos publicados pelo autor sobre o tema.
34
Atlântico Sul, além de permitir que bombardeiros norte-americanos fizessem escala em
Natal, antes de se dirigirem para a África e para o Pacífico. Na Conferência do Rio de
Janeiro, por causa da sua relação histórica com os EUA, o Brasil decidiu apoiar
integralmente a política de solidariedade continental (5ª Sessão do CSN), rompendo as
relações diplomáticas com os Países do Eixo e, assim, sofrendo diversas represálias que
o levaram à guerra. Posteriormente, procurando obter uma maior projeção internacional,
enviou soldados brasileiros para combater ao lado dos aliados no norte da Itália.
Destacamos, no segundo capítulo, a relação conflituosa do Brasil com as
Potências do Eixo, causada pelo fechamento de todas as instituições estrangeiras
(políticas, sociais e culturais) no Brasil, fato que ocasionou uma grave crise diplomática
com a Alemanha, acarretando na troca dos seus respectivos embaixadores. A crise com
a Itália foi decorrente do financiamento dado por este país aos membros da Ação
Integralista Brasileira (AIB), que depois da tentativa frustrada de golpe contra o Governo
Vargas, ficou latente, com a prestimosa intervenção do Embaixador Italiano Lajocono,
em receber alguns líderes integralistas na embaixada italiana, para uma futura
expatriação para a Itália. O Brasil, também, teve um grave entrevero diplomático com a
Grã-Bretanha por causa de retenção de navios brasileiros, carregados com armamentos
comprados na Alemanha (1938), sendo resolvido com o apoio do Departamento de
Estado Norte-Americano. Por fim, o Brasil declarou guerra às Potências do Eixo, após os
ataques sofridos pelos seus navios de cabotagem na costa nordestina, que acarretou na
criação de uma Força Expedicionária Brasileira (FEB) para lutar no front italiano. A
campanha da FEB, apesar de modesta, não diferiu das demais divisões aliadas,
adquirindo, no campo de batalha, a experiência necessária para enfrentar as tropas dos
Países do Eixo no norte da Itália.
No terceiro capítulo, analisamos a política externa de neutralidade da Argentina
como forma de manter o país longe do conflito mundial e da sua política universalista
para com o Velho Mundo, por causa de suas raízes europeias e do seu principal mercado
exportador. O Governo Argentino tentou endurecer com os Países do Eixo, propondo às
demais Repúblicas Americanas trocar a política de “neutralidade” por uma postura mais
35
firme de “não beligerância”, mas teve sua posição política declinada pelos EUA e Brasil.
Diante desses fatos, na Conferência do Rio de Janeiro (01/1942), o Governo Argentino
decidiu romper com a política de solidariedade pan-americana e manteve sua
neutralidade, decisão que ocasionou fortes sanções coercitivas dos EUA, que facilitou a
presença de forças antidemocráticas no novo Governo Argentino, após o golpe de 1943,
perpetrados por militares simpáticos, em sua maioria, pela Alemanha. A reaproximação
com os EUA aconteceu com a participação ativa das Repúblicas Americanas que
apoiaram a Argentina na reunião de Chapultepec (03/1945), oferecendo apoio
incondicional, caso a Argentina entrasse na guerra ao lado dos aliados. Com o aceite do
Governo Argentino em mudar o rumo da sua política externa, os EUA resolveram
defender o seu ingresso perante a União Soviética, nas Nações Unidas.
Demonstramos, no quarto capítulo, a tentativa do Governo Ortiz em limitar as
atividades políticas das Potências do Eixo em território argentino, decretando leis (1939)
capazes de impedir que agentes externos difundissem propaganda fascista, com o apoio,
principalmente, da Embaixada da Alemanha. Mostramos os incidentes ocorridos com os
três navios argentinos afundados pelos submarinos alemães, durante toda a guerra,
assinalando os protestos do Governo Argentino, as explicações das autoridades alemãs
e a pouca reação de indignação do Governo Argentino pelo ocorrido. A Argentina
procurou apoio no fascismo europeu (Alemanha, Espanha e Itália) com o intuito de
reconquistar a sua preponderância regional, enfraquecida pelas fortes pressões
coercitivas dos EUA. Fizemos um minucioso estudo sobre as atividades do representante
argentino que entrou em contato com as principais autoridades fascistas da Europa e a
prisão, pelos britânicos, do último agente SD, que tentou obter armas na Europa para
praticar uma série de golpes contra as repúblicas vizinhas. Explicamos a desintegração
dos governos civis apoiados em fraudes eleitorais e a subida ao poder dos militares
nacionalistas do GOU (Grupo Oficiais Unidos), que apoiaram as Potências do Eixo quase
até o final da guerra.
Nas considerações finais, utilizamos a análise comparativa das políticas
externas da Argentina e do Brasil, para assinalarmos as suas semelhanças e diferenças
36
durante a Segunda Guerra Mundial. A Argentina procurando manter-se neutra, mas
buscando apoio, ao mesmo tempo, no pan-americanismo e no fascismo europeu, na
tentativa de recuperar a sua importância hegemônica regional. Com a certeza da vitória
dos aliados, o Governo Argentino resolveu romper definitivamente com a Alemanha e o
Japão, com a intenção de participar da nova ordem mundial das Nações Unidas. O Brasil
adotou a neutralidade para escapar das consequências maléficas da guerra, porém, por
causa da importância militar do saliente nordestino, da necessidade do mercado norte-
americano para seus produtos e por sua política continental de apoio histórico aos EUA,
adotou o pan-americanismo, rompendo as relações diplomáticas com os Países do Eixo.
Após sofrer represálias dos submergíveis alemães e italianos, acabou declarando guerra
às Potências Europeias do Eixo e enviando tropas para o front europeu com a intenção
de obter um papel de destaque ao término da Segunda Guerra Mundial.
1. BRASIL: ADESÃO AO PAN-AMERICANISMO COMO OPÇÃO DE POLÍTICA
EXTERNA:
Neste capítulo, analisaremos a política externa brasileira de adesão ao pan-
americanismo norte-americano, como consequência da sua posição estratégica e da
necessidade econômica do mercado norte-americano para seus principais produtos de
exportação (café, borracha, areia monazítica, couros). Após a entrada dos EUA na guerra
e, posteriormente, com o rompimento das relações diplomáticas com as Potências do
Eixo, o país acabou sendo envolvido no conflito, quando um submergível alemão (U-507)
torpedeou cinco navios mercantes nas costas do nordeste brasileiro (Sergipe e Bahia).
37
Foi o preço que o país pagou pela sua ambiguidade, por um lado, em apoiar uma nação
beligerante, com a cessão de bases militares aos norte-americanos e, por outro, na
tentativa de se manter neutro e distante do conflito, apesar da presença, cada vez maior,
de aeronaves estadunidenses em solo brasileiro, que patrulhavam as principais vias
marítimas do Atlântico Sul, causando muitas baixas aos submarinos e corsários (navios
mercantes artilhados) das Potências do Eixo. Esses fatos originaram a retaliação alemã
ao sistema brasileiro de cabotagem e, como resposta, o Governo Vargas acabou
declarando guerra aos Países Europeus do Eixo. Com a ajuda dos norte-americanos,
através do sistema “Lend and Lease”, conseguiu armar suas Forças Armadas e adquirir
o capital necessário para a construção de uma siderúrgica, iniciando o desenvolvimento
da indústria nacional e se transformando no principal aliado dos EUA na região. Foi o
único país latino-americano que enviou tropas para combater no continente europeu
(Itália). A ideia do Governo Brasileiro era obter uma posição de destaque no mundo pós-
guerra, se convertendo no país mais importante da América Latina.
1.1 POLÍTICA DE SOLIDARIEDADE CONTINENTAL:
Os acontecimentos ocorridos na Europa, em 1938 (AHI, 14 mar. 1938; 11 abr.
1938; 29 set. 1938; 29 set. 1938)4, trouxeram uma grande preocupação para as
Chancelarias Americanas, que ficaram apreensivas com a possibilidade de que outro
conflito europeu5 pudesse afetar a dinâmica comercial e política da região. Segundo
McCann (1995, p.92), nos primeiros meses de 1938, os EUA, alarmados com uma
4 A Anexação (Anshluss) da Áustria pela Alemanha (13/03/1938) e a Conferência de Munique que decretou a inclusão
da Sudetolândia (Sudetenland), ao Reich Alemão. O acordo foi assinado no dia 30, mas ficou registrado com a data
do dia 29 (29-30/09/1938). 5 A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) afetou, drasticamente, o comércio de todos os Países Americanos com a
Europa, por causa do bloqueio continental praticado pela Marinha Real Inglesa contra as Potências Centrais
(Alemanha, Áustria-Hungria, Turquia e Bulgária).
38
possível interferência das Potências do Eixo nas políticas internas dos Países da América
Latina, resolveram criar uma Divisão de Assuntos Latino-Americanos e Mexicanos
(05/1938), que procurava, através de transmissões radiofônicas em espanhol e
português, transmitir músicas, notícias e informações culturais sobre as identidades,
diversidades e igualdades dos povos do continente americano. Posteriormente, com a
aprovação do Congresso dos EUA, recursos foram disponibilizados para que técnicos de
diversas atividades visitassem os Países Latino-Americanos, oferecendo propostas de
cooperação nas áreas da cultura, do transporte e do setor militar, com a intenção de
limitar a penetração de acordos semelhantes organizados pelas Potências do Eixo. As
principais iniciativas foram:
“1)- Treinamento de militares latino-americanos nas Escolas Militares dos EUA; 2)- Demonstração de aeronaves e navios de guerra norte-americanos, que fariam visitas periódicas às Repúblicas Americanas; 3)- Convite para os principais militares latino-americanos visitarem as instalações bélicas dos EUA; 4)- Fornecimento de material didático militar às Forças Armadas das Repúblicas Americanas; 5)- Inauguração de um serviço regular de navios de passageiros (Moore-McCormack Lines) entre os EUA, Brasil e Argentina; 6)- Incentivo cultural, com a divulgação de notícias, músicas e filmes norte-americanos, nos Países Americanos de língua espanhola e portuguesa; 7)- Criação de novas linhas aéreas comerciais norte-americanas na América Latina; 8)- Surgimento da Comissão Permanente de Ligação (SLC), administrada pelo Secretário de Estado Sumner Welles6 (05/1938), para coordenar todos os
projetos acima relacionados”. (McCANN, 1995, p.93-94).
É interessante registrar que, independente, dessas iniciativas do Governo Norte-
Americano em diminuir a influência dos Países do Eixo no continente, os próprios
alemães, em telegramas enviados pelos seus embaixadores no México (Documents on
German Foreign Policy, 1968, p.127-132) e no Uruguai (Documents on German Foreign
Policy, 1968, p.137-138), afirmavam, com bastante constrangimento, que a Alemanha
havia perdido a simpatia e o apoio de muitos políticos e de grande parte da opinião
6 Sumner Welles era diplomata de carreira, sendo nomeado Subsecretário de Estado no período de 1937-1943. Era o
conselheiro político para a América Latina de Roosevelt, falava espanhol fluentemente e foi um dos principais
elaboradores da Carta do Atlântico (09-12/08/1941).
39
pública desses respectivos países, em função da reincorporação da Áustria e dos
Sudetos ao Reich Alemão.
No Brasil, a preocupação de Oswaldo Aranha era a relação política com a
Alemanha, que apresentava, naquele momento, graves tensões por causa da
agressividade e impertinência do embaixador alemão, Karl Ritter7, irritado com o
fechamento, pelas autoridades brasileiras, do Partido Nazista e a prisão de alguns súditos
alemães, logo após a tentativa frustrada de golpe, perpetrado contra Vargas, por
elementos da Ação Integralista Brasileira (AIB)8, na noite de 10 de maio de 1938. Esses
entreveros acarretaram na convocação e substituição dos respectivos embaixadores
quase oito meses depois (01/06/1939). Entretanto, foi a descoberta de documentos
(“Relatório Von Hontz”), interceptados no sul do Brasil (10/1938), sobre uma possível
conspiração de elementos fascistas nas fronteiras de Argentina, Brasil e Uruguai9, que
fez com que Aranha notificasse os EUA, salientando que existia um perigo real de que
as novas ideologias, surgidas na Europa, causassem sérios problemas na estabilidade
do continente americano. Hilton (1994, p.299) afirma que, dificilmente, Aranha acreditou
na veracidade dessa conspiração, mas utilizou-a para impressionar os norte-americanos,
assinalando que as Nações Americanas precisavam mostrar ao mundo que estavam
atentas às ameaças das Potências do Eixo (HILTON, 1994, p.298-299). Entretanto,
McCann (1995, p.99) salienta que Aranha ficou preocupado com a possibilidade de a
Alemanha, junto com a Itália, Polônia e Japão, tentarem ocupar as regiões onde existiam
vastas colônias, desses respectivos países, dentro do continente americano. Aranha
7 Karl Ritter era diplomata e foi nomeado embaixador no Rio de Janeiro, em julho de 1937. Apesar de não ser membro
do partido nazista, foi um defensor fiel das ideias de Hitler. Sua atitude agressiva nas questões diplomáticas ocasionou
um sério entrave diplomático, que resultou na sua substituição pelo governo germânico. 8 AIB era um partido organizado, com uma doutrina bastante definida, influenciada e financiada pelo Fascismo Italiano,
composta, principalmente, de elementos da classe média urbana e tendo muitos simpatizantes nas Forças Armadas,
com maior número de adeptos na Marinha. Eram ferrenhos inimigos do comunismo e do liberalismo econômico
(capitalismo). HILTON, Stanley E. O Brasil e a Crise Internacional. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977,
p.24, p.37-38; SEITENFUS, Ricardo A. S. O Brasil de Getúlio Vargas e a Formação de Blocos: 1930-1942. São
Paulo: Editora Nacional, 1985, p.199; TRINDADE, Hélgio. Integralismo (O Fascismo Brasileiro na Década de 30).
Porto Alegre: Difusão Europeia do Livro, 1974, p.237-238, p.243-249. 9 O plano estava baseado em três possibilidades: 1)-uma rebelião ampla que justificaria uma intervenção semelhante à
da Espanha; 2)-assumir o controle de áreas de população germânica, através de um “Anchluss” do outro lado do
Atlântico; 3)-conseguir concessões políticas para que organizações nazistas pudessem agir livremente, até tomarem o
poder. McMCANN, Frank D. Jr. Aliança Brasil - Estados Unidos 1937-1945. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército,
1995, p.98-99.
40
solicitou ao Subsecretário Norte-Americano, Sumner Welles10, que enviasse um agente
do FBI (Federal Bureau of Investigation) ao Rio de Janeiro para criar, com policiais
brasileiros, um serviço secreto sobre investigações de atividades subversivas (McCANN,
1995, p.99).
Aranha acreditava que a Conferência de Lima (09-24/12/1938)11 fosse o fórum
adequado para se encontrar uma solução definitiva do pacto de segurança coletiva, já
acordado, em Buenos Aires (MRE, 1944, p.14-15), durante o encontro Interamericano de
Consolidação da Paz (01-23/12/1936). Na abertura da Conferência de Lima (MRE, 1944,
p.16-17), o Ministro Argentino José María Cantilo12 afirmou que não era contrário ao pacto
de segurança coletiva, acordado em Buenos Aires (1936) (MRE, 1944, p.14-15).
Entretanto, acreditava que não havia necessidade de criação de novos acordos especiais
para a defesa do continente contra ações expansionistas de potências extracontinentais.
Ele temia que qualquer proposta sobre segurança continental tivesse o inconveniente de
perder sua função, no futuro, se os EUA mudassem sua política em relação à Europa
(AHI, 29 nov. 1938). Reafirmou que, quando chegasse o momento, os Países Latino-
Americanos, através de consultas, decidiriam quais as medidas necessárias precisavam
tomar em defesa de suas soberanias. O Ministro Brasileiro Aranha discordava da posição
argentina, preferindo apoiar os norte-americanos na tentativa de impedir que as novas
ideologias, que surgiram na Europa, pudessem causar problemas com a paz no
continente americano (AHI, 02 dez. 1938). O Governo Brasileiro salientava que o perigo
externo era real e exigia medidas práticas e funcionais para a solução do problema, não
acreditando na suscetibilidade da política externa norte-americana, porque o pacto só
funcionaria com a participação integral dos EUA com assistência militar e econômica aos
Países da América Latina. A atitude argentina de repúdio ao pacto irritou o Departamento
de Estado Norte-Americano e o Itamaraty, principalmente, com a recusa do Governo
10 Sumner Welles era diplomata de carreira, sendo nomeado Subsecretário de Estado no período de 1937-1943. Era o
conselheiro político para a América Latina de Roosevelt, falava espanhol fluentemente e foi um dos principais
elaboradores da Carta do Atlântico (09-12/08/1941). 11 VIII Conferência Interamericana (Lima – Peru). 12 José Mária Cantilo foi Ministro das Relações Exteriores durante o mandato do Presidente Roberto Ortíz (1938-
1940). Quando Ortíz foi obrigado a licenciar-se, por motivos de saúde, Cantilo foi substituído por Julio Roca (09/1940),
tornando-se membro da Acción Argentina, uma organização antinazista que apoiava os aliados. Esse grupo foi
dissolvido pelo governo do General Ramírez em 1943.
41
Argentino em assinar o tratado de defesa coletiva (LOPES, 2008, p.453). O Governo
Argentino propôs, simplesmente, uma declaração de princípios americanos, com ênfase
sobre a soberania continental e um alerta sobre qualquer interferência externa, no intuito
de interferir na política de defesa dos interesses americanos. Desta forma, a posição
argentina eliminou a possibilidade de se obter a unanimidade, que todos os outros Países
Americanos desejavam, para evitar dissensões na defesa do continente (SEITENFUS,
1985, p.236). Depois de muitos debates entre argentinos, brasileiros e norte-americanos
(AHI, 22 dez. 1938), foi aprovada a “Declaração de Lima” (MRE, 1944, p.16-17)
(24/12/1938), que reafirmava a determinação dos Países Latino-Americanos de
participarem de um pacto de ajuda mútua e de se consultarem, caso acontecesse alguma
intervenção externa ameaçando a paz e a segurança continental. Hilton (1994, p.302)
afirma que a Argentina somente aceitou assinar a declaração com a inserção da seguinte
frase no final do terceiro parágrafo:
“...fica entendido que os Governos das Repúblicas Americanas obrarão independentemente em sua capacidade individual, reconhecendo-se
amplamente sua igualdade jurídica como Estados soberanos”. (MRE, 1944, p.16-17)
A VIII Conferência Interamericana de Lima foi, na realidade, o início da
consolidação da política de solidariedade pan-americana, mesmo com a relutância da
Argentina em participar dessa união, conforme estipulada pelos Estados Unidos e pelo
Brasil. Brasileiros e norte-americanos estavam muito preocupados com o crescimento
das atividades fascistas na região e concordavam que chegara a hora de se tomar
medidas continentais para frear essa invasão de ideologias, contrárias ao “status quo” da
região (ideias raciais e anticlericais). Isso não significava que a Argentina era contrária a
uma política de defesa do continente, porém relutava em permanecer sob a influência
dos EUA e, principalmente, temia que, devido a sua localização estratégica, o Brasil
passasse a ser o grande beneficiário da política de solidariedade continental proposta
pelos norte-americanos. Na conferência ficou estabelecido que os Países Americanos se
ajudassem mutuamente para a manutenção da paz, segurança e soberania dos seus
membros, utilizando-se de consultas prévias, se necessário fosse, para resolverem o
42
problema em conjunto. Iniciava-se uma política para obstruir as atividades fascistas em
todo o continente americano. McCann (1995, p.102-103) enfatiza que os esforços do
Brasil e dos EUA acabaram por transformar a “Doutrina Monroe” como uma
responsabilidade de todos os Países da América Latina.
1.2 APROXIMAÇÃO POLÍTICA COM OS EUA:
Depois dos acontecimentos de Lima, a política externa regional dos EUA se
aproximou definitivamente do Brasil e, como consequência imediata dessa interação,
Oswaldo Aranha foi convidado, por Roosevelt, a viajar para Washington e participar de
negociações que iniciaram uma parceria política, econômica e militar, que durou até o fim
da Segunda Guerra Mundial. O Brasil, por ser um país de grande importância estratégica,
passou a fazer parte da estratégia norte-americana de defesa do continente, com os
norte-americanos procurando criar mecanismos de aproximação com o Governo
Brasileiro (AHI, 08 mar. 1939). Os EUA temiam que os nazistas pudessem utilizar o Brasil
como base para ataques à costa norte-americana e, também, se utilizarem da grande
quantidade de matérias-primas existentes em solo brasileiro (HILTON, 1994, p.304-305).
Apesar destas possíveis ameaças, os norte-americanos pouco fizeram, até aquele
momento, para interagirem com as Forças Armadas Brasileiras, na tentativa de impedir
que esses agentes externos pudessem ameaçar a segurança da região. Como Aranha
havia advertido ao Departamento de Estado Estadunidense, seu país precisava de
armamentos (canhões, aviões, navios e carros de combate) para a defesa do país, contra
ataques externos ou internos insuflados por elementos fascistas introduzidos nas
grandes colônias germânicas existentes no sul do Brasil. Enquanto a política de
solidariedade continental norte-americana, segundo Aranha, ficava só em “palavras ao
vento”, as Potências do Eixo vinham facilitando a venda de armamentos para o Brasil,
utilizando como pagamento matérias-primas (HILTON, 1994, p.303). A Itália forneceu três
submarinos (1937), carros de combate e munições para a Marinha brasileira (1939). A
Alemanha fechou um grande acordo bélico (1938), com 75% do pagamento através do
sistema dos marcos compensados (McCANN, 1995, p.168), vendendo para o Exército
Brasileiro uma grande quantidade de canhões de 105 mm e de 88 mm, viaturas,
43
telêmetros e aparelhos de escuta. A maior parte deste material chegou ao Brasil após o
início da guerra, gerando um grave conflito diplomático com a Inglaterra (1940), só
resolvido com a colaboração dos EUA.
Quando Aranha partiu para os EUA (AHI, 28 jan. 1939; 30 jan. 1939), sua
principal preocupação era conseguir suporte econômico, financeiro e militar para tentar
solucionar os graves problemas que o Brasil enfrentava naquele momento. Precisava de
ajuda econômica para desenvolver o país, aporte financeiro para voltar a equacionar o
pagamento da dívida externa, que o Brasil tinha deixado de honrar desde o ano anterior
(1938) (AHI, 08 out. 1938; 09 nov. 1938), principalmente com os credores norte-
americanos (AHI, 29 nov. 1938) e, por fim, armamento para a defesa do país, na tentativa
de cooptar os principais líderes militares brasileiros simpáticos às Potências do Eixo.
Enquanto viajava no navio New Amsterdam para os EUA, Aranha resolveu escrever uma
carta de intenções, que assinalava a necessidade do apoio econômico norte-americano
para suprir as deficiências financeiras brasileiras, argumentando que as Potências do
Eixo vinham oferecendo acordos comerciais muito satisfatórios:
“Esta colaboração, consistindo em facilitar a aquisição do aparelhamento econômico necessário, mediante o pagamento em matérias-primas, tem sido oferecida ao Brasil em diversas ocasiões pelos países totalitários, a Alemanha, Itália e o Japão, cujas necessidades de matérias-primas são prementes. [...]” “Se não puder contar com a colaboração dos Estados Unidos para a realização desse empreendimento [i.e.. a grande siderurgia] tão vital ao seu desenvolvimento, o Brasil será forçado a aceitar a de um (sic) outro país industrial. A expansão que tem tido o comércio com a Alemanha nos últimos anos não é senão a revelação da necessidade em que se acha o Brasil de aparelhar-se economicamente, pagando por seu equipamento com a única moeda que
possui – matérias-primas”. (apud HILTON, 1994, p.303).
O problema da dívida externa só foi resolvido quatro anos depois (24/11/1943) (AHI, 25
nov. 1943; 26 nov. 1943), apesar de o grande esforço do Governo Brasileiro em liberar
U$ 1 milhão de dólares para acalmar os credores norte-americanos (06/1939) (AHI, 29
jun. 1939; 30 dez. 1939), que não ficaram satisfeitos com quantia tão pequena, pois
esperavam receber dez vezes mais. Nos encontros com Roosevelt, Aranha ressaltou a
preocupante instabilidade política vivida na Europa e a possível ameaça do fascismo
estender seus domínios ao continente americano, afirmando que precisavam criar
44
mecanismos de cooperação para impedir qualquer intromissão europeia. Entretanto,
assinalou Roosevelt, seu próprio país não estava preparado para combater ataques
extracontinentais, muito menos transferir qualquer equipamento bélico para o Brasil, mas
que, em breve, esta situação se modificaria e ele poderia aprovar as demandas das
Forças Armadas Brasileiras (HILTON, 1994, p.305). Aranha ficou surpreendido com
algumas confidências reveladas pelo Presidente dos Estados Unidos, sobre as intenções
alemãs e suas estratégias para impedir que elas acontecessem:
”1)- Que a guerra europeia era inevitável; 2)- Que tudo faria para que seu país não interviesse diretamente na guerra; 3)- Que estava equipando econômica e militarmente os Estados Unidos para poderem enfrentar essa situação e ajudar os demais do continente; 4)- Que o Brasil poderia contar com o seu país e V.Exª., com a cooperação
pessoal dele [...]“. (apud LOPES, 2008, p.453).
Roosevelt recebeu as credenciais do novo Embaixador do Brasil na presença de Aranha
(AHI, 08 mar. 1939), reafirmando que os dois países estavam cada vez mais
determinados na manutenção da política de solidariedade pan-americana (HILTON,
1994, p.308). Aranha trouxe em sua bagagem acordos comerciais e econômicos
importantes como um subsídio financeiro para liquidar compras congeladas (atrasadas)13
nos EUA (U$20 milhões), um empréstimo para a criação de Banco Central do Brasil
(U$50 milhões) (HILTON, 1994, p.307, SEITENFUS, 1985, p.243) e vários acordos para
a venda de produtos brasileiros (manganês, minério de ferro, óleo vegetais e frutas), com
principal atenção para a produção de borracha no norte do Brasil (McCANN, 1995, p.108-
109), apesar dos protestos de vários senadores norte-americanos contra a aprovação
dos créditos ao Brasil (AHI, 15 mar. 1939). A contrapartida brasileira para que esses
acordos funcionassem, estava na revisão e redução dos acordos comerciais
compensados existentes com a Alemanha, tornando os produtos norte-americanos mais
competitivos que os alemães e o retorno do pagamento da dívida externa com os
credores norte-americanos. É interessante assinalar como a imprensa dos dois países
13 Contas que não foram pagas, no prazo estipulado, pelo Governo Brasileiro. Enquanto não fossem quitadas, os bens
comprados ficariam retidos.
45
cobriu os acordos realizados em Washington. McCann (1995, p.109-110) destaca que o
“New York Times” (10/03/1939):
“...viu no compromisso de relaxar controles de câmbio como um golpe no comércio de compensação da Alemanha enquanto a criação de um Banco Central vincularia a moeda brasileira ao dólar americano. As dificuldades do Brasil em prover divisas suficientes para cobrir o seu comércio de exportação-importação e os pagamentos de sua dívida externa haviam levado à ruptura dos elos com os Rothschild ingleses e a vínculos mais estreitos com bancos
americanos”.14 (apud McCANN, 1995, p.109-110)
No editorial, o jornal afirmava que as relações comerciais no mundo passavam a ter uma
nova era de normalidade, sem qualquer tipo de compensações e subsídios para as
importações/exportações15, terminando com um rasgado elogio a Aranha pelo acordo
bilateral entre o Brasil e os EUA:
“...marcavam a culminação bem-sucedida de uma das mais importantes missões
conduzidas por um estadista sul-americano (sic) durante muitos anos.” (apud McCANN, 1995, p.110).
No Brasil, o “Correio da Manhã”, um jornal geralmente pró-Aranha, de acordo com
McCann (1995, p.111) e Hilton (1994, p.309), fez duras críticas aos acordos com os norte-
americanos, afirmando no editorial:
“...o Brasil não poderia abrir mão de seu intercâmbio com a Alemanha em troca de vagas promessas de Washington, como a possibilidade de aumentar as
importações de produtos brasileiros.” (apud HILTON, 1994, p.309).
A visita de Aranha aos EUA (09/02-10/03/1939) não alcançou os objetivos
desejados pelos políticos brasileiros, que pretendiam uma assistência mais substancial
das autoridades norte-americanas e, sem qualquer tipo de interferência do Governo
Norte-Americano no comércio subsidiado com as Potências do Eixo, que era muito
promissor para a balança comercial brasileira. Os militares brasileiros ficaram
14 Tradução livre da língua inglesa. 15 Sistema único de compensações e subsídios para importações/exportações, os chamados marcos compensados ou
marcos askis (Auslander Sonderkonto für Inlandszahlungen - Conta Especial do Estrangeiro para Pagamentos
Internos).
46
decepcionados com a negativa estadunidense de fornecer material bélico para aparelhar
suas forças, afirmando que, enquanto os EUA “contribuíam” com pedidos de
solidariedade pan-americana (AHI, 15 mar. 1939; 14 abr. 1939), as Potências do Eixo
vinham cumprindo, com bastante rigor, as entregas das armas compradas pelo Brasil.
Apesar dessa insatisfação, o General Eurico G. Dutra16 concordou com a visita do Chefe
do Estado-Maior do Exército Norte-Americano (George Marshall)17 ao Brasil, mas
enfatizou que o comércio de armas com a Alemanha deveria continuar sem qualquer tipo
de restrição por parte do Governo Brasileiro. Hilton (1994, p.310) enfatiza que os militares
brasileiros se mostraram profundamente insatisfeitos com o acordo da dívida externa,
pois pretendiam utilizar todos os excedentes monetários na compra de equipamentos
militares. Devido à pressão dos militares, Vargas só disponibilizou U$ 1 milhão de dólares
para ressarcir parte da dívida com os credores norte-americanos e não os U$ 9 milhões
mencionados por Aranha quando estava nos EUA (HILTON, 1994, p.310-311).
No Brasil, Marshall (AHI, 04 mai. 1939; 13 mai. 1939) fez uma análise rigorosa
das instalações militares, das tropas e dos equipamentos brasileiros, constatando que
muita coisa deveria ser feita para ajudar os militares brasileiros em defesa do continente
americano. Ele concluiu que era necessária a instalação de bases norte-americanas,
principalmente no nordeste brasileiro, e a criação de uma “Comissão Mista Militar”18 entre
os dois países, como medidas embrionárias para o desenvolvimento e aperfeiçoamento
das Forças Armadas Brasileiras. Convidou o General Góis Monteiro19 para visitar os EUA
(AHI, 10 mai. 1939; 07 jun. 1939; 23 jun. 1939; 06 jul. 1939; 10 jul. 1939) para conhecer
o parque industrial norte-americano, que começava a se preparar para a guerra. Góis
Monteiro visitou bases e indústrias bélicas norte-americanas, retornando ao Brasil com
uma visão completamente diferente sobre a capacidade norte-americana (AHI, 19 jul.
1939) de responder quaisquer ameaças extracontinentais. Para Góis, a principal ameaça
16 General Eurico Gaspar Dutra foi Ministro da Guerra Brasileiro no período de 05/12/1936 a 29/10/1945. 17 General George Catlett Marshall foi o mais importante interlocutor militar de Roosevelt, que o elegeu Chefe do
Departamento de Guerra, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), tornando-se o principal estrategista das
operações aliadas durante o conflito. Posteriormente, foi Secretário de Estado na Presidência de Truman e criador do
plano para a reconstrução econômica da Europa (Plano Marshall). 18 A primeira reunião da Comissão Mista realizou-se em 25/08/1943. 19 General Pedro Aurélio De Góis Monteiro era Chefe do Estado-Maior do Exército Brasileiro (1937-1943), saindo
para ser o representante brasileiro no Comitê para Defesa do Continente (1944), em Montevidéu.
47
vinha da Argentina e o Exército Brasileiro precisava manter unidades bem treinadas na
fronteira sul, além de fortificar o nordeste brasileiro. Os EUA tinham que financiar armas
e equipamentos para essas regiões, simultaneamente, para que o Brasil pudesse
participar da defesa hemisférica com segurança e eficiência. É importante frisar que Góis,
logo após voltar dos EUA (08/1939), pretendeu visitar a Alemanha, depois de ter recebido
um convite formal da Wehrmacht20, mas por causa da tensão existente entre a Alemanha
e a Polônia, com tropas germânicas na fronteira polonesa, a visita foi cancelada, sendo
que poucos dias depois começou a Segunda Guerra Mundial (01/09/1939) (HILTON,
1994, p.320-322; McCANN, 1995, p.119).
1.3 NEUTRALIDADE CONTINENTAL:
Após a ocupação dos Sudetos, o restante da desprotegida Tchecoslováquia
seria ocupada pelas tropas nazistas, seis meses depois (15/03/1939), com a criação da
República da Eslováquia21 (14/03/1939), que não foi reconhecida pelos EUA (AHI, 21
mar. 1939), e transformando as regiões restantes nos Protetorados da Boêmia e
Morávia22. A próxima vítima seria a Polônia, que foi invadida no primeiro dia de setembro
(AHI, 03 set. 1939), com as declarações de “Estado de Beligerância” de Inglaterra e
França contra a Alemanha (AHI, 03 set. 1939). O Brasil declara sua neutralidade no dia
2 de setembro de 1939, como mostrado abaixo:
“1)- O Governo do Brasil abster-se-á de qualquer ato que, direta ou indiretamente, facilite, auxilie ou hostilize a ação dos beligerantes. Não permitirá, também, que os nacionais ou estrangeiros, residentes no país, pratiquem ato algum que possa ser considerado incompatível com os deveres de neutralidade do Brasil;
20 Wehrmacht era o conjunto das Forças Armadas Alemãs (Exército, Marinha e Aeronáutica). 21 Estado governado por Monsenhor Católico Jozef Tiso sob a tutela de Hitler. 22 A Boêmia e a Morávia eram territórios autônomos administrados pelos nazistas, considerados parte do Grande Reich
Alemão.
48
2)- No território do Brasil, compreendendo as águas interiores e as territoriais, com seus respectivos fundos fluviais, lacustre e marinho, e o espaço aéreo correspondente, não será tolerado ato algum dos beligerantes que possa ser tido como ofensivo da neutralidade brasileira; 3)- Não constitui infração da neutralidade a simples passagem por águas territoriais brasileiras de navio de guerra e presas dos beligerantes”. [...] 8)- É absolutamente interdito aos beligerantes fazerem do litoral e das águas territoriais brasileiras bases de operações navais contra os adversários. É igualmente vedado aos beligerantes receber nos portos do Brasil, gêneros vindos diretamente para eles em navios de qualquer nacionalidade;
[...]. (apud SEITENFUS, 1985, p.267-268).
O Governo Vargas procurava evitar qualquer tipo de atrito com os beligerantes,
impedindo que eles pudessem utilizar algum tipo de facilidade (informações e logística),
facilitando, apenas, a passagem das belonaves pelas águas territoriais brasileiras e, no
caso de aeronaves não militares, essas só poderão sobrevoar o espaço aéreo brasileiro,
mediante permissão das autoridades competentes.
Com a eclosão da guerra, que durou quase seis anos e ceifou em torno de 60
milhões de pessoas (HASTINGS, 2011, p.9), os Países Americanos resolveram marcar
uma conferência para analisarem quais medidas deveriam tomar para não serem
envolvidos no conflito. Assim, foi convocada a Primeira Reunião de Consulta de Ministros
das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas (MRE, 1944, p.21-27), no Panamá
(23/09-03/10/1939), que ratificou os acordos anteriores23 e elaborou a “Declaração Geral
de Neutralidade das Repúblicas Americanas”, com exceção do Canadá24, que
consolidava o pensamento continental de apoio mútuo. Segundo telegrama de Aranha
para Freitas-Valle25 (Berlim), as principais resoluções foram:
“1)-Criar normas comuns de neutralidade; 2)-Estudar os meios de manter o continente em paz; 3)-Melhorar as relações comerciais e defender a livre navegação do continente; 4)-Não tomar nenhuma política discriminatória, nem votar moções políticas, salvo
se resultarem das convenções anteriores por nós subscritas”. (MRE, 1944, -. 21-22; AHI, 18 set. 1939).
23 Os acordos ratificados foram os assinados nas Conferências de Buenos Aires (1936) e Lima (1938). 24 O Canadá declarou guerra à Alemanha em 13/09/1939. 25 Ciro de Freitas-Valle foi embaixador brasileiro em Berlim (1939-1942).
49
Por fim, instituiu-se uma zona neutra no mar, em torno do continente (AHI, 07 out. 1939;
10 out. 1939), de trezentas milhas26, na tentativa de impedir qualquer ato hostil
perpetrado por algum beligerante. Essa zona neutra foi desrespeitada, pela primeira vez,
em setembro de 1939 (30/09/1939), quando o cruzador pesado alemão Admiral Graf
Spee27 afundou o cargueiro inglês Clement (MILLINGTON-DRAKE, 1968, p.50-52), a
setenta milhas da costa de Pernambuco. A segunda vez seria em outubro (03/10/1939),
no último dia da Conferência do Panamá, quando o cruzador inglês Ajax pôs a pique o
mercante alemão Olinda, quarenta milhas ao largo do Rio Grande do Sul (AHI, 06 out.
1939), carregado de matérias-primas e gêneros alimentícios, vindos do Brasil (AHI, 17
nov. 1939). Outro incidente aconteceria na costa chilena (16/12/1939), quando o
mercante alemão Dusseldorff foi atacado por dois cruzadores ingleses, dentro da zona
de segurança do continente, e foi obrigado a pedir abrigo ao governo chileno, devido aos
danos sofridos pelo confronto (AHI, 16 dez. 1939; 18 dez. 1939). O principal incidente
aconteceu em dezembro (13/12/1939), quando uma batalha naval entre o Admiral Graf
Spee e três cruzadores britânicos (Achilles, Ajax e Exeter)28 foi travada no litoral nordeste
do Uruguai, dentro de águas territoriais uruguaias (AHI, 20 dez. 1939). Após curta e feroz
batalha, o navio alemão avariado e, principalmente, sem combustível, entrou pelo rio da
Prata e aportou em Montevidéu. Seu comandante, Hans Langsdorff29, pediu autorização
para permanecer no porto durante duas semanas para consertar os danos causados pela
batalha, porém, as autoridades uruguaias só concederam 72 horas, aplicando a lei
internacional de neutralidade. Sem opção, Langsdorff resolveu afundar o seu navio no rio
da Prata (SOLAR, 2006, p.319) e levar todos os seus tripulantes para serem internados
26 O limite internacional para águas territoriais era de três milhas, e foi ampliado para trezentas milhas, como “Zona
de Segurança” do Continente americano. 27 Admiral Graf Spee era um cruzador pesado equipado, com canhões de 280 mm, bem superiores aos utilizados pelos
cruzadores da época. Por causa disto, os britânicos o classificaram como Encouraçado de Bolso. 28 HMNZS Achilles (nº 70) era um cruzador leve e, durante a guerra, estava comissionado na Marinha da Nova Zelândia.
Após a batalha do Atlântico, voltou para o seu país e foi empregado no Pacífico, comboiando navios mercantes e de
tropas, na luta contra o Japão, até o final da guerra. O HMS Ajax (nº 22), também era um cruzador leve, que seria
empregado durante a guerra, praticamente, no Mediterrâneo, fazendo escolta de comboios e tropas, sofrendo diversas
avarias durante esse período, teria uma participação destacada no Dia D (06/06//1944). Entretanto, o HMS Exeter (nº
68), um cruzador pesado, seria afundado pelos japoneses no Mar de Java, em março de 1942. 29 Capitão Hans Wilhelm Langsdorff assumiu o comando do cruzador pesado Admiral Graf Spee em outubro de 1938.
Acabaria cometendo suicídio em 19/12/1939, em Buenos Aires.
50
na Argentina, com a ajuda do “Etappendienst”30 argentino (DE NÁPOLI, 2005, p.101-05).
Após terminar essa missão, escreveu cartas para familiares e suicidou-se em um quarto
de hotel, em Buenos Aires (19/12/1939).
O incidente gerou uma série de correspondências entre os Países da América
Latina, no sentido de tentarem uma atitude conjunta para protestar contra a violação da
zona de neutralidade, imposta na Conferência do Panamá. O Governo Panamenho
decidiu enviar um telegrama de protesto aos países beligerantes (Alemanha, França e
Grã-Bretanha), com a aprovação de todos os Países Latino-Americanos (AHI, 16 dez.
1939; 23 dez. 1939). Apresento abaixo, o principal teor do telegrama enviado pelo
Presidente do Panamá, Augusto S. Boyd (depositário da “Declaração do Panamá”) aos
países beligerantes (12/1939)31:
“Os Governos Americanos têm conhecimento oficial do combate naval ocorrido em 13 do corrente, no litoral nordeste do Uruguai, entre certos navios de guerra britânicos e o navio alemão Admiral Graf Spee, o qual, segundo informações fidedignas, tentou alcançar o vapor mercante francês Formose, entre o Brasil e o porto de Montevidéu, depois de ter afundado outros navios mercantes”. “Estão também informados da entrada e do afundamento da belonave alemã em águas do Rio da Prata, ao terminar o prazo que, de acordo com as regras do Direito Internacional, lhe fora concedido pelo Governo da República do Uruguai”. “Por outro lado, o afundamento e apresamento de navios mercantes alemães por navios britânicos em águas americanas é um fato publicamente comprovado, como evidenciam os casos recentes do Dusseldorf, Ussukuma e outros”. “Todos esses fatos, que ferem a neutralidade das águas americanas, comprometem os fins de proteção continental que inspiraram a declaração do Panamá de 3 de outubro de 1939, cujo primeiro parágrafo assim dispõe”: “Como medida de proteção continental, as Repúblicas Americanas, sempre que mantenham sua neutralidade, têm o direito indiscutível de conservar livres de todo ato hostil, por parte de qualquer nação beligerante não americana, as águas adjacentes ao continente americano, que consideram como de interesse primordial e de direita utilidade para as suas relações, seja o referido ato hostil praticado em terra, no mar ou no ar”. “Por conseguinte, de acordo com o método previsto naquele instrumento e a fim de evitar a repetição de atos da natureza dos supramencionados, as nações americanas resolvem formular o seu protesto junto às nações beligerantes e iniciar as consultas necessárias para fortalecer o sistema de proteção comum, mediante a adoção de regras apropriadas, entre as quais as que impedirão os navios beligerantes de se abastecer e de reparar avarias em portos americanos, quando houverem cometidos atos de beligerância dentro da zona de segurança
30 Etappendienst foi uma organização de apoio logístico e de espionagem, cuja missão principal era preparar instalações
para o reabastecimento de submarinos, navios de guerra e corsários alemães (cargueiros artilhados), idealizada pelo
Chefe do Serviço Secreto Militar Alemão (Abwehr), Almirante Wilhelm Canaris. 31 O protesto foi enviado aos três principais beligerantes (Alemanha, França e Grã-Bretanha), em 23/12/1939. A França
respondeu em 04/01/1940, a Grã-Bretanha em 14/01/1940 e a Alemanha em 14/02/1940.
51
estabelecida na Declaração do Panamá”. (MRE, 1944, p.39-40; AHI, 28 dez. 1939).
O telegrama enfatizava todas as ocorrências causadas pelos beligerantes (Alemanha e
Grã-Bretanha) dentro das águas territoriais americanas, reafirmando a coesão da política
de defesa continental, na procura de mecanismos para reprimir as atividades belicosas
dos países em guerra nas costas americanas.
As nações beligerantes continuaram a desrespeitar a zona de segurança
americana e outro caso grave ocorreu quando o cruzador Hawkins32 interceptou o
cargueiro alemão Wakama (12/02/40), a vinte milhas do litoral brasileiro, perto de Cabo
Frio, que foi afundado pela própria tripulação para que não caísse em mãos dos
britânicos. Dez oficiais e trinta e seis marinheiros foram recolhidos pelos ingleses e
levados como prisioneiros para a Inglaterra. Aranha enviou uma correspondência ao
Ministério das Relações Exteriores do Panamá, que dizia:
“Tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Ex. que, no dia 12 do corrente, o cargueiro alemão “Wakama” foi afundado pela própria tripulação, a cerca de 20 milhas do litoral, quando chamado à fala por um navio de guerra inglês, obviamente para fins de visita e captura. Decorrendo do procedimento do vaso de guerra inglês ato de hostilidade, classificado como tal pela XIII Convenção de Haia, e praticado nas águas adjacentes ao Continente Americano, que as Repúblicas Americanas têm direito de conservar livres de todo ato hostil, por parte de qualquer nação beligerante. Desejo pedir a V. Ex. que se sirva para consultar os demais Países Americanos, na forma de precedente já estabelecido, sobre a conveniência de um protesto coletivo contra essa violação da zona
marítima, que nos comprometemos preservar dos malefícios da guerra”. (AHI, 16 fev. 1940).
Diante desses novos fatos, o Presidente do Panamá, Augusto Boyd (depositário da
Declaração do Panamá), enviou outro protesto coletivo (AHI, 25 mar. 1940; 01 abr. 1940)
contra o desrespeito praticado em águas neutras americanas pela Royal Navy33, de
acordo com o estipulado na Conferência do Panamá, mas, infelizmente, totalmente
ignorado pelo Governo Britânico.
32 HMS Hawkins (nº 86) era um cruzador pesado do esquadrão posicionado nas Ilhas Falklands no início da guerra.
Em 1941, foi deslocado para atuar como escolta de comboios vindos do Continente Africano, indo para a reserva no
final da guerra. 33 Marinha Real Britânica (Royal Navy).
52
Quando a URSS invadiu a Finlândia (30/11/1939) (GILBERT, 2009, p.48), em
decorrência dos acordos assinados no “Pacto Germano-Soviético” (23/08/1939)34
(SILVEIRA e NETO, 1990, p.26-28), onde áreas de interesse territoriais fronteiriças foram
divididas entre os dois países, os Países da América Latina resolveram emitir um
protesto, mais uma vez através do Governo do Panamá, criticando, de maneira formal, a
atitude soviética de atacar o território finlandês (AHI, 07 dez. 1939; 08 dez. 1939). O Chile
se opôs a esse manifesto, alegando que era um problema específico dos países
europeus e que não houvera nenhum protesto nos casos anteriores de anexação e
invasão no continente europeu (AHI, 06 dez. 1939). Oswaldo Aranha procurou revogar a
atitude chilena, convocando o Embaixador Mariano Fontecilla, no Rio de Janeiro, na
tentativa do Governo Chileno modificar sua posição em apoio aos demais Países
Americanos (AHI, 21 dez. 1939) esquecendo o lado ideológico do problema, sabendo
que o governo democrático chileno era constituído por partidos de esquerda (Radicais,
Socialistas e Comunistas) que, em sua grande maioria, apoiavam a política externa
soviética (AHI, 22 dez. 1939). No Brasil, Vargas declarou que o único inimigo do Brasil
era a URSS, instando a Aranha para participar do protesto coletivo das Nações
Americanas e doando dez mil sacas de café aos finlandeses (HILTON, 1994, p.327). É
importante ressaltar que a única medida tomada contra a URSS foi a sua retirada da Liga
das Nações, em meados de dezembro (14/12/1939) (GILBERT, 2009, p.51). A Finlândia,
sem condições de resistir mais tempo, acabou firmando um tratado de paz com os
soviéticos (12/03/1940), cedendo um espaço significativo de suas fronteiras (10%) e uma
parte da sua capacidade industrial (12%) (CONDON, 1975, p.150).
1.4 A OPOSIÇÃO DOS EUA E DO BRASIL À PROPOSTA DE NÃO
BELIGERÂNCIA ARGENTINA:
Após a invasão da Noruega e Dinamarca pelos alemães (09/04/1940) (AHI, 09
abr. 1940; 10 abr. 1940), sem qualquer declaração de guerra, a Argentina propôs que as
34Pacto de não agressão entre a Alemanha e a URSS com duração de dez anos e com um protocolo secreto que dividiam
e colocavam a Polônia, Finlândia, Romênia, Lituânia, Letônia e Estônia em suas esferas de interesse.
53
Nações Americanas adotassem uma atitude mais dura contra as Potências do Eixo,
deixando de lado a “ficção da neutralidade” e optarem por uma política mais agressiva
de “não beligerância”, sugerindo:
“...que os Países Americanos reconsiderassem sua posição de neutros, para adaptarem-se a realidade presente, onde, os beligerantes não respeitam as regras do direito internacional relativo a neutralidade e liberdade dos que não querem se envolver na guerra. A neutralidade é ficção, um conceito morto, que deve ser substituído pelo regime de “não beligerância”, uma posição de direito
forte e ajustada a realidade atual”. (AHI, 12 mai. 1940; 14 mai. 1940).
Isto significava que a Argentina manteria a sua neutralidade, tomando as medidas
necessárias para garantir o interesse nacional, isto é, apoiaria os aliados (França e
Inglaterra), mas manteria o intercâmbio comercial com a Alemanha e Itália. Os argentinos
resolveram consultar os norte-americanos sobre a sua proposição, ficando
profundamente decepcionados, pois os EUA ainda achavam que deveriam manter-se
neutros (AHI, 13 mai. 1940), enquanto se preparavam para a guerra (AHI, 14 mai. 1940)35
e não apoiaram a proposta argentina. Na verdade, Roosevelt estava tentando se reeleger
(terceiro mandato) (AHI, 07 nov. 1940) e não poderia tomar nenhuma atitude mais rígida
contra a Alemanha, pois temia perder os votos daqueles que eram contrários
(isolacionistas) à entrada dos EUA em outra guerra europeia. Desta forma, Roosevelt
acabou reafirmando o pan-americanismo e a política da “paz pela cooperação”, baseada
na vontade recíproca da solidariedade em todo o Continente.
Não satisfeito, o Ministro Argentino Cantilo procurou o apoio brasileiro, porém,
mais uma vez, recebeu outra negativa à sua proposta, pelo governo Vargas, que temia
uma retaliação alemã se houvesse um endurecimento na política externa dos Países da
América Latina, em um momento em que elas estavam fragilizadas, sem o apoio militar
dos EUA. Sem o apoio dos Países Latino-americanos, e principalmente dos EUA, o
35 Roosevelt solicitou ao Congresso 896 milhões de dólares para a defesa nacional, principalmente, para a produção
de aviões, a defesa aérea e o treinamento de pessoal. AHI: telegrama de Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 14/05/1940.
54
Presidente Roberto Ortíz36 acabou sendo presa fácil dos militares nacionalistas que
apoiavam a Alemanha e que não queriam qualquer interferência norte-americana na
política externa argentina (AHI, 18 mai. 1940). A partir deste momento, Ortíz, um
fervoroso aliadófilo, pressionado por estes nacionalistas, mudou o rumo da sua política
externa, optando pela neutralidade durante todo o seu curto mandato, renunciando ao
cargo, quase dois anos antes (22/08/1940) da sua conclusão (27/06/1942) (AHI, 09 jun.
1940). Entretanto, o Governo Argentino faria uma última tentativa de encontrar uma
política de solidariedade continental, capaz de enfrentar os métodos agressivos de Hitler,
após a violação da neutralidade da Bélgica, Holanda e Luxemburgo (10/05/1940).
Os Países da América Latina, capitaneados pelo Uruguai, propuseram um
protesto coletivo contra a Alemanha, reafirmando a posição de neutralidade acordada no
Panamá. A Argentina afirmou que o teor da mensagem era bastante brando, insistindo
que o último parágrafo do texto, que dizia:
“As Repúblicas Americanas resolveram, por conseguinte protestar contra os ataques militares dirigidos à Bélgica, Holanda e ao Luxemburgo, ao mesmo tempo fazendo um apelo para o restabelecimento da lei, da justiça nas relações
entre as nações”. (apud HILTON, 1977, p.193).
Fosse modificado com a inserção de palavras mais duras, com o intuito de dar maior
liberdade de ação aos Países Americanos:
“As Repúblicas Americanas, em face destes fatos, reservam plena liberdade de ação para proceder como parecer melhor em defesa de seus interesses externos
e internos”. (apud HILTON, 1977, p.193).
O Uruguai, apoiado pelos EUA, insistiu na manutenção original do texto, apesar do
protesto argentino que, nesse momento, tinha recebido o apoio do Brasil (AHI, 15 mai.
1940; 17 mai. 1940). O Chile foi o único país sul-americano que se opôs ao protesto,
acreditando que, se houvesse uma modificação na sua política de neutralidade, pudesse
36 Roberto M. Ortíz foi Presidente da Argentina, no período de 20/02/1938 a 22/08/1940. Renunciou ao mandato após
sofrer sérias complicações causadas pelo diabetes, sendo substituído pelo seu vice Ramón S. Castillo que, pressionado
pelos oficiais nacionalistas, nunca rompeu ou declarou guerra às Potências do Eixo.
55
receber alguma represália dos Países do Eixo, aceitando participar do mesmo, após
pressão norte-americana (HILTON, 1977, p.194). Depois de muitos debates, o
Memorando foi enviado, na íntegra, pelo Governo do Panamá (AHI, 20 mai. 1940), que
continuava sendo o representante americano, após a primeira Conferência dos
Chanceleres. Os alemães ignoraram o protesto, dando como resposta:
“Como os países europeus, em virtude da Doutrina Monroe, não se intrometem em pendências interamericanas, não podem, em consequência, tornar os Países
Americanos partido em pendências europeias”. (AHI, 27 mai. 1940; 07 jun. 1940).
Essa resposta mostrou a ineficácia desse tipo de procedimento, dando razão ao Governo
Argentino.
1.5 A UNIDADE PAN-AMERICANA POSTA EM CHEQUE EM HAVANA:
Com vistas à derrota da Bélgica, França e Luxemburgo (06/1940), foi realizada
outra reunião de Chanceleres Americanos, em Havana (MRE, 1944, p.30-32)37, onde os
Estados Americanos mantiveram sua neutralidade e decidiram defender todas as
colônias europeias existentes no continente contra qualquer ataque alemão. As
propostas foram:
“1)- Neutralidade e Paz no Continente; 2)- Garantia do status quo das colônias europeias no continente, conforme a Resolução nº 16 do “Acordo do Panamá”; 3)- Criação de um Banco (Interamericano) no desenvolvimento das economias
das Repúblicas Americanas”. (AHI, 22 jun. 1940; 27 jun. 1940; 28 jun. 1940)
37II Conferência dos Ministros das Relações Exteriores Americanos (21-30/07/1940).
56
Os argentinos não concordaram em se intrometer na política das nações europeias,
decidindo se estas colônias eram ou não perigosas ao continente (AHI, 19 jul. 1940; 22
jul. 1940). O Governo Argentino só agiria em favor dessas colônias, caso algum
acontecimento grave surgisse e prejudicasse a soberania americana. Os argentinos
achavam que qualquer intervenção militar, realizada nessas colônias, deveria ser uma
ação conjunta entre os Países Latino-Americanos, sendo a intervenção, unicamente, de
forma temporária, até a definição sobre o destino dessas possessões (AHI, 20 jul. 1940).
Eles acreditavam que era chegado o momento de acabar com a existência de colônias
europeias no continente, transformando-as em regiões independentes ou incorporando-
as a algum país americano38. O Chile não concordou com as propostas argentinas, pois
não era favorável ao princípio de autodeterminação dessas possessões europeias,
preferindo a sugestão norte-americana sobre um mandato de ocupação dessas regiões,
caso fosse necessário, para impedir que a Alemanha pudesse utilizá-las como pontos de
apoio estratégicos que afetassem a defesa do continente. Resolveu aguardar a posição
brasileira para manifestar sua posição final sobre o assunto. O Brasil continuou com a
sua política de solidariedade pan-americana, preferindo não intervir em assuntos
europeus, mas caso todos concordassem com uma ocupação dessas possessões, fez
apenas uma ressalva, a tutela deveria ser exercida por uma única República, inclusive,
sendo ela responsável pelos ônus de tal intervenção (AHI, 18 jul. 1940). Depois de muita
discussão, todos acabaram concordando com a posição chilena e norte-americana na
manutenção do ”status quo” dessas colônias europeias, mas com restrições de utilização
das mesmas para fins contrários à política de solidariedade pan-americana (AHI, 26 jul.
1940).
Os EUA começavam a se preparar para a guerra, convocando os reservistas,
aumentando a produção bélica (AHI, 01 jun. 1940)39 e, principalmente, apoiando
irrestritamente a Grã-Bretanha, que estava sozinha lutando com os Países do Eixo, após
38 O Ministro Cantillo não pode admitir qualquer discussão sobre as Malvinas (Falklands), uma vez que essa questão
afeta a soberania Argentina. AHI: telegrama do Embaixador Rodrigues Alves ao MRE, Buenos Aires, 26/06/1940. 39 O Presidente Roosevelt solicitou, ao Congresso, mais de um bilhão de dólares de crédito adicional para a produção
de material bélico. AHI: telegrama do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE, Washington, 01/06/1940.
57
a queda da França. É interessante assinalar, que políticos norte-americanos díspares,
como o senador republicano, Arthur Vandenberg40, isolacionista convicto, e o ex-
secretário de Estado Henry Stimson41, ferrenho opositor do expansionismo agressivo das
Potências do Eixo (“Doutrina Stimson”), declararam:
“...sou favorável ao auxílio prestados aos aliados, entretanto sem o envio de
tropas norte-americanas”. (Vandenberg). “...os EUA haviam, obstinadamente, recusado demasiado tempo em reconhecer
que o lado aliado é o lado da América”. (Stimson) (AHI, 10 jun. 1940).
Políticos, intelectuais e a opinião pública dos EUA começaram aceitar a possibilidade dos
EUA entrarem em guerra. Enquanto isso, o Governo Norte-Americano, cada vez mais,
cometia atos contrários à sua neutralidade, patrulhando o Atlântico Norte fora da zona de
neutralidade, protegendo comboios de navios mercantes britânicos levando produtos
norte-americanos, cedendo (50) velhos destróieres (AHI, 05 set. 1940)42 para a
Inglaterra, em troca do arrendamento, por 99 anos, de bases britânicas no Caribe e Terra
Nova. Forças militares norte-americanas ocuparam a Groenlândia, a Islândia e, por fim,
assinaram um acordo de defesa mútua com o Canadá (AHI, 19 ago. 1940). O Congresso
Norte-Americano acabou aprovando a “Lei de Empréstimo e Arrendamento” (“Lend and
Lease”) (AHI, 08 mar. 1941)43, que ajudaria militarmente a Grã-Bretanha com o envio de
uma grande quantidade de material bélico, recebendo, em troca, o direito de explorar,
comercialmente, o mercado colonial britânico (“Open Door”) (BANDEIRA, 2006, p.115).
O sistema “Lend and Lease” seria estendido para todos os países da América Latina,
com exceção da Argentina, devido à sua posição contrária à política hegemônica norte-
americana (McCANN, 1995, p.227-228; AHI, 22 ago. 1943), com o Brasil recebendo mais
de 70% dos investimentos destinados para a América do Sul.
40 O Senador Republicano Arthur H. Vandenberg foi um político que sempre combateu a política externa de Roosevelt,
principalmente em relação ao Japão, temendo que os EUA fossem obrigados a participar de outra guerra. Após Pearl
Habour, mudou completamente de opinião, afirmando que o isolacionismo havia morrido, a partir daquela data. 41 Henry L. Stimson foi Secretário de Guerra de Roosevelt, criando um exército de mais de 8,5 milhões de soldados,
até o final do conflito. 42 O Governo Alemão fez um forte protesto contra o arrendamento dos 50 destróieres norte-americanos à Grã-Bretanha.
AHI: telegrama do Embaixador Freitas Valle ao MRE, Berlim, 05/09/1940. 43 O Senado Norte-Americano aprovou (60 votos contra 31) a Lei de Empréstimo e Arrendamento à Grã-Bretanha e a
outros países vítimas de agressão pelas Potências do Eixo. AHI: telegrama de Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 08/03/1941.
58
No Canadá (Terra Nova), Roosevelt e Churchill participaram da Conferência do
Atlântico para estudar uma nova ordem mundial (criação da “Carta do Atlântico”)44, que
seria baseada em oito princípios fundamentais, cujo conteúdo foi divulgado em 14 de
agosto de 1941. Os princípios desse documento foram o fundamento da instauração da
Organização das Nações Unidas (ONU):
“1)- Nenhum ganho territorial seria buscado pelos EUA ou pela Grã-Bretanha; 2)- Modificações territoriais devem estar de acordo com os desejos livremente expostos pelos povos atingidos; 3)- Respeitam o direito de todos os povos de escolherem a forma de governo sob a qual querem viver e desejam que se restituam os direitos soberanos e a independência aos povos que deles foram despojados pela força; 4)- Se empenharão para que todos os estados, grandes ou pequenos, vitoriosos ou vencidos, tenham acesso em igualdade de condições ao comércio e às matérias primas do mundo de que precisem para a sua prosperidade econômica; 5)- Desejam promover, no campo da economia, a mais ampla colaboração entre todas as nações, com o fim de conseguir, para todos, melhores condições de trabalho, prosperidade econômica e segurança social; 6)- Depois da destruição completa da tirania nazista, esperam que se estabeleça uma paz que permita a todas as nações os meios de viver em segurança dentro de suas próprias fronteiras e, aos homens, em todas as terras, a garantia de existências livres de temor e de privações; 7)- Essa paz deverá permitir a todos os homens cruzar livremente os mares e oceanos; 8)- Acreditam que todas as nações do mundo, por motivos realistas assim como espirituais, deverão abandonar todo o emprego da força, estabelecendo um
sistema mais amplo e duradouro de segurança geral”. (Carta do Atlântico, Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da USP)45
Apesar de sua neutralidade, os EUA acordaram, com a Grã-Bretanha, a destruição
completa do nazismo, mostrando as intenções bélicas do governo Roosevelt e o seu ódio
para com os alemães (BANDEIRA, 2006, p.131-132). Até Churchill ficou espantado com
o conteúdo dos artigos sexto e oitavo, afirmando que tal ato implicava em uma declaração
de guerra (BANDEIRA, 2006, p.115-116), como ele destaca em suas memórias da
Segunda Guerra Mundial:
44 A discussão da Carta do Atlântico (09-12/08/1941) foi realizada no encouraçado britânico Prince of Wales, na costa
da Terra Nova, Canadá. 45 Carta do Atlântico (14/08/1941). Biblioteca Virtual de Direitos Humanos – Universidade de São Paulo – USP.
Disponível em: www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-Internacionais-da-Sociedade-das-Nações-1919-
a-1945/carta-do-atlantico-1941.html. Acessado em 26 mar. 2013.
59
“Foi espantoso o simples fato de os Estados Unidos, ainda tecnicamente neutros, aliarem-se a uma nação beligerante numa declaração dessa natureza. A inclusão de uma referência no texto à “destruição final da tirania nazista” (o que se baseou numa frase que aparecera em meu rascunho oficial) equivaleu a um desafio que, em circunstâncias normais, implicaria uma ação de guerra. Finalmente, um aspecto não menos impressionante foi o realismo do último parágrafo, onde havia uma clara e ousada sugestão de que, passada a guerra, os Estados Unidos se aliariam a nós no policiamento do mundo, até o estabelecimento de uma ordem
melhor.” (CHURCHILL, 1995, p.564-565)
Quase um mês depois (24/09/1941), vários países aderiram aos princípios da
Carta, como o autor apresenta na tabela abaixo:
TABELA 1:
PRIMEIROS PAÍSES QUE ADERIRAM À CARTA DO ATLÂNTICO46 Nº PAÍSES Nº PAÍSES
01 Austrália 14 Holanda
02 Bélgica 15 Honduras
03 Canadá 16 Índia
04 China 17 Iugoslávia
05 Costa Rica 18 Luxemburgo
06 Cuba 19 Nicarágua
07 El Salvador 20 Noruega
08 EUA 21 Nova Zelândia
09 França Livre47 22 Panamá
10 Grã-Bretanha 23 Polônia
11 Grécia 24 República Dominicana
12 Guatemala 25 Rússia
13 Haiti 26 Tchecoslováquia
14/09/1941 24/09/1941
46 Carta do Atlântico (14/08/1941). Biblioteca Virtual de Direitos Humanos – Universidade de São Paulo – USP.
Disponível em: www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-Internacionais-da-Sociedade-das-Nações-1919-
a-1945/carta-do-atlantico-1941.html. Acessado em 26 mar. 2013 47 A França Livre, sob a liderança de Charles de Gaulle, aderiu à Carta (09/1941), ainda durante a ocupação alemã,
posteriormente, com a libertação de Paris e de quase todo território francês, o governo provisório reafirmou a adesão
à Carta do Atlântico (12/1944).
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O Brasil aprovou a Carta do Atlântico, em 08/02/1943 (AHI, 08 fev. 1943), conforme nota
do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e uma circular para as Missões
Diplomáticas Brasileiras no Exterior:
“Em reunião do Ministério realizada hoje, no Palácio do Catete, sob a presidência do Chefe de Estado, resolveu o Governo Brasileiro dar formal adesão à declaração das Nações Unidas de primeiro de janeiro do ano passado e à Carta do Atlântico a que a mesma se refere. Nesse sentido, o Ministro das Relações Exteriores expediu as necessárias comunicações às missões diplomáticas brasileiras e autorizou a Embaixada em Washington a notificar dessa decisão os
participantes da referida declaração”. DIP. (MRE, 1944, p.226).
“Queira comunicar ao Governo desse país que o Governo Brasileiro acaba de aderir formalmente à Carta do Atlântico e à Declaração das Nações Unidas, transmitindo essas adesões a todos os Consulados Brasileiros nesse país”.
Circular nº1698. (MRE, 1944, p.226).
O país adere, oficialmente, à Carta do Atlântico com a intenção de participar das futuras
reuniões, que surgirão após o final da guerra, com o nascimento de um novo sistema que
promoverá uma relação mais harmoniosa nas esferas política, econômica, comercial e
de seguridade social.
O Governo dos EUA acusou o recebimento do documento, ressaltando a
importância política desse posicionamento do Governo Brasileiro na luta contra as forças
reacionárias fascistas das Potências do Eixo:
“O Departamento de Estado acusou o recebimento da nota sobre a adesão do Brasil à Declaração das Nações Unidas, exprimindo a satisfação deste Governo de haver o nosso país, se associado, formalmente, aos princípios da Carta do Atlântico na luta contra as forças brutais que querem subjugar o mundo. Transmitirá nossa comunicação aos governos das Nações Unidas. O Subsecretário de Estado informou-me, em carta, que haverá no dia 4 de março, na Casa Branca, uma cerimônia de saudação ao Brasil e ao Iraque, fazendo-se
pública, nessa ocasião, a declaração do Governo brasileiro”. (AHI, 22 fev. 1943).
Os EUA aprovam e saúdam a inclusão do Brasil e do Iraque, prometendo uma cerimônia
de adesão, salientando a importância de se constituir um organismo capaz de modificar
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e arbitrar as futuras disputas internacionais, prevalecendo sempre o bem estar social das
populações envolvidas.
1.6 RUPTURA DAS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS COM AS POTÊNCIAS DO
EIXO:
Na III Conferência dos Chanceleres Americanos (MRE, 1944, p.12-13)48,
realizada no Rio de Janeiro, os norte-americanos, que já estavam em guerra,
propuseram, de imediato, o rompimento integral de todos os Países da América Latina
com as Potências do Eixo (Alemanha/Itália/Japão)49. Todos concordaram, com a
exceção da Argentina e do Chile, que resolveram manter a neutralidade (AHI, 10 jan.
1942; 14 jan. 1942). O Estado-Maior do Exército Argentino advertiu ao Presidente Castillo
que não aceitava qualquer compromisso que implicasse em rompimento das relações
com os Países do Eixo, afirmando que tinha dúvidas se os EUA haviam sido, realmente,
o país agredido (AHI, 23 jan. 1942). É importante frisar que a Argentina estava em litígio
diplomático com a Alemanha, em função das investigações realizadas pela “Comisión de
Investigación de las Actividades Antiargentinas” (CIAA) sobre a participação do
Embaixador Alemão, Edmund von Thermann50, em atividades contra a soberania
argentina51, que originou a retirada dos respectivos embaixadores (AHI, 30 dez, 1941).
O Chile não queria romper relações diplomáticas, nem declarar guerra aos Países do
Eixo, porque suas Forças Armadas estavam despreparadas para defender o país de um
ataque japonês ou alemão, temendo, principalmente, retaliações à sua marinha mercante
(AHI, 29 dez. 1941; 05 jan. 1942; 05 jan. 1942). A imprensa chilena, também, era
48 III Conferência dos Ministros das Relações Exteriores Americanos (15-28/01/1942). 49 O Conde Ciano (Ministro das Relações Exteriores da Itália) declarou que Mussolini teve um forte impulso em
declarar guerra a todas as Repúblicas Americanas, para obrigar aos EUA, o trabalho de defender uma vasta área
continental. Ciano conseguiu demovê-lo, segundo suas palavras, de “tamanha insanidade”. MOSELEY, Ray. O
Conde Ciano – Sombra de Mussolini. São Paulo: Globo Livros, 2012, p.188. 50 W. Emil Edmund von Thermann foi embaixador alemão na Argentina de 1933 a 1942, se filiando às Waffen SS em
1943. 51Divulgação de propaganda fascista, disseminação de artigos antissemitas e apoio a organizações nazistas que agiam
na Patagônia (Etappendienst). Historia General de las Relaciones Exteriores de la República Argentina – La Actitud
del Gobierno Argentino ante la Actividad de los Grupos Nacionalsocialistas. Disponível em: www.argentina-
rree.com/9/9-028.htm. Acessado em: 15 jan. 2013.
62
contrária ao rompimento, como mostra o telegrama do embaixador brasileiro, S. de
Souza Leão Gracie52:
“Os jornais chilenos repudiam o rompimento das relações com Alemanha, Itália e Japão, salientando o perigo que poderá trazer ao Chile, país completamente
desarmado, caso aceita a proposta norte-americana”. (apud AHI, 20 jan. 1942).
O Chile era favorável à manutenção da unanimidade nas resoluções da
solidariedade continental, mas, devido à sua debilidade militar, agiria contra essa política,
apoiando a proposta argentina de neutralidade (AHI, 22 jan. 1942). Inclusive, o Brasil
chegou a titubear na sua posição, temendo as ameaças, pouco veladas, vindas de Berlim
e as pressões políticas dos governos italianos e japoneses, através dos seus respectivos
embaixadores no Brasil (Ugo Sola e Itaro Ishii) (McCANN, 1995, p.204-205; AHI, 08 jan.
1942). Os alemães acusavam o Governo Brasileiro de permitir a presença de aviões
norte-americanos em suas bases no nordeste, de violar o princípio de neutralidade e,
caso adotasse o rompimento das relações diplomáticas com os Países do Eixo, sofreria
as ameaças decorrentes dessa decisão. Outra grande preocupação, principalmente dos
militares brasileiros, era a política argentina de não adesão ao pan-americanismo, que
obrigava ao Exército Brasileiro reforçar as suas fronteiras no sul (McCANN, 1995, p.205-
206), temendo algum movimento de elementos fascistas com apoio de grupos
nacionalistas argentinos. Assim, só apoiaria a resolução norte-americana se os
argentinos também o fizessem. Depois de muita pressão e discussões, os argentinos
aceitaram assinar a resolução, que “recomendava” e não “obrigava” os Países da
América Latina a romperem relações diplomáticas com os Países do Eixo. O Brasil
acabou aceitando a proposta norte-americana e rompeu relações diplomáticas com a
Alemanha, Itália e Japão, em 28 de janeiro de 1942 (AHI, 28 jan. 1942). O Governo
Brasileiro resolveu acatar a posição dos EUA, ingressando em uma empreitada
arriscada, pois, naquele momento, a guerra ainda pendia, favoravelmente, às Potências
do Eixo, apesar dos primeiros reveses alemães, na Rússia e na Líbia, indicarem que as
vitórias fáceis haviam terminado. Na Quinta Sessão do Conselho de Segurança Nacional
52 Samuel de Souza Leão Gracie foi embaixador na Bolívia e Ministro Interino das Relações Exteriores em 1946.
63
(10/01/1942), o governo decidiu cooperar e auxiliar, na medida do possível, para o
estabelecimento de uma forte e estreita união continental53.
O Ministro Aranha enviou um telegrama para as suas respectivas embaixadas,
na Alemanha, Itália e Japão, com o seguinte conteúdo:
“O Presidente da República resolveu hoje que fosse feita a ruptura de relações quer diplomáticas quer comerciais com os três países do Eixo. Essa ruptura terá lugar hoje às dezoito horas, segundo hora local, ao mesmo tempo em que será decretada a cassação do exequatur dos cônsules daqueles países no Brasil. Baseando-se no texto do telegrama anterior desta Secretaria de Estado, de 23 do corrente, Vossa Excelência passará nota ao governo deste país, pedindo ainda passaporte para retirar-se cm todos os brasileiros que servem nessa Embaixada e nos consulados brasileiros em território alemão/italiano/japonês”.
Ministério das Relações Exteriores, Rio de Janeiro 28/01/1942. (MRE, 1944, p.22, p.29, p.33).
Depois expediu uma correspondência para cada embaixada dos Países do Eixo, no Rio
de Janeiro, informando a ruptura diplomática, seguindo a política pan-americana
continental:
Senhor Embaixador: “As Repúblicas Americanas, presentemente reunidas no Rio de Janeiro, [...] recomendaram a ruptura de suas relações diplomáticas com a Alemanha, a Itália e o Japão, [...] À vista dessa recomendação, é o Governo Brasileiro levado a suspender as relações diplomáticas e comerciais com a Alemanha/Itália/Japão. Nesta data, o Embaixador do Brasil em Berlim/Roma/Tóquio recebeu instruções para fazer essa comunicação ao Governo da Alemanha/Itália/Japão e pedir passaportes, a fim de retirar-se do país acompanhado do pessoal da Embaixada a seu cargo, dos Cônsules e funcionários consulares na Alemanha/Itália/Japão e na França ocupada, bem como dos demais brasileiros que ali se achem em serviço oficial do Brasil. Em tais condições, tendo cessado a função de Vossa Excelência entre nós, Senhor Embaixador, sinto ser obrigado a remeter-lhe o passaporte que o habilita e ao pessoal de sua Missão a seguirem, com segurança, para o seu país. Devo, além, disso, declarar a Vossa Excelência que, nesta data, foi cassado o exequatur concedido aos agentes consulares alemães no Brasil. Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Excelência os protestos da minha mais alta consideração”. Oswaldo Aranha – Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Rio de Janeiro,
28/01/1942. (MRE, 1944, p.23, p.30, p.33-34).
53 Quinta Seção do Conselho de Segurança (10/01/1942) - Nacional Arquivo Nacional (SIAN). Disponível em:
www.arquivonacional.gov.br/sian/inicial.asp. Acessado em: 20 mai. 2013.
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O Embaixador Freitas Valle, de Berlim, enviou um telegrama para Aranha, explicando
como foi o encontro com os representantes do Ministério das Relações Exteriores
Alemão:
“Pedi, às 9 horas de hoje, audiência ao Ministro von Ribbentrop e me foi respondido que me receberia o Conselheiro Intimo Freytag, às 11hs.30 Depois de resumir, entreguei-lhe a seguinte nota: “Senhor Ministro: Como Vossa Excelência sabe, o Brasil é, com os demais Estados Americanos, firmador de acordos mediante os quais se preceitua que qualquer ataque contra uma nação do Continente deve ser considerado como ataque a todos e a cada um dos Países Americanos, constituindo ameaça imediata à liberdade e independência da América. Tais acordos foram reafirmados na resolução aprovada unanimemente em 23 do corrente pela Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores Americanos, que no dia 15 se congregaram no Rio de Janeiro. No dia 7 de dezembro produziu-se uma agressão caracterizada do Japão contra os Estados Unidos da América e logo depois declararam-lhe guerra a Alemanha e a Itália, solidarizando-se com o agressor. Em vista de tal atitude, coerente com os compromissos continentais do Brasil, resolveu o Presidente da República romper as relações diplomáticas e comerciais com a Alemanha e me encarrega de levar tal decisão ao conhecimento de Vossa Excelência. Tenho a honra de apresentar os meus votos pela felicidade pessoal de Vossa Excelência”. Respondeu que as relações da Alemanha com o Brasil ficavam encerradas. A entrevista foi curta e correta. Logo depois o Secretário João de Carvalho Morais foi à Legação de Portugal entregar a nota confiando-lhe os nossos interesses e o Secretário Carlos Buarque de Macedo foi ao Protocolo pedir os meus passaportes e fornecer a lista da comitiva. Disseram-lhe que ainda nada havia
sido resolvido a esse respeito”. Cyro de Freitas Valle, Berlim, 02/02/1942. (MRE, 1944, p.22).
O mesmo procedimento foi realizado pelo Embaixador Moniz Gordilho, em
Roma:
“Senhor Ministro: Tendo os trabalhos da Conferência do Rio de janeiro, realizada entre 15 e 28 de Janeiro do corrente ano, culminando com a recomendação aos Governos das Repúblicas Americanas de romperem as suas relações diplomáticas com o Japão, Alemanha e Itália, por haver o primeiro desses Estados agredido e os outros dois, declarado guerra a um país americano, determinou Vossa Excelência, com o telegrama nº 25, de 28 de janeiro último, que eu apresentasse nota ao Governo Italiano, informando-o de que o Governo do Brasil, de acordo com essa recomendação, resolvera interromper as suas relações diplomáticas e comerciais com a Itália, a partir daquele dia, às 18 horas, hora do Rio de Janeiro. O telegrama nº 25 só me chegando às mãos às 10 da noite, hora de Roma, não me foi possível dar execução imediatamente às ordens recebidas. No dia seguinte, pela manhã, pus-me logo em contacto com o Gabinete do Ministro dos Negócios Estrangeiros, solicitando uma audiência urgente com a Sua Excelência o Conde Ciano. Depois de reiteradas gestões no sentido de obter a entrevista que pedi, foi-me respondido que o Ministro dos Negócios Estrangeiros, ocupado com a visita a Roma do Marechal Goering, não me poderia receber, mas que,
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visto tratar-se de assunto urgente, o Chefe do Gabinete de Sua Excelência atender-me-ia imediatamente. Às doze horas e meia em ponto, estava no Gabinete do Marquês Lanza d’Ajeta, a quem cientifiquei a missão de que me achava incumbido, entregando-lhe, em seguida, a nota nº 41, nos termos das instruções que recebi. Terminada a breve entrevista, o Marquês d’Ajeta fez-me acompanhar, por um dos seus secretários, à presença do Chefe do Cerimonial, Ministro Geisser Celesia Di Vegliasco, para com este entender-me sobre as facilidades, que, na minha nota nº 41, solicitara do Governo Italiano, relativamente à minha retirada deste país justamente com todos os funcionários que aqui se encontravam a serviço do Governo Brasileiro. O Chefe do Cerimonial, [...] já a par do que havia sucedido e ao ser por mim cientificado de que Portugal ficaria encarregado da defesa dos interesses brasileiros, disse-me que preferia que as negociações para a partida do pessoal de ambos os países fossem tratadas diretamente através das Missões extintas, pedindo-me que, não obstante a assistência eventual do representante da nação protetora informasse nesse sentido Vossa Excelência”. Moniz Gordilho, Roma,
31/03/1942. (MRE, 1944, p.28-29).
A imprensa e políticos norte-americanos ressaltam a importância da posição brasileira
em relação ao pan-americanismo e em defesa do continente americano, fazendo severas
críticas à posição da Argentina:
“A imprensa norte-americana enalteceu a cooperação do Brasil para a unidade de pensamento das Américas diante da guerra. O Brasil, segundo ela, assume a liderança do rompimento com as Nações do Eixo e, pedem que o Presidente
Vargas interceda ao Presidente Argentino que reveja sua posição”. (apud AHI, 19 jan. 1942); “Cordell Hull salienta que o discurso do Presidente Vargas na Associação Brasileira de Imprensa, demonstra, mais uma vez, o seu compreensivo e claro descortínio da solidariedade econômica, da segurança e do bem-estar de todas
as nações americanas”. (AHI, 20 jan. 1942); “Políticos e imprensa norte-americanos protestam contra a declaração final da Conferência, que recomenda e não obriga o rompimento integral. Dizem que foi
a maior vitória diplomática da Argentina”. (apud AHI, 24 jan. 1942).
Portugal (MRE, 1944, p.36) aceitou ser o representante dos interesses brasileiros nesses
países e a Espanha (MRE, 1944, p.36) ficou encarregada dos interesses alemães e
japoneses no Brasil. Por fim, a Suíça (MRE, 1944, p.38) foi a protetora dos interesses
italianos em terras brasileiras.
1.7 A RETALIAÇÃO DAS POTÊNCIAS DO EIXO:
66
Após a Conferência do Rio de Janeiro, os EUA aumentaram a sua participação
militar no continente, com Roosevelt pedindo a Vargas permissão para o envio de
militares norte-americanos para as bases do Norte/Nordeste (Belém, Natal e Recife), que
estavam sendo construídas pela “Pan-American Airways” (PAA), alegando que os EUA
não podiam utilizar a rota do Mediterrâneo para ajudar os britânicos, e que era
imprescindível aos voos, com destino à África, uma escala em Natal. A princípio, o
Governo Brasileiro era contra a vinda de militares norte-americanos para as bases do
saliente nordestino, aceitando apenas a presença de técnicos e mecânicos, apesar do
país ter assinado um acordo militar no ano anterior (05/1941), quando aprovou a
instalação de aeroportos na região norte/nordeste. Neste acordo, a Marinha de Guerra
Norte-Americana recebeu permissão para atracar nos portos brasileiros para
reabastecimento e concerto de avarias, seguindo os preceitos da política de
solidariedade pan-americana (SEITENFUS, 1985, p.352). É interessante mostrar um
telegrama de Aranha para os oficiais brasileiros que faziam parte da Missão Militar nos
EUA, instruindo-os a não permitir a vinda de militares estadunidenses para o Brasil:
“Queira dizer ao Almirante Castro e Silva que nas suas conversas com autoridades navais americanas, deverá seguir as normas já transmitidas ao General Bittencourt [...] no que se refere a construção de campos de aviação, eles deverão ser construídos por nós, com os elementos que nos proporcionam este país, ficando aberto ao uso das Nações Americanas, nos termos dos compromissos de Panamá e Havana. Os navios de guerra americanos no serviço de patrulhamento da faixa continental continuarão a usar os nossos portos e
bases navais, nas mesmas condições dos tempos de paz”. (AHI, 06 mai. 1941).
Outro telegrama de Aranha enfatiza esta posição de repúdio com a presença de soldados
estadunidenses no Brasil, quando o Embaixador Brasileiro é repreendido por enviar um
telegrama direto para o Presidente Vargas, liberando um grupo de fuzileiros navais para
o nordeste:
“O desembarque de fuzileiros navais armados, em vez de técnicos e mecânicos, conforme seu telegrama direto à Presidência trouxe contratempos que seria de toda vantagem evitar, por isso lhe recomendo, em nome do Senhor Presidente que, em futuros pedidos que possam importar em decisão de Sua Excelência.
67
Seja você muito preciso e averigue bem aí os fatos antes de com ele se
comunicar”. (AHI, 24 dez. 1941).
Entretanto, com a guerra se aproximando do continente, com ataques de submarinos
alemães no Atlântico Sul, da importância estratégica do saliente nordestino e da ameaça
de Dakar, sob a tutela de Vichy, o número de militares norte-americanos aumentaria
consideravelmente (McCANN, 1995, p.217). O Governo Brasileiro acabou autorizando
que três companhias de fuzileiros navais dos EUA fizessem o patrulhamento das bases
militares em Belém, Natal e Recife, além da presença de pilotos e elementos da Marinha
norte-americana em solo brasileiro (McCANN, 1995, p.190). O campo de aviação de
“Parnamirim Field” (Natal) transformou-se na maior base aérea norte-americana fora do
território dos EUA, recebendo todos os tipos de aviões, inclusive as gigantescas B-29
Superfortalezas Voadores pressurizadas, que foram empregadas contra o Japão
(MUYLAERT, 2012, p. 118). O acordo mais importante realizado, entre os dois países,
foi a assinatura do programa “Lend and Lease” (03/03/1942), que fixou em 200 milhões
de dólares as importações de armamentos pelo Brasil, com uma redução de 65% nos
preços (McMANN, 1995, p.215-216; BANDEIRA, 1978, p.284; SEITENFUS, 1985,
p.393). Foram também assinados acordos sobre as exportações de ferro e borracha para
os EUA, sendo que, no segundo caso, envolveu toda a produção brasileira destinada à
exportação, em um período de cinco anos.
1.8 DECLARAÇÃO DE GUERRA ÀS POTÊNCIAS DO EIXO:
Roosevelt propôs a Vargas um acordo militar para o patrulhamento da Guiana
Holandesa (Suriname) com o Brasil, enviando tropas, em conjunto com os EUA, para a
proteção das minas de bauxita da região (DAP, 24 nov. 1941). Com a participação
brasileira no Suriname, ficaria mais fácil convencer o Governo Brasileiro da necessidade
de aumentar os efetivos militares norte-americanos em solo brasileiro, principalmente,
agora que o Governo de Vichy havia feito um acordo com os alemães para que estes
utilizassem Dakar como base para seus submarinos, acordo que não vingou, em função
dos esforços realizados pelos norte-americanos com os militares franceses ligados a De
Gaulle, após uma tentativa frustrada dos britânicos de atacar o porto colonial francês
68
(GILBERT, 2009, p.172; DE BELOT, 1949, p.109-111). O Estado-Maior Brasileiro
declinou do convite, informando não estar preparado para auxiliar as forças norte-
americanas no Suriname. É importante afirmar que, após o rompimento das relações
diplomáticas com a Alemanha e a Itália, o Brasil perdeu 13 navios mercantes (SANDER,
2007, p.97; MRE, 1944, p.59-138; CANSANÇÂO, 1987, p.19-38; CASTELLO BRANCO,
1960, p.50-64; DUARTE, 1967, p.48-51, p.85-103, p.107-127)54 até o ataque perpetrado
por submarinos alemães, na costa brasileira, em agosto de 1942.
A Argentina e Chile também tiveram perdas, que, embora bem menores,
provaram que a neutralidade não era uma política capaz de resguardar a segurança que
eles almejavam (Historia General de las Relaciones Exteriores de la República Argentina,
p.3-4; AHI, 17 mar. 1942; 17 mar. 1942; 19 mar. 1942)55. Em 1942 (14/07), o Almirante
Karl Dönitz, comandante da Força de Submarinos Alemã (U-boats), ordenou uma
ofensiva contra navios brasileiros, como represália aos ataques realizados por aviões
norte-americanos, baseados em Natal (“Parnamirim Field”), com tripulações mescladas
de oficiais estadunidenses e brasileiros (em treinamento), aos submarinos alemães no
Atlântico Sul (DÖNITZ, 2006, p.383), e enviou o U-507 para atacar navios mercantes, ao
largo da costa brasileira. O ato de represália do U-507 afundou, em poucos dias (15-
19/08/42), cinco mercantes de cabotagem e um veleiro (DÖNITZ, 2006, p.403)56,
matando 607 pessoas. Em suas memórias, Dönitz reconheceu que foi um grave erro
empurrar o Brasil para a guerra, em lugar de mantê-lo neutro, apesar da existência de
bases norte-americanas no território brasileiro (DÖNITZ, 2006, p.403). Essa ação de
hostilidade alemã gerou uma grande repercussão de repúdio e ódio na opinião pública
brasileira, que o governo de Getúlio Vargas foi instado a declarar guerra à Alemanha e à
Itália, em 31 de agosto de 1942.
54Navios Brasileiros – [Fevereiro/1942 – “Cabedelo”, “Buarque” e “Olinda”; Março/1942 – “Arabutã” e “Cairu”;
Maio/1942 – “Parnaíba”, “Comandante Lira” e “Gonçalves Dias”; Junho/1942 – “Alegrete” e “Pedrinhas”; Julho/1942
– “Tamandaré”, “Piave” e “Barbacena”]. 55Navios Argentinos – [Uruguay” (05/1940) e Rio Tercero (06/1942)] - Historia General de las Relaciones Exteriores
de la República Argentina – Las Actividades Del Nazismo en La Argentina. Disponível em: www.argentina-
rree.com/9/9-027.htm. Acessado em: 15 jan. 2013; Navio Chileno – [Tolten (03/1942)]. 56Navios Afundados (08/1942) – [“Baependi”, “Araraquara”, “Aníbal Benévolo”, “Itagiba”, “Arara” e o veleiro
“Jacira”]. Em 13 de janeiro de 1943, um avião Consolidated Catalina (PBY-5) norte-americano avistou o U-507, bem
ao largo da costa de Natal e o destruiu utilizando cargas de profundidade e todos os seus tripulantes morreram (54).
69
1.9 APOIO DEFINITIVO AO PAN-AMERICANISMO:
Com o Brasil em guerra com a Alemanha e a Itália, a cooperação
estadunidense-brasileira se intensificou drasticamente, colocando os brasileiros como o
principal parceiro dos EUA na América Latina, tanto na área econômica, política e militar.
No setor econômico, os norte-americanos:
1)- Intensificaram o comércio de matérias-primas fundamentais para a sua
indústria bélica;
2)- Ajudaram o Governo Brasileiro a fechar um acordo com os credores norte-
americanos, fornecendo-lhe ouro para aumentar as suas divisas para a
estabilização do câmbio, como mostra este telegrama de Oswaldo Aranha ao
Embaixador Carlos Martins Pereira Souza:
“Queira entrar em entendimento com esse Governo para ampliação e prorrogação do acordo assinado em Washington, pelo Ministro Souza Costa, em julho de 1937, sobre aquisição de ouro. O máximo de ouro a ser adquirido deve ser elevado a U$ 100 milhões de dólares e o prazo, prorrogado por mais cinco anos, isto é, até 15 de julho de 1947. O texto do mencionado acordo foi enviado a esta Secretaria de estado com o ofício dessa Embaixada nº 294, de
30/07/1937”. (AHI, 29 jul. 1942).
3)- Emprestaram recursos para o refinanciamento da sua dívida externa,
conforme as regras abaixo:
“Transmiti à imprensa norte-americana, o texto do Decreto Lei nº [...] e os respectivos anexos 1 e 3, que regula o acordo com os Portadores norte-americanos de Títulos Brasileiros, para o pagamento da nossa dívida externa”.
(AHI, 26 nov. 1943).
4)- Financiaram a extração da borracha na Amazônia;
5)- Liberaram recursos para a instalação de uma indústria siderúrgica no país.
(McCANN, 1995, p.163; AHI, 04 jun. 1943).
O “Export Bank” resolveu financiar a siderúrgica, ainda antes dos EUA entrarem em
guerra, como vemos abaixo:
70
“Tenho a grande satisfação de comunicar que Sumner Welles acaba de me informar que a “Reconstruction Finance Corporation”, presidida pelo Sr. Jessé Jones, declara, oficialmente, que assumirá o financiamento da indústria siderúrgica no Brasil, com a cota inicial de U$ 10 milhões de dólares, podendo ser, entretanto, essa soma aumentada de acordo com as necessidades do plano brasileiro. Jones manifestou o desejo de que confiemos a construção, organização e administração, por prazo de alguns anos, a uma empresa norte-americana. Fico feliz pelo êxito das negociações que foram iniciadas, cerca de 6 meses atrás, com diversas organizações financeiras oficiais norte-americanas para a solução do nosso problema siderúrgico”. Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza, Washington. (AHI, 31 mai. 1940).
Finalmente, o acordo para a construção da siderúrgica no Brasil é assinado:
“Tenho a honra de comunicar a Vossa Excelência que foram trocadas cartas, entre o Dr. Guilherme Guinle e o Sr. Jessé Jones, assegurando o crédito de U$ 20 milhões de dólares, pelo prazo de 15 anos a juros de 4%, destinado à construção da usina siderúrgica, de acordo com o plano adotado pela Comissão
brasileira”. Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza, Washington. (AHI, 26 set. 1940).57
A construção, organização e o gerenciamento do empreendimento estavam a cargo,
inicialmente, de uma empresa norte-americana, até que profissionais brasileiros fossem
treinados e pudessem substituir os norte-americanos.
No setor militar, a cooperação era intrínseca por causa da posição estratégica
do saliente nordestino, bem como da necessidade de aumentar a vigilância do Atlântico
Sul, por onde passavam muitos navios mercantes carregados com matérias-primas
necessárias para a indústria de guerra norte-americana. É verdade que, no ano de 1942,
devido à falta de equipamentos (aviões e navios), a própria costa norte-americana estava
bastante desprotegida, com os submarinos das Potências do Eixo destruindo navios
aliados (“Tempo Feliz”). Para termos uma ideia da facilidade com que eles se
movimentavam na área, nos meses de fevereiro e março (1942), o Brasil teve quatro
(Buarque, Olinda, Arabutã e Cairu) navios afundados na costa estadunidense (ALVES,
2002, p. 169ö). Outros cinco (Cabedelo, Parnaíba, Comandante Lira, Pedrinhas e
57 O Export Bank financiou a empreitada em U$ 20 milhões de dólares, indo até a U$ 25 milhões, com prazo de 10
anos para pagar, com carência de 3 anos e juros de 4%. AHI: Telegrama do Embaixador Carlos Martins Ferreira e
Souza ao MRE, Washington, 31/05/1940.
71
Tamandaré) foram postos a pique no Atlântico Norte-Central, entre fevereiro e junho de
1942. Com a capacidade industrial norte-americana em plena expansão, essas falhas no
patrulhamento, existentes no norte, foram sendo eliminadas e os submarinos alemães
passaram a ser caçados, impiedosamente, obrigando ao Almirante Dönitz a retirá-los da
área e procurar uma nova maneira de utilizá-los contra as novas medidas tecnológicas
dos aliados. Perseguidos no norte, voltaram-se, por um breve momento, para o sul,
destruindo três navios brasileiros (Osório, Lajes e Antonico), até o final de 1942, além
das seis embarcações já mencionadas, atacadas pelo U-507, que levaram a entrada do
Brasil na guerra contra as Potências do Eixo. Só iriam voltar no ano seguinte (1943)
quando, em uma tentativa de diminuir o fluxo de navios aliados na região, submarinos
alemães afundaram mais oito navios brasileiros (Brasilóide, Afonso Pena, Tutóia,
Pelotaslóide, Shangri-lá, Bajé, Itapagé e Campos), perto da costa brasileira, em um
período de nove meses (02-09/1943). Os alemães perderam doze submarinos perto da
costa brasileira durante a Segunda Guerra Mundial (SANDER, 2007, p.221). Com a
derrota das Potências do Eixo, no norte da África do Norte (13/05/1943), a importância
do saliente nordestino perdeu o seu valor e, consequentemente, o envio de mais
armamentos para equipar as Forças Armadas brasileiras ficaram em um plano
secundário. O Governo Brasileiro, prevendo este acontecimento, começou a exigir uma
participação mais efetiva na guerra, deixando de ser unicamente um exportador de
matérias-primas vitais para a produção de guerra dos aliados. Na conferência, realizada
entre Vargas e Roosevelt (McCANN, 1995, p.246; HILTON, 1994, p.405-406;
MUYLAERT, 2012, p.29-36)58, ficou acordado:
“1)-O Brasil cederia navios para a Marinha mercante norte-americana; 2)-A criação de uma Força Expedicionária Brasileira (,) para atuar no front
externo”. (apud AHI, 30 jan. 1943).
A ideia era fortalecer a importância do país no contexto mundial, transformando o
prestígio adquirido com a campanha das tropas no conflito numa oportunidade de
alcançar uma posição de destaque na Nova Ordem Mundial que se criava na Conferência
58 O encontro foi realizado em Natal (28/01/1943).
72
de São Francisco, conforme conversa entre o Ministro Oswaldo Aranha e o Embaixador
Norte-Americano, Jefferson Caffery, no Rio de Janeiro, em 31 de julho 1943:
“Eles podem ir para a África, Europa, Ásia, para onde você quiser”. (apud McCANN, 1995, p.271).
Muylaert (2012, p.32) afirma que Roosevelt aludiu com a possibilidade do Brasil
participar do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O material bélico prometido
começou a chegar (navios, aviões, canhões, viaturas e armas leves) e a Comissão Mista
Militar EUA-Brasil começou a funcionar (23/05/1942)59, planejando a disposição das
forças terrestres no nordeste e, mais tarde, na organização da Força Expedicionária
Brasileira (FEB). Após a entrada do Brasil na guerra, a Marinha Norte-americana recebeu
a responsabilidade pela defesa da costa brasileira, coordenando todas as forças navais,
aéreas e terrestres brasileiras, principalmente no nordeste60. Comboios foram
organizados na tentativa de diminuir a incidência de ataques de submarinos alemães
contra navios aliados na costa brasileira, com a participação das duas Marinhas
(brasileira e estadunidense), apoiadas por hidroaviões sediados em Natal.
A FEB foi criada quase um ano depois (Portaria nº 4744) que o Brasil declarou
guerra às Potências do Eixo (09/08/1943) e deveria ser composta de três Divisões de
Infantaria (Corpo de Exército), mas, por causa de uma série de problemas de gestão
(falta de equipamentos, armamentos, local de treinamento e soldados aptos e técnicos),
acabou sendo constituída de apenas uma Divisão de Infantaria (Primeira Divisão
Infantaria Expedicionária – 1ªDIE) (BRAYNER, 1968, p.16). Seus principais comandantes
foram:
1)- Comandante da 1ªDIE: General de Divisão João Baptista Mascarenhas de Moraes; 2)- Chefe do Estado-Maior: Coronel Floriano Lima Brayner; 3)- Comandante Infantaria Divisionária: General de Brigada Euclydes Zenóbio da Costa; 4)- Comandante de Artilharia Divisionária: General de Brigada Oswaldo Cordeiro de Farias.
59A Comissão Mista de Defesa Brasil-EUA começou a funcionar plenamente em 25/08/1942 (Dia do soldado no
Brasil). 60 O Vice-Almirante Ingram seria o responsável por essa tarefa no comando da Força-Tarefa 3 (Task-Force Nº 3),
depois renomeada 4ª Esquadra Norte-americana (4th Fleet).
73
A ideia inicial dos norte-americanos era utilizar a FEB como força policial no front
africano61 ou como tropa de ocupação das ilhas portuguesas no Atlântico. Quando o
Governo britânico conseguiu que Salazar (MENESES, 2011, p.315-320)62 aceitasse que
tropas britânicas e, posteriormente, norte-americanas utilizassem os Açores para a
instalação de bases aéreas (MENESES, 2011, p.315)63, a FEB foi cogitada, pelo
Departamento de Guerra dos EUA, para substituir uma das divisões aliadas, que seriam
utilizadas na invasão do sul da França (“Anvil/Dragoon”), logo após a invasão da
Normandia (“Overlord”). Apesar de forte oposição dos militares britânicos, inclusive do
próprio Churchill, o General Marshall, com muito esforço, conseguiu demover as
objeções britânicas, ficando acordado que uma divisão de infantaria brasileira seria
enviada para a Itália (HILTON, 1994, p.417-418). A campanha febiana não diferiu das
demais divisões aliadas na Itália, aprendendo no campo de batalha (GOODERSON,
2008, p.293) aquilo que não adquiriu nos treinamentos e transformando-se numa divisão
experiente nos últimos embates de 1945 (fevereiro/março/abril). Ainda na Itália, Vargas
acabou desmobilizando a FEB, logo após o fim das hostilidades (06/06/1945),
preocupado com a ameaça que ela representava para o Estado Novo, com seus dogmas
de liberdade e democracia adquiridos com sangue, suor, lama, calor e frio nos campos
de batalha da Itália.
A Conferência Interamericana sobre os Problemas de Guerra e Paz
(“Chapultepec”)64 foi uma tentativa de consolidar a solidariedade americana, gerando um
mecanismo coletivo de defesa65 entre os Países Latino-Americanos na manutenção de
61 A inclusão de outra divisão na África tornou-se desnecessária na ocasião, pois havia uma carência de tropas na
campanha italiana. 62 Na Conferência de Quebec (17-24/08/1943), ficou decidido que os EUA e a Grã-Bretanha iriam, diplomaticamente,
encontrar uma solução para a instalação de bases aéreas nos Açores. Os ingleses conseguiram a permissão (18/08/1943)
de instalar duas bases na região (“Campo de Achada” e “Lajes”), com a cessão de seis esquadrilhas de caças
Hurricanes. 63Os EUA fecharam um acordo (28/11/1944) para uma base (Santa Maria), porém sem a permissão de utilizar as bases
cedidas aos britânicos. 64 Conferência de Chapultepec - México (21/02-06/03/1945). 65Um atentado contra a soberania de uma República Americana torna-se um ato de agressão contra todos os Estados
Americanos, seja perpetrado por um agente externo ou do continente.
74
suas soberanias e na continuidade da “Política de Boa Vizinhança” (PBV), propalada por
Roosevelt, quase dez anos atrás (AHI, 06 mar. 1945), que recomendava:
“1)- Que los Gobiernos consideren la constitución, a la mayor brevedad posible, de un organismo permanente formado por representantes de cada lino de los Estados Mayores de las Repúblicas americanas, con el fin de proponer a dichos Gobiernos las medidas tendientes a la mejor colaboración militar […] a la defensa del Hemisferio Occidental; 2)- Que la Junta Interamericana de Defensa continúe como órgano de la defensa interamericana hasta que se establezca el organismo permanente previsto en
esta Recomendación”. Acta Final de Chapultepec, 06/03/194566.
Porém, ela não teve a presença da Argentina, cujo governo não aceitava a retirada dos
processos de consultas, utilizados anteriormente nas reuniões dos Países da América
Latina, como vemos abaixo:
“O Ministério das Relações Exteriores da Argentina comunica ao Conselho Diretor da União Pan-Americana: Tenho a honra de informar a Vossa Excelência que enquanto subsistirem os desconhecimentos dos direitos da Argentina e a alteração no processo de consulta, este Governo resolveu abster-se de tomar
parte nas reuniões da União Pan-Americana”. (AHI, 10 jan.1945; 11 jan. 1945).
Outra insatisfação do Governo Argentino era, ainda, a pressão exercida pelos EUA pelo
motivo dos argentinos de não terem declarado guerra à Alemanha:
“... os oficiais nacionalistas, aquartelados no Campo de Maio, continuam se
opondo a declarar guerra às Potências do Eixo.” (AHI, 17 mar. 1945; 20 mar. 1945).
A Argentina acabou cedendo, em virtude da necessidade de melhorar a sua imagem no
contexto internacional, com o intuito de participar da criação das Nações Unidas:
“A Argentina se encontra em estado de guerra com a Alemanha e o Japão”. (AHI, 27 mar. 1945).
66 Acta de Chapultepec (06/03/1945) – Constitucion Web – Acta de Chapultepec 1945. Disponível em:
www.constitucionweb.blogspot.com.br/2009/11/acta-de-chapultpec-firmada-por.html. Acessado em: 26 mar.2013.
75
Os Países Americanos resolveram incluir uma cláusula que permitisse ao
Governo Argentino assinar a “Ata de Chapultepec”, depois de declarar guerra à
Alemanha e ao Japão, e recebesse o aval dos EUA para ingressar nas Nações Unidas.
Quanto à Conferência de São Francisco (“Nações Unidas”)67, criada com a intenção de
evitar outra catástrofe nos moldes da Segunda Guerra Mundial (AHI, 14 fev. 1945), nela
foram ratificadas as decisões de “Dumbarton Oaks” (21/08-07/10/1944)68, que
preconizava a criação de uma instituição capaz de gerar uma nova organização
internacional que deveria resolver os problemas da humanidade sem a necessidade de
surgir novas guerras (AHI, 04 abr. 1945). Em São Francisco, foi definida a “Carta das
Nações Unidas69”, o estatuto do “Tribunal Internacional de Justiça70” e o “Conselho
Permanente de Segurança71”, com a participação dos cinco grandes países vencedores
da guerra (China, EUA, França, Reino Unido e Rússia)72 e dos 46 signatários do encontro.
O Governo Brasileiro procurou buscar todo o tipo de apoio para que pudesse
se transformar em um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações
Unidas, procurando ajuda do Governo Norte-Americano e dos demais Países Latino-
Americanos. Na reunião, no Departamento de Estado Norte-Americano, dos
Representantes dos Países Americanos, para o exame dos projetos de “Dumbarton
Oaks”, o Porta-voz Norte-Americano Pasvolsky argumentou que, por causa do grande
apoio, nos tempos de paz e de guerra, a América Latina deveria ter um representante
permanente nas Nações Unidas. Diante dessa afirmação, o Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza sugeriu que o Brasil participasse do Conselho:
67 Conferência de São Francisco (25/04-26/06/1945). 68 Dumbarton Oaks – Washington D.C. (21/08-07/11/1945); Os quatro países participantes: China, EUA, Reino Unido
e Rússia, com a inclusão da França, constituiriam o futuro Conselho Permanente de Segurança das Nações Unidas. 69 Carta das Nações Unidas (São Francisco) (25/04-26/06/1945) era uma série de documentos que estabelecia a criação
das Nações Unidas. 70 Tribunal Internacional de Justiça foi o primeiro tribunal penal permanente com a finalidade de julgar o indivíduo e
não o Estado, por atos criminosos perante a humanidade. 71 Conselho Permanente de Segurança tinha como finalidade promulgar a manutenção da paz e da segurança
internacional. Era constituído por onze membros, quatro permanentes (China, França, EUA, Reino Unido e Rússia) e
sete não permanentes (Austrália, Brasil, Egito, México, Países Baixos e Polônia). 72 Membros Permanentes do Conselho de Segurança.
76
“(...) fiz algumas considerações relativamente às razões que fundamentaram a sugestão do Governo Brasileiro, salientando que a nova organização visa não só manter a paz e reprimir a agressão, como, e principalmente, prevenir e eliminar a ameaça à paz. A guerra atual mostrou-nos, com traços marcantes, os perigos que nos ameaçam quando qualquer conflito irrompe em alguma parte do mundo. (...) A constante cooperação da América Latina na paz como na guerra, exige que se lhe atribua lugar permanente no Conselho. O Embaixador Venezuelano
solicitou que minha declaração figurasse por extenso na ata. (...) (AHI, 01 fev. 1945).
O Jornal “Times” publicou uma informação, obtida no Rio de Janeiro, que, na Conferência
do México, o Brasil iria questionar um lugar permanente no Conselho de Segurança,
como mostra o telegrama do Embaixador Carlos Martins P. e Souza, de Washington:
“O “Times” de Nova York, de domingo, publica um telegrama de seu representante no Rio de Janeiro, em que declara que na Conferência do México o Brasil irá provavelmente pleitear um lugar permanente entre as grandes potências, pretendendo assim uma revisão do plano de Dumbarton Oaks. O direito a tal lugar decorreria do auxílio efetivo que nosso país vem prestando aos aliados na guerra. O Brasil seria representante do pensamento latino-americano”.
(apud AHI, 13 fev. 1945).
Sumner Welles, em um artigo publicado na imprensa norte-americana, pedia a inclusão
do Brasil no Conselho Permanente de Segurança das Nações Unidas:
“Em artigo de hoje, o Senhor Sumner Welles, comentando o lugar permanente da França, no Conselho de Segurança, advogou igual posição para o Brasil, como grande nação, igualmente digna do lugar permanente, pela sua população,
área e crescente importância internacional”. (AHI, 14 mar. 1945).
Porém, infelizmente, o Brasil teve seu pedido rejeitado pela Grã-Bretanha e União
Soviética.
1.10 CONCLUSÕES PARCIAIS:
A política de solidariedade pan-americana, adotada pelo Brasil, no início da
guerra, como uma forma de se manter neutro, junto com os demais Países da América
Latina, se mostrou ineficaz, à medida que o conflito mundial se alastrava. Como percebeu
o Governo Argentino (1940), quando propôs a modificação da política de “neutralidade”
77
para a de “não beligerância”, afirmando que os países neutros tinham obrigações, mas
nenhum direito perante a ganância dos beligerantes. A magnitude da Segunda Guerra
Mundial, com seu alto poder industrial de destruição, transformou uma guerra limitada ao
Continente Europeu em um conflito que se alastrou para todos os outros continentes,
mesmo para as regiões periféricas, principalmente, se algumas delas tinham um valor
estratégico fundamental para a vitória de um dos contendores, como declarou Cordell
Hull, após a guerra:
“Sem as bases aéreas que o Brasil nos permitiu construir em seu território, a
vitória na Europa e na Ásia não teria chegado tão prontamente”. (apud McCANN, 1995, p.175).
Com o prolongamento do conflito, a ameaça de um ataque perpetrado pelas Potências
do Eixo ao continente americano deixou os militares norte-americanos bastante
apreensivos, acabando com a neutralidade brasileira, em função da importância
estratégica do saliente nordestino e da boa infraestrutura de portos existente na vasta
costa brasileira. O Brasil, dependente da economia norte-americana para seus principais
produtos e procurando uma parceria financeira para alavancar o desenvolvimento
industrial do país, acabou fazendo acordos para a construção de bases aéreas e navais
em seu território (05/1941). Tornou-se um país que preconizava a neutralidade, mas
permitia, após a entrada dos EUA na guerra, que belonaves norte-americanas atacassem
submarinos das Potências do Eixo no Atlântico Sul. Era uma decisão equivocada, mas
sem nenhuma outra opção política, naqueles momentos cruciais da luta entre o
ignominioso fascismo e a relativa liberdade democrática. Vargas, em nenhum momento,
utilizou-se de uma política pendular entre a Alemanha e os EUA, pois sabia que se não
aceitasse a política de solidariedade norte-americana, o país seria invadido por tropas
norte-americanas (“Rainbow IV”)73 (McCANN, 1995, p.167; CONN e FAIRCHILD, 2000,
p.31, p.335-340), tornando a situação do seu governo insustentável. Com a anuência
brasileira de participar da defesa continental ao lado dos norte-americanos, uma
quantidade muito grande de equipamentos militares começou a chegar ao país, através
73 Rainbow 4 era um plano que estipulava a proteção de todo o Hemisfério Ocidental, uma ampliação do Rainbow 1,
que se limitava ao território dos EUA.
78
do sistema “Lend and Lease”, com o Brasil recebendo quase 2/3 de todo material bélico
enviado para a América Latina. Na esteira dessa colaboração militar, outros acordos
foram realizados, como o refinanciamento da dívida externa e a aquisição de capital para
a construção de uma siderúrgica no Brasil, principal esteio para a industrialização real do
país.
Porém, o preço desta parceria foi alto, se compararmos com as outras
Repúblicas Latino-Americanas que, em apoio ao pan-americanismo norte-americano,
romperam relações diplomáticas ou declararam guerra aos Países do Eixo. É
interessante assinalar que mesmo aquelas, que permitiram que bases militares ou de
apoio (reparos de navios) fossem instaladas em seus territórios (Chile, México,
Venezuela e Uruguai), não sofreram nenhum tipo de represália parecida com os ataques
alemães aos navios de cabotagem na costa do nordeste brasileiro. A retaliação alemã,
em minha opinião, foi desproporcional aos incidentes causados pela participação de
oficiais brasileiros no patrulhamento do Atlântico com pilotos norte-americanos. A posição
da política externa brasileira, pós Pearl Habour, foi a causa principal da atitude agressiva
alemã e que os incidentes, acima relatados, foram uma desculpa para a tamanha
irracionalidade dos ataques realizados pelo U-507, na costa brasileira, como vemos nas
declarações de Dönitz em sua biografia, publicada dez anos depois da guerra. Diante
desses fatos, o Brasil acabou se envolvendo mais ativamente na guerra, com a
declaração de guerra (31/08/1942) e com o envio de uma Força Expedicionária (FEB)
para o front italiano (07/1944) (SILVEIRA, 1989, p.322)74. A finalidade de participar mais
ativamente da guerra foi uma tentativa de prolongar a importância do Brasil no esforço
de guerra norte-americano, pois com a tomada da África do Norte pelos aliados (1943) e
a diminuição gradativa dos ataques de submarinos alemães, no Atlântico Sul, durante os
primeiros meses de 1944, a importância estratégica do saliente nordestino deixou de
existir. Com tropas no conflito, o Brasil adquiriu uma posição de destaque em relação aos
outros Países da América Latina, transformando-se no país mais importante da região
74 O 1º Escalão da FEB chegou à Itália no dia 16/07/1944. Os 2º e 3º Escalões chegaram em Nápoles em 06/10/1944,
e, os últimos (4º e 5º), respectivamente, em 07/12/1944 e 22/02/1945.
79
sul da América do Sul, mudando o posicionamento hegemônico da região, que pertencia
à Argentina.
Entretanto, sua ambição política na nova ordem mundial das Nações Unidas
não foi plenamente alcançada, quando teve sua candidatura negada para participar como
membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Por fim, o Governo
Brasileiro acompanhou, com desagrado, a reaproximação da política externa dos EUA
com a Argentina (1945), na necessidade de criar um bloco forte, sem dissidência,
contrário ao comunismo (“Guerra Fria”), na América Latina. O país acabou verificando
que todos os seus esforços de apoio à causa aliada foram inexpressivos, vendo o
crescimento gradual da hegemonia argentina na região.
80
2. BRASIL: RELAÇÃO CONFLITUOSA COM AS POTÊNCIAS DO EIXO:
No presente capítulo, mostraremos como se processou a relação política entre
o Brasil e as Potências do Eixo durante a Segunda Guerra Mundial. Com a determinação
do Governo Vargas em limitar as atividades políticas e sociais das instituições
estrangeiras em solo brasileiro (1938), iniciou-se uma crise política com o Governo
Alemão, com o fechamento do Partido Nacional Socialista Alemão (NSDAP).
Inconformado, o Embaixador Ritter desencadeou uma série de entreveros diplomáticos,
que acabaram com a retirada dos respectivos embaixadores. O Governo Italiano aceitou
as novas leis em vigor, mas, após o golpe da AIB contra o Governo Vargas, ficou em uma
situação delicada, pois financiava as atividades dos integralistas. Diante desse quadro
político, as relações se deterioraram gradativamente e, com o prolongamento da guerra,
a ruptura era apenas uma questão de momento. O Brasil também esteve próximo de
romper relações com a Grã-Bretanha, quando esta reteve navios brasileiros, que
transportavam material bélico alemão comprado, antes da guerra, pelas Forças Armadas
Brasileiras, mas com a ajuda diplomática do Governo Norte-Americano, os ingleses
cederam e os navios foram liberados para prosseguirem para o Brasil. Nas reuniões de
consultas entre os Ministros das Relações Exteriores Americanos foi acordada a política
de solidariedade pan-americana, isolando ainda mais a posição política das Potências do
Eixo no continente. Após o ataque japonês ao Havaí e as declarações de guerra da
Alemanha e Itália contra os EUA, a maioria dos Países da América Latina resolveu aderir,
definitivamente, à política de solidariedade norte-americana, rompendo ou declarando
guerra aos Países do Eixo, com exceção da Argentina e do Chile. O Brasil, por ter optado
pela ruptura, acabou sofrendo represálias, principalmente, da Alemanha, que começou a
afundar navios brasileiros, poucos dias após a Reunião do Rio de Janeiro (01/1942),
culminado com os ataques do U-507 na costa nordestina (08/1942). Diante deste fato, o
Governo Brasileiro declarou guerra às Potências Europeias do Eixo e decidiu participar
81
mais intensamente da guerra, enviando uma força militar para combater os ítalo-alemães
na Itália com a intenção de se tornar um protagonista de peso nas Nações Unidas.
2.1 CERCEAMENTO DAS ATIVIDADES ESTRANGEIRAS NO BRASIL:
As relações políticas e comerciais entre as Potências do Eixo e a maioria dos
Países da América Latina eram bastante amistosas, por causa de uma série de fatores,
como:
1)- A predominância de grandes comunidades ítalo-germânicas em grande
parte destes países;
2)- Um número pequeno, mas importante, de empresários italianos e alemães
que atuavam no comércio da região (McCANN, 1995, p.175-179; DE NÁPOLI,
2005, p.39-57;
3)- A influência militar da Alemanha em muitos países latino-americanos
(Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Paraguai).
Entretanto, quando o Governo Alemão introduziu uma nova política com a intenção de
atrair seus súditos, que viviam fora das suas fronteiras, para participarem do surgimento
de uma nova Alemanha (Nacional-socialismo), acabou gerando atritos com os governos
desses Países da América Latina, preocupados com a influência dessas ideias raciais e
anticlericais. Os Governos Sul-Americanos começavam um rompimento lento (1938),
mas gradativo com as Potências do Eixo, criando leis que impediam o funcionamento de
instituições estrangeiras em seus territórios e, apoiados pelos EUA, começaram a
intensificar a política de solidariedade pan-americana, idealizada em Buenos Aires (1936)
e ratificada em Lima (1938). No Brasil, após a instauração do Estado Novo (10/11/1937),
houve uma intensificação na fiscalização das associações simpatizantes do fascismo,
com as duas mais importantes, o Partido Nacional Socialista Alemão (NSDAP)75 e a Ação
Integralista Brasileira (AIB)76, sendo proibidas de funcionar no território nacional. No Rio
Grande do Sul, onde a colônia alemã era bastante numerosa, as atividades de partidos
75 Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (NSDAP). 76 Ação Integralista Brasileira foi um partido fundado em 1932, por Plínio Salgado. Tinha semelhanças com o fascismo
internacional, inclusive o nazismo, mas não era racista nem antissemita.
82
e associações de cunho nazistas foram combatidas, com vigor, pelas autoridades
militares da região que fecharam o partido NSDAP alemão local, obrigaram as escolas a
utilizarem a língua oficial (português) e procuravam impedir qualquer tipo de propaganda
nacional-socialista em jornais e revistas (AHI, 19 fev. 1938). O chefe do NSDAP regional,
Ernest Dorsch, foi preso pelas autoridades gaúchas e teve pedida a sua deportação,
porém, com a ajuda de policiais simpatizantes e de membros do Consulado Alemão,
conseguiu evadir-se para a Alemanha. Em virtude desta nova postura política de Vargas,
o Embaixador Alemão, Karl Ritter (SEITENFUS, 1985, p.76), apresentou um protesto ao
Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE - Itamaraty)77 (McCANN, 1995, p.73),
indignado com o fechamento do Partido Nazista (NSDAP), não conseguindo demover a
posição das autoridades brasileiras. McCann afirma que Ritter declarou:
“...que a campanha antinazista era uma bofetada direta em Hitler e que o ministro deveria se lembrar que o Embaixador era em primeiro lugar o representante do Führer e do Partido Nazista e, em segundo, da Alemanha. As relações Brasil-Alemanha seriam prejudicadas se a campanha continuasse, porque a questão
transcendia todos os outros problemas entre os dois países”. (apud McCANN, 1995, p.73-74; AHI, 18 fev. 1938).
Hilton escreve que Ritter exclamou:
“Trata-se aqui de um jogo criminoso contra as relações entre a Alemanha e o
Brasil”. (apud HILTON, 1994, p.275).
Em uma atitude impensada, foi falar pessoalmente com Vargas sobre o assunto
(McCANN, 1995, p.74). Com muita arrogância, disse a Vargas que as prisões eram
ilegais por ser o NSDAP um partido alemão e não brasileiro, exigindo autorização para o
partido funcionar no Brasil. Vargas pediu para que suas reclamações fossem feitas pelos
trâmites legais, isto é, por escrito ao Itamaraty. Posteriormente, Ritter foi informado que
todos os partidos políticos, suas milícias cívicas e suas organizações auxiliares tinham
sido dissolvidos após a instalação do Estado Novo (Decreto Lei nº 37 – 02/12/1937) e,
77 O Ministro das Relações Exteriores era o Sr. Mário Pimentel Brandão, que exerceu o cargo de novembro de 1936 a
março de 1938.
83
consequentemente, o NSDAP não podia funcionar no Brasil (SEITENFUS, 1985, p.185),
começando uma grave crise diplomática entre o Brasil e Alemanha.
Em março de 1938, o Governo Alemão publicou um documento criticando
duramente o fechamento de organizações alemãs e a prisão de muitos de seus súditos
(apud AHI, 24 mar. 1938), principalmente, nos estados do sul do Brasil. Posteriormente,
após substituir Mário Pimentel Brandão, Aranha informava à embaixada brasileira em
Berlim que:
“...o Cônsul Alemão, Karl Steiner, em Florianópolis, tornara-se indesejável, para as autoridades locais, devido as suas atitudes políticas inconvenientes. Antes de ter cassado seu exequatur,78 gostaríamos que fosse retirado ou que, pelo menos,
fosse chamado à ordem”. (AHI, 13 abr. 1939).
Porém, o Governo Alemão ignorou completamente o pedido de Aranha, apesar de o
diretor político do Ministério dos Negócios Estrangeiros Alemão ter prometido examinar
o problema com bastante rigor (AHI, 16 mai. 1938). Aranha voltou a informar à embaixada
brasileira, em Berlim, que gostaria de resolver o problema de uma forma amistosa, sem
qualquer tipo de ruptura entre os dois ministérios, apesar de inserir outro cônsul alemão
na lista dos inconvenientes para o Governo Brasileiro:
“Parece-nos estranho a demora na não solução do caso de Karl Steiner pelo Governo Alemão, pois o assunto foi comunicado a este governo, há mais de um mês, precisamente a 13/04/1938. Surge-nos agora nova reclamação das autoridades locais, que pede não só a retirada de Karl Steiner, mas também de Rodolfo Müller, Cônsul Alemão em Curitiba. Rogo fazer sentir a esse governo, que nos seria penoso ter que cassar o “exequatur” de representantes de um país
amigo”. (AHI, 18 mai. 1938).
Também, alguns jornais alemães divulgaram artigos criticando a postura do Governo
Brasileiro contra as associações alemãs, que, segundo eles, atuavam de forma legal e
pacífica, como informou o embaixador Moniz Aragão79 de Berlim:
“...o Correspondência Diplomática (Deutsche Diplomatische Korrespondenz), órgão oficioso do Ministério das Relações Exteriores Alemão, publicou
78 Exequatur é o documento que autoriza as atividades de um Cônsul. 79 José Joaquim de Lima e Silva Moniz de Aragão foi embaixador em Berlim de 12/1935 a 10/1938.
84
comentários relativos à suposta situação de desarmonia existente entre as autoridades brasileiras e os elementos alemães, residentes no Brasil, como consequências das novas medidas que impedem o desenvolvimento das
organizações alemães”. (apud AHI, 22 mar. 1938; McCANN, 1995, p.77).
Entretanto, Aranha respondeu afirmando que o jornal era órgão oficial do Governo
Alemão:
“O Embaixador Ritter afirma que o Correspondência Diplomática é órgão oficial, e não oficioso, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e que as publicações feitas são oriundas do Ministério e não do Partido Nacional Socialista, que tem
outro órgão”. (AHI, 25 mar. 1938).
McCann (1995, p.78-79) alega que esses comentários publicados na imprensa alemã
provocaram reações negativas na imprensa uruguaia, argentina e chilena sobre a política
externa da Alemanha, principalmente, a falta de educação do representante de Hitler no
Brasil.
Para melhor controlar a finalidade das instituições estrangeiras, foi lançado o
Decreto Lei Nº 383 (18/04/1938), que regulamentava todas as atividades exercidas por
estrangeiros residentes no Brasil:
DECRETO LEI Nº 383:
Os principais artigos do Decreto Lei eram: 1)- Fica proibido aos estrangeiros exercer qualquer atividade de natureza política nem imiscuir-se, direta ou indiretamente, nos negócios públicos do país; 2)- Fica vedado aos estrangeiros organizar, criar ou manter sociedades, fundações, companhias, clubes e quaisquer estabelecimentos de caráter político, ainda que tenham por fim exclusivo a propaganda ou difusão, entre seus compatriotas, das ideias, programas ou normas de ação de partidos políticos do país de origem. É proibido organizar desfiles, passeatas, comícios e reuniões de qualquer natureza, e qualquer que seja o número de participantes. Não podem manter jornais, revistas ou outras publicações, estampas, artigos e comentários na imprensa, conceder entrevistas, fazer conferências, discursos, alocuções [...]: 3)- Os estrangeiros têm o direito de se reunirem com “fins culturais, beneficentes ou de assistência”, bem como para comemorar as “datas nacionais ou acontecimento de significação patriótica”. Mas essas associações não podem de modo algum “receber subvenções, contribuições ou auxílios de governos estrangeiros”;
85
5)- Fica proibido aos brasileiros “natos ou naturalizados, e ainda que sejam filhos de estrangeiro”, de fazer parte das organizações criadas em virtude do Artigo 3º.
Rio de Janeiro, 18/04/1938. (SEITENFUS, 1985, p.177-180).
Imediatamente, os governos do sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul) começaram a aplicar este decreto, prendendo muitos simpatizantes nazistas na
região e recolhendo farto material de propaganda nacional-socialista. Escolas alemãs e
italianas sofreram intervenções nos seus programas de ensino, fazendo com que as
principais manifestações cívicas devessem ser as do Estado Brasileiro (centralização
cultural) e a língua oficial, falada dentro das salas de aula, fosse a portuguesa. O
Embaixador Ritter, novamente, protestou, com muita veemência, sobre esse decreto,
aumentando ainda mais o hiato existente entre as autoridades brasileiras e alemãs,
principalmente com o novo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Oswaldo Aranha.
Um grave incidente entre ambos ocorreu, quando Aranha convidou todos os diplomatas
estrangeiros para o baile de honra ao Ministro das Relações Exteriores do Chile, que
visitava o Brasil, como mostra o telegrama abaixo:
“A atitude do Embaixador Alemão torna-se cada dia mais irritante, podendo conduzir a incidentes muito desagradáveis entre os dois governos. Tendo recebido convite para a festa em homenagem ao Chanceler Chileno, no Itamaraty, declarou que não poderia participar a nenhum ato oficial enquanto houvesse algum cidadão alemão preso. Foi informado que o nosso Embaixador em Berlim, também, seria recomendado a proceder da mesma maneira. Ele retrucou que se continuar em vigor o nosso decreto sobre associações estrangeiras, dificilmente o representante diplomático brasileiro na Alemanha, seria convidado para qualquer tipo de cerimônia oficial. Diante deste fato, o Ministério recomenda aos integrantes da missão brasileira em Berlim, de abster-
se de qualquer cerimônia desta natureza, realizada pelo Governo Alemão.” (AHI, 21 mai. 1938; HILTON, 1994, p.275-276; SEITENFUS, 1985, p.205-206).
McCANN (1995, p. 76) afirma que em um encontro, no Itamaraty, em uma nova
altercação sobre a prisão de cidadãos alemães pelo Governo Brasileiro, Ritter foi tão
grosseiro e que ele ficou extremamente tenso, obrigando ao brasileiro tomar uma atitude
drástica, expulsando o embaixador alemão para fora do seu gabinete. Quanto ao
Governo Italiano, este acatou as novas normas vigentes (AHI, 19 mai. 1938) com
bastante naturalidade e seu embaixador definiu a situação da seguinte maneira, “a
América do Sul é latina e vai continuar a ser latina” (McCANN, 1995, p.79). Era a atitude
86
mais sensata para manter estável a relação entre italianos e brasileiros, que sempre tinha
sido muito amistosa, diferentemente do que acontecia com os alemães, por causa da
rispidez dos seus membros diplomáticos.
2.2 CRISE DIPLOMÁTICA COM A ALEMANHA E TROCA DE
EMBAIXADORES:
Ritter continuou irredutível, protestando contra o fechamento do NSDAP e a
prisão de vários súditos alemães, quando foi surpreendido com a tentativa de golpe
impetrado pelos integralistas (McCANN, 1995, p.83; HILTON, 1994, p.275)80. Após esse
acontecimento e com a prisão de alemães acusados de participarem da tentativa do
golpe, suas críticas ficaram cada vez mais intoleráveis para o Governo Brasileiro,
principalmente, quando, em Berlim, a Wilhemstrasse (Ministério das Relações Exteriores
da Alemanha), através do Ministro Ernst Weizsäcker81, informou ao embaixador
brasileiro, Moniz de Aragão, que o seu governo estava muito apreensivo com o que vinha
acontecendo no Brasil, com relação aos cidadãos alemães. Argumentou que, em nome
do bom relacionamento que sempre existiu entre os dois países, o Governo Brasileiro
reconsiderasse e retirasse as medidas antigermânicas, inclusive com a libertação
daqueles que não tinham culpa comprovada no golpe integralista (AHI, 16 mai. 1938).
Moniz Aragão informou que iria levar as suas reivindicações ao Itamaraty, porém, pediu
para que a imprensa alemã deixasse de atacar o Governo de Vargas, alegando que a
imprensa brasileira, em momento algum, fez críticas tão violentas a Hitler, como as que
Vargas vinha sofrendo nos noticiários alemães. Weizsäcker, em contrapartida, prometeu
tentar solucionar este problema (AHI, 17 mai. 1938). Posteriormente, informações, vindas
do Rio de Janeiro, afirmavam que não existia nenhum indício sobre a participação de
firmas e cidadãos alemães no golpe, ocasionando uma grande melhora no
relacionamento com Berlim, inclusive com a imprensa germânica voltando a fazer
rasgados elogios ao Governo Vargas. Aranha enviou um telegrama para Moniz de
80Segundo os autores, não existe nenhuma informação, na correspondência da Embaixada Alemã, no Rio de Janeiro,
comprovando o envolvimento de Ritter no golpe. 81 Ernst Freiherr Von Weizsäcker foi Secretário de Estado do Ministério das Relações Exteriores entre 1938 e 1943.
87
Aragão, esclarecendo as circunstâncias que levaram a prisão de alguns cidadãos
alemães:
“Queira informar a esse governo de que a detenção do Sr. Koenig, ao chegar a São Paulo, se prende à circunstância de ter sido assinalado o seu automóvel nas imediações do Palácio Guanabara, na madrugado do ataque. Depois de feitas averiguações, ele foi imediatamente posto em liberdade. A participação de alemães no golpe intentado contra Vargas foi motivada pelo fato de ser um dos autores, antigo oficial do Exército, representante de firmas alemãs. Devido às medidas tomadas pelo governo, o tom da imprensa já se acha muito atenuado, mas, tal seja a atitude da imprensa desse país, este governo não verá porque
impedir as reações dos noticiários no Brasil”. (AHI, 16 mai. 1938).
Moniz Aragão retornou o contato com o Itamaraty, informando que, após as informações
prestadas por Aranha, as relações políticas voltariam à normalidade:
“Acredito que a liberação do Sr. Koenig será recebida com satisfação e hoje já
não aparecem, nos jornais, ataques contra o Brasil”. (AHI, 17 mai. 1938). “O Correspondência Diplomática comentou a publicação oficial do Governo Brasileiro, afirmando que empresas e cidadãos alemães não participaram do movimento integralista, informando que esta declaração iria ajudar na volta das relações cordiais, que sempre nortearam os dois países. Entretanto, informava que os dois países deveriam examinar, com detalhes, as medidas tomadas pelo Brasil no terreno cultural e da educação. Insinuou a necessidade de chegar-se a um acordo sobre as eventuais indenizações sobre os prejuízos causados aos
presos alemães”. (apud AHI, 25 mai. 1938).
Hilton (1977, p.64-80) relata que o indivíduo Wilhelm Koening era, na verdade, Friedrich
Kempter, importante espião nazista que atuou na América Latina, principalmente, com a
forte conexão argentina da Abwehr, criptografando as informações vindas dos agentes
nos EUA82, para serem enviadas à Alemanha. Mowry (2011, p.6), pesquisador do Centro
de História de Cryptologia da Agência Nacional de Segurança Norte-americana (Center
for Criptologic History of National Security Agency - United States of America), também
confirma que Konieg era Kempter, um agente alemão que montou redes de
radiotransmissão no Rio de Janeiro e Recife, fornecendo vasta informação das atividades
82 Devido a problemas de recepção, era quase impossível transmitir diretamente dos EUA para a Alemanha. Os agentes,
que atuavam na América do Norte, precisavam contatar seus colegas sul-americanos, para que estes enviassem os seus
relatórios sobre as atividades aliadas no Canadá e EUA, para o serviço de inteligência alemão, em Berlim. HILTON,
Stanley E. Suástica sobre o Brasil – A História da Espionagem Alemã no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1977, p.23; COSTA, Sérgio Corrêa da. Crônica de uma Guerra Secreta – Nazismo na América: A
Conexão Argentina. São Paulo: Editora Record, p.39.
88
portuárias dessas respectivas cidades. Kempter foi preso pela polícia brasileira, em
março de 1942, junto com outros agentes alemães.
Porém, em junho de 1938, a polícia encontrou documentos muito
comprometedores contra cidadãos alemães, ligados intimamente à von Cossel (Adido
Cultural da Embaixada Alemã), ocasionando várias prisões de membros do partido
nazista no sul do Brasil (McCANN, 1995, p.86; SEITENFUS, 1985, p.210-213). Dessa
forma, o Itamaraty pediu que a Wilhemstrasse substituísse seu embaixador (Ritter) (AHI,
24 ago. 1938; 05 out. 1938) e retirasse o seu adido cultural (von Cossel) do Brasil. Aranha
informou que Ritter era considerada “persona non grata”, determinando a substituição do
Embaixador Brasileiro (Moniz de Aragão) em Berlim, na expectativa de que o governo
alemão tomasse semelhante providência para o seu representante diplomático. Aranha
telefonou para o embaixador brasileiro, pedindo:
“1)- V. Ex. deve procurar a autoridade competente e manifestar que, no desejo de aumentar as nossas relações econômicas e estreitar as relações políticas com este país, o Governo Brasileiro pede que o Embaixador Ritter não reassuma o seu posto no Rio de Janeiro; 2)- V. Ex. deverá informar, imediatamente, o que foi determinado pela autoridade responsável pelo assunto; 3)- Realizada a sua informação, instruções definitivas serão enviadas para V. Ex.
agir conforme os desígnios do Governo Brasileiro”. (AHI, 21 set. 1938; HILTON, 1994, p.276).
Dias depois, Moniz Aragão telegrafou a resposta do Governo Alemão sobre o pedido de troca entre os embaixadores:
“O Subsecretário dos Negócios Estrangeiros disse-me que sente muito o pedido de retirada dos embaixadores. Repliquei, invocando as reiteradas atitudes de Ritter, que tanto prejudicou as relações entre os dois países. Ele afirmou que o assunto será liquidado pelo Encarregado de Negócios Alemão no Brasil, logo
após a chegada de Hitler à Berlim, proveniente de Gênova”. (AHI, 30 set. 1938).
Aranha pediu que Moniz Aragão iniciasse sua transferência para o Rio de Janeiro e
informasse a Wilhemstrasse sobre seu retorno ao Brasil:
“Peço para que o senhor comece preparar a sua volta ao Brasil” (AHI, 06 out. 1938).
89
“Enviei nota ao Governo Alemão, comunicando a minha chamada ao Rio de
Janeiro para ocupar novo posto”. (AHI, 06 set. 1938; 21 out. 1938).
A crise diplomática foi causada pela arrogância e prepotência do Embaixador Ritter, com
a aquiescência de seus superiores, em lidar com as autoridades brasileiras, criando uma
profunda revolta, inclusive, entre os germanófilos brasileiros (McCANN, 1995, p.89-90).
Somente quase oito meses depois, a Wilhemstrasse nomeou o Embaixador Kurt Pruefer
(01/06/1939) para substituir Ritter da embaixada alemã no Rio de Janeiro, acabando com
a crise, pelo menos de embaixadores, entre o Brasil e a Alemanha (AHI, 15 mai. 1939;
08 jun. 1939).
2.3 GOLPE INTEGRALISTA E CRISE DIPLOMÁTICA COM A ITÁLIA:
A Ação Integralista Brasileira (AIB), também foi posta na ilegalidade, após o
fechamento de suas sedes e a prisão dos seus principais membros. A AIB apoiou Vargas
na instauração do Estado Novo e, quando percebeu que não seria chamada para integrar
o novo governo, começou a exigir uma maior participação na política brasileira. Podemos
dizer que a AIB era um partido organizado, com uma doutrina bastante definida,
composta, principalmente, de elementos da classe média urbana e tendo muitos
simpatizantes nas Forças Armadas, com maior número de adeptos na Marinha
(McCANN, 1995, p.75)83. Seu lema era “Deus, Pátria e Família”,84 sendo ferrenhos
inimigos do comunismo e do capitalismo (liberalismo econômico)85. Apesar de
83Um exemplo disso foi o incidente que aconteceu no porto de Recife, quando um grupo de integralistas celebrou com
a saudação do partido a chegada dos três submarinos comprados à Itália. Praticamente todos os tripulantes responderam
à saudação. Vargas, revoltado, declarou que não iria promover as promoções programadas dos oficiais submarinistas.
Dias depois, no Rio de Janeiro, em pleno carnaval, diversos navios ancorados na base naval puseram seus motores em
funcionamento. Inquirido pelas autoridades policiais, o comandante da frota respondeu que não devia satisfação a
ninguém. Vargas voltou atrás e aprovou as promoções. McMCANN, Frank D. Jr. Aliança Brasil - Estados Unidos
1937-1945. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1995, p.75. 84O lema “Deus, Pátria e Família” foram as últimas palavras ditas pelo Presidente Afonso Pena, antes de morrer, vítima
do surto de gripe espanhola que então assolava o país. Deus – aquele que dirige o destino dos povos; Pátria - o nosso
lar e Família – o início e o fim de tudo. Frente Integralista Brasileira. Disponível em www.integralismo.org.br.
Acesso em 15 nov. 2012. 85 O Manifesto Integralista (07/10/1932) afirmava que: “O Liberalismo Econômico promete a liberdade e só garante
aos mais fortes, aos que possuem bens econômicos suficientes para defender os próprios direitos, pois nada vale a
liberdade sem um mínimo de autonomia econômica”. TRINDADE, Hélgio. Integralismo (O Fascismo Brasileiro na
Década de 30). Porto Alegre: Difusão Europeia do Livro, 1974, p.238.
90
conseguirem a simpatia de alguns alemães, os integralistas eram vistos como uma
aberração pelos nazistas, pois suas ideias de assimilação das “colônias estrangeiras”
eram completamente contrárias à doutrina do nacional-socialismo, além da divergência
racial e anticlerical do nazismo (HILTON, 1977, p.34-35). Eram subvencionados pelo
governo italiano, porém, com a instauração do Estado Novo, essa política italiana mudou
totalmente. Roma, verificando que a AIB fora excluída de participar do novo governo,
concluiu que a mesma havia perdido a força política necessária para estar no poder. O
Governo Italiano percebeu que o novo regime brasileiro era favorável à política externa
italiana e o integralismo não tinha força suficiente para derrubar a popularidade de Vargas
que havia crescido, nos meses seguintes à instauração do novo regime. Dessa forma,
resolveu terminar com o jogo duplo que fazia, apoiando Vargas e a AIB e decidiu ficar
com o Estado Novo, retirando a subvenção mensal, paga aos integralistas (SEITENFUS,
1985, p.177; AHI, 19 jun. 1938).
Os integralistas, isolados politicamente, decidiram que a única solução, para as
suas intenções de participar da política nacional, era um golpe de Estado contra o
Governo Vargas. Desta forma, tentaram uma cartada arriscada e inútil para conquistar o
poder. Na noite de 10 de maio de 1938, vários grupos de integralistas (25)86 saíram para
eliminar ou prender os principais membros do governo, inclusive, o próprio Presidente da
República. Todas as ações armadas falharam, com a exceção da executada contra o
Ministério da Marinha, onde os integralistas foram, posteriormente, retirados à bala do
local (McCANN, 1995, p.80-81). Na tentativa de eliminar Vargas, o ataque, comandado
pelo Tenente Severo Fournier87, foi de uma incapacidade tal que os poucos guardas
existentes no local, juntos com Vargas e sua família, resistiram a forças mais numerosas
e mais bem equipadas (HILTON, 1977, p.53), enquanto esperavam os reforços
prometidos pelo chefe da Polícia, Felinto Muller (SEITENFUS, 1985, p.195-198). Outro
ponto importante foi que as tropas fiéis ao governo demoraram em atacar os sublevados
86 Vinte e cinco pontos foram atacados pelos revoltosos, sendo os principais: prédios públicos, estações de rádio,
invasões das residências dos principais chefes militares e a tomada do Palácio Guanabara. 87 Tenente Severo Fournier lutou na Revolução Constitucionalista (1932) contra Vargas e, posteriormente, participou
da tentativa de tomar o Palácio Guanabara para prender ou matar Vargas. Após o fracasso, exilou-se na Embaixada
italiana, mas teve seu pedido de asilo recusado. Entregou-se à polícia e foi condenado a dez anos de prisão. Contraiu
tuberculose na cadeia e, sem assistência médica adequada, acabou morrendo em 1946.
91
que procuravam invadir o Palácio Guanabara, suspeitando-se de que muitos elementos
que participavam do governo ficaram esperando os resultados dos acontecimentos para
agir, contra ou a favor, de acordo com as suas conveniências. McCann relata que
soldados comandados pelos Generais Cordeiro de Faria e João Alberto Lins de Barros
ficaram acampados no Fluminense Futebol Clube, esperando uma chave para adentrar
no Palácio Guanabara, estranhamente, não executando nenhuma tentativa de invasão
(McCANN, 1995, p.80-81). Muitos sublevados conseguiram se evadir das imediações do
palácio e o cabeça do atentado a Vargas, Fournier, acabou se exilando na Embaixada
Italiana, ficando aos cuidados do Embaixador Italiano, Lajocono, que procurou conceder-
lhe asilo político na Itália:
“O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Itália recebeu um telegrama da sua embaixada, no Rio de Janeiro, dizendo que o Tenente Fournier tinha sido levado a mesma, por dois oficiais brasileiros fardados, sendo um deles irmão do Ministro das Relações Exteriores (Oswaldo Aranha), para pedir asilo político. O Ministro assegurou que o Governo Italiano suspenderá, temporariamente, o pedido em consideração as relações amistosas entre os dois países, tomando uma solução
rápida após uma conversa com o seu embaixador”. (AHI, 27 jun. 1938).
Entretanto, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Itália, Conde Ciano,
afirmou que o caso do oficial brasileiro não se enquadrava na lei internacional de exilados
políticos e que não tomaria nenhuma ação contra as boas relações ítalo-brasileiras
existentes naquele momento:
“O Ministro dos Negócios Estrangeiros repetiu que enviou instruções ao seu embaixador para resolver o caso de maneira a não perturbar as relações com o Brasil. Foram enviados quatro telegramas para o embaixador e em um deles, o Governo Italiano observou que não era caso de asilo. Apesar de tudo isso, o Ministério Italiano não julga possível a entrega do refugiado, desejando que, de alguma outra maneira, ele abandone a embaixada, sem intervenção imediata das
autoridades brasileiras”. (AHI, 01 jul. 1938; 05 jul. 1938).
Depois de muita atividade diplomática entre os dois países, inclusive com a participação
de Mussolini, contrário ao asilo:
“O Ministro dos Negócios Estrangeiros informou que pretende telegrafar novamente ao embaixador, reconhecendo a necessidade de resolver o caso imediatamente. Afirmou que falara com o Chefe de Governo (Mussolini) que se
92
mostrou incomodado com o aspecto que está tomando o assunto, pela demora da solução. Disse-me que o embaixador deveria conduzir o refugiado à Cidade ou à Tijuca e desembaraçar-se dele. Repetiu que o desejo deste governo é não
perturbar as excelentes relações ítalo-brasileiras”. (AHI, 02 jul. 1938). Fournier resolveu se entregar, com a ajuda do seu pai e dois oficiais, às autoridades
brasileiras, sendo enviado para uma prisão militar:
“Atendendo aos desejos desse governo e de membros proeminentes de sua colônia no Brasil, o Tenente Fournier foi retirado da Embaixada Italiana, por dois coronéis do Exército e recolhido em uma fortaleza. O fato não despertou nenhuma comoção, e em nada afetou o melindre da representação italiana, resolvendo-se assim, a contento o problema da tentativa de asilo político do tenente sublevado. Queira V. Ex. expressar os agradecimentos do Governo Brasileiro pelo o espírito de colaboração amistoso manifestado pelo Governo
Italiano na solução deste caso”. (AHI, 08 jul. 1938).
Após a derrota dos integralistas, Vargas teve fortalecida a sua autoridade, principalmente
com a utilização propagandística da sua capacidade de resistência aos rebeldes,
recebendo, assim, o apoio da opinião pública para a consolidação do Estado Novo.
2.4 NEUTRALIDADE E CRIAÇÃO DE UMA ZONA DE SEGURANÇA
CONTINENTAL DE 300 MILHAS:
Com a derrota polonesa, os Países Americanos ficaram apreensivos sobre as
consequências que poderiam advir desses acontecimentos, combinando um encontro
para examinarem a situação, em defesa da solidariedade pan-americana, como ficou
explícito no telegrama do embaixador brasileiro, Rodrigues Alves88, em Buenos Aires:
“O Embaixador Norte-Americano disse-me, confidencialmente, haver feito entrega ao Ministro das Relações Exteriores Argentino, de uma comunicação do Governo Norte-Americano, convidando a República Argentina para, conjuntamente, com Brasil, Chile, Peru, Colômbia, Panamá, México e Cuba, fazerem aos demais Países Americanos uma consulta, conforme o estabelecido na convenção pan-americana para examinar a situação, diante da guerra europeia. A consulta irá indicar o Panamá como o ponto de reunião dos Ministros
ou dos seus representantes”. (AHI, 03 set. 1939).
88 José de Paula Rodrigues Alves foi embaixador brasileiro na Argentina, no período de 1938 a 1944.
93
As Repúblicas Americanas escolheram o Panamá para a sede da Primeira Conferência
dos Ministros das Relações Exteriores (23/09-03/10/1939). Os trabalhos duraram uma
semana e ficaram estabelecidas normas comuns para a manutenção da neutralidade do
continente, baseando-se na política de solidariedade americana acordada na Declaração
de Lima (1938), e a instituição de uma Comissão Permanente de Neutralidade (MRE,
1944, p.24), com sede no Rio de Janeiro, devendo ser composta por sete países
membros:
“A fim de evitar a apresentação de candidaturas independentes de um critério previamente adotado, Sumner Welles, o Embaixador da Argentina, o Embaixador do México e eu, combinamos apoiar a reunião de 11 de novembro, que resolverá sobre o assunto. O critério geográfico determinou a formação da Comissão. Ela será composta dos seguintes países: Brasil, Chile, Costa Rica, México, Argentina e EUA. O sétimo lugar seria dado à Venezuela, que apresentou na reunião do
Panamá um projeto sobre neutralidade”. (AHI, 20 out. 1939; 21 out. 1939)
Também, foi estipulada a criação de uma zona de segurança continental no mar de 300
milhas, garantindo a navegabilidade comercial entre as Repúblicas Americanas. Um fator
discutido na reunião, que ficou sem uma solução comunitária, foi o caso de como
deveriam ser tratados os submarinos dos países beligerantes. Após várias deliberações,
ficou a cargo de cada país, individualmente, como proceder sobre o problema dos
submarinos, uns proibindo a entrada deles nos portos e, outros, permitindo sob a
condição de agirem como belonaves de superfície. (AHI, 20 set. 1939; 21 out. 1939).
2.5 CRISE COM A GRÃ-BRETANHA POR CAUSA DE MATERIAL BÉLICO
COMPRADO NA ALEMANHA:
Os acontecimentos ocorridos em águas internacionais tiveram como
protagonistas a Grã-Bretanha e o Brasil e, esses incidentes, quase provocaram o
rompimento diplomático entre eles. O primeiro ocorreu em junho de 1940, quando o navio
Almirante Alexandrino, voltando de Gênova (Itália), carregado com material bélico
comprado aos alemães, foi interceptado pelos ingleses e obrigado a se dirigir a Lisboa.
O Governo Inglês não permitiu que o navio partisse para o Rio de Janeiro com armamento
alemão, alegando que, anteriormente, havia liberado quatro outras remessas e que não
94
poderia abrir outra exceção para as autoridades brasileiras (McCANN, 1995, p.171-172;
DUARTE, 1968, p.45-46). Entretanto, o navio tinha o certificado89 que facilitava aos
navios exportadores o direito de passagem de suas mercadorias, pelo controle britânico
(AHI, 20 nov. 1939). Outra complicação era que a carga foi retirada de um porto italiano,
país naquele momento em beligerância com a Inglaterra. Como explica o embaixador
brasileiro de Berlim, em telegrama enviado ao Itamaraty:
“Preciso saber”: “1)-Se o material, ainda que partindo de um porto italiano, tem, da parte dos aliados, livre passagem; 2)-Quando o Almirante Alexandrino partirá, pois sem haver certeza da partida sem empecilho, não se pode autorizar o transporte até Gênova; 3)-No caso da viagem do navio ser facilitada pelos aliados, talvez, seja
aconselhável fazer prevenir o Governo Italiano”. (AHI, 13 jun. 1940)
A resposta do Itamaraty foi rápida, informando que o navio estava a caminho e chegaria
em breve a Gênova, informando que, devido ao bloqueio naval dos ingleses aos portos
alemães, essa foi a melhor opção do Governo Brasileiro receber sua encomenda:
“O material bélico será enviado para Gênova, devido ao bloqueio naval britânico
aos portos alemães”. (AHI, 14 jun. 1940).
“O Almirante Alexandrino está em Gênova, aguardando a chegada de tubos e
munições de canhões antiaéreos de 88 mm”. (15 jun. 1940; 17 jun. 1940; 27 jun. 1940).
“O “Almirante Alexandrino” deve deixar Gênova, amanhã, vindo para o Brasil, levando a bordo, como única carga, o material bélico para o nosso Exército procedente daí. Comandante foi autorizado a tocar em Lisboa ou ilhas do Cabo
Verde para abastecimento”. (AHI, 04 jul. 1940; 05 jul. 1940).
Depois de pendengas diplomáticas, o navio foi liberado, voltando ao Brasil com sua carga
intacta.
89 Certificado Navicert era um passe que facilitava aos navios mercantes, dos neutros, passarem pelo controle de guerra
britânico. Este sistema foi criado durante a Primeira Guerra Mundial, na tentativa de impedir que navios mercantes
furassem o bloqueio naval contra a Alemanha.
95
A segunda ocorrência aconteceu (10/1940) com o navio Siqueira Campos, que
retornava da Europa, trazendo passageiros (400) e outra parte do material bélico
comprado aos alemães. O navio foi obrigado a aportar em Gibraltar, sob a alegação de
transportar equipamento militar sem o certificado de navegação. Verificou-se que a
documentação estava correta e que a mercadoria já tinha sido quitada, estando de acordo
com o contrato de importação (03/1938), isto é, antes do início da guerra (DUARTE, 1968,
p.46-47). O navio só foi liberado depois de muitos contatos diplomáticos entre o Itamaraty,
o Governo Inglês e, inclusive, com a ajuda do Departamento de Estado Norte-Americano
(18/12/1940) (AHI, 02 dez. 1940; 16 dez. 1940; 16 dez. 1940; 17 dez. 1940; 19 dez. 1940).
Hilton (1994, p.349-351) mostra como a crise diplomática causou um grave
desentendimento entre Aranha e os militares brasileiros, principalmente, Dutra e Goés
Monteiro, que alegavam que os alemães, apesar da guerra, cumpriam com bastante
atenção as encomendas do Exército Brasileiro, enquanto os britânicos agiam de uma
maneira intransigente e arrogante quanto ao direito dos neutros. McCann (1995, p.171-
175) enfatiza que o incidente quase ocasionou a saída de Aranha do Itamaraty e, se não
fosse a pressão dos norte-americanos que, naquele momento, eram os principais
fornecedores de equipamentos para a Inglaterra, políticos e militares brasileiros,
simpatizantes do nazismo, poderiam dificultar a política de solidariedade pan-americana
que Roosevelt pretendia manter na região (HILTON, 1994, p.350-355). Mais um incidente
aconteceu, quando o navio Buarque (27/11/1940), que se achava em Porto of Spain
(Trinidad e Tobago), indo para os EUA, teve parte de sua carga retirada (38 caixas e 32
fardos) pelas autoridades britânicas. O Itamaraty protestou imediatamente e o Governo
Inglês, reconhecendo o erro, devolveu a carga retirada com pedidos de desculpas. O
caso seguinte ocorreu dentro da zona de segurança continental, quando o cruzador
inglês, Carnavon Caston90, abordou o mercante Itapé (01/12/1940), próximo do litoral
brasileiro, retirando de bordo vinte e dois cidadãos alemães que se dirigiam para o norte
do Brasil. O Itapé era um mercante de cabotagem e estava dentro de sua rota normal
(AHI, 06 dez. 1940). Os ingleses alegaram, na época, que o seu serviço de inteligência
90 Carnavon Caston (F25) era um navio de passageiros, que foi requisitado pela Marinha Britânica, que o transformou
em um cruzador (09/10/1939). Posteriormente, tornou-se um navio de transporte de tropas (29/11/1943) e em 1947,
seria devolvido aos seus proprietários (Union-Castle Mail SS Co Ltd), saindo do serviço em 1962.
96
havia descoberto que esses elementos eram ex-marinheiros do cruzador pesado Graf
Spee, afundado pelo seu próprio comandante no rio da Prata (DUARTE, 1968, p.48). O
Itamaraty pediu explicações, pois o Direito Internacional vedava qualquer beligerante de
retirar cidadãos inimigos a bordo de navios neutros, em alto mar. No início do ano
seguinte (1941), aconteceria mais outro incidente entre o Brasil e a Inglaterra, quando
esta deteve o navio Bagé, em Lisboa, impedindo que ele transportasse a última carga de
armamento importada da Alemanha. Os britânicos não pretendiam ceder de forma
alguma, porém, novamente, com a forte pressão do Governo Norte-Americano,
liberaram, mais uma vez, o mercante brasileiro. Com a entrada dos EUA no conflito e,
consequentemente, o Brasil, após o afundamento de navios brasileiros pelos alemães,
na costa do nordeste, as relações entre o Itamaraty e o Foreign Office Britânico tornaram-
se bem mais amistosas (HILTON, 1994, p.403-404).
2.6 POLÍTICA DE DEFESA CONTINENTAL E ATITUDE BELICOSA NORTE-
AMERICANA:
Um segundo encontro dos Ministros Exteriores das Américas, em Havana (21-
30/07/40), foi realizado, logo após a queda da Dinamarca, Noruega, Bélgica, Holanda,
Luxemburgo e França, tendo como objetivo salvaguardar as colônias europeias do
continente, impedindo que os alemães instalassem nelas pontos de apoio para o
abastecimento de submarinos e de seus navios corsários91, principalmente, na Guiana
Francesa e nas ilhas de Curaçau ou Martinica, que estavam atacando com bastante
eficiência a frota mercante dos aliados em todos os oceanos, inclusive no Atlântico Sul
(DUARTE, 1968, p.25-31). É interessante que, quase dois anos depois, foram
descobertas bases do “Etappendienst” na Guiana Francesa, conforme mostra o
telegrama de Aranha, alertando o Governo Norte-Americano:
“Informo que existem bases de abastecimentos de submarinos inimigos nos portos de Mauá e Saint-Laurent, na Guiana Francesa. Há suspeitas de existirem
91 Navios Corsários eram cruzadores auxiliares (navios mercantes artilhados) que usavam uma série de disfarces para
se aproximarem de cargueiros aliados isolados, afundando-os com o seu armamento pesado. A Marinha alemã utilizou
nove (9) navios corsários que aterrorizaram os mares durante o início da guerra. DUARTE, Paulo de Q. Dias de
Guerra no Atlântico Sul. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1968, p.25-26.
97
outras bases na Martinica. O Chile deve tomar precauções no movimento dos
seus navios”. (AHI, 26 mar. 1942).
As Repúblicas Americanas reafirmaram sua política de neutralidade continental e, para
conseguir este objetivo, decidiram manter a política atual das possessões europeias e,
caso necessário, fariam uma intervenção em defesa de suas liberdades contra ataques
externos. A ocupação seria transitória com a ocupação realizada por uma única nação
americana. A ideia era, principalmente, cooptar as autoridades francesas para a esfera
da França Livre92 presidida por Charles de Gaulle. O embaixador brasileiro, Cyro de
Freitas-Valle, de Berlim, mostra a curiosidade dos alemães em relação à política de “boa
vizinhança” dos norte-americanos em relação às Repúblicas Americanas:
“Grande curiosidade reina aqui, sobre o evento em Havana. Dizem os alemães que o Presidente Roosevelt quer “Balkanizar” os Estados Latino-americanos para
tratá-los como a Rússia protetora, tratava os Balkans em 1914”. (AHI, 27 jun. 1940; 21 jul. 1940).
Com a disposição de Roosevelt de participar da guerra, os norte-americanos resolveram
bloquear os créditos alemães e italianos nos EUA e fecharam todos os consulados,
agências de propaganda, publicidade e de viagem alemães, em território norte-americano
(06/1941). O Governo Estadunidense alegava que essas instituições estavam exercendo
atividades não compatíveis com as suas atividades (AHI, 16 jun. 1941; 18 jun. 1941; 21
jun. 1941), fazendo com que os alemães agissem da mesma forma, como reciprocidade
(AHI, 18 jun. 1941; 20 jun. 1941). Também, os norte-americanos protestaram contra o
afundamento do cargueiro Robin Moor, atacado por um submarino alemão no Atlântico
Sul, alegando que o ataque era um ato de pirataria contra todas as leis internacionais,
exigindo reparações pelo prejuízo causado e, no caso de recusa alemã, poderiam romper
relações diplomáticas (AHI, 16 jun. 1941). É preciso salientar que, desde o início da
guerra, a posição de neutralidade norte-americana era uma fachada para ocultar uma
guerra em surdina, que estava sendo travada, principalmente, com a Alemanha, longe
dos holofotes da mídia e do conhecimento da maioria das nações. A Marinha Norte-
Americana, quando encontrava navios mercantes alemães, repassavam suas
92 França Livre era o Governo Francês fundado por De Gaulle na Inglaterra, em 18 de Junho de 1940.
98
coordenadas aos navios aliados e estes, frequentemente, os afundavam
(HUCHTHAUSEN, 2006, p.285-286)93. O patrulhamento do Atlântico Norte foi ampliado
(06/1941) com a chegada do encouraçado Texas e suas belonaves de apoio que
escoltavam os navios mercantes até próximo das ilhas britânicas, impedindo que
submarinos alemães atacassem os comboios aliados na região. O Almirante Reader
declarou que os comboios realizados pela Marinha Norte-Americana constituíam um ato
de guerra e que a Marinha Alemã atacaria, em consequência, quantos encontrasse a
serviço da Grã-Bretanha (AHI, 26 mai. 1941). O Texas foi atacado (20/06/1941) por um
submarino alemão (U-203), mas para a sua sorte, o torpedo errou o alvo (MASON, 1975,
p.63-66). Quando da ocupação da Islândia, por tropas norte-americanas (07/1941) (AHI,
09 jul. 1941), Hitler ordenou aos seus submarinos que se certificassem de que suas
presas navais eram realmente de navios aliados, evitando qualquer conflito com
belonaves norte-americanas (MASON, 1975, p.63-66).
Em setembro (04/09/1941), o destróier Greer, em conjunto com um avião da
RAF (“Royal Air Force”), atacou um submarino alemão (U-652), que contra-atacaria,
também, errando o alvo (MASON, 1975, p.63-66; BANDEIRA, 2006, p.125). Após esse
incidente, a Marinha Norte-Americana recebeu ordens de capturar ou destruir qualquer
submarino dos Países do Eixo, considerados, a partir de então, como piratas, criando
uma guerra não declarada entre os EUA e os Países do Eixo (BANDEIRA, 2006, p.126).
A situação ficou pior, quando os comboios com destino à Islândia e à Terra Nova
começaram a ser escoltados pelos navios norte-americanos, que argumentavam estar
defendendo suas rotas de apoio a suas bases na região (BANDEIRA, 2006, p.141).
Finalmente, em outubro, aconteceu o esperado, quando submarinos alemães atacaram
dois destróieres norte-americanos que comboiavam navios mercantes aliados com
destino à Inglaterra. No primeiro ataque (10/10/1941), o destróier Kearney ficou
danificado, sendo obrigado a retornar à sua base de apoio (MASON, 1975, p.63-66) e,
93 Um caso clássico dessa atitude norte-americana foi o afundamento do transatlântico alemão Columbus que, partindo
do México com destino a Oslo (Noruega), foi avistado e perseguido pelo destróier USS Tuscaloosa. O comandante da
belonave norte-americana informou suas coordenadas para dois destróieres britânicos, que bloquearam a sua saída do
Golfo do México. Sem opção, sua tripulação ateou-lhe fogo e acabaram sendo recolhidos pelo navio norte-americano
e internados nos EUA até o final da guerra.
99
no segundo, o destróier Reuben James foi afundado, após errar o seu ataque ao
submarino inimigo (U-552)94 (BANDEIRA, 2006, p.126). Roosevelt protestou com
veemência, declarando:
“que a conduta do submarino alemão foi um ato de pirataria, contrária a todas as
leis internacionais que exigem respeito aos navios neutros”. (MASON, 1975,
p.63-66)
Entretanto, omitiu a verdade ao não afirmar que o destróier estava protegendo um
comboio de navios mercantes aliados, em posição de combate, descumprindo a lei de
neutralidade internacional. Esses incidentes tiveram forte influência na declaração de
guerra da Alemanha aos EUA (11/12/1941), principalmente, a atitude agressiva de
Roosevelt contra os submarinos alemães, como mostram os telegramas abaixo:
“O Embaixador alemão comunicou-nos, hoje, que seu Governo declarou guerra aos EUA, responsabilizando disso o Presidente Roosevelt. Disse que o Governo Brasileiro não se deveria deixar impressionar pelos americanos do norte, cujo cínico objetivo é servir os seus próprios interesses. Acrescentou ser inteiramente falso, tudo quanto se tem dito sobre as ambições alemãs na América do Sul e, que esperava que o Governo Brasileiro não visse razão para mudar sua atitude de completa neutralidade com relação à Alemanha. Aguardamos comunicação
semelhante da Itália”. (AHI, 11 dez. 1941).
“O Congresso Norte-Americano acaba de reconhecer o estado de guerra com a Alemanha e a Itália, em face da declaração de guerra pelos referidos países, pela
manhã, aos EUA”. (AHI, 11 dez. 1941).
A pressão norte-americana, com o apoio da Grã-Bretanha e Holanda contra o Japão,
vinha tornando-se cada vez mais intensa, principalmente após o embargo econômico
(25/07/1941), que culminou com o congelamento de todo os bens japoneses nesses
países, além do fechamento de todo tipo de comércio com o Japão. Com o embargo
comercial do petróleo norte-americano, fundamental para a continuação da sua política
94 Todos os detalhes sobre a participação dos submarinos alemães na Segunda Guerra Mundial podem ser vistos no
site: Uboat.net. All German U-boats. Disponível em: www.uboat.net. Acessado em 23 nov. 2012.
100
expansionista na China, os EUA colocaram a máquina de guerra japonesa em cheque
mate, como vemos abaixo:
“Fui informado de que são rigorosamente exatos os quatro pontos publicados, ontem, oficiosamente, pela imprensa, como tendo sido apresentados pelo Sr. Cordell Hull ao Embaixador Saburu Kurusu: 1)-abandono do Eixo pelo Japão; 2)- renúncia à política de agressão; 3)- retirada das forças japonesas da China e Indochina; 4)-indiscriminada e igual liberdade de comércio para todas as nações
do Pacífico. Os EUA esperam resposta do Japão”. (AHI, 20 nov. 1941).
A política expansionista japonesa na Ásia, maquiada com a criação da Esfera
de Coprosperidade da Grande Ásia Oriental (SPENCE, 1996, p.376)95 era, totalmente,
dependente do petróleo fornecido pelos EUA. O Japão tinha que decidir entre a renúncia
de tudo que havia conquistado, com muito custo material e humano, na China e
Manchúria, ou atacar as Índias Orientais Holandesas, uma fonte excepcional de petróleo
na região, porém, para isso, era necessário atacar os EUA e a Grã-Bretanha. Os ingleses
estavam muito ocupados com os alemães e italianos, na Europa e no Mediterrâneo,
dessa forma, muito enfraquecidos para oporem qualquer resistência significativa. O
Governo holandês era um agregado dos ingleses, após a sua derrota para os alemães,
restando apenas os EUA. Entretanto, o gigante americano era um adversário de peso e
seria necessária uma operação capaz de colocá-lo em desvantagem estratégica, por um
longo período, enquanto se realizasse a conquista do petróleo das Índias Orientais
Holandesas. A Marinha Imperial Japonesa resolveu atacar a base naval norte-americana
de Pearl Harbour, na tentativa de eliminar a maior esquadra adversária na região.
Enquanto os preparativos militares eram realizados, na frente diplomática, os japoneses
continuaram conversando com os EUA para resolverem os problemas do embargo
econômico e comercial, procurando, se possível, uma solução pacífica para o problema.
Com o endurecimento dos norte-americanos no setor diplomático, estendendo as
negociações, os japoneses aceleraram o projeto bélico (“Tora, Tora, Tora”)96. Entretanto,
a Marinha Japonesa não sabia que o seu Código Naval (“NJ-25” ou “Purple”) havia sido
quebrado, pelos criptógrafos norte-americanos, através da operação “Magic”
95 Esfera de Coprosperidade da Grande Ásia Oriental era uma política de cooperação entre a China e o Japão, sob a
liderança econômica e militar deste último. 96 Tora, Tora, Tora era a palavra código para o ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbour.
101
(BANDEIRA, 2006, p.119-121)97. A “Magic” captou diversas mensagens enviadas pelo
Governo Japonês (3-5/12/1941) às suas delegações diplomáticas nos EUA e Havaí,
indicando que os japoneses estavam preparando um ataque iminente. Com essas
informações, Roosevelt e seus conselheiros sabiam que um ataque aconteceria e não
tomaram todas as medidas necessárias para impedi-lo, não colocando as bases do Havaí
em alerta máximo, como fizera nas ilhas Wake e nas Filipinas. O ataque aconteceu na
manhã de sete de dezembro de 1941, antes de o Embaixador Japonês entregar a
“Declaração de Guerra” ao Departamento de Estado Norte-Americano:
“O Presidente Roosevelt anunciou: os japoneses atacaram Pearl Harbour, base naval nas ilhas do Havaí, por forças aéreas e navais. Atacaram, igualmente, as bases militares de Manila, nas Filipinas. Afirmou que esses ataques se realizaram quando ambas as nações estavam em paz e, uma hora antes do Embaixador Japonês e o Enviado Especial Saburu Kurusu terem entregado ao secretário de
estado, Cordell Hull, a resposta japonesa do memorando de novembro”. (AHI, 07 dez. 1941).
“O secretário Cordell Hull recebeu das mãos do Embaixador japonês Nomura e do Enviado Especial Kurusu a resposta do Japão ao memorando de novembro. Hull disse que em todas as minhas conversações com Vossa Excelência (Nomura), durante os últimos nove meses, jamais proferi uma palavra de inverdade. Nos meus cinquenta anos de vida pública, eu nunca vi um documento tão cheio de infames falsidades e desvirtuamento dos fatos, e em escala tão vasta que nunca imaginei que qualquer governo deste planeta fosse capaz de proferi-
los”. (AHI, 07 dez. 1941).
EUA e Japão estavam em guerra a partir deste momento:
“O Governo Norte-Americano enviou um memorando a todas as Repúblicas Americanas, propondo uma reunião de consulta entre os Ministros das Relações
Exteriores Americanos”. (AHI, 08 dez. 1941).
2.7 BRASIL ROMPE RELAÇÕES COM AS POTÊNCIAS DO EIXO:
97 Magic foi o termo utilizado pelo Serviço Secreto Norte-Americano (SIS) que quebrou o código japonês, usado pela
Marinha Imperial com as Embaixadas e Consulados Japoneses.
102
Após os EUA entrarem no conflito mundial, uma nova reunião, entre os países
do Continente foi pedida pelo Governo Norte-Americano (AHI, 09 dez. 1941). Até o início
da conferência, onze Países Americanos (Canadá, Costa Rica, Cuba, El Salvador, EUA,
Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua, Panamá e República Dominicana) haviam
declarado guerra e três, rompido relações diplomáticas (Colômbia, México e Venezuela)
com a Alemanha, Itália e Japão (AHI, 10 jan. 1942; 31 dez. 1941), com os demais Países
Americanos ficando solidários aos EUA, inclusive o Brasil:
“Foi enviado um telegrama do nosso Presidente da República ao Presidente Roosevelt, comunicando-lhe a solidariedade do Brasil, ante a agressão japonesa. Será publicada uma nota, comunicando essa resolução ao povo e, apelando para que mantenha a ordem e a tranquilidade necessárias à ação do Governo. Julgamos necessária e urgente, uma reunião dos Ministros das Relações Exteriores, a fim de dar forma à solidariedade continental. Parece-nos que a
convocação deve partir dos EUA, que foi agredido”. (AHI, 08 dez. 1941).
“O Embaixador do Brasil nos EUA foi autorizado pelo Presidente da República a reafirmar ao Governo Norte-Americano, a atitude do Brasil ante a declaração de
guerra da Alemanha e Itália”. (AHI, 12 dez. 1941).
A Declaração do Rio de Janeiro (28/02/1942), por causa da postura argentina, contrária
à ruptura, “recomendava” que os Países da América Latina rompessem as relações
políticas e comerciais com os Países do Eixo. O Ministro Aranha e o Subsecretário Welles
não ficaram satisfeitos com essa posição política, que achavam sem qualquer
comprometimento prático, mas em nome da unanimidade pan-americana, acabaram
cedendo, com os Países da América Latina aprovando as seguintes recomendações:
“1)- Reafirmam considerar qualquer agressão de um Estado Extracontinental contra uma delas, como agressão contra todas, constituindo ameaça à liberdade e independência da América; 2)- Reafirmam completa solidariedade e sua determinação em cooperar, todas juntas, para sua proteção recíproca até que os efeitos da agressão tenham desaparecido; 3)- Recomendam a ruptura das relações diplomáticas com Japão, Alemanha e Itália, tendo o primeiro desses Estados agredido e, os outros dois, declarado
guerra a um país americano". (AHI, 28 jan. 1942). A maioria dos Países Latino-Americanos acompanhou a proposta de ruptura norte-
americana, com as exceções da Argentina e do Chile. A Argentina continuou com a sua
103
política de neutralidade e o Chile, preocupado com as suas deficiências militares em
defender a sua vasta costa, só acabou cessando suas relações com as Potências do
Eixo, um ano mais tarde. O Brasil rompeu as relações diplomáticas e comerciais com a
Alemanha, Itália e o Japão, em 28 de fevereiro de 1942 (AHI, 28 jan. 1942).
2.8 COMEÇAM AS REPRESÁLIAS DAS POTÊNCIAS DO EIXO:
O Brasil, por causa da sua posição estratégica, mais cedo ou mais tarde, seria
envolvido no conflito. Suas Forças Armadas estavam necessitando de armamento e não
tinham elementos suficientes para a proteção de sua vasta linha costeira. O país
precisava de todo o tipo de material bélico, desde carros de transportes, veículos
blindados, canhões de vários calibres, armamentos individuais (fuzis e metralhadores) e,
principalmente, artilharia de costa. Vargas procurou o apoio norte-americano, muito antes
dos EUA entrarem na guerra (1938). Inclusive, bases foram cedidas para que o Governo
Norte-Americano pudesse salvaguardar a região costeira do nordeste brasileiro, ponto
estratégico fundamental na defesa do continente (McCANN, 1995, p.94)98. Porém, os
EUA não estavam preparados para fornecer o material desejado pelo Brasil e as
condições de pagamento eram muito menos vantajosas do que as oferecidas pelos
alemães. Quando os EUA se recusaram a vender ao Brasil três velhos destróieres
(McCANN, 1995, p.44), após um protesto argentino (1937), o Governo Brasileiro resolveu
adquirir, na Europa, todo o material bélico que precisava para defender o país de algum
entrevero futuro. O país negociou armas de infantaria com a Tchecoslováquia, belonaves
e submarinos com a Itália (1938). Na Alemanha (1938), comprou canhões de 105 mm e
88 mm, viaturas, binóculos e aparelhos de escuta. Em março de 1941, o governo dos
EUA promulgou o “Lend-Lease Act”, vendendo armamentos para a Grã-Bretanha e,
posteriormente, para todos os países latino-americanos, com exceção da Argentina,
durante todo o conflito. Com a entrada dos EUA na guerra e, após a resolução da
Conferência do Rio de Janeiro (28/02/1942), uma grande quantidade de armamentos foi
98 Vargas propôs ao Governo Norte-Americano a construção de uma base naval no Brasil, em 1937. Posteriormente,
um acordo foi assinado para a construção de bases aéreas, em 05/1941. McCANN, Frank D. Jr. Aliança Brasil -
Estados Unidos 1937-1945. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1995, p. 94.
104
enviada pelos Estados Unidos para rearmar o Exército Brasileiro. Dessa forma, os
dirigentes nazistas começaram a se preocupar com a presença norte-americana no
nordeste, como mostra a troca de telegramas entre o embaixador brasileiro, Cyro de
Freitas-Valle, em Berlim, e o Ministro Aranha:
“Ouvi, ontem à noite, que o Brasil estava negociando com os EUA a cessão de bases navais. Neguei, categoricamente, o fato para as autoridades alemãs. Entretanto, hoje, foi publicado que as negociações estão tão adiantadas que, a respeito do caso, já forneceram esclarecimentos à imprensa, as Embaixadas do
Brasil em Washington e em Buenos Aires”. (AHI, 18 jun. 1941).
Aranha respondeu:
“Trata-se de bases aéreas nossas que temos o direito de construir, não estando
em jogo à soberania brasileira sobre as mesmas”. (AHI, 20 jun. 1941).
Mais tarde, Aranha voltaria a explicar a posição brasileira de auxílio à política de
solidariedade pan-americana norte-americana:
“A resposta já foi dada à Embaixada Alemã e publicada em todo o mundo, quando declaramos a nossa solidariedade aos EUA, o que significa auxílio sem reservas a este país. Existem no Brasil, atualmente, em vários aeroportos, desarmados, aproximadamente, 150 mecânicos e auxiliares norte-americanos. Nunca veio 40 aviões como foi dito em seu telegrama. É verdade, que passam pelo território brasileiro, rumo à África, contínuos grupos de aviões norte-americanos de diversas categorias, que permanecem no nosso território para reabastecimento
ou reparos”. (AHI, 07 jan. 1942).
Devido ao rompimento das relações políticas e comerciais com as Potências do
Eixo e com a presença crescente de militares e equipamentos norte-americanos no
nordeste brasileiro, o Brasil passou a sofrer represálias por parte de submarinos alemães
e italianos, que iniciariam uma campanha de ataques aos navios brasileiros em qualquer
parte do Atlântico (Norte/Sul). Uma tabela criada pelo autor mostra todas as perdas
sofridas pelo Brasil durante a Segunda Guerra Mundial (SANDER, 2007, p.97;
CANSANÇÃO, 1987, p.19-38; CASTELLO BRANCO, 1960, p.50-64).
TABELA 2:
105
TABELA NAVIOS BRASILEIROS AFUNDADOS NA GUERRA
Nº Data Navio Tripulação/
Passageiros
Mortos Agressor Local
BRASIL
01 22/03/1941 Taubaté - 1 avião Mediterrâneo
02 16/02/1942 Buarque 85 1 U-432 Atlântico Norte
03 18/02/1942 Olinda 46 - U-432 Atlântico Norte
04 25/02/1942 Cabedelo 54 54 Da Vinci Atlântico Norte
05 07/03/1942 Arabutan 51 1 U-155 Atlântico Norte
06 08/03/1942 Cairú 89 53 U-94 Atlântico Norte
07 01/05/1942 Parnaíba 72 7 U-162 Atlântico Norte
08 18/05/1942 ComandanteaLira 52 2 Barbarigo Atlântico Norte
09 24/05/1942 Gonçalves Dias 52 6 U-502 Caribe
10 01/06/1942 Alegrete 64 - U-156 Caribe
11 26/06/1942 Pedrinhas 48 - U-203 Atlântico Norte
12 26/07/1942 Tamandaré 52 4 U-66 Atlântico Norte
13 28/07/1942 Barbacena 62 6 U-155 Caribe
14 28/07/1942 Piave 35 1 U-155 Caribe
15 15/08/1942 Baependi 306 270 U-507 Atlântico Sul
16 15/08/1942 Araraquara 142 131 U-507 Atlântico Sul
17 16/08/1942 Aníbal Benévolo 154 150 U-507 Atlântico Sul
18 17/08/1942 Itagiba 181 36 U-507 Atlântico Sul
19 17/08/1942 Arará 35 20 U-507 Atlântico Sul
20 19/08/1942 Jacira 6 - U-507 Atlântico Sul
21 27/09/1942 Osório 39 5 U-514 Atlântico Sul
22 27/09/1942 Lages 49 3 U-514 Atlântico Sul
23 28/09/1942 Antonico 40 16 U-516 Caribe
24 03/11/1942 Porto Alegre 58 1 U-504 Índico
25 22/11/1942 Apalóide 57 5 U-163 Caribe
26 18/02/1943 Brasilóide 50 - U-518 Atlântico Sul
27 02/03/1943 Afonso Pena 242 125 Barbarigo Atlântico Sul
28 30/06/1943 Tutóia 37 7 U-513 Atlântico Sul
29 04/07/1943 Pelotaslóide 42 5 U-590 Atlântico Sul
30 22/07/1943 Shangri-lá 10 10 U-199 Atlântico Sul
31 31/07/1943 Bagé 134 28 U-185 Atlântico Sul
32 26/09/1943 Itapagé 72 22 U-161 Atlântico Sul
33 23/10/1943 Campos 63 12 U-170 Atlântico Sul
34 19/07/1944 Vital de Oliveira 275 99 U-861 Atlântico Sul
TOTAL: 1.718 1.081
A Marinha Mercante Brasileira teve vários navios afundados, antes e depois da
proclamação de guerra contra os Países do Eixo. Na verdade, os primeiros incidentes
106
com navios brasileiros, por parte dos alemães, foram realizados no ano de 1941. O
primeiro aconteceu no Mediterrâneo, quando o mercante Taubaté (23/03/1941), viajando
de Chipre para Alexandria, foi atacado por bombas e metralhadoras por um avião alemão,
apesar de ter içado lençóis brancos, ter a bandeira brasileira pintada em seus costados
e de ter parado as máquinas para demonstrar uma atitude inofensiva. Treze tripulantes
ficaram feridos e um faleceu, sendo preciso que dois rebocadores levassem a
embarcação para o porto de Alexandria. O Governo Brasileiro formulou um protesto à
Embaixada Alemã, no Rio de Janeiro (AHI, 02 abr. 1941; 04 abr. 1941). O Governo
Alemão acusou o recebimento do protesto, porém se esquivou de dar maiores
explicações, como informou Freitas-Valle, em Berlim:
“Fiz entregar o “memorandum” e, foi respondido que o Embaixador Alemão, no Brasil, tem instruções de responder o inquérito que está em curso. A impressão é de que a Alemanha reconhece a culpa, argumentando, para atenuá-la, com circunstâncias fortuitas, como a de não haver sido a bandeira branca içada no
primeiro momento”. (AHI, 29 ago. 1941).
Outro episódio aconteceu com o mercante Siqueira Campos (13/06/1941), quando um
submarino alemão abordou-o para verificar os passageiros e a carga transportada. Após
fotografarem os passaportes, o navio foi liberado para seguir viagem. O ano de 1942 viu
uma série de navios afundados, antes da investida do U-507 nas costas do nordeste
brasileiro, fato que originou a declaração de guerra brasileira. Outros seriam afundados,
posteriormente e, só no início de 1944, quando as medidas de proteção aos navios
mercantes aliados se tornaram muito eficientes e por causa da destruição de um número
significativos de submarinos alemães, os afundamentos deixaram de ocorrer.
A costa norte-americana estava bastante fragilizada e, praticamente,
desassistida, no início do ano de 1942, facilitando as atividades dos submarinos das
Potências do Eixo. Dois navios (Buarque e Olinda) foram afundados pelo mesmo
submarino (U-432), quando iam para Nova York, sendo o primeiro torpedeado e o
segundo abatido por tiros de canhão (± 14):
BUARQUE e OLINDA:
107
“Comenta-se o torpedeamento do “Buarque” e o ataque a Aruba como parte da estratégia totalitária para desviar as forças navais norte-americanas e impedir o
movimento de matérias-primas entre as Américas”. (AHI, 19 fev. 1942; 20 fev. 1942).
“Queira informar ao Governo Norte-Americano: que o afundamento do “Olinda”, logo após o do “Buarque” e, nas condições em que ambos foram feitos, causou aqui, a pior impressão, pois mostra que a costa norte-americana está à mercê da
Marinha dos Países do Eixo”. (AHI, 21 fev. 1942).
As informações adquiridas sobre os outros navios afundados, perto da costa
estadunidense, indicam que o patrulhamento norte-americano era escasso e bastante
ineficiente, pois dois dos nossos navios (Arabutan e Cairú) estavam sob as ordens do
comando naval norte-americano e foram afundados perto da base naval de Norfolk
(Virgínia), obrigando ao Governo Brasileiro a utilizar, a partir destes episódios, a mesma
tática usada pelos britânicos na Primeira Guerra Mundial, isto é, armar todos os seus
navios mercantes, introduzindo uma guarnição de militares da Marinha Brasileira ou
Norte-Americana:
ARABUTAN e CAIRU:
“Não temos como explicar no país, os afundamentos de nossos navios na costa americana. Os dois últimos saíram, já sobre guarda, na rota e com instruções desse governo, e mesmo assim, nem sequer receberam os náufragos, socorro imediato, com apenas poucas milhas da costa e de bases navais. Determinamos, assim, o recolhimento de todos os nossos navios nos portos mais próximos e a suspensão de partida para os EUA, até que sejam adotadas medidas que não deixem a nossa frota mercante à mercê do inimigo e ao desamparo do amigo”.
(AHI, 11 mar. 1942).
“Os navios devem ser artilhados e, cada um deve trazer, pelo menos, uma guarnição norte-americana para treinar nosso pessoal e agir em caso de necessidade. Os daqui partirão artilhados e com guarnição da Marinha de
Guerra”. (AHI, 14 mar. 1942).
Outra informação relevante sobre a deficiência e negligência da defesa costeira
dos EUA, foi um relatório enviado pelo Tenente-Comandante Harro Schacht99 (U-507) ao
Comando dos U-boats Alemães, informando que a costa da Flórida parecia uma “árvore
99Tenente-Comandante Harro Schacht recebeu o comando do U-507, em novembro de 1941, com o qual afundou 19
navios mercantes.
108
de Natal”, com todas as suas luzes acessas durante a noite. O Governo Norte-Americano
tentou pressionar as autoridades da Flórida quanto a esses problemas, mas elas
retrucaram que era época de férias e os negócios não poderiam sofrer qualquer tipo de
restrição por parte das autoridades federais. Só mais tarde, com aplicações de leis mais
severas contra atividades que interferissem na defesa do país, os comerciantes norte-
americanos foram enquadrados e passaram a colaborar com o Governo do Presidente
Roosevelt. O sumiço do cargueiro Cabedelo, ainda é um grande mistério até hoje. O
navio desapareceu sem deixar vestígios e investigações, durante e depois da guerra, não
conseguiram esclarecer o que realmente aconteceu. Muitos estudiosos afirmam que o
submarino italiano Da Vinci torpedeou-o, mas existem outros que citam o Torelli ou o
Capellini. Não existem registros claros sobre o acontecimento e creio que este mistério
permanecerá sem solução, como mostra o telegrama de Aranha ao embaixador brasileiro
em Washington:
CABEDELO:
“O vapor brasileiro “Cabedelo” saiu da Filadélfia a quatorze de fevereiro último, sem que dele se tenham notícias, até agora. Rogo pedir ao Departamento da
Marinha Norte-americana, se sabe alguma coisa deste navio”. (AHI, 23 mar. 1942).
Se a costa norte-americana estava desamparada, o centro do Atlântico e a região do
Caribe eram mais deficientes ainda e, nelas, perdemos mais oito navios (Parnaíba,
Comandante Lira, Gonçalves Dias, Alegrete, Pedrinhas, Tamandaré, Barbacena e Piave)
até meados de 1942 (MRE, 1944:59-148):
PARNAÍBA:
“O navio “Parnaíba” foi torpedeado na tarde do dia primeiro, próximo a Trinidad, segundo um comunicado do Departamento da Marinha que recebi há pouco”.
(01 mai. 1942).
109
GONÇALVES DIAS:
“No dia vinte e quatro último, o navio “Gonçalves Dias” foi torpedeado por um submarino. Um navio de guerra americano recolheu 45 tripulantes. Perderam-se
seis homens”. (AHI, 31 mai. 1942; 31 mai. 1942).
ALEGRETE:
“No dia primeiro próximo passado, depois das 17 horas foi torpedeado o navio brasileiro “Alegrete”. Aviões americanos localizaram uma das quatro baleeiras em que a tripulação deixou o navio. Todos os homens desta baleeira foram
salvos. As outras três se dirigiram às costas da Venezuela” (AHI, 02 jun. 1942; 04 jun. 1942).
PEDRINHAS:
“Tive informação do Governo Americano que o navio mercante brasileiro “Pedrinhas”, foi torpedeado por um submarino no dia vinte e seis de junho e que 48 tripulantes, daquele navio chegaram à cidade de San Juan de Porto Rico”.
(AHI, 01 jul. 1942).
BARBACENA:
“O navio brasileiro “Barbacena” foi torpedeado anteontem, tendo afundado em 15 minutos. Duas das quatro baleeiras em que a tripulação se salvou chegaram com
24 náufragos”. (AHI, 30 jul. 1942; 31 jul. 1942).
PIAVE:
“O navio brasileiro “Piave” afundou em menos de uma hora em virtude de ter sido torpedeado por um submarino. Perderam-se 18 homens, além do comandante do navio. O ataque realizou-se no dia vinte e oito, próximo passado, às 5 horas
da tarde. Chegaram hoje aqui, 16 tripulantes”. (AHI, 11 ago. 1942; 12 ago. 1942).
Quando aviões norte-americanos, com alguns militares brasileiros, começaram
a atacar submarinos alemães, fora das nossas águas territoriais, essas operações
tiveram grande repercussão na imprensa, na palavra do Ministro da Aeronáutica,
Joaquim Salgado Filho. Quando a Marinha Alemã soube desses atos, resolveu retaliar a
costa brasileira com ataques de submarinos. É importante ressaltar que Hitler proibiu
110
qualquer ato de agressão ao Brasil, após consultar Ribbentrop sobre as consequências
políticas advindas desse ato, obrigando ao Almirante Dönitz a cancelar o ataque punitivo.
Em julho de 1942, Dönitz voltou a insistir em um ataque ao largo da costa sul-americana
e, como primeira opção, planejou operações ao largo do estuário da Prata contra navios-
frigoríficos repletos de carne argentina com destino à Inglaterra. Ribbentrop negou
qualquer ataque que pudesse levar a Argentina para o lado aliado, mas desta vez, não
fez nenhuma objeção para ataques feitos ao largo da costa brasileira, fora das águas
territoriais brasileiras. Dönitz tomou a decisão de retaliar os ataques desferidos por aviões
norte-americanos, baseados em território brasileiro, contra os seus submarinos. O
submarino U-507 recebeu ordens para manobrar livremente ao longo da costa brasileira.
Isto significava procurar navios inimigos em qualquer lugar, mesmo em águas territoriais
(ALVES, 2002, p.182). Cumpriu sua missão com tamanho zelo que afundou cinco navios
de cabotagem e um veleiro, bem próximos da costa brasileira (15-17/08/42). Muitos
países enviaram telegramas de condolências e repúdio ao ataque covarde dos alemães:
ESTADOS UNIDOS:
“O departamento de Estado informou o afundamento de quatro navios nacionais na costa brasileira, entre eles o “Baependi”, transportando tropas para Natal”
(AHI, 17 ago. 1942).
“Tem tido grande repercussão aqui, o afundamento dos cinco navios brasileiros. Longo trecho do discurso, do Presidente da República, foi publicado na primeira página de todos os jornais. O Secretário de Estado Cordell Hull, em entrevista concedida aos jornais, considera a ação do Governo Nazista, desumana e ilegal, sujeitando arbitrariamente, ao mesmo tratamento os neutros e os beligerantes”.
(apud AHI, 19 ago. 1942).
“Os jornais continuam a realçar o caso do torpedeamento dos navios brasileiros, publicando notícias relativas à agitação e às manifestações populares em favor
da declaração de guerra”. (apud AHI, 20 ago. 1942).
ARGENTINA:
“Condolências do Governo Argentino ao torpedeamento de navios brasileiros nas
costas do nordeste brasileiro”. (AHI, 18 ago. 1942).
111
VENEZUELA:
“Em nome do seu governo, o Secretário Geral do Ministério do Exterior me visitou para, por motivo do afundamento dos cinco navios brasileiros, me expressar
condolências”. (AHI, 18 ago. 1942).
URUGUAI:
“O Presidente da República e o Ministro Guani declararam que acompanham os acontecimentos relativos ao Brasil e se aprestam para tomar, em consequência de tais acontecimentos, as medidas mais convenientes à defesa do continente”.
(AHI, 18 ago. 1942).
CHILE:
“O Governo Chileno protesta contra o afundamento de cinco navios brasileiros”. (AHI, 19 ago. 1942).
Reproduzo os telegramas trocados entre os Presidentes Roosevelt e Vargas, após os
torpedeamentos dos navios de cabotagem na costa nordestina brasileira:
FRANKLIN ROOSEVELT:
“Sr. Presidente Getúlio Vargas, senti-me profundamente indignado pelo criminoso afundamento dos cinco navios brasileiros. Este ato desprezível e bárbaro, em completo desrespeito a toda conduta civilizada e cavalheiresca, é completamente inútil em sua desesperada tentativa para coagir e intimidar o povo livre do Brasil, neste momento de grave ameaça ao respeito, integridade e destino dessa grande nação. Reafirmo mais uma vez a indissolúvel amizade do povo norte-americano e a nossa profunda gratidão pela cooperação na defesa do Hemisfério, de que já resultaram tantos sacrifícios ao Brasil, renovando a nossa determinação de vencer os que procuram inutilmente dominar o Brasil e todas as outras nações. Confirmo mais uma vez que todos os meus pensamentos
de simpatia estão com V. Ex. nesta hora delicada”. (MRE, 1944, p.187).
GETÚLIO VARGAS:
“Sr. Presidente Franklin Roosevelt, agradeço a V. Ex. e ao nobre povo americano, em nome do povo e do Governo do Brasil, a calorosa e confortadora mensagem que me enviou, a propósito do brutal atentado contra navios nacionais por submarinos corsários do Eixo, visando atemorizar-nos e interromper nossas comunicações marítimas. Os princípios de solidariedade continental e de
112
colaboração decisiva entre nossas duas nações só podem fortalecer-se e tornar-se mais estreitos diante de tais atos de vandalismo, a que responderemos sem temor, enfrentando quaisquer perigos, certos de que estarão conosco o sentimento e a adesão dos povos americanos dispostos a defender a sua
soberania”. (MRE, 1944, p.187).
2.9 BRASIL DECLARA GUERRA ÀS POTÊNCIAS DO EIXO:
O Brasil entrava em estado de beligerância (AHI, 28 ago. 1942), no dia 22 de
agosto, e acabou declarando guerra às Potências do Eixo, no último dia de agosto
(31/08/1942). Reproduzo as notas enviadas por Aranha para os respectivos Ministérios
das Relações Exteriores, da Alemanha e da Itália, comunicando a posição brasileira:
Senhor Ministro: A orientação pacifista da política internacional do Brasil manteve-o, até agora, afastado do conflito em que se debatem quase todas as nações, inclusive deste hemisfério. Apesar das declarações de solidariedade americana, votadas na Oitava Conferência Internacional de Lima, e na Primeira, Segunda e Terceira Reuniões de Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, efetuadas, respectivamente, no Panamá (1939), em Havana (1940), e no Rio de Janeiro (1942), não variou o Governo Brasileiro de atitude, embora houvesse sido, insolitamente, agredido o território dos Estados Unidos da América, por forças do Japão, seguindo-se o estado de guerra entre aquela República irmã e o Império agressor, a Alemanha e a Itália. Entretanto a declaração XV da Segunda daquelas reuniões, consagrada pelos votos de todos os Estados da América, estabeleceu: “Que todo atentado de um Estado não americano contra a integridade ou a inviolabilidade do território e contra a soberania ou independência política de um Estado Americano será considerado como um ato de agressão contra os estados que assinaram esta Declaração”. Consequentemente, o atentado contra a integridade do território e a soberania dos Estados Unidos deveria ser considerado como ato de agressão ao Brasil, determinando a nossa participação no conflito e não a simples declaração de solidariedade com o agredido, seguida algum tempo depois, da interrupção das relações diplomáticas com os Estados agressores. Sem consideração para com essa atitude pacífica do Brasil e sob o pretexto de que precisa fazer guerra total à grande nação americana, a Alemanha/Itália atacou e afundou, sem prévio aviso, diversas unidades navais mercantes brasileiras, que faziam viagens de comércio, navegando dentro dos limites do “Mar Continental”, fixados na declaração XV do Panamá. A esses atos de hostilidade, limitamo-nos a opor protestos diplomáticos, tendentes a obter satisfações e justa indenização, reafirmando, porém nesses documentos nossos propósitos de manter o estado de paz. Maior prova não era possível, da tolerância do Brasil e de suas intenções pacíficas. Ocorre, porém, que agora, com flagrante infração das normas de Direito Internacional e dos mais comezinhos princípios de humanidade, foram atacados, na costa brasileira, viajando em cabotagem, os vapores “Baependi” e “Aníbal
113
Benévolo” (do Lloyd Brasileiro, Patrimônio Nacional), o “Araras” e o “Araraquara” (do Lloyd Nacional, S.A.) e o “Itagiba” (da Cia. Navegação Costeira), que transportavam passageiros, militares e civis, e mercadorias, para portos do norte do país. Não como negar que a Alemanha/Itália praticou contra o Brasil atos de guerra, criando uma situação de beligerância que somos forçados a reconhecer na defesa da nossa dignidade, da nossa soberania e da nossa segurança e da América. Em nome do Governo Brasileiro, peço Senhor Ministro, se digne Vossa Excelência levar esta declaração ao conhecimento do Governo Alemão/Italiano para os devidos efeitos. Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Excelência os protestos de minha
alta consideração. (MRE, 1944 vol.2, p.191-192, MONTEIRO, 2012, p.77; p.117; p.134; p.143).
Muitos outros navios brasileiros foram afundados após a declaração de guerra brasileira
contra as Potências do Eixo e, ainda em 1942, a navegação brasileira perdeu mais cinco
navios (Osório, Lages, Antonico, Porto Alegre e Apalóide) (AHI, 28 out. 1942; 30 nov.
1942). Infelizmente, o ano de 1943 seria tão trágico quanto o ano anterior, à medida que
a repressão se intensificava no Atlântico Norte e Central, os submarinos alemães se
voltaram para o sul e acabaram afundando mais oito mercantes (Brasilóide, Afonso Pena,
Tutóia, Pelotaslóide, Shangri-lá, Bajé, Itapagé e Campos). Porém, pagaram um alto preço
por essas ações, perdendo doze submarinos (onze alemães e um italiano), até o final do
ano, sendo quase a metade no mês de julho (1943). Com a participação da Força Aérea
Brasileira (FAB), da Marinha Brasileira, em colaboração com a Quarta Esquadra Norte-
Americana, utilizando-se de comboios para melhor defender as rotas marítimas, com o
recebimento de navios (caça-submarinos e destróieres) e aviões (hidroaviões, caças e
bombardeiros) vindos dos EUA e a construção de pequenas corvetas no Arsenal do Rio
de Janeiro, a batalha do Atlântico Sul acabou sendo vencida pelos aliados. O autor
apresenta outra tabela, mostrando quais submarinos das Potências do Eixo foram
perdidos, durante o ano de 1943 (SANDER, 2007, p.221).
TABELA 3:
SUBMARINOS DAS POTÊNCIAS DO EIXO
AFUNDADOS EM 1943
Nº Data Submarino Região
01 04/01/1943 U-164 NORDESTE
114
02 13/01/1943 U-507 NORDESTE
03 15/04/1943 Archimede NORDESTE
04 17/05/1943 U-128 NORDESTE
05 09/07/1943 U-590 NORTE
06 19/07/1943 U-513 SUL
07 21/07/1943 U-662 NORTE
08 23/07/1943 U-598 NORDESTE
09 30/07/1943 U-591 NORDESTE
10 31/07/1943 U-199 SUDESTE
11 04/08/1943 U-604 NORDESTE
12 27/09/1943 U-161 NORDESTE
2.10 CRIAÇÃO DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA:
Em 1943, no encontro entre Roosevelt e Vargas, o Presidente Brasileiro
informou ao seu aliado que não aceitava um simples papel de coadjuvante na guerra. O
Brasil não podia ficar limitado, apenas, em franquear o seu território às tropas de nações
estrangeiras. Queria participar mais intensamente, inclusive enviando tropas para os
campos de batalhas, fortalecendo a sua posição na América Latina e, também, nas
futuras conferências de paz que surgiriam após o término da guerra. Apesar da falta de
interesse do Departamento de Guerra Norte-Americano, ficou decidido que o Brasil criaria
um Corpo de Exército (três divisões de infantaria), equipado e treinado pelos norte-
americanos. Entretanto, o país só conseguiu constituir uma única divisão de infantaria (1ª
Divisão de Infantaria Expedicionária)100 (SILVEIRA, 1989, p.328), que seria enviada para
o norte da África, como tropa de ocupação, no ano seguinte (1944). Com a rendição das
tropas ítalo-alemãs, na África do Norte (12/05/1943), tornou-se desnecessária a presença
de mais tropas na região. Porém, quando os aliados começaram a retirar divisões do
Teatro de Operações do Mediterrâneo (“TOM”) para a invasão da Normandia (“Overlord”)
e, posteriormente, para o sul da França (“Anvil/Dragon”), surgiu a necessidade de cobrir
esses claros de contingentes na Itália. O General Mark Clark, comandante do V Exército
Norte-Americano na Itália, aprovou o recebimento dos soldados brasileiros,
100 FEB – era constituída de 25.334 homens, sendo 2/3 (15.069) como soldados prontos para o combate e os restantes
(10.265) para o depósito de pessoal e outros órgãos não divisionários.
115
carinhosamente chamados de “pracinhas” pela população brasileira e alocou-os no IV
Corpo de Exército dos EUA, sob o comando do General Willis Crittenberger. O Corpo era
composto pelas seguintes divisões norte-americanas: 1)- 1ª Divisão Blindada (“Old
Ironsides”); 2)- 34ª Divisão de Infantaria (“Red Bull”); 3)-85ª Divisão de Infantaria (“Custer
Division”). Posteriormente, recebeu a 10ª Divisão de Montanha (“Mountaineers”)
(02/1945), tropa especializada em ataques realizados em terrenos acidentados, como era
o campo de batalha italiano (Linha Gótica). O 1º Escalão da FEB partiu do Rio de Janeiro
(02/07/1944) (BONALUME NETO, 1995, p.119), no navio de tropas norte-americano
General W.A.Mann, escoltado por destróieres da Marinha brasileira (Marcílio Dias, Mariz
e Barros e Greenhalgh), que escoltou os “pracinhas” durante metade do percurso para a
Itália, sendo substituídos por um cruzador e dois destróieres norte-americanos
(SILVEIRA, 1989, p.322). Chegaram a Nápoles quase duas semanas depois
(16/07/1944) e, ao desembarcarem, tiveram uma grande decepção. Por vestirem
uniformes parecidos com os das tropas alemães, na Itália (verde oliva), e estarem
desarmados, foram confundidos pela população local como prisioneiros de guerra, sendo
bastante hostilizados pelos napolitanos, em completo contraste com as informações
divulgadas nos EUA:
“A notícia da chegada da FEB, causou ótima impressão, provocando os mais entusiásticos comentários de rua. Os jornais publicam fotos do desembarque de tropas em Nápoles. O “Star”, em editorial intitulado “O Brasil na Europa”, salienta que a presença do exército latino-americano no teatro guerra europeu, representa acontecimento histórico. Pela primeira vez, a América Latina assume papel beligerante em conflito europeu. A ativa participação do Brasil assegura-lhe um lugar na liquidação da guerra e o direito de opinar sobre a ordem a
restabelecer”. (AHI, 21 jul. 1944).
Depois de alguns dias de adaptação e treinamento, foram incorporados ao V Exército
Norte-Americano (05/08/1944). Os 2º e 3º Escalões partiram em setembro (22/09/1944),
chegando a Nápoles no início de outubro (06/10/1944) e os últimos (4º e 5º), só atracaram
em Nápoles, respectivamente, em dezembro (07/12/1944) e fevereiro (22/02/1945)
(SILVEIRA, 1989, p.322). A FAB (Força Aérea Brasileira) participou, na Itália, com duas
unidades de combate, o 1º Grupo de Aviação de Caça (“Senta Pua”) e a Primeira
116
Esquadrilha de Ligação e Observação (“ELO”), além de participar da guerra
antissubmarina no Atlântico Sul.
A FEB entrou em ação (15/09/1944), pela primeira vez, no vale do rio Serchio,
perto da cidade de Lucca, começando a adquirir experiência de combate que os
treinamentos, tanto no Brasil quanto na Itália, não foram capazes de ensinar. O autor,
mais uma vez, utiliza uma tabela para indicar as principais vitórias da FEB, na Itália
(SILVEIRA, 1989, p. 336).
TABELA 4:
PRINCIPAIS VITÓRIAS DA FEB NA ITÁLIA Nº Cidade Data 01 Mazzarozza 18/09/1944 02 Camaiore 18/09/1944 03 Monte Prano 26/09/1944 04 Fornacci 06/101/944 05 Galicano 07/10/1944 06 Barga 11/10/1944 07 San Quirino 30/10/1944 08 Monte Castelo 21/02/1945 09 Castelnuovo 05/03/1945 10 Montese 14/04/1945 11 Zocca 21/04/1945 12 Cllecchio 27/04/1945 13 Castelvetro 28/04/1945 14 Fornovo 28/04/1945
O grande drama da FEB foi, sem dúvida, a conquista de Monte Castelo, uma ação onde,
devido a uma série de equívocos, teve um custo alto em vidas e na moral da tropa e do
comando brasileiro. Foram cinco tentativas101, quatro delas infrutíferas, causando
profundo mal-estar entre os brasileiros e os norte-americanos. A ideia de melhorar a
disposição das defesas aliadas, que defrontavam forte oposição estática alemã, antes
que o inverno paralisasse qualquer movimento mais arrojado, determinou planos pouco
acurados que só causaram danos materiais, humanos e psicológicos na tropa brasileira.
1011º Ataque – 24/11/1944; 2º Ataque – 29/11/1944; 3º Ataque – 12/12/1944; 4º Ataque: 19/02/1945 e 5º Ataque:
21/02/1945.
117
O General Crittenberger propôs a tomada do monte, sem oferecer condições adequadas
para a operação. Era uma ação que exigia a presença de duas divisões e apoio aéreo
contra a artilharia alemã, baseada em dois morros mais altos que o Castelo (Belvedere e
Della Torracia), que investia suas granadas contra qualquer tentativa de subjugar a tropa
alemã, baseada no Monte Castelo. O Alto comando da FEB, na tentativa de provar sua
capacidade combativa, acabou aceitando participar de uma empreitada que outras tropas
aliadas, muito mais experientes, não conseguiram realizar sem o apoio necessário.
Depois dos reveses, brasileiros e norte-americanos conseguiram preparar uma
operação coordenada (“Encore”- 19/02/1945), onde a 10ª Montanha atacou pela
retaguarda as tropas alemãs, baseadas no Belvedere, e a FEB investiu contra o Monte
Castelo com apoio aéreo da FAB (Força Aérea Brasileira). Foi, então, que todo o
dispositivo de defesa alemão começou a ruir no setor, principalmente, quando a 10ª
Montanha e a FEB, em um ataque conjunto, após terem conquistados todos os seus
objetivos anteriores, eliminaram o último baluarte local alemão que era o monte Della
Torracia. Estava preparado o terreno para próxima fase ofensiva do IV Corpo Norte-
Americano, que era a ruptura das defesas alemãs no vale do rio Pó. A FEB ficou mais
madura, confiante e preparada para os próximos embates e teve, na conquista de
Montese, o seu grande triunfo na campanha dos Apeninos. Foi uma luta curta e feroz,
onde as perdas foram as mais elevadas de todo o conflito, porém abriu o caminho para
a 10ª Montanha, apoiada pela 1ª Divisão Blindada, cruzar o rio Pó e quebrar toda a
espinha dorsal da “Linha Gótica” alemã, obrigando as tropas das Potências do Eixo a
abandonarem suas defesas e tentarem escapar para a Alemanha pelo passo de Brenner.
No fim de abril, os aliados começam a cercar as tropas remanescentes dos Países do
Eixo, cabendo à FEB receber a rendição da 148ª Divisão de Infantaria alemã (General
Otto Fratter-Pico)102, de elementos das Divisões Bersaglieri “Itália”, Alpine “Monte Rosa”
(General Mario Carloni) e de Fuzileiros Navais “San Marco” (General Farina) (BRAYNER,
102 General Otto Fratter-Pico assumiu o comando da 148ª Divisão de Infantaria, no final de setembro de 1943,
permanecendo no comando desta até a sua rendição, no final de abril, para a FEB. Tornou-se prisioneiro dos norte-
americanos e foi libertado em 1948.
118
1968, p.470-84), como mostra o telegrama do Embaixador Vasco Leitão da Cunha para
o MRE, da Itália:
“Os jornais, de hoje anunciam a rendição à FEB da 148ª Divisão Alemã com seis
mil homens, mil veículos de todos os tipos e quatro mil cavalos”. (AHI, 30 abr. 1945).
O Embaixador Fernando Lobo, em Washington, envia para o MRE telegrama semelhante:
“Foi dada ampla publicidade pelo rádio e pela imprensa à vitória das forças brasileiras na Itália, com rendição de cerca de seis mil alemães e apreensão de
grande quantidade de material de guerra”. (AHI, 30 abr. 1945).
Foram capturados mais de vinte mil soldados inimigos, 80 canhões, mil e
quinhentas viaturas e quatro mil cavalos (BRAYNER, 1968, p.464; CASTELLO BRANCO,
1960, p.466; CRITTENBERGER, 1997, p.104), mas, infelizmente, todo esse
equipamento foi recolhido mais tarde pelos norte-americanos. A guerra na Itália terminou
no início de maio (02/05/1945), com a rendição de todas as divisões ítalo-alemãs e, dois
dias depois, as tropas aliadas, provenientes da Áustria, se encontraram com as que
lutavam na Itália, no passo de Brenner. A FEB termina a sua campanha na fronteira com
a França, na cidade de Susa, fazendo junção com os franceses, com a guerra terminando
na Europa em 08/05/1945:
“O Presidente Truman acaba de comunicar, oficialmente, a rendição total e
incondicional da Alemanha e a consequente vitória das Forças Aliadas na
Europa”. (AHI, 08 mai. 1945).
“Foi-me entregue hoje, pelo Departamento de Estado, o texto da declaração
relativa à derrota da Alemanha e ao estabelecimento de autoridade suprema dos
Governos dos EUA, Grã-Bretanha, Rússia e França, naquele país. O seu texto é
mantido secreto e, dos países latino-americanos, apenas o Brasil o recebeu, em
virtude de ter enviado tropas para combater na Europa”. (AHI, 25 mai. 1945).
119
O Brasil perdeu, na Itália, 443 pracinhas, oito aviadores da FAB e teve 2.722 feridos em
todo o front italiano (SILVEIRA, 1989, p.336). A Marinha Mercante teve 972 mortos e a
Marinha de Guerra, 486 (BONALUME NETO, 1995, p.216).103 A FEB seria desmobilizada
(06/06/1945), ainda na Itália, pelo Governo Vargas, que temia perder o poder quando
esta chegasse ao Brasil, trazendo os ventos da liberdade e da democracia, conquistado
nos campos de batalha com sangue, suor, neve e lama. No mesmo dia em que a FEB
deixou de existir, o Brasil declarou guerra ao Japão:
“O Presidente da República, considerando os compromissos interamericanos de assistência e defesa mútua, reiterados e ampliados na recente Conferência do
México, decreta a existência do estado de guerra entre o Brasil e Japão”. (AHI, 06 jun. 1945).
As relações diplomáticas com a Itália foram, gradativamente, se normalizando
com os países aliados, fazendo um movimento para que os dignitários da Carta do
Atlântico aceitassem o novo Governo Italiano, aprovando-o sem grandes sanções,
humilhações e mutilações territoriais:
“O nosso Cônsul em Roma informa que tem fundados motivos para crer que em poucos meses ou mesmo semanas, os EUA e a Inglaterra reconhecerão o
Governo Italiano”. (AHI, 25 set. 1944).
Porém, muitos países, inclusive o Brasil, tinham pendências com a Itália (AHI, 12 out.
1945), danos causados pela guerra e exigiam reparações, independentemente, de
aceitarem o novo governo e trocarem pessoal diplomático com mais brevidade possível:
“Foram apresentadas ontem, as condições de paz que serão apresentadas à Itália, indicando que Rússia, Iugoslávia, Grécia, China e o Brasil exigem
indenizações”. (AHI, 13 out. 1945).
Aceitavam acompanhar os EUA, Grã-Bretanha e França, entendendo que, agindo em
apoio aos italianos, os estimulavam a participar, cada vez mais, das novas determinações
103Nestes números estão incluídos os 332 homens que faleceram com o afundamento do cruzador “Bahia”, depois de
ter terminado o conflito na Europa.
120
que seriam aplicadas nas Nações Unidas, esquecendo que em um passado bem próximo
estavam em lados opostos:
“Pode dizer aos amigos do Brasil que acompanharemos a América, Inglaterra e a França, em favor de uma paz para a Itália, sem humilhações, nem mutilações”.
(AHI, 16 out. 1945).
“Resolvemos restabelecer relações diplomáticas com a Itália, reconhecendo, assim, o seu atual governo. O Governo Brasileiro espera que, desta forma, se inaugure uma nova era de compreensão e de colaboração entre os dois países”.
(19 out. 1945).
O Governo Norte-Americano, seguindo as normas do pan-americanismo, gostaria que a
sua consulta com os Países da América Latina não tivesse nenhum tipo de objeção e
permitissem que os italianos tivessem um representante diplomático em Washington
(AHI, 14 out. 1944). Os norte-americanos acabaram recebendo o apoio desejado, mas
com reservas, sobre as reparações de guerra.
A guerra no Pacífico acabou no dia 02 setembro de 1945, infelizmente, depois
dos ataques atômicos às cidades de Hiroshima (06/08/1945) e Nagasaki (09/08/1945).
Terminava o conflito mais devastador que a humanidade conheceu e esperava-se que
surgisse uma nova era, capaz de trazer paz, trabalho, bonança e liberdade para todos os
homens deste planeta. Porém, não foi isso que aconteceu com o surgimento imediato da
guerra fria, criando um mundo bipolar (capitalismo e comunismo), que ofuscou tanto
sacrifício em defesa da humanidade. EUA e URSS começariam um embate, facilitando a
vida de muitos fascistas europeus, que acabaram fugindo, principalmente, para a
Argentina, com a criação de uma operação de asilo bem organizada e planejada
chamada Odessa (GOÑI, 2004, p.33-45)104, com dinheiro roubado dos países ocupados
pelos nazistas:
104 O livro de ficção O Dossiê de Odessa, escrito pelo inglês Frederick Forsyth, apresentava uma organização secreta
das SS chamada “Odessa” (Organisation der ehemaligen SS-Angehõrigen – Organização dos Ex- Membros das SS),
que ajudava a retirar, da Europa, depois da guerra, antigos camaradas de armas. Na verdade, o livro foi baseado nas
pesquisas que Forsyth realizou, quando era correspondente da Reuters, no início dos anos de 1960. Trinta anos depois,
o escritor e pesquisador argentino Uki Goñi descobriu, em antigos arquivos do Governo Argentino, que essa operação
de resgate realmente existiu com o apoio dos militares nacionalistas do GOU (Grupo de Oficiais Unidos), logo após o
121
“O Secretário de Estado afirmou hoje, na sua declaração à imprensa, o propósito dos EUA de considerar qualquer ação dos países neutros, no sentido de dar asilo aos chefes nazistas, ou seus satélites, como hostil aos princípios pelos quais as Nações Unidas estão lutando. Declarou já ter recebido a segurança dos Governos Sueco, Suíço e Espanhol, de que tais criminosos de guerra não encontrarão refúgio dentro de suas fronteiras. Espera obter resposta de outros governos. Os jornais publicam que o Embaixador Argentino em Londres, entregou nota ao “Foreign Office”, declarando que nenhuma pessoa considerada
criminosa de guerra do Eixo, seria admitida na Argentina”. (AHI, 29 set. 1944).
2.11 CONCLUSÕES PARCIAIS:
O Governo Brasileiro, no início do conflito, optou pela neutralidade, mas por
causa da sua posição estratégica e debilidade militar, foi induzido a ceder bases militares
para o Governo Norte-Americano, no saliente nordestino, participando do sistema
continental de proteção (Rainbow IV), organizado pelo Estado-Maior Norte-Americano. É
interessante mostrar o pensamento da imprensa alemã sobre a pressão exercida pelos
norte-americanos para a instalação de bases na América Latina, através desse telegrama
enviado pelo Embaixador Argentino Ricardo Olivera, de Berlim:
El Berliner Börzen-Zeitung publicó un artículo titulado “Eses Yanquis” en el que se refiere a las bases que el Gobierno Americano trata de establecer en Sudamérica […] dice que se está haciendo una política de mentiras y presión frente a los Estados Ibero-americanos: “La voluntad argentina y brasileña de conservar la neutralidad ha sido nuevamente confirmada en los últimos días y se ha declarado además que dichos países no se sienten amenazados por nadie. El Vicepresidente en ejercicio Doctor Castillo y el Presidente do Brasil Vargas, con su Ministro de Relaciones Exteriores colaboran estrechamente en sus esfuerzos por mantener la neutralidad y por determinar por si mismos las medidas que consideran necesarias para la defensa y seguridad de sus naciones. No desconocerán sin duda el carácter de la agresión americana, contra la libertad y han de saber que considerando la inescrupulosidad de la política exterior de los EEUU. Es necesario que estén preparados para toda eventualidad. La voluntad de decidir sobre sus propias políticas exteriores y neutralidad será posible llevarle a la práctica únicamente si adoptan una firme actitud frente a la intrusión americana. Siguiendo esta política podrán contar con el apoyo de la mayoría de los países
ibero-americanos”. (apud DAP, 06 jul. 1941).
final da Segunda Guerra Mundial. GOÑI, Uki. A Verdadeira Odessa - Contrabando de Nazistas para a Argentina
de Perón. Rio de Janeiro: Editora Record, 2004, p.21-22).
122
O Governo Vargas aderiu ao pan-americanismo norte-americano, por falta de outra
opção política, devido à sua total dependência econômica, comercial e militar dos EUA.
Com a adesão ao pan-americanismo, o Brasil conseguiu acordos comerciais e militares
muito vantajosos para o país, culminando com a presença de bases e militares norte-
americanos em seu território. Após a ruptura com as Potências do Eixo, o país começou
a sofrer represálias, com o afundamento de vários navios mercantes brasileiros nas
costas norte-americanas e no Caribe. A Marinha Alemã (Kriegsmarine), em conjunto com
o Ministério do Exterior Alemão (Wilhelmstrasse), resolveram atacar navios de
cabotagem brasileiros, dentro da zona de segurança continental (300 milhas),
argumentando que, apesar de não ter havido nenhuma declaração formal de guerra entre
os dois países, a presença de militares e belonaves norte-americanos em território
brasileiro gerava um estado belicoso com o Brasil (Dönitz, 2006, p.383). Diante desses
fatos, enviaram o U-507, numa atitude de coagir o Governo Brasileiro, para afundar o
maior número possível de navios mercantes na costa brasileira (08/1942), determinando
o estado de guerra entre o Brasil e as Potências do Eixo (31/08/1942). Com a entrada
do país na guerra, houve um incremento de militares, navios e aviões norte-americanos
no Brasil, transformando a represália arquitetada pelo U-507 numa atitude desnecessária
e inútil, como foi, posteriormente, confirmado nas memórias de Dönitz (1958).
No encontro de Vargas e Roosevelt, em Natal, ficou acordado que o Brasil
enviaria combatentes para participar mais ativamente da guerra, pensando em obter
alguma vantagem na futura organização das Nações Unidas. Na verdade, a ideia era
manter o fluxo de material bélico e de investimentos na compra de matérias-primas
fundamentais para o parque industrial norte-americano. Com as vitórias aliadas na África
do Norte, o aumento da eficiência (equipamentos e tecnologia) no combate aos
submarinos inimigos (1944) e o recuo em todas as frentes dos Exércitos das Potências
do Eixo, diminuiu a importância do saliente nordestino no projeto de defesa continental.
Acrescentamos, também, a construção de um aeródromo militar na ilha de Ascensão
(Britânica), posicionada entre o Brasil e a África, pelos SeaBees Norte-Americanos. Com
o apoio norte-americano, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB) (1943), que
acabou participando da campanha italiana dos Apeninos. Pouco experiente e mal
123
equipada, no início, foi adquirindo habilidade e perícia nos combates, principalmente,
contra os alemães. A FEB terminou a guerra com a mesma capacidade das demais
divisões de infantaria norte-americanas baseadas na Itália. Foi dissolvida, logo após o
fim da guerra (06/06/1945), chegando ao Brasil como um instrumento político e militar
capaz de abalar os pilares do Estado Novo e, consequentemente, contribuiu para a queda
de Getúlio Vargas (29/10/1945).
3. ARGENTINA: POLÍTICA DE NEUTRALIDADE CONTRÁRIA À POLÍTICA DE
SOLIDARIEDADE NORTE-AMERICANA:
A política externa argentina de “neutralidade” perdurou durante quase toda a
guerra, mesmo quando a pressão norte-americana conduziu o Governo Argentino a um
isolamento político e econômico, que acabou impossibilitando o país de participar do
programa “Lend and Lease” e de outros acordos comerciais que foram facultados a todos
os outros Países da América Latina. Os políticos argentinos não conseguiam vislumbrar
124
que, com a aplicação do pan-americanismo norte-americano pela maioria dos Países
Latino-Americanos, os EUA se transformaram na principal força política e militar do
continente. Desta forma, ceder à realidade representava uma mudança radical na política
externa argentina, sendo necessário modificar o pensamento da maioria dos políticos e
militares argentinos sobre a verdadeira e real importância da nação em relação aos seus
vizinhos latino-americanos. Inconformados com a política hegemônica imposta pelos
EUA, os governos civis e militares argentinos, a partir de abril de 1942, acabaram optando
por um jogo duplo de interação política, ora flertando com as Potências do Eixo, enviando
um representante para obter apoio da Alemanha e da Espanha, com a manutenção de
sua neutralidade, ora acatando o pan-americanismo em momentos de decisões
conjuntas com os Países da América Latina, no continente. Essa indefinição, na política
externa argentina, acarretou na tomada de poder pelos oficiais nacionalistas
germanófilos, que resolveram apostar na vitória alemã, estreitando alianças com o
fascismo europeu, em busca de armas e apoio político para a instauração e manutenção
de um governo autoritário (1944).
O Governo dos EUA, insatisfeito com a posição argentina de manter um
relacionamento político com agentes alemães, mesmo tendo rompido com as Potências
do Eixo, resolveu aumentar a pressão política, econômica e militar contra o Governo
Argentino: não reconhecendo o novo governo militar; chamando de volta seu embaixador
para consultas; fazendo uma demonstração de força, enviando a 4ª Frota Norte-
Americana para Montevidéu; e congelando os ativos financeiros argentinos nos EUA,
com ou sem o apoio dos britânicos. O Departamento de Estado Norte-Americano acabou
verificando que todas essas medidas tiveram pouco efeito prático e, com apoio do
Governo Brasileiro, resolveu utilizar uma nova política de reaproximação com o Governo
Argentino, inclusive, aceitando a participação da Argentina nas Nações Unidas, apesar
dos fortes protestos da União Soviética. O Governo Argentino, diante do fato consumado
da derrota das Potências do Eixo, declarou guerra à Alemanha e ao Japão, em 27 de
março de 1945.
3.1 POLÌTICA DE NEUTRALIDADE:
125
Na Conferência de Lima (1938), o Chanceler Argentino Cantilo estava decidido
a não aceitar qualquer tipo de política de solidariedade pan-americana, imposta pelos
EUA que, segundo o Chanceler Cantilo, colocasse todos os Países da América Latina
sob sua esfera de influência e, principalmente, não enfrentar a possibilidade da
transformação do Brasil em principal parceiro dos norte-americanos na região, em virtude
da sua posição geográfica. Sabendo que o Secretário de Estado Cordell Hull105 chegaria
ao encontro após o início das conversações, o Chanceler Argentino resolveu abrir a
conferência com um discurso totalmente favorável aos vínculos culturais e políticos com
a Europa, apesar de apoiar a solidariedade continental, quando fosse necessário:
“La solidaridad americana, señores, es un hecho que nadie pone ni puede poner en duda. Todos y cada uno de nosotros estamos dispuestos a sostener y aprobar esa solidaridad frente a cualquier peligro, que venga de donde viniera, amenazara la independencia o la soberanía de cualquier Estado de esta parte del mundo. No necesitamos para ello de pactos especiales. El pacto ya está hecho en nuestra historia. Actuaríamos con un solo e idéntico impulso, borradas las fronteras y con una sola bandera para todos: la de la libertad y la de la justicia.” “Pero la Argentina cree que cada pueblo americano con fisonomía inconfundible debe desarrollar su propia política sin olvidar por ello la magna solidaridad continental ni la gravitación natural de intereses recíprocos que se agrupan por razones geográficas. Vale decir que nuestra solidaridad continental no puede ser excluyente de la que nos une al resto del género humano y que no podemos desinteresarnos de lo que ocurre fuera de América. La Argentina no lo hizo ni lo hará, no sólo por razones de orden económico, sino por imposiciones históricas
y de carácter sentimental.” (apud, PAZ e FERRARI, 1971, p.53-55).
Cordell Hull ficou profundamente irritado com Cantilo, quando este resolveu
retirar-se da conferência para passar férias no Chile, deixando, em seu lugar, um
representante sem autoridade para decidir os pontos mais importantes da reunião. Para
Hull, essa atitude dava a entender que a Argentina estava boicotando a reunião, mas na
realidade, ele fora informado, anteriormente, pelas respectivas embaixadas, que os
Ministros da Argentina e do Brasil (AHI, 22 ago. 1938) não participariam do encontro
(SEITENFUS, 1985, p. 237; McCANN, 1995, p.99), sendo representados,
respectivamente, por Isidoro Ruiz Moreno (AHI: 23 set. 1938) e Afrânio de Mello Franco
(AHI: 14 nov. 1938). Paz e Ferrari (1971) afirmam que a posição argentina não somente
105 Cordell Hull foi Secretário de Estado Norte-Americano durante o período de 1933 a 1944. Após a quarta reeleição
de Roosevelt, pediu demissão do cargo (11/1944), devido ao seu precário estado de saúde, mas permaneceu como um
dos principais conselheiros norte-americanos na Conferência das Nações Unidas (São Francisco – 1945).
126
indicava a sua necessidade econômica do mercado europeu, mas, também, continha
uma forte relação cultural, educacional, social com a Europa, que, segundo Paz e Ferrari,
constituíam as raízes da nação portenha (PAZ e FERRARI, 1971, p.55-56; PARADISO,
2005, p.122). Depois de muitas discussões, ficou decidido que seriam feitas apenas
“consultas”, sem nenhum caráter impositivo, para resolver qualquer agressão externa a
um ou mais países do continente (McCANN, 1995, p.101-103; SEITENFUS, 1985, p.124-
127; CASTELLO BRANCO, 1960, p.35; PAZ e FERRARI, 1971, p.57-59). O Ministério
das Relações Exteriores da Argentina enviou ao Governo Brasileiro um telegrama
apresentando suas razões em não apoiar, na Conferência de Lima, qualquer pacto de
defesa continental, afirmando que, quando houvesse alguma situação crítica, iria se
posicionar em defesa da política de solidariedade pan-americana. Entretanto, não
poderia abandonar o vínculo que o país tinha com a Europa, em função do universalismo
da política externa argentina. O telegrama ratificava a posição universalista da política
externa argentina, demonstrando que as raízes existentes com a Europa permaneciam
indeléveis na constituição da República Argentina, mostrando a importância europeia na
conquista, colonização e desenvolvimento do país. Mesmo aceitando participar de uma
cooperação de solidariedade continental, o Governo Argentino continuava preservando
o seu relacionamento com a Europa:
“El concepto argentino de la solidaridad continental, de sus alcances y de las obligaciones que supone para los países americanos ha sido claramente fijado por el Señor Ministro de Relaciones Exteriores en su discurso del 10 de diciembre, pronunciado en la primera sesión plenaria de la Conferencia de Lima. El discurso del Ministro Cantilo, en efecto, después de señalar la existencia de una conciencia continental, manifestada, por lo pronto, en el esfuerzo común con que América lucho por su libertad “en una guerra sin fronteras” declaro que, por encima de todo pacto o alianza expresamente establecida, la solidaridad americana es un hecho definitivo y natural, que ningún país del continente puede desconocer. Pero el Ministro Cantilo señal al mismo tiempo, que esta solidaridad no deber ser entendida como excluyente de la política propia de cada Estado, ya que al lado de los intereses continentales existen para cada país los intereses regionales y los intereses, aun mas vastos, que determinan su posición en el orden universal. Por lo que hace a la Republica Argentina, el país se siente particularmente solidario con la Europa por el aporte humano, económico y espiritual, que debe al viejo mundo. El universalismo, es tradición en la Patria de aquel que un día en Washington expuso como lema de la política internacional argentina “La América para la humanidad””;
127
A Delegação Argentina enfatizava a necessidade de se construir um mecanismo de
consultas para quando surgisse um fato grave que ameaçasse a paz ou a independência
dos Países da América Latina.
“…En obediencia a estos principios generales que corresponden a la tradición de la política internacional del país, celosamente mantenida en el curso de todas las conferencias y acuerdos anteriores, la Delegación Argentina ante la Conferencia de Lima, entrando en el estudio de un tema que preocupo desde un principio como motivo principal de aquella reunión, proyectó y comunicó con fecha de 14 de diciembre una declaración de “expresión de conciencia y solidaridad americana”, en la que, después de recordarse el espíritu semejante de las instituciones democráticas de los pueblos de América, su reacción común contra los actos destinados a alterar su paz o su independencia y la solidaridad natural con que ella, llegado el caso, habría de producirse, se refirmaba la decisión de poner en práctica esa solidaridad por medio del procedimiento consultivo previsto en los acuerdos vigentes para oponerse a toda acción atentaría, sin perjuicio de a forma autónoma y soberana con que cada Gobierno obraría a este efecto”;
O documento acrescentava que todos os acordos necessários para a manutenção da
segurança continental já haviam sido previstos na Conferência de Buenos Aires (1936),
tanto para agressões causadas por países continentais ou extracontinentais.
“…Al mismo tiempo, y para señalar claramente la posición argentina ante otras delegaciones que trabajaban sobre el mismo tema, nuestra Delegación declaró que la República Argentina, decididamente dispuesta a admitir toda formula que implicase una manifestación de principios de solidaridad, no podría, sin embargo, aceptar con ese objeto ningún pacto con compromisos jurídicos de carácter permanente. Todas las hipótesis de hechos susceptibles de amenazar la paz de América se explicó en esa oportunidad y están previstas en los acuerdos de la Conferencia de Consolidación de la Paz de Buenos Aires, de 1936, por cuya razón un protocolo especial destinado a contemplar específicamente la acción subversiva de países extra continentales tendría el significado de una alianza disfrazada, y sería rechazada. Los contraproyectos presentados por otras delegaciones, o bien insistieron en prevenir exclusivamente la intervención de los Estados extra continentales, o bien pretendieron establecer las clases de agresión, de gravedad diferente, según fuesen de origen extra continental o continental”;
Várias propostas e contrapropostas, idealizadas pelos Delegados Peruanos,
Brasileiros e Estadunidenses, foram rechaçadas pela Delegação Argentina, porque seus
projetos de defesa coletiva, segundo os argentinos, tinham como único propósito se
prepararem para uma agressão vinda de um Estado Extracontinental, deixando bem claro
que este inimigo externo era a Alemanha.
128
“…Una contrapropuesta elaborada como texto conciliatorio por las Delegaciones de los Estados Unidos y del Perú, comunicada el día 16, insistía en el principio “de resistencia” colectiva, en términos directos, que la Delegación Argentina no pudo admitir, considerándola también como una manifestación de alianza contraria a la posición netamente asumida por nuestro país en Lima. En esa oportunidad, y en vista de que las contrapropuestas presentadas suponían de hecho el rechazo de la primera forma argentina, o, por lo menos, disminuían sus probabilidades como expresión unánime de la Conferencia de Lima. Simultáneamente con ese nuevo texto, las Delegaciones en Lima han debido considerar un nuevo anteproyecto, presentado el día 19, como nueva forma de conciliación, por los Delegados del Perú, el Brasil y los Estados Unidos. La Delegación Argentina se vio obligada a mantenerse en su posición anterior y a rechazar el nuevo contraproyecto, de cuyos artículos primero y segundo se dispendio, en sustancia, que el proceso de consulta establecido por las convenciones vigentes no tiene por objeto la apreciación previa de los hechos, como lo ha entendido siempre el Gobierno Argentino, sino, directamente, el deber de resistir a los actos de amenazas de cualquier Estado no americano contra un Estado Americano. Aparte de que la formula volvía así nuevamente al concepto de resistencia directo, y en consecuencia, de la alianza, el texto no podía satisfacer a la Delegación Argentina, en cuanto parecía establecer un régimen de defensa organizado especialmente o preferentemente contra los países extra continentales”;
O Governo Argentino acabou propondo uma nova proposta que não implicava em
determinar qualquer tipo de desconfiança a nenhum Estado Extracontinental e muito
menos a um Estado do continente, afirmando que as chancelarias participantes
acabaram propondo várias sugestões ao projeto argentino, que acabou sendo aceito
pelas vinte e uma Repúblicas Americanas, no final do encontro.
“Algunas otras formulas propuestas después con fines de conciliación han girado en general, alrededor de estos mismos principios, contrarios a la doctrina argentina. Obligada, pues, a rechazar también estos nuevos textos de transacción, la Delegación Argentina se atuvo desde entonces a la formula de su ultima contrapropuesta, en la que, por sugestiones de diversas cancillerías, fueron consentidas ciertas modificaciones de detalle, inspiradas en un gran espíritu de conciliación y en un vehemente deseo de alcanzar, al fin, como se ha alcanzado, la unanimidad de la expresión americana. En cuanto a lo que se ha dado en llamar la “fórmula de los tres Presidentes”, no ha existido nunca, ni los Jefes de Estado han tenido sobre este asunto contacto directo alguno. La chancillería argentina consultó en ciertos momentos a las chancillerías de algunos países vecinos sobre las fórmulas en estudio. Y de esas consultas resultaron, como se ha dicho, nuevos textos o modificaciones, que fueron oportunamente sugeridos a Lima. Esos textos y modificaciones han sido contemplados en parte en la fórmula definitivamente adoptada, que es así la obra de los veintiún países americanos, sobre la base de la segunda fórmula propuesta por la Delegación Argentina. Ella realza la posición argentina, que, siendo propia de nuestra tradición, no implica en absoluto desconfianza contra país alguno, ni mucho menos aún contra país alguno del continente, que ha encontrado en la formula de la “buena vecindad” tan feliz expresión de amistad y
colaboración.” (AHI, 27 dez. 1938).
129
Com a relutância da Argentina de participar de um pacto de defesa mútua no
continente, sua supremacia regional começou a se deteriorar, com o país se isolando,
ainda que lentamente, dos demais Países Latino-Americanos. Em 1939, um
acontecimento maculou a posição Argentina perante os seus vizinhos, quando um plano
de ocupação da Patagônia, por elementos fascistas, foi descoberto, comprometendo
alguns súditos alemães e simpatizantes argentinos, com a complacência de algumas
autoridades governamentais. O documento, em papel timbrado da embaixada alemã,
tinha a data de dois de fevereiro de 1937 e estava assinado pelo Conselheiro da Legação
Alemã, Conrad von Schubert e pelo Chefe Interino do Partido Nacional-Socialista
(NSDAP), Alfred Müller. Era um projeto bem detalhado, repleto de informações de ordem
econômica e política sobre a região, informando que, devido ao pequeno número de
habitantes, deveria ser anexada como parte integrante do Reich Alemão, por ser uma
“terra de ninguém”. As províncias La Pampa, Neuquén, Rio Negro, Chubut, Santa Cruz e
Tierra del Fuego eram as principais localidades descritas no documento e onde existiam
comunidades de descendentes alemães (DAP, 31 mar. 1939). A imprensa argentina
divulgou muitas notícias sobre o incidente, fazendo com que os alemães pedissem
providências ao Governo Argentino para verificar a veracidade das informações (DAP,
31 mar. 1939). A Embaixada Alemã afirmou que a publicação era mentirosa, preparada
por pessoas que pretendiam envenenar as relações amistosas entre o Reich Alemão e a
República Argentina. Afirmava que os documentos eram falsos, pelas seguintes razões:
“1ª)- La Embajada de Alemania no usa para su correspondencia papel con el membrete tal como lo reproduce la publicación y tampoco lo ha usado en años anteriores. 2ª)- La correspondencia de la Embajada es dirigida exclusivamente al Ministerio de Relaciones Exteriores en Berlin (A.A.) y nunca a otras oficinas oficiales en Alemania, tampoco como en este caso a la oficina en Muenchen mencionada en la publicación. 3ª)- El funcionario de la Embajada que aparece como firmante en la publicación abajo a la izquierda jamás tuvo autorización de firmar la correspondencia de la Embajada. 4ª)- Ese mismo funcionario que aparece con el título de consejero de legación tuvo durante su permanencia en esta Embajada en Buenos Aires en cargo de un Secretario de Legación y no el de Consejero de Legación. 5ª)- En su correspondencia la Embajada no emplea nunca anotación de expedición ni tampoco la frase final tal como la lleva el supuesto facsímile. 6ª)- La correspondencia de la Embajada de Alemania debe ser firmada siempre por un solo funcionario autorizado y no lleva nunca dos firmas.” Embajador von
Thermann (DAP, 31 mar. 1939).
130
As investigações realizadas provaram que o plano foi denunciado pelo cidadão
alemão, Enrique Jürges, um conhecido escroque, falsificador e defraudador (COSTA,
2004, p.245-246; SALINAS e DE NÁPOLI, 2002, p.92). Na Alemanha, foi condenado
(quatro anos) por praticar crimes semelhantes e acabou sendo exilado do país (DAP, 02
abr. 1939). Depois de uma extensiva depuração dos fatos, verificou-se que os papéis não
eram verdadeiros. Enrique Jürges, que estava detido, foi liberado (COSTA, 2004, p.240)
para responder um novo processo sobre falsificação em liberdade, sendo,
posteriormente, condenado a quatro anos de prisão. Alfred Müller, funcionário da
embaixada alemã, foi absolvido e libertado, com o Governo Alemão exigindo algum tipo
de indenização pelo tempo que ficou encarcerado (DAP, 29 jul. 1939), pedido negado
pelo Governo Argentino, alegando que Müller deveria abrir um processo civil contra
Jürges, por danos morais e materiais (DAP, 31 jul. 1939). Por fim, o Conselheiro da
Legação Alemã, Conrad von Schubert, por se encontrar na Alemanha (COSTA, 2004,
p.240) desempenhando outras funções no Ministério das Relações Exteriores da
Alemanha, não foi julgado. Costa (2004) afirma que por trás das atividades de Jürges
estava o serviço secreto britânico, que tinha como objetivo denegrir a imagem do Reich
Alemão na Argentina e de deixar os EUA preocupados com a expansão fascista no
continente americano, tentando fazer com que os isolacionistas norte-americanos
saíssem da inércia e participassem da guerra (COSTA, 2004, p.245-246). Salinas e De
Nápoli (2002) corroboram essa hipótese, acrescentando que este incidente impediu que
uma grande transação comercial fosse realizada entre a Alemanha e a Argentina. Esse
acordo era através do sistema aski (marcos compensados), onde os alemães
forneceriam 64 locomotivas, 900 vagões de carga e outros equipamentos ferroviários, em
troca de cem mil toneladas de trigo e oito mil toneladas de lã (COSTA, 2004, p.240).
Com o início da guerra na Europa (DAP, 01 set. 1939), o Governo Argentino
declarou sua neutralidade, em 04 de setembro de 1939, seguindo as convenções
internacionais existentes de Haia (1899 e 1907), apesar de não ter ratificado a última
(1907) (PAZ e FERRARI, 1971, p.61). Os EUA decidiram convocar uma reunião de
Chanceleres Americanos para decidir que medidas seriam tomadas para manter a
131
neutralidade dos Países da América Latina. Após alguma deliberação, foi feita pública a
“Declaração do Panamá”, que criava uma zona de segurança marítima de 300 milhas em
torno de toda a costa americana. A segurança e a proteção desta zona eram uma tarefa,
naquele momento, impossível, inclusive para os EUA, pois a área em questão era
excessivamente extensa. Diante dessa magnitude, o Governo Argentino objetou que
esse patrulhamento fosse facultativo e dentro das possibilidades de cada país, recebendo
o apoio dos demais Países Latino-Americanos (PAZ e FERRARI, 1971, p.63). Na
verdade, esta resolução era inexequível e sua vulnerabilidade ficou patente quando os
beligerantes violaram, em diversas ocasiões, essa zona marítima de segurança. A
Delegação Argentina aproveitou a oportunidade para expor os seus direitos territoriais
relacionados às ilhas Malvinas:
“La Delegación Argentina declara que dentro de las aguas adyacentes al continente sudamericano, en la extensión territorial de costas correspondientes a la República Argentina en la zona que se delimita como libre de todo acto hostil no reconoce la existencia de colonias o posesiones de países europeos y agrega que especialmente reserva y mantiene intactos los legítimos títulos y derechos de la República Argentina a islas como las Malvinas, así como a cualesquiera otras tierras argentinas que resultaran ubicadas dentro o más allá de la línea.”
(apud, Texto de la Declaración de la Delegación Argentina, Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)106.
O mais importante foi que os Governos Argentino e Norte-Americano trabalharam em
estreita colaboração, durante toda a Conferência, porque, naquele momento, ambos
tinham como principal posição política a neutralidade. Nos EUA, a opinião pública e um
grande número de políticos ainda eram favoráveis ao isolacionismo, não querendo
participar de outra guerra europeia e, na Argentina, vigorava a sua tradicional posição de
neutralidade em apoio ao universalismo, mantendo os seus fortes laços com a Europa
(PAZ e FERRARI, 1971, p.64; PARADISO, 2005, p.124; ROMERO, 2006, p.84). O
Secretário de Estado Norte-Americano, Welles, agradeceu a cooperação da Delegação
Argentina dessa maneira:
106 Historia General de las Relaciones Exteriores de la República Argentina. La Primera Reunión de Consulta de
Ministros de Relaciones Exteriores (Panamá, septiembre-octubre de 1939). Disponível em: www.argentina-
rree.com/9/9-011.htm Acessado em: 10 jan. 2013.
132
“Dejar Constancia de la ayuda, la cooperación y los servicios prestados durante la reunión de Panamá por la delegación argentina que encabezó el Dr. Leopoldo Melo (…) en todo momento demostró en la conferencia su grand habilidad para conseguir resultados prácticos, sin que surgiera la más ligera nube en el horizonte
de la unidad interamericana.” (apud, PAZ e FERRARI, 1971, p.64).
3.2 MUDANÇA PARA A POLÍTICA DE NÃO BELIGERÂNCIA:
O Governo Argentino resolveu modificar sua política externa, quando a
Noruega e a Dinamarca foram invadidas pela Alemanha (04/1940), mostrando que a
neutralidade não dava nenhuma garantia para aqueles que pretendiam preservar suas
soberanias, longe do conflito armado. Os alemães voltaram a desrespeitar o direito dos
neutros quando atacaram a Bélgica, Holanda e Luxemburgo (05/1940), sem qualquer
declaração de guerra. O Ministro Cantilo procurou o Embaixador Norte-Americano
Norman Armour107, informando que seu governo pretendia alterar seu estado de
“neutralidade” para uma posição mais realista de “não beligerante”, porém os norte-
americanos e os Países Latino-Americanos se recusaram a aceitar essa política,
temendo represálias advindas, principalmente, dos submarinos alemães em suas costas
desguarnecidas. É importante frisar que os norte-americanos ainda não estavam
preparados para participar do conflito e precisavam de tempo para movimentar todo o
seu potencial industrial e reorganizar as suas Forças Armadas. Welles, quando
consultado pelo Embaixador Argentino Felipe Espil108 (22/04/1940), explicou as razões
que impediam seu governo de aceitar uma nova política externa contra as Potências do
Eixo:
“1)- La aceptación de la no beligerancia requería la modificación de la legislación estadounidense sobre neutralidad, un paso que sólo podía realizar el Congreso109; 2)- La propuesta argentina implicaba el total abandono de los acuerdos logrados en Panamá, en septiembre de 1939, por parte de las Repúblicas Americanas; 3)- El gobierno de Estados Unidos consideraba en ese momento que las Repúblicas Americanas constituían la última porción del mundo civilizado que respetaba los principios del derecho internacional y la aceptación de la propuesta argentina implicaría aliarse al grupo de países que lo violaban; 4)- La propuesta ponía en riesgo la unanimidad de acción que con tanto cuidado se había logrado en las Conferencias de Buenos Aires, Lima y Panamá, y podía
107 Norman Armour foi embaixador norte-americano na Argentina, no período de 1939 a 1944. 108 Felipe Alberto De Espil foi embaixador argentino nos EUA, entre 1931 e 1943. 109 Os EUA sancionaram a Lei de Neutralidade em 04 de novembro de 1939.
133
incitar a las Repúblicas Americanas a proceder de una manera irracional al transitar el inexplorado camino de la no beligerancia; 5)- Los italianos eran aliados de una de las naciones beligerantes, en cambio ninguna de las Repúblicas Americanas mantenía un vínculo de esa naturaleza
con alguno de los gobiernos beligerantes.” (Memorando de Welles para o Embaixador Espil, Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000110; PAZ e FERRARI, 1971, p.64-65; PARADISO, 2005, p.124-125).
Após a negativa norte-americana, as forças reacionárias e nacionalistas pró-Eixo
começaram a pressionar o Presidente Ortiz, que acabou não resistindo por muito tempo.
Por motivos de saúde, acabou renunciando em 22 de agosto de 1940, sendo substituído
pelo seu vice, Ramón Castillo111, que optou pela política de neutralidade até ser
derrubado pelo golpe nacionalista de 1943.
3.3 COOPERAÇÃO MILITAR EM DEFESA DO CONTINENTE:
Com a derrota da França e uma possível débâcle militar inglesa, os EUA
começaram a projetar um cinturão de defesa do continente, com o auxílio de todos os
Países da América Latina. Um memorando foi entregue ao Governo Argentino
(24/05/1940) com uma proposta de estreitar esforços para a defesa da região do Rio da
Prata, com fornecimento de equipamentos e armas, principalmente canhões e aviões,
mediante concessão de créditos. Na proposta, o Governo dos EUA enfatizava que não
se tratava de nenhuma aliança militar e, tão somente, criar meios de defesa para impedir
qualquer agressão vinda do Velho Continente:
“…no implicaba ninguna alianza militar, ningún compromiso militar o naval (...) sólo implica que el gobierno de los Estados Unidos cree que la situación mundial
110 Historia General de las Relaciones Exteriores de la República Argentina. La Propuesta Argentina de Reemplazo
de la Neutralidad por la “no beligerancia” (abril de 1940). Disponível em: www.argentina-rree.com/9/9-012.htm.
Acessado em: 10 jan. 2013. 111 Ramón Castillo foi Vice-Presidente de Roberto Ortiz, de 1938 a 1942, passando a exercer o cargo de presidente,
após a morte de Ortiz (1942), sendo, posteriormente, deposto pelo Golpe de 43 (04/06/1943).
134
se ha vuelto más y más peligrosa, y que por eso parece prudente que las Repúblicas Americanas determinen qué parte podrían desempeñar cada una de ellas en caso de verse obligadas a resistir la agresión contra la paz del Nuevo Mundo, evitando así la duplicidad de sus esfuerzos en caso de ocurrir tal emergencia” “…se limitarían especialmente a la fuerza naval que el gobierno argentino podría utilizar para la protección de sus costas propias y quizá la costa uruguaya contra
una agresión extranjera.” (apud, PAZ e FERRARI, 1971, p.86-87).
Com a aquiescência do Governo Argentino, o Capitão William Spears foi enviado para
coordenar um projeto de colaboração entre os dois países. Spears foi bastante sincero
quando apresentou o caderno de intenções do seu governo, afirmando:
“1)- Los Estados Unidos no tienen, por ahora, otro camino a seguir que una neutralidad favorable a los aliados, pero no pueden intervenir en la guerra, a menos por la marcha de los sucesos en el futuro se vea afectado un interés vital suyo que los obligue a ello, apartando toda otra consideración; 2)- Los Estados Unidos no se hallan preparados militarmente para una campaña guerrera; 3)- El punto más vulnerable y el más esencial, a la vez, de la defensa de ese país lo constituye el Canal de Panamá; 4)- La actual preocupación de los Estados Unidos se debe a la marcha de las
operaciones de guerra en Europa”. (DAP: 27 mai. 1940).
Diante desta exposição, Spears pediu o apoio do Governo Argentino e formulou cenários
possíveis de intervenções militares na região, questionando o posicionamento argentino
sobre essas possibilidades:
“1)- Se el Gobierno Argentino está decidido a colaborar en un plan de defensa común; 2)- Qué ayuda requeriría del Gobierno de los Estados Unidos en caso de ser invadido o amenazado el territorio argentino; 3)- Qué ayuda estaría dispuesto a dar a otro gobierno americano, sí la invasión o el peligro afectaran a otro país americano; 4)- Si el Gobierno Argentino, en caso de una amenaza contra un país vecino como Uruguay o Brasil, podía prometer, para que el Gobierno de Estados Unidos hiciera efectiva su ayuda, el uso de sus aguas, de sus puertos y de sus bases
navales y aéreas”. (DAP, 10 jun. 1940; 12 jun. 1940).
A Marinha Argentina, através do Chefe de Estado-Maior Capitão Francisco
Renta, respondeu que o país estava preparado para se defender de qualquer ataque
externo e que não havia necessidade de criar mecanismos de defesa sem uma ameaça
real. Afirmou que o problema era político e precisava, primeiro, passar pelos respectivos
135
Ministérios de Relações Exteriores, agradecendo a oferta proposta pelos norte-
americanos (PAZ e FERRARI, 1971, p.87-88). Mais tarde, o Embaixador Armour propôs
outro memorando confidencial (17/06/1940), fazendo os seguintes questionamentos:
“…en caso de agresión al Uruguay, o Gobierno Argentino: 1)- ¿Ofrecería el Gobierno Argentino su ayuda al Gobierno Uruguayo en caso de verse amenazada su soberanía por tal actividad o intervención por parte de un Estado no-americano? 2)- ¿En caso de que los Estados Unidos se vieran complicados en la resistencia de una agresión extranjera contra el Uruguay, cooperaría el Gobierno Argentino con los Estados Unidos para resistir esa agresión? 3)-¿En caso de tal actividad o intervención por parte de un Estado no-americano en cualquiera otra República Sudamericana en la costa del Atlántico, cooperaría el Gobierno Argentino para enviar fuerzas navales y aéreas adecuadas?” “…no caso de que la Argentina se sentía amenazada: 1)- ¿Desearía el Gobierno Argentino ayuda de los Estados Unidos para rechazar tal ataque? 2)- ¿Qué ayuda se requeriría de los Estados Unidos para que tales operaciones fuesen eficaces? 3)- ¿En caso de que los Estados Unidos enviasen ayuda a la Argentina, puede darse ahora seguridad de que ciertos aeródromos, campos de aviación, puertos y demás facilidades estarán disponibles para las fuerzas estadunidenses?
(DAP, 17 jun. 1940).
O Exército Argentino concordou com todas as propostas contidas dentro do novo
memorando, informando que qualquer agressão a um vizinho da Argentina (Uruguai ou
Brasil) era um ato de extrema preocupação, com o Governo Argentino oferecendo a ajuda
militar necessária para combater o ataque advindo do invasor. Porém, a Marinha recusou
qualquer tipo de colaboração com os Estados Unidos, sendo respaldada pelo Ministro
Cantilo, que afirmou não ser necessário celebrar qualquer tipo de pacto militar, pois, no
momento necessário, a Argentina examinaria a situação com os EUA e as demais
Repúblicas Americanas. Os EUA tentaram, mais uma vez, estabelecer outro intercâmbio
militar com as Forças Armadas Argentinas, quando o Coronel R. L. Christian passou por
Buenos Aires, após visitas oficiais no Uruguai e no Paraguai. Christian propôs estudos
militares para salvaguardar as costas continentais de uma agressão vinda de um país
não americano. Os militares argentinos rechaçaram a proposta, alegando que os planos
relatados estavam fora do âmbito militar, por se tratar de assuntos ligados ao Ministério
das Relações Exteriores. Diante do descaso e da falta de interesse das autoridades
militares argentinas, o Governo dos EUA desistiram de qualquer tentativa de colaboração
com os argentinos (PAZ e FERRARI, 1971, p.88-91).
136
3.4 DEFESA DAS COLÔNIAS EUROPEIAS NO CONTINENTE (HAVANA):
A derrota da França colocava a defesa do continente americano vulnerável,
porque, através de suas colônias, as Potências do Eixo poderiam penetrar na região e
desestabilizar a política de solidariedade americana, acordada nas últimas reuniões dos
Países Americanos. O Governo de Vichy112 poderia facilitar essa ingerência externa,
cedendo bases no Caribe, América do Sul e África para que tropas e belonaves das
Potências do Eixo interferissem na estabilidade da região, levando a guerra europeia para
dentro do continente americano. Os EUA, percebendo esse perigo, formularam uma
proposta que colocava as possessões europeias sob a égide da Doutrina Monroe. A ideia
era o sistema de “fideicomisso113”, onde um ou mais Países Americanos exercessem a
administração provisória dessas colônias, até que os Países do Eixo fossem derrotados
e elas pudessem voltar para os seus antigos administradores. Assim, os EUA propuseram
uma nova reunião de Chanceleres Americanos para discutirem o assunto, formulando
medidas que impedissem a ocupação dessas possessões por países extracontinentais
(PAZ e FERRARI, 1971, p.67). O Governo Argentino aceitou participar das consultas,
advertindo que as Ilhas Malvinas faziam parte dos direitos inalienáveis do país e, desta
forma, não deveriam aparecer em qualquer tipo de deliberação no plano de consultas da
reunião, pois as mesmas eram reivindicadas como território argentino (DAP, 21 jun. 1940;
22 jun. 1940). O Governo Chileno, de maneira solidária, enviou um telegrama para o
Embaixador Argentino Eduardo Labougle114, informando sua posição de apoio à política
argentina, na futura reunião em Havana, sobre as Ilhas Malvinas:
“El jefe de la delegación chilena a la reunión de La Habana tiene instrucciones de
actuar en todo apoyar la actitud argentina acerca de las Malvinas…” (DAP, 21 jul. 1940).
112 França de Vichy foi um Estado fascista criado sob a influência da Alemanha Nazista, cuja capital era Vichy e teve
como primeiro Chefe de Estado o General Pétain. Ocupava uma área que representava cerca de dois quintos da antiga
Terceira República Francesa. 113 Fideicomisso é a transferência provisória, sobre certas condições, da administração de uma possessão ou território. 114 Eduardo Labougle foi embaixador argentino no Chile, durante um curto período (1939-1940).
137
Na Conferência de Havana (21-31/07/1940), Leopoldo Melo, Chefe da
Delegação Argentina, instruído pelo Ministro Cantilo, recusou a proposta norte-americana
de transferência administrativa das colônias europeias, afirmando que a ocupação
dessas possessões, mesmo que temporária, era um ato de guerra e o país estava
impossibilitado de participar de acordos militares sem a intervenção do Congresso
Nacional. Cantilo criticou a postura norte-americana de utilizar o medo de um provável
ataque externo ao continente, como forma de cooptar os Países Latino-Americanos,
afirmando que este temor era uma possibilidade, uma simples hipótese, que, até aquele
momento, não havia nenhum indício de que pudesse ocorrer. Se essa conjetura se
tornasse real, os acordos acertados nas outras reuniões (Buenos Aires, Lima e Panamá)
seriam capazes de conter a situação gerada pelo inimigo extracontinental. Quanto ao
perigo interno, acreditava que os Países Americanos estavam preparados para combatê-
lo por si só, e que a Argentina dispunha de elementos necessários para se defender
(DAP, 04 jul. 1940). Para enfatizar a inviabilidade do projeto norte-americano, Leopoldo
Melo apresentou um relatório do Almirante Norte-Americano Harold R. Stark, que
afirmava a incapacidade dos EUA, naquele momento, de proteger seu próprio litoral e o
seu tráfego costeiro de possíveis ataques de submarinos das Potências do Eixo,
indagando, como os EUA poderiam defender as costas adjacentes dos seus aliados
americanos (PAZ e FERRARI, 1971, p. 68). Leopoldo Melo apresentou a proposição
argentina sobre as colônias europeias, dessa maneira:
“El Gobierno Argentino: 1)- Acepta reafirmar el principio de que las naciones americanas no reconocen los cambios de soberanía obtenidos por la fuerza; 2)- No considera que todas las transferencias de soberanía o intereses sean contrarias a la paz y seguridad de todo el continente americano, que como se resolviera en Panamá, se permita examinar si esos cambios entrañan tal peligro; 3)- En virtud del principio de no intervención, no acepta entrar a juzgar los cambios políticos producidos en las naciones europeas, para decidir si ellos son peligrosos para el continente americano, sólo eventualmente admite considerar las situaciones concretas de peligro producidas en América; 4)- Entiende que la intervención de los Estados Americanos en las colonias europeas, implica una acción militar conjunta en beneficio de los actuales poseedores, no correspondiéndoles el papel de guardianes de esas potencias europeas; 5)- Se considera que sería llegado el momento de proclamar el principio de que
en América no deben existir posesiones europeas. (DAP, 22 jul. 1940).
138
Os argentinos e os norte-americanos passaram uma boa parte da reunião
discutindo suas respectivas propostas, enquanto as outras delegações americanas
procuravam encontrar uma solução capaz de inserir os principais princípios que as duas
representações discutiam com tanto fervor. Acabou-se optando pela proposta chilena e
norte-americana, que decidiu manter o “status quo” das possessões europeias com a
criação de uma convenção115 para a administração desses territórios. É importante
assinalar que essa convenção deveria ser aprovada pelos parlamentos dos Países da
América Latina participantes, que deliberariam um representante para a recém-criada
“Comissão Interamericana de Administração Provisional” (PAZ e FERRARI, 1971, p.68-
69). Ficou estipulado pela XV Resolução que se algum Estado Americano sofresse
qualquer tipo de agressão de um Estado não americano, este ato seria considerado um
atentado contra todos os outros Estados que ratificaram a “Declaração de Havana”. Os
signatários podiam negociar acordos de defesa e assistência entre todos, dois ou mais
deles, sem a necessidade da unanimidade, que esteve presente em todas as outras
reuniões interamericanas. A inserção na resolução de acordos bilaterais facilitou a
política norte-americana de defesa continental, fazendo com que vários programas de
assistência militar fossem realizados entre os EUA e os Países Americanos (Brasil, Chile,
México, Uruguai, Venezuela), inclusive, com a cessão de bases navais, aeródromos,
portos e outras facilidades. Paz e Ferrari (1971) sustentam que, com o fim da
unanimidade, os EUA introduziram o programa de “Lend and Lease” em todos os países
da América Latina (PAZ e FERRARI, 1971, p.70), pedindo, como contrapartida,
facilidades na utilização dos meios logísticos locais para que as Forças Armadas Norte-
Americanas pudessem estabelecer pontos de apoio na defesa do continente.
3.5 ARGENTINA FORA DO PROGRAMA “LEND AND LEASE”:
Quando o Congresso Norte-Americano promulgou (11/03/1941) o “Lend and
Lease Act” (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), o Presidente Roosevelt obteve a
115 A Convenção sobre Administração Provisional das Colônias e Possessões Europeias no Continente Americano
instituiu um comitê de emergência, composto por um delegado de cada país participante, até que os parlamentos das
Repúblicas Americanas ratificassem a sua legalidade.
139
autorização de “vender, transferir, trocar, arrendar e emprestar, toda a classe de artigos
de defesa para a proteção de qualquer nação, cuja defesa ele considerasse vital para a
segurança dos EUA” (PAZ e FERRARI, 1971, p.92; MEACHAM, 2006, p.123),
transformando o país no “arsenal da democracia116”. A Argentina, que precisava de
armas para as suas Forças Armadas, matérias-primas para a sua indústria de guerra e
equipamentos (máquinas e meios de transporte) para o desenvolvimento da sua
economia, procurou obter as mesmas facilidades que os outros Países da América Latina
vinham conseguindo, mesmo discordando da maneira que esse apoio norte-americano
estava sendo processado (PAZ e FERRARI, 1971, p.93). O Governo Argentino era
contrário ao armamento indiscriminado dos Países Latino-Americanos, porque
desestabilizava o equilíbrio regional existente, reacendia velhas rivalidades e diminuía a
sua hegemonia na região sul do continente, transferindo-a para o Brasil, com o apoio dos
EUA. O Chanceler Argentino Enrique Guiñazu117 foi informado pelo Embaixador Norte-
Americano Armour (30/07/1941), através de um memorando, que estavam disponíveis
equipamentos e armamentos, pelo sistema da “Lei de Empréstimos e Arrendamentos”
para as Forças Armadas Argentinas, afirmando que essas aquisições não estavam
vinculadas a nenhum plano de defesa continental. Se as autoridades militares argentinas
estivessem interessadas, deveriam enviar uma comissão militar aos EUA, apresentando
as principais necessidades de material bélico que suas forças militares necessitavam e
que elas seriam analisadas dentro das possibilidades reservadas aos países americanos
pela “Lei de Empréstimos e Arrendamentos”. O documento enfatizava que conversações
poderiam ser efetuadas, separadamente, sobre defesa continental, caso o Governo
Argentino achasse necessidade de antecipar os acontecimentos, sem esperar que
circunstâncias externas obrigassem a precipitação desses mesmos fatos. O Governo
Argentino era o único país na América que não havia realizado nenhuma troca de
informações sobre defesa continental (DAP, 18 ago. 1941).
116 A principal beneficiária dessa lei foi a Grã-Bretanha e, inclusive, muitos países onde o regime democrático não
existia, principalmente, na América Latina. 117 Enrique Luiz Guiñazu foi Ministro das Relações Exteriores da Argentina (19/06/1941-04/06/1943). Foi afastado do
cargo pela Revolução de 1943, comandada por políticos e militares nacionalistas.
140
Os EUA pensavam que, com a nova proposta de colaboração militar, pudessem
modificar o pensamento dos militares argentinos, que, como vimos, declinaram das duas
tentativas feitas, anteriormente, pelos militares estadunidenses (Missões Spears e
Christian). A Argentina enviou uma representação militar sob o comando do Contra-
almirante Sabá H. Sueyro e do General de Brigada Eduardo T. Lapez, que permaneceu
em negociações nos EUA, durante cinco meses (12/1941-04/1942), não conseguindo
adquirir o material bélico necessário para equipar as forças militares argentinas.
Infelizmente, o momento da chegada da missão, logo após o ataque japonês a Pearl
Habour, atrapalhou bastante as negociações, que eram presididas, do lado argentino,
pelo seu Embaixador em Washington, Espil e por Welles, pelos norte-americanos.
Porém, o fator principal para o fracasso das conversações foi o posicionamento
intransigente do Governo Argentino na Conferência do Rio de Janeiro (15-28/01/1942).
A manutenção da neutralidade, com a recusa de participar do rompimento das relações
diplomáticas com as Potências do Eixo, abandonando a política de solidariedade pan-
americana proposta pelos norte-americanos, provocou fortes protestos de Welles que,
após uma reunião com o Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA (General Marshall),
informou ao Embaixador Argentino Espil (04/02/1942):
“... he consultado al general Marshall y al almirante Stark. Ellos informarán al almirante Sueyro y al general Lapez que, por cuanto el gobierno argentino ha decidido mantener por el momento una posición equivalente a la neutralidad, y que todas menos una de las repúblicas americanas han declarado la guerra o roto relaciones con el Eje, incurriendo por ello en los peligros inherentes a tal actitud a causa de su apoyo a los Estados Unidos, el material naval y militar que podía ser concedido por los Estados Unidos puede ser solamente repartido entre
aquellas naciones americanas”. (Comunicação de Welles ao Embaixador Espil, Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)118.
Em outro encontro (09/02/1942), Welles informou a Espil, que os EUA não tinham, no
momento, capacidade de suprir todos os pedidos de armamentos dos Países Latino-
Americanos, dando prioridade para aqueles que se expuseram ao romper ou declarar
guerra às Potências do Eixo, pedindo para que o Governo Argentino reconsiderasse sua
posição política de neutralidade (PAZ e FERRARI, 1971, p. 102). As conversações
118 Historia General de las Relaciones Exteriores de la República Argentina. La Misión Lapez-Sueyro (diciembre de
1941-abril de 1942). Disponível em: www.argentina-rree.com/9/9-020.htm. Acessado em 17 jan. 2013.
141
começaram a se arrastar sem que as duas partes chegassem a um compromisso
importante e, para piorar, os militares norte-americanos colocaram na mesa de
negociações a necessidade da Marinha Argentina de participar do sistema de
comboios119, compartilhando com outras nações americanas a proteção do comércio
continental. O Almirante Sueyro informou que a Marinha Argentina não tinha navios de
guerra suficientes para o patrulhamento de suas costas, afirmando que a missão
argentina não tinha autonomia para resolver essa questão, alegando que:
“... era una cuestión política y que por consiguiente está fuera de la competencia y atribuciones de esta delegación para su consideración. Es de lamentar que esta delegación resulte incompetente para discutir el plan de cooperación que se
agrega”. (PAZ e FERRARI, 1971, p.106).
O Embaixador Argentino Espil enfatizou que, se navios argentinos apoiassem
os comboios, a política de neutralidade defendida pelo Presidente Castillo perderia todo
o sentido, colocando a nação no patamar de beligerante em relação aos Países do Eixo.
Alegou que outros Países Latino-Americanos não tinham a obrigação de participar do
sistema de escoltas, salientando que o Chanceler Guiñazu não concordava que a
aquisição de armamentos estivesse vinculada à associação da Marinha Argentina no
sistema de comboios (PAZ e FERRARI, 1971, p.107-108). O Secretário de Estado Cordell
Hull afirmou que, em momento algum, a venda de equipamentos militares estivesse
ligada à necessidade dos argentinos de tomar parte no sistema de escoltas. Alegava que
a Argentina precisava demonstrar sua adesão ao pan-americanismo, pois, até aquele
momento, era uma das duas únicas repúblicas dissidentes (Argentina e Chile), enquanto
que a maioria dos Países Latino-Americanos já havia rompido relações ou declarado
guerra às Potências do Eixo. Hull afirmou que, colaborando com a defesa do continente,
destacando navios de guerra para a proteção de comboios, a Argentina se transformava
em um parceiro interessado na defesa das causas continentais, sendo vista com bons
olhos pela opinião pública norte-americana. Caso contrário não havia nenhuma
possibilidade do país ser inserido na “Lei de Empréstimos e Arrendamentos” (PAZ e
119 Sistema de Comboios era uma maneira de otimizar a escassa oferta de navios de guerra (destróieres,
contratorpedeiros, corvetas, etc.) na proteção de navios mercantes contra ataques de submarinos e navios de superfície
alemães.
142
FERRARI, 1971, p.105). Um artigo publicado no jornal brasileiro Correio da Manhã
apresentava, com bastante exatidão, a decepção que causou, nos EUA, a negativa
argentina de apoiar a solidariedade pan-americana (trechos da publicação):
“Os Estados Unidos não podem, atualmente, enviar armas para a Marinha e o Exército da Argentina, enquanto esta nação continuar com a sua política de não contribuir para a defesa do hemisfério, como as demais nações americanas, como por exemplo: Brasil, Peru, Colômbia e Venezuela. No que se refere aos artigos de consumo, como papel para diários, máquinas agrícolas e muitos outros produtos manufaturados nos Estados Unidos, continuaram sendo racionados para a Argentina...” “Depois da Conferência do Rio de Janeiro, Argentina e Chile decidiram que era impossível aceitar as resoluções de ruptura das relações com os Países do Eixo. Os Estados Unidos consideram que esta situação, constitui uma situação perigosa para as outras nações americanas que declararam guerra ou romperam as relações diplomáticas com as Potências do Eixo”. “Depois da Conferência do Rio de Janeiro, os Estados Unidos observaram que as Repúblicas Latino-americanas haviam assumido um grande risco, e que por causa disto, deveria ser aumentada a ajuda para essas nações...” “Os Estados Unidos adotaram esta atitude para com a Argentina, se baseando na atual falta de contribuição que este país tem oferecido na defesa do hemisfério
ocidental”. (apud, DAP, 02 abr.1942).
A negativa dos EUA em fornecer equipamentos militares para as Forças Armadas
Argentinas, como vimos, anteriormente, desestabilizou o Governo de Castillo e provocou
a aproximação dos oficiais nacionalistas argentinos com as forças fascistas da Europa.
Com a necessidade de obter armas para fazer frente ao desequilíbrio armamentista,
causado pela “Lei de Empréstimos e Arrendamentos” no sul da América Latina,
resolveram buscar auxílio na Alemanha (COSTA, 2004, p.333; GOÑI, 2004, p.33). Essa
nova postura política, que apostava na vitória alemã, levou ao golpe militar que derrubou
o instável e relutante Presidente Castillo, em junho de 1943, assunto que estudaremos
mais adiante.
3.6 ARGENTINA E CHILE MANTÊM A NEUTRALIDADE:
A Argentina foi para a III Reunião dos Chanceleres Americanos, no Rio de
Janeiro (15-28/01/1942), com a sua política externa definida, independente das propostas
que iria analisar junto com os outros Países Latino-Americanos. O Governo Argentino
manteria a sua neutralidade e não romperia suas relações diplomáticas com as Nações
143
do Eixo (AHI, 10 jan. 1942; 14 jan. 1942), afirmando que o encontro tinha como finalidade
a realização de consultas e não uma decisão unânime de cessar relações políticas com
Alemanha, Itália e Japão. O Ministro Guiñazú achava que a política de solidariedade pan-
americana estava limitando a soberania e a liberdade de ação dos Países Americanos,
que eram obrigados a aceitar a posição da maioria nos encontros realizados, sem
analisar as necessidades políticas, militares e comerciais dos dissidentes, afirmando,
também, que o rompimento das relações políticas era um ato de beligerância que só o
Congresso Argentino poderia aprovar. Paz e Ferrari (1971) declaram, de maneira
surpreendente, que Guiñazú declarou, em seu livro “La Política Argentina y el Futuro de
América” (1944), que os ataques japoneses contra os norte-americanos no Pacífico não
representavam uma agressão ao continente americano, pois eram ataques contra
possessões asiáticas dos EUA, alegando:
“,,,este hecho extra-continental, con origen exclusivamente asiático...” (PAZ e FERRARI, 1971, p.83).
O Vice-Presidente Argentino Castillo ratificou o posicionamento do seu governo quando
discursou, em Buenos Aires, antes da Conferência do Rio de Janeiro:
“Hay una campaña tendenciosa para tergiversar nuestra actitud y asignarle propósitos que jamás han existido. No es imposible que los mismos representantes extranjeros en Rio están ahora bajo la sugestión de esa crítica sin control. En realidad, la actitud de la República es la misma, limpia, derecha y leal, que ha asumido siempre en sus relaciones internacionales. Antes aún que todo pactado, ha existido entre nosotros y los Estados Unidos una coincidencia de orden institucional y un culto de de principios comunes, que hacen de la amistad solidaria la relación natural de ambos países. Cómo puede concebirse otra cosa y cómo creerse que vayamos a regatear nuestra colaboración en la obra de interés común a que los acontecimientos no llevan?”;
O Presidente Castillo reafirmava que a política externa de seu país não havia mudado e
que mantinha a posição de colaborar com todos os Países Latino-Americanos em busca
de interesses comuns em defesa do continente.
“El sistema de colaboración, que no ha sido previamente establecido, debe ser por ello estudiado, discutido y acordado entre todas las partes. No se concebiría una aplicación automática. A ese acuerdo hemos ido a Rio, con nuestras ideas y
144
nuestras necesidades, que naturalmente pueden no ser las mismas que la de otros países, sin que la diferencia implique divergencia insalvable, reserva ni oposición. Por ejemplo, nosotros pensamos que nuestra posición de no beligerancia con respecto a Estados Unidos puede ser a ese país de mucho mayor provecho que cualquier otra posición extrema, y permitirnos una colaboración que pocos otros países de América podrían prestarle. Tenemos que discutir esa idea in Rio, no con huecas palabras de adhesión, sino con los hechos y la evidencia misma. Las instrucciones que lleva nuestra… Delegación se inspiran ampliamente en este principio de colaboración. Por más que exagera la crítica tendenciosa, no podrá demostrar jamás que estamos lejos de un país que entra en la lucha para defender principios amenazados que son también principios nuestros”;
O Governo Argentino acreditava que, ao promover os EUA como país “não beligerante”,
estava contribuindo muito mais para a defesa do continente do que se modificasse a sua
política externa de neutralidade. Assim, a Delegação Argentina iria procurar sempre o
princípio de colaboração, desde que essa atitude não interferisse na sua posição de
ruptura com as Potências do Eixo.
“El Gobierno de la Nación tiene en orden interno la responsabilidad de muchos intereses que debe conciliar. Acaso por eso nuestra actitud en el orden externo no sea tan espectacular como algunos lo quisieran. Pero puedo afirmar que ha
de ser seria, leal y útil como la que más para la causa común de América”. (DAP, 15 jan. 1942).
O Ministro Aranha, na abertura da Conferência, elogiou o discurso do Vice-
Presidente Castillo, invocando a colaboração de todos os americanos em defesa dos
interesses comuns, superando, inclusive, as diferenças existentes na luta por uma causa
maior que era a unidade do continente americano:
“Quero comunicar aos Senhores Ministros um documento altamente expressivo, nesta hora, em que todo o mundo pode ter dúvidas, menos os americanos, porque temos consciência de nossos deveres e das decisões que vamos tomar, no sentido de trazer de forma clara e firme nossos projetos”. “...justamente para os que têm dúvidas, para aqueles que argumentam que na América existe lugar para as discrepâncias, as dissonâncias e as divergências, vou ler as declarações do ilustre Vice-Presidente da República Argentina, atualmente em exercício da presidência daquele grande país irmão, declarações que constituem a afirmação de que a América é uma só, uma só relação a ela mesma e uma só em relação ao mundo, em tempos de paz e em tempos de guerra”. “Não posso, depois da leitura destas declarações, deixar de pedir ao eminente colega, Senhor Enrique Guiñazu, que em nome desta Assembleia, dirija a seu Presidente nosso agradecimento pelas suas palavras claras e firmes, para a
145
unidade e coesão dos americanos no momento em que aqui estão agregados”.
(DAP, 16 jan. 1942).
Enquanto os debates aconteciam nos encontros da assembleia, os principais
representantes diplomáticos trocavam encontros, entre si, para discutir suas posições
políticas, na busca de obter aliados para as reuniões seguintes. Em uma delas, Welles
procurou Guiñazú para que a Argentina repensasse sua política externa e rompesse
relações com a Alemanha, Itália e Japão. Guiñazu enviou um telegrama para o Ministério
das Relações Argentino, relatando a visita de Welles:
“Ayer recibí la visita de Sumner Welles. La entrevista duró media hora con el significado que correspondía a dos representantes que ponen todas sus cartas sobre la mesa. Del punto de vista norteamericano la situación internacional obliga a una total identificación de miras por parte dos países del continente, siendo sus consecuencias íntimas la ruptura de relaciones diplomáticas con los Estados del Eje. Me dijo textualmente que esa actitud indispensable era de vida o muerte para los Estados Unidos y toda América, La conversación tuvo su complemento en el discurso que Welles pronunció a la tarde y que las agencias habrán transmitido. A mi vez, dile a conocer nuestro punto de vista calificó trágico, lamentando se reprodujese ahora la misma oposición que en Habana y Lima”. “El Canciller de Chile mantiene aún so oposición a la ruptura, teniendo el propósito de entrevistarse con el Presidente Vargas en quien me confía pueda resultar un aliado”. “Para hoy me invitan Welles y Aranha a renovar punto de vista acerca de la dicha
ruptura”. (DAP, 16 jan. 1942).
Em um novo encontro com Welles, Guiñazú reafirmou a posição argentina de
não participar da ruptura de relações com as Potências do Eixo. Na conversa, Guiñazú
expressou, novamente, que seu país manteria a sua política de neutralidade, mas
respeitando todos os compromissos firmados, anteriormente, nas outras conferências
interamericanas. Entretanto, seu país não aceitaria nenhuma proposta impositiva, que
retirasse a sua capacidade de deliberar, de forma independente, sobre sua política
externa. Ressaltou que o discurso do Vice-Presidente Castillo, lido pelo Chanceler
Aranha, havia sido muito bem recebido na abertura da Conferência, mostrando que seu
país, ao agir diferente das demais Nações Americanas, não caracterizava que estivesse
desestabilizando ou enfraquecendo a política solidária americana. Guiñazú terminou
afirmando que na votação sobre o rompimento das relações com os Países do Eixo, a
falta de unanimidade não indicava qualquer desprestígio para com os EUA, vítimas dos
146
ataques japoneses às suas bases no Pacífico (07/12/1941) e das declarações de guerra
da Alemanha e da Itália (11/12/1941), salientando que um artigo poderia ser adicionado
no texto final da conferência, para que os países dissidentes pudessem, posteriormente,
aderir à ruptura. Welles agradeceu a explanação detalhada sobre a postura argentina,
pedindo que Guiñazú apresentasse essa proposta aos outros Países da América Latina
(DAP, 17 jan. 1942). Guiñazú participou de outra reunião importante, dois dias depois,
encontrando-se com o Presidente Vargas, para lhe explicar as razões da manutenção da
política de neutralidade e da não adesão ao projeto de ruptura. Vargas acatou a posição
argentina (BANDEIRA, 2003, p.202), deixando que Aranha refutasse os argumentos
expostos, na tentativa de encontrar uma unanimidade na ata final da assembleia (DAP,
19 jan. 1942). Welles, também, procurou modificar o pensamento argentino, mas ambas
as tentativas foram inúteis (DAP, 21 jan. 1942). Inclusive, na Argentina, o Embaixador
Armour, sob as ordens de Welles, tentou demover o Vice-Presidente Castillo da sua
política de neutralidade, recebendo como resposta que o Governo Argentino havia
adotado uma posição definitiva, contrária ao rompimento das relações diplomáticas com
os Países do Eixo (DAP, 21 jan. 1942).
Na tentativa de obter a unanimidade na declaração final da conferência, Aranha,
Welles e a maioria dos Chanceleres Americanos resolveram modificar o projeto de
ruptura proposto pela Colômbia, México e Venezuela, alterando o artigo terceiro, da
“Declaração do Rio de Janeiro” (DAP, 24 jan. 1942; PARADISO, 2005, p.125), que
“determinava o rompimento”, para uma posição mais branda que “recomendava a
ruptura”, agradando aos representantes argentinos e chilenos. Desta forma, conseguiu-
se a adesão desejada e as Delegações da Argentina e do Chile saíram vitoriosas no
desejo de se manterem neutras, porém a um custo bastante elevado, com os EUA
começando um processo lento e gradativo de retaliação política e econômica.
Demonstrei, através da tabela abaixo (SILVEIRA, 1989, p.279-282), como os Países
Americanos se posicionaram após o ataque japonês ao Havaí e com o fim da reunião de
chanceleres no Rio de Janeiro, rompendo relações ou declarando guerra às Potências
do Eixo:
147
TABELA 5:120
POSICIONAMENTO POLÍTICO DAS REPÚBLICAS AMERICANAS COM AS POTÊNCIAS DO
EIXO APÓS A REUNIÃO DE CHANCELERES NO RIO DE JANEIRO:
PAÍSES ALEMANHA/ITÁLIA
JAPÃO PAÍSES ALEMANHA/ITÁLIA
JAPÃO
Argentina Neutralidade Guatemala 08/12/1941 11/12/1941
Bolívia 28/01/1942 28/01/1942 Haiti 08/12/1941 12/12/1941
Brasil 28/01/1942 28/01/1942 Honduras 08/12/1941 12/12/1941
Canadá 10/09/1939 07/12/1941 México 08/12/1941 11/12/1941
Chile Neutralidade Nicarágua 08/12/1941 11/12/1941
Colômbia 08/12/1941 19/12/1941 Panamá 08/12/1941 12/12/1941
Costa Rica 09/12/1941 11/12/1941 Paraguai 28/01/1942 28/01/1942
Cuba 08/12/1941 11/12/1941 Peru 24/01/1942 24/01/1942
El Salvador 08/12/1941 13/12/1941 R. Dominicana 08/12/1941 11/12/1941
Equador 28/01/1942 28/01/1942 Uruguai
Venezuela
25/01/1942 25/01/1942
EUA 08/12/1941 11/12/1941 Venezuela 31/12/1941 31/12/1941
ROMPIMENTO DE RELAÇÕES
DECLARAÇÃO DE GUERRA
3.7 PRESSÃO DOS ESTADOS UNIDOS CONTRA A ARGENTINA E O CHILE:
Após a Conferência do Rio de Janeiro, os EUA iniciaram um processo coercitivo
contra as duas nações dissidentes no continente. Argentina e Chile começaram a sentir
as consequências de suas políticas externas independentes, sendo impedidos de
120 HILTON, Stanley. Oswaldo Aranha – Uma Biografia. Rio de Janeiro: Objetiva, 1994, p.378; SILVEIRA,
Joaquim Xavier da. A FEB por um Soldado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989, p.280-282.
148
participar do programa “Lend and Lease” (PARADISO, 2005, p.125) e sofrendo um forte
boicote econômico de produtos manufaturados e de bens de capitais (máquinas
industriais, equipamentos elétricos e ferroviários) produzidos nos EUA, sem condições
de adquiri-los no mercado europeu, fechado pelas circunstâncias da guerra. Apesar das
pressões e sanções econômicas, Argentina e Chile decidiram manter a política de
neutralidade, assinando um protocolo secreto em que mantinham a sua política de
repúdio ao rompimento com as Potências do Eixo. A intenção era não divulgar esse
acordo, no intuito de evitar comentários que pudessem aludir à criação de um bloco
destoante, dentro dos Países Latino-Americanos (HILTON, 1994, p.407). Neste
documento, se houvesse alguma mudança no posicionamento das suas respectivas
políticas externas, seus representantes trocariam informações e consultas, para posterior
divulgação da nova orientação desejada (DAP, 25 abr. 1942; 27 abr. 1942). O
Departamento de Estado Norte-Americano argumentava que agentes nazistas
continuavam atuando, livremente, na Argentina, apoiados e financiados pela Embaixada
Alemã e alguns empresários germânicos. Uma dessas redes de espionagem, chamada
“Bolívar” (SALINAS e DE NÁPOLI, 2002, p.158; HILTON, 1977, p.24-25) era administrada
pelo empresário Walter Koennecke121 (GOÑI, 2004, p.131), cujo sogro era magnata da
construção civil na Argentina, Ludwig Freude (GOÑI, 2004, p.14)122. A principal atividade
da rede era instalar radiotransmissores123 (SALINAS e DE NÁPOLI, 2002, p.139-141)
para informar a movimentação dos principais portos do continente. Seus agentes
enviavam notícias de Nova York, Baltimore, Los Angeles, Cidade do México, Quito,
Valparaíso e Buenos Aires (HILTON, 1977, p.24-25). É importante salientar que, devido
a problemas de recepção, era quase impossível transmitir diretamente dos EUA para a
Alemanha. Os agentes, que atuavam na América do Norte, precisavam contatar seus
colegas sul-americanos, para que estes enviassem os seus relatórios sobre as atividades
aliadas no Canadá e EUA, para o serviço de inteligência alemão, em Berlim. Os principais
121 Walter Koennecke foi preso em 08/08/1944, devido a pressões norte-americanas, porém seria libertado em 1945. 122 Ludwig Freude era um milionário alemão, que atuava no setor imobiliário, com ramificação na inteligência alemã
(Abwher). 123 A parte técnica da operação de instalação dos radiotransmissores era efetuada pela organização alemã chamada
Orga-T, comandada por Hans Franckzok, um especialista em comunicações, que tinha a missão de enviar mensagens
cifradas diretamente para Heinrich Himmler. Após a guerra (1947), foi deportado pelo Governo Argentino para a
Alemanha, onde na prisão, contou com detalhes, toda a relação existente entre a rede Bolívar e Perón.
149
agentes de Koennecke eram Hans Harnisch124 (SALINAS e DE NÁPOLI, 2002, p.139-
179; COSTA, 2004, p.386-390) e o Capitão SS Johannes Sigfrid Becker125 (COSTA,
2004, p.380; GOÑI, 2004, p.130-138). Essa rede seria estourada pela “Coordinación
Federal” (DE NÁPOLI, 2005, p.177)126, em agosto de 1944, após forte pressão do
Governo Norte-Americano que enviou um relatório ao Presidente Edelmiro Julián
Farrell127 sobre as atividades nazistas no país, inclusive uma lista com nomes de
diplomatas alemães, funcionários do governo e militares argentinos (Livro Azul)128 (PAZ
e FERRARI, 1971, p. 148-149; FAUSTO e DEVOTO, 2004, p.283).
Quando o Brasil entrou em estado de beligerância com as Potências do Eixo
(22/08/1942), Welles procurou, mais uma vez, cooptar a Argentina e o Chile para que
participassem da política de solidariedade continental e rompessem relações com as
Potências do Eixo. Em um jantar, em sua casa, com o Embaixador Chileno, Rodolfo M.
Cabero129, e o Encarregado de Negócios Argentino, García Arias, afirmou que era o
momento propício para que seus países revessem suas políticas externas, sendo
contestado por Cabero, que afirmou:
“...que Welles debía encarar este asunto de muy distinta manera. Condenamos
enérgicamente la agresión al Brasil, y, que ya no cabía duda para los países del
Continente que Alemania arrasaría con cuanto principio de humanidad existe,
pero usted sabe bien, lo que piensa mi Presidente”. (DAP, 23 ago. 1942).
124 Hans Harnisch era espião nazista e utilizava como fachada o posto de gerente da Compañía Siderúrgica Böcker,
sendo deportado para a Alemanha em 1947 (Decreto n˚ 18.480), onde, na prisão, confessou todas as ligações existentes
entre os espiões alemães (SD) e militares argentinos (GOU) durante a guerra. 125 Johannes Sigfrid Becker (Pepe) foi preso no final da guerra pela polícia argentina, sendo, posteriormente, absolvido
de todas as acusações sobre espionagem. Para demonstrar a importância da rede, Himmler concedeu a Becker, a Cruz
de Ferro por seus serviços de radiotransmissão, em 11 de junho de 1943. 126 Polícia Federal Argentina que desbaratou os locais de radiotransmissão da rede Bolívar. Na verdade, foi um trabalho
muito fácil, pois os federais já conheciam todo o esquema da organização, apreendendo 55 radiotransmissores e três
máquinas de criptografia Enigma (máquina decodificadora do código secreto alemão). 127 Edelmiro Julián Farrell foi Presidente da Argentina no período de 24/02/1944 a 04/06/1946, sendo substituído por
Juan Domingo Perón, eleito democraticamente. 128 Livro Azul era uma coletânea de informações dos serviços secretos aliados, detalhando todas as atividades dos
agentes nazistas na Argentina, onde o nome de Perón estava em destaque. 129 Rodolfo Michels Cabero foi embaixador chileno nos EUA de 1940 a 1944.
150
Cabero ressaltou que nada mudaria a posição de neutralidade adotada pelo Chile,
inclusive, o convite, feito por Roosevelt, para o Presidente Juan Antonio Ríos130 visitar os
EUA (HILTON, 1994, p.390-391). No dia seguinte, de Santiago, o Embaixador Argentino
Carlos Güiraldes131 informava que o Chile considerava o Brasil “não beligerante”, mas
não mudaria a sua política de neutralidade, a não ser que o país fosse afetado
diretamente (DAP, 24 ago. 1942). A Argentina, seguindo os mesmos preceitos chilenos,
decretou:
“1)- La posición de la República Argentina en el actual conflicto internacional se regirá en lo que respecta a los Estados Unidos del Brasil por los compromisos panamericanos contraídos sobre solidaridad, asistencia recíproca y cooperación defensiva, en especial la Resolución XXXVII de la Tercera Reunión de Consulta de Cancilleres en Rio de Janeiro; 2)-Como consecuencia de ello, la República Argentina no considera a los Estados Unidos del Brasil en la situación de país beligerante en este conflicto y está dispuesta a acordarle todas las facilidades inherentes a la defensa de sus
intereses que a juicio de este Gobierno sean necesarias”. (DAP, 24 ago. 1942; 24 ago. 1942; McCANN, 1995, p.234).
O Presidente Vargas, ao receber o comunicado do Decreto acima, que classificava o
Brasil como país não beligerante, enviou um telegrama agradecendo:
“...tão valiosa solidariedade em um momento muito difícil, quando nos vemos obrigado a responder atos de violência brutal e ostensiva falta de respeito a nossa soberania, e da mesma forma, envio votos fraternais ao governo e povo argentino, pela vitória dos princípios que sempre nortearam a vida política das
Nações Americanas”. (DAP, 25 ago. 1942).
O Ministro Aranha fez o mesmo agradecimento ao Ministro Guiñazú pela solidariedade
demonstrada ao Brasil (DAP, 26 ago. 1942).
O Secretário de Estado Norte-Americano Welles voltaria a pressionar a
Argentina e o Chile, realizando um discurso forte contra a posição de isolamento dos dois
países para com os outros Países da América Latina. O Embaixador Fernando Lobo
130 Juan Antonio Ríos Morales foi eleito Presidente do Chile de 02/04/42 a 27/06/1946. 131 Carlos Güiraldes Madeiro foi embaixador argentino no Chile de 1940 a 1948.
151
telegrafou um resumo ao MRE, da exposição do Sr. Welles em uma conferência em
Boston (08/10/1942)132:
“...sobre a situação atual da guerra e os objetivos futuros da paz, realçando a atitude dos Países latino-americanos que declararam guerra ou romperam com as Potências do Eixo, condenando a atitude da Argentina e do Chile, que permitiam que seus territórios fossem utilizados por agentes inimigos, responsáveis pelo afundamento de navios aliados. Criticou com dureza a passividade desses dois países, com os seus vizinhos que lutavam para a preservação da liberdade e da integração do Novo Mundo e, eram apunhalados pelas costas por agentes dos Países do Eixo, que agiam livremente em seus
territórios”. (apud, AHI: 10 out. 1942).
Na verdade, o discurso era uma forma de coagir o Presidente Chileno Ríos, que estava
prestes a visitar os EUA, visita que foi cancelada (AHI, 12 out. 1942), em função da
animosidade gerada pelas imprudentes palavras de Welles. Aranha procurou acalmar os
ânimos e conseguiu, com a ajuda do Departamento de Estado, reverter a situação,
convidando o Ministro do Interior Chileno Raúl Morales Beltrami para uma visita ao Rio
de Janeiro e, posteriormente, com apoio norte-americano a Washington. Quando
Beltrami passou pelo Rio, foi recepcionado por Aranha, que insistiu na mudança de
posicionamento da política externa chilena. Aranha informou que estava disposto,
contrariando acordos já firmados com os EUA (HILTON, 1994, p.407)133, em fornecer
borracha crua e pneus para as necessidades básicas do povo chileno (AHI, 04 fev. 1943;
30 mar. 1943; 06 mai. 1943). Aranha propôs a Beltrami que visitasse o parque industrial
norte-americano para verificar, in loco, a capacidade produtiva do gigante do norte e
procurasse uma reaproximação política para conseguir apoio militar e financeiro, para
uma futura ruptura política com as Potências do Eixo. Quando voltou dos EUA, Beltrami
passou novamente pelo Rio, afirmando que suas impressões eram favoráveis para o
rompimento, restando apenas conversas com o governo do seu país. O Embaixador
Argentino Güiraldes enviou um telegrama para o Ministro Guiñazú informando que a
ruptura chilena com os Países de Eixo estava prevista para acontecer dentro de poucos
dias e que nosso país seria o primeiro a ser informado, conforme acordo firmado, com a
comunicação sendo feita nas duas capitais ao mesmo tempo (DAP, 15 jan. 1943). O Chile
132 A conferência foi realizada no Conselho Nacional de Comércio Exterior de Boston. 133 Todo o excedente da produção de borracha era vendido para as indústrias bélicas dos EUA.
152
rompeu as relações com os Países do Eixo, em 20 de janeiro de 1943 (HILTON, 1994,
p.408; AHI, 20 jan. 1943), e declarou guerra em 12 de abril de 1945, com o intuito de
participar da criação das Nações Unidas.
3.8 O GOLPE DOS MILITARES NACIONALISTAS:
Na Argentina, o Presidente Castillo manteve a posição de neutralidade, se
isolando do grupo aliadófilo do seu governo, buscando apoio nas Forças Armadas
Argentinas. Castillo, envolvido com eleições fraudulentas nas províncias (FAUSTO e
DEVOTO, 2004, p.274), com suspeitas de corrupção em alguns departamentos do seu
governo (AHI, 04 jun. 1943), incapaz de conseguir cooperação econômica dos EUA para
participar do sistema “Lend and Lease” e com um profundo desgaste perante a opinião
pública argentina, foi deposto por oficiais nacionalistas (GOU)134 insatisfeitos com a sua
fraqueza política, em junho de 1943 (04/06) (McCANN, 1995, p.254; FAUSTO e
DEVOTO, 2004, p.274; AHI, 05 jun. 1943). A pressão exercida pelos EUA só conseguiu
aglutinar essas forças nacionalistas que acabaram derrubando o Governo Castillo. O
General Arturo Rawson assumiu o poder (AHI, 04 jun. 1943), procurando criar uma
política favorável aos aliados, porém só conseguiu permanecer quatro dias no poder (04-
07/06/1943), perdendo a disputa interna entre os revolucionários, que desaprovaram o
seu gabinete (ROMERO, 2006, p. 91). Rawson, ao renunciar, declarou:
“Assumi o Governo Provisório e o comando das Forças Armadas da Nação. Evidentemente, há confusão no seio dos militares, dizendo-se mesmo que a crise foi provocada por desinteligências sobre a orientação da política internacional. Parece que alguns militares são de tendência a avançar para a ruptura e outros para manter rigorosa neutralidade”. “Havendo cumprido o propósito de depor o governo e diante da impossibilidade de chegar a um acordo sobre a constituição do Gabinete, ponho nas mãos do General Ramirez a renúncia indeclinável ao cargo de Presidente do Governo
Provisório, para o qual devia prestar juramento”. (AHI, 07 jun. 1943).
134 GOU era a designação de Grupo de Oficiales Unidos ou Grupo Obra de Unificación.
153
Os revolucionários, militares germanófilos e favoráveis à neutralidade argentina
empossaram o General Pedro Plabo Ramirez135 como o novo Presidente da República
(07/06/1943). Ramirez, que foi Ministro da Guerra no Governo Castillo, por ter sido
demitido por este, apoiou o golpe militar nacionalista (ROMERO, 2006, p.90). Na sua
primeira audiência, Ramirez declarou que mantinha a política de solidariedade e
colaboração com os Países da América Latina, conforme os pactos assinados nas
Conferências Interamericanas. Entretanto, na política externa, a Argentina continuaria
com a sua posição de neutralidade, como explicou o novo Ministro das Relações
Exteriores, Segundo Rosa Storni136:
“...poco a poco, las acciones del Gobierno Argentino continuarán la política de solidaridad americana (…) la Argentina llegará a donde debiera estar en las relaciones internacionales. La política exterior argentina implicará un cumplimiento meticuloso de sus obligaciones para con los países americanos”.
(PAZ e FERRARI, 1971, p.117).
Diante do fato consumado, os Países Latino-Americanos resolveram reconhecer o novo
Governo Argentino, apesar dos protestos do Departamento de Estado Norte-Americano,
preocupados com a manutenção da solidariedade pan-americana, confiantes com a
vitória dos aliados e motivados com criação da nova ordem do pós-guerra (Nações
Unidas). Os Governos Americanos sabiam que, com esses novos desafios pela frente,
era impossível que a Argentina não participasse dessas mudanças e a melhor maneira
de cooptá-la, era mantê-la dentro do pan-americanismo e não a afastando do processo
político continental. Entre os primeiros Países Americanos que reconheceram o novo
Governo Argentino, estava o Brasil, na verdade, o principal articulador do reconhecimento
imediato da nação portenha (AHI, 07 jun. 1943; HILTON, 1994, p.413), Bolívia, Chile e
Paraguai (09/06/1943) (PAZ e FERRARI, 1971, p. 117; AHI, 09 jun. 1943). O mais
interessante foi que a Alemanha, Espanha e Itália apoiaram o Governo de Ramirez na
frente dos EUA, no dia 10 de junho, com os EUA só o fazendo no dia seguinte, ao lado
135 O Presidente General Pedro Pablo Ramirez ficou no poder de 07/06193 a 25/02/1944. 136 O Ministro das Relações Exteriores Argentino Segundo Rosa Storni ficou no cargo de 07/06/143 a 09/09/1943.
154
da Grã-Bretanha e dos outros Países Americanos (PAZ e FERRARI, 1971, p.117; AHI,
11 jun.1943).
O novo Governo Argentino se comprometeu a modificar sua política externa,
optando, em breve, pela ruptura das relações com as Potências do Eixo. Ramírez pediu
um prazo de dois a três meses (15/08/1943) para eliminar as dissidências, ainda
existentes, entre os revolucionários. Welles, cada vez mais impaciente, pressionou o
Embaixador Armour para que conversasse com o Ministro Storni, pedindo uma melhor
definição sobre o assunto, afirmando que era fundamental, naquele momento, a
unanimidade na política continental. Diante das dificuldades apresentadas pelo Governo
Argentino, Welles convocou o Embaixador Armour para consultas em Washington, para
definir que tipo de castigo coercitivo deveria ser aplicado contra o Governo Argentino
(AHI, 04 ago. 1943). Armour visitou Storni, lhe avisando da sua viagem para os EUA,
pedindo um documento concreto das pretensões políticas argentinas em relação ao
rompimento com as Potências do Eixo. Ficou estabelecido que Storni produziria uma
correspondência para ser entregue a Hull, explicando todas as dificuldades existentes
para a Argentina assumir a política de ruptura. Segue, abaixo, alguns trechos desse
importante documento apresentado ao Departamento de Estado Norte-Americano:
O Ministro Storni enfatizava que o novo Governo Argentino surgiu como a única força
capaz de eliminar o sistema de corrupção que existia no governo anterior (Castillo),
combatendo, principalmente, as fraudes eleitorais. Garantia que existia, no país, uma
tranquilidade social após o movimento militar e informava que os militares no poder não
possuíam nenhum viés totalitário ou qualquer relação com as Potências do Eixo.
“El movimiento militar que acaba de deponer al Gobierno del señor Castillo se impuso como consecuencia inevitable del ambiente de corrupción que desgraciadamente había penetrado en la vida política y administrativa del país”. “El Gobierno domina en absoluto la situación, acompañado por toda opinión sana del país y apoyado de forma total por sus instituciones armadas”. “Por falta de una información adecuada, o por otras causas cuyo origen ignoro, se ha formado en torno a la situación de neutralidad de la República Argentina una atmósfera que perjudica las buenas relaciones con los pueblos de América y, particularmente, con ese gran país amigo. Se ha difundido así la versión de que el General Ramírez, las Fuerzas Armadas y los hombres que integramos
155
este nuevo Gobierno, sustentamos una marcada ideología totalitaria o, por lo menos, que miramos con gran simpatía a los Países del Eje”. “El pueblo argentino, sus Fuerzas Armadas y sus hombres de Gobierno fundamentan sus actos en las más firmes convicciones democráticas…”;
Storni assinalava que, apesar da neutralidade argentina, o país nunca deixou de
colaborar com a causa pan-americana, pois seus cargueiros navegavam,
exclusivamente, a serviço da causa aliada e dispensava o tratamento de “não
beligerância” para os países americanos em guerra (EUA e Brasil).
“La situación de neutralidad que hasta ahora ha debido observar la República Argentina, no ha sido comprendida”. “En la apreciación de esa neutralidad se ha olvidado, (…) que los barcos argentinos navegan en el servicio exclusivo de las naciones aliadas y especialmente de los Países Americanos…” “Se han olvidado también los decretos argentinos que acuerdan el tratamiento de “no beligerancia” exclusivamente a uno de los bandos en lucha”. “Resulta difícil negar la colaboración que presta la República Argentina a la causa de las naciones aliadas, bajo el rubro de una neutralidad que, más que tolerante, es de una benevolencia manifiesta”;
O documento voltava a destacar que o Governo Revolucionário agiu para preservar a
política de neutralidade, pois o país não estava preparado para assumir uma posição de
ruptura com os Governos do Eixo sem que houvesse distúrbios entre diversos setores da
sociedade argentina, que vivia um momento de paz e prosperidade. Afirmava, também,
que o rompimento, naquele momento, representava um ato de falta de delicadeza
diplomática com os Países do Eixo, quando a derrota já era um fato consumado e
inexorável.
“No es justo olvidar que este nuevo Gobierno ha surgido de un movimiento revolucionario que se gestó y se cumplió para derrocar a un Gobierno que no comprendía la realidad de la política interna e internacional. Pero el cambio, particularmente en lo que se reflete a la política internacional, no ha podido realizarse en forma violenta porque nuestro país no estaba preparado para ello. A este respecto, no debe olvidarse que la República Argentina vivía y vive aún en un clima de paz, de trabajo y de relativa abundancia…” “Esta situación, señor Secretario, no puede modificarse violentamente por un Gobierno Revolucionario que debe reconstruir el país, corrompido en su administración…” “…no es posible, sin preparación previa, forzar la conciencia argentina para llevarla fríamente y sin motivo inmediato a una ruptura de relaciones con el Eje. Llegada la guerra a la situación actual, cuando la derrota se acerca de modo inexorable a los países del Eje, esta ruptura inopinada pondría, por lo demás, en
156
duro trance a la hidalguía argentina. Baste recordar el juicio que mereció Italia cuando, en situación parecida, definió su posición contra Francia derrotada”;
Storni demonstrava que o país encontrava-se carente de armamentos para
cumprir suas responsabilidades na defesa do continente, salientando que a produção
petrolífera, devido aos desgastes dos seus equipamentos, era insuficiente para suprir as
fábricas que começavam a substituir o petróleo por outras fontes energéticas. Se
houvesse ajuda dos EUA, através do “Lend and Lease”, o país poderia abastecer e criar
uma reserva de alimentos, tanto para os aliados como para a Europa faminta.
“…las inquietudes con que contemplo las posibilidades del futuro si, por la persistencia de la actual incomprensión, se siguiera negando a la Argentina los elementos que necesite para acrecentar su producción y para armarse a fin de cumplir, llegado el caso, con sus compromisos en la defensa continental”. “La explotación petrolífera ha disminuido por el desgaste de los materiales, así como mermaron sensiblemente nuestras reservas. Hoy, para compensar esa insuficiencia, nos vemos precisados a quemar en las calderas de las fábricas y usinas, millones de quintales de maíz, trigo y lino. Con la ayuda dos Estados Unidos, la Argentina podría quemar su proprio petróleo, dejando esa riqueza en cereales para abastecer a las naciones aliadas y formar una reserva que permita alimentar a los pueblos de Europa, amenazados de hambre”;
A carta assegurava que Governo do General Ramírez iria cumprir todos os compromissos
acordados, porém, sem receber qualquer tipo de pressão externa que pudesse
demonstrar ao povo argentino alguma fraqueza constitucional do Governo
Revolucionário. Storni se indignava com a posição dos EUA em suspeitar da atitude
argentina, pois seu país sempre apoiou as nações que estavam lutando pela liberdade,
que sua política externa de neutralidade era apenas retórica, em benefício da
tranquilidade social.
“El Gobierno del General Ramírez no omitirá esfuerzos para cumplir los compromisos contraídos (…) sin una causa que lo justifique. Obrar de otra manera sería dar lugar a que se piense que se actúa bajo la presión e la amenaza de agentes exteriores, y este no lo permitirían, ni el pueblo ni las Fuerzas Armadas del país”. “… el Gobierno del señor Roosevelt, se comprenderá que no es de justicia mantener la actitud de prevención que se observa para un país como el nuestro, que ha demostrado palpablemente cuáles son sus sentimientos de amistad y franco apoyo para los países que luchan por la libertad. No puedo creer que se quiera anular la acción de la Argentina dentro del conjunto americano, a título de que nuestra neutralidad – que es sólo teórica – nos coloca en posición equívoca con respecto al resto de los países de este continente”;
157
Para finalizar, Storni destacava que as Potências do Eixo não esperavam qualquer
consideração do Governo Argentino e, muito menos, da opinião pública que lhe era cada
vez mais desfavorável. Pedia ao Presidente Roosevelt apoio para a aquisição de aviões,
armas e equipamentos industriais para colocar a Argentina, novamente, em uma posição
de destaque na América Latina.
“Puedo afirmar al señor Secretario que los países del Eje nada tienen que esperar de nuestro Gobierno y que la opinión pública les es cada día más desfavorable. Pero esta evolución seria más rápida y eficaz para la causa americana, si el Presidente Roosevelt tuviera un gesto de franca amistad hacia nuestro pueblo, tal podría ser el suministro urgente de aviones, repuestos, armamentos y maquinarias para restituir a la Argentina en la posición de equilibrio que lo corresponde con respecto a otros países sudamericanos”. “El señor Embajador Armour, por lo demás, que ha penetrado con inteligente y amistosa comprensión en todos los aspectos de nuestra compleja situación interna, y que fue depositario confidencial de estas ideas, expresadas personalmente por el Excmo. Señor Presidente de la Nación, podrá transmitir al señor Secretario una impresión personal más completa, directamente recogida
en la realidad actual de la vida de nuestro país”. Fdo. Segundo R. Storni. (DAP, 05 ago. 1943; 09 ago. 1943).
O Embaixador Armour, de posse desse documento, viajou para Washington,
entregando-o, pessoalmente, a Hull, que, após se inteirar do seu conteúdo, respondeu,
com bastante agressividade, ao Ministro Storni, conforme os trechos abaixo:
Hull expressava sua indignação com a posição argentina de continuar mantendo relações
diplomáticas com as Potências do Eixo e que, apesar dos sentimentos do povo argentino
com a causa aliada, o país não estava cumprindo com as suas obrigações acordadas
com as demais Repúblicas Americanas.
“…gustaría expresar mi satisfacción de que el pueblo argentino se sintiera indisolublemente ligado con los demás habitantes del continente americano…” “Sin embargo, es con pesar que el Gobierno Norte-Americano y el pueblo de los Estados Unidos han debido concluir que los indudables sentimientos del pueblo argentino no se hayan traducido en el cumplimiento de las obligaciones libremente contraídas por su Gobierno, conjuntamente con los otros países americanos”. “…que el Gobierno de Buenos Aires era el único en América que mantenía relaciones con el Eje”;
158
Hull concordava que cabia ao Governo Argentino o ônus, perante a opinião pública
argentina, da mudança da sua política externa, mas ficava revoltado com a declaração
estapafúrdia de que a Argentina não aceitava pressões externas, como forma de mudar
sua posição de neutralidade. Invocava que todos os Países da América Latina vinham
cumprindo os acordos realizados nas Conferências dos Chanceleres Americanos, com
exceção da Argentina.
“…que el Gobierno Argentino era el único a quien correspondía determinar el grado según el cual la opinión pública soportaría un cambio en la política exterior. Pero se asombraba de que cumplir con las obligaciones contraídas pudiera dar motivo para pensar que semejante acción se tomaba bajo la presión de agentes externos, cuando las obligaciones habían sido cumplidas por todas las Repúblicas Americanas, excepto por la Argentina”;
Hull terminava dizendo que a entrega de armamentos tinha como propósito apoiar os
países que estavam contribuindo para a defesa do continente, mas que devido à posição
argentina de neutralidade, o Governo Argentino não poderia ser contemplado pelo
sistema “Lend and Lease”.
“…que la entrega de armamentos se hace exclusivamente con el propósito de contribuir a la defensa del hemisferio (…) toda vez que la Argentina ha indicado claramente con palabras y hechos que sus Fuerzas Armadas no se emplearán en las actuales condiciones para impulsar la causa de las Naciones Unidas, y por ende de los intereses vitales de los Estados Unido en la presente guerra, resultaría imposible al Presidente de los Estados Unidos concretar un acuerdo, conforme a la ley de Préstamo y Arriendo, para suministrar armas y municiones
a la Argentina”. Cordell Hull. (PAZ e FERRARI, 1971, p. 122-123).
Ainda não satisfeito com as críticas explicitadas em sua carta, Hull divulgou o documento
para a imprensa, colocando o Presidente Ramírez em uma posição delicada, pois estava
contido, dentro da nota, que seu governo iria declarar a ruptura até o dia 15 de agosto.
Os militares nacionalistas, contrários à ruptura, pediram a cabeça do Ministro Storni, que
assumiu toda a responsabilidade pelo documento, pedindo demissão do cargo (AHI, 10
set. 1943). É interessante ressaltar que Storni era um dos poucos militares do novo
Governo Argentino favorável aos norte-americanos, sendo substituído pelo General
159
Alberto Gilbert137, militar contrário à política de solidariedade norte-americana (PAZ e
FERRARI, 1971, p.123-125).
No final do ano (20/12/1943), o Governo Boliviano do General Enrique
Peñaranda Castillo138 foi derrubado por um golpe militar, comandado pelo Major
Gualberto Villarroel139, que tinha estreitas relações com os oficiais argentinos do GOU. O
Departamento de Estado Norte-Americano fez profundas investigações e chegou à
conclusão que militares argentinos haviam participado do golpe (HILTON, 1994, p.415),
ameaçando divulgar os resultados (McCANN, 1995, p. 256). O Ministro Gilbert,
preocupado com a publicação da matéria, resolveu fazer um acordo com o Governo
Norte-Americano. Ramírez aceitava a política de ruptura com as Potências do Eixo e
Roosevelt não divulgava os documentos comprometedores no golpe boliviano. O acordo
foi realizado, Roosevelt apresentou, apenas, um memorando de protesto de não
reconhecimento do novo Governo Boliviano, e Ramírez, alegando fortes pressões dos
EUA e do Brasil, acabou rompendo as relações diplomáticas com os Países do Eixo
(26/01/1944). O decreto assinado pelo Governo Argentino dizia:
“1)- A partir de la fecha quedan rotas las relaciones diplomáticas actualmente con los Gobiernos de Alemania y Japón; 2)- Entréguese los pasaportes a los representantes diplomáticos de ambos países acreditados ante este gobierno; 3)- El Ministro de Relaciones Exteriores tomará las medidas necesarias para asegurar el canje de los funcionarios diplomáticos y consulares argentinos en esos países con los acreditados ante ese gobierno; 4)- Comuníquese, publíquese, dese al Registro Nacional y archívese”. Pedro
Ramírez (26/01/1944). (DAP, 26 jan. 1944).
Hull acusou o recebimento do telegrama enviado pelo Ministro Gilbert (DAP, 26 jan.
1944), fazendo uma declaração para a imprensa norte-americana sobre a ruptura da
Argentina com os Países do Eixo:
“Es altamente grato para las Naciones Aliadas, especialmente las Repúblicas Americanas, imponerse de que la Argentina ha roto relaciones diplomáticas con
137 General Alberto Gilbert foi, como interino e titular, Ministro das Relações Exteriores Argentino de 10/09/1943 a
15/02/1944. 138 General Enrique Peñaranda Castillo presidiu a Bolívia de 15/04/1940 a 20/12/1943. 139 Major Gualberto Villarroel foi Presidente da Bolívia de 20/12/1943 a 21/06/1946.
160
Alemania y Japón. Esta medida fue adoptada en razón de que el Gobierno Argentino tiene conocimiento de que los Países del Eje utilizan a la Argentina como una vasta base de operaciones para actividades de espionaje y de otra índole altamente peligrosa para la seguridad y paz interior del hemisferio. Debe presumirse de esa medida que la Argentina procederá enérgicamente a adoptar las otras medidas que todas las Repúblicas Americanas han concertado para la
seguridad del continente”. Cordell Hull. (DAP, 26 jan. 1944).
Aranha, também, enviou um telegrama de felicitações pelo difícil ato político
tomado pelo Presidente Ramírez (DAP, 27 jan. 1943). O interessante foi que o Governo
Argentino utilizou uma pretensa rede de espionagem para justificar a necessidade da
ruptura política, omitindo o acordo feito entre os Governos Argentino e dos EUA (PAZ e
FERRARI, 1971, p.127). As notas enviadas para as respectivas embaixadas, da
Alemanha e do Japão, salientavam que, por causa de investigações recentes, foi
descoberto um vasto sistema de espionagem composto de vários súditos alemães, com
a participação de funcionários diplomáticos alemães (DAP, 26 jan. 1944), não deixando
alternativa para as autoridades argentinas de romper relações com a Alemanha e o
Japão. Com a ruptura declarada, os revolucionários do GOU (militares e políticos
germanófilos) pressionaram Ramírez a renunciar, junto com a maioria dos seus ministros,
insatisfeitos com a mudança na política externa argentina, através da pressão (diktat) dos
EUA (ROMERO, 2006, p.92). Ramírez, sem o apoio da grande maioria dos militares,
acabou renunciando e delegou, como seu substituto, o Vice-Presidente da República,
General Edelmiro Farrell, declarando ao povo argentino:
“Ao povo e à Nação Argentina, fatigado pela intensa tarefa do Governo, o que me exige tomar um descanso, na data de hoje, delego o cargo que desempenho na pessoa do Vice-Presidente da República, General de Brigada Edelmiro Farrell”.
General Ramírez (25/02/1944). (AHI, 25 fev. 1944; 25 fev. 1944)
O Embaixador Brasileiro Rodrigues Alves, em um telegrama enviado para Aranha,
informou que Ramírez tentou conservar seu mandato, mas foi pressionado por uma junta
militar, inclusive, ameaçado pelo General Perlinger com um revólver em punho (AHI, 25
fev. 1944). Paz e Ferrari (1971) declaram que o Governo Argentino montou uma pequena
farsa, procurando mostrar para as Nações Americanas que o processo de sucessão foi
limpo e transparente, com Ramírez entregando o cargo por motivos de saúde, indicando
que não houve nenhuma ingerência dos militares do GOU (PAZ e FERRARI, 1971,
161
p.130). É interessante, também, frisar que Rodrigues Alves comentou o mesmo embuste
em outro telegrama confidencial ao Ministro Aranha (AHI, 25 fev. 1943), indicando que o
motivo era a necessidade do reconhecimento pelos decretos do pan-americanismo.
3.9 RUPTURA E REAPROXIMAÇÃO COM OS EUA:
O Governo de Farrell manteve a política de ruptura, mas continuava gravitando
na esfera dos Governos Fascistas Europeus, principalmente, com a Espanha procurando
obter armas para as Forças Armadas Argentinas, fato que irritou muito o Departamento
de Estado Norte-Americano (McCANN, 1995, p.256-257), que classificou o Governo
Farrell como um Estado gerado pela força, que não poderia ser reconhecido pelos Países
Americanos, até que consultas fossem realizadas para definir se este governo tinha, ou
não, representatividade junto aos preceitos interamericanos (Doutrina Guani)140,
enquadrando-se no mesmo caso do Governo Boliviano (PAZ e FERRARI, 1971, p.131-
132). O novo Secretário Interino Norte-Americano Eduard Stettinius141 instruiu o
Embaixador Armour para que cessasse as relações diplomáticas com o Governo de
Farrell, fazendo com que a Grã-Bretanha seguisse os mesmos passos com o seu
representante diplomático em Buenos Aires. Entretanto, Chile, Bolívia e Paraguai
(04/1944) reconheceram o Governo Argentino, não concordando com isolamento político
proposto pelos norte-americanos, que insistiam na retirada dos embaixadores
americanos de Buenos Aires (PAZ e FERRARI, 1971 p.132). Inconformado com a divisão
entre os Países da América Latina, o Governo Norte-Americano resolveu agir no setor
140 Doutrina Guani era uma resolução, criada pelo Vice-Presidente do Uruguai Alberto Guani, que dizia: “qualquer
Governo Americano surgido pela força, durante a guerra, não seria reconhecido por nenhum País Americano, até que
consultas definissem se este governo estava cumprindo os compromissos interamericanos”. Guani era, também, o
Presidente do Comitê de Defesa Política Interamericano, criado na Conferência do Rio de Janeiro. 141 O Secretário de Estado Eduard Reilly Stettinius Jr. exerceu o cargo de 1943 a 1945. Foi o substituto de Cordell Hull
(1944) até ser removido pelo Presidente Truman, após a morte de Roosevelt.
162
comercial e econômico, restringindo, ainda mais, o comércio com os argentinos e
congelando os ativos em ouro da Argentina nos Estados Unidos. Dessa vez, o Governo
Britânico se recusou a colaborar e se negou a eliminar o seu comércio com a Argentina
(BANDEIRA, 2003, p.207-208), que vendia em torno de 1/3 de toda a sua produção de
carne congelada para a Grã-Bretanha (BANDEIRA, 2003, p.208). Churchill, para não
entrar em conflito com os EUA, resolveu não renovar um contrato longo de carne
argentina, renovando-o a cada mês, esperando que esse conflito político chegasse, em
breve, ao fim, com o Governo Argentino sendo reconhecido por todo o continente (PAZ
e FERRARI, 1971, p.139). Roosevelt, que normalmente dava liberdade de ação para
seus secretários, resolveu intervir e determinou que a 4ª Frota dos EUA, sob o comando
do Almirante Ingram, fosse instalada em Montevidéu, para enquadrar o novo Governo
Argentino dentro dos preceitos da solidariedade continental (McCANN, 1995, p.256). No
Rio de Janeiro, os norte-americanos sugeriram que o Brasil transferisse tropas para a
fronteira com a Argentina, com Roosevelt autorizando grande quantidade de armamentos
e carros de combate (tanques) para o Brasil (BANDEIRA, 2003, p.204; McCANN, 1995,
p.256; HILTON, 1994, p.415-416). Vargas procurou demover essa política coercitiva,
pedindo a Roosevelt que repensasse mais calmamente sobre o assunto e este acabou
cedendo, diminuindo a pressão sobre o novo governo argentino do General Farrell. O
sofrimento ainda não havia acabado, pois os norte-americanos resolveram, como outra
forma de repressão, impedir que os argentinos participassem das Conferências
Interamericanas de Guerra e Paz (Chapultepec - México) e do pós-guerra (São
Francisco) das Nações Unidas. Entretanto, na Conferência do México (21/02-
06/03/1945), os Países Latino-a
Americanos resolveram apoiar o ingresso da Argentina nas Nações Unidas, afirmando
que se o Governo Argentino declarasse guerra aos Países do Eixo, o Presidente
Argentino poderia assinar, posteriormente, a Ata de Chapultepec (PARADISO, 2005,
p.141). Assim sendo, no dia 27 de março de 1945, o Governo Argentino declarou guerra
à Alemanha e ao Japão, assinando a Ata, em 04 de abril, e tendo o seu Governo
reconhecido pelos EUA, Grã-Bretanha e as demais Nações Americanas, quase uma
semana depois (09/04/1945). Transcrevo o Decreto (nº 6945/45) do Governo Argentino
163
aceitando o convite para participar da Conferência Interamericana Sobre Problemas da
Guerra e Paz:
“El Presidente de la Nación Argentina (…) Decreta: 1)- El Gobierno de la Nación, acepta la invitación que le ha sido formulada por las veinte Repúblicas Americanas participantes de la Conferencia Interamericana sobre Problemas de la Guerra y de la Paz, y adhiere al acta Final de la misma; 2)- A fin de identificar la política de la Nación con la común de las demás Repúblicas Americanas y solidarizarse con ellas ante amenazas o actos de agresión de cualquier país a un Estado Americano, declarase el estado de guerra entre la República Argentina por una parte y el Imperio del Japón por otra; 3)- Declarase igualmente el estado de guerra entre la República Argentina y Alemania, atento al carácter de esta última de aliado del Japón; 4)- Por los respectivos Ministerios e Secretarías de estado se adoptaran de inmediato las medidas necesarias al estado de beligerancia, así como las que se requieran para poner término definitivamente a toda actividad de personas, firmas y empresas de cualquiera nacionalidad que puedan atentar contra la seguridad del Estado o interferir en el esfuerzo bélico de las Naciones Unidas o amenazar la paz, el bienestar y la seguridad de las Naciones Americanas; 5)- Comuníquese, publíquese, dese al Registro Nacional y archívese”. Edelmiro
Farrell (27/03/1945). (DAP, 27 mar. 1945).
Entretanto, na Conferência de São Francisco (25/04-26/06/1945), os EUA
precisaram de alguns acertos com a União Soviética para a aprovação da adesão da
Argentina nas Nações Unidas. Stalin se recusava a aceitar o ingresso da Argentina, um
país que, segundo ele, havia ficado à margem da guerra durante todo o conflito,
mantendo um estreito relacionamento com as Potências do Eixo. Inclusive, afirmou que
se a Argentina estivesse na esfera política da União Soviética, sofreria pesadas sanções
políticas e econômicas e não um convite para participar de uma organização em que a
grande maioria dos participantes tivera, de alguma forma, ajudado no esforço de guerra
dos aliados (PAZ e FERRARI, 1971, p.145-146). Após difíceis discussões, o
Departamento de Estado Norte-Americano venceu o veto dos soviéticos e a Argentina foi
convidada a participar da organização mundial.
3.10 CONCLUSÕES PARCIAIS:
No início da guerra, a Argentina procurou preservar sua autonomia política,
adotando uma posição de neutralidade, que permitisse a sua inclusão na política de
solidariedade continental ao lado dos seus vizinhos latino-americanos e pudesse manter
164
a sua relação comercial e política com a Europa. Necessitando do mercado britânico e
alemão para o escoamento dos seus principais produtos (carnes e cereais), com o
recrudescimento do conflito, o comércio com a Alemanha sofreu um grande declínio,
apesar do acordo tácito entre as duas marinhas beligerantes, dependentes dos artigos
argentinos, de não atacarem navios mercantes argentinos. A Grã-Bretanha transformou-
se no seu maior comprador europeu, mantendo essa relação comercial até o final da
guerra, apesar da pressão norte-americana para que impusesse sanções econômicas ao
Governo Argentino, como a não renovação de um longo acordo sobre a aquisição de
carnes congeladas, no final de 1944. Como não havia dependência econômica dos EUA,
o Governo Argentino foi sempre refratário à ingerência norte-americana no sul da América
Latina, sendo contrário ao pan-americanismo norte-americano, temendo que a sua
hegemonia regional fosse transferida, com o apoio dos EUA, para o Brasil. O primeiro
conflito com o Departamento de Estado Norte-Americano ocorreu na Conferência de
Lima, quando Cantilo se recusou a apoiar qualquer compromisso militar em defesa do
continente, sem nenhuma ameaça presente. Nas outras conferências, com exceção do
Panamá, onde houve uma total interação entre as delegações argentinas e norte-
americanas, as negociações foram de total antagonismo.
Em Havana, a discórdia foi em relação à defesa das colônias europeias do
continente, ameaçadas por uma “possível” invasão militar da Alemanha. No Rio de
Janeiro, diante da negativa de romper relações com as Potências do Eixo, os Governos
da Argentina e do Chile foram tratados com extrema falta de consideração pelo
Departamento de Estado Norte-Americano, sofrendo sanções econômicas, impedidos de
participarem do sistema “Lend and Lease” e recebendo reprimendas, através de
discursos públicos pelo Secretário de Estado Welles, como se fossem alunos
desobedientes que precisavam de um castigo. O Chile acabou cedendo às pressões,
mas o Governo Argentino permaneceu com sua política de neutralidade. Os EUA, com
essas ações coercitivas, conseguiram desestabilizar os governos argentinos simpáticos
ao pan-americanismo e aos aliados, facilitando a penetração de forças reacionárias ao
poder (GOU), modificando todo o processo político argentino. Ortiz, doente e sem apoio
político, após sua política de não beligerância ter sido negada, renunciou ao cargo,
165
morrendo de diabetes pouco tempo depois. Castillo, instável e incomodado pelas fraudes
eleitorais nas eleições das províncias, foi retirado do poder pelos militares nacionalistas
que queriam um regime de força e independente dos EUA, procurando colocar os países
vizinhos sob a sua esfera de influência. Rawson, um representante militar simpático ao
rompimento, sem apoio, foi uma presa fácil dos oficiais mais autoritários e acabou
permanecendo no cargo, no período de quatro dias. Depois, as forças antiliberais
assumiram, decidindo apoiar os regimes fascistas europeus com a intenção de adquirir
armas e equipamentos, na tentativa de recuperar a sua hegemonia regional.
A acusação dos EUA de que existiam células nazistas na Argentina
conspirando contra o pan-americanismo foram muito bem utilizadas, posteriormente,
pelos norte-americanos, com o início da Guerra Fria. Muitos fascistas (croatas cristãos,
alemães, franceses e austríacos) foram retirados da Europa com o auxílio dos norte-
americanos, via Vaticano e Espanha (Goñi, 2002, p.332-335). A intransigência dos
argentinos os afastou da política de solidariedade continental, transformando a relação
cordial existente entre a Argentina e os Países da América Latina, em uma postura de
incertezas e suspeitas entre todos os participantes do pan-americanismo, pois a
influência nefasta argentina era capaz de desestabilizar a região, tendo como exemplo a
revolução na Bolívia. A irracionalidade dos militares nacionalistas argentinos acabou
facilitando as medidas restritivas e inócuas dos norte-americanos (PAZ e FERRARI,
1971, p.148-149).
166
4. ARGENTINA: ENVOLVIMENTO COM AS POTÊNCIAS DO EIXO:
Com o enfraquecimento político do Presidente Ortíz (1940), devido à
continuidade das fraudes eleitorais nos pleitos regionais, o surgimento do famoso
escândalo financeiro dos terrenos em “El Palomar”142, envolvendo políticos e militares
ligados ao seu governo (DONGHI, 2004, p.243) e, principalmente, com a não aprovação
da sua política de “não beligerância” contra as Potências do Eixo pelos EUA, militares
nacionalistas (aliadófilos e germanófilos) começaram a se aglutinar contra o seu governo.
Doente e diante desses fatos, Ortíz renunciou ao cargo (22/08/1940), deixando em seu
lugar seu Vice, Ramón Castillo, que procurou o apoio dos militares para se estabilizar no
poder. Devido à decisão de Castillo de não romper relações com os Países do Eixo, na
Conferência do Rio de Janeiro (01/1942), surgiram fortes pressões dos EUA, com o
Governo Argentino sendo alijado do sistema “Lend and Lease” e, consequentemente,
vendo sua influência na América Latina ser sobrepujada pelos EUA e pelo Brasil. Na
tentativa de recuperar a sua importância regional, oficiais nacionalistas resolveram
buscar apoio militar (armas e equipamentos) com as Potências do Eixo, enviando Juan
Carlos Goyeneche143 (04/1942) para conversar com os principais representantes
142 El Palomar era uma área adjacente ao Campo de Mayo, onde ficam localizadas as principais guarnições militares
argentinas, a trinta quilômetros de Buenos Aires. Com intenção de aumentar a área do Colégio Militar, políticos
inescrupulosos, com o aval do Ministério da Guerra (Decreto Lei 21.683/38), compraram as terras de El Palomar com
um superfaturamento de ± 70%. A diferença do preço pago às proprietárias e do preço pago ao intermediário foi
dividido entre políticos envolvidos na compra. O escândalo acabou contribuindo para a renúncia do Presidente Ortíz,
muito pressionado pela imprensa e políticos da oposição. DONGHI, Tulio Halperin. La República Imposible (1930-
1945). Buenos Aires: Ariel Historia, 2004, p.241-243. 143 Juan Carlos Goyeneche era um nacionalista católico, cujo avô fora Presidente do Uruguai e cujo pai havia sido
prefeito de Buenos Aires. Tinha estreita ligação com os agentes da inteligência alemã, na Argentina.
167
fascistas da Europa. Goyeneche esteve com Franco, Salazar, Mussolini e Hitler, mas não
conseguiu nenhum equipamento bélico para um golpe militar, com os quais os militares
nacionalistas argentinos pretendiam para derrubar o Governo de Castillo. Nesses
encontros, Goyeneche fez acordos para o pós-guerra, recebendo do Governo Alemão a
garantia de apoio para que o país retomasse a sua posição hegemônica na América
Latina, caso as Potências do Eixo vencessem a guerra, com a Alemanha transformando
a Argentina no seu principal aliado no continente americano (COSTA, 2004, p. 43;
SALINAS e DE NAPOLI, 2002, p. 144). Os militares nacionalistas, sem o apoio do
fascismo europeu, acabaram derrubando o Governo de Castillo, para assumirem o poder
definitivamente na Argentina, apesar de alguns percalços, como as renúncias de Rawson
(06/1943) e Ramirez (02/1944), apostando na política de neutralidade até, praticamente,
o final da guerra, modificando sua postura com a necessidade de participar das Nações
Unidas, com o apoio de todos os Países Latino-Americanos e, inclusive, dos EUA.
4.1 ATIVIDADES DAS POTÊNCIAS DO EIXO NA ARGENTINA E A REAÇÃO
DO GOVERNO:
Na Argentina, o anglófilo Roberto Ortíz144 venceu as eleições, sendo
empossado (20/02/1938) (AHI, 19 fev. 1938) com os mesmos métodos fraudulentos dos
seus antecessores (DONGHI, 2004, p.236-239). Para dar validade ao seu governo, Ortíz
procurou criar mecanismos para a implantação da normalidade democrática no país, com
o retorno, sem fraudes, do sufrágio universal nas próximas eleições. Infelizmente, a
reação dos partidos de direita, contrários a essa abertura política, abriu uma crise sem
precedentes no cenário político argentino. Na época, muitos políticos viam no fascismo
italiano e, principalmente, no nacional-socialismo um exemplo modelar de administração,
achando que os regimes democráticos eram fracos, corruptos e que o sufrágio universal
era totalmente absurdo em um mundo, onde o poder político e militar dos regimes
totalitários se apresentava, segundo eles, como a única solução possível para o
144 Roberto Ortíz, da União Cívica Radical (UCR), venceu as eleições presidenciais em 1937. Exerceu o cargo de 1938-
1940, renunciando por motivos de saúde.
168
desenvolvimento das nações modernas. Um senador chegou a declarar que a Argentina
era:
“…el único país en la tierra que hoy se ocupa del voto”. (DONGHI, 2004, p.239).
Desta forma, Ortíz procurou o apoio das Forças Armadas para consolidar seu poder,
escolhendo para seu Ministro da Guerra, o General Carlos O. Márquez145, um ferrenho
inimigo dos oficiais germanófilos e fiel defensor dos anseios democráticos da nova gestão
governamental, colocando o exército como mantenedor desta política. A principal
preocupação do Ministro Márquez foi combater o aliciamento de militares argentinos que
recebiam comissões, pagas pelo Embaixador Alemão von Thermann, quando adquiriam
equipamentos militares alemães para as suas respectivas forças (COSTA, 2004, p.436;
Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)146. Inclusive, alguns desses oficiais
foram fotografados em uma reunião (02/10/1937), durante a qual saudavam, com o gesto
da saudação nazista, uma bandeira alemã147. As fotografias foram bastante difundidas,
criando um mal-estar entre o Governo Argentino e a Embaixada Alemã, em Buenos Aires,
provocando um sentimento antigermânico e certo distanciamento dos oficiais argentinos
das atividades patrocinadas pela Embaixada Alemã. O Embaixador von Thermann
mostrou todo o seu desprezo pelo novo Governo Argentino, no relatório que enviou para
o seu Ministério de Relações Exteriores, analisando os principais personagens
argentinos, criticando o descaso da opinião pública argentina sobre o referendo em apoio
à anexação austríaca (10/04/1938) e, falando sobre a dificuldade de cooptar
descendentes alemães, com as prováveis restrições impostas pelo Governo de Ortíz:
MINISTRO CANTILO E O PRESIDENTE ORTÍZ:
145 O General de Brigada Carlos O. Márques foi Ministro da Guerra de 1938 a 1940. Foi acusado de negligência no
caso do escândalo do El Palomar, pois ele era o responsável pela compra do terreno superfaturado, acabou absolvido
mas deixou o governo bastante desmoralizado, apesar da defesa apaixonada feita por Ortíz sobre a sua honra. 146 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Las Actividades del Nazismo en la Argentina.
Disponível em: www.argentina-rree.com/9/9-027.htm. Acessado em: 01 mar. 2013. 147 Os Generais Rodolfo Martínez Pita, Carlos von der Becke, Armando Verdaguer e Francisco Reynolds foram os
militares fotografados fazendo a saudação nazista. Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Las
Actividades del Nazismo en la Argentina. Disponível em: www.argentina-rree.com/9/9-027.htm. Acessado em: 01
mar. 2013.
169
“O novo Ministro do Exterior, Dr. José Maria Campilo (sic), parece ser antifascista, desde o tempo em que serviu como embaixador em Roma, e está sempre pronto para defender ideias liberal-democráticas correntes, ao lado do Presidente Roosevelt. O novo presidente é mais versado em assuntos financeiros e administrativos do que em política exterior e, sendo um velho radical da escola Alvear, provavelmente não tem simpatia especial pela Alemanha – embora nunca perca uma oportunidade de frisar o seu apreço e admiração pela Alemanha. [...]”;
PLEBISCITO SOBRE A ANEXAÇÃO DA ÁUSTRIA:
“...De forma bastante estranha, provocou especial insatisfação a demonstração em larga escala que se realizou em 10 de abril de 1938 em lugar das eleições que eram impossíveis aqui”; “foi considerado um plebiscito inadmissível em solo argentino. De fato, a sociedade austríaco-alemã infelizmente fizera listas para a assinatura, apesar da expressa oposição da embaixada [...]”;
COOPTAÇÃO DE DESCENTENTES ALEMÃES:
“Eu creio que isso nos traz ao cerne de todo o problema, e a sua correta avaliação deve ser decisiva para nosso procedimento futuro: dificilmente haverá dificuldades sérias, se o Governo Argentino estiver convencido de que tais atividades são limitadas, exclusivamente a pessoas que sejam indiscutivelmente nacionais alemães, dentro da concepção argentina [...]”; “Se, com base nesses fatos, nos perguntarmos como ainda será possível salvar o que possa ser salvo do elemento germânico aqui, o problema de separar nacionais alemães dos Volksdeutsche (cidadãos alemães) surge necessariamente [...]”; “Acredito que essa separação, que já se tornou necessária e foi levada a efeito na Europa, [...] talvez possa ser realizada, se primeiro criarmos uma associação com objetivos puramente culturais e, exclusiva para nacionais alemães, tal como
tem sido permitido até no Brasil”. von Thermann, 18/05/1938. (apud LOPES, 2008, p.388-389).
É importante lembrar que Brasil e Argentina não propiciaram qualquer tipo de
vantagem para que cidadãos austríacos e alemães residentes fossem para a Europa
participar do plebiscito de anexação da Áustria, como ficou registrado nos telegramas
trocados entre Aranha e o Embaixador Luiz Guimarães, em Buenos Aires:
MINISTRO ARANHA:
170
“Quero saber, com urgência, se o Governo Argentino está concedendo facilidades de saída a navios alemães para operações de plebiscito referente à
anexação da Áustria”. (AHI, 05 abr. 1938).
SEGUNDO SECRETÁRIO LUIZ GUIMARÃES FILHO:
“O Subsecretário do Ministério das Relações Exteriores argentino informou que não concedeu nenhuma facilidade a navios alemães ancorados em portos
argentinos”. (AHI, 06 abr. 1938).
Os italianos conseguiram se integrar ao país de forma pacífica e absorveram,
com muita rapidez, a cultura e os costumes da sociedade argentina, inclusive, ambos
comungavam a mesma religião católica e não tinham atitudes antissemitas (LOPES,
2008, p.390). Porém, o Governo Italiano ficou muito apreensivo com as novas restrições
propostas pelo Governo de Ortíz, como informou von Thermann em outro telegrama
enviado para Berlim (06/06/1938)148. Apesar da insatisfação dos governos fascistas
europeus, suas embaixadas procuravam não entrar em atrito com o novo Governo
Argentino, como vemos nesses documentos enviados para o Ministério do Exterior
Argentino, pedindo a liberação do hasteamento das suas respectivas bandeiras, na
celebração de algumas de suas datas comemorativas.
PEDIDO FEITO PELA ALEMANHA:
“La Embajada de Alemania tiene el honor de dirigirse a V. E. (Ministro Cantilo), con el fin de solicitar permiso para las asociaciones, escuelas, casas de comercio y particulares alemanes para izar la bandera alemana conjuntamente con la argentina, el día 30 de enero 1939, que según las órdenes del Gobierno de Alemania, será oficialmente celebrado por las autoridades y colectividades alemanas como aniversario de la formación del Gobierno Nacional-Socialista en Alemania. Expresando desde ya mi sincera gratitud […] a V.E. las seguridades de mi más
alta consideración”. E. von Thermann, 10/01/1939. (DAP, 10 jan. 1939).
148 O telegrama informava que as organizações italianas também estavam encontrando dificuldades contínuas, embora
[...] não haviam organizado nenhuma resistência ao Governo Argentino. LOPES, Roberto. Missão no Reich – Glória
e Covardia dos Diplomatas Latino-americanos na Alemanha de Hitler. Rio de Janeiro: Lexikon Editora Digital,
2008, p.390.
171
RESPOSTA GOVERNO ARGENTINO:
“Atento el pedido precedentemente formulado, concédase autorización para que las asociaciones, escuelas, casas de comercio y particulares alemanes radicados en la República, puedan enarbolar su bandera, conjuntamente con la argentina, en 30 del corriente, día en que se celebra el aniversario de la formación del Gobierno Nacional-Socialista en Alemania”. José María Cantilo, 13/01/’939.
(DAP, 13 jan. 1939).
PEDIDO FEITO PELA ITÁLIA:
“Tengo el honor de dirigirme a la habitual cortesía de V. E. (Ministro Cantilo) para rogarle quiera interponer sus buenos oficios a fin de que se conceda la autorización a los súbditos italianos para enarbolar la bandera italiana, conjuntamente con la argentina, y la autorización a las naves italianas surtas en el puerto para izar el pabellón, en ocasión de la celebración del XXº Aniversario de la Fundación de los Fascios de Combate, que llevará a cabo en Italia el domingo 26 del corriente. Agradecería, igualmente a V. E. quisiera disponer que las decisiones adoptadas el respecto sean comunicadas también a la Prefectura General Marítima. Aprovecho la ocasión [...] lãs seguridades de mi más alta consideración”. E.
Preziosi, 24/03/1939. (DAP, 24 mar. 1939)
RESPOSTA GOVERNO ARGENTINO:
“Tengo el agrado de dirigirme a S.S. remitiéndole copia […], solicitando autorización para enarbolar la bandera italiana el día 26 del mes en curso, en ocasión de celebrarse el XXº Aniversario de la Fundación de los Fascios de Combate. Con tal motivo cumplo en llevar a conocimiento de ese Departamento, a los fines pertinentes, que por resolución ministerial de la fecha se acuerda la autorización solicitada. Reitero a S.S. las seguridades de mi más distinguida consideración. Luis S.
Castiñeiras, Secretario General del Ministerio, 25/03/1939. (DAP, 25 mar. 1939).
Outra solicitação italiana foi pedida para outras datas festivas (21/04, 09/05, 24/05,
04/06/1939) (DAP, 19 abr. 1939) e aprovada pelo Ministério das Relações Exteriores da
Argentina (DAP, 26 abr. 1939). Porém, na Província de Córdoba, na comemoração do
dia 24 de maio, algumas associações italianas foram impedidas de içar a bandeira
172
italiana, com a colaboração e a inoperância das autoridades policiais, conforme um
memorando enviado pela Embaixada Italiana para o Governo Argentino:
PROVÍNCIA DE CÓRDOBA:
“1)- Bella-Ville – polícia impede o hasteamento das bandeiras italianas, apesar da autorização do Ministério das Relações Exteriores Argentino; 2)- Laborde – polícia exigiu que a bandeira italiana fosse retirada da fachada da sede da sociedade “Príncipe de Piemonte”; 3)- Justiniano Posse – o comissário de polícia, de forma violenta, ordenou que o Sr. Giuseppe Paris baixasse a bandeira italiana exposta em seu domicílio particular; 4)- San Antonio de Letin – policiais impedem a exposição da bandeira italiana no
dia citado”. Embaixada Italiana, 24/05/1939. (DAP, 14 jun. 1939).
Inclusive, na mesma data (24/05/1939), em Buenos Aires, fiscais municipais proibiram o
içamento de bandeiras italianas nos galpões e mercados da periferia, ameaçando
castigar, com suspensão de funcionamento, os transgressores (DAP, 19 jun. 1939).
4.2 ATIVIDADES FASCISTAS NA ARGENTINA:
Ortíz resolveu controlar as atividades sociais e políticas de várias associações
estrangeiras, principalmente, alemãs e italianas, impedindo-as de divulgarem suas
doutrinas fascistas aos descendentes desses países e à juventude argentina. Até a sua
posse, os governos anteriores pouco se preocuparam com o tipo de propaganda
disseminada por esses grupos, porém, com o aumento da intensidade dessas ações, o
Governo Argentino foi obrigado a criar mecanismos para impedir que essa situação
continuasse. Ortíz criou o Decreto Nº 31.321 (15/05/1939) oficializando as atividades das
associações estrangeiras no país, com os principais artigos determinando:
1)- Todas as associações precisarão de uma constituição jurídica que deverá
ser aprovada pelo Governo Argentino (Ministério do Interior), com seus
participantes sendo registrados nas Delegacias Policiais;
2)- Os associados não poderão utilizar símbolos, hinos e uniformes de outras
nacionalidades em suas reuniões;
173
3)- Os estatutos e regulamentos terão a obrigação de ser escritos no idioma
espanhol;
4)- Nas reuniões serão expressamente proibidos ideais políticos de nações
estrangeiras;
5)- Nenhum governo estrangeiro poderá financiar as entidades com sede no
território nacional, salvo por uma causa benévola com a aquiescência do
Governo Argentino. (Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)149.
O decreto foi assinado, logo após o incidente causado pela denúncia de Enrique Jürges
a uma comissão de inquérito sobre um plano de se utilizar a região da Patagônia para
atividades nazistas. Jürges acusava o Chefe interino do Partido Nacional-Socialista
(NSDAP), Alfred Müller, como o mentor das atividades separatistas no sul da Argentina.
Em Berlim, o Subsecretário das Relações Exteriores da Alemanha Woermann informou
ao Embaixador Argentino Labougle que, depois de uma minuciosa investigação
realizada, ficou comprovado que o documento era falso, por razões técnicas já
discorridas pelo Embaixador von Thermann ao Governo Argentino (31/03/1939).
Woermann esperava que o assunto fosse encerrado, o mais rapidamente possível,
evitando estremecimentos nas boas relações existentes entre os dois países (COSTA,
2004, p.241; DAP, 06 abr. 1939). Porém, diante da repercussão dos fatos em todo o
continente, o Governo Alemão enviou comunicados para vários governos americanos,
explicando o ocorrido, como relata Aranha ao Embaixador Rodrigues Alves, em Buenos
Aires:
“O Governo brasileiro recebeu uma carta do Encarregado de Negócios Alemão, como aconteceu com o Governo Argentino, cumprindo instruções do seu Governo, informando tratar-se de uma verdadeira falsificação os documentos apreendidos na Argentina. Informou que as pessoas mencionadas no relatório jamais deram entrada em nenhuma repartição alemã. Adiantou que o assunto nunca foi tratado por qualquer autoridade ou organização do Partido Nazista, não
existindo para o Governo Alemão nenhuma questão sobre a Patagônia”. (AHI: 12 abr. 1939).
149Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - La Actitud del Gobierno Argentino ante la Actividad
de los Grupos Nacionalsocialistas. Disponível em: www.argentina-rree.com/9/9-028.htm. Acessado em: 02 mar.
2013.
174
Nos EUA, a embaixada alemã enviou um comunicado aos jornais informando sobre o
ocorrido, conforme telegrama do Embaixador Espil para o Ministério das Relações
Exteriores Argentino:
“La prensa americana en informaciones recientes se ha referido repetidamente a revelaciones sensacionales de planes atribuidos al Gobierno Alemán para provocar la separación de la provincia sur de Argentina Patagonia. Estas informaciones se basan especialmente en un documento espurio publicado en la prensa argentina pretendiendo ser un informe de funcionarios de la Embajada Alemana y del partido en Buenos Aires. Como resultado de investigaciones hechas por el Foreign Office y otras autoridades alemanas competentes se ha comprobado que el documento en cuestión es una falsificación deliberada además la Embajada Alemana está autorizada a declarar que en cuanto concierne al Gobierno Alemán una así llamada cuestión patagónica no existe”.
(DAP, 19 abr. 1939).
O Governo Alemão, insatisfeito com a demora da justiça argentina em terminar
com a investigação sobre o incidente do Plano Patagônia e com a continuada detenção
de Müller (DAP, 25 abr. 1939), resolveu chamar o Embaixador Argentino Labougle para
entregar-lhe um comunicado com seis pontos, que deveriam ser analisados pelo seu
governo, evitando atritos no relacionamento, bastante cordial, existente entre os dois
países:
COMUNICADO DO GOVERNO ALEMÃO:
O Governo Alemão reiterava a falsidade do documento “Patagônia”, orientava os
cidadãos alemães residentes a respeitarem as leis argentinas e pedia às autoridades
argentina um tratamento mais digno para o Sr. Müller, que continuava preso, impedido
de receber a visita da sua esposa.
1)- La Embajada Alemana hizo lo posible para demostrar la mentira y falsedad del documento. Que ello no obstante los ataques de la prensa contra Alemania van en aumento y se hacen insoportables. Considera que el Gobierno Argentino si quisiera, podía haber impedido esa campaña; 2)- Que la Embajada ha hecho gestiones para explicar las exigencias y necesidades de los compatriotas, dando órdenes a éstos de respetar la legislación del país; 3)- Que el Sr. Müller, al tiempo en que está detenido, a su incomunicación, […] que dice habérsele puesto, al mal trato, falta de alimentación adecuada, que sólo desde el 11 se permitió a su señora llevarle comida, que se le prohibió leer y escribir. Que las medidas tomadas contra Müller son incompatibles, dice que no hay acta de acusación […];
175
O documento apresentava uma reclamação sobre a apresentação de uma peça teatral,
que caracterizava os alemães como pessoas de pouco caráter, preparando um atentado
contra uma bandeira argentina e cantando músicas de repúdio às autoridades argentinas.
Voltava a enfatizar que Jürges era uma pessoa criminosa e mentirosa.
4)- Que Jürges es un hombre sospechoso. Que su propósito ha sido entorpecer las relaciones entre ambos países; 5)- Que sea castigado […] ya que se trata de documento completamente falso, que es una invención ridícula de Jürges; 6)- Que actualmente se está representando una pieza en un teatro de Buenos aires cuyo argumento es un movimiento separatista en la Patagonia en la que figuran alemanes caracterizados como individuos de la peor clase, que preparan un atentado contra la bandera argentina, que hay canciones de odio, etc. […] deseaba mantener con la Argentina las buenas vinculaciones existentes evitando los motivos que pudieran dañarlas y la necesidad como el valor que da al mejoramiento de la situación, por cuanto el final podría ser penoso en vez de devolver una atmósfera sana, amistosa […]. Secretario de Estado Weiszack (DAP, 25 abr. 1939).
RESPOSTA DO GOVERNO ARGENTINO:
O Ministro Cantilo informava que os trâmites legais estavam dentro dos prazos
fixados pelo governo e que o Sr. Müller estava sendo tratado com bastante
condescendência, com as autoridades policiais não encontrando nenhuma atitude de
animosidade entre o prisioneiro e os agentes policiais. Informava que o prisioneiro, até
poucos dias atrás, não havia designado um advogado para atuar em sua defesa.
1)- Las actuaciones judiciales del asunto están dentro de los plazos que fijan las leyes y no los han excedido en manera alguna; 2)- El detenido puede hacer todos los pedidos que crea necesarios para su defensa, sea directamente o por su abogado defensor y hacer valer los derechos que la ley le concede, dentro de las formas que ella determina. El detenido hasta hace dos días no consideró oportuno designar defensor; 3)- En el Juzgado no existe en este caso ninguna reclamación sobre malos tratos, privación de alimentos y otros abusos que, de producirse, habrían sido severamente investigado;
Cantilo explicava que o Poder Executivo não podia interferir nos assuntos relativos ao
judiciário e aguardava, em breve, uma solução para o caso. Sobre a peça teatral,
176
explicava que era uma representação de caráter popular, sem nenhum intuito de denegrir
a imagem dos cidadãos alemães.
4)- Dentro de la organización legal del país el Poder Ejecutivo no puede tomar ninguna intervención directa en los asuntos sometidos a la justicia, cuya acción en las diversas instancias se desenvuelve en forma independiente, con todas las garantías necesarias. Pero aún cuando fuese posible tal intervención no está en el interés de ninguno de los dos países precipitar o limitar la acción en que está empeñada la justicia para el esclarecimiento completo de una situación que no debe dejar sombra alguna entre ellos; 5)- La obra teatral de referencia, sin trascendencia alguna, es una pieza de carácter popular, de propaganda nacionalista, que no nombra para nada a Alemania; 6)- De acuerdo con nuestro régimen liberal de prensa, los diarios en ésta hacen igualmente campaña alrededor de la investigación o en contra de ella. Por lo demás dentro de los plazos legales establecidos y dado el estado en que se encuentra el asunto, se considera que el lunes o el martes de la semana
próxima habrá un pronunciamiento judicial al respecto”. Ministro Cantilo. (DAP, 25 abr. 1939).
As relações continuaram abaladas entre os dois governos, principalmente, com a
permanência de Müller na cadeia, que era um alto funcionário do NSDAP. O Secretário
de Estado Weiszack resolveu radicalizar, informando o Embaixador Labougle que se não
houvesse uma solução rápida para a situação de Müller, cidadãos argentinos, residentes
na Alemanha, poderiam sofrer algum tipo de represália (COSTA, 2004, p.242). Costa
(2004, p.242) enfatiza que o Ibero-Amerikanische Institut (Instituto Ibero-Americano)150 já
tinha relacionado um grupo de cidadãos argentinos para serem interrogados pela
Gestapo. Até o Ministro Ribbentrop não entendia por que Müller continuava preso, se o
documento em questão era falso. Ribbentrop desejava manter com a Argentina as
melhores relações políticas, mas queria que Müller fosse solto o mais rapidamente
possível (DAP, 29 abr. 1939). Finalmente, o processo contra Müller terminou com a sua
inocência decretada, no dia 26 de junho de 1939. A justiça argentina declarou que não
existia nenhuma razão jurídica para mantê-lo preso durante tanto tempo e afirmava que
não havia nenhum indício que o réu fosse considerado culpado. Müller, logo que pôde,
150 O Instituto Ibero-Americano era um centro cultural de investigação científica e de intercâmbio cultural, fundado
em 1930 e sob a direção do General Wilhelm Faupel. Era utilizado para divulgar a política externa do Terceiro Reich,
tendo como principais parceiros diplomáticos a Argentina e a Espanha. COSTA, Sérgio Corrêa Da. Crônica de uma
Guerra Secreta – Nazismo na América: Conexão Argentina. Rio de Janeiro: Record, 2004, p.219-220.
177
retornou para a Alemanha, eliminando qualquer tentativa futura das autoridades
argentinas em reabrir o caso.
Diante desses fatos, o Governo Argentino proibiu as duas maiores
organizações nazistas de funcionarem em seu território, como o NSDAP e a DAF
(Deutsche Arbeits-Front - Frente de Trabajo Alemán), que trocaram suas respectivas
razões sociais, no intuito de enganar as autoridades argentinas. O NSDAP passou a se
chamar Federación de Círculos Alemanes de Beneficencia y Cultura, e a DAF, Unión
Alemana de Grêmios, mas, infelizmente, continuaram com sua política de disseminação
de ideias totalitárias e antissemitas. É interessante ressaltar que essas organizações
tiveram um grande incremento de filiados, justamente neste período de transição, com o
NSDAP tendo mais de 64 mil associados entre 1940 e 1941 (Ministerio de Relaciones
Exteriores y Culto, 2000)151. Na verdade, foi com a visita do couraçado alemão
Schlesien152 à Patagônia (Comodoro Rivadavia), em janeiro de 1938, que as atividades
nazistas na região tiveram um grande incremento153. O navio permaneceu durante uma
semana e um convívio social se realizou na região. Marinheiros e moradores criaram um
vínculo que seria utilizado pelo Etappendienst, no futuro, para ajudar navios e submarinos
fascistas na região (DE NÁPOLI, 2005, p.85-90). As atividades de reabastecimento de
submarinos alemães, praticadas pelo Etappendienst, foram descobertas quando aviões
da Força Aérea brasileira (FAB), patrulhando a região sul do Brasil, avistaram navios
argentinos, muito próximos de um submarino, no intuito de abastecê-lo, conforme
telegrama enviado pelo Cônsul Argentino, em Porto Alegre (08/1942):
151 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - La Actitud del Gobierno Argentino ante la Actividad
de los Grupos Nacionalsocialistas. Disponível em: www.argentina-rree.com/9/9-028.htm. Acessado em: 01 abr.
2013. 152 Schlesien era um encouraçado alemão da última classe pré-dreadnought (1905), um dos cinco que permaneceram
em poder do Governo Alemão, após o armistício (1918). Foi modernizado e participou do ataque a Danzig (Polônia),
transformando-se no primeiro navio a disparar na Segunda Guerra Mundial (01/09/1939). Também participou da
campanha da invasão da Dinamarca, vendo pouca atividade após esse evento. Foi afundado em abril de 1945, no Mar
Báltico, quando colidiu com uma mina. 153 Os marinheiros desfilavam cantando o hino “Deutschland über Alles” (Alemanha sobre Todos) pelas ruas e para
retribuir a acolhida das autoridades e população local, várias pessoas foram convidadas a conhecer o navio e passear
em suas lanchas. DE NÁPOLI, Carlos. Nazis em el Sur – La Expansión Alemana sobre el Cono Sur y la Antártida.
Buenos Aires: Editorial Norma, 2005, p.79-80.
178
“El Domingo 23 del corriente, fui invitado por el señor Interventor Federal, General don Osvaldo Cordeiro de Faria, a concurrir a su despacho para “conversar sobre asuntos del momento”. Me hiso saber que ese día, aviones encargados de la vigilancia de costas, habían localizado un submarino […], al que iba “acompañado” por un vapor de bandera argentina. La identificación del navío fue hecha reiteradas veces, una de ellas por el Jefe de la Base Aeronaval de Florianópolis. […] El informe suministrado por los aviadores era el siguiente: un vapor argentino navegaba en dirección al Sud […], encontrándose el submarino a cinco millas del vapor. […] otro vapor argentino navegaba hacia el Norte, […], encontrándose el submarino también a cinco millas de distancia. […] se encontraron dos navíos más, entre Chuí y Rio Grande, navegando hacia el Norte. Consideraba que eran muchos los navíos argentinos que navegaban ese día entre Santa Catharina y el Rio de la Plata, y teniendo en cuenta la proximidad de los dos primeros al submarino, hacía sospechar respecto de la verdadera nacionalidad de los mismos, suponiendo que alguno de ellos, usara indebidamente la bandera argentina, a fin de burlar la vigilancia establecida y aprovisionar el submarino. Solicitaba mi mediación ante V.E. a fin de obtener si fuera posible, que nuestro gobierno facilitara al Rio Grande do Sul el movimiento diario de vapores argentinos para su fácil localización e identificación.[…] Respondiendo a algunas preguntas […], dijo que no tenía más noticias que transmitir y que en ningún momento, los aviadores habían notado que los vapores aprovisionaran a los submarinos. Fue categórico el respecto.[...]”. Consul
General, 25/08/1942. (DAP, 25 ago. 1942).
No telegrama, segundo o Cônsul Argentino, Cordeiro de Farias foi enfático ao
afirmar que não foi possível verificar se os navios, realmente, estavam abastecendo o
submarino, que imediatamente submergiu quando percebeu a presença dos aviões
brasileiros. O Ministro Aranha alegou que, quando a Argentina comprou os navios dos
Países do Eixo que estavam parados em seus portos, em função da guerra, manteve as
suas tripulações e que muitos desses marinheiros agiam em conjunto com o
Etappendienst, com a benevolência de certas autoridades argentinas. Diante desses
fatos, o Governo Brasileiro resolveu tomar providências para defender a sua navegação
costeira, como podemos ver em outro telegrama do Encarregado de Negócios Argentino
David Traynor, no Rio de Janeiro, para o Ministro Guiñazú, que informava a retenção de
dois navios argentinos em um porto brasileiro, como forma de impedir que esses navios
pudessem seguir algum mercante aliado e desse as suas coordenadas para os
submarinos das Potências do Eixo. Após o protesto da Embaixada, os mesmos foram
liberados:
179
“Cúmpleme poner en conocimiento de V.E. que en “razón de órdenes superiores” las autoridades del puerto se negaran ayer a autorizar la salida de los buques de bandera mercante “Norte” […] y “Río Primero” […], que se disponían a zarpar de este puerto. Acabo de hablar sobre el particular con el Ministro de Relaciones Exteriores. Me dijo que la medida está fundada en la denuncia que formuló a V.E. por intermedio del Embajador en ésa y según la cual aviadores de las fuerzas aéreas del Brasil y de la Panair habrían visto barcos argentinos al lado de submarinos alemanes, en la proximidad de las costas de Río Grande del Sud. Que dicha medida, que será de carácter temporario está aconsejada por razones de prudencia y por la confianza que tiene este Gobierno en la actitud del nuestro, que acaba de manifestar está dispuesto a acordar al Brasil todas las facilidades inherentes a su defesa. Que se ha probado que el buque “Favorito” cuya tripulación está compuesta de alemanes, italianos, españoles y algunos argentinos y brasileños, estuvo al lado de un submarino. Que no duda que nuestro Gobierno es ajeno a cualquier actividad sospechosa de los buques que navegan con bandera argentina, actividad que, en caso de existir, la resultaría my difícil controlar y evitar por la nacionalidad italiana o alemana de sus tripulantes.[…] Momentos después de mi conversación con el Ministro las autoridades dieron libre tránsito a los dos barcos. Tengo la impresión de que en adelante habrá dificultades para la entrada a estos puertos de los buques con tripulantes pertenecientes a los países con los cuales el Brasil se encuentra en estado de beligerancia”. Encargado de Negocios David
Traynor, 26/08/1942. (DAP, 26 ago. 1942).
O Ministro Aranha reafirmou a conversa com o Encarregado de Negócios Argentino
Traynor, ao enviar uma correspondência para o Embaixador Rodrigues Alves, em Buenos
Aires:
“O Encarregado de Negócios da Argentina procurou-me esta manhã, a propósito do assunto dos dois vapores retidos neste porto, em consequência de uma medida provisória de ordem geral. Chamei a atenção para o caráter amistoso de nossa atitude decorrente da confiança inspirada, pelos propósitos manifestados por esse governo, de solidariedade e de suas disposições de nos prestar, nas
presentes circunstâncias, o máximo de auxílio possível”. (AHI: 26 ago. 1942).
A Chancelaria Argentina, depois de uma minuciosa investigação, afirmou que
nenhum barco com bandeira argentina prestou qualquer tipo de auxílio aos submarinos,
mencionados pelas autoridades brasileiras, declarando que as denúncias formuladas
deviam ser atribuídas a uma deficiência na identificação dos barcos, ou a um engano na
interpretação das atitudes dos mercantes argentinos em relação aos submarinos
localizados na região (DAP, 31 ago. 1942; 01 set. 1942; 01 set. 1942). O Embaixador
Rodrigues Alves recebeu uma correspondência do Ministro Guiñazú e um informe do
180
Ministério da Marinha Argentina, indicando todos os movimentos realizados pelos navios
argentinos naquela data, perto da costa do Rio Grande do Sul:
“...el Ministerio de Marina ha practicado una minuciosa investigación para establecer, sobre la base de las características de cada barco, su situación y sus disponibilidades de combustible, las posibilidades de aprovisionamiento de los submarinos alemanes que les atribuye la gravísima denuncia del Ministerio de Relaciones Exteriores. De acuerdo con las categóricas conclusiones de esa información, sírvase V.S. hacer presente al Señor Ministro la satisfacción con que el Gobierno Argentino, cuya actitud naturalmente no puede ponerse en duda, está ahora en condiciones de establecer el error a que sin duda responde esa denuncia, ya que ninguno de los barcos argentinos que pudo encontrarse en esa fecha dentro de la zona de referencia, ha estado en condiciones de suministrar combustible apropiado para tal destino. […]. No puede extrañar la presencia de barcos argentinos en una zona que corresponde al tráfico común entre el Río de la Plata y los puertos del Norte del mismo. Cuesta admitir, por lo demás, que se haya elegido para una operación como la denunciada un punto situado a sólo cuatro millas de la costa de la isla Santa Catalina, por lo que, en todo caso, será más lógico explicar la proximidad del submarino y el buque como un caso de visita ordinaria realizada por un barco beligerante. Anticipo a V.S. estas conclusiones sin mayores detalles, ya que el Señor Embajador del Brasil en ésta recibirá la información practicada por Ministerio de Marina, descartando los hechos atribuidos a barcos de nuestra bandera, que
deben ser categóricamente negados”. Ministro Ruiz Guiñazú, 31/08/1942. (DAP, 31 ago. 1942).
A Marinha Argentina apresentou um memorando bem detalhado sobre todos os treze
navios argentinos que estavam navegando entre o Rio de Janeiro e o Rio da Prata, no
período em que o incidente ocorreu, indicando suas coordenadas, velocidade, rotas e o
momento da chegada e partida dos portos brasileiros. Afirmava que seis (6) estavam
muito longe do local onde se encontrava o submarino alemão, sem possibilidades de
terem sido avistados na área demarcada pelos aviões da Força Aérea Brasileira. Quanto
aos outros sete (7), a Marinha Argentina procurou demonstrar a total impraticabilidade de
eles terem participado do “possível” abastecimento do submarino alemão, afirmando que
houve um erro na identificação da embarcação que estava ao lado do submergível.
“...La Prefectura General Marítima ha informado haber dispuesto la instrucción de sendos sumarios, a medida que el arribo de los buques a puertos nacionales lo permita. Pero anticipándose a las resultancias de todos esos sumarios ha reunido suficientes elementos de juicio para determinar la responsabilidad que pudiera surgir y la posición de cada uno de los buques que, habiendo salido de puertos nacionales en el mes de agosto o antes, se supone puedan haber arribado a puertos brasileros comprendidos entre el Río de la Plata y Rio de
181
Janeiro, o en las fechas mencionadas, haber estado navegando al Sud de éste último.[…] Los buques despachados de nuestros puertos en el mes de agosto o con anterioridad, de los que se pudiera sospechar haber actuado en hechos con el denunciado, son los siguientes: “FAVORITA CLARA I”; “FAVORITA D. SANTIAGO”; “FAVORITA SANTOS COSME Y DAMIAN”; “NOVILLO”; “SARANDI”; “CURUPAITY”; “OESTE”; “DUBLIN”; “NORTE”; “TORO”; “QUEQQUEN”; “RIO NEGRO” y “BARILOCHE”. De los buques precedentemente mencionados, deben descartarse de la posibilidad de haber sido avistados en el mar los días 22 y 23 de agosto: 1)- Vapor “TORO” – porque se encontraba en Porto Alegre desde el día 20 hasta el día 24, fecha está en que salió del mismo con destino a Montevideo; 2)- Vapor “OESTE” – porque entre los días 1 y 24 estaba en Angra dos Reis; 3)- Vapor “NORTE” – por hallarse en el puerto de Rio de Janeiro desde el día 20 hasta el 26 de agosto; 4)- B/motor “QUEQUEN” – porque llegó a San Francisco do Sul el día 22 y salió del mismo el 26; 5)- B/motor “BARILOCHE” – porque permaneció operando en Porto Alegre desde el 18 de agosto hasta el 24; 6)- B/motor “RIO NEGRO” – por cuanto llegó a Antonina el día 22; salió de este puerto el 24 para Paranagúa de donde zarpó el día 26. En cuanto a los demás buques se ha podido constatar: 1)- “FAVORITA CLARA I” – zarpó de Laguna el 20 de agosto […] llegó a Buenos Aires el día 25. Considerando todas las constancias, la ruta seguida y los demás elementos de juicio disponibles, se llega a la conclusión de que el día 22 de agosto se encontraba a 300 millas al sud del punto mencionado en la denuncia recibida. […]; 2)- “FAVORITA DON SANTIAGO” – zarpó de Buenos Aires el 16 de agosto. Llego a Santos en la noche del 22. [...] para llegar a su puerto de destino en la noche (24:00 hs), habría tenido que desarrollar una velocidad media de 16 nudos para cubrir las 240 millas que separan dicho punto y Santos.[…] La velocidad máxima de este buque es solo de 7 nudos; 3)- “FAVORITA SANTOS COSME Y DAMIAN” – salió de Buenos Aires el 5 de agosto. Llegó a Santos el 17 a 17:30 horas. Salió de Santos el 22 a 08:30 horas. Siendo su velocidad de 8,5 nudos le hubieran sido necesarias 91/2 horas para llegar al punto mencionado en la denuncia […]. Como éste buque ha llegado al puerto de Buenos Aires, el sumario que se instruye comprueba que el día 22 a 11:00 horas fondeó en Punta Paz, esperando mejoría de tiempo y recién levó anclas el día 23 de agosto a 06:00 horas; 4)- ”NOVILLO” – salió de Bahia Blanca el día 20 de agosto […] y se encuentra actualmente en Santos. Si se anticipa la hora de salda fijándola en00:00 horas del día 20 – dado que su velocidad es de 8 nudos – el día 22 a 08:45 horas no podía estar, en manera alguna, más al Norte […]. Vale decir a no menos de 600 millas de la Isla Santa Catalina (punto denunciado)[…]; 5)- “SARANDI” – zarpó de Bahia Blanca el 19 de agosto. Llegó a Santos el 27. Su velocidad ES de 8 nudos y por lo tanto el día 22 a 08:45 hs, no podía esta al norte […] o sea a no menos de 385 millas de la Isla Santa Catalina (punto denunciado); 6)- “CURUPAITY” – salió de Santos el día 18 y llegó a Buenos Aires el 24 a 14:00 horas. Por consiguiente, dada su velocidad de 10 nudos, el día 22 de agosto a 08:45 hs. Se encontraba […] a 240 millas del punto denunciado […]; 7)- “DUBLIN” – salió de Bahia Blanca el día 19 y llegó a santos el 25. De juzgarse por el texto de la denuncia, no puede suponerse a éste buque, debidamente reconocido por avión patrullero, prestando asistencia a submarino alguno. La denuncia manifiesta que fue sobrevolado tres veces antes de que izara su
182
bandera y que en esa circunstancia navegaba hacia el sud. Esta aseveración parecería errónea; el “DUBLIN” navegaba hacia Santos y por consiguiente s rumbo, dos o tres días antes de su arribo – que está en conformidad con su velocidad de marcha […]. De lo precedentemente informado, que lo es en base a los datos más fidedignos a mano, se deduce lógicamente que pueda haber habido un error en la individualización del buque que los aviones patrulleros hayan descubierto en operaciones de asistencia a un submarino del día 22 de agosto a 08:45 horas.[…]
Ministerio da Marina, 31/08/1942. (DAP, 31 ago. 1942).
Depois de todas essas minuciosas explicações, o Governo Brasileiro acatou o relatório
da Marinha Argentina, mas com um sentimento de preocupação, ficando em alerta com
a presença de navios argentinos perto de comboios ou em posição suspeita, em alto-
mar, provavelmente, à procura de submarinos alemães. Inclusive, o Governo Norte-
Americano deu instruções para que seus navios de guerra vigiassem, cuidadosamente,
as comunicações dos barcos de bandeira argentina e os detivessem, se surgisse alguma
atitude suspeita por parte desses navios (DAP, 12 out. 1942).
As atividades nazistas na Argentina continuaram crescendo, principalmente,
com o surgimento de uma grande rede de espionagem, montada e financiada pela
Embaixada alemã e alguns empresários germânicos. A rede chamada “Bolívar” era um
complexo sistema de espionagem que tinha agentes em quase todos os países da
América Latina, inclusive com ramificações nas principais cidades portuárias norte-
americanas. Nos EUA, as informações adquiridas pela rede versavam sobre
movimentação portuária, construção naval, produção bélica (aviões, carros de combate,
canhões, armas portáteis), crescimento industrial e sobre as medidas econômicas
adotadas para o incremento do esforço de guerra norte-americano (HILTON, 1977, p.31).
O grupo enviava suas informações para Albrecht Engels154, vulgo Alfredo, no Rio de
Janeiro, que as retransmitia para um agente em Hamburgo, na Alemanha, através de um
potente radiotransmissor (HILTON, 1977, p.48). Os principais agentes no Rio de Janeiro
154 Albrecht Gustav Engels era engenheiro chefe da Companhia Sul-Americana de Eletricidade, filial da Allgemeine-
Elektrizitäts Gesellschaft (A.E.G.). Engels cooptou tanto alemães quanto brasileiros natos para trabalharem com
observadores nos principais portos brasileiros (Paranaguá, Recife, Rio de Janeiro, Santos). Foi preso, em janeiro de
1943, e condenado a 33 anos de prisão. HILTON, Stanley E. Suástica sobre o Brasil – A História da Espionagem
Alemã no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977, p.24-26; p.35-39; p.327.
183
eram, além de Engels, o Capitão Hermann Bohny155 e Friedrich Kempter156. A polícia
brasileira, com a ajuda do FBI e do Embaixador Norte-Americano Jefferson Caffery157,
acabou desarticulando o tentáculo brasileiro do grupo “Bolívar”, entre 1942 e 1943 (DAP,
08 fev. 1943; 11 fev. 1943). Na Argentina, a Polícia Federal (Coordinación Federal),
também, com a ajuda dos norte-americanos, conseguiram eliminar os remanescentes
argentinos da rede “Bolívar”, em agosto de 1944, apreendendo uma grande quantidade
de veículos, transmissores portáteis, vários imóveis e dez chácaras em Bella Vista, Pilar,
San Justo, General Madariaga, Ranelagh, San Miguel, Ramos, Mejía e nas províncias de
Santa Fé e Santa Cruz (Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000; DE NÁPOLI,
2005, p.99-100)158
Com o aumento da intensidade dessas ações contra a soberania argentina e
da inoperância de muitos políticos em investigarem com rigor essas atividades, foi criada
a “Comisión de Investigación de las Actividades Antiargentinas” (CIAA)159, composta em
sua maioria por parlamentares radicais e socialistas aliadófilos, em junho de 1941.
Reafirmou-se que as principais associações alemãs (NSDAP e DAF) continuavam a
descumprir a lei (Decreto Nº 31.321), divulgando propaganda fascista e, inclusive,
apresentava um estudo mostrando a participação da embaixada alemã na disseminação
de propaganda nazista em jornais, agências de notícias e na divulgação de artigos
antissemitas no país. Como resultado das investigações, muitas escolas italianas e
alemães seriam fechadas e, no final de 1941 (dezembro), o Governo Argentino, através
do Ministro de Relações Exteriores Guiñazú, recomendava a substituição do Embaixador
von Thermann. O Embaixador von Thermann fez um protesto ao próprio Presidente
155 O Capitão Hermann Bohny era assistente naval na Embaixada Alemã no Rio de Janeiro. Foi julgado in absentia
(em ausência) e condenado a 25 anos de prisão. HILTON, Stanley E. ob. cit., p.30; p.327. 156 Friedrich Kempter trabalhou no setor de contabilidade, em diversas empresas brasileiras e alemãs, até aceitar
participar da Abwehr, sendo o interlocutor brasileiro com o grupo argentino. Foi condenado a vinte cinco anos de
prisão. HILTON, Stanley E. ob. cit., p,64-69; p.327. 157 Jefferson Caffery foi embaixador dos EUA no Brasil, de 17/08/1937 a 17/09/1944. 158 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Las Actividades del Nazismo en la Argentina.
Disponível em: www.argentina-rree.com/9/9-027.htm. Acessado em: 03 abr. 2013. 159 A “CIAA” era composta, principalmente, pelos deputados Raúl Damonte Taborda (Presidente), Juan A. Solari,
Adolfo Lanús, Fernando Prat, Silvano Santander, José Aguirre Câmara e Guillermo O´Reilly. Historia General de las
Relaciones Exteriores Argentina - La actitud del gobierno argentino ante la actividad de los grupos
nacionalsocialistas. Disponível em: www.argentina-rree.com/9/9-028.htm. Acessado em: 03 abr. 2013.
184
Castillo, alegando que a CIAA era manipulada pelo Governo Norte-Americano (Ministerio
de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)160. Sem conseguir dissuadir o Governo
Argentino, von Thermann partiu para a Alemanha, deixando o Encarregado de Negócios
da Embaixada, Erich Otto Meynem, como seu sucessor. Um aliado importante para a
CIAA, no combate ao fascismo, seria um grupo de alemães antinazistas (“La Otra
Alemania”)161 formado por indivíduos que fugiram do regime nazista alemão, sendo
composto por um grande número de judeus e católicos.
4.3 INCIDENTES COM A MARINHA ALEMÃ:
Quando o cruzador pesado “Graf Spee” aportou em Montevidéu, após a batalha
naval contra três unidades britânicas, na foz do Rio da Prata, seu comandante, Capitão
Langsdorff, diante da impossibilidade de permanecer tempo suficiente para realizar todos
os reparos necessários, resolveu internar sua tripulação na Argentina, depois de receber
autorização do Ministro da Marinha Alemão, Almirante Erich Raeder. Com a ajuda do
Etappendienst argentino, instalou a maior parte da sua tripulação no cargueiro alemão
“Tacoma”, enquanto, com uma equipe diminuta, levou o “Graf Spee” para fora do
atracadouro e o afundou, diante de milhares de pessoas que lotavam o porto de
Montevidéu (SALINAS e DE NÁPOLI, 2002, p.103). Com todas as atenções voltadas para
o grande navio de guerra, o “Tacoma” saiu sem ser percebido, levando sua carga de
oficiais e marinheiros do “Graf Spee”. No meio do estuário da Prata, o “Tacoma” transferiu
os marinheiros alemães para dois rebocadores e uma chata argentinos, onde já se
encontrava Langsdorff e seu pequeno comando, depois de abandonarem o “Graf Spee”
160 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - La actitud del gobierno argentino ante la actividad de
los grupos nacionalsocialistas. Disponível em: www.argentina-rree.com/9/9-028.htm. Acessado em: 03 abr. 2013. 161 La Otra Alemania (Das Andere Deutschland) era uma entidade contrária ao Nacional-Socialismo Alemão, criada
em 1937, por dissidentes alemães. Um documento foi enviado para a CIAA com as seguintes palavras: “...existe una
Alemania distinta de la nazista; existen también aquí, en la Argentina, muchos alemanes que nada tienen que ver con
los nazis, que siempre han combatido encarnizadamente procedimientos hitleristas, desleales con la Argentina; que
siempre han respetado, respetan y respetarán las leyes y los intereses de la Argentina. Apelamos al pueblo argentino
para que no trate de iguales a nacionalsocialistas y alemanes, para que no se nos haga responsables de crimines
cometidos por los nazis, a los que condenamos con el mismo fervor que los argentinos y cuyo castigo deseamos
seguiremos nuestra lucha, motivada tanto por respeto a la Argentina, como por el profundo amor que sentimos por la
otra Alemania. Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - La actitud del gobierno argentino ante la
actividad de los grupos nacionalsocialistas. Disponível em: www.argentina-rree.com/9/9-028.htm. Acessado em: 03
abr. 2013.
185
(SALINAS e DE NÁPOLI, 2002, p.103). Depois de internar sua tripulação, Langsdorff se
suicidou em um quarto do Hotel dos Imigrantes. O Governo Argentino decidiu enviá-los
para a ilha de Martín García, apesar dos protestos do Embaixador von Thermann,
alegando que os marinheiros alemães eram náufragos e deveriam viver em liberdade. As
autoridades argentinas invocaram a Convenção de Haia (1899), que delegava a
internação de militares de nações beligerantes, em países neutros (Ministerio de
Relaciones Exteriores y Culto, 2000)162. Com a ajuda do Etappendienst, muitos desses
militares voltaram para a Alemanha e continuaram participando da guerra, com os mais
capacitados se tornando comandantes de submarinos (DE NÁPOLI, 2005, p.129).
Apesar da política de neutralidade e de uma relação mais ou menos amistosa
com as Potências do Eixo, a Marinha Mercante Argentina foi alvo dos submarinos
alemães em três episódios, durante toda a guerra, como o autor indica na pequena tabela
abaixo:
TABELA 6:
TABELA NAVIOS ARGENTINOS ATACADOS NA GUERRA163
Nº Data Navio Tripulação/
Passageiros
Mortos Agressor Local
ARGENTINA
01 27/05/1940 Uruguay 25 15 U-037 Mediterrâneo
02 18/04/1942 Victoria 39 -- U-201 Atlântico Norte
03 22/06/1942 Rio Tercero 42 5 U-202 Atlântico Norte
TOTAL: 106 20
No primeiro episódio, o navio Uruguay estava indo em direção à Bélgica quando este
país foi invadido pela Alemanha. Diante desse fato, seu comandante resolveu seguir para
o porto neutro de Limerick, na Irlanda. Quando passava perto da costa espanhola, na
162 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Los Años de la Segunda Guerra Mundial. Disponível
em: www.argentina-rree.com/9/9-025.htm. Acessado em: 07 abr. 2013. 163 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Los Años de la Segunda Guerra Mundial. Disponível
em: www.argentina-rree.com/9/9-025.htm. Acessado em: 07 abr. 2013; Uboat.net. Disponível em: www.uboat.net.
Acessado em 08 abr. 2012.
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altura do cabo Villano, foi atacado e afundado pelo U-37. O Governo Argentino protestou
através de seu Embaixador Ricardo Olivera164, em Berlim, com o Ministro Cantilo
enviando um telegrama explicando, com minúcias, tudo o que passou com a tripulação
argentina:
O Ministro Cantilo explicava que a embarcação tinha a matrícula argentina, era
comandada por um oficial argentino, com destino ao porto de Amberes na Bélgica,
carregando 6.500 toneladas de produtos agrícolas e, por causa da invasão alemã da
Bélgica, o navio foi desviado para a Irlanda.
“El 26 de Abril zarpo de Buenos Aires el vapor “Uruguay”, debidamente en la matrícula argentina, bajo el mando de un capitán y oficialidad argentinos y con la mayoría de su tripulación igualmente argentina, llevando, con destino al puerto de Amberes, cinco mil quinientas toneladas de maíz, quinientas de trigo y quinientas de tortas oleaginosas. Al producirse el estado de guerra entre Alemania y Bélgica, […], decidieran cambiar el rumbo del mismo. Se consiguió vender el cargamento en el Estado Libre de Irlanda y por radiotelegrama se enviaran instrucciones al capitán de la embarcación para que se dirigiera al puerto de Limerick en dicho Estado”;
Informava que um submarino alemão deteve o navio quando este passava próximo à
costa espanhola, com o capitão argentino enviando um bote com toda a papelada que
descriminava a carga ao submarino alemão. Diante dessas informações, o oficial alemão
ordenou que o navio fosse afundado, retirando toda a sua tripulação em botes salva-
vidas, instalando bombas de tempo na embarcação e usando seis tiros de canhão para
afundá-lo.
“Las órdenes fueran cumplidas y después de la escala en San Vicente, el barco se dirigió directamente hacia su nuevo destino. El día 27 de Mayo, a las 20 horas más o menos, a la altura del Cabo Villano y hallándose el barco a más de ciento treinta millas al oeste de la costa española, un submarino de la Marina del Reich le intimó detenerse. El Capitán del “Uruguay” cumplió inmediatamente la orden y, de acuerdo con las instrucciones que le fueran dadas en idioma español, envió al submarino un bote con los papeles de a bordo. El mismo bote fue utilizado por el segundo comandante del submarino para llegar hasta el “Uruguay” en compañía del primer oficial y varios marineros armados. Una vez a bordo éstos, se ordenó a la tripulación del “Uruguay” embarcarse en los dos botes salvavidas disponibles, acordándoles para esta operación y la de alejamiento veinticinco minutos. En el
164 Ricardo de Olivera foi embaixador na Alemanha de 1939-1942.
187
ínterin el primer oficial procedió a colocar cuatro bombas de tiempo a bordo del barco. Alejados los botes con los tripulantes, a quiénes no se permitió salvar sus equipajes ni otros elementos o papeles, salvo el diario de a bordo, la operación de hundimiento del barco fue completada con seis cañonazos del submarino”;
Especificava que, graças à ajuda de barcos franceses e espanhóis, os tripulantes
argentinos foram salvos, depois de ficarem à deriva durante mais de 24 horas. Reclamava
a atitude agressiva do submergível alemão contra uma embarcação neutra em uma área
longe das principais rotas utilizadas pelas nações beligerantes.
“Los dos botes con los tripulantes navegaron toda esa noche y el día siguiente y puede asegurarse que, de no haber mediado la ayuda prestada por barcos franceses y españoles, la tripulación no hubiera sido salvada. Estos son los hechos escuetamente relatados. No necesitaría casi exponer las reglas de derecho aplicables al caso. Tratándose de un barco de bandera neutral, que conducía carga neutral a un puerto neutral, nada tenía que temer, máximo navegando en pleno mar libre, en una zona que ninguno de los beligerantes ha declarado zona de guerra ni minada, ni siquiera peligrosa para la navegación pacífica”;
Cantilo explicava, indignado, que seu governo tinha tomado todas as precauções
possíveis para mostrar a neutralidade da embarcação com letreiros grandes, informando
a origem do navio, sua inscrição e uma bandeira hasteada no mastro principal.
Reclamava que o afundamento foi determinado após a verificação dos papéis pelo oficial
alemão, tratando-se de um ato deliberado de guerra contra um barco neutro de uma
nação que vinha mantendo relações pacíficas e de amizade com a Alemanha. Salientava
que os tripulantes foram colocados em botes sem quaisquer meios de propulsão, a mais
de duzentos quilômetros da costa mais próxima.
“Debo hacer notar que se habían tomado todas las precauciones posibles para que fuera visible el carácter neutral del barco, que llevaba izada su bandera. En ambos costados del mismo, los colores argentinos así como la inscripción del nombre del barco y del puerto de matrícula en grandes letras y un letrero luminoso con la inscripción “República Argentina” impedían toda confusión. Menos podría hablarse de confusión cuando el hundimiento fue ordenado y ejecutado previo interrogatorio de la tripulación y examen de los papeles de a bordo. Se trata, pues, de un acto de guerra deliberadamente ejecutado contra el barco y la propiedad de una potencia que ha mantenido y mantiene pacíficas relaciones con Alemania. Aún cuando el barco se hubiera dirigido a puerto amigo, el hundimiento no hubiera estado amparado por las reglas del derecho de gentes. […]
188
[...] La suerte de la tripulación fue confiada a dos botes sin medios mecánicos de propulsión y pocas esperanzas podía haber de que esos botes, cargados de tripulantes, pudieran llegar a la costa distante más de 130 millas. Sólo circunstancias providenciales han impedido que a las pérdidas materiales se unieran las de vidas humanas. En cuanto a los papeles sólo el diario de a bordo se salvó con los tripulantes”.
O Ministro Argentino enfatizava que o ato era um atentado contra uma nação neutra e
uma violação às leis de direitos internacionais. Esperava que as Autoridades Alemãs
examinassem o caso, com bastante rigor, e que arcassem com os prejuízos causados
pelo oficial do submarino alemão.
“Las reglas de derecho aceptadas por todos los pueblos rechazan estos atentados a la vida y a la propiedad de pacíficos neutrales que ejercen en el mar libre un comercio legítimo. De acuerdo con las instrucciones recibidas, presente a V.E. la más formal y severa protesta del Gobierno Argentino por el agravio inferido a la bandera argentina y por el atentado llevado a cabo contra un barco argentino en violación de las leyes del derecho de gentes y de la humanidad. MI Gobierno confía en que el Gobierno alemán sabrá contemplar la justa y sentida protesta del pueblo argentino, que no puede comprender ni aceptar estos actos de hostilidad contra el comercio y la bandera de una nación que mantiene con ese país regulares y cordiales relaciones de amistad. Espera que el Gobierno Alemán, al examinar y resolver este caso, procederá de acuerdo con las normas que les son aplicables en Derecho Internacional como lo hizo en circunstancias a nuestro pabellón y el pago de las indemnizaciones por los daños sufridos.
Saludo a V.E. etc”. Ministro Cantilo, 01/06/1940. (DAP, 01 jun. 1940).
É interessante salientar, que Cantilo não comentou sobre o sumiço de um dos botes com
quinze marinheiros, pois, somente um deles chegou à costa espanhola com seus
tripulantes (13), em estado lastimável (DAP, 29 mai. 1940). Entretanto, a Empresa “Cia.
Argentina de Navegación Wihanovich Ltda.” contratou um avião para vasculhar a
imensidão do mar na tentativa de encontrá-los, inclusive, pedindo auxílio técnico ao
Ministério da Marinha Argentina (DAP, 30 mai. 1940), infelizmente, sem sucesso, pois o
barco nunca foi encontrado. Outra informação equivocada, dada por Cantilo, era que os
náufragos tinham sido recolhidos por embarcações francesas e espanholas, quando, na
verdade, somente um bote chegou às costas espanholas.
189
O Governo Alemão enviou uma correspondência, tentando explicar a detenção
do navio pelo comandante do submarino. Segundo as autoridades alemãs, o ato se
justificava porque:
As Autoridades Alemãs alegavam que o navio argentino não tinha um destino definido,
que se encontrava em uma área, onde mercantes e belonaves inimigas costumam
navegar e que o comandante do navio argentino demorou em enviar a documentação
que indicasse qual a carga e destino do barco.
“1)- O rumo do navio não mostrava para qual porto se dirigia, indicando, apenas, que não eram portos espanhóis ou portugueses; 2)- O vapor se encontrava em um rota utilizada, com frequência, por navios que se dirigiam a países inimigos da Alemanha; 3)- O comandante do “Uruguay” demorou, excessivamente, em enviar a documentação que lhe foi pedida; 4)- A documentação indicava, em princípio, que o destino era Amberes (Bélgica), porto inimigo, sendo assim, a carga era contrabando de guerra”;
Relatavam que o porto belga de Amberes era um local de concentração de belonaves
(navios de guerra) belgas, que a documentação apresentava imprecisões sobre quem
receberia a mercadoria na Irlanda e, outra documentação que causou estranheza, foi
uma certidão que garantia aos tripulantes um aumento extra de 300%, para viajarem a
qualquer porto beligerante do Mar do Norte e do Canal da Mancha.
“5)- Amberes era um porto fortificado e base de belonaves belgas; 6)- O comandante mostrou outro formulário, indicando como novo destino Limerick (Irlanda), documento este, que não indicava o novo consignatário; 7)- O documento, também, não indicava quem iria descarregar e receber a mercadoria no porto de Limerick; 8)- Foi descoberto uma certidão que mostrava o compromisso dos tripulantes do “Uruguay” em viajar para qualquer porto beligerante do Mar do Norte e do Canal da Mancha, em troca de um aumento de 300% do soldo original”;
Atinavam que a embarcação poderia aportar em um país inimigo da Alemanha e,
conforme a Declaração de Londres, a Marinha Alemã tinha o direito de destruí-lo ou tomá-
lo como presa.
“9)- Tudo indicava que o “Uruguay” poderia desviar sua rota e aportar em país inimigo da Alemanha;
190
10)- Segundo a Declaração de Londres (Artigo 40) o navio poderia ser confiscado por transportar contrabando de guerra; 11)- O Vapor poderia ser destruído ou tomado como presa, em conformidade com outro artigo (49) da Declaração de Londres; 12)- O submarino, por questão de segurança, não poderia escolta-lo até um porto amigo, nem disponibilizar pessoal (vigias armados) para permanecer no
“Uruguay”, enquanto navegava até a chegada ao porto. (DAP, 26 jun. 1940).
As Autoridades Alemães alegaram que deram trinta minutos para a tripulação abandonar
o barco em dois botes com velas, em um mar calmo e o tempo sem indícios de
tempestade. Os botes estavam em perfeitas condicições e eles seriam deixados em uma
área de grande fluxo marítimo e não muito longe da costa. Finalmente, enfatizavam que
o afundamento não era um ato intencional de beligerância contra um navio argentino,
pois a Alemanha tinha um grande interesse de manter e cultivar a amistosa relação
existente com o Governo Argentino e suas Marinha de Guerra e Mercante (DAP, 26 jun.
1940). O Governo Argentino acatou as escusas das Autoridades Germânicas, esperando
que, após a guerra, tudo fosse esclarecido ao povo argentino pelo Governo Alemão,
mostrando a verdadeira amizade declarada no documento de desculpas:
“...una vez terminada la guerra, ha de encontrarse por el Gobierno Alemán la oportunidad de poner de manifestó, con respecto a los distintos aspectos de la primera nota argentina, las disposiciones amistosas que ella destaca, lo que llevará al pueblo argentino al convencimiento de que el incidente del “Uruguay” fue sólo un hecho accidental, privado de todo propósito agraviante para la nacionalidad del barco y que los amistosos sentimientos que, según la misma nota, abriga la Marina del Reich, para con la Marina de la república Argentina, son también los del Gobierno Alemán, frente al Gobierno Argentino”. Presidente
Ramón Castillo, 30/09/1941. (DAP, 30 set. 1941; Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)165.
O segundo incidente aconteceu quando o navio tanque Victoria, em viagem
para o porto de Nova York, próximo da costa norte-americana, foi atacado pelo submarino
U-201, próximo à costa dos EUA. O U-201 disparou um torpedo que atingiu o navio, mas
não foi capaz de afundá-lo. A tripulação argentina enviou um pedido de socorro e
permaneceu no navio, esperando auxílio. Porém, o comandante do U-201, uma hora
depois, voltou a torpedear o navio, obrigando os tripulantes a abandonarem o navio
165 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Los Años de la Segunda Guerra Mundial. Disponível
em: www.argentina-rree.com/9/9-025.htm. Acessado em: 07 abr. 2013.
191
avariado, mas ainda flutuando. Foram divididos em dois botes que permaneceram à
deriva, por sete horas, até a chegada do USS Owl (rebocador de barcaças) que verificou
que o Victoria continuava flutuando. Foi enviado um grupamento de salvamento para o
navio tanque, que começou rapidamente os consertos necessários para pô-lo em
movimento. Outros dois navios norte-americanos chegaram à área do ataque e
recolheram os náufragos, transportando-os para o Victoria166. Depois de muito trabalho,
os motores do navio voltaram a funcionar, prosseguindo viagem até Nova York, sendo
escoltado por dois destróieres norte-americanos (DD442 e DD443)167. O Governo
Argentino, por não saber qual a nacionalidade do submarino, enviou um comunicado para
a Alemanha e outro para a Itália (09/06/1942), protestando sobre o ataque e pedindo
explicações sobre o ocorrido (Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)168. O
Governo Alemão assumiu a autoria do ataque (17/06/1942), alegando que o comandante
do U-201, pelo periscópio, não viu a sinalização de neutralidade do navio, só percebendo
quando emergiu, depois do segundo disparo feito169. O Ministério das Relações
Exteriores da Alemanha voltou a falar sobre o bom relacionamento existente entre os dois
países e que não houve nenhuma intenção de atingir a soberania argentina, pedindo
desculpas pelo equívoco causado pelo comandante do U-201.
O último acontecimento ocorreu dois meses depois do ataque ao Victoria, na
mesma rota, a 120 milhas de Nova York. O U-202 atacou o mercante Río Tercero com
três torpedos, que fizeram com que o navio afundasse lentamente, permitindo a fuga da
maioria dos seus tripulantes, com a perda de cinco marinheiros170. As desculpas da
Alemanha continuaram as mesmas, alegando que o comandante não conseguiu
enxergar as pinturas que indicavam a nacionalidade do navio. O Governo Alemão enviou
nota informando que estava disposto a ressarcir os danos causados pelos dois incidentes
(Victoria e Río Tercero), na tentativa de evitar danos na política de amizade existente
166 O Victoria foi reparado em estaleiros de Nova York, mas como ninguém se prontificou a saldar a dívida, o navio
foi requisitado pela Marinha dos EUA, voltando ao serviço ativo com o nome de Culpepper. Uboat.net. Disponível
em: www.uboat.net. Acessado em 08 abr. 2012. 167 Uboat.net. Disponível em: www.uboat.net. Acessado em 08 abr. 2012. 168 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Los Años de la Segunda Guerra Mundial. Disponível
em: www.argentina-rree.com/9/9-025.htm. Acessado em: 08 abr. 2013. 169 Uboat.net. Disponível em: www.uboat.net. Acessado em 08 abr. 2012. 170 Uboat.net. Disponível em: www.uboat.net. Acessado em 08 abr. 2012.
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entre ambos os países. Fortes protestos ocorreram em Buenos Aires, dividindo o
Governo Argentino, com alguns políticos exigindo o estado de beligerância com as
Potências do Eixo (Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)171. Na Câmara dos
Deputados, o Socialista Nicolás Repetto interpelou o Chanceler Guiñazú sobre os
ataques perpetrados pelos submarinos alemães aos navios argentinos e a benevolência
do Governo em aceitar, sem qualquer repúdio, as desculpas alemãs:
O Deputado Repetto declarava não aceitar as explicações dadas pelo Governo Alemão
sobre os ataques aos navios Victoria e Río Tercero e culpava o Governo Argentino por
não haver equipado os navios com sistemas claros de identificação para facilitar, aos
países beligerantes, suas identificações de neutralidade. Reclamava da posição da
Chancelaria que resolveu apresentar, sempre que possível, o itinerário dos barcos
argentinos ao Governo Alemão, na tentativa de evitar futuros incidentes.
“las explicaciones que ha dado Alemania por el torpedeamiento de los vapores de bandera argentina “Victoria” y “Río Tercero” son reticentes e involucran un cargo para nuestro Gobierno, pues llevan implícita la acusación de que éste no ha sabido aún disponer lo necesario para que los buques argentinos se hagan reconocer suficientemente como tales […]. Estas son las explicaciones que da el Gobierno Alemán. Nuestra Cancillería las ha aceptado plenamente; más aún: obedeciendo a una sugestión alemana ha adoptado nuevas medidas para asegurar la identificación de los barcos argentinos, en forma que no pueda alegarse en el futuro ninguna confusión. Pero después de las explicaciones del Gobierno Alemán, de esas notas tan explícitas y satisfactorias, el Gobierno Argentino se ha apresurado a rectificar el itinerario de los barcos de su propia marina mercante […]”;
Repetto salientava que a Alemanha necessitava, para sobreviver, impedir que matérias-
primas chegassem para as indústrias norte-americanas, usando de todas as formas
agressivas possíveis para alcançar esse objetivo. Enfatizava que outros barcos
argentinos seriam afundados, com a Alemanha repetindo as mesmas desculpas dadas
anteriormente, prometendo indenizações que nunca seriam pagas. Dizia, com ênfase,
que o Governo Argentino não estava tomando as medidas necessárias para que seus
navios pudessem navegar com segurança nos mares do planeta.
171 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Los Años de la Segunda Guerra Mundial. Disponível
em: www.argentina-rree.com/9/9-025.htm. Acessado em: 08 abr. 2013.
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“Alemania necesita impedir a todo trance que lleguen a los Estados Unidos y a sus aliados las materias primas, los alimentos, los minerales y los combustibles que los países democráticos necesitan para ganar la guerra. Es una necesidad fatal para Alemania, y no se apartará de la guerra submarina por ninguna razón de orden sentimental, por ningún argumento de pabellón. Después de hundir nuestros barcos, seguirá dándonos tal vez algunas explicaciones más, pero serán siempre explicaciones insuficientes. Sus seguridades de indemnización serán promesas vanas; sus desagravios a nuestra bandera serán meras formalidades, recursos para salir momentáneamente de la dificultad”. […] “Dije al plantear la interpelación que salvo que nuestro Gobierno renuncie a hacer navegar nuestros barcos, estos torpedeamientos van a reproducirse; y ésta es la opinión de nuestro Gobierno, no manifestada aquí por el Ministro de Relaciones Exteriores, pero evidenciada en una forma clarísima por las medidas adoptadas
en lo que se refiere a los cursos de navegación de nuestros barcos”. (Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)172.
O Ministro Guiñazú retrucou o deputado, afirmando que o Poder Executivo estava
trabalhando com energia necessária para encontrar as melhores condições de
navegação para a Marinha Mercante Argentina e que o Presidente Castillo e seus
ministros estavam satisfeitos com as explicações dadas pelo Governo Alemão,
procurando manter uma política de amistosa com o Terceiro Reich.
4.4 ALEMANHA CONTESTA O PAN-AMERICANISMO:
Na Conferência do Panamá, foi criado o Comitê Interamericano de
Neutralidade, com sede no Rio de Janeiro, que deveria formular normas para a
manutenção da paz no continente. Uma grande preocupação dos Países da América
Latina era como proceder em relação aos navios mercantes beligerantes, ancorados em
seus portos. A ideia do Comitê era criar mecanismos para que essas embarcações, de
bandeira beligerante, não pudessem auxiliar navios de guerra, dentro da zona de
segurança continental. As normas internacionais determinavam que navios de guerra
beligerantes que, por qualquer motivo, aportassem em portos neutros, suas tripulações
eram internadas e permaneciam reclusas até o final do conflito. Dessa forma, o Comitê
Interamericano propôs que os navios mercantes, beligerantes ou não, que prestassem
172 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Los Años de la Segunda Guerra Mundial. Disponível
em: www.argentina-rree.com/9/9-025.htm. Acessado em: 08 abr. 2013.
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qualquer assistência a um navio de guerra, seriam submetidos à mesma regra de
internação, se transformando em navios auxiliares173. Porém, as Assembleias
Legislativas dos Países da América Latina deveriam referendar essa proposição de
defesa continental, através de um decreto. Ciente disso, o Governo Alemão enviou um
memorando ao Governo Argentino, pressionando-o e protestando contra a possibilidade
de o Congresso Argentino aprovar essa lei, inclusive, ameaçava, com possíveis
consequências, caso essa lei fosse promulgada. Aventava, inclusive, o Tratado de
Paraná (19/09/1859), de Amizade, Comércio e Navegação, celebrados entre os dois
países, que só no caso de rompimento das relações comerciais as embarcações
poderiam ficar retidas, exigindo o respeito às regras liberais estabelecidas nesses
tratados (DAP. 15 abr. 1940). O Governo Argentino contestou o memorando, afirmando
que liberdade comercial não significava a obrigação de permitir que navios mercantes se
transformassem em barcos auxiliares, utilizando portos argentinos (DAP, 19 abr. 1940).
O Brasil criou o Decreto Lei Nº 2.986 (27/01/1941), que determinava as normas que os
navios mercantes deveriam seguir, quando em águas jurisdicionais brasileiras.
O Embaixador Argentino Ricardo Oliveira174 enviou dois telegramas para o
Ministro Cantilo, informando a atitude de hostilidade do Governo Alemão, em relação à
Conferência de Havana, sobre as possessões europeias no continente:
“...La Cancillería Alemana contestó que una Doctrina Monroe que ha permitido soberanías de Inglaterra y de Francia en el continente americano, se niega a sí misma, y que si éstas son aceptadas no cabe pretensión de excluir a otras potencias europeas. Dice después que como Alemania no tiene ninguna posesión en el continente americano ni ha dado indicación alguna de preténdela, la pregunta carece de objeto. Se refirió después en frases más confusas en la Doctrina Monroe y podría inducirse que Alemania no las acepta sino a base de una exclusión sin excepción de todas las potencias europeas y a condición de una igual no-intervención de América en Europa”. Ricardo Olivera, 17/07/1940.
(DAP, 17 jul. 1940). “...en una entrevista el Fuher añadió que Alemania no tiene pretensiones
territoriales en América”. Ricardo Olivera, 17/07/1940. (DAP, 17 jul. 1940).
173 Navios auxiliares eram embarcações que abasteciam barcos de guerra beligerantes, quando estes estivessem longe
de suas bases navais. 174 Ricardo Olivera foi embaixador na Alemanha de 1939-1942.
195
É interessante analisar que o Governo Alemão contestava a relevância da Doutrina
Monroe, que preconizava a América para os americanos e ainda aceitava a existência de
colônias europeias no continente. O Ministério das Relações Exteriores Alemão não
aceitava esse desvirtuamento da doutrina, exigindo a exclusão de todas as possessões
europeias do continente, com Hitler invocando não ter interesse territorial nenhum no
território americano.
Os EUA declararam guerra ao Japão, no dia seguinte ao ataque japonês a Pearl
Habour (08/12/1941), com o Governo Argentino seguindo os preceitos do pan-
americanismo e emitindo um decreto (09/12/1941) que considerava o Governo Norte-
Americano como “não beligerante”. Quando o Embaixador von Thermann entregou a nota
oficial do seu governo para o Ministro Guiñazú, informando que seu país estava em
guerra com os EUA (11/12/1941), recebeu a informação que a Argentina, conforme as
resoluções da solidariedade continental, mantinha a sua política de neutralidade e
declarava os EUA país “não beligerante”. Novo decreto foi assinado pelo Presidente
Castillo (13/12/1941), acrescentando, apenas, as declarações de guerra da Alemanha e
da Itália aos EUA, como atos de agressão e ameaça ao continente, como foi informado
ao Embaixador von Thermann, em uma audiência especial com o Presidente Castillo:
“…el gobierno está decidido a aferrarse a la neutralidad refirmada recientemente con respecto a Alemania e Italia. Una guerra contra Italia era inconcebible, a causa de los muchos vínculos de sangre. La próxima Conferencia de Ministros de Relaciones Exteriores en Río de Janeiro se ocuparía principalmente de resolver los problemas económicos de la solidaridad panamericana. No podría producir decisiones políticas obligatorias, por ejemplo una declaración de guerra o la ruptura de relaciones. En este grupo de problemas, cada país continuaría
siendo el dueño soberano de sus decisiones”. (apud Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)175.
Diante desses fatos, o Ministro Ribbentrop orientou seus respectivos embaixadores, na
Argentina, Brasil e Chile, que, caso esses países apoiassem a proposta norte-americana
de rompimento diplomático, sérias consequências poderiam ocorrer, inclusive, a
possibilidade das Potências do Eixo declararem guerra a esses países (DAP, 22 jan.
175 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Los Años de la Segunda Guerra Mundial. Disponível
em: www.argentina-rree.com/9/9-025.htm. Acessado em: 08 abr. 2013.
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1942). Quando o Ministro Interino Guilhermo Rothe, que substituía o Chanceler Guiñazú,
que se encontrava na Conferência do Rio de Janeiro, soube dessas coações, enviou um
memorando para o Embaixador Olivera, pedindo que ele entrasse em contato com o
Ministério das Relações Exteriores da Alemanha e explicasse o descontentamento que
as ameaças veladas causaram no meio político argentino:
“El Señor Ministro Interino Doctor Rothe manifiesta al Señor Encargado de Negocios Doctor Meynen la sorpresa y el desagrado con que este Gobierno recibe esa clase de advertencias, incompatibles con la tradición de dignidad internacional de la Argentina y agrega que en el curso de nuestra historia ningún país se creyó hasta ahora autorizado a dirigírselas. Que menos aún podía esperarse ese paso de un país como Alemania con el cual la Argentina se ha empeñado en mantener sus buenas relaciones aún en las situaciones más difíciles. Concluyó pidiéndole trasmitiera a su Gobierno estas manifestaciones.
[…] Olivera, 24/01/1942. (DAP, 24 jan. 1942).
O Governo Argentino ficou profundamente revoltado com as ameaças vindas de Berlim,
mas manteve, junto com o Chile, a sua política de neutralidade. O Brasil rompeu relações
diplomáticas com as Potências do Eixo, naquele momento, conforme o telegrama
despachado do Rio de Janeiro, pelo Embaixador Labougle:
“En sesión clausura Reunión Cancilleres, Ministro Aranha comunicó oficialmente que Gobierno Brasil había dado instrucciones hoy a las 6 de la tarde a sus representantes en Alemania, Italia Japón para que comunicasen a respectivas Cancillerías que quedaban rotas relaciones diplomáticas y que al mismo tiempo había entregado pasaportes a los Embajadores de esos tres países acreditados ante Brasil. También manifestó que se habían impartido instrucciones a los Interventores Estaduales para que comunicasen a los Cónsules de Alemania Italia Japón la cancelación de sus respectivos exequáturs”. Labougle,
28/01/1942. (DAP, 28 jan. 1942).
As apreciações feitas pelo Governo Alemão sobre o que poderia acontecer na
Conferência do Rio de Janeiro, foram explicitadas nos principais jornais alemães, como
mostra os telegramas enviados pela Embaixada Argentina, em Berlim:
DIENST AUS DEUTSCHLAND:
197
O Jornal apresentava uma avaliação sobre a política coercitiva dos EUA, que procurava
cooptar todos os Países Latino-Americanos para o conflito, modificando o sistema
pacífico de toda a região para satisfazer os interesses políticos do Governo Norte-
Americano. O Presidente Roosevelt tinha como propósito suprimir a soberania de todos
os países da América Latina, substituindo-os por colônias e protetorados estadunidenses.
“Los órganos de información han destacado la importancia, cada vez mayor, que tienen los países de la América Latina en la estructura política del mundo, haciendo notar los grandes esfuerzos que intentarían los Estados Unidos para que esos países abandonaran la neutralidad y tomaran partido en el actual conflicto. […] la prensa no ha perdido ninguna ocasión para enrostrar al Presidente Roosevelt su política tendiente a suprimir el “statu quo” en la América Latina, es decir, el mantenimiento del orden político y económico existente, pues su deseo es “suscitar revoluciones, cambios de Gabinetes, etc, susceptibles de provocar una nueva situación que permita la realización de los propósitos que persiguen los Estados Unidos en la América Latina. Esos propósitos serían la supresión de la soberanía y la instauración de colonias y protectorados norteamericanos”;
DEUTSCHE DIPLOMATISCHE KORRESPONDENZ:
A matéria focava as intenções imperialistas dos EUA em relação ao continente latino-
americano, colocando todos os Países Sul-Americanos sob sua dependência política,
comercial e militar. Também, noticiava que medidas extremas seriam aplicadas aos
súditos e descendentes residentes de nacionalidade alemã, italiana e japonesa.
“Washington espera que una vez rotas las relaciones entre aquellos países y las Potencias del Eje, serán adoptadas medias severas contra los pobladores de nacionalidad alemana, italiana y japonesa, los convoyes serán protegidos en común y finalmente la propaganda norteamericana llegará el mismo resultado que en la América Central: a arrastrar al Continente Sudamericano en la guerra”. “La finalidad de la política de Roosevelt es preparar en esa Conferencia la incorporación política, económica y militar de Sudamérica al Imperio norteamericano en tal forma que, después de haberse asegurado definitivamente las posiciones de partida, las cosas sigan por sí mismas el camino que ha elegido Roosevelt”. […] “Roosevelt ha puesto en escena esta guerra para poderse quedar con la América del Sud, porque esta guerra supone para Sudamérica, privada de todas sus anteriores relaciones, la dependencia total del Norte”;
BERLINER BÖRSEN-ZEITUNG:
198
O artigo demonstrava que os Países Americanos estavam sendo sufocados pela pressão
“democrática” dos representantes norte-americanos, através do pan-americanismo.
Afirmava que não havia vontade política, nem desejo nacional dos povos latino-
americanos em romper as relações com as Potências do Eixo, só o fazendo pelo medo
de serem obrigados a apoiar a política de solidariedade continental, através da força
(militar e econômica) dos EUA.
“Los Estados Sudamericanos, uno tras otro, con escasas excepciones, se han dejado estrangular. Con su aprobación para la llamada solidaridad panamericana y democrática firmaran un cheque en blanco que Sumner Welles les presenta ahora al cobro. Podemos decir francamente que con escasas excepciones casi todos los que Welles debe obligar en Río a una abdicación voluntaria no dicen y hacen lo que se los ordena a regañadientes. No es libre voluntad, sincero convencimiento y verdadero interés vital nacional lo que los mueve a presentar mociones preparadas en Washington y a aprobar resoluciones que no son las suyas. Se sojuzga a todo un continente amedrotándolo con la necesidad, con el
hambre y con la fuerza”. (apud DAP, 31 jan. 1942).
O Encarregado de Negócios argentino enviou outro telegrama, em que a imprensa alemã
enfatiza, com simpatia, a determinação da Argentina e do Chile em não romper relações
diplomáticas com as Potências do Eixo:
“El portavoz de la Cancillería Alemana considera que el único resultado práctico de la Conferencia de Río ha sido la ruptura de la relaciones diplomáticas entre Brasil, Uruguay, Paraguay, Bolivia, Ecuador, Perú y las potencias del Pacto Tripartito, mientras que dos Estados, la Argentina y Chile, fieles hasta el presente al patrimonio de Bolívar, no se han plegado a ninguna imposición que comprometa necesariamente la independencia y los intereses nacionales”. La actitud asumida por nuestro país es considerada con simpatía por haberse resistido a “la presión norteamericana que anteriormente había dado tan buenos
resultados en los Estados de la América Central”. (apud DAP, 04 fev. 1942).
Quando o Brasil entrou em estado de beligerância com as Potências Europeias
do Eixo (22/08/1942), depois que navios de cabotagem foram torpedeados na costa
nordestina, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil enviou um comunicado para
todos os Países Americanos, em conformidade com as determinações estabelecidas nas
reuniões de consulta entre os Chanceleres Americanos, como este, enviado para o
Governo Argentino:
199
O Embaixador Rodrigues Alves anunciava que o Governo Brasileiro, depois de ter cinco
navios torpedeados na costa do nordeste brasileiro (15-16/08/1942), repleto de
passageiros (civis e militares), dentro do limite de segurança continental e fora de
qualquer zona de guerra, por intermédio da Embaixada da Espanha e da Legação Suíça,
informava que se encontrava em estado de beligerância com a Alemanha e Itália.
“Senhor Ministro: Cumprindo instruções do meu Governo e de acordo com as normas adotadas e os compromissos assumidos nas Conferências Pan-americanas de Buenos Aires e de Lima, assim como nas Reuniões de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores, tenho a honra de levar ao seu conhecimento que, na noite de quinze para dezesseis do corrente, foram torpedeados, a vinte milhas das costas de Sergipe, cinco vapores brasileiros de passageiros, que navegavam de porto para porto nacional, conduzindo inclusive romeiros que se destinavam ao Congresso Eucarístico de São Paulo. Um dos navios, o “Baependy”, conduzia um contingente de tropa de cento e vinte homens, que não se dirigiam para nenhum setor de guerra, havendo apenas sido transferidos de uma região militar. Antes desse atentado, com perda de muitas vidas, já haviam sido torpedeados em viagem internacional, por submarinos do Eixo, treze navios. A nossa atitude foi então de simples protesto contra a violação, nesses atos desnecessários e brutais, das normas de direito e dos princípios de humanidade que regem a guerra no mar. Desta vez, em que o número das vítimas foi de várias centenas, compreendendo mulheres e crianças, a agressão foi dirigida contra a nossa navegação costeira e trazida às águas brasileiras contra uma navegação essencialmente pacífica e, por sua própria natureza, sem objetivos suscetíveis de favorecer qualquer país beligerante, mesmo americano, nem ferir interesses de terceiros. Eram navios de passageiros e nenhum navegava em zona de guerra ou de bloqueio, nem podia ser suspeito de levar carregamento para qualquer adversário das Potências do Eixo, uma vez que os seus portos de destino eram unicamente brasileiros. O seu afundamento nas costas brasileiras é indiscutivelmente um ato de agressão direta ao Brasil e a extensão da guerra à América do Sul. À vista disso, o Governo Brasileiro, por intermédio da Embaixada da Espanha e da Legação da Suíça, fez saber aos Governos da Alemanha e da Itália que, a despeito de sua atitude sempre pacífica, não há como negar que esses países praticaram contra o Brasil atos de guerra, criando uma situação de beligerância que somos forçados a reconhecer na defesa da nossa dignidade, de nossa soberania, de nossa segurança e a da América, e a repelir na medida de nossas
forças”. José de Paula Rodrigues Alves, 22/08/1942. (DAP, 22 ago. 1942; 22 ago. 1942; 25 ago. 1942)
A Chancelaria Argentina respondeu que, como aconteceu com os EUA, o Brasil seria
considerado um país “não beligerante”, seguindo os princípios do pan-americanismo:
O Ministro Guiñazú acusava o telegrama enviado pelo Embaixador Rodrigues Alves, se
inteirando dos acontecimentos ocorridos no nordeste brasileiro, com o afundamento de
200
cinco barcos de passageiros brasileiros. Assinalava a presteza do Governo Brasileiro em
informar aos Governos da Alemanha e da Itália que, a partir daquele momento, havia um
estado de beligerância entre eles e o Brasil.
“Señor Embajador: Me es muy sensible acusar recibo de la nota de V.E. de 22 del corriente por la que se sirve poner en conocimiento de este Gobierno que, en la noche del 15 al 16 del mes en curso, fueran torpedeados cinco barcos brasileiros de pasajeros que navegaban entre puertos nacionales, […] Que, este atentado con pérdida de muchas vidas, se suma al torpedeamiento de otros trece navíos brasileiros por submarinos del Eje, acerca de cuyo acto el Gobierno de V.E. ha hecho formal protesta. […] Que, finalmente, el Gobierno del Brasil ha hecho saber a los Gobiernos de Alemania e Italia que, ante los actos de guerra realizados en su contra, y en defesa de su soberanía, de su dignidad y de su seguridad y de la América”;
Emocionado, classificava o Brasil como país “não beligerante”, como foi feito no caso dos
EUA, de acordo com a XXXVII Resolução da Conferência do Rio de Janeiro.
“En respuesta a la nota de la referencia, es que me dirijo a V.E., con íntima emoción, para reiterar por intermedio de esa Embajada al Gobierno y pueblo del Brasil el sentimiento profundamente cordial del Gobierno y pueblo argentinos, que a mérito de una fraternal solidaridad y una tradicional comunidad de propósitos resuelve, como lo hizo en el caso de Estados Unidos de América, acordar a vuestro país de un modo expreso y por decreto dictado en esta fecha, el tratamiento excepcional de no beligerante, concordante con lo dispuesto en la XXXVII resolución de la Reunión de Cancilleres de Río de Janeiro, a cuyo efecto tengo a bien adjuntar a V.E. la copia del texto correspondiente”;
Guiñazú terminava seu telegrama, afirmando que a Argentina estava solidária ao Brasil,
com os mesmos ideais de liberdade e paz.
Ante esta situación de beligerante, que segundo dice la nota de V.E. vuestro país se ha obligado a aceptar como un hecho inevitable anhelo constante de paz, la República Argentina solidaria con los Estados Unidos del Brasil reafirma una vez más su fe en un régimen permanente de derecho y de respeto en la convivencia de los pueblos y en la plena realización de nuestros ideales de libertad y de cultura que constituyen la base y la sustancia fundamental de nuestra vida política
independiente”. Guiñazú, 24/08/1942. (DAP, 24 ago. 1942).
4.5 APROXIMAÇÃO COM A ALEMANHA:
201
O Governo Castillo (27/06/1942 – 04/06/1943) se sentindo isolado,
politicamente, pelos EUA e sem a possibilidade de adquirir armamentos, através do
sistema “Lend and Lease”, resolveu enviar um representante (04/1942) para conversar
com as principais Autoridades Alemãs sobre o futuro do país, caso permanecesse neutro
e contrário à política pan-americana da maioria dos países americanos. Esse
representante foi Juan Carlos Goyeneche, ligado aos oficiais nacionalistas do GOU, que
tinha como missão conseguir apoio alemão para as próximas eleições presidenciais na
Argentina (COSTA, 2004, p.334)176 ou, em última hipótese, facilitando a venda de
material bélico para um golpe militar (COSTA, 2004, p.334). Goñi (2004, p.34) enfatiza
que Goyeneche trabalhava para o “Departamento de Inteligência no Exterior das SS”
(Ausland-SD), chefiado pelo Brigadeiro Walter Schellenberg177, um dos muitos agentes
que o departamento de inteligência tinha na Argentina. Durante pouco mais de um ano,
Goyeneche conferenciou com os principais líderes totalitários europeus, Franco,
Mussolini, Pétain, Salazar e, inclusive, Hitler (COSTA, 2004, p.333-334; GOÑI, 2004,
p.43). Esteve com o Papa Pio XII, onde conversações sobre a possibilidade da Argentina
mediar a paz mundial foram realizadas (COSTA, 2004, p.336). A Argentina mediaria a
paz mundial, depois da vitória alemã na Rússia e, em contrapartida, abrandaria a sua
política de imigração, para que europeus católicos pudessem buscar uma vida melhor no
país sul-americano, com o fim da guerra (GOÑI, 2004, p.38). Posteriormente, esses
contatos no Vaticano iriam possibilitar a fuga de muitos criminosos fascistas europeus,
através de uma operação clandestina que, além de possibilitar a fuga de muitos
criminosos de guerra, retirou da Europa uma grande quantidade de dinheiro e ouro
roubados pelos nazistas durante o conflito mundial (GOÑI, 2004, p.339-340).
Antes de chegar a Berlim (10/1942), Goyeneche esteve na Espanha, França,
Portugal e no Vaticano, procurando apoio para a política externa argentina do pós-guerra,
176 Os Militares do GOU temiam que os EUA pudessem influenciar as eleições argentinas, apoiando e financiando um
candidato pró-aliado. GOÑI, Uki. A Verdadeira Odessa - Contrabando de Nazistas para a Argentina de Perón.
Rio de Janeiro: Editora Record, 2004, p.33. 177 Walter Schellenberg foi assistente pessoal de Himmler, Plenipotenciário Geral da Administração do Reich e Chefe
do Departamento de Inteligência no Exterior das SS.
202
acreditando na vitória final das Potências do Eixo. Visitou a Divisão Azul178 Espanhola
que lutava na Rússia, enquanto esperava a aprovação das entrevistas pedidas ao
Governo Alemão. Acabou sendo recebido por Ribbentrop (30/11/1942), quando formulou
três perguntas, pedindo a Hitler que as respondesse:
1)- Saber se após a guerra a Alemanha continuaria comprando produtos argentinos; 2)- Se os alemães reconheceriam o direito argentino pelas ilhas Malvinas; 3)- Se Hitler concordaria que a Espanha fosse a ponte entre a Argentina e a
Europa, após o término do conflito. (Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000) 179.
Goyeneche afirmou que a Argentina pretendia permanecer neutra, até o final da guerra,
e precisava de apoio, principalmente armas, para recuperar a hegemonia local, após o
vasto apoio que o Brasil vinha recebendo dos EUA. Desta forma, o próximo candidato à
Presidência da República tinha que ser um homem ligado ao grupo de nacionalistas da
nação, para impedir que as pressões do Departamento Norte-Americano resultassem em
uma nova política externa, favorável à ruptura com os Países do Eixo. Após ouvir a
explanação de Goyeneche, Ribbentrop respondeu as perguntas manifestadas, pois
estas, já tinham sido entregues a Hitler, com antecedência:
1)- Se a Argentina mantivesse sua posição de neutralidade, seria beneficiada por esta atitude no final da guerra. A Alemanha compraria tudo o que a Argentina pudesse produzir; 2)- A Inglaterra era o inimigo comum, que tinha se apropriado de pontos estratégicos em todas as partes do mundo, como Gibraltar na Espanha. As Malvinas estavam mais próximas da Argentina do que da Inglaterra. Desta forma, iriam apoiar o direito argentino sobre as ilhas; 3)- A relação da Alemanha com a Espanha era cristalina. A Alemanha havia ajudado a Franco e desejava uma Espanha forte e nacionalista. Os laços culturais com a América Latina eram desejados e sempre apoiariam a união entre a Argentina e Espanha. O importante era a Argentina manter-se neutra e contrária aos interesses norte-
americanos na região. (Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)180.
178 Divisão Azul era uma unidade militar, composta de voluntários, espanhóis e portugueses, que lutou no front russo,
de 1941-1943. 179 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - La Actitud del Gobierno Argentino ante la Actividad
de los Grupos Nacionalsocialistas. Disponível em: www.argentina-rree.com/9/9-028.htm. Acessado em: 07 abr.
2013. 180 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - La Actitud del Gobierno Argentino ante la Actividad
de los Grupos Nacionalsocialistas. Disponível em: www.argentina-rree.com/9/9-028.htm. Acessado em: 07 abr.
2013.
203
Ribbentrop enfatizou que o Governo argentino deveria resistir às pressões norte-
americanas e escolher um candidato que representasse as aspirações nacionalistas,
mantendo a política de neutralidade existente. Em outra entrevista com Ribbentrop,
Goyeneche formulou os seguintes pedidos ao Governo Alemão:
Pedia que a Alemanha ajudasse financeiramente a Argentina, para que o país pudesse
se desenvolver e obtivesse a sua independência econômica. A Alemanha deveria
financiar a instalação de uma empresa aérea que ajudasse aos argentinos reaverem as
ilhas Malvinas.
“1)- El Reich debía proponer un “plan detallado” para el “desarrollo industrial” y la “total y definitiva independencia económica” de la Argentina; 2)- Alemania debía hacer una declaración oficial relativa al reclamo argentino sobre las Malvinas; 3)- El nacionalismo deseaba apoyo nazi para un bloque hispano de naciones contra “los avances imperialistas de Estados Unidos”; 4)- Haría falta ayuda alemana para crear una aerolínea hispano-portuguesa-argentina; 5)- También se requerían “palabras oficiales del Fuhrer” de apoyo a la juventud nacionalista en Chile y la Argentina, ya que “en la posguerra puede ser de vital interés para Alemania poseer en América una nación amiga que sea fuerte y en proceso de desarrollo”; 6)- Era necesaria “una significativa ayuda financiera” del Reich al candidato de Castillo para las elecciones de 1943. Goyeneche asimismo deseaba financiamiento para una versión castellana del Reader’s Digest que publicaría una “bien disimulada” propaganda del “Nuevo Orden” de Hitler en Latinoamérica; 7)- Equipos de radio para la “formación de jóvenes oradores” en la Argentina”.
(Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)181.
Por último, Goyeneche conversou com Himmler sobre a importância do catolicismo na
América Latina. O Governo Alemão precisava se aproximar do catolicismo europeu
(Croácia, Espanha, Itália e Portugal) para obter apoio e admiração dos latino-americanos,
e que o inimigo comum era o comunismo, salientando que todas as energias deveriam
ser utilizadas para o seu extermínio. O Ministério das Relações Exteriores Alemão
autorizou Goyeneche a utilizar o seu sistema de comunicação para entrar em contato
181 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - La Actitud del Gobierno Argentino ante la Actividad
de los Grupos Nacionalsocialistas. Disponível em: www.argentina-rree.com/9/9-028.htm. Acessado em: 07 abr.
2013.
204
com Castillo e Guiñazú, na Argentina. Segundo informações do SD, a Embaixada
Argentina não era confiável, pois o Encarregado de Negócios Luis Luti era germanófobo
(COSTA, 2004, p.333; Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)182. Essa
mudança facilitou o trabalho dos aliados que, através do sistema Ultra/Magic, decifravam
todas as comunicações realizadas pelos alemães. Assim, eles estavam a par de todas
as atividades de Goyeneche na Europa (COSTA, 2004, p.335). Depois da reunião com
Himmler, Goyeneche voltou para a Espanha (20/01/1943), onde recebeu a informação
de que sua missão estava terminada e que deveria evitar qualquer comentário sobre as
suas atividades na Europa.
Os oficiais do GOU resolveram derrubar o Presidente Castillo, colocando no
poder um representante militar. O primeiro durou quatro dias, quando o General Rawson,
intimidado pelo Governo Norte-Americano, resolveu romper relações diplomáticas com
as Potências do Eixo, sendo obrigado a renunciar para que outro militar, comprometido
com as forças reacionárias, assumisse o seu lugar. O golpe expôs a falta de coesão dos
militares nacionalistas, indicando que não havia um consenso político, principalmente
sobre a política externa argentina (Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)183.
Nos EUA, a queda de Castillo sinalizou uma possibilidade de a Argentina romper relações
com as Potências do Eixo. Porém, com a substituição de Rawson, a possibilidade dessa
ruptura se esvaneceu, com a Argentina mantendo a sua política de neutralidade. Quando
Ramírez assumiu, seus correligionários, entre eles Perón, perceberam que a única
possibilidade do país obter de volta a sua hegemonia regional, era com a criação de um
cinturão de países vizinhos orbitando sobre a esfera política argentina (GOÑI, 2004,
p.47). A melhor forma de cooptá-los seria promovendo mecanismos comerciais e
aduaneiros, através de acordos bilaterais e seguindo uma política exterior independente
do pan-americanismo. A constituição de um bloco de países (Bolívia, Chile, Paraguai,
Peru e Uruguai), sob a influência Argentina, foi um projeto idealizado por Himmler e seus
182 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - La Actitud del Gobierno Argentino ante la Actividad
de los Grupos Nacionalsocialistas. Disponível em: www.argentina-rree.com/9/9-028.htm. Acessado em: 07 abr.
2013. 183 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Las Relaciones Exteriores bajo el Gobierno Militar
surgido el 4 de junio de 1943. Disponível em: 13www.argentina-rree.com/13/9-001.htm. Acessado em: 10 abr. 2013.
205
agentes do SD para esvaziar a importância da política de solidariedade pan-americana
norte-americana na região e pressionar o Governo Brasileiro, que até aquele momento,
era o principal parceiro dos EUA na América do Sul a repensar sua posição em relação
à Alemanha (Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)184. Um “manifesto”,
formalizado pelos oficiais do GOU, foi lido na sexta reunião do Conselho de Segurança
Nacional (07/1944), mostrando a preocupação do Governo Brasileiro com as aspirações
políticas argentinas em cooptar os seus vizinhos. O texto dizia:
“La era de la Nación va siendo substituida paulatinamente por la era del Continente (...). Hoy, las naciones se unen para formar el Continente. Esa es la finalidad de esta guerra. Alemania realiza un esfuerzo titánico para unificar el continente europeo. La nación mayor y mejor equipada deberá regir los destinos del continente. En Europa será Alemania. En América del Norte la nación monitora por un tiempo será Estados Unidos admita su tutoría. Sólo hay dos que podrían tomarlas: Argentina y Brasil. Nuestra misión es hacer posible e indiscutible nuestra tutoría. La tarea es inmensa y llena de sacrificios. Pero no se hace patria sin sacrificarlo todo (...) Habrá que armarse, ARMARSE SIEMPRE, venciendo dificultades contra las circunstancias interiores y exteriores. La lucha de Hitler en la paz y en la guerra nos servirá de guía. Tenemos ya al Paraguay; TENDREMOS A BOLIVIA Y CHILE. Con la Argentina, Paraguay, Bolivia y Chile nos será fácil presionar al Uruguay. Luego, las cinco naciones unidas atraerán al Brasil, fácilmente, debido a su forma de gobierno y a grandes núcleos de alemanes. ENTREGADO EL BRASIL EL CONTINENTE SUDAMERICANO SERÁ NUESTRO”185.
Para comandar essa dissidência, o Governo Argentino precisava adquirir
armas para reequipar suas Forças Armadas. O Presidente Ramírez resolveu enviar um
agente do SD, Osmar Hellmuth186, a Berlim, para obter essas armas, mas quando viajava
para a Europa, foi preso por agentes britânicos em Trinidad Tobago (29/10/1943), sendo
condenado por atividades antialiadas e cumplicidade com o inimigo, acabando internado
em um campo de prisioneiros perto de Londres (12/11/1943) (GOÑI, 2004, p.51-52;
COSTA, 2004, p.45-46). O projeto de cooptar as repúblicas vizinhas começou com a
ajuda de um golpe militar, na Bolívia (22/12/1943), que derrubou o governo pró-aliado de
184 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Las Relaciones Exteriores bajo el Gobierno Militar
surgido el 4 de junio de 1943. Disponível em: 13www.argentina-rree.com/13/9-001.htm. Acessado em: 10 abr. 2013. 185 Sexta Ata do Conselho de Segurança Nacional (11/07/1944) – Arquivo Nacional (SIAN). Disponível em:
www.arquivonacional.gov.br/sian/inicial.asp. Acessado em: 20 mai. 2013. 186 Osmar Alberto Hellmuth era um ex-militar argentino que recebeu ordens de procurar Walter Schellenberg e
Himmler para comprar armas, no intuito de promover o projeto de união política com os países vizinhos da Argentina.
GOÑI, Uki. A Verdadeira Odessa - Contrabando de Nazistas para a Argentina de Perón. Rio de Janeiro: Editora
Record, 2004, p.49.
206
Enrique Peñaranda, para empossar Gualberto Villarroel, leal aos militares argentinos do
GOU e simpático às Potências do Eixo. Os EUA reagiram com firmeza, alegando que
agentes alemães do SD e o Governo Argentino estavam por trás do golpe de estado
(Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, 2000)187. Os EUA ameaçaram apresentar
as provas existentes da cooperação argentina no golpe, adquiridas pelo sistema
Ultra/Magic, se o Governo Argentino não mudasse a sua política externa de neutralidade
(COSTA, 2004, p.134-135). Diante dessa pressão, Ramírez resolveu romper relações
diplomáticas com as Potências do Eixo, deixando de fomentar golpes militares contra os
Governos do Chile e do Paraguai.
4.6 ARGENTINA ROMPE RELAÇÕES COM AS POTÊNCIAS DO EIXO:
O Governo Argentino afirmou, no Decreto Nº 1830 (26/01/1944), que a ruptura
com as Potências do Eixo teve como causa, a descoberta, pela Polícia Federal, de uma
vasta rede de espionagem, ligada diretamente aos Governos da Alemanha e do Japão.
Esses atos ilícitos contra a segurança e soberania argentina tinham, inclusive, a
participação de funcionários diplomáticos de uma dessas nações. Países que, até pouco
tempo, tinham grandes laços de amizade e apreço por parte do Governo Argentino, neste
momento crucial, se veem obrigados a definirem uma nova política externa em defesa da
solidariedade continental (DAP, 26 jan. 1944; 26 jan. 1944). O Presidente Ramírez
determinou que as Embaixadas da Alemanha e do Japão recebessem, imediatamente, a
nota de desagravo e de rompimento das relações políticas:
EMBAIXADA DA ALEMANHA/JAPÃO:
187 Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Las Relaciones Exteriores bajo el Gobierno Militar
surgido el 4 de junio de 1943. Disponível em: 13www.argentina-rree.com/13/9-001.htm. Acessado em: 10 abr. 2013.
207
“Señor Encargado de Negocios, Dr. Erich Meynen / Señor Embajador Barón Shu Tomii: Las investigaciones realizadas por orden de este Gobierno, han permitido descubrir la existencia de un vasto sistema de espionaje, en que se hallan complicados varios súbditos alemanes. Queda así comprobada la comisión de actos ilegales realizados en el territorio de la República en beneficio de ciertas potencias beligerantes y en contra de los intereses de la defensa continental, que este Gobierno está decidido a proteger. Diversas circunstancias, suficientemente comprobadas ya, permiten asegurar que esa actividad se realiza no sólo en beneficio del Gobierno de Alemania, sino que estaba directamente organizada por el mismo y con la intervención de funcionarios de esa Embajada. En estas condiciones, teniendo en cuenta el carácter sistemático y reiterado de estos hechos, que vulneran sus derechos y atentan a su soberanía y seguridad, el Gobierno Argentino ha llegado a la conclusión de que resulta imposible el mantenimiento de relaciones diplomáticas con el Gobierno de V.E. En la fecha, el Excmo. Señor Presidente de la Nación ha suscripto un decreto por el cual se declaran rotas relaciones diplomáticas con el Gobierno del Reich y, en conocimiento de V.E. y hacerle entrega de sus pasaportes. Aún cuando desde este momento V.E. dejará de ser considerado en el carácter que hasta ahora investía, queda bajo el amparo de la ley internacional que este Gobierno ha cumplido y cumplirá lealmente, hasta que las circunstancias permitan su partida.
Saludo a V.E. con mi consideración más distinguida”. 26/01/1944. (DAP, 26 jan. 1944; 26 jan. 1944).
A Suécia assumiu a representação dos interesses do Governo Argentino, tanto na
Alemanha quanto no Japão (DAP, 28 jan. 1944; 31 jan. 1944). Por fim, seguindo o que
fora acordado nas reuniões de consultas e conferências interamericanas, o Governo
Argentino enviou um telegrama para todos os Países Americanos, informando-os do
rompimento:
PRESIDENTE PEDRO RAMÍREZ:
“A los Presidentes de las Repúblicas Americanas: Tengo la honra de poner en conocimiento de V.E. que en uso de las atribuciones constitucionales he procedido a firmar el decreto de ruptura de relaciones diplomáticas con los Gobiernos de Alemania y Japón. Al informar a V.E. de esta decisión que el Gobierno Argentino adopta no solo en amparo de su soberanía sino también de la defensa continental, reitérole las seguridades del propósito firme que nos anima de estrechar cada vez más las relaciones amistosas que tan felizmente han existido siempre entre nuestros
países”. General Pedro Ramírez, 26/01/1944. (DAP, 26 jan. 1944).
MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES ALBERTO GILBERT:
208
“A Ministros de relaciones Exteriores de América: Me ES sumamente honroso poner en conocimiento de V.E. que el Gobierno Argentino, mediante un decreto dictado en la fecha, ha declaro rotas sus relaciones diplomáticas con los Gobiernos de Alemania y Japón, en razón de haberse comprobado la existencia de un sistema de espionaje en beneficio de dichos países, atentatorio de la soberanía nacional y de la seguridad continental. Confío plenamente en que esta resolución que ratifica la política internacional del Gobierno Argentino y reafirma su espíritu de solidaridad con las naciones americanas será un motivo más de unión entre nuestros dos países”. Alberto
Gilbert, 26/01/1944. (DAP, 26 jan. 1944).
Depois dessa posição em favor do pan-americanismo, Ramírez foi substituído por Farrel,
com os oficiais do GOU eliminando a crise criada pela ruptura com o fascismo. Os
militares argentinos temiam que, mesmo com a ruptura, a Argentina não seria beneficiada
pelo sistema “Lend and Lease” e continuaria sofrendo os mesmos inconvenientes que o
Governo Boliviano que, até aquele momento, não tinha sido reconhecido pela grande
maioria dos Países Latino-Americanos, pressionados pelos EUA (apud DAP, 18 fev.
1944).
4.7 CONCLUSÕES PARCIAIS:
A Argentina optou por um caminho distinto das demais Repúblicas Americanas,
apostando na vitória das Potências do Eixo. Os nacionalistas argentinos não aceitavam
participar de uma política continental que os colocasse na esfera de interesses do
Governo Norte-Americano, evitando, segundo eles, a subserviência a que os demais
Países Americanos estavam submetidos. Diante dessa posição intransigente, não
participaram dos acordos (comercial e militar) do sistema “Lend and Lease” e acabaram
isolados pelas pressões exercidas pelo Departamento de Estado Norte-Americano. Por
outro lado, a convicção das Autoridades Norte-Americanas de que havia uma forte
influência fascista nos altos escalões da República Argentina, determinou uma política
de confrontação com os sucessivos Governos Argentinos (Castillo, Ramírez e Farrell),
na tentativa de mudar sua contínua política externa de neutralidade, trazendo-os para o
pan-americanismo. A pressão excessiva dos EUA levou os nacionalistas argentinos para
uma aproximação, cada vez maior, com o fascismo europeu. A missão de Goyeneche
209
pode ser vista como uma tentativa, desesperada e irreal, de transformar um país coagido
e isolado politicamente numa nação de grande relevância internacional, que seria
mediadora da paz e a principal interlocutora da Alemanha, após o fim do conflito, na
América Latina. Em meados de 1942, apesar da preponderância militar alemã no conflito
mundial, começava a surgir, no horizonte, as primeiras fissuras na máquina de guerra
alemã, mostrando que a conjugação de esforços dos aliados (Grã-Bretanha, EUA e União
Soviética) apresentava uma grande esperança de vitória e que era questão de tempo
para o exército nazista começar a retroceder.
A única saída, segundo os oficiais argentinos e políticos alemães, era a criação
de um bloco de Países Americanos sob a influência do Governo Argentino. Iniciou-se
esse trabalho para cooptar os países vizinhos, com movimentos de agentes nazistas no
Paraguai, Chile e Uruguai, que culminou com a ajuda dos militares argentinos no golpe
boliviano (1943). Quando essas atividades foram descobertas pelo Governo Norte-
Americano, os militares argentinos ficaram em posição muito delicada e acabaram
cedendo e rompendo relações com as Potências do Eixo. Entretanto, os oficiais
nacionalistas germanófilos, que eram maioria dentro do quadro militar argentino,
resolveram derrubar o Governo de Ramírez, instalando o General Farrell no poder. A
intransigência das forças nacionalistas levou a nação a um impasse político, que só foi
resolvido quando as demais Nações Americanas, em um esforço solidário, conseguiram
trazer a Argentina de volta para a política de solidariedade continental, na Conferência
de Chapultepec, convidando-a a participar das Nações Unidas, com a aquiescência dos
EUA. Quanto às atividades nazistas na Argentina, ela se intensificou com o
consentimento das autoridades policiais e militares argentinas que, durante um bom
período, foi omissa na repressão dessas redes de espionagem, com a rede “Bolívar”
atuando até o final da guerra188 e os agentes da SD agindo livremente, durante todo o
ano de 1945, preparando terreno para a fuga de fascistas europeus para a América
Latina.
188 A rede precisou ser reconstruída, após agentes norte-americanos pressionarem a Polícia Federal Argentina. Ela
acabaria funcionando até a guerra terminar, com muitos agentes participando, posteriormente, do governo de Perón.
210
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Durante quase toda a Segunda Guerra Mundial, Argentina e Brasil tomaram
posições diferentes na defesa de seus interesses nacionais, optando por políticas
externas distintas que transformaram o posicionamento político na região sul da América
Latina. Enquanto a Argentina procurou uma relação ideológica, comercial, política e
militar com as Potências do Eixo, na tentativa de manter o “status quo” anterior ao conflito,
o Brasil acatou a política de solidariedade pan-americana que colocou o país como o
maior parceiro dos EUA na região. O Brasil assumiu o principal papel na defesa sul do
continente, recebendo armas e equipamentos que converteram suas Forças Armadas
nas mais bem aparelhadas entre os Países Latino-americanos. Essa divergência política
entre argentinos e brasileiros causou desconfianças, temores e alguns desentendimentos
que, pela capacidade política de seus representantes diplomáticos, foram solucionados
em benefício da boa convivência regional. Como exemplos dessa harmonização política,
destacamos a decisão do Presidente Ramón Castillo de decretar o Brasil, em estado de
guerra com as Potências do Eixo, país “não beligerante”, conforme os ditames do pan-
211
americanismo e o reconhecimento, pelo Brasil, do novo Governo Argentino, após o golpe
militar do GOU, tornando-se a primeira Nação Americana a fazê-lo, sem o apoio dos EUA.
Verificamos nesta tese que, na Conferência de Lima (1938), as políticas
externas da Argentina e do Brasil eram convergentes, procurando instaurar um pacto de
segurança coletivo de defesa, mas divergiam no modo como ele deveria ser criado.
Enquanto a Argentina não aceitava a preponderância norte-americana no acordo, pois
temia que os norte-americanos a utilizassem para dominar toda a América Latina, o Brasil
achava que a participação dos EUA era fundamental, com o seu poder econômico e
militar, para impedir que países extracontinentais pudessem gerar sérios problemas ao
continente americano. Diante da discordância do Governo Argentino, as Repúblicas
Americanas acabaram aceitando um sistema de consultas, que determinava a execução
do acordo coletivo, caso surgisse algum incidente que ameaçasse a liberdade dos povos
americanos, mas enquanto esta situação não ocorresse, os Governos Americanos
deveriam agir individualmente. Diante dessa intransigência argentina, o Governo Norte-
Americano procurou se aproximar do Brasil e transformá-lo no seu principal parceiro sul-
americano para defender o território americano das ameaças do fascismo europeu.
Vimos que, com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, os Governos do
Brasil189 e da Argentina declaram-se neutros, respectivamente, na tentativa de se
isolarem dos acontecimentos nefastos causados pela guerra. Na Conferência do Panamá
(1939), todos os representantes americanos apoiaram a criação de normas comuns de
neutralidade como forma de prover a paz para o continente. Outra medida importante foi
o estabelecimento de uma zona de segurança marítima, de trezentas milhas, para a
proteção do comércio marítimo americano, mas por causa da debilidade militar de todos
os Países Americanos, inclusive dos EUA, o patrulhamento se tornou inviável, naquele
momento, e vários incidentes ocorreram dentro da zona de segurança continental.
Percebemos em nossas investigações que, na reunião dos Chanceleres Americanos no
189 Na Quarta Sessão do CSN (04/09/1939) os membros do Governo Brasileiro ratificam a manutenção de estrita
neutralidade, diante da deflagração que surgiu na Europa. Quarta Ata do Conselho de Segurança Nacional –
Arquivo Nacional (SIAN). Disponível em: www.arquivonacional.gov.br/sian/inicial.asp. Acessado em: 20 mai. 2013.
212
Panamá, as relações entre Argentina, Brasil e EUA foram as mais cordiais possíveis, com
suas representações diplomáticas trabalhando em prol da política de solidariedade pan-
americana, sendo, o único momento, durante toda a Segunda Guerra Mundial, em que
houve uma convergência total de seus interesses políticos.
Analisamos, em nossa tese, que o ponto de inflexão das divergências políticas
entre Argentina e Brasil foi o ano de 1940, quando o Presidente Ortíz propôs a mudança
da política de “neutralidade” para a de “não beligerância”, logo depois da invasão da
Noruega e Dinamarca pelos alemães. Ortíz salientava que a neutralidade não dava
nenhuma garantia de segurança contra os beligerantes e que só uma ação mais enérgica
dos Países Americanos evitaria que eles fossem arrastados para a guerra. Os EUA não
apoiaram essa mudança na política de solidariedade continental, por vários motivos,
sendo o principal deles, o desejo de se reeleger, pela terceira vez, do Presidente
Roosevelt, preocupado em não acirrar os ânimos do forte grupo isolacionista que ainda
existia entre os políticos e na opinião pública norte-americana. O Governo Brasileiro,
diante da recusa dos EUA, preocupado com possíveis retaliações que poderia sofrer das
Potências do Eixo, acabou recusando a proposta argentina. Destacamos que, sem o
apoio dos EUA e do Brasil, o Presidente Ortíz acabou optando pela manutenção da
política de neutralidade e, depois de fortes pressões internas, principalmente dos
militares nacionalistas, acabou renunciando ao cargo, assumindo em seu lugar o Vice-
Presidente Castillo.
Na Conferência de Havana (1940), as discordâncias se acentuaram com a
Argentina se propondo a não modificar o “status quo” das colônias europeias, entrando
em conflito com a posição norte-americana, em mais uma disputa hegemônica,
afirmando, inclusive, que já era momento de acabar com essas possessões,
incentivando-lhes a independência política ou incorporando-as a algum país americano.
O Governo Argentino afirmava que as Ilhas Malvinas estavam sob sua esfera de
interesse, estando disposta a lutar pela sua reincorporação ao território argentino. Quanto
ao Brasil, o Ministro Aranha era contrário a qualquer ingerência política em assuntos
europeus, ressaltando que, se houvesse alguma necessidade de intervenção, a
213
responsabilidade da ocupação deveria ser realizada por uma única Nação Americana,
que arcaria com os custos da ocupação. Os Países Americanos resolveram manter a
situação existente das colônias europeias, criando uma “Comissão Interamericana de
Administração Provisional”, composta por um representante de cada Estado Americano,
para estudar a necessidade de alguma futura intervenção militar.
A “Declaração de Havana” (1940) ratificou que um ataque de um Estado
Extracontinental contra um Estado Americano, seria considerado um atentado contra
todos os outros Estados. Revelamos que os EUA aproveitaram essa resolução para
negociar acordos bilaterais de defesa e assistência econômica com vários Países da
América Latina, eliminando a unanimidade, até então aplicada, em todas as consultas
entre os Ministros Americanos. Com essa facilidade de negociar em separado com os
Países da América Latina, os EUA adotaram, posteriormente, o sistema “Lend and Lease”
(1941) para cooptar a maioria dos Países Latino-americanos, exceção daqueles que
eram contrários ao pan-americanismo. O Governo Argentino viu nestas negociações uma
ingerência hegemônica dos EUA na América Latina, modificando o equilíbrio regional
existente, transferindo para o Brasil a sua supremacia na região sul do continente,
reativando antigas rivalidades e temores entre argentinos e brasileiros. O Brasil passou
a receber a maior parte dos investimentos do programa “Lend and Lease” norte-
americano (+70%), para ajudar na defesa da sua vasta costa, apoiar as atividades
militares das unidades norte-americanas em bases no nordeste e fortificar as fronteiras
com a Argentina.
Nossa pesquisa demonstrou que quando os EUA entraram no conflito contra
as Potências do Eixo, após ser agredido pelo Japão e ter recebido as declarações de
guerra da Alemanha e Itália, todos os Países Latino-Americanos se solidarizaram com os
norte-americanos, seguindo os acordos do pan-americanismo. Argentina e Brasil tiveram
o mesmo posicionamento, apoiando os norte-americanos que, imediatamente,
convocaram uma reunião de consultas para determinarem quais medidas seriam
necessárias para a manutenção da coesão pan-americana e dos procedimentos
necessários para fortalecer a política de defesa continental. Os Países da América
214
Central (Costa Rica, Cuba, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua, Panamá
e República Dominicana) declararam guerra, imediatamente, às Potências do Eixo, com
o México, Colômbia e Venezuela rompendo relações, antes da reunião no Rio de Janeiro.
Os demais (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai)
resolveram esperar o encontro para alinharem suas políticas externas em consonância
com os preceitos da solidariedade pan-americana. O pensamento do Governo norte-
americano era que todos apoiassem a ruptura com os Países do Eixo e formassem um
bloco coeso contra o fascismo asiático e europeu, mas apesar de a maioria dos Países
Americanos ratificarem e concordarem com a ruptura, verificamos, com minúcias, que a
Argentina e o Chile se recusaram a modificar as suas políticas externas de “neutralidade”.
Apesar dos protestos do Departamento de Estado Norte-Americano, a
Argentina e o Chile não aceitaram romper com os Países do Eixo. A Argentina não
achava relevante modificar sua política de neutralidade que poderia afetar suas relações
com a Europa, bastante afetadas pela guerra, principalmente, na esfera comercial com o
fechamento de quase todos os seus mercados europeus (Alemanha, Bélgica, França,
Holanda). O país estava dividido, com um forte grupo de oficiais nacionalistas, simpáticos
ao fascismo europeu, insatisfeitos com a fragilidade e a falta de determinação do Governo
do Vice-Presidente Castillo, que assumiu após a renúncia de Ortíz. Outro fator de
preocupação eram as represálias veladas transmitidas pelos embaixadores alemães e
italianos, caso o país rompesse suas relações diplomáticas com as Potências do Eixo.
No caso chileno, a preocupação das suas autoridades era a fragilidade do país em
defender uma vasta costa, temendo que ataques de submarinos japoneses
interrompesse a navegação mercante do país. O país necessitava de apoio militar dos
EUA que, naquele momento, não era capaz de fazê-lo, devido à sua fragilidade militar
em patrulhar as principais rotas marítimas do continente americano.
Ao compararmos as políticas externas, adotadas pela Argentina e pelo Brasil
na Conferência do Rio de Janeiro, estabelecemos parâmetros importantes para
entendermos o afastamento ideológico, político e comercial entre os dois países. A
Argentina tinha um governo civil e “democrático”, apesar das fraudes eleitorais, que tinha
215
uma ligação bastante relevante com a Europa. Os seus dois importantes mercados se
encontravam na Europa (Inglaterra e Alemanha), não dependendo da economia norte-
americana para a sua sobrevivência. A sua produção agropecuária era toda voltada para
a Europa, com forte dependência das populações alemãs e britânicas da sua indústria
de carnes congeladas. Com a eclosão do conflito, o comércio com a Alemanha,
praticamente, se extinguiu, por causa do bloqueio marítimo britânico às costas alemãs,
apesar do acordo tácito entre os dois países de não atacarem navios com bandeira
argentina. O comércio com a Grã-Bretanha aumentou, substancialmente, e se manteve
ativo durante todo o conflito na Europa, com o pagamento desses produtos alimentícios
sendo realizado após o término da guerra, com grande desvantagem para os
empresários argentinos, por causa da desvalorização da libra esterlina. Sua relação com
a Espanha remontava aos primórdios da colonização, com suas raízes e tradições. A
grande maioria dos imigrantes que povoou o seu território era composta de italianos, que
se tornaram pequenos agricultores ou trabalhadores urbanos. Os alemães
representavam uma colônia de grandes empreendedores e muitos militares da
Wehrmacht eram contratados para treinar o Exército Argentino, inclusive, até as vésperas
da guerra. Desta forma, não havia interesse em romper suas relações políticas com a
Europa, optando pela “neutralidade” como a melhor forma de preservar sua política
universalista, apesar de continuar atendendo, se possível, os ditames do pan-
americanismo.
No caso brasileiro, o questionamento que estabelecemos nesta pesquisa foi
que a total dependência do mercado norte-americano para as suas principais matérias-
primas, a importância militar do saliente nordestino para a defesa do continente e,
principalmente, a relação de amizade histórica com os EUA190, resultou no desejo de se
estabelecer um sistema de cooperação e auxílio de união continental191. O país apoiou o
pan-americanismo e aproveitou as boas relações com os EUA para conseguir apoio
190 Quinta Ata do Conselho de Segurança Nacional (10/01/1942) – Arquivo Nacional (SIAN). Disponível em:
www.arquivonacional.gov.br/sian/inicial.asp. Acessado em: 20 mai. 2013. 191 Sexta Ata do Conselho de Segurança Nacional (11/07/1944) – Arquivo Nacional (SIAN). Disponível em:
www.arquivonacional.gov.br/sian/inicial.asp. Acessado em: 20 mai. 2013.
216
político, econômico e militar, na tentativa de melhorar as graves mazelas que o país
subdesenvolvido apresentava. O Estado Novo não representava o modelo democrático
de governo que os norte-americanos gostariam que existisse no continente sul-
americano, mas por causa da necessidade estratégica do seu território, o Departamento
de Estado Norte-Americano acabou tendo cordiais relações com o regime de Vargas.
Como comprovamos em nosso trabalho, o Brasil foi bastante beneficiado pelo seu apoio
ao pan-americanismo, recebendo financiamento para a instalação de uma siderúrgica no
país, empréstimos para equacionar a sua dívida externa, armas e equipamentos
militares, através do sistema “Lend and Lease” e outras verbas para a exploração de seus
principais produtos agrícolas, que eram importantes para o esforço de guerra norte-
americano.
Diante desses fatos, seguindo os acordos firmados na Conferência do Rio de
Janeiro, o país rompeu relações com as Potências do Eixo (1942) e, consequentemente,
passou a participar com mais intensidade na defesa do continente, recebendo um
crescente número de militares norte-americanos para as bases construídas no nordeste
e, consequentemente, sofrendo as primeiras represálias das Potências do Eixo, tendo
em seis meses (02-07/1942), treze navios afundados por submarinos alemães e italianos.
Investigamos que, por causa da presença de militares norte-americanos no território
nacional, o Almirante Dönitz resolveu retaliar com um ataque nas costas nordestinas, que
resultou na morte de mais de 600 pessoas, muitas delas crianças, mulheres e idosos. Em
consequência destes incidentes extremamente graves, o Brasil foi impelido a declarar
guerra às Potências Europeias do Eixo, em 28 de agosto de 1942.
Comprovamos que, depois da Conferência do Rio de Janeiro, a Argentina e o
Chile sofreram fortes pressões dos EUA para voltarem a gravitar na esfera do pan-
americanismo, pressão que acabou levando o Chile a romper as relações com as
Potências do Eixo, logo após a visita do Ministro do Interior Chileno Beltrami aos EUA,
que ficou muito impressionado com a capacidade do parque industrial norte-americano
em fornecer o material bélico necessário para a defesa do seu país. A Argentina manteve
sua posição de neutralidade, mas com as ações coercitivas aumentando de intensidade,
o Presidente Castillo resolveu enviar um representante (Goyeneche) para conversar com
217
os principais estadistas do nazismo e do fascismo europeus, procurando a aquisição de
armas para aparelhar suas Forças Armadas, na tentativa de manter o seu poder regional
intacto. As consultas de Goyaneche, na Alemanha, renderam poucos resultados, por
causa da necessidade, cada vez maior, da Alemanha utilizar todo o seu potencial militar
na guerra.
Promessas foram emitidas para o final do conflito, com a Argentina se
transformando na principal articuladora política da Alemanha no continente, após a vitória
das Potências do Eixo. Com a guerra tomando o rumo em favor dos aliados, esses planos
ruíram, porém os militares nacionalistas (GOU) resolveram derrubar o instável Presidente
Castillo para a instalação de um governo militar pró-eixo, procurando instalar uma
administração centralizadora e com tendências ideológicas próximas do fascismo, sem
ser racista e anticlerical. Enquanto os Governos Civis e Militares Argentinos conversavam
com as Potências do Eixo, também, procuravam manter suas obrigações acordadas nas
reuniões dos Chanceleres Americanos, fazendo um jogo duplo que perdurou quase até
o final do conflito.
Após o golpe militar dos oficiais do GOU, a reação do Governo Norte-Americano
foi explícita, procurando isolar a Argentina dos demais Países Latino-Americanos, não
reconhecendo o novo regime argentino. O Governo Brasileiro resolveu intervir,
reconhecendo o novo Governo Argentino e, com muita diplomacia praticada pelo Ministro
Aranha, conseguiu que o Departamento de Estado Norte-Americano também o fizesse,
com certo atraso, pois outros Países Latino-Americanos (Bolívia, Chile e Paraguai) e,
inclusive, a Alemanha já haviam feito o reconhecimento do Governo do General Ramírez.
Os oficiais do GOU, com o apoio da SS e do serviço de espionagem alemã, iniciaram um
processo de aproximação com seus vizinhos americanos, procurando restabelecer o seu
poder político regional. Como avaliamos, os militares argentinos financiaram um golpe na
Bolívia para a instauração de um governo pró-argentina (Major Villarroel) e iniciaram
contatos com militares chilenos e paraguaios com a mesma finalidade. Diante desses
fatos, os EUA reagiram com bastante indignação, ameaçando apresentar as provas
adquiridas pelo seu serviço de espionagem, que provavam a cumplicidade de oficiais
218
argentinos, tanto na derrubada do Presidente Boliviano Peñaranda, como nos
preparativos das rebeliões militares no Chile e no Paraguai. Vimos que, diante de tanta
pressão, o Presidente Ramírez acabou optando pela ruptura com os Países do Eixo
(01/1944), alegando que uma suposta rede de espionagem, financiada pelos Governos
das Potências do Eixo, estava agindo contra a segurança e a soberania argentina. Surgiu
uma nova crise entre os oficiais nacionalistas, que não aceitavam a mudança da política
de neutralidade, ocasionando a substituição do General Ramírez pelo General Farrell,
mais ligado aos militares germanófilos e com fim das “possíveis” rebeliões no Chile e no
Paraguai.
Enquanto a Argentina se aproximava cada vez mais do fascismo europeu, o
Brasil apoiava, definitivamente, a política de solidariedade pan-americana, procurando
participar mais ativamente da guerra. Constatamos que, com a melhora substancial do
patrulhamento do Atlântico Sul pelos aliados, a ação corsária dos submergíveis dos
Países do Eixo foi, praticamente, eliminada das águas adjacentes ao continente latino-
americano. A derrota das forças militares das Potências do Eixo, na África do Norte,
também contribuiu para diminuir a importância estratégica do saliente nordestino. Os
militares brasileiros temendo que, diante desses fatos, os EUA pudessem diminuir a
grande quantidade de armamentos que vinham aparelhando as Forças Armadas
Brasileiras, resolveram enviar tropas para lutarem na guerra. Na Conferência de Natal,
Vargas e Roosevelt acordaram que o país deveria formar um corpo expedicionário (três
divisões), pensando no prestígio que o país poderia adquirir, com esse gesto, no mundo
do pós-guerra. Devido a vários problemas conjunturais, a Força Expedicionária Brasileira
(FEB) acabou sendo composta por uma única divisão de infantaria, sendo enviada para
o front italiano (1944), que estava bastante carente de soldados, por causa das operações
de desembarque que os aliados fariam na Normandia e no sul da França. Examinamos,
de forma sucinta, nesta tese, a participação da FEB na frente italiana, constatando que
seu desempenho não foi diferente das demais divisões que compunham o V Exército
Norte-Americano.
219
Em 1945, o Governo Argentino acabou declarando guerra às Potências do Eixo
(03/1945) e assinando a Ata de Chapultepec, voltando a gravitar, junto com todos os
Países Americanos, na política de solidariedade pan-americana como forma de participar
das Nações Unidas. Os EUA, em uma política de reaproximação, acabaram auxiliando a
entrada da Argentina na ONU, apesar da forte oposição da União Soviética, que alegava
que o Governo Argentino não havia dado qualquer tipo de contribuição à causa aliada.
No caso do Brasil, as promessas do Presidente Roosevelt não se realizaram, em função
do seu falecimento e do descaso da administração Truman para com a América Latina,
que voltou toda a sua atenção para a reconstrução da Europa e da criação de uma
barreira política e econômica para sustar o crescimento do comunismo (Plano Marshall).
Enquanto o Governo Brasileiro procurou buscar todo o tipo de apoio para que pudesse
se transformar em um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações
Unidas, procurando ajuda do Governo Norte-Americano e dos outros Países Latino-
Americanos, mais teve seu pedido rejeitado pela Grã-Bretanha e União Soviética.
As semelhanças das políticas externas da Argentina e do Brasil foram
verificadas no início da Segunda Guerra Mundial, quando ambos os países optaram pela
“neutralidade” e apoiaram os preceitos do pan-americanismo, como tentativa de manter
o cotidiano das suas populações, isentas dos problemas causados pela guerra. Nas
conferências dos Chanceleres Americanos (Panamá e Havana), políticas de apoio e
defesa continental foram formuladas, na esperança de gerar uma barreira que impedisse
que os beligerantes não atrapalhassem a paz, a economia e a navegação costeira dos
povos americanos. Porém, com a guerra se aproximando do continente americano, com
o desrespeito da zona neutra de segurança pelas marinhas dos países em guerra, suas
posições políticas foram se distanciando. Após a tentativa fracassada do Governo
Argentino de mudar sua neutralidade para uma política mais agressiva de “não
beligerância” contra os contendores, resolveu se isolar na política de “neutralidade”, mas
com a manutenção do seu comércio com a Europa. Enquanto isso, o Brasil começava a
se envolver, definitivamente, com a política de solidariedade pan-americana ao lado dos
EUA, com a cessão de bases militares para as Forças Armadas Norte-Americanas.
220
As principais diferenças surgiram, logo após a Conferência do Rio de Janeiro,
com a Argentina se negando a romper relações diplomáticas com as Potências do Eixo,
mantendo a sua política de “neutralidade” e iniciando um jogo duplo de diplomacia,
apoiando, ao mesmo tempo, o pan-americanismo e procurando auxílio político e militar
com os países fascistas europeus. A Argentina só voltaria a gravitar na esfera pan-
americana, no final da guerra, após a Conferência do México. O Brasil, depois da ruptura
política com os Países do Eixo, acabou sendo tragado pela guerra, ao aplicar uma política
neutra, mas com a presença, cada vez mais crescente, de militares norte-americanos em
seu território. Essa posição dúbia acarretou em represálias, causadas por submergíveis
alemães em sua costa nordestina, levando o país a um estado de beligerância com as
Potências Europeias do Eixo, acarretando no envio de tropas para a Itália. A política
externa argentina voltaria a se sintonizar com a de todas as Repúblicas Americanas e a
do Brasil, nos poucos meses antes do fim da guerra na Europa.
Desde o início da guerra, a Argentina fixou sua política externa na tríade da
“política universal” (vínculo com a Europa), na posição de “neutralidade” diante da guerra
e na recuperação do poder “hegemônico continental”, para se transformar no principal
país americano, com a vitória das Potências do Eixo. O Governo Argentino, ao optar pela
política de neutralidade, durante a guerra, sofreu o isolamento político dos EUA e da
maioria dos Países da América Latina, acabando nos braços do fascismo europeu como
forma de enfrentar a política hegemônica dos EUA. Posteriormente, com os aliados
próximos da vitória, reverteu sua política externa, com o apoio dos Países da América
Latina, inclusive dos EUA, ao assinar a Ata da Conferência Interamericana de Guerra e
Paz (Chapultepec - México), declarando guerra às Potências do Eixo. Os EUA, em mais
uma demonstração de aproximação política, afirmaram que fariam todos os esforços para
que a Argentina participasse das Nações Unidas, conseguindo realizar seu intento, após
demover o veto da União Soviética.
A posição brasileira, perante os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial,
foi de apoio à política de solidariedade pan-americana, pela tradicional política de
amizade continental com os EUA, sua dependência comercial do mercado norte-
221
americano e em função da posição estratégica do saliente nordestino, fundamental para
a defesa do continente. Nos estudos para a defesa do Canal do Panamá, o Estado-Maior
das Forças Armadas Norte-Americanas incluíram Natal, Recife, Salvador e as ilhas de
Fernando de Noronha e Trindade como pontos importantes para o posicionamento de
forças aeronavais norte-americanas. O Governo Norte-Americano conseguiu, com
acordos diplomáticos, a utilização dessas regiões estratégicas e, posteriormente,
beneficiou o Governo Vargas com um aporte financeiro, que capacitou a construção da
uma indústria siderúrgica, financiamento de equipamentos bélicos para reaparelhar as
Forças Armadas Brasileiras e diversos acordos comerciais e econômicos. O país acabou
sofrendo as consequências desse posicionamento político, com a perda de mais de trinta
navios mercantes, que acarretou o seu envolvimento no conflito contra as Potências
Europeias do Eixo, sendo, inclusive, o único país latino-americano a participar ativamente
da guerra, com o envio de soldados (FEB) para o front italiano.
222
REFERÊNCIAS:
FONTES OFICIAIS:
1)-MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DO BRASIL (MRE – ITAMARATY)
Arquivo Histórico do Itamaraty (AHI):
o Telegramas Recebidos das Embaixadas Brasileiras em Berlim,
Buenos Aires, Roma, Santiago e Washington (1939-1945).
o Telegramas Expedidos do MRE para as Embaixadas Brasileiras
em Berlim, Buenos Aires, Roma, Santiago e Washington (1939-
1945).
2)-MINISTERIO DE RELACIONES EXTERIORES Y CULTO DE LA REPÚBLICA
ARGENTINA (MREC)
Archivo Histórico de Cancillería – División Asuntos Políticos (DAP):
o Telegramas e Memorandos Recebidos das Embaixadas
Argentinas em Berlim, Lima, Rio de Janeiro, Roma, Santiago e
Washington (1939-1945).
o Telegramas Expedidos e Memorandos do MREC para as
Embaixadas Argentinas em Berlim, Lima, Rio de Janeiro, Roma,
Santiago e Washington (1939-1945).
o Telegramas Expedidos e Memorandos da Embaixada Norte-
Americana, em Buenos Aires, para o Ministério de Relações
Exteriores da Argentina e Culto.
223
3)-MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DO BRASIL
O Brasil e a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,
1944, 2 Vol.
4)-ARQUIVO NACIONAL
Atas das Sessões do Conselho de Segurança Nacional (CSN) –
Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN):
o Quarta Ata do CSN – Manutenção de Estrita Neutralidade
(04/09/1939).
o Quinta Ata do CSN – Decisão de Apoio Irrestrito aos EUA
(10/01/1942).
o Sexta Ata do CSN – Cooperação para a Instalação de um
Sistema de Defesa Continental (11/07/1944).
Disponível em:
www.arquivonacional.gov.br/sian/inicial.asp. Acessado em: 20 mai.
2013.
5)-RELAÇÃO DOS TELEGRAMAS UTILIZADOS:
CAPÍTULO Nº 1:
AHI: telegrama nº 30, do Embaixador Moniz de Aragão ao MRE, Berlim, 14/03/1938. “Foi
publicado oficialmente, em Berlim, a anexação da Áustria pelo Reich Alemão,
necessitando de um plebiscito para a confirmação da mesma”;
AHI: telegrama nº 43, do Embaixador Moniz de Aragão ao MRE, Berlim, 11/04/1938.
“Sem incidentes realizou-se o plebiscito que aprovou a anexação da Áustria à Alemanha.
A maioria da população (99,5%) votou a favor, no conjunto dos dois países”;
224
AHI: telegrama nº 152, do Embaixador Pimentel Brandão ao MRE, Washington,
29/09/1938. “O Departamento de Estado teve confirmação de que às duas horas da
madrugada de hoje, o exército alemão recebeu ordens de marcha para atacar a
Tchecoslováquia, só tendo sido suspensa a ordem, duas horas antes da execução,
graças à intervenção enérgica do Duce junto a Hitler, atendendo ao apelo supremo que
Roosevelt e Chamberlain dirigiram ao Primeiro Ministro Italiano, cujo povo é francamente
contrário à guerra”;
AHI: telegrama nº 72, do Embaixador Guerra Durval ao MRE, Roma, 29/09/1938.
“Mussolini comunicou-se com Hitler, antes do meio dia, para que fossem sustadas as
operações que deveriam começar às duas horas e combinar uma conferência com Hitler.
Mussolini acaba de partir, às dezoito horas, com o Ministro das Relações Exteriores para
Munique. Na Conferência parece que estarão presentes, também, os Chanceleres da
Inglaterra e da França. Cogita-se iniciar na Conferência, um largo entendimento das
quatro potências”;
AHI: telegrama nº 164, do Embaixador Rodrigues Alves ao MRE, Buenos Aires,
29/11/1938. “O Ministro Cantilo disse que a América, que não teve necessidade de pacto
para fazer a independência, não precisará de alianças preestabelecidas para fazer
respeitar a sua soberania e manter-se longe de todo e qualquer fanatismo de origem
política e religiosa”;
AHI: telegrama nº 151, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Pimentel Brandão,
Washington, 02/12/1938;
AHI: telegrama nº 173, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Pimentel Brandão,
Washington, 22/12/1938. “Após conversações entre os representantes argentinos e
brasileiros, em Lima, a Argentina acabou aceitando a fórmula de segurança coletiva. Os
EUA devem somar esforços para obtermos a unanimidade em favor de uma declaração
conjunta, fortalecendo a solidariedade americana”;
225
AHI: telegrama nº 48, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 08/03/1939;
AHI: telegrama nº 22, do Ministro Oswaldo Aranha ao Secretário Mário da Costa
Guimarães, Washington, 28/01/1939. “O Ministro Oswaldo Aranha irá partir no dia
29/01/1939, com destino a Washington”;
AHI: telegrama nº 31, do Secretário Mário da Costa Guimarães ao MRE, Washington,
30/01/1939. “O Governo Norte-Americano apresentou o protocolo que o Ministro Oswaldo
Aranha deverá seguir”;
AHI: telegrama nº 170, do Embaixador Pimentel Brandão ao MRE, Washington,
08/10/1938. “Empresários norte-americanos pedem as mesmas providências tomadas
pelo Departamento de Estado no caso do México, contra o Brasil”;
AHI: telegrama nº 174, do Embaixador Pimentel Brandão ao MRE, Washington,
09/11/1938. “Sumner Welles enviará um telegrama para o Ministro Aranha insistindo na
solução do caso da dívida externa brasileira”;
AHI: telegrama nº 188, do Embaixador Pimentel Brandão ao MRE, Washington,
29/11/1938.
AHI: telegrama nº 775, do Embaixador Fernando Lobo ao Ministro Oswaldo Aranha,
Washington, 25/11/1943. “O acordo foi assinado ontem”;
AHI: telegrama nº 776, do Embaixador Fernando Lobo ao Ministro Oswaldo Aranha,
Washington, 26/11/1943.
AHI: telegrama nº 112, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza, Washington, 29/06/1939. “O Governo determinou ao Banco do Brasil
226
depositar, nos Estados Unidos da América, U$1 milhão para quitar parte da sua dívida
com credores norte-americanos”;
AHI: telegrama nº 240, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza, Washington, 30/12/1939.
AHI: telegrama nº 48, de Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE, Washington,
08/03/1939. “Entreguei minhas credenciais ao lado do Ministro Oswaldo Aranha. O
Presidente Roosevelt recebeu minhas saudações jovialmente e salientou, desde logo, o
excepcional da audiência, pois, pela primeira vez, declarou, era um Embaixador
apresentado pelo seu Ministro das Relações Exteriores”;
AHI: telegrama nº 52, de Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE, Washington,
15/03/1939. “Senadores norte-americanos protestaram contra a aprovação no
Congresso de créditos para o Brasil”;
AHI: telegrama nº 53, de Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE, Washington,
15/03/1939. “O “Times” e o “Herald” destacaram a pressão da Inglaterra em desviar as
encomendas de armamentos para a América Latina para as suas Forças Armadas.
Argumentam que enquanto outros países oferecem ao Brasil grandes vantagens, os EUA
contribuem com pedidos de solidariedade”;
AHI: telegrama nº 74, de Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE, Washington,
14/04/1939. Discurso de Roosevelt, no Dia do Pan-americanismo, sobre a situação
europeia;
AHI: telegrama nº 87, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 04/05/1939. “O General Marshall chegará ao Rio de Janeiro às 8 horas do
dia 25/05/1939”;
227
AHI: telegrama nº 90, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 13/05/1939;
AHI: telegrama nº 89, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 10/05/1939. “O Departamento de Estado comunicou a vinda do General
Góes Monteiro na viagem de volta do General Marshall aos EUA”;
AHI: telegrama nº 103, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 07/06/1939. “O Presidente Roosevelt receberá o General Góes Monteiro no
dia 22/06/1939 lhe oferecendo um almoço”;
AHI: telegrama nº 110, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 25/06/1939;
AHI: telegrama nº 103, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 06/07/1939;
AHI: telegrama nº 116, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 10/07/1939;
AHI: telegrama nº 124, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 19/07/1939. “O General Góes Monteiro ficou bastante impressionado pela
organização militar americana e espera uma grande cooperação entre os dois Estados-
Maiores”;
AHI: telegrama nº 56, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 21/03/1939. “Roosevelt não reconhece a República da Eslováquia,
considerando a situação com provisória”;
228
AHI: telegrama nº 61, do Ministro Aranha ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle, Berlim,
01/09/1939. “Chamberlain declarou que a Inglaterra e a França irão cumprir à risca os
seus compromissos com a Polônia”;
AHI: telegrama nº 159, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 03/09/1939. “A Inglaterra declarou guerra à Alemanha, após ter expirado a
prazo dado para a retirada das tropas alemães da Polônia. A França acompanha a
decisão britânica”;
AHI: telegrama nº 92, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle,
Berlim, 18/09/1939. “Os temas principais foram: 1)-criar normas comuns de neutralidade;
2)-estudar os meios de manter o continente em paz; 3)- melhorar as relações comerciais
e defender a livre navegação do continente”;
AHI: telegrama nº 170, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 07/10/1939;
“O Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros disse-me que a Alemanha ainda não
havia tomado posição na questão da zona marítima de trezentas milhas”;
AHI: telegrama nº 110, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle,
Berlim, 10/10/1939. “Afirmo que a extensão do limite das águas territoriais não fere a
soberania de outras nações e ajuda na defesa do continente, na tentativa de reduzir os
efeitos da guerra”;
AHI: telegrama nº 109, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 06/09/1939.
“Foi anunciado aqui que um cruzador inglês pôs a pique o navio mercante alemão
“Olinda”, em águas territoriais do Rio Grande do Sul, desrespeitando a neutralidade
brasileira”;
AHI: telegrama nº 219, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 17/11/1939.
“A imprensa alemã informou que o cruzador “Ajax” estaria incumbido de impedir o
229
transporte para a Alemanha e Itália, de matérias-primas e gêneros alimentícios, vindos
do Brasil”;
AHI: telegrama nº 116, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Djalma Ribeiro
Lessa, Santiago, 16/12/1939;
AHI: telegrama nº 197, do Embaixador Djalma Ribeiro Lessa ao MRE, Santiago,
18/12/1939. “O navio mercante alemão “Dusseldorff” foi autorizado a entrar no porto de
Antofagasta, em caráter de presa de guerra, em conformidade com as resoluções da
Conferência do Panamá”;
AHI: telegrama nº 254, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 20/12/1939.
“O Embaixador Uruguaio afirmou que o embate foi realizado em águas territoriais
uruguaias, dentro do Rio da Prata, retorquindo o Secretário de Estado Norte-Americano
e o Governo Inglês, que afirmam ter acontecido fora das três milhas da costa. Outra
preocupação do Uruguai é sobre os protestos do Governo Alemão, contra a pouca
permanência do “Graf Spee” no porto, que pode levar a um rompimento de relações”;
AHI: telegrama nº 293, do Embaixador Carlos Pereira e Souza ao MRE, Washington,
16/12/1939. “Os EUA aceitam participar do protesto se todas as Repúblicas americanas
aderirem”;
AHI: telegrama nº 122, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Djalma Ribeiro
Lessa, Santiago, 23/12/1939. “Aranha informa que o Brasil participará do protesto formal
realizado pelo Governo do Panamá, junto com dezenove nações continentais”;
AHI: telegrama nº 178, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle,
Berlim, 28/12/1939. “O protesto feito aos beligerantes foi realizado pelo Governo do
Panamá, seguindo os acordos de apoio mútuo”;
230
AHI: telegrama nº 37, de Oswaldo Aranha para Cyro de Freitas-Valle, Berlim, 16/02/1940.
Enviei um telegrama dirigido ao Ministro das Relações do Panamá, nos seguintes termos:
“Tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Ex. que, no dia 12 do corrente, o
cargueiro alemão “Wakama” foi afundado pela própria tripulação, a cerca de 20 milhas
do litoral, quando chamado à fala por um navio de guerra inglês, obviamente para fins de
visita e captura. Decorrendo do procedimento do vaso de guerra inglês ato de hostilidade,
classificado como tal pela XIII Convenção de Haia, e praticado nas águas adjacentes ao
Continente americano, que as Repúblicas americanas têm direito de conservar livres de
todo ato hostil, por parte de qualquer nação “beligerante”. Desejo pedir a V. Ex. que se
sirva para consultar os demais países americanos, na forma de precedente já
estabelecido, sobre a conveniência de um protesto coletivo contra essa violação da zona
marítima, que nos comprometemos preservar dos malefícios da guerra”;
AHI: telegrama nº 48, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins Pereira
e Souza, Washington, 25/03/1940. “Peço a V.E. visitar o Secretário de estado, a fim de
apresentar-lhe os nossos vivos agradecimentos pela cooperação que nos prestou o
Governo norte-americano sobre o protesto coletivo no caso do cargueiro alemão”;
AHI: telegrama nº 89, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 01/04/1940;
AHI: telegrama nº 280, do Embaixador Carlos Pereira e Souza ao MRE, Washington,
07/12/1939. “Os EUA aceitam participar do protesto se todas as Repúblicas americanas
aderirem”;
AHI: telegrama nº 221, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza, Washington, 08/12/1939;
AHI: telegrama nº 87, do Embaixador Djalma Ribeiro Lessa ao MRE, Santiago,
06/12/1939. “O Chile não deseja se manifestar sobre conflitos existentes em outros
231
continentes. Alega que não houve protestos nos casos da Áustria, Tchecoslováquia,
Albânia e Polônia”;
AHI: telegrama nº 119, do MRE ao Embaixador Djalma Ribeiro Lessa, Santiago,
21/12/1939. “O ministro Aranha pediu que o Governo Chileno assinasse o protesto, pois
é o único que ainda não o fez”;
AHI: telegrama nº 202, do Embaixador Djalma Ribeiro Lessa ao MRE, Santiago,
22/12/1939. “O Ministro das Relações Exteriores do Chile ficou decepcionado porque em
conversa com o Chanceler Oswaldo Aranha, o Embaixador Chileno, Fontecilla, entendeu
que havia concordância entre os dois países sobre a posição chilena. Fontecilla tivera
impressão que o Ministro Aranha considerava um assunto como de interesse apenas
europeu. A atitude chilena corresponde a razões profundas, livres de qualquer
partidarismo, baseando-se em interesses nacionais, não arriscando, nem mesmo
remotamente, o abandono da neutralidade deste país.”
AHI: telegrama nº 85, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 09/04/1940.
“A Alemanha invadiu a Dinamarca sem resistência e procura desembarcar tropas na
Noruega, que se propõe resistir”;
AHI: telegrama nº 88, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 10/04/1939.
“A situação estratégica da Alemanha ficou muito favorecida com a ocupação da
Dinamarca e da Noruega em face da Grã-Bretanha. Existe um otimismo exagerado em
Berlim”;
AHI: telegrama nº 79, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos
Aires, 12/05/1940. “A Chancelaria argentina sugeriu que os países americanos
reconsiderem sua posição de neutros, para adaptar-se a realidade presente, os
beligerantes não respeitam as regras do direito internacional relativo a neutralidade e
liberdade dos que não querem se envolver na guerra. A neutralidade é ficção, um
conceito morto, que deve ser substituído pelo regime de “não beligerância”, uma posição
de direito forte e ajustada a realidade atual”;
232
AHI: telegrama nº 82, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle,
Berlim 14/05/1940.
AHI: telegrama nº 140, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 13/05/1940;
AHI: telegrama nº 141, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 14/05/1940. “Roosevelt solicitou ao Congresso 896 milhões de dólares para
a defesa nacional, principalmente, para a produção de aviões, a defesa aérea e o
treinamento de pessoal”;
AHI: telegrama nº 310, do Secretário Arno Konder ao MRE, Washington, 07/11/1940.
“Roosevelt foi reeleito (05/11/1940) por mais de vinte e cinco milhões de votos e margem
de quatro milhões sobre o seu adversário”;
AHI: telegrama nº 90, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos
Aires, 18/05/1940. “O Chanceler argentino depois da reunião da Comissão de Relações
Exteriores do Senado e das críticas que lhe tem sido feitas pelos partidários da extrema
direita, mostra-se medroso e covarde, diante dos sucessos europeus. Ontem, elementos
de direita tentaram fazer uma manifestação pública contra o Chanceler, mas foram
impedidos pela polícia, que patrulha armada com fuzis, as cercanias do Ministério das
Relações Exteriores”;
AHI: telegrama nº 111, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos
Aires, 09/06/1940. “O Governo argentino que desejava abandonar a neutralidade e se
colocar dentro do Estado de “não-beligerância”, voltou atrás, impressionado pelas
atividades dos que se mostram simpáticos à causa germânica, pela natural atração do
êxito e dos sucessos das armas do Reich. A situação torna-se difícil e delicada, porque
dentro das Forças Armadas dominam elementos que se simpatizam com a Alemanha”;
233
AHI: telegrama nº 58, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador José de Paula
Rodrigues Alves, em Buenos Aires, 15/05/1940. “Já respondi ao Governo Uruguaio que
o Governo Brasileiro está de acordo com a fórmula proposta, mas estimaria incluir o
aditamento argentino”;
AHI: telegrama nº 62, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador José de Paula
Rodrigues Alves, em Buenos Aires, 17/05/1940;
AHI: telegrama nº 90, do MRE ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle, em Berlim,
20/05/1940. “O Governo do Panamá formulou um protesto conjunto das 21 Repúblicas
americanas contra a violação da soberania e da neutralidade de Bélgica, Holanda e
Luxemburgo. O protesto se funda aos itens quatro e cinco da declaração do Panamá”;
AHI: telegrama nº 143, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 27/05/1940.
“Resposta do Governo alemão: como os países europeus, em virtude da Doutrina
Monroe, não se intrometem em pendências interamericanas, não podem, em
consequência, tornar os países americanos partido em pendências europeias”;
AHI: telegrama nº 143, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim 07/06/1940;
AHI: telegrama nº 198, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 22/06/1940;
AHI: telegrama nº 200, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 27/06/1940. “Propostas que serão levadas por este governo à Conferência
de Havana: 1)- neutralidade e Paz no Continente; 2)- garantia do “status quo” das
colônias europeias no continente, conforme a Resolução nº 16 do “Acordo do Panamá”;
3)- criação de um Banco (Interamericano) no desenvolvimento das economias das
Repúblicas Americanas”;
234
AHI: telegrama nº 201, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 28/06/1940;
AHI: telegrama nº 138, de José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos Aires,
19/07/1940. “A Argentina é contrária à tutela das colônias europeias, afirmando ser uma
provocação diante da declaração da Alemanha que a América deve pertencer aos
americanos, como a Europa aos europeus”;
AHI: telegrama nº 139, de José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos Aires,
22/07/1940;
AHI: telegrama nº 146, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza, Washington, 20/07/1940;
AHI: telegrama nº 127, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos
Aires, 26/06/1940;
AHI: telegrama nº 141, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza, Washington, 18/07/1940. “Afirmamos que o mandato deve ser efetuado
por uma única República para evitar conflitos de administração”;
AHI: telegrama nº 106, do Embaixador S. Souza Leão Gracie ao MRE, Santiago,
26/07/1940;
AHI: telegrama nº 163, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 01/06/1940, “O Presidente Roosevelt solicitou, ao Congresso, mais de um
bilhão de dólares de crédito adicional para a produção de material bélico”;
AHI: telegrama nº 173, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 10/06/1940;
235
AHI: telegrama nº 344, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 05/09/1940.
“O Governo alemão protestou contra o arrendamento dos 50 destróieres norte-
americanos à Grã-Bretanha”;
AHI: telegrama nº 250, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 19/08/1940;
AHI: telegrama nº 47, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 08/03/1941;
AHI: telegrama nº 517, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 22/08/1943;
AHI: telegrama nº 69, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 08/02/1943. “Recebido, às 4 horas e meia, pelo Secretário de Estado,
entreguei-lhe, pessoalmente, a nota comunicando a adesão formal do Brasil à
Declaração das Nações Unidas e à Carta do Atlântico”;
AHI: telegrama nº 90, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 22/02/1943;
AHI: telegrama nº 32, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 10/01/1942. “Causou péssima impressão nos meios políticos, a declaração
do Ministro das Relações Exteriores Argentino sobre a atitude que vai assumir na reunião
do Rio de Janeiro. O “New York Times” em Buenos Aires, afirma que houve acalorada
discussão entre a Delegação Argentina e a Delegação Chilena, tendo o Ministro das
Relações Exteriores Chileno, antecipado a sua partida de Buenos Aires para o Rio de
Janeiro”;
AHI: telegrama nº 45, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 14/01/1942;
236
AHI: telegrama nº 50, do Embaixador Heitor Lyra ao MRE, Buenos Aires, 23/01/1942. “O
Estado-Maior Argentino se opõe a qualquer compromisso que implique no rompimento”;
AHI: telegrama nº 210, do Embaixador Heitor Lyra ao MRE, Buenos Aires, 30/12/1941;
AHI: telegrama nº 295, de S. de Souza Leão Gracie ao MRE, Santiago, 29/12/1941. “O
Ministro das Relações Exteriores me assegurou que a cooperação chilena para a defesa
continental de auxílio os Estados Unidos será absoluta, sem concordar contudo com a
declaração de guerra que só exporia o Chile a grandes perigos. Tão pouco acha
conveniente o rompimento das relações e acha que os países pequenos não devem ter
iniciativa nesses assuntos que mais afetam os grandes”;
AHI: telegrama nº 3, do Embaixador S. de Souza Leão Gracie ao MRE, Santiago,
05/01/1942;
AHI: telegrama nº 4, do Embaixador S. de Souza Leão Gracie ao MRE, Santiago,
05/01/1942. “O Ministro das Relações Exteriores informa que a notícia sobre a presença
de submarinos japoneses na costa chilena é verdadeira, e que este Governo não
confirmou para evitar o pânico. Informou-me que pediu ao Governo americano o envio
de uma esquadra para patrulhar estes mares, que já deve estar a caminho”;
AHI: telegrama nº 18, do Embaixador S. Souza Leão Gracie ao MRE, Santiago,
20/01/1943;
AHI: telegrama nº 22, do Embaixador S. de Souza Leão Gracie ao MRE, Santiago,
22/01/1940. “O Chile não aceita a ruptura com as Potências do Eixo”;
AHI: telegrama nº 4, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador C. A. Moniz Gordilho,
Roma, 08/01/1942. “Disse ao embaixador para a Itália ir se preparando, pois a
possibilidade de rompimento de relações é muito grande”;
237
AHI: telegrama nº 39, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Heitor Lyra, Berlim,
28/01/1942;
AHI: telegrama nº 25, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador C. A. Moniz Gordilho,
Roma, 28/01/1942;
AHI: telegrama nº 51, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 19/01/1942. “A imprensa norte-americana enalteceu a cooperação do Brasil
para a unidade de pensamento das Américas diante da guerra. O Brasil, segundo ela,
assume a liderança do rompimento com as Nações do Eixo e, pedem que o Presidente
Vargas interceda ao Presidente Argentino que reveja sua posição”;
AHI: telegrama nº 56, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 20/01/1942. “Cordell Hull salientou que o discurso do Presidente Vargas na
Associação Brasileira de Imprensa, demonstra, mais uma vez, o seu compreensivo e
claro descortínio da solidariedade econômica, da segurança e do bem-estar de todas as
nações americanas”;
AHI: telegrama nº 67, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 24/01/1942. “Políticos e imprensa norte-americanos protestam contra a
declaração final da Conferência, que recomenda e não obriga o rompimento integral.
Dizem que foi a “maior vitória diplomática da Argentina””;
AHI: telegrama nº 127, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza, Washington, 06/05/1941;
AHI: telegrama nº 451, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza, Washington, 24/12/1941;
DAP: telegrama nº 602, do Embaixador Norman Armour ao Ministro Ruiz Guiñazú,
Buenos Aires, 24/11/1941. “Tengo la honra de informar a Vuestra Excelencia que el
238
Gobierno de los Países Bajos ha invitado al Gobierno de los Estados Unidos de América,
así como al Gobierno del Brasil, a participar en medidas de defensa para la protección
de importantes minas de bauxita en Surinam. Los Estados Unidos ya han enviado un
pequeño contingente de fuerzas a Surinam de acuerdo con esa propuesta. El Gobierno
del Brasil está preparando el envío de una misión a Paramaribo y ha acordado ejercer
medidas especiales de vigilancia militar a lo largo de la frontera entre Surinam y Brasil”;
AHI: telegrama nº 74, do Embaixador S. de Souza Leão Gracie ao MRE, Santiago,
17/03/1942. “O navio Tolden foi torpedeado na costa oriental dos EUA”;
AHI: telegrama nº 37, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador S. de Souza Leão
Gracie, Santiago, 17/03/1942. “Queira transmitir a esse Governo a nossa inteira
solidariedade e os sentimentos de revolta que experimentamos pelo afundamento do
vapor chileno “Tolten” e o sacrifício de quase toda a sua tripulação”;
AHI: telegrama nº 78, do Embaixador S. de Souza Leão Gracie ao MRE, Santiago,
19/03/1942;
AHI: telegrama nº 292, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza, Washington, 29/07/1942;
AHI: telegrama nº 776, do Embaixador Fernando Lobo ao MRE, Washington, 26/11/1943;
AHI: telegrama nº 331, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 04/06/1943. “O Secretário do Tesouro enviou-me, devidamente assinada, a
carta do aumento de crédito para 200 milhões”;
AHI: telegrama nº 161, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 31/05/1940. “O empréstimo inicial seria de 10 milhões de dólares, podendo
ser, entretanto, essa soma aumentada de acordo com as necessidades do plano
brasileiro”;
239
AHI: telegrama nº 275, do Embaixador Carlos Martins Perreira e Souza ao MRE,
Washington, 26/09/1940. “O valor do empréstimo seria de 20 milhões de dólares, pelo
prazo de 12 anos a juros de 4%; O Export Bank financiou a empreitada em U$ 20 milhões
de dólares, indo até a U$ 25 milhões, com prazo de 10 anos para pagar, com carência
de 3 anos e juros de 4%”;
AHI: telegrama nº 54, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 30/01/1943. “A Imprensa registra com especial realce a Conferência de
Natal entre os Presidentes Getúlio Vargas e Franklin Roosevelt e as principais decisões
adotadas: 1)- O Brasil cederia navios para a Marinha mercante norte-americana; 2)- A
criação de uma força militar para atuar na linha de frente”;
AHI: telegrama nº 163, do Embaixador Fernando Lobo ao MRE, Washington, 06/03/1945.
“O pacto do México mostra que os países americanos já não temem o imperialismo dos
EUA, ao lhe entregarem a principal responsabilidade na futura manutenção da paz”;
AHI: telegrama nº 8, do Embaixador Paulo Demoro ao MRE, Buenos Aires, 10/01/1945.
“O Governo Argentino declarou ao Conselho Diretor da União Pan-Americana: “Tenho a
honra de informar a Vossa Excelência que enquanto subsistirem os desconhecimentos
dos direitos da Argentina e a alteração no processo de consulta, este Governo resolveu
abster-se de tomar parte nas reuniões da União Pan-Americana””;
AHI: telegrama nº 32, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 11/01/1945;
AHI: telegrama nº 56, do Embaixador Paulo Demoro ao MRE, Buenos Aires, 17/03/1945.
“... os oficiais nacionalistas, aquartelados no Campo de Maio, continuam se opondo a
declarar guerra às Potências do Eixo.”;
AHI: telegrama nº 59, do Embaixador Paulo Demoro ao MRE, Buenos Aires, 20/03/1945;
240
AHI: telegrama nº 65, do Embaixador Paulo Demoro ao MRE, Buenos Aires, 27/03/1945.
“Às 13 horas foi declarado, na Casa Rosada, que a Argentina se encontra em estado de
guerra com a Alemanha e o Japão”.
AHI: telegrama nº 115, de Carlos Martins Pereira e Souza, Washington, 14/02/1945. “A
escolha da data decorre da expiração do “Pacto de Não Agressão” entre a URSS e o
Japão que termina no dia 24/04/1945. Espera-se que a URSS modifique sua posição em
face do Japão”;
AHI: telegrama nº 257, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 04/04/1945;
AHI: telegrama nº 85, de Carlos Martins Pereira e Souza, Washington, 01/02/1945;
AHI: telegrama nº 181, de Carlos Martins Pereira e Souza, Washington, 13/02/1945;
CAPÍTULO Nº 2:
AHI: telegrama nº 17, do Embaixador Moniz Aragão ao MRE, Berlim, 19/02/1938. “Alguns
jornais publicaram o fechamento de escolas alemãs no Brasil, sem qualquer referência a
qualquer organização nacional socialista”;
AHI: telegrama nº 16, do Ministro Mário Pimentel Brandão ao Embaixador Moniz Aragão,
Berlim, 18/02/1938. “O Embaixador Alemão, Ritter, veio ver-me para protestar sobre o
fechamento das organizações nazistas em alguns Estados, principalmente, no sul do
país. Informou, caso esta medida fosse mantida, as relações entre os dois países seriam
seriamente comprometidas. Salientei que sabia dos riscos que o Brasil estava tomando,
afirmando que não abriria mão das resoluções tomadas. Inclusive, salientou que a
Alemanha agiria da mesma maneira caso se tratasse de organizações brasileiras no
território alemão”;
241
AHI: telegrama nº 34, do Embaixador Moniz Aragão ao MRE, Berlim, 24/03/1938. “O
texto alemão fala dos fatos lamentáveis que determinaram medidas contra elementos
alemães e suas organizações no Brasil. Faz um apelo para que o Presidente Vargas
consiga rapidamente, resolver as dificuldades internas e criar condições que permitam o
desenvolvimento pacífico dos elementos alemães e suas organizações no Brasil”;
AHI: telegrama nº 33, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Moniz Aragão, Berlim,
13/04/1938. “Queira informar a esse Governo que o Cônsul Alemão, Karl Steiner, em
Florianópolis, tem se tornado indesejável para as autoridades locais, devido as suas
atitudes políticas inconvenientes. Antes de ter cassado seu “exequatur”, gostaríamos que
fosse retirado ou que, pelo menos, fosse chamado à ordem”;
AHI: telegrama nº 61, de Moniz Aragão ao MRE, Berlim, 16/05/1938. “O Diretor Político
do Ministério dos Negócios Estrangeiros prometeu examinar a questão com maior rigor,
sobre o Cônsul Karl Steiner, tendo manifestado a maior boa vontade”;
AHI: telegrama nº 49, de Oswaldo Aranha para Moniz Aragão, Berlim, 18/05/1938.
“Parece-nos estranho a demora na solução do caso de Karl Steiner pelo Governo
Alemão, pois o assunto foi comunicado a este governo, há mais de um mês, precisamente
a 13/04/1938. Surge-nos agora nova reclamação das autoridades locais, que pede não
só a retirada de Karl Steiner, mas também de Rodolfo Müller, Cônsul Alemão em Curitiba.
Rogo fazer sentir a esse governo, que nos seria penoso ter que cassar o “exequatur” de
representantes de um país amigo”;
AHI: telegrama nº 32, de Moniz Aragão a Oswaldo Aranha, Berlim, 22/03/1938. “A
“Correspondência Diplomática”, órgão oficioso do Ministério das Relações Exteriores
Alemão, publicou comentários relativos à suposta situação de desarmonia existente entre
as autoridades brasileiras e os elementos alemães, residentes no Brasil, como
consequência das novas medidas que impedem o desenvolvimento das organizações
alemães”;
242
AHI: telegrama nº 27, do MRE ao Embaixador Moniz Aragão, Berlim, 25/03/1938. “O
Embaixador Ritter afirma que o “Correspondência Diplomática” é órgão oficial, e não
oficioso, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e que as publicações feitas são
oriundas do Ministério e não do Partido Nacional Socialista, que tem outro órgão”;
AHI: telegrama nº 51, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Moniz Aragão, Berlim,
21/05/1938;
AHI: telegrama nº 24, do Embaixador Guerra Durval ao MRE, Roma, 19/05/1938. “O
Ministro das Relações Exteriores da Itália convocou-me para falar sobre as novas
disposições legais que fixarão a admissão das atividades de estrangeiros no Brasil.
Estava preocupado com as atividades dos italianos, que poderiam sofrer sérias
perturbações sob a nova legislação brasileira. Falou sobre a amizade ítalo-brasileira,
afirmando que o Brasil era o verdadeiro representante da latinidade na América. No final,
argumentou que as associações italianas sempre colaboraram e respeitaram a soberania
brasileira. Gostaria que o Ministro Oswaldo Aranha lhe enviasse informações mais
detalhadas e tranquilizadoras sobre o assunto”;
AHI: telegrama nº 47, de Oswaldo Aranha para Moniz Aragão, Berlim, 16/05/1938.
“Queira informar a esse governo de que a detenção do Sr. Koenig, ao chegar a São
Paulo, se prende à circunstância de ter sido assinalado o seu automóvel nas imediações
do Palácio Guanabara, na madrugado do ataque. Depois de feitas averiguações, ele foi
imediatamente posto em liberdade. As manifestações recentes da imprensa com relação
à participação de alemães no golpe, intentado contra Vargas, foram motivadas pelo fato
de ser um dos autores, antigo oficial do Exército, representante de firmas alemãs. Devido
às medidas tomadas pelo governo, o tom da imprensa já se acha muito atenuado, mas,
tal seja a atitude da imprensa desse país, este governo não verá porque impedir as
reações dos noticiários no Brasil”;
243
AHI: telegrama nº 62, do Embaixador Moniz Aragão ao MRE, Berlim, 16/05/1938. “O
Diretor dos Negócios Políticos da América mostra-se muito apreensivo a respeito das
relações teuto-brasileiras, que podem, segundo afirma, chegar à ruptura. Ele deseja
resolver o incidente e continuar a manter boas relações entre os dois países, tendo em
vista os grandes interesses comerciais. A imprensa em geral, desde sábado, começou
em termos violentos a prevista campanha contra nós, tomando como pretexto os ataques
da imprensa brasileira, que acusa a Alemanha de haver auxiliado o movimento
revolucionário integralista”;
AHI: telegrama nº 64, do Embaixador Moniz Aragão ao MRE, Berlim, 17/05/1938.
“Acredito que a liberação do Sr. Koenig será recebida com satisfação e hoje já não
aparecem, nos jornais, ataques contra o Brasil”;
AHI: telegrama nº 71, do Embaixador Moniz Aragão ao MRE, Berlim, 25/05/1938;
AHI: telegrama nº 73, do Ministro Aranha ao Embaixador Moniz Aragão, Berlim,
24/08/1938. “deve estar chegando aí, o Embaixador Ritter, que, em certas ocasiões se
torna aqui francamente indesejável. Receio que a sua permanência aqui não seja
favorável às boas relações que desejamos manter com esse país. Julgo, pois, que em
benefício de tais relações, seria preferível que esse Governo o substituísse por quem
possua mais tacto e melhor conhecimento das boas normas diplomáticas”;
AHI: telegrama nº 95, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Moniz Aragão, Berlim,
05/10/1938. “O Encarregado de Negócios da Alemanha apresentou nota estranhando o
pedido de retirada do seu Embaixador. Respondi-lhe que a retirada fora solicitada no
desejo de melhor servir as relações teuto-brasileiras”;
AHI: telegrama nº 84, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Moniz Aragão, Berlim,
21/09/1938;
AHI: telegrama nº 111, do Embaixador Moniz Aragão ao MRE, Berlim, 30/09/1938. “O
Subsecretário dos Negócios Estrangeiros disse-me que sente muito o pedido de retirada
244
dos embaixadores. Repliquei, invocando as reiteradas atitudes de Ritter, que tanto
prejudicou as relações entre os dois países. Ele afirmou que o assunto será liquidado
pelo Encarregado de Negócios Alemão no Brasil, logo após a chegada de Hitler a Berlim,
proveniente de Gênova”;
AHI: telegrama nº 96, de Oswaldo Aranha para Moniz Aragão, Berlim, 06/10/1938. “Peço
para que o senhor comece preparar a sua volta ao Brasil”;
AHI: telegrama nº 114, do Embaixador Moniz Aragão ao MRE, Berlim, 06/10/1938.
“Enviei nota ao Governo Alemão, comunicando a minha chamada ao Rio de Janeiro para
ocupar novo posto”;
AHI: telegrama nº 120, do Embaixador Moniz Aragão ao MRE, Berlim, 21/10/1938. “Sigo
hoje para Paris, a fim de poder embarcar a doze de novembro no “Alcântara””;
AHI: telegrama nº 30, do Secretário Themistocles da Graça Aranha ao MRE, Berlim,
15/05/1939. “O Embaixador Prüefer foi Ex-Ministro na Albânia e, nos últimos anos, Diretor
Geral no Ministério das Relações Exteriores. Goza de excelente reputação em todos os
meios e parece ser pessoa de tato”;
AHI: telegrama nº 39, do Secretário Themistocles da Graça Aranha ao MRE, Berlim,
08/06/1939. “O Governo brasileiro solicitou ao Governo alemão a concessão de agrément
para o novo Embaixador, Sr. Freitas Valle, a ser enviado pelo Brasil. Por parte da
Alemanha foi enviado, para o Rio de Janeiro, o Sr. Kurt Prüefer como novo Embaixador,
para quem o Governo brasileiro concedeu, no mesmo dia, o agrément”;
AHI: telegrama nº 24, do Embaixador Guerra Durval ao MRE, Roma, 19/06/1938. “O
Ministro Ciano falou, preocupado, sobre a nova lei sobre as atividades de estrangeiros
no Brasil, que poderia perturbar as costumeiras atividades dos italianos, colaboradores
modelares, sempre respeitosos à soberania brasileira. Depois de discorrer,
245
calorosamente, sobre a amizade ítalo-brasileira e de afirmar, mais uma vez, que
considera o Brasil o verdadeiro representante da latinidade na América”;
AHI: telegrama nº 40, do Embaixador Guerra Durval ao MRE, Roma, 27/06/1938. “O
Ministro dos Negócios Estrangeiros da Itália recebeu um telegrama da sua embaixada,
no Rio de Janeiro, dizendo que o Tenente Fournier tinha sido levado a mesma, por dois
oficiais brasileiros fardados, sendo um deles irmão do Ministro das Relações Exteriores
(Oswaldo Aranha), para pedir asilo político. O Ministro assegurou que o Governo italiano
suspenderá, temporariamente, o pedido em consideração as relações amistosas entre
os dois países, tomando uma solução rápida após uma conversa com o seu embaixador”;
AHI: telegrama nº 41, do Embaixador Guerra Durval ao MRE, Roma, 01/07/1938. “O
Ministro dos Negócios Estrangeiros repetiu que enviou instruções ao seu embaixador
para resolver o caso de maneira a não perturbar as relações com o Brasil. Foram
enviados quatro telegramas para o embaixador e em um deles, o Governo Italiano
observou que não era caso de asilo. Apesar de tudo isso, o Ministério Italiano não julga
possível a entrega do refugiado, desejando que, de alguma outra maneira, ele abandone
a embaixada, sem intervenção imediata das autoridades brasileiras”;
AHI: telegrama nº 44, do Embaixador Guerra Durval ao MRE, Roma, 05/07/1938;
AHI: telegrama nº 43, do Embaixador Guerra Durval ao MRE, Roma, 02/07/1938. “O
Ministro dos Negócios Estrangeiros informou que pretende telegrafar novamente ao
embaixador, reconhecendo a necessidade de resolver o caso imediatamente. Afirmou
que falara com o Chefe de Governo (Mussolini) que se mostrou incomodado com o
aspecto que está tomando o assunto, pela demora da solução. Disse-me que o
embaixador deveria conduzir o refugiado à Cidade ou à Tijuca e desembaraçar-se dele.
Repetiu que o desejo deste governo é não perturbar as excelentes relações ítalo-
brasileiras”;
246
AHI: telegrama nº 51, do MRE ao Embaixador Guerra Durval, Roma, 08/07/1938.
“Atendendo aos desejos desse governo e de membros proeminentes de sua colônia no
Brasil, o Tenente Fournier foi retirado da Embaixada Italiana, por dois coronéis do
Exército e recolhido em uma fortaleza. O fato não despertou nenhuma comoção, e em
nada afetou o melindre da representação italiana, resolvendo-se assim, a contento o
problema da tentativa de asilo político do tenente sublevado. Queira V. Ex. expressar os
agradecimentos do Governo Brasileiro pelo o espírito de colaboração amistoso
manifestado pelo Governo Italiano na solução deste caso”;
AHI: telegrama nº 111, do Embaixador Rodrigues Alves ao MRE, Buenos Aires,
03/09/1939. “O Embaixador Norte-Americano disse-me, confidencialmente, haver feito
entrega ao Ministro das Relações Exteriores Argentino, de uma comunicação do Governo
Norte-Americano, convidando a República Argentina para, conjuntamente, com Brasil,
Chile, Peru, Colômbia, Panamá, México e Cuba, fazerem aos demais países americanos
uma consulta, conforme o estabelecido na convenção pan-americana para examinar a
situação, diante da guerra europeia. A consulta irá indicar o Panamá como o ponto de
reunião dos Ministros ou dos seus representantes”;
AHI: telegrama nº 116, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza, Washington, 20/10/1939. “A Embaixada do Chile informou que o
Governo Chileno pretende conseguir um dos sete lugares de perito na “Comissão
Permanente de Neutralidade”, pedindo apoio do Brasil. A Embaixada do México enviou-
nos um memorando com o mesmo fim”.
AHI: telegrama nº 212, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 21/10/1939. “A fim de evitar a apresentação de candidaturas independentes
de um critério previamente adotado, Sumner Welles, o Embaixador da Argentina, o
Embaixador do México e eu, combinamos apoiar a reunião de 11 de novembro, que
resolverá sobre o assunto. O critério geográfico determinou a formação da Comissão. Ela
será composta dos seguintes países: Brasil, Chile, Costa Rica, México, Argentina e EUA.
247
O sétimo lugar seria dado à Venezuela, que apresentou na reunião do Panamá um
projeto sobre neutralidade”;
AHI: telegrama nº 129, do Embaixador Rodrigues Alves ao MRE, Buenos Aires,
20/09/1939. “Os técnicos navais argentinos pensam que não se deve fazer nenhuma
distinção entre navios de guerra e submarinos, desde que estes naveguem na superfície”;
AHI: telegrama nº 216, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 21/10/1939. “O Presidente Roosevelt, em entrevista à imprensa, informou
que a medida das águas territoriais é questão de defesa nacional dependente do
interesse e da necessidade dessa defesa. O Presidente declarou também ignorar a
atitude dos países latino-americanos a respeito do tratamento dos submarinos”;
AHI: telegrama nº 260, de Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE, Washington,
20/11/1939. “Fui informado, confidencialmente, pelo Departamento de Estado Norte-
Americano, de que o Governo Britânico irá aplicar o sistema “navicert”, com o fim de
facilitar o comércio legítimo com as nações neutras, principalmente, com os exportadores
norte-americanos”;
AHI: telegrama nº 184, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 13/06/1940
“Preciso saber:1)-Se o material, ainda que partindo de um porto italiano, tem, da parte
dos aliados, livre passagem; 2)-Quando o “Almirante Alexandrino” partirá, pois sem haver
certeza da partida sem empecilho, não se pode autorizar o transporte até Gênova; 3)-No
caso da viagem do navio ser facilitada pelos aliados, talvez, seja aconselhável fazer
prevenir o Governo Italiano”;
AHI: telegrama nº 126, do MRE ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle, Berlim, 14/06/1940.
“O material bélico será enviado para Gênova, devido ao bloqueio naval britânico aos
portos alemães”;
248
AHI: telegrama nº 130, do MRE ao Embaixador Cyro Freitas-Valle, Berlim, 15/06/1940.
“O “Almirante Alexandrino” está em Gênova, aguardando a chegada de tubos e munições
de canhões antiaéreos de 88 mm”;
AHI: telegrama nº 195, do Embaixador Cyro Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 17/06/1940;
AHI: telegrama nº 217, do Embaixador Cyro Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 27/06/1940.
“...com as dificuldades de trânsito na Itália parece-me impossível a conclusão do
embarque antes de oito dias”;
AHI: telegrama nº 159, do MRE ao Embaixador Cyro Freitas-Valle, Berlim, 04/07/1940.
“O “Almirante Alexandrino” deve deixar Gênova, amanhã, vindo para o Brasil, levando a
bordo, como única carga, o material bélico para o nosso Exército procedente daí. O
Comandante foi autorizado a tocar em Lisboa ou ilhas do Cabo Verde para
abastecimento”;
AHI: telegrama nº 143, do Embaixador Pedro Leão Veloso ao MRE, Roma, 05/07/1940.
“Informo que dezesseis tubos de canhões antiaéreos e oito caixas de peças eco
sondadoras não puderam ser embarcadas no “Almirante Alexandrino”, que parte amanhã
de manhã, às 10 horas. Esse equipamento bélico deverá esperar outro navio do Lloyd.
O “Almirante Alexandrino” terá que aportar em Lisboa para se abastecer de combustível”;
AHI: telegrama nº 338, do MRE ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle, Berlim, 02/12/1940.
“O “Siqueira Campos” continua retido em Gibraltar”;
AHI: telegrama nº 343, do MRE ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle, Berlim, 16/12/1940.
“Resolvido à questão sobre a demora do “Siqueira Campos” em Gibraltar, este
prosseguirá viagem, para o Brasil, com todo o armamento”.
AHI: telegrama nº 254, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza, Washington, 16/12/1940. “Procure o Departamento de Estado e
249
agradeça em nosso nome o apoio amigo e decisivo desse Governo no caso do “Siqueira
Campos”...”;
AHI: telegrama nº 255, do Secretário Arno Konder ao MRE, Washington, 17/12/1940.
“Transmiti, ontem mesmo, os agradecimentos de V.E. e os do Ministro da Guerra”;
AHI: telegrama nº 345, do MRE ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle, Berlim, 19/12/1940.
“Queira prevenir, imediatamente esse Governo que o “Siqueira Campos” partirá de
Gibraltar no dia 21 do corrente com destino ao Brasil”;
AHI: telegrama nº 405, do Embaixador Pedro Leão Veloso ao MRE, Roma, 06/12/1940.
“A imprensa tem dado grande destaque as notícias do caso “Itapé”, descrevendo a
indignação dos nossos jornais. Anuncia-se a provável convocação da Comissão Pan-
americana de Neutralidade, recomendando que seja feito um protesto coletivo, para
aplicação de sanções contra a Inglaterra”;
AHI: telegrama nº 116, do MRE ao Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza,
26/03/1942. “Informo que existem bases de abastecimentos de submarinos inimigos nos
portos de Mauá e Saint-Laurent, na Guiana Francesa. Há suspeitas de existiram outras
bases na Martinica. Favor informar esse Governo”;
AHI: telegrama nº 218, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 27/06/1940.
“Como aqui existe muita especulação a respeito da futura Conferência Interamericana na
Havana, agradeceria receber alguma informação sobre o assunto”;
AHI: telegrama nº 283, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 21/07/1940.
“Grande curiosidade reina aqui, sobre o evento em Havana. Dizem os alemães que o
Presidente Roosevelt quer “Balkanizar” os Estados Latino-americanos para tratá-los
como a Rússia protetora tratava os Balkans em 1914”.
250
AHI: telegrama nº 172, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 16/06/1941;
AHI: telegrama nº 174, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 18/06/1941. “O Governo Norte-Americano proibiu, até nova ordem, a saída
dos EUA de todo e qualquer cidadão alemão, mesmo diplomata, a fim de evitar a saída
de fundos alemães bloqueados”;
AHI: telegrama nº 186, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 21/06/1941. “...Os EUA pedem ao Governo Italiano a retirada de todos os
seus Cônsules do território norte-americano”;
AHI: telegrama nº 216, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 18/06/1941.
“A expulsão dos cônsules da Alemanha nos Estados Unidos da América causou grande
indignação, e é de temer-se que Berlim queira distribuir o seu numeroso pessoal pelos
países latino-americanos”;
AHI: telegrama nº 221, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 20/06/1941.
“O Governo Alemão, como reciprocidade, fechou todos os Consulados Norte-Americanos
e a American Express, utilizando-se dos mesmos argumentos da nota norte-americana”;
AHI: telegrama nº 186, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 16/06/1941. “O Governo Estadunidense enviará uma nota de protesto sobre
o torpedeamento de navio americano (“Robin Merr”) no Atlântico Sul, exigindo reparações
e outras garantias. Caso a Alemanha, não aceder a todas as exigências da nota norte-
americana, segundo Sumner Welles, os EUA romperão as relações diplomáticas,
imediatamente”;
AHI: telegrama nº 263, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 09/07/1941.
“O Governo Alemão protestou contra a ocupação norte-americana da Islândia, colocando
tropas na zona de guerra”;
251
AHI: telegrama nº 419, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza, Washington, 11/12/1941. “O Embaixador alemão comunicou-nos, hoje,
que seu Governo declarou guerra aos EUA, responsabilizando disso o Presidente
Roosevelt. Disse que o Governo Brasileiro não se deveria deixar impressionar pelos
americanos do norte, cujo cínico objetivo é servir os seus próprios interesses.
Acrescentou ser inteiramente falso, tudo quanto se tem dito sobre as ambições alemãs
na América do Sul e, que esperava que o Governo Brasileiro não visse razão para mudar
sua atitude de completa neutralidade com relação à Alemanha. Aguardamos
comunicação semelhante da Itália”;
AHI: telegrama nº 414, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 11/12/1941. “O Congresso Norte-Americano acaba de reconhecer o estado
de guerra com a Alemanha e a Itália, em face da declaração de guerra pelos referidos
países, pela manhã, aos EUA”;
AHI: telegrama nº 370, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 20/11/1941. “Fui informado de que são rigorosamente exatos os quatro
pontos publicados, ontem, oficiosamente, pela imprensa, como tendo sido apresentados
pelo Sr. Cordell Hull ao Embaixador Saburu Kurusu: 1)-abandono do Eixo pelo Japão; 2)-
renúncia à política de agressão; 3)- retirada das forças japonesas da China e Indochina;
4)-indiscriminada e igual liberdade de comércio para todas as nações do Pacífico. Os
EUA esperam resposta do Japão”;
AHI: telegrama nº 398, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 07/12/1941. “O Presidente Roosevelt anunciou: “Os japoneses atacaram
Pearl Harbour, base naval nas ilhas do Havaí, por forças aéreas e navais”. “Atacaram,
igualmente, as bases militares de Manila, nas Filipinas”. Afirmou que esses ataques se
realizaram quando ambas as nações estavam em paz e, uma hora depois do Embaixador
Japonês e o Enviado Especial Saburu Kurusu terem entregado ao secretário de estado,
Cordell Hull, a resposta japonesa do memorando de novembro”;
252
AHI: telegrama nº 399, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 07/12/1941. “O secretário Cordell Hull recebeu das mãos do Embaixador
japonês Nomura e do Enviado Especial Kurusu a resposta do Japão ao memorando de
novembro. Hull disse que em todas as minhas conversações com Vossa Excelência
(Nomura), durante os últimos nove meses, jamais proferi uma palavra de inverdade. Nos
meus cinquenta anos de vida pública, eu nunca vi um documento tão cheio de infames
falsidades e desvirtuamento dos fatos, e em escala tão vasta que nunca imaginei que
qualquer governo deste planeta fosse capaz de proferi-los”;
AHI: telegrama nº 403, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 08/12/1941. “O Congresso Norte-Americano votou o estado de guerra entre
o Japão e os EUA, com unanimidade no Senado e somente um voto de oposição na
Câmara”;
AHI: telegrama nº 407, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 09/12/1941. “O Governo Norte-Americano enviou um memorando a todas
as Repúblicas Americanas, propondo uma reunião de consulta entre os Ministros das
Relações Exteriores Americanos”;
AHI: telegrama nº 488, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 31/12/1941. “A Venezuela notificou ao Governo Norte-Americano o
rompimento das relações diplomáticas com a Alemanha, Itália e Japão”;
AHI: telegrama nº 19, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle,
Berlim, 10/01/1942;
AHI: telegrama nº 405, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza, Washington, 08/12/1941. “Foi enviado um telegrama do nosso
Presidente da República ao Presidente Roosevelt, comunicando-lhe a solidariedade do
Brasil, ante a agressão japonesa. Será publicada uma nota, comunicando essa resolução
253
ao povo e, apelando para que mantenha a ordem e a tranquilidade necessárias à ação
do Governo. Julgamos necessária e urgente, uma reunião dos Ministros das Relações
Exteriores, a fim de dar forma à solidariedade continental. Parece-nos que a convocação
deve partir dos EUA, que foi agredido”;
AHI: telegrama nº 420, do MRE ao Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza,
Washington, 12/12/1941. “O Embaixador do Brasil nos EUA foi autorizado pelo
Presidente da República a reafirmar ao Governo Norte-Americano, a atitude do Brasil
ante a declaração de guerra da Alemanha e Itália”;
AHI: telegrama nº 39, do MRE ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle, Berlim, 28/01/1942.
“Na Conferência, as Repúblicas Americanas aprovaram as seguintes recomendações:
1)- Reafirmam considerar qualquer agressão de um Estado Extracontinental contra uma
delas, como agressão contra todas, constituindo ameaça à liberdade e independência da
América; 2)- Reafirmam completa solidariedade e sua determinação em cooperar, todas
juntas, para sua proteção recíproca até que os efeitos da agressão tenham desaparecido;
3)- Recomendam a ruptura das relações diplomáticas com Japão, Alemanha e Itália,
tendo o primeiro desses Estados agredido e, os outros dois, declarado guerra a um país
americano”;
AHI: telegrama nº 25, de Oswaldo Aranha para Moniz Gordilho, Roma, 28/01/1942. “O
Brasil resolveu interromper as relações diplomáticas e comerciais com a Itália, Alemanha
e Japão, hoje às 18 horas, horário do Rio de Janeiro”;
AHI: telegrama nº 215, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 18/06/1941.
“Ouvi, ontem à noite, que o Brasil estava negociando com os EUA a cessão de bases
navais. Neguei, categoricamente, o fato para as autoridades alemãs. Entretanto, hoje, foi
publicado que as negociações estão tão adiantadas que, a respeito do caso, já
forneceram esclarecimentos à imprensa, as Embaixadas do Brasil em Washington e em
Buenos Aires”;
254
AHI: telegrama nº 97, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle,
Berlim, 20/06/1941. “Trata-se de bases aéreas nossas que temos o direito de construir,
não estando em jogo à soberania brasileira sobre as mesmas”;
AHI: telegrama nº 4, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle,
Berlim, 07/01/1942. “A resposta já foi dada à Embaixada Alemã e publicada em todo o
mundo, quando declaramos a nossa solidariedade aos EUA, o que significa auxílio sem
reservas a este país. Existem no Brasil, atualmente, em vários aeroportos, desarmados,
aproximadamente, 150 mecânicos e auxiliares norte-americanos. Nunca vieram 40
aviões como foi dito em seu telegrama. É verdade, que passam pelo território brasileiro,
rumo à África, contínuos grupos de aviões norte-americanos de diversas categorias, que
permanecem no nosso território para reabastecimento ou reparos”;
AHI: telegrama nº 43, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle,
Berlim, 02/04/1941. “Acabo de passar nota ao Embaixador da Alemanha, após haver
relatado as circunstâncias em que se deu o ataque ao navio “Taubaté” no dia 23 de
março, no Mediterrâneo...”;
AHI: telegrama nº 43, do MRE ao Embaixador Cyro de Freitas-Valle, Berlim, 04/04/1941;
AHI: telegrama nº 329, do Embaixador Cyro de Freitas-Valle ao MRE, Berlim, 29/08/1941.
“Fiz entregar o “memorandum” e, foi respondido que o Embaixador Alemão, no Brasil,
tem instruções de responder o inquérito que está em curso. A impressão é de que a
Alemanha reconhece a culpa, argumentando, para atenuá-la, com circunstâncias
fortuitas, como a de não haver sido a bandeira branca içada no primeiro momento”;
“BUARQUE” e “OLINDA”:
AHI: telegrama nº 54, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins Pereira
e Souza, Washington, 19/02/1942. “Comenta-se o torpedeamento do “Buarque” e o
ataque a Aruba como parte da estratégia totalitária para desviar as forças navais norte-
americanas e impedir o movimento de matérias-primas entre as Américas”;
255
AHI: telegrama nº 59, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins Pereira
e Souza, Washington, 20/02/1942. “Urge conhecermos as conclusões do inquérito sobre
o afundamento do “Buarque”, a fim do Governo providenciar e agir”;
AHI: telegrama nº 63, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins Pereira
e Souza, Washington, 21/02/1942. “Queira informar ao Governo Norte-Americano: que o
afundamento do “Olinda”, logo após o do “Buarque” e, nas condições em que ambos
foram feitos, causou aqui, a pior impressão, pois mostra que a costa norte-americana
está à mercê da Marinha dos Países do Eixo”;
“ARABUTAN” e “CAIRU”:
AHI: telegrama nº 97, do MRE ao Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza,
Washington, 11/03/1942. “Não temos como explicar no país, os afundamentos de nossos
navios na costa americana. Os dois últimos saíram, já sobre guarda, na rota e com
instruções desse governo, e mesmo assim, nem sequer receberam os náufragos, socorro
imediato, com apenas poucas milhas da costa e de bases navais. Determinamos, assim,
o recolhimento de todos os nossos navios nos portos mais próximos e a suspensão de
partida para os EUA, até que sejam adotadas medidas que não deixem a nossa frota
mercante à mercê do inimigo e ao desamparo do amigo”;
AHI: telegrama nº 105, do MRE ao Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza,
Washington, 14/03/1942. “Os navios devem ser artilhados e, cada um deve trazer, pelo
menos, uma guarnição norte-americana para treinar nosso pessoal e agir em caso de
necessidade. Os daqui partirão artilhados e com guarnição da Marinha de Guerra”;
“CABEDELO”:
AHI: telegrama nº 112, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Carlos Martins
Pereira e Souza, Washington, 23/03/1942. “O vapor brasileiro “Cabedelo” saiu da
Filadélfia a quatorze de fevereiro último, sem que dele se tenham notícias, até agora.
256
Rogo pedir ao Departamento da Marinha Norte-americana, se sabe alguma coisa deste
navio”;
“PARNAÍBA”:
AHI: telegrama nº 306, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 01/05/1942. “O navio “Parnaíba” foi torpedeado na tarde do dia primeiro,
próximo a Trinidad, segundo um comunicado do Departamento da Marinha que recebi há
pouco”;
“GONÇALVES DIAS”:
AHI: telegrama s/nº, do Sr. Bueno Horta (Consulado do Brasil) ao MRE, Miami,
31/05/1942. “No dia vinte e quatro último, o navio “Gonçalves Dias” foi torpedeado por
um submarino. Um navio de guerra americano recolheu 45 tripulantes. Perderam-se seis
homens”;
AHI: telegrama nº 369, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 31/05/1942;
“ALEGRETE”:
AHI: telegrama nº 377, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 02/06/1942;
AHI: telegrama s/nº, do Sr. Roberto Vasconcelos (Consulado do Brasil) para o MRE, Port
of Spain, 04/06/1942. “No dia primeiro próximo passado, depois das 17 horas foi
torpedeado o navio brasileiro “Alegrete”. Aviões americanos localizaram uma das quatro
baleeiras em que a tripulação deixou o navio. Todos os homens desta baleeira foram
salvos. As outras três se dirigiram às costas da Venezuela”;
“PEDRINHAS”:
AHI: telegrama nº 455, do Secretário Fernando Lobo ao MRE, Washington, 01/07/1942.
“Tive informação do Governo Americano que o navio mercante brasileiro “Pedrinhas”, foi
257
torpedeado por um submarino no dia vinte e seis de junho e que 48 tripulantes, daquele
navio chegaram à cidade de San Juan de Porto Rico”;
“BARBACENA”:
AHI: telegrama do Sr. Roberto Vasconcelos (Consulado do Brasil) ao MRE, Port of Spain,
30/07/1942. “O navio brasileiro “Barbacena” foi torpedeado anteontem, tendo afundado
em 15 minutos. Duas das quatro baleeiras em que a tripulação se salvou chegaram com
24 náufragos”;
AHI: telegrama nº 528, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 31/07/194;
“PIAVE”:
AHI: telegrama de Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE, Washington, 11/08/1942. “O
Departamento de Administração da Marinha informa que o “Piave” foi torpedeado a 5 ou
6 do corrente”;
AHI: telegrama s/nº, do Sr. Jurandyr Carlos Barroso (Consulado do Brasil) ao MRE,
12/08/1942. “O navio brasileiro “Piave” afundou em menos de uma hora em virtude de ter
sido torpedeado por um submarino. Perderam-se 18 homens, além do comandante do
navio. O ataque realizou-se no dia vinte e oito, próximo passado, às 5 horas da tarde.
Chegaram hoje aqui, 16 tripulantes”;
AHI: telegrama nº 585, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 17/08/1942. “O departamento de Estado informou o afundamento de quatro
navios nacionais na costa brasileira, entre eles o “Baependi”, transportando tropas para
Natal”;
AHI: telegrama nº 590, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 19/08/1942. “Tem tido grande repercussão aqui, o afundamento dos cinco
navios brasileiros. Longo trecho do discurso, do Presidente da República, foi publicado
na primeira página de todos os jornais. O Secretário de Estado Cordell Hull, em entrevista
258
concedida aos jornais, considera a ação do Governo Nazista, desumana e ilegal,
sujeitando arbitrariamente, ao mesmo tratamento os neutros e os beligerantes”;
AHI: telegrama nº 594, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 20/08/1942. “Os jornais continuam a realçar o caso do torpedeamento dos
navios brasileiros, publicando notícias relativas à agitação e às manifestações populares
em favor da declaração de guerra”;
AHI: telegrama nº 226, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos
Aires, 18/08/1942. “Condolências do Governo Argentino ao torpedeamento de navios
brasileiros nas costas do nordeste brasileiro”;
AHI: telegrama s/nº, do Embaixador Luiz de Faro ao MRE, Caracas, 18/08/1942. “Em
nome do seu governo, o Secretário Geral do Ministério do Exterior me visitou para, por
motivo do afundamento dos cinco navios brasileiros, me expressar condolências”;
AHI: telegrama s/nº, do Embaixador Baptista Lusardo ao MRE, Montevidéu, 18/08/1942.
“O Presidente da República e o Ministro Guani declararam que acompanham os
acontecimentos relativos ao Brasil e se aprestam para tomar, em consequência de tais
acontecimentos, as medidas mais convenientes à defesa do continente”;
AHI: telegrama nº 208, de Samuel de Souza Leão ao MRE, Santiago, 19/08/1942. “O
Governo Chileno protesta contra o afundamento de cinco navios brasileiros”;
AHI: telegrama nº 628, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 28/08/1942. “O Secretário de Estado acusa o recebimento de nota,
comunicando o estado de beligerância e acrescenta: “o povo americano sentiu,
profundamente, a perda trágica de vidas, resultante do injustificável ataque do Eixo contra
os navios brasileiros, e se sente orgulhoso de lutar ao lado do corajoso povo brasileiro,
pela restauração da liberdade e da dignidade humana””;
259
OSÓRIO” e “LAGES”:
AHI: telegrama nº 698, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 28/09/1942. “O Departamento da Marinha Norte-Americano acaba de me
comunicar o afundamento dos navios “Osório” e “Lages”, a vinte e sete de setembro,
perto da costa do Pará”;
“APALÓIDE”:
AHI: telegrama nº 833, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 30/11/1942. “O Departamento da Marinha Norte-americana informa o
torpedeamento do navio brasileiro “Apalóide”, ocorrido, ontem, perto de Barbados. Foram
salvos 25 tripulantes, desconhecendo-se, por enquanto, o paradeiro de outros 32”;
AHI: telegrama nº 507, de Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE, Washington,
21/07/1944. “A notícia da chegada da FEB, causou ótima impressão, provocando os mais
entusiásticos comentários de rua. Os jornais publicam fotos do desembarque de tropas
em Nápoles. O “Star”, em editorial intitulado “O Brasil na Europa”, salienta que a presença
do exército latino-americano no teatro guerra europeu, representa acontecimento
histórico. Pela primeira vez, a América Latina assume papel beligerante em conflito
europeu. A ativa participação do Brasil assegura-lhe um lugar na liquidação da guerra e
o direito de opinar sobre a ordem a restabelecer”;
AHI: telegrama nº 106, do Embaixador Vasco Leitão da Cunha ao MRE, Roma,
30/04/1945;
AHI: telegrama nº 324, do Embaixador Fernando Lobo ao MRE, Washington, 30/04/1945.
“Foi dada ampla publicidade pelo rádio e pela imprensa à vitória das forças brasileiras na
Itália, com rendição de cerca de seis mil alemães e apreensão de grande quantidade de
material de guerra”;
AHI: telegrama nº 342, do Embaixador Fernando Lobo ao MRE, Washington, 08/05/1945.
“O Presidente Truman acaba de comunicar, oficialmente, a rendição total e incondicional
da Alemanha e a consequente vitória das Forças Aliadas na Europa”;
260
AHI: telegrama nº 372, do Embaixador Fernando Lobo ao MRE, Washington, 25/05/1945.
“Foi-me entregue hoje, pelo Departamento de Estado, o texto da declaração relativa à
derrota da Alemanha e ao estabelecimento de autoridade suprema dos Governos dos
EUA, Grã-Bretanha, Rússia e França, naquele país. O seu texto é mantido secreto e, dos
países latino-americanos, apenas o Brasil o recebeu, em virtude de ter enviado tropas
para combater na Europa”;
AHI: telegrama nº 302, do MRE ao Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza,
Washington, 06/06/1945. “O Presidente da República, considerando os compromissos
interamericanos de assistência e defesa mútua, reiterados e ampliados na recente
Conferência do México, decreta a existência do estado de guerra entre o Brasil e Japão”;
AHI: telegrama nº 479, do Ministro Interino Pedro Leão Veloso ao Embaixador Carlos
Martins Pereira e Souza, Washington, 25/09/1944. “O nosso Cônsul em Roma informa
que tem fundados motivos para crer que em poucos meses ou mesmo semanas, os EUA
e a Inglaterra reconhecerão o Governo Italiano”;
AHI: telegrama nº 277, do Ministro Interino Pedro Leão Veloso ao Embaixador Pedro de
Morais Barros, Roma, 12/10/1945. “Temos reparações a reclamar da Itália”;
AHI: telegrama nº 265, do Embaixador Pedro de Morais Barros ao MRE, Roma,
13/10/1945. “Foram apresentadas ontem, as condições de paz que serão apresentadas
à Itália, indicando que Rússia, Iugoslávia, Grécia, China e o Brasil exigem indenizações”;
AHI: telegrama nº 282, do MRE ao Embaixador Pedro de Morais Barros, Roma,
16/10/1945. “Pode dizer aos amigos do Brasil que acompanharemos a América,
Inglaterra e a França, em favor de uma paz para a Itália, sem humilhações, nem
mutilações”;
261
AHI: telegrama nº 16, do Ministro Interino Pedro Leão Veloso ao Embaixador Vasco
Leitão da Cunha, Roma, 19/10/1944. “Resolvemos restabelecer relações diplomáticas
com a Itália, reconhecendo, assim, o seu atual governo. O Governo Brasileiro espera que,
desta forma, se inaugure uma nova era de compreensão e de colaboração entre os dois
países”;
AHI: telegrama nº 724, do Embaixador Fernando Lobo ao MRE, Washington, 14/10/1944.
“O Departamento de Estado deseja saber, se o Governo Brasileiro está de acordo em
fazer publicar, simultaneamente, o reconhecimento do Governo Italiano e a designação
de seus representantes diplomáticos junto aos mesmos governos”;
AHI: telegrama nº 676, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 29/09/1944. “O Secretário de Estado afirmou hoje, na sua declaração à
imprensa, o propósito dos EUA de considerar qualquer ação dos países neutros, no
sentido de dar asilo aos chefes nazistas, ou seus satélites, como hostil aos princípios
pelos quais as Nações Unidas estão lutando. Declarou já ter recebido a segurança dos
Governos Sueco, Suíço e Espanhol, de que tais criminosos de guerra não encontrarão
refúgio dentro de suas fronteiras. Espera obter resposta de outros governos. Os jornais
publicam que o Embaixador Argentino em Londres, entregou nota ao “Foreign Office”,
declarando que nenhuma pessoa considerada criminosa de guerra do Eixo, seria
admitida na Argentina”;
DAP: telegrama nº 701, do Embaixador Ricardo Olivera ao MREC, Berlim, 06/07/1941;
CAPÍTULO Nº 3:
AHI: telegrama nº 97, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Joaquim de Souza
Leão, Washington, 22/08/1938. “Informe a este Governo que eu não comparecerei à
Conferência”;
262
AHI: telegrama nº 131, do Embaixador Rodrigues Alves ao MRE, Buenos Aires,
23/09/1939. “O Chefe da Delegação será o Sr. Ruiz Moreno... O Ministro das Relações
Exteriores Argentino afirmou que sua presença em Lima será a mais curta possível”;
AHI: telegrama nº 60, do MRE ao Embaixador Maurício Nabuco, Santiago, 14/11/1938;
AHI: telegrama nº 176, do Embaixador Protásio Gonçalves ao MRE, Buenos Aires,
27/12/1938. “O Ministério das Relações Exteriores da Argentina explica as razões da
Argentina em não participar de novos acordos na defesa da soberania continental”;
DAP: telegrama nº 160, do Ministro Cantilo ao Embaixador Eduardo Labougle Carranza,
Berlim, 31/03/1939. “O documento estuda e prepara uma possível anexação da
Patagônia como zona de expansão alemã. O plano tem data de 11 de fevereiro de 1937,
e está escrito em folhas timbradas da Embaixada Alemã, sendo assinado pelo
Conselheiro da Legação von Schubert e pelo Chefe do Partido Nacional Socialista
Alemão na Argentina, Alfred Müller. Contém abundante informação de ordem econômica
e militar, obtida de diversas fontes oficiais e privadas, concluindo que a Patagônia por ter
uma escassa população, não está sujeita a soberania nem a possessão efetiva da
Argentina, podendo ser considerada terra de ninguém, apta para ser anexada como
território e espaço vital alemão”;
DAP: telegrama nº 66/39, do Embaixador Alemão von Thermann ao Ministro das
Relações Argentino Cantilo, Buenos Aires, 31/03/1939. “Informo que os artigos nos
diários argentinos, “Noticias Gráficas” (30/03/1939), “Última Edición” (31/03/1939) e
“Argentinisches Tageblatt” (30/03/1939) não carecem de verdade, e que o documento é
um verdadeiro embuste. É uma tentativa de envenenar as relações amistosas existentes
entre o Reich Alemão e a República Argentina e, de difamar ante a nação argentina a
representação diplomática do Reich neste país. Agradeceria que V.E. iniciasse uma
investigação imediata, cujo estudo comprovará sua falsidade”;
263
DAP: comunicado s/nº, da Embaixada Alemã para o Ministério das Relações Exteriores
Argentino, Buenos Aires, 31/03/1939;
DAP: telegrama nº 68/39, do Embaixador von Thermann ao Ministro Cantilo, Buenos
Aires, 02/04/1939;
DAP: telegrama nº 173/39, do Embaixador von Thermann ao Ministério das Relações
Exteriores Argentino, Buenos Aires, 29/07/1939. “Considerando que o processo contra o
Senhor Alfred Müller terminou sem que nada afetasse o seu bom nome e a sua honra, o
Governo do Reich se considera obrigado a pedir do Governo Argentino, algum tipo de
indenização, pelos danos consideráveis causados ao senhor Müller”;
DAP: nota s/nº, do Ministro Cantilo à Embaixada Alemã, Buenos Aires, 31/07/1939. “O
Governo Argentino considera improcedente a intervenção da Embaixada Alemã em um
assunto destinado a ser resolvido pela justiça comum, onde o interessado pode recorrer,
com seus próprios meios, contra os atos perpetrados pelo Sr. Jürges. Neste país não
existem processos políticos e o que aconteceu ao Sr. Müller, está previsto nas leis penais
como delito comum”;
DAP: telegrama nº 49/AP/16, do Embaixador Polonês ao Ministro Cantilo, Buenos Aires,
01/09/1939. “O Embaixador Polonês informa ao Ministro Cantilo que tropas alemãs
invadiram a Polônia, no início da madrugada. Ele informa que seu país lutará, até o fim,
contra esta agressão”;
DAP: memorando confidencial nº 1, do Governo Norte-Americano, com proposta para a
Defesa Continental, Buenos Aires, 27/05/1940;
DAP: memorando secreto nº 2, do Governo Norte-Americano, para uma futura
Cooperação Militar, Buenos Aires, 10/06/1940;
264
DAP: memorando secreto nº 3, do Governo Norte-Americano, para uma futura
Cooperação Militar, Buenos Aires, 12/06/1940. “O Ministério das Relações Exteriores
informou que a missão do Capitão Spears foi puramente preparatória e exploradora, para
que o Governo dos EUA pudesse formular planos, em caso de uma ameaça ao continente
americano”;
DAP: memorando confidencial nº 6, do Governo Norte-Americano, com nova proposição
para a Defesa Continental, Buenos Aires, 17/06/1940;
DAP: telegrama nº 347, do Ministro Cantilo ao Embaixador Argentino em Washigton,
21/06/1940. “...Por lo que hace al problema de soberanías expresamente contemplado
por la iniciativa en questión, hemos señalado que el Gobierno Argentino, que sostiene
como inalienables los direchos de este país sobre las Islas Malvinas, no podrá sino
mantenerse en esa posición definitiva sin admitir que esa parte del territorio, de interés
esencial para la defensa nacional, sen objeto de deliberación alguna dentro del plan a
que esa iniciativa responde...”;
DAP: telegrama nº 42, do Ministro Cantilo ao Embaixador Argentino, em Roma,
22/06/1940;
DAP: telegrama nº 81, do Ministro Cantilo ao Embaixador Argentino, em Berlim,
22/06/1940;
DAP: telegrama nº 152, do Ministro Cantilo ao Embaixador Argentino, em Londres,
22/06/1940;
DAP: telegrama nº 349, do Ministro Cantilo ao Embaixador Argentino, em Washington,
22/06/1940;
DAP: telegrama nº 76, do Embaixador Argentino Eduardo Labougle ao Ministro Cantilo,
Santiago, 21/07/1940.
265
DAP: Instruções nº 22, do Ministro Cantilo ao Delegado Argentino Leopoldo Melo na
Conferência de Havana, Buenos Aires, 04/07/1940. “Cantilo expressa o pensamento
político argentino, informando como Melo deve proceder na Reunião de Chanceleres em
Havana”;
DAP: memorando oficial do Governo Argentino, apresentado por Leopoldo Melo, na II
Reunião de Chanceleres Americanos, Havana, 22/07/1940;
DAP: memorando s/nº, do Governo Norte-Americano com uma proposta para venda de
equipamentos militares ao Governo Argentino e de um convite de acordos para a defesa
continental, Buenos Aires, 18/08/1941. “EUA disponibilizam armas e equipamentos para
as Forças Armadas Argentinas, através da Lei de Empréstimos e Arrendamentos,
propondo conversações para a análise de um estudo sobre a defesa continental”;
DAP: telegrama nº 100, do Embaixador Labougle ao MREC, Rio de Janeiro, 02/04/1942.
“Envio trechos de um artigo do periódico “Correio da Manhã”, falando sobre as
dificuldades da Argentina de participar do sistema Lend and Lease”;
AHI: telegrama nº 32, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao Ministro
Oswaldo Aranha, Washington, 10/01/1942. “Causou péssima impressão nos meios
políticos, a declaração do Ministro das Relações Exteriores Argentino sobre a atitude que
vai assumir na reunião do Rio de Janeiro. O “New York Times” em Buenos Aires, afirma
que houve acalorada discussão entre a Delegação Argentina e a Delegação Chilena,
tendo o Ministro das Relações Exteriores Chileno, antecipado a sua partida de Buenos
Aires para o Rio de Janeiro”;
AHI: telegrama nº 45, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao Ministro
Oswaldo Aranha, Washington, 14/01/1942;
266
DAP: telegrama nº 4, (ordinário nº 189) do Ministro Interino Guillermo Rothe para o
Ministro Ruiz Guiñazú, na Conferência do Rio de Janeiro, Buenos Aires, 15/01/1942.
“Rothe enviou o discurso do Vice-Presidente Argentino, em exercício, Castillo para a
Delegação Argentina, na Conferência do Rio de Janeiro, mostrando o posicionamento do
país sobre a reunião”;
DAP: telegrama nº 13 (ordinário nº 186), do Ministro Guiñazú para o MRE Argentino, Rio
de Janeiro, 16/01/1942. “Ministro Guiñazú apresenta parte do discurso do Ministro
Oswaldo Aranha, elogiando o pronunciamento do Vice-Presidente Argentino, em
exercício, Ramón Castillo”;
DAP: telegrama nº 12 (cifrado nº 104), do Ministro Guiñazú ao MREC, Rio de Janeiro,
16/01/1942. “Ministro Guiñazú fala do encontro que teve com Welles, que lhe pedia para
a Argentina rever a sua posição de neutralidade”;
DAP: telegrama nº 16 (cifrado nº 108), do Ministro Guiñazú ao MREC, Rio de Janeiro,
17/01/1942;
DAP: telegrama nº 22 (cifrado nº 105), do Ministro Guiñazú ao MREC, Rio de Janeiro,
19/01/1942. ”Informo que o Presidente Getúlio Vargas acatou a nossa posição de não
romper com as Potências do Eixo, deixando para o Ministro Oswaldo Aranha tentar
demover a nossa política externa de neutralidade”;
DAP: telegrama nº11 (cifrado nº 79), do Ministro Guiñazú ao MREC, Rio de Janeiro,
21/01/1942;
DAP: telegrama nº 13 (cifrado nº 82), do Ministro Interino Guillermo Rothe ao Ministro
Guiñazú, na Conferência do Rio de Janeiro, Buenos Aires, 21/01/1942. “Embaixador
Norte-Americano pediu para que o Vice-Presidente Castillo apoiasse a ruptura com as
Potências do Eixo”;
267
DAP: telegrama nº 35 (ordinário 244), do Ministro Guiñazú ao MREC, Rio de Janeiro,
24/01/1942. “Envio o texto final da Declaração do Rio de Janeiro, com a modificação
proposta pelo nosso governo, trocando a palavra “determinava” para “recomendava””;
DAP: telegrama nº 52, do Embaixador Argentino Carlos Güiraldes ao MREC, Santiago,
25/04/1942. “Argentina e Chile decidiram manter sua neutralidade e criar um acordo de
consultas e informações sobre o posicionamento das suas políticas externas”;
DAP: telegrama nº 129, do Embaixador Argentino Carlos Güiraldes ao MREC, Santiago,
27/04/1942;
DAP: telegrama nº 284 (cifrado nº 1084), do Encarregado de Negócios Argentino García
Arias ao Ministro Guiñazu, Washington, 23/08/1942;
DAP: telegrama nº 130 (cifrado nº 1086), do Embaixador Carlos Güiraldes ao Ministro
Guiñazu, Santiago, 24/08/1942. “O Governo Chileno considerará o Brasil, país “não
beligerante”, mas não haverá nenhuma modificação na sua posição internacional, salvo
aconteça algum fato que possa afetar diretamente esta política”;
DAP: telegrama s/nº (ordinário 2395), do Presidente Ramón Castillo ao Presidente
Vargas, Buenos Aires, 24/08/1942;
DAP: telegrama s/nº (ordinário 2394), do Ministro Cantilo ao Ministro Oswaldo Aranha,
Buenos Aires, 24/08/1942. “En este momento el Gobierno Argentino acaba de fijar
oficialmente su posición ante el estado de beligerancia entre el Brasil y Alemania e
Italia...”;
DAP: telegrama do Presidente Getúlio Vargas para o Presidente Ramón Castillo, Rio de
Janeiro, 25/08/1942. “O Presidente Vargas agradece o decreto que considera o Brasil
país não beligerante e as manifestações de apreço do povo argentino”;
268
DAP: telegrama do Ministro Oswaldo Aranha para o Ministro Guiñazú, Rio de Janeiro,
26/08/1942. “Acuso o recebimento do telegrama onde o Governo Argentino apresenta
sua posição frente ao estado de beligerância, em que se encontra o Brasil com a
Alemanha e Itália. Agradece a cordial simpatia que V. E. tem demonstrado, para com o
Governo e o Povo Brasileiro, nesta hora difícil de sua existência. Nesta hora, as
manifestações que estamos recebendo dos argentinos e a solidariedade da desta Nação
vizinha e amiga, queira meu eminente colega e amigo, receber meus sinceros
agradecimentos”;
AHI: telegrama nº 725, do Embaixador Fernando Lobo ao MRE, Washington, 10/10/1942.
“Discurso de Welles ataca as políticas externas da Argentina e do Chile”;
AHI: telegrama nº 728, do Embaixador Fernando Lobo ao MRE, Washington, 12/10/1942.
“O Presidente Ríos enviou um telegrama ao Presidente Roosevelt, cancelando a sua
visita aos EUA, devido a repercussão negativa do discurso do Sr. Welles. Afirmou que o
discurso ofendia a dignidade do Chile, pedindo uma explicação do Governo Norte-
Americano”;
AHI: telegrama nº 14, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador S. de Souza Leão
Gracie, Santiago, 04/02/1943. “A cota do quarto trimestre de 1942, que não foi utilizada,
poderá ser adquirida até o dia 31 de março de 1943”;
AHI: telegrama nº 41, de Oswaldo Aranha para o Embaixador S. de Souza Leão Gracie,
Santiago, 30/03/1943. “O Brasil informa a quantidade de pneumáticos e câmaras de ar
(3.250) que foram fixados para o Chile no segundo trimestre de 1943”;
AHI: telegrama nº 55, do MRE ao Embaixador S. de Souza Leão Gracie, Santiago,
06/05/1943;
DAP: telegrama nº 25, do Embaixador Güiraldes para o Ministro Guiñazu, Santiago,
15/01/1943;
269
AHI: telegrama nº 24, do Embaixador S. de Souza Leão Gracie ao MRE, Santiago,
20/01/1943. “O Ministro das Relações Exteriores acaba de me informar, oficialmente, que
foi decretado hoje o rompimento das relações diplomáticas e consulares com os
Governos do Eixo”;
AHI: telegrama nº 111, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos
Aires, 04/06/1943. “A proclamação do General Rawson foi publicada nos jornais
vespertinos argentinos, apesar de ninguém tê-la assinado. A principal informação contida
no artigo é sobre corrupção e incapacidade administrativa”;
AHI: telegrama nº 114, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos
Aires, 05/06/1943. “Temos informações que o Presidente Castillo desembarcou no porto
uruguaio de Colônia”;
AHI: telegrama nº 107, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos
Aires, 04/06/1943. “Confirmo que o General Rawson é o cabeça do movimento. O Doutor
Ramón Castillo embarcou e se refugiou a bordo de uma canhoneira. A família do Sr.
Enrique Ruiz Guiñazú solicitou asilo à Embaixada Chilena. Espera-se uma proclamação
que explicará o móvel do movimento, o qual parece, favorável aos aliados”;
AHI: telegrama nº 123, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos
Aires, 07/06/1943. “O General Rawson, ao renunciar, proclamou a falta de entendimento
entre os oficiais revolucionários, ocasionado a sua renúncia. É evidente, que existe uma
grande confusão no seio dos militares, dizendo-se mesmo que a crise foi provocada por
desinteligências sobre a orientação da política internacional. Parece que alguns militares
são de tendência a avançar para a ruptura e outros para manter rigorosa neutralidade.
Dentre os primeiros estariam o General Rawson”;
AHI: telegrama nº 118, do Ministro Aranha para o Embaixador José de Paula Rodrigues
Alves ao MRE, Buenos Aires, 07/06/1943. “Instruo ao senhor que é necessário ser o
270
Brasil, o primeiro país a reconhecer o Governo Argentino, dada a nossa vizinhança e
tradições”;
AHI: telegrama nº 139, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos
Aires, 09/06/1943. “Entreguei, hoje, a nota sobre o reconhecimento do novo Governo,
junto com o Governo paraguaio. A Bolívia e o Chile acabam de conceder o
reconhecimento”;
AHI: telegrama nº 143, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos
Aires, 11/06/1943. “O Governo dos EUA acaba de reconhecer o Governo Argentino
depois de uma entrevista entre o Embaixador Armour e o Ministro das Relações
Exteriores da Argentina Storni”;
AHI: telegrama nº 472, do Embaixador Carlos Martins Pereira e Souza ao MRE,
Washington, 04/08/1943. “Welles informa ao Embaixador Brasileiro que seu país
chamará, indefinidamente, o Embaixador Armour, em vista das tergiversações e
contradições do Governo Argentino”;
DAP: documento enviado pelo Ministro Segundo Storni para o Secretário de Estado
Norte-Americano Cordell Hull, Buenos Aires, 05/08/1943. “Storni relata a posição da
política externa argentina do Governo do General Ramírez”.
DAP: telegrama nº 177 (cifrado nº 505), do Ministro Storni ao Embaixador Felipe Espil,
Buenos Aires, 09/08/1943. “El Embajador Armour llegará a ésa el día 13 llevando una
importante carta del subscripto para el Señor Hull y una copia para V.E. Recomiéndole
avisar inmediatamente de entregada la carta por el Señor Armour a su destinatario”;
AHI: telegrama nº 221, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos
Aires, 10/09/1943. “O Vice-Almirante Segundo Storni explica a sua saída do Ministério
das Relações Exteriores: 1)- Que renunciou para cobrir a pessoa do Presidente da
República, que, como Chefe de Estado não pode se equivocar; 2)- Que seus colegas no
Ministério (,,,) haviam entendido ser sua renúncia a única solução possível, para desfazer
271
a má impressão causada pelas cartas trocadas, entre ele e o senhor Cordell Hull; 3)- Que
ele não está arrependido de haver enviado a carta, porque tem a impressão de que os
Estados Unidos da América terminariam por publicar algum livro, ou coisa pior, sobre a
atitude da República Argentina, e que, assim sendo, julga preferível ventilar a questão
dentro dos termos em que o fez; 4)- Que o Presidente Pedro Ramírez é um homem muito
inteligente e capaz, mas que seus ministros se mostram intransigentes na manutenção
da política de autodeterminação, que ele considera prejudicial aos interesses nacionais;
5)- Que ele, como amigo do Presidente Ramírez, insistiu na necessidade de mudar os
rumos da política externa; 6)- Que abandonou o Ministério sem rancor, pois tanto do
Presidente, como dos seus colegas do Ministério, haviam-no tratado com a maior
deferência”;
DAP: decreto nº 1830/N7, do Presidente Ramírez rompendo as relações diplomáticas
com a Alemanha e o Japão, Buenos Aires, 26/01/1944;
DAP: telegrama s/nº, do Secretário de Estado Hull ao Ministro Alberto Gilbert,
Washington, 26/01/1944. “Acuso o recebimento e enalteço a postura argentina de
participar da solidariedade continental”;
DAP: telegrama s/nº (ordinário nº 400), do Encarregado de Negócios Argentino García
Arías ao MREC, Washington, 26/01/1944. “O Secretário Hull entregou uma declaração a
imprensa norte-americana, sobre o nosso rompimento com as Potências do Eixo”;
DAP: telegrama do Ministro Aranha para o Ministro Gilbert, Rio de janeiro, 27/01/1944.
“Aranha felicita o Governo Argentino pela ruptura com as Potências do Eixo”;
DAP: telegrama s/nº, do Ministro Gilbert para as Embaixadas da Alemanha e do Japão,
Buenos Aires, 26/01/1944. “O Governo Argentino explica as razões do rompimento
político para os respectivos embaixadores”.
272
AHI: telegrama nº 66, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos
Aires, 25/02/1944. “O Presidente Ramírez anunciou, hoje, sua renúncia ao Governo
Argentino”;
AHI: telegrama nº 68, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao MRE, Buenos
Aires, 25/02/1944. “Informo a Declaração de renúncia do General Ramírez para a Nação
Argentina”;
AHI: telegrama nº 67, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao Ministro Aranha,
Buenos Aires, 25/02/1944. “Explica que a renúncia teve momentos dramáticos”;
AHI: telegrama nº 67-A, do Embaixador José de Paula Rodrigues Alves ao Ministro
Aranha, Buenos Aires, 25/02/1944. “Seis Generais do GOU, reunidos no Ministério da
Guerra, designaram o General Farrel como o novo Presidente da república Argentina.
Porém, o texto da declaração da renúncia foi, especificamente, redigido com o propósito
evidente de iludir a necessidade de reconhecimento”;
DAP: telegrama s/nº, do Ministério das Relações Exteriores da Argentina para a Direção
de Assuntos Econômicos Interamericano, Buenos Aires, 27/03/1945. “O Governo
Argentino informa que aderiu a Ata Final da Conferência Interamericana sobre Problemas
de Guerra e Paz e declara guerra ao império do Japão e a Alemanha”;
DAP: decreto 6945/45, do Presidente Farrell aceitando participar da Conferência
Interamericana sobre Problemas da Guerra e Paz (Chapultepec), e declara guerra as
Potências do Eixo (Alemanha e Japão) 27/03/1945.
CAPÍTULO Nº 4:
AHI: telegrama nº 24, do Segundo Secretário Luiz Guimarães Filho ao MRE, Buenos
Aires, 19/02/1938. “O novo Presidente da República, o Sr. Roberto Ortíz, será
empossado no próximo domingo (20/02/1938) às 16:00 hs.”;
273
AHI: telegrama nº 34, do Ministro Oswaldo Aranha ao Segundo Secretário Luiz
Guimarães Filho, Buenos Aires, 19/02/1938. “Quero saber, com urgência, se o Governo
Argentino está concedendo facilidades de saída a navios alemães para operações de
plebiscito referente à anexação da Áustria”;
AHI: telegrama nº 49, do Segundo Secretário Luiz Guimarães Filho ao MRE, Buenos
Aires, 06/04/1938. “O Subsecretário do Ministério das Relações Exteriores argentino
informou que não concedeu nenhuma facilidade a navios alemães ancorados em portos
argentinos”;
DAP: nota nº 12/39, do Embaixador Alemão von Thermann ao MREC, Buenos Aires,
10/01/1938. “La Embajada de Alemania tiene el honor de dirigirse a V. E. (Ministro
Cantilo), con el fin de solicitar permiso para las asociaciones, escuelas, casas de
comercio y particulares alemanes para izar la bandera alemana conjuntamente con la
argentina, el día 30 de enero 1939, que según las órdenes del Gobierno de Alemania,
será oficialmente celebrado por las autoridades y colectividades alemanas como
aniversario de la formación del Gobierno Nacional-Socialista en Alemania…”;
DAP: nota s/nº, do Ministro Cantilo ao Embaixador Alemão von Thermann, Buenos Aires,
13/01/1938. “Atento el pedido precedentemente formulado, concédase autorización para
que las asociaciones, escuelas, casas de comercio y particulares alemanes radicados en
la República, puedan enarbolar su bandera, conjuntamente con la argentina, en 30 del
corriente, día en que se celebra el aniversario de la formación del Gobierno Nacional-
Socialista en Alemania”;
DAP: nota nº 72, do Embaixador E. Preziosi ao MREC, Buenos Aires, 24/03/1938. “Tengo
el honor de dirigirme a la habitual cortesía de V. E. (Ministro Cantilo) para rogarle quiera
interponer sus buenos oficios a fin de que se conceda la autorización a los súbditos
italianos para enarbolar la bandera italiana, conjuntamente con la argentina, y la
autorización a las naves italianas surtas en el puerto para izar el pabellón, en ocasión de
274
la celebración del XXº Aniversario de la Fundación de los Fascios de Combate, que
llevará a cabo en Italia el domingo 26 del corriente…”;
DAP: nota s/nº, do MREC ao Embaixador E. Preziosi, Buenos Aires, 24/03/1938. “Tengo
el agrado de dirigirme a S.S. remitiéndole copia […], solicitando autorización para
enarbolar la bandera italiana el día 26 del mes en curso, en ocasión de celebrarse el XXº
Aniversario de la Fundación de los Fascios de Combate. Con tal motivo cumplo en llevar
a conocimiento de ese Departamento, a los fines pertinentes, que por resolución
ministerial de la fecha se acuerda la autorización solicitada…”;
DAP: nota nº 120, do Embaixador E. Preziosi ao Ministro Cantilo, Buenos Aires,
19/04/1938;
DAP: nota s/nº, do MREC ao Embaixador E. Preziosi, Buenos Aires, 26/04/1938;
DAP: memorando s/nº, da Embaixada da Itália ao MREC, Buenos Aires, 14/06/1939. “1)-
Bella-Ville – polícia impede o hasteamento das bandeiras italianas, apesar da autorização
do Ministério das Relações Exteriores Argentino;
2)- Laborde – polícia exigiu que a bandeira italiana fosse retirada da fachada da sede da
sociedade “Príncipe de Piemonte”;
3)- Justiniano Posse – o comissário de polícia, de forma violenta, ordenou que o Sr.
Giuseppe Paris baixasse a bandeira italiana exposta em seu domicílio particular;
4)- San Antonio de Letin – policiais impedem a exposição da bandeira italiana no dia
citado”;
DAP: nota s/nº, do MREC a Embaixada Italiana, Buenos Aires, 19/06/1938;
DAP: telegrama nº 12 (cifrado nº 302), do Subsecretário das Relações Exteriores da
Alemanha Woermann ao MREC, Berlim, 06/04/1939. “...El señor Woermann me rogó
transmitir el deseo del gobierno alemán de no llegar a hechos consumados a fin de evitar
el entorpecimiento de las buenas relaciones existentes entre los dos países...”;
275
AHI: telegrama nº 38, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Rodrigues Alves,
Buenos Aires, 12/04/1938. “O Governo brasileiro recebeu uma carta do Encarregado de
Negócios Alemão, como aconteceu com o Governo Argentino, cumprindo instruções do
seu Governo, informando tratar-se de uma verdadeira falsificação os documentos
apreendidos na Argentina. Informou que as pessoas mencionadas no relatório jamais
deram entrada em nenhuma repartição alemã. Adiantou que o assunto nunca foi tratado
por qualquer autoridade ou organização do Partido Nazista, não existindo para o Governo
Alemão nenhuma questão sobre a Patagônia”;
DAP: telegrama nº 26 (cifrado nº 769), do Embaixador Argentino Felipe Espil ao MREC,
Washington, 19/04/1939. “La prensa americana en informaciones recientes se ha referido
repetidamente a revelaciones sensacionales de planes atribuidos al Gobierno Alemán
para provocar la separación de la provincia sur de Argentina Patagonia. Estas
informaciones se basan especialmente en un documento espurio publicado en la prensa
argentina pretendiendo ser un informe de funcionarios de la Embajada Alemana y del
partido en Buenos Aires. Como resultado de investigaciones hechas por el Foreign Office
y otras autoridades alemanas competentes se ha comprobado que el documento en
cuestión es una falsificación deliberada además la Embajada Alemana está autorizada a
declarar que en cuanto concierne al Gobierno Alemán una así llamada cuestión
patagónica no existe”;
DAP: telegrama nº 17 (cifrados nº 361/362), do Embaixador Argentino Eduardo Labougle
ao MREC, Berlim, 25/04/1939. “1)- La Embajada Alemana hizo lo posible para demostrar
la mentira y falsedad del documento. Que ello no obstante los ataques de la prensa contra
Alemania van en aumento y se hacen insoportables. Considera que el Gobierno
Argentino si quisiera, podía haber impedido esa campaña; 2)- Que la Embajada ha hecho
gestiones para explicar las exigencias y necesidades de los compatriotas, dando órdenes
a éstos de respetar la legislación del país; 3)- Que el Sr. Müller, al tiempo en que está
detenido, a su incomunicación, […] que dice habérsele puesto, al mal trato, falta de
alimentación adecuada, que sólo desde el 11 se permitió a su señora llevarle comida,
que se le prohibió leer y escribir. Que las medidas tomadas contra Müller son
276
incompatibles, dice que no hay acta de acusación […]; 4)- Que Jürges es un hombre
sospechoso. Que su propósito ha sido entorpecer las relaciones entre ambos países; 5)-
Que sea castigado […] ya que se trata de documento completamente falso, que es una
invención ridícula de Jürges; 6)- Que actualmente se está representando una pieza en
un teatro de Buenos aires cuyo argumento es un movimiento separatista en la Patagonia
en la que figuran alemanes caracterizados como individuos de la peor clase, que
preparan un atentado contra la bandera argentina, que hay canciones de odio, etc. […]
deseaba mantener con la Argentina las buenas vinculaciones existentes evitando los
motivos que pudieran dañarlas y la necesidad como el valor que da al mejoramiento de
la situación, por cuanto el final podría ser penoso en vez de devolver una atmósfera sana,
amistosa […]”;
DAP: telegrama nº 9 (cifrados nº 210), do Ministro Cantilo ao Embaixador Argentino
Eduardo Labougle, Buenos Aires, 25/04/1939. 1)- Las actuaciones judiciales del asunto
están dentro de los plazos que fijan las leyes y no los han excedido en manera alguna;
2)- El detenido puede hacer todos los pedidos que crea necesarios para su defensa, sea
directamente o por su abogado defensor y hacer valer los derechos que la ley le concede,
dentro de las formas que ella determina. El detenido hasta hace dos días no consideró
oportuno designar defensor; 3)- En el Juzgado no existe en este caso ninguna
reclamación sobre malos tratos, privación de alimentos y otros abusos que, de producirse,
habrían sido severamente investigado; 4)- Dentro de la organización legal del país el
Poder Ejecutivo no puede tomar ninguna intervención directa en los asuntos sometidos a
la justicia, cuya acción en las diversas instancias se desenvuelve en forma independiente,
con todas las garantías necesarias. Pero aún cuando fuese posible tal intervención no
está en el interés de ninguno de los dos países precipitar o limitar la acción en que está
empeñada la justicia para el esclarecimiento completo de una situación que no debe dejar
sombra alguna entre ellos; 5)- La obra teatral de referencia, sin trascendencia alguna, es
una pieza de carácter popular, de propaganda nacionalista, que no nombra para nada a
Alemania; 6)- De acuerdo con nuestro régimen liberal de prensa, los diarios en ésta hacen
igualmente campaña alrededor de la investigación o en contra de ella. Por lo demás
dentro de los plazos legales establecidos y dado el estado en que se encuentra el asunto,
277
se considera que el lunes o el martes de la semana próxima habrá un pronunciamiento
judicial al respecto”;
DAP: telegrama nº 19 (cifrados nº 377), do Embaixador Argentino Eduardo Labougle ao
MREC, Berlim, 29/04/1939. “... el Ministro Ribbentrop ha repetido anteayer a cierta
personalidad, en privado, que Alemania desea mantener con la Argentina las mejores
relaciones, pero, a la vez, habría manifestado su extrañeza – haciendo hincapié siempre
que el documento en cuestión es falso – que no pueda obtener noticias sobre cualquiera
acusación o motivo por los cuales se mantiene detenido a Müller”;
DAP: telegrama s/nº, do Consul Argentino ao MREC, Porto Alegre, 25/08/1942. “El
Domingo 23 del corriente, fui invitado por el señor Interventor Federal, General don
Osvaldo Cordeiro de Faria, a concurrir a su despacho para “conversar sobre asuntos del
momento”. Me hiso saber que ese día, aviones encargados de la vigilancia de costas,
habían localizado un submarino […], al que iba “acompañado” por un vapor de bandera
argentina. La identificación del navío fue hecha reiteradas veces, una de ellas por el Jefe
de la Base Aeronaval de Florianópolis. […] El informe suministrado por los aviadores era
el siguiente: un vapor argentino navegaba en dirección al Sud […], encontrándose el
submarino a cinco millas del vapor. […] otro vapor argentino navegaba hacia el Norte,
[…], encontrándose el submarino también a cinco millas de distancia. […] se encontraron
dos navíos más, entre Chuí y Rio Grande, navegando hacia el Norte. Consideraba que
eran muchos los navíos argentinos que navegaban ese día entre Santa Catharina y el
Rio de la Plata, y teniendo en cuenta la proximidad de los dos primeros al submarino,
hacía sospechar respecto de la verdadera nacionalidad de los mismos, suponiendo que
alguno de ellos, usara indebidamente la bandera argentina, a fin de burlar la vigilancia
establecida y aprovisionar el submarino.
Solicitaba mi mediación ante V.E. a fin de obtener si fuera posible, que nuestro gobierno
facilitara al Rio Grande do Sul el movimiento diario de vapores argentinos para su fácil
localización e identificación.[…] Respondiendo a algunas preguntas […], dijo que no tenía
más noticias que transmitir y que en ningún momento, los aviadores habían notado que
los vapores aprovisionaran a los submarinos. Fue categórico el respecto.[...]”;
278
DAP: telegrama nº 175 (cifrado nº 1099), do Encarregado de Negócios David Traynor ao
MREC, Rio de Janeiro, 26/08/1942. “Cúmpleme poner en conocimiento de V.E. que en
“razón de órdenes superiores” las autoridades del puerto se negaran ayer a autorizar la
salida de los buques de bandera mercante “Norte” […] y “Río Primero” […], que se
disponían a zarpar de este puerto. Acabo de hablar sobre el particular con el Ministro de
Relaciones Exteriores. Me dijo que la medida está fundada en la denuncia que formuló a
V.E. por intermedio del Embajador en ésa y según la cual aviadores de las fuerzas aéreas
del Brasil y de la Panair habrían visto barcos argentinos al lado de submarinos alemanes,
en la proximidad de las costas de Río Grande del Sud. Que dicha medida, que será de
carácter temporario está aconsejada por razones de prudencia y por la confianza que
tiene este Gobierno en la actitud del nuestro, que acaba de manifestar está dispuesto a
acordar al Brasil todas las facilidades inherentes a su defesa. Que se ha probado que el
buque “Favorito” cuya tripulación está compuesta de alemanes, italianos, españoles y
algunos argentinos y brasileños, estuvo al lado de un submarino. Que no duda que
nuestro Gobierno es ajeno a cualquier actividad sospechosa de los buques que navegan
con bandera argentina, actividad que, en caso de existir, la resultaría my difícil controlar
y evitar por la nacionalidad italiana o alemana de sus tripulantes.[…] Momentos después
de mi conversación con el Ministro las autoridades dieron libre tránsito a los dos barcos.
Tengo la impresión de que en adelante habrá dificultades para la entrada a estos puertos
de los buques con tripulantes pertenecientes a los países con los cuales el Brasil se
encuentra en estado de beligerancia”;
AHI: telegrama nº 139, do Ministro Oswaldo Aranha ao Embaixador Rodrigues Alves,
Buenos Aires, 126/08/1942. “O Encarregado de Negócios da Argentina procurou-me esta
manhã, a propósito do assunto dos dois vapores retidos neste porto, em consequência
de uma medida provisória de ordem geral. Chamei a atenção para o caráter amistoso de
nossa atitude decorrente da confiança inspirada, pelos propósitos manifestados por esse
governo, de solidariedade e de suas disposições de nos prestar, nas presentes
circunstâncias, o máximo de auxílio possível”;
279
DAP: nota s/nº, do Ministério da Marinha Argentina ao Ministro Cantilo, Buenos Aires,
31/08/1942;
DAP: nota s/nº, do MREC ao Embaixador José de Paula Rodrigues Alves, Buenos Aires,
01/09/1942. “... este Gobierno ha podido comprobar que ningún barco argentino ha
estado en condiciones de prestar esos servícios de aprovisionamiento en las
circunstancías señaladas...”;
DAP: nota nº 241, do MREC ao Embaixador José de Paula Rodrigues Alves, Buenos
Aires, 01/09/1942;
DAP: telegrama nº 129 (cifrado nº 754), do Ministro Guiñazú a Embaixada Argentina no
Brasil, Buenos Aires, 31/08/1942. “...el Ministerio de Marina ha practicado una minuciosa
investigación para establecer, sobre la base de las características de cada barco, su
situación y sus disponibilidades de combustible, las posibilidades de aprovisionamiento
de los submarinos alemanes que les atribuye la gravísima denuncia del Ministerio de
Relaciones Exteriores. De acuerdo con las categóricas conclusiones de esa información,
sírvase V.S. hacer presente al Señor Ministro la satisfacción con que el Gobierno
Argentino, cuya actitud naturalmente no puede ponerse en duda, está ahora en
condiciones de establecer el error a que sin duda responde esa denuncia, ya que ninguno
de los barcos argentinos que pudo encontrarse en esa fecha dentro de la zona de
referencia, ha estado en condiciones de suministrar combustible apropiado para tal
destino. […]. No puede extrañar la presencia de barcos argentinos en una zona que
corresponde al tráfico común entre el Río de la Plata y los puertos del Norte del mismo.
Cuesta admitir, por lo demás, que se haya elegido para una operación como la
denunciada un punto situado a sólo cuatro millas de la costa de la isla Santa Catalina,
por lo que, en todo caso, será más lógico explicar la proximidad del submarino y el buque
como un caso de visita ordinaria realizada por un barco beligerante. Anticipo a V.S. estas
conclusiones sin mayores detalles, ya que el Señor Embajador del Brasil en ésta recibirá
la información practicada por Ministerio de Marina, descartando los hechos atribuidos a
barcos de nuestra bandera, que deben ser categóricamente negados”;
280
DAP: memorando do Ministério da Marinha ao MREC, Buenos Aires, 31/08/1942. “...La
Prefectura General Marítima ha informado haber dispuesto la instrucción de sendos
sumarios, a medida que el arribo de los buques a puertos nacionales lo permita. Pero
anticipándose a las resultancias de todos esos sumarios ha reunido suficientes elementos
de juicio para determinar la responsabilidad que pudiera surgir y la posición de cada uno
de los buques que, habiendo salido de puertos nacionales en el mes de agosto o antes,
se supone puedan haber arribado a puertos brasileros comprendidos entre el Río de la
Plata y Rio de janeiro, o en las fechas mencionadas, haber estado navegando al Sud de
éste último.[…]
Los buques despachados de nuestros puertos en el mes de agosto o con anterioridad,
de los que se pudiera sospechar haber actuado en hechos con el denunciado, son los
siguientes: “FAVORITA CLARA I”; “FAVORITA D. SANTIAGO”; “FAVORITA SANTOS
COSME Y DAMIAN”; “NOVILLO”; “SARANDI”; “CURUPAITY”; “OESTE”; “DUBLIN”;
“NORTE”; “TORO”; “QUEQQUEN”; “RIO NEGRO”; “BARILOCHE”.
De los buques precedentemente mencionados, deben descartarse de la posibilidad de
haber sido avistados en el mar los días 22 y 23 de agosto:
1)- Vapor “TORO” – porque se encontraba en Porto Alegre desde el día 20 hasta el día
24, fecha está en que salió del mismo con destino a Montevideo;
2)- Vapor “OESTE” – porque entre los días 1 y 24 estaba en Angra dos Reis;
3)- Vapor “NORTE” – por hallarse en el puerto de Rio de Janeiro desde el día 20 hasta el
26 de agosto;
4)- B/motor “QUEQUEN” – porque llegó a San Francisco do Sul el día 22 y salió del mismo
el 26;
5)- B/motor “BARILOCHE” – porque permaneció operando en Porto Alegre desde el 18
de agosto hasta el 24;
6)- B/motor “RIO NEGRO” – por cuanto llegó a Antonina el día 22; salió de este puerto el
24 para Paranagúa de donde zarpó el día 26.
En cuanto a los demás buques se ha podido constatar:
1)- “FAVORITA CLARA I” – zarpó de Laguna el 20 de agosto […] llegó a Buenos Aires el
día 25. Considerando todas las constancias, la ruta seguida y los demás elementos de
281
juicio disponibles, se llega a la conclusión de que el día 22 de agosto se encontraba a
300 millas al sud del punto mencionado en la denuncia recibida. […];
2)- “FAVORITA DON SANTIAGO” – zarpó de Buenos Aires el 16 de agosto. Llego a
Santos en la noche del 22. [...] para llegar a su puerto de destino en la noche (24:00 hs),
habría tenido que desarrollar una velocidad media de 16 nudos para cubrir las 240 millas
que separan dicho punto y Santos.[…] La velocidad máxima de este buque es solo de 7
nudos;
3)- “FAVORITA SANTOS COSME Y DAMIAN” – salió de Buenos Aires el 5 de agosto.
Llegó a Santos el 17 a 17:30 horas. Salió de Santos el 22 a 08:30 horas. Siendo su
velocidad de 8,5 nudos le hubieran sido necesarias 91/2 horas para llegar al punto
mencionado en la denuncia […]. Como éste buque ha llegado al puerto de Buenos Aires,
el sumario que se instruye comprueba que el día 22 a 11:00 horas fondeó en Punta Paz,
esperando mejoría de tiempo y recién levó anclas el día 23 de agosto a 06:00 horas;
4)- ”NOVILLO” – salió de Bahia Blanca el día 20 de agosto […] y se encuentra
actualmente en Santos. Si se anticipa la hora de salda fijándola en00:00 horas del día 20
– dado que su velocidad es de 8 nudos – el día 22 a 08:45 horas no podía estar, en
manera alguna, más al Norte […]. Vale decir a no menos de 600 millas de la Isla Santa
Catalina (punto denunciado) […];
5)- “SARANDI” – zarpó de Bahia Blanca el 19 de agosto. Llegó a Santos el 27. Su
velocidad ES de 8 nudos y por lo tanto el día 22 a 08:45 hs, no podía esta al norte […] o
sea a no menos de 385 millas de la Isla Santa Catalina (punto denunciado);
6)- “CURUPAITY” – salió de Santos el día 18 y llegó a Buenos Aires el 24 a 14:00 horas.
Por consiguiente, dada su velocidad de 10 nudos, el día 22 de agosto a 08:45 hs. Se
encontraba […] a 240 millas del punto denunciado […];
7)- “DUBLIN” – salió de Bahia Blanca el día 19 y llegó a santos el 25. De juzgarse por el
texto de la denuncia, no puede suponerse a éste buque, debidamente reconocido por
avión patrullero, prestando asistencia a submarino alguno. La denuncia manifiesta que
fue sobrevolado tres veces antes de que izara su bandera y que en esa circunstancia
navegaba hacia el sud. Esta aseveración parecería errónea; el “DUBLIN” navegaba hacia
Santos y por consiguiente s rumbo, dos o tres días antes de su arribo – que está en
conformidad con su velocidad de marcha […].
282
De lo precedentemente informado, que lo es en base a los datos más fidedignos a mano,
se deduce lógicamente que pueda haber habido un error en la individualización del buque
que los aviones patrulleros hayan descubierto en operaciones de asistencia a un
submarino del día 22 de agosto a 08:45 horas.[…]”;
DAP: telegrama nº 357, da Embaixada Argentina ao MREC, Rio de Janeiro, 12/10/1942.
“,,, las respectivas autoridades norteamericanas han dado instrucciones a sus naves de
guerra para que vigilen cuidadosamente las comunicaciones de los barcos de bandera
argentina y los detengan en caso de que resulten sospechosas. V.E. comprenderá la
gravedad de estas instrucciones, por lo cual creo innecesario qualquier comentario al
respecto...”;
DAP: telegrama nº 84, da Embaixada Argentina ao MREC, Rio de Janeiro, 08/02/1943;
DAP: telegrama nº 99, da Embaixada Argentina ao MREC, Rio de Janeiro, 11/02/1943.
“... tengo el agrado de remitirle adjuntos, por duplicado, unos recortes de los diarios “A
Noite” y “O Globo” respectivamente, que dan cuenta de las actividades de la banda de
espías recientemente descubierta ven esta capital y en San Pablo”;
DAP: telegrama nº 50 (telegrama ordinário nº 932), do Ministro Cantilo ao Embaixador
Ricardo de Olivera, Buenos Aires, 01/06/1940. “El 26 de Abril zarpo de Buenos Aires el
vapor “Uruguay”, debidamente en la matrícula argentina, bajo el mando de un capitán y
oficialidad argentinos y con la mayoría de su tripulación igualmente argentina, llevando,
con destino al puerto de Amberes, cinco mil quinientas toneladas de maíz, quinientas de
trigo y quinientas de tortas oleaginosas.
Al producirse el estado de guerra entre Alemania y Bélgica, […], decidieran cambiar el
rumbo del mismo. Se consiguió vender el cargamento en el Estado Libre de Irlanda y por
radiotelegrama se enviaran instrucciones al capitán de la embarcación para que se
dirigiera al puerto de Limerick en dicho Estado.
Las órdenes fueran cumplidas y después de la escala en San Vicente, el barco se dirigió
directamente hacia su nuevo destino. El día 27 de Mayo, a las 20 horas más o menos, a
283
la altura del Cabo Villano y hallándose el barco a más de ciento treinta millas al oeste de
la costa española, un submarino de la Marina del Reich le intimó detenerse.
El Capitán del “Uruguay” cumplió inmediatamente la orden y, de acuerdo con las
instrucciones que le fueran dadas en idioma español, envió al submarino un bote con los
papeles de a bordo. El mismo bote fue utilizado por el segundo comandante del
submarino para llegar hasta el “Uruguay” en compañía del primer oficial y varios
marineros armados. Una vez a bordo éstos, se ordenó a la tripulación del “Uruguay”
embarcarse en los dos botes salvavidas disponibles, acordándoles para esta operación
y la de alejamiento veinticinco minutos. En el ínterin el primer oficial procedió a colocar
cuatro bombas de tiempo a bordo del barco.
Alejados los botes con los tripulantes, a quiénes no se permitió salvar sus equipajes ni
otros elementos o papeles, salvo el diario de a bordo, la operación de hundimiento del
barco fue completada con seis cañonazos del submarino.
Los dos botes con los tripulantes navegaron toda esa noche y el día siguiente y puede
asegurarse que, de no haber mediado la ayuda prestada por barcos franceses y
españoles, la tripulación no hubiera sido salvada.
Estos son los hechos escuetamente relatados. No necesitaría casi exponer las reglas de
derecho aplicables al caso. Tratándose de un barco de bandera neutral, que conducía
carga neutral a un puerto neutral, nada tenía que temer, máximo navegando en pleno
mar libre, en una zona que ninguno de los beligerantes ha declarado zona de guerra ni
minada, ni siquiera peligrosa para la navegación pacífica.
Debo hacer notar que se habían tomado todas las precauciones posibles para que fuera
visible el carácter neutral del barco, que llevaba izada su bandera. En ambos costados
del mismo, los colores argentinos así como la inscripción del nombre del barco y del
puerto de matrícula en grandes letras y un letrero luminoso con la inscripción “República
Argentina” impedían toda confusión.
Menos podría hablarse de confusión cuando el hundimiento fue ordenado y ejecutado
previo interrogatorio de la tripulación y examen de los papeles de a bordo. Se trata, pues,
de un acto de guerra deliberadamente ejecutado contra el barco y la propiedad de una
potencia que ha mantenido y mantiene pacíficas relaciones con Alemania.
284
Aún cuando el barco se hubiera dirigido a puerto amigo, el hundimiento no hubiera estado
amparado por las reglas del derecho de gentes. […]
[...] La suerte de la tripulación fue confiada a dos botes sin medios mecánicos de
propulsión y pocas esperanzas podía haber de que esos botes, cargados de tripulantes,
pudieran llegar a la costa distante más de 130 millas. Sólo circunstancias providenciales
han impedido que a las pérdidas materiales se unieran las de vidas humanas. En cuanto
a los papeles sólo el diario de a bordo se salvó con los tripulantes.
Las reglas de derecho aceptadas por todos los pueblos rechazan estos atentados a la
vida y a la propiedad de pacíficos neutrales que ejercen en el mar libre un comercio
legítimo.
De acuerdo con las instrucciones recibidas, presente a V.E. la más formal y severa
protesta del Gobierno Argentino por el agravio inferido a la bandera argentina y por el
atentado llevado a cabo contra un barco argentino en violación de las leyes del derecho
de gentes y de la humanidad.
MI Gobierno confía en que el Gobierno alemán sabrá contemplar la justa y sentida
protesta del pueblo argentino, que no puede comprender ni aceptar estos actos de
hostilidad contra el comercio y la bandera de una nación que mantiene con ese país
regulares y cordiales relaciones de amistad.
Espera que el Gobierno Alemán, al examinar y resolver este caso, procederá de acuerdo
con las normas que les son aplicables en Derecho Internacional como lo hizo en
circunstancias a nuestro pabellón y el pago de las indemnizaciones por los daños
sufridos. Saludo a V.E. etc”;
DAP: telegrama nº 25 (telegrama cifrado nº 533), do Ministro Embaixador Oliveira Cézar
ao MREC, Madri, 29/05/1940. “...Hasta ahora ha llegado un bote con 13 tripulantes con
ellos el Comandante [...], quienes manifestaron que los oficiales del submarino subieron
a bordo empuñando revólvers y obligaron a embarcar en los botes a la tripulación sin
permitirles llevar sus equipajes. Inmediatamente colocaron una mina provocando el
hundimiento. Segundo bote con 14 tripulantes sin notícias...”;
DAP: telegrama da Empresa Ridder Lda. ao MREC, Buenos Aires, 30/05/1940;
285
DAP: telegrama s/nº, da Embaixada Alemã ao MREC, Buenos Aires, 26/06/1940. “1)- O
rumo do navio não mostrava para qual porto se dirigia, indicando, apenas, que não eram
portos espanhóis ou portugueses;
2)- O vapor se encontrava em um rota, utilizada, com frequência, por navios que se
dirigiam a países inimigos da Alemanha;
3)- O comandante do “Uruguay” demorou, excessivamente, em enviar a documentação
que lhe foi pedida;
4)- A documentação indicava, em princípio, que o destino era Amberes (Bélgica), porto
inimigo, sendo assim, a carga era contrabando de guerra;
5)- Amberes era um porto fortificado e base de belonaves belgas;
6)- O comandante mostrou outro formulário, indicando como novo destino Limerick
(Irlanda), documento este, que não indicava o novo consignatário;
7)- O documento, também, não indicava quem iria descarregar e receber a mercadoria
no porto de Limerick;
8)- Foi descoberto uma certidão que mostrava o compromisso dos tripulantes do
“Uruguay” em viajar para qualquer porto beligerante do Mar do Norte e do Canal da
Mancha, em troca de um aumento de 300% do soldo original;
9)- Tudo indicava que o “Uruguay” poderia desviar sua rota e aportar em país inimigo da
Alemanha;
10)- Segundo a Declaração de Londres (Artigo 40) o navio poderia ser confiscado por
transportar contrabando de guerra”;
11)- O Vapor poderia ser destruído ou tomado como presa, em conformidade com outro
artigo (49) da Declaração de Londres;
12)- O submarino, por questão de segurança, não poderia escoltá-lo até um porto amigo,
nem disponibilizar pessoal (vigias armados) para permanecer no “Uruguay”, enquanto
navegava até a chegada ao porto”;
DAP: telegrama s/nº, da Embaixada Alemã ao MREC, Buenos Aires, 26/06/1940;
286
DAP: telegrama nº 48, do Presidente Ramón Castillo ao Senado Argentino, Buenos Aires,
30/09/1940. “...una vez terminada la guerra, ha de encontrarse por el Gobierno Alemán
la oportunidad de poner de manifestó, con respecto a los distintos aspectos de la primera
nota argentina, las disposiciones amistosas que ella destaca, lo que llevará al pueblo
argentino al convencimiento de que el incidente del “Uruguay” fue sólo un hecho
accidental, privado de todo propósito agraviante para la nacionalidad del barco y que los
amistosos sentimientos que, según la misma nota, abriga la Marina del Reich, para con
la Marina de la república Argentina, son también los del Gobierno Alemán, frente al
Gobierno Argentino”;
DAP: nota da Embaixada Alemã ao MREC, Buenos Aires, 15/04/1940;
DAP: opinião (documento nº 14), do Conselheiro Legal Dr. Isidoro Ruiz Moreno sobre a
nota da Embaixada Alemã, Buenos Aires, 19/04/1940;
DAP: telegrama nº 190 (cifrado nº 190), do Embaixador Ricardo Olivera ao MREC,
Berlim, 17/07/1940. “...La Cancillería Alemana contestó que una Doctrina Monroe que ha
permitido soberanías de Inglaterra y de Francia en el continente americano, se niega a sí
misma, y que si éstas son aceptadas no cabe pretensión de excluir a otras potencias
europeas. Dice después que como Alemania no tiene ninguna posesión en el continente
americano ni ha dado indicación alguna de preténdela, la pregunta carece de objeto. Se
refirió después en frases más confusas en la Doctrina Monroe y podría inducirse que
Alemania no las acepta sino a base de una exclusión sin excepción de todas las potencias
europeas y a condición de una igual no-intervención de América en Europa”;
DAP: telegrama nº 189 (cifrado nº 784), do Embaixador Ricardo Olivera ao MREC,
Berlim, 17/07/1940. “...en una entrevista el Fuher añadió que Alemania no tiene
pretensiones territoriales en América”;
DAP: telegrama nº 19 (cifrado nº 7142), do Encarregado de Negócios Luis Santiago Luti
ao MREC, Berlim, 22/01/1942. “...el Subsecretario de Estado me pidió comunicar a V.E.
287
que el Gobierno de Alemania creía que la ruptura podría “facilitar el camino” para uma
futura declaración de guerra por parte de las potencias del Eje”;
DAP: memorando do Embaixador Ricardo Olivera ao MREC, Berlim, 24/01/1942. “El
Señor Ministro Interino Doctor Rothe manifiesta al Señor Encargado de Negocios Doctor
Meynen la sorpresa y el desagrado con que este Gobierno recibe esa clase de
advertencias, incompatibles con la tradición de dignidad internacional de la Argentina y
agrega que en el curso de nuestra historia ningún país se creyó hasta ahora autorizado
a dirigírselas. Que menos aún podía esperarse ese paso de un país como Alemania con
el cual la Argentina se ha empeñado en mantener sus buenas relaciones aún en las
situaciones más difíciles. Concluyó pidiéndole trasmitiera a su Gobierno estas
manifestaciones. […];
DAP: telegrama nº 26 (ordinário nº 288), do Embaixador Eduardo Labougle ao MREC,
Rio de Janeiro, 28/01/1942. “En sesión clausura Reunión Cancilleres, Ministro Aranha
comunicó oficialmente que Gobierno Brasil había dado instrucciones hoy a las 6 de la
tarde a sus representantes en Alemania, Italia Japón para que comunicasen a respectivas
Cancillerías que quedaban rotas relaciones diplomáticas y que al mismo tiempo había
entregado pasaportes a los Embajadores de esos tres países acreditados ante Brasil.
También manifestó que se habían impartido instrucciones a los Interventores Estaduales
para que comunicasen a los Cónsules de Alemania Italia Japón la cancelación de sus
respectivos exequáturs”;
DAP: telegrama nº 16, do Encarregado de Negócios Argentino ao MREC, Berlim,
31/01/1942. DIENST AUS DEUTSCHLAND: “Los órganos de información han destacado
la importancia, cada vez mayor, que tienen los países de la América Latina en la
estructura política del mundo, haciendo notar los grandes esfuerzos que intentarían los
Estados Unidos para que esos países abandonaran la neutralidad y tomaran partido en
el actual conflicto. […] la prensa no ha perdido ninguna ocasión para enrostrar al
Presidente Roosevelt su política tendiente a suprimir el “statu quo” en la América Latina,
es decir, el mantenimiento del orden político y económico existente, pues su deseo es
288
“suscitar revoluciones, cambios de Gabinetes, etc, susceptibles de provocar una nueva
situación que permita la realización de los propósitos que persiguen los Estados Unidos
en la América Latina. Esos propósitos serían la supresión de la soberanía y la
instauración de colonias y protectorados norteamericanos”.
DEUTSCHE DIPLOMATISCHE KORRESPONDENZ: “Washington espera que una vez
rotas las relaciones entre aquellos países y las Potencias del Eje, serán adoptadas
medias severas contra los pobladores de nacionalidad alemana, italiana y japonesa, los
convoyes serán protegidos en común y finalmente la propaganda norteamericana llegará
el mismo resultado que en la América Central: a arrastrar al Continente Sudamericano
en la guerra”.
“La finalidad de la política de Roosevelt es preparar en esa Conferencia la incorporación
política, económica y militar de Sudamérica al Imperio norteamericano en tal forma que,
después de haberse asegurado definitivamente las posiciones de partida, las cosas sigan
por sí mismas el camino que ha elegido Roosevelt”. […]
“Roosevelt ha puesto en escena esta guerra para poderse quedar con la América del
Sud, porque esta guerra supone para Sudamérica, privada de todas sus anteriores
relaciones, la dependencia total del Norte”.
BERLINER BÖRSEN-ZEITUNG: “Los Estados Sudamericanos, uno tras otro, con
escasas excepciones, se han dejado estrangular. Con su aprobación para la llamada
solidaridad panamericana y democrática firmaran un cheque en blanco que Sumner
Welles les presenta ahora al cobro. Podemos decir francamente que con escasas
excepciones casi todos los que Welles debe obligar en Río a una abdicación voluntaria
no dicen y hacen lo que se los ordena a regañadientes. No es libre voluntad, sincero
convencimiento y verdadero interés vital nacional lo que los mueve a presentar mociones
preparadas en Washington y a aprobar resoluciones que no son las suyas. Se sojuzga a
todo un continente amedrotándolo con la necesidad, con el hambre y con la fuerza”;
DAP: telegrama s/nº, do Encarregado de Negócios Argentino ao MREC, Berlim,
04/02/1942. “El portavoz de la Cancillería Alemana considera que el único resultado
práctico de la Conferencia de Río ha sido la ruptura de la relaciones diplomáticas entre
Brasil, Uruguay, Paraguay, Bolivia, Ecuador, Perú y las potencias del Pacto Tripartito,
289
mientras que dos Estados, la Argentina y Chile, fieles hasta el presente al patrimonio de
Bolívar, no se han plegado a ninguna imposición que comprometa necesariamente la
independencia y los intereses nacionales”. La actitud asumida por nuestro país es
considerada con simpatía por haberse resistido a “la presión norteamericana que
anteriormente había dado tan buenos resultados en los Estados de la América Central”;
DAP: telegrama nº 116, do Embaixador Brasileiro José de Paula Rodrigues Alves ao
MREC, Buenos Aires, 22/08/1942. “Senhor Ministro: Cumprindo instruções do meu
Governo e de acordo com as normas adotadas e os compromissos assumidos nas
Conferências Pan-americanas de Buenos Aires e de Lima, assim como nas Reuniões de
Consulta dos Ministros das Relações Exteriores, tenho a honra de levar ao seu
conhecimento que, na noite de quinze para dezesseis do corrente, foram torpedeados, a
vinte milhas das costas de Sergipe, cinco vapores brasileiros de passageiros, que
navegavam de porto para porto nacional, conduzindo inclusive romeiros que se
destinavam ao Congresso Eucarístico de São Paulo. Um dos navios, o “Baependy”,
conduzia um contingente de tropa de cento e vinte homens, que não se dirigiam para
nenhum setor de guerra, havendo apenas sido transferidos de uma região militar.
Antes desse atentado, com perda de muitas vidas, já haviam sido torpedeados em
viagem internacional, por submarinos do Eixo, treze navios. A nossa atitude foi então de
simples protesto contra a violação, nesses atos desnecessários e brutais, das normas de
direito e dos princípios de humanidade que regem a guerra no mar.
Desta vez, em que o número das vítimas foi de várias centenas, compreendendo
mulheres e crianças, a agressão foi dirigida contra a nossa navegação costeira e trazida
às águas brasileiras contra uma navegação essencialmente pacífica e, por sua própria
natureza, sem objetivos suscetíveis de favorecer qualquer país beligerante, mesmo
americano, nem ferir interesses de terceiros.
Eram navios de passageiros e nenhum navegava em zona de guerra ou de bloqueio,
nem podia ser suspeito de levar carregamento para qualquer adversário das Potências
do Eixo, uma vez que os seus portos de destino eram unicamente brasileiros. O seu
afundamento nas costas brasileiras é indiscutivelmente um ato de agressão direta ao
Brasil e a extensão da guerra à América do Sul.
290
À vista disso, o Governo Brasileiro, por intermédio da Embaixada da Espanha e da
Legação da Suíça, fez saber aos Governos da Alemanha e da Itália que, a despeito de
sua atitude sempre pacífica, não há como negar que esses países praticaram contra o
Brasil atos de guerra, criando uma situação de beligerância que somos forçados a
reconhecer na defesa da nossa dignidade, de nossa soberania, de nossa segurança e a
da América, e a repelir na medida de nossas forças”;
DAP: telegrama nº 174 (ordinário nº 2389), do Encarregado de Negócios Argentino David
Traynor ao MREC, Rio de Janeiro, 22/08/1942;
DAP: telegrama nº 283, do Encarregado de Negócios Argentino David Traynor ao MREC,
Rio de Janeiro, 25/08/1942;
DAP: telegrama s/nº, do Ministro Argentino Guiñazú ao Embaixador José de Paula
Rodrigues Alves, Buenos Aires, 24/08/1942;
DAP: parte do decreto nº 1830/M7 sobre a ruptura com as Potências do Eixo, assinado
pelo Presidente Pedro Ramírez, Buenos Aires, 26/02/1944;
DAP: telegrama nº 4 (ordinário nº 234), do Ministro Alberto Gilbert ao Embaixador
Argentino, Tóquio, 26/02/1944;
DAP: telegrama do Ministro Alberto Gilbert ao Encarregado de Negócios Dr. Erich
Meynen, Buenos Aires, 26/02/1944. “Señor Encargado de Negocios, Dr. Erich Meynen:
Las investigaciones realizadas por orden de este Gobierno, han permitido descubrir la
existencia de un vasto sistema de espionaje, en que se hallan complicados varios
súbditos alemanes.
Queda así comprobada la comisión de actos ilegales realizados en el territorio de la
República en beneficio de ciertas potencias beligerantes y en contra de los intereses de
la defensa continental, que este Gobierno está decidido a proteger.
Diversas circunstancias, suficientemente comprobadas ya, permiten asegurar que esa
actividad se realiza no sólo en beneficio del Gobierno de Alemania, sino que estaba
291
directamente organizada por el mismo y con la intervención de funcionarios de esa
Embajada.
En estas condiciones, teniendo en cuenta el carácter sistemático y reiterado de estos
hechos, que vulneran sus derechos y atentan a su soberanía y seguridad, el Gobierno
Argentino ha llegado a la conclusión de que resulta imposible el mantenimiento de
relaciones diplomáticas con el Gobierno de V.E.
En la fecha, el Excmo. Señor Presidente de la Nación ha suscripto un decreto por el cual
se declaran rotas relaciones diplomáticas con el Gobierno del Reich y, en conocimiento
de V.E. y hacerle entrega de sus pasaportes.
Aún cuando desde este momento V.E. dejará de ser considerado en el carácter que hasta
ahora investía, queda bajo el amparo de la ley internacional que este Gobierno ha
cumplido y cumplirá lealmente, hasta que las circunstancias permitan su partida.
Saludo a V.E. con mi consideración más distinguida”;
DAP: telegrama do Ministro Alberto Gilbert ao Embaixador Japonês Barón Shu Tomii,
Buenos Aires, 26/02/1944. “Señor Enbajador, Barón Shu Tomii:
Las investigaciones realizadas por orden de este Gobierno, han permitido descubrir la
existencia de un vasto sistema de espionaje, en que se hallan complicados varios
súbditos alemanes.
Queda así comprobada la comisión de actos ilegales realizados en el territorio de la
República en beneficio de ciertas potencias beligerantes y en contra de los intereses de
la defensa continental, que este Gobierno está decidido a proteger.
Diversas circunstancias, suficientemente comprobadas ya, permiten asegurar que esa
actividad se realiza no sólo en beneficio del Gobierno de Alemania, sino que estaba
directamente organizada por el mismo y con la intervención de funcionarios de esa
Embajada.
En estas condiciones, teniendo en cuenta el carácter sistemático y reiterado de estos
hechos, que vulneran sus derechos y atentan a su soberanía y seguridad, el Gobierno
Argentino ha llegado a la conclusión de que resulta imposible el mantenimiento de
relaciones diplomáticas con el Gobierno de V.E.
292
En la fecha, el Excmo. Señor Presidente de la Nación ha suscripto un decreto por el cual
se declaran rotas relaciones diplomáticas con el Gobierno del Reich y, en conocimiento
de V.E. y hacerle entrega de sus pasaportes.
Aún cuando desde este momento V.E. dejará de ser considerado en el carácter que hasta
ahora investía, queda bajo el amparo de la ley internacional que este Gobierno ha
cumplido y cumplirá lealmente, hasta que las circunstancias permitan su partida.
Saludo a V.E. con mi consideración más distinguida”;
DAP: telegrama do Embaixador Sueco ao Ministro Alberto Gilbert, Buenos Aires,
28/01/1944. “Tengo el honor y agrado de comunicar a V. E. Que, según instrucciones
recebidas, mi Gobierno accederá con suma satisfacción a ésta petición, y se encargará
gustosamente a tan honrosa misión. La resolución del Gobierno Sueco llevará la fecha
de hoy”;
DAP: telegrama do Ministro Alberto Gilbert ao Embaixador Argentino, Estocolmo,
31/01/1944. “Comunico Vuecencia que Suecia hízose cargo intereses argentinos en
Alemania y Japón”;
DAP: telegrama (ordinário nº 237), do Presidente Pedro Ramírez aos Presidentes das
Repúblicas Americanas, Buenos Aires, 26/01/1944. “A los Presidentes de las Repúblicas
Americanas:
Tengo la honra de poner en conocimiento de V.E. que en uso de las atribuciones
constitucionales he procedido a firmar el decreto de ruptura de relaciones diplomáticas
con los Gobiernos de Alemania y Japón.
Al informar a V.E. de esta decisión que el Gobierno Argentino adopta no solo en amparo
de su soberanía sino también de la defensa continental, reitérole las seguridades del
propósito firme que nos anima de estrechar cada vez más las relaciones amistosas que
tan felizmente han existido siempre entre nuestros países”;
DAP: telegrama (ordinário nº 236), do Ministro Alberto Gilbert aos Ministros das Relações
Exteriores das Repúblicas Americanas, Buenos Aires, 26/01/1944. “A Ministros de
relaciones Exteriores de América:
293
Me es sumamente honroso poner en conocimiento de V.E. que el Gobierno Argentino,
mediante un decreto dictado en la fecha, ha declaro rotas sus relaciones diplomáticas
con los Gobiernos de Alemania y Japón, en razón de haberse comprobado la existencia
de un sistema de espionaje en beneficio de dichos países, atentatorio de la soberanía
nacional y de la seguridad continental.
Confío plenamente en que esta resolución que ratifica la política internacional del
Gobierno Argentino y reafirma su espíritu de solidaridad con las naciones americanas
será un motivo más de unión entre nuestros dos países”;
DAP: telegrama nº 68 (cifrado nº 2381), do Embaixador Cárcano ao MREC, Buenos
Aires, 18/02/1944.
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www.argentina-rree.com/9/9-012.htm. Acessado em: 10 jan. 2013.
Historia General de las Relaciones Exteriores de la República Argentina –
La Misión Lapez-Sueyro (diciembre de 1941-abril de 1942):
Disponível em:
www.argentina-rree.com/9/9-020.htm. Acessado em 17 jan. 2013.
Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Los Años de la
Segunda Guerra Mundial.
Disponível em:
www.argentina-rree.com/9/9-025.htm. Acessado em: 07 abr. 2013.
Historia General de las Relaciones Exteriores de la República Argentina –
Las Actividades Del Nazismo en La Argentina.
Disponível em:
www.argentina-rree.com/9/9-027.htm. Acessado em: 15 jan. 2013.
Historia General de las Relaciones Exteriores de la República Argentina –
La Actitud del Gobierno Argentino ante la Actividad de los Grupos
Nacionalsocialistas.
Disponível em:
www.argentina-rree.com/9/9-028.htm. Acessado em: 15 jan. 2013.
Historia General de las Relaciones Exteriores Argentina - Las Relaciones
Exteriores bajo el Gobierno Militar surgido el 4 de junio de 1943.
Disponível em:
www.argentina-rree.com/13/9-001.htm. Acessado em: 10 abr. 2013.
The U-boat War (1939-1945). The German U-boats.
Disponível em:
www.uboat.net. Acessado em 23 nov. 2012.
309
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Primeiros Países que aderiram à Carta do Atlântico
60
TABELA 2 Navios Brasileiros afundados na Guerra 106
TABELA 3 Submarinos das potências do Eixo afundados em 1943 115
TABELA 4 Principais Vitórias da FEB na Itália
117
TABELA 5 Posicionamento Político das Repúblicas Americanas com as
Potências do Eixo após a Reunião de Chanceleres no Rio de
Janeiro
149
TABELA 6 Navios Argentinos atacados na Guerra 187
310
ANEXOS:
ANEXO 1:
CONFERÊNCIA INTERAMERICANA DE CONSOLIDAÇÃO DA PAZ
[BUENOS AIRES – Dezembro de 1936]
Os principais Artigos da Conferência foram:
Artigo 1- As Altas Partes Contratantes, firmemente dispostas a defender o Continente
americano contra a tendência expansionista de outros povos, declaram que não terá
aplicação na América a doutrina segundo a qual a carência de matérias primas, o excesso
de população ou qualquer outro pretexto dá direitos à aquisição de terras alheias.
Artigo 2- As Altas Partes Contratantes consideram como ato inamistoso a intromissão
de qualquer potência extracontinental em país americano com o qual a dita potência não
tenha relações pré-existentes de dependência política, sempre que tal intromissão
ameace a segurança nacional desse país, ou comprometa, direta ou indiretamente, a sua
integridade territorial, ou determine o exercício de qualquer forma de influência
preponderante estranha sobre os seus destinos.
Artigo 3- As Altas Partes Contratantes concordam em se concertar imediatamente umas
com as outras, para a defesa comum e resguardo de todas, se a segurança nacional, a
integridade territorial ou a independência política de um país americano vier a ser
ameaçada ou comprometida por qualquer país extracontinental.
Artigo 4- As Altas Partes Contratantes consideram igualmente como ato inamistoso a
intromissão de qualquer delas, direta ou indireta, seja qual for o pretexto, nos assuntos
privativos de qualquer dessas partes, ainda que sob a invocação de fazer cumprir as
disposições deste Pacto. As Altas Partes Contratantes, no caso de violação das
311
disposições deste artigo, concordam em se concertar imediatamente, entre si, por
iniciativa de qualquer delas.
Artigo 5- Este Tratado será ratificado pelas Altas Partes Contratantes na forma
estabelecida em suas respectivas Constituições, sem que esta ratificação signifique, de
modo algum, renúncia de obrigações anteriores, contraídas com outros Estados ou com
organizações internacionais.
O original do tratado e os instrumentos de ratificação serão depositados na
União Pan-americana, que, por via diplomática, comunicará o recebimento de tais
instrumentos a todos os Governos signatários.
(Buenos Aires, 23 de dezembro de 1936).
312
ANEXO 2:
DECRETO LEI Nº 383 QUE REGULAMENTA AS ATIVIDADES POLÍTICAS
EXERCIDAS PELOS ESTRANGEIROS RESIDENTES NO BRASIL
[RIO DE JANEIRO – ABRIL DE 1938]
Os principais artigos do Decreto Lei eram:
Artigo 1º- Fica proibido aos estrangeiros exercer qualquer atividade de natureza política
nem imiscuir-se, direta ou indiretamente, nos negócios públicos do país.
Artigo 2º- Fica vedado aos estrangeiros organizar, criar ou manter sociedades,
fundações, companhias, clubes e quaisquer estabelecimentos de caráter político, ainda
que tenham por fim exclusivo a propaganda ou difusão, entre seus compatriotas, das
ideias, programas ou normas de ação de partidos políticos do país de origem. É proibido
organizar desfiles, passeatas, comícios e reuniões de qualquer natureza, e qualquer que
seja o número de participantes. Não podem manter jornais, revistas ou outras
publicações, estampas, artigos e comentários na imprensa, conceder entrevistas, fazer
conferências, discursos, alocuções...
Artigo 3º- Os estrangeiros têm o direito de se reunirem com “fins culturais, beneficentes
ou de assistência”, bem como para comemorar as “datas nacionais ou acontecimento de
significação patriótica”. Mas essas associações não podem, de modo algum, “receber
subvenções, contribuições ou auxílios de governos estrangeiros”.
Artigo 5º- Fica proibido aos brasileiros “natos ou naturalizados, e ainda que sejam filhos
de estrangeiro”, de fazer parte das organizações criadas em virtude do Artigo 3º.
(Rio de Janeiro, 18 de abril de 1938)
313
ANEXO 3:
VIII CONFERÊNCIA INTERNACIONAL AMERICANA - PACTO INTERAMERICANO
DE SEGURANÇA COLETIVA
[LIMA – DEZEMBRO DE 1938]
Os Governos dos Estados Americanos declaram:
Artigo 1˚- Que reafirmam sua solidariedade continental e seu propósito de colaborar na
manutenção dos princípios em que se baseia a dita solidariedade.
Artigo 2˚- Que, fiéis aos princípios antes enunciados e à sua soberania absoluta,
reafirmam sua decisão de mantê-los e defende-los contra toda intervenção ou atividade
estranha que possa ameaçá-los.
Artigo 3˚- E que, para o caso em que a paz, a segurança ou a integridade territorial de
qualquer das Repúblicas americanas se veja assim ameaçada por atos de qualquer
natureza que possam menoscabá-las, proclamam seu interesse comum e sua
determinação de tornar efetiva sua solidariedade, coordenando suas respectivas
vontades soberanas mediante o procedimento da consulta que estabelecem os
convênios vigentes e as declarações das Conferências Interamericanas, usando dos
meios que em cada caso aconselhem as circunstâncias. Fica entendido que os Governos
das Repúblicas americanas obrarão, independentemente, em sua capacidade individual,
reconhecendo-se amplamente sua igualdade jurídica como Estados soberanos.
Artigo 4˚- Que para facilitar as consultas que estabelecem este e outros instrumentos
americanos de paz, os Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas americanas
celebrarão, quando o julguem conveniente, e por iniciativa de qualquer deles, reuniões
nas diversas capitais das mesmas, por meio da rotação e sem caráter protocolar. Cada
Governo pode, em circunstâncias e por motivos especiais, designar representantes que
substituam seu Ministro das Relações Exteriores.
314
Artigo 5˚- Esta declaração será conhecida como “Declaração de Lima”.
(Lima, 24 de dezembro de 1938).
ANEXO 4:
315
DECRETO LEI Nº 31.321 QUE OFICIALIZA AS ATIVIDADES DAS
ASSOCIAÇÕES ESTRANGEIRAS NA ARGENTINA
[BUENOS AIRES – MAIO DE 1939]
Os principais Artigos do Decreto Lei foram:
Artículo 1º- Todas las asociaciones, tengan o no personería jurídica, que se constituyan
en la Capital Federal y territorios nacionales, deberán comunicar al Ministerio del Interior
a los Jefes de Policía de los respectivos domicilios, la denominación que adopten, sus
finalidades, sus reglamentos y estatutos, y la nómina de sus componentes incluyendo
nombre y apellido, edad, estado civil, profesión, nacionalidad y domicilio. Deberán llevar,
obligatoriamente y ponerlo a disposición de la autoridad cuando ésta lo requiera, un libro
de actas en que consten todas sus resoluciones.
Artículo 2º- Las asociaciones no podrán tener ni utilizar otros distintivos de nacionalidad,
que los consagrados por el Estado, ni adoptar enseñas, himnos, uniformes o símbolos
que singularicen partidos o asociaciones extranjeras.
Artículo 3º- Las denominaciones, los estatutos y los reglamentos que usaren, serán y
estarán escritos únicamente en idioma castellano.
Artículo 4º- Ninguna asociación podrá realizar actos que importen inmiscuirse, directa o
indirectamente, en la política de los países extranjeros, ni ejercer acción individual o
colectiva compulsiva para obtener la adhesión a determinados idearios políticos, bajo
promesa de ventajas o amenazas de perjuicios de cualquier naturaleza.
Artículo 5º- Toda asociación, esté o no esté compuesta por extranjeros, deberá tener
origen, exclusivamente, dentro del territorio argentino; sus autoridades y reglamentos
tendrán idéntico origen nacional. Deberán, asimismo, sujetarse a los principios
democráticos que imponen la determinación de sus actos y la elección de sus autoridades
se hará siempre por medio del voto de sus afiliados;
316
Artículo 6º- Ninguna asociación podrá depender de gobierno ni entidades extranjeras ni
recibir del exterior subvenciones ni donaciones de ninguna especie, salvo las de índole
benéfica, que podrá aceptar previo conocimiento del Poder Ejecutivo;
Artículo 7º- Las asociaciones extranjeras que tengan fines culturales, artísticos o de
asistencia social, podrán desenvolver libremente sus actividades, sin más obligaciones
que las impuestas en el artigo 1º;
Artículo 8º- El incumplimiento de las disposiciones que preceden, determinará la
inmediata disolución de la asociación infractora, sin perjuicio de las penalidades que a
sus miembros pueda corresponder de acuerdo a las leyes en vigor;
Artículo 9º- Las asociaciones existentes a la fecha de este decreto tendrán un plazo de
noventa días para someterse a sus prescripciones…
(Buenos Aires, 15 de maio de 1939).
ANEXO 5:
317
CONFERÊNCIA ENTRE OS MINISTROS DAS RELAÇÕES EXTERIORES DAS
REPÚBLICAS AMERICANAS – DECLARAÇÃO GERAL DE NEUTRALIDADE
[PANAMÁ - OUTUBRO DE 1939]
Os Governos americanos resolvem:
1- Afirmar a posição de neutralidade geral das Repúblicas Americanas, incumbindo a
cada uma delas regulamentar, em caráter particular e no exercício de sua soberania
própria, a forma de dar-lhe aplicação correta.
2- Fazer com que seus direitos e posição de neutralidade sejam plenamente respeitados
e observados por todos os beligerantes e por todas as pessoas que ajam em nome, em
representação ou no interesse dos beligerantes.
3- Declarar que, de acordo com a referida posição de neutralidade, existem certas normas
reconhecidas pelas Repúblicas Americanas, aplicáveis nessas circunstâncias e, por
conseguinte:
a)- Evitarão que seus respectivos territórios, terrestre, marítimo ou aéreo, sejam
utilizados como base de operações bélicas;
b)- Evitarão, de acordo com sua legislação interna, que os habitantes de seus
territórios desenvolvam atividades capazes de comprometer a posição neutral
das Repúblicas Americanas;
c)- Evitarão que, em seus respectivos territórios, se alistem pessoas para servir
nas forças militares, navais ou aéreas dos beligerantes; se contratem ou
induzam pessoas a abandonar seus lares com o objetivo de tomar parte nas
operações bélicas; se empreenda qualquer missão militar, naval ou aérea em
favor dos beligerantes; se aprovisionem, armem, ou aumentem as forças ou o
armamento de qualquer vapor ou navio para ser empregado no serviço de um
dos beligerantes, para fazer cruzeiros ou cometer atos de hostilidade contra
outro beligerante, seus nacionais ou bens; e que os beligerantes ou seus
agentes estabeleçam, no território terrestre ou marítimo das Repúblicas
318
Americanas, estações radioelétricas ou se sirvam de tais estações para se
comunicarem com os Governos ou forças armadas daqueles;
d)- Poderão determinar, quanto aos navios de guerra beligerantes, que não
sejam admitidos, em portos ou águas próprias, em número superior a três, de
cada vez; e que de qualquer maneira, sua permanência não exceda de 24
horas. Poderão excetuar-se desta disposição, os navios dedicados
exclusivamente a missões científicas, religiosas ou filantrópicas, assim como
aqueles que arribarem por motivo de avaria;
e)- Exigirão que todos os navios e aviões beligerantes, que procurem
hospitalidade em zonas sob sua jurisdição e governo, respeitem plenamente
sua condição de neutros e observem suas respectivas leis e regulamentos, bem
como as regras do Direito Internacional sobre os direitos e deveres de neutros
e beligerantes e, na hipótese de haver dificuldade de serem respeitados e
observados seus direitos, o caso poderá ser objeto de consulta entre eles, se
assim for solicitado;
f)- Considerarão como infração à sua neutralidade todo o voo de aeronaves
militares dos Estados beligerantes sobre o próprio território. E com relação às
aeronaves não militares adotarão as seguintes medidas: só poderão voar com
licença de autoridade competente, sem distinção de nacionalidade, e deverão
seguir itinerários estabelecidos pelas mesmas autoridades; seus comandantes
ou pilotos deverão declarar o lugar da partida, as escalas e o destino; só
poderão usar radiotelegrafia para assegurar a rota e as condições de
navegabilidade, utilizando linguagem clara em idioma nacional, sendo
admitidas unicamente as abreviaturas regulamentares; as autoridades
competentes poderão exigir que as aeronaves levem um copiloto ou
radiotelegrafista para fins de controle. As aeronaves militares dos beligerantes,
transportadas a bordo de navios de guerra, não poderão deixar esses navios
em águas das repúblicas Americanas; as aeronaves militares dos beligerantes,
que descerem em território de uma República Americana, serão internadas por
esta, até o fim das hostilidades, assim como sua tripulação, salvo no caso de
319
pouso por avaria comprovada. Excetuam-se da aplicação dessas regras os
casos em que existam convenções que determinem o contrário;
g)- Poderão submeter os navios mercantes de bandeira beligerante, assim
como seus passageiros, documentos e carga, a inspeção nos próprios portos;
o agente consular respectivo deverá certificar os portos de escala e de destino,
comprovando também que se trata de viagem de fins exclusivamente
comerciais. Poderão, também, fornecer combustível aos ditos navios na medida
necessária para chegarem até o porto de abastecimento, ou de escala em outra
República Americana, salvo no caso de viagem direta a outro continente,
circunstância em que poderão fornecer-lhes a quantidade necessária de
combustível. Se ficar comprovado que forneceram combustíveis, a navios de
guerra beligerantes, serão considerados como transportes auxiliares;
h)- Poderão concentrar, estabelecendo guarda a bordo, os navios mercantes,
de bandeira beligerante, que permaneçam asilados em suas águas, ou internar
os que tenham feito falsas declarações sobre o seu destino, assim como os que
demorem tempo excessivo e não justificado na viagem, ou tenham adotado
sinais distintivos próprios aos navios de guerra;
i)- Considerarão lícita a transferência de bandeira de um navio mercante a uma
das Repúblicas americanas, desde que essa mudança se tenha realizado com
absoluta boa fé, sem cláusula de retro-venda e em águas de uma República
Americana;
j)- Não equipararão aos navios de guerra os navios mercantes armados, de
bandeira beligerante, desde que não levem mais de quatro canhões de seis
polegadas, colocados na popa, e não tenham reforçados os conveses laterais,
ou quando, a juízo das autoridades locais, não existam outros elementos que
revelem que o navio mercante poderá ser empregado para fins ofensivos.
Poderão exigir que aqueles navios, para entrar nos portos depositem os
explosivos e as munições nos lugares em que a autoridade local determinar;
k)- Poderão excluir os submarinos beligerantes das águas adjacentes a seu
território, ou então admiti-los sob condição de que se submetam à
regulamentação que prescrevam.
320
4- Dentro do espírito enunciado nesta Declaração, os Governos das Repúblicas
Americanas manterão estreito contacto a fim de uniformizar, na medida do possível, a
aplicação de sua neutralidade e para torná-la efetiva em defesa de seus direitos
fundamentais.
5- Com o fim de estudar e formular recomendações relativas aos problemas de
neutralidade, de acordo com o que aconselharem a experiência e o desenrolar dos
acontecimentos, será constituída, enquanto durar a guerra europeia, uma Comissão
Interamericana de Neutralidade, composta de sete peritos em Direito Internacional, que
serão designados pelo Conselho Diretor da União Pan-americana antes de 1˚ de
novembro de 1939. As recomendações da Comissão serão comunicadas aos Governos
das Repúblicas Americanas, por intermédio da União Pan-americana.
(Panamá, 03 de outubro de 1939)
ANEXO 6:
321
CONFERÊNCIA ENTRE OS MINISTROS DAS RELAÇÕES EXTERIORES DAS
REPÚBLICAS AMERICANAS – INSTITUINDO UMA ZONA DE SEGURANÇA
CONTINENTAL
[PANAMÁ – OUTUBRO DE 1939]
Os Governos americanos declaram:
Artigo 1˚- Como medida de proteção continental as repúblicas Americanas, enquanto
mantiverem sua neutralidade, têm o direito indiscutível de conservar livres de todo ato
hostil, por parte de qualquer nação beligerante não americana, as águas adjacentes ao
Continente americano, que consideram como de interesse primordial e de direita utilidade
para as suas relações, quer o referido ato hostil seja praticado de terra, do mar ou do ar.
Artigo 2˚- Os Governos das Repúblicas Americanas concordam em que se esforçarão
por obter dos beligerantes a observância das disposições contidas nesta Declaração, por
meio de representações conjuntas aos Governos que atualmente ou no futuro venham a
tomar parte nas hostilidades, sem prejuízo do exercício dos direitos individuais de cada
Estado, inerentes à sua soberania.
Artigo 3˚- Os Governos das Repúblicas Americanas declaram, além disso, que, sempre
que considerarem necessário, se consultarão, entre si, para determinar as medidas a
serem tomadas, individual ou coletivamente, afim de conseguir o cumprimento das
disposições desta Declaração.
Artigo 4˚- As Repúblicas Americanas, enquanto existir um estado de guerra do qual elas
próprias não participem, e quando for julgado necessário, poderão realizar
patrulhamentos individuais ou coletivos, conforme resolverem, por mútuo consentimento
e até onde os elementos e recursos de cada uma o permitam, nas águas adjacentes às
suas costas, dentro da zona já definida.
(Panamá, 03 de outubro de 1939).
322
ANEXO 7:
323
CONFERÊNCIA ENTRE OS MINISTROS DAS RELAÇÕES EXTERIORES DAS
REPÚBLICAS AMERICANAS – DECLARAÇÃO CONJUNTA DE SOLIDARIEDADE
CONTINENTAL
[PANAMÁ – OUTUBRO DE 1939]
Os Governos americanos declaram:
Artigo 1˚- Que reafirmam a declaração de solidariedade entre os povos deste continente,
proclamada na 8˚ Conferência Interamericana de Lima, em 1938.
Artigo 2˚- Que se esforçarão usando de todos os recursos espirituais adequados de que
disponham, para conservar e fortalecer a paz e a harmonia entre as Repúblicas da
América, como requisito indispensável para que se possa cumprir com eficácia o dever
que lhes corresponde na evolução histórica universal da civilização e da cultura.
Artigo 3˚- Que estes postulados não obedecem a qualquer propósito egoísta de
isolamento e antes se inspiram no elevado intuito de cooperação universal, que leva estas
nações a formular fervorosos votos para que cesse o deplorável estado de guerra
atualmente existente entre alguns países da Europa, com grave perigo para os mais altos
interesses espirituais, morais e econômicos da humanidade, e para que volte a reinar no
mundo a paz, não ditada pela violência, mas baseada na justiça e no direito”.
(Panamá, 03 de outubro de 1939).
ANEXO 8:
324
CONFERÊNCIA ENTRE OS MINISTROS DAS RELAÇÕES EXTERIORES DAS
REPÚBLICAS AMERICANAS – DEFESA DA POLÍTICA PAN-AMERICANA
[HAVANA – JULHO DE 1940]
As Repúblicas Americanas, na defesa e proteção da política pan-americana,
resolvem:
Artigo 1º- Reiterar a recomendação feita pela Primeira Reunião de Consulta do Panamá,
de que os Governos das Repúblicas Americanas adotem as disposições necessárias
para extirpar das Américas a propaganda de doutrinas que tendam a pôr em perigo o
comum ideal democrático interamericano, assim como as que sejam convenientes para
evitar quaisquer atividades capazes de comprometer a neutralidade americana;
Artigo 2º- Recomendar aos Governos das Repúblicas Americanas as seguintes regras
a respeito de lutas civis, distúrbios internos ou propagação de ideologias subversivas:
a)- Empregar os meios necessários para evitar que os habitantes de seu
território, nacionais ou estrangeiros, tomem parte, reúnam elementos, passem
a fronteira ou embarquem no seu território para introduzir ou fomentar guerra
civil, ou distúrbio interno, ou propagar ideologias subversivas em outro país
americano;
b)- Desarmar ou internar toda força rebelde que traspasse as suas fronteiras.
Desde que sejam aplicáveis, observar-se-ão as regras de internação,
formuladas pela Comissão Interamericana de Neutralidade do Rio de Janeiro;
c)- Proibir o tráfego de armas e material de guerra, salvo quando forem
destinados ao governo, enquanto não esteja reconhecida a beligerância dos
rebeldes, caso no qual se aplicarão as regras de neutralidade;
d)- Evitar que em sua jurisdição se equipe, se arme ou se adapte para uso
bélico, qualquer embarcação destinada a operar no interesse da rebelião;
Artigo 3º- Reiterar a Recomendação da Primeira Reunião de Consulta do Panamá para
que se promova, com a maior brevidade possível, a coordenação das regras e
procedimentos que julguem úteis, para facilitar a ação das autoridades policiais e
325
judiciárias dos respectivos países, em repressão das atividades ilícitas que tentam
realizar, em qualquer momento, indivíduos nacionais ou estrangeiros, em favor de um
Estado estrangeiro;
Artigo 4º- Recomendar aos Governos dos estados americanos, sem prejuízo do respeito
devido ao seu direito individual e soberano para regular a condição jurídica dos
estrangeiros, a consagração das seguintes normas legislativas ou administrativas:
a)- Tornar efetiva a proibição de toda atividade política de indivíduos,
associações, grupos ou partidos políticos estrangeiros, qualquer que seja a
forma com que a dissimulem ou encubram;
b)- Fiscalização rigorosa da entrada de estrangeiros no território nacional,
particularmente no caso em que estes sejam nacionais de Estados não
americanos;
c)- Supervigilância policial eficaz das atividades das coletividades estrangeiras
não americanas, estabelecidas nos diversos Estados americanos;
d)- Criação de um sistema penal destinado a prevenir e impedir as infrações
determinadas neste artigo;
Artigo 5º- Encarecer a necessidade de comunicação recíproca, em forma direta, ou
mediante o órgão da União Pan-americana, de informações e dados acerca da entrada,
não admissão e expulsão de estrangeiros e da adoção das medidas preventivas e
repressivas previstas no artigo anterior;
Artigo 6º- Qualquer das repúblicas americanas, atingidas diretamente pelas atividades a
que se refere esta Resolução, poderá iniciar o procedimento de consulta.
(Havana, 30 de julho de 1940)
ANEXO 9:
326
CONFERÊNCIA ENTRE OS MINISTROS DAS RELAÇÕES EXTERIORES DAS
REPÚBLICAS AMERICANAS – ROMPIMENTO DE RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS
[RIO DE JANEIRO – JANEIRO DE 1942]
As Repúblicas Americanas, na defesa e proteção da política pan-americana,
adotem, imediatamente, de conformidade com as práticas usuais e a legislação de cada
país:
a)- As medidas adicionais que sejam necessárias para interromper-se, durante a atual
emergência continental, todo o intercâmbio comercial e financeiro, direto ou indireto,
entre o Hemisfério Ocidental e as nações signatárias do Pacto Tripartido e os territórios
dominados pelas mesmas;
b)- As medidas para se suspenderem as demais atividades comerciais e financeiras
prejudiciais ao bem estar e à segurança das Repúblicas Americanas, medidas essas que
terão, entre outros objetivos, os seguintes:
I)- Impedir, dentro das Repúblicas Americanas, as operações comerciais e
financeiras contrárias à segurança do Hemisfério Ocidental, realizadas
diretamente pelos Estados membros do Pacto Tripartido, pelos territórios por
eles dominados, ou por seus nacionais, sejam pessoas naturais ou jurídicas, e
evitar também outras, realizadas indiretamente pelos ditos Estados ou seus
cidadãos, e as que redundarem em benefício dos ditos Estados ou territórios e
de seus cidadãos, ficando entendido que as pessoas naturais poderão ser
excetuadas de tais medidas quando forem residentes de uma República
Americana, e com a condição de ficarem controladas conforme prevê o inciso
seguinte;
II)- Vigiar e controlar todas as operações comerciais e financeiras que realizem,
dentro das Repúblicas Americanas, os nacionais dos Estados signatários do
Pacto tripartido ou dos territórios dominados por eles, que residam em uma das
ditas Repúblicas e proibir todas as operações de qualquer natureza que forem
contrárias à segurança do Hemisfério Ocidental.
327
(Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 1942)
ANEXO 10:
328
DECRETO Nº 10.358
BRASIL DECLARA GUERRA EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL
[RIO DE JANEIRO – AGOSTO 1942]
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 74, letra k, e
o artigo 171 da Constituição, declara o estado de guerra em todo o território nacional:
Artigo 1º - É declarado o estado de guerra em todo o território nacional.
Artigo 2º - Na vigência do estado de guerra deixam de vigorar desde já as seguintes
partes da Constituição:
Art. 122, nos. 2, 6, 8, 9, 10, 11, 14 e 16;
Art. 122, no. 13, no que diz respeito à irretroatividade da lei penal;
Art. 122, no. 15, no que concerne ao direito de manifestação de pensamento;
Art. 136, final da alínea;
Art. 137;
Art. 138;
Art. 155, letras c e h;
Art. 175, primeira parte, no que concerne ao curso do prazo.
Parágrafo Único – Ressalvados os atos decorrentes de delegação para a execução do
estado de emergência declarado no artigo 166 da Constituição, só o Presidente da
República tem o poder de, diretamente ou por delegação expressa, praticar atos
fundados nesta lei.
Artigo 3º - O presente decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas
as disposições em contrário.
(Rio de Janeiro, 31 de agosto de 1942)
ANEXO 11:
329
CONFERENCIA INTERAMERICANA SOBRE PROBLEMAS DE LA GUERRA Y DE
LA PAZ CONSTITUCIÓN DE UN ORGANISMO MILITAR PERMANENTE
[CHAPULTEPEC – MARÇO 1945]
a)- Que las Repúblicas Americanas constituyen una entidad especial por sus condiciones
geográficas, por la similitud de sus instituciones y por los compromisos internacionales
contraídos en distintas Conferencias Interamericanas;
b)- Que las Repúblicas del Continente se han declarado solidarias, hasta el punto de que
cualquier amenaza o ataque a una de ellas constituye un ataque o amenaza para todas;
c)- Que es indispensable la existencia de un organismo militar permanente, que estudie
y resuelva los problemas que afecten al Hemisferio Occidental;
d)- Que la Junta de Defensa Interamericana ha probado ser un valioso organismo para
el intercambio de puntos de vista, el estudio de problemas y la formulación de
recomendaciones referentes a la defensa del Hemisferio y para fomentar una estrecha
colaboración entre las fuerzas militares, navales y aéreas de las Repúblicas americanas.
Las Repúblicas Americanas recomiendan:
1º)- Que los Gobiernos consideren la constitución, a la mayor brevedad posible, de un
organismo permanente formado por representantes de cada lino de los Estados Mayores
de las Repúblicas americanas, con el fin de proponer a dichos Gobiernos las medidas
tendientes a la mejor colaboración militar entre todos los Gobiernos y a la defensa del
Hemisferio Occidental.
2°)- Que la Junta Interamericana de Defensa continúe como órgano de la defensa
interamericana hasta que se establezca el organismo permanente previsto en esta
Recomendación.
(Chapultepec, 06 de marzo de 1945)
ANEXO 12:
DECRETO N.° 18.811
BRASIL DECLARA GUERRA AO IMPÉRIO DO JAPÃO
330
[RIO DE JANEIRO - JUNHO DE 1945]
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o art. 74, Letra
m, da Constituição, declara o Estado de Guerra entre o Brasil e o Império do Japão:
a)- Considerando que os compromissos interamericanos de assistência e defesa mútua
se acham em pleno vigor e, foram reiterados e ampliados na recente Conferência das
Nações Americanas reunidas no México;
b)- Considerando que, derrotadas as nações agressoras no Continente Europeu, o
poderio total dos nossos aliados, os Estados Unidos da América, se transfere agora para
o teatro de operações no Oceano Pacífico;
c)- Considerando que os objetivos de paz das Nações Unidas reclamam a participação
de todos os Estados deste Continente na luta final pela liberdade dos povos oprimidos ;
d)- Considerando encerrada a nossa participação bélica na Europa com a rendição
incondicional dos nossos inimigos ;
e)- Considerando que, desde 28 de janeiro de 1942, foram rompidas as relações
diplomáticas com o Império do Japão, em consequência da agressão aos Estados Unidos
da América;
Decreta:
Artigo 1°)- É declarada a existência do estado de guerra entre o Brasil e o Japão.
Artigo 2°)- O presente decreto entrará em vigor na data de sua publicação.
Artigo 3°)- Revogam-se as disposições em contrário.
(Rio de Janeiro, 06 de junho de 1945)
ANEXO 13: ATA DA QUARTA SESSÃO DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL
331
[RIO DE JANEIRO – SETEMBRO DE 1939]
332
333
334
335
336
(Rio de Janeiro, 04 de setembro de 1939)
ANEXO 14: ATA DA QUINTA SESSÃO DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL
[RIO DE JANEIRO – JANEIRO DE 1942]
337
338
339
340
341
342
343
344
(Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 1942)
345
ANEXO 15: ATA DA SEXTA SESSÃO DO CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL
[RIO DE JANEIRO– JULHO DE 1944]
346
347
348
349
350
351
352
353
354
355
(Rio de Janeiro, 11 de julho de 1944)