ANÁLISE DA APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA CONSTRUÇÃO...
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ANÁLISE DA APLICAÇÃO DOS
PRINCÍPIOS DA CONSTRUÇÃO
ENXUTA EM UMA CONSTRUTORA DE
JOÃO PESSOA-PB
Joanderson de Souza Marinho (UFPB )
Alan de Oliveira Castro (UNIPÊ )
Joalysson de Souza Marinho (UFPB )
Ruan Eduardo Carneiro Lucas (UFPB )
Jose Flavio Rique Junior (UFPB )
Tendo como base os desperdícios inerentes ao setor da construção civil
e da grande competividade entre as empresas do gênero, buscam-se
novas formas para aprimorar o gerenciamento e a execução das obras.
Dentre essas formas, surgiu uma novaa filosofia, denominada de
“Lean Construction”. O objetivo do presente trabalho é analisar as
práticas adotadas no processo construtivo de uma construtora da
cidade de João Pessoa - PB, enquadrando-as nos princípios da
construção enxuta. O trabalho foi realizado por meio de observação
direta e mediante aplicação de um questionário com questões baseadas
na filosofia “Lean construction” através do mapeamento e diagnóstico
de construção enxuta realizado na empresa, pôde-se concluir que a
organização utiliza os princípios dessa filosofia de forma eficiente e os
procedimentos adotados pela construtora na realização do processo
construtivo se encaixam nos onze princípios da construção enxuta.
Palavras-chave: Construção enxuta, pensamento enxuto, filosofia lean
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1. Introdução
A indústria da construção civil é um sistema produtivo que vem absorvendo mudanças
consideráveis ano a ano. Nesse sentido, Formoso (2001) indica que esse tipo de indústria tem
sofrido e continuará sofrendo mudanças substanciais, provocadas pelo crescente grau de
competição existente entre as empresas do setor, o crescente nível de exigência por parte dos
consumidores e a reduzida disponibilidade de recursos financeiros para a realização de
empreendimentos.
Diante da mudança econômica desse setor e da necessidade de diferenciação, as organizações
passaram a buscar com maior frequência formas de otimizar processos que não agregam valor
ao produto final e que resultam principalmente em atraso das obras e aumento nos custos.
Essa busca por melhoria contínua vai ao encontro das filosofias baseadas no Sistema Toyota
de Produção (STP) e ao pensamento enxuto utilizado em diversos outros setores produtivos
(ROSENBLUM, 2008).
A indústria da construção civil é subdivida em: construções pesadas, montagem industrial e
edificações. Nesse último observa-se que todo o processo produtivo acontece em canteiros de
obra, onde é comum encontrar inúmeros processos e práticas que comprometem o tempo de
construção. Essa situação acontece em função de desperdícios como: tempo de espera,
transportes desnecessários e um mau gerenciamento de projeto. Nesse contexto, Sarcinelli
(2008) indica que a baixa eficiência produtiva do setor existe e deve ser investigada, visto
que, historicamente, recebem-se muitas críticas nesse aspecto.
Devido a isso, um modelo de gerenciamento da produção com raízes no STP bem como
ferramentas que auxiliam na gestão da produção, podem ser utilizadas para reduzir
consideravelmente esses déficits. O STP é um modelo que possui princípios muito versáteis e
que podem ser aplicados em vários sistemas produtivos, inclusive na indústria da construção
civil. Em 1992, Lauri Koskela publicou o artigo “Aplication of the new production
Philosophy to construction” que mostrou técnicas e passos de aplicação do pensamento “lean”
na construção civil, o que deu inicio a adaptação conhecida como “construção enxuta”.
Diante do cenário exposto anteriormente, buscou-se novas formas para aprimorar o
gerenciamento e a execução das obras. Dentre essas formas surgiu uma nova filosofia,
denominada de “Lean Construction”, que mudou a forma de planejar e de construir a obra
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através de fluxos de processos (SENAI, 2013). Nesse contexto, o objetivo desse trabalho é
analisar as práticas adotadas no processo construtivo de uma construtora da cidade de João
Pessoa – PB, enquadrando-as nos princípios do “Lean Construction” propostos por (Koskela,
1992).
2. Referencial teórico
2.1 Pensamento Enxuto
O pensamento enxuto consiste em focar na melhoria e reorganização de um ambiente
produtivo, identificando o que agrega valor para o cliente e eliminando os desperdícios. Com
essas melhorias consegue-se reduzir o tempo de atendimento aos clientes, reduzir as falhas,
aumentar a rotatividade dos estoques e baixar os custos de produção (LIMA, 2012).
“O termo enxuto, como tradução de “lean”, surgiu na literatura de
negócios para adjetivar o Sistema Toyota de fabricação. Tal sistema
era lean por uma série de razões: requeria menos esforço humano para
projetar e produzir os veículos necessitava menos investimento por
unidade de capacidade de produção, trabalhava com menos
fornecedores, operava com menos peças em estoque em cada etapa do
processo produtivo, registrava um menor número de defeitos, o
número de acidentes de trabalho era menor e demonstrava
significativas reduções de tempo entre o conceito de produto e seu
lançamento em escala comercial, entre o pedido feito pelo cliente e a
entrega e entre a identificação de problemas e a resolução dos
mesmos”. (Figueiredo, 2006).
2.2 Construção enxuta ou “Lean Construction”
“A abordagem da Construção Enxuta é uma nova forma de olhar para os desperdícios que
existem ao longo do sistema produtivo e de como eliminá-los ou reduzi-los para aumentar a
eficiência do sistema” (KOSKELA; DAVE, 2008 apud Barbosa, George et al).
Essa abordagem oriunda do STP ganhou notoriedade a partir do trabalho “Application of the
new production philosophy in the construction industry”, de Lauri Koskela (1992).
Posteriormente foi criado o International Group for Lean Construction (IGLC), engajado na
adaptação e disseminação do novo paradigma no setor da construção civil em diversos países”
(Formoso 2002).
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“A construção enxuta consiste em tem três objetivos principais: a entrega do produto, a
maximização do valor e a redução do desperdício. Assim, propõe uma melhor organização do
processo, eliminando a mão de obra ociosa e otimizando os recursos disponíveis" (Baer,
2014). Na construção civil visa sequenciar as atividades de modo integrado, planejando-as de
forma balanceada e tornando o processo como um todo equilibrado. Ou seja, visa tornar a
sequência produtiva mais eficiente a partir da integração e do ritmo equilibrado entre os
processos.
2.3 Princípios da construção enxuta
Os princípios da construção enxuta são subdivididos em dez itens que estão listados abaixo.
2.3.1 Redução da parcela de atividades que não agregam valor
A forma de gestão utilizada por algumas construtoras é baseada em processos de conversão,
que transformam os materiais em produtos intermediários e finais. Porém, há atividades que
compõem os fluxos físicos necessários para essa realização entre essas atividades de
conversão. Atividades como inspeção, espera e transporte são exemplos disso. Essas
atividades são caracterizadas por não agregar valor ao produto. (KOSKELA, 1992).
2.3.2 Aumentar o valor do produto através das considerações dos clientes
A aplicação desse principio envolve o mapeamento do processo, identificando de forma
sistemática os clientes e seus requisitos para cada estágio do mesmo. (FORMOSO, 2011).
Garantindo, assim, os requisitos e necessidades dos clientes na sequencia de atividades.
2.3.3 Reduzir variabilidade
São diversos os tipos de variabilidade relacionados com os processos de produção. A
variação dos materiais entregues e a não uniformidade na execução de uma determinada tarefa
são alguns exemplos disso. As razões para redução dessas variações dão-se a partir de dois
pontos de vista. O primeiro diz respeito ao cliente, que determina que um produto com uma
única forma é mais bem aceito. O outro ponto seria que a variabilidade aumenta o tempo para
se executar uma tarefa, assim como a quantidade de atividades que não agregam valor.
(ARANTES, 2010).
2.3.4 Redução do tempo de ciclo
A aplicação desse principio está embasado na grande ênfase à necessidade de apertar e reduzir
o tempo disponível para, com isso, forçar a eliminação das atividades de fluxo (Formoso,
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2011). Com a compressão desses fluxos, de acordo com (Koskela, 1992), além da redução dos
desperdícios, obtêm-se algumas outras vantagens:
a) Entrega mais rápida ao cliente;
b) Redução da necessidade de prever demandas futuras;
c) Diminuição de interrupções no processo produtivo devido a mudanças na demanda;
d) Facilidade na gestão do processo, pois haverá menos pedidos de alteração por parte
dos clientes.
2.3.5 Simplificar através da redução do número de passos ou partes
Quanto maior o numero de partes em um processo, maior o numero de atividades que não
agregam valor. Essa redução de partes e passos nos processos pode ser feita com o uso de
elementos pré-fabricados e equipes polivalentes, visando simplificar os processos
construtivos, agilizar os procedimentos e evitar os desperdícios ocasionados pelas atividades
que não agregam valor.
2.3.6 Aumentar a flexibilidade de saída
É um modo de alterar as características dos produtos que serão entregues aos clientes, sem
aumentar, necessariamente, seu preço. Isso pode ser feito com a minimização dos lotes para
aproximá-los de sua demanda, através da customização do produto no tempo mais tarde
possível, e utilizando processos construtivos que permitam o produto se tornar flexível, sem
grande perda para a produção.
2.3.7 Aumentar a transparência do processo
Com esse principio, visando a transparência do processo, os problemas podem ser
identificados mais facilmente no momento da execução dos serviços, reduzindo a
possibilidade de erros. De acordo com (Koskela, 1992), há algumas maneiras de aumentar a
transparência no processo, que são:
a) Remoção de obstáculos visuais, tais como divisórias e tapumes;
b) Utilização de dispositivos visuais, tais como cartazes, sinalização e demarcação de
áreas;
c) Emprego de indicadores de desempenho, que tornam visíveis atributos do processo;
d) Aplicação de programas de melhorias da organização e limpeza do canteiro como o
5S.
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2.3.8 Controle do processo global
Esse principio pode ser aplicado com a formação de parcerias com os fornecedores, buscando
reduzir os erros com produtos defeituosos, atrasos e desperdícios além de outros fatores que
atrapalham a produtividade da empresa. Pois, havendo essa parceria a transparência pode ser
alcançada e os erros minimizados.
2.3.9 Introduzir melhoria continua no processo
Como afirma (Koskela, 1992 apud Teixeira), os esforços para reduzir desperdícios e aumentar
o valor do produto devem ocorrer de maneira contínua na empresa.
2.3.10 Manter um equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões
Como afirma (Koskela, 1992), quanto mais complexo o processo produtivo é, maior os
impactos produzidos com as melhorias do fluxo. Para (Arantes, 2010), quão maior for o
desperdício ligado ao processo produtivo, maiores os benefícios nas melhorias dos fluxos em
comparação com as melhorias na conversão. Portanto, deve haver um balanceamento para
ocorrer poucas variações no processo produtivo.
3. Metodologia
A metodologia utilizada subdividiu-se em duas etapas. Na primeira etapa foi realizada uma
coleta de dados através da Observação Direta, que consistiu no registro de fatos e eventos
relevantes ao processo produtivo da construtora presente na cidade de João Pessoa-PB. Nesse
tipo de observação os pesquisadores assumem posturas imparciais e impessoais quanto aos
processos que estão sendo desenvolvidos no ambiente analisado. Em paralelo, e com
autorização da construtora, foram tiradas fotos dos elementos importantes através de uma
máquina fotográfica de modelo Nikon D3200.
A segunda etapa, por sua vez, consistiu em um método mais objetivo, onde foi aplicado ao
responsável pela obra um questionário relacionando as condições técnicas e gerais daquela
construção com onze pontos da filosofia “Construction Lean” (Tabela 1). Em segundo plano,
foram realizadas entrevistas com os técnicos (dois técnicos em edificações) com duração
média de 30 minutos e entrevistas curtas com os operários.
Tabela 1- Questionário aplicado
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ITEM DE VERIFICAÇÃO Sim Não Não se
aplica
1- Reduzir a parcela de atividades que não acrescentam
valor:
(1.1) A obra possui um arranjo físico para armazenamento de
materiais visando minimizar distancia entre locais de descarga e
os respectivos locais de utilização
(1.2) Existe evidencias de redução de atividades de
movimentação, inspeção e espera (utilização de algum
dispositivo de melhoria do fluxo do processo)
2) Aumentar o valor do produto através da consideração nas
necessidades do cliente:
2.1) São identificadas as necessidades do cliente internos e
externos
2.2) Os processos são mapeados e identificados os clientes e seus
requisitos
2.3) Existe alguma forma sistemática para obter os requisitos do
cliente (pesquisa de mercado e avaliações pós-ocupação)
2.4) Existe retroalimentação com projetistas como reuniões onde
são debatidos os requisitos dos clientes
2.5) Existe planejamento das tarefas afim de garantir os
requisitos dos clientes internos na sequência de atividades
3) Reduzir variabilidade;
3.1) Existem procedimentos padronizados para execução das
tarefas
3.2) Existem procedimentos padronizados para recebimento dos
materiais
3.3) Existe controle da variabilidade na execução das tarefas
4) Reduzir o tempo do ciclo de produção;
4.1) Existem boas condições de trabalho, com segurança e
equipamentos adequados ao operários
4.2) Existe uma divisão dos ciclos de produção (como pacotes de
trabalho, conclusão de uma metragem especificada, conclusão
por pavimento)
4.3) Existe alguma evidência de eliminação de atividades de
fluxo que fazem parte de um ciclo de produção
5) Simplificar através da redução do número de passos ou
partes;
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5.1) É evidenciada a utilização de elementos pré-fabricados, kits
ou
máquinas polivalentes no processo de produção
5.2) Existe um planejamento do processo de produção
5.3) Existe uma constante avaliação do processo, buscando a
melhoria (reuniões, discussões para identificação de
simplificação das operações)
5.4) Existe uma organização no canteiro com relação ao
armazenamento de equipamentos e material visando eliminar ou
reduzir a ocorrência de movimentação e deslocamento
6) Aumentar a flexibilidade de saída;
6.1) O produto é customizado no tempo mais tarde possível.
Existem evidências
6.2) O processo construtivo permite a flexibilização do produto
rapidamente sem grandes ônus para a produção (como utilização
de divisória de gesso acartonado, lajes planas)
6.3) As equipes de produção são polivalentes
6.4) Existe uma minimização no tamanho dos lotes aproximando-
os de sua demanda
7) Aumentar a transparência do processo;
7.1) O canteiro de obras está livre de obstáculos visuais como
divisórias
7.2) No canteiro são utilizados dispositivos visuais, como
cartazes, sinalização e demarcação de áreas
7.3) São empregados indicadores de desempenho que tornam
visíveis atributos do processo
7.4) São empregados programas de melhoria na organização e
limpeza como o Programa 5S
8) Focar o controle no processo global;
8.1) A empresa faz parceria com fornecedores, no sentido de
reduzir atividade que não agregam valor no momento da entrega
e qualidade do material
8.2) Existe planejamento e controle da produção afim de garantir
a entrega da obra no prazo
9) Introduzir melhoria continua no processo;
9.1) Existem evidencias exemplos de dignificarão e iniciativas de
apoio a mão-de-obra
9.2) Existem procedimentos para monitorar as ações corretivas
(as causas reais) e a eliminação com ações preventivas
9.3) A gestão é participativa, são aceitas sugestões de
funcionários
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9.4)Utiliza-se indicadores de desempenho para monitoramento
dos processos
10) Manter um equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas
conversões;
10.1) São evidenciadas práticas de melhorias nos fluxos como o
mapeamento do processo
10.2) Existe uma estratégia de ataque à obra
11) Referenciais de ponta (benchmarking).
11.1) A empresa conhece seus próprios processos (estão descritos
e entendidos)
11.2) São evidenciadas aprendizado a partir de praticas adotadas
em outras empresas similares,
11.3) Adapta as boas práticas encontradas a sua realidade Fonte: KUREK, Juliana, et al. (2013)
4. Resultados
Partindo dos princípios da construção enxuta, segue abaixo as práticas adotadas pela empresa
em relação a cada um dos onze princípios.
4.1 Redução da parcela de atividades que não agregam valor
A empresa adota várias práticas em relação a esse princípio, um exemplo é o almoxarifado
que fica próximo à cremalheira (Ver figura 1), visando reduzir o tempo gasto com transportes
desnecessários.
Figura 1 - Acesso do elevador próximo ao almoxarifado
Fonte: Fornecida pela empresa analisada (2015)
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A limpeza da obra é feita no momento da elaboração de cada etapa, um exemplo disso é na
elevação da alvenaria, na qual o piso sempre é mantido limpo para que os excessos de
argamassa que caem no chão possam ser reutilizados, fazendo com que não se perca tempo na
limpeza final e evitando o desperdício de material. Outro desperdício reduzido é o de
inspeção. Na figura 2 é mostrada uma placa com os níveis do pavimento, assim quando um
colaborador for executar uma determinada atividade em um pavimento, não desperdiçará
tempo verificando os níveis do piso.
Figura 2- Níveis de piso do pavimento
Fonte: O autor (2015)
4.2 Aumentar o valor do produto através das considerações dos clientes:
A obra está localizada em uma área nobre da cidade, apresentando fluxo contínuo de pessoas
e automóveis, e que tem eventos frequentemente. Diante desse cenário, a organização adotou
alguns procedimentos para atender às exigências e conforto dos clientes. Para redução dos
ruídos externos, por exemplo, a empresa utilizou lã de vidro entre as paredes duplas de
alvenaria (Figura 3) e lã de pet (lã eco silêncio) na laje, a qual foi colocada antes de ser feito o
contra piso, proporcionando um maior conforto ao usuário.
A organização também destinou aumentar o valor do produto implantando processos de
automação residencial. Pode-se citar como exemplo: fechadura eletrônica, controle de
temperatura, ativação do sistema de alarmes, sistema de alertas, controle de iluminação,
sonorização interna, automação de cortinas e monitoramento das câmeras e segurança. Esses
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dispositivos proporcionam mais conforto e aumentam a satisfação do usuário quanto ao
produto adquirido.
Figura 3- Camada de lã de vidro entre alvenaria dupla
Fonte: O autor (2015)
4.3 Reduzir variabilidade:
Como nos últimos anos o setor entrou em desaceleração, as organizações buscaram maneiras
de reduzir os custos. Dentre essas maneiras, a redução do desperdício de materiais tornou-se
algo prioritário. Seguindo essa linha, a empresa utilizou na alvenaria blocos modulares (figura
4) fornecidos por uma empresa terceirizada, onde a mesma dimensionou o quantitativo exato
dos blocos a serem utilizados, evitando assim a quebra e perdas desnecessárias de materiais.
Figura 4 - Alvenaria de blocos modulada
Fonte: O autor (2015)
4.4 Redução do tempo de ciclo:
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O canteiro de obra apresenta uma estrutura eficiente, com boas condições de trabalho e com
equipamentos de segurança adequados aos operários. Esse cenário existente possibilita a
redução de qualquer acidente que possa ocorrer e, consequentemente, atrapalhar o processo
produtivo.
A utilização de concreto usinado e o manuseio através de equipamentos como a “bomba
lança” (Figura 5), traz ao empreendimento agilidade e redução no tempo de confecção das
peças estruturais, evitando o transporte de matérias de forma manual ou com equipamentos
rudimentares.
Figura 5- Utilização de EPI’s e concretagem da laje
Fonte: Fornecida pela empresa analisada (2015)
4.5 Simplificar através da redução do número de passos ou partes:
A empresa utiliza um conjunto de processos destinado ao armazenamento de equipamentos e
materiais visando eliminar ou reduzir o número de etapas. Para isso, adota-se procedimentos
padronizados para recebimento dos materiais. No momento em que os materiais são recebidos
eles passam por uma inspeção para verificar a qualidade. Caso apresentem alguma
irregularidade ou não estejam dentro das condições pré-estabelecidas, eles retornam
imediatamente para a empresa fornecedora. Este procedimento visa manter a padronização
nos materiais que serão utilizados. Com isso, boa parte dos materiais já são direcionados aos
postos de utilização, fazendo com que haja apenas uma movimentação na logística de
transporte de materiais (Figura 6).
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Figura 6 - Transporte dos materiais feito com empilhadeira
Fonte: Fornecida pela empresa analisada (2015)
4.6 Aumentar a flexibilidade de saída
Para aumentar a flexibilidade de saída, a organização focou na redução dos estoques de
matéria prima, no uso de uma mão de obra polivalente, na customização do produto e na
utilização de processos construtivos que permitam a flexibilidade do produto sem grande
perda na produção.
4.7 Aumentar a transparência do processo:
O canteiro de obras é bem sinalizado, apresentando uma área livre de obstáculos visuais. A
utilização de cartazes de sinalização e demarcação de áreas, como mostra a figura 7, facilita a
identificação dos pontos de entrega e localização de materiais.
Como são implantados programas de melhoria, com o 5S, ficou evidente a transparência do
processo, resultado de uma boa estrutura gerencial e organizacional. Esses conceitos resultam
em um canteiro enxuto, organizado e com um alto grau de limpeza e organização, como
mostra a figura 8.
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Figura 7 - Demarcação de áreas
Fonte: o autor (2015)
Figura 8- Área limpa de corredor
Fonte: Empresa visitada (2015)
4.8 Focar o controle no processo global:
Visando melhorias no processo global e redução de custos, a empresa contrata empresas
terceirizadas, especializadas em determinado serviço, para executar cada etapa do
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empreendimento. Alguns exemplos disso, como mostra a figura 9, são os serviços de
automação; luminotecnia; e modulação de alvenaria. Essa delegação de atividades permite
resultados eficientes, entregues no prazo, garantindo ao cliente o melhor produto.
Figura 9- Empresas terceirizadas
Fonte: O autor (2015)
4.9 Introduzir melhoria continua no processo:
Reuniões frequentes são realizadas para verificar se os processos estão sendo executados da
maneira correta, bem como definir novos procedimentos ou a utilização de novos materiais
que possam reduzir custos e agregar mais valor ao produto final. Nesse sentido, constata-se
que algumas situações e métodos empregados nessa obra basearam-se em ideias do
engenheiro responsável e em outras construções da própria construtora.
Figura 10- Isolamento dos sacos de cimento
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Fonte: O autor (2015)
4.10 Manter um equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões:
Cada atividade planejada em um processo construtivo visa atender o padrão previamente
estabelecido. Nessa construção, os processos básicos e de fácil aplicabilidade, como locação
do terreno, fundações, estrutura, alvenaria e acabamentos, foram desenvolvidos visando a
praticidade e o maior nível de qualidade. Para isso, novas tecnologias foram utilizadas, mas
como foram direcionadas a empresas especializadas, essas melhorias de processo não
prejudicaram o cronograma de prazos.
4.11 Referências de ponta (Benchmark):
De acordo com engenheiro, algumas práticas que foram empregadas nessa obra, basearam-se
em outras construções e empreendimentos da própria construtora, como também do próprio
engenheiro responsável pela obra. Mas nada impede a empresa de adotar boas práticas
encontradas à sua realidade, visando sempre à melhoria contínua do processo.
5. Conclusões
A construção civil sempre foi marcada por ser um mercado muito concorrido e de alta
rentabilidade. Entretanto, nos últimos anos o país entrou em um cenário político-econômico
conturbado que influenciou diretamente na economia e principalmente nos setores produtivos.
Como a construção civil está diretamente relacionada a esses dois fatores, acabou sofrendo
um impactos expressivos.
Os impactos gerados nesse setor fizeram com que a concorrência entre as empresas
aumentasse de forma expressiva, fazendo com que estas buscassem novas maneiras de reduzir
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custos e obter vantagem competitiva. Nesse sentido, fatores como o aumento de atividades
que agregam valor, busca pelo aperfeiçoamento do processo produtivo e diminuição dos
desperdícios surgiram como fortes direcionadores competitivos.
Partindo deste ponto, este trabalho teve como objetivo identificar como uma construtora da
cidade de João Pessoa – PB se encaixava nos princípios da construção enxuta. Através do
mapeamento e diagnóstico de construção enxuta realizado na empresa, pôde-se concluir que a
organização utiliza os princípios dessa filosofia de forma eficiente e os procedimentos
adotados pela construtora na realização do processo construtivo se encaixam nos onze
princípios da Construção Enxuta. Esse encaixe resulta em uma produção enxuta, com menos
desperdícios de materiais e com processos mais eficientes, fazendo com que a empresa tenha
redução de custos e uma vantagem competitiva.
Referências
ARANTES, Felipe. Modelo de diagnostico da maturidade da construção enxuta e estudo de casos em
empresas da construção civil. USP, São Paulo. 2010.
Baer, Alexander. O Segredo do Sucesso na Indústria da Construção Civil. Curitiba. 2014.
CARLOS T. Formoso. LEAN CONSTRUCTION: PRINCÍPIOS BÁSICOS E EXEMPLOS. UFRGS, Porto
Alegre. 2011.
FIGUEIREDO, Kleber. A logística enxuta." Centro de Estudos em Logística – COPPEAD/UFRJ (2006).
FORMOSO, Carlos T., et al. Planejamento e controle da produção em empresas de
construção. Universidade Federal do Rio Grande do Sul(2001).
FORMOSO, Carlos Torres. Lean Construction: princípios básicos e exemplos. Porto Alegre: NORIE/UFRGS
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Koskela, Lauri. Application of the new production philosophy to construction. No. 72. Stanford, CA:
Stanford University, 1992.
KUREK, Juliana, et al. Implantação dos princípios da Construção Enxuta em uma empresa construtora.
Revista de Arquitetura IMED 2.1 (2013).
LIMA, cesar. Pensamento enxuto – Leanthinking – 2012.
ROSENBLUM, Anna, et al. Avaliação da Mentalidade Enxuta (LeanThinking) na construção civil–Uma
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